lamartine babo - rio de janeiro

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1 Pequenos Notáveis - Lamartine Babo LAMARTINE BABO 1904 – Em 10 de janeiro, nasce Lamartine de Azeredo Babo, na Rua Teófilo Otoni, 45, no Centro. É o 11º e penúltimo filho de Leopoldo de Azeredo Babo e Bernarda Precio- sa Gonçalves de Azeredo Babo, chamada por todos na família pelo apelido de Ber- nardina. Da filharada, contudo, além de Lamartine, só outros dois chegariam à idade adulta: Leopoldo (1885-1952) e Indiana (de 1891-1975). Para a surpresa de todos, Lalá vingou. Tinha só 2 meses de vida quando a família Babo teve que se mudar, pois a casa em que moravam estava na lista dos edifícios a serem demolidos pela Prefei- tura do Distrito Federal, então comandada pelo engenheiro Francisco Pereira Passos. Por aquele trecho passaria a Avenida Central, uma das tan- tas obras daquela gestão que, tendo como lema “O Rio civiliza-se”, esburacou a cidade inteira, com o propósito de sepultar de vez seu passado imperial e deixá-la, enfim, com ares de capital republicana. Para fazer o novo logradouro – que em 1912 passaria a se chamar Avenida Rio Bran- co – foram necessários seis meses de obras e 641 domicílios postos abaixo. Para os Babo, o jeito foi encontrar nova mora- dia: primeiro na própria Teófilo Otoni (número 39), depois na Rua dos Andradas, ali perto, onde moraram nos números 71 e 43. Leopoldo traba- lhava como comerciante: era dono de um varejo de cigarros na Rua Uruguaiana, esquina com General Câmara. Como passatempo, gostava de ir ao cinema no Odeon (que ficava na Avenida Central, esquina com Sete de Setembro), mais para ouvir a orquestra do que para assistir aos filmes, que naquela época eram mudos. Aca- bou ganhando um passe permanente na sala de exibição, que, depois de um tempo, passou a frequentar acompanhado do pequeno Lalá. “Filho de pai amante da música e de mãe carnavalesca e festeira, vivendo numa casa onde sempre houve saraus, desde pequeno o garoto teve bom ouvido”, descreve o pesquisador Suetônio Soares Valença no livro Por Pedro Paulo Malta

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1Pequenos Notáveis - Lamartine Babo

LAMARTINE BABO

1904 – Em 10 de janeiro, nasce Lamartine de Azeredo Babo, na Rua Teófilo Otoni, 45, no Centro. É o 11º e penúltimo filho de Leopoldo de Azeredo Babo e Bernarda Precio-sa Gonçalves de Azeredo Babo, chamada por todos na família pelo apelido de Ber-nardina. Da filharada, contudo, além de Lamartine, só outros dois chegariam à idade adulta: Leopoldo (1885-1952) e Indiana (de 1891-1975).

Para a surpresa de todos, Lalá vingou. Tinha só 2 meses de vida quando a família Babo teve que se mudar, pois a casa em que moravam estava na lista dos edifícios a serem demolidos pela Prefei-tura do Distrito Federal, então comandada pelo engenheiro Francisco Pereira Passos. Por aquele trecho passaria a Avenida Central, uma das tan-tas obras daquela gestão que, tendo como lema “O Rio civiliza-se”, esburacou a cidade inteira, com o propósito de sepultar de vez seu passado imperial e deixá-la, enfim, com ares de capital republicana. Para fazer o novo logradouro – que em 1912 passaria a se chamar Avenida Rio Bran-co – foram necessários seis meses de obras e 641 domicílios postos abaixo.

Para os Babo, o jeito foi encontrar nova mora-dia: primeiro na própria Teófilo Otoni (número 39), depois na Rua dos Andradas, ali perto, onde moraram nos números 71 e 43. Leopoldo traba-lhava como comerciante: era dono de um varejo de cigarros na Rua Uruguaiana, esquina com General Câmara. Como passatempo, gostava de ir ao cinema no Odeon (que ficava na Avenida Central, esquina com Sete de Setembro), mais para ouvir a orquestra do que para assistir aos filmes, que naquela época eram mudos. Aca-bou ganhando um passe permanente na sala de exibição, que, depois de um tempo, passou a frequentar acompanhado do pequeno Lalá. “Filho de pai amante da música e de mãe carnavalesca e festeira, vivendo numa casa onde sempre houve saraus, desde pequeno o garoto teve bom ouvido”, descreve o pesquisador Suetônio Soares Valença no livro

Por Pedro Paulo Malta

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Tra-la-lá, biografia de Lamartine Babo.

1906 – Para o aniversário de 2 anos de Lamartine, a cunhada Alice (mulher do ir-mão mais velho, Leopoldo) ensina-lhe versinhos para serem declamados no dia 10 de janeiro. No dia do aniversário, os versos são a grande atração da festa, para deleite dos parentes e amigos – até quando deu branco no pequeno, que, tranquilo, recorreu à cunhada: “Como é mesmo, Alice? Me esqueci”. Aplausos! Foi Alice quem ensinou as primeiras letras ao pequeno Lamartine.

1907 – Leopoldo, Bernardina e os filhos se mudam para a Rua da Quitanda, 51. Pouco antes da mudança, ainda na Rua dos Andradas, o pequeno Lamartine gostava de ficar na sacada do sobrado em que moravam, quieto, observando o movimento da rua e o entra e sai na loja de sapatos em frente. Quando tinha vontade, não se apertava: fazia xixi ou coisas mais sólidas sobre os transeuntes, para a vergonha de Indiana, que era encarregada de descer à rua para limpar os dejetos do irmão caçulinha. Os visitan-tes de seus pais também não podiam vacilar: quem se distraísse na casa dos Babo e deixasse o chapéu ao alcance do petiz perigava encontrar um presente desagradável na hora da saída. Outra lembrança da primeira infância era o medo que tinha dos foliões mascarados e dos lixeiros, que naquela época entravam nas casas para recolher o lixo.

1910 – Observando pela janela um cartaz da corretora de seguros A Equitativa (cujos fundos davam para a Rua da Quitanda), Lalá surpreende a família e desanda a ler, pondo em prática os primeiros ensinamentos dados pela cunhada Alice. Em seguida, é matriculado numa escola pública (de nome não mencionado nas fontes de pesquisa), onde é oficialmente alfabetizado por Dona Alexandrina Silva. Tinha 6 anos quando começou a ajudar nas tarefas domésticas, como, por exemplo, ir à esquina comprar leite. O problema era quando ouvia ao longe uma banda de música e prontamente esquecia a encomenda da mãe, seguindo a fanfarra pelas ruas do Centro, deixando a família sem leite. Ao chegar a casa, esperava terminar o pito de Dona Bernardina para, em seguida, passar horas cantarolando as melodias que aprendera na rua.

