legalizaÇÃo das drogas ilÍcitas politica ... · modelos de legalização de drogas. a monografia...

89
ANDERSON MICHEL RODRIGUES SANTOS LEGALIZAÇÃO DAS DROGAS ILÍCITAS: POLITICA ANTIPROIBICIONISTA DA REGULAMENTAÇÃO DO USO E DO TRÁFICO DE DROGAS RECIFE 2012

Upload: doanmien

Post on 27-Dec-2018

224 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: LEGALIZAÇÃO DAS DROGAS ILÍCITAS POLITICA ... · modelos de legalização de drogas. A monografia apresenta as seguintes subdivisões: O capitulo 1 apresenta o conceito de drogas

ANDERSON MICHEL RODRIGUES SANTOS

LEGALIZAÇÃO DAS DROGAS ILÍCITAS:

POLITICA ANTIPROIBICIONISTA DA REGULAMENTAÇÃO DO USO E DO TRÁFICO

DE DROGAS

RECIFE

2012

Page 2: LEGALIZAÇÃO DAS DROGAS ILÍCITAS POLITICA ... · modelos de legalização de drogas. A monografia apresenta as seguintes subdivisões: O capitulo 1 apresenta o conceito de drogas

UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO

CENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS

FACULDADE DE DIREITO DO RECIFE

LEGALIZAÇÃO DAS DROGAS ILÍCITAS:

POLITICA ANTIPROIBICIONISTA DA REGULAMENTAÇÃO DO USO E DO TRAFICO

DE DROGAS

Monografia apresentada à banca

examinadora da faculdade de direito

do recife, universidade federal de

Pernambuco como exigência parcial

para a obtenção do grau de bacharel

em direito, sob a orientação do

professor Cláudio Roberto Cintra

Bezerra Brandão.

RECIFE

2012

Page 3: LEGALIZAÇÃO DAS DROGAS ILÍCITAS POLITICA ... · modelos de legalização de drogas. A monografia apresenta as seguintes subdivisões: O capitulo 1 apresenta o conceito de drogas

Ao deus pai, todo poderoso e aos meus pais pelo eterno incentivo.

Page 4: LEGALIZAÇÃO DAS DROGAS ILÍCITAS POLITICA ... · modelos de legalização de drogas. A monografia apresenta as seguintes subdivisões: O capitulo 1 apresenta o conceito de drogas

Agradeço o apoio que jamais me foi negado, a toda a minha família, em especial, a minha mãe Ivete Santos e ao meu pai Aventino Santos, aos meus irmãos Ligia, Antonio e Aventino Jr., aos meus avós, Deolinda e Maninha Mota e os meus avôs in memoriam, Antonio Mota, Juvito e Andrade Ribeiro, aos meus tios e tias, e também ao meu querido sobrinho Edvin. A minha querida namorada

Edira que sempre esteve do meu lado, aos meus amigos de cabo verde e de todo mundo. Agradeço a todos os funcionários e professores da faculdade de direito, da UFPE, em especial ao meu orientador professor Cláudio Brandão que sempre me apoiou e sempre me ajudou. Agradeço ao meu orientador pela sua disponibilidade e o empenho para que esse trabalho se concretizasse.

Page 5: LEGALIZAÇÃO DAS DROGAS ILÍCITAS POLITICA ... · modelos de legalização de drogas. A monografia apresenta as seguintes subdivisões: O capitulo 1 apresenta o conceito de drogas

“Assim como o direito veda ao poder humano invadir-nos a consciência, assim lhe veda transpor-nos a epiderme. Uma, envolve a região moral do pensamento. A outra, a região fisiológica do organismo. Dessas duas regiões se forma o domínio impenetrável da nossa personalidade”. Rui Barbosa

Page 6: LEGALIZAÇÃO DAS DROGAS ILÍCITAS POLITICA ... · modelos de legalização de drogas. A monografia apresenta as seguintes subdivisões: O capitulo 1 apresenta o conceito de drogas

RESUMO

O objetivo desse trabalho é demonstrar e tentar desvendar o mistério que existe por trás da

política antidrogas. Questionar esse sistema que fracassou como política, que aumentou o

consumo e trafico de drogas a níveis incontroláveis, que contribui para o aparecimento de

múltiplas outras drogas, que aumentou o numero de mortes com o seu combate . O objetivo

desse trabalho é também tentar entender o porque que este sistema aparece como refugio

de outros crimes e porque da criação de fenômenos como: a criminalização da pobreza, a

politização do crime e a criminalização da política. Este trabalho tem ainda como escopo

conhecer toda a política de proibição com o objetivo de compreender o fenômeno das

drogas, para que possa saber os verdadeiros males que ele evidentemente pode causar.

Apresentar políticas alternativas como a política de redução de danos e os modelos de

legalização para melhor combate as drogas através de uma regulamentação, do uso e do

trafico.

Palavra chave: Direito Penal, Criminologia, Sociologia Júridica, Políticas Publicas, Proibicionismo, Drogas

Page 7: LEGALIZAÇÃO DAS DROGAS ILÍCITAS POLITICA ... · modelos de legalização de drogas. A monografia apresenta as seguintes subdivisões: O capitulo 1 apresenta o conceito de drogas

ABSTRACT

The purpose of this study is demonstrate and try to unravel the mystery that exist behind of

antidrug policies. Question this system that failed as policy, which increased the

consumption and trafficking of drugs to the uncontrollable levels, which contributes to the

appearance of multiple other drugs, which increased the number of deaths with their fight.

The purpose of this study is also try to understand why this system appears as refuge for

other crimes, and why the creation of phenomena like: the criminalization of poverty, the

politicization of crimes, and criminalization of politics.This study has yet as a scope, know all

of the prohibition policy in order to understand the phenomenon of drugs, so you can know

the true ills that he evidently can cause. Presenting alternative policies such as the policy of

harm reduction and legalization models to better combat drugs through a regulation of use

and trafficking.

Keys Words: Criminal Rigth, Criminology, Legal Sociology, Public Policies, Prohibition,

Drugs.

Page 8: LEGALIZAÇÃO DAS DROGAS ILÍCITAS POLITICA ... · modelos de legalização de drogas. A monografia apresenta as seguintes subdivisões: O capitulo 1 apresenta o conceito de drogas

Résumé

Le but de ce travail est de démontrer et d'essayer de percer le mystère qui se cache derrière

la politique anti-drogue. Questionner ce système qui a échoué en tant que politique, qui a

augmenté la consommation et le trafic de drogues à des niveaux incontrôlables, qui

contribue à l'apparition de plusieurs d’autres drogues, qui a augmenté le nombre de décès

avec son combat. Le but de ce travail est aussi d'essayer de comprendre pourquoi ce

système apparaît comme refuge pour d'autres crimes, pourquoi la création de phénomènes

tels que la criminalisation de la pauvreté, la politisation du crime et la criminalisation de la

politique. Ce travail a encore comme but connaître tout la politique de prohibition afin de

comprendre le phénomène des drogues, pour que je puisse connaître les véritables maux

qu'il peut évidemment causer. Présenter des politiques alternatives telles que la politique de

réduction des risques et des modèles de légalisation pour mieux lutter contre les des

drogues a travers d'une réglementation de l'utilisation et de trafic.

Mot-Clé: Droit Penal, Criminologie, Sociologie du Droit, des Politiques Publiques,

l'interdiction, les Médicaments

Page 9: LEGALIZAÇÃO DAS DROGAS ILÍCITAS POLITICA ... · modelos de legalização de drogas. A monografia apresenta as seguintes subdivisões: O capitulo 1 apresenta o conceito de drogas

RUZUMU

Obujetivu des trabadju li e dimonstra i tenta diskubri misteri ki sta pa tras di pulítika

antidróga. Kistiona kel sistema ki frakasa komu pulítika, ki omenta konsumu i tráfiku di

drógas pa nivis inkontrolavi, ki kontribui pa parsimentu di un munti otu dróga, ki omenta

nunbru di mórti ku si konbati. Obujetivu des trabadju li e tanbê tenta ntende pamódi ki kel

sistema la parse komu lugar di otus krimi sukundi i pamódi ki surji otus fenóminu sima:

kriminalizason di pobréza, pulitizason di krimi i kriminalizason di pulítika. Kel trabadju li ten

inda un otu intenson ki e konxe tudu pulítika di proibison ku obujetivu di konprende

fenómenu di drógas, pa sabedu kes verdaderu mal ki kel fenóminu la pode ividentimenti

tarse. Prizenta pulítikas alternativu sima pulítika di raduzi danus i modélus di legalizason

para konbati drógas midjór através di un ragulamentason di uzu i di tráfiku.

Palabra xavi: Diretu Penal, Kriminolojiâ, Sosiolojiâ Jurídiku, Pulítikas Públiku,

Proibisionismu, Drógas

Page 10: LEGALIZAÇÃO DAS DROGAS ILÍCITAS POLITICA ... · modelos de legalização de drogas. A monografia apresenta as seguintes subdivisões: O capitulo 1 apresenta o conceito de drogas

SUMÁRIO

Conteúdo INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 1

1. O CONCEITO DE DROGAS DO ORDENAMENTO JURÍDICO BRASILEIRO .......................... 4

1.1 LEI DE DROGAS: EVOLUÇÃO HISTÓRICA E LEGISLATIVA NO BRASIL ................................................ 4

1.2 DEFINIÇÕES LEGISLATIVAS ............................................................................................................... 11

1.3 CONCEITOS DOUTRINÁRIOS SOBRE DROGA ..................................................................................... 16

1.4 O PROBLEMA DAS SUBSTÂNCIAS NÃO CONSIDERADAS DROGAS ...................................................... 19

2 ANALISE DA LEI DE ANTITÓXICOS (LEI 6368/76) E DA LEI DE DROGAS (LEI 11.343/06) .................. 21

2.1 LEI 6368/76 – LEI ANTITÓXICOS ....................................................................................................... 21

2.2 LEI 11.343/06 – LEI DE DROGAS ...................................................................................................... 26

3 MODELOS DE CONTROLE SOBRE DROGAS ...................................................................................... 31

3.1 MODELOS PROIBICIONISTA ................................................................................................................ 31

3.2 DANOS PROVOCADOS PELA POLÍTICA REPRESSIVA ......................................................................... 42

3.3 POLÍTICA DE REDUÇÃO DE DANOS .................................................................................................... 47

4 LEGALIZAÇÃO DAS DROGAS: ESTRATÉGIAS ALTERNATIVAS AO CONSUMO E AO TRAFICO DE DROGAS

........................................................................................................................................................ 54

4.1 MODELOS DA LEGALIZAÇÃO DE DROGAS .......................................................................................... 58

4.1.1 LEGALIZAÇÃO LIBERAL ................................................................................................................ 59

4.1.2 LEGALIZAÇÃO COM FORTE CONTROLE ESTATAL ....................................................................... 60

4.1.3 LEGALIZAÇÃO CONTROLADA ....................................................................................................... 65

CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................................................. 72

REFERENCIAS .................................................................................................................................. 75

Page 11: LEGALIZAÇÃO DAS DROGAS ILÍCITAS POLITICA ... · modelos de legalização de drogas. A monografia apresenta as seguintes subdivisões: O capitulo 1 apresenta o conceito de drogas

1

Introdução

O consumo de drogas não é uma inovação da contemporaneidade, mas um

comportamento historicamente determinado. O abuso e a dependência de drogas, no

entanto, são fenômenos mais recentes, característicos das sociedades modernas,

industriais, constituindo-se em uma importante questão de saúde e de segurança pública. O

que mudou nos tempos modernos refere-se á fabricação de substancias sintéticas, a

produção em grande escala, a introdução de convenções sociais e jurídicas, e a

transformação da droga em mercadoria lucrativa envolvendo inúmeros interesses de

produção, comercialização, propaganda, fiscal, etc.

No Brasil, ao longo dos últimos anos houve um aumento do consumo de

drogas, sendo o álcool e o tabaco, substancias socialmente aceitas, que causam a maior

parte dos problemas causados pelas drogas no país.

Nas sociedades contemporâneas o inicio do uso de drogas é cada vez mais

precoce e estimulado por uma sociabilidade norteada pelo modo de produção capitalista

que promove o consumo de fetiches e a obtenção do prazer imediato. Neste cenário as

drogas aparecem como uma possibilidade de suprir estas novas necessidades. Mas

contraditoriamente, o consumo de drogas licita é propagandeado e naturalizado, enquanto

que o consumo de drogas ilícitas é marginalizado e demonizado. Esta expressão da

questão social exige do estado e da sociedade uma mudança de comportamento.

O estudo das políticas antiproibicionistas tem por objetivo compreender a

estratégia proibicionista de criminalização de determinadas drogas como meio puramente

simbólico de proteção da saúde pública.

Destacam-se as peculiaridades da questão da droga, e as transformações

ocorridas a partir do inicio do século XX, quando se deu a criminalização.

Page 12: LEGALIZAÇÃO DAS DROGAS ILÍCITAS POLITICA ... · modelos de legalização de drogas. A monografia apresenta as seguintes subdivisões: O capitulo 1 apresenta o conceito de drogas

2

A pesquisa foca na atuação do sistema repressivo e seu impacto no sistema

penal e na sociedade. Também tem como foco a analise de alternativas ao sistema

repressivo, como a redução de danos e a legalização das drogas. A necessidade e a

compreensão dessas alternativas como propostas racionais de alteração na legislação.

A tese assume o deslocamento temático das políticas antiproibicionistas,

apresentando como proposta ao proibicionismo as políticas de redução de danos e os

modelos de legalização de drogas.

A monografia apresenta as seguintes subdivisões:

O capitulo 1 apresenta o conceito de drogas no ordenamento jurídico

brasileiro. Trazendo como ideia central as diferentes abordagens sobre o conceito de droga

na legislação Brasileira. Inicia-se o trabalho fazendo uma abordagem das leis de “droga”, da

sua evolução histórica e legislativa, depois passa pela analise doutrinaria da sua

terminologia “droga”, e no final desse capitulo trago a problemática das substancias não

consideradas como drogas, o seu impacto na sociedade e na legislação.

O capitulo 2 explora as leis 6368/76, conhecida como lei antitóxicos e a lei

11.343/06, conhecida como a nova lei de drogas. O objetivo desse capitulo é mostrar a

diferença entre essas leis no que se refere ao tratamento sobre a repressão as drogas,

explicita a questão da proibição do uso de drogas, e do trafico de drogas e das políticas

publicas tendo em conta a prevenção e a reabilitação dos usuários, e de como essas leis

tratam essa matéria.

O capitulo 3 ingressa no tema sobre os modelos de controle sobre drogas

mas propriamente sobre o modelo proibicionista. Procuram-se mostrar a origem, as

ideologias fundamentadoras do sistema repressivo, a sua evolução enquanto sistema. O

capitulo 3 explora também os danos provocados pelo sistema repressivo, as suas falhas e o

seu fracasso. Analisam os danos provenientes do combate ás drogas, e as consequências

devastadoras provocadas pelo sistema repressivo, o aumento da epidemia da AIDS,

aumento do consumo e do trafico de drogas e também o aumento do numero de mortes

provocados pelo uso e pelo combate as drogas. E por fim trás a política de redução dos

Page 13: LEGALIZAÇÃO DAS DROGAS ILÍCITAS POLITICA ... · modelos de legalização de drogas. A monografia apresenta as seguintes subdivisões: O capitulo 1 apresenta o conceito de drogas

3

danos provocados pelo proibicionismo, tentando minimizar os danos e reduzir ao maximo os

problemas provocados pela marginalização dos usuários.

O ultimo capitulo, o capitulo 4 enfrenta o problema da repressão, e apresenta

como solução a legalização das drogas. Nesse capitulo é apresentamos as estratégias de

legalização do uso e do trafico de drogas. Inicia-se com uma pequena abordagem sobre os

outros modelos que antecederam a legalização, mas que tiveram sua importância para a

flexibilização do sistema repressivo. Trazemos a colação os modelos de descriminalização

e despenalização de algumas condutas de comercio de drogas leves e do seu cultivo.

Depois passamos a analise dos modelos de legalização propriamente ditos, começando

com o modelo de legalização liberal defendida por Milton Friedmann; depois o modelo de

legalização com forte controle estatal, defendida por Henrique Carneiro e por fim o modelo

de legalização controlada defendida por Francis Callabero.

A compreensão do fenômeno das drogas passa-se por uma analise

transdiciplinar, que atravessa os campos, da criminologia, da política criminal, e das

ciências sociais, com o auxilio das ciências médicas e da economia, além da historia. Por

isso a importância de estudar as origens do proibicionismo e a evolução das leis penais

para se evidenciar como se deu a construção do conceito de ilicitude sobre as drogas, como

fundamento do modelo repressivo.

Page 14: LEGALIZAÇÃO DAS DROGAS ILÍCITAS POLITICA ... · modelos de legalização de drogas. A monografia apresenta as seguintes subdivisões: O capitulo 1 apresenta o conceito de drogas

4

1. O CONCEITO DE DROGAS DO ORDENAMENTO JURÍDICO BRASILEIRO

1.1 LEI DE DROGAS: EVOLUÇÃO HISTÓRICA E LEGISLATIVA NO BRASIL

A tutela penal sobre as drogas no Brasil começa com as Ordenações

Filipinas sob a forte influência do direito Romano, do direito Canônico e do Germânico.

Dispunha em seu Titulo 89: que ninguém tem em casa resolgar, nem o venda, nem outro

material venenoso:

Nenhuma pessoa tenha em sua casa para vender, resolgar branco1,

nem vermelho, nem amarelo, nem solimão2, nem água delle e nem

escamonea3, nem ópio, salvo se for boticário examinado, e tenha

licença para ter botica, e usar de oficio. E qualquer outra pessoa que tiver em sua caza alguma das ditas cousas para vender, perca toda sua fazenda, a metade para nossa câmera, e a outra para quem o accusar, e seja degradado para África até nossa mercê. E a mesma pena terá quem as ditas cousas trouxer de fora, e as vender a pessoas, que não forem Boticários

4

Depois das Ordenações Filipinas segue-se o código criminal do império do

Brasil que não tratou especificamente da matéria, mas o regulamento 29 de setembro de

1851 dispôs sobre as drogas ao tratar da policia sanitária e da venda de substancias

medicinas e de medicamentos:

Art. 48. Inspeccionarão com o maior escrupulo as substancias alimentares expostas á venda; visitarão todos os annos, huma vez pelo menos e em epocas incertas, as boticas quer de particulares, quer de Corporações, as drogarias, armazens de mantimentos casas de pasto, botequins, mercados publicos, confeitarias açougues, hospitaes, colegios, cadêas, aqueductos, cemeterios, officinas, laboratorios, ou fabricas, em que se manipulem remedios ou quaesquer outras substancias que servem para a, alimentação e podem prejudicar a saude; e em geral todos os lugares donde possa provir damno á Saude Publica, ou pelas substancias que se frabricão

1 Rosolgar Branco: ôxido de arcenico

2 Solimão, Currupção de Sublimado: sal de mercurio, hoje em dia cloreto de mercurio

3 Escamonea: uma planta de cuja a raiz se extrai por incisão um suco residoso, eslhartico mui ativo,

disgridio. 4 As ordenações Filipinas, Livro V, Titulo LXXXIX. Disponivel em:

«www1.ci.uc.pt/ihti/proj/filipinas/15p1240.htm» Acesso em: 2012.06.29.

Page 15: LEGALIZAÇÃO DAS DROGAS ILÍCITAS POLITICA ... · modelos de legalização de drogas. A monografia apresenta as seguintes subdivisões: O capitulo 1 apresenta o conceito de drogas

5

ou pelos trabalhos que se operão, devendo preceder as convenientes participações ás respectivas Autoridades, quando se

trate de Estabelecimentos publicos5.

Art. 67. Os medicamentos compostos, de qualquer denominação que sejão, ou quaesquer outros activos, não poderão ser vendidos senão por pessoa legalmente autorisada. Os droguistas não poderão vender drogas ou medicamentos por peso medicinal, nem poderão

vender os medicamentos compostos chamados officinaes6.

Art. 68. As substancias venenosas constantes da 1ª tabella a que se refere o Art. 79 não poderão ser vendidas se não a Boticarios e droguistas matriculados. As empregadas em artes e para fabricas só serão vendidas aos fabricantes, quando estes apresentarem certidão

de matricula7.

Segue-se então o Código Penal de 1890, que considerava Crime, expor a

venda ou misturar substâncias venenosas sem autorização e sem formalidades previstas

nos regulamentos sanitários.

Nessa época o Brasil não tinha adotado nenhuma política sobre as Drogas,

apenas tratava de substâncias venenosas.

A partir da Convenção Internacional do Ópio em Haia, em 1912, o Brasil

passou a fiscalizar o consumo da Cocaína e do Ópio. Já se iniciava um controle do

consumo e do trafico dessas substancias por parte do governo brasileiro.

Com o aumento da demanda pelas Drogas, aumenta também a oferta, que

começa a preocupar as autoridades brasileiras. Por causa disso, foi criado o decreto nº

4294, de 6 de julho de 1921, que depois foi modificado pelo decreto nº 15.683, seguindo-se

regulamento aprovado pelo decreto nº 14.969, de 3 de setembro de 1921.

A titulo de exemplo, a maconha (cannabis sativa) foi proibida no Brasil a partir

de 1930, por causa do aumento da demanda, a partir de quando as normas penais

5 Decreto nº 828, de 29 de setembro de 1851. Publicação Original: Legislação Informatizada:

acesso em: «WWW2.camara.gv.br/legin/fed/decret/1824-1899_decreto-828-29-setembro-1851-549825-publicacaooriginal-81781-pe.html». Acesso: 2012.06.29. 6 Ibidem. 29 de Setembro de 1851.

7 Ibidem. 29 de Setembro de 1851.

Page 16: LEGALIZAÇÃO DAS DROGAS ILÍCITAS POLITICA ... · modelos de legalização de drogas. A monografia apresenta as seguintes subdivisões: O capitulo 1 apresenta o conceito de drogas

6

brasileiras começaram a ser editadas conforme a evolução do consumo e do trafico de

Drogas.

O decreto 4294 de 06 de julho de 1921, regulamentada posteriormente pelo

decreto nº 14.969, de 03 de setembro de 1921, previa em seu texto a internação

compulsória de usuários de substancia de entorpecentes, no seu artigo 6º.

A primeira disposição expressa sobre a proibição de algum tipo de substância

tóxica somente é encontrada no Código Penal Republicano de 1890. Segundo o Código,

era considerado delito: “Expor á venda ou ministrar substância venenosa sem legítima

autorização e sem formalidades previstas nos regulamentos sanitários8”.

Note-se que a primeira disposição expressa referente a substâncias tóxicas

no país já consagrava norma penal em branco que seria complementada, posteriormente

pelos regulamentos sanitários vinculados à discricionariedade do poder executivo9.

Em abril de 1936, a publicação do Decreto 780, modificado pelo Decreto

2.953 de agosto de 1938, é considerada o primeiro “grande impulso” na luta contra a

toxicomania no Brasil10.

Uma das consequências dessa influencia foi à edição da Lei de Lavagem de

Dinheiro, “A ligação entre essas duas atividades ilícitas verifica-se no momento em que os

grandes traficantes de Drogas procuram no Money Laundering (lavagem de dinheiro) um

meio de encobrir os ganhos oriundos do comercio ilegal de Drogas11.

A partir de 1942, quando o Decreto-Lei 4.720 dispôs sobre cultivo e,

principalmente, após 1964, momento em que a Lei 4.451 introduz ao tipo do artigo 281 a

ação de plantar, veremos, na legislação pátria, processo de total descodificação, do controle

8 Carvalho, Salo de. A Política Criminal de Drogas no Brasil, do discurso de Descriminalização.

Rio de janeiro: Luam, 1996, p.19. 9 Idem, op. Cit., p.20

10 Idem, op. Cit., p.20

11 Carlyle, Raimundo. Crime de “Lavagem de Dinheiro”: Disponivel em

«http://carlyle.blog.digi.com.br». Acesso em: 2012.07.02

Page 17: LEGALIZAÇÃO DAS DROGAS ILÍCITAS POLITICA ... · modelos de legalização de drogas. A monografia apresenta as seguintes subdivisões: O capitulo 1 apresenta o conceito de drogas

7

de drogas ilícitas, com consequências drásticas para toda a estrutura legislativa em matéria

criminal12.

