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ANO XXII • Nº 163 • JULHO/2007 Julho de 2007 - Ano 48 - Nº 1349

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Page 1: Julho de 2007 - Ano 48 - Nº 1349 · 2016. 12. 5. · Julho/2007 Arlindo Chinaglia assume compromisso com a saúde A mesa de abertura do XI Encontro Na-cional das Entidades Médicas,

ANO XXII • Nº 163 • JULHO/2007

Julho de 2007 - Ano 48 - Nº 1349

Page 2: Julho de 2007 - Ano 48 - Nº 1349 · 2016. 12. 5. · Julho/2007 Arlindo Chinaglia assume compromisso com a saúde A mesa de abertura do XI Encontro Na-cional das Entidades Médicas,

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Arlindo Chinaglia assume compromisso com a saúde

A mesa de abertura do XI Encontro Na-cional das Entidades Médicas, realizado emBrasília, foi composta pelos presidentes do Con-selho Federal de Medicina (CFM), Edson deOliveira Andrade, da Associação MédicaBrasileira (AMB), José Luiz Gomes do Amaral,da Federação Nacional dos Médicos (Fenam),Eduardo Santana, e da Câmara dos Deputa-dos, Arlindo Chinaglia (PT-SP).

O Encontro reuniu, no período de 6 a 8 dejunho, mais de 400 médicos representantes dasprincipais entidades médicas do país – CFM,AMB, Fenam e Associação Nacional dos Médi-cos Residentes (ANMR) – para a discussão detemas que fazem parte da política médica, coma elaboração, inclusive, da “Carta de Brasília”,documento contendo as principais reivindi-cações da classe, além dos principais problemase demandas da saúde e da medicina do Brasil.

Chinaglia ressaltou que pretende fazer dapresidência da Câmara dos Deputados um ins-trumento para facilitar o avanço da saúde públi-

ca no Brasi l . “As-sumo o compromis-so de votarmos atéo final deste ano aregulamentação daEmenda Constitu-cional 29”, afirmouo médico.

O presidente daCâmara tambémfalou sobre a irres-ponsabi l idade daabertura indiscrimi-nada de escolasmédicas. “Temosque começar a dis-cutir não só o fim daabertura dessas fa-

culdades, como também impor uma avaliação efechar as escolas que se mostrem inadequadas.O médico mal formado é um risco para asaúde”, enfatizou, lembrando que o Projeto deLei nº 65/03, de sua autoria, proíbe a criação denovos cursos de medicina por um período dedez anos.

O presidente do CFM deu ênfase ao de-bate e lembrou que existem, hoje, 78 pedidos deabertura de escolas médicas no Ministério daEducação. E solicitou um firme posicionamen-to do governo contra a proliferação das facul-dades de medicina.

Programação é definida pelos regionais

Neste ano, as entidades nacionais criarammecanismos e condições para que as lideranças eas bases locais fossem ouvidas em inéditos pré-Enems estaduais e regionais. A idéia era ampliara participação da categoria nos eventos, desdeas discussões de base até o encontro nacional.

“Os pré-Enems deram à pauta do Encon-tro a legítima representação dos anseios da ca-tegoria quanto à formação, qualificação e aotrabalho médico, bem como a posição dos médi-cos em relação à saúde no Brasil”, assinalou opresidente da Fenam, Eduardo Santana.

No mês de março, diversos estados rea-lizaram o Enem estadual. Nas regiões Norte eCentro-Oeste, ocorreu entre os dias 26 e 28de abril. Nas regiões Sul e Sudeste, nos dias 3,4 e 5 de maio; e na região Nordeste, de 10 a 12de maio.

Cerca de 90% dos temas em pauta foramlevantados em todos os estados. O presidenteda AMB comemorou: “Tivemos uma síntesedas demandas do movimento médico”.

Na opinião do conselheiro e coordenador doevento, Geraldo Guedes, a realização do Enem éuma vitória para a classe médica. Ele entendeque “o Encontro só é possível porque prevaleceentre os médicos brasileiros o bom-senso, agrandeza dos atores e, principalmente, o imensoe sincero desejo de trabalhar por um futuro me-lhor para os profissionais e para a população”.

CBHPM

Eduardo Santana agradeceu o apoio de Chi-nagl ia à aprovação do Projeto de Lei nº3.466/04, que cria o rol de procedimentos eserviços médicos para o setor de saúde suple-mentar com base na CBHPM: “Parabenizo asentidades pela aprovação do PL na Câmara. Aabordagem com o Senado Federal pode ter umtom bem mais otimista”, disse.

Para Edson Andrade, a aprovação na Câ-mara foi apenas uma etapa e agora faz-senecessária a união da categoria para o trabalhono Senado Federal.

Presidente da Câmara dos Deputados garante votar, ainda neste ano, a regulamentação da Emenda Constitucional 29

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Regulamentação da Emenda 29 já é consenso

A regulamentação da Emenda Constitu-cional 29 – que vincula recursos federais, es-taduais e municipais para a saúde de acordocom o PIB nominal – deve entrar em votação noCongresso Nacional ainda neste segundo se-mestre, garantiu Chinaglia durante a aberturado Encontro.

O presidente da Câmara voltou a afirmar aintenção durante a homenagem prestada pelasentidades médicas de São Paulo, no dia 21 dejunho.

A regulamentação da emenda já foi aprova-da por unanimidade nas Comissões da Câmara eaguarda aprovação do plenário há quase um ano.

A EC 29 é considerada fundamental porentidades e profissionais do setor para a recu-peração financeira da área de saúde. Segundoo presidente do CFM, a regulamentação permi-tirá o reajuste da tabela do SUS,origem principal dos problemas fi-nanceiros das entidades benefi-centes.

O ministro da Saúde, JoséGomes Temporão, considera funda-mental, para o equacionamento dosproblemas que afetam a saúde públi-ca do país, a urgente regulamentaçãoda Emenda Constitucional 29. Masressalta que não só o volume de in-vestimentos vai melhorar a saúdepública no Brasil. “A gestão dos re-cursos também é vital e o SistemaÚnico de Saúde precisa ser vistocomo um dos bens mais valiosospara a população”, afirmou em en-trevista exclusiva ao jornal GazetaMercantil.

Segundo Temporão, o própriogoverno federal e a maior parte dosestados não cumprem o que deter-

mina a emenda. “Só 7 dos 27 estados cumpremo que está na emenda. No Rio de Janeiro, cer-ca de R$ 400 milhões que deveriam ter ido paraa saúde foram repassados a outras políticas”,exemplificou.

Com as alterações no método de cálculodo PIB, o crescimento da economia brasileiraem 2006 mudou de 2,9% para 3,7%, segundoo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.

O ministro do Planejamento, Paulo Bernar-do, disse em entrevista a emissoras de rádiosparceiras da Radiobrás que o governo terá quefazer novo cálculo dos gastos com a saúde paraeste ano.

“Vamos ter que mudar certamente o cál-culo do que tem que ser despendido de recur-sos na área de saúde. Isso significa adequar oorçamento, remanejar recursos e dar prioridade

na hora que formos liberar os recursos queficaram de reserva. Claro que íamos ter quedar prioridade para a saúde, e agora vai ter queser mais ainda”, disse. Segundo ele, o governotem aproximadamente R$ 4,2 bilhões de reser-vas no orçamento.

O presidente da Frente Parlamentar daSaúde, Rafael Guerra, defende que não só osmédicos mas todos os brasileiros devem man-ter a mobilização. “Convocaremos os ministrosda Saúde, Planejamento e Fazenda para au-diência na Comissão de Seguridade Social eFamília da Câmara, para nos explicarem a pro-posta do governo. Além disso, estamos mar-cando um grande ato público para o dia 14 deagosto, às 18 horas, aproveitando o encontronacional das Santas Casas de Misericórdia emBrasília. Vamos caminhar da Câmara ao Palá-cio do Planalto com velas acesas para evitar oapagão da saúde!”, comunicou.

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Enem fortalece a unidade médica

Nunca a classe médica demonstrou tantaunidade como a apresentada no XI EncontroNacional das Entidades Médicas (Enem), rea-lizado no período de 6 a 8 de junho, em Brasília.Após três dias de intensas discussões, era indisfarçável o otimismo de todos frente à dis-posição e anseio apresentados pela categoriaem encarar e resolver os principais problemas dosetor saúde, que afligem não só a categoriacomo a população brasileira em geral.

Além da representatividade – o evento reu-niu cerca de 700 lideranças médicas de todos osestados do país nas áreas associativa, sindicale conselhal – o Enem também demonstrou aatual força política dos médicos: vários parla-mentares prestigiaram o encontro, cuja aber-tura oficial foi realizada pelo presidente da Câ-mara dos Deputados, Arlindo Chinaglia.

“São eventos como este que permitem rea-lizar um diagnóstico preciso e real da saúde na-

cional por aqueles que a vivenciam quotidiana-mente”, destacou Chinaglia em seu discursode abertura.

O pres idente da Associação MédicaBrasileira, José Luiz Gomes do Amaral, desta-cou a importância do evento para o futuro damedicina e desenvolvimento da assistência àsaúde no país. “Considerando que o atual mi-nistro da Saúde tem se mostrado sensível areivindicações importantes como a regulamen-tação da Emenda Constitucional 29, entendemosser o momento de levantar absolutamente todosos problemas que os médicos enfrentam na práti-ca diária para prestar um adequado atendimen-to ao público e posteriormente encaminhar aoMinistério sugestões para que sejam resolvidoscom brevidade”, avaliou.

“Será enorme oportunidade para profundareflexão sobre a situação da saúde em nosso país.Enfim, mostrar como nós, médicos, vemos e

avaliamos nosso papel na sociedade brasileira”,completou o presidente do Conselho Federal deMedicina, Edson de Oliveira Andrade.

Na mesma linha de pensamento, o presi-dente da Fenam, Eduardo Santana, enfocou opapel da categoria nos rumos da assistênciamédica no Brasil. “Os temas em discussãoneste evento sinalizam o forte compromissoque o médico tem com a sociedade brasileira”,afirmou.

Conferências

As conferências “Interiorização do médi-co” e “Financiamento do SUS”, apresentadaspelo senador Tião Viana e pelo deputado RafaelGuerra, respectivamente, deram seqüência àabertura do Enem. O senador defendeu a im-portância da criação de um plano de carreira,cargos e salários para os médicos, mas desta-cou que somente um amplo programa de

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descentralização será eficiente para fixar omédico no interior.

“Só para ilustrar, há hospitais exemplaresem cidades no meu estado, o Acre, que ofere-cem salários de até R$ 15 mil mensais para médi-cos e mesmo assim não conseguem preencheras vagas”, detalhou Viana.

Em sua apresentação, além do tema de suaconferência, Rafael Guerra fez resumido re-latório dos principais pontos das aspirações daclasse médica, expressas por projetos de lei queora tramitam na Câmara dos Deputados e noSenado – casos da CBHPM, escolas médicas eregulamentação da medicina –, porém se atevedetalhadamente à Emenda Constitucional 29,que garante mais recursos para o setor saúde.

“O presidente da Câmara afirmou, aqui,que colocará a regulamentação da EmendaConstitucional 29 em votação ainda este ano.Isso será de extrema importância para a con-

solidação desse sistema que atende indistinta-mente a todos os brasileiros”, destacou.

Debates

Além das conferências de abertura, oprimeiro dia de debates foi dedicado a discussõessobre o ensino médico, abrangendo formação,escolas médicas, residência médica, educaçãocontinuada e revalidação de diplomas.

A carreira específica do médico, incluindomercado de trabalho e remuneração, foi temacentral do segundo dia de debates. Piso sala-rial, plano de carreira, cargos e calários, saúdesuplementar, Tiss, CBHPM, honorários noSUS e contratualização também foram temasamplamente debatidos. Ao final, foi abordadoo Sistema Único de Saúde, suas formas de fi-nanciamento e o papel do médico no controlesocial. O último dia foi reservado para dis-cussões de tema único: a Ordem dos Médicosdo Brasil.

Seguindo rigorosamente a sistemática pre-viamente definida pela Comissão Organizado-ra, todos os temas mantiveram o mesmo modelo: após cada apresentação, era concedi-do espaço para a plenária opinar e apresentarsugestões. Ao final do evento, a Comissão Or-ganizadora encarregou-se de reunir as mais de100 propostas, distribuindo-as por assuntos, assim como as moções de apoio e repúdio, alémde outras sugestões complementares (confiranas páginas 9 e 10 todos os destaques aprovadosno Enem).

O teor dos principais pontos discutidos foiresumidamente apresentado no documento“Carta de Brasília”, assinado pelas três enti-dades médicas nacionais e publicado em jornaisdas principais capitais do país. Ainda como su-gestão da plenária, foi aprovada a publicação,na imprensa, da nota oficial intitulada “Basta”,condenando as agressões ultimamente sofridaspor médicos peritos e exigindo ações enérgicasdas autoridades para coibi-las.

Enem debate ensino e formação do médico

O conselheiro do CFM, Geraldo Guedes, iniciou as apresentaçõescom o tema “Escolas médicas – autorização, reconhecimento, revali-dação do curso e exame de habilitação”, lembrando queatualmente há 78 pedidos de abertura de escolas de me-dicina tramitando no MEC, dos quais 13 já têm parecer favorável. Segundo ele, Minas Gerais é o segundo estadocom o maior número de escolas: 23.

O diretor de Educação Continuada da Fenam, AndréLongo, traçou o histórico da residência médica: seu surgi-mento, legislação e quadro atual. Frisou que até 2006 haviam3.686 programas de residência, com 26.714 vagas e 17.111residentes, o que revela grande quantidade de vagas ociosaspor inúmeros motivos, que precisam ser avaliados.

O representante da AMB, Aldemir Soares, falou so-bre “Educação continuada – recertificação e o papel dasentidades na atualização”. Após apresentar o funciona-mento mundial do processo de recertificação e educaçãocontinuada do médico, ressaltou o interesse em se facili-tar o processo para o médico no Brasil: “Atualmente tudopode ser feito online, por meio do site http://www.cna-cap.org.br”, disse.

Por fim, o conselheiro do Conselho Regional de Medicina de Alagoas,Alceu Pimentel, expôs o tema “Revalidação de diplomas: caso Cuba e opapel do MEC e das universidades públicas”.

