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KARINE RODRIGUES SEGA PROBIÓTICOS X PERIODONTIA: REVISÃO DE LITERATURA Londrina 2017

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KARINE RODRIGUES SEGA

PROBIÓTICOS X PERIODONTIA:

REVISÃO DE LITERATURA

Londrina

2017

1

KARINE ROGRIGUES SEGA

PROBIÓTICOS X PERIODONTIA:

REVISÃO DE LITERATURA

Trabalho de Conclusão de Curso

apresentado ao Departamento de

Odontologia Restauradora da

Universidade Estadual de Londrina,

como requisito parcial para obtenção

do título de Cirurgiã-Dentista.

Orientadora: Profa. Dra. Fernanda

Akemi Nakanishi Ito

Londrina

2017

2

PROBIÓTICOS X PERIODONTIA:

REVISÃO DE LITERATURA

Trabalho de Conclusão de Curso

apresentado ao Departamento de

Odontologia Restauradora da

Universidade Estadual de Londrina,

como requisito parcial para obtenção

do título de Cirurgiã-Dentista.

BANCA EXAMINADORA

________________________________

Profª. Drª. Fernanda Akemi Nakanishi

Ito

________________________________

Profª. Drª. Maria Beatriz Bergonse

Pereira Pedriali

Londrina, 19 de Janeiro de 2018.

3

AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus por me proporcionar chegar até aqui com saúde

e determinada a conquistar esse objetivo.

Agradeço aos meus pais, que sempre estiveram ao meu lado,

dando todo apoio que precisei.

Grata por cursar esses anos na Universidade Estadual de

Londrina.

Agradeço aos professores que me ensinaram muito, em especial

a minha orientadora por sua disponibilidade ao decorrer desse trabalho.

Aos meus amigos que fiz durante a faculdade, que vou levar com

muito carinho ao longo da vida.

4

SEGA, Karine Rodrigues. Probióticos x periodontia: revisão de literatura. 2017. 23 f. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Odontologia) – Universidade Estadual de Londrina, Londrina, 2017.

RESUMO

Os probióticos são microrganismos vivos que quando administrados em quantidades adequadas, conferem benefícios à saúde de quem o ingere. Os lactobacilos são conhecidos por restabelecer a microbiota intestinal, favorecendo a diminuição de patologias e sintomas que ocorrem no sistema trato gastrointestinal. Vários estudos mostram que os probióticos podem ser inseridos na Odontologia, sendo um grande avanço na área da Periodontia, como uma forma associada aos tratamentos preconizados às doenças periodontais. Nesta revisão de literatura, o objetivo é apontar como os probióticos são abordados na Odontologia, especificamente nas doenças periodontais, reduzindo os efeitos danosos causados por essas patologias. Palavras-chaves: Probióticos, Periodontia, Saúde Bucal

5

SEGA, Karine Rodrigues. Probiotics x periodontology: literature review. 2017. 23 f. Completion of course work (Undergraduate Dentistry) – State University of Londrina, Londrina, 2017.

ABSTRACT

Probiotics are living microorganisms that, when administered in adequate quantities, confer benefits to the health of those who ingest it.The genera of lactobacillis are known to restore intestinal microflora, favoring the reduction of pathological diseases and symptoms that are ocurring in the gastrointestinal tract system. Several studies show that probiotics can be inserted in denstitry, being a great advance in the area of periodontics, as a form associated to the treatments recommended for periodontal diseases. In this review article, the objective is to identify how probiotics are approched in destistry, specifically in periodontal diseases, redicuding the harmful effects caused by theses diseases.

