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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE ESTUDOS DA LINGUAGEM LABORATÓRIO DE ESTUDOS AVANÇADOS EM JORNALISMO KÁTIA HARUMY DE SIQUEIRA KISHI CAMINHOS PARA A VISIBILIDADE INTERNACIONAL: Um estudo de caso sobre as estratégias de divulgação de três periódicos brasileiros de Ciências Humanas CAMPINAS 2017

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS

INSTITUTO DE ESTUDOS DA LINGUAGEM

LABORATÓRIO DE ESTUDOS AVANÇADOS EM JORNALISMO

KÁTIA HARUMY DE SIQUEIRA KISHI

CAMINHOS PARA A VISIBILIDADE INTERNACIONAL:

Um estudo de caso sobre as estratégias de divulgação de três periódicos

brasileiros de Ciências Humanas

CAMPINAS2017

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KÁTIA HARUMY DE SIQUEIRA KISHI

CAMINHOS PARA A VISIBILIDADE INTERNACIONAL:

Um estudo de caso sobre as estratégias de divulgação de três periódicos

brasileiros de Ciências Humanas

Dissertação de mestrado apresentada ao Institutode Estudos da Linguagem e Laboratório deEstudos Avançados em Jornalismo daUniversidade Estadual de Campinas paraobtenção do título de mestra em DivulgaçãoCientífica e Cultural, na área de DivulgaçãoCientífica e Cultural.

Orientadora: Profa. Dra. Germana Fernandes Barata

Este exemplar corresponde à versão finalda Dissertação defendida pela aluna KátiaHarumy de Siqueira Kishi e orientada pelaProfa. Dra. Germana Fernandes Barata.

CAMPINAS2017

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BANCA EXAMINADORA

Prof. Dr. Rodrigo Bastos Cunha – Presidente

Universidade Estadual de Campinas (Labjor Unicamp)

Prof. Dr. Silvo Seno Chibeni – Avaliador Titular

Universidade Estadual de Campinas (IFCH Unicamp)

Profa. Dra. Iara Aparecida Beleli – Avaliadora Titular

Universidade Estadual de Campinas (PAGU Unicamp)

IEL/UNICAMP

2017

A ata de defesa com as respectivas assinaturas dos membros se encontra no /SIGA

– Sistema de Gestão Acadêmica

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AGRADECIMENTOS

À minha orientadora, Profa. Dra. Germana Barata, pelo direcionamento durante a

pesquisa e confiança no trabalho desenvolvido.

Aos professores, funcionários e colegas do Laboratório de Estudos Avançados em

Jornalismo da Universidade Estadual de Campinas (Labjor Unicamp) pelos

ensinamentos, debates e momentos de descontração durante as atividades do

programa de pós-graduação.

Aos editores-chefes Prof. Dr. Antonio Lessa (UnB), da Revista Brasileira de Política

Internacional, Profa. Dra. Renata Menezes (UFRJ), da Mana: Estudos de

Antropologia Social, e Ma. Roberta Cerqueira (Fiocruz), da História, Ciências, Saúde

– Manguinhos, pelo tempo e disponibilidade para realizar as entrevistas

semiestruturadas para análise desta pesquisa.

Ao Prof. Dr. Juan Pablo Alperin, da Universidade de Simon Fraser (SFU), e à Profa.

Dra. Stefanie Haustein, da Universidade de Ottawa, ambos no Canadá, pelos dados

coletados do Facebook e Twitter e fornecidos das três revistas desta análise na

ferramenta Altmetric, utilizada pela coleção SciELO.

Aos professores doutores Rafael de Almeida Evangelista (Labjor Unicamp), Silvio

Seno Chibeni (IFCH Unicamp), Iara Aparecida Beleli (Pagu Unicamp) e Rodrigo

Bastos Cunha (Labjor Unicamp), membros da banca examinadora de qualificação

e/ou defesa, que disponibilizaram tempo e dedicação para avaliarem esta

dissertação e contribuírem com o debate sobre a divulgação científica de periódicos

brasileiros de Ciências Humanas.

E também à minha família, amigos e colegas que, indiretamente, apoiaram esta

pesquisa nos momentos de desabafos e comemorações.

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RESUMO

Esta pesquisa de mestrado avalia três revistas científicas de Ciências Humanas paraentender qual o papel das estratégias de divulgação científica frente as crescentespressões por aumento da visibilidade e internacionalização com as quais elas têmsofrido. As revistas científicas analisadas são: História, Ciências, Saúde –Manguinhos, da Casa Oswaldo Cruz (Fiocruz), Mana: Estudos de AntropologiaSocial, do Museu Nacional (UFRJ), e RBPI – Revista Brasileira de PolíticaInternacional, publicação do Instituto Brasileiro de Relações Internacionais. Asrevistas foram selecionadas por serem consideradas referências em suas áreas doconhecimento, bem avaliadas no sistema nacional Qualis Periódicos e internacionalScimago Journal Rank (SJR). Historicamente, as Ciências Humanas sãopressionadas a seguir os mesmos caminhos traçados pelas Ciências Naturais parase legitimarem no campo da pesquisa. Mais recentemente, o principal indexador derevistas científicas nacionais, o SciELO, estabeleceu novos critérios de indexaçãoque, se por um lado, incentivam o aumento de qualidade das publicações, tambémincentivam as exigências por: produtivismo acadêmico; avaliação por métricas decitações; internacionalização da produção científica, sobretudo, com mais uso doinglês nos conteúdos; e maior velocidade no processo de editoração e divulgaçãodos artigos. Um caminho possível para essas revistas, e que será aqui analisadocom entrevistas semiestruturadas, é o uso da divulgação científica como estratégiapara aumentar a visibilidade, além de tentar compreender se o uso de métricasalternativas para complementar as métricas por citações está sendo viável no Brasil.Entre os resultados, esta pesquisa constata que a divulgação não é o principal fatorda internacionalização, no entanto, a internacionalização vem motivando adivulgação científica, sendo que, com investimentos adequados, é possível ter maisoportunidade para experiências interessantes e inovadoras, como o caso da revistaManguinhos, que nota o aumento de acessos ao periódico e engajamento do públicocom as ações desenvolvidas, o que agrega mais valor social para a revista, além deregistrar experiências interessantes de divulgação científica, investidas pela RBPI, eos motivos de resistência da revista Mana.

Palavras-chave: Altmetria, Ciências Humanas, Divulgação Científica,Internacionalização, Revistas Científicas, Visibilidade.

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ABSTRACT

This master's research evaluates four Brazilian Human Science journals in order tounderstand what is the role of science communication strategies in a scenario ofgrowing pressures for internationalization and visibility imposed in the scholarlycommunication. The journals here analyzed are: História, Ciências, Saúde –Manguinhos of the Casa Oswaldo Cruz (Fiocruz), Mana: Estudos de Antropologia ofthe National Museum (UFRJ) and RBPI – Revista Brasileira de Política Internacional,a publication of the Brazilian Institute of International Relations. The journals wereselected for being recognized in their fields of knowledge, well evaluated in thenational system called Qualis Periódicos and in the international Scimago JournalRank. Historically, it is perceived that the Human Sciences are forced to follow thesame features by the Natural Sciences to legitimize the field of research, as: increasepublication of papers in order to meet scholar productivism; be evaluated throughtraditional citation metrics; internationalize the paper publication, especially with ahigher amount of content in English, as it has happened in other fields. Onepossibility for these journals, and that will be analyzed here through semi-structuredinterviews, is to use science communication as a strategy to increase the journals’visibility, and verify if the use of alternative metrics could complement and make upfor poor performance on traditional metrics. Among the results, this researchconfirms that science communication is not the main factor for internationalization,however, the internationalization has been motivating science communicationpractice, and with adequate investments it is possible to guarantee interesting andinnovative experiences, as Manguinhos journal has done, which observes theincrease in access to the journal and public engagement with actions developed,adding more social value to the journal. Among other results, this research registeredinteresting initiatives of science communication developed by the RBPI and, on theother hand, the reasons of persistence on Mana journal.

Keywords: Altmetrics, Humanities, Internationalization, Science Communication,Science Journals, Visibility.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO .....................................................................................…............. p.10Contexto histórico das revistas científicas ……….................................…..........… p.11Problematização da pesquisa .................……….............................…..…........….. p.14Objetivos da pesquisa .............................…..…….................................…............. p.16Procedimentos metodológicos ................…………...............................…............. p.17Objetos de estudo de caso .....................………..............................…..…......…... p.19Estrutura da dissertação .................................................................……..….......... p.21

CAPÍTULO 1 – Contexto das Ciências Humanas ...........................…............... p.231.1 – Características das Ciências Humanas ............................………................. p.24

1.2 – Nagel e os problemas metodológicos nas Ciências Sociais ..…….….....….. p.301.3 – Nagel e as explicações das Ciências Sociais ......................….……..…….. p. 341.4 – O valor das Ciências Humanas e Sociais ..............................…….…........... p.37

CAPÍTULO 2 – Revistas brasileiras, produtivismo, acesso aberto e SciELO p.392.1 – Consolidação dos periódicos científicos brasileiros ................…….............. p.402.2 – O Qualis periódicos e suas interferências ..............................………........... p.452.3 – Produtivismo acadêmico e as editoras comerciais ................………............ p.502.4 – Os periódicos eletrônicos se espalham e as editoras crescem ………......... p.542.5 – O movimento do Acesso Aberto pelo mundo .........................…………........ p.602.6 – Acesso aberto na América Latina e no Brasil ........................……………......p.642.7 – A via dourada do acesso aberto: SciELO ..............................………............ p.662.8 – Critérios e política de indexação e permanência da base SciELO ……….... p.70

CAPÍTULO 3 – Internacionalização e Altmetria ...............................…............. p.743.1 – Internacionalização dos periódicos científicos.............................………...… p.753.2 – Altmetria vs. Fator de Impacto ......................................................….……... p. 823.3 – Altmetric: uma das ferramentas de métricas alternativas.............….……..... p.84

CAPÍTULO 4 – Estudo de três revistas brasileiras de Ciências Humanas .... p.914.1 – HCSM: História, Ciências, Saúde – Manguinhos ........................………….. p.924.1.1 – Perfil da equipe editorial da HCSM ........................................……………. p.964.1.2 – Avaliações e indexações da HCSM............................................………..... p.984.2 – Mana: Estudos de Antropologia Social .........................................………... p.1154.2.1 – Perfil da equipe editorial da Mana............................................………….. p.1174.2.2 – Avaliações e indexações da Mana.........................................…………… p.118

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4.3 – RBPI – Revista Brasileira de Política Internacional.............…..………..….. p.1284.3.1 – Perfil da equipe editorial da RBPI...........................................…………… p.1304.3.2 – Avaliações e indexações da RBPI...........................................………….. p.132

CAPÍTULO 5 – Considerações Finais.............................................…...........… p.150

REFERÊNCIAS .................................................................................….........… p.155

ANEXOS .........................................................................................…............…. p.172Anexo 1: Apresentação da 1ª edição – Manguinhos .................…....….……...… p.172Anexo 2: Carta do editor da 1ª edição – Manguinhos ...............…....………...…. p.174Anexo 3: Editorial da 1ª edição – Mana ....................................…..…………...… p.176Anexo 4: Nota dos editores de abril de 2011 – Mana................…..…………...… p.177Anexo 5: Apresentação da 1ª edição – RBPI ............................….....….……..… p.180Anexo 6: Roteiro da entrevista semiestruturada .......................….....…………… p.181Anexo 7: Transcrição da entrevista semiestruturada com Roberta Cerqueira, editora-chefe da revista História, Ciências, Saúde – Manguinhos........………………….. p.184Anexo 8: Transcrição da entrevista semiestruturada com Renata de CastroMenezes, editora-chefe da revista Mana Estudos de AntropologiaSocial........................................................................................………................. p.206Anexo 9: Transcrição da entrevista semiestruturada com Antônio Carlos Lessa,editor-chefe da Revista Brasileira de Política Internacional (RPBI)......................................................................……………..........………................. p.219

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INTRODUÇÃO

As revistas ou periódicos científicos têm sido, por anos, fundamentais

para a comunicação de dados, métodos e pesquisas dentro da comunidade

acadêmica e técnica, possibilitando, dessa forma, o avanço e o debate mais rápidos

e amplos da ciência no mundo em relação aos antigos meios de comunicação

científica, como cartas ou atas de reuniões entre pesquisadores. No entanto, os

periódicos científicos não foram sempre como os conhecemos hoje. Eles passaram

por diversas mudanças, como a aceitação de textos mais enxutos que os livros,

divergências sobre uma língua comum da ciência (já que, antigamente, a língua

franca era o latim, mas se disseminavam revistas de diferentes línguas com artigos

traduzidos), prática de revisão por pares se consolidando a partir dos anos 1960 e

até sobre as versões impressas, que estão migrando para versões digitais e online,

formato já adotado há décadas por grande parte das revistas e editoras comerciais.

Muitas outras mudanças já são vislumbradas para as revistas,

principalmente frente a ameaça do aumento das políticas de repositórios1e de

publicações em preprint2, que aceleram o acesso ao conhecimento científico com

ênfase em colaborações científicas, além da pressão para que as revistas atendam

aos critérios que as bases indexadoras estabelecem para promover uma melhor

comunicação. A exemplo disso há os critérios exigidos para indexação de periódicos

na coleção SciELO Brasil3 (2014), a principal base nacional, de grande relevância

1 Os repositórios institucionais fazem parte da política de acesso aberto às publicações, conhecidocomo via verde do acesso aberto. O depósito de materiais científicos em repositórios está seexpandindo não só na América Latina, como também na Europa. A política de repositórios interferediretamente nos direitos de depósito e autorais dos artigos científicos, pois, mesmo em revista deacesso aberto à leitura, retém tais direitos dos autores, impedindo que o artigo esteja presente emoutras plataformas e, de certa forma, monopolizando o conteúdo para a revista. Leia mais em:http://portal.fiocruz.br/pt-br/content/acesso-aberto-consolidacao-requer-politicas-publicas.

2 O preprint é a primeira versão de um artigo científico, ou seja, uma versão que não passou porrevisão de pares. Algumas áreas, como a Física, têm o costume de publicar eletronicamente preprintscomo forma de agilizar o debate científico, em vez de aguardar a demorada avaliação das revistasrenomadas. Como contrapartida, algumas plataformas que depositam preprints permitem umaavaliação aberta entre os leitores. Já o postprint é um artigo que passou por revisão de pares, foipublicado e depois depositado em algum repositório.

3 Trata-se de uma biblioteca eletrônica que indexa revistas brasileiras de acesso aberto para leitura,entre outros critérios, existente desde 2002 a partir de parceria entre FAPESP e BIREME. Ametodologia é a mesma usada para os países integrantes da Rede SciELO (com instituições defomento de suas nações): África do Sul, Argentina, Chile, Colômbia, Costa Rica, Cuba, Espanha,México, Peru, Portugal e Venezuela, com preparação para implantação em outros países.

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para a América Latina e publicações em acesso aberto4 no mundo, sobre pontos

estratégicos para ampliar a visibilidade dos periódicos nacionais no debate científico

internacional, como a divulgação científica (aqui, entende-se como o diálogo da

ciência com a sociedade) e o uso de métricas alternativas, que serão analisadas no

estudo de caso desta dissertação. Para iniciar o debate, nesta introdução vamos

discutir o contexto histórico de surgimento das revistas científicas, apontar suas

principais mudanças no decorrer dos anos e apresentar os problemas que esta

dissertação pretende discutir e analisar.

Contexto histórico das revistas científicas

Para compreender as sucessivas mudanças que ocorreram e estão

previstas para a comunicação científica, deve-se ter claro que as adaptações estão

relacionadas com o contexto histórico-social no qual as revistas estão inseridas para

melhorar e agilizar o debate e a comunicação da ciência. Voltando para o período

anterior ao surgimento dos primeiros periódicos científicos no mundo durante a

Idade Moderna, pesquisas de Stumpf (1999) e Meadows (1990) relatam que as

cartas pessoais tinham um peso grande na comunicação entre cientistas, porém,

circulavam em um espaço muito restrito de contatos; nem mesmo as atas eram

consideradas ideais para resumir os debates filosóficos e científicos que ocorriam

em reuniões acadêmicas. No entanto, ambos os formatos possibilitaram que, há 350

anos, surgissem os primeiros periódicos, mais rápidos e que poderiam atingir um

círculo maior de pares do que as cartas. Isso porque, se a intenção era atingir um

público maior, percebeu-se que, com as tecnologias que surgiram no período, era

mais fácil imprimir os conteúdos do que remeter algum debate para um grupo

restrito; as atas também passaram a ser as nossas atuais memórias ou anais que

registram os trabalhos apresentados nas reuniões acadêmicas e técnicas, como

ocorre atualmente em diversos eventos científicos (MEADOWS, 1990; STUMPF,

1999).

As duas primeiras revistas científicas surgiram em 1665 e são publicadas

até hoje, sendo a primeira o parisiense Journal des Sçavans (atualmente Journal

des Savants), no dia 6 de janeiro. Exatos dois meses depois (6 de março), foi

4 O acesso aberto determina que o acesso à informação é livre de custos para o leitor.

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lançado o londrino Philosophical Transactions, vinculado à Royal Society of London

(MEADOWS, 1999). No entanto, apenas o periódico inglês é considerado o protótipo

das atuais revistas científicas. Isso porque a publicação francesa, apesar de também

publicar relatos de experimentos das ciências duras, dava mais ênfase a resenhas e

resumos de livros que o primeiro editor, Dennis de Sallo, considerava importantes

para o periódico; além de inserir nas edições outras informações diversas, como

uma seção de obituários (DOMINGUES, 2014). Segundo Stumpf (1996), a Royal

Society of London se inspirou no formato de publicação do Journal des Sçavans

para fazer o seu periódico, mas investiu em um viés mais científico, ou seja, ao

contrário das edições francesas, a ênfase era dada aos relatos científicos

produzidos pela própria sociedade, excluindo seções como obituários, de debate

legal e sobre teologia, que o precursor também mantinha.

De acordo com Domingues (2014), o Philosophical Transactions também

incentivou que outras sociedades científicas inaugurassem publicações similares

que começaram a ser mais frequentes no século XVIII pela Europa, até mesmo com

surgimento de alguns casos de especializações por disciplinas entre os periódicos. A

revista londrina praticava uma revisão editorial (editorial review), como outras

iniciativas, e que dariam origem ao atual sistema de revisão por pares (peer review)

iniciada pela revista Medical Essays and Observations da Royal Society of

Edimburgh, em 1731, no entanto, a revisão por pares só se consolidou no século

XX, sendo que hoje se pesa desconfiança com relação a periódicos que não adotam

esse método de avaliação (DOMINGUES, 2014).

É importante ressaltar que o reconhecimento dos periódicos científicos

não foi instantâneo e começou a partir do século XVIII (LARIVÌERE et al., 2015). Os

artigos dos periódicos eram breves e considerados como “formas provisórias de

comunicação”, relata Stumpf (1996), pois os livros ainda eram a certificação do

conhecimento daquele século. Porém, com as pressões pela autoria de descobertas,

os cientistas passaram a publicar seus trabalhos em partes nessas revistas, além

dos custos serem menos elevados que a publicação e consumo de livros,

principalmente nas Ciências Naturais, já que até hoje para as Ciências Humanas e

Sociais o livro tem grande peso na produção científica, superior ao do periódico em

alguns campos acadêmicos (SANTOS, 2010).

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Percebe-se como o contexto histórico influenciou as publicações

científicas. Segundo Szmrecsányi (2011), o século XIX ficou marcado com a

interação da ciência com a tecnologia, pesquisas sistematizadas e a formação de

várias instituições científicas, em que a atividade do cientista começou a ter

reconhecimento e remuneração, movimentos que deram força para a difusão dos

periódicos científicos com os contornos que conhecemos hoje, a exemplo,

Domingues (2014) menciona as renomadas revistas American Journal of Science

(1818), Scientific American (1845), Nature (1869), Science (1880), entre muitas

outras no início do século XX.

No decorrer dos séculos XIX e XX, percebeu-se mudanças significativas

na produção de periódicos. Meadows (1999) aponta que, antigamente, como a

intenção dos cientistas era que suas pesquisas atingissem o máximo de pessoas do

meio acadêmico, o mesmo trabalho era publicado em diferentes revistas, ao

contrário de hoje, quando os periódicos prezam pelo ineditismo. Outra adaptação

das revistas foi em relação à língua, que, apesar de existirem edições com

publicações no latim (antiga língua franca da ciência), muitos trabalhos eram

publicados na língua nativa do lugar de publicação, o que fez com que pesquisas se

perdessem por ficarem restritas a um círculo fechado de falantes.

Hoje, as pressões são por publicações na língua inglesa para se atingir

um debate global em todas as áreas pelo mundo (HAMMARFELT, 2014), incluindo

as Humanidades (que incluem Ciências Sociais, Humanas e demais reflexões

relacionadas à humanidade), como esta pesquisa pretende analisar, além das

crescentes mudanças ao se adotar a divulgação científica e produção de conteúdo

para não pares (VALÉRIO e PINHEIRO, 2008) como justificativa social de

empoderamento da população com conhecimento sobre a ciência produzida no

Brasil, para que as pessoas possam ter meios para entender e resolver problemas

do espaço público e privado (ALBAGLI, 1996; CHASSOTI, 2003; BUENO, 2010),

além de existirem investimentos públicos nas pesquisas desenvolvidas no país e

também para sua disponibilização em acesso aberto, sendo importante que a

população entenda os motivos e conteúdo de tais financiamentos.

Outro ponto importante que esta pesquisa pretende compreender é o uso

da divulgação, principalmente por meio de redes sociais, que, em premissa, é

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rastreado pela ferramenta Altmetric5 (de métricas alternativas usadas pela base

SciELO) para medir o impacto social das publicações científicas. Isso porque, hoje,

algumas revistas de Ciências Humanas, como a História, Ciências, Saúde –

Manguinhos (BENCHIMOL et.al., 2014), têm feito uso desse tipo de divulgação por

redes sociais como promoção de seus periódicos para que seus conteúdos ganhem

visibilidade e sejam valorizados dentro de sua área do conhecimento no país e no

exterior. A divulgação científica pode, ainda, ajudar a promover a comunicação entre

pares, já que a revista estará em maior evidência, aumentando o acesso a seus

conteúdos e, talvez, melhorando sua visibilidade internacional, contribuindo para um

debate mais amplo. Dessa forma, a divulgação científica pode ser uma estratégia

importante de promoção da comunicação da ciência brasileira entre pares em nível

nacional e internacional. É importante destacar que, com o avanço dos preprints, as

revistas científicas vêm perdendo o diferencial do ineditismo, sendo desejável que

elas agreguem mais valor social à sua atividade, disseminado seus conteúdos para

um número maior de leitores.

Problematização da pesquisa

A área de Ciências Humanas se consolidou no meio científico após a forte

divisão disciplinar das Ciências Naturais na Idade Moderna e que se segue até os

dias de hoje. As Ciências Naturais tomaram como base o método científico e,

através da história da ciência, pode-se afirmar que influenciaram o produzir científico

nas Humanidades, apesar de elas possuírem suas particularidades (SANTOS,

2010). As pressões em se seguir o caminho já traçado pelas Ciências Naturais

continua em outros campos da produção da ciência, como as adequações éticas de

pesquisa, ainda em discussão no Brasil, e na internacionalização da comunicação

científica, incentivando a publicação em periódicos científicos para atender às

exigências de produtivismo acadêmico, que também começou a ser exigido na área

de Humanidades (MATTOS, 2008; DOMINGUES, 2014; REGO, 2014).

Nesse contexto, a divulgação científica por meio de redes sociais pode se

tornar uma aliada na promoção das revistas brasileiras (BENCHIMOL, 2014), e

promover um aumento de visibilidade internacional, ao compreender que mais

5 https://www.altmetric.com/ (Acesso em 29 de julho de 2017)

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pessoas podem chegar aos conteúdos quando divulgados. Para isso, foi avaliado o

uso da ferramenta Altmetric, métrica alternativa adotada pela base SciELO de

acesso livre de leitura e uma das principais indexadoras da América Latina. Deve-se

ressaltar que as revistas brasileiras também têm uma missão de se divulgarem mais

por estarem em acesso aberto para leitura, ou seja, há altos investimentos públicos

para que mais pessoas tenham acesso ao conteúdo das revistas brasileiras.

Para isso, foi realizada uma análise comparativa de três revistas da área

de Humanidades, História, Ciências, Saúde – Manguinhos, Mana: Estudos de

Antropologia Social e RBPI – Revista Brasileira de Política Internacional, para avaliar

se estão utilizando estratégias de divulgação para melhorar suas visibilidades

nacional e internacional e, se sim, se tem surtido efeito positivo. Adianta-se que,

dessas revistas, a Manguinhos e a RBPI desenvolvem, de forma ativa e constante,

estratégias de divulgação científica, enquanto a Mana não apresenta sinais de

promoção ou interesse em se divulgar mais, seja para cumprir o papel de transmitir

conhecimento para mais pessoas ou para expandir seu público leitor e fidelizar a

revista entre pesquisadores brasileiros e estrangeiros.

Essas diferenças entre as revistas desta análise se tornam mais

interessantes, em níveis de comparação, para entender quais são as políticas

editoriais, objetivos e expectativas desses periódicos frente as pressões atuais na

comunicação científica, mesmo entre revistas bem-conceituadas e reconhecidas

entre seus pares no país, como elas, bem como entender se as estratégias de

divulgação estão gerando frutos e se as métricas alternativas estão conseguindo

fornecer dados desses esforços para aperfeiçoamento e reconhecimento dos

periódicos brasileiros de Ciências Humanas no meio acadêmico internacional.

Apesar de existirem alguns estudos sobre os periódicos científicos brasileiros,

visibilidade internacional da ciência brasileira e sobre as métricas alternativas, ainda

não há pesquisas sobre como todos esses elementos se comportam na área de

Ciências Humanas das revistas brasileiras. Santos (2010), que realizou uma

pesquisa de mapeamento e “Perfilação dos periódicos científicos de Ciências

Sociais e Humanidades” indexados na base SciELO, também expõe que,

gradativamente, as revistas vêm se valorizando como veículos de comunicação

possível no país para as Ciências Humanas (provavelmente devido às pressões de

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produtividade acadêmica), embora a representatividade das revistas de Ciências

Humanas brasileiras seja baixa em bases internacionais por suas abordagens

regionais e preferências por publicações em português, com metodologias e cultura

tão distintas das Ciências da Vida. Desse modo, esta pesquisa é inédita no tema,

sendo importante compreender o momento de transição na comunicação científica,

como essas revistas estão reagindo e se as métricas alternativas podem ser um

caminho de promoção e visibilidade dos periódicos de Ciências Humanas.

Vale adiantar que, apesar das diversas nomenclaturas para a grande área

de Humanidades(mais abrangente de todas), usaremos aqui o termo de “Ciências

Humanas”, pois é como o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e

Tecnológico (CNPq), uma das principais instituições que avaliam as revistas

brasileiras, classifica os três periódicos aqui analisados6; a mesma classificação

também é utilizada pela base SciELO, que será discutida nesta pesquisa7. Mesmo

assim, faremos paralelos de pesquisas metodológicas envolvendo áreas próximas,

como Ciências Sociais Aplicadas e Linguística, Letras e Artes, tendo em vista as

semelhanças e pressões entre as áreas incluídas nas pesquisas de Humanidades.

Objetivos da pesquisa

Objetivo geral: Analisar se a divulgação científica e o uso de métricas

alternativas estão impactando a valorização e o aumento de visibilidade

internacional, no caso, deve-se ressaltar que o referencial teórico aponta a altmetria

como possível caminho para a valorização de revistas da América Latina e de

Humanidades(ALPERIN, 2013; HAMMARFELT, 2014). Por isso, a ênfase nesta

dissertação está nas ações de divulgação, nos efeitos das pressões de indexadores

de revistas científicas pela internacionalização e acompanhamento de métricas têm

ocasionado no processo editorial e na missão dos periódicos selecionados.

Objetivos específicos:

6 http://www.cnpq.br/documents/10157/186158/TabeladeAreasdoConhecimento.pdf (Acesso em 29 de julho de 2017)

7 http://www.scielo.org/applications/scielo-org/php/secondLevel.php?xml=secondLevelForSubjectByLetter&xsl=secondLevelForSubjectByLetter&subject=Human%20Sciences (Acesso em 29 de julho de 2017)

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● Resgatar o histórico da consolidação das Ciências Humanas como

ciência e as pressões para que elas se adéquem aos métodos e avaliações das

Ciências Naturais, mesmo que sejam campos, culturas e produções diferentes;

● Fazer um histórico sobre a disseminação de periódicos científicos no

Brasil, o papel do Qualis Periódico e as políticas voltadas à avaliação da produção

científica no país;

● Entender qual é a importância da internacionalização da ciência e

como os periódicos da área de Ciências Humanas estão se adequando a ela;

● Fazer um resgate sobre o acesso aberto no mundo e o destaque da

América Latina e do Brasil na política de comunicação científica;

● Analisar o papel da base SciELO para o fomento de melhorias dos

periódicos de Ciências Humanas, bem como suas exigências de indexação;

● Investigar o papel das métricas tradicionais e quais os benefícios e

gargalos das métricas alternativas para uma valorização e visibilidade internacional

dos periódicos brasileiros de Ciências Humanas;

● Analisar as experiências de divulgação, uso de altmetria e

internacionalização das revistas selecionadas: História, Ciências, Saúde –

Manguinhos, da Casa Oswaldo Cruz (Fiocruz), Mana: Estudos de Antropologia

Social, do Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro, e RBPI –

Revista Brasileira de Política Internacional, do Instituto Brasileiro de Política

Internacional (IBRI).

Procedimentos metodológicos

Esta pesquisa é composta por um estudo de caso sobre as estratégias de

divulgação científica das revistas História, Ciências e Saúde – Manguinhos, Mana:

Estudos de Antropologia Social e RBPI – Revista Brasileira de Política Internacional.

A escolha foi definida entre os títulos brasileiros em acesso aberto com melhores

colocações no ranking por citações do Scimago Journal Rank (SJR, 2015) na área

de “Arts and Humanities” (classificação da base); esse ranking de citações é

fornecido gratuitamente e inclui apenas revistas indexadas na base internacional

Scopus. As revistas selecionadas também deveriam estar na base SciELO, pioneira

nas melhorias da comunicação brasileira em acesso aberto, além de ser a

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indexadora científica de maior relevância na América Latina e que adotou em 2015 o

Altmetric8, ferramenta para medir o impacto social de artigos nas redes sociais. O

último critério de seleção adotado por esta pesquisa foi que essas revistas também

tivessem sido classificadas no estrato A19, o mais alto do Qualis Periódicos nas

principais áreas de publicação da revista, já que é uma avaliação tradicional aceita

atualmente nas políticas científicas brasileiras. Com base nesses critérios de

seleção, esta pesquisa selecionou revistas que já são relevantes para suas

subáreas do conhecimento ou especialidades e que estejam sofrendo pressões

constantes de manutenção pelos critérios de qualidade e internacionalização entre

publicações em acesso aberto impostas pela SciELO Brasil.

Para realizar esta análise, foi realizado um levantamento bibliográfico

para responder os objetivos específicos desta pesquisa, bem como uma análise

quantitativa sobre a presença dessas revistas nas redes sociais Twitter e Facebook,

dados coletados do Altmetric (ferramenta de métrica alternativa) e fornecidos por

Juan Pablo Alperin, da Universidade de Simon Fraser, e Stefanie Haustein, da

Universidade de Ottawa, no período de janeiro de 2014 até abril de 2017. Também

foi realizada uma análise qualitativa através de entrevistas semiestruturadas com os

atuais editores chefes das três revistas, a fim de entender as mudanças ocorridas

nesses periódicos, suas motivações e seus resultados ao empregar ou não as

estratégias de divulgação científica. Portanto, os dados coletados serão

predominantemente descritivos e irão expor características dos casos (FREITAS &

JABBOUR, 2011). As entrevistas semiestruturadas são importantes para analisar os

significados que os entrevistados atribuem sobre os temas abordados e avaliar as

mudanças ocorridas ao longo dos anos. A partir da observação, serão tecidas

críticas sobre os dados coletados e comparações nos depoimentos dos editores

chefes dessas três revistas, assim, pretende-se chegar a uma conclusão geral sobre

a hipótese de que o uso da divulgação científica e de métricas alternativas

8 Ferramenta usada pela base SciELO para medir os usos sociais de artigos ou conteúdos científicosem redes sociais, sites de jornalismo, documentos governamentais ou institucionais, blogs, entreoutros: https://www.altmetric.com/ (Acesso em 29 de julho de 2017).9 O Qualis é um processo de avaliação da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de NívelSuperior (Capes), que padroniza os títulos brasileiros em níveis A1, A2, B1, B2, B3, B4, B5 e C,sendo A1 a melhor colocação (100 pontos) e C a pior avaliação (0 ponto). No entanto, não basta aqualidade para as revistas serem consideradas A1, elas têm que se destacarem entre todos os bonsperiódicos brasileiros, já que, desde 2008, o estrato A não ultrapassa 25% do total de títulos. Essetema será discutido no capítulo 2.

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fortalecem e aumentam a visibilidade de periódicos científicos nacionais na área de

Ciências Humanas, podendo atingir uma visibilidade também internacional.

O estudo de caso foi escolhido como metodologia científica, pois o uso da

divulgação científica e das métricas alternativas como estratégias de promoção e

internacionalização dos periódicos científicos na área de Ciências Humanas no

Brasil ainda são muito incipientes e com poucos exemplos contínuos, já que o

movimento de mudança da comunicação científica ainda está em processo.

Portanto, a partir da análise das revistas, pretende-se compreender os possíveis

caminhos e características da produção científica brasileira na área de Ciências

Humanas em mudança. Isso porque, segundo Bastos (1999), o estudo de caso,

quando aprofundado de forma sistemática, pode auxiliar na compreensão de outras

amostras semelhantes.

As entrevistas semiestruturadas tiveram roteiro prévio estabelecido

(anexo 6), mas com a possibilidade de inclusão de questões complementares no

decorrer da conversa com os editores chefes envolvidos no processo de divulgação

científica dos canais selecionados. As entrevistas foram realizadas via Skype10 e

telefone, com áudios gravados, transcritos e anexados no final desta dissertação.

Para análise dos dados coletados, foi utilizada a categorização de tópicos para

compreensão da abrangência de visões sobre o tema com análises dos conteúdos

(análise qualitativa) e relacionados com os dados obtidos pelo Altmetric (análise

quantitativa), a fim de corroborar as discussões (YIN, 2005).

Todos os três editores chefes entrevistados autorizaram, via e-mail e/ou

áudio prévio, a gravação e o uso das respostas para composição desta pesquisa.

Objetos de estudo de caso

Foi definida para a seleção das revistas a serem analisadas nesta

pesquisa aquelas que atendessem aos critérios já descritos acima e que as

caracterizassem, portanto, como publicações sob pressão de internacionalização,

segundo as normas da SciELO, já estivessem indexadas no Scopus (indexador de

prestígio internacional que fornece publicamente rankings das revistas) e que

fossem bem avaliadas pelo sistema Qualis Periódicos. A pressão editorial para

10 Software de comunicação por vídeo e/ou voz disponível gratuitamente entre usuários ou sob o pagamento de tarifas entre usuário e não usuário. http://www.skype.com.

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manter a revista bem avaliada e entre as publicações de prestígio na área de

atuação, seja em nível nacional quanto internacional, indica condições adequadas

para o estudo de divulgação científica através de redes sociais. As redes sociais se

apresentam como um canal de comunicação relevante no mundo, com cerca de 2

bilhões de usuários apenas no Facebook (STATISTA, 2017), também considerado a

principal rede social no Brasil (TIC, 2015). Atualmente, as redes sociais compõem as

estratégicas para qualquer comunicação efetiva e de massa pelo número de

potenciais pessoas e regiões no mundo alcançados.

Sendo assim, ao realizar a busca pelo Scimago11 com os filtros [Artes e

Humanidades + Brasil + Journals + 2015], e considerando somente revistas em

acesso aberto, tem-se em primeiro lugar a revista História, Ciências, Saúde –

Manguinhos, com 0,255 de índice SJR; em segundo lugar, Mana: Estudos de

Antropologia Social, com 0,216 de SJR; em terceiro lugar a RBPI – Revista

Brasileira de Política Internacional, com 0,202 de índice de SJR em um conjunto de

23 revistas com perfis similares filtrados. As três revistas também estão indexadas

na base SciELO12 em um conjunto de 355 periódicos de toda rede SciELO, ou seja,

com publicações do Brasil e de outros 14 países.

A classificação Qualis Periódicos foi calculada pela plataforma Sucupira13,

com dados de 2012, que apontaram a revista História, Ciências, Saúde –

Manguinhos com Qualis A1 nas áreas: Ciências Ambientais, Educação, História,

Interdisciplinar e Sociologia. A revista Mana: Estudos de Antropologia Social recebeu

Qualis A1 nas áreas: Antropologia/Arqueologia e Sociologia e a RBPI – Revista

Brasileira de Política Internacional recebeu, em 2012, A1 em Ciência Política e

Relações Internacionais. Sendo assim, as três revistas atendem aos critérios

preestabelecidos para a seleção deste estudo de caso sobre o uso da divulgação

científica e métricas alternativas para melhorar a visibilidade internacional de

periódicos de Ciências Humanas brasileiros.

11 http://www.scimagojr.com/journalrank.php?area=1200&country=BR&openaccess=true&type=j&year=2015 (Acesso em 20 de julho de 2017).12 http://www.scielo.org/applications/scielo-org/php/secondLevel.php?xml=secondLevelForSubjectByLetter&xsl=secondLevelForSubjectByLetter&subject=Human%20Sciences (Acesso em 20 de julho de 2017).13

https://sucupira.capes.gov.br/sucupira/public/consultas/coleta/veiculoPublicacaoQualis/listaConsultaGeralPeriodicos.jsf (Acesso em 20 de julho de 2017).

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Estrutura da dissertação

Esta dissertação foi estruturada em uma introdução com contexto

histórico das revistas e objetivos de pesquisa, quatro capítulos, a conclusão,

referências e anexos. O primeiro capítulo discute as características das Ciências

Humanas e contextualiza a legitimação da área e os problemas metodológicos que

influenciaram a sujeição da área para as já tradicionais Ciências da Vida; o

referencial teórico terá como foco o trabalho de Ernest Nagel. Assim, busca-se

entender de que maneira as Ciências Exatas e Biológicas interferem em toda a

produção científica e como as exigências de produtividade de artigos, que

começaram a pressionar as Ciências Humanas a seguirem o mesmo ritmo a fim de

terem avaliações similares, mesmo que os processos de produção e maturação

científica sejam diferentes.

O segundo capítulo cobre questões sobre a consolidação dos periódicos

brasileiros e do Qualis Periódicos, as exigências mundiais de intensa produtividade

acadêmica, além da proliferação dos periódicos eletrônicos e expansão e monopólio

das editoras comerciais que deram força para o movimento de acesso aberto e de

bases indexadoras de acesso gratuito para leitura de seus conteúdos, como a

SciELO, maior da América Latina. Neste capítulo, ainda se aborda os novos critérios

de indexação e permanência de revistas na base SciELO, publicadas em 2014, com

os tópicos que discutem as estratégias de divulgação e uso de métricas alternativas

para aumentar a visibilidade das revistas indexadas e exigências para

internacionalizar os periódicos, desde a publicação na língua inglesa, até

composição do corpo editorial dos títulos.

O terceiro capítulo contextualiza por que a internacionalização tem sido

tão requisitada e exigida na ciência, o que define a internacionalização e os

impasses e desafios para os periódicos, especialmente no caso das Ciências

Humanas. O capítulo também busca entender a “cultura da citação” com o fator de

impacto das revistas, medido pelo número de citações, e como essa cultura

pressiona pesquisadores e editores científicos em um ambiente que as Ciências

Humanas não possuem bom desempenho, dando vazão para o debate das métricas

alternativas como melhores ou complementares ferramentas de avaliação para a

área e também como estratégia para aumentar a visibilidade dessas revistas.

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Apesar de existirem diversas ferramentas, o foco será no Altmetric, por ser a

adotada pela base SciELO, pioneira no uso de altmetria e acesso aberto no Brasil.

Já o quarto capítulo é o estudo de caso das três revistas científicas

brasileiras da área de Ciências Humanas para entender se o uso da divulgação

científica e métricas alternativas têm favorecido o aumento de visibilidade

internacional dos periódicos selecionados, bem como a discussão da coleta de

dados quantitativos (altmetria) e qualitativos (entrevistas semiestruturadas). A

dissertação se encerra com as conclusões finais geradas por meio das análises

deste trabalho, entrelaçando contextos, ideais, estratégias e ações concretas com

possíveis prospecções sobre caminhos para as revistas científicas de Ciências

Humanas.

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CAPÍTULO 1:

Contexto das Ciências Humanas

Este capítulo contextualiza historicamente alguns pontos importantes para

compreensão do universo no qual os objetos de estudo desta pesquisa estão

inseridos. No caso, a pesquisa faz uma análise comparativa entre três revistas

brasileiras de Ciências Humanas no uso de estratégias de divulgação e métricas

alternativas para promoção de uma melhor comunicação da área e

representatividade brasileira no mundo.

Sendo assim, faz-se necessário um resgate sobre como as Ciências

Humanas se consolidaram como ciência frente a predominância das pesquisas

naturais após a Idade Moderna. Este capítulo se baseará principalmente dos

conceitos de Ernest Nagel (1974), que analisou os problemas metodológicos e de

estrutura argumentativa nas disciplinas das Ciências Sociais em alguns capítulos do

seu livro The Structure of Science (primeira versão publicada em 1961) e que se

assemelham às questões enfrentadas pelas Ciências Humanas também. Em seu

estudo, o filósofo argumenta que as fronteiras que separariam as Ciências Sociais

das Ciências Naturais não são tão delimitadas, como apontado por Charles Snow

(1959) com sua divisão em As duas culturas sobre cientistas e literatos (também

feito um paralelo com as Ciências Humanas). Dessa forma, Nagel exemplifica casos

em que os problemas ditos exclusivos das Humanidades (Ciências Humanas,

Sociais e afins) também se aplicam às áreas naturais, mas, mesmo assim, são

superados. Seguindo a mesma linha de pensamento, a objetividade presente nas

Naturais também pode estar nas pesquisas de Ciências Humanas e Sociais a fim de

superar os problemas metodológicos que se sobressaem nas Humanidades, devido

ao seu carácter “historicamente condicionado” e “culturalmente determinado” dos

fenômenos sociais analisados.

O debate é importante para compreender como as Ciências Humanas

continuam sendo pressionadas a seguir os caminhos já traçados e legitimados pelas

Ciências Naturais. A mesma concepção também se aplica à comunicação científica

e ao fenômeno de produtividade acadêmica, desenvolvido no período da Big

Science como forma de metrificar o rendimento dos cientistas. O interessante da Big

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Science é que os altos investimentos eram empregados em pesquisas básicas e

aplicadas vinculados à indústria, onde a “taylorização” do trabalho é forte e necessita

de inovações em um ritmo frenético, sendo modelo para as exigências de cada vez

mais artigos científicos dos pesquisadores para aprovação de bolsas e verbas de

fomento à ciência (DOMINGUES, 2014); caminhos que as Humanidades resistiram

por anos, mas cada vez mais se veem dependentes para conseguir financiamento

para suas pesquisas, como discutiremos no próximo capítulo.

1.1 – Características das Ciências Humanas

Em 1959, o cientista e escritor britânico Charles Snow (1959) instigou um

antigo debate sobre o que ele nomeou, em uma palestra na Universidade de

Cambridge, de As Duas Culturas, que seria uma rivalidade entre as Ciências

Naturais e Ciências Humanas, na qual ambas possuem visões distorcidas sobre a

atuação do outro campo, sendo um conflito mais nítido na Inglaterra, segundo Snow

(1959), devido ao alto currículo especializado na educação britânica. Embora em

sua argumentação fique claro que Snow faz distinções entre Ciências Naturais com

o campo prático das Artes e Literatura, e não propriamente da pesquisa geral em

Ciências Humanas como aparenta ser a tentativa, é interessante observar a maneira

pela qual a desvalorização de um campo científico pode ser prejudicial para o

desenvolvimento das sociedades e da própria pesquisa, como o autor discorre

(mesmo com pontos a se fazer ressalvas). O britânico discute que, já em sua época,

podia-se observar essa desvalorização na Inglaterra, onde os “literatos” (aqui ele

menciona o campo da Literatura e História) não recebem as mesmas oportunidades

de salários, sendo que, “com sorte”, chegam a receber 60% dos salários de

“cientistas” e outras profissões técnicas como engenheiros, que contribuem mais

rapidamente para a produtividade capitalista (DOMINGUES, 2014). No entanto,

Snow defende que deveriam existir mais pontes entre os campos na academia para

quebrar esses preconceitos e instigar a criatividade científica.

Hoje, é possível indicar diversos incentivos à interdisciplinaridade da

ciência discutida por Snow (1959) em vários pontos do mundo, inclusive no Brasil, a

fim de aperfeiçoar e buscar alternativas para problemas complexos da sociedade,

como mudanças climáticas, problemáticas urbanas, sociais e de saúde, entre tantos

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outros (QUEIROZ e D’OTTAVIANO, 2009; BONACELLI, 2014; LEDFORD, 2015;

NATURE, 2015; VAN NOORDEN, 2015). O crescimento da interdisciplinaridade no

mundo também é perceptível pelos artigos indexados na plataforma Web of Science,

que desde a década de 1980 apresenta crescimento de áreas interdisciplinares,

principalmente nas Ciências Sociais Aplicadas, que ganham menos citações

acadêmicas (meio tradicional de metrificar a produtividade de pesquisadores), mas

trazem impactos importantes na economia e na sociedade “que não são capturados

por citações” (VAN NOORDEN, 2015).

Mesmo diante desse contexto, as Ciências Humanas e Sociais ainda

esbarram em diversos problemas de legitimidade de suas produções, chegando até

questionamentos sobre a sua importância na sociedade, observados em notícias

recentes, como a possível medida do Ministério da Educação da Austrália em 2015,

onde poderia haver uma substituição da carga horária das disciplinas de História e

Geografia do ensino básico para incorporar aulas de programação, com o

argumento de que desenvolver habilidades tecnológicas é uma necessidade no

século XXI (CHANG, 2014; McNEILAGE, 2014). Realmente, muitos outros países

estão introduzindo tais conceitos na educação básica como diferencial para as

próximas gerações, a exemplo da Inglaterra, Finlândia e França (DREDGE, 2014;

JOHNSON, 2014), mas questiona-se no caso australiano a hipótese de substituir

disciplinas ligadas aos conhecimentos das Ciências Humanas, que também são

necessários para o desenvolvimento da sociedade, como apontado em um estudo

da American Academy of Arts & Sciences (AAAS, 2013) – The Heart of Matter: The

Humanities and Social Sciences for a vibrant, competitive and secure nation –, no

qual são detalhadas as necessidades das áreas para o desenvolvimento de uma

nação forte no século XXI.

Outra notícia que gerou muito debate entre acadêmicos foi o envio de

uma carta do Ministério da Educação, Cultura, Esportes, Ciência e Tecnologia

(MEXT) do Japão no segundo semestre de 2015 a 86 universidades nacionais

japonesas para fecharem ou reorganizarem seus departamentos de Ciências

Humanas e Sociais a fim de “servirem melhor à sociedade” (DEAN, 2015; GROVE,

2015a; SAWA, 2015). A exemplo de críticas, Takamitsu Sawa, presidente da

Universidade de Shiga, argumentou que isso é o reflexo da “má tradição, que ainda

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está viva no Japão, de avaliar a aprendizagem acadêmica em termos da utilidade da

ciência, com empresas do setor privado se intrometendo no ensino superior”

(SAWA, 2015, s/p, tradução nossa), lembrando também de pontos históricos de

desvalorização da área no país, onde, durante a Segunda Guerra Mundial, apenas

estudantes das Ciências Naturais e Engenharia estavam isentos de prestar o serviço

militar, ou mesmo a proposta lançada no governo do primeiro-ministro Nobusuke

Kishi em 1960 de que as Ciências Humanas e Sociais deveriam ser abolidas das

universidades nacionais, existindo apenas nas particulares.

Sawa (2015) ainda comenta que a recusa do pensamento crítico presente

nas universidades que investem em Humanidades é clássico de governos totalitários

e que as políticas do país ainda estão sob o controle do Conselho de

Competitividade Industrial. Kingston (2015) concorda e acrescenta que o atual

governo conservador japonês quer cortar custos públicos e atender as universidades

privadas que anseiam por mais estudantes, devido ao grande número de

universidades japonesas e baixa natalidade para preencher as vagas, além de

considerar que investir mais nas Ciências Naturais pode ser o caminho para

melhorar a posição das universidades japonesas nos rankings mundiais, método

criticado por Sawa (2015) e Kingston (2015), prevendo fracasso caso a missão

continuasse, além da medida atrapalhar os esforços de internacionalização e

melhorias em pesquisas ligadas às Ciências Humanas e Sociais no país (GROVE,

2015b). Sobre o tema, o MEXT (2015) enviou um comunicado explicando que houve

um erro na redação da carta e que a intenção não era passar a ideia de que as

Ciências Humanas e Sociais são menos importantes que as Naturais e Engenharias,

ou que o ministério mantinha intenção de abolir os departamentos, e sim de

promover reformas como a interdisciplinaridade (KINGSTON, 2015), embora não

seja claro que foi apenas um mal entendido ou uma reação ao posicionamento e

críticas das principais universidades japonesas e de vários pesquisadores pelo

mundo (PRESTON PHRO, 2015).

Nos Estados Unidos também é perceptível a desvalorização da pesquisa

na área, como relata o estudo The Heart of the Matter da AAAS (2013), em que a

pequena parcela de investimento voltado para a área foi a única que sofreu redução

em 2011 do que nos seis anos anteriores, além de passarem por recentes pressões

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políticas sob ameaça de corte do fundo da National Science Foundation. O estudo

chega até a apontar a divulgação científica como caminho para que as políticas

públicas compreendam a importância da área, sendo necessário que pesquisadores

conversem mais com a sociedade e suas pesquisas, além de poder focar em objetos

de pesquisa urgentes para a população.

Não são todos os pesquisadores que precisam ser um “public intellectual”, eo instantâneo apelo popular não deve ser a pedra de toque para dar o valoracadêmico. Mas se pode manter a integridade acadêmica [...]. A renovaçãode fundos pode vir junto com o esforço renovado em lembrar os americanosdo significado e do valor das Ciências Humanas e Sociais. É pouco provávelque [os fundos] venham sem isso. (AAAS, 2013, p. 40)14

Voltando para o contexto britânico discutido por Snow (1959), uma

reportagem de 2015 do jornal inglês The Guardian destaca que as universidades

inglesas passam por pressões administrativas para dedicarem investimentos em

áreas mais “rentáveis”, como as Ciências Naturais, próximas da indústria e mercado,

podendo ser facilmente mercantilizadas (DOMINGUES, 2014). Assim, a área de

Humanidades como um todo passa por cortes de financiamento, já que os

resultados de suas pesquisas são menos tangíveis (PRESTON, 2015). Novamente

se traz o debate de Snow (1959) acerca do erro em tentar dividir os campos das

ciências para que elas compitam entre si em vez de se unirem para estimular o

pensamento crítico e criativo. Warner (2015) concorda, porém, rebate a fala de

Snow (1959) de que a área de Humanidades seria “ludista” ao não reconhecer os

benefícios das Ciências Naturais, pelo contrário, ela afirma reconhecer, com a

necessidade de haver um equilíbrio de valorização das áreas para promover um

diálogo mais amplo em benefício da ciência.

“O mal estar das Ciências Humanas” (SAFATLE, s.d.) também é

presenciado nas universidades brasileiras, havendo até casos de pesquisadores de

áreas limitantes (como Psicologia e Economia) negando as contribuições das

Ciências Humanas para suas pesquisas. Sobre isso, Cassidy (2008) justifica serem

áreas com considerável número de pesquisas quantitativas em relação às

qualitativas (como as áreas mais tradicionais adotam), além de historicamente haver

um impulso da compreensão pública de que ciência se restringe apenas às áreas

naturais.

14 Tradução livre a partir do original em inglês.

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Diante desse panorama, este capítulo justifica a escolha de análise sobre

estratégias para aumentar e valorizar as revistas científicas de Ciências Humanas

(como valorização da área também), buscando até mesmo entender se as métricas

alternativas e divulgação científica podem ser medidas adequadas para completar

as métricas tradicionais, bastante criticadas pela comunidade acadêmica. Isso se

deve porque o tempo de reflexão da área é mais longo que das Naturais. No

entanto, neste tópico, o foco é entender a posição da área frente as pressões por

legitimação e sob a discussão se a metodologia científica é válida para as Ciências

Humanas e Sociais, em que as Humanidades tendem a seguir/se espelhar nas

Ciências Naturais (SANTOS, 2010), ou seja, a “ideologia científica” em que uma

área se apoia em outra mais tradicional e imita seus métodos e ações para

conseguirem se legitimar (SAFATLE, s.d.; RICHARDS, 1993). De certa forma, esse

é o caso das pressões por publicação em revistas científicas nas Ciências Humanas,

que surgem para acelerar o processo científico e metrificar a produtividade

acadêmica dos pesquisadores da área, seguindo os passos que há anos trilham as

Ciências Naturais para contabilizar sua produção, agregar mais capital simbólico

(BOURDIEU, 2001) e, consequentemente, mais investimentos e valorização social.

O debate sobre a metodologia para as Ciências Humanas pode ser

analisado com um paralelo da análise das Ciências Sociais feita pelo filósofo

americano Ernest Nagel no livro The Structure of Science (1974), o qual ele dedica

dois capítulos para destrinchar os problemas metodológicos e sobre a estrutura de

argumentação das Ciências Sociais, que serão aqui discutidos. O interessante

dessa obra de Nagel é que o filósofo apresenta exemplos e discute que,

metodologicamente, as diferenças entre as Ciências Naturais e as Sociais

(ressaltando novamente que, pela similaridade dos campos, será compreendido

como comum para as Ciências Humanas também) estão separadas por uma linha

muito tênue. Assim, apesar de existirem obstáculos sérios na estruturação das

Ciências Sociais, é possível superá-los, visto o modo de se fazer ciência e avanços

das áreas Naturais.

Entender essas diferenças, mesmo que em uma fronteira não tão

delimitada dos campos das Ciências, é importante para compreender o “atraso” das

Ciências Sociais e Humanas em relação às áreas Naturais, como nomeado por

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Boaventura de Souza Santos (1993) sobre a ausência de leis ou teorias universais

bem fundamentadas nas disciplinas de Humanidades em relação às Ciências Duras.

Dentre as críticas a serem recordadas, essa ausência de leis universais

nas Ciências Sociais impossibilita a predição precisa e confiável como as leis

fenomenológicas naturais bem fundamentadas, que são capazes de predizer ações

como defendido pelas Ciências Naturais, assim, Nagel (1974) destaca que muitos

estudiosos não acreditam que seja possível uma predição nas Humanidades devido

à variedade de fenômenos sociais a serem correlacionados, além das várias escolas

de pensamento não estarem de acordo em suas teorias desde suas metodologias

até seus conteúdos, discordância que coloca em dúvida se todas as áreas das

Ciências Sociais podem ser consideradas como ciência pela ausência de rigor

técnico, bem como se elas atendem às responsabilidades éticas pela busca do

conhecimento.

A ausência de leis universais em Ciências Humanas ocorre porque os

fenômenos sociais discutidos pelas disciplinas descrevem certos grupos culturais em

determinadas épocas, não podendo ser fielmente replicadas em outros grupos

sociais porque os sujeitos envolvidos são seres humanos que modificam seus

comportamentos segundo as novas tecnologias, conhecimento e relações

acumuladas e/ou desenvolvidas (SANTOS, 2010). Essas diferenças batem de frente

com a Filosofia Positivista, que, em suas premissas, estabelece que a ciência bem

consolidada logicamente é capaz de predizer ações geradas pelos fenômenos

estudados com precisão, que normalmente estão apoiadas em evidências

observáveis que confirmam uma hipótese, ou seja, pode responder, mesmo que

parcialmente, a uma realidade científica.

Deve-se considerar que, com a evolução das pesquisas sobre o

comportamento humano, tem sido possível formular relações de dependência entre

variáveis de um processo social a ponto de ser possível supor generalizações mais

firmes, apesar das flutuações do campo social, e que são usadas até mesmo para a

elaboração de políticas públicas, sendo importante a atenção sobre os problemas

estruturais que envolvem as áreas humanas para, assim, minimizá-los ao máximo;

portanto, apesar dos problemas metodológicos que discutiremos, presente nas

Humanidades e também nas Naturais, sua importância social e incentivo de

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pesquisas não devem ser desvalorizados, já que é uma força para novos desafios

do século XXI e até para contribuições em soluções de problemas interdisciplinares,

como já mencionado (AAAS, 2013; BONACELLI, 2014; LEDFORD, 2015; NATURE,

2015; NOORDEN, 2015).

1.2 – Nagel e os problemas metodológicos nas Ciências Sociais

Nesse contexto, Nagel (1974) inicia o debate dos problemas

metodológicos em cinco blocos, que costumam gerar mais dúvidas sobre a

legitimidade das pesquisas nas Ciências Sociais, que aqui acreditamos se aplicar

também para o debate sobre as Ciências Humanas, dúvidas geradas muitas vezes

com precedentes de casos, tornando as questões mais problemáticas e a

necessidade de entendê-las mais evidente para evitar as falhas de pesquisa.

O primeiro obstáculo para as Ciências Sociais exposto no livro se

desdobra na possibilidade confiável e nas formas de pesquisa controlada,

distinguindo-a de experimento controlado, em que se é possível a manipulação,

mesmo que limitada, de variáveis do objeto de estudo para encontrar relações de

dependência estáveis entre elas, assim como ocorre em experimentos das Ciências

Naturais. Porém, raramente os experimentos controlados são possíveis nas Ciências

Humanas justamente por lidar com problemas que envolvem seres humanos e suas

relações, sendo que o próprio poder em alterar variáveis já é um fator de análise que

pode adulterar os resultados finais, já que em algumas situações isso não é

possível.

Outro problema comum nos experimentos controlados pela área e

correlatas é a necessidade de amostras iguais suficientes para as submissões iguais

de análise e manipulações dos fatores envolvidos, no entanto, dificilmente se

encontrará situações sociais idênticas para muitos estudos, mas esse problema não

prejudicará necessariamente a pesquisa, que pode se focar em eventos históricos

únicos sem perder a lógica e objetividade. Para ilustrar, Nagel faz relações dos

problemas com as áreas naturais, e destaca que disciplinas renomadas, como a

Astronomia e Astrofísica, também não permitem experimentos controlados, já que

lidam com corpos celestes, então, suas teorias se baseiam em achados de outras

disciplinas correlatas que já são consolidadas, sendo assim, “a falta de oportunidade

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para realizar experimentos controlados não impediu os cientistas de chegarem em

leis gerais bem fundamentadas” (NAGEL, 1973, p.408-409, tradução livre nossa). A

experimentação controlada não é uma exigência porque ela é a pesquisa em sua

extrema análise, porém, o estudo pode ser controlado, mesmo sem ter experimentos

controlados, ao buscar situações diferentes em que os fenômenos sociais

analisados se manifestem.

Ainda sobre os experimentos controlados, Nagel nega o posicionamento

de John Stuart Mill de que seja exclusiva das Ciências Sociais a impossibilidade de

seguir com todos os métodos científicos por ele definidos, como o isolamento de

variáveis sociais, já que, nas Ciências Naturais, também há casos dessa

impossibilidade, nos quais a manipulação de uma variável necessariamente vai

interferir em outra, como as constantes da Física e Química, mesmo assim, a

pesquisa não tem a menor legitimidade.

Sobre tais experimentos, outro problema destacado é a respeito dos

questionários e entrevistas nas áreas Humanas, que podem não refletir uma

proximidade com a realidade, pois os personagens humanos podem interferir em

suas respostas premeditadamente ou não. Porém, os outros modelos de

experimentos também possuem suas desvantagens, como as pesquisas de campo,

que impossibilitam a manipulação de algum fator. Preza-se, então, pela

responsabilidade do cientista em entender qual é a melhor estratégia adotada para a

sua pesquisa, considerando os pontos válidos e as desvantagens de cada uma.

O segundo problema metodológico debatido no livro, e já exposto na

introdução deste capítulo, é sobre o estabelecimento de leis universais sociais, visto

que os fenômenos são de carácter “historicamente condicionado” e “culturalmente

determinado”, assim, seus resultados vão variar de sociedade para sociedade e não

será possível uma predição exata, já que são ações controladas por humanos.

Porém, caso o ser humano domine ações das Ciências Naturais, como o controle

meteorológico no exemplo de Nagel, as premissas da Meteorologia não vão ter se

alterado por isso, assim como as leis sociais que podem ser bem consolidadas e,

mesmo com o controle humano, não perde sua legitimidade, já que os fatores das

leis transculturais podem ser elaborados dentro de um esquema de “caso ideal”,

como ocorre, em outro exemplo discutido, no caso da “constante gravitacional da lei

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de Galileu sobre os corpos de queda livre”, que tem variações em diferentes

latitudes, mas tal informação não foi considerada no “caso ideal” da lei.

A terceira problemática destacada no estudo se trata da recorrente

possibilidade de mudança dos seres humanos, que pode refletir no decorrer da

pesquisa com alteração de dados em entrevistas, nos casos em que os

entrevistados conhecem o objetivo final do estudo, por exemplo, ou por temer

retaliações, dependendo das respostas concedidas. A constante mudança humana

também pode refletir nos resultados finais, que geram os erros de predição como

uma “predição suicida”, na qual, ao se conhecer os resultados finais, os indivíduos

ou instituições envolvidas alteram os rumos de suas ações.

Outro erro de predição que pode ocorrer nas Ciências Sociais é a

chamada “profecia autor realizada”, na qual o resultado final é falso, mas, com base

nos dados apontados, os sujeitos ou instituições envolvidas interferem a ponto de

realmente realizar a falsa previsão. Essas falhas de predições nas Ciências

Humanas não devem, necessariamente, ser consideradas como pontos negativos

de suas pesquisas; exceto as que realmente apresentavam resultados falsos A

pesquisa realizada obteve sucesso, mas devido ao seu papel de compreender – e,

por que não, servir – o meio social ao qual pertence, os indivíduos podem tomar as

melhores decisões para evitar situações desconfortáveis e de caos, como nos casos

de pesquisas que embasam políticas públicas (AAAS, 2013).

O quarto problema que costuma surgir na pesquisa social é a natureza

subjetiva dos temas tratados, deixando margem para suposições de que os temas

definem se a pesquisa será objetiva ou não. Porém, não é porque os temas são

subjetivos que só serão realizadas ferramentas de análise subjetivas. Embora tais

temas exijam interpretação dos dados coletados e suas relações com o ambiente, a

interpretação dos dados também está presente nas pesquisas de outras áreas, pois

somente os dados observáveis não se bastam, como também expõe Kincaid (2014).

