learning design como fundamentação teórico-prática para o design

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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE EDUCAÇÃO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO ANDREA CRISTINA FILATRO Learning Design como Fundamentação Teórico-Prática para o Design Instrucional Contextualizado São Paulo 2008

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Page 1: Learning design como fundamentação teórico-prática para o design

UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

FACULDADE DE EDUCAÇÃO

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO

ANDREA CRISTINA FILATRO

Learning Design como Fundamentação Teórico-Prática para o

Design Instrucional Contextualizado

São Paulo

2008

Page 2: Learning design como fundamentação teórico-prática para o design

ANDREA CRISTINA FILATRO

Learning Design como Fundamentação Teórico-Prática para o

Design Instrucional Contextualizado

Tese apresentada à Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo para obtenção do título de Doutor em Educação.

Área de concentração: Didática, Teorias de Ensino e Práticas Escolares Orientadora: Profa. Dra. Stela Conceição Bertholo Piconez

São Paulo

2008

Page 3: Learning design como fundamentação teórico-prática para o design

AUTORIZO A REPRODUÇÃO E DIVULGAÇÃO TOTAL OU PARCIAL DESTE TRABALHO POR QUALQUER MEIO CONVENCIONAL OU ELETRÔNICO, PARA

FINS DE ESTUDO E PESQUISA, DESDE QUE CITADA A FONTE.

Catalogação na Publicação Serviço de Documentação

Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo

Filatro, Andrea. Learning Design: Fundamentos Teórico-Práticos para o Design Instrucional Contextualizado / Andrea Filatro ; orientadora: Stela Conceição Bertholo Piconez. – São Paulo, 2008. XXX f. : fig; Tese (Doutorado Programa de Pós-Graduação em Educação. Área de Concentração: Didática, Teorias de Ensino e Práticas Escolares) Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo.

Page 4: Learning design como fundamentação teórico-prática para o design

FOLHA DE APROVAÇÃO Andrea Filatro Learning Design como Fundamentação Teórico-Prática para o Design Instrucional Contextualizado

Tese apresentada à Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo para obtenção

do título de Doutor em Educação

Área de concentração: Didática, Teorias de Ensino e Práticas Escolares

Aprovada em:

Banca Examinadora

Prof. Dr.: ____________________________________________________________

Instituição: _________________________ Assinatura: _______________________

Prof. Dr.: ____________________________________________________________

Instituição: _________________________ Assinatura: _______________________

Prof. Dr.: ____________________________________________________________

Instituição: _________________________ Assinatura: _______________________

Prof. Dr.: ____________________________________________________________

Instituição: _________________________ Assinatura: _______________________

Prof. Dr.: ____________________________________________________________

Instituição: _________________________ Assinatura: _______________________

Page 5: Learning design como fundamentação teórico-prática para o design

DEDICATÓRIA

A todos os que acreditam no potencial da educação.

A Stela, que mais uma vez acreditou em mim.

Aos meus pais.

Page 6: Learning design como fundamentação teórico-prática para o design

AGRADECIMENTOS

À Profa. Dra. Stela Conceição Bertholo Piconez, pela oportunidade de prosseguir na

pós-graduação da Faculdade de Educação da USP, pela generosidade em

compartilhar a obra realizada no NEA e pela orientação de superior gabarito

acadêmico, temperada por uma profícua interlocução “pés-no-chão”.

Aos Profs. Drs. Maria Elizabeth Bianconcini de Almeida, César Augusto Amaral

Nunes e Vani Moreira Kenski, membros da banca de qualificação, agradeço as

contribuições únicas para o aprimoramento desta investigação.

Ao Prof. Dr. Fredric Michael Litto, devo o convite para participar do Projeto Tidia-Ae,

através do Laboratório de Desenvolvimento da Escola do Futuro da USP.

Ao Prof. César Augusto Amaral Nunes, meu reconhecimento pela a abertura de

portas às discussões globais sobre Learning Design, padrões de interoperabilidade e

especificações universais.

Presto um agradecimento especial ao colega de pesquisa Rogério Boaretto, pela

disposição em compartilhar as indagações teórico-práticas sobre Learning Design no

âmbito do Tidia-Ae.

À comunidade uspiana, meus agradecimentos se dirigem aos participantes do Grupo

Alpha, aos orientandos da Profa. Stela Conceição Bertholo Piconez e aos colegas

da Faculdade de Educação e de outras unidades da Universidade que foram caixa

de ressonância durante o desenvolvimento da pesquisa.