1912 – Foi por volta dos 8 anos (a família Babo já morando na Rua da Alfândega, 112) que, levado pelo amigo tricolor Augusto Albuquerque para assistir a um Flumi-nense x América no Estádio das Laranjeiras, começou a torcer pelo América Futebol Clube. Apesar das investidas do amigo (que teria lhe oferecido um anel de ouro!), ficou enfeitiçado pela camisa vermelho-sangue do “club mais sympáthico do Brazil”, que além do mais venceu o match – segundo o anuário do América, a única vitória alvir-rubra sobre o Flu naquela temporada foi por 2 x 1, em 29 de setembro. É a data do início da paixão de Lalá pelo América.

1914 – Em 19 de dezembro, faz a primeira comunhão na Matriz de Santa Rita, onde seria crismado em 8 de setembro do ano seguinte. O templo era muito frequentado pelos Babo, católicos fervorosos. Dona Bernardina chegou a fazer uma promessa caso o filho se curasse de uma enfermidade que teve em certa altura da infância. O menino se curou e foi obrigado a se vestir de São Sebastião durante sete anos consecutivos na procissão do santo, em 20 de janeiro. Gostava também de montar presépios – um dos passatempos mais queridos do menino Lalá, juntamente com o jogo de bolas de gude e as batalhas dos soldadinhos de chumbo. Da formação religiosa deixou como registro um hino, composto no fim da década de 1910 e até hoje muito cantado nas igrejas católicas: Ó Maria Concebida sem Pecado, gravado pela cantora Carmem Costa em 1983.

1916 – Com a morte de Seu Leopoldo, no dia 10 de julho, a vida se complica para Dona Bernardina e para seu filho caçula – pois Leopoldo e Indiana já seguiam vida própria, ambos casados. O aperto financeiro faz com que tenham que se mudar da

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Rua dos Andradas para a Rua Sousa Neves, no Estácio, na mesma vila em que já mo-ravam Indiana e o marido. Lamartine logo se enturma, divertindo-se com o futebol de bola de meia e nos cinemas-poeira do bairro, que frequentava na companhia do amigo Leleco. Também foi nos tempos do Estácio que se aproximou do jogo do bicho – hábito que propagaria primeiro em casa e que levaria pela vida toda, apostando até o fim da vida.

1917 – Lamartine Babo ingressa no Colégio São Bento para fazer o curso ginasial, mas no ano seguinte já não faria parte do quadro de alunos da escola, devido ao mau desempenho nas provas de fim de ano. Se as notas eram péssimas, por outro lado foi nesse curto período que começou a se manifestar o talento do menino para os ver-sos. Com o poema singelo O Frade que Pedia Esmola, venceu o primeiro concurso de poesia dedicado aos alunos. Entusiasmado com a vitória, faz neste ano suas primei-ras composições: o foxtrote Pandoram (que escreveu para provar aos colegas que era capaz de compor uma música usando apenas as notas sol, dó e mi) e a valsa Torturas de Amor, dos quais não restou sequer um verso ou frase melódica. Outra recordação dos tempos de São Bento foi a punição que Lalá sofreu quando, passando ao lado do mosteiro, gritou “sorveeete, iaiá!” (famoso pregão da época) na mesma melodia do Kyrie Eleison, que era cantado em tom solene pelos frades no interior da igreja. Já na condição de ex-aluno famoso, Lamartine Babo recorreria às memórias da infância para publicar um poema no Boletim da Associação dos Antigos Alunos do Ginásio de São Bento (edição de junho de 1940), inspirado no clássico poema Meus Oito Anos, de Casimiro de Abreu.

1920 – Depois de sair do São Bento, Lamartine teria continuado os estudos (e ingressado na Escola Técnica) se não fossem os tempos cada vez mais bicudos que se seguiram à morte do pai, quatro anos antes. Aos 16 anos, o filho de Dona Ber-nardina vai trabalhar como office-boy do Departamento Comercial da Light and Power Companhia Ltda. – empresa que, estabelecida no Rio desde 1910, era uma das mais presentes na vida dos cariocas, fornecendo luz elétrica e serviço de telefonia e administrando os bondes da cidade. Nos quatro anos em que passou na Light, criou o jornalzinho humorístico O Olho Vivo, que escrevia à mão, com letra de imprensa, e no qual divulgava seus primeiros sonetos, trocadilhos e trovas, em um único exem-plar que corria as diversas salas da empresa. Também na Light criou o bloco Papa Tudo, que desfilava da sede da companhia – localizada na Rua Larga (atual Marechal Floriano) – até a Galeria Cruzeiro, no Centro. Mesmo após a saída de Lalá, o bloco da Light seguiria vivo até a década de 30. Depois de deixar a Light, empregou-se na Companhia Internacional de Seguros, mas não durou muito: foi despedido no dia em que o patrão surpreendeu-o batucando na mesa e cantarolando enquanto mor-dia a língua, como fazia quando compunha.

Também foi nesse período que começou a frequentar os teatros Municipal, São Pedro de Alcântara (atual João Caetano) e Lyrico (na Rua Treze de Maio, demolido em 1933) para assistir às operetas, sempre das torrinhas – lugar para o qual podia comprar ingresso. Ficou tão obcecado pelas operetas que escreveu três: Cibele, Viva o Amor e Lola – todas escritas no início da década de 20 e inéditas até hoje. Em casa, costu-mava montar orquestras imaginárias com os membros da família, encarregando cada um de emitir um ruído diferente com a boca. O hábito de criar orquestras com a boca, fazendo vários sons ao mesmo tempo, Lamartine carregaria pela vida artística, sendo lembrado por companheiros de rádio como prova de sua grande musicalidade.

Sobre essa característica de Lalá, o jornalista Nestor de Holanda Cavalcanti, do Diário de Notícias, incluiria nosso personagem na crônica Tipos da Cidade: “Lamartine Babo, Lalá para os íntimos, é uma orquestra completa... Orquestra sim, porque Lamartine se senta à mesa do bar e mostra melodias aos amigos, imitando qualquer conjunto

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instrumental: puxa o trombone do canto direito da boca, o saxofone do canto esquer-do, o piston do meio, o violino sai pelo nariz, belisca o pescoço e faz pizzicatos, aperta uma narina e imita surdina e, castigando a mesa, pratos, copos, talheres, é melhor que qualquer equipe de ritmistas”.

A musicalidade de Lalá seria destacada também pelo maestro Radamés Gnattali, que citou nosso personagem em depoimento ao Caderno B do Jornal do Brasil de 30 de julho de 1977, numa matéria intitulada Arranjadores – Esses Desconhecidos: “Pode-ria, se quisesse, ter entrado em muita parceria, pois não faltaram propostas de com-positores. Isso, contudo, eu achava abominável, ficando mesmo com o modesto cachê de arranjador, que dava para comprar um bom par de sapatos e nada mais. O cachê variava entre 40 e 80 mil réis. A maioria dos compositores não sabia música e passava suas composições para os arranjadores transporem para a pauta. A nós competia vestir a música toda. Um dos poucos compositores que sabia exatamente o que queria com suas músicas era Lamartine Babo. Ele descrevia todo o arranjo, cantando a introdução, meio e fim, solfejava acordes e sugeria partes instrumentais. A gente só fazia escrever”.

