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    A   g   r   i   c   u    l   t   u   r   a    F   a   m   i    l   i   a   r ,     A   g   r   o   e   c   o    l   o   g   i   a   e

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A sistematização de experiências na construção participativa do conhecimentoagroecológico é um grande desao. No dia a dia das atividades desenvolvidas nosprojetos é difícil, tanto para os(as) agricultores(as), quanto para os(as) técnicos(as)que os(as) acompanham na assistência técnica, parar e observar; registrar e siste-matizar as informações em conjunto.

Nos últimos tempos foram feitos vários esforços para um registro das

experiências agroecológicas com o objetivo de dar mais visibilidade aos avanços,êxitos e conquistas. Estes registros são importantes também para incentivar políticaspúblicas na formulação e implementação de projetos e programas, assegurandonanciamentos para a transição agroecológica.

Neste sentido, a Articulação do Semiárido Brasileiro (ASA Brasil) editou bole -tins informativos contando diferentes experiências. A Articulação Nacional de Agro-ecologia (ANA) e a Associação Brasileira de Agroecologia (ABA) mantém a páginawww.agroecologiaemrede.org.br , onde as experiências podem ser registradasno banco de dados e localizadas através de um mapeamento.

No âmbito do Projeto Agricultura Familiar, Agroecologia e Mercado (AFAM), aFundação Konrad Adenauer e seus parceiros - Núcleo de Iniciativas Comunitárias(NIC), Instituto Sesemar, Agência de Desenvolvimento Econômico Local (ADEL) eCentro de Ciências Agrárias da Universidade Federal do Ceará (CCA/UFC) - zeramesforços para sistematizar as experiências desenvolvidas durante o período de cincoanos (2006 – 2011), contando com co-nanciamento da União Européia.

Para a nalização do Projeto AFAM e o encerramento da série de cartilhas “Agro-ecologia”, este décimo e último número se dedica à apresentação dos resultados naconstrução participativa do conhecimento agroecológico, com as diferentes experiên-cias nos eixos de ações trabalhados.

Ao mesmo tempo pretende contribuir para a discussão de metodologias para a

sistematização das informações, e a construção de indicadores da transição agro-ecológica. Estas metodologias têm necessariamente um foco na participação dosagricultores e das agricultoras, que deverão obter instrumentos para observar seusavanços nesse processo.

Esperamos, portanto, que esta documentação seja útil e possa ser uma contri -buição na construção do conhecimento agroecológico, compartilhando as mudanças,que estão acontecendo no campo na transição para agriculturas sustentáveis.

 EXPEDIENTE Projeto Agricultura Familiar, Agroecologia e Mercado

Desenvolvimento Sustentável da Agricultura Familiarno Nordeste

Representante da Fundação Konrad Adenauer Fortaleza: Anja Czymmeck

Coordenadora Geral:Angela Küster

Coordenador técnico:Jaime Ferré Martí 

Coordenadora administrativa:Pollyana Vieira

Equipe técnica:Narciso Mota e Pollyanna Quemel

Elaboração de textos:Angela Küster, Jaime Ferré Martí, Adriano Almeida,Emanoel Pedro Martins e Maria da Conceição Lima

Revisão e edição de texto:Maristela Crispim

Projeto gráco, capa e ilustrações:Fernando Lima

Fotos:Arquivo Fundação Konrad Adenauer (exceto quandodisposto em contrário)

Jornalista responsável:Maristela Crispim (CE0095JP)

Todos os direitos para a utilização desta cartilha sãolivres. Qualquer parte poderá ser utilizada ou reprodu- zida, desde que se mantenham todos os créditos e seuuso seja exclusivamente sem fns lucrativos.

Disponível para download em www.agroecologia.inf.bre www.kas.de/brasil

Esta publicação foi realizada com apoio da União Européia(UE).O seu conteúdo não expressa necessariamente a opinião da UE ou da Fundação Konrad Adenauer.

APRESENTAÇÃO

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 Projeto Agricultura familiar, Agroecologia e Mercado

O Projeto Agricultura Familiar, Agroecologia e Mercado (AFAM), co-nanciado pelaUnião Européia (UE) de 2006 a 2011, tem como objetivo promover a melhoria da quali-dade de vida, soberania alimentar e empoderamento da população no semiárido do Nor-deste do Brasil, por meio do fortalecimento da agricultura familiar ecológica e sustentável.

Trabalha, para tanto, o fortalecimento da organização social e da qualicaçãode agricultores familiares, na produção, planejamento, gestão e comercialização deprodutos agroecológicos, promovendo uma maior participação de mulheres e jovens.

No Estado do Ceará, o projeto está contribuindo para a criação e fortalecimento deredes de agricultores(as) familiares ecológicos(as) nas regiões do Vale do Curu e Ara -tiaçu, no Sertão Central e no Maciço de Baturité, em parceria com as organizações não--governamentais (ONGs) Núcleo de Iniciativas Comunitárias (NIC), Instituto SESEMAR eAgência do Desenvolvimento Econômico Local (ADEL). O Centro de Ciências Agrárias daUniversidade Federal do Ceará (CCA-UFC) é parceiro no apoio cientíco ao projeto, queconta também com a colaboração de outros parceiros locais e estaduais.

Além disso, existem articulações com redes e entidades em outros Estados doNordeste, promovendo a troca de experiências e construção de estratégias paraavançar na difusão da proposta agroecológica.

e-mail: [email protected]

homepage: http://www.agroecologia.inf.br

 Fundação Konrad Adenauer 

A Fundação Konrad Adenauer é uma fundação política da República Federal daAlemanha que, naquele país e no plano internacional, vem trabalhando em prol dosdireitos humanos, da democracia representativa, do Estado de Direito, da economiasocial de mercado, da justiça social e do desenvolvimento sustentável. Os principaiscampos de atuação da Fundação são a formação política, o desenvolvimento de pes-quisas aplicadas, o incentivo à participação política e social e a colaboração com asorganizações civis e os meios de comunicação.

No Brasil, realiza seu programa de cooperação por meio de um escritório no Riode Janeiro e de uma Representação em Fortaleza, para o Nordeste e Norte do País,sempre em conjunto com parceiros locais. Com suas publicações, pretende contribuirpara a ampliação do debate público sobre temas de importância nacional e interna -cional.

Nas publicações da Fundação Konrad Adenauer, os trabalhos têm uma metodolo-gia cientíca e tratam de temas da atualidade, principalmente nos campos das ciên-cias sociais, políticas, econômicas, jurídicas e ambientais. As opiniões externadas nascontribuições desta publicação são de exclusiva responsabilidade de seus autores.

e-mail: [email protected]: http://www.kas.de/brasil

 Capítulo 1 O Projeto Agricultura Familiar,Agroecologia e Mercados (AFAM)

 Capítulo 2 Organizaçãosolidária

 Capítulo 3 Construção doconhecimento agroecológico

 Capítulo 4 Formulação depolíticas públicas

 Capítulo 5 Acesso amercados justos

 Capítulo 6 Certifcação

participativa

 Capítulo 7 Sistematização,monitoramento e avaliação

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SUMÁRIO

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OProjeto Desenvolvimento Sustentávelda Agricultura Familiar no Nordes-te do Brasil iniciou em fevereiro 2006,

logo conhecido como “AFAM”. Foi criada uma marcaprópria, visualizando a ligação entre todos os cin-co eixos de atividades desenvolvidos. No centro dasatividades foi colocada a articulação, visando à for-mação de uma rede agroecológica no Estado do Ce-

ará e no Nordeste do Brasil para juntar os esforços eganhar mais visibilidade nas propostas vivenciadas.

Os cinco eixos de ação foram:

• Organização solidária, fortalecendo gruposprodutivos na autogestão e criação de núcleos locaise regionais e sua integração em redes

• Construção do conhecimento e de práti-cas agroecológicas através de processos participa-tivos e o intercâmbio de experiências entre os(as)agricultores(as)

• Políticas públicas inuenciadas pelas de-mandas da agricultura familiar agroecológica emseu processo de formulação, articulação, acesso econtrole social

• Acesso a mercados incentivando o autocon-sumo para a segurança alimentar, sistemas de tro-ca, feiras locais e regionais e a venda em mercadosorgânicos justos

• Certifcação participativa construindo umSistema Participativo de Garantia com aliançasentre produtores(as) e consumidores(as) e redessolidárias

Através de três escritórios regionais, mantidos junto aos parceiros Núcleo de Iniciativas Comuni-tárias (NIC), no Maciço de Baturité e, a partir de2008, no Sertão Central; e Instituto Sesemar, emItapipoca, foi possível desenvolver processos de ar-ticulação, mobilização e formação, incentivando aorganização solidária e a transição agroecoló-gica dos(as) agricultores(as) familiares.

As políticas públicas certamente foram inuen-ciadas por diferentes fatores, para os quais o ProjetoAFAM contribuiu, dando visibilidade às iniciativas.

Diferentes grupos melhoraram o acesso aosmercados diferenciados em Feiras Agroecológicasou na venda institucional. Alguns empreendimentosfamiliares foram qualicados para atingir mercadosinstitucionais, nacionais e até internacionais.

A articulação avançou também na certifcaçãoparticipativa, com a construção da Associação daRede Cearense de Agroecologia (ARCA), que está seconsolidando como Organismo Participativo de Ava-liação da Conformidade (OPAC).

Durante os cinco anos de atividades foram cons-truídas muitas parcerias em nível local, regional, es-tadual e nacional, que deram origem a diversos pro- jetos desenvolvidos de forma inovadora, dos quaisalguns alcançaram sustentabilidade e darão conti-

nuação nessa caminhada na construção de agricul-turas mais sustentáveis.

Equipe do Projeto AFAM e parceiros

   C   a   p   í   t   u   l   o   1

    O    P   r   o   j   e   t   o    A   g   r   i   c   u    l   t   u   r   a

    F   a   m   i    l   i   a   r ,     A

   g   r   o   e   c   o    l   o   g   i   a

   e    M   e   r   c   a    d   o   s    (    A    F    A    M    )

Eixos de Ação

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Aorganização solidária dos(as) agricul-tores(as) familiares é fundamental paraestes atingirem sua independência e me-

lhorias de vida de forma coletiva. As associaçõescomunitárias no meio rural encontram-se muitasvezes enfraquecidas, sem uma gestão adequada,contando com pouca participação e apoios. As práti-cas de algumas cooperativas levaram ao descrédito

das mesmas por parte dos beneciados, levando-asa passar por uma reformulação como uma alterna-tiva ou necessidade para a comercialização coletiva.

A gestão coletiva tem como característica o com-partilhamento de tarefas e de responsabilidades, fa-vorecendo a distribuição da riqueza produzida, deforma justa, ética e sustentável. Dessa forma, a or-ganização solidária inuencia várias dimensões davida das famílias de produtores, dando maior clare-za aos caminhos de um ambiente socialmente justoe solidário na comunidade, o que tem impacto diretona articulação com as políticas públicas, já que aformação de grupos formais cria direta ou indireta-mente um espaço para a reivindicação política.

No Ceará, com a atuação do projeto AFAM, emparceria com a Agência de Desenvolvimento Econô-mico Local (ADEL) e com o Núcleo de Iniciativas Co-munitárias (NIC), surgiram diferentes experiências deformação de entidades enquanto empreendimentoseconômicos solidários de produção, entre estas as As-sociações dos Floricultores e Horticultores (AFLOHRAs)e a União das Associações do Vale do Rio Canindé (UA-VRC). Além disso, o Projeto AFAM apoiou a criação deduas cooperativas regionais de produtores(as) no Ma-ciço de Baturité, acompanhados pelo NIC e no Vale doCuru e Aracatiaçu, apoiados pelo Instituto Sesemar.

Também foi incentivada a criação de redes agro-ecológicas e o fortalecimento de redes existentes noEstado e no Nordeste. Ainda é uma tarefa difícil para asorganizações, que no seu dia a dia têm pouca disponi-bilidade para assumir responsabilidades adicionais e in-vestir no trabalho em Rede, tão necessário para atingirobjetivos comuns e estratégicos para o Semiárido. Masem longo prazo este investimento terá bons resultadose precisam-se mobilizar recursos e garantir a continui-dade na construção e no fortalecimento dessas redes.