As alegações de que as Ciências Humanas e Sociais sãofundamentalmente diferentes das Ciências Naturais – uma formulaçãoclássica dessa posição é a de Taylor (1971) – por dependerem deprocessos interpretativos na coleta de dados, baseiam-se no falsopressuposto de que as Ciências Naturais não precisam empregar taisprocessos. Nenhuma Ciência trabalha com dados inteiramente brutos ou

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não interpretados. A questão é o grau e a amplitude em que argumentosfundamentados podem ser elaborados. (KINCAID, 2014, p. 22)

As Ciências Humanas não se bastam na tentativa de adoção de métodos

mais próximos das Ciências Naturais, como o behaviorismo, que busca fugir das

incertezas ao lidar com as pesquisas humanas da mesma forma que são

executadas pesquisas químicas ou de comportamento animal. Isso porque tal

método só foi utilizado para atender à busca por dados observáveis, só que o

behaviorismo não consegue responder à complexidade das relações humanas

(NAGEL, 1973; KINCAID, 2014), o que era de se esperar, já que humanos são

diferentes de objetos e animais, não podendo assim negar a existência de estados

humanos subjetivos, tornando tal processo inadequado.

Portanto, é difícil evitar a conclusão de que o behaviorismo como umaorientação metodológica (ao contrário do behaviorismo como uma teoriasubstantiva específica de comportamento humano) não é inerentementeinadequada para o estudo da ação humana intencional e que,consequentemente, repetidas afirmações sobre a inadequação essencial deuma abordagem própria behaviorista ao tema das Ciências Sociais não ébaseada em qualquer fundamento firme.(NAGEL, 1973, p.433)

Porém, deve-se destacar que, ao aceitar a existência de elementos

subjetivos, não se elimina a necessidade de embasar os resultados de forma lógica

na pesquisa, ou seja, não é imprescindível o envolvimento com os pensamentos e

sentimentos dos agentes envolvidos na pesquisa para se interpretar as relações

causais do objeto de estudo.

O último obstáculo metodológico destacado por Nagel se foca na

inclinação em se atribuir valores nas pesquisas sociais, prejudicando, assim, um

estudo mais neutro, sendo apontado que é passível de juízo de valor a seleção das

questões estudadas, a determinação de seus conteúdos e conclusões, a

identificação dos fatos e a avaliação dos elementos de juízo dos cientistas.

O filósofo discute que as escolhas sobre quais temas pesquisar estará

influenciada no que cada pesquisador considera importante pesquisar nas

Humanidades, assim como ocorre em qualquer outra área. Tais escolhas por si só

não vão interferir na metodologia da pesquisa, que pode ser feita de modo

controlado e objetivo em qualquer disciplina de estudo (KINCAID, 2014). Sobre os

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juízos de valor nos conteúdos das pesquisas, é apontado que existe, mas que

também é possível distinguir os juízos de valor dos juízos de fato. Nas Ciências

Sociais, a distinção é mais complicada, pois muitas vezes ambos se fundem, além

da linguagem vaga das Ciências Sociais, que não deixa explícita as diferenças de

fatos e valores. Porém, com a devida interpretação, é possível separá-los (NAGEL,

1973).

Sobre os elementos de juízo dos cientistas sociais, Nagel destaca

variantes que justifique sua existência. A mais comum e menos radical, que ocorre

em todas as áreas da ciência, é que todo cientista argumenta segundo seu contexto,

ou seja, os conceitos e relações que ele faz em sua pesquisa estão embasados em

sua bagagem intelectual segundo seu ambiente educacional e de pesquisa,

localização e posição social que influenciarão nas decisões científicas e se refletirão

em seu discurso, sejam de quais áreas forem. A ideia de que, em todos os campos

do conhecimento, os pesquisadores tomam decisões por seus juízos de valor

também é explicitado nas “hipóteses estatísticas”, nas quais não se há 100% de

certeza sobre algum fato, sendo necessário o posicionamento do pesquisador,

comum nas Ciências Humanas e Sociais, em que há probabilidades e não certezas,

mas o mesmo também ocorre em outras áreas, como na decisão de liberação de

medicamentos em período de testes, por exemplo, ou o desenvolvimento de

pesquisas aplicadas que podem trazer prejuízos sociais e ambientais, ficando em

jogo a responsabilidade do cientista.

1.3 - Nagel e as explicações das Ciências Sociais

Na busca pelo entendimento da consolidação das Ciências Sociais, Nagel

(1974) também buscou entender três estruturas que normalmente se prendem às

explicações nessas áreas do conhecimento, como as generalizações estatísticas ou

probabilísticas utilizadas em todas as áreas da ciência, mas importantes para as

Ciências Sociais e Humanas porque, segundo o filósofo, é possível que todas as leis

experimentais sociais sejam baseadas em probabilidades.

Isso ocorre porque os temas são, no geral, complexos e sem a

identificação de todas as variáveis presentes, sendo, então, mais sensato evidenciar

probabilidades, já que não é possível resultados exatos; outro motivo do recorrente

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uso das generalizações estatísticas é a possibilidade em esclarecer com mais

facilidade as relações entre os fatores de uma mesma questão a fim de explicá-las.

Segundo Kincaid (2014), os métodos estatísticos tiveram ascensão nas Ciências

Sociais justamente por influência dessa visão positivista, que desqualificou as

explicações causais por estarem em um nível de argumentação menos consolidado

do que as probabilidades. Essa aproximação das Ciências Sociais com as Exatas

apresenta um indicativo de tendência pela exatidão dos cálculos nas pesquisas, o

que também vem atingindo a produção em Ciências Humanas, entre outras

características do meio acadêmico, como o intenso produtivismo e o uso do idioma

inglês para internacionalizar os debates, tema proposto para esta pesquisa

(DOMINGUES, 2014; REGO, 2014)

Outro tipo de explicação utilizada pelas Ciências Sociais é o

funcionalismo, ou seja, que utiliza análises sistemáticas funcionais dos fenômenos

sociais. As funções são classificadas em seis definições por Nagel, como nas

relações de dependência entre fatores (1), comuns na matemática, por exemplo.

Outra definição é a função como utilidade (2), tentando descobrir qual é o papel

desempenhado de certo fator; a terceira definição destacada por Nagel é o sentido

de funções vitais orgânicas, ou seja, qual fator é essencial em dado sistema existir

(3). A quarta definição de função é ser o efeito esperado de uma ação, como “a

função de um machado cortando madeira” (4); em quinto, função ganha carácter de

conjunto de consequências determinadas por algo e que pode ser intencional ou não

(5), ou seja, uma ação pode desencadear diversas funções. Na última definição da

palavra, função ganha um sentido de contribuição para que um sistema possa se

manter estável (6).

Na sua explanação, Nagel levanta alguns problemas conceituais e

implícitos das análises funcionais, justamente por elas atenderem sentidos

diferentes, o que pode deslegitimar uma argumentação. Por exemplo, o termo de

“função vital” como sendo algo essencial para um dado estado existir remete à

suposição de que um fenômeno social analisado pode gerar uma lei universal para

dado sistema. Porém, como já discutido, as Ciências Humanas e Sociais têm um

carácter de mutação forte, sendo complicado definir um fator como crucial para

sistemas similares existirem. Nagel exemplifica a dificuldade ambígua dos fatores ao

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se definir que uma sociedade só pode existir, e assim ser classificada, se o fator

“organização política” estiver presente nas relações sociais; isso compreende que

quaisquer grupos que tenham algum tipo de controle e organização, característicos

da organização política, são uma sociedade, porém, se a expressão for usada de

forma menos ampla, tendo que atender a formas específicas de organização, muitos

grupos sociais não atenderão ao requisito.

Devido a tais complexidades das Ciências Sociais, coloca-se em dúvida

se os dados disponíveis realizados por essas análises funcionais são suficientes

para sustentar conclusões e julgar se algum fator é realmente indispensável. Deve-

se levar em consideração, por exemplo, que um dado grupo exerce uma função

primordial para manter em equilíbrio um sistema, mas, em meios sociais, se esse

grupo (fator) for eliminado, é possível que outro grupo social (fator) ocupe essa

função vital para manter o equilíbrio do sistema, uma mudança mais difícil de ser

observada nas Ciências Naturais e que pode desqualificar o rigor científico das

Ciências Sociais e Humanas. Ao evidenciar esses problemas de estrutura, Nagel

destaca que apenas os sentidos de funções como um efeito esperado (4) e como

um conjunto de consequências geradas por uma ação (5) são menos discutíveis, já

que são mais simples.

A última estrutura de argumentação discutida por Nagel é o individualismo

metodológico da Ciência Social interpretativa. Nessa estrutura, compreende-se que

“todo fenômeno social pode ser explicado de forma individualista” (KINCAID, 2014,

p.29), portanto, a análise se foca nos indivíduos e entende que generalizações de

nível individual englobam explicações de nível coletivo, isso sob o pretexto de que a

sociedade é composta por indivíduos, logo, compreendendo o micro se poderia

compreender o macro.

Porém, Kincaid (2014) discute que as explicações embasadas no

individualismo metodológico podem não contemplar completamente uma questão,

sendo necessária a junção de explicações individualistas e coletivas (holísticas);

assim, essa junção contraria o pressuposto de que se entenderia o coletivo apenas

no nível individual. A fim de exemplificar a necessidade de explicações mistas,

Kincaid (2014) elenca situações, como uma pesquisa sobre o desempenho de

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estudantes, que pode ser explicada por “variáveis individuais e comparação com

variáveis sociais, como escola e vizinhança” (p.31).

Nagel também questiona o argumento do individualismo metodológico de

que se deduz os elementos observáveis somente no nível individual e não coletivo,

não o considerando plausível, pois negar que as totalidades são diretamente

observáveis é o mesmo que negar a possibilidade de observar um bosque porque só

se observam as árvores (p.486), podendo pressupor que se, logicamente

encadeados, visões holísticas são aceitáveis cientificamente.

1.4 – O valor das Ciências Humanas e Sociais

Apesar de não estabelecer leis universais como nas Ciências Naturais, as

Humanidades conseguem traçar pontos de entendimento sobre as relações

humanas e, diferente da defesa positivista em minimizar as análises causais dos

fenômenos sociais, Kincaid (2014) e o relatório da AAAS (2013) lembram que as

Ciências Humanas e Sociais têm um papel importante no desenvolvimento e

execução de políticas públicas que exigem essas relações causais de elementos

inobserváveis para promover melhorias no século XXI. Esse mesmo papel não torna

preocupante a alteração de predições pelos indivíduos envolvidos, pois o

conhecimento científico se consolida pelo rigor lógico no qual as pesquisas são

desenvolvidas, e não nas certezas absolutas de suas predições.

O resgate das observações de Ernest Nagel também deixou claro que os

problemas que envolvem as metodologias e explicações nas disciplinas de Ciências

Sociais e Humanas são graves e merecem atenção, mas não são exclusivos de

suas áreas. Sendo assim, os mesmos problemas sofridos pelas Humanidades

também são perceptíveis nos campos naturais e são superados ao se basearem no

rigor lógico da argumentação, o que evidencia não existir duas ciências distintas,

como defendido na polêmica palestra e livros de Snow (1959), mas problemas

metodológicos a serem superados para o avanço contínuo da ciência e das

sociedades.

Como podemos compreender e gerenciar mudanças se não temos noçãodo passado? Como podemos entender a nós mesmos se não temos noçãode uma sociedade, cultura ou mundo diferente daquele em que vivemos?Um currículo equilibrado - incluindo as Humanidades, Ciências Sociais eCiências Naturais - fornece oportunidades para o pensamento e imaginação

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integrados, para a criatividade e as descobertas, e para uma boa cidadania.As Ciências Humanas e Sociais não são meramente eletivas, nem são eliteou elitista. Elas vão além do imediato e instrumental para nos ajudar acompreender o passado e o futuro. Elas são necessários e exigem nossoapoio em tempos difíceis, bem como em tempos de prosperidade. Elas sãofundamentais para a nossa busca da vida, liberdade e felicidade [...]15

(AAAS, 2013, p.61)

Visto a importância da área que ainda sofre para impor sua legitimação

como campo científico e que ainda sofre pressões ao ser comparada com as

Ciências Naturais, também na comunicação científica e suas políticas, esta pesquisa

segue com o debate sobre os primeiros periódicos brasileiros e as políticas de

publicação científica, que deram origem ao Qualis Periódico como avaliação

nacional para os cursos de pós-graduação e também das revistas brasileiras, sendo

parâmetro para se atingir também mais financiamento das agências de fomento.

Também será analisado no próximo capítulo como se consolidou o acesso aberto no

mundo e também na América Latina, que percentualmente é a região do mundo com

mais publicações sem restrições para leitura. As próximas páginas também contarão

com o surgimento da base de indexação SciELO e dos novos critérios para

indexação e permanência na base, divulgados em 2014 e importantes para esta

análise sobre as pressões sofridas pelos periódicos de Ciências Humanas.

15 Tradução livre a partir do original em inglês.

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CAPÍTULO 2:

Revistas brasileiras, produtivismo, acesso aberto e SciELO

O capítulo aborda diversos assuntos básicos para compreendermos o

contexto atual que se encontram nossas revistas selecionadas e objetos de estudo

desta pesquisa. Por isso, inicia-se com a história e consolidação dos periódicos

científicos no Brasil, perpassando pela história das primeiras revistas científicas

nacionais até a sua proliferação com as políticas científicas a partir do final do século

XX. Seguida pela discussão sobre o sistema de avaliação Qualis Periódicos pela

Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior), em que se

percebem as mudanças do sistema e suas interferências na produção científica das

Ciências Humanas ao gerar pressões em aumentar sua produtividade em revistas,

por já existir uma tradição em quantificar a produção em periódicos, mesmo que os

livros ainda sejam veículos de comunicação tradicionais da área e que as métricas

adotadas pelas Ciências Naturais, como o fator de impacto ou as citações, não

tenha o mesmo valor e não mensure da mesma forma as Humanidades. Observa-se

neste item de discussão do capítulo que as exigências das políticas nacionais por

internacionalização dos periódicos também atingiram as Ciências Humanas,

fazendo-se necessária a pesquisa para entender o movimento da área no Brasil.

Após esse debate nacional, é importante discutir as pressões por

produção de artigos científicos, antes presentes nas Ciências Naturais e agora

atingindo também as Humanidades. A publicação científica será discutida como um

negócio extremamente rentável para as grandes editoras, gerando questionamentos

sobre o acesso aos conteúdos e de direitos autorais dos pesquisadores, dando força

às políticas de acesso aberto, principalmente na América Latina.

Entender o movimento de acesso aberto nos ajudará a compreender a

história da base de indexação SciELO, mais importante portal em acesso aberto

para leitura da América Latina e com grande influência nas políticas de comunicação

científica no Brasil, sendo responsável por mais pressões e inovações para as

revistas brasileiras, como a introdução pioneira do uso de métricas alternativas para

complementar as análises de impacto social dos periódicos, além dos critérios que

forçam os editores a praticarem divulgação científica (denominado como marketing

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científico pela SciELO) e as porcentagens mínimas exigidas de publicações no

idioma inglês e membros estrangeiros do comitê editorial, visando à

internacionalização, como veremos no decorrer da dissertação.

2.1 – Consolidação dos periódicos científicos brasileiros

Segundo Freitas (2006), após a consolidação do periodismo cotidiano

(jornalismo) para atender à corte portuguesa que havia se instalado no Brasil Reino

do século XIX, surgiram também os primeiros sinais de comunicação e,

principalmente, de divulgação científica nesses mesmos veículos não

especializados. Vale ressaltar que a comunicação científica é aquela realizada entre

pares, como das revistas científicas aqui analisadas; quando a informação é

destinada ao público leigo (ou não especializado) se refere a uma divulgação

científica (ALBAGLI, 1996; VALÉRIO e PINHEIRO, 2008; BUENO, 2010). O primeiro

desses jornais cotidianos que começaram a circular informações científicas foi a

Gazeta do Rio de Janeiro, com notícias sobre eventos científicos e até mesmo

“memórias científicas” (FREITAS, 2006). Após ele, vieram os jornais baianos Idade

d’Ouro do Brasil e As Variedades ou Ensaios de Literatura, até que surgiu um que se

dedicava à ciência e às artes com o carioca “O Patriota, Jornal Literário, Político,

Mercantil & C. do Rio de Janeiro”, publicado pela Impressão Régia e editada de

1813 a 1814; logo em sua introdução já sinaliza a importância de uma comunicação:

“He huma verdade, conhecida ainda pelos menos instruidos, que sem aprodigiosa invenção das letras, haverão sido lentos os progressos nasSciencias, e nas Artes. Por ellas o Europeus transmite ao seu antípoda assuas descobertas, e as mais doces sensações da nossa alma, os nossossuspiros (para falar com Pope) vôão do pólo a India” (GUIMARÃES, 1813, p.iii, trecho original da época).

Depois do término de O Patriota, o próximo periódico surgiu apenas em

1822: o Annaes Fluminenses de Sciencias Artes, e Litteratura Publicados por huma

Sociedade Philo-Technica no Rio de Janeiro, mesmo que a sociedade a que fora

vinculado nunca tenha funcionado (FREITAS, 2006). A revista manteve um viés de

ciência utilitarista, sendo dividida em: faculdades completas com Matemática,

Medicina, Filosofia, Economia Política, Direito e Legislação; conhecimentos eruditos

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com História, Eloquência, Línguas, Antiguidades e Literatura; ciências qualificadas

com Artes, Poesia, Pintura, Cirurgia, Arte Militar, Agricultura, Comércio, Navegação

e Manufaturas, sendo classificado como artes tudo o que é útil e necessário para a

sociedade. Freitas (2006) discute que, nesse período, foi forte o clamor para

consolidar uma base de referências brasileiras na ciência e, embora os direitos

autorais fossem inexistentes, havia cuidado com a autoria científica na revista.

No entanto, Freitas (2006) comenta que o “produzir ciência” só conseguiu

se estabelecer no século XX. Isso porque, no Brasil, ainda há cicatrizes das políticas

de seu tempo colonial escravocrata, onde a tipografia tinha sido proibida e não

existia oferta de ensino, logo, uma minoria tinha o privilégio de saber ler e escrever

e, quanto menos, existia tradição ou políticas de incentivo a cursos superiores e

agremiações científicas para se desenvolver ciência. Isso justifica o motivo das

poucas iniciativas de comunicação científica não terem perpetuado. Ressaltando

também que as iniciativas que surgiram eram classificadas como ciência, mas

Freitas explica que, no caso, a denominação se refere ao que chamamos hoje de

“técnicas”, que variavam desde agricultura até pintura. Mesmo os primeiros jornais

científicos no modelo que conhecemos hoje tiveram vida curta e eram denominados

na época como “jornais literários” com artigos técnico-científicos (contendo até

traduções de artigos de periódicos estrangeiros), já que a ciência era menos

disciplinada na época. A primeira revista especializada no Brasil foi de Economia, o

Semanário Político, Industrial e Comercial em 1831, porém, Freitas (2006) diz que

só teve uma única edição.

As revistas que começaram a ter mais tradição no final do século XIX e

início do XX estão ligadas às novas instituições de pesquisa que, aos poucos,

começaram a surgir no Brasil; algumas começaram com um nome em um período e

depois mudaram, mas continuaram suas publicações, como o Boletim da Sociedade

de Geografia do Rio de Janeiro (1885-1945), que passou a ser Revista da

Sociedade Brasileira de Geografia, mas a sua maioria desapareceu (STUMPF,

1994). Aparentemente, as que continuaram foi devido à força das instituições às

quais elas estão vinculadas, visto o alto custo de publicação para um público ainda

muito restrito, caso do periódico Memórias do Instituto Oswaldo Cruz, que iniciou

sua publicação em 1909, oito anos após a inauguração da instituição, e continua até

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hoje; mesma situação ocorre com a Revista da Sociedade de Ciência, inaugurada

em 1916 e que continua, mas desde 1929 com nome de Anais da Academia

Brasileira de Ciências, entre outros casos.

Stumpf (1994; 1998) indica que foi um período de adequação das revistas

científicas, por isso, é perceptível inúmeras falhas na produção dos periódicos, como

de normalização que dificulta o acesso a edições anteriores, podendo ser motivo da

baixa visibilidade dos veículos nos instrumentos bibliográficos na época, bem como

suas indexações, além da falta de incentivos financeiros para se manter o

comprometimento das instituições, a regularidade e o corpo editorial e de políticas

que estimulassem os pesquisadores a publicarem artigos científicos.

A partir dos anos 1950, muda a situação para a ciência brasileira com as

primeiras ações de políticas científicas no país, como a institucionalização da ciência

com a criação do CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e

Tecnológico) e da Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Ensino

Superior), destinando verba para valorização e profissionalização dos recursos

humanos no Brasil. Foi um período em que o Estado estava próximo do setor

industrial e preocupado com a segurança nacional, por isso, mantinha interesses em

pesquisa com energia nuclear, por exemplo. Segundo Morel (1979), foi uma época

criticada pela inauguração de muitos institutos de pesquisa sem verba para manter a

qualidade, apesar de ser o início da profissionalização do pesquisador com

dedicação exclusiva. Percebe-se que esse foi o momento de mercantilização da

ciência (DOMINGUES, 2014), com a futura exigência de produtividade de artigos

pelos pesquisadores.

Stumpf (1994) resgata referências que sugerem a necessidade de uma

política científica que incentiva a produção e publicação das revistas brasileiras,

carente até a década de 1970. O argumento era que, para a reestruturação de

financiamento da ciência ser efetiva, deveria atingir também o setor de publicações,

apesar de a política não ter sido empregada de forma contínua e com esporádicos

apoios financeiros, sendo que somente a Ação Programada de Informação da

Ciência e Tecnologia contemplou as revistas científicas, medida adotada de 1980 a

1985. A Ação identificou que os periódicos nacionais ainda necessitavam se

aprimorar, talvez motivo para que, naquela época, percebessem que as pesquisas

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brasileiras com mais destaque acabavam sendo publicadas no exterior e não nas

revistas brasileiras (SCHWARTZAN, 1984). Segundo Grinberg e colegas (2012), a

publicação em periódicos estrangeiros se tornou uma prática “cultural”,

principalmente nas áreas médicas, pois assim se teria o mérito internacional

reconhecido, o que geraria “pontos” nas instituições às quais os autores estão

vinculados, sendo até mesmo uma estratégia incentivada dentro da academia.

De acordo com Stumpf (1994) e Schwartzman (1984), um caminho

adotado para melhorar a qualidade e visibilidade das revistas foi o desenvolvimento

de programas para a área de editoração através do CNPq e da Finep (Financiadora

de Estudos e Projetos). Estariam inseridas no programa do CNPq, iniciado em 1980,

as revistas que atendessem aos critérios impostos de qualidade e que tivessem

relevância para suas áreas de pesquisa, principalmente entre as mais novas

publicações, já que as mais consagradas e com chances de atingir uma qualidade e

prestígio internacional eram agraciadas pelo programa da Finep, estabelecido em

1983. Ainda na década de 1980, o CNPq inaugurou outros dois programas que

viriam ajudar as publicações científicas; o PROED (Programa de Estímulo à

Editoração de Trabalho Intelectual das Instituições de Ensino Superior), vinculado ao

Ministério da Educação em 1981, com foco nas publicações de livros, mas que

mantinha apoio aos periódicos, e a Capes, que desenvolveu o Programa de Apoio

ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico (PADCT) e que viria a investir em

revistas científicas também (STUMPF, 1994). A partir desse período, as Fundações

de Amparo à Pesquisa de vários estados começaram a fomentar as publicações

científicas, com diferencial à FAPESP (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado

de São Paulo), que já concedia auxílios desde os anos 1970, conforme expõe

Stumpf (1994, 1998). A crescente preocupação com a qualidade e manutenção das

revistas brasileiras incentivou que surgisse em 1985 a ABEC (Associação Brasileira

dos Editores Científicos), trabalhando até hoje na promoção do diálogo entre

editores para que sempre se atualizem e aprimorem suas atividades (STUMPF,

1994).

As universidades também foram importantes no desenvolvimento das

revistas científicas no Brasil, onde se atribuía a função de produzir e também

comunicar a sua produção. No entanto, Stumpf (1994) observa em sua pesquisa que

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há escassez de bons artigos publicados nas revistas vinculadas aos programas de

pós-graduação. Esses programas foram muito incentivados na década de 1970,

principalmente as Ciências Exatas e Engenharia (MOREL, 1979), sendo que Stumpf

(1994) defende que as revistas só deveriam surgir quando esses programas

estivessem bem consolidados, fora o problema da falta de recursos próprios fazerem

com que os periódicos dependam dos programas de financiamento para

conseguirem se manter, o que pode torná-los instáveis e prejudicar suas qualidades

e periodicidade, consequentemente a representatividade brasileira no âmbito

nacional da ciência.

Até o final do século XX ocorreu uma proliferação das revistas brasileiras.

Isso porque a política recomendada nos anos 1980 era o incentivo da existência de

várias revistas, sendo algumas voltadas para o leitor nacional e outras para o leitor

internacional, a fim de atender aos públicos de pesquisadores diferentes no país

(STUMPF, 1994). As principais características das revistas dessa época são:

pertencerem a sociedades científicas brasileiras e a universidades, com equipe

editorial normalmente restrita a pessoas da mesma instituição ou região; muitas

delas publicavam artigos em inglês e outras línguas e quase todas publicavam pelo

menos os resumos em inglês; a tiragem dessas revistas normalmente era bem

pequena, a maioria já adotava a avaliação por pares, normalmente não possuíam

estrutura administrativa e ou recursos próprios com irregularidade na periodicidade,

no entanto, todas já aparentavam, nos anos 1980, desejar seguir padrões

internacionais de publicação (SCHWARTZMAN, 1984; STUMPF,1998).

Sobre a internacionalização dessas revistas, Schwartzman (1984) alerta

que o processo não é tão simples para as Ciências Humanas e Sociais porque

normalmente tratam de problemas relacionados à realidade do país, tendendo a

serem escritas em português, a fim de atenderem ao público interno.

O mesmo se dá em relação às áreas tecnológicas mais aplicadas oudestinadas às profissões especializadas (medicina, engenharia, agricultura,etc). Os especialistas de outros países que se interessam pela economiabrasileira, leem normalmente português e acompanham as publicações dopaís sobre o assunto. No outro extremo, pesquisas básicas em física,química ou biologia tendem a referir-se a temas específicos e são vazadasem linguagem altamente especializada, só acessível aos especialistas. Autilização de um idioma que é considerado veículo internacional, como oinglês, não impede sua compreensão pelo especialista brasileiro, e facilita oentendimento de especialistas de outros países. A esta diferença

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corresponde o fato de que, na maioria das vezes, os grupos de referência(os pares) dos cientistas sociais e dos tecnólogos são predominantementede seu próprio país, enquanto que os dos cientistas de áreas mais básicastendem a ser mais cosmopolitas.(SCHWARTZMAN, 1984)

O final do século XX também foi o momento em que começaram a surgir

as primeiras iniciativas de periódicos eletrônicos no Brasil como saída dos

problemas financeiros para publicação impressa, além de contribuir com uma edição

mais rápida, como veremos neste capítulo. No entanto, Stumpf (1998) destaca que

os problemas intrínsecos às revistas (conteúdo) e a necessidade de

profissionalização dos editores permanecerá com o novo formato. A movimentação

das publicações eletrônicas e do acesso aberto foram importantes para inaugurar a

parceria entre a FAPESP com a BIREME (Centro de Informação das Ciências da

Saúde para a América Latina e Caribe), que deu origem ao projeto SciELO

(Scientific Eletronic Library Online) em 1998, hoje uma das principais plataformas de

acesso aberto do mundo, com a proposta de valorizar as revistas brasileiras e da

América Latina.

2.2 – O Qualis Periódicos e suas interferências

A proliferação de periódicos brasileiros, apesar de ter sido incentivada,

como indicado por Schwartzman (1984), traz críticas e preocupação sobre a

qualidade desses veículos, principalmente devido à irregularidade de publicação e

acesso, falta de normalização dos artigos e de corpo editorial para a avaliação, baixa

internacionalização para promoção de um diálogo amplo e baixo grau de

originalidade dos artigos, o que gera até problemas de indexação dessas revistas,

além de escassez de recursos para manter um excesso de revistas não tão

relevantes em uma mesma especialidade científica (KRZYZANOWSKI e FERREIRA,

1998).

Apesar das pressões por mais publicação de artigos científicos – outro

motivo para o excesso de revistas: dar vazão às pesquisas nacionais e atender ao

produtivismo acadêmico (DOMINGUES, 2014; PACKER, 2014) –, a maioria dos

pesquisadores opta por publicar em revistas que sigam padrões internacionais de

qualidade científica, afinal, a revista em que sai o artigo do pesquisador interferirá

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em sua reputação para adquirir credibilidade científica e, assim, conseguir melhores

cargos e recursos para sua instituição (SCHWARTZMAN, 1984; BOURDIEU, 2001).

Para medir essa qualidade, as bases de indexação e as agências

financiadoras mantêm seus próprios critérios de avaliação sobre quais são os

méritos que um periódico deve ter; no entanto, em âmbito nacional brasileiro, o

controle de “qualidade” das revistas científicas é realizado pelo sistema de

classificação do Qualis Periódicos, que indica as publicações de relevância para

cada área do saber, segundo suas divisões.

O Qualis surgiu como parte do processo de avaliação dos cursos de pós-

graduação no país em 1998 pela Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de

Pessoal de Nível Superior). Isso porque, além da credibilidade individual do

pesquisador, onde ele publica também é um peso importante na avaliação dos

programas de pós-graduação – mais uma pressão para aumentar as publicações

científicas de pesquisadores em todas as áreas (JACON, 2006; SANTOS, 2010;

FRIGERI e MONTEIRO, 2014). A avaliação é realizada pelo sistema de Coleta de

dados, fornecendo também uma “cartografia da produção brasileira” (JACON, 2006;

LUCIANI et al., 2007; CAPES, 2014).

A avaliação pelo Qualis surgiu após uma comissão de especialistas

estrangeiros analisar o sistema de avaliação, a convite da Capes, em 1996/1997,

sendo estabelecido o método trienal (JACON, 2006; LUCIANI et al., 2007). O

processo iniciava com o envio de relatórios dos periódicos que docentes e discentes

do programa de pós-graduação publicaram no triênio; essas revistas eram listadas

em subáreas e depois as comissões de avaliação por áreas vinculadas à Capes e

seus consultores científicos padronizavam os títulos na base e os qualificavam em

níveis A, B e C, e em categorias de abrangência, se são internacional, nacional ou

local; cada área do conhecimento mantém seus próprios critérios de avaliação

(JACON, 2006; LUCIANI et al., 2007), embora Souza e Macedo (2009) expliquem

que a área de Humanidades por todo o mundo não possui tradição em indicadores

de periódicos porque o livro ainda tem um peso forte na comunicação, cuja

característica é sua duração e não a expansão rápida de seu conteúdo, como em

demais áreas. Santos (2010) complementa que os critérios mais comuns a todas as

áreas são análises sobre “corpo editorial, periodicidade, regularidade, distribuição,

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sistema de arbitragem, normalização, tiragem, indexação etc” (SANTOS, 2010,

p.52).

Souza e Macedo (2009) relatam que os mesmos critérios se mantiveram

no triênio seguinte, no entanto, após o término do período, o Conselho Técnico-

Científico (CTC) da Capes propôs, em 2008, novos critérios que vigorariam para a

análise do triênio 2007/2009. Isso porque o duplo critério de abrangência e nível

estava sendo compreendido e avaliado diferentemente pelas áreas, o que traz muita

imprecisão. Assim, os estratos do Qualis passaram a ser classificados como A1, A2,

B1, B2, B3, B4, B5 e C, sendo que A1 = 100 pontos, A2 = 85, B1 = 70, B2 = 55, B3 =

40, B4 = 25, B5 = 10 e C = 0 (CAPES, s.d.); C é a pior classificação dada para

periódicos considerados impróprios e que não atendem às exigências, ou seja, não

são científicos.

A estratificação de 2008 estabelece que, nas camadas superiores, A não

ultrapassasse mais que 25% das publicações, o número de periódicos em A2 deve

ser superior a A1, somando A1, A2 e B1 não deve ultrapassar 50% do total de

periódicos nessas camadas e as demais revistas devem se distribuir nos estratos B.

A justificativa para isso é evitar concentração em um estrato e perder a seleção dos

melhores por qualidade, embora não seja necessário preencher todas as classes. O

mesmo periódico pode ser avaliado e ficar em estratos diferentes em várias áreas de

sua atuação. Isso ocorre porque os critérios de classificação ficam a cargo das

comissões de cada área (MASSINI-CAGLIARI, 2012; CAPES, 2014).

Para as Ciências Humanas, a mudança trouxe à tona as novas

discussões sobre os indicadores, pois o fator de impacto não possui o mesmo peso

para a área como nas Ciências Naturais, que rapidamente se tem o impacto visível

em citações de seus artigos no período de análise (SOUZA e MACEDO, 2009), ao

contrário das Humanidades, que possuem período de maturação para citações

maiores. É por isso que esta pesquisa pretende avaliar se as métricas alternativas

podem ser uma boa saída para complementar essas análises para as Ciências

Humanas.

Santos (2010) ressalta que a avaliação diferenciada por área sempre gera

polêmica porque os periódicos podem ser classificados em categorias distintas

dependendo da comissão que está realizando a avaliação. Frigueri e Monteiro

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(2014) também apontam que uma linha de pensamento ou grupo podem se

beneficiar, já que “os coordenadores das comissões de avaliação têm liberdade para

sugerir com quem vão trabalhar, respeitando os critérios de competência na área,

tendo em vista que os nomes sugeridos devem ser aprovados pela diretoria de

avaliação da Capes” (FRIGUERI e MONTEIRO, 2014, p.307). Outro problema é que

as revistas que não se internacionalizaram (aqui visto no sentido de artigos

relevantes de autores estrangeiros e textos em inglês) podem ser excluídas do

estrato mais alto A1.

As críticas negativas sobre o Qualis Periódicos são observadas pelos

editoriais de muitas revistas da época. A médica Clinics trouxe dois editoriais de

Rocha-e-Silva (2009a, 2009b) polêmicos logo nos títulos com “O novo Qualis que

não tem nada a ver com a ciência do Brasil. Carta aberta ao presidente da Capes” e

“O novo Qualis, ou a tragédia anunciada”. Neles, o editor critica, por exemplo, a

porcentagem tão restrita de periódicos e programas de pós-graduação bem-

conceituados, sendo que na realidade o número pode ultrapassar o limite, mas só

serão cortados para atender a porcentagem.

A consolidação do Qualis como indicador de qualidade dos periódicos

está acontecendo com controvérsias sobre o que é uma ciência de qualidade e se o

sistema é capaz de medi-la com eficiência, já que aparenta considerar que todas as

revistas brasileiras possuem as mesmas condições de trabalho. Como a avaliação

está envolta da liberação de verbas, fica-se no círculo vicioso, onde as publicações

consideradas inferiores por essa métrica terão dificuldade em melhorar, enquanto as

que já são bem qualificadas, cedem ou atendem com mais facilidade às pressões

exigidas, como a internacionalização que esta pesquisa discute.

Outro problema do Qualis é a ausência de avaliação qualitativa dos

conteúdos das revistas, sendo que aspectos técnicos e quantitativos podem ser

adequados, o que não quer dizer que a revista tenha conteúdo de qualidade

(FRIGUERI e MONTEIRO, 2014). Jobim (2010) também aponta que, segundo o

método adotado pela Capes: “a ausência de um periódico científico considerado

relevante por uma área não significa que a Capes considera que o periódico não é

importante; significa, isto sim, que no sistema de pós-graduação stricto sensu

brasileiro, ninguém declarou publicar lá, e por consequência a comissão de Qualis

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Periódicos não o qualificou” (p.325), podendo assim prejudicar a revista em vez de

avaliá-la.

Sobre os problemas referentes ao Qualis, Massini-Cagliari (2012)

comenta que a existência de indicadores que orientem políticas públicas é

importante em todas as áreas com o intuito de prestar contas de suas atividades,

como serviço público, por isso, eles são usados para estabelecer metas e organizar

recursos, no entanto, a maioria das áreas utiliza como indicadores de análise do

novo Qualis o fator de impacto das revistas científicas, podendo gerar muitas

distorções, já que nenhum indicador isolado é fiel à realidade.

Para entender as métricas de avaliação nos programas de pós-graduação

de Ciências Humanas, Massini-Cagliari (2012) analisou seis tradicionais áreas das

Ciências Humanas, Exatas e Biológicas (Linguística, Geografia, Física, Química,

Ciências Agrárias I e Ciências Biológicas I) e notou que há uma concentração de

revistas de Humanidades nas classes B4 e B5, enquanto nas demais áreas

habitavam B2 e B3. Entre as diferenças de áreas, a pesquisadora destaca a autoria,

na qual, nas Ciências Naturais, é comum a existência de diversos autores, o que

possibilita mais cooperações internacionais e chances para atrair mais leitores pelo

mundo sobre a pesquisa colaborativa, consequentemente, mais citações e impacto

para a revista publicada; fenômeno que não ocorre nas Ciências Humanas devido à

sua característica em desenvolver uma argumentação bem embasada e lógica,

sendo complicada a redação com mais de três autores, além de os temas das

Humanidades, muitas vezes, se atentarem à busca por conhecimento e soluções de

problemas locais, inibindo colaborações estrangeiras em muitos casos.

Essas pressões por internacionalizar em demasia as Ciências Humanas

apenas para atender a critérios e conseguir boas pontuações para não perder

financiamento são colocadas pela autora como perigosas, visto que pode haver a

perda de interesse por problemas sociais brasileiros, como já se tem observado na

área da Economia, onde prevalecem mais artigos sobre modelos matemáticos do

que de análise da economia nacional e regional.

Ao analisar as áreas do conhecimento pela Lei de Bradford, Mugnaini e

coautores (2014) observam que nos triênios da Capes houve um aumento de

revistas de Ciências Humanas, Sociais e Multidisciplinares na Zona 3. A Lei de

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Bradford discute a dispersão de publicações em três zonas de concentração, sendo

que normalmente estão na Zona 1 um número reduzido de revistas muito produtivas

(que publicam muitos artigos), ou seja, periódicos já consagradas e com impactos de

citações acadêmicas; a Zona 2 apresenta um número maior de revistas, mas com

menos produtividade, sendo normalmente revistas em consolidação; já na Zona 3 é

onde há concentração de revistas novas, pouco produtivas (poucos artigos) ou que

estão deixando de ser utilizadas (SANTOS, 2010; MUGNAINI et al., 2014); Mugnaini

e colaboradores (2014) associam o fenômeno ao processo de avaliação do Qualis,

que aumenta a lista de revistas em cada triênio, dispersando títulos.

Mesmo diante desses problemas, Frigueri e Monteiro (2014) destacam

com sua pesquisa etnográfica sobre a influência da avaliação na rotina editorial que

o Qualis continua permeando todas as atividades da equipe dos periódicos com a

preocupação em atender a todas as exigências, sendo, além de um indicador, uma

política ativa que incentiva o “fazer ciência”; entre as influências, destacam-se a

padronização, produtividade, impacto e a internacionalização da ciência brasileira

(SANTOS et al., 2015). Sobre o ponto, Mugnaini e colegas (2014) comentam que as

avaliações nacionais influenciaram em um crescimento relativo de revistas

internacionais no geral, além de muitas áreas, como as Ciências Sociais e

Humanas, passarem a adotar o fator de impacto por citações como indicador de

avaliação.

2.3 - Produtivismo acadêmico e as editoras comerciais

No decorrer desta dissertação, mencionamos diversas vezes uma

pressão e problema que vêm atingindo todas as áreas da comunidade científica que

é o “produtivismo” acadêmico herdado da era da Big Science, período em que se

firmaram políticas públicas de aproximação da ciência, tecnologia e indústria nos

Estados Unidos após o fim da Segunda Guerra Mundial e o “sucesso” do Projeto

Manhattan, com uma organização de trabalho militar e industrial que rapidamente

trouxe inovações e descobertas científicas para a produção da bomba atômica

(STOKES, 2005). O protagonista dessas políticas é o relatório de Vannevar Bush, de

1945, encomendado pelo presidente norte-americano Franklin Rooselvelt, trazendo

o surgimento de instituições importantes para o país que fomentam uma ciência com

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perfil industrial, como a National Science Foundation (NSF), impactando a

comunicação científica. Domingues (2014) comenta que foi um gancho para a

mercantilização do conhecimento, “taylorização da pesquisa” e a busca por

vantagens competitivas em troca da aceleração da ciência, introduzindo a famosa

estratégia do “publicar ou perecer” (Publish or perish) na comunidade científica,

momento em que as grandes editoras comerciais ganharam força.

A Big Science é caracterizada pelo alto investimento em pesquisas e

desenvolvimento (P&D). Com o viés de gestão de uma “ciência industrial”, esse

processo necessitava de uma forma de controle de gastos e monitoria dos cientistas,

podendo ser um dos motivos que os sistemas de avaliações da pesquisa se

tornaram atrativas, além dos rankings e sistema de recompensa e punição para se

manter a almejada produtividade capitalista (DOMINGUES, 2014), em que a

quantidade de publicações conta mais do que a qualidade das pesquisas

desenvolvidas. Sobre o tema, Pierre Bourdieu (2004) explica que o conceito do

sistema de recompensas (reward system) se justifica na tentativa de motivar

pesquisadores criativos a publicarem e produzirem mais, distanciando os menos

produtivos desse sistema. Além da quantidade de artigos, outra chave de avaliação

são as “citações” (referências bibliográficas) que os pesquisadores recebem, como

um aval de que a comunidade científica aprova/debate as pesquisas do sujeito.

No entanto, Bourdieu (2004) aponta para problemas desse sistema, que

“reforça as forças de inércia do mundo científico” e no qual os pesquisadores mais

conhecidos são os mais produtivos por serem os mais citados, ou seja, o

pesquisador produtivo precisa “se entregar aos jogos” e regras mercantis para

sobreviver. Dessa forma, acumula-se um capital científico, definido por Bourdieu

como uma espécie de capital simbólico, que vai atribuir “crédito” aos bons jogadores

desse ambiente competitivo e empresarial. O crédito não se caracteriza diretamente

em dinheiro, e sim em “recompensas pessoais e intransmissíveis” como reputação,

prêmios e cargos na sociedade. Assim, o crédito dá visibilidade para o pesquisador

continuar (e mais forte) no jogo das publicações, já naturalizado e legitimado, com

braços em todo sistema científico (SANTOS, 2010b; DOMINGUES, 2014).

Nesse contexto, o século XX foi o marco da expansão das publicações

com a especialização dos campos científicos e a avaliação por pares dos conteúdos.

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Segundo o diretor da editora holandesa Elsevier, Michel Mabe (2003), em 1951

existia uma estimativa de 10 mil periódicos no mundo, sendo que, em 1987, já eram

71 mil e pesquisas estimam mais de um milhão de revistas, que adotam revisão por

pares, até o fim do século XX (LARSEN e VON INS, 2010). Segundo o International

Standard Serial Number (ISSN), existem (até julho de 2016) mais de 1,9 milhão de

publicações com registro ISSN, no entanto, constam nesse valor publicações não

científicas como revistas comuns e blogs. Entre os periódicos brasileiros, o Catálogo

Coletivo Nacional de Publicações Seriadas (CCN), do Instituto Brasileiro de

Informação em Ciência e Tecnologia (IBICT), registra 12.037 ocorrências no país,

até julho de 2016.

Apesar da inicial difusão realizada pelas sociedades científicas, as

editoras comerciais começaram a despontar no século XX, mostrando eficiência na

comunicação e mercantilização do conhecimento. O salto de publicações pelas

editoras comerciais ocorreu a partir dos anos 1990, representando uma parcela de

40% das publicações de periódicos, enquanto as sociedades científicas ficaram com

25% e as universidades 16% (MABE e AMIN, 2001; LARIVIÈRE, et al., 2015).

Tanto Domingues (2014) quanto Larivière e colegas (2015) apontam a

concentração das publicações científicas nas mãos de poucas editoras comerciais,

formando um oligopólio de publicações entre Reed-Elsevier, Willy-Blackwell,

Springer, Taylor & Francis e Sage Publications, que são as editoras detentoras de

títulos com mais citações. Segundo Larivière e coautores (2015), que pesquisaram o

movimento do oligopólio das grandes editoras comerciais entre 1973 e 2013, o

domínio delas se concentra nas áreas das Ciências Naturais, com exceção do

campo da Física, onde as sociedades científicas são fortes e mantêm a tradição de

publicações preprint em repositórios como o ArXiv16. Nas Ciências Sociais, percebe-

se um crescimento alto desde os anos 1990, sendo que, em 1995, as revistas

adquiridas por essas editoras somavam de 15% a 22% e, em 2013, chegou a uma

média de 54% a 71%, principalmente de campos que adotaram metodologias mais

próximas das Ciências Naturais, como Psicologia e Economia. Na contramão se

encontram as Artes e Humanidades, representando, respectivamente em 2013, 10%

16 Repositório de publicação de preprints (versão do artigo não publicado em periódico) eletrônicos,agregando os campos da Física, Matemática, Ciência da Computação e Biologia Estatística eQuantitativa, mas é mais atuante na Matemática e Física. ArXiv foi desenvolvido por Paul Ginsparg,em 1991, e não possui revisão por pares. (https://arxiv.org/)

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e 20% de publicações por essas grandes editoras; a justificativa seria que a área

tem tradição em publicações em livros e em jornais locais (muitas vezes, pouco

internacionalizados e na língua materna), não sendo rentável para as editoras

comerciais, já que o público leitor será mais restrito do que em outras áreas.

A força dessas editoras no ambiente de “ciência industrial” se justifica

com as métricas usadas para calcular a produtividade dos pesquisadores, ou seja,

mede quantas pessoas citam a pesquisa, gerando índices como o fator de impacto

das revistas científicas. O fator de impacto17 é o número de citações que um artigo

recebe, foi criado em 1964 por Eugene Garfield e foi adquirida pela Thompson

Reuters em 1992, empresa detentora do Institute for Scientific Information (ISI), que

o publica – de forma não gratuita – até hoje somente entre as revistas indexadas na

sua base de dados, com resultados publicados pelo Journal Citation Reports (JCR).

Outras bases de indexação também fazem métricas de citação similares, a exemplo,

tem-se a base Scopus (1992), da Elsevier, que cobre mais de 19 mil periódicos,

ranqueando as revistas no Scimago Journal Rank (SJR) e disponibilizado de forma

gratuita para consulta. Deve-se ressaltar que o nome “fator de impacto” só é usado

para as métricas tradicionais de citação publicadas pelo JCR.

Essas métricas são a base do sistema de recompensas discutido por

Bourdieu (2004), que, mesmo com falhas, vai definir a carreira dos pesquisadores

com os rankings estabelecidos pelas organizações reguladoras. No caso do Brasil,

seriam os critérios do Sistema de Avaliação da Capes nos programas de pós-

graduação e do Currículo Lattes dos pesquisadores no país, nos quais, para atender

a um viés produtivo de quantidade, até mesmo o tempo de pesquisa dos programas

de pós-graduação foi reduzido, gerando mais pressão, penalidades por não se

cumprir prazos e problemas éticos, além de menos reflexão e qualidade do trabalho

e de vida do pesquisador (MATTOS, 2008; ROSA, 2008). Teresa Rego (2014)

também comenta que as pressões para atender às exigências institucionais afetam

a comunicação científica, com o aumento exponencial de periódicos querendo se

indexar na coleção SciELO Brasil (que logo explicaremos melhor), publicações que

17 Calcula-se o fator de impacto segundo o número de citações recebidas pelo periódico em umprazo de dois anos anteriores à avaliação, dividido pela soma de artigos publicados nesses mesmosdois anos. Por exemplo, se uma revista recebeu dentro de dois anos 10 citações no total e publicouno mesmo período 40 artigos, o fator de impacto da revista é 10/40, ou no nosso exemplo, FI (ano daavaliação) = 0,25..

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são “visivelmente frágeis e imaturas”, como se tivessem sido “organizadas às

pressas”.

A fim de ter uma visão geral mais ampla para compreender melhor como

se foi criada e as mudanças que a base SciELO Brasil passou, vamos discutir a

proliferação dos periódicos eletrônicos e a expansão dessas editoras comerciais na

ciência, motivando que mudanças ocorresse, como as políticas de acesso aberto,

que serão discutidas ainda neste capítulo.

2.4 - Os periódicos eletrônicos se espalham e as editoras crescem

O contexto social trouxe muitas mudanças e papéis às revistas científicas,

como já apontados na introdução, mas uma das mudanças mais recentes é o

periódico eletrônico e as novas demandas para a equipe editorial com o advento de

novas tecnologias. Stumpf (1994) já destacava essas mudanças, comentando que

elas começaram junto com a consolidação dos primeiros computadores, nos anos

1960, com cópias em “microformas em substituição à cópia em papel”, porém não foi

bem-aceito na época, tendo mais sucesso com a iniciante popularização dos

computadores em países desenvolvidos na década de 1970, com a promessa de

tornar a editoração das revistas mais ágil e menos custosa (SANTOS, 2010).

Porém, nessa época ainda existia o problema de compatibilidade entre os

arquivos e máquinas, além de outras barreiras tecnológicas e de telecomunicação

com interface pouco amigável (MEADOWS, 2001; OLIVEIRA, 2008). Entre os

pontos discutíveis nesse período, Meadows (2001) destaca que não existiam

recursos que facilitassem a leitura para um público que, tradicionalmente, lia no

papel, além dos problemas de conexão na virada do século. Mesmo com esses

problemas, várias iniciativas começaram no formato eletrônico, segundo Targino

(1999), indo no fluxo das inovações tecnológicas como um recurso para aperfeiçoar

o contato entre cientistas de forma mais ágil.

Targino (1999) também debate sobre o significado de “periódico

eletrônico”, no qual pode ser interpretado como uma revista científica criada

somente para veiculação online ou ainda algo mais amplo, como as newsletters

informais disparadas por e-mail anunciando os novos fascículos. Ao se adotar como

periódico científico eletrônico apenas aqueles que mantêm controle de avaliação e

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características de formato mais próximas dos consolidados periódicos impressos, a

pesquisadora destaca o Electronic Information Exchange System, publicado de 1978

a 1980 pelo New Jersey Institute of Technology e com financiamento da National

Science Foundation, como o primeiro periódico científico eletrônico. Seguido pelas

tentativas europeias com o inglês Computer Human Factors, das Loughborough

University of Technology e University of Birmingham, com publicação de 1980 a

1984, e do francês Journal Revue da Direction des Bibliothèques, des Musées et de

L’Information Scientifique et Technique, que teve circulação entre 1984 e 1987.

Stumpf (1994) também evidencia a década de 1980 como precursora dos primeiros

sinais de artigos disponíveis online, com acesso pela internet, indexado em bases,

como as experiências da Ulrich’s International Periodicals Directory18, que desde

1987 começou a incluir mais de mil títulos disponíveis online; esse período foi o

prenúncio da inserção das grandes editoras comerciais e acesso restrito a

assinantes no meio digital também, como comentado no tópico acima.

Mais mudanças ocorreram nos anos 1990, quando se modernizaram as

redes de telecomunicações e as editoras comerciais conseguiram mais força e

títulos. Oliveira (2008) comenta que a Internet é um ambiente importante para a

comunicação, pois favorece um rápido compartilhamento e interatividade, seja para

discussões entre pares, submissão de preprints, facilidades de editoração ou

divulgação científica das publicações. Nesse período, os periódicos eletrônicos eram

aqueles disponíveis online ou para download (como hoje, que permite interação

entre o leitor e os autores) e em formato de CD-ROM, ação apenas de leitura e que

atualmente caiu em desuso por ser ultrapassado.

No Brasil, também se observa o disparo de publicações eletrônicas

(MUELLER, 2006) na década de 1990. Targino (1999) traz dados do Instituto

Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia (IBICT) de que, até 1999, já

existiam no Brasil 133 periódicos eletrônicos especializados, embora 26 estivessem

disponíveis apenas no formato eletrônico; fora que, além dos periódicos, de acesso

livre ou não, começaram a ganhar força os e-prints, que são os repositórios de áreas

18 É uma coleção de publicações seriadas iniciadas em 1932 por Carolyn Ulrich, chefe da divisão deperiódicos da Biblioteca Pública de Nova Iorque (EUA): http://ulrichsweb.serialssolutions.com/login(Acesso em 16 de junho de 2016).

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específicas ou os repositórios institucionais, como os das universidades, e o

autoarquivamento em páginas pessoais dos próprios autores (MUELLER, 2006).

Mesmo com a expansão, Meadows (2001) explica que autores

conservadores têm receio em publicar nessas plataformas por segurança contra

plágios. Nesse sentido e usando como exemplo a questão da autoria, Meadows

aponta que o formato eletrônico ainda necessitava de adequações, em que as

versões impressas eram mais fáceis em proteger um autor de cópias não

autorizadas porque elas não serão parecidas com os originais, mas, no caso das

versões eletrônicas, torna-se mais fácil o remanejamento de informações e réplicas,

sendo alertado que, em casos de disponibilizações na web, torna-se impossível

recuperar todos os conteúdos copiados.

Tanto Santos (2010) quanto Targino (1999) discutem as vantagens e

desvantagens do periódico eletrônico à luz de diversas referências, sendo que, em

resumo, concentram-se nas vantagens a agilidade na produção, a disseminação a e

busca de informações; um maior acesso, permitindo que cientistas de diferentes

localidades consigam os materiais se tiverem uma conexão de Internet; possível

queda do valor das assinaturas devido à diminuição dos custos de editoração,

impressão e distribuição; possibilidade de conteúdo multimídia, pois, além do artigo

em texto, pode haver hiperlinks que direcionem para materiais complementares

como imagens, vídeos, áudios e diversos outros recursos. Targino (1999) ainda

complementa que o periódico eletrônico permite a solidificação das bibliotecas

virtuais, concentrando o conteúdo de qualidade em um mesmo ambiente digital e

facilita a busca dos leitores.

Em contrapartida, nas desvantagens, Targino (1999) e Santos (2010)

destacam barreiras socioculturais, nas quais ainda existe um público que não se

acostumou à leitura na tela do computador (hoje, um problema quase superado);

barreiras econômicas e tecnológicas, pois há localidades no mundo onde a conexão

de Internet é precária e há um alto custo para aquisição do aparato tecnológico,

como computadores, além da carência de investimentos para que o novo formato

conseguisse se consolidar de forma mais ágil e segura, mantendo, ainda, uma

concepção de que os periódicos eletrônicos podem ser “inferiores” aos tradicionais

(TARGINO, 1999; SANTOS, 2010). Mesmo com tais desvantagens, cada vez mais

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os periódicos eletrônicos ganham força e se adéquam aos problemas, trazendo

melhorias de acesso, busca e leitura com as novas tecnologias; Targino (1999)

argumenta que a comunicação eletrônica é até mais adequada à realidade científica

por causa de seu dinamismo, sendo que hoje é perceptível a tendência de extinção

das versões impressas.

A consolidação dos periódicos eletrônicos no final do século XX não

significou apenas mudanças de acesso e formato dos artigos científicos, mas

também da forma de se publicar a revista, quem sabe, agregando mais valor e

papéis sociais para os periódicos, como o trabalho de divulgação científica. No

entanto, Meadows (2001) observa que os profissionais envolvidos no processo de

editoração tendem a considerar que a publicação eletrônica é apenas a versão

impressa transferida para o meio eletrônico, sendo que, segundo o pesquisador,

ainda são necessárias algumas adaptações.

Discutindo no momento da virada de século, Meadows (2001) também

destaca que o aumento de periódicos eletrônicos poderia ser prejudicial,

principalmente, para as editoras comerciais, já que os pesquisadores poderiam ter

acesso livre aos textos. Desde a criação dos periódicos científicos, existia o debate

sobre os custos de publicação, tanto que, no Brasil, temos a experiência de

inúmeras revistas com vida curta (STUMPF, 1994; FREITAS, 2006); em meados do

século XX começaram a se intensificar as preocupações devido ao aumento acima

da inflação para adquirir os periódicos pelas grandes editoras, principalmente entre

os autores que abrem mão de seus direitos autorais para as revistas

comercializarem e depois têm problemas de aquisição dos fascículos (MEADOWS,

2001; LARIVIÈRE et al., 2015).

Contradizendo os receios de Meadows (2001), Oliveira (2008) observa

que as editoras comerciais também começaram a investir em infraestrutura para um

armazenamento local dos artigos como conhecemos hoje. Foi o caso da Elsevier,

Springer, Blackwel e Wiley, atuais dominantes do mercado editorial; esse novo meio

de comunicação das revistas científicas possibilita uma hipermídia online, além de

permitir outras informações oriundas de links, vídeos ou imagens que completem a

informação dos artigos, atualmente. Ou seja, embora grandes editoras tenham se

inserido e rapidamente se adaptado ao mercado de periódicos eletrônicos,

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reduzindo os valores de impressão e distribuição das versões impressas, o custo

para o acesso aos conteúdos não diminuiu, aumentando, ainda mais, os lucros

dessas editoras (OLIVEIRA, 2008; LARIVIÈRE, et al., 2015), por isso, muitas

bibliotecas universitárias tiveram que cancelar suas assinaturas devido aos

constantes aumentos de custos, mesmo cenário que se instalou no Brasil, segundo

Muller (2006).

Lavière e colegas (2015) comprovam que, conforme as grandes editoras

comerciais se consolidaram, houve um grande aumento de lucros dessas empresas

e, mesmo em áreas em que houve uma queda dessa influência, a margem de lucros

se manteve estável, sendo que, atualmente, 68% a 75% da renda das editoras tem

origem de bibliotecas universitárias.

A possibilidade de aumentar os lucros de uma forma tão extrema reside napeculiaridade da economia da publicação acadêmica. Ao contrário dosfornecedores habituais, os autores fornecem suas pesquisas semcompensação financeira e os consumidores (ou seja, leitores) são isoladosa partir da compra. A compra e uso não estão diretamente ligados e asflutuações de preços não influenciam a procura. [...] No que diz respeito àsrevistas acadêmicas, os custos fixos da primeira cópia compreendem apreparação do artigo (seleção e análise), bem como cópia de edição elayout, redação de editoriais, marketing, e os salários e aluguel; mas os doisitens mais substanciais (redação e revisão) são fornecidos gratuitamentepela comunidade acadêmica. Nesse sentido, e contrário a qualquer outrocomércio, as revistas científicas são um bom negócio porque as editorasnão pagam o prestador da matéria- prima – os autores dos trabalhosacadêmicos – e nem a revisão e controle de qualidade - peer review19.(LAVIÈRE etal., 2015, p. 11-12)

É compreensível que muitas bibliotecas universitárias continuem “presas”

ao consumo do material dessas editoras, já que há 20 anos os pesquisadores foram

acostumados a terem esse tipo de material, tornando difícil a renegociação ou

cancelamento de assinaturas de todas as editoras (LAVIÈRE et al., 2015). Mesmo

assim, essa situação começou a inaugurar movimentações de início do “acesso

aberto”, em que Stevan Harnad sugeriu que os pesquisadores enviassem

normalmente seus artigos para as grandes editoras, mas que também os

disponibilizassem online. No mesmo modelo, cientistas norte-americanos discutiam

a possibilidade de uma biblioteca pública de ciências no formato online, ou seja,

19 Tradução livre da autora a partir do original em inglês.

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seria um repositório onde os pesquisadores poderiam depositar seus trabalhos após

seis meses de publicação, caso os periódicos autorizassem (MEADOWS, 2001).

Lavière e colegas (2015) também lembram-se de casos que deram início

aos grandes movimentos de acesso aberto ao conteúdo das revistas, como o “Cost

of Knowledge” (http://thecostofknowledge.com/), iniciado em 2012 pelo medalhista

Fields e matemático da Universidade de Cambridge, Timothy Gowers, que colocava

em questão os lucros obtidos pelo modelo de negócio da editora Elsevier e pediu

para pesquisadores se negarem a publicar, editar ou revisar nas revistas dela,

gerando o que ficou conhecido como a “Primavera Acadêmica”, em que dez editores

se demitiram da Elsevier e várias bibliotecas universitárias de renome pararam suas

negociações com as editoras que mantinham esse modelo de negócio exploratório,

como as universidades norte-americanas da Califórnia e de Harvard. A universidade

alemã de Konstanz foi além e cancelou suas assinaturas na época como protesto à

política agressiva de preços; para se ter uma noção em números, no intervalo de

1986 a 2002, o valor das assinaturas dos periódicos aumentou 200% nos Estados

Unidos, enquanto a inflação teve aumento de apenas 68% (SANTOS, 2010; COSTA

e LEITE, 2016).

Nesse contexto de indignação sobre os custos de adquirir conteúdos

científicos e com a proliferação de periódicos eletrônicos, veremos a seguir o

movimento de acesso aberto, tentando perpassar pelas suas concepções e por

como ele se tornou presente na América Latina e, principalmente no Brasil, visto que

é a região do mundo com mais revistas em acesso aberto. O Scimago Journal Rank

(SJR, 2015)20 aponta que, entre todos os periódicos da América Latina, 71% estão

em acesso aberto, enquanto em outras áreas do mundo são em ordem decrescente:

Oriente Médio com quase 50% de suas publicações, África com 37%, Pacífico com

31%, Europa Oriental com 28%, Ásia com 20%, Europa Ocidental com 12% e

América do Norte com apenas 10% do total de suas revistas. Costa e Leite (2016)

justificam a adesão de países em desenvolvimento ao acesso aberto porque são

nações que já recebem baixos investimentos em ciência e tecnologia e possuem

dificuldade de assinar o valor alto das editoras comerciais.

20 http://www.scimagojr.com/journalrank.php?openaccess=true&type=j (20 de junho de 2016).

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Também discutiremos a importância e como se estabeleceu a base de

indexação SciELO Brasil, bem como quais são os seus novos critérios e política

para que periódicos brasileiros possam se indexar ou permanecer na biblioteca

virtual, metas para muitas revistas que pretendem atingir uma maior visibilidade

internacional, como discutido nesta dissertação para a área de Ciências Humanas a

partir do estudo de caso das revistas História, Ciências, Saúde – Manguinhos,

Mana: Estudos de Antropologia Social e RBPI – Revista Brasileira de Política

Internacional.

2.5 – O movimento do Acesso Aberto pelo mundo

Com o avanço tecnológico possibilitando novas ferramentas de

comunicação, somado à indignação de diversos atores com os altos preços para

aquisição de conteúdos científicos, e a expansão dos periódicos eletrônicos nos

anos 1990, criou-se o ambiente de intenso debate sobre um acesso mais

democrático aos conteúdos científicos. Por exemplo, em 1991, foi inaugurado por

Paul Ginsparg o ArXiv, popular repositório e debate gratuito de preprints da área da

Física e suas correlatas (SUZUKI, s.d), que são publicações que não passaram

anteriormente por revisão por pares, mas receberam diversos comentários e

avaliações de pesquisadores da área espalhados pelo mundo todo na plataforma,

sendo reconhecidas como publicações científicas também.

Esse não foi o único sinal de insatisfação de núcleos da comunidade

científica, que continuou fazendo pressões, como a carta aberta publicada em 2001

pela Plos One (Public Library os Science) solicitando que as editoras permitissem o

acesso aos artigos de suas revistas após o embargo de seis meses e declarando

que os pesquisadores que assinaram a carta só publicariam, editariam ou revisariam

as revistas que aceitassem a reprodução de seus conteúdos de forma gratuita na

Internet e clamando para que outros cientistas adotassem a mesma política. Embora

as grandes editoras tenham ignorado a reclamação dos pesquisadores, Suzuki (s.d)

comenta que rapidamente cerca de 34 mil cientistas de 180 países diferentes

assinaram a carta aberta, o que favoreceu que aos poucos se espalhasse a política

de acesso aberto (SUZUKI, s.d; SANTOS, 2010, COSTA e LEITE, 2016).

