cangaço e formação de bandos armados no sertão de pernambuco

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  • 7/26/2019 Cangao e Formao de Bandos Armados No Serto de Pernambuco

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    Civitas - Revista de Cincias Sociais

    ISSN: 1519-6089

    [email protected]

    Pontifcia Universidade Catlica do Rio

    Grande do Sul

    Brasil

    Villela Mattar, Jorge

    Societas Sceleris Cangao e formao de bandos armados no serto de Pernambuco

    Civitas - Revista de Cincias Sociais, vol. 1, nm. 2, dezembro, 2001, pp. 143-163

    Pontifcia Universidade Catlica do Rio Grande do Sul

    Porto Alegre, Brasil

    Disponvel em: http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=74210211

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    Societas Sceleris

    Cangao e formao de bandos armadosno serto de Pernambuco

    Jorge Mattar Villela1

    Introduo

    Extradas da literatura diversa que tratou do tema, as palavras cangao e canga-ceiros so necessariamente polissmicas. Tal polissemia, no entanto, significati-vamente reduzida quando se toma em considerao os sentidos nativos dados aela. bem verdade que historiadores, socilogos, memoriosos e curiosos, todos,pouca ou nenhuma ateno tm concedido a esses sentidos. Ocorre que, parado-xalmente, tanto na literatura quanto na concepo dos no especialistas no tema,aquelas palavras, em virtude das dimenses, da amplitude e da longevidade deVirgulino Ferreira, Lampio, tendem ao movimento inverso. Cangao e cangaceirotendem a serem compreendidos, limitados, a se tornar sinnimos dos cangaceiroschefiados por Lampio.

    1Doutorando em Antropologia Social no Museu Nacional; publicou A dvida e a diferena:reflexes a respeito da reciprocidade (Revista de Antropologia, USP, v. 44, n. 1, 2001) e O poder eo territrio do bandido (Ilha - Revista de Antropologia, Ufsc, v. 1, n. 0, 1999 - com Ana ClaudiaMarques); co-organizador deAndarilhos e cangaceiros: a arte de produzir territrio em movimento(Univali, 1999). Contatos com o autor: [email protected].

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    Ao falar em sentidos nativos pretendo enfatizar os significados atribudos spalavras cangao e cangaceiros pelos habitantes do serto do Vale do Paje,Pernambuco, contemporneos ao fenmeno. Tais sentidos foram retirados tantode relatos atuais de contemporneos quanto de documentos oficiais tais comoprocessos arquivados nas comarcas sertanejas e correspondncias enviadas pe-los delegados das mesmas comarcas para o chefe de polcia do estado. So estas,portanto, as principais fontes de pesquisa do trabalho que se segue. A partir destasfontes, o cangao pode ser entendido, para usar uma imagem geomtrica, como um

    crculo, sendo que o fenmeno de Lampio um ponto que dele surge tendendopermanentemente ao movimento centrfugo, sem contudo jamais escapar comple-tamente. Acredito que para ser compreendido em sua plenitude, o cangao deLampio no pode ser destacado deste crculo, que o meio social do Vale do Pajedurante a Primeira Repblica, o que implica dedicar a necessria ateno s ques-tesenvolvendo famlias e outros agrupamentos sociais, entre eles a do prprioVirgulino Ferreira.2

    Vale ressaltar que embora a literatura especializada no tema tenha produzidoalguns relatos muito completos sobre o peroda vida de Virgulino anterior ao cangao(notadamente Mello 1985; Chandler 1981; Gomes de Lira 1990), nenhum deles,entre os quais me incluo, dedicou a ele a ateno necessria, nem jamais o cotejouem profundidade com o meio social, com os demais grupos existentes e muito

    menos com as indissociveis relaes destes grupos entre eles e com a sociedademais ampla que os circundava.3Muitas vezes os grupos, enfiados numa espcie desaco de gatos e denominado de exrcito particular, milcia privada, capan-gas, ou pistoleiros, foram negligenciados em proveito de generalizaes poucoadequadas.

    Proponho neste trabalho, trazer tona muitos dos bandos de cangaceiros reve-lados a mim pelo material examinado e verificar, por conseqncia, seus modos deformao, apontar seus componentes e os modos pelos quais se ligavam entre si eeram passveis de unificaes.

    2

    Todas as palavras em itlico, salvo as expresses estrangeiras, so termos nativos.3H, contudo a exceo dos trabalhos de Ana Claudia Marques (1995; 1999) que percebeu e

    descreveu essas relaes, pesem embora as suas limitaes em virtude da ausncia de trabalho decampo no local. Mais recentemente, a tese de doutorado de Sampaio (2000) conjuga a ateno sperspectivas nativas com um material de pesquisa adequado reinsero do cangao no meio socialque o cerca.

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    Questo e intriga4

    No Vale do Paje, microrregio inserida na mesorregio do Serto pernambucano,existem dois municpios fundamentais para este trabalho, dos quais foi retirada agrande massa dos seus dados: Triunfo e Vila Bela, este ltimo, como se sabe, terranatal de Virgulino Ferreira.

    Entre Triunfo e Vila Bela, existem, apesar da proximidade geogrfica, inmerasdiferenas. Triunfo, considerado brejo, termo oposto ao de serto, era minifundirio,

    tinha uma economia baseada na agromanufatura de rapadura, uma vida muito maisurbanizada, comrcio desenvolvido, uma elite poltica e intelectual composta decomerciantes, mdicos e juristas. Os laos familiares eram menos estreitos e degenealogia menos profunda do que no serto.A importncia deste aspecto doparentesco, ao menos no mbito deste trabalho, que dele resulta um tipo deviolncia tambm diferente da sertaneja.

    Vila Bela era fundamentalmente rural, a economia, de base familiar, era baseadana pecuria bovina, mas sobretudo caprina, e agricultura de vazante e de revena.Sua vida comercial e, em certa medida, a administrativa, dependiam bastante deTriunfo. Sua elite era uma espcie de aristocracia rural. Desde o Imprio ao fim daPrimeira Repblica o poder poltico local era dividido entre duas grandes famlias,os Pereira e os Carvalho. A palavra latifndio imprecisa para o caso de Vila Bela,

    mas havia alifazendeiros, quer dizer, proprietrios nicos de uma fazenda, ao con-trrio do que acontecia em Triunfo, como tambm na prpria Vila Bela, em que umafazenda era de propriedade de vrias famliasou casas5 aparentadas entre elas,ligadas por um ancestral comum.

