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Kalango#21 1 Kalango Kalango #21 - Ano V - fevereiro de 2015 MEDO

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A Revista Kalango nasceu do desejo coletivo de amigos jornalistas, poetas, artistas, educadores, fotógrafos, músicos e naturalistas que apostam na cultura, na informação e na palavra como último recurso em defesa da liberdade, da evolução humana e do despertar de possibilidades. A proposta é fazer jornalismo com beleza, poesia, pluralismo e emoção, sem cegar os olhos. A razão nos conduzindo sempre. Em junho de 2015 completaremos 5 anos no ar.

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KalangoKalango#21 - Ano V - fevereiro de 2015

MEDO

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GPS(( LOCALIZE-SE ))

Revista Kalango. Edição #21. ANO V. Fevereiro de 2015. Editor: Osni Tadeu Dias MTb21.511. A Kalango é uma publicação independente, não tem vínculos políticos, econômicos, nem religiosos. A Kalango está no ar desde 2010. Quer anunciar? Quer ser colaborador? Ajude uma mídia independente. Escreva para [email protected] ou redaçã[email protected] Site: www. revistakalango.com.brConcluída em 28 de fevereiro de 2015.

5 Editorial (Osni Dias). Imagem: Nestor Lampros6 Vivemos uma cultura do medo - Por Osni Dias8 O bem comum foi enviado ao limbo - Por Leonardo Boff9 Desafios da individualidade - Por Sonia Mara Ruiz Brown10 O fim da desesperança - Por Maurício Andrade11 Doçura - Por Paulo Netho12 Abra os olhos - Por Delta913 O medo. Por Elizeu Silva13 Nossas fobias. Por Paulo Hds14 O dia em que Gil frustrou a molecada da vila. Por Marcelino Lima15 Imagem: Janela por Alline Nakamura16 Qual é o seu medo?26 Como vencer seus medos 30 Homem ainda um ser selvagem - Por Lucía Gomez31 Religião é nosso laço com o divino - Por Carol Fernanda Pinheiro32 “O medo é o pai da coragem”. Por Paulo Hds34 Música - Kátia Teixeira. Por Marcelino Lima36 Terror extremo em curta australiano. Por Yerko Herrera37 João Lino e o real. Por Felipe Tomei Toniato38 Uma homenagem aos que fazem o cotidiano de Atibaia39 O jornalismo brasileiro é um cadáver em estado de putrefação. Por Marcelo Rio42 Peru - um país de tirar o fôlego. Por Luis Pires

Boa viagem!

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A edição #21 fala sobre o medo. Se-gundo Barry Glassner, da Universida-de da Califórnia, vivemos hoje a cultu-ra do medo, com o aumento da nossa percepção do perigo. A mídia, a servi-ço das grandes corporações, enfatiza a violência, adultera pesquisas e dados estatísticos. Enquanto isso, a popula-ção corre para o supermercados em busca da cerveja mais gelada, para os grandes magazines procurando o celular mais moderno e a concessio-nária mais próxima a fim de comprar o novo lançamento da Hyundai. Se-gundo Eliane Brum, a sociedade busca algo com o que se identificar e onde aliviar o mal estar constante que, dia a dia, mina o encanto pela vida e pela existência. Nessa neurose contempo-rânea, “os personagens da ficção têm mais carne que nós, precisamos deles para nos lembrar de quem somos”, diz ela. Assim, ao contrário de inspirar, a arte virou rota de fuga existencial. Por isso, ela propõe a urgência da antiau-toajuda e do enfrentamento do mal estar no sentido de impacto com a realidade. Nós, da Kalango, também queremos bradar contra a autoajuda e os mecanismos de entorpecimento que fazem dos seres humanos meros autômatos e massa de manobra da mídia, das potências capitalistas e da religião, tornando-os cegos, surdos e mudos, num instante em que o pla-neta passa por um momento frágil e exige uma tomada de consciência co-letiva. Boa leitura!

Osni Dias Guarani

Editorial Kalango #21 • Fevereiro de 2015

NESTOR LAMPROS

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É o que diz o escritor Barry Glassner, da Univer-sidade da Califórnia. Ele defende que é a nos-sa percepção do perigo que tem aumentado e não o nível real de risco. Pessoas e organizações manipulam nossas percepções e lucram com os medos coletivos, diz ele. Segundo o autor, a cultura do medo é fabricada por alarmistas. Seus protagonistas? A mídia, a imprensa escri-ta, jornalistas, grupos ativistas, empresários, a religião, os políticos e etc. Estes enfatizam a vio-lência, adulterando números, dados estatísti-cos, dominando o noticiário e aproveitando-se das limitações das pessoas para vender o pâni-co como produto. Pensou em algum noticário enquanto leu? Por é isso mesmo. Na mesma linha, o sociólogo polonês Zygmunt Bauman aponta que vivemos numa sociedade líquida que, como tal, vive o “medo líquido”. Para ele, há três formas do medo afligir as pessoas em nossa sociedade: pelo medo de não conseguir garantir o futuro, de não conseguir trabalhar ou ter qualquer tipo de sustento; pelo medo de não conseguir se fixar na estrutura social e cair para posições vulneráveis e, em terceiro lu-gar, o medo em torno da integridade física. Este último, o “medo derivado”, termo emprestado de Bourdieu, ao contrário do medo primário, é um medo inculcado socialmente. O medo primário se trata do medo da morte na sua forma mais pura: é o medo de levar um tiro quando se está na guerra; já o medo secun-dário é aquele que nos obriga a seguir pelo caminho mais longo, para não passarmos por um local de risco, tipo uma favela. A liquidez moderna resulta em uma infinidade de expe-

riências secundárias da morte e de exclusão. O papel da mídia, nesse contexto, se mostra importantíssimo por ser aquilo que espalha o medo. O medo não é mais o que escutávamos nos contos de fada, com as típicas canções ou-vidas pelas crianças desde pequenas, como “a cuca vem pegar” ou o “boi da cara preta”. Ele é visto cotidianamente pela televisão, nos jor-nais e nos smartphones. Desde cedo, quan-do o bebê fica de frente para a TV, enquanto a mãe trabalha. Estudos científicos abordam essa contribuição da mídia para o processo de difusão do medo e da criação de um am-biente de pressão popular por mais rigor nas penas e pela ampliação da intervenção do direito punitivo. Assim, o Estado faz com que as leis sejam respeitadas por meio do medo, evitando assim a morte violenta - lembrando aqui o pensamento de Thomas Hobbes. Livre, o homem só pode romper o pacto social caso sua segurança seja ameaçada, para poder de-fender sua vida, um direito inalienável e in-transferível. Sendo assim, eu pergunto a você, prezado leitor: Quais são seus medos? Pense nisso antes de votar naqueles que estouram seus miolos diariamente no rádio e na TV.

Toca Raul! Leia ouvindo http://migre.me/oPRnr

medo

me.do

(ê) sm (lat metu) 1 Perturbação resultante da ideia de um perigo

real ou aparente ou da presença

de alguma coisa estranha ou

perigosa; pavor, susto, terror. 2

Apreensão. 3 Receio de ofender,

de causar algum mal, de ser

desagradável. sm pl Gestos ou

visagens que causam susto.

Vivemos uma cultura do medoPor Osni Dias Guarani

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Por Leonardo Boff*

O bem comum foi enviado ao limbo

As atuais discussões políticas no Brasil em meio a uma ameaçadora crise hídrica e

energética se perdem nos interes-ses particulares de cada partido. Há uma tentativa articulada pelos grupos dominantes, por detrás dos quais se escondem grandes corpo-rações nacionais e multinacionais, a midia corporativa e, seguramente, a atuação do serviços de segurança do Império norte-americano, de desestabilizar o novo governo de Dilma Rousseff. Não se trata ape-nas de uma feroz critica às políticas oficiais mas há algo mais profundo em ação: a vontade de desmontar e, se possível, liquidar o PT que representa os intersses das popu-lações que historicamente sempre foram marginalizadas. Custa muito às elites conservadores aceitarem o novo sujeito histórico – o povo or-ganizado e sua expressão partidária – pois se sentem ameaçadas em seus privilégios. Como são notoria-mente egoistas e nunca pensaram no bem comum, se empenham em tirar da cena essa força social e política que poderá mudar irrever-sivelmente o destino do Brasil.

Estamos esquecendo que a es-sência da política é a busca comum do bem comum. Um dos efeitos mais avassaladaores do capitalis-mo globalizado e de sua ideologia, o neo-liberalismo, é a demolição da noção de bem comum ou de bem-estar social. Sabemos que as sociedades civilizadas se constroem

sobre três pilastras fundamentais: a participação (cidadania), a coo-peração societária e respeito aos direitos humanos. Juntas criam o bem comum. Mas este foi enviado ao limbo da preocupação política. Em seu lugar, entraram as noções de rentabilidade, de flexibilização, de adaptação e de competividade. A liberdade do cidadão é substi-tuida pela liberdade das forças do mercado, o bem comum, pelo bem particular e a cooperação, pela competição.

A participação, a cooperação e os direitos asseguravam a existên-cia de cada pessoa com dignidade. Negados esses valores, a existência de cada um não está mais social-mente garantida nem seus direitos afiançados. Logo, cada um se sente constrangido o garantir o seu: o seu emprego, o seu salário, o seu carro, a sua família. Impera o individualis-mo, o maior inimigo da convivência social. Ninguém é levado, portan-to, a construir algo em comum. A única coisa em comum que resta, é a guerra de todos contra todos em vista da sobrevivência individual.

