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UNIVERSIDADE DE PASSO FUNDO Luana Rodrigues JUVENTUDE E PARTICIPAÇÃO SOCIAL: ESPAÇO DE LUTAS E CONQUISTAS Passo Fundo 2014

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Juventude e Protagonismo juvenil

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  • UNIVERSIDADE DE PASSO FUNDO

    Luana Rodrigues

    JUVENTUDE E PARTICIPAO SOCIAL:

    ESPAO DE LUTAS E CONQUISTAS

    Passo Fundo

    2014

  • Luana Rodrigues

    JUVENTUDE E PARTICIPAO SOCIAL: ESPAO

    DE LUTAS E CONQUISTAS

    Trabalho de Concluso de Curso apresentado na

    Faculdade de Educao da Universidade de Passo

    Fundo, como pr-requisito para obteno do ttulo

    de bacharel em Servio Social sob a orientao da

    prof. M. Angela Diana Hechler.

    Passo Fundo

    2014

  • Luana Rodrigues

    JUVENTUDE E PARTICIPAO SOCIAL:

    ESPAO DE LUTAS E CONQUISTAS

    Trabalho de Concluso de Curso apresentado na

    Faculdade de Educao da Universidade de Passo

    Fundo, como pr-requisito para obteno do ttulo

    de bacharel em Servio Social sob a orientao da

    prof.M. Angela Diana Hechler.

    Aprovado em 12 de dezembro de 2014.

    Banca Examinadora

    ______________________________________

    Prof. M. Angela Diana Hechler UPF

    ______________________________________

    Prof. Me. Frederico dos Santos - UPF

    _________________________________________

    Prof. M. Lizandra H. Passamani - UPF

  • AGRADECIMENTOS

    Agradeo primeiramente a Deus,

    por estar comigo todas as horas me protegendo.

    Faculdade de Educao da UPF,

    pela oportunidade de encontros e aprendizagens.

    Aos colegas de faculdade,

    principalmente os colegas Juliana, Pmella e Maikon

    por todas as ajudas, companheirismo e apoio.

    Aos professores,

    principalmente minha professora orientadora Angela D. Hechler, por acreditar em

    possibilidades... por me fazer pensar o Servio Social a partir de outros olhares!

    Ao meu primo amado Luciano Rodrigues, in memria,

    por ter sido meu irmo, por ter me proporcionado muitas alegrias enquanto esteve aqui.

    minha amada v Dica, in memria,

    por ter dispensado todo o amor e carinho, apoio e compreenso e que eu irei amar

    eternamente.

    Ao Advan,

    companheiro de todas as horas que me faz ir alm, pensar, sonhar e

    querer...

    Aos meus amados pais,

    por no medirem esforos para que eu pudesse estar realizando esse

    sonho. A eles o meu amor!

    Muito Obrigado!

  • Dedico esse trabalho aos jovens que com sua garra,

    e seus questionamentos, e desejo de mudana,

    instigaram em mim, o desejo de pesquisar sobre o

    protagonismo juvenil e a todos que de uma maneira

    ou de outra contriburam para o meu

    desenvolvimento pessoal e profissional.

  • RESUMO

    O trabalho de concluso de curso apresentado sustenta-se nas discusses referentes a

    renovao das formas de participao social dos jovens principalmente atravs do

    protagonismo juvenil que aponta para a atuao dos jovens como sendo agentes principais de

    um processo de mudana societria por meio de uma participao social construtiva, baseada

    nos princpios da cidadania. Com relao ao tema de pesquisa este parte de investigaes que

    procuraram compreender de que maneira o protagonismo juvenil mobilizado por meio das

    experincias de jovens relatadas por autores poderia estar contribuindo pra o enfretamento das

    desigualdades sociais. Os objetivos perseguidos tiveram a finalidade de identificar que

    influncias essas representaes podem trazer para esses jovens, no intuito de contribuir para

    uma mudana em seu entorno social. A pesquisa nasce da experincia de estgio que se deu

    com um grupo de adolescentes participantes dos programas da Assistncia Social Diocesana

    Leo XII, do municpio de Passo Fundo - RS, com relao ao percurso metodolgico esse

    caracterizou-se por ser uma pesquisa de cunho bibliogrfico, com abordagem qualitativa e

    carter exploratrio descritivo, analisada pela tcnica de anlise de contedo. O mtodo

    utilizado foi o dialtico crtico onde so consideradas a historicidade, contradio e totalidade

    que so fundamentais para investigar e refletir as relaes que permeiam o contexto social

    desses adolescentes. Os dados obtidos foram analisados atravs de quatro categorias de

    anlise: Participao social, direitos humanos, construo coletiva e incluso social. As

    categorias analisadas apontam para o protagonismo juvenil como possibilidade de

    enfrentamento das desigualdades sociais atravs da participao social coletiva dos jovens,

    onde os mesmos aprendero valores e princpios que reafirmam e fortalecem a prtica dos

    direitos humanos, possibilitando sua incluso social e exerccio da cidadania. Apresenta-se a

    partir disso, as consideraes finais que indicam a efetivao da participao social dos jovens

    atravs de prticas de protagonismo juvenil. Contudo, essas prticas s sero construdas por

    meio de um processo de aprendizado lento e gradativo, aliado a essa discusso a contribuio

    que o Servio Social poder proporcionar, dialogando e intervindo junto a juventude por meio

    do protagonismo juvenil.

    Palavras chave: Protagonismo Juvenil, Participao Social, Cidadania, Direitos humanos,

    Incluso Social, Servio Social.

  • SUMRIO

    INTRODUO ........................................................................................................................ 8

    1 JUVENTUDE E PARTICIPAO SOCIAL ............................................................ 10

    1.1 A Categoria Juventude e sua contribuio para a participao social .................... 10

    1.2 A juventude como Categoria Social: Breves notas conceituais ................................. 10

    1.3 Resgate Histrico da Participao Social da Juventude a partir da dcada

    de 60. ............................................................................................................................... 12

    1.4 Juventude e Participao Social: Mudanas a partir da dcada de 90. ................... 16

    1.5 Juventude e Participao Social: Marcos Legais e Aes Governamentais

    relacionadas Juventude a partir da dcada de 1990. .............................................. 18

    1.6 Protagonismo juvenil e Participao social: Percursos e definies ........................ 21

    1.7 Protagonismo Juvenil: Experincias com Jovens do Centro de Juventude Jos

    Alexandre Zachia-PF/RS .............................................................................................. 24

    2 ASPECTOS METODOLGICOS DA PESQUISA .................................................. 34

    2.1 A importncia do Protagonismo Juvenil no enfrentamento das desigualdades

    sociais .............................................................................................................................. 34

    2.2 Percursos Metodolgicos da Pesquisa ......................................................................... 34

    2.3 Coleta de dados .............................................................................................................. 38

    2.4 Anlise de dados coletados na Pesquisa ...................................................................... 40

    2.5 Espaos de Efetiva Participao Social ....................................................................... 42

    2.6 Fortalecimento dos Direitos Humanos ........................................................................ 45

    2.7 Construo Coletiva ...................................................................................................... 51

    2.8 Incluso Social ............................................................................................................... 61

    3 CONSIDERAES FINAIS ....................................................................................... 66

    4 REFERNCIAS ............................................................................................................ 70

    ANEXOS.................................................................................................................................. 79

  • 8

    INTRODUO

    Esse trabalho de concluso de curso, se constitui em um estudo sobre a renovada

    modalidade de participao social da juventude baseada no Protagonismo Juvenil, que nasce

    das consideraes de Antnio Carlos Gomes da Costa, pedagogo e principal autor a tratar

    desse assunto, buscando preparar o jovem para exercer sua cidadania, desenvolvendo-os

    pessoal e socialmente, por meio de prticas educativas onde sero estabelecidos dilogos e

    onde exercida a democracia. Partindo dessa premissa, o jovem pode exercitar sua atuao

    poltica medida que se insere em seus grupos, comunidades participando, opinando,

    apresentando solues em prol daquele espao no qual fazem parte.

    Nessa perspectiva, iniciaremos nossa discusso no primeiro captulo, tecendo algumas

    consideraes sobre a temtica da juventude e elencando algumas definies a respeito desse

    segmento da populao, buscando evidenciar a juventude no apenas como uma fase da vida,

    e sim, como categoria social, alm de fazermos uma breve contextualizao histrica sobre

    sua participao social em meados da dcada de 60 onde enfatizamos sua importncia no

    processo de luta pela garantia de direitos coibidos pelo regime opressor da Ditadura Militar.

    Posteriormente, iremos discorrer sobre as mudanas na participao da juventude

    nesse cenrio a partir da dcada de 90, aps o processo de redemocratizao do pas, alm de

    tratar dos marcos legais que vieram a contribuir para efetivar os direitos da juventude,

    principalmente no campo das polticas pblicas. E para melhor compreendermos sobre os

    termos participao social e de protagonismo juvenil, iremos trazer alguns conceitos

    considerando que os referidos termos so complementares e que esto diretamente

    relacionados, e para finalizar o captulo trataremos de experincias durante o processo de

    estgio curricular, que se deu na Assistncia Social Diocesana Leo XIII, no municpio de

    Passo Fundo.

    No segundo captulo, ser apresentado o tema pesquisado com vistas a compreender,

    de que maneira o Protagonismo Juvenil poder contribuir para o enfrentamento das

    desigualdades sociais vivenciadas pelos jovens, por meio de um estudo exploratrio-

    descritivo caracterizado por ser uma pesquisa bibliogrfica, de abordagem qualitativa, o

    mtodo empregado foi o dialtico crtico possibilitando analisar, conhecer e refletir sobre as

    formas de participao atravs das prticas do protagonismo juvenil e quais as possibilidades

    de mudana no contexto social dos jovens.

    Para efeito da coleta e anlise dos dados, foram considerados os relatos dos autores

    sobre as experincias de participao dos jovens na perspectiva do protagonismo juvenil,

  • 9

    igualmente as experincias no campo de estgio, bem como a metodologia de trabalho

    adotada para tal finalidade. Por fim, identificamos que as formas de participao relatadas se

    efetivam e caracterizam-se como prticas de protagonismo juvenil, reconhecendo as

    potencialidades dos jovens como verdadeiros protagonistas, que esto dispostos a lutar pelos

    seus direitos.