 Associações dos Floricultores e Horticultores (AFLOHRAs) Três entidades se constituíram como AFLOHRA, nosmunicípios de Barreira, Pacoti e Redenção, a par-tir da realização de ocinas em hortifruticultura eoricultura, no período 2006/2007, e de cursos demultiplicadores em Agroecologia, envolvendo os 13municípios do Maciço de Baturité.

A AFLOHRA de Barreira foi formada por um grupode jovens, todos com idade a partir de 16 anos, queproduzem hortaliças orgânicas, mudas de plantasnativas, frutíferas e ornamentais. Em 2009 conse-guiram acessar recursos do Projeto São José, do Go-

verno do Estado do Ceará, para a implantação dequintais produtivos com sistemas de irrigação emtrês comunidades em Barreira, e tem sido modelopara outros grupos, como foi o caso da criação daAssociação Comunitária dos Agricultores Familiaresde Éparaíso (ACAF).

A AFLOHRA de Redenção trabalha com a produçãoconsorciada de frutas com ores tropicais no Siste-ma Agroorestal. No total, tem 20 associados, quetambém conseguiram captar recursos do ProjetoSão José para a instalação de uma mini-fábrica parao beneciamento de frutas, criando uma oportuni-dade de geração de trabalho e renda.

A AFLOHRA de Pacoti apostou na produção de oresem vaso, o que possibilitou a geração de emprego erenda. Contudo, ao longo do tempo, teve problemasna manutenção do grupo e da produção.

Os membros das AFLOHRAS participaram de cursosde manejo agroecológico, e os resultados da produ-ção agroecológica, com o melhoramento da rendafamiliar, estão sensibilizando as comunidades. Hálições que não são ensinadas, mas aprendidas naprática:

1) Precisa-se entender que quando um grupo come-ça, nem todo o grupo ca. Há momentos de pico ehá momentos de recuo

2) Mas sempre ca alguém, ou seja, há um quadroxo, um núcleo de lideranças

3) É preciso encontrar meios para manter a partici-pação daqueles que fazem a diferença

Fonte: Entrevistas com Iram Pereira, coordenador do Núcleo de Inicia-tivas Comunitárias (NIC), e com os produtores Maria Ivonaide Silveirade Souza, 65 anos e Adolpho Ferreira de Souza Neto, 65 anos; ambosda AFLOHRA de Redenção.

Lilian, AFLOHRA Pacoti

Dona Ivonaide, AFLOHRA Redenção

   C   a   p   í   t   u   l   o   2

    O   r   g   a   n

   i   z   a   ç   ã   o

   s   o    l   i    d   á

   r   i   a

Fortalecendo associaçõese cooperativas

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 A União das Associações do Vale do Rio Canindé 

A União das Associações do Vale do Rio Canindé(UAVRC) é composta por 12 Associações comuni-tárias, localizadas nos municípios de Pentecoste eApuiarés. A Organização Não Governamental (ONG)Instituto Coração de Estudante, através do Progra-ma de Educação em Células Cooperativas (PRECE),acompanha o fortalecimento institucional dessa redecomunitária.

Durante o ano de 2009 a 2010 foi desenvolvi-do o projeto “Gestão e Organização Comunitária”,em parceria entre a Agência de Desenvolvimento

Econômico Local (ADEL) e o Projeto AFAM, contan-do com apoio do Programa de Educação em CélulasCooperativas, da Central das Organizações Associa-tivas do Município de Pentecoste (COAMPE) e daspróprias associações pertencentes à UAVRC.

O projeto “Gestão e Organização Comunitária” tinha como objetivo colaborar com a organização, aconscientização e a capacitação dos moradores dascomunidades rurais para o fortalecimento das asso-ciações comunitárias, com vistas ao desenvolvimen-to local de forma sustentável.

A problemática inicial consistiu na existência deuma malha de associações de moradores de comuni-dades rurais, que enfrentavam diculdades internasdevido à falta de capacitação das lideranças paragerir com qualidade os aspectos administrativos,contábeis, scais e jurídicos das entidades, sendoque o grau de organização tinha níveis diferentesentre as associações.

As ocinas sobre gestão, comunicação e elabo-

ração de projetos contribuíram com o desenvolvi-mento das associações e fortaleceram a UAVRC, querealizou também um planejamento estratégico paraos próximos dois anos.

Entretanto, as entidades precisam se esforçarpara desenvolver uma gestão mais prossional,priorizando o planejamento das atividades, a execu-ção das ações e dos registros de processo com maisqualidade, bem como a avaliação dos resultados,sempre buscando o fortalecimento e o crescimentoinstitucional. Para isso, é importante intensicar amobilização dos jovens e das pessoas mais instruí-das para colaborar com a solução dos problemas dacomunidade.

Fonte: Pesquisa realizada por Adriano Almeida e Edilson da Costa.

 A criação das Cooperativas  da Agricultura familiar 

Atendendo à necessidade da organização dos(as)agricultores(as) orgânicos e agroecológicos para via-bilizar a comercialização coletiva e aumentar a escalade produção em conjunto, foram criadas a Cooperati-va da Agricultura Familiar Itapipoca (COAF), no terri-tório Vale do Curu e Aracatiaçu, em 2009; e a Coope-rativa dos Processadores e Produtores de Orgânicosdo Maciço de Baturité (COOPOMAB), em 2010.

A COAF foi fundada com apoio do Serviço Nacio-nal de Aprendizagem do Cooperativismo no Estadodo Ceará (OCB/SESCOOP-CE), que facilitou váriasocinas com elaboração de um estudo de mercado e

um plano de marketing.A cooperativa está se organizando em torno das

cadeias produtivas da apicultura, artesanato, mandio-cultura e cajucultura. As unidades produtivas das as-sociações servirão de entrepostos para o armazena-mento de farinha de mandioca, castanha de caju, mele artesanato. Nestes, também haverá a gura de umsupervisor que receberá conforme a produção comer-cializada na localidade e será feita preferencialmentepelo presidente da associação.

Outro aspecto importante desse trabalho é man-ter as informações sobre a produção mais reais eprecisas possíveis para o bom andamento das ne-gociações. Já constituída legalmente, a COAF estáatualmente elaborando a sua identidade visual eprocurando a certicação orgânica.

A COOPOMAB foi constituída, no Maciço de Batu-rité, como resultado da ação coletiva das entidadesrepresentativas dos(as) agricultores(as) orgânicosna produção e comercialização de seus produtos.A cooperativa está presente em oito municípios doMaciço de Baturité (Barreira, Redenção, Ocara, Ca-pistrano, Aratuba, Itapiúna, Baturité e Pacoti ) e terádentre seus objetivos a organização dos cooperadospara a comercialização e participação em feiras lo-cais, regionais, e nacionais.

Resultados da Pesquisa sobre as

12 Associações da UAVRC:

Nove associações oram criadas porpessoas externas, seis por um vereador,três com a ajuda de técnicos e uma comparticipação de azendeiros. A criaçãode duas entidades oi incentivada porum intercâmbio com outra comunida-de. A alta de energia elétrica, água, as-sistência social e saúde incentivaram aormação das associações. As políticaspúblicas condicionaram o acesso aos

serviços públicos e equipamentos co-munitários à existência de associaçõesregularizadas, conorme as condiçõesde instituições internacionais, ao exem-plo do Projeto São José, nanciado peloBanco Mundial.A participação de mulheres na gestãoé orte: três associações tiveram umamulher como primeira presidente. Atu-almente 41,7% têm como presidenteuma mulher. Também é notável a parti-cipação dos jovens, a exemplo da Asso-ciação dos Agricultores de Tamarina: 58associados entre 28 têm de 16 a 29 anos.Das 12 entidades liadas à UAVRC, duassão geridas por jovens.

Reunião da UAVRC em Irapuã, Pentecoste

ARTECAN - Associação das(dos) Artesãs(ãos)e Agricultoras(es) de Canaan - Trairi,

que faz parte da COAF.

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Jovens rurais, do Maciço de Baturité

II Encontro Rede Macambira em Riachinho (BA)

IV Encontro Rede Macambira em Itamaracá (PE)

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 Fortalecendo o trabalho em redes Rede de Agricultores(as) Agroecológicos as)e Solidários(as) do Território Itapipoca

Nos primeiros três anos do Projeto AFAM foi re-alizado, junto ao Centro de Estudos do Trabalho ede Assessoria ao Trabalhador (CETRA), um traba-lho de fortalecimento da Rede de Agricultores(as)Agroecológicos(as) e Solidários(as), criada em 2006como resultado de um processo de formação de mul-tiplicadores em Agroecologia, desenvolvido pelo CE-TRA em 18 meses, de 2005 a 2006.

Um ponto central para a Rede se tornou a realiza-ção da feira agroecológica e solidária, que é realizadaquinzenalmente em Itapipoca. Foram realizados en-contros com ocinas mensais, depois de um ano foiformado o grupo de feirantes, que continuou com reu-niões mensais, enquanto a rede passou a se encontrara cada três meses.

Desde 2006, a Rede realiza anualmente o Encon-tro Territorial de Agroecologia e Socioeconomia Solidá-ria (ETA), como espaço para a troca de experiências,com intercâmbios nas comunidades, fortalecendo aconstrução do conhecimento com palestras e ocinas.

Rede Agroecológica do Maciço de Baturité(RAMAB)

A partir dos cursos realizados no Maciço de Baturiténo ano de 2006, em 2007 foi constituída a Rede Agro-ecológica do Maciço de Baturité (RAMAB), que atuaem todos os 13 municípios da região. O trabalho sefortaleceu com o projeto de hortas orgânicas apoiadopelo SEBRAE que permitiu a implementação de hortasem 13 comunidades de nove municípios e o apoio doConsulado da Alemanha, que nanciou a implantaçãode sistemas de irrigação em cinco Municípios.

Outro foco é a certicação participativa, da qual aRAMAB participa através da sua articulação nos mu-nicípios. Desde 2007 é realizado o Fórum de Agro -ecologia no Maciço de Baturité, já estando em suaquinta edição, reunindo mais de 150 participantesda região para o intercâmbio das suas experiências,debate e construção de políticas públicas para a agri-cultura familiar e a produção agroecológica, fortale-cimento da organização social dos agricultores(as)em rede e articulação de processos de capacitaçãona região. Na região do Maciço de Baturité, a RAMAB,em parceria com o Projeto AFAM, tem implementadounidades demonstrativas da produção agroecológi-ca, denominadas de Centros Agroecológicos (CEA-GROs), já tendo sido implantados os CEAGROS deBarreira, Pacoti, Redenção e Itapiúna.

Rede Macambira

A Rede Macambira se formou a partir das ONGse agências apoiadas pela União Européia, que traba-lham para o desenvolvimento sustentável do semiá-rido brasileiro. Em 2006, um grupo lançou a propos-ta de um encontro com o objetivo de compartilharexperiências e metodologias de trabalho.

O primeiro encontro foi realizado em Ouricuri,sertão de Pernambuco, reunindo 14 organizações.Seguiram o segundo, em Riachinho, Bahia, em se-tembro de 2007, onde teve um aprofundamento dametodologia de marco lógico e das ferramentas demonitoramento e avaliação; e o terceiro, em Natal,Rio Grande do Norte, em maio de 2008, focado naspráticas de controle social das políticas públicas para

o semiárido. Este tema resultou numa publicação emconjunto, organizada pela Fundação Konrad Adenauer.

No quarto encontro, em Itamaracá, Pernambu-co, as dez entidades participantes batizaram a redede Macambira - em alusão a uma planta nativa quecresce em todo o sertão, até na rocha, e é usadapara a alimentação dos homens e dos animais du-rante os longos períodos de seca. Foi denida comomissão da Rede Macambira ser um espaço de ar -ticulação, partilha de aprendizagens e experiênciaspara a promoção de reexões e ações voltadas parao desenvolvimento sustentável do semiárido brasi-leiro, com foco na agricultura familiar agroecológica,no meio ambiente, no protagonismo comunitário e juvenil e nas políticas públicas.

