juventudes_sindicalistas

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    ESTUDOS

    AS JUVENTUDES SINDICALISTAS:UM MOVIMENTO SINGULAR

    Joio FREIREDepartamento de Hist6ria de Sociologia do I.S.C.T.E.

    PENELOPE. FAZER E DESFAZER HIST6RIA, N.o 4, NOV. 1989

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    DENTRO da nebulosa libertaria do principio do seculo, em Por-tugal, 0 movimento das luventudes Sindicalistas apresentavarias caracteristicas interessantes e outras tantas singularidades. Exis-tindo como movimento organizado apenas durante 14 anos (1913--1927), ele filia-se simultaneamente no movimento anarquista e nomovimento sindical, distinguindo-se em ambos os casos pelo seu dina-mismo e espirito de rebeldia contra os valores e interesses instalados.Criou assim uma realidade nova, quica sem paralelo sequer noestrangeiro I.Uma genese controversao segmento juvenil do anarquismo portugues foi sempre de umanotavel actividade: quer em Coimbra, quer em Lisboa e no Porto,os estudantes libertarios deram nas vistas em varias ocasioes-; nosultimos anos da monarquia e primeiros da republica diversos foramos agrupamentos que se constituiram com base no criterio etario

    juvenil '. Por isso, quando em 1913 se forma 0 primeiro micleo deluventudes Sindicalistas, em Lisboa, esta nova formula era apenasmais uma entre varias ja presentes. Durante algum tempo, ate cercade 1916, assiste-se a uma especie de competicao e debate publico sobrequal 0 tipo de organizacao juvenil libertaria que mais interessariadesenvolver.A emulacao mais viva e significativa verificou-se entre as luven-tudes Sindicalistas - que, entretanto, se consolidam nao so em Lis-boa, mas igualmente no Porto, Evora e outras localidades de pro-vincia- - e os nucleos e grupos de Jovens Libertarios-,Como se pode perceber pela querela das designacoes, os primei-ros privilegiavam a condicao de trabalhadores assalariados e a quali-dade de sindicalistas (que, na epoca, se associava geralmente a liber-tarios), enquanto que os segundos reivindicavam em primeiro lugara referencia a ideologia anarquista e aos valores de rebeldia e inde-pendencia que the estavam ligados. 0 debate alargou-se e envolveumilitantes destacados. Neno Vasco, por exemplo, toma partido emfavor das luventudes Sindicalistas, achando que 0 agrupamento sedeve fazer segundo criterio de classe e de idade, nao de ideiasxe.Tal posicao e contestada pelo jovem Henrique Fernandes, afirmandoque entre os sindicalistas, sao diversas as linguagens e nem todosdizem 0mesmo. Dizem-se sindicalistas muitos que estao no partidosocialista, muitos que sao anarquistas declarados e ate simples cor-

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    porativistas; e, para obviar a este equivoco, estancar 0 senti-mento de desconfianca, pede ao prestigiado Neno Vasco que estudeprofundamente a questao e depois diga quem esta dentro da razao,se os que abandonando (... ) a pr6pria propaganda, organizam osmicleos sindicalistas, se aqueles que firmes no seu campo, queremcontinuar a ser anarquistas 7.Note-se que esta clivagem de opinioes nao correspondia a umadivisao entre operarios e intelectuais. Embora entre os jovens radi-cais de Coimbra a f6rmula sindicalista nunca tivesse tido grandesadeptos, 0 certo e que ela encontrou em Lisboa 0 apoio entusiasticode homens como Aurelio Quintanilha, estudante universitario, quelhe deram nesta fase 0 melhor da sua actividade.Durante os anos de 14 e 15, nao era facil adivinhar qual dastendencias acabaria por triunfar. As Juventudes Sindicalistas empe-nham-se em actividades de cultura (aulas e leitura; teatro; festas),na divulgacao do seu jornal 0 Despertar 8 e, sobretudo, na agita-~ao contra a guerra 9. As Juventudes Libertarias, para alem destemesmo tipo de actividades, alinham mais abertamente no militan-tismo protagonizado por Bartolomeu Constantino, Bernardino dosSantos e outros anarquistas da linha dura, participando na tentativaorganizativa da Uniao Anarquista Comunista (UAC) e acabando porserem arrastados pelo esfacelamento desta organizacao!v.A partir de 1916, com dificuldades politicas e policiais acresci-das pelo facto da entrada de Portugal na Guerra, 0 movimento dosgrupos de jovens libertarios acaba por desaparecer, deixando 0 cami-nho aberto, agora sem concorrencia, as Juventudes Sindicalistas!'.

    A batalha do reconhecimentoDepois de urn periodo de abrandamento - que afectou, de resto,todas as movimentacoes sociais - 0movimento sindicalista juvenilretoma impulso a partir de 1919. Em Janeiro de 1921 realiza 0 seuprimeiro congresso mas, logo ap6s a fundacao do Partido Comu-nista, sofre a cisao provocada pelo seu secretario-geral Jose deSousa 12, que vai constituir a organizacao juvenil bolchevista comuma fraccao dos agrupados nas Juventudes Sindicalistas. 1 3 neste con-texto de divisao e luta ideol6gica entre bolchevistas e libertarios que

    os novos responsaveis federais das juventudes Sindicalistas vao desen-volver uma serie de accoes tendentes a obterem 0 seu reconhecimentoinstitucional por parte do movimento sindical portugues, do qual deri-variam certas formas de auxilio e apoio de que 0movimento juvenilbern carecia. 1 3 que, para alem das lutas politicas no interior do campoIS J U V E N TU D E SS I N D I C A L I S T A S121

