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Justificação pela Fé muito antes de Lutero

(Jesus e a doutrina da Justificação)

Não há doutrina mais importante para a teologia evangélica do que a doutrina da

 justificação pela fé somente – o princípio sola fide da Reforma. Martinho Lutero odefinia como sendo o artigo que determinava se uma igreja estava de pé oucaindo.

A história fornece provas concretas para confirmar a avaliação dele. As igrejas edenominações que se firmam em sola fide permanecem evangélicas. Aquelasdispostas a ceder nesse ponto inevitavelmente se rendem ao liberalismo, revertemao sacerdotismo ou adotam formas até piores de apostasia. O evangelismohistórico, portanto, sempre encarou a justificação pela fé como sendo umadoutrina bíblica central – se não aquela doutrina mais importante a ser bemcompreendida. Não foge à verdade definir os evangélicos como sendo os quecrêem na justificação pela fé.

A própria Bíblia coloca sola fide como a única alternativa a um sistema de justiça pelas obras que leva à maldição. “Ora, ao que trabalha o salário não éconsiderado como favor, e sim como dívida. Mas, ao que não é considerado comofavor, e sim como dívida. Mas, ao que não trabalha porem crê naquele que

  justifica o ímpio, a sua fé lhe é atribuída como justiça” (Rm 4:4,5, ênfaseacrescentada). A apostasia de Israel se baseava no seu abandono da justificaçãosomente pela fé: “Desconhecendo a justiça de Deus e procurando estabelecer asua própria, não se sujeitaram à que vem de Deus” (Rm 10:3). Em outraspalavras, aqueles que confiam em Jesus Cristo para justificação pela fé somenterecebem uma justiça perfeita que lhes é atribuída. Os que tentam estabelecer suaprópria justiça ou misturam fé com obras só recebem o salário terrível que é

devido a todos aqueles que não alcançam o alvo. Então o indivíduo, tanto comoigreja, permanece ou cai segundo esse princípio de sola fide.

A justificação bíblica precisa ser definida com empenho e sinceridade em duasfrentes. Muitos hoje usam mal a doutrina com fim de apoiar a visão de que aobediência à lei moral de Deus é facultativa. Esse ensino procura reduzir toda aobra salvadora de Deus ao ato declarativo da justificação.Põe em segundo plano o novo nascimento espiritual da regeneração (2 Co 5:17);despreza os efeitos morais do novo coração do crente (Ez 36:26-27); e torna asantificação dependente de esforços do próprio pecador. Tem a tendência de tratar dos elementos forenses da justificação – como se este fosse o único aspectoessencial da salvação. O efeito inevitável dessa abordagem é mudar a graça de

Deus em libertinagem (Jd 4). Tal ótica é chamada de antinomianismo.Por outro lado, há muitos que fazem a justificação depender de uma mistura de

fé e obras. Onde o antinomianismo isola a justificação da santificaçãoradicalmente, este erro mistura os dois aspectos da obra salvífica de Deus. Oefeito é fazer da justificação um processo firmado na justiça defeituosa do crente,em vez de um ato declarativo de Deus baseado na justiça perfeita de Cristo. Assimque a justificação é misturada com a santificação, as obras da justiça tornam-separte essencial do processo. A fé conseqüentemente fica diluída com obras. Sola

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fide é abandonada. O erro dos legalistas gálatas (cf. Gl 2:16) foi esse. Paulochamou isto de “outro evangelho” (Gl1: 6,9). E esse mesmo erro é encontrado empraticamente todas as seitas falsas. Também acha-se aqui toda a base da doutrinacatólico-romana da justificação. 

O evangelismo está sendo assaltado nos dias de hoje pelos dois erros. A

controvérsia da “salvação do senhorio” revela a força do antinomianismomoderno.1 Ao mesmo tempo, na outra frente, há o esforço vigoroso pela uniãoecumênica com o catolicismo romano. Isso exigiria dos evangélicos umamolecimento de sua posição em sola fide e aConcessão do carimbo de aprovação para uma doutrina de justificação do tipo dosgálatas, combinando fé e obras. Essas tendências são especialmente alarmantesporque emanam de dentro do próprio movimento evangélico.

