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Diana Paraíso Vicente 02/04/2014 1 LEGISLAÇÃO E DIREITOS das pessoas infectadas pelo VIH/SIDA

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Diana Paraíso Vicente 02/04/2014

1

LEGISLAÇÃO E DIREITOS das pessoas infectadas pelo VIH/SIDA

2

Protocolo entre o

Alto Comissariado da Saúde

(Coordenação Nacional de Luta

Contra a SIDA) e a FDUNL

2010

Coordenação científica: Helena Pereira de Melo

Investigadora Principal: Diana Paraíso Vicente

Investigadora: Susana Cámara Marín

Objectivo

Desenvolvimento de um estudo de avaliação

legislativa sobre a adequação da legislação que

abarca no seu âmbito subjectivo as pessoas

infectadas pelo VIH/SIDA e o estado da

protecção dos seus direitos na ordem jurídica

nacional.

3

PARTE

• Pesquisa e análise de instrumentos

jurídicos

(Portugal, UE, CE, ONU)

• Pesquisa de jurisprudência e de outros

documentos relevantes

• Análise dos objectivos visados na adopção

da legislação nacional

- estudo dos trabalhos preparatórios

- confronto com orientações internacionais

4

Lei nº 46/2006, de 28 de Agosto Proíbe e pune a discriminação em razão da deficiência e do

risco agravado de saúde

- INR (eventual falta de identificação)

- Inexistência de uma lei das associações de pessoas portadoras

de doença (cfr. Lei nº127/99, de 20 de Agosto)

- Clarificação da legitimidade das associações de pessoas com

risco agravado de saúde para intervir em processos judiciais,

em representação ou apoio dos interessados (art. 15º)

5

6

- Cautela na leitura das restrições

(interpretação de conceitos

indeterminados): perigo de

desvirtuação da função

social da norma que

proíbe a discriminação

DL 72/2008, de 16 de Abril (contrato de seguro)

• Artigo 15º (proibição da discriminação).

• casos de recusa de celebração do contrato de

seguro ou de agravamento do prémio: possibilidade

de requerer parecer.

• Não há quem represente directamente o interessado

• Não vinculativo. Importância da correcção e

transparência dos dados.

7

PARTE • Formulação e aplicação de inquéritos

a 230 pessoas infectadas pelo VIH

sobre o estado da protecção dos seus

direitos

• Carácter exploratório

• Permitir o cotejo entre a legislação, os

objectivos visados na sua adopção e a

realidade social

II

As pessoas que

vivem com o

VIH/SIDA

8

Onde foi aplicado

• Amadora

- AJPAS – Associação de Jovens Promotores da Amadora Saudável

• Cascais

- SER+ – Associação Portuguesa para a Prevenção e Desafio à SIDA

• Lisboa

- Associação Abraço (delegação de Lisboa)

- GAT – Grupo Português de Activistas sobre Tratamentos de VIH/SIDA

- FPCCSida (delegação de Lisboa)

- Associação Positivo

- Santa Casa da Misericórdia de Lisboa

• Peniche

- Acompanha – Cooperativa de Solidariedade Social, CRL

• Setúbal

- Hospital de São Bernardo, Centro Hospitalar de Setúbal (serviço de infecciologia)

- FPCCSida (delegação de Setúbal)

9

Hipóteses:

1ª Percepção da discriminação

As pessoas seropositivas consideram que são

frequentes os comportamentos discriminatórios

relacionados com o estatuto serológico, quer em

termos gerais, quer em contextos específicos,

como o dos serviços de saúde, do trabalho, dos

seguros e das instituições de crédito.

10

2ª Conhecimento da legislação nacional

e dos mecanismos existentes

As pessoas seropositivas conhecem a

legislação nacional destinada a proibir a

discriminação contra as pessoas com risco

agravado de saúde, designadamente no

domínio laboral e na área dos seguros, bem

como os mecanismos disponíveis para a sua

efectivação.