    4Uma enorme literatura, desde Marc Bloch (1939) e Evans-Pritchard (1940) a Michael Herzfeld(1988) e Lila Abu Lughod (1984), passando por Pierre Bourdieu (1965), J. K. Campbell (1964),Christopher Boehm (1984) e Stephen Wilson (1988), para citar alguns poucos exemplos, tratou doassunto do feud, das vinganas privadas. O assunto imensamente difundido nos escritos sobre associedades mediterrneas, mas tambm bastante nas africanas. Sendo essa literatura suficientementeconhecida, que se me permita negligenci-la neste trabalho. A negligncia se estende discusso dosconceitos de que lanarei mo, opo feita em proveito dos dados a serem apresentados e das suasarticulaes internas. Em todos os casos, porm, so referidos o autor e a obra em que os conceitos

    aparecem. A respeito do caso especfico do Brasil, ver o clssico estudo de Costa Pinto (1949).5A casa a unidade familiar e composta pela casa de residncia; o terreno Bque a unidade

    territorial formadora daRibeira, fazenda dentro da qual se situam todas as casas que a compem e quese ligam por parentesco, sendo o elo algum patriarca considerado o ancestral fundador daRibeiraB; osseus habitantes, em geral o pai, a me e os filhos, no raros tambm os pais de um dos membros docasal; os seus moradores; o gado(bovinos); a criao (caprinos e ovinos); os animais(cavalgaduras).

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    Famlias

    Entre essesfazendeirosestava o Coronel da Guarda Nacional, Antonio AndrelinoPereira da Silva, terceiro prefeito do municpio, filho do Baro do Paje, lder, contraos Carvalho, de uma questo(a briga entre duas famlias ou partes delas envolvi-das num conflito) derivada da rivalidade entre as duas famlias -ou em certoscasos, entre as duaspolticas- iniciada no incio do sculo e que acionou por partede ambos os lados uma srie de famliasou ramos a elas ligadas.6Como toda

    questo, tambm esta tem o seu momento consagrado na memria e na histriacomo inciptdo conflito. Neste caso especfico foi o assassinato de um chefe dafamliae da faco poltica dos Pereira. Manoel Pereira da Silva Jacobina, PadrePereira, primo e padrinho do coronel Antonio Pereira, foi assassinado em 1907.Sendo desconhecido o autor do crime, restou famlia Pereira a simples avaliaodo seu autor, ou o clculo, ou seja, o modo pelo qual se procura avaliar as circuns-tncias do crime e descobrir seu autor desconhecido, para a partir de ento, seremtomadas as providncias necessrias para a vingana.

    Em funo das alianas polticas, das relaes pessoais entre os diversos gru-pos, um nmero significativo de pessoas passa a integrar as faces e a formargrupos armados. Estas pessoas so chamadas (seus contemporneos esto aptosa reconhec-los, pelas roupas, pelos hbitos, pelo comportamento, pela sua posi-

    o relativa lei) de cangaceiros. So homens que vivem debaixo de cangao, queso dados vida das armas. Existe, portanto, uma categoria nativa que descreve eexplica a existncia de um tipo de homens que so os cangaceiros.

    Os Pereira contavam com muitos desses homens. Eram, na maior parte doscasos, parentes dos chefesdasfamlias. No interior dos Pereira existiam vriosramos, tais como os Vales, os Lins, os Gavio, os Maranho e os Aguiar. Noobstante, o fato de ser parente, de ser descendente de um ancestral comum, geral-mente este reconhecido como um patriarca ou um fundador dafamlia, no garan-tia a aliana. Parentes, inclusive prximos, podiam tornar-se inimigos mortais. Nolimite, os Carvalho e os Pereira eram das mais variadas formas parentes uns dosoutros. Como havia muitos casamentos entres as duas famlias, a existncia deprimos era abundante. Os vrios ramos dos Pereira, ento, por motivos muito hete-rogneos, mas que quase sempre eram indissociveis do parentesco, estavam ali-ados na questo contra os Carvalho.

    6Sobre a briga dessas famlias, Albuquerque (1976 :203-223) e Wilson (1974, captulo III).

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    O mesmo acontecia do outro lado. Carvalhos se ramificavam, misturavam-secom Nogueiras, com os Barros, com Alves. Estas misturas de famliaspodiamocorrer de vrias formas. Atravs do parentesco de sangue, do parentesco espiri-tual -batizado, apadrinhamento de So Joo, apadrinhamento de apresentao-,7

    dos casamentos, da aliana poltica. Tudo isso guiado pela relativa inexistncia delealdades fundamentais (Palmeira 1992; 1996). Em funo da variedade, das di-versas possibilidades no reconhecimento de parentes em todas as faces envol-vidas (o Padre Pereira, por exemplo, era descendente dos Carvalho e dos Pereira),

    os laos e os pactos eram muitas vezes esquecidos e trados e cada uma dessastraies podia desencadear uma nova questoe sempre um novo feixe de alianas.

    Na resoluo de uma questo, todos os artifcios podiam ser empregados:esquadrinhamento territorial do municpio ou emigrao forada dos principaisenvolvidos visando desestimular a violncia aberta entre os grupos em contenda,para os casos em que a paz era uma esperana. Nos outros, em que o conflito sedesencadeava, procurava-se, como na guerra e na poltica, a desmobilizao com-pleta das foras do inimigo. Na impossibilidade total de matar pessoas, matavam-seanimais, queimavam-se casas e cercas das propriedades rurais. Quando se podiamatar gente, procurava-se os mais influentes, capazes de apoiar financeiramente,juridicamente, politicamente, a ao dos bandos armados da sua faco; ou entoos mais valentes, responsveis pela liderana do seu ou de vrios bandos de

    homens armados. Esses ltimos, como muitas vezes caam na clandestinidade,transitando pelos indistinguveis campos do banditismo e da vingana familiar,passavam a ser alvos da perseguio policial. Na impossibilidade de atingir taisalvos, matava-se ou maltratava-se moradores