Neste contexto, quem vai implementar o bem comum do planeta Terra? Em recente artigo da revista Science (15/01/2015) 18 cientistas elencaram os nove limites planetários (Planetary Bounderies), quatro dos quais já ultrapassados: o clima, ia ntegri-dade da biosfera, o uso da solo, os fluxos biogeoquímicos( fósforo e nitrogênio). Os outros encontram--se em avançado grau de erosão. Só a ultrapassagem desses quatro,

PALAVRA

pode tornar a Terra menos hospi-taleira para milhões de pessoas e para a biodiversidade. Que organis-mo mundial está enfrentando essa situação que detrói o bem comum planetário?

Quem cuidará do interesse geral de mais de sete bilhões de pessoas? O neoliberalismo é surdo, cego e mudo a esta questão funda-mental como o tem repetido como um ritornello o Papa Francisco. Se-ria contraditório suscitar o tema do bem comum, pois o neoliberalismo defende concepções políticas e so-ciais diretamente opostas ao bem comum. Seu propósito básico é: o mercado tem que ganhar e a socie-dade deve perder. Pois é o merca-do que vai regular e resolver tudo. Se assim é por que vamos construir coisas em comum? Deslegitimou--se o bem-estar social.

Ocorre, entretanto, que o crescente empobrecimen-to mundial resulta das lógicas excludentes e predadoras da atual globalização competitiva, liberalizadora, desregulamentora e privatizadora. Quanto mais se privatiza mais se legitima o inte-resse particular em detrimento do interesse geral. Como mostrou em seu livro Thomas Piketty, O Capitalismo no século XXI quanto mais se privatiza, mais crescem as desigualdades. É o triunfo do killer capitalismo. Quanto de perversidade social e de barbárie aguenta o espírito? A Grécia veio mostrar que não aguenta mais. Recusa-se a aceitar do diktat dos mercados, no caso, hegemoniza-

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dos pela Alemanha de Merkel e pela França de Hollande.

Resumindo: que é o bem comum? No plano infra-estrutural é o acesso justo de todos à alimentação,à saúde, à moradia, à energia, à segurança e à cul-tura. No plano social e cultural é o reco-nhecimento, o respeito e a convivência pacífica. Pelo fato de sob a globalização competitiva foi desmantelado, o bem comum deve agora ser reconstruído. Para isso, importa dar hegemonia à cooperação e não à competição. Sem essa mudança, dificilmente se manterá a comunidade humana unida e com um futuro bom.

Ora, essa reconstrução constitui o núcleo do projeto político do PT origi-nário e de seus afins ideológicos. En-trou pela porta certa: Fome Zero depois transformada em várias políticas públi-cas de cunho popular. Tentou colocar um fundamento seguro: a repactuação social a partir dos valores da coopera-ção e a boa-vontade de todos. Mas o efeito foi fraco, dada a nossa tradição individualista a patrimonialista.

Mas no fundo vigora esta convic-ção humanística de base: não há futu-ro a longo prazo para uma sociedade fundada sobre a falta de justiça, de igualdade, de fraternidade, de res-peito aos direitos básicos, de cuidado pelos bens naturais e de cooperação. Ela nega o anseio mais originário do ser humano desde que emergiu na evolução, milhões de anos atrás. Quer queiramos ou não, mesmo admitindo erros e corrupção, o melhor do PT arti-culou e articula esse anseio ancestral. É a partir daí que pode se resgatar, se renovar e alimentar sua força convo-catória. Se não for o PT serão outros atores em outros tempos que o farão.

Cooperação se reforça com coope-ração que devemos oferecer incondi-cionalmente.Sem isso viveremos numa sociedade que perdeu sua altura huma-na e regride ao regime dos chimpanzés.

Leonardo Boff é colunista do JBonline, teólogo, filóaofo e escritor.

www.leonardoboff.wordpress.com

Sonia Mara Ruiz Brown

Na vida, constantemente, somos desafiados a novas conquistas e, porque somos personalidades únicas, um amálgama de diferentes genes, culturas, contexto

histórico respondemos às provocações de acordo com nossa constituição.

Existem os que negam os desafios. Acomodados no seu conformismo auto-indulgente, no seu egoísmo, permanecem como estão. São os que Pessoa denominou, na sua magistral obra “Mensagem”, “Cadáver adiado que procria”, pois “Vive porque a vida dura. /Nada na alma lhe diz/ Mais que a lição da raiz-/ Ter por vida a sepultura”.

Encontramos também os que traçam grandes desafios para toda a existência. Josef Holzner, por exemplo, dedicou toda a sua vida adulta ao estudo da herança deixada pelo apóstolo Paulo. Holzner Viveu para sua obra prima, a biografia “Paulo Tarso”. Chico Mendes é outra personalidade que dedicou sua força à defesa do meio ambiente, divulgando técnicas de prevenção a fim de impedir o desmatamento da Amazônia e denunciando os que insistiam na destruição da mata. Madre Tereza de Calcutá pode ser lembrada pela força de sua fé, trazendo esperança, alívio dos menos favorecidos.

Entre os que buscam frequentemente responder aos desafios quase que diários ainda é possível distingui-los. Há os que possuem como foco o ter. Sempre perseguem algo novo a adquirir numa ânsia intensa, mas que se esgota rapidamente. Assim que o objeto dos sonhos é conquistado, logo é substituído por outra expectativa ainda mais brilhante, suntuosa. Para esse não há pacificação. Por outro lado, destacam-se os que almejam alcançar amigos, a cura, a diminuição dos males sociais, o incentivo dos decepcionados, cultura, santificação...

Superar desafios nos dá um senso de propósito, preenche os abismos de tédio e de insignificância, fazendo da vida uma trajetória mais significativa, se não para a humanidade, para nós mesmos.

* Sonia Mara Ruiz Brown é doutora em Língua Portuguesa/USP.

Desafios daindividualidade

CHICO MENDES - Sergio Michilini, 1990

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O fim da desesperançaPor Maurício Andrade

PALAVRA

Do homem, podem lhe tirar o teto e ele encontrará novamente um abrigo. Ao esforçar-se para isso, podem lhe

tirar o alimento, e ainda que mendigando, ele se alimentará, porque existem mãos caridosas. Podem lhe tirar o dinheiro, bens, podem até tentar tirar sua dignidade e, em algum momento, o homem perceberá que as convenções não são maiores que a própria vida. Contudo, do homem não se pode tirar a esperança, pois sem esperança ninguém se levanta outra vez.

Hoje nossa esperança pode ser chamada também de água, matas, natureza, mãe terra. Enquanto os poderes políticos, a intolerância religiosa através do fundamentalismo, o desrespeito gerado por ideologias vazias, os modismos cibernéticos e sexuais, o culto ao corpo, bem como a banalização do corpo, se tornaram os deuses. Eles substituem a verdadeira divindade, que é a própria vida. A esperança vai se consumindo, sendo paulatinamente tirada do ente humano que vive na hipnose, no torpor e no magnetismo do pensamento e da informação viral.

O que se consome não é mais alimento, mas conceitos, sabores artificiais do que um dia foi saudável e hoje é uma nova alergia, uma endemia não processada pelo organismo coletivo, mas reciclada minuto a minuto pela energia vital dos jovens que são, em parte, o alimento - como no filme “Matrix” - que fornece a energia ao sistema. A esperança que antes, se associava a fé, é transformada em “viva o momento”, sem remorso. Se mais uma árvore caiu no Amazonas ou se as reservas

de água potável estão acabando no mundo, vamos fazer uma passeata enquanto a matéria prima de nossos produtos existirem. Ou seja, exigir a liberdade, via o que o sistema produziu pode, ser livre e opinar sobre a falsa liberdade criada para criar novas marcas, rótulos e grupos, não pode.

Existe um jogo de paradoxos para que não tenhamos mais esperança e não conservemos nossas matas. Usemos corretamente nossos recursos hídricos e alimentares, para que tenhamos modelos positivos de tecnologia ou mesmo do conceito de família - que está desaparecendo. A cada dia se percebe que usam a falta de perspectiva humana como

fonte para que sejamos apenas mais um recurso à disposição, e vivamos

nos conformismos para que o verdadeiro significado da vida não tome lugar em nossas escolhas.

O medo do fim de nossos recursos é o fim da esperança, se nos tiram a esperança nos tiram a vida, então vivemos nos anestesiando com as facilidades para não termos de escolher, pensar, responsabilizar-nos pela parte que cabe a cada um de nós neste século do terceiro milênio.

Mas, a cada dia que as flores ainda nascem, a cada instante em que o sorriso das crianças não corrompidas pelas estratégias de marketing continua puro, imaculado, cada vez que em meio aos grandes centros urbanos, ainda ouvimos pássaros cantando, parece que um recado nos está sendo dado: “não desista”. A esperança não pode ser tirada de quem ama essas coisas, de quem sabe que não é a política que irá salvar a humanidade e o homem,

O medo do fim de nossos recursos é o

fim da esperança. Se nos tiram a esperança,

nos tiram a vida. Assim, vivemos nos

anestesiando... ‘‘

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“Mundana palavra mundo de Drummond, de Quintana, até chegar a mim. Mundo vasto mundo. Vasto é o pasto. Casto, casto mundo que do verde

abacate azulei a minha vida. A minha vida azulada, xadrezinho, lilás e alcatraz (...) E o mundo é muito

mais que méquidonaldes, xis saladas e anatomia do medo. Os mundos nascem a todo instante. Do brado

mais forte, do gesto mais nobre. E da palavra que se perdeu, um dia criou-se a necessidade de tê-la

novamente não apenas como símbolo, mas algo vivo e transparente. Criou-se o apelo pela vida. A vida

criou a fração milagrosa da emoção.”