1922 – Lamartine Babo coloca uma música de sua autoria pela primeira vez no tea-tro, na revista Aguenta, Filipe, cuja estreia se deu em 31 de março, no Teatro Carlos Gomes. Também é dessa época o início de sua atuação como autor de textos satíricos, que publica nas revistas Dom Quixote, Para Todos e Shimmy. Começa a desfilar no bloco Foi Ela Que Me Deixou, que o carnavalesco Luís Nunes Sampaio (vulgo Careca) mantinha no Estácio. Saía fantasiado de viúva.

1923 – Conhece a chapeleira Alda, por quem se apaixona e com quem começa a namorar. Era filha de Dona Filomena, professora de costura de Indiana. Os dois come-çaram a namorar no carnaval e ficaram juntos por dois anos, até o desaparecimento repentino da moça, sem dar explicações. Profundamente entristecido, só depois Lalá soube que a moça estava com suspeita de tuberculose.

1924 – Começa a desfilar no Tatu Subiu no Pau, do maestro Eduardo Souto, que mantinha o bloco como meio de divulgação de suas músicas – prática muito comum na época. Partindo da porta da Casa Carlos Wehrs, o bloco desfilava pela Rua do Ouvi-dor com Lamartine fantasiado de bailarina. No volume 8 da coleção Nova História da Música Popular Brasileira, o jornalista e pesquisador Tárik de Souza afirma que foi a partir daí que nosso personagem resolveu compor músicas para carnaval.

1926 – No fim do ano, Lamartine coloca músicas nas revistas A Mascote (depois rebatizada Vai Quebrar) e Prestes a Chegar, ambas estreadas em dezembro. As fontes de pesquisa não determinam quais as músicas de nosso homenageado foram inclu-ídas nos repertórios. O que se sabe é que data deste ano, também em dezembro, a primeira música gravada de Lamartine Babo: a marcha Os Calças Largas (em parceria com Gonçalves de Oliveira), interpretada pelo barítono Frederico Rocha e lançada pela Odeon com mira no carnaval de 1927, satirizando a moda das calças boca de sino, lançadas na Inglaterra pelo Príncipe de Gales. Interessante observar que esta gravação foi feita ainda na fase mecânica (a música tinha que ser gritada numa campânula, fazendo vibrar um diafragma preso a uma agulha – que imprimia os sulcos no disco), pois a era da gravação elétrica tem como marco inicial o ano de 1927.

1927 – O mês de dezembro marca a estreia de Lamartine Babo como autor teatral, assinando – com Djalma Nunes e Jerônimo Castilho – a revista Ouro à Beça, encenada pela Companhia Teatral Margarida Max no Teatro João Caetano (assim chamado desde 1923, quando deixou para trás o nome Teatro São Pedro de Alcântara). Faz muito su-cesso, tendo no repertório quatro composições assinadas por Lalá: Os Moços de Hoje, Oh! As Mulheres, Oh! Nina e Ouro à Beça.

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1928 – Para ganhar dinheiro (o sucesso já havia começado, mas ainda não rendia frutos), Lamartine trabalha como professor de dança nos clubes Tuna Comercial e Ginástico Português, ambos na Rua Buenos Aires, Centro. Nesta época, morava perto do trabalho, num sobrado na Rua da Carioca, número 34. Outra atividade paralela que nosso personagem desempenhou para ganhar a vida foi a de operador de telégrafo, o que fez com que ficasse conhecendo o código Morse.

1929 – Com ampla divulgação do jornal A Noite, o concurso Miss Brasil mobiliza o país, tendo como vencedora Olga Bergamini de Sá, representante do Distrito Federal. Para a final do certame, realizada na sede do Fluminense Futebol Clube, Lamarti-ne compõe a marcha apoteótica Miss Brasil (parceria com Henrique Vogeler e Júlio Mendes Pereira) e canções para cada uma das 21 concorrentes, exaltando as belezas de seus estados e as qualidades morais de seus habitantes: Fruta do Pará, Vou pro Piauí, Mineirinha, Perfil de Gaúcha, Bandeirante etc. Já era um ensaio das homenagens que faria, dali a duas décadas, aos clubes de futebol do Rio.

Pois são desta fornada as primeiras músicas de Lamartine gravadas: Paraíba e Seu Goiás, ambas as gravações realizadas em dezembro de 1929, pelo Bando de Tangarás, na Parlophon. Formado por Almirante, João de Barro, Noel Rosa, Henrique Britto e Alvinho, o Bando de Tangarás foi o primeiro grande divulgador das composições de Lamartine, “o mais famoso entre os adendos” do conjunto, como define o pesquisador Suetônio Soares Valença, no livro Tra-la-lá. Entre suas composições gravadas pelo grupo estão Chora (1930), Minha Cabrocha (1930), Cor de Prata (1931), Onde Você Está Morando (1931), Nega (1931) e Gê-gê (Seu Getúlio) (1931). Convivendo com os Tangarás, Lalá tornou-se parceiro de Noel Rosa e João de Barro, sendo que este segundo apontava Lamartine como uma de suas principais referênci0as musicais.

Uma parceria com Noel surgida por essa época foi a marcha Seu Voronoff, que sati-rizava o sucesso do médico russo Sergei Abramovich Voronoff, que naqueles anos 20 era a coqueluche das celebridades e políticos da Europa, todos interessados no tipo bizarro de cirurgia que vinha praticando: implantava testículos de macaco em seus pacientes com a promessa de rejuvenescê-los. “Toda gente agora pode / Ser bem forte, ser um taco / Ser bem ágil como um bode / E ter alma de macaco...”, cantava Fran-cisco Alves na gravação dessa marcha-enxerto (classificação galhofeira dos autores), realizada em fins de 1928 para ser lançada no carnaval de 1929.

1930 – Lamartine Babo vence o concurso Canção do Carnaval, promovido pela revista O Cruzeiro, com o samba/embolada Bota o Feijão no Fogo. A história desta vitória é pitoresca: Lamartine já tinha este samba pronto, mas não levava muita fé em seu sucesso. Os amigos insistiam para que ele inscrevesse o samba e ele rebatia sempre com alguma desculpa, pois achava a composição fraca. Certo dia, visitava um antigo colega do São Bento que era médium e promovia sessões espíritas em casa. Pois o amigo – conhecido por Capitão Aladim – recebeu um santo que foi taxativo com Lalá: “Inscreva o samba!”. O compositor inicialmente desconfiou, mas, por via das dúvidas, não contrariou o além e se inscreveu na disputa com o pseudônimo “T. Mixto”. Não deu outra: venceu o concurso e levou o prêmio de dois contos de réis.

O ano de 1930 foi também o primeiro de Lamartine vivendo sem a família, que ficaria morando na Rua da Carioca, enquanto ele passaria a viver – com mais liberdade – numa casa de amigos solteiros localizada na Rua Conde de Bonfim, 1.110, perto da Muda. E foi no mesmo ano, precisamente em agosto, que se deu a estreia de Lamar-tine no rádio: foi no programa Casa dos Discos, da Rádio Educadora, que tinha como prefixo PRB-7 e depois seria rebatizada Tamoio. Lia textos satíricos e também canta-va, acompanhado pelo (então desconhecido) pianista Ary Barroso. Sobre sua estreia radiofônica, Lalá gostava de contar que sua voz de falsete causou estranheza entre os

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ouvintes, sendo que um telefonou para a emissora, esbravejando: “Ora, senhor Lamar-tine! Vá cantar no rádio que o parta!”.

