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International Financial Reporting Standards Junho e julho de 2009 - Nº 7 IFRS Journal Índice 2. Ponto de vista Para José Rogério Luiz, CFO da Totvs, treinamento é o principal desafio da convergência 4. Relações com Investidores Comunicar o impacto nas demonstrações financeiras é essencial para manter a confiança dos investidores 6. IAS 12 IASB propõe alteração em norma referente a Imposto de Renda 9. Auditoria interna Pesquisa da Ernst & Young mostra que formação de profissionais em IFRS deve ser intensificada 10. Fusões e aquisições Artigo analisa como ficam essas operações a partir da adoção do novo padrão contábil 12. IFRS na internet Publicações, estudos e webcasts disponíveis no site da Ernst & Young ampliam acesso às informações IFRS Journal é uma publicação destinada a clientes e colaboradores da Ernst & Young que aborda questões relevantes para as empresas na migração para os padrões internacionais de contabilidade IFRS. As opiniões aqui expressas não devem ser utilizadas, de maneira isolada, para a tomada de decisão por parte das empresas. Isto porque existem particularidades pertinentes a cada empresa que podem, eventualmente, alterar o enfoque transmitido. Recomendamos que, antes de a decisão ser tomada, as empresas discutam esses pontos de vista com seus consultores. Estamos à disposição para discutir nossas opiniões e sua aplicação em cada caso concreto. Mais informações sobre IFRS com: Paul Sutcliffe (paul. [email protected]); Pedro L. Farah ([email protected]. com); Fernando Próspero ([email protected]) ou pelo e-mail [email protected]. Revisão técnica: Idesio Coelho ([email protected]). IFRS Journal é uma publicação do Departamento de Comunicação e Gestão de Marca da Ernst & Young Brasil. Jornalista responsável: Rejane Rodrigues (Mtb 22.837); Reportagem: Clarissa Wahl; Projeto gráfico e edição visual: André Heller Comunicação e treinamento, elementos-chave para a transição para o IFRS O esforço de comunicar claramente aos stakeholders as mudanças percebidas nas demonstrações financeiras a partir da adoção das normas internacionais de contabilidade está na pauta do dia das empresas brasileiras. Não sem razão, pois a falta de entendimento sobre os impactos da conversão nos resultados pode gerar desconfiança de investidores, de acionistas e do mercado, com prejuízos para toda a empresa. Para conhecer boas práticas nessa área, o IFRS Journal traz entre os destaques desta edição entrevista com José Rogério Luiz, CFO da Totvs. À frente das finanças da maior empresa desenvolvedora de softwares de gestão empresarial do Brasil, o executivo acredita que, para evitar que o mercado seja induzido a tomar conclusões equivocadas na apresentação dos relatórios em IFRS, a melhor opção é adotar uma comunicação clara e frequente com analistas e investidores. Mas, para que isso aconteça, o entendimento do novo padrão contábil deve ser completo também dentro de casa, especialmente entre os profissionais de auditoria e contabilidade – o que nem sempre acontece. É o que revela a reportagem “Auditoria interna é peça-chave no processo de migração”, que traz um dado preocupante: a surpreendente falta de conhecimento sobre o assunto dos profissionais de contabilidade e finanças que trabalham com a preparação de relatórios financeiros. Os dados integram pesquisa da Ernst & Young com empresas americanas e brasileiras e mostram que somente o treinamento intenso pode reverter esse quadro, de forma a permitir à equipe de auditoria interna ser uma aliada para a correta avaliação dos impactos da migração e o desenvolvimento de planos de mudanças. O IFRS Journal traz ainda reportagem sobre a norma IAS 12 – Imposto de Renda que, em março, recebeu proposta de alteração pelo International Accounting Standards Board (IASB). O documento, que recebe comentários até 31 de julho, aproxima a norma do modelo até então utilizado pelas empresas americanas, o US GAAP. Boa leitura!

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International Financial Reporting Standards

Junho e julho de 2009 - Nº 7

IFRS Journal

Índice

2. Ponto de vistaPara José Rogério Luiz, CFO da Totvs, treinamento é o principal desafio da convergência

4. Relações com InvestidoresComunicar o impacto nas demonstrações financeiras é essencial para manter a confiança dos investidores

6. IAS 12IASB propõe alteração em norma referente a Imposto de Renda

9. Auditoria internaPesquisa da Ernst & Young mostra que formação de profissionais em IFRS deve ser intensificada

10. Fusões e aquisiçõesArtigo analisa como ficam essas operações a partir da adoção do novo padrão contábil

12. IFRS na internet Publicações, estudos e webcasts disponíveis no site da Ernst & Young ampliam acesso às informações

IFRS Journal é uma publicação destinada a clientes e colaboradores da Ernst & Young que aborda questões relevantes para as empresas na migração para os padrões internacionais de contabilidade IFRS. As opiniões aqui expressas não devem ser utilizadas, de maneira isolada, para a tomada de decisão por parte das empresas. Isto porque existem particularidades pertinentes a cada empresa que podem, eventualmente, alterar o enfoque transmitido. Recomendamos que, antes de a decisão ser tomada, as empresas discutam esses pontos de vista com seus consultores. Estamos à disposição para discutir nossas opiniões e sua aplicação em cada caso concreto.

Mais informações sobre IFRS com: Paul Sutcliffe ([email protected]); Pedro L. Farah ([email protected]); Fernando Próspero ([email protected]) ou pelo e-mail [email protected]. Revisão técnica: Idesio Coelho ([email protected]).

IFRS Journal é uma publicação do Departamento de Comunicação e Gestão de Marca da Ernst & Young Brasil. Jornalista responsável: Rejane Rodrigues (Mtb 22.837); Reportagem: Clarissa Wahl; Projeto gráfico e edição visual: André Heller

Comunicação e treinamento, elementos-chave para a transição para o IFRSO esforço de comunicar claramente aos

stakeholders as mudanças percebidas

nas demonstrações financeiras a partir

da adoção das normas internacionais de

contabilidade está na pauta do dia das

empresas brasileiras. Não sem razão,

pois a falta de entendimento sobre os

impactos da conversão nos resultados

pode gerar desconfiança de investidores,

de acionistas e do mercado, com

prejuízos para toda a empresa.

