la rovere et al - turismo para alem da zs do rio

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La Rovere Et Al - Turismo Para Alem Da ZS Do Rio

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  • N 308 Maro de 2015 rgo Oficial do Corecon-RJ e Sindecon-RJ

    Escolas da Macroeconomia

    Abordagem Sraffiana o tema do artigo deste ms

    Uma agenda para o desenvolvimento do estado e cidade

    Nos 450 anos da capital, especialistas analisam e apresentam propostas para os setores de petrleo e gs, indstria naval, economia da sade, turismo e esporte e lazer da cidade e estado do Rio

    Frum Popular do Oramento

    Texto avalia polticas de sade pblica para jovens

  • rgoOficialdoCORECON-RJ ESINDECON-RJ Issn1519-7387

    Conselho Editorial:EdsonPeterliGuimares,CarlosHenriqueTibiriMiranda,JosRicardodeMoraesLopes,SidneyPascouttodaRocha,GilbertoCaputoSantos,MarceloPereiraFernandes,GiseleRodrigues,JooPaulodeAlmeidaMagalhes,SergioCarvalhoC.daMotta,PauloMibielliGonzaga.Jornalista Responsvel: MarceloCajueiro.Edio: DiagramaComunicaesLtda-ME(CNPJ:74.155.763/0001-48;tel.:212232-3866).Projeto Grfico e diagramao:RossanaHen-riques ([email protected]). Ilustrao: Aliedo.Fotolito e Impresso: Ediouro.Tira-gem: 13.000exemplares.Periodicidade: Mensal.Correio eletrnico: [email protected]

    Asmatriasassinadasporcolaboradoresnorefletem,necessariamente,aposiodasentidades. permitidaareproduototalouparcialdosartigosdestaedio,desdequecitadaafonte.

    CORECON - CONSELHO REGIONAL DE ECONOMIA/RJ Av.RioBranco,10919andarRiodeJaneiroRJCentroCep20040-906Telefax:(21)2103-0178Fax:(21)2103-0106Correioeletrnico:[email protected]:http://www.corecon-rj.org.br

    Presidente: SidneyPascouttodaRocha.Vice-presidente:EdsonPeterliGuimares.Conselhei-ros Efetivos:1Tero:(2014-2016):ArthurCmaraCardozo,GiseleMelloSenraRodrigues,JooPaulodeAlmeidaMagalhes2tero(2012-2014):GilbertoCaputoSantos,EdsonPeterliGuima-res,JorgedeOliveiraCamargo3tero(2013-2015):CarlosHenriqueTibiriMiranda,SidneyPascouttoRocha,JosAntonioLutterbachSoares. Conselheiros Suplentes: 1 tero: (2014-2016):AndraBastosdaSilvaGuimares,ReginaLciaGadiolidosSantos,MarceloPereiraFer-nandes2tero:(2012-2014):AndrLuizRodriguesOsrio,LeonardodeMouraPerdigoPam-plona,MiguelAntnioPinhoBruno3tero:(2013-2015):CesarHomeroFernandesLopes,JosRicardodeMoraesLopes,SergioCarvalhoCunhadaMotta.

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    O Corecon-RJ apia e divulga o programa Faixa Livre, apresentado por Paulo Pas-sarinho, de segunda sexta-feira, das 9h s 10h30, na Rdio Livre, AM, do Rio, 1440 khz ou na internet: www.programafaixalivre.org.br ou www.radiolivream.com.br

    2 Editorial Sumrio

    Jornal dos Economistas / Maro 2015www.corecon-rj.org.br

    Rio de JaneiroO aniversrio de 450 anos da cidade do Rio de Janeiro motivou o JE

    a fazer uma reexo sobre o desenvolvimento econmico e social da ca-pital e do estado.

    Na abertura do bloco temtico, Mauro Osorio, coordenador do Ob-servatrio de Estudos sobre o Rio de Janeiro, ressalta em entrevista a ne-cessidade de o estado ter um planejamento com estratgias de desenvol-vimento e aponta oportunidades nos principais setores.

    Hildete Pereira de Melo, da UFF, e Adilson de Oliveira, da UFRJ, analisam em artigo o potencial econmico do pr-sal, que pode servir in-clusive para o desenvolvimento industrial do estado.

    Bruno Leonardo Barth Sobral, da Uerj, enfatiza a necessidade de um planejamento integrado para a Regio Metropolitana do Rio de Janeiro. Ele ressalta o problema da segregao da fora de trabalho nas chamadas cidades-dormitrio da periferia do Rio.

    Floriano Carlos Martins Pires Junior, da UFRJ, arma que o estado dispe de um ambiente altamente favorvel para o estabelecimento de um cluster regional da indstria naval.

    Lia Hasenclever e Julia Paranhos, da UFRJ, identicam oportunida-des de investimento no complexo da economia da sade no estado, que sede para cinco laboratrios pblicos.

    Renata Lbre La Rovere, Marta de Azevedo Irving e Marcelo Augus-to Gurgel de Lima, da UFRJ, escrevem sobre as possibilidades para o de-senvolvimento do turismo nas diversas regies do estado.

    Luiz Martins de Melo, da UFRJ, critica o projeto olmpico do Rio de Janeiro por atender aos interesses econmicos e polticos hegemnicos.

    Fora do bloco temtico, artigo do FPO, segundo da srie sobre a ava-liao das polticas no Oramento Criana e Adolescente (OCA), abor-da o tema da Sade Pblica.

    O texto da srie Escolas de Macroeconomia, assinado por Carlos Pinkusfeld Bastos, da UFRJ, enfoca a abordagem sraana, fundamenta-da na obra do economista italiano Piero Sraa.

    Entrevista: Mauro Osorio .........................................................................5 fundamental para o estado diversificar e adensar a sua estrutura produtiva, diminuindo a dependncia dos royalties, aspecto que ficou claro com a queda do preo do petrleo.

    Rio de Janeiro .........................................................................................5Hildete Pereira de Melo e Adilson de OliveiraO petrleo e o desenvolvimento do Rio de Janeiro

    Rio de Janeiro .........................................................................................6Bruno Leonardo Barth SobralUma regio procura de um planejamento integrado

    Rio de Janeiro .........................................................................................8Floriano Carlos Martins Pires JuniorCluster Martimo do Rio de Janeiro: Possibilidades e Desafios

    Rio de Janeiro .........................................................................................9Lia Hasenclever e Julia ParanhosComplexo da Economia da Sade no Estado do Rio de Janeiro: uma oportunidade de ampliar o desenvolvimento do Estado?

    Rio de Janeiro .......................................................................................10Renata Lbre La Rovere, Marta de Azevedo Irving eMarcelo Augusto Gurgel de LimaTurismo: para alm da Zona Sul do Rio

    Rio de Janeiro .......................................................................................11Luiz Martins de MeloEsporte e Lazer

    Frum Popular do Oramento ..............................................................12A criana prioridade na sade?

    Escolas da Macroeconomia ..................................................................14Carlos Pinkusfeld BastosAbordagem Sraffiana

  • 3Jornal dos Economistas / Maro 2015www.corecon-rj.org.br

    Entrevista: Mauro Osorio

    P: Qual a importncia da consti-tuio de uma agenda para o es-tado do Rio de Janeiro?R: O estado passou por dcadas de decadncia socioeconmica e de sua estrutura pblica em mbito regional. Por exemplo, de acordo com dados do IBGE, entre 1970 e 2012, o estado apresentou uma perda de participao no PIB na-cional de 31,3%, a maior perda entre todas as unidades federati-vas. Entre as causas dessa decadn-cia, podemos citar: a transferncia da Capital Federal para Braslia, em 1960, da qual derivava o dina-mismo central da cidade do Rio e mesmo do conjunto do estado; o golpe de 1964 e as cassaes, que atingiram particularmente a nossa regio, contribuindo para a deses-

    fundamental para o estado diversifi car e adensar a sua estrutura produtiva, diminuindo a dependncia dos royalties, aspecto que fi cou claro com a queda do preo do petrleo.

    Doutor em Planejamento Urbano e Regional pelo Ippur/

    UFRJ, Mauro Osorio coordenador do Observatrio de

    Estudos sobre o Rio de Janeiro, vinculado ao Progra-

    ma de Ps-Graduao da FND/UFRJ. um dos orga-

    nizadores do livro Uma Agenda para o Rio de Janeiro: Estratgias e Polticas Pblicas para o Desenvolvimen-to Socioeconmico, editado pela FGV, com previso de lanamento em abril. Vrios dos autores do livro contri-

    buem nesta edio do JE. Em contraste com a tradio

    da re exo sobre Economia e desenvolvimento no Rio

    de Janeiro, majoritariamente voltada para as questes

    nacionais e internacionais, Mauro centraliza seus estu-

    dos no nosso municpio e estado.

    truturao de sua mquina pbli-ca; e a ausncia, carncia e equ-voco no desenho de estratgias de desenvolvimento socioeconmico regional. Este ltimo ponto deri-va da trajetria nacional do Rio e de nossa tradio, sobretudo entre os economistas, de nos voltarmos para temas nacionais e internacio-nais, relegando os temas regionais para segundo plano. Para se ter uma ideia, at hoje, nenhum dos programas de mestrado e dou-torado em Economia na regio metropolitana do Rio possui uma linha de pesquisa perma-nente em Economia regional ou uminense. Dessa forma, ten-do em vista a decadncia ocor-rida e as janelas de oportunida-des hoje existentes, a discusso

    e o planejamento de uma agen-da de polticas pblicas para o estado so fundamentais.

