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Caderno de formação para missão TADORA DE ESPERANÇA RESSUSCITADORA DE ESPERANÇA JUVENTUDE: Ministérios Globais Igreja Metodista Unida

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Caderno de formação para missão

JUVENTUDE: RESSUSCITADORA DE ESPERANÇA

RESSUSCITADORA

DE ESPERANÇA

JUVENTUDE:

Ministérios GlobaisIgreja Metodista Unida

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Caderno de formação para missão

Secretaria de Jovens e Jovens Adultos da Junta Geral de Ministérios Globais

da Igreja Metodista Unida

JUVENTUDE: RESSUSCITADORA DE ESPERANÇA

Ministérios GlobaisIgreja Metodista Unida

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JUVENTUDE: RESSUSCITADORA DE ESPERANÇA. Caderno de formação para missão

Copyright©2006 by Junta Geral de Ministérios Globais (GBGM), Secretaria de Ministérios para Jovens

e Jovens Adultos

475 Riverside Drive, Room 1343, Nova York, NY 10115, EUA

Este caderno é uma produção coletiva organizado por iniciativa da Secretaria de Ministérios para Jovens

e Jovens Adultos, a partir da experiência e reflexão de representantes das redes globais de juventude

metodista unida e metodista que participaram no Seminário de Formação de Liderança: Identidade

Wesleyana e Fórum Social Mundial, ocorrido entre os dias 22 de janeiro e 1º de fevereiro de 2005, na

cidade gaúcha de Porto Alegre, Brasil. Este caderno pode ser reproduzido em partes ou por completo

para facilitar o processo de formação de liderança, desde que citada a fonte.

Apreciamos comentários sobre Juventude: ressuscitadora de esperança. Caderno de formação para

missão. Favor enviá-los à Secretaria de Ministérios para Jovens e Jovens Adultos, Junta Geral de

Ministérios Globais (GBGM), 475 Riverside Drive, Room 1343, New York, NY 10115, EUA.

EQUIPE DE COORDENAÇÃO de Juventude: ressuscitadora de esperança.

Caderno de formação para missão

Andreia Fernandes, Rosângela Soares de Oliveira, Tamara L. Walker

PARTICIPAÇÃO Representantes de Organizações Metodistas e Metodistas Unidas de Juventude e

Estudantil na África (Moçambique e Angola), Ásia (Camboja e Indonésia), América Latina e Caribe

(Bolívia, Brasil, Chile, México, Porto Rico, Paraguai), Estados Unidos e Europa (Suíça)

PARCERIAS para o Seminário de Formação de Liderança: Identidade Wesleyana e Fórum Social Mundial:

Igreja Metodista no Brasil, Confederação Metodista de Jovens, Rede Metodista de Educação IPA – Brasil;

Secretaria de Ministérios para Jovens e Jovens Adultos, Programa de Voluntários para Justiça Global, e

Secretaria para Direitos Humanos e Justiça Racial da Junta Geral de Ministérios Globais – EUA; Programa

Jovem em Missão de Ciemal; Redes de Juventude Metodista Unida na Ásia, África e Europa; Sabedoria e

Testemunho: Projeto de Formação de Liderança de Mulheres e Jovens

TRADUÇÃO E EDIÇÃO

Rosângela Soares de Oliveira

REVISÃO

Solange Mayumi Lemos

FOTOS

Participantes do Seminário de Formação de Liderança:

Identidade Wesleyana e Fórum Social Mundial

PROJETO GRÁFICO E EDITORAÇÃO ELETRÔNICA

Anita Slade e Martha Braga

IMPRESSÃO E ACABAMENTO

Walprint

1ª edição – 1000 exemplares

Fevereiro de 2006

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Sumário

APRESENTAÇÃO 7

SEMINÁRIO DE FORMAÇÃO DE LIDERANÇA: IDENTIDADE WESLEYANA

E FÓRUM SOCIAL MUNDIAL 9

JUVENTUDE EM MISSÃO 13

Papel de liderança da juventude hoje 13

Juventude: fé para mudança 16

IDENTIDADE WESLEYANA: SANTIDADE NO CORAÇÃO E NA VIDA 21

Os três surgimentos do Metodismo 21

Herança wesleyana: poder do povo 25

O mundo é minha paróquia 27

ECUMENISMO 29

Testemunho em diálogo e serviço 29

Juventude e participação ecumênica 34

DIVERSIDADE E IDENTIDADE 37

Felizes os que têm sede de justiça 37

Um Evangelho muito além do gênero e da raça 41

JUSTIÇA ECONÔMICA 45

Quem é o meu próximo? 45

Juventude metodista participa da Campanha pelo Perdão da Dívida Externa 49

DIREITOS HUMANOS 53

Direitos humanos como prioridade da justiça 53

Direito indígena entre o povo kanamari 59

Direito de comunicação 62

JUVENTUDE FAZ A DIFERENÇA 65

Construindo pontes, e não muros! 65

Nossos esforços não são em vão 69

PROGRAMA DE FORMAÇÃO DE JUVENTUDE 71

RECURSOS ADICIONAIS 87

PARTICIPANTES DO SEMINÁRIO DE FORMAÇÃO DE LIDERANÇA:

IDENTIDADE WESLEYANA E FÓRUM SOCIAL MUNDIAL 89

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Encontro

PAULA DO NASCIMENTO SILVA

Igreja Metodista, Brasil

Quis falar de um sentimento,

De uma dádiva divina

De semente pequenina

Que alcançou crescimento

No encontro proporcionado

Corações desconhecidos

Fizeram-se, logo, queridos

Um grupo sentiu-se amado

De um amor por inteiro

Sem condições e diferenças

Alicerçado na crença

Em quem os amou primeiro

Restava sentimental

Quem podia ter à vista

A delegação metodista

No Fórum Social Mundial

E, ao final, a despedida

D@s amig@s na caminhada

Mas a identidade em Cristo firmada

Compensa a lágrima vertida

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Oração para a Missão

Deus querido, com a voz do evangelho, ajude-nos a este

mundo transformar. Já compreendemos quão díficil é esta

missão, mas entendemos também que contigo nós somos

capazes.

Senhor, assim como a mãe natureza que dá vida e possibilita

que as plantas e os animais vivam em harmonia, fazei o

mesmo com a nossa humanidade. Impulsione nosso coração

jovem, para não ficarmos impávidos e serenos às

decadências da nossa época.

Oh, Senhor, acabe com a violência. Acabe com as guerras,

com a miséria, a injustiça e a intolerância. Acabe com tudo

que ao mundo bem não faz.

E como usaste João Wesley, Mahatma Ghandi e Martin

Luther King, Jr. para acabar com os males de sua época,

usa-nos também a nós – mulheres e homens jovens do

tempo presente. Em nome de Jesus, Amém!

ERMENEGILDO FRANCISCO MANUEL BANDEIRA

Igreja Metodista Unida, Angola

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“““““ SSSSSomos desafiad@somos desafiad@somos desafiad@somos desafiad@somos desafiad@s11111 a c a c a c a c a constronstronstronstronstruir e pruir e pruir e pruir e pruir e proooooclamar que um outrclamar que um outrclamar que um outrclamar que um outrclamar que um outro mundo é po mundo é po mundo é po mundo é po mundo é possívossívossívossívossível...el...el...el...el...”””””

Apresentação

Em suas mãos colocamos os testemunhos e reflexões de líderes das

juventudes de diversas igrejas de tradição metodista2 em várias partes do

mundo. São vivências e práticas refletidas, apresentadas neste Caderno de

Formação – Juventude: Ressuscitadora da Esperança, como uma proposta

geradora de novas formas de fazer missão. A juventude metodista reafirma,

neste caderno, o seu profundo desejo de ser presença solidária no mundo,

inspirada na identidade wesleyana.

Cerca de 60 jovens metodistas participaram do Seminário de Formação

de Liderança: Identidade Wesleyana e Fórum Social Mundial, em fevereiro de

2005, em Porto Alegre, Brasil. Este seminário preparou a liderança metodista,

para, de diversas formas e desde várias ênfases temáticas, experienciar o

diálogo com diversos movimentos sociais, líderes eclesiais, movimentos

organizados de juventude, organizações ecumênicas, liderança política ou de

governos de todos os cantos do mundo. Por quê? Porque, como comunidade

global de jovens metodistas, abraçamos o lema do FSM de que “Um Outro

Mundo é Possível”, inspirad@s pela nossa fé, que cultiva a responsabilidade

ética e missionária de ser “sal da terra e luz do mundo”.

As contribuições recebidas de participantes deste caderno foram

organizadas como uma rede que se tece, entrelaçando fios. O texto temático

básico se entrelaça com os testemunhos de integrantes das três delegações

de jovens metodistas, com dados estatítiscos, e ainda com documentos

1 Usar uma linguagem que visibiliza a participação de mulheres e homens na gramática portuguesa é um desafio. É sempre

mais fácil usar o gênero masculino invisibilizando o feminino. Assim, optamos por vários formatos neste caderno. Algumas

vezes, usamos o símbolo @, deixando assim @ leitor@ a decisão da leitura por gênero. Em outras vezes usamos a palavra nos

dois gêneros, e várias vezes preferimos uma palavra neutra. E, raras vezes, usamos o masculino como forma geral.

2 Jovens de tradição metodista e wesleyana ou juventude metodista é uma expressão usada neste caderno como um termo

genérico para incluir as diversas expressões históricas do metodismo sem se referir a cada nome em particular da igreja nos

países de origem dos participantes deste caderno.

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oficiais pertinentes ao tema proposto. Assim, não somente podemos ver os

fios da rede como ouvir a voz d@s participantes, arrepiar-nos com suas

emoções e trilhar junt@s o caminho de uma nova consciência adquirida. E

para que a rede possa ir crescendo, entrelaçando os fios das pessoas que

agora se fazem leitoras dessa experiência, há uma série de sugestões

pedagógicas para animar os grupos de juventude a fazer a sua própria

caminhada e levantar suas próprias perguntas que venham a resultar em um

engajamento na missão da igreja na sociedade. Desta forma, agora cabe a

você continuar tecendo esta rede. A rede para que um novo mundo seja

possível!

Nossa expectativa é de que Juventude: Ressuscitadora da Esperança

possa subsidiar o processo de formação da juventude que ergue sua voz

junto com Juliana de Souza, Brasil, dizendo que é preciso ser uma voz para

diminuir a desigualdade racial. E reconhecer com Ermenegildo Bandeira,

Angola, que é necessário que a juventude desenvolva uma consciência

crítica. A fim de junt@s testemunharmos com Linath Tiv, Camboja, a

juventude empenhada na construção da paz e reconciliação.

EQUIPE DE COORDENAÇÃO DO CADERNO

Andreia Fernandes

Vice-Presidente da Confederação Metodista de Jovens no Brasil

Rosângela Soares de Oliveira

Sabedoria e Testemunho: Projeto de Formação de Liderança de Mulheres e Jovens

Tamara L. Walker

Secretaria de Jovens e Jovens Adultos da Junta Geral de Ministérios Globais

da Igreja Metodista Unida

Apresentação

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SEMINÁRIO DE FORMAÇÃO DE LIDERANÇA:

IDENTIDADE WESLEYANA E FÓRUM SOCIAL MUNDIAL

TAMARA L. WALKER

Igreja Metodista Unida, Estados Unidos

A Junta Geral de Ministérios Globais (JGMG) iniciou um processo de engajamento

da juventude metodista e de tradição wesleyana em nível global no Fórum Social

Mundial (FSM), em 2003. Esta iniciativa incluiu uma jovem e um jovem brasileiros

na delegação da Igreja enviada ao FSM em Porto Alegre, Brasil. A avaliação apon-

tou que um processo mais amplo e mais intencional voltado para a inclusão da

juventude metodista nos processos do FSM permitiria aos jovens desenvolverem

sua capacidade de envolver-se em um ministério e missão profética dentro de seus

próprios países e de suas próprias organizações nacionais de juventude.

Desta maneira, a JGMG organizou e enviou uma Delegação Global de Juventu-

de Metodista ao FSM 2004, na Índia. Uma delegada do Brasil foi incluída nas indi-

cações de nomes pelo Programa Jovem em Missão, do Conselho de Igrejas Evan-

gélicas e Metodistas na América Latina (Ciemal), a fim de se estabelecerem as ba-

ses para o retorno do FSM ao Brasil em 2005, e para a organização do Seminário de

Formação de Liderança de Juventude promovido pela JGMG. O propósito era pla-

nejar, com um ano de antecedência e mais intencionalidade, um programa de for-

mação de jovens líderes metodistas que acompanhassem o processo do FSM.

Em 2005, a JGMG, através da Secretaria Executiva de Jovens e Jovens Adultos

e em parceria com as diversas redes de juventude metodista organizada nos vá-

rios continentes, organizou um programa que incluiu a participação de três de-

legações.

1 Vinte e cinco líderes jovens das redes globais de juventude da JGMG (pessoas

selecionadas pela própria liderança das redes de juventude).

2 Uma delegação de treze membros representando uma ampla diversidade ét-

nico-racial de jovens e estudantes da Igreja Metodista Unida nos EUA.

3 Uma delegação de vinte jovens oriundos das oito regiões eclesiásticas da Con-

federação Metodista de Jovens no Brasil.

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10 | Seminário de Formação de Liderança: Identidade Wesleyana e Fórum Social Mundial

Cada delegação desenvolveu seu próprio programa de formação de seus mem-

bros, ainda que tenha havido momentos comuns e de integração da agenda das

três delegações. Nesse sentido, o programa de formação incluiu a temática da iden-

tidade metodista e wesleyana, missão, estudo bíblico, articulação das redes, histó-

rico sobre o FSM e orientação sobre o contexto brasileiro. O ecumenismo foi abor-

dado através da participação no Dia Ecumênico de Juventude, organizado pela

Federação de Estudantes Cristãos (Fumec) e Conselho Mundial de Igrejas (CMI), e

na celebração ecumênica programada por várias entidades ecumênicas, entre elas

O QUE É O FÓRUM SOCIAL MUNDIAL?

O Fórum Social Mundial é um espaço de debate democrático de idéias, aprofundamento da reflexão,

formulação de propostas, troca de experiências e articulação para ações eficazes, de entidades e

movimentos da sociedade civil que se opõem ao neoliberalismo e ao domínio do mundo pelo capital e

por qualquer forma de imperialismo, e estão empenhadas na construção de uma sociedade planetária

centrada no ser humano. O FSM se propõe a debater alternativas para construir uma globalização

solidária, que respeite os direitos humanos universais, bem como os de todos os cidadãos e cidadãs em

todas as nações e o meio ambiente, apoiada em sistemas e instituições internacionais democráticos a

serviço da justiça social, da igualdade e da soberania dos povos. ‘Um outro mundo é possível’ é a

chamada do FSM.

QUANDO E POR QUE FOI CRIADO O FÓRUM SOCIAL MUNDIAL?

O Fórum Social Mundial (FSM) se reuniu pela primeira vez na cidade de Porto Alegre, estado do Rio Grande do

Sul, Brasil, entre 25 e 30 de janeiro de 2001, com o objetivo de se contrapor ao Fórum Econômico Mundial de

Davos, que tem cumprido, desde 1971, papel estratégico na formulação do pensamento dos que promovem e

defendem as políticas neoliberais em todo mundo. Até agora já aconteceram cinco edições do FSM, quatro em

Porto Alegre, Brasil (2001 a 2003, 2005), e uma em Mumbai, Índia (2004). Em 2006, FSM acontecerá de maneira

descentralizada nos vários continentes.

V FÓRUM SOCIAL MUNDIAL,

PORTO ALEGRE, BRASIL

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JUVENTUDE: RESSUSCITADORA DE ESPERANÇA | 11

Baseado no site oficial do FSM – www.forumsocialmundial.org.br/

OS 11 ESPAÇOS TEMÁTICOS DO FÓRUM SOCIAL MUNDIAL EM 2005

1 Afirmando e defendendo os bens comuns da Terra e dos povos – como alternativa à mercantilização

e ao controle das transnacionais

2 Arte e criação: construindo as culturas de resistência dos povos

3 Comunicação: práticas contra-hegemônicas, direitos e alternativas

4 Defendendo as diversidades, pluralidade e identidades

5 Direitos humanos e dignidade para um mundo justo e igualitário

6 Economias soberanas pelos e para os povos – contra o capitalismo neoliberal

7 Ética, cosmovisões e espiritualidades – resistências e desafios para um novo mundo

8 Lutas sociais e alternativas democráticas – contra a dominação neoliberal

9 Paz e desmilitarização – luta contra a guerra, o livre comércio e a dívida

10 Pensamento autônomo, reapropriação e socialização do conhecimento (dos saberes) e das tecnologias

11 Rumo à construção de uma ordem democrática internacional e integração dos povos.

OS 3 EIXOS TRANSVERSAIS

1 Emancipação social e dimensão política das lutas

2 Luta contra o capitalismo patriarcal

3 Luta contra o racismo.

o Conselho Latino-Americano de Igrejas (Clai). Este processo de formação se es-

tendeu no diálogo continuado durante os seis dias de participação no Fórum So-

cial Mundial, nos momentos particulares e comuns das três delegações, nas con-

versas informais nos dormitórios e refeitórios da Rede Metodista de Educação IPA,

nas brincadeiras pelas ladeiras e transporte público da cidade de Porto Alegre e na

busca comum por refúgio ao sol escaldante do verão gaúcho.

O âmago do programa era preparar as redes de juventude de várias partes do

mundo para interagir e engajar-se a partir da perspectiva de fé na questão da jus-

tiça social, defesa dos direitos humanos, organização comunitária e de módulos

de treinamento segundo as diversas ênfases temáticas das oficinas do FSM. Basi-

camente falando, o seminário forneceu formação crítica e ecumênica para o exer-

cício da fé e missão para líderes-chave das redes globais de juventudes metodis-

tas. O processo utilizou concretamente educação popular interativa e modelos de

aprendizado construídos a partir da experiência dialógica, a fim de criar espaço

para a juventude expressar e expandir o seu próprio entendimento da identidade

wesleyana e o chamado à missão e ao ministério. Isto foi feito através da análise e

reflexão sobre as formas estruturais de pobreza e opressão, animadas pelas lentes

de um compromisso bíblico e teologicamente wesleyano para a missão transfor-

madora dentro da igreja e comunidade.

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Como líder jovem, o que você vai fazer com o seu poder,

privilégio e responsabilidade? Vamos escolher uma liderança

hierárquica e dominante ou bíblica e libertadora?

OFELIA ORTEGA, TEÓLOGA DE CUBA, LÍDER DO ESTUDO BÍBLICO NO FÓRUM

DE JUVENTUDE ECUMÊNICA

JUVENTUDE EM MISSÃO

Estas são perguntas difíceis de responder e suas respostas são mais difíceis ainda

de viver. As perguntas tocam o cerne do que significa ser líder jovem hoje. Cada

um de nós faz escolhas diárias a cada momento. Podemos escolher negociar nos-

sos valores, e até perder nossos valores culturais. Podemos aceitar a cultura e os

valores dominantes. Ou podemos cavar fundo na base dos ensinamentos bíblicos

e viver uma liderança liberadora. Podemos assumir uma posição de estar com e

para o povo pobre, excluído e marginalizado. Temos este poder e a oportunidade a

cada dia.

Ainda assim, os sistemas sociais e políticos definem liderança em termos de

“auto-serviço” individual, status e poder. E nós nos conformamos a essa idéia do-

minante e dominadora de liderança. Ser líder fica reduzido às vantagens que uma

pessoa pode receber para si ou para seus amigos e família. É nesse contexto que

líderes tanto dentro da igreja como na sociedade colhem recompensas sociais, fi-

nanceiras e freqüentemente políticas por aceitar os valores dominantes da cultu-

ra. É aqui, neste espaço extremamente crucial chamado liderança, que cada jovem

tem um forte papel a jogar, revertendo a ordem do status quo.