Para conhecer boas práticas nessa

área, o IFRS Journal traz entre os

destaques desta edição entrevista

com José Rogério Luiz, CFO da Totvs.

À frente das finanças da maior empresa

desenvolvedora de softwares de gestão

empresarial do Brasil, o executivo

acredita que, para evitar que o mercado

seja induzido a tomar conclusões

equivocadas na apresentação dos

relatórios em IFRS, a melhor opção

é adotar uma comunicação clara e

frequente com analistas e investidores.

Mas, para que isso aconteça, o

entendimento do novo padrão contábil

deve ser completo também dentro

de casa, especialmente entre os

profissionais de auditoria e contabilidade

– o que nem sempre acontece.

É o que revela a reportagem “Auditoria

interna é peça-chave no processo

de migração”, que traz um dado

preocupante: a surpreendente falta

de conhecimento sobre o assunto dos

profissionais de contabilidade e finanças

que trabalham com a preparação

de relatórios financeiros. Os dados

integram pesquisa da Ernst & Young

com empresas americanas e brasileiras

e mostram que somente o treinamento

intenso pode reverter esse quadro, de

forma a permitir à equipe de auditoria

interna ser uma aliada para a correta

avaliação dos impactos da migração e o

desenvolvimento de planos de mudanças.

O IFRS Journal traz ainda reportagem

sobre a norma IAS 12 – Imposto de Renda

que, em março, recebeu proposta de

alteração pelo International Accounting

Standards Board (IASB). O documento,

que recebe comentários até 31 de julho,

aproxima a norma do modelo até então

utilizado pelas empresas americanas,

o US GAAP. Boa leitura!

2 IFRS Journal | Ernst & Young

Educar o investidor é a aposta da Totvs na adoção do IFRSDurante os últimos meses, as preocupações da Totvs, maior empresa desenvolvedora de softwares de gestão empresarial do País, não se resumiram aos desafios do mercado de tecnologia, tampouco à volatilidade gerada pela crise financeira global. Somou-se a isso o desafio de compreender as novidades e os impactos a serem sentidos a partir da adoção do padrão contábil internacional, ou IFRS, nas demonstrações financeiras da companhia.

A empresa, que abriu capital em 2006 (hoje está no Novo Mercado, nível de governança mais elevado da Bolsa de Valores de São Paulo) e que nos últimos oito anos teve a receita multiplicada por dez, acaba de publicar uma reconciliação do patrimônio líquido e do resultado em BR GAAP para IFRS. Nesta entrevista, José Rogério Luiz, CFO da Totvs, fala sobre os desafios da migração para as normas internacionais e sobre o trabalho desenvolvido na área de Relações com Investidores, para ganhar a confiança do mercado em um momento de indefinições e volatilidade global. Confira a seguir os principais trechos da entrevista.

IFRS Journal • Sabe-se que o IFRS pode reconhecer, no balanço de empresas que adotam o padrão internacional pela primeira vez, perdas em certas operações que antes refletiam lucros ou ganhos em campos que antes representavam prejuízo. Isso também aconteceu na Totvs?

José Rogério Luiz • Registramos esse tipo de situação quando tratamos de impairment. Para uma empresa que fez muitas incorporações, como a Totvs, a amortização do ágio foi um aspecto crucial. Ou seja, quando você faz uma aquisição, e o valor de livro dessa operação é inferior ao valor efetivamente pago, você gera, segundo a atual legislação fiscal brasileira, uma despesa – mas que,

para o IFRS, não é. O que acontece é que, ao gerar uma despesa, o lucro fica menor. O IFRS não permite que isso seja feito, ou pelo menos não na mesma proporção da antiga legislação. Para nós, o impacto foi o de aumento de lucro. Como a divulgação para os investidores já era baseada no lucro normalizado, o impacto acabou sendo muito mais visual do que efetivamente de inversão de resultados. O que quero dizer é que não houve significativa alteração e, se teve, foi para melhor em termos de informação.

IFRS Journal • Como foi informar aos investidores as mudanças geradas pela migração às normas contábeis internacionais?

José Rogério Luiz • A Totvs não teve mudanças significativas, mas é claro que registramos alterações, principalmente na atualização a valor presente dos juros e em relação ao lançamento de despesas relativas ao nosso plano de stock option. O que aconteceu é que preparamos nossos investidores aos poucos, informando-os de que teríamos mudanças. Como fazemos mais de 700 reuniões com investidores por ano, fomos avisando o público que nossos resultados refletiriam o impacto da adoção do IFRS. E, nos releases distribuídos, a empresa buscou dar uma visão de como o balanço era feito no padrão antigo e de como iria ficar no novo modelo. Vale lembrar que nem todas as empresas tiveram de entregar suas demonstrações em IFRS a partir deste ano – muitas só vão fazer isso em 2010. Em resumo, como é que se faz para tornar comparáveis dados que não são comparáveis? Isso pode induzir o mercado financeiro a conclusões equivocadas. Nós só conhecemos uma forma de evitar isso: informar bem os investidores, fazer releases constantes e ter contato muito próximo com os principais analistas de mercado, pois sabemos que somente o nosso esforço não é suficiente. Também investimos na comunicação com os analistas, com a

José Rogério Luiz Chief Financial Officer (CFO) da Totvs, também acumula o cargo de vice-presidente executivo e diretor de Relacionamento com Investidores da empresa. Economista, José Rogério possui especialização em General Management pela London Business School. Em 2008 recebeu o Prêmio “O Executivo de Finanças do Ano” do Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças (IBEF), instituição na qual, desde 2009, atua como vice-presidente executivo.

