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JUVENTUDE E PODER LOCAL: trabalho, educação e conformaçãosocial no cotidiano do ProJovem Trabalhador

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  • JUVENTUDE E PODER LOCAL: trabalho, educao e conformao social no cotidiano do ProJovem Trabalhador

    Bruno de Oliveira Figueiredo1

    Jos dos Santos Souza2

    Esse trabalho uma sntese de resultados preliminares do projeto de pesquisa

    intitulado Trabalho, Juventude e Qualificao Profissional: a pedagogia da hegemonia

    das polticas de incluso social de jovens, que tem como objetivo verificar o papel da

    educao profissional nas polticas pblicas do Governo Federal destinadas incluso

    social de jovens de 18 a 29 anos, em municpios da Baixada Fluminense. A anlise

    desenvolvida no projeto parte da evidncia da crise estrutural do sistema capitalista de

    produo e reproduo social da vida material e da reao burguesa por meio da insero

    de cincia e tecnologia na produo, diminuio do trabalho vivo, o que tem por

    consequncia o desemprego estrutural, a precarizao do trabalho e o agravamento dos

    problemas sociopolticos e econmicos. Nesse contexto, a formao/qualificao

    profissional assume funo estratgica nas polticas pblicas para a juventude no Brasil,

    funcionando como um mecanismo de conformao da populao jovem.

    Diante desta problemtica, neste trabalho procuraremos tratar da dinmica do

    Programa Nacional de Incluso de Jovens (ProJovem), na modalidade Trabalhador em

    Nova Iguau/RJ. Trata-se de um programa que visa criar alternativas de insero do jovem

    no mercado de trabalho e a conseqente promoo da insero social deste segmento

    populacional. Pretendemos com este trabalho apresentar a descrio das estratgias de

    articulao da educao profissional com a educao bsica e, a partir disto, verificar a

    pertinncia da compreenso de que estas estratgias funcionam mais como mecanismo de

    mediao do conflito de classe junto ao segmento mais penalizado do mercado de trabalho,

    na atualidade, do que como efetiva possibilidade de insero social. Para esta anlise,

    tomamos como referncia emprica a dinmica do ProJovem Trabalhador no Municpio de

    Nova Iguau/RJ.

    1 Bacharel em Administrao de Empresas, Mestrando em Educao do Programa de Ps-Graduao em Educao, Contextos Contemporneos e Demandas Populares da UFRRJ e membro do Grupo de Pesquisas Sobre Trabalho, Poltica e Sociedade (GTPS). E-mail: [email protected] Doutor em Sociologia pela UNICAMP, professor de Economia Poltica da Educao da UFRRJ e lder do Grupo de Pesquisas Sobre Trabalho, Poltica e Sociedade (GTPS). E-mail: [email protected].

  • POLTICAS PBLICAS PARA A JUVENTUDE NO BRASIL

    Apesar de, at meados dos anos 1990, as polticas para a juventude no serem

    objeto de aes especficas governamentais, eram visveis as crescentes aes

    fragmentadas e descontnuas de organizaes no-governamentais (ONG) dedicadas ao

    trabalho com jovens, com maior atuao no campo da cultura e da assistncia em situaes

    de risco social. Essa configurao comea a se modificar, a partir de 1995, com uma

    ampliao significativa das polticas para a juventude, no governo de Fernando Henrique

    Cardoso. Mesmo assim, essas aes ainda se davam de forma desarticulada, no se

    constituindo em um campo de polticas pblicas para os jovens (SPOSITO & CORROCHANO,

    2005, p. 142).

    A partir de 1997, verifica-se em mbito do poder local, principalmente em

    administraes de centro-esquerda, aes de articulao entre o executivo municipal e os

    jovens, discutindo-se novas formas institucionais e canais de interlocuo. Porm, a

    constituio de um campo especfico de polticas pblicas para a juventude ocorre a partir

    do primeiro mandato do governo de Luiz Incio Lula da Silva (2003-2006). Esse fenmeno

    se materializa em quatro iniciativas seguidas: a criao do Programa Primeiro Emprego,

    em 2003; a criao da Secretaria Nacional de Juventude (SNJ); a criao do Conselho

    Nacional de Juventude (CNJ); alm da criao do ProJovem, em 2005 (SPOSITO &

    CORROCHANO, 2005, p. 142).

    Sposito e Corrochano (2005, p. 142-143) afirmam que: ...o teor e o impacto dessas iniciativas federais e municipais so variados em todo o pas e no refletem, necessariamente, mudanas significativas no interior de uma agenda pblica que tem a juventude e seus direitos como tema. Sinalizam, no entanto, inflexes importantes que podem constituir novas arenas no mbito da esfera pblica, como lcus de disputa em torno dos modelos normativos que orientam as representaes sobre a condio juvenil no pas, bem como as expectativas de sua insero no mundo adulto.

    No aparente consenso que legitima as aes no campo das polticas pblicas para a

    juventude existem trs eixos de conflitos na orientao dos programas. O primeiro eixo de

    conflito consiste na argumentao da necessidade de polticas especficas para a juventude.

    A argumentao gira em torno de dois extremos (SPOSITO & CORROCHANO, 2005, p. 143). O

    primeiro argumenta que:...as demandas dos jovens no estariam necessariamente contempladas no acesso s polticas universais como sade, educao, transporte, esporte, entre outras? Para um campo importante de atores, os jovens teriam satisfeitas suas principais demandas no mbito dessas polticas

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  • setoriais, sendo desnecessrio qualquer recorte que os privilegiasse como destinatrios especficos de aes pblicas ou governamentais. No outro extremo estariam radicadas as posies que defenderiam as polticas da juventude apenas como aes com clara focalizao, sendo nesse caso destinadas apenas aos jovens em situao de excluso social ou em condies de vulnerabilidade (SPOSITO & CORROCHANO, 2005, p. 143).