    P: Quais so as principais jane-las de oportunidades para o es-tado do Rio de Janeiro?R: No processo de decadncia que sofreu, o estado passou a ter uma estrutura produtiva muito oca na indstria de transformao, de-masiadamente centrada em re no de petrleo e siderurgia. funda-mental para o estado diversi car e adensar a sua estrutura produtiva, inclusive para ampliar a base de ar-recadao de impostos, seja do go-verno do estado seja das prefeituras, diminuindo a dependncia em re-lao aos royalties. Este aspecto -cou particularmente claro no mo-

    mento atual, com a queda do preo do petrleo e da receita de royalties, colocando o governo estadual e di-versas prefeituras em situao extre-mamente difcil. Para o enfrenta-mento desses problemas, podemos destacar as janelas de oportunida-des hoje existentes em torno da de- nio de uma agenda de fomen-to ao complexo do petrleo e gs, ao complexo da economia da sa-de e ao que podemos denominar de complexo do turismo, entrete-nimento, cultura, mdia e esporte.

    P: A extrao de petrleo no costuma ser percebida como uma maldio?R: Pode ser. Mas, pode ser tam-bm um instrumento de reindus-trializao no caso brasileiro, com

  • 4Jornal dos Economistas / Maro 2015www.corecon-rj.org.br

    Entrevista: Mauro Osorio

    as oportunidades em torno do pr-sal e, no caso do Rio de Janei-ro, pode ser uma particular opor-tunidade de adensamento de sua estrutura produtiva.

    A extrao de petrleo po-de gerar uma srie de sinergias, principalmente se realizada com base no desenho de uma agen-da adequada, como j se pode veri car com a recente dupli-cao do centro de pesquisa da Petrobras na Ilha do Fundo (Cenpes), a criao do parque tecnolgico na UFRJ, a expan-so da indstria naval e a atra-o de diversas empresas que j se instalam no Rio de Janeiro como a Rolls-Royce, em San-ta Cruz. O desa o detalhar uma agenda que tenha como pressupos-to a questo ambiental e que de -na uma estratgia e instrumentos para a atrao de uma srie de ati-vidades, na indstria e nos servi-os, visando possibilitar que nossa regio possa atender a uma parce-la das demandas derivadas do pr--sal. Por ltimo, deve-se ter em conta que, na rea de inovao, di-versas tecnologias podem ser hbri-das. Um exemplo o parque oce-nico instalado pela Petrobras na UFRJ, que desenvolveu tecnologia para gerao de energia com base nas ondas do mar. Outro exemplo o uso pela rea de cinema e v-deo da tecnologia desenvolvida pa-ra visualizao do fundo do mar em grandes profundidades. Por l-timo, podemos citar ainda o pro-grama de pesquisas que a Petrobras vem patrocinando, para conheci-mento das riquezas e caracters-ticas da regio costeira brasileira, particularmente da regio oceni-ca, onde ocorre o incio da explo-rao do pr-sal. Ou seja, ao mes-mo tempo em que desenvolvemos uma estratgia para nos bene ciar-mos da atrao de atividades pro-

    dutivas em torno da extrao de petrleo, podemos desenvolver ati-vidades para alm do petrleo.

    P: Quais as oportunidades em torno do complexo da economia da sade?R: O Sistema nico de Sade, o SUS, um dos maiores sistemas de sade pblica do mundo. Por isso, gera uma srie de demandas. Alm disso, a partir de 2004, o Minist-rio da Sade passou a priorizar a atrao ou a criao de novos forne-cedores no Brasil, ao invs de prio-rizar importaes de remdios, in-sumos em geral e equipamentos. A Fiocruz desempenha papel central nessa estratgia, inclusive visando absoro de novas tecnologias. A existncia da Fiocruz no Rio de Janeiro e o fato de termos uma indstria farmacutica conside-rvel e uma rea de pesquisa ex-tremamente forte no campo da sade podem fazer do nosso es-tado um locus privilegiado para a instalao de novas atividades vinculadas a esse complexo.

    P: Por que uma agenda em torno do complexo do turismo, entre-tenimento, cultura, mdia e es-porte e no em torno da chama-da economia criativa?

    R: Considero o conceito de econo-mia criativa muito aberto, caben-do de formiga a elefante. Alm dis-so, diversas atividades que podem ser classi cadas como economia criativa esto e caro hegemoni-camente em So Paulo, como, por exemplo, a rea de publicidade. Is-to porque os principais clientes da publicidade, como a indstria e o setor nanceiro, esto hegemoni-camente no estado paulista. Dessa forma, temos que buscar os prin-cipais nichos de oportunidade na rea da economia da cultura e do conhecimento, tendo em vista a densidade j existente no Rio e o dinamismo futuro que pode ser es-timado. Entre estes nichos, para a de nio de uma agenda, avulta em tradio e importncia no es-tado a atividade do turismo, prin-cipalmente o chamado turismo de convivncia, e as atividades eco-nmicas que gravitam em torno da cultura, cinema, vdeo, mdia e esporte. O Rio de Janeiro tam-bm possui potencialidade no que se pode denominar de economia do conhecimento, tendo em vista a capacidade universitria e de pes-quisa instalada na cidade e no es-tado e os nichos de oportunidade, principalmente em torno do setor de projetos de engenharia e arqui-

    tetura e, como j comentado, em torno das reas de petrleo e sade.

    P: Como pensar essa agenda, no s do ponto de vista seto-rial, mas tambm do ponto de vista territorial?R: Alm da necessidade de de -nio de uma estratgia econ-mica e coordenao de polti-cas setoriais, necessrio pensar uma agenda para cada uma das oito regies de governo existen-tes no estado, de nindo gover-nanas que permitam a articula-o de polticas supramunicipais nessas regies. Devem-se buscar ainda polticas que melhorem a lo-gstica no ERJ e as possveis siner-gias entre as regies, permitindo um jogo de ganha-ganha entre elas, considerando-se a nossa metrpole como um hub nessa estratgia.

    P: Quais so os principais desa os sociais no estado do Rio de Janeiro?R: O estado, no processo sofrido de decadncia socioeconmica e do seu setor pblico, apresentou indicado-res sociais preocupantes. Com base, por exemplo, em dados do MEC/Ideb para o ensino pblico munici-pal de 1 a 5 srie, no ano de 2013, entre os 1.632 municpios avaliados da Regio Sudeste brasileira, s apa-receram dois municpios do estado entre os 500 municpios com me-lhor pontuao. Alm disso, temos indicadores tambm muito ruins na rea de sade no cenrio federativo, e a carncia de infraestrutura social, urbana e econmica na periferia da regio metropolitana do Rio maior do que a veri cada nas demais peri-ferias das metrpoles da Regio Su-deste. Nesse sentido, fundamental de nir uma agenda e estratgia pa-ra investimentos sociais e em infra-estrutura nas oito regies de governo do estado e, em particular, na perife-ria da metrpole carioca.

  • 5Jornal dos Economistas / Maro 2015www.corecon-rj.org.br

    Rio de Janeiro

    Hildete Pereira de MeloAdilson de Oliveira*

    Apesar da expanso da eco-nomia brasileira na lti-ma dcada, a economia do Rio de Janeiro no foi capaz de acompanhar este ritmo de cresci-mento, mesmo com a descoberta de diversos reservatrios supergi-gantes de petrleo no pr-sal. Nos ltimos anos, at meados de 2014, o preo do barril de petrleo ha-via atingido um patamar histrico elevado e mesmo a queda veri ca-da nos ltimos meses no inviabi-liza estas esperanas.

    Por que esta riqueza escondi-da nas profundezas da plataforma continental do Rio de Janeiro gera tanta euforia? Em primeiro lugar, a produo de petrleo nas bacias de Campos e de Santos transformar a costa brasileira na principal zona produtora de hidrocarbonetos do Atlntico Sul (de Oliveira, 2010). Estas jazidas mudam a escala pro-dutiva da indstria brasileira do pe-trleo. A Empresa de Pesquisa Ener-gtica (EPE) estima que a produo

    O petrleo e o desenvolvimento do Rio de Janeirobrasileira de petrleo deve atingir 5,5 milhes de b/d em 2022, pata-mar de produo similar ao do Mar do Norte atualmente. A esta produ-o de petrleo devem-se somar ou-tros 149,8 milhes de metros cbi-cos/dia de produo lquida de gs natural, que sero ofertados ao mer-cado consumidor desse combustvel (EPE, 2013). A maior parte dessa produo sair de reservatrios lo-calizados nas bacias de Campos e de Santos, confrontando os litorais paulista e uminense.

    Segundo, esta produo de hi-drocarbonetos signi ca uma ele-vao do uxo de receitas scais vinculadas aos royalties pagos pelas operadoras, aumentando a capa-cidade dos governos de alavancar o processo de desenvolvimento de suas economias. No plano scal, a estes royalties pagos pelas operado-ras pelo esgotamento dos recursos petrolferos, h que somar a massa de impostos pagos por fornecedo-res de equipamentos e servios da cadeia produtiva petrolfera.