    A perseguio jurdico-policial fazia parte de um outro combate, indissociveldo das armas. Uma luta poltica como tambm jurdica era travada pelos membrosdas famlias ou por seus aliados. Porque os conflitos nunca se deram margem dalei e da justia. Esto a, dispensvel dizer, os processos, frutos das denncias edas investigaes de procuradores, delegados, advogados. O problema, de restodos mais atuais, era o da luta de foras que atravessava toda a escala socialobjetivando a apropriao, to completa quanto possvel, objetivo raras vezesatingido plenamente, da fora das instituies estatais, tal como a polcia e a justi-

    7Padrinho e afilhado de So Joo escolhiam-se mutuamente e no dia da festa desse santo, dianteda fogueira, proferiam a seguinte frmula: juro por So Joo, por So Pedro, por So Paulo e por todosos santos da corte do cu, sirva Deus por testemunha, que (diz-se o nome da pessoa) meu padrinhode So Joo. Logo depois o padrinho repete a frmula, substituindo apenas a palavra padrinho porafilhado. O outro tipo de apadrinhamento explicado adiante.

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    a, por exemplo. E como as nomeaes, no perodo aqui enfocado, eram competn-cia do governador, todo um imbricado jogo poltico era jogado no terreno local,repercutindo no estadual e por vezes no nacional, para que no se perdesse aprerrogativa de pleitear as nomeaes dos principais cargos municipais junto aogoverno estadual.8

    Em funo do peso da genealogia no caso do serto, tais conflitos de famliaeram capazes de atrair um nmero significativo de homens. Para alm disso, afamade certas famlias arrastava-as vez por outra para problemas dessa natureza. OsPereira tomados como um todo, uma apreciao s possvel aos membros de outrasfamlias, eram homens de vergonha,eram valentes. Quer dizer, gente que muitosuscetvel desmoralizao, gente que no agenta nada. Um Pereira no deve-ria ser capaz de suportar, sem reagir, a morte de um familiar, o rapto ou o defloramentode uma irm, de uma filha, de uma prima at, em certos casos, o roubo, a acusaode roubo, a agresses fsicas (sobretudo o tapa na cara) ou a outras afrontas.

    No caso especfico de Triunfo, a violncia era diferente. Distribudas no interiordos stiosque compunham e compem a zona rural, cada um deles, por sua vez,divididos em terrenos, as famlias em Triunfo habitavam essas unidades territoriais.Na maior parte dos casos, as que moravam num stio, em algum grau, so aparenta-das. Mas o reconhecimento de um ancestral comum era menos profundo do que noserto. Os laos de solidariedade eram diferentes. Casos de intrigas, que podiam ir

    do rompimento de relaes ao crime de morte, costumavam ocorrer no interior dostio, por conseguinte, no interior da mesmafamlia.

    Intrigasem Triunfo

    Os inmeros processos por crimes de morte existentes do arquivo do Frum dacomarca de Triunfo revelam: a) sua maior ocorrncia na zona rural; b) que eram maisfreqentes entre parentes e vizinhos do que entre pessoas afastadas; c) que osseus motivos eram derivados da vida cotidiana. O fechamento de um beco(passa-gem entre dois terrenos) poderia dar origem a um crime. Em 1921, Joo Coco fezvrios disparos de bacamarte contra Ccero Gomes e ainda desferiu vrios golpesde faca. Joo Coco, diz que

    8Uma literatura j clssica tratou do tema das relaes do poder local com o mais amplo, dosmais celebrados so Nunes Leal (1997); Queiroz (1976 ); Faoro (1998); Pang (1979). Mais recentemente, interessante o tratamento dado ao problema por Palmeira (1996) s relaes entre a pequena polticae a grande poltica. No contexto propriamente histrico, Graham (1997: 21) que rejeita a separaoentre Estado e chefes locais.

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    ... achava-se em sua casa quando chegou sua mulher Agueda Maria de Jezusmoradra no logar Sitio Novo e lhe disse que Cicero Gomes tinha mandado dizerque havia derribado um pedao de cerca de Pedra em sua propriedade afim de fazerum caminho para a roa do mesmo Cicero que se no pudesse conseguir por bemconseguia a poder de balla. (Processo do Arquivo da Comarca de Triunfo, 1921. fls.8-9)

    Na seqncia do inqurito a mulher de Joo Coco diz que Cicero a havia manda-do casa do marido, a quem chamou de cabra sem vergonha, ver a derriba da cerca

    de pedra. Diz que foi ameaada por Cicero e que por isso foi avisar ao marido.Antes de encerrar o seu depoimento faz questo de acrescentar que ambos eramtrabalhadores e ordeiros e que eram camaradas um do outro (idem. fls. 14).

    Problemas entre animais, como aconteceu entre Manoel da Silva e seu irmoque emboscaram Sebastio da Silva, em 1891, por estar a vtima, segundo umatestemunha,

    ... indo montado em um Cavallo inteiro, encontrara-se no logar Mulung[enquanto os rus traziam] uma Egua; nessa ocasio o Cavallo do offendido botando-se para cima da Egua, e Severiano fez sentir a Severiano que contivesse seu Cavallo,ao que respondeu o offendido que estava fasendo o possvel para contel-o, mas nopodia que o Cavallo era touro (Y) antes de chegar cacimba [onde ia dar gua aocavalo] foi sorprehendido pelos denunciados acima referidos, os quaes estando j

    de emboscada em uma mouta sahiram de encontro da vitima disendo-lhe: sabes quemorres, cabra? E nisso desphecharam-lhe dous tiros... (Processo do Arquivo daComarca de Triunfo, 1891. fls. 12)

    Essa mesma testemunha sustenta, ao contrrio das demais, saber que haviaintrigas entre os denunciados e o pai da victima (id.). As razes das violnciaseram inmeras e raramente pontuais. Elas eram o ponto culminante de uma srie deprovocaes, afrontas, desmoralizaessilenciosas e que no raro caam no es-quecimento diante do espoucar ruidoso dos disparos feitos nas emboscadas e dastrocas de tiros. A violncia estava sempre por eclodir pois grande parte da popula-o masculina possua arma de fogo e sempre portava uma faca no cs das calas.