    O segundo eixo apresentado seria a falta de consenso em torno da definio de

    polticas pblicas para a juventude:...as polticas de juventude no estariam inscritas nas polticas setoriais, mas diriam respeito necessariamente a outros nveis de ao que no incidiriam sobre o objeto das grandes polticas: sade, trabalho, habitao e educao. Estariam mais prximas, assim, de reas articuladas s demandas culturais, de tempo livre, de lazer e, principalmente, de aes que possibilitassem a real participao dos jovens, ampliando a esfera de sua cidadania (SPOSITO & CORROCHANO, 2005, p. 143-144).

    O terceiro eixo diz respeito institucionalidade de rgos voltados para

    desenvolver polticas para a juventude, dentro da mquina governamental, e a sua

    legitimidade. A discusso gira em torno do melhor desenho institucional que deveria ser

    adotado para evitar a construo de rgos burocrticos sem poder e em conseqncia sem

    impacto real nas aes voltadas para a juventude (SPOSITO & CORROCHANO, 2005, p. 145).

    Alm desses trs eixos para analisar as polticas para a juventude no Brasil,

    verificamos a importncia de caracterizar o contexto em que se insere a juventude nessas

    polticas. A juventude se insere como foco de polticas pblicas especficas associadas

    desordem social. Segundo o IPEA (2008, p. 7), a delinqncia, o comportamento de risco e a

    drogadizao, entre outros, so problemas comuns associados aos jovens, especialmente na

    fase transitria para a vida adulta ou de moratria social. Nesse contexto, as duas

    abordagens exigem a atuao da sociedade e do poder pblico com medidas de

    enfrentamento e represso no caso da desordem social e um esforo coletivo

    principalmente da famlia e da escola no sentido de preparar o jovem para ser um adulto

    socialmente ajustado e produtivo (IPEA, 2008, p. 7). Verifica-se uma mudana da imagem

    social do jovem, a partir do final do sculo XX, o jovem como problema social vem

    perdendo fora e emergindo a viso do jovem como ator estratgico do desenvolvimento.

    Dentro da lgica da renovada Teoria do Capital Humano, o IPEA (2008, p. 8) coloca

    o desenvolvimento desse novo olhar sobre a juventude desencadeando medidas que ...reatualizam a viso preparatria da juventude, exigindo, por um lado, investimentos massivos na rea de educao em prol do acmulo de capital humano pelos jovens; por outro, exigindo tambm a adoo de um corte geracional nos vrios campos da atuao pblica (sade, qualificao profissional, uso do tempo livre etc.) e o incentivo

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  • participao poltica juvenil, com recurso noo de protagonismo jovem.

    Com essa perspectiva, ocorre uma mudana de concepo do jovem como

    problema social para o jovem como protagonista social e o aproveitamento do bnus

    demogrfico tem encontrado barreiras em funo da crise do emprego que atingiu as

    economias desenvolvidas nos anos 1980 e o Brasil nos anos 1990 (IPEA, 2008, p. 9). Alm

    disso, a crise do emprego ameaa a insero dos jovens no mercado de trabalho, marco da

    transio para a vida adulta, e desencadeia uma tendncia de prolongamento da juventude.

    Nesse contexto, so identificadas as conseqncias da crise do capital iniciada no final dos

    anos 1960 e incio dos anos 1970, mas colocada no patamar fragmentado e superficial,

    caracterizada como uma crise do emprego, camuflando suas causas reais.

    Como convergncias das polticas para a juventude no Brasil, Sposito e Corrochano

    (2005, p. 159-160) apontam a incidncia ...sobre o fato de as aes considerarem a possibilidade de transferir aos jovens algum tipo de renda sob a forma de bolsa, operando com princpios redistributivos. Algumas avaliaes j empreendidas apontam o quanto essa renda importante para esses jovens, principalmente para apoio e, ao mesmo tempo, independncia em relao famlia. Embora o montante auferido seja percebido mais como privilgio do que como direito, ele constitui um dos principais motivos, ainda que no o nico, para a permanncia dos jovens nos programas. Para muitos, o pequeno valor recebido, a incerteza diante da continuidade da iniciativa, de sua permanncia como beneficirios, e o desejo de no ser dependentes do Estado reiteravam a necessidade e a prtica de continuar procurando trabalho ou de realizar atividades precrias.

    Como paradoxos relativos aos programas, percebemos a questo da segmentao

    do atendimento a jovens pobres, exigindo uma contrapartida de retorno escola pblica, de

    participao em atividades scio-educativas e ser protagonista do desenvolvimento da

    comunidade. Essa insero na escola pblica possui vrios problemas e limitaes, alm

    disso, o desenvolvimento das comunidades alvo, sem infra-estrutura pblica bsica,

    desenvolvimento este no realizado pelo Estado e outras instituies, torna-se penoso e

    invivel (SPOSITO & CORROCHANO, 2005, p. 165).

    As implicaes ideolgicas dessa naturalizao das condies em que as

    desigualdades sociais operam, dissimulam as implicaes reais. O andamento do projeto de

    desenvolvimento local realizado sem apoio e continuidade, porm o envolvimento do

    jovem como protagonista do projeto cria conscincia de responsabilidade, que no sua,

    gerando frustraes pela no realizao do projeto em funo das barreiras sociais e

    estruturais impostas. Outro paradoxo consiste na administrao do tempo livre de jovens

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  • pobres, constituindo-se em ameaa social. De vtimas, esses segmentos rapidamente so

    transformados em rus, pois a inatividade forada seria necessariamente a ante-sala da

    violncia e do crime (SPOSITO & CORROCHANO, 2005, p. 166-167).

    O paradoxo consiste na vontade do jovem de integrar-se ao mercado de trabalho,

    para possuir acesso aos bens culturais e a uma melhor condio de lazer e ser visto como

    uma ameaa social por sua inatividade. A incapacidade de insero em um mercado de

    trabalho em crise, a dificuldade de acesso a bens culturais e lazer e a incapacidade de

    acolhimento do sistema educativo desencadeia a criao de programas de transferncia de

    renda aos jovens. Esses programas so incapazes por si s de promover mudanas na

    realidade das comunidades atendidas, alm disso, a contrapartida exigida gera modelos

    potencialmente disseminadores de novas formas de dominao, obscurecidas pelo

    discurso da insero social e da cidadania (SPOSITO & CORROCHANO, 2005, p. 167).

