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LEGISLAÇÃO INDIGENISTA

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LEGISLAÇÃO

INDIGENISTA

CONCURSO

FUNAI 2016

Professora Tatiana Scaranello

APROVA CONCURSOS

Instagram:

@prof.tatianascaranello

DECLARAÇÃO DAS

NAÇÕES UNIDAS

SOBRE OS

DIREITOS DOS

POVOS INDÍGENAS

“Afirmando que os povos indígenas são iguais a

todos os demais povos e reconhecendo ao mesmo

tempo o direito de todos os povos a serem diferentes,

a se considerarem diferentes e a serem respeitados

como tais

Reafirmando que, no exercício de seus direitos, os

povos indígenas devem ser livres de toda forma de

discriminação.

Preocupada com o fato de os povos indígenas terem

sofrido injustiças históricas como resultado,

entre outras coisas, da colonização e da subtração de suas

terras, territórios e recursos, o que lhes tem impedido de

exercer, em especial, seu direito ao desenvolvimento, em

conformidade com suas próprias necessidades e

interesses (...) Reconhecendo e reafirmando que os

indivíduos indígenas têm direito, sem discriminação, a

todos os direitos humanos reconhecidos no direito

internacional, e que os povos indígenas possuem direitos

coletivos que são indispensáveis para sua existência, bem-

estar e desenvolvimento integral como povos,

Reconhecendo também que a situação dos povos

indígenas varia conforme as regiões e os países e que se

deve levar em conta o significado das particularidades

nacionais e regionais e das diversas tradições históricas e

culturais (...)”

• É um documento abrangente que aborda

os direitos dos povos indígenas;

• Não estabelece novos direitos, mas

reconhece e afirma direitos fundamentais

universais no contexto das culturas,

realidades e necessidades indígenas;

• Instrumento internacional importante de

direitos humanos em relação a povos

indígenas;

• Registra o compromisso dos Estados para

tomarem medidas a fim de ajudar e garantir

que os povos indígenas tenham respeitados os

seus anseios e decisões sobre os assuntos

que lhes dizem respeito;

• Não é um Acordo ou um Tratado, mas apenas

estabelece diretrizes a serem adotas pelos

Estados, não sendo obrigatórias;

• Adotada em 13 de setembro de 2007.

1. Principais pontos

a) Autodeterminação: os povos indígenas têm o

direito de determinar livremente seu status político e

perseguir livremente seu desenvolvimento

econômico, social e cultural, incluindo sistemas

próprios de educação, saúde, financiamento e

resolução de conflitos, e outras questões

pertinentes.

b) Direito ao consentimento livre, prévio e

informado: a Declaração da ONU garante o

direito de povos indígenas de serem

adequadamente consultados antes da adoção

de medidas legislativas ou administrativas de

qualquer natureza, incluindo obras de

infraestrutura, mineração ou uso de recursos

hídricos, semelhante ao que defende a

Convenção 169 da Organização Internacional

do Trabalho (OIT).

c) Direito a reparação pelo furto de suas

propriedades: a Declaração exige dos Estados

nacionais que reparem os povos indígenas com

relação a qualquer propriedade cultural,

intelectual, religiosa ou espiritual subtraída sem

consentimento prévio informado ou em violação a

suas normas tradicionais.

d) Direito a manter suas culturas: esse direito

inclui entre outros o direito de manter seus nomes

tradicionais para lugares e pessoas e de entender

e fazer-se entender em procedimentos políticos,

administrativos ou judiciais inclusive através de

tradução.

e) Direito a comunicação: os povos

indígenas têm direito de manter seus próprios

meios de comunicação em suas línguas, bem

como ter acesso a todos os meios de

comunicação não-indígenas, garantindo que a

programação da mídia pública incorpore e

reflita a diversidade cultural dos povos

indígenas.

2. Artigos principais

Artigo 1. Os indígenas têm direito, a título coletivo

ou individual, ao pleno desfrute de todos os direitos

humanos e liberdades fundamentais reconhecidos

pela Carta das Nações Unidas, a Declaração

Universal dos Direitos Humanos e o direito

internacional dos direitos humanos.

Artigo 2. Os povos e indivíduos indígenas são

livres e iguais a todos os demais povos e

indivíduos e têm o direito de não serem

submetidos a nenhuma forma de discriminação

no exercício de seus direitos, que esteja

fundada, em particular, em sua origem ou

identidade indígena.