1931 – Em 15 de janeiro, no Teatro Lírico, Lamartine Babo vence o Concurso de Músi-cas Carnavalescas da Casa Edison, com a marcha Bonde Errado, deixando em segundo lugar os amigos Almirante e João de Barro, autores de Olha a Crioula. Diferentemen-te do concurso do ano anterior (no qual a vitória foi proclamada por um corpo de jurados), desta vez a vitória se deu no júri popular, com votos enviados em cupons do Jornal do Brasil. Inscrita no nome das amigas Célia Borchert e Áurea Borges de Sousa, Bonde Errado obteve 1.173 votos – contra 600 da vice-campeã. Na Rádio Educadora, cria o programa Horas Lamartinescas, que apresentava com o apelido de Lamartinsky Baboff.

Apesar da quantidade de sucessos emplacados nos carnavais seguintes, as conquistas dos prêmios de 1930 (Bota o Feijão no Fogo) e 1931 (Bonde Errado) foram as únicas de Lamartine nos concursos de música carnavalesca. Entre as possíveis explicações para a falta de troféus nas prateleiras de nosso homenageado (a despeito da qualidade de sua obra), a mais plausível é sua falta de vontade de trabalhar as músicas, atuando como cabo eleitoral de suas próprias criações – papel do qual Lalá tinha verdadeiro horror. Ironicamente, as duas músicas campeãs de Lamartine estão entre as menos conhecidas de seu repertório.

Também neste ano reencontrou Alda e os dois retomaram o romance desfeito havia seis anos, quando a moça sumiu de repente. Sem coragem de contar para ela que estava namorando (uma prima distante chamada Baby), Lamartine resolveu levar os dois romances em paralelo, mas se deu mal. Alda descobriu a bigamia de nosso per-sonagem e o despachou de vez. A moça se casou e Lalá ficou desolado. Conseguiram manter uma relativa amizade até 1938, quando Alda faleceu. Na obra de Lamartine, a primeira namorada é lembrada em três composições: as valsas Dançando com Lágri-mas nos Olhos, Mais uma Valsa, Mais uma Saudade e a Marchinha do Amor, cujos versos caíram na boca dos foliões: “Com a letra A começa o amor que a gente tem / Com a letra A começa o nome do meu bem...”.

E foi em 1931 que saiu o primeiro grande sucesso de Lamartine Babo: o samba-canção No Rancho Fundo (em parceria com Ary Barroso), gravado por Elisa Coelho na Victor. Colaboraram para a grande popularidade desse samba rural regravações como as de Silvio Caldas (1939), Elizeth Cardoso (1956) e a dupla romântica Chitãozinho & Xororó (1989). Única música de Lamartine Babo a figurar entre as 30 selecionadas pela Rede Globo na lista de músicas emblemáticas do século XX, No Rancho Fundo nasceu como Na Grota Funda, inicialmente uma parceria entre Ary Barroso (música) e o grande cari-caturista J. Carlos (letra), que era cantada por Araci Cortes na revista É de Outro Mundo, encenada em julho de 1930 no Teatro Recreio. Lamartine assistiu à revista e adorou a melodia, mas detestou os versos (“Na grota funda / Na virada da montanha / Só se con-ta uma façanha / Do mulato da Raimunda...”). Autorizado por Ary, fez nova letra para o samba-canção, prontamente gravado por Elisa Coelho, já com o novo nome. “Quem não gostou da nova versão foi J. Carlos, que julgou a rejeição de sua letra uma desfeita, rompendo com Ary Barroso”, contam Jairo Severiano e Zuza Homem de Mello no livro A Canção no Tempo – Volume 1.

Outro lançamento expressivo de Lamartine Babo nesse ano foi o fox-charge Canção pra Inglês Ver, gravado pelo próprio Lalá. Obra-prima do nonsense, a letra é um retra-to das primeiras influências do cinema falado (advento de 1927) sobre o povo brasilei-ro, que já começava a trazer para seu dia a dia uma enxurrada de palavras em inglês e símbolos norte-americanos.

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1932 – Pela quantidade de sucessos, o carnaval desse ano pode ser considerado o marco inicial da consagração de Lamartine Babo. Além da já citada Marchinha do Amor, estouraram o samba Ao Romper da Aurora (parceria com Ismael Silva), as pue-ris A.E.I.O.U. (marchinha escolar em parceria com Noel Rosa) e Babo... zeira (rancheira sem parceiro), além de duas composições politicamente incorretas: o samba Só Dando com uma Pedra Nela (gravado por Mário Reis) e a marchinha O Teu Cabelo Não Nega, gravada por Jonjoca e Castro Barbosa.

Sobre esta última composição (de longe o maior sucesso da obra de Lamartine Babo), vale destacar que a história de seu nascimento foi turbulenta: logo depois de seu estouro nacional, vieram de Recife inúmeros protestos a respeito da autoria de Lalá, contestada pelos foliões de lá. E não foi sem razão: O Teu Cabelo Não Nega foi feita em cima de uma marcha frevada que os irmãos João e Raul Valença tinham enviado para a gravadora RCA Victor, com o nome de Mulata. Lamartine, então, aproveitou o refrão e fez uma nova segunda parte, com três letras diferentes. Quando foi lançada, a gravadora simplesmente ignorou os pernambucanos e creditou a autoria inteiramente a Lalá.

Na verdade, Lamartine tinha carta branca da RCA Victor para melhorar as composi-ções que chegassem de outros estados e fossem consideradas regionais demais para os ouvintes de Rio e São Paulo – caso da segunda parte de Mulata. No fascículo 8 da coleção Nova História da Música Popular Brasileira, o jornalista Tárik de Souza afir-ma que nosso personagem “não teve nenhuma responsabilidade quando O Teu Cabelo Não Nega foi gravada como ‘motivo do norte – arranjo de L. Babo’ e editada como de sua exclusiva autoria. Quanto à gravação, havia um acordo entre a Victor e os Valen-ça. Mas a edição provocou uma questão judicial, vencida pelos pernambucanos, que passaram a ter seu nome mencionado ao lado de Lamartine”.

Sobre a gravação, uma história pitoresca: consultado pelo cantor Francisco Alves sobre que músicas teria aprontado para o carnaval de 1932, Lamartine ofereceu-lhe O Teu Cabelo Não Nega e Marchinha do Amor. O Rei da Voz resolveu apostar na segunda. Assim, a tarefa de lançar O Teu Cabelo Não Nega coube a Jonjoca e Castro Barbosa, dupla criada pela RCA Victor para fazer frente ao poderoso duo de cantores da Odeon, Mário Reis e Francisco Alves, que fazia sucesso desde 1929.