(Trecho do poema “Doçura”)

DoçuraPor Paulo Netho*

mas o homem renascido da experiência de desapego e forjado no humanitarismo sincero. A fé, que é a substância das coisas impossíveis, e que mesmo incompreendida, já demonstrou realizar o impossível, associada à esperança ativa, que é a esperança dos que plantam ações sinceras e fundamentadas no que é bom para todos, é uma força ativa na qual podemos confiar e que, evidentemente, é uma solução ao medo do fim daquilo que se tem destruído.

Mas esperança não vem do nada. Embora seja necessário o abandono das ideias de vitória sobre isso ou aquilo. Há paz quando há esperança, e a paz é mais do que uma palavra ou acordo. No caminho da esperança ativa é necessária a educação para a paz. Uma educação irrestrita do significado mais profundo, tanto nas ações, quanto na experiência de paz mais sublime, quanto a origem do que vem a ser Paz. A educação para a paz, em um sentido mais amplo, significa também ação em um sentido mais profundo com todas as coisas que trazem esperança. Conscientização ativa e não somente em termos sociais, político ou religiosos, mas conscientização ativa na prática diária do bem, pois, as pessoas de esperança, os

pacificadores, não têm tempo para passeatas. Parece paradoxal, mas a transformação vem pela mudança de padrão e não pela repetição dele. Acredite.

Em um sentido mais profundo, somos as próprias águas. Há uma ligação entre todas elas na terra e no céu, assim como em nosso corpo. Se as águas estão escassas ou turvas dentro de nós, também há escassez de bondade e turvamento da consciência, como os elementos da terra e das matas. Nós somos o elemento que precisa ser pacificado pela esperança ativa. Somos nós quem devemos dosar o consumo do que nos oferecem. Nossa natureza sempre foi de colaboração, do contrário a humanidade já estaria extinta. Assim, colaborarmos com a natureza é também sermos promotores da paz, mensageiros de esperança e pacificadores audazes. Isso tudo parece muito bonito apenas, mas é por isso que ainda estamos aqui. Ninguém pode nos tirar a esperança enquanto encarnarmos sua natureza mais elevada que é do amor ao próximo e a todas as coisas. Termos esperança e transformar o mundo é uma escolha, mesmo que digam o contrário.

Com amor e bênçãos, Mauricio Andrade.

Leia o artigo ouvindo Belchior http://migre.me/oPSZR

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Por Delta9*

Abra os olhosBRISA

Você conhece a palavra “medo”?

Em português é uma palavrinha de quatro letras, como Deus.Mas Deus não é uma palavrinha de quatro letras.Você conhece a palavra? Deus?

Mas você conhece a palavra medo, por que é uma palavrinha de quatro letras.Nenhuma delas se repete: M-E-D-O. E se equilibram da seguinte forma: são duas consoantes e duas vogais. Sem as vogais fivam as letras M-D ou D-M.Do lado contrário ela quase parece o nome de um deus nórdico.

M-E-D-OO-D-E-MM-O-D-ED-E-M-OD-O-E-M

Ai! Não dá para brincar muito com a palavra medo.É perigoso brincar com as palavras. Tem que ter coragem; tem que ser valente.

Você sabe o que a palavra medo representa? Um sentimento, uma sensação com valor agregado.Todas as pessoas tem valor e todas tem medo.As pessoas de grande valor sabem controlar e dominar o medo.As pessoas de pequeno valor, não.Damos grande valor ao medo. Quanto mais o valorizamos, ainda mais nos desvaloramos.

Você conhece a palavra “valor”? E a palavra “preço”? Elas parecem iguais porque ambas têm cinco letras. Você conhece o significado delas? Você tem valor ou tem preço?

É perigoso brincar com as palavras. Tem que ter bagagem; tem que ser silente.O medo é um “não querer saber”, é um “não querer fazer”, é um “não querer viver”; só que de forma diferente. É um “não querer poder ser”. É uma palavra que amontoa os verbos e os enrosca. Ele substantiva o adjetivo desqualificando-os. É um grito mudo, um descortinar de cores aonde não há luz.Abra os olhos.

É curioso brincar com as palavras. Às vezes é uma viagem que assusta a gente.

* Delta9 é extraterrestre, publicitário e atua no Judiciário.

Trilha: http://migre.me/oPXyU

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O medo. Medo em sociedade. Medo da violência, da polícia, da cidade. Medo de ter medo.Você tem medo de quê? Medo de humanidade.

O medo. Medo da liberdade. Medo do pensamento, de afirmar sua identidade. Medo de ser humano.Você tem medo de quê? Medo de humanidade.

O medo. Medo da opinião. Medo da diferença; de discordar do seu irmão. Medo de expressão.Você tem medo de quê? Medo de humanidade.

O medo. Medo da censura. Medo da loucura, dizer o que pensa, pensar o que sente. Medo de ser diferente.Você tem medo de quê?Medo de humanidade.

O medo. Medo da verdade. Satyagraha que corta, destrói a calma, sacode a alma. Sinceridade dá medo.Você tem medo de quê?Medo de humanidade.

Você tem medo de quê?Você tem medo de você.

Zeu*

O medo Nossas fobiasPor Paulo Hds

Aversão, medo, h o r r o r , r e p u g -

nância e pavor são sinônimos de fobia. Phóbos em grego, pho-bie em fran-cês. Inúmeras definições. In-contáveis tipologias. Algu-mas bem peculiares, tanto que existe até um dicionário sobre elas. Que ver? Confira.

Talvez o caro leitor já tenha ouvido falar em Ae-ronausifobia, medo de vo-mitar quando viaja de avião; Balistofobia, medo de mís-seis; Catoptrofobia, medo de espelhos; Dipsofobia, medo de beber; Ergofobia, medo do trabalho; Filoso-fobia, medo de filosofia; ou Gamofobia, medo de casar.

Quem sabe, conheça Hexacosioihexecontahexa-fobia, medo do número 666; Ideofobia, medo de ideias; ou Katsaridafobia, medo de baratas. Entretando, Logi-zomecanofobia – medo de computadores – duvido que seja aplicável a nós.

E sobre Microfobia, medo de coisas pequenas; e Nudofobia, medo de nudez,

alguma informação? Ainda temos Oc-tofobia, medo do numero 8; Pa-

rasquavede-quatriafobia, medo de sex ta - fe i ra

13; ou ainda Quiraptofobia,

medo de ser toca-do.

Talvez lhe seja familiar os termos Ritifobia, medo de ficar enrugado; Singene-sofobia, medo de parentes; Tetrafobia, medo do núme-ro 4; ou Uranusfobia, medo do planeta Urano. Não? So-bra as opções Verbofobia, medo de palavras; Xantofo-bia, medo de objetos de cor amarela; e Zelofobia, medo irracional do ciúme.

Calma, não se desespere por não conhecê-los. Os ter-mos são realmente atípicos e talvez nunca iremos ouvi--los numa conversa de bo-tequim ou na fila do super-mercado. Fato, é que a lista segue rumo ao infinito, em proporção similar as fobias humanas. Inventamos me-dos e, em seguida, os nome-amos, nessa ordem. Resol-vê-los, ao que parece – por ora – ainda não nos convém.

PALAVRA

* Elizeu Silva é jornalista e mestre em Artes pela UNESP

LETRA

Leia ouvindo aqui: http://migre.me/oPRCX

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A diversão preferida dos garotos da Vila Yolan-da, eu no meio, era dis-

putarmos peladas ao final de todas as tardes possíveis. Gos-távamos também, é claro, de empinar papagaios, rodar pião, jogar bolinha de gude, nadar onde fosse possível e desse pé, roubar frutas e cana nas casas vizinhas, andar de bicicleta. Ra-lar os joelhos ou os cotovelos escalando barrancos ou pedras estava incluso no risco da ousa-dia, amassar os dedos ao tentar acelerar mais e mais os carri-nhos de rolimãs com as palmas das mãos estendidas no asfalto era o preço por querer ser mais veloz do que o Emerson Fittipal-di. De vez em quando rolava um “balança-caixão” fora do con-vencional: íamos nos esconder com as gurias irmãs ou primas dos trutas. Mas como cresce-mos no país do futebol tirar um racha era mesmo a prefe-rida das atividades.

Formávamos os times na base do “par ou impar”, dis-putado pelos goleiros. Aquele que ganhava escolhia primeiro o craque do bairro e, assim, as equipes iam sendo montadas, seguindo sempre a hierarquia do melhor para o pior, até que só o “pereba” mor restasse dis-ponível. Tínhamos o hábito de adotar nomes de famosos jo-gadores em atividade ao redor do mundo; ainda não havia te-levisão a cabo e transmissão de campeonatos de ligas europeias e de outros continentes como atualmente, nossos ídolos se resumiam aos melhores do clu-be para o qual torcíamos, de-pendendo, é claro, da posição, e a algum destaque das seleções. Eu, por exemplo, fui o italiano Franco Causio, que defendeu a “Squadra Azurra” em três mun-diais e se tornou campeão em 1982, quando a seleção da Bota bateu a Alemanha na final após eliminar pelo meio do caminho

o melhor escrete canarinho que o Brasil já reuniu. Se o Maraca-nazo deixou-nos afundados no complexo de vira-latas, com não menos dor todos temos em fresca memória aquele fatídico pega no estádio Sarriá em que o Paolo Rossi deitou e rolou e condenou craques da geniali-dade de Sócrates, Falcão, Zico, Cerezzo e Oscar, entre outros daquela geração fantástica, a pendurarem as chuteiras sem a glória de levantar ao lado do inesquecível mestre Telê Santa-na o troféu que corresponderia, hoje, à quarta estrela das seis que já teríamos no manto ver-de e amarelo.