Artigo 3. Os povos indígenas têm direito à

autodeterminação. Em virtude desse direito

determinam livremente sua condição política e

buscam livremente seu desenvolvimento

econômico, social e cultural.

Artigo 4. Os povos indígenas, no exercício do

seu direito à autodeterminação, têm direito à

autonomia ou ao autogoverno nas questões

relacionadas a seus assuntos internos e

locais, assim como a disporem dos meios para

financiar suas funções autônomas.

Artigo 5. Os povos indígenas têm o direito de

conservar e reforçar suas próprias instituições

políticas, jurídicas, econômicas, sociais e

culturais, mantendo ao mesmo tempo seu

direito de participar plenamente, caso o

desejem, da vida política, econômica, social e

cultural do Estado.

Artigo 6. Todo indígena tem direito a uma

nacionalidade.

Artigo 8. 2. Os Estados estabelecerão mecanismos

eficazes para a prevenção e a reparação de:

a) Todo ato que tenha por objetivo ou consequência

privar os indígenas de sua integridade como povos

distintos, ou de seus valores culturais ou de sua

identidade étnica;

b) Todo ato que tenha por objetivo ou consequência

subtrair-lhes suas terras, territórios ou recursos.

c) Toda forma de transferência forçada de população

que tenha por objetivo ou consequência a violação ou a

diminuição de qualquer dos seus direitos.

d) Toda forma de assimilação ou integração

forçadas.

e) Toda forma de propaganda que tenha por

finalidade promover ou incitar a discriminação

racial ou étnica dirigida contra eles.

Artigo 10. Os povos indígenas não serão

removidos à força de suas terras ou

territórios. Nenhum traslado se realizará sem

o consentimento livre, prévio e informado dos

povos indígenas interessados e sem um

acordo prévio sobre uma indenização justa e

equitativa e, quando possível, a opção do

regresso.

Artigo 11. 2. Os Estados proporcionarão

reparação por meio de mecanismos eficazes,

que poderão incluir a restituição, estabelecidos

conjuntamente com os povos indígenas, em

relação aos bens culturais, intelectuais, religiosos

e espirituais de que tenham sido privados sem o

seu consentimento livre, prévio e informado, ou

em violação às suas leis, tradições e costumes.

Artigo 12. 1. Os povos indígenas têm o direito de

manifestar, praticar, desenvolver e ensinar suas

tradições, costumes e cerimônias espirituais e

religiosas; de manter e proteger seus lugares

religiosos e culturais e de ter acesso a estes de forma

privada; de utilizar e dispor de seus objetos de culto e

de obter a repatriação de seus restos humanos.

2. Os Estados procurarão facilitar o acesso e/ou a

repatriação de objetos de culto e restos humanos

que possuam, mediante mecanismos justos,

transparentes e eficazes, estabelecidos

conjuntamente com os povos indígenas interessados.

Artigo 16. 1. Os povos indígenas têm o direito de

estabelecer seus próprios meios de informação,

em seus próprios idiomas, e de ter acesso a todos

os demais meios de informação não-indígenas,

sem qualquer discriminação.

2. Os Estados adotarão medidas eficazes para

assegurar que os meios de informação públicos

reflitam adequadamente a diversidade cultural

indígena. Os Estados, sem prejuízo da obrigação de

assegurar plenamente a liberdade de expressão,

deverão incentivar os meios de comunicação privados

a refletirem adequadamente a diversidade cultural

indígena.

Artigo 19. Os Estados consultarão e cooperarão de

boa-fé com os povos indígenas interessados, por

meio de suas instituições representativas, a fim de

obter seu consentimento livre, prévio e informado

antes de adotar e aplicar medidas legislativas e

administrativas que os afetem.

Convenção nº 169/OIT Os governos deverão

consultar os povos interessados sempre que sejam

previstas medidas legislativas ou administrativas

suscetíveis de afetá-los diretamente.

Governo mobiliza povos indígenas para consultas

públicas sobre obras do PDRIS.

23/07/2015 - Mara Santos/Núcleo Planejamento

O Governo do Estado, por meio da Secretaria do

Planejamento e Orçamento (Seplan) mobilizará no período

de 27 de julho a 1º de agosto, a população indígena das

aldeias Macaúba, Fontoura, Santa Isabel do Morro, Boto

Velho, Tiodé, Watnã e Krahô-Kanela, comunidades da

nação Karajá e Javaé.