Como? Primeiro, a juventude deve ORGANIZAR. Há um provérbio africano oci-

dental que diz: “Junt@s podemos fazer o que sozinh@s não podemos.” Quando a

Papel de liderança da juventude hoje

TAMARA L. WALKER

Igreja Metodista Unida, Estados Unidos

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14 | Juventude em missão

juventude se organiza em grupos ou organizações nacionais, ela tem muito mais

poder para viver o Evangelho. Não simplesmente como um agrupamento de indi-

víduos, mas como forças coletivas para trazer as Boas Novas do poder liberador de

Deus que realiza a justiça e paz entre nós. É por esta Boa Nova que nós oramos na

oração que Jesus nos ensinou – “que seja feito na terra assim como nos céus...”

Segundo, grupos organizados de juventude devem desenvolver processos que

os capacitem a SER SUJEITOS, e não simplesmente objetos da missão. A missão é

freqüentemente tratada como sendo “para” a juventude, como se ela não tivesse

suas próprias idéias, habilidades e contribuições para realizar a missão que pode

transformar este mundo. Mas a juventude pode! Quando a juventude elege a pró-

pria liderança, indica seus próprios representantes à Igreja em geral e à comunida-

de e desenvolve modelos participativos e fortes de liderança e ação, ela se sente

empoderada para responder como agente da missão e de ministérios proféticos.

Terceiro, a juventude necessita INFORMAR-SE. ENVOLVER-SE. E RESPONDER

EM FÉ.

➭ INFORMAR-SE significa estar ciente do que acontece nas suas igrejas, comuni-

dades, nações e mundo. Olhe a sua comunidade através dos olhos de quem

vive em situação de opressão, marginalização e pobreza. A liderança cristã não

deve ser como a avestruz, com a sua cabeça debaixo da areia. Procure e integre

uma perspectiva global na sua liderança. O primeiro passo é abrir os nossos

olhos às nossas próprias comunidades. Nós também precisamos nos olhar no

espelho. Como nosso jeito de viver reflete o chamado de Miquéias 6:8, “faça o

bem, ame a justiça e ande humildemente”?

➭ ENVOLVER-SE significa ir além de si mesm@. Aprenda como agir dentro de sua

organização ou movimento de juventude, sua igreja e comunidade mais am-

pla. Trabalhe com e aprenda de outros grupos que já estão engajados na cria-

ção de alternativas para eliminar as causas da injustiça, pobreza, opressão e

guerra. Ser liderança cristã não significar isolar-se dentro das quatro paredes

de uma igreja. Saia e faça algo!

➭ RESPONDER EM FÉ significa responder ao chamado da missão... Responder ao

clamor por justiça e paz neste mundo.

Para tudo isto, você necessita de ferramentas, como, por exemplo:

✓ Expor-se a novas realidades

✓ Aprender fazendo

✓ Estudar a Bíblia

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JUVENTUDE: RESSUSCITADORA DE ESPERANÇA | 15

✓ Refletir teologicamente, ou seja, olhar a vida com os olhos da fé e o coração

aquecido por transformar

✓ Pensar a própria experiência

✓ Dialogar

✓ Suspeitar das respostas fáceis e dadas como verdades absolutas

✓ Articular e integrar-se com outros grupos afins

✓ Planejar

✓ Agir

O Seminário de Liderança: Identidade Wesleyana e Fórum Social Mundial ofe-

receu um espaço concreto para o uso dessas ferramentas. Hoje, você está convidad@

a criar este espaço de formação de juventude para a missão. Lembrem-se:

INFORMAR-SE. ENVOLVER-SE. E RESPONDER EM FÉ!

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16 | Juventude em missão

Juventude, fé e vida. A conjugação destas três palavras é, no seu sentido mais pro-

fundo, a pedra de toque para a mudança da humanidade e a construção de um

outro mundo possível.

Gideão era um jovem. A Bíblia o descreve como um varão valoroso, que viveu

numa época conturbada do povo de Israel (vs.1-6). Um período em que a nação de

Israel estava sob servidão dos midianitas, povo que conhecia outros deuses (v.2).

Foi então que, certo dia, interessado em resolver a situação do seu povo, Deus

enviou um anjo para falar com Gideão, quando este estava a trabalhar no campo

de seu pai (v.11). Então o anjo apareceu-lhe e disse: “O Senhor é contigo, varão

valoroso. Mas Gideão responde dizendo: Mas se o Senhor é conosco, por que nos

aconteceu todo este mal? (v.12s)”

A interrogação de Gideão é muitas vezes a nossa também. Se Deus é conosco,

por que todos esses problemas assolam o nosso povo? Será Deus apenas de uns e

não de outros? Mas a resposta de Deus é surpreendente. O relato bíblico diz que

Deus olhou para ele e disse: “Vai, nesta tua força, e livrarás a Israel da mão dos

midianitas (v.14).”

Bíblia, palavra de Deus, se faz esperança e ação na vida dos sem esperança,

sem visão, sem nome, como as pessoas que andavam no caminho de Emaús

(Lc 24:13-35). Jesus se faz próximo, escutando a tristeza dos que caminhavam

e conversavam. Uma pergunta do nada, e a perplexidade como resposta (17-

18). Jesus escutou (19-24). E daí, o inesperado convite: “fica conosco” (29). A

conversa que abre os olhos é a conversa do partir do pão. Jesus se faz próximo

dos sem nome, pergunta pela vida, escuta, recupera a história, renova a fé na

vida, reinstaura a prática da partilha.

EDMILSON SCHINELO E MARIA SOAVE, CENTRO DE ESTUDOS BÍBLICOS, BRASIL

Um dos aspectos interessantes desse texto está exatamente em Deus ver que

Gideão tinha em si força para livrar seu povo. Deus estava trazendo para Gideão a

Juventude: fé para mudançaJuízes 6: 11-16

ERMENEGILDO FRANCISCO MANUEL BANDEIRA

Igreja Metodista Unida, Angola

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JUVENTUDE: RESSUSCITADORA DE ESPERANÇA | 17

solução para o problema do seu povo, como prova inequívoca de que Deus ainda

era com eles.

A juventude é a força motriz das sociedades. Só no meu país – Angola –, a ju-

ventude constitui mais de 60% da população ativa. E assim como no passado, a

juventude tem demonstrado ser um campo fértil, no qual Deus busca homens e

mulheres para marcarem a história. E Gideão não fugiu à regra: jovem que era, foi

chamado para libertar seu povo.

“Vai nesta tua força.” Mas que força seria esta? Será muito músculo? Não. Acho

que não era força muscular que Deus dizia haver em Gideão. Será poder econômi-

co? Não, também não era poder econômico, já que ele era um simples camponês.

Deus se referia, na verdade, à força espiritual, força interior, força moral. Deus

viu no jovem Gideão a FÉ. Uma fé que traz mudanças, uma fé que remove monta-

A JUVENTUDE É PARTE

INTEGRANTE DA

SOCIEDADE CIVIL.

A JUVENTUDE PRECISA

ESTAR ENVOLVIDA NOS

PROCESSOS DE DECISÃO

QUE DEFINEM OS RUMOS

SOCIAIS E ECONÔMICOS

DA SOCIEDADE

✓ 18% da população mundial (1.153 milhões) é composta por jovens de 15 a 24 anos, além de 30% com menos de

15 anos. Em conjunto, a população jovem (até 24 anos) totaliza 48% da população mundial.

✓ 85% da população jovem mundial vive em países em desenvolvimento.

✓ 209 milhões ou 18% da população jovem mundial vive com menos de U$ 1 por dia, enquanto 45% vive com

menos de 2% por dia. A grande maioria destes jovens vive no Sul da Ásia e na Região do Sub-Saara.

✓ Existe um crescente reconhecimento de que investir na juventude efetivamente diminui a pobreza mundial.

Relatório sobre Juventude Mundial, ONU: http://www.un.org/esa/socdev/unyin/documents/wyr05portuguese.pdf/

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18 | Juventude em missão

nhas. Tenho certeza de que foi isto que Deus viu em Gideão, e que continua vendo

em muitos jovens – mulheres e homens –, em toda parte do mundo.

O que Deus viu em Gideão foi fé e coragem moral de dizer NÃO à corrupção, à

violência, às drogas, ao sexo irresponsável e às injustiças. Será que dentro de nós há

a mesma força? Eu não tenho dúvidas de que, no meio de milhares de jovens, Deus

já viu muitos corações com a força capaz de construir um outro mundo possível.

A juventude é esperança para um mundo mais livre, mais justo, mais igualitá-

rio. Pois a nossa fé pode impregnar a humanidade com tais valores. No entanto,

precisamos desenvolver nossa fé, aumentar nosso conhecimento para que o per-

curso da vida, às vezes nada agradável, não ofusque as convicções de mudança.

Hoje, a juventude parece não estar preocupada com o mundo à sua volta. Pa-

rece completamente conformada com a situação da sociedade. Uns até estão mes-

mo desinformados, pois não se preocupam com a informação. Mas é preciso de-

senvolver uma consciência crítica. É preciso nos mantermos informados e infor-

madas. É preciso desenvolver um relacionamento pessoal com Deus. Deus nunca

nos usará para a mudança, se não o conhecermos e vivenciarmos sua Palavra.

Hoje, a sociedade na qual vivemos está acostumada com a normalidade. É

normal ver crianças pedindo esmolas. É normal ver pessoas vivendo como

animais, caçando comida nos lixos. É normal ver adolescentes grávidas. Enfim,

esta normalidade que aflora na sociedade tem chegado às nossas igrejas,

infelizmente. E se não atentarmos para este fato, corremos o risco de nos

tornarmos a SOCIEDADE DA NORMALIDADE!

MARA SILVA, IGREJA METODISTA, BRASIL

A história registrou o nome de Martin Luther King, Jr. Um jovem negro, norte-

americano, que nasceu na cidade de Atlanta e liderou o movimento de luta contra

a segregação racial, isto é, separação entre negros e brancos. Este era o regime

vigente àquela altura e previsto pela lei do Estado. Ao ler sobre King, vejo que,

desde cedo, aprendeu as sagradas letras e nelas foi instruído por seu pai, que era

pastor. King, ainda jovem, desenvolveu sua fé, porque tinha em vista dar uma con-

tribuição a toda a humanidade. Deus chamou King para uma causa justa e este o

percebeu, porque ele tinha um relacionamento com Deus. Deus teria olhado para

o fundo do coração de Martin Luther King, Jr. e visto naquele jovem fé para mu-

dança. Acredito, no entanto, que King teve de se desenvolver o suficiente para que

conseguisse fazer o que fez.

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JUVENTUDE: RESSUSCITADORA DE ESPERANÇA | 19

Para cada jovem, Deus tem um propósito especial. Na conversa de Deus com

Gideão, Ele disse: “Porventura não te enviei eu? (v.14)” Aqui podemos observar Deus

comprovando o chamado que tinha para Gideão. Deus também tem um propósito

para as nossas vidas; Deus chamou Gideão para uma causa, Wesley para outra, e

Mandela para outra. Deus nos chama para um propósito. Acredito que o maior pla-

no de Deus para as nossas vidas seja o de darmos vida aos sem vida e nome aos

sem nome.

O poder de Deus é melhor revelado através dos gestos mais simples de amor,

paz, humildade e ação… A Igreja foi encarregada de continuar a missão de

fazer discípulos para Jesus Cristo. Compartilhar o processo ininterrupto de

trabalhar para fazer do mundo um lugar mais justo é um caminho maravilhoso

para e através de Cristo. Quem está disposto a ser uma testemunha da

VERDADE, ESPERANÇA e AÇÃO para o Senhor?

THEON JOHNSON, III, IGREJA METODISTA UNIDA, ESTADOS UNIDOS

Nós somos os ressuscitadores da esperança. Temos que assumir o nosso papel.

A juventude representa os seres humanos que têm as maiores possibilidades em

toda a face da terra. Jovens são como um papel branco. Um papel branco, onde

parece não haver nada, na verdade, está cheio de possibilidades. A juventude tem

a possibilidade de fazer de sua vida o que quiser, mas muitos de nós não estamos

vendo as possibilidades de sermos os e as protagonistas da história do dia de ama-

nhã. Muitas vezes, levamos a nossa vida sem ter em conta a vida das pessoas ao

nosso redor. Muitas vezes, queremos subir na vida, formar-nos, casar, ter posses...

Tudo isso é correto, mas não nos esqueçamos de que existem causas que mere-

cem a nossa atenção. Hoje, muitos de nós não queremos sair dos nossos campos e

ir lutar pelo bem da maioria. No entanto, Deus encontrou Gideão no campo, e lá o

tornou o resgatador de Israel das mãos dos midianitas.

A juventude é parte integrante da sociedade civil. A juventude precisa estar envolvida nos processos

de decisão que definem os rumos sociais e econômicos da sociedade.

Relatório sobre Juventude Mundial, ONU: http://www.un.org/esa/socdev/unyin/documents/wyr05portuguese.pdf/

Gideão ainda retorquiu: “Ai, Senhor meu, com que livrarei Israel? Eis que o meu

milheiro é o mais pobre em Manassés e eu o menor na casa de meu pai.” Mas Deus

lhe garantiu seu total apoio: “Eu hei de ser contigo e tu ferirás os midianitas com se

fossem um só homem” (v.15s).

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20 | Juventude em missão

Deus, muitas vezes, vai a cidades pequenas encontrar os grandes homens e

mulheres. Muitas vezes, sentimo-nos pequenos demais para responder positiva-

mente ao chamado que Deus nos faz. Achamos que não temos todos os requisitos

para o chamado que Deus tem para nós. Mas, hoje, eu compreendo que Deus só

precisa de uma vida disponível para dela fazer o que lhe apraz, e não de uma vida

cheia de qualidades.

Nós temos o chamado para mudar o mundo. Nós temos poder. Nós temos

povo. Nós poderíamos ser mais audazes.

SILJA ROSER, IGREJA METODISTA UNIDA, SUÍÇA

Vamos nessa nossa força obedecer ao apelo da nossa consciência e obedecer

ao chamado de Deus. Temos apenas uma vida a ser vivida. A vida do jovem deve

ser vivida, de maneira a fazer a diferença (Romanos 12:2). A esperança de um outro

mundo possível está nas mãos dos jovens.

QUESTÕES PARA REFLEXÃO

★ O que você pode fazer para desenvolver uma fé para mudança?

★ Em que espaços de decisão a juventude está envolvida a fim de cumprir o

chamado à missão?

★ Que ações a organização de juventude pode desenvolver em conjunto com

outras organizações de juventude visando a um movimento de esperança por

um mundo mais livre, mais justo e mais igualitário?

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IDENTIDADE WESLEYANA: SANTIDADE

NO CORAÇÃO E NA VIDA

Os três surgimentos do Metodismo

PHIL WINGEIER-RAYO

Igreja Metodista Unida, Estados Unidos

João Wesley foi um líder do movimento de reavivamento evangélico do século XVIII

na Inglaterra, que conduziu muitos a Cristo. Se, por um lado, a pregação e a preo-

cupação de João Wesley pela salvação pessoal são bastante estudadas, de outro,

sua ação social dirigida aos pobres é menos conhecida. Como a prática espiritual

pessoal se relaciona com a ação social e trabalho junto aos pobres? Como Wesley

equilibrou o ministério evangelístico com o social? Para tratar de tais questões,

este artigo focaliza o equilíbrio entre práticas espirituais e ação social nas três pri-

meiras fases do Metodismo primitivo, ou o que João Wesley chamou “os três

surgimentos do Metodismo”.

Em um tempo que posteriormente chamou de “primeiro surgimento do Me-

todismo”, Wesley participou de encontros de oração dirigidos por estudantes e

de estudos bíblicos na Universidade de Oxford, dirigidos por um grupo apelida-

do de “Clube Santo”. Este grupo de estudantes universitários, incluindo seu irmão

Carlos Wesley e seu grande amigo Jorge Whitefield, combinou seus estudos e

meditação com visitas às cadeias e auxílio aos prisioneiros e suas famílias. Ao

encontrar crianças pobres na rua, os estudantes universitários organizaram uma

oferta para pagar uma pessoa para ensinar às crianças. Antes ainda de o movi-

mento ser chamado Metodista, ele já estava fazendo o elo entre os elementos

espirituais e sociais da fé.

Após a morte de seu pai, em 1735, João e seu irmão Carlos decidiram seguir o

chamado missionário paterno e tornaram-se missionários na recém-formada colô-

nia da Georgia, na América do Norte. O desejo de Wesley era “converter os Índios”,

embora o governador James Oglethorpe o estivesse contratando para ser o cape-

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22 | Identidade wesleyana: santidade no coração e na vida

lão da Colônia. Wesley se sentiu limitado por essa posição,

pois isto impedia que seu trabalho missionário alcançasse

os povos indígenas americanos fora do assentamento.

Wesley acabou por se sentir frustrado e deixou a Georgia.

Posteriormente ele considerou Georgia como o “segundo

surgimento do Metodismo”, por causa do seu encontro com

os Moravianos e sua tentativa de criar um modelo de minis-

tério com pequenos grupos, chamado “sociedade”. Wesley

estava frustrado com um trabalho que somente envolvia o

bem-estar dos colonizadores, quando ele se sentia chama-

do para missão em um sentido mais amplo.

O “terceiro surgimento do Metodismo” ocorreu um ano

após o seu retorno a Londres, quando ele saiu da Sociedade

Unida em Fetter Lane e comprou a fundição para começar

uma sociedade metodista. Wesley adquiriu o depósito de armas destruído em um

incêndio, na periferia de Londres, e o reconstruiu para refletir as necessidades da

comunidade. Além da Sala de Encontro para pregação e cantos, e uma pequena

sala para os grupos, a fundição tinha um dispensário médico, fundo de emprésti-

mos e uma escola para crianças pobres.

Disciplina espiritual a partir do serviço aos pobres

Em 1746, a sociedade de Londres começou o ministério de micro-crédito para os

pobres que queriam começar ou expandir os seus próprios negócios. Como parte

de sua tentativa mais ampla de reforma econômica, Wesley arrecadou 50 libras de

dinheiro de alguns amigos e pediu a dois administradores para tornar este recurso

disponível aos pobres através de pequenos empréstimos de até 20 shillings, pagá-

veis em três meses. O progama de micro-empréstimo para pequenos negócios aten-

deu 250 pessoas no seu primeiro ano.1

Inaugurado em dezembro do mesmo ano, o dispensário médico atendia cerca

de cem clientes por meses, muitos dos quais não eram membros da sociedade

metodista. Quando não havia médicos, o próprio Wesley atendia aos pobres, e pu-

blicou, pessoalmente, várias edições do Medicina Primitiva (The Primitive Physik),

um livro de medicina natural e receitas baratas. Posteriormente, Wesley expandiu

o ministério de cuidado da saúde às sociedades em Bristol e Newcastle.2

JOHN WESLEY

1 Journal, 17 de janeiro, 1748, II:81.2 HEITZENRATER, Richard, Wesley e o povo chamado metodista, Editeo e Pastoral do Bennett, 1996, p.167.

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JUVENTUDE: RESSUSCITADORA DE ESPERANÇA | 23

Também na fundição funcionava uma escola para crianças pobres. Wesley con-

tratou duas pessoas como professores titulares para ensinar matemática, a ler e

escrever. Duas pessoas administravam as doações que pagavam os salários dos

professores. Wesley usou o mesmo conceito para começar a Escola de Kingswood

para os filhos dos mineiros em Bristol.

Wesley dava uma ênfase especial ao trabalho que alcançasse os pobres e equi-

librasse a ação social com a disciplina espiritual. A fundição continuou a oferecer

pregação e formar pequenos grupos de apoio enquanto desenvolvia suas ativida-

des de ação social. A preocupação com a população pobre e mendiga levou Wesley

a começar a “casa dos pobres”, alugando duas pequenas casas próximas à fundição

e deixando-as disponíveis às viúvas, entre elas uma mulher cega com duas crian-

ças pobres, além dos eventuais pregadores itinerantes.

Wesley continuou a visita aos pobres e a coleta de ofertas para eles durante

toda sua vida. Em 4 de Janeiro de 1785, com 82 anos, ele escrevia em seu diário:

Neste época (de Natal), nós geralmente distribuíamos carvão e pão aos pobres da

sociedade (de Londres). Mas eu acho que agora eles precisam de roupas, assim como

de alimento. Assim que, nos quatro dias seguintes, eu caminhei pela cidade e pedi

200 libras a fim de vestir os que mais necessitavam. Mas isto foi um trabalho árduo,

já que as ruas estavam cheias de neve derretida na altura do meu tornozelo; assim

que meus pés estavam encharcados de neve derretida desde a manhã até a noite.3

Através de toda a sua vida, Wesley visitou regularmente aos pobres, a ponto de

igualar a visita aos pobres com disciplina espiritual pessoal e pública.4 Ele desa-

fiou o mito de que os pobres são preguiçosos e encorajou os não-pobres a visita-

rem os pobres como parte de seu próprio crescimento espiritual.