    Nessa lgica contraditria de possibilidade de insero no mercado de trabalho,

    ameaas do cio da juventude e do jovem como protagonista e propulsor de polticas, so

    desenvolvidas polticas como o ProJovem. As polticas pblicas destinadas juventude so

    permeadas pela lgica da empregabilidade, ou seja, pela possibilidade de insero em um

    mercado de trabalho em crise e pela falta de qualificao profissional como causa do

    desemprego. Essa tica camufla as verdadeiras causas do desemprego estrutural e

    precarizao das relaes de trabalho e produo.

    A dinmica de programas de governo como o ProJovem nos leva a algumas

    consideraes que merecem maior aprofundamento. Tentaremos exp-las aqui com o

    intuito de explicitar melhor o problema investigado. Para isso, trataremos as aes do

    Estado no campo da qualificao do trabalhador a partir do contexto da crise estrutural do

    capital para atribuir-lhe sentido scio-histrico. Talvez assim possamos explicitar o sentido

    poltico de programas de governo do tipo do ProJovem no contexto atual.

    REESTRUTURAO PRODUTIVA, QUALIFICAO PROFISSIONAL E

    POLTICAS PBLICAS PARA A JUVENTUDE

    O sistema metablico do capital surge de uma diviso social que submeteu o

    trabalho ao capital ao longo de um processo histrico. Essa subordinao ocorre por meio

    da separao entre os trabalhadores e os meios de produo, tendo sua legitimidade

    alcanada por meio da submisso de todas as formas de produo e reproduo social sua

    lgica destrutiva, expansionista e incontrolvel. Alm disso, essa dinmica retira do

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  • homem o seu poder de deciso, tornando esse homem uma engrenagem do sistema. A

    dinmica incontrolvel desse sistema desencadeia a degradao do meio ambiente, a

    precarizao das relaes de trabalho e o aumento da competitividade (ANTUNES, 2005, p.

    19-28; MSZAROS, 1999, p. 86-88). Segundo Souza (2004, p. 3), o capital um modo

    totalizante e dominante de desenvolvimento da ordem produtiva articulada a uma

    configurao institucional das relaes de poder e prticas sociais determinadas.

    No mundo contemporneo, o metabolismo social do sistema de capital se

    desenvolve por meio de mudanas em sua base tcnica e tico-poltica. Essas mudanas

    so determinadas pela introduo de cincia e tecnologia na produo e na flexibilizao

    das relaes de produo, alm da articulao das relaes de poder exercidas entre capital

    e trabalho mediadas pelo Estado. Permeado pela correlao de foras polticas no mbito

    do Estado, o metabolismo do capital caracterizado por sua natureza incontrolvel e

    expansionista, sua continuidade exige cada vez mais a complexificao de seus

    mecanismos de mediao do conflito de classe e de disputa de hegemonia. O acirramento

    desse processo de complexificao torna cada vez mais evidente a tendncia crescente de

    crise estrutural provocada pelo esgotamento das bases de acumulao e pela queda

    tendencial das taxas de lucratividade (SOUZA, 2008, p. 313-316).

    A complexificao das estruturas do metabolismo social do capital se deve a

    tendncia de crise estrutural de seu mecanismo como um todo, ou seja, da queda tendencial

    das taxas de lucratividade que desencadeia outras duas tendncias: a depreciao do valor

    de uso das mercadorias e a natureza incontrolvel desse sistema metablico social. Esses

    momentos de crise so essenciais para o funcionamento e continuidade do sistema de

    capital, pois so nesses momentos que so redefinidas as relaes de produo e do

    trabalho e aperfeioados os mecanismos de mediao do conflito de classe, alm de serem

    produzidas as condies necessrias para a manuteno das bases de acumulao (SOUZA,

    2004, p. 4).

    Como materializao de crise estrutural, podemos verificar a crise dos anos 1930 e

    a crise dos anos 1970. Nessas duas crises, o capital responde com uma combinao de

    regras e ideologias que compem um modo de regulao social e um regime de

    acumulao adaptado as estratgias expansionistas e incontrolveis do sistema (SOUZA,

    2004, p. 5).

    Na crise dos anos 1930, o keynesianismo e o Welfare State so utilizados como

    modo de regulao social capaz de mediar o conflito de classe e legitimar a hegemonia do

    bloco no poder e como regime de acumulao o taylorismo-fordismo. Essa experincia

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  • compatibiliza de forma indita na histria a dinmica da acumulao capitalista com a

    garantia de direitos polticos e sociais, mesmo que em limites estreitos e apenas suficientes

    para a manuteno da ordem social capitalista (SOUZA, 2004, p. 5).

    Na crise dos anos 1970, ocorre uma unidade indissolvel do neoliberalismo como

    modo de regulao social e o toyotismo como regime de acumulao, com objetivo

    principal de desregulamentar as relaes de produo, flexibilizar os contratos de trabalho,

    privatizar as polticas sociais e exaltar a lei do mercado como modo regulador da sociedade

    (SOUZA, 2004, p. 6).

    Esse contexto de crise estrutural e busca de regularidade para o sistema, a partir do

    final dos anos 1960 e incio dos anos 1970, desencadeia um amplo processo de

    reestruturao produtiva do capital centrado nas inovaes organizacionais do toyotismo e

    em sua lgica de produo enxuta e de excluso social. Como afirma Alves (2007, p.246), ...a promessa frustrada de incluso social vigente no fordismo est sendo substituda pela promessa restrita de um novo trabalhador politcnico e liberado do taylorismo-fordismo, mais imerso numa nova forma de estranhamento e objetivaes fetichistas (como o valor-fetiche da empregabilidade).

