juízo da 4ª vara condena 10 réus do braço mineiro do processo do mensalão

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Juízo da 4ª Vara condena 10 réus do braço mineiro do Processo do Mensalão O Juízo da 4ª Vara da Justiça Federal de Primeiro Grau em Minas Gerais condenou 10 dos 11 réus do processo nº 2006.039573-6 – correspondente ao desdobramento do processo do “Mensalão”, em julgamento no STF. Foram condenados por gestão fraudulenta, tendo sido enquadrados no artigo 4°, caput, da Lei 7492/86 (crimes contra o Sistema Financeiro Nacional) os réus RICARDO ANNES GUIMARÃES (7 anos de reclusão), JOÃO BATISTA DE ABREU (6 anos e 3 meses de reclusão), MÁRCIO ALAOR DE ARAÚJO (5 anos e 6 meses de reclusão) e FLÁVIO PENTAGNA GUIMARÃES (5 anos e 6 meses de reclusão). Pelo crime de falsidade ideológica – art. 299 do Código Penal Brasileiro, foram condenados os réus JOSÉ GENOÍNO NETO (4 anos de reclusão), DELÚBIO SOARES DE CASTRO (4 anos de reclusão), MARCOS VALÉRIO FERNANDES DE SOUZA (4 anos e 6 meses de reclusão), RAMON HOLLERBACH CARDOSO (4 anos de reclusão), CRISTIANO DE MELLO PAZ (3 a 6 meses de reclusão) e ROGÉRIO LANZA TOLENTINO (3 anos e 4 meses de reclusão). A ré RENILDA MARIA SANTIAGO FERNANDES DE SOUZA foi absolvida. Conforme trecho da sentença da 4ª Vara Federal, a denúncia do Ministério Público Federal expôs o “sofisticado esquema de concessão de empréstimos simulados ao Partido dos Trabalhadores, à SMP&B Comunicação Ltda, à GKAFFITI PARTICIPAÇÕES Ltda e a ROGÉRIO LANZA TOLENTINO & ASSOCIADOS, que visavam, em verdade, a liberação de recursos milionários ao esquema nacionalmente conhecido como Mensalão”. A falsidade ideológica teria sido caracterizada porque os contratos de empréstimo eram verdadeiros, mas de conteúdo considerado falso. A magistrada concedeu aos réus o direito de recorrerem em liberdade, por inexistência dos requisitos para prisão cautelar e pelo fato de os réus apresentarem endereço fixo. A juíza federal encaminhou ofício e uma cópia da sentença ao relator da ação penal nº 470 (Mensalão), Ministro Joaquim Barbosa, do Supremo Tribunal Federal. Leia o inteiro teor da sentença proferida pela juíza federal Camila Franco e Silva Velano

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O Juízo da 4ª Vara da Justiça Federal de Primeiro Grau em Minas Geraiscondenou 10 dos 11 réus do processo nº 2006.039573-6 – correspondenteao desdobramento do processo do “Mensalão”, em julgamento no STF.Foram condenados por gestão fraudulenta, tendo sido enquadrados noartigo 4°, caput, da Lei 7492/86 (crimes contra o Sistema FinanceiroNacional) os réus RICARDO ANNES GUIMARÃES (7 anos de reclusão),JOÃO BATISTA DE ABREU (6 anos e 3 meses de reclusão), MÁRCIOALAOR DE ARAÚJO (5 anos e 6 meses de reclusão) e FLÁVIOPENTAGNA GUIMARÃES (5 anos e 6 meses de reclusão).Pelo crime de falsidade ideológica – art. 299 do Código PenalBrasileiro, foram condenados os réus JOSÉ GENOÍNO NETO (4 anosde reclusão), DELÚBIO SOARES DE CASTRO (4 anos de reclusão),MARCOS VALÉRIO FERNANDES DE SOUZA (4 anos e 6 meses dereclusão), RAMON HOLLERBACH CARDOSO (4 anos de reclusão),CRISTIANO DE MELLO PAZ (3 a 6 meses de reclusão) e ROGÉRIOLANZA TOLENTINO (3 anos e 4 meses de reclusão). A ré RENILDAMARIA SANTIAGO FERNANDES DE SOUZA foi absolvida.Conforme trecho da sentença da 4ª Vara Federal, a denúncia do MinistérioPúblico Federal expôs o “sofisticado esquema de concessão de empréstimossimulados ao Partido dos Trabalhadores, à SMP&B Comunicação Ltda, àGKAFFITI PARTICIPAÇÕES Ltda e a ROGÉRIO LANZA TOLENTINO &ASSOCIADOS, que visavam, em verdade, a liberação de recursosmilionários ao esquema nacionalmente conhecido como Mensalão”.A falsidade ideológica teria sido caracterizada porque os contratos deempréstimo eram verdadeiros, mas de conteúdo considerado falso.A magistrada concedeu aos réus o direito de recorrerem em liberdade, porinexistência dos requisitos para prisão cautelar e pelo fato de os réusapresentarem endereço fixo.A juíza federal encaminhou ofício e uma cópia da sentença ao relator daação penal nº 470 (Mensalão), Ministro Joaquim Barbosa, do SupremoTribunal Federal.