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Médicos terão carreira no SUS

Francisco Eduardo de Campos, médico, secretário de Gestão da Edu-cação e do Trabalho na Saúde e representante do ministro da Saúde, JoséGomes Temporão, afirmou durante sua conferência “A importância da car-reira do médico na consolidação do SUS” que o Ministério já trabalha naelaboração de um projeto para a criação de carreira federal para médicos.

“Existem mais de milmunicípios sem nenhumaassistência. É preciso umincentivo para que os médi-cos sejam atraídos para es-sas áreas”, disse. Sobre atabela do SUS, ressaltouque “não é justa e o mi-nistro Temporão pretendeacabar com esse faz-de-conta, onde o profissionalfaz que trabalha e o gover-no faz que paga”.

Destacou, ainda, que para a consolidação do SUS – além do plano decarreira, cargos e salários e a própria tabela do SUS – o Ministério pre-tende incentivar a aplicação das diretrizes produzidas pelas entidades médi-cas e também apoiar a formação dos médicos por meio de programas deeducação médica continuada.

Ainda sobre o tema, José Erivalder Guimarães discorreu sobre o planode carreira, cargos e salários para médicos, enquanto o 1º tesoureiro daAMB, Amilcar Martins Giron, fez uma exposição sobre a CBHPM e anun-ciou a sua aplicação (codificação e nomenclatura) no Tiss – Troca de Infor-mações na Saúde Suplementar. “Isto, sem dúvida, será um grande passo paraa implantação da quarta edição da CBHPM pelas operadoras de saúde”,afirmou. Giron adiantou que, em função desse fato, as próximas reuniõesda Câmara Técnica Permanente da CBHPM passarão a contar com re-presentantes da Abramge e Santas Casas.

O tema foi finalizado com a exposição do diretor de Defesa Profis-sional da AMB, Roberto Gurgel, que propôs a manutenção do “código 7”,mecanismo de vinculação de honorários médicos com o SUS. “Atual-mente, mais de 70% dos médicos dependem deste sistema para sua re-muneração”, enfatizou.

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Entidades médicas defendem o SUS

O terceiro tema de grande importância foi o Sistema Único de Saúde,abrangendo seu financiamento, gestão, Emenda 29 e relações de traba-lho do médico e seu papel.

O representante do Conselho Nacional dos Secretários de Saúde(Conass), Renilson Rehen de Souza, no painel “O financiamento e agestão do SUS”, lembrou que a responsabilidade pelo financiamento doSistema cabe às três esferas – federal, estadual e municipal.

Após apresentar a legislação pertinente, Rehen destacouque o financiamento melhorou com a Emenda Constitucional29, mas, com a ausência de regulamentação da mesma, faz-senecessário definir o que pode ser considerado gasto com saúde,assunto também abordado pelo gerente de projetos da Secre-taria Executiva do SCTIE/Ministério da Saúde, Elias AntônioJorge – que discorreu sobre as formas de financiamento da saúde,dentre elas a CPMF.

Paulo de Argollo Mendes, do Sindicato dos Médicos do RioGrande do Sul, em sua exposição sobre “Terceirização de serviços– cooperativas, fundações, Oscips e OSs”, apresentou o históri-co da criação das cooperativas e fundações e da precarizaçãodo trabalho do médico. Segundo ele, as entidades devem reivin-dicar a realização de concursos públicos para a área médica.

Maria Madalena dos Santos e Sousa, representante do Sindicato dosMédicos de Minas Gerais, em sua palestra sobre “Contratualização – oque é e como está sendo implementada, repercussão para os médicos”,destacou a crise que atingiu as Santas Casas.

A representante do Conselho Nacional de Saúde, Rosane MariaNascimento da Silva, falou sobre “O papel do médico no controle so-cial”. Segundo ela, “de fundamental importância para congregar forças emprol do SUS”. E acrescentou que atualmente 71% dos secretários es-taduais de saúde são médicos.

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Debate sobre representação dos médicos encerra o Enem

As discussões sobre a organização e a representação dos médicosbrasileiros encerraram o XI Encontro Nacional das Entidades Médicas,no dia 8 de junho. O presidente da AMB, José Luiz Gomes do Amaral,abriu o tema apresentando um modelo, com base no funcionamento daAssociação Médica Mundial, para estimular a discussão. Ressaltou, noentanto, que “é necessário sermos cautelosos ao discutirmos a repre-sentação médica, para não colocá-la em risco, nem comprometer osavanços já conseguidos”. Propôs, ainda, a realização de um fórum es-pecífico para debater o assunto.

Eduardo Santana, presidente da Federação Nacional dos Médicos,mostrou-se favorável à criação de uma entidade única representativados médicos, mas destacou que para o fortalecimento da categoria será“imprescindível que a unidade política seja preservada”.

O presidente do CFM, Edson Andrade, também defendeu a unidadecomo fator primordial para o sucesso da nova entidade: “Neste momentoqueremos desencadear um processo real com todos os médicos e instânciasmédicas, para que possamos construir uma unidade efetiva e concreta”.

A exemplo do presidente da AMB, Andrade também propôs que a dis-cussão sobre o assunto seja específica, em fórum exclusivo. A propostafinal aprovada pela plenária consiste da realização, ainda neste segundo

semestre, de consulta a todos os médicos sobre a criação da nova enti-dade e, no início de 2008, um fórum nacional específico para discutir aquestão.

Após os debates, a plenária aprovou a “Carta de Brasília”, documen-to que resume as principais propostas da categoria discutidas durante oXI Enem, e nota oficial de protesto contra a violência que médicos pe-ritos vêm sofrendo, publicada em jornais de São Paulo, Minas Gerais eBrasília, além de várias moções de apoio e repúdio.

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O último Encontro Nacional das Entidades Médicas, à semelhança

dos anteriores, nos permitiu rever otrabalho das entidades médicas nestes últimos anos, possibilitoureavaliar resultados, ultrapassar

diferenças em relação a como alcançarnossos objetivos e configurar um

plano concreto e consensual para ações futuras

José Luiz Gomes do AmaralPresidente da AMB

A unidade se constrói na diversidade e no cotidiano das ações

humanas. O ENEM é um exemplo decomo os médicos brasileiros desejam ebuscam trabalhar juntos em defesa deuma profissão especial e intensamente

compromissada com o ser humano

Edson de Oliveira AndradePresidente do CFM

O XI Encontro Nacional das Entidades Médicas foi extremamente

positivo. O conjunto das entidades deuexemplo de organização e

participação, em sintonia com as reaisnecessidades dos médicos, mas, ao

mesmo tempo, com a preocupação deque as soluções que buscamos visando

aos interesses da categoria fossematreladas aos interesses da sociedade.Assim, a categoria médica se torna

mais cidadã. Tivemos a oportunidadede promover discussões e modos deorganização, construindo propostasclaras e objetivas. O Enem foi umagrande vitória política da categoria

médica

Eduardo SantanaPresidente da Federação

Nacional dos Médicos

O Enem foi organizado pela Comissão

Nacional Pró-SUS,composta por:

Alceu Pimentel (CFM),Geraldo Guedes(CFM), Frederico

Henrique de Melo(CFM),Abdon Murad

(CFM), RobertoTenório de Carvalho(CFM), Ricardo José

Baptista (CFM),AloísioTibiriça Miranda

(CFM), José Fernando Vinagre (CFM),

Wirlande Santos da Luz (CFM), Márcia

Rosa de Araújo (AMB),Roberto Queiroz

Gurgel (AMB),WaldirCardoso (Fenam) e

Márcio Bichara (Fenam)

A Comissão Executivafoi composta por:Geraldo Guedes(CFM), Roberto

Queiroz Gurgel (AMB),Wirlande Santos da

Luz (CFM) e WaldirCardoso (Fenam)

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Carta de BrasíliaMédicos entram em estado de alerta

permanente em defesa da saúde e da população

Reunidos em Brasília, no período de 6 a 8 de junho,durante o XI Encontro Nacional das Entidades Médicas(Enem), os médicos brasileiros, por intermédio de suasrepresentações, fizeram uma acurada análise do sistemade saúde no Brasil.

Como resultado, a constatação de graves proble-mas e o compromisso com a sociedade obrigam osprofissionais de medicina a entrar em estado de alertapermanente em defesa da saúde e da população.

Os médicos entendem que o SUS tem papel fun-damental na garantia da assistência à saúde da popu-lação, pois conceitualmente assegura o direito à saúdeintegral, de qualidade e ágil. Porém, identificam difi-culdades que comprometem a qualidade do atendi-mento. Entre elas, a mais grave: o seu financiamento.

Constatam haver grave insuficiência de recur-sos e exigem a ampliação da receita orçamentária, acomeçar pela destinação exclusiva da arrecadação daCPMF para o SUS.

Exigem, ainda, a regulamentação, em caráter deurgência, da Emenda Constitucional 29, que esta-belece a fixação das ações em saúde, a destinação obri-gatória de recursos por parte da União, estados e mu-nicípios e, principalmente, quais gastos podem ser efe-tivamente considerados como investimentos no setor.

Ressalte-se que essa regulamentação é impres-cindível para combater desvios hoje verificados em to-das as instâncias de governo. Atualmente, a EC 29não é cumprida por, no mínimo, 18 estados e por maisde 2.000 municípios brasileiros.

As conseqüências são o deficiente atendimentoaos cidadãos, as precárias condições de trabalho paramédicos e demais profissionais de saúde, a situação depenúria da rede de atendimento e a ameaça de falên-cia de muitos hospitais que priorizam suas ações parao SUS.

Os médicos também constataram outras dis-torções inadmissíveis: a assistência prestada no Pro-grama Saúde da Família, quer nas unidades básicas desaúde, quer na assistência secundária e na alta comple-xidade, apresenta graves problemas, dificultando a in-serção dos profissionais nas diversas equipes. Foramidentificadas situações de precarização, grandes dife-renças salariais, dificuldade de progressão na carreira eseveras restrições aos direitos previdenciários. É im-

prescindível o respeito aos preceitos da Lei nº 3. 999/61,que define a remuneração mínima do médico, ade-quando-a ao piso salarial de R$ 3.481,76 (três mil qua-trocentos e oitenta e um reais e setenta e seis cen-tavos), preconizado pelas entidades médicas.

Rigor na formação, qualificação dosmédicos e revalidação de diplomas

O compromisso com um atendimento de quali-dade à comunidade obriga os médicos a denunciar ograve problema da abertura indiscriminada de escolasmédicas. Hoje, o Brasil é o segundo país em númerosabsolutos de faculdades de medicina, com 167 – su-perado apenas pela Índia, que tem 202 e uma popu-lação seis vezes maior que a nossa.

Esses cursos possuem, em sua maioria, qualidadeduvidosa. São autorizados a funcionar por ação de in-fluências políticas questionáveis e interesses mercan-tilistas. O resultado inevitável é a formação inadequa-da de médicos, o que acaba pondo em risco a saúdeda população.

Os médicos exigem das autoridades competentesa adoção de medidas enérgicas para coibir a proliferaçãoirresponsável de faculdades de medicina. Exigem ain-da a fiscalização rigorosa das escolas em funcionamen-to, para obrigá-las a atender todos os requisitosnecessários a uma boa formação – e as que assim nãoprocederem devem ser fechadas.

A residência médica, melhor modelo para a for-mação de especialistas, deve ser ampliada, adequan-do as vagas existentes às necessidades sociais e técni-cas. Contudo, deve ser preservada a autonomia daComissão Nacional de Residência Médica.

Os médicos brasileiros e estrangeiros devem seadequar à legislação vigente. Para os formados no ex-terior, impõe-se a revalidação do diploma em moldesuniformes, definidos por comissão bipartite, governoe entidades médicas, realizada sob supervisão do Mi-nistério da Educação em universidades públicas. Osmédicos brasileiros repudiam todo e qualquer acordoque fira a legislação e privilegie profissionais formadosem qualquer país.

Destaque-se que esforços para a qualificação per-manente dos médicos estão sendo empreendidos pelaspróprias entidades, por intermédio de programas de

educação continuada, certificação e recertificação,com o objetivo de garantir uma assistência de bomnível aos brasileiros.

Uma saúde suplementar digna e completa para os usuários do sistema

A saúde suplementar tem recorrido a medidasrestritivas do atendimento com a proibição de proce-dimentos médicos e remunerações insuficientes, ne-gando-se a adotar como referência a ClassificaçãoBrasileira Hierarquizada de Procedimentos Médicos(CBHPM). Insiste na transferência de responsabi-lidade aos médicos por meio de controles coercitivos,a exemplo da Troca de Informações da Saúde Su-plementar (TISS), agredindo a privacidade dos pa-cientes, rompendo o direito de preservação de suaintimidade e ferindo o segredo profissional.

A aprovação definitiva da CBHPM pelo Con-gresso Nacional garantirá o acesso da população àsnovas práticas médicas éticas, exigindo da saúde su-plementar uma cobertura completa aos usuários dosistema.

Garantia de acesso fácil, eficiente e uni-versal à saúde da população

Os médicos não abrem mão da política de saúdepública sustentada em orçamentos próprios sufi-cientes, com qualificação profissional adequada ecrescente.

No intuito de dar qualidade ao atendimento à po-pulação brasileira, os médicos entendem como ele-mentos essenciais condições de trabalho tecnicamenteadequadas, remuneração justa e uma carreira de Esta-do, o que garantirá satisfação profissional e perspecti-va de futuro. Defendem, ainda, contratos de traba-lhos formais e combatem os valores aviltantes da tabelaSUS, os mecanismos inapropriados de terceirização ea precarização do trabalho médico.

Fundamentalmente, é primordial garantir que apopulação tenha acesso fácil, eficiente e universal àsaúde.

Associação Médica BrasileiraConselho Federal de Medicina

Federação Nacional dos Médicos

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Destaques do Relatório FinalMesa 1: Formação Médica

Escolas Médicas

• Criar a Comissão Nacional de Ensino Médico,com representantes das entidades médicas, paraavaliar criticamente as escolas em funcionamen-to, com prazo para correção, e lutar pelofechamento das que não atinjam as normas.

• Estimular a bancada da área de saúde no Con-gresso Nacional para que estruture projetosde lei e correlatos, objetivando aperfeiçoar oprocesso de avaliação e descredenciamento/credenciamento dos cursos de medicina, bemcomo as responsabi l idades estata is namanutenção da qualidade de formação dasescolas públicas.