A ampliação de minha perspectiva sobre o design instrucional contextualizado não

teria sido possível sem a contribuição de dezenas de leitores que nos trouxeram

novos questionamentos à leitura da dissertação de mestrado publicada no formato

de livro pela Editora Senac São Paulo, em 2004. Devo a cada um deles e à casa

publicadora os créditos pelas sementes lançadas.

Page 7: Learning design como fundamentação teórico-prática para o design

RESUMO

FILATRO, A. Learning Design como Fundamentação Teórico-Prática para o Design Instrucional Contextualizado. 420 f; Tese (Doutorado) – Faculdade de Educação, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2008. Esta pesquisa investiga a adequação da abordagem de Learning Design como fundamentação teórico-prática para a contextualização do design instrucional. Partindo da premissa de que o aprendizado eletrônico é um fenômeno multidimensional, a pesquisa analisa as dimensões pedagógica, semântica, tecnológica, do aluno e organizacional, que correspondem aos interesses das diferentes comunidades envolvidas – professores e especialistas em educação, pesquisadores, especialistas em tecnologia, alunos e gestores. Utilizando a abordagem qualitativa de pesquisa e a perspectiva teórico-descritiva, os fundamentos teórico-práticos do Learning Design são cotejados com o estudo de caso do STEA – Sistema Transversal de Ensino-Aprendizagem, desenvolvido no âmbito do Núcleo de Educação de Jovens e Adultos e Formação Permanente de Professores (NEA) da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (FEUSP). O caso contempla todos os processos do sistema de aprendizado eletrônico – do planejamento, design, implementação, execução e avaliação, até a formação e a atualização continuada de professores em serviço, abrangendo também a produção de materiais didáticos e ações complementares de pesquisa acadêmica, sob a perspectiva contextualizada do design instrucional. A pesquisa resultou na confirmação do Learning Design como fundamentação teórica para o design instrucional contextualizado, destacando-se que sua implementação nas práticas pedagógicas nacionais depende do aprimoramento das ferramentas de autoria, instanciação e execução de atividades de aprendizagem, para incorporar características da Web 2.0 e possibilitar a difusão do E-learning 2.0 como inovação no aprendizado eletrônico. Palavras-chave: aprendizado eletrônico, e-learning, educação a distância, educação de jovens e adultos, design instrucional, Learning Design, IMS Learning Design, Web 2.0, E-learning 2.0

Page 8: Learning design como fundamentação teórico-prática para o design

ABSTRACT

FILATRO, A. Learning Design as theoretical-practical framework for Contextualized Instrucional Design. 420 f; Thesis (Doctoral) – Faculdade de Educação, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2008. This research investigates if Learning Design approach can be seen a theoretical-practical framework for contextualized instructional design. Based on e-learning as a multidimensional phenomenon, the research analyzes the pedagogical, semantic, technological, student and organizational dimensions, in correspondence to the interests of different e-learning communities – teachers and educational specialists, researchers, technology specialists, students and managers. Using qualitative approach and theoretician-descriptive perspective, the theoretical and practical framework of Learning Design are confronted to STEA case study, a transversal system for teaching and learning, developed by Nucleus of Adult and Young Education (NEA) of the College of Education of the University of São Paulo (FEUSP). Case study contemplates all the processes involved in e-learning system –planning, design, implementation, execution and evaluation, teachers education in service, enclosing the production of didactic materials and complementary actions of academic research, under a contextual approach of design instrucional. The research confirms Learning Design as theoretical framework for contextualized instructional design and distinguishes that its implementation in national practices depends on the improvement of authorship, instantiation and run tools, in order to incorporate features of Web 2.0 and to make possible the diffusion of E-learning 2.0. Keyword: e-learning, education, distance education, young and adult education, instructional design, Learning Design, IMS Learning Design, Web 2.0, E-learning 2.0

Page 9: Learning design como fundamentação teórico-prática para o design

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 3.1 Menu principal do Teleduc ................................................................. 70

Figura 3.2 Interface do Moodle ........................................................................... 71

Figura 3.3 Seqüência de telas para upload de conteúdos no Gerenciador de

Conteúdos do Tidia-Ae......................................................................................... 76

Figura 3.4 Interface do LAMS para programação de atividades.......................... 80

Figura 3.5 Pré-visualização de atividades programadas no LAMS ..................... 80

Figura 3.6 Tela inicial do Dialog Plus Toolkit ....................................................... 83

Figura 3.7 Abstração da prática e formação de padrões..................................... 120

Figura 3.8 Modelo conceitual do Learning Design (IMS Learning Design Information

Model) .................................................................................................................. 123

Figura 3.9 Os três níveis de especificação IMS Learning Design........................ 131

