kofi a. annan prevenção de conflitos armados - dhnet.org.br · kofi a. annan prevenção de...

122
Kofi A. Annan Prevenção de Conflitos Armados Relatório do Secretário-Geral Nações Unidas

Upload: danglien

Post on 20-Sep-2018

234 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: Kofi A. Annan Prevenção de Conflitos Armados - dhnet.org.br · Kofi A. Annan Prevenção de Conflitos Armados Relatório do Secretário-Geral Nações Unidas • Nova Iorque, 2002

Kofi A. Annan

Prevenção deConflitos ArmadosRelatório do Secretário-Geral

Nações Unidas

Page 2: Kofi A. Annan Prevenção de Conflitos Armados - dhnet.org.br · Kofi A. Annan Prevenção de Conflitos Armados Relatório do Secretário-Geral Nações Unidas • Nova Iorque, 2002

Kofi A. Annan

Prevenção deConflitos ArmadosRelatório do Secretário-Geral

Nações Unidas • Nova Iorque, 2002

Page 3: Kofi A. Annan Prevenção de Conflitos Armados - dhnet.org.br · Kofi A. Annan Prevenção de Conflitos Armados Relatório do Secretário-Geral Nações Unidas • Nova Iorque, 2002

ii

PREVENTION OF ARMED CONFLICT - REPORT OF THE SECRETARY-GENERALDPI/2256 - PORTUGUESE - 1000 - JULY 2002

PUBLISHED BY THE UNITED NATIONS INFORMATION CENTRE IN PORTUGAL

Page 4: Kofi A. Annan Prevenção de Conflitos Armados - dhnet.org.br · Kofi A. Annan Prevenção de Conflitos Armados Relatório do Secretário-Geral Nações Unidas • Nova Iorque, 2002

iii

ÍNDICE

Resumo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .vii

1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .1

I ParteMandato e papel dos principais órgãos das Nações

Unidas

2 Mandato das Nações Unidas em matéria de prevenção deconflitos 1A. O quadro fornecido pela Carta . . . . . . . . . . . . . .11B. As decisões da Assembleia Geral e do Conselho de

Segurança e as opiniões dos Estados Membros sobreprevenção de conflitos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .12

3 Papel dos principais órgãos das Nações Unidas na preven-ção de conflitos armados . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .15A. Papel da Assembleia Geral . . . . . . . . . . . . . . . . .15B. Papel do Conselho de Segurança . . . . . . . . . . . .19C. Papel do Conselho Económico e Social . . . . . . .22D. Papel do Tribunal Internacional de Justiça . . . . .25E. Papel do Secretário-Geral . . . . . . . . . . . . . . . . . .28

Page 5: Kofi A. Annan Prevenção de Conflitos Armados - dhnet.org.br · Kofi A. Annan Prevenção de Conflitos Armados Relatório do Secretário-Geral Nações Unidas • Nova Iorque, 2002

iv Prevenção de conflitos armados

II PartePapel do sistema das Nações Unidas e de outros actores

internacionais

4 Papel e actividades dos departamentos, organismos e programas das Nações Unidas no domínio da prevençãode conflitos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .35A. Visão geral . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .35B. Medidas destinadas a fomentar a coerência no seio

do sistema das Nações Unidas . . . . . . . . . . . . . .36C. Acção política . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .41D. Operações de manutenção da paz . . . . . . . . . . . .46E. Desarmamento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .49F. Actividades relacionadas com os

direitos humanos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .53G. Ajuda ao desenvolvimento . . . . . . . . . . . . . . . . .55H. Acção humanitária . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .60

1. Considerações gerais . . . . . . . . . . . . . . . . . .602. Aspectos específicos . . . . . . . . . . . . . . . . . . .62

a) Segurança alimentar e ajuda alimentar deemergência . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .62

b) Refugiados . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .65c) Saúde . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .67d) Crianças . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .68

I. Media e informação pública . . . . . . . . . . . . . . . .70J. Igualdade entre os sexos . . . . . . . . . . . . . . . . . . .72K. Controlo de drogas e prevenção

da criminalidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .75

5 Interacção entre as Nações Unidas e outros actores inter-nacionais na prevenção de conflitos armados . . . . . . .77A. Acordos regionais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .77

Page 6: Kofi A. Annan Prevenção de Conflitos Armados - dhnet.org.br · Kofi A. Annan Prevenção de Conflitos Armados Relatório do Secretário-Geral Nações Unidas • Nova Iorque, 2002

v

B. Organizações não governamentais e sociedade civil .79C. O sector privado . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .82

6 Reforço da capacidade de prevenção de conflitos armados . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .84

7 Conclusão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .90A. Superação dos obstáculos à prevençãode conflitos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .90B. Promoção de uma cultura de prevençãode conflitos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .93

Anexo IResolução 1366 (2001) do Conselho de Segurança . . . . .97

Anexo IIResolução 55/281 da Assembleia Geral . . . . . . . . . . . .107Índice remissivo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .109

Page 7: Kofi A. Annan Prevenção de Conflitos Armados - dhnet.org.br · Kofi A. Annan Prevenção de Conflitos Armados Relatório do Secretário-Geral Nações Unidas • Nova Iorque, 2002

vii

RESUMO

Desde que assumi as minhas funções, propus-me fazercom que as Nações Unidas passassem de uma cultura de reac-ção para uma cultura de prevenção. Numa declaração do seuPresidente, em 20 de Julho de 2000, o Conselho de Seguran-ça convidou-me a apresentar um relatório sobre prevenção deconflitos armados que contivesse uma análise e recomenda-ções sobre as iniciativas que poderiam ser tomadas pelo siste-ma das Nações Unidas, tendo presentes a experiência anteriore as opiniões e considerações emitidas pelos Estados Mem-bros. O meu primeiro objectivo, neste relatório, é analisar osprogressos conseguidos no desenvolvimento da capacidadedas Nações Unidas em matéria de prevenção de conflitos,conforme me foi solicitado pela Assembleia Geral e o Conse-lho de Segurança. O meu segundo objectivo é apresentarrecomendações concretas sobre como se poderiam intensifi-car ainda mais esses esforços, com a cooperação e a partici-pação activa dos Estados Membros, sobre os quais recai, emúltima análise, a responsabilidade primordial pela prevençãode conflitos.

Ao redigir o presente relatório, procurei ter em conta asdiversas opiniões e considerações expressas pelos EstadosMembros em debates recentes da Assembleia Geral e do Conselho de Segurança sobre a prevenção de conflitos. É evi-dente que, para que as medidas de prevenção neste domíniosejam bem sucedidas, são necessários o apoio activo e a coo-peração dos Estados Membros. No relatório, analisam-se ascontribuições específicas que podem ser dadas pela Assembleia Geral, o Conselho de Segurança, o ConselhoEconómico e Social, o Tribunal Internacional de Justiça e oSecretário-Geral, bem como a cooperação entre as Nações

Page 8: Kofi A. Annan Prevenção de Conflitos Armados - dhnet.org.br · Kofi A. Annan Prevenção de Conflitos Armados Relatório do Secretário-Geral Nações Unidas • Nova Iorque, 2002

viii Prevenção de conflitos armados

Unidas e actores externos, tais como as organizações regio-nais, as organizações não governamentais e a comunidadeempresarial.

A acção do sistema das Nações Unidas no domínio daprevenção de conflitos não é nova. Muitos dos programas eprojectos do sistema das Nações Unidas, nomeadamente emmatéria de desenvolvimento, têm já efeitos preventivos oupelo menos potencialidades preventivas, ainda que sejam fre-quentemente dispares e incompletos. O que pretendo aqui émostrar como os departamentos, programas, gabinetes e orga-nismos das Nações Unidas (que contribuíram todos para aelaboração do presente relatório) trabalham em interacção afavor da prevenção de conflitos armados. Revestem-se deespecial importância os esforços das Nações Unidas paraaumentar a capacidade dos Estados Membros no que se refe-re à prevenção de conflitos. O desafio que se nos depara écomo mobilizar o potencial colectivo do sistema de umamaneira mais coerente e mais orientada para a prevenção, semque por isso seja necessário atribuir-lhe importantes recursossuplementares.

O presente relatório assenta nos seguintes grandes princípios:

• A prevenção de conflitos é uma das principais obrigações dos Estados Membros enunciadas na Cartadas Nações Unidas e os esforços da Organização nessaesfera devem estar conformes com os objectivos e princípios da Carta. O Capítulo VI da Carta é aquele que proporciona o quadro mais apropriado paraas actividades de prevenção de conflitos.

• A responsabilidade primordial pela prevenção de conflitos recai sobre os governos nacionais, embora asociedade civil também tenha um papel importante. A

Page 9: Kofi A. Annan Prevenção de Conflitos Armados - dhnet.org.br · Kofi A. Annan Prevenção de Conflitos Armados Relatório do Secretário-Geral Nações Unidas • Nova Iorque, 2002

ix Resumo

função principal das Nações Unidas e da comunidade internacional é prestar apoio aos esforços nacionais de prevenção de conflitos e ajudar a criar acapacidade nacional nessa esfera.

• Para que tenham uma maior eficácia, as medidas preventivas devem ser desencadeadas o mais cedo possível, de preferência logo no início do conflito. Umdos principais objectivos dessas medidas deve ser atacar as causas socioeconómicas, culturais, ambientais,institucionais e outras causas estruturais profundas queestão frequentemente subjacentes aos sintomas políticosimediatos dos conflitos.

• Uma estratégia de prevenção eficaz exige uma abordagemglobal que inclua a adopção pela comunidade internacional, em cooperação com os actores nacionaise regionais, de medidas, nomeadamente nos domíniospolítico, diplomático, humanitário, de direitos humanos,de desenvolvimento e institucional, a curto e a longoprazo.

• A prevenção de conflitos e o desenvolvimento susten-tável e equitativo são actividades que se reforçammutuamente. O investimento em esforços nacionais einternacionais em prol da prevenção de conflitos deveser encarado simultaneamente como um investimentono desenvolvimento sustentável, uma vez que este últi-mo é muito favorecido por um clima de paz duradouro.

• O êxito de uma estratégia preventiva depende da coo-peração de muitos actores das Nações Unidas, nomea-damente do Secretário-Geral, do Conselho de Segurança, da Assembleia Geral, do Conselho Económico e Social, do Tribunal Internacional de Justiça e dos organismos, gabinetes, fundos e progra-mas das Nações Unidas bem como das instituições de

Page 10: Kofi A. Annan Prevenção de Conflitos Armados - dhnet.org.br · Kofi A. Annan Prevenção de Conflitos Armados Relatório do Secretário-Geral Nações Unidas • Nova Iorque, 2002

x Prevenção de conflitos armados

Bretton Woods. O sistema das Nações Unidas não é oúnico actor no domínio da prevenção e muitas vezespode acontecer que não seja sequer o melhor prepara-do para tomar a iniciativa. Assim, os Estados Mem-bros, as organizações regionais e sub-regionais, o sec-tor privado, as organizações não governamentais eoutros actores da sociedade civil têm também um papelmuito importante a desempenhar.

Não tenho a ilusão de que será fácil aplicar as estratégias deprevenção. Os custos da prevenção têm de ser pagos no pre-sente, enquanto os seus benefícios só se colherão num futurodistante. A principal lição a retirar das experiências passadasdas Nações Unidas neste aspecto é que quanto mais rapida-mente se identificarem e enfrentarem as causas profundas deum conflito potencial, mais provável é que as partes num con-flito estejam dispostas a estabelecer um diálogo construtivo,abordar os verdadeiros problemas que estão na origem dopossível conflito e abster-se de recorrer à força para alcançaros seus fins.

Os governos que assumem a sua responsabilidade sobe-rana por resolver por meios pacíficos uma situação que sepoderia deteriorar a ponto de ameaçar a paz e a segurançainternacionais e pedem a ajuda das Nações Unidas e de outrosactores internacionais, assim que dela necessitam, asseguramaos seus cidadãos a melhor protecção possível contra interfe-rências exteriores não desejadas. Deste modo, a acção pre-ventiva levada a cabo pela comunidade internacional podecontribuir significativamente para o reforço da soberanianacional dos Estados.

No presente relatório, insisti em que a prevenção de con-flitos está no centro do mandato conferido às Nações Unidasem matéria de manutenção da paz e da segurança internacio-

Page 11: Kofi A. Annan Prevenção de Conflitos Armados - dhnet.org.br · Kofi A. Annan Prevenção de Conflitos Armados Relatório do Secretário-Geral Nações Unidas • Nova Iorque, 2002

xi Resumo

nais e em que está a surgir entre os Estados Membros um con-senso em torno da ideia de que as estratégias globais e coe-rentes de prevenção de conflitos são o melhor meio de pro-mover uma paz duradoura e de instaurar um clima favorávelao desenvolvimento sustentável. Não se trata unicamente decriar uma cultura de prevenção, de estabelecer os mecanismospretendidos ou de mobilizar a vontade política. As NaçõesUnidas têm também a responsabilidade moral de velar porque não se voltem a repetir genocídios como o que foi perpe-trado no Ruanda.

Chegou o momento de traduzir a retórica da prevençãode conflitos em medidas concretas. Confio sinceramente emque o sistema das Nações Unidas e os Estados Membros pos-sam trabalhar juntos na elaboração de um plano concreto paraaplicar as recomendações precisas formuladas no presenterelatório. É incontestável que uma acção preventiva eficazexigirá dos Estados Membros e do conjunto do sistema dasNações Unidas uma vontade política firme e o compromissode disponibilização de recursos a longo prazo, se se quiserque uma verdadeira cultura de prevenção se possa enraizar nacomunidade internacional. O presente relatório representa umprimeiro passo nessa direcção.

Kofi A. AnnanSecretário-Geral das Nações Unidas

Page 12: Kofi A. Annan Prevenção de Conflitos Armados - dhnet.org.br · Kofi A. Annan Prevenção de Conflitos Armados Relatório do Secretário-Geral Nações Unidas • Nova Iorque, 2002

1

1 Introdução

1. A lição mais triste dos últimos dez anos talvez sejaque, quando se trata de um conflito armado, prevenir é muitomelhor e mais barato do que remediar. O problema é comoaplicar essa lição de modo que a prevenção exista não só noplano retórico mas sim também na prática. Ora isso é maisfácil de dizer do que de fazer; os problemas já existentes têmprecedência em relação aos que hipoteticamente se podem vira levantar e, enquanto os benefícios da prevenção só se podemcolher no futuro e são difíceis de quantificar, a factura tem deser paga hoje. Por outro lado, os custos de não prevenir a vio-lência são enormes. Os custos humanos da guerra incluemnão apenas o visível e imediato – os mortos, os feridos, a des-truição, a deslocação da população – mas também as reper-cussões distantes e indirectas nas famílias, comunidades, ins-tituições nacionais e locais e economias bem como nos paísesvizinhos. Medem-se não só pelos danos provocados mas tam-bém pelas oportunidades perdidas.

2. A Comissão Carnegie sobre a Prevenção de Conflitos Violentos apurou, em 1997, que, por exemplo, oProduto Interno Bruto (PIB) do Líbano continuava a ser, nosprimeiros anos da década de 1990, 50% mais baixo do que eraquando as hostilidades tinham começado, em 1974; a opiniãomais difundida era que a guerra civil e o uso generalizado deminas terrestres eram responsáveis pelo abandono de cerca de80% das terras angolanas e que a produção de alimentos, jápor si insuficiente, no Burundi sofreu uma redução de 17%durante os recentes conflitos1. Precisamos também de ter emconta os custos suportados pelos actores externos que inter-vêm para pôr fim à violência. Segundo um estudo da Comissão

1 Ver Preventing Deadly Conflict, o relatório final da Comissão Carnegie sobre a Prevenção deConflitos Violentos.

Page 13: Kofi A. Annan Prevenção de Conflitos Armados - dhnet.org.br · Kofi A. Annan Prevenção de Conflitos Armados Relatório do Secretário-Geral Nações Unidas • Nova Iorque, 2002

2 Prevenção de conflitos armados

Carnegie, a comunidade internacional gastou cerca de 200mil milhões de dólares nas sete intervenções mais importan-tes da década de 1990, na Bósnia e Herzegovina, Somália,Ruanda, Haiti, Golfo Pérsico, Camboja e El Salvador, semcontar com o Kosovo e Timor Leste. A Comissão calculou asdiferenças entre os custos dessas actividades de gestão deconflitos e os das possíveis medidas preventivas e concluiuque uma abordagem preventiva teria poupado à comunidadeinternacional cerca de 130 mil milhões de dólares.

3. Em nenhum lugar essas lições são mais evidentesdo que na região dos Grandes Lagos, em África, onde a inca-pacidade, demonstrada pela comunidade internacional, deinvestir na prevenção no Ruanda teve repercussões profunda-mente destabilizadoras a nível regional. Estudos ulterioresefectuados pela ONU e a Organização de Unidade Africana(OUA), bem como pelos parlamentos de alguns países quefornecem os contingentes de tropas, mostram que se detecta-ram com antecedência sinais preocupantes e se tiveramamplas oportunidades de responder ao “genocídio evitável”de Abril de 1994. Segundo as estimativas do então Coman-dante da Força, General Roméo Dallaire, teria sido suficientecolocar cerca de 5000 soldados no Ruanda, em Abril de 1994,para travar o genocídio, como as investigações posterioresvieram a confirmar. No seu estudo, a Comissão Carnegieestimou que o custo total da operação de paz reforçada teriasido de 500 milhões de dólares anuais e que as medidas pre-ventivas no Ruanda teriam provavelmente custado 1300milhões de dólares, enquanto o preço da assistência ao Ruan-da em consequência do genocídio se elevou a 4500 milhõesde dólares.

4. Temos uma obrigação para com as vítimas da vio-lência no Ruanda e outros lugares: consiste em levar a sério odesafio da prevenção. Prometi que, nas Nações Unidas, sepassaria de uma cultura de reacção para uma cultura de pre-venção. A 20 de Julho de 2000, o Conselho de Segurança reu-

Page 14: Kofi A. Annan Prevenção de Conflitos Armados - dhnet.org.br · Kofi A. Annan Prevenção de Conflitos Armados Relatório do Secretário-Geral Nações Unidas • Nova Iorque, 2002

3 Introdução

niu-se para analisar o papel das Nações Unidas na prevençãode conflitos armados. Numa declaração posterior do seu Pre-sidente, o Conselho convidou-me a apresentar, até Maio de2002, o mais tardar, um relatório que contivesse uma análisee recomendações sobre as iniciativas que, tendo presentes aexperiência anterior e as opiniões e considerações expressaspelos Estados Membros, o sistema da ONU poderia tomarpara prevenir os conflitos armados. Como a natureza dasmedidas preventivas, no seu sentido mais amplo, obriga aenvolver todo o sistema das Nações Unidas, apresento o pre-sente relatório ao Conselho de Segurança e à AssembleiaGeral, que já aprovou várias resoluções relativas à prevençãode conflitos.

5. O meu primeiro objectivo, no presente relatório, éanalisar os progressos conseguidos no que se refere a desen-volver a capacidade das Nações Unidas em matéria de pre-venção de conflitos, tal como me foi solicitado pela Assem-bleia Geral e o Conselho de Segurança. O meu segundo objec-tivo é apresentar recomendações concretas sobre como sepoderiam intensificar ainda mais os esforços das Nações Uni-das nessa esfera, com a cooperação e a participação activa dosEstados Membros, sobre os quais recai, em última análise, aresponsabilidade primordial pela prevenção de conflitos.

Questões tratadas no relatório

6. Parto do princípio de que a responsabilidade pri-mordial pela prevenção de conflitos recai sobre os governosnacionais e outros actores locais. A prevenção tem poucaspossibilidades de ser bem sucedida, se os países interessadosnão se sentirem partes envolvidas. Para evitar que surja umconflito, é necessário que os actores nacionais e, quando forcaso disso, a comunidade internacional actuem rapidamente.Quanto mais cedo um diferendo ou uma injustiça que possamdesembocar num conflito armado forem identificados e resol-

Page 15: Kofi A. Annan Prevenção de Conflitos Armados - dhnet.org.br · Kofi A. Annan Prevenção de Conflitos Armados Relatório do Secretário-Geral Nações Unidas • Nova Iorque, 2002

4 Prevenção de conflitos armados

vidos, menor será a probabilidade de a situação degenerar emviolência. A adopção rápida de medidas, a nível nacional,para remediar as situações que poderiam conduzir a um con-flito armado, com a assistência internacional, se for casodisso, pode ajudar a fortalecer a soberania dos estados.

7. Para que a prevenção rápida seja eficaz, é precisoconhecer as causas profundas do conflito em todas as suasdimensões e enfrentá-las. A causa próxima pode ser uma ondade perturbações ou de protestos suscitada por um determina-do incidente, mas a causa profunda pode ter que ver com, porexemplo, desigualdades ou injustiças socioeconómicas,discriminação étnica sistemática, desrespeito pelos direitoshumanos, diferendos ligados à participação política ou anti-gos agravos pela atribuição de terras e de outros recursos. Emmuitos casos, a existência desses factores pode levar algunsgrupos a actuarem de forma violenta numa sociedade, semque isso aconteça noutra, onde existem mecanismos apropria-dos e eficazes para enfrentar os problemas, nomeadamenteinstituições que asseguram uma boa governação e o estado dedireito. As informações fiáveis que permitam um alerta rápi-do e um conhecimento profundo e esclarecido das condiçõese tradições locais revestem-se, pois, de grande importância ehá que identificar as desigualdades fundamentais e de lhes pôrtermo, no quadro dos planos e programas de desenvolvimen-to.

8. A Comissão Carnegie sobre Prevenção de ConflitosViolentos distinguiu duas categorias de estratégias de preven-ção: a prevenção imediata, que se refere às medidas aplicá-veis perante uma crise imediata, e a prevenção estrutural,que consiste em medidas a tomar para que as crises não defla-grem ou, no caso de deflagrarem, não se reavivem. O presen-te relatório debruçar-se-á sobre o amplo espectro de assistên-cia prestada aos Estados pelo sistema das Nações Unidas, nodomínio tanto da prevenção imediata a curto prazo como daprevenção estrutural a longo prazo.

Page 16: Kofi A. Annan Prevenção de Conflitos Armados - dhnet.org.br · Kofi A. Annan Prevenção de Conflitos Armados Relatório do Secretário-Geral Nações Unidas • Nova Iorque, 2002

5 Introdução

9. O Conselho de Segurança sublinhou a importânciade fazer face às causas profundas dos conflitos e a necessida-de de aplicar estratégias eficazes de prevenção a longo prazo.Referiu ainda que uma estratégia coerente de consolidação dapaz, que abranja programas políticos, de desenvolvimento,humanitários e de direitos humanos, pode ter um papel fun-damental na prevenção de conflitos. Neste sentido, gostariade estabelecer uma distinção clara entre os programas ordiná-rios de desenvolvimento e de ajuda humanitária e os que sãopostos em prática como medida preventiva ou de consolida-ção da paz perante problemas que poderiam conduzir à defla-gração de um conflito ou à sua reavivação.

10. Investir na prevenção estrutural a longo prazo signi-fica, em última análise, investir no desenvolvimento sustentá-vel: em primeiro lugar, porque é evidente que não pode haverdesenvolvimento sustentável num clima de conflito ou deconflito potencial e, em segundo, porque o conflito armadoreduz a zero os avanços no domínio do desenvolvimentonacional. Em alguns casos, como vimos recentemente, confli-tos prolongados comprometeram a própria existência dosEstados, como aconteceu na Somália e no Afeganistão. Umaprevenção eficaz dos conflitos é uma condição indispensávelpara estabelecer e manter uma paz duradoura, que, por suavez, é um requisito prévio do desenvolvimento sustentável.Quando o desenvolvimento sustentável aborda as causas pro-fundas do conflito, desempenha um papel importante na suaprevenção e na promoção da paz.

11. Num momento em que se assiste a uma diminuiçãoda ajuda internacional ao desenvolvimento, a comunidade dedoadores mostra-se cada vez mais relutante em apoiar odesenvolvimento de Estados que se encontram à beira de umconflito ou mergulhados nele. O investimento na prevençãode conflitos dá a possibilidade de multiplicar os benefícios dodesenvolvimento nacional a longo prazo. A adopção de estra-tégias de prevenção mais eficazes permitiria não só salvar

Page 17: Kofi A. Annan Prevenção de Conflitos Armados - dhnet.org.br · Kofi A. Annan Prevenção de Conflitos Armados Relatório do Secretário-Geral Nações Unidas • Nova Iorque, 2002

6 Prevenção de conflitos armados

centenas de milhar de vidas mas também economizar milha-res de milhão de dólares. Os fundos que se dedicam actual-mente às actividades militares poderiam ser utilizados paralutar contra a pobreza e tentar alcançar um desenvolvimentosustentável e equitativo, que contribuiria para reduzir aindamais os riscos de guerra e de catástrofe. A prevenção de con-flitos e o desenvolvimento sustentável reforçam-se mutua-mente.

12. O papel das Nações Unidas consiste, acima de tudo,em ajudar os governos nacionais e os seus homólogos locaisa encontrarem soluções para os seus problemas, proporcio-nando-lhes apoio para o desenvolvimento de capacidades, anível nacional e regional, nas esferas do alerta rápido, da pre-venção de conflitos e da consolidação da paz a longo prazo.Esta ajuda baseia-se no princípio do consentimento dos Esta-dos Membros afectados. Na prática, a cooperação internacio-nal nesse domínio tem frequentemente lugar a convite doEstado ou dos Estados interessados.

13. Os organismos humanitários e de desenvolvimentodas Nações Unidas, juntamente com as instituições de Bret-ton Woods, têm um papel crucial a desempenhar no que serefere a instaurar um clima de paz e a atacar as causas pro-fundas dos conflitos, nas fases iniciais da prevenção. O pre-sente relatório analisará quantos dos seus programas ordiná-rios podem contribuir e efectivamente contribuem para asactividades de prevenção de conflitos e como se pode aumen-tar a sua eficácia por meio de uma melhor coordenação dosseus esforços e em cooperação com os seus respectivosGovernos anfitriões. Serão igualmente analisados os instru-mentos de que as Nações Unidas se podem servir em etapasposteriores da prevenção, entre os quais podem estar incluí-dos a diplomacia preventiva, a colocação preventiva no terre-no de contingentes militares e de polícia civil, o desarma-mento preventivo e outras medidas conexas, bem como estra-tégias eficazes de consolidação da paz após os conflitos.

Page 18: Kofi A. Annan Prevenção de Conflitos Armados - dhnet.org.br · Kofi A. Annan Prevenção de Conflitos Armados Relatório do Secretário-Geral Nações Unidas • Nova Iorque, 2002

7 Introdução

14. Ao redigir o presente relatório, esforcei-me portomar em conta as diversas opiniões e considerações expres-sas pelos Estados Membros em debates recentes, na Assem-bleia Geral e no Conselho de Segurança, acerca da prevençãode conflitos. É incontestável que o êxito dos esforços de pre-venção de conflitos exigirá o apoio activo e a cooperação dosEstados Membros. Serão também analisadas as contribuiçõesespecíficas do Conselho de Segurança, da Assembleia Geral edos outros órgãos principais das Nações Unidas bem como acooperação entre as Nações Unidas e os actores externos,como as organizações regionais, as organizações não gover-namentais (ONG), a sociedade civil e a comunidade empre-sarial.