Quatro anos antes, ficará-mos fascinados com a bola da Copa do Mundo e resolvemos que iríamos comprar uma, e original. O modelo, chamado “Tango”, por motivos óbvios, já que a Argentina recebeu a competição, exigiu de nós sua-da “vaquinha”. Vendemos ferro velho, latas e outras tranquei-ras, quebramos nossos por-quinhos, puxamos carretos em feiras-livres, afanamos trocados de carteiras alheias, pedimos de porta em porta. Quando, en-fim, reunimos a quantia neces-sária e alcançamos nosso obje-to de desejo ainda esperamos o tempo melhorar, trazer de volta o sol para secar o campo depois de vários dias chuvosos. Com as condições ideais, lá fo-mos, ansiosos, estrear a pelota, ainda cheirando a tinta, ah, que lindeza!

O dia em que Gil frustrou a molecada da vilaMarcelino Lima

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Janela - Alline Nakamura

IMAGEM

A empolgação era generali-zada. Todos queriam ter a hon-ra de ser o primeiro a chutá-la, e o Gil não segurou a onda dele. Ainda na rua tirou a redonda com uma tapa dos braços de não me lembro de mais quem a carregava como se uma san-ta conduzisse e, com o máximo da força que possuía, soltou um petardo com o peito do pé es-querdo, colocando nossa diva quase em órbita.

Ficamos espantados ven-do o quanto ela subiu antes de descrever uma parábola no céu

e, velozmente, começar a cair, cair, cair até que... ui: encontras-se a ponta da lança de uma das barras de ferro de um portão residencial! Ainda me recordo da patota toda levando mãos às cabeças, de algumas bocas tampadas de susto, expressões de horror temendo pelo pior e de alguns palavrões quando percebemos, exatamente, onde a viagem da bola ao espaço ter-minaria. E também continua a soar nítido aquele som sibilante que ar vazando de uma câme-ra furada provoca, misturado

ao estardalhar de alguns colas--brincos, pontapés e cascudos que o Gil ganhou. Em 1978, ain-da adolescente, ele já era um negro parrudo e firme como um tronco, entretanto apanhou entre xingamentos e risos, todo encolhido, pianinho, dócil, dó-cil. Depois, arcou sozinho com o custo do remendo que o Aga-pito, sapateiro unha de fome da vila, providenciou no gomo e na câmera de ar que a lança perfu-rara, reparo que nos custou ain-da mais uns dez dias chutando nossas bolas velhas.

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Qual o seu MEDO?A Kalango pediu a colaboração de quatro personalidades para que nos falassem sobre o medo. Sobre seus medos interiores, sobre seus medos mais íntimos. As respostas trouxeram muitas questões que nos fazem pensar em nossos próprios medos e inseguranças e o mundo em que vivemos. O resultado você vê a seguir.

Leia ouvindo O Rappa http://migre.me/oPRLe

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Tenho um medo que surgiu na época da ditadura e permanece até hoje. Esse medo nasceu em uma noite que o Dops foi até o colégio em que eu dava aula - em Quitaúna -à procura de uma amiga minha, também professora, que havia desenhado um Che Guevara- ela estudava na Escola de Belas Artes- e eles queriam que o diretor me entregasse, porque, segundo eles, eu era contato da “subversiva”. Escapei porque sou muito desligada, e tinha me esquecido de assinar o ponto. De volta pra casa ficamos até às 1h da manhã: meu pai, minha mãe e eu queimando jornais, apostilas, panfletos, tudo que pudesse ser visto como “subversivo”, e jogando na privada. Recentemente passei um mês sonhando com soldados armados de metralhadoras me perseguindo... Tratei isso na psicoterapia. Já estava com medo até de dormir, porque tinha pesadelos todas as noites... Ou seja, a ditadura acabou, mas ainda sinto medo. Do quê? De várias coisas, principalmente, da perda de liberdade. Penso que hoje todo mundo sente medo. Da violência que cresce a cada dia, de não conseguir chegar em casa de volta do trabalho, da escola; medo de que seus familiares, seus amigos sejam vítimas de balas perdidas, de uma polícia despreparada, da violência do trânsito, e das várias doenças que hoje nos atingem. Enfim, o monstro que antes era a ditadura, hoje é o perigo que vem de onde, muitas vezes, não se espera. Que nos pega de surpresa...

Risomar Fasanaro é escritora/professora de Língua e Literaturas Brasileira e Portuguesa.

Qual o seu MEDO?

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Medo... sempre tive medo da morte. E nos dias atuais esse “perigo” está cada vez mais perto, com a crescente violência, desigualdade, intolerância. No final, tento me proteger de todas as formas, porque a morte é o desconhecido. Mas, ultimamente, tenho refletido: medo da morte? Nesse mundo em que a maldade e a falta de amor predominam, mundo de segregação.... Será a morte o motivo de medo? Devo ter medo da vida. Daniela Lucas, acadêmica de Psicologia.

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Meu medo, como dizia no meu tempo... Difícil falar do medo, principalmente nos dias atuais, mas o medo existe desde que nascemos. Freud tentou explicar, mas não me convenceu. O meu medo hoje é ficarmos sem água no planeta. O medo coletivo é a violência gratuita, tipo bala perdida. Isso também me dá medo, mas ficar sem água é mais foda! Daniel Jesus de Lima é livreiro e agitador cultural emParaty-RJ.

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Os medos atuais da sociedade são comuns aos anos da experiência vivida em cada ser. Quanto mais vivemos, parece que menos medo temos, ou menos medo sentimos de ter medo! Um paradoxo embora alguns “tabus” criados no nosso processo de educação e quando crianças tendem a se perpetuar. Difícil é vencê-los. Helio Latorre – Consultor para Mídias Sociais.

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Medo… esse sentimento que nos tira o folego, nos faz ouvir o coração batendo na garganta. A morte me causa medo. Não o estado de estar morto, mas o ato de morrer, fazer a passagem. O click. O pisco, como diria Monteiro Lobato. Camila Tyrrell - Consultora em RH e atriz.

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VIDA SOCIAL

Todo mundo tem medo de ser rejeitado. É normal - mas às vezes passa do limite.

Medo de perder as pessoas que ama

O que fazer - Apelar à razão.

Como - É o maior medo social dos brasileiros. Esse receio está enraizado no cérebro humano (pois a espécie é extremamente social, depende da família e do grupo). Não temos como eliminá-lo, mas podemos aprender a conviver com ele. Sempre que você sentir esse temor, lembre-se: ele é inútil, pois não ajuda em nada a proteger quem você ama. E pode atrapalhar a relação entre vocês.

Medo da solidão

O que fazer - Ficar um dia offline. Ou terapia sistêmica.

Como - Experimente ficar um dia inteiro quietinho, sem falar com nenhum amigo via Facebook, WhatsApp e coisas do

tipo. Você verá que a solidão não é tão assustadora quanto parece. Para casos mais intensos, pode valer a pena procurar um psicólogo especializado em terapia sistêmica (linha de análise que estuda a pessoa a partir das relações que ela tem com outras).

Medo de levar pé na bunda

O que fazer - Mudar o foco.

Como - Ter medo de ser largado pela pessoa amada é uma profecia autorrealizável: quanto mais medo você sente, mais paranoico fica, sem aproveitar os momentos bons a dois. Vira uma pessoa chata - e acaba afastando o outro. Faça de conta que o medo não existe, por mais absurdo que isso possa parecer. Dá resultado.

Medo de perder o emprego ou ficar sem dinheiro

O que fazer - Terapia cognitivo-comportamental.

Como vencer seus medos

Eduardo Szklarz*

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Como - Mentalize o contrário do que dá medo. Sempre que lhe ocorrerem coisas do tipo “vou ser demitido” ou “meu chefe me odeia”, pense em frases contrárias - como “sou bem preparado” e “meu trabalho tem valor”. Pode parecer simplório, mas tem efeito comprovado - e poderoso - sobre o cérebro.

VIOLÊNCIA

Sim, você pode sofrer violências terríveis. mas não faz sentido antecipá-las.

Medo de crime

O que fazer - Ignorar estímulos negativos.

Como - Já reparou como a TV e os jornais estão cheios de notícias sobre violência? É que esse tipo de coisa ativa a parte primitiva do cérebro - e tem um poder fortíssimo de chamar sua atenção. Mas também faz você sentir que o mundo é mais violento do que realmente é. Evite consumir esse tipo de informação.

Você quer fugir das suas fobias. Mas, para se libertar, tem de abraçá-las.

Crises de pânico

O que fazer - Respirar... e buscar ajuda.

Como - Ataque de pânico é uma manifestação extrema de medo, que requer ajuda de um especialista. Há algumas terapias que fazem efeito - como a hipnose, que auxilia o indivíduo a sair do pânico aproveitando os próprios recursos mentais.

Medo de altura, insetos, lugares fechados/lotados

O que fazer - Dessensibilização.