Eu cheguei ao Brasil com poucas expectativas. Como cientista, temas sociais

raramente são tratados. Ainda que o princípio básico da pesquisa científica

seja melhorar a qualidade de vida da sociedade. No entanto, como cristão, as

preocupações sociais são tidas em alta prioridade. Como disse o Bispo

metodista de Porto Alegre, Luiz Vergilio Rosa, as boas novas de Jesus Cristo

são especialmente para aqueles em necessidade. João Wesley compreendeu

a importância de lidar com as necessidades sociais. Ele não se empenhou

apenas em espalhar a santidade espiritual no coração, mas também na vida.

MARCUS A. HUNT, IGREJA METODISTA UNIDA, ESTADOS UNIDOS

3 Journal, 4 de janeiro, 1785. IV: 295.4 JENNINGS, Theodore, Good News to the Poor: John Wesley’s Evangelical Economics, Abingdon Press, 1990, p.54.

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24 | Identidade wesleyana: santidade no coração e na vida

QUESTÕES PARA REFLEXÃO

★ Por que é importante relacionar a disciplina espiritual com o serviço às

populações em situação de pobreza, exclusão e marginalização? Como

sensibilizar a igreja para pensar missão não apenas como adoração, mas também

serviço à comunidade que está à sua volta?

★ Como compartilhar a fé em um grupo pequeno de jovens pode aprofundar a

fé e o serviço aos outros? E ainda desafiar preconceitos, tais como fez Wesley em

relação aos pobres?

★ Analise como a juventude tem participado na missão a partir do modelo de

Wesley chamado de três surgimentos do Metodismo. Qual a conclusão?

★ O que precisa a juventude chamada metodista fazer para levar à frente a

herança de João Wesley?

Enfim, Wesley queria que os metodistas praticassem a ação social como uma

disciplina que era tão importante como a disciplina espiritual clássica. Nos três

surgimentos do Metodismo primitivo, nós podemos ver como a ênfase de salva-

ção de Wesley incluía tanto as práticas espirituais pessoais como a ação social aos

pobres e às comunidades. Para honrar a herança de João Wesley, como povo cha-

mado metodista, nós precisamos incluir a visita aos pobres e a ação social como

práticas espirituais igualmente importantes.

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JUVENTUDE: RESSUSCITADORA DE ESPERANÇA | 25

Herança wesleyana: poder do povo

CATHERINE MICHELE JOHNS

Igreja Metodista Unida, Estados Unidos

É comum se dizer que há dois tipos principais de poder: poder do povo e poder

econômico. Em Porto Alegre, Brasil, no Fórum Social Mundial (FSM) em 2005, cerca

de 155.000 pessoas de 135 países5 se reuniram para traçar uma estratégia para

criar um mundo mais responsável para todas as pessoas. Enquanto nós nos reuní-

amos no Brasil, líderes econômicos do mundo inteiro estavam reunidos na Suíça

para o Fórum Econômico Mundial.6 O FSM começou em 2001, com o lema “Um

Outro Mundo é Possível.” Ao redor do mundo, as comunidades experimentam a

distribuição desigual de recursos e se organizam para encontrar uma alternativa.

É COMUM SE DIZER QUE HÁ DOIS TIPOS DE PODER: PODER DO POVO E PODER ECONÔMICO

5 Memória do Fórum Social Mundial: http://www.forumsocialmundial.org.br/6 Fórum Econômico Mundial: http://www.weforum.org/

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26 | Identidade wesleyana: santidade no coração e na vida

QUESTÕES PARA REFLEXÃO

★ Quais são as bases ético-teológicas para justiça social em sua denominação?

★ Em que sentido a herança wesleyana fortalece o poder do povo versus o

poder econômico na sua comunidade?

★ Que estratégias a organização de juventude precisa desenvolver para criar um

mundo mais responsável?

Como parte da delegação da Igreja Metodista Unida enviada ao FSM, eu me

senti inspirada a novamente assumir a minha herança wesleyana, e lembrar que a

justiça social é a base da nossa denominação. Isto esteve particularmente claro para

mim durante a marcha de abertura do FSM. Pessoas do mundo inteiro celebraram

juntas nas ruas. Nosso grupo, composto de jovens metodistas do mundo inteiro,

marchou atrás da faixa do Conselho de Igrejas. Enquanto marchávamos, a juventude

brasileira do nosso grupo puxava as canções, danças e palavras de ordem. “Issa, issa,

issa, juventude metodista!” Esta palavra de ordem declarava que a juventude meto-

dista estava presente! Eu já participei de muitas marchas, mas nunca de uma como

essa! Eu freqüentemente marcho sozinha ou com grupos seculares. Finalmente, eu

estava marchando com outras pessoas metodistas, apaixonadas pela nossa herança

denominacional e por articular esta paixão com uma ação social e política.

O poder de tal experiência é forte à medida que produz ação concreta. Se mi-

nha participação na delegação metodista no FSM não me levar à ação, isto ficará

registrado na minha história pessoal somente como um grande acontecimento

emotivo. Hoje, mais do que nunca, reconheço que a ação para alcançar paz com

justiça é parte de minha herança denominacional. Sinto-me inspirada pela ener-

gia de minhas irmãs e irmãos do Brasil, que firmemente afirmam sua tradição me-

todista. Minha experiência com metodistas ao redor do mundo me lembra de que

somos uma igreja conexional. Com esta conexão emerge um tipo de poder do povo!

Dentro da Igreja Metodista nós temos o poder do povo, para ajudar a criar nesta

terra um mundo onde todos e todas possam viver com dignidade.

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JUVENTUDE: RESSUSCITADORA DE ESPERANÇA | 27

O mundo é minha paróquia

RICHARLLS MARTINS

Igreja Metodista, Brasil

Ir ao FSM foi um sonho de anos realizado da melhor maneira possível – junto com

a juventude metodista do Brasil e do mundo. A cada dia, os desdobramentos desse

encontro parecem não ter fim. Isto significa que não desistimos de lutar por um

mundo melhor, mais justo e menos desigual.

Eu trabalhei como voluntário na organização do FSM. Ali aprendi muito a res-

peito da logística e estrutura de um encontro de grande porte como este. Partici-

par do FSM é algo marcante na vida de cada participante, seja ele cristão ou não.

Ter a oportunidade de conviver com jovens metodistas de diferentes países, no

Instituto Metodista de Porto Alegre, onde estávamos alojados, refletia toda a di-

versidade valorizada pelo FSM. Este aprendizado com a outra e o outro me fez cres-

cer como nunca. Esta experiência de convívio com o diferente, e ao mesmo tempo

tão igual, foi o que eu trouxe de mais especial desses dias em Porto Alegre.

Eu não acredito na existência de uma espiritualidade que não seja solidária e

que não veja na outra pessoa o reflexo de Cristo. Por isso entendo que a participa-

ção de jovens metodistas se faz cada vez mais necessária nesses espaços de dis-

cussão sobre as desigualdades sociais. Nós, como metodistas, temos a missão his-

tórica de ser agentes da transformação social, de mudar o contexto social vigente.

Se não participarmos do momento de maior discussão da realidade social do mun-

do, estaremos na verdade nos omitindo de nossa missão como cristãos e cristãs

metodistas.

Participar do V FSM foi uma maneira de nós, jovens cristãos e cristãs,

mostrarmos que nos importamos com o que acontece ao nosso redor. Não

concordamos com tudo que acontece neste mundo, mas sabemos que Deus

pode mudar essa realidade. E, como cidadãos e cidadãs, devemos nos importar

e participar de tudo que diz respeito às questões sociais e mundiais.

MAURICIO F. CHAVES, IGREJA METODISTA, BRASIL

Senti-me como Wesley, com o mundo como minha paróquia!

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28 | Identidade wesleyana: santidade no coração e na vida

QUESTÕES PARA REFLEXÃO

★ Você acredita em uma espiritualidade que não seja solidária?

★ Como a juventude se engaja na convivência com o diferente na sua

comunidade?

★ Que ações para superação das desigualdades sociais são desenvolvidas

pela organização de juventude?

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ECUMENISMO

Testemunho em diálogo e serviço

HORACIO MESONES

Centro Regional Ecuménico de Asesoría y Servicio, Argentina

A palavra ecumenismo vem do grego OIKOUMENE, que significa “mundo habitado”.

Esta palavra pertence a uma família de termos:

✓ Oikos: casa, vivenda, família, quarto, povoado.

✓ Oikeotes: relação, parentesco.

✓ Okieoo: habitar, reconciliar-se, estar familiarizado.

✓ Oikonomeo: administrar a casa com responsabilidade; esta é a raiz da palavra

“economia”

No mundo grego, o uso de oikoumene era geográfico, logo era cultural, consi-

derando o homem grego como ideal de Humanidade. No sentido político, eram

excluídos do oikoumene todos aqueles que não falavam o grego, pois isso refletia

a época em que o Império Romano havia causado a queda da Grécia.

Na Bíblia, pelo contrário, oikoumene adquiriu uma outra conotação. Quando

se usa o termo na Bíblia, ele se refere tanto à construção no sentido físico, como à

tarefa da edificação de uma comunidade (ver, por exemplo, 1 Ts 5:11). Na Igreja

primitiva, a tarefa da administração, de prever as necessidades da comunidade e

responder a essas necessidades, deu-se de uma forma conjunta com a construção

do espaço e desenvolvimento espiritual e social dessa comunidade. O sentido de

Ecumenismo, oikoumene, não é de exclusão, mas de solidariedade.

O ecumenismo é a comunhão que une irmãos e irmãs de várias Igrejas

diferentes. Viver em irmandade é melhor. A experiência de Wesley mostra que

a vida em comunhão permite que haja desenvolvimento. É na partilha de

idéias que podemos criar um mundo possível.

MERGINA JOÃO BAPTISTA MATIMBE, IGREJA METODISTA UNIDA, MOÇAMBIQUE

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30 | Ecumenismo

Ecumenismo é, hoje, um chamado que Deus faz a todos os povos do mundo, e

de forma especial à Igreja, para dar um testemunho, em diálogo e em serviço, de

que a unidade de toda a humanidade é possível. A visão ecumênica inspirou aos

homens e às mulheres impulsionarem os movimentos, tanto em termos de base,

como na construção de organizações nacionais, regionais e mundiais, como a Fe-

deração Universal de Movimentos Estudantis Cristãos (Fumec), Associação Cristã

de Jovens (YMCA), Comissão Evangélica Latino-Americana de Educação Cristã

(Celadec), Sociedades Bíblicas, Associação Mundial para a Comunicação Cristã

(WACC), Conselho Mundial de Igrejas (CMI) e Conselho Latino-Americano de Igre-

jas (Clai).

O ecumenismo envolve dois elementos substanciais. Primeiramente, espiritua-

lidade. Ou seja, o ânimo do Senhor que nos dá a vida, e que se expressa na oração,

reflexão sobre a Palavra e celebração da presença de Deus, transformando nossas

vidas e o mundo.

Eu acredito que realmente cresci espiritualmente depois da minha viagem

ao Brasil. Eu adorei conhecer os jovens metodistas da delegação global. São

pessoas incríveis e verdadeiras seguidoras de Cristo. Gostei mais ainda de ter

participado da marcha no início do FSM. Fiquei maravilhada de fazer parte

desse grupo de jovens metodistas e de estar entre tantos grupos ecumênicos

marchando por um único propósito – criar um mundo melhor onde haja paz.

MASSIEL WINGEIER-RAYO, IGREJA METODISTA UNIDA, ESTADOS UNIDOS

O segundo elemento do ecumenismo é de ser testemunha a favor da justiça

em todas as suas formas: econômica, social, cultural, étnica e de gênero. Ser teste-

munha trabalhando a favor da solidariedade com o povo excluído de nossas socie-

dades, tal como fez nosso Mestre Jesus Cristo.

Associação Cristã de Jovens – http://www.ymca.int/

Associação Mundial para a Comunicação Cristã – http://www.wacc.org.uk/

Conselho Latino-Americano de Igrejas – http://www.clai.org.ec/

Conselho Mundial de Igrejas – http://www.wcc-coe.org/

Comissão Evangélica Latino-Americana de Educação Cristã – http://www.celadec.com.ar/

Federação Universal de Movimentos Estudantis Cristãos – http://www.wscfglobal.org/

Sociedades Bíblicas – http://www.biblesociety.org/

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JUVENTUDE: RESSUSCITADORA DE ESPERANÇA | 31

Eu digo sempre para as pessoas à minha volta que participar do FSM foi uma

experiência de fé. Na verdade, foi uma experiência de confronto e

fortalecimento da minha fé como filho de Deus. Naquele local, participavam

pessoas de diferentes credos e até de não credos, que estavam ali porque se

preocupam com o outro. Até, às vezes, muito mais do que nós, cristãos. Este

fato me chocou. Eu fui confrontado a fazer a diferença de alguma maneira, e

minha fé aumentou. Passei a meditar mais no plano integral de Cristo para a

vida das pessoas e ver no outro o reflexo de Deus. Como se diz em Romanos

12:2 e Mateus 22:27-39, é preciso fazer a diferença e manifestar o amor de

Deus reconhecendo aquele que sofre ao meu lado. Amar mais a meu próximo

significa amar a Deus.

RICHARLLS MARTINS, IGREJA METODISTA, BRASIL

Vivemos em um mundo onde a Palavra de Deus é usada para justificar a vio-

lência, a guerra, a exclusão da atenção médica, a impossibilidade do acesso à edu-

cação de qualidade. Neste tempo em que as posições religiosas diferentes consti-

tuem uma ameaça, o movimento ecumênico diz que outro mundo é possível.

Um mundo:

➭ Onde a separação dos povos de etnias diferentes não exista mais. Na década

de 70, o CMI impulsionou o programa de Combate ao Racismo, que trouxe gran-

ECUMENISMO É SER

TESTEMUNHA A FAVOR

DA JUSTIÇA EM TODAS

AS SUAS FORMAS

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32 | Ecumenismo

de contribuição para o fim do apartheid na África do Sul (ver http://www.wcc-

coe.org/wcc/what/jpc/racism-e.html/)

➭ Onde o massacre dos povos, em especial dos povos indígenas, não exista mais.

Nos dias de conflito armado na Guatemala, o Clai teve uma participação desta-

cada no processo de encontrar o caminho para a paz naquele país.

➭ Onde a exclusão econômica em tempos de globalização deixe de existir. Em nosso

tempo, as juventudes ecumênicas do Clai e da Fumec têm impulsionado a reflexão

e ação por alternativas de vida digna e justa para jovens e estudantes.

➭ Onde a injustiça exercida contra as mulheres não continue. Todos os organis-

mos ecumênicos têm trabalhado na sensibilização das Igrejas em torno da im-

portância da liderança da mulher e para impulsionar um modelo da liderança

compartilhada de gênero.

➭ Onde a guerra seja coisa do passado. Atualmente, o CMI impulsiona um pro-

grama para superar a violência em todas as suas formas, ativamente envolven-

do as Igrejas e as comunidades em todo o mundo (ver http://www.

superarlaviolencia.org/).

“Nós somos um” é uma canção que nós cantamos na minha igreja. “Nós somos

um, somos um, somos um no Espírito. Aleluia. Aleluia”. Quando eu cantava essa

música, tinha uma visão limitada de quem era o “nós”. Aqui, nós viemos de

vários lugares, com experiências de vida diferentes, falamos diversos idiomas,

mas Deus nos uniu. Nós somos um, e isto me dá forças, porque eu sei que a

luta por justiça e igualdade não é uma luta que se faz sozinha. Unidos, em

Cristo, nós poderemos transformar o mundo.

SHARELLE BARBER, IGREJA METODISTA UNIDA, ESTADOS UNIDOS

A missão da igreja não pode ser levada adiante sem um forte componente ecu-

mênico. Um mundo mais fraterno, solidário e justo necessita da sensibilidade, da

Não queremos que os jovens falem na 9ª Assembléia do Conselho Mundial de Igrejas (CMI) em

Porto Alegre, em 2006, mas que a Assembléia fale com uma voz jovem. Para mim, este paradigma

respeita e reconhece o fato de que nós, a juventude, somos igreja e movimento ecumênico.

Natalie Maxson, Programa de Juventude do CMI, http://www.wcc-assembly.info/

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JUVENTUDE: RESSUSCITADORA DE ESPERANÇA | 33

QUESTÕES PARA REFLEXÃO

★ Tem sua igreja, em nível local e nacional, um compromisso ecumênico?

★ Como se pode expressar a dimensão espiritual do ecumenismo, através da

oração, compartilhar da Palavra de Deus, e celebração litúrgica?

★ Como o trabalho conjunto das Igrejas pode contribuir para um mundo mais

justo e solidário?

★ Que contribuição pode fazer a juventude ao dialogar e trabalhar no serviço

conjunto com outras igrejas, pessoas de outras religiões, e com quem não

participa de uma fé religiosa?

reflexão e do compromisso de todas as igrejas, trabalhan-

do ombro a ombro no testemunho e serviço. O Movimen-

to Ecumênico necessita das mãos dos jovens, homens e

mulheres, dispostos a compartilhar a sua experiência de

fé com irmãos e irmãs de outras Igrejas, pessoas de outras

religiões e organizações da sociedade civil.

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34 | Ecumenismo

Juventude e participaçãoecumênica

TAMARA L. WALKER

Igreja Metodista Unida, Estados Unidos

Freqüentemente, há obstáculos significativos à participação da juventude em pro-

cessos ecumênicos. Muitos destes obstáculos são baseados em mitos. Vejamos al-

guns exemplos destes mitos:

MITO: Se um pastor ou um Bispo apóia a participação da juventude em processos

ecumênicos, então a juventude deixará sua igreja local.

FATO: A juventude freqüentemente se sente fortalecida por sua participação em

processos ecumênicos. E levam suas forças, talentos, dons e habilidades para suas

igrejas locais.

MITO: Se os jovens estão fazendo trabalho ecumênico, então não estão fazendo

trabalho da igreja.

FATO: Somos chamados como pessoas cristãs a trabalhar juntas para o bem da

humanidade e da criação. Podemos fazer junt@s o que não podemos fazer sozinh@s.

Trabalho ecumênico é todos nós trabalhando juntos. Na verdade, a juventude pode

aprender muito sobre cristianismo através do trabalho ecumênico. Pode fortale-

cer seus compromissos de fé de uma maneira profunda e significativamente rele-

vante.

MITO: A juventude não conhece muito a Igreja Metodista, assim que o envolvi-

mento ecumênico somente os confundirá acerca do que os metodistas acreditam.

FATO: A juventude não é nada superficial. Trabalhar ecumenicamente inspira e de-

safia as e os jovens a aprenderem e entenderem mais sobre a sua própria denomi-

nação. Quando jovens metodistas trabalham ecumenicamente, isto os torna me-

lhores metodistas!

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JUVENTUDE: RESSUSCITADORA DE ESPERANÇA | 35

MITO: A juventude vai abandonar a sua identidade wesleyana se participar de pro-

cessos ecumênicos.

FATO: A história e as tradições do “povo chamado metodista” estão enraizadas no

trabalho conjunto com outros cristãos e cristãs em defesa da dignidade, vida, justi-

ça e bem-estar nas comunidades. O trabalho ecumênico freqüentemente faz a ju-

ventude se sentir muito orgulhosa de ser metodista.

MITO: Nossa igreja não tem fundos suficientes nem tempo para fazer nossos pró-

prios programas. Então, como poderíamos apoiar programas ecumênicos?

