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JulM/Agostà de 19~4 Formação estratégica em bancos de grande porte Entrevista com Sadro Kohler Marcondes por Tamara Kulb

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  • JulM/Agostà de 19~4

    Formação estratégica em bancos de grande porte Entrevista com Sadro Kohler Marcondes por Tamara Kulb

  • partir da década de 80. percebe-se urnagrande mudança na forma de atuação dosetor bancário nacional. Fatores pomo

    regulamentação. responsável pela criação debancos múltiplos, desenvolvimento da tecnologia

    e da informação e amadurecimento do mercadonacional, hoje profundamente afetado por decisõesinternacionais, obrigaram os bancos a considerar orelacionamento com seus clientes um fator devantagem competitiva. Belações de curto prazo egarantias reduzidas foram sUbstituídas por umrelacionamento em que confiança e bom atendi-mento são as pelavras-chave. Atuando em ummercado de características semelhantes e ondeflavos processos são rapidamente difuhdidos pelamaioria das organizações, as instituiçôes bancáriasprocuram alternativas de planejamentoorganizacional. De acordo com seu porte, história epolítica deatuação, cada banco adota uma estratê-gia, coerente com os príncípiosdifundidos pelasescolas de pensamento estratégico. Sandro KohlerMarcondes, orientado pelo professor Marllson

    .Alves Gonçalves, estudou o tema, produzindo umadissertação de mestrado detsndida erndezembrode 1993 na EAESP/FGV. Marcondes trabalha noParaná, na área de planejamento estratégico doBanco do Brasil. Nesta entrevista, amestrandoexplica como desenvolveu a sua dissertação, fala

    .de seu estágio na Erasmus Universiteif ofRbtterdam e apresenta conclusões a respeito do .mercado bancário nacional e das dificuldadesencontradas para desenvolver uma dissertação demestrado.

    RAE L1GHT: A PRIMEIRA DIFIClJLDAVE! ENFRENTADAPELOS PESQUISADORES· NA ELABQBAQAO DE T!\tABALH06

    ACADÊMICOS E A ESCOLHA DO TEMA A SEB D1SCUTlDO.QUE FATORES Q LEVARAM A PESQUISAB BANCOS DE

    GRANDE PORTE?

    Marcondes: Os bancos degran~e "pórte sãoinstituições constituídas há algumas décadas" .Possuem estrutura organizacional e processosadministraHvos sedimentados, além de disputa-rem clientes num mesmo, segmento de mercado,reestruturado a partir de 1986 em: h.Jn

  • Umà das maiores frustrações de qualquer"@i x

    pesqúisadoF btasileiro~é não encontrar dados ou,< "

    pvblicaç{íes atualizaaas a respeito do comportamentodo mercedo, seja ele 'qual {oroNossos administradores .

    não possuem a' cultt1ra de escrever relatando suas-:-.. ,~:::: .

    ~ ~expe1:ie,ncíftsadministrativas, FIem tampouco de@ . patroeina/fJstuGlos conclusivos.

    MESTRES & DOUTORES

    trativas, nem tampouco de patrocinar estudosconclusivos. Não menos frustrante é não teracesso às publicações internacionais, seja pelaprecariedade de nossas bibliotecas, seja pelosaltos custos de importação de livros e periódicos.Em relação ao setor bancário, a Febraban (Fede-ração Brasileira de Bancos) é uma instituiçãointimamente ligada à pesquisa e à prospecção, deforma que todo estudo na área bancária, desdeque bem definido, encontra apoio, principalmenteno que tange aos contatos iniciais com as institui-ções bancárias. O Sindicato dos Bancários tam-bém é uma boa fonte de dados.O meu estudo previa entrevistas com o níveldiretivo das organizações. Nesse sentido, o princi-pal fator de frustração foi o difícil acesso a essesadministradores.

    RAE LIGHT. ATÉ QUE PONTO A SUA ESTADA DE SEISMESES NA HOLANDESA ERASMUS UNIVESITEIT OF

    ROTTERDAM CONTRIBUIU PARA COMPLEMENTAR OS

    SEUS ESTUDOS OU SUPRIR A CARÊNCIA DE INFORMA-

    ÇÕES DOS INSTITUTOS DE PESQUISA NACIONAIS?Marcondes: Quando optei pela Holanda paracomplementação de meus estudos, tinha doisobjetivos básicos: aprofundar meus conhecimentosa respeito da globalização daeconomia e da formação deblocos econômicos. Desdetempos remotos, a Holanda éum país que vive basicamen-te das receitas geradas pelocomércio exterior. Atualmenteé um dos patrocinadores doMercado Comum Europeu.Então, a minha estada naHolanda permitiu um alarga-mento de meus conhecimen-tos nesses dois camposespecíficos, que encontrampouca projeção no contextoempresarial brasileiro.