E fora do evangelismo, a justificação pela fé somente está sendo atacadafortemente. Uma nova geração de apologistas católicos romanos armou-se contraa sola fide. De acordo com eles, a Bíblia não ensina essa doutrina – ela éinvenção de Lutero e dos reformadores.

Recentemente, ouvi uma apresentação gravada em fita por um padre católicoque fazia essas reedificações. Sugeriu que Jesus dava pouca ou nenhumaatenção à doutrina da justificação em seu próprio ensino e evangelismo. Estehomem, que freqüentemente entra em debate contra teólogos protestantes, dizque já desafiou todos eles para demonstrarem onde foi que Jesus ensinou quealguém pudesse ser justificado pela fé somente. Até agora, diz ele, não encontrouninguém que aceitasse o desafio.

Infelizmente, os evangélicos de hoje estão mal preparados para enfrentar taldesafio. Muitos vêem a Teologia como menos importante do que as grandesquestõesMorais do nosso tempo, quais sejam o aborto, a eutanásia, o homossexualismo eoutros assuntos semelhantes. Misturados aos católicos romanos na arena política,muitos ativistas morais vêem como contraproducente debater Teologia. Preferemdeixar as diferenças doutrinárias entre Roma e os reformadores desaparecer gradualmente até a obscuridade. No mínimo dispõem-se a tratar todas asdiferenças doutrinárias como assuntos secundários. Essa mentalidade estápressuposta no documento intitulado “Evangélicos e Católicos Juntos”, queconclama os evangélicos aAbraçarem os católicos como verdadeiros irmãos e irmãs em Cristo.2

Enquanto isso, a ignorância e a igênuadade teológica têm deixado muitosevangélicos incapazes de defender o que a Bíblia ensina. Nossa época é depragmatismo, obcecada com o que funciona e menos preocupada com o que éverdadeiro. São pouquíssimos os que sabem como, ou mesmo que se dispõe adefender as verdades evangélicas contra visões que as contradizem. É muito maisfácil – e muito mais cortês, ao que parece – simplesmente não discutir. Portanto,os ataques contra doutrinas evangélicas cruciais muitas vezes nem sãorespondidos. A próxima geração estará colhendo o fruto venenoso dessatendência.

Se a doutrina como um todo é ignorada em nossos dias, a doutrina da  justificação é negligenciada mais ainda. Obras sobre a justificação estãosensivelmente ausentes do corpo da literatura evangélica recente. Em sua

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introdução à reedição de 1961 da obra marcante de James Buchanan sobre oassunto, J.I. Packer observou isso:

É um fato de sentido ameaçador saber que o volume clássico de Buchanan,que já tem um século de existência, seja o mais recente estudo completo da

 justificação pela fé que o protestantismo de fala inglesa (para não procurar 

mais longe) tenha produzida, nunca houve uma época de atividade teológicatão febril quanto a dos últimos cem anos; contudo, em meio a todos osmúltiplos interesses teológicos, o século não produziu um único livro dequalquer tamanho sobre doutrina da justificação. Se tudo queconhecêssemos da igreja durante o século passado tivesse sido que elanegligenciou o assunto da justificação desse modo, já estaríamos aptos aconcluir que a época tem sido de apostasia e declínio religioso.3

Não existe doutrina mais importante para ser definida do que o ensino bíblicode que os crentes justificados pela fé somente. Sola fide é uma verdade que

 precisamos conservar bem visível se vamos seguir uma rota segura entre osmales gêmeos do antinomianismo, por um lado, e da justiça-pelas-obras do outro.O apóstolo Paulo a considerava tão importante que pronunciou uma maldiçãosolene de condenação eterna contra qualquer pessoa que corrompesse oevangelho nesse ponto (Gl 1:9). Não é de admirar que na Reforma tantos tenhamdado sua vida em defesa dessa doutrina.