15. O trabalho do sistema das Nações Unidas no domí-nio da prevenção de conflitos não é uma novidade. Muitosdos programas e projectos que leva a cabo, nomeadamente emmatéria de desenvolvimento, têm já efeitos preventivos ouencerram, pelo menos, essa promessa, por mais dispares eincompletos que muitas vezes sejam. As iniciativas dasNações Unidas que visam reforçar a capacidade de prevençãode conflitos dos Estados Membros revestem-se de particularimportância. O desafio que se nos apresenta consiste, pois,em mobilizar o potencial colectivo do sistema de uma manei-ra mais coerente e mais orientada para a prevenção de confli-tos, sem que seja necessariamente preciso disponibilizarrecursos adicionais significativos.

16. Aproveito esta oportunidade para reiterar que a pas-sagem de uma cultura de reacção para uma cultura de pre-venção seria um grande passo em frente. No presente relató-rio, descrevo as medidas concretas que foram e estão a sertomadas para este fim, com base em mandatos atribuídos àsNações Unidas, na experiência adquirida e nas lições apren-didas, e proponho várias conclusões e recomendações para ofuturo.

Page 19: Kofi A. Annan Prevenção de Conflitos Armados - dhnet.org.br · Kofi A. Annan Prevenção de Conflitos Armados Relatório do Secretário-Geral Nações Unidas • Nova Iorque, 2002

I Parte

Mandato e papel dos principaisórgãos das Nações Unidas

Page 20: Kofi A. Annan Prevenção de Conflitos Armados - dhnet.org.br · Kofi A. Annan Prevenção de Conflitos Armados Relatório do Secretário-Geral Nações Unidas • Nova Iorque, 2002

11

Mandato das Nações Unidas em matéria de prevenção de conflitos armados

A. O Quadro Fornecido pela Carta

17. A missão primordial das Nações Unidas continua aser “preservar as gerações futuras do flagelo da guerra”. Paraeste fim, os Estados Membros comprometeram-se a “tomar,medidas colectivas eficazes para prevenir e afastar ameaças apaz”, como estabelece o Artigo 1º., parágrafo 1, da Carta dasNações Unidas.

18. Na minha opinião, a Carta confere às Nações Uni-das um mandato vigoroso no domínio da prevenção dos con-flitos armados. Indica também os dois elementos definidoresda filosofia em que assenta o sistema de segurança colectiva:em primeiro lugar, prevenir um conflito armado é uma estra-tégia mais desejável e eficaz para assegurar a segurança e pazduradoura do que tentar pôr-lhe fim ou atenuar os seus sinto-mas; e, em segundo, o melhor meio de prevenir os conflitosarmados internacionais é recorrer a “meios pacíficos, demodo que não sejam ameaçadas a paz, a segurança e a justi-ça internacionais”, como afirma o Artigo 2º parágrafo 3 daCarta. Foi por partilhar esta convicção com os redactores daCarta que sugeri que a prevenção de conflitos fosse a pedraangular do sistema de segurança colectiva das Nações Unidasno século XXI.

19. Durante grande parte da segunda metade do séculopassado, procurou-se, de um modo geral, garantir a seguran-ça colectiva reagindo, mais do que prevenindo, e definiu-se aprevenção quase sempre em termos exclusivamente militares.Esta concepção foi útil a certos Estados e mantém-se válida.

2

Page 21: Kofi A. Annan Prevenção de Conflitos Armados - dhnet.org.br · Kofi A. Annan Prevenção de Conflitos Armados Relatório do Secretário-Geral Nações Unidas • Nova Iorque, 2002

12 Prevenção de conflitos armados

No entanto, com o final da guerra fria, surgiu uma nova noçãode paz e de segurança. Uma visão mais ampla da natureza dapaz sustentável e das suas componentes, como o desenvolvi-mento económico, a boa governação e a democratização, oestado de direito e o respeito pelos direitos humanos, com-plementa hoje o conceito tradicional de segurança colectiva.No século XXI, a segurança colectiva deve impor a todos odever de tentarem reduzir as tensões, os motivos de queixa, adesigualdade, a injustiça, a intolerância e as hostilidades omais rapidamente possível, antes de que ponham em risco apaz e a segurança. Esta é, no meu entender, a verdadeiraessência de uma cultura de prevenção.

20. Com esta abordagem, voltamos às origens dasNações Unidas. O Artigo 55º da Carta reconhece explicita-mente que as soluções para os problemas económicos,sociais, de saúde e outros problemas conexos, vale a coopera-ção internacional nos domínios da cultura e da educação bemcomo o respeito pelos direitos humanos são essenciais, se qui-sermos “criar as condições de estabilidade e bem-estar neces-sárias às relações pacíficas e amistosas entre as Nações”.Podemos, assim, apoiar-nos na Carta para preconizar umaabordagem global e a longo prazo da prevenção de conflitos,baseada num conceito mais amplo de paz e de segurança.

B. Decisões da Assembleia Geral e doConselho de Segurança e opiniões dosEstados Membros sobre prevenção deconflitos

21. Desde finais da década de 1980, a Assembleia Gerale o Conselho de Segurança reforçaram o mandato conferidoàs Nações Unidas pela Carta em matéria de prevenção de

Page 22: Kofi A. Annan Prevenção de Conflitos Armados - dhnet.org.br · Kofi A. Annan Prevenção de Conflitos Armados Relatório do Secretário-Geral Nações Unidas • Nova Iorque, 2002

13 Mandato das Nações Unidas em matéria de prevenção de conflitos

conflitos. A Assembleia Geral reafirmou, de uma forma par-ticularmente clara na sua resolução 47/120A, intitulada “UmaAgenda para a Paz: diplomacia preventiva e questões cone-xas”, o importante papel do Secretário-Geral na diplomaciapreventiva e convidou-o a reforçar a capacidade do Secreta-riado, no que se referia à recolha e análise de informações, ea criar um mecanismo de alerta rápido. Na sua resolução51/242, intitulada “Suplemento da Agenda para a Paz”, aAssembleia Geral voltou a sublinhar a importância de umamelhor coordenação das medidas preventivas das NaçõesUnidas, ao nível de todo o sistema.

22. O Conselho de Segurança realizou debates públicossobre a prevenção de conflitos, em Novembro de 1999 e Julhode 2000. Durante tais debates, um grande número de EstadosMembros mostrou-se, de um modo geral, favorável à preven-ção, embora definindo prioridades diferentes no plano daacção. Alguns sublinharam que era necessário centrar-se nascausas socioeconómicas profundas dos conflitos e pediramum aumento da ajuda ao desenvolvimento, como meio de osimpedir. Outros apontaram a promoção dos direitos humanos,a boa governação, o estado de direito e a democratizaçãocomo os domínios mais importantes para a adopção de medi-das preventivas. Vários países insistiram em que a acção pre-ventiva se deveria limitar à adopção de medidas ao abrigo doCapítulo VI da Carta, mas referiram que as medidas coercitivasnos termos do Capítulo VII deveriam continuar a ser, comoúltimo recurso, um meio legítimo para impedir as violaçõessistemáticas dos direitos humanos fundamentais ou outrasameaças graves à paz.

23. As declarações do Presidente aprovadas nessas duasreuniões sublinharam que o alerta rápido, a diplomacia pre-ventiva, a colocação de forças no terreno, o desarmamento atítulo preventivo e a consolidação da paz após os conflitos

Page 23: Kofi A. Annan Prevenção de Conflitos Armados - dhnet.org.br · Kofi A. Annan Prevenção de Conflitos Armados Relatório do Secretário-Geral Nações Unidas • Nova Iorque, 2002

14 Prevenção de conflitos armados

constituíam elementos interdependentes e complementares deuma estratégia global de prevenção de conflitos. Esta concep-ção global da prevenção de conflitos foi de novo evocada,quando do debate público sobre a consolidação da paz que oConselho de Segurança realizou em Fevereiro de 2001, deba-te durante o qual numerosos oradores salientaram que umaestratégia de coordenação da paz bem planeada e coordenadapode desempenhar um papel importante na prevenção de con-flitos.

24. A prevenção de conflitos foi também um dos temasdominantes da Cimeira do Milénio das Nações Unidas,durante a qual os dirigentes do mundo inteiro apoiaram o meuapelo à comunidade internacional para que passasse de umacultura de reacção para uma cultura de prevenção. Houve umamplo consenso em torno da ideia de que a abordagem maispromissora consistia em elaborar estratégias integradas, queconjugassem um vasto leque de medidas políticas, económi-cas, sociais e de outro tipo, destinadas a reduzir ou erradicaras causas que estavam na origem dos conflitos. Tanto naDeclaração do Milénio das Nações Unidas, aprovada pelaAssembleia Geral, na sua resolução 55/2, como na resolução1318 (2000), aprovada pelo Conselho de Segurança numareunião a nível de Chefes de Estado e de Governo, se reco-nheceu o papel vital que o sistema das Nações Unidas no seuconjunto podia desempenhar na prevenção de conflitos e seprometeu tornar as Nações Unidas mais eficazes nesse domí-nio.

Page 24: Kofi A. Annan Prevenção de Conflitos Armados - dhnet.org.br · Kofi A. Annan Prevenção de Conflitos Armados Relatório do Secretário-Geral Nações Unidas • Nova Iorque, 2002

15

Papel dos principais órgãos dasNações Unidas na prevenção deconflitos armados

A. Papel da Assembleia Geral

25. No quadro dos Artigos 10º e 11º da Carta, a Assem-bleia dispõe de uma ampla competência para tratar da pre-venção de conflitos em todos os seus aspectos, para formularrecomendações, se for caso disso, ou para chamar a atençãodo Conselho de Segurança para situações que possam pôr emperigo a paz e segurança internacionais. Nos termos do Arti-go 14º, a Assembleia Geral pode também recomendar medi-das que visem uma resolução pacífica de quaisquer situações,seja qual for a sua origem, que, no entender da Assembleia,possam prejudicar o bem-estar geral ou comprometer as rela-ções amistosas entre as nações.

26. Recordo o útil trabalho realizado pela AssembleiaGeral neste domínio, ao aprovar as resoluções 47/120 A e B,intitulada “Uma Agenda para a Paz: diplomacia preventiva equestões conexas”, em particular a secção VII da resolução47/120 A, intitulada “Papel da Assembleia Geral na diploma-cia preventiva”, e a resolução 51/242, intitulada “Suplementoda Agenda para a Paz”. Com base nos precedentes estabeleci-dos no passado (por exemplo, o sul do Tirol, em 1960; os Bal-cãs, na primeira década de existência da Organização; e emrelação ao apartheid na África do Sul), a Assembleia Geraltalvez deseje estudar como poderia utilizar com mais fre-quência, no futuro, os poderes que a Carta lhe confere para

3

Page 25: Kofi A. Annan Prevenção de Conflitos Armados - dhnet.org.br · Kofi A. Annan Prevenção de Conflitos Armados Relatório do Secretário-Geral Nações Unidas • Nova Iorque, 2002

16 Prevenção de conflitos armados

examinar questões relacionadas com a prevenção de confli-tos. Para o efeito, poderia ponderar as seguintes medidas:

Mecanismos para a solução pacífica de diferendos

27. O recurso activo pelos Estados Membros a métodosde resolução pacífica de diferendos definidos no Capítulo VIda Carta é uma das maneiras mais eficazes de prevenir os con-flitos. Ao longo dos anos, a Assembleia Geral contribuiu paraa promoção dessas práticas, como mostram a resolução 268(III) D 1949, sobre a constituição de comissões de inquéritoou de conciliação, e a sua decisão 44/415, sobre o recurso auma comissão de bons ofícios, de mediação ou de conciliaçãono quadro das Nações Unidas. A Assembleia Geral talvezdeseje ponderar a possibilidade de adoptar novas recomenda-ções sobre a utilização desses mecanismos no seio da comu-nidade internacional.

Declarações, normas e programas e formação deuma vontade política favorável à prevenção

28. Se prestasse uma atenção mais sistemática à pre-venção de conflitos, a Assembleia Geral contribuiria paracriar uma cultura de prevenção de carácter verdadeiramentemundial, definindo normas sobre a responsabilidade dos Esta-dos Membros, e para estabelecer práticas de prevenção, nosplanos local, nacional, regional e mundial. A Assembleia játrabalhou activamente na criação de normas que são impor-tantes para a prevenção de conflitos, como a sua resolução43/51, que contém um anexo intitulado “Declaração sobre aPrevenção e a Eliminação dos Diferendos e das Situações quePodem Ameaçar a Paz e a Segurança Internacionais e sobre oPapel das Nações Unidas neste Domínio”.

29. Na sua resolução 53/243, a Assembleia Geral apro-

Page 26: Kofi A. Annan Prevenção de Conflitos Armados - dhnet.org.br · Kofi A. Annan Prevenção de Conflitos Armados Relatório do Secretário-Geral Nações Unidas • Nova Iorque, 2002

17 Papel dos principais órgaõs das Nações Unidas

vou a Declaração e o Programa de Acção sobre uma Culturade Paz, na qual pediu aos Estados Membros, à sociedade civile a todo o sistema das Nações Unidas que promovessem acti-vidades relacionadas com a prevenção de conflitos. Dentro dasua ampla esfera de responsabilidade, a Assembleia Geralpoderia também promover uma cultura de prevenção nas acti-vidades multifacetadas levadas a cabo pelos organismos dasNações Unidas. Tal como aconteceu na sua recente resoluçãosobre uma cultura de paz, a Assembleia Geral poderia abor-dar a componente prevenção de conflitos em vários temas dasua ordem do dia, como o desarmamento, os direitos huma-nos, a ajuda humanitária, a democratização, a degradação doambiente, o terrorismo, a síndrome da imunodeficiênciaadquirida (SIDA) e o direito internacional.

Funções deliberativas

30. Alguns órgãos da Assembleia Geral, como o Comi-té da Carta das Nações Unidas, debateram já questões rela-cionadas com a prevenção e resolução de conflitos. Este tipode análise de novas ideias e conceitos pelos órgãos compe-tentes da Assembleia deveria prosseguir. A Assembleia rece-be também relatórios de muitos órgãos e organismos dasNações Unidas, em cujos programas figuram habitualmentequestões ligadas à prevenção de conflitos. A Universidade dasNações Unidas (UNU), a Universidade para a Paz e o Institu-to das Nações Unidas para a Formação e a Investigação (UNI-TAR) apresentam os seus relatórios à Assembleia Geral, querdirectamente quer através do Conselho Económico e Social, etêm programas que tratam de questões relativas à prevenção.Um debate desses relatórios por parte da Assembleia, numquadro que lhe permitisse elaborar uma vasta estratégia deprevenção, faria com que chamassem mais a atenção do públi-co e fomentaria o debate sobre essa matéria.

Page 27: Kofi A. Annan Prevenção de Conflitos Armados - dhnet.org.br · Kofi A. Annan Prevenção de Conflitos Armados Relatório do Secretário-Geral Nações Unidas • Nova Iorque, 2002

18 Prevenção de conflitos armados

Interacção entre a Assembleia Geral e o Conselho deSegurança em matéria de prevenção

31. Uma questão importante que se coloca a todos osMembros das Nações Unidas é saber como alargar o papel daAssembleia Geral em matéria de prevenção de conflitos, àmedida que o Conselho de Segurança reforça as suas activi-dades neste domínio. À luz do debate no Conselho de Segu-rança, que salientou a necessidade de tornar a consolidação dapaz um elemento de uma estratégia global de prevenção deconflitos, a consolidação da paz a título preventivo poderia vira ser o centro de uma interacção estratégica entre o Conselhoe a Assembleia.

32. O Conselho de Segurança trata sobretudo de possí-veis situações de conflito em países que não são membros doConselho. Os membros da Assembleia Geral deveriam teroportunidade de fazer ouvir mais amiúde as suas opiniõesacerca da prevenção de conflitos. A fim de suscitar uma inte-racção mais concreta entre a Assembleia e o Conselho, o Pre-sidente da Assembleia Geral e o Presidente do Conselho deSegurança poderiam discutir questões ligadas à prevenção deconflitos, nas suas reuniões mensais. Para ajudar o Presiden-te da Assembleia Geral nessa tarefa, poderia ponderar-se acriação de um grupo de composição não limitada encarrega-do de o ajudar no que se refere a questões relacionadas com aprevenção.

Recomendação 1

Recomendo que a Assembleia Geral considere a possi-bilidade de utilizar mais activamente os poderes quelhe são conferidos pelos Artigos 10º, 11º e 14º da Cartadas Nações Unidas em matéria de prevenção de confli-tos armados.

Page 28: Kofi A. Annan Prevenção de Conflitos Armados - dhnet.org.br · Kofi A. Annan Prevenção de Conflitos Armados Relatório do Secretário-Geral Nações Unidas • Nova Iorque, 2002

19 Papel dos principais órgaõs das Nações Unidas

Recomendação 2

Exorto a Assembleia Geral a ponderar meios de inten-sificar a sua interacção com o Conselho de Segurançaem matéria de conflitos armados, especialmente na ela-boração de estratégias a longo prazo para a prevençãode conflitos e consolidação da paz.

B. Papel do Conselho de Segurança

33. Sendo o órgão das Nações Unidas sobre o qual recaia responsabilidade principal pela manutenção da paz e segu-rança internacionais, o Conselho de Segurança tem um papelfundamental a desempenhar na prevenção de conflitos. Abase para a adopção de medidas preventivas pelo Conselho deSegurança é o Capítulo VI da Carta das Nações Unidas, quesalienta a necessidade de procurar uma solução para todo adiferendo cuja continuação seja susceptível de pôr em risco amanutenção da paz e segurança internacionais. Nos termosdo Capítulo VI, o Conselho de Segurança pode investigartodo o litígio ou situação que possa conduzir a uma fricçãointernacional ou dar origem a um diferendo.

34. Embora o Conselho de Segurança actue com maiortransparência e tenha melhorado os seus métodos de trabalho,a sua actividade continua a centrar-se quase exclusivamentenas crises e situações de emergência, das quais só se ocupaquando a violência já atingiu um nível elevado. Proponhodiversos meios que permitiriam que o Conselho identificassemais facilmente os casos em que seria possível uma acçãopreventiva e retirasse daí as consequências pretendidas.

Apresentação periódica de relatórios

35. Nas declarações do Presidente sobre prevenção deconflitos de Novembro de 1999 e Julho de 2000, o Presiden-

Page 29: Kofi A. Annan Prevenção de Conflitos Armados - dhnet.org.br · Kofi A. Annan Prevenção de Conflitos Armados Relatório do Secretário-Geral Nações Unidas • Nova Iorque, 2002

20 Prevenção de conflitos armados

te do Conselho de Segurança convidou o Secretário-Geral aapresentar periodicamente relatórios sobre os diferendos queconstituíssem uma ameaça à paz e segurança internacionais,nos quais poderia nomeadamente indicar casos de alerta rápi-do e propor medidas preventivas.

36. Creio que a apresentação de relatórios periódicos serevela particularmente útil quando é uma prática oficiosa eflexível e não uma obrigação programada. Também seria maisvantajoso que a apresentação de tais relatórios se inserissenum contexto mais amplo. As minhas reuniões com os chefesdas organizações regionais sobre a prevenção e consolidaçãoda paz, em Julho de 1998 e Fevereiro de 2001, mostraram queuma abordagem global, inspirada em estratégias regionais deprevenção, é útil e é justamente aquela que seria preciso adop-tar com os nossos parceiros regionais e os órgãos e institui-ções apropriados das Nações Unidas.

37. É, pois, minha intenção, entre outras, iniciar a práti-ca de proporcionar periodicamente ao Conselho de Seguran-ça relatórios regionais e sub-regionais sobre as ameaças à paze segurança internacionais. Na maioria dos casos, esses rela-tórios incidiriam sobre os aspectos regionais das questões jáinscritas na ordem do dia do Conselho e complementariamaqueles que são apresentados em cumprimento das obriga-ções actuais neste domínio. Os relatórios centrar-se-ão emquestões transfronteiriças que podem constituir ameaças àpaz e segurança internacionais, como o tráfico ilícito dearmas, os recursos naturais, os refugiados, os mercenários, asforças não regulares e as consequências que a interacção des-tes factores pode ter na segurança. Estes relatórios proporiamtambém prioridades para a adopção de medidas pelo Conse-lho de Segurança, identificando e respondendo às ameaçasregionais à paz e segurança internacionais.

Page 30: Kofi A. Annan Prevenção de Conflitos Armados - dhnet.org.br · Kofi A. Annan Prevenção de Conflitos Armados Relatório do Secretário-Geral Nações Unidas • Nova Iorque, 2002

21 Papel dos principais órgaõs das Nações Unidas

Missões de apuramento dos factos do Conselho deSegurança

38. Nos últimos dois anos, assistiu-se ao recomeçodesejado das missões do Conselho de Segurança. Embora osseus propósitos e objectivos variem, as missões podem terefeitos preventivos consideráveis. Depois de ter retomado aprática com o envio de uma missão, em 1999, no ano 2000houve cinco missões do Conselho – à Eritreia e Etiópia, àRepública Democrática do Congo, à Serra Leoa, a TimorLeste e Indonésia e, em cumprimento da Resolução 1244(1999) do Conselho de Segurança, ao Kosovo –; em 2001,houve também missões que se deslocaram à RepúblicaDemocrática do Congo e outros países da região e ao Koso-vo. O Conselho de Segurança pode também querer ponderara possibilidade de recorrer aos serviços de peritos de diversasáreas, nas suas missões de apuramento dos factos, a fim deque se possa dispor de todos os elementos de fundo necessá-rios para elaborar uma estratégia global de prevenção.

Novos mecanismos de dedate sobre prevenção

39. Como propus na minha declaração de Novembro de1999 ao Conselho, o Conselho de Segurança poderia ponde-rar a possibilidade de formar um grupo de trabalho ad hoc ofi-cioso, outro órgão subsidiário ou outro dispositivo técnicooficioso, para analisar os casos de prevenção de uma maneiracontinuada. Se for criado esse grupo de trabalho, os casos dealerta rápido que mencionei ou os casos sugeridos pelo Presi-dente ou outros membros do Conselho poderiam ser remeti-dos periodicamente a esse órgão, antes das consultas oficio-sas ou do seu debate no Conselho, em sessão pública. Nodebate dos casos que figurem no programa desse grupo de tra-balho, os seus membros poderiam basear-se nas informações

Page 31: Kofi A. Annan Prevenção de Conflitos Armados - dhnet.org.br · Kofi A. Annan Prevenção de Conflitos Armados Relatório do Secretário-Geral Nações Unidas • Nova Iorque, 2002

22 Prevenção de conflitos armados

proporcionadas pelos membros do Conselho ou pelo Secreta-riado. O Conselho de Segurança poderia também ponderar apossibilidade de utilizar a fórmula Arria ou outras modalida-des para os debates oficiosos fora da sala do Conselho, desti-nados a trocar opiniões sobre a prevenção.

Recomendação 3Incentivo o Conselho de Segurança a ponderar a possi-bilidade de criar mecanismos inovadores, como umórgão subsidiário, um grupo de trabalho ad hoc oficio-so ou outro dispositivo técnico oficioso, para discutir oscasos de prevenção de uma forma continuada, em par-ticular no que se refere aos relatórios periódicos regio-nais e sub-regionais que tenciono apresentar ao Conse-lho bem como a quaisquer outros casos de alerta rápi-do submetidos à sua consideração pelos Estados Membros.

C. Papel do Conselho Económico e Social

40. O Conselho Económico e Social começou a colabo-rar mais estreitamente com o Conselho de Segurança e aAssembleia Geral porque a comunidade internacional reco-nheceu o valor de uma abordagem integrada, se se quiseralcançar a paz, a segurança, o respeito pelos direitos humanose o desenvolvimento sustentável. Iniciou-se uma nova fase em1998, quando o Conselho de Segurança convidou o ConselhoEconómico e Social a participar na elaboração de um progra-ma a longo prazo de apoio ao Haiti. Em 1999, o ConselhoEconómico e Social criou um Grupo Consultivo Ad Hocsobre o Haiti, que realizou uma missão de avaliação ao país.A participação do Conselho Económico e Social foi tambémsolicitada em Fevereiro de 2000, quando o Conselho de Segu-rança lhe propôs que convocasse uma reunião onde se discu-

Page 32: Kofi A. Annan Prevenção de Conflitos Armados - dhnet.org.br · Kofi A. Annan Prevenção de Conflitos Armados Relatório do Secretário-Geral Nações Unidas • Nova Iorque, 2002

23 Papel dos principais órgaõs das Nações Unidas

tissem as consequências do vírus da imunodeficiência huma-na/síndrome da imunodeficiência adquirida (SIDA) para apaz e segurança em África.

41. Mais recentemente, na sua resolução 55/217, aAssembleia Geral pediu ao Conselho Económico e Social queexaminasse as propostas do Grupo de Trabalho Ad Hoc deComposição Não Limitada da Assembleia sobre as Causasdos Conflitos e a Promoção de uma Paz e DesenvolvimentoSustentáveis em África, em particular sobre a criação de umgrupo consultivo ad hoc para os países que saem de um con-flito. Um grupo consultivo semelhante ao que foi criado parao Haiti foi agora formado para esse fim.

42. Proponho uma participação mais activa do Conse-lho Económico e Social na prevenção de conflitos armados,devido ao papel essencial que desempenha no combate àscausas profundas dos conflitos em esferas que constituem aessência do seu mandato. O seu futuro contributo para a pre-venção de conflitos armados e a consolidação da paz poderiater lugar quer por sua própria iniciativa quer a pedido dosoutros órgãos principais das Nações Unidas.

Estratégias a longo prazo para remediar as causasprofundas dos conflitos

43. Nos termos do Artigo 62º da Carta das Nações Uni-das, o Conselho Económico e Social pode iniciar estudos erelatórios em todos os domínios que se insiram no seu man-dato. Esses estudos podem ser necessários quando o Conse-lho examina a questão da sua participação concreta na elabo-ração de estratégias a longo prazo para remediar as causasprofundas dos conflitos. O Conselho Económico e Socialpoderia utilizar os diversos instrumentos de que dispõe,nomeadamente os seus órgãos subsidiários, o Comité Admi-nistrativo de Coordenação (CAC) e o seu mecanismo inter-

Page 33: Kofi A. Annan Prevenção de Conflitos Armados - dhnet.org.br · Kofi A. Annan Prevenção de Conflitos Armados Relatório do Secretário-Geral Nações Unidas • Nova Iorque, 2002

24 Prevenção de conflitos armados

organismos, para aproveitar as capacidades de todo o sistemadas Nações Unidas para apoiar a concepção e a realização deestudos desse tipo.