FATO: A Bíblia não nos diz que eles “reconhecerão que nós somos cristãos” por nos-

sos orçamentos de programas nem por quantos projetos de missão nós “possuí-

mos.” Não, a Bíblia nos diz que eles “reconhecerão que nós somos cristãos por nos-

so amor.” Na área de missão e defesa dos direitos, há muito por fazer. Com o sofri-

mento, a violência e a exploração que acontecem neste mundo hoje, as igrejas pre-

cisam trabalhar juntas. Necessitamos ser testemunhas vivas da palavra de Deus e

da unidade de Cristo. Agir como se as nossas denominações detivessem a posse

da missão de Deus é contrário ao ensinamento cristão.

O que você pode fazer para desconstruir esses mitos?

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JUVENTUDE: RESSUSCITADORA DE ESPERANÇA | 37

A diversidade étnico racial brasileira leva muitas pessoas a crer que vivemos em

uma democracia racial. Acredita-se por isso que neste país não há racismo, porém,

a história do passado e do presente nos revela o preconceito racial em sua face

mais hostil. Ou seja, o racismo velado ou não assumido é racismo legitimado.

Neste momento, meu olhar volta-se ao preconceito contra a diversidade étni-

co racial em relação às mulheres e homens afro-descendentes. Povo que durante

séculos não teve reconhecida sua condição de ser humano, sendo transformado

em objeto à venda. Vale ressaltar que esta era a visão do europeu cristão que

permeava a escravização das nações africanas, marginalizando assim a cultura, tra-

dições e o conhecimento originários desses povos. O movimento mercantilista (com

início por volta do século XIV) tinha um caráter religioso, digamos assim, um plano

de salvação. Salvação que fazia vistas grossas à palavra de Deus, legitimando assim

a escravidão.

“Ai daqueles que edificam a sua casa com injustiça, e os seus aposentos, sem

direito! Que se vale do serviço do seu próximo, sem paga, e não lhe dá o salário.”

(Jeremias 22 13).

Amar ao próximo em sua totalidade é incluir @ excluíd@ no processo de

construção de um mundo melhor, acreditando, assim, que amar a Deus é

sinônimo de amor ao pobre, @ marginalizad@, @ excluíd@. Amar a quem não

tem esperança.

RICHARLLS MARTINS, IGREJA METODISTA, BRASIL

DIVERSIDADE E IDENTIDADE

Felizes os que têm sede de justiça!

JULIANA DE SOUZA

Igreja Metodista, Brasil

Pesquisa de opinião realizada pela Fundação Perseu Abramo em 2003 mostrou que 87% d@s brasileir@s acreditam

que há racismo no Brasil. Curiosamente, somente 4% d@s entrevistad@s reconhecem que são racistas. Este é um dos

pontos-chave da nossa Campanha: existe racismo sem racistas?

Campanha Onde Você Guarda o seu Racismo? Diálogos contra o Racismo, pela Igualdade Racial. http://www.dialogoscontraoracismo.org.br/

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38 | Diversidade e identidade

Este passado nos revela o presente onde não há reconhecimento devido das

contribuições do povo africano na formação da sociedade brasileira nem a valori-

zação cultural de suas raízes. As pessoas afro-descendentes não são discriminadas

porque são pobres, mas são pobres porque são discriminadas.

As estatísticas também nos mostram a dimensão do preconceito racial no Brasil1:

✓ No geral, a população negra ganha em média 2,2 salários mínimos mensais,

enquanto a população branca, 4,5 mínimos.

✓ O ensino superior brasileiro é um dos mais elitistas do mundo. Menos de 5%

dos afro brasileiros e menos de 0,5% dos indígenas conseguem chegar aos ban-

cos das universidades. Quando a universidade é pública e o curso é concorrido,

a situação é ainda mais grave.

✓ Entre os 1% mais ricos, 88% são brancos, enquanto os negros representam 77%

dos 10% mais pobres.

✓ Somente nas regiões metropolitanas de São Paulo e do Rio de Janeiro, 5 mi-

lhões da população negra vivem abaixo da linha de pobreza.

Discriminação racial significa qualquer distinção, exclusão, restrição ou preferência baseada na raça, cor, ascendência,

origem nacional ou étnica que tenha como objetivo ou efeito destruir ou comprometer o reconhecimento, o gozo ou o

exercício, em condições de igualdade, dos direitos humanos e das liberdades fundamentais nos domínios político,

econômico, social e cultural ou em qualquer outro domínio da vida pública.

Convenção Internacional sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Racial, ONU, janeiro de 1969. http://www.rndh.gov.br/

racismo.html/

Enfatizamos que a pobreza, o subdesenvolvimento, a marginalização, a exclusão social e as disparidades econômicas

estão intimamente associados ao racismo, discriminação racial, xenofobia e intolerância correlata e contribuem para

a persistência de práticas e atitudes racistas, as quais geram mais pobreza.

Declaração e Programa de Ação, Conferência Mundial Contra o Racismo, Discriminação Racial, Xenofobia e Intolerância Correlata, ONU, Durban,

2001. Disponível na Biblioteca Virtual de Direitos Humanos da Universidade de São Paulo – http://direitoshumanos.usp.br/

1 Estatísticas extraídas do site http://www.fale.org.br/

ACREDITAMOS QUE SOMOS AGENTES NA CONSTRUÇÃO DE UM MUNDO MELHOR

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JUVENTUDE: RESSUSCITADORA DE ESPERANÇA | 39

Artigo 3º da Constituição Federal do Brasil, promulgada no dia 5 de outubro de 1988, afirma que entre os objetivos

fundamentais da República está o de promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e

quaisquer outras formas de discriminação. E ainda no Artigo 5º declara que racismo é crime inafiançável e

imprescritível.

Reconhecemos que a religião, a espiritualidade e as crenças desempenham um papel central nas

vidas de milhões de mulheres e homens, e no modo como vivem e tratam as outras pessoas.

Religião, espiritualidades e crenças podem e devem contribuir para a promoção da dignidade e

dos valores inerentes à pessoa humana e para erradicação do racismo, discriminação racial,

xenofobia e intolerância correlata.

Embora a Constituição Federal assegure a todas as pessoas uma série de ga-

rantias como educação, saúde e direito ao trabalho, a população negra não usufrui

justamente desses recursos. Este é um dos difíceis contextos que fazem parte do

meu país, contexto que dá margem a grande desigualdade social.

Desde a época em que meus ancestrais eram escravizados, havia movimentos de

resistência. Os Quilombos e, hoje, o movimento negro são exemplos desta resistência.

Minha participação no Seminário de Identidade Wesleyana e Fórum Social Mundial

possibilitou a interação com jovens do mundo inteiro que também sentem-se

inconformados com as injustiças praticadas contra os sem nome. Nós acreditamos que

somos agentes na construção de um mundo melhor, e sabemos que nossa herança

wesleyana nos convoca à missão e responsabilidade social, não à omissão.

Reconhecemos que o diálogo e o intercâmbio nacionais e internacionais e o

desenvolvimento de uma rede mundial entre a juventude são elementos importantes e

fundamentais na construção do entendimento e respeito interculturais e contribuirão

para a eliminação do racismo, discriminação racial, xenofobia e intolerância correlata.

Declaração e Programa de Ação, Conferência Mundial Contra o Racismo, Discriminação Racial, Xenofobia e Intolerância

Correlata, ONU, Durban, 2001. Disponível na Biblioteca Virtual de Direitos Humanos da Universidade de São Paulo – http://

direitoshumanos.usp.br/

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40 | Diversidade e identidade

QUESTÕES PARA REFLEXÃO

★ De que forma você percebe a discriminação racial segundo a definição da

Convenção – ”distinção, exclusão e restrição baseada na raça, cor, ascendência,

origem nacional ou étnica” – em seu país ou/e igreja?

★ Qual a forma efetiva de a juventude promover o diálogo para superação do

racismo em sua comunidade ou/e igreja?

★ Que estratégias podem ser utilizadas para promover a inclusão social, racial e

étnica em todos os seus níveis de ação e decisão da organização de juventude?

Igreja: espaço de inclusão e resgate de cidadania

Diferente do que a história nos mostra, a Igreja pode e deve ser um espaço de

inclusão e resgate da cidadania daqueles e daquelas que sofrem as conseqüências

da escravidão, desigualdade e preconceito. Em resposta a este dever, estamos ca-

minhando rumo à implantação do Ministério de Ações Afirmativas para Afrodes-

cendentes na sede regional da Igreja Metodista, em São Paulo, Brasil. Uma de nos-

sas propostas é avaliar o material produzido pela Igreja desde a perspectiva da

inclusão racial.

Como juventude metodista, estejamos atentos à importância de valorizar a

diversidade e a inclusão social e racial/étnica em nossas comunidades.

“Bem-aventurados os que têm sede de justiça porque serão saciados” (Mateus 5:6).

As igrejas afirmam sua vocação “para responder ao evangelho do amor de Deus em Cristo e de vivificar seu

Discipulado em culto e missão”, reconhecendo que a igreja existe para:

✓ Incrementar a consciência da presença de Deus e celebrar o amor de Deus.

✓ Ajudar as pessoas a crescerem e aprenderem como cristãos e cristãs por meio de apoio e cuidado recíprocos.

✓ Sermos bons vizinh@s para com pessoas em necessidade e desafiar o racismo e a injustiça na vida cotidiana.

✓ Reconhecermos a diversidade e a diferença como dádivas da criação de Deus.

✓ Reconhecermos que Deus pode mudar tanto as pessoas quanto as situações que envolvem racismo.

Justiça Transformadora: Ser Igreja e Superar o Racismo. Cartilha. Conselho Mundial de Igrejas, 2004.

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JUVENTUDE: RESSUSCITADORA DE ESPERANÇA | 41

Um Evangelho muito alémdo gênero ou da raçaJoão 4:1-12

ILIA M. VÁZQUEZ GASCOT

Igreja Metodista, Porto Rico

O modelo de Jesus não deixa dúvidas sobre as relações com outras pessoas, tendo

em conta a questão do gênero ou da raça. O encontro com a mulher samaritana

nos mostra um Jesus que toma a iniciativa do diálogo, rompendo com as barreiras

que o seu tempo e cultura lhe tinham imposto (João 4:1-30). São os preconceitos

que ele ignora e que a mulher tinha internalizado que vêm à tona diante das dife-

renças entre suas culturas. Não obstante, isso não impede Jesus de continuar o

diálogo com aquela mulher. Ele não desiste do seu plano de oferecer água viva

que saciará uma sede que ela mesma não compreende.

Preconceitos como os presentes no tempo de Jesus continuam presentes no

nosso tempo. As diferenças por questão de gênero nos distanciam de viver o Rei-

no. Falar de gênero é falar das diferenças sociais e relacionais entre os homens e

mulheres. Diferenças aprendidas e passíveis de mudança com o tempo e que apre-

sentam uma grande variação entre as diversas culturas e até mesmo dentro de

uma mesma cultura. Estas diferenças e relações são uma construção social e têm

sido aprendidas através do processo de socialização. São específicas de um con-

texto e por isso podem ser modificadas. Estas diferenças têm definido nossas vi-

das, impactado nossa formação, a maneira como falamos, pensamos e tratamos as

demais pessoas.

Discriminação de gênero e raça em um mundo em desenvolvimento não faz

sentido. Ainda que se verifiquem focos de discriminação, as mulheres são

capazes de fazer o que os homens fazem. Deve haver igualdade. Num mundo

possível, a raça deve ser respeitada. Somos todos filhos de Deus. Por um

mundo livre de racismo e com igualdade de direitos entre homens e mulheres!

Um outro mundo é possível.

MERGINA JOÃO BAPTISTA MATIMBE, IGREJA METODISTA UNIDA, MOÇAMBIQUE

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42 | Diversidade e identidade

As diferenças por causa do gênero são utilizadas para justificar a violência con-

tra as mulheres ao redor do mundo. A violência física, emocional, psicológica, se-

xual acontece com mulheres de todas as sociedades, classe social, raça ou religião.

✓ 60% dos pobres do mundo são mulheres.

✓ 500 mil mulheres morrem ao ano por complicações na gravidez.

✓ As mulheres representam dois terços dos adultos analfabetos do mundo.

✓ Entre 3 e 4 milhões de mulheres são golpeadas a cada ano no mundo.

✓ Uma de cada cinco mulheres será vítima de violação ou de uma tentativa de

violação no curso de sua vida.2

A Igreja não pode permanecer silenciada e imobilizada diante da injustiça e do

abuso. Jesus caminhou em seus dias sem etiquetar as pessoas por seu gênero ou

raça; ele via nelas a necessidade, e com compaixão se aproximava. Não via as dife-

renças, via as possibilidades. Um encontro entre Jesus e uma mulher samaritana

foi o detonador para que muitos alcançassem a salvação. Jesus viu muito mais que

uma mulher ou muito mais que uma samaritana. Ele superou os preconceitos que

seu tempo e cultura impunham na relação homem e mulher, e judeu e samaritano

(João 4:27). O poder do evangelho e a fome por cumprir a vontade do seu Pai não o

deixaram ignorar aquela oportunidade de oferecer a água da vida àquela mulher.

Constatamos que a violência contra as mulheres, seja física, sexual, psicológica, econômica ou espiritual, é uma realidade em nossas igrejas

e países. Desta forma, nos comprometemos a nomear essa violência e dizer BASTA. Violência é pecado, e Deus nos chama à salvação.

Mensagem das Mulheres de Língua Portuguesa às Igrejas-membro do Conselho Mundial de Igrejas a propósito da 9ª. Assembléia do CMI. Porto Alegre. 2005.

2 Organização Mundial de Saúde, 1997.

VIOLÊNCIA É

PECADO. DEUS NOS

CHAMA À SALVAÇÃO

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JUVENTUDE: RESSUSCITADORA DE ESPERANÇA | 43

Um encontro verdadeiro com Jesus nos deixa a descoberto, revela quem so-

mos e nos impele a compartilhar com as pessoas essa experiência. A samaritana

também foi compartilhar a água, não a água que poderia ter tirado do poço, pois o

cântaro permaneceu junto a ele. Ela compartilhou a água da vida que o mesmo

Jesus lhe deu. Foi o testemunho dessa mulher, através da experiência de superação

das barreiras, que a tornou o instrumento de salvação de muitos (João 4:39-42).

Faz alguns anos o tema de minha Igreja era “Unidos na diversidade”. Uma frase

muito significativa que me fazia pensar muito na união que devemos ter como

membros de uma Igreja. No entanto, ao participar do FSM, pude experimentar

e apalpar a diversidade como uma forma de entender que neste mundo há

muitos que crêem que outro mundo é possível a partir de nós mesmos,

deixando de lado a discriminação tanto de gênero quanto de raça, com a qual

estamos acostumados a viver. É muito necessário o trabalho e o esforço de

todas as pessoas, entendendo que tudo o que se faz é de igual importância

diante do sonho de um mundo melhor e na construção do Reino de Deus.

FABIOLA ALEJANDRA GRANDÓN TOLEDO, IGREJA METODISTA, CHILE

A Plataforma de Ação de

Beijing, aprovada na Confe-

rência da Mulher, Organiza-

ção das Nações Unidas, ONU,

1995, reconhece que a indi-

gência e a feminização da

pobreza, o desemprego, a

crescente fragilidade do

meio ambiente, a contínua

violência contra a mulher e a

exclusão generalizada da

metade da humanidade das

instituições de poder e

governo colocam em desta-

que a necessidade de conti-

nuar lutando para conseguir

o desenvolvimento, a paz, a

segurança e encontrar solu-

ções para alcançar um de-

senvolvimento sustentável,

centrado nas pessoas.” Para

alcançar estes objetivos, a

Plataforma convoca os

governos e a sociedade civil,

incluindo igrejas, a atuarem

nas seguintes áreas de

especial preocupação:

1. Persistente e crescente

peso da pobreza que afeta a

mulher

2. Desigualdade de acesso

à educação e à capacitação

profissional

3. Desigualdades em maté-

ria de atenção para saúde e

serviços afins

4. Todas as formas de vio-

lência contra a mulher

5. Conseqüências dos

conflitos armados ou outros

tipos de conflitos sobre as

mulheres, incluindo aquelas

que vivem em áreas sob

ocupação estrangeira

6. Desigualdade de acesso

e de participação da mulher

na definição das estruturas e

das políticas econômicas no

processo de produção e no

acesso aos recursos

7. Desigualdade entre a

mulher e o homem no exer-

cício do poder e na tomada

de decisões em todos os

níveis.

8. Ausência de mecanismos

suficientes, em todos os

níveis, para promover o

avanço da mulher

9. Ausência de respeito e

promoção e proteção inade-

quadas de todos os direitos

humanos da mulher

10. A mulher e os meios de

comunicação, estereo-

tipagem e desigualdade de

acesso

11. A mulher e o meio ambi-

ente, desigualdade no

gerenciamento dos recursos

naturais e salvaguarda do

meio ambiente

12. Persistência da discrimi-

nação contra a menina e

violação de seus direitos

Plataforma de Ação da Conferência Mundial da ONU sobre a Mulher, Beijing , 1995. Disponível no site de Cepia, RJ. http://www.cepia.org.br/doc/leis3.pdf/

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44 | Diversidade e identidade

QUESTÕES PARA REFLEXÃO

★ Que mensagem da parte de Deus você recebe das mulheres e dos povos de

outras raças?

★ Como a juventude tem sido instrumento de Deus para a salvação ao compartir

a água da vida que confronta todas as formas de discriminação?

★ O que a organização de juventude está fazendo para eliminar a discriminação

de gênero e de raça em nível local e global?

Tal como fez Jesus, é nosso dever tomar a iniciativa de superar as barreiras

que temos aprendido e conservado consciente ou inconscientemente. A eli-

minação de todas as formas de discriminação é a base para vivenciarmos o

evangelho, e passar adiante esta água da vida. Se nós alcançamos a água da

vida, como não compartilhar com aqueles e aquelas que nós sabemos terem

sede?

“Não pode haver judeu nem grego, nem escravo nem livre, nem homem

nem mulher, porque todos vós sois um em Cristo Jesus” (Gálatas 3:28). A igual-

dade de todos os seres humanos diante de Deus tem que se concretizar em

termos de direitos e responsabilidades na igreja e na sociedade3.

Um novo mundo tornar-se-á possível a partir do momento em que

olharmos à nossa volta, munid@s de total iniciativa, com o intuito de

implantar uma solidariedade desprovida de preconceitos e condições.

PAULA DO NASCIMENTO SILVA, IGREJA METODISTA, BRASIL

Que nossos olhos e ouvidos estejam abertos à mensagem que Jesus nos

dá hoje através das mulheres e de pessoas diferentes de nós, diferentes do

ponto de vida cultural, religioso, social ou racial. E ainda, nos fortaleça na su-

peração das barreiras e valorização das diferenças.

3 Comentário Biblia NVI, em espanhol.

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JUVENTUDE: RESSUSCITADORA DE ESPERANÇA | 45

Quem é meu próximo?Lucas 10:25-37

SHARRELLE BARBER

Igreja Metodista Unida, Estados Unidos

No texto bíblico acima, o intérprete da lei coloca uma questão que eu venho con-

siderando nestes últimos meses após a minha participação no Seminário de For-

mação de Liderança: Identidade Wesleyana e Fórum Social Mundial – quem é o

meu próximo? Desde esta data, eu não tenho ficado satisfeita com a noção limita-

da de que um vizinho é alguém que vive próximo a mim ou pessoas que eu estou

acostumada a ver todos os dias. Agora, quando eu penso sobre minha igreja local,

eu não posso deixar de pensar sobre os cerca de 60 ou mais mulheres e homens,

jovens cristãos, de todos os Estados Unidos e do mundo com quem eu tive o pra-

zer de cantar, orar e estudar a palavra de Deus no Brasil. Quando eu penso em te-

mas como pobreza e injustiça nas periferias das cidades e comunidades rurais no

meu país, eu não posso deixar de pensar na pobreza devastadora em outras partes

do mundo. Quando eu penso sobre a interminável praga dos baixos salários que

não permite às pessoas prover suas famílias aqui, nos Estados Unidos, eu não pos-

so deixar de considerar aqueles, em outros países, que são explorados e pratica-

mente roubados de seu trabalho e seus recursos naturais.

JUSTIÇA ECONÔMICA

Em 2004, 37 milhões de pessoas (12,7%) viviam em situação de pobreza nos Estados Unidos. Em 2003, eram 35,9

milhões (12.5%) de pessoas.

