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Juliana Maria Naves Rocha Linfoma alimentar felino São Paulo/SP 2013

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Juliana Maria Naves Rocha

Linfoma alimentar felino

São Paulo/SP

2013

Juliana Maria Naves Rocha

Linfoma alimentar felino

Monografia apresentada como requisito final à

obtenção do Título de Especialista no Curso de

Pós-Graduação, Especialização em Felinos, da

instituição Equalis, orientada pela Prof. Me. Dra.

Claudia Ronca Felizzola.

São Paulo/SP

2013

Juliana Maria Naves Rocha

Linfoma alimentar felino

Monografia apresentada como requisito final à

obtenção do Título de Especialista no Curso de

Pós-Graduação, Especialização em Felinos, da

instituição Equalis, orientada pela Prof. Me. Dra.

Claudia Ronca.

São Paulo/SP, ______de_______________________de 2013

____________________________________________________

-Orientador-

São Paulo/SP

2013

Dedicatória

Para todos os gatinhos que fazem parte da minha vida, aos meus filhos bigodudos Benedito,

rosinha, Leopoldo e Quindim e em especial a paciente que me fez escrever sobre esse assunto

Minu.

Agradecimento

Agradeço primeiro a minha mãe que sem ela não estaria concluindo esta especialização,

depois ao Bruno meu companheiro pelas horas de paciência e ajuda; a Flavia e Patricia que

também colaboraram com a realização deste sonho, ao Dr. Archivaldo Reche Junior por ter

aberto as portas da clínica e seus conhecimentos para aprendermos mais sobre essa espécie e

em especial a minha Orientadora Dra. Claudia Felizzola Ronca que sem ela este trabalho não

teria sido concluído. Obrigado a todos.

“Não há diferença fundamental entre o Homem e os

animais nas suas faculdades mentais (...) Os animais, como

o Homem, demonstram sentir prazer, dor, felicidade e

sofrimento. “

Charles Darwin

5

Resumo

Este trabalho tem como o objetivo mostrar que o linfoma alimentar felino hoje corresponde ao

câncer mais comum da espécie, acomentendo animais do mundo todo e ocorre geralmente em

idosos, sua incidência aumentou ha algumas décadas após a mudança no manejo de animais

contaminados com retrovírus e da vacinação contra leucemia felina, o diagnóstico geralmente

é obtido através de citologia ou histopatológico, o estudo das células que envolvem esta

doença ainda não é muito conhecido, pois o imunohistoquímico ainda não é muito utilizado e

o tratamento mais indicado por ser uma doença sistêmica é a quimioterapia.

Palavras-chave: Linfoma alimentar, diagnóstico e quimioterapia

6

Listas de tabelas e ilustrações

Lista de Tabelas e quadros:

Quadro 1. Estadiamento.................................................................................. 17

Tabela 1. Protocolos x autores........................................................................ 18

Quadro 2. Protocolo CHOP............................................................................ 19

Quadro 3. Protocolo remissão......................................................................... 20

Quadro 4. Protocolo remissão......................................................................... 21

Quadro 5. Protocolo resgate............................................................................ 21

Quadro 6. Protocolo resgate............................................................................ 22

Lista de Figuras:

Figura 1. Esplenomegalia em gato com 10 anos e linfoma alimentar............ 13

Figura 2. Espessamento de alça intestinal de um gato com linfoma.............. 14

Figura 3. Linfonodomegalia mesentérica em gata, com linfoma alimentar... 14

Figura 4. Citologia de linfoma intestinal, com linfoblastos........................... 15

7

Lista de Abreviaturas: siglas, símbolos e acrônimos.

CHOP Protocolo quimioterápico a base de Ciclofosfamida, vincristina,

prednisona, l-asparaginase e doxorrubicina

COP Protocolo quimioterápico a base de Ciclofosfamida, vincristina e

prednisona

DII Doeça inflamatória intestinal

FeLV Vírus da leucemia felina

FIV Vírus da imunodeficiência felina

IARC International Agency for Research on Cancer

INCA Instituto nacional de câncer

MOOP Protocolo quimioterápico a base de cloridrato de mecloretamina,

vincristina, procarbazina e prednisolona

NCIWF National Cancer Institute Working Formulation

OMS Organização mundial da saúde

PIF Peritonite infecciossa felina

REAL Revised European American Lymphoma

SNC Sistema nervosa central

8

Sumário

Resumo...................................................................................................................................5