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O marco do acesso aberto foi a declaração de Budapeste, em 2012 -

Budapest Open Access Initiative (BOAI), no entanto, Costa e Leite (2016) destacam

que outras iniciativas coletivas despertaram antes disso. Eles apontam que, em

1999, ocorreu nos Estados Unidos a Convenção de Santa Fé com objetivo de

discutir o uso da Internet para agilizar a comunicação científica, o que resultou na

Open Access Iniciative (OAI) com foco no uso da Open Archives Initiative Protocol

for Metadata Harvesting Protocol (OAI-PMH), que tinha o objetivo de desenvolver e

promover normas de interoperabilidade que auxiliassem a difusão dos conteúdos

científicos pela Internet, ou seja, desenvolvimento de Open Sources que contribuam

para o desenvolvimento do acesso aberto por meio de um sistema que se comunica

de forma transparente com outros sistemas; para que isso ocorra, é necessário o

uso de normas ou protocolos também abertos (SANTOS, 2010; COSTA e LEITE,

2016), como o Open Journal Systems (OJS).

Outros movimentos que contribuíram para o amadurecimento do que foi

discutido na Declaração de Budapeste foram a Declaração de Santo Domingo, que

defendia uma ciência democrática e disponível para todos, por isso, seria importante

o investimento em infraestrutura para que isso seja possível como defendido. Costa

e Leite (2016) apontam outro movimento seguinte, a “Declaration on science and the

use of scientific knowledge”21, que apontava para a necessidade de

compartilhamento amplo dos conteúdos científicos, principalmente, quando as

pesquisas são financiadas com verba pública.

Até que finalmente, em dezembro de 2001, o Open Society Institute

promoveu a Declaração de Budapeste na Hungria em prol do acesso aberto, o que

gerou, em fevereiro de 2002, a publicação da Budapest Open Access Initiative,

formalizando a iniciativa e debatendo estratégias para que o acesso aberto fosse

atingido em nível internacional e, assim, houvesse um engajamento de vários

setores da comunidade científica com o apoio financeiro das agências de fomento. A

declaração também definiu que seria considerado acesso aberto toda bibliografia

que estivesse disponível de forma livre e gratuita na Internet para qualquer usuário

ter acesso à leitura, download, cópia, distribuição, impressão, pesquisa e quaisquer

21 Publicado na World Conference on Science da Unesco, em 1999, em Budapeste, Hungria. Saiba mais em: http://www.unesco.org/science/wcs/eng/declaration_e.htm (Acesso em 22 de julho de 2016).

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outras ações próprias das comunicações e avanço científico, desde que a sua

reprodução e distribuição estejam devidamente referenciados para se evitar o plágio

e preservar a integridade autoral; ou seja, respeitando o copyright. O que se

diferencia das grandes editoras comerciais é que elas detêm tais direitos, enquanto

que, no acesso aberto, o direito autoral é dos autores e suas instituições, e não dos

editores (SANTOS, 2010; COSTA e LEITE, 2016). As principais vantagens

defendidas pelo acesso aberto é o aumento de visibilidade dos artigos, que

favorecerá o aumento de leitura e, consequentemente, seu impacto na área de

estudo.

Para atingir o acesso aberto, a declaração de Budapeste abriu dois

caminhos possíveis para a publicação acadêmica, a via verde e a via dourada. É

denominado de via verde todo tipo de arquivamento das publicações científicas,

como os repositórios temáticos ou institucionais que recebem publicações em

preprint ou em postprint (as versões antes da publicação em uma revista científica

ou posterior a sua publicação), sendo que, se for um postprint, os autores devem

receber a autorização dos editores (sinal verde). Os repositórios também costumam

depositar outros modelos de publicação, como dissertações e teses de pesquisas,

além de manuais e diversos materiais de apoio. A força dos repositórios surgiu

porque muitas agências de fomento e universidades públicas têm exigido que as

pesquisas financiadas com verba pública mantenham uma cópia nos repositórios

digitais, caso tenha sido publicada em revista paga. Santos (2010) destaca que, no

Brasil, o Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia (IBICT) tem

buscado ferramentas livres para apoiar a criação de repositórios em acesso aberto.

Já a via dourada são os periódicos científicos publicados em acesso

aberto, ou seja, todo seu conteúdo está disponível de forma gratuita para leitura na

Internet. Segundo Santos (2010), estima-se que apenas 2% de todos os artigos

tenham seus textos publicados integralmente sem restrições de acesso, enquanto

outros 5% são liberados em acesso aberto após embargo de seis a 12 meses após

sua publicação e menos de 1% lidam com o modelo híbrido, no qual, sob pagamento

do autor, é possível disponibilizar o artigo em acesso aberto. Para compreender

melhor como funciona o acesso aberto, a SPARC (Scholarly Publishing and

Academic Resources Coalition) e a Plos One desenvolveram o guia “How open is

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it?”, que auxilia a identificação de qual licença é usada pelas revistas para

publicação em acesso aberto, conforme estabelecido na Declaração de Budapeste

(tabela1).

TABELA 1: Guia sobre o quão aberta pode ser uma publicação

(Fonte: HowOpenIsIt?™ Open Access spectrum”, © 2013 SPARC and PLOS)

O guia “How open is it?” elucida as dúvidas de que o acesso aberto não é

apenas a leitura gratuita, mas atinge outros pontos importantes, como direitos

autorais (muitas revistas de acesso aberto para leitura retêm os direitos autorais da

publicação), direitos de depósito em repositório por terceiros, instituições e autores,

além da acessibilidade de máquinas.22

Vale ressaltar que, apesar de o acesso aberto não ter custos para o leitor,

não quer dizer que não há custos de publicação, por isso, são necessárias políticas

públicas que fomentem suas publicações, além de possíveis doações e “lucro nas

vendas de serviços adicionais”, que a revista pode prestar também (SANTOS,

2010).

Após a Declaração de Budapeste, foram realizadas outras duas

declarações importantes para incentivar o uso do acesso aberto: a Declaração de

22 Confira o guia em uma resolução melhor e de forma dinâmica em <https://galoa.com.br/blog/o-acesso-aberto-e-mais-amplo-que-apenas-um-acesso-gratuito-de-revistas-cientificas> (Acesso em 29 de julho de 2017).

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Bethesda, em Maryland, Estados Unidos, com debate na área de Biomedicina para

consolidação de um repositório de depósito de pesquisas do campo, desde que os

autores concedam integralmente o uso dos materiais, e a Declaração de Berlim, na

Alemanha, em 2003, que buscava uma padronização e legitimação do acesso

aberto com intuito de validar os debates das reuniões anteriores, além de

desenvolver meios de avaliação e reconhecimento para encorajar pesquisadores e

bolsistas a publicarem em acesso aberto. O último evento teve apoio do Max Planck

Institute, que sozinho coordena 80 institutos públicos alemães, e a assinatura de 55

instituições de vários países na “Berlim declaration on open access to knowlegde in

the sciences and humanities”, que reuniu todos os princípios discutidos nos três

eventos.

2.6 – O acesso aberto na América Latina e no Brasil

Antes da Declaração de Budapeste, outros movimentos similares também

aconteciam na América Latina. Costa e Leite (2016) colocam em ordem cronológica

três principais movimentos, sendo que o primeiro foi a “Declaración de San José

hacia la Biblioteca Virtual en Salud”, em 1998, na qual o Centro Latino-Americano e

do Caribe de Informação em Ciências da Saúde – mais conhecido como Bireme

(Biblioteca Regional de Medicina), localizado em São Paulo e que integra a

Organização Pan-Americana da Saúde e Organização Mundial da Saúde

(OPAS/OMS) - se comprometia a desenvolver uma biblioteca virtual para a área e,

assim, democratizar as informações. Depois dela, surgiu a “Declaration of Havana

towards equitable access to Health Information”, em 2001, na qual responsabilizava

o Estado pelo acesso aos conteúdos científicos, exigindo a promoção de políticas

públicas nacionais e internacionais que garantissem o acesso aberto e reiterando a

importância de uma biblioteca virtual sobre saúde. Mas, antes dessa declaração, é

necessário lembrar que, em 1998, surgia a Scientific Electronic Library Online23

(SciELO), financiada pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo

(FAPESP) e a BIREME, que disponibiliza os conteúdos das revistas indexadas de

forma gratuita e completa, atuando em 2016 em 14 países diferentes (África do Sul,

23 http://www.scielo.org/php/index.php (Acesso em 22 de julho de 2016).

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Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Colômbia, Costa Rica, Cuba, Espanha, México,

Peru, Portugal, Uruguai, Venezuela e em desenvolvimento no Paraguai).

Após a Declaração de Budapeste, o Instituto Brasileiro de Informação em

Ciência e Tecnologia (Ibict) passou a publicar manifestações em prol de uma

promoção de política nacional que garantisse o acesso aberto no país. Em 2005,

ocorreu a “Salvador Declaration on Open Access: the perspective of developing

countries”, com discussões sobre a importância do acesso aberto para os países em

desenvolvimento como possibilidade para aumentar a literatura científica dessas

nações, entre outras reuniões que a sucederam, dando origem a políticas,

principalmente, voltadas à via verde, como o Sistema Nacional de Repositório

Digital, em 2011, na Argentina, mesmo ano que se estabeleceu a Red Mexicana de

Repositories Institucionales, no México. Em 2012, a região ganhou mais força com a

Red Federada Latinoamericana de Repositorios Institucionales de Documentación

Científica em América Latina com propósito de firmar estratégias, acordos e políticas

regionais que contribuíssem para a circulação livre das informações científicas.

Alperin e coautores (2008) destacam que, com a expansão de tecnologias

na América Latina, foi possível o aumento do fluxo livre de informações na região, o

que também possibilitou mais colaborações entre os países, com os quais, mesmo

tendo algumas afinidades culturais e políticas, tradicionalmente os pesquisadores

mantinham pouco contato. Outro ponto positivo dessas uniões, segundo os autores,

é evitar um “neocolonialismo do século XXI” ao que se refere aos saberes

científicos, por isso, a região deveria desenvolver mais parcerias para assegurar a

presença da América Latina em redes científicas internacionais, tanto em

quantidade, quanto visibilidade e qualidade dos conteúdos. Isso porque os países da

“periferia científica” sofrem em relação aos “países do centro” em níveis de

incentivos, financiamentos, língua e também de publicação e edição das pesquisas,

pois os pesquisadores não são/eram aconselhados a publicarem em revistas

nacionais ou regionais.

Nesse contexto se estabeleceu a via dourada24na região, na qual as

revistas vêm se consolidando e ganhando força principalmente com as experiências

de bases indexadoras em acesso aberto, como o LatIndex (concebido em 1994) e a

24 Periódicos eletrônicos em que há acesso aberto a seus conteúdos.

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base indexadora SciELO (desde 1997, com início no Brasil) e da RedALyC (Red de

Revistas Cientificas de América Latina y el Caribe), sendo que as duas últimas

coleções fornecem acesso livre e irrestrito a todas as revistas indexadas (ALPERIN

et al., 2008; COSTA e LEITE, 2016).

Apesar dos movimentos de acesso aberto terem se iniciado nos países

desenvolvidos, motivados principalmente pelos valores abusivos que as grandes

editoras comerciais cobram, Alperin e colegas (2008) explicam que o contexto na

América Latina era diferente, por isso, o Open Access floresceu rapidamente na

região. Isso porque, quando as tecnologias de comunicação começaram a se inserir,

as bases indexadoras aproveitaram a oportunidade para promover uma

comunicação mais ampla, além de a ausência de uma indústria editorial na região

não ter impedido o desenvolvimento do acesso aberto, como nos “países centrais da

ciência”, o que facilitou a transição (PACKER e MENEGHINI, 2014).

No entanto, mesmo com passos à frente na comunicação em acesso

aberto, ainda há muitos problemas na América Latina. O Brasil é o segundo país

com mais títulos abertos, depois dos EUA, que possuem muitas publicações no

geral, mas Swan (2008) aponta alguns exemplos brasileiros que não conseguem

manter uma boa visibilidade internacional fora da América Latina e,

consequentemente, o impacto das pesquisas acaba sendo menor. A pesquisadora

também critica que, no Brasil, as instituições acadêmicas continuam usando o fator

de impacto para análise das publicações dos brasileiros, já que a maioria das

revistas brasileiras não tem a tradição dos periódicos dos países desenvolvidos e

não tem fator de impacto avaliado pela Thomson. Enquanto essa for a métrica, não

haverá mudança no ciclo das pesquisas de destaque sendo publicadas em revistas

estrangeiras e em sua maioria fechadas, sendo importante avaliar se as métricas

alternativas são um caminho interessante para se seguir e complementar.

2.7 – A via dourada do acesso aberto: SciELO

O objetivo da via dourada é que os pesquisadores não paguem mais por

assinaturas de revistas e que as publicações tenham mais visibilidade por terem

acesso livre. Muller (2006) explica o quanto é complicada a aquisição do artigo que

um pesquisador publica em uma revista de renome e em acesso fechado,

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principalmente, porque é provável que todo o custo do processo científico tenha sido

financiado pelo Estado, que, na maioria das vezes, arca com o ensino público para a

obtenção de títulos dos pesquisadores, além das diversas bolsas das agências de

fomento federal e estaduais e os valores pagos para a publicação de artigos dos

pesquisadores, que habitualmente concede seus direitos autorais para a editora

comercial monetizar a pesquisa pública. No fim do processo, as bibliotecas

universitárias públicas têm que pagar para adquirirem o resultado da pesquisa que

financiou, sendo extremamente custoso manter esse círculo. A justificativa das

editoras comerciais, ao não permitir o acesso livre, seria uma suposta proteção do

autor e da integridade do artigo, resguardando o acesso apenas para quem paga.

Muller (2006) discute o conflito de interesses entre editoras e pesquisadores, sendo

que os últimos temem o plágio e a citação sem crédito, não o acesso e a reprodução

de seus textos.

Como exposto, a via dourada é o caminho do acesso aberto denominado

para as revistas científicas livres e, na América Latina, o motor do movimento foram

as bases indexadoras, como o projeto SciELO (Scientific Electronic Library Online),

que teve sua origem no Brasil por meio de um programa especial da Fundação de

Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) com o Centro Latino-

Americano e do Caribe de Informação em Ciências da Saúde (BIREME), em 1998,

financiamento e infraestrutura que deram credibilidade ao projeto inovador para

quebrar a desconfiança dos editores (GUEDES, 2014). A proposta inicial era

promover uma infraestrutura capaz de indexar e publicar revistas com revisão de

pares de todas as áreas e com diversidade de idiomas e, assim, aumentar a

visibilidade e impacto desses periódicos diante de um cenário em que revistas mais

tradicionais no Brasil tinham uma tiragem de apenas 500 a 2000 exemplares e sem

recursos para enviar para as várias bibliotecas do país, entre outros gargalos da

difusão (GUEDES, 2014).

Inicialmente, estiveram indexados apenas dez periódicos brasileiros e

publicados online, modelo que logo foi incorporado no Chile com a Comisión

Nacional de Investigación Científica y Tecnologica (CONICYT), dando origem à

Rede SciELO. Hoje, seu modelo é destaque, abrangendo 14 países ibero-

americanos mais a África do Sul, sendo que a SciELO Brasil foi a primeira colocada

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do Ranking Web Repositories de 2013, e as coleções de outros países,

coordenados pela SciELO, também terem ficado entre os 20 primeiros colocados

(GUEDES, 2014; PACKER e MENEGHINI, 2014; PACKER, COP e SANTOS, 2014).

Entre os diferenciais da base, Guedes (2014) destaca a SciELO com um grande

número de revistas das Ciências Humanas e Sociais Aplicadas, Artes e Literatura, o

que não é comum entre as indexadoras internacionais, mostrando a importância da

base para essas áreas.

Além da intenção em expandir a cobertura online e em acesso aberto das

revistas, o projeto SciELO também surgiu com a intenção de complementar os

indicadores bibliométricos internacionais, tanto de citações quanto (inicialmente) de

downloads realizados por artigo, com novas metodologias e ferramentas

tecnológicas. Hoje, a base também adota como métrica alternativa a ferramenta

Altmetric, que pontua o quanto o artigo é discutido na web. As métricas não

tradicionais, como o número de downloads, mostram o crescimento da base, sendo

que a coleção brasileira teve “de um arquivo com 190 mil artigos em 2011, com uma

média diária de downloads de 1,10 milhão de artigos, para 210 mil artigos no arquivo

em 2012, com uma média diária de downloads de 1,29 milhão de artigos,

representando um aumento de 17%” (PACKER e MENEGHINI, 2014, p.19). O

aumento de acessos foi ainda mais significativo com a indexação dos periódicos da

base SciELO pelo Google Acadêmico, facilitando a busca por meio de palavras-

chaves (PACKER et al., 2014).

No entanto, os autores também criticam, como Swan (2008), o uso do

fator de impacto para metrificar a produção brasileira, visto que os índices das

revistas brasileiras ainda são inferiores às publicações tradicionais, além da

visibilidade internacional ser um desafio, sendo indicado, por Packer e Meneghini

(2014), como consequência da baixa profissionalização das equipes editoriais e dos

serviços de editoração e de baixa internacionalização dos artigos, com uso da língua

portuguesa e espanhola, pesquisas com autores nacionais e baixas colaborações

estrangeiras.

Atualmente, a base SciELO indexa seus periódicos com critérios

específicos e disponibiliza estatísticas de acesso, downloads, citações em cada

coleção e periódico, além das publicações irrestritas nos formatos HTML, PDF e

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ePUB, mantendo a interoperabilidade entre as coleções e buscando se aperfeiçoar

para integrar mais bases. Packer e colegas (2014) destacam que cada coleção

nacional mantém sua própria governança e gestão, e o financiamento é proveniente

de agências nacionais de pesquisa e de outras instituições de pesquisa parceiras;

no caso da coleção SciELO Brasil, o principal apoio político e financeiro é da

FAPESP, que sempre a subsidiou com avaliação e aprovação dos relatórios bienais

sobre as atividades do projeto SciELO, constando as metas atingidas e os planos

futuros; desde 2002, a coleção também recebe apoio financeiro do CNPq (Conselho

Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico). Ainda sobre o financiamento

no Brasil, os autores lembram que um fato que colaborou com o reconhecimento da

base em nível nacional foi a adoção do indicador de estar “indexado na base

SciELO” como selo de qualidade para que as revistas nacionais recebessem apoio

financeiro do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação e para manter uma boa

pontuação no Qualis Periódicos, discutido no capítulo anterior. Isso porque as

revistas na base SciELO são avaliadas a cada quatro meses, segundo os critérios

próprios de indexação e permanência na coleção.

Packer e coautores (2014) destacam que o investimento da FAPESP faz

parte de uma estratégia maior na qual a fundação de fomento busca melhorar a

comunicação científica nacional e também o acesso a conteúdos estrangeiros. Em

1998, a FAPESP inaugurou o programa Biblioteca Eletrônica para que a

comunidade acadêmica do Estado de São Paulo pudesse ter acesso aos conteúdos

de revistas estrangeiras comerciais, o que, em 2000, se tornou o Portal Periódicos

da Capes, com sua transferência para o Ministério da Educação.

Packer e colaboradores (2014) destacam que, apesar de a rede ser

descentralizada em suas gestões, todas as coleções têm a mesma metodologia e

plataforma tecnológica, além de alguns princípios comuns, como ter apenas uma

coleção nacional por país gerida por uma instituição nacional, preferencialmente, a

uma agência de fomento ligada à pesquisa do país, além de uma coordenação

nacional que manterá contato com a Rede. Fica a cargo do SciELO Brasil a

manutenção das metodologias e suporte técnico de todos os sistemas, a fim de

manter a interoperabilidade dos conteúdos, serviços e índices métricos.

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O funcionamento totalmente descentralizado de cada coleção, adotandoprincípios, metodologias e tecnologias comuns, é uma característicafundamental de seu desenvolvimento sustentável. Ao mesmo tempo, ointercâmbio contínuo de informação e experiências entre as instituições decoordenação nacionais, combinado com avaliações periódicas dedesempenho de coleções e periódicos, contribui para o avanço da redecomo um programa internacional de cooperação orientado para o progressoda pesquisa e a democratização da informação científica.(PACKER et al.,2014, p.62)

2.8 – Critérios e política de indexação e permanência da base SciELO

O desejo de indexação e permanência de algumas revistas brasileiras na

base SciELO são justificáveis pelo apoio que a plataforma desenvolve para os

periódicos nacionais, além do selo de qualidade que abre possibilidade para as

publicações conseguirem financiamento - embora existam revistas que não têm o

objetivo de se indexarem na base SciELO. Isso porque, além das revistas

interessadas terem que ser necessariamente revisadas por pares, elas também

devem obedecer aos critérios e à política da Rede SciELO para se indexarem e

permanecerem na base. Montanari e Packer (2014) explicam que o processo de

avaliação dos periódicos ocorre de forma descentralizada, ou seja, cada coleção

nacional ou temática tem suas coordenações e comitês consultivos para adaptarem

os critérios para a realidade de produção científica de cada país. A indexação é

importante para os periódicos porque a base vai coletar todos os registros

bibliográficos referentes aos artigos e revistas, facilitando o controle das pesquisas

publicadas, armazenamento dos conteúdos, além de medir a produção científica dos

países, regiões, instituições etc., por meio de citações. O interessante é que entre as

estatísticas fornecidas pela SciELO, há os números de acessos aos artigos divididos

por mês, além do uso do Altmetric para medir o impacto social da pesquisa na

Internet com a divulgação científica nas redes sociais (ferramenta que esta pesquisa

pretende usar na análise).

A fim de buscar caminhos para incentivar as revistas a melhorarem a

qualidade de seus conteúdos e editoração, a base SciELO estabelece critérios para

orientar, e também pressionar, os periódicos a se adaptarem para atingir os níveis e

aspectos estabelecidos de qualidade. Os critérios da coleção foram discutidos em

1998 no “Seminário sobre critérios de avaliação e seleção de periódicos científicos”

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pela FAPESP, que gerou o primeiro guia de recomendações, eliminando os pontos

de especificidade do Brasil, para que toda a Rede pudesse seguir o padrão

estabelecido. De 1998 a 2001, os critérios responsavam pela indexação dos

primeiros 73 periódicos no SciELO Brasil, na época, foram: já estar indexado na

Web of Science, no MedLine (Atual PubMed) ou no PsyInfo. O segundo critério de

seleção foi escolher as publicações com notas mais altas do sistema de avaliação

do CNPq e da FAPESP para concessão de financiamento. A partir de 2001,

Montanari e Packer (2014) explicam que, devido ao sucesso da plataforma e do

crescente aumento de periódicos, “tornou-se forçosa” a admissão de revistas, sendo

usado como critério de indexação automática aos periódicos que atendiam aos

critérios anteriores e por avaliação aos demais, até serem definidos novos critérios:

A partir de 2002, todos os periódicos passaram a ser admitidos de acordocom o estabelecido nos critérios de seleção. Desde o início do processo deavaliação, a Coleção SciELO Brasil analisou 1.956 pedidos, envolvendo 888periódicos, sendo que 257 foram aprovados. Entre os aprovados, 177(68,8%) foram avaliados duas ou mais vezes. No mesmo período, 13periódicos foram excluídos da coleção por não cumprirem os critérios deseleção ou por deixarem de publicar em acesso aberto.(MONTANARI ePACKER, 2014, p. 70)

Entre os critérios estabelecidos em 2002, segundo Montanari e Packer

(2014) e Santos (2010), destacam-se os itens: publicação totalmente em acesso

aberto e sem embargo; atrasos de publicação são considerados falhas graves de

gestão, por isso, deve-se respeitar a periodicidade estabelecida por área;

predominância de artigos originais com revisão de pares; conselho editorial

composto por especialistas reconhecidos, de origem nacional ou estrangeira; o

periódico dever ter no mínimo quatro números para ser considerado para avaliação;

resumo, palavras-chave e título em inglês; normalização das referências e

comunicação aos autores de qual norma a revista adota; publicar afiliação completa

dos autores e índice de citações.

Os critérios mais recentes para a coleção brasileira foram publicados em

2014 (SCIELO, 2014), gerando polêmica entre os editores científicos (ANPOCS,

2015), como a carta aberta da ANPOCS (Associação Brasileira de Pós-Graduações

e Pesquisa em Ciências Sociais) questionando os novos critérios, já que parte dos

periódicos de Ciências Sociais estaria em risco. Isso porque, na nova política, está

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clara a exigência de uma periodicidade trimestral (recomendada, ou mínima

quadrimestral para as áreas de Humanidades, Sociais Aplicadas, Linguística, Letras

e Artes) e de internacionalização das revistas como uma das estratégias para

melhorar a visibilidade das publicações brasileiras, medida que poderia ter efeito

sobre a qualidade, o custo e a diversidade dos periódicos. A carta aponta que os

novos critérios parecem assumir que todas as revistas estão nos mesmos níveis em

um momento que as agências de fomento diminuíram seus financiamentos para as

revistas, além de que escrever em outra língua para as Ciências Humanas e Sociais

é diferente das Ciências Exatas e da Vida, pois demanda vasta argumentação que

necessitará de amplo conhecimento da língua pelos autores e custos de revisão:

Os critérios do SciELO definem a publicação em inglês e autores comfiliação institucional no exterior como medidas conducentes àinternacionalização. Contudo, em função dos incentivos à publicação emperiódicos de alto impacto em um mundo editorial e acadêmico muitocompetitivo, os autores que escolherão submeter a periódicos com baixofator de impacto e não inseridos nos circuitos altamente internacionalizados― característica dos periódicos das Ciências Sociais no país ― serãoaqueles que não conseguem atingir a qualidade dos periódicos com maiorfator de impacto nos seus países de origem. Esta tem sido a experiênciados editores das Ciências Sociais brasileiros que, crescentemente, recebemartigos em inglês de baixa qualidade. Por sua vez, quando textosqualificados são enviados aos nossos periódicos por autores inseridos noscircuitos anglo-saxônicos, amiúde incluem a solicitação explícita de traduçãoao português.(ANPOCS, 2015, s/p)

Entre as principais mudanças dos novos critérios (SCIELO, 2014) para as

Ciências Humanas, Sociais Aplicadas, Linguística, Letras e Artes está que se deve

ter uma porcentagem mínima de 15% de editores associados com afiliação

estrangeira, sendo recomendada 25%; 20% de pareceristas com afiliação

estrangeira, mas recomendado 25%; porcentagem mínima de 25% dos artigos em

inglês (Linguística, Letras e Artes são 20%), recomendado 30%; além de 20% dos

autores terem que ter afiliação estrangeira, recomendado que seja 25%.

Outra mudança que passou a vigorar, em julho de 2015, é que todos os

periódicos indexados na base SciELO Brasil devem ter um plano de divulgação

científica de suas revistas para produção de press releases (comunicados liberados

para imprensa) sobre os conteúdos das novas edições e dos artigos em destaque

que deverão ser compartilhados no portal SciELO e em suas redes sociais, como o

blog SciELO em Perspectiva, podendo também operar em redes sociais próprias. O

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interessante desse novo item é fazer com que os editores entendam que o trabalho

de comunicação vai além da publicação de um novo fascículo, sendo que,

justamente por serem periódicos eletrônicos, devem aproveitar as diferentes formas

de debate entre autores e leitores. Importante destacar que a base SciELO também

passou a adotar a ferramenta Altmetric, que rastreia na web o quanto um artigo está

sendo comentado nas redes sociais, gerando uma métrica alternativa para

complementar a avaliação dos periódicos de forma mais ampla, principalmente das

Ciências Humanas e Sociais Aplicadas, que têm um período de maturação das

pesquisas mais longo que das Ciências Exatas e da Vida, o que gera um fluxo

menos intenso de citações, como discutiremos na dissertação.

Dentro desse contexto de pressões, esta pesquisa se insere na busca por

compreensão de como as revistas brasileiras de Ciências Humanas estão reagindo,

e se a divulgação científica pode se refletir como benéfica para a comunicação

brasileira se consolidar e, quem sabe, chegar a se internacionalizar também.

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CAPÍTULO 3:

Internacionalização e Altmetria

Este capítulo tem como objetivo contextualizar o debate sobre a

importância e a crescente exigência da internacionalização da ciência e que também

vem atingindo as revistas científicas das Humanidades. Ainda neste capítulo, vamos

tentar compreender como que a divulgação científica pode aumentar o impacto das

revistas, além de ponderar se a altmetria é um caminho viável para as revistas

científicas de Ciências Humanas brasileiras, como defendido por autores como

Alperin (2013, 2014) e Hammarfelt (2014), por exemplo.

Segundo Abel Packer e Rogério Meneghini (2014), diretores da base

SciELO, onde as revistas desta pesquisa estão indexadas, o SciELO contribuiu para

a melhoria da qualidade dos periódicos brasileiros, mas busca por mais melhorias,

como a profissionalização e internacionalização, sendo que este último “aplica-se

tanto à expansão do público dos periódicos quanto à gestão e operação interna dos

periódicos, em termos da composição da equipe e processos editoriais” (PACKER e

MENEGHINI, 2014, p.25). A partir desta compreensão sobre o papel do SciELO

investiu-se em novas exigências para indexação e permanência na base, de modo a

permitir uma maior internacionalização e a maior inserção de pesquisadores

brasileiros e estrangeiros nas publicações brasileiras e no debate internacional. A

participação internacional também vai além da colaboração no comitê editorial,

pareceres e autoria de artigos, conforme analisaremos no estudo de caso desta

pesquisa e destacado pela coordenadora de comunicação científica do SciELO,

Lilian Nassi-Calò (2017).

Já a altmetria é apresentada por Souza (2014) como uma métrica em

ascensão que promete rastrear os debates informais que um artigo pode gerar

quando publicado na Internet, sendo que oferece dados de impacto mais imediatos

do que as métricas tradicionais que consideram a coleta de dados (como as

citações) durante dois anos, apesar de terem naturezas distintas. Não existe apenas

uma plataforma que disponibiliza métricas alternativas, mas, neste capítulo,

discutiremos com mais detalhes sobre o Altmetric por ser a ferramenta adotada pela

plataforma SciELO, pioneira no Brasil a utilizar métricas alternativas.

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3.1 Internacionalização dos periódicos científicos

Segundo Fiorin (2007), a avaliação tem sido um dos principais problemas

da academia. Isso porque, ao se avaliar instituições, por exemplo, os dois principais

aspectos de discussão são a qualidade de formação e a relevância da produção

científica, sendo que, para o último, a internacionalização conta muitos “pontos” no

sistema atual de avaliação brasileiro. Fiorin (2007) justifica que isso ocorre porque é

importante que exista uma cooperação entre as comunidades científicas. No

entanto, as revistas brasileiras são voltadas para o público nacional, uma vez que

tratam de questões e problemas locais e são editadas em português, o que poderia

isolar o país da ciência mundial, segundo o autor.

Fiorin ainda prossegue na argumentação de que a internacionalização é

uma prática mais comum para as Ciências Naturais e Exatas, mas, para as Ciências

Humanas e Sociais, ela não ocorre com a mesma intensidade. O autor explica que o

problema não é apenas brasileiro, pois a língua inglesa é muito mais usada em

países anglófonos. Desde 1950, o inglês se tornou a “língua franca” da ciência com

a expansão científica norte-americana e britânica. Consequentemente, as

publicações, para terem um alcance mundial, devem ser em inglês, como aponta

Netzel e coautores (2003), o que acaba afetando a qualidade e o impacto da

publicação para não falantes nativos do inglês.

Deve-se considerar também que a internacionalização de periódicos

científicos seria o momento em que as revistas brasileiras também são consumidas

por cientistas estrangeiros, sendo que, para outros pesquisadores terem contato

com a revista, existem fatores influenciadores, como artigos com colaborações

internacionais, membros editoriais do periódico internacionalizado e influentes em

sua área.

Forattini (1997) explica que a expansão da língua inglesa na ciência foi

apenas uma consequência de sua expansão em todas as áreas comerciais,

conforme os países anglófonos obtiveram sucesso em suas colonizações e

comércio, ou seja, não é aclamado como “língua franca” pelo número de falantes,

mas sim por seu imperialismo cultural e científico. Ele ainda relembra que, em

momentos anteriores, a disputa de línguas era entre o francês e o alemão e, antes

dessas, do latim.

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Mas o pesquisador também aponta controvérsias sobre o inglês ser

realmente uma língua franca. Segundo as reflexões de Forattini (1997), muitos

pesquisadores aceitam o inglês como língua franca da ciência com o argumento de

que isso minimizaria as barreiras decorrentes dos idiomas diferentes e daria mais

visibilidade aos resultados das pesquisas. Porém, ele alerta que se deve atentar a

quem é o principal público de interesse da pesquisa publicada, pois, em muitos

casos, os resultados são mais importantes para a comunidade interna, que pode ser

não fluente em inglês, do que para estrangeiros.

Nesse sentido, Forattini (1997) enfatiza que para América Latina não

existe apenas uma língua franca, mas três: o inglês, português e espanhol, sendo

que pesquisas mais generalistas devem ser publicadas em inglês, enquanto que

pesquisas mais locais ou regionais devem ser publicadas em português e espanhol.

No entanto, o debate persiste entre a qualidade dos textos em inglês ou

do custo em se publicar em uma língua que não é a materna na América Latina.

Vasconcelos e colegas (2008) apontam, por exemplo, que nos dados apurados pelo

CNPq, com a Plataforma Lattes, apenas 33,8% dos pesquisadores se autoavaliam

como totalmente fluentes em inglês, sendo que, quando somados apenas os que se

consideram com boa habilidade em escrever em inglês, resulta em 44,4% dos

pesquisadores.

O cenário de pesquisadores brasileiros que não dominam com perfeição a

língua inglesa pode se refletir nos problemas que os periódicos têm em abranger as

línguas ou traduções de seus artigos. A dificuldade de publicar em inglês para

pesquisadores que não têm a língua como materna também é reconhecida por

pesquisadores anglofalantes, como em editorial da EMBO (2008), em que o editor

Gannon explica que escreve suas pesquisas e editoriais com facilidade

principalmente porque o inglês é a sua primeira língua, porém, imagina o quão difícil

é manter uma argumentação em inglês para quem não é falante, visto que morou

anos na França e Alemanha, e acredita que, mesmo assim, teria bloqueio de escrita

se tivesse que escrever em outro idioma diferente do inglês.

Já em entrevista ao periódico História Unisinos, a pesquisadora

portuguesa Ana Carneiro (FLECK et al., 2014) pondera que o inglês pode tanto ser

uma barreira como uma possibilidade, sendo que, ao dominar o inglês e outras

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línguas, os pesquisadores terão mais acesso à literatura estrangeira que os

anglofalantes:

É uma realidade que o inglês é a língua dominante de comunicação e nãose pode ignorar este facto sob pena de ficarmos isolados, sem acesso àbibliografia, sem possibilidade de dialogar com colegas de outros países ede poder dar a conhecer as nossas investigações. Claro que representa umesforço adicional considerável, sobretudo no que se refere à escrita deartigos ou de livros, mas, quanto a isto, não haverá nada que possamosfazer.(CARNEIRO apud FLECK et al., 2014, p.189)

Ideia similar de que os artigos terão mais visibilidade quando publicados

em inglês também é defendida por Pinto e Andrade (1999), embora eles considerem

as revistas de Química e não de Humanidades:

Num mundo globalizado como é o de hoje não se precisa chegar aoextremo de se exigir de alguém que publique seus artigos em português,porque qualquer artigo que for publicado em inglês numa revista indexadaas bases de dados internacionais só não será lido por quem não quiser oupor puro preconceito.(PINTO e ANDRADE, 1999, p. 453)

Sobre o tema, Duarte (2016) levanta a questão de que, para algumas

áreas como das Humanidades, outras línguas, fora o inglês, são mais expressivas

dentro da comunidade internacional, como na História, na qual o espanhol e o

francês são mais presentes que o inglês. Ela, que também é editora da revista Varia

História, da base SciELO, questiona alguns dos novos critérios de permanência na

coleção (como periodicidade e percentual de artigos em inglês), já que a realidade

financeira das revistas não permite a tradução de artigos em português para o inglês

devido ao estilo, argumentação e custos:

[...] para cumprir a meta, as revistas traduzem, para o inglês, artigossubmetidos em português. As dificuldades dessa prática são muitas. Oscustos são estratosféricos, em tempo de verbas cada vez mais reduzidas.As traduções nem sempre podem ser feitas com a qualidade necessária:muitos textos têm estrutura narrativa literária, escapam de uma revisãomeramente técnica, e o tempo é curto para cumprir a pontualidadenecessária das edições quadrimestrais ou trimestrais. (DUARTE, 2016, p.11)

O problema da internacionalização também afeta os periódicos brasileiros

de acesso aberto, como discutido no capítulo anterior. Abel Packer (2014), diretor do

programa SciELO, destaca que, apesar dos números de downloads em acesso

aberto ser grande, ainda há pouco reconhecimento internacional refletido em

citações ao se comparar com periódicos de países desenvolvidos e tradicionais. Isso

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porque os periódicos brasileiros precisam se qualificar mais para atingir melhores

índices internacionais, como o avanço da profissionalização, internacionalização e

inovações dos processos editoriais tanto de publicação dos artigos quanto o passo

posterior de divulgação científica. É importante frisar, novamente, que a divulgação

científica é a disseminação de conteúdos para o público leigo ou de não pares, como

ocorre em blogs, jornais e outros meios, enquanto a comunicação científica é a

disseminação dos conteúdos apenas entre pares, como geralmente ocorre com os

textos em periódicos e livros acadêmicos (ALBAGLI, 1996; VALÉRIO e PINHEIRO,

2008; BUENO, 2010).

Outra característica dos periódicos brasileiros é que eles estão

vinculados, em sua maioria, às instituições brasileiras e programas públicos que dão

grande vazão às pesquisas produzidas no Brasil e sobre o Brasil. Packer (2014)

aponta três caminhos para os periódicos nacionais atingirem mais citações: “O

primeiro é operar as análises de citações em contextos que maximizem o número de

periódicos citantes, ou seja, cobrir o máximo das citações” (PACKER, 2014, p.307),

seguido pelo incentivo a estratégias de internacionalização a fim de aumentar a

visibilidade das revistas e colaborações internacionais em seus artigos,

principalmente com a adoção do idioma inglês, que atinge uma taxa de citações três

vezes maior que os artigos em português; o terceiro passo é estabelecer um

programa de fomento para que periódicos, que já tenham desempenho

internacional, possam se posicionar melhor e terem mais visibilidade.

Packer (2014) também aponta um dado importante para as publicações

brasileiras de que artigos que possuem cooperação internacional, ou seja, que

tenham, pelo menos, um autor estrangeiro, têm mais chances de serem citados,

além de brasileiros não terem o costume de citar brasileiros, ao contrário do que

ocorre em outros países. Movidas pelo produtivismo acadêmico, Packer (2014)

ainda complementa que as revistas brasileiras também publicam grande número de

artigos que não têm impacto científico, o que acarreta menos citações e, portanto,

menos reconhecimento, embora, quando comparado a outros países da América

Latina, o Brasil se destaca nos índices e rankings internacionais tradicionais.

Para se atingir as melhorias, a base SciELO estabeleceu novos “Critérios,

política e procedimentos para a admissão e a permanência de periódicos científicos

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na Coleção SciELO Brasil” (SciELO, 2014), discutidos no capítulo anterior, que

visam principalmente ao aperfeiçoamento de três pontos: profissionalização,

internacionalização e financiamento sustentável. Segundo Packer (2014), para se

atingir essas melhorias, é necessária uma mudança no modus operandi das revistas

brasileiras, com a divulgação científica para promoção das revistas e aumento de

sua visibilidade:

Outra mudança inerente à publicação digital on-line é a maximização dainteroperabilidade dos artigos que são disponibilizados na web, estruturadossegundo suas seções para facilitar a navegação interna, e enriquecidos cominúmeros links ou serviços associados aos autores e aos temas tratados, oupara facilitar o compartilhamento por correio eletrônico ou pelas redessociais, a visualização dos textos em diferentes formatos de apresentação,o seguimento do desempenho por meio de indicadores de uso e citaçõesatualizados dinamicamente, etc. (PACKER, 2014, p. 318)

De mesmo modo, os artigos devem se adaptar aos dispositivos móveis

para atender ao público da Internet e facilitar a leitura e o compartilhamento de

conteúdo pelas redes sociais. A base SciELO (2014), além de cobrar essa estratégia

de divulgação de suas revistas por meio das redes sociais individuais e coletivas, já

disponibiliza o uso de métricas alternativas, no caso, usando o índice fornecido pela

Altmetric25, para completar as citações tradicionais e entender o impacto social dos

artigos na Internet, como sua discussão em blogs e nas redes sociais Twitter e

Facebook.

A coleção também inaugurou o blog SciELO em Perspectiva26“para

assegurar que a maioria dos periódicos que indexa tenha presença mínima nas

redes sociais” (PACKER, 2014, p.319), sendo importante destacar que, além dele,

há um blog somente para as Ciências Humanas e Sociais Aplicadas denominado

SciELO em Perspectiva: Humanas, indicando o incentivo (e também pressão) para

que essas áreas se divulguem mais, considerando que essa é a área com maior

número de revistas na base. A profissionalização, mencionada nos critérios, segue a

tendência internacional e surgiu justamente para apoiar a internacionalização, o que

não quer dizer apenas artigos em inglês, mas também uma mudança em todo o

modus operandi e na equipe editorial, com presença de pareceristas estrangeiros,

como vimos no capítulo anterior (SciELO, 2014).

25 https://www.altmetric.com/ (Acesso em 29 de julho de 2017).

26 http://blog.scielo.org/ (Acesso em 29 de julho de 2017).

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Segundo Souza (2014), as métricas alternativas adotadas pela base

SciELO como índice da visibilidade de suas revistas na web gira em torno do

número de visualizações, downloads, citações, reutilizações, compartilhamento,

etiquetagem, entre outras ações possíveis na Internet, sendo adotado

internacionalmente para ter uma visão mais ampla da comunicação científica e os

impactos das publicações ao tentar cobrir distorções que as métricas tradicionais

produzem, além de permitir avaliações em curto, médio e longo prazos; na base

SciELO, isso é calculado pela ferramenta Counter (ALPERIN, 2014). Souza (2014)

também aponta que existem muitas plataformas voltadas para diferentes métricas

alternativas; a adotada pela base SciELO (Altmetric) é voltada para os editores e

autores ao medir o impacto individual de cada artigo e usa o DOI27 e outros códigos

de identificação permanentes para rastrear as suas menções na web (ALPERIN,

2014). Porém, existem plataformas voltadas para pesquisadores, como é o caso do

ImpactStory28, que avalia o impacto do pesquisador na Internet (SOUZA, 2014),

entre outras.

Alperin (2013) e Bar-Ilan (2012) ressaltam que as métricas alternativas

também têm limitações, assim como qualquer medida. Mas, mesmo assim, as

ferramentas podem auxiliar os países em desenvolvimento a atingirem mais

visibilidade, principalmente na América Latina e, por isso, deveriam incluir em seus

bancos de dados buscas por divulgação em outros idiomas e não só o inglês. Há

também outras limitações, por exemplo, o fato de jornais brasileiros não

compartilharem links externos para o acesso aos artigos e, portanto, acabam não

sendo capturados pelo Altmetric, ou blogs que, mesmo que relevantes para o debate

científico no Brasil, não fazem parte da coleção de blogs rastreada pela ferramenta.

Mesmo com alguns problemas, Alperin (2013) acredita que as métricas alternativas

podem “gerar mudanças na comunicação [e divulgação] científica para além dos

muros da academia” (ALPERIN, 2013, p.21).

27 O DOI (Digital Object Identifier) é um código alfanumérico único e permanente que individualizaquaisquer objetos digitais para que eles não se percam pela Internet. Pelas políticas de indexação epermanência na base SciELO, todas as revistas indexadas na base devem inserir um DOI para cadaartigo, o que facilita que ele seja encontrado, além de também poder ser usado como uma URL, oque facilita o compartilhamento.

28 https://impactstory.org/ (Acesso em 29 de julho de 2017).

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Outro ponto interessante é que Packer (2014) destaca que, entre os

periódicos indexados na base SciELO, os da área de Ciências Humanas e Sociais

Aplicadas se destacam em termos de downloads por artigo em relação a outras

áreas. “Os periódicos de ciências humanas, sociais aplicadas e saúde tiveram

desempenho acima da média de downloads por artigo em 35%, 15% e 11%,

respectivamente, enquanto os de engenharia, exatas e da terra tiveram 20% e 26%

de downloads abaixo da média, respectivamente”. O diretor do SciELO, Abel Packer

(2014, p.314), explica que o alto desempenho da área nas métricas alternativas

“compensa” o baixo desempenho delas nas métricas tradicionais, como o Fator de

Impacto, já que são áreas que têm um tempo de maturação maior para colher mais

citações do que as Ciências Naturais (PINTO e ANDRADE, 1999).

Bar-Ilan e colegas (2012) apontam pesquisas em que artigos mais

“tuitados” (compartilhados na rede social Twitter) são os que têm 11 vezes mais

probabilidade de receber citações no futuro, pois estão em evidência no debate

informal. No Brasil, o Twitter não é a rede social mais utilizada, mas é interessante

avaliar a possibilidade de prever a importância e destaque dos artigos pela forma

com que são debatidos na Internet.

Apesar de os empecilhos levantados por Alperin (2013), e confirmados

por Hammarfelt (2014), sobre as métricas alternativas não serem abrangentes e

ainda não serem totalmente legitimadas pela academia, elas são altamente

encorajadas na área de Humanidades por todo o mundo porque podem se tornar

importantes ferramentas de avaliação em face às dificuldades do uso de métodos

bibliométricos tradicionais na área, que possuem meia vida das publicações e

maturação das pesquisas mais longas que as Ciências Naturais.

No entanto, a digitalização e internacionalização da pesquisa em CiênciasHumanas, um movimento geral no sentido do acesso aberto através doscampos de pesquisa, bem como o maior desenvolvimento e diversificaçãode métodos Altmétricos poderia, pelo menos em parte, resolver as questõeslevantadas acima. Então, a Altmetria seria um atrativo e, em muitos casos,alternativa superior aos métodos bibliométricos tradicionais para analisar emedir o impacto da investigação na área das Humanidades.(HAMMARFELT, 2014, p. 11)29

29 Tradução livre da autora a partir do original em inglês.

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3.2 - Altmetria vs. Fator de Impacto

O Fator de Impacto (FI) é atribuído para revistas por meio do Journal

Citation Reports (JCR), a partir da coleção Web of Science (WoS), foi criado por

Eugene Garfield e é o indicador de maior prestígio. Ele mede o impacto da produção

acadêmica através das citações que um periódico recebe das revistas indexadas na

WoS.

O FI medido em um ano é resultado da média de todas as citações

recebidas pelos artigos nos dois anos anteriores e dividido pela soma de todos os

artigos publicados no mesmo período. Para ser indexado na coleção e receber um

alto valor no Fator de Impacto, algumas revistas passaram até mesmo a mudar suas

abordagens e política editorial para crescer a métrica mais valorizada do meio

acadêmico, além de atrair mais autores e trabalhos renomados e de impacto.

No entanto, a maioria dos pesquisadores da área reconhece que o Fator

de Impacto não é o melhor método para se avaliar as revistas (VANTI e SANZ-

CASADO, 2016). Isso ocorre por diversos problemas e distorções geradas pela

análise. Milton Ruiz e colegas (2009) argumentam que, entre as distorções, algumas

revistas passaram a publicar maus manuscritos só por serem passíveis de citações.

A relevância atribuída ao FI, além de ser superestimada, prioriza periódicos de

língua inglesa, da área de Ciências Exatas e Biomédicas, e pertencentes a um

indexador de acesso restrito aos assinantes.

Entre outras críticas, Ruiz e colegas (2009) acrescentam que os

periódicos que recebem mais citações normalmente são os que publicam mais

artigos de revisão em detrimento dos artigos inéditos, não dando voz ao avanço de

novas ideias para o debate acadêmico, além de manipulações para impulsionar

citações de revistas, como autocitações (agora já desconsideradas) ou outros

problemas éticos de publicação. O cálculo do FI também mascara que grande parte

dos artigos recebe nenhuma ou pouca citação versus um número mínimo de artigos

que recebe a maior parte das citações, ou que artigos são citados em função de

menções negativas e não das contribuições à ciência (BREMBS, etal., 2013).

Pinto e Andrade (1999) também destacam outras críticas, como o número

reduzido de revistas de algumas áreas acadêmicas na coleção e que influencia a

quantidade de citações feitas e recebidas, além da própria quantidade de referências

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variar de área para área. Eles ainda acrescentam que algumas pesquisas mais

localizadas podem não receber muitas citações, mas são muito importantes para a

sociedade. Outro grave problema apontado pelos pesquisadores, e que se encaixa

no debate desta pesquisa, é que em alguns campos acadêmicos das Exatas e

Biológicas os artigos têm vida média de poucos meses e com alta produtividade por

conta das inovações constantes, no entanto, até mesmo nessas áreas há campos

em que os artigos necessitam de mais tempo de maturação para receber citações,

similar ao que acontece nas Humanidades.

Mesmo com tantos problemas, Vanti e Sanz-Casado (2016) explicam que

métricas se fazem necessárias para o monitoramento do trabalho científico e até

mesmo como base para o desenvolvimento de políticas públicas sobre a produção

acadêmica. Como o Fator de Impacto não é perfeito, novas métricas surgiram com

os avanços da web, como a altmetria, influenciada também pelo crescente

movimento de acesso aberto na ciência e que pressupõe uma complementariedade

às métricas alternativas, também com suas limitações.

Priem et al. (2010) vão na mesma direção e explicam no documento

“Altmetric: a manifesto” que as métricas por citações envelheceram e não

conseguem captar rapidamente o impacto de uma publicação, visto que a primeira

citação pode demorar anos. Outros dados que eles destacam é que as “conversas

de corredor” comentando sobre um novo artigo mudaram de espaço para as redes

sociais, sendo que, com o avanço da tecnologia, é possível metrificar esse debate.

Segundo Alperin (2013), essas métricas alternativas se fazem

importantes, principalmente, para as revistas de países em desenvolvimento que

trabalham com recursos escassos e não estão em tanta evidência a ponto de se

beneficiarem das métricas tradicionais como os periódicos de países desenvolvidos;

mesma ideia é defendida por Vanti e Sanz-Casado:

Com esse recurso se consegue chegar a outros âmbitos não alcançadospelos indicadores habituais, detectando a influência, o estímulo, a atenção,o interesse dos leitores em determinadas publicações, além de torná-lasvisíveis e populares ao serem mencionadas nessas novas fontesalternativas de informação. Acredita-se, também, que pelo seu alcance,essas métricas devem ser usadas a favor da produção científica oculta eexcluída das principais bases de dados de citação bibliográfica, bem comopara facilitar o desenvolvimento científico internacional, fomentando ainvestigação sobre temas de interesse local e nacional, especialmente nos

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países subdesenvolvidos. Desta forma, a contagem de citações ou mençõesà produção acadêmica mundial torna-se mais justa e igualitária e a ciênciamais democrática como um todo. (VANTI e SANZ-CASADO, 2016, p.357)

3.3 - Altmetric: uma das ferramentas de métricas alternativas

A altmetria aparenta ter muito a contribuir na produção científica, no

entanto, Souza (2014) alerta que não existe apenas uma métrica alternativa, mas

sim diversas plataformas e ferramentas que foram desenvolvidas para captar esses

rastros digitais sobre o debate científico. Um dos exemplos pioneiros que ela

menciona é a editora de acesso aberto Public Library of Science (PLOS), que lançou

em 2009 as PLOS Article Level Metrics (PLOS ALM), traduzida como “métricas em

nível de artigo” e que estabelece diversos indicadores diferentes como uso, citações

acadêmicas, menções em redes sociais e outras plataformas, além de

compartilhamentos com a intenção de mensurar a influência dos artigos com

diferentes públicos e em curto e longo prazos.

No entanto, vamos discutir aqui a ferramenta Altimetric.com (ou apenas

Altmetric) por ser a adotada pela base SciELO, lembrando que a coleção foi a

primeira no Brasil a adotar a métrica alternativa em 2015; vamos discutir apenas o

uso de métrica alternativa da coleção SciELO porque é a base na qual as revistas

desta pesquisa estão indexadas.

Sobre o Altmetric, a pesquisadora Iara Souza (2014) explica que a

ferramenta consegue capturar rastros dos artigos que possuem DOI (Digital Object

Identifier) ou algum outro identificador permanente similar, pois esses códigos não

duplicam pesquisas, além de poderem servir como um link “inquebrável” na Internet.

Entre as métricas que o Altmetric coleta vão desde menções em redes

sociais, conteúdos de blogs, até referências em jornais e revistas online. Porém, a

menos que contenha o link direto, o mecanismo de busca textual se limitará apenas

a conteúdo em inglês, ou seja, para demais idiomas é necessário o link direto para

o debate ser computado, conforme explica Souza (2014) e consta no site do

Altmetric no trecho que detalha o seu funcionamento:

Nós adicionamos cada fonte de notícias individualmente e tambémtentamos obter cobertura em países que não falam inglês. Especificamente,usamos 2 métodos para retirar menções de artigos nas notícias:

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- Reconhecimento de links: procurando um hiperlink direto para um artigoacadêmico no conteúdo de um relatório de notícias.- Mecanismo de rastreamento de notícias: pesquisando o texto do relatóriode notícias (somente em inglês) para menções do documento acadêmico,jornal e autor (es). (ALTMETRIC, s.d², s/p)30

Isso demonstra uma clara limitação para o uso do Altmetric para medir, da

mesma forma que países anglofalantes, as estratégias de divulgação e debates pela

Internet que acontecem na América Latina, visto que muitas vezes o link com DOI

não é expresso em notícias de jornais, por exemplo, entre outros meios que ainda

desconhecem a importância em medir esse impacto.

Apesar dessas limitações, o Altmetric consegue rastrear os debates

online que acontecem em português no Brasil desde que tenha expresso o link com

DOI. Com isso, ele calcula um Score (pontuação) para indicar a atenção que cada

artigo conquistou na web, gerando também uma rosca (donut), como a do seu

logotipo para cada artigo (Figura 6). Quanto mais colorida a rosca, mais o artigo foi

compartilhado em diferentes plataformas (dentre blogs, redes sociais, sites

jornalísticos, documentos, entre outros). Porém, cada veículo recebe um peso

diferente para compor a pontuação final. Observe nas Figuras 1 e 2, a seguir, as

diferenças de plataformas e como a rosca pode mudar, segundo os veículos em que

o artigo foi divulgado.

Em seu site, o Altmetric (s.d.¹) defende que não trabalha com métricas

que vieram para substituir as tradicionais métricas de citação, mas sim para

complementá-las, como estatísticas de atenção, disseminação e influência, sendo

que, ao contrário das métricas tradicionais, o Altmetric é mais rápido na captura dos

dados e dá espaço para avaliar documentos, além de artigos, como capítulos de

livros, livros, editoriais, resenhas e qualquer documento que tenha DOI.

Da mesma forma que apresenta as vantagens, o site mostra outras

limitações da nova métrica, como o fato de o Altmetric “não contar toda a história”,

ou seja, que ainda é necessário usar outras ferramentas e indicadores para ter uma

análise mais profunda dos artigos e periódicos. Outro problema é que, da mesma

forma que as métricas de citação podem ser corrompidas com autocitações, entre

outras práticas antiéticas, alguém que deseja pontuar mais no Altmetric pode

30 Tradução livre da autora a partir do original em inglês disponível em: https://www.altmetric.com/about-our-data/our-sources/news/ (Acesso em 29 de julho de 2017).

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corromper o Score com robôs de compartilhamento, entre outras estratégias, por

isso, aconselham verificar quais são as publicações comentadas ou compartilhadas,

as quais a plataforma fornece com links nas estatísticas. A última limitação apontada

oficialmente é que a ferramenta é nova e mais pesquisadores precisam conhecê-la

para ser usada e ter mais dados sobre o uso e debate com o endereço e DOI do

artigo.

Figura 1: No interior das roscas, consta a pontuação do artigo, e sua cor varia

segundo a plataforma em que está inserida. No 1º exemplo, o artigo foi mais

divulgado na grande mídia, no 2º, em blogs e, no 3º, na rede social Twiter.

(Fonte: Altmetric, jul, 2017, disponível em: https://www.altmetric.com/about-our-data/the-donut-and-

score/)

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Figura 2: Cores da rosca de cada artigo rastreado pelo Altmetric, segundo a fonte

de divulgação

Fonte: Altmetric, ago, 2016, disponível em: https://www.altmetric.com/about-our-data/the-donut-and-

score/

Outro problema é que, mesmo que um periódico deposite DOI (ou outros

identificadores) em seus artigos, se ele estiver fora das grandes indexadoras, talvez

o Altmetric não rastreará, sendo necessário solicitar o serviço via formulário

disponibilizado no site:

Obteve identificadores, mas está preocupado por que não estamoscaptando menções ao seu conteúdo? Por favor, avise-nos - o domínio ondeestá hospedado pode ainda não estar na nossa whitelist (todas as principaiseditoras e plataformas estão), ou pode ser um pequeno problema com osmetadados da página.(ALTMETRIC, s.d.)31

O mesmo ocorre em blogs, jornais e perfis de influenciadores que o

Altmetric não rastreia automaticamente, sendo necessário preencher um formulário

indicando isso para análise32. Ou seja, apesar de se mostrar como alternativa para

os periódicos negligenciados pelas métricas tradicionais, ele tende a privilegiar as

revistas científicas que já estão em evidência no cenário internacional.

31 Tradução livre da autora a partir do original em inglês:. Disponível em: https://www.altmetric.com/about-our-data/how-it-works/ (Acesso em 29 de julho de 2017).

32https://docs.google.com/forms/d/e/1FAIpQLSc2T90qEvK26RuOVSwnqBdAFnECWUVft52kq07AHK--BsZcbQ/viewform (Acesso em 29 de julho de 2017).

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O Altmetric também atribui pesos diferentes para cada plataforma ou rede

social (Figura 7) na qual os artigos foram compartilhados, como mostra a tabela 2:

Tabela 2: Peso para pontuação nas divulgações dos artigos realizadas pela Internet

Fonte: Altmetric, jul 2017, disponível em:

https://help.altmetric.com/support/solutions/articles/6000060969-how-is-the-altmetric-score-calculated-

O site Altmetric33 (s.d.5) explica que a ferramenta apenas contabiliza um

ponto por perfil que divulgou o mesmo artigo, minimizando, assim, algumas

estratégias para impulsionar a pontuação, por exemplo, fazendo múltiplas postagens

do mesmo artigo. Conforme exposto na tabela, existem plataformas que receberão

33 Tradução livre da autora a partir do original em inglês. Disponível em: https://www.altmetric.com/about-our-data/the-donut-and-score/ (Acesso em 29 de julho de 2017).

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menos de um ponto por perfil público, sendo informado no site do Altmetric Support

que as pontuações são arredondadas para 1 (um) ponto se na plataforma não se

chegar até 1 (um) ponto naturalmente, isso porque o Score final por artigo não

contém número fracionado. Demais regras de cálculo estão disponíveis no site34.

Sobre as diferenças nos pesos pontuados e disponíveis na tabela, o

Altmetric Support (2016) alega que a pontuação varia a fim de refletir o alcance de

cada veículo: “É fácil imaginar que a maioria das histórias de jornais tem maior

probabilidade de promover mais atenção para a pesquisa do que um tweet”

(ALTMETRIC SUPPORT, 2016).35

Em outras palavras, a distribuição dos pesos é totalmente arbitrária,

principalmente no que se refere às redes sociais. Por exemplo, segundo dados da

Statista (2017), até abril de 2017 o Twitter tinha 319 milhões de usuários contra 1,9

bilhão de usuários no Facebook, sendo inválido o argumento de que os pesos

variam segundo o veículo que atingirá mais pessoas.

Em contrapartida, a Bloomberg36 destaca em 2016 que o Twitter é

mundialmente uma rede de nicho, sendo que, percentualmente, há mais discussões

de ciência e tecnologia no Twitter em relação ao Facebook. Mas essa análise não

conta a realidade local. De acordo com a “Pesquisa Brasileira de Mídia 2015 -

Hábitos de consumo de mídia pela população Brasileira”, realizada pela Secretaria

de Comunicação Social da Presidência da República, 92% dos brasileiros estão

conectados à Internet, sendo que, destes, 83% são usuários do Facebook, enquanto

apenas 5% declararam ainda usar o Twitter. A Statista37 também apresenta gráfico

mostrando que, desde 2013, caíram 63% dos usuários ativos brasileiros do Twitter,

sendo que a tendência é continuar em queda.

Diante desse contexto, apesar de as métricas alternativas serem uma via

para as revistas se destacarem e conseguirem medir melhor seu impacto com outros

índices e, até mesmo, para buscarem se internacionalizar, já que a divulgação

34 https://help.altmetric.com/support/solutions/articles/6000060969-how-is-the-altmetric-score-calculated- (Acesso em 29 de julho de 2017)

35 Tradução livre da autora a partir do original em inglês.

36 https://www.bloomberg.com/gadfly/articles/2016-02-12/social-studies-comparing-twitter-with-facebook-in-charts (Acesso em 29 de julho de 2017).

37 https://www.statista.com/statistics/303718/twitters-annual-growth-rate-in-brazil/ (Acesso em 29 de julho de 2017).

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ampliará o público leitor da revista, incluindo pesquisadores, sugere-se um uso com

precaução da ferramenta Altmetric adotada pelo SciELO, visto que ela ainda possui

limitações para a realidade das revistas brasileiras, sobretudo considerando o uso

social em nível nacional dos conteúdos.

Ter uma métrica para calcular o impacto dos trabalhos de divulgação é

extremamente necessário. No entanto, correremos os mesmos equívocos se

acreditarmos que as revistas científicas brasileiras terão destaque nas métricas

alternativas, uma vez que seus critérios de avaliação foram construídos a partir de

usos de compartilhamento que acabam, novamente, priorizando revistas

internacionais de língua e pertencentes a países desenvolvidos.

É louvável que o SciELO esteja buscando promover a divulgação

científica. No entanto, em seus critérios, a divulgação científica aparece com nome

de “marketing científico”, o que minimiza o potencial da divulgação científica

enquanto forma de ampliar o acesso da informação científica para a sociedade em

um país onde revistas científicas e as pesquisas são financiadas com recursos

públicos, em sua maioria. Aperfeiçoar os indicadores alternativos talvez seja o

melhor caminho. Após sete anos da criação do Altmetric e revistas, ciência e

sociedade têm muito a se beneficiar com eles.

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CAPÍTULO 4:

Estudo de três revistas brasileiras de Ciências Humanas

Os capítulos anteriores contextualizaram o ambiente no qual as revistas

brasileiras de Ciências Humanas têm sido expostas nos últimos anos em direção à

internacionalização. Ou seja, desde a desvalorização das particularidades das

Ciências Humanas nos sistemas de avaliação tradicionais, discutindo as novas

exigências e pressões da área no Brasil, até reflexões se a divulgação pode ser um

caminho para a internacionalização com uso do Altmetric.

Em paralelo a essas pressões, observamos que a divulgação de revistas

científicas, principalmente com o uso de redes sociais, pode se tornar uma

ferramenta estratégica para promover também a comunicação entre pares,

promover o acesso público aos conteúdos e, potencialmente, aumentar a visibilidade

internacional dos periódicos brasileiros. Para tanto, analisarei três revistas de

Ciências Humanas, com diferentes perfis, por meio de entrevistas semiestruturadas

com os editores atuais para, assim, entender como as revistas estão se adequando

a esse cenário.