    O toyotismo um estgio superior de racionalizao do trabalho que no rompe, a

    rigor, com a lgica do taylorismo e fordismo (ALVES, 2007, p. 246). Esse regime de

    acumulao uma combinao de inovaes organizacionais centradas na racionalizao

    tecnolgica e do trabalho, com o objetivo de capturar a subjetividade do trabalhador e

    transformar este em sujeito ativo e engajado no desenvolvimento do processo produtivo,

    mais adequado a nova etapa do sistema scio-metablico do capital (ALVES, 2007, p. 246-

    247).

    As inovaes organizacionais, institucionais e tecnolgicas do toyotismo

    transformam esse regime de acumulao em um mecanismo superior de captura da

    subjetividade do trabalho e da promoo da subsuno real do trabalho ao capital. Esse

    processo se distancia do fordismo na medida em que temos neste a subsuno formal-

    material e no toyotismo a subsuno formal-intelectual do trabalho ao capital (ALVES, 2007,

    p. 247).

    Para se adequar lgica toyotista so exigidas novas qualificaes dos

    trabalhadores, com maior importncia as habilidades cognitivas e comportamentais em

    detrimento das habilidades manuais. Essas habilidades cognitivas e comportamentais so

    articuladas de forma a adequar-se dinmica da produo toyotista, tornando-se

    indispensvel ao seu funcionamento. Essas novas qualificaes compem a nova

    7

  • subsuno real do trabalho ao capital (subsuno formal-intelectual ou espiritual) (ALVES,

    2007, p. 248).

    As novas qualificaes necessrias so: habilidades cognitivas novos

    conhecimentos tericos e prticos formatado lgica funcional e sistmica, capacidade de

    abstrao, comunicao, iniciativa e deciso; habilidades comportamentais

    comprometimento, ateno, interesse pelo trabalho, capacidade de trabalho em equipe

    (ALVES, 2007, p. 248).

    Segundo Alves (2007, p. 249), o processo de reestruturao produtiva do capital

    desencadeou mudanas estruturais no mundo do trabalho e na qualificao profissional,

    refletindo na construo de um aparato ideolgico, pautado nas ideologias de

    empregabilidade e competncia, capaz de proporcionar a reformulao das polticas

    educacionais e de formao profissional, adaptando essas polticas lgica mercadolgica

    da produo toyotizada.

    As ideologias disseminadas para legitimar o regime de acumulao toyotista se

    desenvolvem de forma contraditria. Ou seja, o regime toyotista que regido pela lgica

    da financeirizao, da produo enxuta geradora de desemprego e excluso social, a causa

    do aumento do desemprego e excluso social, legitimado pelo conceito de

    empregabilidade que prega a possibilidade de se empregar no mundo voltado para a

    produo do desemprego e apresentado como a soluo para a crise do desemprego

    (ALVES, 2007, p. 251).

    Segundo Alves (2007, p. 252), a promessa de integrao ao sistema, disseminada na

    era fordista, institucionalizou a escola como mecanismo de incluso social e a conquista da

    cidadania. Essa promessa foi legitimada pela teoria do capital humano que consistia em um

    acmulo de conhecimentos e competncias individuais que habilitariam o sujeito a

    concorrer no mercado de trabalho. A associao entre a escola e a promessa integradora,

    direcionou a viso da educao como investimento em capital humano.

    Em funo da crise capitalista dos anos 1970, o uso renovado da teoria do capital

    humano, configura-se no conceito de empregabilidade. Segundo Alves (2007, p. 253), ...o conceito de empregabilidade que ir apresentar a nova traduo da teoria do capital humano sob o capitalismo global: a educao ou a aquisio (consumo) de novos saberes, competncias e credenciais apenas habilitam o indivduo para a competio num mercado de trabalho cada vez mais restrito, no garantindo, portanto, sua integrao sistmica plena (e permanente) vida moderna. Enfim, a mera posse de novas qualificaes no garante ao indivduo um emprego no mundo do trabalho.

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  • Como forma de sustentar e legitimar as mudanas socioeconmicas ocorridas a

    nvel mundial, a investida do capital no campo educacional tem como objetivo reformular

    e adaptar o sistema educacional nova etapa do capitalismo mundial, para atender s

    necessidades de qualificao profissional e social do novo tipo de trabalhador. Para

    concretizar as mudanas necessrias, o Estado participa como mecanismo ativo, por meio

    de polticas pblicas para a educao (SOUZA, 2004, p. 8). Isto se confirma nas palavras de

    Alves (2007, p. 246), quando afirma que a lgica contraditria do toyotismo e suas

    implicaes objetivas e subjetivas no tocante qualificao da fora de trabalho que d

    contedo formao profissional e s polticas educacionais.

    A insero constante de cincia e tecnologia na produo tem se apresentado como

    uma revoluo cientfica e tecnolgica capaz de propiciar a superao da sociedade de

    classes, naturalizando as mudanas nas relaes de produo e do trabalho e camuflando o

    real objetivo de manter as bases de acumulao na atualidade (SOUZA, 2004, p. 10).

    Nesse contexto de reformulao do sistema educacional em funo das mudanas

    socioeconmicas e da necessidade de um trabalhador de novo tipo, adaptado s

    necessidades do atual estgio de desenvolvimento do capitalismo mundial, desencadeia a

    reformulao dos mecanismos de conformao social do Estado, com o objetivo de mediar

    o conflito de classes diante da crise estrutural do capital. Nesse contexto, a articulao da

    educao profissional com a educao bsica acionada de forma a funcionar como

    mecanismo de mediao do conflito de classes.

    A ARTICULAO INSTITUCIONAL DO PROJOVEM

    Segundo o discurso oficial, o ProJovem se destina ao aumento da escolarizao e

    possibilidade de insero no mercado de trabalho, atendendo a jovens em situao de

    vulnerabilidade e risco social, como podemos verificar no Projeto do Programa:[...] voltado especificamente para o segmento juvenil mais vulnervel e menos contemplado por polticas pblicas vigentes: jovens de 18 a 24 anos que no esto matriculados nas escolas e no tm vnculos formais de trabalho (BRASIL, 2005, p. 5).