    Essa construo se d, medida que so oportunizados aos jovens estar dentro dos

    espaos pblicos formais e informais (grupos, escola, programas, projetos e polticas

    pblicas) dessa forma, possvel promover a incluso social dos jovens, a fim de contribuir

    para uma efetiva mudana na sua perspectiva de vida. Contudo, essa construo se constitui

    de maneira lenta e gradativa, por meio de muito esforo e dedicao por parte de todos os

    envolvidos nesse processo.

    Partindo dessa compreenso, entendemos que essa seria uma possibilidade do

    profissional Assistente Social estar intervindo, nesses espaos, principalmente no mbito

    escolar onde h maiores possibilidades de se efetivarem experincias de protagonismo

    juvenil,pelo fato de o protagonismo juvenil surgir das consideraes do pedagogo (Costa) e

    por seguirmos suas consideraes acreditando que atravs da escola o jovem ir aprender

    valores, crenas e desenvolver aes que iro contribuir para formar pessoas com maior

    autonomia, solidrias que iro respeitar as diferenas, que tero uma conscincia crtica sobre

    o seu entorno social e que podero superar a segmentao social a qual esto submetidas.

    Nesse sentido, o Assistente Social tendo como aliado o protagonismo juvenil, poder

    desmistificar o olhar de que a escola um lugar exclusivo de professores, pois

    compreendemos que a prtica do Assistente Social parte de um vis educativo. Dessa forma o

    Assistente Social estaria realizando um trabalho interdisciplinar juntamente com os

    professores trabalhando questes relacionadas no apenas a educao em si, mas a educao

    voltada para o ser cidado.

    Por fim, o protagonismo juvenil surge como possibilidade de interveno em uma

    dada realidade e no como soluo para todos os problemas, pois a soluo depende da

    contribuio de todos, inclusive dos Assistentes Sociais que estaro assumindo um

    compromisso tico-poltico estimulando nos jovens o desejo de participar, de maneira crtica e

    consciente, conhecendo as questes polticas e sociais tanto de sua comunidade, cidade,

    estado e pas.

  • 10

    1 JUVENTUDE E PARTICIPAO SOCIAL

    1.1 A Categoria Juventude e sua Contribuio para a Participao Social

    No presente captulo, iremos explanar sobre a temtica relacionada juventude

    enquanto categoria social. Parte-se do discurso que o senso comum tem sobre a juventude,

    como apenas uma fase da vida ou faixa etria. Em oposio a essa idia, autores como

    Groppo(2000), Souza(2004),Oliveira(2009),afirmam que a juventude deve ser definida como

    categoria socialmente construda, o que significa dizer que a juventude deve ser vista alm da

    tica relacionada a apenas uma faixa etria ou grupo.

    Nesse sentido os jovens acabam por ser atingidos por fatores histricos, estruturais e

    conjunturais que determinam as vulnerabilidades e as potencialidades das juventudes

    (NOVAES, 2007,p.2). Dividimos a contextualizao histrica da participao social dos

    jovens em dois momentos: o da participao social da juventude a partir da dcada de 60 que

    a caracteriza por representar a revolta contra o regime opressor da ditadura militar e por

    ganhar notoriedade por contribuir para as mudanas sociais naquela poca e a segunda a partir

    da dcada de 90 considerando as mudanas e por representar o perodo de efetivao da

    democracia, com o fim da ditadura militar. Cabe salientar, entretanto, que em nosso estudo

    no faremos comparaes relacionadas ao engajamento dos jovens da dcada de 60 e a

    juventude atual, mas sim, entre os diferentes contextos histricos em que foram construdos.

    Posteriormente iremos contextualizar historicamente os marcos legais que configuram

    os parmetros de tratamento destinados aos jovens pelo Estado e sociedade. Em seguida

    faremos uma breve discusso sobre os temas protagonismo juvenil e participao

    considerando a relao entre eles, e por fim, sero feitas algumas consideraes a respeito da

    experincia vivenciada com os jovens durante o processo de estgio e o desejo de pesquisar

    sobre o tema protagonismo juvenil.

    1.2 A juventude como Categoria Social: Breves notas conceituais

    Dando incio a nossa discusso pertinente que faamos uma sucinta contextualizao

    a fim de compreender alguns aspectos importantes que caracterizam a juventude e que iro

    nortear o nosso estudo.

  • 11

    A juventude uma classe de idade, no sentido de que est presente em todas as classes sociais, mas que transitria, ou seja, se renova perpetuamente, j que os

    indivduos s sero jovens durante algum tempo. Alm disso, a cultura juvenil, ao

    mesmo tempo em que refora o carter individualizante de seus smbolos e valores,

    tambm promove a solidariedade e alimenta um sentimento de grupo. (MORIN,

    2006)

    Nesse sentido o primeiro aspecto est relacionado concepo que a sociedade tem

    sobre a juventude, ao mesmo tempo em que a juventude vista como categoria social,

    tambm se depara com paradigmas que visualizam a juventude causadora de problemas.

    Constata-se que essas concepes acabam por descredibilizar e reduzir a capacidade do jovem

    de ser agente responsvel na conduo de sua prpria vida.

    Outro aspecto est relacionado s ideias recorrentes de que a juventude apenas uma

    faixa etria, entretanto a juventude, no deve ser simplesmente resumida idade, como afirma

    Souza (2004, p.49) a idade no , ento, somente um conjunto de anos que se vai agregando

    num processo linear, mas determina expectativas e comportamentos[...]. Deve-se pensar a

    juventude como um processo de experincia e de formao de valores que iro possibilitar ao

    jovem construir a sua prpria identidade.

    Quando nos referimos faixa etria podemos observar que de acordo com o pargrafo

    1 da Lei n 12.852, de 05 de agosto de 2013 que institui o Estatuto da Juventude, considera-

    se jovem as pessoas entre 15 e 29 anos de idade, j na Lei n8.069, de 1990 que institui o

    Estatuto da Criana e do Adolescente considera adolescente (jovem) os indivduos entre 12 e

    18 anos, no entanto, esses critrios de idade no so o suficiente para definir um segmento da

    populao que embora seja uma fase da vida marcada por caractersticas universais, a forma

    como cada grupo social representa e convive com essas caractersticas muito

    diversificada.(PNJ,2011,p.83)

    Para Abad (2003 apud OLIVEIRA,2009,p.35) no podemos tratar a juventude como

    um segmento homogneo, segundo os autores seria um equvoco na medida em que

    vislumbra, para isso, problemas comuns, relacionados a uma fase especfica da vida, ou

    quando a realidade demonstra que as condies sociais e culturais, bem como as relaes de

    gnero influem na maneira como cada sociedade representa e lida com esse grupo

    etrio.(PERALVA,1997 apud OLIVEIRA,2009,p.35)

    Existe tambm a questo da juventude ser vista apenas como uma fase da vida da

    passagem da criana/adolescente/adulto. No entanto, a juventude se caracteriza tambm por

    outros processos onde o sujeito ir construir um equilbrio emocional maior e adquirindo

  • 12

    experincias de vida, construo da sua autonomia perante a famlia e a sociedade, alm da

    construo de valores e afirmao de sua identidade.

    Para o jovem, a busca da idade adulta exemplifica essa tenso entre o auto-

    reconhecimento e o ser reconhecido, no esquecendo, [...] a necessidade que se tem

    de afirmar a diferena enquanto indivduo ou grupo.[ ],Considerando quatro plos

    de nossa identidade: a identificao que ns operamos, a identificao por parte dos

    outros, a diferena como ns afirmamos e a diferena como nos reconhecida pelos

    outros. Assim, ningum constri sua identidade sozinho, independente do olhar do

    outro. A identidade , antes de tudo, uma aprendizagem constante que liga

    continuidade e mudana, estabelecendo entre ambas um processo relacional que

    distingue e une o indivduo. (MELUCCI ,1992 apud SOUZA, 2004,p.55-56)

    A desnaturalizao do olhar para alm da palavra juventude, faz-se necessrio para

    facilitar a clara percepo da realidade,

    Esse era o treino que gostaria de propor que a juventude fosse principalmente olhada

    em torno de dois eixos semnticos: como aparente unidade (quando referida a uma

    fase de vida) e como diversidade (quando esto em jogo diferentes atributos sociais

    que fazem distinguir os jovens uns dos outros). De fato, quando falamos de jovens

    das classes mdias ou de jovens operrios, de jovens rurais ou urbanos, de jovens

    estudantes ou trabalhadores, de jovens solteiros ou casados, estamos a falar de

    juventudes em sentido completamente diferente do da juventude enquanto referida a

    uma fase de vida. (PAIS, 1990,p.164).

    Sendo assim necessrio que possamos analisar a juventude, buscando no se limitar

    apenas a determinados pontos que venham caracterizar o que seria juventude, mas sim,

    consider-la como categoria social, considerando que as diferentes formas de insero dos

    jovens dependem das origens histricas, sociais, bem como as de classe, s assim possvel a

    compreenso acerca das diferentes construes relacionadas juventude e como elas se

    manifestam nos dias atuais.

    Dessa forma importante que faamos algumas consideraes sobre a importncia da

    historicidade da juventude que serviro de base para essa construo e sero apresentados a

    seguir.

    1.3 Resgate Histrico da Participao Social da Juventude a partir da dcada de 60.

    A participao social dos jovens foi ao longo dos anos sendo construda por meio de

    lutas e conquistas, sendo assim pertinente que faamos uma breve retrospectiva dos fatos,

    visando entender como se deu a construo histrica das conquistas da juventude neste

    cenrio partindo da dcada de 60 at os dias atuais.

  • 13

    A partir da dcada de 60 e 70 podemos afirmar uma decisiva participao dos jovens

    brasileiros nos movimentos estudantis que insatisfeitos com a maneira pela qual o pas estava

    sendo conduzido uniram foras para reivindicar seus direitos principalmente por meio da

    Unio Nacional dos Estudantes.1

    No Brasil, a importncia do movimento estudantil acompanha a trajetria de sua

    entidade mxima, a UNE. Da luta contra o Estado Novo campanha pelo petrleo,

    atuao cultural, ao enfrentamento da ditadura militar e participao na fase de

    consolidao democrtica, a UNE esteve sempre presente na poltica brasileira.

    (ARAJO, 2007,p.18)

    Os movimentos juvenis tiveram destaque no apenas em nosso pas, mas em todo o

    mundo, fazendo com que a dcada de 60 fosse considerada um marco de transformaes

    sociais e culturais, ganhando lugar na histria. Nessa poca a participao juvenil se

    intensificou para lutar contra o regime opressor da Ditadura Militar defendendo mudanas

    sociais profundas em nosso pas.