24,7% dos negros e 21,9% dos hispânicos continuam em situação de pobreza nos EUA, enquanto os brancos não-

hispânicos totalizaram 8,6% em 2004 e 8,2% em 2003.

Tanto o índice quanto o número de pobreza aumentou para pessoas entre 18 e 64 anos (11,3% e 20,5 milhões em 2004).

U.S. Census Bureau. Poverty: 2004 Highlights: http://www.census.gov/hhes/www/poverty/poverty04/pov04hi.html/

A renda anual dos 1% mais ricos da população mundial é equivalente à renda dos 57% mais pobres do

planeta. Os ricos ficam mais ricos e os pobres ficas mais pobres. A renda dos 5% mais ricos do mundo é

114 vezes maior do que a renda dos 5% mais pobres. Se os ricos dividissem apenas 5% de sua riqueza, as

necessidades básicas de toda humanidade do planeta seriam atendidas.

Clarissa Balan, Economic Justice and Globalization. Together in Action for Peace and Reconciliation. Asia Pacific Students and

Youth Gathering, 2004. p 63.

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46 | Justiça econômica

Minha compreensão sobre o próximo tem na verdade se ampliado, e isto refle-

te a realidade da comunidade global, de que todos nós somos parte. Esta compre-

ensão sobre o próximo é uma virtude que nós, como juventude e Igreja, devemos

assumir para que possamos amar nosso próximo como Cristo nos ensinou. Isto é

uma reação contrária à cultura de uma sociedade, que, de muitas maneiras, nos

mantém divididos e nos ensina a nos preocupar somente com o nosso bem-estar.

Dentro da Igreja, nós precisamos constantemente relembrar que em todo o

mundo nós temos vizinhos que professam Cristo e que estão tentando viver a sua

fé tanto no nível pessoal como no comunitário. Esse sentido de singularidade e

unidade dentro da Igreja tornou-se vivo para mim no Seminário de Formação de

Identidade Wesleyana. Todos nós éramos de diferentes países, culturas e experiên-

cias de vida, e ainda éramos capazes de cantar, orar, estudar a palavra de Deus e

falar de temas que afetam nossas comunidades. Esse sentido de unidade me im-

pacta ainda hoje, e tem sido uma fonte de força para mim. Eu sei que, às vezes, em

face da imensa tarefa de cuidar dos pobres e lutar e resistir em nome da justiça e

retidão, estou unida a meus irmãos e irmãs em volta do mundo.

Como metodistas, espalhados pelo mundo, compartilhamos algo que nos une

de maneira especial, esse algo é nossa fé em Deus. Este Deus que nos chama

a amar ao nosso próximo como a nós mesmos. Percebi que o nosso próximo

não está apenas aqui, na minha cidade, ou no Brasil, mas está em todos os

cantos deste planeta que os filhos e as filhas de Deus compartilham.

TIAGO CERQUEIRA LAZIER, IGREJA METODISTA, BRASIL

Como Igreja, unida pelo Espírito Santo, nós devemos reconhecer com intensi-

dade que nossos próximos são aquel@s que vivem neste mundo em sofrimento, e,

MEU PRÓXIMO É AQUELE

QUE VIVE EM

SOFRIMENTO E EM

SITUAÇÃO DE

VULNERABILIDADE

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JUVENTUDE: RESSUSCITADORA DE ESPERANÇA | 47

como cristãos e cristãs, nós temos a obrigação de agir com misericórdia. Nós deve-

mos mostrar às pessoas que as amamos, e fazemos isto através do nosso desejo de

cuidar delas nas situações de mais vulnerabilidade e denunciando os sistemas neste

mundo que as mantêm nesta situação. Antes de participar do FSM, eu estava cons-

ciente de alguns temas sociais que as pessoas discutem ao redor do mundo, mas

esta experiência me permitiu aprofundar minha sensibilidade, e me fez compreen-

der que, como Igreja, precisamos tomar seriamente nosso chamado ao amor e cui-

dado dos mais pequeninos de Deus. Nós não podemos nos dar ao luxo de dar às

costas como se os problemas não existissem.

Parece fácil dar às costas a temas como o mercado livre quando se está

tomando uma coca-cola, ignorando assim a crueldade daqueles que se

beneficiam do sofrimento dos outros.

JOSÉ SAAVEDRA, IGREJA METODISTA UNIDA, ESTADOS UNIDOS

Como o bom samaritano no texto, nós temos que estender a mão e cuidar

daqueles que têm caído nas armadilhas dos “ladrões” deste mundo. Ladrões como

corporações transnacionas que exploram o pobre através de salário mínimo por

trabalho máximo e extração dos recursos naturais dos países. Ladrões como go-

vernos que roubam a inocência das crianças e roubam a paz das nações através

de guerras desnecessárias por dinheiro e poder. Ladrões como as nações ricas

que se recusam a tratar do tema da pobreza dentro de sua própria nação e em

outras nações menos influentes, e roubam assim a milhões de pessoas o provi-

mento de suas necessidades básicas como alimento, água, roupa e abrigo. Nós

A Igreja está colocada em um mundo de crescente desigualdade. Mesmo nos Estados Unidos, onde há 268 bilionários,

uma grande maioria das crianças vive abaixo da linha de pobreza. Os 1% americanos mais ricos receberam em 1999

tanto quanto os 38% mais pobres combinados. Em muitos países pobres na Áfria e Ásia, a pobreza é muito mais

profunda e a distância entre ricos e pobres excede a do homem rico e Lázaro (Lucas 16:19-31). Em tal circunstância, a

Igreja precisa decidir se sua missão de pregar as boas novas aos pobres significa somente boas novas para a vida

espiritual ou boas novas para a pessoa integral.

The United Methodist Church. My Spiritual Journey. Book of Resolutions. Pathways to Economic Justice. 2004. http://archives.umc.org/

interior_print.asp?ptid=4&mid=920/

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48 | Justiça econômica

QUESTÕES PARA REFLEXÃO

★ Quem é o seu próximo? Por quê?

★ Quais são os grupos sociais em condição de mais vulnerabilidade,

marginalização e exclusão em sua comunidade?

★ Quais são os sistemas de poder e as estruturas sociais, políticas e econômicas

que mantêm homens, mulheres, crianças e jovens marginalizados e vulneráveis?

★ Como a organização de juventude estende a mão “àqueles que caíram entre

os ladrões”, no contexto da análise de Sharelle Barber?

precisamos cuidar e denunciar em nome daqueles e daquelas que caíram entre

os ladrões, porque será Jesus que nos cobrará se alimentamos @s famint@s, de-

mos de beber @ sedent@, vestimos @s desnud@s e visitamos @s prisioneir@s. E

se nos recusamos a fazer alguma destas coisas, estamos recusando a ser o próxi-

mo dEle (Mateus 25:31-36).

Como juventude e Igreja, somos chamadas a ser próximo umas das outras e

daquel@s que neste mundo estão em sofrimento. Quando entendermos isto, ver-

dadeiramente poderemos começar a amar como Cristo nos chamou a amar.

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JUVENTUDE: RESSUSCITADORA DE ESPERANÇA | 49

Juventude metodistaparticipa da campanha peloperdão da dívida externa

MERGINA JOÃO BAPTISTA MATIMBE

Igreja Metodista Unida, Moçambique

Mergina Matimbe é parte da liderança de jovens da Igreja Metodista Unida na

sua província em Moçambique. Ao retornar ao seu país, após participar da Dele-

gação Global de Juventude Metodista no Fórum Social Mundial, Mergina com-

partilhou sua experiência com a juventude. No debate de vários temas que afe-

tam a realidade da juventude, foi tomada a decisão de engajar-se na campanha

global pelo perdão da dívida dos países pobres. Moçambique é um país em vias

de desenvolvimento, e a juventude quer que os países mais ricos que compõem

o G81 tomem decisões efetivas para o combate à injustiça econômica, e uma de-

las é o perdão da dívida externa.

A DÍVIDA É UMA FORMA DE

ESCRAVIDÃO TÃO HORRENDA

COMO A DO COMÉRCIO DE

ESCRAVOS

1 G8 significa “Grupo dos 8” países mais ricos do mundo. Começou em 1975, quando o presidente francês Giscard d’Estaing

convidou líderes do Japão, Estados Unidos, Alemanha, Reino Unido e Itália para discutir os problemas econômicos do dia.

Canadá entrou no Grupo em 1976 e a Rússia em 1998. http://www.g8.gov.uk/

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50 | Justiça econômica

A redução da pobreza absoluta dos países africanos como, por exemplo, Mo-

çambique, que é o meu país, é fundamental, afirma Mergina. É hora de agir, chega

de debates sem reação. Paremos e criemos forças para pôr em prática aquilo que

são os nossos pensamentos que podem mudar o mundo actual.

Escutem as palavras de esperança de Mergina Matimbe: Um outro mundo é

possível, sem guerras. Um outro mundo é possível, sem complexos de superiorida-

de e/ou de inferioridade, não importa a raça, a etnia, os costumes, religião e cultu-

ra. Um outro mundo é possível sem doenças. Um outro mundo é possível se um

dia admitirmos que somos de uma só carne, somos uma única pessoa e pertence-

mos a Cristo.

Todos os jovens e as jovens são convocados, chamados, não só para ouvir, mas

a arregaçar as mangas, e levar avante a nossa identidade para atingir esse mundo

possível.

Em 1997, Moçambique ocupava o 169º lugar entre os 175 países em termos de Desenvolvimento Econômico,

segundo o Relatório da ONU sobre Desenvolvimento Humano. Este índice revela, entre outras situações, o estado

precário de saúde, especialmente de mulheres e crianças, o limitado acesso à educação e a alta taxa de

mortalidade infantil. O elevado montante da dívida compromete todos os esforços de tirar o país da pobreza e da

extrema pobreza.

Grupo Moçambicano da Dívida, http://www.divida.org/IMG/pdf/divida_publica.pdf/

A dívida é uma forma de escravidão tão horrenda como a do comércio de escravos.

Conselho de Toda África, África em Ação. http://www.africaaction.org/campaign_new/debt.php/

É HORA DE AGIR

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JUVENTUDE: RESSUSCITADORA DE ESPERANÇA | 51

QUESTÕES PARA REFLEXÃO

★ Como você analisa a situação econômica e social do seu país, em

particular a da juventude?

★ Em que campanhas, em nível local e global, por justiça econômica

a juventude está envolvida?

★ Como a organização de juventude sensibiliza a comunidade para

“arregaçar as mangas e atingir esse novo mundo possível”?

Oração para a Missão

Querido Deus, que escolheu ser próximo a nós, mesmo quando

não nos colocamos como seu próximo, encha-nos com o seu

Espírito para que possamos verdadeiramente amar nosso

próximo dentro da Igreja e nosso próximo que está sofrendo

neste mundo. Dê-nos um coração capaz de se compadecer

deles e o desejo de cuidar deles nas situações mais vulneráveis.

Dê-nos palavras para denunciar as injustiças que os mantêm

vulneráveis. Ajude-nos a amá-los para que eles possam ver

Cristo em nós e queiram conhecê-lo por si mesmos. Em nome

do teu filho, Jesus Cristo, amém.

SHARRELLE BARBER,

Igreja Metodista Unida, Estados Unidos

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Uma prioridade da justiça

DAVI D WILDMAN

Igreja Metodista Unida, Estados Unidos1

A história dos direitos humanos é uma história das lutas humanas.

RELATÓRIO DAS NAÇÕES UNIDAS SOBRE O DESENVOLVIMENTO HUMANO, 2000

Em 1998, na Missão Diplomática dos Estados Unidos (EUA) às Nações Unidas, a ad-

ministração do governo americano deu um informe sobre o seu esforço em de-

nunciar os abusos de direitos humanos em várias nações. Então, uma pergunta foi

levantada: considerando a importância que os EUA dão aos direitos humanos, por

que os EUA têm demorado tanto para ratificar as convenções de direitos humanos,

e por que têm sido tão lentos em informar sobre a implementação das convenções

que ratificaram?

A resposta apontou para o longo processo que a administração precisa levar

para assegurar que cada convenção se ajuste às leis dos 50 estados americanos, e

ainda que isto só podia ser feito considerando cada Convenção de direitos huma-

nos por vez. No entanto, a mesma administração pressionou por uma deliberação

rápida quando o Congresso queria ratificar os acordos comerciais. Os EUA dedi-

cam mais de 1 bilhão de dólares por dia a guerras em volta do mundo. Os EUA

fazem enormes vendas de armas a nações com péssima atuação na área de direi-

tos humanos. Desta forma, a impressão é de que, na verdade, o comércio e a guerra

são mais prioritários do que os direitos humanos para os EUA.

Da retórica à responsabilidade

Os mensageiros da paz choram amargamente.... O tratado é quebrado, os seus ju-

ramentos são desprezados, a sua obrigação é desconsiderada. A terra geme e des-

falece. (Isaías 33:7-9)

DIREITOS HUMANOS

1 Uma versão deste artigo aparece na Revista New World Outlook, a revista de missão da Igreja Metodista Unida. Maio-Junho de

2003. Usado com permissão.

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54 | Direitos humanos

Há uma tremenda contradição entre a prioridade declarada pelo governo dos

EUA em direitos humanos e as suas práticas concretas. Desde a assinatura da De-

claração Universal de Direitos Humanos2 (10 de Dezembro de 1948), os EUA, lenta-

mente, quase mais do que qualquer outra nação, têm ratificado os acordos básicos

e Convenções de direitos humanos internacionais.

Mais de 20 anos depois da sua adoção, os EUA ainda não ratificaram:3

✓ a Convenção Internacional para os Direitos Econômicos, Sociais e Culturais

✓ a Convenção sobre a Eliminação da Discriminação contra as Mulheres

✓ os Protocolos I e II das Convenções de Genebra sobre a Proteção de Civis em

Conflito Armado

✓ Convenção sobre os Direitos da Criança

Direitos humanos como ato de fazer aliança

Em termos bíblicos, responsabilidade nos tratados de direitos humanos é tanto

um chamado à confissão pública como um chamado a amar (estar em solidarieda-

de com) o próximo. O caráter universal dos direitos humanos requer de quem tem

poder uma maior responsabilidade. Os direitos humanos, como a história do bom

samaritano, dão prioridade ao bem-estar e às necessidades daquele que é violado

e vulnerável em lugar dos privilégios de quem é poderoso.

Eu venho da região amazônica, uma terra rica em recursos naturais, mas onde

o povo passa fome.

FÁBIO SENA, IGREJA METODISTA, BRASIL

No Mississipi, o estado mais pobre dos Estados Unidos, as pessoas morrem

por falta de água e comida. Mas nós nos acomodamos nas nossas ideologias

e não fazemos nada. A Bíblia, no entanto, é um livro de esperança e ação.

THEON JOHNSON III, IGREJA METODISTA UNIDA, ESTADOS UNIDOS

2 Ver Cartilha de Direitos Humanos, produzida pela CESE, Bahia, Br. Inclui a Declaração Universal dos Direitos Humanos

articulada com textos bíblicos. Disponível na website: http://www.cese.org.br/Publicacoes.htm/

3 As Convenções internacionais elaboradas pelas nações membros da ONU, para entrar em vigor em nível nacional, devem ser

primeiro assinadas e depois ratificadas individualmente pelos estados-membros. Quando estas duas etapas são realizadas, o

governo nacional está se compromentendo a incluir os acordos internacionais nas leis nacionais e submeter-se ao

monitoramento de sua aplicação às diversas comissões da ONU. Sem a ratificação, o governo nacional está apenas declarando a

sua intenção de fazê-lo, desta forma, não fica sujeito a monitoramentos internacionais.

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JUVENTUDE: RESSUSCITADORA DE ESPERANÇA | 55

O processo de direitos humanos das Nações Unidas (ONU) reforça a nature-

za do ato de fazer aliança entre as nações, entre governos e povos, e entre o

próprio povo. Uma convenção não é um conjunto estático de leis, mas um rela-

cionamento ativo e vivo baseado no respeito mútuo, que pode ser fortalecido

ou rompido.

Em nosso mundo de vidas destruídas e comunidades divididas pelas ações er-

radas dos seres humanos, os movimentos de direitos humanos encarnam as lutas

das pessoas por justiça e integridade. Atrás de cada tratado ou convenção interna-

cional de direitos humanos, estão os gritos silenciados e lutas escondidas daque-

les que são violados. Direitos humanos como ato de fazer aliança não se encerram

no ato da ratificação, mas configuram um processo contínuo e dinâmico.

O Alto Comissariado é o principal funcionário da ONU responsável pelos direitos humanos. Seu propósito é dirigir o

movimento internacional de direitos humanos, desempenhando a função de autoridade moral e porta-voz das

vítimas. Diante das crises de direitos humanos, ele ou ela emite pronunciamentos para que a consciência de direitos

seja ouvida por todo mundo. O Alto Comissariado estimula o diálogo e fomenta a cooperação com os governos para

reforçar a proteção aos direitos humanos.

Oficina del Alto Comisionado de las Naciones Unidas para los Derechos Humanos: http://www.ohchr.org/spanish/about/hc/index.htm/

OS MOVIMENTOS DE DIREITOS

HUMANOS ENCARNAM AS LUTAS DAS

PESSOAS POR JUSTIÇA E INTEGRIDADE

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56 | Direitos humanos

Quatro etapas na luta por direitos humanos

➭ 1. DEFINIR OS PADRÕES UNIVERSAIS. O primeiro passo em direção à Conven-

ção de direitos humanos envolve o desenvolvimento de padrões universais

para lidar com problemas específicos (por exemplo, tortura, genocídio, vio-

lência contra mulheres, crianças ou civis em conflito armado). Uma vez que a

versão preliminar do tratado ou da convenção é finalizada, está aberto o perí-

odo para assinaturas (ou uma declaração de intenção) e ratificação (confir-

mação da intenção) pelos estados-membros do sistema das Organizações das

Nações Unidas. Tensão considerável emerge ao redor da dimensão universal

dos direitos humanos.

Quando Malcolm X falou em uma Igreja Metodista em Rochester, NY, EUA, ele

questionou uma visão estreita de direitos. Ele afirmou que “o movimento por

direitos humanos é um movimento conexional e universal de solidariedade.

Enquanto que no movimento de direitos civis seus únicos aliados são as pes-

soas da comunidade vizinha, muitos dos quais são responsáveis pela sua dor.

Mas quando você chama sua dor de direitos humanos, isto torna-se uma ques-

tão internacional. E então qualquer pessoa em qualquer lugar nesta terra pode

tornar-se seu aliado.” (16 de fevereiro de 1965)

➭ 2. ELABORAR PLANOS DE AÇÃO. Espera-se que os governos desenvolvam pla-

nos específicos para implementar os direitos e as responsabilidades esboçadas

em cada convenção. Os planos de ação variam desde as campanhas ou dias

comemorativos para aumentar a consciência (por exemplo, 8 de março – Dia

Internacional da Mulher; 21 de março – Dia Internacional para Eliminar a Dis-

criminação Racial) até a adoção de legislação e planejamento orçamentário

das prioridades.

Por exemplo, os EUA têm o índice mais alto de pobreza infantil de qualquer

nação industrializada. Ao ratificar a Convenção dos Direitos da Criança, os or-

çamentos federais e estaduais deverão incorporar fundos específicos e pro-

gramas para assegurar que cada criança tenha casa adequada, saúde, alimen-

tos, etc. Isto significa que os direitos humanos das crianças confrontariam os

interesses dos proprietários e acionistas por mais riqueza. Martin Luther King,

Jr. advertiu que “quando os lucros e direitos de propriedade são considerados

mais importantes do que as pessoas, o grande tripé racismo-militarismo-ex-

ploração econômica fica impossível de ser vencido.” (4 de Abril de 1967).

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JUVENTUDE: RESSUSCITADORA DE ESPERANÇA | 57

➭ 3. APRESENTAR O RELATÓRIO DE DIREITOS HUMANOS E INDICAR UM MONITO-

RAMENTO INDEPENDENTE. Cada governo que ratifica um tratado é obrigado a

submeter relatórios regulares aos órgãos de direitos humanos da ONU sobre

quão bem estão implementando os padrões de direitos humanos e os planos

utilizados para realizar os passos 1 e 2. Além disto, organizações de direitos

humanos, Relatores Especiais da ONU e peticionários individuais trazem à ONU

relatórios independentes sobre infrações de direitos humanos, para conside-

ração. Cada governo, então, deve responder as perguntas, críticas, e dar

continuadade às recomendações feitas pelos peritos da ONU.