O Legislador Constituinte de 1988 ao editar a norma do art. 5º, XLIII, criou a

categoria de “crimes hediondos”. A Lei de crimes hediondos foi considerada o suporte legal

e político criminal para a edição da lei do crime organizado13.

Em 21 de outubro de 1976 foi decretada a lei nº 6368, que dispunha sobre

medidas de prevenção e repressão ao trafico ilícito, e ao uso indevido de substancias

toxicas, ou substâncias que determinem a dependência física e psíquica.

Após vinte e seis anos de vigência da Lei 6368/76, acompanha-se a

modificação da visão proibicionista para uma política abolicionista, impulsionada pela

descriminalização do uso de substâncias toxicas.

Após longa tramitação legislativa, em 11 de janeiro de 2002 é editada a Lei

10.409/02, conhecida como «Lei de Tóxicos», elaborada no intuito de substituir a anterior. A

Lei de Tóxicos em nada inovou, mantendo o desrespeito aos direitos humanos14.

Atualmente vige a lei nº 11.343, de 23 de Agosto de 2006, que veio instituir o

sistema nacional de políticas sobre drogas – SISNAD; prescrever medidas para a

prevenção de uso indevido, atenção e reinserção social de usuários e dependentes de

drogas; estabelecer normas para a repressão, a produção não autorizada e ao trafico ilícito

de drogas e definir crimes.

O capitulo III da Lei 11.343/2006, volta a sua atenção para o usuário e

dependentes de drogas. Para fins penais, entende-se por usuário de drogas com o advento

12

Carvalho, Salo de. Op. cit., p. 20-21. 13

Carvalho, Salo de. Op. Cit., p. 118

14 PACHECO FILHO, Vilmar Velho. Lei Antitóxicos. 2. Ed., Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2005, p. 19.

Page 18: LEGALIZAÇÃO DAS DROGAS ILÍCITAS POLITICA ... · modelos de legalização de drogas. A monografia apresenta as seguintes subdivisões: O capitulo 1 apresenta o conceito de drogas

8

da Lei 11.343/06, “quem adquire, guarda, tem em depósito, transporta ou traz consigo, para

consumo pessoal, qualquer tipo de droga proibida, art. 2815.

Em relação ao art. 28 da Lei 11.343/06, houve concomitantemente

descriminalização formal e despenalização do uso de drogas, ou seja, o fato deixou de ser

crime, mas continua dentro do direito penal16.

Os conceitos de descriminalização e despenalização são usados muitas

vezes como sendo sinônimas confundindo muitas vezes o leitor. Cabe fazer uma distinção

entre elas: “Descriminalizar significa retirar de algumas condutas o caráter de criminosas. O

fato descrito na lei penal, como infração penal, deixa de ser crime17”.

Segundo os autores Bianchini, ET AL. (2009), há três espécies de

descriminalização:

a) Descriminalização formal – é o que retira o caráter criminoso do fato, mas

não o retira do campo do direito penal. Transforma o “crime” numa infração

penal “sui generis”. O fato descriminalizado formalmente só perde a

característica de crime, mas é punido com outras sanções.

b) Descriminalização “penal” – é o que elimina o caráter criminoso do fato e

o transforma em um ilícito civil ou administrativo. O fato descriminalizado

penalmente é eliminado do âmbito do direito penal, mas continua sendo

punido como ilícito civil ou administrativo.

c) Descriminalização substancial – a que afasta o caráter criminoso do fato

e o legaliza totalmente.

15

Bianchini, A.; Gomes, L.F.; Cunha, R.S.; Oliveira, W.T. de. Lei 11.343/06: Legislação Criminal Especial. são Paulo: editora revista dos tribunais, 2009, vol. 6, p. 163. 16

Bianchini et AL. Ibidem. 2009, p. 166. 17

Bianchini et AL. Ibidem. 2009.p. 167

Page 19: LEGALIZAÇÃO DAS DROGAS ILÍCITAS POLITICA ... · modelos de legalização de drogas. A monografia apresenta as seguintes subdivisões: O capitulo 1 apresenta o conceito de drogas

9

A legalização, é o fato descriminalizado substancialmente e deixa de ser

ilícito, passa a não admitir qualquer tipo de sanção. Saí do campo sancionatorio do direito18.

Despenalizar significa suavizar a resposta penal, evitando-se ou mitigando-se

o uso da pena de prisão, mas mantendo-se intacto o caráter ilícito do fato, o fato continua

sendo uma infração de outra natureza. O caminho natural da despenilização consiste na

adoção de penas alternativas para a infração19.

Segundo o entendimento da 6ª Câmara do tribunal de justiça de são Paulo

(apelação criminal 993.07.126537-3, rel. José Henrique R. Torres, J. 31.03.2008),

considerou que portar droga para o uso próprio não configura delito, e que representaria

uma afronta ao principio da alteridade, pois pune conduta inofensiva ao bem jurídico de

terceiro, lesando o direito fundamental a liberdade, a intimidade e da igualdade, já que

subtraído individuo a prerrogativa inalienável de gerenciar sua própria vida de maneira que

lhe aprouver, independente da moralista intervenção estatal20.

O principio da alteridade resumida por Luiz Flavio Gomes, em obra coletiva e

também um dos coordenadores:

Só é relevante o resultado que afeta terceiras pessoas ou interesses de terceiros. Se o agente ofende bens jurídicos pessoais, não há crime. Exemplos tentativa de suicídio, autolesão, danos a bens patrimoniais próprios

21.

No entendimento do STF (Supremo Tribunal Federal), o art. 28 faz parte do

direito penal e é crime. Apenas houve uma mera despenalização, não se podendo falar em

“Abolitio Criminis22” (STF. RE 430.105-9-RJ, Rel. Min. Sepúlveda Pertence, J.13.02.2007).

18

Bianchini et AL. Ibidem. 2009.p. 167 19

Bianchini et AL. Ibidem. 2009.p. 167 20

Bianchini et AL. Ibidem. 2009.p. 173. 21

Bianchini et AL. Ibidem. 2009.p. 174 22

“Com o abolition criminis, cessam todos os efeitos penais da condenação, além de extinguir-se a culpabilidade, não subsistindo nenhum efeito penal decorrente daquele fato (art. 107 do código penal)”.

Page 20: LEGALIZAÇÃO DAS DROGAS ILÍCITAS POLITICA ... · modelos de legalização de drogas. A monografia apresenta as seguintes subdivisões: O capitulo 1 apresenta o conceito de drogas

10

O professor Luiz Flavio Gomes, entende que o art. 28, não constitui crime,

mas sim uma intervenção penal sui generis, isto é, houve uma descriminalização formal e

ao mesmo tempo despenalização, mas não abolitio criminis. Já a professora Alice

Bianchini, entende que o art. 28 não pertence ao direito penal, ma sim, é uma infração do

direito judicial sancionador, ou seja, sanção alternativa é fixada em transação penal, seja

quando imposta em sentença final, no procedimento sumaríssimo das leis dos juizados

especiais, tendo ocorrido descriminalização substancial, ou seja, abolitio criminis23.

É prevista para os usuários penas alternativas que não possuem o caráter

penal, no sentido clássico da palavra, quando imposta em transação penal, que são as

seguintes24:

a) Advertência sobre os efeitos das drogas.

b) Prestação de serviços á comunidade.

c) Medida educativa de comparecimento a programa ou curso educativo.

A lei 11.343, no seu art. 31 prevê a repressão à produção não autorizada, e

sobre o tráfico ilícito de Drogas:

É indispensável à licença prévia da autoridade competente para produzir, extrair, fabricar, transformar, preparar, possuir, manter em deposito, importar, exportar, reexportar, remeter, transportar, expor, oferecer, vender, trocar, ceder ou adquirir, para qualquer fim, drogas ou matéria- prima destinada a sua preparação, observada as demais exigências legais

25.

O art. 2º da mesma lei proíbe, em todo o território nacional, as drogas, bem

como o plantio, a cultura, a colheita e a exploração de vegetais e substratos dos quais

possam ser extraídas ou produzidas drogas, ressalvada a hipótese da previa autorização

legal ou regulamentar, bem como o que estabelece a convenção de Viena, das Nações

23

Bianchini et AL. Ibidem. 2009, p. 174 24

Lei de Drogas. Art. 28, Lei 11.343/2006. 25

Lei de Drogas. Art. 31, lei 11.343/2006.

Page 21: LEGALIZAÇÃO DAS DROGAS ILÍCITAS POLITICA ... · modelos de legalização de drogas. A monografia apresenta as seguintes subdivisões: O capitulo 1 apresenta o conceito de drogas

11

Unidas, sobre substancias psicotrópicas, de 1971, a respeito de plantas de uso estritamente

ritualístico religioso 26.

Para além das inovações legislativas que a lei 11.343/06 trouxe, também

instituiu o Sistema Nacional de Políticas Públicas sobre Drogas (SISNAD), órgão

encarregado de articular, integrar, organizar e coordenar as atividades relacionadas com a

prevenção do uso indevido, a atenção e a reinserção social de usuários e dependentes de

drogas e também, com a repressão da produção não autorizada e do tráfico ilícito de

drogas.

Essa inovação trás um reconhecimento da prevenção do uso de drogas, por

meio da educação e do tratamento dos usuários e dependentes, além de representar um

refinamento no que concerne á repressão, com aumento de penas e tipificação de novos

crimes27.

1.2 DEFINIÇÕES LEGISLATIVAS

No que refere a terminologia da palavra Droga, observamos que a

Constituição Federal dispõe de «trafico ilícito de entorpecentes e drogas afins».

As Leis 6.368/76, no seu art. 1º utilizavam as expressões “substancia

entorpecente ou que determine dependência física ou psíquica”, e também a lei

10.409/2002, no seu art. 1º utilizava a mesmas expressões.

26

Bianchini et AL. Ibidem. 2009.p. 193. 27

Sistema Nacional de Politicas Públicas sobre Drogas- SISNAD: Disponivel em: «http://apache.camara.gov.br/portal/arquivos/Camara/internet/publicacoes/edicoes/elivros.html/sisnad.pdf» . Acesso em: 2012.07.16.

Page 22: LEGALIZAÇÃO DAS DROGAS ILÍCITAS POLITICA ... · modelos de legalização de drogas. A monografia apresenta as seguintes subdivisões: O capitulo 1 apresenta o conceito de drogas

12

Na nova Lei de Drogas, Lei 11.343/06, utiliza simplesmente o termo “Drogas”.

Como nas Leis anteriores, ela não relaciona quais substâncias se enquadram na definição

de “Drogas”, a Lei apenas faz referencia que são produtos capazes de causar dependência,

assim especificados em Lei ou relacionados em listas atualizadas periodicamente pelo

Poder Executivo da União, ou seja, trata-se de norma penal em branco, que precisa de

outra norma para completar o seu sentido.

A norma penal em branco foi utilizada pela primeira vez por Karl Binding

como explica Magalhães de Noronha:

Ele utiliza como lei penal em branco para batizar leis que continham a sanctio júris determinada, com tipo genérico formulada como proibição, a ser completado por outra lei em sentido amplo. E também é dele, a frase “a lei penal em branco é um corpo errante em busca de alma

28.

Um dos órgãos competentes do Poder Executivo da União para estabelecer o

rol de substâncias considerada Drogas, é a ANVISA (Agencia Nacional de Vigilância

Sanitária), e algumas utilizadas como insumos na produção de drogas são regulamentadas

pelo Ministério da justiça.

A ANVISA divide as substancia consideradas drogas em varias listas29:

a) Lista A1 (listas das substancias entorpecentes);

b) Lista A2 (lista das substancias entorpecentes de uso permitido

somente em concentrações especiais);

c) lista A3 e B1 (listas das substancias psicotrópicas);

d) Lista B2 (lista das substancias psicotrópicas anorexígenas);

e) Lista C1 (lista das outras substancias sujeitas a controle especial);

28

Noronha, Magalhães. Direito Penal. Editora: Saraiva, 1981, vol. 1, pág. 57. 29

Agencia Nacional de Vigilância Sanitária. Portaria n.º 344, de 12 de maio de 1998. Disponivel em: «http://www.anvisa.gov.br/legis/portarias/344_98.htm». Acesso em: 2012.07.16.

Page 23: LEGALIZAÇÃO DAS DROGAS ILÍCITAS POLITICA ... · modelos de legalização de drogas. A monografia apresenta as seguintes subdivisões: O capitulo 1 apresenta o conceito de drogas

13

f) Lista D1 (lista de substancias precursoras de entorpecentes e/ou

psicotrópicos);

g) Lista D2 (lista de insumos químicos utilizados como precursores para

fabricação e síntese de entorpecentes e/ou psicotrópicos);

h) Lista F (lista de plantas que podem originar substancia entorpecentes

e/ou psicotrópicas);

i) Lista F2 (substancias psicotrópica).

A secretaria de vigilância sanitária do Ministério da saúde (SVS/MS) precisa

conceder uma licença chamada de autorização especial, a empresas, instituições e órgãos,

para o exercício de atividades de extração, produção, transformação, fabricação,

fracionamento, manipulação, embalagem, distribuição, transporte, reembalagem,

importação e exportação das substancias constantes das listas anexas a este Regulamento

técnico30.

Para a autorização da dispensa de medicamentos, das listas A1 e A2

(entorpecentes); A3, B1 (psicotrópicas), B2 (psicotrópicas Anorexígenas); C2 (retinóica para

uso sistêmico) e C3 (imunossupressoras) é preciso uma notificação de receita. Notificação

de receita é um documento que acompanha a receita autorizando a dispensa dos

medicamentos31.

Constam ainda nas listas da ANVISA, algumas substâncias que podem ser

utilizadas licitamente, como por exemplo, a Morfina e a Anfetamina. Então, comete crime de

trafico ilícito de droga “o agente que porta a substancia sem autorização ou em desacordo

com determinação legal ou regulamento32”.

30

Ibidem . 2012.07.02 31

Ibidem .2012.07.02 32

Lei de Drogas. Art. 31, Lei 11.343/2006.

Page 24: LEGALIZAÇÃO DAS DROGAS ILÍCITAS POLITICA ... · modelos de legalização de drogas. A monografia apresenta as seguintes subdivisões: O capitulo 1 apresenta o conceito de drogas

14

Considerando que algumas das substâncias e produtos químicos têm

sofridos desvios de suas legitimas aplicações para serem usadas licitamente, como

precursores, solventes, reagentes diversos e adulterantes ou diluentes, na produção,

fabricação e preparação de entorpecentes e substancias psicotrópica, e ainda considerando

a frequência com que certos produtos químicos vêm sendo encontrados em laboratórios

clandestinos de fabricação ilícita de drogas ou identificados nas amostras de entorpecentes

e substancias psicotrópicas apreendidas, fica sob a competência do Ministério da Justiça a

regulamentação dessas substancias pela Portaria nº 1.274, de 25 de agosto de 200333.

A Lei 11.343/06, no seu art. 1º estabelece como sendo Drogas, todas as

substancias ou produtos capazes de causar dependência, assim especificados em Lei ou

relacionados em listas atualizadas periodicamente pelo Poder Executivo da União. Temos

então um conceito de Drogas, que não ficou restrito a categoria de entorpecentes, nem das

substancias causadoras de dependência física ou psíquica. Drogas serão todas as

substancias ou produtos com potencial de causar dependência, mas que estejam

relacionados em dispositivo legal competente34.

O termo droga é a nomenclatura preferencial da Organização Mundial de

Saúde – OMS, que não mais utiliza os termos ou expressões “narcóticos”, “substâncias

entorpecentes” e “tóxicos”35.

A convenção sobre entorpecentes, da ONU, promulgada em 1961 e a

convenção contra o Trafico Ilícito de Entorpecentes e Substâncias Psicotrópicas, de Viena,

de 1988, ao se referirem as substancias toxicas ou entorpecentes, utilizam o Termo “Drug”.

33

Portaria nº 1.274, de 25 de agosto de 2003: Disponível em: « http://www.dpf.gov.br/servicos/produtos-quimicos/legislacao/PORTARIA1274.pdf». Acesso em: 2012.07.05. 34

Política Criminal e a lei Nº 11.343/2006. Nova Lei de Drogas: Novo Conceito de Substância Causadora de Dependência. Disponivel em:« http://jus.com.br/revista/texto/8957/politica-criminal-e-a-lei-no-11-343-2006-nova-lei-de-drogas-novo-conceito-de-substancia-causadora-de-dependencia#ixzz1ykhfrgbo. Acesso em: 2012.07.05 35

GRECO FILHO, Vicente. Tóxicos – Prevenção – Repressão. São Paulo: Saraiva, 1996, p. 4.

Page 25: LEGALIZAÇÃO DAS DROGAS ILÍCITAS POLITICA ... · modelos de legalização de drogas. A monografia apresenta as seguintes subdivisões: O capitulo 1 apresenta o conceito de drogas

15

A legislação Brasileira se baseia nas normas e recomendações dessas duas Convenções

internacionais como também de outras diretivas emanadas da ONU e da OMS.

A linguagem jurídica penal Brasileira também tem preferido o termo “drogas”,

referindo-se ás substancias até então legalmente denominadas de Substancias

Entorpecentes e Psicotrópicas.

O art. 66 da Lei 11.343/06, em consonância com referido parágrafo único, do

art. 1º, é taxativo ao definir como “drogas” as substancias Entorpecentes, Psicotrópicas, sob

o controle especial da Portaria SVS/MS nº344, de 12 de Maio de 1998. Trata-se de norma

penal em branco, a referida Portaria do Serviço de Vigilância Sanitária, do Ministério da

Saúde. É a norma penal em branco atuando como fonte integradora do mundo real com o

direito positivo.

Parte da doutrina considera que, melhor seria, analisando o caso concreto,

comprovar-se, através do competente laudo, a capacidade ou não, da substancia produzir

dependência36.

Acácio Rebouças, citado por Valdir Sznick, diz que: “(...) o que pensar dos

produtos estrangeiros que entram no país clandestinamente e são comercializados, e que

nunca figurão em nenhuma portaria de qualquer órgão administrativo?37”.

A convenção de Viena sobre substâncias Psicotrópicas (1971) já anotava:

Basta que uma droga tenha capacidade de produzir, um estado de dependência, estimulo ou depressão do sistema nervoso central, que cause alucinações, distúrbios de função motora, do raciocínio, do comportamento, da percepção ou do estado de ânimo ou abusos e efeitos semelhantes a uma substância constante da tabela I a IV, art. 2º. Item 4

38.

36

Bianchini et AL. Ibidem. 2009.p. 195 37

Bianchini et AL. Ibidem. 2009.p. 195 38

Convenção de Viena de 1971 sobre as substâncias psicotrópicas: Disponível em: « http://www.idt.pt/PT/RelacoesInternacionais/Documents/ConvencoesInternacionais/convencao_1971.pdf» Acesso em: 2012.07.05.

Page 26: LEGALIZAÇÃO DAS DROGAS ILÍCITAS POLITICA ... · modelos de legalização de drogas. A monografia apresenta as seguintes subdivisões: O capitulo 1 apresenta o conceito de drogas

16

1.3 CONCEITOS DOUTRINÁRIOS SOBRE DROGA

A origem etimológica da palavra Droga é incerta. Ela pode ter derivado de

Drowa (árabe) cujo o significado é bala de trigo, ou também pode ser originaria de Drooge

Vate (Holandês), cujo o significado são toneis de folhas secas. As palavras que

provavelmente levaram ao aparecimento da palavra Droga ressaltam sua natureza vegetal.

O consumo de Drogas nos tempos antigos ocorria exclusivamente a partir de plantas39.

A primeira língua a utilizar a palavra tal como nós conhecemos hoje foi o

francês, Drogue, ingrediente, tintura ou farmacêutica, remédio, produto farmacêutico.

Atualmente a medicina define Droga como sendo, qualquer substancia capaz de modificar o

funcionamento dos organismos vivos, resultando em mudanças fisiológicas ou de

comportamento40.

A organização mundial da saúde (OMS) define Droga como qualquer

substância, natural ou sintética que, uma vez introduzida no organismo vivo, pode modificar

uma ou mais de suas funções. O termo droga presta-se a varias interpretações, mas para o

senso comum é uma substancia proibida, de uso ilegal e nocivo, que pode modificar

funções orgânicas, as sensações, o humor e o comportamento. Em sentido restrito as

Drogas são substancias químicas que produzem alternações dos sentidos41.

A OMS considera a intoxicação química por substancias psicoativas como

uma doença e classifica a compulsão por Drogas como transtornos mentais e

comportamentais42.

39

Álcool e drogas sem distorção. NEAD- núcleo de Einstien de álcool e drogas do hospital isrealita Albert Einstein: Disponivel em « http://apps.einstein.br/alcooledrogas/novosite/drogas_conceito.htm». Acesso em: 2012.07.05. 40

Ibidem. 2012.07.05. 41

O Assunto é Droga. Disponivel em: «http://oassuntoedroga.blogspot.com.br/2009/08/definicao-de-droga.html» Acesso em: 2012.07.05. 42

ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS. Programa de prevenção às drogas e HIV/AIDS: Escritório contra drogas e crimes – UNODC : disponível em: « http://www.unodc.org/brazil/pt/campanha_drogas_2007.html». Acesso em: 2012.07.05.

Page 27: LEGALIZAÇÃO DAS DROGAS ILÍCITAS POLITICA ... · modelos de legalização de drogas. A monografia apresenta as seguintes subdivisões: O capitulo 1 apresenta o conceito de drogas

17

Do ponto de vista farmacológico, Droga é um termo muito amplo, que

engloba qualquer substancias que, quando administrada ou consumida por um ser vivo,

modifica uma ou mais das suas funções, com exceção daquelas substancias necessárias

para a manutenção da saúde normal43.

Na tentativa de delimitar os diversos campos de significação do vocábulo em

questão, Vicente Greco Filho, citando o autor espanhol Javier Ignacio Prieto Rodriguez,

conceitua drogas, em sentido amplo, como “um fenômeno contracultural que significa

qualquer substância não admitida pela coletividade, cuja concepção esconde um jogo de

interesses e conotações subjetivistas, morais, políticas44”.

Segundo o historiador Henrique Carneiro, a palavra “droga” é um derivado do

termo holandês “droog”, usado para produtos secos e substâncias naturais utilizadas,

principalmente, na alimentação e na medicina. Antes de definir os produtos usados como

remédio, o termo “droga” representava, na época colonial, “um conjunto de riquezas

exóticas, produtos de luxo destinados ao consumo, ao uso médico e também como ‘adubo’

da alimentação” – tornando-se, mais tarde, o que conhecemos como especiarias. As

fronteiras e as diferenciações entre droga e alimento, tão bem definidas nos dias de hoje,

foram delineadas ao longo dos séculos por fortes ambições de controle político e jurídico45.

Mais do que apropriar-se da experiência do uso de Drogas, o que as

sociedades modernas parecem ter feito foi criar literalmente o próprio fenômeno das

Drogas; e o criaram sob duas vias principais: a medicalização e da criminalização da

experiência do consumo de substancias que produzem efeitos sobre os corpos e que, até

sua prescrição e penalização, não eram consideradas como Drogas46.

43

Vernancio, Renato Pinto; Carneiro, Henrique. Álcool e Drogas na história do Brasil. Editora: Puc Minas, 2005, p.157. 44

Vicente, Greco FILHO. Tóxicos: prevenção-repressão. 2009, p. 6. 45

Carneiro, Henrique, Transformações do significado da palavra ‘droga: das especiarias coloniais ao proibicionismo contemporâneo. apud in: Vernâncio, Renato Pinto; Carneiro, Henrique (orgs.). Álcool e drogas na História do Brasil. São Paulo, Alameda, Belo Horizonte, PUC Minas, 2005, p. 13-15). 46

Fiore, Mauricio. A medicalização da questão do uso de drogas no Brasil: reflexões acerca de debates institucionais e jurídicos. apud in: Renato Pinto Venâncio e Henrique Carneiro (orgs.).

Page 28: LEGALIZAÇÃO DAS DROGAS ILÍCITAS POLITICA ... · modelos de legalização de drogas. A monografia apresenta as seguintes subdivisões: O capitulo 1 apresenta o conceito de drogas

18

Para o filósofo Michel Foucault, “as drogas são parte de nossa cultura”. Da

mesma forma que não podemos dizer que somos ‘contra’ a música, não podemos dizer que

somos‘contra’ as drogas47.