Na verdade, a justificação foi a doutrina que acendeu a Reforma. A teologiacatólica havia negligenciado o assunto por séculos. Roma estava despreparadapara responder ao desafio doutrinário dos primeiros reformadores. Por isso, aresposta inicial da Igreja foi desviar o debate para a questão das reformas moraise eclesiásticas. Martinho Lutero ficou frustrado pela relutância de Roma em falar sobre doutrina, especialmente sobre a justificação pela fé. Ele até declarou queteria prazer em ceder ao papa em matérias eclesiásticas se o papa abraçasse overdadeiro evangelho.4 Lutero entendeu que todas as ofensas morais eeclesiásticas toleradas pela Igreja foram em última instância resultado doobscurecimento da justificação somente pela fé teria automaticamente posto fim àvenda de indulgências e outros abusos do poder eclesiásticos.

Portanto, quando a pregação dos reformadores sobre a justificação pela fécomeçou a despertar as massas para a verdade da Bíblia, foi inevitável que aIgreja Católica Romana respondesse.

O EVANGELHO SEGUNDO ROMAA Igreja finalmente expôs seus pontos de vista sobre a justificação em meados

do século XVI no concílio visava especificamente colocar a doutrina católica emforte contraste às idéias protestantes. No tratamento dado à justificação, mais doque em qualquer outro ponto, a divergência entre Roma e os reformadores é bemacentuada.

Os Cânones e Decretos de Trento não são meramente a opinião arcaica dealguns bispos medievais. Representam a posição oficial da Igreja até o dia dehoje. Todos os concílios católicos subseqüentes têm reafirmado de maneirauniforme pronunciamentos de Trento. Na verdade, o Segundo Concílio Vaticanodos anos 60 declarou serem essas doutrinas “irreformáveis”5. Ordena-se a todosos católicos fiéis que as recebam como verdade infalível. Portanto, para entender 

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a doutrina católico-romana da justificação, precisamos retornar ao Concílio deTrento.

Trento não negou abertamente que os crentes sejam salvos pela divina graça.Para dizer a verdade, o Concílio declara especificamente que “Deus justifica ospecadores pela sua graça por meio da redenção que está em Jesus Cristo” 6. Isso,

é claro, é um eco de Romanos 3:24. Mas a escritura vai um passo além do queTrento estava disposto a ir. Romanos 11:6 diz “E, se é pela graça,  já não é pelasobras; do contrário, a graça já não é graça” (ênfase acrescentada). Trento assumiuuma posição que fazia com que as obras fossem parte essencial da justificação.Fazendo assim, ficaram só com uma graça que “já não é graça”. Portanto, emboraTrento começasse com uma afirmação da graça divina, a doutrina da justificaçãoque descreveu realmente é já “um outro evangelho” que corrompe a graça deDeus.

Um Processo Dependente do Crente,Não um Ato Judicial de Deus

O conselho viu a justificação como um processo pelo qual o pecador érealmente tornado justo. Em outras palavras, Trento dizia que a  justificaçãocompreende todo o processo de santificação. S egundo o Concílio, a justificação é“não meramente a remissão de pecados, mas também a santificação e renovaçãodo homem interior, pela recepção voluntária da graça e dos dons pelos quais umhomem injusto se torna justo.” 7 

Além disso, segundo o Concílio, a justificação é um processo que dura a vidatoda. 8 Na verdade, o processo se estende além dessa vida e entra em outra. Opurgatório é necessário para apagar a dívida toda do castigo eterno:Se alguém diz que a culpa é perdoada a todo pecador penitente depois deter sido recebida a graça da justificação, e que a dívida do castigo eterno é detal maneira apagada que não fica nenhuma dívida de castigo temporal para ser descontada, seja neste mundo, seja no próximo ou no Purgatório, antes que aentrada ao reino dos céus possa ser aberta – que seja ele anátema. 9

Não há garantia alguma de que alguém há de perseverar no processo, 10 ealguns poderão cair pelo caminho e ser perdidos para sempre. Mas “aqueles que,pelo pecado, tiverem caído da graça da justificação recebida poderão ser novamente justificados... pelo sacramento da penitência”.11

Em outras palavras, as boas obras são necessárias para preservar a justificação, e quando crentes pecam, precisam ganhar de novo sua justificaçãopor meio de um ritual religioso. Isso é uma negação inconfundível da sola fide.