�IFRS Journal | Ernst & Young

criação de um canal de esclarecimento para o mercado investidor.

IFRS Journal • Se esse trabalho com os investidores não tivesse sido satisfatório, qual seria o risco gerado para a empresa?

José Rogério Luiz • Poderia ocorrer um erro de interpretação que, por sua vez, levaria os investidores a ficarem muito animados ou desanimados. Embora o mercado só exista pelo ânimo e desânimo dos investidores – ou seja, pelo mecanismo de compra e venda de papéis –, isso tem de ser feito com a mesma base de informação. Entendemos que, entre ficar desesperado e partir para um processo de informação absolutamente disciplinado, optar pela segunda alternativa era a melhor solução.

IFRS Journal • Como foi na Totvs esse processo de educação do investidor, de fazê-lo compreender o que exatamente estava acontecendo?

José Rogério Luiz • Na Totvs, isso começou no início de 2008, sem termos a exata ideia de como seria o impacto. Mas, desde o início, buscamos mostrar o que poderia acontecer e explicar os principais conceitos aos investidores, como impairment, e informá-los sobre como seriam os impactos nas linhas. Esse trabalho seguirá até meados de 2010, que é quando teremos trimestres absolutamente comparáveis. Por exemplo, o primeiro trimestre deste ano já é comparável com o mesmo período no ano passado. Precisamos ter uma base em IFRS, mas também é imprescindível mostrar uma pequena conciliação em relação aos dados que as pessoas tinham. Quando não se tem uma noção exata de qual seria o impacto real nas demonstrações financeiras, como é que se pode auxiliar

“Entendemos que o IFRS – e mesmo a Lei 11.638 –

permite um processo de julgamento mais intenso.

Ele exige das empresas e, principalmente, dos

auditores uma visão mais apurada do negócio e

menos da aplicação.”

José Rogério Luiz

um analista a fazer suas projeções e emitir um julgamento de valor? Em meados de janeiro de todos os anos, os analistas passam para o mercado qual é a previsão que têm do fechamento do trimestre para algumas das empresas mais importantes do mercado. Se não sabíamos exatamente qual era a dimensão do impacto, como é que iríamos orientá-los? Tenho de dizer a eles que na legislação antiga o balanço fechou desse jeito, mas que, já a partir do novo padrão contábil, tais impactos serão sentidos.

IFRS Journal • A Totvs é uma empresa internacional. O senhor acredita que a experiência da Totvs fora do País, nesse momento de transição, ajudou na adoção do IFRS?

José Rogério Luiz • Para nos mantermos competitivos, adotamos uma estrutura o mais simples e acessível possível: todas as nossas ações são ordinárias e 80% do conselho é externo e independente. Ninguém compra software de uma empresa que acha que pode não existir amanhã, e o único jeito de mostrar que nossa companhia terá longevidade é revelando nossa transparência. Isso tudo está interligado. Não se está falando de caminhos possíveis ou opções a serem tomadas, o que se precisa ter em mente é: em quanto tempo conseguimos passar dessa fase, de forma a nos concentrarmos naquilo de que precisamos, que é atender aos clientes, fazer as vendas etc. Parece um pouco filosófico, mas não é. É absolutamente prático. Já existem tantas questões complexas, por isso não devemos transformar uma obrigatoriedade em mais uma crise.

IFRS Journal • Que normas representaram maiores desafios para a Totvs?

José Rogério Luiz • Basicamente a relativa a impairment. Imagine fazer uma análise de fluxo de caixa estabelecendo

uma data, em um cenário financeiro global que estava se deteriorando. Era como tentar atirar e acertar em um alvo móvel.

IFRS Journal • A crise financeira e toda a volatilidade gerada por ela chegaram a dificultar o processo de adoção?

José Rogério Luiz • Não. Acho que todos estavam tão envolvidos no projeto que a crise mais protegeu do que atrapalhou. Estávamos percebendo o que estava acontecendo no cenário global, e o papel de quem não estava no dia-a-dia do processo de migração para o novo padrão contábil era passar, para o time de IFRS, uma leitura isenta sobre em que pontos a crise poderia ou não afetar a adoção. Ou seja, foi feita uma espécie de filtro.

IFRS Journal • Qual foi o maior desafio na implementação do IFRS na Totvs?

José Rogério Luiz • O primeiro grande desafio foi o de treinamento. Treinamos 40 pessoas de várias áreas (contabilidade, fiscal, vendas e comercial, entre outras) no Brasil e no exterior, e tivemos ainda os custos com profissionais de auditoria e consultoria, entre outros.

IFRS Journal • A Totvs aposta na internacionalização de suas operações. A padronização das questões contábeis facilita o processo de aquisição de operações em outros países, uma vez que os dados contábeis e outras informações financeiras passam a ser comparáveis?

José Rogério Luiz • Certamente. Isso cria uma facilidade maior e catalisa processos. Toda essa mudança, por mais dolorida que possa parecer no começo, deve ser vista com bons olhos. Nossos produtos já estão em 26 países, ou seja, quando um cliente nos pergunta sobre a situação da empresa ou demanda algum dado institucional, podemos apresentar nossos números, que a partir de agora serão comparáveis com as informações das empresas X, Y e Z.

� IFRS Journal | Ernst & Young

Esforço de comunicação é base para transição ao IFRS

A divulgação das primeiras demonstrações financeiras de acordo com a Lei 11.638, que alinhou a prática contábil brasileira ao padrão internacional, representou para algumas empresas de capital aberto redução de 20% no lucro líquido em 2008, em comparação ao resultado que teriam se a divulgação tivesse sido feita com o antigo BR GAAP. Conforme estudo realizado pela Ernst & Young com 40 empresas registradas na Comissão de Valores Mobiliários (CVM), após a adoção da Lei 11.638 o lucro líquido dessas companhias caiu R$ 16,5 bilhões, para R$ 67 bilhões. O impacto negativo, provocado especialmente pelos efeitos da aplicação de normas como o CPC 01, CPC 02, CPC 06, CPC 10 e CPC 14, reforça a importância da área de Relações com Investidores (RI) para gerenciar a insegurança de investidores e demais stakeholders.

