l i n g u Í s t i c a - t e o r i a d o s s i g n o s · por sugestão de roman jakobson e com o...
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JOÃO BOSCO DA SILVA
L I N G U Í S T I C A - T E O R I A D O S S I G N O S
FEIRA DE SANTANA – BA.
2006
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE FEIRA DE SANTANA Curso: Licenciatura em Letras com Língua Inglesa Disciplina: Linguística I Professora Doutora: Márcia Tranzillo Barreto
JOÃO BOSCO DA SILVA
L I N G U Í S T I C A
T E O R I A D O S S I G N O S
Trabalho referente à disciplina de Linguística I, do 1° semestre do Curso de Licenciatura em Letras com a Língua Inglesa, da Universidade Estadual de Feira de Santana. Orientadora: Professora Márcia Tranzillo Barreto
FEIRA DE SANTANA – BA.
2006
“O signo linguístico é uma entidade
psíquica de duas faces. Não une uma coisa a um nome, mas um conceito e uma imagem acústica”.
Ferdinand de Saussure
SUMÁRIO
Introdução.................................................................................................. 05
1 - Teoria dos Signos..................................................................................... 06
2 - Semiótica e semiologia............................................................................. 09
3 - Teoria dos Signos Linguísticos.................................................................. 10
4 - Semiologia da Significação........................................................................ 14
5 - Semiologia ou semiótoca?......................................................................... 15
6 - Ciência dos Signos................................................................................... 15
7 - Teoria dos Signos de Charles Peirce........................................................ 17
8 - Ciências cognitivas................................................................................... 18
9 - As características do Signo...................................................................... 19
10 - Unidade do Signo Linguístico.................................................................... 22
11 - Valor dos elementos da língua .................................................................. 23
12 - Relações sintagmáticas e paradigmáticas................................................. 25
13 - O conceito de Barhes................................................................................ 29
Conclusão.................................................................................................. 32
Referências................................................................................................ 33
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INTRODUÇÃO
Neste trabalho vamos escrever sobre A TEORIA DOS SIGNOS. Um signo
consiste de um conceito(significado) e uma imagem sonora, ou seja, o significante, ou
forma fonológica em termos generativos. Em termos simples, um signo linguístico é toda
unidade portadora de sentido.
Veremos que no século XX o conceito de semiologia se impôs a partir da
obra fundamental de Ferdinand de Saussure (1857-1913), o Curso de linguística geral,
de 1916. A base dessa nova semiologia seria a linguística estrutural, o seu programa
seria a extensão do campo da linguística da linguagem verbal para a comunicação não-
verbal, cultural e textual.
Saussure faz críticas sobre a concepção da língua e explica que o signo
linguístico une não uma coisa e um nome, mas um conceito e uma imagem acústica.
Propõe manter a palavra signo para designar o total e substituir conceito e imagem
acústica respectivamente por significado e significante.
Quando dizemos que o signo é arbitrário, isso não deve dar a idéia de que
o significante depende da livre escolha do sujeito falante e sim que ele é imotivado. É
justamente devido à arbitrariedade do signo linguístico que Saussure considera a língua
como o mais característico de todos os sistemas semiológicos, podendo, por isso
mesmo, a linguística tornar-se o padrão geral de toda a semiologia. É pela
arbitrariedade que o signo se distingue do símbolo.
Os significantes acústicos só dispõem da linha do tempo; os seus
elementos apresentam-se uns após outros; formam uma cadeia. Esta característica
aparece mais nítida quando os representamos na escrita: a linha espacial dos sinais
gráficos substitui a sucessão no tempo".
O signo linguístico é simultaneamente mutável e imutável. É imutável pela
simples razão relativa que a comunidade linguística o emprega. O signo não é livre, mas
imposto, pois a massa social não é consultada e o significante escolhido pela língua não
poderia ser substituído por qualquer outro. A língua é um sistema de signos arbitrários
tão pesado, que é quase impossível substituí-lo por outro, pela sua complexidade, que
mesmo a maior parte dos falantes desconhece o seu mecanismo.
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1 - TEORIA DOS SIGNOS
O que é SIGNO?
No seu Livro Curso de Linguística Geral, Ferdinand de Saussure
descreveu um signo como uma combinação de um conceito com uma imagem sonora.
Uma imagem sonora é algo mental, visto que é possível a uma pessoa falar consigo
própria sem mover os lábios. Mas em geral, as imagens sonoras são usadas para
produzir uma elocução.
Ou seja, um signo consiste de: um conceito, ou seja, o significado (signifié)
uma imagem sonora, ou seja, o significante (signifiant), ou forma
fonológica em termos generativos.
No percurso histórico-filosófico da teoria dos signos, vemos que do século
XII ao século XVI, ou seja, entre os períodos medieval e renascentista, o mundo era das
similitudes. O modelo do signo decorria da tríade estóica, designando como sistema
semiótico a similaridade.
A semelhança desempenhou papel fundamental no Renascimento,
guiando a representação. Há quatro formas essenciais que caracterizam e constituem a
similitude:
a) Convenientia: designa a aproximação das coisas, na qual a extremidade
de uma delimita o início da outra. É uma “semelhança ligada ao espaço sob a forma do
gradualmente. É da ordem da conjunção e do ajustamento. (...) O mundo é a
conveniência das coisas” (Foucault, 1966: p.36).
b) Aemulatio: apresenta-se como um reflexo. O semelhante envolve o
semelhante e por duplicação pode se desenvolver ao infinito. Para Foucault, há na
emulação “algo que se parece com o reflexo e o espelho; mediante ela as coisas
dispersas através do mundo relacionam-se umas com as outras” (Foucault, 1966: p.37).
c) Analogia: esta sobrepõe a conveniência e a emulação. Pode aproximar
todas as coisas do mundo, sendo seu ponto de convergência o homem. O espaço das
analogias é “um espaço de irradiação. Por todos os lados, o homem é envolvido por ele;
mas esse mesmo homem, inversamente, transmite as semelhanças que recebe do
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mundo. Ele é o grande foco das proporções – o centro em que as relações vêm apoiar-
se e a partir do qual se refletem de novo” (Foucault, 1966: p.42).
d) Simpatia: opera livremente, é dotada de grande mobilidade. Atrai as
coisas umas para as outras através de um movimento externo que acaba por gerar um
movimento interno de deslocamento de qualidades que podem se substituir umas às
outras. A simpatia transforma.
Todo o volume do mundo, todas as aproximações da convenientia, todos
os ecos da emulação, todos os nexos da analogia são sustentados, mantidos e
duplicados por esse espaço da simpatia e da antipatia que não cessa de aproximar as
coisas e de as manter a distância (Foucault, 1966: p.45).
No Renascimento o signo significava, em decorrência da semelhança
revelada, com aquilo a que se referia.
A partir do século XVII, a representação passou a ser o princípio de
arbitrariedade do signo: “as semelhanças passaram a estar sujeitas ao exame racional
de uma prova de comparação. A nova ordem era estabelecida sem referência a uma
entidade exterior” (Nöth, 1996: p.136).
Durante o Racionalismo, o sistema dos signos deixa de ser ternário
(significante + significado + objeto referido) e passa a ser binário (significante +
significado). A definição de signo da escola semiótica de Port Royal exclui a referência
exterior ao considerar que o signo representa a idéia de uma coisa e não a coisa em si:
Em termos simples um signo linguístico é toda unidade portadora de
sentido.
No século XX, o conceito de semiologia se impôs novamente a partir da
obra fundamental de Ferdinand de Saussure (1857-1913), o Curso de linguística geral,
de 1916. Sem referência às tradições semióticas anteriores, o fundador do
estruturalismo linguístico definiu a semiologia como uma nova e futura ciência geral da
comunicação humana, que estudaria a “vida dos signos como parte da vida social”. A
base dessa nova semiologia seria a linguística estrutural, o seu programa seria a
extensão do campo da linguística da linguagem verbal para a comunicação não-verbal,
cultural e textual. Neste espírito estruturalista e trans-linguístico, a semiologia começou
a se estabelecer a partir dos anos 40 e 50 (Buyssens, Hjelmslev) e com uma fama
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crescente nos anos 1960 na França (Prieto, Barthes, Mounin, Greimas), no resto da
Europa e na América Latina.