    A substituio da Lei n 11.129 de 30/06/05, pela Lei n 11.692 de 10/06/08 indica

    um prolongamento da juventude, provavelmente, como aponta a literatura, pela

    incapacidade de absoro do mercado de trabalho e a necessidade de dar respostas a essa

    problemtica. Essa mudana evidenciada no segundo artigo da Lei n 11.692/08 O

    ProJovem, destinado a jovens de 15 (quinze) a 29 (vinte e nove) anos, com o objetivo de

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  • promover sua reintegrao ao processo educacional, sua qualificao profissional e seu

    desenvolvimento humano... (BRASIL, 2008a, p. 1).

    Percebemos a viso governamental ao analisar o as metas do ProJovem. Essas

    metas apontam o seguinte:a acelerao da aprendizagem, a transferncia de renda e a qualificao profissional, como frentes de atuao emergenciais para favorecer a insero dos jovens no mercado de trabalho no devem restringir os objetivos de uma poltica nacional para jovens, tendo em vista um cenrio de demandas multiplicadas, onde o trabalho tal como tradicionalmente concebido perde fora como mecanismo central de insero social dos indivduos. Ainda assim, fundamental aprimorar a gesto das iniciativas existentes, para resolver problemas como as superposies ou a ausncia de coordenao e integrao entre elas e garantir chances de maior efetividade (IPEA, 2008, p. 27).

    Nessa descrio das metas do Programa, verifica-se a constatao da incapacidade

    de absoro da fora de trabalho em empregos formais na atual conjuntura da ordem

    social. Esse discurso corrobora para a confirmao de nossa hiptese sobre o papel das

    polticas pblicas voltadas para a juventude, funcionando como mecanismo de mediao e

    conformao da faixa etria da populao mais afetada pelo desemprego, constituindo-se

    em uma formao para o desemprego.

    Esse Programa resultado da unificao de seis programas existentes

    anteriormente, formado por quatro modalidades: ProJovem Urbano, ProJovem

    Adolescente, ProJovem Trabalhador e ProJovem Campo-Saberes da Terra (BRASIL, 2007,

    p. 1).

    Em sua institucionalidade, a execuo e a gesto do ProJovem realizada pela

    integrao da Secretaria Nacional de Juventude da Secretaria-Geral da Presidncia da

    Repblica com os Ministrios da Educao, do Desenvolvimento Social e Combate

    Fome e do Trabalho e Emprego (BRASIL, 2008a, p. 1). Essa integrao se materializa no

    Conselho Gestor do ProJovem (COGEP), formado por uma secretaria-executiva designada

    pela Secretaria-Geral da Presidncia da Repblica e por um secretrio nacional de cada

    Ministrio envolvido, alm da assessoria tcnica de coordenadores nacionais

    correspondentes e indicados por cada Ministrio (BRASIL, 2008b, p. 2).

    A coordenao das modalidades de ProJovem est distribuda por responsabilidade

    da Secretaria-Geral da Presidncia da Repblica e dos Ministrios envolvidos, essa

    responsabilidade atribuda dessa forma: ProJovem Urbano, Secretaria-Geral da

    Presidncia da Repblica; ProJovem Adolescente Servio Socioeducativo, ao Ministrio

    do Desenvolvimento Social e Combate Fome; ProJovem Campo Saberes da Terra, ao

    10

  • Ministrio da Educao; e ProJovem Trabalhador, ao Ministrio do Trabalho e Emprego

    (BRASIL, 2008a, p. 1).

    A orientao para a responsabilidade da coordenao do ProJovem e suas

    modalidades em mbito estadual, municipal e do Distrito Federal direciona para aes

    integradas por reas correlatas com a estrutura definida em mbito Federal. Com isso, a

    orientao evidencia a importncia das reas de assistncia social, educao, de trabalho e

    de juventude, sem prejuzos de rgos e entidades da administrao pblica estadual,

    municipal e da sociedade civil (BRASIL, 2008b, p. 2).

    A modalidade de ProJovem Urbano tem como objetivo a elevao da escolaridade

    da faixa etria de 18 a 29 anos, alm do estmulo a qualificao profissional e ao

    desenvolvimento de aes comunitrias para a disseminao da cultura cidad. Essa

    modalidade exige como pr-requisito a alfabetizao e a no concluso do ensino

    fundamental (BRASIL, 2008a, p. 3).

    Assim como a modalidade ProJovem Urbano, que tem o objetivo de elevar a

    escolaridade dos jovens nas cidades, a modalidade Campo Saberes da Terra tem como

    objetivo a elevao da escolaridade dos jovens no campo, ligados a agricultura familiar.

    Com isso, estimulando a concluso do ensino fundamental, na modalidade de Educao de

    Jovens e Adultos (EJA) e estimulando a qualificao profissional. Tambm possui como

    pr-requisitos a alfabetizao e a no concluso do ensino fundamental (BRASIL, 2008a, p.

    3).

    A modalidade de ProJovem Adolescente tem carter assistencial e socioeducativo,

    englobando aes de integrao entre rgos municipais de assistncia social, Conselho

    Tutelar, Defensoria Pblica, Ministrio pblico ou Poder Judicirio. Destina-se ao

    atendimento de jovens de 15 a 17 anos: inscritos no Programa Bolsa Famlia, egressos do

    Programa de Erradicao do Trabalho Infantil (PETI); participantes ou egressos de

    programas de combate ao abuso e explorao sexual; egressos de medidas

    socioeducativas em internao ou em meio aberto; alm de egressos ou em cumprimento

    de medidas de proteo. Seu objetivo principal executar mecanismos socioeducativos que

    harmonizem a convivncia familiar e comunitria e inserir ou reinserir o jovem no sistema

    educacional, estimulando sua permanncia (BRASIL, 2008a, p. 3).