Em momentos como esses, criar um mecanismo de resposta rápida às dúvidas é essencial, como explica Sonia Swinney, gerente sênior da Ernst & Young recém-chegada ao Brasil para reforçar a equipe de IFRS. Especialmente porque campos das demonstrações financeiras que antes

apresentavam bons resultados agora podem refletir perdas, deixando o investidor confuso. “Nessa hora, ter um departamento de RI bem preparado faz toda a diferença”, explica Sonia, lembrando que essa diferença também pode refletir negativamente no desempenho das ações da companhia em bolsa de valores, diante da falta de esclarecimentos.

A boa notícia é que essa depreciação pode regredir na mesma proporção da agilidade da empresa em corrigir inconsistências. “Caso contrário, como se pode imaginar, isso pode se tornar o pesadelo da área de Relações com Investidores. Reconstruir a credibilidade é algo que leva tempo e, muitas vezes, pode levar à substituição de profissionais-chave no processo de elaboração de relatórios financeiros”, diz a gerente.

Mas no processo mundial de adoção do IFRS o Brasil tem a chance de ter menos efeitos adversos que países europeus. Isso porque, explica Sonia, na Europa, muitas empresas iniciaram sua adesão às normas internacionais ainda em 2003, o que oferece às companhias brasileiras a possibilidade de ter um benchmark para

balizar suas ações, ajudando a minimizar os efeitos negativos da adoção do padrão internacional no País.

Ainda assim, o ingresso das empresas brasileiras no time de companhias com balanços comparáveis exige atenção. Isso porque, mais do que uma simples mudança de cálculos, a adoção significa uma mudança de pensamento e ação. Segundo a vice-presidente do Instituto Brasileiro de Relações com Investidores (Ibri), Vania Borgerth, o profissional de RI não deve ter a ideia errônea de que sua atitude em relação ao padrão IFRS continuará igual ao BR GAAP. Explica-se: se, no padrão anterior, os processos eram seguidos obedecendo a regras, a partir do IFRS os processos contábeis passarão a obedecer a princípios, que trazem maior flexibilidade. “No padrão anterior, existiam normas e processos restritos a serem seguidos. Agora, o profissional de RI terá de acompanhar de perto a estratégia da empresa e trabalhar junto da alta administração”, explica Vania, lembrando que, a partir de agora, a exigência é que esse profissional avalie a razão de usar uma ou outra norma, uma ou outra

Chegada do padrão contábil internacional pode trazer mudanças nas demonstrações

financeiras e no humor dos investidores. Comunicar bem essas alterações é essencial

para manter a credibilidade

�IFRS Journal | Ernst & Young

só então começar a agir pode colocar a imagem da empresa em risco.

Se a redução nos lucros foi a situação vivenciada no Brasil – muito em parte pelo fato de a Lei 11.638 ter permitido a amortização de ágio – o contrário também pode acontecer. E, nesse caso, a atuação do RI também é de extrema importância, dessa vez no sentido de aproveitar as oportunidades que se abrem.

No Reino Unido, na Itália e na Irlanda, por exemplo, a adoção do IFRS gerou aumento do lucro divulgado nos relatórios das companhias de capital aberto. Os ganhos reportados com o uso dos GAAPs nacionais correspondiam a 66%, 85% e 89%, respectivamente, do valor que será observado agora, a partir da utilização do princípio contábil internacional.

Por que o lucro foi menor?

O lucro menor das empresas que apresentaram demonstrações de acordo com a Lei 11.638 ocorreu em razão especialmente da aplicação das normas CPC 01, CPC 02, CPC 06, CPC 10 e CPC 14. Saiba por quê:

CPC 01 (Impairment) - Com a introdução do CPC 01, algumas empresas tiveram de começar a reconhecer o valor recuperável dos ativos. Antes da lei, essas organizações não precisavam do teste de impairment, que agora deve ser realizado anualmente e já começa a provocar impactos significativos nos resultados apresentados.

CPC 02 (Efeito nas Mudanças das Taxas de Câmbio e Conversão de Demonstrações Contábeis) – Em relação ao CPC 02, o impacto mais comum está relacionado às variações cambiais dos investimentos em controladas e coligadas em moeda funcional diferente da utilizada pela empresa controladora. A partir da nova lei, a conversão para a moeda da matriz passa a ser registrada em conta específica do patrimônio líquido, em vez de ser registrada no resultado. Como a entrada do CPC coincidiu com a grande variação cambial registrada no último ano, o impacto foi bastante significativo para algumas empresas.

CPC 06 (Arrendamento Mercantil) – Gera impactos especialmente às empresas cuja produção é feita com máquinas e equipamentos alugados. Um bom exemplo é de empresas do setor aéreo, cujos principais bens são as aeronaves. Pelo BR GAAP, a empresa não registra o avião como sendo de sua propriedade, mas sim como arrendamento operacional ou leasing mensal. Com a Lei 11.638, esse bem será registrado como arrendamento financeiro em contrapartida de uma dívida, contemplando também sua depreciação.

CPC 10 (Pagamento Baseado em Ações) – No padrão antigo, as empresas não eram obrigadas a registrar essas despesas no resultado. Agora precisam mensurar e registrar esse gasto.

CPC 14 (Instrumentos Financeiros) – No modelo antigo, operações com derivativos, por exemplo, nem sempre eram contabilizadas. Com a Lei 11.638, todos os ativos e passivos financeiros devem estar presentes no balanço e mensurados a valor justo. Com isso, as demonstrações ganham um componente adicional, a volatilidade, que até então era ignorada pelo modelo BR GAAP.

determinação contábil. “Não existe mais receita pronta”, diz ela.