Houve ainda o quinto encontro, em Barreira, Ce-ará, em Maio 2009, onde foram trabalhados mode-los de gestão e prestação de contas à sociedade,contando com a participação do Instituto Fonte. Em junho 2010 foi realizado o sexto encontro, em SãoMiguel do Gostoso, com o tema “Mobilização de re-cursos”. Fica o desao de elaborar programas e pro- jetos inovadores de sustentabilidade socioambientalno semiárido, programar ações de advocacy e lobbypara inuenciar as políticas voltadas para a agricul-tura familiar agroecológica.

“Queremos juntos promover uma maior si-nergia entre nossos projetos, no sentido decompartilhar aprendizagens e experiên-cias. Buscamos, especialmente, potencia-lizar nossa intervenção nos territórios emque atuamos, e, assim, enxergarmos im-pactos positivos na vida das comunidadese dos agricultores e agricultoras amiliaresque vivem no semiárido brasileiro, a partirda execução dos projetos.É desejo nosso promover e intercambiarexperiências que tenham como princípioa convivência com o semiárido, na abor-

dagem da Agroecologia, assegurando oacesso da população rural da região a ati-vos undamentais para o desenvolvimentohumano sustentável da mesma. (...)Portanto, a infuência em políticas públi-cas que valorizem e promovam a região eo seu povo é uma das principais metas denossa Articulação”.Trechos da Carta de Riachinho, 4 de setem-

bro de 2007, assinada por AACC, CAA, CA-

 ATINGA, CHAPADA, CECOR, CETRA, SASOP,

Centro Nordestino de Medicina Popular,

Fundação Konrad Adenauer, Obra Kolping ,

Oxam GB, International Service, Action Aid,

Horizont 3000, Agrônomos e Veterinários

sem ronteiras.

bros da Rede de Agricultoras e Agricultoresgicos e Solidários do Território de Itapipoca

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construção do conhecimento agroecológico atravésdo diálogo com a realidade da agricultura familiar decada região. Os módulos foram organizados em au-las teóricas, trabalhos em grupos, vivências e prá-ticas. O roteiro dos cursos foi adaptado à realidadede cada local e às demandas dos grupos e os(as)agricultores(as) participaram da denição dos con-teúdos, que foram construídos de forma dinâmica.Em quase todos os módulos foram realizadas visi-tas de intercâmbio nas comunidades de cada região,que se tornaram um dos instrumentos mais impor-tantes no processo de formação.

Desde o início foram trabalhados diagnósticosdas comunidades e das propriedades com mape-amentos que permitiram a análise da situação decada um e o compartilhamento do que tinham emcomum. Estes momentos foram muito ricos, espe-cialmente pela descoberta de potencialidades quenão eram tão visíveis para os(as) agricultores(as).

Os mapeamentos foram abordados em váriosmomentos, levados como tarefa de casa para seremdesenhados junto às famílias e vericados nas visi-tas de campo. Esta metodologia levou à descobertade potencialidades, que não eram tão visíveis paraos(as) próprios(as) agricultores(as), e por ser umaferramenta para planejamento da produção e moni-toramento da transição agroecológica.

Os mapas das propriedades e comunidadestambém foram ferramentas para o planejamento emonitoramento da transição agroecológica e para oplanejamento da produção, com o levantamento doscustos e da renda da produção. Estes levantamen-tos são um exercício constante, pois apenas algunsagricultores têm o costume de anotar seus gastos eganhos, mas a maioria não tem noção da viabilidadeeconômica das atividades.

A partir da experiência dos(as) agricultores(as)foram discutidos os conceitos da economia solidáriae estratégias de comercialização, apontando parafeiras agroecológicas da agricultura familiar.

As atividades práticas foram enfatizadas noscursos, como a produção de mudas e de defensivosnaturais e fertilizantes; a compostagem, adubação ecobertura no manejo do solo; ou ocinas sobre ali-mentação alternativa com o uso integral de a limen-tos. Em cada curso teve trocas de sementes entreos(as) participantes, estimulando a construção decasas de sementes para preservar a biodiversidadedas plantas nativas, adaptadas ao semiárido.

As visitas de campo foram momentos de in-tercâmbio com comunidades e agricultores(as)

OProjeto AFAM atuou diretamente em 39municípios - nos territórios: Maciço deBaturité, Sertão Central e Vales do Curu

e Aracatiaçu - onde a formação de agentes multipli-cadores em Agroecologia se tornou uma estratégiacentral.

A estratégia para incentivar a transição agroe-cológica se baseou nas experiências de formação deagentes multiplicadores, desenvolvida pelo Centrode Estudos do Trabalho e de Assessoria ao Traba-lhador (CETRA) e pela Fundação Cultural Educacio-nal Popular em Defesa do Meio Ambiente (FundaçãoCepema) com os Agentes de Agricultura Ecológica(ADAE), como também por outras entidades.

No âmbito do Projeto AFAM, foram formados 442agentes, além disso, 8.832 agricultores(as) participa-ram de cursos especícos (2.716 jovens e 3.377 mu-lheres), como de manejo ecológico ou empreendedo-rismo solidário, fóruns e congressos. As metodologiasdesenvolvidas durante os cursos se mostraram estraté-gicas para a construção do conhecimento agroecológi-co de forma participativa e incentivaram a formação deredes regionais de agricultores(as) agroecológicos(as).

A formação de agentes multiplicadores em Agro-ecologia pelo Projeto AFAM iniciou com a primeiraturma, em setembro 2006, no Maciço de Baturité,onde foram formadas quatro turmas. Houve tam-bém cursos no Sertão Central e nos Vales do Curu e

Aracatiaçu, em 2008 e 2009.Os critérios para a seleção dos(as) participantes

foram a idade a partir de 16 anos, ter sensibilida-de às questões ambientais e sociais, disponibilidadepara participar do curso com no mínimo 80% de fre-qüência e o compromisso de compartilhar os conhe-cimentos com outros(as) agricultores(as), incen-tivando a transição agroecológica e a organizaçãoem redes. Foi dada preferência a representantes deassociações, sindicatos ou lideranças comunitárias,incluindo também técnicos da extensão rural, estu-dantes e professores do ensino público municipal.

Os cursos foram desenvolvidos com seis a setemódulos temáticos, realizados mensalmente emdois a três dias. O ponto de partida da formação é a

Ocina de alimentação alternativa

Apresentação do mapa do AssentamentoRecreio, Quixeramobim

Prática de cobertura do solo

   C   a   p   í   t   u   l   o   3

    C   o   n   s   t   r   u   ç   ã   o    d   o

   c   o   n    h   e

   c   i   m   e   n   t   o   a   g   r   o   e   c   o    l   ó   g   i   c   o A Formação de

Agentes Multiplicadoresem Agroecologia

Grade Básica dos Cursos

• Princípios da Agroecologia• Passos para a Transição Agroecológica• Convivência com o Semiárido• Segurança e Soberania Alimentar• Gestão da Propriedade Familiar• Organização de Cadeias Produtivas• Estratégias de Comercializaçãona Perspectiva da Economia Solidária

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ao assentamento Boa Vista em Quixadá.Prática de compostagem

Turma dos agentes multiplicadores do Vale do Curu na Comunidade Irapuã - Pentecoste6 17

rcâmbios são realizados de orma con-ua com diversos grupos e nos encon-

das redes. É a partir dessas práticas está se construindo o conhecimento

oecológico.

agroecológicos(as), que incentivaram os agentesmultiplicadores a realizar as suas próprias experiên-cias. Teve intervenções, como no caso da comunida-de Irapuã, em Pentecoste, com a construção de umahorta comunitária; ou uma prática de compostagemrealizada no assentamento Boa Vista, em Quixadá,Sertão Central. A aprendizagem se realizou atravésda observação, no intercâmbio de experiências e natroca de sementes e mudas.

No m de cada curso foi realizada uma avalia-ção e o planejamento de atividades de cada agentemultiplicador(a) e do grupo, incentivando o traba-lho em redes. Os agentes multiplicadores assumi-ram a transição agroecológica nas suas proprieda-des e passaram a atuar nas suas comunidades comoexemplo para outros agricultores, e muitos começa-ram a participar de conselhos locais e de articula-ções em rede.

Como complemento, o Projeto AFAM promoveuoutros cursos de menor duração ou ocinas, dandoênfase ao manejo ecológico ou empreendedorismosolidário. Também foram realizados encontros entreos(as) agentes agricultores(as) em cada territóriopara registrar e trocar suas experiências e o fortale-cimento mútuo nas suas atividades.

A realização desses processos de formação temimpactos potenciais na difusão da Agroecologia,mas precisam ser integrados em projetos maiores,que garantam acompanhamento técnico dos agen-tes nas suas comunidades, como também recursospara a realização das atividades e a implementaçãode unidades produtivas. A articulação com as enti-dades locais, organizações governamentais e insti-tuições de ensino e extensão pode contribuir nestesentido.

 A Agroecologia colocada em práticaA formação dos agentes multiplicadores contribuiu

para a construção de sistemas agroecológicos quehoje servem como unidades demonstrativas em dife-rentes localidades, contribuindo assim para a aprendi-zagem de tecnologias de manejo agroecológico.

Centros Agroecológicos (CEAGROs)No Maciço de Baturité foram construídos quatro

Centros Agroecológicos (CEAGROs), em Barreira,Pacoti, Redenção e Itapiúna, por iniciativa dos(as)agricultores(as) formados(as), contando com oapoio das prefeituras e de diferentes parceiros. OsCEAGROs são importantes instrumentos para incen-tivar a transição agroecológica através de unidades

demonstrativas e como espaços de aprendizagem,a exemplo do CEAGRO de Barreira, que conta comhortas orgânicas, viveiros de mudas de plantas na-tivas, criação de pequenos animais, compostagem,espiral de ervas e de plantas medicinais, uma bom-ba rosário e um sistema agroorestal.

Hortas comunitáriasMuitos dos(das) multiplicadores(as) mantém hoje

hortas orgânicas, seja nas suas propriedades, seja nacomunidade, dando exemplo para seus vizinhos(as),com a melhoria da alimentação das famílias. Só no Ma-ciço de Baturité, foram implantadas, pelo NIC, 16 hor-tas comunitárias, com recursos do SEBRAE Nacionale do Consulado da República da Alemanha em Recife.

Quintais produtivosO aproveitamento dos quintais das casas, nor-

malmente pelas mulheres, com a produção de horta-liças, plantas medicinais, frutos e a criação de peque-nos animais, ganhou o nome de “quintal produtivo”.Comunidades do Maciço de Baturité, em Capistrano,

Baturité e Barreira, conseguiram, através do ProjetoSão José, da Secretária de Desenvolvimento Agráriodo Estado do Ceará (SDA), recursos para sistemasde irrigação, viveiros e galinheiros. Hoje já contamcom uma boa produção, comercializada nas própriascomunidades, em feiras e para as prefeituras.

Sistemas agroorestais

Os Sistemas Agroorestais (SAFs) ou Agroo-restas são considerados o topo da Agroecologia,com o aproveitamento produtivo de orestas, dan-do preferência a plantas nativas. Existem hoje dife-rentes experiências, a exemplo da comunidade SítioVitória, em Redenção, que está produzindo frutos,ores tropicais e arroz no sistema integrado, con-tando com o acompanhamento técnico do NIC.

CEAGRO Barreira

CEAGRO Pacoti

Agrooresta no Sítio Vitório, Redenção

Manoel Freitas recebe visitantes no Quintalprodutivo de Cajuais, Capistrano

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Experiências AgroecológicasSertão Central

Experiências AgroecológicasVales do Curu e Aracatiaçu

Maria de Lourdes Oliveira da Silva - Assentamento Bom Vista, Quixadá

Depois do curso, Lourdes colocou o aprendizado em prática na horta comunitáriacom três amílias. Na vazante de lagoa, tornou a área produtiva usando coberturamorta e deensivos naturais. Mantém um quintal produtivo na sua casa, benecian-do a alimentação da amília, e multiplica a prática agroecológica, recebendo visitase conquistou muitas amizades.

“Agroecologia é essencial pra minha vida, pra minha saúde, porque eu sei que eu tô pro-

duzindo um alimento de boa qualidade. (...) me sinto muito eliz de poder contribuir, nem

que seja um pouco. Não sei tudo, mas o pouco que eu sei eu posso contribuir com eles...” 