Perspectiva regional

44. A participação mais activa do Conselho Económicoe Social poderia ser útil quando o Conselho de Segurança pro-movesse iniciativas regionais para prevenção de conflitosarmados. Para o efeito, o Conselho Económico e Social deve-ria ponderar a possibilidade de participar num debate exaus-tivo e multidisciplinar sobre a prevenção de conflitos arma-dos, em particular num contexto regional. Dado que o Conse-lho Económico e Social está a começar a elaborar as modali-dades da sua contribuição para a solução dos problemasregionais relacionados com África, a fim de apoiar a acção doConselho de Segurança, da Assembleia Geral e do Secretário-Geral neste domínio, esta fórmula poderia ser alargada aoutras regiões.

Debate de alto nível sobre as causas profundas dos conflitos

45. A introdução do debate de alto nível nas sessõesordinárias anuais do Conselho Económico e Social revitali-zou consideravelmente os trabalhos deste órgão durante osúltimos anos. De futuro, poderia dedicar-se uma sessão dealto nível à discussão do papel do desenvolvimento, e emespecial do Conselho Económico e Social, na prevenção alongo prazo da violência e dos conflitos.

Recomendação 4Sugiro que se dedique um futuro segmento de alto nívelda sessão anual de fundo do Conselho Económico e

Page 34: Kofi A. Annan Prevenção de Conflitos Armados - dhnet.org.br · Kofi A. Annan Prevenção de Conflitos Armados Relatório do Secretário-Geral Nações Unidas • Nova Iorque, 2002

25 Papel dos principais órgaõs das Nações Unidas

Social à questão da eliminação das causas profundas dosconflitos e ao papel do desenvolvimento no que diz res-peito a fomentar a prevenção duradoura dos conflitos.

D. Papel do Tribunal Internacional de Justiça

46. O Tribunal Internacional de Justiça, como elementoindispensável do sistema de resolução pacífica dos diferendoscriado pela Carta das Nações Unidas, tem contribuído deforma significativa, ao longo dos anos, para a resolução dosdiferendos internacionais por meios pacíficos. O Tribunalcontribui para a solução e regularização de diferendos, atra-vés dos seus acórdãos sobre procedimentos contenciososentre Estados. É mais fácil resolver um conflito quando odiferendo é apresentado ao Tribunal, em virtude de um acor-do especial ou a pedido de um Estado. Os procedimentosjudiciais podem ser suspensos, se as partes desejarem alcan-çar uma solução negociada. Por outro lado, o Tribunal contri-bui para a prevenção de conflitos armados, ao facilitar o pro-cesso de diplomacia preventiva, graças aos pareceres consul-tivos sobre questões jurídicas, um poder que lhe é conferidopelo Artigo 96º da Carta. Por meio dos seus acórdãos e pare-ceres consultivos, o Tribunal deu um contributo substancialpara o desenvolvimento progressivo do direito internacional epara a identificação das novas tendências que se têm vindo aobservar no direito internacional. O Secretário-Geral insta osEstados a recorrerem ao Tribunal para resolver os diferendos.

47. O Tribunal Internacional de Justiça está hoje maisactivo do que nunca. São-lhe apresentados diferendos vindosdos quatro cantos do mundo. Exorto os Estados Membros a,de futuro, recorrerem ainda com mais frequência ao TribunalInternacional de Justiça, entre outras coisas, para a prevençãodos diferendos territoriais e marítimos.

Page 35: Kofi A. Annan Prevenção de Conflitos Armados - dhnet.org.br · Kofi A. Annan Prevenção de Conflitos Armados Relatório do Secretário-Geral Nações Unidas • Nova Iorque, 2002

26 Prevenção de conflitos armados

Jurisdição obrigatória do Tribunal

48. No final de 2000, 60 Estados Membros tinhamdeclarado reconhecer como obrigatória a jurisdição do Tribu-nal, embora, em muitos casos, com reservas tendentes a limi-tar ou a restringir os efeitos da cláusula de jurisdição obriga-tória. Gostaria de reiterar o meu apelo aos Estados Membrosque ainda não o fizeram para que ponderem a possibilidade deaceitar a jurisdição obrigatória do Tribunal. Quero tambémpedir insistentemente aos Estados que, quando aprovem tra-tados multilaterais sob os auspícios das Nações Unidas,incluam cláusulas que prevejam que os diferendos sejamapresentados ao Tribunal. Quanto mais forem os Estados queaceitam a jurisdição obrigatória do Tribunal, mais possibili-dades haverá de os diferendos potenciais serem resolvidosrapidamente por meios pacíficos. O Conselho de Segurançadeve ponderar também a possibilidade de recomendar, emconformidade com o Artigo 36º da Carta das Nações Unidas,que os Estados submetam os seus diferendos ao Tribunal.

Competência consultiva do Tribunal

49. Na “Agenda para a Paz” (ver A/47/277-S/24111), omeu antecessor recomendou que o Secretário-Geral fosseautorizado, em conformidade com o Artigo 96º, parágrafo 2,da Carta das Nações Unidas, a pedir pareceres consultivos aoTribunal e que os outros órgãos das Nações Unidas que já sãoautorizados a fazê-lo pedissem com mais frequência parece-res consultivos ao Tribunal. Contudo, a Assembleia Geral nãodeu seguimento a estas recomendações e o Conselho de Segu-rança não pede qualquer parecer consultivo, desde 1993.Assim, exorto tanto a Assembleia como o Conselho de Segu-rança a prestarem uma atenção renovada a essas recomenda-ções, que subscrevo inteiramente, e também a ponderarem a

Page 36: Kofi A. Annan Prevenção de Conflitos Armados - dhnet.org.br · Kofi A. Annan Prevenção de Conflitos Armados Relatório do Secretário-Geral Nações Unidas • Nova Iorque, 2002

27 Papel dos principais órgaõs das Nações Unidas

possibilidade de autorizar que outros órgãos das Nações Uni-das peçam pareceres consultivos ao Tribunal.

50. Gostaria também de recordar aos Estados a existên-cia do Fundo Especial destinado a ajudar os Estados a resol-verem os seus diferendos por intermédio do Tribunal Interna-cional de Justiça, graças ao qual é possível prestar ajudafinanceira aos Estados para cobrir as despesas efectuadas coma apresentação de um diferendo ao Tribunal, em virtude deum acordo especial.

Recomendação 5

Exorto os Estados Membros a recorrerem maisrapidamente e com maior frequência ao Tribu-nal Internacional de Justiça para resolverem osseus diferendos por meios pacíficos e a promove-rem o primado do direito nas relações interna-cionais.

Recomendação 6

Exorto os Estados a aceitarem a jurisdição geraldo Tribunal. Sempre que as estruturas nacionaiso impeçam, os Estados devem chegar a acordosbilaterais ou multilaterais sobre uma lista exaus-tiva de assuntos que estão dispostos a apresentarao Tribunal.

Recomendação 7

Exorto os Estados Membros a que, quando apro-vem tratados multilaterais sob os auspícios dasNações Unidas, aprovem cláusulas que prevejamque os diferendos sejam apresentados ao Tribunal.

Page 37: Kofi A. Annan Prevenção de Conflitos Armados - dhnet.org.br · Kofi A. Annan Prevenção de Conflitos Armados Relatório do Secretário-Geral Nações Unidas • Nova Iorque, 2002

28 Prevenção de conflitos armados

Recomendação 8

Recomendo que a Assembleia Geral autorize oSecretário-Geral e outros órgãos das NaçõesUnidas a pedirem pareceres consultivos ao Tri-bunal e que os órgãos da ONU que já estão auto-rizados a fazê-lo peçam com maior frequênciatais pareceres ao Tribunal.

E. Papel do Secretário-Geral

51. Desde a criação da Organização, o Secretário-Geraltem desempenhado um papel na prevenção de conflitos arma-dos mediante a “diplomacia discreta” ou os “bons ofícios”. Omandato relativo à prevenção de conflito decorre do Artigo99º da Carta das Nações Unidas, que prevê que o Secretário-Geral pode chamar a atenção do Conselho de Segurança paraqualquer assunto que, no seu entender, possa pôr em perigo amanutenção da paz e da segurança internacionais.

52. A diplomacia preventiva, que assenta na persuasão,no reforço da confiança e na troca de informações, tendo emvista encontrar rapidamente soluções para problemas difíceis,representa uma parte importante das minhas responsabilida-des. Na minha opinião, se a minha intervenção é cada vezmais solicitada para este tipo de acção preventiva, é porque sereconhece que o Secretário-Geral pode ser eficaz, quandoleva a cabo uma acção discreta, longe da atenção do público,ainda que os resultados nem sempre sejam visíveis ou fáceisde avaliar.

53. Há três maneiras possíveis de reforçar o papel tradi-cional do Secretário-Geral no domínio da prevenção: em pri-meiro lugar, recorrendo com mais frequência a missões deapuramento dos factos e de reforço da confiança, nomeando

Page 38: Kofi A. Annan Prevenção de Conflitos Armados - dhnet.org.br · Kofi A. Annan Prevenção de Conflitos Armados Relatório do Secretário-Geral Nações Unidas • Nova Iorque, 2002

29 Papel dos principais órgaõs das Nações Unidas

enviados de alto nível e criando novos gabinetes de ligaçãoregionais; em segundo, suscitando uma acção preventivacomum do Secretário-Geral e do Conselho de Segurança; e,em terceiro, melhorando a capacidade e a base de recursosdestinados às actividades de prevenção. Estas medidas serãoanalisadas mais adiante.

Missões de apuramento dos factos

54. A Assembleia Geral e o Conselho de Segurançaincentivaram o recurso mais frequente a missões de apura-mento dos factos, no quadro da diplomacia preventiva. Estasmissões podem apresentar um relato objectivo dos interessesdas partes num possível conflito, com o fim de definir asmedidas que os organismos das Nações Unidas e os EstadosMembros poderiam tomar para ajudar a limar ou resolver assuas divergências.

55. Enviei, recentemente, duas missões interorganismosà África Ocidental. A primeira visitou a Gâmbia, em Novem-bro de 2000, para ter encontros com representantes do Gover-no, dirigentes dos partidos políticos, representantes da socie-dade civil e membros da equipa das Nações Unidas no país, afim de estudar com os seus interlocutores gambianos a possi-bilidade de a ONU ajudar concretamente o país a ultrapassaras diversas dificuldades que enfrenta e evitar que estasponham em perigo a paz e a segurança no país. A segundamissão, realizada em Março de 2001, visitou 11 países daÁfrica Ocidental, com o objectivo de fazer o levantamentodas necessidades e problemas prioritários da região nos domí-nios da paz e da segurança, da cooperação regional, dosassuntos humanitários e do desenvolvimento económico esocial e examinar a sua interdependência. Tenho a intenção deutilizar mais frequentemente essas missões multidisciplinaresde assistência técnica para fins preventivos, com base na

Page 39: Kofi A. Annan Prevenção de Conflitos Armados - dhnet.org.br · Kofi A. Annan Prevenção de Conflitos Armados Relatório do Secretário-Geral Nações Unidas • Nova Iorque, 2002

30 Prevenção de conflitos armados

plena cooperação dos Estados Membros interessados.

Missões de reforço da confiança

56. Na “Agenda para a Paz”, o meu antecessor manifes-tou o seu desejo de estabelecer consultas periódicas sobremedidas destinadas a fomentar a confiança com as partes nosconflitos, quer estes sejam potenciais, actuais ou passados, ecom as organizações regionais, e de prestar a assistência, soba forma de serviços consultivos, que o Secretariado pudesse.A Assembleia Geral subscreveu esta abordagem na sua reso-lução 47/120. A fim de estudar as possibilidades de aplicar talmedida, sob os auspícios conjuntos da ONU e das organiza-ções regionais, poderiam enviar-se pequenas missões às capi-tais dos Estados regionais pertinentes bem como às sedes dasprincipais organizações regionais, para obter as suas opiniõesacerca do estabelecimento da cooperação ao nível operacio-nal sobre o reforço da confiança nessas regiões.

57. O envio de missões de reforço de confiança poderiaser uma medida concreta com vista à tomada de iniciativas dediplomacia preventiva num contexto regional e sublinhar aimportância que atribuo à participação preventiva das NaçõesUnidas em regiões instáveis. Proponho-me estudar esta alter-nativa nas minhas conversações futuras com os chefes dasorganizações regionais.

Rede oficiosa de personalidades eminentes

58. Proponho-me identificar, após consultas apropria-das, personalidades eminentes que possam actuar como umarede oficiosa encarregada de dar conselhos e de tomar medi-das para apoiar os esforços que desenvolvo para prevenir eresolver os conflitos armados. Por vezes, poderia tambémpedir aos membros dessa rede que realizassem actividades de

Page 40: Kofi A. Annan Prevenção de Conflitos Armados - dhnet.org.br · Kofi A. Annan Prevenção de Conflitos Armados Relatório do Secretário-Geral Nações Unidas • Nova Iorque, 2002

31 Papel dos principais órgaõs das Nações Unidas

diplomacia preventiva, para conter ou ajudar a reduzir tensõesincipientes.

Presença regional

59. A criação, em 1998, do Gabinete de Ligação dasNações Unidas na sede da OUA, em Adis Abeba, constituiuum primeiro passo para promover a cooperação, nomeada-mente no que se refere às estratégias de prevenção de confli-tos, com as organizações regionais ou sub-regionais. É minhaintenção estudar a possibilidade de desenvolver esta fórmula,com base no precedente criado em Adis Abeba.

60. Em Outubro de 2000, criei o Grupo de TrabalhoInterorganismos sobre a África Ocidental, que foi a primeirainiciativa das Nações Unidas com vista a elaborar uma abor-dagem global e coordenada da prevenção de conflitos e criarcondições propícias para a consolidação da paz na sub-região.Esta abordagem previa a análise dos problemas de uma pers-pectiva nacional e regional. O Grupo de Trabalho procuroutambém conjugar os esforços das Nações Unidas com os daComunidade Económica dos Estados da África Ocidental(ECOWAS), que colaborou na concepção e execução da ini-ciativa e que será o principal parceiro das Nações Unidas naaplicação das suas recomendações. Entre as suas recomenda-ções figuram a criação de um Gabinete das Nações Unidas naÁfrica Ocidental, dirigido pelo meu Representante Especial,que reforçaria as capacidades da Organização nos domíniosdo alerta rápido, da prevenção, da consolidação da paz, daapresentação de relatórios e formulação de políticas e da cola-boração com a ECOWAS e outras organizações da sub-região. Os ensinamentos extraídos da iniciativa para a ÁfricaOcidental poderiam ser um guia útil para os esforços de pre-venção de conflito levados a cabo pelas Nações Unidas nou-tras regiões do mundo.

Page 41: Kofi A. Annan Prevenção de Conflitos Armados - dhnet.org.br · Kofi A. Annan Prevenção de Conflitos Armados Relatório do Secretário-Geral Nações Unidas • Nova Iorque, 2002

32 Prevenção de conflitos armados

Recomendação 9

Com o apoio dos Estados Membros, tenho aintenção de reforçar o papel preventivo tradicio-nal do Secretário-Geral, tomando quatro sériesde medidas: em primeiro lugar, recorrendo maisfrequentemente ao envio a regiões voláteis demissões interdisciplinares das Nações Unidas,para apuramento dos factos e reforço da con-fiança; em segundo, elaborando estratégiasregionais de prevenção com os nossos parceirosregionais e com as instituições e organismos com-petentes das Nações Unidas; em terceiro, estabe-lecendo uma rede oficiosa de personalidadeseminentes para a prevenção de conflitos; e emquarto, melhorando a capacidade e a base derecursos do Secretariado destinadas às activida-des de prevenção.

Page 42: Kofi A. Annan Prevenção de Conflitos Armados - dhnet.org.br · Kofi A. Annan Prevenção de Conflitos Armados Relatório do Secretário-Geral Nações Unidas • Nova Iorque, 2002

II Parte

Papel do sistema das Nações Unidase de outros actores internacionais

Page 43: Kofi A. Annan Prevenção de Conflitos Armados - dhnet.org.br · Kofi A. Annan Prevenção de Conflitos Armados Relatório do Secretário-Geral Nações Unidas • Nova Iorque, 2002

35

Papel e actividades dos departamentos, organismos eprogramas das Nações Unidasno domínio da prevenção deconflitos armados

A. Visão Geral

61. Desde que assumi as minhas funções, lancei diver-sas iniciativas destinadas a fomentar uma cultura de preven-ção de conflitos na actividade quotidiana do Secretariado e detodo o sistema das Nações Unidas, partindo do princípio deque o desenvolvimento sustentável e a prevenção a longoprazo dos conflitos são objectivos que se reforçam mutua-mente. Nos últimos cinco anos, quase todas as componentesdo sistema das Nações Unidas, incluindo as instituições deBretton Woods, começaram a interessar-se activamente pelasactividades de prevenção e de consolidação da paz, no quadrodos seus respectivos mandatos.

62. Tal como as causas profundas dos conflitos armadospodem variar consideravelmente, também a natureza dasmedidas de prevenção a tomar e os recursos necessários paraa sua aplicação são extremamente diversos. A escolha domomento de intervir é também extremamente importante:certas medidas preventivas que podem ser convenientes, seadoptadas numa fase inicial, podem tornar-se contra-indica-das, ou mesmo inaceitáveis, à medida que o diferendo seagrava e é mais provável que desemboque num conflito arma-do. Na verdade, poderia dizer-se que, quando a situação passaa constar da ordem do dia do Conselho de Segurança, pode

4

Page 44: Kofi A. Annan Prevenção de Conflitos Armados - dhnet.org.br · Kofi A. Annan Prevenção de Conflitos Armados Relatório do Secretário-Geral Nações Unidas • Nova Iorque, 2002

36 Prevenção de conflitos armados

tratar-se já de uma prevenção tardia e não precoce.63. A prevenção de conflitos pode ser assegurada por

meio de diversos métodos que visam consolidar a segurançae a estabilidade entre os Estados, nomeadamente de medidasdestinadas a reforçar a confiança mútua, a reduzir o receio deameaças, a eliminar o risco de ataques-surpresa, a desincenti-var a corrida aos armamentos e a criar condições propícias àassinatura de acordos sobre limitação e redução das armas,bem como a impulsionar a redução das despesas militares.Essas medidas de fomento da confiança e da segurançapodem ser introduzidas a vários níveis – bilateral, sub-regio-nal, regional e multilateral (podem inclusivamente conceber--se medidas unilaterais) – e podem ser aplicadas de umaforma flexível, tendo em conta considerações políticas ecaracterísticas em matéria de segurança e as necessidadespróprias de cada situação concreta.

64. Se considerarmos o sistema das Nações Unidas noseu conjunto, a capacidade em matéria de acção preventiva éconsiderável. Todavia, subsiste uma clara necessidade deintroduzir de forma mais sistemática a perspectiva da pre-venção de conflitos nos programas multifacetados do sistemadas Nações Unidas, a fim de que possam contribuir para aprevenção de conflitos tomando em linha de conta as suascondições específicas e não de uma forma padronizada. Porsua vez, isto exige uma maior coerência e coordenação noseio do sistema das Nações Unidas, com ênfase na prevençãode conflitos. Exige também um ambiente propício, no qual seestimule o pessoal das Nações Unidas a adoptar uma menta-lidade proactiva em matéria de prevenção e no qual se criemincentivos e se introduza um sistema de responsabilização.

B. Medidas destinadas a fomentar a coerênciano seio do sistema das Nações Unidas

Page 45: Kofi A. Annan Prevenção de Conflitos Armados - dhnet.org.br · Kofi A. Annan Prevenção de Conflitos Armados Relatório do Secretário-Geral Nações Unidas • Nova Iorque, 2002

37 Papel dos departamentos, organismos e programas da ONU

65. Nos últimos anos, intensificaram-se, em geral, osesforços para assegurar uma maior coerência no seio do sis-tema das Nações Unidas. Os velhos hábitos herdados de umaépoca em que não havia trocas de informações entre os depar-tamentos e os organismos estão a ser substituídos cada vezmais pela vontade de partilhar avaliações e de empreenderesforços concertados para definir e aplicar medidas preventi-vas apropriadas e viáveis. Neste aspecto, o que desejo é mos-trar as formas como os departamentos, programas, gabinetese organismos das Nações Unidas colaboram para promover aprevenção de conflitos armados.

Comité Administrativo de Coordenação

66. O Comité Administrativo de Coordenação (CAC) éo órgão encarregado de fomentar a coerência no seio do sis-tema das Nações Unidas. Os chefes de 25 fundos, programase organismos especializados, bem como da OrganizaçãoMundial do Comércio (OMC) e das instituições de BrettonWoods, participam, sob a presidência do Secretário-Geral,nas actividades que visam promover a coordenação no seio dosistema. Em 1997, o CAC reconheceu a importância de refor-çar a capacidade global do sistema em matéria de alerta rápi-do. Reconheceu também a importância da consolidação dapaz encarada como uma abordagem multi-sectorial da pre-venção de conflitos e sublinhou a necessidade de atacar ascausas profundas dos conflitos, ligadas a factores políticos,militares, humanitários, ambientais, económicos, sociais, cul-turais e demográficos bem como a factores relacionados comos direitos humanos. Nesta óptica, é minha intenção velar porque o CAC estabeleça um diálogo concreto sobre as medidaspráticas que os organismos do sistema da ONU deveriamtomar, para dar uma maior coerência às actividades de pre-venção de conflitos.

Page 46: Kofi A. Annan Prevenção de Conflitos Armados - dhnet.org.br · Kofi A. Annan Prevenção de Conflitos Armados Relatório do Secretário-Geral Nações Unidas • Nova Iorque, 2002

38 Prevenção de conflitos armados

Comités Executivos

67. Em 1997, no quadro do meu programa de reformas, crieiuma estrutura formada por quatro comités executivos, aonível de Secretário-Geral Adjunto, para que actuassem comomecanismos de tomada de decisões nas cinco grandes esferasde acção da Organização: a paz e a segurança, os assuntoseconómicos e sociais, a cooperação para o desenvolvimento,os assuntos humanitários e os direitos humanos, como temamulti-sectorial. No seio desta estrutura, o Comité Executivopara a Paz e a Segurança é o órgão encarregado de tratar dasquestões relacionadas com a acção preventiva, a nível de todoo sistema. O Comité Executivo para os Assuntos Humanitá-rios é o órgão ao qual cabe analisar as medidas de prevençãoe de preparação, no domínio humanitário, enquanto as medi-das de prevenção de conflitos relacionadas com o desenvolvi-mento competem naturalmente ao Grupo das Nações Unidaspara o Desenvolvimento (GNUD). O Comité Executivo paraos Assuntos Económicos e Sociais examina, a título prelimi-nar, as causas profundas dos conflitos do ponto de vista dasquestões macro económicas e sociais, da governação e do de-senvolvimento sustentável. Apesar de a maior parte do traba-lho realizado por estes comités ter incidido essencialmentesobre outros problemas que não a prevenção de conflitos, ten-ciono promover a sua utilização mais proactiva para este efei-to, no futuro.

Quadro de Coordenação Interdepartamental

68. Criado em 1994, para reforçar o planeamento e acoordenação entre as tarefas de manutenção da paz, as tarefashumanitárias e as tarefas políticas, o Quadro de CoordenaçãoInterdepartamental foi reorientado e passou a concentrar-se,desde 1998, no alerta rápido e na prevenção de conflitos. Uma

Page 47: Kofi A. Annan Prevenção de Conflitos Armados - dhnet.org.br · Kofi A. Annan Prevenção de Conflitos Armados Relatório do Secretário-Geral Nações Unidas • Nova Iorque, 2002

39 Papel dos departamentos, organismos e programas da ONU

equipa do Quadro de Coordenação, composta por represen-tantes de alto nível de 14 departamentos, organismos, progra-mas e gabinetes, incluindo o Banco Mundial, reúne-se umavez por mês para proceder a trocas de informações sobre assuas respectivas esferas de competência e para avaliar os ris-cos de um conflito armado, os casos complexos de emergên-cia ou outras circunstâncias que possam constituir um argu-mento de peso a favor de uma intervenção das Nações Uni-das. O Quadro foi desenvolvido e melhorado, em conformi-dade com a resolução 51/242 da Assembleia Geral, e está atornar-se um mecanismo importante para a rápida elaboraçãode estratégias de prevenção, no seio do sistema das NaçõesUnidas.

Coerência ao nível nacional

69. No plano nacional, a equipa da ONU no país, diri-gida pelo coordenador residente das Nações Unidas, partici-pa, em estreita cooperação com o Governo, num processointerdisciplinar que visa estabelecer avaliações comuns depaíses, um trabalho que já foi concluído em relação a 70 paí-ses e está em curso relativamente a outros 40. Cada avaliaçãoanalisa o grau de desenvolvimento do país e identifica os pro-blemas importantes que existem em matéria de desenvolvi-mento, servindo, assim, de base para as actividades de mobi-lização bem como para o diálogo sobre políticas entre osorganismos do sistema da ONU e examina as prioridades edesafios, bem como as questões e iniciativas regionais. O pro-cesso das avaliações comuns dos países conduz directamenteao Plano-Quadro das Nações Unidas para a Ajuda ao Desen-volvimento (UNDAF), que inclui o quadro de planeamentonecessário para a elaboração de programas baseados numaestratégia coerente das Nações Unidas em matéria de ajuda aodesenvolvimento ao nível dos países. Estes processos permi-

Page 48: Kofi A. Annan Prevenção de Conflitos Armados - dhnet.org.br · Kofi A. Annan Prevenção de Conflitos Armados Relatório do Secretário-Geral Nações Unidas • Nova Iorque, 2002

40 Prevenção de conflitos armados

tem que se tomem em consideração os factores de risco e asquestões de prevenção, no início da fase de programação, oque permite definir estratégias de cooperação e objectivoscomuns.

70. Reconhecendo que os conflitos violentos represen-tam uma das maiores ameaças ao desenvolvimento sustentá-vel, tanto as avaliações comuns de países como o Plano-Qua-dro das Nações Unidas para a Ajuda ao Desenvolvimento pro-porcionam oportunidades para definir e aplicar estratégias deconsolidação da paz ou de prevenção de conflitos, ao níveldos países. O Grupo das Nações Unidas para o Desenvolvi-mento tem, pois, o dever de velar por que a prevenção de con-flitos e a consolidação da paz sejam integradas nesses pro-cessos, o que representa um passo crucial no que se refere aestabelecer a base para programar o desenvolvimento da pers-pectiva da prevenção e permite que as equipas das NaçõesUnidas nos países, em parcerias com os governos nacionais ea sociedade civil, empreendam com estes as actividadesnecessárias para responder às preocupações relacionadas coma prevenção de conflitos à escala nacional.