O processo de monitoramento da ONU permite à nação “primeiro tirar o cisco

do (seu) próprio olho” (Mateus 7:5). Como a Bíblia, o monitoramento dos direi-

tos humanos conta a história na perspectiva de quem está à margem – a po-

bre, a perseguida e a vulnerável.

➭ 4. FAZER CUMPRIR OS DIREITOS HUMANOS – RENOVANDO A CONVENÇÃO. A

comunidade internacional tem obtido grandes resultados em estabelecer os

padrões universais, elaborar um plano de ação e realizar o monitoramento. Con-

tudo, a etapa da execução permanece precária e em grande parte dependente

dos estados-membros (que são alguns dos piores violadores dos direitos hu-

manos) para fiscalizarem-se a si mesmos.

Tragicamente, a maioria das tentativas de cumprimento dos direitos humanos

ocorre depois que as atrocidades tenham acontecido. As Comissões da Verda-

de na Guatemala, El Salvador, Haiti e África do Sul dão voz aos que foram viola-

dos, torturados e desaparecidos. Elas nomeiam a verdade ainda que os

violadores raramente sejam punidos. Os tribunais dos crimes de guerra na

Bósnia e Ruanda significam um passo fundamental. A mídia e os ativistas de

direitos humanos também desempenham um papel crítico em publicamente

denunciar as violações de direitos humanos.

O respeito pelos direitos humanos é fundamental num estado de direito. As

matanças que existem no mundo, o terrorismo, as guerras são uma violação

flagrante dos direitos humanos. Um novo mundo é possível se respeitarmos

os direitos humanos.

MERGINA JOÃO BAPTISTA MATIMBE, IGREJA METODISTA UNIDA, MOÇAMBIQUE

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58 | Direitos humanos

QUESTÕES PARA REFLEXÃO

★ São os direitos humanos uma prioridade da justiça em seu país?

★ Em que medida a mensagem profética bíblica é um chamado à defesa

de direitos?

★ Motive a organização de juventude a fazer um plano de ação

missionária junto à comunidade baseado na Declaração Universal de

Direitos Humanos.

A Corte Internacional de Justiça recentemente constituída oferece uma das

melhores esperanças para efetivar o cumprimento das medidas de direitos huma-

nos. Apesar de que os tribunais de crimes de guerra tenham geralmente processa-

do as violações de direitos humanos dos perdedores, a Corte assegura que qual-

quer um que tenha cometido graves violações de direitos humanos possa ser pro-

cessado. Seu alcance universal fornece uma medida preventiva de grande força

para deter as violações de direitos humanos antes que elas ocorram.

Os profetas bíblicos, como monitores dos direitos humanos, repetidamente nos

lembram que o povo que escolheu renovar a aliança – com Deus e com o próximo

– está sempre adiante de nós:

“mas se deveras emendares os vossos caminhos e as vossas obras, se deveras

praticardes a justiça, cada um com o seu próximo, se não oprimirdes o

estrangeiro...nem derramardes sangue inocente neste lugar...então eu vos fa-

rei habitar neste lugar.” (Jeremias 7:5-7)

Que possamos escolher a vida e que todos os povos possam viver!

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JUVENTUDE: RESSUSCITADORA DE ESPERANÇA | 59

Direitos indígenas entreo povo kanamari

ANA CLAUDIA FIGUEROA

Igreja Metodista, Brasil

Na sociedade brasileira na última década, a garantia de direitos dos povos indíge-

nas se consolida como realidade efetiva. Apesar de todas as contradições no pro-

cesso de implementação desses direitos, considera-se um período favorável às

populações indígenas enquanto afirmação das identidades etnicamente diferen-

ciadas, com garantia e manutenção de valores e tradições próprias.

No entanto, se olharmos para um dos povos indígenas em particular, veremos

os desafios em termos da preservação das tradições culturais e sobrevivência eco-

nômica de um povo em convivência com uma sociedade distinta.

No Juruá, Amazonas, mesmo depois de 150 anos de contato, permanecem vá-

rios aspectos ancestrais da cultura kanamari.1 A afirmação dos direitos étnicos con-

vive com um período de imensa curiosidade dos kanamari sobre a cultura e valo-

res da sociedade brasileira não indígena. Esta, por sua vez, possui matriz polifônica,

com influências cruzadas e híbridas de várias culturas tidas como “não indígenas”,

mais comumente nomeada como cabocla. Os kanamari também se seduzem pelos

avanços da tecnologia e da economia da sociedade envolvente, trazendo como

desafio o processo de assimilação destes, geralmente carregado de ações que le-

sam os indígenas e os transformam em grupos marginais e explorados.

Neste sentido, por exemplo, pode ser positiva a garantia de implementação de

políticas públicas, tais como assalariamento para professores e agentes de saúde,

No Brasil, cerca de 345 mil índios vivem em aldeias, distribuídos entre 215 sociedades indígenas, que

perfazem cerca de 0,2% da população brasileira. Estima-se que de 100 a 190 mil vivem fora das terras

indígenas, inclusive em áreas urbanas. Há indícios da existência de mais ou menos 53 grupos

indígenas ainda não contatados.

Fundação Nacional do Índio: http://www.funai.gov.br/

1 Povo Kanamari também chamado Tüküná ou Canamari vive na região do Rio Solimões, no município de Maarã, Amazonas, Brasil.

Em 1999, o povo Kanamari totalizava 1327 pessoas. Seu idioma é o Katukina. http://www.socioambiental.org/home_html/

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60 | Direitos humanos

e também a garantia de direitos sociais como a aposentadoria rural para idosos,

bolsa-escola, salário-maternidade. No entanto, fica claro que o volume de dinheiro

que se introduziu na economia das aldeias a partir dessas conquistas introduziu

práticas de consumo novas e que impactam as práticas culturais, modificando-as

ou simplesmente abolindo-as. Por exemplo, hoje há substituição do cipó e algo-

dão pelas linhas compradas para a confecção de bolsas artesanais, da mesma for-

ma que o forró nas casas substitui os rituais nos terreiros.

Em janeiro de 2005 começou a Segunda Década Internacional dos Povos Índigenas do Mundo.

Fórum Permanente dos Povos Índígenas, ONU. http://www.un.org/spanish/indigenas/2005/

Há mais de 370 milhões de povos indígenas no mundo. 50% dos indígenas da Austrália

têm menos de 24 anos.

¿Qué pasa con…?. http://www.un.org/spanish/works/goingon/australia/australia.html/

NO BRASIL, CERCA DE 345 MIL ÍNDIOS VIVEM EM ALDEIAS, DISTRIBUÍDOS ENTRE 215 SOCIEDADES INDÍGENAS,

QUE PERFAZEM CERCA DE 0,2% DA POPULAÇÃO BRASILEIRA. ESTIMA-SE QUE DE 100 A 190 MIL VIVEM FORA DAS

TERRAS INDÍGENAS, INCLUSIVE EM ÁREAS URBANAS. HÁ INDÍCIOS DA EXISTÊNCIA DE MAIS OU MENOS 53 GRUPOS

INDÍGENAS AINDA NÃO CONTATADOS.

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JUVENTUDE: RESSUSCITADORA DE ESPERANÇA | 61

Simbolicamente esta substituição tem interferência geracional. Os mais jo-

vens se interessam menos pela produção e reprodução simbólicas ancestrais e

mais pela incorporação dos novos elementos apreendidos no contato, parcial-

mente protegido por garantias de direitos étnicos. Por outro lado, a vida na flo-

resta exige um conhecimento próprio, que é oferecido pela sabedoria ancestral.

Esta sabedoria tem sido um elemento vital para manutenção de práticas de plan-

tio dos roçados, de conhecimento da mata e dos animais e de todos seus perso-

nagens simbólicos.

QUESTÕES PARA REFLEXÃO

★ Como fazer missão a partir do respeito às escolhas e opções

dos grupos indígenas?

★ Um trabalho técnico pode ser harmonizado com as tradições

históricas indígenas?

★ Como introduzir responsavelmente alternativas e tecnologias

para práticas diversas na defesa da vida, zelando principalmente

pelos aspectos de preservação ambiental e cultural?

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62 | Direitos humanos

Direito de comunicação

JESUS DAVID ELIZONDO AMAYA

Igreja Metodista, México

Depois de terminar de almoçar, estava perto de mim um senhor que havia vis-

to sentado na conferência a que eu estava assistindo no Fórum Social Mundial. Eu

lhe perguntei sobre o que achou da conferência. Ele sorriu e disse-me que gostaria

que em seu país tivesse os mesmos direitos que há em outros países.

A conferência a que assistimos foi sobre o direito da comunicação. Talvez este

tema não seja muito popular como os direitos da mulher, das crianças, ou dos indí-

genas, mas é um assunto que me impactou e mudou minha perspectiva.

Os meios de comunicação são as ferramentas utilizadas em sua maioria por

empresas ou movimentos políticos que pretendem nos dizer o que é o melhor, o

que se pode ou não se pode fazer. Eles procuram programar ou dirigir a nossa vida

em direção ao que lhes convém. Os meios são tidos como a voz que nos “orienta”

em que direção devemos caminhar.

Onde conseguimos informação? Os noticiários e jornais nos quais nós

buscamos informação são tendenciosos. Nós somente ouvimos o que eles

querem nos fazer ouvir. Os noticiários têm uma audiência a agradar, por isso

nós não temos acesso à história completa. Como participante da delegação

de jovens metodistas dos EUA ao FSM, eu me sinto chamado a informar a

minha família, igreja, região e outros sobre o que acontece no mundo. Este

conhecimento é um instrumento para criar um mundo melhor para o futuro.

Eu agradeço a Deus por esta consciência e responsabilidade. “Aqui estou

Senhor, envia-me a mim!”

JOHNNY A. SILVA, IGREJA METODISTA UNIDA, ESTADOS UNIDOS

Todo o indivíduo tem direito à liberdade de opinião e de expressão, o que implica o direito de

não ser inquietado pelas suas opiniões e o de procurar, receber e difundir, sem consideração de

fronteiras, informações e idéias por qualquer meio de expressão.

Artigo 19, Declaração Universal dos Direitos Humanos.

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JUVENTUDE: RESSUSCITADORA DE ESPERANÇA | 63

TODO INDIVÍDUO TEM DIREITO

À LIBERDADE DE OPINIÃO E DE

EXPRESSÃO

QUESTÕES PARA REFLEXÃO

★ Você tem acesso à informação crítica sobre os acontecimentos

no seu país e no mundo?

★ Como a juventude pode ler nas entrelinhas para elaborar uma

análise crítica dos acontecimentos em âmbito local e global?

★ Como a organização de juventude pode se tornar um

instrumento de comunicação para promover os direitos

humanos?

O uso ou a participação nesses meios tem sido limitado em muitos lugares.

Tanto que muita gente tem ‘desaparecido’ por fazer comentários considerados ina-

dequados, ou por querer fazer ouvir uma voz que dá a conhecer a necessidade ou

inquietude de um povo. Isto não tem que ser assim.

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JUVENTUDE: RESSUSCITADORA DE ESPERANÇA | 65

Construindo pontes, e não muros

DIANA FERNANDES DOS SANTOS

Igreja Metodista, Brasil

A Confederação Metodista de Jovens no Brasil está trabalhando a partir da te-

mática “Jovem, Faça a Diferença”, baseada no texto de Romanos 12:2a – “e não

vos conformeis com esse século, mas transformai-vos pela renovação da vossa

mente”.

Como jovens metodistas, sonhamos em poder mudar a história e revolucionar

o nosso contexto atual. Acreditamos que é possível a construção de um novo mun-

do, fazendo a diferença através da confiança, fidelidade, trabalho e fé em Deus.

Meus horizontes se abriram ao vislumbrar tantas diferenças culturais, que se

unem na busca de um mundo mais justo. Apesar das nossas diferenças, como

humanidade, necessitamos das mesmas coisas, e juntos podemos ao menos

tentar fazer uma diferença em um mundo tão cheio de problemas. Aprendi,

assim, não apenas a respeitar e me preocupar com aqueles que dividem o

planeta comigo, mas a reconhecer também que existem idéias e possibilidades

de mudança. Ao final, quem constrói o mundo somos nós.

TIAGO CERQUEIRA LAZIER, IGREJA METODISTA, BRASIL

São inumeráveis as situações adversas que temos enfrentado em nossos dias.

Tem sido penoso viver no mundo e não se sentir incomodado. Há uma total perda

de valores éticos. Há uma desvalorização do ser humano enquanto criatura de Deus

JUVENTUDE FAZ A DIFERENÇA

Cerca de 200 milhões de jovens vivem em situação de pobreza. 130 milhões de jovens são analfabetos. 88 milhões,

desempregados. 10 milhões vivem com HIV/AIDS.

Relatório sobre Juventude Mundial, ONU: http://www.un.org/esa/socdev/unyin/documents/wyr05portuguese.pdf/

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66 | Juventude faz a diferença

e ser que merece viver dignamente. Há uma desigualdade de classe, de gênero, de

raça. Há uma perda da visão de Deus. Há uma perda de solidariedade e de reco-

nhecimento de que não podemos viver sem o outro - ser humano e meio ambien-

te. Há uma perda de cuidado pela família e amizade, enquanto elos que nos unem

e nos humanizam.

O que faz a Igreja diante desse cenário? Que papel a juventude pode exercer?

Como fazer a diferença quando a juventude também vive todas essas perdas nes-

te sistema que oprime, aliena e exclui?

Procura-se desesperadamente por revolucionários!!! Homens e mulheres de

Deus inconformados com este século! Jovens que desafiem as barreiras e obstácu-

los em busca da qualidade de vida dos que o rodeiam! Por uma igreja mais atuan-

te e preocupada com o mundo e o exercício da missão!

Um dos momentos mais significativos para mim tem a ver com as conversas

com o grupo brasileiro através do pouco espanhol e o pouco inglês que

falávamos. Nem sempre nos entendíamos, mas o tempo investido em nos

entender foi impagável. Minha cabeça está cheia de idéias e projetos para

trazer alguns dos temas sociais que discutimos ao contexto da universidade.

(AUDREY BARKER, IGREJA METODISTA UNIDA, ESTADOS UNIDOS)

Quem são as nossas líderes hoje? Quem são aqueles e aquelas que têm se le-

vantado dentro dessa visão? Em que temos contribuído para que tudo isso se tor-

ne efetivamente uma realidade possível? Enquanto cristãos e cristãs, jovens e tam-

bém cidadãos e cidadãs, podemos impactar e mudar essa realidade. Para isto, pre-

cisamos buscar oportunidades de participação, espaço de reflexão e análise do

A JUVENTUDE CRISTÃ PRECISA BUSCAR OPORTUNIDADE DE PARTICIPAÇÃO, ESPAÇO DE REFLEXÃO, E ATITUTES

QUE NOS FAÇAM PROTAGONISTAS DA TRANSFORMAÇÃO

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JUVENTUDE: RESSUSCITADORA DE ESPERANÇA | 67

contexto, e a partir daí definir estratégias e resoluções que nos levem à ação con-

creta, e atitudes que nos façam protagonistas dessa transformação. Você é convi-

dada e convidado a ser um agente de transformação e esperança!

Que o Senhor Deus nos oriente e nos conduza nesse propósito. Que o Deus da

Vida nos auxilie a entender e transformar a realidade.

Bem-vinda@ você que acredita que um outro mundo é possível, SIM!!!

OBJETIVOS DE DESENVOLVIMENTO DO MILÊNIO

Em setembro de 2000, na Cúpula do Milênio promovida pela Organização das Nações Unidas (ONU), os

líderes das grandes potências mundiais e os chefes de Estado de 189 países discutiram a gravidade do

estado social de muitos países do mundo e definiram 8 objetivos que apontam para ações em áreas

prioritárias para a superação da pobreza. Tais objetivos são chamados de Objetivos de Desenvolvimento do

Milênio e devem ser alcançados, em sua maioria, até 2015.

http://www.pnud.org.br/milenio/index.php/

OBJETIVOS

OBJETIVO 1 Erradicar a pobreza extrema e a fome.

OBJETIVO 2 Alcançar o ensino primário universal.

OBJETIVO 3 Promover a igualdade de gênero e capacitar as mulheres.

OBJETIVO 4 Reduzir a mortalidade de crianças.

OBJETIVO 5 Melhorar a saúde materna.

OBJETIVO 6 Combater a Aids, malária e outras doenças.

OBJETIVO 7 Assegurar a sustentabilidade ambiental.

OBJETIVO 8 Promover uma parceria mundial para o desenvolvimento.

http://www.nospodemos.org.br/

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68 | Juventude faz a diferença

QUESTÕES PARA REFLEXÃO

★ Que tipo de injustiças têm vivido as pessoas do seu bairro, cidade, região

ou país?

★ Como a juventude de sua igreja tem sido protagonista da transformação?

★ Qual tem sido a sua postura política em relação às desigualdades do seu país?

★ Como você utiliza a palavra de Deus como ferramenta para anunciar o Reino

e proclamar que “um outro mundo é possível?”

★ Que conflitos você vive e como tem procurado superar sua realidade?

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JUVENTUDE: RESSUSCITADORA DE ESPERANÇA | 69

Nossos esforços não são em vão

THEON JONHSON III

Igreja Metodista Unida, Estados Unidos

Ter o privilégio de participar de uma experiência de liderança que uniu mais de

155 mil pessoas ao redor do globo é um lembrete de que o mundo é maior e mais

diverso do que o meu derredor. Por causa da diversidade e beleza da comunidade

humana, as menções doloridas da guerra, pobreza, fome e morte eram lembretes

constantes de que ainda há muito trabalho a ser feito.

Durante nossa permanência no Brasil, a delegação dos Estados Unidos visitou

o Centro Metodista de Educação Infantil. Testemunhar a vitalidade e inocência das

crianças serviu como um guia para estimular uma reflexão profunda sobre o meu

papel na comunidade global. Acredito que todas as pessoas têm um propósito es-

pecífico para cumprir. Descobrir este “propósito” é algo que pode vir a mudar a

maneira como nós percebemos o mundo, se feito de uma maneira que valoriza

cada membro da família humana.

Democracia, mudança, possibilidade... me desafiam a entender mais sobre a

situação do meu país. Isto me ajuda a pensar e me desafia a aprender.

LINATH TIV, IGREJA METODISTA UNIDA, CAMBOJA

Em Miquéias 6:8 e 1Coríntios 15:58, o Senhor pede que amemos a justiça, mise-

ricórdia, e andemos humildemente diante de Deus. Como permanecemos firmes

nos trabalhos do Senhor, nossos esforços não são em vão. Eu acredito firmemente

que quando as pessoas trabalham para fazer a vida significativa para seus “vizi-

nhos”, então, bondade, justiça e misericórdia se realizam em outras partes do mun-

do. Os ensinos de Jesus fornecem exemplos visíveis de como o amor, paz, comu-

nhão e unidade podem fazer o mundo um melhor lugar.

É realmente maravilhoso saber que Deus tem nos chamado, enquanto

juventude metodista espalhada pela face da terra, para fazermos a diferença

num mundo que necessita de esperança.

MARA SILVA, IGREJA METODISTA, BRASIL

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70 | Juventude faz a diferença

QUESTÕES PARA REFLEXÃO

★ O que significa estar em relação com Deus e o semelhante?

★ Como você pode trabalhar junto com outros líderes ao redor do mundo

para encorajar o diálogo entre pessoas com ideologias diferentes?

★ O que o Senhor pede de você?

Oração para a Missão

Deus, dá-nos cada dia a esperança

de que um mundo melhor seja possível.

Dá-nos a força e o sustento necessário

para que possamos ser porta-vozes da mudança.

Ajude-nos a entender que nosso próximo

é todo aquele que um dia recebeu o sopro de vida.

Capacita-nos a transformar este mundo,

a nunca perder a fé e esperança. Amém.