    RAE LIGHT. VocÊ OPTOU POR ANALISAR TRÊS ORGA-NIZAÇÕES ESTATAIS E DUAS PRIVADAS. NA PRÁTICA,

    PERCEBE-SE UMA GRANDE DIFERENÇA DE

    GERENCIAMENTO NOS DOIS TIPOS DE BANCOS?Marcondes: Diria que, analisando de forma global,como os cinco bancos competem no mesmo

    34 RAE LiQht

    ambiente, enfrentam as mesmas regulamentaçõesgovernamentais, têm ao seu dispor as mesmasinovações tecnológicas, enfrentam os mesmossindicatos e fazem parte da mesma entidade declasse, a Febraban, não há grandes diferenças.Apenas considero desvantajoso para os bancosestatais os morosos processos de licitação paraaquisição de novos equipamentos.Entretanto, analisando nichos de atuação, estraté-gias mercadológicas e posicionamento de produ-tos e serviços, pude detectar três realidadesdistintas. O Banespa, que se especializou noatendimento ao próprio estado de São Paulo e oCredireal, que não apresenta um escopo definido,podem ser caracterizados como bancos de varejode atuação regional. Já o Banco do Brasil, cujaênfase está no atendimento a produtores rurais ea micros e pequenos empresários e o Itaú, quedefine seu público-alvo como sendo o de pessoasfísicas com renda acima de cinco salários mínimose empresas de pequeno, médio e grande portes,podem ser classificados como bancos de varejode atuação nacional. O Unibanco, por atuar emnichos de mercado com clientes de alta renda eque proporcionam as maiores taxas de retorno, éum banco de atacado de atuação nacional.

    RAE LJGHT. VocÊ PÔDE CONCLUIR QUE OS BANCOSANALISADOS SEGUEM FIELMENTE ALGUMA ESCOLA DE

    PENSAMENTO ESTRA1ÉGICO?Marcondes: Qualquer modelo, qualquer teoria,por mais ampla que seja, ainda necessita simplifi-car a realidade para possibilitar a elaboração de

    Julho/Agosto de 1994

  • seus pressupostos.As organizações,por sua vez, sãocomplexas, dinâmi-cas e mutáveis.Disto depreende-se que nuncaencontraremosuma organizaçãoque se utiliza de

    .todos os pressu-postos de umadada teoria, a nãoser que ela tenha sido a origem da teoria. Dasempresas estudadas, duas se identificam com ospreceitos das escolas de pensamento estratéqico:o Itaú e o Uni banco. O Itaú sempre teve suaestratégia de atuação fundamentada no espíritóempreendedor, na personalidade e na visão deseu fundador, Olavo Setubal. Tais característicasaliadas à informalidade do processo, à não 'expficitação das estratégias, são característicasda Escola Empreendedora. Já o Unibanco, pelocontrário, adota premissas da Escola doPosicionamento, caracterizada pela segmentaçãode mercado para definição de unidades estratégi-cas de negócio, pela elaboração de estratégiasvia análises quantitativas da economia de cadamercado, pela administração participativa e pelaprofissionalização.

    RAE LfGHr. A SUA DISSERTAÇÃO É D~ CUNHO ACADÊ-MICO, MAS VOLTADA PARA A PRÁTICA GERENCIAL VOCÊ

    PERCEBE UMA GRANDE DISTÂNCIA ENTRE OS UNIVERSOS

    ACADÊMICO E EMPRESARIAL?Marcondes: A maior distância está exatamenteno enfoque, na diversidade de conceitos utilizadospara a análise de uma determinada situação,particularmente no que concerne a práticasprescritivas, que, muitas vezes, não reconhecemas nuances sutis do ambiente administrativo e,por isso, sucumbem. Por outro lado, um estudono campo da administração estratégica só fazsentido se trouxer alguma contribuição para oentendimento do mundo complexo e fluido datomada de decisões. Foi com essa visão queempreendi a pesquisa, descritiva em essência ,mas que permite uma melhor compreensão doprocesso de formação estratégica das organiza-

    Suplemento da RAE

    FORf\MÇÃO ESTRATÉGICAEM BANCOS ...

    ções bancárias degrande porte, particular-mente daquelas queparticiparam do estudo.

    RAE L/GHr: DIANTE DETUDO QUE VOCÊ ESTUDOU,

    QUE TIPO DE MEDIDAS

    ESTRATÉGICAS VOCÊ

    RECOMENDARIA PARA

    BANCOS QUE BUSCAM

    COMPETIR EM UMA EOONO-__ ..-.":*2-1Oli

    MIA GLOBAUZADA?

    Marcondes: Como os bancos brasileiros sãopequenos quando comparados aos grandesbancos mundiais - dos 500 maiores em 1992,.apenas três eram brasileiros - a melhor estraté-gia para atuação em nível mundial é a associaçãoa bancos estrangeiros, que atuariam como corres-pondentes. Na realidade, o volume de negóciosrealizados por corporações brasileiras no exteriornão incentiva a constituição de rede própria.

    RAE L/GHr. QUE OUTRAS CONTRIBUIÇÕES PODERIAMSER FORNECIDAS EM FUTURAS PESQUISAS SOBRE O

    TEMA ANALISADO?Matcondes: Como a abordagem adotada notrabalho foi essencialmente descritiva, em funçãodo acesso limitado aos níveis diretivos das organi-zações estudadas, sugiro uma maior concentra-ção em estudos empíricos. Outra recomendaçãopara pesquisadores que se dedicarem ao tema nofuturo é que não abdiquem da variedade deconceitos para a análise de processos. Contudo, oprincipal fator de sucesso em pesquisas dessanatureza é o profundo conhecimento do fenômenosob análise .•

    Sandro Kohler Marcondes eMestre em Administração pela

    EÀESPIFGV.

    RAE Light 35