    Terceiro, porque ela tambm atrai investimentos na logstica

    (portos, terminais, estradas e dutos) necessria para mover a produo de hidrocarbonetos, transform-los em derivados adequados ao consu-mo e colocar esses derivados dis-posio dos consumidores. E mais importante, ela pode induzir efeitos industrializantes que do sustenta-bilidade ao processo de desenvolvi-mento econmico. Adequadamen-te explorado, o desenvolvimento do pr-sal pode gerar um polo supridor de bens e servios para a indstria do petrleo no eixo-industrial Rio/So Paulo com caractersticas e con-dies similares s que noruegueses e britnicos construram no Mar do Norte (de Oliveira et alli, 2008).

    Quanto ao plano do emprego, cabe destacar a qualidade dos em-pregos gerados pela atividade pe-trolfera. O desenvolvimento do pr-sal abre, portanto, uma ampla janela de oportunidades para im-pulsionar uma trajetria de cresci-mento sustentado da economia u-minense por dcadas. No entanto, at os dias atuais h uma apatia rela-tiva explorao da janela de opor-tunidades aberta pelo petrleo. O governo do Rio de Janeiro tem as-sistido passivamente s iniciativas do governo federal, concentrando sua ateno nos efeitos scais das mudanas na regulao setorial. Ainda que relevante, essa questo insu ciente para enraizar no Rio de Janeiro os efeitos industrializantes

    prometidos pelo pr-sal. A compe-titividade do parque fornecedor u-minense essencial para que o Rio de Janeiro escape das armadilhas es-tagnantes da poltica de substitui-o de importaes adotadas no passado. Para tanto, indispensvel utilizar os instrumentos de poltica disposio do governo uminen-se para promover ativamente a arti-culao entre os centros de pesquisa do estado, as empresas de engenha-ria uminenses e o parque fornece-dor emergente no estado.

    preciso mudar esta situao, porque grande o risco de vir a se reproduzir o mesmo fenmeno pro-vocado pelo boom do caf no scu-lo XIX. Este foi o maior feito eco-nmico da economia regional, mas passado seu auge expansivo, restou um interior pobre e atrasado. Ou uma poltica traada pela gesto estadual para explorar este momen-to mpar da economia do Rio de Ja-neiro ou ser reproduzido o passado. No podemos deixar que, passados os efeitos conjunturais do ciclo de expanso da produo petrolfera, a economia uminense mergulhe no-vamente na estagnao.

    Deve-se alertar que este ciclo ex-pansivo do pr-sal vive no momento um impasse relativo crise da Petro-bras. A reduo dos investimentos do Plano de Negcios da empresa ter efeitos especiais no Rio de Janei-ro, tanto pela reduo do desenvol-vimento dos campos de petrleo da empresa como pela retrao nos in-vestimentos na construo do Com-plexo Petroqumico do Rio de Ja-neiro (COMPERJ). Todavia, ainda prematura uma avaliao total dos efeitos desta crise na economia local.

    * Hildete Pereira de Melo doutora em Economia e professora associada da UFF.* Adilson de Oliveira doutor em Econo-mia e professor titular da UFRJ.

  • 6Jornal dos Economistas / Maro 2015www.corecon-rj.org.br

    Rio de Janeiro

    Bruno Leonardo Barth Sobral*

    O DIRETOR Mas se sabe que [minha realidade] pode mudar, claro! Muda continuamente; como a de todos!

    O PAI (com um grito) Mas a nossa no, senhor! Percebe? A dife-rena esta! No muda, no pode mudar, nem ser outra, jamais, por j estar xada assim esta para sempre ( terrvel, senhor!) realidade imutvel, que deveria lhes dar um arrepio ao se aproximarem de ns!

    Luigi Pirandello

    Na pea Seis personagens procura de um autor, Lui-gi Pirandello narra um en-saio invadido por personagens aban-donados pelo criador, e que tentam convencer o diretor a dar-lhes um papel. Esses personagens esto con-substanciados a viver conjunta-mente, cada um com especi cidades prprias que permitem caracteriz--los, mas falta uma lacuna na sua constituio: a ausncia de uma tra-jetria (narrativa) para oferecer um sentido lgico e um signi cado co-mum. Essa tarefa no simples; um con ito surge entre as dimenses da realidade aceitas, suas possibilidades de estarem xadas ou serem trans-formadas, bem como a di culdade de escolher a melhor forma de atuar e representar essa diversidade de mo-dos de ser (por vezes contraditrios). Diante disso, levanta-se a questo de como a interpretao de uma reali-dade depende da escolha do papel a ser desempenhado.

    A metropolizao do Rio de Ja-neiro foi precoce, fruto das fortes

    Uma regio procura de um planejamento integrado

    foras de polarizao em torno da primazia de seu ncleo urbano prin-cipal (Municpio do Rio de Janei-ro), associadas ao desenvolvimento do capitalismo no Brasil. Essa pre-cocidade no foi acompanhada de sua criao formal, o que s ser fei-to em 1974 e por razo da fuso do Estado da Guanabara e do antigo Estado do Rio de Janeiro. At a lti-ma dcada, seu nico rgo de ges-to prprio foi a Fundao para o Desenvolvimento da Regio Metro-politana do Rio de Janeiro FUN-DREM, entre 1975 e 1989. Mais recentemente, a preocupao com sua governana voltou a ganhar im-portncia, criando-se, em 2011, o Comit Executivo de Estratgias Metropolitanas, e, em 2014, a C-mara Metropolitana de Integrao Governamental. Contudo, so ain-da marcantes os efeitos do vazio ins-titucional que a questo metropoli-tana sofreu nas ltimas dcadas.

    No o objetivo desse arti-go analisar a experincia da FUN-DREM, nem as perspectivas a partir da recm-criada Cmara Metropolitana. O que se pretende ressaltar que a interpretao da realidade metropolitana no pode estar dissociada das consequncias de um processo descoordenado de expanso urbana que agravou as disparidades gritantes em sua pe-riferia, con gurando-a como uma rea de relativo vazio produtivo e com considerveis carncias de in-fraestruturas bsicas.

    Uma grave diferena da peri-feria da Regio Metropolitana do Rio de Janeiro (RMRJ) para as periferias da Regio Metropolita-na de Belo Horizonte (RMBH) e

    Regio Metropolitana de So Pau-lo (RMSP) seria o menor peso da indstria de transformao no em-prego total. Em 2012, segundo a RAIS, essa participao relati-va na periferia da RMRJ (12,6%) era menos que a metade do peso nas periferias da RMSP (26,4%) e da RMBH (29,7%). Cabe assina-lar que a maioria das ocupaes da periferia da RMRJ referente ao setor de servios. Em 2012, essas atividades correspondiam a 39,6% do total de empregos formais (j excluindo o peso do comrcio e da administrao pblica). Contu-do, em grande maioria, trata-se de servios no indutores, logo, inca-pazes de atrair signi cativa renda para a regio e gerar maior poder de arrasto dinmico. Nesse senti-do, o fenmeno re ete a menor es-truturao de complexos logsti-co-produtivos no territrio, o que poderia articular uma dinmica in-tersetorial mais consistente tendo como ncleo dinmico o entrela-amento de diversos encadeamen-tos econmicos.

    inegvel a existncia de um conjunto de empreendimentos de porte em operao ou em fase de instalao, mas tais empreendimen-tos no esto articulando signi ca-tivamente um cinturo de micro, pequenas e mdias empresas forne-cedoras. No perodo mais recente (2000/2012), segundo a RAIS, a ta-xa de crescimento do nmero de es-tabelecimentos para o total do setor industrial foi bem menor na perife-ria da RMRJ que nas periferias da RMSP e da RMBH (respectivamen-te, 28,0%, 39% e 64,9%). Como a RMRJ teve o maior crescimento do

    nmero de grandes estabelecimentos entre os casos analisados (respectiva-mente, 266,7%, 57,5% e 264,7%), o pior resultado para o total de es-tabelecimentos se deve ao descom-passo das unidades de portes me-nores. preciso ter claro os limites em termos de oportunidades de tra-balho prximas ao local de moradia na RMRJ, pois, geralmente, as uni-dades de menor porte so intensivas em mo-de-obra.

    Tomando como indicador o peso do emprego formal no se-tor privado sobre o total da popu-lao, em 2012, o percentual pa-ra a periferia da RMRJ era apenas 13,39%, enquanto para a perife-ria da RMSP era 25,38% e para a periferia da RMBH era 20,23%. Considerando o peso do emprego industrial sobre o total da popula-o, a situao ainda mais grave: 2,06% para a periferia da RMRJ, enquanto para periferia da RMSP era 7,35% e para periferia da RM-BH era 7,37%. Diante disso, no h a superao de um estigma de cidade-dormitrio para o con-junto da periferia metropolitana. Os efeitos da articulao econmi-

  • 7Jornal dos Economistas / Maro 2015www.corecon-rj.org.br

    Rio de Janeiro

    ca na RMRJ cam limitados por uma grande heterogeneidade in-terna, explicitada por uma relao centro-periferia e por uma depen-dncia no desprezvel da oferta de trabalho na capital uminense (Municpio do Rio de Janeiro).