Keywords: Probiotics, Periodontics, Oral Healthy

6

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO .................................................................................................... 7

2 REVISÃO DE LITERATURA .............................................................................. 8

2.1 PROBIÓTICOS ........................................................................................................ 8

2.2 PROBIÓTICOS NA ODONTOLOGIA ............................................................................. 10

2.3 PROBIÓTICOS NA DOENÇA PERIODONTAL ................................................................. 13

3 DISCUSSÃO ....................................................................................................... 17

4 CONCLUSÃO ..................................................................................................... 19

REFERÊNCIAS ................................................................................................... 20

7

1 INTRODUÇÃO

O termo probiótico foi criado por Kollath (1950) e posteriormente, foi

definido como microrganismos que promovem o crescimento de outros

microrganismos por Lilly e Stillwell (1965). A primeira definição aceita sobre

probióticos, dizendo que o probiótico é suplemento microbiano alimentar vivo

no qual afeta beneficamente o hospedeiro animal por melhorar seu equilíbrio

microbiano foi descrito por Fuller e colaboradores em 1989. Nos dias atuais,

segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), os probióticos são

microrganismos vivos que, quando administrados em quantidades adequadas,

conferem benefício à saúde do hospedeiro.

Os probióticos são inseridos na alimentação, por meio de iogurtes ou

outros alimentos que são derivados de leite fermentado, devido aos seus

benefícios à saúde, favorecendo a microbiota do trato gastrointestinal e em

algumas pesquisas, ainda em estudo, mostram que ao lactobacilos são

eficientes na resposta positiva em algumas doenças imunológicas ou

fisiológicas, como diarreia, hipertensão, câncer, síndrome do cólon irritado,

doenças cardiovasculares, pedra nos rins, infecções orofaríngeas, doenças e

infecções no trato urogenital, sistema imune, intolerância à lactose e

pancreatite. Alguns estudos abordam o uso dos probióticos no âmbito da

Odontologia, como alternativa de tratamento ou associados aos tratamentos já

existentes. Algumas pesquisas apontam que é eficaz em tratamentos da

cândida, halitose, cárie e periodontite (PARVEZ et al., 2006; STAMATOVA et

al., 2099; TEUGHELS et al., 2008; BONIFAIT et al.,2009).

O objetivo desta revisão de literatura é relatar como os probióticos são

administrados e utilizados como uma alternativa de tratamento para a saúde do

indivíduo, especificamente na prevenção da doença periodontal.

8

2 REVISÃO DE LITERATURA

2.1 PROBIÓTICOS

A história sobre os estudos dos probióticos vem desde a antiguidade,

onde há relatos que a longevidade de Abrãao era devido ao consumo de leite

azedo. Há descrições também que por volta de 76 A.C, o historiador romano

Plínio, recomendou a administração de produtos lácteos fermentados para

tratamento da gastroenterite. Alguns desses conhecimentos foram pioneiros

para pesquisas posteriores como o de Ilya Metchnikoff (1907), ganhador do

prêmio Nobel, que foi o primeiro pesquisador que propôs os benefícios dos

lactobacilos, ao constatar, durante seu trabalho no Instituto Pasteur em Paris,

que os búlgaros viviam mais devido ao consumo rotineiro de produtos

derivados do leite fermentado. No mesmo período, Henry Tissier, pediátrico

francês, observou que nas fezes de crianças com diarreia, estavam presentes

bactérias que poderiam ser administradas em pacientes com diarreia para

restaurar a microbiota intestinal (TEUGHELS et al., 2008; SARAF et al., 2010;

PARVEZ et al, 2006).

A primeira espécie de lactobacilos descoberta foi o Lactobacillus

acidophilus (HULL, 1984). A maioria dos microrganismos probióticos pertencem

ao gênero Lactobacillus e Bifidiobacterium (STAMATOVA et al., 2009).

A microbiota intestinal humana exerce um papel importante tanto na

saúde quanto na doença e a suplementação da dieta com probióticos e

prebióticos pode assegurar o equilíbrio dessa microbiota. Os lactobacilos

vivem como comensais inócuos no organismo, como manutenção da saúde de

forma natural, equilibrando a microbiota do hospedeiro (SHARMA et al., 2012).

Em diversas pesquisas, os resultados são satisfatórios quanto ao uso de

probióticos em desordens sistêmicas, mostrando significativamente melhora

dos casos em pacientes com diarreia, problemas intestinais, inflamação

intestinal, inadequada digestão da lactose, infecções com Helicobacter pylori,

9

infecções no trato geniturinário, estados imunodepressores, entre outras.