Francisca Gilvânia de Oliveira Bezerra – Comunidade Patos, Quixeramobim

Com a ormação em Agroecologia, passou a pensar de orma coletiva. Hoje está maisatenta à sua alimentação, incluindo verduras e rutas. Mantém um quintal produtivocom ruteiras para o consumo próprio. Seu primeiro espaço de atuação oi a amília:convenceu seu pai a parar com as queimadas. Ela utiliza espaços do seu cotidiano paraalar com os vizinhos sobre Agroecologia, nos cultos e no Instituto de Jovens Rurais.

“(...) a minha própria mudança de ver que a agricultura não abrange somente milho e

eijão é uma parte de ver que através da minha mudança eu posso também através da

agroecologia mover a minha vida, minha vida amiliar. (...) depois desse curso passei a

ver que isso é possível, eu acho que oi um pouco que mexeu comigo e que possivelmen-

te irá me gerar renda uturamente. Deixar de ver a agricultura como milho e eijão e ver a

agricultura como milho, eijão, cebola, coentro, alace, pimentão, tomate e outras coisas

como onte de renda, não só como onte de alimentação.” 

Maria de Lourdes Legório - Assentamento Recreio, QuixeramobimLourdes coloca em prática saberes agroecológicos aprendidos no curso, com a ajudade seu esposo e seus dois lhos. Mantém uma horta e um quintal produtivo paraenriquecer a alimentação amiliar e busca produzir com regularidade e quantidadepara comercializar na eira. Sua imersão na Agroecologia, proporcionada pelo Proje-to AFAM, ortaleceu sua postura de não utilizar agrotóxicos e aproveitar deensivos,como a água de cinza. Aprendeu a azer adubo por meio da compostagem e a utilizara cobertura morta para proteger o solo. Mudar a mentalidade das pessoas é um pro-cesso lento; o manejo convencional prevalece entre os assentados. Mas suas rutase verduras são consumidas pela comunidade e as pessoas reqüentam seu quintalprodutivo para receber instruções no manejo.

“O Projeto AFAM para mim oi maravilhoso porque tá me ajudando a incentivar, coope-

rar com a gente, a cada dia a gente aprende uma coisa melhor, uma experiência melhor,

e assim a gente vai levando [...] Para mim, trabalho no campo é um dos trabalhos que eu

mais gosto, que mais me az eu viver, viver mesmo! [...], para mim serve de um remédio! 

 para mim é minha vida, minha saúde [...]” 

Everardo Alves Moreira, Lagoa das Pedras, Apuiarés

Everardo cultiva abelhas nativas desde os 22 anos. Interessado e sem ajuda disponível,desenvolveu a atividade com observação e prática autônoma. Depois ez o curso doCETRA sobre abelhas aricanizadas e apereiçoou a técnica. O Projeto AFAM agregouconhecimentos, principalmente ao esclarecer a importância do reforestamento paraa produção de mel de qualidade. O terreno estava todo desmatado, e oi reforestadocom espécies nativas para as abelhas tirarem néctar e pólen. Repassou para o seu paias tecnologias agroecológicas e utiliza sua produção para multiplicar a Agroecologiapara os jovens. Conscientiza os vizinhos da importância de largar os agrotóxicos para

a produção de um mel orgânico. As pessoas percebem a organização da associação,da qual az parte, a diversidade produtiva e o aumento da produção.

“Só o alatório não vai adiantar. Eu tenho que realmente mostrar porque o pessoal [...] só

acredita vendo [...] Organizamos a associação. Começamos com 25, hoje tem 35 e tem

mais nove pra entrar. Eles estão percebendo a organização, tão vendo as mudanças e

tão acreditando que ali tem um grupo organizado, ortalecido que quer trabalhar [...]”.

Maria Aurigele Barbosa Alves, Apuairés

A ormação como Agente multiplicadora de Agroecologia ortaleceu seus conheci-mentos, aumentou seus laços de amizade e ampliou suas oportunidades prossionais:ingressou na ADEL como voluntária e depois como sócia, estagiou no Projeto AFAMacompanhando as eiras agroecológicas de Apuiarés e Pentecoste e na coordenaçãodo curso de manejo ecológico. Se ormou como técnica em agropecuária e atua comoeducadora social do Programa Empreendedorismo do Jovem Rural (PEJR), Ceará.

“Esse curso de agroecologia promovido pelo AFAM abriu literalmente e defnitivamente

as portas para o meu lado profssional e humano (...) é preciso cuidar melhor do ambien-

te que vivemos para as nossas gerações uturas, e a agroecologia é uma orma prazero-

sa de azermos isso”.

Elias Alves Magalhães, Comunidade Lagoinha I, Itapipoca

Elias trabalhou desde criança com seus pais na roça. Aos 23 anos oi para São Paulo,passou 09 anos na cidade grande e voltou para o campo. Em 2009/2010 participoudo Curso de Multiplicadores, conhecendo a área produtiva. Diz que contribuiu nãosó na sua vida, mais na vida dos seus vizinhos, que também deixaram de desmatare queimar conorme orientou, ele não se arrende de abandonar as velhas práticas.Ficou a lição que quer dar para seu lho.

“O curso para me oi uma aculdade da terra, minhas expectativas oram superadas. Sa-

ber produzir alimente alimentos de qualidade e mesmo que ele não queira trabalha n a

roça, saber dierenciar o alimento saudável daquele que az mal pra saúde do homem

e da natureza”.

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Experiências AgroecológicasMaciço de Baturité

Maria Euriza dos Santos (Dona Izinha), comunidade Uirapuru, Baturité

Dona Izinha largou o trabalho de empregada doméstica na cidade e se tornou agricul-tora. No início, antes do curso, tinha dois canteiros de hortaliças e três pés de tomates.Com apoio do Projeto AFAM, aumentou a produção e hoje vende para condomínios,pousadas, casas de amílias e comércios locais. Acessa diretamente o mercado consu-midor, o que melhora a renda sem intermediários. A ormação em Agroecologia or-taleceu o respeito por si, a crença em sua capacidade e a preocupação com a questãoecológica. Para ela, a transormação que a Agroecologia propõe deve ocorrer primei-ramente no âmbito pessoal, depois no amiliar, depois no comunitário.“Muito melhor você continuar na agricultura porque lá você come o que planta, você

sabe o que tá comendo. Eu já aconselhei meus flhos: eu não quero que eles larguem aqui,o nosso lugar, né, deixar o trabalho na roça para procurar trabalho em cidade grande”.

Antônio Noberto Mesquita, comunidade Carnaúba, Barreira

Buscando aumentar a produção e a qualidade de seus produtos, viu o curso do Pro- jeto AFAM como boa oportunidade. Se tornou agroecológico, atento ao que isso sig-nica: não apenas largar o uso de agrotóxicos, mas cuidar da terra, respeitando-a noseu processo de forescimento, não queimando e não poluindo. Através dos conhe-cimentos obtidos com o curso, ele se considera mais apto a argumentar com os vizi-nhos sobre a importância de não poluir, porque isso prejudica a certicação da suaprodução agroecológica. Produz hortaliças, leguminosas e plantas medicinais em seuquintal e comercializa diretamente às amílias da comunidade. Destaca-se sua manei-ra criativa de consorciar culturas, considerando as especicidades de cada espécie.Como agente multiplicador, Mesquita recebe a Escola Córregos para aula de campo.“[...]. A Agroecologia é cuidar da terra, dar a ela o que é dela, cuidar do meio ambiente que

 pertence à terra. Tem que ter alguém que saiba cuidar, porque a terra sozinha por si ela não pr 

Francyálisson Lima de Oliveira, Barreira

Estudante de Agronomia na Universidade Federal do Ceará (UFC) e estagiário daEmpresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA) - Agroindústria Tropical.A participação no curso de ormação de agentes multiplicadores em Agroecologia des-pertou seu interesse pela aculdade de Agronomia, sendo um marco para decidir suavida prossional. Logo ao ingressar na Universidade, tornou-se bolsista da EMBRAPA,colaborando no desenvolvimento de pesquisas na área da Agroecologia, vinculado aoprojeto de qualicação da cajucultura, desenvolvido em parceria entre a EMBRAPA, eo Projeto AFAM com o NIC, cou trabalhando com 50 produtores associados à Asso-ciação Comunitária de Barreira, PAR RURAL, sendo um desses o pai de Francyálisson. “O curso de ormação de multiplicadores ele me abriu um horizonte, oi o que me mo-

tivou a azer Agronomia, que é o curso que tô azendo, é a área onde eu tô trabalhando

agora, trabalhando junto com o projeto AFAM, [...] já me deu um direcionamento pro-

fssional numa área que eu tenho interesse, numa área que eu me sinto à vontade e que

também que eu possa, principalmente, azer o bem em beneício daquela população”. I Fórum de Agroecologia do Maciço de Baturité2007

    C   a   p   í   t   u    l   o    4

    F   o   r   m   u

    l   a   ç   ã   o    d   e

   p   o    l   í   t   i   c

   a   s   p   ú    b    l   i   c   a   s

Desafios para o desen-volvimento de agriculturassustentáveis no semiárido

Oâmbito político foi favorável, nos últimosanos, em nível federal e estadual, com oaumento considerável de orçamentos para

a agricultura familiar. Portanto, é importante consoli-dar as novas propostas, que precisam ser assegura-das através de legislações e mudanças estruturais nasinstituições públicas, garantindo a continuidade dosprogramas governamentais, com bons resultados,recursos orçamentários para a transição agroecológi-ca, a continuação da profunda reforma da AssistênciaTécnica e Extensão Rural (ATER), já em curso, e areestruturação do ensino médio e superior segundoos princípios da Agroecologia, promovendo a visãoholística e sistêmica nas pesquisas e no ensino.

A transição agroecológica precisa ser consoli-dada através da documentação com registros dosresultados e a sistematização das experiências,tanto dos agricultores como das ONGs e de outrasentidades envolvidas no assunto. A produção par-ticipativa de registros das ações e metodologias ede levantamento de dados no monitoramento abreprecedência para a sustentabilidade das interven-ções e é também uma estratégia de mobilizaçãosocial.

Existem hoje 325 experiências agroecológicasregistradas na região do Nordeste no banco dedados na página www.agroecologiaemrede.org.br,desenvolvido em conjunto entre a Articulação Na-cional de Agroecologia (ANA) e a Associação Bra-sileira de Agroecologia (ABA) em nível nacional.Além disso, existem muitas informações sobre asexperiências, que devem ser identicadas, avalia-das e utilizadas.

Finalmente, a democratização das informaçõese dos conhecimentos é fundamental para garantir acontinuidade do processo, com a institucionalizaçãode instâncias, e com a criação e regulamentação demecanismos e instrumentos para o monitoramentodas políticas públicas. Só uma participação ativa dosagricultores na defesa dos seus direitos poderá as-segurar que os futuros governos terão que atenderàs suas demandas.

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Fórum Estadual de Agroecologia, 2009

Abertura do I Congresso Cearense deAgroecologia

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No sistema de comercialização dos produ-tos da agricultura familiar, responsável porcerca de 80% dos alimentos que chegam à

mesa das famílias no Brasil, os(as) agricultores(as)recebem pouco pelos seus produtos, submetidos aosintermediários, que facilitam as vendas nas cidades.

A organização dos(as) agricultores(as) é, nesse

sentido, um importante passo para a construção deoutro sistema de comercialização, baseado na justi-ça social e na economia popular solidária. Este ini -cia com o planejamento da produção, primeiro paragarantir a segurança alimentar da própria família,passando pela venda direta na comunidade ou feiralocal até a comercialização nos mercados orgânicosou do comércio justo em nível local e regional. Al-guns produtos são destinados a mercados nacionaise até internacionais, o que pode gerar incentivo euma base econômica para o desenvolvimento dosempreendimentos de algumas comunidades.

Neste sentido o Projeto AFAM procurou melhoraro acesso aos mercados, incentivando a construçãode feiras agroecológicas e o acesso ao Programade Aquisição de Alimentos (PAA), iniciado em 2003,e mais recentemente, da Alimentação Escolar, de2009. Os grupos produtivos passaram por proces-sos de formação para o planejamento da produçãoe a elaboração de planos de negócios ou de viabili-dade econômica de seus empreendimentos.