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Juízo da 4ª Vara condena 10 réus do braço mineiro do Processo do Mensalão

O Juízo da 4ª Vara da Justiça Federal de Primeiro Grau em Minas Gerais condenou 10 dos 11 réus do processo nº 2006.039573-6 – correspondente ao desdobramento do processo do “Mensalão”, em julgamento no STF. Foram condenados por gestão fraudulenta, tendo sido enquadrados no artigo 4°, caput, da Lei 7492/86 (crimes contra o Sistema Financeiro Nacional) os réus RICARDO ANNES GUIMARÃES (7 anos de reclusão), JOÃO BATISTA DE ABREU (6 anos e 3 meses de reclusão), MÁRCIO ALAOR DE ARAÚJO (5 anos e 6 meses de reclusão) e FLÁVIO PENTAGNA GUIMARÃES (5 anos e 6 meses de reclusão). Pelo crime de falsidade ideológica – art. 299 do Código Penal Brasileiro, foram condenados os réus JOSÉ GENOÍNO NETO (4 anos de reclusão), DELÚBIO SOARES DE CASTRO (4 anos de reclusão), MARCOS VALÉRIO FERNANDES DE SOUZA (4 anos e 6 meses de reclusão), RAMON HOLLERBACH CARDOSO (4 anos de reclusão), CRISTIANO DE MELLO PAZ (3 a 6 meses de reclusão) e ROGÉRIO LANZA TOLENTINO (3 anos e 4 meses de reclusão). A ré RENILDA MARIA SANTIAGO FERNANDES DE SOUZA foi absolvida. Conforme trecho da sentença da 4ª Vara Federal, a denúncia do Ministério Público Federal expôs o “sofisticado esquema de concessão de empréstimos simulados ao Partido dos Trabalhadores, à SMP&B Comunicação Ltda, à GKAFFITI PARTICIPAÇÕES Ltda e a ROGÉRIO LANZA TOLENTINO & ASSOCIADOS, que visavam, em verdade, a liberação de recursos milionários ao esquema nacionalmente conhecido como Mensalão”. A falsidade ideológica teria sido caracterizada porque os contratos de empréstimo eram verdadeiros, mas de conteúdo considerado falso. A magistrada concedeu aos réus o direito de recorrerem em liberdade, por inexistência dos requisitos para prisão cautelar e pelo fato de os réus apresentarem endereço fixo. A juíza federal encaminhou ofício e uma cópia da sentença ao relator da ação penal nº 470 (Mensalão), Ministro Joaquim Barbosa, do Supremo Tribunal Federal. Leia o inteiro teor da sentença proferida pela juíza federal Camila Franco e Silva Velano

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PODER JUDICIÁRIO DA UNIÃOJUSTIÇA FEDERAL DE 1a. INSTÂNCIA

SEÇÃO JUDICIÁRIA DE MINAS GERAIS4a. VARA FEDERAL

ESPECIALIZADA EM CRIMES CONTRA O SISTEMA FINANCEIRO NACIONAL E EM CRIMES DE 'LAVAGEM" OU OCULTAÇÃO DÊ BENS. DIREITOS E VALORES

AUTOS N".:CLASSE:AUTOR:RÉU:

2006.38.00.039.573-613101MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERALRICARDO ANNES GUIMARÃES E OUTROS

SENTENÇA N° 160/2012 - TIPO - D

l - RELATÓRIO

O Ministério Público Federal - MPF ofereceu denúncia em face deRICARDO ANNES GUIMARÃES, JOÃO BATISTA DE ABREU, MÁRCIOALAOR DE ARAÚJO, FLÁVIO PENTAGNA GUIMARÃES, JOSÉ GENUÍNONETO, DELÚBIO SOARES DE CASTRO, MARCOS VALÉRIO FERNANDESDE SOUZA, RENILDA MARIA SANTIAGO FERNANDES DE SOUZA, RAMONHOLLERBACH CARDOSO, CRISTIANO DE MELLO PAZ e ROGÉRIO LANZATOLENTINO, pela prática , em concurso de agentes c concurso material, dos crimes tipi-ficados nos artigos 4°, capnt, da Lei 7492/86 e 299 do Código Penal Brasileiro.