11

3ª Percepção da eficácia da legislação

e recurso aos mecanismos de resposta

disponíveis

As pessoas seropositivas

consideram que estão devidamente

protegidas da discriminação pela

legislação nacional, confiando e

utilizando os mecanismos de

resposta destinados a efectivá-la.

12

4ª Conhecimento dos direitos em

matéria de confidencialidade dos

dados de saúde e respeito pela

confidencialidade dos dados de

saúde

As pessoas seropositivas sabem que

não têm o dever de revelar o seu estatuto

serológico e consideram que o seu

direito à confidencialidade dos dados de

saúde é respeitado.

13

Discriminação

Não apenas a prática ostensiva,

inequívoca, mas também a que

se manifesta de forma subtil,

por meio de subterfúgios que

encobrem o prejuízo, ou o

resultado discriminatório de

uma acção em que não havia

intenção de discriminar.

14

* em http://filipspagnoli.wordpress.com/2012/11/18/human-rights-cartoon-73-gender-discrimination-at-work/

Frequência

A maior parte das pessoas (85,5%)

considera que os comportamentos

discriminatórios contra pessoas com

VIH/SIDA são frequentes

15

Experiência pessoal

16

Sentiram-se

discriminadas

Não se sentiram

discriminadas

55,2% 47,8%

* A elevada percentagem destas últimas pode estar

relacionada com a não divulgação do diagnóstico

Percepção: eficácia da lei

A lei não as protege devidamente É suficiente o grau de protecção

concedido pela lei

59,3% 40,7%

Destas, 90,6% consideram que os

comportamentos são frequentes

Destas, 78,4% dizem que são

frequentes os comportamentos

discriminatórias

17

* Mesmo as pessoas que dizem que é suficiente o grau de

protecção têm uma percepção significativa de ineficácia

na aplicação da lei.

CONCEITO DE DISCRIMINAÇÃO

NÃO JURÍDICO

JURÍDICO

"tratar mal ou de modo injusto

o indivíduo ou grupo de

indivíduos em relação de

alguma característica pessoal,

cor da pele, classe social,

convicções, etc"

Implica que a pessoa seja

colocada em posição

desfavorável comparativamente

com outras, directa ou

indirectamente, originado assim

consequências do ponto de vista

legal

18 * fenómenos de discriminação múltipla

Percepção: eficácia da lei

Factores que podem influenciar percepção:

• julgamentos metiatizados

• ignorância relativamente ao que a lei permite ou

proíbe

19

Desconhecimento da lei

Desconhecem que a discriminação com base no

VIH/SIDA é punida por lei

41,5%

20

Em 58,8% das pessoas que consideram que a

legislação não protege devidamente

54,4%

não sabem que a discriminação com base no

VIH/SIDA é punida por lei

Conhecimento dos meios de resposta

Conhecem os meios legais disponíveis para agir

perante uma situação de discriminação

36%

21

Recurso aos meios disponíveis

Das pessoas que afirmam que foram discriminadas

por serem seropositivas

Só 8,7% recorreram aos meios legais disponíveis

22

• ideia de que não vale a pena (+)

• noção da dificuldade em provar a discriminação

• falta de conhecimento desses instrumentos

• receio de eventuais actos de retaliação

• morosidade dos processos

• risco de a denúncia implicar revelação pública do estatuto

serológico

Entidades a que recorreriam

Recorreriam

aos tribunais

Recorreriam

a outras entidades

50,9%

70,8%

23

*Sobretudo associações de defesa e promoção dos

direitos das pessoas que vivem com o VIH/SIDA

* Houve quem mencionasse o INR

Entidades a que recorreriam

• maior proximidade com

associações

• Obstáculos na via judicial

(dificuldades no acesso à justiça,

visibilidade do caso,

morosidade dos processos,

custos associados)

24

Serviços de saúde

Sentiram-se discriminadas

Não se sentiram discriminadas

23,8% 76,2%

25

• atendidas em último lugar (+)

• não atendidas

• trato diferente, negligente, estigmatizante

("mandar sentar a metros de distância do médico", "ser

objecto de conversas por parte das enfermeiras", "relutância

no atendimento", "ser separado do resto dos doentes”).