Uma das maiores experiências, que atingiu re-conhecimento nacional, foi a Iniciativa CaatingaCerrado, iniciada em 2006, através de um primeiroseminário para discutir a qualicação dos empreen-dimentos da agricultura familiar para os mercadosnacionais e internacionais, em Fortaleza.

É necessária a continuação desses proces-sos de formação e qualicação, para que os(as)agricultores(as) familiares agroecolgicos(as) te-nham um acesso mais direto aos mercados dife-renciados, de orgânicos e do comércio justo, ga-rantindo um retorno adequado para seus esforçosna produção de alimentos saúdaveis, sem agredir anatureza.Feirantes de Itapipoca

    C   a   p   í   t   u    l   o    5

    A   c   e   s   s   o   a

   m   e   r   c   a

    d   o   s   j   u   s   t   o   s

A comercializaçãocoletivaOs Fóruns de Agroecologia

O Projeto AFAM criou espaços para o debate demo-crático entre os diferentes atores sociais, nos proces-sos de formação ou seminários e ocinas. Um dos re-sultados foi o fortalecimento de conselhos municipais,ou mesmo a sua implementação onde não existiam.

Em 2006 iniciou-se a realização anual de fórunsregionais, como o Encontro Territorial de Agroecolo-gia (ETA), organizado pela Rede de agricultores(as)agroecológicos(as), o Cetra e a Caritas, em Itapipoca eo Fórum de Agroecologia do Maciço de Baturité, coor-denado pelo NIC, junto à Fundação Konrad Adenauer ediferentes parceiros. Em 2009 foram realizados fórunsnos três territórios de atuação, com debates sobre aspolíticas públicas, resultando numa carta aberta do

Fórum Cearense de Agroecologia com reivindicaçõespara a transição agroecológica no Estado do Ceará.

Dessa forma, cresce o número de agricultores(as)com conhecimento dos seus direitos, que interferemnas tomadas de decisões e tomam iniciativa em prol damelhoria da vida nas comunidades rurais, contribuindopara o desenvolvimento de agriculturas sustentáveis.

O Congresso Cearense de AgroecologiaO I Congresso Cearense de Agroecologia (CCA) foi

realizado em 2008, no Centro de Ciências Agrárias daUniversidade Federal do Ceará (CCA/UFC), Campus doPici, em Fortaleza. Tendo como exemplo o CongressoBrasileiro de Agroecologia, realizado pela AssociaçãoBrasileira de Agroecologia (ABA) desde 2003, o ProjetoAFAM incentivou a construção do CCA na sua parceriacom o CCA/UFC, contando com o apoio da ABA, daEmbrapa Agroindústria Tropical, do Grupo Agroecológi-co da UFC, do Banco do Nordeste e outras instituiçõesgovernamentais e organizações não governamentais.O I CCA teve a participação de mais de 750 pessoas,

entre estes 200 agricultores, que contribuíram com assuas experiências nos painéis.

O evento mostrou a demanda de consolidar aAgroecologia como ciência dentro da Universidade ede políticas públicas para a transição agroecológica.Em 2010 foi realizado o II CCA, em Juazeiro do Norte,contando com o apoio do Campus do Cariri da UFC.Através desses Congressos, o Ceará se habilitou para arealização do VII Congresso Brasileiro de Agroecologia,em 2011, em Fortaleza, trazendo este evento pela pri-meira vez para a região do Nordeste. Dessa forma, oprocesso terá sua continuidade, consolidando cada vezmais a Agroecologia como ciência inovadora e interdis-ciplinar, na sua construção de conhecimentos entre aacademia e os saberes tradicionais de forma holística.

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 A construção das  feiras agroecológicas 

As feiras são um dos espaços mais antigos decompra e venda que se tem registro na história e éonde podem ser encontrados os produtos caracte-rísticos de cada região com suas manifestações cul-turais e econômicas. No Ceará, as primeiras feirasagroecológicas iniciaram no Crato, contando como apoio da Associação Cristã de Base (ACB), e emMauriti, em 2005.

Em Itapipoca, a Feira Agroecológica e Solidá-ria iniciou, em dezembro de 2005, a partir de umcurso de multiplicadores em Agroecologia, realizado

pelo Centro de Estudos do Trabalho e de Assesso-ria ao Trabalhador (CETRA), que deu origem tam-bém à Rede de Agricultores(as) Agroecológicos(as)e Solidários(as), que está realizando a feira quinze-nalmente na quarta-feira. A Rede iniciou em julho2009 a Feira Agroecológica e Solidária do Trairi e,em 2010, foi inaugurada a Feira Agroecológica e So-lidária do Tururu.

A Feira da Agricultura Familiar Agroecológica emApuiarés iniciou em setembro de 2009, a partir deum curso realizado pelo Projeto AFAM, o InstitutoSesemar, ADEL, STTR e a Prefeitura.

Em Capistrano, a Prefeitura, através da Secre-taria de Agricultura, mantém a Feira da AgriculturaFamiliar, realizada todas as sextas feiras, contandocom a participação de 30 agricultores(as) familiaresde várias comunidades. Dentre eles, participam ascomunidades de Chapada, Iú e Cajuais, que foramapoiadas pelo Projeto AFAM.

E em outubro de 2010 foi inaugurada a Feira

Agroecológica de Barreira, uma iniciativa do Núcleode Iniciativas Comunitárias (NIC) e da PrefeituraMunicipal de Barreira (Secretaria do Meio Ambien-te), contando com o apoio do Projeto AFAM e doServiço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Em-presas do Ceará (SEBRAE-CE).

Outras feiras estão em fase de construção, comoem Umirim, Pentecoste e Tejuçuoca, e o exemplodas feiras agroecológicas bem sucedidas certamen-te será um incentivo para o surgimento de maisfeiras, possibilitando a venda direta de produtor(a)para consumidores, fornecendo alimentos saudáveise frescos, mudando os hábitos e revitalizando a cul-tura das feiras livres.

 Os horticultores de Cajuais: a venda para o mercado institucional 

A comunidade de Cajuais é localizada na Serrado município Capistrano, Território Maciço de Batu-rité, no Ceará.

As 16 famílias organizadas na Associação dosPequenos Produtores da Comunidade de Cajuais sãoconhecidas em Capistrano pela produção de hortali-ças, que iniciou em 1995, quando Maria Isa de Frei-tas Viana começou o cultivo de verduras na zona do “baixo”, comunidade Cajuais. Naquela época as cul-turas dominantes na comunidade eram milho, feijãoe mandioca junto à criação de ovinos e caprinos.Outras pessoas da comunidade se inseriram na ati-vidade produtiva de hortaliças e em pouco tempo vi-raram fornecedores(as) de cheiro verde nas cidadesdas redondezas.

Em 2007 teve a participação da liderança co-munitária Manoel Freitas no curso de Agentes Mul-tiplicadores em Agroecologia, realizado pelo ProjetoAFAM, em parceria com o Núcleo de Iniciativas Co-munitárias (NIC). Nesta época iniciou um processode conscientização sobre a importância da d iversi-cação das culturas. Assim foram introduzidos outrosprodutos, como alface, repolho branco e roxo, cou-ve, cenoura, tomate, pimentão e pimenta de cheiro.Também são experimentadas culturas como couve--or e berinjela, e testadas novas variedades de to-mate mais resistentes às “pragas” no inverno. Alémdas hortaliças são produzidos frutos como mamão,banana, caju, maracujá e melancia.

Através do Projeto São José, da Secretária doDesenvolvimento Agrário (SDA), do Governo do Es-tado, a Associação conseguiu recursos para instalar

um quintal produtivo comunitário, com sistema deirrigação, galinheiro, composteiras e viveiros.

No m de 2009 a Prefeitura iniciou a Feira daAgricultura Familiar em Capistrano, principalmentepara a venda dos produtos de Cajuais. Além disso, ogrupo está vendendo de porta em porta, nas casase restaurantes das cidades de Capistrano, Carqueja,Baturité, Palmatória, Itapiúna e Aracoiaba.

Entretanto, a maior parte da produção é hojedestinada ao mercado institucional, através da ven-da no PAA para 12 escolas, dez creches e um HospitalRegional de Capistrano. Os(as) hortifruticultores(as)encontraram na Prefeitura uma cliente e o Programade Aquisição de Alimentos (PAA) garante um merca-do para os produtos agroecológicos.

“A eira era um sonho nosso de ter umespaço próprio para a comercializaçãodos nossos produtos no município,que estávamos levando para eiras emoutras localidades.”Manuel de Freitas, Presidente da

 Associação dos Pequenos Produtores daComunidade de Cajuais

Feira da Agricultura Familiarde Capistrano -Ce

Feira da Agricultura FamiliarAgroecológica de Apuiarés - Ce

Feirantes de Pentecostes

Quintal produtivo dacomunidade de Cajuais

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 Caatinga Cerrado Comunidades Ecoprodutivas 

A iniciativa nasceu do desao de qualicar os em-preendimentos da agricultura familiar para participa-rem em feiras nacionais e internacionais. Em 2006foi realizado um seminário em Fortaleza (CE) comessa nalidade, do qual participaram 31 associaçõese cooperativas, com suas redes e as organizaçõesgovernamentais e não-governamentais de apoio.

Nesse seminário surgiu a oportunidade de par-ticipar coletivamente da BioFach/ExpoSustentatAmérica Latina – uma feira internacional de produ-tos orgânicos realizada anualmente em São Paulo.

Assim surgiu a Sala Nordeste & Cerrado como espa-ço de apresentação dos produtos da biodiversidadedos biomas dessa região, contando com a parceriado GTZ. Em 2007 foi realizada a 2ª edição da SalaNordeste & Cerrado, dessa vez contando com 150empreendimentos representados por 15 redes e ar-ticulações que, direta e indiretamente, beneciavam17 mil famílias de 14 estados do Brasil.

Em 2008 foi realizada uma ocina de planeja-mento participativo contando com representantesdas instituições promotoras e apoiadoras da SalaNordeste & Cerrado e 20 redes e articulações dosbiomas Caatinga e Cerrado. Nesse encontro foi re-alizada avaliação e planejamento de atividades, enasceu a iniciativa Caatinga Cerrado – ComunidadesEcoprodutivas como espaço de articulação das redese empreendimentos da agricultura familiar para apromoção e comercialização de produtos da socio-biodiversidade desses dois biomas. Ela tem o obje-tivo de promover o aumento do acesso a mercadosnacionais e internacionais dos empreendimentos

que comercializam produtos da sociobiodiversidadeda Caatinga e do Cerrado.

Para o alcance de seu objetivo, a Caatinga Cer-rado se propõe a atuar em quatro focos:

• Articulação, visando promover o acesso dos em-preendimentos a serviços, parcerias e recursos quepotencializem os esforços de comercialização dosprodutos da sociobiodiversidade.

•  Comunicação, através de mecanismos de co-municação, gestão de informações e marketing quepromovam os produtos da sociobiodiversidade juntoaos mercados.

• Desenvolvimento de capacidades, com o in-tuito de fortalecer e aperfeiçoar a capacidade dos

empreendimentos de comercializar produtos da so-ciobiodiversidade.

• Acesso a mercados, por meio do desenvolvi-mento e implementação de estratégias de comer-cialização que aumentem o acesso dos empreendi-mentos e das redes aos mercados.

Atualmente, a Caatinga Cerrado atua com umuniverso de mais de 20 mil famílias, representadaspor cerca de 200 empreendimentos e 20 redes de 14Estados brasileiros, além de ter parceiros e apoiado-res do Governo Federal, da Cooperação Alemã e deOrganizações Não-Governamentais.

Em 2008 e 2009 foi realizada a Sala – agorachamada “Caatinga Cerrado” - na ExpoSustentat,em São Paulo. Os empreendimentos, que fazem

parte da Caatinga Cerrado, participam também daFeira Nacional da Agricultura Familiar, do Salão deTurismo, da BioBrazilFair e outras feiras comerciais.

Em 2010 alguns dos empreendimentos participa-ram da Sala da Sociobiodiversidade, além disso, é de-senvolvido o Projeto Nutre-Alimentação Escolar no Nor-deste, e uma parceria com as empresas Abis e Atriumpara a produção e venda de frutos tropicais dos biomas.

