l i n g u Í s t i c a - t e o r i a d o s s i g n o s · por sugestão de roman jakobson e com o...

33
JOÃO BOSCO DA SILVA ([email protected]) L I N G U Í S T I C A - T E O R I A D O S S I G N O S FEIRA DE SANTANA – BA. 2006 UNIVERSIDADE ESTADUAL DE FEIRA DE SANTANA Curso: Licenciatura em Letras com Língua Inglesa Disciplina: Linguística I Professora Doutora: Márcia Tranzillo Barreto

Upload: others

Post on 07-Jan-2020

2 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: L I N G U Í S T I C A - T E O R I A D O S S I G N O S · Por sugestão de Roman Jakobson e com o apoio de Roland Barthes, Emile Benveniste, A. J. Greimas, Claude Lévi-Strauss e

JOÃO BOSCO DA SILVA

([email protected])

L I N G U Í S T I C A - T E O R I A D O S S I G N O S

FEIRA DE SANTANA – BA.

2006

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE FEIRA DE SANTANA Curso: Licenciatura em Letras com Língua Inglesa Disciplina: Linguística I Professora Doutora: Márcia Tranzillo Barreto

Page 2: L I N G U Í S T I C A - T E O R I A D O S S I G N O S · Por sugestão de Roman Jakobson e com o apoio de Roland Barthes, Emile Benveniste, A. J. Greimas, Claude Lévi-Strauss e

JOÃO BOSCO DA SILVA

L I N G U Í S T I C A

T E O R I A D O S S I G N O S

Trabalho referente à disciplina de Linguística I, do 1° semestre do Curso de Licenciatura em Letras com a Língua Inglesa, da Universidade Estadual de Feira de Santana. Orientadora: Professora Márcia Tranzillo Barreto

FEIRA DE SANTANA – BA.

2006

Page 3: L I N G U Í S T I C A - T E O R I A D O S S I G N O S · Por sugestão de Roman Jakobson e com o apoio de Roland Barthes, Emile Benveniste, A. J. Greimas, Claude Lévi-Strauss e

“O signo linguístico é uma entidade

psíquica de duas faces. Não une uma coisa a um nome, mas um conceito e uma imagem acústica”.

Ferdinand de Saussure

Page 4: L I N G U Í S T I C A - T E O R I A D O S S I G N O S · Por sugestão de Roman Jakobson e com o apoio de Roland Barthes, Emile Benveniste, A. J. Greimas, Claude Lévi-Strauss e

SUMÁRIO

Introdução.................................................................................................. 05

1 - Teoria dos Signos..................................................................................... 06

2 - Semiótica e semiologia............................................................................. 09

3 - Teoria dos Signos Linguísticos.................................................................. 10

4 - Semiologia da Significação........................................................................ 14

5 - Semiologia ou semiótoca?......................................................................... 15

6 - Ciência dos Signos................................................................................... 15

7 - Teoria dos Signos de Charles Peirce........................................................ 17

8 - Ciências cognitivas................................................................................... 18

9 - As características do Signo...................................................................... 19

10 - Unidade do Signo Linguístico.................................................................... 22

11 - Valor dos elementos da língua .................................................................. 23

12 - Relações sintagmáticas e paradigmáticas................................................. 25

13 - O conceito de Barhes................................................................................ 29

Conclusão.................................................................................................. 32

Referências................................................................................................ 33

Page 5: L I N G U Í S T I C A - T E O R I A D O S S I G N O S · Por sugestão de Roman Jakobson e com o apoio de Roland Barthes, Emile Benveniste, A. J. Greimas, Claude Lévi-Strauss e

5

INTRODUÇÃO

Neste trabalho vamos escrever sobre A TEORIA DOS SIGNOS. Um signo

consiste de um conceito(significado) e uma imagem sonora, ou seja, o significante, ou

forma fonológica em termos generativos. Em termos simples, um signo linguístico é toda

unidade portadora de sentido.

Veremos que no século XX o conceito de semiologia se impôs a partir da

obra fundamental de Ferdinand de Saussure (1857-1913), o Curso de linguística geral,

de 1916. A base dessa nova semiologia seria a linguística estrutural, o seu programa

seria a extensão do campo da linguística da linguagem verbal para a comunicação não-

verbal, cultural e textual.

Saussure faz críticas sobre a concepção da língua e explica que o signo

linguístico une não uma coisa e um nome, mas um conceito e uma imagem acústica.

Propõe manter a palavra signo para designar o total e substituir conceito e imagem

acústica respectivamente por significado e significante.

Quando dizemos que o signo é arbitrário, isso não deve dar a idéia de que

o significante depende da livre escolha do sujeito falante e sim que ele é imotivado. É

justamente devido à arbitrariedade do signo linguístico que Saussure considera a língua

como o mais característico de todos os sistemas semiológicos, podendo, por isso

mesmo, a linguística tornar-se o padrão geral de toda a semiologia. É pela

arbitrariedade que o signo se distingue do símbolo.

Os significantes acústicos só dispõem da linha do tempo; os seus

elementos apresentam-se uns após outros; formam uma cadeia. Esta característica

aparece mais nítida quando os representamos na escrita: a linha espacial dos sinais

gráficos substitui a sucessão no tempo".

O signo linguístico é simultaneamente mutável e imutável. É imutável pela

simples razão relativa que a comunidade linguística o emprega. O signo não é livre, mas

imposto, pois a massa social não é consultada e o significante escolhido pela língua não

poderia ser substituído por qualquer outro. A língua é um sistema de signos arbitrários

tão pesado, que é quase impossível substituí-lo por outro, pela sua complexidade, que

mesmo a maior parte dos falantes desconhece o seu mecanismo.

Page 6: L I N G U Í S T I C A - T E O R I A D O S S I G N O S · Por sugestão de Roman Jakobson e com o apoio de Roland Barthes, Emile Benveniste, A. J. Greimas, Claude Lévi-Strauss e

6

1 - TEORIA DOS SIGNOS

O que é SIGNO?

No seu Livro Curso de Linguística Geral, Ferdinand de Saussure

descreveu um signo como uma combinação de um conceito com uma imagem sonora.

Uma imagem sonora é algo mental, visto que é possível a uma pessoa falar consigo

própria sem mover os lábios. Mas em geral, as imagens sonoras são usadas para

produzir uma elocução.

Ou seja, um signo consiste de: um conceito, ou seja, o significado (signifié)

uma imagem sonora, ou seja, o significante (signifiant), ou forma

fonológica em termos generativos.

No percurso histórico-filosófico da teoria dos signos, vemos que do século

XII ao século XVI, ou seja, entre os períodos medieval e renascentista, o mundo era das

similitudes. O modelo do signo decorria da tríade estóica, designando como sistema

semiótico a similaridade.

A semelhança desempenhou papel fundamental no Renascimento,

guiando a representação. Há quatro formas essenciais que caracterizam e constituem a

similitude:

a) Convenientia: designa a aproximação das coisas, na qual a extremidade

de uma delimita o início da outra. É uma “semelhança ligada ao espaço sob a forma do

gradualmente. É da ordem da conjunção e do ajustamento. (...) O mundo é a

conveniência das coisas” (Foucault, 1966: p.36).

b) Aemulatio: apresenta-se como um reflexo. O semelhante envolve o

semelhante e por duplicação pode se desenvolver ao infinito. Para Foucault, há na

emulação “algo que se parece com o reflexo e o espelho; mediante ela as coisas

dispersas através do mundo relacionam-se umas com as outras” (Foucault, 1966: p.37).

c) Analogia: esta sobrepõe a conveniência e a emulação. Pode aproximar

todas as coisas do mundo, sendo seu ponto de convergência o homem. O espaço das

analogias é “um espaço de irradiação. Por todos os lados, o homem é envolvido por ele;

mas esse mesmo homem, inversamente, transmite as semelhanças que recebe do

Page 7: L I N G U Í S T I C A - T E O R I A D O S S I G N O S · Por sugestão de Roman Jakobson e com o apoio de Roland Barthes, Emile Benveniste, A. J. Greimas, Claude Lévi-Strauss e

7

mundo. Ele é o grande foco das proporções – o centro em que as relações vêm apoiar-

se e a partir do qual se refletem de novo” (Foucault, 1966: p.42).

d) Simpatia: opera livremente, é dotada de grande mobilidade. Atrai as

coisas umas para as outras através de um movimento externo que acaba por gerar um

movimento interno de deslocamento de qualidades que podem se substituir umas às

outras. A simpatia transforma.

Todo o volume do mundo, todas as aproximações da convenientia, todos

os ecos da emulação, todos os nexos da analogia são sustentados, mantidos e

duplicados por esse espaço da simpatia e da antipatia que não cessa de aproximar as

coisas e de as manter a distância (Foucault, 1966: p.45).

No Renascimento o signo significava, em decorrência da semelhança

revelada, com aquilo a que se referia.