    No Brasil, particularmente neste momento que a questo da juventude ganha maior

    visibilidade, exatamente pelo engajamento de jovens de classe mdia, do ensino

    secundrio e universitrio, na luta contra o regime autoritrio, atravs de

    mobilizaes de entidades estudantis e do engajamento nos partidos de esquerda;

    mas tambm pelos movimentos culturais que questionavam os padres de

    comportamento. (ABRAMO,2007,p.82)

    Durante esse perodo a participao dos jovens se estendia aos movimentos sociais e

    polticos em especial os considerados como de esquerda2.

    A imagem do jovem foi moldada sob a ptica do idealismo, da generosidade,

    criatividade ousando sonhar e se comprometer com uma mudana social.

    (ABRAMO,2007,p.82). No entanto, nem todas as juventudes estavam envolvidas aos

    movimentos ou mesmo estavam comprometidas com as causas sociais e polticas do pas,

    muitos eram conservadores e permaneciam indiferentes diante dessas lutas.

    1A UNE foi fundada em 1937, estando presente nos principais acontecimentos polticos e sociais do Brasil.

    Desde a luta de desenvolvimento nacional, a exemplo da campanha do petrleo, lutando contra o regime

    opressor da Ditadura Militar at as Diretas J e o impeachment do presidente Collor. 2 O uso das categorias esquerda e direita para indicar preferncias polticas remonta Revoluo Francesa a

    reunio dos Estados Gerais, no final do sculo XVIII. Delegados identificados com igualitarismo e reforma

    social sentavam-se esquerda do rei; delegados identificados com aristocracia e conservadorismo, direita. A

    distino original entre defesa da ordem ou da mudana correspondia a uma disposio espacial e ao longo do

    sculo XIX na Europa a distino entre esquerda e direita passa a ser associada com a distino entre liberalismo

    e conservadorismo.Com a expanso do movimento operrio e a difuso da perspectiva marxista o contedo da

    posio de esquerda passa a incorporar a defesa dos interesses da classe proletria. Com os debates da social-

    democracia no final do sculo XIX e a revoluo russa de 1917, a defesa do capitalismo desloca a burguesia para

    a direita. Disponvel em:.

    Acesso em: 02 set. 2014.

  • 14

    O ano de 1968 foi marcado por grandes transformaes em nosso pas e a juventude

    mais uma vez teve papel principal nesse processo, ficando conhecida como a Gerao 68

    destacando-se pelo seu carter reivindicativo, tornando-se protagonista de uma insatisfao

    nacional. A Gerao 68 ficou sendo conhecida como tal pelas marcas, atitudes e vises de

    mundo da juventude naquele momento. (COELHO;SANTANA,2010,p.289).

    Ainda nesse mesmo ano ocorreu uma passeata fnebre fruto da indignao pelo

    assassinato de dois estudantes3 no Rio de Janeiro e posteriormente ocorreu a Marcha dos 100

    mil.4

    Conforme j mencionado o pas passava por um momento de represso causada pela

    Ditadura Militar. Consequentemente a sociedade civil descontente reivindicava pelos seus

    direitos, partindo disso, que surgem as organizaes tendo como lderes, participantes e

    militantes pessoas muito jovens.

    As mudanas na esfera social, econmica e poltica que foram decorrentes desse

    movimento histrico conforme Cardoso (2005,p.94) caracterizaram-se pela transgresso aos

    padres e valores estabelecidos na poca, padres que eram baseados na violncia e valores

    que conservavam o funcionamento do sistema. Entretanto, a autora enfatiza que essa

    transgresso no foi negativa, pois caracterizou-se por ser um movimento que nega valores

    estabelecidos mas que na sua face positiva se lana no risco da afirmao de novos valores.

    Ainda a mesma autora expe que o termo movimento seria a projeo para um dado

    futuro, projetando ideias de liberdade e que tinham em comum o questionamento da situao

    presente e o objetivo de uma transformao social.

    Compartilham da mesma opinio Abramo(2007 apud HELMER;CALIARI;

    MANFROI, 2008,p.4) quando afirmam que a juventude era considerada rebelde, contudo essa

    rebeldia fora transformada e assimilada de forma positiva.

    No entanto, no incio da dcada de 80 com a transio de um governo opressor e

    autoritrio para um governo democrtico, a mesma juventude que fora considerada smbolo

    3 No dia 28 de maro de 1968, o estudante paraense Edson Lus, com apenas 18 anos, era assassinado pelo

    regime militar no restaurante estudantil Calabouo, no Rio de Janeiro. Na poca, os estudantes organizavam

    uma passeata para protestar contra o alto preo e a m qualidade da comida servida no restaurante. A Polcia

    Militar, que outras vezes j havia reprimido os estudantes no local, chegou ao restaurante com muita

    represso. Na invaso, cinco jovens ficaram feridos e dois foram mortos. Um foi Benedito Frazo Dutra, que

    morreu no hospital, o outro foi Edson, que levou um tiro covarde no peito, queima-roupa, de uma arma

    calibre 45. Disponvel em: . Acesso em: 02 de

    set.2014. 4 Realizada no dia 26 de junho de 1968no Rio de Janeiro, constituiu o ponto mais alto do processo de luta de

    massas desencadeado trs meses antes, ao influxo da indignao provocada pela truculncia assassina da

    represso policial. Disponvel em: . Acesso em: 02 set. 2014.

  • 15

    de transformao social, passa nesse momento a ser taxada de aptica, segundo os autores,

    desaparecendo da cena pblica.

    [...] apesar da juventude estudantil ter tido,[...] destacada presena em prol dos

    processos de democratizao e combate s estruturas conservadoras [...] houve a

    partir dos anos 80 o enfraquecimento desses atores estudantis [...] levando ao

    desaparecimento da juventude da cena poltica, erigindo aquelas formas de atuao

    antes suspeitas a modelos ideais de atuao, frente aos quais todas as outras

    manifestaes juvenis aparecem como desqualificadas para a poltica.

    (ABRAMO,2007, p.27)

    Em oposio ideia de apatia Butler e Princeswal (2012) apontam para alguns

    motivos que acabaram por dificultar a participao dos jovens,

    A aparente apatia dos jovens e sua falta de participao normalmente esto ligadas a

    uma compreenso bem restrita do termo poltico. Enfatiza-se a viso negativa do jovem a respeito da poltica e sua baixa insero em mecanismos institucionais,

    como organizaes polticas tradicionais ou o prprio processo eleitoral. (BUTLER;

    PRINCESWAL, 2012,p.112)

    E essa situao no ocorreu somente em nosso pas, mas no mundo todo, de acordo

    com estudos realizados com jovens franceses o distanciamento poltico de uma parte

    significativa de jovens, pois,

    Os jovens justificam-no pela rejeio s brigas politiqueiras que despojam a poltica

    de seus contedos e ao jogo de alianas e oportunismos. Repudiam a ausncia de

    controle sobre as decises dos governantes, e constatam a falncia da ideia de

    eficcia dos projetos polticos. (BOGHOSSIAN; MINAYO, 2009, p.419)

    Vemos com isso, que a participao social da juventude foi enfraquecida por algumas

    questes, todavia ganhou notoriedade no contexto histrico dos movimentos sociais das

    dcadas aqui citadas. Essa participao ainda que menos evidente, permanece at os dias

    atuais, no entanto, deve ser compreendida conforme as mudanas e transformaes da

    sociedade.

    Esse resgate histrico de extrema importncia para o conhecimento de como se

    deram as formas de protagonismo juvenil dos movimentos sociais juvenis daquela poca,

    servindo como base para a formao de novos movimentos juvenis na atualidade.

    A seguir discutiremos as mudanas na participao social juvenil considerando

    algumas diferenas entre a forma de participao social da juventude da dcada de 60 em que

    a juventude foi caracterizada pelo seu esprito revolucionrio e de engajamento e a juventude

  • 16

    da dcada de 90 que representou o perodo de efetiva democratizao no pas aps o fim da

    ditadura militar.

    1.4 Juventude e Participao Social: Mudanas a partir da dcada de 90.

    A partir dos anos de 1990 surgem novas formas de reivindicao dos jovens

    brasileiros atravs do movimento Caras Pintadas ocorrido no ano de 1992 onde o nosso pas

    passava por uma grave crise econmica e o ento Presidente da Repblica Fernando Collor de

    Mello era acusado de corrupo.

    Em meados de agosto de 1992, a imagem do Presidente estava to desgastada

    perante a opinio pblica que, contrariando o seu pedido de apoio, milhares de

    pessoas majoritariamente estudantes secundaristas e universitrios saram s ruas vestidos com alguma roupa preta e de rostos pintados de preto, e sob o grito de

    ordem Fora Collor!... aquele domingo, 16 de agosto de 1992, foi conhecido como domingo negro.(OLIVEIRA, 2012,p.65)

    At ento, no havia nada que diferenciasse os jovens da dcada de 60, com os jovens

    contemporneos, ambos lutavam pelos seus direitos, no entanto, conforme o autor

    supracitado,

    Nos diversos movimentos estudantis que se seguiram, a cor preta que simbolizava o

    luto poltico foi, aos poucos, sendo substituda pelas cores verde e amarela de

    esperana e cidadania... os estudantes, em consonncia com inmeras instituies da sociedade civil organizada, estavam mobilizados e determinados a destiturem,

    pelo direito, o Presidente indigno do cargo. (OLIVEIRA, 2012, p.65)

    Durante os protestos contra a ditadura militar houve inmeros atos de violncia, como

    tortura e assassinatos, e que agora do lugar aos protestos com menor teor de agressividade,

    sem contar, que no existem relatos de atos ou atentados contra a vida.

    Podemos observar essas mudanas com o relato do Deputado Federal Alfredo Sirkis

    (PV-RJ), que participou da guerrilha urbana contra o regime, tambm fez uma contribuio

    importante apontando diferenas entre os dois perodos. "Naquela poca, havia um grau de

    opresso muito maior, as foras de ordem utilizavam balas reais, e no de borracha.