As publicações presentes nesta análise são a revista de História chamada

História, Ciências, Saúde – Manguinhos, da Casa Oswaldo Cruz (Fundação

Oswaldo Cruz - Fiocruz), a revista de Antropologia Mana – Estudos de Antropologia

Social, do programa de pós-graduação em Antropologia Social do Museu Nacional

da UFRJ, e a Revista Brasileira de Política Internacional (RBPI), publicação do

Instituto Brasileiro de Relações Internacionais. As revistas foram escolhidas pela

relevância nas comunidades da principal área do conhecimento a que pertencem,

como será explicado para cada uma delas adiante.

A seguir, cada uma será analisada a partir de informações gerais,

históricos e concepções iniciais, indexação na base SciELO e em outros importantes

indexadores, sobre a existência de estratégias de divulgação científica e ações de

internacionalização de seus conteúdos.

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4.1 – HCSM: História, Ciências, Saúde – Manguinhos

A revista começou a ser publicada em 1994 com artigos e notas de

pesquisa inéditas, além de entrevistas, resenhas de livros e outros documentos e

imagens de valor histórico sobre História, Ciências e Saúde, segundo os sites

institucionais (COC, s.d.; HCSM, s.d.c).

Conforme anuncia seu título, o periódico tem enfoque interdisciplinar,

exposto também na apresentação da primeira edição da HSCM, em julho de 1994:

História, Ciências, Saúde - Manguinhos é um espaço aberto a convivênciasde diversas perspectivas. Sua conformação traduz, em muitos sentidos, amatriz que motivou o nascimento da Casa de Oswaldo Cruz, um lugar capazde refletir, sob o olhar da história e a marca da cultura, a pluralidade eunidade que marcam o campo de práticas das ciências e da saúde. Asraízes locais desse projeto, por sua vez, se imbricam com a demandauniversal e a virtual ausência, em nosso meio, de veículos nesse campo deconhecimento, que estejam à altura do vigor do questionamento ético e dasnovas perspectivas acadêmicas em história, sociologia e filosofia da ciência.(GADELHA, 1994)38

A apresentação também aponta os desafios que a revista se propôs a

enfrentar para contribuir com a comunicação científica na busca por “leveza, rapidez,

exatidão, visibilidade, multiplicidade e consistência” (GADELHA, 1994, p.3). Mas,

além da apresentação de Paulo Gadelha, médico e pesquisador em Saúde Pública

vinculado à Fiocruz, a primeira edição da revista também traz uma “Carta do Editor”

com a intenção de esclarecer que, embora Manguinhos (abreviação usada desde o

primeiro editorial) demonstre maior foco na “história das Ciências da Saúde”, seu

próprio título busca, com as vírgulas, uma diluição das fronteiras entre os campos de

especialização, o que torna os debates do periódico mais amplos.

Sérgio Goes de Paula, também editor na época, indica o perfil de

vanguarda da revista em relação a outras brasileiras logo em sua concepção,

sinalizando a busca de inovações para a comunicação e também de colaborações

internacionais:

Desta forma, Manguinhos, vamos tratá-la assim, abandonando asqualificações é uma revista que pretende abordar a história dosconhecimentos e dos saberes, com ênfase, é bem verdade, nosconhecimentos biomédicos. E, daqui de Manguinhos, dialogar compesquisadores do Brasil e de todas as partes, em torno de questões que, aolongo do tempo, são relevantes para a compreensão da realidade atual,

38 Editorial na íntegra disponível no ANEXO 1, p. 146.

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afinal, que outra importância pode ter a história? Como se poderá ver,Manguinhos não tem o perfil tradicional de uma publicação acadêmica, indoalém dos habituais artigos e resenhas, e abrindo espaço para outrosprodutos do campo acadêmico.(PAULA, 1994, p.6)39

A primeira edição continha todos os artigos em português, no entanto, a

apresentação e a carta ao leitor estão presentes em português e em inglês no seu

verso, um possível indicativo de tendência à internacionalização da revista, que se

reforçaria em anos recentes com inúmeras inovações que a revista tem realizado no

campo da comunicação e divulgação da ciência, como confirma a entrevista

semiestruturada realizada por Skype40 com a atual editora-executiva da Manguinhos,

Roberta Cerqueira, quando questionada sobre as intenções de internacionalização

da revista.

É claro que quando a revista surgiu em 1994 se almejava discutir com acomunidade de vários lugares, porém, ainda no início e um pouco peloperíodo que ela foi criada, o contexto era um pouco diferente, mas tambémcom a preocupação de estar em bons indexadores internacionais. Apreocupação sempre esteve presente.(CERQUEIRA, Anexo 7, p. 199)

Segundo informações das páginas institucionais da revista HCSM e da

Casa de Oswaldo Cruz (unidade da Fiocruz), instituição à qual a revista está

vinculada, o periódico tem tiragem trimestral desde 2006, mesmo ano em que a

revista começou a tradução gradual e crescente de alguns artigos para o inglês.

Desse ano em diante (com exceção de 2014), a revista passou a publicar um

suplemento anual temático; sendo que, em 2003 e em 2010, foram dois

suplementos por ano (COC, s.d.; HCSM, s.d.c).

No site da revista consta a descrição de que a publicação é avaliada por

pareceristas ad hoc, ou seja, por membros do conselho editorial do título que são

encarregados em dar pareceres sobre as publicações quando não há pareceristas

que dominam a área temática da pesquisa, ou quando há muito material para ser

avaliado (REINERS et al., 2002). Sobre os pareceres, a atual editora-executiva

acrescenta que, com a adesão da tradução de textos para o inglês, a equipe editorial

envia os textos para pareceristas estrangeiros, tornando a equipe mais diversa.

Outro diferencial que Cerqueira destaca é o debate sobre pareceres abertos, no qual

39 Editorial na íntegra disponível no Anexo 2, p.174.

40 Entrevista realizada no dia 05 de abril de 2017, com transcrição no Anexo 7, p. 184

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os artigos são publicados para, então, serem avaliados pelo público de especialistas,

mesmo considerando a dificuldade em adotá-los na avaliação de trabalhos de

Humanidades.

Atualmente, o periódico é publicado na versão impressa (ISSN 0104-

5970) e, desde 1998, eletrônica (ISSN 1678-4758). É possível fazer assinatura da

versão impressa, com custo anual individual de R$ 55, ou R$ 80 pela assinatura

institucional (COC, s.d.); a versão eletrônica está disponível gratuitamente para

leitura na base SciELO (www.scielo.br/hcsm), porém, todos os direitos autorais são

cedidos à Casa de Oswaldo Cruz para publicação.

Em entrevista, a editora Roberta Cerqueira disse que o custo médio de

cada edição impressa gira em torno de 24 mil reais, mas têm que ser levados em

conta outros custos adicionais, como a tradução dos artigos para o inglês, cujo valor

varia segundo a extensão do artigo, mas ficaria na média de 3 mil reais por artigo.

Com a tradução atual de cinco artigos por edição, o custo da revista sobe para mais

de 15 mil reais por edição, em média.

Mesmo com custos e projetos inovadores na área, que discutiremos neste

capítulo, Cerqueira explica que a revista tem uma margem de segurança estável,

sendo que não há preocupação em, eventualmente, deixar de publicar alguma

edição. Isso porque a revista está vinculada a uma instituição que tem uma política

diferenciada para suas revistas científicas, dando mais segurança às equipes fixas.

A editora exemplifica que quase 70% dos custos de editoração da revista são

financiados pela Fiocruz, incluindo, nesse percentual, os salários da equipe editorial

no quadro formal, perfil bastante atípico para a maioria das revistas científicas

brasileiras.

Mesmo com essa margem de segurança, a editora se mostra preocupada

com os demais custos da revista e indica que, dentro da equipe, existem frentes de

trabalho que atuam na busca por mais financiamento, seja através de editais

nacionais ou estrangeiros. A equipe vem mostrando êxito nessa missão, sendo que

já conseguiu financiamento do Instituto de Pesquisa de Estudos Aplicados (IPEA)

para ampliar as ações de divulgação da revista, além do financiamento nacional do

Conselho Nacional para Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e da

Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes); em outros

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períodos, também recebeu financiamento da FAPERJ (Fundação de Amparo à

Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro). Em nível internacional, Manguinhos se

beneficiou de edital da Wellcome Trust41 em 2016, principal fonte para tradução dos

artigos científicos para o inglês, no entanto, até a data de nossa última entrevista,

não houve renovação para 2017. A British Academy42 apoiou o “1º Workshop

Internacional sobre os Desafios de Revistas Interdisciplinares”43, organizado pela

Manguinhos em parceria com o periódico inglês Journal of Latin American Studies44

(JLAS), em junho de 2017, no Rio de Janeiro.

A revista também submeterá projeto para edital interno de financiamento

para o “Escritório de Captação de Recursos” da Fiocruz. A editora explica que esse

escritório é responsável por captação de recursos externos à instituição, sejam

esses públicos ou privados, sendo possível agregar mais uma fonte de recursos.

Mesmo com estabilidade financeira, realidade não compartilhada pela

maioria dos periódicos científicos brasileiros, a manutenção da revista de História da

Fiocruz na versão impressa tem sido uma prioridade na pauta de debate da equipe

editorial com vistas a reduzir custos. Isso se deve porque, atualmente, existem três

frentes que mais consomem recursos para a revista: a tradução de textos, a revista

impressa e, em menor escala, as ações de divulgação científica; porém, Cerqueira

defende que a tradução é prioritária para a equipe, visto os benefícios e a

visibilidade que agrega:

Na ordem de preocupação com os custos, eu te diria: Impressão, tradução edivulgação. Impressão e tradução, eu colocaria a impressão primeiro porquea tradução a gente não vai abrir mão. Neste universo, o que tiver que sercortado, a gente está estudando começar com a edição impressa, nãototalmente, mas possibilidade de diminuir esse custo. (CERQUEIRA, Anexo7, p.192)

No caso, a revista apenas reduziria a tiragem das impressões, hoje de

cerca de 650 exemplares, porque a demanda pela revista impressa ainda é muito

41 https://wellcome.ac.uk/funding (Acesso em 02 de julho de 2017).

42 http://www.britac.ac.uk/ (Acesso em 02 de julho de 2017).

43 http://www.blogs.ea2.unicamp.br/cienciaemrevista/2016/07/07/divulgacao-cientifica-e-estrategia-para-visibilidade-de-revistas-interdisciplinares/ (Acesso em 02 de julho de 2017).

44 https://www.cambridge.org/core/journals/journal-of-latin-american-studies (Acesso em 02 de julho de 2017).

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grande. No entanto, a editora apontou um dado curioso: em 2017, aumentaram os

pedidos de assinatura em relação aos anos anteriores. Cerqueira explica que,

infelizmente, ainda existem problemas de conexão com a Internet em instituições de

pesquisa e muitas solicitam o envio da revista impressa.

A Fiocruz tem trabalhos e ações em países africanos, Moçambique eAngola em especial, e a gente passou a mandar a revista impressa para lá.Não sei se foram 20 exemplares, mas tivemos essa demanda, sim. Uns doisanos atrás também mandamos. A gente tem instituições particulares nointerior do Brasil que assinam a revista e a gente manda. A revista tem hoje650 exemplares impressos. Eu diria que 400 em média vão para instituiçõesestrangeiras e nacionais. Acho que esse número pode ser reduzido,algumas instituições podem deixar de receber [exemplares], mas esse é umdos pontos do porquê, ainda, continuamos enviando a revista, porque aindarecebemos solicitações. Acho que isso tende a diminuir mesmo, mas aindaé um ponto.(CERQUEIRA, Anexo 7, p. 193)

Outro motivo para a revista continuar sendo mantida na versão impressa

é em função da preservação da sua memória. A editora esclarece que, ainda mais

por ser ela historiadora, há a preocupação com essa questão conforme avança a

comunicação científica na Internet e ainda há dúvidas sobre a preservação digital da

revista, tendo em vista que o papel ainda é uma importante forma de preservar a

memória da publicação.

4.1.1 - Perfil da equipe editorial da HCSM

Em relação à maioria das revistas científicas brasileiras, a Manguinhos

mantém um perfil de equipe editorial diferenciada. Isso porque sete pessoas

trabalham diariamente no quadro formal e com vínculo empregatício, com dedicação

integral à revista: a editora-executiva, dois editores científicos, dois revisores, uma

pessoa responsável pelo administrativo e uma secretária.

Roberta Cerqueira explica que esse privilégio de ter uma equipe fixa

ocorre em proporções diferentes a todas as revistas vinculadas à Fiocruz,

influenciadas pelo periódico centenário Memórias de Oswaldo Cruz45 que preserva

esse perfil e constitui-se um exemplo de periódico científico de prestígio para a

instituição:

45 http://memorias.ioc.fiocruz.br/ (Acesso em 02 de julho de 2017).

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As revistas são importantes para a instituição [Fiocruz]. Não que as outrasinstituições não considerem suas revistas importantes, não estou dizendoisso. Mas a importância institucional significa que tem que ter umplanejamento, tem que ter gente dedicada para trabalhar. Hoje, a gente temum fórum de editores que pensa em questões comuns para todos osperiódicos, até com o objetivo de otimizar serviços e diminuir custos. Nãofazer trabalhos repetidos, fazer licitações ou contratos de forma que todasas revistas sejam beneficiadas. Esse fórum é novo, tem uns dois anos, etem tido resultados muito interessantes. A gente tem uma dinâmica muitointeressante de trabalho, então, sim, todas as revistas da Fiocruz têmequipes em maior e menor escala que são dedicadas à produção da revista,aí a gente escala de acordo. Por exemplo, se você pegar a Cadernos deSaúde Pública46,que publica mensalmente sua revista (eles recebem nacasa de, acho, duas mil submissões por ano), eles têm uma equipe maior.Se você pegar uma revista com uma periodicidade menor, tem equipemenor. Mas sempre vai ter alguém dedicado full time ao periódico, sim.(CERQUEIRA, Anexo 7, p. 189)

Na equipe de apoio, a revista conta com duas jornalistas freelancers (sem

vínculo empregatício com a Fiocruz e recebem por trabalho com recursos de edital

do CNPq, conforme consta em projeto, explica a editora-executiva), que produzem

conteúdos originais para os blogs de divulgação científica da revista, sendo um em

português e outro em espanhol e inglês, além de colaborações de um jornalista

vinculado à Casa Oswaldo Cruz, unidade à qual a revista faz parte.

A editora-executiva, entrevistada via Skype para esta pesquisa, assumiu

oficialmente o cargo em 2009 na Manguinhos, mas o seu trabalho com a revista

começou desde a sua graduação em História pela Universidade Estadual do Rio de

Janeiro (UERJ), quando Cerqueira concluía sua Iniciação científica com pesquisa

sobre história das doenças na Fiocruz. Ela relata que suas primeiras atividades se

devem à necessidade detectada por Jaime Benchimol, editor científico da

Manguinhos na época, em fazer um levantamento de instituições, bibliotecas e

outros lugares que poderiam ter interesse na revista de modo a ampliar sua

circulação, sendo responsabilidade de Cerqueira, da editora-executiva da época,

Ruth Martins, e da secretária editorial concluir esse mapeamento e estabelecer

contato com as instituições.

Consequentemente, Cerqueira relembra que passou a acompanhar de

perto todos os processos de produção da revista com o auxílio de Ruth Martins, até

que a substituiu após sua aposentadoria:

46 http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_serial&pid=0102-311X&lng=en&nrm=iso (Acesso em 02 de julho de 2017).

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Eu sei que não é uma trajetória comum para quem tem a minha formação,que vem da área de História. A gente não tem curso ou formação que sejadirecionado para formar editor ou para formar gente que trabalhe emperiódicos científicos. A gente acaba sendo formada e especializada àmedida que vai trabalhando. Acho que hoje até tende a mudar um pouco, asrevistas estão mais profissionais, tem-se mais gente experiente emperiódicos circulando, talvez isso ajude mais. Mas, quando eu entrei, eramais aprender fazendo, na tentativa e erro. Vendo as iniciativas do Jaime,que é [era] um dos editores junto à Ruth, posso dizer que conheço muito aManguinhos, conheço muito o processo editorial porque acompanhei todasas etapas em todas as frentes.(CERQUEIRA, Anexo 7, p.187)

Assim como o restante de sua equipe, a editora dedica-se integralmente

às atividades relacionadas à revista, como a coordenação editorial, o planejamento

dos números com os editores científicos, secretaria editorial, atividades burocráticas

e de representação da revista e, atualmente, ela relata como cresce o trabalho de

divulgação científica da Manguinhos, que discutiremos adiante.

4.1.2 - Avaliações e indexações da HCSM

A revista HSCM entrelaça temas de História, Medicina, Sociologia,

Filosofia, Antropologia e Saúde Pública, sendo que, no sistema de avaliação de

revistas científicas Qualis Capes do triênio de 2010-201247, ela foi classificada como

A1 (extrato mais alto de qualificação) em História, Educação, Sociologia, Ciências

Ambientais e Interdisciplinar e A2 em Comunicação e Informação, Geografia,

Letras/Linguística e Serviço Social. Na avaliação seguinte, do triênio de 2013-2016,

a revista recebeu A1 em História, Interdisciplinar e Sociologia, e A2 em

Arquitetura/Urbanismo e Design, Artes/Música, Ciência Política e Relações

Internacionais, Comunicação e Informação, Ensino, Planejamento Urbano e

Regional/Demografia, Serviço Social.

A editora-executiva explica que, para a revista, não é possível deixar de

acompanhar a avaliação do Qualis Periódicos. No entanto, a principal preocupação

para a equipe ainda é a boa avaliação na área de História, por ser a que mais

fundamenta a publicação, apesar de que a avaliação influencia as submissões para

a revista:

47https://sucupira.capes.gov.br/sucupira/public/consultas/coleta/veiculoPublicacaoQualis/listaConsulta GeralPeriodicos.jsf (Acesso em 02 de julho de 2017).

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A diversidade de classificação que a gente recebe no Qualis a cadaavaliação muda um pouco o cenário de submissão. Se a gente passa a serbem avaliada na área de Serviço Social, a gente recebe mais [submissões]da área de serviço social. Então, sim, a gente olha para o Qualis, é precisode olhar. Ao mesmo tempo que a gente sabe dos problemas e tem críticas,é um referencial importante de qualidade de periódicos e os autoresperguntam qual é a classificação da revista no Qualis. [...] A gente tambémé institucionalmente avaliada pelo nosso Qualis. O Qualis é um instrumentode avaliação das revistas científicas nacionais. Não dá para negligenciá-lo.(CERQUEIRA, Anexo 7, p.195)

De forma geral, a revista se considerada bem avaliada nas principais

áreas de atuação, afirma Cerqueira, e reconhece que a oscilação na avaliação de

Saúde Coletiva mantém critérios próximos da área de Biológicas e não de

Humanidades, muito embora seja também o objetivo da revista ser bem avaliada na

área. Mesmo com critérios diferentes para a área de Humanidades, a Manguinhos

tem apresentado avanços no Qualis em Saúde Coletiva. No triênio 2010-2012, ela

foi classificada como B3, mas no triênio 2013-2016, subiu para B1, indicando que

houve um aumento de visibilidade. Fora essa, a editora aponta aumento de público

em áreas menos tradicionais para as áreas de atuação da revista, como Direito, em

que a revista atingiu B1 na última avaliação: “Às vezes, aparecem umas áreas com

as quais a gente fica um pouco surpresa, mas, nas principais áreas, a gente tem

conseguido boas notas” (CERQUEIRA, Anexo 7, p.197). Ela acredita que um dos

fatores para essa diversificação de público ocorre em função das ações de

divulgação científica, com as quais a revista se diferencia no país.

Além da base SciELO (em junho de 2000), é possível buscar as edições

anteriores da HCMS no portal de periódicos online da Fiocruz48. A HCSM também

está indexada na Thomson Reuters desde 2008, proprietária do antigo Institute for

Scientific Information (ISI), que publica o fator de impacto das revistas científicas,

além do Scopus, que pertence à maior editora científica internacional, a Elsevier,

produtora do SCimago Journal Rank (SJR), além de outras bases do exterior, como

a PubMed, maior portal de acesso aberto da literatura médica (HCSM, s.d. c; COC,

s.d., BENCHIMOL et al., 2014).

De acordo com o Scimago Journal Rank (SJR, 2015c), a HSCM é a

revista brasileira mais bem colocada, em termos de citação dentro da base na área

de Artes e Humanidades, entre revistas de acesso restrito e aberto para leitura,

48 http://periodicos.fiocruz.br/pt-br/revista/manguinhos (Acesso em 02 de julho de 2017).

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sendo que seu índice H49 é 12 e recebeu em 2015 o quartil50Q2 em História e em

Filosofia da Ciência e Q3 em Medicina; seu valor SJR é de 0,255, com total de 44

citações nos três anos anteriores a 2015, com média de citação por documento de

0,19, como se observa no gráfico disponibilizado pela SJR (2015a), nos quais

apontam crescimento do índice SJR.

Gráfico 1: Pontuação por citações gerais, por documento e total em um intervalo de

oito anos da revista História, Ciências, Saúde - Manguinhos. Fonte: Scimago citado

em SciELO

Entre os dados fornecidos pela Scimago Journal Rank (SJR, 2015a), o

mais interessante é perceber que, desde 2005 (gráfico 2), a revista passou a se

preocupar com as publicações de pesquisas que mantêm colaborações

internacionais, já mencionadas por Packer (2014) como um dos caminhos para as

revistas atingirem mais citações e, consequentemente, mais visibilidade em busca

da internacionalização. Lembrando que Packer (2014) indica também que as

colaborações internacionais nos artigos, junto com a publicação no idioma inglês,

resultam em taxas de citação três vezes maiores que em artigos publicados apenas

em português. A HCSM adota, desde 2006, a política de investir, a cada edição, na

tradução de cinco artigos em português ou espanhol para o inglês nas versões

eletrônicas da revista. As edições impressas continuam sendo publicadas apenas

49 O índice H quantifica a produtividade e impacto de pesquisadores, revistas, departamentos, etc.,sendo que o índice h é o número de artigos com citações superior ou igual ao seu número de artigos.Ou seja, se a revista tem índice h = 12, ela tem 12 artigos que receberam 12 ou mais citações.

50 Um quartil é um dos três valores que divide uma amostra, sendo que Q1 representa um quartilinferior, Q2 um quartil mediano e Q3 um quartil superior no conjunto analisado.

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nas versões submetidas pelos autores (BENCHIMOL et al., 2014). Benchimol e

colegas editores da revista (2014) ainda destacam que a meta da Manguinhos é ser

bilíngue na versão eletrônica. Porém, os altos custos de tradução impedem sua

concretização no momento.

Mesmo assim, os gráficos disponibilizados pela SJC¹ (2015) apontam que

o crescimento no número de citações (mesmo com picos de quedas, visível no

gráfico 3) corresponde ao início desse investimento em colaborações internacionais

(2005) e na tradução dos artigos para o inglês (2006). A busca pelo aumento da

visibilidade internacional da revista também pode ter influenciado o aumento no

número de citações em nível nacional, colocando a Manguinhos no topo das

publicações mais citadas da área de Humanas no Brasil, como indicado por Packer

(2014):

Gráfico 2: Percentual histórico de artigos com colaboração internacional da revista

História, Ciências, Saúde – Manguinhos

Fonte: SJR, História, Ciências, Saúde – Manguinhos, 2015.

Com essas conquistas, a editora pondera sobre a internacionalização,

visto que a língua ainda é vista como um obstáculo, mesmo no trabalho diário de

secretaria, muito embora considere a Manguinhos internacional, principalmente sob

o olhar do público latino-americano crescente que a revista vem conquistando entre

leitores e autores. Outros fatos que reforçam a crescente colaboração internacional

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da revista, aponta Cerqueira, são as parcerias e convênios externos firmados pela

revista, como o já mencionado edital da Wellcome Trust, que possibilitou as

traduções e o aumento na participação de pareceristas estrangeiros.

Gráfico 3: Aumento de citações por documento com picos a partir de 2006 na

revista História, Ciências, Saúde - Manguinhos. Fonte: SciELO

Fonte: SJR, História, Ciências, Saúde – Manguinhos, 2015.

Ao ser questionada se a revista sentia pressão de se internacionalizar e

divulgar o periódico em redes sociais e blogs em vista dos novos critérios de

indexação e permanência na SciELO, Cerqueira argumenta que, para a

Manguinhos, os critérios serviram mais como legitimadores das ações que já vinham

ocorrendo, visto que a revista tem um histórico de tentativas de divulgação científica

desde que surgiu e era gerida por Ruth Martins, jornalista de formação. Em outras

palavras, para a Manguinhos, os critérios SciELO motivaram a sistematização

dessas ações, mas o impacto nos processos da equipe foi menor do que para outras

revistas. Os desafios atuais da revista estão concentrados em diminuir o tempo de

editoração do periódico, além de acompanhar e participar de debates sobre as

novas tendências editoriais como o fast track, artigos publicados antes da conclusão

do processo de revisão por pares para acelerar o compartilhamento de informações

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e colaborações científicas, como é adotado crescentemente por revistas da área de

Saúde Pública.

Conforme prenúncio de Paula (1994) na primeira edição da HCSM, o

periódico fugia do perfil tradicional das revistas brasileiras e foi pioneiro ao

inaugurar, em 2013, um blog51 trilíngue (português, inglês e espanhol), expandindo o

debate do conteúdo de suas revistas para além do público especializado brasileiro,

com entrevistas, notícias e análises complementares. A revista ainda mantém ativos

os perfis nas redes sociais Facebook (em português52 e outro em inglês e

espanhol53), em 2013, e no Twitter54 (os três idiomas na mesma conta) desde

novembro de 2012. Cerqueira explica que, no projeto inicialmente submetido para

conseguir fomento, a divulgação foi justificada como ferramenta para ampliar a

internacionalização, por isso, os blogs são trilíngues.

Em artigo de 2014 (BENCHIMOL et al., 2014), a equipe editorial comenta

os desafios enfrentados na inserção do periódico nas redes sociais, os esforços de

internacionalização e os resultados obtidos após o ingresso no Facebook e no

Twitter a partir de junho de 2013, que podem ser medidos pelas métricas

alternativas, como o Altmetric adotado pelo SciELO. Apesar de os editores

apontarem reação contrária das revistas de Humanidades sobre as pressões por

uma ciência mais ágil, que vai na direção do produtivismo acadêmico, como as

colaborações internacionais e uso do inglês sobretudo nas Ciências Naturais e

Exatas, a HCSM, autointitulada “timoneira” no artigo, apresenta-se como

compreensível às necessidades dessas mudanças, exigidas também pela base

SciELO na busca pela internacionalização e profissionalização das revistas, dentre

as quais está a promoção da divulgação científica como estratégia para melhorar a

visibilidade do periódico.

Benchimol e coautores (2014) explicam, por exemplo, que a HCSM

passou a intensificar o investimento na produção de press releases55 como forma de

51 http://www.revistahcsm.coc.fiocruz.br/ (Acesso em 02 de julho de 2017).

52 https://www.facebook.com/RevistaHCSM/ (Acesso em 02 de julho de 2017).

53 https://www.facebook.com/JournalHCSM/?ref=ts&fref=ts (Acesso em 02 de julho de 2017).

54 https://twitter.com/revistaHCSM (Acesso em 02 de julho de 2017).

55 Comunicados liberados para a imprensa.

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antecipar a divulgação dos conteúdos das revistas, presentes na coluna à direita da

página da revista no Portal SciELO, por exemplo, ou outros canais (Figura 3).

No entanto, desde a participação da revista no seminário “Introdução ao

uso das redes sociais na comunicação científica”, promovido pela SciELO, Fiocruz e

Ibict em 2012, os editores se interessaram pela riqueza de dados do impacto social

que as métricas alternativas trazem com a divulgação nas redes sociais e que

podem melhorar a visibilidade dos periódicos. “A internacionalização requer

iniciativas no terreno da divulgação, inclusive no vasto mundo das redes sociais,

pouco exploradas ainda pelos periódicos científicos brasileiros” (BENCHIMOL et al.,

2014, p.355).

Figura 3: Layout da página da HCSM na base SciELO com press releases visíveis

Fonte: SciELO, HCSM, ago 2016, disponível em: www.scielo.br/hcsm

O interesse virou ação e inaugurou, em 6 de junho de 2013, o blog HCS –

Manguinhos e dos perfis no Facebook e Twitter, que aumentam drasticamente o

acesso ao blog (BENCHIMOL, et al., 2014). É importante ressaltar que a adesão às

redes sociais teve custos arcados com a aprovação de projeto de divulgação

científica da revista em edital do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA).

As Figuras 3 a 7 exemplificam a atividade da revista nas duas redes sociais e blogs

da revista.

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105

Figura 4: Layout da página inicial do blog de divulgação em português da revista

HCSM.

(Fonte: Blog HCS Manguinhos em português, ago 2016)

Figura 5: Layout da página inicial do blog de divulgação em inglês e espanhol da

HCSM.

(Fonte: Blog HCS Manguinhos em inglês e espanhol, ago 2016)

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Figura 6: Layout da página inicial do perfil da revista HCSM na rede Twitter

(Fonte: Perfil no Twitter da HCSM em português, inglês e espanhol, ago 2016)

Figura 7: Layout da página inicial da página em português da revista HCSM na rede

Facebook.

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(Fonte: Página no Facebook da HCSM em português, ago 2016)Figura 8: Layout

da página inicial da página em inglês e espanhol da revista HCSM na rede Facebook

(Fonte: Página no Facebook da HCSM em inglês e espanhol, ago 2016)

Pode-se considerar que um dos benefícios da divulgação científica para a

HCSM é ter o diálogo com o público leitor da revista que comenta as entrevistas,

análises e notícias sobre os artigos, e que gera leituras dos conteúdos científicos da

revista e, potencialmente, contribui para o aumento de citações dos mesmos, além

de influenciar a revista a um debate mais amplo da ciência para a sociedade. A

HCSM também está presente em publicações em outros blogs, como o SciELO em

Perspectiva56, SciELO em Perspectiva: Humanas57, pertencentes ao SciELO, entre

outros.

Roberta Cerqueira esclarece que, antes do lançamento de cada edição, é

realizado um planejamento prévio, no qual são separados os artigos que serão

divulgados para o blog internacional e para o nacional. Depois, a assessoria de

imprensa da Casa Oswaldo Cruz produz um release da edição, que é disparado

56 Blog que pertence ao SciELO, o indexador de maior prestígio no Brasil e um dos mais importantesdo mundo em acesso aberto. http://blog.scielo.org/ (Acesso em 02 de julho de 2017).

57 http://humanas.blog.scielo.org/ (Acesso em 02 de julho de 2017).

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para todas as redes internas da instituição. O press release também é traduzido

para atingir um público maior. Os artigos são trabalhos com as jornalistas

freelancers, que entrevistam e produzem conteúdos de divulgação. Entre as

inovações de divulgação, a editora anunciou a reformulação do layout do blog e já

iniciou a divulgação de alguns vídeos que o assessor de imprensa da Casa Oswaldo

Cruz está produzindo junto com a equipe da Manguinhos. Entre os vídeos, já foram

publicados um institucional falando sobre a revista58 e outro sobre a história da

Psiquiatria, publicado no dia 17 de novembro de 2016, com fala do autor de artigo

publicado na revista, Fernando Tenório59, mas este último não tinha link para o artigo

ao qual se referia, de modo a conduzir os visitantes para a leitura completa e

também ser rastreado pelo Altmetric. Detalhe relevante para não desperdiçar as

ações realizadas pela revista.

Benchimol explica que o fluxograma da equipe se tornou mais complexo

com as mudanças (CAMPOS, 2014) adotadas. Isso porque outras demandas sobre

divulgação continuam chegando para o blog, e a equipe precisa se disciplinar para

manter o foco em temas que tenham relação com os conteúdos e escopo da revista,

explica Cerqueira:

A gente tem uma demanda hoje que é, em todas as frentes: tempo,planejamento da equipe, demanda [que vem] de fora, que é a instituiçãosolicitando que a gente faça uma parceria para publicar outras ações quetenham a ver com temas que a revista publica, a questão orçamentária, quea gente paga essas jornalistas por trabalho, por produção, freela, vamosdizer assim. [...] E a gente não conseguiria tocar isso sem a ajudaprofissional dessas jornalistas, e eu acho que tem essa diferença de terem aformação mesmo, de trabalharem com a informação de uma forma diferenteda nossa, e tem tido um impacto nesses últimos anos por nós sermosreferência para falarmos em vários lugares [eventos científicos] [...]. Então,teve um impacto em todas as frentes. Até um pouco na secretaria editorialporque a gente começou a pedir para os nossos autores, quando o artigofosse aprovado, que encaminhem um release pequeno sobre o texto. Então,teve um impacto considerável.(CERQUEIRA, Anexo 7, p. 202)

Durante o 1º Workshop Internacional sobre os Desafios de Revistas

Interdisciplinares: experiência do Reino Unido, Brasil e América Latina em História,

Ciências Sociais e Humanidades, promovido pela Casa de Oswaldo Cruz e a British

58 https://www.youtube.com/watch?v=xnYpUfc-H2I (Acesso em 02 de julho de 2017).

59 https://www.youtube.com/watch?v=pbi3SXMcRiE (Acesso em 02 de julho de 2017).

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Academy entre os dias 22 e 24 de junho de 2016, Roberta Cerqueira detalhou e

exemplificou como a divulgação científica aumentou o número de acessos aos

artigos e também de submissões internacionais para a revista, além de o periódico

agregar valor social ao promover um debate entre pares e também entre leigos de

forma mais ampla com a divulgação científica, como se pode ver na pontuação de

alguns artigos da revista na ferramenta Altmetric60 (Figura 8).

Eu acho que a divulgação contribui, sim, de forma tímida ainda, mas eutenho certeza de que a gente não chegaria a leitores a que a gente chegahoje se não fosse pela divulgação web que a gente faz. Estou convencidadisso. Ainda que os dados e resultados do acompanhamento disso sejamtímidos. Mas isso, mesmo eu dizendo que empiricamente eu não possa teprovar em dados, ainda não, mas eu tenho certeza de que a gente chega aleitores estrangeiros que a gente não chegaria se a gente não estivessefazendo as ações que a gente faz de divulgação. E por que eu digo isso? Agente acompanha acessos de países, e o Facebook tem uma dinâmica quepermite você marcar as pessoas que estão pesquisando aquele assunto, eisso virou um filtro cada vez mais, se você entrar na nossa página, você vaiver gente marcando para ler isso, gente de fora, latino-americanos e, àsvezes, de língua inglesa em menor escala. Mas os latino-americanosindicam ‘Olha esse artigo que saiu’. No Twitter, teve um diretor deuniversidade inglesa ‘Olha esse tema que a gente está vendo e foipublicado em uma revista latino-americana com pesquisador nosso’, e outrapessoa comenta e retuita61. A gente não chegaria a esse público [sem adivulgação], ou demoraria para chegar.(CERQUEIRA, Anexo 7, p.199)

Como discutido no capítulo 3, o Altmetric rastreia o uso dos artigos pela

Internet por meio do DOI da publicação e outros identificadores registrados pela

ferramenta, gerando uma pontuação, representada por um donut colorido, de acordo

com as plataformas em que a leitura foi feita, segundo o volume e tipo de atenção

que a pesquisa gerou nas redes sociais, em documentos governamentais, blogs,

notícias, entre outros. Quanto mais cores houver no donut ou rosca, maior a

variedade de veículos em que o artigo gerou interesse, sendo que cada um possui

um peso diferente, e a maior pontuação para aqueles com maior potencial de atingir

um público mais amplo (Figura 8).

A Figura 9 demonstra que, de fato, alguns artigos da revista Manguinhos

têm visibilidade nas redes sociais, com pontuação interessante e uma rosca

colorida, sugerindo variedade de veículos onde ocorreu divulgação, segundo as

60 https://www.altmetric.com/ (Acesso em 02 de julho de 2017).

61 Retuitar é a versão em português do retweet, que significa compartilhar a mesma mensagem parasua rede de seguidores no Twitter.

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métricas alternativas exibidas pelo Altmetric. No exemplo acima, o artigo divulgado

foi “Malaria epidemics in Europe after the First World War: the early stages of an

international approach to the control of the disease”62, em inglês, em dois veículos de

notícias63 (All Africa64 e Scidevnet65), diversas vezes no blog da revista, mas que, no

Altmetric, contabilizou apenas uma vez66, 1 vez no Twitter67, 2 vezes por páginas no

Facebook68, uma menção no Wikipedia69 e 9 leitores no Mendeley, totalizando 26

pontos e um donut colorido, mostrando a diversidade de veículos que o artigo

atingiu.

Figura 9: Exemplo da pontuação do Altmetric de um artigo da revista HCSM

(Fonte: Altimetric, ago 2016, disponível em: https://scielo.altmetric.com/details/797065)

62 http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-5970201100020000 (Acesso em 02 de julho de 2017).

63 https://scielo.altmetric.com/details/797065/news (Acesso em 02 de julho de 2017).

64 http://allafrica.com/stories/201603080435.html (Acesso em 02 de julho de 2017).

65 http://www.scidev.net/global/malaria/news/global-wealth-primed-curb-malaria.html (Acesso em 02 de julho de 2017).

66 https://scielo.altmetric.com/details/797065/blogs (Acesso em 02 de julho de 2017)..

67 https://scielo.altmetric.com/details/797065/twitter (Acesso em 02 de julho de 2017)..

68 https://scielo.altmetric.com/details/797065/facebook (Acesso em 02 de julho de 2017)..

69 https://scielo.altmetric.com/details/797065/wikipedia (Acesso em 02 de julho de 2017)..

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Como exposto, para se atingir uma boa colocação nas métricas

alternativas e também perceber o reflexo das ações de divulgação, são necessários

esforços da equipe editorial e uma dinâmica de trabalho diferente para se

estabelecer uma boa divulgação científica. Para adiantar o debate, segue (Figura 9)

o processo geral de publicação de uma postagem no blog, conforme informado por

Cerqueira, durante sua apresentação no já mencionado workshop de 2016,

demonstrando que, para se publicar material de divulgação, é realizada uma

pesquisa de um conteúdo de destaque e decisão sobre em quais redes sociais

publicar; se for blog, deve-se seguir de divulgação nas redes Twitter e Facebook,

estimulando o compartilhamento do material de divulgação pelos autores, além de

localizar pessoas influentes da área que se interessem pelo artigo. A última etapa é

o monitoramento dessas estratégias para avaliar se estão promovendo efeitos

positivos para aumento de acessos da revista:

Figura 9: Processos de publicação de um post para os blogs da HCSM.

Fonte: CERQUEIRA, R. História, Ciências, Saúde – Manguinhos e o desafio da divulgação nas redes

sociais. In 1º Workshop Internacional sobre os desafios de revistas interdisciplinares, Rio de Janeiro,

22-24 de junho de 2016.

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Percebe-se que a divulgação de artigos favorece positivamente os

acessos aos textos científicos. Usando a HCSM como exemplo, a revista

disponibilizou as dez publicações mais acessadas em 201570 na página em

português da revista no Facebook; ao se analisar a média de acessos do artigo

excluindo o mês de divulgação (dados de acesso fornecidos gratuitamente na base

SciELO), percebe-se que o pico de acesso é maior no mês em que ocorreu a

divulgação (BARATA et al., 2016).

Gráfico 4: Picos de acesso nos meses de divulgação dos artigos em relação à sua

média, excluindo-se o mês da divulgação.

(Fonte: BARATA, et al. Science communication impact on journals visibility in Brazil. In: 14th

International Conference on Public Communication of Science and Technology, 2016, Istambul,

Turquia. PCST 2016 - Public Communication of Science and Technology, 2016)

Além do engajamento diário que a editora administra, ela ressalta que

aumentou muito o número de submissões, embora não seja palpável saber o quanto

a divulgação influenciou nessa mudança, pois a revista passou para um processo de

submissão online via SciELO que, provavelmente, também contribuiu para o

70 http://www.revistahcsm.coc.fiocruz.br/einstein-e-bertha-lutz-encabecam-postagens-mais-vistas-de-2015-no-facebook-de-hcs-manguinhos/ (Acesso em 02 de julho de 2017)

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aumento de submissões, embora o buzz (atenção) sobre a revista tenha aumentado

com a divulgação:

Acho que podemos dizer que aumentou o número de acessos aos artigos.Porém, se isso já se traduz em citações, e que tipos de citações, aindavamos começar a olhar para isso e ver se teve de fato. Um texto que tenhasido muito usado em um [curso de] pós-graduação, não vai ter citação, masvai ter repercussão. Acho que para, citação, que é o filé em que a gente ficasempre pensando, não saberia dizer se, de fato, já temos um impacto. Mas[em termos] de circulação da revista e de acesso a mais gente e,consequentemente, a um aumento dos acessos aos artigos, [isso] sim.(CERQUEIRA, Anexo 7, p. 204)

Mesmo com a percepção de que a divulgação científica tem sido benéfica

para a consolidação da revista, questiona-se até que ponto o SciELO deveria adotar

a ferramenta Altmetric para essas análises diante de outras ferramentas em

desenvolvimento nas métricas alternativas. Isso porque o Altmetric pontua de forma

diferenciada as redes sociais, dando mais peso, por exemplo, para ações no Twitter,

enquanto a grande parte dos internautas latino-americanos está presente no

Facebook (STATISTA, 2017).

Além de deixar a métrica falha nos pesos de cada veículo para a

divulgação, outro problema é que o Altmetric não rastreia todos os blogs, mas busca

a partir de uma coleção de blogs considerados pela equipe como relevantes,

geralmente os mais internacionais. O Altmetric, no entanto, pede que os usuários

indiquem blogs importantes para incrementar a coleção. Dessa forma, o blog da

revista Manguinhos passou a ser rastreado, no entanto, ainda há maior

representação de blogs em língua inglesa, o que acaba diminuindo grandemente o

potencial de verificar os usos de artigos em nível nacional.

Outro problema constatado na análise de dados extraídos por Juan Pablo

Alperin e Stefanie Haustein - através de colaboração para esta pesquisa de

mestrado - a partir dos artigos das três revistas brasileiras no Altmetric, de 2013 até

o início de 2017, é que o Altmetric não considera os dados compartilhados a partir

de perfis no Facebook, mas sim apenas de páginas institucionais. Portanto, apesar

de a editora da revista de Manguinhos perceber um nítido engajamento das pessoas

na rede social, o Altmetric rastreou e pontuou, no mesmo período, apenas 54

menções da revista brasileira. Por outro lado, enquanto no Twitter as ações de

divulgação da equipe editorial e o engajamento dos leitores serem menores, o

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Altmetric registra 121 tweets (mensagens) que mencionam os artigos no mesmo

período. Isso ocorre porque o Twitter mantém seus dados abertos de perfis públicos

e, portanto, as estatísticas de atividades são mais acuradas.

Mesmo com esses problemas no Altmetric, a revista não pretende

abandonar as ações de divulgação, e a editora-executiva adiantou que a equipe está

cogitando uma modernização dos layouts dos blogs. Embora o acompanhamento

das métricas ainda seja falho, a revista considera importante acompanhar as

métricas, não apenas para qualificar a revista no meio acadêmico, mas para também

ter um retorno das ações desenvolvidas.

[Entre os desafios atuais para a revista estão questões] para enfrentar esseprocesso de internacionalização nas Ciências Humanas, de artigos quefalem com o nacional e o internacional. Além das inovações, como a deinvestir em redes de divulgação da revista, manter e aprimorar é um desafio[para nós]. Aprimorar as ações [de divulgação científica], aprimorar oacompanhamento das métricas, dos resultados, melhorar a nossaindexação…. E eu tenho, não só eu como o André Felipe Cândido da Silvae o Marcos Cueto, editores científicos da revista, temos acompanhado deperto a questão dos pareceres abertos, para entender essa mudança quetemos visto em algumas áreas, e é difícil aplicar isso na área de Humanas.[Outro desafio] é a demanda por publicar mais rápido, esse é um desafiomaior, tratando-se de uma revista da área de Humanas com tempo decitação, de depuração do produto científico, da pesquisa científica serdiferente [das Ciências Naturais].(CERQUEIRA, Anexo 7, p. 197)

Dessa forma, esta pesquisa observa que a Manguinhos une as ações de

divulgação científica com a busca por internacionalizar mais a revistas. Pelos

depoimentos da atual editora-chefe, nota-se que esse objetivo esteve

acompanhando as inovações da revista desde o início e que vem trazendo efeitos,

mesmo que tímidos, como o aumento de acessos da revista.

Deve-se destacar que a Manguinhos é um periódico diferenciado frente

aos outros brasileiros, principalmente de Ciências Humanas. Acredito que isso se

deva muito ao investimento que a Fiocruz faz para todas as revistas vinculadas à

instituição, com equipes dedicadas a atuar apenas nas equipes e com suporte

político e financeiro para buscar recursos nesses investimentos, como a criação e

manutenção de dois blogs de divulgação, um em português e outro em inglês e

espanhol, além de jornalistas freelancers para preparar o material e disseminá-lo em

outras redes sociais.

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É interessante notar que realmente os conteúdos não são espelhados e

há o cuidado no momento de decidir a pauta de quais conteúdos são mais

interessantes para o público brasileiro e quais são de interesse também de público

estrangeiro. Entre as matérias originais veiculadas nos blogs, observa-se desde

pequenas notas sobre artigos até entrevistas e notícias sobre estudos publicados e

com os autores. Outro diferencial da revista é que, mesmo nos blogs e

principalmente nas redes sociais, Manguinhos também atua na curadoria de outros

conteúdos que podem interessar ao público leitor, ou seja, apesar dos esforços

serem para criação de conteúdo original para divulgação, a revista também

aproveita outros esforços pelos quais o público leitor possa se interessar.

Essa profissionalização que a revista está buscando vem se tornando

referencial entre as revistas da área, como observado pelo 1º Workshop

Internacional sobre os Desafios de revistas interdisciplinares, organizado pela revista

em 2016. No entanto, para que mais experiências positivas aconteçam como no

caso Manguinhos, é necessário investimento para que as revistas de acesso aberto

e financiadas com verba pública consigam se profissionalizar para atingir mais

pessoas, arcar com os custos de tradução e ter equipe para divulgação e, assim, se

internacionalizar, como proposto nos critérios SciELO.

4.2 – Mana: Estudos de Antropologia Social

O segundo periódico presente nesta análise é o Mana: Estudos de

Antropologia Social, também conhecida apenas como Mana e editada pelo

Programa de Pós-graduação em Antropologia Social do Museu Nacional, da UFRJ

(Universidade Federal do Rio de Janeiro). A revista declara que publica artigos

inéditos, ensaios bibliográficos e resenhas de livros com pareceristas ad hoc.

Diferentemente das outras duas revistas desta análise, as informações

disponíveis online deste periódico são mais escassas, sendo que não há muitas

informações no site do Museu Nacional, onde há uma página sobre a revista,

indicando sobre assinatura, embora a atual editora, Renata Menezes (professora-

associada ao Programa de Pós-graduação em Antropologia Social no Museu

Nacional e à frente da chefia da revista desde janeiro de 2016), tenha declarado em

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entrevista via Skype71 que a revista mantém leitores fiéis e que exigem a edição

impressa.

Menezes explica que a revista se sustenta com financiamento público,

sendo que participa, em média, de dois a três editais por ano. Ela aponta, como

canais de financiamento, a Capes, o CNPq, a FAPERJ e a UFRJ, universidade à

qual a revista está institucionalmente vinculada e cujos editores são também

docentes da mesma.

Descontando os salários dos editores que exercem as funções na revista

como parte da atividade exigida na carreira de pesquisadores do Museu Nacional, a

editora aponta que são investidos, por edição, em torno de 15 mil reais. Sobre a

margem de segurança para a revista continuar sendo editorada, ela explica que, em

20 anos, a revista nunca foi descontinuada, mas, por falta de verba, foi necessário

atrasar a publicação da versão impressa da revista no início de 2017.

A manutenção da revista impressa é um ponto de debate entre os

editores, no entanto, Menezes ressalta que ela é importante principalmente em

função das permutas com outras revistas e bibliotecas:

A revista tinha assinaturas, mas, por outro lado, as tiragens de mil a dois milexemplares tinham uma grande dificuldade de distribuição. Então, a gente jáestava vivendo esse impasse e, na situação da crise financeira, ele voltou anos ponderar. Então, a gente ainda não deliberou se vai extinguir a revistaimpressa, mas vamos discutir justamente isso neste semestre. E a outracoisa, que é outra discussão a se fazer, é que algumas revistas da áreaestão se tornando [revistas] de fluxo contínuo na publicação. (MENEZES,Anexo 8, p.212)

A editora explica que, com o atraso da publicação impressa, a revista

recebeu até mesmo uma carta da Biblioteca do Congresso Norte-Americano pedindo

o retorno da impressão, pois eles mantêm a coleção completa da Mana em seu

acervo. Ela diz que esse retorno é reflexo da importância das pesquisas inéditas

publicadas na revista, as quais ela indica que são lidas mesmo em português.

Sobre o público-alvo, Menezes diz que compreende que a revista abrange

diversos temas das Ciências Humanas e Sociais, atingindo até mesmo a Biblioteca

do Congresso Norte-Americano, mas que o foco da revista são pesquisadores de

Antropologia brasileiros e estrangeiros.

71 Realizada no dia 06 de abril de 2017 e no Anexo 8, p. 206.

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117

4.2.1 - Perfil da equipe editorial da Mana

A equipe editorial da Mana também possui um perfil diferente das outras

duas revistas desta análise. De acordo com o depoimento de Renata Menezes,

todos os professores do Museu Nacional passam obrigatoriamente pela revista,

sendo que todos72 fazem parte do conselho editorial ampliado, que realiza ao menos

uma reunião anual e eventuais reuniões extraordinárias sobre questões mais

profundas relativas à revista, como identidade visual e diretrizes.

Além do conselho ampliado, ainda existem os três editores adjuntos de

especialidades diferentes dentro da Antropologia e que auxiliam a editora-chefe mais

frequentemente que o conselho ampliado, ou seja, em questões como decisão de

pareceristas e triagem dos artigos. Outro diferencial indicado por Menezes é que os

editores adjuntos costumam ser pesquisadores internacionalizados e, por isso,

sempre estão atentos às pesquisas mundiais recentes.

A atual editora também fez parte do conselho editorial, desde 2012, até se

tornar editora-chefe em 2015, cargo que exercerá durante dois anos, já que a revista

realiza rodízio entre os professores do Museu Nacional.

A revista tem 20 anos e o programa [de Pós-Graduação em Antropologia doMuseu Nacional] fará 50 anos, então, uma das preocupações da revista éque ela viabilize uma transmissão hiper geracional entre os professores doprograma, entendeu? A gente tem sempre a preocupação em ter o editor-sênior com professores mais jovens, que vão sendo socializados nadinâmica do programa, na dinâmica da Antropologia mundial através dessetrabalho conjunto, através do diálogo. [...]. Uma certa transmissão doconhecimento e do modo de operar a revista. [...]. Se os professorescirculam assim, eu fecho meu mandato no final de 2017 e vou passar paraoutro professor, provavelmente, dessa comissão editorial. Eu fiz o ciclo deseis anos na revista, quatro anos nessa comissão editorial e dois anos comoeditora-chefe. Isso me dá uma certa visão do que é a Antropologiabrasileira, o que é a Antropologia mundial e como ser editora na área deAntropologia.(MENEZES, Anexo 8, p.208)

Embora o perfil de rodízio na editoração da revista seja interessante para

o aprendizado e atualização contínua dos professores no programa, uma gestão de

dois anos pode não ser a mais adequada para promover inovações para que a

revista continue evoluindo qualidade, sobretudo quando se considera que os

72 http://www.ppgasmn-ufrj.com/professores.html (Acesso em 10 de julho de 2017).

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118

editores levam tempo para aprender e se capacitar no trabalho de editoração de

uma revista científica.

A própria editora indica que o papel dos editores adjuntos é de apenas

aconselhamento. Ela considera que, na equipe formal, existem apenas ela e uma

assistente editorial, Roberta Lana de Alencastre Ceva, com mestrado em

Antropologia e especialização em editoria científica, dentre as pessoas com mais

conhecimento sobre os processos da revista, sobretudo porque o cargo que Ceva

ocupa não sofreu rotação tão rápida quanto o cargo de editor-chefe.

No entanto, a editora aponta que a crise financeira atingiu a revista e

parte das funções anteriormente exercidas pela assistente editorial agora passou a

ser de responsabilidade da atual editora-chefe. Menezes pesquisa a área de

Antropologia da Religião e dedica dez horas semanais para as atividades da revista,

que incluem aprovação final dos artigos, planejamento dos pareceristas para os

artigos, aprovação de resenhas, montagem dos números, supervisão do trabalho da

assistente editorial, revisores e tradutores de artigos aprovados, mas que não estão

em português.

Entre as demais experiências editoriais de Renata Menezes, há sua

participação no conselho da revista francesa Social Compass73, publicada pela

Sage, e no periódico brasileiro Religião e Sociedade74, indexada na base SciELO.

Observa-se que, em relação às outras revistas desta análise, a Mana é

que mantém a equipe mais enxuta, com pouco tempo semanal dedicado apenas à

revista e com processo de gestão editorial rotativo, que pode ser motivo para a

menor tendência a inovações e estratégias voltadas para melhorias na revista. Isso

não significa menos prestígio para a revista: ela tem qualidade e se destaca na

especialidade de atuação, mas, talvez por já ter conquistado esse prestígio, tenha

menos gana para buscar inovações que outros periódicos.

4.2.2 - Avaliações e indexações da Mana

A Mana é publicada na versão impressa (ISSN 0104-9313) e eletrônica

(ISSN 1678-4944) e está indexada na base SciELO desde maio de 2000. Até 2010,

73 http://journals.sagepub.com/home/scp (Acesso em 10 de julho de 2017).

74 http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_serial&pid=0100-8587&lng=en&nrm=iso (Acesso em 10 de julho de 2017)

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a revista era semestral com variação da quantidade de artigos originais publicados,

sendo que, no final dos anos 1990 a média era de cinco originais, além de demais

textos como editorial e resenhas. No final dos anos 2000, a média passou para nove

artigos originais.

De 2011 em diante, a revista passou a ser quadrimestral, com uma média

de seis artigos originais e seis textos no formato de resenhas e entrevistas, mas a

quantidade de textos pode variar a cada edição. Sobre a mudança, os editores da

época destacaram em nota75 que ela ocorreu para acompanhar o ritmo da produção

da Antropologia, embora tenham deixado claro que não abandonaram a missão,

anunciada no primeiro número da revista, em publicar na língua portuguesa, mesmo

que tivessem que traduzir artigos de estrangeiros para o português.

Contrariando a missão de publicar somente em português, a Mana tem

uma coleção de edições esporádicas especiais em inglês (até o momento são ao

todo apenas 5 edições especiais, sendo que delas foram duas publicadas no ano de

2006 e uma em 2007, 2008 e 2010)76 com variação de 4 para 6 artigos em cada.

Menezes entende que as citações e alcance da revista aumentam com os artigos

publicados em inglês, mas afirma não haver tendência em abrir espaço para a

publicação de artigos na língua inglesa. Ela também explica que as traduções para o

inglês ocorreram em parceria com a base SciELO, com a seleção dos melhores

artigos do ano para a edição especial em inglês. “Essa política do SciELO acabou.

Era uma política interessante porque você mantinha uma característica de que

estava publicando no Brasil em português ou para a língua portuguesa e, ao mesmo

tempo, você tinha um número extra em inglês” (MENEZES, Anexo 8, p.213).

O periódico foi classificado no Qualis Capes do triênio de 2010-2012

como A1 em Antropologia/Arqueologia, Sociologia, Ciências da Religião e Teologia,

Direito, História e Interdisciplinar, sendo que ficou em A2 em Planejamento Urbano e

Regional/Demografia, Comunicação e Informação, Artes e Música. Já no triênio

seguinte (2013-2016) recebeu A1 em Antropologia/Arqueologia, História,

Interdisciplinar e Sociologia e A2 em Artes/Música, Arquitetura, Urbanismo e Design

e Direito.

75 Disponível no anexo 4, p. 177.

76 http://socialsciences.scielo.org/scielo.php?script=sci_issues&pid=0104-9313&lng=pt&nrm=iso (Acesso em 10 de julho de 2017),

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120

Sobre as avaliações que a revista recebe no Qualis, a editora não se

preocupa em acompanhar a evolução da revista pelos meios estabelecidos, como as

classificações do Qualis ou as estatísticas de acesso. Ela ainda reforça que a revista

é muito mais tradicional do que o sistema de avaliação e as notas do Qualis, por

exemplo, e que as boas classificações são apenas uma consequência dos longos

anos de trabalho do periódico em publicar artigos originais de Antropologia. Já sobre

a questão dos acessos e estatísticas, a editora aponta que o levantamento só ocorre

no momento de elaborar os projetos para submeter aos editais de financiamento

como validação de que a revista continua mantendo sua importância no cenário

acadêmico. Nesse sentido, a revista perde a oportunidade de acompanhar

estatísticas de acesso como parte importante do planejamento da atividade de

editoração, demonstrando, talvez, uma tranquilidade que parece se apoiar no

prestígio e qualidade já adquiridos pela Mana e no programa de pós-graduação

consolidado do Museu Nacional.

A Mana também está indexada em outras bases internacionais, como o

Thomson Reuters, antigo Institute for Scientific Information (ISI), no Anthropological

Index, no Sociological Abstracts e no Scopus, que fornece o índice de citações no

Scimago Journal Rank (SJR). Entre os periódicos de acesso aberto para leitura na

área de Artes e Humanidades, a Mana é a segunda revista brasileira com maior

número de citações, tendo valor no SJR de 0,216, índice h igual a 6, dentro do

quadrante 3 (Q3) em Artes e Humanidades e Q2 em Antropologia, com total de nove

citações no ano, conforme disponibilizado pelo SJR no gráfico a seguir:

GRÁFICO 5: Pontuação por citações gerais, por documento e total em um intervalo

de oito anos da revista Mana: Estudos de Antropologia Social

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Estar em bases internacionais e receber citações é um dos fatores que

fazem a atual editora afirmar que a revista é internacional desde a sua criação. Ou

seja, na visão de Menezes, além da Antropologia brasileira ser reconhecida

internacionalmente, e por isso ser lida, os professores do programa e membros da

revista são internacionalizados o que torna a revista conhecida e com submissões

estrangeiras.

O curioso dessa revista é que, mesmo com a afirmação de ter sido criada

com a intenção de ser internacional e não apenas dar vazão às pesquisas realizadas

dentro do programa de pós-graduação, suas edições são majoritariamente em

português, exceto pelos números especiais em inglês e, mais recentemente, com

alguns artigos publicados em espanhol sem tradução para o português, como

previsto nas instruções aos autores da revista: “Serão aceitos, excepcionalmente,

originais em espanhol, francês e inglês, cuja publicação, contudo, ficará submetida à

possibilidade de tradução” (MANA, s.d. b).

A editora se apoia na defesa da publicação de textos em português na

missão da revista, que surgiu com esse propósito. Portanto, publicar em outro

idioma não seria uma simples decisão, pois interferiria na missão da revista. A partir

da experiência de Menezes no periódico francês Social Compass, ela observou que,

quando a revista passou a ser bilíngue (publicar em francês e inglês), a maioria dos

artigos passou a ser publicado em inglês porque eram mais citados e o mesmo risco

poderia acontecer com a Mana.

Aparentemente na visão da editora, os pesquisadores publicam em inglês

apenas para “dar um upgrade em suas carreiras” (MENEZES, Anexo 8, p.215), e

ainda reforça que o Brasil está longe de ser um país bilíngue para que os periódicos

sejam publicados e lidos em inglês. No entanto, o caso da revista francesa que

passou a receber mais artigos em inglês parece estar mais relacionado à ideia

primordial da comunicação científica promover a maior circulação de pesquisas a

partir do maior alcance que o inglês tem em relação a outras línguas, como o

francês e o português. O caso do Brasil não ser um país bilíngue é contraditório para

a revista, visto que ela não promove ações de divulgação para o público leigo, mas

para especialistas e pesquisadores, com pressões crescentes pelo conhecimento de

uma segunda língua. A revista deixa claro que seu público-alvo, além de

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pesquisadores e especialistas das áreas do conhecimento que abrange, não vai

além de alunos de graduação.

Eu não sei [o motivo de o inglês ser preterido] porque eu não era professorado programa quando a revista foi fundada. Mas, por exemplo, a gente temartigos de antropólogos de nível internacional, vivos e mortos, que asprimeiras vezes que eles publicaram certos artigos foi na língua portuguesa.Então, por exemplo, a gente trouxe o Edmund Leach77 para o português, agente trouxe o Pierre Bourdier78.... A primeira vez que esses artigos originaisforam publicados foi na Mana. Não foram [artigos publicados em outrasrevistas e] traduzidos, eles eram originalmente feitos para serem publicadosna Mana. Então, Bourdier, Leach, tem artigo póstumo do Norbert Elias79,temos vários antropólogos de ponta na Antropologia mundial, que a primeiravez que publicaram [determinado artigo] foi na língua portuguesa. Acho queé uma forma de eles reconhecerem a importância de serem divulgados noBrasil e a importância da comunidade científica brasileira. Não que osantropólogos de ponta do Brasil não vão publicar em inglês, mas a minhapergunta é se todas as revistas brasileiras precisam se transformar emrevistas em inglês. (MENEZES, Anexo 8, p.216)

Não são todas as edições da revista que estão disponíveis online, e

parece não fazer parte da missão da revista disponibilizar seu acervo completo.

Mesmo assim, a revista tem as duas primeiras edições de suas revistas digitalizadas

e linkadas no site do programa de Pós-Graduação em Antropologia Social (PPGAS).

Apesar de no site ter até as duas primeiras edições da revista, não foi

possível encontrar informações sobre a política de uso de idioma da revista, fora sua

busca pela internacionalização80.

Segundo os editores da primeira edição da Mana, Carlos Fausto,

Frederico Neiburg, Marcio Goldman e Moacyr Palmeira, o programa de pós-

graduação do Museu Nacional foi o primeiro da área no Brasil, consolidando-se

como referência na Antropologia Social no país e também no mundo. Assim, o

motivo da criação da revista foi dar vazão às suas pesquisas e debates já existentes

30 anos antes e permitir mais intercâmbio do conhecimento e estímulo da produção

acadêmica “para renovação das reflexões antropológicas” (FAUSTO et al., 1995,

77 http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-93132000000100002&lng=en&nrm=iso (Acesso em 10 de julho de 2017).

78 http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-93131996000200001&lng=en&nrm=iso (Acesso em 10 de julho de 2017).

79 http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-93132001000100005&lng=en&nrm=iso (Acesso em 10 de julho de 2017).

80 http://www.ppgasmn-ufrj.com/revista-mana.html (Acesso em 10 de julho de 2017).

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p.7). Nesse sentido, a revista aparenta desejar a internacionalização das pesquisas

para que o debate seja amplo: “A experiência do PPGAS é parte da história da

produção antropológica nacional e internacional, um importante ponto de encontro

entre elas. Mana nasce dessa história e aspira transformar-se em um novo capítulo

dela” (FAUSTO et al., 1995, p.7)81.

A mesma ideia de internacionalização do conhecimento está na página da

revista na base SciELO: “Disseminar o saber acadêmico e garantir a circulação de

ideias entre centros brasileiros e estrangeiros, de forma a contribuir para a

compreensão da sociedade e da cultura brasileira em um contexto de globalização”

(MANA, s.d.a).

Levando em consideração os depoimentos da editora, pode-se dizer que

a revista vem conquistando seu espaço internacionalmente. Provavelmente, isso se

deve à porcentagem de colaborações internacionais mencionadas pela editora, com

picos superiores à revista de Manguinhos, embora ainda pequenos (inferiores a

15%), por exemplo (Gráfico 6), embora gere menos citações (Gráfico 7),

provavelmente por estar em português, como aponta os gráficos da SJR.