A partir do século XVII, a representação passou a ser o princípio de

arbitrariedade do signo: “as semelhanças passaram a estar sujeitas ao exame racional

de uma prova de comparação. A nova ordem era estabelecida sem referência a uma

entidade exterior” (Nöth, 1996: p.136).

Durante o Racionalismo, o sistema dos signos deixa de ser ternário

(significante + significado + objeto referido) e passa a ser binário (significante +

significado). A definição de signo da escola semiótica de Port Royal exclui a referência

exterior ao considerar que o signo representa a idéia de uma coisa e não a coisa em si:

Em termos simples um signo linguístico é toda unidade portadora de

sentido.

No século XX, o conceito de semiologia se impôs novamente a partir da

obra fundamental de Ferdinand de Saussure (1857-1913), o Curso de linguística geral,

de 1916. Sem referência às tradições semióticas anteriores, o fundador do

estruturalismo linguístico definiu a semiologia como uma nova e futura ciência geral da

comunicação humana, que estudaria a “vida dos signos como parte da vida social”. A

base dessa nova semiologia seria a linguística estrutural, o seu programa seria a

extensão do campo da linguística da linguagem verbal para a comunicação não-verbal,

cultural e textual. Neste espírito estruturalista e trans-linguístico, a semiologia começou

a se estabelecer a partir dos anos 40 e 50 (Buyssens, Hjelmslev) e com uma fama

Page 8: L I N G U Í S T I C A - T E O R I A D O S S I G N O S · Por sugestão de Roman Jakobson e com o apoio de Roland Barthes, Emile Benveniste, A. J. Greimas, Claude Lévi-Strauss e

8

crescente nos anos 1960 na França (Prieto, Barthes, Mounin, Greimas), no resto da

Europa e na América Latina.

Por sugestão de Roman Jakobson e com o apoio de Roland Barthes,

Emile Benveniste, A. J. Greimas, Claude Lévi-Strauss e Thomas A. Sebeok, o comitê

fundador da Associação Internacional de Estudos Semióticos, em 1969, decidiu que, a

partir de então, o conceito semiótica seria empregado como conceito geral para definir

esse campo, anteriormente designado como semiologia ou semiótica. Essa decisão tem

sido seguida internacionalmente com o resultado de que o termo semiótica é hoje o

nome internacionalmente mais comum para designar o campo de pesquisa dos signos,

sistemas e processos sígnicos.

Como assuntos de terminologia, são raramente resolvidos por completo,

em conferências internacionais, não é de se estranhar que sobraram uns resíduos de

opiniões sobre diferenças entre os conceitos de semiótica e de semiologia, às vezes

bem fundadas em sistemas complexos de teorias semióticas, às vezes também em

concepções históricas hoje ultrapassadas, a saber:

1 - Quem fala de semiótica se enquadra na tradição da teoria geral dos

signos, especialmente de Charles Sanders Peirce, ao passo que os que preferem o

conceito de semiologia se vêem na tradição semio-linguística de Ferdinand de

Saussure.

2 - Enquanto a semiótica é a ciência geral dos signos, que inclui o estudo

dos signos da natureza não humana, a semiologia é uma ciência humana que vai além

da linguística, estudando fenômenos trans-linguísticos (textuais) e códigos culturais.

3 - Em Hjelmslev, encontra-se a concepção de que a semiologia é uma

metassemiótica que contém uma teoria dos mais diferentes sistemas de signos. Estes,

por sua vez, são definidos como “semióticas”.

4 - Semiótica e semiologia são sinônimos. Uma certa preferência do termo

semiologia nada mais indica senão a proveniência do autor de um país de fala

românica. Um argumento de purismo linguístico, que se ouviu na França nos anos de

1970, era que o conceito de semiologia é uma melhor tradução do termo inglês

semiotics para as línguas romanas e, por isso, é preferível ao termo semiótica, por um

motivo puramente estilístico.

Page 9: L I N G U Í S T I C A - T E O R I A D O S S I G N O S · Por sugestão de Roman Jakobson e com o apoio de Roland Barthes, Emile Benveniste, A. J. Greimas, Claude Lévi-Strauss e

9

2 - SEMIÓTICA E SEMIOLOGIA

No início do século XXI, todas as distinções entre semiótica e semiologia

esboçadas acima parecem coisas do passado. A semiótica internacional se desenvolveu

sem as restrições propostas por aqueles que acharam uma divisão entre semiótica e

semiologia necessárias. No Brasil, por exemplo, há programas de estudos semióticos,

mas não de estudos semiológicos. Porém, o progresso da pesquisa feito sob o nome de

semiótica não invalida aqueles feitos em décadas anteriores sob o nome de semiologia.

Derivando do grego semion, traduzido, em vernáculo, por “signo”, a

semiologia estuda os signos em sua produção, transmissão, interpretação. Embora se

constitua um fenômeno dos inícios do século passado, esse estudo dos signos traça

uma “pré-história”, na medida em que suas origens remontam muito longe, aos

primórdios da filosofia ocidental, em sua gênese grega. Basta referir o Órganon

aristotélico, a distinção estóica entre significante e significado, a pedagogia e a teologia

de Santo Agostinho (354-430), os tratados dos modistas (gramáticos especulativos,

expoentes de um endereço da filosofia da linguagem: Martino di Dacia, Boécio di Dacia,

Sigieri de Courtrai, Tomás de Erfurt), nos séculos XIII e XIV, a filosofia da linguagem de

Port-Royal (1662) – A. Arnauld, P. Nicole. No albor da idade moderna filosófica, conhece

a teoria dos signos um longo período de gestação: John Locke (1632-1704) dedica a

última parte de seu Ensaio sobre o intelecto humano (1690) à “semiótica”, entendida

como doutrina dos signos e, sobretudo, dos signos mais comuns: as palavras. Seguindo

o exemplo desse filósofo inglês, Jean-Henri Lambert (1728-1777), filósofo franco-alemão

preocupado com a teoria do conhecimento, dedica parte de seu Novo órganon (1764) à

semiótica, entendida como doutrina do conhecimento simbólico, em geral, e da

linguagem, em particular. Estreitamente ligada à gnoseologia, esta semiótica tem seus

seguidores no Oitocentos, como o Padre Bernhard Bolzano (1781-1848), matemático e

filósofo austríaco, com sua Doutrina da ciência (1837), em quatro volumes, e o filósofo

Edmund Husserl (1859-1938), cuja obra A lógica dos signos, de 1890, só veio a lume

em 1970.

Ligando-se à tradição da semiótica filosófica dos dois séculos que o

precederam, Peirce lança as bases da semiótica como disciplina autônoma. O estado

Page 10: L I N G U Í S T I C A - T E O R I A D O S S I G N O S · Por sugestão de Roman Jakobson e com o apoio de Roland Barthes, Emile Benveniste, A. J. Greimas, Claude Lévi-Strauss e

10

fragmentário de seus escritos, publicados postumamente (Escritos recolhidos – 8

volumes, 1931-1958), tornou e torna ainda difícil uma plena recepção de sua obra de

pioneiro. Entre os aspectos mais importantes de sua teoria, vale lembrar: a noção de

“interpretante”, como um signo que interpreta um outro signo, e a tripartição dos signos:

índice, ícone e símbolo (segundo se opere uma relação de contiguidade, de similitude

ou de pura convencionalidade entre o signo e o referente). A Peirce liga-se Charles

Morris (1901-1979), filósofo americano, autor, entre outros livros, de Fundamentos de

uma teoria dos signos (1938) e de Signos, linguagem comportamento (1946).

A originalidade de Morris reside, principalmente, em ter ele tentado uma

síntese entre a instância pragmatista e os aspectos da análise linguística elaborada pelo

neopositivismo. Conforme Morris, podem os signos ser estudados sob três diversos

pontos de vista: o semântico, isto é, em relação com o referente; o sintático, em sua

relação de combinação recíproca; o pragmático, em sua relação com o uso.

Independentemente dessa semiótica de viés lógico-filosófico, Saussure

projeta, no seu Cours de linguistique générale, postumamente editado em 1916 (outra

sincronicidade une Peirce e Saussure: trabalhos publicados post mortem; note-se que

outros pensadores-fundadores jamais escreveram livros: Buda, Sócrates, Jesus Cristo,

Maomé. Será o destino da letra cristalizar ou “matar”? Serão as leituras e escrituras

posteriores traições ao pensamento-fundador?), uma ciência de que faz parte a

linguística: a semiologia, que tem a tarefa de estudar “a vida dos signos no quadro da

vida social”.

3 - TEORIA DOS SIGNOS LINGUISTICOS

Uma das contribuições essenciais de Saussure para a linguística consiste

na fixação da língua como sistema semiológico. A partir da já célebre esquematização

do sistema de comunicação entre um emissor e um receptor, Saussure separa os

elementos psíquicos, dos elementos físicos e fisiológicos. Mas a linguística só trata dos

elementos psíquicos na medida em que deixa de lado o ato individual da fala e se centra

no fato social, isto é, no fato de que "todos os indivíduos reproduzirão – não exata, mas

aproximadamente – os mesmos signos unidos aos mesmos conceitos".