Algumas substâncias, nomeadas a partir de então como drogas, propiciavam

estados de loucura, comportamentos anormais e se tornavam, enfim, vícios que impediam

um desenvolvimento de uma vida social saudável e regrada. Essas substâncias foram

separadas de outras cuja a função terapêutica podia ser comprovada cientificamente, e que

terminaram restritas sob o aval dos médicos48.

A Secretaria Nacional Antidrogas (SENAD) do governo Brasileiro, classifica

as Drogas de forma muito pratica:

a) Drogas que diminuem a atividade mental, que são as Drogas

Depressoras. Essas Drogas afetam o cérebro, funcionando de forma mais

lenta diminuindo a atenção, a concentração, a tensão emocional e a

capacidade intelectual. Exemplos: Ansiolíticos (Tranquilizantes), Álcool,

Inalantes (cola de sapateiro), Narcóticos (Morfina, Heroína).

b) Drogas que aumentam a atividade mental são as Drogas Estimulantes.

Afetam o cérebro, funcionando de forma mais acelerada. Exemplos: Cafeína,

Tabaco, Anfetamina, Cocaína, Merla, Crack.

c) Drogas que alteram a percepção, são as substancias Alucinógenas.

Provocam distúrbios no funcionamento do cérebro, de forma que ela passa a

trabalhar desordenadamente, numa espécie de delírio. Exemplos: LSD,

Extasy e Maconha.

Álcool e Drogas na História do Brasil. São Paulo, Alameda; Belo Horizonte, PUC Minas, 2005, p. 258-259. 47

Foucault, Michel. Uma Entrevista: Sexo, Poder e Política. Ed.5º,Verve, São Paulo, 2004, p. 264-265. 48

Fiore, Mauricio. A medicalização da questão do uso de drogas no Brasil: reflexões acerca de debates institucionais e jurídicos. Apud in: Vernâncio, Renato Pinto; Carneiro, Henrique (orgs.). Álcool e Drogas na História do Brasil. São Paulo, Alameda; Belo Horizonte, PUC Minas, 2005, p. 259-260.

Page 29: LEGALIZAÇÃO DAS DROGAS ILÍCITAS POLITICA ... · modelos de legalização de drogas. A monografia apresenta as seguintes subdivisões: O capitulo 1 apresenta o conceito de drogas

19

Do ponto de vista legal as Drogas podem ser classificadas, em lícitas e

ilícitas, ou Legais e Ilegais. As primeiras são vendidas e consumidas Livremente, como o

álcool e o tabaco; as segundas tem sua comercialização e o seu consumo restrito e

controlada (Tranquilizantes, Morfina, Antidepressivos, Anorexígenos etc.) ou

terminantemente proibido (Maconha, Cocaína, Crack, Merla, Heroína, etc.). A oficina Pan-

americana de Saúde classifica as Drogas em Psicoativas, as que alteram ou prejudicam o

sistema nervoso central (SNC), e Psicotrópico, as que alteram ou prejudicam o SNC e

causam dependência49.

Quanto á forma de produção, as Drogas são classificadas em:

a) Naturais - como a cafeína existente no café e no chá mate, a Nicotina

presente no Tabaco, o Ópio da semente da papoula e o THC

(tetrahidrocanabinol) do vegetal Cannabis (Maconha);

b) Às Semissintéticas - substancias naturais modificadas quimicamente no

laboratório, a exemplo do Crack, Cocaina, Cristais de Haxixe;

C) Às Sintéticas - fabricados em laboratório, exigindo para isso técnicas

especiais. São substancias ou Misturas de substancias psicoativas

produzidas através de meios químicos cujos principais componentes

ativos não são encontradas na Natureza50.

1.4 O PROBLEMA DAS SUBSTÂNCIAS NÃO CONSIDERADAS DROGAS

49

MINISTÉRIO DA SAÚDE. Biblioteca virtual: Disponivel em: «www.saude.gov.br». Acesso em: 2012.07.13. 50

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO PAULO. CEBRID - Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas: disponível em: «http://www.estudobiblico.com.br/drogas/ CEBRID.htm». Acesso em: 2012.07.13.

Page 30: LEGALIZAÇÃO DAS DROGAS ILÍCITAS POLITICA ... · modelos de legalização de drogas. A monografia apresenta as seguintes subdivisões: O capitulo 1 apresenta o conceito de drogas

20

Novas gerações de drogas entram no Brasil, e são consumidas livremente,

substâncias facilmente acessíveis e que imitam os efeitos das famosas drogas ilícitas são

as chamadas legal highs, conhecidas como drogas disfarçadas.

Segundo o coordenador de produtos controlados da ANVISA, ELMO

SANTANA, “enquanto essas substancias não são classificadas como proibidas ou

controladas, não se configura crime a sua utilização e comercialização”51.

Qualquer substancia, até que seja integrada na lista de droga proibida, ela

poderá ser legalmente comercializada. O tempo que leva as instituições públicas para que

seja tomada uma decisão sobre a sua proibição ou permissão não tem acompanhada a

velocidade de surgimento destas novas drogas.

É um risco muito grande porque muita dessas substâncias tem toxicidade

alta, e o efeito colateral também é muito grande, e isso só se descobre depois de algum

tempo de uso, diz Paulo Telles, pesquisador do núcleo de estudos de drogas UERJ52.

Segundo Valentin Siminov, da Romain Harm Reduction Network:

O sistema atual está focado na proibição e no controle firme de substancias em geral, mas as drogas legais podem ser uma consequência do atual sistema, porque de certo modo criminalizar as drogas clássicas seria um incentivo para sinterização de outras drogas

53.

Destas novas drogas destaque-se a Mifedrona que tem servido como uma

droga substituta da cocaína e do Ecstasy ou o Spice como substituta da Canabis. A

Mefedrona tem sido comercializada como fertilizantes para ter um enquadramento legal

enquanto que o Spice para todos os efeitos é um incenso54.

A atual política proibicionista tem incentivado o surgimento destas novas

substancias no mercado. E mais uma prova de que a política de “Guerra as Drogas” para

51

Drogas novas, criadas em laboratórios, entram livremente no Brasil: Disponivel em:«fantástico.globo.com/jornalismo/fant/o,mul1679999-15605,00html»: Acesso em: 2012.07.13. 52

Ibidem. 2012.07.13. 53

Euronews right on. Voar sem limites: A Realidade das Drogas legais. Disponivel em: «www.youtube.com/watch?v=dg_limjx2dq». Acesso em: 2012.07.13. 54

Novas drogas. Venda legal: risco desconhecido. Disponivel em: «esquerda.net/dossier/novas-drogas-venda-legal-risco-desconhecido?pag=7». Acesso em: 2012.07.13.

Page 31: LEGALIZAÇÃO DAS DROGAS ILÍCITAS POLITICA ... · modelos de legalização de drogas. A monografia apresenta as seguintes subdivisões: O capitulo 1 apresenta o conceito de drogas

21

além de ser ineficaz no seu objetivo de erradicar as drogas do planeta, contribui ainda para

o aparecimento de novas drogas.

2 ANALISE DA LEI DE ANTITÓXICOS (LEI 6368/76) E DA LEI DE DROGAS (LEI 11.343/06) 2.1 LEI 6368/76 – LEI ANTITÓXICOS

A lei 6369/76 conhecida como a lei antitóxicos dispõe no seu capitulo I, sobre

as medidas de prevenção e repressão ao trafico ilícito e uso indevido de substancias

entorpecentes ou substancias que determinem dependência física ou química, que se

encontram nos artigos 1º a 7º da lei.

A lei 6368/76 entendia como substancia entorpecente ou substancia que

determina dependência física ou psíquica, aquelas que assim forem especificadas em lei ou

relacionadas pelo serviço nacional de fiscalização da medicina e farmácia, do ministério da

saúde. Trata-se de norma penal em branco, que precisa de outra lei ou regulamento para

completar o seu sentido e alcance, se faz mister que seja a substancia ou especialidade

farmacêutica prevista por lei, ou prevista por Portaria do Ministério da Saúde.

No capitulo II, traz a lei o tratamento e a recuperação de dependentes de

substancias entorpecentes, que se encontram nos arts.8º a 11º.

Na pratica de crime pelo dependente, ele sujeitar-se-á ás normas previstas

nos arts. 9º a 11 da lei 6368/76 independentemente do cometimento de qualquer dos delitos

definidos no art. 12. Praticado esses crimes dos artigos apresentados em cima, o fato não

constituiria condição de tratamento55.

No capitulo III, se encontram dispostas os crimes e as penas, art. 12 a 19 da

lei 6368/76.

55

Jesus, Damasio E. Leis Antitóxicos anotada. São Paulo, Ed. Saraiva, 1995, p.5.

Page 32: LEGALIZAÇÃO DAS DROGAS ILÍCITAS POLITICA ... · modelos de legalização de drogas. A monografia apresenta as seguintes subdivisões: O capitulo 1 apresenta o conceito de drogas

22

O art. 12 aprofunda mais sobre a matéria trazendo os conceitos de droga,

toxico, psicotrópico, dependência física, dependência psíquica, tolerância, compulsão,

passador e experimentador. O art.12 no seu caput, diz o seguinte:

Art. 12. Importar ou exportar, remeter, preparar, produzir, fabricar, adquirir, vender, expor à venda ou oferecer, fornecer ainda que gratuitamente, ter em depósito, transportar, trazer consigo, guardar, prescrever, ministrar ou entregar, de qualquer forma, a consumo substancia entorpecente ou que determine dependência física ou psíquica, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar: Pena – reclusão, de 3 (três) a 15 (quinze) anos, e pagamento de 50 (cinquenta) a 360 (trezentos e sessenta) dias-multa.

Ainda diz os parágrafos 1º e 2º, que incorre nas mesmas penas do art. 12,

quem tiver em deposito, transportar, trazer consigo ou guardar matéria prima destinada á

preparação de substancia entorpecente ou que cause dependência física, também quem

semeia, cultiva ou faz a colheita de plantas destinadas á preparação de entorpecente56.

Incorre ainda nas mesmas penas, quem induz, instiga ou auxilia alguém a

usar entorpecente; e também quem utilizando da sua propriedade, posse, administração,

guarda ou vigilância ou permite que alguém utilize, ainda que de forma gratuita, para trafico

de entorpecente, parágrafo 2º, inc II da lei 6368/7657.

O artigo 12 faz referencia a alguns fatos que não se trata de trafico

propriamente dito, como por exemplo, a cessão gratuita e a divisão da droga. Em face

dessa problemática a jurisprudência dos tribunais firmou o entendimento, explicitando que:

“a simples cessão de entorpecente ou droga afim entre companheiros não configura o delito

do art. 12, inserindo-se na descrição do art. 16”58.

Também a 1º turma do STF, no HC 69.806 em que foi relator o Ministro

Celso de Mello, explicou que:

A legislação penal brasileira não faz qualquer distinção, para o efeito de configuração típica do delito de trafico de entorpecentes, entre o comportamento daquele que fornece gratuitamente e a conduta do que, em caráter profissional, comercializa a substância tóxica. Assim, a noção legal de trafico de entorpecentes não supõe,

56

Idem. Ibidem. 1995, p.7. 57

Idem. Ibidem. 1995, p.7 58

Idem. Ibidem. 1995, p.8

Page 33: LEGALIZAÇÃO DAS DROGAS ILÍCITAS POLITICA ... · modelos de legalização de drogas. A monografia apresenta as seguintes subdivisões: O capitulo 1 apresenta o conceito de drogas

23

necessariamente, a pratica de atos onerosos de comercialização (RT, 701:401). O tipo não exige a efetivação do comércio (RT, 549:393)

59.

Convenção de Viena contra o trafico ilícito de entorpecentes e de substancias

psicotrópicas foi concluída em Viena, a 20 de Dezembro de 1988, aprovada pelo decreto

legislativo nº 162, de 14 de junho de 1991, e entrou em vigor internacional em 11 de

novembro de 1990.

Essa convenção trouxe novas preocupações e urgências para o combate ao

trafico de drogas. Além de trazer novas preocupações ela trouxe novas responsabilidades

aos estados no combate às drogas.

No plano da saúde pública, o progresso da humanidade trouxe novos tipos

de doenças e vícios, exigindo do estado cuidado redobrado no sentido de assegurar um

mínimo de nível decente de vida.

A dogmática penal tradicional estava acostumada a tratar de interesses

jurídicos tangíveis, como a vida, a incolumidade física, o patrimônio etc., normalmente

relacionadas a um individuo e de lesões facilmente perceptíveis. Tais delitos sempre têm

em vista um agente e um fato60.

A saúde publica no que se relaciona especialmente com o crime de trafico de

entorpecentes e drogas afins, cujo interesse de prevenção e repressão se encontra previsto

nas constituições federais da maioria dos países, na constituição brasileira ela encontra

respaldo no art. 5º, XLIII, 108, V, e 200, VII. O objeto principal da proteção penal nos crimes

de trafico ilícito e uso indevido de entorpecentes e drogas afins é a saúde pública61.

Realmente, o interesse jurídico concernente á saúde pública, de natureza

difusa, não é fictício. Resulta que os delitos de trafico e uso indevido de entorpecentes e

drogas afins têm a saúde pública como objeto jurídico principal ou imediato, entendida como

“o estado em que o organismo exerce normalmente todas as suas funções”. O direito a

59

Idem. Ibidem. 1995, p. 8. 60

Idem. Ibidem. 1995, p.9. 61

Barreto, Menna. Estudo Gerald a nova Lei de toxicos. 2º. Ed., Rio de Janeiro. Ed. Rio, 1978, p. 83.

Page 34: LEGALIZAÇÃO DAS DROGAS ILÍCITAS POLITICA ... · modelos de legalização de drogas. A monografia apresenta as seguintes subdivisões: O capitulo 1 apresenta o conceito de drogas

24

vida, à saúde individual, à juventude, à segurança coletiva e á ordem pública, compõem a

sua objetividade jurídica secundaria ou mediata, e são tutelados por eles de forma indireta

ou reflexa62.

Dessa forma, se em consequência de overdose de cocaína oferecida por um

traficante há morte de um consumidor, surge um concurso de crimes63.

Em suma a objetividade jurídica é dupla: “protege-se a saúde publica tendo

como a objetividade jurídica principal, no sentido de interesse do estado de preservação e

normal funcionamento do organismo dos membros da sociedade”64.

Nesse sentido o STF, no RECrim. 109.435, RT, 618:407 e 08 firmou o

entendimento de que a norma protegeria também outros bens jurídicos, como a vida, a

saúde pessoal, a família, que os chamaria de objetividade jurídica secundaria.

O doutrinador Martín Gonzáles nos esclarece que: “ a saúde publica como

interesse jurídico difuso, não resulta das somas das saúdes individuais dos membros que

compõem a coletividade”. Nas palavras dele “o termo se refere ao nível da saúde da

coletividade”65.

A natureza jurídica dos crimes de trafico e uso indevido de entorpecentes e

drogas afins é de perigo abstrato. Como se sabe, nos delitos de perigo abstrato, este não

precisa ser comprovado, é suficiente a realização da conduta, sendo a situação de perigo

presumida pelo legislador66.

Transcrição do art. 16 da lei 6368/76, diz a redação do art.:

Art.16 – Adquirir, guardar ou trazer consigo, para uso próprio, substância entorpecente ou que determine dependência física ou psíquica, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar:

Pena – detenção de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e pagamento de 20(vinte) a 50 (cinqüenta) dias-multa.

62

Arzamendi, J.L de La Cesta. Drogas, abordagem interdisciplinar, fascículos de ciências penais. Sérgio A. Fabris Editor, Porto Alegre, 1990. V. 3, n.2, p. 38. 63

Rodriganez, Maria Paz Arenas. Proteccion penal de la saúde pública y fraudes alimentares. Madrid, Edersa, Editoriales de derecho reunidas, 1992, p. 130. 64

Cernicchiaro, Luiz Vicente. Dicionario de direito penal. Brasilia, Ed. Universidade de Brasilia, 1974, p. 447. 65

Gonzáles, Martín. Sanidad Pública: Concepto y Escuadramiento. Madrid, 1970, p. 422. 66

Idem. Op. Cit. 1995, p. 12.

Page 35: LEGALIZAÇÃO DAS DROGAS ILÍCITAS POLITICA ... · modelos de legalização de drogas. A monografia apresenta as seguintes subdivisões: O capitulo 1 apresenta o conceito de drogas

25

Se tomarmos por base a aplicação da pena do art. 16, percebemos que a

intenção do legislador foi a de punir com mais severidade esse delito, não se preocupando

com a figura do usuário de drogas, não o tratando como um problema de saúde pública,

mas sim como problemática apenas de ordem jurídica.

Como bem ressalta o doutrinador Greco Filho:

Para a incidência do art. 16, portanto as condutas “adquirir”, “guardar” e “trazer consigo” só podem ser praticadas quando a finalidade exclusivamente seja o uso próprio e não seja ela desviada pelo fornecimento a terceiro

67.

Para a configuração do art. 16 é necessário um fim especial de agir, ou seja,

a substância entorpecente ou que determine dependência física ou psíquica deve destinar-

se “para uso próprio”. Porque se for para uso de terceiro configurará o crime de trafico do

art. 12 da lei 9368/7668.

É imperioso, observar que, se faz necessário a prova da exclusividade da

destinação para uso próprio, tanto que no sistema anterior ao Decreto-lei nº 385, o critério

único de destinação era o da pequena quantidade, circunstância que determinou que o

tráfico passasse a ser feito sempre em pequenas quantidades, de modo a possibilitar ao

traficante a arguição constante do uso próprio.

Neste palco, o artigo 37 da Lei definiu outras circunstâncias que deverão ser

levadas em consideração para a caracterização do delito, sendo elas: local e as condições

em que se desenvolveu a ação criminosa, as circunstâncias da prisão, bem como a conduta

e os antecedentes do agente.

O capitulo IV traz os procedimentos criminais, do art.20 a 35, e no capitulo V,

as disposições gerais, do art. 36 a 47 da lei.

67

GRECO FILHO, Vicente. Tóxicos: prevenção – repressão: comentários à Lei nº 6.368, de 1976, acompanhados da legislação vigente e de referência e ementário jurisprudencial. 11.ed. atual. São Paulo, Ed. Saraiva, 1996. p. 113. 68

Marcão, Renato. Tóxicos: Leis n. 6.378/76 e 10.409/02: anotadas e interpretadas. 2.ed. rev. e. ampl.São Paulo. Ed. Saraiva, 2005. p. 219.

Page 36: LEGALIZAÇÃO DAS DROGAS ILÍCITAS POLITICA ... · modelos de legalização de drogas. A monografia apresenta as seguintes subdivisões: O capitulo 1 apresenta o conceito de drogas

26

2.2 LEI 11.343/06 – LEI DE DROGAS

A lei 11.343, de 23 de agosto de 2006, denominada “nova Lei de Drogas”

entrou em vigor no dia 8 de outubro de 2006 e instituiu importantes mudanças no campo

normativo e no campo social.

Pode-se considerar a “Nova Lei de Drogas” um avanço em relação ás outras

leis de drogas já promulgadas no Brasil, apesar de ainda não ter uma abordagem

totalmente humanista da droga.

O art. 1º, da lei 11.343/06, inova em relação às leis anteriores a ela quando

traz no seu caput o Sistema Nacional de Políticas públicas sobre Drogas, à SISNAD.

O Sistema Nacional de Políticas sobre Drogas tem por finalidade articular,

integrar, organizar, e coordenar as atividades relacionadas com a prevenção do uso

indevido, atenção e a reinserção social de usuários e dependentes de drogas, e também a

repressão da produção não autorizada e do tráfico ilícito de drogas, artigo 3º, I, II da lei.

A prevenção do uso de drogas ocorre principalmente através da educação

sobre os malefícios das drogas, sobre os efeitos das drogas, que deve ser tratada com a

ajuda da família, das escolas, em hospitais que tratam de dependentes ou usuários,

entidades religiosas, clubes etc., mas que deve ser assistida e autorizada pela SISNAD69.

A reinserção social do usuário ou dependente de drogas se faz necessária

devido à existência de uma cultura própria das pessoas usuárias de drogas. Logo, para

aquele que além de usar drogas também compartilha de uma cultura que não é

convencional ou de uma subcultura, necessário se faz dar oportunidades de aceitação do

outro, por parte do convencional pelo que ele é como pessoa e por parte do estigmatizado

69

Bacila, Carlos Roberto; Rangel, Paulo. Comentários penais e processuais penais à lei de drogas. Ed. Lumen Juris. Rio de Janeiro, 2007, p. 6.

Page 37: LEGALIZAÇÃO DAS DROGAS ILÍCITAS POLITICA ... · modelos de legalização de drogas. A monografia apresenta as seguintes subdivisões: O capitulo 1 apresenta o conceito de drogas

27

aceitar-se também como possibilidade de viver de forma mais saudável e mais segura ao

abandonar as drogas70.

A repressão ao trafico trazida pela “nova lei de Drogas”, visa desconstituir a

essa atividade ilícita e dos lucros econômicos astronômicos, proporcionadas pelo comercio

ilegal de drogas. Essa atividade é bastante lucrativa e que não recebe fiscalização sobre a

qualidade do produto, de falta de advertência sobre perigos adicionais aos males mais

comuns, como é o caso da overdose71.

Um dos princípios básicos da SISNAD é a observância das normas do

CONAD. A lei determina observância às orientações e normas emanadas do Conselho

Nacional Antidrogas (CONAD), órgão colegiado que tem o objetivo de promover a Política

Nacional Antidrogas, organizar o SISNAD e avaliar a gestão de recursos do Fundo Nacional

Antidrogas.

Outra grande inovação trazida pela lei 11.343/06 é do art. 28, que trata da

droga para uso próprio. Diferentemente de outras leis que o antecederam ele retirou da lei a

pena privativa de liberdade que era imposto ao usuário de drogas, e também ao produtor de

pequenas quantidades de drogas destinadas ao consumo pessoal.

Houve uma mudança de características da lei, foi mantida a tipificação, mas

lhe foi retirado o cunho punitivo, passando a auxilio ao usuário e ao dependente de droga.

As medidas sancionatórias do art. 28, não mais prevê pena privativa de liberdade ou multa,

salvo se não houver cumprimento das medidas anteriores72.

O atual tipo penal que dispõe sobre a posse de drogas para uso próprio

acrescentou dois verbos relativamente à lei 6368/76, que prescrevia, “adquirir, guardar ou

trazer consigo, enquanto que atualmente o tipo atinge quem, adquirir, guardar, tiver em

deposito, portar ou trouxer consigo a droga para consumo pessoal”. A aquisição pode ser a

qualquer titulo, gratuito ou oneroso. Constitui também norma penal em branco, por isso

70

Idem. Op. cit. 2007, p. 6. 71

Idem. Op. Cit. 2007, p. 7. 72

Idem. Op. Cit. 2007. P. 44.

Page 38: LEGALIZAÇÃO DAS DROGAS ILÍCITAS POLITICA ... · modelos de legalização de drogas. A monografia apresenta as seguintes subdivisões: O capitulo 1 apresenta o conceito de drogas

28

necessita da complementação e da regulamentação da Portaria SVS/MS 344, de 12 de

maio de 199873.

As drogas propriamente ditas constituem elemento descritivo do tipo, pois

constituem coisas perceptíveis pelos os sentidos, e a falta de autorização ou o desacordo

com determinação legal ou regulamentar constituem elemento normativo jurídico do tipo. Se

por exemplo um paciente possui droga prescrita legalmente por um médico, a conduta é

atípica. O tipo também pode ser considerado unissubjetivo, pois pode ser praticado por um

só agente ou mais, também pode ser considerado crime de mera conduta ou mera

atividade, pois não se exige determinação de relação de causalidade, e os problemas de

tempo e lugar do crime tornam-se reduzidos, ou seja, se o agente trouxer consigo a droga

de uma cidade para outra, não há que se falar sobre onde ocorreu o resultado, afinal, o

crime nessa modalidade de trazer consigo também é permanente74.

Os tipos do art. 28, caput e parágrafo 1º são tipos de ação múltipla, ainda que

o agente pratique mais de uma ação descrita no tipo, somente responde por um crime. O

tipo subjetivo é constituído do dolo, constituído este na vontade de ter a posse da droga nas

formas dos verbos descritos no tipo. Além do dolo deve existir o elemento subjetivo do tipo

diverso do dolo, consiste na vontade de ter a droga para consumo pessoal. Esse elemento

e extremamente importante, pois sem ele o agente incidiria na figura gravíssima do trafico

prevista no art. 3375.