Gráfico 6: Percentual histórico de artigos com colaboração internacional da revista

Mana: Estudos de Antropologia Social

(Fonte: SJR, MANA, 2015.)

81 Editorial na íntegra disponível no Anexo 3, p. 176.

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124

Gráfico 6: Aumento de citações por documento com picos a partir de 2006 na

revista Mana: Estudos de Antropologia Social

(Fonte: SJR, Mana: Estudos de Antropologia Social, 2015.)

Em entrevista, a editora Renata Menezes justifica novamente sobre a

importância do programa na produção acadêmica mundial sobre Antropologia,

sendo que muitos pesquisadores estrangeiros são falantes de português em função

desse destaque. A resistência da revista em publicar, sobretudo, em português, com

poucos casos de artigos em espanhol, pode estar mais ligada à manutenção da

pesquisa brasileira como referência na área, mesmo que isso restrinja o público

leitor internacional à revista:

Do ponto de vista quantitativo, do alcance, a gente sabe que, se tivessevirado bilíngue para o inglês teria, certamente, um público maior, mas anossa questão naquele momento não era o público, principalmente, mas[sim] conseguir estabelecer redes de colaboração de pesquisa efetiva. Nãoé só se tornar uma plataforma de publicação em inglês. Mas um pouco deaglutinar redes de pesquisadores de Antropologia que saibam que a nossarevista existe, que saibam que ela é importante, que queiram trazer o seutrabalho para o Brasil, pensando um pouco nessa oportunidade de redescolaborativas de trabalho e no campo da etnologia indígena é muito comumque você encontre pesquisadores estrangeiros que falam português, porexemplo. Não só porque eles fazem trabalho de campo no Brasil, maspesquisadores sobre a Amazônia, muitos leem em português porque omelhor da produção está em língua portuguesa. (MENEZES, Anexo 8, p.214)

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125

Ao ser questionada sobre como ela avalia os novos critérios SciELO de

indexação e permanência na base, que entre eles consta uma porcentagem de

textos em inglês, Menezes reconhece a importância da coleção na difusão de artigos

de acesso aberto eletrônico que a revista não atingiria se se mantivesse apenas no

formato impresso, porém, é assertiva ao declarar que são parâmetros das “hard

science” tentando enquadrar todas as revistas, sendo um sério problema para as

revistas de Humanidades, já que, segundo ela, são critérios desvinculados à

realidade da área e que têm sido criticados por associações:

Tem havido uma articulação dessas revistas de Ciências Humanas em tornodos grandes congressos de Ciências Humanas no Brasil para a gentejustamente discutir como que o sistema SciELO está, em um certo sentido,desconsiderando a especificidade de nossas revistas. Isso, tanto do pontode vista dos índices exigidos, quanto do ponto de vista do formato exigido.O que eu estou chamando de formato? Não só o número de fascículos porano, a periodicidade, mas o próprio fato da submissão online ou interferir notipo de onde deve estar o título, onde deve estar o subtítulo, onde deveestar o resumo. Então, o nosso temor é que isso esteja criando umapasteurização das revistas que transformará todas, vamos dizer assim....Despersonalizando as revistas. Descaracterizando sua missão e perfilespecífico dentro das Ciências Humanas brasileiras. (MENEZES, Anexo 8,p.211)

Ela afirma, ainda, que alguns critérios a revista vêm cumprindo, como a

inclusão de pareceristas estrangeiros, mas outros, como a divulgação científica e

artigos em inglês, não. A editora ainda argumenta sobre a questão do financiamento

que gerou alguns atrasos a serem negociados com a revista, mas sempre de um

ponto de resistência: “Então, estamos resistindo e atendendo a esses critérios. Mas

sempre discutindo qual é o limite e tentando dialogar com o SciELO para que esse

limite seja discutido em conjunto” (MENEZES, 2017, p. 212).

Ao realizar uma busca sobre possíveis ações de divulgação da revista,

percebe-se que não existe um blog próprio ou página/ perfis nas redes sociais

Twitter e Facebook. Não se encontrou nada oficial da revista, apenas perfis pessoais

compartilhando algum artigo do periódico de forma independente e não constante.

Ao conferir uma edição recente completa da revista (Mana vol.22 no.1, Rio de

Janeiro jan./abr. 2016), dentre os 13 textos publicados (artigos, documentos e

resenhas), nenhum deles foi identificado nas redes sociais ou com pontuação pela

ferramenta Altmetric até agosto de 2016. A fim de ampliar o escopo, percebe-se que,

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de 2014 até o início de 2017, a revista quase não tem presença no Altmetric,

ferramenta de métrica alternativa utilizada pelo SciELO, o qual apontou apenas 11

compartilhamentos de artigos via Twitter e 6 via Facebook ao longo de três anos.

Nem mesmo no blog SciELO em Perspectiva ou SciELO em Perspectiva:

Humanas, disponível para todas as revistas indexadas na base SciELO publicarem

notícias e press releases para promover suas revistas como marketing científico, foi

encontrada qualquer postagem de divulgação da Mana. Tampouco há produção de

press release na página inicial da revista na base SciELO (Figura 8).

Figura 8: Ausência de press release da revista Mana na base SciELO

(Fonte: Mana, agosto 2016, disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?

script=sci_serial&pid=0104-9313&lng=en&nrm=iso)

Sobre o papel que vem sendo incorporado não só pelas revistas

científicas, mas para quaisquer instituições de pesquisa de divulgar a ciência

produzida, a editora alega que a revista é divulgada pelo Museu Nacional e na base

SciELO (informação não encontrada), e afirma não ser prioridade da revista

promover a divulgação, seja para aumentar seu público leitor ou para cumprir o

papel social de disseminar mais as informações, uma vez que a revista, enfatiza, é

referência na área, conforme relato:

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Essa revista tem um certo público cativo. E tem uma outra coisa que éimportante: eu sei que os próprios autores divulgam a revista, isso acontececom muita força. Quando os autores publicam na revista, normalmente, elesdivulgam o que publicaram, entendeu? Isso é uma forma de divulgaçãoindireta. [...]. Talvez o press release que você está falando seja umaexigência do SciELO, mas isso que estou querendo chamar atenção, comoela já tem um público cativo, talvez essa não seja a prioridade. Talvez sejabom utilizar uma forma que temos de trabalho, que são os pós-doutorandos,para trabalharem nessa interface. Mas isso não é prioridade, porque comoela [a revista] tem 20 e poucos anos, periodicidade, tem um perfil,qualidade, ela é uma revista quase de consulta obrigatória na área. Não éum menosprezo pela divulgação, entendeu? É que realmente a necessidadenão é tão premente do que uma revista que esteja se implantando, ou umarevista que não tenha um perfil tão definido. Dentro da Antropologia vocêtem quatro ou cinco revistas que são consolidadas. E a nossa revista temesse diferencial de ser a mais antiga, a do programa mais antigo, foi oprimeiro programa de pós-graduação em Antropologia no Brasil. Ela é muitoconsolidada nesse sentido de não precisar estar se divulgando, mas talvezseja bom aproveitar que existem esses novos canais para experimentar.(MENEZES, Anexo 8, p. 218)

Observa-se pela entrevista de Menezes que claramente falta uma

comunicação clara entre a base SciELO sobre a importância de seus critérios e

como eles vão auxiliar as revistas. Provavelmente, parte dessa percepção negativa

sobre o critério da divulgação em redes sociais e blogs seja a aposta na divulgação

científica como “marketing científico”, assim denominado em documento do SciELO

(SciELO, 2016), sem demonstrar os possíveis desdobramentos e potenciais desses

critérios e de outros criticados por Menezes.

Deve-se salientar que a divulgação científica tem um papel social de levar

o conhecimento para o grande público, ou seja, de não pares. Mesmo que a revista

compreenda que esse não é o papel dela, atualmente, os periódicos não podem

negar que é um papel social que pode ser agregado às revistas como forma de

democratizar o conhecimento e empoderar mais as pessoas sobre a ciência,

principalmente a realizada no país e/ou divulgado pelas revistas científicas

brasileiras (ALBAGLI, 1996; CHASSOTI, 2003; BUENO, 2010; VALÉRIO e

PINHEIRO, 2008).

Em outras palavras, a divulgação científica vem para atrair mais acessos

às revistas, mas também como missão social e compreensão de que o público leigo

poderá aproveitar mais dos materiais de divulgação do que na leitura de artigos

científicos especializados. No entanto, constata-se também que não basta um

diálogo com a base SciELO para compreensão da necessidade de uma divulgação

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científica, também é necessário financiamento para essas ações. Pelos relatos de

Menezes, fica claro que as revistas mais prestigiadas do país estão sem verba para

custear atividades rotineiras no processo editorial, quanto menos para motivar em

inovar e buscar mais profissionalização e divulgação da revista.

4.3 – RBPI – Revista Brasileira de Política Internacional

A terceira revista que esta análise compreende é a RBPI – Revista

Brasileira de Política Internacional, publicada pelo Instituto Brasileiro de Relações

Internacionais (IBRI) desde março de 1958 como uma das iniciativas diplomáticas do

governo Juscelino Kubitschek, conforme informações do próprio IBRI (s.d). Ao

contrário do que se pode imaginar pela sua origem, o periódico se apresenta como

neutro e desvinculado a qualquer entidade governamental ou a movimentos

partidários, tomando o espaço intelectual sobre a cultura política brasileira e

internacional, além de se descrever como fonte de pesquisa sobre a política externa

brasileira e latino-americana.

Até 1993, o IBRI se situava no Rio de Janeiro, mesmo local de publicação

da revista, mas, após esse ano, o instituto foi transferido para Brasília. A revista

mantinha periodicidade semestral, com esporádicos fascículos especiais, no

entanto, atualmente, o formato de publicação continuada foi adotado pelo título,

sendo publicado apenas online com leitura gratuita pela Coleção SciELO Brasil,

conforme explicou o atual editor e docente de Relações Internacionais da

Universidade de Brasília (UnB), Antonio Lessa, em entrevista semiestruturada

concedida por telefone82.

Apesar de estar vinculada ao IBRI, que é uma instituição privada, Antonio

Lessa ressalta que a organização não tem condições para contribuir financeiramente

no trabalho da revista, visto que ela não possui uma sede própria, secretaria ou

corpo técnico, além de ter diminuído as suas ações, como organização de eventos

científicos e publicação de livros, que conseguia arrecadar algum fundo para ações

extras, como auxílio à revista em casos de emergência. Atualmente, a RBPI recebe

apoio financeiro para sua editoração pelos programas editoriais do CNPq e da

CAPES e não cobra taxa para submissão e avaliação dos artigos (RBPI, s.d.a), mas

82 Entrevista concedida no dia 17 de março de 2017 com transcrição do áudio no Anexo 9, p. 219.

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o editor ressalta existir dificuldades de financiamento. Apesar de ser positivo que o

edital para os periódicos Capes e CNPq continue fomentando a publicação de

revistas brasileiras, o valor disponibilizado diminuiu no decorrer dos anos, conforme

relata:

Quando eu assumi a revista em 2004, eu lembro que o primeiro dinheiroque recebi do CNPq foi de 60 mil reais. Era um edital do CNPq e Capesjuntos, então o CNPq dava 30 mil e a Capes 30 mil. Isso era um dinheirorazoável. Hoje em dia, é um dinheiro bom, imagina em 2004! Dava parafazer bastante coisa. Sabe quanto eu recebi agora? 15 ou 20 mil [reais],acho que foi 20 mil. Quer dizer.... 13 anos depois, para fazer uma revistaque se tornou muito mais complexa do que era 13 atrás, recebi 20 mil.(LESSA, Anexo 9, p. 226).

O editor também ressalta que, para custear a publicação da revista, valor

em torno de 40 mil reais, a revista recebe apoio institucional da UnB devido ao

vínculo dos editores associados à instituição, além do trabalho de editoração ser

executado por professor e alunos de pós-graduação da universidade. O apoio

sustenta cerca de um terço a um quarto dos custos da revista. Indiretamente, a

revista recebe financiamento do SciELO, afirma o editor, com o apoio do sistema de

gestão e submissões, além de ferramentas oferecidas a um custo menor por estar

na coleção, como a verificação de plágio, o que poderia chegar ao valor de 100

dólares por artigo, mas, através do SciELO, o valor fica entre $1,50 a $0,60,

dependendo da quantidade de artigos que serão verificados.

Outra estratégia curiosa de fomento da RBPI é que, na busca por

aumentar a visibilidade internacional, a revista está presente em diversas bases

indexadoras, inclusive a EBSCO83 e a Cengage Gale84, que contribuem com a

revista com royalties, mesmo que em uma proporção inferior aos outros

financiamentos, chegando de US$ 1 mil a US$ 1.700 por ano. Antonio Lessa

reafirma que a RBPI é de acesso aberto e defende essa política, mas também está

presente nessas bases de dados que permitem a inserção da revista em outros

públicos, já que é mais comum para os pesquisadores estrangeiros buscarem

referências na base de dados que a biblioteca de sua instituição disponibiliza, do

83 https://www.ebscohost.com/ (Acesso em 14 de julho de 2017).

84 http://www.cengage.com/search/showresults.do?N=197+4294917622 (Acesso em 14 de julho de 2017).

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que fazer uma ampla busca pela Internet. Essas bibliotecas estrangeiras fornecem

serviço similar ao programa Capes Periódicos para os pesquisadores brasileiros,

dando acesso tanto a conteúdos de acesso aberto, quanto a títulos de periódicos de

acesso restrito.

Lessa diz que, devido à importância da RBPI, já tentou buscar apoio do

Itamaraty na possibilidade de abrirem editais de fomento a revistas brasileiras de

Relações Internacionais, nos moldes do financiamento que o Ministério da Saúde

oferece em editais para revistas da área, mas sem sucesso.

Mesmo com as instabilidades financeiras, levando o editor a considerar a

revista artesanal, Lessa se mostra otimista em relação à margem de segurança

financeira da RBPI, que nunca atrasou um número.

Acho que é muito complicado quando você tem funcionário. Você tem um

funcionário, você tem que pagá-lo. Aí realmente é maldade não ter como

pagar, mas a gente não tem custo fixo exatamente com um funcionário, uma

sala, um escritório. Não temos isso. Então, digamos que a minha margem

de segurança é maior que de outras publicações [...]. Mesmo com

precariedade, a gente consegue levar as coisas adiante. Tem uma certa

insegurança, mas não é uma dimensão que [eu] considero que coloque em

risco a revista. (LESSA, Anexo 9, p.228)

Sobre o público-alvo da revista, o editor acredita ser formado por

pesquisadores e professores da área de Relações Internacionais, sendo em menor

grau por alunos de graduação, diplomatas e militares, embora não aparente ter

realizado pesquisa de público leitor. Isso porque o editor explica que, há muitos

anos, deixou de se preocupar em atingir um público mais amplo com a revista, a fim

de dedicar mais tempo à qualidade do que é publicado na revista para que, dessa

forma, ganhe credibilidade e respeito internacional.

4.3.1 - Perfil da equipe editorial da RBPI

O atual editor da RBPI, Antonio Lessa, é docente da UnB, doutor em

História das Relações Internacionais e permanece no cargo desde 2004, mas, antes

desse período, teve outras experiências na RBPI e em outros periódicos. Entre 1993

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e 1995, quando cursava seu mestrado, por exemplo, iniciou seu trabalho como

assistente editorial da RBPI, até começar a trabalhar na Escola Nacional de

Administração Pública (ENAP), órgão público, período em que editou a Revista do

Serviço Público85.

Em 1997, ele se tornou docente concursado da UnB e fundou, em 2000, a

revista científica Meridiano 4786, vinculada à mesma universidade e também sobre

Relações Internacionais, sendo que Lessa ainda é o editor-chefe. Envolvido em

ações de divulgação científica, o historiador também fundou, em 2007, e desde

então continua sendo o editor-chefe, o projeto Mundorama, com divulgação de

matérias, entrevistas e press releases sobre políticas e Relações Internacionais.

Lessa aproveita o espaço para divulgar também os conteúdos dos periódicos

científicos que edita.

Segundo o atual editor da RBPI, as suas funções variam segundo as

circunstâncias, visto que, muitas vezes, apenas o editor-chefe compunha a equipe

editorial semanalmente. No atual momento da revista, atuam semanalmente o

editor-chefe, Antonio Lessa, e dois assistentes editoriais, sendo um aluno do

mestrado e outro de doutorado em Relações Internacionais pela UnB. A RBPI tem

três editores associados, porém, eles atuam em posicionamentos de questões

específicas de artigos e não tanto no processo editorial diário, conforme relata o

editor-chefe.

Dependendo do momento, eu tenho bastante apoio. Dependendo de comoeu consigo recrutar entre os mestrandos e doutorandos, como consigorecrutar pessoas que se envolvam voluntariamente na atividade deeditoração. Por exemplo, no momento atual, estou dedicando em torno de10 a 12 horas por semana à revista porque agora eu estou com doisassistentes editoriais espetaculares. Excelentes. Digamos que tivemos umciclo de treinamento bastante longo, mas, há um ano, eu estava editorandoa revista completamente sozinho e estava dedicando em torno de 20 horaspara a revista.(LESSA, 2017, p. 221)

Entre as atividades de rotina da atual equipe, semanalmente os

assistentes editoriais e o editor-chefe fazem um enquadramento inicial dos artigos

para verificar se as normas estão sendo seguidas, bem como outros itens, como

85 https://revista.enap.gov.br/index.php/RSP (Acesso em 14 de julho de 2017).

86 http://periodicos.unb.br/index.php/MED (Acesso em 14 de julho de 2017).

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tema e qualidade do inglês. Desde 2015, a revista passou a aceitar apenas

submissões em inglês. Em reunião, decidem o que segue para os pareceristas e o

que é rejeitado, sendo que, em média, são aprovados quatro artigos por mês. Dentre

as demais atividades de editoração, estão o fluxo de revisão, aperfeiçoamentos no

trabalho editorial e o preparo de material para depósito de DOI, diagramação e

publicação.

Claro que temos um problema profissional de revisão. Então, por exemplo, otempo médio entre recebermos os pareceres e mandarmos para o SciELOpara a publicação sai em torno de 90 dias; eu queria que isso fosse menor,em torno de 60 dias. Acho que seria espetacular. Quando eu digo tempomédio, é porque tivemos casos em que o revisor chegou a ficar 115 diascom o artigo, o que é um problemão, porque o artigo ficou 160 dias emprodução. [...]. No momento que decidimos que vamos publicar o artigo,enviamos mensagem de aceite para o autor e já o posicionamos sobre anossa expectativa com relação a ele, ao esforço de divulgação que seráfeito depois. (LESSA, 2017, p. 222-223)

O editor ressalta que sempre esteve envolvido em estratégias de

divulgação científica na área de Relações Internacionais (que serão detalhados a

seguir), sendo que busca também envolver alunos de pós-graduação na produção

de entrevistas com os autores para serem publicadas nas redes e site da RBPI, IBRI

e blog SciELO em Perspectiva Humanas. Atualmente, ele conseguiu recrutar um

aluno de doutorado para buscar e coordenar quem serão os alunos voluntários a

entrevistar os autores dos artigos selecionados para divulgação; todo o trabalho de

divulgação também é coordenado por Lessa.

4.3.2 - Avaliações e indexações da RBPI

No triênio de 2010 a 2012, a RBPI foi classificada no Qualis Capes como

A1 apenas em Ciência Política e Relações Internacionais, mas, no triênio seguinte,

(2013-2016) também recebeu A1 em Direito e A2 em História, Planejamento Urbano

e Regional/Demografia e Sociologia.

Sobre o Qualis da RBPI, Lessa comentou que, como o comitê de sua

principal área é composto basicamente por pesquisadores de Ciência Política, não

era tão claro os critérios de avaliação para as revistas de Relações Internacionais,

por isso, o periódico demorou mais para atingir o nível máximo, mesmo considerada

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uma publicação tradicional de sua área, sendo indexado no Web of Science e

possuindo fator de impacto. Atualmente, o editor diz que respeita a avaliação Qualis

e entende sua influência em contribuições ao comparar a RBPI, que é A1, com a

outra revista que edita, a Meridiano 47, que é B1 na mesma área. No entanto, não é

uma meta atingir A1 em outros comitês, apenas preservar a nota mais alta na

principal área de atuação da revista (Ciência Política e Relações Internacionais), que

ele considera “extremamente merecido”.

A revista também está indexada na base SciELO desde 1997, entre

diversos outros indexadores87. No Scimago Journal Rank (SJR, 2015), a RBPI é a

terceira mais bem colocada em número de citações entre os periódicos brasileiros

de Artes e Humanidades, sendo que pertence ao quadrante Q1 em História e ao Q3

em Ciências Políticas e Relações Internacionais, está rankeada no SJR (Scimago

Journal Ranking) com 0,188, possui índice-h igual a 8 e um total de 33 citações em

88 documentos nos últimos três anos (Gráfico 7).

Gráfico 7: Pontuação por citações gerais, por documento e total em um intervalo de

oito anos da revista RBPI – Revista Brasileira de Política Internacional

87 http://www.scielo.br/revistas/rbpi/iaboutj.htm#002 (Acesso em 14 de julho de 2017).

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Gráfico 8: Citações da RBPI – Revista Brasileira de Política Internacional

(Fonte: SJR, RBPI, 2015.)

Gráfico 9: Percentual histórico de artigos com colaboração internacional da RBPI –

Revista Brasileira de Política Internacional

(Fonte: SJR, RBPI, 2015.)

Percebe-se que as últimas edições não mantêm um número fixo de

artigos e muitos não possuem editorial. Característica presente também nas

primeiras edições, que apenas apresentava a revista, o instituto e os nomes das

pessoas envolvidas e dos autores do fascículo, com artigos somente em português

(ANEXO 488).

88 As edições anteriores da RBPI podem ser acessadas na revista de divulgação científica em Relações Internacionais Mundorama, editada pelo mesmo editor da RBPI: http://www.mundorama.net/2006/06/04/rbpi-vol-1-n%C2%BA-1-marco-1958/ (Acesso em 14 de julho de 2017).

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Sobre o número de artigos por edição, Lessa explica que a revista passou

a adotar o modelo de publicação continuada, ou seja, não se espera mais que todos

os artigos da edição tenham terminado de passar pelos processos de editoração

para se publicar artigos aprovados: “Desde o ano passado, adotamos um modelo de

publicação continuada. Não vou publicar um artigo, mas quero publicar, no mínimo,

três por fornada” (LESSA, Anexo 9, p. 222).

Um dado curioso é que o editor afirma não acompanhar “obcecadamente”

ou definir metas sobre as estatísticas de acesso e citações da revista. O que ele

vem se preocupando é em melhorar o processo editorial ao aprovar artigos com

mais qualidade, pois isso acarretará em mais citações. Essas mudanças no

processo editorial também fazem parte de uma estratégia para conseguir mais

visibilidade e citações:

Para mim, está muito claro que deveríamos ter o segundo volume do anopublicado em julho, e não em dezembro. Quando publico em julho, tenhopelo menos um semestre para circular com esse material e colher citaçõespara o fator de impacto do ano. Mas, quando publico em dezembro, qual é oimpacto disso? Nenhum! Só vou colher citações indiretas de impacto dedois e três anos. Já identificamos isso, tinha que tentar publicar mais cedo.Agora, uma coisa que vai ajudar muito na internacionalização, vai reforçarnossa estratégia de internacionalização e para mim está muito claro que éuma prioridade da nossa revista, é a adoção do modelo de publicaçãocontinuada. Então, não precisamos esperar o fascículo ficar pronto parapublicar. Se [o artigo] ficou pronto, publico. [...] Vamos publicar quatro edivulgar os quatro. Vamos fazer um barulho em torno dos quatro quepublicamos. [...] Somos uma boa revista, somos reconhecidos. A gentetrabalha para publicar o melhor que podemos. Se vierem as citações, quebom. Mas não ficamos monitorando isso a todo tempo, não. Nem no GoogleScholar, nem em outras estatísticas.(LESSA, anexo 9, p.223)

Entre as mudanças que a revista sofreu, observa-se que, desde o

segundo número de 2015 (vol.58 no. 2 Brasília July/Dec. 2015), a RBPI passou a ser

publicada somente em inglês, conforme já indica em suas orientações para os

autores, com custos arcados por quem submete os textos para avaliação, a

chamada taxa de submissão (RBPI¹, s.d.). As edições de 2015 e 2016 não possuem

editoriais que informam os leitores sobre as mudanças, mas em postagem via blog

SciELO Humanidades o editor Antônio Carlos Lessa discute sobre a guinada

editorial da revista, como se verifica no trecho a seguir:

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A RBPI é publicada em acesso aberto no SciELO desde 2007, e circularáem formato impresso até dezembro de 2015. Aliás, o abandono do formatoimpresso a partir do final de 2015 será uma das grandes mudanças nagestão do periódico, ao lado da adoção da periodicidade quadrimestral apartir de 2016. Esses são esforços que se alinham com outros ajustes degrande vulto que vêm sendo empreendidos ao longo dos últimos anos. Oprimeiro deles certamente é a publicação integral em língua inglesa, o quenos pareceu um caminho natural na estratégia de internacionalização doperiódico que vem sendo implementada há cerca de dez anos – nessesentido, a partir da segunda edição de 2015, todos os números serãopublicados exclusivamente em inglês. O crescimento exponencial donúmero de contribuições de autores vinculados a instituições no exterior e apossibilidade de recurso a pareceristas de outros países, notadamente não-lusófonos, aliás, podem ser também entendidos como um dos resultadospreciosos desse percurso, além, é claro, do ganho principal, que é permitirque a boa ciência feita na área por pesquisadores brasileiros ganhe a maioraudiência possível.(LESSA, 2015, s/p.)

Em entrevista para esta dissertação, Lessa falou sobre as questões de

internacionalização e pressões de critérios de indexação do SciELO para que as

revistas de Ciências Humanas se enquadrem em um perfil editorial similar à das

áreas de Ciências Naturais, fato que já havia sido comentado pela editora da Mana.

Nesse último ponto, Lessa esclarece que, para ele, o SciELO introduziu uma cultura

de profissionalização e qualidade que nenhum periódico brasileiro tinha, sendo que,

em muitos casos, “o peer review não era levado a sério” (LESSA, Anexo 9, p.233).

Quando ele argumenta sobre a profissionalização, ele esclarece que não diz em

relação aos funcionários, e sim de estabilidade nos processos editoriais e

parâmetros profissionalizados, como a diminuição de prazos dos processos

editoriais.

Com o passar dos anos, a base SciELO passou a tornar os critérios de

indexação mais rígidos com foco na qualidade, por isso, Lessa acredita que os

últimos critérios foram “excelentes e claros”, mas não deixa de ressaltar as

dificuldades da área de Humanidades. Isso porque o editor aponta que o tempo e o

custo para se produzir um artigo na área de Humanidades são superiores a um

artigo das áreas naturais; comparando apenas um aspecto de extensão dos artigos,

por exemplo, Lessa indica que artigos de Humanidades têm de 20 a 30 páginas,

enquanto de Engenharia e outras áreas ficam em torno de cinco páginas. O impacto

acaba atingindo também o aspecto de citações, pois é diferente ler um artigo breve e

outro extenso, no qual se pesa a argumentação, característica específica das

Humanidades.

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Em todo momento, o editor aparentou estar satisfeito com os critérios de

permanência na base SciELO, principalmente pela clareza, mas sem esquecer que

algumas exigências não são a realidade da área, como a cota de editores

associados estrangeiros, considerando que, segundo ele, hoje os laboratórios de

Humanidades não são internacionalizados ao ponto de ter intercâmbio frequente de

pesquisadores estrangeiros:

[…] é natural que uma revista de Biologia ou uma revista de Medicina tenhaeditores associados estrangeiros. Na área de Humanidades, não. Não é!Acho que a única coisa que o SciELO tem que tomar cuidado é para nãoforçar um mecanismo para as pessoas começaram a falsear. [...]. Acho queo SciELO tem que monitorar e ver se isso é mesmo um padrão da área e seé natural para a área no Brasil. Mas de resto, acho que os critérios sãoexcelentes. Acho que realmente eles vão ajudar ainda mais na consolidaçãodas boas revistas brasileiras.(LESSA, Anexo 9, p.234)

Na busca por entender como a RBPI está se adequando a esses critérios,

ainda mais com pontos que o editor já declarou não serem os mais realistas com a

área de Humanidades, ele aponta que o que mais o chocou foi o ponto de 35 artigos

publicados por ano.

Eu consigo selecionar bem, e a ideia não é publicar 35 artigos. Queropublicar os melhores! Esse artigo, que é mais ou menos, eu não quero! Issofoi difícil para processarmos.... Ter uma gordura suficiente para levar 35artigos ao ar. Infelizmente, ano passado, nós ficamos abaixo da média paraa área, que era 35. Mas, neste ano, temos tudo para publicar 35. Entendeu?Então, tenho um estoque razoável. Como que nos adaptamos a isso?Trabalhando sempre com estoque à frente. Com, pelo menos, dez artigos àfrente. Mas tem aquilo: eu não quero publicar qualquer coisa! Eu tenho quepublicar 35? Acho complicado. [...]. Não me sujeitar a publicar qualquercoisa para fechar a cota de 35. Por exemplo, muitos comitês da Capesdizem que uma revista só é internacional se publica artigos de estrangeiros.Aí o pessoal acaba sendo muito tolerante em receber um artigo muito ruimque vem de fora do Brasil, mas publica para entrar no esquema de cotas.Nós não temos isso e nós nunca tivemos.(LESSA, Anexo 9, p. 235)

O problema da quantidade dos artigos fica mais evidente com o

financiamento, no qual ele ressalta a dificuldade de revisão, diagramação e

publicação de mais artigos extensos em inglês.

A adoção da língua inglesa como única corrente entre os artigos da RBPI

é destacada como um dos fatores que permite que a revista seja mais lida no

exterior, dando a certeza à equipe editorial de que a revista é internacionalizada,

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visível em citações de livros e capítulos de livros, embora isso não se reflita no fator

de impacto da ISI, segundo o editor. Sobre a decisão de aceitar apenas submissões

em inglês, o editor destaca que, entre o seu público-alvo da área de Relações

Internacionais, espera-se haver o domínio do inglês.

São coisas que eu considero e considerei para pararmos de publicar emportuguês. Se você está estudando Relações Internacionais, se você éestudante de graduação de Relações Internacionais, você deve pelo menosser capaz de ler em inglês. [...] A maior parte da literatura, e desde semprefoi assim na área, é estrangeira. Mesmo a usada na graduação emRelações Internacionais é literatura produzida fora, em inglês. A primeiracoisa, se você está na área, você vai ler em inglês. No meu ponto de vista, amudança em publicar em inglês foi muito mais fácil do que para outrasrevistas.(LESSA, Anexo 9, p.231)

Voltando ao passado da revista, Lessa relembra que nem sempre a

revista foi internacionalizada. Isso porque ela foi a primeira a surgir na área em 1958

e surgiu mais com o aspecto de divulgação, pelo fato de publicar artigos científicos,

mas também muitas resenhas e documentos em uma época que não existia

Internet. Mas, desde 1993, quando a revista mudou para Brasília, a publicação de

documentos cessou para abrir espaço apenas para os conteúdos científicos. Em

2004, houve um refinamento no processo editorial, com peer review mais

consistente e com a publicação de artigos nos idiomas submetidos na época, sem

tradução: português, inglês e espanhol.

Entre as mudanças editoriais de 2004, o entrevistado explica que não foi

apenas a abertura para outras línguas, mas também o trabalho de indexação em

outras bases estrangeiras, o que impulsionou o aumento de leitores da revista, que

aos poucos foi conquistando seu espaço até a internacionalização: “Se você faz

ciência boa, você tem que publicar bem. Essa ciência tem que circular bem”

(LESSA, Anexo 9, p.238).

Ao narrar as mudanças no processo editorial focando na

internacionalização, Lessa se animou relembrando as participações da equipe nos

congressos internacionais e fazendo chamadas em inglês. Quando a revista

começou a publicar artigos só em inglês, também passou a acessar “um mundo de

pareceristas que não liam em português” (LESSA, Anexo 9, p.238), ampliando as

opções, que ele chamou de independência, na revisão entre pares. O editor também

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aponta que, em outros países, há a cultura acadêmica de que pesquisadores devem

fazer o peer review porque fazem parte do sistema, o que não é frequente no Brasil.

Para o editor, a inclusão de pareceristas estrangeiros incrementou a qualidade dos

pareceres e, portanto, dos artigos aprovados:

[...] A mudança mais espetacular do processo editorial é esta: a qualidadedo peer review e, por extensão, a qualidade do que publicamos, porqueesses pareceres [de estrangeiros] são muito mais duros. Muito maisconsistentes, muito mais exigentes, e a leitura é muito mais completa com oque temos visto nas revistas da média do que a gente recebe dos colegasbrasileiros.(LESSA, Anexo 9, p.240)

Uma das estratégias que o editor adotou para conseguir se adequar a

todos os critérios SciELO e aumentar a internacionalização foi ampliar as ações de

divulgação da revista. Ele acredita que, quanto maior a divulgação, mais ele

conseguirá captar os melhores artigos da área, mas ele entende que seu processo

de captação é mais complicado porque adotou como exigência a submissão de

textos apenas em inglês, e no Brasil alguns pesquisadores ainda não entendem a

importância de estar disponível em uma língua acessível no debate internacional.

O mesmo ponto de vista já foi defendido por ele em publicação no blog

SciELO em Perspectivas Humanas:

A RBPI tem se beneficiado de uma ação de divulgação bastante diversa. Osesforços empreendidos em prol do aumento da visibilidade da revistaincluem a exposição intensa da missão editorial do veículo em congressosnacionais e internacionais da área, a realização de entrevistas com osautores dos artigos publicados, a elaboração de press releases e de peçasmais breves sobre os temas tratados nos trabalhos veiculados em cada umadas edições – e que são também publicados no site do IBRI e em outrosveículos de divulgação científica da área. (LESSA, 2015, s.p.)

O editor aponta que a ampla participação da revista nos principais

congressos internacionais (como no congresso da International Studies Association,

que é anual e acontece nos Estados Unidos) vem refletindo na captação de

contribuições internacionais.

Ao ser questionado sobre quais são as outras ações de divulgação

científica, Lessa abre um leque de opções surpreendente para uma equipe editorial

enxuta e que não é fixa: quando se decide pela aprovação de um artigo, já é enviada

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uma mensagem de aceite para os autores sobre os esforços de divulgação, com

solicitação de um press release com modelo disponibilizado pelo SciELO89 e que são

validados pela equipe de comunicação do blog SciELO, conforme orientações do

blog.

Deve-se ressaltar aqui que, em nenhum momento, o SciELO indica que

os press releases serão enviados para os jornalistas brasileiros, como EurekaAlert90

e outras plataformas estrangeiras realizam com seus press releases. Apenas

publicam em seu blog, como se os jornalistas dos grandes jornais que recebem os

press releases estrangeiros fossem buscar pautas no blog em vez de aproveitarem o

que foi recebido. Outro problema constatado no formato de divulgação que o SciELO

propõe é que, apesar de ele destacar que se deve ser atraente para atrair leitores, o

modelo é extremamente fechado e não abre espaço para criatividade, o que pode

deixar o texto entediante, ainda mais quando realizado por não comunicadores

sociais, que podem estar tendo contato pela primeira vez com a produção de uma

matéria jornalística ou press release. O ideal é que o blog abrisse espaço para

colunas e outros formatos de textos de divulgação científica para os pesquisadores

explorarem.

Ainda sobre os press releases e matérias publicadas nos blogs SciELO, é

notável que a própria equipe de comunicação dos blogs desconhece ou negligência

os links para os artigos que, por consequência, não são rastreados pelo Altmetric,

ferramenta para monitorar os debates dos artigos pela Internet adotada pelo próprio

SciELO. Isso porque o blog não deixa o link direto com DOI dos artigos, apenas o

DOI em código (a identificação é um código que pode ser usado como link, sendo o

link rastreado pelo Altmetric). O endereço de acesso ao artigo nos textos do blog

não é o original também, é um link encurtado usado pelo SciELO e não reconhecível

pelo Altmetric, indicando que a equipe de comunicação do SciELO não gerencia

adequadamente nem o uso do DOI e nem do Altmetric no próprio veículo de

divulgação científica, como visível no exemplo de peça de divulgação a seguir91:

89 https://pressreleases.scielo.org/sobre/normas-para-publicacao/#.WXJvIojyvIV (Acesso em 14 de julho de 2017).

90 https://www.eurekalert.org/ (Acesso em 14 de julho de 2017).

91 http://humanas.blog.scielo.org/blog/2017/04/28/politizando-a-politica-externa-financeira-entrevista-com-rubens-de-siqueira-duarte-e-maria-regina-soares-de-lima/ (Acesso em 14 de julho de 2017).

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Figura 10: Referência ao artigo contém o DOI em código em vez de link:

(Fonte: Blog SciELO em Perspectiva Humanas, jul 2017)

Figura 11: Dados do Altmetric sobre o artigo referenciado e não identificado para o

Score

(Fonte: https://www.altmetric.com/details/16344339, jul 2017)

Como destacado no capítulo 3, o Altmetric deixa claro em seu site que

rastreará conteúdos jornalísticos em outras línguas, sem ser o inglês, apenas se os

materiais tiverem links diretos de identificadores universais e inquebráveis como o

DOI. O que claramente o blog SciELO não está fazendo e nem informando em suas

orientações de press releases. Sugere-se também que a equipe SciELO notifique o

suporte do Altmetric sobre os materiais do blog que não estão sendo rastreados nas

métricas alternativas e explique para a comunidade como funciona a ferramenta.

Afinal, seria frustrante que todo esforço de divulgação e produção dos press

releases convertesse em matérias jornalísticas de nível nacional, mas nada disso

ser monitorado porque não tem o link de identificação, logo, o Altmetric não rastreará

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e nem os editores terão dados para monitorar se os investimentos estão tendo

impacto.

Voltando para as ações de divulgação científica realizadas pela RBPI, é

interessante notar que o editor-chefe utiliza a oportunidade de divulgação da revista

para ampliar o leque de ensino. Isso porque ele separa os artigos com maior

potencial de gerar maior interesse público, mesmo daqueles que não pertencem à

área de Relações Internacionais, para que alunos do programa de pós-graduação

voluntários possam preparar entrevistas com os autores. Essa atividade tem sido

uma boa iniciativa de engajamento e ensino entre os alunos, explica Lessa.

Porém, nessa estratégia, o editor destaca que existem autores que não

compreendem a necessidade da divulgação e não colaboram com a divulgação de

seus próprios trabalhos. Ele recomenda para os autores o serviço Kudos, que

conheceu nos Estados Unidos, para divulgação de artigos.92

O site é Grow Kudos. É uma expressão grega ou latina que quer dizer‘parabéns’. Especialmente o pessoal das Ciências Naturais, quandopublicava um artigo (isso há muitas décadas) era uma prática dizer Kudos,que é ‘parabéns!’. É uma coisa da Ciência. Então, eles lançaram esseserviço no ano retrasado nos Estados Unidos chamado Grow Kudos, que jáfoi adotado entre os publishers grandes. Quando você tem um artigopublicado, ele já deixa uma forma de o autor mesmo escrever as peças dedivulgação que vão direto para o Grow Kudos. É gratuito para os autores,mas os publishers pagam. Como micro Publisher, Publisher artesanal quesão as revistas, não temos como pagar. (LESSA, Anexo 9, p. 241)

Mesmo assim, ele conta que faz parte do trabalho de editor ver que os

autores não se animam na missão da divulgação.

O autor tem que se envolver. Se o autor não se envolve, está pregando nodeserto. [...]. Se o autor não se dignar a separar, por exemplo, a pecinha dopress release que a gente vai realizar depois, aí é complicado. Se seu artigocircular, seu artigo tem chances de ser citado. Uma coisa que acho bembacana é o artigo ser adotado na literatura dos programas de pós-graduação e cursos de graduação. Poxa! Isso é muito legal! Aqui novestibular da UnB já teve artigo da RBPI, enxertos da revista, que foramtomados como mote nas questões de vestibular. Na prova do Rio Branco, amesma coisa. Eu acho muito legal, mas tem que divulgar. Para os autores,acho que interessa tanto quanto para a revista. O elo fraco da divulgação,quando você faz tudo direitinho, é o autor. Indiscutivelmente é o autor.(LESSA, Anexo 9, p. 242)

92 https://www.growkudos.com/ (Acesso em 14 de julho de 2017).

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Talvez se a revista apresentasse dados e estatísticas mais concretos

sobre como a divulgação pode ajudar a alavancar o artigo publicado, os autores

pudessem se engajar mais na divulgação de seus trabalhos publicados na revista,

no entanto, o editor justifica que não tem tempo nem equipe para fazer esse

acompanhamento constante. O monitoramento das estratégias de divulgação são

atividades importantes não apenas para a revista entender o que funciona, mas

também para justificar para autores que a divulgação tem efeito positivo no aumento

de leitores, downloads dos artigos e, potencialmente, no número de citações. Não se

pode citar o que não se conhece. A falta de acompanhamento de métricas mais

confiáveis enfraquece as estratégias de divulgação da RBPI.

Mesmo sem a colaboração dos autores, o editor-chefe divulga notas na

revista de divulgação científica em Relações Internacionais Mundorama93, o qual tem

meses com picos de 20 mil leitores, segundo o editor.

As ações são ampliadas com o envio de newsletter, informando o público

sobre as novidades, sendo que via e-mail atinge-se mais cinco mil pessoas,

segundo informa Lessa. A RPBI também promove os artigos pelas redes sociais,

como da revista de divulgação Mundorama, que agrega Twitter94 com 10,1 mil

seguidores, Facebook,95 com mais de 3 mil seguidores, além de perfis em outras

redes sociais, como o Google+96, LinkedIn97 (que está com problema no acesso

direto pelo site atualmente, mas é encontrável na busca direta pelo LinkedIn) e

Tumblr98.

93 http://www.mundorama.net/ (Acesso em 14 de julho de 2017).

94 https://twitter.com/mundoramanet (Acesso em 14 de julho de 2017).

95 https://www.facebook.com/mundoramanet (Acesso em 14 de julho de 2017).

96 https://plus.google.com/+BoletimMundorama (Acesso em 14 de julho de 2017).

97 https://www.linkedin.com/in/mundorama/ (Acesso em 14 de julho de 2017).

98 https://mundoramanet.tumblr.com/ (Acesso em 14 de julho de 2017).

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Figura 12: Revista de divulgação científica Mundorama, que abre espaço para

divulgação da RBPI:

(Fonte: Revista de divulgação científica Mundorama em inglês, espanhol e português, jan 2017)

O próprio portal do IBRI99 também contém textos em inglês e português

divulgando a revista, os artigos e também autores, como nas seções “Press

releases” e “Author in the Spotlight”. Embora o site seja confuso, sendo mais

prejudicado com a mistura desorganizada de idiomas e conteúdo do IBRI e todas

suas publicações, é um canal com grande potencial de divulgação e pode ser

aperfeiçoado, além de contar ainda com perfis próprios em redes sociais:

Figura 13: Portal IBRI abre espaço para divulgação da RBPI em inglês:

(Fonte: Portal IBRI em inglês e português, jan 2017)

99 http://www.ibri-rbpi.org/

Page 145: KÁTIA HARUMY DE SIQUEIRA KISHI CAMINHOS PARA A …repositorio.unicamp.br/.../Kishi_KatiaHarumyDeSiqueira_M.pdf · 2018-09-03 · 4.2 – Mana: Estudos de Antropologia Social

145

Figura 14: Portal IBRI abre espaço para divulgação da RBPI em português:

(Fonte: Portal IBRI em inglês e português, jan 2017)

A RBPI também mantém suas próprias redes sociais, como perfil no

Twitter100 com quase dez mil seguidores e página oficial no Facebook101 com mais de

cinco mil fãs.

Figura 15: Portal IBRI abre espaço para divulgação da RBPI em português:

(Fonte: Página da RBPI no Facebook em inglês e português, jan 2017)

100 https://twitter.com/ibri_rbpi (Acesso em 14 de julho de 2017).

101 https://www.facebook.com/ibri.rbpi/?fref=ts (Acesso em 14 de julho de 2017).

Page 146: KÁTIA HARUMY DE SIQUEIRA KISHI CAMINHOS PARA A …repositorio.unicamp.br/.../Kishi_KatiaHarumyDeSiqueira_M.pdf · 2018-09-03 · 4.2 – Mana: Estudos de Antropologia Social

146

Figura 16: Portal IBRI abre espaço para divulgação da RBPI em português:

(Fonte: Perfil da RBPI no Twitter em inglês e português, jan 2017)

Como já mencionado, a revista também atua em parceria com o blog

SciELO em Perspectiva Humanas102, tanto com entrevistas e peças de divulgação

em inglês, quanto em português.

Figura 17: Peças de divulgação científica, como entrevistas, no blog SciELO

(Fonte:

recorte de posts da RBPI no blog SciELO em Perspectiva Humanas, em inglês e português, jan

2017,)

102 http://humanas.blog.scielo.org/?s=rbpi&submit=Search (Acesso em 14 de julho de 2017).

Page 147: KÁTIA HARUMY DE SIQUEIRA KISHI CAMINHOS PARA A …repositorio.unicamp.br/.../Kishi_KatiaHarumyDeSiqueira_M.pdf · 2018-09-03 · 4.2 – Mana: Estudos de Antropologia Social

147

Figura 18: Presença de press releases em inglês da IBRI na base SciELO:

(Fonte: RBPI, jan 2017, disponível em http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_serial&pid=0034-

7329&lng=en&nrm=iso)

Com essa variedade de ações de divulgação científica, Lessa explica que

é realizada a programação nas redes sociais sobre o que será publicado e quando,

porém, ele destaca que percebeu que, no Twitter, as inserções são intensas nas três

primeiras semanas em que o artigo foi publicado:

Tem que ter uma repetição naqueles horários que sabemos que osseguidores da revista estão online e fazemos uma programação de tantasinserções com esses softwares de programação, usamos o Hootsuite parainserções no Twitter e Facebook. Facebook não se repete muito porque sepublicou fica lá. No Twitter não, publicou e passa que nem água, publicou efoi embora.(LESSA, Anexo 9, p. 242)

Além de participarem de grupos de discussão da área para promover os

textos publicados. Sobre as iniciativas de publicações frequentes no Twitter pela

RBPI, dados extraídos por Juan Pablo Alperin e Stefanie Haustein sobre a

pontuação no Altmetric no período de dezembro de 2013 até abril de 2017 indicam

que a RBPI tem uma soma de 1.433 publicações no Twitter e 400 no Facebook com

apenas 89 artigos divulgados, sendo disparada a revista com maior pontuação na

ferramenta entre as três revistas aqui analisadas.

No entanto, as iniciativas da RBPI ainda precisam ser mais estratégias e

com maior controle para entendermos o impacto das ações de divulgação no retorno

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148

para a revista em termos de visibilidade e não apenas a partir da pontuação no

Altmetric, embora o editor tenha deixado claro que essa é uma das métricas que ele

não acompanha.

A equipe parece animada em continuar investindo em novas iniciativas de

divulgação científica. O editor já anunciou que pretende fazer spots de vídeos

entrevistando os autores, sendo que já foram publicados, no primeiro semestre de

2017, quatro vídeos sobre o sexagenário da revista no canal SciELO no YouTube.103

O editor lamenta não ter mais pessoas para ajudá-lo na divulgação da

revista, principalmente nos fóruns de editores dos congressos da área, ou ainda, na

divulgação feita em painéis de eventos para conversar com potenciais autores

apresentando o trabalho da RBPI.

Acho que queria pensar em divulgação, já que estou dentro de umauniversidade, e o produzir como uma ferramenta pedagógica. Porque vocêtem que ler o artigo. E tem que ler o artigo como um estudante de RelaçõesInternacionais, de mestrado, de doutorado em Relações Internacionais.Depois você vai entrar em contato com o autor. Acho isso legal. Teve gentehiperimportante que publicou na revista nos últimos anos. (LESSA, Anexo 9,p.244)

O editor parece ciente sobre os problemas de divulgação, que ainda é

realizada de forma muito amadora. Sua expectativa ainda é ter um editor

especializado em divulgação científica para as atividades serem mais consistentes,

mas afirma que a revista não tem estrutura para manter uma equipe profissional no

momento.

Ao conversar sobre os textos que são em inglês e português, ele explica

que deixa livre para os autores brasileiros participarem da forma que se sentem mais

à vontade, mas a orientação da revista para os autores é que o press release, no

modelo SciELO, seja escrito em inglês, e apenas se não for possível em português.

Sobre todas essas ações de divulgação realizadas, Lessa reflete que

manter o site sempre atualizado é um ponto positivo, sendo que, pelos acessos ao

Mundorama e às redes sociais da revista, ele percebe picos de audiência nos

conteúdos da revista. Mas, ele lamenta não notar no Brasil debates nas redes

sociais como ocorre no Twitter entre os pesquisadores nos Estados Unidos.

103 https://www.youtube.com/watch?v=JBt9Pw2ygT0 (Acesso em 14 de julho de 2017).

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O editor aparenta ter muitas ideias e aspirações para aumentar a

divulgação da revista, no entanto, lamenta também por não haver tempo, pessoal ou

recursos suficientes para tanto. Mas ele se considera um defensor da divulgação

científica que instigue o público a buscar o artigo para ler e também que sirva como

material paradidático, ou seja, que a revista amplie suas atividades para agregar

mais valor social com a divulgação.

Ao contrário da Manguinhos, a RBPI não realiza, em suas redes sociais,

uma curadoria de assuntos para que o público leitor possa se interessar, apenas os

conteúdos da revista. Talvez, com conteúdo curado e mais diversificado, seja

possível aumentar o engajamento do público seguidor. No entanto, ressalta-se que,

no Mundorama, há diversos formatos de conteúdo, como entrevistas, colunas de

pesquisadores, notícias e também os press releases e notas sobre a revista.

Sobre os problemas de falta de profissionalismo, como o não

acompanhamento das métricas alternativas de estatísticas de acesso, talvez seja

fruto da ausência de investimento extra da revista para aperfeiçoar as inovações,

que são realizadas de forma voluntária, segundos os relatos do editor-chefe.

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150

CAPÍTULO 5:

Considerações Finais

Esta dissertação buscou compreender se a divulgação científica e o uso

de métricas alternativas são um caminho viável para a busca da internacionalização

dos periódicos brasileiros de Ciências Humanas.

Para isso, foi necessário um resgate histórico sobre a produção e

valorização das Humanidades (onde se enquadram as Ciências Sociais e Humanas)

no cenário científico, bem como avaliar quais são as principais pressões pelas quais

as revistas estão passando. Nessa missão, a pesquisa se embasou em referencial

teórico e, principalmente, nas três entrevistas semiestruturadas com os atuais

editores chefes das revistas selecionadas, bem avaliadas nos principais meios de

avaliação internacionais e nacionais, para entender como estão se comportando

diante dessas mudanças.

Nossa análise conclui que a divulgação não é o principal fator da

internacionalização, mas o caminho inverso é verdadeiro, ou seja, a

internacionalização tem sido o maior motivador de investimentos na atividade de

divulgação científica das revistas, como fica evidente para as revistas Manguinhos e

RBPI. De forma oposta, a busca pela manutenção da revista voltada para

especialistas, com enfoque na produção de conteúdo em português, como aposta a

Mana, torna as atividades de divulgação científica pouco atraentes para a equipe

editorial, seja pela resistência à crescente pressão do SciELO, ou por não

enxergarem a relevância da comunicação via redes sociais e blogs para a

comunicação também entre especialistas em nível nacional ou regional.

A partir de atividades de divulgação, amplia-se a chance de acesso de

leitores dos conteúdos da revista, seja a sociedade em geral ou especialistas de

outras áreas do conhecimento que vão participar dos debates e, eventualmente,

utilizar os conteúdos para a produção de novos conhecimentos, através das

citações, recomendações e novas submissões, como relatado pela Manguinhos e

RBPI, que desenvolvem ativas ações de divulgação.

Esse dado é interessante para todo o campo da divulgação científica ao

ter mais percepções de que as atividades desenvolvidas produzem impactos para o

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151

público leitor, mas, sobretudo, para as revistas e seu reconhecimento. Isso fica nítido

no gráfico 4 do capítulo 4, que registra, através das publicações com maior alcance

no Facebook da Manguinhos, como a divulgação influenciou o aumento de acessos

médio da revista no mês da divulgação.

Nesse sentido, os critérios exigidos pela plataforma SciELO parecem

plausíveis. No entanto, o que se observa pela estrutura fornecida e nos depoimentos

dos editores é que a base SciELO precisa abrir um diálogo com os editores de

Humanidades para debater seus critérios com a comunidade das Ciências

Humanas, visto que os periódicos passam por um período de intensa escassez de

recursos frente aos crescentes custos necessários que exigem apoio e

financiamento institucional e público contínuo.

Sobre o financiamento, deve-se ressaltar que, quando a revista possui

mais estabilidade, como é o caso da revista História, Ciências, Saúde –

Manguinhos, é possível arriscar em inovações e novas estratégias para melhorar o

trabalho das revistas científicas brasileiras. No entanto, infelizmente, mesmo entre

duas outras revistas bem avaliadas nos rankings internacionais e nacionais, não há

a mesma estabilidade e incentivo, panorama que preocupa justamente por serem

estas publicações consideradas de excelência no país. Nesse contexto, as revistas

apenas se apoiam no prestígio conquistado durante anos de publicação, como o

caso da revista Mana – Estudos de Antropologia Social, em que, além do baixo

financiamento, não aparenta se motivar em se arriscar com inovações.

Além do claro problema financeiro e peculiaridades de cada revista, não

se deve menosprezar o esforço da Manguinhos em buscar aprovação em editais

fora do Brasil para conseguir promover as ações de internacionalização e divulgação

científica. No entanto, esta pesquisa critica que, nos critérios para indexação e

permanência na base SciELO, conste que a divulgação é apenas uma ação de

marketing, denominada “marketing científico”, sendo que as revistas deveriam

agregar valor, papéis e assumir a responsabilidade de tentar mudar o cenário com

os autores, para que as pesquisas publicadas ganhem espaço e reconhecimento de

mais pesquisadores e também da sociedade em nível nacional e também

internacional, fortalecendo a divulgação na América Latina, sobretudo no caso das

Ciências Humanas.

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Sobre agregar mais papéis, deve-se considerar também que cada vez

mais os preprints crescem entre as publicações acadêmicas, tomando o espaço das

revistas que se diferenciavam por publicar trabalhos inéditos. Ou seja, as revistas

veem, mais uma vez, seu papel mudando, como já mudou em anos anteriores, e

podem se diferenciar agregando valor social ao debate científico.

No entanto, também se deve ressaltar que mais estudos precisam investir

no uso da altmetria para medir o impacto social da ciência, sobretudo em nível

nacional. Não só porque a altmetria é, como todas as métricas, enviesada e falha,

mas principalmente porque a ferramenta Altmetric adotada pela base SciELO, com a

intenção de dar mais visibilidade às publicações brasileiras e da coleção, é limitada

para avaliar o uso de artigos científicos de revistas brasileiras e, provavelmente, das

latino-americanas, pelos motivos expostos no capítulo 3.

Os problemas do Altmetric ficam mais evidentes com a apuração de

pontos acumulados pelas redes sociais Facebook e Twitter de janeiro de 2014 a

maio de 2017. Desses dados, Manguinhos, que inovou nas estratégias de

divulgação científica e tem equipe full time, além do apoio de duas jornalistas

freelancers e da equipe de comunicação da Casa de Oswaldo Cruz e Fiocruz,

registrou um total de 355 artigos divulgados, mas que só aparecem 121 vezes no

Twitter e 54 vezes em posts de Facebook. Parece pouco para os enormes esforços

de divulgação e comparados aos relatos e feedbacks informados pela editora-chefe,

bem como pela repercussão que a revista tem alcançado nas redes sociais,

figurando como um exemplo positivo a ser acompanhado nos próximos anos pelas

revistas de Ciências Humanas, pelo SciELO e pela comunidade de divulgadores

científicos.

No caso de Manguinhos, no entanto, em que os esforços e engajamento

público se mostram mais intensos, os resultados rastreados pelo Altmetric são

menores. Parte disso se deve ao fato de a ferramenta Altmetric não conseguir

pontuar e identificar o engajamento com o público no Facebook, principal rede social

no Brasil e de maior relevância para a revista, pois a ferramenta consegue apenas

incluir postagens públicas de páginas de grupos e instituições, e não dos perfis,

restringindo o chamado “impacto social da ciência” a espaços mais acadêmicos e

perdendo a avaliação da parte mais relevante do Facebook: o público. Em

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153

depoimento da editora-chefe de Manguinhos, é destacado que o engajamento na

rede social é nítido, sendo que há até comentários, reações e compartilhamentos;

mas que não aparecem no Altmetric, causando grande frustração no empenho de

divulgação da equipe.

Porém, o Altmetric não deixa claro em seu site qual o motivo de não

rastrear reações e comentários, apenas compartilhamentos, e se desses

compartilhamentos ele exclui a participação de perfis restritos e páginas.

Já a revista Mana, que não possui nenhuma estratégia de divulgação,

teve 126 artigos divulgados no mesmo período, sendo destacado apenas 11 tweets

no Twitter e seis compartilhamentos no Facebook. A RBPI que não tem uma equipe

grande que se dedica à divulgação, mas utiliza a ferramenta Hootsuite104para

agendar os posts em horários diferentes e, várias vezes, aparece com apenas 89

artigos divulgados no período, com 1.433 menções no Twitter e 400 aparições em

posts de Facebook. O Altmetric detalha que não pontua mais de uma vez o mesmo

perfil que compartilha o mesmo artigo na mesma rede social. Mas, com a estratégia

adotada pela RBPI, a revista consegue atingir mais pessoas com as publicações

repetidas, o que se reflete no resultado.

Outro ponto importante que esta pesquisa constatou e critica são as

falhas de gerenciamento da equipe de comunicação com os blogs “SciELO em

Perspectiva” e SciELO em Perspectiva: Humanas”, que não explica no blog se

dispararam para jornalistas de ciência os press releases, além de não divulgarem

adequadamente o link direto com DOI dos artigos. Consequentemente, os materiais

de divulgação não são rastreados pelo Altmetric dentro do próprio blog do SciELO,

tornando a ferramenta falha. Recomenda-se que a equipe SciELO reveja todos os

links e entre em contato com o Altmetric para que monitorem o blog. Outra sugestão

é que se explique para a comunidade e jornalistas (se os press releases forem

enviados) sobre a importância em mencionar os artigos com o link do DOI para que

eles possam ser rastreados, assim, os editores poderão ter acesso a dados das

métricas alternativas mais confiáveis para mensurarem suas ações de divulgação. O

mesmo deve ser feito com os autores dos artigos, que precisam ser instruídos a

colaborarem com o esforço de divulgação em suas redes sociais e contatos.

104 https://hootsuite.com/ (Acesso 28 de julho de 2017).

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154

É válido que mais pesquisas sobre altmetria continuem com outras

ferramentas e também com o Altmetric, com a intenção de se compreender mais

sobre a altmetria e suas limitações, de modo a contribuir para que a altmetria possa

ser uma ferramenta útil de métrica dos debates científicos pela Internet.

Dentre as limitações desta pesquisa está o pequeno número de revistas

que incluímos em nossa análise. No entanto, como verificado, ainda é pequeno o

número de revistas científicas brasileiras que praticam estratégias de divulgação de

seus conteúdos e redes sociais ou via outras mídias. Estudos futuros poderão

investigar outras iniciativas à medida que elas se multiplicarem e atingirem um

estágio mais profissional. Diante da profunda crise pela qual a ciência brasileira

passa, as expectativas tanto da categoria de editores científicos quando de

pesquisadores, no entanto, não são boas.

Novas investigações poderão ser conduzidas sobre a perspectiva

histórica, a fim de compreender as mudanças pelas quais essas revistas brasileiras

têm passado em direção à profissionalização e à internacionalização, além de

análises quantitativas sobre o reflexo da divulgação científica de periódicos

brasileiros de Ciências Humanas e da altmetria na visibilidade das revistas.

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172

ANEXOS:

ANEXO 1

“APRESENTAÇÃO

"Um dia, surpreendendo-o a olhar seu palácio,alguém não se conteve, perguntando-lhe: 'Qual

o motivo que o levou a preferir o estilo mourisco?'Porque é o mais bonito', respondeu

Oswaldo Cruz. E voltou a mirar enamoradosua obra." (Ezequiel Dias)

Simplória e profunda explicação, que certamente não contentaria um historiador

empenhado em decifrar esse monumento-documento, consciente de que o castelo

de Manguinhos, por seu apelo imagético e grandiosidade, contribuiu fortemente para

consolidar as ciências biomédicas e as práticas de saúde pública brasileiras. Mas,

como lembra Michel Serres, comentando a conhecida imagem do possível efeito do

bater das asas de uma borboleta sobre um futuro e distante temporal, " toda a

história das ciências consiste em tornar constante, em controlar, em dominar esta

cadeia altamente improvável do pensamento-borboleta de efeito-furacão" e que

"justamente, no passar destas causas leves a estas pesadas conseqüências, está

definida a globalização contemporânea".

O sentido de globalização esteve sempre presente no Instituto de Manguinhos, hoje

Fundação Oswaldo Cruz, onde se construiu um campo de interações em que a

saúde, objeto-fronteira é o lugar de encontro das ciências duras e ciências sociais,

do laboratório e da política, da ciência e da sociedade.

Essa matriz de totalização inspirou, já se vai quase uma década, a criação da Casa

de Oswaldo Cruz, incorporando uma outra dimensão desse acervo: o prazer

estético, presente em muitas manifestações dos pioneiros do Instituto de

Manguinhos, convivendo sem conflito com valores de rigor e austeridade no trato

com a ciência, razão e fantasia, sonho, ciência e cultura.

História, Ciências, Saúde - Manguinhos é um espaço aberto a convivências de

diversas perspectivas. Sua conformação traduz, em muitos sentidos, a matriz que

motivou o nascimento da Casa de Oswaldo Cruz, um lugar capaz de refletir, sob o

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173

olhar da história e a marca da cultura, a pluralidade e unidade que marcam o campo

de práticas das ciências e da saúde.

As raízes locais desse projeto, por sua vez, se imbricam com a demanda universal e

a virtual ausência, em nosso meio, de veículos nesse campo de conhecimento, que

estejam à altura do vigor do questionamento ético e das novas perspectivas

acadêmicas em história, sociologia e filosofia da ciência.

Leveza, rapidez, exatidão, visibilidade, multiplicidade e consistência são as Seis

propostas para o próximo milênio, de ítalo Calvino. Frutos de uma reflexão sobre a

literatura, são valores universais, que em sua expressão sintética trazem um sopro

vitalizante e um desafio para quaisquer formas de comunicação. Esperamos

que História, Ciências, Saúde — Manguinhos possa contribuir para esse ideal.

Paulo Gadelha”

GADELHA, Paulo. Presentation. Hist. cienc. saude-Manguinhos, Rio de Janeiro , v.