Page 11: L I N G U Í S T I C A - T E O R I A D O S S I G N O S · Por sugestão de Roman Jakobson e com o apoio de Roland Barthes, Emile Benveniste, A. J. Greimas, Claude Lévi-Strauss e

11

Saussure demarca a língua tanto da linguagem, como da fala. Face à

linguagem a língua caracteriza-se por ser uma parte determinada, essencial, da

linguagem. Enquanto a linguagem é multiforme e heteróclita, estendendo-se sobre

vários domínios, físicos, fisiológicos e psíquicos, individuais e sociais, sem uma unidade

própria, a língua enquanto sistema de sinais para exprimir idéias é uma instituição social

entre outras instituições sociais. A língua é um todo em si e compete-lhe a ela servir de

princípio de classificação à linguagem.

Relativamente à fala que é individual e acidental, a língua distingue-se por

ser social e essencial. "A língua não é uma função do sujeito falante, é o produto que o

indivíduo registra passivamente; ela nunca supõe premeditação.. Ela é um objeto bem

definido no conjunto heteróclito dos fatos da linguagem. Podemos localizá-la no

momento deter-minado do circuito em que uma imagem auditiva se vem associar a um

conceito. É a parte social da linguagem, exterior ao indivíduo, e este, por si só, não pode

criá-la nem modificá-la; ela só existe em virtude de um contrato firmado entre os

membros da comunidade. Por outro lado, o indivíduo tem necessidade de uma

aprendizagem para lhe conhecer as regras; a criança só pouco a pouco a

assimila."4. Relativamente à caracterização saussureana da língua escreve Roland

Barthes a paráfrase: "Como instituição social, ela não é um ato, escapa a qualquer

premeditação; é a parte social da linguagem; o indivíduo, por si só, não pode nem criá-la

nem modificá-la; é essencialmente um contrato coletivo, ao qual nos temos de submeter

em bloco, se quisermos comunicar; além disso este produto social é autônomo, à

maneira de um jogo que tem as suas regras, pois só o podemos manejar depois de uma

aprendizagem".

O apuramento que Saussure faz da língua enquanto sistema de signos

com singularidade e unidade próprias é extremamente importante, pois que esse

sistema é exemplar de todos os outros sistemas semiológicos. As características que

lhe são essenciais enquanto sistema significo estendem-se eo ipso a todos os outros

sistemas.

No século XX, o conceito de semiologia se impôs novamente a partir da

obra fundamental de Ferdinand de Saussure (1857-1913), o Curso de linguística geral,

de 1916. Sem referência às tradições semióticas anteriores, o fundador do

Page 12: L I N G U Í S T I C A - T E O R I A D O S S I G N O S · Por sugestão de Roman Jakobson e com o apoio de Roland Barthes, Emile Benveniste, A. J. Greimas, Claude Lévi-Strauss e

12

estruturalismo linguístico definiu a semiologia como uma nova e futura ciência geral da

comunicação humana, que estudaria a “vida dos signos como parte da vida social”. A

base dessa nova semiologia seria a linguística estrutural, o seu programa seria a

extensão do campo da linguística da linguagem verbal para a comunicação não-verbal,

cultural e textual. Neste espírito estruturalista e trans-linguístico, a semiologia começou

a se estabelecer a partir dos anos 40 e 50 (Buyssens, Hjelmslev) e com uma fama

crescente nos anos 1960 na França (Prieto, Barthes, Mounin, Greimas), no resto da

Europa e na América Latina.

A Semiologia (ou Semiótica) distinguem dois tipos de sinais: Os Naturais,

que se manifestam em forma de indício (físico), tais como a fumaça, trovoada, nuvens

negras, rastros etc. ou em forma de sintonia (fisiológico), tais como a pulsação, a

contração, a dor etc; e os Convencionais, que envolve maior complexidade e pressupõe

de uma cultura já estabelecida, da qual ele é resultado e expressão, produto e

instrumento num só tempo.

No início, o modelo linguístico saussureano exigia que a semiologia fosse

um campo de pesquisa restrito aos códigos de signos arbitrários e intencionais, por

exemplo, o código dos sinais de trânsito, dos marinheiros ou dos jogos de carta. Em

extensão desta semiologia, também chamada de semiologia da comunicação, surgiu um

ramo complementar chamado de semiologia da significação para o estudo de signos e

sinais não-intencionais na natureza e na cultura.

Paralelamente ao desenvolvimento da semiologia saussureana, em outros

países a semiótica continuava o seu desenvolvimento de maneiras independentes sob

outras influências, tal como a semiótica de Peirce (Alemanha e Brasil), de Charles

Morris (EUA) ou da informática e da cibernética (Moscou e Tartu). Nessas tradições, o

nome do campo de pesquisa dos processos sígnicos não era semiologia, mas semiótica

de maneira que surgiram dúvidas entre os semioticistas do mundo sobre a questão se a

semiótica e a semiologia eram dois campos de pesquisa diferentes ou um e o mesmo

com duas designações diferentes, independente da tradição de pesquisa.

Muitos conceitos e teorias da linguística sincrônica de Saussure (a noção

de língua como “sistema de diferenças”; a teoria do signo como entidade bifacial,

composta de significante e significado; a dicotomia “paradigma/sintagma”) assumem um

Page 13: L I N G U Í S T I C A - T E O R I A D O S S I G N O S · Por sugestão de Roman Jakobson e com o apoio de Roland Barthes, Emile Benveniste, A. J. Greimas, Claude Lévi-Strauss e

13

relevo semiológico geral. Assim, grande parte do trabalho dos estruturalistas, que, de

um modo ou de outro pagam tributo a Saussure, pode ser lida, também, na relação do

problema da possibilidade de estender os conceitos e as teorias do mestre, a saber:

a) A teoria da conotação do linguista dinamarquês Louis Trolle Hjesmslev

(1899-1965), promotor do círculo linguístico de Copenhagen (parece que a pesquisa da

língua gosta de círculos: Círculo linguístico de Praga, Círculo linguístico de Moscou:

serão círculos viciosos ou círculos virtuosos ou círculos de virtuoses?);

b) a teoria dos fatores da comunicação do linguista russo Roman Jakobson

(1896-1982);

c) a teoria da dupla articulação (sincronia/diacronia, forma/conteúdo) do

linguista francês André Martinet.

Mais tarde, a semiologia, de inspiração saussuriana, dividiu-se em duas

grandes correntes:

A primeira, que tem como chefe de fila E. Buyssens e de que são

representantes de primeiro plano G. Mounin e, sobretudo, o argentino Luis Prieto, auto-

define-se “semiologia da comunicação” e dedica-se às análises daqueles sistemas de

signos fortemente codificados, em que a intenção primária é comunicativa (além das

línguas “naturais”, os sinais de trânsito, os sinais marítimos, os alfabetos Morse e Braille,

vários tipos de enumeração, por exemplo):

Na segunda, a semiologia dos linguistas pós-saussurianos, Troubetzkov,

Buysses, Martinet, Prieto, insistiram fortemente no caráter da língua como sistema de

comunicação. Constituíram sobretudo Buyssens e Prieto para as bases sólidas de uma

semiologia que seria principalmente a descrição do funcionamento de todos os sistemas

de comunicação não-linguística, desde o cartaz até o código da estrada, desde os

números dos ônibus ou dos quartos de hotel até o código marítimo internacional dos

sinais por bandeiras (MOUNIN, 1971, 11-12).

A semiótica é considerada por alguns um dos campos da linguística, por

outros o inverso. Alguns autores até afirmam que a semiótica nunca foi considerada

parte da linguística. De fato, ela se desenvolveu quase exclusivamente graças ao

trabalho de não linguistas, particularmente na França, onde é frequentemente

considerada uma disciplina importante. No mundo de língua inglesa, contudo, não

Page 14: L I N G U Í S T I C A - T E O R I A D O S S I G N O S · Por sugestão de Roman Jakobson e com o apoio de Roland Barthes, Emile Benveniste, A. J. Greimas, Claude Lévi-Strauss e

14

desfruta de praticamente nenhum reconhecimento institucional. Embora a língua seja

considerada o caso paradigmático de sistema de signos, grande parte da pesquisa

semiótica se concentrou na análise de domínios tão variados como os mitos, a

fotografia, o cinema, a publicidade e a mídia.

A influência do conceito linguístico central de estruturalismo, que é mais

uma contribuição de Saussure, levou os semioticistas a tentar interpretações

estruturalistas num amplo leque de fenômenos. Objetos de estudo, como um filme ou

uma estrutura de mitos, são encarados como textos que transmitem significados, sendo

esses significados tomados como derivações da interação ordenada de elementos

portadores de sentido, os signos, encaixados num sistema estruturado, de maneira

parcialmente análoga aos elementos portadores de significado numa língua.

Quando deliberadamente enfatiza a natureza social dos sistemas de

signos, a semiótica tende a ser altamente crítica e abstrata. Nos últimos anos, porém, os

semioticistas se voltam cada vez mais para o estudo da cultura popular, sendo hoje em

dia comuns o tratamento semiótico das novelas de televisão e da música popular.