    Nossa ateno se volta para o ProJovem Trabalhador, por esta modalidade se

    materializar em experincias com foco direto em alternativas de insero do jovem no

    mercado de trabalho, constituindo-se em aes voltadas para a insero da faixa etria da

    populao mais penalizada pelo desemprego. Essa modalidade de ProJovem promete a

    11

  • criao de oportunidades no mercado de trabalho em crise, como podemos perceber na

    descrio do objetivo geral do Programa:Promover a criao de oportunidades de trabalho, emprego e renda para os jovens em situao de maior vulnerabilidade frente ao mundo do trabalho, por meio da qualificao scio-profissional com vistas insero na atividade produtiva (BRASIL, 2008c, p. 1).

    O ProJovem Trabalhador tem como objetivo preparar para o mercado de trabalho e

    para ocupaes alternativas geradoras de renda (e no necessariamente de emprego). Seu

    pblico alvo so jovens desempregados com idades de 18 a 29 anos, pertencentes a

    famlias com renda per capita de at um salrio mnimo. A responsabilidade de

    coordenao e execuo dessa modalidade de ProJovem da Secretaria de Polticas

    Pblicas de Emprego com a superviso do Ministrio do Trabalho e Emprego (SPPEMTE)

    (BRASIL, 2008c, p. 1).

    A composio do ProJovem Trabalhador se d por quatro submodalidades: Escola

    de Fbrica, Juventude Cidad, Consrcio Social da Juventude e Empreendedorismo

    (BRASIL, 2008c, p. 1).

    Os critrios para a participao diferem nessa modalidade de ProJovem, permitindo

    o jovem que esteja cursando ou concludo o ensino mdio e no esteja cursando ou tenha

    concludo o ensino superior. Ainda como exceo abre a possibilidade de participao na

    submodalidade empreendedorismo juvenil dos jovens que cursam ou tenham concludo o

    ensino superior (BRASIL, 2008b, p. 12).

    As submodalidades Consrcio Social de Juventude, Escola de Fbrica e

    Empreendedorismo Juvenil so desenvolvidas com o envolvimento do setor privado na sua

    execuo. O Consrcio Social de Juventude realizado com a participao indireta da

    Unio em convnios com entidades privadas sem fins lucrativos. A Escola de Fbrica tem

    como objetivo a integrao entre qualificao social e profissional com o setor produtivo.

    O Empreendedorismo Juvenil se prope ao fomento a cultura do empreendedorismo com

    aes voltadas para alternativas de insero do jovem no mercado de trabalho (BRASIL,

    2008b, p. 13).

    Analisando a submodalidade Juventude Cidad percebemos um total da carga

    horria de 350 horas aula, divididas em 100 horas aula para qualificao social e 250

    horas aula para qualificao profissional. A carga horria est distribuda em 15 horas aula

    semanais, em 24 semanas (BRASIL, 2008c, p. 3).

    12

  • Alm dessa baixa carga horria como promessa de qualificao profissional para a

    insero no mercado de trabalho, chama a ateno s metas e responsabilizao do poder

    pblico municipal pelo no alcance dessas metas e a obrigao de devoluo dos recursos.

    Como podemos verificar na normatizao do MTE: Fica estabelecida para os

    Entes Executores do ProJovem Trabalhador Juventude Cidad a meta mnima obrigatria

    de 30% de insero de jovens no mundo do trabalho (BRASIL, 2008c, p. 6). O no

    cumprimento desta meta mnima de insero obrigar o ente Executor a restituir cinqenta

    por cento do valor gasto na qualificao social e profissional por jovem no inserido no

    mundo do trabalho (BRASIL, 2008c, p. 6).

    PODER LOCAL E O PROJOVEM TRABALHADOR

    A partir de entrevista no estruturada com sujeitos do Setor de Trabalho e Emprego

    da Secretaria Municipal de Assistncia Social e Preveno Violncia (SEMASPV)

    obtivemos algumas informaes sobre o funcionamento do ProJovem Trabalhador.

    Segundo o Gerente de Departamento do setor de Trabalho e Emprego da SEMASPV, o

    ProJovem Trabalhador foi realizado durante o perodo de 2006-2007, ocorrendo uma

    interrupo na execuo do Programa. Os motivos da interrupo no foram explicados,

    sendo atribuda responsabilidade a outra gesto. Desta forma, o Programa foi executado

    ainda na extinta Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econmico e Social (SEMDES).

    A SEMDES foi o rgo do poder executivo municipal encarregado de gerir a Poltica

    de Trabalho, Qualificao e Gerao de Renda, congregando quatro secretarias adjuntas

    que atendiam s demandas sociais na rea de trabalho, qualificao e desenvolvimento

    econmico e social. Essas secretarias adjuntas eram compostas dessa forma: a) Secretaria

    Adjunta de Desenvolvimento Social; b) Secretaria Adjunta de Trabalho e Emprego; c)

    Secretaria Ajunta de Desenvolvimento Econmico; d) Secretaria Adjunta do Idoso e do

    Deficiente. A Secretaria Ajunta de Desenvolvimento Social se dividia em dois

    departamentos: o Departamento de Ateno Integral e o Departamento de Programas e

    Projetos. A Secretaria Ajunta de Trabalho e Emprego tambm se dividia em dois

    departamentos: o Departamento de Gerao de Trabalho e Renda e o Departamento de

    Qualificao e Economia Solidria. A Secretaria Ajunta de Desenvolvimento Econmico,

    da mesma forma, se dividia em dois departamentos: o Departamento de Inovao

    Tecnolgica e Comrcio e o Departamento de Indstria e Agricultura (NOVA IGUAU, 2006,

    P. 2-3).

    13

  • A forma dinmica como se estruturam as secretarias municipais, em funo das

    polticas desenvolvidas pelo Poder Local indicam o carter que essas polticas so

    desenvolvidas. Com esse dinamismo, o ProJovem Trabalhador, na submodalidade

    Juventude Cidad, inicia sua estruturao dentro de uma Secretaria que se prope a

    desenvolver polticas voltadas para o desenvolvimento econmico e social. Porm, a partir

    de outubro de 2008 ocorre uma reestruturao das secretarias municipais extinguindo

    algumas secretarias, dentre as quais representavam polticas voltadas diretamente

    juventude, como a Secretaria Municipal da Juventude (SEMJUV) e a SEMDES (NOVA IGUAU,

    2008, P. 2-3). Essa extino da SEMJUV aponta para a falta de legitimidade como rgo

    coordenador de polticas pblicas para a juventude e sua capacidade de fazer com que a

    juventude participe da proposta municipal de desenvolvimento dessas polticas.