Narra a cxordial, cm síntese, um sofisticado esquema de concessão de em-préstimos simulados ao Partido dos Trabalhadores, à SMP&B Comunicação Ltda, àGKAFFITI PARTICIPAÇÕES Ltda e a ROGÉRIO LANZA TOLENTINO & ASSOCIA-DOS, que visavam, cm verdade, a liberação de recursos milionários ao esquema nacional-mente conhecido como "Mensalão".

Segundo o Ministério Público Federal, os quatro primeiros denunciados, naqualidade de gestores da Instituição Financeira Banco BMG S/A, foram responsáveis pelaconcessão de empréstimos simulados ao PT e às empresas ligadas ao acusado MARCOSVALÉRIO FERNANDES DE SOUZA, de forma fraudulenta e sem a observância aosprincípios básicos da seletividade, garantia e liquidez, recomendados pelas normas de boagestão c técnica bancária.

Os demais denunciados, na condição de representantes legais e avalistas dasempresas tomadoras dos empréstimos simulados, por sua vez, agiram também, voluntaria-mente c com consciência da ilicitude de tais práticas, em concurso de agentes com os primei-ros denunciados.

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PODER JUDICIÁRIO DA UNIÃOJUSTIÇA FEDERAL DE 1a. INSTÂNCIASEÇÃO JUDICIÁRIA DE MINAS GERAIS - 4a. VARA FEDERALAÇÃO PENAL N° 2006.38.00.039.573-6

JUSTIÇAFEDERALFLS.

Segundo o Ministério Público Federal, a concessão de empréstimos fraudu-lentos pelos gestores do Banco BMG S/A visava patrocinar o "Esquema do Mensalào", pormeio do financiamento e da transferência de recursos às empresas ligadas ao acusadoMARCOS VALERIO FERNANDES que, por sua vez, repassava estes valores a diversosparlamentares, com vistas ao direcionamcnto da atividade legislativa dos destinatários dosrecursos. Em contrapartida, os gestores daquela instituição financeira pretendiam a atuacãoexclusiva no mercado de créditos consignados aos aposentados por meio de convénio com oINSS, o que de fato ocorreu tendo em vista que o Banco BMG S/A permaneceu, durantealgum tempo, sozinho no mercado de créditos consignados como única instituição não-pagadora de benefícios autorizada a atuar neste nicho.

Para ilustrar a real destinação dos recursos obtidos com supostos emprés-timos, destaca o MPF alguns trechos da denúncia ofertada pela Procuradoria-Geral da Re-pública nos autos da Açào Penal n° 420, em trâmite no Supremo Tribunal Federal, onde se lêque:

'O esquema criminoso em tela consistia na transferência periódica de vultuosas quantias das con-

tas titularizadas pelo denunciado Marcos Valéria e por seus sócios Ramon, Cristiano e Rogério,e principalmente pelas empresas DNA Propaganda ]_Jda e SMP&B Comunicações Lida, pa-ra parlamentares, diretamente ou por interpostas pessoas, e pessoas físicas e jurídicas indicadas

pelo Tesoureiro do PT, Delúbio Soares, sem qualquer contabilização por parte dos responsáveispelo repasse ou pelos beneficiários.

Os dados coligidos pela CPMI "dos Correios" e no presente inquérito, inclusive com base em de-clarações espontâneas do próprio Marcos Valéria, demonstram que, no mínimo, R$ 55 milhões,repassados pelos Banco Rural e BMG, foram entregues à administração do grupo de MarcosI /alério, sob o fundamento de pseudos empréstimos ao publicitário, empresas e sócios, e foram efe-tivamente utilizados nessa engrenagem de pagamento de dívidas de partido, compra de apoio polí-tico e enriquecimento de agentes públicos.

Também foram repassados diretamente pelos Ranços Rural e BMG vultuosas quantias ao Par-

tido dos Trabalhadores, comandado formal e materialmente pelo núcleo central da quadrilha, sobo falso mando de empréstimos bancários.[...]Buscando o recebimento de ganhos indevidos do Governo Federal, o que de fato ocorreu, os diri-gentes do Banco BMG também injetaram recursos milionários na empreitada delituosa, median-te empréstimos simulados. Entretanto, em face das provas até a ocasião produzidas, não há ele-mentos para apontar uma situação estável e permanente com os demais membros da organizaçãocriminosa, em razão pela qual não estão sendo denunciados pelo crime de quadrilha, ve^ que aatuacão desse grupo no esquema será aprofundada na segunda etapa das investigações criminais.