Por sugestão de Roman Jakobson e com o apoio de Roland Barthes,
Emile Benveniste, A. J. Greimas, Claude Lévi-Strauss e Thomas A. Sebeok, o comitê
fundador da Associação Internacional de Estudos Semióticos, em 1969, decidiu que, a
partir de então, o conceito semiótica seria empregado como conceito geral para definir
esse campo, anteriormente designado como semiologia ou semiótica. Essa decisão tem
sido seguida internacionalmente com o resultado de que o termo semiótica é hoje o
nome internacionalmente mais comum para designar o campo de pesquisa dos signos,
sistemas e processos sígnicos.
Como assuntos de terminologia, são raramente resolvidos por completo,
em conferências internacionais, não é de se estranhar que sobraram uns resíduos de
opiniões sobre diferenças entre os conceitos de semiótica e de semiologia, às vezes
bem fundadas em sistemas complexos de teorias semióticas, às vezes também em
concepções históricas hoje ultrapassadas, a saber:
1 - Quem fala de semiótica se enquadra na tradição da teoria geral dos
signos, especialmente de Charles Sanders Peirce, ao passo que os que preferem o
conceito de semiologia se vêem na tradição semio-linguística de Ferdinand de
Saussure.
2 - Enquanto a semiótica é a ciência geral dos signos, que inclui o estudo
dos signos da natureza não humana, a semiologia é uma ciência humana que vai além
da linguística, estudando fenômenos trans-linguísticos (textuais) e códigos culturais.
3 - Em Hjelmslev, encontra-se a concepção de que a semiologia é uma
metassemiótica que contém uma teoria dos mais diferentes sistemas de signos. Estes,
por sua vez, são definidos como “semióticas”.
4 - Semiótica e semiologia são sinônimos. Uma certa preferência do termo
semiologia nada mais indica senão a proveniência do autor de um país de fala
românica. Um argumento de purismo linguístico, que se ouviu na França nos anos de
1970, era que o conceito de semiologia é uma melhor tradução do termo inglês
semiotics para as línguas romanas e, por isso, é preferível ao termo semiótica, por um
motivo puramente estilístico.
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2 - SEMIÓTICA E SEMIOLOGIA
No início do século XXI, todas as distinções entre semiótica e semiologia
esboçadas acima parecem coisas do passado. A semiótica internacional se desenvolveu
sem as restrições propostas por aqueles que acharam uma divisão entre semiótica e
semiologia necessárias. No Brasil, por exemplo, há programas de estudos semióticos,
mas não de estudos semiológicos. Porém, o progresso da pesquisa feito sob o nome de
semiótica não invalida aqueles feitos em décadas anteriores sob o nome de semiologia.
Derivando do grego semion, traduzido, em vernáculo, por “signo”, a
semiologia estuda os signos em sua produção, transmissão, interpretação. Embora se
constitua um fenômeno dos inícios do século passado, esse estudo dos signos traça
uma “pré-história”, na medida em que suas origens remontam muito longe, aos
primórdios da filosofia ocidental, em sua gênese grega. Basta referir o Órganon
aristotélico, a distinção estóica entre significante e significado, a pedagogia e a teologia
de Santo Agostinho (354-430), os tratados dos modistas (gramáticos especulativos,
expoentes de um endereço da filosofia da linguagem: Martino di Dacia, Boécio di Dacia,
Sigieri de Courtrai, Tomás de Erfurt), nos séculos XIII e XIV, a filosofia da linguagem de
Port-Royal (1662) – A. Arnauld, P. Nicole. No albor da idade moderna filosófica, conhece
a teoria dos signos um longo período de gestação: John Locke (1632-1704) dedica a
última parte de seu Ensaio sobre o intelecto humano (1690) à “semiótica”, entendida
como doutrina dos signos e, sobretudo, dos signos mais comuns: as palavras. Seguindo
o exemplo desse filósofo inglês, Jean-Henri Lambert (1728-1777), filósofo franco-alemão
preocupado com a teoria do conhecimento, dedica parte de seu Novo órganon (1764) à
semiótica, entendida como doutrina do conhecimento simbólico, em geral, e da
linguagem, em particular. Estreitamente ligada à gnoseologia, esta semiótica tem seus
seguidores no Oitocentos, como o Padre Bernhard Bolzano (1781-1848), matemático e
filósofo austríaco, com sua Doutrina da ciência (1837), em quatro volumes, e o filósofo
Edmund Husserl (1859-1938), cuja obra A lógica dos signos, de 1890, só veio a lume
em 1970.
Ligando-se à tradição da semiótica filosófica dos dois séculos que o
precederam, Peirce lança as bases da semiótica como disciplina autônoma. O estado
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fragmentário de seus escritos, publicados postumamente (Escritos recolhidos – 8
volumes, 1931-1958), tornou e torna ainda difícil uma plena recepção de sua obra de
pioneiro. Entre os aspectos mais importantes de sua teoria, vale lembrar: a noção de
“interpretante”, como um signo que interpreta um outro signo, e a tripartição dos signos:
índice, ícone e símbolo (segundo se opere uma relação de contiguidade, de similitude
ou de pura convencionalidade entre o signo e o referente). A Peirce liga-se Charles
Morris (1901-1979), filósofo americano, autor, entre outros livros, de Fundamentos de
uma teoria dos signos (1938) e de Signos, linguagem comportamento (1946).
A originalidade de Morris reside, principalmente, em ter ele tentado uma
síntese entre a instância pragmatista e os aspectos da análise linguística elaborada pelo
neopositivismo. Conforme Morris, podem os signos ser estudados sob três diversos
pontos de vista: o semântico, isto é, em relação com o referente; o sintático, em sua
relação de combinação recíproca; o pragmático, em sua relação com o uso.
Independentemente dessa semiótica de viés lógico-filosófico, Saussure
projeta, no seu Cours de linguistique générale, postumamente editado em 1916 (outra
sincronicidade une Peirce e Saussure: trabalhos publicados post mortem; note-se que
outros pensadores-fundadores jamais escreveram livros: Buda, Sócrates, Jesus Cristo,
Maomé. Será o destino da letra cristalizar ou “matar”? Serão as leituras e escrituras
posteriores traições ao pensamento-fundador?), uma ciência de que faz parte a
linguística: a semiologia, que tem a tarefa de estudar “a vida dos signos no quadro da
vida social”.
3 - TEORIA DOS SIGNOS LINGUISTICOS
Uma das contribuições essenciais de Saussure para a linguística consiste
na fixação da língua como sistema semiológico. A partir da já célebre esquematização
do sistema de comunicação entre um emissor e um receptor, Saussure separa os
elementos psíquicos, dos elementos físicos e fisiológicos. Mas a linguística só trata dos
elementos psíquicos na medida em que deixa de lado o ato individual da fala e se centra
no fato social, isto é, no fato de que "todos os indivíduos reproduzirão – não exata, mas
aproximadamente – os mesmos signos unidos aos mesmos conceitos".
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Saussure demarca a língua tanto da linguagem, como da fala. Face à
linguagem a língua caracteriza-se por ser uma parte determinada, essencial, da
linguagem. Enquanto a linguagem é multiforme e heteróclita, estendendo-se sobre
vários domínios, físicos, fisiológicos e psíquicos, individuais e sociais, sem uma unidade
própria, a língua enquanto sistema de sinais para exprimir idéias é uma instituição social
entre outras instituições sociais. A língua é um todo em si e compete-lhe a ela servir de
princípio de classificação à linguagem.