Introdução..............................................................................................................................9

Revisão de literatura.............................................................................................................11

Etiologia e epidemiologia..........................................................................................11

Classificação do linfoma...........................................................................................12

Sintomas e alterações clínicas...................................................................................13

Exames complementares...........................................................................................13

Diagnóstico e estadiamento......................................................................................14

Diagnóstico diferencial.............................................................................................15

Tratamento................................................................................................................16

Toxicidade................................................................................................................21

Prognóstico...............................................................................................................21

Conclusão.............................................................................................................................22

Referências...........................................................................................................................23

9

INTRODUÇÃO

O câncer é a principal causa de morte na espécie humana no mundo atual, segundo a

IARC e OMS (2008), sendo considerado um problema de saúde pública mundial (INCA,

2013). Atualmente no Brasil, aumentou muito a morbidade e mortalidade dos pacientes com

câncer; desde a década de 60 estas taxas vêm mudando, antes estavam relacionadas a doenças

infecciosas e parasitárias. (INCA, 2013)

Nos Estados Unidos o maior índice de mortalidade em animais de companhia também

é o câncer, acredita ser pelo fato destes terem um convívio mais íntimo com os proprietários o

National Cancer Institute, the Food and Drug está usando dados destes animais como modelo

comparativo para seres humanos (WITHROW¹, 2012), já que ambos sofrem os mesmos

problemas ambientais, podendo estes ser considerados fatores de risco (MISDORP, 1996).

Em gatos o tumor maligno mais comum são os de células hematopoiéticas,

acometendo aproximadamente um terço de todas as neoplasias malignas da espécie

(WILSON, 2008) e entre estes os Linfomas tem maior incidência, chegando a 90% dos casos

(HAYES¹, 2006). Com o surgimento da vacina contra leucemia felina (FeLV) há 15 anos, nos

Estados Unidos e na Europa o comportamento do linfoma também mudou, passou a ser mais

comum o linfoma alimentar que geralmente não está associado a infecções por retrovírus e

acometem animais mais velhos (POHLMAN et al, 2009; WILSON, 2008).

O linfoma é um câncer de uma célula leucocitária específica, denominada linfócito.

Estes são encontrados por todo o corpo, no sangue e tecidos, protegem o organismo de

infecções, são as maiores células encontradas nos linfonodos. No linfoma as células tumorais

invadem e destroem os tecidos normais. O local mais comum para este tumor são os

linfonodos, mas as células do linfoma, assim como os linfócitos, podem crescer em qualquer

parte do corpo. Na maioria dos cães e gatos com esta doença, as células cancerosas estão

presentes em múltiplos linfonodos e tecidos. (VAIL, 2004)

Nos felinos domésticos esta doença apresenta varias formas e sua nomenclatura

depende da localização anatômica do tumor, podendo ser nasal, mediastinal, renal, do sistema

nervoso central (SNC) e alimentar (WILSON, 2008). Outro trabalho divide o linfoma como

alimentar, mediastinal, multicêntrico e extranodal (inclui renal, SNC, nasal) (ETTINGER,

10

2003). O linfoma alimentar acomete regiões como o trato gastrointestinal, mais frequente

intestino e estômago, linfonodos regionais e em alguns casos o fígado e baço (VAIL, 2004).

Já Wilson em 2008 lembra que outros órgãos como boca, esôfago e pâncreas podem ser

atingidos em menor frequência.

Este trabalho tem como objetivo abordar o que é o linfoma alimentar em felinos, como

fazemos seu diagnóstico, tratamento e prognóstico da neoplasia que mais acomete esta

espécie.

11

REVISÃO DE LITERATURA

Etiologia e epidemiologia

Após a era do vírus da leucemia felina os gatos estão vivendo mais, contudo

desenvolvendo mais o linfoma alimentar que acomete animais idosos. A faixa etária para

linfomas depende de sua etiologia e localização, animais contaminados pelo vírus da leucemia

geralmente apresentam sintomas entre quatro e seis anos de idade e a doença mais comum é

na forma mediastinal, multicêntrica e da medula espinhal (PASTOR, LIORET, 2002), já

animais negativos para o vírus apresentam a doença entre 10 e 12 anos e na forma alimentar

(ETTINGER, 2003).