(BROWN, 2004; CAGLAR et al., 2005).

Para os benefícios gastrointestinais, os probióticos podem ser

combinados com os prebióticos, formando a composição dos simbióticos. Os

efeitos dos probióticos são aplicáveis independente da sua ação e via de

administração (SALAS, 2010). Os prebióticos são carboidratos não digestivos

usados como fontes de nutrientes das espécies de probióticos no intestino,

promovendo uma ação mais intensa dessas cepas. Entretanto, as pesquisas

voltadas para prebióticos são mais raros em relação aos probióticos

(STAMATOVA et al., 2009). Além de ser uma substância não digerível,

beneficiam o hospedeiro seletivamente, estimulando o crescimento e/ ou

atividade de um ou número limitado de bactérias do cólon (SALAS, 2010).

Sabendo que já existem resultados positivos no uso sistêmico dos

probióticos, é de grande importância entender os mecanismos que os mesmos

agem para chegar aos seus efeitos e resultados.

Os probióticos apresentam algumas formas de mecanismos de ação,

como: aderência e colonização do intestino; supressão do crescimento ou

ligação epitelial/invasão por bactérias patogênicas e produção de substâncias

antimicrobianas; melhorar as funções da barreira intestinal; transferir

controladamente antígenos dietéticos; estimulação da mucosa e sistema imune

(SARTOR, 2004).

Para atingir seu estado probiótico, os microrganismos devem cumprir

uma série de critérios, relacionados a segurança, efeitos funcionais e

propriedades tecnológicas (OMS, 2001). Devem apresentar as seguintes

propriedades: resistência às enzimas digestivas, adesão à superfície do

intestino, atividade contra patógenos humanos, ser anticarcinogênico,

antimutagênico, reduzir os efeitos do colesterol, estimular o sistema

imunológico, aumentar a mobilidade intestinal, manutenção da mucosa

intestinal, disponibilidade de compostos alimentares, produção de enzimas e

vitaminas. Além de não serem patogênicos, não apresentarem conexão com

bactérias diarreicas e transferir genes de resistência a antibióticos

(OUWEHAND et al., 1999).

10

2.2 PROBIÓTICOS NA ODONTOLOGIA

Os probióticos têm sido amplamente estudados por seus efeitos favoráveis

à saúde. O campo principal da pesquisa foi no trato gastrointestinal. No

entanto, nos últimos anos, os pesquisadores também têm investigado o uso

dos probióticos como alternativa de tratamento em doenças bucais, como a

cárie, candidíase, halitose e doenças periodontais (referência).

Cerca de 1% da microbiota bucal é composta por espécies de

lactobacilos podendo ser classificadas em heterofermentativa e

homofermentativa (MARSH 1999). As heterofermentativas transformam

açúcares em ácido lático, etanol e gás carbônico, como exemplo, Lactobacillus

plantarum, Lactobacillus rhamosus, Lactobacillus casei e Lactobacillus

fermentum. Já as homofermentativas transformam açúcares em ácido lático,

como exemplo, Lactobacillus salivarius (AHRNE et al., 1998; COLLOCA et al.,

2000; MARCHANT et al., 2001).

Existem diversas explicações para o mecanismo de ação dos probióticos

na cavidade bucal, ressaltando que uma característica primordial é a de aderir

e colonizar a superfície dentária. Os probióticos podem agir liberando

substâncias antimicrobianas como ácidos orgânicos, peróxido de hidrogênio e

bacteriocina, competindo com os patógenos por adesão aos sítios de ligação

da mucosa (REID et al., 2003; GUEIMONDE et al., 2006 e MEURMAN, 2005).

Os probióticos podem agir modificando o ambiente, alterando o pH ou o

potencial oxidação-redução para comprometer os patógenos, além de modificar

a resposta imune não específica, modulando a resposta imune humoral e

celular (ERICKSON et al., 2000).

Os probióticos podem agir modificando o ambiente, alterando o pH ou o

potencial oxidação-redução para comprometer os patógenos, além de modificar

a resposta imune não específica, modulando a resposta imune humoral e

celular (ERICKSON et al., 2000).