Com seus versos hoje politicamente incorretos (“Mas como a cor não pega, mulata / Mulata, eu quero teu amor”), a marchinha de Lamartine teve sua première nos sa-lões aristocráticos do Fluminense Futebol Clube, apresentada por uma orquestra de 18 componentes, entre eles os grandes Pixinguinha (na flauta) e Bonfiglio de Oliveira (trompete). Pegou de imediato, mas nem todos os foliões brincaram a noite toda, como relata o jornalista e pesquisador Sérgio Cabral em matéria publicada no jornal O Globo (22 de julho de1976): “Foi um escândalo. Houve sócios do Fluminense que se indignaram tanto com a presença de artistas no clube que se retiraram do salão e foram embora”.

Também em 1932, Lamartine estreou na literatura, com o livro Pindaíba, de textos satíricos, editado por F. Barreto & Cia.

1933 – Dando prosseguimento à série de sucessos cantados no carnaval de 1932, este ano não foi diferente, com cinco sucessos de Lamartine Babo na boca do povo: as marchas Aí... Hein? e Boa Bola (ambas com Paulo Valença), o samba A Tua Vida é um Segredo e as marchinhas Moleque Indigesto e Linda Morena (as três últimas sem parceiro). Foi também em 1933 que Lalá trocou a Rádio Educadora pela Mayrink Vei-ga, a convite do radialista César Ladeira, contratado como diretor da emissora.

Linda Morena foi ouvida pela primeira vez no Café Universo (que Lamartine frequen-

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tava, na esquina das ruas Rodrigo Silva e Assembleia), onde nosso personagem, entre colheradas numa canja, mostrou a música ao cantor Mário Reis, que também vivia por lá. Sempre que via nosso personagem entrar no recinto, saudava-o aos gritos de “Che-gou Lamartine Babo, Lalá, o rei do carnaval brasileiro!”. Pois naquela tarde, em fins de 1932, o café inteiro entrou na cantoria de Linda Morena, até que o dono baixasse as portas de ferro, tarde da noite. Depois do sucesso alcançado com a gravação de Mário Reis, Lalá teve uma emoção e tanto no carnaval, enquanto desfilava no corso, pela Avenida Rio Branco: ao ser reconhecido, foi arrancado do carro em que estava pelos foliões e carregado por eles até a Glória.

“O que será que Lamartine vai fazer para esse carnaval?” Segundo João de Barro, era o que mais se ouvia nos cafés frequentados por compositores, cantores e cronistas carnavalescos nesses primeiros anos da década de 30, quando Lalá emplacava qua-tro grandes sucessos por ano, que se desdobravam em paródias e respostas. Como o próprio João de Barro, que se inspirou na Linda Morena de Lamartine para criar sua Linda Lourinha na folia do ano seguinte. Além de novos sucessos carnavalescos, o ano de 1933 trouxe para Lamartine Babo um grande clássico do repertório junino: a marchinha Chegou a Hora da Fogueira, gravada por Carmen Miranda e Mário Reis.

1934 – Assim como nos dois anos anteriores, o carnaval de 1934 foi marcado por mais uma fornada de sucessos de Lamartine Babo. Um deles foi a bela marcha Uma An-dorinha Não Faz Verão, que era só de João de Barro e já tinha sido até gravada pelo cantor Alvinho, em 1931. Como a segunda parte era muito pouco carnavalesca, La-martine pediu licença ao amigo para refazer a marcha, deixando o estribilho intacto e refazendo letra e música da segunda parte. O resultado foi a forma final conhecida até hoje de Uma Andorinha Não Faz Verão, gravada por Mário Reis para esse carnaval. Outros dois sucessos lamartinescos na folia de 1934 foram gravados por Mário Reis: o samba O Sol Nasceu para Todos e a bela marcha Ride Palhaço, feita como uma sátira a partir da ária Ridi Pagliaccio, do italiano Ruggero Leoncavallo. E teve a marchinha Menina Oxygené (com Hervê Cordovil), gravada por Almirante e pelo próprio Lalá.

Mas sucesso mesmo em 1934 foi o que fez a marchinha História do Brasil, só de Lamartine Babo e gravada por Almirante, com versos até hoje cantados nos bailes e blocos de rua: “Quem foi que inventou o Brasil / Foi Seu Cabral, foi Seu Cabral / No dia 21 de abril / Dois meses depois do carnaval”. A revisão histórica surrealista proposta por Lamartine caiu tão bem no gosto do povo, que ninguém ligou para o erro históri-co do refrão, que antecipa em um dia a data do descobrimento do Brasil (22 de abril). Foi regravada em 1968 pelo cantor e compositor Sidney Miller, que pegou emprestado um verso de Lalá para dar nome a seu segundo disco de carreira, lançado pela grava-dora Elenco: Brasil, do Guarani ao Guaraná.

Um ano após o sucesso de Chegou a Hora da Fogueira, Lamartine lança, em 1934, outra marcha junina de grande repercussão: Isto É Lá com Santo Antônio (gravada por Mário Reis), brincando com as áreas de atuação de cada um dos santos juninos: João com os batizados, Antônio com os namorados e Pedro como chaveiro. Entre os lançamentos juninos de Lamartine em sua carreira, destacam-se também as marchas Pistolões, Roda de Fogo (ambas de 1935) e En Avant (1945).

1935 – Nesse ano, são dois os sucessos de Lamartine no carnaval: as marchinhas Grau Dez (com Ary Barroso, por Francisco Alves) e Rasguei a Minha Fantasia (gravada por Mário Reis, que tinha a música como sua preferida do repertório de Lalá).

1936 – Com estreia pouco antes do carnaval (20 de janeiro, no Cine Alhambra), o filme Alô Alô Carnaval (de Adhemar Gonzaga) divulga três composições de Lamar-tine Babo que fariam grande sucesso nesse ano: o samba Comprei uma Fantasia de

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Pierrô (com Alberto Ribeiro, cantado por Francisco Alves) e as marchinhas Cinquenta por Cento de Amor (interpretada por Alzirinha Camargo) e Cantores do Rádio (parceria com João de Barro e Alberto Ribeiro, interpretada por Carmen e Aurora Miranda no número final do filme). Outro sucesso de Lalá no carnaval de 1936 foi a Marchinha do Grande Galo (parceria com Paulo Barbosa), gravada por Almirante com um estribi-lho que ainda sobrevive na memória dos brasileiros: “Có có có có có có ró / Có có có có có có ró / O galo tem saudade / Da galinha carijó...” Com repercussão menor, esse mesmo carnaval registra o lançamento das marchas Cadência (com Nássara) e Menina dos Meus Olhos (com Noel Rosa).

1937 – Incomodado com os concursos musicais e com o vale-tudo dos compositores que se acotovelam pelo primeiro lugar, cai o interesse de Lamartine pela composi-ção carnavalesca. Prefere concentrar suas energias no rádio, onde fazia sucesso com o Clube da Meia-Noite, que apresentava na Rádio Mayrink Veiga e que mudaria de nome para Clube dos Fantasmas, devido à sua transferência, no ano seguinte, para a Rádio Nacional – onde comandaria também o programa Vida Pitoresca e Musical dos Compositores. Outra criação de 1937 é o programa A Canção do Dia, apresentado de segunda a sábado, de 21h30 às 21h35.