    (SIRKIS,2013)

    Outra mudana importante na participao social da juventude foi forma como os

    jovens organizavam-se para realizar os protestos antigamente e que no dispunham de

    nenhuma tecnologia para tal fim. Com relao a esse assunto Eliete Ferrer que foi exilada ao

    lado de companheiros durante a ditadura militar e organizadora do livro "68: a gerao que

  • 17

    queria mudar o mundo" tece algumas consideraes a respeito. "Isto algo incrvel. Os

    manifestantes hoje tm a internet, instrumento que no tnhamos. Alm disso, existem

    celulares, filmadoras e cmeras de ruas que registram tudo. (FERRER,2013)

    Em recente entrevista ao Departamento de Comunicao Social da PUC-RJ, ex-lderes

    tambm comentam as mobilizaes sociais na atualidade, como Itamar Silva diretor do

    Instituto Brasileiro de Anlises Sociais e Econmicas (Ibase) que participou de movimentos

    sociais desde a dcada de 70 e afirma que h uma grande variedade de representaes que se

    constitui na maior diferena em relao as de antigamente, alm disso, destaca esquerda e

    direita protestando juntas:

    O movimento das Diretas J tinha uma nica bandeira. Tinha todo o espectro da

    esquerda e defendia a democracia. Hoje as manifestaes tm demandas de mais

    direitos para as minorias, da reforma poltica, do esclarecimento de gastos na Copa e

    nas Olimpadas, do investimento em sade, educao e transporte. Essa

    multiplicidade de bandeiras a grande diferena entre os movimentos. Pela primeira

    vez vejo pessoas de direita e esquerda, com bandeiras diferenciadas e percepes de

    mundo diferentes, protestando juntas .(SILVA, 2013)

    Da mesma forma Abramo(1997) lembra que a juventude contempornea

    consideravelmente muito mais diversificada com relao a face social dos jovens que se

    mobilizavam nos anos 70. Eram jovens estudantes de classes mdias, hoje, vrias dessas

    formas de movimentao que vemos surgir se fazem entre jovens de diversos setores sociais.

    Outro fato que diferencia a juventude contempornea da gerao de 1960, por sua

    forma de organizao atravs de redes mais dispersas de socializao, formadas nas escolas

    pblicas e particulares, nos lugares de trabalho, nos shopping centers, nos bairros e ruas, e em

    outros espaos de lazer, cultura e sociabilidade. (ABRAMO, 1992; COSTA, 1993; SPOSITO,

    1994).

    As novas formas de representao social, tambm so lembradas atravs dos

    movimentos musicais da juventude urbana pobre, que com seus estilos baseados no rap, funk

    e hip-hop, ganham destaque nos meios de comunicao e indstria fonogrfica a partir dcada

    de 90,

    Os jovens vm encontrando, sem dvida, nas representaes associadas a estes

    universos musicais e sociabilidade que eles promovem, o estabelecimento de

    novas formas de representao social que no s permitem expressar seu

    descontentamento, mas tambm se opor tese de que o Brasil seria uma nao

    diversa mas no conflitual. (HERSCHMANN, 1995 apud NETO;QUIROGA,

    2000,p.2).

  • 18

    As autoras colocam ainda, que por meio dessas letras musicais esses jovens expunham

    os problemas sociais que enfrentavam e que ainda enfrentam nos dias de hoje no quotidiano

    de suas vidas em favelas e bairros perifricos, onde so destacados os preconceitos, estigmas

    e segregaes dos quais so vtimas.(NETO;QUIROGA,2000,p.2)

    Durante a dcada de 60 existia uma espcie de arte engajada que se colocava

    disposio das causas do movimento estudantil, das lutas sindicais e polticas, hoje os

    chamados grupos culturais levam suas expresses artsticas diretamente ao espao pblico

    provocando repercusses polticas. (NOVAES, 2008, p.13)

    Partindo dessas consideraes constatamos que a participao social da juventude na

    contemporaneidade adquire novas formas de atuao.

    [...] a participao juvenil na atualidade caracteriza-se pela diversidade e disperso

    dos contedos e das formas de atuar, o que determina que a participao juvenil seja

    vista como um processo em constante transformao, pois os grupos, redes,

    movimentos, organizaes nascem e morrem, renascem com novos nomes e

    propostas e esse contnuo recriar parece ir constituindo os jovens como atores

    sociais. (SERNA, 1997apud GIL, 2012, p.96)

    Assim, devemos levar em considerao que as transformaes ocorridas na

    participao social da juventude so frutos de uma construo scio-histrica a qual est

    sempre em constante transformao. Logo aps, iremos tratar das significativas modificaes

    nas legislaes e polticas pblicas relacionadas rea da juventude.

    1.5 Juventude e Participao Social: Marcos Legais e Aes Governamentais

    relacionadas Juventude a partir da dcada de 1990.

    Somente na dcada de 1990 que as discusses consideravelmente mais significativas

    relacionadas populao jovem comeam a ganhar nfase com a Conveno Internacional

    dos Direitos das Crianas da ONU, onde o Brasil assumiu o compromisso de assegurar as

    crianas e adolescentes os direitos sobrevivncia, ao desenvolvimento, proteo e

    participao. Ainda no mesmo ano, foi criado o Estatuto da Criana e do Adolescente, Lei

    n8.069/90 que veio para regulamentar a norma constitucional e assegurar que crianas e

    adolescentes adquirissem a condio de sujeitos de direitos e de deveres.

    Todavia, percebemos a ausncia dos termos jovem e juventude tanto no que foi tratado

    na conveno quanto nos artigos do ECA no qual aparece apenas a categoria adolescentes,

    incluindo somente a faixa etria dos 15 aos 18 anos incompletos, esses instrumentos serviram

  • 19

    de suporte para o estabelecimento de condies legais na reformulao das polticas pblicas

    em favor da infncia e da juventude (LOPES;SILVA;MALFITANO,2006,p.119).

    importante salientar que, mesmo atendendo s a uma parcela da populao jovem, a criao

    do ECA, ampliou as discusses a respeito de espaos de incluso dos jovens, assegurando-

    lhes a participao social nas discusses e deliberaes de polticas pblicas.

    Em 1993 o ento presidente do Brasil Itamar Franco institua a Semana Nacional do

    Jovem5, sendo comemorada anualmente no ms de setembro. Nessa mesma poca a ONU

    discutia planos de ao que iriam nortear as polticas pblicas destinadas a atender a

    populao juvenil em diversos pases, destaca-se a Conferncia Internacional de Populao e

    Desenvolvimento que ocorreu em 1994 no Egito, no qual os governos foram encarregados de

    buscar o envolvimento dos jovens em todos os processos de planejamento e implantao de

    projetos que tivessem impacto direto sobre suas vidas.

    O Frum Mundial da Juventude da ONU, realizado em 1998, em Portugal aprovou o

    Plano de Ao para a Juventude que teve como objetivo promover a participao dos jovens e

    seu desenvolvimento humano.

    No intuito de fortalecer o Plano de Ao para a Juventude, no ano de 2001, realizou-se

    a quarta sesso do Frum Mundial da Juventude6 da ONU, onde foram discutidas formas de

    empoderamento dos jovens em todo o mundo.

    No Brasil, governo e sociedade civil implementaram as recomendaes contidas nos

    documentos, buscando mobilizar e empoderar os jovens, essas aes possibilitaram

    importantes avanos nas novas concepes sobre polticas para a juventude, alm disso, esses

    avanos demonstram a necessidade de construo de novas formas de trabalho com os

    adolescentes permitindo que eles, hoje, representem a maior fatia dentre os cidados

    interessados em assuntos relacionados participao, elaborao e discusso de polticas

    pblicas.(ANDI,2004)

    No ano de 2003 foi aprovada a Proposta de Emenda Constitucional (PEC n138/2003),

    conhecida como a PEC da Juventude, foi uma grande conquista que ocorreu at esse momento

    na institucionalizao das Polticas de Juventude.

    5A Semana Nacional da Jovem foi instituda pela lei 8.680 de 13 de julho de 1993.Disponvel

    em:. Acesso em: 10 ago.

    2014. 6 As recomendaes contidas no Frum Mundial da Juventude em 2001 propunham formas de autonomizao dos jovens abrangem as preocupaes dos jovens nas 10 reas analisadas por grupos de trabalho, nomeadamente, educao e tecnologia da informao e das comunicaes, emprego, sade e populao, fome,

    pobreza e dvida, ambiente e povoamentos humanos, integrao social, cultura e paz, poltica, participao e

    direitos da juventude, mulheres jovens, e juventude, desportos e atividades de lazer. Disponvel em:

    Acesso em: 10 ago. 2014.

  • 20

    A aprovao dessa PEC insere o termo "jovem" na Constituio Federal, no captulo

    dos Direitos e Garantias Fundamentais, permutando o captulo VII do Ttulo VIII da

    Constituio, pelo substitutivo, passando a chamar-se "Da Famlia, da Criana, do

    Adolescente, do Jovem e do Idoso" - ou seja, o jovem includo na denominao do

    captulo. (CONJUVE, 2011, p. 99)

    Em 2004, foi criado o Projeto de Lei n. 4530, integrando a ideia da criao do Plano

    Nacional da Juventude (PNJ), que tem como objetivos,

    [...] incorporar integralmente os jovens ao desenvolvimento do pas, por meio de

    uma poltica nacional de juventude voltada aos aspectos humanos, sociais, culturais,

    educacionais, econmicos, desportivos, religiosos familiares(BRASIL,PL n.

    4530/04).

    Posteriormente no ano de 2005, o governo apresenta as primeiras aes para a

    construo de secretarias, conselhos e programas de incluso juvenil.

    [...] a criao da Secretaria Nacional de juventude, do Conselho Nacional de

    Juventude e do Programa Nacional de Incluso de Jovens - Projovem. Vale destacar

    que todos os pases da Amrica Latina, com exceo de Brasil e Honduras, j

    contavam, em 2003, com organismos governamentais para tratar das questes

    juvenis. (CONJUVE,2011,p.21-22)

    A primeira Conferncia Nacional da Juventude no Brasil, se deu por meio de um

    amplo processo de dilogo com o Governo Federal e a sociedade, com debates nas escolas,

    universidades, grupos juvenis, e etapas municipais e estaduais que se iniciaram em setembro

    de 2007, culminando numa grande reunio em Braslia, entre os dias 27 e 30 de abril de

    2008. (CONFERNCIA NACIONAL DA JUVENTUDE,2008,p.5)

    A referida Conferncia contou. com a presena de 400 mil participantes em todos os

    estados, e elegeu 22 propostas para a poltica nacional de juventude. Como fruto desse

    processo, o CONJUVE7apoiou a criao do Frum Nacional de Secretrios e Gestores

    Municipais de Polticas Pblicas de Juventude por ocasio da Reunio Anual da Frente

    Nacional de Prefeitos, realizada em Fortaleza/CE. (CONJUVE,2011,p.22)

    Podemos observar com isso, que o crescimento de grupos e movimentos sociais

    relacionados participao juvenil notrio em nosso pas, inspirado nas conferncias,

    legislaes e polticas pblicas na rea da juventude, todavia,

    7 Criado pela lei 11.129/2005 e regulamentado pelo Decreto Presidencial n 5.490 de 14 de julho de 2005, o

    Conselho Nacional de Juventude (Conjuve) iniciou suas atividades em 02 de agosto do mesmo ano, ocasio

    do evento de posse realizado no Palcio do Planalto, em Braslia. Disponvel em:

    http:. Acesso em: 10 ago. 2014.

