legislação de recursos hídricos - uma análise crítica

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O presente documento se constitui o relatório técnico final desenvolvido pelo estagiário Vitor Vieira Vasconcelos, no Projeto “CRHA - Conservação de Recursos Hídricos no âmbito da Gestão Ambiental e agrícola de Bacia Hidrográfica”, relativo ao período total de 01 de agosto de 2003 a 01 de dezembro de 2004. As atividades foram desenvolvidas conforme plano de trabalho previsto para estágio vinculado ao projeto, sob orientação do pesquisador Paulo Pereira Martins, com término em junho de 2005 na forma de bolsa de iniciação científica BIC/CNPq.

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CETEC Fundao Centro Tecnolgico de Minas Gerais CEFET Centro Federal de Educao Tecnolgica

Legislao Ambiental de Recursos HdricosUma anlise crtica

Trabalho Tcnico Final de Estagirio

Vitor Vieira Vasconcelos

Belo Horizonte dezembro 2004

Fundao Centro Tecnolgico de Minas Gerais/CETEC

Presidente: Caio Nelson Lemos de Carvalho

Diretor Administrativo e Financeiro: Hlcio DAlessandro

Av. Jos Cndido da Silveira, 2000 Horto Caixa Postal 2306 31170-000 - Belo Horizonte Minas Gerais Brasil fone: (0XX31) 3489-2000 fax (00XX31) 3489-2200 e-mail: [email protected] stio: cetec.br

Legislao Ambiental de Recursos HdricosUma anlise crtica

Trabalho Tcnico Final de Estagirio

Bolsa de Iniciao Cientfica concedida pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientfico e Tecnolgico CNPq Projeto: CRHA Conservao de Recursos Hdricos no mbito da Gesto Ambiental e Agrcola de Bacia Hidrogrfica Bolsista: Vitor Vieira Vasconcelos

Belo Horizonte dezembro 2004 Fundao Centro Tecnolgico de Minas Gerais Centro Federal de Educao Tecnolgica

Coordenadoria do projeto Paulo Pereira Martins _______________________

Orientador de Estgio Paulo Pereira Martins _______________________

Orientadora do Estgio (CEFET)

_______________________

Estagirio: Vitor Vieira Vasconcelos Ttulo do Projeto: CRHA - Conservao de Recursos Hdricos no mbito da Gesto Ambiental e agrcola de Bacia Hidrogrfica ______________________

Incio Projeto: Julho/2003

Trmino do projeto: Julho/2005

Incio Bolsa: Agosto/2003

Trmino Bolsa: Julho/2005

Instituies executoras Fundao Centro Tecnolgico de Minas Gerais

Sumrio

Apresentao Resumo Introduo Metodologia Resultados Anlise da legislao tangente s questes tratadas Anlise da legislao diretamente relacionada Glossrio Jurdico Ambiental Bibliografia Anexo B Atualidade da Outorga no Estado de Minas GeraisPor PEREIRA Jr., P. M.

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10 27 45 64

Anexo A Dominialidade Federal ou Estadual de Recursos Hdricos 69

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FigurasFigura 1 Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hdricos 33

TabelasTabela 1 Trechos cruciais do Cdigo das guas Tabela 2 Trechos cruciais da lei 6662/79 Tabela 3 Trechos cruciais da Constituio Federal Tabela 4 Trechos cruciais da Constituio Estadual MG Tabela 5 Trechos cruciais do Cdigo Civil Tabela 6 Trechos cruciais do Regulamento do Cdigo Florestal - MG Tabela 7 Trechos Cruciais da lei 9.433/1997 Tabela 8 Trechos cruciais da lei estadual 13199/1999 - MG Tabela 9 Trechos cruciais do Decreto 41578/2001 Tabela 10 Trechos cruciais da lei estadual 13771/2000 MG Tabela 11 Trechos cruciais da Resoluo CNRH 61/2001 Tabela 12 Trechos cruciais da Portaria IGAM 010/1998 11 15 18 20 20 22 33 36 39 41 42 43

ApresentaoO presente documento se constitui o relatrio tcnico final desenvolvido pelo estagirio Vitor Vieira Vasconcelos, no Projeto CRHA - Conservao de Recursos Hdricos no mbito da Gesto Ambiental e agrcola de Bacia Hidrogrfica, relativo ao perodo total de 01 de agosto de 2003 a 01 de dezembro de 2004. As atividades foram desenvolvidas conforme plano de trabalho previsto para estgio vinculado ao projeto, sob orientao do pesquisador Paulo Pereira Martins, com trmino em junho de 2005 na forma de bolsa de iniciao cientfica BIC/CNPq.

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Resumo:Do relatrio Este relatrio consiste em um trabalho sobre os instrumentos de outorga e cobrana na legislao de recursos hdricos, abrangendo tambm a legislao indiretamente relacionada ao assunto. Tem-se em vista dois objetivos, consistindo o primeiro em recolher e comentar a legislao atual sobre esses dois instrumentos, e o segundo em analisar criticamente as deficincias e possibilidades de reestruturao da legislao em vigor. Foram enfocados os documentos legais federais e estaduais (referentes a Minas Gerais), alm de portarias e resolues dos rgos federais e estaduais com competncia na rea de recursos hdricos. Como etapa inicial, foram separados trechos dos documentos legais que interessam ao assunto em questo, preparados resumos e comentrios, alm de feitas tabelas com os trechos cruciais da redao dos documentos legais, separando as palavras-chaves (as quais tero suas definies explicitadas em conceitos, possibilitando um maior entendimento das leis e suas respectivas anlises, por parte do leitor). Ao longo de todo o trabalho, tambm so abordados os temas jurdicos sobre inalienabilidade de bens pblicos, esfera de atuao federal ou estadual nas bacias hidrogrficas, e ordenamento do territrio com relao aos planos diretores (Municipais e de Bacia Hidrogrfica). So abordados aspectos de Hidrologia, Hidrogeologia, Engenharia Florestal, Sazonalidades, Uso Consuntivo da gua, Interao Geo-Poltica, Zoneamento Ecolgico, Qualidade e Quantidade de gua, entre outros, visando estabelecer critrios que possam orientar melhor o entendimento dos assuntos tratados. Paralelamente formulao dos documentos, atenta-se sobre o estgio de aplicao dos devidos documentos legais e sobre o debate (nacional e internacional) em torno dos instrumentos de gesto de recursos hdricos. Ademais, poupou-se um cuidado especial aos termos e conceitos utilizados para o comentrio de documentos legais, ressaltando apenas que o material escrito no ser direcionado apenas para o meio jurdico, mas tambm para meios tcnicos da rea ambiental.

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Palavras-chaves: - Direito Ambiental Preservao dos Recursos Hdricos Zonas de Recarga de Aqferos Agricultura Tecnolgica Outorga de uso da gua - Cobrana pelo Uso da gua

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Introduo:Do projeto CRHA: O projeto CRHA est sendo desenvolvido pelo Setor de Tcnicas de Anlises Ambientais (SAS), dentro da Fundao Centro Tecnolgico de Minas Gerais (CETECMG), atravs de recursos da FINEP, pelo fundo setorial CT-HIDRO O projeto procura, atravs de uma abordagem interdisciplinar, fornecer critrios rigorosos que possam orientar uma melhor gesto dos recursos hdricos. Prope-se criar uma lgica agro-hidro-ambiental para bacias hidrogrficas visando contextualizar as atividades agrcolas, com ou sem suporte de irrigao, sob o ponto de vista do conceito de ordenamento do territrio e gesto agro-ambiental dos recursos hdricos. O projeto uma abordagem integrada do regional com o local de modo recproco. Dentre os vrios objetivos do projeto, se mostra importante fornecer bases cientficas para melhoramentos na legislao de recursos hdricos que est em vigor. Admite-se que as possveis solues tcnicas para os problemas ambientais em jogo envolvem uma gama de conhecimentos tcnico-cientficos provenientes de cincias isoladas. Para um estudo que alcance uma coerncia condigna realidade ambiental e s propostas que se deseja alcanar, ser necessrio um amplo recobrimento do desenvolvimento cientfico em diversas reas de conhecimento, cincias que nem sempre apresentam histrico de uma abordagem conjunta. Nesse aspecto, ser necessrio um cuidado especial no trabalho epistemolgico de integrao, propiciando o dilogo eficaz e crtico entre as diversas cincias.

A Poltica de guas do Governo

Devido crescente preocupao com a qualidade a e quantidade de recursos hdricos disponveis no Brasil, o Governo criou a Poltica Nacional de Recursos Hdricos. Esta um conjunto de diretrizes, leis, rgos pblicos e semi-pblicos que tm como objetivo preservar os recursos hdricos brasileiros. Entre os diversos instrumentos criados para garantir esse objetivo, temos o desenvolvimento de Planos Diretores (estudos aprofundados sobre a situao hdrica de uma regio), a classificao dos corpos dgua em classes (onde so medidos os graus de poluio em cada rio, lago, etc.), a outorga de recursos hdricos (autorizao necessria a qualquer um que deseje utilizar de maneira significante a gua de um5

lugar, ou que despeje resduos poluentes em um corpo dgua) e a futura cobrana pelo uso de recursos hdricos. No se pode esquecer que a gesto de recursos hdricos est intrinsecamente relacionada s outras reas da gesto ambiental, j que os processos ecolgicos esto inter-relacionados. Toma-se por exemplo os desmatamentos, que impedem a infiltrao da gua nos solos e causam eroso (esta ltima, que pode assorear os rios e ainda diminui a produtividade do solo para a produo rural).

Gesto de bacias hidrogrficas

O foco na gesto de recursos hdricos, caracterizado pelo projeto CRHA, est vinculado aos demais processos ambientais, como florestamento, climatologia e desenvolvimento eco-sustentvel rural e urbano, aliado ao fato de que o territrio de uma bacia hidrogrfica apresenta-se como uma unidade relativamente independente e estudvel a partir de suas variveis internas. Pretende-se abordar a gesto de bacias hidrogrficas sob o ponto de vista da conservao da quantidade de gua e de um eventual aumento das reservas de aqfero. Para isso, central levar em conta: [1] as mudanas de relaes dinmicas nas quais a infiltrao se torne preponderante sobre o escoamento superficial. [2] como tornar o consumo compatvel com a vazo de inverno, i.e., com a sustentabilidade dos aqferos, atravs do vis do consumo remunerado. [3] o controle da demanda por gua de forma adequada para gerir o uso consuntivo, de modo cientfico, quando j foi garantido o controle da manuteno da quantidade na dinmica retro-alimentativa do sistema natural. [CRHA]

Ordenamento do territrio

O ordenamento do territrio definido como o instrumento que o Poder Pblico, em consonncia com a sociedade, tem para controlar o uso e a ocupao dos territrios, de forma a garantir os direitos fundamentais da populao, a preservao do meio ambiente e o crescimento ecologicamente sustentado. O ordenamento territorial fator primordial para se garantir que a interveno humana, para que mesmo alterando a sub-bacia e os ecossistemas, no os coloquem em condio de irreversibilidade.6

Um ordenamento eficaz deve levar em conta uma srie de fatores complexos, aos quais o planejador deve recorrer. Para tanto, se torna necessrio: [1] simular demandas hdricas e econmicas [2] simular disponibilidade hdrica e de outros recursos naturais [3] controlar as diversas zonas de recarga de aqferos e suas surgncias [4] fazer balanos de segurana ambiental [5] avaliar insero nas demandas regionais intra-bacia e dentro da bacia de maior ordem. [6] informar os parmetros legais condicionantes s decises [CRHA]