    A manuteno do estigma de cidade-dormitrio na periferia da RMRJ se re ete em uma segrega-o ampliada da fora de trabalho. Segundo o censo demogr co de 2010, 31,96% dos trabalhadores se deslocaram por mais de uma hora na periferia da RMRJ. Isso signi -ca que os problemas de mobilidade urbana j so maiores que na perife-ria da RMSP e da RMBH (respecti-vamente, 25,5% e 23,18%). Entre

    aqueles com resultados piores, no-ta-se vrios municpios uminen-ses, inclusive alguns de maior por-te, como Nova Iguau (38,74%), Duque de Caxias (31,82%) e So Gonalo (31,2%).

    Alm disso, tambm h ca-rncia de infraestruturas bsicas. Muitos municpios da periferia da RMRJ esto nas piores posies comparados com as periferias da RMSP e RMBH, considerando o percentual de domiclios atendidos por rede de gua pelo censo demo-gr co de 2010 e o ndice Firjan de Sade. Portanto, ainda grave a fal-ta de investimento na universaliza-o desses servios. A esse proble-ma soma-se um rol de demandas

    sociais urgentes, como: necessidade de implantao de uma rede de es-goto mais efetiva, uma poltica de infraestrutura eltrica e de teleco-municaes, uma maior regulariza-o fundiria e a execuo de uma poltica efetiva de zoneamento ur-bano (mais clareza na de nio dos usos e scalizao).

    Soma-se ainda a perda de pers-pectiva futura para os jovens. Ain-da segundo o censo demogr co de 2010, o percentual de jovens que no trabalham nem estudam (os chamados nem-nem) na perife-ria da RMRJ superior aos resulta-dos para as periferias da RMSP e da RMBH (respectivamente, 32,1%, 26,5% e 25,3%). Diante da fal-

    ta de maior adensamento produ-tivo, so evidentes as di culdades de insero do jovem no mercado de trabalho. Cabe evidenciar tam-bm o d cit de qualidade educa-cional para car claro o baixo apro-veitamento, e, consequentemente, a evaso escolar. Considerando as mdias do IDEB 2011 (rede pbli-ca do ensino fundamental da pri-meira quinta srie), no apenas nenhum municpio da periferia da RMRJ possui ndice igual ou su-perior a 5 (mdia nacional), como quase todos esto nas piores posi-es ao se comparar com as perife-rias da RMSP e da RMBH.

    Dentro de uma perspectiva mais ampla de desenvolvimento social, a questo metropolitana no Estado do Rio de Janeiro um conjunto de problemas de diversas naturezas que se retroalimentam. Portanto, no ca-bem solues parciais e sim um pla-nejamento integrado que incorpore, dentro de um plano de desenvolvi-mento regional, as mltiplas dimen-ses e parmetros estruturais (natu-reza da base produtiva, situao do mercado de trabalho, condies de vida segundo oferta de infraestrutu-ra, servios sociais etc.).

    Na pea de Pirandello, os per-sonagens com sua criao incom-pleta padecem no s por falta de um papel, mas por sua realida-de estar xada. A RMRJ no es-t condenada a uma realidade tr-gica e descoordenada. Sua questo metropolitana precisa entrar em cena e ser assumida como priori-dade estratgica. No lhe falta um papel para desempenhar.

    * professor da Faculdade de Cincias Econmicas da Uerj, doutor pelo Instituto de Economia da Unicamp e autor do livro Metrpole do Rio e Projeto Nacional: uma estratgia de desenvolvimento a partir de complexos e centralidades no territrio (Edi-tora Garamond), baseado em tese de dou-torado premiada nacionalmente.

  • 8Jornal dos Economistas / Maro 2015www.corecon-rj.org.br

    Rio de Janeiro

    Floriano Carlos Martins Pires Junior*

    A indstria martima no Brasil sempre foi extre-mamente concentrada no Estado do Rio de Janeiro e repre-senta uma importante vocao re-gional econmica e cultural.

    A indstria martima brasileira moderna foi estabelecida na dcada de 1960, com a implantao de um novo modelo de poltica de mari-nha mercante. Porm, a partir do incio da dcada de 80, a conjun-o de vrios fatores levou der-rocada da marinha mercante e das indstrias naval e de navipeas. O longo perodo de crise estendeu-se at o nal da dcada de 90.

    Entretanto, por uma coinci-dncia histrica, os anos de deca-dncia da construo de navios fo-ram tambm anos de importante progresso na explorao e produ-o de petrleo no mar.

    Porm, embora a indstria o shore tenha apresentado um im-portante desenvolvimento nos l-timos anos do sculo XX, no ga-rantiu suporte su ciente para a preservao e desenvolvimento da indstria naval. Ao contrrio, em-bora a Petrobras tenha mantido in-tensa atividade em operaes oce-nicas e em engenharia de projeto, as principais obras de construo de plataformas foram contratadas no exterior. Tambm no setor de navegao de apoio o shore a par-ticipao da bandeira estrangeira aumentou consideravelmente.

    Na virada do sculo, o setor apresentava um nvel baixo de ati-vidade, apenas com a construo de algumas embarcaes de apoio,

    Cluster Martimo do Rio de Janeiro: Possibilidades e Desafi os

    uma atividade residual de reparo naval e algumas obras de conver-so e integrao, que permitiram a manuteno de alguns estaleiros em operao.

    O marco inicial do processo de recuperao da indstria naval foi a deciso de construir no Brasil, no Es-taleiro Brasfels, duas plataformas se-missubmersveis, que estavam j em processo de contratao no exterior.

    Hoje, decorrida mais de uma dcada, as novas descobertas de pe-trleo e gs j concretizaram uma grande carteira de encomendas de plataformas, FPSO, sondas e embarcaes de apoio, e projetam um cenrio extremamente pro-missor para a demanda futura. A capacidade da indstria foi bas-tante ampliada, com a recuperao dos estaleiros existentes e a cons-truo de vrias novas instalaes.

    Uma importante caractersti-ca dessa retomada o movimen-to de desconcentrao geogr ca. Entretanto, embora a maior parte dos investimentos em estaleiros te-nha ocorrido em outras regies, os

    setores de engenharia e outros ser-vios tcnicos no foram transferi-dos, ou seja, a inteligncia do setor ainda est predominantemente lo-calizada no Rio de Janeiro.

    Um novo ciclo de desenvol-vimento das indstrias martimas no Rio de Janeiro pode ser estimu-lado pelo crescimento da indstria de petrleo e gs. Vetores impor-tantes so a implantao de novas indstrias de equipamentos sub-marinos e o shore, a expanso das operaes nesses segmentos e a criao do Parque Tecnolgico do Fundo, principalmente voltado para a indstria do petrleo.

    Porm, ao contrrio do que se observa em outros polos emergen-tes, no h nenhum movimento articulado no Rio de Janeiro vi-sando a uma estratgia regional de desenvolvimento para a indstria naval e seus vnculos intersetoriais.

    A vocao do Cluster Martimo do Rio de Janeiro claramente a eco-nomia do conhecimento e da tecno-logia. Entre os setores integrantes do Cluster Martimo esto: construo

    naval e o shore; marinha mercante; operaes o shore; engenharia de projetos e de processos; indstria de navipeas e de equipamentos o sho-re e submarinos; tecnologia da infor-mao; e P, D & I.

    O Rio de Janeiro dispe de um ambiente altamente favorvel, com todos os requisitos para ca-racterizao de um cluster regio-nal, incluindo a liderana nacional nos principais segmentos da ativi-dade martima.

    As sinergias derivadas dos vn-culos intersetoriais e do comparti-lhamento de reas de conhecimento implicam grande potencial de de-senvolvimento integrado do Cluster Martimo do Rio de Janeiro.

    Entretanto, esse desenvolvi-mento depender da capacidade de formulao e gesto de polticas ousadas, inovadoras e competen-tes. O Cluster Martimo do Rio de Janeiro requer um projeto de pol-tica de desenvolvimento e mecanis-mos avanados de governana.

    O mar, que sempre foi deter-minante da histria e da persona-lidade do Rio de Janeiro, tem o destino de motor do desenvolvi-mento econmico e social do es-tado no sculo XXI.

    As lideranas polticas, em-presariais e acadmicas tm o de-sa o, o compromisso e a oportu-nidade histrica de viabilizar uma poltica estratgica de desenvolvi-mento do Cluster Martimo do Rio de Janeiro.

    * engenheiro naval e professor da Co-ppe/UFRJ e da Escola Politcnica da UFRJ. Foi vice-diretor da Escola Poli-tcnica e presidente da Sociedade Bra-sileira de Engenharia Naval Sobena.

  • 9Jornal dos Economistas / Maro 2015www.corecon-rj.org.br

    Rio de Janeiro

    Lia Hasenclever Julia Paranhos*

    O Complexo da Economia da Sade no Estado do Rio de Janeiro (CES/RJ) um su-bespao importante de inovao e acumulao de capital, podendo se constituir em oportunidades de in-vestimento, renda e emprego para o Estado ampliar o seu desenvolvimen-to da mesma forma que este mesmo Estado tem um importante papel pa-ra compensar as foras do mercado que geram assimetrias e desigualda-des associadas operao dos siste-mas de sade e de produo e ino-vao de insumos. Estas assimetrias e desigualdades so intrnsecas ao com-plexo de sade devido s caractersti-cas de seu funcionamento econmi-co: mercado oligopolizado, pelo lado da oferta, e pleno de assimetrias de informao, pelo lado da demanda.