    Uma vez desmoralizadas, as pessoas recorriam a amigos, mas sobretudo aparentes, fossem eles carnais, colaterais ou afins, no intuito de se defender ou de

    atacar os seus agressores. Os depoimentos dos processos revelam claramente,atravs desse expediente, a formao de pequenos bandos armados, vivendo nascercanias dos stios, transitando de um a outro, intimidando moradores, provocan-do intrigas. Alguns desses bandos eram acusados de arrombar e roubar casas,violar mulheres. Homens envolvidos em crimes eram acusados de viver a vida do

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    cangao, sempre portando armas. o caso de Felix Caboje, residente no Stio MataRedonda que em 1923, ao lado de Domcio Pereira Lima e Antonio Deodato, invadiua casa de Joo Alves Feitosa para roubar armas, dinheiro e munio. Vocs arrom-bam a porta, mas no so homens de entrar (Processo do Arquivo da Comarca deTriunfo, 1923. fls. 9), foi como reagiu Joo Alves tendo em seguida disparado suarena contra os invasores.

    Outros envolvidos em violncias eram reputados de pacficos, que sempre

    viveram do trabalho. Das relaes entre acusados e vtimas, algumas eram classi-ficadas de amizadeoutras de intrigadas. Mortes ocorriam inesperadamente, osdepoentes mostrando surpresa. Autores de crimes, franqueado o umbral da ilega-lidade, a esses homens restavam algumas alternativas. Uma delas, na poca docrime de Felix Caboge, era ingressar no bando de Lampio, constantemente transi-tando entre o serto e o brejo rumo a Princesa, na Paraba. Felix era filho de umafamlia, os Carmo, que tinhafamadevalente, ou, como me disse um sobrinho dele,no eram homens de peia. Felix foi um dos que ingressou no bando de Lampioe rumou para o estado vizinho.

    Muitas das intrigas eram o fruto de uma instituio dos tempos do Imprio: aInspetoria de Quarteiro. Dentre as suas atribuies, o Inspetor de Quarteirodeveria vigiar sobre a preveno dos crimes, fazer prender os criminosos de fla-

    grante delito, os pronunciados no afianados ou condenados priso. Deveriamainda observar, e guardar as ordens, e as instrues, que lhe forem dadas pelosjuzes de paz para o bom desempenho destas suas obrigaes (Coleo das Leis,1874 :180-1). Na zona rural, deveria estar encarregado de manter a paz nos lugaresem que nem os sub-delegados dos distritos tinham disponibilidade de ir. Levando-se em conta o escasso nmero dos contingentes policiais nos municpios do inte-rior, esses homens eram de muita valia e funcionavam como a interiorizao daordem pblica executada por mos privadas, cuja distino , mesmo a custo,apenas possvel analiticamente. Como no podia contar com ajudantes de nenhu-ma espcie, o inspetor, em caso de barulho, costumava convidarou intimarparen-tes e vizinhos para acompanh-lo em dilignciasa qualquer hora do dia e da noite.

    Em que pese o poder e o prestgio de um inspetor, o cargo no era dos mais

    cobiados em funo do nmero de intrigasque ele poderia gerar. Victor Ribeiro,por exemplo, foi ferido gravemente numa emboscada armada pelo clebre JoaquimCuringa, em 1907. O mesmo que, entre 1907 e 1909, ao lado de Antonio Cajazeira,Inspetor de Quarteiro do Stio So Pedro, matou, respectivamente, Antonio Jordoe Francisco Cajazeira. De outra parte, essa instituio era uma fonte inesgotvel de

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    ilegalismos.9Arvorado em seu direito de portar armas legalmente, das suas rela-es com o sub-delegado e com o delegado, responsveis diretos por suas indica-es junto ao Chefe de Polcia do estado, os inspetores transformavam-se, noraro, em valentesintimidando os desprotegidos, os assombrados. o caso, porexemplo, do ru Romo Vicente Ferreira que, junto com seu irmo, Antonio VicenteFerreira, em 1902

    Ao avistar Joo Herculano (...) desphecha-lhe, sem que tivesse dado ordemde priso, ou mesmo depois de a ter dado, um tiro de arma que trasia, tiro este queno o attingio e servio somente para despertar a inteno criminosa a qual calloucom a mesma rapidez com que sahio a balla da bca de sua arma na mente de seucompanheiro e irmo Antonio Vicente o qual disparando imediatamente pelascostas de Joo Herculano a arma que trazia fez-lhe os ferimentos constantes doauto de corpo delito, os quaes, por sua natureza e sde occasionaram-lhe a morte...(Processo do Arquivo da Comarca de Triunfo, 1902. fls. 14).

    Romo estava perseguindo Joo pela morte de Lecinio Granja, a pedido deManoel Resende, nisso o respondente convidou Antonio Vicente, Manoel Joo eLuiz Virginio, e saem em procura do assassino. Desse crime, o inspetor foi absol-vido por unanimidade.

    Nota-se ento que todas as circunstncias eram favorveis produo de de-linqncia . Por um lado, a justia estava constantemente presente para pronunciar

    os atos delituosos. Por outro, as relaes de vizinhana, entre famlias, entre fac-es polticas, em inmeros casos, arrastavam os homens a atos de violncia,simultaneamente individuais e coletivos. Como todo o conjunto das instituiessociais, a justia est sujeita a relaes de foras que atribuem a ela,concomitantemente, uma forma, um contedo e um funcionamento. A produo deum campo social perigoso, hostil, propcio para as relaes clientelistas, umaforma de controle social (Graham 1997: 41-60). Diante de um quadro jurdico hostil,tendo a cada momento a punio a seu lado mesmo quando vai agir em adequaoaos cdigos sociais, mesmo quando vai apenas reagir a uma instigao da coletivi-dade que o cerca e pressiona, o sertanejo estava constantemente ameaado de

    9A respeito da noo de ilegalismo, ver Foucault (1975: 239-46) e Deleuze (1986: 37).10Priso e vingana de sangue, neste caso, no se excluem. A cadeia, assim como a morte, so

    ameaas que fazem parte do desafio de vingar-se e so, portanto, da vingana, uma parte constituinte.

    bem verdade que em outros contextos sociais e histricos pode no ser assim, como por exemplo,nos casos em que no um delito matar por vingana de sangue, com na Montenegro do sculo XIX(cf. Boehm, 1984). A respeito da vingana e dos embates jurdicos, Wilson (1988), para o caso daCrsega do sculo XIX, expe uma diviso cronolgica em trs etapas: a primeira marcada pelasaes violentas, outra pelas lutas polticas, a ltima pelos litgios jurdicos. Em meu caso de estudo astrs etapas freqentemente esto indissoluvelmente imbrincadas.