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Metodologia:Podemos compreender a gesto de recursos hdricos no Brasil como dividida em dois perodos, os quais tm como marco delimitador a promulgao da lei federal n 9.433/1997 - Poltica Nacional de Recursos Hdricos e Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hdricos. A partir dela, a Unio se estrutura de maneira integrada com as demais esferas de poder e define suas metas em relao gesto da gua, alm de definir os instrumentos atravs dos quais ocorrer essa administrao. Por isso, optou-se por dividir os documentos legais aqui analisados em duas sees. Primeiramente, apresenta-se trechos selecionados dos documentos que cerceiam a questo da preservao dos recursos hdricos, seguidos dos devidos comentrios. Essa primeira seo inclui normas gerais que guiam a Unio (Constituio Federal e Mineira e Cdigo Civil), documentos legais que versam sobre atividades com impacto na preservao dos recursos hdricos (Lei Nacional de Irrigao e

Regulamento da Poltica Florestal de Minas Gerais), alm do primeiro decreto que abordou o tema da administrao de recursos hdricos (o Cdigo das guas, em 1934 que apesar de ainda estar em vigor, foi estruturado com base em uma situao em que ainda no havia a preocupao ambiental em to grande conta). Na segunda seo, apresenta-se e considera-se sobre as leis e regulamentos que estruturam efetivamente o Sistema Nacional de Recursos Hdricos na esfera federal e estadual (no caso, referente a Minas Gerais), comeando pela j mencionada lei federal 9.433/1997. A partir delas pode-se abarcar com mais profundidade a

questo da preservao de recursos hdricos, alm de fornecer um arcabouo para um problema que interessa especialmente ao nosso trabalho tcnico: a outorga e cobrana de recursos hdricos. Sobre esta questo, preferiu-se descer hierarquicamente nas normas at chegar na especificidade das portarias, resolues e documentao tcnica referente aos rgos tcnicos pblicos encarregados da gesto de recursos hdricos. Os trechos legais considerados cruciais esto apresentados em tabelas, em que seguem acompanhados de uma explicao didtica sobre o assunto abordado. Em seguida destacou-se uma lista dos principais termos chaves utilizados nos documentos legais, provenientes tanto do meio jurdico quanto do meio tcnico das cincias ambientais, os quais tiveram explicitados seus significados e sua relao com a preservao dos recursos hdricos. A principal funo desta lista auxiliar o leitor no entendimento correto dos termos utilizados nas leis, alm de compreender de maneira8

direcionada a maneira como os diversos elementos ambientais interagem em relao ao ciclo hidrolgico qualitativa e quantitativamente.. Em todo o trabalho de anlise dos documentos, procura-se desenvolver temas importantes correta interpretao da legislao sobre gua, incluindo as questes relativas s esferas de competncia Federal e Estadual e as inter-relaes com os planos de ordenamento territorial.

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Resultados:Parte I - ANLISE DA LEGISLAO TANGENTE QUESTO HDRICA1- DECRETO N 24.643, DE 10 DE JULHO DE 1934 CDIGO DAS GUAS

Apesar de ter sido homologado h vrias dcadas atrs (ano de 1934), muitos dos artigos do Cdigo das guas continuam em vigor, e em consonncia com a legislao mais recente. Ademais, necessrio lembrar que, na poca de sua redao, no havia to clara a preocupao com o meio ambiente, e nem se fazia sentir com tanta proximidade os problemas de escassez de recursos hdricos por consumo excessivo e por poluio das guas. Em suma, esse cdigo estabelece as definies bsicas sobre as disposies, usos e conflitos relativos s guas (especialmente para conflitos envolvendo vizinhos territoriais), alm de especificar sobre infraes relacionadas aos recursos hdricos. Em diversos trechos, o decreto enftico em garantir o direito de usos da gua para as necessidades bsicas dos usurios. Ademais, o documento estabelece os poderes do Estado em relao a assuntos relacionados a recursos hdricos e regulamenta as bases para outorga e cobrana pelos usos da gua. Um cuidado especial na interpretao do texto do documento deve ser em relao s referncias propriedade das guas. O decreto as divide em guas Pblicas, Comuns e Particulares; porm a Constituio Federal de 1988 publiciza todas as guas, acabando com as duas ltimas categorias. Nota-se que ainda vale a diviso entre guas pblicas dominicais e as de uso comum (especificamente, as guas navegveis continentais e costeiras). Todas as normas aplicveis s guas particulares e comuns se tornaram inaplicveis, embora os artigos que se refiram tambm s guas pblicas se mantenham parcialmente em vigor, mantendo a validade da norma que se aplica a esta ltima categoria de propriedade de guas. Outra ressalva interpretativa quanto aos conceitos utilizados ao longo deste decreto deve ser feita quanto definio de guas fluviais (Livro II, Ttulo V). Nos meios tcnicos e cientficos, costuma-se definir como gua fluvial toda aquela que flui sob o solo, especialmente a que passa pelos rios e canais em geral. De maneira oposta, gua10

pluvial definida tecnicamente como aquela proveniente da chuva, ou mesmo que ainda est percorrendo a atmosfera no momento da precipitao. Porm, no Cdigo das guas, o conceito de guas fluviais est definido como as que procedem imediatamente das chuvas, podendo gerar confuso quando comparado s definies tcnicas correntes de gua fluvial e pluvial, j citadas acima. Por fim, para todos os efeitos, todas as vezes que se citar gua(s) fluvial (is) neste documento legal, deve-se entender como a gua proveniente da chuva que flui sob o solo, comumente na forma de enxurradas.

Decreto n 24.643/1934 - Cdigo Trechos Cruciais das guas D poder ao Estado de desapropriar as Art. 32. As guas pblicas de uso comum ou patrimoniais, margens e as guas quando necessrio dos Estados ou dos Municpios, bem como as guas comuns (Art. 32) e as particulares, e respectivos lveos e margens, podem ser desapropriadas por necessidade ou por utilidade pblica: a) todas elas pela Unio; b) as dos Municpios e as particulares, pelos Estados; c) as particulares, pelos Municpios.

Ningum deve ser proibido de utilizar Art. 34. assegurado o uso gratuito de qualquer corrente ou a gua necessria para a sua nascente de guas, para as primeiras necessidades da vida, se sobrevivncia (Art. 34) houver caminho pblico que a torne acessvel. permitido ao governo cobrar pelo uso da gua, chamado de uso retribudo. (Art. 36) Art. 36. permitido a todos usar de quaisquer guas pblicas, conformando-se com os regulamentos administrativos. 1 Quando este uso depender de derivao, ser regulado, nos termos do captulo IV do ttulo II, do livro II, tendo, em qualquer hiptese, preferncia a derivao para o abastecimento das populaes. 2 O uso comum das guas pode ser gratuito ou retribudo, conforme as leis e regulamentos da circunscrio administrativa a que pertencerem. Obriga a necessidade de autorizao para o uso de recursos hdricos nas atividades de agricultura, indstria e higiene, exceto os usos insignificantes (Art. 43) Obriga que seja feita concorrncia pblica para os usos de gua que se destinem a um servio pblico Art. 43. As guas pblicas no podem ser derivadas para as aplicaes da agricultura, da indstria e da higiene, sem a existncia de concesso administrativa, no caso de utilidade pblica e, no se verificando esta, de autorizao administrativa, que ser dispensada, todavia, na hiptese de derivaes insignificantes. Art. 44. A concesso para o aproveitamento das guas que se destinem a um servio pblico ser feita mediante concorrncia pblica, salvo os casos em que as leis ou regulamentos a dispensem.11

Impede que algum seja alienado das guas (ela continua sendo de todos, visto que um bem pblico). Porm, autoriza o Estado a proibir algum de utilizar certas guas Se algum obtm uma concesso autorizando a utilizar gua para uma determinada atividade, ento no pode direcionar o uso dessas guas para uma outra funo. Nesse caso, preciso de uma nova concesso autorizando o uso de gua para esta nova atividade. D ao Estado o direito de reapropriarse das guas pblicas, alm dos leitos e margens respectivos, em dois casos. O primeiro se refere a quando o usurio (ou ocupante do leito e/ou da margem) infringir qualquer lei, regulamento ou ato de administrao. O segundo caso se aplica a quando houver interesse pblico por parte do Estado, sendo que nessa situao deve haver, salvo excees cobertas por lei, o pagamento de indenizao ao sujeito lesado. O governo sempre pode revogar uma concesso de uso de gua. Observamos que, aps a lei 9433/1997, o uso da gua para as primeiras necessidades da vida no tem mais a preferncia em todas as situaes, mas apenas nos perodos de escassez.(Art. 71) Embora seja proibido pelo Cdigo Florestal o supresso de mata nativa ao redor da margem dos rios, autorizada a instalao das obras necessrias para extrair as guas. O decreto obriga a que s se construam poos e outras obras se elas no prejudicarem os poos e nascentes alheios. Isso inclui respeitar a distancia necessria entre os poos, alm de evitar a poluio dos poos e nascentes utilizados por terceiros. A abertura de poos depende de concesso, e quem violar estes artigos obrigado a demolir as construes e responder pelas perdas e danos causados (Art. 97, 98, 99 e 101.)

Art. 46. concesso no importa, nunca, a alienao parcial das guas pblicas, que so inalienveis, mas no simples direito ao uso destas guas.

Art. 49. As guas destinadas a um fim no podero ser aplicadas a outro diverso, sem nova concesso.

Art. 58. A administrao pblica respectiva, por sua prpria forca e autoridade, poder repor incontinente no seu antigo estado, as guas pblicas, bem como o seu leito e margem, ocupados por particulares, ou mesmo pelos Estados ou municpios: a) quando essa ocupao resultar da violao de qualquer lei, regulamento ou ato da administrao; b) quando o exigir o interesse pblico, mesmo que seja legal, a ocupao, mediante indenizao, se esta no tiver sido expressamente excluda por lei.

Art. 67. sempre revogvel o uso das guas pblicas. Art. 71. 3 Ter sempre preferncia sobre quaisquer outros, o uso das guas para as primeiras necessidades da vida (em perodos de escassez).

Art. 80. O proprietrio ribeirinho, tem o direito de fazer na margem ou no lveo da corrente, as obras necessrias ao uso das guas.

Art. 97. No poder o dono do prdio abrir poo junto ao prdio do vizinho, sem guardar as distncias necessrias ou tomar as precisas precaues para que ele no sofra prejuzo. Art. 98. So expressamente proibidas construes capazes de poluir ou inutilizar para o uso ordinrio a gua do poo ou nascente alheia, a elas preexistentes. Art. 99. Todo aquele que violar as disposies dos artigos antecedentes, obrigado a demolir as construes feitas, respondendo por perdas e danos. Art. 101. Depende de concesso administrativa a abertura de poos em terrenos do domnio pblico.