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    operario, a repressao governamental era uma realidade permanente,que dava azo a accoes violentas atribuidas, com ou sem razao, a jovenssindicalistas, sendo diffcil ver-se 0 termo desta dialectica de accao--repressao. Por outro lado, levantavam-se cada vez mais suspeitassobre actos atribuidos a Legiao Vermelha e sobre 0 Papel de agentsprovocateurs de certos elementos, sem esquecer a comocao provo-cada por casos como 0 do rebentamento de bombas em vias de fabri-cacao, na madrugada de 29 de Dezembro de 1921, na propria sededas Juventudes Sindicalistas (e da C.O.T., d'A Batalha, etc.), na Cal-cada do Combrol,oComite Federal das Juventudes Sindicalistas tinha entao comosecretario-geral Fernando de Almeida Marques 13 e dele faziam partehomens como Raul dos Santos, Jose Maria Esteves e David de Car-valho, enquanto na Seccao Federal do Norte se distinguia Luis Anto-nio de Carvalho. Estes e outros jovens militantes empenham-se,nomeadamente, na procura do reconhecimento da sua organizacaopor parte da COT, no congresso nacional de 1922 que teve lugarna Covilha, Tendo comecado por receber uma resposta negativa dacomissao organizadora do congresso, com base nas resolucoes toma-

    das no anterior congresso de Coimbra de que so organismos sindi-cais poderiam participar nos congressos, os jovens sindicalistas resol-vern por sua conta e risco, produzir e apresentar ao congresso daCovilha uma Tese intitulada Relacoes das Juventudes SindicaIistascom a Organizacao Operaria, cujo relator foi David de Carvalho,tambem ele delegado ao congresso, conjuntamente com Almeida Mar-ques e Luis de Carvalho.o interessantissimo relatorio desta delegacao, redigido por Davidde Carvalho, conta as peripecias ocorridas durante os trabalhos con-gressuais, atraves da percepcao que delas tern esta testemunha i-,Independentemente disto, porem, 0 facto e que, pela primeira vez,a COT reconheceu a existencia formal da Federacao das JuventudesSindicalistas, ao mesmo tempo que aprovava a tese acima referida,apenas com Iigeiras modificacoes 15. A doutrina nela contida frisavaque as relacoes entre ambos os organismos deveriam basear-se nasolidariedade; que a COT deveria coadjuvar a formacao, manu-tencao e desenvolvimento de micleos de Juventude Sindicalista emtodo 0 pais e dispensar-Ihe to do 0 seu apoio moral e, quanto pos-sivel, material; que as Juventudes, por seu lado, exerceriam a suaaccao sobre a mocidade operaria, preparando, entre ela, os futurosmilitantes por uma educacao moral, intelectual, social e, possivel-mente, tecnica, e criando-Ihes urn elevado espirito de sacrificio, deabnegacao e de solidariedade; e, finalmente, que as Juventudes Sin-dicalistas manteriam a sua autonomia e independencia, quer moral

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    quer material, reconhecendo-se, portanto, no seu ambito, toda aliberdade de decisao e de accao, de discussao e de critica.Conseguido este passo, decisivo, os jovens sindicalistas explo-ram 0 sucesso pela apresentacao, em subsequentes congressos corpo-rativos, de identicas mocoes atraves das quais os organismos opera-rios declaram reconhecer e apoiar, ao menos no plano moral, a accaoda Federacao das luventudes Sindicalistas.Finalmente, tais declaracoes serviam, no dia-a-dia, para obterapoio de sindicatos locais na cedencia de uma sede ou de local parareuniao, para a circulacao dos jornais ou manifestos juvenis nos meiosoperarios, ou para a recolha de ajudas financeiras em favor de mili-tantes perseguidos ou presos 16.

    A organizacao das luventudes Sindicalistas assentou, desde 0inicio, em Nucleos, por localidades. Cada Nucleo era aut6nomo, deter-minava as suas actividades e designava responsaveis, cobrava as quo-tizacoes dos seus s6cios e possuia estatutos pr6prios. Nao obstanteisto, 0 modelo de organizacao era comum a todos os Nucleos e osestatutos apresentavam apenas diferencas de pormenor.Tomando como exemplo 0Nucleo do Porto, fundado no infciode 1914, as suas Bases organicas especificam que sao seus fins:

    1. 0 - Educar moral, intelectual e fisicamente os seus associa-dos em especial, e todo 0 operariado em geral;2.0 - Procurar incutir na mocidade operaria 0 espirito associa-tivo e de reivindicacao;3.0 - Fazer uma intensa propaganda dos principios sindicalis-tas revolucionarios e da accao directa operariado;4.0 - Difundir as ideias internacionalistas e anti-militaristas.Como se podera supor, nenhuma destas estruturas estava legali-zada, embora actuassem a luz do dia. As dificuldades burocraticaslegais eram contornadas sem grande dificuldade-". E, de qualquermodo, as suas actividades eram, ainda segundo 0 pacto fundadordo Nucleo do Porto, de caracter pacifico e nao suceptivel de grandesoposicoes legais:

    a) Promover palestras e conferencias doutrinarias, cientificase artisticas;b) Realizar espectaculos de propaganda social;c) Organizar visitas a museus, monumentos, estabelecimentosfabris, etc., bern como passeios e excursoes de propaganda;

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    d) Publicar folhetos e manifestos;e) Fundar uma biblioteca;f) Abrir aulas para educar 0 operariado;g) Abrir urn curso especial de militantes para 0 movimento ope-rario;h) Cultivar os sport de reconhecido merecimento na cultura fisicados individuos;z) Dar sempre a sua adesao moral e material, quando seja pos-sivel, a qualquer movimento operario grevista que tenha porfim conquistar melhoria de situacao;J) Fazer-se representar em qualquer congresso, quando essa

    representacao se reconheca de utilidade;k) sustentar urn orgao proprio para difundir os principios sindi-calistas revolucionarios e, temporariamente, enquanto nao forpossivel criar esse orgao, procurar fazer essa propaganda nosjornais operarios [a existentes .As estruturas organicas dos Nucleos incluiam sempre a reuniaogeral dos socios, que deliberava mensalmente, e a comissao adminis-trativa, geralmente de tres membros (urn dos quais, tesoureiro) que

    geria a vida rotineira do Nuclec, para 0 que reunia pelo menos umavez por semana. Eleitos para mandatos semestrais em reuniao geral,estes administradores eram, contudo, permanentemente revogaveis,conforme 0 habito das organizacoes libertarias, Para alem destes,era ainda comum nomearem-se comissoes ou grupos de socios comfuncoes especificas: animacao da sede; instrucao; publicacao dumjornal, etc. 19.A partir de 1920, os Nucleos de todo 0 pais estruturam-se emuma Federacao das Juventudes Sindicalistas v, com sede em Lisboae uma Seccao Federal no Norte (Porto). A partir de entao, a gestaecentral da Federacao ficou entregue a uma Comite Federal, restritoe permanente, sob 0 controlo de urn Conselho Federal, compostopor delegados enviados pelos Nucleos, cada Nucleo tendo direito aurn voto-t. Sob a responsabilidade do Comite Federal funcionavaa comissao de redaccao d'O Despertar, a Biblioteca Juvenil-t, atipografia>, a Caixa de Solidariedade>, 0 C.D.S.25 ou as escolasde militantes-s. Sobre a administracao financeira da organizacao,conhece-se muito pouco de concreto mas tudo leva a crer que fossedecalcada do modelo geral usado pelos anarquistas nas suas organi-zacoes; cerca de metade da quotizacao dos aderentes ficaria nosNucleos locais e 0 remanescente subiria a Federacao para financiaras suas actividades organicas, 0 jornal e a Caixa de Solidariedade.E talvez a altura de indicar a dimensao numerica e geograficaatingida pelo movimento juvenil.