Seu principal sucesso nesse ano é o samba-canção Serra da Boa Esperança, lançado em março por Francisco Alves, e nascido de uma história curiosa: foi numa viagem que Lamartine fez ao interior de Minas Gerais, até a cidadezinha de Dores da Boa Espe-rança, para conhecer a fã Nair Pimenta de Oliveira, com quem vinha trocando cartas há algum tempo. Chegando à cidade, depois de um dia inteiro de viagem no trem, a decepção não poderia ser maior: a missivista era, na verdade, o dentista Carlos Alves Neto – um colecionador de retratos de estrelas do rádio que, para fisgar a atenção de Lalá, resolveu assinar as cartas com o nome da sobrinha. Apesar da cabeça inchada, Lamartine não deixou de registrar a mancada na letra de Serra da Boa Esperança: “Nós os poetas erramos / Porque rimamos também / Os nossos olhos nos olhos / De alguém que não vem”.

1938 – Transfere-se para a Rádio Nacional, levando os programas que apresentava com sucesso na Mayrink, como A Canção do Dia, que comandaria até dezembro de 1943.

1939 – Decidido a retomar a atividade de compositor carnavalesco, resolve homenage-ar a própria festa com a marchinha Hino do Carnaval Brasileiro, lançada no mês de janeiro em gravação de Almirante. Apesar da beleza da melodia e da ótima letra, não fez sucesso. Ainda assim, entrou para o balaio de clássicos do repertório carnavalesco, sendo regravada por diversos artistas, como Radamés Gnattali, Caetano Veloso, Jorge Mautner, Zé Renato e Zélia Duncan, além do próprio Lalá.

Outro clássico carnavalesco lançado por Lamartine Babo nesse ano foi a marcha Joujoux e Balangandãs, feita para o espetáculo homônimo estreado na noite de 28 de julho no Theatro Municipal. Tratava-se de um evento beneficente criado por iniciativa da primeira-dama do país, Dona Darcy Vargas, para o qual Lamartine não só compôs a marcha-título, como fez a direção dos coros. Joujoux e Balangandãs, a marcha, foi lançada em disco em setembro desse mesmo ano, em gravação de Mário Reis com a novata Mariah. Das diversas regravações que teve destacam-se os duetos Tom Jobim/Miúcha e João Gilberto/Rita Lee.

No repertório do mesmo espetáculo estava outra grande composição do repertório lamartinesco: o samba Voltei a Cantar, feito sob encomenda para o cantor Mário Reis, que andava afastado da vida artística e pediu ao compositor uma música que marcasse seu retorno aos shows e aos discos. A encomenda foi feita em frente ao Posto 3, em

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Copacabana, dentro do carro de Mário – onde, aliás, os dois costumavam conversar sobre música. O cantor raptava o compositor e quase sempre pedia uma música, que volta e meia começava a ser feita ali mesmo, no ato. Foi o caso desse samba, cujos primeiros versos foram aprovados por Mário Reis em pleno passeio pela Avenida Atlân-tica: “Voltei a cantar / Porque senti saudade”.

Em junho, reúne versos e textos satíricos no livrinho Lamartiníadas (segundo de sua carreira), publicado pelos Editores I. Muniz & Cia.

1941 – A valsa Eu Sonhei que Tu Estavas Tão Linda, em parceria com Francisco Matoso, é lançada no fim do ano por Francisco Alves. Clássico do repertório seresteiro, ela seria regravada diversas vezes e por artistas dos mais diversos, como Erasmo Carlos, Waldir Azevedo, Wilson Simonal, Oswaldo Montenegro, Carolina Cardoso de Menezes e Sílvio Caldas, entre outros.

1942 – Em junho, Lamartine participa da fundação da União Brasileira dos Compo-sitores (UBC), sendo eleito suplente de diretor e membro da comissão formada para fa-zer os estatutos da entidade. Definitivamente afastado do carnaval, a UBC se tornaria um dos principais focos de interesse de Lalá, junto com o América e com a atividade no rádio.

1943 – Em 12 de abril, é lançado na Rádio Nacional o programa Trem da Alegria, apresentado por Héber de Bôscoli (o maquinista), Yara Salles (a foguista) e Lamartine Babo (guarda-freios), com números de rádio-teatro, apresentações musicais acompa-nhadas pelo conjunto regional de Dante Santoro e as seguintes seções: A Carta Que Eu Não Mandei, Garoto Amigo, Bom Dia, O Que É Que o Teatro Tem?, O Pingo da Saudade, O Monólogo do Dia, Meus Parabéns, Telegramas sem Endereço. A popula-ridade alcançada pelo programa é tão grande que, a partir dali – e seria assim até os anos 50 –, ele seria transmitido sempre de algum teatro (geralmente o Carlos Gomes ou o João Caetano), já que o público tornara-se grande demais para o auditório da Nacional e das outras emissoras por onde ainda passaria o Trem.

No entanto, a mesma popularidade que faria do Trem da Alegria um dos maiores su-cessos da Era do Rádio esbarrava no azedume da crítica. Como se podia ler no Diário de Notícias, a colunista Magdala da Gama Oliveira, a Mag, classificava o Trem como “um dos mais detestáveis programas do nosso broadcasting”, pedindo sucessivas vezes à direção da Rádio Nacional e até ao Departamento de Imprensa e Propaganda (o DIP) que o varresse da programação da emissora, tamanho era o incômodo provocado pela histeria do auditório e por atrações como concursos de assovios, sorteios e outros números de grande empatia com o povão. De tão amarga e avessa às manifestações populares, Mag ganharia como “homenagem” o samba Pra Que Discutir com Mada-me?, de Haroldo Barbosa e Janet de Almeida.

1944 – Desentendimentos entre a direção da Rádio Nacional e o Trio de Osso – assim apelidado por César Ladeira tal era a magreza de Bôscoli, Yara e Lalá – fazem com que o Trem da Alegria vá para a Rádio Pan-Americana, de São Paulo, onde faz brevíssima temporada. O trio acaba indo para a Mayrink Veiga (estreia em 13 de março de 1944), para onde Lalá volta após seis anos. Para a alegria da colunista Mag, o DIP decreta que, a partir de 15 de março, “estão suspensos os programas humorísticos, de calouros ou semelhantes”. Graças à habilidade política e à malandragem dos produtores e apre-sentadores, o Trem da Alegria não precisou sair dos trilhos. E Mag teve que continuar engolindo o ruído do povão que lotava o Teatro João Caetano para aplaudir o Trio de Osso – como em 19 de abril daquele ano, quando o Dia do Presidente (na verdade, aniversário de Getúlio Vargas) foi comemorado por uma plateia repleta de alunos da Rede Pública de Ensino, todos empunhando bandeirinhas do Brasil.

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Antes da ida para São Paulo, contudo, o trio montou um espetáculo de despedida no Teatro João Caetano, intitulado Até Breve, Rio. Foi realizado na noite de 10 de janeiro de 1944 (40º aniversário de Lalá), quando nosso personagem anuncia, entre as atra-ções do show, a primeira audição do hino-marcha da torcida rubro-negra. Trata-se da marchinha Sempre Flamengo, que homenageava o bicampeão carioca – título con-quistado em dezembro de 1943 pelo clube mais popular do Brasil. Gravada em fins de 1944 pelo grupo Quatro Ases e Um Coringa, na Odeon, a marcha seria um dos grandes sucessos do carnaval de 45 e, como esperado por Lalá, seria adotada pelos flamenguis-tas como hino popular do clube.