  • 21

    [...] esses espaos pblicos de interlocuo com a juventude no foram concedidos

    deliberadamente: foram anos de lutas e de mobilizaes da juventude brasileira

    partidria, do movimento estudantil, dos movimentos sociais, dos trabalhadores de

    diversas reas que enfrentam a falta de recursos e de programas destinados s

    juventudes, dos prprios partidos polticos, enfim. (CALIARI,2009,p.21)

    Nesse sentido, vemos que esse perodo caracterizou-se por grandes conquistas

    relacionadas aos marcos legais que configuram os parmetros de tratamento destinados aos

    jovens pelo Estado e pela sociedade. Posteriormente iremos discorrer sobre os conceitos de

    protagonismo e participao social considerando as relaes existentes entre os mesmos.

    1.6 Protagonismo Juvenil e Participao Social: Percursos e Definies

    Podemos observar que protagonismo juvenil e participao social so conceitos

    complementares, porm, o conceito de protagonismo juvenil comea a ser utilizado em

    meados da dcada de 90 surgindo num contexto de renovao da ideia de participao [...]

    esse termo comeou a ser explicitado em documentos oficiais e sua apropriao foi ampliada

    para os mais variados espaos. (BOGHOSSIAN; MINAYO,2009,p.416)

    Devido a diversas situaes nas quais existe a violao de direitos dos jovens o

    protagonismo juvenil abre espao para diversas formas de expresso e reflexo juvenil,

    tornando-se uma das mais significativas formas de desenvolvimento da cidadania, que prima

    pela construo de uma sociedade mais justa e igualitria.

    Partindo de estudos e discusses sobre experincias de trabalho com adolescentes na

    Fundao Odebrecht8, um dos precursores do protagonismo juvenil foi o pedagogo Antnio

    Carlos Gomes da Costa9. Nesse sentido o autor afirma que a palavra protagonismo

    originria do grego e possu a seguinte significncia:

    8 Instituio Social Privada, sem fins lucrativos, fundada em 1965, na Bahia. Atua na educao de Jovens,

    visando a formao de cidados responsveis, conscientes, produtivos, participativos e solidrios. A juventude

    convidada a participar como sujeito ativo, coautor e agente multiplicador de aes sociais. A part ir dos jovens, a

    Fundao Odebrecht alcana toda a famlia, transformando a realidade de Comunidades de regies com baixo

    ndice de Desenvolvimento Humano (IDH). Atuando na zona rural, cria condies para os jovens permanecerem

    no campo, por meio do incremento da produtividade e do protagonismo juvenil em seus prprios destinos.

    http://www.odebrecht.com/pt-br/sustentabilidade/iniciativas/fundacao-odebrecht. Acesso em: 10 de ago. 2014.

    9 Autor de diversos livros e artigos em prol da promoo e defesa dos direitos do pblico infanto-juvenil,

    publicados no Brasil e no exterior, Antnio Carlos participou intensamente do grupo que redigiu o ECA e que

    tambm atuou junto ao Congresso Nacional para sua aprovao e, logo depois, sano presidencial, feito que,

    segundo ele, foi sua maior realizao, como cidado e educador. Disponvel em:

    . Acesso

    em: 10 de ago.2014.

  • 22

    [...] proto, que significa: o primeiro, o principal; agon, que significa luta. Ago-nistes, por sua vez, significa lutador. Protagonista quer dizer, ento, o lutador principal, personagem principal, ator principal ou mesmo agente de uma ao, seja

    ele um jovem, adulto, um ente da sociedade civil ou do estado, uma pessoa, um

    grupo, uma instituio ou um movimento social. (COSTA, 2000,p.150)

    Sendo assim, para que o jovem torne-se um protagonista de sua histria deve

    primeiramente compreender a sua realidade, percebendo contradies sociais e tornando-se

    sujeito do processo de decises e aes. Por isso, as formas de participao juvenil

    possibilitam a atuao dos jovens em espaos polticos, educacionais e sociais no como

    espectadores, mas sim como atores principais, decidindo, planejando, executando e avaliando

    suas aes. (OLIVEIRA, 2009,p.100)

    Dessa forma a concepo acerca do protagonismo juvenil foi elaborada segundo

    Costa(2000) a partir da valorizao da participao social da juventude em processos de

    superao de dificuldades onde os prprios sujeitos sejam os agentes das aes que definiro

    as suas vidas, bem como em coletivo.

    Assim o jovem protagonista lembrado como ator principal dentro da lgica da

    atuao social tomando a noo da participao, luz da construo do que seria a cidadania.

    O protagonismo juvenil parte de um mtodo de educao para a cidadania que

    prima pelo desenvolvimento de atividades em que o jovem ocupa uma posio de

    centralidade, e sua opinio e participao so valorizadas em todos os momentos.

    (ABRAMOVAY et al, 2002,p.67)

    Na viso de Stamato (2008,p.81) o protagonismo juvenil possibilita a transformao

    do jovem e do mundo, numa relao dialtica, favorecendo a formao de jovens conscientes

    de seu papel de agentes de uma mudana social.

    Ainda a mesma autora afirma que o protagonismo juvenil um conceito que necessita

    de ajustes, por se materializar nas interaes sociais, ele adapta-se a diferentes referenciais

    tericos, metodolgicos e ideolgicos. Para a autora dependendo da maneira como

    empregado pode ser utilizado de forma equivocada ao seu real significado de emancipao.

    Compartilham da mesma opinio Ferreti (2004 apud BOGHOSSIAN;MINAYO,2009,

    p.417) quando questionam o trato genrico que conferido ao termo alertando para o risco,

    [...] de que suas prticas assumam carter mais adaptativo do que problematizador,

    despolitizando o olhar sobre as determinaes da pobreza e sua manuteno. Essas

    prticas e concepes podem inadvertidamente transferir para adolescentes e jovens

    a responsabilidade exclusiva pela superao das adversidades, deslocando- se do

    campo poltico para o das aes individuais, ou at coletivas, mas de carter pontual.

  • 23

    Da mesma forma, Carrano (2012) aponta para o risco de uma interpretao errnea

    voltada para a pedagogizao da participao de jovens na direo do controle social e do

    ajustamento e tambm para a naturalizao do termo protagonismo juvenil. possvel dizer

    que nem sempre essa assuno do termo se d com a necessria conscincia do sentido

    ideolgico ou prtico da ao protagonista. H, dessa forma, uma naturalizao do uso da

    referida expresso no campo das prticas juvenis.(CARRANO,2012,p.18)

    Para Souza (2008) na tentativa de romper com paradigmas que so atribudos aos

    jovens como rebeldes e alienados, o protagonismo juvenil associa-se ao discurso neoliberal e

    a imagens de jovens envolvidos em aes sociais. Constata-se na viso dos autores que essas

    aes acontecem de forma isolada, sendo forjadoras de um consenso que no foi acordado

    pelos jovens, mas para os jovens.10 (BORGES,2012,p.29)

    No entanto, acredita-se que o protagonismo juvenil, entendido a partir de uma viso

    scio-histrica, possa vir a contribuir para que os jovens tornem-se sujeitos mais

    comprometidos e mais integrados em sua vida comunitria.

    De acordo com Sobrinho (2003,p.12) o protagonismo juvenil est diretamente

    relacionado ao termo participao social como possibilidade de consolidar a democracia e

    contribuir na resoluo de problemas que envolvam as comunidades, ou qualquer espao que

    envolva pessoa ou grupo, pautado primeiro, no desejo.

    Ainda relacionado participao social dos adolescentes, Ricci(2002)faz algumas

    consideraes:

    Qualquer projeto, que tenha por objetivo incentivar ou promover o protagonismo

    juvenil parte do princpio de que o adolescente ou jovem possu a capacidade

    poltica de cidado. A cidadania pressupe direitos universais, de onde emerge um

    ser poltico, que decide sobre o seu destino e o de sua coletividade.

    (RICCI,2002,p.1)

    Conforme Bordenave (1994) existem diversas formas de participao. O autor no

    atribui esta classificao especificamente ao protagonismo juvenil, mas podemos aproximar

    as reflexes do autor participao juvenil. Sendo assim, iremos citar os tipos de participao

    que relacionam-se ao conceito de protagonismo juvenil.

    Para o autor a participao de fato acontece em um nvel primrio relacionado a

    famlia e aes ligadas a autorrealizao. A participao espontnea feita pela afinidade e

    10

    Cabe destacar que no se pretende nesse estudo levar em pauta a discusso referente a possibilidade de que

    tais prticas realmente aconteam, sendo assim, esse assunto poder vir a ser abordado em uma outra

    oportunidade.

  • 24

    pela necessidade de pertencimento a um grupo, seja ele de vizinhos, de amigos entre outros e

    a participao voluntria a que consiste em aes decididas pelos prprios participantes.

    Nesse sentido, torna-se oportuno voltar a refletirmos sobre os tipos de participao

    citadas por Costa (2000),

    1 Participao planejadora e operacional: os jovens participam do planejamento e da execuo de uma ao.

    2 Participao decisria, planejadora e operacional: os jovens participam da deciso de se fazer algo ou no, do planejamento e da execuo de uma ao.

    3 Participao decisria, planejadora, operacional e avaliadora: os jovens participam da deciso, do planejamento, da execuo e da avaliao dos resultados.

    4 Participao colaborativa plena: os jovens participam da deciso, do planejamento, da execuo, da avaliao e da apropriao dos resultados.