E, por não existir mais receita pronta, o resultado final do balanço também será uma incógnita para o investidor e demais stakeholders. A grande maioria dos investidores não sabe o que é IFRS e, certamente, ao analisar e comparar um balanço feito em acordo com o padrão internacional com outro do ano anterior, terá dificuldades em compreender o que houve. “O profissional de RI tem duas opções: ou pega esse investidor pelo braço e explica o que é essa novidade e como sua adoção vai impactar no dia-a-dia da companhia ou então sofrerá as consequências”, adverte a vice-presidente do Ibri. O profissional de RI que esperar a área de contabilidade ‘desvendar’ o tema IFRS na empresa para

É importante ressaltar que um fator crítico que reflete no aumento do lucro nesses países foi a não amortização de ágio seguindo as normas internacionais. Esse impacto também é esperado no Brasil em 2009. A informação integra pesquisa divulgada recentemente pelo Canadian Investor Relations Institute que, entre outras conclusões, revela que 50% dos gestores de recursos do Reino Unido decidiram investir ou não em uma companhia após analisarem os novos dados contábeis trazidos com a adoção do IFRS.

Qualquer que seja a situação, uma comunicação clara e objetiva é o caminho mais acertado. “O assunto IFRS é extremamente complexo e dinâmico e isso exige do profissional de RI atualização constante”, completa Vania.

� IFRS Journal | Ernst & Young

IASB propõe alteração em norma que trata de Imposto de RendaProposta para mudanças no IAS 12 recebe comentários até 31 de julho de 2009

O Comitê de Normas Internacionais de

Contabilidade (IASB) emitiu, em 31 de

março de 2009, um Exposure Draft (ED)

que propõe a substituição do IAS 12

– Imposto de Renda. A proposta receberá

comentários até 31 de julho próximo,

quando então deverá ser aprovada e

aplicada já a partir do próximo ano.

A mudança, segundo o sócio de Auditoria

da Ernst & Young Fernando Próspero,

reduz as diferenças contábeis do IAS

12 em relação não somente às normas

contábeis americanas (US GAAP), mas

também às normas contábeis de outros

países. “Era uma demanda antiga do

mercado. Nos últimos anos o IASB tem

recebido questionamentos e pedidos para

alterar essa norma, visando diminuir as

diferenças causadas por certas definições

e exceções que fazem parte do IAS

12, mas que não estão contempladas

nas regras contábeis de outros países,

principalmente aqueles que estão

buscando convergência com as normas

internacionais”, explica Próspero.

De acordo com o sócio, uma das

principais mudanças é com relação à

forma de contabilização de posições

fiscais incertas (contingências), cujo

critério passa a ser semelhante à norma

americana, segundo a qual essas posições

são mensuradas com base em uma média

ponderada, considerando-se cenários

de probabilidade para o desfecho da

causa. “As demais mudanças propostas,

de certa forma, aproximam o IAS 12

das práticas brasileiras (BR GAAP),

uma vez que algumas das definições e

exceções que hoje estão contempladas

na norma serão eliminadas com a nova

redação”, diz.

Entre as mais importantes mudanças

trazidas pelo documento estão as

definições de ‘base fiscal’ e ‘diferença

temporária’; exceções na determinação

das ‘diferenças temporárias’ – com a

eliminação da exceção do reconhecimento

inicial –; alocação de componentes de

impostos no patrimônio líquido; posições

fiscais incertas (contingências fiscais); e

disposições transitórias e relacionadas à

primeira adoção do IFRS.

“As mudanças são importantes.

As empresas terão de mensurar os efeitos

dessas propostas considerando-se a

sua posição fiscal atual – planejamentos

tributários, provisões de impostos,

leis/regras fiscais e controvérsias da

legislação”, avalia Próspero.

Veja, a seguir, um resumo das principais

alterações:

Definições de ‘base fiscal’ e ‘diferença temporária’

O atual IAS 12 requer que a base fiscal de

um ativo ou passivo reflita a maneira pela

7IFRS Journal | Ernst & Young

O Exposure Draft propõe mudar o termo base fiscal

(tax base) para fundamento fiscal (tax basis),

definido no documento como “a mensuração,

aplicando-se as alíquotas fiscais em vigor, de um

ativo, passivo ou outro item”.

qual a empresa espera recuperar esse

ativo ou liquidar o passivo. Isso faz com

que a determinação do imposto diferido

fique em razão da intenção da gerência,

o que o IASB quer evitar.

O Exposure Draft propõe mudar o termo

base fiscal (tax base) para fundamento

fiscal (tax basis), definido no documento

como “a mensuração, aplicando-se as

alíquotas fiscais em vigor, de um ativo,

passivo ou outro item”.

Pelas regras atuais, uma diferença

temporária é simplesmente a diferença

entre o valor contábil de um item e a sua

base fiscal. O ED redefine uma “diferença

temporária” como sendo uma diferença

entre o valor contábil de um item e sua

base fiscal – esta, que a empresa espera

afetar seu lucro tributável a partir do

momento em que o valor contábil do ativo

ou do passivo for recuperado ou liquidado.

Exceções na determinação das diferenças temporárias

O IAS 12 atualmente determina

que o imposto diferido não deve ser

reconhecido para algumas diferenças

temporárias resultantes da contabilização

inicial de ativos e passivos. Essa “exceção

do reconhecimento inicial” (ou ERI) pode

parecer arbitrária, mas é essencialmente

uma solução pragmática para o que

tem sido visto como consequências

contábeis inapropriadas na determinação

de diferenças temporárias em

algumas circunstâncias.

As propostas do ED nessa área

são complexas. O IASB concluiu

que a exceção do reconhecimento

inicial não pode mais ser justificada

conceitualmente. Consequentemente,

a “exceção do reconhecimento inicial”

foi revogada, sendo o imposto de

renda diferido reconhecido para

todas as diferenças temporárias,

independentemente de quando surgem.