TIAGO CERQUEIRA LAZIER

Igreja Metodista, Brasil

Eu acredito firmemente que outro mundo é possível e é meu sonho que cada

pessoa procure meios para ativamente amar, praticar a justiça, valorizar a impor-

tância da misericórdia e andar em verdade. Porque o Senhor pede que as pessoas

atuem de forma benéfica para toda a família humana. O simples atualizar das Es-

crituras pode levar a um mundo melhor. Ninguém deveria sentir fome… Ninguém

deveria ser marginalizado… Ninguém deveria sentir como se não fosse amado.

Somos todos nós dependentes uns dos outros e, portanto, deveríamos trabalhar

para fazer a vida melhor para todas as pessoas.

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JUVENTUDE: RESSUSCITADORA DE ESPERANÇA | 71

PROGRAMA DE FORMAÇÃO

DE JUVENTUDE ANDREIA FERNANDES

Igreja Metodista, Brasil

A PESSOA EDUCANDA É

SUJEITA DO SEU PRÓPRIO

PROCESSO EDUCATIVO

Juventude: Ressuscitadora de Esperança é um caderno de formação para missão

nascido intencionalmente a partir da contribuição e participação coletiva da pró-

pria juventude. Rostos e vozes da juventude ao redor do mundo se intercalam em

cada página deste caderno através da partilha e análise de sua própria experiên-

cia. A partir deste caderno estamos propondo a você que elabore um Programa de

Formação de Juventude.

O programa de formação proposto neste caderno, para ser significativo, preci-

sa falar a linguagem e partir da realidade de quem está no processo de formação.

Além disso, a pessoa educanda é sujeito do seu próprio processo de aprendiza-

gem. Logo, participação e ação são fundamentais para uma formação que tenha

significado e promova libertação. Para facilitar uma aprendizagem significativa e

libertadora para a juventude, construímos este espaço com subsídios baseados

numa pedagogia participativa, entrelaçando textos, dados e testemunhos, em que

a juventude é a protagonista de sua própria história e, portanto, agente

ressuscitadora de esperança.

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72 | Programa de formação de juventude

a. O que é uma pedagogia

participativa?1

✓ Valoriza as relações humanas como condição

pedagógica fundamental. A igualdade cons-

truída no respeito às diferenças, sejam elas so-

ciais, étnico-raciais, de gênero, religiosas, etc é

a base da relação pedagógica.

✓ Não transfere o conhecimento as/aos edu-

candas/os, mas constrói junto com o grupo

este conhecimento. Para a pedagogia partici-

pativa, o conhecimento é sempre inacabado,

flexível e passível de alterações e interferên-

cias do grupo.

✓ Baseia-se na relação dialógica do grupo. Todas

e todos podem e devem falar. Cada pessoa

sempre tem algo a dizer e a acrescentar na

construção coletiva do conhecimento.

✓ Preocupa-se com a formação da consciência

crítica. Para isso, exercita a metodologia da sus-

peita a tudo que nos é oferecido, construindo

a partir da reflexão e partilha com o grupo,

novas opiniões e posicionamentos.

✓ Enfatiza o interesse social e o bem comum, sem

desqualificar a necessidade de cada um. Para

isso promove o exercício da cooperação ao in-

vés da competição.

✓ Exercita o senso e a prática da justiça e da soli-

dariedade à medida que enxerga e respeita o

processo de formação de cada pessoa, promo-

vendo o contar das experiências, emoções e

sentimentos que gestam uma solidariedade

grupal.

✓ Conscientiza que todas as pessoas contribuem

no trabalho, como um esforço comum, e por

isso todas têm direito de participar de modo

justo dos frutos do trabalho.

b. Como elaborar um programa

de formação de juventude?

Este caderno destina-se a motivar a formação tra-

balhada em grupos. O objetivo do Programa de

Formação é que a juventude tenha a oportunida-

de de vivenciar todos os temas aqui propostos. Isto

pode ser feito utilizando o tema geral de cada ca-

pítulo com o texto básico ou distribuindo em vá-

rias seções os diferentes textos de cada capítulo.

Desta forma, a construção continuada do conheci-

mento permitirá à juventude atuar com mais

pertinência na missão da igreja na sociedade.

Como fazer isso? Abaixo listamos algumas su-

gestões:

✓ Sente com a mesa diretiva da sua organização

de juventude e conheça este caderno. Discuta

a relevância das temáticas para realidade da

juventude de sua comunidade e igreja.

✓ O grupo pode determinar a seqüência temáti-

ca que melhor lhe convier de acordo com as

suas necessidades.

✓ Pense em cada temática e nas pessoas que irão

desenvolvê-las. Priorize que os facilitadores e/

ou facilitadoras das temáticas sejam jovens.

Isso pode tornar a aprendizagem mais signifi-

cativa; afinal de contas, é jovem falando para

jovem.

✓ Determine dia, horário e tempo de duração dos

encontros de acordo com a realidade do gru-

po. Cada encontro pode durar de 2 a 3 horas,

uma vez por semana, cada quinze dias ou uma

1 JAHREISS, Ingeborgg Maria. Métodos e práticas de uma educação

participativa com adolescentes, jovens, adultas e adultos. Igreja

Metodista, Remne, 1999.

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JUVENTUDE: RESSUSCITADORA DE ESPERANÇA | 73

vez por mês. A periodicidade dos encontros

ajuda a criar identidade, amizade e laços co-

muns no grupo, facilitando assim a construção

coletiva do conhecimento e perspectivas de

ação para missão. É importante ter todo o pe-

ríodo do programa definido antes de iniciá-lo,

ainda que sofra ajustes durante o percurso.

✓ Divulgue com antecedência de um a dois me-

ses o programa de formação. Lembre-se: uma

boa divulgação é muito importante para o êxi-

to do projeto.

✓ Forneça ao final do programa um certificado

para as pessoas que o concluírem – isto cola-

bora para a valorização da auto-estima.

✓ Esteja aberto a sugestões de outras temáticas

para serem incluídas no programa de forma-

ção da juventude.

✓ Reúna-se periodicamente com o grupo

organizador do processo de formação. É preci-

so que este programa esteja constantemente

em avaliação.

c. Sugestão de uma rotina básica

para cada encontro do programa

de formação da juventude

INTEGRAÇÃO DO GRUPO

✓ Acontece no início do encontro. É um espaço

de fortalecimento das relações. É um momen-

to muito importante, pois a nossa proposta

pedagógica está pautada nas relações huma-

nas. Nos primeiros encontros este momento

acontecerá para que as pessoas se conheçam e

se reconheçam como parte do grupo. Isto pode

acontecer através de jogos de integração. À

medida que o grupo esteja integrado, isto fa-

cilita o espaço de construção e fortalecimento

de identidade e de relações, a partilha de ex-

periências pessoais e a gestação de frutos no

programa de formação.

APRESENTAÇÃO DA TEMÁTICA

PROPOSTA PARA O DIA

✓ Ao final deste capítulo, há uma seção com pro-

postas de dinâmicas para o desenvolvimento

de cada tema do Caderno de Formação para

Missão. Se preferir, tenha a cópia da seção a ser

apresentada em mãos (veja páginas 76-85).

Adapte a sugestão ao seu grupo e ao tempo

de cada seção. Faça uso da seção Recursos Adi-

cionais, assim como das várias fontes citadas

ao longo do caderno, tanto para sua prepara-

ção pessoal como para compartilhar com o gru-

po. Não se esqueça de criativamente usar os de-

poimentos da juventude metodista entrelaça-

dos em cada capítulo.

✓ A ênfase deste caderno é formação de lideran-

ça de juventude para atuar na missão. Portan-

to, conclua cada seção, reafirmando as propos-

tas concretas de a juventude estar em missão,

produzidas coletivamente no estudo.

✓ Antes de apresentar uma temática nova, recor-

de com o grupo o que foi tratado no encontro

anterior, bem como as conclusões construídas

coletivamente.

AVALIAÇÃO DO ENCONTRO

✓ Esta avaliação pode ser feita oralmente ou por

escrito. Se a avaliação for oral, é importante que

tenha alguém que registre por escrito este

momento, para que o grupo organizador tenha

esta avaliação em mãos. Caso seja feito por es-

crito, o/a facilitador/a pode propor perguntas

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74 | Programa de formação de juventude

em um formulário ou deixar que cada partici-

pante escreva espontaneamente sobre o as-

pecto que quiser avaliar. Faça perguntas cur-

tas, fáceis de entender e objetivas. A avaliação

por escrito pode ser feita individualmente ou

em grupo.

✓ Varie as formas de avaliação ao longo do pro-

grama de formação. Dentre os diversos aspec-

tos que você pode avaliar, destacamos: meto-

dologia de ensino, tempo de duração do en-

contro, facilitador/a, material e recursos utili-

zados, participação pessoal e coletiva.

d. É preciso não esquecer

✓ Fazer a memória de cada encontro. A memó-

ria, além de auxiliar o grupo organizador na

evolução do projeto, pode se transformar em

uma publicação ao final do programa de for-

mação.

✓ Produzir a listagem de endereços do grupo par-

ticipante. Elabore uma lista de endereços d@s

participantes com a data de aniversário. Entre-

gue a lista a cada integrante do grupo. A co-

municação facilita na construção de laços

afetivos.

✓ Pensar em momentos de exercício da espiritua-

lidade do grupo. Caso você opte por realizar

uma devocional ao início de cada encontro,

busque harmonizá-la com o tema que será tra-

tado no dia. Se fizer ao final, faça uma coleta

simbólica dos resultados da reflexão gerada

coletivamente, e transforme-a em um envio à

missão.

✓ Preparar todo o material necessário para cada

encontro. Os textos deste Caderno de Forma-

ção podem ser reproduzidos em todo ou em

parte, desde que citada a fonte.

e. Dicas para se trabalhar em grupo

✓ O tamanho ideal para trabalho em grupo é en-

tre oito e vinte pessoas. Grupos pequenos faci-

litam a criação de espaço para a expressão de

tod@s participantes. Caso o seu grupo seja

maior, veja a possibilidade de formar duas tur-

mas para o programa de formação.

✓ Providenciar um espaço físico onde as cadei-

ras possam ficar em círculos e onde o grupo

tenha espaço para participar de jogos corpo-

rais, encenações teatrais, confecções de carta-

zes no chão.

✓ A facilitadora ou/e o facilitador não deve assu-

mir uma posição de destaque no grupo, como

ficar em um lugar mais alto, valer-se de um

púlpito ou coisa parecida. Tod@s devem estar

na mesma posição.

✓ Arrumar, sempre com antecedência, o ambien-

te do grupo.

✓ Preparar um crachá para cada participante. Isto

é necessário até que todos os nomes sejam

aprendidos. Isto facilita a comunicação entre os

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JUVENTUDE: RESSUSCITADORA DE ESPERANÇA | 75

membros do grupo e fortalece a individualida-

de, a auto-estima e o sentimento de pertença.

✓ Uma das formas eficazes de se trabalhar em

grupo é utilizar as dinâmicas de grupo, também

conhecidas como técnicas de grupo. Elas faci-

litam a integração do grupo, a construção co-

letiva do conhecimento e criação de alternati-

vas para ação.

f. Dicas para utilização das dinâmicas

de grupo

✓ As dinâmicas podem ser de recreação, integra-

ção, apresentação, desenvolvimento do tema

etc. Toda dinâmica, por mais simples que seja,

se utilizada de maneira correta, leva à conscien-

tização, à reflexão e à transformação do edu-

cando e da educanda.

✓ Antes de escolher a dinâmica a ser utilizada, é

preciso ter bem claro o que se quer conseguir

com ela, ou seja, os objetivos a serem alcança-

dos.

✓ É preciso lê-la com atenção, conhecendo e en-

tendendo todos os passos a serem seguidos.

✓ Nunca se deve improvisar ou inovar durante o

decurso da dinâmica, pois poderá comprome-

ter o processo de aprendizagem.

✓ As instruções dadas devem ser claras para al-

cançar um bom resultado. Caso as dinâmicas

tenham regras além da metodologia, as regras

devem ser comunicadas e nunca ordenadas.

✓ As dinâmicas devem levar em consideração a

idade e a quantidade de participantes, bem

como o espaço onde será desenvolvido o es-

tudo.

g. Dicas para quem assumir o papel

de facilitadora ou facilitador do grupo

✓ Coloque-se à disposição com todo seu ser, suas

possibilidades afetivas, sua vontade de intera-

gir e de investir nas relações humanas, sua cria-

tividade, seu interesse pel@s outr@s e seus pro-

cessos de formação.

✓ Analise o contexto do grupo e desenvolva as

ações a partir dessa realidade observada.

✓ Ofereça seus conhecimentos, procurando o

melhor caminho para construir um tema em

conjunto. Permita-se aprender nesse processo

de formação.

✓ Olhe cada participante do grupo como uma

pessoa que tem muito a contribuir. Assim como

você valoriza o seu conhecimento, valorize o

conhecimento do grupo.

✓ Tenha clareza sobre seus conhecimento e limi-

tações. Não é preciso saber tudo o tempo todo.

Mas é necessário estar bem informad@ sobre

o tema a ser abordado. Procure novas informa-

ções. Utilize os dados estatísticos, os documen-

tos, bibliografias e citações de cada capítulo,

além da seção Recursos Adicionais. Troque ex-

periências, dê atenção às vozes da juventude

presentes no caderno e esteja abert@ às con-

tribuições do grupo.

✓ Seja consciente de que ser facilitador ou

facilitadora é ensinar aprendendo, e dar rece-

bendo.

✓ Construa no grupo relações pautadas na co-

responsabilidade, ou seja, todas as pessoas têm

vez, voz e responsabilidade na construção co-

letiva do aprendizado do grupo e das alterna-

tivas de ação.

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76 | Programa de formação de juventude

Tema JUVENTUDE EM MISSÃO

OBJETIVO

✓ Motivar a juventude a reconhecer o chamado de Deus para a missão e a assu-

mir a fé capaz de fazer mudanças.

MATERIAL NECESSÁRIO

✓ Folhas de papel em branco.

✓ Caderno de Formação ou cópias do capítulo Juventude em Missão para o grupo.

✓ Ver seção Recursos Adicionais.

PASSOS

1 Dê a cada participante meia folha em branco e

peça a cada pessoa para desenhar-se. Cole os

desenhos no cartaz.

2 Dê a cada participante uma folha inteira em

branco. Pergunte sobre o que estão vendo nes-

ta folha.

3 Provavelmente responderão que não há nada.

Depois de algumas tentativas, desafie o grupo

afirmando que o que existe na folha em bran-

co são as “possibilidades”.

✓ Oriente para que façam um barco. Diga que

com esse barco podemos navegar por outros

mares, ampliar horizontes, viver novas expe-

riências. Ou um chapéu. Mostre um chapéu e

diga que este chapéu pode cobrir a cabeça de

alguém que está cansado, sem abrigo do sol e

da chuva. Ou desenhos coloridos. Diga que este

desenho pode dar alegria e a possibilidade de

se ver novas cores. Ou palavras motivadoras

para promoção da paz, fé ou vida, como edu-

cação, direitos humanos, justiça social.

4 Comente os destaques da história de Gideão,

segundo o texto Juventude: Fé para Mudança,

e a situação da juventude nos níveis local e glo-

bal. Explore os exemplos de vida no texto, e mo-

tive o grupo a identificar jovens – mulheres e

homens – que têm atuado como “ressuscitado-

res de esperança”.

5 Forme subgrupos de aprofundamento a partir

das perguntas sugeridas na seção Questões

para Reflexão.

6 Dê oportunidade para os subgrupos compar-

tilharem as reflexões e propostas de ação.

7 Coletivamente, construa um plano de ação co-

mum da juventude.

8 Sugira um momento de avaliação do encontro,

e termine com uma celebração de compromis-

so, incluindo a Oração para Missão.

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JUVENTUDE: RESSUSCITADORA DE ESPERANÇA | 77

OBJETIVO

✓ Cultivar a formação da identidade wesleyana a partir da ótica da juventude.

✓ Experienciar a articulação da prática espiritual pessoal e a espiritualidade

solidária.

MATERIAL NECESSÁRIO

✓ Caderno de Formação ou cópias do capítulo Identidade Wesleyana: Santidade

no Coração e na Vida para o grupo.

✓ Ver seção Recursos Adicionais.

PASSOS

1 Faça a dinâmica dos sapatos: Peça que cada

pessoa tire um dos sapatos, em seguida mistu-

re todos sapatos no meio da roda. Instrua o gru-

po que quando você der um sinal, cada pessoa

deverá calçar um sapato que não seja o seu. Em

seguida, peça para que caminhem sentindo

como é calçar o sapato d@ outr@. Após esta

experiência cada pessoa deverá procurar @

don@ do sapato, entregá-lo e depois voltar ao

seu lugar.

2 Converse com o grupo sobre que sentiram e

pensaram ao fazer a experiência.

✓ Você pode concluir este momento com a se-

guinte reflexão. Calçar os sapatos d@ outr@ nos

permite entender a sua realidade e perceber

como e por onde anda, suas alegrias, seus pro-

blemas e necessidades; a partir daí, nos solida-

rizarmos. A verdadeira solidariedade deve

acontecer a partir da compreensão da situação

d@ outr@ tanto em nível pessoal como social,

política como espiritual, racial como econômi-

ca. É preciso calçar seus sapatos, sentir suas

dores, sorrir e chorar com @ outr@.

✓ Em Wesley, podemos ver uma pessoa que se

dispôs a calçar os sapatos da população vul-

nerável de seu tempo. E, nessa perspectiva, ar-

ticulou as bases de uma prática espiritual pes-

soal e comunitária.

3 Relacione esta experiência com os três textos

do capítulo Identidade Wesleyana. Forme três

subgrupos para aprofundar a reflexão a partir

das perguntas sugeridas em cada seção Ques-

tões para Reflexão deste capítulo.

4 Dê oportunidade para os subgrupos compar-

tilharem as reflexões e propostas de ação.

5 Coletivamente, construa um plano de ação co-

mum da juventude.

6 Sugira um momento de avaliação do encontro, e

termine com uma celebração de compromisso.

Tema IDENTIDADE WESLEYANA

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78 | Programa de formação de juventude

Tema ECUMENISMO

OBJETIVO

✓ Compreender a origem da palavra ecumenismo e seu conceito bíblico.

✓ Motivar a juventude para o testemunho e serviço em uma perspectiva ecumênica.

✓ Confrontar os mitos que obstaculizam a participação ecumênica da juventude.

MATERIAL NECESSÁRIO

✓ 2 folhas de cartolina, canetas hidrocor de várias cores, lápis de cor.

✓ Caderno de Formação ou cópias do capítulo Ecumenismo para o grupo.

PASSOS

1 Forme dois subgrupos e dê a cada grupo uma

cartolina, canetas e lápis coloridos.

2 Diga aos grupos que deverão ocupar todo o

espaço da cartolina e desenhar uma casa. Cada

integrante do grupo dará a sua contribuição ao

desenho. Cada um precisa fazer uma parte do

desenho até que ele se complete.

3 Esclareça que o grupo 1 poderá dialogar du-

rante a execução do desenho, enquanto o gru-

po 2 não poderá fazê-lo. Terá que desenhar em

silêncio.

4 Após a elaboração dos desenhos, os grupos con-

versam separadamente sobre o que sentiram ao

realizar o desenho. Devem pensar se a existên-

cia ou não do diálogo interferiu na elaboração

da tarefa, e qual foi o tipo de interferência. À

medida que forem refletindo sobre a dinâmica,

alguém deve anotar as considerações para que

possam ser compartilhadas com tod@s.

5 Após a apresentação das considerações, con-

versem um pouco sobre elas.

6 Motive o grupo a concluir, sugerindo que:

Nós, como jovens, estamos em processo de

construção, construção de nós mesm@s e (re)

construção do ambiente em que vivemos. Nes-

ta perspectiva, o diálogo é fundamental, é a

ponte que permite que eu vá ao encontro d@

outr@ e que @ outr@ venha até mim. Nesta re-

lação dialógica nos conhecemos, nos percebe-

mos em nossas semelhanças e diversidades e

nos unimos em prol de um novo mundo.

Destaque duas palavras-chave desta dinâmica:

CONSTRUÇÃO E DIÁLOGO.

8 Leia a lista de obstáculos para a participação

ecumênica e relacione com a experiência de

CONSTRUÇÃO E DIÁLOGO.