Além do vírus da leucemia outro retrovírus também pode estar associado ao

desenvolvimento de linfoma, leucemia e outros tumores, o da imunodeficiência felina (FIV)

(HARTMANN, 2011). Gatos infectados pelo FIV tem um risco cinco vezes maior de

desenvolver linfoma do que um paciente negativo (PASTOR, LIORET, 2002).

O linfoma felino tem um comportamento que pode servir de modelo para o linfoma

não-Hodgkin em humanos e por isso pesquisas nesse campo estão aumentando; com a

mudança da etiologia nos últimos anos, pela diminuição da infecção por retrovírus, outras

etiologias vêm sendo estudadas. Observou-se que a mudança do estilo de vida e fatores

ambientais de risco relacionados à incidência de linfomas estão sendo mais comuns, por isso

foi feito um estudo com o fumo, mostrando que a fumaça do tabaco pode aumentar o risco da

doença em três vezes e as localizações mais comuns são o trato respiratório e alimentar, pela

ingestão na hora da higienização de partículas cancerígenas que se depositam na pele

(BERTONE et al, 2002).

Outra causa já bem conhecida em câncer gástrico ou gastrite em humanos é a infecção

bacteriana, principalmente pelo gênero Helicobacter spp, já observamos a ligação entre esta

bactéria e o linfoma alimentar felino e humano (BRIDGEFORD et al, 2008). Existem outras

razões para a infiltração de células imunológicas no intestino do gato, infecções crônicas com

agentes como Mycobacteria, Helicobacter, Giardia,

Histoplasma, Toxoplasma, podem causar o linfoma, assim como alergias alimentarescronicas

e causas idiopaticas como a enterite linfocítica-plasmocitária (WILSON, 2008).

12

O linfoma alimentar não parece ter predileção de sexo e raça, porém os gatos mais

observados nos estudos com estas neoplasias são os domésticos de pelo curto (RICHTER,

2003, CESARI, 2009, POHLMAN, 2009).

Classificação do Linfoma

O linfoma nos gatos domésticos apresenta algumas classificações, a mais aceita é pela

sua localização anatômica e histologia (células grandes, células pequenas, células linfoides B

ou T). Dentro das classificações anatômicas existem quatro mais aceitas:

a) Multicêntrica: pouco frequente nos felinos acomete linfonodos periféricos e

sistêmicos, fígado, baço e pode atingir a medula óssea.

b) Mediastínico: acomete os linfonodos mediastínicos, esternais e o timo, podem

acometer a medula óssea.

c) Alimentar: acomete uma área solitária ou difusa do trato gastrointestinal, linfonodos

regionais e pode acometer fígado, baço, pâncreas e medula óssea.

d) Extranodal: pode acometer qualquer parte do corpo, as mais comuns são renais, nasais.

Sistema nervoso central, pele ou ocular (COUTO, 2000; PASTOR et al 2002).

A OMS juntamente com a REAL (Revised European American Lymphoma) classifica

o linfoma a partir das características anatômicas e depois pela imunofenotipagem, células B e

células T (CESARI et al, 2009); um estudo apresentou 54% células B e 38% células T

(POHLMAN, 2009), outro indica que a maioria dos linfomas alimentares são originados de

células B (STÜTZER et al, 2011).

A National Cancer Institute Working Formulation (NCIWF) classificou o linfoma

alimentar felino como de alto grau, grau intermediário, baixo grau, sendo que este último

geralmente acomete a forma difusa da doença e foi o primeiro a ser descrito nesse estudo,

uma forma menos descrita é o linfoma de grandes células linfocíticas granulares, são

subdivididos em imunoblástica e linfoblastica. (LINGARD, 2009).

A maioria dos linfomas em felinos são classificados de alto grau no caso dos animais

FeLV positivos e jovens (menos de seis anos), já os classificados como grau intermediário e

baixo, são bem diferenciados e acometem animais mais velhos e em trato gastrointestinal

surgindo na maioria das vezes células B (ETTINGER, 2003).

13

O linfoma alimentar afeta 50-80% o intestino delgado, 25% o estômago, a junção

iliocólica e o cólon; pode afetar qualquer camada do intestino e causa uma inflamação difusa

ou obstrutiva (PASTOR, LIORET, 2002). Segundo Pohlman et al (2009) apresentou

distribuição de 24% no estômago, 74% no intestino delgado e 16% no intestino grosso.