Como - O segredo é se expor gradualmente à situação ou ao objeto ameaçador. Se você tem medo de barata, por exemplo, baixe algumas fotos do inseto na internet, salve no seu computador e se obrigue a olhar uma por dia. Você verá como o medo diminui (quando estiver mais confiante, aumente a exposição - veja um vídeo de baratas no YouTube). A mesma técnica vale para situações como medo de altura e de lugares fechados. Procure se expor um pouco a eles. Mas, nesses casos, leve um amigo junto.

Medo de dirigir

O que fazer - Dessensibilização.

Como - O segredo é enfrentar, mas aos poucos. Experimente começar dirigindo aos domingos, quando há menos trânsito, levando um amigo junto. Se você sofreu um acidente e ficou com trauma, vale a pena procurar um analista ou instrutor (há autoescolas especializadas em gente com medo de guiar).

DOENÇA

Todos vamos morrer. Alguns, com sofrimento. Mas isso não é relevante.

Medo de adoecer

O que fazer - Não dar ouvidos à internet.

Como - Se você entrar no Google e começar a pesquisar sintomas, com certeza vai terminar achando que aquela coceira no seu braço esquerdo é sinal de um câncer incurável. Desconfie das coisas escritas na internet (mesmo em fontes confiáveis, pois o que elas dizem não necessariamente se aplica a você). Nada melhor do que marcar uma consulta médica para esclarecer tudo e acabar com as preocupações.

Medo de sofrer

O que fazer - Aceitar. Ou análise.

Como - Todo mundo tem esse medo. É normal. Se ele for muito intenso, e ocupar grande parte do seu tempo, pode valer a pena fazer psicanálise - que tentará encontrar as raízes do temor. Outra opção é o psicodrama, técnica que trabalha as vivências da pessoa por meio de dramatizações, como se fosse uma peça de teatro.

* Publicado originalmente em http://super.abril.com.br/cotidiano/medo-como-vencer-seus-799425.shtml

SUPER 331, abril 2014.

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O MEDO, SEGUNDO

AS PESQUISAS

SUPER 331, abril 2014

Veja os gráficos ouvindo Pitty (Medo):http://migre.me/oPSO5 20

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O MEDO, SEGUNDO

AS PESQUISAS

SUPER 331, abril 2014

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Homem: ainda um ser

s e l v a g e mNascer, crescer, morrer. Três palavras pri-

mordiais para um ciclo. Seria uma pena se alguém intervisse nele. Seres vivos. As-

sunto aprendido em biologia desde a primeira sé-rie. Sabemos que existem plantas, animais e seres humanos. Aprendemos que a fotossíntese é a ali-mentação das plantas. Os animais têm sua cadeia alimentar, e adivinhem só? Quem é o último con-sumidor mais poderoso e invencível da cadeia? Ele. O ser humano.

Muito se ouve por aí que as pessoas se sensibili-zam ao saber que mataram um animal só para tirar suas presas ou pele, pois não é justo, e que devem tirar sua carne também, para fazerem um bom apro-veitamento. “Justo”? É impossível enxergar justiça sabendo que um animal foi assassinado por um ser humano. Cientes de que estes possuem um espíri-to assim como quem os forjou a morte. Havendo tantos outros alimentos em alta escala de nutrição, como cereais, grãos e legumes. Infelizmente, o ho-mem prefere continuar sendo ignorante. Ignorar no-vas informações. Quebrar com essa “cultura”. Propor uma mudança para a humanidade. Por quê? Porque é muito mais fácil fazer o que sempre foi feito.

O homem biologicamente não foi criado para comer carne. Obviamente percebe-se que não pos-suímos garras, nem presas, nem a agilidade de um leão. Nossa dentadura não é feita para desgarrar. Nosso sistema digestivo é mais lento. Nosso olfato é mais refinado, fazendo com que não suportemos maus odores, como o de um animal recém-morto ou em decomposição, fato atraente para um animal carnívoro.

Um fato curioso é que o homem não mata ani-mais carnívoros e sim, herbívoros. Claramente, por-que toda a fonte de energia que o homem precisa, vem do reino vegetal. E convenhamos que o sabor da carne de um animal carnívoro, não deva ser mui-to saboroso, já que comem outros animais.

Outro aspecto mais interessante é a personali-dade. Já foi comprovado que pessoas que comem carne, são muito mais agressivas, mal humoradas, estressadas e mal dispostas, do que vegetarianas. Só de pensar na carne que as pessoas comem, co-bertas de adrenalina que o animal sofre minutos antes da morte, não é preciso nem dizer que toda essa toxina impregnada na carne, é um dos fatores da qual foram citados anteriormente.

Contudo, é correto afirmar que devemos cons-cientizar as pessoas, amigos, parentes, e nossos futu-ros filhos, assim quando eles forem ter sua primeira aula de biologia, que eles sejam os primeiros de uma geração a se questionar, se o homem realmente é o mais forte e invencível de toda a cadeia alimentar, ou se o homem somente foi alguém que continuou os passos de outros homens, por medo a mudança.

Por Lucía Gomez

Paul Mc Cartney é ativista do Veganismo e doou seu cachê para a Peta

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PALAVRA

Religião é o nosso laço com o divinoPor Carol Fernanda Pinheiro

Religião do latim RELIGARE - significa a “religação”, o laço entre o ser humano e o

divino. Religião é dogma com rituais e praticas diárias com o intuito de nutrir a ligação do ser pensante à seu suposto criador.

Derivando da palavra religião teremos um conceito que o complementa “religiosidade”, mas que independe da condição para existir e vice- versa. Religiosidade seria a percepção dessa ligação com o divino, é o reconhecimento do pertencer à algo maior. A religiosidade é mais um sentimento, uma postura e não está diretamente associada à doutrinas, filosofias, rituais, podendo estar presente em um ateu.

Cientistas e pesquisadores ainda investigam a relação da glândula pineal, e o reconhecimento de uma conexão com o universo, porém em registros de diversos povos antigos notamos referências a existência desse “ponto mágico no centro do cérebro”. Pessoas que cultivam a religiosidade desenvolvem aptidão de aplicar suas convicções morais e sua postura espiritualizada no dia a dia. E Espiritualidade quer dizer considerar

a “não materialidade” e TODAS AS RELIGIÕES concordam cada uma com sua crença à respeito desse “reino não material”.

A capacidade de considerar a existência de algo além da matéria já expande significativamente a percepção de mundo e de vida que um ser pensante possa ter. As religiões possuem crenças explicativas que saciam as duvidas de seus adeptos e por isso poderiam dar à essas pessoas maior intensidade de fé. Porém é mais comum que essas “verdades”

de cada religião estimulem sentimentos de superioridade o que foge completamente do conceito de religiosidade e o resultado nós vemos com tristeza... descriminação, preconceitos, intolerância e FANATISMO! Todo fanatismo nasce da rigidez das doutrinas religiosas.

A intolerância religiosa é estimulada pela inflexibilidade racional cultivada por uma religião em relação às demais. Saibamos o que a

ciência já aponta... somos capazes de perceber a existência de algo maior do qual fazemos parte. E se escolhermos um dogma que sacie nossas duvidas afim de expandir nossa fé que isso seja a verdade para nós, que a flexibilidade exista para dar lugar ao respeito genuíno pela escolha do outro.

Que pratiquemos a religiosidade em cada ato e que tenhamos orgulho de ter fé e não da maneira como a cultuamos.

* Carol Fernanda Pinheiro escreve aqui: http://conscienciaemexpansao.tumblr.com/

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EVENTO

“O medo é o pai da coragem”

Um homem de estatura média, já na casa dos 60 anos espera para ser anunciado. É o palestrante. Cabelos grisalhos, fisionomia grave. Olhos desconfiados, espertos, enérgicos – experimentados pela vida. A fala articulada justifica as incontáveis horas de leitura e reflexão. Hoje, um acadêmico respeitado. O rosto envelhecido ilumina-se numa áurea jovial ao lembrar de histórias sobre si: codinomes, guerrilhas, companheiros, tempos idos. É a vez dele. Antonio Roberto Espinosa é anunciado e, imediatamente, ouvem-se calorosos aplausos.

Por Paulo Hds

FOTOS: MILCA OLIVEIRA

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Em outubro de 2014, o curso de Jornalismo da FAAT Faculdades, instituição

de ensino superior localizada a 60 km de São Paulo, na cidade de Atibaia, promoveu a pa-lestra Comissão da Verdade: “Os 50 anos do Golpe de 64”. O palestrante foi Antonio Roberto Espinosa, jornalista brasileiro, ex-comandante das organizações armadas VPR (Van-guarda Popular Revolucionária) e VAR-Palmares (Vanguarda Armada Revolucionária Pal-mares). Espinosa é doutor em Ciência Política pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP.

O palestrante apresentou-se aos alunos do curso de jornalismo relatando sua história como ex- guerrilheiro e ex-comandante de movimentos estudantis. Lembra que iniciou a militância ainda muito jovem, por volta dos 16 anos, pois – a seu ver, “pegar em armas e lutar pela liberdade, naquela época, foi uma necessidade e não uma escolha”.

Sobre as operações que comandou, conta que eram cuidadosamente planejadas – nos mínimos detalhes. “Pensávamos em tudo quando tomávamos instituições privadas ou quar-téis. Para as agências bancárias tínhamos até pessoas encarregadas de socorrer os reféns, caso passassem mal ou se assustassem. No entanto, era evidente que a nossa luta não era contra o povo, mas contra a instituição e o governo”, acrescenta.

Espinosa discorreu sobre os quatro anos em que esteve preso em poder dos militares. Lembra que foi capturado junto da namorada Maria Auxiliadora e do amigo Chael Charles Schreier. Foram constrangidos e torturados de diversas formas. Revela que os castigos físi-cos eram constantes, fato que levou Chael a óbito depois de poucos dias de cárcere.