4 - SEMIOLOGIA DA SIGNIFICAÇÃO

A segunda corrente, ou “semiologia da significação”, cujo representante

mais ilustre é Roland Barthes (1915-1980), toma, ao contrário, em exame, sob um ponto

de vista sociológico, todos os fenômenos significativos: os sistemas de objetos de uso

(por exemplo, a moda, o automóvel etc.), as comunicações de massa, as artes etc.

Umberto Eco desenvolveu o projeto de um rigor filosófico da semiótica, no quadro de um

projeto enciclopédico de filosofia das formas simbólicas (Apocalittici e integrati, 1964; Le

forme del contenuto, 1971; Trattato di semiotica generale, 1975; Semiotica e filosofia

del linguagio, 1984...).

A partir da década de 60, a semiologia, com R. Barthes, aplica-se

particularmente à literatura, ocupando-se das grandes unidades significantes do

discurso. Buscando fundar suas pesquisas em uma metodologia rigorosa e científica,

que pode inspirar-se, entre outras, na linguística (Saussure), em estudos folclóricos (W.

Page 15: L I N G U Í S T I C A - T E O R I A D O S S I G N O S · Por sugestão de Roman Jakobson e com o apoio de Roland Barthes, Emile Benveniste, A. J. Greimas, Claude Lévi-Strauss e

15

Propp) e na psicanálise (Freud), ou semiólogos abriram novas perspectivas,

susceptíveis de trazer proveito a abordagens interdisciplinares.

5 - SEMIOLOGIA OU SEMIÓTICA?

A escolha não é apenas terminológica, mas teórica, Gênios antitéticos,

Saussure e Peirce conceberam, ignorando-se um ao outro, e, praticamente, ao mesmo

tempo, a possibilidade de uma ciência dos signos, que procuraram instaurar. Se,

apoiando-se em Locke, adotou Peirce o termo “semiótica “ (semiotics) para designar a

investigação do universo dos signos, Saussure, por seu turno, através da “semiologia

geral” (sémiologie générale), cujo objeto são os códigos e, sem exclusividade, todos os

sistemas de signos -, procurou construir a semiologia da língua como sistema. Para

Peirce, o homem inteiro é um signo, seu pensamento é um signo, sua emoção é um

signo.

O signo como produtor complexo da semiose, escreveu Umberto Eco: A

semiose é o fenômeno, típico dos seres humanos (e, segundo alguns, também dos

anjos e dos animais), pelo qual – como diz Peirce – entram em jogo um signo, seu

objeto (ou conteúdo) e sua interpretação.

A semiótica é a reflexão teórica sobre o que seja a semiose. Em

consequência o semiótico é aquele que nunca sabe o que seja semiose, mas está

disposto a apostar a própria vida no fato de que ela exista (ECO, 1989, p. 11, nota).

6 - CIÊNCIA DOS SIGNOS

No labirinto, atraente e ameaçador, da ciência dos signos – uma aventura

semiológica (Barthes) -, só temos a trêmula certeza, enunciada , no final esteticista de

mais um século, do alto de sua epistemologia poética, por Mallarmé (1842-1842) –

aquele poeta mesmo da poesia como “jogo de dados”: “le monde est fait pour aboutir à

un beau livre” “O mundo foi feito para acabar num belo livro”. Não será esse “belo livro”

uma infinita tessitura de signos, que a semiologia, ou semiótica, lê e recria?

Page 16: L I N G U Í S T I C A - T E O R I A D O S S I G N O S · Por sugestão de Roman Jakobson e com o apoio de Roland Barthes, Emile Benveniste, A. J. Greimas, Claude Lévi-Strauss e

16

1) Signos verbais, naturais, assim como convencionais são só

representações incompletas da verdadeira natureza das coisas;

2) O estudo das palavras não revela nada sobre a verdadeira natureza das

coisas porque a esfera das idéias é independente das representações na forma de

palavras;

3) Cognições concebidas por meio de signos são apreensões indiretas e,

por este motivo, inferiores às cognições diretas (Nöth, 1995b: p.30).

Para Platão, a verdade transmitida pelas palavras está sempre aquém do

conhecimento (sem intermediários) da coisa em si. Questões como a da relação entre

os nomes, seus conceitos e as coisas, foram recorrentes e continuaremos a investigá-

las.

O signo compreende duas idéias – uma é a idéia da coisa que representa,

e outra, a idéia da coisa representada – e a natureza do signo consiste em excitar a

segunda pela primeira (Nöth, 1995b: p.43).

A revolução de Port Royal está em considerar o significante (a coisa que

representa) como uma idéia de uma dada coisa como imaterial.

No século XVII, a semelhança deixa de ser a forma do saber; o

pensamento clássico exclui a semelhança como experiência fundamental. As palavras e

as coisas que, no século XVI, remetiam-se umas às outras, não mais se assemelhavam

no século XVII: “os signos da linguagem já não têm outro valor para além da tênue

ficção daquilo que representam. A escrita e as coisas já não se assemelham” (Foucault,

1966: p.72). A linguagem passa a organizar as coisas para o pensamento. O mundo já

não é mais o da semelhança, mas o da representação. Com a divisão entre o signo e

seu objeto, as palavras não se ligam mais diretamente às coisas: a alternativa é a

representação como elemento de ligação.

Descartes, no início da filosofia moderna, critica a semelhança, mas não

exclui do pensamento racional o ato comparativo, apenas limita-o à forma da medida e à

da ordem. É por meio da comparação pela medida e pela ordem que, no século XVII, o

pensamento se organiza. A comparação pela medida exige a aplicação de uma unidade

comum, de um terceiro elemento para comparar outros dois. A medida estabelece

relações de igualdade e de desigualdade. A comparação pela ordem não implica na

Page 17: L I N G U Í S T I C A - T E O R I A D O S S I G N O S · Por sugestão de Roman Jakobson e com o apoio de Roland Barthes, Emile Benveniste, A. J. Greimas, Claude Lévi-Strauss e

17

aplicação de outro elemento, é um ato simples que dispõe as diferenças estabelecendo

séries organizadas.

A busca de Descartes e de todos os filósofos do Racionalismo era a de

certezas e verdades. A razão era o guia dessa busca. A comparação, em detrimento da

similitude, contribuía para o objetivo maior de alcançar certezas:

A comparação pode, portanto, atingir uma certeza perfeita: nunca fechado,

sempre aberto a novas eventualidades, o velho sistema de similitudes podia,

efetivamente, por meio de confirmações sucessivas, tornar-se cada vez mais provável;

nunca era certo (Foucault, 1966: p.82).

Descartes, em seu Discurso do Método, apresenta um método de

investigação baseado na razão que objetiva livrar-se do saber dogmático e do senso

comum. Sua metodologia prevê a elaboração de um inventário das hipóteses (claras e

distintas); a análise dessas hipóteses por meio da sua decomposição, buscando a

simplificação; a síntese conclusiva das variáveis e, por fim, uma verificação ou retro-

análise da investigação.

Uma nova mudança ocorre no século XIX, segundo Foucault, quando a

visão classificatória do mundo, fundamentada na razão, dá lugar às regularidades

históricas, à pesquisa da evolução e da historicidade das coisas.

Esse novo paradigma rompe com a representação clássica, pois “os

pontos de referência dos signos não se encontram mais no próprio sistema dos signos,

mas no exterior da representação” (Santaella e Nöth, 1999: p.24).

O desenvolvimento das mais diversificadas áreas do conhecimento,

durante o século XIX, propiciou que as coisas passassem a não obedecer às leis da

gramática e sim àquelas inerentes à evolução histórica. Foucault conclui que “a

linguagem não está mais ligada ao conhecimento das coisas, mas à liberdade dos

homens” (Nöth, 1996: p.141). Esta liberdade seria a origem das ciências humanas.

7 - TEORIA DOS SÍGNOS DE CHARLES PEIRCE

Na passagem do século XIX para o XX, encontra-se a maior figura da

teoria dos signos, que é Charles Sanders Peirce. Ele foi leitor assíduo dos semioticistas

Page 18: L I N G U Í S T I C A - T E O R I A D O S S I G N O S · Por sugestão de Roman Jakobson e com o apoio de Roland Barthes, Emile Benveniste, A. J. Greimas, Claude Lévi-Strauss e

18

escolásticos que, por sua vez, fundamentaram-se na filosofia estóica. A semiótica

peirceana é, portanto, eminentemente triádica. Ele considera que o signo é aquilo que,

sob determinado aspecto, representa alguma coisa para alguém, criando em sua mente

um signo equivalente. Nessa operação é gerado o interpretante. Aquilo que o signo

representa é denominado seu objeto. Representação caracteriza-se pela relação entre o

signo e o objeto. Representar é estar no lugar de outro, de tal forma que, para uma

mente interpretante, o signo é tratado como sendo o próprio objeto, em determinados

aspectos.