• Mobilizar, em grande escala e emergencialmente,apoio ao PL 65/03, de autoria do deputado Ar-lindo Chinaglia, que proíbe a criação de novoscursos de medicina e a ampliação de vagas noscursos existentes nos próximos dez anos.

• Criar exigências mínimas de qualidade para oreconhecimento e revalidação dos cursos: hos-pital próprio com número mínimo de leitos, pro-gramas de residência médica reconhecidos, cor-po docente qualificado, fiscalização permanente.

• Participar no processo de autorização, reconhe-cimento e renovação de reconhecimento, de acor-do com o Decreto nº 5.773, de 9 de maio de 2006,criando um corpo de avaliadores das escolas médi-cas, indicados pelas entidades estaduais.

• Realizar fórum nacional sobre exame de ha-bilitação, no 2º semestre de 2007.

Residência Médica

• Unificar as provas para ingresso na residên-cia, com valorização da parte prática.

• Defender irrestritamente a legislação quegarante a Comissão Nacional de ResidênciaMédica como instância máxima reguladorada residência médica no país, sem prejuízo de

maior e necessáriaarticulação entre oMinistério da Edu-cação e o Ministérioda Saúde.

• Garantir maior ar-ticulação dos repre-sentantes das enti-dades médicas naComissão Nacionalde Residência Médi-ca (CFM, AMB,Fenam, ANMR eAbem) e discutir,previamente, ostemas na busca doconsenso do que émelhor para a me-dicina e o sistema de saúde, estabelecendo ofórum permanente de residência das entidadesmédicas.

Educação Continuada

• Promover estudos para capacitação e avaliaçãodos médicos não-especialistas, à semelhançada recertificação dos especialistas, medianteparticipação em educação continuada, segun-do os moldes da Comissão de Recertificação.

• Defender que seja obrigatória a comprovação,por parte das prefeituras, de educação médi-ca continuada aos médicos de UBS/USF, pararecebimento da verba referente ao piso deatenção básica (PAB).

Revalidação de Diplomas

• Defender que a revalidação seja obrigatóriapara todo diploma médico obtido no exterior,promovida pelas universidades públicas, uti-lizando como instrumentos: a análise docu-mental do candidato; a correlação dos conteú-dos curriculares; provas unificadas de profi-ciência da língua portuguesa (para candidatosestrangeiros) e de conhecimentos específicos demedicina, sob a responsabilidade do MEC, coma participação da Abem e das entidades médi-

cas (não utilizando provas da residência médi-ca para tal fim).

Mesa 2: Mercado de Trabalhoe Remuneração Médica

PCCS, Diretrizes do SUS e Piso Salarial

• Considerar que o plano de carreiras, cargose salários (PCCS) é, para o gestor, garantiada continuidade do fluxo de serviço, menorvulnerabilidade às demandas corporativas, instrumento de desenvolvimento de pessoas,racionalização e modernização administrati-va e estratégia para melhorar a qualidade dosserviços. Para o médico, é mecanismo de de-fesa dos salários, instrumento de valorizaçãoprofissional, garantia de perspectiva de fu-turo, estímulo à qualificação, regras transpa-rentes, equânimes e não-casuísticas na gerên-cia das relações de trabalho.

• Trabalhar para garantir a presença do profis-sional médico na atenção básica.

• Lutar para que os recursos do Fust (Fundo deUniversalização dos Serviços de Telecomuni-cações) sejam integralmente aplicados na teleme-dicina e no que determina a Lei nº 9.998/00.

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JAMB

• Realizar movimento nacional em defesa dasaúde e da dignidade do médico no serviçopúblico (SUS), organizado pelas três entidadesnacionais e suas regionais, incluindo um diade paralisação nacional dos médicos, tendocomo foco a criação de quadro de carreirapróprio, em todo o país, sendo o salário de en-trada o piso nacional da Fenam, a regulamen-tação da EC 29 e a aprovação do PL que re-gulamenta o exercício da medicina. Formarcomissão específica das três entidades paraorganizar e colocar em ação o movimento.

• Defender remuneração diferenciada para osmédicos que trabalham na região Amazônicae regiões de difícil provimento.

Saúde Suplementar,Tiss,CBHPM e Cooperativismo

• Solicitar que sejam tomadas, com urgência,providências para interpor ação civil públicaem face do fato de a ANS estabelecer na Tissa violação à intimidade do paciente, a violaçãodo segredo médico, a definição de perfis desegurado e a restrição ao exercício profissio-nal, entre outros óbices.

Programa Saúde da Família (PSF)

• O Enem se posiciona claramente no reco-nhecimento da estratégia do Programa Saúdeda Família como importante ação para aatenção básica à saúde.

• Recomendar a utilização de recursos datelemedicina e da metodologia de educaçãoa distância para o médico do PSF.

• Lutar para que seja assegurada nos municí-pios e regiões onde haja recursos para tal areferência de, no mínimo, um pediatra paracada três equipes do PSF, com carga horáriadefinida em função da necessidade configura-da pela demanda e remuneração igual à domédico de família, proporcional à carga horáriareferida.

• Instituir fóruns estaduais e nacionais para me-lhor conhecer os mecanismos de financiamen-to do SUS, bem como discutir a construçãoe acompanhamento do orçamento.

• Defender o repasse da produtividade do SUSdiretamente do Ministério da Saúde para omédico, sem intermediários (manutenção doCódigo 7).

• Como alternativa à extinção do Código 7,defender maior divulgação das normalizaçõesda Tiss para os médicos, quer pela ANS, querpelas entidades médicas.

• Defender a revisão da tabela do SUS, comincorporação da CBHPM.

Mesa 3: Sistema Único de Saúde

• Recomendar que todo gestor da área de saúdetenha um mínimo de formação sobre o Sis-tema Único de Saúde: legislação, princípios,normas e objetivos, sob a responsabilidade doMinistério da Saúde e secretarias estaduaisde Saúde.

• Recomendar a imediata realocação, emcaráter emergencial, dos recursos retiradosdo orçamento da Saúde pelo governo fe-deral.

• Exigir, enquanto a EC 29 não estiver regu-lamentada, que se cumpra com rigor o seuconteúdo pertinente aos repasses já fixados– 15% do governo municipal e 12% do go-verno estadual – e que os percentuais repas-sados pela União sejam devidamente cor-rigidos.

• Deliberar que as entidades médicas promovamação de mobilização contundente, juntamentecom a sociedade civil organizada, contra odescontingenciamento do orçamento daUnião para a Saúde.

• Denunciar e cobrar ações do Ministério doTrabalho em relação à precarização do tra-balho na iniciativa privada, filantrópica e nosserviços públicos de saúde.

• Recomendar o debate sobre as fundações es-tatais de direito privado, solicitando ao Mi-nistério da Saúde audiência pública acerca defundação estatal.

• Mobilizar todos os segmentos da sociedadecivil organizada, mediante abaixo-assinado deabrangência nacional, para garantir o finan-ciamento adequado do SUS, regulamentandoa EC 29, com ações coordenadas pelas en-tidades médicas; concluindo com a entregados documentos em Brasília.

• Promover ato público nacional (paralisação)no Dia do Médico, mostrando à sociedade aproblemática relacionada à medicina e àsaúde.

Terceirização de Serviços

• Recomendar que os CRMs editem resoluçõesobrigando a remuneração da disponibilidademédica nos chamados (“plantões a distância”).

O Médico e o Controle Social

• Deliberar que as entidades médicas(CFM/AMB/Fenam) estabeleçam estratégiaspara participação do médico nas representaçõesde controle social (conselhos municipais e esta-duais), bem como na capacitação de seus re-presentantes na esfera de gestão do SUS.

• Promover e estimular a efetiva participaçãodos médicos nas conferências municipais, es-taduais e nacionais de saúde.

• Lutar para garantir a vaga permanente domédico no Conselho Nacional de Saúde.

Mesa 4: Organização e Representação dos Médicos

• Estimular que sejam criados, nos estados, osconselhos superiores das entidades médicas,a exemplo de Santa Catarina.

• Realizar, no segundo semestre de 2007, con-sulta às bases sobre a organização dos médi-cos; e no primeiro semestre de 2008, umfórum sobre o tema.

• Realizar o Enem a cada três anos, em regiõesdiferentes do país, sendo o próximo eventoem 2009; e os pré-Enems, no segundo se-mestre do ano anterior.

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EDITORIAL

D I R E T O R I APRESIDENTE: EDSON DE OLIVEIRA ANDRADE

1ª VICE-PRESIDENTE: ROBERTO LUIZ D’AVILA

2º VICE-PRESIDENTE: RAFAEL DIAS MARQUES NOGUEIRA

3º VICE-PRESIDENTE: GERSON ZAFALON MARTINS

SECRETÁRIA-GERAL: LÍVIA BARROS GARÇÃO

1º SECRETÁRIO: HENRIQUE BATISTA E SILVA

2º SECRETÁRIO: CLÓVIS FRANCISCO CONSTANTINO

1º TESOUREIRO: JOSÉ HIRAN DA SILVA GALLO

2ª TESOUREIRO: RICARDO JOSÉ BAPTISTA

CORREGEDOR: PEDRO PABLO MAGALHÃES CHACEL

VICE-CORREGEDOR: JOSÉ FERNANDO MAIA VINAGRE

CORPO DE CONSELHEIROS

ABDON JOSÉ MURAD NETO (MARANHÃO), ALCEUJOSÉ PEIXOTO PIMENTEL (ALAGOAS) (LICENCIADO),ALOÍSIO TIBIRIÇA MIRANDA (RIO DE JANEIRO),ANTÔNIO CLEMENTINO DA CRUZ JR. (ACRE),ANTÔNIO GONÇALVES PINHEIRO (PARÁ), BERNARDOFERNANDO VIANA PEREIRA (BAHIA), CLÓVISFRANCISCO CONSTANTINO (SÃO PAULO), DARDEG DESOUSA ALEIXO (AMAPÁ), EDILMA DE ALBUQUERQUELINS BARBOSA (ALAGOAS), EDSON DE OLIVEIRAANDRADE (AMAZONAS), FREDERICO HENRIQUE DEMELO (TOCANTINS), GENÁRIO ALVES BARBOSA(PARAÍBA), GERSON ZAFALON MARTINS (PARANÁ),GERALDO LUIZ MOREIRA GUEDES (MINAS GERAIS),HENRIQUE BATISTA E SILVA (SERGIPE), JOSÉ HIRAN DASILVA GALLO (RONDÔNIA), JOSÉ FERNANDO MAIAVINAGRE (MATO GROSSO), LÍVIA BARROS GARÇÃO(GOIÁS), LUIZ NÓDGI NOGUEIRA FILHO (PIAUÍ), LUÍZSALVADOR DE MIRANDA SÁ JR. (MATO GROSSO DOSUL), MARCO ANTÔNIO BECKER (RIO GRANDE DOSUL), PEDRO PABLO MAGALHÃES CHACEL (DISTRITOFEDERAL), RAFAEL DIAS MARQUES NOGUEIRA(CEARÁ), RICARDO JOSÉ BAPTISTA (ESPÍRITO SANTO),ROBERTO LUIZ D’AVILA (SANTA CATARINA), ROBERTOTENÓRIO DE CARVALHO (PERNAMBUCO), RUBENS DOSSANTOS SILVA (RIO GRANDE DO NORTE), WIRLANDESANTOS DA LUZ (RORAIMA) E EDEVARD JOSÉ DEARAÚJO (AMB)

CONSELHEIROS SUPLENTES

ALDEMIR HUMBERTO SOARES (AMB), ÁLVARO LUIZSALGADO PINTO (AMAZONAS), ANTONIO DE PÁDUA

SILVA SOUSA (MARANHÃO), CEUCI DE LIMA XAVIERNUNES (BAHIA), CELSO MURAD (ESPÍRITO SANTO),CLAUDIO JOSÉ DIAS KLAUTAU (PARÁ), CLÁUDIOBAUDUÍNO SOUTO FRANZEN (RIO GRANDE DO SUL),DILZA TERESINHA AMBROS RIBEIRO (ACRE), EDWARDEYI FOSTER (AMAPÁ), ELCIO LUIZ BONAMIGO (SANTACATARINA), FRANCISCO BARREIROS NETO (MINASGERAIS), ISAC JORGE FILHO (SÃO PAULO), J. SAMUELKIERSZENBAUM (RIO DE JANEIRO), JOSÉ ALBERTINOSOUZA (CEARÁ), LUEIZ AMORIM CANEDO (GOIÁS),LUIZ FERNANDO GALVÃO SALINAS (DISTRITOFEDERAL), LUIZ SALLIM EMED (PARANÁ), MANUELLOPES LAMEGO (RONDÔNIA), MAURICIO DE BARROSJAFAR (MATO GROSSO DO SUL), NEMÉSIO TOMASELLADE OLIVEIRA (TOCANTINS), NEUMAN FIGUEIREDO DEMACEDO (RIO GRANDE DO NORTE), NOÉ DECERQUEIRA FORTES (PIAUÍ), PAULO ERNESTO COELHODE OLIVEIRA (RORAIMA), SILVIA DA COSTA CARVALHORODRIGUES (PERNAMBUCO), SERAFIM DOMINGUESLANZIERI (MATO GROSSO), TERESA CRISTINA M.VENTURA DA NÓBREGA (PARAÍBA)

CONSELHO EDITORIAL: Abdon Murad, Aloísio Tibiriça,Clóvis Constantino, Dardeg Aleixo, Edson Andrade,Geraldo Guedes, Henrique Batista, Luiz Salvadorde Miranda, Marco Antônio Becker

DIRETOR EXECUTIVO: Henrique Batista e Silva

EDIÇÃO: Antonio Marcello

REDAÇÃO: Ana Isabel Corrêa, Vevila Junqueira

COLABORADORA: Nathália Siqueira

SELEÇÃO DE ARTE,COPIDESQUE, REVISÃO: Napoleão Marcos de Aquino

SECRETÁRIA: Ana Neves

EQUIPE DE APOIO: Guilherme Hagel, Laryssa VianaBorges

FOTOS: Marcio Arruda - MTb 530/04/58/DF

DESIGN GRÁFICO: Via Brasil - Consultoria &Marketing Ltda.