    5 Participao plenamente autnoma: Os jovens realizam todas as etapas. 16 Participao condutora: Os jovens, alm de realizar todas as etapas, orientam a participao dos adultos.(COSTA,2000,p.180-181)

    Podemos observar com isso, que as reflexes de tipos de participao dos dois autores

    apontam para uma participao onde o protagonismo pode,

    [...] num primeiro nvel, ocorrer em espao prprio, espontneo, onde os jovens

    atuam livremente em seus grupos de pares, sem interferncia de adultos; e num

    segundo nvel, num ambiente criado pelos adultos junto aos jovens, para garantir sua

    voz e interferncia nas relaes com a sociedade e nas decises que lhes dizem

    respeito. (BORGES,2012,p.33-34)

    Sendo assim por meio da construo de nveis de participao os jovens podem

    realizar aes na perspectiva do protagonismo juvenil, todavia, essa construo deve levar em

    considerao que as dinmicas da participao so sempre produes histricas que

    dependem das normas de sociabilidade, de formas de organizao social, de inovaes

    tecnolgicas, e dos especficos contextos culturais que incluem valores e ideais, crenas,

    smbolos e rituais. (BUTLER; PRINCESWAL, 2012,p.106)

    A seguir faremos uma breve explanao das experincias vivenciada com os jovens

    durante o processo de estgio, da mesma forma, iremos fazer uma elucidao enfatizando de

    onde surgiu o desejo em pesquisar sobre o tema protagonismo juvenil.

    1.7 Protagonismo Juvenil: Experincias com Jovens do Centro de Juventude Jos

    Alexandre Zachia-PF/RS

    Refletir as experincias vivenciadas, durante o processo de estgio que se deu na

    Assistncia Social Diocesana Leo XIII-Centro de Juventude Jos Alexandre Zachia poder

  • 25

    avaliar cada passo das transformaes sociais do mundo contemporneo, poder pensar

    possibilidades de um fazer profissional que possa vir a contribuir de maneira significativa

    com essas j mencionadas transformaes. Dessa forma, de extrema importncia que o

    profissional sempre reveja suas praticas, observando os impactos e mudanas que essa

    reflexo produz na pratica profissional.

    A Assistncia Social Leo XIII com sede no municpio de Passo Fundo caracteriza-se

    por ser uma organizao social sem fins econmicos, criada h 54 anos por D. Cludio

    Colling, primeiro bispo de Passo Fundo, e um grupo de catlicos. uma Obra Social da

    Diocese de Passo Fundo. Inicialmente, dedicou-se s famlias em situao de pobreza,

    auxiliando-as com alimentos e oferecendo cursos profissionalizantes. Atualmente, desenvolve

    programas sociais de para crianas, adolescentes, jovens e adultos que residem em reas de

    alta vulnerabilidade social.

    Dentre os programas desenvolvidos pela instituio destaca-se o Programa Servio de

    Convivncia e Fortalecimento de Vnculos que so considerados Servios de Proteo Bsica

    previstos na Poltica Nacional de Assistncia Social (PNAS) o qual abrange as atividades

    desenvolvidas pelo Centro de Juventude Jos Alexandre Zachia que est localizado no bairro

    Jos Alexandre Zachia no municpio de Passo Fundo. Segundo publicao de Gerson Urguim

    (2012) do Jornal o Nacional sobre indicativos de criminalidade da Secretaria de Segurana

    Pblica do Estado aponta que o referido bairro est em segundo lugar no ndice de violncia

    do municpio, consequentemente os jovens pertencentes a essa comunidade so obrigados a

    conviver com essa dura realidade.

    Os jovens do Centro de Juventude Jos Alexandre Zachia, possuem faixa etria de 12

    14 anos de idade. Sendo que, a grande maioria vem de famlias com baixo, ou nenhum

    poder aquisitivo, consequentemente sofrendo processos de excluso social ocasionada no

    apenas pela condio socioeconmica, mas tambm, por inmeros outros fatores. Segundo

    Pozzo e Furini (2010,p.87) as desigualdades e os processos sociais excludentes vinculam-se

    ao temrio geral do conceito de excluso social.

    Nesse sentindo, buscar maneiras que possibilitassem o desenvolvimento de aes de

    enfrentamento expresso da questo social em questo, reconhecendo o jovem como tendo

    papel principal neste processo estava posto como um grande desafio.

    Desafio esse, que cada vez mais despertava a vontade e determinao em alcanar o

    objetivo que era de fazer com que aqueles jovens pudessem olhar para si mesmos e perceber

    suas potencialidades. Aps pesquisa e estudo sobre diversos temas relacionados a juventude,

    foi constatado que o tema protagonismo juvenil vinha ao encontro da ideia de valorizao do

  • 26

    jovem como fonte de iniciativa, de participao efetiva e construtiva e que poderia contribuir

    significativamente para que esses jovens fossem capazes de obter um melhor

    desenvolvimento pessoal e social como ser humano.

    Seguindo as consideraes de Costa (2000) quando afirma que o protagonismo juvenil

    deve ser trabalhado atravs da compreenso que o jovem deve ter de sua realidade,

    percebendo contradies sociais e tornando-se sujeito do processo de decises e aes,

    buscou-se intervir por meio de uma metodologia planejada de maneira que os jovens

    pudessem fazer um exerccio reflexivo com o objetivo de fomentar o protagonismo juvenil, a

    fim de, estarem preparados para enfrentar as diversas situaes e lutarem pelos seus

    direitos.Seguindo o processo interventivo foram eleitos os seguintes objetivos especficos:

    Promover atividades de socializao e sensibilizao entre os jovens para a

    compreenso sobre o Protagonismo Juvenil.

    Envolver os jovens na construo coletiva das aes do projeto voltadas para o

    enfrentamento da violncia no intuito de fortalecer seu protagonismo,identidade e

    autonomia.

    Desenvolver processos educativos e informativos que possibilitem aos adolescentes

    compreender quais so seus direitos e deveres dentro do centro de juventude.

    Promover prticas artsticas que contribuam para tornar o centro de juventude um

    lugar de conhecimento, cultura, de sociabilidade e de exerccio democrtico de

    cidadania e dos direitos humanos. (PROJETO JOVEM EM AO,2014)

    Como suporte metodolgico foi utilizado o instrumental tcnico operativo

    caracterizado como oficina que contou com atividades de rodas de discusso, dinmicas com

    temas relacionados ao protagonismo juvenil, a cidadania, participao social, autonomia,

    identidade, preconceito, trabalho, educao, direitos e deveres, bem como, exposio de

    vdeos, dramatizaes com temticas relacionadas ao Protagonismo Juvenil, violncia

    (bullyng).

    Analisar e refletir a sua realidade com maior profundidade oportunizou-os a perceber

    as mudanas significativas s quais podem chegar, tanto em sua prtica social e individual,

    quanto em sua prtica poltica. Tais mudanas transformam esses adolescentes criando e re-

    criando novos valores e aes.

    Por meio dessas reflexes os jovens puderam descobrir-se como sujeitos de direito,

    alm de desenvolver um sentimento de pertencimento ao grupo, a famlia, Centro de

    Juventude, comunidade, pas. Compreender a si mesmo remete ideia do que ser cidado,

    de pertencimento a um grupo social que, como tal, apresenta seus direitos e deveres, para que

    possa exercer plenamente a cidadania. (GONALVES,2007,p.70)

  • 27

    Atravs das atividades buscou-se que os jovens construssem um conhecimento a

    partir de um processo de ao, reao, interveno, concesso, experimentao, resistncia,

    revelao, dilogos e estabelecimento de vnculos.

    assim, na perspectiva do conhecimento e apropriao da realidade que os jovens

    desenvolvem habilidades, a fim de que possam realizar intervenes dentro dos seus espaos

    de convivncia, ou seja, o sentido do protagonismo juvenil est em atuar nas vivenciais

    cotidianas.

    Ao trmino do processo interventivo, foram elaborados indicadores sociais que tem

    como objetivo avaliar as aes realizadas, sendo possvel verificar os resultados dessas aes.

    O indicador social um recurso metodolgico, empiricamente referido, que informa algo

    sobre um aspecto da realidade social ou sobre mudanas que esto se processando na mesma.

    (JANNUZZI,2012,p.21), no entanto, iremos discorrer apenas sobre o indicador de resultado:

    Protagonismo Juvenil que consideravelmente o de maior relevncia para o nosso estudo. O

    indicador de resultado Protagonismo Juvenil ser analisado primeiramente a partir da

    definio de Protagonismo Juvenil.

    O termo Protagonismo Juvenil, enquanto modalidade de ao, a criao de espaos

    e condies capazes de possibilitar aos jovens envolverem-se em atividades

    direcionadas soluo de problemas reais, atuando como fonte de iniciativa,

    liberdade e compromisso. [...]O cerne do protagonismo, portanto, a participao

    ativa e construtiva do jovem na vida da escola, da comunidade ou da sociedade mais

    ampla. (COSTA,2001,p.179).

    Partindo disso, o protagonismo juvenil possibilita que o jovem seja o ator principal em

    seu processo de desenvolvimento, adquirindo e ampliando a sua capacidade de interferir de

    forma ativa no contexto social em que vive. O termo protagonismo juvenil, em seu sentido

    atual, indica o ator principal, ou seja, o agente de uma ao, seja ele um jovem ou um adulto,

    um ente da sociedade civil ou do estado, uma pessoa, um grupo, uma instituio ou um

    movimento social.(COSTA,2000,p.2)

    IND

    ICA

    DO

    R

    DE

    RE

    SU

    LT

    AD

    O INDICADOR MEIOS DE VERIFICAO

    Protagonismo Juvenil Materiais construdos (cartazes)

    Falas dos participantes

    Atividades desenvolvidas

    AT

    IVID

    AD

    E

    FO

    ME

    NT

    O A

    O

    PR

    OT

    AG

    ON

    ISM

    O J

    UV

    EN

    IL

    -Discusso, dinmica e exposio de cartazes com o objetivo de analisar o que os adolescentes

    entendem por Protagonismo Juvenil.

    -Realizao de atividades coordenadas pelos adolescentes no intuito de incentivar a liderana,

    protagonismo e cuidado com o Centro de Juventude.

    -Discusso e problematizao de questes relacionadas as desigualdades sociais, diversos tipos de

    violncia, bullyng e as formas de enfrentamento por meio do Protagonismo Juvenil.

  • 28

    Percebemos que o Protagonismo Juvenil supe-se uma educao para a cidadania, na

    luta pelos direitos e na participao da tomada de decises em sua vida, em seu grupo,

    comunidade, pas.

    Nesse sentido foi possvel mostrar aos jovens o sentido de empoderar-se e ser

    protagonista de suas vidas atuando em sua famlia, escola, comunidade e principalmente

    dentro do Centro de Juventude.

    Atravs da dinmica adolescncia e protagonismo identificou-se que os participantes

    tem a percepo a respeito do que significa ser protagonista juvenil, tendo a conscincia de

    que atravs do coletivo podero superar as formas de dependncia social, e isso ir contribuir

    para o processo de mudana tanto em suas vidas quanto em suas relaes sociais.