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    Pelo que toea aos Nucleos, registamos a existencia, com urnminimo de duracao e solidez, de 35 Niicleos de localidade, no periodocompreendido entre 1913 e 1927, tal como se mostra no mapa anexo.Doutros tivemos ainda noticia, mas terao tido vida fragil e efemera,Contudo, esta geografia revela uma implantaeao que pode ser consi-derada como nacional.Vale tambem a pena referir, neste ponto, que em Lisboa, devidoao elevado numero de aderentes, houve que desdobrar 0Nucleo ini-cial em Nucleos por bairros, em Xabregas, 1.0 bairro, Meia-Laranja(Campo de Ourique) e Belem. Posteriormente, nos anos 20, voltoua haver urn unico Nucleo de Lisboa, mas com Seccoes descentraliza-das naqueles bairros, bern como Seccoes Profissionais (das artes gra-ficas, couros e peles, comercio, metahirgicos e mobiliario). No Porto,ja em 1925, assiste-se tambem a urn desdobramento, com a consti-tui9ao de uma estrutura especffica dos manipuladores de pao,Cada urn destes Nucleos teria urn efectivo humano que variariaentre algumas dezenas ate umas poucas centenas de s6cios. Segundourn relatorio da comissao administrativa do Nucleo de Lisboa rela-tivo ao 2.0 semestre de 1913, por exemplo, haveria naquela alturaurn efectivo de 187 socios-t,Para 0 conjunto da Federacao, os numeros disponiveis sao tam-bern grosseiros e sujeitos a caucao, mas dao-nos uma ideia aproxi-mada. Assim, segundo 0 conhecido militante Germinal de Sousa,

    as Juventudes Sindicalistas contariam cerca de 1922, ja depois dacisao de Jose de Sousa, com 5000 filiados, divididos por mais de30 Nucleos-s: por outro lado, num relatorio internacional da UniaoAnarquista Portuguesa refere-se que, em finais de 1923, haveria cercade 3000 filiados em 29 Nucleos w; por fim, de novo segundo Ger-minal de Sousa, em Maio de 1926 a Federacao contaria com 12Nucleos, representando uns 2000 filiadosu.Que caracteristicas sociologicas basicas apresentariam estes pou-cos milhares de jovens sindicalistas? Pelos elementos biograficos pornos recolhidos, pudemos apurar os seguintes resultados sobre umaamostra de 292 militantes:Sexo:Homens - 99 0 7 0Mulheres - 1 0 7 0Origem social:Popular - 89 0 7 0Media - 10 0 7 0Burguesa - 1 0 7 0

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    ESTUDO SRegiao geografica:Porto , - 24 0 7 0

    Centro-Norte - 6 0 7 0Lisboa e arredores - 58 0 7 0SuI do Tejo - 12 0 7 0Sector de actividade profissional:

    P r i m a r i o - 3 0 7 0Secundario . . . . . . .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. - 67 0 7 0Terciario - 30 0 7 0Embora estas distribuicoes apenas nos deem ordens de grandeza,

    sao contudo elementos preciosos de esclarecimento sobre a realidadedeste grupo social, tornados a partir de uma amostra razoavelmenterepresentativa. Como se pode observar, embora a maioria dos mili-tantes sejam homens, de origem popular, da regiao de Lisboa e tra-balhadores industriais, M contudo minorias significaticas como os10 0 7 0 de origem social media (pequeno-burguesa, funcionarios) ouos 30 0 7 0 de trabalhadores em actividades terciarias (transportes,comercio, services, etc.).

    A orientaciio e os congressosA Federacao das Juventudes Sindicalistas efectuou dois congres-sos nacionais, 0 1.0 em Janeiro de 1921 em Lisboa e 0 2.0 em Abrilde 1926 no Barreiro, e tres conferencias regionais, duas no Porto(Outubro de 1924 e Outubro de 1926) e uma em Lisboa (Marco de1925)32.Varias vezes tern sido acentuado 0 caracter clandestino destes

    congressos, devido it repressao policial. E certo que eles se realiza-ram em local nao anunciado publicamente e it porta fechada, paraevitar a intromissao das autoridades. Mas e excessivo empregar a pala-vra clandestino, ja que, tal como era habito nos sindicatos e outrasorganizacoes, as teses, a ordem-dos-trabalhos, etc., eram publicadospreviamente nos jornais; s6 nao se divulgava a data exacta e 0 localda reuniao, elementos que eram comunicados directamente aos dele-gados nom ponto de encontro conhecido, como por exemplo a grandesede da Calcada do Combro. E os congressos decorriam em locaisde urn sindicato simpatico para com a causa dos [ovens sindicalistas.Por isso sera mais correcto dizer que estes congressos tiveram urncaracter reservado, em vez de clandestino. De resto, as mesmas pre-caucoes se tomavam geralmente nos congressos e conferencias orga-nizativas anarquistas 33.

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    No 1.0 congresso participaram delegados de 19 Nucleos: Cons-trucao Civil, Metahirgicos, Mobiliario, Couros e Peles, Beato e Oli-vais, 1.0 Bairro e Central>, de Lisboa; Vestuario, Artes Graficas,Construcao Civil e Central, do Porto; Gaia; Almada; Barreiro; Seni-bal; Vendas Novas; Beja; Silves e Olhao, Foram debatidas e aprova-das teses sobre Educacao e propaganda, Defesa moral do apren-dizato, Definicao de principios ideologicos, Abstinencia epropaganda anti-alcoolica e Organizacao. Foi no quadro destaultima que se fixou em definitivo a designacao de Federacao dasJuventudes Sindicalistas, preterindo uma outra proposta: a de Moci-dade Sindicalista.