TIRAGEM DESTA EDIÇÃO: 335.000 exemplares

JORNALISTA RESPONSÁVEL:Antonio Marcello - MTb DF 11747

SGAS 915, Lote 72 - CEP 70 390-150 Brasília (DF)Tel: (61) 3445 5900 Fax: (61) 3346 0231

http://www.portalmedico.org.br • e-mail: [email protected]

MUDANÇAS DE ENDEREÇO DEVEM SER COMUNICADAS DIRETAMENTE AO CFM. OS ARTIGOS ASSINADOS SÃO DE INTEIRA

RESPONSABILIDADE DOS AUTORES, NÃO REPRESENTANDO, NECESSARIAMENTE, A OPINIÃO DO CFM.OS ARTIGOS ENVIADOS AO CONSELHO EDITORIAL PARA AVALIAÇÃO DEVEM TER, EM MÉDIA, 4.100 CARACTERES.

Publicação oficial do Conselho Federal de Medicina

DIRETORIA AMBPresidenteJosé Luiz Gomes do Amaral

Primeiro Vice-PresidenteJosé Carlos Raimundo Brito

Segundo Vice-PresidenteHélio Barroso dos Reis

Vice-PresidentesAristóteles Comte de Alencar FilhoFlorentino de Araújo Cardoso FilhoJacob Samuel KierszenbaumJésus Almeida FernandesJosé Luiz Dantas MestrinhoJurandir Marcondes Ribas FilhoNabyh SalumNewton Monteiro de BarrosRoque Salvador Andrade SilvaWilberto Silva Trigueiro

Secretário-GeralEdmund Chada Baracat

1° SecretárioAldemir Humberto Soares

1° TesoureiroAmilcar Martins Giron

2° TesoureiroLuc Louis Maurice Weckx

DiretoresAcadêmicoJosé Luiz Weffort

Atendimento ao AssociadoMoacyr Basso Junior

CientíficoGiovanni Guido Cerri

ComunicaçãoRonaldo da Rocha Loures Bueno

CulturalCarlos David Araújo Bichara

DAPCleber Costa de Oliveira

Defesa ProfissionalRoberto Queiroz Gurgel

Economia MédicaElisabeto Ribeiro Gonçalves

MarketingGeraldo Ferreira Filho

Proteção ao PacienteElias Fernando Miziara

Relações InternacionaisMurillo Capella

Saúde PúblicaMárcia Rosa de Araújo

EXPEDIENTE JORNAL DA AMBDiretor ResponsávelRonaldo da Rocha Loures Bueno

Editor ResponsávelAldemir Humberto Soares

Conselho EditorialAmilcar M. GironEdmund Chada BaracatJosé Luiz Gomes do AmaralLuc Maurice Weckx

Editor ExecutivoCésar Teixeira MTB 12.315

JornalistaNatália Cesana

RedaçãoRua São Carlos do Pinhal, 324 Cep 01333-903 São Paulo SPTel. (11) 3178-6800E-mail: [email protected]

Publicação oficial da Associação Médica Brasileira

Esta edição conjunta do Jornal da AMB e do MEDICINA evidencia a importância da realização do XI Encontro Nacional das EntidadesMédicas, do qual participaram delegados representantes da Associação Médica Brasileira, do Conselho Federal de Medicina, dos ConselhosRegionais e da Federação Nacional dos Médicos.

Os debates desenvolvidos abrangeram os temas mais importantes da realidade do movimento médico hoje. Desde o absurdo da desenfreadaação para abertura de novas escolas médicas, até a questão da luta pela criação do plano de carreiras, cargos e salários no Sistema Único de Saúde,passando por temas como a formação médica, interiorização do médico e financiamento do SUS.

Extremamente importante foi a participação do presidente da Câmara dos Deputados, Arlindo Chinaglia, que anunciou que colocará emvotação ainda este ano a regulamentação da Emenda Constitucional nº 29, sem a qual a saúde vai continuar sobrevivendo à míngua.

O sucesso do XI Enem levou as entidades organizadoras a propor sua realização de quatro em quatro anos, de forma a, cada vez mais,incentivar a organização unificada da categoria médica e, assim, lutar com mais vigor e conquistar os objetivos almejados pelo movimento.

XI Enem: uma vitória da categoria médica

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HISTÓRIA

A comunidade médica pernambucana enordestina celebra o encaminhamento das obrasde recuperação do Hospital Pedro II. Com esseprojeto, a estrutura hospitalar da qual faz parte(o Complexo Hospitalar do Imip) passará a sera maior do Norte-Nordeste, com 720 leitos,todos do Sistema Único de Saúde (SUS). Cer-ca de 60% da área física será reservada aoatendimento assistencial e os serviços entramem funcionamento por etapas da obra – naunidade de hemodiálise, por exemplo, as obrasiniciaram-se e estão programadas para termi-nar em agosto, momento em que o serviço serádisponibilizado.

O Projeto de Restauro e Modernização,promovido pelo Instituto Materno-Infantil Pro-fessor Fernando Figueira (Imip), foi lançado ofi-cialmente em março deste ano. E a primeirafase, a de substituição do telhado e demoliçãodas construções irregulares que descaracteri-zavam o imóvel, já teve início. Agora, estãosendo restauradas a fachada nordeste do prédioe a cobertura da construção.

Para o superintendente do Imip e coorde-nador-geral do projeto, Antônio Carlos Figueira,a importância da iniciativa vai além do resgateda arquitetura original do prédio: “Responde-remos a um antigo anseio de toda a comunidademédica e pernambucana e, além disso, atende-remos principalmente as pessoas carentes, resgatando a importante função social destehospital e o seu papel de referência na medici-na”. Trata-se, portanto, do compromisso dereativar um patrimônio de importância reco-nhecida na região, que por mais de um séculoprestou assistência à comunidade pernambu-cana, formando ainda milhares de profissionaisde saúde que constituíram os conceituadosnomes da medicina do estado.

O conselheiro federal representante de Per-nambuco, Roberto Tenório, ressalta a importân-cia educacional e histórica do Hospital PedroII. Como o hospital era instituição agregada àuniversidade federal de medicina, parte expres-siva dos médicos que se formaram no Nordestesão dali procedentes, além de ser berço de for-

mação de médicos do Centro-Oeste e Nortedo país. Tempos após transferiram a atividadehospitalar para o campus e o hospital ficouservindo a outras atividades relacionadas aserviços públicos. Houve interesse de um grupoportuguês em instalar um shopping center no local, mas o Imip reivindicou um projeto quemantivesse aquelas instalações voltadas ao tradi-cional propósito da medicina. “No bojo desseprojeto está justamente a intenção de preser-var a memória da medicina pernambucana ereintegrar o hospital ao atendimento da popu-lação mais carente, no âmbito do Sistema Únicode Saúde, ao qual serve o Imip. Por isso, todasas entidades médicas de Pernambuco apóiamo projeto”, disse Tenório.

Obras

As obras abrangem uma área de 19,5 milmetros quadrados, distribuídos em três andares,e o projeto inclui a construção de uma escolapolitécnica de saúde, de um grande centro deconvenções e do memorial da saúde materno-infantil professor Fernando Figueira. A escolapolitécnica terá a missão de formar técnicos desaúde de nível médio para suprir o pólo médicopernambucano e as necessidades da rede públi-ca de saúde; o centro de convenções, com potencial para acomodar 1.500 pessoas emeventos nacionais e internacionais, vai reforçaro papel do Recife como um dos mais impor-tantes centros médicos; e o memorial da saúdevai reunir um dos mais importantes acervoshistóricos do país, fruto do trabalho profícuodo mestre cujo nome serve à instituição: profes-sor Fernando Figueira.

Antônio Carlos Figueira explica que o acervo passará a existir a partir de uma cam-panha para angariar antigos objetos e fotos doHospital Pedro II, constituindo um local ade-quado para a conservação e exposição dosmesmos. “Será um espaço para celebrar ahistória do hospital e da medicina pernambu-cana”, sintetiza.

Hospital patrimônio histórico e médicode Pernambucano será reativado

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FALA MÉDICO

Assalto aos médicosNão estamos nos referindo aos assaltos à

mão armada a clínicas e consultórios, nem aoassassinato do psiquiatra Antônio Carlos Escobar ao tentar evitar um assalto a outrocidadão num veículo à sua frente, para posi-cionarmo-nos ante a violência descontrolada.Como muitos brasileiros, os médicos e demaisprofissionais da saúde vêm sendo surrupiadosna remuneração e precarizados em seus em-pregos e atividades profissionais.

Após o confisco efetivado por Fernando Col-lor, o Plano Real converteu a URV para o real,prejudicando a população. A quem isto serviu?As privatizações, além de crime de lesa pátria,trouxeram custos altos e crescentes em um am-biente de decantada “estabilidade financeira”.

No Plano Real, a saúde teve descumprida,desde o início, a norma constitucional que des-tina 30% do orçamento da Seguridade Socialao setor. Para cumprir míseros U$100 per capi-ta, o governo tirou dinheiro do FAT e aprovoumais um imposto: a CPMF, inicialmente “pro-visória” e hoje “permanente”. Contudo, a ver-ba destinada à saúde chega pela porta da frentee sai pela dos fundos. Para remediar a questãodo financiamento, em 2000 foi aprovada aEmenda Constitucional 29, até o momento nãoregulamentada.

Consultórios são fechados em virtude doaumento do custo dos insumos. Ao ser obri-gado a abrir uma empresa para prestar serviços,o médico não tem acesso ao Simples, esbarrana Contribuição Social. Com relação ao im-posto de renda, os últimos governos, além decriarem as alíquotas de 25% e 27,5%, man-tiveram congelada por anos a tabela progressi-va de descontos.

A tabela de remuneração das consultas eprocedimentos médicos (CBHPM) tambémpermaneceu fixa por anos. Reconhecida pelopróprio Ministério da Saúde como um dos ins-trumentos de classificação mais avançados domundo, chegou a ser anunciada como substi-tuta da desatualizada Tabela SUS – mas nasemana seguinte o ministério voltou atrás! Já

para as operadoras de planos de saúde,atravessadoras do trabalho médico, os go-vernos sempre lhes garantiu o direito deaumento anual. Aos médicos, efetivos executores do trabalho, a União nega qual-quer recomposição salarial. A agência reguladora da área, a ANS, criada pelogoverno e que deveria ser fator de equilíbrio,tem mantido uma postura antimédica e demassacre aos usuários. O projeto de pisonacional salarial dos médicos foi duas vezesaprovado pelo Congresso e vetado por Ita-mar Franco e FHC, e a atualização da re-gulamentação da profissão médica não sai.A aprovação do “projeto do ato médico” énecessária para definir os limites da medi-cina. Nos países minimamente estrutura-dos, capitalistas ou socialistas, a medicina é umadas primeiras profissões a ser regulamentada,por óbvio interesse social.

A remuneração no setor público é péssima:a Tabela SUS, defasada há 12 anos, paga os pro-cedimentos efetuados em unidades de saúdepúblicas e privadas – as primeiras recebem re-cursos outros dos três tesouros; as segundas,estão definhando sem qualquer tipo de satis-fação, a não ser cobranças arrogantes, comraras e privilegiadas exceções. O Tipo 7, forma de pagamento de procedimentos direta-mente na conta-corrente do médico, foi extin-to, trazendo insatisfação, tensão e conflitos entre gestor local, prestador e profissional.

A saúde enfrenta ainda a ausência de umacarreira, nos moldes dos promotores e juízes,iniciando o trabalho pelo interior, com financia-mento tripartite. A valorização e fixação domédico e demais profissionais é a solução ade-quada. Ao invés disso, a política de recursoshumanos para o SUS inexiste.

Com relação à assistência, a estratégia doPrograma Saúde da Família foi copiada deCuba, onde o médico e o enfermeiro são responsáveis por 120 famílias – no Brasil, aequipe é responsável por 800 a 1.000 famílias,às vezes transformadas em 1.200 ou mais. E ovínculo trabalhista desses profissionais? Pre-

carizado! Destaque-se, ainda, o fato de quepouquíssimos municípios realizaram concur-so público.

Com a política reducionista da atenção noSUS, a maneira encontrada pelos governantespara aumentar a oferta de médicos foi maxi-mizar o pacote “Saúde pobre para pobres”. Talprojeto ganhou corpo mediante portarias queautorizam outros profissionais da saúde a exe-cutar atos médicos. O enfrentamento da dis-tribuição dos profissionais é feito não com umapolítica de Estado, mas com a liberação para omercenarismo de mercado: a abertura desen-freada de novas faculdades de medicina. Desdea reeleição de FHC, essa prática irresponsávelvirou moda. Hoje, somos o segundo país emnúmero de escolas médicas: 167. Acha pouco?Pois ameaçam abrir mais 78 faculdades de me-dicina este ano!

Uma sucessão de golpes atinge os médicose demais profissionais da saúde. E a maior víti-ma é a população brasileira, penalizada por re-ceber serviços públicos insuficientes e, cada vezmais, precarizados, por estarem fragilizados,maltratados e desvalorizados os seus recursoshumanos – o bem mais precioso. Onde a preser-vação do interesse social?

Antonio Jordão Neto é coordenador da Fiscalização do Conselho Regional de Medicina de Pernambuco

Andy Warhol (1928-1987)

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CORREIO MÉDICO

A internet pode e deve ser usada para a informação em massa.Educar pode ser um objetivo; esclarecer, outro. Um exemplo, da minhaárea, nefrologia, é o “Dia Mundial do Rim”. Criado com o objetivo dedespertar a população e a comunidade médica para o problema crescenteda doença renal, ainda é uma data pouco conhecida no Brasil e em outrospaíses. Ela acontece na segunda quinta-feira de março, que, neste ano, foidia 8. Quem transita pela internet pode ter visto algumas iniciativasinteressantes, que podem servir de sugestões para outras, com a mesmatemática. Vamos a elas: a Sociedade Brasileira de Nefrologia(www.sbn.org.br) destaca, em sua página principal, um link da CampanhaPrevina-se (www.sbn.org.br/previna.htm). Nele é possível conhecer asatividades desenvolvidas em vários centros brasileiros, destaques na mídiaem diversas regiões e uma vinheta, bastante objetiva, onde o dr. HugoAbensur fala sobre a doença renal crônica e a importância da dosagem dacreatinina sérica (www.sbn.org.br/previna/midia2007/AlertaRimVideo.mpg).Além disso, na página inicial da sociedade existe uma seção “para opúblico”, com informações sobre função renal e suas patologias maisfreqüentes.