Relativamente à fala que é individual e acidental, a língua distingue-se por
ser social e essencial. "A língua não é uma função do sujeito falante, é o produto que o
indivíduo registra passivamente; ela nunca supõe premeditação.. Ela é um objeto bem
definido no conjunto heteróclito dos fatos da linguagem. Podemos localizá-la no
momento deter-minado do circuito em que uma imagem auditiva se vem associar a um
conceito. É a parte social da linguagem, exterior ao indivíduo, e este, por si só, não pode
criá-la nem modificá-la; ela só existe em virtude de um contrato firmado entre os
membros da comunidade. Por outro lado, o indivíduo tem necessidade de uma
aprendizagem para lhe conhecer as regras; a criança só pouco a pouco a
assimila."4. Relativamente à caracterização saussureana da língua escreve Roland
Barthes a paráfrase: "Como instituição social, ela não é um ato, escapa a qualquer
premeditação; é a parte social da linguagem; o indivíduo, por si só, não pode nem criá-la
nem modificá-la; é essencialmente um contrato coletivo, ao qual nos temos de submeter
em bloco, se quisermos comunicar; além disso este produto social é autônomo, à
maneira de um jogo que tem as suas regras, pois só o podemos manejar depois de uma
aprendizagem".
O apuramento que Saussure faz da língua enquanto sistema de signos
com singularidade e unidade próprias é extremamente importante, pois que esse
sistema é exemplar de todos os outros sistemas semiológicos. As características que
lhe são essenciais enquanto sistema significo estendem-se eo ipso a todos os outros
sistemas.
No século XX, o conceito de semiologia se impôs novamente a partir da
obra fundamental de Ferdinand de Saussure (1857-1913), o Curso de linguística geral,
de 1916. Sem referência às tradições semióticas anteriores, o fundador do
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estruturalismo linguístico definiu a semiologia como uma nova e futura ciência geral da
comunicação humana, que estudaria a “vida dos signos como parte da vida social”. A
base dessa nova semiologia seria a linguística estrutural, o seu programa seria a
extensão do campo da linguística da linguagem verbal para a comunicação não-verbal,
cultural e textual. Neste espírito estruturalista e trans-linguístico, a semiologia começou
a se estabelecer a partir dos anos 40 e 50 (Buyssens, Hjelmslev) e com uma fama
crescente nos anos 1960 na França (Prieto, Barthes, Mounin, Greimas), no resto da
Europa e na América Latina.
A Semiologia (ou Semiótica) distinguem dois tipos de sinais: Os Naturais,
que se manifestam em forma de indício (físico), tais como a fumaça, trovoada, nuvens
negras, rastros etc. ou em forma de sintonia (fisiológico), tais como a pulsação, a
contração, a dor etc; e os Convencionais, que envolve maior complexidade e pressupõe
de uma cultura já estabelecida, da qual ele é resultado e expressão, produto e
instrumento num só tempo.
No início, o modelo linguístico saussureano exigia que a semiologia fosse
um campo de pesquisa restrito aos códigos de signos arbitrários e intencionais, por
exemplo, o código dos sinais de trânsito, dos marinheiros ou dos jogos de carta. Em
extensão desta semiologia, também chamada de semiologia da comunicação, surgiu um
ramo complementar chamado de semiologia da significação para o estudo de signos e
sinais não-intencionais na natureza e na cultura.
Paralelamente ao desenvolvimento da semiologia saussureana, em outros
países a semiótica continuava o seu desenvolvimento de maneiras independentes sob
outras influências, tal como a semiótica de Peirce (Alemanha e Brasil), de Charles
Morris (EUA) ou da informática e da cibernética (Moscou e Tartu). Nessas tradições, o
nome do campo de pesquisa dos processos sígnicos não era semiologia, mas semiótica
de maneira que surgiram dúvidas entre os semioticistas do mundo sobre a questão se a
semiótica e a semiologia eram dois campos de pesquisa diferentes ou um e o mesmo
com duas designações diferentes, independente da tradição de pesquisa.
Muitos conceitos e teorias da linguística sincrônica de Saussure (a noção
de língua como “sistema de diferenças”; a teoria do signo como entidade bifacial,
composta de significante e significado; a dicotomia “paradigma/sintagma”) assumem um
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relevo semiológico geral. Assim, grande parte do trabalho dos estruturalistas, que, de
um modo ou de outro pagam tributo a Saussure, pode ser lida, também, na relação do
problema da possibilidade de estender os conceitos e as teorias do mestre, a saber:
a) A teoria da conotação do linguista dinamarquês Louis Trolle Hjesmslev
(1899-1965), promotor do círculo linguístico de Copenhagen (parece que a pesquisa da
língua gosta de círculos: Círculo linguístico de Praga, Círculo linguístico de Moscou:
serão círculos viciosos ou círculos virtuosos ou círculos de virtuoses?);
b) a teoria dos fatores da comunicação do linguista russo Roman Jakobson
(1896-1982);
c) a teoria da dupla articulação (sincronia/diacronia, forma/conteúdo) do
linguista francês André Martinet.
Mais tarde, a semiologia, de inspiração saussuriana, dividiu-se em duas
grandes correntes:
A primeira, que tem como chefe de fila E. Buyssens e de que são
representantes de primeiro plano G. Mounin e, sobretudo, o argentino Luis Prieto, auto-
define-se “semiologia da comunicação” e dedica-se às análises daqueles sistemas de
signos fortemente codificados, em que a intenção primária é comunicativa (além das
línguas “naturais”, os sinais de trânsito, os sinais marítimos, os alfabetos Morse e Braille,
vários tipos de enumeração, por exemplo):
Na segunda, a semiologia dos linguistas pós-saussurianos, Troubetzkov,
Buysses, Martinet, Prieto, insistiram fortemente no caráter da língua como sistema de
comunicação. Constituíram sobretudo Buyssens e Prieto para as bases sólidas de uma
semiologia que seria principalmente a descrição do funcionamento de todos os sistemas
de comunicação não-linguística, desde o cartaz até o código da estrada, desde os
números dos ônibus ou dos quartos de hotel até o código marítimo internacional dos
sinais por bandeiras (MOUNIN, 1971, 11-12).
A semiótica é considerada por alguns um dos campos da linguística, por
outros o inverso. Alguns autores até afirmam que a semiótica nunca foi considerada
parte da linguística. De fato, ela se desenvolveu quase exclusivamente graças ao
trabalho de não linguistas, particularmente na França, onde é frequentemente
considerada uma disciplina importante. No mundo de língua inglesa, contudo, não
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desfruta de praticamente nenhum reconhecimento institucional. Embora a língua seja
considerada o caso paradigmático de sistema de signos, grande parte da pesquisa
semiótica se concentrou na análise de domínios tão variados como os mitos, a
fotografia, o cinema, a publicidade e a mídia.
A influência do conceito linguístico central de estruturalismo, que é mais
uma contribuição de Saussure, levou os semioticistas a tentar interpretações
estruturalistas num amplo leque de fenômenos. Objetos de estudo, como um filme ou
uma estrutura de mitos, são encarados como textos que transmitem significados, sendo
esses significados tomados como derivações da interação ordenada de elementos
portadores de sentido, os signos, encaixados num sistema estruturado, de maneira
parcialmente análoga aos elementos portadores de significado numa língua.
Quando deliberadamente enfatiza a natureza social dos sistemas de
signos, a semiótica tende a ser altamente crítica e abstrata. Nos últimos anos, porém, os
semioticistas se voltam cada vez mais para o estudo da cultura popular, sendo hoje em
dia comuns o tratamento semiótico das novelas de televisão e da música popular.
4 - SEMIOLOGIA DA SIGNIFICAÇÃO
A segunda corrente, ou “semiologia da significação”, cujo representante
mais ilustre é Roland Barthes (1915-1980), toma, ao contrário, em exame, sob um ponto
de vista sociológico, todos os fenômenos significativos: os sistemas de objetos de uso
(por exemplo, a moda, o automóvel etc.), as comunicações de massa, as artes etc.