    No 2.0 Congresso tomaram lugar representantes dos 12 Nucleosseguintes: Porto, Gaia, Lisboa, Barreiro, Senibal, Vendas Novas,Evora, Graca do Divor, Aljustrel, Silves, Portimao e Faro. A ordemdos trabalhos, plet6rica, incluiu as seguintes teses: A ideologia dasJuventudes Sindicalistas, Relacoes internacionais 35, Solidarie-dade aos jovens sindicalistas presos ou perseguidos, A imprensadas Juventudes Sindicalistas, A cultura fisica e a mocidade prole-taria, A mulher e a Juventude Sindicalista, As Juventudes Sin-dicalistas e 0 militarismo, A mocidade proletaria e 0 horatio detrabalho, Anti-alcoolismo e anti-tabagismo, A posieao das Juven-tudes Sindicalistas no movimento revolucionario e 0 jovem sindi-calista na vida social.A orientacao ideol6gica e de accao que saiu destes congressosnao sofreu variacoes palpaveis, prosseguindo a linha que vinha sendotrilhada desde 0 inicio. Os jovens filiados no movimento, fossem tra-balhadores manuais, fossem estudantes e intelectuais, assumiam-secomo jovens sindicalistas, como uteis trabalhadores, quer do bracequer do cerebro, Isto significava a adopcao, por urn lado das refe-rencias ideol6gicas principais do anarquismo - anti-estatismo, anti--parlamentarismo, anti-militarismo, anti-clericalismo, etc. - , poroutro da orientacao estrategica do sindicalismo-revolucionario, como encarecimento das formas de accao e de gestae directas, a exalta-cao da solidariedade operaria, 0 objectivo da greve geral insurreccio-nal. Na Declaracao de Principios adoptada no congresso de 1926,as Juventudes Sindicalistas proclamam que: 1. 0 - E anarquista asua ideologia. ( ... ) 2.0 - E sindicalista revolucionario 0 seu metodode accao. ( ... ) 3.0 - E anti-militarista a sua propaganda.( ... ) 4.0 - Eanti-autoritaria a sua propaganda. ( ... ) 5.0 - E revolucionaria a suaaccao. ( ... ) 6.0 - E de franca hostilidade a sua atitude em face dospartidos politicos. ( ... ) 7.0 - E eventual a sua cooperacao ( ... ) > > 3 6 .Na realidade, a sua adesao doutrinaria ao anarquismo e explicita econstantemente reiterada. Na tese adoptada em 1921 refere-se 0 novo

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    regime social que, tendo por sistema politico 0 anarquismo, e comoregime econ6mico-social 0 comunismo-anarquico, satisfaca os finsideol6gicos concebidos pela juventude proletaria convicta de hoje,almejando pela verdadeira Patria Libertaria dum Amanhii muito pr6-ximo 37.

    Logicamente, 0 congresso de 1926 definiu que a solidariedadedevia ser a base de entendimento entre a organizacao juvenil eos agrupamentos anarquistas pelo que poderao na accao revolu-cionaria e na propaganda coordenarem esforcos e conjugarem traba-lhos. E, nesta sequencia, as Juventudes Sindicalistas consideram 0Partido Socialista como partido burgues e portanto incapaz de con-duzir os trabalhadores a sua libertacaox e 0Partido Comunista con-tra revolucionario e prejudicial a luta revolucionaria dos trabalhado-res em prol da sua emancipacao. Em face do partido bolchevista,pontualizam os jovens sindicalistas, que devemos afirmar a nossaaberta hostilidade, negando-lhe a qualidade de revolucionario por-que e urn partido de dissolucao, de predominio e de governo. Com-bate-Io-emos, como combateremos os partidos burgueses, como des-mascararemos todos os traficantes da ideia revolucionaria .o anti-militarismo e outro dos pontos fortes do seu ideario, Jaatras referimos 0 seu empenhamento contra 0 conflito armado ini-ciado em 1914. No 1.0 congresso, tal posicao foi reafirmada. Masisso nao esclarecia tudo. Num documento interno de 1922, pergunta--se: Deve-se aconselhar a desercao? Quanto a n6s, nao (... ) E abso-lutamente necessario que se encontrem nas fileiras militares urn grandepunhado de elementos de confianca ( ... ) nao deveremos aconselhara desercao, mas sim a indisciplina e a propaganda anti-militaristaaw.Quem responde e 0 pr6prio Comite Federal, entao encabecado porAlmeida Marques. Mas esta opiniao esta longe de fazer a unanimi-dade entre os jovens libertarios e sindicalistas. E assim e que no con-gresso de 1926 a tese adoptada revela uma posicao flexivel, favore-cendo mesmo a recusa em massa(!) a conscricao. Depois de afirmara sua repugnancia pelo service militar e vendo na caserna umaescola de crime, corrupcao e miseria, a tese incita os Nucleos a pro-moverem conferencias, palestras e sessoes de propaganda anti--militarista e anti-guerrista e editarem manifestos e panfletos, depreferencia nas vesperas do recenseamento militar, onde se aeon-selhara os jovens a recusarem-se em massa a irem para 0 service mili-tar. Porem, aqueles jovens que por qualquer circunstancia prefi-ram arrostar com todas as calamidades caserneiras a romper comas leis estatais, a Juventude Sindicalista facilitara a edicao de mani-festos, folhas volantes, etc., de propaganda anti-militarista, a distri-buir aos soldados fora e dentro dos quarteis, fomentando assim uma

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    continua indisciplina nos meios militares para que estes se recusema vir a rua combater os movimentos dos seus ex-camaradas de of i-cina 40.Para alem do anti-estatismo, anti-capitalismo e anti-militarismo,as Juventudes Sindicalistas distinguiam-se por outras caracteristicasdoutrinarias e de accao. A simples enumeracao, acima feita, das tesesdiscutidas nos congressos e reveladora destes aspectos segundos, masnao secundarios. Limitamo-nos, porem, por economia de espaco, arelembrar 0 interesse concedido a aprendizagem e educacao - inte-lectual, literaria, artistica e profissionalu -; as questoes particula-res ligadas as condicoes de trabalho dos jovens e aprendizes (bora-

    rios, cargas ffsicas, etc.); os problemas da mulher, do casamento,procriacao e sexualidade; as preocupacoes com 0 corpo e a saude(alimentacao, ginastica e desporto, anti-alcoolismo, anti-tabagismo,naturismo); e a permanente mobilizacao em favor dos presos e per-seguidos por questoes sociais.