Isso exceto para o imposto de renda

diferido passivo, que não é reconhecido

quando da contabilização inicial do ágio.

A proposta sugere que, quando houver

reconhecimento inicial de um ativo

ou passivo com base fiscal diferente

de seu valor contábil, estes sejam

subdivididos em:

• Ativo ou passivo, excluindo-se

qualquer efeito fiscal específico para

a empresa; e

• Ativo ou passivo que possuir

qualquer benefício ou prejuízo fiscal

específico para a empresa.

O valor resultante dessa exclusão se

transforma no valor contábil do ativo

ou passivo a ser comparado com a

sua respectiva base fiscal. O imposto

diferido é reconhecido para qualquer

diferença temporária decorrente desse

novo valor contábil do ativo ou passivo.

Se os valores pagos ou recebidos desses

ativos e passivos forem diferentes dos

valores reconhecidos contabilmente

(incluindo o imposto diferido), a

Fernando Próspero, sócio de Auditoria A mudança proposta reduz as diferenças contábeis do IAS 12 em relação não somente às normas contábeis americanas (US GAAP), mas também às normas de outros países.

� IFRS Journal | Ernst & Young

empresa deve reconhecer a diferença

como um prêmio ou provisão, que é

registrada contabilmente contra o saldo

de imposto diferido.

O impacto disso é que a antiga exceção

do reconhecimento inicial é mantida, no

sentido de que qualquer imposto diferido

reconhecido quando do reconhecimento

inicial de um ativo ou passivo, que não

seja uma combinação de negócios ou uma

transação que afete o patrimônio líquido

ou lucro tributável, é imediatamente

compensado com um prêmio ou provisão.

Alocação de componentes de impostos no patrimônio líquido

O IFRS atualmente requer que o

imposto corrente e o imposto diferido

sejam debitados ou creditados em

Other Comprehensive Income – OCI ou

diretamente no patrimônio líquido quando

o imposto estiver relacionado a itens que

foram originalmente contabilizados no

patrimônio líquido no período corrente

ou em anos anteriores. Modificações

subsequentes nesses valores são também

alocados em OCI ou no patrimônio líquido,

conforme aplicável, cujo tratamento era

referido como backward tracing.

O Exposure Draft propõe que qualquer

mudança para um imposto ativo

ou passivo relacionado a um item

contabilizado em um período anterior

seja reconhecida no resultado.

Somente a contabilização de imposto

de renda diferido relacionada a

pagamentos baseados em ações se

mantém, caso exista alguma mudança

no imposto inicialmente contabilizado

em períodos subsequentes e, nesse caso,

a mudança deve ser contabilizada no

patrimônio líquido.

Posições fiscais incertas (contingências fiscais)

Incertezas fiscais surgem quando existe

uma dúvida em relação à interpretação

de certas leis e/ou como se deve aplicar

a lei em uma transação específica, ou

as duas possibilidades. O IAS 12 não

endereça explicitamente a questão

de reconhecimento e mensuração de

contingências fiscais, mas nota que

os princípios do IAS 37 Provisões,

Ativos e Passivos Contingentes podem

ser relevantes para a divulgação de

impostos relacionados a contingências

ativas e passivas. Como resultado, na

prática, temos notado diferenças para a

contabilização de contingências fiscais.

O ED propõe que posições fiscais incertas

sejam mensuradas com base em uma

média ponderada, considerando-se

cenários de probabilidade para o desfecho

da causa (ou, segundo o termo em inglês,

probability-weighted average amounts of

possible outcomes).

O ED propõe ainda que a empresa

divulgue a informação sobre as bases

de suas estimativas para incertezas

fiscais para permitir que usuários das

demonstrações financeiras avaliem

possíveis efeitos nas demonstrações

financeiras dessas incertezas e prazo

(por exemplo, potenciais perdas de

disputas judiciais com as autoridades

fiscais), incluindo:

• Uma descrição da incerteza; e

• Uma indicação dos possíveis efeitos

nas demonstrações financeiras em

relação aos valores contabilizados de

impostos e o prazo.

Essas propostas aumentam

significativamente as divulgações

requeridas para questões que normalmente são bastante sensíveis e relacionadas a contingências fiscais.

Disposições transitórias e relacionadas à primeira adoção do IFRS

A empresa deve reconhecer qualquer resultado das mudanças nos ativos e passivos decorrentes deste ED como um ajuste contra lucros acumulados no balanço de abertura do primeiro período comparativo apresentado.

Para a nova proposta de alocação do imposto para resultado, OCI ou componentes do patrimônio líquido, a empresa não deve fazer transferências entre lucros acumulados e OCI para ajustar tais valores no saldo de abertura do primeiro balanço comparativo apresentado.

Para o caso em que o imposto de renda diferido não foi reconhecido devido à exceção do reconhecimento inicial, os valores decorrentes das novas regras são ajustados contra lucros acumulados no balanço de abertura do primeiro período comparativo apresentado.

Empresas que estão em processo de transição para o IFRS devem aplicar essas novas propostas retroativamente. Mas, a nova proposta de alocação do imposto para resultado, OCI ou componentes do patrimônio líquido devem ser aplicados a partir da data de transição para o IFRS.

Classificação no balanço patrimonial

Em contraste à norma atual, o imposto de renda diferido ativo e passivo passa ser classificado como corrente ou não corrente, de acordo com a classificação do

seu ativo ou passivo correspondente.

9IFRS Journal | Ernst & Young

Auditoria interna é peça-chave no processo de migração

A adoção do padrão contábil internacional, ou IFRS, pode representar uma oportunidade para os profissionais de auditoria interna. É o que revela estudo produzido pela Ernst & Young a partir de levantamento realizado nos Estados Unidos e no Brasil, que aponta o amplo alcance das ações de auditoria interna – que vai além das áreas contábil e financeira, para atingir também TI, Recursos Humanos e impostos, entre outras – como principal aliado das empresas para a correta avaliação dos impactos da migração e o desenvolvimento de planos para implantar as mudanças necessárias.