    Nesse processo de extino ocorre a fuso da SEMDES com a Secretaria Municipal de

    Valorizao da Vida e Preveno a Violncia (SEMUVV), materializando-se na SEMASPV

    (NOVA IGUAU, 2008, P. 2). Essa nova formao institucional, segundo a gestora do Fundo

    Municipal de Assistncia Social (FMAS), foi pensada em funo da experincia de Luiz

    Eduardo Bento de Mello Soares, Secretrio Municipal da SEMASPV, que concebe a

    assistncia e promoo social articulada ao combate e preveno violncia.

    Com a coordenao de Luiz Eduardo Bento de Mello Soares, a SEMUVV desenvolveu

    projetos articulados a uma institucionalidade voltada para o combate violncia, com uma

    viso do jovem como problema social e questo de segurana pblica.

    A articulao institucional ocorreu por meio da formao de um Conselho

    Comunitrio de Segurana Pblica, inspirado no Instituto de Segurana Pblica do Estado

    do Rio de Janeiro (ISP), com a finalidade de integrar a sociedade civil e o Gabinete de

    Gesto Integrada da Cidade (GGI-NI). Esse Gabinete tem como objetivo reduzir a

    violncia criminal no Municpio de Nova Iguau, com foco na violncia letal intencional,

    identificando as prioridades e aes para orientar as instituies articuladas (BRASIL, 2007,

    p. 1). Possui como representantes os ...Superintendentes das Polcias Federal e Rodoviria Federal no Estado do Rio de Janeiro, ou os profissionais por eles indicados; os Delegados titulares das Delegacias de Polcia Civil situadas em Nova Iguau; o Comandante do Vigsimo Batalho da Polcia Militar; o Delegado da Polcia Civil responsvel pela Baixada Fluminense; o comandante da Polcia Militar responsvel pela Baixada Fluminense; e o Secretario Municipal de Valorizao da Vida e Preveno da Violncia de Nova Iguau (BRASIL, 2007, p. 1).

    14

  • Nesse contexto, tambm podemos evidenciar essa relao entre jovem e violncia

    nos objetivos descritos em seus projetos. Veja-se, por exemplo, o Programa de Grupos

    Reflexivos para Preveno da Violncia com Jovens (GRAAL):Atravs da metodologia de grupos reflexivos, o programa ir atender 8.500 jovens de 14 a 24 anos. Este programa tem como objetivo contribuir para a diminuio da violncia letal entre os jovens e tem como meta a criao de espaos que proporcionem a possibilidade de dialogar sobre aspectos centrais de sua existncia, tais como relaes de gnero, masculinidades, feminilidades, educao, sade sexual e reprodutiva, relaes de amizade, trabalho, drogas, violncia, famlia, entre outros. Estes espaos so conhecidos como Grupos Reflexivos e tm como principal caracterstica construir um lugar onde a reflexo torne-se um caminho para a aquisio de uma maior autonomia em relao s vicissitudes de seu cotidiano, proporcionando liberdade de escolha para suas vidas (BRASIL, 2007, p. 3).

    O Projeto Lutando Pela Paz:O projeto visa atender 5.400 pessoas entre crianas, adolescentes e adultos da faixa etria de 7 a 29 anos, que se encontram em situao de vulnerabilidade social e que residam em comunidades desprovidas de Esporte, Cultura e Lazer do Municpio de Nova Iguau. Sero desenvolvidas aulas de artes marciais, visando a construo entre os jovens de um pacto pela paz, que auxilie na reduo do ndice de violncia letal, e que, ao mesmo tempo, colabore para a construo de cidadania que auxilie o exerccio de seus direitos (BRASIL, 2007, p. 3).

    O Projeto Polcia Cidad:Este projeto visa atender, atravs da metodologia de grupos reflexivos, policiais civis e militares e presidirios da baixada fluminense, totalizando 300 pessoas. Os grupos tm como objetivo a preveno da violncia atravs da construo conjunta e individual de habilidades e recursos no violentos (BRASIL, 2007, p. 3).

    O Projeto FAVVo:Este projeto ir realizar trs grupos reflexivos para o atendimento a familiares e amigos de vtimas de violncia letal, ocorridas na Baixada Fluminense.Dentre suas metas est prevista a articulao, em Nova Iguau, de uma rede de ateno sade, sobretudo sade mental com o objetivo de minimizar o estresse pstraumtico. Alm disso, pretende-se organizar uma rede de apoio jurdico e defesa dos direitos humanos.Estas redes sero formadas por instituies governamentais, ONGs e profissionais liberais que possam prestar atendimento gratuito (BRASIL, 2007, p. 3).

    O Projeto Abuso e Explorao Sexual:Este projeto ser executado atravs de um convnio entre a SEMUVV e a Universidade Federal do rio de Janeiro (UFRJ) e tem como objetivo o desenho e a implantao de uma matriz de polticas pblicas integradas de erradicao da explorao sexual comercial de crianas e adolescentes (BRASIL, 2007, p. 4).