A própria lei procurou demonstrar como se faz a prova do elemento subjetivo

para consumo pessoal, destinando no parágrafo 2º uma orientação exemplificativa, como a

natureza e quantidade da substancia apreendida, pois dois gramas de maconha pode

configurar posse para o uso, mas dois gramas de LSD podem significar tráfico, pois essa

droga é muito concentrada. Devem esses indícios serem analisados em conjunto com

73

Idem. Op. Cit. 2007, p. 44-45. 74

Idem. Op. Cit. 2007, p. 46. 75

Idem. Op. Cit. 2007, p. 46.

Page 39: LEGALIZAÇÃO DAS DROGAS ILÍCITAS POLITICA ... · modelos de legalização de drogas. A monografia apresenta as seguintes subdivisões: O capitulo 1 apresenta o conceito de drogas

29

outros indícios indicados no parágrafo 2º, como o local e as condições em que desenvolveu

a ação76.

O art. 31 da lei 11.343/06 trata da repressão à produção não autorizada e ao

tráfico ilícito de drogas, que estabelece a produção de drogas ou matéria-prima destinada a

sua preparação e as condutas correlatas, como possuir, manter em depósito, etc.,

dependem de licença prévia da autoridade competente. A lei 6368/06 fazia regulamentação

semelhante, mas não se referia à licença prévia da autoridade competente. Agora antes de

possuir ou produzir ou realizar qualquer das condutas previstas no disposto do art. 31,

deve-se providenciar a licença prévia da autoridade competente77.

O tipo de trafico de drogas vem descrito no art. 33 da lei 11.343/06, diz o

artigo 33:

Art. 33. Importar, exportar, remeter, preparar, produzir, fabricar, adquirir, vender, expor a venda, oferecer, ter em depósito, transportar, trazer consigo, guardar, prescrever, ministrar, entregar a consumo ou fornecer drogas, ainda que gratuitamente, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar: Pena – reclusão de 5 (cinco) a 15 (quinze) anos e pagamento de 500 (quinhentos) a 1.500 (mil e quinhentos) dias – multa.

O bem jurídico protegido é a saúde pública, e esse bem jurídico é finalidade

da norma tanto nos tipos de trafico ou similares quanto nos tipos de posse de drogas para

consumo pessoal ou similares. A simples posse de droga, para o trafico ou o uso próprio

tem o potencial de atingir a sociedade principalmente no que se refere à saúde pública, isto

é, a saúde das pessoas como um bem geral e não de um individuo78.

Trata-se de um tipo comum, exceto na figura de prescrever que implica

profissional como médico ou dentista, quando o tipo é próprio ou especial. Sujeito passivo

são o estado e a coletividade, tendo em vista que o bem jurídico tutelado é a saúde pública.

Como o tipo do art. 28, o art. 33 também e de ação múltipla, ou seja, ainda que o agente

76

Idem. Op. Cit 2007, p. 47. 77

Idem. Op. Cit. 1997, p. 79. 78

Idem. Ibidem. 1997, p. 84.

Page 40: LEGALIZAÇÃO DAS DROGAS ILÍCITAS POLITICA ... · modelos de legalização de drogas. A monografia apresenta as seguintes subdivisões: O capitulo 1 apresenta o conceito de drogas

30

pratique mais de uma ação descrita no tipo através dos verbos, somente responde por um

crime79.

A nova lei, no artigo 33, caput, repetiu os dezoito verbos do tipo de trafico da

lei anterior,com a diferença de que a lei nº 6368/76 o artigo 12 mencionava a expressão,

“entrega, de qualquer forma”, e a lei atual deixou de repetir as palavras de “qualquer forma”,

pois agora o tipo previsto no parágrafo 3º prevê pena bem mais branda para aquele que

oferece a droga sem objetivo de lucro para a pessoa do seu relacionamento, constituindo a

entrega da droga para tal pessoa mero exaurimento do tipo menos grave80.

A sutil retirada do termo “de qualquer forma” conjugada com o tipo do artigo

33, parágrafo 3º, tornou-se o artigo 33, caput, Lex Mittior e Lex Gravior ao mesmo tempo,

dependendo da conduta praticada pelo autor.

O tipo descrito no art. 44 da lei 11.343/06, estabelece o seguinte:

Art. 44. Os crime previstos nos arts. 33, caput e parágrafo 1º, e 34 a 37 desta lei são inafiançáveis e insuscetíveis de “Sursus”, “Graça”, “Indulto”. “Anistia” e “Liberdade Provisória”, vedada a conversão de suas penas em restritivas de direitos: Parágrafo único. Nos crimes previstos no caput deste artigo, dar-se-á o livramento condicional após o cumprimento de dois terços da pena, vedada sua concessão ao reincidente especifico.

A constituição federal no seu, artigo 5º, XLIII, equiparou as condutas

adequadas ao tráfico de drogas aos crimes considerados hediondos, isto é, o crime de

trafico de drogas fica insuscetível de graça ou anistia, a impossibilidade de saída mediante

pagamento de fiança, além de outras medidas previstas na lei 8072/90, como o

cumprimento da pena em regime inicialmente fechado. Hediondo é um crime horrendo,

repugnante81.

Apesar de a lei nova corrigir algumas imperfeições normativas, e de trazer

algumas inovações em relação á lei Antitóxicos (lei 6368/76), ainda assim não acompanha a

realidade em que vive o Brasil hoje.

79

Idem. Ibidem. 1997, p. 85. 80

Freitas Junior, Roberto Mendes de. Drogas: comentários a lei nº 11.343,2006. São Paulo: Juarez de Oliveira, 2006, p. 48. 81

Rodrigues, Diego. Lorouse ilustrado da lingua portuguesa. São Paulo: Larousse do Brasil,

2004, p. 464.

Page 41: LEGALIZAÇÃO DAS DROGAS ILÍCITAS POLITICA ... · modelos de legalização de drogas. A monografia apresenta as seguintes subdivisões: O capitulo 1 apresenta o conceito de drogas

31

A lei nova não foi capaz de resolver o problema da epidemia de crack, do

aumento crescente da demanda e consequentemente da oferta, ainda não foi capaz de

resolver o problema das mortes decorrentes do uso e do trafico de drogas, o seu cunho

repressivo ainda não foi capaz de dar uma resposta social e nem política.

3 MODELOS DE CONTROLE SOBRE DROGAS 3.1 MODELOS PROIBICIONISTA

“A religiosidade é um dos aspectos básicos para se compreender as origens da proibição das drogas no mundo moderno, especialmente porque, um dos pilares da política proibicionista veio da influência do protestantismo norte americano, e de seu ideal religioso de abstinência, pregado pelas proeminentes figuras de formação religiosa que atuaram como influentes arquitetos do proibicionismo

82.

Até a Idade Média não havia proibição ao uso de drogas, mas tão somente

algumas prescrições morais trazidas pela doutrina cristã. Os historiadores sociais

identificaram dois tipos de uso social de drogas na transição entre a Baixa Idade Média e

Renascimento:

Nas classes baixas, um uso desesperado, famélico, escapista, e nas classes altas, um consumo de especiarias que se confunde com a busca de remédios exóticos, cuja eficácia costuma ser medida pelo

preço das substâncias empregadas na confecção das drogas83

.

O uso de drogas psicoativas, até o início do século XX, envolvia dois

diferentes caminhos: o uso médico, destinado a aliviar sintomas, distúrbios e patologias

mentais, e o uso recreacional, que modificava o comportamento normal e produzia estados

alterados de consciência. Após terem as drogas surgido como promissores medicamentos,

82

Como o Bispo de Manila, Monsenhor Charles Henry Brent (1862-1929), que teve papel fundamental da articulação da primeira conferência internacional sobre drogas de Xangai, em 1909. 83

CARNEIRO, Henrique. Filtros, Mezinhas e Triacas: As Drogas no Mundo Moderno. São Paulo: Xamã, 1994, p. 51.

Page 42: LEGALIZAÇÃO DAS DROGAS ILÍCITAS POLITICA ... · modelos de legalização de drogas. A monografia apresenta as seguintes subdivisões: O capitulo 1 apresenta o conceito de drogas

32

despertando grande interesse da classe científica, acabaram chamando a atenção da

população que foi se afastando do discurso e do controle médico para um uso hedonista, de

prazer e recreação84.

Na atual política de controle de drogas, portanto, têm em sua origem

aspectos religiosos econômicos e sociais, muito embora na atualidade seja mais perceptível

o discurso oficial medico. Não como se deixar de analisar o quadro dentro de um contexto

mais amplo, que leva, na atualidade, á coexistência de drogas proibidas, de consumo

semiclandestino, por um lado, e de substancias “terapêuticas” legais, fabricadas pelas

grandes indústrias multinacionais, cuja diferenciação é feita por critérios políticos-

legislativos e sofre a influência de “atitudes sócias que determinam quais drogas são

admissíveis e atribuem qualidades éticas aos produtos químicos”85.

Os conflitos decorrentes do comercio do ópio entre China e Inglaterra,

ocasionaram a guerra do ópio entre essas duas potências, e marcaram o inicio de debates

internacionais sobre o controle dessa e de outras substancias psicoativas no inicio do

século XX.

A conferencia de Xangai teve uma grande importância na criação do sistema

proibicionista, esboçando um sistema de cooperação internacional em assuntos de droga,

inspirando a primeira convenção sobre o ópio de 1912.

A primeira convenção sobre o ópio foi realizada em 1912, em Haia,

incentivada pelos Estados Unidos da America, que pressionava pela implementação da sua

política a nível internacional sobre a proibição das drogas, que explicitamente exigia a

limitação da produção do ópio e ópiaceos (Morfina), incluindo pela primeira vez a cocaína.

Estabeleceu-se a necessidade de cooperação internacional no controle de narcóticos,

restringindo-se seu uso lúdico, apenas permitido o uso médico86.

84

MUSTO, David. One hundred years of cocaine. Westport: Auburn House, 2002. 85

ESCOHOTADO, A. Historia de las drogas. Madrid: Alianza Editorial, 1996. 86

Rodriguez, Luciana Boiteux de Figueiredo. Controle penal sobre as drogas ilícitas: o impacto do proibicionismo no sistema penal e na sociedade. Tese de Doutorado. Universidade de são Paulo: Faculdade de Direito. São Paulo 2006, p. 38.

Page 43: LEGALIZAÇÃO DAS DROGAS ILÍCITAS POLITICA ... · modelos de legalização de drogas. A monografia apresenta as seguintes subdivisões: O capitulo 1 apresenta o conceito de drogas

33

Em 1995, é assinada a 2ª convenção internacional sobre o ópio, que

significou um grande passo a frente no controle das drogas narcóticas, ao determinar aos

governos nacionais a submissão de estatísticas anuais sobre a produção o consumo e

fabrica de drogas á recém-criada “Permanent Central Opium Board”, implementa-se assim o

primeiro sistema de monitoramento de drogas a nível internacional87.

Alguns anos depois, em 1931, foi elaborada a 1ª Convenção de Genebra

destinada a limitar a fabricação e regulamentar a distribuição dos estupefacientes ou drogas

narcóticas, que limitou a fabricação mundial de drogas para finalidades médicas e

científicas, e restringiu as quantidades de drogas disponíveis em cada estado e território,

sendo vetado aos países signatários que excedessem a fabricação ou importação das suas

necessidades de narcóticos previstas. Cinco anos depois, em 1936, foi assinada a 2ª

Convenção de Genebra, direcionada especificamente à supressão do tráfico ilícito de

drogas perigosas, que entrou em vigor em 1939, na qual as partes se comprometeram a

efetivar medidas para prevenir a impunidade de traficantes e a facilitar a extradição por

crimes de tráfico88.

Com a criação das Nações Unidas em 1945, após o fim da 2ª Guerra

Mundial, foram estabelecidas as linhas mestras do controle internacional de drogas vigente

até os dias de hoje, tendo sido concluídas três convenções, ainda hoje em vigor.

A primeira Convenção das Nações Unidas sobre o tema foi a Convenção

Única sobre Entorpecentes de 1961. Ela instituiu um amplo sistema internacional de

controle e atribuiu a responsabilidade aos estados partes da incorporação as medidas ali

previstas além de ter reforçado o controle sobre a produção, distribuição e comércio de

drogas nos países nacionais, e proibido expressamente o fumo e a ingestão de ópio, assim

como a simples mastigação da folha de coca e o uso não médico da cannabis.

A política proibicionista defendida pela ONU vem sendo questionado por

alguns países europeus, que decidiram dar outros rumos às suas políticas internas, por

87

Idem. Op. Cit. 2006, p. 39. 88

Idem. Ibidem. 2006, p. 39

Page 44: LEGALIZAÇÃO DAS DROGAS ILÍCITAS POLITICA ... · modelos de legalização de drogas. A monografia apresenta as seguintes subdivisões: O capitulo 1 apresenta o conceito de drogas

34

reconhecerem os excessos do modelo vigente. Porém, os países em desenvolvimento

continuam seguindo a política proibicionista por várias razões, dentre elas a grande

influência norte-americana e o medo de sanções econômicas previstas para o caso do não

cumprimento de tratados internacionais89.

Desde 1912, quando a comunidade internacional criou o primeiro instrumento

multilateral de controle de drogas, treze instrumentos internacionais foram discutidos,

redigidos, assinados e ratificados pela maioria dos países do mundo, que decidiram adotar

uma estratégia comum para lidar com o problema das drogas. No entanto, poucos

resultados práticos foram alcançados, pois, apesar da proibição, se mantém a produção, o

tráfico e o consumo de substâncias em todos os países do mundo.

Diante desse quadro, há que se questionar a política internacional

repressora, e destacar a necessidade de se respeitar as situações específicas de

determinadas comunidades e países, levando em consideração seus elementos culturais,

étnicos e principalmente econômicos, ao invés de se manter um sistema uniforme e

repressivo, que não tem atendido, em absoluto, aos objetivos a que se propuseram, e que

vem causando tantos efeitos colaterais perversos90.

O modelo proibicionista de controle de drogas opõe-se aos demais modelos

alternativos por seu fundamento jurídico-moral, unido ao sanitário-social, e constitui hoje o

modelo internacional imposto a todos os países pelas Nações Unidas por meio de tratados

internacionais vinculantes, que sujeitam os países não aderentes a sanções internacionais

econômicas. Foi implementado em oposição ao total liberalismo que existia até o início do

século XX, e caracteriza-se pelo controle da oferta, da produção e do consumo. Busca

dissuadir o uso de determinadas substâncias através da coação e da ameaça de punição,

em especial com pena de prisão, e tem por objetivo alcançar o ideal da abstinência91.

Assim, em tese, o modelo proibicionista pode ser estendido a todo tipo de

consumo considerado como impróprio, inclusive o álcool e o tabaco, sendo o mais

89

Idem. Ibidem. 2006, p. 45. 90

Idem. Ibidem. 2006, p. 45. 91

Idem. Ibidem. 2006, p. 46.

Page 45: LEGALIZAÇÃO DAS DROGAS ILÍCITAS POLITICA ... · modelos de legalização de drogas. A monografia apresenta as seguintes subdivisões: O capitulo 1 apresenta o conceito de drogas

35

comentado exemplo a Lei Seca nos Estados Unidos, que vigorou por mais de dez anos,

mas não conseguiu diminuir as fortes raízes do consumo social de bebidas alcoólicas.

Naquela época, o crime organizado teve enormes lucros e nunca se consumiu tanto álcool

nos EUA. Não obstante, enquanto durou a proibição, a intensidade da repressão levou

muitos à prisão por uso de álcool. O fracasso desse tipo de política, marcada pela

intransigência, levou à liberação do consumo de bebidas alcoólicas, enquanto a tese

proibicionista se voltou para os estupefacientes, por influência comercial e política92.

Na Europa, é citado o caso do Gin Act inglês de 173693 que equivalia a uma

proibição indireta pela via fiscal, com o aumento da carga de impostos, tendo por objetivo

tornar o produto tão caro que os pobres não poderiam consumi-lo em excesso94.

No século XVII, a Rússia executava quem quer que fosse flagrado portando

tabaco, sendo que em 1650 o Sultão do Império Otomano decretava a pena de morte aos

fumantes, assim como na Alemanha, em 1691 eram os fumantes condenados à morte95.

O discurso punitivo que fundamenta o modelo considera a proibição como

única opção para se lidar com os malefícios da droga. Trata-se de uma escolha simples em

teoria, mas extremamente difícil na prática, pois se presume, sem nenhuma base empírica,

que a interdição pela lei penal, sob ameaça de pena, fará as pessoas mudarem seus

hábitos, gostos e escolhas e deixar de consumir determinadas substâncias, apenas pelo

fato destas serem ilícitas96.

Diz-se, portanto, repousar o modelo proibicionista sobre o fundamento moral

diretamente trazido da moral protestante do século XIX, que vê na abstinência um ideal de

virtude, não sendo à toa que os principais sistemas proibicionistas tenham se inspirado no

92

Idem. Ibidem. 2006, p. 47. 93

A mania Gin foi um período na primeira metade do século 18, quando o consumo de “Gin” aumentou rapidamente na Grã-Bretanha , especialmente em Londres. Muitas pessoas overconsumed e a cidade teve uma epidemia virtual de extrema embriaguez, o que provocou a indignação moral e uma reação legislativa que alguns comparam com as modernas guerras de drogas. O Parlamento aprovou cinco atos principais, em 1729, 1736, 1743, 1747 e 1751, projetado para controlar o consumo de “Gin”. 94

CABALLERO, Francis; BISIOU, Yann. Droit de la drogue. Paris: Dalloz, 2000, p. 95-96. 95

SZASZ, Les rituels de la drogue. Paris: Payot, 1976, p. 219, apud in: CABALLERO, Francis; BISIOU, Yann. op. cit, p. 95. 96

Idem. Op. Cit. 2000, p. 96.

Page 46: LEGALIZAÇÃO DAS DROGAS ILÍCITAS POLITICA ... · modelos de legalização de drogas. A monografia apresenta as seguintes subdivisões: O capitulo 1 apresenta o conceito de drogas

36

catecismo das igrejas anglicanas. Como bem analisa Caballero, a “tese de abstinência”

idealiza a figura de um cidadão “modelo”: religioso, abstêmio, sem vícios e que vive

tranquilamente em sociedade. Contudo é de difícil realização prática, pelo dado

antropológico de que as pessoas sempre consumiram algum tipo de droga. Por mais que se

considerem certas virtudes sociais de comportamentos socialmente regrados e

conformistas, não há como se impor um modelo ideal a toda uma sociedade97.

As bases da primeira lei que proibiu o uso de drogas nos EUA estão

diretamente ligadas não só à crescente preocupação dos norte-americanos, mas também

tiveram um motivo adicional: a proibição, em 1905, do uso não médico do ópio nas Filipinas,

um protetorado norte-americano na Ásia. Foi a partir daí que os EUA lançaram uma

campanha mundial para o controle internacional sobre os narcóticos, com várias motivações

declaradas: a conciliação com a China, visando a incrementar as relações comerciais com

aquele país; e a suposição ainda atual de que o controle da produção e do tráfico nos

países produtores poderia bloquear o consumo de drogas em território americano. Tal

postura levou os EUA a apoiarem a realização de encontros e conferências internacionais,

tal como a Conferência de Xangai em 1909, e depois em Haia, onde doze nações

assinaram uma convenção na qual se comprometiam a restringir e controlar a circulação de

entorpecentes.

Transform drug policy foundation (TDPF) define a proibição como sendo um

paradigma de política global que criminaliza a produção, a oferta e o consumo de algumas

drogas especificas na busca pela eliminação das drogas da sociedade98.

Desde que foi declarada, a “guerra às drogas” tornou-se praticamente

unanime na abordagem internacional da questão das substancias psicoativas ilegais. A

política proibicionista é considerada necessária para reduzir o consumo de drogas e, desta

maneira, reduzir também os males causados por este consumo.

97

Rodriguez, Luciana Boiteux de Figueiredo. Ibidem. São Paulo 2006, p. 49. 98

TDPF – Transform Drug Policy Foundation. After the war on drug: options for control. Bristol: 2009.

Page 47: LEGALIZAÇÃO DAS DROGAS ILÍCITAS POLITICA ... · modelos de legalização de drogas. A monografia apresenta as seguintes subdivisões: O capitulo 1 apresenta o conceito de drogas

37

Rodrigues aponta que, desde de 1972, a política de guerra as drogas iniciada pelo então presidente dos estados unidos, Richard Nixon, tratava as drogas como uma doença social. Neste contexto, o estado deveria ser o responsável por “curar” a sociedade deste mal, através da repressão aos consumidores e narcotraficantes. O objetivo desta política é uma sociedade livre das drogas, uma sociedade “limpa”

99.

Partindo da noção de estigma, Goffman faz referencia a criação da palavra

estigma pelos gregos, definida como sinais corporais com os quais se procurava evidenciar

alguma coisa de extraordinário ou mau sobre o status moral de quem os apresentavam,

para o autor, o estigma caracteriza uma situação na qual o individuo está inabilitado para a

aceitação social plena. Desta maneira, os discursos que apresentam uma visão

preconceituosa, repressora e, por vezes, moralistas, visando exercer influencia na opinião

pública também são responsáveis pela estigmatização do usuário. Na visão de Mota,

“predominam no imaginário as representações estereopitadas do usuário atreladas a

loucura, á violência e ao crime100.

Dessa forma, emerge “o sentido de que a droga é hoje a única causa dos

problemas que, por outras razões, sempre estiveram presentes na historia da humanidade”,

como apontam Bucher e Oliveira 101.

Dentre a maioria dos programas repressivos destaca-se a aplicação de

políticas atuando em duas frentes, a redução da oferta e a redução da demanda de drogas.

No Brasil, segundo o conselho nacional antidrogas (CONAD), a política

nacional sobre drogas no que se refere á redução da oferta é em parte disposta a seguir:

Resolução nº 3/gsipr/ch/conad, de 27 de outubro de 2005. As ações continuas de repressão devem ser promovidas para reduzir a oferta das drogas ilegais e/ ou de abuso, pela erradicação e apreensão permanentes estas produzidas no país, pelo bloqueio do ingresso das oriundas do exterior, destinadas ao consumo interno ou ao mercado internacional e pela identificação e desmantelamento das organizações criminosas

102.

99

Rodrigues, Thiago. Política das drogas e a lógica dos danos. Revista Verve, São Paulo, Nu-Sol/ PUC- SP, nº 3, 2003. 100

Gofman, E. Estigma. Notas sobre a Manipulação da Identidade Deteriorada. Rio de Janeiro: LTC, 1988. 101

Bucker, R; Oliveira, S.R.M. O discurso do “combate ás drogas” e suas ideologias. Revista Saúde pública, v.28, n.2, p. 137-154, 1994. 102

CONAD – Conselho Nacional Antidrogas. Política Nacional Antidrogas. 2005. Disponível em: HTTP://www.senado.gov.br/documentos_diversos_legislação/documentos_diversos_legislação.html. acesso em: 19 de setembro de 2012.

Page 48: LEGALIZAÇÃO DAS DROGAS ILÍCITAS POLITICA ... · modelos de legalização de drogas. A monografia apresenta as seguintes subdivisões: O capitulo 1 apresenta o conceito de drogas

38

O segundo método de atuação bastante utilizada pela política antidrogas tem

por finalidade reduzir a demanda de drogas, ou seja, a ação é realizada de modo a atingir o

consumidor de drogas. A eficácia desse tipo de política depende fundamentalmente do grau

da elasticidade-preço da demanda pela droga. Diversos estudos comprovem que o

consumidor de drogas é sensível ás mudanças de preços.

Outro fator que atua como determinante na eficácia dessa política reside na

capacidade da repressão de gerar diminuição da demanda com a alta de preço da droga,

isso porque, com o aumento da repressão, o risco envolvido para o consumidor através do

aumento nos preços. Contudo, conforme Kopp, defensores dessa hipótese não consideram

o fato de que o que o aumento nos preços da droga incitaria a entrada de novos traficantes

no mercado103.