Perguntado sobre como sobreviveu à prisão e as torturas, o ex-guerrilheiro responde de imediato: “Fui um grande mentiroso. Tive que mentir para sobreviver. Inventei uma boa história e a mantive a fim de não delatar meus companheiros que ainda estavam nas ruas. No entanto, diversas vezes – sob pressão – pensei em revelar a verdade acerca das coisas que eu sabia, mas naqueles momentos ponderava ‘vou aguentar mais um minuto, só mais um choque, aí então eu falo’. Contudo, eu tomava outro choque e depois outro, e logo refletia ‘já que aguentei esse, posso aguentar outros’. E assim eu ia me mantendo e, consequentemente, deixando meus companheiros em liberdade”, relembra.

O acadêmico afirma que os anos que passou preso foram-lhe decisivos nos estudos e em sua formação intelectual. Lia diversos autores, como Marx, Weber, Rousseau e Locke. Desse último, o jornalista ressalta pensamentos como “O Contrato Social”, teoria

que o possibilitou compreender valores como liberdade, coesão social e opressão. Logo, refletiria como tais conceitos se aplicavam na sociedade comandada pelo Regime Militar.

E foi com a frase “O medo é o pai da coragem” que Espinosa concluiu os relatos sobre os momentos de tensão em que permaneceu sob as mãos dos torturadores. “Tomávamos certas decisões movidos pelo medo, aliás, pelo medo de ter medo. Esse sentimento é natural do ser humano e não há como não senti-lo, ainda mais naquelas situações extremas as quais vivi”, reflete.

Após 40 minutos de palestra, o docente dispõe-se a responder perguntas dos presentes. Os alunos pertencentes ao primeiro ano de jornalismo formularam questões referentes à política nacional, enquanto que o segundo e terceiro anos partiram para temáticas mais abrangentes. Cordial, Espinosa respondeu todas as questões, demonstrando inteligência e bom humor.

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MÚSICA

Katya Teixeira fatura Prêmio Brasil Criativo

Por Marcelino Lima

Projeto percorre o país e homenageia Dércio Marques

Talento, simpatia, generosidade, garra, fé são atributos que rimam com a cantora paulista Katya Teixeira, agora reconhecidos também pelos organizadores do Prêmio Brasil Criativo, na categoria Artes de Espetáculo/Música. No destaque, Dércio Marques.

MERCEDES CUMARU

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O Dandô – Circuito de Música Dércio Marques, idealizado pela cantora e

compositora Katya Teixeira é o ganhador da categoria Artes de Espetáculo/Música do Prêmio Brasil Criativo, promovido pelo Ministério da Cultura, pelo Projeto Hub e pela 3M. Os prêmios para os 22 projetos vencedores foi entregue no Auditório Ibirapuera, bairro da zona Sul de São Paulo, perante um público de mais de 800 pessoas na noite de quarta-feira, 3 de dezembro.Ao idealizar em 2013 o “Dandô – Circuito de Música Dércio Marques”, Katya Teixeira pensava em fomentar a circulação de música de inquestionável qualidade por todo o país, reunindo artistas de várias regiões para gerar intercâmbios e novas plateias. Quem já se apresentou possui trabalhos reconhecidos, mas poderia ter uma melhor projeção no panorama nacional e proporcionar às pessoas o acesso à música de qualidade produzida fora da “grande mídia”.

Com apoio da jornalista Mercedes Cumaru, que tornou-se uma fiel escudeira de Katya e assumiu

a tarefa de divulgar o Dandô para a imprensa e as mídias sociais, a iniciativa, literalmente, ganhou estrada e passou a ser apresentada em várias localidades nacionais. A cada nova rodada, com um artista saindo de cada cidade e passando por todos os pontos do circuito, a caravana tornou-se contínua. Cada edição conta sempre com um artista do local recebendo e abrindo o espetáculo para o convidado, que em vários momentos atravessam diversos estados para chegar aos shows. Cada apresentação dura cerca de aproximadamente noventa minutos. Ao final, há um bate-papo entre artistas e plateia. O Dandô já circulou por várias cidades paulistas, de Minas Gerais, de Pernambuco, do Paraná, de Goiás, de Santa Catarina e do Rio Grande do Sul e, neste inicio de dezembro, já passou a contar com a adesão do Sindicato dos Jornalistas de São Paulo. Katya Teixeira já fala em introduzi-lo no Norte do país, em estados como o Pará, e levá-lo até além fronteiras pela América do Sul, entrando pelo Chile. Uma antologia do primeiro ano está em projeto.

O objetivo de Katya Teixeira é, ainda, levar a todo o Brasil, o nome de Dércio Marques e seu inestimável legado não apenas para a música, mas para toda a cultura popular brasileira.

Dércio Marques, mineiro de Uberaba, morreu em julho de 2012, em Salvador, deixando como maior legado uma grande escola que transcende a composição musical e poética e propõe, ainda, uma postura mais íntegra e solidária de viver, voltada tanto para a preservação da natureza, quanto para o aprimoramento espiritual de cada indivíduo, sem deixar de lado o engajamento político e social.

Katya é um dos seguidores mais brilhantes e discípulo do ideário do mineiro que viveram bem próximos dele, a exemplo de João Arruda, Déa Trancoso, Levi Ramiro, João Bá, Carol Ladeira, Wilson Dias e tantos outros artistas que com suas obras vêm contribuindo para ajudar a pegar flor e dar frutos os sonhos do mestre.

Perpetuando o nome de Dércio Marques

Abaixo, declarações que repercutem a alegria dos músicos e artistas envolvidos e que apóiam o Dandô – Circuito de Música Dércio Marques

Obaaaaaa! A vitória da fé e do trabalho. Parabéns pra vc Katya, parabéns pra nós todos! (Paulo Matricó/PE)*****Minha irmã, um abraço em cada artista que faz parte desse projeto lindo, especialmente aqueles que passaram por aqui.Um PARABÉNS enorme para ti, semeadora e cultivadora de toda essa riqueza. Um grande beijo. E que em 2015 continuemos ‘dandando’ muito mais!!! (Fabiani Felix Cardoso, Pedro Osório/RS)*****PARABÉNS a todos, mas a esse anjo que espalha essa garra e entusiasmo pela cultura do povo! Katya Teixeira, estou te esperando dia 19 de dezembro para comemorar! (Mara Muniz, Soledade/RS) *****Esse é o reconhecimento da grandiosidade cultural que é Dandô…Axé para todos os Dandôdeiros!!! (Demi Lopes, Itamaraju/BA) ******Mana Katya Teixeira e o troféu desse projeto lindo de formação de público que une artistas maravilhosos do Brasil todo. Parabéns!!!! Todos nós ganhamos!!! E tb parabéns à querida Mercedes Cumaru que é parceira dessa belezura!!!! (Anabel Andrés, Vozes Bugras/SP) *******Dei gritos de alegria! O Dandô ganhou merecidamente! Parabéns Katya, parabéns dandeiros!!!!!!!!!!!!!!!!!! (Nádia Campos, Belo Horizonte/MG) *****Ontem o Dandô – Circuito de Música Dércio Marques foi premiado no Prêmio Brasil Criativo como melhor projeto musical de 2014. Fico feliz de ter feito parte desta história e de toda essa luta que é de um grande elenco de artistas. Obrigado Katya Teixeira por me permitir essa alegria e honra de lembrar o nome e memória do grande Dércio Marques! Muito feliz aqui!!! (Erick Castanho, Uberlândia/MG)

Para conhecer o trabalho de Katia Teixeira, clique aqui: http://www.katyateixeira.com.br/

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UM ALERTA: Pessoas demasiada-mente sensíveis não devem assis-tir ao curta a seguir. O filme em questão é a produção australiana de horror/fantástico Harvey. Com um estilo que lembra o clássico Frankenstein, de Mary Shelley, Harvey (personagem-tema) é um

Terror extremo em curta australianoPor Yerko Herrera

Baixe o filme completo - Diversas opções e formatos distintos:Harvey - 64Kb Real Media (41 MB)http://www.archive.org/download/Harvey2001/Harvey2001_64kb.rm

Harvey - 512Kb MP4 (42 MB)http://www.archive.org/download/Harvey2001/Harvey2001_512kb.mp4

Harvey - HiRes MP4 (57 MB)http://www.archive.org/download/Harvey2001/Harvey2001_edit.mp4

Harvey - 256Kb Real Media (98 MB)http://www.archive.org/download/Harvey2001/Harvey2001_256kb.rm

Harvey - MPEG1 (100 MB)http://www.archive.org/download/Harvey2001/Harvey2001.mpg

Harvey - MPEG2 (173 MB)http://www.archive.org/download/Harvey2001/Harvey2001.mpeg

Harvey - Ogg Video (34 MB)http://www.archive.org/download/Harvey2001/Harvey2001.ogv

homem solitário e obcecado que vê em sua vizinha a esperança de preencher o que falta em sua vida. Algumas questões que o filme já levantou por aí, tamanha polêmica, são: seria ele uma escura e mór-bida metáfora da nossa solidão? Ou, um mostruário de efeitos visu-

ais perturbadores? O horripilante curta-metragem, muito além de causar asco, pode trazer diversas reflexões. Tenha certeza que este filme o deixará dividido! Afinal, somos todos solitários, iludidos na busca de alguém (ou algo) que nos complete.