    A agenda de poltica estadual voltada para o CES pode atuar em complemento ao governo federal para o estabelecimento de uma po-ltica industrial e tecnolgica e pa-ra a melhoria da gesto das com-pras pblicas. De fato, ainda que a formulao e a implementao de polticas de sade e industrial e tecnolgica estejam atreladas ao n-vel federal, o nvel estadual pode e deve inuenciar o nvel federal em busca de um maior consenso para o desenvolvimento local, confor-me pode ser ilustrado pelo estmu-lo s Parcerias de Desenvolvimen-to Produtivo (PDPs) locais, pela criao do Parque Tecnolgico da Vida (PTV) e pela atrao de no-

    Complexo da Economia da Sade no Estado do Rio de Janeiro: uma oportunidade de ampliar o desenvolvimento do Estado?

    vas grandes empresas para o ERJ. O Estado possui cinco laborat-rios pblicos1 e beneciou-se tam-bm das PDPs assinadas por estes. Desta forma, o Estado com maior participao nas PDPs (30%)2, e o segundo com o maior nmero de empresas privadas locais (nove)3, o que representa cerca de 20% das empresas participantes das PDPs. O PTV, por sua vez, ir sediar em-preendimentos de P&D de mi-cro e pequenas empresas de base tecnolgica, unidades de pesqui-sa, desenvolvimento e inovao de empresas, unidades de produo, facilidades compartilhadas e cen-tros de capacitao de pessoas. O PTV dividido entre o campus Vi-tal Brazil, em Niteri, e o campus Resende, na regio sul uminense.

    Por outro lado, realmente o CES/ERJ se apresenta como uma real oportunidade para o desenvol-

    vimento do Estado e melhoria de seus indicadores de emprego, ren-da e sade, que pioraram sua posi-o relativa entre 2000 e 2010 atra-vs de uma melhor gesto das suas compras pblicas. A simples ges-to atravs do uso da licitao mos-trou-se inadequada como princi-pal forma de reduo de preos das compras pblicas, como pde ser analisado no Municpio e no ERJ4. De fato, em um mercado onde a principal regra a assimetria de in-formao entre compradores e ven-dedores, os preos praticados, mes-mo com licitao, acabam sendo superiores aos preos mdios pra-ticados no Brasil. O exemplo des-taca tambm que o sucesso do uso do poder das compras pblicas po-de ser mais efetivo quando a gesto destas compras mais bem planeja-da e a produo local estimulada.

    Estes dois tipos de atuao do

    governo estadual estmulo pro-duo local e melhoria da gesto das compras pblicas mostram--se mais ecientes porque atuam di-retamente sobre as assimetrias es-truturais dos sistemas de sade e de produo e inovao de insumos, aumentando a oferta de produtores locais e reduzindo a possibilidade de aprisionamento das compras pbli-cas oferta internacional, fortemen-te cartelizada por produtores india-nos e chineses e seus intermedirios, os brokers. Mais do que isso, gera maior ocupao da capacidade ocio-sa da oferta de medicamentos pbli-ca, bem como demanda para os pro-dutores privados, e, em decorrncia, estimula tambm o crescimento da renda e dos empregos locais.

    * Lia Hasenclever professora associada do Instituto de Economia/UFRJ.* Julia Paranhos professora adjunta do Instituto de Economia/UFRJ.

    1 Instituto Vital Brasil, Biomanguinhos e Farmanguinhos, ambos da Fiocruz, Labo-ratrio Farmacutico da Marinha eLabo-ratrio Qumico Farmacutico do Exrci-to. O primeiro subordinado ao governo estadual, os dois da Fiocruz esto subordi-nados ao governo federal, o terceiro Ma-rinha e o quarto ao Exrcito.2 Seguido de Gois, com trs laboratrios pbicos (15%), de acordo com as infor-maes das PDPs divulgadas pelo Minis-trio (MS, 2014).3 O estado com o maior nmero de em-presas privadas So Paulo, com 32, re-presentando sozinho quase 70%.4 Ver o trabalho de Zaire et al. (2013). Aquisies no mbito do Sistema nico de Sade no Rio de Janeiro: o caso dos programas de ateno bsica. Cadernos de Desenvolvimento Fluminense, n.3, pp.62-85, nov. 2013.

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    Jornal dos Economistas / Maro 2015www.corecon-rj.org.br

    Rio de Janeiro

    Quadro 1: Principais Parques nas regies tursticas prioritrias do Estado do Rio de Janeiro

    PARQUES DECRETO MUNICPIOS REA (HA) DO PARQUE

    Parque Nacional da Tijuca Decreto 50.923 de 06/07/1961 Rio de Janeiro 3.958

    Parque Estadual de Pedra Branca Lei 2.377, de 28/06/1974 Rio de Janeiro 12.500

    Parque Estadual da Serra da Tiririca

    Lei 1.901, de 29/11/1991 e Decreto 18.598, de 19/04/1993 Niteri e Maric 3.568

    Parque Nacional da Serra dos rgos

    Decreto Federal 1.822/1939. Decreto de 13/09/2008

    Guapimirim, Mag, Petrpolis e Terespolis 20.020

    Parque Estadual da Costa do Sol

    Decreto n. 42.929, de 04/06/2011.

    Araruama, Armao dos Bzios, Arraial do Cabo, Saquarema e So Pedro da Aldeia.

    9.840,9

    Renata Lbre La RovereMarta de Azevedo IrvingMarcelo Augusto Gurgel de Lima*

    Apesar de a cidade do Rio de Janeiro ser considerada a porta de entrada do Esta-do do Rio de Janeiro e, para mui-tos estrangeiros, do Brasil , as pos-sibilidades para o desenvolvimento do turismo uminense vo alm da dita Cidade Maravilhosa. O Estado do Rio de Janeiro (ERJ) possui uma diversidade considervel de atrativos tursticos de grande relevncia pa-ra estimular a economia de diversos municpios. Integrar o conjunto de atrativos naturais e culturais do Esta-do, tendo a cidade do Rio de Janeiro como porta de entrada, em bases sus-tentveis e segundo um planejamen-to de longo prazo, fundamental no atual contexto de desenvolvimento do Estado. Este planejamento deve evitar um desenvolvimento turstico desordenado, que gera externalida-des negativas, tais como degradao dos recursos naturais, congestiona-mentos que se traduzem em aumen-to do tempo de acesso s localidades e presso sobre as infraestruturas dos municpios envolvidos.

    As possibilidades de desenvol-vimento do turismo no ERJ po-dem ser identi cadas de duas for-mas principais: de um lado, atravs da identi cao de especializao produtiva por meio de um levanta-mento do nmero de empregos e de estabelecimentos do setor j existen-tes nos 92 municpios do ERJ. Por outro lado, atravs de uma anlise da localizao das regies tursticas existentes no Estado e dos atrativos naturais destas regies que podem ser explorados de forma sustentvel.

    Um estudo de La Rovere e Pa-ranhos (2011) apontou que ape-

    Turismo: para alm da Zona Sul do Rionas 17 dos 92 municpios do ERJ apresentam algum tipo de especia-lizao em atividades ligadas ao tu-rismo. So eles: Rio de Janeiro; An-gra dos Reis; Barra do Pira; Itatiaia; Mangaratiba; Paraty; Valena; Bom Jardim; Nova Friburgo; Petrpo-lis; Terespolis; Rio Bonito; Arma-o dos Bzios; Arraial do Cabo; So Pedro da Aldeia; Cabo Frio e Rio das Ostras. Se localizarmos es-tes municpios nas regies tursti-cas de nidas pelo ERJ, observa-mos que as regies tursticas com maior potencial de desenvolvimen-to so as seguintes: 1) Regio Turs-tica Metropolitana Rio-Niteri; 2) Regio Turstica Regio dos Lagos/Costa do Sol e 3) Regio Turstica Serra Imperial. Estas regies re-nem 12 dos 17 municpios com es-pecializao em turismo. Os outros cinco esto na Regio da Costa Ver-de e na Regio do Ciclo do Caf.

    Estas regies incluem dois par-ques nacionais e trs parques esta-duais de elevada importncia global, sendo trs em reas altamente urba-nizadas (ver Quadro 1). Se de um la-do os parques reforam a relevncia

    das regies para o planejamento tu-rstico do ERJ, o desenvolvimento da atividade turstica pode aumentar a vulnerabilidade dos parques, em termos ambientais, com relao aos riscos de nveis crescentes de presso antrpica sobre estes ecossistemas.

    importante ressaltar que embo-ra represente uma das principais eco-nomias do pas, sob forte presso de crescimento, o ERJ abriga ainda um passivo social signi cativo a ser equa-cionado, ao mesmo tempo em que considerado cone em diversidade biolgica e cultural do pas. Assim, o ERJ se apresenta como um estado di-vidido entre as presses de crescimen-to e o reconhecimento da necessidade de preservao de seu patrimnio na-tural e cultural como garantia de um futuro promissor e sustentvel.

    fundamental interpretar os de-sa os para o desenvolvimento do tu-rismo no Estado, no mais a partir de uma lgica apenas centrada no mer-cado, que reduz o turismo a uma ati-vidade rentvel e/ou lucrativa em curto prazo, mas segundo a sua com-preenso como fenmeno complexo, no qual o lugar turstico representa

    um locus potencial para a transforma-o e incluso social. Com base nes-te argumento, a questo da cultura tambm estratgica, uma vez que no se pode interpretar a natureza em dis-sociao de seus signi cados para os distintos grupos humanos.