Umberto Eco desenvolveu o projeto de um rigor filosófico da semiótica, no quadro de um
projeto enciclopédico de filosofia das formas simbólicas (Apocalittici e integrati, 1964; Le
forme del contenuto, 1971; Trattato di semiotica generale, 1975; Semiotica e filosofia
del linguagio, 1984...).
A partir da década de 60, a semiologia, com R. Barthes, aplica-se
particularmente à literatura, ocupando-se das grandes unidades significantes do
discurso. Buscando fundar suas pesquisas em uma metodologia rigorosa e científica,
que pode inspirar-se, entre outras, na linguística (Saussure), em estudos folclóricos (W.
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Propp) e na psicanálise (Freud), ou semiólogos abriram novas perspectivas,
susceptíveis de trazer proveito a abordagens interdisciplinares.
5 - SEMIOLOGIA OU SEMIÓTICA?
A escolha não é apenas terminológica, mas teórica, Gênios antitéticos,
Saussure e Peirce conceberam, ignorando-se um ao outro, e, praticamente, ao mesmo
tempo, a possibilidade de uma ciência dos signos, que procuraram instaurar. Se,
apoiando-se em Locke, adotou Peirce o termo “semiótica “ (semiotics) para designar a
investigação do universo dos signos, Saussure, por seu turno, através da “semiologia
geral” (sémiologie générale), cujo objeto são os códigos e, sem exclusividade, todos os
sistemas de signos -, procurou construir a semiologia da língua como sistema. Para
Peirce, o homem inteiro é um signo, seu pensamento é um signo, sua emoção é um
signo.
O signo como produtor complexo da semiose, escreveu Umberto Eco: A
semiose é o fenômeno, típico dos seres humanos (e, segundo alguns, também dos
anjos e dos animais), pelo qual – como diz Peirce – entram em jogo um signo, seu
objeto (ou conteúdo) e sua interpretação.
A semiótica é a reflexão teórica sobre o que seja a semiose. Em
consequência o semiótico é aquele que nunca sabe o que seja semiose, mas está
disposto a apostar a própria vida no fato de que ela exista (ECO, 1989, p. 11, nota).
6 - CIÊNCIA DOS SIGNOS
No labirinto, atraente e ameaçador, da ciência dos signos – uma aventura
semiológica (Barthes) -, só temos a trêmula certeza, enunciada , no final esteticista de
mais um século, do alto de sua epistemologia poética, por Mallarmé (1842-1842) –
aquele poeta mesmo da poesia como “jogo de dados”: “le monde est fait pour aboutir à
un beau livre” “O mundo foi feito para acabar num belo livro”. Não será esse “belo livro”
uma infinita tessitura de signos, que a semiologia, ou semiótica, lê e recria?
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1) Signos verbais, naturais, assim como convencionais são só
representações incompletas da verdadeira natureza das coisas;
2) O estudo das palavras não revela nada sobre a verdadeira natureza das
coisas porque a esfera das idéias é independente das representações na forma de
palavras;
3) Cognições concebidas por meio de signos são apreensões indiretas e,
por este motivo, inferiores às cognições diretas (Nöth, 1995b: p.30).
Para Platão, a verdade transmitida pelas palavras está sempre aquém do
conhecimento (sem intermediários) da coisa em si. Questões como a da relação entre
os nomes, seus conceitos e as coisas, foram recorrentes e continuaremos a investigá-
las.
O signo compreende duas idéias – uma é a idéia da coisa que representa,
e outra, a idéia da coisa representada – e a natureza do signo consiste em excitar a
segunda pela primeira (Nöth, 1995b: p.43).
A revolução de Port Royal está em considerar o significante (a coisa que
representa) como uma idéia de uma dada coisa como imaterial.
No século XVII, a semelhança deixa de ser a forma do saber; o
pensamento clássico exclui a semelhança como experiência fundamental. As palavras e
as coisas que, no século XVI, remetiam-se umas às outras, não mais se assemelhavam
no século XVII: “os signos da linguagem já não têm outro valor para além da tênue
ficção daquilo que representam. A escrita e as coisas já não se assemelham” (Foucault,
1966: p.72). A linguagem passa a organizar as coisas para o pensamento. O mundo já
não é mais o da semelhança, mas o da representação. Com a divisão entre o signo e
seu objeto, as palavras não se ligam mais diretamente às coisas: a alternativa é a
representação como elemento de ligação.
Descartes, no início da filosofia moderna, critica a semelhança, mas não
exclui do pensamento racional o ato comparativo, apenas limita-o à forma da medida e à
da ordem. É por meio da comparação pela medida e pela ordem que, no século XVII, o
pensamento se organiza. A comparação pela medida exige a aplicação de uma unidade
comum, de um terceiro elemento para comparar outros dois. A medida estabelece
relações de igualdade e de desigualdade. A comparação pela ordem não implica na
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aplicação de outro elemento, é um ato simples que dispõe as diferenças estabelecendo
séries organizadas.
A busca de Descartes e de todos os filósofos do Racionalismo era a de
certezas e verdades. A razão era o guia dessa busca. A comparação, em detrimento da
similitude, contribuía para o objetivo maior de alcançar certezas:
A comparação pode, portanto, atingir uma certeza perfeita: nunca fechado,
sempre aberto a novas eventualidades, o velho sistema de similitudes podia,
efetivamente, por meio de confirmações sucessivas, tornar-se cada vez mais provável;
nunca era certo (Foucault, 1966: p.82).
Descartes, em seu Discurso do Método, apresenta um método de
investigação baseado na razão que objetiva livrar-se do saber dogmático e do senso
comum. Sua metodologia prevê a elaboração de um inventário das hipóteses (claras e
distintas); a análise dessas hipóteses por meio da sua decomposição, buscando a
simplificação; a síntese conclusiva das variáveis e, por fim, uma verificação ou retro-
análise da investigação.
Uma nova mudança ocorre no século XIX, segundo Foucault, quando a
visão classificatória do mundo, fundamentada na razão, dá lugar às regularidades
históricas, à pesquisa da evolução e da historicidade das coisas.
Esse novo paradigma rompe com a representação clássica, pois “os
pontos de referência dos signos não se encontram mais no próprio sistema dos signos,
mas no exterior da representação” (Santaella e Nöth, 1999: p.24).
O desenvolvimento das mais diversificadas áreas do conhecimento,
durante o século XIX, propiciou que as coisas passassem a não obedecer às leis da
gramática e sim àquelas inerentes à evolução histórica. Foucault conclui que “a
linguagem não está mais ligada ao conhecimento das coisas, mas à liberdade dos
homens” (Nöth, 1996: p.141). Esta liberdade seria a origem das ciências humanas.
7 - TEORIA DOS SÍGNOS DE CHARLES PEIRCE
Na passagem do século XIX para o XX, encontra-se a maior figura da
teoria dos signos, que é Charles Sanders Peirce. Ele foi leitor assíduo dos semioticistas
18
escolásticos que, por sua vez, fundamentaram-se na filosofia estóica. A semiótica
peirceana é, portanto, eminentemente triádica. Ele considera que o signo é aquilo que,
sob determinado aspecto, representa alguma coisa para alguém, criando em sua mente
um signo equivalente. Nessa operação é gerado o interpretante. Aquilo que o signo
representa é denominado seu objeto. Representação caracteriza-se pela relação entre o
signo e o objeto. Representar é estar no lugar de outro, de tal forma que, para uma
mente interpretante, o signo é tratado como sendo o próprio objeto, em determinados
aspectos.
Para Peirce, o termo representação envolve necessariamente uma relação
triádica, que é um esquema do processo contínuo de geração dos signos. O processo
representativo se define pelas relações imbricadas que se estabelecem entre signo-
objeto-interpretante, nas quais os termos atuam determinando ou sendo determinados
pelos outros elementos da tríade.
A semiótica peirceana é extensa e tem como principal objeto de estudo
não exatamente o signo, mas a semiose (processo de ação do signo). É uma “teoria
sígnica do conhecimento” (Santaella, 1995: p.19); afinal, os pensamentos se processam
por meio de signos, continuamente.