11

A cárie para se desenvolver, depende de um hospedeiro, bactérias e

nutrientes que produzem ácidos orgânicos e subsequente desmineralização

(KEYES, 1968). Assim, os probióticos devem agir aderindo às superfícies

dentárias e se unir aos microrganismos que compõem o biofilme dental, para

que haja os benefícios de limitar o dano ou prevenir a cárie. Os probióticos

podem ainda atuar como antagonistas e competir com as bactérias

cariogênicas, evitando sua proliferação. O metabolismo dos açúcares

alimentares pelos probióticos devem reduzir a produção de ácido. Sendo uma

vantagem dos alimentos lácteos em incluir os probióticos em sua composição é

a sua capacidade de neutralizar as condições ácidas (GELAIDE et al., 1991;

JENSEN et al., 1990).

A halitose é causada por vários fatores, incluindo presença de partículas

de comida, desordens metabólicas, infecções no trato respiratório, mas a causa

mais comum é o desequilíbrio da microbiota da cavidade bucal. A halitose é

resultante da ação de bactérias anaeróbicas que degradam a saliva e proteínas

alimentares que geram aminoácidos, que por sua vez são transformados em

compostos de enxofre voláteis, incluindo sulfato de hidrogênio e metanotiol

(SCULLY et al 2008). Kang e colaboradores (2006) observaram que Weissella

cibaria, reduzia níveis de enxofre voláteis produzidos por Fusobacterium

nucleatum, devido à produção de hidróxido de hidrogênio produzido por

Weissella cibaria causando inibição da Fusobacterium nucleatum. Weissella é

uma bactéria ácido lática, incluída no gênero dos Lactobacillus, sendo a

Weissella cibaria presentes em alimentos fermentados e existente em seres

humanos (BJORKROTH et al., 2002). Burton e colaboradores (2005)

analisaram que Streptococcus salivarius podem suprimir os efeitos dos sulfetos

voláteis, competindo com áreas de colonização de espécies que produzem o

sulfeto volátil.

A candidíase é a infecção fúngica mais comum da região orofaríngea.

Acredita-se que cerca de 40% a 60% das pessoas saudáveis, não

imunossuprimidas e não hospitalizadas, são hospedeiras do fungo Candida

spp. (HEARNE et al., 1996; EVERSOLE et al., 1994). Os fatores

predisponentes para a candidíase são diversos, como o uso de antibióticos de

amplo espectro, drogas imunossupressoras, agentes anticolinérgicos, próteses

12

totais, disfunções endócrinas, deficiências nutricionais, tratamento de

radioterapia, xerostomia, entre outras (HEARNE et al., 1996). O tratamento de

escolha é a administração de antifúngico, como a nistatina (NEVILLE et al.,

2009). Entretanto, já existem publicações que mostram os probióticos como

alternativa de tratamento. Elahi e colaboradores (2005), observaram a

depuração de Candida albicans na cavidade bucal de camundongos após

administração de Lactobacillus acidophilus em três diferentes grupos LAFTI

L10 (grupo A), Lactobacillus fermentum (grupo B) e um grupo placebo. Os

resultados mostraram significativamente diminuição de Candida albicans em

ambos os grupos probióticos em relação ao placebo com liberação

consideravelmente maior no grupo probiótico A em relação ao grupo probiótico

B.

Hatakka et al. (2007), foi o primeiro a realizar um estudo randomizado,

duplo-cego, controlado por placebo sobre o efeito de probióticos em Candida

albicans realizado com idosos entre 70 a 100 anos. Observaram que bactérias

probióticas podem reduzir a prevalência de candidíase oral em idosos, sendo

possível usá-los como meio profilático e terapêutico, sem efeitos colaterais,

além de diminuir o risco de hipossalivação e a sensação de boca seca,

portanto, podem ser considerados benéficos para a saúde bucal em geral.

.