Sintomas e alterações clínicas

Os sintomas dependem da localização e tipo de lesão. Podem ser focais ou difusos, por

este motivo geralmente são inespecíficos como perda de peso, letargia, anorexia, vômito,

diarreia, distenssão abdominal, esplenomegalia (figura 1), em 70-85% podem apresentar

massas abdominais ou espessamento de alças. Poucos casos apresentam abdomen agudo com

perfuração e peritonite (ETTINGER, 2003), mas alguns gatos podem apresentar obstrução de

intestino delgado secundário a uma massa focal, de forma aguda sem histórico de sintomas

gastrointestinais (WILSON, 2008).

Figura 1. Esplenomegalia em gato com 10 anos e linfoma alimentar (foto cedida pela Dra.

Claudia Ronca Felizzola)

O estudo de LINGARD et al (2009) mostrou que o sintoma mais frequente nos

animais doentes é a perda de peso, atingindo todos os animais estudados, seguido dos vomitos

e diarreia em quase 90% casos, os sintomas eram crônicos em 65% dos casos, em 70% a

14

palpação abdominal estava anormal, incluindo espessamento de alças intestinais (figura 2),

aumento de linfonodo mesentérico (figura 3) e massa na parede intestinal. Diversos autores

afirmam que vomitos não são sintomas patognomônicos da doença. Quando acomete o cólon

sintomas como tenesmo ou hematoquesia podem ser observados (PASTOR, LIORET, 2002).

Figura 2. Espessamento de parede intestinal de um gato com linfoma alimentar (PASTOR,

LIORET, 2002).

Figura 3. Linfonodomegalia mesentérica em gata com linfoma alimentar (foto cedida pela

Dra. Claudia Ronca Felizzola).

15

Exames complementares

Os exames de sangue não são usados como diagnóstico do linfoma alimentar, mas sim

para estadiar e monitorar a doença. Uma variedade de anormalidades não específicas são

detectadas na hematologia e nos bioquímicos. A hematologia anormal resulta da infiltração

por celulas neoplasicas na medula óssea, hipofunção ou hiperfunção do baço (causado por

infiltrados tumorais), doença crônica, síndromes paranéoplasicas (rara nos gatos) (COUTO,

2000). O hemograma pode apresentar anemia, neutropenias, a bioquímica mais comum é a

hipoalbuminemia, a urinálise determina a gravidade da doença e a função renal. Os retrovírus

FIV/ FeLV devem ser testados (ETTINGER, 2003, RICHTER, 2003).

Exames de imagens são muito importantes para estadiar e mensurar a extensão do

problema, anormalidade radiograficas nesta doença geralmente são secundárias à

linfadenopatia ou organomegalia (exemplo hepatomegalia ou esplenomegalia) (COUTO,

2000), radiografias abdominais podem confirmar a massa em um terço dos gatos com

linfoma gastrointestinal, porém o exame de eleição é a ultrassonografia abdominal, em 60 a

90% dos pacientes apresenta estudos ultrassonograficos anormais (ETTINGER, 2003),

incluindo espessamento de alças ou parede gástrica, perda de definição das camadas da parede

do trato gastrointestinal, hipomotididade, acúmulo de liquido livre, alterações em tamanho ou

ecogenicidade de órgãos como figado, baço e linfonodos e pode guiar a coleta de amostras

citólógicas ou biópsias (COUTO, 2000, RICHTER, 2003).

A endoscopia apesar de ser conhecida como eficaz no diagnóstico de linfoma

alimentar em humanos, cães e gatos depende das areas afetadas e localização, pois lesões que

começam em submucosa, longe do lumen não a alcance para coletar amostra para biópsia,

outro problema é que muitas vezes o diagnóstico é erroneo ou inconclusivo pelo fato de terem

associadas areas de inflamação intercaladas as areas de infiltrado tumoral (RICHTER, 2003).

Citologia ou biópsia da medula óssea deve ser feitas em casos de anemia, linfocitose,

neutropenia, trombocitopenia, ou atipia periférica linfocítica, um hemograma normal não

descarta envolvimento da medula, embora seja incomum seu envolvimento na fase inicial da

doença fases muito avançadas de linfoma podem ser indistinguivel de leucemia (ETTINGER,

2003).