Por último foi criada a Associação Brasileira daAgricultura Familiar Orgânica, Agroecológica e Agro-extrativista (Abrabio), em dezembro 2010, que reúne51 empreendimentos da agricultura familiar de todasas regiões do país, contando com o apoio do MDA.Fonte e contato:www.caatingacerrado.com.br

 

“Sou consultor pelas entidades apoiadorasda ACB. Representamos na ACB 120 agricul-

tores amiliares de Barreira. Nossa participa-ção aqui é uma qualicação maior do nossotrabalho, visibilidade maior dos produtos ecomercialização no mercado externo”.

Iran Pereira,Associação Comunitária de Bar-

reira (ACB) – Ceará

Sala Nordeste e Cerrado 2006 naBioFach_ExpoSustentat América Latina

Sala Nordeste e Cerrado –Comunidades ecoprodutivas 2007

Ocina em Brasíllia 2008

Sala Caatinga Cerrado 2008

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Acerticação participativa surgiu no Brasilcomo uma alternativa para a agriculturafamiliar que não se adéqua aos procedi-

mentos da certicação convencional. Experiênciasexistem hoje em vários países do mundo, mas o Bra-sil foi um dos pioneiros a incluir a opção do SistemaParticipativo de Garantia (SPG) na legislação, queregulamenta o mercado orgânico, dentro do Sistema

Brasileiro de Avaliação da Conformidade Orgânica.A legislação, aprovada em 2003, entrou em vi-

gor no m de 2010 e coloca como desao aos agri-cultores agroecológicos apropriar-se dos critérios eprocedimentos para a certicação dos seus produ-tos, trabalhando junto aos consumidores e assistên-cia técnica/extensão.

O Projeto AFAM levantou a discussão desde oseu início, concluindo este processo com a fundaçãoda Associação da Rede Cearense de Agroecologia,em fase de registro como Organismo Participativode Avaliação da Conformidade (OPAC) no SistemaNacional. Esta entidade, que integra 12 organiza-ções de assistência técnica rural e produtores(as)de sete regiões do Ceará, estará habilitada para re-alizar a certicação participativa, atendendo às exi-gências legais e burocráticas. A nova tarefa traz aoportunidade de organizar e fortalecer o trabalhoem rede, num processo de construção de conançamútua entre produtores e consumidores.

A certicação em rede pode incentivar processosde aprendizagem e de construção do conhecimentoagroecológico baseado na troca de experiências enum controle social ecaz de forma participativa.Assim, os agricultores poderão ganhar muito alémdo selo do certicado, melhorando sua organizaçãoe produção, comercializando de forma coletiva.

Existem algumas experiências no Ceará, en-tre estas, duas iniciadas pelos parceiros do ProjetoAFAM, o Núcleo de Iniciativas Comunitárias (NIC),que está desde 2007 acompanhando a AssociaçãoComunitária de Barreira (ACB) no processo de certi-cação em grupo da castanha de caju, e o InstitutoSesemar, que está preparando apicultores de muni-cípios do Vale Curu e Aracatiaçu para a certicaçãono Sistema Participativo de Garantia (SPG).

 A Experiência da Associação Comunitária de Barreira(ACB)/PA-Rural 

A cajucultura tem no Nordeste relevante im-portância socioeconômica com 742.222 hectares,onde predominam áreas da agricultura familiar.No Ceará destaca-se a Associação Comunitária deBarreira – PA Rural entre os grupos organizadosda agricultura familiar que produzem amêndoasde castanhas de caju. A ACB-PA Rural trabalhadesde 1989 na organização de cajucultores fami-liares no Município de Barreira, com mais de 20mini fábricas familiares associadas nas comuni-

dades e uma central de beneciamento na sedemunicipal.

Em 2007 formou-se, através da iniciativa doProjeto AFAM, junto a um cooperante do Servi-ço Alemão de Cooperação Técnica e Social (DED),um grupo de apoio à ACB-PA Rural, composto porinstituições como a Embrapa Agroindústria Tro-pical, Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pe-quenas Empresas do Ceará (SEBRAE), FundaçãoNúcleo de Tecnologia Industrial (NUTEC), Núcleode Iniciativas Comunitárias (NIC) e o Banco doNordeste.

Junto aos parceiros foi desenvolvido o Projeto “Quali ficação da cajucultura famil iar para acessoa mercados diferenciados”, tendo como um dosobjetivos a certificação de grupos de agricultoresfamiliares na produção orgânica, além da melho-ria da qualidade da amêndoa, visando garantiro acesso dos produtos aos mercados nacional einternacional.

O processo de certicação orgânica foi cons-truído de forma participativa em grupo, através deum processo de formação em Agroecologia, ma-nejo ecológico e boas práticas de fabricação, comdiagnósticos da produção e do beneciamento, in-cluindo a melhoria das mini-fábricas. Após análisecoletiva de várias certicadoras foi escolhida umacerticadora, que certicou um primeiro grupo de39 cajucultores, em 2009.

Um dos desaos foi a construção do Sistemade Controle Interno. O Manual do Sistema de Con-trole Interno determina as ações individuais e degrupo no manejo da propriedade rural e precisamser registradas pelos(as) produtores(as) todas asinformações necessárias para viabilizar a inspe-

Visita de inspeção da IMO Controlem Barreira - Ce

Minifábrica associada à ACB em Barreira

   C   a   p   í   t   u   l   o   6

    C   e   r   t   i    f   i   c   a   ç   ã   o

   p   a   r   t   i   c

   i   p   a   t   i   v   a

Sistema Participativode Garantia

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ntral de Beneciamento da ACB_PA-Rural

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ção interna pelos técnicos e externa pela certica-dora. Também foi necessário o geoprocessamentode todas as propriedades para o plano de conver-são e manejo.

Em paralelo a esse processo foi realizado umestudo de mercados para a cajucultura para os mer-cados nacional e internacional, viabilizado pela Coo-peração Técnica Alemã (GTZ).

Em junho de 2010 o NIC teve aprovado pelo MDAo Projeto “Preparação de grupos da cajucultura fa-miliar de Barreira para a certicação orgânica”, quetem por objetivo a preparação de 300 agricultorespara a certicação orgânica, garantindo acompa-nhamento técnico e formação no biênio 2011/2012.

Participação em Feirasinternacionais e reconhecimentos

A ACB participou da BioFach/ExpoSustentatAmérica Latina em São Paulo, na Sala CaatingaCerrado (2007, 2008 e 2009) e na Sala da Socio -biodiversidade (2010). Também participou da Fei-ra Nacional da Agricultura Familiar (2007 a 2009),do Salone Del Gusto – Terra Madre em Turim/Itália(2008), da BioBrazil Fair (2009) e do V Salão deTurismo (2010). Em 2009 foi nalista do Prêmio deinovação tecnológica (INOVA).

 A Experiência da certificação participativa dos apicultores  no Vale do Curu e Aracatiaçu 

Os apicultores participaram de um processo deformação sobre os mecanismos de controle paracerticação participativa, garantindo a procedênciados produtos a partir das normas brasileiras, orien-

tando sobre a importância da certicação orgânica,a construção do Plano de Manejo Orgânico e orien-tações técnicas para garantir a qualidade orgânicados produtos obtidos a partir da criação de abelhas.

Também foi realizado um intercâmbio de expe-riência com a Rede Xique-Xique, em Mossoró, RioGrande do Norte, que está construindo um SistemaParticipativo de Garantia. Dessa forma, os apiculto-res estão preparados para serem certicados a par-tir da Associação da Rede Cearense de Agroecologia(ARCA) que realizará a certicação participativa noCeará, garantido a procedência e segurança para osconsumidores da qualidade orgânica de produtosque respeitam e valorizam a saúde, o meio ambien-te e as relações de trabalho justas no meio rural.

 A Construção da Associação da Rede  Cearense de Agroecologia (ARCA) 

No m de 2009, o Projeto AFAM, junto ao Mi-nistério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento(MAPA) e diferentes parceiros, realizou o seminá-rio estadual Regulamentação do Mercado Orgânico:Oportunidades e Desaos para a Agricultura Fami-liar, em Fortaleza, onde foi apresentada e discutidaa legislação brasileira que regulamenta o mercadoorgânico e entrará em vigor a partir de 2011.

Como encaminhamento foi constituído um gru-po de trabalho para a construção de um SistemaParticipativo de Garantia no Ceará, que deu o ponto

de partida para um processo de discussão, com arealização de quatro ocinas regionais. Em 22 de junho passado, este processo levou à realização deum Encontro Estadual, onde foi fundada a Associa-ção da Rede Cearense de Agroecologia (ARCA), como objetivo de promover, divulgar e contribuir para ofortalecimento da Agricultura Familiar Agroecológicano Estado do Ceará.

A Rede foi formada por agricultores(as) agroe-cológicos(as), entidades de assistência técnica e con-sumidores, que juntos realizam os procedimentospara prover aos produtores aliados o selo nacionalda produção orgânica do Sistema Brasileiro de Ava-liação da Conformidade Orgânica (SISORG). ComoOrganismo Participação de Avaliação da Conformida-de (OPAC) constitui o Sistema Participativo de Ga-rantia (SPG) para a certicação participativa em rededos(das) agricultores (as) familiares agroecológicos(as), conforme previsto pela legislação brasileira queregulamenta o mercado de produtos orgânicos.

A ARCA é construída de forma participativa de

baixo para cima, contando com as suas bases nasassociações e cooperativas, que formam os núcle-os locais e participam de conselhos municipais eregionais. O Conselho Estadual é composto por re-presentantes de produtores(as) e das entidades deassessoria técnica de cada região, e este elege umacoordenação, composta por produtores(as). Atual-mente, a ARCA está em fase de registro como OPACe conta com um primeiro projeto aprovado paraa certicação participativa de 300 agricultores(as)em seis regiões do Ceará. Como desaos cam: oregistro da ARCA no Sistema Nacional de ProdutosOrgânicos; a formação de técnicos; a certicaçãodos(as) produtores(as) e o aumento de sócios esua participação efetiva.

esta do Mel no Riacho do Paulo, Apuiarés

Fórum dos Apicultores em Pentecoste

Assembléia de constituição da ARCA

Ocina de SPG do Maciço de Baturité

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O que é um produto orgânico?Para ser considerado orgânico, o produto tem

que ser produzido em um ambiente de produção or-gânica, onde se utiliza como base do processo pro-dutivo os princípios e práticas agroecológicas quecontemplam o uso responsável do solo, da água, doar e dos demais recursos naturais, respeitando asrelações sociais e culturais. Na agricultura orgânicanão é permitido o uso de substâncias que coloquemem risco a saúde humana e o meio ambiente. Nãosão utilizados fertilizantes sintéticos solúveis, agro-tóxicos e transgênicos.

O que é certifcação orgânica?A certicação orgânica é um processo através

do qual se garante que a produção e o processa-

mento de produtos de origem animal e vegetal obe-deçam aos critérios do manejo orgânico. Isso sig-nica garantir para os consumidores e a sociedadeem geral a origem (procedência) de produtos e orespeito às regras estabelecidas pela legislação bra-sileira da produção orgânica. Estas regras abrangemnão somente o processo produtivo, mas também orespeito ao meio ambiente e às relações de trabalhono campo, estabelecendo relações justas e de sus-tentabilidade econômica, social e ambiental.

egiões representadas na ARCA:ales Curu e Aracatiaçu

Maciço de Baturitéertão Central

Centro-Sulegião Norte

biapabaegião Metropolitana de Fortaleza

ntidades parceiras da ARCA:Agência de Desenvolvimento Econômi-

Local (ADEL)Associação para o Desenvolvimento

Agricultura Orgânica (ADAO)Associação dos Produtores de Orgâni-

s da Ibiapaba (APOI)Associação Alternativa TerrazulCAPACIT (NÃO CONSEGUI ACHAR AADUÇÃO DA SIGLA)undação Centro de Ecologia e Inte-

ação Social (CIS)undação CEPEMA

nstituto de Ecologia Social Carnaúbanstituto dos Jovens Rurais de Quixera-obim (JRQ)nstituto Rio Jaguaribenstituto SESEMARNúcleo de Iniciativas ComunitáriasIC)

   F  o   t  o  :   A  n  n  a

   B  o   h  n

    C   a   p   í   t   u    l   o    7

    S   i   s   t   e   m

   a   t   i   z   a   ç   ã   o ,

   m   o   n   i   t

   o   r   a   m   e   n   t   o   e   a   v   a    l   i   a   ç   ã   o A construção

participativa doconhecimento

OProjeto AFAM desenvolveu uma metodo-logia de sistematização, monitoramento eavaliação de uma forma que seja útil para

a replicação da experiência adaptada ao contexto.