 A Fe Mais as Obras, Não a Fé SomenteAo mesmo tempo em que prestava falso culto a importância da fé na

 justificação, Trento declarava que a causa instrumental da justificação (o meio peloqual é obtida) não é a fé, e sim “o sacramento do batismo”. 12

E dentro desse mesmo raciocínio, o Concílio determinou: “Se alguém disser quea justiça recebida não é preservada e que também não é aumentada peranteDeus   por boas obras, mas que essas obras são apenas frutos e sinais da

 justificação obtida, e não a causa desse aumento, que seja ele anátema”.13 Emoutras palavras, as obras são necessárias para se obter, preservar e aumentar a

 justificação. Se obras não forem acrescida à fé, a justificação não atinge seu alvo.

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Até mesmo a graça é conferida por meio de obras no sistema católico-romano:Se alguém disser que pelos ditos sacramentos. a graça não é conferida por meioda obra executada, e [disser] que a fé nas promessas divinas sozinha é suficientepara a obtenção da graça, que seja ele anátema. 14

O Concílio emitiu ainda um repúdio à sola fide: “Se qualquer pessoa disser que

 pela fé somente o pecador é justificado, com o sentido de que nada mais sejarequerido para cooperar a fim de obter a graça da justificação... que seja eleanátema”.15 Em outras palavras, Trento decretou que qualquer pessoa que afirmeser justificado com base na fé sozinha sem as obras, será condenada à maldiçãoeterna.

 A Graça Infundida, e não a Justiça ImputadaComo se notou anteriormente, quando a justificação é misturada com a

santificação, a base para a justificação torna-se a justiça imperfeita do própriopecador, em vez da justiça perfeita de Cristo. Trento reconhecida isso de modoexplícito:

Se alguém disser que os homens são justificados seja pela imputação da justiça de Cristo somente, seja pela remissão de pecados somente, para exclusãoda graça e amor que é derramado em seus corações pelo Espírito Santo e que éinerente neles; ou mesmo que a graça pela qual somos justificados é somente ofavor de Deus – que seja anátema. 16

Aqui o Concílio estava claramente contradizendo o ensino da Reforma, que a justiça perfeita de Cristo, atribuída como crédito na conta do pecador, é a basemediante a qual nós somos aceitos diante de Deus. Em lugar disso, o Concíliodeclarou que a graça é infundida no coração do crente, resultado numa justiça queé inerente (a justiça do próprio crente). Essa justiça inerente – que precisa ser aperfeiçoada pela santificação e no purgatório – oferece a base para que sejamosaceitos diante de Deus.

Um Outro Evangelho, e Não a Mensagem Bíblica

A Escritura não ensina nada disso. Na verdade, a doutrina católica da  justificação é precisamente o que Paulo condenou como sendo “um outroevangelho”. De acordo com a Bíblia, Deus “atribui justiça, independentemente deobras” (Rm 4:4-6). Paulo considerava todas as outras coisas como lixo e refugopor amor a uma doutrina correta da justificação: “para conseguir Cristo e ser achado nele, não tendo justiça própria que procede de lei, senão a que émediante a fé em Cristo, a justiça que procede de Deus mediante a fé” ( Fp 3:8,9ênfase acrescentada). Isso é um repúdio claro da própria doutrina ensinada peloConcílio de Trento!