Nos Estados Unidos, a National Kidney Foundation apresenta marçocomo o mês do rim (www.kidney.org/news/wkd/kidneyQuiz.cfm). Atrai umpequeno “kidney quis”, com questões simples abrangendo perguntascomuns na área nefrológica. O site dispõe uma programação de testesgratuitos de screening para doença renal que serão realizados em várioslocais daquele país. Além disso, pode-se acessar uma extensa lista detópicos relacionados à doença renal, como, por exemplo, o texto “are youat increased risk for chronic kidney disease?”, em www.kidney.org/atoz/atozItem.cfm?id=134, ou o excelente “employer’s guide” (www.kidney.org/atoz/atozItem.cfm?id=58) que traz informações importantes aosempregadores, dirimindo dúvidas e preconceitos.

Também nos Estados Unidos, o Center for Disease Control andPrevention (www.cdc.gov) publica semanalmente o “morbidity andmortality weekly report”, conhecido pela sigla MMWR (www.cdc.gov/mmwr/index.html). No primeiro dia do mês de março, há destaque para oDia Mundial do Rim, bem como breve atualização da prevalênciaamericana da doença renal crônica no período de 1999 a 2004 e seusfatores de risco associados, em www.cdc.gov/mmwr/preview/mmwrhtml/mm5608a2.htm. Diversos sites americanos disponibilizaram links para aspáginas anteriores no Dia Mundial do Rim, chamando a atenção dosleigos para o assunto.

No Brasil, as iniciativas ainda tímidas, começam a proliferar.

Copiando de um colega da lista de discussão em nefrologia(www.grupos.com.br/grupos/ger-nefrologia), sugiro pesquisas sobre notíciasno Google, iniciando a busca pelo http://news.google.com.br. Pesquisandoo tema “insuficiência renal”, o colega retirou uma listagem das manchetessobre o tópico, a maioria delas veiculada no dia 8 de março, e a envioupara todos os demais participantes da lista. É claro que a estratégia podeser usada para pesquisas das mais diversas. Sugiro começar pelo “DiaMundial da Água”, celebrado em 22 de março. Mais que a doença renalcrônica, esse assunto afeta a todos. Boa pesquisa!

Anderson Roman

Agressões gratuitasGostaria de parabenizar o dr. Ab-

don Murad pelo artigo publicado noMEDICINA nº 161, concordando in-condicionalmente com suas palavras.Ao mesmo tempo, sugiro ao CFMprocesso por danos morais em nomedos médicos do Brasil, contra os di-retores da Cassi relacionados noreferido artigo. Acho um absurdo oCFM não reivindicar uma retratação!

Vamberto Augusto Costa FilhoCRM-PB 2474

Igualmente revoltado como o dr.Murad, de imediato mandei corres-pondência eletrônica para a Cassi re-batendo os diversos pontos sobre adita inflação médica, demonstrandoque avanços técnicos não podem eti-camente ser sonegados aos pacientese também perguntando qual de seusdiretores seria o primeiro candidato afazer colecistectomia convencional aoinvés de videolaparoscópica.

Edmundo Laranja da SilvaCRM-RS 3504

Somos sim, responsáveis pelo altocusto da prática médica, pois se nãoformos nós, quem serão? Ora, somosnós que a exercemos! O que querodizer é que o problema está dentro danossa classe, da nossa casa, dentro denós mesmos! Somente a partir do mo-mento que assumirmos a condição deresponsáveis, já que os fatos citadosdependem apenas de nós mesmos, in-dividualmente e depois como classe,se assumirmos atitudes sérias, comcomportamento ético e científico, en-tão poderemos ser vistos de outramaneira e resgatar o respeito da nos-sa profissão.

Donato Parra GilCRM-MS 454

Indústria farmacêuticaQuero cumprimentar o dr. Rober-

to Luiz d’Avila pelo excelente e lúci-do artigo publicado no MEDICINAnº 161, sob o título “Conflito de inte-resses no relacionamento entre médi-cos e indústria farmacêutica”. Esse

tema sempre me incomodou muito egrande parte dos médicos consideraabsolutamente normal e tranqüila essarelação. Devemos, realmente, criaruma nova atitude em relação aos la-boratórios farmacêuticos.

Cid VellosoCRM-MG 3340

Desde a formação do médico, aconvivência do graduando e, poste-riormente, durante a residência médicae nas atividades em consultório e hospi-tais, a íntima relação do profissionalmédico com representantes da indús-tria farmacêutica e, de modo seme-lhante, com elementos da indústria deequipamentos e de produtos médicos,muitas vezes se aproxima do promíscuo.

Particularmente, espero que oCFM, sustentáculo da ética e do com-portamento elevado da medicinabrasileira, formule pareceres e deter-minações contundentes para que nãomais tenhamos que conviver, triste-mente, e de modo tão próximo, tãouniversal e, por tão freqüentes, quasenão mais perceptíveis, com interes-ses que não sejam, exclusivamente,os nossos pacientes e a dignidade danossa profissão médica.

Salvador M. SerraCRM-RJ 52.19781-8

Escolas médicasPreocupa-me a proliferação ocor-

rida em meu estado e outros de facul-dades de medicina, nos últimos anos.Urge que tenhamos regulamentadauma prova para obtenção de registroprofissional nos CRMs, nos moldes daque existe na Ordem dos Advogadosdo Brasil, há muitos anos. Com issoseriam selecionados os profissionaisaptos a exercerem uma medicina éti-ca e de boa qualidade, excluindo-seos alunos mal preparados, evitando-se inclusive situações de denúnciacontra maus profissionais. Seria tam-bém uma solução para os formadosem outros países (Cuba) regularizaremseus diplomas e registros.

Fabiano Álvares da Silva CamposCRM-MG 12827

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POLÍTICA MÉDICA

Desde 1º de junho, está em vigor a Tiss –Troca de Informações em Saúde Suplementar,que define uma guia padrão para todos os planosde saúde. O objetivo da Agência Nacional deSaúde Suplementar (ANS) com o estabeleci-mento desse padrão foi obter um sistema unifi-cado para subsidiar o planejamento das ações epolíticas de saúde. As guias padronizadas po-dem trazer vantagens, mas também provocampolêmica.

A Tiss oferece duas modalidades de infor-mação: guias de papel e meio eletrônico, comprazos diferenciados. Desde 1º de junho, todosos médicos de consultório estão obrigados apreencher as guias de papel. O prazo de 1º dejunho também foi estipulado para a trocaeletrônica de dados pelos hospitais, prontos-so-corros, ambulatórios e laboratórios. Os médi-cos devem aderir à troca eletrônica até 1º dedezembro de 2008.

O coordenador da Comissão da CBHPM,Florisval Meinão, teme dificuldades na adap-tação, apesar de o prazo ser de um ano e meio.“Os médicos vão ter que informatizar os con-sultórios e adotar o serviço de banda larga. Masos reajustes dos planos têm sido insuficientespara isso”, justifica.

A Tiss traz o benefício da unificação dasguias, mas foi considerada excessivamente com-plexa pela Associação Médica Brasileira (AMB).Uma simples guia de consulta traz 38 campos,além do nome do paciente. Um deles é para oregistro do código da Classificação Internacionalde Doenças (CID) e do tempo da doença dousuário. A esse respeito, a recomendação doConselho Federal de Medicina é a de nãopreencher o campo da CID, nem informar otempo da doença, para que não haja quebra dosigilo ao qual o paciente tem direito.

Preenchimento vedado

O Conselho Federal de Medicina propôsretirar o campo da CID. A ANS não aceitou,mas tornou opcional o preenchimento do cam-po, sem levar em consideração que a Resolução

CFM nº 1.819/07, em seu artigo 1º, veda aomédico “o preenchimento, nas guias de consul-ta e solicitação de exames das operadoras deplanos de saúde, dos campos referentes à Clas-sificação Internacional de Doenças (CID) e tem-po de doença concomitantemente com qual-quer outro tipo de identificação do paciente ouqualquer outra informação sobre diagnóstico,haja vista que o sigilo na relação médico-pa-ciente é um direito inalienável do paciente,cabendo ao médico a sua proteção e guarda”.Tornando “opcional” o preenchimento do cam-po da CID, a ANS deixa aberta uma janela paraque as operadoras de planos de saúde exijamque os médicos o preencham.

“O CFM entende que a Tiss é essencial,mas somos contra a exigência da colocaçãodo diagnóstico em guias de papel, porque issofere o direito ao sigilo do paciente”, explicaRoberto Luiz d´Avila, 1º vice-presidente doConselho.

Caso o médico descumpra a determinação,poderá ser punido. “Se o Conselho Regional foravisado de que o médico está informando o diagnóstico e o paciente fizer a denúncia, elepoderá ser processado”, avisa Roberto d´Avila.

A restrição do CFM não se aplica à guia deresumo de internação e à troca eletrônica de in-formações, em que os dados são criptografadose não públicos. O objetivo é assegurar o sigiloe a intimidade do paciente, garantidos pela Cons-tituição Federal e Códigos Penal e Civil. Se aoperadora exigir o preenchimento do campo daCID, seus diretores técnicos ou prepostos es-tarão também sujeitos aos efeitos da ResoluçãoCFM nº 1.819/07, que no art. 2º afirma: “Con-siderar falta ética grave todo e qualquer tipo deconstrangimento exercido sobre os médicos paraforçá-los ao descumprimento desta resoluçãoou de qualquer outro preceito ético-legal. Pará-grafo único. Respondem perante os Conselhosde Medicina os diretores médicos, os diretorestécnicos, os prepostos médicos e quaisquer ou-tros médicos que, direta ou indiretamente, con-corram para a prática do delito ético descritono caput deste artigo.”

Alerta

Aloísio Tibiriça Miranda, conselheiro doCFM, chama atenção para os benefícios da nor-ma do Conselho. “A resolução serve de respal-do para o médico no cumprimento da ética naprofissão e é um alerta às operadoras, para quenão exijam o preenchimento da CID”, explica.O conselheiro representa o CFM no Comitêde Padronização das Informações em SaúdeSuplementar (Copiss), órgão consultivo da ANSem relação à Tiss.

“Esperamos que a ANS, que tem funçãonormativa delegada pelo governo federal, tomeposição clara em defesa da lei e proíba a reve-lação do diagnóstico médico nas guias de pa-pel”, enfatizou.

A Associação Médica Brasileira levantaoutra questão: “A Tiss unifica os formulários,facilita a vida do médico e contribui para plane-jar políticas públicas de promoção e prevençãoda saúde. Mas a guia ficou muito complexa,muito burocratizada. Estamos atentos ao pro-blema. Nossa proposta no Copiss é uma análisecrítica para simplificar a guia”, disse FlorisvalMeinão.

Tiss: CFM alerta para quebra de sigilo médico

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Convocados pela ANS para discutir a adoçãodos códigos e nomenclatura da CBHPMcomo referência para o sistema, os integrantesdo Comitê de Padronização das Informaçõesem Saúde Suplementar (Copiss) reuniram-sena sede da AMB, em São Paulo, no dia 22 dejunho.

De acordo com Florisval Meinão, represen-tante da AMB no grupo, 95% dos procedimen-tos constantes do rol da ANS fazem parte daCBHPM, portanto já estão codificados. Sendo

assim, a AMB codificará o restante, cerca de190 procedimentos.

Além disso, as operadoras citaram algunsprocedimentos praticados cotidianamente quenão estariam na CBHPM. A AMB analisarácada caso junto às Sociedades de Especiali-dade, decidindo pela inclusão ou justificando anegativa.

A ANS pretende criar uma lista unificada determinologia em saúde suplementar, indepen-

dente do rol de cobertura mínima, contemplan-do todos os procedimentos médicos avalizados(CBHPM) e os procedimentos das demaisprofissões de saúde. A medida se faz necessáriapara a padronização das informações do setor.

“Tudo caminha para a consolidação daCBHPM como referência de códigos e nomen-clatura”, avalia Meinão. “Neste ritmo, teremosrapidamente compatibilizados o rol da ANS, aCBHPM e as tabelas das operadoras”.

Para o presidente da Câmara Técnica Per-manente da CBHPM, Amilcar Giron, “é umagrande vitória para os médicos a CBHPM serreconhecida pela própria agência reguladora epelas operadoras como instrumento ético etransparente”.

O encontro contou pela primeira vez comrepresentantes da Associação Brasileira de Me-dicina de Grupo (Abramge) e Federação Na-cional de Saúde Suplementar (Fenasaúde). Alémdeles, também participaram: Unidas, Unimed doBrasil, Federação Nacional dos Médicos, Confe-deração das Santas Casas de Misericórdia, hos-pitais e entidades f ilantrópicas, FederaçãoBrasileira de Hospitais e Sociedade Brasileira deOrtopedia e Traumatologia.

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16Julho/2007

CBHPM em trâmite no Senado

Referência para a saúde suplementar

Após aprovação por una-nimidade na Câmara dos De-putados, o projeto de lei queinstitui a CBHPM como basepara o rol de procedimentosdo sistema suplementar desaúde foi apresentado aoSenado Federal no dia 5 dejunho, quando ganhou novanumeração: PLC 39/07.

O ‘Projeto de Lei da CBHPM’, como ficou co-nhecido entre a classe médi-ca, inicia sua tramitação pela

Comissão de Assuntos Sociais, que terá comorelator o senador Sérgio Guerra (PSDB/PE).

Mesmo sabendo que será submetido a váriascomissões, a exemplo do que ocorreu na Câmarados Deputados, as entidades médicas esperamque a tramitação no Senado seja mais rápida, ter-minando ainda este ano. Caso o texto seja aprova-do sem modificações, segue direto para sançãopresidencial. Se houver qualquer alteração, vol-ta para uma última votação na Câmara.

“A classe médica deverá f icar atenta epreparada para mobilizar-se a qualquer momen-to, a exemplo do que fizemos na Câmara”, afir-

ma o presidente da AMB, José Luiz Gomes doAmaral. “É fundamental que acompanhemoscom muita atenção a sua tramitação no Sena-do”, completou.