Figura 3.10 Ferramentas para o Learning Design ............................................... 138

Figura 3.11 Processo de autoria no Reload Editor .............................................. 140

Figura 3.12 Visão geral do Reload Editor............................................................ 141

Figura 3.13 Guia Overview do Reload Editor ...................................................... 142

Figura 3.14 Guia Roles do Reload Editor ............................................................ 143

Figura 3.15 Guia Properties do Reload Editor ..................................................... 144

Figura 3.16 Guia Activities do Reload Editor ....................................................... 146

Figura 3.17 Guia Environments do Reload Editor ............................................... 148

Figura 3.18 Estrutura do Método no Reload Editor ............................................. 149

Figura 3.19 Opções de configuração da guia Methods no Reload Editor............ 150

Figura 3.20 Guia Files do Reload Editor.............................................................. 153

Figura 3.21 Guia Export do Reload Editor........................................................... 154

Figura 3.22 Processo de exibição no Reload Player ........................................... 159

Figura 3.23 Visão geral do Reload Player .......................................................... 160

Page 10: Learning design como fundamentação teórico-prática para o design

Figura 3.24 Estrutura de exibição de uma unidade de aprendizagem

no Reload Player ................................................................................................. 161

Figura 3.25 Exibição de uma unidade de aprendizagem no Reload Player ........ 162

Figura 3.26 Padrões de uso das tecnologias no aprendizado eletrônico ............ 174

Figura 3.27 Sistema educacional e seus subsistemas ........................................ 206

Figura 3.28 Sistema de aprendizado eletrônico e seus subsistemas.................. 208

Figura 3.29 Fatores temporais e níveis de abrangência contextual que

influenciam a aprendizagem e o design instrucional ............................................ 218

Figura 3.30 Dinâmica de processos do sistema de aprendizado eletrônico

integrada à perspectiva contextual....................................................................... 220

Figura 3.31 Revolucionários e democratas na curva de difusão de inovações .. 230

Figura 4.1 Contexto ampliado do STEA .............................................................. 234

Figura 4.2 Organização curricular do Curso de Ensino Médio a Distância.......... 244

Figura 4.3 Detalhamento das Fichas Temáticas de Apoio Pedagógico .............. 258

Figura 4.4 Ficha Temática de Apoio Pedagógico (frente) ................................... 259

Figura 4.5 Ficha Temática de Apoio Pedagógico (verso).................................... 264

Figura 4.6 Folha-Anexa ...................................................................................... 265

Figura 4.7 Folha-Tarefa....................................................................................... 262

Figura 4.8 Página inicial do Portal NEA............................................................... 267

Figura 4.9 Tela de entrada do SIGEPE ............................................................... 272

Figura 4.10 Formulário de edição de conteúdos utilizados por editores e

agregadores ......................................................................................................... 274

Figura 4.11 Template para criação de Fichas Temáticas de Apoio Pedagógico. 274

Figura 4.12 Exemplo de lista de tópicos no fórum dos professores do NEA ....... 275

Figura 4.13 Formulário de correio eletrônico....................................................... 275

Figura 4.14 Narrativa do Programa de EJA – Educação de Jovens e Adultos

/ Curso de Ensino Médio ...................................................................................... 285

Page 11: Learning design como fundamentação teórico-prática para o design

Figura 4.15 Diagrama de atividades UML para a capacitação dos professores.. 297

Figura 4.16 Diagrama de atividades UML para o planejamento e design de

episódios-aula ...................................................................................................... 298

Figura 4.17 Diagrama de atividades UML para a execução de episódios-aula... 299

Figura 4.18 Diagrama de atividades UML para a avaliação ................................ 300

Figura 4.19 Visão geral de uma Ficha Temática no Reload Editor ..................... 302

Figura 4.20 Papéis definidos para uma Ficha Temática no Reload Editor .......... 303

Figura 4.21 Propriedades definidas para uma Ficha Temática ........................... 304

Figura 4.22 Atividades definidas para uma Ficha Temática ................................ 304

Figura 4.23 Ambientes definidos para uma Ficha Temática................................ 305

Figura 4.24 Método para uma Ficha Temática.................................................... 306

Figura 4.25 Arquivos vinculados a uma Ficha Temática ..................................... 307

Figura 4.26 Exportação de arquivos em um pacote IMS LD ............................... 307

Figura 4.27 Pacote zip descompatado para uma Ficha Temática....................... 308

Figura 4.28 Documento XML para uma Ficha Temática ..................................... 308

Figura 4.29 Ficha temática instanciada no Reload Player .................................. 309