A mobilização incentiva e conscientiza os indígenas a

participarem das consultas públicas onde terão voz ativa

no processo de escolha dos locais que vão receber obras

do Projeto de Desenvolvimento Regional Integrado e

Sustentável (PDRIS). Para a região, o Projeto prevê a

construção de pontes, bueiros e galerias. As estratégias

de mobilização dos indígenas foram discutidas em

reunião entre os técnicos da Seplan, representantes da

Fundação Nacional do Índio (Funai), Instituto Natureza

do Tocantins (Naturatins) e o prefeito de Lagoa da

Confusão, Neto Lino, que apoiará a equipe durante a

mobilização nas terras indígenas.

“Nessa mobilização vamos explicar a importância da

participação nas consultas públicas que acabam

sendo instrumentos pelos quais a população indígena

é consultada e tem o direito de se manifestar

efetivamente participando das decisões do seu futuro

político, socioeconômico e cultural, num contexto de

participação em sistemas democráticos e de

construção de Estados Pluriculturais”, explica.

Disponível em: <

http://seplan.to.gov.br/noticia/2015/7/23/governo-

mobiliza-povos-indigenas-para-consultas-publicas-

sobre-obras-do-pdris/ > Acesso em 04/05/2016

Questão da usina hidrelétrica de Belo Monte no

Rio Xingu, no Estado do Pará.

Alega-se de que os povos indígenas daquela região

não foram consultados.

Artigo 20. 2. Os povos indígenas privados de

seus meios de subsistência e desenvolvimento

têm direito a uma reparação justa e equitativa.

Art. 21. 2. Os Estados adotarão medidas eficazes

e, quando couber, medidas especiais para

assegurar a melhora contínua das condições

econômicas e sociais dos povos indígenas.

Particular atenção será prestada aos direitos e às

necessidades especiais de idosos, mulheres,

jovens, crianças e portadores de deficiência

indígenas.

Artigo 26. 1. Os povos indígenas têm direito às terras,

territórios e recursos que possuem e ocupam

tradicionalmente ou que tenham de outra forma

utilizado ou adquirido.

2. Os povos indígenas têm o direito de possuir, utilizar,

desenvolver e controlar as terras, territórios e recursos que

possuem em razão da propriedade tradicional ou de outra

forma tradicional de ocupação ou de utilização, assim como

aqueles que de outra forma tenham adquirido.

3. Os Estados assegurarão reconhecimento e proteção

jurídicos a essas terras, territórios e recursos. Tal

reconhecimento respeitará adequadamente os costumes,

as tradições e os regimes de posse da terra dos povos

indígenas a que se refiram.

Artigo 27. Os Estados estabelecerão e aplicarão, em

conjunto com os povos indígenas interessados, um

processo equitativo, independente, imparcial, aberto

e transparente, no qual sejam devidamente

reconhecidas as leis, tradições, costumes e regimes

de posse da terra dos povos indígenas, para

reconhecer e adjudicar os direitos dos povos

indígenas sobre suas terras, territórios e recursos,

compreendidos aqueles que tradicionalmente

possuem, ocupam ou de outra forma utilizem. Os

povos indígenas terão direito de participar desse

processo.

Artigo 28. 1. Os povos indígenas têm direito à

reparação, por meios que podem incluir a restituição

ou, quando isso não for possível, uma indenização

justa, imparcial e equitativa, pelas terras, territórios e

recursos que possuíam tradicionalmente ou de outra

forma ocupavam ou utilizavam, e que tenham sido

confiscados, tomados, ocupados, utilizados ou

danificados sem seu consentimento livre, prévio e

informado.

2. Salvo se de outro modo livremente decidido pelos

povos interessados, a indenização se fará sob a forma de

terras, territórios e recursos de igual qualidade, extensão

e condição jurídica, ou de uma indenização pecuniária ou

de qualquer outra reparação apropriada.

Artigo 29. 1. Os povos indígenas têm direito

à conservação e à proteção do meio

ambiente e da capacidade produtiva de

suas terras ou territórios e recursos. Os

Estados deverão estabelecer e executar

programas de assistência aos povos

indígenas para assegurar essa

conservação e proteção, sem qualquer

discriminação.