8 - CIÊNCIAS COGNITIVAS
O século XX marca a relação entre a semiótica e o paradigma das ciências
cognitivas. As ciências cognitivas ou ciências da mente têm como origem uma tríade da
mente e na filosofia peirceana, uma tríade apresenta-se em correspondência com as
categorias fenomenológicas: primeiridade (sentimento), segundidade (volição) e
terceiridade (conhecimento).
O paradigma cognitivo não é homogêneo, pelo contrário, é entrecortado
por incompatibilidades das diversas vertentes do estudo da mente. O embate entre
cognitivismo e conexionismo revela, de maneira díspare, questões concernentes à
representação mental.
O conexionismo considera que o conhecimento é representado
mentalmente enquanto ligações fisiológicas no interior das redes neurais. O cognitivismo
19
opera no nível semiótico da cognição, considerando que os processos de transmissão
neurais podem ser interpretados num nível biossemiótico. Mesmo essas duas posições
diametralmente opostas podem, segundo Santaella, ser consideradas complementares
na medida em que “a incompatibilidade do conexionismo assemiótico com o
cognitivismo semiótico leva, contudo, a uma complementaridade, se ambas as
abordagens são entendidas como se referindo a diferentes níveis de descrição de
processos mentais” (Santaella e Nöth, 1999: p.27).
O conceito de representação, definido por Palmer, para a ciência cognitiva
é o seguinte:
Uma representação é, primeiro e antes de mais nada, algo que está no
lugar de outra coisa. Em outras palavras, é algum tipo de modelo da coisa (ou coisas)
que ela representa. Esta descrição implica a existência de dois mundos relacionados
mas funcionalmente separados: o mundo representado e o mundo representante. A
função do mundo representante é refletir alguns aspectos do mundo representado de
alguma maneira (Nöth, 1995b: p.136-7).
Fica claro que o modelo semiótico dessa concepção de representação é
diádico, baseado na oposição mente/mundo. Em contraponto, a ciência cognitiva
também abriga o sistema triádico na teoria dos modelos mentais de Johnson-Laird:
9 - AS CARACTERÍSTICAS DO SIGNO:
i) Uma entidade de duas faces. Contra a visão simplista e vulgar da língua,
que considera esta como nomenclatura, faz Saussure três críticas: essa concepção da
língua "supõe que as idéias são anteriores às palavras", "não nos diz se o nome é de
natureza vocal ou psíquica", "deixa supor que o laço que une um nome a uma coisa é
uma operação simples". A concepção de Saussure é radicalmente diferente: "O signo
linguístico une não uma coisa e um nome, mas um conceito e uma imagem acústica.
Esta última não é o som material, puramente físico, mas a marca psíquica desse som, a
sua representação fornecida pelo testemunho dos sentidos, é sensorial e se, por vezes,
lhe chamamos 'material' é neste sentido e por oposição ao outro termo da associação, o
20
conceito, geralmente mais abstrato. (...) O signo linguístico é, pois, uma entidade
psíquica de duas faces.
Em ordem a demarcar o signo enquanto totalidade desta entidade de duas
faces e a impedir a sua identificação com a imagem acústica, Saussure procede a uma
precisão terminológica: "Propomos manter a palavra signo para designar o total e
substituir conceito e imagem acústica respectivamente por significado e significante;
estes dois termos têm a vantagem de marcar a oposição que os separa entre si e que
os distingue do total de que fazem parte".
ii) A arbitrariedade do signo. A associação entre significante e significado é
arbitrária. O vínculo que une as duas faces do signo é de natureza convencional, ele
assenta num hábito coletivo. "Assim, a idéia de "pé" não está ligada por nenhuma
relação à cadeia de sons [p] + "e" que lhe serve de significante; podia ser tão bem
representada por qualquer outra: provam-no as diferenças entre as línguas e a própria
existência de línguas diferentes".
Podemos, portanto, dizer que os sinais puramente arbitrários realizam
melhor do que os outros o ideal do processo semiológico; é por isso que a língua, o
mais complexo e o mais difundido dos sistemas de expressão, é também o mais
característico de todos; neste sentido, a linguística pode tornar-se o padrão geral de
toda a semiologia, ainda que a língua seja apenas um sistema particular."
É pela arbitrariedade que o signo se distingue do símbolo: "O símbolo
nunca é completamente arbitrário; ele não é vazio; há sempre um rudimento de ligação
natural entre o significante e o significado".
Mas que quer dizer arbitrário? Quando dizemos que o signo é arbitrário
isso "não deve dar a idéia de que o significante depende da livre escolha do sujeito
falante; queremos dizer que ele é imotivado, isto é arbitrário em relação ao significado,
com o qual não tem, na realidade, qualquer ligação natural".
É justamente devido à arbitrariedade do signo linguístico que Saussure
considera a língua como o mais característico de todos os sistemas semiológicos,
podendo, por isso mesmo, a linguística tornar-se o padrão geral de toda a semiologia.
iii) A linearidade do significante. "O significante, porque é de natureza
auditiva, desenvolve-se no tempo e ao tempo vai buscar as suas características: a)
21
representa uma extensão, e b) essa extensão é mensurável numa só dimensão; é uma
linha". Esta linearidade caracteriza o signo linguístico na medida em que, enquanto
acústico, o distingue dos signos visuais, passíveis de ser apreendidos simultaneamente.
"Por oposição aos significantes visuais (sinais marítimos, etc.), que podem oferecer
complicações simultâneas em várias dimensões, os significantes acústicos só dispõem
da linha do tempo; os seus elementos apresentam-se uns após outros; formam uma
cadeia. Esta característica aparece mais nítida quando os representamos na escrita: a
linha espacial dos sinais gráficos substitui a sucessão no tempo."
A importância desta característica do signo reside no fato de sobre ela
assentar a dimensão sintagmática da língua.
iv) Mutabilidade e imutabilidade do signo. Paradoxalmente o signo
linguístico é simultaneamente mutável e imutável. Parece ser uma contradição, mas a
contradição desaparece atendendo às diferentes perspectivas em que o signo é mutável
e imutável. O signo é imutável pela simples razão de que "relativamente à comunidade
linguística que o emprega, o signo não é livre mas imposto. A massa social não é
consultada, e o significante escolhido pela língua não poderia ser substituído por
qualquer outro. (...) Não só um indivíduo seria incapaz, se o quisesse, de modificar no
quer que fosse a escolha que foi feita, mas a própria comunidade não pode exercer a
sua soberania sobre uma só palavra: ela está ligada à língua tal como é".
A língua aparece pois como um corpo imutável, independente não só do
sujeito como da própria comunidade linguística. "Em qualquer época, e por muito que
recuemos, a língua aparece como uma herança dura geração precedente. O ato pelo
qual, num dado momento, os nomes foram distribuídos pelas coisas, e que estabeleceu
o contrato entre os conceitos e as imagens acústicas - esse ato, podemos imaginá-lo,
mas nunca foi verificado. A idéia de que tudo se tivesse passado dessa forma é-nos
sugerida pela nossa consciência muito viva da arbitrariedade do signo".
Saussure apresenta razões para a imutabilidade dos signos linguísticos. É
que para que uma coisa seja posta em questão é preciso que assente numa norma
racional. Podemos, por exemplo, discutir se o casamento monogâmico é mais racional
do que o poligâmico e apresentar argumentos a favor de um ou do outro. Podíamos
também atacar um sistema de símbolos, porque o símbolo tem uma relação racional
22
com a realidade significada; mas na língua, sistema de signos arbitrários, não temos
esta base e sem ela não há fundamento sólido para discussão. A enorme quantidade de
signos necessários para constituir qualquer língua torna o sistema tão pesado que é
quase impossível substituí-lo por outro, pela complexidade do sistema. A língua é um
sistema tão complexo que mesmo a maior parte dos falantes desconhecem o seu
mecanismo e ainda há a resistência da inércia coletiva a todas as inovações linguísticas.