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    priso.10Para atenuar essa situao, o caminho recorrer a algum que o proteja.Um compadre, primo, tio, um poltico, um juiz, um amigo. Ou, em certos casos,parentes que no desfrutem de poder, mas que sejam respeitados pelos muncipes.Pois num julgamento por homicdio, a eles que se deve recorrer. Pedidos, influn-cia, intimidao velada, tudo vlido para que se obtenha dos juzes de fatoaabsolvio.

    O parentesco forja relaes cujo carter fundamental a multiplicidade. Elasno so didicas, conforme sugeriram alguns estudiosos das relaes patro/cli-ente (e.g. Foster 1967; Land 1977). Sempre se podia recorrer a um poltico parapedir proteo, a um policial aparentado, a um serventurio da Justia local ouestadual. Aos incursos na delinqncia lhes eram apresentadas algumas possibili-dades, segundo as suas condies, quer dizer, ao seu prestgio social. Eles podiamser presos ou morrer; podiam tornar-se protegidos de um chefe de poltico; podiamrefugiar-se num bando cangaceiro; podiam alistar-se na polcia; podiam emigrar.

    Agricultores protegidos ou refugiados, em sua maior parte dos casos autoresde crimes por motivos diversos - sendo que podem ser em grande medida traduzi-dos pela palavra desmoralizao: esse em boa parte dos casos o perfil dos queformaram, nos municpios de Triunfo e Vila Bela, o que, confusamente, chamou-sede exrcitos privados. So homens que tenderam ao uso mais costumeiro das

    armas do que da enxada. Dessa heterogeneidade de grupelhos, muitas vezes slonginquamente ou muito indiretamente relacionados chegou-se a formar bandosde 100 ou 200 homens. H indcios fortes que os maiores contingentes eram recru-tados por cabecilhasque reuniam em torno de si vrios grupos e que, por sua vez,eram reunidos por um chefe que lhes era superior.

    Esses diversos microgrupos, esparsos pelos stios, nascidos das intrigas, daintimidade com as armas, dafama de algumas famlias, como os Pedro do StioRetiro, de onde saiu um dos mais famosos cangaceiros de Lampio, dos Cajazeirado stio So Pedro ou dos Caboje do stio Mata Grande, tendiam, pela suadesproteo, reunio, ligao entre eles que na maior parte das vezes dependiade um agente de unificao. H muitos exemplos, tais como os cabecilhasque, comseus homens, compuseram o bandos de sediciosos de Triunfo, liderados por Anto-

    nio Gomes da Cruz, um poltico atuante em diversos municpios do interiorpernambucano, que sob as instrues do republicano histrico Martins Jniorlevantou o municpio contra o fechamento dos Conselhos Municipais durante ogoverno de Barbosa Lima, no ano de 1892. Gomes da Cruz, ao lado do padre Laurindo

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    Douettes, pde unificar um grande nmero de microgrupos de base familiar, cadaum deles reunidos sob a bandeira de um sub-chefe, chamados cabeas oucabecilhas.11

    No episdio do assassinato de Deodato Monteiro, chefe poltico de Triunfo, aunificao de microgrupos aconteceu (Processo do Arquivo da Comarca de Triun-fo, 1923) pelo intermdio do cangaceiro Luiz Leo e pela prpria interveno diretado coronel Jos Pereira, de Princesa, na Paraba. O cangaceiroLuiz Leo teria

    convidado os irmos Sal, Nezinho, e Zeca, filhos de Leovigildo para participardo crime. No seu depoimento, Cicero Leo Braz, irmo de Luiz Leo, diz que estefora chamado por carta por Jos Pereira para planejar a emboscada. E que elle LuizLeo levou consigo Cabral, Cicero Romo, Manoel Fortunato, Sal, Nezinho eZeca Leovigildo, Odilon de Joanna Brando e um outro.... Os quatro primeiros soum microgrupo de base familar: os Leovigildos (idem fls. 28).

    O processo de cooptao de mo de obra armada pode ser feito empregando-se vrios mtodos de captura.12Alm do pagamento recebido, Luiz Leo pde con-tar com o apoio financeiro para convidar outras pessoas e assim formar um gru-po, com o apoio jurdico de um potentado local, para vingar a morte do seu pai porordem de Deodato. Alm desse motivo, em seu depoimento, Luiz Leo afirma termatado tambm porque tinha sido obrigado a cometer este crime pelo coronelJos Pereira Lima. Um outro componente do grupo, Antonio Cutia, diz que foi

    porque Jos Pereira o convenceu de ir, dizendo-lhe que elle depoente j lhe es-tava sujeito (...) s acompanhou os cangaceiros do coronel Jos Pereira, porquelhe deve muitos favores, sendo impossvel recusar-lhe sem grande prejuzo parasi (id.)

    No serto

    Os crimes no sertotinham mveis semelhantes aos do brejo. Matava-se pordinheiro, por armas tomadas, por roubo de gado. Matava-se por vingana de fam-lia, por questo de terra, por desmoralizao e por briga entre ces de donosdiferentes, por ces que matavam criaes, por tenses de vizinhana, por rapto e

    11

    Este tema foi tratado em alguns livros sobre Pernambuco tais como Costa Porto (1986), Levine(1980) e Mello (1997). Nenhum deles, contudo, consultou o mais completo documento sobre o tema:o processo de 1894 pela morte do capito Bernardino de Campos conseqente da sedio. O Processoest no arquivo do frum da comarca de Triunfo. Ainda sobre o assunto ver tambm Melo (1944).

    12A propsito do conceito de captura tal como o utilizo aqui ver Deleuze e Guattari (1980: 545passim, 563).

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    defloramento de moas. O espao pequeno para apresentar os exemplos dosprocesso e dos informes.