SinopseUm conto sombrio de obsessão e solidão sobre um homem que procura perfeição física e emocional. É só depois de realizar este objetivo pela coalescência forçada com sua vizinha que ele começa a entender a natureza dolorosa, insolúvel da sua obsessão.

Gênero FicçãoDiretor Peter McDonaldElenco Lisa Angove, Nicholas HopeAno 2001Duração 9’30’’Cor P&BPaís AustráliaMarcadores: Experimental, Ficção, Filme pra Baixar, Horror, Curta-metragem, Austrália

Veja mais em http://outrocine.blogspot.com.br/

CINEMA

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Entre as chacoalhadas dos ônibus da capital paulista, João Lino tentava recu-

perar um pouco das horas de sono. Os olhos semicer-rados erravam entre o sonho e a visão do trân-sito estático. Ao menos eu tenho um lugar sen-tado - pensou. Um re-flexo veio e ofuscou-lhe os olhos. Não se pode ter um momento de sos-sego! - bradou. Também pudera, João Lino acor-dava todos os dias as cinco para apanhar o ônibus. A tarde, tocava pegar outro ônibus para chegar ao segundo canteiro. Quem teria feito tamanha maldade?.

A luz volta-lhe a bater nos olhos. - Eu vi. Foste tu besta do inferno! - e dirigiu o olhar coléri-co a menina que se maquiava com a ajuda de um espelho de bolso. Logo que ela guardou-o, João Lino foi açoitado uma terceira vez pela luz. Creio em Deus Pai! Tô alucinan-do e nem bebi! - disse. Colocando a prova a sua sanidade, estapeava--se a face. Dentro de sua cabeça a desordem. Fora, um pequeno cír-

Felipe Tomei Toniato

João Lino e o real

culo se formou. Quem queria ficar perto de bêbado ou drogado? Bem feito fez a moça de ir embora - re-fletiu o cobrador. Dona Lúcia puxou a bolsa mais perto do peito. Júlio, praticante de Jiu-jitsu, preparava o golpe a ser dado.

Uma onda de apreensão in-vadiu o apinhamento de pessoas. Todos se entreolhavam e olhavam João Lino. Sem exceção aguarda-

vam o golpe que viria. E João Lino a tudo ignorava. Como ignorava a muitas coisas em sua vida: a

filosofia, a religião e a política. Ignorava que lhe roubavam

metade do salário. Igno-rava que lhe tomavam por simplório. Ignora-va a Deus e ao Diabo e estes o ignoravam. Ignorava que era peça

miúda da máquina que engole homens que é São

Paulo. Ignorava que iria nas-cer, crescer e morrer sob o Sol. Ignorava o mal que ha-via de lhe suceder. Ignorava que a sua cor, sua aparência física e social lhe haviam re-

legado tal mal. Um movimento brusco fez com

que todos prendessem a respira-ção. O cobrador pensou na família, dona Lúcia começou a rezar e Jú-lio César borrou as calças. Mesmo assim todos se preparam para re-agir. Matar o mulato era a palavra de ordem. Raio de sorte! - gritou. Abaixando-se, pegou uma moeda de Real. Bem na hora de descer e dando ainda pra jogar uma partida de bilhar .

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Lugares são feitos de pessoas. Pessoas e lugares são o alvo, o sonho de todo jornalista que, em sua essência é um conta-dor de histórias. Histórias de gente e de lugares. Munidos desses princípios os jornalis-tas Edgard de Oliveira Barros e Jean Takada decidiram criar o projeto “Gente de Atibaia – Pessoas ilustres e nobres des-conhecidos”, livro digital com página no Facebook que une fotografia e entrevistas para contar histórias de morado-res típicos, gente tradicional e jovens que já se projetam no dia-a-dia da cidade.Tudo começou quando Jean avistou Andrezinho pela pri-meira vez. Ele conta que ficou admirado e curioso: perma-neceu a ideia de repetir a ex-periência “Atibaia & Sua Gen-te”, e conhecer o Andrezinho. “Quem seria aquele homenzi-nho negro com chapéu de can-gaceiro e botinhas de borracha que era visto em todos os can-tos da cidade? Na minha ima-ginação ele estava saltando de um livro de Monteiro Loba-to!”, relembra. Takada tinha 15 anos e havia se mudado para Atibaia há poucos meses.

Uma homenagem aos que fazem o cotidiano de AtibaiaOs jornalistas Edgard de Oliveira Barros e Jean Takada lançam livro digital com “histórias de gente simples”

O tempo passou e 20 anos de-pois, em 2013, ele aproveitou as férias no trabalho de editor de arte na Editora Abril, em São Paulo para, literalmente passar a história a limpo. Du-rante vários dias ele passou a acompanhar seu personagem pelas ruas da cidade. Foto-grafou, ouviu ‘causos’ sobre Andrezinho, pesquisou docu-mentos, entrevistou amigos e parentes do personagem. Costurou tudo e escreveu a re-

portagem “As histórias e a ver-dadeira história de um gigante chamado Andrezinho”, mistu-rando fantasia e vida real.O texto foi editado por Edgard de Oliveira Barros e publicado em um jornal local. Barros é pioneiro em entrevistar e con-tar histórias de personagens do dia-a-dia de Atibaia e autor dos livros Atibaia & Sua Gente, volume I e II, também disponí-veis na internet, fora diversos livros de crônica, dois livros técnicos sobre Jornalismo, afi-nal deu aulas de Jornalismo na FMU, em São Paulo. Fora isso, um livro narrando uma viagem ao paraíso denominado Bar-ra de São Miguel, um recanto maravilhoso das Alagoas.“Somos apaixonados por his-tórias de gente simples. Ouvir e poder compartilhar com os leitores é muito gratificante. Além disso, prestamos uma homenagem mais do que me-recida para nossos persona-gens”, concluem.

• Para acessar:www.facebook.com/gentedeatibaiawww.issuu.com/genteatibaiawww.instagram.com/gente_de_atibaia

Dona Terezinha, benzedeira

Nestor Lampros, artista plástico

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Apesar da revolta com ares de filme pas-telão dos antidemocráticos que não aceitam o resultado, a verdade é que

o pleito eleitoral de 2014 está encerrado e o grande derrotado foi o jornalismo brasileiro que mais uma vez prestou um desserviço à população. A ten-tativa bizarra de uma revista (cujo nome, todos sabem, mas me dou o direito de não citá-la já que ter-mos chulos devem ser evitados em respeito aos leitores) de in-terferir novamente nos rumos da eleição, foi apenas mais um exemplo do nível deplorável que a nossa imprensa atingiu. Para completar o quadro dantesco, os que ainda honram a profissão, per-manecem num silêncio cômodo.

Em sua história, o jornalismo brasi-leiro teve ótimos e péssimos momen-tos, qualquer um que seja da área ou bem informado saberá citá-los. Entretanto, prestes a comemorar 30 anos do fim da Ditadura Militar, deveríamos estar vivendo um mo-mento muito mais rico e maduro dos principais veículos de comuni-cação, porém o que presenciamos, especialmente na última década, foi o assassinato de todos os prin-cípios éticos da profissão em detri-mento de interesses obscuros que tentam incansavelmente tirar do poder o atual governo para colocar o principal partido da oposição, no caso, o PSDB.

Checar a fundo uma notícia antes de di-vulgá-la, ter em seus quadros colunistas com opiniões diferentes, dar a mesma relevância a uma denúncia independente do partido ou político envolvido, ouvir e dar todo o espaço para que o lado acusado possa se defender,

O jornalismo brasileiro é um cadáver em estado de putrefação

Por Marcelo Rio

deveriam ser preceitos básicos de qualquer ve-ículo de comunicação sério, mas, no Brasil, vi-vemos exatamente o inverso e isso parece não chocar mais ninguém que trabalha no meio.

O desequilíbrio das notícias favoráveis e desfavoráveis envolvendo PT e PSDB em jor-nais, revistas, tevês, rádios e portais da in-ternet demonstra claramente que a grande mídia não está fazendo jornalismo, mas sim, campanha política. Alguém que chegasse de Marte perto das eleições poderia ingenuamen-te pensar: “Mas se há mais fatos ruins de um lado do que de outro, paciência, que se mos-tre tudo”. É verdade, mas isso não é nem de

longe o caso; as notícias ruins envolvendo o partido da presidente são amplificadas ao extremo e muitas até divulgadas sem uma mísera prova. Já as do partido adversá-rio, raramente são apresentadas e quan-do são, abre-se um espaço enorme para que a defesa explique que tudo não passa de inverdades. Diante desse cenário, não é surpresa que o jornalismo brasileiro te-nha sido motivo de tantas críticas de cole-

gas de diversas partes do mundo.Vermes insaciáveis Apesar de honrosas exceções, a triste

constatação é que o nosso jornalismo tor-nou-se um cadáver em avançado estado

de putrefação, onde vermes trabalham freneticamente visando apenas pas-

sar as “verdades” que eles in-ventam, distorcem ou omitem

conforme o partido. Não há mais medo do ridículo, do descrédito ou de serem questionados pelos ma-lefícios que a defesa in-transigente de um lado

e o ataque cego ao outro trazem ao País e à profis-

são. Eles não “estão nem aí”. Na verdade, estão com seus egos

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machucados desde 2005, quando não se con-tentaram em denunciar um esquema de cor-rupção. Tentaram a todo custo tirar Lula do poder. Na época, um colunista (novamente omitirei o nome por uma questão de respeito ao leitor) chegou a escrever debochadamente em sua coluna que o governo do PT tinha aca-bado ali e que faria questão de dar a notícia ao presidente. Pois é, nove anos e três derrotas presidenciais depois, o mesmo colunista sur-tou e descarregou seu ódio em um programa de tevê, xingando nordestinos de “bovinos”, pouco educados, retrógrados, entre outras coisas. Esse é um dos exemplos de “grandes pensadores” que a imprensa possui.