Apesar da qualificação, o levantamento traz um dado preocupante: a surpreendente falta de conhecimento e de preparo por parte dos profissionais de contabilidade e finanças que trabalham com a preparação de relatórios financeiros. Nos Estados Unidos, entre

os participantes do estudo, intitulado “Por dentro das normas IFRS – Uma oportunidade para a auditoria interna”, 64% afirmaram ter apenas conhecimento limitado sobre IFRS; 62% revelaram não ter entendimento prévio do impacto do padrão internacional no balanço patrimonial e 56% relataram não ter uma data definida para desenvolver um plano para implantar a adoção, enquanto 51% têm a expectativa de que a adoção do IFRS seja mais difícil que a adequação às exigências previstas pela Lei Sarbanes-Oxley.

Para o diretor da Ernst & Young Antonio Cocurullo, a mudança de cenário passa por um maior treinamento e avaliação sobre o quanto, realmente, os profissionais conhecem – ou não – as novas regras contábeis. “As empresas devem ter a certeza, nos momentos que antecedem a migração, de que seus times de auditoria interna dispõem dos recursos adequados para realizar todas as ações que se

mostrarem necessárias com relação à adoção do IFRS”, afirma Cocurullo.

Mas como saber se as equipes internas de auditoria estão preparadas para auxiliar as empresas a pensar e agir seguindo os novos conceitos contábeis? O estudo propõe às companhias um processo de questionamento que responda, entre outros critérios, quais os riscos inerentes à adoção do IFRS e quais os riscos que as mudanças resultantes da adoção do padrão contábil poderiam gerar para a empresa. Quais projetos já incluídos no cronograma do plano de auditoria interna poderiam ser reescalonados ou eliminados para dar assistência ou testar de forma adequada processos e controles relacionados ao IFRS? Quais recursos específicos adicionais poderiam ser necessários para a área de auditoria e qual a melhor forma de obtê-los? As respostas a essas questões seriam, de acordo com o levantamento, essenciais para que a atuação da equipe agregue valor durante a adoção das normas contábeis internacionais.

Adicionalmente, no Brasil, outros assuntos como o Sped Fiscal e o Contábil e as possíveis aplicações advindas da Medida Provisória 449/08 - RTT (Regime Tributário de Transição) devem ser considerados no foco dos trabalhos da auditoria interna, por conta das mudanças que serão requeridas nos processos de negócio da empresa.

Os profissionais de auditoria interna precisarão trabalhar em parceria com unidades de negócio, altos executivos e o comitê de auditoria. E, segundo Cocurullo, atuar de forma a prestar uma assessoria não somente técnica, mas também de apoio à gestão das mudanças requeridas. “Se a liderança de algumas empresas ainda subestima a extensão e o alcance das mudanças contábil e cultural que estão por vir, são os profissionais de auditoria interna os responsáveis por não deixar que essa visão perdure, para o benefício da própria empresa e do mercado”, completa o diretor.

Estudo da Ernst & Young mostra que treinamento de profissionais deve ser intenso

Avaliação de processos

• Atuar como assessor em questões de riscos e controles do processo;• Avaliar riscos inerentes (probabilidade e impacto) das mudanças nos processos do negócio;• Auxiliar na due dilligence referente à adoção de números e dados financeiros para o IFRS.

• Ser os olhos e ouvidos dos comitês de auditoria, conselhos e do presidente da companhia;• Monitorar mudanças no perfil de risco geral da empresa;• Monitorar os impactos da adoção do IFRS sobre programas de controles internos (por exemplo, SOX, SPED, etc).

Gestão de risco

Monitoramento do programa de adoção

• Identificar e monitorar os riscos do programa de adoção do IFRS (PMO, cronogramas e custo);• Avaliar a equipe de liderança e responsável pela implantação do IFRS, em termos de preparo, prontidão, recursos e treinamento.

Comunicação, educação e treinamento

• Auxiliar no treinamento dos membros do comitê de auditoria a entender o impacto da adoção do IFRS em termos de risco e controle;• Colaborar com a administração das unidades de negócio e com os ‘donos’ do processo nas atividades de risco e controle antes e depois da migração.

Agregar valor: principais papéis da auditoria interna durante a implementação

10 IFRS Journal | Ernst & Young

Com IFRS, fusões e aquisições ficam mais transparentes para investidor

As atividades de fusões e aquisições declinaram nos últimos meses em razão da falta de crédito no mercado, bem como da recente crise financeira mundial. Todavia, tais atividades permanecerão como atividade estratégica de empresas que buscam crescimento e expansão de seus negócios, particularmente quando as condições de mercado e a confiança dos investidores estiverem restauradas.

O entendimento das implicações contábeis da Combinação de Negócios em uma aquisição (ou, no termo em inglês, Business Combination) é de fundamental importância, visto que afeta as avaliações desses ativos, as demonstrações financeiras e principalmente os lucros futuros. Em uma era de modificação do regulamento contábil e de maior detalhamento das regras no que tange à contabilização das avaliações, esse tema toma importância ainda maior.

As novas normas contábeis trouxeram ao debate uma questão crucial: maior transparência para os investidores e acionistas. Anteriormente, era

* Eduardo Rêdes

comum as empresas comunicarem a seus acionistas uma determinada aquisição, informando o seu valor e que o ágio pago na compra se fundamentava em conceitos subjetivos, tais como carteira de clientes, força de trabalho e marca.

Com as novas regras, isso precisa ser mais transparente. Passa a ser necessário quantificar tais fatores. E a quantificação precisa seguir critérios estabelecidos pelas normas internacionais de contabilidade, o padrão IFRS, que determina a avaliação pelo valor justo (fair value) dos ativos tangíveis e dos intangíveis identificáveis, procedendo-se assim à chamada Alocação do Preço de Compra (Purchase Price Allocation), pela qual o preço de uma aquisição deve ser separado entre tais ativos e o chamado ágio puro – ou não – alocado.