Serviços de saúde

É respeitada

a condifencialidade dos dados de

saúde

Não é respeitada a

condifencialidade dos dados de

saúde

73,3% 26,7%

26

Nunca foi feita alusão aos seus dados de saúde por

funcionários não pertencentes ao pessoal de saúde

80,7%

Trabalho: revelação do diagnóstico

Optaram por não revelar ao empregador o seu

estatuto serológico

88,1%

27

* perspectiva sobre consequências negativas

da divulgação

Trabalho: revelação do diagnóstico

Perspectiva de dificuldades:

28

na contratação 93,4%

na manutenção do

emprego

84,4%

na progressão na

carreira

86,2%

Trabalho: revelação do diagnóstico

Entre as pessoas que

disseram que o

empregador sabia

quase metade sentiu algum

tipo de pressão para que se

despedisse

29

Trabalho: revelação do diagnóstico

Empregador não tem de ser informado sobre o

estatuto serológico

76% na entrevista de trabalho

75% depois de estabelecido o vínculo laboral

30

Não têm obrigação de revelar aos

serviços da

medicina do trabalho

49,4%

Trabalho: revelação do diagnóstico

Submeter-se-iam a um teste

de rastreio requerido pelo

empregador

Sabem que não têm de se

submeter a um teste de

rastreio

44,2% 55,3%

31

•recusa na realização de um teste de saúde

poderá desencadear o afastamento

•teste deve ser voluntário

•Necessidade de fundamento que justifique

a necessidade do teste no caso concreto

Trabalho

Os serviços da medicina no trabalho não devem

comunicar ao empregador o estatuto serológico

68,4%

32

Em caso de inaptidão, o empregador não pode

prescindir dos seus serviços sem procurar outras

funções compatíveis

57,7%

Trabalho

É ilegal despedir pelo facto de

ser seropositivo ou ter SIDA

61,8%

33

Seguros

34

Não estão obrigadas a revelar a sua

seropositividade ao contratar um seguro de

saúde / vida

66,7% / 62,2%

Seguradoras não devem exigir a realização

de testes que o revelem, directa ou

indirectamente

88%

Seguros

Não respeitam a

proibição de

discriminação

Respeitam a proibição

de discriminação

67,4% 32,6%

35

Conduta das seguradoras:

Seguros

Seguradoras não podem excluir da cobertura

de um seguro de saúde os serviços médicos de

que necessite por ter VIH ou SIDA

62,3%

e num seguro de vida

60,7%

36

Instituições de crédito

Os bancos não podem recusar a concessão de um

crédito pelo facto de ter VIH ou SIDA

60,7%

Os bancos recusam

60,7%

37

1ª Percepção da discriminação

Confirmada, com excepção dos serviços de saúde

2ª Conhecimento da legislação nacional e dos mecanismos existentes.

Não se confirma.

3ª Percepção da eficácia da legislação e recurso aos mecanismos de resposta disponíveis

Não se confirma.

4ª Conhecimento dos direitos em matéria de confidencialidade dos dados de saúde e respeito pela confidencialidade dos dados de saúde

Não se confirma.

38

Conclusões finais – destaque

Não nos parece haver no ordenamento

jurídico português um défice normativo

em matéria de proibição da discriminação

das pessoas infectadas pelo VIH/SIDA

39

Conclusões finais –destaque

Há lacunas significativas em matéria de

eficácia dos mecanismos legais, em boa

medida suscitada por omissão ou por errada

interpretação das normas vigentes

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41

OBRIGADA PELA VOSSA ATENÇÃO.