A Bíblia também ensina que a justificação é um ato declarativo de Deus, e nãoum processo. Jesus prometeu salvação imediata aos crentes: “quem ouve a minhapalavra e crê naquele que me enviou tem a vida eterna, não entra em juízo, maspassou da morte para a vida” (Jo 5:24). Esse versículo afirma claramente que nabase da fé somente, os pecadores passam da morte para a vida eterna. Asantificação é resultado, não pré-requisito; e o purgatório sequer é mencionado naEscritura. “De fato, onde quer que a Bíblia fale da justificação dos crentes, semprefala de um evento no pretérito que ocorreu no momento da fé: [tendo sido]Justificados, pois mediante a fé, temos paz com Deus por meio de nosso Senhor Jesus Cristo” (Rm 5:1, ênfase acrescentada). “Como agora fomos justificados pelo

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seu sangue, muito mais ainda seremos salvos da ira de Deus por meio dele!” (Rm5:9 NVI, ênfase acrescentada). “ Agora, pois, já nenhuma condenação há para osque estão em Cristo Jesus” (Rm 8:1, ênfase acrescentada). Nossa justificação éum ato realizado, não pela fé mais obras: “Porque pela graça sois salvos,mediante a fé, e isto não vem de vós; é dom de Deus; não de obras, para que

ninguém se glorie” (Ef 2:8,9 ênfase acrescentada).A justificação pela fé somente é e sempre foi único caminho da salvação:“Pois que diz a Escritura [do antigo Testamento]? Abraão creu em Deus, e

isso lhe foi imputado para justiça. Ora, ao que trabalha o salário não é consideradocomo favor, e sim como dívida. Mas, ao que trabalha, porém crê naquele que

 justifica o ímpio, a sua fé lhe é atribuída como Justiça. E é assim também queDavi declara ser bem-aventurado o homem a quem Deus atribui justiça,Independentemente de obras” (Rm 4:3-6, ênfase acrescentada).

O que devemos fazer para sermos salvos? A Bíblia responde a essa perguntanos termos mais claros possíveis: “Crê no Senhor Jesus e serás salvo” (At 16:31).As obras não fazem parte nenhuma de nossa justificação. A única que pode tornar qualquer pecador aceitável a Deus é o mérito imputado do Senhor Jesus Cristo.

O EVANGELHO DE ACORDO COM JESUSVoltemos ao desafio do padre católico romano. É certo que se a justificação

pela fé somente é uma doutrina tão crucial, seria de se esperar que aencontrássemos ensinada de maneira clara pelo nosso Senhor. De fato, éprecisamente isso que descobrimos.

Embora Cristo não tenha dado nenhuma explicação formal  da doutrina da justificação (como fez Paulo em sua epístola aos romanos), a justificação pela féfundamentava e permeava toda sua pregação do evangelho. Embora Jesus nuncatenha discursado sobre o assunto, é fácil demonstrar a partir do ministérioevangélico de Jesus que ele ensinava a sola fide.

Por exemplo, foi o próprio Jesus quem declarou: “quem ouve a minha palavra ecrê... passou da morte para a vida” (Jo 5:24)– sem passar por qualquer sacramento ou ritual,e sem qualquer Período de espera ou purgatório. O ladrão na cruz é o exemplo clássico. Mediantea prova de sua tão pequenina fé, Jesus lhe disse: “Em verdade te digo que hojeestarás comigo no paraíso” (Lc 23:43). Não foi exigido nenhum sacramento,nenhuma obra, para que ele obtivesse a justificação.

E mais ainda, as muitas curas que Jesus realizou foram evidência física de seupoder de perdoar pecados (Mt 9:5,6). Quando curava, ele com freqüência dizia: “ atua fé te salvou” (Mt 9:22; Mc 5:34; 10:52; Lc 8:48; 17:19; 18:42). Todas essascuras foram lições concretas sobre a doutrina da justificação pela fé somente.