1, n. 1, p. 3, Oct. 1994 . Available from <http://www.scielo.br/scielo.php?

script=sci_arttext&pid=S0104-59701994000100001&lng=en&nrm=iso>. access on

27 Aug. 2016. http://dx.doi.org/10.1590/S0104-59701994000100001.

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174

ANEXO 2:

“CARTA DO EDITOR

História, Ciências, Saúde - Manguinhos é uma revista que em seu próprio nome traz

os objetivos que pretende. Os três primeiros termos falam, de modo genérico, de

seu campo de especialização, apontando, no entanto, para uma certa diluição das

fronteiras: afinal, separam-nos vírgulas, e não partículas, indicando que seu

conteúdo não se limita à 'história das ciências da saúde'. O último termo,

irrecorrivelmente vernáculo, evoca um dos poucos lugares onde, no Brasil, se fez

esta história das ciências da saúde, querendo chamar a atenção para o caráter

verde-amarelo (deixem passar) que a revista pretende ter. Desta

forma, Manguinhos, vamos tratá-la assim, abandonando as qualificações é uma

revista que pretende abordar a história dos conhecimentos e dos saberes, com

ênfase, é bem verdade, nos conhecimentos biomédicos. E, daqui de Manguinhos,

dialogar com pesquisadores do Brasil e de todas as partes, em torno de questões

que, ao longo do tempo, são relevantes para a compreensão da realidade atual,

afinal, que outra importância pode ter a história?

Como se poderá ver, Manguinhos não tem o perfil tradicional de uma publicação

acadêmica, indo além dos habituais artigos e resenhas, e abrindo espaço para

outros produtos do campo acadêmico. Em suas seções pode-se também encontrar

coisas como resumos de teses, depoimentos, debates, relatos de encontros e de

congressos, notas de pesquisa, apresentação de documentos originais. (Aqui, por

sinal, está uma de suas grandes preocupações: valorizar o documento original,

trazer à luz o fundamento dos saberes que o historiador pode vir a produzir.)

Finalmente, o leitor, após essas mal traçadas, ao folhear a revista, perceberá uma

outra distinção de Manguinhos: um cuidado gráfico pouco usual, que, mais do que

simples preocupação diletante com a estética, quer chamar a atenção para o fato de

que os conhecimentos que nos interessam se fazem de maneira não positiva.

Quero acabar esta carta como comecei, pelo nome. Manguinhos é peculiar, porque

tal diminutivo não mais evoca um espaço ecológico livre, aliás, aquele cuja

recuperação indica a retomada das forças livres da natureza, mas um lugar onde,

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175

sob controle, assepticamente, faz-se ciência de ponta. E, por outro lado, é típico, em

seu diminutivo tão característico, do carinho que os brasileiros tendemos a ter no

trato com o outro. Um bom nome, portanto.

Sergio Goes de Paula”

PAULA, Sergio Goes de. Letter from the editor. Hist. cienc. saude-Manguinhos, Rio

de Janeiro, v. 1, n. 1, p. 5, Oct. 1994. Available from

<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-

59701994000100002&lng=en&nrm=iso>. access on 27 Aug. 2016.

http://dx.doi.org/10.1590/S0104-59701994000100002

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176

ANEXO 3: FAUSTO, C., NEIBURG, F., GOLDMAN, M., PALMEIRA, M. Editorial in

Mana, vol.1, n.1, outubro de 1995, p.7.

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177

ANEXO 4:

Mana

versão impressa ISSN 0104-9313

Mana vol.17 no.1 Rio de Janeiro abr. 2011

http://dx.doi.org/10.1590/S0104-93132011000100001

NOTA DOS EDITORES

Iniciada em 1995, a revista Mana: Estudos de Antropologia Social chega agora aos

seus 17 anos de existência como uma iniciativa plenamente consolidada. A sua

marca permanente tem sido - e continuará a ser - a preocupação com a divulgação

em língua portuguesa de artigos inéditos, baseados em trabalhos de campo ou em

pesquisas empíricas aprofundadas, que possam contribuir para o avanço teórico na

antropologia e para a ampliação de seus debates com outros domínios da ciência.

Para celebrar este acontecimento, a revista, mantendo o seu formato já tradicional,

passará a funcionar com uma nova periodicidade, com três números por ano (e não

mais dois), podendo interagir com mais intensidade com os seus leitores e

acompanhar mais de perto o ritmo da produção antropológica atual.

Com uma tiragem de mil exemplares, a revista esteve presente na grande maioria

dos eventos científicos realizados no país e criou uma vasta rede de assinaturas e

intercâmbios com revistas de todo o mundo. Paralelamente, Mana fez-se presente

nos principais indexadores da produção internacional em ciências sociais e investiu

com firmeza na perspectiva de disponibilização de números e artigos por via

eletrônica.

Os dados mais recentes obtidos através das estatísticas do SciELO (que não

cobrem porém todo o seu período de existência) nos fazem hoje plenamente

seguros do acerto desta política editorial. Dos 24 fascículos da revista Mana

monitorados pelo SciELO, 14 ultrapassaram a faixa de 100 mil acessos. Os

sumários foram consultados por 225 mil pessoas, o que, em termos de média,

corresponde a quase 10 mil visitantes por fascículo. O acesso a artigos é da ordem

de 2,7 milhões, sendo que os mais procurados, em número de 56, ultrapassam os

10 mil acessos. Até mesmo algumas resenhas (16) atingiram esta faixa de

circulação. O índice de impacto de Mana para o período de dois anos é de 0.1389 e,

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178

para três anos, de 0.2593. Desde 2006 Mana tem contado com uma edição em

inglês, exclusivamente eletrônica, que no próximo número já permitirá a tradução e a

edição de seis artigos.

Embora a criação da revista tenha sido uma iniciativa do quadro de docentes do

PPGAS, é importante notar que Mana nunca foi estritamente um veículo de

divulgação institucional. A ampla maioria dos artigos ali publicados procede de

colegas de outras universidades e centros de pesquisa, seja do Brasil ou do exterior.

Os pareceristas que avaliam os artigos submetidos à revista também são em sua

maioria externos. Do Conselho Editorial participam 20 dos mais destacados

pesquisadores contemporâneos, situados nos mais importantes centros da

antropologia no Brasil e no mundo. Tais características garantem à Mana um perfil

de revista aberta, atendendo a uma permanente oferta de textos, com uma rede de

colaboradores bastante diversificada (em termos institucionais, regionais e

nacionais).

Ainda que a revista tenha começado exclusivamente com recursos oriundos de

projetos institucionais do PPGAS (convênio com a FINEP), mais recentemente vem

contando com substancial apoio do Programa de Publicações Científicas do

CNPq/CAPES e, neste último ano, de programa similar instituído pela FAPERJ, o

que lhe tem permitido uma crescente autonomia financeira.

Queremos nesta ocasião agradecer a todos que apoiaram e foram imprescindíveis a

esta já marcante e consistente trajetória da revista. Isso abrange a instituição em

que funcionamos (Museu Nacional, UFRJ), nossos financiadores (FINEP, CNPq,

CAPES e FAPERJ), e tanto a equipe direta de trabalho (assistentes editoriais,

revisores, tradutores, diagramação e produção gráfica), quanto a enorme rede de

colaboradores (articulistas, resenhadores, pareceristas, membros do conselho

editorial) e, de modo especial, à legião de leitores que nos acompanharam nesta

empreitada.

Conservando integralmente as peculiaridades de seu formato, a revista mantém-se

fiel às ambições anunciadas em seu primeiro número: "estimular a pesquisa e a

reflexão teórica", compreendidas ambas como dimensões indissociáveis da

atividade científica, e divulgar na língua portuguesa "debates atuais da disciplina". A

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179

consolidação e o fortalecimento da revista, além de resultar do empenho e da

dedicação dos docentes do PPGAS, é também nitidamente uma expressão da

vitalidade e do amadurecimento da antropologia realizada no Brasil e do seu

crescente reconhecimento em contextos internacionais. É todo esse processo que

ora se celebra com uma nova periodicidade da revista.

João Pacheco de Oliveira

Adriana Vianna

José Sergio Leite Lopes

OLIVEIRA, João Pacheco de; VIANNA, Adriana; LOPES, José Sergio Leite. Nota

dos Editores. Mana, Rio de Janeiro , v. 17, n. 1, abr. 2011 . Disponível em

<http://dx.doi.org/10.1590/S0104-93132011000100001>. acessos em 25 jun. 2017.

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180

ANEXO 5:

TRIGUEIRO, OSWALDO. Apresentação in RBPI, vol.1, n.1, março de 1958, p.1 e 3.

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181

ANEXO 6:

Roteiro de Entrevista Semiestruturada

Bloco 1 - Perfil do entrevistado:

Nome:

Último título acadêmico e ano de obtenção:

Em que área e universidade obteve o último título:

Quando assumiu o cargo de editor(a):

Primeira vez no cargo de editor(a) de uma revista bem como da atual revista:

Quanto tempo se dedica à editoração por semana:

Quais são as suas funções como editor(a):

Demais experiências na editoração e tempo:

Bloco 2 – Perfil da revista científica:

Quantas pessoas da equipe editorial atuam semanalmente na revista?

Quais as origens do financiamento para manter a equipe editorial e a

publicação da revista? Como funciona esse financiamento?

A revista participa de quantos editais por ano?

Qual é a margem de segurança (estabilidade) para a publicação da revista?

Qual é o custo médio de cada edição?

O quanto os estratos do Qualis Periódico interferem na editoração da revista?

Os estratos do Qualis fazem parte das metas atuais da revista?

Como você avalia o Qualis que a sua revista recebe atualmente?

Qual é o público-alvo da revista?

Vocês acompanham estatísticas de acesso à revista e aos artigos? Esses

artigos fazem parte do planejamento/metas da revista?

Bloco 3 – Internacionalização:

Como você avalia os critérios de internacionalização para indexação e

permanência na base SciELO? Como a revista está se adequando a esses critérios?

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182

Você considera a revista que editora internacional, nacional ou regional?

Se considerar internacional:

Quais os elementos que a tornam internacional?

A revista sempre foi internacional? Se não, a partir de quando começou a se

focar e quais foram as motivações?

Como a internacionalização modificou o processo editorial da revista? (Ex.:

revisão dos textos em inglês, pareceristas estrangeiros, custo, etc.). Como a equipe

está resolvendo essas questões sobre o processo editorial?

Quais são os desafios atuais para a revista?

Se NÃO a considera internacional:

Há intenção ou objetivos para se internacionalizar? Se não, quais os motivos?

Se sim, como busca atingir isso?

Quais são os desafios atuais para a revista se internacionalizar?

Bloco 4 – Divulgação da revista científica:

Como a revista divulga as novas edições das revistas científicas? Como é

feita essa divulgação da revista?

Caso a revista atue em redes sociais:

A sua revista atua nas redes sociais. Como essa divulgação tem impactado a

revista?

Como a equipe editorial se organiza para cumprir essas atividades?

Como a divulgação em redes sociais modificou a rotina de trabalho da equipe

editorial?

Quais estratégias a revista tem apresentado mais resultados positivos e por

quê?

O trabalho de divulgação da revista mudou o público leitor?

Vocês têm um feedback dos leitores? Se sim, qual?

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A divulgação da revista está mais relacionada à busca pela

internacionalização da revista ou na busca por visibilidade nacional?

Caso a revista NÃO atue em redes sociais:

Vocês não fazem divulgação nas redes sociais, mas a base SciELO definiu a

divulgação como critério para permanência e indexação, como vocês estão lidando

com isso?

Como você avalia as métricas alternativas?

Como você avalia as métricas tradicionais?

Há pretensões de investimento em mais ações de divulgação. Se Sim, quais?

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184

ANEXO 7:

Manguinhos - Entrevista Semiestruturada

Revista científica: História, Ciências e Saúde – ManguinhosAtual editora-chefe: Roberta CerqueiraData da entrevista: 05 de abril de 2017Áudio com duração de: 2h05min

Bloco 1 - Perfil da entrevistada: Qual foi o seu último título acadêmico e ano de obtenção?Em ordem decrescente: Eu tenho mestrado em “História Social da Cultura” pelaPUC, eu defendi em 2002, já tem um tempinho. Sou graduada em História pelaUniversidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ) e, desde 2009, final de 2008, eusou editora de revista.

O mestrado você fez na UERJ também? Onde foi?Eu fiz o mestrado na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC Rio).

E quando assumiu o cargo de editora na revista?Oficialmente essas datas são meio embaçadas para mim. Mas em 2009. A editoraanterior saiu em 2008 e acho que oficialmente eu assumo em 2009.

E é a primeira vez no cargo de editora da revista ou de alguma outra revista?Foi a primeira vez. Na verdade, como editora-executiva da Manguinhos, sim. Eununca tinha trabalhado em nenhuma revista a não ser a própria Manguinhos e foi aprimeira vez.

E quanto tempo você se dedica à editoração por semana na Manguinhos?Então, assim, a Manguinhos tem um perfil, e eu vou falar da revista que é quasefalar um pouco sobre a minha trajetória profissional, está muito colada. AManguinhos tem uma equipe que se dedica full time à revista. Então, eu sempre,mesmo antes de não ser a editora-executiva, eu já trabalhava na revista e tinha umacarga horária que era praticamente full time. Eu dei aula por um tempo, mas todosos dias eu estava na revista. Hoje a minha carga horária é integral. Com exceçãodos editores científicos que têm outras atividades que é de dar aula e têm uma linhade pesquisa que é cada um lá na Casa de Oswaldo Cruz, que é onde a revista éafiliada, os outros integrantes se dedicam full time, são funcionários mesmo darevista e não dividem as nossas atividades com outras atividades. É claro que o meucaso, eu tenho as atividades propriamente da produção editorial da revista e asatividades institucionais que são relacionadas à revista, como a representação no

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fórum de editores científicos das revistas da Fiocruz e dinâmicas própriasinstitucionais. Mas mais voltado para a revista e agora um pouco com a divulgação.

Então, quais seriam exatamente as suas funções como editora, hoje?Bom, eu faço a coordenação editorial da revista, isso significa fazer umplanejamento dos números junto com os editores científicos. Nós temos cinconúmeros por ano, um deles é especial, então a minha tarefa é coordenar e montaros artigos para as edições e fazendo uma ponte com a editoria científica. A gente fazuma reunião e meio que bate o martelo diante do universo de artigos que nós temosna mesa já aprovados e em fase de tratamento. A gente está trabalhando os artigosem uma roda, então vai chegando e sendo aprovado por ordem de aprovação e jávamos trabalhando. Então, a montagem dos números, a coordenação da equipe queé composta por revisores, programador visual, uma parte administrativa, a secretáriaeditorial, uma parte de planejamento dos números, coordenação da equipe é essaque estou te dizendo e hoje tem um grande pedaço de minhas atividades que estãodedicadas à divulgação da revista. Isso implica pensar em como a gente faz essadivulgação, acompanhar os resultados dessa divulgação, fazer reuniões com asduas jornalistas que trabalham na divulgação direta do blog nacional e internacionalda revista. Também atuando junto com os editores científicos e as atividadesburocráticas que eu respondo diante à instituição, como questões orçamentárias,enfim, e representação nos fóruns, eu sou representante do Acesso Aberto na minhaunidade com a Fiocruz, sou editora convidada do fórum dos editores das revistas daFiocruz, que hoje também está com um trabalho intenso para divulgar os periódicosda Fiocruz. Então, assim, as atividades dentro da revista, resumindo, são as deplanejamento das edições junto com os editores científicos, a coordenação daequipe e o planejamento das ações de divulgação da revista.

E você mencionou que já trabalha na revista antes....Bom, eu divido o meu tempo.... Como? Como?

Não, pode continuar.Não entendi sua pergunta.

Pode continuar o que a senhora estava falando, não terminei a pergunta.Perfeito. Então, na verdade, Kátia, se eu for pensar nas atividades de quando eucomecei a editoria executiva, em 2008 a 2009, estou te dando essa data que eupreciso na verdade definir quando eu assumo, porque eu começo um estágio em2008 sendo acompanhada pela Ruth e 2009 isso se concretiza. Mas, assim, se eufosse pegar o início da minha atividade como editora-executiva e fazer uma análisedos últimos 10 anos para hoje, eu diria para você que duas frentes de trabalhocomeçaram a tomar mais o tempo da equipe, dos próprios editores e,particularmente, do meu tempo, que é a preocupação em pensar a revista em

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acesso aberto, ela sempre foi, mas temos hoje uma série de práticas que temospara legitimar e defender a bandeira do acesso aberto e a divulgação da revista. Seeu fosse fazer uma análise, se você me perguntar o que mudou das minhas tarefasde quase 10 anos atrás para hoje, eu colocaria essas duas frentes de divulgaçãoocupando um espaço maior do meu trabalho. Sem dúvida, consequentemente doseditores também, que junto comigo pensam nas pautas. Então, isso veio como umaonda que, na verdade, eu diria que de uns dois anos para cá aumentou ainda maisporque a gente passa a ser referência, a ser chamado em algum lugar paraapresentar o trabalho, enfim, hoje a gente dedica, eu dedico uma boa parte do meutrabalho para isso. É sempre um cuidado, o maior cuidado para não perder de vistaque a divulgação que tem a fazer é e tem que ser da revista. As coisas se misturam,a gente é solicitada para divulgar muita coisa e o verde com a área de comunicaçãoé muito grande e a minha maior preocupação é que a gente não é um canal dedivulgação das ações da instituição, a gente pode até ser, muitas vezes a gente é,mas a missão é isso. Ficar toda hora em cima da mesa com bilhetinhos para nãoesquecermos e eu fico trazendo isso a todo o momento, a gente tem que pensar epensa em ações de divulgação dos textos que a gente publica. Essa é a nossapreocupação maior, então, todas as divulgações que a gente faz é pensando emdivulgar o material da revista, os autores que já publicaram com a gente, hoje agente começa a ver se o autor publicou em outro periódico, que é algo que estádentro do escopo da Manguinhos, a gente divulga e “linka” com o trabalho queaquele autor publicou na História, Ciências e Saúde Manguinhos. Então, é mais oumenos por aí. Se eu fosse pensar para você, se eu fosse, eu tenho pensado muitonesse tempo que eu tenho dedicado às minhas atividades e fazendo umareorganização, planejamento das atividades da revista, a gente está fazendo umprocesso de autoanálise, vamos dizer assim, porque a gente vai completar 25 anosdaqui dois anos. A gente está com uma série de ações pensando nesses 25 anos eaí é pensar nas atividades da revista e, obviamente, estou pensando nas minhas eeu diria para você hoje que espaço do planejamento e da divulgação, hoje, ela estácom um espaço considerável no meu tempo com os acompanhamentos normais enaturais que gente tem que fazer junto com a área de editoração científica. Acho queé um pouco por aí.

E você tem experiência em outros cargos dentro da revista?Sim. Na verdade, eu comecei na revista. Eu estava no finalzinho da minha IniciaçãoCientífica. Eu tinha acabado de terminar a minha Iniciação Científica. Eu fiz IniciaçãoCientífica por três anos em uma pesquisa de História das Doenças na própriaFiocruz. E quando terminou a minha Iniciação Científica, o Jaime Benchimol, editorcientífico na época, precisa de alguém para trabalhar com ele na equipe. E a visãodo Jaime naquela época, estou escrevendo sobre isso e sempre menciono, apreocupação do Jaime quando ele me chamou para trabalhar na revista é que eleprecisava de alguém para fazer um levantamento das instituições, de bibliotecas,

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lugares que tivessem interesse em receber a revista. De certa forma, ele estavapreocupado em divulgar e circular a revista. Então, eu entrei para a revista paraajudar no mapeamento das bibliotecas e instituições para encaminhar a revista paraessas instituições, junto com a editora-executiva da época e a secretária editorial, agente fez o levantamento e começou a colocar em prática o contato com essasinstituições editoriais estrangeiras para encaminhar a revista. A gente está falando aíde um período que site a revista tinha, mas não se falava ainda de acesso aberto. Eeu estou me referindo aí a 1998, 1999 mais ou menos, finalzinho dos anos 1990 ecomeço dos anos 2000. E daí eu, naturalmente, comecei a acompanhar também osprocessos editoriais. Comecei a substituir a secretária editorial em momentos deausências, férias dela. Então, sei todo o trabalho de processo. Vamos dizer que eucomecei como “boy” na revista. Passei por todos os processos de produção mesmo,de acompanhar a submissão, depois a intermediação com os pareceristas, otrabalho com os editores científicos na hora de escolher os pareceres, auxiliando aeditora-executiva. Passei de um trabalho mais pontual para um apoio editorial, queaí eu fiquei durante um bom tempo. E a Ruth é jornalista, hoje ela está aposentada ejá saiu da instituição. A Ruth era a editora-executiva antes de mim e ela começou ame puxar para acompanhar, a partir de um determinado momento, acompanhar asatividades dela mais de perto, já pensando que eu poderia substituí-la. E assim foifeito. Eu fiquei um tempo razoável acompanhando as atividades dela de modo queela saísse e eu assumisse. Não foi uma tarefa muito fácil para mim, eu te confesso.Porque envolvia muitas questões, não só a representação ali dentro da revista, mastambém sobre as responsabilidades fora perante a instituição, como o planejamentoorçamentário que é algo complexo. Foi isso. Eu nunca tinha trabalhado com revistacientífica. Eu vim de pesquisa, fiz meu mestrado em História da Loucura e Literatura.Dei aula durante muito tempo e do nada a revista começou a entrar de tal maneira ecomecei a tomar gosto. Cheguei a fazer um projeto de doutorado, ainda comcontinuação do mestrado, mas depois desisti porque vi que não tinha absolutamentemais a ver. Hoje estou mais dentro do periodismo científico, então deveria seralguma coisa nesse caminho. Então, é isso. A minha trajetória é uma trajetória....Digamos que eu vim parar na revista meio que por acaso. Eu sei que não é umatrajetória comum para quem tem a minha formação, que vem da área de História, agente não tem curso ou formação ou que seja direcionado para formar editor ou paraformar gente que trabalhe em periódicos científicos, a gente acaba sendo formada eespecializada à medida que vai trabalhando. Acho que hoje até tende a mudar umpouco, as revistas estão mais profissionais, tem-se mais gente experiente emperiódicos circulando, talvez isso ajude mais. Mas quando eu entrei era maisaprender no fazendo, na tentativa e erro. Vendo as iniciativas do Jaime, que é umdos editores junto à Ruth, então eu posso dizer que eu conheço muito aManguinhos, conheço muito o processo editorial porque acompanhei todas asetapas dele em todas as frentes. Saberia aceitar o artigo e fazer o processo editorialcomo saberia fazer o planejamento orçamentário. Então, acho que a minha

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formação foi um pouco atípica. Eu acabei sendo arrebanhada, entrei nesse universoe acabei gostando, o que é um fator importante, e fiquei. Estou, na verdade.

Eu vou agora mudar para o bloco do perfil da revista.

Bloco 2 – Perfil da revista científica:

Quantas pessoas da equipe editorial atuam semanalmente na revista?Você fala no espaço da revista?

Isso. Que semanalmente cumprem atividades pela revista. Estão atuandoquase diariamente, vamos assim dizer, com mais frequência.A gente tem hoje um quadro, digamos formal, vou chamar assim, que são aspessoas ligadas com vínculos empregatícios com a edição. Temos 2 revisores, umapessoa responsável pelo administrativo, eu, dois editores científicos e umasecretária. Se eu fiz as contas bem, somos 7: três editores, dois revisores, um apoio,uma secretária editorial.

E eu fiquei curiosa com algo que você comentou sobre as revistas da Fiocruz:todas as revistas da Fiocruz mantêm esse mesmo perfil da Manguinhos de teruma equipe da própria revista? Que dedica mais tempo para as revistas?Elas têm uma variação, claro, algumas revistas.... Na verdade, somos muitoautônomas, vamos dizer assim, as revistas da Fiocruz têm muita autonomia no quediz respeito à sua organização. Todas têm sim uma equipe fixa. Algumas revistascom menos e outras revistas com mais, mas todas têm gente dedicada para aprodução da revista. Todas. É que tem duas revistas científicas novas na instituiçãoque é a Fitos105, uma revista recém-criada, e a Visa em Debate106. São duas revistasnovas, então eu saberia falar menos dessas duas revistas. Mas certamente elas têmsim gente que se dedica a trabalhar full time, vamos dizer assim, para a produção darevista. Esta é uma característica que eu acho que a gente sabe da instituição, eufalo muito isso para as pessoas. As pessoas: “Ah, mas vocês têm uma equipe”. Sim.A gente tem uma equipe. A gente se beneficia de estar em uma instituição que temuma revista centenária, que é a Memórias de Oswaldo Cruz107, que tem uma equipeparecida com a de Manguinhos, com diretoria executiva, equipe editorial quetrabalha intensamente no espaço da revista. E essa preocupação de ter uma revistacentenária que tem esse perfil acabou influenciando no modo que a instituição vê,no modo que a instituição acredita que um periódico científico deva ser produzido.

105 http://redesfito.far.fiocruz.br/index.php/revistas/revista-fitos (Acesso em 7 de maio de 2017).106 http://periodicos.fiocruz.br/pt-br/revista/visa (Acesso em 7 de maio de 2017).107 http://memorias.ioc.fiocruz.br/ (Acesso em 7 de maio de 2017).

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Então, as revistas são importantes para a instituição, não que as outras revistas nãoconsiderem suas revistas importantes. Não estou dizendo isso. Mas a importânciainstitucional significa que tem que ter um planejamento, tem que ter gente dedicadapara trabalhar, hoje a gente tem um fórum de editores que pensa em questõescomuns para todos os periódicos, até com objetivo de otimizar serviços e diminuircustos. Não fazer trabalhos repetidos, fazer licitações ou contratos que a gentepossa fazer de forma que todas as revistas sejam beneficiadas. Esse fórum é novo,tem uns dois anos e tem tido resultados muito interessantes, a gente tem umadinâmica muito interessante de trabalho, então, sim, todas as revistas da Fiocruztêm equipes em maior e menor escala que são dedicadas à produção da revista, aía gente escala de acordo, por exemplo, se você pegar Cadernos de Saúde Públicaque publica mensalmente sua revista, eles recebem na casa de acho que duas milsubmissões por ano. Eles têm uma equipe maior. Se você pegar uma revista comuma periodicidade menor, tem equipes menores. Mas sempre vai ter alguémdedicado full time ao periódico, sim.

Quais as origens do financiamento para manter a equipe editorial e apublicação da revista? Como funciona esse financiamento? Esse financiamento da revista é um financiamento basicamente da Fiocruz. A gentetem um orçamento que a sua integridade quase é financiada institucionalmente. AFiocruz entra com aporte de 60%. Eu diria 70% se a gente inclui nossos salários. Agente fez esses levantamentos de custos e a instituição banca a revista quase queintegralmente. A gente tem muita preocupação com isso desde sempre. Então, agente tem frentes de trabalho para buscar recursos. O próprio desenvolvimento deações de divulgação da revista começou, não foi com o recurso da instituição. Elecomeçou com financiamento externo do edital que a gente submeteu, eu e Jaime. Ea gente entendeu que era um edital que a gente poderia concorrer, mesmo nãosendo um edital para revistas científicas exatamente, mas a gente colocou adivulgação como uma inovação dentro do periodismo científico e construímos umprojeto baseado nisso. De inovação. Seria uma inovação da revista. Foi para o IPEA(Instituto de Pesquisa de Estudos Aplicados) e a gente só conseguiu começar esseprojeto porque a gente teve esse orçamento inicial dado pelo IPEA. Então, a gentefica numa busca intensa de financiamento. Editais agora estão separados, Capes eCNPq, a FAPERJ, que é a agência fomentadora de nosso Estado, está falida, então,a gente não pode contar com ela, mas ela já financiou várias edições importantes,edições especiais da Manguinhos, então, agências de fomento, Capes, CNPq eFAPERJ, quando tinha dinheiro. A gente está tendo a experiência de financiamentoexterno com a Welcome Trust108, que a gente submeteu um edital com projeto paraeles e conseguimos financiamento. British Academy109, que ajudou a gente a bancaro workshop que você participou que foi...

108 https://wellcome.ac.uk/funding (Acesso em 7 de maio de 2017).109 http://www.britac.ac.uk/ (Acesso em 7 de maio de 2017).

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Ano passado, 2016.Caraca! Já estou pulando. Foi em 2016. Então, assim, a base, o funcionamentoessencial é da Fiocruz, com aporte muito considerável e muito importante deagências de fomento, eu destacaria hoje a Wellcome Trust, que foi umfinanciamento que a gente conseguiu ano passado e nos ajudou na tradução dostextos do espanhol e inglês, mais do português para o inglês, na verdade. E nopagamento de um artigo de revisão que a gente vai publicar daqui a pouco, estásaindo. Enfim, então é isso.

A revista participa de quantos editais por ano? Olha, no ano passado foi um bocado. A gente submeteu, até por causa doworkshop, a gente fez algumas ações. A gente submeteu à Capes, ao CNPq,submeteu ao Wellcome Trust, escrevemos um pequeno projeto para a BritishAcademy, fora a gente também tem que fazer um planejamento dentro da instituiçãopara conseguir o financiamento, então, estou colocando aí porque é custoso fazeresse financiamento, a gente faz um financiamento bem justo, bem acertado e dá umpouco de trabalho, mas é o nosso serviço obrigatório. Foram 4 externos. A gentenão submeteu à FAPERJ porque a gente já sabia que a FAPERJ está.... Que oestado está muito ruim e a gente acabou não submetendo. Foram quatro. Esse anoa gente vai repetir à medida que esses editais forem abrindo. A gente está em viasde submeter de novo a renovação da Wellcome Trust. A gente vai submeter dentroda Fiocruz, a Fiocruz tem um departamento, vamos dizer assim, que se chama“Escritório de Captação de Recursos”, a gente escreveu um projeto concorrendocom outros projetos da Fiocruz pedindo financiamento. Esse escritório trabalha comcaptação externa, então, a gente está aí abrindo uma nova frente que não sabe sedará certo, mas a gente vai tentar instituições privadas ou estatais. É como sefossem um desses editais Lei Rouanet, mal comparando. A gente submeteu a esseedital que é interno para ver se a gente consegue captação externa, então, euacredito que ano passado a gente conseguiu submeter a quatro editais. Este ano,2017, a gente já submete esse de captação de recursos externos, que é dentro daFiocruz e eu acabei de te descrever. A gente está fazendo um projeto para submeterde novo à Wellcome Trust para renovação e a gente fica na expectativa da aberturada Capes e do CNPq, não sei eles vão abrir separadamente ou conjuntamente maisuma vez. E a gente fica sempre olhando, e volto a visitar o IPEA para ver se temalgo que possa ser submetido. A gente fica com o farol ligado para ver frentes paracaptar recursos. A gente sabe que a revista é muito cara, hoje é algo que incomodaa gente. Incomoda no sentido de estarmos em uma instituição de Saúde e em umpaís com vários problemas de investimento em várias áreas e a gente sabe que arevista é um investimento importante, mas que é custoso, então, temos mesmo essapreocupação de diminuir custos e buscar auxílios onde tiver que ajude a otimizaçãode nossos recursos e que a gente consiga mais dinheiro externamente. A gente

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começou com uma ação que foi pedir para os autores a colaboração para traduçãodos textos somente. Então, se o autor tem um recurso e ele puder contribuir natradução do texto dele do português ou do espanhol para o inglês, a gente tempedido.

Qual é a margem de segurança (estabilidade) para a publicação da revistahoje?Olha, a gente está em uma instituição muito sólida. Isso faz com que a gente tenhauma margem de segurança muito grande. Então, deixar de fazer a Manguinhos éalgo muito, muito raro de acontecer. A não ser que a gente entre em um período detotal e completa turbulência, com problemas muito sérios, mas não vejo. Não é umapreocupação deixar de publicar. Talvez a gente tenha que reduzir alguns trabalhos,a própria divulgação sofra um impacto, a gente tem um custo e se for colocar emcima da mesa, o essencial, se faltar recursos, a gente vai dar muitos passos paratrás, mas se acontecer a gente vai ficar fazendo só o trabalho de editoração darevista. Acho muito difícil. Sinceramente, pouquíssimo provável. A gente tem umatradição de procurar por auxílios externos, de apoio institucional, de mobilização, arevista é um produto importantíssimo da unidade onde a gente está, então, eu achouma probabilidade muito baixa. A probabilidade é só.... Sei lá, pode acontecer, docenário tão difícil, mas não é algo que a gente se preocupe de verdade, dificilmentea gente vá deixar de editar a revista. Só se o cenário do próprio periodismo científicomudar ao ponto de, já tem discussões sobre isso, de não se ter um veículo, umarevista, mas sim que a gente entre em uma roda de publicação que o próprio papelda revista, a revista em si como a gente conhece hoje, que isso mude dentro doperiodismo científico, mesmo assim, a gente vai continuar editando trabalhos. Maispara a frente, a gente vai saber. Mas não é algo que.... Está na nossa mesa depreocupação assim: Manter a revista impressa. Essa é uma discussão que está nanossa pauta. É uma discussão que a gente tem feito para saber se a gente continuae como a gente faz para continuar com menos recurso. Isso é uma coisa queestamos estudando.

Qual é o custo médio de cada edição?O custo médio de cada edição. Eu saberia te dizer de cabeça a impressão adiagramação.... A revista física, impressa, está na casa dos 24 mil, mais ou menos.Aí tem os custos de tradução, que variam de acordo com o número de textos que agente publica. É difícil fazer essa conta por número de edição, para dar uma contamais fechada. As traduções são muito caras, em média de 3 mil reais, a tradução deum texto na Manguinhos. Com número de palavras, qualidade da tradução, revisão,então se a gente faz por aí, cinco textos a cada edição, que é o que a gente temtentado fazer, você coloca aí na média mais 15 mil, um pouco mais, um poucomenos, de acordo com o número de palavras, enfim, então fazendo uma conta....Diga.

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Pelo que você tinha comentado de ser mais custoso na revista, e isso aindaestá em debate, é a permanência dela no impresso. Que ela existe eletrônica,mas é a quantidade que ela é impressa. Isso?A gente produz a tiragem. A gente tem duas frentes hoje que consomem recursosconsideravelmente. Tradução dos textos para o inglês e a revista impressa. Então,são duas frentes que a gente.... Uma “frente nova”, vamos dizer assim, que é atradução dos textos. Eu estou dizendo “nova” entre aspas porque eu acho que issoestá muito sendo discutido hoje, mas a Manguinhos vem traduzindo desde 2006num crescimento. Então, em 2006, se a gente for falar de periodismo científico,digamos assim, que não era algo que nasceu com a revista, foi um implemento. Atradução e impressão têm um peso grande. E a divulgação tem começado aaparecer também porque a gente tem feito ações que cresceram muito,especialmente neste último ano, e a gente não dá conta de fazer, a equipe quetrabalha Full time na revista, então, a gente tem recorrido às jornalistas externaspara fazer cada vez mais. A gente tem diversificado as ações de divulgação, que àsvezes acaba dando um pouquinho mais de custo. Na ordem de preocupação com oscustos, eu te diria: Impressão, tradução e divulgação. Impressão e tradução, eucolocaria a impressão primeiro porque a tradução a gente não vai abrir mão. Nesteuniverso, o que tiver que ser cortado, a gente está estudando começar com aedição, não totalmente, mas possibilidade de diminuir esse custo.

Acho legal, só para a gente deixar na nossa entrevista, os comentários que oAndré tinha feito no ano passado sobre por que a Manguinhos ainda defendeter a impressão. Posso estar errado, então, por favor, comente. A missão darevista de atingir outras regiões que têm menos acesso à Internet e conexão.Seria nesse sentido mesmo?Sim. A gente tem uma distribuição que ela é, hoje, basicamente para bibliotecas,instituições de pesquisa e instituições estrangeiras. É curioso você falar isso, porincrível que pareça, no início deste 2017, a gente recebeu pedidos de assinatura darevista impressa. Mais que nos outros anos. De pessoas físicas e de instituições.Isso é raro! Isso não vinha acontecendo com regularidade, mas o início deste anochamou nossa atenção. Não é nenhum número extraordinário, mas nos chamouatenção isso. Bom, a gente tem problemas de Internet. Vivenciamos isso antesdesta conversa (risos). Na verdade, muito se fala sobre acesso. Eu acho quemelhorou e cada vez mais se expande, mas a gente tende a falar do centro daprodução científica, que é a região Sudeste e Sul. Isso não é reproduzido para asoutras regiões do país, infelizmente, a gente tem dificuldade de acesso à Internet, doaluno em casa, às vezes até mesmo do aluno na instituição. Muitas instituiçõesainda pedem para receber as revistas, sim. A gente teve um pedido institucional decerca de 25 (vou falar 25, mas não sei de cabeça, em torno deste número) de enviode exemplares para alguns países africanos. A Fiocruz tem trabalhos e ações em

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países africanos, Moçambique e Angola em especial, e a gente passou a mandar arevista impressa para lá. Não sei se foram 20 exemplares, mas tivemos essademanda, sim. Uns dois anos atrás também mandamos. A gente tem instituiçõesparticulares no interior do Brasil que assinam a revista e a gente manda. A revistatem hoje 650 exemplares impressos. Eu diria que 400, em média, vão parainstituições estrangeiras e nacionais. Acho que esse número pode ser reduzido,acho que algumas instituições podem deixar de receber, mas esse é um dos pontosde nós, ainda, continuarmos enviando revista, por ainda receber solicitações. Achoque isso tende a diminuir mesmo, mas ainda é um ponto. E tem um outro pontoimportante que a gente também começa a discutir dentro da revista, junto com aprópria instituição, junto com outras revistas, e eu até abri um canal no SciELO paraconversa também, de pensar sobre a preservação digital da revista. Porque oimpresso é a memória da revista. Eu sou historiadora e estou falando de uma revistade História, então, essa é uma preocupação que a gente tem muito. Então, comoguardar essas edições em formato eletrônico, como essas edições vão serconsultadas futuramente, acho que se não tiver uma política definida para esse tipode preservação e a gente já tem conversas dentro da instituição sobre repositóriosinstitucional, porque a gente tem as revistas na base SciELO, mas tem as revistasguardadas em um backup dentro da revista. Mas esse formato eletrônico, vamossupor, se um dia o SciELO termine ou tiver um problema, vamos supor, como é quea revista sobrevive com esse formato eletrônico? Então a gente tem se preocupadomuito com a revista propriamente. Formato, produto final que é a revista, que são asedições no formato eletrônico, como que a gente guarda esse formato, como que agente preserva isso, se a revista deixar de existir na forma impressa. O papel, decerta forma, é uma memória do periódico, e a gente tem se preocupado que arevista tem todo o seu material. Você está fazendo hoje uma pesquisa sobre aManguinhos e você está pegando uma ponta da Manguinhos que você podeconsultar. Se, no seu doutorado, ou outra pessoa quiser estudar o campo da históriada ciência ou a produção sobre a história da ciência e da saúde, Manguinhos seráuma fonte importante de consulta, vamos dizer assim. Ela foi criada em 1994. Então,futuramente, se eu quiser fazer uma pesquisa sobre a área de produção doconhecimento nesse campo do saber e quiser fazer uma pesquisa considerando aprodução que foi trabalhada na pesquisa, a gente daqui um tempo vai disponibilizaros arquivos da produção, dos bastidores da revista. Essa documentação estátratada, toda impressa, ela já está tratada, organizada, a gente está discutindotempos de embargo para ela ser consultada. Discutindo com outros periódicosestrangeiros que já têm política de embargo e disponibilização desses documentos.A gente tem pareceres de historiadores importantes, então, se alguém quiser fazer abiografia de algum cientista e quiser olhar para a produção desse cientista, o parecerque esse cientista deu ou mesmo um artigo que ele publicou, estará lá. Cartas, agente está falando de uma revista que começou ainda em um processo maisartesanal de submissão, então a gente tem cartas, comunicação entre os editores e

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autores, pareceres, como a revista foi fundada, editais que a gente pediu de fomentoe devemos disponibilizar. A gente tem relatórios que submetem esses projetos paraeditais de fomento e construímos dados precisos da revista. Então, toda essadocumentação que a gente gerou impressa, que são os bastidores da revistatambém, a gente tem preocupação de armazenar e disponibilizar. A gente estáenfrentando agora o desafio de como fazer isso online. De como fazer essapreservação online, não só do produto final, como estou te dizendo, mas tambémdesse bastidor, desses processos pensando que futuramente alguém vá estudarperiodismo científico e queira olhar para os documentos da Manguinhos por trás doque ela tem na rua e acesso a isso. Então, assim, voltando à sua pergunta original,tem esse ponto que o André mencionou. Ele ainda é um ponto que a genteconsidera sim, e eu somaria a isso a preocupação de preservação da revista comoacervo. O impresso é a garantia de que está lá para consulta. Eu acho que vaichegar um momento em que a gente vá parar de fazer a revista impressa,principalmente quando a gente já tiver isso tudo ajeitado e certinho, revistapreservada eletronicamente. Talvez a gente continue com processo de imprimirmenos e acho que é um caminho natural. Embora a gente seja historiador e gostedo papel, tenha essa relação com o livro e a revista impressa, mas eu não tenhomuita ilusão que a gente sustente esse formato por muito tempo. Acho que a gentevai reduzir e produzir por demanda. Principalmente por questões que estou tedizendo aí, que ainda não foram muito bem resolvidas, que é a preservação dela emforma digital, é uma preocupação nossa. Então, acho que tem duas frentes aí.Chegar aonde ainda se chega com dificuldade, que aí o impresso vai, e memória doperiódico. Eu juntaria essas duas frentes. Acho que chegar aonde ainda temproblema, tem que olhar, ver, fazer um levantamento de fato para ver se essasrevistas estão chegando. A gente recebe acusa de recebimento, então é algo que agente tem que estudar, e o detalhe curioso de 2017, que eu te disse, que é o pedidode gente para patrocinar a revista que há muito tempo a gente não recebia.

E em relação ao Qualis Periódicos, ele interfere de alguma forma na editoraçãoda revista? Os estratos fazem parte das metas atuais da revista?Não tem como a gente não pensar em Qualis. O Qualis tem várias críticas no modocomo isso é usado. A gente tem uma preocupação fundamental com a área deHistória, que é a área que a gente é classificada e que a revista é maisfundamentada, vamos dizer assim. A diversidade de classificação que a genterecebe no Qualis a cada avaliação, conforme a gente é avaliada no Qualis, muda umpouco o cenário de submissão. Se a gente passa a ser bem avaliada na área deServiço Social, a gente recebe mais da área de Serviço Social. Então, sim, a genteolha para o Qualis, é preciso que olhe. Ao mesmo tempo em que a gente sabe dosproblemas e tem críticas, é um referencial importante de qualidade de periódicos, eos autores perguntam qual é a classificação da revista no Qualis. Não tem como a

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gente não levar isso em consideração, a gente acompanha, faz os relatórios de umaforma minuciosa, às vezes questiona, já aconteceu de questionarmos a nossaavaliação, argumenta. Enfim, é sim um fator importante de atestado de qualidade. Agente também é institucionalmente avaliada pelo nosso Qualis. O Qualis é uminstrumento de avaliação das revistas científicas nacionais. Não dá para negligenciá-lo. A gente olha para ele, vê as áreas com aquela avaliação que vão começar aaparecer mais na revista e aí cabe à gente, a revista é interdisciplinar, então se otrabalho for bom, a gente tende a aceitar. Mas sempre com olhar mais atento para aHistória, na verdade.

Como você avalia o Qualis que a sua revista recebe atualmente nas principaisáreas?Olha, a gente está bem avaliada nas áreas que a gente gostaria de estar que são asáreas de História, Sociologia, área de Educação e Ensino são separadas, e euconfesso para você que sempre acabo me confundindo. Tem áreas que ainda nãoterminaram seu Qualis, a última vez que eu olhei a área Interdisciplinar não tinhaliberado seu Qualis, então, se você pegar a Manguinhos hoje, no último Qualis, foiA1 em Interdisciplinar, a gente está aguardando a avaliação do Qualis novo porquea gente não sabe se vai se manter A1. Mas Sociologia, História e Educação, a genteé A1, que são áreas importantes para a gente. A Saúde Coletiva também é bemavaliada, mas a gente sabe que a Saúde Coletiva tem uma dinâmica de avaliaçãobem diferente, e a gente foge um pouco em quesitos que eles avaliam, então, édifícil. A gente gostaria de estar mais bem avaliado, mas vai ser difícil a gente sermelhor avaliado na Saúde Coletiva, por exemplo, porque nem as revistas que agente considera de excelência conseguem uma nota máxima, então, nosso olharmesmo é para a área de História, Sociologia, de Educação, que é bem importante,este ano entramos numa área nova que avaliou a gente e foi a Arquitetura. Cá entrenós, eu não entendi muito bem como foi parar lá, mas foi bem avaliada. E dependemuito da dinâmica de cada área. A gente foi bem avaliada em Direito também, seme perguntarem, até dei uma olhada nos artigos que a gente andou publicando paraver se algo ou alguém importante que a gente tenha publicado na área de Ética eque tenha uma interface com Direito, não sei, às vezes aparecem umas áreas que agente fica um pouco surpreso, mas as principais áreas, a gente tem conseguidoboas notas. Tem a área de Ciências Ambientais, que foi interessante a genteconseguir também uma boa nota nos últimos tempos. A1 nós somos em História,Sociologia, Interdisciplinar que falta atualizar (eles ainda não divulgaram) eEducação. São as quatro áreas que a gente recebe A1. O que a gente já viu que foiatualizado, em História a gente continua com A1, Sociologia com A1, Interdisciplinarnão divulgou ainda, e Ensino ou Educação (estou na dúvida) a gente tem A1.

Qual é o público-alvo da revista?Eu diria que estamos satisfeitos.

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Pode continuar na pergunta anterior que você não terminou e eu te cortei.Desculpa.Não, não. Eu falo muito. É bom você me cortar mesmo. Vamos lá para o público-alvo. Estudantes de pós-graduação de História, Ciências Sociais, Antropologia, áreade Saúde, área médica com uma interface com a Psiquiatria, que a gente tem muitacoisa, então, o aluno de pós-graduação dos mais diferentes cursos. Pesquisadores,obviamente, das áreas que a gente publica, é uma revista dedicada mesmo,direcionada para um público de pós-graduação, vamos dizer assim. De Museologiatambém, a gente tem divulgação científica na revista, então, é esse o público. Euacho que a gente diversificou esse público nos últimos tempos, eu atribuo isso, emparte, para as ações de divulgação que a gente tem feito. Mas é um públicoestudante e pesquisador.

E você tinha comentado que vocês já acompanham, faz parte da sua rotinaacompanhar as estatísticas de acesso da revista. Quais são as principaisestatísticas que vocês costumam acompanhar?A gente tem as estatísticas de acessos aos artigos que a gente acompanha pelosrelatórios do SciELO porque os textos que a gente publica e edita estão todosdisponibilizados pela plataforma SciELO. Então, a gente acompanha as estatísticaspor lá. A gente tem um índice pequeno, mas que é possível de ver, de acessos noPortal de Periódicos, mas que jogam os acessos dos artigos para o SciELO. Oacompanhamento dos artigos, carta do editor, são feitos com as estatísticas dadaspelo SciELO. Esse é o nosso acompanhamento principal.

E a gente vai entrar agora no bloco de internacionalização.

Bloco 3 – Internacionalização: Como você avalia os critérios de internacionalização para indexação epermanência na base SciELO? Como a revista está se adequando a essescritérios?Olha, Kátia, na verdade, a gente já cumpria esses critérios. A revista passou atraduzir os textos, a demanda para tradução dos textos, vou pegar o que é maisóbvio dos itens da internacionalização que foram propostos pelos critérios SciELO. Atradução dos textos do português para o inglês é algo que a gente já vinha fazendodesde 2006. Então, isso a gente não precisou mexer, a gente já fazia. O critério deter o corpo editorial com a composição externa, a gente também já tinha. A gentetem um editor, que agora é um editor que está entrando na estatística comobrasileiro, mas ele é peruano com uma experiência internacional incrível. Elecomeçou a trabalhar com o Jaime antes de assumir a editoração da revista

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propriamente, junto com o André, são os dois editores científicos que a gente temhoje. Eu estou me referindo ao Marcos Cueto, que é peruano e tem uma circulaçãointernacional gigante, especialmente na América Latina. E quando o André e oMarcos entraram, a gente já fez outra reformulação do nosso conselho editorial,incorporando mais editores latino-americanos, que é um processo natural, temaumentado a submissão de textos latino-americanos, eu diria de espanhóis, porquea gente teve uma quantia de textos considerável de espanhóis, então, do idiomaespanhol. Então, a gente tem recebido um incremento de textos do espanhol e issoé reflexo de estudos, de parcerias, eu acho também. E muita coisa veio com oCueto. Então, a gente reformulou o nosso conselho e ele já atendia aos percentuaisdo SciELO, passou a atender mais ainda. A gente trocou, fez uma renovação, agente tem participado de latino-americanos que a gente incluiu, então, se eu tedisser que a gente já fazia ações nas redes sociais, a gente já tinha um programa euma ação, um plano de atividades para divulgação da revista. Então, vou te dizerque o impacto desses novos critérios, especialmente do SciELO para a gente, elenão foi muito considerado. Porque a gente já atendia. Na verdade, eles legitimaramações, ajudou a legitimar ações que a gente já praticava: tradução dos textos, umconselho editorial mais diverso e um plano de ação para divulgação da revista nasredes sociais, vamos dizer assim. Eu nem gosto muito de falar em redes sociaisporque eu acho que vai além disso. Eu acho que é um plano de divulgação darevista. A gente usa as redes sociais porque é hoje o que temos de maisinteressante, eficiente, que a gente está vendo resultados mais interessantes, vamosdizer assim. Então, desde que a revista nasceu, ela tinha um plano de divulgação.Sempre teve uma preocupação com isso. Ele foi organizado, colocado no papel esistematizado, vamos dizer assim, aproveitando muito do surgimento das redessociais e, consequentemente, dos ganhos com a altmetria que a gente pode ter comesse investimento. Então, assim, respondendo bem diretamente à sua pergunta:esses critérios novos tiveram um impacto pequeno, não tiveram um impacto grande,na nossa rotina, sobre o que a gente já fazia. A gente luta com outras questões,como diminuir o tempo de publicação, a gente vem acompanhando o fast track, queé a publicação do artigo imediatamente e com parecer aberto. São outros desafiosque a gente tem acompanhado, mas os critérios que o SciELO estipulou noscritérios dele, de uma certa maneira, a gente já obedecia. Então, não vou dizer quefoi fácil porque é sempre bem difícil a gente cumprir com tudo, mas a gente já tinhauma rotina que atendia.

Você considera a revista que editora internacional, nacional ou regional?Eu acho que a gente pode considerar internacional. Uma revista internacional,nacional e regional. Mas acho que a gente conseguiu entrar, o nosso processo deinternacionalização tem avançado. E quando eu falo em internacionalização, euestou falando muito de América Latina. Acho que a gente precisa olhar mais emelhor para a América Latina e é o que a gente tem conseguido fazer e é o que a

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gente tem percebido que tem dado resultado. A gente tem publicado bastante coisaem espanhol e conseguiu entrar nessas redes latino-americanas. O workshop foiuma diferença muito importante e interessante para a gente, até mesmo paraconhecer editores de revistas vizinhas da gente e que tem uma realidade parecida,uma realidade de ciência feita em acesso aberto também com recursos financeirosmais apertados, isso faz com que a gente se aproxime. O Brasil tem umapeculiaridade, nossa ciência é produzida, é majoritariamente abertamente, apesardos últimos números terem mostrado um certo encolhimento disso. Mas eu acho quea gente pode dizer.... Eu fico meio assim, eu acho que é internacional, mas tem umolhar para o nacional e para o regional. Não respondi à sua pergunta direito. Mas agente pode sim classificá-la como internacional. A gente está bem avaliada,conseguiu entrar em indexadores internacionais importantes, a gente acabou deentrar no comitê de ética internacional das publicações, todas as revistas da Fiocruzagora fazem parte, que é um reconhecimento importante, então a gente pode dizerque é internacional.

Quais os elementos que a tornam internacional?Bom, eu acho que a gente tem uma estrada de um tempo. Nos últimos tempos,parcerias, convênios, participação de editais e estou citando a Welcome Trustmesmo externos, participação de pesquisadores em nosso corpo editorial, temosenviado muitos textos para pareceristas externos, principalmente latino-americanose espanhóis. A gente tem a barreira do idioma, isso é um dado, mas, como a gentetem recebido muita coisa em espanhol, a gente manda para fora e a gente tem aideia de mandar um texto traduzido para o inglês antes dele ser enviado para oparecer, para mandar justamente para um parecerista estrangeiro ler e avaliar noinglês, esse é um planejamento que a gente tem, mas eu acho que um corpoeditorial mais diverso e que receba os textos, avaliem, isso contribui. Acho que atradução dos textos ajuda, nós temos feito números com temáticas, publicamos umnúmero sobre eugenia que é uma temática bem universal, fizemos uma divulgaçãoimportante desse número. Eu acho que a divulgação contribui sim, de forma tímidaainda, mas eu tenho certeza de que a gente não chegaria a leitores que a gentechega hoje se não fosse pela divulgação web que a gente faz, estou convencidadisso, ainda que os dados e resultados do acompanhamento disso sejam tímidos.Mas isso, mesmo eu dizendo que empiricamente eu não possa te provar isso emdados, ainda não, mas eu tenho certeza de que a gente chega a leitoresestrangeiros que a gente não chegaria se a gente não estivesse fazendo as açõesque a gente faz de divulgação. E por que eu digo isso? A gente acompanha acessosde países, e o Facebook tem uma dinâmica que permite a você marcar as pessoasque estão pesquisando aquele assunto, e isso virou um filtro cada vez mais, se vocêentrar na nossa página, você vai ver gente marcando para ler isso, gente de fora,latinos americanos e, às vezes, de língua inglesa em menor escala. Mas os latinosamericanos indicam “Olha esse artigo que saiu”. No Twitter, teve um diretor de

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universidade inglesa “Olha esse tema que a gente está vendo e foi publicado emuma revista latino-americana com pesquisador nosso.”, e outra pessoa comenta e“retuita”. Então, a gente não chegaria a esse público ou demoraria para chegar.

A revista sempre foi internacional? Sempre teve esse viés para praticar essasações?Olha, a gente sempre teve a preocupação de buscar novos indexadores, traduçãodos textos em 2006 foi com esse objetivo, embora a gente saiba que a tradução porsi só não é suficiente, exige a diversificação do corpo editorial, como estou tedizendo, à medida que a própria instituição vai fazendo parcerias institucionais, issoajuda a divulgar a revista, é um conjunto de ações. Da nossa parte, a gente sempreteve essa preocupação.

O que motivou?Entrar nas redes sociais, também foi, se você olhar, o nosso projeto original foipensando na internacionalização da revista, por isso que a gente criou em um outroidioma, a gente chama de blog internacional porque publica tanto em espanholquanto em inglês, então, foram essas mudanças que a gente fez pensando nainternacionalização. Então, sim, a gente sempre teve em mira isso a partir de umdeterminado momento. É claro que, quando a revista surgiu, em 1994, se almejavadiscutir com comunidade de vários lugares, mas ainda, no início, e um pouco peloperíodo que ela foi criada, o contexto era um pouco diferente, mas também com apreocupação de estar em bons indexadores internacionais. A preocupação sempreesteve presente.

Como a internacionalização modificou o processo editorial da revista? (Ex.:revisão dos textos em inglês, pareceristas estrangeiros, custo, etc.). Como aequipe está resolvendo essas questões, como conseguir pareceristasestrangeiros, por exemplo?A gente tem submissão online, então, boa parte do processo se dá ali. A gente temtido que se adequar, e aqui estou me referindo também ao idioma, nós temos umeditor que é bem internacional e que trouxe muita gente dessa área. A gente nãotem muito problema com pareceristas. Muitos são espanhóis ou latino-americanos,então, o espanhol domina. O de inglês, o processo de submissão online é todo eminglês, então, isso facilita para quem já está acostumado a usar essa ferramenta. Odesafio é mesmo o idioma para a gente responder rapidamente, a gente tem váriosrecursos, modelos de cartas para quem é da equipe da secretaria, o Marcos éfluente e também responde. Eu respondo na medida do possível. André respondebem. Então, o desafio do idioma é o maior para a gente mesmo.

Quais são os desafios atuais para a revista?

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Eu acho que o desafio sempre será orçamentário. A gente contornar cortes. A genteficou sem o financiamento de uma agência que vinha dando dinheiro, que era aFAPERJ, abrindo editais para periódicos científicos e isso não aconteceu. Não temacontecido. A Capes e o CNPq foram reduzidos, se dividiram. Foi confuso. A própriainstituição teve um corte orçamentário, estou falando da ordem prática, orçamentáriae desafio no campo do periodismo científico de acompanhar inovações. Como é quea nossa área, e estou falando da área de Humanas, como que a nossa área enfrentaesse processo de internacionalização, de artigos que falem com o nacional e ointernacional, inovações, como a de investir em redes de divulgação da revista, dagente manter isso, aprimorar isso, é um desafio para a gente. Aprimorar as ações,aprimorar o acompanhamento das métricas, dos resultados, melhorar a nossaindexação. E eu tenho, não só eu como o André e o Marcos, a gente temacompanhado de perto a questão dos pareceres abertos. Essa mudança que agente tem visto em algumas áreas e é difícil aplicar isso na área de Humanas. E ademanda por publicar mais rápido, esse é um desafio maior, tratando-se de umarevista da área de Humanas, com tempo de citação, de depuração do produtocientífico, da pesquisa científica de um modo diferente. Tem desafio para dedéu!

Agora, para a gente entrar no nosso último bloco, para entender melhor sobrea divulgação científica que a Manguinhos faz.

Bloco 4 – Divulgação da revista científica:

Como a revista divulga as novas edições das revistas científicas? Como é feitaessa divulgação da revista?A gente tem um planejamento prévio a cada edição que vai ficar pronta. Olhando oconjunto de textos, alguns que a gente acredita que vai ter uma repercussão, uminteresse, a gente faz uma aposta maior no internacional, outros de âmbito maisnacional. Aí, a partir disso, a gente seleciona os textos e divide esses textos para agente trabalhar, uma parte a gente vai para editoria, vai para o blog nacional, a outravai para o blog internacional. E aí a gente produz press release, que é feito pelaassessoria de comunicação da unidade em que a gente está, que é a Casa deOswaldo Cruz, o jornalista da unidade sempre produz um release para a gente.Manda para as instâncias da Fiocruz de divulgação também. A gente tem um passoa passo interno que a gente tem o Portal de Periódicos e a Agência de Notícias daFiocruz. Traduz esse release para o inglês ou para o espanhol, no geral a gente fazpara o inglês. Aí a gente publica a veiculação desse release com a capa, que agente sempre faz uma programação visual diferente para cada edição. Então, opontapé costuma ser a divulgação dos releases nas duas frentes, nacional einternacional. E a partir do release a gente vai divulgando os artigos. E a divulgaçãodos artigos é feita de que maneira? Se o autor tem disponibilidade, alguns autores a

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gente entrevista por e-mail, publica no blog, Facebook e Twitter. Eu sou mais fã doTwitter, então a gente vem se movimentando para fazer ações mais fortes nessarede, é difícil trabalhar com ela. Mas a ordem é blog, Facebook, Twitter. A partir doartigo, fazemos a produção de uma matéria que seja ou um pequeno release, muitasvezes a gente pode aproveitar o autor mandar, ou a jornalista faz uma entrevista.São essas três categorias para uma divulgação, de acordo com o texto. Aí, a gentecomeça a divulgar, mandar para o Twitter, Facebook, Portal de Periódicos daFiocruz que compartilha também, aí as ações começam a serem replicadas,disseminadas, vamos dizer assim. Então, é a escolha prévia dos artigos que a gentevai entrevistar e produzir matéria e depois cada blog.... Nem tudo o que a gente fazpara o nacional está no internacional e vice-versa. Nem todas as matérias que agente divulga para o nacional estão no internacional. A gente está experimentandoações de divulgação diferentes. Acabamos de gravar um vídeo com um editorconvidado de um número. A gente teve três experiências bem interessantes comvídeo e que foram bem recebidas. A gente decidiu investir e, ao longo deste ano,vamos fazer alguns vídeos com autores e editores convidados. Então, a genteacabou de gravar um vídeo que deve ser lançado daqui a pouco. A dinâmica é essa.

Como essa divulgação tem impactado a revista? E já vou incluir mais umapergunta. E como que ocorreram as mudanças de atividades da equipeeditorial? Você menciona as duas jornalistas que trabalham no blog nacional einternacional, como é o vínculo delas? Elas não foram mencionadasanteriormente como membros da equipe formal.Olha, impactou de tudo quanto é maneira. Eu diria que estamos impactados atéhoje, o impacto só cresce. De trabalho, de orçamento, de demanda. Porque aí,começou em várias frentes, impacto de trabalho meu e do meu cotidiano direto. Doseditores, que temos que pensar nessas edições. Este ano vamos trabalhar comcalendário externo, com calendário de datas importante para área de Saúde, vamosfazer uma ação para cada uma dessas datas importantes que tem relação comtextos que a gente publicou, óbvio. Então, é um impacto de tempo no conjunto deatividade meu. Orçamentário, institucional, a gente passou a ser referência, então,duas semanas atrás, a gente foi procurada por uma equipe da presidência daFiocruz porque ia ter uma ação de cientistas sociais sobre Zica, que é algo que estárelacionado à revista porque a gente publica temas próximos, a coordenadora épresidente da Fiocruz hoje, é uma cientista social, e a gente recebeu uma demandaque era uma demanda para o blog. Então já virou.... E a gente teve o cuidado defazer, produzimos uma matéria que, daqui a pouco, vai sair online, foi um eventointeressantíssimo, com gente de fora participando, foi em inglês o evento. Vamosproduzir isso para o blog internacional, que tem uma carência grande de material emoutro idioma nesse tema, então, a gente vai produzir e linkar com coisas que a gentejá divulgou. Então, isso é uma demanda que meio que fugiu da produção da revista,a gente tem a toda hora tomar cuidado “Bom, a gente vai fazer essa ação, mas isso

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tem um impacto para leitores da revista? Ah, isso tem e a gente pode ‘linkar’ comtextos que a gente já publicou. Então, ok, vamos fazer”. A gente tem uma demandahoje que é de todas as frentes. De tempo, de planejamento da equipe, de demandade fora, que aí é a instituição solicitando que a gente faça uma parceria para publicaroutras ações que tenham a ver com temas que a revista publica, a questãoorçamentária que a gente paga essas jornalistas por trabalho, por produção, freela,vamos dizer assim. Elas estão sempre produzindo, então, estou sempre pagandocom recursos do CNPq, porque a gente colocou isso no projeto, ou mesmo comrecursos da instituição, e a gente fica dividindo isso. Então, tem um impactoorçamentário, a gente não conseguiria tocar isso sem a ajuda profissional dessasjornalistas, e eu acho que tem essa diferença de terem a formação mesmo, detrabalharem com a informação de uma forma diferente da nossa, e tem sito umimpacto hoje, não hoje, nesses últimos por nós sermos referência para falarmos emvários lugares. Ano passado a gente meio que se dividiu. A gente teve o workshop, agente apresentou trabalho, isso fez com que a gente pensasse em questões maisconceituais, vamos dizer assim. Então, a gente organizou o workshop, teve umaárea que a gente dedicou para divulgação científica, teve aquela mesa, a gente foichamada.... Eu fui dar um curso na ABEC (Associação Brasileira de EditoresCientíficos), num workshop em uma universidade no Sul, que eu fui até substituindoa Germana Barata. A gente foi chamada, eu fui dar uma aula na pós-graduação doIBICT sobre a nossa experiência, enfim, convite para eu fazer parte da editoria deconteúdo do Portal de Periódicos da Fiocruz também foi por conta disso. MarcosCueto foi convidado a falar em outro evento sobre a experiência da revista com adivulgação. O André, em outro evento, em São Paulo e em Florianópolis. Então teveum impacto em todas as frentes. Até um pouco na secretária editorial porque agente começou a pedir para os nossos autores para, quando o artigo fosseaprovado, que eles encaminhem um release pequeno sobre o texto. Então, teve umimpacto considerável.