Artigo 30. 1. Não se desenvolverão atividades

militares nas terras ou territórios dos povos

indígenas, a menos que essas atividades sejam

justificadas por um interesse público pertinente ou

livremente decididas com os povos indígenas

interessados, ou por estes solicitadas.

Artigo 33. 1. Os povos indígenas têm o direito de

determinar sua própria identidade ou composição

conforme seus costumes e tradições. Isso não

prejudica o direito dos indígenas de obterem a

cidadania dos Estados onde vivem.

Artigo 38. Os Estados, em consulta e

cooperação com os povos indígenas, adotarão

as medidas apropriadas, incluídas medidas

legislativas, para alcançar os fins da presente

Declaração.

Artigo 39. Os povos indígenas têm direito a

assistência financeira e técnica dos Estados e

por meio da cooperação internacional para o

desfrute dos direitos enunciados na presente

Declaração.

Convenção n.

169 da OIT

Convenção

sobre povos

indígenas e

tribais de 1989

BRASIL promulgou

através do

DECRETO n. 5.051,

de 19 de abril de

2004

1. Organização Internacional do Trabalho

• Criada em 1919 Tratado de Versalhes;

• Brasil é membro fundador da OIT;

• Visa à proteção da paz mundial, por meio da

manutenção de direitos de caráter social;

• Sujeito de Direito Internacional, dotado de direitos e

deveres próprios;

• Agência especializada da ONU;

• 1926: Comissão de Peritos em Trabalho Indígena;

• Convenção n. 107/ 1957, OIT: O documento

tratava especificamente de populações indígenas e

tribais, sobretudo de seus direitos à terra e de suas

condições de trabalho, saúde e educação.

2. Convenção OIT n. 169/89

Entrou em vigor em 1991;

Revisa a Convenção sobre populações

indígenas e tribais de 1957.

Distingue povos tribais de povos indígenas:

a) Povos Tribais: são classificados como

coletividades, cujos traços culturais

permitem separá-los da maioria da

comunidade de destino.

b) Povos Indígenas: São os descendentes

de populações que habitavam a região

antes de introdução da lógica estatal

moderna conhecida.

Autoidentificação: como indígena ou tribal

deverá ser considerada um critério fundamental

para a definição dos grupos aos quais se

aplicam as disposições da presente

Convenção.

Artigo 1º :

a) Povos tribais em países independentes cujas

condições sociais, culturais e econômicas os

distingam de outros segmentos da comunidade

nacional e cuja situação seja regida, total ou

parcialmente, por seus próprios costumes ou

tradições ou por uma legislação ou regulações

especiais;

b) Povos em países independentes

considerados indígenas pelo fato de

descenderem de populações que viviam no país

ou região geográfica na qual o país estava

inserido no momento da sua conquista ou

colonização ou do estabelecimento de suas

fronteiras atuais e que, independente de sua

condição jurídica, mantêm algumas de suas

próprias instituições sociais, econômicas,

culturais e políticas ou todas elas.

A ação estatal

Artigo 2º. 1. Os governos terão a

responsabilidade de desenvolver, com a

participação dos povos interessados, uma ação

coordenada e sistemática para proteger seus

direitos e garantir respeito à sua integridade.

Medidas estatais

a) Garantir que os membros desses povos se

beneficiem, em condições de igualdade, dos direitos

e oportunidades previstos na legislação nacional para

os demais cidadãos;

b) Promover a plena realização dos direitos sociais,

econômicos e culturais desses povos, respeitando

sua identidade social e cultural, seus costumes e

tradições e suas instituições;

c) Ajudar os membros desses povos a eliminar

quaisquer disparidades socioeconômicas entre

membros indígenas e demais membros da

comunidade nacional de uma maneira

compatível com suas aspirações e estilos de

vida.

NÃO deve haver coerção na imposição de

direitos humanos a estes povos:

Artigo 3º. 2. Não deverá ser empregada

nenhuma forma de força ou coerção que

viole os direitos humanos e as liberdades

fundamentais desses povos, inclusive os

direitos previstos na presente Convenção.

Artigo 4º. 1. Medidas especiais necessárias

deverão ser adotadas para salvaguardar as

pessoas, instituições, bens, trabalho, culturas e

meio ambiente desses povos.

2. Essas medidas especiais não deverão

contrariar a vontade livremente expressa

desses povos.