Mas a ocasião única em que Jesus realmente declarou alguém “justificado”oferece o melhor vislumbre para se entender à doutrina conforme ele ensinou:

“E disse-lhe Jesus: Hoje veio a salvação a esta casa, pois também esteé filho de Abraão. Porque o Filho do homem veio buscar e salvar o que sehavia perdido. E, ouvindo eles estas coisas, ele prosseguiu, e contou uma

 parábola; porquanto estava perto de Jerusalém, e cuidavam que logo sehavia de manifestar o reino de Deus. Disse pois: Certo homem nobre

 partiu para uma terra remota, a fim de tomar para si um reino e voltar depois. E, chamando dez servos seus, deu-lhes dez minas, e disse-lhes:

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Negociai até que eu venha.Mas os seus concidadãos odiavam-no, emandaram após ele embaixadores, dizendo: Não queremos que estereine sobre nós.” (Lc 18:9-14).

Essa parábola certamente chocou os ouvintes de Jesus! Eles “confiavam em simesmos, por ser considerados justos” (v.9) – a definição exata de farisaísmo.

Seus heróis teológicos eram os fariseus, que se atinham aos mais rigorosospadrões legalistas. Jejuavam, exibiam suas orações e doações de esmolas,faziam muitos mais do que era exigido quando da aplicação das leis cerimoniaisque Moisés tinha realmente prescrito.“Quanto à justiça que há na lei”,consideravam-se “irrepreensíveis”(cf. Fp 3:5,6). Contudo, Jesus tinha deixado multidões pasmas quando disse: “se avossa justiça não exceder em muito a dos escribas e fariseus.

Em seguida pasmou ainda mais os ouvintes com uma parábola que pareciacolocar um cobrador de impostos detestável em melhor posição quanto àespiritualidade do que um fariseu que orava.

A lição de Jesus é clara. Estava ensinando que a justificação é pela fé somente.Toda a teologia da justificação está ali contida. Mas sem entrar em teologiaabstrata, Jesus nos pintou o quadro com uma parábola.

Um Ato Judicial de DeusA justificação do cobrador de impostos foi uma realidade que aconteceu no

mesmo instante. Não houve processo, intervalo de tempo, nem medo dopurgatório.

Ele “desceu justificado para sua casa” (Lc 18:14) – não por causa de qualquer coisa que tivesse feito, mas por causa daquilo que fora feito a seu favor. Observeque o cobrador de impostos compreendia sua própria falta de capacidade. Eletinha uma dívida impossível e sabia que não tinha meios de paga-lá. Tudo quepodia fazer era se arrepender e rogar por misericórdia. Compare sua oração coma do fariseu arrogante. Que contraste! Ele não recitou o que havia feito. Sabia quemesmo suas melhores obras eram pecado. Não ofereceu fazer nada por Deus.Simplesmente rogou pela misericórdia divina. Estava buscando que Deus fizessepor ele aquilo que ele próprio não podia fazer. Essa é a natureza da penitênciaque Jesus pedia.

Pela Fé SomenteAlém disso, homem saiu justificado sem fazer nenhum ato de penitência, sem

passar por qualquer sacramento ou ritual, sem realizar uma só obra meritória quefosse. Sua justificação estava completa sem qualquer uma dessas coisas porqueaconteceu só com base na fé. Tudo que era necessário para expiar seu pecado elhe dar perdão já fora feito por ele. Estava justificado pela fé naquele momento.

Repetindo, ele se contrasta totalmente com o fariseu presunçoso, tão certo deque todos seus jejuns e dízimos e outras obras o tornavam aceitável para Deus.Mas enquanto o operoso fariseu continuava não-justificado, o coletor de impostoscrentes recebia plena justificação pela fé somente.

Uma Justiça ImputadaVocê se lembra da declaração de Jesus no Sermão do Monte: “se a vossa

 justiça não exceder em muito a dos escribas e fariseus, jamais entrareis no reinodos céus” (Mt 5:20)? Contudo aqui ele afirma que esse cobrador de impostos – omais ímpio dos homens – estava justificado! Como um pecador desse pôde obter 

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uma justiça que excedia a do fariseu? A única resposta possível é que recebeuuma justiça que não era dele próprio (cf. Fp 3:9). A justiça lhe foi atribuídamediante a fé (Rm 4:9-11).