Ao se referir sobre a política de redução da demanda de drogas Husak, relata

que o uso de drogas lícitas, principalmente tabaco, apresentou diminuição mesmo sem a

“contribuição” do sistema de justiça criminal104. As evidencias para o Brasil corroboram a

visão do autor, segundo o Ministério da saúde, em 2009 o consumo de cigarros entre jovens

brasileiros caiu cerca de 50% nos últimos 20 anos, em 2008, 14, 8% dos jovens entre 18 e

24 anos eram fumantes, em 1989 esse percentual era de 29%. A mesma tendência é

verificada em outras faixas etárias, em 1989, 35% da população adulta era fumante, em

2008 esse índice caiu para 15,2%105.

De acordo com a ONDCP (Office of National Drug Control Policy), os custos

econômicos do abuso de drogas nos estados unidos foram estimados em US$107,5

bilhões. No mesmo trabalho, afirma-se que o crescimento mais rápido dos custos das

drogas veio do aumento das atividades do sistema judiciário, e que despesas em serviços

103

Koop, P. Economia da droga. Bauru: EDUSC, 1998. 104

Husak, D. Drugs and Rights. New Jersey: Cambridge University Press, 1992. 105

Ministério da Saúde. Cai Consumo de Tabaco entre Jovens. INCA – Instituto Nacional de Câncer. 2009. Disponível em: < http://bvsms.saude.gov.br/bvs/sus/pdf/abril/consumo_tabaco_jovens_0704.pdf>. Acesso em: 20 de setembro de 2012.

Page 49: LEGALIZAÇÃO DAS DROGAS ILÍCITAS POLITICA ... · modelos de legalização de drogas. A monografia apresenta as seguintes subdivisões: O capitulo 1 apresenta o conceito de drogas

39

de saúde e os custos de mortalidade precoce cresceram as taxas relativamente baixas106.

Segundo a ONDCP US$15.069 bilhões serão disponibilizados no ano fiscal de 2010 para o

governo federal americano sustentar a atual política de drogas, o que representa um

aumento de 1,5% em relação ao ano fiscal anterior. Deste montante, a maior parcela, cerca

de 26,6%, foi destinado a interdição das drogas, os gastos com tratamento e prevenção

representaram, respectivamente, cerca de 23,7% e 10,6%, além disso, aproximadamente

24,8% do total foi destinado para a imposição da lei e 14,3% foi direcionado para despesas

internacionais de controle de drogas. Em outras palavras, US$9.901 bilhões serão gastos

em 2010 na redução da oferta de drogas (65,6%) e US$5.168 bilhões na redução da

demanda (34,4%).

No Brasil, de acordo com uma estimativa do departamento de informática do

SUS (DATASUS)107, o governo gastou cerca de US$35 milhões no ano de 2003 em custos

relacionados ao consumo de bebidas alcoólicas e drogas em termos de saúde pública, a

estimativa baseada nas despesas diretas e indiretas incorridas em 2003 em tratamento

médico, na perda de produtividade de trabalhadores que são usuários de drogas e nos

prejuízos sociais causados por óbitos prematuros provocados pelo uso de drogas. Neste

mesmo estudo apontam-se as principais causas de internações decorrentes do uso de

drogas; o consumo de álcool responde por 84,5% das 44.680 internações, o uso de cocaína

é responsável por 4,6% e o restante, 10,9%, decorre do abuso de outras substancias

psicotrópicas108.

Luksetich e White fazem uma abordagem diferente referente ao caso de

Heroína. Eles partem da distinção entre os custos inevitáveis e os custos que poderiam ser

106

ONDCP – Office of national drugs control policy. The economics cost of drug abuse in the united states, 1992-2002. Washington DC: Executive office of the president. Publicação Nº 207303, Dezembro de 2004. 107

DATASUS é o nome do departamento de informática do Sistema Único de Saúde do Brasil. Trata-se de um órgão da Secretaria de Gestão Estratégica e Participativa do Ministério da Saúde com a responsabilidade de coletar, processar e disseminar informações sobre saúde. Disponível em: < http://pt.wikipedia.org/wiki/DATASUS>. Acesso em: 22 de setembro de 2012. 108

UNODC – United Nations Office on Drugs and Crime. Economic and social consequences of drug abuse and illicit trafficking. World Drug Report 2005. Viena: 2005. Disponivel em: < http://www.unodc.org/documents/wdr/WDR_2008/WDR_2008_eng_web.pdf>. Acesso em: 23 de setembro de 2012.

Page 50: LEGALIZAÇÃO DAS DROGAS ILÍCITAS POLITICA ... · modelos de legalização de drogas. A monografia apresenta as seguintes subdivisões: O capitulo 1 apresenta o conceito de drogas

40

evitados com mudança de política. Segundo os autores, como o preço da heroína é alto

porque a droga é ilegal, todos os custos sociais que resultam do seu alto preço são custos

evitáveis, dentre eles estão á desnutrição entre usuários e os crimes de propriedade

cometidos para financiar o hábito. Os elevados lucros obtidos com o trafico da droga

financiam a corrupção e o armamento dos traficantes, assim sendo, estes custos também

devem ser considerados como decorrentes do caráter ilegal do mercado. Destaca-se ainda

os custos decorrentes dá perda de qualidade do produto:

Se heroína fosse legal, seria do interesse do vendedor manter a qualidade; como resultado o numero de mortos por overdose De acidentes de overdose e adulteração de heroína com substancias perigosas seria menor se heroína fosse legal

109. Além disso os

custos do sistema judicial são claramente custos que poderiam ser evitados

110.

Para Husak, em sua avaliação á política proibicionista, elenca alguns pontos

importantes desse sistema:

1- O comercio de drogas criou enormes oportunidades para o crime

organizado;

2- Os vultosos lucros têm feito à generalização da corrupção inevitável;

3- O interesse de minimizar a disponibilidade tem desencorajado o uso de

drogas ilegais para propostas medicinais;

4- Devido a ilegalidade, não há um controle de qualidade para as drogas,

outras substancias acrescentadas ás misturas podem fazer mais mal que a

droga em si;

5- Uma longa historia de desinformação e distorção sobre os perigos das

drogas tem levado os usuários a se tornarem céticos e desconfiados da

precisão dos avisos veiculados pelos especialistas em drogas;

A atual política de drogas certamente leva em consideração que a forma mais

eficaz de controle da criminalidade, é adotando uma política de condenação e de punição

do demandante e do ofertante, elevando os riscos da pratica desse crime.

109

“IF heroin were legal, it would be in the interest of the Sellers to maintain a consistent quality; therefore, the number of deaths from accidental overdoses and heroin adulterated with dangerous substances would be much fewer if heroin were legal”. 110

Luksetich, W. A; White, M.D. Crime and Public Policy: An Economic Approach. Boston. Little, Brown and company, 1982.

Page 51: LEGALIZAÇÃO DAS DROGAS ILÍCITAS POLITICA ... · modelos de legalização de drogas. A monografia apresenta as seguintes subdivisões: O capitulo 1 apresenta o conceito de drogas

41

No entanto, essa política falha ao desconsiderar que ao condenar o mercado

a ilegalidade, também contribui para o aumento dos lucros auferidos pela venda da droga,

bem como, acaba por selecionar os participantes do comercio, pois os indivíduos que

enxergam os incentivos neste negocio são justamente aqueles dispostos a quebrar leis,

inclusive através de crimes violentos.

Na visão de Cooter e Ulen, a política publica repressiva contribui para o

aumento da criminalidade. Segundo esses autores:

A restrição da oferta e o consequente aumento de preços das drogas no mercado ilegal não levam a uma significativa redução do consumo pelo usuário, pois este apresenta uma demanda inelástica. Além disso, causam um aumento do montante de crime que o usuário precisa praticar de modo a manter o seu hábito

111.

No estudo do caso da heroína, Luksetich e White, alertam que o aumento da

imposição da lei sobre os traficantes resulta no aumento do total gasto com a heroína, isso

ocorre porque a demanda pela droga é relativamente inelástica, permitindo que a elevação

dos custos e riscos de ofertar a droga sejam transferidos ao consumidor através do

aumento dos preços. Este aumento dos gastos com a heroína contribui para elevar a

criminalidade de duas maneiras, os crimes contra a propriedade e a corrupção; o primeiro

ocorre pela necessidade do usuário de financiar seu hábito, e o segundo devido á maior

disponibilidade de recursos para os traficantes112.

Em alguns casos especiais a repressão pode ser eficaz, principalmente

quando consegue limitar a entrada de novos consumidores no mercado. No entanto muitos

estudos apontam que a repressão é ineficaz, no sentido de não alcançar de fato a redução

do consumo, já que afeta marginalmente o nível de preços, e também por aumentar a

criminalidade.

As décadas de proibicionismo não trouxeram, no entanto, a erradicação do

consumo. Pelo contrário, o mercado negro instaurado pelo banimento legal dos psicoativos

tornou-se uma pujante economia negociadora de compostos produzidos, transportados,

111

Cooter, R; Ulen, T. Law and Economics. Pearson Education, 2004. 112

Luksetich, W. A; White, M.D. Ibidem. 1982.

Page 52: LEGALIZAÇÃO DAS DROGAS ILÍCITAS POLITICA ... · modelos de legalização de drogas. A monografia apresenta as seguintes subdivisões: O capitulo 1 apresenta o conceito de drogas

42

vendidos e usufruídos na clandestinidade. A violência trazida na esteira das máfias

narcotraficantes e as consequências individuais do uso de substâncias adulteradas e

ministradas sem segurança produziram vozes críticas dentro de Estados proibicionistas. O

combate às drogas passou a ser visto por alguns grupos de médicos e cientistas sociais,

europeus, australianos e estadunidenses em sua maioria, como uma guerra de impossível

conclusão que deveria ser substituída por uma outra ótica que procurasse não investir no

improvável (o fim universal do consumo), mas em alternativas que buscassem minimizar os

perigos para aqueles que optaram pela ebriedade. Essa visão reformista, genericamente

conhecida como redução de danos, pretende buscar formas de administrar o hábito de

utilizar drogas psicoativas, diante da percepção de que o contrário é tarefa quixotesca e

politicamente intencionada113.

3.2 DANOS PROVOCADOS PELA POLÍTICA REPRESSIVA

O dano provocado pela política repressiva deve ser avaliado ao longo da

historia. De certa forma é um dano incalculável e irreparável.

O ataque ao consumo e ao trafico de drogas contribuiu mais para o aumento

do consumo e do trafico do que propriamente para sua redução. Contribuiu mais para o

aumento da criminalidade, em decorrência do combate as drogas, para o aumento das

tragédias sócias, mortes de traficantes, policiais, usuários e os não usuários de drogas. A

política de combate ás drogas adotada pelo sistema repressivo, só aumentou os gastos

públicos, formando e contratando mais policiais, armamentos, tecnologias e técnicas

sofisticadas de combate.

113

Rodrigues, Thiago. Política de drogas e a lógica dos danos: Abstinência como fim. Revista Verve, São Paulo, Nu-Sol/ PUC- SP, nº 3, 2003.

Page 53: LEGALIZAÇÃO DAS DROGAS ILÍCITAS POLITICA ... · modelos de legalização de drogas. A monografia apresenta as seguintes subdivisões: O capitulo 1 apresenta o conceito de drogas

43

Os imensos recursos gastos na erradicação da produção, repressão aos

traficantes e criminalização dos usuários não foram capazes de reduzir a oferta nem de

reduzir o consumo de drogas.

Essa tática de guerrilha utilizada por essa política contribuiu para o

surgimento de outras organizações criminosas e da migração da produção para outras

áreas.

Esse sistema apesar de desencadear um efeito desastroso dificultando os

usuários ao acesso a medidas de saúde pública capazes de reduzir riscos a sua saúde,

como e o caso da contaminação pelo vírus da HIV/ AIDS, overdose, e outros riscos

recorrentes do uso de drogas, também tem um efeito desastroso em termos sociais,

econômicos e políticos.

A claramente um desvio de foco pelo sistema repressivo, no que diz respeito

ao combate a redução da demanda e da oferta, para se direcionar ao individuo, violando os

seus direitos e liberdades, encarcerando dezenas de milhares de pessoas, enchendo as

prisões, destruindo famílias, sem reduzir a disponibilidade de drogas ilícitas ou o poder das

organizações criminosas.

O que há de se fazer com as organizações criminosas que a própria política

criou? O que há de se fazer com a corrupção que o trafico sustenta? Como reduzir os

danos que o trafico de drogas causou as pessoas e a sociedade em geral? A política

repressiva tornou-se um problema maior do que a própria droga. Melhor ainda ele tornou-se

um problema maior, deixando-nos um legado de uma sociedade destruída pela violência,

pela injustiça, pela mentira. Ele nos deixa uma sociedade doente, mas mesmo assim insiste

nessa política mentirosa e perigosa, não se contentando com simples organismo doente

que se tornou a nossa sociedade, mas sim com a destruição total dela.

Considera-se, com base em dados estatísticos das Nações Unidas, que a

política proibicionista, além de não ter conseguido “proteger” a saúde pública, serviu de fator

agravante na panepidemia da AIDS, diante do alto número de usuários de drogas injetáveis

que foram contaminados em decorrência do compartilhamento de seringas, por fazerem uso

Page 54: LEGALIZAÇÃO DAS DROGAS ILÍCITAS POLITICA ... · modelos de legalização de drogas. A monografia apresenta as seguintes subdivisões: O capitulo 1 apresenta o conceito de drogas

44

da droga na clandestinidade. Esse “fracasso” ocorreu tanto nos países ricos, que possuem

toda a estrutura necessária, inclusive financeira, tanto de repressão quanto de saúde,

quanto nos menos desenvolvidos, nos quais as consequências danosas foram ainda mais

graves114.

A ideologia da política proibicionista é um tanto paradoxal, ou seja, ela busca

diminuir o consumo e o trafico, criminalizando essas condutas, e se utiliza da política de que

se consegue diminuir a criminalidade, criminalizando condutas, mas na verdade ele acabou

por potencializar esse crime.

Por mais paradoxal que possa parecer a, proibição se tornou uma grande

aliada do trafico de drogas e do seu consumo descontrolado, e que a economia da droga foi

dinamizada pela proibição.

A proibição também permitiu a criação de um mercado paralelo, onde circula

o capital ilícito, contribuindo cada vez mais para o enriquecimento dos traficantes. E esse

enriquecimento por parte dos traficantes trás a necessidade de se tornar licito o dinheiro

ilícito, por isso se utilizam do mecanismo da lavagem de dinheiro, contaminando os bancos

e favorecendo a corrupção.

Além de não se apresentar apropriado à solução de um problema de saúde

pública, nem ter fundamentos sólidos, mas emocionais e simbólicos, o proibicionismo causa

impactos negativos no tecido social. Na ótica dos países em desenvolvimento em geral, e

especialmente no Brasil os impactos sociais são muito graves, podendo ser elencados da

seguinte forma115:

1- Na saúde pública: ausência de controle e adulteração das

substâncias consumidas o que gera riscos graves à saúde dos

consumidores; o alto nível de contágio do vírus HIV e outras doenças entre

usuários de drogas injetáveis na marginalidade; a dificuldade de

114

Política de Drogas, cultura do controle e propostas alternativas. Disponível em:< http://www.ibccrim.org.br/site/comissoes/politicaDrogas.php>. Acesso em: 28 de setembro de 2012. 115

Idem. Ibidem. Acesso em: 28 de setembro de 2012.

Page 55: LEGALIZAÇÃO DAS DROGAS ILÍCITAS POLITICA ... · modelos de legalização de drogas. A monografia apresenta as seguintes subdivisões: O capitulo 1 apresenta o conceito de drogas

45

implementação de políticas de redução de danos aos dependentes inseridos

na ilegalidade e oposição do proibicionismo aos modelos mais atuais de

ajuda ao viciado; o contínuo enfrentamento do sistema penal pelos adictos

que fazem uso das substâncias, mesmo à margem da lei; aumento no

número de mortes em decorrência das disputas e da repressão ao tráfico de

drogas.

2- No sistema jurídico-constitucional citam-se: o reforço excessivo do

sistema policial em detrimento do sistema judicial; a utilização de meios

penais e processuais extraordinários, violadores de princípios e garantias

constitucionais; as medidas de exceção destinadas ao grande tráfico são

aplicadas aos pequenos e médios traficante-viciados, que lotam as

penitenciárias; desumanização das penas e do sistema penitenciário;

superlotação carcerária.

3- Na ótica socioeconômica podem ser ainda adicionados: aumento da

vigilância, controle e violência imposta aos mais desfavorecidas, que são

suspeitos de tráfico, até prova em contrário, o que leva à discriminação;

favorecimento do envolvimento de jovens com o crime, desagregação

familiar; incremento do tráfico de armas; incremento das possibilidades de

lavagem de dinheiro; a alta dos preços derivada da ilegalidade torna cada vez

mais poderosa as organizações de traficantes; aumento da corrupção nos

poderes públicos e na polícia, em especial nos países em

desenvolvimento; aumento da violência e do número de homicídios nos

grandes centros urbanos.

O sistema proibicionista acabou por criar três fenômenos cujo o impacto na

sociedade brasileira e marcante, que são: a criminalização da pobreza, a criminalização da

política e a politização do crime.

Page 56: LEGALIZAÇÃO DAS DROGAS ILÍCITAS POLITICA ... · modelos de legalização de drogas. A monografia apresenta as seguintes subdivisões: O capitulo 1 apresenta o conceito de drogas

46

A criminalização da pobreza se refere a um fenômeno claro e visível em que

os membros mais pobres da sociedade brasileira são identificados por atores estatais e

atores quase estatais (a polícia, em especial a polícia militar, agentes do sistema legal,

agentes carcerários e milícias) como criminosos ou potencialmente criminosos e, com base

nisto, são alvos de extorsão, prisão e detenção arbitrárias, violência física e até mesmo

execução sumária116.

No que tange a política de repressão ás drogas ele criou esse fenômeno para

estabelecer um perfil do usuário e do traficante de drogas. O usuário de drogas

normalmente são pessoas com uma condição econômica e social boa, e os traficantes são

aquelas pessoas cujo, as condições econômicas e sociais lhe são desfavoráveis. E isso

percebe-se pelo numero de encarceramento de pessoas portadores de pequenas

quantidades de drogas mas que lhes são imputados o crime de trafico de drogas, e que são

a grande maioria jovens pobres.

Não há um trabalho de investigação por parte da policia para combater os

esquemas de trafico de drogas, a grande maioria dos casos que envolvem porte de

entorpecentes deriva da prisão em flagrante. Por isso é bem nítido as pessoas selecionadas

nesses casos: jovens negros, pobres e pardos, e em regra primários.

Na maioria dos casos de flagrante, há apenas uma única testemunha que é o

policial, cuja a palavra e supervalorizada pelo judiciário por possuir fé pública.

A criminalização da política e politização do crime são fenômenos

indissociáveis, que caminham juntos para a desgraça social, econômica de um pais. Com a

repressão do trafico de drogas houve uma migração de políticos para o crime, recebendo

apoio dos traficantes em suas campanhas, participando na lavagem de dinheiro sujo, e

facilitando a ação dos traficantes. E também houve uma migração dos criminosos, entrando

116 A Criminalização da Pobreza: Relatorio sobre as causas Economicas, Sociais e cultuais da Tortura e outras formas de Violência no Brasil. Disponivel em: «http://www.omct.org/files/2010/10/20938/addressing_the_criminalisation_of_poverty_brazil_por.pdf». Acesso em: 16 de Janeiro de 2013.

Page 57: LEGALIZAÇÃO DAS DROGAS ILÍCITAS POLITICA ... · modelos de legalização de drogas. A monografia apresenta as seguintes subdivisões: O capitulo 1 apresenta o conceito de drogas

47

para a vida política. Tudo isso contribuindo cada vez mais para o fracasso do sistema

proibicionista.

3.3 POLÍTICA DE REDUÇÃO DE DANOS

A repressão ás drogas é uma guerra perdida que precisa ser substituída por

uma política que não vise acabar com o consumo, mas minimizar o sofrimento e os danos

decorrentes do seu consumo.

Essa proposta de redução de danos aparece como alternativa ao modelo

proibicionista, que procura garantir a saúde pública, por meio de ações que tentam reduzir

os danos causados pelo consumo de drogas licitas e ilícitas, bem como para praticas

sexuais de risco para DST/AIDS, com esclarecimentos e orientações ou invés de proibição

e repressão.

Diante do insucesso de políticas repressivas e da contestação de que o

fenômeno drogas é parte inerente de todas as sociedades. Dessa forma, e necessária uma

postura pragmática para tratar com a questão, que considere as suas variáveis

socioculturais e que coloque em foco o sujeito que se encontra em situação de

vulnerabilidade social, que por suas práticas, no consumo de drogas, no compartilhamento

de seringas e instrumentos para o consumo, ou até mesmo no sexo desprotegido, estão

mais expostos a riscos e danos.

Este pensamento leva a crer que é mais eficiente pensar o sujeito que possui

comportamento de risco, possibilitando a ele reduzir os danos e os riscos associados as

suas práticas, ao invés de tentar eliminá-las da sociedade, premissa já fracassada por uma

gama de estratagemas de políticas públicas de saúde. Portanto, o reconhecimento de que

grande número de pessoas pode compor grupos de risco na questão do uso e consumo de

Page 58: LEGALIZAÇÃO DAS DROGAS ILÍCITAS POLITICA ... · modelos de legalização de drogas. A monografia apresenta as seguintes subdivisões: O capitulo 1 apresenta o conceito de drogas

48

drogas e de práticas sexuais de risco, reforça a adesão por parte do governo de políticas

públicas que reconheçam e aceitem a realidade da diversidade dos modos de vida117.

É importante lembrar que a política de redução de danos não se posiciona,

nem contra e nem a favor ao uso drogas, ela se foca em diminuir os prejuízos causados

pelo uso de drogas. Essa política consiste em substituir a condenação e a repressão, por

tratamento dos usuários de drogas, ou seja, consiste na suspensão da sentença

condenatória de prisão sob a condição de que o usuário procure tratamento do seu vício.

Com frequência, o exercício destas práticas de risco causa muitos danos ao

próprio sujeito e à comunidade em que está inserido. Estes danos são ligados a uma maior

probabilidade de ocorrência de overdose, de transmissão de doenças sexualmente

transmissíveis, do vírus da AIDS, do vírus das hepatites, do descarte de seringas usadas

em locais públicos, o crime do tráfico, aquisição de drogas ilícitas, entre outros118.

A redução de danos surge na Holanda na década de 80, com o objetivo de

reduzir os danos decorrentes do uso de drogas. Ela enfrenta o problema da droga como

parte integrante da sociedade e da cultura dos povos, então em vez de acreditar na

abstinência como a única forma de saída para o problema da droga, como acredita os

defensores do proibicionismo, o sistema de redução de danos acredita na redução dos

riscos e dos danos causados pelo uso indiscriminado da droga.

A redução de danos “corresponde a um conjunto de estratégias de saúde

pública que têm por objetivo reduzir e prevenir as consequências negativas associadas ao

uso de drogas”119, disseminando intervenções orientadas para minimizar os danos à saúde

117

FEFFERMANN, M.; FIGUEIREDO, R. Redução de Danos Como Estratégia de Prevenção de Drogas Entre Jovens, Boletim do Instituto de Saúde, nº 40, São Paulo, Instituto de Saúde, 2006. Disponível em: <http://www.ip.usp.br/portal/images/stories/Nepaiãods/reduo_de_danos.pdf>. Acesso em: 23 de setembro de 2012. 118

FONSECA, E.M; BASTOS, I.F. Políticas de Redução de Danos em Perspectiva: Comparando as Experiências America, Britânica e Brasileira. In: ACSELRAD, G. Avessos do Prazer: Drogas, Aids e Direitos Humanos, Ed. Fio Cruz, Rio de Janeiro, 2005. Disponivel em: <http://www.elizemassard.com/FonsecaANdBastos2005.pdf>. Acesso em: 23 de setembro de 2012. 119

Idem. Ibidem. Acesso em: 23 de setembro de 2012.

Page 59: LEGALIZAÇÃO DAS DROGAS ILÍCITAS POLITICA ... · modelos de legalização de drogas. A monografia apresenta as seguintes subdivisões: O capitulo 1 apresenta o conceito de drogas

49

e, também, danos sociais e econômicos relacionados ao consumo de drogas e a práticas

sexuais de risco, sem necessariamente coibir os comportamentos120 121.