Figura 4.30 Link no Campo 9 – Refletindo remetendo a um tema transversal no

Portal NEA ........................................................................................................... 324

Figura 4.31 Seleção de Fichas Temáticas a partir do Portal NEA....................... 325

Figura 4.32 Dinâmica dos processos do sistema de aprendizado eletrônico à

perspectiva contextual.......................................................................................... 335

Page 12: Learning design como fundamentação teórico-prática para o design

LISTA DE TABELAS

Tabela 2.1 Dimensões de análise para o aprendizado eletrônico........................ 51

Tabela 3.1 Sumário de abordagens pedagógicas ............................................... 88

Tabela 3.2 Comparativo entre as fases do ISD e da especificação IMS LD ....... 102

Tabela 4.1 Matriz de atividades estendida para o Programa de EJA – Educação de

Jovens e Adultos / Curso de Ensino Médio. ......................................................... 286

Tabela 4.2 Comparação entre ontologia Learning Design e ontologia STEA ...... 312

Page 13: Learning design como fundamentação teórico-prática para o design

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ABED – Associação Brasileira de Educação a Distância

ARIADNE – Alliance for Remote Instructional Authoring and Distribution Networks for

Europe

AVA – Ambiente Virtual de Aprendizagem

CBT – Computer Based Training

CESTA – Coletânea de Entidades de Suporte ao uso de Tecnologia na

Aprendizagem

CETIS – The Centre for Educational Technology Interoperability Standards

CINTED – Centro de Estudos Interdisciplinares de Novas Tecnologias na Educação

EML – Educational Modeling Language

ENCCEJA – Exame Nacional para Certificação de Competências de Jovens e

Adultos

ETC – Editor de Texto Colaborativo

e-Tec Brasil – Sistema Escola Técnica Aberta do Brasil

EUCEN – European Continuing Education Network

IEEE – Institute of Electrical and Electronics Engineers

GUI – Graphical User Interface

HTML – HyperText Markup Language

ISD – Instructional Systems Development

ISO – International Standardization for Organization

JISC – The Joint Information Systems Committee

LabVirt – Laboratório Didático Virtual – Escola do Futuro/USP

LAMS – Learning Activity Management System

Page 14: Learning design como fundamentação teórico-prática para o design

LARC-USP – Laboratório de Arquitetura de Redes de Computação da Universidade

de São Paulo

LCMS – Learning Content Management System

LMS – Learning Management Systems

LN4LD – Learning Networks for Learning Design (LN4LD)

LO – Learning Object

MOODLE – Modular Object Oriented Dynamic Learning Environment

NEA – Núcleo de Educação de Jovens e Adultos e de Formação Permanente de

Professores (Ensino presencial e Educação a Distância) da Universidade de São

Paulo

NIED/Unicamp – Núcleo de Informática Aplicada à Educação da Universidade de

Campinas

NSF – U.S. National Science Foundation

OA – Objeto de Aprendizagem

OUNL – Open University of the Netherlands

RELOAD – Reusable eLearning Object Authoring & Delivery Project

ROODA – Rede Cooperativa de Aprendizagem

SCORM – Shareable Content Object Reference Model

SIGEPE – Sistema de Gerenciamento Transversal de Conteúdos

SLED - Service Based Learning Design Player

STEA – Sistema Transversal de Ensino-Aprendizagem

TICs – Tecnologias de Informação e Comunicação

TIDIA-Ae – Tecnologia da Informação no Desenvolvimento da Internet Avançada

(Aprendizado Eletrônico)

UAB – Universidade Aberta do Brasil:

Page 15: Learning design como fundamentação teórico-prática para o design

UML – Unified Modeling Language

UNFOLD – Understanding New Frameworks of Learning Design

UoL – Unity of Learning (Unidade de Aprendizagem)

VLE – Virtual Learning Environment

XML – eXtensible Markup Language

Page 16: Learning design como fundamentação teórico-prática para o design

SUMÁRIO

PRIMEIRA PARTE – INTRODUÇÃO .................................................................. 23 Capítulo 1 – Justificativas ................................................................................. 25

1.1 Trajetória acadêmica ........................................................................... 29 1.2 Hipótese da pesquisa .......................................................................... 31 1.3 Estrutura da tese.................................................................................. 33

Capítulo 2 – Metodologia da pesquisa ............................................................. 35

2.1 Natureza da pesquisa .......................................................................... 35 2.2 Pesquisa exploratória .......................................................................... 37 2.2.1 Principais fontes de pesquisa ................................................ 40