71. A promoção da coerência das medidas de preven-ção de conflitos é também fomentada graças ao programa dereforço das capacidades do pessoal de todo o sistema dasNações Unidas denominado “Alerta rápido e medidas preven-tivas: aumento da capacidade das Nações Unidas”, dirigidopela Escola Superior do Pessoal das Nações Unidas. Este pro-grama constitui um fórum para ampliar a troca de opiniões emelhorar a coordenação entre os organismos e gabinetes dasNações Unidas que tratam dos aspectos de política geralcomo dos aspectos práticos da prevenção de conflitos. Estesseminários complementam a formação dispensada às equipasnos países sobre as avaliações comuns e o Plano-Quadro.

72. A coerência no seio do sistema das Nações Unidas

Page 49: Kofi A. Annan Prevenção de Conflitos Armados - dhnet.org.br · Kofi A. Annan Prevenção de Conflitos Armados Relatório do Secretário-Geral Nações Unidas • Nova Iorque, 2002

41 Papel dos departamentos, organismos e programas da ONU

deve ser complementada por uma abordagem uniforme dosEstados Membros no que diz respeito à sua política em rela-ção às Nações Unidas. Os departamentos, os organismos e osprogramas comprovaram, com demasiada frequência, que aspropostas que tinham merecido o aval político dos EstadosMembros numa determinada instância não suscitaram o apoiodesses mesmos Estados noutras instâncias, nomeadamentenas instituições financeiras. Quando se registam tais discre-pâncias, pode revelar-se difícil determinar qual a instituiçãoque é responsável pelas actividades, o que complica os esfor-ços das Nações Unidas para definir métodos eficazes de pre-venção de conflitos. A fim de reduzir ao máximo os erros decomunicação neste domínio, encarregar-me-ei de velar porque o sistema das Nações Unidas justifique da maneira maisclara possível as suas necessidades financeiras.

Recomendação 10Incito os órgãos directivos e outros órgãos intergover-namentais dos fundos e programas, bem como dosorganismos especializados das Nações Unidas, a anali-sarem qual seria a maneira mais eficaz de integrar aprevenção de conflitos nas diferentes actividades quelhes foram atribuídas.

C. Acção política

73. No seio do sistema das Nações Unidas, as funçõesdo Secretário-Geral na esfera política contam com o apoio doDepartamento de Assuntos Políticos, que colabora estreita-mente com os outros departamentos, gabinetes e organismosdas Nações Unidas em muitos aspectos do seu trabalho. Umadas funções mais importantes do Departamento é acompanharos acontecimentos políticos em todo o mundo e determinar se

Page 50: Kofi A. Annan Prevenção de Conflitos Armados - dhnet.org.br · Kofi A. Annan Prevenção de Conflitos Armados Relatório do Secretário-Geral Nações Unidas • Nova Iorque, 2002

42 Prevenção de conflitos armados

existem conflitos potenciais que as Nações Unidas poderiamajudar a evitar. Desempenha também um papel coordenadordos esforços de prevenção de conflitos e de consolidação dapaz. Para o ajudar neste novo papel, foi criada há três anos aUnidade de Planeamento de Políticas. Em 1998, foi tambémcriado um novo mecanismo interno, a Equipa de Prevençãode Conflitos, que é uma instância interdepartamental onde sãodefinidas as alternativas em matéria de prevenção. Tendopoderes para convocar o Comité Executivo para a Paz e aSegurança, o Departamento promove também debates inter-departamentais e interorganismos e a tomada de decisõessobre as alternativas existentes em matéria de prevenção.

74. O Departamento de Assuntos Políticos foi encarre-gado de identificar os conflitos potenciais ou reais para cujaresolução a Organização possa dar um contributo útil. Cadauma das quatro divisões geográficas do Departamento é res-ponsável pela identificação de possíveis áreas de conflito epor dar um alerta rápido ao Secretário-Geral sobre os factosnovos e as situações que afectem a paz e a segurança. Para oefeito, os funcionários responsáveis por essas quatro divisõesdo Departamento elaboram perfis dos países que se inscrevemna sua esfera de competência e acompanham a evolução dasituação ao longo dos anos. Pelo facto de observarem o cursonatural e normal da vida política, social e económica ficamem condições de detectar mudanças e evoluções que amea-cem conduzir a uma crise. Graças às comunicações moder-nas, bem como às bases de dados em linha, os responsáveispor estas divisões têm à sua disposição uma grande quantida-de de informações, mas o Departamento deve continuar aaumentar ainda mais a sua capacidade de utilizar essas infor-mações de uma maneira eficaz e recomendar as medidas deprevenção correspondentes.

Page 51: Kofi A. Annan Prevenção de Conflitos Armados - dhnet.org.br · Kofi A. Annan Prevenção de Conflitos Armados Relatório do Secretário-Geral Nações Unidas • Nova Iorque, 2002

43 Papel dos departamentos, organismos e programas da ONU

75. Se chegar a ser criada, a nova unidade de políticas eanálise a nível de todo o sistema das Nações Unidas, previstano recente relatório do Secretário-Geral sobre a aplicação dasrecomendações do Comité Especial de Operações de Manu-tenção da Paz e do Grupo de Peritos sobre as Operações dePaz das Nações Unidas (ver o documento A/55/977, parágra-fos 301 a 307) pode contribuir para melhorar a capacidade doDepartamento neste campo, na sua qualidade de secretariadodo Comité Executivo para a Paz e a Segurança.

76. A Assembleia Geral considera que o recurso opor-tuno à diplomacia preventiva é o meio mais desejável e eficazde reduzir as tensões, antes de que provoquem um conflito.Para o efeito, o Departamento está a tentar conceber meiosmais eficazes de levar a cabo a diplomacia preventiva. Estesincluem as missões de apuramento dos factos, as visitas dosenviados especiais a regiões sensíveis, o exercício dos bonsofícios do Secretário-Geral e a criação, em diferentes regiões,de grupos de amigos do Secretário-Geral, compostos por umpequeno número de Estados Membros interessados.

77. As actividades de prevenção do Departamento dosAssuntos Políticos consistem, em grande parte, em dar apoioaos representantes e enviados especiais do Secretário-Geralbem como às missões e gabinetes no terreno. Actualmente,existem missões apoiadas pelo Departamento no Afeganistão,em Angola, na Papuásia-Nova Guiné, no Burundi, na Guate-mala, na região dos Grandes Lagos, no Líbano, nos Territó-rios Ocupados* e na Somália. O Departamento abriu, naRepública Centro-Africana, na Guiné-Bissau, na Libéria e noTajiquistão, gabinetes encarregados de dar apoio às activida-des de consolidação da paz. Estes gabinetes colaboram estrei-

* Gabinete do Coordenador Especial das Nações Unidas para o Processo de Paz no Médio Orien-te e Representante Pessoal do Secretário-Geral junto da Organização de Libertação da Palestinae da Autoridade Palestina.

Page 52: Kofi A. Annan Prevenção de Conflitos Armados - dhnet.org.br · Kofi A. Annan Prevenção de Conflitos Armados Relatório do Secretário-Geral Nações Unidas • Nova Iorque, 2002

44 Prevenção de conflitos armados

tamente com os ministérios, as assembleias nacionais, os par-tidos políticos, a sociedade civil e outros actores locais, paraapoiar os esforços em prol da consolidação da paz.

78. Os gabinetes acima mencionados podem colaborarestreitamente com as equipas nos países e organismos/gabi-netes não residentes das Nações Unidas para elaborar progra-mas multi-sectoriais que permitam atacar muitas das causasprofundas dos conflitos. Entre os exemplos figuram o aumen-to do apoio aos princípios democráticos tais como o papelequitativo atribuído à oposição, o acesso, em condições deigualdade, aos meios de comunicação social, a reforma dosector da segurança e a defesa da tolerância e dos direitoshumanos bem como a prestação de assistência técnica para aelaboração de uma constituição e formação de instituiçõesnacionais. No futuro, o papel destes gabinetes poderia seralargado às regiões e países expostos a conflitos, com a con-cordância dos Estados Membros.

79. A acção levada a cabo pelas Nações Unidas paraapoiar a democracia nos Estados Membros contribui signifi-cativamente para a prevenção de conflitos. Estas actividadesabrangem a prestação de um apoio global no domínio dagovernação e do estado de direito, incluindo a assistênciaeleitoral. Ficou demonstrado que a assistência neste campocontribui, em grande medida, para prevenir a ruptura das ins-tituições e processos democráticos, em especial nas socieda-des em transição, nas novas democracias ou nos países ondefoi restabelecida a democracia . Desde a sua criação, a Divi-são de Assistência Eleitoral das Nações Unidas, em coopera-ção com o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvi-mento (PNUD), prestou assistência a mais de 150 processoseleitorais, para reforçar a capacidade administrativa dos Esta-dos Membros no que se refere a realizar eleições credíveis,transparentes e justas e ajudar a consolidar as instituições

Page 53: Kofi A. Annan Prevenção de Conflitos Armados - dhnet.org.br · Kofi A. Annan Prevenção de Conflitos Armados Relatório do Secretário-Geral Nações Unidas • Nova Iorque, 2002

45 Papel dos departamentos, organismos e programas da ONU

democráticas. É indiscutível que só é possível assegurar odesenvolvimento sustentável, se os povos participarem deuma forma livre e eficaz no processo de tomada de decisões.

80. O Departamento de Assuntos Políticos procura,actualmente, aumentar as suas capacidades de análise e dealerta rápido, melhorar o nível do seu pessoal, dando-lheoportunidades de formação, melhorar a sua coordenação ecooperação com outros departamentos, fundos e organismosdas Nações Unidas, melhorar a sua cooperação com osGovernos e as organizações regionais, melhorar as suas acti-vidades de divulgação orientadas para organizações ligadas àinvestigação, utilizar o Fundo Especial para a Acção Preven-tiva para apoiar missões de apuramento dos factos e de facili-tação bem como outras actividades que visem resolver confli-tos potenciais e evitar que os diferendos já existentes se inten-sifiquem e degenerem em conflitos. Está também a reforçar asua capacidade, a fim de poder desempenhar melhor, no seiodas Nações Unidas, o seu papel de coordenador dos esforçosnecessários para a consolidação da paz após um conflito epara dar o seu apoio a um número crescente de operações deconsolidação da paz, em parceria com outros organismos dasNações Unidas.

Recomendação 11Exorto a Assembleia Geral a disponibilizar ao Depar-tamento de Assuntos Políticos, na sua qualidade decoordenador dos esforços de prevenção de conflitos, osrecursos suficientes para desempenhar as funções quelhe competem, no seio do sistema das Nações Unidas,em matéria de prevenção de conflitos e de consolidaçãoda paz.

Page 54: Kofi A. Annan Prevenção de Conflitos Armados - dhnet.org.br · Kofi A. Annan Prevenção de Conflitos Armados Relatório do Secretário-Geral Nações Unidas • Nova Iorque, 2002

46 Prevenção de conflitos armados

D. Operações de Manutenção da Paz

81. Se bem que possa dizer-se que todas as operaçõesde manutenção da paz têm uma função preventiva, na medidaem que a sua finalidade é evitar que deflagre um conflito ouque este ressurja, o seu papel preventivo foi particularmenteevidente nos casos em que foram colocadas no terreno antesdo início de um conflito armado interno ou internacional. Issoaconteceu três vezes na última década: com a Força Preventi-va das Nações Unidas (UNPREDEP) na Antiga RepúblicaJugoslava da Macedónia, a Missão das Nações Unidas naRepública Centro-Africana (MINURCA) e uma série de ope-rações no Haiti. Além de todas estas operações terem emcomum o facto de os países anfitriões não estarem implicadosnum conflito interno ou internacional violento, apresentavamas seguintes características: era possível, ou mesmo provável,que surgisse um conflito armado, os Estados interessadosconsentiram a sua realização, considerando que se tratava deuma forma de prevenção, e o Conselho de Segurança deu asua autorização.

82. O facto de raramente se recorrer à colocação pre-ventiva de forças no terreno indica que a comunidade inter-nacional se tem mostrado avessa a investir o capital político efinanceiro exigido por uma operação de paz, quando a suanecessidade não se impõe claramente, como acontece emcaso de conflito aberto. No entanto, ainda que o êxito de umamissão preventiva seja, por definição, difícil de medir comprecisão, é evidente que há circunstâncias em que a colocaçãopreventiva de uma operação de manutenção da paz pode sal-var vidas e promover a estabilidade. O facto de, nos três casoscitados, não terem eclodido conflitos nos países anfitriõesmostra claramente que uma operação preventiva pode serextremamente útil como símbolo do interesse da comunidade

Page 55: Kofi A. Annan Prevenção de Conflitos Armados - dhnet.org.br · Kofi A. Annan Prevenção de Conflitos Armados Relatório do Secretário-Geral Nações Unidas • Nova Iorque, 2002

47 Papel dos departamentos, organismos e programas da ONU

internacional e como meio de promover a realização dos seusobjectivos.

83. Esta experiência mostra que, quando os factores quepõem em perigo a segurança persistem, pode ser necessáriomanter a colocação preventiva de forças no terreno duranteum período longo e os resultados desta operação devem serapoiados por medidas a longo prazo que visem a consolida-ção da paz. A colocação preventiva de forças no terreno, talcomo outras formas de manutenção da paz, requer uma abor-dagem pluridimensional que permita enfrentar as causas pro-fundas dos conflitos. A reforma e a reestruturação dos servi-ços locais responsáveis por fazer cumprir a lei, o desarma-mento, a desmobilização e reinserção dos antigos combaten-tes, a sensibilização para o problema das minas e a desmina-gem, bem como a promoção dos direitos humanos e a criaçãode instituições democráticas, são componentes essenciais dosesforços que é preciso levar a cabo. É também evidente que,tal como acontece com qualquer operação de manutenção dapaz, em última análise, as operações de colocação preventivade forças no terreno só podem contribuir para a instauração deuma paz duradoura se as partes interessadas estiverem dis-postas a aproveitar a oportunidade que se lhes apresenta.

84. Dada a estreita relação existente entre manutenção econsolidação da paz, registo com satisfação a recente decla-ração do Presidente do Conselho de Segurança, que reafirmaque é útil incorporar, quando for caso disso, elementos deconsolidação da paz nos mandatos das operações de manu-tenção da paz. Tendo em conta os conflitos civis que caracte-rizam o mundo no período posterior à guerra fria, convéminsistir especialmente na polícia civil, que desempenha umafunção preventiva cada vez mais importante nas operações demanutenção da paz das Nações Unidas. O seu contributo con-sistiu em restabelecer o apoio do público às forças locais

Page 56: Kofi A. Annan Prevenção de Conflitos Armados - dhnet.org.br · Kofi A. Annan Prevenção de Conflitos Armados Relatório do Secretário-Geral Nações Unidas • Nova Iorque, 2002

48 Prevenção de conflitos armados

encarregadas de manter a ordem pública, dando formação àpolícia local, fiscalizar a sua actuação e ajudando na reestru-turação e reforma das instituições da polícia.

85. Neste contexto, a comunidade internacional tomoujá algumas medidas para reforçar as bases da participação dapolícia civil nas operações de manutenção da paz. Em 2000,a Assembleia Geral autorizou a afectação de recursos suple-mentares às estruturas de apoio na Sede, enquanto, pelo seulado, o Secretariado procurou fortalecer o quadro normativodestes esforços, elaborando os princípios e directrizes aplicá-veis às operações da polícia civil das Nações Unidas. Todavia,são ainda necessários mais esforços em diversas esferas,esforços esses que são analisados em pormenor no meu rela-tório sobre a aplicação das recomendações do Comité Espe-cial de Operações de Manutenção da Paz e do Grupo de Peri-tos sobre Operações de Paz (A/55/977).

Recomendação 12Incentivo os Estados Membros e o Conselho de Segu-rança a recorrerem mais activamente à colocação pre-ventiva de forças no terreno antes do início dos confli-tos, quando for caso disso.

Recomendação 13Peço insistentemente ao Conselho de Segurança queapoie a incorporação de elementos de consolidação dapaz nas operações de manutenção da paz, quando tal sejustificar, e que reforce a capacidade do Secretariadoneste domínio, nomeadamente por meio das medidaspropostas no meu relatório sobre a aplicação das reco-mendações do Comité Especial de Operações de Manu-tenção da Paz e do Grupo de Peritos sobre Operaçõesde Paz (A/55/977).

Page 57: Kofi A. Annan Prevenção de Conflitos Armados - dhnet.org.br · Kofi A. Annan Prevenção de Conflitos Armados Relatório do Secretário-Geral Nações Unidas • Nova Iorque, 2002

49 Papel dos departamentos, organismos e programas da ONU

E. Desarmamento

86. As normas de desarmamento evoluem continua-mente e ainda há algumas esferas, como a do fabrico de mís-seis e a das armas ligeiras, que carecem de um quadro nor-mativo internacional. Os tratados e convenções internacionaiscontribuem para a prevenção de conflitos armados, promo-vendo o primado do direito nas relações internacionais. Sãoindispensáveis uma maior adesão a estes instrumentos multi-laterais e a sua aplicação controlada, para que os países con-fiem em que a sua segurança está garantida.

87. As trocas de informações e outras formas de trans-parência no domínio dos armamentos e sobre assuntos milita-res podem, de um modo geral, ajudar a reduzir ao mínimo osriscos de mal-entendidos ou de erros de apreciação e contri-buir assim para aumentar a confiança e promover relaçõesmais estáveis entre os Estados. Podem também servir demecanismos de alerta rápido e moderar ou travar a aquisiçãode armamentos, ajudando a identificar casos de acumulaçãoexcessiva ou destabilizadora de armamentos. O Departamen-to de Assuntos de Desarmamento gere e mantém actualizadosdois instrumentos mundiais que promovem a transparência: oRegisto de Armas Convencionais das Nações Unidas e o Sis-tema Normalizado de Informação sobre Despesas Militares.

88. Como referi no meu Relatório do Milénio(A/54/2000), a proliferação de armas ligeiras não constituiapenas uma questão de segurança; é também uma questão dedireitos humanos e de desenvolvimento. A proliferação dearmas ligeiras prolonga os conflitos armados e exacerba-os,põe em risco os Capacetes Azuis e o pessoal humanitário,compromete o respeito pelo direito internacional humanitá-rio, ameaça os governos legítimos mas pouco sólidos e bene-ficia os terroristas e o crime organizado. A adopção de medi-

Page 58: Kofi A. Annan Prevenção de Conflitos Armados - dhnet.org.br · Kofi A. Annan Prevenção de Conflitos Armados Relatório do Secretário-Geral Nações Unidas • Nova Iorque, 2002

50 Prevenção de conflitos armados

das destinadas a prevenir o uso indevido de armas ligeiras eas transferências ilícitas destas armas, bem como a eliminaros factores que estão na origem da procura de armas ligeiras,contribuiria consideravelmente para a prevenção de conflitos.

89. As medidas concretas de desarmamento mereceramum amplo reconhecimento, em particular os projectos deno-minados “armas em troca de desenvolvimento”, que visamrecuperar e reunir armas ilícitas, em troca de incentivos aodesenvolvimento ao nível das comunidades. Além da recupe-ração de armas ilícitas detidas pela população civil e de armasna posse de antigos combatentes, a destruição e eliminação detais stocks podem ajudar a prevenir a eclosão ou o ressurgi-mento de conflitos, reduzindo o volume de armas em circula-ção e dificultando o acesso a essas armas, que muitas vezessão transferidas de um conflito para outro.

90. No domínio das medidas concretas de desarmamen-to, o Departamento de Assuntos de Desarmamento colaboracom o Grupo de Estados Interessados, criado em Março de1998 em cumprimento de uma resolução da Assembleia Geraldestinada a promover medidas desse tipo e, nomeadamente, aapoiar as actividades de consolidação da paz após os confli-tos, enquanto, pelo seu lado, o PNUD tem vindo a conceber eapoiar projectos de recolha, gestão e destruição de armas porintermédio do seu Fundo Especial para as Armas Ligeiras. Afim de preparar estas actividades, o Departamento conduzmissões de apuramento dos factos, em geral com o apoio doDepartamento de Assuntos Políticos, do PNUD e de outrosorganismos, antes da conclusão das propostas de projectos. OPNUD leva também a cabo continuamente, no contexto dodesenvolvimento, avaliações da situação referente às armasligeiras no terreno, avaliações essas que facilitam a elabora-ção de estratégias de acção local e de mobilização dos doa-dores bem como as intervenção ao nível dos projectos.

Page 59: Kofi A. Annan Prevenção de Conflitos Armados - dhnet.org.br · Kofi A. Annan Prevenção de Conflitos Armados Relatório do Secretário-Geral Nações Unidas • Nova Iorque, 2002

51 Papel dos departamentos, organismos e programas da ONU

91. O Departamento de Assuntos de Desarmamento e oPNUD ajudam os Estados Membros, a pedido destes, a tentarresolver os problemas levantados pela proliferação de armaspessoais e ligeiras, em particular no contexto da consolidaçãoda paz depois dos conflitos. Em Junho de 1998, criei ummecanismo de coordenação da acção sobre armas ligeiras,para harmonizar todas as actividades relativas a este tipo dearmas no seio das Nações Unidas, designando centro coorde-nador deste mecanismo o Departamento de Assuntos deDesarmamento. Engloba todos os departamentos e organis-mos que se interessam por um ou mais aspectos da ameaçamultidimensional que a proliferação de armas ligeiras e a suautilização indevida representam. O Departamento presta tam-bém apoio funcional à primeira Conferência das Nações Uni-das sobre o Comércio Ilícito de Armas Pessoais e Ligeiras,em Todos os Seus Aspectos, que se realizará na Sede dasNações Unidas, em Julho de 2001, e que visa a elaboração deum programa de acção para restringir o comércio ilícito destetipo de armas.

92. O Departamento de Assuntos de Desarmamentodesempenhou, em cooperação com o PNUD, um papel pre-ponderante na concepção de um projecto de “armas em trocade desenvolvimento”, executado, em parceria com o PNUD,no distrito de Gramsch (Albânia), em resposta a um pedido deassistência do Governo albanês para recuperar as armas pes-soais e ligeiras adquiridas de forma ilícita pela populaçãocivil, durante os distúrbios de 1997. Desde então, foram lan-çados projectos semelhantes noutros distritos da Albânia. Oconceito de “armas em troca de desenvolvimento” despertoua atenção e o interesse de outras regiões. O desarmamento dassociedades onde pode eclodir um conflito é, portanto, umaspecto importante da prevenção de conflitos.

93. É importante desarmar não só as sociedades ondepode eclodir um conflito mas também aquelas onde houve um

Page 60: Kofi A. Annan Prevenção de Conflitos Armados - dhnet.org.br · Kofi A. Annan Prevenção de Conflitos Armados Relatório do Secretário-Geral Nações Unidas • Nova Iorque, 2002

52 Prevenção de conflitos armados

conflito, a fim de impedir o recomeço das hostilidades. Nestesentido, é importante que a comunidade internacional forneçarecursos suficientes para apoiar os esforços de desarmamen-to, desmobilização e reinserção. O Banco Mundial desempe-nha um papel relevante neste domínio, prestando assistênciatécnica para a elaboração de programas globais de desarma-mento, de desmobilização e de reinserção, facilitando a rein-serção dos antigos combatentes na sociedade civil e dandoaconselhamento sobre questões de governação e ligadas àsdespesas públicas. Os parceiros humanitários desempenhamtambém um papel fundamental nas actividades de desarma-mento, desmobilização e reinserção. Por exemplo, desde osprincípios da década de 1990, o Programa Alimentar Mundial(PAM) é um dos principais parceiros no quadro dos progra-mas de desmobilização apoiados pelas Nações Unidas (naNamíbia, em Angola, em Moçambique, na Libéria, na SerraLeoa e na Eritreia). A experiência mostra que é muito útilassegurar a participação dos parceiros humanitários na faseinicial de planeamento dos programas de desmobilização e dereinserção, dada a importância da assistência humanitária e daajuda à reconstrução, durante a execução desses programas emesmo depois. As experiências da Libéria e da Serra Leoafazem-nos pensar que o facto de não se consagrarem os recur-sos suficientes às actividades de desarmamento, de desmobi-lização e de reinserção pode contribuir para o recrudescimen-to da violência.

Recomendação 14Incentivo os Estados Membros a promoverem umamaior transparência no que se refere às questões mili-tares, nomeadamente através de uma maior adesão aosinstrumentos das Nações Unidas relacionados com atransparência em matéria de armamentos e de despe-

Page 61: Kofi A. Annan Prevenção de Conflitos Armados - dhnet.org.br · Kofi A. Annan Prevenção de Conflitos Armados Relatório do Secretário-Geral Nações Unidas • Nova Iorque, 2002

53 Papel dos departamentos, organismos e programas da ONU

sas militares. Peço também à Assembleia Geral e aosoutros órgãos de desarmamento das Nações Unidasque reforcem os mecanismos de alerta rápido e trans-parência ligados ao desarmamento, em especial no quediz respeito às armas pessoais e ligeiras.

Recomendação 15A fim de evitar o ressurgimento de conflitos, incentivoo Conselho de Segurança a incluir, quando for casodisso, uma componente de desarmamento, desmobili-zação e reinserção no mandato das operações de manu-tenção e de consolidação da paz.

F. Actividades relacionadas com os direitoshumanos

94. A prevenção sustentável e a longo prazo dos confli-tos armados deve concentrar-se, entre outras coisas, no refor-ço do respeito pelos direitos humanos e na resolução dos pro-blemas fundamentais ligados às violações dos direitos huma-nos, onde quer que se registem. As actividades orientadaspara a prevenção de conflitos devem promover um grandeleque de direitos humanos, que englobe não só os direitoscivis e políticos mas também os direitos económicos, sociaise culturais, incluindo o direito ao desenvolvimento.

95. Na resolução 48/141, a Assembleia Geral pediu aoGabinete da Alta Comissária das Nações Unidas para osDireitos Humanos que desempenhasse um papel activo naprevenção das continuas violações dos direitos humanos emtodo o mundo. O relatório da Alta Comissária à Comissão deDireitos Humanos, na sua quinquagésima sétima sessão(E/CN.4/2000/12) salientou a importância de reforçar asestratégias de prevenção em relação a muitos aspectos dife-

Page 62: Kofi A. Annan Prevenção de Conflitos Armados - dhnet.org.br · Kofi A. Annan Prevenção de Conflitos Armados Relatório do Secretário-Geral Nações Unidas • Nova Iorque, 2002

54 Prevenção de conflitos armados

rentes dos direitos humanos.96. Numa tentativa de reforçar a capacidade de proteger

os direitos humanos e de, assim, contribuir para a prevençãode conflitos, o Gabinete da Alta Comissária executa mais de50 projectos de cooperação técnica, em cooperação com osEstados, os organismos das Nações Unidas e parceiros locais,a fim de ajudar os governos, as instituições nacionais e asONG a desenvolverem a sua capacidade no domínio dosdireitos humanos. Estas actividades e os programas de educa-ção reforçam o primado do direito e aumentam a capacidadede acção dos Estados Membros em matéria de direitos huma-nos. As informações recolhidas pelos mecanismos especiais epelos órgãos de acompanhamento dos tratados de direitoshumanos ou pelas estruturas que asseguram a presença doGabinete da Alta Comissária no terreno, deveriam ser melhorintegradas na elaboração de estratégias de prevenção. Osescritórios exteriores do Gabinete da Alta Comissária têmigualmente um papel a desempenhar no processo de preven-ção.