A política de redução de danos propõe um conjunto de ações alternativas de

prevenção e de terapia, que não excluem ou segregam usuários de drogas, mas os

integram em uma perspectiva de tratamento que visa uma convivência menos danosa o

possível com o consumo de drogas, deixando a abstinência não como meta única ou pré-

requisito, mas sim como uma meta possível de ser atingida com o desenvolvimento de

minimização dos riscos122.

O objetivo da redução de danos é abordar pessoas que exercem práticas de

risco, como usuários de drogas e profissionais do sexo, e educá-los para práticas seguras,

sem interferir necessariamente na execução ou não da prática, visando o controle da AIDS,

da hepatite e de outras doenças patógenas do sangue e do sexo123.

A proposta de uma redução de danos decorrentes do uso das drogas vai

além de ser uma alternativa à abstinência, uma vez que se ocupa do manejo seguro de uma

gama de comportamentos de risco e dos possíveis danos associados a eles, de modo a não

se restringir ao julgamento do certo e do errado, do bom ou do ruim, mas sim na

120

ALVES, V.S. Modelos de Atenção À Saúde de Usuários de Álcool e Outras Drogas: Discursos Políticos, Saberes e Práticas, Cadernos de Saúde Pública, 25 (11), Rio de Janeiro, 2009. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0102-311X2009001100002&script=sci_arttext>. Acesso em: 23 de setembro de 2012. 121

QUEIROZ, I.S. Os Programas de Redução de Danos Como Espaços de Exercício de Cidadania dos Usuários de Drogas, Psicologia Ciência e Profissão, vol 21. Nº4 Brasília, 2001. Disponível em: <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?pid=S1414-98932001000400002&script=sci_arttext>. Acesso em: 23 de setembro de 2012. 122

CAMPOS, M.A.; SIQUEIRA, D.J.R.; BASTOS, F.I. Drogas e Redução de Danos: Abordagens Para Pessoas Vivendo com HIV e Aids. In: PINHEIRO, R.M.; SILVEIRA, C.; GUERRA, E. (org.) Drogas e Aids – Prevenção e Tratamento, Fundação do Estado de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2001. Apud in: Alcântara Anacleto, Aline Ariana. REDUÇÃO DE DANOS E SAÚDE MENTAL. Universidade Tecnológica Federal do Paraná Câmpus Dois Vizinhos. Disponível em: <http://anais.unicentro.br/cis/pdf/conferencias/Aline.pdf>. Acesso em: 23 de dezembro de 2012. 123

PAES, P.C.D.; OLIVEIRA, M.W. Educação no Programa de Redução de Danos: Alienação ou Práxis Educativa, Revista Brasileira de Educação, nº6, 2004. Apud in: Alcântara Anacleto, Aline Ariana. Redução de Danos e Saúde Mental. Universidade Tecnológica Federal do Paraná Câmpus Dois Vizinhos. Disponível em: <http://anais.unicentro.br/cis/pdf/conferencias/Aline.pdf>. Acesso em: 23 de dezembro de 2012.

Page 60: LEGALIZAÇÃO DAS DROGAS ILÍCITAS POLITICA ... · modelos de legalização de drogas. A monografia apresenta as seguintes subdivisões: O capitulo 1 apresenta o conceito de drogas

50

identificação se determinado comportamento é seguro ou inseguro, se é favorável ou

desfavorável124.

Segundo Queiroz125 os argumentos que fundamentam as razões éticas e

humanitárias das ações de redução de danos, se apoiam na ideia de que:

1- Não é aceitável eticamente abandonar ou segregar sujeitos que

exercem práticas de risco se eles não querem ou não estão motivados a

mudar de comportamento;

2- A proposta de redução de danos mantém o sujeito dentro de uma

rede de assistência e saúde pública, poupando-o de uma marginalização

ainda maior;

3- A redução de danos propicia uma chance maior de integração do

sujeito à sociedade, o qual se encontra, na maioria das vezes, à margem do

social;

4- Suas ações se constituem como um caminho a ser percorrido,

caminho este que pode levar a eliminação da prática de risco;

5- De acordo com as políticas públicas de saúde é fundamental oferecer

ao público um leque de alternativas de ajuda, passando por baixas

exigências, até as altas exigências, tornando-se, assim, passível de

responder a toda demanda de necessidades dos sujeitos;

6- Essas possibilidades de atuação propiciam ao sujeito se manter na

rede de saúde pública, possibilitando a criação de um vínculo com a equipe

de saúde, o que pode ajudar na motivação à mudança de comportamento;

7- As ações de redução de danos auxiliam na prevenção da AIDS e

outras doenças sexualmente transmissíveis, diminuindo custos para saúde

pública;

124

QUEIROZ, I.S. Os Programas de Redução de Danos Como Espaços de Exercício de Cidadania dos Usuários de Drogas, Psicologia Ciência e Profissão, vol 21. Nº4 Brasília, 2001. Disponível em: <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?pid=S1414-98932001000400002&script=sci_arttext>. Acesso em: 24 de setembro de 2012. 125

Idem. Ibidem. Acesso em: 24 de setembro de 2012.

Page 61: LEGALIZAÇÃO DAS DROGAS ILÍCITAS POLITICA ... · modelos de legalização de drogas. A monografia apresenta as seguintes subdivisões: O capitulo 1 apresenta o conceito de drogas

51

8- As políticas públicas devem estar sempre baseadas no coletivo,

considerando fatores que sejam coerentes com a diversidade e a

coletividade.

A política pública de redução de danos muda o discurso rígido defendido

pelos proibicionistas, de uma sociedade livre das drogas, para um discurso mais flexível, de

uma sociedade protegida do uso de drogas ilícitas e do uso indevido de drogas licitas.

O programa de redução de danos possui algumas estratégias para a sua

efetiva implementação, tendo em conta a realidade cultural, social, econômica e política de

casa pais. Estas estratégias podem ser:

1- Programas de Troca de Seringas (PTS), os quais objetivam a redução

da transmissão do vírus HIV, hepatites e outras doenças de transmissão

parental, entre usuários de drogas injetáveis (Ópios), evitando que indivíduos

já infectados transmitam diferentes vírus e descartem seringas possivelmente

contaminadas em locais públicos126. O programa se propõe a fazer troca de

seringas usadas, por seringas novas estéreis, disponibilizar kits para o uso

mais seguro de drogas.

2- Manutenção por metadona é uma estratégia mais difundida em

países onde o consumo de heroína se faz mais presente e tem como objetivo

utilizar a metadona – um opiáceo sintético – que diminui os sintomas da

fissura e da abstinência da droga, substituindo a pura heroína, que também

pertence à classe de opiáceos (FONSECA, 2005)127. Seu foco não é a

abstinência, mas sim a redução de riscos da dependência da heroína pela

manutenção do usuário em um tratamento, possibilitando uma diminuição

126

Alcântara Anacleto; Aline Ariana. REDUÇÃO DE DANOS E SAÚDE MENTAL. Universidade Tecnológica Federal do Paraná Câmpus Dois Vizinhos, p. 5-6. Disponivel em: < http://anais.unicentro.br/cis/pdf/conferencias/Aline.pdf>. Acesso em: 24 de setembro de 2012. 127

FONSECA, E. M. Políticas de Redução de Danos ao Uso Indevido de Drogas: O Contexto Internacional e Uma Análise Preliminar dos Programas Brasileiros, Dissertação, Escola Nacional de Saúde Pública, Fundação Oswaldo Cruz, 2005. Disponível em: <http://www.arca.fiocruz.br/bitstream/icict/4604/2/734.pdf>. Acesso em: 24 de setembro de 2012.

Page 62: LEGALIZAÇÃO DAS DROGAS ILÍCITAS POLITICA ... · modelos de legalização de drogas. A monografia apresenta as seguintes subdivisões: O capitulo 1 apresenta o conceito de drogas

52

dos efeitos adversos associados da droga, reduzindo também o envolvimento

de usuários em circuito ilícito de obtenção de drogas.

3- Prescrição de drogas, amplamente utilizada nos programas

brasileiros de redução de danos, pelo aumento dos usuários de “crack” no

país. Esta estratégia visa à substituição do “crack” fumado em cachimbos,

pelo “crack” fumado misturado aos cigarros de maconha, o famoso

“mesclado”, o que acaba diminuindo a quantidade de “crack” e

consequentemente os danos causados pela droga128. Entende-se que esta

ação possui sucesso efetivo na redução dos sintomas da fissura causada

pela falta da droga no organismo dos usuários dependentes, servindo

também de atrativo para os usuários de drogas terem acesso até a

possibilidade de tratamento oferecida, além disso, esta se caracterizaria

como uma meta intermediária até a abstinência, possibilitando ao usuário

uma mudança em seu padrão de consumo, reduzindo gradualmente os

danos e a quantidade de drogas consumidas129.

4- Salas de uso seguro, disseminadas em cidades europeias,

caracterizadas por ambientes fechados, onde os consumidores encontram

disponíveis materiais para fazerem uso seguro da droga, como seringas

estéreis, preservativos, cuidados éticos e aconselhamento, porém não são

disponibilizadas drogas, estas devem ser trazidas por seus usuários130.

5- Redução de danos em presídios, uma estratégia altamente

condizente com a realidade do país, pela contestação de grande incidência

de transmissão do HIV dentro das prisões, que ocorre, geralmente, por meio

128

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE REDUTORAS E REDUTORES DE DANOS –ABORDA, Redução de Danos no Cotidiano, 2008. Disponível em: < www.aborda.com.br>. Acesso em: 24 de setembro de 2012. 129

ALVES, V.S. Modelos de Atenção À Saúde de Usuários de Álcool e Outras Drogas: Discursos Políticos, Saberes e Práticas, Cadernos de Saúde Pública, 25 (11), Rio de Janeiro, 2009. Disponível em: < http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0102-311X2009001100002&script=sci_arttext>. Acesso em: 24 de setembro de 2012. 130

Fonseca, E. M. <http://www.arca.fiocruz.br/bitstream/icict/4604/2/734.pdf>. Acesso em: 24 de setembro de 2012.

Page 63: LEGALIZAÇÃO DAS DROGAS ILÍCITAS POLITICA ... · modelos de legalização de drogas. A monografia apresenta as seguintes subdivisões: O capitulo 1 apresenta o conceito de drogas

53

de sexo desprotegido, compartilhamento de seringas e agulhas para injeção

de drogas, bem como para tatuagens, além de que esta população

carcerária, em quase sua totalidade, se encontra distante do acesso às ações

preventivas131.

Além disso, podem ser consideradas ações de programas de redução de

danos o mapeamento de regiões frequentadas pela população atingida pelos programas;

diagnóstico sorológico da infecção pelo HIV, coleta de sangue, papanicolau e escarro;

vacinas contra Hepatites, clínica de abordagem sindrômica de DSTs; orientação e

aconselhamento em relação à prevenção e ao tratamento de doenças, fornecimento de

insumos para prevenção e redução de danos; encaminhamentos para inserção dos sujeitos

em programas da rede assistencial de saúde, dispositivos sociais e inserção no trabalho132.

Resta comprovadas que destinar recursos a políticas de tratamento resultam

em menos custos sociais e alcançam maiores reduções de consumo do que políticas

voltadas para a imposição da lei. Rydell e Everingham estimaram que cada dólar adicional

investido no tratamento de abuso de substancias se economizam US$ 7, 46 do contribuinte

em custos sociais, e que o aumento dos esforços na imposição da lei custa cerca de 15

vezes mais do que o que seria gasto em tratamento para alcançar a mesma redução dos

custos sociais133

A partir de uma estimativa feita em 1997, Caulkins relata que se em 1992

tivesse ocorrido um aumento de um milhão de dólares dos gastos federais em imposição da

lei, este teria reduzido o consumo de cocaína em cerca de 53 kg a 93 kg, uma estimativa

131

FONSECA, E. M. Políticas de Redução de Danos ao Uso Indevido de Drogas: O Contexto Internacional e Uma Análise Preliminar dos Programas Brasileiros, Dissertação, Escola Nacional de Saúde Pública, Fundação Oswaldo Cruz, 2005. Disponível em: <http://www.arca.fiocruz.br/bitstream/icict/4604/2/734.pdf>. Acesso em: 24 de setembro de 2012. 132

SILVA , S.M.; SPIASSI, A. L.; ALVES, D.C.; GUEDES, D.J.; LEIGO, R. O.; Redução de Danos: Estratégia de Cuidado Com Populações Vulneráveis na Cidade de Santo Andre – SP, Rev. Saúde e Sociedade, vol. 18, supl.2, 2009. Apud in: Alcântara Anacleto; Aline Ariana. REDUÇÃO DE DANOS E SAÚDE MENTAL. Universidade Tecnológica Federal do Paraná Câmpus Dois Vizinhos, p. 5-6. Disponivel em: < http://anais.unicentro.br/cis/pdf/conferencias/Aline.pdf>. Acesso em: 24 de setembro de 2012. 133

Rydell, C. P; Everingham, S. S, Controlling Cocaine: Supply versus Demand Program. RAND Corporation – Drug Policy Research Center, 1994. Apud in: Chitolina Santos, Lia. Economia das Drogas Ilegais: Teoria, Evidencias e Politicas Públicas. Monografia, Porto Alegre, 2009, P.76.

Page 64: LEGALIZAÇÃO DAS DROGAS ILÍCITAS POLITICA ... · modelos de legalização de drogas. A monografia apresenta as seguintes subdivisões: O capitulo 1 apresenta o conceito de drogas

54

semelhante em relação aos gastos com tratamento para dependentes resultou em redução

de aproximadamente 97 kg a 119 kg. Isto ocorre porque o tratamento ataca diretamente a

demanda, enquanto que esforços de imposição da lei o fazem através do aumento dos

preços134.

O tratamento de substituição, como estratégia de redução de danos deve ser

visto como uma escolha voluntária pelo usuário, e não se confunde com a imposição do

tratamento como pena, que constitui estratégia proibicionista repressiva ligada ao ideal da

abstinência.

Os princípios e objetivos que definem o conceito de redução de danos e a

caracteriza como uma política de saúde pública direcionada as pessoas que se encontram

em situação de vulnerabilidade pelo exercício de práticas de risco, a afirma como uma

proposta que tem por finalidade mobilizar as pessoas para que adquiram uma maior

qualidade de vida independente de seus vícios ou práticas.

4 LEGALIZAÇÃO DAS DROGAS: ESTRATÉGIAS ALTERNATIVAS AO CONSUMO E AO

TRAFICO DE DROGAS

Os limites do presente trabalho não permitem a discussão de todos os

modelos antiproibicionistas, devido a sua extensão e polêmica, razão pela qual optei em

analisar os principais modelos, assim considerados, aqueles com soluções que se

contrapõem ao proibicionismo.

As estratégias alternativas apresentam-se como possíveis substitutos ao

modelo proibicionista e variam de acordo com o grau de oposição a este modelo, que são

134

Caulkins, S. P. Et al. How goes the “War on Drugs”?: An assessment of U.S. Drug programs and policy. RAND corporation - Drug Research Center, 2005. Apud in: Chitolina Santos, Lia. Economia das Drogas Ilegais: Teoria, Evidencias e Políticas Públicas. Monografia, Porto Alegre, 2009, P.76.

Page 65: LEGALIZAÇÃO DAS DROGAS ILÍCITAS POLITICA ... · modelos de legalização de drogas. A monografia apresenta as seguintes subdivisões: O capitulo 1 apresenta o conceito de drogas

55

as seguintes: a legalização liberal, a legalização com forte controle estatal e a legalização

controlada.

É bom frisar que esses modelos, devem-se moldar as diversidades de cada

sociedade. De modo que não existe um modelo ideal de controle de drogas, mas sim o

modelo que mais se adéqua as diversidades geográficas, políticas, econômicas, culturais,

sociais e jurídicas de cada país.

Antes de começar a falar sobre a legalização propriamente, é mister fazer

referencia algumas estratégias muito utilizadas atualmente, usadas vários países,

principalmente europeus, e que se encontram em um processo de flexibilização do seus

sistemas repressivos de combate as drogas, tentando reduzir os danos causados por ela,

adotando uma postura humanista e racional.

Para se chegar hoje ao debate sobre a legalização de drogas, teve que existir

estratégias como, a despenalização e descriminalização do uso de drogas, e também a

despenalização de algumas condutas de comercio de drogas leves, e do seu cultivo.

De certa forma essas estratégias deu força ao debate de legalização,

ajudando-nos a pensar em estratégias mais humanas, e mais eficientes.

A Lei 11.343/06, considerando o fracasso do sistema penitenciário, a

desnecessidade do encarceramento do usuário de drogas, e o alto custo da manutenção da

prisão e direcionando todos seus esforços para aumentar a repressão ao tráfico de drogas,

despenalizou a conduta de porte de drogas para consumo pessoal.

Apesar de se mostrar um avanço, percebe-se neste modelo uma presença

rígida da proibição e da repressão, no que se refere a qualquer tipo de tráfico, com

aplicação da pena de prisão para as condutas equiparadas, sendo excluída apenas a

aplicação de pena de prisão para o usuário.

Já a estratégia da descriminalização do usuário em muito se distancia do

modelo despenalizador, possui em sua essência constitutiva a teoria defendida por, Louk

Hulsman, criminólogo holandês que questiona a existência do próprio sistema penal em

Penas Perdidas.

Page 66: LEGALIZAÇÃO DAS DROGAS ILÍCITAS POLITICA ... · modelos de legalização de drogas. A monografia apresenta as seguintes subdivisões: O capitulo 1 apresenta o conceito de drogas

56

A expressão “penas perdidas”, utilizada por Louk Hulsman, é uma referência

ao fenômeno de uma progressiva “perda” das “penas”, uma vez que estas, carentes de

racionalidade, nada mais fazem que infligir sofrimentos desnecessários àqueles que caem

nas teias de um sistema penal, em desacordo com a legalidade. O encarceramento

constituiria nada mais que um sofrimento não criativo e desprovido de sentido, seletiva e

inutilmente imposto a certa categoria de pessoas135.

Ao defender a descriminalização, Hulsman reconhece o caráter utópico da

descriminalização total da droga, e por isso sugere que se proceda por etapas, começando

pela descriminalização do uso e da posse, como etapa prévia à exclusão das sanções

penais para a produção ou tráfico de drogas136.

Outro fundamento da descriminalização é o fundamento terapêutico,

defendida pelo Dr. Olivenstein. Contraria a criminalização de usuários de droga, ele

questiona a imposição de um tratamento aos usuários de drogas contra a sua vontade. Para

além da descriminalização do usuário, defende ele as políticas de redução de riscos. O Dr.

Olivenstein criticava a estratégia proibicionista que justifica a intervenção do sistema penal

por razões médicas, por considerar “que o critério para a proibição era dado por aquilo que

a sociedade, democraticamente, entendesse que assim deveria ser” 137.

Atualmente, diante do fracasso da política repressiva, têm crescido as

pressões pela descriminalização do uso de drogas, assim a maioria dos países da Europa

Ocidental já se adequou a esse modelo. A descriminalização de todos os tipos de drogas é

uma realidade hoje em Portugal, Itália e Espanha; enquanto que Bélgica, Irlanda,

Luxemburgo descriminalizaram somente a maconha, e o Reino Unido recentemente

desclassificou a cannabis, cujo usuário passou a ser controlado apenas pela polícia, sem

possibilidade de prisão.

135

Uma análise da obra "Em busca das penas perdidas", de Zaffaroni. disponivel em: < http://www.usinadeletras.com.br/exibelotexto.php?cod=32505&cat=Artigos&vinda=S> acesso em: 18 de outubro de 2012. 136

HULSMAN, VAN RANSBEEK. Évaluation critique de la politique des drogues. Déviance et société, 1983, p. 271 137

Luciana Boiteux Figueiredo Rodrigues. Ibidem. 2006, p.87.

Page 67: LEGALIZAÇÃO DAS DROGAS ILÍCITAS POLITICA ... · modelos de legalização de drogas. A monografia apresenta as seguintes subdivisões: O capitulo 1 apresenta o conceito de drogas

57

O modelo português de descriminalização de drogas é um exemplo de

processo de descriminalização feito de maneira racional e cautelosa, por meio da

substituição de controle penal por um controle administrativo não punitivo.

A critica que se faz a esse modelo é que ao mesmo tempo em que prevê

tolerância aos usuários de droga, reprime o comercio, mantendo de certa forma a essência

do trafico de drogas que é a ilegalidade da sua economia. Por isso que essa estratégia não

possui armas suficientes para lidar com o problema da droga.

A descriminalização da posse de entorpecentes, apesar de não ser a solução

para todos os males do proibicionismo, além de adequar a norma penal à Constituição, tem

condições de resolver alguns problemas como a estigmatização do usuário, e a sua

perigosa relação com o sistema penal, além da redução da corrupção e da criminalidade.

Por outro lado, ressalte-se que a retirada do uso do controle penal deve ser acompanhada

da implementação de políticas de redução de danos, campanhas de esclarecimento e de

prevenção, devendo ser disponibilizado ao usuário gratuitamente o acesso a serviços de

saúde e ao tratamento da dependência138.

A despenalização de algumas condutas dos usuários, mais algumas

condutas de comercio de drogas leves, e do seu cultivo, configura-se numa tática de

ampliação da estratégia despenalizadora. Essa estratégia visa uma redução do controle

penal em prol de um maior controle social sobre a droga.

Essa experiência tem como base empírica a experiência concreta dos “coffee

shops” de Amsterdã, e da regulamentação da distribuição de droga com proibição da

publicidade. Ela se fundamenta na necessidade de afastar os consumidores de drogas

leves do mercado ilícito, autorizando as pessoas a plantar a “cannabis” para uso próprio.

Além de distanciar os consumidores do mercado ilícito, estará se reduzindo o lucro do

traficante, que explora o risco da proibição.

138

Luciana Boiteux Figueiredo Rodrigues. Ibidem. 2006, p.88.

Page 68: LEGALIZAÇÃO DAS DROGAS ILÍCITAS POLITICA ... · modelos de legalização de drogas. A monografia apresenta as seguintes subdivisões: O capitulo 1 apresenta o conceito de drogas

58

Apesar da estratégia dos “coffee shops” em Amsterdã ser uma inovação para

o aprimoramento dos modelos alternativos, apresentam-se falhas graves no que tange ao

seu abastecimento.

A droga que é consumida nos “coffee shops” trata-se de uma droga legal,

em que o consumo se dá de forma livre, respeitando algumas regras impostas pelo estado

holandês, mas o abastecimento dos “coffe shops” se dá de forma ilegal, pelo simples motivo

de que o comercio de drogas na Holanda é proibido.

Essa estratégia adotada pelo governo holandês, do sistema dos “coffee

shops” não permite o desfazimento do comercio ilegal de drogas. Apesar da liberação do

comércio apenas da “cannabis”, essa estratégia ainda não altera a problemática do

mercado ilícito, o qual continua a ser combatido por meio do direito penal.

Com certeza não são estratégias capazes de acabar e solucionar o problema

da droga, mas são estratégias que nos fez pensar em modelos melhores, e mais eficientes.

Estratégias não para acabar com o problema da droga, mas para controlar, e regular esse

problema.

Por isso precisamos de modelos com o a capacidade de atacar tanto o

consumo, como também o comercio de drogas. É com esse intuito que eu passo a analisar

os modelos de legalização de drogas propriamente dito.

4.1 MODELOS DA LEGALIZAÇÃO DE DROGAS

A legalização das drogas surge como alternativa ao sistema proibicionista,

que em vez de declarar guerra às drogas, como uma política repressiva o fez, declaram

paz, implantando uma política pacifista, baseado na estratégia de controle, regulamentação

do consumo e do comercio de drogas.

Page 69: LEGALIZAÇÃO DAS DROGAS ILÍCITAS POLITICA ... · modelos de legalização de drogas. A monografia apresenta as seguintes subdivisões: O capitulo 1 apresenta o conceito de drogas

59

A legalização não se confunde com a Liberalização total das drogas. A

liberação total das drogas prega a abolição de todas as leis restritivas, tanto as que proíbem

seu uso, como as que o admitem em determinadas circunstâncias.

E a legalização pressupõe controle, regulamentação, e sustenta a

substituição do controle penal por outras formas de regulação, que se subdivide em três:

legalização liberal, legalização com forte controle estatal, e a legalização controlada.