9 Destaque as definições e experiências de ecu-

menismo.

10 Converse sobre os mitos e fatos acerca da par-

ticipação ecumênica da juventude.

11 Forme subgrupos de aprofundamento a partir

das perguntas sugeridas na seção Questões

para Reflexão.

12 Dê oportunidade para os subgrupos compar-

tilharem as reflexões e propostas de ação.

13 Coletivamente, construa um plano de ação co-

mum da juventude.

14 Sugira um momento de avaliação do encontro, e

termine com uma celebração de compromisso.

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JUVENTUDE: RESSUSCITADORA DE ESPERANÇA | 79

Tema DIVERSIDADE E IDENTIDADE

PASSOS

1 Tenha um espelho em que @s participantes pos-

sam se ver primeiro individualmente, depois em

grupos de 2 ou 3. Peça que vejam neste espelho

a pessoa criada por Deus com dignidade e sen-

sibilidade. Sugira frases que valorizem as dife-

renças raciais e étnicas. Chame atenção para o

que há de comum entre @s participantes.

2 Apresente o cartaz com as imagens de diversi-

dade racial ao grupo. Peça que o observem.

3 Pergunte ao grupo que sentimentos ou idéias

lhe vêm à cabeça a partir da dinâmica do es-

pelho e do cartaz.

4 Registre em um outro cartaz as falas do grupo.

5 Apresente o cartaz com a definição de discri-

minação e introduza o tema tendo como estu-

do de caso o Brasil.

6 Pontue que o texto fala da realidade específi-

ca de um país, mas preconceitos e injustiças

estão presentes em todos os lugares, e que é

nossa tarefa ética identificá-los para superá-los.

7 Destaque algumas expressões ou frases que

você achar relevante na leitura do texto. À me-

dida que você for destacando as partes do tex-

to, devolva-as ao grupo e peça que tracem con-

siderações sobre elas.

✓ Você pode propor conversas sobre alguns

conceitos como, por exemplo, “Racismo vela-

do”. Sugira que o grupo converse sobre como

tomar consciência de algo que está velado.

“Racismo Legitimado”. Identifique ações go-

vernamentais, práticas sociais ou concepções

religiosas que são legitimadoras do racismo.

“Os afro-descendentes não são discriminados

Felizes os que têm sede de justiça!

OBJETIVO

✓ Afirmar a responsabilidade ética da Igreja e da juventude na eliminação de to-

das as formas de discriminação racial e étnica, xenofobia e intolerância.

✓ Contribuir para o reconhecimento e valorização das diferenças para a constru-

ção de uma sociedade justa e igualitária.

MATERIAL NECESSÁRIO

✓ Cartaz com imagens de pessoas de várias raças e etnias.

✓ Cartaz com a definição de discriminação racial segundo a Convenção Interna-

cional sobre Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Racial (p. 38).

✓ Caderno de Formação ou cópias do capítulo Diversidade e Identidade para o

grupo.

✓ Ver seção Recursos Adicionais.

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80 | Programa de formação de juventude

porque são pobres, mas são pobres porque

são discriminados”. Introduza estatísticas so-

bre a diversidade racial e étnica em compara-

ção com a realidade social e econômica de seu

país.

8 Faça uma ponte entre a sua realidade e a do

Brasil, identificando os pontos em comum e os

divergentes.

9 Destaque as frases motivadoras de ação e

indicadoras de estratégias presentes no texto

para motivar a juventude a interferir de forma

transformadora nesta realidade.

10 Forme subgrupos de aprofundamento a partir

das perguntas sugeridas na seção Questões

para Reflexão.

11 Dê oportunidade para os subgrupos compar-

tilharem as reflexões e propostas de ação.

Um Evangelho muito além do gênero ou da raça

MATERIAL NECESSÁRIO

✓ Cópias do quadro “De onde vêm nossas identidades” (p. 81), canetas ou lápis.

✓ Caderno de Formação ou cópias do capítulo Diversidade e Identidade para o grupo.

✓ Ver seção Recursos Adicionais.

12 Coletivamente, construa um muro de esperan-

ça. Registre as estratégias e expressões de es-

perança nesse muro. O muro pode ser expos-

to na igreja local ou em outro espaço para

motivar a conscientização e o compromisso

ético para eliminação de todas as formas de

discriminação raciais e étnicas.

13 Sugira um momento de avaliação do encon-

tro, e termine com uma celebração de com-

promisso.

PASSOS

1 Desenvolva o jogo : “ De onde vêm nossas iden-

tidades”, extraído do Guia de Estudo: Gênero e

Igreja, Educar para Transformar.

2 As pessoas freqüentemente usam as frases do

quadro da página ao lado para se referirem a

mulheres e homens. Peça às/aos participantes

para colocarem um “X” na coluna que elas acre-

ditam indicar que tipo de comportamento e ha-

bilidade é natural, ou aprendido, ou uma com-

binação dos dois, ou falso. Cada frase pode re-

ceber mais de um “X”.

3 Após as pessoas preencherem este quadro, di-

vida o grupo em dois subgrupos e reserve um

tempo para que elas possam conversar sobre

suas respostas.

4 Apresente para os grupos as seguintes pergun-

tas para a reflexão:

✓ Quem define o significado de “feminino” e

“masculino”?

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JUVENTUDE: RESSUSCITADORA DE ESPERANÇA | 81

FRASES NATURAL APRENDIDO NATURAL E APRENDIDO FALSO

O lugar das meninas é a casa, e dos meninos é a rua.

As mulheres sabem melhor como lidar com as crianças e como educá-las.

Os homens são a cabeça da casa.

Mulheres são emocionais. Homens são racionais.

A habilidade mais importante das mulheres é ser mãe.

Homens são melhores líderes do que mulheres

A habilidade mais importante dos homens é trabalhar fora.

Agricultura é um trabalho predominantemente dos homens.

Meninas são mais obedientes que meninos.

Homens não choram nem mostram seus sentimentos.

Mulheres se assustam facilmente.

Mulheres se adaptam ao trabalho doméstico melhor do que os homens.

Os homens defendem-se melhor.

✓ As mulheres e os homens possuem habilida-

des além dos limites determinados por seus

papéis de gênero?

✓ Estes papéis podem ser expandidos? Que rela-

ção eles têm com a violência contra as mulhe-

res e meninas? Ou com as demais áreas de es-

pecial preocupação indicadas na Plataforma de

Ação de Beijing?

7 Relacione esta reflexão com o modelo de Je-

sus em João 4:1-12.

8 Forme subgrupos de aprofundamento a partir

das perguntas sugeridas na seção Questões

para Reflexão.

9 Dê oportunidade para os subgrupos compar-

tilharem as reflexões e propostas de ação.

10 Coletivamente, construa um plano de ação co-

mum da juventude.

11 Sugira um momento de avaliação do encon-

tro, e termine com uma celebração de com-

promisso.

De onde vêm nossas identidades

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82 | Programa de formação de juventude

Tema JUSTIÇA ECONÔMICA

OBJETIVO

✓ Discernir as situações em que somos chamados a ser próximo dos que vivem

em situação de vulnerabilidade

✓ Identificar a dinâmica dos modelos econômicos que geram desigualdade so-

cial dentro das nações e injustiça econômica entre as nações

MATERIAL NECESSÁRIO

✓ Caderno de Formação ou cópias do capítulo Justiça Econômica para o grupo.

✓ Jornais ou revistas de economia de seu país ou cidade. Cartaz, tesoura e cola.

✓ Pesquisa prévia sobre a posição ética e pastoral das igrejas e organizações ecu-

mênicas sobre a dívida externa e o combate à pobreza.

✓ Ver seção Recursos Adicionais.

PASSOS

1 Divida @s participantes em dois subgrupos.

Peça ao grupo 1 que dramatize a história “Ju-

ventude Metodista em Moçambique Participa

da Campanha pelo Perdão da Dívida Externa”.

Enquanto isso, o grupo 2 faz um cartaz com

recortes e imagens dos jornais de economia

que identifique se seu país é devedor ou cre-

dor no tema da dívida externa.

2 Após a apresentação dos dois subgrupos, con-

versem como essa posição no mercado econô-

mico global impacta o desenvolvimento eco-

nômico e social da juventude de seu país e sua

comunidade.

3 Relacione a reflexão bíblica de Lucas 10:25-37

com o tema da dívida externa a partir da pergun-

ta de Sharelle Barber – quem é meu próximo?

4 Continue o paralelo iniciado por Sharelle

Barber entre os ladrões da parábola e os agen-

tes da economia global hoje. Tente encontrar

um paralelo para cada personagem da parábo-

la, incluindo o seu narrador – Jesus.

5 Apresente a posição ética e pastoral de sua

igreja sobre o tema da dívida externa.

6 Converse sobre as campanhas promovidas por

sua igreja, organizações ecumênicas e pela so-

ciedade civil sobre dívida externa e o combate

à pobreza.

7 Forme subgrupos de aprofundamento a partir

das perguntas sugeridas na seção Questões

para Reflexão.

8 Dê oportunidade para os subgrupos compar-

tilharem as reflexões e propostas de ação.

9 Coletivamente, construa um plano de ação co-

mum da juventude.

10 Sugira um momento de avaliação do encontro,

e termine com uma celebração de compromis-

so, incluindo a Oração para Missão.

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JUVENTUDE: RESSUSCITADORA DE ESPERANÇA | 83

PASSOSPASSOSPASSOSPASSOSPASSOS

1 O/a facilitador/a apresenta um caso de viola-

ção de direitos humanos extraído de jornais

nacionais ou ocorrido na comunidade. Os tex-

tos sobre os direitos indígenas e direito à co-

municação deste capítulo podem ser usados

para sugerir um caso de violação de direitos.

2 Forme três grupos para analisar o caso apre-

sentado. Designe para cada grupo uma pers-

pectiva de análise: 1) integrantes da Comissao

de Direitos Humanos da ONU; 2) representan-

tes do governo; 3) líderes de movimentos da

sociedade civil ou de igrejas.

3 Cada grupo, usando o guia “Quatro etapas na

luta por direitos humanos” (p.84), analisa o caso

e anota suas observações no quadro.

4 Alimente a reflexão em grupos com as pergun-

tas correspondentes da seção Questões para

Reflexão.

Tema DIREITOS HUMANOS

OBJETIVOS

✓ Sensibilizar a juventude para a relevância dos direitos humanos em relação à

ética cristã e à tradição metodista.

✓ Motivar a juventude a entender as etapas do processo internacional de direi-

tos humanos e apoiar-se nele para ações de educação e denúncia de violação

dos direitos humanos em sua comunidade.

MATERIAL NECESSÁRIO

✓ Caderno de Formação ou cópias do capítulo Direitos Humanos para o grupo.

✓ Cópias do guia “Quatro etapas na luta por direitos humanos” (p.84)

✓ Cópias da Declaração Universal dos Direitos Humanos e outras Convenções ou

Tratados internacionais pertinentes ao caso de violação de direitos humanos a

ser apresentado no grupo.

✓ Ver seção Recursos Adicionais.

5 Dê oportunidade para os subgrupos compar-

tilharem as reflexões a partir do caso apre-

sentado.

6 Aprofunde as propostas apresentadas a partir

da quarta etapa do guia, e coletivamente cons-

trua uma campanha para educação de direitos

humanos na comunidade e na igreja desde a

perspectiva da juventude.

7 Sugira um momento de avaliação do encon-

tro, e termine com uma celebração de com-

promisso.

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84 | Programa de formação de juventude

Quatro etapas na luta por direitos humanos

Quatro etapas na luta

por direitos humanos

Escolher um caso de

violação dos direitos

humanos

Anote os dados mais

relevantes do caso

1 Definir os padrões

universais

Identificar a violação

baseada no Artigo

correspondente na

Declaração Universal

dos Direitos ou uma

Convenção

Internacional

Escreva os artigos base

para a denúncia

2 Elaborar planos de

ação

Identificar planos ou

ações do governo para

assegurar o respeito

pelos direitos humanos

em discussão

Indique os planos ou

ações do governo

3 Apresentar o

relatório de direitos

humanos e indicar um

monitoramento

independente

Preparar um informe

que denuncie e

documente a violação

dos direitos humanos e

seu impacto na

comunidade

Registre os pontos

fundamentais do

informe e da denúncia

4 Fazer cumprir os

direitos humanos

Propor ao governo, às

comunidades e às

igrejas novas

alternativas para

assegurar os direitos

humanos e prevenir

novas violações

Liste as propostas de

alternativas de

educação de direitos

humanos

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JUVENTUDE: RESSUSCITADORA DE ESPERANÇA | 85

PASSOS

1 Crie três subgrupos. Proponha que o grupo 1

faça um movimento corporal representando

uma ponte, enquanto o grupo 2 um muro, e o

grupo 3 movimenta-se para “passar pela pon-

te com sucesso” e depois tentar “passar pelo

muro”, mas não consegue furar o bloqueio do

muro.

2 Relacione esta experiência com a situação de

perda e busca da juventude na igreja e na co-

munidade segundo os textos deste capítulo.

3 Alimente a reflexão com os textos bíblicos su-

geridos e as perguntas da seção Questões

para Reflexão do capítulo Juventude Faz a Di-

ferença.

4 Forme quatro subgrupos. Dê a cada grupo

dois dos Objetivos de Desenvolvimento pro-

postos pela ONU para o milênio (p. 67). Peça

que avaliem a situação de sua comunidade a

partir dos objetivos em estudo, e que elabo-

rem propostas práticas para que a juventude

Tema JUVENTUDE FAZ A DIFERENÇA

OBJETIVO

✓ Despertar a juventude para a importância de ter uma consciência crítica da

realidade que a circunda.

✓ Identificar a necessidade e oportunidade de desenvolver ações concretas em

prol da diminuição das desigualdades sociais.

MATERIAL NECESSÁRIO

✓ Caderno de Formação ou cópias do capítulo Juventude Faz a Diferença para o

grupo.

✓ Cartaz dos “Objetivos do Desenvolvimento do Milênio”

✓ Ver seção Recursos Adicionais.

de sua comunidade contribua para implemen-

tação dessas metas.

5 Dê oportunidade para os subgrupos compar-

tilharem as reflexões e propostas de ação.

6 Coletivamente, construa um plano de ação co-

mum da juventude.

7 Sugira um momento de avaliação do encontro,

e termine com uma celebração de compromis-

so, incluindo a Oração para Missão.

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Recursos adicionais

Juventude

Fórum Social Mundial. Um Outro Mundo é Possível.

http://www.forumsocialmundial.org.br/

Relatório sobre a Juventude Mundial, ONU.2005.

http://www.un.org/esa/socdev/unyin/wyr05.htm/

Identidade wesleyana

Heitzenrater, Richard. Wesley e o povo chamado metodista. Editeo e Pastoral do Bennett,

1996.

Jennings, Theodore. Good News to the Poor: John Wesley’s Evangelical Economics.

Abingdon Press, 1990.

Wesley, Juan. Las obras de Wesley. The Wesley Heritage Foundation, 1998.

Diversidade e identidade

Fatos e números de violência contras as mulheres. Anistia Internacional. http://

www.amnistia-internacional.pt/agir/campanhas/violencia/estatisticasinter.php/

Gênero e Igreja: educar para transformar. Divisão de Mulheres da Junta Geral de Ministé-

rios Globais. 2004.

Grady, J. Lee. Diez mentiras que la Iglesia le dice a las mujeres. Publicación de Casa

Creación, 2000. http://www.casacreacion.com/

Grady, J. Lee. 25 Preguntas difíciles sobre las mujeres y la Iglesia. Publicación de Casa

Creación, 2003. http://www.casacreacion.com/

Justiça Transformadora: Ser Igreja e superar o racismo. Cartilha. Conselho Mundial de

Igrejas, 2004.

Schinelo, Edmilson. A paz voltará a reinar. Círculos Bíblicos sobre a superação da violên-

cia. Cebi, 2003. http://www.cebi.org.br/

Justiça econômica

Campanha Continental contra a Alca.

http://movimientos.org/noalca/index.phtml.pt/

Chamado Mundial à Ação Global Contra a Pobreza. http://www.whiteband.org/

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Jubileo Sur. http://www.jubileesouth.org/sp/

Lobby de Massa pela Justiça no Comércio.

http://april2005.org/masslobby/pt/index.html/

Aliança Ecumênica de Ação Mundial: http://www.e-alliance.ch/spanish/

Direitos humanos

Alto Comissariado da ONU para Direitos Humanos.

http://www.ohchr.org/spanish/index.htm/

Anistia Internacional – http://www.amnistiainternacional.org/

Centro para Direitos Econômicos e Sociais. http://cesr.org/countries/

Defendendo os Direitos Humanos no Mundo (HRW).

http://www.hrw.org/portuguese/

Rádio das Nações Unidas. http://www.un.org/av/radio/portuguese/index.html/

Recursos adicionais88 |

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Delegação Global de Juventude Metodista

e Metodista Unida

ABDI SARAGIH – Indonésia

ERMENEGILDO FRANCISCO MANUEL BANDEIRA – Angola

FABIO SENA BENTO – Brasil

FABIOLA ALEJANDRA GRANDÓN TOLEDO – Chile

GUSTAVO ALÍ – Bolívia

ILIA M. VÁZQUEZ GASCOT – Porto Rico

JESUS DAVID ELIZONDO AMAYA – México

JOÃO PAULO LOPES – Brasil

JOLEINE CINTRA TORRES – Brasil

JOSÉ D. SAAVEDRA – EUA

JULIANA DE SOUZA – Brasil

JULIO CARDUZ – Paraguai

LINATH TIV – Camboja

LORELY DEL VALLE DE SOUZA – Brasil

MERGINA JOÃO BAPTISTA MATIMBE – Moçambique

MICHELINE CARVALHO NABUCO D’ÁVILA – Brasil

PAULA DO NASCIMENTO SILVA – Brasil

SILJA ROSER – Suíça

TIAGO CERQUEIRA LAZIER – Brasil

ANDREIA FERNANDES – Brasil / coordenação

DEISE MARQUES – Brasil / coordenação

DONALD REASONER – EUA / tradução

ROSÂNGELA SOARES DE OLIVEIRA – Brasil / coordenação

TAMARA L. WALKER – EUA / coordenação

Participantes do Seminário de Formaçãode Liderança: Identidade Wesleyanae Fórum Social Mundial

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90 |

Delegação de Metodistas Unidos

nos Estados Unidos da América

ADRIENNE ASHFORD

ALYCIA CAPONE

AUDREY BARKER

CATHERINE MICHELE JOHNS

GENNITH M. JOHNSON

JOHNNY SILVA

KENIA DA SILVA GUIMARÃES

MARCUS A. HUNT

MASSIEL WINGEIER-RAYO

SARAH GILLESPIE

SHALOM AGTARAP

SHARRELLE BARBER

THEON JOHNSON III

DAVID WILDMAN / coordenação

KIMBERLY LEHMAN / coordenação

PHIL WINGEIER-RAYO / coordenação

Participantes do Seminário de Formação de Liderança: Identidade Wesleyana e Fórum Social Mundial90 |

GRUPO DE

PARTICIPANTES DO

SEMINÁRIO DE

FORMAÇÃO DE

LIDERANÇA

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Delegação da Confederação Metodista

de Jovens no Brasil

ANINHA MATIAS

DOUGLAS DILL BARBOSA

ELINE FREITAS BRANDÃO

EMANUEL JÔNATA OLIVEIRA DE BRITO

FELIPE ROCHA MENDES

JOSIELI SOARES DA SILVA

JULIANA CORDEIRO

JUSSARA MODESTO DE SOUZA

MARA MARQUES DA SILVA

MAURÍCIO FERREIRA CHAVES

DIANA FERNANDES DOS SANTOS / coordenação

KEILA DA SILVA GUIMARÃES / assessoria

OSEIAS BARBOSA DA SILVA / coordenação

SOLANGE MAYUMI LEMOS / assessoria

STANLEY DA SILVA MORAES / assessoria

JUVENTUDE: RESSUSCITADORA DE ESPERANÇA | 91

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Caderno de formação para missão

JUVENTUDE: RESSUSCITADORA DE ESPERANÇA

RESSUSCITADORA

DE ESPERANÇA

JUVENTUDE:

Ministérios GlobaisIgreja Metodista Unida