O ágio puro contabilmente não é amortizável, ao contrário dos ativos tangíveis e intangíveis identificáveis, que são depreciados e amortizados pela sua vida útil remanescente, afetando o resultado da empresa. Por esse motivo, é de fundamental importância que as empresas comuniquem a seus acionistas não apenas o valor total pago em uma

aquisição, mas também o quanto está se comprando de ativos tangíveis e intangíveis, com seus respectivos valores.

Com o intuito de verificar se tais procedimentos estão sendo adotados, a área de Valuation & Business Modelling da linha de Transaction Advisory Services (TAS) do Brasil, em conjunto com mais 20 países e abrangendo 709 empresas e 13 indústrias, participou da elaboração do estudo Acquisition accounting – What’s next for you? – A Global Survey of Purchase Price Allocation Practices, para identificar os itens de composição do valor do negócio no momento de uma aquisição.

De fato é uma surpresa observar que, em média, 47% do valor de uma transação é alocado como ágio puro ou goodwill, enquanto ativos intangíveis identificáveis, como a marca, por exemplo, representam 23% do mesmo valor. A grande proporção atribuída em uma compra ao ágio puro, aliada às atuais condições de volatilidade da economia, coloca o valor da aquisição em risco (o chamado impairment), trazendo impactos significativos na confiança do investidor, acionista e na saúde financeira das empresas.

11IFRS Journal | Ernst & Young

Resumidamente, impairment é a necessidade de se testar em bases periódicas o valor calculado e classificado como ágio puro em uma aquisição. Quanto maior a reclassificação desse ágio em ativos intangíveis, que não haviam sido previamente avaliados e identificados, maior o efeito no resultado da empresa.

De maneira geral, todos os setores estudados são impactados por essa constatação. Segmentos que necessitam de maiores investimentos em infraestrutura possuem uma parcela maior de valor alocada no ativo tangível (caso dos setores automotivo, com 44%, e de

Alocação do valor de uma aquisição (%)

65%

60%

54%

48%

47%

45%

42%

37%

36%

33%

33%

30%

27%

22%

36%

26%

24%

14%

14%

49%

14%

47%

5%

18%

9%

18%

11%

25%

29%

41%

44%

14%

49%

20%

62%

52%

0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 100%

Bens de Consumo

Tecnologia

Mídia e Entretenimento

Telecomunicações

Seguradoras

Serviços Financeiros

Setor Automotivo

Setor Farmacêutico

Energia

Biotecnologia

Mercado Imobiliário

Oléo & Gás

Goodwill ou ágio puro

Intangíveis

Tangíveis

energia, com 49%), enquanto indústrias que obtêm seus resultados em patentes e base de clientes possuem maior valor atribuído ao ativo intangível identificável (caso dos segmentos farmacêutico, com 49%, e de biotecnologia, com 47%).

Também foi interessante verificar que a marca não é o ativo intangível identificável mais frequente, perdendo seu posto para carteira e relacionamento com clientes. À marca, muitas vezes, não é atribuída vida útil remanescente, sendo classificada como um ativo de vida útil indefinida. Isso impacta também de maneira significativa a parcela amortizável nos resultados da empresa.

Tendo em vista o impacto que a amortização e depreciação têm no lucro, pela vida útil remanescente, dos ativos intangíveis identificáveis e tangíveis, é de suma importância uma correta análise destes no momento da aquisição, levando assim uma transparência maior aos acionistas e investidores do que está se comprando. Assim, evitam-se futuras surpresas e a necessidade de uma reavaliação e realocação, em razão da obrigatoriedade do teste de impairment, afetando o resultado das empresas.

* Eduardo Rêdes é sócio da área de Transaction

Advisory Services da Ernst & Young Brasil.

12 IFRS Journal | Ernst & Young

IFRS também na internet

Para ajudar as empresas na transição para as normas internacionais de contabilidade, a Ernst & Young oferece na internet conteúdo exclusivo sobre o International Financial Reporting Standards (IFRS). Além das versões eletrônicas de informativos como o IFRS Journal, o hot site brasileiro (www.ey.com.br/ifrs) e a página global da Ernst & Young sobre IFRS disponibilizam estudos, publicações e boletins, além de informações sobre decisões de órgãos normativos como o International Accounting Standards Board (IASB) e o brasileiro Comitê de Pronunciamentos Contábeis (CPC).

Na página global, que pode ser acessada pelo link www.ey.com/ifrs, a Ernst & Young apresenta também uma série de webcasts e podcasts sobre diferentes aspectos das normas internacionais, apresentados por líderes globais da empresa em IFRS e que contam com a participação de profissionais de mercado e acadêmicos de instituições de ensino

IFRS Journal, Hot Topic, estudos e webcasts internacionais ampliam acesso a informações sobre as normas internacionais de contabilidade

de reconhecimento internacional. Os programas, que podem ser acessados pelo endereço www.ey.com/webcasts, abordam as normas que integram os princípios internacionais, como a aplicação do IFRS 1, por exemplo, e também temas mais específicos, como pacotes de remuneração sob a visão das novas regras contábeis e o impacto do IFRS por segmento de mercado. Além de oferecer acesso aos programas já exibidos, a página abre a possibilidade de os interessados se inscreverem para assistir ao vivo a futuros webcasts (acesse a página para conhecer a programação completa).

Além dos webcasts, a Ernst & Young também traz em seu site global publicações como o IFRS Outlook (publicação mensal que traz as mais recentes informações e novidades sobre o tema), o Industry 360º IFRS (que analisa o processo de adoção em diferentes segmentos da economia), e oferece ainda acesso a páginas sobre IFRS em 19 países.

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