    Em virtude da j aludida profundidade genealgica e dos laos de solidariedademais extensos, antes do que mais intensos, da decorrentes, como tambm da estru-tura fundiria, da pecuria de extenso que d certa conformidade s extremas(fronteiras) das propriedades e populao das mesmas, os chefes das famliascontavam com os seus parentes mais distantes, com os seus moradores, descen-

    dentes dos negros cativos, muitos absorvidos como parentes por alguma casa.Me Preta, de quem se tomava a beno e de quem se tratava os filhos por irmose os irmos por tios. Padrinhos e madrinhas de apresentao, em geral jovens amasque tinham por funo, no dia do batismo, levar no braoo pago at a igreja aapresent-lo aos padrinhos de batismo. Quanto mais fossem submissos, mais cres-cia o seu valor e considerao junto a seus patres. Quanto maior o seu prestgiojunto aos patres mais fiis a eles se tornavam.

    De parentes distantes muitas vezes se podia esperar solidariedade em horasdifceis. Os ramos das famlias eram compostos por tantos outros pequenos gru-pos, microgrupos de base familiar, que podiam se armar por diversos motivos, damesma forma constituda: um pai, os filhos; uma irmandade, ou seja, o conjunto oualguns dos irmos, filhos da mesma casa; primos, filhos de casas ligadas pelo

    parentesco; um homem, seus primos, alguns cunhados. Todos os laos de paren-tesco eram imediatamente acionados quando se tratava de fazer ligaes conveni-entes, quando se estava sob a ordem de um mesmo chefe, quando se tinha uminimigo comum, quando se queria afetar um inimigo. Nesta teia sem delimitaoprevisvel, os grupos de homens armados ligavam-se entre si por lealdades, oradiretas, antigas e duradouras, de vrias geraes, ora indiretas, ora circunstanciaise passageiras. Acrescente-se a isso todas as articulaes polticas, jurdicas epoliciais acionadas pelas partes em conflito para afetar a sua inimiga, para ilibar-seda ao do governo, para atrair para si as suas benesses. Uma questo, sob esteponto de vista, acrescentados todos os mecanismos institucionais de articulao ede punio, longe de ser um problema circunscrito a famlias, um drama quesacode parte significativa ou, dependendo das suas dimenses e durao, toda acoletividade. Vista sob este enfoque, a vingana posta em prtica paralelamenteaos procedimentos da justia oficial jamais pode ser dita privada.

    Os pequenos bandos, ingressados na delinqncia, ou a servio da lei, ouambos, e que circulavam pelo territrio, procuravam agregar-se ou eram arrastadospara o seio das faces em conflito, muitas vezes sendo emprestados por parentes

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    seus, chefes dasfamliasa que pertenciam ou a que estavam ligados, para auxilia-rem aliados deles em outras questes.

    A luta dos Pereira contra os Carvalho, por sua amplitude, reflete bem o queacaba de ser dito. Os Pereira, alm de ligarem-se com os microgrupos formados porramos da famlia, tais os Vales, os Gavio, os Aguiar, tinham a seu redor outroscujas relaes eram mais hierarquizadas, como era o caso do grupo dos Rachel,cuja ligao com o coronel Antonio Pereira est patenteada no processo contra

    Joo Rachel, Jos Joo e outros, datado de 1913. Aps uma briga de entre cachor-ros, Rachel atacou a tiros e a facadas, junto com parentes seus, um desafeto.Segundo o processo do arquivo da comarca de Vila Bela,

    Os denunciados, assim, procederam em represalia prizo do denunciadoJos Joo, notando-se, porem, haver premeditadamente no s por ter o denunciadoJos Joo, convidado Joo de Freitas para morar no lugar em que elle denunciadomora; como tambem por ter sido avisado o offendido que deixasse a amizade dosIgnacios; v-se pois, perfeitamente caracterizado a combinao entre elles,denunciados, do facto criminoso, tendo os mesmos, aps a lucta planejado assassinaro Sr. Manoel Ignacio, cujo barbaro plano, felizmente no realizaram; dahi seguiramem direo casa do Sr. Antonio Pereira, chegados que foram, sem duvida,confabularam, dizendo-lhe este que no era nada, fossem trabalhar e noite andassem(Processo do Arquivo da Comarca de Vila Belas. fls.).

    Em seu testemunho, Saturnino de Souza diz que Antonio Pereira Compadree Protetor de Jos Joo e que naqueles dois dias um cabra delle respondentepagava a prizo de Jos Joo. A questoSe estendera a dois outros parentes deAntonio Pereira, pois Antonio Netto e Joo Netto e um cabra (Y) atacaram ummorador delle respondente. Diante da ameaa de Rachel e da proposta de deixar aamizade dos Incio, Saturnino (o valento de Manoel Ignacio) respondera queisso no poderia fazer porque no s tinha amizade aos Incio, como tambemtinham lao de parentesco por ter uma irm casada com um filho do referido CapitoManoel Ignacio (fls. 8). Tudo isso revela ao menos duas coisas: a) existe umaquestoentre Antonio Pereira e Manoel Incio, como evidente; b) essa grandequesto composta por pequenas questesentre microgrupos de base familiaraliados a cada um dos lados. Tais alianas podem ser tanto prvias grande ques-

    toquanto decorrente dela.

    O mesmo ocorre com Antonio Matilde, parente afim dos Ferreira, que lideravaum grupo ligado esporadicamente a Sebastio Pereira e Luiz Padre. Conforme pro-cesso de 1920, seu grupo incendiou uma casa de taipa na fazenda Serra Vermelha

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    de propriedade de Venancio Barbosa Nogueira e outra de Joo Alves Nogueira.Esse processo revela toda a complexidade das redes de parentesco quando se tratade questes. Venancio, era filho de pessoas ligadas aos Ferreira e irmo de algunspadrinhos deles. Por outro lado, era primo e sobrinho de Joo Alves Nogueira, ini-migo dos Pereira e dos Ferreira. No interior desse grupo atacante, existem algunsmicrogrupos de base familiar, como o dos irmos Ded e o dos irmos Antonio,Virgulino e Livino Ferreira. A ambigidade da situao de Venancio, preso entredois tipos de ligaes, no parece ser excepcional no contexto sertanejo.