    15

  • A fuso entre a SEMUVV e a SEMASPV, ocorrida em 18 de outubro de 2008, vai moldar

    uma concepo de jovem como questo social e problema de polcia com mais evidncia,

    que a poltica desenvolvida pela SEMDES, que tinha uma maior preocupao com a

    qualificao geradora de emprego e renda. Nessa fuso a estrutura da SEMDES vai ser

    moldada pela concepo e projetos elaborados e geridos pela SEMUVV (NOVA IGUAU, 2008,

    P. 2).

    nesse contexto, que est sendo desenvolvida a prxima etapa do ProJovem

    Trabalhador, como questo social e problema de polcia, corroborando para a viso que

    direcionou a instituio das polticas pblicas voltadas para a juventude no Pas. Essa viso

    provoca a estigmatizao do jovem com propenso natural a violncia, camuflando os

    efeitos da crise estrutural da ordem social e transferindo a causa dessa crise para a

    propenso natural do jovem a violncia, que precisa ser includo na sociedade. Nesse

    contexto, articulado a qualificao profissional, o Programa institui a via da transferncia

    de responsabilidade do desemprego para o jovem pela via da incapacidade pessoal em

    obter um emprego ou atividade alternativa de renda, ao passo que por meio do programa

    estar qualificado para a empregabilidade e pela natureza com propenso a violncia que

    se torna uma das causas dos problemas socioeconmicos vividos pela a juventude pobre.

    A partir desse ano de 2008, ocorre uma ruptura no desenvolvimento do ProJovem

    Trabalhador. Pela entrevista no estruturada realizada no FMAS, essa ruptura parece em um

    primeiro momento, mais uma ingerncia no desenvolvimento do Programa do que

    problemas decorrentes de suas caractersticas prprias, como a meta de insero em um

    mercado de trabalho em crise.

    Nesse contexto de ruptura, a partir de dezembro de 2009, aparecem indcios do

    interesse do Governo Federal na implementao do ProJovem Trabalhador, o Ministro do

    Trabalho e Emprego, Carlos Lupi, assina um convnio entre o Ministrio e o Municpio de

    Nova Iguau para essa implementao, objetivando a qualificao de 4000 jovens (R7

    Notcias, 2009). Com o objetivo de implementar esse convnio, segundo o Gerente de

    Departamento do setor de Trabalho e Emprego da SEMASPV, est sendo estruturado o

    projeto para 2010.

    CONSIDERAES FINAIS

    Ainda em carter preliminar, com base na reviso de literatura, em observaes e

    entrevistas realizadas, podemos tecer algumas consideraes. A primeira delas que as

    16

  • polticas pblicas destinadas juventude surgem como resposta ideolgica crise do

    capital e todos os efeitos sociais, polticos e econmicos decorrentes dessa crise. As

    ascenses dessas polticas ocorrem articuladas ideologia da empregabilidade, definindo a

    qualificao profissional como fator de gerao de emprego. Essa ideologia atribui

    responsabilidade pelo desemprego falta de qualificao profissional, sendo utilizada

    como eixo para direcionar as polticas pblicas para a juventude. Dessa forma, os

    mecanismos de conformao social do Estado so reformulados, articulados a uma ampla

    reforma da educao, de maneira a atender aos interesses empresariais, adaptando o

    trabalhador a atual conjuntura de instabilidade social gerada pela nova etapa de

    desenvolvimento do capitalismo mundial.

    Nesse contexto, as polticas como o ProJovem Trabalhador inserem a juventude no

    cenrio poltico, como problema social, associando o tempo livre da juventude violncia,

    atribuda a um aspecto natural desse ciclo da vida. Essa modalidade se torna audaciosa na

    medida em que estipula metas de insero no mercado de trabalho para os jovens

    qualificados. Alm disso, dentro da ideologia do Estado mnimo, percebemos a

    transferncia de responsabilidade do desemprego dos jovens para a municipalidade.

    Podemos perceber essa responsabilizao ao analisar as sanes pelo no cumprimento das

    metas de insero dos jovens atendidos, no mercado de trabalho. Essas sanses estipulam a

    devoluo do recurso investido em qualificao para a Unio.

    No desenvolvimento do Projovem Trabalhador no Municpio de Nova Iguau,

    verificamos a mudana de concepo na estrutura atribuda a coordenao dessa

    modalidade de ProJovem, mudando de uma provvel concepo de protagonista social,

    para a de questo social e problema de polcia, retrocedendo aos aspectos que

    influenciaram a instituio das polticas pblicas voltadas para a juventude no Brasil. Essa

    concepo aponta para a responsabilizao do jovem pelo seu desemprego, pela via da

    falta de qualificao necessria ou quando recebida pela incapacidade pessoal em

    desenvolver sua empregabilidade e pela via da propenso a violncia que se torna uma das

    causas do desemprego da juventude pobre.

    Permeado pela idia de cio da juventude, as polticas para a juventude segmentam

    o atendimento vtimas do processo de recomposio do capital, os jovens pobres,

    atribuindo a estes a responsabilidade pelo desenvolvimento da comunidade local. Nessa

    perspectiva, as vtimas passam a responsveis pelo desenvolvimento local, sem apoio e

    condies de realizao dessa responsabilidade que no sua, constituindo-se em um

    17

  • paradoxo entre o jovem ocioso com propenso violncia e o jovem como protagonista

    social.

    Nesse contexto, as polticas pblicas para a juventude se apresentam como

    alternativas para a superao da crise do emprego, camuflando as verdadeiras causas do

    desemprego estrutural e precarizao das relaes de trabalho e produo. Assim sendo, as

    polticas pblicas destinadas juventude, como o ProJovem Trabalhador em Nova

    Iguau/RJ, tornam-se um potencial mecanismo de conformao e mediao do conflito de

    classe da populao mais jovem e mais penalizada pelos efeitos da recomposio do

    sistema de capital. Dessa forma, articulao entre educao profissional e educao bsica

    vai funcionar como mecanismo de mediao do conflito de classes conformando uma

    grande parte da populao jovem a trabalhos precrios e ao desemprego.

    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS

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