    Por meio da atividade onde eles deveriam criar atravs de desenhos, um jovem

    protagonista e uma jovem protagonista, de acordo com suas concepes, os mesmos

    demonstraram o real entendimento do sentido de exercer o protagonismo.

    Nas figuras a seguir sero expostos os desenhos que os adolescentes fizeram de

    acordo com o seu entendimento do que ser protagonista juvenil.

    Figura 1

  • 29

    Figura 2

    De acordo com a figura -1, podemos verificar que eles desenharam a bandeira do

    Brasil e escreveram, palavras como protagonismo, justia, e frases como: ns somos

    protagonistas de nossas histrias, podemos mudar nosso futuro, s querer, vamos

    pensar no nosso futuro, s depende de ns para mudar nosso futuro etc...

    Posteriormente, na figura-2, os adolescentes fizeram uma bandeira na mo da jovem

    que desenharam e escreveram protagonismo e frases como: lutar pelos nossos direitos,

    juntos podemos fazer a diferena, etc.

    Analisando as falas dos participantes que tiveram seus nomes preservados, dessa

    forma, foram utilizados nomes fictcios para os mesmos. Aps terem realizado essa atividade

    percebo que os mesmos estavam construindo eles mesmos, como gostariam que fossem, com

    seus direitos garantidos e materializados.

    Pr! Esse desenho feito por ns, eu me vejo nele! ( Sofia)

    Se todos ns lutarmos pelos nossos direitos, nosso Brasil ser menos desigual, n?(Andr).(DIRIO DE CAMPO,2014)

    Por meio das falas possvel identificar que os adolescentes apresentaram um

    sentimento de empoderamento quando tiveram a percepo de que podem tornar-se sujeitos

    transformadores de uma realidade.

    De acordo com Stamato(2009 apud SEMICHECHE;HIGA;CABREIRA,2012,p.31),

    por meio do empoderamento do jovem possvel haver modificaes das relaes dos

    jovens com a sociedade, bem como, vencer concepes estereotipadas e preconceituosas,

    deixando transparecer a alteridade presente nas diferentes juventudes[...]

  • 30

    Quanto anlise qualitativa relacionada participao, podemos dizer que esta ir

    partir de discusses relacionadas ao tema protagonismo juvenil em que os adolescentes

    puderam conhecer, refletir, sensibilizar-se sobre o referido tema.

    [...] participar tomar parte ativa em cada uma das distintas fases que afetam o

    funcionamento de grupos desde a sua constituio inicial, passando pela sua estruturao, a tomada de decises, pr em prtica as mesmas e a avaliao dos

    resultados, assumindo parte do poder ou do exerccio do mesmo. Nesta perspectiva,

    a cultura de participao implica a integrao coletiva num grupo, com o objetivo de

    realizar determinados objetivos. (PALACIOS, 1994, p. 11, apud, OLIVEIRA, s./a.,

    s/p.)

    Por meio das discusses abordando temticas como: participao social, direitos e

    deveres, cidadania, percebemos que aos poucos os adolescentes iam familiarizando-se com o

    conceito e apresentando interesse e sensibilizao pelo tema.

    Pr, aqui dentro do Centro de Juventude, os professores trabalham as mesmas coisas sempre, eu no sabia sobre esse assunto de protagonismo e participao,

    legal aprender atravs das brincadeiras. (dinmicas) (Tati )

    Eu no ia participar, mas as brincadeiras so diferentes, e fazem a gente pensar bastante sobre a gente. (dinmicas) (Vini)

    Pr! Eu vim participar porque, eu gosto de aprender coisas novas (Andria) Esse o nosso projeto, n? Pr? (DIRIO DE CAMPO,2014)

    Vemos que a questo motivacional tambm teve uma grande contribuio para o

    processo de participao e desenvolvimento das atividades propostas. Para Ammann (1977

    apud MORAIS,2011,p.3) o sujeito deve sentir-se motivado a participar. A motivao

    apresenta-se como requisito bsico para a participao dos indivduos e a prpria ao

    transformadora da sociedade no contexto das relaes sociais Nesse sentido, percebe-se que

    a motivao essencial para uma participao efetiva dos sujeitos.

    Pr! T gostando do projeto, aprende a s protagonista!(Maria) Nossa, Pr! Voc bota a gente l em cima!( Pedro) (DIRIO DE CAMPO,2014)

    Esse processo de integrao e participao nas atividades desempenhadas pelo jovens

    de extrema relevncia para uma efetivo processo de interveno do Assistente Social, visto

    que, quando h essa aproximao inicia-se um processo de criao de vnculos com os

    usurios, pois a questo do estabelecimento de vnculos, de um ambiente de confiana e

    respeito pelos sujeitos necessria para que o processo possa se constituir, para que se

    estabeleam o dilogo e a reflexo (PRATES,p.04 2003), essa troca entre o usurio e o

  • 31

    Assistente Social possui um carter de cumplicidade dando legitimidade ao processo

    interventivo

    A seguir arquivos fotogrficos (F3 e F4) da atividade que teve como finalidade a

    participao, pertencimento e cuidado com o Centro de Juventude.

    Figura 3

    Figura 4

    O teatro de fantoches que foi elaborado por eles, o qual tratava sobre questes como

    preconceito e bullyng que foram apresentados as crianas e todas essas atividades citadas,

  • 32

    possibilitaram a materializao do exerccio da participao, criatividade, autonomia e

    protagonismo dos adolescentes constatando que as atividades atingiram o objetivo de

    promover a socializao e sensibilizao entre os jovens para a compreenso sobre o

    Protagonismo Juvenil. A seguir o arquivo fotogrfico (F5) da atividade.

    Figura 5

    Dessa forma essa atividade proporcionou aos adolescentes construir uma conscincia

    de que o protagonismo juvenil deve servir como empoderamento para que os mesmos possam

    tornar-se sujeitos com um comportamento mais propositivo diante da sociedade.

    Analisando e interpretando em conjunto com esses jovens a realidade da qual fazem

    parte, constituiu um processo interventivo muito rico, j que a partir de uma anlise conjunta

    que novas possibilidades surgem para o enfrentamento das dificuldades.

    Somente a partir uma anlise conjunta podemos ressignificar espaos, pensar

    coletivamente alternativas de enfrentamento, redescobrir potencialidades, associar

    experincias, buscar identificaes, dar visibilidade s fragilidades para tentar

    super-las, desvendar bloqueios, processos de alienao, revigorar energias,

    vnculos, potencial organizativo, reconhecer espaos de pertencimento (PRATES,

    2003,p.2).

    Desse modo, pensar na importncia da ao enquanto articulador do trip Reflexo/

    Ao/ Transformao, oportunizou refletir com o grupo sobre os problemas sociais e a forma

    de enfrent-los desencadeando um processo em que os mesmos pudessem transformar-se a si

  • 33

    mesmos e contribuir para a re-significao do mundo a sua volta,tendo como ponto inicial a

    mudana de atitude diante do mundo.

    Esse processo interventivo, com os jovens possibilitou um aprendizado que foi de

    extrema relevncia para o processo de desenvolvimento profissional, bem como pessoal, visto

    que pode-se estabelecer uma relao no apenas entre profissional e usurio, mas uma relao

    onde foi construdo um sentimento de amizade e companheirismo.

    Da mesma forma, essa experincia contribuiu para a o reconhecimento como futura

    assistente social, ou seja, pela primeira vez enfrentando o desafio de intervir em um contexto

    social onde a desigualdade, a violncia e a excluso social ganham maior evidncia.

    O processo interventivo possibilitou estabelecer uma relao terico- prtica que se

    consolida em todas as suas especificidades, a operacionalidade traz elementos concretos para

    a reflexo, com certeza algo muito rico no processo de aprendizagem, sem duvidas,

    oportunizando o amadurecimento, tanto como ser humano, quanto como profissional

    ampliando a viso de homem e de mundo.

    Sendo assim, vemos a construo de uma interveno social tendo como pressuposto a

    prtica educativa e politizada, se faz necessrio considerar que no estamos lidando com

    pessoas estticas, mas ao contrrio, com sujeitos que possuem uma grande potncia

    constituinte e, capaz de romper com ideias e prticas j constitudas.

    Nesse sentido, reafirmamos a importncia do assistente social na conduo de prticas

    que conduziro os jovens as aes voltadas para a cidadania tendo em vista ser este o

    profissional que possui competncia tcnica para realizar articulao com a rede local,

    reflexo sobre os temas propostos e sua interlocuo com outros temas, desmistificao da

    condio de pobreza, apropriao do cotidiano vivenciado por esses jovens e para estmulo ao

    protagonismo juvenil e maior participao comunitria, viabilizando maior conhecimento e

    acesso aos direito a eles pertencentes. Essa experincia proporcionou o enriquecimento dos

    jovens, em relao ao que expusemos e enquanto futura assistente social, pelo desafio de

    realizar um trabalho qualitativo em um Projeto emergente e inovador. "O cotidiano

    inesgotvel. O desafio est aberto para sacudir a acomodao (Faleiros).

    Posteriormente iremos tratar da linha de pesquisa proposta nesse estudo, referente ao

    tema protagonismo juvenil que partiu de inquietaes recorrentes do trabalho realizado com

    os jovens, durante o processo interventivo relatado anteriormente, nesse sentido investigar

    sobre o referido tema ser de grande relevncia, pois possibilitar encontrar subsdios para

    trabalhar nessa perspectiva e que iro embasar esse trabalho de concluso de curso que ser

    apresentado em seguida.

  • 34

    2 ASPECTOS METODOLGICOS DA PESQUISA

    2.1 A importncia do Protagonismo Juvenil no Enfrentamento das Desigualdades

    Sociais

    Iniciamos esse captulo, com uma explanao referente aos percursos metodolgicos

    que embasaram o presente estudo, buscamos expor de que forma surge o desejo de pesquisar

    sobre o tema, partindo das inquietaes da autora referentes ao seu processo de estgio.

    Sero apresentados o problema de pesquisa que objetiva, a compreenso acerca da

    contribuio do protagonismo juvenil para o enfrentamento das desigualdades sociais, da

    mesma forma seus objetivos, alm da contribuio da pesquisa na rea do servio social,

    agregando-se a esse assunto traremos a caracterizao da pesquisa quanto ao tipo e

    abordagem. Posteriormente, ser tratado sobre os procedimentos e tcnicas que embasaram a

    coleta de dados, o qual possibilitou atravs de diferentes fases de leitura localizar os materiais

    e selecion-los para que pudessem contribuir com os objetivos da pesquisa.