    Os Ferreira de Vila Bela

    No distrito de So Joo do Barro Vermelho, nas proximidades da fronteira domunicpio de Floresta, situava-se a Fazenda Matinha, de propriedade de ManoelBarbosa Nogueira e Maria Manuela do Nascimento. Segundo relatos atuais, estecasal adquiriu uma dvida com Jos Ferreira. Embora fosse ele integrante de umafamlia pequena e pobre e aqueles, de uma grande e importante, Jos Ferreira acei-tara sua esposa Maria para concertar um erro de um parente de Manuela. Poraceitar Maria e seu filho, de nome Antonio, cuja paternidade fora atribuda a ele,Jos Ferreira teria recebido algumas braas de terras, no lugar chamado Passagemdas Pedras. Da por diante, Manuela passou a proteger os Ferreira, emprestar di-nheiro para a compra de burros, e posteriormente para compra de cargas em troca

    de um percentual dos lucros, possibilitando-os estabelecer-se como almocreves.Jos Ferreira, com seus filhos, com seus burros, fazendo carretos de mercadorias,melhorou de vida. E no entanto, embora fossem uma famlia com capital, com di-nheiro mesmo, algo no muito corriqueiro no serto, seu status no melhorara namesma medida.

    Por outro lado, os laos estabelecidos com os Barbosa Nogueira no se esgo-taram nas relaes comerciais, por assim dizer. Luzia, filha de Maria Manuela, e omarido, Jos Clementino, tambm residentes da ribeirada Matinha, apadrinharamGenerosa, irm de Lampio. Um outro parente residente da Matinha, Luiz Barbosa,era padrinho de Livino Ferreira e Raimundo Gomes de Barros, da fazenda SoDomingos, era padrinho de Mocinha, irm de Lampio. Ainda assim, a questocomeou com os Barbosa Nogueira.

    Aquilo ali foi inveja, disse-me um parente de Joo Alves Nogueira (este sobri-nho de Manoel Barbosa Nogueira e primo cruzado de Maria Manuela) o grandeprovocador da primeira questo dos Ferreira. Segundo seu descendente, fontedeste relato, Joo Nogueira comeara a acusar os Ferreira de roubar Manuela. Maso inciptdo conflito fixado na memria coletiva diferente13 . As verses so mui-

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    tas, mas a relatada por meu prprio informante que os Ferreira teriam trazido daBahia chocalhos de bode de estanho, amarelos, enquanto no Paje s existiam osde ferro, pretos. Os chocalhos nunca vistos teriam provocado inveja em Jos Alvesde Barros, casado com uma filha de Joo Nogueira, cuja ascendncia do pai estavamergulhada nos Barbosa Nogueira h trs geraes. Como era vizinho dos Ferreira,Z Saturnino, como era conhecido, envolveu-se mais de perto na briga. Ele teria,junto com dois amigos, amassado os chocalhos dos Ferreira. Aps esse incidente,trs dos irmos Ferreira comearam a emboscaropovo da Pedreirae vice-versa.

    Um dos processos contra Z Saturnino o resultado dessas escaramuas 14 . arespeito delas que fala o informe do delegado de Vila Bela ao Chefe de Polcia,informe que atesta a existncia de um micro-grupo armado se formando em torno deZ Saturnino em funo da questo:

    ... no dia 7 do corrente [12] no logar denominado Pedreiras deste municpio,os indivduos Jos Alves de Barros, Caciano Jos Muniz, Manuel Jurema, ManuelBalbino, Jos Caboclo, Dionysio Jos Muniz, Joo Moura, Francisco Quirino eJos Benedicto encontrando-se com o indivduo Antonio Ferreira de Souza Netto,aconteceu haver disparos de armas, resultando sahir ferido o ultimo dos citadosindividuos. Iniciei diligencias chegando evidencia ter sido o alludido ferimentoperpetrado pelo individuos Jos Alves de Barros contra quem procedo na forma dalei... (16/12/16)

    Paralelamente, em funo de seu parentesco com os Nogueira, cujo ramo deJoo Alves Nogueira estava ligado ao dos Carvalho na luta contra os Pereira, ZSaturnino aparece envolvido em outro problema, ao lado de outro microgrupo:

    ... no dia 1 corrente apresentaram-se voluntariamente a prizo os individuosJos Alves de Barros e Jos de tal conhecido por Jos Caboclo e Francisco Alves deBarros, Cincinato Nunes de Barros, Antonio Carvalho de Barros, conhecido porAntonio da Umburana, Antonio Alves Frazo, Jos Andr, Feliciano de tal, JooFerreira, Francisco Porphirio, Antonio Teixeira, Antonio Pedro da Costa Neto,Antonio Pequeno, Jos Flor e Joo Tapia todos denunciados neste municipiocomo incursos no artigo 294 por terem morto ao cangaceiro Paixo na ocasio emque os mesmos se defendiam do ataque feito a fazenda Piranhas pelo grupo chefiadopor Sebastio Pereira e Luiz Padre dos qual fazia parte o referido Paixo (Informeao Chefe de Polcia pelo delegado de Vila Bela, 5/9/17).

    13Ver, por exemplo, em Chandler (1981: 36), indiscutivelmente uma das principais obras sobre otema: Y todos concordam que, o mago da questo foi um vizinho dos Ferreira, Jos Saturnino.

    14Tambm Chandler (idem: 38, n. 5).

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    Sebastio Pereira e Luiz Padre eram os dois paladinos dos Pereira na luta contraos Carvalho que em 1921 estavam outra vez tentando contra da vida de Z Saturnino,conforme o telegrama do delegado de Vila Bela: Sebastio acha-se nesse municipioacompanhado cinco bandidos usando gorro policia fim emboscar Jos ThimoteoJos Saturnino (23/7). Esse ataque fazenda Piranhas teve como represlia oataque dos Carvalho fazenda da sogra de um irmo de Sebastio Pereira, cujogrupo atacante era composto exatamente de Cincinato Nunes de Carvalho, Anto-nio da Umburana -sendo este um dos chefes do brao armado dos Carvalho-, entre

    outros, no dia 18 de junho.

    Diante desse panorama, depois de ter migrado para o municpio de Floresta e lse desentender com o ramo dos Ferraz habitante da vila de Nazar, depois de ter-sedesmantelado, ou seja, depois de ter franqueado o umbral da ilegalidade, formadosenquanto microgrupo, os Ferreira foram absorvidos pelos Pereira ao lado de quemlutaram contra os Carvalho. Uma srie de ligaes estava preestabelecidas: a inimi-zade comum e o grupo de Antonio Matilde, so dois exemplo dos mais evidentes.Ou, para resumir, como o fez o prprio Sebastio Pereira tentando explicar porqueVirgulino Ferreira tornou-se seu subordinado: Os Inimigos de Lampio eram meusinimigos (Macedo 1980: 52 ).