Saussure considera mesmo que de entre todas as instituições sociais a
língua é a mais resistente à mudança na medida em que é a mais utilizada pelo maior
número de indivíduos de uma comunidade. "A língua é, de todas as instituições sociais,
a que oferece menor margem às iniciativas. Ela incorpora a vida da comunidade, e esta,
naturalmente inerte, aparece antes de mais como um fator de conservação".
Numa outra perspectiva, porém, o signo linguístico aparece como mutável.
Como instituição social também a língua está sujeita à ação do tempo. "O tempo que
assegura a continuidade da língua, tem um outro efeito, à primeira vista contraditório em
relação ao primeiro: o de alterar mais ou menos rapidamente os signos linguísticos, e,
num certo sentido, podemos falar ao mesmo tempo de imutabilidade e da mutabilidade
do signo." A mutação provocada pelo tempo sobre a língua consiste fundamentalmente
num desvio na relação entre significante e significado.
10 - UNIDADE DO SIGNO LINGUÍSTICO
A questão da unidade do signo linguístico é diferente da questão sobre a
sua identidade. Se à unidade se opõe a pluralidade, à identidade opõe-se a alteridade.
A questão da unidade é atinente ao problema de demarcar os elementos básicos da
língua. A questão da identidade interroga-se sobre a mesmidade do signo nas suas
diferentes aplicações.
As entidades da língua são concretas. "Os signos de que a língua se
compõe não são abstrações, mas objetos reais". Mas em que consiste a natureza
concreta do signo?
Em primeiro lugar, na sua estrutura dupla de significante e significado. "A
entidade linguística só existe pela associação do significante e do significado; quando só
23
retemos um destes elementos, ela desaparece; em vez de um objeto concreto, temos
diante de nós uma pura abstração (...) Uma série de sons é linguística se é o suporte de
uma idéia; tomada em si mesma só pode ser matéria para um estudo fisiológico". Isto é,
os objetos da língua, as entidades linguísticas, apesar de psíquicos são algo bem
concreto, definido, "palpável". A determinado significante corresponde um conceito e
vice-versa. A concreção reside justamente na associação concreta entre este
significante e aquele significado, e não entre possíveis outros.
Em segundo lugar, a concreção da língua reside na sua delimitação, isto é,
é concreta porque tem contornos bem definidos. Ela é uma unidade. "A entidade
linguística só fica completamente determinada quando está delimitada, livre de tudo o
que a rodeia na cadeia fônica. São estas entidades delimitadas, ou unidades, que se
opõem entre si no mecanismo da língua". Mas esta delimitação é feita justamente pela
associação de significante e significado. Considerada em si mesma, a linha fônica é
uma linha contínua em que o ouvido não distingue quaisquer unidades. Estas só surgem
com a associação de determinadas porções de sonoridade dessas linhas a
determinados conceitos.
Para apurar as entidades concretas da língua há que saber, portanto,
delimitá-las no todo da língua. Assim, chegamos à importantíssima noção de corte ou
segmentação. O método de corte consiste em estabelecer duas cadeias paralelas, uma
de significantes e outra de significados, e fazer corresponder a cada elo da primeira um
elo da segunda. Este corte não é um dado da experiência, nem é um dado perceptível;
o corte é comandado pela língua. Uma pessoa por mais que ouça um discurso em
chinês, se não souber chinês, não conseguirá distinguir, cortar ou delimitar, as
respectivas unidades.
11- VALOR DOS ELEMENTOS DA LÍNGUA
A questão da identidade das entidades da língua diz respeito à mesmidade
do signo nas suas diferentes aplicações. O que se questiona, pois, é a identidade "em
virtude da qual declaramos que duas frases como 'não sei nada' e 'nada nos falta'
contêm o mesmo elemento". É que dois sons diferentes e até com significado algo
24
diferente podem ser identificados sincronicamente. Saussure dá exemplos, onde, apesar
de variação aos dois níveis, fônico e semântico, a identidade se mantém, isto é,
afirmamos que se trata da mesma unidade linguística. "Quando, numa conferência,
ouvimos repetir várias a palavra Senhores!, temos a certeza de que se trata sempre da
mesma expressão e, todavia, as variações de elocução e a entoação apresentam-na,
nas diversas passagens, com diferenças fônicas muito apreciáveis..., além disso, esta
certeza da identidade persiste, se bem que no plano semântico não haja a identidade
absoluta de um Senhores! a outro, quando uma palavra pode exprimir idéias bastante
diferentes sem que a sua identidade fique seriamente comprometida (cf. “adoptar uma
moda” e “adoptar uma criança”, “a flor da cerejeira” e “a flor da sociedade”. Esta
observação leva-nos a perguntar: se a identidade da unidade linguística não reside na
linha fônica, nem na linha semântica, então onde reside? No seu valor.
A questão do valor só é inteligível à luz das dois elementos da língua: sons
e conceitos. Uns sem os outros não têm forma. Sem os sons, o pensamento é disforme,
"amorfo", "indistinto". É uma "nebulosa em que nada é necessariamente delimitado".
Trata-se de um "reino flutuante". Por seu lado, "a substância fônica não é mais fixa nem
mais rígida; não é um molde a que o pensamento se deva adaptar; mas uma matéria
plástica que, por sua vez, se divide em partes distintas para fornecer os significantes de
que o pensamento necessita".
Olhados abstratamente em si, pensamento e matéria fônica, são amorfos,
nebulosas, matérias plásticas, que se podem moldar posteriormente. Só na sua união
ganham contornos definidos. A língua pode-se, assim representar "como uma série de
subdivisões contíguas desenhadas ao mesmo tempo sobre o plano indefinido das ideias
confusas e sobre o igualmente indeterminado plano dos sons".
Não se pode considerar a língua como um simples veículo do pensamento,
algo exterior ao pensamento que nada tem a ver com ele. "O papel característico da
língua nas suas relações com o pensamento não é criar um meio fônico material para a
expressão das idéias mas servir de intermediário entre o pensamento e o som, de tal
forma que a sua união conduz necessariamente a limitações recíprocas de unidades. O
pensamento, caótico por natureza, é forçado a organizar-se, por decomposição. Não há
nem materialização dos das idéias nem espiritualização dos sons, mas trata-se de algo
25
misterioso: o 'pensamento-som' implica divisões, e é a partir das duas massas amorfas
que a língua elabora as usas unidades".
A língua não é exterior ao pensamento ordenado. O pensamento ordena-
se à medida em que se exprime linguisticamente. É como se dois líquidos, sem
determinada forma, se solidificassem ao contacto um com o outro e, assim, ganhassem
formas bem determinadas.
A língua, diz ainda, Saussure é o domínio das articulações. Nós podemos
dizer, é o domínio das solidificações mínimas. "Cada termo linguístico é um pequeno
membro, um articulus em que uma idéia se fixa num som e em que um som se torna o
signo de uma idéia".
Esta associação determinadora de pensamento e sons é de ordem
funcional, isto é, as entidades concretas, as unidades por ela criadas, são formas, não
substâncias: "A linguística move-se num terreno limítrofe em que se combinam os
elementos dos dois níveis; esta combinação produz uma forma, não uma substância".
A língua não pode ser vista como um aglomerado de elementos, mas tem
de ser vista como um todo, como uma estrutura. "Além disso, a idéia de valor, assim
determinada, mostra-nos que é uma grande ilusão considerar um termo apenas como a
união de um certo som com um certo conceito. Defini-lo assim seria isolá-lo do sistema
de que faz parte; seria acreditar que podemos começar pelos termos e construir o
sistema a partir da sua soma; pelo contrário, é do todo solidário que temos de partir para
obtermos, por análise, os elementos que ele encerra". É nisto que reside o
estruturalismo de Saussure: não é possível entender nem compreender um signo sem
entrar no jogo global da língua, isto é, sem saber o seu lugar e a sua função no todo
linguístico.