2.2.2 Tratamento bibliográfico......................................................... 45 2.2.3 Categorias de análise............................................................. 49

2.3 Investigação de campo........................................................................ 53 2.3.1 Coleta e tratamento de dados ............................................... 56

SEGUNDA PARTE – DESENVOLVIMENTO ...................................................... 61 Capítulo 3 – Quadro teórico ............................................................................. 63

3.1 Dimensão pedagógica ......................................................................... 64

3.1.1 Ondas de sistemas para o aprendizado eletrônico ................ 64 3.1.2 A construção de um metamodelo pedagógico ....................... 85 3.1.3 A EML (Educational Modelling Language) ............................. 92 3.1.4 Learning Design e design instrucional.................................... 95

3.2 Dimensão semântica ........................................................................... 107 3.2.1 Modelagem educacional ........................................................ 109

3.2.2 Abstração da prática para a formação de consensos universais............................................................................... 116

3.2.3 A Especificação IMS Learning Design ................................... 120 3.2.4 Ontologia do Learning Design ................................................ 123

Page 17: Learning design como fundamentação teórico-prática para o design

3.3 Dimensão tecnológica.......................................................................... 136 3.3.1 Ferramentas de autoria para o Learning Design.................... 138 3.3.2 Repositórios de atividades de aprendizagem ........................ 155 3.3.3 Ferramentas de execução do Learning Design...................... 157 3.3.4 Ferramentas de exibição do Learning Design........................ 158 3.3.5 Portais .................................................................................... 163 3.3.6 Serviços ................................................................................ 164 3.3.7 Relacionamento entre o IMS LD e outras especificações ..... 165 3.3.8 Padrões de uso das tecnologias no aprendizado eletrônico .. 172

3.4 Dimensão do aluno.............................................................................. 176 3.4.1 Interface humano-computador ............................................... 177 3.4.2 A Geração Net e a Educação de Jovens e Adultos ............... 180

3.4.3 Modelo de adaptação para o aprendizado eletrônico............. 186

3.5 Dimensão organizacional..................................................................... 203 3.5.1 O aprendizado eletrônico como sistema ................................ 204 3.5.2 Web 2.0 e contextualização do aprendizado eletrônico ......... 221

Capítulo 4 – Aprendizado eletrônico no STEA ................................................ 232

4.1 Descrição geral do campo de pesquisa............................................... 233

4.1.1 Universidade de São Paulo e Faculdade de Educação ......... 235 4.1.2 O NEA – Núcleo de Estudos sobre Educação de Jovens e

Adultos e Formação Permanente de Professores (Ensino Presencial e a Distância) ...................................................... 235

4.1.3 O Programa de EJA – Educação de Jovens e Adultos e o Curso de Ensino Médio a Distância ....................................... 237

4.1.4 O Programa de Formação de Professores-Estagiários.......... 249 4.1.5 Ações de pesquisa científica.................................................. 251 4.1.6 O STEA – Sistema Transversal de Ensino-Aprendizagem ... 252 4.1.7 O Portal NEA.......................................................................... 266 4.1.8 O SIGEPE - Sistema de Gerenciamento de Informações

Pedagógicas .......................................................................... 270 4.2 Análise multidimensional do STEA ...................................................... 276

4.2.1 Dimensão pedagógica............................................................ 276 4.2.2 Dimensão semântica.............................................................. 311 4.2.3 Dimensão tecnológica ........................................................... 316 4.2.4 Dimensão do aluno ................................................................ 322 4.2.5 Dimensão organizacional ....................................................... 334

Page 18: Learning design como fundamentação teórico-prática para o design

TERCEIRA PARTE – CONCLUSÕES................................................................. 345 Capítulo 5 – Learning Design e Design instrucional contextualizado........... 347

5.1 Análise multidimensional da abordagem de Learning Design ............ 348 5.1.1 Dimensão pedagógica .......................................................... 348 5.1.2 Dimensão semântica ............................................................ 352 5.1.3 Dimensão tecnológica ........................................................... 355 5.1.4 Dimensão do aluno ................................................................ 360 5.1.5 Dimensão organizacional ....................................................... 363

5.2 Adequação do LD como fundamentação teórico-prática do DIC ......... 365 5.3 Perspectivas ........................................................................................ 368

BIBLIOGRAFIA ................................................................................................... ANEXOS .............................................................................................................. 401

I – Glossário Básico para Learning Design................................................ 401 II – Lista de endereços web para acesso virtual ........................................ 405 III – Detalhamento da organização curricular para o Curso de Ensino Médio a Distância ...................................................................................... 409 IV – Ficha Temática Modelo ...................................................................... 413 V – Fichas Temáticas representadas no IMS Learning Design ................. 416 VI – Taxonomia de atividades de aprendizagem do Dialog Plus ............... 417