4.1.1 LEGALIZAÇÃO LIBERAL

A legalização liberal pressupõe a legalização da produção, da venda e da

circulação de droga, mas regulados pelas leis de mercado.

A legalização liberal, por sua vez, admite alguns controles estatais

semelhantes aos adotados com relação ao álcool e o tabaco, como por exemplo, a

proibição de vendas a menores de idade. É defendido por liberais como Milton Friedman,

propõe um tratamento as drogas igual ás mercadorias, mas com algumas especificidades.

Segundo ele, cada indivíduo ficaria responsável por si, e poderia escolher usar psicoativos.

Apenas quando o hábito de um indivíduo fosse prejudicial a outro, a lei seria acionada para

reparar danos. Em ambos os cenários, seriam mantidas as políticas destinadas a minimizar

os problemas com drogas psicoativas, tais como redução de danos139.

O modelo liberal por entender a droga como uma mercadoria especial que

necessita de maiores limitações, além das leis do mercado, como a proibição da

publicidade, sob pena de aumentar excessivamente a demanda. Considera-se necessário

também evitar eventuais práticas danosas à saúde por parte de empresas capitalistas,

descomprometidas, com objetivo único do lucro, que possam utilizar técnicas de marketing 139

Friedman, Milton. Prohibition and drug. Disponivel em: <http://www.druglibrary.org/special/friedman/prohibition_and_drugs.htm> acesso em: 18 de outubro de 2012.

Page 70: LEGALIZAÇÃO DAS DROGAS ILÍCITAS POLITICA ... · modelos de legalização de drogas. A monografia apresenta as seguintes subdivisões: O capitulo 1 apresenta o conceito de drogas

60

para aumentar o consumo, sem levar em consideração a saúde dos consumidores, como

ocorreu com o cigarro140.

4.1.2 LEGALIZAÇÃO COM FORTE CONTROLE ESTATAL

A legalização com o forte controle estatal é defendido por Henrique Carneiro,

divergindo da desregulamentação defendida por Thiago Rodrigues.

Henrique Carneiro parte inicialmente da caracterização das drogas em “três

circuitos de circulação” na sociedade contemporânea: “o das substâncias ilícitas, o das

lícitas de uso recreacional e o das lícitas de uso terapêutico”. Sua proposta é de que os três

devem ser objeto de um tipo de empreendimento que não permita a intensificação do

estímulo contínuo ao consumo e, consequentemente, lucros sempre crescentes, inerentes

ao interesse privado, com a criação de um “fundo social”, “constituído com o faturamento de

um mercado legalizado e estatizado de produção de drogas psicoativas em geral, tanto as

ilícitas como as legais”.

Diz o autor, Henrique Carneiro:

O álcool já foi remédio, tornou-se droga proibida e voltou a ser substância de uso lícito controlado. Outras, como os derivados da Cannabis, que por milênios fizeram parte de inúmeras farmacopeias, foram objeto de uma proscrição oficial no século XX, a ponto de a ONU querer “erradicar” essa planta, assim como outras tais como a coca e a papoula produtora de ópio. Hoje a Cannabis, entretanto, tem uso medicinal reconhecido em muitos estados norte-americanos e em outros países

141.

Dentre o conjunto dos medicamentos, que totalizam em média cerca de 15%

dos orçamentos de saúde nos países centrais, se destacam os chamados de psicoativos,

que são os indicados para os estados de humor, como promoção da alegria e combate à

140

Idem. <www.druglibrary.org/special/friedman/socialist.html> acesso em: 18 de outubro de 2012. 141

Idem. <http://coletivodar.org/2010/03/exclusivo-texto-de-henrique-carneiro-sobre-alternativas-ao-proibicionismo/> Acesso em: 22 de outubro de 2012.

Page 71: LEGALIZAÇÃO DAS DROGAS ILÍCITAS POLITICA ... · modelos de legalização de drogas. A monografia apresenta as seguintes subdivisões: O capitulo 1 apresenta o conceito de drogas

61

tristeza, para os problemas mentais, como ansiedade ou falta de concentração, para o

aumento do desempenho intelectual ou físico, para a tranquilização, sedação e analgesia,

para a excitação sexual, e outras formas.

Existem, três circuitos de circulação de drogas psicoativas na sociedade142:

1- O das substâncias ilícitas, num mercado paralelo e clandestino, cujo

volume é calculado em torno de 400 bilhões de dólares, basicamente os

derivados de algumas das plantas mais tradicionais da história da

humanidade: a coca, a canábis e a papoula. Cada vez mais cresce também

um número de centenas de moléculas sintéticas novas que vem sendo

desenvolvidas nos últimos anos em laboratórios clandestinos. O montante do

faturamento e as consequências sociais em geral associadas a essas drogas,

como a violência e alto índice de aprisionamento, decorrem não do efeito

específico das substâncias, mas sobretudo, da sua condição de ilegalidade.

2- O circuito das substâncias lícitas de uso recreacional, como o tabaco, as

bebidas alcoólicas e cafeínicas, é regido pela legalidade trazendo assim

problemas relacionados ao uso abusivo ou excessivo e seus efeitos sociais,

mas não uma violência intrínseca. É um mercado poderoso, de grandes

multinacionais associadas à indústria da alimentação, mas também conhece

micro produtores domésticos ou artesanais. Todas estas substâncias já foram

objeto de perseguição e tentativas de proibição, que, no caso do álcool,

provocaram os problemas ligados à chamada “lei seca” que vigorou de 1920

a 1933 nos Estados Unidos.

3- O circuito mais notável nas últimas décadas foi o das substâncias da

indústria psicofarmacêutica, chamados de remédios psicolépticos143,

142

Idem. <http://coletivodar.org/2010/03/exclusivo-texto-de-henrique-carneiro-sobre-alternativas-ao-proibicionismo/> Acesso em: 22 de outubro de 2012. 143

Também chamados de Sedativos, são as drogas que diminuem a dor e combatem a insônia, os estados de ansiedade e de agitação psicomotora. Muitos deles possuem efeito hipnótico, induzindo ao sono. Classificados também como hipnosedativos, são apropriados para os diversos tipos de agitação e ansiedade, mesmo nos casos de convulsão psicótica, embora não possuam efeitos

Page 72: LEGALIZAÇÃO DAS DROGAS ILÍCITAS POLITICA ... · modelos de legalização de drogas. A monografia apresenta as seguintes subdivisões: O capitulo 1 apresenta o conceito de drogas

62

psicoanalépticos144 e psicodislépticos. Desenvolvido especialmente a partir

do segundo pós-guerra, é o mais rentável e o que mais tem crescido: é o de

circulação mais volumosa, com maior número de consumidores e com o

maior faturamento. Seus grandes fundamentos são o sistema de patentes, o

monopólio médico da prescrição, um mercado publicitário dirigido para quem

toma a droga, mas também corruptor de quem a ministra (laboratórios que

convencem médicos a receitarem os seus produtos). Sua outra contrapartida

indispensável é a proibição concomitante do uso de diversas plantas

psicoativas de uso tradicional que também podem ter funções

psicoterapêuticas em medicinas tradicionais tais como a canábis, a papoula e

a coca, que passaram a ser substituídas por pílulas farmacêuticas.

Hoje em dia deparamos com uma nova era industrial de aumento de tensões

e de sofrimentos psíquicos diversos e complexos, deixando de lado as plantas tradicionais,

contamos com centenas de moléculas puras para os mais diversos efeitos. A indústria

farmacêutica busca ampliar o seu monopólio, substituindo usos de plantas tradicionais por

fármacos patenteados, e colonizando cada vez mais a vida cotidiana, oferecendo novos

“remédios” para as mais diferentes esferas comportamentais.

A dependência de remédios, uma forma de consumo compulsivo chamada às

vezes popularmente de “hipocondria” é uma característica marcante da relação das

pessoas com as drogas. Por serem, por vezes, receitadas por um médico são chamadas de

“remédios”, mas o seu resultado é exatamente o mesmo de qualquer outro consumo

compulsivo, podendo levar a efeitos daninhos para o organismo e à dependência e

tolerância.

O uso de certos produtos farmacêuticos como drogas para outras finalidades,

que não as indicadas, devido a seus efeitos colaterais também é comum: xaropes para

antipsicóticos específicos. Disponível em: < http://www.coladaweb.com/drogas/drogas-psicolepticas-sedativos> Acesso em: 22 de outubro de 2012. 144

Psicoanalepticos ou estimulantes – produzem aumento da atividade cerebral, diminuem a fadiga, aumenta a percepção ficando os demais sentidos ativados.< http://tiposdedrogas-cristina.blogspot.com.br/> Acesso em: 22 de Outubro de 2012.

Page 73: LEGALIZAÇÃO DAS DROGAS ILÍCITAS POLITICA ... · modelos de legalização de drogas. A monografia apresenta as seguintes subdivisões: O capitulo 1 apresenta o conceito de drogas

63

tosse com codeína, remédios para dor de cabeça como Optalidon, para mal de Parkinson

como Artane ou mesmo de analgésicos para combater dores mais psíquicas do que

propriamente orgânicas.

Muito além do simples e indefinível efeito farmacológico objetivo todo

remédio também é uma representação que se auto reforça por meio do efeito placebo

inerente a todo medicamento. O que se vende com o mercado de drogas são modos de

produção da subjetividade. Assim o fazem os usuários que as inserem em contextos

sociais, cerimoniais e até rituais. Também assim o consideram as agências publicitárias

que, ao promoverem álcool, tabaco ou remédios vendem estados de espírito, vendem

modelos de felicidade da alma, humor em pílulas. Mais do que venderem, exacerbam, pois,

conforme a hipnótica cantilena publicitária, só há requinte com um cigarro na mão, só há

festa com cerveja e decotes generosos, só há felicidade plena com o sono, a ansiedade e a

tristeza geridos por meio de doses de pílulas ou elixires145.

A própria técnica publicitária nasce, desde o final do século XIX, fortemente

ligada à venda de medicamentos, tônicos, fortificantes. Até hoje, o setor da venda de

drogas, seja álcool, tabaco ou remédios, representam uma das maiores fatias do mercado

publicitário internacional e brasileiro.

O uso de drogas na sociedade cresce sobretudo por meio dos remédios

legais, cuja publicidade incita a um consumo fetichizado e hipocondríaco, na busca de

panaceias químicas para mal-estares sociais e psicológicos146.

Uma política realmente democrática em relação às drogas psicoativas seria

aquela que legalizasse todas, submetendo-as a um mesmo regime, não importa se

remédios sintéticos ou derivados de plantas tradicionais, mas aumentasse a severidade dos

controles, distintos para cada substância. Toda publicidade em veículos de mídia

destinados ao público em geral deveria ser proibida e a fiscalização e punição para

145

Idem. <http://coletivodar.org/2010/03/exclusivo-texto-de-henrique-carneiro-sobre-alternativas-ao-proibicionismo/> Acesso em: 22 de outubro de 2012. 146

Idem. <http://coletivodar.org/2010/03/exclusivo-texto-de-henrique-carneiro-sobre-alternativas-ao-proibicionismo/> Acesso em: 22 de outubro de 2012.

Page 74: LEGALIZAÇÃO DAS DROGAS ILÍCITAS POLITICA ... · modelos de legalização de drogas. A monografia apresenta as seguintes subdivisões: O capitulo 1 apresenta o conceito de drogas

64

consumos irresponsáveis, como ao volante, por exemplo, de álcool ou outras drogas,

deveria ser rígida.

Outra medida necessária seria a estatização da grande produção e do

grande comércio, de forma a evitar que corporações gananciosas dominassem o mercado e

para garantir que todos os lucros desse comércio fossem direcionados para fins sociais,

inclusive para programas de desabituação para os consumidores problemáticos que

necessitassem. Nesse sentido, além de uma política em favor dos genéricos e da quebra

das patentes, o estado deveria garantir a fabricação de todos os fármacos indispensáveis

oferecendo-os ao menor preço possível e aplicando os lucros obtidos no interesse social.

Um amplo programa de pesquisa com financiamento e destinação pública, poderia assim

estimular também o desenvolvimento de novos fármacos147.

Isso deveria se aplicar tanto aos remédios fisiológicos como aos psicoativos

da indústria farmacêutica, como também ao álcool, ao tabaco e às substâncias hoje

consideradas ilícitas. A legalização da maconha, da cocaína e de todas as drogas, sob

controle estatal do grande atacado e produção afastaria o atrativo para o crime organizado,

permitiria maior monitoramento dos usos problemáticos e encaminhamento dos

necessitados a tratamentos que poderiam ser financiados e oferecidos no serviço público de

saúde pela própria renda gerada pela venda legal.

Criar um fundo social não apenas resultado de tributos, mas do controle

econômico estatal de grande produção e circulação de drogas, remédios, bebidas e

cigarros. O conjunto do faturamento obtido poderia servir para custear o orçamento de

Saúde Pública.

O conjunto das drogas legalizadas acabaria com os efeitos nefastos do

chamado “narcotráfico”, encerraria a “guerra contra as drogas”, libertaria os prisioneiros

dessa guerra: em torno de metade da população carcerária tanto nos EUA como no Brasil.

O crescimento vertiginoso do encarceramento por drogas que vem servindo como a

147

Idem. <http://coletivodar.org/2010/03/exclusivo-texto-de-henrique-carneiro-sobre-alternativas-ao-proibicionismo/> Acesso em: 22 de outubro de 2012.

Page 75: LEGALIZAÇÃO DAS DROGAS ILÍCITAS POLITICA ... · modelos de legalização de drogas. A monografia apresenta as seguintes subdivisões: O capitulo 1 apresenta o conceito de drogas

65

principal fonte de lucros para o sistema penal privado norte-americano e como mecanismo

de repressão social e racial contra os pobres e os afrodescendentes seria detido.

Reduziriam os danos sociais dos usos problemáticos de drogas e estes poderiam ser

amenizados. Potencializariam os usos positivos, tanto terapêuticos como recreacionais.

Os fármacos em geral, e os psicofármacos em particular, oferecem um

florescente futuro, com inúmeras novas moléculas podendo ser inventadas, além dos usos

diversos que já se podem fazer das substâncias existentes, o que amplia um repertório

capaz de ser usado para fins terapêuticos, lúdicos, recreacionais, de reflexão filosófica, de

autoconhecimento e de regulação humoral, mas também podendo ser usado de formas

autodestrutivas, excessivas, abusivas e descontroladas. Uma cultura da autonomia

responsável supõe o uso consciente do potencial de todos os fármacos, que, como os

alimentos, são os produtos da cultura material que ingerimos para finalidades úteis ao

nosso corpo.

Usar as “tecnologias de si” de forma construtiva significa por um lado acabar

com a “guerra contra as drogas” e o proibicionismo demonizante de certas substâncias,

mas, por outro, significa recusar os efeitos alienantes de uma cultura publicitária que faz da

saúde um negócio e da necessidade das drogas um mercado oligopólico global148.

4.1.3 LEGALIZAÇÃO CONTROLADA

O modelo de legalização controlada foi pensado como intermediário entre a

“proibição irrealista e a descriminalização irresponsável”, ou seja, foi pensada para substituir

a atual proibição das drogas, regulando a sua produção, o comércio de modo a evitar a

148

Idem. <http://coletivodar.org/2010/03/exclusivo-texto-de-henrique-carneiro-sobre-alternativas-ao-proibicionismo/> Acesso em: 22 de outubro de 2012.

Page 76: LEGALIZAÇÃO DAS DROGAS ILÍCITAS POLITICA ... · modelos de legalização de drogas. A monografia apresenta as seguintes subdivisões: O capitulo 1 apresenta o conceito de drogas

66

idolatria e a demonização da droga, com o objetivo de minimizar possíveis abusos

prejudiciais á sociedade149.

Seus princípios básicos são: uso discreto, propaganda proibida, produção e

distribuição orientadas pelo Estado.

Essa proposta teve como idealizador Francis Callabero, que prevê a

comercialização de todas as drogas atualmente proibidas, incluindo a cannabis, a heroína e

a cocaína, dentre outros, os quais passariam a ser liberados não só para fins medicinais,

mas também recreativos, da mesma forma que o álcool e o tabaco hoje o são. Esse modelo

não tem o condão de modificar as características dos produtos. Eles continuam sendo

substancias psicoativas e perigosas para a saúde e para a sociedade, e suscetíveis de

abusos150.

Contrapondo ao modelo proibicionista, que fixa o ideal de abstinência, o

modelo de legalização controlada se baseia no ideal de tolerância e moderação, como

forma de conciliar o exercício da liberdade individual com a necessária proteção da saúde

pública.

Aos consumidores imoderados essa teoria apresenta duas distinções

importantíssimas que são: os abusos que causam danos somente ao usuário, e os abusos

que causam danos a terceiros e a sociedade. As pessoas que abusam das drogas

causando males a sua própria pessoa, sofreria uma sanção apenas moral, pois não

compromete a saúde de terceiros, nem a sociedade; e os que acarretam danos a outrem ou

149

“La légalisation contrôlée est un système qui vise à remplacer l’actuelle prohibition des drogues

par une réglementation de leur production, de leus commerce et de leur usage em vue d’en limiter les

abus préjudiciables à la société”. CABALLERO, Francis; BISIOU, Yann. Droit de la drogue. Paris:

Dalloz, 2000, p. 131-132. Apud in: Luciana Boiteux Figueiredo Rodrigues. Controle Penal Sobre as

Drogas Ilicitas: Impacto do Proibicionismo no Sistema Penal e na Sociedade. Tese de

Doutorado. USP/SP, 2006, p.93

150 CABALLERO, Francis; BISIOU, Yann. Droit de la drogue. Paris: Dalloz, 2000, p. 133. Apud in:

Luciana Boiteux Figueiredo Rodrigues. Controle Penal Sobre as Drogas Ilicitas: Impacto do Proibicionismo no Sistema Penal e na Sociedade. Tese de Doutorado. USP/SP, 2006, p. 94.

Page 77: LEGALIZAÇÃO DAS DROGAS ILÍCITAS POLITICA ... · modelos de legalização de drogas. A monografia apresenta as seguintes subdivisões: O capitulo 1 apresenta o conceito de drogas

67

à sociedade, como é o caso de dirigir sob efeito da droga por exemplo, que devem ser

tratados de forma diferenciada pelo modelo proposto, que apresenta as medidas adaptadas

à periculosidade e ao risco do comportamento do usuário151.

Quanto ao seu fundamento sanitário social, pretende a estratégia acumular

as vantagens da redução dos riscos e da descriminalização, e ao mesmo tempo evitar os

respectivos inconvenientes, por meio da colocação à disposição do usuário de produtos e

utensílios com controle de qualidade, prevenindo as overdoses, a transmissão da AIDS e a

delinquência152.

Ao descriminalizar o uso, é proposta também a descriminalização de todo o

circuito do comércio de entorpecentes, sobretudo a produção e a revenda, com o objetivo

de deixar de alimentar o tráfico, o traficante de rua e as máfias. Entende Caballero que, uma

vez liberado da guerra às drogas, o Estado poderá se dedicar à luta civil contra o abuso das

drogas, na qual seria mais fácil o enfoque na prevenção, por meio da informação aos

consumidores sobre os perigos e os riscos do abuso de cada substância legalizada, além

de ser oferecida ajuda à desintoxicação153.

Respondem os autores que a opção pela legalização controlada não

abandona a via repressiva, pois entende que o direito penal pode ser utilizado para marcar

os limites entre os abusos prejudiciais à juventude e à sociedade. Porém, este não mais

exerceria um papel central como tem hoje no modelo proibicionista, pois sua tarefa seria

marginal e periférica, ao sancionar alguns acontecimentos abusivos extremos. Assim, o

direito penal seria substituído pelo direito administrativo, pelo direito comercial e pelo direito

tributário no controle dos circuitos de produção e de distribuição criados pela legalização,

considerados controles bem mais eficazes, com condições de dar um fundamento

econômico à íntegra do sistema154.

151

CABALLERO, Francis; BISIOU,Yann. Ibidem. 2006, p. 95. 152

CABALLERO, Francis; BISIOU, Yann. Ibidem. 2006, p.96. 153

CABALLERO, Francis; BISIOU, Yann. Ibidem. 2006, p. 97. 154

CABALLERO, Francis; BISIOU, Yann. Ibidem. 2006, p. 97.

Page 78: LEGALIZAÇÃO DAS DROGAS ILÍCITAS POLITICA ... · modelos de legalização de drogas. A monografia apresenta as seguintes subdivisões: O capitulo 1 apresenta o conceito de drogas

68

O fundamento econômico deste modelo está na possibilidade de controlar a

oferta e a demanda da droga, considerando-se esta como uma mercadoria, e deixando uma

relativa liberdade de mercado aos operadores155.

Sobre este ponto, há uma diferença entre a proposta de Caballero e a visão

de Milton Friedman, conhecido defensor da descriminalização da droga sob a perspectiva

do liberalismo econômico. Friedman entende que a droga como mercadoria deve estar

sujeita às leis do mercado, ou seja, se baseia na liberdade do mercado, com base nas

ideias de Adam Smith, enquanto que Caballero insiste em uma maior intervenção estatal

sobre essas mercadorias156.

Quanto ao controle e as estratégias da legalização, Callabero impõe

restrições diversificadas para cada tipo de droga. Portanto, para cada nível de operação

poderia haver uma restrição específica e adequada, como o monopólio da produção, a

autorização para a distribuição, passando pela taxação dos produtos, a política de preços, o

racionamento, a interdição de venda a menores, a limitação da publicidade, e a obrigação

da informação ao consumidor157.

Considera o autor que as vantagens no plano econômico da Legalização

controlada seriam muitas, tais como a produção de produtos seguros e de qualidade por

preços inferiores ao mercado ilícito, o que ampliaria a capacidade estatal de lutar contra o

tráfico ilegal, assim como contra a lavagem de dinheiro da droga, que deixaria de ser a fonte

de produtos ilícitos. Além disso, os novos empregos criados no mercado formal do comércio

e da agricultura também seriam muito mais vantajosos, pois substituiriam os circuitos

paralelos do crime, bem como os impostos incidentes sobre as drogas reverteriam em

benefício do serviço social, para compensar os danos sanitários e sociais causados pelo

abuso das drogas legalizadas. Isso sem contar que os novos impostos, além de multas e

taxas recebidos, e a economia das vultosas quantias gastas na “guerra às drogas” levariam

155

CABALLERO, Francis; BISIOU, Yann, op. cit. 2006, p. 98. 156

FRIEDMAN, Milton. The drug war as a socialist enterprise. Disponível em <www.druglibrary.org/special/friedman/socialist.html>. acesso em: 16 de outubro de 2012. 157

CABALLERO, Francis; BISIOU, Yann. Ibidem. 2006, p. 99- 100.

Page 79: LEGALIZAÇÃO DAS DROGAS ILÍCITAS POLITICA ... · modelos de legalização de drogas. A monografia apresenta as seguintes subdivisões: O capitulo 1 apresenta o conceito de drogas

69

a um aumento de receita do Estado, possibilitando maiores investimentos em saúde e

educação.

A intenção desse modelo é de uso clandestino e uso discreto. Assim, seria

proibido o uso de drogas em lugares públicos e ao volante, como também a proibição do

consumo por menores de idade.

O uso em público seria apenas punido com multa ou sanção administrativa,

evitando-se o recurso ao direito penal. Já com relação à interdição de uso da droga na

direção, ou no trabalho, em tarefas que demandem atenção, poderia haver a intervenção

penal, mas apenas como uma agravante no caso de homicídio culposo ou involuntário, ou

quando muito punido como hipótese de risco concreto à vida de outra pessoa158.

Nas palavras de Caballero:

Nesse aspecto se verifica a diferença entre “despenalização” e “legalização controlada”. Esta última conserva um direito penal, mais sofisticado, menos rigoroso, e melhor adaptado à periculosidade dos produtos. Ele visa tão somente a prevenir os comportamentos antissociais, e não a impor a ordem moral“

159.

Quanto à produção, este modelo implicaria no controle pelos Estados da

cultura, da fabricação, importação e exportação de estupefacientes, que ficariam

dependentes de um tipo de autorização estatal, com limitações de quantidades, e ainda

sujeitos a controle e fiscalização por parte da administração pública.

O controle sobre a cultura diz respeito às drogas naturais cultiváveis, como o

ópio, a coca e a maconha, e incluiria a necessidade de uma autorização estatal por meio de

um contrato, para o cultivo de tais produtos, que estariam sujeitos a limitações ao tamanho

do plantio. A remuneração aos cultivadores deve ser de mercado, não podendo ser

subsidiada, e regulada pela concorrência 160.