97. O Tribunal Penal Internacional terá um papel vitalde dissuasão no que se refere às violações mais flagrantes dosdireitos humanos, assegurando que o direito penal internacio-nal seja efectivamente aplicado aos responsáveis. Enquanto seespera que o Tribunal seja criado, os órgãos judiciais como osTribunais Internacionais para o Ruanda e a Antiga Jugoslávia,bem como as instâncias estabelecidas em conformidade comos tratados de direitos humanos, podem também contribuirpara a prevenção de conflitos, ao imputar a responsabilidadepor esses crimes a indivíduos e desencorajar futuras viola-ções. A ratificação e a aplicação dos tratados de direitoshumanos pelos Estados Membros e a ratificação ou adesão aoestatuto do Tribunal Penal Internacional revestem-se de parti-cular importância.

Page 63: Kofi A. Annan Prevenção de Conflitos Armados - dhnet.org.br · Kofi A. Annan Prevenção de Conflitos Armados Relatório do Secretário-Geral Nações Unidas • Nova Iorque, 2002

55 Papel dos departamentos, organismos e programas da ONU

98. A Conferência Mundial contra o Racismo, a Discri-minação Racial, a Xenofobia e a Intolerância Conexa debate-rá, de 31 de Agosto a 7 de Setembro de 2001, muitas dasquestões relacionadas com os conflitos raciais e étnicos eespero que faça recomendações concretas, nomeadamentesobre os sistemas de alerta rápido, as medidas de reforço daconfiança e os mecanismos de apoio estrutural e institucional,para evitar que as tensões étnicas degenerem num conflitoarmado.

Recomendação 16Peço ao Conselho de Segurança e à Assembleia Geralque aproveitem plenamente as informações e análisesemanadas dos mecanismos e órgãos de direitos huma-nos das Nações Unidas, no quadro da acção que levama cabo no domínio da prevenção de conflitos.

Recomendação 17Exorto os Estados Membros que ainda não o fizeram aratificarem os tratados de direitos humanos e o estatu-to do Tribunal Penal Internacional ou a aderirem aeles.

G. Ajuda ao Desenvolvimento

99. A ajuda ao desenvolvimento não pode, por si só,prevenir um conflito ou pôr-lhe fim. Pode, no entanto, facili-tar a criação de oportunidades e de espaços políticos, econó-micos e sociais nos quais os actores locais possam definir,valorizar e utilizar os recursos necessários para a instauraçãode uma sociedade pacífica, equitativa e justa. A experiênciamostra igualmente que o desenvolvimento só será sustentável,se as estratégias neste domínio tiverem em conta o impacte

Page 64: Kofi A. Annan Prevenção de Conflitos Armados - dhnet.org.br · Kofi A. Annan Prevenção de Conflitos Armados Relatório do Secretário-Geral Nações Unidas • Nova Iorque, 2002

56 Prevenção de conflitos armados

que podem ter nas tensões susceptíveis de gerar violência e seprevirem medidas para atenuar essas tensões. As guerras e osconflitos provocam perdas de vidas e destruição e atrasamainda mais o desenvolvimento dos países afectados, margina-lizando-os da economia mundial.

100. A ajuda ao desenvolvimento prestada pelo sistemadas Nações Unidas deve concentrar-se em reduzir os princi-pais factores de risco estruturais que alimentam os conflitosviolentos, tais como a injustiça – eliminando as disparidadesentre grupos de diferente identidade –, a desigualdade – cor-rigindo as políticas e práticas que institucionalizam a discri-minação – , as falhas da justiça – promovendo o estado dedireito, a aplicação efectiva e justa das leis e da administraçãoda justiça e, se for caso disso, a representação equitativa nasinstituições que se encontram ao serviço da lei – e a insegu-rança – fortalecendo uma governação responsável e transpa-rente e a segurança das pessoas. Nesta óptica, é útil que,quando tal se justificar, os coordenadores residentes dasNações Unidas encarem a possibilidade de criar, em colabo-ração com os governos, um mecanismo colectivo de reflexãosobre a prevenção de conflitos a nível local, a fim de quesejam definidas conjuntamente estratégias coerentes dedesenvolvimento que tenham em consideração os grandesfactores de risco.

101. Além disso, a cooperação das Nações Unidas nodomínio do desenvolvimento deveria procurar reforçar acapacidade da sociedade de lidar com as tensões, de as gerire de as resolver, antes de degenerarem num conflito violento.Isto inclui a prestação de ajuda para reforçar a governação emsectores que se estejam a desenvolver e que contribuam paraenfrentar situações instáveis, o poder judicial, os mecanismostradicionais de resolução de conflitos, o fomento da vontadepolítica e da capacidade de liderança necessários para resol-

Page 65: Kofi A. Annan Prevenção de Conflitos Armados - dhnet.org.br · Kofi A. Annan Prevenção de Conflitos Armados Relatório do Secretário-Geral Nações Unidas • Nova Iorque, 2002

57 Papel dos departamentos, organismos e programas da ONU

ver os diferendos por meios pacíficos, o desenvolvimento deaptidões e práticas em matéria de resolução de conflitos, aprocura de consensos e o diálogo sobre políticas bem como apromoção de práticas que favoreçam a participação e a inclu-são no domínio da tomada de decisões sobre as grandes ques-tões económicas, sociais e políticas. Todas as políticas e todosos programas e projectos de desenvolvimento devem ser vis-tos da perspectiva da prevenção de conflitos, a fim de que asdesigualdades e as injustiças socioeconómicas não degene-rem num conflito violento. Esta abordagem deve ser incorpo-rada no processo de avaliação comum para os países e doPlano-Quadro das Nações Unidas para a Ajuda ao Desenvol-vimento.

102. A pedido dos Governos, o PNUD alargou a gama deactividades relacionadas com a governação e o estado dedireito, que representam agora mais de metade dos seus pro-gramas e actividades, com um orçamento anual de mais de1200 milhões de dólares. Por outro lado, diversos programasdo PNUD apoiam a cooperação regional no domínio dasquestões transfronteiriças (por exemplo, a bacia do rioTumen, na Ásia Oriental), que têm efeitos muito claros naprevenção de conflitos. Nas situações posteriores a um con-flito, os programas do PNUD de desenvolvimento por zonas(por exemplo, Camboja e Guatemala), de controlo de armasligeiras (por exemplo, Mali, El Salvador, Albânia) e de desar-mamento, desmobilização e reinserção (por exemplo Moçam-bique, Guatemala) visam evitar o recomeço dos conflitosarmados.

103. Uma nova geração de projectos de desenvolvimen-to concentra-se especificamente na prevenção de conflitos.Por exemplo, vários projectos conduzidos sob a direcção doPNUD na Roménia, Bulgária, antiga República Jugoslava daMacedónia, Jugoslávia e Ucrânia procuram criar ou reforçar

Page 66: Kofi A. Annan Prevenção de Conflitos Armados - dhnet.org.br · Kofi A. Annan Prevenção de Conflitos Armados Relatório do Secretário-Geral Nações Unidas • Nova Iorque, 2002

58 Prevenção de conflitos armados

as capacidades de alerta rápido, de análise e resolução de con-flitos no seio dos governos e da sociedade civil, a nível regio-nal e nacional. O projecto do PNUD denominado “Desenvol-vimento preventivo no Sul do Quirguistão” é outro projecto-piloto que procura reforçar a capacidade do governo em maté-ria de adopção de medidas preventivas, no contexto da cons-trução da nação, e reconhece a importância de uma aborda-gem regional para o êxito do desenvolvimento orientado paraa prevenção. O Grupo de Trabalho sobre o Corno de África,dirigido pela Organização das Nações Unidas para a Alimen-tação e a Agricultura (FAO), recomenda vivamente que se dêà região capacidade de alerta rápido e de prevenção e resolu-ção de conflitos, sob os auspícios da Autoridade Intergover-namental para o Desenvolvimento e da OUA, no quadro doseu programa regional de segurança alimentar. O projecto doPNUD denominado “Reforço da capacidade do mecanismoda OUA para a prevenção, gestão e resolução de conflitos” éoutro exemplo de uma abordagem regional do programa.

104. O PNUD e o Departamento dos Assuntos Económi-cos e Sociais colaboram também com mais de uma dezena deinstituições e profissionais africanos ligados à resolução deconflitos na elaboração de material pedagógico sobre quatroquestões: análise de conflitos e capacidade de resposta rápi-da, desenvolvimento de aptidões para transformar os confli-tos, abordagens do desenvolvimento que tenham em conta aprevenção de conflitos e reforço da capacidade nacional emmatéria de gestão dos conflitos.

105. Nos últimos anos, intensificou-se a cooperação entreo sistema das Nações Unidas e as instituições de BrettonWoods, que reconheceram explicitamente que os conflitoscomprometiam seriamente a realização dos seus objectivos dedesenvolvimento e que os esforços de compreensão e preven-ção do fenómeno faziam parte do seu mandato. Esta nova

Page 67: Kofi A. Annan Prevenção de Conflitos Armados - dhnet.org.br · Kofi A. Annan Prevenção de Conflitos Armados Relatório do Secretário-Geral Nações Unidas • Nova Iorque, 2002

59 Papel dos departamentos, organismos e programas da ONU

abordagem concretizou-se na criação, no Banco Mundial, deuma unidade para as situações pós-conflito e na adopção, emJaneiro de 2001, de uma nova Política Operacional sobre aCooperação para o Desenvolvimento e os Conflitos. A inves-tigação económica do Banco Mundial sobre guerras civis éoutra iniciativa que redundou em recomendações operacio-nais importantes, que reduziriam os riscos de conflito, se fos-sem aplicadas.

106. À medida que cada organização intensifica as suasactividades de consolidação da paz após os conflitos, que sãoum aspecto da prevenção de conflitos, o contacto entre asvárias instituições tornou-se mais profundo. Há exemplosdessa cooperação em Timor Leste e no Haiti, entre outroslugares. Contudo, os contactos entre as respectivas sedesneste campo foram escassos e só agora começam a desenvol-ver-se. Esses contactos, sobretudo a nível do trabalho, pode-riam ajudar ambas as organizações a compreenderem melhoras situações cuja evolução supervisionam. Quando for casodisso, cada organização deve participar, em conformidadecom o seu mandato, nas actividades de prevenção das outrasorganizações. A aceitação pelo Banco Mundial da oferta dasNações Unidas para que participasse no Comité Executivopara a Paz e a Segurança é um bom exemplo disto.

107. Os contactos entre as Nações Unidas e o FundoMonetário Internacional (FMI), que se encontram numa fasepreliminar, devem ser desenvolvidos. Por exemplo, as duasinstituições poderiam colaborar para garantir que as políticasem matéria de empréstimos não exacerbem as tensões sociaise contribuam para a deflagração de conflitos violentos. Váriosdomínios em que o FMI desempenha um papel central –nomeadamente o das despesas públicas – podem ter umainfluência positiva ou negativa na situação política, no con-texto geral da prevenção de conflitos. Para reforçar a coorde-

Page 68: Kofi A. Annan Prevenção de Conflitos Armados - dhnet.org.br · Kofi A. Annan Prevenção de Conflitos Armados Relatório do Secretário-Geral Nações Unidas • Nova Iorque, 2002

60 Prevenção de conflitos armados

nação e a colaboração entre as Nações Unidas e as institui-ções de Bretton Woods no domínio da prevenção de conflitos,deveria ponderar-se a possibilidade de instituir um mecanis-mo consultivo a nível das Sedes.

Recomendação 18Exorto os Estados Membros a aproveitarem os serviçosconsultivos e de assistência técnica proporcionadospelo PNUD e outros organismos de desenvolvimentodas Nações Unidas que pretendem reforçar as capaci-dades nacionais de reduzir os factores de risco estrutu-rais.

Recomendação 19Peço aos países doadores que disponibilizem recursossuplementares para reforçar a capacidade do Grupodas Nações Unidas para o Desenvolvimento, de modoque possa responder eficazmente aos pedidos de assis-tência dos Estados Membros, apoiar as estruturas deprevenção de conflitos e promover a cooperação Sul--sul neste campo.

H. Acção Humanitária.

1. Considerações gerais

108. Se bem que a acção humanitária desempenhe clara-mente um papel central no apoio às populações civis vítimasde crises, os seus agentes podem também contribuir para aprevenção de conflitos, executando projectos que visem evi-tar o ressurgimento da violência. Em países e regiões onde hárisco de perseguições, violência e deslocações forçadas, osorganismos humanitários têm o dever de adquirir uma capa-cidade efectiva de recolha e análise de dados, para determinar

Page 69: Kofi A. Annan Prevenção de Conflitos Armados - dhnet.org.br · Kofi A. Annan Prevenção de Conflitos Armados Relatório do Secretário-Geral Nações Unidas • Nova Iorque, 2002

61 Papel dos departamentos, organismos e programas da ONU

quais os países ameaçados por uma crise humanitária.109. A prevenção das deslocações internas de civis pode

ter um papel importante e, por vezes, até decisivo, na preven-ção de conflitos. Os homens e os jovens desempregados emarginalizados, que são deslocados no interior do seu país,em particular os que vivem em campos que lhes são destina-dos, são muito vulneráveis às operações de recrutamento (porvezes forçado) dos beligerantes. Se velarmos por que os civispermaneçam nas suas casas, continuem a ganhar o seu sus-tento e prossigam a sua educação, reduziremos o risco deserem usados em acções militares e, portanto, de alimentaremos conflitos. As actividades em prol da protecção dos civisdeveriam dirigir-se não só aos beligerantes mas também aosmembros da comunidade internacional, a fim de os incitar atomarem as medidas de prevenção adequadas.

110. Os serviços de promoção e informação pública pres-tados pela comunidade humanitária em relação a crises huma-nitárias em curso são, juntamente com os apelos unificados,exemplos destacados de acção humanitária destinada a sensi-bilizar a opinião pública para um determinado conflito e suasconsequências. Muitas vezes, as actividades humanitáriasproporcionam o único fórum onde os grupos antagónicos sepodem reunir e dialogar, o que constitui um passo positivo emdirecção a uma futura reconciliação. Os organismos humani-tários negociaram a criação de espaços, rotas ou zonas huma-nitárias, que permitiram a conclusão de um cessar-fogo par-cial e a prestação de assistência aos grupos vulneráveis.

111. É muito importante que os Estados Membros aju-dem a proteger o pessoal das Nações Unidas que trabalha emlugares inseguros. Neste sentido, a ratificação da ConvençãoSobre a Segurança do Pessoal das Nações Unidas e do Pes-soal Associado, de 1994, deveria ser considerada prioritáriapelos Estados Membros. Cabe salientar que os participantesem actividades humanitárias se encontram com frequência

Page 70: Kofi A. Annan Prevenção de Conflitos Armados - dhnet.org.br · Kofi A. Annan Prevenção de Conflitos Armados Relatório do Secretário-Geral Nações Unidas • Nova Iorque, 2002

62 Prevenção de conflitos armados

presentes no terreno, durante toda a série de acontecimentosque conduz a uma crise. Esta presença dá-lhes a vantagem dedispor de informações e análises em primeira mão, sobre asquais se deve informar o Conselho de Segurança, para quepossa aproveitar as possibilidades de acção preventiva.

Recomendação 20Peço ao Conselho de Segurança que convide o Gabine-te do Coordenador do Socorro de Emergência dasNações Unidas a informar regularmente os seus Mem-bros sobre as situações que representem um perigopotencial de crise humanitária. Exorto também o Con-selho a pedir aos organismos das Nações Unidas quelevem a cabo actividades preventivas de protecção eassistência e a apoiar ele próprio tais actividades, nassituações que representem um risco de crise humanitá-ria. Peço aos organismos humanitários das Nações Uni-das que integrem cada vez mais essas actividades pre-ventivas no seu trabalho. Neste sentido, apelo aos Esta-dos Membros para que disponibilizem fundos suple-mentares destinados ao trabalho destes organismos noterreno.

2. Aspectos específicos

112. O papel dos organismos e programas das NaçõesUnidas na prevenção de conflitos insere-se na sua acção emquatro domínios: segurança alimentar, refugiados, saúde ecrianças.

(a Segurança alimentar e ajuda alimentar de emer-gência

113. Há uma estreita relação entre a fome e os conflitos,

Page 71: Kofi A. Annan Prevenção de Conflitos Armados - dhnet.org.br · Kofi A. Annan Prevenção de Conflitos Armados Relatório do Secretário-Geral Nações Unidas • Nova Iorque, 2002

63 Papel dos departamentos, organismos e programas da ONU

na medida em que, nas guerras internas e entre Estados, ocontrolo ou a ruptura das fontes de provisões são frequente-mente utilizados como meios de obrigar os civis dos gruposadversários a passarem fome (por exemplo, em Angola, noSudão, em Moçambique, na Serra Leoa). Entre os primeirossectores a sofrer as consequências negativas de uma situaçãode conflito figuram a produção e o abastecimento de alimen-tos. Por outro lado, as deslocações internas de populaçõesimpedem as actividades normais de produção e de compra dealimentos.

114. Quando surge um conflito, aumenta a insegurançaalimentar, o que torna ainda mais difícil ultrapassar as causasprofundas da crise. Os conflitos recentes e a invasão de explo-rações agrícolas na África Austral e as lutas entre pastores eagricultores sedentários na África Oriental mostram bem aimportância, para a paz e o desenvolvimento sustentável, doacesso dos pobres aos recursos das terras. Do mesmo modo,na América Latina, a concentração da propriedade das terras,conjugada com a pobreza, é uma das causas subjacentes aosconflitos de que a região é palco há tanto tempo. Nos lugaresonde a necessidade de alimentar a família leva as pessoas aesgotarem os recursos naturais ou a utilizarem recursos natu-rais degradados, o PAM procura encontrar meios de prestarajuda alimentar, para apoiar a valorização dos recursos natu-rais, o ordenamento do solo e a gestão dos recursos. Isto podeajudar a prevenir os conflitos baseados em tensões em tornode recursos naturais escassos ou relacionadas com eles.

115. O abastecimento transfronteiriço de água podeconstituir um motivo de discórdia ou uma oportunidade decooperação. Há provas de que as informações hidrológicas dequalidade, entre outras coisas, podem desempenhar um papelna prevenção de conflitos em torno de recursos hídricos. AFAO presta actualmente assistência a organismos que gerem

Page 72: Kofi A. Annan Prevenção de Conflitos Armados - dhnet.org.br · Kofi A. Annan Prevenção de Conflitos Armados Relatório do Secretário-Geral Nações Unidas • Nova Iorque, 2002

64 Prevenção de conflitos armados

bacias hidrográficas internacionais e a organizações regionaismuito variadas, como a Comunidade para o Desenvolvimen-to da África Austral, na formulação e execução de estratégiascomuns de gestão. A título de exemplo, podemos citar a Ini-ciativa da Bacia do Nilo, a Comissão da Bacia do Chade e aAutoridade da Bacia do Níger. A FAO participa também nacriação de instituições de gestão dos recursos naturais parti-lhados, tendo em vista conciliar os interesses antagónicosentre os utilizadores a montante e a jusante de um curso deágua ou entre os pescadores artesanais e industriais nas zonasde pesca.

116. Embora a prevenção nem sempre figure entre osobjectivos directos da programação do PAM, é uma parteintegrante das suas actividades de emergência e de desenvol-vimento. Os programas de emergência do PAM contribuempara: (a) restabelecer o diálogo entre grupos ou partes (poten-cialmente) em conflito; e (b) restabelecer um clima de con-fiança entre as partes e em relação à comunidade humanitáriainternacional. A abertura de estradas e a reabilitação da infra--estrutura de transportes, por vezes associadas a actividadeshumanitárias de desminagem, podem ter um efeito positivoduradouro, ao facilitar a livre circulação de pessoas e merca-dorias, a reabertura de mercados e o restabelecimento de con-tactos entre comunidades separadas pelos conflitos.

117. O PAM pode dar um contributo importante para aestabilidade social e política, ao assegurar que os seus recur-sos se destinem aos grupos ou zonas vulneráveis e marginali-zados e ao satisfazer as suas necessidades alimentares bási-cas. A ajuda alimentar pode também servir de catalisador deactividades de reconstrução e de desenvolvimento.

118. O PAM e a FAO desempenham também um papelimportante na recolha, análise e difusão de dados e de infor-mações sobre a segurança alimentar e as ameaças conexas

Page 73: Kofi A. Annan Prevenção de Conflitos Armados - dhnet.org.br · Kofi A. Annan Prevenção de Conflitos Armados Relatório do Secretário-Geral Nações Unidas • Nova Iorque, 2002

65 Papel dos departamentos, organismos e programas da ONU

potenciais a que estão expostas as pessoas e grupos vulnerá-veis. O relatório da FAO, intitulado, State of Food Insecurity,fornece dados estatísticos sobre a insegurança alimentar aonível mundial e nacional. O Grupo de Trabalho Interorganis-mos do Sistema de Informação e de Cartografia sobre a Vul-nerabilidade e a Insegurança Alimentares procura melhorar aqualidade das informações sobre a incidência, a natureza e acausa da insegurança e da vulnerabilidade alimentares cróni-cas. O Sistema Mundial de Informação e de Alerta Rápidoavalia a situação e perspectivas das provisões alimentares(FAO) e as necessidades de socorro alimentar (PAM) ao níveldos países e dá a conhecer as suas conclusões. Graças à aná-lise destes indicadores, o PAM e a FAO podem definir estra-tégias que lhes permitam orientar a sua acção para os maisvulneráveis. Desde 1999, o PAM e a FAO têm participadocada vez mais num processo de troca de informações comoutros parceiros, em especial por intermédio do Quadro Inter-departamental de Coordenação das Nações Unidas. O PAMdesempenha uma função de alerta rápido em todos os paísesonde leva a cabo actividades, muitas vezes associando-se àsautoridades nacionais, aos organismos das Nações Unidas e aoutros parceiros.

(b Refugiados

119. O interesse e participação do Alto Comissariado dasNações Unidas para os Refugiados (ACNUR) na prevençãoforam reconhecidos em resoluções da Assembleia Geral, queregistou com satisfação a firme determinação do ACNUR emestudar e empreender actividades destinadas a evitar que sur-jam situações que provoquem êxodos de refugiados. AAssembleia Geral pediu também ao Alto Comissário queestudasse activamente novas opções relativas a estratégias deprevenção que sejam conformes com os princípios de protecção.

Page 74: Kofi A. Annan Prevenção de Conflitos Armados - dhnet.org.br · Kofi A. Annan Prevenção de Conflitos Armados Relatório do Secretário-Geral Nações Unidas • Nova Iorque, 2002

66 Prevenção de conflitos armados

120. A experiência demonstrou que a presença doACNUR nas zonas de conflito armado permitiu, em determi-nados casos, que a organização intercedesse a favor das pes-soas cuja vida e liberdade estão em perigo, travasse os pioresexcessos das partes beligerantes e incentivasse outros mem-bros da comunidade internacional a adoptarem medidas polí-ticas adequadas. Uma estratégia vigorosa de informaçãopública e de relações com os meios de comunicação social,aliada a diligências diplomáticas mais discretas, pode contri-buir para maximizar o papel preventivo do ACNUR nestassituações. Nos países de asilo, pode revelar-se fundamentalseparar os elementos armados dos refugiados de boa fé e asse-gurar a manutenção da ordem nas zonas povoadas por refu-giados, sempre que se pretende evitar a deflagração de umconflito armado ou a sua intensificação.

121. É cada vez mais evidente que, nas situações em queos conflitos armados terminaram ou diminuíram de intensida-de, o ACNUR beneficia de uma vantagem comparativa naprevenção de situações susceptíveis de provocar movimentosde refugiados. Como o regresso de refugiados e deslocadosinternos em situações pós-conflito pode ser um factor de des-tabilização, em especial quando esse regresso se produz numperíodo curto, em massa e sob coacção, os esforços doACNUR para consolidar uma solução duradoura do repatria-mento, ligando a ajuda humanitária ao desenvolvimento alongo prazo, podem representar um contributo muito impor-tante para a prevenção de conflitos armados. Haverá sempremais possibilidades de encontrar soluções políticas duradou-ras, se os repatriados e outros puderem tornar-se membrosprodutivos da sociedade.

Page 75: Kofi A. Annan Prevenção de Conflitos Armados - dhnet.org.br · Kofi A. Annan Prevenção de Conflitos Armados Relatório do Secretário-Geral Nações Unidas • Nova Iorque, 2002

67 Papel dos departamentos, organismos e programas da ONU

(c Saúde

122. Dado o seu carácter universal, a questão dos cuidadosde saúde é uma componente vital da acção preventiva. As inter-venções no domínio da saúde, tal como os dias nacionais devacinação, abriram o caminho para o diálogo e a reconciliação,pelo que se deve sublinhar a sua importância, não só nos paísesafectados pela guerra mas também nas zonas onde se produzemfacilmente conflitos. Em Angola, na República Democrática doCongo, na Libéria, na Serra Leoa, na Somália, no Sudão, noAfeganistão e no Tajiquistão, os acordos de cessar-fogo e osdias de trégua negociados entre determinados organismos dasNações Unidas e todas as partes beligerantes desempenhamum papel essencial na erradicação da poliomielite. Foi assimque, no decurso de campanhas organizadas na RepúblicaDemocrática do Congo, com o apoio do Fundo das NaçõesUnidas para a Infância (UNICEF) e da Organização Mundialde Saúde (OMS), 8,2 milhões dos 10 milhões de crianças commenos de 5 anos que vivem no país foram vacinadas contra apoliomielite, em 1999. No seguimento de apelos do Secretá-rio-Geral que tiveram um grande eco, cessaram as hostilida-des em 90% do território. As campanhas de vacinação levadasa cabo em dias de trégua negociados pelas Nações Unidaspodem proporcionar oportunidades de diálogo entre as dife-rentes partes e, em momentos críticos, contribuir para evitar adeflagração ou intensificação dos conflitos armados.