Mas há quem consiga ser ainda pior. Um dos jornalistas mais queridos pelos reacioná-rios de plantão e que escreve para a mesma revista que deu vexame às vésperas da eleição, possui um blog onde posta alucinadamente “notícias” e comentários contra o partido da presidente, mas toda e qualquer notícia contra o PSDB, é, obviamente omitida por esse “pro-fissional, o máximo que cinicamente publica é “ que se apure tudo, não interessa quem seja”, mas logo na sequência vem um longo texto defendendo os tucanos com veemência e ata-cando os que ousam apontar casos de corrup-ção como o do metrô em São Paulo.

Nos canais de tevê, a coisa não é muito di-ferente, apenas o modus operandi é mais sútil, porém o conteúdo de notícias favoráveis aos tucanos e desfavoráveis aos petistas é o mes-mo.

É possível ressuscitar o jornalismo sério no Brasil?

Após a constatação óbvia de que o jornalis-mo brasileiro perdeu seu rumo, especialistas debatem sobre formas de resgatar a credibili-dade e acabar ou pelo menos diminuir consi-deravelmente com as grandes aberrações que tomaram conta de muitas redações. A ideia de criar mecanismos de “controle”, regula-mentação, ou seja lá o nome que for, deve ser refutada pelos que defendem uma imprensa verdadeiramente livre. Será esplêndido se a Justiça passar a punir severamente o veículo ou jornalista que caluniar, ofender e inventar sandices para qualquer fim, mas jamais pode-

mos aceitar a criação de um órgão que policie a imprensa. Conclusão: o caminho não pode ser esse.

Achar que blogs que servem para atacar a grande imprensa estejam fazendo jornalismo de fato, é acreditar em Papai Noel. No máxi-mo, o que fazem é rebater as mentiras e apre-sentar denúncias contra o partido queridinho da mídia. Mas isso está longe de resolver o problema, na verdade, esse é mais um proble-ma, pois não existe um lado 100% certo e ou-tro 100% errado.

Seria utópico acreditar que a própria po-pulação perceberá a manipulação e se voltará contra as mentiras passadas pela imprensa, exigindo um jornalismo de verdade. Resta uma única e fantástica alternativa: que os jornalis-tas sérios se levantem e, num ato de grandeza moral, digam não ao que a grande mídia está fazendo. Em vários veículos, há profissionais sérios, mas que estão se calando diante da barbárie cometida por seus patrões e colegas. O medo de perder o emprego não pode ser desculpa nem para os próprios botões para aceitar passivamente o que está ocorrendo. Vale lembrar que no passado, profissionais da área sofreram ameaças muito mais graves e não tiveram medo, portanto, é momento de um ato de libertação, seja do jornalista que escreve sobre política, esportes, celebridades etc. Todos têm a obrigação de deixar o como-dismo de lado e partir para o enfrentamento, expondo para os brasileiros toda a grande ar-mação da mídia.

Somente com a multiplicação de atitu-des como a de Xico Sá que deu uma banana e abandonou jornal que não queria publicar um texto apoiando Dilma, mas aceitava publi-car os de outros colunistas que elogiavam Aé-cio Neves, é que poderemos sonhar com um jornalismo tocado por jornalistas de verdade, que critiquem, denunciem, elogiem não por interesses obscuros, mas pelos verdadeiros objetivos da profissão que são o de informar e fomentar a reflexão.

Cabe aos jornalistas sérios o papel de res-suscitarem o nosso jornalismo.Calar-se será tão grave quanto ser um dos vermes que o de-vora.

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VOCÊ LEU O TEXTO SOBRE O CHICO BUARQUE NA EDIÇÃO #20 DA KALANGO? IMAGINA SE ELE SOUBER...

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PERUum país de tirar o fôlego

A primeira impressão que se tem do Peru não é nada boa.

Mas isso é só o começo.

Por Luis Pires

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O Aeroporto Jorge Chavéz, porta de entrada para os voos internacionais no país se situa em Callao, a 16 km do Centro de Lima. As casas são rebocadas apenas na parte frontal, com predominância da cor ocre, o que causa a impressão

de que estão todas inacabadas. Aos poucos, porém, a paisagem vai mudando e em cerca de 50 minutos chegamos a uma cidade que mescla construções do século XVI com modernos edifícios envidraçados.

Na Plaza de Armas (ou Plaza Mayor), por exemplo, se localiza a Catedral de Lima, construída em 1555 e reconstruída cinco vezes por conta de incêndios e terremotos, e o Palácio do Governo, sede do poder executivo peruano, um prédio construído em 1937. A alguns quilômetros dali se localiza o moderno bairro de Miraflores, que concentra grandes lojas, com destaque para o centro comercial Larcomar, um shopping a céu aberto belíssimo, construído numa encosta a beira-mar. Além de um dos cartões postais da cidade: o Parque do Amor, um mirante à beira do Oceano Pacífico, cuja principal atração é a estátua de um casal atracado em um beijo.

A metrópole de cerca de nove milhões de habitantes (que tem trânsito mais caótico do que o de São Paulo) vem se destacando nos últimos anos pela sua culinária. No ranking divulgado em setembro pela revista britânica Restaurant, Lima cravou dois restaurantes (Central e Astrid y Gaston) dentre os vinte melhores do mundo, e sete entre os quinze melhores da América Latina, no ranking da mesma revista.

Para encontrar uma vaga na mesa de um desses restaurantes é necessário fazer reservas com dois meses de antecedência, mas existem centenas de opções onde é possível se comer bem e por preços bem mais em conta do que em São Paulo. Uma refeição para duas pessoas à base de pescados e frutos do mar, com bebidas e sobremesas sai em média 60 soles (cerca de R$ 50). Baratíssimo para os padrões paulistanos.

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Cusco, o umbigo do mundo

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Embora nos últimos tempos Lima tenha atraído turistas por con-ta de sua culinária, a principal

atração peruana continua sendo Cusco (em quíchua Qosqo que significa “um-bigo do mundo”). Não se sabe o ano preciso de sua fundação, mas é certo que foi o mais importante centro ad-ministrativo do Império Inca, que du-rou de 1100 até 1535, quando o então imperador Atahualpa foi derrotado pelo espanhol Francisco Pizarro. Os re-manescentes do império mantiveram durante séculos uma luta contra os espanhóis, mas foram definitivamen-te derrotados quando seu líder Túpac Amaru II foi capturado e executado em praça pública em 1780.

Atualmente com 300 mil habitantes Cusco preserva construções do período colonial espanhol, misturadas a vestí-gios incas. Um dos locais mais curiosos nesse sentido é Qorikancha (Templo do Sol), hoje ocupado pelo Convento de

Santo Domingos. Numa mesma cons-trução é possível encontrar quatro pe-ríodos arquitetônicos, muito bem pre-servados e definidos: pré-colombiano, inca, colonial e moderno.

Há também importantes sítios arque-ológicos como Saqsayhuamán (com um mirante no qual se tem uma vista impressionante da cidade), Tambo-machay, Q’enqo e Pukapukara. Loca-lizados a mais de 3.400 metros de al-titude, esses locais requerem certos cuidados para serem visitados. Por conta do ar rarefeito são comuns sinto-mas de dores de cabeça, dificuldades para respirar e cansaço físico. As per-nas parecem pesar 200 kg e pequenas distâncias requerem esforço extraordi-nário para serem percorridas. Mascar folhas de coca, algo que faz parte da cultura da região, ajuda a amenizar os efeitos mas não se deve fazê-lo nos pe-ríodos da tarde e da noite, com riscos de prejuízo para o sono.

Leia a Kalango ouvindo o grupo Kirtan http://migre.me/oPRaH

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Machu Picchu, a cidade perdida dos Incas

Distante a 112 km de Cusco, Machu Picchu (em quíchua Ma-chu Pikchu, “velha montanha”), a chamada “cidade perdida dos Incas” é uma construção pré-colombiana localizada a

2.400 metros de altitude, no vale do rio Urubamba. Até hoje não se sabe se era moradia dos sacerdotes em culto ao deus Sol ou um lugar secreto para refúgio dos imperadores, ou mesmo para seu descanso. O fato é que a imponente construção impressiona por sua grandiosidade e pela organização de suas ruas, escadarias e ter-raços utilizados para agricultura. Uma obra de engenharia que deixa qualquer um boquiaberto.

Redescoberta oficialmente em junho de 1911 pelo antropólogo es-tadunidense Hiram Bingham, o local foi declarado patrimônio da humanidade pela UNESCO. Por conta de sua preservação, os turis-tas só podem chegar ao Pueblo de Machu Picchu/Águas Calientes) de trem, saindo de Cusco, numa viagem de aproximadamente qua-tro horas, que por si só já vale o passeio.

O trem tem janelas e tetos panorâmicos, que permitem aos turistas observarem as escarpadas montanhas e o rio Urubamba, onipre-sentes por todo o percurso. Do povoado se chega ao santuário a pé (cerca de três horas de caminhada) ou por um eficiente sistema de micro-ônibus, em percurso de aproximadamente 25 minutos. A beleza natural da subida prepara o turista para a grandiosidade de Machu Picchu. A energia do lugar é de tirar o fôlego. E não é só por causa da altitude.

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VOLTE SEMPRE

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