Page 19: Learning design como fundamentação teórico-prática para o design

Parte I – Introdução

Page 20: Learning design como fundamentação teórico-prática para o design
Page 21: Learning design como fundamentação teórico-prática para o design

25

Capítulo 1

Justificativas

Estatísticas apontam que por volta de 2025 a demanda mundial por educação

superior alcançará 150 milhões de pessoas contra atuais 90 milhões1, e isto em

resultado não apenas do crescimento demográfico natural, mas de mudanças no

perfil das carreiras profissionais (com ênfase cada vez maior na prestação de

serviços do que na produção de bens ou no setor primário, exigindo competências

intelectuais cada vez mais complexas e em constante atualização), na política

mundial (porque a melhoria dos índices educacionais com freqüência vem

acompanhada da democratização dos regimes políticos e vice-versa) e na economia

do conhecimento (cada vez mais globalizada, com a atuação de profissionais não

restrita a mercados de trabalho locais).

Conceitos como educação permanente e aprendizagem por toda a vida (lifelong

learning) fazem crer que a auto-educação e o autodesenvolvimento não são mais

opções de uma parcela da sociedade cuja vocação para o aprender aponta para o

desenvolvimento pessoal continuado. O que antes significava uma ocupação de vida

em oposição ao trabalho, com data de conclusão definida por um ritual de passagem

para o mundo adulto, firma-se agora como estratégia de sobrevivência.

1 GODDARD apud WELLER (2007); ABRAEAD (2006).

Page 22: Learning design como fundamentação teórico-prática para o design

26

Muitos (em especial os fornecedores de tecnologia para educação)

sugerem que o aprendizado eletrônico é a única maneira de equacionar a diferença

entre o número restrito de vagas das redes de ensino e a necessidade de incluir

socialmente maior parcela da população, uma vez serem proibitivos os

investimentos em infra-estrutura física necessária para a expansão do ensino

tradicional.

Em território nacional, ações para atender a essa demanda ficam evidentes com a

criação da Universidade Aberta do Brasil – UAB, cuja finalidade estabelecida em lei

é a de “expandir e interiorizar a oferta de cursos e programas de educação superior

no País” (artigo 1º do Decreto nº 5.800, de 8/jun/2006). Esse já seria desafio

suficiente para o aprendizado eletrônico se as Bases do Sistema Universidade

Aberta do Brasil não declarassem também que:

“A modalidade de educação a distância pode contribuir significativamente com o atendimento de demandas educacionais urgentes, dentre as quais, destacam-se: a necessidade de formação ou capacitação de mais de um milhão de docentes para a educação básica, bem como a formação continuada, em serviço, de um grande contingente de servidores das Empresas Estatais.2

Assim, além de solução governamental para expansão do ensino superior, a

formação e capacitação de docentes para a educação básica e a formação

continuada de servidores públicos, mais recentemente o aprendizado eletrônico

também se apresenta como caminho para a expansão do ensino técnico público,

com o lançamento do Sistema Escola Técnica Aberta do Brasil – e-Tec Brasil, cuja

finalidade declarada é a de “ampliar a oferta e democratizar o acesso a cursos

técnicos de nível médio, públicos e gratuitos no País”3.

2 Edital de Lançamento, de 20/ dez/2005. Disponível em http://portal.mec.gov.br/seed/arquivos/pdf/carta.pdf. 3 Decreto nº 6.301, de 12/dez/2007.

Page 23: Learning design como fundamentação teórico-prática para o design

27

Isso no âmbito das ações públicas federais, sem levar em conta as

iniciativas de educação a distância estaduais e municipais (o ABRAEAD 2006, p. 29,

aponta mais 200 mil alunos estudando a distância nos níveis fundamental, médio,

técnico e EJA – educação de jovens e adultos) e de instituições particulares

(organizações privadas de ensino, empresas privadas do setor produtivo e

comercial, associações, consórcios e organizações não-governamentais), que no

total atingiram 1,2 milhão de alunos em 2005 (idem, p. 24).

Fosse a questão exclusivamente econômica, o debate sobre o aprendizado

eletrônico poderia limitar-se aos interesses dos gestores da educação. No entanto,

todo o conjunto de tecnologias que vêm permeando as atividades de produção,

armazenamento, distribuição, consumo e comunicação de informações nos desafia

também a novas formas de construir e reconstruir o conhecimento, matéria-prima do

processo educacional.