    Assim, o planejamento da ativi-dade turstica no ERJ deve se reali-zar a partir de uma lgica de trans-versalidade em polticas pblicas e estratgias de planejamento de lon-go prazo, capazes de avaliar no ape-nas os benefcios econmicos resul-tantes do processo, mas tambm os riscos socioambientais, bem como as potencialidades e especi cidades culturais das regies envolvidas, ain-da pouco conhecidas e/ou articula-das com este objetivo.

    * Marta de Azevedo Irving professora do EICOS/IP-UFRJ e do PPED/IE-UFRJ e coordenadora do GAPIS/UFRJ.* Marcelo Lima pesquisador do GA-PIS/UFRJ.* Renata Lbre La Rovere coordenado-ra do Programa de Ps-Graduao em Po-lticas Pblicas, Estratgias e Desenvolvi-mento - PPED-UFRJ e pesquisadora do INCT PPED/CNPq-UFRJ.

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    Jornal dos Economistas / Maro 2015www.corecon-rj.org.br

    Rio de Janeiro

    Luiz Martins de Melo*

    A hegemonia da ideologia neoliberal teve enorme in- uncia em de nir os con-tornos da economia poltica do ur-bano como uma disputa entre as cidades pelos recursos globais. Da a disputa cada vez mais acirrada pe-lo direito de sediar os grandes even-tos esportivos. A estratgia das ci-dades passa a ser se preparar para os eventos esportivos e no se estrutu-rar para um desenvolvimento urba-

    Esporte e Lazerpssima qualidade do projeto olm-pico do Rio de Janeiro e a di cul-dade que o Rio de Janeiro ter em obter legados positivos dos Jogos Olmpicos. Porm, o projeto aten-de aos interesses econmicos e pol-ticos hegemnicos no Rio de Janei-ro, capital imobilirio e transporte rodovirio. Da a escolha da Barra da Tijuca como o centro dos inves-timentos pblicos.

    Os estudos que avaliam o le-gado econmico dos megaeventos apresentam resultados no mnimo ambguos quanto ao seu impac-to positivo. Pelo lado estritamen-te econmico a maioria dos estu-dos realizados nos ltimos 15 anos sobre os impactos econmicos dos megaeventos no so encorajado-res.2 Os equipamentos construdos por ocasio dos jogos, na maioria dos casos uma infraestrutura cara e monumental para o evento, mas passados estes, di cilmente encon-tra-se um uso que justi que seu custo de construo e operao.

    Alm disso, a maior parte das cadeias produtivas que produzem o evento esportivo no esto presentes no Rio de Janeiro, ape-sar da existncia de estdios e are-nas modernas como o complexo do Maracan, a arena HSBC e o Engenho e a presena de clubes populares. Temos apenas a ponta da cadeia do espetculo esportivo. Essa uma das causas da pouca presena de pblico nos estdios e na fraqueza econmica dos princi-pais clubes do Rio de Janeiro.

    Um argumento frequentemen-te usado a favor da realizao de megaeventos o fato de que eles promovem uma macia exposio miditica das suas sedes em um curto perodo, o que poderia fazer com que turistas e investidores fos-

    sem atrados para dar sustentabili-dade no longo prazo. Seria o legado intangvel dos megaeventos para o Brasil e o Rio de Janeiro. Esse argu-mento, no entanto, controverso. Em muitos casos, como Londres e Paris, a cidade j est no mapa in-ternacional. Em outros, ela no te-ria como se bene ciar da exposio internacional por ter pouca voca-o para o turismo, como no caso de Atlanta. O caso paradigmtico Barcelona. Mas teria o Rio de Ja-neiro condies polticas de repro-duzir Barcelona?

    Outro aspecto importante do legado de longo prazo dos megae-ventos a poltica pblica para o desenvolvimento do esporte. A de-mocratizao do acesso da popula-o prtica esportiva (educao fsica) um direito fundamental da construo da cidadania. Este im-pacto tambm importante, pois parte do ponto de vista de como democratizar o esporte e a prtica esportiva. H enormes complica-es polticas na organizao do es-

    porte no Brasil e no Rio de Janeiro.O no entendimento dessas li-

    mitaes econmicas, polticas e institucionais de sediar os Jogos Olmpicos e a Copa do Mundo se re etem na opo estratgica de pre-parar a cidade para os megaeventos e no os megaeventos para a cidade.

    O nico efeito positivo in-contestvel seria o orgulho cvico e a felicidade geral catalisada pe-lo evento. Nisso o Rio de Janeiro se con gura por sua histria e pe-lo carter do seu povo como im-batvel. Resta saber se a festa ser maior que a ressaca.

    * professor do Instituto de Economia/UFRJ

    1 Folha de So Paulo. RIO 2016. Cader-no Esporte, 05/06/2008.2 A literatura sobre o resultado do im-pacto econmico analisada em Melo, L. M. (2014) Qual o legado dos mega-eventos? In: Sustentabilidade, Governan-a e Megaeventos: estudo de caso dos Jogos Olmpicos. Rio de Janeiro : Elsevier Edi-tora Ltda, p. 179-194.

    no destinado a atender os direitos sociais universais pela melhoria dos servios pblicos.

    O exemplo do Rio de Janeiro paradigmtico dessa estratgia. No relatrio apresentado pelo COB re-cebeu a nota mais baixa entre os -nalistas: 6,8. Em primeiro lugar, cou Tquio, com 8,6. Depois, vie-ram Madri (8,4) e Chicago (7,4). O Rio, na verdade, foi o quinto colo-cado na disputa, cando atrs ain-da de Doha, no Catar, que teve no-ta 7,4. Doha foi eliminada, j que s poderia realizar o evento no ms de outubro, data considerada inade-quada pelo Comit Olmpico In-ternacional (COI).1 Isso mostra a

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    Jornal dos Economistas / Maro 2015www.corecon-rj.org.br

    A criana prioridade na sade?Art. 7 A criana e o adolescente tm direito a proteo vida e sade, mediante a efetivao de polticas sociais pblicas que permitam o nas-cimento e o desenvolvimento sadio e harmonioso, em condies dignas de existncia.(Estatuto da Criana e do Adolescente)

    O presente trabalho con-tinua a srie iniciada na edio passada sobre a avaliao das polticas inerentes ao Oramento Criana e Adoles-cente (OCA). Neste ms, o tema a Sade Pblica, especicamen-te, a criao de leitos destinados ao pblico em anlise. Essa ao foi escolhida como prioritria pe-los conselheiros ans h dois anos.

    De acordo com a metodologia adotada nessa srie do OCA, utili-zamos a estimativa de 27% da po-pulao como infantil e jovem (0 a 18 anos) do total residente no municpio do Rio de Janeiro, pois nem todos os servios em sade so identicveis por faixa etria. Esse clculo se faz necessrio uma vez que os gastos em Sade bene-ciam toda a populao. Portanto, os dados aqui apresentados levam em considerao o percentual su-pracitado e tambm foram corri-gidos monetariamente pelo IPCA de janeiro de 2015.

    Breve contextualizaoA Constituio de 1988 insti-

    tuiu o Sistema nico de Sade SUS, um dos maiores avanos na poltica social1. Neste sistema, inte-grado por uma rede regionalizada e hierarquizada de aes e servios de sade, cabe aos municpios dar maior nfase medicina preventiva do que curativa. Tal nfase til

    para baratear os custos, visto que o tratamento especco de algumas doenas mais caro que a sua pre-veno, e funciona como porta de entrada para hospitais especializa-dos: aps determinados diagns-ticos, pacientes so encaminhados para uma unidade de atendimento especco a partir da ateno pri-mria, conforme a necessidade de cada patologia a ser tratada.

    Assim sendo, o servio de sa-de carioca traduz esse enfoque atravs da instalao de Clnicas da Famlia, das clnicas de mater-nidade e dos Centros Municipais de Sade, e, em termos oramen-trios, uma priorizao na subfun-o Ateno Bsica.

    Essa contextualizao se faz necessria para a compreenso do reexo da implantao desse mo-delo na relao e nos resultados do quantitativo de leitos e oramen-to destinados aos leitos hospitala-res para a criana e o adolescente.

    Hospitais peditricos

    O municpio do Rio de Janei-ro possui 29 hospitais, sendo trs (Nossa Senhora do Loreto, Jesus e Salles Netto) com especialida-de peditrica. Os dados demons-

    tram um aumento de aproximada-mente 50% no oramento destes hospitais entre os anos de 2011 a 2014, com exceo do Salles Net-to. Entretanto, o crescimento do gasto nos hospitais no acom-panhado pela criao de leitos. No caso do Hospital Jesus, houve um aumento de apenas seis leitos de 2012 para 2014 e no Hospital Nossa Senhora do Loreto, trs lei-tos a mais nesse mesmo perodo de tempo. J o Hospital Salles Netto apresentou queda de 26% em seu oramento desde 2012, e no ano de 2014 deixou de ser especializa-do para atender como um Centro Municipal de Sade, em um mo-vimento coerente implantao, em curso, do modelo j descrito. O grco 1 expe a evoluo.