CRÍTICA:

Artigo 8º. 1. Na aplicação da legislação nacional aos povos

interessados, seus costumes ou leis consuetudinárias

deverão ser levados na devida consideração.

2. Esses povos terão o direito de manter seus costumes e

instituições, desde que não sejam incompatíveis com

os direitos fundamentais previstos no sistema jurídico

nacional e com direitos humanos internacionalmente

reconhecidos. Sempre que necessário, deverão ser

estabelecidos procedimentos para a solução de conflitos

que possam ocorrer na aplicação desse princípio.

Artigo 9º. 1. Desde que sejam compatíveis com

o sistema jurídico nacional e com direitos

humanos internacionalmente reconhecidos,

os métodos tradicionalmente adotados por esses

povos para lidar com delitos cometidos por seus

membros deverão ser respeitados.

ATENÇÃO!!!!

Neste caso, os Direitos Humanos nacionais

estariam acima dos Direitos Humanos dos

Índios e Tribais.

Costumes penais:

Artigo 9º. 2. Os costumes desses povos, sobre

matérias penais, deverão ser levados em

consideração pelas autoridades e tribunais no

processo de julgarem esses casos.

ARTIGO 10. 1. No processo de impor

sanções penais previstas na legislação

geral a membros desses povos, suas

características econômicas, sociais e

culturais deverão ser levadas em

consideração.

Consultas públicas

Artigo 6º. 1. Na aplicação das disposições da

presente Convenção, os governos deverão:

a) Consultar os povos interessados, por

meio de procedimentos adequados e, em

particular, de suas instituições representativas,

sempre que sejam previstas medidas

legislativas ou administrativas suscetíveis de

afetá-los diretamente;

IMPORTANTE!!!

Há a exigência de que medidas legislativas ou

administrativas que afetem os direitos das tribos

passem pelo crivo das comunidades.

Este dispositivo exige o consentimento do coletivo.

2. As consultas realizadas em conformidade

com o previsto na presente Convenção

deverão ser conduzidas de boa-fé e de uma

maneira adequada às circunstâncias, no

sentido de que um acordo ou consentimento

em torno das medidas propostas possa ser

alcançado.

Tribunal Regional Federal mantém suspensão do

polo naval em Manaus

24 DE JUNHO DE 2014 – REVISTA PORTOS E

NAVIOS

O Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF1)

negou recurso do Estado do Amazonas e da União e

manteve decisão que suspendeu a implantação do

Polo Naval em Manaus enquanto não houver consulta

prévia, livre e informada às comunidades ribeirinhas

que seriam afetadas pelo empreendimento, conforme

previsto na Convenção nº 169, da Organização

Internacional do Trabalho (OIT).

O acórdão, publicado no último dia 12 junho, destaca que

a ausência de consulta prévia, livre e de consentimento

claro das comunidades tradicionais envolvidas no

processo de desapropriação torna a implantação ilegal e

ilegítima. O TRF1 ressaltou que houve descumprimento de

artigos da Constituição que tratam da proteção de

comunidades tradicionais e de documentos internacionais,

como a Convenção 169/OIT, a Convenção da Diversidade

Biológica e a Declaração Universal sobre a Diversidade

Cultural.

O recurso negado foi apresentado ao TRF1 após a Justiça

Federal no Amazonas ter concedido decisão liminar a

pedido do Ministério Público Federal no Amazonas

(MPF/AM), em maio de 2014, determinando a suspensão

dos efeitos do decreto que declarou de utilidade pública

áreas para implantação do Polo Naval do Amazonas. A

Justiça determinou ainda a suspensão imediata de todas

as medidas referentes ao projeto de implantação do Polo

Naval enquanto não for realizada consulta prévia, livre

e informada das comunidades tradicionais ribeirinhas

que vivem na região (...)”

Disponível em: < https://www.portosenavios.com.br/noticias/ind-

naval-e-offshore/30512-tribunal-regional-federal-mantem-

suspensao-do-polo-naval-em-manaus > Acesso em 04/05/2016

Representação ou atuação individual

Artigo 12. Os povos interessados deverão ser

protegidos contra a violação de seus direitos e

deverão poder mover ações legais, individualmente

ou por meio de seus órgãos representativos, para

garantir a proteção efetiva de tais direitos. Medidas

deverão ser tomadas para garantir que os membros

desses povos possam compreender e se fazer

compreender em processos legais, disponibilizando-

se para esse fim, se necessário, intérpretes ou outros

meios eficazes.