Ficou comprovado que o Banco BMG foi flagrantemente beneficiado por ações do núcleo político-partidário, que lhe garantiram lucros bilionários na operacionalização de empréstimos consigna-dos de servidores públicos, pensionistas e aposentados do INSS, a partir do ano de 2003, quan-do foi editada a Medida Provisória n°. 130, de 17/09/2003, dispondo sobre o desconto de

prestações em folha de pagamento dos servidores públicos e também autorizando o INSS a regu-lamentar o desconto de empréstimos bancários a seus segurados.O Bando BMG, que sequer é um banco pagador de benefícios previdenciáríos e que possui umainsignificante capilaridade de agências, solicitou autorização ao INSS para efetuar os chamadosempréstimos consignados aos aposentados e pensionistas e, apesar de pareceres contrários da área

jurídica e do fato de que a regulamentação vigente, naquela ocasião, permitia que somente bancospagadores de benefícios pudessem habilitar-se para a concessão desses créditos, o então Presidentedo INSS, Carlos Gomes Bezerra, adotou diversas providências para permitir a atuacão doBMG nesse mercado.

Todos os fatos que se desenrolaram desde então demonstram que as ações desenvolvidas pelo nú-cleo politico-partidário foram pautadas exclusivamente para beneficiar o Banco BMG, que, não

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PODER JUDICIÁRIO DA UNIÃOJUSTIÇA FEDERAL DE 1a. INSTÂNCIASEÇÃO JUDICIÁRIA DE MINAS GERAIS - 4a

AÇÃO PENAL N° 2006.38.00.039.573-6VARA FEDERAL

JUSTIÇAFEDERALFLS.

por acaso, foi a primeira instituição financeira não pagadora de benefícios previdendáríos habili-tada à concessão dos créditos consignados, o que lhe rendeu vultuosa lucratividade, decorrente,principalmente, dos mecanismos utilizados em sen beneficio, que lhe permitiram sair rui frente detodo o mercado de bancos pequenos; negociar esses empréstimos com os aposentados inclusive portelefone e, posteriormente, ceder essa carteira, em uma operação extremamente suspeita, à C.ai\a/ '.conòmica í 'ederal.-A.S medidas ilegais e atípicas adoladas em beneficio do \\anco BMC, que cansaram, inclusive,prejní'^o ao erário, encontram-se sob apuração do Tribunal de Contas da í *niâo cm quatro Pm-cessos Administrativos: TC 013.688/2005-0, TC 014.276/2005-2, TC O]2.63)/2005-8e TC 019.499/2005-5, cujos relatórios já produzidos pelas respectivas {]nidades Técnicas,despacbos e ele libe rações constituem o volume 23 dos autos do inquérito. A auditoria do INSStambém deflagrou apurações sobre o caso e os respectivos relatórios encontram-se juntados a partirdafl. 5094 dos autos do inquérito.lisse direcionamento de açÒes em benejicio do /Í,A/C7 rendeu-lhe resultados tào positivos que o di-nheiro repassado às empresas do Grupo de Marcos Valéria e ao Partido dos Trabalhadores ,contabilizados como empréstimos, tornaram-se inexpressivos diante da Incraliridade dos bancoscom os empréstimos consignados a servidores públicos e a segurados do INSS.\\elatorios produ-ydos pelos analistas do B.-ICHN evidenciaram que essa política do banco deliderar o mercado de créditos consignados a servidores e aposentados é extremamente depende n ti-do bom relacionamento com o Governo. Segundo relatado no PT 0501302085: J\É» médio bra-~0, o BA1G destaca haver um risco cíclico em sen principal nicho de atnação, já que as mudançasde governos sempre colocam em duvida a continuidade da contratação dos empréstimos.', Objeti-i-ando a implementação das medidas acima, até então negadas pelo INSS, os dirigentes do/í A/f i reuniram-se em nma segunda oportunidade com o então Ministro José Dinen, cuja pautainformada pelo Presidente dessa instituição à Cl\\ll "í/os Correios"foi a falta de liquide-^ nomercado em ra^ão da liquidação do Ranço Santos.llm síntese, o Hanco BA1G, em decorrência do tratamento dijerenáado nas operações de créditosconsignados, conseguiu:

- ter acesso aos dados cadastrais de nma massa de. aposentados e pensionis-tas do //V.f.S que representa 23 milhões de pagamentos mensais.