    O impacto da mudana de ca-racterstica do hospital gera inquie-tao na populao, pois houve protestos pela perspectiva de queda na quantidade de leitos ofertados para crianas e adolescentes. O Jor-nal do Brasil2, em maro de 2014, registrou assim a revolta:

    Em protesto, nesta segunda (31), moradores acenderam velas em frente ao hospital. [...] Os mo-radores, porm, esto preocupa-

    dos com o sucateamento do hos-pital e a principal mudana que ir ocorrer: o m do atendimento exclusivo de crianas.

    [...] A unidade faz hoje uma mdia de 80 atendimentos ambu-latoriais e de especialidades pedi-tricas por dia. Com as mudanas, passar para 320, entre crian-as e adultos. Perguntada sobre o aumento de efetivo, a SMS no respondeu. Ela tambm no se pronunciou sobre a gesto do hos-pital, que passa a ser uma Organi-zao Social de Sade (OSS).

    Cabe lembrar que as Organiza-es Sociais de Sade citadas j fo-ram objetos de anlise crtica neste espao (vide JE fev. 2013 Sade, a bola da vez). Anal, as OSSs esto no centro da poltica municipal por assumirem a gesto das unidades de sade hospitais, Clnicas da Fam-lia e Unidades de Pronto Atendi-mento (UPAs). Consequentemen-te, apropriam-se de uma fatia cada vez maior do oramento da rea.

    Leitos hospitalaresOs dados encontrados no Ca-

    dastro Nacional de Estabeleci-mento de Sade (CNES) e no Ins-tituto Brasileiro de Geograa e

    Tabela 1 relao leito / populao

    Infantil Adulto

    Ano Leito PeditricoEstimativa Populao0-18 anos

    Populao Infantil por leito

    peditricoLeitos Gerais

    Estimativa Populao

    Adulta

    Populao Adulta

    por leito

    Estimativa do total

    populacional

    2011 627 1.580.111 2.520 3.793 4.740.335 1.497 6.320.4462012 734 1.620.766 2.208 4.588 4.735.183 1.229 6.355.9492013 630 1.661.475 2.637 3.743 4.728.815 1.519 6.390.2902014 558 1.703.929 3.053 3.573 4.725.994 1.567 6.429.9232015 959 1.742.494 1.816 4.123 4.711.188 1.489 6.453.682

    Fonte: IBGE Dados Demogrficos. PLOAs, Demonstrativo 7 de 2011-2014 e Cadastro Nacional de Estabelecimento de Sade (CNES) para 2015.

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    Jornal dos Economistas / Maro 2015www.corecon-rj.org.br

    FRUM POPULAR DO ORAMENTO RJ ([email protected] 2103-0121 e 2103-0120)Coordenao: Econ. Luiz Mario Behnken. Assistentes: Est. Camila Bockhorny, Est. Karina Melo e Est. Mariana Vantine.Esta matria contou com a colaborao dos seguintes assessores parlamentares: Joo Tapioca (Gab. Ver. Paulo Pinheiro), Pmela Matos (Gab. Ver. Reimont) e Talita Araujo (Gab. Ver. Renato Cinco).

    Estatstica (IBGE) apontam que atualmente a populao de 0 a 18 anos possui uma carncia maior por leitos em relao ao restante da populao. A tabela 1 explici-ta a proporo.

    No perodo de 2011 at 2014, houve uma queda de 220 leitos no total. Inmeras hipteses foram levantadas como justicativa para esta situao; uma delas a redu-o de leitos no setor de psiquia-tria, pelo fato de haver hoje novas formas de tratamento que dispen-sam a internao. O assunto refe-rente ao atendimento psicossocial ser tratado mais profundamente no prximo artigo.

    Por outro lado, os dados ora-mentrios tambm indicam uma reduo dos recursos de 90% en-tre os exerccios de 2011 e 2014. importante considerar que par-te da elevao em 2011 se deve aos gastos no Hospital Pedro II, onde houve um incndio em ou-tubro de 2010. Em novembro do mesmo ano, o hospital, que era estadual, foi cedido ao mu-nicpio, que realizou uma gran-de reforma, de cerca de R$80 milhes, e repassou a gesto pa-ra uma OSS. Em 2012, alm da continuidade da reforma do Hospital Pedro II, outros hospi-tais municipais receberam inves-timentos para a implantao de detectores de incndios e extin-tores para evitar outro desastre (vide Grco 2).

    Cabe ressaltar que a disponibi-lizao de leitos hospitalares no possui uma ao especca, por isso a utilizao da ao governa-

    mental mais prxima: Constru-o, ampliao e reforma de uni-dades hospitalares.

    Consideraes finais

    Embora a questo enfoca-da nesta matria seja especca leitos hospitalares para crianas e adolescentes a sua avaliao de-pende de outros aspectos que en-volvem a Sade Pblica. Tanto o modelo nacional, SUS, quanto a gesto so fatores que devem ser considerados, pois interferem di-retamente na eccia da ao go-vernamental em anlise.

    Por um lado, concordamos e defendemos as diretrizes do SUS na nfase municipal para a medi-cina preventiva, pois acreditamos que tal modelo inui diretamente em ndices referentes criana e ao adolescente, como o caso da mor-talidade infantil, fortemente ligada preveno, desde o processo do pr-natal ao diagnstico mais pre-coce de algumas doenas, aumen-tando assim as chances de cura. Por outro, tememos que a mudana de paradigma (curativa/especialida-de para preventiva/universal) pos-sa provocar uma reduo na dis-ponibilidade de leitos para a faixa etria considerada como o cen-tro dos programas de desenvolvi-mento (De Olho no Oramento Criana, 2005, p. 12), inclusive por acordo internacional3. Os pro-testos pela mudana de caracters-tica de um hospital especializado e a escolha de conselheiros tutela-res e de direitos corroboram esse temor. Oxal as previses de mais

    leitos em 2015 se concretizem.J quanto ao aspecto geren-

    cial das unidades hospitalares, te-mos convico de que uma ges-to baseada na lgica privada (as Organizaes Sociais de Sade OSS) no fortalecer ou amplia-r os direitos sociais como a prio-rizao das crianas e jovens, por exemplo. O caso do Hospital Sal-

    Grfico 1 Oramento dos hospitais peditricos

    Fonte: Rio transparente. Acesso em jan. 2015.

    Grfico 2 Ao 1063 Construo, ampliao e reforma hospitalar

    Fonte: Fincon (acesso em setembro de 2014) e PLOA 2011-2014.

    les Netto, pelos dados disponveis, refora a incompatibilidade.

    1 De acordo com o art. 196 da Constitui-o de 1988, a sade direito de todos e dever do Estado.2 http://www.jb.com.br/rio/noticias/2014/ 04/02/salles-netto-m-de-atendimento--pediatrico-exclusivo-preocupa-morado-res/. Acesso: Nov. 2014.3 Assembleia Geral das Naes Unidas, Um Mundo para as Crianas: p.20.

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    Escolas da Macroeconomia

    Carlos Pinkusfeld Bastos*

    A abordagem Sraana assim denominada em homenagem ao econo-mista italiano Piero Sraa, de cuja obra toma sua fundao te-rica e inspirao. Sraa, en-tretanto, foi um economista sui generis com uma produo pu-blicada limitada e dispersa no tempo. So trs, por assim dizer, suas grandes contribuies: os artigos de 1925 e 1926 critican-do a teoria Marshalliana da con-corrncia perfeita da rma em equilbrio parcial; a introduo para a sua edio primorosa da obra completa de David Ricardo em 1951; e seu pequeno livro de 1960, Produo de Mercadorias por Meio de Mercadorias. Apesar de espalhados no tempo, pos-svel observar, e essa impresso reforada pelo exame de seus es-critos pessoais no publicados, uma sequncia muito clara em termos de programa de pesqui-sa com duplo objetivo: por um lado criticar a consistncia lgi-ca da teoria dominante (escola marginalista, neoclssica) e por outro oferecer uma alternativa terico-metodolgica livre de tais limitaes.

    Assim, a evoluo do traba-lho de Sraa parte da crtica ao equilbrio parcial Marshalliano e teoria da concorrncia perfei-ta, passa pela reconstruo da es-trutura lgico-metodolgica da abordagem clssica do exceden-te (a longa tradio que rene as contribuies dos siocratas a Marx), e culmina com a crti-ca ao modelo de equilbrio ge-

    Abordagem Sraffianaral da escola marginalista e a for-mulao de uma teoria de preos e distribuio livre das inconsis-tncias lgicas da Teoria do Va-lor Trabalho herdada de Ricardo e Marx.

    As tarefas do programa de pesquisa de Sraa tm consequ-ncias importantes para a anlise macroeconmica. Inicialmente, ao demonstrar a impossibilida-de lgica de uma determinao simultnea de preos e quanti-dades atravs do equilbrio en-tre oferta e demanda, elimina--se, a um s tempo, a tendncia da economia ao pleno emprego dos fatores de produo e espe-cialmente da fora de trabalho, como tambm a ideia que a re-munerao dos fatores (especi-camente os salrios) corresponde contribuio marginal do tra-balhador ao produto.