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A princpio, a pessoa tem o direito de Art. 103. As guas fluviais pertencem ao dono do prdio fazer uso da gua da chuva, desde que onde carem diretamente, podendo o mesmo dispor delas a no desperdice a gua que outros vontade, salvo existindo direito em sentido contrrio. necessitam utilizar. Pargrafo nico. Ao dono do prdio, porm, no permitido: 1, desperdiar essas guas em prejuzo dos outros prdios que delas se possam aproveitar, sob pena de indenizao aos proprietrios dos mesmos; 2, desviar essas guas de seu curso natural para lhes dar outro, sem consentimento expresso dos donos dos prdios que iro receb-las. Art. 104. Transpondo o limite do prdio em que carem, abandonadas pelo proprietrio do mesmo, as guas fluviais, no que lhes for aplicvel, ficam sujeitas as regras ditadas para as guas comuns e para as guas pblicas. ilegal poluir o recurso hdrico de forma que cause prejuzo a terceiros. O infrator deve arcar com o custo da reparao da qualidade das guas, embora esse assunto tambm tenha sido coberto por outras leis, como a lei 6938/1981 (Poltica Nacional de Meio Ambiente) e a lei 9605/1998 (Lei de Crimes Ambientais). Notamos que esses artigos abrem a possibilidade da cobrana pelo despejo de efluentes em recursos hdricos, como uma forma de financiar os custos com a despoluio do corpo d gua. Pode-se canalizar a gua no terreno de outro proprietrio (mediante indenizao), para as primeiras necessidades da vida, agricultura, indstria, escoamento, enxugo e bonificao da gua em outro terreno. O mesmo se segue para fazer audes e represas. Art. 109. A ningum lcito conspurcar ou contaminar as guas que no consome, com prejuzo de terceiros. Art. 110. Os trabalhos para a salubridade das guas sero executados custa dos infratores, que, alm da responsabilidade criminal, se houver, respondero pelas perdas e danos que causarem e pelas multas que lhes forem impostas nos regulamentos administrativo.

Art. 117. A todos permitido canalizar pelo prdio de outrem as guas a que tenham direito, mediante prvia indenizao ao dono deste prdio: a) para as primeiras necessidades da vida; b) para os servios da agricultura ou da indstria; c) para o escoamento das guas superabundantes; d) para o enxugo ou bonificao dos terrenos.

Art. 119. O direito de derivar guas nos termos dos artigos antecedentes compreende tambm o de fazer as respectivas presas ou audes. Transfere a questo das servides Art. 138. As servides urbanas de aqueduto, canais, fontes, hdricas urbanas para os regulamentos esgotos sanitrios e fluviais, estabelecidos para servio de higiene do Governo Federal, pblico e privado das populaes, edifcios, jardins e Estadual e Municipal. fbricas, reger-se-o pelo que dispuserem os regulamentos de higiene da Unio ou dos Estados e as posturas municipaisTabela 1 Trechos cruciais do Cdigo das guas

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2- LEI 6.662/1979 de 25 DE JUNHO DE 1979 POLTICA NACIONAL DE IRRIGAO Embora seja anterior Poltica Nacional de Recursos Hdricos (instituda em 1997 pela lei 9.433), a Poltica Nacional de Irrigao j comea a abordar o problema do uso racional da gua, visto que a irrigao, lado a lado ao uso de gua industrial e urbano, se mostra como um dos maiores setores usurios de recursos hdricos. Os instrumentos polticos utilizados para administrar a irrigao, definidas nesta lei, so os Planos Nacionais de Irrigao e os Projetos de Irrigao. Os Planos nacionais de irrigao devem orientar os projetos especficos pblicos e privados de irrigao, trabalhando com incentivos e autorizaes seletivas advindas do Governo. Os Projetos de Irrigao regulamentam como ser implementado um sistema integrado de irrigao em uma determinada regio. O uso de gua para estes projetos deve ser autorizado pelo rgo governamental competente, e este uso depender de remunerao a ser definida nos regulamentos posteriormente estabelecidos. Ademais, o Poder Pblico poder utilizar de desapropriao para reas que sejam de interesse pblico e/ou social, a serem utilizadas para implantao ou expanso dos projetos de irrigao. A lei 6662/1979 prope tambm critrios para orientar o Plano Nacional de Irrigao, assim como os projetos locais. Nesse momento, destacado como princpio a utilizao racional do solo e a gua, o que nos interessa particularmente, e que abordada mais detalhadamente na legislao de recursos hdricos e de meio ambiente. Na lei de Poltica Nacional de Irrigao, este princpio vincula-se mais explicitamente ao benefcio scio-econmico advindo deste uso racional; entretanto, a varivel ambiental influencia este benefcio. Alis, a funo social da propriedade rural, remetida posteriormente na Constituio Federal de 1988, deve englobar os efeitos das atividades de irrigao, tanto os produtivos quanto os ambientais e trabalhistas. Outro princpio definido nesta lei a prioridade para projetos de irrigao em reas com caractersticas climticas peculiares (como secas sazonais ou clima semirido). Vis a vis, preciso levar em conta que estas regies apresentam uma fragilidade ambiental relevante do ponto de vista hdrico, e grandes frentes agrcolas irrigadas implantadas nestas pores territoriais podem comprometer irremediavelmente o meio ambiente, alm de criar conflitos pela gua j escassa no local.

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Critrios importantes levantados, e que devem ser utilizados para a construo e seleo de projetos de irrigao, so a relao com as endemias rurais (como, por exemplo, esquitossomose, tenase e malria) e com a salinizao do solo. A relao entre esses dois critrios e os recursos hdricos abordada com mais detalhes no glossrio ao final desta obra. Enfim, outra preocupao relevante da lei a necessidade de coerncia e integrao aos demais planos setoriais e de planificao de usos do solo e da gua. Isto cria condies jurdicas para remeter-se Poltica Nacional de Recursos Hdricos, com os seus respectivos Planos Diretores Nacionais, Estaduais e de Bacia Hidrogrficas, assim como aos demais planos de ordenamento do territrio, inclusive os Planos Diretores Municipais.Lei 6.662/1979 Poltica Nacional de Irrigao Art. 2 Critrios para orientar o planejamento de irrigao (logo, o critrio para estabelecer quem tem preferncia a receber o uso da gua para irrigao) Trechos Cruciais I - utilizao racional das guas e solos irrigveis, atribuindo-se prioridade utilizao que assegurar maior benefcio scio-econmico II - planificao da utilizao dos recursos hdricos e de solos de unidade hidrogrfica mediante integrao com outros planos setoriais, visando ao seu mltiplo aproveitamento e sua adequada distribuio III - adoo de normas especiais para a definio da prioridade de utilizao da gua, com a finalidade de atender s reas sujeitas a fenmenos climticos peculiares V - observncia das normas de preveno de endemias rurais e de salinizao dos solos, bem como a preservao do meio ambiente e da boa qualidade das guasTabela 2 Trechos cruciais da lei 6662/79

3-CONSTITUIO DA REPBLICA FEDERATIVA DO BRASIL DE 1988 Este documento importante ao atribuir s esferas do governo a

responsabilidade de regulamentar e gerir e fiscalizar o uso de recursos hdricos no Brasil, incluindo os procedimentos de outorga e a prioridade para os pequenos e mdios agricultores das reas de baixa renda que so sujeitas a secas peridicas. A carta constitucional estabelece as competncias entre as trs esferas pblicas (federal, estadual e municipal) em relao aos assuntos ambientais. Como repblica federativa, a atuao governamental no Brasil se encontra descentralizada, oferecendo determinados nveis de autonomia aos Estados e Municpios em relao ao poder pblico da Unio. Por critrios de extenso, a Constituio remete que a Unio possui competncia privativa para legislar sobre os recursos ambientais: guas e energia15

(inciso IV), trnsito e transporte (inciso XI), jazidas, minas e outros recursos minerais e metalurgia (inciso XII). Isto significa que a esfera federal possui exclusividade para legislar sobre estes assuntos, embora possa delegar competncias e designar competncias suplementares aos estados, distrito federal e municpios. A poltica administrativo-ambiental considerada como competncia comum, logo ser endereada a todas as esferas pblicas simultaneamente (Art. 23), sem a excluso de nenhuma. Sendo assim, todos os entes polticos da federao podem e devem atuar na fiscalizao ambiental, zelando por sua proteo. Embora este regulamento seja de vital importncia, sua aplicao tem gerado conflitos resultantes da duplicidade de atividades fiscalizadoras de diferentes esferas por sobre um mesmo fato jurdico-ambiental. Ademais, a falta de articulao entre os diversos rgos

fiscalizadores pode ocorrer em omisses, quando nenhum dos entes polticos da federao se encarrega de determinada fiscalizao. Por fim, agresses ambientais que levem dano a uma rea exgena ao municpio ou estado, como o caso da escassez e poluio hdrica, devem preferencialmente sofrer processo judicial pela esfera pblica que comporta o conjunto todo de interesses lesados. Ainda relativo ao poder executivo, tambm elencado como de competncia comum, no art. 23, o poder-dever da Unio, do Distrito Federal, dos Estados e dos Municpios em proteger o meio ambiente, as florestas, fauna e flora, alm de combater a poluio em qualquer uma de suas formas (incisos III, IV, VI e VII). Esta atribuio lega a implementao de diretrizes, polticas e preceitos relativos proteo ambiental, embora seja de carter executivo e portanto no autorize atividade legiferante alguma. No que se trata ao poder de legislar, o art. 24 da Constituio assume expressamente uma atribuio de competncia concorrente e suplementar, em relao s florestas, caa, pesca, fauna, conservao da natureza, defesa do solo e dos recursos naturais, proteo do meio ambiente, controle da poluio e responsabilidade por danos ambientais (incisos VI e VIII). Dessa maneira, fica a Unio encarregada de promulgar as normas gerais sobre estes tpicos, enquanto que os estados membros podem complementar a legislao federal com vistas a atender suas especificidades regionais, inclusive estabelecendo condies mais restritivas que as de mbito federal. No caso da inexistncia de lei federal, a unidade federativa possuir competncia legislativa plena, at o momento em que sobrevenha a lei federal, quando ento a lei estadual perder sua eficcia nos assuntos em que contrariar nova lei. A legislao de Recursos Hdricos se enquadra no disposto acima. Salientamos afirmar, que embora16

a Unio tenha exclusividade em legislar sobre os recursos hdricos, essa exclusividade deve ser interpretada como relativa criao de direitos. Como os Estados possuem guas em seus domnios, no podem legislar sobre os direitos relacionados a elas (como dominialidade, inalienabilidade, garantias de uso, etc.), porm possuem liberdade jurdica para editar normas administrativas suplementares direcionadas a regulamentar a gesto de suas guas [POMPEU, 2000]. Alm das atribuies de competncias especficas aos recursos naturais, o texto constitucional federal possui um captulo prprio para o Meio Ambiente. reconhecida a autonomia ao bem jurdico Meio Ambiente, que no deve ser confundido com os recursos ambientais; estes, em definio, fazem parte daquele. O meio ambiente ser definido como bem pblico, inalienvel, cujo usufruto garantido a toda populao brasileira, observados os qualificativos de higidez e equilbrio ecolgico. A partir do art. 225, so enumeradas as competncias s quais o Poder Pblico deve agir visando a proteo do meio ambiente, remetendo a uma atuao conjunta entre Unio e demais entes da federao, caracterizando a modalidade de competncia comum. Prosseguindo, lembra-se que aps a constituio de 1988, no se pode mais pensar uma poltica de uso do solo sem se ter em vista a gide da Funo Social da Propriedade. A partir da definio desta, o uso das propriedades deve passar a se guiar por critrios de produtividade, proteo ao meio ambiente e populao rural, podendo resultar, como sano punitiva por descumprimento, em desapropriao do imvel (conforme estabelecido em legislao complementar). Dessa maneira, o proprietrio rural que no obedecer a critrios mnimos de produtividades, preservao ambiental, respeito legislao trabalhista e bem estar da populao rural pode ter sua terra desapropriada para servir de fins reforma agrria e outros projetos de ocupao e preservao do solo. Nota-se que uma interpretao da Funo Social na Constituio, em um arcabouo lgico-dentico, nos leva a afirmar que basta o proprietrio no se conformar a apenas um dos quatro requisitos definidos, para que sua propriedade no se conforme mais sua funo social (podendo, portanto, ser desapropriada): afinal, para cumprir essa funo preciso obedecer a todos eles ( um enunciado de conjuno, no estilo de [a & b & c & d] Funo_Social). Apesar disso, foi regulamentado posteriormente que a propriedade que for considerada produtiva no poder ser desapropriada. Isso nos leva a uma antinomia jurdica, pois uma17