12- RELAÇÕES SINTAGMÁTICAS E PARADIGMÁTICAS
As identidades linguísticas residem no seu valor, mas este, como se viu,
estabelece-se num sistema de relações e oposições. Ou seja, "a língua é um sistema
completamente ausente na oposição das suas unidades concretas". Quer isto dizer que
26
não nos interessam os signos em si, substancialmente, mas sim formalmente,
funcionalmente.
O que interessa à linguística são as relações entre os signos e que
verdadeiramente constituem os signos enquanto signos. Quais são essas relações?
Como é que funcionam? Na língua, Saussure distingue dois tipos de relações, que
também podem ser considerados como os dois eixos da língua: as relações
sintagmáticas e as relações paradigmáticas ou associativas. "As relações e as
diferenças entre termos linguísticos desenrolam-se em duas esferas distintas, cada uma
das quais gera uma certa ordem de valores; a oposição entre estas duas ordens ajuda a
compreender a natureza de cada uma. Correspondem a duas formas da nossa atividade
mental, igualmente indispensável à vida da língua".
Para compreender um destes tipos de relação é preciso compreender o
outro; é que também eles se definem por oposição, como tudo na língua. Um é de tipo
horizontal e outro de tipo vertical. Primeiro, temos o plano sintagmático assente na
linearidade do signo linguístico. Quando caracterizamos o signo linguístico vimos que,
além de arbitrário e mutável/imutável, era também linear. Esta linearidade caracteriza o
signo linguístico na medida em que, enquanto acústico, o distingue dos signos visuais,
passíveis de ser apreendidos simultaneamente. Os signos linguísticos sucedem-se uns
aos outros numa mesma linha, encontram-se numa cadeia, estabelecem relações ao
nível dessa linearidade: "No discurso, as palavras contraem entre si, em virtude do seu
encadeamento, relações que assentam no caráter linear da língua, que exclui a
possibilidade de pronunciar dois elementos ao mesmo tempo. Eles dispõem-se, uns
após outros, na cadeia fônica. Estas combinações que têm como suporte a extensão
podem ser chamados sintagmas".
Um sintagma é, portanto, uma combinação entre dois ou mais signos de
uma mesma cadeia linear. "O sintagma compõe-se sempre de duas ou mais unidades
consecutivas (por exemplo: re-ler, contra todos, a vida humana, Deus é bom, amanhã
saímos, etc.). Num sintagma, o valor de um termo surge da oposição entre ele e o que o
precede, ou que se lhe segue, ou ambos".
O termo grego sintagma significa: "contingente de tropas, tropa;
composição, obra, doutrina; constituição política; contribuição, taxa. Em português,
27
significa esse termo: "Qualquer tratado cujo assunto é metodicamente dividido em
classes, números, etc.; Mil. Subdivisão da falange grega, que tinha também o nome de
xenágia, composta de dezesseis fileiras e outras tantas filas.". O termo designa pois
organização. A especificidade que Saussure lhe empresta é a de se desenvolver ao
mesmo nível linear.
Antes de aprofundar mais a definição de sintagma, convém desde já,
diferenciá-la da de paradigma: "Por outro lado, fora do discurso, as palavras que têm
qualquer coisa em comum associam-se na memória, e assim se formam grupos, no seio
dos quais se exercem relações muito diversas. Por exemplo, a palavra ausente fará
surgir diante do espírito uma série de outras palavras (ausência, ausentar, ou então
presente, clemente, ou ainda distante, afastado, etc.), de uma forma ou doutra, todos
têm qualquer coisa de comum entre si". Este tipo de relações entre os signos é
completamente diferente do sintagma. "O seu suporte não é a extensão; a sua sede
está no cérebro, fazem parte do tesouro interior que a língua representa para cada
indivíduo. Chamar-lhe-emos relações associativas".
A diferença entre os dois tipos de relações é que um é feito in praesentia,
o sintagmático, e o outro in absentia, o associativo ou paradigmático: "A relação
sintagmática é in praesentia; refere-se a dois ou mais termos igualmente presentes
numa série efetiva. Pelo contrário, a relação associativa une termos in absentia numa
série mnemônica virtual".
Saussure dá o exemplo célebre da coluna dórica para ilustrar a diferença
entre relações sintagmáticas e paradigmáticas: "Segundo este duplo ponto de vista,
uma unidade linguística é comparável a uma determinada parte de um edifício, a uma
coluna, por exemplo; esta encontra-se, por um lado, numa certa relação com a
arquitrave que suporta: este ajustamento de duas unidades igualmente presentes no
espaço lembra a relação sintagmática; por outro lado, se essa coluna é ordem dórica,
ela evoca a comparação mental com as outras ordens (jónica, coríntia etc.), que são
elementos não presentes no espaço: a relação associativa".
No artigo "Sintagma e paradigma", no Dicionário das Ciências da
Linguagem, Oswald Ducrot formaliza a noção de sintagma e liga-a à de relação
sintagmática: "Não há nenhum enunciado, numa língua, que não se apresente como a
28
associação de várias unidades (sucessivas ou simultâneas), unidades que são
susceptíveis de aparecer também noutros enunciados.
Saussure insistiu na dependência do sintagma com a relação sintagmática.
Para ele, apenas se pode descrever o verbo "desfazer" como um sintagma
compreendendo os dois elementos "des" e "fazer" porque existe em português um "tipo
sintagmático" latente, manifestado também pelos verbos "dês-colar", "des-vendar", "des-
baptizar", etc. Senão, não haveria nenhuma razão para analisar "desfazer" em duas
unidades.". Os sintagmas não dizem respeito apenas à combinação de unidades
mínimas, mas também à de unidades complexas de qualquer dimensão e de qualquer
espécie. Por outro lado, há que ter em conta dois tipos de relação sintagmática: o das
partes entre si, e o das partes com o todo: "Não basta considerar a relação que une as
diversas partes de um sintagma entre si (por exemplo, contra e todos em contra todos,
contra e mestre em contramestre); é preciso tomar em conta a que liga o todo às suas
partes (por exemplo, contra todos opõe-se por um lado a contra, por outro a todos;
contramestre relaciona-se com contra e com mestre)".
Atendendo aos sintagmas frásicos, Saussure interroga-se se o sintagma é
da ordem da língua ou da fala. Sendo o sintagma uma combinação e pertencendo as
combinações das unidades linguísticas à fala, parece não ser esta questão do foro da
linguística (que estuda apenas a língua), mas da fala. "o sintagma pertencerá à fala?
Julgamos que não. O que é próprio da fala é a liberdade das combinações; temos, por
isso, que investigar se todos os sintagmas são igualmente livres".
Existem combinações solidificadas pela língua, que não são do âmbito da
fala. Um estrangeiro que aprende a língua tem de as aprender na sua composição já
determinada: "um grande número de expressões pertencem à língua; são locuções
estereotipadas que não podem ser alteradas, embora possamos distinguir, pela
reflexão, as suas partes significativas (pois é, vá lá! etc.) O mesmo se passa, embora
em menor grau, com expressões como perder a cabeça, dar a mão a alguém, pôr-se no
olho da rua, ou ainda estar mal de..., à custa de..., por pouco não..., etc. cujo emprego
habitual depende das particularidades da sua significação ou da sua sintaxe. Tais
expressões não podem ser improvisadas, são-nos fornecidas pela tradição".
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Obviamente a fronteira entre os sintagmas estereotipados da língua e as combinações
livres da língua não é clara nem, por vezes, fácil de traçar.
13 - OS CONCEITOS DE BARHES:
Ao retomar em 1957 a noção saussureana de semiologia, Barthes introduz
novos conceitos de signo linguístico e de língua e modifica e o ipso a própria noção de
semiologia. Saussure partiu do sistema de comunicação humana para definir a língua: o
signo linguístico é um signo ao qual sobejais a intenção de comunicar. Barthes, por seu
lado, encara o signo unicamente do ponto de vista da significação e alarga desse modo
a noção de signo e de língua a tudo o que significa. Assim, enquanto a semiologia
preconizada por Saussure é uma semiologia da comunicação, a de Barthes é uma
semiologia da significação.