O texto aprovado na Câmara, agora emtrâmite no Senado, traz apenas duas emendasem relação ao texto original. A primeira é apenas uma questão de nomenclatura: o “rol deprocedimentos e eventos médicos” passou a serdenominado “rol de procedimentos e serviçosmédicos”. A segunda faz referência à criação,pela Agência Nacional de Saúde Suplementar(ANS), de uma câmara técnica com a missão dearbitrar possíveis polêmicas no setor.

POLÍTICA MÉDICA

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Julho/2007

Comissões querem reativar luta por honorários

AMM atualizaDeclaração de

HelsinkiDurante o encontro entre a Comissão Na-

cional de Consolidação e Defesa da CBHPM e asComissões Estaduais de Honorários Médicos,realizada no dia 6 de julho, foi consenso que asentidades médicas estaduais devem procurar cadasenador a fim de ressaltar a importância do pro-jeto de lei da CBHPM (PLC 39/07) para a classemédica e a saúde dos brasileiros.

Outro tema da reunião, realizada na sede daAMB, em São Paulo, foi a adoção dos códigos enomenclaturas da CBHPM no Padrão Tiss – Troca de Informações em Saúde Suplementar. Ocoordenador da Comissão Nacional, FlorisvalMeinão, recebeu apoio dos estados para que dêcontinuidade aos ajustes técnicos de compatibi-lização entre o atual rol da ANS e a CBHPM.

No entanto, Meinão ponderou que a luta pelavalorização dos honorários médicos deve ser para-lela a este trabalho, e depende da atuação incisi-va das Comissões Estaduais. Com o objetivo degarantir a mobilização dos médicos, já foram agen-

dados os próximos encontros nacionais: 31 deagosto (São Paulo/SP), 19 de outubro(Aracaju/SE) e 7 de dezembro (São Paulo/SP).

Além disso, os estados do Nordeste farão umencontro regional em Maceió (AL), no dia 17 deagosto. Idealiza-se que as outras regiões tambémpromovam reuniões semelhantes, na medida dopossível, antes do encontro nacional do dia 31 deagosto. Dessa forma, seriam discutidas estraté-gias adequadas às diferentes realidades brasileiras.

“Uma remuneração mínima e ética é um dospilares da qualidade do atendimento e da valoriza-ção do médico e merece nossa total atenção. Porisso, a Comissão Nacional convida todas asComissões Estaduais a fortalecerem e/ou reati-varem o movimento em cada região”, destacouMeinão, acrescentando ser de fundamental im-portância o contato dos membros das comissõescom os senadores de seus respectivos estados,no sentido de destacar a importância de aprovaçãodo PLC 39/07 para a população brasileira.

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POLÍTICA MÉDICA

CFM apóia movimento médico alagoanoO Conselho Federal de Medicina se solidariza com o Conselho Regional de Medicina

do Estado de Alagoas, que declarou ética a luta da categoria e manifesta apoio ao Sindi-

cato dos Médicos pelo justo movimento dos médicos do serviço público estadual, que vêm

reivindicando condições dignas de trabalho e melhor assistência à saúde da população.

O movimento deflagrado pelos médicos ocorre após longo período de negociações,

sem êxito até a presente data. As justas reivindicações visam superar a precária estru-

tura e condições de trabalho nas unidades de saúde e protestar contra a posição intran-

sigente do governo do estado em não reconhecer a necessidade de um reajuste salarial

digno para a categoria.

O Conselho Federal de Medicina conclama as autoridades do estado a manterem

abertas as negociações e, assim, por fim ao impasse, em benefício da sociedade alagoana.

Nota oficial

Referência para todos os países no que con-cerne à ética em pesquisas médicas envolvendoseres humanos, a Declaração de Helsinki começoua ser revista pela Associação Médica Mundial(WMA, na sigla em inglês) em maio, quando teveinício a consulta pública às associações médicasnacionais, finalizada em agosto.

Após discussão das respostas pelo Comitêde Ética Médica e pelo Conselho da WMA, coma escolha dos parágrafos a serem alterados, aprimeira versão do novo texto estará disponí-vel para outra avaliação no período de novem-bro a fevereiro de 2008. O texto definitivo seráaprovado na Assembléia Geral da AssociaçãoMédica Mundial, em Seul, Coréia do Sul, emoutubro do próximo ano.

Todos os pontos colocados em consultapública poderão ser acessados pelo site da AMB(www.amb.org.br), utilizando-se o link “Interna-cional”, no canto superior esquerdo da página.Os comentários e sugestões dos médicosbrasileiros podem ser enviados à AMB para oe-mail [email protected] ou pelo fax (11) 3178-6830, até agosto.

A Declaração de Helsinki foi adotada em1964 e já passou por cinco atualizações, a últi-ma no ano 2000.

Novas resoluções

Durante o último encontro em Berlim, Ale-manha, no mês de maio, o Conselho da WMAcolocou em consulta pública, até julho, outrossete documentos. A entidade propõe a criaçãode resoluções sobre ética na telemedicina, trans-plantes de tecidos e redução do sódio na dieta.

Outras duas, que discorrem sobre pesquisascom células-tronco e riscos do tabagismo à saúde,ainda estão sendo estruturadas, sob a coordenaçãode um grupo de trabalho (Alemanha, Dinamarca,Israel, África do Sul e Reino Unido) e da AssociaçãoMédica Americana, respectivamente.

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18Julho/2007

POLÍTICA MÉDICA

Exame para título de especialista tem novas regras

O Conselho Científico da AMB, reunido nodia 5 de julho na sede da entidade, em São Paulo,

aprovou a nova nor-mativa de regula-mentação do examede suficiência paraobtenção de títulode especialista oucertificado de áreade atuação. As re-gras terão validadea partir do próximoano, substituindo asanteriores, que eramde 2004.

Uma das princi-pais novidades é queo exame deverá ter,no mínimo, duas dasseguintes avalia-

ções: teórica, teórico-prática, prática ou análisecurricular, sendo que o peso desta última estará

limitado a 30% da avaliação total. A nota de cortegeral não poderá ser inferior a 6.

Além disso, as Sociedades de Especialidadeterão de promover exames de suficiência pelomenos uma vez ao ano. A versão consolidadadesta normativa será enviada às entidades nospróximos dias e estará disponível no Departa-mento de Títulos da AMB.

Durante o encontro, o secretário-geral daAMB, Edmund Baracat, lembrou que o texto apresentado já incorporava as sugestões das So-ciedades de Especialidade recebidas desde março.“Nosso objetivo é contemplar, de forma ética e responsável, todos os médicos brasileiros prepara-dos para receber o título”, enfatizou. Segundo odiretor científico da AMB, Giovanni Guido Cer-ri, a padronização dos exames “fortalecerá as en-tidades e valorizará o título de especialista e ocertificado de área de atuação”.

Prêmio Liberato Di Dio Durante o encontro do Conselho Cientí-

fico, foi entregue o Prêmio Liberato Di Dio, daRamb, revista científica da AMB, à epidemiolo-gista Ana Maria de Brito, principal autora dotrabalho Fatores associados à interrupção detratamento anti-retroviral em adultos com aids,classificado em 1º lugar – cuja pesquisa foi de-

senvolvida na secretaria estadual de Saúde doRio Grande do Norte.

Publicado na edição de março/abril de 2006,o artigo tem como co-autores Célia LandmannSzwarcwald e Euclides Ayres de Castilho.

Em seus agra-decimentos, a au-tora lembrou a in-fância pobre nosemi-árido nordes-tino e o valor daprofissão médicapara uma filha deagricultores anal-fabetos, com 12 ir-mãos. “Um prê-mio desta grande-za só tem a en-riquecer minhacarreira e minhasconquistas pes-soais”, af irmou

Ana Brito, hoje professora da Universidade Fede-ral de Pernambuco.

O 2º lugar foi para o trabalho Inadequação detromboprofilaxia venosa em pacientes clínicos hospi-talizados, desenvolvido na Faculdade de Medicinada Universidade Federal da Bahia e publicado naedição de novembro/dezembro do ano passado,cujos autores são Ana Thereza C. Rocha, PriscilaBraga, Guilherme Ritt e Antônio Alberto Lopes.

Nesta segunda edição do Prêmio Liberato Di Dio, os grupos de pesquisadores receberamR$ 3 mil e R$ 2 mil, respectivamente. A cadaano, o Conselho Editorial da Ramb elege os doismelhores artigos originais publicados.

Para o cardiologista Bruno Caramelli, editor-chefe da revista, a entrega do prêmio é mais umavanço na qualidade do periódico. “Depois danotícia da indexação da Ramb no ISI Thomson/Web of Science, que representa o ápice do statusbibliométrico, triplicou o número de artigos sub-metidos”, comemorou.

ConselhoCientífico daAMB: aprovaçãode normativa paraemissão de títulosde especialista

Giovanni Cerri,diretor científico,Bruno Caramelli,editor da Ramb eAna Maria deBrito, ganhadorado PrêmioLiberato Di Dio

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POLÍTICA MÉDICA

Conselhinho temnovo coordenador

Geraldo Guedes, conse-lheiro do CFM, foi eleito onovo coordenador do Fórumdos Conselhos Federais daÁrea de Saúde. A entidadereúne os conselhos federais de14 profissões regulamentadasem saúde. A eleição foi realiza-da em maio e a escolha ocor-reu por unanimidade.

Para o novo coordenador,o resultado eleitoral indica umrelacionamento harmônico entre as profissõesque têm, juntas, um único objetivo: o cuidado àsaúde da população. “É a volta das boas relaçõesentre as profissões de saúde”, avalia Guedes.

À frente do Fórum, o coordenador tem algu-mas prioridades: a luta pelo financiamento ade-quado à saúde, com a regulamentação da Emen-da 29 e a melhoria das condições de trabalho dosprofissionais e do atendimento à população, alémda defesa de um ensino de qualidade. “Somos con-tra a mercantilização dos cursos de graduação naárea da saúde. O foco deve ser a qualidade dosprofissionais”, defende o novo coordenador.

Ética em psiquiatriaA Câmara Técnica de Saúde Mental do

Conselho Regional de Medicina do Estado deSão Paulo (Cremesp) lançou o livro Ética epsiquiatria, coletânea de artigos que abordamtemas de saúde mental sob o ponto de vista daética médica.

Segundo o conselheiro Aiex Alves, organi-zador da obra, a originalidade do trabalho con-siste na reunião de temas éticos relacionados coma saúde mental em um único volume, pois nãohá publicação semelhante na classe médica. “Nãoé um livro de iniciação à ética ou bioética, trata-se de um conjunto de artigos que compõe um retrato preciso e bastante interessante das de-mandas e pressões que o exercício da psiquiatriasofre na atualidade”, relata.

Um novo espaço para os residentesA partir desta edição do jornal MEDICINA, a Associação Nacional de Médicos Resi-

dentes (ANMR) passa a ter um espaço para estreitar ainda mais a relação com os profis-sionais em especialização no país.

A ANMR foi criada em 1967, em plena ditadura militar, e possui um histórico de lutaspela valorização da categoria. A entidade busca melhores condições de trabalho para osmais de 17 mil residentes no Brasil e traz também na bagagem vitórias significativas. A maisrecente garantiu o reajuste da bolsa para R$ 1.916,45, considerada a maior conquista do movi-mento médico no ano passado. A mobilização dos residentes resultou na paralisação nacionalque durou 28 dias e levou o governo federal a conceder o aumento em negociação desde2005. Novas lideranças surgiram em diversos estados, como Amazonas, Piauí e Rio Grandedo Norte, entre outros, e em conjunto com as associações do Rio Grande do Sul, MinasGerais, Rio de Janeiro e Distrito Federal alcançaram o aumento da bolsa de estudos.

• Site - Um dos fatores contribuintes para o sucesso da greve geral e, conseqüente-mente, a conquista do reajuste, foi a agilidade das informações repassadas aos resi-dentes pelo site www.bolsaresidente.com.br. Entre e participe.

• Não pagamento do reajuste - Mediante denúncias de residentes de vários estados,a entidade tomou conhecimento do não pagamento do reajuste da bolsa por algumasinstituições. A ANMR vem trabalhando para que todos recebam os valores e os cole-gas que queiram saber mais informações sobre como proceder para cobrar o cumprimen-to da lei devem acessar os sites www.bolsaresidente.com.br e www.simers.org.br.

• Atividade junto à Comissão Nacional de Residência Médica (CNRM) - AANMR tem lutado pela qualidade da residência médica e entre as ações mais recentes,em conjunto com o CFM e a AMB, tem rechaçado tentativas de ingerência na au-tonomia da CNRM. A ANMR também se posicionou a favor do credenciamento de to-das as áreas de atuação das especialidades pela CNRM, garantindo bolsa e regras claraspara os especializandos. Existe forte pressão dos gestores para o credenciamento deapenas algumas áreas de atuação, de interesse do governo. Essa postura causa dificul-dades na formação de diversos especialistas e expõe os especializandos a um treina-mento sem garantia de bolsa e limite de carga horária, entre outros problemas.

A Associação dos Ex-Residentes Médicos do Instituto Nacional de Câncer (Aerinca)comunica aos ex-residentes formados na instituição no período de 1951 a 2006 a instalaçãode sua sede própria, bem como solicita, com a maior brevidade possível, o envio de dadosdos mesmos (nome, endereços, telefones, e-mails, especialidade, ano de formatura, etc.)para atualização de cadastro e subseqüente início de intercâmbios:

AerincaRua Washington Luiz, 9 – Sala 501 – Centro – CEP 20.230-020 – Rio de Janeiro/RJ

Tels. provisórios: (21) 2276 4943 – 9354 8821 (Ernani Sampaio – vice-presidente)(21) 9982 8041 (Eurídice Figueiredo – presidente)

Fax: (21) 2539 1126 e 2286 1580E-mails: [email protected], [email protected], [email protected]

Comunicado aos cancerologistas formados no Inca

Coluna da ANMR

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20Julho/2007

POLÍTICA MÉDICA

Religiosos apóiam resolução sobre aterminalidade da vida

Além da Conferência Nacional dos Bisposdo Brasil (CNBB), diversas outras entidadesreligiosas manifestaram-se plenamente fa-voráveis à Resolução CFM nº 1.805/06, quetrata da terminalidade da vida.