Todo projeto é uma invenção institucional e ex-pressa um conjunto de crenças, de princípios e devalores próprios de quem o concebeu e nada garanteque a forma de intervenção que o agente idealizadoradotou vai atender os objetivos ao interferir na rea-lidade das pessoas e de sistemas socioeconômicos epolíticos. Portanto, o registro sistemático das açõespermite vericar se as ações são ecazes em seuspropósitos, atingindo satisfatoriamente as metas e osresultados previstos. Estes registros gerados no pro-cesso permitem o monitoramento, que tem como ob- jetivo avaliar os resultados, conforme os indicadores eas metas estabelecidos inicialmente, permitindo me-didas para ajustes e realinhamentos das ações comvistas ao alcance dos resultados previstos, se for ne-cessário. Este processo é uma oportunidade de apren-dizagem coletiva, no caso dos agricultores envolvidos,as entidades parceiras co-executoras e nanciadores.

A sistematização do Projeto AFAM foi realizadade forma participativa, com a realização de:• Uma Ocina Estadual de Construção Participativado Conhecimento Agroecológico• Três Encontros Regionais de Sistematização daExperiência dos Agentes Multiplicadores• Construção participativa de indicadores• Elaboração do questionário da pesquisa da transi-ção agroecológica de forma partilhada (equipe téc-nica e parceiros)• Levantamento de dados por meio da aplicação dequestionários a 105 agricultores agentes multiplica-dores agroecológicos• Capacitação de dez jovens para atuarem comopesquisadores no levantamento de dados• Denição das estratégias de pesquisa com partilhadas responsabilidades entre a equipe técnica res-ponsável, coordenação executiva do projeto e agen-tes parceiros• Entrevistas semi-estruturadas

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Participantes da ocina de sistematizaçãono CEAGRO de Barreira

“Uma evolução e tanto. Uma com-paração do hoje com o ontem, oque a gente ez há três, quatro me-

ses para o plano que a gente ezhoje. O que a gente ala é algo quese perde, o que se escreve é docu-mento. Tudo o que oi colocadocomo proposta pelos outros podeser realizado por outros do grupoem sua própria comunidade”.

Francisca Gilvânia de Oliveira Bezer-

ra, Comunidade de Patos, Quixera-

mobim, Sertão Central (CE)

cina de Sistematização em Barreira

A Ofcina Estadual de Construção Participa-tiva do Conhecimento Agroecológico foi realizadaem agosto de 2009, contando com a participação de30 agentes multiplicadores, representantes dos trêsterritórios de atuação do Projeto AFAM no Ceará. Osobjetivos foram sistematizar as experiências mais sig-nicativas, vivenciadas pelos(as) agricultores(as) nassuas comunidades e denir e validar participativamen-te os indicadores de transição agroecológica.

A realização desses trabalhos foi um desao porquenormalmente o trabalho de registro e sistematização éprática da equipe técnica e não do “público alvo”. A pro-posta era inovadora e de difícil compreensão tambémpelos (as) agricultores (as), que se empenharam e pro-duziram, ao nal, os resultados desejados.

Foi, portanto, um exercício em conjunto, tantopara os(as) agricultores(as), quanto para os técnicos,e que deveria ser realizado já na elaboração de pro- jetos, permitindo a construção de objetivos, metas eresultados esperados, além dos indicadores. Mas sa-bemos que poucos editais deixam um prazo adequadopara processos participativos, que levam algum tem-po. Os indicadores, nesse caso, foram construídos nasdimensões ecológicas, econômicas e políticas, sendo adimensão social transversal.

Outra dinâmica marcante do processo foram os En-contros Regionais de Sistematização da Experiência dosAgentes Multiplicadores. Foram realizados dois encon-tros no Sertão Central; um em julho de 2009, no Assen-tamento Boa Vista, Quixadá; e um segundo em maiode 2010, em Lajes, Quixeramobim; e um encontro nosVales Curu e Aracatiaçu, em junho de 2010, na comuni -dade Cipó, em Pentecoste. Estes encontros regionais ti-veram como nalidade o intercâmbio e a sistematizaçãode experiências dos agentes multiplicadores em Agroe-cologia para fortalecer os agentes na sua atuação, comotambém o trabalho em rede.

A construção participativa dosindicadores de transição agroecológica

Na Ocina de Construção participativa do Conhe-cimento Agroecológico foi trabalhada a denição deindicadores nas três dimensões: sociopolítica, socioe-cológica e socioeconômica. Ficaram denidos três es-tágios para a transição agroecológica:

Estado inicial/marco zero, momento de dispersão; ouseja, repetições mecânicas de práticas não reetidasEstágio 1: Prática convencionalEstágio 2: Adoção de práticas agroecológicas de formairreversível, sinalizando um “ponto de não retorno” Estágio 3: Apropriação de conhecimentos com re-desenho dos sistemas produtivos com adequação daprodução às normas da certicação orgânica

Os três aspectos fundamentais que orientam adenição de marcos entre um estágio e outro são: usode agrotóxicos e de outros insumos externos, práticasda biodiversidade e práticas de manejo de solo.

Este modelo de mensuração dos estágios datransição agroecológica tem como princípio a cria-ção de tipos de estágios, tendo cada momento umconjunto de características. Essa estrutura foi criadapara facilitar a organização da reexão acerca daspráticas, considerando os três aspectos identica-dos acima, com a nalidade de claricar a deniçãodos marcos reais dessa transição, numa espécie dearranjo modelador da realidade, denindo onde co-meça e onde termina cada estágio.

ESTÁGIO 1: prática convencional

PRODUTIVA ORGANIZATIVA

 ● Queima de roça e mato para limpar ● Desmatamento da Caatinga ● Aplicação de herbicidas e praguicidas ● Não se realiza fertilização nem adubação ● Sistemas produtivos pouco diversicados, integra-

dos por culturas tradicionais, como milho, feijão emandioca, e a criação de cabras e ovelhas ● Compra e uso de sementes hibridas e/ou transgê-

nicas ● Não se realiza estocagem de materiais de consu-

mo humano nem insumos produtivos (água, semen-tes, alimentos, forragens)

 ● Não acredita e nem estabelece vínculo com as-sociação comunitária nem com cooperativa local ● Manifesta resistência aos novos conhecimentos ● Comercialização individual por meio de atra-

vessadores e semelhantes ● Baixa diversicação produtiva ● Jovens não percebem perspectiva de sustenta-

bilidade na agricultura familiar ● Mulheres não participam de atividades de for-

mações e intercâmbios ● Mulheres não assumem lugar de autoridade fa-

miliar, embora sejam colaboradoras dos homensna produção

ESTÁGIO 2: implica a adoção pelo agricultor(a) de certas práticas importantes daAgroecologia, com sinais de não retorno às práticas convencionais

PRODUTIVA ORGANIZATIVA

 ● Aumento da diversicação produtiva no sistemade pelo menos 50% no número de culturas e cria -ções ● Melhoramento e/ou manutenção das propriedades

físico-químicas do solo por meio de adubação comesterco e/ou composto ● Não tem aplicação de fertilizantes químicos nem

herbicidas ● Uso da queima só eventualmente para limpar o

roçado ● Manutenção e/ou uso racional das áreas com

mata nativa ● Aplicação de defensivos naturais para combater

pragas e doenças ● Redução de 70% na aplicação de praguicidas

industriais ● Uso de reservas forrageiras tipo silagem ou feno ● Uso de estruturas de captação e armazenamento

de água para beber e/ou produzir ● Estocagem de sementes crioulas e de outros

materiais de propagação adaptados à localidade,incluindo-se as trocas desses materiais entre asfamílias agricultoras e entre comunidades rurais.

 ● Participação ativa do agricultor familiar naassociação comunitária, em grupos temáticos, nacooperativa local e/ou em redes de agricultores ● Abertura à concepção agroecológica, mas apre-

senta limites na postura, com prática individual ● Comercialização da produção em espaços cole-tivos e solidários, tipo as feiras agroecológicas ● Aumento da diversicação dos produtos comer-

cializados ● Diversicação da cesta básica da família agri-

cultora, contendo grande quantidade de produtosoriundos da própria produção ● Criação de redes de comercialização solidária

locais ● Aumento do número de jovens participando de

processos formativos ● Jovens atuam na produção familiar, aplicando

práticas agroecológicas ● Participação da mulher agricultora na associa-

ção comunitária, e/ou em redes ● A mulher agricultora gera sua própria renda ● A mulher agricultora participa da tomada de

decisões relativas à gestão do sistema produtivofamiliar

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Apresentação dos resultados obtidos naocina de sistematização, realizada em

Barreira-Ce

O ESTÁGIO 3: refere-se aos sistemas produtivos agroecológicos que se enquadram nasInstruções Normativas do Decreto No. 6323/07 da Lei de Orgânicos No. 10.831/03 e/ou

aqueles com certifcação orgânica

Sistema produtivo comPlano de Manejo Orgânico ORGANIZATIVA

 ● Histórico de utilização da área ● Manutenção ou incremento da biodiversidade ● Manejo dos resíduos ● Conservação do solo e da água ● Manejos da produção vegetal ● Manejos da produção animal ● Procedimentos para pós-produção, envasamen-

to, armazenamento, processamento, transporte ecomercialização

 ● Medidas para prevenção e mitigação de riscosde contaminação externa ● Procedimentos que contemplem a aplicação

das boas práticas de produção ● As inter-relações ambientais, econômicas e

sociais ● A ocupação da unidade de produção conside-

rando os aspectos ambientais, geomorfológicos,de eciências energética e bioclimatológicos ● Ações que visem evitar contaminações internas

e externas

 ● Participação ativa do(a) agricultor(a) familiar naassociação comunitária, em grupos temáticos, nacooperativa local e/ou em redes de agricultores(as) ● Comercialização da produção em espaços coleti-

vos e solidários ● A comercialização dos produtos agroecológicos/

orgânicos nas feiras agroecológicas se realiza pormeio do controle social na venda direta sem certi-cação ● Jovens atuando como agentes multiplicadores,

sensibilizando famílias na comunidade sobre prá-ticas agroecológicas, inventando e desenvolvendometodologias e dinâmicas criativas ● Aumento número de jovens representando asso-

ciações em conselhos e redes locais ● Qualicação da participação da juventude nas

associações comunitárias e de produtores, desen-volvendo cargos importantes na gestão dos equipa-mentos ● Mulheres pautando igualdade nas relações de gê-

nero, nos compromissos domésticos, intrafamiliarese político/comunitários ● Aumento do número de mulheres nos quadros

associativos dos equipamentos comunitários ● Mulheres assumindo cargos administrativos nos

equipamentos comunitários e representando estesem conselhos e redes locais ● Mulheres politicamente engajadas e participando

nos processos de tomadas de decisão

Estes indicadores se mostraram adequados parauma avaliação do projeto pelos participantes, comformulação de posicionamentos subjetivos acerca doprocesso de seu desenvolvimento. Constatou-se queos multiplicadores não têm muita prática de registro epor isso a memória do que foi feito é importante paraa percepção das mudanças e dos limites individuais einstitucionais, elementos fundamentais para geraçãode sentidos coletivos e para promoção da motivaçãode continuidade ao processo. Nessa avaliação, elesperceberam a relevância do planejamento, destacan-do que boa parte do que foi planejado foi contemplado,que algumas ações planejadas não foram realizadas equais as pendências em aberto do planejamento.

No conjunto, essa avaliação desperta nos agen-tes envolvidos uma autoavaliação dos seus papéis edo grau de seus desempenhos no processo. Os re-sultados analíticos dessa leitura comunitária foramsubsídios para o momento seguinte do processo demonitoramento do projeto AFAM, qual seja, a elabo-ração do questionário de coleta da pesquisa diretaamostral, focado na conversão da agricultura con-vencional para agroecológica.