    Radicalismo e violenciao movimento das Juventudes Sindicalistas portuguesas tevedurante toda a sua existencia uma reputacao de radicalismo, por vir-tude de algumas das suas posicoes publicas e de certas formas deactuacao. No entanto, s6 a partir de 1920 se comeca a associar, emmuitos espiritos e na opiniao publica, a este radicalismo, a ideia deviolencia e de bombismo. Com efeito, enos anos que se seguem,sobretudo ate cerca de 1923, que as bombas e os atentados pessoaisparecem atingir a mais elevada frequencia de utilizacao, sendo pre-sos muitos militantes ligados as Juventudes, S6 em Marco de 1922terao sido detidos cerca de 200 militantes e encerrados os Nucleosde Lisboa, Almada e Evora. A repressao policial e judicial - sobre-tudo com 0 recem-criado Tribunal de Defesa Social - parece entaoeleger os jovens sidicalistas como alvo preferencial da sua atencao,Alem das detencoes, ha frequentes sortidas das autoridades a s sedesda organizacao com confiscacao de documentos, ha apreensoes dejomais e dissolueao de reunioes de propaganda. E ha, ainda, as depor-tacoes para as col6nias, tendo sido desterrados para Africa e Timor

    grande mimero de militantes destacados das Juventudes, inclusive 0secretario-geral em exercicio em 1925, Manuel Viegas Carrascalao-s.E possivel perceber-se que, cerca de 1920, 0 clima psicol6gicoe emocional nos meios associativos operarios seria marcado por umnitido entusiasmo revolucionario. A criacao da C.G.T. e d'A Bata-lha, a derrota da tentativa de restauracao monarquica e 0 exito emA S J U V E N T U D E SII N D I C A L I S T A S

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    ESTUDO Sdiversos movimentos reivindicativos eram, no plano interno, facto-res que fundamentavam esta disposicao of ensiva dos militantes. Noplano externo, a revolucao russa, 0 fim da guerra e as noticias deavances revolucionarios, grevistas ou organizativos em varies pai-ses, s6 vinham comportar tal disposicao, Neste sentido, e possivelpensar que a violencia revolucionaria fosse um conceito que disfru-tasse dos favores de largos circulos militantes. E , por exemplo, signi-ficativa esta passagem que 0 rep6rter publica nas paginas d'A Bata-lha, sobre um pequeno incidente ocorrido durante os trabalhos do1.0 congresso d.os jovens sindicalistas: Estabeleceu-se tambem certaconfusao devido a palavra violencia, que era empregada em certoartigo. Por fim, todos chegaram a acordo. Tratava-se de saber seera realmente a accao empregada pelas juventudes no sentido de des-truir a sociedade burguesa. Reconheceu-se a violencia como unicomeio de ac~ao43.Segundo as mem6rias de um activo interveniente, Raul dos San-tos, que mais tarde foi deportado para Timor, foi tambem neste1.0 congresso que se decidiu criar secretamente 0 C.D.S. - Comitede Defesa Social - com a finalidade de coordenar a accao revolu-cionaria da Juventude de apoio aos sindicatos na sua luta por melhorescondicoes de vida aos trabalhadores e na luta contra 0 sistema capi-talista e todos os seus alicerces, Estado, Clero, Militarismo, etc.,usando de todas as armas possiveis para fazer frente a forea do Poder,em vista da implantacao de um novo sistema de vida social. 0 comiteficou composto por 3 membros=, cada um dos quais mantinhacontacto com 0 representante de um grupo de 5 jovens, e cada umdestes 5 mantinha contacto com 0 representante de outros grupostambem de 5, e assim por diante. Tratava-se, como se ve, de umaorganizacao paralela, hierarquizada e fechada, c6pia de todas as clas-sicas carbonarias e outras sociedades secretas revolucionarias, masdistante dos modelos de organizacao tipicos dos libertarios, Segundoa mesma testemunha, eram jovens lutadores dispostos a tudo. Eprossegue: Recordo 0 apoio dado pelo C.D.S. a uma greve de pani-ficadores de Lisboa. Com atentados as padarias onde trabalhavampatroes junto com amarelos, em uma noite, a greve foi ganha em24 horas, com pleno atendimento das reclamacoes justas dos traba-lhadores. ( ... ) Interveio igualmente numa greve de tip6grafos, queigualmente sairam vitoriosos gracas ao apoio do C.D.S.4S.Sem entrar em pormenores, 0 relat6rio do Comite Federal apre-sentado ao congresso de 1926 poe em realce 0 empenhamento dosjovens sindicalistas nas accoes revolucionarias daqueles anos, refe-rindo a greve da Carris de 1922, 0 movimento nacional contra 0aumento do preco do pao, etc. Em sintese, diz terem sido as Juven-

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    ESTUDO Studes 0 agrupamento revolucionario que mais tem sofrido ( ... ) poisque a maioria das vitimas tem sido [ovens. E acrescenta: foi, deverdade, uma grande luta, uma verdadeira guerra, em que a nossaorganizacao lutava desesperadamente contra 0 estado, contra a forca,contra a burguesia, numa palavra, contra tudo 0 que mantem estasociedade hipocrita e cobardee-s.Perante 0 movimento militar de Maio de 1926 e 0 atentismo daC.G.T., as Juventudes Sindicalistas reagem do seu modo peculiar,distribuindo logo em 1 de Junho um comunicado intitulado VIVAA LIBERDADE CONTRA A DITADURA, onde comecam por afir-mar: Eis-nos chegados em face do grande perigo contra 0 qual sem-pre temos lutado. TEMOS A ODIOSA DITADURA, ditadura mili-tar, a mordaca infame que sufocara a liberdade de pensamento ecerceara as regalias que Iicusta de tantos esforcos e de tantas vitimasse tem conquistado, Afirmando sem rodeios que A VIOLENCIA,RESPONDER-SE-A COM A VIOLENCIA!, 0 Comite Federal,entao encabecado por Emidio Santana 47, recomenda aos micleos quetomem especiais cautelas, preparando-se para uma passagem Iiclandestinidade-s .