“Tratar de assuntos que dizem respeito àdignidade do ser humano pode ser feito demaneira laica ou com o componente da trans-cendência visto de maneira ecumênica, sendo oresultado sempre o mesmo”, disse o diretor doCFM Clóvis F. Constantino, membro da Câ-

mara Técnica de Terminalidadeda Vida e de Cuidados Paliativos.Nesse sentido, convidamos algu-mas personalidades religiosas ase manifestarem sobre a reso-lução, das quais assinalamos asseguintes:

“Vida e morte são dois con-ceitos que se interpenetram ecompletam, na dual idade da existência espiritual, encaradoscomo estágios ou fenômenos

necessários à transcendência. A terminalidadeda vida, enquanto evento biológico-clínico, psi-coemocional e sociojurídico, recebe, da Dou-trina dos Espíritos, a definição de ser uma ocor-rência natural, representando, em essência, ocumprimento de dada etapa no contexto evo-lutivo de cada ser”, afirmou Marcelo HenriquePereira, delegado e secretário para a Promoçãoda Juventude da Confederação Espírita Pan-Americana.

Segundo ele, “assim como a Medicina,como ciência do corpo, dispõe-se a preservara vida (com qualidade na sobrevivência) e aministrar os medicamentos necessários à te-rapêutica, e o Direito, como ciência social, ocu-pa-se com a garantia do respeito à vida comobem maior, à ordem jurídica e à permanência edistribuição dos patrimônios materiais (bens e di-reitos), o Espiritismo assegura o alcance à com-preensão dos objetivos, finalidades e funções

da morte para o ser, em sua trajetória infinita,sem mistérios, dogmas ou mitos”.

Dom de Deus

Para dom Rafael Llano Cifuentes, presi-dente da Comissão para a Vida e a Família daCNBB, “a vida humana é um dom de Deus”.

“É algo sagrado, portanto, nós não podemostirar nossas vidas. É algo que recebemos de for-ma gratuita e que não nos pertence. Temos quesaber conservá-la. Contra a vida pode haverdois fenômenos trágicos: o suicídio e a eu-tanásia. A Igreja pensa que não é possível per-mitir a eutanásia, ou seja, a supressão da vidade pessoas doentes, deficientes ou moribundas.Tirar a vida das pessoas é algo inadmissível”.

No entanto, pondera: “É diferente a inter-rupção de procedimentos médicos onerosos,perigosos, extraordinários ou desproporcionaisaos resultados esperados. A não- interrupçãodesses procedimentos pode ser legítima ‘obs-tinação terapêutica’. Para uma pessoa que estáem estado terminal, o prolongamento artifi-cial da vida pode ser interrompido. Não se querdesta maneira provocar a morte. Aceita-senão poder impedi-la. Ou seja, não se provocaa morte, mas sim deixa-se que ela chegue apósse ter utilizado todos os meios ordinários parasalvar a vida”. Ressalta, contudo, que “paratomar a decisão de retirar os mecanismos ar-tificiais é preciso o consentimento do pacienteou daqueles que têm o direito legal de repre-sentá-lo”, conforme determina a resolução doCFM.

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POLÍTICA MÉDICA

Regulamentação do exercício da medicinapode se efetivar já no próximo ano

Após mais de cinco anos em tramitação, aregulamentação do exercício da medicina podeser uma realidade já em 2008. Este é o cálcu-lo do deputado Edinho Bez (PMDB-SC), relator do PL 7.703/06 na Comissão de Tra-balho, de Administração e Serviço Público(Ctasp) da Câmara dos Deputados, referidoem entrevista exclusiva ao jornal MEDICINA.Na ocasião, falou sobre a mobilização, na Câmara, em torno do projeto, os principaispontos de divergências, a atuação do segmen-to médico, por meio do Conselho Federal deMedicina, objetivos com relação à tramitaçãoe outras questões.

No dia 15 de março último foi encerrado oprazo para emendas ao projeto – foram apre-sentadas 60 propostas, que estão sendo estu-dadas. Adepto ao estabelecimento de metas, odeputado Edinho reafirmou que pretende levaro projeto ainda este ano à votação, até o final de dezembro. Até lá, já estão marcados trêseventos consecutivos para ouvir todos os seg-mentos envolvidos. O primeiro, uma audiênciapública, reunirá segmentos da área da saúdesem a presença dos médicos, no dia 18 desetembro, no auditório Nereu Ramos da Câmara dos Deputados. No dia 9 de outubroocorrerá a segunda reunião, somente com osmédicos e representantes, como o ConselhoFederal de Medicina. O terceiro passo, um sim-pósio, com vistas à regulamentação do PL7.703/06, está previsto para o dia 6 de novem-bro e reunirá autoridades e ministros. Pretende-se que este seja o último encontro antes de o relatório ser submetido à votação.

Exceto as reuniões que mencionou, o deputado pretende comparecer a audiênciaspúblicas complementares em Rondônia, Bahia,Minas Gerais, Espírito Santo e “onde mais forchamado”. Ele não emite opinião sobre emen-das antes dessas reuniões e se diz satisfeito coma velocidade dos trabalhos na Câmara, em com-paração com o Senado, onde o projeto tramitoudurante quatro anos. Pretende que na Comis-

são de Trabalho, de Administração e ServiçoPúblico não fique mais do que oito meses (Edi-nho foi designado relator no final de fevereiroe o prazo para emendas foi encerrado em mea-dos de março). Se cumprir a meta de votar oprojeto ainda este ano na Ctasp, o mesmo ain-da deverá transitar, em 2008, pelas Comissõesde Seguridade Social e Família (CSSF) e Cons-tituição e Justiça e de Cidadania (CCJC).

A seguir, trechos da entrevista com o depu-tado:

Qual a sua opinião sobre a mobilização, naCâmara, em torno do Projeto de Lei7.703/06?

Primeiro, quero cumprimentar os represen-tantes da medicina, através do Conselho Fe-deral e dos conselhos regionais, pelos contatosfeitos comigo até então e, principalmente, pelaforma, o tratamento, trazendo sugestões, e agrandeza de ceder em alguns pontos em funçãoda complexidade do entendimento.

Esse projeto sempre foi muito polêmico, não?

Costumo dizer, com a experiência que te-nho, que esse projeto foi mal vendido no início.E quando a opinião pública interpreta e formaum conceito, se soar bem, ele vai; se soar mal,aparecem os obstáculos. E essa é a minha avaliação. Agora, o projeto já foi modificadovárias vezes no Congresso – o projeto foi apresentado no Senado Federal pelo entãosenador Geraldo Althoff, autuado sob o nº 25,de 2002, baseado na Resolução nº 1.627, de2001, do Conselho Federal de Medicina, tevecomo relatora no Senado Federal a senadoraLúcia Vânia. O voto da senadora relatora foipela rejeição do PLS nº 25, de 2002, e pelaaprovação de substitutivo ao PLS nº 268, de2002, apresentado pelo então senador BenícioSampaio. Agora, existem alguns questionamen-tos de que no Senado algumas pessoas comrepresentatividade de alguns segmentos não

foram ouvidas e nós estamos esgotando o en-tendimento. Quero dizer que estou muito con-tente com a compreensão das pessoas que têmme procurado, de todos os segmentos, em especial dos médicos, porque nós temos que teruma visão maior, uma visão macro, e nós temosque apresentar um relatório objetivando aprovara lei que seja melhor para a população. Este é oesforço que devemos ter para alcançar este objetivo. Sendo bom para a população tem queser bom para os segmentos da área da saúde.Toda a profissão existe para atender a popu-lação. No momento em que deixar de atender,deixa de ser profissão.

E falando nisso, quais seriam os benefícios,para a população, da regulamentação daprofissão de médico?

Em primeiro lugar, resolver uma pendência.Há setenta anos, os médicos vêm exercendouma profissão sem a regulamentação devida.Acho que isso é importante. O próprio PoderJudiciário, muitas vezes tem dificuldade de jul-gar alguns questionamentos por não ter umaregulamentação definitiva. O próprio médicono exercício da profissão vai ter mais segurançaporque estará definido em lei o que pode e oque não pode e porque vai ter uma lei que vaidisciplinar, orientar e amparar, cabendo ao profis-s ional o seu cumprimento. Se trabalharcumprindo a lei, não terá com o que se preocu-par e temer. É um amparo tanto para o médicoquanto para o paciente, para a saúde, o gover-no, para todos. O próprio Judiciário estará maisà vontade para julgar. Se você, por exemplo,num processo judicial, encontrar um juiz quequeira agir de má fé, hoje ele terá condições defazer tal coisa. Entretanto, se fizermos uma leibem feitinha, isto dificultará a sacanagem porparte do profissional e por parte do Poder Judi-ciário e do próprio paciente, que pode tambémagir de má fé. Então, isso aí vai facilitar paratodo mundo. Quem vai ganhar é a população.E a população ganhando, repito, os profissio-nais de saúde também irão ganhar.

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CFM aprova resolução sobre anticoncepção de emergência

RESOLUÇÃO

Resolução CFM nº 1.811/06(Publicada no D.O.U. de 17 janeiro de 2007, Seção I, p. 72)

Estabelece normas éticas para a utilização, pelos médi-cos, da Anticoncepção de Emergência, devido a mes-ma não ferir os dispositivos legais vigentes no país.

O Conselho Federal de Medicina, no uso dasatribuições conferidas pela Lei nº 3.268, de 30 desetembro de 1957, alterada pela Lei nº 11.000, de 15 dedezembro de 2004, regulamentada pelo Decreto nº44.045, de 19 de julho de 1958, eCONSIDERANDO que o direito reprodutivo fun-da-se nos princípios da dignidade da pessoa humana epropicia o exercício da paternidade responsável;CONSIDERANDO que compete ao Estado propi-ciar recursos educacionais, científicos e materiais parao exercício desse direito, sendo vedada qualquer açãocoercitiva por parte de entidades públicas ou privadas;CONSIDERANDO que no Brasil há um númerosignificante de mulheres expostas à gravidez indeseja-da, seja pelo não uso ou uso inadequado de métodosanticoncepcionais;CONSIDERANDO que as faixas mais atingidas sãoas de adolescentes e de adultas jovens, que, freqüente-mente, iniciam a atividade sexual antes da anticoncepção;CONSIDERANDO que a prevenção da gravidezindesejada constitui bom exemplo de sexualidade res-ponsável, e que tal gravidez pode conduzir a custospsíquicos e sociais por vezes irreversíveis;CONSIDERANDO que a prática da dupla proteção– recomendada pela Organização Mundial da Saúde,Ministério da Saúde, Federação Brasileira das So-ciedades de Ginecologia e Obstetrícia e SociedadeBrasileira de Pediatria –, busca incutir a utilização dacamisinha masculina ou feminina, concomitante a umoutro método anticoncepcional, incluindo-se a Anti-concepção de Emergência;CONSIDERANDO que a Anticoncepção deEmergência pode ser utilizada em qualquer etapa davida reprodutiva e fase do ciclo menstrual na prevençãoda gravidez e que, em caso de ocorrência de fecun-dação, não haverá interrupção do processo gestacional;CONSIDERANDO que o objetivo da Anticon-cepção de Emergência é evitar a gravidez e que mes-mo nos raros casos de falha do método não provocadanos à evolução da gestação;CONSIDERANDO que a Anticoncepção deEmergência poderá contribuir para a diminuição dagravidez indesejada e do aborto provocado;

CONSIDERANDO, finalmente, o decidido na sessãoplenária realizada em 14 de dezembro de 2006,RESOLVE:

Art. 1º Aceitar a Anticoncepção de Emergênciacomo método alternativo para a prevenção da gravidez,por não provocar danos nem interrupção da mesma.

Art. 2º Cabe ao médico a responsabilidade pela pres-crição da Anticoncepção de Emergência como medi-da de prevenção, visando interferir no impacto nega-tivo da gravidez não planejada e suas conseqüênciasna Saúde Pública, particularmente na saúde reprodu-tiva.Art. 3º Para a prática da Anticoncepção de Emergên-

cia poderão ser utilizados os métodos atualmente emuso ou que porventura sejam desenvolvidos, aceitospela comunidade científica e que obedeçam à legis-lação brasileira, ou seja, que não sejam abortivos.Art. 4º A Anticoncepção de Emergência pode ser uti-

lizada em todas as etapas da vida reprodutiva.Art. 5º Revogam-se todas as disposições em con-

trário.Art. 6º Esta resolução entra em vigor a partir da

data de sua publicação.

Brasília-DF, 14 de dezembro de 2006.