    Sem correr grande risco, pode-se dizer que os irmos Ferreira e Z Saturninoeram segmentos15 de uma briga mais ampla, por um lado, e formadores de umaquesto que lhe era prpria, irredutvel quela. As condies geralmente descritascomo primeiras e determinantes para a conexo entre Pereiras e Ferreiras so naverdade segundas e contingentes. No se pode esquecer que dos filhos de JosFerreira, ao menos trs eram apadrinhados entre os Nogueira, um deles o cangacei-ro Livino. Como muitas vezes os indivduos envolvidos em questesso de algumaforma aparentados s duas partes, eles so chamados a inclinar-se, nessas horascrticas, em direo a algum deles. Nem sempre faco de seu sobrenome. Osmodos de adeso, ao contrrio do que sugere Queiroz (1976: 181), no so mecni-cos. So dinminos e essencialmente fluidos.

    16O uso da noo de segmentaridade neste artigo complexifica-se em funo da sua longa histriana Sociologia e na Antropologia, desde o Durkheim daDiviso do Trabalho Social, passando pelos os

    estudos da Antropologia Social Britnica na frica, sobretudo Evans-Pritchard (1940), Evans-Pritcharde Fortes (1949), at alguns outros mais recentes como Peters (1959), Sahlins (1961) e Favret (1966),para citar alguns poucos exemplos. No entanto, o sentido que procuro imprimir ao conceito aproxima-se mais daqueles encontrados em Deleuze e Guattari (1980), Herzfeld (1985) e Goldman (2001).Estes dois ltimos propuseram e executaram estudos em sociedades de Estados nacionais, nas sociedadescomplexas sob a perspectiva da segmentaridade.

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    Concluso

    Apesar de todas as dificuldades da pesquisa documental em Antropologia,esse trabalho procurou mostrar de que modo a composio de bandos armados presidida por determinados procedimentos costumeiros como o convvio com ar-mas de fogo somado s relaes permanentemente tensas entre vizinhos, aos laosestreitos e extensos de parentesco, famade determinadas famlias, s interaesconstantes destes aspectos a outros, institucionais ou burocrticas, tais como a

    interferncia da polcia e da justia nas querelas, a Inspetoria de Quarteires, elaprpria formadora de intrigas, da poltica partidria e eleitoral, enfim. Embora nosejam objeto do presente escrito, as duas ltimas apenas analiticamente podem serdissociadas dos demais aspectos da violncia.

    Em que pese o carter parcial e preliminar das reflexes e dos dados apresenta-dos neste artigo, algumas concluses podem ser avanadas a respeito da formaodos bandos e da natureza da violncia no Serto do Vale do Paje no perodo aquienfocado. As redes de parentesco e clientelismo, descontnuas por um lado, cont-nuas por outro, estabeleciam ligaes entre grupos de pessoas. A existncia dechefes polticos e de famlia, indistinguveis na maior parte dos casos, servia comofora unificadora de uma mirade de grupos armados, reforando aqui, desfazendoali, conexes sempre possveis, por vezes improvveis. Essas conexes, em funo

    da profundidade genealgica do parentesco, no caso do serto, e da fora dessesentimento, estavam constantemente misturadas de modo indistinguvel, assimcomo o eram as ligaes polticas. Deste modo, poltica, famlia e violncia soapenas distinguveis para efeitos de anlise, suas existncias sendo coextensivasumas s outras.

    Todos esses trs fatores, misturados como esto no plano real, obedecem a umdeterminado esquema que se pode chamar de segmentar. Os grandes bandoseram arregimentados a partir do somatrio de microgrupos de base familiar, cadaum liderado por seu chefe. O conjunto desses chefes costumavam ser seguidores,por sua vez, de chefes outros que comandavam bandos e assim por diante. Apoltica eleitoral funcionava da mesma forma, partindo dos eleitores que detinhamum certo nmero de votos, de base familiar, passando pelos cabos eleitorais, capa-zes de obter o apoio desses eleitores. Da para o candidatos municipais, estaduaise federais. A famlia, sempre envolvida em ambos os processos, sustentculo pr-tico e discursivo dos dois, apresentava-se sob a forma de rvore genealgica, masfuncionava sob o aspecto de pequenos segmentos capazes de se ligar a outros,nem sempre parentes prximos. Assim, o observador do processo, exageradamente

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    crente no esquema da rvore ficar atnito diante de certas formaes em queprimos legtimos, pessoas portadoras do mesmo sobrenome, situavam-se em ladosopostos, quer em intrigas e questes, quer napoltica. Apoca da poltica, alis,e muito mais do que se supe, era um momento em que os laos familiares muitasvezes tendiam a esgarar-se quando pessoas prximas acompanhavamfacespolticas opostas. Alm de se fundirem, os grupos, familiares, polticos e armados,tambm se fissuravam. No interior de uma famlia, a partir de um determinado ances-tral, fundador (ou fundadora) de uma irmandade, quando o pai (ou a me) punha

    seu prenome em todos ou em alguns dos filhos (ou os filhos recebiam patronmicoda comunidade que os cercava), ele ou ela criava um ramo. Assim, os Leovigildos,os Terto, os Andrelino, os Incio (mas tambm topnimos, como os Caiara, porexemplo), sem que, no entanto, os laos existentes entre eles e os outros ramos dafamlia fossem necessariamente rompidos.

    Sob esse ponto de vista, os to conhecidos exrcitos privados dos coronisda Primeira Repblica, assim como as famlias e as faces polticas, desmancham-se no ar, aparecendo como substitutos os pequenos grupelhos com tticas e inte-resses mais ou menos prprios, com planos de subsistncia mais ou menos aut-nomos, relacionando-se diferentemente com os seus chefes. Em lugar dahomogeneidade, aparece uma complexa rede heterognea cujo produto final ape-nas em aparncia homogneo. Impossvel ignorar, entretanto, que tais grupos so

    constantemente compelidos a algum nvel de unificao, tal como foi mostrado aolongo do texto. Mas tal unificao, por sua vez, tende tambm a uma constantefragmentao.

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