2.3 PROBIÓTICOS NA DOENÇA PERIODONTAL

As doenças bucais que afetam o periodonto foram classificadas em 1999

no Workshop Internacional organizado pela Academia Americana de

Periodontologia (AAP) (ARMITAGE, 1999). De acordo com essa classificação,

a doença periodontal é classificada em dois grupos, doenças gengivais e

13

doenças periodontais. As doenças gengivais estão classificadas em dois tipos,

aquelas induzidas pela placa dental e aquelas não associadas primariamente à

placa dental. A periodontite é classificada, de acordo com AAP, como uma

doença inflamatória nos tecidos de suporte do dente, multifatorial, causada por

microrganismos específicos que causam destruição do ligamento periodontal e

osso alveolar, com formação de bolsa e recessão gengival, possuindo diversas

subclassificações da doença.

Alguns agentes microbianos associados à doença são Porphyromonas

gingivalis, Treponema denticola, Tannerella forsythia e Aggregatibacter

actinomycetemcomitans. Os microrganismos periodontais, liberam endotoxinas,

aumentando o infiltrado inflamatório e liberando enzimas proteolíticas que são

responsáveis pela destruição de tecidos periodontais (SOARES et al., 2009).

Espécies específicas de lactobacilos, como L. gasseri e L. fermentum,

mostraram em alguns estudos, que estão associados à diminuição de placa e

inflamação gengival, favorecendo possivelmente a manutenção da saúde

periodontal (VIVEKANANDA et al., 2010; TEANPAISAN et al., 2011; HOJO et

al., 2007; KÕLL-KLAIS et al., 2005).

O tratamento da periodontite consiste no debridamento mecânico para

eliminação dos patógenos e se necessário, em casos mais graves, associação

com antibióticos. Entretanto, a recolonização ocorre em semanas e a

instalação de uma microbiota mais patogênica pode ocorre em meses

(TEUGHELS et al., 2007). Como alternativa de tratamento, pesquisas apontam

que os probióticos podem modular o sistema imune do hospedeiro (JUIZ et al.,

2010). Como as bactérias probióticas competem com as bactérias que causam

injúrias à saúde (MEURMAN & STAMATOVA, 2007), a utilização de probióticos

talvez seja capaz de inibir a colonização, adesão e formação do biofilme

patogênico. Com uma menor colonização de bactérias periodontopatogênicas,

a cascata de reações imuno-inflamatórias poderia ser reduzida, trazendo

benefícios para o hospedeiro (STAMATOVA & MEURMAN, 2009).

O principal fator para o desenvolvimento de doenças periodontais

depende das bactérias no biofilme, tanto supra como subgengival, sendo que a

prevenção e tratamento dessas doenças são principalmente focados na

redução desses patógenos e fortalecimento da barreira epitelial, contribuindo

14

assim para a diminuição da suscetibilidade à infecção (STAMATOVA et al.,

2009). Portanto, os probióticos são capazes de favorecer a saúde periodontal

se forem eficazes ao inibir o biofilme e o crescimento de patógenos

(STAMATOVA et al., 2009).

A cavidade oral é um ecossistema complexo com uma microbiota

diversificada, com um pH amplo, disponibilidade de nutrientes, superfícies

escorregadias e antiderrapantes, saliva, fluidos creviculares, que chegam a um

equilíbrio ao hospedeiro. Alterações como doenças, comportamentos, dieta ou

medicação, alteram essa homeostasia. Com o ambiente alterado, os patógenos

ganham vantagem competitiva e podem predispor ao aparecimento de doenças

bucais. Assim, a administração de probióticos, pode prevenir a proliferação

desses patógenos prejudiciais modulando o sistema imune da cavidade oral

(SALAS et al., 2010).