Novas modalidades de educação, formais ou informais, individuais ou coletivas, de

natureza autodidata ou sob a tutela de instituições de ensino, em formato presencial,

híbrido ou totalmente mediado por tecnologias, vêm desenhando um novo cenário

para a educação.

Objetivos, papéis, metodologias e recursos são repensados à medida que máquinas,

redes eletrônicas e tecnologias móveis invadem os espaços de aprendizagem

tradicionais, fazendo emergir teorias e práticas relacionadas a sistemas virtuais,

ambientes hipermídia e comunidades de aprendizagem.

Page 24: Learning design como fundamentação teórico-prática para o design

28

Assim, em um nível macro, o aprendizado eletrônico vem-se

apresentando como uma resposta contemporânea para os complexos problemas de

fundo cultural, econômico, histórico e social relacionados à educação.

Educadores, especialistas em educação, pesquisadores, gestores e alunos

testemunham uma explosão dos ambientes virtuais de aprendizagem ou LMSs

(Learning Management Systems) a partir da segunda metade da década de 1990, e

sua implantação e efetiva utilização por instituições de ensino as mais variadas – de

escolas do ensino fundamental e médio a organizações não governamentais, de

universidades a departamentos de educação corporativa.

Das inúmeras iniciativas e metodologias para preencher com conteúdos a rede de

hardware e software agora de certa forma consolidada – entre elas, tutoriais

fechados, apostilas eletrônicas, listas de distribuição, grupos de discussão, sites

para disciplinas, pacotes de cursos, ambientes virtuais e comunidades de

aprendizagem –, os investimentos e as atenções se voltam cada vez mais para os

usos pedagógicos dessa complexa infra-estrutura tecnológica, que acena e promete

entregar mais do que serviços de gestão administrativa e de armazenamento e

disponibilização de informações digitais.

Nessa linha, os “objetos de aprendizagem” emergiram nos últimos anos como

padrão reconhecido internacionalmente para a construção e publicação de recursos

instrucionais. Contudo, ainda que o foco tenha mudado de sistemas de

administração e gestão de programas educacionais (LMSs – Learning Management

Systems), para sistemas de criação, armazenamento e recuperação de conteúdos

Page 25: Learning design como fundamentação teórico-prática para o design

29

educacionais (Learning Content Management Systems – LCMSs), o

aparato tecnológico disponível ainda não atende plenamente a toda a complexidade

envolvida no processo de ensino-aprendizagem, a saber: a diversidade de

abordagens, estratégias e técnicas pedagógicas, as especificidades dos domínios e

a multiplicidade dos contextos de utilização.

Esta pesquisa visa contribuir para o debate sobre as formas de planejar, projetar,

desenvolver, implementar e avaliar ações de aprendizado eletrônico, analisando

para isso inovações mais recentes no campo da tecnologia educacional e do design

instrucional.

1.1 Trajetória acadêmica

Desde a nossa pesquisa de mestrado concluída em 2003, quando descrevemos um

movimento de pesquisadores e praticantes em direção a um design instrucional

contextualizado (DIC), mais adequado para o atual cenário do aprendizado

eletrônico, ficou patente a necessidade de prosseguir na investigação sobre o tema,

desenvolvendo um framework teórico-prático mais específico que tornasse o DIC

viável fora de situações experimentais como a descrita em nossa dissertação.

Essa foi a motivação que nos conduziu ao doutorado e caracterizou nossas

investigações teóricas iniciais. No percurso, alternamos entre duas posições:

reafirmar nossa perspectiva contextualizada a respeito do design instrucional – por

novas leituras realizadas e pelos debates resultantes da publicação da dissertação

Page 26: Learning design como fundamentação teórico-prática para o design

30

em forma de livro – e afastar-nos dessa perspectiva, adotando uma

postura de isenção e imparcialidade a fim de poder avançar na busca do

conhecimento.

Ao longo do percurso investigatório, deparamo-nos com iniciativas internacionais

voltadas à construção de um framework teórico-prático genérico o bastante para

representar não apenas um paradigma educacional ou modelo de design

instrucional dominante para o aprendizado eletrônico, mas um metamodelo

abrangente, capaz de expressar todos os outros.

Vislumbramos nesse framework internacional, ao qual nos referimos como

abordagem de Learning Design, potencial para contemplar atividades do processo

de design instrucional (análise, design, desenvolvimento, implementação e

avaliação), que poderiam ser consideradas etapas de meta-análise do processo de

ensino-aprendizagem.