TERRAS

Os direitos de propriedade e posse de terras

tradicionalmente ocupadas pelos povos

interessados deverão ser reconhecidos. Além

disso, quando justificado, medidas deverão ser

tomadas para salvaguardar o direito dos povos

interessados de usar terras não exclusivamente

ocupadas por eles às quais tenham tido acesso

tradicionalmente para desenvolver atividades

tradicionais e de subsistência. Nesse contexto, a

situação de povos nômades e agricultores itinerantes

deverá ser objeto de uma atenção particular.

Os governos tomarão as medidas

necessárias para identificar terras

tradicionalmente ocupadas pelos povos

interessados e garantir a efetiva proteção de

seus direitos de propriedade e posse.

Procedimentos adequados deverão ser

estabelecidos no âmbito do sistema jurídico

nacional para solucionar controvérsias

decorrentes de reivindicações por terras

apresentadas pelos povos interessados.

O direito dos povos interessados aos recursos

naturais existentes em suas terras deverá gozar de

salvaguardas especiais. Esses direitos incluem o

direito desses povos de participar da utilização,

administração e conservação desses recursos.

Em situações nas quais o Estado retém a

propriedade dos minerais ou dos recursos do

subsolo ou direitos a outros recursos existentes

nas terras, os governos estabelecerão ou manterão

procedimentos pelos quais consultarão estes povos

para determinar se seus interesses seriam

prejudicados, e em que medida, antes de executar ou

autorizar qualquer

programa de exploração desses recursos existentes

em suas terras.

Sempre que for possível, os povos participarão dos

benefícios proporcionados por essas atividades e

receberão indenização justa por qualquer dano

que sofram em decorrência dessas atividades.

Art. 20, CF/88. São bens da União:

XI - as terras tradicionalmente ocupadas pelos índios.

Artigo 16. 1. Sujeito ao disposto nos próximos

parágrafos do presente artigo, os povos interessados

não deverão ser retirados das terras que ocupam.

2. Quando a retirada e o reassentamento desses povos

forem considerados necessários como uma medida

excepcional, eles só serão realizados com seu livre

consentimento e conhecimento. Não sendo possível

obter seu consentimento, essa transferência só será

realizada após a conclusão dos procedimentos

adequados previstos na lei nacional, inclusive após

consultas públicas, conforme o caso, nas quais os

povos interessados tenham oportunidades de ser

efetivamente representados.

3. Sempre que possível, esses povos terão o direito de retornar

às suas terras tradicionais tão logo deixem de existir as razões

que fundamentaram sua transferência.

4. Quando esse retorno não for possível, como definido em

acordo ou, na falta de um acordo, por meio de procedimentos

adequados, esses povos deverão receber, sempre que

possível, terras de qualidade e situação jurídica pelo menos

iguais às das terras que ocupavam anteriormente e que

possam satisfazer suas necessidades presentes e garantir seu

desenvolvimento futuro. Quando os povos interessados

manifestarem preferência por receber uma indenização em

dinheiro ou espécie, essa indenização deverá ser

adequadamente garantida.

5. Pessoas transferidas de uma terra para

outra deverão ser plenamente indenizadas

por qualquer perda ou dano.

Artigo 19. Os programas agrários nacionais

garantirão aos povos interessados o mesmo

tratamento concedido aos demais segmentos da

população por meio das seguintes medidas:

a) disponibilizando mais terras a esses povos quando

as áreas que ocupam não forem suficientes para lhes

garantir meios essenciais para uma existência normal

ou acomodar seu crescimento demográfico;

b) disponibilizando os meios necessários para

promover o desenvolvimento das terras que esses

povos já possuem.

EMPREGOS

ARTIGO 20. 1. Os governos adotarão, no âmbito das

leis e das regulações nacionais e em cooperação com

os povos interessados, medidas especiais para garantir

uma proteção efetiva a trabalhadores pertencentes a

esses povos no seu processo de contratação e

condições de emprego, caso não estejam efetivamente

protegidos pela legislação aplicável aos trabalhadores

em geral.

Seguridade Social e Saúde

ARTIGO 24. Esquemas de seguridade social

deverão ser progressivamente ampliados para

beneficiar os povos interessados e disponibilizados

a eles sem nenhuma discriminação.