16

Diagnóstico e estadiamento

O diagnóstico definitivo deve ser obtido a partir de uma amostra de biópsia para

histopatológico coletada por laparotomia exploratória ou em alguns casos por endoscopia,

porém muitas vezes as citologias não invasivas guiadas por ultrassonografias podem ser

conclusivas principalmente em massas tumorais grandes (HAYES¹, 2006). O estudo de Couto

em 2000 mostrou que 70-75% dos linfomas foi diagnosticado atraves de citologia (figura 4),

não precisando de métodos invasivos como biópsia por laparotomia exploratória, mas para

obter o grau e o imunofenotipo (celulas B ou T) o histopatológico se faz necessário

(PASTOR, LIORET, 2002). O imunohistoquímico no linfoma alimentar não parece

demosntrar informações prognósticas importantes (HAYES¹, 2006).

Figura 4. Citologia de linfoma intestinal, com linfoblastos (PASTOR, LIORET, 2002).

Amostras de biópsias e citologias devem ser coletadas antes do inicio do tramento

quimioterápico, incluido glicocorticóides (HAYES¹, 2006).

O estadiamento permite uma melhor avaliação e extensão dos linfomas, baseiam-se no

exame físico, hematologia e exames bioquímicos, raios-X de tórax, ultrassonografia

abdominal, fundo de olho, urinalise, FIV/FeLV e exames mais relevantes seriam biópsia e

aspirado de medula óssea e analise do liquido cefalorraquidiano (HAYES¹, 2006,

ETTINGER, 2003). Em gatos com linfoma o estadiamento também acontece pelos locais e

número de tecidos atingidos, como no Quadro 1 (ETTINGER, 2003, OBERTHALER et al,

2009).

17

Quadro 1:

Estágio Localização e quantidade de tecidos

1. Tumor individual, em um unico local anatômico.

2. Tumor individual com acometimento de pelo menos dois linfonodos regionais localizados

do mesmo lado do diafragma

3. Dois tumores extranodulares e pelo menos dois linfonodos acometidos em regiões opostas

do diafragma do tumor primario.

4. Seria os estágios 1, 2 ou 3 com acometimento do baço e/ou fígado.

5. Estágios 1, 2, 3 ou 4 com acometimento de SNC, medula óssea ou ambos.

(ETTINGER, 2003)

Diagnóstico diferencial

O linfoma alimentar pode ser confundido com doenças que acometem o trato

gastrointestinal como, doença inflamatória intestinal (DII), PIF, outras neoplasias

gastrointestinais, corpos estranhos, doenças metabólicas e hipertiroidismo (PASTOR,

LIORET, 2002). Segundo Hayes em 2006 a doença inflamatória intestinal diversas vezes

difere do linfoma alimentar apenas com a realização do imunoistoquímico.

Tratamento

Para linfomas o tratamento mais efetivo são as quimioterapias, estas são divididas em

protocolos de remissão, manutenção e quando existe uma recidiva o protocolo resgate

(PASTOR, LIORET, 2002); Couto, 2000 descreve ainda protocolo de intensificação. Outros

tratamentos como cirurgia e radioterapia são indicadas em caso de massas solitárias,

obstruções ou intussucepssão e quando o paciente não apresenta sintomas de doença sistemica

(HAYES², 2006). Segundo Ettinger, 2003 a radioterapia é muito efetiva em linfomas nasais.

Existem muitos protocolos quimioterápicos baseados na combinação de

ciclofosfamida, vincristina e prednisolona (COP), recentemente potencializou esse protocolo

com a introdução da doxorrubicina, metotrexato ou L-asparaginase (PASTOR, LIORET,

18

2002). A escolha do protocolo depende de fatores como a toxicidade, viabilidade de

administração e despesas. O melhor protocolo quimioterápico para linfoma ainda não foi

determinado, porém os estudos demonstram que o COP sozinho é insuficinte (HAYES²,

2006). Vide tabela 1 para analisar diferentes protocolos e seus autores.

Tabela 1. Protocolos x autores:

Autores Terapia de

indução/ remissão

Intensificação Terapia de

manutenção

Terapia resgate

Pastor e Lioret,

2002

Vincristina, L-

asparaginase,

Prednisolona,

doxorrubicina.

-

Fármacos orais

como

clorambucil,

metotrexato e

prednisolona.

Doxorrubicina

(quando ainda não

foi usada),

mitoxantrona,

procarbazina,

metocloretamina e

lomustina.