Para Peirce, o termo representação envolve necessariamente uma relação

triádica, que é um esquema do processo contínuo de geração dos signos. O processo

representativo se define pelas relações imbricadas que se estabelecem entre signo-

objeto-interpretante, nas quais os termos atuam determinando ou sendo determinados

pelos outros elementos da tríade.

A semiótica peirceana é extensa e tem como principal objeto de estudo

não exatamente o signo, mas a semiose (processo de ação do signo). É uma “teoria

sígnica do conhecimento” (Santaella, 1995: p.19); afinal, os pensamentos se processam

por meio de signos, continuamente.

8 - CIÊNCIAS COGNITIVAS

O século XX marca a relação entre a semiótica e o paradigma das ciências

cognitivas. As ciências cognitivas ou ciências da mente têm como origem uma tríade da

mente e na filosofia peirceana, uma tríade apresenta-se em correspondência com as

categorias fenomenológicas: primeiridade (sentimento), segundidade (volição) e

terceiridade (conhecimento).

O paradigma cognitivo não é homogêneo, pelo contrário, é entrecortado

por incompatibilidades das diversas vertentes do estudo da mente. O embate entre

cognitivismo e conexionismo revela, de maneira díspare, questões concernentes à

representação mental.

O conexionismo considera que o conhecimento é representado

mentalmente enquanto ligações fisiológicas no interior das redes neurais. O cognitivismo

Page 19: L I N G U Í S T I C A - T E O R I A D O S S I G N O S · Por sugestão de Roman Jakobson e com o apoio de Roland Barthes, Emile Benveniste, A. J. Greimas, Claude Lévi-Strauss e

19

opera no nível semiótico da cognição, considerando que os processos de transmissão

neurais podem ser interpretados num nível biossemiótico. Mesmo essas duas posições

diametralmente opostas podem, segundo Santaella, ser consideradas complementares

na medida em que “a incompatibilidade do conexionismo assemiótico com o

cognitivismo semiótico leva, contudo, a uma complementaridade, se ambas as

abordagens são entendidas como se referindo a diferentes níveis de descrição de

processos mentais” (Santaella e Nöth, 1999: p.27).

O conceito de representação, definido por Palmer, para a ciência cognitiva

é o seguinte:

Uma representação é, primeiro e antes de mais nada, algo que está no

lugar de outra coisa. Em outras palavras, é algum tipo de modelo da coisa (ou coisas)

que ela representa. Esta descrição implica a existência de dois mundos relacionados

mas funcionalmente separados: o mundo representado e o mundo representante. A

função do mundo representante é refletir alguns aspectos do mundo representado de

alguma maneira (Nöth, 1995b: p.136-7).

Fica claro que o modelo semiótico dessa concepção de representação é

diádico, baseado na oposição mente/mundo. Em contraponto, a ciência cognitiva

também abriga o sistema triádico na teoria dos modelos mentais de Johnson-Laird:

9 - AS CARACTERÍSTICAS DO SIGNO:

i) Uma entidade de duas faces. Contra a visão simplista e vulgar da língua,

que considera esta como nomenclatura, faz Saussure três críticas: essa concepção da

língua "supõe que as idéias são anteriores às palavras", "não nos diz se o nome é de

natureza vocal ou psíquica", "deixa supor que o laço que une um nome a uma coisa é

uma operação simples". A concepção de Saussure é radicalmente diferente: "O signo

linguístico une não uma coisa e um nome, mas um conceito e uma imagem acústica.

Esta última não é o som material, puramente físico, mas a marca psíquica desse som, a

sua representação fornecida pelo testemunho dos sentidos, é sensorial e se, por vezes,

lhe chamamos 'material' é neste sentido e por oposição ao outro termo da associação, o

Page 20: L I N G U Í S T I C A - T E O R I A D O S S I G N O S · Por sugestão de Roman Jakobson e com o apoio de Roland Barthes, Emile Benveniste, A. J. Greimas, Claude Lévi-Strauss e

20

conceito, geralmente mais abstrato. (...) O signo linguístico é, pois, uma entidade

psíquica de duas faces.

Em ordem a demarcar o signo enquanto totalidade desta entidade de duas

faces e a impedir a sua identificação com a imagem acústica, Saussure procede a uma

precisão terminológica: "Propomos manter a palavra signo para designar o total e

substituir conceito e imagem acústica respectivamente por significado e significante;

estes dois termos têm a vantagem de marcar a oposição que os separa entre si e que

os distingue do total de que fazem parte".

ii) A arbitrariedade do signo. A associação entre significante e significado é

arbitrária. O vínculo que une as duas faces do signo é de natureza convencional, ele

assenta num hábito coletivo. "Assim, a idéia de "pé" não está ligada por nenhuma

relação à cadeia de sons [p] + "e" que lhe serve de significante; podia ser tão bem

representada por qualquer outra: provam-no as diferenças entre as línguas e a própria

existência de línguas diferentes".

Podemos, portanto, dizer que os sinais puramente arbitrários realizam

melhor do que os outros o ideal do processo semiológico; é por isso que a língua, o

mais complexo e o mais difundido dos sistemas de expressão, é também o mais

característico de todos; neste sentido, a linguística pode tornar-se o padrão geral de

toda a semiologia, ainda que a língua seja apenas um sistema particular."

É pela arbitrariedade que o signo se distingue do símbolo: "O símbolo

nunca é completamente arbitrário; ele não é vazio; há sempre um rudimento de ligação

natural entre o significante e o significado".

Mas que quer dizer arbitrário? Quando dizemos que o signo é arbitrário

isso "não deve dar a idéia de que o significante depende da livre escolha do sujeito

falante; queremos dizer que ele é imotivado, isto é arbitrário em relação ao significado,

com o qual não tem, na realidade, qualquer ligação natural".

É justamente devido à arbitrariedade do signo linguístico que Saussure

considera a língua como o mais característico de todos os sistemas semiológicos,

podendo, por isso mesmo, a linguística tornar-se o padrão geral de toda a semiologia.

iii) A linearidade do significante. "O significante, porque é de natureza

auditiva, desenvolve-se no tempo e ao tempo vai buscar as suas características: a)

Page 21: L I N G U Í S T I C A - T E O R I A D O S S I G N O S · Por sugestão de Roman Jakobson e com o apoio de Roland Barthes, Emile Benveniste, A. J. Greimas, Claude Lévi-Strauss e

21

representa uma extensão, e b) essa extensão é mensurável numa só dimensão; é uma

linha". Esta linearidade caracteriza o signo linguístico na medida em que, enquanto

acústico, o distingue dos signos visuais, passíveis de ser apreendidos simultaneamente.

"Por oposição aos significantes visuais (sinais marítimos, etc.), que podem oferecer

complicações simultâneas em várias dimensões, os significantes acústicos só dispõem

da linha do tempo; os seus elementos apresentam-se uns após outros; formam uma

cadeia. Esta característica aparece mais nítida quando os representamos na escrita: a

linha espacial dos sinais gráficos substitui a sucessão no tempo."

A importância desta característica do signo reside no fato de sobre ela

assentar a dimensão sintagmática da língua.

iv) Mutabilidade e imutabilidade do signo. Paradoxalmente o signo

linguístico é simultaneamente mutável e imutável. Parece ser uma contradição, mas a

contradição desaparece atendendo às diferentes perspectivas em que o signo é mutável

e imutável. O signo é imutável pela simples razão de que "relativamente à comunidade

linguística que o emprega, o signo não é livre mas imposto. A massa social não é

consultada, e o significante escolhido pela língua não poderia ser substituído por

qualquer outro. (...) Não só um indivíduo seria incapaz, se o quisesse, de modificar no

quer que fosse a escolha que foi feita, mas a própria comunidade não pode exercer a

sua soberania sobre uma só palavra: ela está ligada à língua tal como é".

A língua aparece pois como um corpo imutável, independente não só do

sujeito como da própria comunidade linguística. "Em qualquer época, e por muito que

recuemos, a língua aparece como uma herança dura geração precedente. O ato pelo

qual, num dado momento, os nomes foram distribuídos pelas coisas, e que estabeleceu

o contrato entre os conceitos e as imagens acústicas - esse ato, podemos imaginá-lo,

mas nunca foi verificado. A idéia de que tudo se tivesse passado dessa forma é-nos

sugerida pela nossa consciência muito viva da arbitrariedade do signo".

Saussure apresenta razões para a imutabilidade dos signos linguísticos. É

que para que uma coisa seja posta em questão é preciso que assente numa norma

racional. Podemos, por exemplo, discutir se o casamento monogâmico é mais racional

do que o poligâmico e apresentar argumentos a favor de um ou do outro. Podíamos

também atacar um sistema de símbolos, porque o símbolo tem uma relação racional

Page 22: L I N G U Í S T I C A - T E O R I A D O S S I G N O S · Por sugestão de Roman Jakobson e com o apoio de Roland Barthes, Emile Benveniste, A. J. Greimas, Claude Lévi-Strauss e

22

com a realidade significada; mas na língua, sistema de signos arbitrários, não temos

esta base e sem ela não há fundamento sólido para discussão. A enorme quantidade de

signos necessários para constituir qualquer língua torna o sistema tão pesado que é

quase impossível substituí-lo por outro, pela complexidade do sistema. A língua é um

sistema tão complexo que mesmo a maior parte dos falantes desconhecem o seu

mecanismo e ainda há a resistência da inércia coletiva a todas as inovações linguísticas.