propriedade que for produtiva mas que esteja contribuindo para a degradao do meio ambiente, deveria sofrer a sano por no cumprir funo social, mas salva por esse regulamento. primeira vista, porm, essa antinomia seria facilmente resolvida por critrio hierrquico, j que a Constituio se sobrepe aos demais documentos legais. S que, se checarmos a jurisprudncia sobre o assunto, observaremos que as propriedades desapropriadas at hoje s o foram por razes de produtividade, e que os relatrios de fiscais do INCRA que indicavam degradao ambiental e desrespeito lei trabalhista no chegam a ser considerados pelos juizes como critrio para desapropriao. Explica-se tal fato porque at hoje s foram regulamentados em lei os critrios para desapropriao por produtividade insuficiente. Como no h critrios especficos para decidir a partir de que ponto de degradao ambiental uma propriedade deve ser desapropriada, o juiz teria como nica opo recorrer diretamente Constituio Federal e dar o seu veredicto. Essa no tem sido a escolha at o momento, tendo em vista que uma atitude bastante delicada e que, a princpio, levaria a veredictos dispares baseados em critrios pessoais de cada juiz. Portanto, embora seja um assunto que parece estar sendo discutido no meio jurdico, ainda no h uma orientao ao menos consensual para que se comece a levar em conta outros critrios que no o da produtividade nos casos desapropriao. Abre-se aqui a hiptese de que a falta de regulamentao dos critrios ambientais para desapropriao atende aos interesses dos legisladores que possuem vastos latifndios em estado de

inconformidade para com o meio ambiente. Constituio Federal de 1988 Trechos Cruciais

Institui a necessidade da Art. 5 propriedade atender sua XXIII - a propriedade atender a sua funo social; funo social. Atribui s esferas do governo Art. 21. Compete Unio: a responsabilidade de regulamentar e gerir e XIX - instituir sistema nacional de gerenciamento de recursos hdricos fiscalizar o uso de recursos e definir critrios de outorga de direitos de seu uso; hdricos no Brasil. Art. 23. competncia comum da Unio, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municpios: XI - registrar, acompanhar e fiscalizar as concesses de direitos de pesquisa e explorao de recursos hdricos e minerais em seus territrios; Coloca como prioridades da Art. 43. Para efeitos administrativos, a Unio poder articular sua ao18

unio incentivar o aproveitamento econmico e social dos recursos hdricos (rios e represas) nas regies mais pobres e sujeitas ao problema das secas. Esse incentivo deve incluir a instalao de fontes de gua e de sistemas de irrigao de pequeno porte, visando recuperar as terras ridas dos pequenos e mdios proprietrios. Define a funo social da propriedade.

em um mesmo complexo geoeconmico e social, visando a seu desenvolvimento e reduo das desigualdades regionais. 2 - Os incentivos regionais compreendero, alm de outros, na forma da lei: IV - prioridade para o aproveitamento econmico e social dos rios e das massas de gua represadas ou represveis nas regies de baixa renda, sujeitas a secas peridicas. 3 - Nas reas a que se refere o 2, IV, a Unio incentivar a recuperao de terras ridas e cooperar com os pequenos e mdios proprietrios rurais para o estabelecimento, em suas glebas, de fontes de gua e de pequena irrigao Art. 186. A funo social cumprida quando a propriedade rural atende, simultaneamente, segundo critrios e graus de exigncia estabelecidos em lei, aos seguintes requisitos: I - aproveitamento racional e adequado; II - utilizao adequada dos recursos naturais disponveis e preservao do meio ambiente;

Tabela 3 Trechos cruciais da Constituio Federal

4 - CONSTITUIO DO ESTADO DE MINAS GERAIS DE 21 DE SETEMBRO DE 1988

A Constituio Mineira tem como pontos principais relacionados aos recursos hdricos a atribuio de responsabilidades ao Estado e aos Municpios no processo de gesto de recursos hdricos. Outro assunto de maior importncia o incentivo aos municpios que elaborarem Planos Diretores, privilegiando-os no recebimento de recursos financeiros estatais. Os Planos Diretores, dentre outros aspectos, possuem regulamentaes que afetam direta e indiretamente o meio ambiente, incluindo questes sanitrias, hdricas, geolgicas e de uso do solo relacionadas ao ordenamento do territrio.

Constituio do Estado de Minas Gerais de 1988

Trechos cruciais

Note-se que abrangida no s a Art. 11 - competncia do Estado, comum Unio e ao Municpio: outorga de recursos hdricos (concesso para explorao) mas XI - registrar, acompanhar e fiscalizar as concesses de direito de tambm as concesses para pesquisa e de explorao de recursos hdricos e minerais em seu pesquisa. territrio;19

Os municpios que elaborarem um Plano Diretor recebero preferncia no recebimento de recursos estaduais. Entre os requisitos de um plano diretor, esto as consideraes ambientais, sanitrias e de ordenamento do territrio, alm de condies hdricas, geolgicas e minerais como critrios para autorizar uma construo.

Art. 245 - O Estado assistir os Municpios que o solicitarem na elaborao dos planos diretores. 1 - Na liberao de recursos do errio estadual e na concesso de outros benefcios em favor de objetivos de desenvolvimento urbano e social, o Estado atender, prioritariamente, ao Municpio j dotado de plano diretor, includas, entre suas diretrizes, as de: I - ordenamento do territrio, sob os requisitos de zoneamento, uso, parcelamento e ocupao do solo urbano; II - aprovao e fiscalizao de edificaes, observadas as condies geolgicas, minerais e hdricas e respeitado o patrimnio cultural a que se refere o art. 208, entre outros requisitos compatibilizados com o disposto neste inciso; III - preservao do meio ambiente e da cultura; IV - garantia do saneamento bsico; 3 - Adotar-se- o mapeamento geolgico bsico como subsdio tcnico para a planificao do uso e ocupao do solo.

Tabela 4 Trechos cruciais da Constituio Estadual - MG

5- LEI NO 10.406, DE 10 DE JANEIRO DE 2002 CDIGO CIVIL

O novo cdigo civil interessa particularmente ao direito de recursos hdricos por legislar sobre os seguintes temas: Inalienabilidade dos bens pblicos (ver glossrio ao final da obra) Direitos de vizinhana e construes relacionadas gua Usufruto e Uso de Bens

Lei No 10.406, de 10 de Janeiro Trechos Cruciais de 2002 Cdigo CivilReconhece os rios e mares como bens pblicos de usos comum de todo o povo. Estes bens no podem ser alienados do Estado, isto , sua propriedade no pode ser concedida a outra pessoa, assim como no possvel adquiri-los por usucapio (uso prolongado). Reconhece tambm que o uso dos bens pblicos pode ser gratuito ou retribudo, ou seja, da coerncia legal para a cobrana do uso da gua. Art. 99. So bens pblicos: I - os de uso comum do povo, tais como rios, mares, estradas, ruas e praas; Art. 100. Os bens pblicos de uso comum do povo e os de uso especial so inalienveis, enquanto conservarem a sua qualificao, na forma que a lei determinar. Art. 101. Os bens pblicos dominicais podem ser alienados, observadas as exigncias da lei.20

A partir dessa nova definio, as normas Art. 102. Os bens pblicos no esto sujeitos a usucapio. atribudas s guas de propriedade particular deixam de valer, ou podem ser Art. 103. O uso comum dos bens pblicos pode ser usadas pelo juiz como modelo de analogia gratuito ou retribudo, conforme for estabelecido legalmente para resolver os novos problemas em que pela entidade a cuja administrao pertencerem. a gua considerada como bem pblico.Tabela 5 Trechos cruciais do Cdigo Civil

6 - DECRETO 43710-08-01-04 MINAS GERAIS REGULAMENTA A LEI DE POLTICA FLORESTAL

Embora, primeira vista, parea fora de contexto apresentar esse documento legal, j que esta nota tcnica versa sobre o problema especfico de recursos hdricos, coloca-se aqui como a preservao do meio ambiente dinmica, espelhando as diversas inter-relaes da biosfera. Desta maneira, aes ambientais envolvendo uma face do meio ambiente (como solo, fauna, flora, ar e tantos outros) sempre iro surtir efeitos nas demais, visto que os seus processos se entrecruzam em diversos pontos. Disso conclui-se que uma preservao eficaz do meio ambiente s pode se dar atravs de uma viso ampla entre os diversos processos envolvidos e suas respectivas frentes de ao. Frisa-se que o foco na gesto de recursos hdricos, por via de regra, est intrinsecamente vinculada aos demais processos ambientais, como florestamento, climatologia e desenvolvimento eco-sustentvel rural e urbano, com todas as conseqncias epistemolgicas de integrao entre as diversas cincias que estudam estes aspectos. Crucial para a preservao dos recursos hdricos a manuteno da cobertura vegetal, visto que ela ir viabilizar a infiltrao da gua no solo e a manuteno da umidade local, assegurando uma vazo mais estvel para os corpos dgua nas pocas de seca. Ao longo do sculo XX, a minerao e a atividade pecuria extensiva resultaram em um amplo desmatamento da cobertura vegetal, com conseqncias climticas graduais, embora desastrosas a mdio prazo, como pode-se observar nos dias de hoje. Especial destaque deve ser feito para o desmatamento de reas de recarga subterrneas de aqferos, nascentes, veredas e margens de rios, comprometendo em amplo espectro a quantidade de gua disponvel nos rios e demais corpos dgua. A isso soma-se a eroso do solos, que alm de acarretarem perdas na fertilidade dos locais erodidos, resulta no assoreamento dos corpos dgua por todo o pas. O21

assoreamento diminui a profundidade dos corpos dgua e conseqentemente aumenta o impacto de enchentes. Com o impulso do agronegcio nas ltimas dcadas, essencialmente voltado monocultura de gros (com destaque para soja), a situao hdrica entrou em colapso, especialmente nas reas de fronteiras agrcolas, mas com reflexos evidentes nas regies metropolitanas de maior consumo de gua. O modelo comercial padro de agricultura envolve o desmatamento de extensas reas, tcnicas incorretas de manejo de solo e o uso de defensivos agrcolas txicos ao homem e ao meio natural, alm de consumir uma quantidade de gua incompatvel com a manuteno ecolgica da bacia hidrogrfica, devido ao uso generalizado irrigao por pivs de asperso. A isso somase que a exportao dos produtos agrcolas leva dentro do alimento uma grande parcela do recursos hdrico que retornaria bacia em um processo ecolgico natural. Dentre os documentos legais que regulamentam a preservao da cobertura vegetal no Brasil, escolheu-se o Decreto Estadual 43710/08-01-04 (MG), visto que engloba as diversas orientaes j consagradas pelas leis hierarquicamente superiores (a saber: a lei federal 4.771/1965 (Cdigo Florestal), a lei federal 9.605/1998 (Lei de Crimes Ambientais) e a lei estadual 14309/2002 (Poltica Florestal e de Proteo Biodiversidade) Decreto 43710/2004 Minas Gerais Regulamenta o Cdigo Florestal

Trechos Cruciais

Cria o conceito de rea de Art. 10 - Considera-se rea de preservao permanente aquela preservao permanente, e define seus protegida nos termos deste Decreto, revestida ou no com objetivos. cobertura vegetal, com a funo ambiental de preservar os recursos hdricos, a paisagem, a estabilidade geolgica, a biodiversidade, o fluxo gnico de fauna e flora, de proteger o solo e de assegurar o bem - estar das populaes humanas e situada:

Delimita quais sero os critrios para se considerar um terreno como rea de preservao permanente.