De quem era a justiça que foi atribuída a ele? Só podia ser a justiça perfeita deum Substituto sem defeito, que por sua vez devia suportar os pecados do

cobrador de impostos e sofrer a penalidade da ira de Deus em lugar dele.O cobrador de impostos ficou justificado. Deus o declarou justo, atribuindo-lhe aplena e perfeita justiça de Cristo, perdoando-o de toda in justiça, e livrando-o detoda condenação. Depois disso ele se apresentou diante de Deus para sempre naposição de perfeita justiça que tinha sido computada a seu favor.

Esse é o sentido da justificação. É o único evangelho verdadeiro. Todos osoutros pontos da teologia emanam desse. Como escreveu Packer: “A doutrina da

  justificação pela fé é como Atlas: suporta um mundo em seus ombros, oconhecimento evangélico completo da graça salvadora”. 17 A diferença entre Romae os reformadores não está em temas sobre minuciosidade teológicas. Umentendimento correto sobre a justificação pela fé constitui o fundamento doevangelho. Não é possível errar nesse ponto sem corromper junto todas as outrasdoutrinas. E é bem por isso que todo “outro evangelho” está sob a maldição eternade Deus.

Realmente, não se pode dizer que Lutero tenha inventado a idéia da justificaçãopela fé somente. Muitos anos antes de Lutero ela foi ensinada por SantoAgostinho, por Paulo, por Jesus e por Moises. Mesmo remontando ao Jardim doÉden, Adão e Eva perceberam logo após seu pecado que as folhas de figueiracom que tentaram cobrir a vergonha do que fizeram eram deploravelmenteinadequadas. O evangelho é dado em Gênesis 3:21 quando Moises nos diz queDeus os vestiu. Precisavam de algo que não podiam providenciar por si próprios; éDeus dando ao homem aquilo de que carecia para se posicionar na presençafavorável dele – esta é a essência do evangelho. Lutero só reafirmou o que oscristãos já compreendem há séculos, que a justificação é pela fé somente.[1] Tenho confrontado esse erro em dois livros distintos: The Gospel According to Jesus [Oevangelho segundo Jesus] (Grand Rapids: Zondervan, 1988, 1994); Faith Works: The Gospel 

 According to the Apostles [A Fé Funciona: O Evangelho Segundo os Apóstolos] (Dallas: Word,1993).[2] Discuti este documento em detalhe em Reckless Faith [Fé Irresponsável] (Wheaton, II.:Crosway, 1994), PP. 119-53.[3] James I. Packer em James Buchanan, The Doctrine of Justification [A Doutrina da Justificação](Edimburgo: Barner of Truth, 1961), p. 2.[4] Martinho Lutero, Table Talk , em Helmut T. Lehman,(org.), Luter’s Works, 55 vols. (Filadélfia,Fortress, 1967), Theodore G. Tappert, trad. 54:185.[5] Lumen Gentium, p. 25, em Walter M. Abbot, S.J., (org.), The Documents of Vatican II  [OsDocumentos do Vaticano II] (Nova York: America Press, 1966).[6] Cânones e Decretos do Concílio de Trento, seção 6, cap. 6.[7] Trento, seção 6, cap. 7 (ênfase acrescentada).[8] Trento, seção 6, cap. 10.[9] Trento, seção 6, cap. 30.[10] Trento, seção 6, cap. 13.[11] Trento, seção 6, cap.14.[12] Trento, seção 6, cap. 7.[13] Trento, seção 6, cap.24.[14] Trento, seção 7, cânone 8 (ênfase acrescentada).

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[15] Trento, seção 6, cânone 9 (ênfase acrescentada).[16] Trento, seção 6, cânone 11.[17] Packer, em Buchanan, p. 2.Autor: Dr. John F. Macarthur, Jr. Fonte: Justificação Pela Fé Somente, Capítulo 1, autores John MacArthur, Jr., R.C. Sproul, Joel Beeke, John Gerstner e John Armstrong, Editora Cep