E a equipe formal se divide para cumprir todas as atividades, pelo que vocêestá me dizendo?Isso. Na verdade, essa parte da divulgação ficou bastante comigo, de planejamento,sempre, claro, atuando com os editores científicos, mas eu coordeno mais de pertojunto com o Camilo. As jornalistas não estão na revista, elas trabalham de fora. E agente tem um jornalista institucional que faz esses releases e vem trabalhando cadavez mais e nos ajuda a divulgar a revista, que é o Glauber. Algumas matérias ele fazsobre textos com a gente, é com ele que estamos fazendo a parceria de gravaçãodos vídeos.

Por curiosidade, são vídeos presenciais mesmo que vocês estão preparando?A gente começou com vídeos presenciais, convidando autores que estejam no Rioou de passagem no Rio. A gente fez um muito interessante de história da psiquiatria

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publicado pelo Fernando Tenório110, fez um falando da revista com o Marcos e oAndré111 e a gente vai publicar um agora com o Robert, que foi editor convidado donúmero sobre Eugenia. São vídeos presenciais e a gente está gravando na própriaredação da revista, mas com uma câmera profissional, uma coisa mais bacana, aideia é a gente ir aos poucos profissionalizando, tem umas vinhetinhas, não sei sevocê já viu o que a gente produziu, são curtos, mas tem uma amostra aí e a ideia,quem sabe, se isso der certo, é a gente começar a, de repente, gravar com gente defora. Mas a gente ainda não tem como fazer isso para ser uma coisa legal, a genteprecisa de uma estrutura, que hoje a revista não tem.

E das estratégias que a revista adotou na divulgação científica, quais quevocês observam que têm apresentado mais resultados positivos e por quê?Estratégias para divulgação, sem dúvida, é a produção de um conteúdo próprio.Entrevistas, o próprio vídeo que a gente gravou, a produção de um conteúdodirecionado e específico faz muita diferença. Ou uma matéria, linkar com temasimportantes com a atualidade, chamar alguém para falar sobre aquele tema earticular com o artigo. Traz muito resultado. Porque é algo que a História, e eu possofalar de cadeira, sinto-me à vontade porque eu venho da História, é algo que aHistória não fazia. A gente trabalha com temporalidades, demandas um poucodiferentes, então, a gente como editora, como quem vem da área de História, émuito interessante perceber, conseguir ver quem está acessando, quem está lendo,ter esse retorno de público e poder fazer um diálogo mais dinâmico daquele textoque está sendo publicado com autor escrevendo e respondendo perguntas maisgerais, que ajudam a dar uma introdução para ler o artigo. Acho que essa ação deprodução de conteúdo próprio e, obviamente, divulgar isso no Facebook, que é umaajuda e tanto. Acho que é uma ação de muito êxito, vamos dizer assim.

E você tinha comentado que com a divulgação científica você percebeu que foimudando um pouco o público leitor. E eu queria que você comentasse umpouco sobre isso. Mudou como? Como foi essa percepção sua?Então, acho que tem que tomar cuidado quando fala que mudou. Na verdade, antesda divulgação a gente tinha uma visão embasada sobre quem lia. A gente sabia queera estudante de pós-graduação e a gente apostava que era da área de história eciências sociais. Quando eu falo que mudou, acho que a gente conseguiudiversificar. Acho que talvez tenha mais gente da área de saúde lendo a gente, maisgente da área de antropologia ou de ciências sócias, mais gente de outrasinstituições de história. Acho que a gente teve uma diversificação. Algumasmatérias, a gente consegue chegar a atingir um público não tão específico,estudante de pós-graduação, mas tenho minhas dúvidas se esse público chega noartigo para ler, porque nossos artigos são densos e a maioria vai interessar a um

110 https://www.youtube.com/watch?v=pbi3SXMcRiE (Acesso em 7 de maio de 2017).111 https://www.youtube.com/watch?v=xnYpUfc-H2I (Acesso em 7 de maio de 2017).

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público muito específico, talvez a divulgação seja a porta de entrada para aqueleartigo, para aquele tema, uma introdução. Mas eu diria que a minha percepção, empensar em como a gente pode aferir isso de uma forma qualitativa, vou conversarcom a Germana e você sobre isso, sobre como a gente pode aferir isso, de umaforma mais precisa, se é que.... Estou usando precisa, mas precisão a gente nuncavai ter. Mas a sensação que a gente tem, principalmente eu que fico todo diaolhando, pelas marcações de pessoas no Facebook ou replicações no Twitter, euacho que a gente diversificou um pouco o público. Está chegando também umpúblico que está sendo formado de um jeito diferente, mais dentro desse universo deredes social e recursos sociais, acho que isso, na história, é preciso olhar para isso.Tem a história digital trabalhando essas questões. Então, eu diria que diversificou.Acho que a gente conseguiu chegar para mais disciplinas. É a sensação que eutenho. Talvez esteja conseguindo intensificar a relação com a história em cursos dehistória mais espalhados, digamos assim.

Vocês têm um feedback dos leitores sobre essas ações que vocês estãoinvestindo? Essa percepção vem pelos comentários? Aumentos desubmissões? Como vocês percebem o retorno dos leitores?Olha, aumento de submissão a gente tem, mas não sei se a gente pode relacionar jácom essas ações nas redes. Acho que a gente ter adotado o modo de submissõesonline é que pese mais no aumento de submissões. Eu não sei te dizer ao certoesse ponto. O acesso aos artigos, alguns textos a gente observa mesmo umaumento, picos quando a gente divulga. Alguns mantém uma constância. Eu achoque sim. Acho que a gente pode dizer em um número que aumento de acessos aosartigos, chegar aquele texto. Isso aumentou. Se isso já se traduz em citações e quetipos de citações, a gente vai começar a olhar para isso e ver se teve de fato. E verque tipo de citações. Um texto que tenha sido usado muito em uma pós-graduação,não vai ter citação, mas vai ter repercussão. Acho que para citação que é o filé quea gente fica sempre pensando, eu não saberia dizer se de fato a gente já tem umimpacto. Mas de circulação da revista e de acesso a mais gente econsequentemente a um aumento dos acessos aos artigos, sim. Eu não sei dizer,talvez você e a Germana possam fazer essa relação com mais propriedade do queeu. Se por exemplo, se a gente ter sido uma das revistas mais acessadas em umuniverso de histórias de humanas, se as investidas que a gente fez na divulgação,se tem relação. Pode ser que tenha. Fico com um pouco de receio de afirmar isso.Tendo a achar que contribuiu, mas pode ser que outros fatores também. Nãosomente estes, entendeu?

Entendi. E você tinha comentado que antes de vocês montarem o projeto dasredes sociais, vocês já tinham ações de divulgação científica. Que ações seriaessas exatamente?

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Quando eu cheguei na revista, a gente tinha como praxe, e eu estou falando do finalda década de 90, a editora era uma jornalista de formação e a cada número ela faziaum release e mandava para os jornalistas de ciência dos principais jornais. Canseide escrever para Caderno +, Folha de S. Paulo, Estadão.... Mapeava, acompanhavaas editorias de ciência para mandar para o jornalista específico. Ligava pedindocontato. Durante muito tempo eu fiz esse trabalho com ela. Então, a cada edição, agente pegava o release e mandava com a revista para o jornalista. Eu acho que issoé um trabalho de divulgação, mesmo a gente não tendo formalizado, a gente tinhaessa dinâmica. A gente fazia o release e mandava para as editorias na expectativaque pudesse sair em algum caderno indicando a revista, que era o jeito que a genteachava que ia ter visibilidade na imprensa, vamos dizer assim. “Ah, a gente estápublicando um número, será que a editoria de ciência não vai querer divulgar? Vaidivulgar nosso lançamento?”, mais ou menos por aí.

A divulgação da revista está mais relacionada à busca pelainternacionalização, como você mencionou que acredita nisso, ou na buscapor visibilidade nacional? Ou por ambos? Como ocorre essa relação paravocê?Olha, eu costumo dizer que o desejo maior para o editor de revista é que o seuperiódico esteja na boca do povo, do povo significa quem está pesquisando na área.Então, objetivo é a visibilidade nacional que a gente acredita que tenha, até pelaestrada de tempo que estamos aí, pelas avaliações no Qualis, acho que no campoque a gente está, temos bastante visibilidade. Continuamos preocupados em mantê-la. Hoje, o carro-chefe, vamos dizer assim, é fazer com que a gente vença a barreirado idioma e circule com maior intensidade e atraia também com maior intensidadepesquisadores estrangeiros. Portugueses, africanos, latino-americanos, ingleses,americanos, enfim, a preocupação é mais hoje com o cenário internacional. NoNacional a gente tem o cuidado de manter, sempre olhando e acompanhando. Odesafio é o internacional.

Entendi. Do meu roteiro que montei com a Germana era isso. Você tem maisalgum comentário que não discutimos sobre a revista?Olha, não sei. Pensando em linhas gerais a gente falou dos principais desafios, tantoda revista para a área de publicação quanto na área de divulgação. A gente estácom ações novas na área de divulgação, a gente está com mais uma ainda, aviso.Acho que vai ser bem legal, já que não dá para fazer parecer aberto, vamos tentaruma outra coisa que acho que possa ser interessante.

ANEXO 8

Mana - Entrevista Semiestruturada

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Revista científica: Mana: Estudos de Antropologia SocialAtual editora-chefe: Renata de Castro MenezesData da entrevista: 06 de abril de 2017Áudio com duração de: 0h49min

Bloco 1 - Perfil da entrevistada:

Qual foi o seu último título acadêmico e ano de obtenção?Vocês contam pós-doutorado?

Sim.Foi o estágio sênior de pós-doutorado, em 2006.

Em que área e universidade obteve último título?Na New York University, na área de Antropologia da Religião.

Quando assumiu o cargo de editora?Em janeiro de 2016.

Foi a primeira vez no cargo de editora da Mana?De editora-chefe, sim. Nós também temos um conselho de três professores queficam junto ao editor-chefe. Eu já era desse conselho quatro anos antes de assumira editoria.

Entendi. E a senhora já editorou alguma outra revista científica?Eu também fui editora até janeiro de 2017 da revista Religião e Sociedade112, quetambém é uma revista A1 no Qualis Capes.

E quanto tempo a senhora dedica semanalmente à editoração da revista?Em torno de 10 horas por semana.

E entre as suas funções, quais são as atividades que a senhora exerce comoeditora?Olha, nesse momento que a gente está com um problema de uma crise financeira(nós não só, o país), a gente teve que reescalonar algumas atividades que asecretária, assistente editorial, que fazia. Então, por exemplo, eu tive que assumiralgumas atividades além das normais. Primeiro, eu dou aprovação final de todos osartigos, eu estabeleço a quantidade de pareceres para cada artigo, se eu preciso demais pareceres para poder deliberar ou se está suficiente.... Eu estabeleço umpouco com a qualidade do artigo e a qualidade dos pareceres. Eu indico

112 http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_serial&pid=0100-8587&lng=en&nrm=iso (Acesso em 9 de maio de 2017).

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pareceristas com apoio, justamente, dessa comissão editorial que trabalha comigopara a gente poder encontrar pareceristas para os artigos. Eu aprovo resenhastambém. Eu penso na montagem de cada número com apoio dessa assistenteeditorial, que trabalha comigo. Trabalha com a gente e ela, justamente, é quem maisentende da revista porque ela é nossa assistente há mais de 10 anos. Então, comapoio dela, eu estudava a montagem de cada número. O que mais que eu faço? Eusupervisiono o trabalho dela, da assistente editorial, e o trabalho da revisora, dostradutores quando é o caso, e do diagramador, que é a mesma pessoa responsávelpor encaminhar a revista para o SciELO. Até 2016, a gente também tinha a questãoda impressão da revista que, no caso, era o editor que também dá a palavra final.Não é que a gente faz a parte braçal, não é isso. É que a gente, digamos assim, dáa palavra final dos processos, entendeu? E abriu uma parte também que aassistente editorial que fazia até 2016, que eu passei a fazer, que é a parte deelaboração de projetos de financiamento, abertura de conta bancária e elaboraçãode relatórios.

A senhora mencionou que já participou do corpo da revista antes. E a senhorapode comentar um pouco mais sobre as outras experiências de editoração equanto tempo ficou em cada cargo?Olha só, desde 2006, que é desde que eu entrei no programa, eu sou do conselhoeditorial ampliado da revista. Esse conselho ampliado são os professores do PPGASque fazem parte da revista, do programa e, nesse caso, a gente tem com certezauma reunião anual para fazer um balanço do ano e pensar a revista para o anoseguinte, então, a gente tem ao menos uma reunião anual. E, eventualmente,quando a gente precisa tomar alguma decisão, seja sobre a identidade visual darevista, seja do perfil, a gente faz uma reunião extraordinária com esse conselhoampliado. Então, esse conselho é composto por cerca de 18 a 20 professores, quesão do programa. Além desse conselho, a gente tem essa comissão editorial, quetrabalha junto com o editor, e que agora são três professores. Desse conselho, se eunão me engano, passei a fazer parte dele em 2012. As atividades desse conselho édar conselho mesmo. Por exemplo, se o editor fica em dúvida de qual pareceristaseria melhor para tal artigo, pede conselho. Se o editor, especialmente porque arevista é de Antropologia no geral, não é uma revista de temática específica, a gentenão trabalha com dossiês, esse conselho trabalha como uma espécie deespecialização dentro da própria Antropologia. Por exemplo, se eu tenho algum textode etnografia indígena, eu pergunto para alguém do conselho que seja etnógrafo seo texto é pertinente ou não para fazer uma triagem inicial e para quem eu poderiaencaminhar pareceres. Então, também é uma das características dessa comissãoeditorial mais próxima é ter especialidades diferentes que possam colaborar nadecisão final do editor-chefe ou alguma dúvida em relação ao mercado internacionalde publicações científicas, porque são colegas que circulam em diversas áreas,diversos países, alguns mais próximos da França ou Estados Unidos e Grã-

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Bretanha, então, a gente tenta pensar um pouco a nossa revista dentro dessemacro, não só no cenário nacional, mas no cenário antropológico mundial. Deconferências, quem está publicando o quê, quem está pesquisando o quê, como quea gente pode dinamizar a revista, etc. Então, dentro desse conselho, a gente temuma preocupação.... A revista tem 20 anos e o programa faz 50 anos, então, umadas preocupações da revista é que ela viabilize uma transmissão hiper geracionalentre os professores do programa, entendeu? Então, a gente tem sempre apreocupação em ter o editor sênior com professores mais jovens que vão sendosocializados na dinâmica do programa, na dinâmica da Antropologia mundial atravésdesse trabalho conjunto, através do diálogo. Então, a gente geralmente tem o sêniore pessoas de faixa intermediária na carreira e tenta agregar alguém mais novo paratentar fazer essa formação continuada, vamos dizer assim, dos próprios professores.Uma certa transmissão do conhecimento e do modo de operar a revista. E a pessoaque era mais sistemática e ficava mais tempo, justamente era a assistente editorial,que era uma pessoa que tinha mestrado em Antropologia, mas ela tinha umaespecialização em editoria científica e estava se profissionalizando nessa área deeditoria científica, então, ela garantia também as práticas de trabalho da revista. Seos professores circulavam, digamos assim, eu fecho meu mandato no final de 2017e vou passar para outro professor, provavelmente, dessa comissão editorial, eu fiz ociclo de seis anos na revista. Quatro anos nessa comissão editorial e dois anoscomo editora-chefe. Então, isso me dá uma certa visão do que é a Antropologiabrasileira, o que é a Antropologia mundial e como ser editora na área deAntropologia. Bloco 2 – Perfil da revista científica:

Quantas pessoas da equipe editorial atuam semanalmente na revista?Nesse momento, eu e a assistente editorial.

No momento, duas pessoas.Isso.

E quais as origens do financiamento para manter a equipe editorial e apublicação da revista? Como funciona esse financiamento? Por financiamento público. O financiamento vem da Capes, CNPq, FAPERJ e URFJ.

A revista participa de quantos editais por ano, em média? Três. Dois a três. Em média, dois. Agora, excepcionalmente, três.

E como a senhora considera a margem de segurança (estabilidade) para apublicação da revista?

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Até o processo de impeachment, não tinha nenhum problema. Até a crise que foiinstaurada no governo Dilma, não que o governo Dilma instaurou, foi instaurado nogoverno Dilma, a revista em 20 anos nunca tinha tido nenhuma descontinuidade.

Teve alguma descontinuidade nesses últimos meses?Não, não, não. Nesses últimos meses, não, uma descontinuidade na parteeletrônica, mas descontinuidade na parte impressa.

Qual é o custo médio de cada edição?Eu não estou contando o meu salário, eu sou funcionária pública e isso faz parte dasminhas atividades, mas eu acredito que esteja em torno de 15 mil reais.

O quanto os estratos do Qualis Periódicos interferem na editoração da revista?Faz parte das metas da revista sempre atingir os estratos mais altos? Comofunciona? Olha, eu acho que a revista foi criada antes do Qualis. Não sei quantos anos oQualis tem. Mas a revista tem 20 e poucos. Na verdade, a nossa preocupação não écom Qualis, não é diretamente relacionada ao Qualis. O que falta à nossa revista é opadrão das revistas internacionais de Antropologia. O Qualis, para a gente, é umaconsequência disso. A gente tem uma missão de publicar artigos originais deAntropologia, inclusive, originais de pesquisadores internacionais que a gente pedepara publicar originalmente em português. A gente se encarregava da tradução. Anossa missão era essa. A nossa missão se encarregou em publicar também emespanhol pelas relações que o programa tem no Mercosul, na América Latina comoum todo, na verdade. E o Qualis para a gente é muito importante, porque ele é umreconhecimento do trabalho que a gente faz, mas a gente não se pauta pelo Qualis.A gente acredita que o Qualis é uma consequência de a gente investirmassivamente há cerca de 50 anos em produção de Antropologia de ponta. Ele émuito importante, inclusive, para os financiamentos. Então, a gente não é ingênuode achar que não importa, não é disso que eu estou falando. Estou querendo dizerque não pauta a linha editorial da revista.

Como você avalia o Qualis que a sua revista recebe atualmente nas principaisáreas?Eu acho ele justo. Acho ele pertinente.

E como a senhora considera que é o público-alvo da revista?O nosso público-alvo são antropólogos. Uma revista de Antropologia. Antropólogosbrasileiros e mundiais. Mas a gente tem uma área de abrangência, que a gente sabeque é maior, e que contempla Ciências Sociais e Ciências Humanas, no geral.Muitos trabalhos de Antropologia têm interface com outras áreas, por exemplo,questões de políticas públicas, questões de políticas higienistas, questões de

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saberes psíquicos, então, não é uma revista interdisciplinar, mas é uma revista deAntropologia, no sentido amplo, se relaciona com esses campos, questão de políticade segurança, etnografia indígena articula com divulgação de estudos sobre asculturas mais diversas. Então, por exemplo, agora que a gente descontinuou aversão impressa, a gente recebeu, a gente recebeu uma carta da Biblioteca doCongresso Norte-americano pedindo que a gente retome a publicação da revistaporque eles têm a nossa série completa. Apesar de sermos uma revista deAntropologia, a gente sabe que tem um alcance em um número muito amplo deáreas, não apenas de Antropologia.

Faz parte da equipe editorial acompanhar as estatísticas de acesso à revista eaos artigos?A gente faz esse acompanhamento, principalmente na hora de elaboração deprojetos. Porque a gente utiliza esses acessos como forma de argumentação juntoàs agências financiadoras, então, a parte dos downloads e das referências e anossa indexação em outros indexadores que não só o Qualis Capes são muitoimportantes para a gente dimensionar a importância da nossa revista dentro doBrasil e no cenário mundial para pleitear financiamentos.

Bloco 3 – Internacionalização:

Como a senhora avalia os critérios de internacionalização para indexação epermanência na base SciELO? Como a revista está se adequando a essescritérios?Na verdade, o que a gente tem em relação à base SciELO é que os critérios deindexação têm sido pautados pelas ciências hard, tanto a questão da avaliação denúmeros de artigos quanto a questão dos tamanhos dos artigos, quanto a questãodo tamanho de autores, quanto a questão de fascículos por anos.... São essênciashard que têm dado parâmetros para as exigências SciELO. Esse problema é umproblema extremamente sério para as revistas das áreas de Ciências Humanas,inclusive, eu tenho a impressão que essa revista que tem três revistas, é isso?

Isso.Eu tenho a impressão que as outras duas não são da área de Humanas, não é? Quevocê vai trabalhar.

A Manguinhos é de História da Ciência e a RBPI é de política internacional.Tá. Não, mas então, a gente avalia que esses critérios são completamentedesvinculados com a realidade da produção das Ciências Humanas, não só noBrasil, mas no mundo. O que tem sido um problema, não apenas no Brasil, mas emoutros países, que a ciência tem entrado em uma lógica quantitativa, numa lógica de

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produção de número de x artigos por ano, numa lógica de citações que é complicadaporque a gente sabe que, em Ciências Humanas, a gente cita até para ser contra apessoa, então leva uma quantificação de citações para um campo um poucocomplicado porque nas Ciências Hard você cita para incorporar a ideia, então,assim, tem havido uma articulação dessas revistas de Ciências Humanas em tornodos grandes congressos de Ciências Humanas no Brasil para a gente justamentediscutir como que o sistema SciELO está, em um certo sentido, desconsiderando aespecificidade de nossas revistas. Isso, tanto do ponto de vista dos índices exigidos,quanto do ponto de vista do formato exigido. O que eu estou chamando de formato?Não só o número de fascículos por ano, a periodicidade, mas o próprio fato dasubmissão online ou interferir no tipo de onde deve estar o título, onde deve estar osubtítulo, onde deve estar o resumo. Então, o nosso temor é que isso esteja criandouma pasteurização das revistas que vão acabar se transformando todas, vamosdizer assim.... Despersonalizando as revistas. Descaracterizando sua missão e perfilespecífico dentro das Ciências Humanas brasileiras. Há todo um movimento dearticulação em torno dessas revistas que está acontecendo em torno da AssociaçãoNacional de Pós-Graduação em Ciências Sociais para que haja portais alternativoscaso seja necessário, enfim, não, não de dar conta das demandas do SciELO, masnão dar conta dos critérios SciELO porque elas não estão se aplicando às CiênciasSociais. Mas, de qualquer forma, eu gostaria de enfatizar que esse lado crítico que agente faz ao SciELO, eu da minha parte pelo menos, é um tanto quanto delicadoporque, por outro lado, eu reconheço a importância absurda, enorme, excepcionaldo SciELO na divulgação da nossa produção. Então, assim, o SciELO é umaferramenta extremamente importante, eu diria para levar esse lado positivo na suaanálise, que não é só crítica, é poder ter artigos de ponta das melhores revistasbrasileiras para download gratuito em um momento em que o mercado internacionalestá sendo de revistas científicas concentrado na mão de grandes editoras, quecobram fortunas para que você possa baixar e imprimir um artigo. Toda a crítica quese faça ao SciELO, tem que se levar em consideração que o SciELO tem um papelfundamental na democratização do conhecimento. É uma questão de ambiguidade,de ambivalência. Não é uma questão de crítica apenas. É um sistema extremamenteimportante, faz a gente chegar aonde qualquer publicação impressa nossa não noslevaria, inclusive, porque as revistas científicas têm um problema muito grande dedistribuição, então o SciELO possibilita a divulgação do nosso trabalho, comopoucas ocasiões a gente teve antes disso. No entanto, eu acredito que seriainteressante uma abertura ao diálogo e acho que já há um processo nesse sentidode que o SciELO abra um diálogo com as Ciências Humanas. Para que, a partirdesse diálogo, a gente tente encontrar pontos de contato e de acordo para atender aessa demanda das especificidades das Ciências Humanas.

Entendi, professora. Então, no momento, a revista está atendendo a essescritérios, ela está resistindo? Como que é?

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A gente está atendendo a esses critérios, a gente atravessou um atraso no prazo,mas a gente negociou com SciELO, chamou atenção que foi um ano crítico, a genterealmente não tinha um tostão para pagar diagramador, a gente tinha que, dealguma forma, refletir no produto final da revista, mas que já está sendo sanadoporque os financiamentos estão voltando a chegar em nossas mãos. Então, a genteestá resistindo e atendendo a esses critérios. Mas sempre discutindo qual é o limitee tentando dialogar com SciELO para que esse limite seja discutido em conjunto.

A senhora mencionou que a revista deixou de ser impressa. Qual foi o anomesmo?Na verdade, ela está com impressão atrasada, oficialmente, ela não deixou de serimpressa.

Entendi, desculpa.Não, não. Essa é uma das coisas que a gente está discutindo. Porque não só tem aver com a crise, mas tem a ver com toda essa distribuição das revistas científicas.Então, é uma coisa que a gente já estava discutindo há um certo tempo. A genteachava que era importante manter a impressão pela questão das permutas comoutras bibliotecas e outras revistas. A gente tinha algumas assinaturas, a revistatinha assinaturas, mas, por outro lado, as tiragens de mil a dois mil exemplarestinham uma grande dificuldade de distribuição. Então, a gente já estava vivendoesse impasse e, na situação da crise financeira, ele voltou a nos ponderar. Então, agente ainda não deliberou se vai extinguir a revista impressa, mas a gente vaidiscutir justamente isso neste semestre. E a outra coisa, que é outra discussão a sefazer, é que algumas revistas da área estão se tornando de fluxo contínuo napublicação. Os artigos vão ficando prontos e elas vão publicando. Então, outrotópico que a gente tem discutido, e nesse caso seria nesse conselho ampliado e nãoapenas.... A editora não tem autonomia para deliberar isso, digamos assim, sozinha.

Você considera a revista que editora internacional, nacional ou regional?Internacional.

Quais os elementos que a tornam internacional?O fato de que a Antropologia brasileira é muito boa? Estou brincando, é tambémisso. Eu acho que os nossos professores, que são membros da revista, são pessoasinternacionalizadas. Então, tanto eles trazem pessoas de fora para publicar aqui,quanto as pessoas de fora sabem que existe essa revista. O fato de a revista ser emportuguês dificulta um pouco a circulação internacional para aqueles que não leem alíngua portuguesa. O fato de ela ter se tornado bilíngue, provavelmente deve terampliado o raio de circulação dela, para os hispano-hablantes, é algo para a genteverificar na questão dos downloads. Quando havia essa possibilidade de havernúmeros em língua estrangeira, em inglês, financiados pelo próprio sistema SciELO,

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isso era bastante evidente porque os artigos têm um número de downloads grandes.E tem as citações. Em outros indexadores, a gente vê a referência aos nossosartigos, dá para ver o alcance. E um pouco a preocupação em trazer textos originais.Eu acho que é uma garantia de internacionalização.

A revista sempre foi internacional? Sempre. Desde a sua criação.

Entendi. Eu fiquei curiosa quando eu estava pesquisando pela revista e que dizque os artigos seriam sempre traduzidos para o português.Isso.

E eu percebi que, desde o início, a revista tinha essa política. Agora começou amigrar, está indo para o espanhol. E eu não entendi muito bem, a senhoradisse que vocês vão tentar traduzir para o inglês também?Não, não. Não disse que a gente vai tentar. Eu disse que o SciELO tinha um númeroem inglês, eventual, uma vez por ano, alguma coisa assim, com os melhores artigosdo ano da revista em inglês.

Entendi.Lembra? Não sei se tem como você ver. E essa política do SciELO acabou. Era umapolítica interessante porque era uma política que você mantinha uma característicade que estava publicando no Brasil em português, ou para a língua portuguesa, e aomesmo tempo, você tinha um número extra em inglês. Porque como a missão darevista era divulgar pesquisa antropológica de ponta em língua portuguesa, por issoque, desde o início, ela traduziu para o português. E a questão do espanhol foi maispara a gente abrir espaço para os nossos parceiros na América Latina publicarem nosistema SciELO e no Brasil do que artigos que estão sendo traduzidos para oespanhol, não é disso que se trata. São artigos originalmente escritos em espanholpor pessoas hispano hablantes ou que produzem em países de língua hispânica eque a gente publica no Brasil. Mas não são artigos traduzidos para o espanhol.

Entendi. A revista já nasceu com esse intuito de se internacionalizar. Mas,entre os critérios do SciELO, eles colocam algumas exigências, como terpareceristas estrangeiros, ter uma porcentagem de artigos em inglês.... Comoa revista está lidando com esses outros critérios?Não. A porcentagem de artigos em inglês a gente não tem. Pareceristasestrangeiros a gente tem.

Então, não sofreu modificações bruscas no processo editorial?Não, não sofreu. As mudanças que aconteceram, por exemplo, na época dapublicação em espanhol, a gente perguntou “mas vamos publicar em espanhol,

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vamos publicar em inglês também? A gente sabe que isso vai aumentar a circulaçãoda revista no mercado internacional.”. Mas isso significava que a gente perderiaessa missão de traduzir para o português textos de ponta. Então, naquele momentose avaliou que não era o caso, mas que talvez fosse interessante trazer autores daAmérica Latina ou hispano hablantes para publicar no Brasil. Então, a gente fez essemovimento de virar bilíngue para o espanhol. Do ponto de vista quantitativo, doalcance, a gente sabe que, se tivesse virado bilíngue para o inglês teria, certamente,um público maior, mas a nossa questão naquele momento não era o público,principalmente, mas você conseguir estabelecer redes de colaboração de pesquisaefetiva. Não é só se tornar uma plataforma de publicação em inglês. Mas um poucode aglutinar redes de pesquisadores de Antropologia que saibam que a nossarevista existe, que saibam que ela é importante, que queiram trazer o seu trabalhopara o Brasil, pensando um pouco nessa oportunidade de redes colaborativas detrabalho e no campo da etnologia indígena, é muito comum que você encontrepesquisadores estrangeiros que falam português, por exemplo. Não só porque elesfazem trabalho de campo no Brasil, mas pesquisadores sobre Amazônia, muitosleem em português porque o melhor da produção está em língua portuguesa.

Entendi. Mas eu fiquei com uma dúvida: os artigos que chegam em espanhol,eles são publicados em espanhol e traduzidos? Ou só em espanhol?Não, eles não são traduzidos do português para o espanhol. Não é isso. São textosoriginalmente em espanhol. Eles eram traduzidos até a revista virar bilíngue.

Agora eles estão só em espanhol?Só em espanhol. A revista virou bilíngue.

Quais são os desafios atuais para a revista?Cumprir os prazos do SciELO, arrumar dinheiro. Acho que os prazos do SciELO éum desafio que a gente pondera muito até que ponto vale a pena sacrificar o ritmode produção da revista para atender a demandas que não estejam relacionadas àsCiências Humanas ou tentar fazer o SciELO ver que é preciso reconhecer asespecificidades das Ciências Humanas. Acho que outro desafio é o financiamentopelo que se avizinha no país hoje. A gente acha que a questão da cobrança parapublicar é muito complicada, a maioria das nossas pesquisas é produzida comdinheiro público, então, não faz sentido de alguém ganhar com isso, além de tornaro conhecimento público, acho que é uma coisa bem complicada de ser feita. A genterecebe anúncios, eu sou pesquisadora do CNPq, a gente recebe anúncios derevistas oferecendo submissão de artigos cobrando pela submissão e não pelapublicação, ou te cobrando pela publicação e as pessoas naturalizaram que é isso.E na hora que você vai baixar um artigo tem que pagar 19 dólares em uma revistainternacional, 30 dólares. Então, está havendo um grande comércio dos artigoscientíficos e eu acho que a gente tem que ponderar como que a gente se relaciona

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com o conhecimento científico sem engrossar essa mercantilização doconhecimento, que deveria ser de acesso público. Como você mantém essa missãode divulgação científica pública de ponta em língua portuguesa, ao mesmo tempointernacionalizando a pesquisa brasileira, em uma conjuntura que essas coisasparecem não fazer o menor sentido, um pouco assim? Ou parece seremanacrônicas, ou parecem estar fora da época, ser uma discussão antiga quando, naverdade, a gente sabe que não é. Acho que tem redes colaborativas internacionaisconfigurando justamente para produzir sistemas alternativos, desde plataformas quevocê coloque artigos de graça. Academia.edu resolveu cobrar, mas essasplataformas como Research Gate, plataformas que você tenta colocar a suaprodução gratuita ali para que as pessoas acessem e, ao mesmo tempo, umaconcentração dessas grandes editoras, então, em algum momento, você fica emdúvida se o que está havendo é uma produção de conhecimento de ponta ou vocêestá comercializando artigos científicos. Não estou generalizando, óbvio, estoudizendo que algumas vezes fica com essa dúvida.

Última pergunta, desculpe-me retornar, última pergunta do bloco, mas paradeixar claro e não deixar dúvidas. Em relação ao inglês, que a gente sabe queé uma exigência que o SciELO vem fazendo para as revistas, a Mana não temintenções de ampliar o leque de línguas, vamos assim dizer? Como que arevista está se posicionando em relação à língua?Eu acho que há um ano em meio a gente votou que viraria bilíngue para o espanhole não para o inglês. Acho que é uma discussão que pode ser feita novamente, mastalvez signifique que a gente tenha que mexer na missão da revista. Não é umasimples decisão, eu quero chamar atenção que você publicar em uma outra línguanão é uma simples decisão editorial, é uma decisão que mexe com a própria missãoda revista. Por isso, é uma decisão que deve ser feita pelo coletivo dos professores,que são do conselho da revista, e não só pelo editor ou por essa comissão menor. Eé uma decisão que talvez vá transformar o perfil da revista, talvez vire uma outrarevista. Eu já fui do conselho de revistas bilíngues do exterior, da Social Compass113,e o que acontece é que é uma revista em francês e inglês. E aí, em um certomomento, ninguém quis mais publicar em francês porque o inglês era mais citado.Esses critérios de ser mais citado também são critérios não só do Brasil ou doSciELO, mas são critérios mundiais, é um “quantitativíssimo” nas citações. Então, arevista estava correndo o risco, uma revista de 50 anos, correndo o risco de acabarporque ninguém queria publicar em francês, todo mundo só queria publicar eminglês porque daria um upgrade em suas carreiras. E, no entanto, você estádeixando fora disso uma série de leitores que não leem em inglês ou não dominam oinglês. Eu acho que o Brasil está longe de ser bilíngue. Acho que supor que ébilíngue é.... Como agora as plataformas estão vindo em inglês, eu acho engraçado.

113 http://journals.sagepub.com/home/scp (Acesso em 9 de maio de 2017)

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A senhora poderia só explicar um pouco melhor a importância da missão darevista ser publicada em português? Os motivos. A senhora começou amencionar, o Brasil está longe de ser um país bilíngue, mas acho importanteter na entrevista....Eu não sei porque eu não era professora do programa quando a revista foi fundada.Mas, por exemplo, a gente tem artigos de antropólogos de nível internacional, vivose mortos, que as primeiras vezes que eles publicaram certos artigos foi na línguaportuguesa. Então, por exemplo, a gente trouxe o Edmund Leach114 para oportuguês, a gente trouxe o Pierre Bourdie115, primeira vez que artigos originais, nãoforam traduzidos, digo, não tinham sido publicados e foram traduzidos para oportuguês, eles eram originalmente feitos para serem publicados na Mana. Então,Bourdie, o Leach, tem artigo póstumo do Norbert Elias116, então a gente tem váriosantropólogos de ponta na Antropologia mundial, que a primeira vez que publicaram[o artigo] foi na língua portuguesa. Eu acho que é uma forma de eles reconhecerema importância de serem divulgados no Brasil e a importância da comunidadecientífica brasileira. Não que os antropólogos de ponta do Brasil não vão publicar eminglês, mas a minha pergunta é se todas as revistas brasileiras precisam setransformar em revistas em inglês.

Entendi. Obrigada, professora. A gente vai agora para o próximo bloco. Opróximo e último.

Bloco 4 – Divulgação da revista científica:

Como a revista divulga as novas edições da Mana? Como é feita essadivulgação da revista?Na verdade, no Facebook do programa, na página do programa e o SciELO colocano ar. Mas são essas as formas de divulgação.

A própria revista não tem as suas redes, usa as do programa mesmo?Na verdade, a gente tem uma página da revista acoplada à página do programa,mas a página do programa tem mais visibilidade que a página da revista.

E a equipe editorial se organiza para fazer essas divulgações? Criar postscontinuamente? Como funciona?Não, não.

114 http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-93132000000100002&lng=en&nrm=iso (Acesso em 9 de maio de 2017)115 http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-93131996000200001&lng=en&nrm=iso (Acesso em 9 de maio de 2017) 116 http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-93132001000100005&lng=en&nrm=iso (Acesso em 9 de maio de 2017)

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E o SciELO tem espaço no próprio blog para fazer produções, releases.... Aequipe se divide para fazer essas produções nos blogs do SciELO?Não.

Mas o SciELO definiu a divulgação como um dos critérios. Vocês pretendemcolocar isso em pauta também? Como uma nova meta para a revista? Divulgarmais nas redes sociais? Fazer mais press releases?Não tinha pensado, não. Mas você me deu uma boa ideia. Na verdade, você jápercebeu que o SciELO não pauta mesmo a gente, entendeu? Acho assim, a suaideia é superboa. Acho que é uma dificuldade, mas como a gente teve essa reduçãode pessoal e do tempo de trabalho da assistente editorial, nesse momento, oSciELO não é das maiores preocupações, nesse sentido de atender a tudo o que eleestá pedindo. A Capes me preocupa mais que o SciELO, se você quiser saber.

A Capes por causa dos editais?Não, a Capes por causa do Qualis.

E a gente vê crescendo as métricas alternativas. O SciELO usa agora oAltmetric para ver os acessos. E como a senhora avalia essas novas métricascom as métricas tradicionais de citações? Vocês pretendem usar isso comoparâmetro para verificar a quantidade de menções que a revista tem?Acho que sim. Acho que a gente pode, pelo menos, prospectivamente. A genteavalia o quadro que vai resultar daí. Isso não vai interferir, certamente, na seleçãodos artigos da revista, mas eu acho que isso possa ser uma boa avaliação paracirculação que a revista está tendo. E a coisa dos financiamentos também.

Tirando o número de acessos, Altmetric não é uma das metas da revistatambém?A gente verifica, mas muito a posteriori, não que isso vá influir no tipo de artigo que agente publica, isso não tem influência no tipo de artigo que a gente publica.

A minha última pergunta, acho que a senhora está desenvolvendo ainda, que ése a revista tem intenções de investir em ações de divulgação da revista.A gente não tem, mas você me deu uma boa ideia. Porque a revista é ligada aoprograma de pós-graduação, não sei se as outras também são. E é um programa depós-graduação bastante consolidado, então, acho que uma boa ideia é utilizar ospós-doutorandos para colaborar com isso, acho que é uma boa ideia que você medeu. Que a sua entrevista me deu. Na verdade, deixa eu explicar, essa revista temum certo público cativo. E tem uma outra coisa que é importante e eu sei que ospróprios autores divulgam a revista, isso acontece com muita força. Quando osautores publicam na revista, normalmente eles divulgam que publicaram, entendeu?

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Isso é uma forma de divulgação indireta, como dentro da área de Antropologia arevista é conceituada, quando os autores divulgam no Facebook, dentro dacomunidade, que é de 5 a 10 mil leitores de Antropologia e tem depois de outrasáreas, da revista ter 20 e poucos anos, de ela ter uma periodicidade, de ela estar noSciELO, já a torna quase como uma referência obrigatória nesse sentido, ela comotem uma periodicidade que nunca atrasou e etc, isso faz com que a revista já tenhaum certo público cativo. Pessoas que olham e querem saber o que saiu na revista,olham pelo menos o sumário da revista. Os autores, quando publicam e colocam noFacebook, que publicaram o artigo na revista, então, ela tem um fluxo de artigosmuito interessante. É um número de revistas que não nos preocupa. Talvez o pressrelease que você está falando é uma exigência do SciELO, mas isso que estouquerendo chamar atenção, como ela já tem um público cativo, talvez essa não seja aprioridade, talvez seja bom utilizar uma forma que a gente tem de trabalho, que sãoos pós-doutorandos, para trabalharem nessa interface. Mas isso não é prioridade,porque, como ela tem 20 e poucos anos, periodicidade, ela tem um perfil, temqualidade, ela é uma revista quase de consulta obrigatória da área. Não é ummenosprezo pela divulgação, entendeu? É que realmente a necessidade não é tãopremente do que uma revista que esteja se implantando, ou uma revista que nãotenha um perfil tão definido, dentro da Antropologia você tem quatro ou cincorevistas que são consolidadas. E a nossa revista tem esse diferencial de ser a maisantiga, a do programa mais antigo, foi o primeiro programa de pós-graduação emAntropologia no Brasil. Ela é muito consolidada nesse sentido de não precisar estarse divulgando, mas talvez seja bom aproveitar que existem esses novos canais paraexperimentar. Vai que a gente tem uma ótima surpresa nesse sentido. Pode atépegar gente que a gente não estava esperando e que se torne leitor.

Esse é o roteiro que montamos. Tem mais alguma coisa que a senhoragostaria de comentar?Não, eu só queria reafirmar que essa ambiguidade do sistema SciELO, entender osistema na sua dureza, que a dureza realmente é atender aos quesitos, mastambém ressaltar a importância dele, em termos de divulgação e visibilidade dotrabalho. Porque ele permite que a revista chegue ao Brasil inteiro sem ter queenfrentar o dilema de distribuição. Se ele se abrisse para a gente ao diálogo seriamaravilhoso porque eu acho que seria coletivamente ótimo achar uma solução paraisso, para a gente não submergir nesse mercado editorial internacional sem garantiruma certa autonomia das grandes editoras, das grandes corporações, ele é umsistema muito importante e eu queria reforçar isso.

ANEXO 9:

RBPI - Entrevista Semiestruturada

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Revista científica: RBPI – Revista Brasileira de Política Internacional117

Atual editor-chefe: Antônio Carlos LessaData da entrevista: 17 de março de 2017Áudio com duração de: 2h17min

Bloco 1 - Perfil do entrevistado:

Qual foi o seu último título acadêmico e ano de obtenção?O título acadêmico do ensino formal?

Isso.Meu último título foi doutorado em História e o ano de obtenção foi 2000.

A área foi História, mas em qual universidade obteve último título?Universidade de Brasília (UnB).

Quando assumiu o cargo de editor?Em 2004.

Foi a primeira vez no cargo de editor de uma revista, bem como da atual RBPI?Não. Já participava, muito antes disso, eu era editor de outra revista e já estavaenvolvido em divulgação científica.

Qual outra revista?Eu fui fundador de uma revista chamada Meridiano 47118, uma revista que, quandofoi criada, era experimental. Foi criada em 2000, justamente em uma época em quenão se tinha acesso aberto, ninguém falava em acesso aberto, ninguém falava empublicação online, então, a gente criou essa Meridiano 47 para fazer publicaçãoonline. Vou contar uma historinha muito rápida: Eu fui nessa época ao CNPq saberse era possível a gente ter algum tipo de apoio. E a coordenadora do setor quecuida do edital de editoração falou “Não, professor, essa coisa de revista online nãoexiste. Não vai existir. O CNPq nunca vai apoiar isso.”. Isso foi em 2000, o que querdizer que algumas coisas mudaram e a Meridiano 47 foi criada em um contexto, umprojeto grande, de divulgação científica na área de Relações Internacionais quetínhamos naquele momento chamado “Real Match” e a revista foi criada para serveiculada dentro dele, mas depois concluímos ele porque as condições de fomentodele mudaram e o projeto deixou de ser financiado e o substituímos por outroprojeto, mas a Meridiano 47 continua. De 2000 para cá, essa revista Meridiano 47,ao longo do tempo, foi deixando de ser uma revista experimental, testamos váriascoisas nela, e quando assumi a RBPI em 2004, eu ainda sou editor-chefe da

117 http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_serial&pid=0034-7329&lng=en&nrm=iso (Acesso em 29 de abril de2017)118 http://periodicos.unb.br/index.php/MED (Acesso em 29 de abril de 2017)

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Meridiano 47, mas fui envolvendo outras pessoas, justamente para treinar sobreuma concepção de editoria, um treinamento de pessoas para isso. Então, eu façoeditoração científica há muito tempo. E antes da Meridiano 47, eu lembro que fazia odoutorado e criávamos uma revista em nosso programa de pós-graduação feita porestudantes, acho que é uma revista que existe até hoje. Entre o meu mestrado edoutorado, eu trabalhei na Escola Nacional de Administração Pública (ENAP), umórgão do governo federal, que tem uma revista muito antiga, Revista do ServiçoPúblico119, onde eu trabalhei também. Talvez porque eu venho trabalhando com issohá muito tempo que as pessoas acabam me chamando. A RBPI, especificamente, éuma revista bastante antiga, este ano completa seus 60 anos e era editada no Riopelo IBRI (Instituto Brasileiro de Relações Internacionais) que funcionava no Rio deJaneiro. O último remanescente dessa organização faleceu em 1992, mas antes defalecer ele negociou a transferência do IBRI para Brasília. Então, a revista tambémfoi transferida para Brasília em 1993, o IBRI foi transferido em 1993, e aí em 1993 eufazia meu mestrado e passei a trabalhar com o editor na sede de Brasília,justamente no auxílio da parte de editoração e itens relacionados a estratégias depeer review. Fui fazendo isso ao longo do tempo. Se você me pergunta desdequando eu faço isso, desde 1993 que estou envolvido de alguma forma emdivulgação científica, primeiro com a revista RBPI como assistente editorial do meucolega, que me antecedeu, depois trabalhei nessa Revista do Serviço Público,criamos a Meridiano 47 na pós-graduação, como comentei, e em 1997, souprofessor da UnB desde 1997, entrei como professor concursado e eu me envolvocom divulgação científica na área de Relações Internacionais, então, teve essaMeridiano 47 e, em 2004, finalmente, eu cheguei à RBPI com editor e estou até hoje.

Entendi, então, só para deixar bem claro: Da RBPI o senhor trabalhou comoassistente editorial desde 1997, isso?1993.

1993. E o senhor assumiu a função de assistente editorial e agora de editor-chefe. Isso?

Isso. Eu fui assistente editorial de 1993 até, talvez, 1995, não me recordo muito bemporque estava na ENAP. Depois fui trabalhar na Revista do Serviço Público e fiqueinisso aí.

E, desde 2004, o senhor que é o editor-chefe.Isso, exatamente.

Quanto tempo se dedica à editoração por semana?

119 https://revista.enap.gov.br/index.php/RSP (Acesso em 29 de abril de 2017)

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Isso depende muitos das circunstâncias porque a revista não tem a estrutura“profissional” (entre aspas), que muitas revistas que vemos por aí têm. Então, porexemplo, justamente por ela ser editada por uma organização privada, o IBRI é umaorganização privada, sempre tivemos dificuldade de financiamento, de fomento.Então nunca tivemos uma secretaria profissional. Quando a revista foi transferida em1996 para Brasília, o IBRI e a revista foram alojados na Universidade de Brasília,que é uma universidade pública, porque muitos de nós que nos envolvemos com arevista e com o IBRI somos professores da Universidade de Brasília. Então, asecretaria foi funcionando nesses últimos anos com apoio dos estudantes, alunos degraduação, de mestrado e do doutorado em Relações Internacionais e em História.Estou contando tudo isso porque, dependendo do momento, eu tenho bastanteapoio. Dependendo de como eu consigo recrutar entre os mestrandos edoutorandos, como eu consigo recrutar pessoas que se envolvam voluntariamentena atividade de editoração. Por exemplo, no momento atual, eu estou dedicando emtorno de 10 a 12 horas por semana à revista porque agora eu estou com doisassistentes editoriais espetaculares. Excelentes. Digamos que tivemos um ciclo detreinamento bastante longo, mas há um ano eu estava editorando a revistacompletamente sozinho e estava dedicando em torno de 20 horas para a revista. Emfazer toda a escolha de pareceristas, todo material, enfim. Hoje eu diria que emtorno de 10 a 12 horas, em média.

E desse tempo, hoje, quais são as suas funções como editor?Nós temos a seguinte dinâmica de trabalho: Nossos dois assistentes fazem oenquadramento inicial dos artigos, verificam se os artigos aderem às normas depublicação, tanto ao que diz respeito ao tema, à extensão, qualidade do inglês, àsnormas de citação.... Aí, temos uma reunião a cada semana em que nósprocessamos a caixa de entrada, como eu digo, que é ver o que tem para seralocado, o que entra no processo de análise editorial. Então, lemos os artigos queentraram, que estão na caixa de entrada, e decidimos o que será barrado em deskreview, o que vai perecer e o que segue adiante como entrada no processo editorial.Então, nessa atividade de desk review, nós lemos todos os artigos, eu e meusassistentes fazemos assim: eu divido com eles em dois lotes e eu leio tudo. Eles vãome posicionando sobre o que temos ali exatamente. O que nós decidimos quepersevera, escolhemos os pareceristas e damos início ao processo. A sua perguntaera essa?

Sim. Quero entender todas as funções que o senhor executa.O primeiro processo é o de coordenação da equipe editorial e de processamento edefinição do desk review. Depois, junto com os assistentes, nós escolhemos ospareceristas. Esse é um processo um pouco tortuoso porque nem sempre temos asrespostas, enfim, às vezes temos respostas espetaculares. Nessas reuniõessemanais, nós examinamos os pareceres da outra reunião ou das reuniões

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anteriores. Nós examinamos e nós vamos vendo, do material, o que entra em MajorRevision, que às vezes a nossa posição com base nos pareces é que o custointelectual do autor para consertar aquele artigo e deixá-lo no padrão aceitável darevista é muito elevado. Nós examinamos com base nos pareceres e contrapondocom os outros artigos. Então pedimos para mudar uma parte, mas para mudar umaparte ele terá que ler tanta coisa e buscar tanta coisa e tanta informação que eleprovavelmente não vai conseguir, seria outro artigo. Nessa reunião verificamos ospareceres, estabelecemos o que fica em Major Revision, o que vai alterar mais, e oque tem condições de ser aprovado. Os pareceres são bons, os artigos são bons esó vamos processando. Ficamos com essa análise editorial. Nós conseguimos, emmédia, fazer isso em cada reunião.... A cada mês conseguimos aprovar em torno de4 artigos. Em torno disso. O resto fica retido no processo de análise editorial. É umprocesso bastante dinâmico. Depois disso, vamos coordenar a produção editorial,produção mesmo. Que é colocar o artigo no formato para o revisor, que meusassistentes fazem isso, colocar no formato para produzir o DOI, produzir anotaçãobibliográfica, identificar o artigo, trazer o nome dos autores, as ligaçõesinstitucionais, revisar se o resumo é consistente (porque, às vezes, o resumo não éconsistente, foi aceitável para fazer o peer review, mas, para posicionar melhor oartigo, tanto nos indexadores quanto para atrair mais a atenção, mesmo o abstractpode ser melhorado. Às vezes o artigo é relevante, mas o abstract está meio pobre).A gente dá início a esse processo editorial e, em uma semana, os meus assistentespreparam esse artigo para revisão e nós enviamos para o revisor. É um poucomonitorar o fluxo de revisão. Sempre vamos ter alguma coisa ou entrando emanálise, para decisão ou produção. Desde o ano passado, adotamos um modelo depublicação continuada. Não vou publicar um artigo, mas quero publicar no mínimotrês por fornada. Quando volta do revisor, tem um processo que é imponderável (orevisor realmente é um elo fraco do processo editorial porque nunca vi um revisorrápido e revisores rápidos, normalmente, são levianos), enfim, do revisor vai paradiagramação e o processo fica mais pautado porque a diagramação pode demorarem torna de duas, três semanas. Como o SciELO, em 2015, instaurou essametodologia nova de marcação de dados, depois da diagramação, ou seja, quandovolta o artigo, nós revisamos para ver se tudo foi marcado direitinho. Depois vai paramarcação de dados. Marcação de dados também tem ficado um poucoimponderável porque, recentemente, tem demorado mais que o razoável. A nossaideia nesses processos todos é, por exemplo, tabulei no começo do ano o processomédio gasto para aprovar um artigo nosso e fiquei escandalizado porque mepareceu muito longo, para uma revista que está trabalhando com publicaçãocontinuada. Claro que temos um problema profissional de revisão, então, porexemplo, o tempo médio entre recebermos os pareceres e mandarmos para oSciELO para a publicação sai em torno de 90 dias e eu queria que isso fosse menor.Entre a decisão, quando temos os pareceres, e mandarmos para o SciELO, que issofosse em torno de 60 dias. Acho que isso seria espetacular. Quando eu digo tempo

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médio, é porque tivemos casos que o revisor chegou a ficar 115 dias com o artigo, oque é um problemão, porque o artigo ficou 160 dias em produção, quase teve umfilho (risos). Outro aspecto que talvez lhe interesse nesse momento que decidimosque vamos publicar o artigo, enviamos mensagem de aceitação para o autor e já oposicionamos sobre a nossa expectativa com relação a ele, ao esforço dedivulgação que será feito depois. Então, nós já encomendamos ao menos uma peçade divulgação, que é uma peça de press release, que não chega a ser um pressrelease como dita o termo, mas vamos dizer que um artiguinho que chame atençãosobre aquela pesquisa, aqueles dados, o formato típico do press release do SciELO.Nós já encomendamos isso na mensagem de aceitação com regras claras e omodelo, nessa mensagem também dissemos que, eventualmente, em algummomento, até a publicação do artigo um dos membros da equipe editorial (nósmontamos uma equipe de divulgação) vai entrar em contato para produzir umaentrevista com o autor. Isso vai depender um pouco do tema do artigo. Tem algunsartigos que são tão herméticos, artigos cientificamente bons, mas que, para vocêtirar alguma coisa para um público, não digo leigo, mas em Relações Internacionaisnão tem público leigo, mas um público não iniciado naquele tema específico doartigo. Às vezes, o tom é mais acessível ou mais difícil. Então, pegamos os artigosque vamos mandar para entrevista também. Aqui, a coisa da entrevista éinteressante. Como trabalhamos na universidade, onde tem um programa de pós-graduação na área de Relações Internacionais bastante consolidado e bom, sempretemos os estudantes de mestrado e doutorado e a coisa que é legal é a genteenvolver os estudantes na entrevista. Eles gostam muito, acham legal e é legal. Elesvão estudar o artigo, que acho diferente, por exemplo, de nós formarmos umprofissional com formação generalista. Eu sei que você é jornalista, mas é diferentede nós termos um doutorando de Relações Internacionais lendo aquele artigo e queele entenda o que é que pode ser explicado melhor ou se tornar atraente em umaentrevista para um público não iniciado. Ao distribuirmos o artigo para uma daspessoas do mestrado e do doutorado que tenha interesse em fazer isso, ler eeventualmente entrar em contato com o autor e propor a entrevista, estamos umtanto parametrizados, existem autores que respondem, autores que não respondem,mas é um pouco da coisa inglória da editoração científica, mas ao longo dos anos,fui batendo muito com isso e, inclusive, na relação com pessoal do SciELO, que temfeito um trabalho espetacular no sentido de fazer com que o pessoal, principalmentedas Humanidades com o blog SciELO em Perspectiva, vemos coisas mais legais emevidências. O trabalho inglório que temos tido com os autores, especialmente, é queeles se envolvam nisso, se envolvam na estratégia de divulgação do próprio trabalhodeles. Ao longo do tempo, ano passado, eu estava em doutorado nos EstadosUnidos e conheci lá um serviço chamado Kudos120. Passamos a recomendar esseKudos para os nossos autores, que outros publishers muito grandes adotaram. Masa gente vai, manda contato, “por favor, vamos lá! Isso não é para mim, não é para a

120 https://www.growkudos.com/ (Acesso em 29 de abril de 2017).

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revista propriamente, é do seu trabalho. É para o seu trabalho ser lido, para o seutrabalho circular mais”. Alguns reagem muito bem, mas a média faz de má vontade.É isso, o processo é basicamente o processo de produção editorial. Depois que eutermino isso tudo, da produção dos artigos, é um pouco supervisionar e dirigir oprocesso de divulgação. Então, deixamos os press releases prontos, temos,eventualmente, para uma parte grande dos artigos as entrevistas prontas. Vamosescalonar a produção os conteúdos no instituto, no site do IBRI e também no nossooutro projeto de divulgação científica de Relações Internacionais que temos desde2007, que é o Mundorama121, que tem uma inserção na área extraordinária. Chega ater, contando tudo, temos alguns picos de 20 mil leitores, um projeto extraordinário,então, no Mundorama a gente vai escalonando a publicação dos press releases edas entrevistas. Como o projeto é nosso, essa é uma liberdade que tenho. É meu,pago por ele, então vou publicar também as minhas revistas no Mundorama.

Antes de focarmos muito na divulgação, vou só terminar com o senhor o perfilda revista primeiro. Só para eu não me perder no roteiro, pode ser?Pode.

Bloco 2 – Perfil da revista científica:

Então, o senhor está me falando desse pessoal que o senhor acaba recrutandopara fazer a divulgação científica, então, o senhor considera que hojecompõem a revista semanalmente o senhor e os dois assistentes ou tambémesta equipe? Quantas pessoas o senhor acredita que compõem semanalmentea revista?Na equipe editorial ou juntando com a equipe de divulgação?

Pode separar os dois, sobre quem atuam semanalmente.Na equipe editorial, sou eu e mais dois assistentes editoriais e temos três editoresassociados. Os editores associados não entram muito no dia a dia, eles vão nosposicionando em questões específicas de outras áreas. Artigos que fogem umtanto.... Vamos dizer, artigos de Economia, um dos editores associados faz essepente fino inicial e vai nos posicionando. História das Relações Internacionais,História da Política Internacional do Brasil, isso é um outro editor associado. E osartigos da área de Política Internacional, que fogem um tanto desse processoeditorial, editoria das Relações Editoriais, que é uma coisa mais hermética, digamosassim, vai para um terceiro editor associado. Todas as semanas, temos eu e maisdois assistentes editoriais, os editores associados são acionados frequentemente,mas eles não participam dessas reuniões. Então, digamos que, permanentemente,três pessoas, mais três que são acionados de acordo com a necessidade, que sãoos três editores associados.

121 https://www.mundorama.net/ (Acesso em 29 de abril de 2017).

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Entendi. E de pessoas da divulgação, são voluntários, o senhor estavaexplicando.São voluntários. Mas consegui recrutar no começo deste ano um mestrando quegosta disso também.... Esse negócio de recrutar é meio complicado porque não temcomo a gente pagar. Então eu pago com o quê? Eu pago com treinamento. No casodos assistentes editoriais, a chamada que a gente faz é a seguinte “Não temdinheiro, mas tem aprendizado”. Acho uma habilidade legal você saber ser umeditor. Primeira coisa é essa. Depois você vê por trás como que as grandes revistasfuncionam, porque um artigo é publicado. Às vezes a moçada, principalmente, achaque é complicado porque é amigo do editor, que é chapa de não sei de quem.... Maspor que um artigo é publicado? O que o artigo teve de bom? Então, para os alunosde metrado e doutorado, principalmente os doutorandos que estão pensando no finalda sua formação. Voltando a falar da divulgação, eu consegui recrutar um editorpara divulgação. Um menino que coordena os press releases, formatá-los ecoordenar a distribuição das entrevistas. Então, esse artigo podemos pedir paraaluna ”fulana” do doutorado, ela tem interesse nisso, tem estudado isso, então elevai identificando comigo quem são as pessoas que a gente pode envolver narealização das entrevistas. A ideia é que ele faça a publicação deste material, ele vaijuntando o material para publicação, então, a pessoa que eu consegui trabalhar coma publicação de uma série de entrevistas em vídeo para a semana especial que vaiter no SciELO sobre a RBPI, acho que agora em abril, então, ele produziu asentrevistas, editou, está filmando, tem esse rapaz que coordena, estou treinando elepara coordenar esse processo de divulgação. E o processo dos “entrevistadores”,digamos entre aspas, eu evito dispersar muito para não perder a qualidade, entãotemos umas 10 pessoas mexendo com isso. À medida que o aluno tem interesse,ele vai trabalhando com um artigo por vez. Então, desde o ano passado para cá,temos umas 4 pessoas que fizeram entrevistas relacionadas aos artigos que forampublicados nos últimos 12 meses. Entendeu?