EDSON DE OLIVEIRA ANDRADEPresidente

LÍVIA BARROS GARÇÃOSecretária-Geral

Exposição de MotivosANTICONCEPÇÃO DE EMERGÊNCIA

Em 2006, a Conferência Internacional sobre Popu-lação e Desenvolvimento completa 12 anos. Naqueleevento, 179 países, inclusive o Brasil, reunidos no Cairo,Egito, firmaram um pacto para o estabelecimento deum Programa de Ação sobre População e Desenvolvi-mento a ser desenvolvido nos próximos 20 anos. A Conferência do Cairo marcou uma nova era, princi-palmente no que diz respeito às questões reprodutivas,tendo sido firmado o compromisso de promoção dosdireitos humanos, especialmente o fortalecimento dacidadania com acesso universal à saúde e informação so-bre saúde sexual e reprodutiva, o que permitiria esco-

lhas responsáveis e eqüidade entre os sexos.No Brasil, o processo de democratização viabilizouum texto constitucional avançado no plano dos direitose garantias individuais e coletivas, que contempla osprincípios de dignidade da pessoa humana, envolven-do, inclusive, as noções de paternidade responsável,competindo ao Estado propiciar recursos educacionaise científicos para o exercício desses direitos nas instân-cias particulares e privadas, o que abrange o conhe-cimento de todos os métodos anticoncepcionais, inclusive a Anticoncepção de Emergência e o respeitoà livre escolha. A linguagem dos direitos confere umaforça particular às reivindicações da sociedade, deven-do o direito reprodutivo ser entendido como direitohumano fundamental.No âmbito da Declaração dos Direitos Sexuais (Or-ganização Mundial da Saúde e Associação Mundialde Sexologia, 2001), devem ser ressaltados os seguintesitens:• direito de tomar decisões reprodutivas livres e res-

ponsáveis;• direito à informação baseada em conhecimento

científico;• direito à educação sexual integral; e• direito à atenção à saúde sexual.É importante ter presente que a proposta de anticon-cepção, incluindo a de emergência, integra o grandeprojeto de educação sexual, inclusive para adolescentes,que tem seu principal respaldo no Código de ÉticaMédica e no Estatuto da Criança e do Adolescente. A Anticoncepção de Emergência foi aprovada pormuitos organismos internacionais, tais como a Orga-nização Mundial da Saúde, International Planned Parenthood Federation (IPPF), Family Health Inter-national (FHI), Federação Internacional de Ginecolo-gia e Obstetrícia (Figo) e Food and Drug Administra-tion (FDA). No Brasil, consta nas Normas de Planeja-mento Familiar do Ministério da Saúde desde 1986,através do método Yuzpe, e nas Normas Técnicas deViolência Sexual, também do Ministério da Saúde, des-de 1998, sendo disponibilizada no mercado brasileiro,a partir de 1999, mediante apresentação de receitamédica. O Ministério da Saúde iniciou sua aquisição em 2000,distribuindo-a, inicialmente, aos serviços de atendi-mento a mulheres vítimas de violência e, a partir de2002, como item dos anticonceptivos disponibilizados

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aos municípios pelo Programa de Planejamento Fami-liar. Também faz parte das recomendações e orien-tações da Federação Brasileira das Associações deGinecologia e Obstetrícia (Febrasgo), da SociedadeBrasileira de Reprodução Humana (SBRH) e da So-ciedade Brasileira de Pediatria. Em 2005, a Área Téc-nica de Saúde da Mulher, do Ministério da Saúde, pro-duziu documento específico de esclarecimento sobreAnticoncepção de Emergência – que compõe sua sérieDireitos Sexuais e Direitos Reprodutivos.As indicações da Anticoncepção de Emergência sãoreservadas a situações especiais e excepcionais, masseu objetivo básico é prevenir gravidez inoportuna ouindesejada após relação que, por alguma razão, foi des-protegida. Entre as indicações, destacam-se: relaçãosexual sem uso de método anticonceptivo, falha co-nhecida ou presumida do método em uso de rotina,uso inadequado do anticonceptivo e abuso sexual.Sempre que se fala em Anticoncepção de Emergên-cia deve-se ressaltar seu caráter emergencial, não de-vendo, portanto, ser usada como método anticoncep-tivo regular, haja vista não ser eficaz para uso rotineiro.Apesar da disponibilidade de métodos anticonceptivos,a incidência da gravidez não planejada ainda é muitoelevada em todo o mundo e especialmente no Brasil,onde atinge oito milhões de pessoas. A própria Orga-nização Mundial da Saúde aceita que todos os méto-dos anticonceptivos falham, sem exceção. Deve-seainda levar em conta a elevada prevalência da violên-cia sexual e de abortamentos, freqüentemente inse-guros, realizados em razão de gravidez não planejada. Há duas formas de oferecer a Anticoncepção deEmergência. A primeira, conhecida como método deYuzpe, utiliza anticonceptivos hormonais orais com-binados de uso rotineiro em planejamento familiar, nadose de 200g de etinil-estradiol e 1mg de levonorgestrel(OMS), em duas doses iguais, a cada 12 horas. A se-gunda, é com o uso isolado de levonorgestrel, na doseúnica de 1,5mg (OMS). Ambas as opções podem serutilizadas em até cinco dias após a relação sexual des-protegida, variando sua eficácia em função do tempoentre a relação sexual e sua administração. Não há registros de efeitos teratogênicos em gestantesque inadvertidamente fizeram uso de Anticoncepçãode Emergência, mesmo porque não existem evidên-cias epidemiológicas de que mulheres expostas aciden-talmente a ACHC, durante a fase inicial da gravidez,apresentem maior incidência de anomalias fetais. Ométodo de Yuzpe utiliza os mesmos princípios ativosdesses anticonceptivos, porém em doses menores epor menos tempo. Além disso, considerando-se a indi-cação da Anticoncepção de Emergência em até cin-co dias após a relação sexual desprotegida, o medica-mento é administrado muito antes do início daorganogênese, fase do desenvolvimento fetal de maiorvulnerabilidade à ação de agentes teratogênicos. Quanto aos aspectos éticos, o mais relevante éressaltar o caráter não abortivo da Anticoncepção deEmergência.

O mecanismo de ação da Anticoncepção deEmergência varia conforme o momento do ciclo mens-trual em que é administrada. Se utilizada na primeirafase do ciclo menstrual, antes do pico do hormônioluteinizante (LH), a Anticoncepção de Emergênciaimpede a ovulação (mecanismo semelhante ao dosACHC) ou a retarda por vários dias, circunstânciasnas quais os espermatozóides não terão qualqueroportunidade de contato com o óvulo. Na segundafase do ciclo menstrual, após a ovulação, a Anticon-cepção de Emergência atua por outros mecanismos,principalmente pela modificação do muco cervical,tornando-o espesso e hostil, impedindo ou dificultan-do a migração dos espermatozóides em direção aoóvulo. Além disso, interfere na capacitação dos es-permatozóides (processo fundamental para a fecun-dação) e altera o transporte dos mesmos e do óvulonas trompas. Não há evidências científicas de queuma eventual disfunção luteolítica promovida pelaAnticoncepção de Emergência interfira no processode implantação, mesmo porque a progesterona pro-duzida pelo ovário a partir da ovulação, ou admi-nistrada depois da fecundação, favorece o desenvolvi-mento e é essencial para a manutenção da gravidez.Vale lembrar que o termo progesterona significa pró-gestação e que é indicada e utilizada em situaçõesclínicas de ameaça de abortamento espontâneo e dereprodução assistida. Também não há evidências dealterações no endométrio que pudessem interferir noprocesso da implantação.Assim, a eficácia da Anticoncepção de Emergência éresultado dos mecanismos de ação descritos que, emconjunto ou isoladamente, atuam impedindo a fecun-dação/fertilização (exclusivamente, processo de uniãodos gametas feminino e masculino) e sempre antes daimplantação/nidação (processo que se completa en-tre o 11º e o 12º dia após a fecundação). Não há quais-quer evidências científicas de que a Anticoncepção deEmergência exerça efeitos, após a fecundação/fertiliza-ção, que impeçam a implantação caso a fecundaçãoocorra ou que impliquem na eliminação precoce doembrião. Desta forma, a Anticoncepção de Emergên-cia é capaz de evitar a gravidez, nunca de interrompê-la, ficando clara sua atuação não abortiva.Quanto ao uso abusivo ou descontrolado da Anticon-cepção de Emergência, não foi constatado qualquerindicador ou tendência, nem se observou diminuiçãosignificativa do uso de métodos de barreira, inclusive poradolescentes, ou aumento da promiscuidade sexual,principalmente quando a Anticoncepção de Emergên-cia insere-se no contexto de políticas públicas de saúdesexual e reprodutiva que assegurem informação, acon-selhamento e seguimento. Cabe ressaltar que, entreas adolescentes e mulheres adultas que utilizam ape-nas o preservativo masculino como método anticoncep-cional, a Anticoncepção de Emergência constitui umaapólice de seguro para o caso de ruptura ou desloca-mento deste, reforçando-se, assim, o conceito de du-pla proteção.

A Anticoncepção de Emergência cumpre papel dedestaque dentro da proposta de educação sexual paraambos os sexos, posto que seu caráter emergencialpode preceder o próprio processo educativo, sem deixarde integrá-lo em suas etapas. Ao se considerar as carac-terísticas e singularidades dos adolescentes, fica claroque a contracepção de emergência vai ao encontro deseu imediatismo, das constantes mudanças de pensare sentir, colocando-se, portanto, como opção relevantede prevenção.Não há dúvidas de que a Anticoncepção de Emergên-cia é medida importante, entre tantas necessárias, parareduzir a gravidez e o abortamento na adolescência.Em 2000, o levantamento de partos realizados peloSistema Único de Saúde (SUS) mostra que 1,29% dototal ocorreu entre adolescentes de 10 a 14 anos; e25,84%, entre 15 e 19 anos. Adicionalmente, foramregistradas 127.740 internações por aborto. Destenúmero, 59% referiam-se a jovens na faixa etária de20 a 24 anos; 39%, a adolescentes entre 15 e 19 anose 2,50%, a adolescentes na faixa de 10 a 14 anos. De1993 a 1997, o número de curetagens realizadas noSUS em adolescentes de 10 a 19 anos passou de 19%para 22%. Em 1997, as complicações provocadas peloabortamento inseguro foram responsáveis por 16% dasmortes maternas de mulheres de 15 a 24 anos (CNPD,1997). Segundo dados da PNDS, de 1996, a primeiracausa de internação entre adolescentes de 10 a 14 anosé o parto. Em 2001, a principal causa de morbidadeentre adolescentes relacionava-se à gravidez, parto epuerpério (77,28%), que representa a 7ª causa demorte de mulheres entre 10 e 24 anos (5,52%). Váriosestudos demonstram que a promoção da Anticon-cepção de Emergência permite uma ingesta da drogasignificativamente mais precoce (e, portanto, com maischance de sucesso), diminuindo a taxa de gravidez nãoplanejada e, conseqüentemente, de aborto.O documento Adolescência, contracepção e ética - Di-retrizes, de 2003, aprovado pela Federação Brasileiradas Sociedades de Ginecologia e Obstetrícia (cons-tante em seu site) e pela Sociedade Brasileira de Pedia-tria (publicado no Jornal de Pediatria), mostra que aprescrição de método anticonceptivo para a adoles-cente não fere nenhum princípio ético ou legal. Aocontrário, os profissionais de saúde têm clara respon-sabilidade com a atenção à saúde sexual e reproduti-va do adolescente, embasados na Constituição Fede-ral (art. 226), no Código de Ética Médica (arts. 11, 102e 103), no Estatuto da Criança e do Adolescente e emconferências internacionais, das quais o Brasil foi sig-natário, como a IV Conferência Mundial da Organi-zação das Nações Unidas sobre População e Desen-volvimento, realizada no Cairo em 1994, e sua revisãopela Organização das Nações Unidas, em 1999, co-nhecida como Cairo 5.A principal conclusão deste documento é que a Anti-concepção de Emergência não é considerada abortiva,podendo ser utilizada em qualquer faixa etária das eta-pas reprodutivas.

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O presente artigo objetiva alertar os médi-cos a respeito de dispositivo legal contido no Códi-go Civil em vigor (Lei Federal nº 10.406, de 10de janeiro de 2002), que regulamenta a questãodo tratamento imposto ao paciente. Em seu ar-tigo 15 consta que “Ninguém pode ser constrangi-do a submeter-se, com risco de vida, a tratamen-to médico ou a intervenção cirúrgica”.

De acordo com a redação, pode-se tambéminterpretar que em todos os casos em que nãohaja risco de vida o médico poderia constrangero paciente ao tratamento decidido. Obviamente,não foi essa a intenção do legislador – o que es-taria em completo desacordo com a legislaçãobrasileira –, mas o modo como o artigo foi redigi-do não ficou muito claro. O legislador pretendiadizer que mesmo nos casos em que o pacienteapresente risco de vida não pode ser submetidoa tratamento médico ou a intervenção cirúrgica.Para o correto entendimento, deve-se trocar apalavra “com”, por “ainda que com”.

Isto posto, passemos à análise do conteúdo dalei. É fato que a matéria regulamentada é con-troversa, o que não a torna sem validade jurídica,tanto que consta no Código Civil. O que se podediscutir é o conflito que seu teor causa com asdemais normas vigentes no país. Pois, de acordocom o transcrito, pode-se inferir que mesmo queo paciente apresente risco de vida o médico nãopode intervir sem o seu expresso consentimento.A matéria disciplinada é a impossibilidade de im-posição de tratamento médico sem a anuênciado doente. À luz do Código Civil, a aquiescênciado paciente é obrigatória, qualquer que seja suacondição clínica.

Ao se analisar o Código Penal a mesmamatéria também está regulamentada. Seu artigo146 refere-se ao constrangimento ilegal, atitudecapitulada como crime contra a liberdade pes-soal. O que significa que não se pode obrigarninguém a fazer ou deixar de fazer qualquer coisasenão em virtude de lei. Quem age de forma di-versa comete o referido crime. A questão é que

o seu parágrafo 3º elenca as exceções, ou seja,os casos nos quais é lícito constranger uma pes-soa. Dentre elas, temos “a intervenção médicaou cirúrgica, sem o consentimento do pacienteou de seu representante legal, se justificada poriminente perigo de vida”. Assim, caso o médicodiagnostique quadro clínico em que a morte sejareal ameaça para o paciente, pode ocorrer a inter-venção, não considerada como atitude criminosa.

E mais: não podemos deixar de referir que oartigo 135 explicita ser crime a omissão de so-corro. Tal atitude é caracterizada como deixar deprestar assistência a qualquer pessoa em grave eiminente perigo. Dessa forma, a obrigação jurídi-ca de prestar socorro existe para todos oscidadãos e, em particular, para o médico, quevivencia com mais freqüência tal circunstância.

O Código de Ética Médica, por sua vez, em-bora determine que o médico não pode realizarqualquer procedimento sem a prévia autorização

do paciente, também faz a ressalva para os casosem que há iminente perigo de vida, avalizando asintervenções médicas em caráter de urgência.

Certamente, haverá ainda muita discussão arespeito do teor do artigo 15 do Código Civil, es-pecialmente quando confrontado com outras nor-mas legais. Mas não se pode deixar de conhecê-lo, visto que vigora. Vigorando, poderá ser invo-cado caso algum paciente se sinta lesado em seusdireitos, gerando uma pretensão indenizatória.

Nesse contexto, o que se intenta é alertar omédico para as mudanças sociais e jurídicas queinterferem no exercício de sua profissão. A norma-tização do Código Civil demonstra, claramente,a tendência à valorização da decisão do paciente,fortalecendo o bioético Princípio da Autonomia.Portanto, é prudente que o médico se torne côns-cio das leis que interferem em sua atividade diária,além de estabelecer uma adequada relação comseus pacientes.

Julho/2007

Regulamentação civil da autonomia do paciente

KrikorBoyaciyanprofessor doDepartamentode Obstetrícia daUnifesp-EPM,conselheirodiretor-corregedor doCremesp epresidente daSogesp

Mônica LopesVasquezprofessoraassistente doDepartamentode Obstetrícia eGinecologia daSanta Casa deSão Paulo emembro daComissão deDefesaProfissional daSogesp

PENSAR E DIZER

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