II - ao longo dos rios ou de qualquer curso d'gua, a partir do leito maior sazonal, medido horizontalmente, cuja largura mnima, em cada margem, seja de:

Entre estes esto os terrenos s a) 30 m (trinta metros), para curso d'gua com largura margens dos rios e lagoas, em uma inferior a 10 m (dez metros); distncia to maior quanto maior for a b) 50 m (cinqenta metros), para curso d'gua com largura largura do corpo dgua. igual ou superior a 10 m (dez metros) e inferior a 50 m (cinqenta metros); Tambm sero considerados como c) 100 m (cem metros), para curso d'gua com largura rea de preservao permanente: igual ou superior a 50 m (cinqenta metros) e inferior a 200 m22

- os topos de morro, equivalendo a um tero da altura da elevao desta formao de relevo. - As encostas com inclinao de mais de 45. - Borda de tabuleiros ou chapadas, em uma distancia de 100 metros a partir da encosta. - Margens das ilhas fluviais, com extenso tanto maior quanto maior for a extenso dos rios. - Veredas (matas ciliares)

(duzentos metros); d) 200 m (duzentos metros), para curso d'gua com largura igual ou superior a 200 m (duzentos metros) e inferior a 600 m (seiscentos metros); e) 500 m (quinhentos metros), para curso d'gua com largura igual ou superior a 600 m (seiscentos metros); III - ao redor de lagoa ou reservatrio de gua, natural ou artificial, desde o seu nvel mais alto, medido horizontalmente, em faixa marginal cuja largura mnima seja de: a) 15 m (quinze metros), para o reservatrio de gerao de energia eltrica com at 10 ha (dez hectares), sem prejuzo da compensao ambiental; b) 30 m (trinta metros), para a lagoa ou reservatrio situados em rea urbana consolidada; c) 30 m (trinta metros), para corpo hdrico artificial, excetuados os tanques para atividade de aqicultura; d) 50 m (cinqenta metros), para reservatrio natural de gua situado em rea rural, com rea igual ou inferior a 20 ha (vinte hectares); e) 100 m (cem metros), para reservatrio natural de gua situado em rea rural, com rea superior a 20 ha (vinte hectares). IV - em nascente, ainda que intermitente, qualquer que seja a sua situao topogrfica, em um raio mnimo de 50 m (cinqenta metros); V - no topo de morros, monte ou montanha, em rea delimitada a partir da curva de nvel, correspondente a dois teros da altura da elevao em relao base; VI - em encosta ou parte dela, com declividade igual ou superior a 100% (cem por cento) ou 45deg. (quarenta e cinco graus) na sua linha de maior declive, podendo ser inferior a este parmetro, a critrio tcnico do IEF, tendo em vista as caractersticas edficas da regio; VII - nas linhas de cumeada, no seu tero superior em relao base, nos seus montes, morros ou montanhas, frao esta que pode ser alterada para maior, a critrio tcnico do IEF, quando as condies ambientais assim o exigirem; VIII - em borda de tabuleiro ou chapada, a partir da linha de ruptura do relevo, em faixa nunca inferior a 100 m (cem metros), em projeo horizontal; IX - em altitude superior a 1.800 m (mil e oitocentos metros); X - em ilha, na faixa marginal alm do leito maior sazonal, medida horizontalmente, em conformidade com a largura mnima de preservao permanente exigida para o corpo d'gua; XI - em vereda.23

Tambm sero consideradas reas de preservao permanente as reas que o governo declarar como importantes para atenuar a eroso, proteger o terreno ao longo das vias de transporte, assegurar o bem-estar pblico e preservar os ecossistemas.

1 - Considera-se, ainda, de preservao permanente, quando declarada por ato do Poder Pblico, a rea revestida ou no com cobertura vegetal, destinada a: I - atenuar a eroso; II - formar as faixas de proteo ao longo das rodovias e das ferrovias; VI - assegurar condies de bem-estar pblico; VII - preservar os ecossistemas.

No caso dos lagos provenientes da instalao de represas hidroeltricas, a extenso da rea de preservao permanente ser definida durante o processo do licenciamento ambiental da represa.

2 - No caso de reservatrio artificial, resultante de barramento construdo sobre drenagem natural, a rea de preservao permanente corresponde estabelecida nos termos das alneas "d" e "e" do inciso III do caput , ressalvadas a abrangncia e a delimitao de rea de preservao permanente de represa hidreltrica, que ser definida no mbito do licenciamento ambiental do empreendimento, com largura mnima de 30 m (trinta metros), observado o disposto neste artigo, inciso III, alnea "a". 3 - Os limites da rea de preservao permanente previstos na alnea a do inciso III deste artigo podero ser ampliados, de acordo com o estabelecido no licenciamento ambiental e, quando houver, de acordo com o Plano de Recursos Hdricos da bacia onde o reservatrio se insere.

O governo, ou o rgo responsvel pela poltica de recursos hdricos (comit ou agncia de bacia hidrogrfica) pode estipular uma extenso maior das reas de preservao permanente no entorno dos lagos e reservatrios. Nos terrenos a serem considerados como rea de preservao permanente, por estarem situados em topos de morro ou reas de encosta, e que j estiverem ocupados com plantaes florestais e atividades agropecurias, a continuidade da utilizao do solo s se dar se for substituda por plantaes florestais ecologicamente sustentveis.

4 - Nas encostas e topos de morro ocupados com plantaes florestais consolidadas, a continuidade do empreendimento ficar condicionada ao uso de tcnicas de baixo impacto e manejo que protejam o solo contra processos erosivos. 5 - Nas encostas e topos de morro ocupados com atividades agropecurias consolidadas, cuja proposta de empreendimento seja superior a 200ha (duzentos hectares), podero ser substitudas por plantaes florestais ou outra atividade de menor impacto ambiental que a existente, previamente constatado por tcnicos do IEF, desde que intercaladas por plantio e induo regenerao natural de macios florestais nativos, correspondentes ao ecossistema representativo da regio, nunca inferior a 20% da rea total do empreendimento localizado nas encostas e topos de morro, no computvel a rea de reserva legal e condicionado ao uso de tcnicas de baixo impacto e manejo que protejam o solo contra processos erosivos. Art. 12 - A utilizao de rea de preservao permanente fica condicionada a autorizao ou anuncia do IEF, quando couber. 3 - Na propriedade rural em que o relevo predominante for marcadamente acidentado e imprprio prtica de atividades agrcolas e pecurias e houver a ocorrncia de vrzeas24

Em regies especficas, onde o relevo s permite as atividades agropecurias nas margens dos corpos dgua, o IEF pode autorizar a utilizao de um quarto da rea de preservao permanente ao redor do corpo hdrico,

compensando essa rea na margem oposta.

apropriadas a essas finalidades, poder ser permitida a utilizao da faixa ciliar dos cursos d'gua, considerada de preservao permanente, em uma das margens, em at um quarto da largura prevista no art. 10, mediante autorizao e anuncia do IEF, compensando-se essa reduo com a ampliao proporcional da referida faixa na margem oposta, quando esta, comprovadamente, pertencer ao mesmo proprietrio.

Abre a possibilidade de desmatar reas de preservao permanente em caso de utilidade pblica ou social. Como no h maiores especificaes sobre que casos sero esses, este artigo cria a possibilidade para que diversos empreendimentos ambientalmente danosos sejam liberados, devido a presses polticas exercidas pelos grupos de empreendimentos imobilirios e agropecurios. Nas reas de veredas, s ser permitido o seu uso para dessedentao de animais ou para captao de gua para uso domstico. Nas reas de preservao permanente s margens de corpos dgua, onde j foram instaladas as plantaes florestais de espcies exticas (eucalipto e pinus), ser permitido que estas rvores sejam cortados para utilizao comercial, desde que depois de cortados o empreendedor d cabo neste uso e passe a executar um plano de regenerao da vegetao nativa.

Art. 14 - A supresso de vegetao nativa em rea de preservao permanente somente poder ser autorizada em caso de utilidade pblica ou de interesse social, devidamente caracterizado e motivado em procedimento administrativo prprio, quando no existir alternativa tcnica e locacional ao empreendimento proposto. 9 - Na implantao de reservatrio artificial, o empreendedor pagar pela restrio de uso da terra de rea de preservao permanente criada no seu entorno, na forma de servido civil ou de outra prevista em lei, conforme parmetros e regime de uso definidos na legislao. 11 - O empreendedor, ao requerer o licenciamento ambiental, fica obrigado a elaborar o plano ambiental de conservao e uso do entorno do reservatrio artificial, ouvido o rgo ambiental competente. 13 - So vedadas quaisquer intervenes nas reas de veredas, salvo em caso de utilidade pblica, dessedentao de animais ou uso domstico. Art. 15 - A supresso das plantaes florestais de eucalipto e pinus localizadas nas margens de reservatrios, cursos d'gua e nascentes livre, ficando o empreendedor obrigado a executar prticas que estimulem recomposio da vegetao nativa, sendo vedada a conduo da regenerao das espcies exticas.

Estabelece a definio de rea de reserva legal. Estas reas s podem ser utilizadas por atividades consideradas ambientalmente sustentveis. Essa rea, em princpio, deve equivaler a no mnimo 20% da rea da propriedade.

Art. 16 - Considera-se reserva legal a rea localizada no interior de uma propriedade ou posse rural, de utilizao limitada, ressalvada a de preservao permanente, representativa do ambiente natural da regio e necessria ao uso sustentvel dos recursos naturais, conservao e reabilitao dos processos ecolgicos, conservao da biodiversidade e ao abrigo e proteo da fauna e flora nativas, equivalente a, no mnimo, 20% (vinte por cento) da rea total da propriedade. Art. 18 - A reserva legal ser demarcada a critrio da autoridade competente, preferencialmente, em terreno contnuo e com cobertura vegetal nativa. 7 - A relocao da reserva legal dever ocorrer, necessariamente, em rea localizada dentro da mesma25

A rea de reserva legal deve ser demarcada pelo tcnico do IEF, que dar preferncia a terrenos contnuos e com mata nativa. Desta forma, favorece a formao de corredores ecolgicos, necessrios dinmica de

populaes dos animais, alm de reduzir o efeito de borda, em que os ecossistemas naturais perdem parte de sua qualidade nas suas reas de fronteira com o ambiente humano. Caso seja necessrio alterar a delimitao da reserva legal, transferindo-a para outra rea da propriedade, esta nova rea deve ter uma qualidade ambiental equivalente ou menor. Note-se como aqui tambm h a ressalva dos casos enquadrados como utilidade pblica ou de interesse social, caminho que pode ser utilizado para que setores sociais influentes politicamente consigam suas intento em suas atividades por vezes ambientalmente danosas. Com autorizao do IEF, pode-se construir pequenas barragens para: - Controle da eroso. - Dessedentao de animais - Infiltrao das guas no solo (ex: irrigao subterrnea)

propriedade, com tipologia, solo e recursos hdricos, semelhantes ou melhores que a rea anterior, devendo ser aprovada pelo IEF, ressalvados os casos de utilidade pblica ou interesse social.