Entendi. Voltando a outros aspectos da revista, o senhor mencionou que ela éligada ao IBRI, que é um instituto privado e mais ou menos sobre as questõesde financiamento. Eu quero entender qual são as origens de financiamentopara manter a publicação da revista e como que funciona esse financiamentode vocês.Veja só, o IBRI é uma ONG, uma organização que existe desde 1964. Maspraticamente não tem nada. Só tem a revista. No passado, já organizou muitoseventos, muitos cursos, por exemplo, já tivemos séries de livros, um catálogoeditorial razoavelmente grande, um selo editorial que, na área de RelaçõesInternacionais é consolidado, mas não tem uma sede, não tem uma secretaria, nãotem um corpo técnico, então ela é bem fantasmagórica nesse sentido, bem etérea.O diretor-geral, atualmente, é um professor aqui da UnB, mas também participam do

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instituto diplomatas brasileiros. Do IBRI em si, não temos muita expectativa definanciamento, o que não impede o fato de que o IBRI recebe direitos autorais dealguns dos livros que são publicados, então, em situações muito críticas no passado,quando o financiamento do CNPq não dava, o IBRI tinha um pouco desse caixa quevinha de eventos e dos direitos autorais, o IBRI complementava uma despesa ououtra. Mas de três anos para cá, a minha determinação foi não contar mais comisso. Não contar com esse dinheiro. Então, a gente fica muito dependente de outrasduas fontes, que são, em primeiro lugar, os editais de fomento, que são patéticos,são ridículos. Uma coisa impressionante que dá vontade de chorar. São patéticosrealmente. O CNPq tem se transformado em uma instituição patética a cada dia quese passa, a cada dia mais patética. Quando eu assumi a revista, em 2004, eulembro que o primeiro dinheiro que eu recebi do CNPq foi de 60 mil reais, em 2004.Era um edital do CNPq e Capes juntos. O CNPq dava 30 mil e a Capes 30 mil. Issoera um dinheiro razoável. Hoje em dia é um dinheiro bom, imagina em 2004, davapara fazer bastante coisa. Sabe o quanto eu recebi agora? 15 ou 20 mil, acho quefoi 20 mil. Quer dizer.... 13 anos depois, para fazer uma revista que se tornouMUITO mais complexa do que era 13 atrás, recebi 20 mil. Isso tem se tornadoridículo ao longo do tempo. Fomos tendo esse problema de consistência. Mas eutambém não vou reclamar muito, veja só, tem algumas coisas razoáveis porque pelomenos tem o edital, o edital existe em todos os anos. O dinheiro foi diminuindo como passar do tempo, mas o edital sai todo ano. As revistas podem contar com isso.Então, a primeira fonte que tenho contato nos últimos seis anos é o edital defomento do CNPq. A segunda é a seguinte: desde que eu assumi a revista, quepesa o fato de que eu sempre tive uma visão muito clara relacionada ao acessoaberto, sempre fui um fã do acesso aberto e do meu ponto de vista fazemos arevista para ela circular. Acho patética a ideia de se fazer uma revista para sentarem cima dela e criar a expectativa de ganhar dinheiro em cima de assinatura noBrasil. Na América Latina, no Brasil.... Isso não existe! Quem tem que pagar asrevistas é quem edita e as instituições de fomento. Tirar dinheiro de assinatura nãoexiste. Tanto que a gente acabou tendo um número de assinantes um tanto maisdiminuto até que, no ano passado, no ano retrasado, eram tão poucos que a genteresolveu parar de imprimir. Parar de imprimir. Não se vende mais assinatura. O quevocê vende de assinatura não compensa o trabalho de imprimir. Então, desde muitocedo, nós temos um compromisso com a publicação imediata na Internet. Mesmoquando a Internet era muito ruim, a gente já publicava os arquivos online. Isso,evidentemente, os colegas que são de outras revistas comentam “Ah, mas e aassinatura?”. Mas mais importante que as assinaturas, é que a revista circule. Bastaisso. Você tem que arrumar o dinheiro em outro lugar para financiar a revista, então,a gente sempre teve esse compromisso. As assinaturas nunca deram muitodinheiro, mas, desde 2004, quando eu assumi a editoria, eu trabalhei muitoduramente nessa questão dos indexadores internacionais. E entre os indexadores,uma coisa que acho bem legal é que o EBSCO não só tem o serviço de indexação,

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mas como a EBSCO veio de um acesso a bases de dados de universidades como oCapes Periódicos, que é composto por bases de dados como EBSCO, CengageGale e outros publishers que são veiculados lá. Então, por exemplo, a EBSCOpassou a oferecer para a gente “Vocês não querem divulga o conteúdo?”; “Olha, arevista é de acesso aberto.”; “Ah, não tem problema, porque na realidade, veja só, opesquisador do Japão não vai conhecer o site do SciELO, entendeu? Dos EstadosUnidos vai on the full, ele não vai fazer uma busca aberta na Internet quando estiverprocurando uma informação, ele vai mexer na base de dados que a biblioteca deleassina e, dependendo da universidade, se for uma universidade minimamente boanos Estados Unidos, Ásia, enfim, vai assinar essas bases de dados, então, o queaconteceu, inclui-se a revista nessas bases de dados e nós recebemos todo ano umaporte em torno de mil ou mil e quinhentos, já chegou a ser quase dois mil dólarespor ano, mil e setecentos de royalties de acessos da base de dados, que é veiculadovia EBSCO. A EBSCO e a Cengage Gale também, que é outra base importante,serviços importantes. Então, a revista é de acesso aberto, mas eles remuneram oacesso por meio dessas bases de dados que agregam os serviços completos, então,para a gente vem também esse dinheiro. Finalmente, acho que o terceiro apoio éque pesa o fato de a revista não ser da Universidade de Brasília, ela é efetivamenteanimada por professores da Universidade de Brasília, por professores do Instituto deRelações Internacionais que é uma entidade acadêmica da universidade, por issoque eu falei, uma parte de toda a minha equipe aqui é formada por mestrandos edoutorando da Universidade de Brasília, do programa de pós-graduação emRelações Internacionais, então, o nosso programa, que não tem nada a ver com oInstituto Brasileiro de Relações Internacionais (IBRI), o nosso programa de pós-graduação faz um aporte todo ano com algum dinheiro, especialmente quandopassamos a publicar exclusivamente em inglês, porque os custos de revisão sãomaiores. Faz um aporte todo ano para a revista, isso tenho mais ou menos quecontato com isso, gira em torno de um quarto, um terço, depende. Um terço ou umquarto do que gastamos todo ano. Então, o apoio do nosso programa de pós-graduação, que paga indiretamente algumas despesas com revisor, diagramador....E uma coisa que acho que você vai escutar dos outros editores é que temos esseapoio extraordinário do SciELO. Quer dizer, o SciELO acaba provendo acesso aserviços, custos que o SciELO nos dá que, se fosse para pagarmos, seriaimpagável. O sistema de gestão das submissões, a própria publicação. Agora, porexemplo, tem coisa de um ano eles negociaram pacote de verificação desimilaridade, um sistema antiplágio. Para você verificar hoje um artigo no sistemaantiplágio e for comprar um trabalho, custa 100 dólares. Seria impagável para arevista fazer isso. Agora, por ter mérito SciELO, como eles assinam milhares,compram o pacote institucional, que é dividido entre todas as revistas e as revistasvão pagar o que elas realmente usam, então vamos pagar no máximo $1,50 porsubmissão testada. Dependendo do volume, esse valor vai caindo, chega a $1,00,$0,65, por aí vai. Nosso financiamento vem de 4 fontes, vamos dizer assim. Apoio

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editorial, royalties da revista (que é pouco), edital do CNPq, apoio da pós-graduaçãoe esse custo, financiamento indireto, que é dado pelo SciELO. Basicamente isso.

E a revista participa, em média, de quantos editais por ano?Isso é muito complicado. Para as revistas de Humanidades só tem o edital aberto doCNPq. Eu já falei com pessoal do Itamaraty, eles não têm responsabilidade com asrevistas de Relações Internacionais, mas seria legal se pudessem apoiar. Seabrissem um edital para apoiar as revistas, mas aí a gente está falando árabe. “Oh,professor! Maravilha! Muito bom!”, aí vem a pergunta: “Eu posso publicar meuartigo?”. Claro que não! Aí não adianta. Do Itamaraty seria natural que tivesse umedital, como o Ministério da Saúde faz. O Ministério da Saúde tem ou tinha (não seise acabou do ano passado para cá por conta do orçamento). Mas algumas dessasrevistas de Saúde Pública tinham fonte de fomento de fora, que não era somente oedital. Basicamente para onde a gente se porta? Para o CNPq.

Qual é a margem de segurança (estabilidade) para a publicação da revista?Eu me sinto bastante inseguro. Você diz do ponto de vista de fomento, definanciamento, não é?

Isso.Eu sempre fui bastante otimista. Por exemplo, desde 1993, quando a revista veiopara cá, para Brasília, e foi assumida pelo professor, nós não atrasamos NADA. Emnenhum momento. A gente faz mágica por aqui. Eu me considero um pouco.... Ah, éassustador? Talvez não. Talvez eu tenha um pouco que aprendido a trabalhar comessa inconstância. Nós não temos custo fixo, Kátia. Acho que é muito complicadoquando você tem funcionário. Você tem um funcionário, você tem que pagar umfuncionário. Aí, realmente, é maldade não ter como pagar, mas a gente não temcusto fixo exatamente com um funcionário, uma sala, um escritório. A gente não temisso. Então, digamos que a minha margem de segurança é maior que de outraspublicações, como é o caso na área de Humanidades, e que o pessoalacompanhou, que é o caso da Lua Nova122, que é do CEDEC (Center forContemporary Culture Studies). Teve isso, o CEDEC convulsionou, teve umproblema gravíssimo de financiamento nos últimos anos, e a Lua Nova sofreu muitocom isso, com essa inconstância. Tem funcionário, tinha escritório, tinha que pagarluz, pagar água, IPTU e não sei o quê. Existe o seguinte [em relação à RBPI], eu mesinto inseguro para saber se eu consigo colocar tudo o que eu gostaria. E com aqualidade que eu gostaria no ar. Mas acabo que eu consigo processar, seja com oapoio dos colegas, já aconteceu isso no passado, nas primeiras edições especiaisque fizemos, e era toda em inglês, uma das colegas (que inclusive era professora erevisora aqui) disse que podia deixar que ela vai revisar. Então, ela revisou de graça

122 http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_serial&pid=0102-6445&lng=en&nrm=iso (Acesso em 29de abril de 2017)

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para a gente. Mesmo com precariedade, a gente consegue levar as coisas adiante.Tem uma certa insegurança, mas não é uma dimensão que considere [47’10’’inaudível]. Que eu considere que coloque em risco a revista, está certo?

Qual é o custo médio de cada edição?Depende. Posso até tabular porque a gente começou a.... Veja só: O primeirovolume, que foi integralmente em inglês, foi o volume do ano passado. Então, tenhoa impressão que gastamos em torno de.... Se eu recebi 15 mil do CNPq anopassado.... Tenho a impressão de que uns 40 mil reais, mais ou menos.

Agora vou pegar outro aspecto da revista. O quanto os estratos do QualisPeriódico interferem na editoração da revista? Os estratos do Qualis fazemparte das metas atuais da revista?Não. Não vou dizer que nunca considerei isso, mas depois que chegamos a A2 eA1, eu sabia que íamos nos manter nisso. Tinha antes um certo trabalho em mostrarpara o pessoal do CNPq que a nossa área é um pouco complicada porque o comitêda Capes é Ciência Política e Relações Internacionais. Então, o comitê sempre édirigido pelo pessoal de Ciências Políticas, que precisa entender que o que a gentefaz é Ciência de alto nível. Esse momento se superou. A revista está como A1 hácinco ou seis anos, antes ela era A2. Não tenho lembrança exata, mas, desde antesdesse ciclo, que se encerrou. Depois que chegamos a A2, eu sabia quechegaríamos a A1 em algum momento, mesmo porque nós tínhamos indicadores,internacionalização, indexação, ritmo de produção editorial, que é muito maissofisticado que muitas revistinhas que eram as queridinhas do pessoal de CiênciasPolíticas estavam marcadas como A1, não vou dizer A1, mas no topo do Qualisdesde sempre, desde que o Qualis foi criado. O que eu faço, é muito melhor do queo quo esses caras fazem. Em algum momento, eles vão ter que.... Chegou a ummomento que era um constrangimento para a comunidade. E o pessoal começa aver como percepção da comunidade de Relações Internacionais. “Pô, por que talrevista é A1 se, por exemplo, não está nem no Web of Science? Por que ela é A1 enós não somos?”. Chegou num ponto que não só eu, mas outros colegas dacomunidade, ficaram no “O que é isso?”. Chegou a um ponto que nós tínhamosindicadores muito melhores que outras revistas queridinhas, vamos dizer assim, e éa fatalidade, tem que ir para A1. Você tem fator de impacto? A RBPI chegou a terfator de impacto maior que da Dados. Se nosso fator de impacto é um número muitobaixo, mas essa é a realidade de Ciências Sociais. Os fatores de impacto sãobaixos. No Brasil, tirando revistas de Psiquiatria, que eu não considero CiênciasSociais e Humanidades, mas vá lá.... Tem revistas de Psiquiatria que estão no Webof Science no mesmo cluster que a RBPI, Dados, etc. Quer dizer, tirando essasrevistas muito específicas, o que são Ciências Sociais mesmo, como a RBPI durantemuito tempo, quando passou a ter fator de impacto, o fator de impacto era maior. Senós somarmos outras revistas que consideramos de revistas de Ciências Políticas e

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Relações Internacionais na América Latina e que estavam no Web of Science seriaa Dados e a Revista de Ciência Política do Chile. E o fator de impacto da RBPI,durante muito tempo, foi bem maior do que a Dados e a Revista Política do Chile. Nocaso da Revista Política, era uma revista muito internacionalizada. Voltando para asua pergunta. Se eu tenho obsessão com A1 ou A2? Não tenho. Não tenho. Agora,evidentemente, não vou correr o risco de perder porque é uma fatalidade, issoacontece em todas as áreas do conhecimento que, se por um lado é legal, porquese de um certo modo o Qualis não deixa de ser... Eu acho que o Qualis é um fato dequalidade. Eu acho. Dependendo do comitê. Tem comitê que é tão parametrizado,tão claro como se faz para a revista ser A1 ou A2, que é legal. O nosso comitê ficoubem mais claro nos últimos 4 ou 5 anos. Acho que é importante. Mas, realmente, sevocê não é A1 ou A2, o nível de contribuição cai muito, despenca na verdade. Eufalo isso porque também tenho uma revista “pobrezinha”. A Meridiano 47 continuasendo editada e, ao longo dos últimos anos, começamos a buscar outra funçãoeditorial para ela, outra missão editorial para ela. Então, costumo dizer que é anossa irmã pobre. Então, nessa família tem essa tia rica, não rica, com prestígio,que a RBPI tem, e essa sobrinha pobrezinha, que é a Meridiano 47. A Meridiano 47está em B1 em vários comitês, e como B2 em Ciência Política e RelaçõesInternacionais. Mas nós temos, realmente, contribuições numericamente em umnível baixo quanto à qualidade, que é inferior ao que publicamos na RBPI. Isso eucomprovo porque tenho uma revista A1 e uma revista B2 da mesma área. O Qualisfaz diferença.

A Meridiano 47 é considerada de divulgação científica mesmo ou ela écientífica?Não, ela não é de divulgação científica, ela é científica. O que é de divulgaçãocientífica é esse projeto nosso do Mundorama. Você pode dar uma olhada.

Voltando para a RBPI. Como você avalia o Qualis que a sua revista recebeatualmente? Nosso Qualis, no que eu considero o principal comitê que é Ciência Política eRelações Internacionais, é A1 e eu acho que é extremamente merecido. Maismerecido que outras revistas que são A1. Nós temos indicadores que são muitomelhores que outras revistas que são A1. Nos outros comitês que não consideroprincipais, como História, ela é A2, Interdisciplinar é A2 porque a Qualis passou amarcar diferente o Qualis desde o ano passado, então, agora você só ganhaconceito se você tiver colhido contribuição no Sucupira do ano. Então, se nóstivermos artigos publicados por pessoas da Economia, por pesquisadores doprograma de pós-graduação de Economia e esse professor informar no Lattes dele eo programa de pós-graduação puxar isso no Sucupira, então o comitê de Economiaterá que marcar a revista RBPI. Acho que estamos fora do quadro de Sociologiaagora, mas antes éramos A2, História somos A2, Direito somos A1. O que me

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interessa mesmo, para falar a verdade, o que eu ficaria arrasado é se nóscaíssemos em Ciência Política e Relações Internacionais. Aí seria motivo para eume sentar no meio-fio e chorar (risos). Entendeu?

Entendi. E qual é o público-alvo da revista?Eu diria que, principalmente, pesquisadores e professores da área de RelaçõesInternacionais. Digo professores como pesquisadores consolidados no nossosistema de ensino e no exterior. Em menor grau, muito menor grau, alunos degraduação, Ciências Sociais no geral, Geografia, História, etc. Nesse mesmo nível,eu diria que diplomatas e militares. Mas bem em menor grau. Uma questão bastanteimportante ao longo dos últimos anos é que eu realmente deixei de me preocuparcom essa ideia de ser acessível para um público muito grande. Eu prefiro publicar amelhor ciência que me chega às mãos na minha área, especialmente (acho quevocê vai me perguntar no futuro), o problema de fazer uma revista em uma área queé extremamente consolidada nos Estados Unidos, a área nasceu nos EstadosUnidos e é uma potência, e que todo mundo somente lê e cita artigos de revistasamericanas, então, fazer com que uma revista publicada em um país do Sul Globalseja levada a sério. Esse é o problema. Minha missão nos últimos anos foi deixar deser uma revista exótica do ponto de vista científico. Quando um pesquisadoramericano estiver pesquisando sobre o Sul Global, América Latina, fatalmenteencontrará excelentes referências da RBPI. Está certo? Deixar de ser aquela coisa“Olha que exotismo, uma Revista Brasileira de Relações Internacionais”, uma dascoisas que podemos escutar, “Olha que exótico! Uma Revista Brasileira de RelaçõesInternacionais. Uau! Que diferente!”. Ao longo dos últimos anos, fui investindo muitonisso. De ter essa ciência, não somente brasileira, mas a ciência que publicamoslevada a sério. Está certo? Levada a sério por pesquisadores. Pelo pessoal dosEstados Unidos, do Japão, da Ásia e que está estudando Relações Internacionais eencontram em nossos artigos boas referências, digamos assim, que a gente tenhamais respeito internacional. Tem uma outra coisa que é muito importante também,Kátia, que a área de Relações Internacionais no Brasil tem crescidoconsideravelmente, então, temos o número de programas de pós-graduação umnúmero bastante razoável. De 100 cursos de pós-graduação espalhados pelo Brasilinteiro. São coisas que eu considero e considerei que paramos de publicar emportuguês porque se você está estudando Relações Internacionais, se você éestudante de graduação de Relações Internacionais, você deve pelo menos sercapaz de ler em inglês. Se você não é capaz de ler em inglês, você não tem queprocurar a minha revista. O mínimo que eu acho para você se considerar umestudante com alguma chance de ter uma carreira razoavelmente bem-sucedida naárea, não digo na carreira, na formação de Relações Internacionais, no mínimo, sercapaz de ler em inglês. Acho que isso é um requisito fundamental. Não precisa falar,ser capaz de manter grandes discussões, de discutir Shakespeare em inglês. Achoque falar não precisa. Mas no mínimo, NO MÍNIMO, ser capaz de ler sem

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interrupção. Com fluência. Com velocidade. Compreender a argumentação. Porque,por exemplo, a maior parte da literatura, e desde sempre foi assim na área, éestrangeira. Mesmo a usada na graduação em Relações Internacionais é literaturaproduzida fora, em inglês. A primeira coisa, se você está na área, você vai ler eminglês. No meu ponto de vista, a mudança em publicar em inglês foi muito mais fácildo que outras revistas fariam. Entendeu?

Entendi. Minha última pergunta antes de eu trocar de bloco e aprofundar umpouco mais na internacionalização. O senhor disse que um dos objetivos darevista é fazer com que ela circule. Faz parte da sua rotina acompanhar asestatísticas de acesso da revista e seus artigos?A gente sempre acompanha, mas não é uma obsessão minha, não. Eu não fico emcólicas com isso, não. Não fico preocupado se está recebendo mais ou menoscitações. Evidentemente, é muito comum isso A gente vê artigos de.... Tem umproblema, uma impressão que eu tenho como editor, quando eu vejo o pessoal dascomunidades da América Latina na Europa claramente têm uma certa desconfiançaem relação à qualidade do que é publicado na América Latina. Então, veja só:“Latino-americanista”, “brasilianista”, “argentinista”, “colombianista”, como sei lá oquê que você encontrar nos Estados Unidos e na Europa, sempre vão ter uma ideiade que “Ah, será que isso aí que foi publicado na América Latina é legal? É bom?Será que é cientificamente consistente? Ou será que eu, como pesquisador, estoume expondo quando cito essa literatura?”. Você está entendendo o que estoudizendo? Entendeu? “Será que eu, como pesquisador, cai mal citar um artigo daRBPI?”, eu sempre penso que existe esse ruído que a gente só consegue superarcom o tempo e com uma maior exposição internacional. Exposição consistente.Publicar trabalhos melhores. À medida que a revista circular mais, for mais citadaem trabalhos relevantes para a área, acho que a gente tem maior visibilidade. Se agente começar a superar esse ruído de que o que é publicado na América Latinanão é propriamente ciência espetacular, é uma ciência séria. Um outro aspectoimportante é superar a imagem de revista de nicho, que é um pouco sobre essacoisa de exotismo. Por exemplo, só publicar coisas (vou dar exemplo da nossa áreaque é bem interessante) política externa brasileira. Quer dizer, que revistasbrasileiras publiquem, em inglês, coisas somente sobre o Brasil. Superar isso.Temos feito um esforço consistente de valorizar outras perspectivas, outrasagendas, superar isso. Então, veja só: Em síntese, nós não somos obcecados com acoisa das citações, é uma coisa que eu mal acompanho, eu vejo quando sai o fatorde impacto. Saiu, vamos ver se ficou melhor ou pior que no passado. Especialmenteao longo dos últimos anos, o que a gente verificou é que a gente pode melhorar oprocesso de produção editorial para colher melhor essas citações. Isso é uma coisaque já identificamos há quatro anos. O problema é que, por conta do financiamentoe do ritmo de produção editorial, a gente não consiga colocar o material online,publicar o material em um prazo razoável para colher as citações. Por exemplo, para

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mim está muito claro que a gente sempre deveria ter o segundo volume do anopublicado em julho e não em dezembro. Quando eu publico em julho, eu tenho pelomenos um semestre para circular com esse material e colher citações para o fatorde impacto do ano. Mas, quando eu publico em dezembro, qual é o impacto disso?Nenhum! Só vou colher citações indiretas de impacto de dois e três anos. Isso ficoumuito claro. Já identificamos isso, tinha que tentar publicar mais cedo. Agora, umacoisa que vai ajudar muito na internacionalização, vai reforçar nossa estratégia deinternacionalização e para mim está muito claro que é uma prioridade da nossarevista, é a adoção do modelo de publicação continuada. Então, não precisamosesperar o fascículo ficar pronto para publicar. Se [o artigo] ficou pronto, publica. Seeu realmente conseguir publicar em 60 dias, está pronto, publica. Não precisaesperar. “Ah, esse está pronto, mas o outro não. Ah, mas o revisor não conseguiuterminar tudo....”, mas conseguiu publicar três, então vamos publicar três. Vamospublicar quatro e divulgar os quatro. Vamos fazer um barulho em torno dos quatroque publicamos. Vai por aí. Acho que as citações virão. Aumento de citação, devisibilidade quantitativa que os editores das Ciências Naturais são tão obcecadoscom fator de impacto. A gente não é obcecado porque sabe que ninguém tem.Ninguém tem mesmo. A gente tem. Somos uma boa revista, somos reconhecidos. Agente trabalha para publicar o melhor que podemos. Se vierem as citações, quebom. Mas não ficamos monitorando isso a todo tempo, não. Nem no GoogleScholar, nem em outras estatísticas. Não fico “Ah, dá para a gente melhorar isso enão sei o quê”. Não fico propriamente atrás disso. Eu, pessoalmente, ninguém daminha equipe fica monitorando isso como uma meta.

Bloco 3 – Internacionalização:

O senhor já tinha mencionado sobre as mudanças pelas quais o SciELOpassou, e como você avalia os critérios de internacionalização para indexaçãoe permanência na base SciELO? Como a revista está se adequando a essescritérios?Deixe-me discutir minha impressão inicial sobre o SciELO. Eu acho que acomunicação científica tem.... O SciELO realmente acabou introduzindo uma culturade profissão e de qualidade dos veículos que ninguém tinha. Os editorestrabalhavam muito com amizade, o peer review não era levado a sério e falo mesmo.O SciELO foi fazendo isso, ao longo dos anos, à medida que começou a crescer etodo mundo queria entrar no SciELO, foram tomando critérios mais consistentes,mais rígidos. Dando, na verdade, para toda a comunidade científica, uma meta dequalidade. Acho que os últimos critérios foram excelentes. Tem algumas coisas quesão complicadas para as revistas de Humanidades porque os temos deHumanidades são diferentes. Os tempos de redação de um artigo, começa por aí. Aextensão de um artigo, o custo de produção editorial de um artigo de uma revista deHumanidades é maior que de uma revista.... Por exemplo, revisão ou tradução:

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Temos artigos que vão no mínimo de 20, 25 a 30 páginas. Um artigo de Engenhariatem 3 páginas, de Biologia tem 2 páginas.... Enfim, isso tem, evidentemente, umimpacto muito grande. De tempo para colocar o material no ar, de tempo que vocêdemora para colher o impacto disso, que é diferente, acho que tem essas questõesque são mais específicas da área de Humanidades que são aspectos importantesque talvez o SciELO possam reler, não digo relativizar, mas reler ao longo dospróximos anos. Analisar com calma e prudência. Acabou que o primeiro ano dosnovos critérios foi ano passado, então, o SciELO pode monitorar como que asrevistas de Humanidades evoluem à luz desses novos critérios de permanência. Oprimeiro aspecto é esse e o segundo é que realmente o caderno de critérios doSciELO é muito claro do meu ponto de vista. Muito claro sobre o que é, o que não é,o que entra, o que sai.... Tem coisas que não se aplicam à área de Humanidades.Absolutamente. Por exemplo, ter editores associados estrangeiros, isso não é umarealidade nossa. Essa é uma realidade de outras áreas, que você tem oslaboratórios e uma dinâmica de conhecimento mais internacionalizada há muitasdécadas. A área de Biologia, por exemplo. É natural que as redes de produção doconhecimento, os laboratórios, são articulados para você trabalhar com um colegade fora mais naturalmente. Você vai para um pós-doc muito facilmente, seuorientando vai para um doutorado sanduíche muito mais naturalmente. É natural queuma revista de Biologia ou uma revista de Medicina tenha editores associadosestrangeiros. Na área de Humanidades, não. Não é! Acho que a única coisa que oSciELO tem que tomar cuidado é para não forçar um mecanismo para as pessoascomeçaram a falsear. “Ah, então vou dizer que meu colega na universidade de nãosei lá das contas é meu editor associado”, mas o colega só aceitou se passar porisso porque é seu amigo, na verdade, ele não vai atuar como editor associadomesmo. Isso é uma coisa que não se aplica. Acho que o SciELO tem que monitorare ver se isso é mesmo um padrão da área e se é natural para a área no Brasil. Masde resto, acho que os critérios são excelentes. Acho que realmente eles vão ajudarainda mais na consolidação das boas revistas brasileiras. É um problema, Kátia,você está fazendo sua dissertação sobre revistas e uma vez eu contei aqui para osmeus assistentes: Olha, só na área de Relações Internacionais, que é uma áreapequena, uma subárea de Ciências Políticas e Relações Internacionais, eu conteique existem em torno de 650 artigos de publicação no Brasil. 650. E eu colocominha mão no fogo que não existem 650 trabalhos que deveriam ser publicados.Então, quer dizer, alguma coisa não vai funcionar. Ou a revista não vai se realizar nasua missão de validar conhecimento científico, de publicar conhecimento científico.Porque a revista é isso, um serviço de validação. Por que eu publico? Para eu terum artigo A1? Para a minha promoção ser mais fácil? Para o meu programa de pós-graduação ganhar um pontinho na avaliação da Capes? Ou eu publico para o meuprojeto de pesquisa ter esses resultados e que esses resultados tenham umavalidade maior? Quer dizer.... Não existem 650 artigos que mereçam ser publicadosno Brasil em Relações Internacionais.

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O senhor se posicionou frente aos novos critérios, mas como a revista está seposicionando a esses novos critérios?Uma coisa que foi chocante para a gente foi a questão dos 35 artigos [por ano]. Paraas revistas de Humanidades isso foi um tapa. Eu consigo selecionar bem e a ideianão é publicar 35 artigos. Quero publicar os melhores. Esse artigo, que é mais oumenos, eu não quero! Isso foi difícil para a gente processar. Ter uma gordurasuficiente para levar 35 artigos ao ar. Infelizmente, ano passado, nós ficamos abaixoda média para a área, que era 35, ficamos abaixo da média, infelizmente. Mas esteano temos tudo para publicar 35. Entendeu? Então, tenho um estoque razoável.Como que a gente se adapta a isso? Trabalhando sempre com estoque à frente.Com pelo menos 10 artigos à frente. Mas tem aquela coisa, porque eu não queropublicar qualquer coisa. Eu tenho que publicar 35? Acho complicado. Como eu meadaptei? Passo então para a divulgação para captar melhores e mais artigos. Eutenho que captar mais. E o meu processo de captação é complicado porque eu sóaceito submissão em inglês, só aceitamos submissão em inglês. Isso quer dizer queo colega pesquisador faz um cálculo (eu sou professor pesquisador, então, sei comopensa) “Ah, a revista tal é A2, mas ela aceita que eu submeta em português, entãoporque eu vou gastar o meu latim, gastar dinheiro com uma revisão profissional domeu artigo em inglês, para submeter à RBPI?”. À medida que muita gente pensaassim, vamos tendo um problema de captação. Claramente, é um problema decaptação. E o problema de captação eu só consigo reverter divulgando mais arevista. Então, indo atrás nos últimos anos de edições especiais. Edições especiaissão editores convidados que divulgam a chamada em um circuito de potenciaiscolaboradores, que não é natural da revista. Isso é um problema de captação. Comoprocuro me adaptar? Divulgando mais. Sendo uma divulgação mais agressiva noscongressos da área. Por exemplo, uma de nossas editoras associadas, uma dasgrandes missões dela é divulgar a revista intensamente no maior congresso da áreado mundo inteiro, que é o Congresso da International Studies Association, que éanual e acontece nos Estados Unidos. É divulgação. Evidentemente, a divulgaçãoestá relacionada à captação de contribuições. Depois há, evidentemente, umproblema de financiamento. Uma coisa é eu revisar e publicar 18 artigos como faziaantes. Outra coisa é revisar, diagramar e publicar 35. Ainda mais em inglês. Estoucom um problema de financiamento desde o ano passado. Este ano o que vamosfazer é aumentar o pires, rodar mais o pires. O que eu acho é que há um terceirodesafio, além do desafio de captação e financiamento, que é a sustentaçãocientífica. Não me sujeitar a publicar qualquer coisa para fechar a cota de 35. Porexemplo, muitos comitês da Capes dizem que uma revista só é internacional sepublica artigos de estrangeiros. Aí o pessoal acaba sendo muito tolerante emreceber um artigo muito ruim que vem de fora do Brasil, mas publica para entrar noesquema de cotas. Nós não temos isso e nós nunca tivemos. Felizmente, o querecebemos são contribuições de fora naturalmente. O que se tem que vigiar é o

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desafio dos 35 artigos, o desafio do número de contribuições de fora do Brasil, odesafio de professores-associados de fora, que é uma coisa importante. Porexemplo, um dos nossos professores-associados de fora é, na verdade, de Chicago.Agora, ele está voltando para o Brasil. E aí? Eu vou mentir para o SciELO? “Não, elecontinua em Chicago?”. Ele vai voltar para o Brasil. Ou então vou ter que ir atrás deum editor associado de qualquer lugar, de qualquer quebrada, para colocar o caracomo editor associado? Enfim. Outra coisa importante que fizemos é a adoção dapublicação continuada, que vai nos ajudar um pouco nesse processo de adaptação.O processo de publicação continuada foi uma maravilha, uma revolução para agente. A gente testou antes. A vantagem em ter outra revista é que a gente testaantes. O SciELO também estava estimulando. Na área de Humanidades, acho quesó a gente está com modo publicação continuada. Eu acho. É que os editores aindanão entendem direito. Mas a publicação continuada nos ajuda nesses desafios nonovo caderno de critérios.

E para continuar o nosso roteiro, o senhor considera a revista que editorainternacional, nacional ou regional?Eu considero internacional.

E quais os elementos que a tornam internacional?Acho que, em primeiro lugar, o fato de ela ser evidentemente lida fora. Ela é lida.Quando vemos, por exemplo, ela é citada em trabalhos, capítulos de livros depesquisadores americanos, europeus, asiáticos e isso, talvez, não se manifeste deforma muito clara no fator de impacto do ISI porque tem esse problema do tempo dequando a gente colhe citação. Mas ela é consistentemente citada em excelenteslivros, capítulos de livros e mesmo em excelentes artigos de revistas internacionais,sul-americanas, europeias, que eventualmente não estão no Web of Science. É que,primeiro, é importante ela ser lida, ser levada a sério como uma coisa não exótica. Osegundo aspecto, acho que o fato de ela não ser publicada em inglês, acho queajudou bastante isso. Somente em inglês. Quando não era somente em inglês,ficávamos presos na turma, gangue de latino-americanistas, brasilianistas. Genteque sabia no mínimo ler em espanhol e fazia um esforço para ler em português. Massó se fazia esse esforço se fosse um caso desesperado. “Poxa, estou aquiprocurando alguma coisa sobre BRICS123 e não tem nada sobre BRICS em línguauniversal, em inglês. Coloquei isso aqui na EBSCO e o abstract falava sobre isso aí,mas é um raio de um artigo em português. Tenho aqui um mestrando que émexicano e coloco ele para ler, mesmo não sendo espanhol, depois o cara memonta como é a história”. Para a gente escapar disso, acho que é um aspectoimportante nessa dimensão de internacionalização. Então é a circulação dela, serlevada a sério tanto como outlet de publicação, como onde você se informa quando

123 BRICS é o grupo econômico composto por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul (“South Africa” em inglês).

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lê sobre essa ciência, tanto quando publicado ao sul, quanto dessas ciências. Edepois o fato de ela ser publicada em inglês, acho que ajuda bastante.

A revista sempre foi internacionalizada? Não. Não foi sempre. Ela foi a primeira revista da área, ou seja, a primeira revistaque surgiu com essa agenda de política externa, em 1958. Mas ela tinha até 1993,ela tinha um aspecto de divulgação. Publicava artigos científicos, mas publicavaresenhas, publicava documentos porque, na época, não existia Internet, então saiuum relatório da CPI das multinacionais na década de 1960, isso não circulava deoutro modo. Então o pessoal publicava documentos. Quando veio para cá em 1993,a publicação de documentos cessou, esse tipo de material não científico.Começamos a publicar somente material científico. Mas os processos editoraisforam realmente refinados a partir de 2004, em ter consistência no peer review, dacoisa do refinamento da produção editorial. A partir de 2004, passamos a publicarem inglês ou português ou espanhol. Na língua do artigo.

A partir de 2004?

Entre 2004 e talvez.... Publiquei poucas coisas em espanhol. Talvez tenha publicadosó 4 anos artigos em espanhol. Aí vi que não merecia. Não era mais o caso. A ideiaera “Não vou traduzir!”, se você é uma pesquisadora argentina e me manda umartigo em espanhol, eu vou revisar em espanhol e publicar em espanhol. Não voutraduzir para o português. E a mesma coisa, se você me manda em inglês, não voutraduzir para o português. Acho que até 2007, 2008, publiquei alguma coisa emespanhol. Aí depois passei a publicar em inglês ou português, na língua que viesseo artigo. A partir de 2015, todo o volume de 2016 foi todo em inglês. E todas asedições especiais que publicamos em 2010, 2012 e 2014 foram em inglês, todas eminglês. Mas o que você tinha perguntado mesmo? Desculpa!

Se ela sempre foi internacional, o senhor disse que não. Desde quando elapassou a ser, que o senhor explicou e agora quais foram as motivações paraela ser?Acho que ela nem sempre foi internacional. Ela foi ganhando isso mais a partir de2004. Por exemplo, foi quando a gente passou a ter preocupação em colocá-la emoutros serviços de indexação. Mesmo que seja online, a gente publicava online. Nãoestávamos no SciELO ainda. Adianta se não estivermos indexados? Aí conseguimosentrar na Web of Science, Scopus, a EBSCO, que foi bem legal. Acho que a genteconsidera que a revista internacionalizada, em vias de internacionalização a partir de2004, quando passamos a ter essa preocupação. Ainda que a gente publicasse

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majoritariamente em português. Mas internacionalizada mesmo, acho que a partir de2014 adiante.

O senhor disse em sua fala, mas só pontuando melhor: As motivações 2004para investir nisso foram quais?Acho que o primeiro aspecto é que não existiam os outlets de revistas internacionaisno Brasil, não eram muito consistentes. Não tínhamos um parâmetro científico muitoconsolidado, principalmente, porque elas não circulavam internacionalmente. Achoque minha ideia era fazer algo diferente. Além da Meridiano 47, tinha uma outrarevista muito boa, e que ainda é muito boa, que é a Contexto Internacional124,daPUC Rio (Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro). Talvez a diferença daContexto para a RBPI seja que aqui nós tivemos editores que realmente sededicaram bastante para a revista. Lá se teve muita alternância. Acho que a ideia éque, desde 2004, teve um reforço no conteúdo científico e do material ser mais lido.Quer ver uma coisa irritante, Kátia? Você vai a um congresso e vemos um caraapresentando um paper com uma argumentação toda, não estou acusando ninguémde plágio, mas uma argumentação toda que foi publicada em nossa revista, mas ocara não cita porque não fica bem citar. Está entendendo? “Ah, sou um professor deHarvard, por que vou citar essa porcaria feita no Brasil?”, acho que vai muito para anossa autoestima. Você faz ciência séria. Faz ciência boa. Se você faz ciência boa,você tem que publicar bem. Essa ciência tem que circular bem. Acho que a ideia éum pouco essa.

E como a internacionalização modificou o processo editorial da revista? Comoa equipe está resolvendo essas questões sobre o processo editorial?Ah, sim! Isso foi uma coisa BEM legal! Primeiro, foi a coisa do inglês que a gente foifazendo. E estimular o pessoal na captação nos congressos, a gente dizia “Vai lá,submete lá! Não estou dizendo que vou publicar. Mas submete! Vai lá!”. E a genteveio crescendo, primeiro foram as edições especiais. 2010, 2012, 2014 e a último foiano passado [2016], todas em inglês. Nesse momento, publicávamos ainda emportuguês, mas as edições especiais foram feitas em inglês. Chamadasinternacionais e com autores convidados. Totalmente em inglês. Outro aspecto queachei importante e, do meu ponto de vista, achei extraordinário, quando começamosa receber mais contribuição em inglês, foi que pudemos acessar um mundo depareceristas que não liam em português. Olha que coisa extraordinária eu poderoferecer um artigo sobre a teoria das Relações Internacionais ou sobre a política daChina no Sudeste Asiático e eu não ficar preso, não ficar amaldiçoadamente preso,vamos dizer assim, à oferta de peer review brasileira. Porque isso é um problemaseríssimo que eu acho que nós temos uma deficiência crucial, fatal, na formação dopesquisador da área de Humanidades, que é a falta de hábito de fazer peer review.

124 http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_serial&pid=0102-8529&lng=en&nrm=iso (Acesso em 29de abril de 2017).

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Como começamos a receber mais contribuições em inglês, um mundo se abriu paraa gente. Poxa, vou começar a catar esses pareceristas fora! Isso é bem legal. Omais interessante, e que é uma coisa extraordinária, como cultura acadêmica (estoudizendo que é mais consolidada, não que é melhor!) nos Estados Unidos, porexemplo, você é treinado a fazer peer review. Peer review faz parte da sua formaçãocomo doutorando. Faz parte do seu universo. Você, como pesquisador, sabe muitobem que, para você publicar, alguém leu a porcaria que você mandou. Então, sealguém leu e deu um parecer, você tem que fazer isso também. Porque faz parte deum sistema. Acho que isso, na cultura americana, é extraordinário. Por exemplo, nóstemos tido mais da metade, muito mais da metade, desde que começamos aprocessar artigos em inglês, somente em inglês, somente em 2015. E esses artigosde 2015 foram publicados em 2016. Então, por exemplo, mais da metade dospareceristas que nós tivemos foi estrangeira. Isso é extraordinário. Isso é umamudança de qualidade no nosso trabalho, no nosso processo editorial.Extraordinário. Outra coisa extraordinária, não cheguei a levantar, mas depois vouaté escrever uma peça sobre isso, não propriamente para cutucar os colegasbrasileiros, que nem aquela música “dizem que voltei americanizado”, Pô! Mas ocolega americano, que é ocupado pra caramba, tem que matar um leão por dia e fazum parecer de três páginas sobre um artigo de uma revista que ele nem ouviu falarna vida. E o parecer que você me faz é “Excelente! Avante!”. Está entendendo o queestou dizendo? Esse cara estrangeiro que faz um parecer de três páginas, ele nãoconsidera a possibilidade de publicar na RBPI, ele se dá a isso como uma causa, aocontrário do brasileiro que tem muito claro que fará parte do horizonte dele publicarna RBPI e, cretinamente, a resposta dele, quando responde ao nosso convite depeer review, geralmente são de pareceres patéticos. Desse tipo que te falei“Excelente! Publique! Avante!” ou algo assim “Nunca vi tanta bobagem escritajunto.”, entendeu? A qualidade de trabalho de quando você faz essa mudança nonosso trabalho editorial foi extraordinária. Passamos a acessar um mundo depareceristas que é extraordinário. Esse tipo de coisa que nem cabelo em ovo, quevocê só vê uma vez na vida. Um tema extremamente específico. Há três anos,achamos esse sujeito da Suécia, Noruega, um lugar desses. Aí pedi um parecer e ocara fez o parecer. Ano passado, três anos depois, chegou um artigo do cara.Quando o cara conhece a revista, faz o parecer.... Eu não faria um parecer para umarevista que eu não sondasse antes, se você me convidou para ser parecerista, vouver de onde é isso aí. Como é isso aí? Como é essa revista? Você não vai ficargastando latim com qualquer coisa. Eu não gostaria. Três anos depois, ele começa alevar a revista a sério, como um outlet potencial para publicação da sua ciência. Aífiquei “Esse nome eu conheço!”, fui ver e o cara já tinha sido parecerista nopassado. Mas tem outros casos que vão na mesma direção. Então, a mudança maisespetacular na mudança do processo editorial é essa, a qualidade do peer review e,por extensão, a qualidade do que publicamos porque esses pareceres são muitomais duros. Muito mais consistentes, muito mais exigentes e a leitura é muito mais

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completa com o que temos visto nas revistas da média do que a gente recebe doscolegas brasileiros.

Mas, no começo, vocês que iam atrás desses pareceristas, mas agora a revistaestá consolidando esses pareceristas estrangeiros?A gente sempre convida os pareceristas, a gente usa o Web of Science, tem orepertório dos colegas brasileiros. Ah, vai mandar para quem? Para fulano porque acomunidade não é tão grande assim. Agora, para todos os artigos, nós tentamos ter,pelo menos, um reviewer estrangeiro, isso desde 2015. Pelo menos um reviewerestrangeiro. Isso só porque agora tudo é em inglês, então, o cara vai poder ler. Nósnão abrimos inscrição para reviewers, as pessoas não se voluntariam, a gente vaiatrás. Então a gente busca no Web of Science ou então naquelas pessoas que jáforam pareceristas. Mas acho que, com isso, ficou bem mais fácil. Acho que foi umaspecto importante da nossa internacionalização.

E quais são os desafios, o senhor já mencionou, mas tem mais algum que osenhor quer explicar sobre a internacionalização e o processo editorial que foise modificando?Tirando o dinheiro?

Tem os problemas do custo que o senhor mencionou, que são muitas páginaspara argumentação.Acho que uma coisa que o SciELO tem batido muito e tem trabalho muito com asrevistas, talvez o SciELO poderia ser mais incisivo com isso, que é o caso daprofissionalização das revistas, profissionalização não é você ter funcionários.Profissionalização é você ter uma certa estabilidade nos processos editoriais eparâmetros profissionalizados. Diminuição dos prazos é uma coisa importante,razoável para colocar esse material mais rapidamente, acho que a profissionalizaçãoé um desafio que eu tenho, por exemplo, tenho esses meus dois assistentes, quesão espetaculares, mas fico pensando, ano passado eu estava em um mato semcachorro. Não tinha ninguém. É uma revista complexa, sem ninguém. Fui fazer umpós-doutorado e tive que dividir um tempo entre a minha pesquisa e a ler todo o tipode bobagem que chegava na revista. Vinham artigos bons e as bobagens também.Agora, fico vendo esses meninos, são dois assistentes espetaculares e ficopensando “E quando eles terminarem o doutorado?”. Um está no mestrado e o outrono doutorado, evidentemente, como professor, não quero que eles fiquem, queroque eles vão embora. A ideia é formar pessoal de alto nível na publicaçãocompetitiva, acho que esse tem sido o desafio mais importante que temos. Porexemplo, passamos aqui mais de um mês com reuniões de mais de 20 horas detreinamento. Para eu explicar o que é publicar e responsabilidade da edição. Achoque o desafio de profissionalização nesse sentido. Da edição sustentada,evidentemente do dinheiro, da internacionalização. É a gente continuar fazendo o

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que tem feito sem muito tropeço. Eu acho.

4 – Divulgação da revista científica:

Agora a gente vai entrar no nosso último bloco, porque eu sei que o senhortem horário também, que será sobre a divulgação da revista. O senhor jámencionou várias formas, como em eventos, mas só para deixarmos maisorganizado. Como a revista divulga as novas edições das revistas científicas? Não estamos mais usando a coisa da edição, é fascículo, quando sai a fornada,então nós publicamos uma nota no site da revista, publicamos uma nota noMundorama, imediatamente. Saiu uma fornada abrindo número tal e tanto. Pegamosessa nota e mandamos para todos nossos usuários do Scholar One. Só por e-mail,pegamos umas 5 mil pessoas, entre Mundorama, site do instituto e o Scholar Oneda revista. Depois, tudo isso está conectado no nosso perfil no Twitter, no Facebook.Depois de um tempinho, começamos a publicar as peças encomendadas, os pressreleases e as entrevistas. Uma coisa que não fizemos, mas começaremos a fazereste ano por conta do sexagenário da revista, nós vamos, na medida do possível,fazer palestras com nossos autores. Mas, como sempre, entre brasileiros, alguémvem para Brasília fazer alguma coisa, a nossa ideia é pegar esse pessoal para fazerpalestras, conferências e gravar spots, entrevistinhas de 3 a 4 minutos sobre aspesquisas deles. É uma ação que vamos fazer este ano. Cada fornada dessa deartigos, publicamos o material, que tem sempre esse procedimento. Aí tem as listasde discussão da área, os estudos latino-americanos, global, o da InternationalStudies Association, a nossa Associação Brasileira de Relações Internacionais.Encaminhamos notas para lá. Mas publicou nisso, e o pessoal fica sabendo. Depois,acho importante fazer um trabalho de inserção programada nas redes sociais,Twitter e Facebook. Uma coisa que a gente tem feito é falar para os autores criaremum perfil no Kudos125, você conhece o Kudos, Kátia?

Nunca tinha ouvido falar na verdade. Kudos? Como escreve?O site é Grow Kudos. É uma expressão grega ou latim que quer dizer “parabéns”. OGrow Kudos, especialmente o pessoal das Ciências Naturais, quando você publicaum artigo, isso há muitas décadas, a prática que você tinha de dizer Kudos, que é“parabéns!”. É uma coisa da Ciência. Então, eles lançaram esse serviço no anoretrasado, nos Estados Unidos, chamado Grow Kudos. Esse Kudos já foi adotadoentre os publishers grandes, conectam esse Kudos, esse serviço, na saída doScholarOne ou do sistema de submissão. Quando você tem um artigo publicado, elejá deixa uma forma de o autor mesmo escrever as peças de divulgação que vãodireto para esse Grow Kudos. Então, é gratuito para os autores, mas os publisherspagam. Como micro Publisher, Publisher artesanal que são as revistas, não temos

125 https://www.growkudos.com/ (Acesso em 29 de abril de 2017)

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como pagar. Mas estimulamos nossos autores para criarem seus perfis porque paraos autores é grátis. Para o autor é grátis. É engraçado porque o SciELO acabou, porintermédio da RBPI, tomando conhecimento sobre esse Kudos, talvez o SciELOpasse a trabalhar com eles este ano. Mas isso estimulo as pessoas a criarem umperfil no Grow Kudos. Dá uma olhada que você vai achar interessante. Aí, a gentecomeça, faz uma programação dos perfis e artigos com todo esse material. Osartigos e os press releases em si são publicados no site do SciELO. A gente faz umaprogramação nas redes sociais, inserção, então, no caso do Twitter, tem que seruma coisa mais intensa nas três semanas iniciais, tem que ter uma repetiçãonaqueles horários que sabemos que os seguidores da revista estão online efazemos uma programação de tantas inserções com esses softwares deprogramação, usamos o Hootsuite126 para inserções no Twitter e Facebook.Facebook não se repete muito porque se publicou fica lá. No Twitter não. Publicou epassa que nem água, publicou e foi embora. No Facebook, se não publicar nadadepois, ele vai ficar ali em cima. Mas, especialmente, a gente fala para os autores “Oseu artigo está publicado, manda o negócio para o Kudos. Quando você for divulgarseu artigo entre seus colegas (todo mundo faz isso), usa este link aqui. Para a gentenão fará tanta diferença, mas para você vai!”. Para cair direto lá [no SciELO]. Agente faz essa divulgação em listas de discussão de e-mails, listas das associações,Associação Brasileira de Relações Internacionais, as listas científicas, digamosassim, de sul-americanos, nosso site e as mídias sociais. E, evidentemente, fazendouma chamada, um esforço grande para o autor se envolver. O autor tem que seenvolver. Se o autor não se envolve, está pregando no deserto. Se o autor não seempenha em responder legal a entrevista que o menino vai e entra em contato comele, tem autor que nem responde, manda um, dois, três, quatro e-mails e nemresponde. Nem se digna a responder. Se o autor não se dignar a separar, porexemplo, a pecinha do press release que a gente vai realizar depois, aí écomplicado. “Isso não é para mim, não é para a revista, é para o seu trabalho. Seuartigo circular. Seu artigo ter chances de ser citado. Uma coisa que acho bembacana é o artigo ser adotado na literatura dos programas de pós-graduação ecursos de graduação. Poxa! Isso é muito legal! Aqui no vestibular da UnB já teveartigo da RBPI, enxertos da revista, que foram tomados como mote nas questões devestibular. Na prova do Rio Branco a mesma coisa. Eu acho muito legal, mas temque divulgar. Para os autores, acho que interessa tanto quanto para a revista. O elofraco dessa coisa da divulgação é quando você faz tudo direitinho, é o autor.Indiscutivelmente, é o autor. Acho que a última coisa que é muito interessante e quecomeçamos a fazer e o SciELO fiscalizou é essa coisa que o SciELO fez o blog doSciELO em Perspectiva Humanas, que publica as notas, entrevistas e tudo. E aRBPI foi a primeira, segunda revista a fazer entrevistas. Chegou a um ponto quetodo mundo começou a fazer entrevista e a gente vai parar de fazer entrevista.

126 https://hootsuite.com/pt/ (Acesso em 29 de abril de 2017).

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Mudar o formato.Está todo mundo fazendo. Fica cansativo. Então mudar o formato. Pessoal temvergonha de fazer videozinho, mas acho que os spots de vídeo vão ser maisinteressantes do que a entrevista de perguntas. Mas o SciELO tem divulgado tanto achamada de contribuições e os press releases de edições. Acho que o blog SciELOem Perspectiva Humanas foi extremamente importante para as revistas. Do nossoponto de vista das revistas, já fazíamos muita coisa. Então, o que eles passaram afazer conosco foi de certo modo potencializar um pouco isso. Então, você viu queeles começaram a fazer ano passado as semanas dedicadas. Eles pegam ebloqueiam o blog por uma semana para fazer inserções só sobre determinadarevista. A primeira vez que isso aconteceu foi com a RBPI, em 2015, porque nósmandamos para eles um lote de 10 entrevistas. Está aí, você publica e escolhe oque quer. As entrevistas foram feitas e fizeram essa coisa de semana dedicada, aprimeira foi a semana da RBPI. Ano passaram tiveram de outras e agora vamos tera RBPI no mês que vem, que é a coisa do sexagésimo volume. Acho que o blogSciELO em Perspectiva ajuda bastante, é muito legal, ajuda nessa coisa dadivulgação para os autores verem, os alunos verem . Acho que o que está maispróximo de um esforço consistente de divulgação para um público não iniciado.

O senhor tinha mencionado que mês que vem terão alguns videozinhos, isso?Nós temos três entrevistas gravadas sobre a revista por conta do sexagésimovolume. Nós vamos começar a fazer entrevistinhas sobre os artigos. Entrevistas emvídeo sobre os artigos, porque o que temos até agora são entrevistas escritas. Maso próprio pessoal do SciELO achou que as entrevistas escritas, a moçada acha maischato. Eu acho mais legal, mas a moçada acha chato. O problema em fazer aentrevista em vídeo é que tem muito autor que não gosta de fazer. Tem gente quetem vergonha. Mas eu fui e comprei tripé, comprei microfone de lapela, estava nosEstados Unidos, estava tudo muito barato, comprei tudo e trouxe para cá parafazermos serviços mais profissionais sobre os artigos. Esse negócio da divulgaçãoque eu gostaria de fazer era ter mais gente divulgando. Por exemplo, quando vamosfazer captação nos congressos, congresso brasileiro, não me empenho muito emfazer captação porque, de modo geral, todo mundo quer publicar aqui na RBPI, aRBPI faz parte do horizonte de publicação naturalmente dessas pessoas, dacomunidade brasileira. Mas nos eventos internacionais, não. Então, nos eventosinternacionais, temos um esforço de divulgação mais dedicada, mas acho quetestamos muitas coisas nos últimos anos. Essa coisa de levar folder e você via ocara jogando folder fora na sua cara. Na sua frente. Entregava caneta, “Obrigadopela caneta”, é da revista. Essas coisas que vimos que não funciona. O que funcionaé participar do fórum dos editores, porque todos têm uma sessão de editores queeles falam da política editorial, o que tem feito. Na ISA (International StudiesAssociation), nossa abordagem tem sido diferente, tem sido ir aos painéis e que têmcoisas que gostaríamos de publicar e falar com os autores para considerarem

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submeter uma versão ampliada. Eu queria ter mais gente para fazer isso nosencontros para divulgar melhor.

Sim. Agora queria que o senhor explicasse melhor o trabalho desses alunosque estão se dedicando à divulgação científica e como mudou algunsprocessos do senhor, da revista. Queria que o senhor comentasse sobre isso.O que a gente sentiu alguma diferença este ano é essa coisa de eu ter treinado umjovem, que é nosso editor de divulgação. Ele tem acesso e posta no site, faz asprogramações nas mídias sociais e coordena essa coisa de encomendar asentrevistas. Quando a gente conclui a linha editorial, a escolha. A decisão.Passamos esse material para esse rapaz. A minha ideia é essa. Esse rapaz divideentre eles. Não tenho essa coisa de equipe fixa porque, no ano passado, foramquatro estudantes que tiveram interesse em fazer isso e fizeram excelentesentrevistas. Para eles também é legal porque você é jornalista e a ideia depublicação para você é natural. Mas para um menino de Ciências Sociais eRelações Internacionais, ter uma entrevista publicada no SciELO em Perspectiva, noMundorama, que é nosso projeto de divulgação científica, para ele, primeiro que issoé um título para ele, isso alimenta o título dele. O portfólio de pequenos títulos queele juntou. Depois de fazer uma seleção de doutorado, para eles é interessante isso.Eu tenho feito isso. Os que têm mais interesse, estamos repetindo a experiência. Eantes, eu tinha feito uma experiência, no programa de educação tutorial. Primeiravez que fizemos um lote grande de entrevistas foi na edição de 2014, queentrevistamos todos os autores, feito com o programa de educação tutorial. Mas eunão gostei muito da experiência. Acho que mais por questões pessoais de como osmeninos reagiram à coisa de ter que fazer isso do que exatamente como ferramentapedagógica. Acho que queria pensar em divulgação, já que estou dentro de umauniversidade, e o produzir como uma ferramenta pedagógica. Porque você tem queler o artigo. E tem que ler o artigo como um estudante de Relações Internacionais,de mestrado, de doutorado em Relações Internacionais. E depois você vai entrar emcontato com o autor. Acho isso legal. Teve gente que é hiperimportante e quepublicou na revista nos últimos anos. Você vai entrar em contato com o cara. Vocêvai ter uma chance de ter um approach, de ter uma conversa diferente que outrapessoa, outro colega seu não tem. Mas essa concepção da divulgação comoferramenta pedagógica não foi uma experiência muito legal no programa deeducação tutorial. Depois eu pensei em envolver pessoas de outras universidades,se eu for lá na Universidade Federal de Uberlândia e falar com o professor para ogrupo de pesquisa fazer um lote de entrevistas da edição. Pensei que poderia seralgo natural. Porque se cria uma coisa interessante da divulgação como ferramentapedagógica. Mas depois pensei que o problema é a que a distância pode ser umacoisa complicada e aqui eu posso instruir quase que imediatamente esses meninosque se envolvem nas entrevistas, na divulgação. Em Uberlândia, eu provavelmentenão. Minha expectativa com esse editor de divulgação é que seria uma revista

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profissionalizada e que seria um jornalista especializado em divulgação científica.Uma pessoa como a sua formação, por exemplo, que esse jovem possa nos ajudarum pouco para consolidar um pouco esses parâmetros de divulgação com umaconsistência. Como a gente faz a divulgação.

Eu tenho uma pergunta. Como eu tinha olhado o site do IBRI e tinha algunsmateriais em inglês. As peças de divulgação de vocês são em português, eminglês? Como que funciona?Depende do material. Tem muito material em inglês. Acho que porque a genteconsidere que todo mundo é capaz de ler em inglês.

Nas peças de divulgação também?Nas peças de divulgação, também. Mas tem alguns artigos, de autores brasileiros,principalmente, que tentam fazer em português para a gente ter uma circulaçãodiferente. E acho que depende em como o autor quer responder. Se o autor querresponder em português ou em inglês as entrevistas. Mas as instruções quepassamos aos autores, quando encomendamos os press releases, é que tem ummodelo SciELO, mas tenta fazer em inglês. Se não for possível, vai em portuguêsmesmo, mas tentem fazer em inglês. O nosso foco é a comunidade de RelaçõesInternacionais. Então, tem sido muito material em inglês. Você tem razão sobre isso.

E de todas essas estratégias que a revista tem realizado, quais estãoapresentando resultados mais positivos e por quê?Dessas de divulgação?

De divulgação.Eu acho que essa coisa do site, de manter o site sempre atualizado. Eu vejo umacoisa positiva da revista. Eu e meus colegas temos muita paixão pelo que fazemos.Acaba que colocamos muito mais tempo no nosso trabalho de editor do que colegasde outras revistas científicas. Eu realmente gosto de estudar sobre isso. Euacompanho os blogs da área, as revistas que publicam sobre editoração, edição,acompanho, leio. Acabou que muitas coisas que fomos fazendo foram sendoadotadas por outras revistas de Relações Internacionais. Por exemplo, tem revistasfazendo entrevistas, fazendo press releases, adotou publicação continuada, masnão está no SciELO. Ao longo dos anos, fomos tornando muito claras as nossaspolíticas editoriais, as nossas regras de submissão. Então, se formos ver nossasregras hoje, são muito detalhadas e quando fui ver, tem revista que praticamentecopiou nossas regras de submissão. Mas é isso aí. A coisa da divulgação, asentrevistas ajudaram bastante. A gente faz inserções sobre o perfil da revistatambém. Por exemplo, não publicamos uma nominata dos peer review das edições.Mas no começo do ano seguinte, a gente publicou uma nota de agradecimento.

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Acho que é diferente de publicar uma nominata. Mesmo quando a revista eraimpressa. Publicar nominata eu achava meio cretino. Se publicar a nominata ficacom aquilo de “Ah, quem revisou meu trabalho foi fulano. Só tem ele aqui que sabedisso!”. Mas no começo do ano seguinte, publico uma nota de agradecimento aosreviewers. A gente tem feito também inserções sobre a revista, que são coisas queajudam na revista, coisas institucionais sobre a revista, acho que são bem legais.

E a divulgação em redes sociais têm impactado a revista?Acho que sim. Vejo pelo número de cliques. Especialmente, quando sai a fornada.Na primeira semana, sai aquele monte de acesso. Eu não tenho acesso aos dadosdo SciELO. Tenho acesso aos dados do material que produzimos. Do que está nosite do IBRI e do que está no Mundorama. Realmente, quando sai essa fornada eesse material, nós temos um pico de audiência em torno desse material. Acho queas redes sociais têm ajudado. As pessoas não têm o hábito, como nos EstadosUnidos, que são as pessoas terem debates em torno do artigo. Como a Kátia quecoloca no Twitter dela que publicou um artigo e eu vou lá, leio e falo que aqui temum excelente artigo da Kátia. Aí o outro passa adiante. Poxa, tenho aqui um artigode uma jornalista lá da Unicamp que trata de um blog do “borogodó”. Isso não tem.Em nenhuma área no Brasil. Não tem como nos Estados Unidos. Mesmo emCiências Naturais não têm. As mídias sociais são mecanismos de interação. NoBrasil, elas são aquela coisa meio estática. Fica aquela coisa de dar um “retuite”sem interação. Ou você causa uma curtida no Facebook sem interação. Acho quesão coisas que poderíamos trabalhar mais e ver se vale a pena. O problema é que,poxa, Kátia, tenho mais o que fazer também. Tenho que rodar a revista, tenho quedar aula, tenho que continuar minhas pesquisas. (risos) A gente já faz bastante. Temvários modelos de divulgação científica que são muito legais, que os Estados Unidosutilizam. As mesas redondas, por exemplo, eu tenho um artigo da Kátia e voucoordenar uma mesa redonda. Eu convido 4 pesquisadores consolidados a fazeremum review do seu artigo. Como o seu artigo avança na ciência? Como se fosse umamesa redonda ao vivo, só que escrito. Depois que fechar isso ao longo de três,quatro semanas, você, autora, volta e não vou dizer rebate, mas comenta. Então,tem modelos muito interessantes de divulgação. Mas, olha, quantos desafios, agente não consegue nem fazer o autor responder o raio de uma entrevista, quantomais fazer isso. Você está entendendo?

Entendi. O trabalho de divulgação da revista mudou o público leitor?Acho que provavelmente. Acho que o pessoal de graduação tem prestado maisatenção. Professores de instituições particulares e menores, acho que talvez tenhacomeçado a prestar mais atenção, ainda que a revista tenha se tornado maisdiferente ao longo dos anos, tem publicado mais material em inglês. Muito curiosoisso, à medida que ela se afasta da coisa de simplesmente vulgarização, que é aalta divulgação científica, no sentido amplo mesmo. A certa medida que passamos a

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publicar em inglês, você tira imediatamente as pessoas que não sabem ler eminglês. Mas foi um risco calculado. Mas eu acho que, por outro lado, essa coisa dasmídias sociais e essa coisa mais intensa no site, acho que tem trazido esse públicoque talvez tenha se tornado disperso com a publicação somente em inglês. Umacoisa muito interessante sobre o inglês, que comento com os meninos, é a coisa defazer a entrevista que instigue a leitura do artigo. Não que torne a leituraprescindível. A entrevista tem que tocar no tema e trazer a agenda do pesquisador,mas sem ser tão exaustiva a ponto de a pessoa não precisar mais ver o artigo. Quea entrevista seja ousada. Fiz uma experiência em uma disciplina minha de gravação.A entrevista tem sido usada e depois me falaram que estão usando a entrevistacomo material paradidático. Pensar nisso. Entrevista como material paradidático.Ideia bacana pra caramba temos, como criação de dossiês comentados noMendeley. Vamos lá, dossiê sobre a história das Relações Internacionais. Poxa,nossa revista tem 60 anos. Tem coisas desde a crise de 1962 até avaliação dapolítica externa da Dilma. Política externa brasileira, contemporânea, questõesnucleares, de energia, Mercosul.... Podemos criar dossiês sobre isso. Fazer um“auê” em torno desses dossiês. A gente pode criar kits, que ficou no caminho dessesexagenário, que seria fazer uma série de artigos comentados. É um privilégio dequem tem 60 anos. Se ter 60 anos tem alguma vantagem, é isso (risos). Eu tenhoartigos que não são nem mais artigos, são documentos. São coisas que ficam pelomeio do caminho, mas dá margem para bastante coisa, e a gente tem chamadoatenção do pessoal. Vem como um a mais esse material, press releases,entrevistas, os artigos têm discussões diferentes em sala de aula. Mesmo para umpúblico que, eventualmente, não seja fluente em inglês.

Agora só mais duas perguntinhas para a gente fechar. Os leitores dão algumfeedback sobre os esforços de divulgação da revista? Não.

E a divulgação científica está mais relacionada à busca pelainternacionalização da revista ou na busca por visibilidade nacional? Comoque vocês pautam mais para fazer a divulgação?Acho que mais para mostrar para o Brasil mesmo. O que acaba pra fora, minha ideiapara fora é fazer a coisa dos congressos e publicar artigos bons que sejam lidos,citados, circulados. Acho que meus colegas estrangeiros, a moçada acaba nãocirculando nos outlets de onde esse material sai. Nas mídias sociais da revista. OKudos ainda é uma coisa que tenho que testar direito para qual é o impacto dele.Quais são os autores que enviaram mesmo o perfil porque eles têm um mecanismode divulgação que parece ser diferenciado. Então, é uma coisa que quero ver. Maseu tenho entendido, e pode ser que a minha percepção esteja errada, que a genteacaba divulgando mais para dentro. Que a divulgação mesmo, essas peças queestamos produzindo, é mais para dentro, pode ser que eu esteja errado. Mas nunca

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pensei nela como ferramenta da internacionalização. E também não tive feedbacksobre isso.