Saussure considera mesmo que de entre todas as instituições sociais a

língua é a mais resistente à mudança na medida em que é a mais utilizada pelo maior

número de indivíduos de uma comunidade. "A língua é, de todas as instituições sociais,

a que oferece menor margem às iniciativas. Ela incorpora a vida da comunidade, e esta,

naturalmente inerte, aparece antes de mais como um fator de conservação".

Numa outra perspectiva, porém, o signo linguístico aparece como mutável.

Como instituição social também a língua está sujeita à ação do tempo. "O tempo que

assegura a continuidade da língua, tem um outro efeito, à primeira vista contraditório em

relação ao primeiro: o de alterar mais ou menos rapidamente os signos linguísticos, e,

num certo sentido, podemos falar ao mesmo tempo de imutabilidade e da mutabilidade

do signo." A mutação provocada pelo tempo sobre a língua consiste fundamentalmente

num desvio na relação entre significante e significado.

10 - UNIDADE DO SIGNO LINGUÍSTICO

A questão da unidade do signo linguístico é diferente da questão sobre a

sua identidade. Se à unidade se opõe a pluralidade, à identidade opõe-se a alteridade.

A questão da unidade é atinente ao problema de demarcar os elementos básicos da

língua. A questão da identidade interroga-se sobre a mesmidade do signo nas suas

diferentes aplicações.

As entidades da língua são concretas. "Os signos de que a língua se

compõe não são abstrações, mas objetos reais". Mas em que consiste a natureza

concreta do signo?

Em primeiro lugar, na sua estrutura dupla de significante e significado. "A

entidade linguística só existe pela associação do significante e do significado; quando só

Page 23: L I N G U Í S T I C A - T E O R I A D O S S I G N O S · Por sugestão de Roman Jakobson e com o apoio de Roland Barthes, Emile Benveniste, A. J. Greimas, Claude Lévi-Strauss e

23

retemos um destes elementos, ela desaparece; em vez de um objeto concreto, temos

diante de nós uma pura abstração (...) Uma série de sons é linguística se é o suporte de

uma idéia; tomada em si mesma só pode ser matéria para um estudo fisiológico". Isto é,

os objetos da língua, as entidades linguísticas, apesar de psíquicos são algo bem

concreto, definido, "palpável". A determinado significante corresponde um conceito e

vice-versa. A concreção reside justamente na associação concreta entre este

significante e aquele significado, e não entre possíveis outros.

Em segundo lugar, a concreção da língua reside na sua delimitação, isto é,

é concreta porque tem contornos bem definidos. Ela é uma unidade. "A entidade

linguística só fica completamente determinada quando está delimitada, livre de tudo o

que a rodeia na cadeia fônica. São estas entidades delimitadas, ou unidades, que se

opõem entre si no mecanismo da língua". Mas esta delimitação é feita justamente pela

associação de significante e significado. Considerada em si mesma, a linha fônica é

uma linha contínua em que o ouvido não distingue quaisquer unidades. Estas só surgem

com a associação de determinadas porções de sonoridade dessas linhas a

determinados conceitos.

Para apurar as entidades concretas da língua há que saber, portanto,

delimitá-las no todo da língua. Assim, chegamos à importantíssima noção de corte ou

segmentação. O método de corte consiste em estabelecer duas cadeias paralelas, uma

de significantes e outra de significados, e fazer corresponder a cada elo da primeira um

elo da segunda. Este corte não é um dado da experiência, nem é um dado perceptível;

o corte é comandado pela língua. Uma pessoa por mais que ouça um discurso em

chinês, se não souber chinês, não conseguirá distinguir, cortar ou delimitar, as

respectivas unidades.

11- VALOR DOS ELEMENTOS DA LÍNGUA

A questão da identidade das entidades da língua diz respeito à mesmidade

do signo nas suas diferentes aplicações. O que se questiona, pois, é a identidade "em

virtude da qual declaramos que duas frases como 'não sei nada' e 'nada nos falta'

contêm o mesmo elemento". É que dois sons diferentes e até com significado algo

Page 24: L I N G U Í S T I C A - T E O R I A D O S S I G N O S · Por sugestão de Roman Jakobson e com o apoio de Roland Barthes, Emile Benveniste, A. J. Greimas, Claude Lévi-Strauss e

24

diferente podem ser identificados sincronicamente. Saussure dá exemplos, onde, apesar

de variação aos dois níveis, fônico e semântico, a identidade se mantém, isto é,

afirmamos que se trata da mesma unidade linguística. "Quando, numa conferência,

ouvimos repetir várias a palavra Senhores!, temos a certeza de que se trata sempre da

mesma expressão e, todavia, as variações de elocução e a entoação apresentam-na,

nas diversas passagens, com diferenças fônicas muito apreciáveis..., além disso, esta

certeza da identidade persiste, se bem que no plano semântico não haja a identidade

absoluta de um Senhores! a outro, quando uma palavra pode exprimir idéias bastante

diferentes sem que a sua identidade fique seriamente comprometida (cf. “adoptar uma

moda” e “adoptar uma criança”, “a flor da cerejeira” e “a flor da sociedade”. Esta

observação leva-nos a perguntar: se a identidade da unidade linguística não reside na

linha fônica, nem na linha semântica, então onde reside? No seu valor.

A questão do valor só é inteligível à luz das dois elementos da língua: sons

e conceitos. Uns sem os outros não têm forma. Sem os sons, o pensamento é disforme,

"amorfo", "indistinto". É uma "nebulosa em que nada é necessariamente delimitado".

Trata-se de um "reino flutuante". Por seu lado, "a substância fônica não é mais fixa nem

mais rígida; não é um molde a que o pensamento se deva adaptar; mas uma matéria

plástica que, por sua vez, se divide em partes distintas para fornecer os significantes de

que o pensamento necessita".

Olhados abstratamente em si, pensamento e matéria fônica, são amorfos,

nebulosas, matérias plásticas, que se podem moldar posteriormente. Só na sua união

ganham contornos definidos. A língua pode-se, assim representar "como uma série de

subdivisões contíguas desenhadas ao mesmo tempo sobre o plano indefinido das ideias

confusas e sobre o igualmente indeterminado plano dos sons".

Não se pode considerar a língua como um simples veículo do pensamento,

algo exterior ao pensamento que nada tem a ver com ele. "O papel característico da

língua nas suas relações com o pensamento não é criar um meio fônico material para a

expressão das idéias mas servir de intermediário entre o pensamento e o som, de tal

forma que a sua união conduz necessariamente a limitações recíprocas de unidades. O

pensamento, caótico por natureza, é forçado a organizar-se, por decomposição. Não há

nem materialização dos das idéias nem espiritualização dos sons, mas trata-se de algo

Page 25: L I N G U Í S T I C A - T E O R I A D O S S I G N O S · Por sugestão de Roman Jakobson e com o apoio de Roland Barthes, Emile Benveniste, A. J. Greimas, Claude Lévi-Strauss e

25

misterioso: o 'pensamento-som' implica divisões, e é a partir das duas massas amorfas

que a língua elabora as usas unidades".

A língua não é exterior ao pensamento ordenado. O pensamento ordena-

se à medida em que se exprime linguisticamente. É como se dois líquidos, sem

determinada forma, se solidificassem ao contacto um com o outro e, assim, ganhassem

formas bem determinadas.

A língua, diz ainda, Saussure é o domínio das articulações. Nós podemos

dizer, é o domínio das solidificações mínimas. "Cada termo linguístico é um pequeno

membro, um articulus em que uma idéia se fixa num som e em que um som se torna o

signo de uma idéia".

Esta associação determinadora de pensamento e sons é de ordem

funcional, isto é, as entidades concretas, as unidades por ela criadas, são formas, não

substâncias: "A linguística move-se num terreno limítrofe em que se combinam os

elementos dos dois níveis; esta combinação produz uma forma, não uma substância".

A língua não pode ser vista como um aglomerado de elementos, mas tem

de ser vista como um todo, como uma estrutura. "Além disso, a idéia de valor, assim

determinada, mostra-nos que é uma grande ilusão considerar um termo apenas como a

união de um certo som com um certo conceito. Defini-lo assim seria isolá-lo do sistema

de que faz parte; seria acreditar que podemos começar pelos termos e construir o

sistema a partir da sua soma; pelo contrário, é do todo solidário que temos de partir para

obtermos, por análise, os elementos que ele encerra". É nisto que reside o

estruturalismo de Saussure: não é possível entender nem compreender um signo sem

entrar no jogo global da língua, isto é, sem saber o seu lugar e a sua função no todo

linguístico.