DIMENSÕES Marco zero Estágio 1 Estágio 2 Estágio 3

Socioeconômica Estado dedispersão

Fazer socialseguindo asnormas erecomendaçõesociais

Introdução deinovações nosprocessos deprodução e decomercialização

Redesenhocontextualizadodos sistemasprodutivos e decomercialização

Socioecológica Manejo nãoreetivo

Fazer socialseguindo asnormas erecomendaçõesociaisRedução eracionalização douso de insumosquimicos

Introdução deinovações nosprocessos deproduçãoSubstituiçãode insumos

Manejo debiodiversidade eredesenhocontextualizadodos sistemasprodutivos

Sociopolítica Prática

espontânea,não reetida

Resistência

aos novosconhecimentos

Abertura à

concepçãoagroecológica,mas limite napostura=Apropriaçãode manejoecológico comprática individual

Posicionamentos

contextualizados,politicamenteengajados e visãocoletivaReapropriaçãoadaptada ereconstrução deconhecimentos comvisão coletivaSustentabilidadeda Agroecologia,ecossistemas e deprocessosagroecológicos

Níveis fundamentais no processo de transiçãopara agroecossistemas mais sustentáveis:

1. Transição na orientação dos valores, naética que orienta as decisões de produção, consumoe organização social

2. Focado mais estritamente na agricultura, dizrespeito ao incremento da eciência das práticasconvencionais para reduzir o uso de insumosexternos caros, escassos e daninhos ao meio am-

biente3. Substituição de insumos e práticas conven-

cionais por práticas alternativas. A meta seria asubstituição de insumos e práticas intensivas emcapital, contaminantes e degradadoras do meio am-biente por outras mais benignas sob o ponto de vis-ta ecológico. Neste nível, a estrutura básica do agro-ecossistema seria pouco a lterada, podendo ocorrer,então, problemas similares aos que se vericam nossistemas convencionais

4.  Redesenho dos agroecossistemas paraque estes funcionem com base em um novo con- junto de processos ecológicos. Mais complexo, masindispensável para se alcançar sustentabilidade

GLIESSMAN (2000)

Características que um indicador deve ter:

• Ser signicativo• Ser resultado de uma noção coletiva,ruto / expressão de um valor social• Ter validade, objetividade e consistência• Ter coerência e ser sensível às mudançasno tempo e no sistema• Ser prático e claro, ácil de entender econtribuir para a participação da popula-

ção local no processo de monitoramentoe avaliação•Ser ácil de mensurar, baseado em inorma-ções acilmente disponíveis e de baixo custo• Permitir ampla participação dos atoresenvolvidos na sua denição e no monito-ramento de processo• Ter relação com outros indicadores, aci-litando a interação entre eles• Assessorar ou orientar os agricultoresnas suas práticas e ser aplicáveis para to-madas de decisões políticas• Ser embasamento técnico para sustentara reivindicação de políticas pela organizaçãodos agricultores junto aos poderes públicos

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Entregas de certicados em algunsdos cursos promovidos

pelo Projeto AFAM e parceiros

38 39

Ocina: Construção dos Indicadores

- QUANTITATIVOS -

UNIVERSO DE AGENTES

FORMADOS E AMOSTRA

DA PESQUISA

Regiões Universo Amostra

Maciço de

Baturité150 35

Sertão

Central 25 25

Vales Curu

e Aracatiaçu 45 45

TOTAL 220 105

O levantamento de dados

Para o monitoramento e a avaliação dos resulta-dos das ações, conforme os indicadores estabelecidosde forma participativa é necessário o levantamento dedados, através da aplicação de um questionário, querelaciona as perguntas e respostas aos indicadores.Para ter dados relevantes dentro do universo traba-lhado se estabelece uma porcentagem de pessoas aserem questionadas.

Para o levantamento dos dados foi elaborado umquestionário contendo 92 perguntas conforme os indi-cadores denidos para medir o processo de transiçãoagroecológica dos agentes multiplicadores. Uma dasdiculdades foi reduzir o número de questões frente àcomplexidade das temáticas e dimensões da transiçãoagroecológica e de agriculturas sustentáveis. No se-gundo momento foram capacitados dez dos agentesmultiplicadores em pesquisa social, contando com re-presentantes de todos os três territórios em questão.

Destaquemos algumas diculdades da fase de apli-cação do questionário: dimensões geográcas de cadaum dos territórios envolvidos, dicultando a mobilidadeintra e intermunicipal dos pesquisadores sociais; os dezagentes selecionados e indicados pelas entidades par-ceiras são produtores/lideranças pró-ativas em suas re-giões/municípios, colaboradores das entidades parcei-ras, com tempo escasso para se dedicarem à pesquisa;alterações nos quadros técnicos das entidades parcei-ras interferindo no quadro de pesquisadores; mudan-ças de endereço de alguns multiplicadores agroecoló-gicos. Essas diculdades têm contribuído para aditivode prazo da atividade de coleta de dados da pesquisa.

ResultadosO sistema de monitoramento produziu um acú-

mulo de conhecimento e diversas informações dentreestas pode se destacar nos 73 questionários aplicados

que: 21 (29%) expressam a visão de mulheres e 18(25%) de jovens participantes dos processos de for-mação desenvolvidos pelo AFAM.

Os indicadores socioecológicos registram 67respostas armando que os produtores formados peloprojeto AFAM estão praticando adequadamente técni-cas de manejo e conservação do solo, demonstrandopreocupação com a melhoria de sua estrutura e da in-ltração de água, adicionando matéria orgânica atra-vés dos substratos. 81% dos agentes entrevistadosdemonstram praticar tecnologias agroecológicas naprodução para prevenir ataques de insetos e doenças e93% dos entrevistados armam usar defensivos natu-rais para combater pragas na produção, o que demons-tra alto índice de apropriação de tecnologias agroeco-lógicas, caracterizando-se pelo: melhoramento e/ou

manutenção das propriedades físico-químicas do solopor meio de adubação com esterco e/ou composto.

Os(as) agricultores(as) com estas característicasestão no estágio 02 do processo de transição agroeco-lógica, uma vez que as práticas utilizadas ocasionamsimultaneamente a melhoria da estrutura e fertilida-de do solo. Esse é o momento onde o(a) agricultor(a)percebe no solo o estágio adequado para estabele-cimento das culturas utilizadas com maior produti-vidade, fato que potencializa a sua permanência naagroecologia, com sinais evidentes de não retorno àspráticas convencionais.

Na dimensão socioeconômica 83% dos agricul-tores(as) familiares entrevistados percebem uma me-lhoria na qualidade de vida da família; 90% destacam

a alimentação e a saúde da família e 46% apontamtambém aumento nos rendimentos da família. 60%dos agentes multiplicadores agroecológicos comercia-lizam suas produções, sendo que 29 vendem direta-mente na comunidade, 12 vendem coletivamente parao Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), novevendem coletivamente em feira, apenas seis vendemainda para atravessadores. Frente aos resultados es-perados pelo projeto e aos parâmetros para medir fasedo processo de transição, estão no estágio 2.

Na dimensão sociopolítica, quanto ao número de jovens da família que migraram do campo para a cida-de, encontramos um total de 138, o que dá uma médiade dois imigrantes por agente entrevistado. Ao todo27 jovens de 17 famílias já voltaram para o campo.Dentre os motivos alegados para os retornos, desta-camos: não se adaptou à zona urbana; para desen-volver ações de melhoria para a comunidade; falta deemprego; dentre outras. Estes dados indicam a neces-sidade emergencial de ações para tornar o interior doEstado atraente para a juventude rural, com políticasagrárias adaptadas para a região onde se encontra,com as suas peculiaridades ambientais, onde o pro-cesso de produção seja prazeroso e não um fardo pe-noso do manejo inadequado. Dentre essas famílias, 50armaram que as práticas agroecológicas mostram-secomo uma perspectiva para os jovens permaneceremno campo. Esta perspectiva se viabiliza, entre outrasrazões, pela promoção de capacitações e estímulos àprodução, criando oportunidades para a comercializa-ção de produtos saudáveis. A construção do conheci-mento gera melhorias na produção e mais oportunida-des de mercado de forma justa e saudável.

Quanto à participação da mulher na luta pela tran-sição da agricultura convencional em agroecológica nosúltimos quatro anos, 62 armaram, categoricamente,que a participação delas aumentou para melhor.

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Uma Vivência Agroecológica

fim

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PARCEIROS

Agência do Desenvolvimento Econômico Local – ADELSede: Rua Juscelino Kubschek, s/n, Ombreira – Pentecoste - CearáEscritório: Rua Juvenal Galeno, s/n, Benca – Fortaleza - CearáFone: (85) 9124.7403 / [email protected]

Instituto SESEMAR Rua Hildeberto Barroso, 1195 - Centro Itapipoca-CE - CEP: 62.500.000Fone: (88) [email protected]

NIC – Núcleo de Iniciativas ComunitáriasRua Maria do Carmo Oliveira, 325CEP 62.795-000 – Barreira – CearáFone: (85) [email protected]

Universidade Federal do Ceará – Centro de Ciências AgráriasAv. Mister Hull, 2977 - C.P. 12.168CEP 60.021-970 - Campus do Pici - Fortaleza - CearáFone: (85) 3366.9732 / 3366.9731 / [email protected] – www.cca.ufc.br

Fundação Konrad AdenauerEscritório Projeto AFAM - FortalezaAv. Dom Luis 176, Edicio Mercury - Mezanino CEP 60.160-230 - Aldeota - Fortaleza– CearáFone: (85) [email protected]

42

A União Européia (UE) é fruto do processo de integração, iniciadoapós a Segunda Guerra Mundial, que tem como objetivo assegurar a pazno continente europeu. Possui uma grande diversidade cultural, que estádistribuída nos seus 27 Estados-membros, os quais estão unidos sob osmesmos valores de liberdade, democracia, manutenção da paz, progressosocial e econômico, respeito à pessoa e primazia do direito sobre a força.

Entre os Estados-membros da UE há livre circulação de bens, pesso-as e capitais, graças ao esforço conjunto em alcançar políticas comuns.A introdução do Euro como moeda única em 16 Estados da União foioutro fator de unidade intra-bloco, rumo a uma maior integração econô-mica e política.

Para garantir a execução das metas almejadas e assegurar seu ple-no funcionamento, a UE conta com uma série de instituições como a Co-missão Européia, o Conselho da União Européia, o Parlamento Europeu,o Tribunal de Justiça, o Tribunal de Contas e o Banco Central Europeu.Sua estrutura é semelhante a um Estado. Porém, cabe ressaltar, a sobe-rania de cada Estado-membro é preservada.

Externamente, a UE apresenta-se como uma potência econômica ecomercial. O mercado consumidor europeu atinge aproximadamente 500milhões de habitantes. A UE é o destino mais importante para as exporta -ções do Brasil, e o maior investidor no País. A UE vem igualmente arman-do-se no cenário mundial como um importante bloco político, no momentoem que seus 27 Estados-membros falam através de uma só voz.

Em relação à cooperação com os demais países, a UE está cons -ciente dos desaos relativos aos seus objetivos de obtenção da paz eprogresso num mundo com tantas desigualdades. Por este motivo, a UEatua intensamente em projetos que buscam acelerar o desenvolvimentoeconômico, cultural e social dos povos, em todos os cantos do mundo,inclusive no Brasil.

A cooperação entre a União Européia e o Brasil possibilita a realiza-ção de vários projetos em temas prioritários como o desenvolvimentosocial, fortalecimento das relações empresariais e a proteção ambiental.Destacam-se o apoio ao Programa Piloto para Conservação das FlorestasTropicais Brasileiras (PPG7), a ajuda técnica e nanceira às populaçõesdesfavorecidas das regiões norte e nordeste e de grandes cidades brasi-leiras, projetos de desenvolvimento em ciência e tecnologia e o apoio àinternacionalização às pequenas e médias empresas brasileiras.

Para mais informações: http://europa.eu/index_pt.htm

http://www.delbra.ec.europa.eu

A União Européia

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