Segundo Suetônio Valença (na última versão de Tra-la-lá, ainda inédita), Lamartine apresentou na mesma noite os hinos dos outros nove clubes participantes do Estadual de 1943: América, Bangu, Bonsucesso, Botafogo, Canto do Rio, Fluminense, Madu-reira, São Cristóvão e Vasco. Diante de uma plateia repleta de torcedores ansiosos, os hinos das torcidas foram executados com o acompanhamento da orquestra do Maes-tro Pedroca, com destaque para as interpretações dos hinos do América (de Lalá), do Flamengo (time de Bôscoli) e do Fluminense (de Yara).

Essa última versão de Tra-la-lá desfaz a história do desafio que Héber de Bôscoli te-ria feito a Lamartine no ar, convocando-o a compor um hino por semana e a apre-sentá-los no Trem da Alegria. Também não há referência a outra história conhecida, de que Lalá teria composto os hinos por encomenda de um patrocinador.

1947 – Lalá vai passar o carnaval em Correias (distrito de Petrópolis) e conhece Maria José Santos Barroso, a Zezé, que viria a ser sua terceira namorada (depois esposa). Com o namoro, abandonaria aos poucos a boemia, apagando um dos traços mais característicos de sua figura e motivo de piadas: a magreza. Em 28 de junho, casam-se o maquinista Héber de Bôscoli e a foguista Yara Salles, depois de sete anos de relacio-namento profissional e afetivo.

1948 – Em abril, o Trem da Alegria deixa a Mayrink e tem passagem efêmera pela Rá-dio Tamoio: por problemas contratuais, a temporada duraria apenas uma semana. Em maio, o programa já era atração da Rádio Globo, onde Lamartine retoma o programa A Canção do Dia. Outro marco desse ano é a incursão de Lamartine Babo numa nova atividade artística: de 21 de agosto a 3 de outubro, dá-se a primeira e única tempo-rada de Lalá como ator de teatro, com a Companhia Dulcina-Odilon, apresentando-se no Teatro Dulcina com a peça Bar do Crepúsculo.

1950 – No mês de julho, em plena febre da IV Copa do Mundo, realizada no Brasil, saem em discos da Continental as marchas de Lamartine em homenagem aos clubes cariocas. Às dez apresentadas pela primeira vez Lalá acrescentou mais duas, antes das gravações: a Marcha do Olaria (que voltara à primeira divisão do Rio) e a Marcha do Scratch Brasileiro, que deveria se tornar o hino do triunfo da nossa seleção, mas mor-reu com a derrota do Brasil para o Uruguai, por 2 x 1, em pleno Maracanã.

Das 12 marchas lançadas em disco, a única que já havia sido gravada era Sempre Flamengo, que na nova fornada teria um novo nome: Marcha do Flamengo, seguin-do o padrão adotado em todas as outras composições. Para interpretar as marchinhas futebolísticas, a Continental escalou grandes nomes de seu cast, como Sílvio Caldas (Marcha do São Cristóvão e Marcha do Vasco), Nuno Roland (Marcha do Botafogo e Marcha do Olaria), Jorge Goulart (Marcha do América, Marcha do Madureira, Mar-cha do Bonsucesso e Marcha do Scratch Brasileiro) e o conjunto vocal Trio Melodia (Marcha do Fluminense, Marcha do Flamengo, Marcha do Bangu e Marcha do Canto do Rio). Após o lançamento das marchas de Lamartine em disco, os clubes cariocas passaram, enfim, a ter um hino para cantar nos jogos. Pois – é importante frisar – os

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clubes já tinham seus hinos oficiais, só que estes estavam mais para hymnos officiaes, tamanho o parnasianismo e o proselitismo de suas letras.

Assim, a eugenia do primeiro hino do Fluminense, composto por Coelho Netto e H. Williams (1915), exaltando “a nova raça do nosso Brasil”, foi logo esquecida diante da marcha de Lalá (feita com Lírio Panicalli, a única com parceiro), cuja empatia se deve a versos apaixonados como “o Fluminense me domina” e às três letras da segunda parte, cada uma baseada numa de suas cores. O Flamengo, que cantava a luta “com valor infindo / ardentemente, com denodo e fé” (Paulo Magalhães, 1920), ganhou versos com força de slogan, como “uma vez Flamengo / Flamengo até morrer”. O torcedor vascaíno, que logo no primeiro verso de Lalá é convocado a entrar no coro (“Vamos todos cantar de coração”), deixou para trás o início nada convidativo do hino oficial, composto por Joaquim Ferreira da Silva em 1918: “Clangoroso apregoa, altaneiro / O clarim estridente da fama”. Já os botafoguenses se livraram das metáforas náuticas (1921) de T. Magalhães e A. Ruiz (“Qual nave imensa / De velas pandas sobre o mar”) e ganharam um grand finale para ser cantado a plenos pulmões: “Tua estrela solitária te conduz!”.

Já o América, que antes de Lamartine era “farfalhado” “ao bafejo bemdicto da gló-ria” (letra de F. Robert e A. Maia, em 1922), ganhou de nosso personagem – torcedor apaixonado do clube – a mais bonita das marchas dedicadas aos clubes cariocas. “Pois a torcida americana é toda assim / A começar por mim”, escreveu Lalá, que na primei-ra parte da música fez apenas a letra, encaixando versos sobre a melodia da canção norte-americana Row, Row, Row (William Jerome e James Mônaco, 1912). Além dos belíssimos versos da primeira parte, Lamartine caprichou na segunda (letra e música), lembrando aos dirigentes americanos que o triunfo do clube dependeria do fim das picuinhas que tanto castigavam seu time de coração: “América, unido, vencerás!”. O jornalista Sérgio Cabral chegou a perguntar a Lamartine se era verdade que ele tinha plagiado uma música americana para fazer o hino e ouviu uma tirada galhofeira: “Cla-ro, ué... O nome do clube não é América?”.

Os hinos dos times nanicos não estão no mesmo nível dos cinco citados, mas, mesmo assim, há alguns destaques pitorescos. Como a Marcha do Canto do Rio, que se ocupa menos do futebol do que de uma moreninha de Icaraí (“Basta o clube empatar e ela chora que dói / Foge de Niterói!”). Ou a do Bangu, que, num delírio irônico, diz que “a torcida reunida até parece a do Fla-Flu”. Há também homenagens a grandes joga-dores revelados nesses clubes, como o “saudoso Cantuária” (Marcha do São Cristóvão) e “Leônidas, o maioral” (Marcha do Bonsucesso). São lembradas, sobretudo, a título de curiosidade, mas não viraram cânticos de suas (minguadas) torcidas, como aconte-ceu com as marchas de América, Botafogo, Flamengo, Fluminense e Vasco. Assim, La-martine – que já tinha desistido do carnaval – conheceu novamente o sucesso, vendo sua nova safra de marchinhas ser cantada a plenos pulmões em estádios lotados, como o recém-inaugurado Maracanã.