123. Na África a Sul do Sara, a epidemia do VIH/SIDAconstitui uma ameaça especialmente grave para a estabilida-de económica, social e política. A epidemia ameaça não só aspessoas mas também as instituições que definem e defendemo carácter de uma sociedade. Existe um risco potencial derápida propagação da epidemia do VIH/SIDA a outras partesdo mundo. Em 2000, a Assembleia Geral, o Conselho de

Page 76: Kofi A. Annan Prevenção de Conflitos Armados - dhnet.org.br · Kofi A. Annan Prevenção de Conflitos Armados Relatório do Secretário-Geral Nações Unidas • Nova Iorque, 2002

68 Prevenção de conflitos armados

Segurança e o Conselho Económico e Social prestaram parti-cular atenção a esta questão. A próxima sessão extraordináriada Assembleia Geral sobre o VIH/SIDA representa uma boaoportunidade para mobilizar a comunidade internacional, afim de que adopte uma estratégia mais eficaz de prevenção doVIH/SIDA e dos seus efeitos destabilizadores potenciais.

Recomendação 21Exorto a Assembleia Geral a, na sua próxima sessão

extraordinária sobre o VIH/SIDA, analisar as formas dealargar as estratégias de prevenção do VIH/SIDA, demodo a tomar em consideração o importante contributoque podem dar para a prevenção de conflitos, em especialnas regiões mais afectadas, como a África a sul do Sara.

(d Crianças

124. Os jovens com pouca instrução e possibilidadeslimitadas de emprego são, muitas vezes, fáceis de recrutarpelas partes num conflito. A falta de esperança no futuro podelevá-los a sentirem-se mais desligados da sociedade e torná--los vulneráveis às lisonjas dos defensores de um conflitoarmado. Este problema pode tornar-se especialmente acen-tuado em países onde os jovens representam uma percenta-gem particularmente importante da população. Em muitoscasos, nesses países há uma maior agitação política, que porvezes degenera num conflito violento. As iniciativas quevisam responder às necessidades e aspirações dos adolescen-tes constituem, pois, um aspecto importante das estratégias deprevenção a longo prazo. Por outro lado, os jovens podemtambém ser um elemento importante da paz e da prevenção deconflitos, em particular os movimentos de jovens a favor dapaz e os encontros de adolescentes em que se superam supos-tas barreiras étnicas. Nos seus programas, a UNICEF utiliza a

Page 77: Kofi A. Annan Prevenção de Conflitos Armados - dhnet.org.br · Kofi A. Annan Prevenção de Conflitos Armados Relatório do Secretário-Geral Nações Unidas • Nova Iorque, 2002

69 Papel dos departamentos, organismos e programas da ONU

educação como uma estratégia essencial para a prevenção deconflitos e da intolerância e para a criação de condições quepropiciem a paz. O acesso dos grupos marginalizados à edu-cação é outra prioridade. Graças aos seus programas de edu-cação para a paz, a UNICEF procura fomentar uma cultura depaz assente no respeito pelos direitos humanos, na tolerância,na participação e na solidariedade.

125. Um dos factores que comprometem a capacidade deum país, no que se refere a evitar que os diferendos degene-rem em conflitos violentos, são as cicatrizes deixadas por cri-ses anteriores. As mais dolorosas são as infligidas às crianças.Os actos de violência contra as crianças ou cometidos na suapresença podem levar gerações inteiras a recorrer à violênciapara resolver os diferendos. Os ciclos de violência geradospor estes abusos podem minar também a vontade ou lideran-ça política a favor de uma solução pacífica e elevar o custo daresolução dos diferendos para a comunidade internacional.

126. O meu Representante Especial para as Crianças eConflitos Armados, o ACNUR, a UNICEF, o Gabinete daAlta Comissária das Nações Unidas para os Direitos Huma-nos e muitas outras organizações intergovernamentais e nãogovernamentais esforçam-se por melhorar a sorte das criançasafectadas por conflitos armados e por assegurar a sua reabili-tação sustentável, o que pode contribuir decisivamente paraaumentar a capacidade dos países no que diz respeito a pre-venir novos conflitos violentos.

127. As crianças afectadas pela guerra devem ser sempreum objectivo prioritário dos esforços que visam impedir adeflagração ou recomeço de um conflito, nomeadamente dosmecanismos destinados a promover a justiça e a reconciliaçãoapós os conflitos. Graças a meios como o recurso a especia-listas no domínio da protecção das crianças, as operações demanutenção da paz podem também contribuir para a reabili-

Page 78: Kofi A. Annan Prevenção de Conflitos Armados - dhnet.org.br · Kofi A. Annan Prevenção de Conflitos Armados Relatório do Secretário-Geral Nações Unidas • Nova Iorque, 2002

70 Prevenção de conflitos armados

tação das crianças e, por conseguinte, para a prevenção doressurgimento de conflitos. A experiência adquirida pelaUNICEF no domínio da reintegração social e económica dascrianças-soldado desmobilizadas, por exemplo, no Sudão, naSerra Leoa e na República Democrática do Congo, demons-tra que essas actividades são fundamentais para evitar que osconflitos reapareçam.

128. Na sua sessão extraordinária sobre as crianças, quese realizará em Nova Iorque, de 19 a 21 de Setembro de 2001,a Assembleia Geral analisará os problemas das crianças emsituações de conflito armado potencial ou real e definirá asestratégias e medidas apropriadas para assegurar a sua pro-tecção.

Recomendação 22Exorto os Estados Membros a apoiarem as políticas e afornecerem recursos para responder às necessidadesdas crianças e adolescentes em situações de conflitopotencial, uma vez que se trata de um aspecto funda-mental das estratégias de prevenção de conflitos alongo prazo.

I. Os media e a informação pública

129. Os media têm o poder de moldar e mobilizar a opi-nião pública e são frequentemente manipulados pelas partesem conflito para incitar à violência e provocar conflitos arma-dos. O controlo dos media e da informação pública pode serum factor determinante do desfecho de um conflito. Para queos media tenham um papel moderador na prevenção de con-flitos armados, deve existir um ambiente que permita aexpressão de opiniões discordantes. O respeito pela liberdadede expressão e de imprensa é um elemento importante da pre-venção.

Page 79: Kofi A. Annan Prevenção de Conflitos Armados - dhnet.org.br · Kofi A. Annan Prevenção de Conflitos Armados Relatório do Secretário-Geral Nações Unidas • Nova Iorque, 2002

71 Papel dos departamentos, organismos e programas da ONU

130. As Nações Unidas podem muitas vezes chamar aatenção da comunidade internacional para novos conflitos,mediante comunicados de imprensa e emissões de rádio etelevisão, informação na Internet e programas de difusão deinformação, desde que estas actividades não prejudiquem osseus esforços no domínio da diplomacia discreta. Em particu-lar, as emissões difundidas directamente pelas Nações Unidasou pelas suas missões, conjugadas com as das cadeias inter-nacionais, regionais e nacionais, podem ser utilizadas paracombater as mensagens de ódio em determinadas situações decrise e chegar a um público-alvo, em países onde podemfacilmente produzir-se conflitos. Também é necessário pro-mover um “jornalismo preventivo”. Os jornalistas e as orga-nizações de meios de comunicação social podem ajudar aidentificar certas situações perigosas antes de que degeneremnum conflito armado. Os departamentos e organismos dasNações Unidas devem, por conseguinte, incluir as actividadesde informação pública nas estratégias de prevenção que ela-boram nas respectivas esferas de competência. Os programasde informação pública das Nações Unidas devem tambémincorporar medidas de prevenção.

131. Na sua maioria, as missões de manutenção da paz eas missões políticas das Nações Unidas têm, em maior oumenor medida, capacidade de gerar informação; algumas dis-põem de verdadeiros gabinetes de informação e dos meiosnecessários para difundir informações para responder a dis-torções mal-intencionadas levadas a cabo pelo media e ainterpretações erradas das suas operações por parte do públi-co. A presença das Nações Unidas pode ter um papel mode-rador, na medida em que a Organização fornece informaçõesimparciais à população local e pode ajudar a reduzir as ten-sões entre as partes em conflito e evitar o ressurgimento deum conflito armado.

Page 80: Kofi A. Annan Prevenção de Conflitos Armados - dhnet.org.br · Kofi A. Annan Prevenção de Conflitos Armados Relatório do Secretário-Geral Nações Unidas • Nova Iorque, 2002

72 Prevenção de conflitos armados

Recomendação 23Exorto a Assembleia Geral a disponibilizar recursossuplementares para a produção de emissões difundidasdirectamente pelas Nações Unidas ou pelas suas mis-sões, a fim de combater as mensagens de ódio e pro-mover o desenvolvimento dos media em situações quepodem desembocar num conflito. É minha intenção terdevidamente em conta este objectivo prioritário nosorçamentos futuros.

J. Igualdade entre os sexos

132. Desde a Primeira Conferência Mundial sobre aMulher, realizada no México, em 1975, tem-se reconhecidoque a mulher tem um papel importante a desempenhar na pro-moção da paz. No Programa de Acção aprovado pela QuartaConferência das Nações Unidas sobre a Mulher, que tevelugar em Beijing, em 1995, e nas conclusões acordadas, queforam aprovadas em 1998 pela Comissão da Condição daMulher, lançou-se um novo apelo aos governos e organiza-ções internacionais, para que protegessem as mulheres emsituações de conflito armado e incentivassem a sua participa-ção em todos os aspectos do fortalecimento da paz, nomeada-mente na prevenção de conflitos e na resolução dos diferen-dos e reconstrução após os conflitos. Um aspecto essencial daprevenção de conflitos é o reforço do estado de direito e, maisconcretamente, a protecção dos direitos fundamentais dasmulheres, mediante a ênfase dada à igualdade entre os sexosnas reformas constitucionais, legislativas, judiciais e eleito-rais.

133. Na resolução 1325 (2000), o Conselho de Seguran-ça reconheceu a repercussão especial dos conflitos armadosnas mulheres e a necessidade de dispor de mecanismos inter-nacionais eficazes para garantir a sua protecção. Reconheceu

Page 81: Kofi A. Annan Prevenção de Conflitos Armados - dhnet.org.br · Kofi A. Annan Prevenção de Conflitos Armados Relatório do Secretário-Geral Nações Unidas • Nova Iorque, 2002

73 Papel dos departamentos, organismos e programas da ONU

ainda que a plena participação das mulheres nos processos depaz podia contribuir consideravelmente para a manutenção epromoção da paz e segurança internacionais. Declarou-se tam-bém disposto a incorporar uma perspectiva de género nas ope-rações de paz e pediu que fossem tomadas medidas para asse-gurar a protecção e o respeito pelos direitos fundamentais dasmulheres e das raparigas, particularmente no que se referia àConstituição, ao sistema eleitoral, à polícia e ao sistema judi-cial. O Conselho de Segurança pediu também ao Secretário-Geral que ampliasse o papel das mulheres nas operações depaz, velasse por que as operações no terreno incluíssem umacomponente de género e fornecesse aos Estados Membrosdirectrizes e material de formação sobre a protecção, os direi-tos e as necessidades das mulheres, bem como actividades desensibilização para o VIH/SIDA, nos programas nacionais deformação destinados ao pessoal militar e à polícia civil.

134. O programa de trabalho da minha Assessora Espe-cial para as Questões de Género e a Promoção da Mulher e daDivisão da Promoção da Mulher contribuiu para as conclu-sões e investigações sobre o papel da mulher no restabeleci-mento da paz. A ameaça que pesa sobre todos os cidadãos,especialmente as mulheres, nas situações de conflito fez res-saltar a necessidade de incorporar a análise das questões degénero nas actividades de alerta rápido e de tomar medidaspreventivas para proteger melhor as mulheres. De há uns anosa esta parte, o Departamento das Operações de Manutençãoda Paz, o Departamento dos Assuntos Políticos, a UNICEF, oACNUR, o PNUD e o Fundo de Desenvolvimento dasNações Unidas para a Mulher (UNIFEM) apoiam a incorpo-ração de uma perspectiva de género nas operações de apoio àpaz, incentivando a participação das mulheres nas iniciativasde prevenção de conflitos e prestando-lhes ajuda durante osconflitos e quando estes terminam.

Page 82: Kofi A. Annan Prevenção de Conflitos Armados - dhnet.org.br · Kofi A. Annan Prevenção de Conflitos Armados Relatório do Secretário-Geral Nações Unidas • Nova Iorque, 2002

74 Prevenção de conflitos armados

135. Para garantir a cooperação e coordenação em todo osistema das Nações Unidas para efeitos da aplicação da reso-lução 1325 (2000), criei um grupo de trabalho sobre a mulher,a paz e a segurança. Este grupo, que é composto por repre-sentantes de 15 entidades das Nações Unidas, está a elaborarum plano de acção para aplicar esta resolução do Conselho deSegurança. Tal plano definirá as iniciativas a serem tomadaspelas diversas componentes do sistema das Nações Unidas noque diz respeito a cada um dos parágrafos da resolução. Oconvite, que figura na resolução do Conselho de Segurança, aque se estudem os efeitos dos conflitos armados nas mulherese nas raparigas, o papel das mulheres na consolidação da paze a componente género dos processos de paz e da resoluçãode conflitos constitui uma oportunidade particularmenteimportante para que possa aprofundar a minha compreensãoda perspectiva de género na prevenção de conflitos e formu-lar recomendações concretas para avançar nesse campo.Neste contexto, os Estados Membros devem prestar um apoioacrescido aos esforços desenvolvidos pelos organismos dasNações Unidas para colaborarem com as iniciativas de pazdas mulheres de diversos lugares e com os processos autócto-nes de prevenção de conflitos, bem como para incluir asmulheres nas actividades de consolidação da paz, em confor-midade com a resolução 1325 (2000) do Conselho de Segu-rança.

Recomendação 24Exorto o Conselho de Segurança a, em conformidadecom a resolução 1325 (2000), prestar uma atençãoacrescida às perspectivas de género nos seus esforçosem prol da prevenção de conflitos e da consolidação dapaz.

Page 83: Kofi A. Annan Prevenção de Conflitos Armados - dhnet.org.br · Kofi A. Annan Prevenção de Conflitos Armados Relatório do Secretário-Geral Nações Unidas • Nova Iorque, 2002

75 Papel dos departamentos, organismos e programas da ONU

K. Controlo de drogas e prevenção dacriminalidade

136. É preciso lutar contra as actividades comerciais ilí-citas que alimentam os conflitos. As Nações Unidas devemaproveitar a sua considerável presença no terreno para detec-tar e deter tais actividades. O Gabinete para o Controlo daDroga e Prevenção da Criminalidade poderia contribuir paraa prevenção de conflitos armados actuando em duas esferasprincipais: por um lado, contra o crime transnacional, em par-ticular o tráfico de droga e o branqueamento de capitais, a fimde reduzir a capacidade de financiamento de rebeldes/agres-sores potenciais, e por outro, contra o tráfico de armas defogo, de modo a diminuir o fluxo de armamentos e, por con-seguinte, o belicismo dos adversários. No âmbito do seu tra-balho no terreno, as equipas das Nações Unidas deveriamprestar mais atenção à prevenção do crime, ao tráfico de dro-gas e ao comércio ilícito de armas ligeiras. É particularmenteimportante que o maior número possível de Estados Membrosratifique a Convenção contra o Crime Transnacional Organi-zado e os seus Protocolos, nomeadamente o Protocolo paraPrevenir, Reprimir e Punir o Tráfico de Pessoas, em Especialde Mulheres e Crianças.

Recomendação 25Exorto a Assembleia Geral, o Conselho Económico eSocial e os outros organismos competentes das NaçõesUnidas a afectarem recursos suplementares ao Gabi-nete para o Controlo da Droga e Prevenção da Crimi-nalidade, para as suas actividades de luta contra ocrime transnacional, o tráfico de drogas e o tráfico dearmas ligeiras.

Page 84: Kofi A. Annan Prevenção de Conflitos Armados - dhnet.org.br · Kofi A. Annan Prevenção de Conflitos Armados Relatório do Secretário-Geral Nações Unidas • Nova Iorque, 2002

77

Interacção entre as Nações Unidas e outros actores interna-cionais na prevenção de confli-tos armados.

A. Acordos regionais137. As organizações regionais podem contribuir de

diversas maneiras para a prevenção de conflitos. Estas orga-nizações cimentam a confiança entre os Estados, ao permiti-rem uma interacção frequente entre eles, e compreendemmelhor o contexto histórico dos conflitos. Devido à sua pro-ximidade, as organizações regionais podem constituir, porexemplo, um fórum local para apoiar os esforços tendentes aatenuar as tensões e promover e facilitar a adopção de umaabordagem regional dos problemas transfronteiriços.

138. O Capítulo VIII da Carta das Nações Unidas atribuià ONU e às organizações regionais um claro mandato no quese refere à interacção no domínio da prevenção de conflitos.Foi para promover a cooperação neste campo que as NaçõesUnidas e as organizações regionais decidiram, em 1994, cele-brar reuniões de alto nível de dois em dois anos.

139. A Terceira Reunião de Alto Nível das Nações Uni-das e das Organizações Regionais, convocada em 1998, tevecomo tema central a “Cooperação para a prevenção de confli-tos”. Acordámos, pela primeira vez, um quadro de coopera-ção baseado em 13 modalidades. Nos últimos dois anos,houve progressos consideráveis no que respeita à cooperaçãoe consultas, à troca de informação, às visitas de trabalho dopessoal às diferentes sedes, à formação comum do pessoal eàs reuniões conjuntas de peritos sobre casos concretos de pre-

5

Page 85: Kofi A. Annan Prevenção de Conflitos Armados - dhnet.org.br · Kofi A. Annan Prevenção de Conflitos Armados Relatório do Secretário-Geral Nações Unidas • Nova Iorque, 2002

78 As Nações Unidas e outros actores internacionais

venção de conflitos.140. A Quarta Reunião de Alto Nível das Nações Unidas

e das Organizações Regionais, que teve lugar em Fevereiro de2001, centrou-se no tema complementar da cooperação para aconsolidação da paz, numa óptica de prevenção e na fase pos-terior a um conflito. Na reunião, aprovou-se um documentointitulado “Quadro de Cooperação para a Consolidação daPaz” (S/2001/138, anexo I), no qual as Nações Unidas e asorganizações regionais acordaram em directrizes sobre a coo-peração neste campo, bem como em possíveis actividades decooperação, como a criação de unidades de consolidação dapaz, o envio de missões conjuntas para avaliar a situação noterreno, a elaboração de registos das melhores práticas elições aprendidas e a organização conjunta de conferências deanúncio de contribuições. No seu debate recente sobre conso-lidação da paz, o Conselho de Segurança registou com satis-fação as conclusões desta reunião.

141. Nos últimos anos, várias organizações regionaiscriaram mecanismos institucionais inovadores de alerta rápi-do e de prevenção de conflitos. Em 1993, a OUA instaurou oMecanismo de Prevenção, Gestão e Resolução de Conflitos.Em 1999, a Comunidade Económica dos Estados da ÁfricaOcidental (ECOWAS) estabeleceu um mecanismo do mesmotipo. A Organização dos Estados Americanos (OEA) pediu àsua Unidade para a Promoção da Democracia que elaborasseestratégias a longo prazo para a prevenção de conflitos. Porsua vez, a União Europeia (UE) encarregou a sua Unidade dePlaneamento e de Alerta Rápido de centralizar as iniciativas afavor da prevenção de conflitos e da consolidação da paz. AUE está também a preparar um programa europeu para a pre-venção de conflitos que será apreciado pelo Conselho daEuropa, em Gotemburgo, em Junho de 2001. A Organizaçãopara a Segurança e a Cooperação na Europa (OSCE), graças

Page 86: Kofi A. Annan Prevenção de Conflitos Armados - dhnet.org.br · Kofi A. Annan Prevenção de Conflitos Armados Relatório do Secretário-Geral Nações Unidas • Nova Iorque, 2002

79 Prevenção de conflitos armados

ao Gabinete do Alto Comissário para as Minorias Nacionais eao seu Centro de Prevenção de Conflitos, conta também comuma importante capacidade no terreno. Outras organizaçõesestão em vias de criar mecanismos institucionais semelhantes.

142. Existem ainda vários acordos de cooperação, paragarantir a coordenação e cooperação entre o sistema dasNações Unidas e as organizações regionais, que poderiam serutilizados para uma prevenção de conflitos mais dirigida paraalvos concretos. A Sede das Nações Unidas em Genebra, oConselho da Europa, a UE, por exemplo, instituíram a práti-ca de realizar reuniões anuais para trocar opiniões e coorde-nar a sua acção sobre questões de interesse regional. Outroexemplo comparável foi a criação do gabinete de ligação dasNações Unidas na sede da OUA em Adis Abeba, em 1998.

Recomendação 26Peço aos Estados Membros que apoiem os processos deseguimento lançados pela Terceira e Quarta Reuniõesde Alto Nível das Nações Unidas e das OrganizaçõesRegionais em matéria de prevenção de conflitos e deconsolidação da paz e que afectem recursos suplemen-tares ao reforço da capacidade regional neste domínio.

B. Organizações não governamentais e sociedadecivil

143. O Artigo 71º da Carta das Nações Unidas reconhe-ce o contributo das organizações não governamentais (ONG)para a consecução dos objectivos das Nações Unidas. AsONG contribuem para a manutenção da paz e da segurança,ao proporcionarem meios não violentos para resolver as cau-sas profundas dos conflitos numa fase inicial. Além disso,podem ser um vector importante de diplomacia paralela,quando os governos e as organizações internacionais não

Page 87: Kofi A. Annan Prevenção de Conflitos Armados - dhnet.org.br · Kofi A. Annan Prevenção de Conflitos Armados Relatório do Secretário-Geral Nações Unidas • Nova Iorque, 2002

80 As Nações Unidas e outros actores internacionais

podem intervir. Foi o que aconteceu em Moçambique e noBurundi, onde a Comunidade de Santo Egídio proporcionouàs facções beligerantes um terreno neutro para o diálogo e asnegociações. As ONG internacionais podem também propor-cionar estudos de alerta rápido e oportunidades de acção, sen-sibilizar a comunidade internacional para determinadas situa-ções e ajudar a formar a opinião pública.

144. Nos últimos anos, os estabelecimentos académicose de investigação bem como os órgãos de investigação dasNações Unidas, como a Universidade das Nações Unidas(UNU), a Universidade para a Paz e o Instituto das NaçõesUnidas para a Formação e a Investigação (UNITAR), têm-seinteressado mais pelas questões relacionadas com o alertarápido e a prevenção. Exorto-os a prosseguirem os seus esfor-ços e a chamarem com mais vigor a atenção dos responsáveisdas Nações Unidas e da classe política para os resultados dasua investigação. Neste sentido, os funcionários das NaçõesUnidas e os organismos no terreno, em particular, devemconhecer melhor as vantagens e limitações dos actores dasociedade civil em matéria de prevenção e de resolução deconflitos.

145. Vários órgãos das Nações Unidas começaram a ela-borar programas de cooperação com as ONG no domínio dapaz e da segurança. O UNIFEM, por exemplo, tem intervin-do a favor das mulheres, reforçando as capacidades de reso-lução de conflitos das associações de mulheres do Sudão,Somália e Burundi. O Departamento de Assuntos de Desar-mamento mantém um diálogo regular com muitas ONG sobrea questão das armas ligeiras. As ONG tiveram também umpapel fundamental na aprovação da Convenção sobre a Proi-bição da Utilização, Armazenamento, Produção e Transferên-cia de Minas Antipessoal e sobre a sua Destruição, em Otava,em Dezembro de 1997, e continuam a ter uma função impor-

Page 88: Kofi A. Annan Prevenção de Conflitos Armados - dhnet.org.br · Kofi A. Annan Prevenção de Conflitos Armados Relatório do Secretário-Geral Nações Unidas • Nova Iorque, 2002

81 Prevenção de conflitos armados

tante de mobilização do apoio local e internacional à acçãohumanitária antiminas e à luta contra a proliferação e o usoindevido de armas ligeiras.

146. Um fenómeno animador registado nos últimos anosfoi a multiplicação de redes e listas de ONG que se encarre-gam da prevenção e resolução de conflitos. Por outro lado,está a ser criada uma capacidade internacional de estabelecercontactos em matéria de prevenção de conflitos, a fim deassegurar uma ligação sistemática entre peritos, ONG eoutros sectores da sociedade civil e as Nações Unidas e váriasoutras organizações internacionais e regionais. No contextode outra iniciativa recente, celebram-se conferências em linhapara facilitar a troca de pontos de vista entre estudiosos e peri-tos, tendo em vista prevenir um conflito numa situação ouregião concreta. Cabe ainda referir que, em Maio de 2000, noFórum do Milénio, as ONG pediram às Nações Unidas queconseguissem a participação de uma ampla coligação de orga-nizações da sociedade civil em actividades mais dinâmicas deprevenção de conflitos.

147. As organizações religiosas também podem desem-penhar um papel na prevenção de conflitos, devido à autori-dade moral que lhes é reconhecida em muitos países. Emalguns casos, os grupos e líderes religiosos têm, do ponto devista cultural, uma vantagem comparativa em matéria de pre-venção de conflitos e são, portanto, particularmente eficazes,quando salientam os aspectos humanos comuns de todas aspartes em conflito e se recusam a identificar-se com qualquerdas partes. Acresce que podem mobilizar formas alternativasnão violentas de expressar discordância, antes de que deflagreum conflito armado.

Recomendação 27Exorto as ONG empenhadas na prevenção de conflitosa organizarem conferências internacionais de ONG

Page 89: Kofi A. Annan Prevenção de Conflitos Armados - dhnet.org.br · Kofi A. Annan Prevenção de Conflitos Armados Relatório do Secretário-Geral Nações Unidas • Nova Iorque, 2002

82 As Nações Unidas e outros actores internacionais

locais, nacionais e internacionais, sobre o seu papel naprevenção de conflitos e a futura interacção com asNações Unidas neste domínio.

C. O sector privado.

148. Na era da globalização, é cada vez mais evidenteque o comércio é uma parte integrante da vida económica epolítica da sociedade. Por outro lado, os actores internacio-nais têm cada vez mais consciência do importante papel queas empresas podem ter, no que se refere a ajudar a evitar ouresolver conflitos.

149. Saliento a necessidade de as empresas transnacio-nais actuarem com consciência social em todas as suas activi-dades comerciais. Foi neste espírito que, no Fórum Económi-co Mundial, realizado em Davos, em 1999, lancei o PactoGlobal, um programa que tinha como objectivo despertar aconsciência social da comunidade empresarial internacional etorná-la um parceiro da paz. O Pacto pede aos dirigentes dasempresas que promovam nove princípios, tanto na sua práticaempresarial como no seu apoio a políticas públicas em maté-ria de direitos humanos, emprego e ambiente. Partindo doprincípio de que a estabilidade social e a paz são favoráveis àactividade comercial, o Pacto organizou, em 2001, uma sériede diálogos sobre o papel do comércio em zonas de conflitoarmado, a fim de determinar o que as empresas podem fazerpara reforçar a segurança das populações na sua zona deinfluência.