Alguns estudos mostram a efetividade de probióticos no tratamento de

doenças periodontais. Um estudo randomizado foi realizado para observar os

efeitos clínicos do Lactobacillus rhamnosus em um tratamento não cirúrgico de

periodontite crônica com 1 ano de acompanhamento, onde 28 voluntários

saudáveis sistemicamente, com doença periodontal crônica foram monitorados

de 3, 6, 9 e 12 meses após a terapia. Os parâmetros clínicos usados foram

acúmulo de placa, sangramento, sondagem, profundidade de bolsa periodontal

e perda de inserção. Os pacientes receberam tratamento não cirúrgico. Dos 28

pacientes,14 foram atribuídos ao teste com probióticos e 14 foram do grupo

controle. Em ambos os grupos, era realizado escalonamento e alisamento

radicular. O resultado dessa pesquisa foi que ambos apresentaram melhorias,

entretanto o grupo teste mostrou uma redução na profundidade de bolsa em

relação ao controle (MORALES et al., 2016).

Segundo uma pesquisa realizada por Krasse e colaboradores (2006), a

utilização de L.reuteri levou à diminuição do sangramento gengival e redução

da gengivite no grupo estudado. Em outra pesquisa, Kõll-Klais e colaboradores

(2006) relataram que os lactobacilos podem inibir o crescimento da

Porphyromonas gingivalis e Prevotella intermedia em 82% e 65%,

respectivamente.

15

Em outro ensaio clínico randomizado, utilizando Lactobacilli reuteri

(prodentis) no tratamento da doença periodontal, foram selecionados 30

pessoas, dos quais 19 homens e 11 mulheres, entre 35-50 anos durante 42

dias. Os pacientes foram separados em dois grupos, 15 pacientes em cada

grupo, de forma randomizada em grupo placebo e em grupo que recebeu o

prodentis. Os pacientes foram selecionados obedecendo os seguintes critérios:

diagnosticados com periodontite crônica, sistemicamente saudáveis, não

incluindo gestantes e lactantes, fumantes, alcóolatras, além de não ter

participado em nenhum ensaio clínico nas últimas quatro semanas e não ter

realizado tratamento cirúrgico e não cirúrgico nos últimos 6 meses. Alguns

parâmetros de avaliação foram usados como raspagem e alisamento radicular,

índice de placa, índice gengival, índice de sangramento gengival, além de

outros. Os pacientes foram instruídos a tomar uma pastilha no período da

manhã e outra durante noite, após escovar os dentes. As pastilhas foram

administradas aos pacientes 21 dias após o exame clínico e microbiológico, e a

pesquisa finalizou até completar 42 dias, sendo os pacientes avaliados todos

os dias. Foi realizado raspagem e alisamento radicular e os pacientes foram

instruídos a realizar a higiene bucal. Depois da coleta dos parâmetros clínicos,

pelo menos 10 à 12 sítios com profundidade de bolsa de 5 a 7 milímetros foram

selecionados para a coleta da amostra de placa bacteriana separadamente

para cada metade da boca. Estas amostras foram agrupadas e coletadas na

linha de base, no dia 21 e no dia 42. O objetivo foi avaliar os efeitos do

Lactobacilli reuteri Prodentis sozinho, combinado com raspagem e alisamento

radicular em dupla ocultação, randomizado, placebo-controle de voluntários

com peridodontite crônica. A sequência de tratamento que teve redução desses

índices foram nessa ordem: raspagem e alisamento radicular combinado com

Prodentis, apenas o Prodentis, raspagem e alisamento radicular com placebo e

por último o placebo. O melhor resultado foi a combinação da raspagem e

alisamento radicular associado ao Prodentis. Nesse estudo confirmou a

inibição da placa, efeito anti-inflamatório e antimicrobiano do L.reuteri

Prodentis, podendo ser recomendado para tratamento não cirúrgico e

manutenção do tratamento periodontal. Além de ser uma alternativa para

tratamento onde a raspagem e alisamento radicular não é indicado

(VIVEKANANDA et al., 2010

16

3 DISCUSSÃO

Os alimentos fermentados são consumidos em grande escala, com

função de equilibrar a microbiota intestinal, além de melhorar outras desordens

sistêmicas. Através dos artigos selecionados, é possível afirmar que os

probióticos trazem benefício à saúde bucal, entretanto ainda é uma alternativa

a ser discutida (SAIER et al., 2005; SHARMA et al., 2012; GROVER et al.,

2012; ÇAGLAR et al., 2005; BONIFAIT et al., 2009).