12- RELAÇÕES SINTAGMÁTICAS E PARADIGMÁTICAS

As identidades linguísticas residem no seu valor, mas este, como se viu,

estabelece-se num sistema de relações e oposições. Ou seja, "a língua é um sistema

completamente ausente na oposição das suas unidades concretas". Quer isto dizer que

Page 26: L I N G U Í S T I C A - T E O R I A D O S S I G N O S · Por sugestão de Roman Jakobson e com o apoio de Roland Barthes, Emile Benveniste, A. J. Greimas, Claude Lévi-Strauss e

26

não nos interessam os signos em si, substancialmente, mas sim formalmente,

funcionalmente.

O que interessa à linguística são as relações entre os signos e que

verdadeiramente constituem os signos enquanto signos. Quais são essas relações?

Como é que funcionam? Na língua, Saussure distingue dois tipos de relações, que

também podem ser considerados como os dois eixos da língua: as relações

sintagmáticas e as relações paradigmáticas ou associativas. "As relações e as

diferenças entre termos linguísticos desenrolam-se em duas esferas distintas, cada uma

das quais gera uma certa ordem de valores; a oposição entre estas duas ordens ajuda a

compreender a natureza de cada uma. Correspondem a duas formas da nossa atividade

mental, igualmente indispensável à vida da língua".

Para compreender um destes tipos de relação é preciso compreender o

outro; é que também eles se definem por oposição, como tudo na língua. Um é de tipo

horizontal e outro de tipo vertical. Primeiro, temos o plano sintagmático assente na

linearidade do signo linguístico. Quando caracterizamos o signo linguístico vimos que,

além de arbitrário e mutável/imutável, era também linear. Esta linearidade caracteriza o

signo linguístico na medida em que, enquanto acústico, o distingue dos signos visuais,

passíveis de ser apreendidos simultaneamente. Os signos linguísticos sucedem-se uns

aos outros numa mesma linha, encontram-se numa cadeia, estabelecem relações ao

nível dessa linearidade: "No discurso, as palavras contraem entre si, em virtude do seu

encadeamento, relações que assentam no caráter linear da língua, que exclui a

possibilidade de pronunciar dois elementos ao mesmo tempo. Eles dispõem-se, uns

após outros, na cadeia fônica. Estas combinações que têm como suporte a extensão

podem ser chamados sintagmas".

Um sintagma é, portanto, uma combinação entre dois ou mais signos de

uma mesma cadeia linear. "O sintagma compõe-se sempre de duas ou mais unidades

consecutivas (por exemplo: re-ler, contra todos, a vida humana, Deus é bom, amanhã

saímos, etc.). Num sintagma, o valor de um termo surge da oposição entre ele e o que o

precede, ou que se lhe segue, ou ambos".

O termo grego sintagma significa: "contingente de tropas, tropa;

composição, obra, doutrina; constituição política; contribuição, taxa. Em português,

Page 27: L I N G U Í S T I C A - T E O R I A D O S S I G N O S · Por sugestão de Roman Jakobson e com o apoio de Roland Barthes, Emile Benveniste, A. J. Greimas, Claude Lévi-Strauss e

27

significa esse termo: "Qualquer tratado cujo assunto é metodicamente dividido em

classes, números, etc.; Mil. Subdivisão da falange grega, que tinha também o nome de

xenágia, composta de dezesseis fileiras e outras tantas filas.". O termo designa pois

organização. A especificidade que Saussure lhe empresta é a de se desenvolver ao

mesmo nível linear.

Antes de aprofundar mais a definição de sintagma, convém desde já,

diferenciá-la da de paradigma: "Por outro lado, fora do discurso, as palavras que têm

qualquer coisa em comum associam-se na memória, e assim se formam grupos, no seio

dos quais se exercem relações muito diversas. Por exemplo, a palavra ausente fará

surgir diante do espírito uma série de outras palavras (ausência, ausentar, ou então

presente, clemente, ou ainda distante, afastado, etc.), de uma forma ou doutra, todos

têm qualquer coisa de comum entre si". Este tipo de relações entre os signos é

completamente diferente do sintagma. "O seu suporte não é a extensão; a sua sede

está no cérebro, fazem parte do tesouro interior que a língua representa para cada

indivíduo. Chamar-lhe-emos relações associativas".

A diferença entre os dois tipos de relações é que um é feito in praesentia,

o sintagmático, e o outro in absentia, o associativo ou paradigmático: "A relação

sintagmática é in praesentia; refere-se a dois ou mais termos igualmente presentes

numa série efetiva. Pelo contrário, a relação associativa une termos in absentia numa

série mnemônica virtual".

Saussure dá o exemplo célebre da coluna dórica para ilustrar a diferença

entre relações sintagmáticas e paradigmáticas: "Segundo este duplo ponto de vista,

uma unidade linguística é comparável a uma determinada parte de um edifício, a uma

coluna, por exemplo; esta encontra-se, por um lado, numa certa relação com a

arquitrave que suporta: este ajustamento de duas unidades igualmente presentes no

espaço lembra a relação sintagmática; por outro lado, se essa coluna é ordem dórica,

ela evoca a comparação mental com as outras ordens (jónica, coríntia etc.), que são

elementos não presentes no espaço: a relação associativa".

No artigo "Sintagma e paradigma", no Dicionário das Ciências da

Linguagem, Oswald Ducrot formaliza a noção de sintagma e liga-a à de relação

sintagmática: "Não há nenhum enunciado, numa língua, que não se apresente como a

Page 28: L I N G U Í S T I C A - T E O R I A D O S S I G N O S · Por sugestão de Roman Jakobson e com o apoio de Roland Barthes, Emile Benveniste, A. J. Greimas, Claude Lévi-Strauss e

28

associação de várias unidades (sucessivas ou simultâneas), unidades que são

susceptíveis de aparecer também noutros enunciados.

Saussure insistiu na dependência do sintagma com a relação sintagmática.

Para ele, apenas se pode descrever o verbo "desfazer" como um sintagma

compreendendo os dois elementos "des" e "fazer" porque existe em português um "tipo

sintagmático" latente, manifestado também pelos verbos "dês-colar", "des-vendar", "des-

baptizar", etc. Senão, não haveria nenhuma razão para analisar "desfazer" em duas

unidades.". Os sintagmas não dizem respeito apenas à combinação de unidades

mínimas, mas também à de unidades complexas de qualquer dimensão e de qualquer

espécie. Por outro lado, há que ter em conta dois tipos de relação sintagmática: o das

partes entre si, e o das partes com o todo: "Não basta considerar a relação que une as

diversas partes de um sintagma entre si (por exemplo, contra e todos em contra todos,

contra e mestre em contramestre); é preciso tomar em conta a que liga o todo às suas

partes (por exemplo, contra todos opõe-se por um lado a contra, por outro a todos;

contramestre relaciona-se com contra e com mestre)".

Atendendo aos sintagmas frásicos, Saussure interroga-se se o sintagma é

da ordem da língua ou da fala. Sendo o sintagma uma combinação e pertencendo as

combinações das unidades linguísticas à fala, parece não ser esta questão do foro da

linguística (que estuda apenas a língua), mas da fala. "o sintagma pertencerá à fala?

Julgamos que não. O que é próprio da fala é a liberdade das combinações; temos, por

isso, que investigar se todos os sintagmas são igualmente livres".

Existem combinações solidificadas pela língua, que não são do âmbito da

fala. Um estrangeiro que aprende a língua tem de as aprender na sua composição já

determinada: "um grande número de expressões pertencem à língua; são locuções

estereotipadas que não podem ser alteradas, embora possamos distinguir, pela

reflexão, as suas partes significativas (pois é, vá lá! etc.) O mesmo se passa, embora

em menor grau, com expressões como perder a cabeça, dar a mão a alguém, pôr-se no

olho da rua, ou ainda estar mal de..., à custa de..., por pouco não..., etc. cujo emprego

habitual depende das particularidades da sua significação ou da sua sintaxe. Tais

expressões não podem ser improvisadas, são-nos fornecidas pela tradição".

Page 29: L I N G U Í S T I C A - T E O R I A D O S S I G N O S · Por sugestão de Roman Jakobson e com o apoio de Roland Barthes, Emile Benveniste, A. J. Greimas, Claude Lévi-Strauss e

29

Obviamente a fronteira entre os sintagmas estereotipados da língua e as combinações

livres da língua não é clara nem, por vezes, fácil de traçar.

13 - OS CONCEITOS DE BARHES:

Ao retomar em 1957 a noção saussureana de semiologia, Barthes introduz

novos conceitos de signo linguístico e de língua e modifica e o ipso a própria noção de

semiologia. Saussure partiu do sistema de comunicação humana para definir a língua: o

signo linguístico é um signo ao qual sobejais a intenção de comunicar. Barthes, por seu

lado, encara o signo unicamente do ponto de vista da significação e alarga desse modo

a noção de signo e de língua a tudo o que significa. Assim, enquanto a semiologia

preconizada por Saussure é uma semiologia da comunicação, a de Barthes é uma

semiologia da significação.