    Como alternativa rua sem sada da determinao simul-tnea da abordagem ortodoxa marginalista, Sraa e seus segui-dores, como Garegnani (1984), propem uma abordagem meto-dolgica distinta a separao da determinao de produto e distribuio/preos em dois, ou no simultneos, nveis analti-cos: um ncleo da teoria no qual se determinariam preos relati-vos e uma varivel distributiva (lucro ou salrio) e o estudo de relaes fora do ncleo para va-riveis como acumulao de ca-pital, formao de salrios, taxas de juros, progresso tcnico etc.

    A determinao de preos as-sume a forma de relaes ma-temticas exatas, que foram ex-pressas por Sraa nas equaes

    de preos de produo para mer-cadorias bsicas. importan-te destacar que, como aponta Mongiovi (1996, p. 221): no h nada que impea de se es-tudar fenmenos fora do n-cleo de maneira formal ou ma-tematizada, e, de fato, sempre til faz-lo (como nas teorias de crescimento ou analisando--se problemas de demanda efeti-va). No quer dizer que simples-mente as relaes fora do ncleo so menos gerais; elas so tam-bm radicalmente mais comple-xas. Assim, as anlises formais, do, digamos, produto ou sal-rio real, ou da inuncia de mu-danas no produto nos custos de longo prazo, so necessrias e ir-remediavelmente inexatas, por-que impossvel capturar todos os efeitos de feedbacks resultan-tes da mudana do conjunto de dados iniciais, e tambm porque nem todos os fatores que tm in-

    uncia nos resultados tm na-tureza quantitativa.

    Em suma, na teoria clssica so dados o produto social (ta-manho e composio), a tcni-ca (ou tcnicas de produo) e uma varivel distributiva, que pode ser o salrio real ou a ta-xa de juro.

    Logo, ao contrrio do que er-roneamente deduz a teoria mar-ginalista, a economia de mer-cado no garante a tendncia da economia ao pleno emprego e, ademais, h necessidade l-gica da cincia econmica bus-car uma forma alternativa de determinao de renda e produ-to. Assim, a abordagem Sraa-na mais que compatvel com a verso do princpio da deman-da efetiva no longo prazo, que prope que a renda, produto e emprego no longo prazo so de-terminados por decises autno-mas de gastos. Ela necessita de tal teoria para fornecer os dados necessrios determinao de seu ncleo terico.

    As consequncias prticas so radicais em termos de compre-enso do funcionamento de eco-nomias capitalistas. A velocida-de de acumulao e os nveis de produto per capita no longo pra-zo dependem de decises de gas-tos que esto relacionadas com a disposio maior ou menor do governo gastar, a gerao de pro-gresso tcnico (que permita, por exemplo, uma insero interna-cional mais virtuosa), ou a exis-tncia de um sistema de crdi-to elstico, que garanta acesso ao nanciamento para empresas e famlias, aumentando assim, no

    Carlos Pinkusfeld Bastos

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    ltimo caso, o gasto de consumo autnomo. Todas estas decises so exteriores ao ncleo, ou se-ja, dependem de decises polti-co-institucionais relacionadas gesto, em grande parte, do go-verno sobre o conjunto da eco-nomia.

    Obviamente que se a econo-mia no tende ao pleno emprego da fora de trabalho pelo equi-lbrio entre oferta e demanda, no h tambm algo como um salrio de equilbrio que iguala a remunerao produtividade marginal do trabalho. O salrio pode ser determinado fora do ncleo, e depende, de novo, de uma complexa inter-relao de foras poltico-sociais e tambm especicamente econmicas, co-mo o prprio ritmo de acumu-lao e, consequentemente, da reduo da taxa de desemprego. Um argumento como este ata-ca, por exemplo, a velha ideia de que a rigidez salarial ou um salrio real muito alto compro-metem o nvel de emprego, que durante muito tempo foi levan-tada para explicar o desempenho do mercado de trabalho da Eu-ropa. Ao contrrio, salrios mais elevados determinados pela for-a poltica dos trabalhadores a considerando sua inuncia nas polticas pblicas de salrio m-nimo, benefcios ao desempre-go, relao de tolerncia orga-nizao dos trabalhadores etc. podem gerar, via elevao do consumo induzido, e mesmo o autnomo, um produto maior no curto e longo prazos.

    Tambm a questo da deter-minao do salrio, no mais pe-lo equilbrio de pleno emprego da oferta e demanda no mercado de trabalho, e sim pelo coni-to distributivo, tem importante impacto no estudo da inao.

    Corta-se a relao direta, ou me-lhor, uma relao persistente de longo prazo, entre o excesso de demanda nos mercados de bens e trabalho e elevao, tambm, persistente do nvel de preos. Anal, como a oferta no merca-do de bens, ou criao de capaci-dade produtiva, reage prpria dinmica da demanda, somada ausncia de tendncia de ple-no emprego do trabalho, no lon-go prazo, a inao resultado das mudanas nas variveis de custo, como salrios nominais, cmbio, preo de commodities, cuja explicao deve incorpo-rar elementos mltiplos, mui-tos deles fora do estrito campo macroeconmico. J menciona-mos relaes polticas e sociais que podem impactar a dinmi-ca salarial, e podemos lembrar que o preo de commodities pode depender de elementos comple-xos como a dinmica da econo-mia mundial, tanto em termos de crescimento como de traje-tria nanceira, transformaes geopolticas, mudanas estrutu-rais nas relaes comerciais entre pases e regies e mudanas tec-nolgicas, entre outras.

    A escola Sraana que, co-mo mencionado acima, tem sua inspirao inicial nas contribui-es seminais de Piero Sraa, e se consolidou graas aos avanos de autores como Pierangelo Ga-regnani e Luigi Pasinetti, dialo-ga e incorpora contribuies de outras vertentes heterodoxas, como cou claro com a inclu-so do Princpio da Demanda Efetiva como elemento de de-nio do produto agregado que ir alimentar a determinao de preos relativos e distribui-o no ncleo da teoria. Ainda que eventuais divergncias na-turais em abordagens particula-

    res existam, h neste dilogo as-pectos mais de convergncia, em termos principalmente de policy making, que propriamente in-compatibilidade absoluta.

    Um ponto importante da abordagem Sraana diz respei-to taxa de juros monetria no-minal, cuja determinao ex-gena pela autoridade monetria levaria, atravs de sua inter-rela-o com a dinmica dos salrios nominais, a uma determinao da varivel distributiva de for-ma distinta da abordagem cls-sica tradicional. Nesta o salrio real tomado como exgeno ao ncleo da teoria, como mencio-nado acima.

    Seguindo uma sugesto do prprio Sraa, Pivetti (1991) tentou desenvolver uma teoria de determinao monetria da inao na qual a taxa de juros monetria vista como um de-

    terminante autnomo dos cus-tos monetrios normais de pro-duo. Dada a taxa de juros que remunera ativos nanceiros de longo prazo sem risco, e dado o salrio nominal, que resultado direto da barganha salarial, o n-vel de preos pode ser determi-nado por um sistema de equa-es la Sraa (Pivetti, 2007, p. 243). Ou seja, a dinmica das duas variveis nominais leva a uma variao dos preos que acaba por gerar os valores reais das variveis distributivas lu-cros reais e salrios reais da economia.

    Obviamente que este meca-nismo abre espao para um im-portante debate de poltica eco-nmica, e consequentemente de policy making, sobre qual vari-vel teria uma primazia sobre a determinao da varivel distri-butiva exgena s equaes de

    Piero Sraffa

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    preos. Para Pivetti, esta prima-zia caberia taxa de juros nomi-nal, na medida em que a auto-ridade monetria teria o poder de estabelecer um nvel de juros tal que garantiria uma certa taxa real de remunerao do capital. J Serrano (1993, p. 122) levan-ta o ponto de que sempre have-ria uma taxa de crescimento de salrios monetrios que produzi-ria a in ao necessria para re-duzir a taxa de juros reais, e con-sequentemente lucros, tal que os trabalhadores obteriam seus sa-lrios reais desejados. impor-tante lembrar que alm da ques-to especi camente distributiva, com impactos diretos sobre a di-nmica in acionria, a Autori-dade Monetria tambm pode levar em conta, na determinao da taxa de juros nominal, consi-deraes quanto poltica de es-tmulo acumulao de capital e, numa economia aberta, a sus-tentabilidade externa.

    Tal abordagem terica pa-ra o estudo de in ao vem sen-do desenvolvida por vrios auto-

    res como Stirati (2001), havendo tambm aplicaes para o caso brasileiro (ver IPEA 2010, cap-tulo 4, por exemplo). Dentro do mesmo arcabouo analtico, Sti-rati (2013) vem explorando a re-lao entre um eventual impac-to do processo de nanceirizao atual sobre a trajetria das taxas de juros e a distribuio de renda nos Estados Unidos.

    Assim, a mudana de para-digma terico e metodolgico empreendida por Piero Sra a, na sua crtica abordagem margina-lista dominante, abre um univer-so muito rico de possibilidades para estudos empricos e conse-quentemente policy making que, ao mesmo tempo, convergen-te e se nutre de outras vertentes heterodoxas, incorporando ele-mentos centrais que dependem das relaes socioeconmicas, das polticas domsticas e da ge-opoltica internacional em cada perodo histrico.

    * professor do Instituto de Economia/UFRJ.