HAYES¹, 2006 Vincristina,

ciclofosfamida,

prednisolona,

doxorrubicina, L-

Asparaginase,

clorambucil,

metotrexato.

-

-

Vincristina,

cloridrato de

mecloretamina,

prorcarbazina,

prednisilona.

Couto, 2000 Ciclofosfamida,

vincristina,

arabinosida

citosina,

prednisona

(COAP).

Doxorrubicina

ou

mitoxantrona.

Clorambucil,

metotrexato,

prednisona (LMP)

ou COAP.

Mitoxantrona,

ciclofosfamida

(MiC) ou

Doxorrubicina e

ciclofosfamida

(AC) ou

mitoxantrona,

ciclofosfamida,

arabinosida citosina

(MiCA) ou

ciclofosfamida,

doxorrubicina,

19

vincristina e

prednisona

(CHOP).

Simon et al L-Asparaginase,

Vincristina,

ciclofosfamida,

doxorrubicina,

presnisolona

-

Vincristina,

ciclofosfamida,

doxorrubicina ou

metotrexato.

-

Quando ocorre remissão completa do tumor durante o período de indução, deve-se

continuar fazendo os ciclos a cada duas semanas e quando em 25 semanas obtiver remissão

completa pode parar o tratamento e manter exames controles para detectar recidivas

(HAYES¹, 2006).

Quando acontecem recidivas essas tendem ser mais resistentes aos protocolos

quimioterapicos, principalmente os utilizados na remissão e manutenção, porém no primeiro

momento refaz – se o protocolo de redução, caso não responda usar quimioterapicos não antes

usados como mixantrona, procabazina, metocloretamina e lomustina (PASTOR, LIORET,

2002). O cloridrato de mecloretamina, vincristina, procarbazina e prednisolona (MOPP)

também estão sendo estudados para serem usados na terapia de resgate (HAYES¹, 2006).

Segue a baixo alguns protocolos usados:

Quadro 2. Protocolo CHOP:

Semanas Drogas, doses e administração

1 L-asparaginase 400UI/Kg SC

Vincristina 05 a 0,7 mg/m² IV

Prednisona 2 mg/Kg VO SID

2 Ciclofosfamida 50 mg/m² VO SID 4 dias

Prednisona 1,5 mg/m² VO SID

3 Vincristina 05 a 0,7 mg/m² IV

Prednisona 1 mg/Kg VO SID

4 Doxorrubicina 1mg/Kg IV

20

Prednisona 0,5 mg/Kg VO (manter esta dose

até a semana 25)

5 Manter nesta semana apenas a prednisona

6 Vincristina 0,5-0,7 mg/m² IV

7 Ciclofosfamida 50 mg/m² VO SID 4 dias

8 Vincristina 0,5-0,7 mg/m² IV

9 Doxorrubicina 1 mg/Kg IV

Demais semanas Prednisona VO

(WILSON, 2008)

Quadro 3. Protocolo de remissão:

Semanas Drogas, doses e administração

1 Vincristina 0,5-0,7 mg/m² IV

Prednisolona 2mg/Kg VO SID (durante as 4

primeiras semanas depois passar para 1

mg/Kg)

L-Asparaginase 400 UI/Kg SC

2 e 7 Ciclofosfamida 200mg/m²

Prednisolona 1mg/Kg SID (a partir da quinta

semana)

3, 6, 8, 11, 15, 19 e 23 Vincristina 0,5-0,7 mg/m² IV

manter a prednisolona 1 mg/Kg em dias

alternados

4, 9 e 25 Doxorrubicina 25 mg/m² IV

Prednisolona VO

13 e 21 Clorambucil 1-4 mg/Kg VO

Prednisolona VO

17 Metotrexato 0,5-0,8 mg/Kg IV

21

Prednisolona VO

(HAYES¹, 2006)

Quadro 4. Protocolo de remissão:

Semana Drogas, doses e

administração

1 Vincristina 0,5-0,7 mg/m² IV

L-Asparaginase 400 UI/Kg

SC

Prednisolona 2 mg/Kg VO

2 Ciclofosfamida 200 mg/m² IV

Prednisolona 2 mg/kg VO

3 Vincristina 0,5-0,7 mg/m² IV

Prednisolona 1 mg/Kg VO

4 Doxorrubicina 25 mg/ m² ou

1 mg/Kg IV

Prednisolona 1 mg/Kg VO

(continuar em dias

alternados)