A semiologia não explica porque é que tal ou tal fato tem tal ou tal
significação. Ela não é de ordem explicativa. Não vai às causas. Nem tão pouco lhe
interessam. O que ela quer é conhecer a estrutura, o modo de funcionamento. A sua
tarefa é exclusivamente descritiva, de leitura ou decifração.
Em 1964 Barthes apura e desenvolve a idéia de semiologia enquanto
ciência formal da significação e começa por contrapor à tese de Saussure, de que a
"linguística era apenas uma parte da ciência geral dos signos". A razão dada por
Barthes deve-se à constatação de que "qualquer sistema semiológico se cruza com a
linguagem", negando aos outros sistemas semiológicos uma autonomia de significação,
isto é, eles só significam na medida em que se cruzam com a linguagem. Mas esta não
é a linguagem dos linguistas, ela é uma "linguagem segunda, cujas unidades não são já
os monemas ou os fonemas, mas fragmentos mais extensos do discurso que remetem
para objetos ou episódios que significam sob a linguagem, mas nunca sem ela". Assim,
a semiologia transformar-se-á numa translinguística, "cuja matéria tanto pode ser o mito,
a narrativa, o artigo de imprensa, como os objetos da nossa civilização, contando que
sejam falados".
A novidade introduzida por Barthes relativamente ao conceito de signo
reside em considerar também como signos os objetos cuja razão de ser não reside na
30
significação. É aqui o signo semiológico se desvia do signo linguístico. Enquanto a
função deste é significar, há sistemas semiológicos se só cumulativamente significam.
A função-signo serve a Barthes para desenvolver uma semântica do
objeto. Todo o objeto enquanto objeto significa; não há objetos insignificantes. A
significação do objeto começa no exato momento em que é produzido e consumido pela
sociedade.
Não é atrevimento algum dizer que o alargamento semiológico efetuado
por Barthes reside fundamentalmente na introdução das funções-signos. Desse modo
ele semiotiza toda a cultura e vida humanas.
A conotação e a denotação.
Um dos traços mais marcantes da semiologia de Barthes reside na
focagem da estratificação de sentidos. Existem sentidos primeiros, sentidos segundos
assentes sobre os primeiros, sentidos terceiros assentes nos segundos, etc. O sentido
aparece como um composto de camadas sucessivas de sentidos.
Em relação às Mitologias, Barthes define o mito como um sistema
semiológico segundo, construído sobre uma série semiológica já existente antes dele.
Esta série constitui o significante do signo que o mito é. A língua, enquanto sistema
semiológico primeiro e a matéria prima ou a linguagem objeto do mito enquanto sistema
semiológico é o segundo. Barthes mostra mediante o exemplo do jovem negro vestido
com um uniforme francês fazendo a saudação militar à tricolor como o sentido primeiro
dessa imagem constitui o significante de um outro signo. O sentido primeiro é o de um
jovem soldado de cor fazendo continência à bandeira francesa. Mas o sentido segundo
que assenta no primeiro sentido é bem diferente. Essa imagem significa "que a França é
um vasto Império, que todos os seus filhos, sem distinção de cor, servem fielmente sob
a sua bandeira, e que não há melhor resposta aos detratores dum pretenso colonialismo
do que o zelo deste negro em servir os seus pretensos opressores".
No caso apontado, o sentido segundo tem como significante aquilo que
constitui o sentido formado pelo sistema semiológico prévio, a saber, "um soldado negro
faz a saudação militar francesa". Este sentido pode ser encarado de dois diferentes
pontos de vista: como termo final da decifração da imagem ou como termo inicial de
uma mensagem. Terminologicamente, Barthes chama-lhe sentido enquanto termo final
31
e forma enquanto termo inicial. O mito enquanto sistema semiológico tridimensional
(significante, significado, signo) vai buscar ao sentido do sistema linguístico a sua forma.
No Livro Elementos de Semiologia, Barthes sistematiza, mediante a noção
de semiótica conotativa de Hjelmslev, a teoria da estratificação dos sentidos. Os
sistemas semiológicos conotados são aqueles cujo plano de expressão (significante) é
constituído ele próprio por um sistema de significação. Os sistemas primeiros são os
denotados. Segundo Barthes, há um ponto comum para o qual remetem todos os
sistemas conotativos: a ideologia. Quer isto dizer que todos os significados das
conotações desembocam na ideologia ou, mais exatamente, "a ideologia é a forma dos
significados de conotação". Em contrapartida, a retórica é a forma dos conotadores. A
semiologia enquanto ciência das formas de significação tem um papel desideologizante
da cultura. É que a ideologia encontra-se sempre num sentido segundo, mais ou menos
escondida, e o semiólogo o que faz é expor os sistemas semiológicos pelos quais é
produzida e em que existe. Por isso mesmo, todo o semiólogo é de certo modo um
mitólogo, aquele que decifra os mitos constituintes da civilização.
C O N C L U S Ã O
Nesse trabalho feito em conjunto com pessoas que se dedicaram à
realização de pesquisas, podemos constatar que no seu Livro Curso de Linguística
Geral, Ferdinand de Saussure descreveu um signo como uma combinação de um
conceito com uma imagem sonora. Uma imagem sonora é algo mental, visto que é
possível a uma pessoa falar consigo própria sem mover os lábios. Mas em geral, as
imagens sonoras são usadas para produzir uma elocução, consistindo um conceito
(significado - signifié) e uma imagem sonora(significante - signifiant, ou forma fonológica
em termos generativos. Portanto, em termos termos simples, um signo linguístico é toda
unidade portadora de sentido.
Como vimos, o modelo linguístico saussureano exigia que a semiologia
fosse um campo de pesquisa restrito aos códigos de signos arbitrários e intencionais,
por exemplo, o código dos sinais de trânsito, dos marinheiros ou dos jogos de carta. Na
chamada semiologia da comunicação, surgiu um ramo complementar chamado de
32
semiologia da significação para o estudo de signos e sinais não-intencionais na
natureza e na cultura.
Pela importância do tema, continuou o desenvolvimento da semiologia
saussureana em outros países de maneira independente sob outras influências, tal
como: a semiótica de Peirce (Alemanha e Brasil); de Charles Morris (EUA); ou da
informática e da cibernética (Moscou e Tartu).
A enorme quantidade de signos necessários para constituir qualquer
língua torna o sistema tão pesado que é quase impossível substituí-lo por outro, já que a
língua é um sistema tão complexo que mesmo a maior parte dos falantes desconhece o
seu mecanismo.
Enfim, esperamos ter aprendido com este trabalho, que apesar de não ter
sido ainda muito profundo, já deu para termos um bom entendimento dos signos,
especialmente o Signo Linguístico, depois de demorada pesquisa e argumentos
conceituais, tratando do tema “semiologia ou semiótica” com muito respeito e dedicação.
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REFERÊNCIAS:
[01] BUYSSENS, Eric. Semiologia e comunicação linguística. São Paulo:Cultrix,1972.
[02] CARVALHO, Castelar. Para compreender Sausurre e visão crítica. Rio de Janeiro,
Ed. Vozes, 10ª Edição.
[03] ECO, Umberto. "Signo" in Enciclopédia Einaudi. O Signo. Imprensa Nacional Casa
da Moeda, Lisboa, 1994.
[04] ECO, Umberto. Obra aberta. São Paulo: Perspectiva, 1976.
[05] GREIMAS, A.J. e COURTÉS, J. Dicionário de semiótica. São Paulo: Cultrix, 1999.
[06] MARTINET, André. Elementos de Linguistica Geral. Trad. Jorge Morais – Barbosa ,
Lisboa, Sá da Costa. 1971
[07] PEIRCE, Charles. Semiótica. São Paulo: Perspectiva, 1977.
[08] <www.wikipedia.org. >Acesso em 12/12/2006
[09] <www.facom.ufba.br. >Acesso em 15/12/2006
[10] <www.bocc.ubi.pt. >Acesso em 15/12/2006
[11] <www.periodicos.capes.gov.br.> Acesso em 12/12/2006