Estudos voltados para a área da Odontologia, observou e comprovou

que os probióticos passaram a ser cogitados como uma nova modalidade

terapêutica no tratamento das condições bucais como opção de tratamento

associado com tratamentos já existentes (BONIFAIT et al., 2009; REDDY et al.,

2010; SARAF et al., 2010; PARVEZ et al., 2006; TEUGHELES et al., 2008).

Em suas determinadas formas de administração, age no controle da

Candida na superfície oral, prevenindo assim a manifestação dessa infecção.

Em estudos já publicados, os lactobacilos inibem a proliferação dos agentes

microbianos causadores da cárie. E inibem os produtos voláteis produzidos na

halitose (HEARNE et al., 1996; EVERSOLE et al., 1994; HATAKKA et al., 2007;

GELAIDE et al., 1991; JENSEN et al., 1990; BJORKROTH et al., 2002;

BURTON et al., 2005).

No que se refere a Periodontia, em pesquisas realizadas em pacientes

com periodontite crônica, foi eficaz o uso de probióticos na aplicabilidade

clínica, concomitantemente associada aos tratamentos básicos existentes, em

alguns casos, descartando a possibilidade de um tratamento invasivo cirúrgico.

Ainda que os tratamentos básicos voltados para doenças periodontais não

devem ser desclassificados, assim os probióticos estão inseridos como uma

forma concomitante ao existente, já que é fundamental que haja

desorganização da placa por raspagem e alisamento radicular manual por

curetas periodontais, segundo a literatura (PARVEZ et al., 2006; TEUGHELES

et al., 2008; EBERSOL et al., 1994; NEWMAN, 1990).

17

Segundo Stamatova e colaboradores (2009), os probióticos foram

eficazes na inibição do biofilme e do crescimento dos patógenos periodontais,

já que um tratamento de excelência para a doença periodontal é combater os

patógenos que causam seu desenvolvimento. De acordo com Salas e

colaboradores (2010), a administração de probióticos modulam o sistema

imune do hospedeiro, inibindo a proliferação de patógenos e segundo as

pesquisas realizadas por Krasse et al (2006), Kõll-Klais et al (2006) e Morales

(2016) houve resultados satisfatórios na doença gengival e na redução dos

patógenos periodontais.

Nos estudos realizados por Kõll-Klais et al (2006) algumas espécies de

probióticos como Lactobacillus gassei e L. fermetum são encontrados na

cavidade oral, tanto em pacientes saudáveis quanto em pacientes com

periodontite crônica, concluindo que estão presentes na microbiota bucal. Além

disso, vários estudos observaram que, algumas espécies de lactobacilos são

capazes de inibir o crescimento de patógenos periodontais, como P. gingivalis,

Prevotella intermedia e A. actinomycetemcomitans. Essas informações são

importantes o equilíbrio microbiano da cavidade oral e redução das doenças

periodontais.

Apesar dos pontos positivos apresentados nos artigos de revisão e das

pesquisas comparativas com grupos placebos, ainda é uma área a ser

explorada, com um ideal promissor na área da saúde odontológica.

18

4 CONCLUSÃO

A partir do levantamento dos artigos, conclui-se que a relação de

probióticos com Periodontia é extremamente favorável, por apresentar um

recurso viável associado a tratamentos já estabelecidos para a doença

periodontal. Sem excluir qualquer outra forma de tratamento, principalmente

devido a necessidade de desorganização do biofilme bacteriano por remoção

mecânica. O fator primordial a ser ressaltado dessa revisão é que muitos

artigos apontam que as espécies de probióticos são capazes de inibir a

patogenicidade da microbiota periodontal que é patogênica, além de exercer

resultados positivos nos sinais clínicos, como redução em alguns casos de

profundidade de sondagem acima do padrão estabelecido e diminuição da

resposta inflamatória. Sabe-se que ainda é uma área a ser aprofundada e

estudada, porém de acordo com as pesquisas já realizadas, há uma forte

tendência do probiótico ser um recurso promissor na área da Periodontia.

19

REFERÊNCIAS

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