    Por outro lado, desenha-se neste momenta uma aproximacaoocasional entre a F.S.J. e a Uniao Anarquista Portuguesa, onde pon-tificava Francisco Quintal, no sentido de combater e modificar a orien-tacao da C.G.T., levando-a a uma oposicao mais frontal Iiditadura,o que se traduz pela emissao de uma longa circular subscrita conjun-tamente pelas duas organizacoes, com data de Agosto de 1926, ediri-gida aos sindicatos confederados, federacoes, unioes e camaras sin-dicais, micleos de juventudes sindicalistas e organizacao anarquista,sobre os incidentes ocorridos na Confederacao Geral do Traba-lho 49. Este documento provoca, entre outras coisas, reaccoes inter-nas nas pr6prias fileiras juvenis, onde havia quem nao apreciasse 0distanciamento de muitos militantes da U .A.P. em relacao ao supostoou real violentismo das Juventudes Sindicalistasw.De qualquer modo, a organizacao juvenil esvaia-se, perdia ade-rentes, e as ultimas disposicoes para um funcionamento clandestino,tomadas em 1927, ap6s a nova grande vaga repressiva desse ano,ja s6 encontrarao um punhado de militantes, embora resolutos, paralhes dar corpo e execucao. As Juventudes Sindicalistas, comogrande organizacao de jovens libertarios e trabalhadores, tinham aca-bado.

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    Mais de meio seculo passou desde estes acontecimentos. Os jovensportugueses voltam a ter hoje os favores da publicidade, mas porrazoes bem distintas daquelas que deram fama aos jovens sindicalis-tas. As organizacoes juvenis de hoje sao de tipo partidario, estudan-til ou ecologista, mas nao propriamente de trabalhadores assalaria-dos ligados por uma caracteristica etaria comum e um comum idealsocial. Mas algo se ganhara sempre com 0conhecimento do passado.Durante uma quinzena de anos, as luventudes Sindicalistas cons-tituiram um autentico viveiro e escola de formacao de militantes,quer para os sindicatos operarios, quer para outras organizacoes decaracter libertario. Defmindo-se dentro do campo ideol6gico do anar-quismo, foram sempre urn fermento de activismo, muitas vezes mar-cado por excessos e desmesuras. Mas, em todo 0 caso, constituiramurn veiculo de difusao de ideias e de comportamentos libertarios numsegmento importante da sociedade portuguesa - porventura comexcessiva antecipacao aquilo que seria por ela absorvivel. Pode Ier-senuma sua publicacao que a primordial funcao das luventudes e edu-car. Educar, em primeiro lugar, social e revolucionariamente - e naose julgue que educacao revolucionaria e ensinar a fabricar bombase manejar punhais - e, em segundo lugar, intelectual, moral e fisi-camente. Mas ainda a condicao prima para ser um born militante,urn revolucionario consciente, e ser urn born profissional, Ai esta-yam presentes algumas das referencias-chave do nosso anarquismo:a dignidade e valor social do trabalho, a par das exigencias moraise culturais - 0 ignorante, como 0 esfomeado, pode ser urn revoI-tado, 0 que nunca sera, no entanto, e urn revolucionarioz-s.

    (Julho 1989).

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    ESTUDO SLocolizoo;Oo dos Nocleos dos JS

    BragaPovoa do Varzim. Fafe

    Porto

    Aveiro

    Gouveia _

    - Coimbra

    _ Tomar

    -ntroncamento

    Novas Bejo

    Aljustrel

    Antonio IS J U V E N T I J D F .SS l N D l C A L I S T A S

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    NOTAS1 Embora em Franca e na Alemanha tivessem existido, na epoca, efemerasorganizacoes de jovens sindicaIistase em outros paises europeus organizacoes juvenissocialistas, julgamos que, proporcionalmente, nenhuma outra se podera talvez com-parar a dimensiio e importancia que tiveram entre n6s as Juventudes Sindicalis-tas. Em Espanha, por exemplo, tal movimento e inexistente e s6 nos anos 30 eque aparece, entao, urn forte movimento organizado de juventudes libertarias.2 Veja-se 0 caso das agitacoes coimbras de 1907 e 1911, ou da Universi-dade Livre e do Comite Academico-Operario portuenses cerca de 1902, entre outros.3 Por exemplo: 0 Grupo Jovens Libertarios (Faro, 1906); 0 Club JovensSocialistas Livres (porto, 1902);0Grupo Juventude Acrata (Lisboa, 1911);0GrupoJuventude Consciente (Lisboa, 1904); e ate 0Grupo Juventude Rebelde (Luanda,imagine-set, 1906).Noutro plano, refira-se, por exemplo, 0pequeno jomal A Mod-dade, depois A Juventude, impulsionado pelo libertario Fontana da Silveira em1910, que se apresenta como 6rgiio evangelizador de ciencias e literatura entrea juventude.4 Nomeadamente, Almada, Aveiro, Barcarena, Braga, Coruche, Entronca-mento, Portalegre, P6voa de Varzim, S. Marcos, S. Tiago do Escoural e Vianado Castelo.S Nomeadamente: os grupos Mocidade Libertaria (porto), Jovens Liberta-rios (de Campanhii, Porto), Mocidade Libertaria (Vilar do Pinheiro), Jovens Liber-tarios (Ermezinde), Mocidade Libertaria (Coimbra), Jovens Libertarios (CasteloBranco), Juventude Libertaria (Setubal) e Jovens Libertarios (Faro), para alemdos fortes Niicleos de Juventude Libertaria de Lisboa e do Porto.6 0 papel das Juventudes, A Aurora, Porto, II, (262), l.Agosto.1915.7 Nucleos Sindicalistas, Comuna Livre, Porto, (1), 13.0utubro. 1915.8 0 primeiro numero deste jornal saiu em 1 de Maio de 1914,subintitulando-se Mensario das Juventudes SindicaIistas, com Mario Costa comoredactor principal. De facto, era 0 jornal do Nucleo de Lisboa, onde pontificavao dinarnismo de Manuel de Figueiredo e que, depois de varias sedes provis6rias,passou a ter a sua base na Rua do Arco da Graca, 4, 2.0, a partir de Janeirode 1914. 0 titulo de 0Despertar foi posteriormente mantido como 6rgiio da Fede-ra~iio das Juventudes Sindicalistas.9 Quintanilha distinguiu-se entao na propaganda anti-belicista e contra a