    Finalizando o captulo a anlise dos dados, que possibilitou responder ao que havia

    sido proposto no estudo e as consideraes finais onde conclumos que e o protagonismo

    juvenil deve ser visto como um mecanismo de interveno no contexto social dos jovens,

    apontando que por meio das prticas do protagonismo juvenil possvel contribuir para uma

    nova perspectiva de vida dos mesmos.

    2.2 Percurso Metodolgico da Pesquisa

    A metodologia a ser aplicada na presente pesquisa perpassa as perspectivas de

    investigar, conhecer e refletir sobre as questes referentes ao Protagonismo Juvenil como

    fenmeno e sua contribuio para o enfrentamento das desigualdades sociais vivenciadas

    pelos jovens. Nesse sentido, sero apresentados os percursos metodolgicos que iro embas-

    la e permitiro desenvolv-la. Segundo Minayo (2008 apud GERHARDT; SILVEIRA, 2009),

    definem metodologia como,

    [...]a) como a discusso epistemolgica sobre o caminho do pensamento que o tema ou o objeto de investigao requer; b) como a apresentao adequada de

    instrumentos operativos que devem ser utilizados para as buscas relativas s

    indagaes da investigao; c) e como a criatividade do pesquisador, ou seja, sua marca pessoal e especfica na forma de articular teoria, mtodos, achados

  • 35

    experimentais, observacionais ou de qualquer outro tipo especfico de resposta s

    indagaes especficas. (MINAYO, 2008 apud GERHARDT; SILVEIRA, 2009,

    p.13)

    A metodologia reflete uma viso do mundo, alm das crenas do pesquisador sobre

    determinada realidade que so de certa forma, influenciadas pelo imaginrio social da poca,

    as questes metodolgicas apresentam implicaes de veracidade, de pertinncia, de

    relevncia e de validao da pesquisa, exigidas pela comunidade cientfica que se define no

    tempo e no espao. (WADT,2009,p.98).

    O enfrentamento da desigualdade social que explica, em boa medida as causas das

    diversas formas de violncia sofridas pelos adolescentes e a possibilidade de reduo dessas

    causas por meio do fomento ao protagonismo juvenil, tornou-se inquietante durante o

    processo de estgio, pois diante dessa temtica, discusses acerca desse assunto fizeram-se

    necessrias, para que houvesse uma melhor forma de compreenso, diante do contexto ao qual

    esto inseridos.

    Nessa perspectiva, surge a necessidade de identificar e investigar de que maneira o

    protagonismo juvenil poder estar contribuindo para que o jovem exera sua,

    [...] democracia participativa em que se atente para os desafios [...] na educao,

    construo de valores ticos, exerccio da crtica social contra excluses a fim de lidar com a vulnerabilidade social de forma inovadora, tendo como referncia o

    capital cultural e social relacionado ao protagonismo juvenil. (ABRAMOVAY et al, 2002, p.78)

    Articulado com o projeto de interveno a pesquisa teve como problema: De que

    maneira o protagonismo juvenil ir contribuir para o enfrentamento das desigualdades

    sociais vivenciadas pelos jovens?

    A pesquisa teve como objetivo geral, a compreenso acerca da contribuio do

    protagonismo juvenil para o enfrentamento das desigualdades sociais no intuito de apontar

    estratgias que possibilitem desenvolver a capacidade de enfrentamento dos jovens, alm

    disso, foram eleitos como objetivos especficos:

  • 36

    A investigao proposta sobre o protagonismo juvenil como parmetro de

    enfrentamento as desigualdades sociais vivenciadas pelos jovens, possibilitou o levantamento

    de informaes tericas sobre o tema proposto, e nota-se que no um trabalho que se encerra

    por si mesmo, mas deixa espao para outras informaes.

    Para tanto, essa pesquisa apresenta-se relevante para o servio social, bem como para a

    sociedade, visto que esse estudo trouxe contribuies importantes para as relaes no campo

    das compreenses acerca de alternativas mais consistentes de efetiva valorizao da

    capacidade juvenil, em buscar solues que possibilitem uma proposta de transformao

    social.

    A pesquisa de cunho exploratrio, oportuniza maior proximidade do problema com

    vistas a torn-lo mais explcito [...] (GIL,2007,p.27). Este mtodo objetiva, acrescentar outros

    conhecimentos sobre o assunto, inclusive, com produo de materiais que auxiliaro outros

    trabalhos de pesquisa, a fim de obter dados atravs de levantamento bibliogrfico

    Compreender de que maneira o protagonismo juvenil poder contribuir para o enfrentamento das desigualdades sociais no intuito de problematizar formas de desenvolver a

    capacidade de enfrentamento nos jovens

    Analisar qual a relao entre o protagonismo

    juvenil e a construo do exerccio da

    cidadania

    Discutir os princpios

    norteadores do protagonismo

    juvenil

    Conhecer como se d as experincias

    e resultados de Protagonismo

    Juvenil dos jovens

    Analisar a relao entre exerccio do

    protagonismo e o enfrentamento da

    desigualdade social

  • 37

    (Embasamento Terico) artigos, teses, dissertaes, materiais online que abordem sobre os

    temas propostos.

    Devemos ressaltar, que devido quantia relativamente baixa de materiais,

    principalmente livros que falem do protagonismo juvenil, foi utilizado todo o material

    encontrado relativo ao tema.

    No que refere-se abordagem, este estudo se caracteriza por ser uma pesquisa

    qualitativa, considerando que aqui, percorri um caminho guiado por um conjunto de

    princpios metodolgicos permitindo o meu conhecimento acerca dos acontecimentos, e a

    partir da, tive a oportunidade de avaliar a questo da complexidade que se apresenta diante

    dos assuntos pesquisados. O mtodo utilizado foi o dialtico crtico, considerando que os

    temas elencados so um tanto complexos, entendemos que deveriam ser investigados atravs

    da anlise do contexto social, vemos que o desenvolvimento da abordagem qualitativa foi de

    fato a melhor maneira para desvelar o que est implcito em cada um deles, tendo em vista, a

    compreenso da totalidade do fenmeno.

    De acordo com Richardson (1999,p.79), a abordagem qualitativa fica a critrio do

    investigador, e justifica-se por proporcionar uma forma adequada de entendimento sobre a

    natureza de um fenmeno social e expe que a utilizao de abordagens quantitativa em

    alguns casos, apresenta algumas limitaes ao tentar explicar problemas complexos.

    Com relao ao tipo de pesquisa esta bibliogrfica, partindo de um levantamento de

    referenciais tericos j analisados em documentos variados. Para Manzo (1971 apud

    MARCONI;LAKATUS,2010,p.57), a bibliografia pertinente oferece meios para definir,

    resolver, no somente problemas j conhecidos, como tambm explorar novas reas onde os

    problemas no se cristalizaram suficientemente.

    Qualquer trabalho cientfico inicia-se com uma pesquisa bibliogrfica, que permite

    ao pesquisador conhecer o que j se estudou sobre o assunto. Existem porm

    pesquisas cientficas que se baseiam unicamente na pesquisa bibliogrfica,

    procurando referncias tericas publicadas com o objetivo de recolher informaes

    ou conhecimentos prvios sobre o problema a respeito do qual se procura a

    resposta.(FONSECA,2002,p.32)

    Optou-se pela pesquisa bibliogrfica, por esta possuir a vantagem de permitir ao

    investigador a cobertura de uma gama de fenmenos muito mais ampla do que aquela que

    poderia pesquisar diretamente. (GIL,2007,p.30)

  • 38

    2.3 Coleta de dados

    Para dar incio coleta de dados, primeiramente foi realizada a leitura de

    reconhecimento do material bibliogrfico, onde possibilitou localizar os materiais que

    poderiam servir de norte para a pesquisa, em seguida houve a leitura exploratria do material

    que segundo Lima e Mioto (2007,p.41-42) consiste em uma leitura rpida cujo objetivo

    verificar se as informaes e/ou dados selecionados interessam de fato para o estudo. [...] e

    posteriormente a leitura interpretativa objetivando relacionar as ideias expressas na obra com

    o problema para o qual se busca resposta., seguindo nessa linha houve a leitura seletiva

    buscando os materiais que relacionam-se direto com os objetivos da pesquisa, aps foi

    realizada a leitura reflexiva onde buscou-se responder atravs dos materiais os referidos

    objetivos e por fim a leitura interpretativa que implica na interpretao das ideias do autor,

    acompanhada de uma interrelao destas com o propsito do pesquisador.

    Logo abaixo podemos visualizar a esquematizao dos procedimentos metodolgicos

    que embasaram a pesquisa bibliogrfica em questo.

    Leitura de

    reconhecimento

    do material

    Leitura

    exploratria

    Leitura reflexiva

    Leitura seletiva

    Leitura

    interpretativa

  • 39

    Quadro 1 - Leitura de reconhecimento de material e leitura exploratria

    AUTOR OBRA ANO TIPO/CLASSIFICAO

    ABRAMOVAY, Miriam et al. Juventude, Violncia e Vulnerabilidade

    Social a Amrica Latina: Desafios para

    Polticas Pblicas. UNESCO

    2002 Artigo

    ALMEIDA, Nadja Rinelle Oliveira de. Juventude e suas Manifestaes

    Socioculturais: a Escola a Comunidade.

    2010 Artigo

    BUENO,Marina et al. O servio social na execuo do

    Projovem: a experincia do Rio de janeiro

    2006 Artigo

    Conselho Nacional da

    Juventude(CONJUVE)

    Reflexes sobre a Poltica Nacional de

    Juventude

    2011 Cartilha/Documento

    GROPPO, Lus A. Condio juvenil e modelos

    contemporneos de anlise Sociolgica

    das juventudes

    2010 Artigo

    GONZALES, ZuleikaKhler Protagonismo: Formas de Governo da

    Populao Juvenil-PUCRS

    2007 Dissertao de Mestrado

    HENRIQUE, Ricardo;SILVA ,Jailson

    S.;BARBOSA ,Jorge L.

    Polticas Pblicas no Territrio das

    Juventudes. Coleo Grandes Temas do Conexo de Saberes-

    2006 Livro

    ISBN85-89669-23-8

    KLEIN, Bianca Larissa Protagonismo juvenil e cidadania: uma proposta pedaggica burguesa -UFPR

    2004 Dissertao Mestrado

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