A semiologia não explica porque é que tal ou tal fato tem tal ou tal

significação. Ela não é de ordem explicativa. Não vai às causas. Nem tão pouco lhe

interessam. O que ela quer é conhecer a estrutura, o modo de funcionamento. A sua

tarefa é exclusivamente descritiva, de leitura ou decifração.

Em 1964 Barthes apura e desenvolve a idéia de semiologia enquanto

ciência formal da significação e começa por contrapor à tese de Saussure, de que a

"linguística era apenas uma parte da ciência geral dos signos". A razão dada por

Barthes deve-se à constatação de que "qualquer sistema semiológico se cruza com a

linguagem", negando aos outros sistemas semiológicos uma autonomia de significação,

isto é, eles só significam na medida em que se cruzam com a linguagem. Mas esta não

é a linguagem dos linguistas, ela é uma "linguagem segunda, cujas unidades não são já

os monemas ou os fonemas, mas fragmentos mais extensos do discurso que remetem

para objetos ou episódios que significam sob a linguagem, mas nunca sem ela". Assim,

a semiologia transformar-se-á numa translinguística, "cuja matéria tanto pode ser o mito,

a narrativa, o artigo de imprensa, como os objetos da nossa civilização, contando que

sejam falados".

A novidade introduzida por Barthes relativamente ao conceito de signo

reside em considerar também como signos os objetos cuja razão de ser não reside na

Page 30: L I N G U Í S T I C A - T E O R I A D O S S I G N O S · Por sugestão de Roman Jakobson e com o apoio de Roland Barthes, Emile Benveniste, A. J. Greimas, Claude Lévi-Strauss e

30

significação. É aqui o signo semiológico se desvia do signo linguístico. Enquanto a

função deste é significar, há sistemas semiológicos se só cumulativamente significam.

A função-signo serve a Barthes para desenvolver uma semântica do

objeto. Todo o objeto enquanto objeto significa; não há objetos insignificantes. A

significação do objeto começa no exato momento em que é produzido e consumido pela

sociedade.

Não é atrevimento algum dizer que o alargamento semiológico efetuado

por Barthes reside fundamentalmente na introdução das funções-signos. Desse modo

ele semiotiza toda a cultura e vida humanas.

A conotação e a denotação.

Um dos traços mais marcantes da semiologia de Barthes reside na

focagem da estratificação de sentidos. Existem sentidos primeiros, sentidos segundos

assentes sobre os primeiros, sentidos terceiros assentes nos segundos, etc. O sentido

aparece como um composto de camadas sucessivas de sentidos.

Em relação às Mitologias, Barthes define o mito como um sistema

semiológico segundo, construído sobre uma série semiológica já existente antes dele.

Esta série constitui o significante do signo que o mito é. A língua, enquanto sistema

semiológico primeiro e a matéria prima ou a linguagem objeto do mito enquanto sistema

semiológico é o segundo. Barthes mostra mediante o exemplo do jovem negro vestido

com um uniforme francês fazendo a saudação militar à tricolor como o sentido primeiro

dessa imagem constitui o significante de um outro signo. O sentido primeiro é o de um

jovem soldado de cor fazendo continência à bandeira francesa. Mas o sentido segundo

que assenta no primeiro sentido é bem diferente. Essa imagem significa "que a França é

um vasto Império, que todos os seus filhos, sem distinção de cor, servem fielmente sob

a sua bandeira, e que não há melhor resposta aos detratores dum pretenso colonialismo

do que o zelo deste negro em servir os seus pretensos opressores".

No caso apontado, o sentido segundo tem como significante aquilo que

constitui o sentido formado pelo sistema semiológico prévio, a saber, "um soldado negro

faz a saudação militar francesa". Este sentido pode ser encarado de dois diferentes

pontos de vista: como termo final da decifração da imagem ou como termo inicial de

uma mensagem. Terminologicamente, Barthes chama-lhe sentido enquanto termo final

Page 31: L I N G U Í S T I C A - T E O R I A D O S S I G N O S · Por sugestão de Roman Jakobson e com o apoio de Roland Barthes, Emile Benveniste, A. J. Greimas, Claude Lévi-Strauss e

31

e forma enquanto termo inicial. O mito enquanto sistema semiológico tridimensional

(significante, significado, signo) vai buscar ao sentido do sistema linguístico a sua forma.

No Livro Elementos de Semiologia, Barthes sistematiza, mediante a noção

de semiótica conotativa de Hjelmslev, a teoria da estratificação dos sentidos. Os

sistemas semiológicos conotados são aqueles cujo plano de expressão (significante) é

constituído ele próprio por um sistema de significação. Os sistemas primeiros são os

denotados. Segundo Barthes, há um ponto comum para o qual remetem todos os

sistemas conotativos: a ideologia. Quer isto dizer que todos os significados das

conotações desembocam na ideologia ou, mais exatamente, "a ideologia é a forma dos

significados de conotação". Em contrapartida, a retórica é a forma dos conotadores. A

semiologia enquanto ciência das formas de significação tem um papel desideologizante

da cultura. É que a ideologia encontra-se sempre num sentido segundo, mais ou menos

escondida, e o semiólogo o que faz é expor os sistemas semiológicos pelos quais é

produzida e em que existe. Por isso mesmo, todo o semiólogo é de certo modo um

mitólogo, aquele que decifra os mitos constituintes da civilização.

C O N C L U S Ã O

Nesse trabalho feito em conjunto com pessoas que se dedicaram à

realização de pesquisas, podemos constatar que no seu Livro Curso de Linguística

Geral, Ferdinand de Saussure descreveu um signo como uma combinação de um

conceito com uma imagem sonora. Uma imagem sonora é algo mental, visto que é

possível a uma pessoa falar consigo própria sem mover os lábios. Mas em geral, as

imagens sonoras são usadas para produzir uma elocução, consistindo um conceito

(significado - signifié) e uma imagem sonora(significante - signifiant, ou forma fonológica

em termos generativos. Portanto, em termos termos simples, um signo linguístico é toda

unidade portadora de sentido.

Como vimos, o modelo linguístico saussureano exigia que a semiologia

fosse um campo de pesquisa restrito aos códigos de signos arbitrários e intencionais,

por exemplo, o código dos sinais de trânsito, dos marinheiros ou dos jogos de carta. Na

chamada semiologia da comunicação, surgiu um ramo complementar chamado de

Page 32: L I N G U Í S T I C A - T E O R I A D O S S I G N O S · Por sugestão de Roman Jakobson e com o apoio de Roland Barthes, Emile Benveniste, A. J. Greimas, Claude Lévi-Strauss e

32

semiologia da significação para o estudo de signos e sinais não-intencionais na

natureza e na cultura.

Pela importância do tema, continuou o desenvolvimento da semiologia

saussureana em outros países de maneira independente sob outras influências, tal

como: a semiótica de Peirce (Alemanha e Brasil); de Charles Morris (EUA); ou da

informática e da cibernética (Moscou e Tartu).

A enorme quantidade de signos necessários para constituir qualquer

língua torna o sistema tão pesado que é quase impossível substituí-lo por outro, já que a

língua é um sistema tão complexo que mesmo a maior parte dos falantes desconhece o

seu mecanismo.

Enfim, esperamos ter aprendido com este trabalho, que apesar de não ter

sido ainda muito profundo, já deu para termos um bom entendimento dos signos,

especialmente o Signo Linguístico, depois de demorada pesquisa e argumentos

conceituais, tratando do tema “semiologia ou semiótica” com muito respeito e dedicação.

Page 33: L I N G U Í S T I C A - T E O R I A D O S S I G N O S · Por sugestão de Roman Jakobson e com o apoio de Roland Barthes, Emile Benveniste, A. J. Greimas, Claude Lévi-Strauss e

33

REFERÊNCIAS:

[01] BUYSSENS, Eric. Semiologia e comunicação linguística. São Paulo:Cultrix,1972.

[02] CARVALHO, Castelar. Para compreender Sausurre e visão crítica. Rio de Janeiro,

Ed. Vozes, 10ª Edição.

[03] ECO, Umberto. "Signo" in Enciclopédia Einaudi. O Signo. Imprensa Nacional Casa

da Moeda, Lisboa, 1994.

[04] ECO, Umberto. Obra aberta. São Paulo: Perspectiva, 1976.

[05] GREIMAS, A.J. e COURTÉS, J. Dicionário de semiótica. São Paulo: Cultrix, 1999.

[06] MARTINET, André. Elementos de Linguistica Geral. Trad. Jorge Morais – Barbosa ,

Lisboa, Sá da Costa. 1971

[07] PEIRCE, Charles. Semiótica. São Paulo: Perspectiva, 1977.

[08] <www.wikipedia.org. >Acesso em 12/12/2006

[09] <www.facom.ufba.br. >Acesso em 15/12/2006

[10] <www.bocc.ubi.pt. >Acesso em 15/12/2006

[11] <www.periodicos.capes.gov.br.> Acesso em 12/12/2006