    entrada de Portugal no conflito que estalara em 1 de Agosto de 1914: escrevianumerosos artigos e falava em cornicios e conferencias; ia contraditar personali-dades republicanas pro-participacao na guerra, nas suas pr6prias sessoes ptibli-cas; e foi 0 representante das Juventudes Sindicalistas ao Congresso Mundial con-tra a Guerra realizado em El Ferrol na Primavera de 1915, onde foi preso.10 0 Nucleo Juventude Libertaria de Lisboa mostrou ser particularmentedinamico e inovador em alguns aspectos da sua accao propagandistica, nos anos14-15. Teve sede, sucessivamente, em Alcantara, na Travessa do Cabral (a Bica),na Travessa da Agua da Flor na Rua da Imprensa Nacional e na Travessa dosFieis de Deus. Animado por homens como Carlos Jose de Sousa, Adolfo Nunes,Augusto Quintas e outros chegou a ter grupos especializados em teatro, musica,

    instrucao e propaganda, bern como uma seccao descentralizada em Belem, Davaaulas, ensinava 0Esperanto, organizava excursoes e praticava sports (niio compe-titivos). Conseguiu tambem ter algumas mulheres entre os seus aderentes. Editouainda 0 jornal A Voz da Razdo,11 Niio obstante isto, de longe em longe, continuaram, a manifestar-se duvi-das quanto ao caracter definidor do movimento juvenil. Ver, por exemplo, osartigos publicados nos numeros 2 a 5 de 0 Grito da Juventude (Porto, 1925),

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    ou 0 texto sobre Juventudes Individualistas, no mimero 4 de Refractdr ios (porto,1922).12 Jose de Sousa Coelho, nascido em 1898 em Penacova, foi metalurgico

    e depois conferente maritimo. Aderiu ao partido comunista, sendo uma das suasfiguras importantes nos anos 20 e 30. Deportado para 0 Tarrafal, figurou ai entreos comunistas afastados. Depois de 1945, veio a reaproximar-se dos libertarios,designadamente no quadro das actividades cooperativistas.13 Fernando de Almeida Marques, torneiro-mecanico do Arsenal da Mari-nha, foi urn dos anarquistas mais activos nos anos 20, fazendo parte do primeiroComite Nacional da Uniao Anarquista Portuguesa, em 1923. Passou aos comu-nistas cerca de 1928, sendo urn dos ultimos a efectuar este trajecto politico.14 David de Carvalho: A conquista duma posicao, Relat6rio da delega-~o das Juventudes Sindicalistas ao III Congresso Operario Nacional e a Confe-rencia Grafica Nacional, (1922), manuscrito existente no Arquivo hist6rico-Social

    (Biblioteca Nacional).15 Rela{:oesdas Juventudes Sindicalistas com a Organiza{:iioOperdria (Tesea apresentar ao III Congresso Operario Nacional, reunido nos dias 1 a 4 de Outu-bro de 1922, elaborada pela Federacao das Juventudes Sindicalistas. Relator, Davidde Carvalho), Lisboa, F.J.S., 1922, exemplar anotado com as alteracoes introdu-zidas no congresso, existente no Arquivo Hist6rico-Social (Biblioteca Nacional).David de Carvalho, nascido em 1899 em Lisboa, era jornalista e foi urn dosanarquistas mais activos na decada de 20. Passou ao partido comunista cerca de1927, vindo a escrever urn interessante livro de mem6rias: Os Sindicatos operdriose a republica burguesa, Lisboa, Seara Nova, 1977. Faleceu em 1985.16 Numa destas listagens, figuram os seguintes organismos que correspon-

    deram a urn apelo da F.J.S. de Marco de 1923: Federacoes do Livro e Jornal,da Construcao Civil, Corticeira, Rural, e do Calcado, Couros e Peles; Sindicatosdos Mobiliarios de Lisboa e Porto; dos Carticeiros de Belem, Seixal, Montijo eAlmada; dos Rurais de Evora, Val de Vargo, Graca do Divor, Vila Vi~osa e Serpa;dos Descarregadores do Seixal; dos Vidreiros da Amora; dos Metahirgicos de Lis-boa; dos Arsenalistas de Marinha; e dos Ferroviarios da CP e de Sul-e-Sueste - comas respectivas quantias. [Documento manuscrito depositado no Arquivo Hist6rico--Social (Biblioteca Nacionalj],17 Por exemplo, os jornais publicados cumpriam regularmente as disposi-~oes da lei de imprensa recorrendo ao expediente de indicar como entidade pro-prietaria do titulo 0 Grupo editor de X... ; os alugueres de locais eram as vezes

    feitos em nome pessoal de militantes; etc.18 A Aurora, Porto, II, (189), 8.Mar~0.1914.19 Como jornais editados pelas Juventudes Sindicalistas, detectamos osseguintes:o D espertar , Lisboa, n. 1-n.12, 1914-1915Avante, Evora, n.1, 1914A Verdade, Lisboa, n. I, 1919o Despertar, Lisboa, n. l-n. 22, 1920-1923A Conferencia Juvenil, Porto, n. unico, 1924o Grito da Juventude, Porto, n.? 1-n. 7, 1925-1926.(Cerca de 1925-6, a Voz Sindical, de Senibal, concedia algum do seu espaco

    aos jovens sindicalistas, impossibilitados de publicarem 0 Despertar.)20 Inicialmente designou-se por Uniao das Juventudes Sindicalistas.21 0Comite compunha-se de sete a nove elementos e reunia-se geralmenteuma vez por semana. 0 Conselho tinha uma periodicidade de reuniio mediatrimestral; nele participavam tambem os membros do Comite, mas sem direitoa voto.