Diante do sucesso dos hinos, chegaram a aventar a possibilidade de Lamartine compor também marchas para os clubes paulistas, mas nosso personagem se desincumbiu da tarefa com graça: como achar uma rima para Corinthians?

Também em 1950, o Trem da Alegria deixa de ser apresentado, mas Lalá continua apresentando seu A Canção do Dia na Rádio Globo. Nesse mesmo ano, é eleito presi-dente da UBC.

1951 – Em 19 de março, Lamartine e Zezé se casam em Correias, às escondidas, na casa de um amigo. Vão morar num apartamento na Rua Jorge Lóssio, na Tijuca.

1952 – Em março, a Rádio Clube reúne novamente o Trio de Osso, que retoma as

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apresentações do Trem da Alegria. Lalá deixa de vez de apresentar A Canção do Dia, que vinha apresentando na Rádio Globo. O Trem segue na Rádio Clube até 8 de outu-bro, voltando à Mayrink Veiga no dia 11 do mesmo mês.

1955 – Nesse ano, é lançado seu primeiro LP: O Carnaval de Lamartine Babo (pela gravadora Sinter), com Lalá interpretando suas músicas sobre arranjo de Lírio Panicalli. Chegado às lojas em novembro, o disco já estaria esgotado antes do Natal. O sucesso anima a gravadora, que no ano seguinte lançaria as composições juninas de Lalá no LP Noites de Junho de Lamartine Babo, seguindo os mesmos moldes do primeiro: o próprio autor cantando com arranjos de Lírio Panicalli.

1956 – Em março, o Trem da Alegria passa a ser apresentado também na televisão, com transmissão pela TV Rio, canal 13. O programa, no entanto, não iria além de 1956: com a morte de Héber de Bôscoli (em 2 de junho), o Trem só viveria até o fim do ano, sendo comandado até lá por Lamartine e Yara.

1957 – A partir de 14 de fevereiro, nosso personagem passa a comandar na TV Rio o programa semanal Memória Musical de Lamartine Babo. Era um programa de au-ditório em que Lalá sorteava de uma urna o nome de uma música e escolhia alguém do auditório para cantá-la. Caso a pessoa não soubesse, era o apresentador quem tinha que cantar a música. Se Lalá não soubesse ou não se lembrasse, um prêmio em dinheiro era dado ao espectador do auditório.

Em 19 de agosto, Lamartine participava de um sarau comemorativo pelo aniversário de uma amiga moradora de Paquetá (Ormy Toledo) quando apresentou, pela primeira vez, a marcha-rancho Os Rouxinóis – última composição de maior destaque em sua obra. A primeira gravação seria feita já no mês seguinte, pelo grupo Os Rouxinóis de Paque-tá, mirando no carnaval de 1958. Outro registro importante de Os Rouxinóis foi feito por Aracy Cortes no disco Rosa de Ouro (1965).

1960 – Na última conquista de um campeonato da primeira divisão pelo América, Lamartine Babo cumpre a promessa que havia feito e desfila pelo Rio, em carro aberto, fantasiado de diabo (mascote do clube). O título foi conquistado em 18 de dezembro, com a vitória por 2 x 1 sobre o Fluminense, diante do Maracanã lotado.

1963 – Em 9 de fevereiro, Lamartine voltava de uma festa com Zezé quando, che-gando em casa, sentiu uma dor no peito. Deu tempo de chegar ao Prontocor de Vila Isabel, onde se constatou que o compositor havia sofrido um infarto agudo, motivo pelo qual teria que passar 40 dias internado. Impossibilitado de pular o carnaval na rua, como gostava de fazer, vestiu máscara e bigode de português por cima do tubo de oxigênio e, para animar a sobrinha Eva, que o acompanhava, fez na frente dela a segunda parte da marcha-rancho Desperta, Coração, sua última composição. Passado o carnaval, voltou para casa.

Em 13 de junho, compareceu ao Golden Room do Copacabana Palace para acompa-nhar os ensaios do espetáculo Teu Cabelo Não Nega, que Carlos Machado preparava, em homenagem ao compositor. Chegando ao Copa, ouviu a orquestra atacar a in-trodução da Marcha do América e entrou no salão de braços levantados, cantando a plenos pulmões: “Hei de torcer, torcer, torcer...”. Entrevistado pelo repórter Amaury Monteiro para o Telejornal Pirelli (TV Rio), perguntou se a entrevista iria ao ar na-quela noite e ouviu que não, pois Tom Jobim tinha chegado naquela manhã dos EUA. Não perdeu a deixa para fazer seu último trocadilho: “Então quer dizer que eu estou um tom abaixo?”.

Dali a três dias, estava em casa com Zezé quando sentiu no peito a mesma dor de quatro meses antes. Desta vez, o infarto não lhe deu tempo de resistir ou de ir para o

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hospital. Morreu nos primeiros minutos de 16 de junho, aos 59 anos, sendo sepultado na tarde seguinte no Caju, como desejava: o caixão enrolado com a bandeira do Amé-rica e coberto de rosas vermelhas.

Antes do espetáculo de Carlos Machado (que estrearia só em 20 de agosto), nosso per-sonagem foi lembrado também no Festival Lamartine Babo, realizado em 1º de agosto no Theatro Municipal. Com direção musical dos maestros Radamés Gnattali, Guaraná e Pernambuco, o espetáculo teve a obra de Lalá interpretada por um cast de respeito, que incluía Zezé Gonzaga, Elizeth Cardoso, Nuno Roland, Carlos José, Roberto Silva e Vinicius de Moraes, entre outros.

1981 – Com o enredo O Teu Cabelo Não Nega (de Arlindo Rodrigues), em homenagem a Lamartine Babo, a escola de samba Imperatriz Leopoldinense conquista o bicampeo-nato do carnaval carioca. Foi a terceira vez que nosso personagem foi enredo de uma escola de samba do carnaval do Rio, depois da Unidos de São Carlos (Tra-la-lá: um Hino ao Carnaval Brasileiro de Lamartine Babo, 1972) e da Unidos do Cabuçu (Tua Obra Não Nega, Lalá, 1980). Também em 1981, o filólogo Suetônio Soares Valença lança o livro Tra-la-lá, biografia de Lamartine Babo publicada pela Funarte (reeditado em 1989 pela editora Velha Lapa).

2004 – O centenário de seu nascimento é homenageado pelo Centro Cultural Banco do Brasil com uma série de shows intitulada Lamartine em Revista. Um dos shows da série é adaptado para CD e lançado em 2005 pela gravadora Deckdisc: Lamartiníadas – a Música de Lamartine Babo, com direção musical de Henrique Cazes e interpreta-ções de Pedro Miranda, o ator Alfredo Del-Penho e este pesquisador que lhes escreve, Pedro Paulo Malta.

* Pedro Paulo Malta é músico, jornalista e pesquisador de música popular brasileira. Foi consultor da série Pequenos Notáveis, produzida pela MultiRio, que mostra a vida e a obra de grandes compositores brasileiros a fim de inspirar crianças de 9 a 14 anos a descobrir suas aptidões.