Art. 22 - livre a construo de pequenas barragens de reteno de guas pluviais para controle da eroso, melhoria da infiltrao das guas no solo e dessedentao de animais, em reas de pastagem e, mediante autorizao do IEF, em rea de reserva legal. Pargrafo nico - A construo de pequenas barragens de reteno de guas pluviais, em rea de reserva legal, fica condicionada autorizao do IEF e compensao ou recomposio da vegetao suprimida no local.

Protege os ecossistemas de especial interesse ecolgico. So estes: - Mata Atlntica - Veredas - Cavernas - Campos Rupestres - Paisagens notveis - Demais unidades de interesse ecolgico - Ecossistemas especialmente protegidos - Mata Seca A preservao da Mata Seca de especial interesse para a preservao de recursos hdricos, pois situa-se em terrenos de afloramentos calcrios, reas crsticas em geral. Estes terrenos tem como caracterstica serem reas de especial funcionamento de aqferos, visto a rocha calcria ser bastante porosa infiltrao, se tornando quase como um labirinto envolvendo guas

Art. 34 - A cobertura vegetal e os demais recursos naturais dos remanescentes da Mata Atlntica, veredas, cavernas, campos rupestres, paisagens notveis e outras unidades de relevante interesse ecolgico, ecossistemas especialmente protegidos nos termos do 7, do art. 214 da Constituio do Estado, ficam sujeitos s medidas de conservao estabelecidas em Deliberao do COPAM. 4 - Os remanescentes da Mata Seca, caracterizados pelo complexo de vegetao da floresta estacional decidual, caatinga arbrea, caatinga arbustiva arbrea, caatinga hiperxerfila, florestas associadas com afloramentos calcrios e outros, mata ciliar, vazante e seus estgios sucessionais, tero sua conceituao e modalidades de uso definidas pelo COPAM, no prazo de at 36 (trinta e seis) meses, contados da data de publicao da Lei n 14.309, de 2002, mediante proposta do IEF, ouvido o seu Conselho de Administrao, respeitado o direito de propriedade, com as limitaes estabelecidas pela legislao vigente. 5 - At o cumprimento do disposto nos 3 e 4 deste artigo, as conceituaes, as delimitaes e as modalidades de uso das reas dos remanescentes da Mata Atlntica e da Mata Seca no territrio do Estado sero definidas pelo IEF.26

superficiais e subterrneas. 6 - A utilizao dos recursos existentes nos campos rupestres, veredas, nas unidades de relevante interesse ecolgico, nas paisagens notveis, nas cavernas e em seu entorno, bem como, qualquer alterao destes ecossistemas, ficam condicionadas a ato normativo do COPAM e autorizao do IEF.Tabela 6 Trechos cruciais do Regulamento do Cdigo Florestal - MG

Parte II - ANLISE DA LEGISLAO DIRETAMENTE RELACIONADA QUESTO HDRICA

1- LEI N 9.433, DE 8 DE JANEIRO DE 1997. POLTICA NACIONAL DE RECURSOS HDRICOSE E SISTEMA NACIONAL DE GERENCIAMENTO DE RECURSOS HDRICOS

A Lei n 9.433 inaugura uma nova fase no que tange ao direito ambiental direcionado aos recursos hdricos. Com objetivos de claro vis ecolgico, esta lei institui instrumentos que abrem a possibilidade de uma gesto sustentvel da gua no Brasil. Alm disso, cria todo um sistema integrado de rgos que sero responsveis pela implantao desses instrumentos. Entre suas principais finalidades (Ttulo I, Captulos I, II e III), ressaltamos: - Assegurar os recursos hdricos em qualidade e quantidade para a populao e tambm para as geraes futuras. - Utilizar os recursos hdricos de forma racional, incluindo o abastecimento (humano, animal e vegetal), o transporte e a gerao de energia. - Visar o desenvolvimento sustentvel e a preservao ambiental, sempre atravs de uma gesto descentralizada, contando com o poder pblico, de usurios de gua e da comunidade local.

Instrumentos (Ttulo I, Captulo IV):

- Planos de recursos hdricos (Ttulo I, Captulo IV, Seo I): Inclui tanto o Plano Nacional quanto o Estadual, que daro as referncias e orientaes gerais da Poltica de Recursos Hdricos, e tambm inclui os Planos Diretores das Bacias e Sub27

Bacias, mais especficos e atuantes diretamente no local em que se localizam os cursos dgua. Os Planos de Recursos Hdricos se baseiam em um estudo preliminar das caractersticas hdricas do territrio, articulando com os demais dados geogrficos e scio-econmicos; a partir da descrita a situao atual do recurso hdrico na regio (incluindo disponibilidade, demanda, qualidade e conflitos presentes) e tambm as principais tendncias de mudana nessa rea estudada. Com base nesses dados, o Plano de Recursos Hdricos ir propor uma srie de metas de curto, mdio e longo prazo (para at 20 anos), alm das aes e programas necessrios, que sero executadas para atingir essas metas. Nota-se que os Planos Diretores das Bacias Hidrogrficas tero a funo de estabelecer critrios a serem utilizados para as decises de Outorga e Cobrana pelo uso da gua. - Sistema de Informaes de Recursos Hdricos (Ttulo I, Captulo IV, Seo VI): um grande sistema no qual sero compartilhados os dados que vm de estudos sobre recursos hdricos em todo o Brasil. Sero compartilhadas tanto informaes sobre os dados coletados em relao situao atual dos recursos hdricos, quanto as experincias e aes que esto em curso nessa rea, alm das pesquisas tecnolgicas relacionadas a recursos hdricos. Paralelamente, ser bastante importante o trabalho de classificao dos corpos dgua (Captulo IV, Seo II) em relao aos seus nveis de qualidade e de quantidade de gua, que permite um planejamento adequado fundado em critrios comparativos cientficos. Enfim, as informaes sero fundamentais para todas as decises a serem tomadas no campo de recursos hdricos. Este Sistema de Informaes ser controlado, na esfera federal, pela ANA (Lei federal 9984/2000, art. 4); na esfera estadual, pelo IGAM (lei estadual 13,199/97, art. 42); na esfera de bacia hidrogrfica, pela agncia de bacia (lei federal 9,433/97, art 44). - Infraes e penalidades (Ttulo III): aqueles que desrespeitarem a legislao sobre recursos hdricos, ou forem descobertos causando danos direto ou indireto aos recursos hdricos (dando prejuzo ao abastecimento pblico e pessoas particulares, ou pondo em risco a sade e a vida de terceiros), sero devidamente julgados e podero sofrer multas, anulao provisria ou permanente da outorga de gua, e at priso em ltimo caso. - Outorga dos direitos de uso de recursos hdricos (Ttulo I, Captulo IV, Seo III): abrange tanto o uso da gua (superficial e subterrnea; para abastecimento, ou outros fins, como agropecuria e energia eltrica), quanto o lanamento de gua28

poluda ou com padres alterados em cursos dgua. No caso do lanamento de resduos nos corpos dgua, ser considerado como uso de gua, a quantidade de gua necessria para diluir esse resduo em padres aceitveis para o meio ambiente, considerada a capacidade de autodepurao do corpo dgua que recebe o resduo (como estabelecido pela Resoluo do CNRH n 16, de 2001); esse mesmo padro tambm ser usado na ocasio da cobrana pelo lanamento de resduo. A outorga tem um perodo limitado de anos e pode ser suspensa por uso indevido ou ocasies especiais (secas). Ressalta-se que usos de gua insignificantes (tanto de captao quanto de lanamento), no meio rural, no dependem de outorga, e nem dependero de cobrana do uso de recursos hdricos. Entre os critrios para se conceder outorga, sempre que houver uma situao de escassez, deve-se conceder prioridade mxima ao consumo humano, e em segundo lugar dessedentao de animais (Art. 1). Uma interpretao estrita desta lei s aceitaria sua aplicao nas zonas que passassem por um perodo de conflito por uso de gua ou por prejuzos ambientais devido a diminuio da vazo e volume hdrico dos corpos dgua para alm dos limites ecologicamente aceitveis. Nas demais regies, este critrio no se aplica. As demais variveis a serem utilizadas no processo de outorga so definidas de maneira bastante geral no Art 13, a saber: a classe em que foi classificado o corpo dgua, o prejuzo de navegabilidade do rio e a possibilidade de usar essa gua para fins mltiplos. Ademais, no existe um consenso, regulamentao ou padronizao eficazes para tratar de como deve ser elaborado este processo de outorga, a salvo os critrio de Funo Social da Propriedade definidos em constituio e os critrios para construo de planos e projetos de irrigao definidos no art. 2 da lei 6.662/1979 (Poltica Nacional de Irrigao). Necessita-se com urgncia do desenvolvimento de metodologias e princpios cientficos baseados em parmetros fsicos, ecolgicos, econmicos e sociais de forma a propor de maneira segura, detalhada e eficaz de se decidir sobre a organizao do processo de outorga. Feitos os estudos gerais necessrios, cabe aos comits de bacia hidrogrfica adaptar os modelos existentes para as situaes, presses e valores especficos bacia hidrogrfica em questo, que podem ento ser incorporados ao Plano Diretor de Recursos Hdricos da Bacia Hidrogrfica. - Cobrana pelo uso de recursos hdricos (Ttulo I, Captulo IV, Seo IV):: depois de bem implementado o sistema de outorga, tambm sero formulados padres29

para cobrar do volume de gua utilizado pelos usurios, tanto por captao de gua quanto por despejo de resduos em corpos dgua. O dinheiro arrecadado deve ser aplicado prioritariamente na rea da bacia (Art 22), em projetos de preservao do prprio recurso hdrico; o que vem sendo bastante criticado, visto que direciona os recursos a serem investidos, o que bom, mas no previne que uma parte do dinheiro se perca nas engrenagens da mquina pblica. Uma norma mais eficiente definiria que o dinheiro deve ser usado obrigatoriamente na regio. Secundariamente, at 7,5% deste recurso poder ser utilizado para implantar e manter os rgos administrativos relacionados ao Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hdricos. (Art 22). A cobrana de recursos hdricos, ao contrrio do que usualmente se pensa das contribuies que se faz ao governo (impostos e taxas), no tem o objetivo prioritrio de arrecadar dinheiro, mas sim de induzir a um consumo racional e, inclusive, economicamente vivel para o processo produtivo vinculado s guas. O objetivo reconhecer como a gua possui valor financeiro nos processos econmicos, no atendimento s necessidades humanas e na preservao do meio ambiente. Desta maneira, algum que utilize de maneira indiscriminada o recurso hdrico de determinada regio, causando prejuzo a outras pessoas, deve arcar financeiramente por sua ao. Com isto, induz-se as pessoas a procurarem mtodos que diminuam a quantidade de gua utilizada, de maneira que mais pessoas possam utilizar da gua na regio, para mltiplos fins. Muito se tem discutido se a atribuio de valor econmico para a gua no seria uma maneira de estender para este campo os problemas inerentes ao capitalismo neoliberal. Deste ponto de vista, seria mais uma porta aberta para o domnio de multinacionais e para a explorao da camada mais pobre da populao, podendo inclusive levar a um processo posterior de privatizao das guas. Estes argumentos no podem deixar de ser considerados, porm preciso esclarecer alguns pontos. 1 - Embora atualmente ainda no se cobre pelo uso da gua, inegvel que ela j possui valor econmico em nossa sociedade. Exemplos disso so os custos arcados pelas cidades para despoluir as guas de consumo humano, os custos do setor de sade pelas doenas causadas pela poluio ou escassez hdrica, o dinheiro que circula no mercado de guas minerais, a gerao de energia hidroeltrica, entre outros tantos. Ademais, vemos casos em que processos produtivos de inegvel expresso na economia (como as industrias e a agricultura irrigada) tm sua30