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    22 Editou as brochuras:Amilcar Sarmento: A Moral do jovem sindicalista, 1922; e David de Carva-lho: A gestiio sindical no penodo revoluciondrio, 1922.23 Inicialmente instalada na Calcada do Combro, junto a composieaod'A Batalha, a tipografia das Juventudes esteve depois na Travessa da Agua daFlor, 16, 1.0, em local alugado ao Sindicato dos Mobiliarios. Ap6s 0movimentomilitar de 1926, Emidio Santana, entiio secretario-geral da Federaeao das Juven-tudes Sindicalistas, transportou-a e instalou-a na Rua Damasceno Monteiro, 61-A,onde fez service para varies organismos libertarios, ate 31 de Dezembro de 1931.Nesta data, foi descoberta pela policia, que deteve tambem Emidio Santana. [Rela-t6rio da F.J.S. ao 2.0 Congresso das Juventudes Sindicalistas, docurnento dacti-lografo depositado no Arquivo Historico-Social (Biblioteca Nacional); e Processon." 2351SPS, relativo a Emldio Santana, do Arquivo da ex-PIDE/DGS).24 Segundo testemunhos de militantes, a Caixa de Solidariedade tera tidosempre uma rna administracao, como, provavelmente, toda a estrutura federal.2S Comite de Defesa Social. Adiante se faz referencia a este organismosecreto.26 As Escolas de Militantes foram tambem uma inovacao das JuventudesSindicalistas. Existiram pelo menos em Lisboa e no Porto, com cursos nocturnos.27 0 Desper tar , Lisboa, (1), l.Maio. 1914.28 Germinal de Sousa (filho de Manuel Joaquim de Sousa), tip6grafo,iniciou-se como militante libertario nas Juventudes Sindicalistas, tendo feito partedo Comite Federal em 1926, com Emidio Santana como secretario-geral, Presoem 1927, refugiou-se em Espanha a partir de 1933. Ali, veio a ser secretario-geral

    da Federacao Anarquista Iberica durante a guerra civil. Regressou a Portugal nosanos 40, sendo activo nas actividades cooperativistas, ao mesmo tempo que ope-rava urna profunda revisiio ideol6gica do seu anarquismo. Faleceu em 1968.29 A Comuna, Porto, III, (8), 9.Maio.1926.30 A Comuna, Porto, II, (40), 16.Dezembro.1923.31 A Comuna, Porto, III, (8), 9.Maio.1926.32 As aetas destes congressos estiio depositados no Arquivo Histonco-Social(Biblioteca Nacional). As teses foram geralmente publicadas na imprensa da epoca.33 E saboroso registar aqui 0 testemunho de Raul Pereira dos Santos, urndos Participantes no 1.0 congresso: 0 Congresso terminou sem problemas e cul-minou com urn jantar de confraternizaeao realizado no Restaurante Ferro de Engo-

    mar, que durou toda a noite. Para tal foi preciso pedir autorizacao as autorida-des, 0 que foi feito em nome do Grupo Excursionista Desta vez viio todos,e iriamos mesmo todos se chegavam a descobrir quem nos eramos (Depoimentoin Edgar Rodrigues, A oposieao llbertdria em Portugal, Lisboa, Sementeira, 1982).34 Em Lisboa e no Porto este Niicleo Central organizava entiio todos osaderentes soltos, niio integrados em estruturas de bairro ou profissionais.35 Esta tese defendia a ideia de uma Internacional sindicalista juvenil.36 0 texto complete desta declaracao esta disponivel, por exemplo, emManuel Joaquim de Sousa, 0 Sindicalismo em Portugal, na reedicso de 1972,Porto, Afrontamento, p. 183-184.37 A Batalha, Lisboa, (658), 2.Fevereiro.1921.38 Doc. AHS(BN) cit. Estas teses foram tambem publicadas no jornalA Batalha, 1926.39 Parecer formulado pelo Comite Federal da F.J.S. a respeito de urn movi-mento anti-militaristas, relator Fernando Almeida Marques, Lisboa, 18.Mar~.1922,documento dactil6grafo depositado no Arquivo Hist6rico-Social (BibliotecaNacional).40 Ver nota 38.

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    ESTUDO S41 As Juventudes Sindicalistas mostraram sempre uma atencao espe-cial pelo ensino publico ministrado nas Escolas Industriais e Comerciais che-gando a fazerem-se representar oficialmente em congressos, etc.42 Manuel Viegas Carrascalao, nascido em S. Bras de Alportel em1900, tip6grafo, foi varias vezes preso, a ultima das quais em 1925, sendocondenado a 6 anos de degredo pelo Tribunal Militar e despachado para Timorem 1927, de onde nunca mais voltou.Sobre estas deportacoes, ver 0 interessantissimo depoimento de RaulPereira dos Santos in Edgar Rodrigues, A Oposi~iio libertdria em Portugal, cit.43 A Batalha, Lisboa, (657), 31.Janeiro.1921.44 Segundo Raul dos Santos, seriam Jaime de Figueiredo, Armando dosSantos (depois substituido por Raul Garrido, por ter aquele acompanhado Josede Sousa na cisao comunista) e outro cujo nome reservo porque ainda vive(op. cit.). Seria 0 dele proprio?4S Raul Pereira dos Santos in Edgar Rodrigues, op. cit.46Relat6rio da F.J.S. ao 2. Congresso das Juventudes Sindicalistas, Lis-boa, 1925, documento dactil6grafo depositado no Arquivo Hist6rico-Social (Biblio-teca Nacional).47 Emidio Santana, Nascido em 1906 e falecido em 1988, em Lisboa. Car-pinteiro de moldes e, depois, desenhador. Ultimo secretario-geral da F.J.S., em1926-7, ap6s a prisiio de Carrascaliio. Ver, entre outros, 0 seu livro Memoriasde um militante anarco-sindicalista, Lisboa, Perspectivas & Realidades, 1985.48 Documento ciclostilado depositado no Arquivo Historico-Social (Biblio-teca Nacional).49 Documento ciclostilado depositado no Arquivo Historico-Social (Biblio-

    teca Nacional).so Veja-se a circular assinada por Herminie Mendonca, de 22 de Setembrode 1926, enviada aos Niicleos, documento dactil6grafo depositado no ArquivoHistorico-Social (Biblioteca Nacional).S I Trata-se de urn Parecer aprovado pelo Comite Federal em 28 de Setem-bro de 1927 que, entre outras coisas, propunha cindir 0 Niicleo de Lisboa em5 estruturas de bairro (Belem, Graca, Beato ou Alto do Pina, Meia-Laranja eAnjos), cada uma com uma comissao responsavel de 3 rnilitantes, que ligavamcom 0 secretariado central do Nucleo. Documento dactilografo depositado noArquivo Hist6rico-Social (Biblioteca Nacional).S 2 Joao Vieira Alves, As Juventudes e a sua missao, 0Grito da Juven-

    tude, Porto, (5), Dezembro 1926.

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