ARTIGO 25. 1. Os governos tomarão as medidas

necessárias que garantam que serviços de saúde

adequados sejam disponibilizados aos povos interessados

ou que eles sejam dotados dos recursos necessários para

desenvolver e prestar esses serviços sob sua própria

responsabilidade e controle para que possam desfrutar do

maior nível possível de saúde física e mental.

2. Na maior medida possível, os serviços de saúde

deverão ser baseados na comunidade. Esses serviços

deverão ser planejados e administrados em cooperação

com os povos interessados e levar-se-á em consideração

suas condições econômicas, geográficas, sociais e

culturais, bem como seus métodos tradicionais de

prevenção, práticas curativas e medicamentos.

3. O sistema de assistência de saúde dará

preferência à formação e contratação de pessoal de

saúde da comunidade local e enfocará a prestação

de serviços de assistência primária, mantendo, ao

mesmo tempo, vínculos estreitos com outros níveis

de assistência de saúde.

4. A prestação desses serviços de saúde deverá ser

articulada a outras medidas sociais, econômicas e

culturais adotadas no país.

Educação

ARTIGO 26. Medidas deverão ser tomadas para

garantir que os membros dos povos interessados

tenham a oportunidade de adquirir uma educação em

todos os níveis pelo menos em condições de

igualdade com a comunidade nacional.

ARTIGO 28. 1. Sempre que viável, as crianças dos

povos interessados deverão aprender a ler e

escrever na sua própria língua indígena ou na

língua mais comumente falada no seu grupo.

Quando isso não for possível, as autoridades

competentes consultarão esses povos com vistas a

adotar medidas que permitam a consecução desse

objetivo.

3. Medidas deverão ser tomadas para preservar e

promover o desenvolvimento e a prática das línguas

indígenas dos povos interessados

Administração

ARTIGO 33

1. A autoridade governamental responsável pelas

questões tratadas na presente Convenção

garantirá a existência de instituições ou de

outros mecanismos adequados para

administrar programas que afetem os povos

interessados e que essas instituições ou

mecanismos disponham dos meios necessários

para o pleno desempenho das funções a eles

designadas.

2. Esses programas incluirão:

a) o planejamento, coordenação, implementação

e avaliação, em cooperação com os povos

interessados, das medidas previstas na

presente Convenção;

b) a proposição de medidas legislativas e de

outra natureza às autoridades competentes e a

supervisão da aplicação das medidas adotadas,

em cooperação com os povos interessados.

A Convenção n. 169, OIT na América Latina:

• Argentina: Comunidade do Chaco;

• Costa Rica: O Tribunal costa-riquenho proferiu

decisão exigindo que o Estado reparasse ponte

sobre o rio Rincón que lhes é essencial para o

desenvolvimento de suas atividades;

• Equador: Conferiu status constitucional à

Convenção, estando acima das leis

infraconstitucionais.

QUESTÕES

(MPT – 2013 – Procurador)

Analise as assertivas sobre a Convenção 169 da OIT,

que versa povos indígenas e tribais:

I Os programas e os serviços de educação destinados

aos povos indígenas ou tribais interessados deverão

ser desenvolvidos e aplicados em cooperação com

eles a fim de responder às suas necessidades

particulares, e incorporar a sua história, seus

conhecimentos e técnicas, seus sistemas de valores,

promovendo suas aspirações sociais, econômicas e

culturais.

II Quando não for viável ensinar às crianças dos povos

indígenas ou tribais interessados a ler e escrever na sua

própria língua indígena ou na língua mais comumente

falada no grupo a que pertençam, as autoridades

competentes poderão adotar a língua mais falada no país

signatário.

III A República Federativa do Brasil, ratificou a referida

Convenção, que não obriga a garantir aos trabalhadores

pertencentes a esses povos igualdade de oportunidade e

de tratamento para homens e mulheres no emprego,

devendo ser respeitada a cultura sobre o regime de

trabalho de cada grupo ou povos indígenas e tribais;

Marque a alternativa CORRETA:

a) todas as assertivas estão incorretas;

b) apenas as assertivas I e III estão

incorretas;

c) apenas a assertiva I está incorreta;

d) apenas as assertivas II e III estão

incorretas;

e) não respondida.

RESPOSTA: D