Em se tratando do design instrucional contextualizado, a necessidade desse tipo de

framework se torna ainda mais manifesta, visto que, para ser contextualizado

(reflexivo, adaptativo, fractal, participativo), o design instrucional pressupõe a

participação dos vários sujeitos envolvidos no processo educacional, adicionando às

convencionais atividades de ensino-aprendizagem ações como metacognição,

reflexão na ação e auto-regulação.

Page 27: Learning design como fundamentação teórico-prática para o design

31

1.2 Hipótese de pesquisa

Assim, diante da necessidade de prosseguir na pesquisa anterior, passamos a

verificar se o metamodelo expresso na abordagem de Learning Design poderia ser

admitido estrutura válida para o avanço da pesquisa e da prática sobre o design

instrucional contextualizado.

Segue-se que:

• Se o corpo de conhecimentos da abordagem Learning Design permite a

representação de diversas abordagens pedagógicas e diferentes contextos de

instrução, pode constituir-se em fundamentação teórico para o design

instrucional contextualizado; e

• Se a abordagem de Learning Design é abrangente o suficiente para

confirmar-se como um padrão universal, pode ser considerada um ferramental

prático para o design instrucional contextualizado.

A hipótese dessa pesquisa diz respeito, portanto, à adequação da abordagem do

Learning Design como fundamentação teórico-prática do design instrucional

contextualizado.

Para investigar como a abordagem do Learning Design pode permitir a

contextualização do design instrucional, empreendemos nesta pesquisa uma análise

multidimensional que leva em conta os interesses e as necessidades das diferentes

comunidades envolvidas no aprendizado eletrônico – a saber, alunos, professores,

especialistas em educação, desenvolvedores de software e gestores.

Page 28: Learning design como fundamentação teórico-prática para o design

32

E, em campo, confrontamos os fundamentos teórico-práticos da

abordagem de Learning Design com o STEA – Sistema Transversal de Ensino

Aprendizagem, um sistema de ensino-aprendizagem de origem nacional,

desenvolvido no âmbito do Núcleo de Educação de Jovens e Adultos e Formação

Permanente de Professores (NEA) da Faculdade de Educação da Universidade de

São Paulo (FEUSP). Ancorado em bases pedagógicas explícitas, amadurecido ao

longo de duas décadas de pesquisa e prática, com efetividade comprovada, o STEA

contempla todos os processos educacionais – do planejamento, design,

implantação, execução e avaliação, até a formação e a atualização continuada de

professores, abrangendo também a produção interna de material didático e ações

complementares de pesquisa acadêmica e extensão universitária, tudo isso sob a

perspectiva contextualizada do design instrucional.

Assim, de forma específica, as atividades realizadas nesta pesquisa incluíram:

1. Analisar na bibliografia internacional e nacional as várias dimensões da

abordagem de Learning Design e sua adequação como fundamentação

teórico-prática para o design instrucional contextualizado.

2. Descrever o STEA em termos do Learning Design sob a perspectiva do

design instrucional contextualizado.

3. Identificar os benefícios e desafios da abordagem de Learning Design

aplicada a um caso nacional de design instrucional contextualizado.

Page 29: Learning design como fundamentação teórico-prática para o design

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1.3 Estrutura da tese

Definido o objetivo central de investigar a adequação do Learning Design como

fundamentação teórico-prática para o design instrucional contextualizado, no

Capítulo 2 o percurso metodológico deste trabalho, descrevendo a natureza da

pesquisa, bem como os procedimentos para seleção, organização e análise da

bibliografia que fundamenta nosso quadro teórico. São igualmente identificados os

procedimentos da pesquisa em campo.

O Capítulo 3 comporta o registro do marco teórico multidimensional que embasa a

abordagem de Learning Design, a partir da visão das diferentes comunidades

envolvidas no aprendizado eletrônico: professores e especialistas em educação;

pesquisadores; desenvolvedores de software e especialistas em tecnologia; gestores

e outros stakeholders; e comunidade de alunos, correspondendo respectivamente às

dimensões pedagógica, semântica, tecnológica, organizacional e do aluno.

O Capítulo 4 comporta a articulação do corpo teórico com o caso estudado – o STEA

– Sistema Transversal de Ensino-Aprendizagem, registrando as análises relativas à

adequação do Learning Design como fundamentação teórico-prática para o design

instrucional contextualizado nas diferentes dimensões identificadas no quadro

teórico.

No Capítulo 5, apresentamos as conclusões da nossa articulação teoria-prática-

teoria e indicamos caminhos futuros de pesquisa.

Os Anexos compreendem materiais que possibilitam uma visão complementar dos

temas tratados no corpo deste relatório.