6 Vincristina

7 Ciclofosfamida

8 Vincristina

9 Doxorrubicina

(PASTOR, LIORET, 2002)

Quadro 5. Protocolo de resgate:

Semanas Drogas, doses e administração

1 L-asparaginase 400UI/Kg SC

2 Vincristina 0,5 mg/m²IV

22

3 Ciclofosfamida 50 mg VO (25 mg administrar

no dia um e 25 mg no dia 3)

4 Vincristina 0,5 mg/m² IV

5 Metotrexato 2,5 mg VO

6-9 Repetir semanas 2 - 5

(OBERTHALER et al, 2009)

Quadro 6. Protocolo de resgate, neste caso os ciclos se repetem a cada quatro semanas:

Semanas Drogas, doses e administração

1,2, 5 e 6 Vincristina 0,025 mg/m² IV

Cloridrato de Mecloretamina 3 mg/m² IV

Procarbazina 10 mg/gato VO SID

Prednisolona 5 mg/ gato VO BID

3, 4, 7 e 8 Apenas a prednisolona 5 mg/gato VO BID

(HAYES¹, 2006)

Toxicidade

Em geral os gatos toleram bem os quimioterapicos, mas efeitos colaterais como

anorexia, que com tratamento suporte de antiemetico e estimulantes de apetite

(Ciproeptadina) revertem observa-se com frequencia; outros sintomas como mielossupressão,

vomitos e acometimento renal também podem ocorrer, já a alopecia generalizada não é

observada na espécie, mas pode ocorrer com frequencia diluição de cor, perda de bigodes e

troca de pelo (HAYES¹, 2006, RICHTER, 2003).

A doxorrubicina nos gatos apresenta uma toxicidade maior e diferente dos cães, pois

não apresenta uma cardiotoxicidade comum na espécie canina, apresenta anorexia,

mielossupressão, lesões perivasculares e dano renal (PASTOR, LIORET, 2002).

23

O Clorambucil também muito utilizado em altas doses causou alteração neurológica

como mioclonias foi observado, mas com a suspensão do tratamento os sintomas

neurológicos sumiram (RICHTER, 2003).

Independentemente do tratamento escolhido os gatos devem ser monitorados

constantemente em intervalos semanais para determinar a resposta ao tratamento e qualidade

de vida (HAYES², 2006).

Prognóstico

O linfoma nos felinos geralmente apresenta prognóstico pior do que na espécie canina

e essa característica está relacionada à infecção pelo vírus da leucemia (FeLV), animais

infectados apresentam sobrevida de tres a quatro meses enquanto gatos negativos apresentam

sobrevida de nove a dezoito meses. Fatores positivos ao prognóstico são a localização, grau e

estágio da doença, linfomas alimentares e de celulas pequenas tem melhor prognóstico

(PASTOR, LIORET, 2002).

24

CONCLUSÃO

Este estudo mostrou que o linfoma alimentar felino é uma das doenças mais

comuns em gatos idosos no mundo e seu número aumentou muito nas ultimas decadas,

mudando o curso do linfoma. Após as campanhas de vacinação e manejo adequado dos

animais infectados pelo FeLV, os linfomas que antes acometiam o mediastino e animais

jovens Felv positivos, agora acometem animais idosos e FeLV negativos e são menos

agressivos. Mesmo sendo uma doença com grande ocorrencia existem poucos trabalhos

documentados sobre o assunto e no diagnóstico faltam aos medicos veterinarios pesquisar

melhor os tipos de celulas que envolvem estas neoplasias, para que esta diferenciação entre

linfomas de alto/baixo grau, celulas B ou T ajudem a melhorar o prognóstico e estabelecer o

melhor protocolo quimioterapico para cada paciente.

A quimioterapia é o tratamento de eleição, pois como se trata de uma doença sistêmica

há a necessidade de tratar com medicações que circulam pelo corpo, a cirurgia e a radioterapia

seriam indicadas em casos de lesões únicas e/ ou casos emergencias de obstrução e

intussucepssão, por exemplo.

A melhor maneira de ter uma maior sobrevida é através de um diagnóstico e

tratamento precoce do felino com linfoma alimentar e espero que com o tempo tenhamos

maior disponibilidade de exames como o himunoistoquímico para podermos assim, ter melhor

prognóstico da doença.

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