158

CABALLERO, Francis; BISIOU, Yann. Ibidem. 2006, p. 100. 159

CABALLERO, Francis; BISIOU, Yann. Ibidem. 2006, p. 101- 102. 160

CABALLERO, Francis; BISIOU, Yann. Ibidem. 2006, p. 102.

Page 80: LEGALIZAÇÃO DAS DROGAS ILÍCITAS POLITICA ... · modelos de legalização de drogas. A monografia apresenta as seguintes subdivisões: O capitulo 1 apresenta o conceito de drogas

70

O controle sobre a fabricação se aplica às drogas sintéticas, como por

exemplos a metadona, MDMA; e semissintéticas, exemplos a morfina, heroína e cocaína,

que são produzidas industrialmente.

O autor ressalta ainda que o monopólio estatal não significa a estatização,

pois tais drogas podem ser produzidas pelas indústrias farmacêuticas mediante autorização

estatal. Situação semelhante já ocorre atualmente no caso de algumas substâncias que

recebem a autorização da ONU para serem fabricadas para fins medicinais, como

anfetaminas e opiáceos, que poderiam ser estendidas para fins não medicinais. Há também

uma empresa francesa, Francopia, que fabrica a heroína para distribuição aos viciados na

Suíça, por encomenda do governo161.

Destaca Caballero que a violação ou a fraude ao monopólio se puniria da

mesma forma em que hoje se pune o contrabando e a falsif icação de bebidas e de cigarro,

e ainda seriam definidas normas específicas para as substâncias consideradas mais

nocivas, visando o controle de qualidade, e impostas normas de fabricação. Além disso, a

cobrança de impostos sobre a produção seria diferenciada de acordo com sua

nocividade162.

O controle sobre a distribuição propõe-se a criação de um monopólio

nacional de distribuição para cada categoria de droga, no qual seria proibido qualquer

encorajamento ou propaganda dirigida à venda ou ao consumo, sendo o mercado

submetido a uma regulamentação estrita dos meios de promoção de vendas, aplicando-se a

teoria do comércio passivo, inclusive quanto à proibição de uso de marcas, proibidos todos

os procedimentos promocionais. Prevê-se também como meta, que o monopólio

implemente uma política de controle de preços, no qual a determinação do preço estaria

submetida apenas a indicativos de ordem sanitária, de forma a permitir a eliminação dos

traficantes do mercado 163.

161

Idem. Ibidem. 2006, p. 150. 162

CABALLERO, Francis; BISIOU, Yann. Ibidem. 2006, p. 102- 103. 163

CABALLERO, Francis; BISIOU, Yann. Ibidem. 2006, p. 103.

Page 81: LEGALIZAÇÃO DAS DROGAS ILÍCITAS POLITICA ... · modelos de legalização de drogas. A monografia apresenta as seguintes subdivisões: O capitulo 1 apresenta o conceito de drogas

71

Como medida de proteção ao consumidor teria que haver informação

obrigatória sobre os riscos de abuso das drogas distribuídas, e a droga deveria ser

apresentado de acordo com a periculosidade do produto, constando a indicação de alertas

e contraindicações.

O modelo da legalização controlada leva em consideração as experiências

positivas inglesa, suíça e holandesa, e também a experiência negativa do sistema

proibicionista.

Em seu livro, Caballero ressalva que “a legalização controlada é uma

doutrina onde os princípios devem ser adaptados ao contexto de cada país e à

especificidade de cada droga” 164, ou seja, não é um modelo duro envolvido sobre uma

membrana de proteção, mas sim se trata de um modelo flexível e sujeito a adaptações,

inclusive quanto aos tipos de droga que devem ser ou não legalizados, o que se fará de

acordo com as necessidades de cada país, não havendo pretensão de se aplicar modelo

idêntico a todos os tipos de droga e países.

164

CABALLERO, Francis; BISIOU, Yann. Droit de la drogue. Paris: Dalloz, 2000, p. 156.

Page 82: LEGALIZAÇÃO DAS DROGAS ILÍCITAS POLITICA ... · modelos de legalização de drogas. A monografia apresenta as seguintes subdivisões: O capitulo 1 apresenta o conceito de drogas

72

Considerações Finais

O século XIX ficou marcado por uma guerra pelas drogas declarada pela

Inglaterra ao império chinês, conhecida como a guerra do ópio, essa guerra fez com que o

ópio fosse a primeira droga proibida em 1912. No o século XX destacou-se pela guerra à

droga, declarada pelos nortes americanos, que acabou por estender a proibição as outras

drogas naturais, e mais recente foram proscritas as drogas sintéticas.

Os países latino-americanos conhecidos como sendo países produtores

foram colocados em uma guerra sem fim, com o objetivo de erradicar as drogas e de certa

forma as suas culturas ancestrais.

Passado quase um século das primeiras proibições, do ponto de vista da

saúde pública o modelo atual se revelou um autentico fracasso. Com a ajuda da proibição, o

mercado ilícito de drogas apresenta resultados impressionantes, tendo sido mantida a

circulação de mercadorias atendendo a uma demanda crescente por drogas. Do ponto de

vista da saúde pública a proibição dificultou o estudo do fenômeno das drogas, as

estatísticas são pouco precisas e os dependentes de drogas são tratados ora como

criminosos ora como doentes. A guerra as drogas desencadeou uma epidemia da AIDS,

devido a clandestinidade do compartilhamento de seringas pelos dependentes. Em

decorrência do proibicionismo os níveis de consumo de drogas tem subido em todos os

países do mundo, apesar dos esforços na tentativa de atingir um ideal de um mundo livre de

drogas.

Uma das mais graves consequências do proibicionismo em todo o mundo é o

aprisionamento em massa. A política repressiva da guerra às drogas tem gerado graves

distorções no sistema penitenciário de todo o mundo. Acarreta o aumento no número de

presos por crimes de drogas, não só em quantidade de pessoas presas por envolvimento

com tóxicos, como também em proporção de presos por drogas em comparação com outros

tipos de delitos.

Page 83: LEGALIZAÇÃO DAS DROGAS ILÍCITAS POLITICA ... · modelos de legalização de drogas. A monografia apresenta as seguintes subdivisões: O capitulo 1 apresenta o conceito de drogas

73

O Brasil é um dos fieis seguidores da política repressiva, mas em níveis

diferentes em que existe nos estados unidos. Para além dos problemas de alto consumo de

drogas vividos pelos Estados Unidos, no Brasil ainda vive-se o problema do impacto do

proibicionismo na sociedade e no sistema penal.

O impacto do proibicionismo na sociedade e no sistema penal dificulta

estratégia como a redução de danos. Essa politica tem sofrido uma forte rejeição pela

potencia proibicionista, que insiste na tese da abstinência e na redução da oferta e da

demanda como estratégia única de combate à droga.

A política de redução de danos passou a coexistir com a despenalização do

usuário, dentro do modelo proibicionista, que continua mantendo forte controle sobre o

tráfico. Atualmente o continente europeu vem se destacando na implementação de

estratégias alternativas ao proibicionismo, desde a despenalização do usuário, passando

pela descriminalização levada a cabo por Portugal, Itália e Espanha, até a experiência

holandesa que despenalizou o cultivo e o pequeno comércio de cannabis.

Concluo o meu trabalho convicto que o sistema repressivo já não mais se

adéquo a realidade que nós infrentamos hoje no que se refere as drogas. O proibicionismo

não conseguiu atingir os seus objetivos, ou seja, a oferta de drogas não foi reduzida, o

consumo droga aumentou, a situação da saúde pública agravou-se, o sistema prisional está

superlotado e próximo à falência, aumentou a corrupção, e os grandes traficantes

continuam soltos; a circulação de dinheiro sujo não diminuiu; as drogas naturais foram

geneticamente modificadas e estão cada vez mais potentes. No Brasil em especial, houve

um grande crescimento da violência que esta intimamente ligada o combate ao trafico de

drogas, e à alta lucratividade do comércio ilícitas, uma grande epidemia de crack, com a

existência de cracôlandias em vários lugares do pais, as prisões estão cheias de

dependentes de drogas que se transformam em criminosos para sustentar seu vício, e a

violência na resolução dos conflitos ligados ao tráfico é generalizada.

Na década de 90, convergiram dois discursos: um pró-repressão, que prega

a redução da oferta e da demanda por meio do controle penal, visando a alcançar o ideal da

Page 84: LEGALIZAÇÃO DAS DROGAS ILÍCITAS POLITICA ... · modelos de legalização de drogas. A monografia apresenta as seguintes subdivisões: O capitulo 1 apresenta o conceito de drogas

74

abstinência; e o discurso preventivo da redução de danos, pregando a moderação e o

controle do abuso, priorizando medidas preventivas e de reduzir o estigma do viciado.

Paralelamente, o discurso alternativo vai se destacando em oposição ao proibicionismo,

defendendo a legalização das drogas e a redução do controle penal.

A proposta de legalização das drogas como uma das proposta alternativas

apresentadas se baseia no ideal a regulamentação e controle do uso e do trafico de drogas

como meta para combater o abuso de drogas. A legalização das drogas não se trata de

apologia ao uso de drogas, mas sim ela surge em oposição ao modelo repressivo, como

alternativa para o combate ao uso e ao trafico de drogas.

O objetivo desse modelo não é a abolição total das drogas, porque a abolição

total das drogas é algo impossível de se conseguir, é uma utopia. Ela se presta a nos

auxiliar e ajudar a conviver com as drogas daqui para a frente, porque as drogas

permanecerão na nossa vida, e nós precisamos de uma política inteligente que pensa nos

nossos jovens, nas nossas crianças e na sua população.

Trago o modelo de legalização divido em três espécies de regulação, que

são: a legalização liberal, a legalização estatizante e a legalização controlada. Essas três

espécies permite um maior controle sobre o uso, o comercio, na implementação de políticas

sanitárias, na maior compreensão do fenômeno “Droga”, e em um maior combate as

drogas, com uma política mais humanitária e mais pacifica.

Muito embora nenhum sistema de controle de drogas esteja imune a críticas,

os modelos de legalização das drogas deverá adotar o respeito a princípios e garantias

individuais como base, e ter a melhoria do bem-estar dos indivíduos como meta, assim

como deve ter um enfoque preventivo preponderante, e superar a conotação militarista que

o tema drogas tem sido visto.

Page 85: LEGALIZAÇÃO DAS DROGAS ILÍCITAS POLITICA ... · modelos de legalização de drogas. A monografia apresenta as seguintes subdivisões: O capitulo 1 apresenta o conceito de drogas

75

Referencias Agencia Nacional de Politicas Públicas (SISNAD). Recuperado em 02 de julho de 2012, da portaria da ANVISA: «http://apache.camara.gov.br/portal/arquivos/Camara/internet/publicacoes/edicoes/elivros.html/sisnad.pdf». As ordenações Filipinas, Livro V, Titulo LXXXIX. Recuperado em, 29 de junho de 2012:

www1.ci.uc.pt/ihti/proj/filipinas/15p1240.htm. Agencia Nacional de Vigilância Sanitária. Recuperado em 16 de julho de 2012, Portaria

n.º 344, de 12 de maio de 1998: «http://www.anvisa.gov.br/legis/portarias/344_98.htm». ALVES, V.S. Modelos de Atenção À Saúde de Usuários de Álcool e Outras Drogas: Discursos Políticos, Saberes e Práticas, Cadernos de Saúde Pública, 25 (11), Rio de

Janeiro, 2009. Recuperado em 23 de setembro de 2012: <http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0102-311X2009001100002&script=sci_arttext>. Acesso em: 23 de setembro de 2012. Álcool e drogas sem distorção. Recuperado em 05 de julho de 2012, NEAD- núcleo de

Einstien de álcool e drogas do hospital isrealita Albert Einstein: «http://apps.einstein.br/alcooledrogas/novosite/drogas_conceito.htm». Arzamendi, J.L de La C.(1990). Drogas, Abordagem Interdisciplinar, Fascículos de Ciências Penais. Vol. 3, Porto Alegre, Sérgio A. Fabris Editor, n.2, p. 38.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE REDUTORAS E REDUTORES DE DANOS –ABORDA, Redução de Danos no Cotidiano, 2008. Recuperado em 24 de setembro de 2012: <

www.aborda.com.br>.~ Alcântara Anacleto; Aline Ariana. REDUÇÃO DE DANOS E SAÚDE MENTAL.

Universidade Tecnológica Federal do Paraná Câmpus Dois Vizinhos, p. 5-6. Recuperado em 24 de setembro de 2012: < http://anais.unicentro.br/cis/pdf/conferencias/Aline.pdf>. Bianchini, A.; Gomes, L.F.; Cunha, R.S.; Oliveira, W.T. de.(2009). Lei 11.343/06: Legislação Criminal Especial. Vol.6, são Paulo: editora revista dos tribunais. Barreto, M. (1978). Estudo Gerald a nova Lei de Tóxicos. 2º. Ed., Rio de Janeiro. Ed. Rio,

p. 83. Bacila, C. R; Rangel, P. (2007). Comentários Penais e Processuais Penais à lei de Drogas. Ed. Lumen Juris. Rio de Janeiro,p. 6.

Bucker, R; Oliveira, S.R.M. (1994). O Discurso do Combate ás Drogas e suas Ideologias. s. I, Revista Saúde pública, v.28, n.2, p. 137-154.

Carvalho, S.de.(1996). A Política Criminal de Drogas no Brasil, do discurso de Descriminalização. Rio de janeiro: Luam.

Page 86: LEGALIZAÇÃO DAS DROGAS ILÍCITAS POLITICA ... · modelos de legalização de drogas. A monografia apresenta as seguintes subdivisões: O capitulo 1 apresenta o conceito de drogas

76

Carlyle, R. Crime de Lavagem de Dinheiro: Texto recuperado em 02 de julho de 2012: «http://carlyle.blog.digi.com.br». Convenção de Viena de 1971 sobre as Substâncias Psicotrópicas: Recuperado em 05

de julho de 2012: « http://www.idt.pt/PT/RelacoesInternacionais/Documents/ConvencoesInternacionais/convencao_1971.pdf». Carneiro, H. Alternativas ao Proibicionismo: Legalização e Controle Estatal de todas as Drogas para a Constituição de um Fundo Social para a Saúde Publica. Recuperado

em 22 de outubro de 2012: <http://coletivodar.org/2010/03/exclusivo-texto-de-henrique-carneiro-sobre-alternativas-ao-proibicionismo/>. CABALLERO, Francis; BISIOU, Yann. (2000). Droit de la drogue. Paris: Dalloz, 2000, p. 156. Cernicchiaro, L. V.(1974). Dicionario de Direito Penal. Brasilia, Ed. Universidade de

Brasilia, p. 447. Drogas novas, criadas em laboratórios, entram livremente no Brasil: Recuperado em 13 de julho de 2012:«fantástico.globo.com/jornalismo/fant/o,mul1679999-15605,00html». CARNEIRO, H. (1994). Filtros, Mezinhas e Triacas: As Drogas no Mundo Moderno. São Paulo: Xamã, p. 51. Decreto nº 828, de 29 de setembro de 1851. Publicação Original: Legislação Informatizada. Recuperado em 29 de junho de 2012, Portaria da Camara: «WWW2.camara.gv.br/legin/fed/decret/1824-1899_decreto-828-29-setembro-1851-549825-publicacaooriginal-81781-pe.html». CABALLERO, F; BISIOU, Y. (2000). Droit de la drogue. Paris: Dalloz, p. 95-96. ESCOHOTADO, A. (1996). Historia de las drogas. Madrid: Alianza Editorial.

CONAD – Conselho Nacional Antidrogas. Política Nacional Antidrogas. 2005.

Recuperado em 19 de setembro de 2012: HTTP://www.senad.gv.br/documentos_diversos_legislação/documentos_diversos_legislação.html. Chitolina Santos, Lia. Economia das Drogas Ilegais: Teoria, Evidencias e Políticas Públicas. Monografia, Porto Alegre, 2009, Universidade Federal de Porto Alegre.

CAMPOS, M.A.; SIQUEIRA, D.J.R.; BASTOS, F.I. Drogas e Redução de Danos: Abordagens Para Pessoas Vivendo com HIV e Aids: In PINHEIRO, R.M.; SILVEIRA, C.; GUERRA, E. (org.) Drogas e Aids – Prevenção e Tratamento, Fundação do Estado de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2001. Apud in: Alcântara Anacleto, Aline Ariana. REDUÇÃO DE DANOS E SAÚDE MENTAL. Universidade Tecnológica Federal do Paraná Câmpus Dois Vizinhos. Disponível em: <http://anais.unicentro.br/cis/pdf/conferencias/Aline.pdf>. Acesso em: 23 de dezembro de 2012. Foucault, Michel. (2004). Uma Entrevista: Sexo, Poder e Política. Ed.5º,Verve, São Paulo.

Freitas Junior, R. M de. (2006). Drogas: Comentários á lei nº 11.343,2006. São Paulo:

Juarez de Oliveira, p. 48.

Page 87: LEGALIZAÇÃO DAS DROGAS ILÍCITAS POLITICA ... · modelos de legalização de drogas. A monografia apresenta as seguintes subdivisões: O capitulo 1 apresenta o conceito de drogas

77

FEFFERMANN, M.; FIGUEIREDO, R. Redução de Danos Como Estratégia de Prevenção de Drogas Entre Jovens, Boletim do Instituto de Saúde, nº 40, São Paulo, Instituto de Saúde, 2006. Recuperado em 23 de setembro de 2012:

<http://www.ip.usp.br/portal/images/stories/Nepaiãods/reduo_de_danos.pdf>. FONSECA, E. M. Políticas de Redução de Danos ao Uso Indevido de Drogas: O Contexto Internacional e Uma Análise Preliminar dos Programas Brasileiros,

Dissertação, Escola Nacional de Saúde Pública, Fundação Oswaldo Cruz, 2005. Recuperado em 24 de setembro de 2012: <http://www.arca.fiocruz.br/bitstream/icict/4604/2/734.pdf>. Friedman, Milton. Prohibition and drug. Recuperado em 18 de outubro de 2012: <http://www.druglibrary.org/special/friedman/prohibition_and_drugs.htm>. GRECO FILHO, V.(1996). Tóxicos: Prevenção – Repressão: Comentários à Lei nº 6.368, de 1976, Acompanhados da Legislação Vigente e de Referência e Ementário Jurisprudencial. 11.ed. atual. São Paulo, Ed. Saraiva.

Gonzáles, M. (1970). Sanidad Pública: Concepto y Escuadramiento. Madrid, s.n, p. 422. Husak, D. (1992). Drugs and Rights. New Jersey: Cambridge University Press.

HULSMAN, V. R. (1983). Évaluation Critique de la Politique des Drogues. Déviance et société, 1983, p. 271.

PACHECO FILHO, V.V.(2005). Lei Antitóxicos. 2. Ed., Rio de Janeiro: Lumen Juris. VIDE MECUM. (2008). Lei de Drogas: Lei 11.343/2006. São Paulo, Ed. Saraiva.

Noronha, M.(1981). Direito Penal. Vol.1, S.L, Editora: Saraiva.

Portaria nº 1.274, de 25 de agosto de 2003. Recuperado em 05 de julho de 2012:

«http://www.dpf.gov.br/servicos/produtos-quimicos/legislacao/PORTARIA1274.pdf». Política Criminal e a lei Nº 11.343/2006. Nova Lei de Drogas: Novo Conceito de Substância Causadora de Dependência. Recuperado em 05 de julho de 2012: « http://jus.com.br/revista/texto/8957/politica-criminal-e-a-lei-no-11-343-2006-nova-lei-de-drogas-novo-conceito-de-substancia-causadora-de-dependencia#ixzz1ykhfrgbo». ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS. Programa de Prevenção às Drogas e HIV/AIDS: Escritório Contra Drogas e Crimes – UNODC : Recuperado em 05 de julho de

2012: « http://www.unodc.org/brazil/pt/campanha_drogas_2007.html». Vernancio, R.P; Carneiro, H.(2005). Álcool e Drogas na história do Brasil. Editora: Puc

Minas. MINISTÉRIO DA SAÚDE. Recuperado em 13 de julho de 2012, Biblioteca virtual:

«www.saude.gov.br». UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO PAULO. CEBRID: Recuperado em 13 de julho de

2012, Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas: «http://www.estudobiblico.com.br/drogas/ CEBRID.htm». Voar sem limites: A Realidade das Drogas legais. Recuperado em 13 de julho de 2012,

Euronews right on : «www.youtube.com/watch?v=dg_limjx2dq».

Page 88: LEGALIZAÇÃO DAS DROGAS ILÍCITAS POLITICA ... · modelos de legalização de drogas. A monografia apresenta as seguintes subdivisões: O capitulo 1 apresenta o conceito de drogas

78

Jesus, D.E.(1995). Leis Antitóxicos Anotada. São Paulo, Ed. Saraiva. Rodriganez, M. P. A.(1992). Proteccion Penal de la Saúde Pública y Fraudes Alimentares. Madrid, Edersa, Editoriales de derecho reunidas, p. 130. Marcão, R.(2005). Tóxicos: Leis n. 6.378/76 e 10.409/02: Anotadas e Interpretadas. 2.ed.

rev. e. ampl.São Paulo. Ed. Saraiva, p. 219. Rodrigues, D. (2004). Lorouse ILustrado da lingua Portuguesa. São Paulo: Larousse do

Brasil, p. 464. MUSTO, D. (2002). One hundred years of Cocaine. s.I, Westport: Auburn House.

Rodriguez, L. B. de F. (2006). Controle penal sobre as drogas ilícitas: o impacto do proibicionismo no sistema penal e na sociedade. Tese de Doutorado. Universidade de são Paulo: Faculdade de Direito. Rodrigues, T. (2003). Política das drogas e a lógica dos danos. Revista Verve, São Paulo, Nu-Sol/ PUC- SP, nº 3. Gofman, E. (1988). Estigma: Notas sobre a Manipulação da Identidade Deteriorada. Rio de Janeiro: LTC. Ministério da Saúde. Cai Consumo de Tabaco entre Jovens: Recuperado em 20 de

setembro de 2012, INCA – Instituto Nacional de Câncer. 2009: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/sus/pdf/abril/consumo_tabaco_jovens_0704.pdf. ONDCP – Office of national drugs control policy. The economics cost of drug abuse in the united states, 1992-2002. Washington DC: Executive office of the president. Publicação

Nº 207303, Dezembro de 2004. Koop, P. (1998). Economia da Droga. Bauru: EDUSC, São Paulo. UNODC – United Nations Office on Drugs and Crime. Economic and social consequences of drug abuse and illicit trafficking. World Drug Report 2005. Viena: 2005. Recuperado em 23 de setembro de 2012: < http://www.unodc.org/documents/wdr/WDR_2008/WDR_2008_eng_web.pdf>. Luksetich, W. A; White, M.D. (1982). Crime and Public Policy: An Economic Approach.

Boston. Little, Brown and company. Política de Drogas, cultura do controle e propostas alternativas. Recuperado em 28 de setembro de 2012:< http://www.ibccrim.org.br/site/comissoes/politicaDrogas.php>. QUEIROZ, I.S. Os Programas de Redução de Danos Como Espaços de Exercício de Cidadania dos Usuários de Drogas, Psicologia Ciência e Profissão, vol 21. Nº4 Brasília, 2001. Recuperado em 23 de setembro de 2012:

<http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?pid=S1414-98932001000400002&script=sci_arttext>. QUEIROZ, I.S. Os Programas de Redução de Danos Como Espaços de Exercício de Cidadania dos Usuários de Drogas, Psicologia Ciência e Profissão, vol 21. Nº4 Brasília, 2001. Recuperado em 24 de setembro de 2012: <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?pid=S1414-98932001000400002&script=sci_arttext>.

Page 89: LEGALIZAÇÃO DAS DROGAS ILÍCITAS POLITICA ... · modelos de legalização de drogas. A monografia apresenta as seguintes subdivisões: O capitulo 1 apresenta o conceito de drogas

79

Zaffaroni. Uma análise da obra “Em busca das penas perdidas". Recuperado em 18 de

outubro de 2012: < http://www.usinadeletras.com.br/exibelotexto.php?cod=32505&cat=Artigos&vinda=S>.