150. Também é importante que as empresas não contri-buam para as economias que apoiam conflitos. Neste contex-to, registo com satisfação o apelo dirigido pela AssembleiaGeral aos Estados Membros, na sua resolução 55/56, para queapliquem medidas que visem a ligação entre o comércio dediamantes provenientes de zonas de conflito e o fornecimen-

Page 90: Kofi A. Annan Prevenção de Conflitos Armados - dhnet.org.br · Kofi A. Annan Prevenção de Conflitos Armados Relatório do Secretário-Geral Nações Unidas • Nova Iorque, 2002

83 Prevenção de conflitos armados

to de armas, combustíveis ou outro material proibido aosmovimentos rebeldes. Analogamente, na sua resolução 1343(2001), o Conselho de Segurança pediu aos Estados Membrosque tomassem medidas apropriadas para garantir que as pes-soas e empresas das suas respectivas jurisdições respeitassemos embargos decretados pelas Nações Unidas. Acolho tam-bém com agrado as recentes resoluções do Conselho de Segu-rança que criam grupos de peritos encarregados de denunciarpublicamente os indivíduos e empresas que violem as sançõesou alimentem os conflitos.

Recomendação 28Incentivo os Estados Membros e o sector privado aapoiarem o Pacto Global no contexto dos esforços deprevenção de conflitos das Nações Unidas. Incentivo,em particular, a comunidade empresarial a adoptarpráticas sociais responsáveis, a fim de propiciar umclima de paz nas sociedades propensas a conflitos, aju-dar a prevenir e mitigar as situações de crise e contri-buir para a reconstrução e a reconciliação.

Page 91: Kofi A. Annan Prevenção de Conflitos Armados - dhnet.org.br · Kofi A. Annan Prevenção de Conflitos Armados Relatório do Secretário-Geral Nações Unidas • Nova Iorque, 2002

84

Reforço da capacidade de pre-venção de conflitos armados

151. O desenvolvimento e reforço da capacidade nacionalsão indispensáveis para a prevenção de conflitos armados. Nopresente relatório, formulei diversas propostas sobre a manei-ra como o sistema das Nações Unidas poderia ajudar os Esta-dos Membros a desenvolverem a sua capacidade nacional deuma forma mais eficaz. O êxito das medidas recomendadas,se chegarem a ser aplicadas, dependerá, em grande medida,do apoio que lhes for prestado pela capacidade e recursos dosistema das Nações Unidas bem como dos Estados Membros.Neste aspecto, considero que as esferas que a seguir se des-crevem merecem a atenção da comunidade internacional,tendo em vista reforçar a capacidade em matéria de preven-ção de conflitos.

Aumento da ajuda pública ao desenvolvimento

152. A experiência mostrou que o desenvolvimento equi-tativo e sustentável desempenha um papel importante na pre-venção de conflitos armados. Se a pobreza em si mesma nãoé a causa profunda de um conflito violento, o que é certo éque algumas das sociedades mais pobres se encontram ouestão prestes a encontrar-se numa situação de conflito arma-do. Os progressos conseguidos no domínio da erradicação dapobreza e a atenção prestada, em particular, a questões comoa desigualdade, a justiça e a segurança humana nos países emdesenvolvimento contribuem consideravelmente para a pre-venção de conflitos a longo prazo. Por isso, é importante quese inverta urgentemente a actual tendência para a diminuiçãodos fluxos da ajuda pública ao desenvolvimento (APD). Nestecontexto, as recomendações do Grupo de Alto Nível sobre o

6

Page 92: Kofi A. Annan Prevenção de Conflitos Armados - dhnet.org.br · Kofi A. Annan Prevenção de Conflitos Armados Relatório do Secretário-Geral Nações Unidas • Nova Iorque, 2002

85 Prevenção de conflitos armados

Financiamento do Desenvolvimento terão uma grandeinfluência nas nossas actividades futuras em matéria de pre-venção de conflitos.

Reforço da capacidade dos Estados Membros emmatéria de prevenção de conflitos

153. Depois de ter organizado com êxito um projecto deformação de pessoal, a Escola Superior do Pessoal dasNações Unidas oferece aos Estados Membros um novo pro-grama de seminários nacionais sobre prevenção de conflitos.Os seminários têm como objectivo formular estratégias locaispara a prevenção de conflitos e proporcionar instrumentos etécnicas especificamente concebidos para satisfazer as neces-sidades dos Estados Membros. Entre os participantes figuramfuncionários de governos, membros da sociedade civil erepresentantes das equipas das Nações Unidas e os seus par-ceiros nas actividades de execução dos projectos. Outras acti-vidades de reforço da capacidade do sistema das Nações Uni-das, como as actividades do PNUD que visam reforçar a boagovernação e o estado de direito, constituem igualmente umbom investimento no que se refere a desenvolver a capacida-de, as instituições e os mecanismos nacionais de prevenção deconflitos.

Reforçar a capacidade do sistema das NaçõesUnidas em matéria de prevenção de conflitos

154. Nos últimos dois ou três anos, o sistema das NaçõesUnidas iniciou com êxito a promoção de uma cultura de pre-venção nas suas actividades quotidianas. Mas o Secretariadocontinua a não dispor de suficiente capacidade no domínio daprevenção de conflitos, apesar de a Assembleia Geral e oConselho de Segurança, nas suas resoluções e declarações(ver resolução 47/120 A da Assembleia Geral; resolução 1327

Page 93: Kofi A. Annan Prevenção de Conflitos Armados - dhnet.org.br · Kofi A. Annan Prevenção de Conflitos Armados Relatório do Secretário-Geral Nações Unidas • Nova Iorque, 2002

86 Reforço da capacidade de prevenção de conflitos

(2000) do Conselho de Segurança; S/PRST/1999/34;S/PRST/2000/25; e S/PRST/2001/5), terem lançado apelosnesse sentido. Foram feitos apelos semelhantes, no quadro deestudos independentes, como a investigação independentesobre as medidas adoptadas pelas Nações Unidas durante ogenocídio de 1994 no Ruanda e o relatório do Grupo de Peri-tos sobre as Operações de Paz das Nações Unidas (verS/1999/1257 e A/55/305-S/20/809).

155. As actividades de prevenção do Secretariado sofre-ram manifestamente com o aumento das funções que este foichamado a desempenhar nos domínios da manutenção e res-tabelecimento da paz e do apoio à paz. O Secretariado nãodispõe de pessoal especializado nas divisões regionais doDepartamento de Assuntos Políticos ou noutras unidades quese dedicam exclusivamente a actividades de prevenção deconflitos. À medida que a cultura de prevenção vai sendomais aceite, é essencial dotar o Secretariado de uma capaci-dade suficiente em matéria de prevenção de conflitos, nomea-damente da capacidade de analisar sistematicamente os êxitose os insucessos dos esforços realizados e retirar daí ensina-mentos a utilizar na concepção de futuras estratégias de pre-venção.

156. Do mesmo modo, é preciso reforçar a capacidade deoutras entidades competentes do sistema das Nações Unidasem matéria de prevenção de conflitos. Neste aspecto, o cursode formação intitulado “Alerta rápido e medidas preventivas:reforçar a capacidade das Nações Unidas” visa melhorar ascompetências profissionais e aptidão analítica do pessoal dasNações Unidas e dos seus parceiros na aplicação de medidasde alerta rápido e de prevenção. Na sua maioria, os cursosforam realizados no terreno, com participantes procedentesde 29 departamentos, programas, gabinetes, fundos e organis-mos das Nações Unidas. Desde 1999, cerca de 750 funcioná-

Page 94: Kofi A. Annan Prevenção de Conflitos Armados - dhnet.org.br · Kofi A. Annan Prevenção de Conflitos Armados Relatório do Secretário-Geral Nações Unidas • Nova Iorque, 2002

87 Prevenção de conflitos armados

rios da Sede e dos gabinetes externos das Nações Unidas,membros de organizações não governamentais activas nestedomínio e cidadãos nacionais dos Estados Membros benefi-ciaram dessa formação. É necessário alargar este programa nofuturo.

Mecanismos de coordenação interorganismos

157. Como referi anteriormente, neste mesmo relatório,criei recentemente mecanismos de coordenação interorganis-mos e interdepartamentos no domínio da prevenção de con-flitos, que, após um período inicial de experimentação, pare-cem ser promissores. No entanto, o Quadro Institucional paraa Cooperação continua a sofrer de falta de acção de segui-mento e de coordenação, devido às restrições financeiras quese fazem sentir tanto na Sede como no terreno.

Recursos financeiros para as missões do Conselho deSegurança

158. Como referi mais acima, na secção 3B, o Conselhode Segurança tem vindo a recorrer cada vez mais ao envio demissões a zonas de tensão ou de conflito. Contudo, o Secre-tariado das Nações Unidas tem tido sistematicamente dificul-dade em obter os recursos financeiros e humanos necessáriospara apoiar essas missões.

Modificação do financiamento do orçamento ordinário

159. Se bem que a maior parte das recomendações conti-das no presente relatório não exija recursos suplementares, énecessário que as actividades das Nações Unidas no domínioda prevenção de conflitos contem com uma base financeiramais estável e mais previsível. As generosas contribuiçõesdos Estados Membros para o Fundo Especial para a Acção

Page 95: Kofi A. Annan Prevenção de Conflitos Armados - dhnet.org.br · Kofi A. Annan Prevenção de Conflitos Armados Relatório do Secretário-Geral Nações Unidas • Nova Iorque, 2002

88 Reforço da capacidade de prevenção de conflitos

Preventiva são muito apreciadas, mas a Assembleia Geraldeveria examinar a possibilidade de as actividades ligadas àprevenção de conflitos serem financiadas, em regra, peloorçamento ordinário e não por recursos extra-orçamentais.Assim, é minha intenção promover, nos próximos meses, umdiálogo sobre a maneira de tornar a prevenção de conflitosuma componente normal do orçamento das Nações Unidas.

Recomendação 29No contexto da acção preventiva a longo prazo dasNações Unidas, lanço um novo apelo à comunidadeinternacional de doadores para que aumente os fluxosda ajuda ao desenvolvimento dos países em vias dedesenvolvimento. Exorto em especial os Estados Mem-bros a tomarem em devida consideração as recomen-dações do Grupo de Peritos de Alto Nível sobre Finan-ciamento do Desenvolvimento.

Page 96: Kofi A. Annan Prevenção de Conflitos Armados - dhnet.org.br · Kofi A. Annan Prevenção de Conflitos Armados Relatório do Secretário-Geral Nações Unidas • Nova Iorque, 2002

89 Reforço da capacidade de prevenção de conflitos

Page 97: Kofi A. Annan Prevenção de Conflitos Armados - dhnet.org.br · Kofi A. Annan Prevenção de Conflitos Armados Relatório do Secretário-Geral Nações Unidas • Nova Iorque, 2002

90

Conclusão

A. Superação dos obstáculos à prevenção deconflitos

160. No presente relatório, sublinhei que a prevenção deconflitos está no centro do mandato das Nações Unidas rela-tivo à manutenção da paz e da segurança internacionais e quesurgiu um consenso geral entre os Estados Membros em tornoda ideia de que as estratégias globais e coerentes de preven-ção são as que têm mais possibilidades de promover uma pazduradoura e criar um ambiente propício para o desenvolvi-mento sustentável. Além disso, é preciso salientar que a pre-venção eficaz de conflitos também representa uma sólida pro-tecção do investimento no desenvolvimento. Demonstrei queos principais órgãos das Nações Unidas, por meio do seuvasto conjunto de departamentos, organismos, gabinetes, fun-dos e programas, têm dado um contributo cada vez maior paraa prevenção de conflitos armados em todo o mundo.

161. Para assegurar uma prevenção eficaz dos conflitos épreciso ir mais além da criação de uma cultura, do estabeleci-mento de mecanismos e da mobilização da vontade política.As Nações Unidas têm também o dever moral de garantir aprotecção dos povos vulneráveis e de impedir que volte ahaver genocídios. E, no entanto, em duas ocasiões do passa-do recente, no Ruanda e na Antiga Jugoslávia, a comunidadeinternacional e as Nações Unidas não se mostraram à alturadas suas responsabilidades. Essas experiências ensinaram-nosque a primeira medida para prevenir genocídios é enfrentar assituações que permitem que ocorram. Dois importantes rela-tórios sobre o Ruanda e Srebrenica, encomendados por mim,confirmam de maneira irrefutável a necessidade de adoptar

7

Page 98: Kofi A. Annan Prevenção de Conflitos Armados - dhnet.org.br · Kofi A. Annan Prevenção de Conflitos Armados Relatório do Secretário-Geral Nações Unidas • Nova Iorque, 2002

91 Conclusão

um programa global de prevenção de conflitos.162. Contudo, ainda há muito por fazer. Ainda estamos

muito longe de uma cultura de prevenção de conflitos em queos Estados solicitem a opinião e a ajuda da comunidade inter-nacional para descobrir e eliminar as causas profundas dosconflitos, sempre que seja necessário e o mais cedo possível.Assim, cabe perguntar por que se recorre tão raramente à pre-venção de conflitos e por que fracassamos tantas vezes, quan-do existe manifestamente a possibilidade de uma estratégiapreventiva ser bem sucedida.

163. No meu entender, há que retirar dois ensinamentosda experiência passada. Primeiro, se o governo interessado serecusa a admitir que existe um problema susceptível dedesembocar num conflito violento e rejeita as ofertas deajuda, os actores externos, nomeadamente as Nações Unidas,pouco podem fazer. Para ter êxito, a Organização deve ter oconsentimento e o apoio do governo interessado e dos outrosprotagonistas nacionais para poder aplicar uma estratégia pre-ventiva. Em segundo lugar, se os vizinhos, aliados regionaisou outros Estados Membros importantes que estão em condi-ções de apoiar as actividades das Nações Unidas não de-monstrarem a vontade política de prestar ajuda, também éimprovável que a acção preventiva tenha êxito.

164. É evidente que estas atitudes por si sós não são oúnico obstáculo a uma acção preventiva eficaz. A maneiracomo os Estados Membros das Nações Unidas definem o seuinteresse nacional numa dada crise não é menos importante.Claro que a prossecução do interesse nacional é uma caracte-rística permanente das relações internacionais, da vida e dotrabalho das Nações Unidas. Mas, enquanto o mundo mudouprofundamente desde o final da guerra fria, os nossos concei-tos de interesse nacional não evoluíram. Uma nova definiçãodo interesse nacional, numa acepção mais ampla, incitaria os

Page 99: Kofi A. Annan Prevenção de Conflitos Armados - dhnet.org.br · Kofi A. Annan Prevenção de Conflitos Armados Relatório do Secretário-Geral Nações Unidas • Nova Iorque, 2002

92 Prevenção de conflitos armados

Estados a procurarem o que os une na prossecução dos objec-tivos fundamentais da Carta. Uma era de globalização exigeum compromisso mundial. Na realidade, numa época em quea humanidade se vê confrontada com um número crescente dedesafios, o interesse colectivo é o interesse nacional.

165. Claro que há limitações e dificuldades que condi-cionam a concretização do interesse nacional. Mas quais sãoas alternativas existentes? A questão não é simplesmente teó-rica. A maioria dos factores que impediram que as NaçõesUnidas interviessem para prevenir o genocídio no Ruandasubsiste. Se não fizermos nada – se não agirmos perante oscrimes de guerra e as limpezas étnicas – não só correremos orisco de ser postos à margem da política mundial como trai-remos os milhões de seres humanos que esperam que asNações Unidas velem pela realização dos nobres ideais daCarta.

166. Claro que, se formos realistas, temos de reconhecerque, em alguns casos, o carácter insolúvel dos conflitos e ainflexibilidade das partes farão com que os nossos esforçostenham poucas probabilidades de ser bem sucedidos. Alémdisso, em demasiados casos, há chefes militares locais eoutros actores que não o Estado que não se consideram obri-gados a cumprir as decisões do Conselho de Segurança e asatisfazer os desejos da comunidade internacional. Mas até asguerras que não se conseguem deter, uma vez iniciadas, pode-riam ter sido evitadas por meio de políticas preventivas efica-zes. Longe de mim pensar que será fácil aplicar estratégias deprevenção. Os custos da prevenção têm de ser pagos imedia-tamente, enquanto os benefícios só serão colhidos num futu-ro distante. Além disso, os benefícios não são, muitas vezes,tangíveis: quando a prevenção resulta, deixa poucos traçosvisíveis, mas o reforço da estabilidade social e da tolerância ea criação de instituições sólidas podem ser os fundamentos de

Page 100: Kofi A. Annan Prevenção de Conflitos Armados - dhnet.org.br · Kofi A. Annan Prevenção de Conflitos Armados Relatório do Secretário-Geral Nações Unidas • Nova Iorque, 2002

93 Conclusão

uma paz duradoura.167. Como procurei demonstrar no presente relatório, o

critério mais prometedor para promover a ordem internacio-nal pacífica e justa prevista na Carta consiste em reforçar ascapacidades nacionais e internacionais no que se refere àadopção de medidas que visem a prevenção dos conflitosarmados a longo prazo. A principal lição que se pode retirarda experiência das Nações Unidas neste domínio é que, quan-to mais cedo se conseguirem descobrir e eliminar as causasprofundas de um conflito, mais possibilidades existirão de aspartes no conflito estarem dispostas a manter um diálogoconstrutivo, a eliminar os motivos de queixa que podem darorigem ao conflito e a abster-se de recorrer à força para alcan-çar os seus objectivos.

168. Os governos que se mostram à altura da sua respon-sabilidade soberana de resolver por meios pacíficos as situa-ções que podem degenerar numa ameaça à paz e segurançainternacionais e que pedem às Nações Unidas ou a outras ins-tâncias internacionais uma ajuda preventiva, assim que esta serevela necessária, são os que melhor protegem os seus cida-dãos de ingerências externas indesejáveis. Assim, uma acçãopreventiva da comunidade internacional pode ser um contri-buto importante para o reforço da soberania nacional dosEstados Membros.

B. Promoção de uma cultura de prevenção deconflitos

169. O presente relatório demonstra sobejamente quechegou o momento de intensificarmos os nossos esforços parapassar de uma cultura de reacção para uma cultura de preven-ção. Com base nas lições aprendidas e nas análises nele apre-sentadas, proponho os 10 princípios seguintes que, no meu

Page 101: Kofi A. Annan Prevenção de Conflitos Armados - dhnet.org.br · Kofi A. Annan Prevenção de Conflitos Armados Relatório do Secretário-Geral Nações Unidas • Nova Iorque, 2002

94 Prevenção de conflitos armados

entender, deveriam nortear a futura abordagem das NaçõesUnidas em matéria de prevenção de conflitos:

• A prevenção de conflitos é uma das obrigações principaisdos Estados Membros enunciadas na Carta das NaçõesUnidas e a acção preventiva da Organização deve estar emconformidade com os objectivos e princípios consagradosna Carta.

• A prevenção de conflitos é da responsabilidade dos Esta-dos. Compete primordialmente aos governos nacionaisprevenir os conflitos e cabe à sociedade civil desempenharum papel importante nesse domínio. As Nações Unidas ea comunidade internacional devem apoiar os esforçosnacionais para impedir conflitos e devem ajudar a reforçara capacidade nacional nesse campo. As actividades de pre-venção de conflitos das Nações Unidas podem, assim, aju-dar a apoiar a soberania dos Estados Membros.

• A melhor forma de levar a cabo uma acção de prevenção éno quadro do Capítulo VI da Carta. Neste sentido, osmeios – negociações, investigação, mediação, conciliação,arbitragem, resolução por via judicial ou outros meiospacíficos – enunciados no Artigo 33º da Carta constituemum instrumento importante de prevenção de conflitos. Hátambém que reconhecer que certas medidas tomadas aoabrigo do Capítulo VII da Carta, tal como as sanções,podem ter um importante efeito dissuasor.

• Para que seja o mais eficaz possível, uma acção preventi-va deve ser levada a cabo logo na fase inicial do ciclo deum conflito.

• As medidas preventivas devem estar orientadas para ascausas socioeconómicas, culturais, ambientais, institucio-nais, políticas e outras causas estruturais profundas queestão frequentemente subjacentes aos sintomas imediatosdos conflitos.

Page 102: Kofi A. Annan Prevenção de Conflitos Armados - dhnet.org.br · Kofi A. Annan Prevenção de Conflitos Armados Relatório do Secretário-Geral Nações Unidas • Nova Iorque, 2002

95 Conclusão

• Para ser eficaz, uma estratégia preventiva exige que acomunidade internacional, em cooperação com os actoresnacionais e regionais, adopte uma abordagem global queabarque medidas políticas, diplomáticas, humanitárias einstitucionais, medidas relacionadas com os direitoshumanos e o desenvolvimento e outras medidas a curto ea longo prazo. Exige ainda que seja prestada particularatenção à igualdade entre os sexos e à situação das crianças.

• A prevenção de conflitos e o desenvolvimento sustentávele equitativo são actividades que se reforçam mutuamente.O investimento numa acção nacional e internacional emprol da prevenção de conflitos deve ser encarado como uminvestimento no desenvolvimento sustentável, uma vezque este tem mais possibilidades de se verificar numambiente de paz.

• As recomendações anteriores mostram claramente que épreciso introduzir o elemento prevenção de conflitos nosprogramas e actividades multifacetadas de desenvolvi-mento do sistema das Nações Unidas, a fim de que contri-buam deliberadamente para a prevenção de conflitos e nãosejam meras medidas padronizadas. Isto, por sua vez,exige uma maior coerência e uma melhor coordenação dosistema das Nações Unidas, além da atribuição de umaatenção acrescida à prevenção de conflitos.

• Para ser bem sucedida, uma estratégia preventiva dependeda cooperação de um grande número de actores dasNações Unidas, nomeadamente do Secretário-Geral, daAssembleia Geral, do Conselho de Segurança, do Conse-lho Económico e Social, do Tribunal Internacional de Jus-tiça e dos organismos, gabinetes, fundos e programas dasNações Unidas, bem como das instituições de BrettonWoods. Contudo, as Nações Unidas não são o único pro-tagonista da acção de prevenção e podem não ser sequer,

Page 103: Kofi A. Annan Prevenção de Conflitos Armados - dhnet.org.br · Kofi A. Annan Prevenção de Conflitos Armados Relatório do Secretário-Geral Nações Unidas • Nova Iorque, 2002

96 Prevenção de conflitos armados

muitas vezes, o interveniente mais indicado para tomar ainiciativa. Assim, os Estados Membros, as organizaçõesinternacionais, regionais e sub-regionais, o sector privado,as organizações não governamentais e outros agentes dasociedade civil têm também um papel muito importante adesempenhar neste campo.

• Para ser eficaz, a acção preventiva das Nações Unidasrequer a vontade política sustentada dos Estados Mem-bros. Acima de tudo, isso significa que a comunidadeinternacional no seu conjunto deve estar disposta a prestarapoio político à Organização e a fornecer-lhe os recursosnecessários para aplicar medidas preventivas eficazes emsituações concretas.170. Há já muito que se deveria traduzir a promessa de

prevenção em medidas concretas. Façamos desta empresauma prova, para as gerações vindouras, de que a nossa gera-ção teve a sabedoria e a vontade política de transformar o seuconceito de uma ordem internacional justa assente na ausên-cia de guerras numa visão de paz e de desenvolvimento sus-tentáveis para todos.