implantao ou expanso limitados devido quantidade finita de recursos hdricos disponveis. A cobrana pela gua s seria uma maneira das empresas, instituies e cidados que utilizam esta gua comearem a retribuir para Estado e para a sociedade pelo lucro que esto gerando a partir do uso dos recursos hdricos. 2 - Os instrumentos econmicos de controle (como a cobrana pelo uso de recursos hdrico), utilizados por naes em todo o mundo, tem como objetivo justamente reverter os desequilbrios causados pela desigualdade econmica do capitalismo. Procura-se regulamentar taxas e impostos seletivos e gradativos, de modo a onerar de maneira mais justa os tributados, por exemplo, cobrando menos de pequenos produtores, e de produtores que tomem atitudes ambientalmente positivas. Um limite para essa flexibilidade da tributao que ela pode gerar distores econmicas favorecendo atividades originalmente pouco lucrativas, gerando situaes similares aos to difamados subsdios agrcolas praticados pelos pases desenvolvidos. 3 - Os fundos arrecadados pela cobrana devero ser aplicados na preservao dos recursos hdricos e do meio ambiente da regio, revertendo-se em ganho para a sociedade como um todo. De qualquer maneira, preciso tomar cuidados para que a parcela de populao menos favorecida economicamente e tecnicamente no se torne excluda do uso de um bem to fundamental quanto a gua. Conclusivamente, os Comits de Bacia sero os responsveis por definir os critrios de cobrana especficos de cada regio (Art. 38), nos moldes do caso da outorga. Tanto na cobrana como na outorga, preciso atentar-se ao fato de que comumente os representantes dos comits de bacia no tero o conhecimento tcnico e cientfico necessrio para uma boa formulao destes mecanismos. Ainda so necessrios estudos e experimentaes relacionados rea de modelagem de outorga e cobrana, feitos por pessoal tcnico especializado, de maneira a fornecer parmetros eficazes aos comits, que teriam a tarefa de fazer um burilamento final (a fim de adaptar s necessidades especficas da regio) em modelos de j comprovada eficincia.

Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hdricos (Ttulo II) A lei 9433, em sua Segunda parte, cria o Sistema Nacional de Gerenciamento de

Recursos Hdricos, instituindo os rgos que sero responsveis pela implementao da poltica nacional de recursos hdricos. Os rgos competentes sero:31

CNRH Conselho Nacional de Recursos Hdricos: rgo deliberativo, responsvel por subsidiar a Poltica Nacional de Recursos Hdricos e dirimir conflitos. Sendo o principal frum nacional de discusso sobre recursos hdricos, cabe a ele decidir sobre as questes de maior vulto e importncia relativas gesto da gua no Brasil, articulando os diversos domnios e setores interessados. (Captulo II)

SRH/MMA Secretaria de Recursos Hdricos: Responsvel pela formulao da Poltica Nacional de Recursos Hdricos, pela integrao entre a gesto de recursos hdricos e a gesto ambiental e pela formulao do oramento da unio. (Captulo V)

ANA Agncia Nacional de Recursos Hdricos: rgo executivo, encarregado de implementar o Sistema Nacional de Recursos Hdricos, alm de outorgar e fiscalizar o uso de recursos hdricos de domnio da Unio. (Acrescentada pela lei federal 9.984/2000)

Conselhos Estaduais de recursos hdricos: rgos deliberativos, semelhantes ao conselho nacional, porm para questes de mbito estadual. rgos de recursos hdricos estaduais e do Distrito Federal: rgos executivos, com o objetivo de outorgar e fiscalizar o uso de recursos hdricos de domnio do Estado. Comits de Bacia: rgos atuantes em uma bacia hidrogrfica em questo, responsveis por elaborar o Plano de Recursos Hdricos da mesma e por exercer as questes deliberativas, sendo por isso considerados como parlamentos das guas. Possuem representantes dos diversos segmentos da sociedade e do governo que atuam ou so usurios do sistema hdrico da bacia. So responsveis por definir os mecanismos de outorga e cobrana de recursos hdricos de acordo com as especificidades regionais. (Captulo III)

Agncia de Bacia: atuam como secretarias executivas dos respectivos comits de bacia. Entre outras funes, devem manter o cadastro dos usurios de recursos hdricos, implementando os processos de outorga e cobrana na bacia hidrogrfica, alm de gerir as obras financiadas pelos recursos provenientes da cobrana. Participando da gesto da bacia, tm a funo de propor, aprovao do Comit o Plano de Recursos Hdricos, o enquadramento dos corpos dgua nas classes de uso, os valores a serem cobrados pelo uso da gua e o rateio das obras para uso mltiplo de recursos hdricos. As agncias de gua podem ser criadas por ato do32

Poder Pblico, ou por delegao/equiparao de uma das entidades citadas agncia de bacia hidrogrficas, incluindo o fato de que sua funo pode ser exercida por Consrcios e Associaes Intermunicipais de Bacias Hidrogrfica (que consistem em associaes cooperativas entre os municpios). Muito ainda se discute sobre qual deve ser natureza jurdica das agncias de bacias.(Captulo IV)

Figura 1 Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hdricos

LEI 9433/1997 POLTICA NACIONAL DE RECURSOS HDRICOSNo dependem de outorga (Art 12 1):

Trechos Cruciais

I - o uso de recursos hdricos para a satisfao das necessidades de pequenos ncleos populacionais, distribudos no meio rural; II - as derivaes, captaes e lanamentos considerados insignificantes; III - as acumulaes insignificantes. de volumes de gua consideradas

Tabela 7 Trechos Cruciais da lei 9.433/1997

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2- Lei 13199/1999 - Poltica Estadual de Recursos Hdricos Minas Gerais

Em comparao Lei Federal 9433, a Lei Estadual 13199 abarca a preservao de recursos hdricos de maneira mais pormenorizada, acrescentando novas delimitaes legais s questes de recursos hdricos. Iniciando pela proposio de fundamentos e objetivos, no comeo de cada uma das duas leis, nota-se que a lei estadual se aprofunda mais dentro do debate atual sobre de gesto de recursos hdricos. Por exemplo, so elencados princpios relativos ao: reconhecimento do ciclo hidrolgico em suas fases superficial, subterrnea e meterica o rateio do custo das obras de interesse comum ou coletivo entre as pessoas fsicas e jurdicas beneficiadas a no dissociao da gesto de recursos hdricos nos aspectos de quantidade e qualidade. A lei estadual tambm atribui diretrizes gerais, na modalidade de normas programticas, dispondo sobre que espcies de programas e aes do governo estadual devero ser implementadas para garantir a gesto e a preservao dos recursos hdricos. Contudo, apesar da validade legal dessas diretrizes, existe uma grande dificuldade dentro do direito aplicado, de se conseguir cobrar do Estado que este realize as obrigaes a que foi ordenado pela lei. Isto visto de maneira especial na rea de direito ambiental, pois, embora exista o caminho para que se entre com aes jurdicas contra o Estado, tal possibilidade trabalhosa e nem sempre eficaz. Como conseqncia, o lei perde parte de sua eficcia, porque em grande parte h o descumprimento das normas pelo Estado, sem que seja aplicada a sano por improbidade administrativa. No adianta a lei dispor sobre como o Estado deve governar, se este no se sentir obrigado obedecer as normas programticas dispostas nessas leis. Em um estudo comparado entre a lei 9.433 e a lei 13.199, importante ressaltar as seguintes inovaes da lei estadual: Integra os municpios na participao da Poltica Estadual de Recursos Hdricos (art. 8). Na legislao federal, que est em consonncia com a Constituio Federal, os municpios so excludos da dominialidade dos recursos hdricos e no participam da Poltica Nacional de Recursos Hdricos.34

Dispe sobre o contedo a ser contemplado pelo Plano Estadual de Recursos Hdricos (art. 10). Este plano deve conter as diretrizes gerais e programas a serem implementados pelo governo do Estado em relao aos recursos hdricos, alm de servir como norteador para os Planos Diretores de Recursos Hdricos de Bacias Hidrogrficas estabelecidos no Estado.

O CERH ir aprovar os procedimentos de clculo e de fixao de valores a serem seguidos pelas agncias de guas na elaborao do sistema de cobrana pelo uso da gua nas bacias hidrogrficas. (art. 25)

A implementao da cobrana pela gua nas Bacias Hidrogrficas deve ser precedida de um programa de educao ambiental direcionado, do cadastramento dos usurios, da implementao do sistema de outorga e da definio dos instrumentos tcnicos e jurdicos necessrio a implantao da cobrana pelo uso da gua. (art. 53)

Reanalisa uma questo que se encontra extremamente criticada na lei federal, instituindo agora que, nas bacias hidrogrficas estaduais, o dinheiro arrecadado com a cobrana da gua dever ser aplicado somente na bacia hidrogrfica em que foi gerado (art. 28). Na lei federal, os valores arrecadados apenas sero aplicados prioritariamente na bacia hidrogrfica em que foram gerados (lei federal 9.433/97). Enfim, nas bacias hidrogrficas de domnio federal a cobrana por recursos hdricos ainda est sujeita a esta desagradvel insegurana sobre se os recursos realmente sero aplicados na preservao dos recursos hdricos.

Mantm a compensao aos municpios afetados por atividades relacionadas ao uso de recursos hdricos (art. 3, inciso VII, e art. 29). Estes danos devem ser decorrentes de inundao causada por implantao de reservatrio decorrente de lei ou outorga relacionada com recursos hdricos. O artigo da lei federal que dispunha sobre esta compensao foi vetado pelo Presidente da Repblica, sob o argumento de dificultar a cobrana pelo uso das guas e por escassez de recursos por parte da unio.

Mantm o rateio dos custos das obras de uso de recursos hdricos, precedidos de negociao com os beneficitrios, inclusive os de aproveitamento hidroeltrico (art. 30). O artigo anlogo da lei federal que dispunha sobre o assunto foi vetado pelo presidente da repblica, sob o argumento de que impe obrigaes indevidas aos beneficitrios de recursos hdricos.35

Na formao do Conselho Estadual de recursos hdricos, estabelece a paridade entre representantes do Poder Pblico do Estado e dos Municpios (ambos devem ter o mesmo nmero de representantes). Tambm estabelece esta a paridade entre os representantes do Poder Pblico em relao aos representantes dos usurios e entidades da sociedade civil ligada aos recursos hdricos (Art. 34). Apesar disso, no estabeleceu-se paridade entre os representantes dos usurios e de entidades da sociedade civil.

Alm das competncias definidas na Lei 9.433/97, os comits de bacia tambm adquirem a responsabilidade adicional de aprovar a outorga dos direitos de recursos hdricos para empreendimentos de grande porte e com potencial poluidor (Art. 43, V).