Page 104: Kofi A. Annan Prevenção de Conflitos Armados - dhnet.org.br · Kofi A. Annan Prevenção de Conflitos Armados Relatório do Secretário-Geral Nações Unidas • Nova Iorque, 2002

97

Anexo I

Resolução 1366 (2001) doConselho de Segurança

O Conselho de Segurança,

Recordando as suas resoluções 1196 (1998) de 16 deSetembro de 1998, 1197 (1998), de 18 de Setembro de 1998,1208 (1998), de 19 de Novembro de 1998, 1209 (1998), de 19de Novembro de 1998, 1265 (1999), de 17 de Setembro de1999, 1296 (2000), de 19 de Abril de 2000, 1318 (2000), de7 de Setembro de 2000, 1325 (2000), de 31 de Outubro de2000, e 1327 (2000), de 13 de Novembro de 2000;

Recordando também as declarações do seu Presidente de16 de Setembro de 1998 (S/PRST/1998/28), 24 de Setembrode 1998 (S/PRST/1998/29), 30 de Novembro de 1998(S/PRST/1998/35), 24 de Setembro de 1999 (S/PRST/1999/28), 30 de Novembro de 1999 (S/PRST/1999/34), 23de Março de 2000 (S/PRST/2000/10), 20 de Julho de 2000(S/PRST/2000/25), 20 de Fevereiro de 2001 (S/PRST/2001/5) e 22 de Março de 2001 (S/PRST/2001/10);

Tendo examinado o relatório do Secretário-Geral sobre aprevenção de conflitos armados (S/2001/574) e, em particu-lar, as recomendações nele contidas sobre o papel do Conse-lho de Segurança;

Reiterando os objectivos e princípios consagrados naCarta das Nações e reafirmando a sua firme adesão aos prin-cípios de independência política, igualdade soberana e inte-gridade territorial de todos os Estados;

Page 105: Kofi A. Annan Prevenção de Conflitos Armados - dhnet.org.br · Kofi A. Annan Prevenção de Conflitos Armados Relatório do Secretário-Geral Nações Unidas • Nova Iorque, 2002

98 Prevenção de conflitos armados

Consciente das consequências dos conflitos armados paraas relações entre os Estados, do fardo económico que repre-sentam para as nações afectadas e para a comunidade inter-nacional e, em particular, das suas consequências na esferahumanitária:

Tendo presente a sua responsabilidade primordial pelamanutenção da paz e segurança internacionais que lhe é atri-buída pela Carta das Nações Unidas e reafirmando o seupapel na prevenção de conflitos armados;

Salientando a necessidade de manter a paz e a estabilida-de, a nível regional e internacional, bem como as relaçõesamistosas entre todos os Estados e frisando os imperativospolítico, humanitário e moral, bem como as vantagens econó-micas, de prevenir a deflagração e a intensificação dos confli-tos;

Sublinhando a importância de uma estratégia global queabranja medidas operacionais e estruturais para prevenir osconflitos armados e reconhecendo os dez princípios enuncia-dos pelo Secretário-Geral no seu relatório sobre a prevençãode conflitos armados;

Registando com satisfação o facto de, com o consenti-mento dos Estados Membros destinatários, se recorrer commais frequência ao envio de missões do Conselho de Segu-rança a zonas de conflito ou de potencial conflito, o que, entreoutras coisas, pode contribuir significativamente para a pre-venção de conflitos armados;

Reiterando que a prevenção de conflitos é uma das res-ponsabilidades primordiais dos Estados Membros;

Reconhecendo o papel essencial do Secretário-Geral naprevenção de conflitos armados e a importância das iniciati-

Page 106: Kofi A. Annan Prevenção de Conflitos Armados - dhnet.org.br · Kofi A. Annan Prevenção de Conflitos Armados Relatório do Secretário-Geral Nações Unidas • Nova Iorque, 2002

99 Resolução do Conselho de Segurança 1366 (2001)

vas que têm como objectivo reforçar esse papel, de acordocom o Artigo 99º da Carta das Nações Unidas;

Reconhecendo o papel de outros órgãos, gabinetes, fun-dos e programas competentes, dos organismos especializadosdas Nações Unidas e de outras organizações internacionais,nomeadamente da Organização Mundial do Comércio e dasinstituições de Bretton Woods, bem como o papel das organi-zações não governamentais, de diversos actores da sociedadecivil e do sector privado na prevenção de conflitos armados;

Sublinhando a necessidade de abordar as causas profundase a dimensão regional dos conflitos, recordando as recomen-dações contidas no relatório do Secretário-Geral sobre a Cau-sas dos Conflitos e a Promoção da Paz Duradoura e doDesenvolvimento Sustentável, de 13 de Abril de 1998(S/1998/318) e salientando que a prevenção de conflitos e odesenvolvimento sustentável se reforçam mutuamente;

Expressando uma profunda preocupação com a ameaça àpaz e à segurança que o tráfico ilícito e a acumulação exces-siva e desestabilizadora de armas pessoais e ligeiras nas zonasde conflito representam bem como com a sua capacidadepotencial de intensificar e prolongar os conflitos armados;

Sublinhando a importância da existência de recursos sufi-cientes, previsíveis e com alvos devidamente definidos para aprevenção de conflitos, bem como de um financiamento sis-temático das actividades preventivas a longo prazo:

Reiterando que o alerta rápido, a diplomacia preventiva, acolocação preventiva de forças no terreno, as medidas con-cretas de desarmamento e a consolidação da paz após o con-flito são componentes interdependentes e complementares deuma estratégia global de prevenção de conflitos;

Page 107: Kofi A. Annan Prevenção de Conflitos Armados - dhnet.org.br · Kofi A. Annan Prevenção de Conflitos Armados Relatório do Secretário-Geral Nações Unidas • Nova Iorque, 2002

100 Prevenção de conflitos armados

Sublinhando a importância das actividades de sensibiliza-ção e de garantir o respeito pelo direito internacional huma-nitário, frisando a responsabilidade fundamental dos EstadosMembros por prevenir o genocídio, os crimes contra a huma-nidade e os crimes de guerra bem como por fim à impunida-de de que esses crimes gozam, reconhecendo o papel dos tri-bunais ad hoc para a Antiga Jugoslávia e o Ruanda no que serefere a dissuadir da prática de tais crimes no futuro e a con-tribuir, assim, para prevenir os conflitos armados e sublinhan-do a importância da realização de esforços internacionaisneste domínio, em conformidade com a Carta das NaçõesUnidas:

Reiterando o compromisso comum de preservar os povosdos danos causados pelos conflitos armados, reconhecendo osensinamentos que há que retirar do fracasso das medidas pre-ventivas que precederam tragédias como o genocídio doRuanda (S/1999/1257) e o massacre de Srebrenica (A/54/549), e decidido a tomar as medidas apropriadas na sua esfe-ra de competência, aliadas a esforços dos Estados Membros,para impedir que essas tragédias se repitam,

1. Expressa a sua determinação em alcançar o objectivode prevenir os conflitos armados como parte integran-te da sua responsabilidade primordial pela manuten-ção da paz e segurança internacionais;

2. Salienta que a responsabilidade fundamental pela pre-venção de conflitos recai sobre os governos nacionaise que as Nações Unidas e a comunidade internacionalpodem ter um papel importante no que se refere aapoiar os esforços nacionais em matéria de prevençãode conflitos e podem ajudar a reforçar a capacidadenacional neste campo e reconhece a importante fun-ção de apoio que a sociedade civil pode ter;

Page 108: Kofi A. Annan Prevenção de Conflitos Armados - dhnet.org.br · Kofi A. Annan Prevenção de Conflitos Armados Relatório do Secretário-Geral Nações Unidas • Nova Iorque, 2002

101 Resolução do Conselho de Segurança 1366 (2001)

3. Apela aos Estados Membros bem como às organiza-ções e dispositivos regionais e sub-regionais queapoiem a formulação da estratégia global de preven-ção de conflitos proposta pelo Secretário-Geral;

4. Salienta que, para que uma estratégia de prevençãotenha êxito, as Nações Unidas precisam do consenti-mento e apoio do Governo interessado e, se possível,da cooperação de outros actores nacionais essenciais,e frisa que é necessária a vontade política sustentadados Estados vizinhos, dos aliados regionais ou deoutros Estados Membros em condições de apoiar osesforços das Nações Unidas;

5. Expressa a sua disposição de examinar rapidamenteos casos de alerta rápido ou de prevenção que o Secretário-Geral submeta à sua consideração e, nestesentido, incentiva o Secretário-Geral a comunicar aoConselho de Segurança as suas avaliações de possí-veis ameaças à paz e segurança internacionais, tendoem conta as dimensões regionais e sub-regionais per-tinentes, quando for caso disso, nos termos do Artigo99º da Carta das Nações Unidas;

6. Compromete-se a continuar a examinar atentamenteas situações de potencial conflito, no contexto de umaestratégia de prevenção de conflitos, e expressa a suaintenção de analisar os casos de potenciais conflitospara os quais seja chamada a sua atenção por qualquerEstado Membro, por um Estado que não seja membrodas Nações Unidas ou pela Assembleia Geral ou combase em informações que sejam fornecidas pelo Con-selho Económico e Social;

7. Expressa a sua determinação em tomar, o mais cedopossível, medidas eficazes para prevenir conflitosarmados e em utilizar, para o efeito, todos os meios

Page 109: Kofi A. Annan Prevenção de Conflitos Armados - dhnet.org.br · Kofi A. Annan Prevenção de Conflitos Armados Relatório do Secretário-Geral Nações Unidas • Nova Iorque, 2002

102 Prevenção de conflitos armados

apropriados ao seu alcance, incluindo o envio de mis-sões, com o consentimento do Estado ou Estados des-tinatários, às zonas onde possam deflagrar conflitos;

8. Reitera o seu pedido aos Estados Membros para quereforcem a capacidade das Nações Unidas no domínioda manutenção da paz e segurança internacionais e,neste sentido, exorta-os a proporcionarem os recursoshumanos, materiais e financeiros necessários para aadopção de medidas preventivas oportunas, incluindomedidas de alerta rápido, diplomacia preventiva, colo-cação preventiva de forças no terreno e desarmamen-to prático, bem como de medidas de consolidação dapaz, conforme se justificar;

9. Reafirma o papel que lhe cabe na resolução pacíficade diferendos e reitera o apelo dirigido aos EstadosMembros, no Capítulo VI da Carta das Nações Uni-das, para que resolvam os seus diferendos por meiospacíficos, nomeadamente pela utilização de mecanis-mos preventivos regionais e um recurso mais frequen-te ao Tribunal Internacional de Justiça;

10. Convida o Secretário-Geral a remeter ao Conselho asinformações e as análises que receba de fontes do pró-prio sistema das Nações Unidas sobre casos de viola-ções graves do direito internacional, nomeadamentedo direito internacional humanitário e do relativo aosdireitos humanos e sobre situações de conflito poten-cial que surjam, entre outras coisas, em consequênciade diferendos étnicos, religiosos e territoriais ou sedevam à pobreza e falta de desenvolvimento e expres-sa o seu compromisso de prestar profunda atenção aessas informações e análises sobre questões que, noseu entender, representem uma ameaça à paz e segu-rança internacionais;

Page 110: Kofi A. Annan Prevenção de Conflitos Armados - dhnet.org.br · Kofi A. Annan Prevenção de Conflitos Armados Relatório do Secretário-Geral Nações Unidas • Nova Iorque, 2002

103 Resolução do Conselho de Segurança 1366 (2001)

11. Expressa a sua intenção de continuar a convidar oGabinete do Coordenador do Socorro de Emergênciadas Nações Unidas e outros organismos competentesdas Nações Unidas a informarem os seus membrosdas situações de emergência que constituam, na suaopinião, uma ameaça à paz e segurança internacionaise expressa o seu apoio à realização de actividades deprotecção e assistência pelos organismos competentesdas Nações Unidas, em conformidade com os seusrespectivos mandatos;

12. Expressa a sua vontade de ponderar a possibilidade delevar a cabo colocações preventivas de forças no ter-reno, por recomendação do Secretário-Geral e com oconsentimento dos Estados Membros interessados;

13. Apela a todos os Estados Membros para que assegu-rem a aplicação fiel e atempada do Programa deAcção para Prevenir, Combater e Erradicar o Comér-cio Ilícito de Armas Pessoais e Ligeiras em Todos osseus Aspectos (A/CONF.192/15), aprovado a 20 deJulho de 2001, e tomem todas as medidas necessáriasa nível nacional, regional e mundial, para prevenir ecombater a entrada ilícita de armas pessoais e ligeirasnas zonas de conflito;

14. Expressa a sua vontade de utilizar plenamente asinformações que lhe forem fornecidas pelo Secretá-rio-Geral, nos termos do parágrafo 33 secção II doPrograma de Acção, nos seus esforços para preveniros conflitos armados;

15. Sublinha a importância de, no âmbito da estratégia deprevenção de conflitos, se incluírem, caso a caso,componentes de consolidação da paz, nomeadamentede polícia civil, nas operações de manutenção da paz,

Page 111: Kofi A. Annan Prevenção de Conflitos Armados - dhnet.org.br · Kofi A. Annan Prevenção de Conflitos Armados Relatório do Secretário-Geral Nações Unidas • Nova Iorque, 2002

104 Prevenção de conflitos armados

para facilitar uma transição sem problemas para a fasede consolidação da paz, depois dos conflitos, bemcomo a conclusão da missão;

16. Decide ponderar a possibilidade de incluir nos man-datos das operações das Nações Unidas de manuten-ção e consolidação da paz, se for caso disso, umacomponente de desarmamento, desmobilização ereinserção, prestando particular atenção à reabilitaçãodas crianças-soldado;

17. Reitera que reconhece o papel da mulher na preven-ção de conflitos e pede ao Secretário-Geral que pres-te mais atenção às perspectivas de género na execuçãodos mandatos das operações de manutenção e de con-solidação da paz, bem como nas iniciativas de pre-venção de conflitos;

18. Apoia o reforço do papel do Secretário-Geral na pre-venção de conflitos, nomeadamente recorrendo commais frequência ao envio de missões interdisciplina-res das Nações Unidas para apuramento dos factos efomento da confiança em regiões onde haja tensões,formulando estratégias regionais de prevenção, emconjugação com os parceiros regionais e os órgãos eorganismos competentes das Nações Unidas e aumen-tando a capacidade e a base de recursos do Secreta-riado, com vista à adopção de medidas preventivas;

19. Subscreve o apelo do Secretário-Geral para que sepreste apoio aos processos de seguimento lançadospelas Terceira e Quarta Reuniões de Alto Nível dasNações Unidas e das Organizações Regionais nodomínio da prevenção de conflitos e da consolidaçãoda paz e para que se atribuam mais recursos ao desen-volvimento da capacidade regional nestas esferas.

Page 112: Kofi A. Annan Prevenção de Conflitos Armados - dhnet.org.br · Kofi A. Annan Prevenção de Conflitos Armados Relatório do Secretário-Geral Nações Unidas • Nova Iorque, 2002

105 Resolução do Conselho de Segurança 1366 (2001)

20. Pede que se fomente a capacidade de prevenção deconflito das organizações regionais, em especial emÁfrica, aumentando a ajuda internacional à Organiza-ção de Unidade Africana e à organização que lhesucederá, por meio do seu Mecanismo de Prevenção,Gestão e Resolução de Conflitos, bem como à Comu-nidade Económica dos Estados da África Ocidental eao seu Mecanismo de Prevenção, Gestão e Resoluçãode Conflitos, Manutenção da Paz e Segurança;

21. Salienta a necessidade de criar condições para a paz edesenvolvimento sustentáveis, enfrentando as causasprofundas dos conflitos armados e, para este fim,apela aos Estados Membros e órgãos competentes dasNações Unidas para que contribuam para a aplicaçãoefectiva da Declaração e do Programa de Acção parauma Cultura de Paz (A/53/243);

22. Aguarda com interesse que a Assembleia Geral e oConselho Económico e Social, bem como outros acto-res, nomeadamente as instituições de Bretton Woods,voltem a analisar o relatório do Secretário-Geral sobrea Prevenção de Conflitos Armados e expressa o seuapoio à elaboração de uma abordagem coordenada daprevenção de conflitos, a nível de todo o sistema;

23. Decide continuar a ocupar-se activamente da questão.

Aprovada pelo Conselho de Segurança na sua 4360ª. reu-nião, a 30 de Agosto de 2001.

Page 113: Kofi A. Annan Prevenção de Conflitos Armados - dhnet.org.br · Kofi A. Annan Prevenção de Conflitos Armados Relatório do Secretário-Geral Nações Unidas • Nova Iorque, 2002

107

Anexo II

Resolução da Assembleia Geral 55/281

55/281 Prevenção de conflitos armados

A Assembleia Geral,

Tendo recebido o relatório do Secretário-Geral sobre aprevenção de conflitos armados e as recomendações nele con-tidas1,

Recordando o debate sobre o referido relatório, realizadonos dias 12 e 13 de Julho de 20012,

1. Exorta os governos a analisarem o relatório do Secre-tário-Geral e as recomendações que dele constam e lhes sãodirigidas;

2. Exorta as organizações regionais e sub-regionais aanalisarem o relatório e as recomendações que dele constame lhes são dirigidas;

3. Exorta todos os órgãos, organizações e organismos dosistema das Nações Unidas a analisarem, em conformidadecom os seus respectivos mandatos, as recomendações quelhes são dirigidas e a informarem à Assembleia Geral, se pos-sível durante a sua quinquagésima quarta sessão, das suasopiniões sobre o assunto;

4. Convida os actores da sociedade civil a analisarem orelatório e as recomendações que lhes são dirigidas;

1 A/55/985-S/2001/574 e Corr. 1.2 Ver Official Records of the General Assembly, Fify-fifth Session, Plenary Meetings,reuniões 106 a 108 (A/55/PV.106 a 108) e corrigenda.

Page 114: Kofi A. Annan Prevenção de Conflitos Armados - dhnet.org.br · Kofi A. Annan Prevenção de Conflitos Armados Relatório do Secretário-Geral Nações Unidas • Nova Iorque, 2002

108 Prevenção de conflitos armados

5. Decide continuar a analisar o relatório e as recomen-dações nele contidas, na sua quinquagésima sexta sessão,tendo em consideração, se for caso disso, as opiniões ecomentários recebidos, em conformidade com os parágrafos1 a 4 supra.

Aprovada pela Assembleia Geral na sua 110ª. reunião plená-ria, a 1 de Agosto de 2001

Page 115: Kofi A. Annan Prevenção de Conflitos Armados - dhnet.org.br · Kofi A. Annan Prevenção de Conflitos Armados Relatório do Secretário-Geral Nações Unidas • Nova Iorque, 2002

109 Indice remissivo

AAcção preventiva, 22, 65Administração da justiça, 100“Agenda para a Paz”, 21, 26, 49,

56Ajuda alimentar, 113-118Ajuda ao desenvolvimento, 11,

22, 99-107, 152Ajuda humanitária, 29, 108-128Alerta rápido, 7, 12, 21, 23, 39,

60, 71, 141, 156Alto Comissariado das Nações

Unidas para os Refugiados(ACNUR), 119-121, 126,134

Aplicação da lei, 83, 100Armas convencionais, 87Armas em troca de desenvolvi-

mento, 89Armas ligeiras, 88Assembleia Geral, 25-32, 169

decisão 44/415, 27resolução 268 (III) D, 27resolução 43/51, 28resolução 47/120A, 21, 26,154resolução 47/120B, 26resolução 48/141, 95resolução 51/242, 21, 26resolução 53/243, 29resolução 55/2, 24resolução 55/56, 150

Assessora Especial para as Questões de Género e a

Promoção da Mulher, 134Assistência eleitoral, 79Autoridade Intergovernamental

para o Desenvolvimento,103

Avaliação de países, 69,101

BBanco Internacional para a

Reconstrução e o Desen-volvimento (BIRD) Ver:Banco Mundial

Banco Mundial, 93, 105-106Branqueamento de capitais, 136

CCarta das Nações Unidas, 17-

20, 164-165, 169Artigo 1º, 17Artigo 2º, 18Artigo 10º, 25Artigo 11º, 25Artigo 33º, 169Artigo 55º, 20Artigo 62º, 43Artigo 96º, 46Artigo 99º, 51

Capítulo VI, 22, 27, 33, 169Capítulo VII, 22Capítulo VIII, 138Cimeira do Milénio (2000:

Nova Iorque), 24Comissão Carnegie sobre

Prevenção de Conflitos

ÍNDICE REMISSIVO

Page 116: Kofi A. Annan Prevenção de Conflitos Armados - dhnet.org.br · Kofi A. Annan Prevenção de Conflitos Armados Relatório do Secretário-Geral Nações Unidas • Nova Iorque, 2002

110 Prevenção de conflitos armados

Violentos, 2-3, 8Comité Administrativo de

Coordenação (CAC), 43,66

Comité da Carta das NaçõesUnidas, 30

Comité Especial de Operaçõesde Manutenção da Paz,75, 85

Comité Executivo para a Paz e a Segurança, 67

Comité Executivo para osAssuntos Económicos eSociais, 67

Comité Executivo para osAssuntos Humanitários, 67Comunidade Económica dos Estados da África

Ocidental (ECOWAS), 60, 141Comunidade para o Desenvolvi-

mento da África Austral,115

Conferência Mundial contra oRacismo, a DiscriminaçãoRacial, a Xenofobia e aIntolerância Conexa (2001:Durban: África do Sul), 98

Conselho de Segurança, 22, 31-40, 169 grupo de trabalho ad hoc oficioso (proposto),39método de trabalho, 34resolução 1244 (1999), 38resolução 1318 (2000), 24resolução 1325 (2000),133, 135resolução 1327 (2000), 154

resolução 1343 (2001), 150Conselho Económico e Social,

40-45, 169Controlo da droga, 136Convenção sobre a Proibição da

Utilização, Armazenamento,Produção e Transferênciade Minas Antipessoal esobre a sua Destruição(1997), 145

Convenção sobre a Segurançado Pessoal das NaçõesUnidas e do Pessoal Associado (1994), 111

Cooperação entre as NaçõesUnidas e os actores externos, 14, 137-142

Coordenação da acção sobrearmas ligeiras, 91

Crianças em conflitos armados,124-128

Cultura de paz, 29Cultura de prevenção, 16, 169-

170

DDeclaração do Milénio (2000),

24Declaração sobre a Prevenção e

a Eliminação dos Diferen-dos e das Situações quePodem Ameaçar a Paz e aSegurança Internacionais esobre o Papel das NaçõesUnidas Neste Domínio(1988), 28

Declaração sobre uma Cultura

Page 117: Kofi A. Annan Prevenção de Conflitos Armados - dhnet.org.br · Kofi A. Annan Prevenção de Conflitos Armados Relatório do Secretário-Geral Nações Unidas • Nova Iorque, 2002

111 Indice remissivo

de paz (1999), 29Degradação do ambiente, 29Democratização, 19, 22, 29, 79Departamento de Operações de

Manutenção da Paz, 134Departamento de Assuntos de

Desarmamento, 87. 90-92Departamento dos Assuntos

Económicos e Sociais, 104Departamento de Assuntos

Políticos, 73-74, 76-77, 80,134, 155Unidade de Planeamentode Políticas, 73

Desarmamento preventivo, 23Desarmamento, 29, 83, 86-93Desenvolvimento sustentável,

10-11, 169Deslocação de civis, 108-109Desmobilização, 83, 93Despesas militares, 63, 87Diplomacia preventiva, 13, 23,

26, 52, 54Direitos humanos, 19, 22, 29,

83, 94-98Discriminação racial, 98Divisão de Assistência Eleitoral,

79

EEscola Superior do Pessoal das

Nações Unidas, 153Estado de direito, 19, 22, 79,

100Estratégia preventiva, 9, 11, 23,

57, 68, 70, 169F

Financiamento, 156-159Força Preventiva das Nações

Unidas (UNPREDEP)na Antiga República Jugoslava da Macedónia,81

Fórum do Milénio das ONG(2000; Nova Iorque), 146

Fórum Económico Mundial(1999: Davos: Suíça), 149

Fundo das Nações Unidas para aInfância (UNICEF), 122,124, 126-127, 134

Fundo de Desenvolvimento dasNações Unidas para aMulher (UNIFEM), 134,145

Fundo Especial destinado a ajudar os Estados a resolverem os seus diferen-dos por intermédio do Tri-bunal Internacional de Justiça, 50

Fundo Especial para a AcçãoPreventiva, 80

Fundo Monetário Internacional(FMI), 107

GGabinete das Nações Unidas na

África Ocidental (proposto),60

Gabinete de Ligação das NaçõesUnidas na sede da OUA emAdis Abeba, 59

Gabinete da Alta Comissáriadas Nações Unidas para os

Page 118: Kofi A. Annan Prevenção de Conflitos Armados - dhnet.org.br · Kofi A. Annan Prevenção de Conflitos Armados Relatório do Secretário-Geral Nações Unidas • Nova Iorque, 2002

112 Prevenção de conflitos armados

Direitos Humanos, 95-96, 126Gabinete para o Controlo da

Droga e Prevenção da Criminalidade, 136

Gabinetes de ligação regionais,53

Governação, 19, 22, 79, 100-101

Grupo Consultivo Ad Hoc sobreo Haiti, 40

Grupo para o Desenvolvimentodas Nações Unidas (GNUD),67-70

Grupo de Peritos sobre as Operações de Paz dasNações Unidas, 75, 85

Grupo de Trabalho Ad Hoc deComposição Não Limitadada Assembleia sobre asCausas dos Conflitos e aPromoção de uma Paz eDesenvolvimento Susten-táveis em África, 41

Grupo de Trabalho Interorganis-mos do Sistema de Infor-mação e de Cartografiasobre a Vulnerabilidade e aInsegurança Alimentares,118

Grupo de Trabalho Interorganis-mos sobre a África Ociden-tal, 60

IIgualdade entre os sexos, 132-

135 Ver também: Promo-ção da mulher

Informação pública, 129-131Instituições de Bretton Woods,

13, 61, 66, 105, 107, 169Instituto das Nações Unidas

para a Formação e a Investigação (UNITAR),144

Investimento no desenvolvi-mento, 160

JJurisdição obrigatória, 48

LLimitação das armas, 63

MManutenção da paz, 9, 12, 23,

31, 60-61, 70, 78, 83-84,106-107, 140

Mecanismo de Prevenção,Gestão e Resolução deConflitos, 141

Media, 129-131Minas terrestres, 83, 145Missão das Nações Unidas na

República Centro-Africana(MINURCA), 81

Missões de apuramento dos factos, 38, 53-55, 76

Missões de reforço da confian-ça, 53, 56-57

Mulheres em conflitos armados,133-135 Ver também:Igualdade entre os sexos

Page 119: Kofi A. Annan Prevenção de Conflitos Armados - dhnet.org.br · Kofi A. Annan Prevenção de Conflitos Armados Relatório do Secretário-Geral Nações Unidas • Nova Iorque, 2002

113 Indice remissivo

OOperações de manutenção da

paz, 81-85Organização da Unidade

Africana (OUA), 103, 141Organização dos Estados

Americanos (OEA),Organização Mundial de Saúde

(OMS), 122Organização Mundial do

Comércio (OMC), 66Organização para a Alimentação

e a Agricultura (FAO), 113-118Grupo de Trabalho sobre oCorno de África, 103

Organização para a Segurança ea Cooperação na Europa(OSCE), 141Gabinete do Alto Comissá-rio para as Minorias Nacio-nais, 141

Organizações não governamen-tais (ONG), 96, 143-147

PPacto Global (proposto), 149Pareceres consultivos, 46, 49,

50 Plano-Quadro das Nações

Unidas para a Ajuda aoDesenvolvimento (UNDAF),69-71, 101

Política Operacional sobre Cooperação para o Desen-volvimento e os Conflitos,105

Políticas de desenvolvimento,101

Prevenção da criminalidade,136

Prevenção imediata, 8Programa Alimentar Mundial

(PAM), 93, 114, 116-118Programa das Nações Unidas

para o Desenvolvimento(PNUD), 79, 90-92, 102-104, 134, 153

Programa de Acção sobre umaCultura de Paz (1999), 29

Programa de formação, 71Promoção da mulher, 134 Ver

também: Igualdade entreos sexos

Protecção do pessoal dasNações Unidas, 111

QQuadro de Coordenação Inter-

departamental, 68,Quarta Reunião de Alto Nível

das Nações Unidas e dasOrganizações Regionais(4ª: 2001: Nova Iorque),140

RReforço da capacidade, 153Refugiados, 119-121Registo de Armas Convencio-

nais das Nações Unidas, 87Relatório do Milénio, 88Representante Especial do

Secretário-Geral para as

Page 120: Kofi A. Annan Prevenção de Conflitos Armados - dhnet.org.br · Kofi A. Annan Prevenção de Conflitos Armados Relatório do Secretário-Geral Nações Unidas • Nova Iorque, 2002

114 Prevenção de conflitos armados

Crianças e Conflitos Arma-dos, 126

Resolução de diferendos, 27-28,46-50

Ruanda, 3-4, 165

SSaúde, 122-123Secretário-Geral, 51-60, 169

bons ofícios, 51, 76-77enviados, 53, 76-77gabinetes de ligação regionais, 53 grupos de amigos, 76 rela-tórios periódicos, 35-37

Sector privado, 148-150Segurança alimentar, 113-118Segurança colectiva, 18-19SIDA, 29, 40, 123, 133Sociedade civil, 143-147

TTerceira Reunião de Alto Nível

das Nações Unidas e dasOrganizações Regionais(3ª: 1998: Nova Iorque),139

Terrorismo, 29Tráfico ilícito de drogas, 136Transparência no domínio dos

armamentos, 87Tribunal Internacional de

Justiça (TIJ), 50, 169jurisdição obrigatória, 48pareceres consultivos, 46,

49Tribunal Penal Internacional, 97

UUnião Europeia,

Unidade de Planeamento ede Alerta Rápido, 141

Universidade das Nações Unidas (UNU), 144

VVIH/SIDA, 29,40,123,133

Page 121: Kofi A. Annan Prevenção de Conflitos Armados - dhnet.org.br · Kofi A. Annan Prevenção de Conflitos Armados Relatório do Secretário-Geral Nações Unidas • Nova Iorque, 2002

Impresso em papel reciclado

Page 122: Kofi A. Annan Prevenção de Conflitos Armados - dhnet.org.br · Kofi A. Annan Prevenção de Conflitos Armados Relatório do Secretário-Geral Nações Unidas • Nova Iorque, 2002

PREVENTION OF ARMED CONFLICT - REPORT OF THE SECRETARY-GENERALDPI/2256 - PORTUGUESE - 1000 - JULY 2002PUBLISHED BY THE UNITED NATIONS INFORMATION CENTRE IN PORTUGAL