Alm das competncias definidas na Lei 9.433/97, as Agncias de Bacia tambm adquirem as relevantes responsabilidades de (art. 45): promover o monitoramento sistemtico da quantidade e qualidade de gua (XIII). elaborar os Planos e Projetos Emergenciais de Controle da Quantidade e da Qualidade dos Recursos Hdricos da Bacia Hidrogrfica (XVII). elaborar relatrios anuais sobre a situao dos recursos hdricos na bacia (XVIII). assegurar uso prioritrio para o abastecimento pblico, ao efetuar estudos tcnicos relacionados ao enquadramento dos corpos dgua em classes de uso preponderantes (XXV).

As organizaes regionais, locais e multissetoriais de usurios de recursos hdricos passam a poder ser equiparadas a agncias de guas, mediante solicitao do comit de bacia (art. 47).

LEI 13199/1999 POLTICA ESTADUAL DE RECURSOS HDRICOSEstabelece a obrigao do governo estadual em se articular com a Unio e com os municpios de forma

Trechos Cruciais

Art. 8 - O Estado articular-se- com a Unio, com outros Estados e com municpios, respeitadas as disposies constitucionais e legais, com vistas ao aproveitamento, ao controle e ao monitoramento dos recursos hdricos em seu territrio. 1 - Para o cumprimento dos objetivos previstos no caput deste artigo, sero36

a proteger as reas necessrias manuteno do ciclo hidrolgico dos aqferos subterrneos. Os objetivos da cobrana de recursos hdricos so: (Art 24)

consideradas: (...) IV - a proteo e o controle das reas de recarga, descarga e captao dos recursos hdricos subterrneos. V - proteger as guas contra aes que possam comprometer os seus usos atual e futuro; VII - incentivar a melhoria do gerenciamento dos recursos hdricos nas respectivas bacias hidrogrficas; VIII - promover a gesto descentralizada e integrada em relao aos demais recursos naturais; I - nas derivaes, nas captaes e nas extraes de gua, o volume retirado e seu regime de variao; II - nos lanamentos de esgotos domsticos e demais efluentes lquidos ou gasosos, o volume lanado e seu regime de variao e as caractersticas fsico-qumicas, biolgicas e de toxicidade do efluente; III - a natureza e as caractersticas do aqfero; IV - a classe de uso preponderante em que esteja enquadrado o corpo de gua no local do uso ou da derivao; V - a localizao do usurio na bacia; VI - as caractersticas e o porte da utilizao; VII - a disponibilidade e o grau de regularizao da oferta hdrica local; VIII - a proporcionalidade da vazo outorgada e do uso consultivo em relao vazo outorgvel; IX - o princpio de tarifao progressiva em razo do consumo. IV - aprovar planos de aplicao dos recursos arrecadados com a cobrana pelo uso de recursos hdricos, inclusive financiamentos de investimentos a fundo perdido V - aprovar a outorga dos direitos de uso de recursos hdricos para empreendimentos de grande porte e com potencial poluidor; VI - estabelecer critrios e normas e aprovar os valores propostos para cobrana pelo uso de recursos hdricos IX - deliberar sobre proposta para o enquadramento dos corpos de gua em classes de usos preponderantes, com o apoio de audincias pblicas, assegurando o uso prioritrio para o abastecimento pblico Pargrafo nico - A outorga dos direitos de uso de recursos hdricos para empreendimentos de grande porte e com potencial poluidor compete, na falta do Comit de Bacia Hidrogrfica, ao COPAM-MG, por meio de suas Cmaras, com apoio e assessoramento tcnicos do IGAM, nos termos do artigo 5 da Lei n 12.585, de 17 de julho de 1997. I - manter balano atualizado da disponibilidade de recursos hdricos em sua rea de atuao; II - manter atualizado o cadastro de usos e de usurios de recursos hdricos; III - efetuar, mediante delegao do outorgante, a cobrana pelo uso de recursos hdricos; IV - analisar e emitir pareceres sobre os projetos e as obras a serem financiados com recursos gerados pela cobrana pelo uso da gua e37

Critrios para calcular a cobrana: (Art.25)

Responsabilidades dos Comits de Bacia

Responsabilidades das Agncias de Bacia

encaminh-los instituio financeira responsvel pela administrao desses recursos; V - acompanhar a administrao financeira dos valores arrecadados com a cobrana pelo uso de recursos hdricos; XII - propor ao comit de bacia hidrogrfica: b) os valores a serem cobrados pelo uso de recursos hdricos; c) o plano de aplicao dos valores arrecadados com a cobrana pelo uso de recursos hdricos; XXI - solicitar de usurios e de rgo ou entidade pblica de controle ambiental, por instrumento prprio, quando for o caso, dados gerais relacionados com a natureza e a caractersticas de suas atividades e dos efluentes lanados nos corpos de gua da bacia; XXII - gerenciar os recursos financeiros gerados pela cobrana pelo uso dos recursos hdricos da bacia e outros estipulados em lei, por meio de instituio financeira, de acordo com as normas do CERH-MG e com as deliberaes do comit de bacia; XXIV - propor ao comit de bacia hidrogrfica plano de aplicao dos recursos financeiros arrecadados com a cobrana pelo uso de recursos hdricos, inclusive financiamentos de investimentos a fundo perdido; XXVIII - efetuar a cobrana pela utilizao dos recursos hdricos da bacia e diligenciar a execuo dos dbitos de usurios, pelos meios prprios e segundo a legislao aplicvel, mantendo, para tanto, sistema de faturamento, controle de arrecadao e fiscalizao do consumo; XXIX - manter, em cooperao com rgos e entidades de controle ambiental e de recursos hdricos, cadastro de usurios de recursos hdricos da bacia, considerando os aspectos de derivao, consumo e diluio de efluentes;Tabela 8 Trechos cruciais da lei estadual 13199/1999 - MG

3 - DECRETO 41578 2001 DE 08 DE MARO DE 2001 POLTICA ESTADUAL DE RECURSOS HDRICOS

- REGULAMENTA A

O decreto 41578/2001 foi importante ao regulamentar as sanes aplicveis (Captulo V), a fiscalizao e formalizao das sanes (Captulo VI), alm dos recursos administrativos (Captulo VII), pois a lei estadual 13.199/1999 trata apenas de tipificao das infraes. Adicionalmente, o decreto classificou estas infraes sob as categorias de leve, grave e gravssima (art. 44). O decreto tambm garante o direito ao contraditrio e ampla defesa: assim, o autuado ter um prazo de vinte dias para apresentar sua defesa, contados a partir do recebimento de seu auto de infrao. Tambm ter vinte dias para recorrer ao Conselho Estadual de Recursos Hdricos (CERH), contra a aplicao da sano, contados a partir da data em que recebeu a notificao da deciso recorrida ou da publicao no rgo oficial do Estado. (Art. 60 e 64)

38

Atravs de uma anlise comparativa entre o decreto 41578/2000 e a lei estadual 13.199/99, podemos ressaltar os seguintes pontos adicionais: Os Comits de Bacia devem apresentar, anualmente, ao CERH-MG, um relatrio de suas atividades. (Art. 18) Ao tratar da gesto integrada de recursos hdricos, ressalta a necessidade de se levar em conta medidas de preveno, mitigao e reparao de usos inadequados do solo urbano e rural, que podem levar eroso e impermeabilizao. Estes dois efeitos prejudicam o ciclo hidrolgico, visto que causam, respectivamente, o assoreamento dos rios e a diminuio da infiltrao da gua no solo, alm de outros impactos ambientais. (Art. 20, VI, itens b e c) No art. 28, lista uma srie de informaes que devero ser levantadas na formulao dos Planos Diretores de Recursos Hdricos.

Decreto 41578/2001 Regulamento Da Poltica Estadual De Recursos HdricosOs planos diretores devero especificar: (Art 28)

Trechos Cruciais

I - a vazo remanescente ou ecolgica para usos especficos; II - a vazo de referncia para o clculo da vazo outorgvel; III - os usos preponderantes e prioritrios para a outorga; IV - os usos preponderantes para o enquadramento dos corpos dgua em classes; VII - o estudos para indicar a criao de reas sujeitas restrio de uso, com vistas proteo de recursos hdricos e de ecossistemas aquticos, em especial as zonas de recarga dos aqferos; II - a elaborao de critrios e normas que visem a preveno ou mitigao dos danos provenientes da ocorrncia hidrolgicos adversos; III - a elaborao de critrios e normas para o regime de racionamento do uso das guas superficiais e subterrneas;

O Sistema Estadual de Informaes sobre Recursos Hdricos dever se estruturar para subsidiar: (Art 29) Critrios para conceder outorga, alm dos j dispostos na lei 13.199/99: (Art 38)

de

eventos

I - outorga de gua superficial e subterrnea, visando especialmente a mitigao dos efeitos da sobreexplotao, rebaixamento de lenol e contaminao dos aqferos; II - outorga de lanamento de efluentes, considerando a capacidade de autodepurao do corpo dgua receptor, visando especialmente as inter-relaes com o enquadramento dos corpos dgua e a articulao com os processos de licenciamento ambiental; IV - outorga para empreendimentos de implantao a longo prazo;39

V - articulao com os sistemas de atividade minerria e de concesso do potencial hidroenergtico, notadamente a Agncia Nacional de Energia Eltrica ANEEL e Agncia nacional de guas ANA; VII Suspenso da outorga. Pargrafo nico - A outorga de extrao de guas subterrneas, em local onde as disponibilidades hidrogeolgicas no so conhecidas, ser expedida aps o encaminhamento, pelo interessado, dos testes de bombeamento que permitam a fixao das vazes a serem explotadas em condies sustentveis para as reservas de guas subterrneas e para as vazes de base dos corpos de guas superficiais.Tabela 9 Decreto 41578/2001

4 - LEI 13771/2000

DE 11 DE DEZEMBRO DE 2000 ADMINISTRAO,

CONSERVAO E PROTEO DE GUAS SUBTERRNEAS DE MINAS GERAIS

Com o objetivo de contemplar as especificidades da gesto das guas subterrneas, o governo estadual institui a lei 13.771/2000. Quanto s guas consideradas sob o ttulo de minerais, por suas propriedades fsico-qumicas e oligominerais, e que forem teis explorao comercial e teraputica, sero regidas tanto por esta lei quanto pela legislao federal e estadual de sade pblica (Art. 1, 2) Um dos instrumentos elencados, e que ser primordial para o controle e gesto das guas subterrneas ser a instituio e a manuteno de cadastro de poos e outras captaes (Art. 4, I) O segundo instrumento, de grande importncia, ser o poder que o CERH-MG ter para instituir reas especiais para proteo dos aqferos subterrneos (art. 13), com restries necessrias para a proteger estes aqferos da poluio e garantir o abastecimento pblico e demais usos prioritrios. As zonas sero classificadas em: - rea de Proteo Mxima - rea de Restrio e Controle - rea de Proteo de Poos e Outras Captaes Para uma gesto eficiente das guas subterrneas, constitui-se como extremamente necessrio a realizao de estudos hidrogeolgicos. Isto se explica pelo fato que pouco se sabe sobre o funcionamento dos nossos aqferos subterrneos e do seu atual estado de degradao, e estas informaes de maneira nenhuma se mostram

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evidentes a exames ambientais superficiais. A lei 13.771/2000 exige os seguintes estudos tcnicos: - Caracterizao hidrogeolgica local,