- captar clientes e realizar as operações de crédito por centrais telefónicas deatendimento;

- transferir ao INSS a responsabilidade pfla implementação dos limites dedescontos e outras providências necessárias ã garantia da operação; e lançar ativos com base nessacarteira de clientes e ainda, assim que autorizados a operar nesse mercado, negociar essa carteiracom ontras instituições financeiras, inclusive a C7:'K mediante pagamento de ágio. ...Segundo informado por Marcos \ e confirmado por Delnbio Soares, o dinheiro utilizadonas operações de lavagem descritas nessa denúncia teve como uma das suas fontes as seguintes o-hfrações estabelecidas entre o núcleo financeiro-piibUcitãrio e o núcleo polilico-parlidário; \\M(, -RS 12.000.000.00 (25/02/03 - em nome da SMP&B); R,? 3.516.080,56 (14/07/04 -em nome da SAIP&B); RS 15.728.300,00 (28/01/04 - em nome de GR.'11-I'TH}; RS10.000.000,00 (26/04/04 - em nome da ROGÍiRJO TOUINTIXO); Rf7R.-lL - RS18.929.111,00 (26/05/03 - em nome da SMP&B); e RS 9.975.400,00 (12/09/0 í -em nome da GR4FFTI), totalizando a quantia de \\$ 55.217.271,02 (f/. 602).(.'.onjorme anteriorrnente assinalado, os elementos de convicção obtidos comprovam que esses em-préstimos não seriam sequer efttivamente quitados. Tanto o grupo ligado a Manos {^alérioquanto as instituições financeiras apenas ingressaram no esquema, pois tiveram a prévia concor-dância do Ministro Chefe da C.asa CJvil e a garantia da inexistência de controle sobre suas ati-vidades ilícitas e (k benefícios económicos direlos e indiretos.[...].O estudo detalhado dos dados consignados no liando de Flxame Contábil n" 3058/INC revelao modas operandi do desvio de recursos públicos que ocorria pela simulação de mútuos entre em-presas do grupo de Marcos \ e terceiros; pela ausência de contabilização de serviços e ope-

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JUSTIÇAFEDERALFLS.

rações financeiras; pela emissão de notas fiscais falsas para justificar pagamentos de serviços sema devida contraprestação, além de outras práticas ilidias destinadas a justificar o recebimento devultuosas quantias, posteriormente repassadas ao esquema ope raciona!i^do pelo núcleo de Mar-cos \ "

Apóia-se o MPF em laudo confeccionado pelo Banco Central do Brasil-BACliN, que, no exercício de suas atribuições, concluiu que os empréstimos foram deferi-dos de maneira irregular, tendo cm vista que a situação económico-financeira dos tomadoresera incompatível com o valor do referido empréstimo, bem como as garantias dadas eraminsuficientes. Apóia-se também em laudo exarado pelos peritos do Instituto Nacional deCriminalística da Polícia Federal que concluiu que os empréstimos concedidos pelo BancoBMG S/A ao Partido dos Trabalhadores e às empresas ligadas ao denunciado MARCOSVALIÍRIO foram aprovados pela dirctoria sem a observância das normas do BACKN nemtampouco das normas internas do Banco, sugerindo que o Banco BMG S/A estava dispostoa correr alto risco a uma taxa de mercado, face à fragilidade das garantias e às verificaçõesinsuficientes da capacidade económica dos tomadorcs.

Identifica o MPF uma serie de irregularidade s constatadas nos laudos su-pramencionados, constantes às fls. 47, 51, 53, 58, 62/65, 67, 69, 72/75, 77 e 79/HO do Ane-xo II.

C) pedido de condenação formulado pelo Ministério Público Federal é fun-damentado, ainda, nas conclusões exaradas nos relatórios da CPMT dos Correios, constantesdo Volume VII, Anexo I, destes autos, que assim restaram ementadas :

í) .'\tiiaçào incompatível com uma gestão responsável pela instituição financeira:"As vultuosas operações financeiras joram realizadas pelos Bancos BAKi e Rural de maneiraincompatível com uma gestão responsável por parte dessas instituições financeiras.7 'anío assim que o Ranço Central determinou o rebaixamento na classificação destes emprésti-mos, em face do sen difícil recebimento, e o prorisionamento integral do valor dos créditos. " (fls.MPF/PKMG 1123/1124)

2) Inidom-idade das garantias prestadas:"Os contraias de prestação de setriços de publicidade realizados pelas empresam D\A Propa-

ganda e SMP&K a órgãos da administração pública indireta, foram dados como garantias dosempréstimos jeitos pelas empresas ligadas a Marcos l/a/étio a pedido do PT. (.onhtdo, essescontratos apresentam vedação expressa quanto à possibilidade de seremincluídos como garantia em contratos de mútuo. Além do que, os contratos nãoservem como garantia, mas apenas como demonstração de capacidade depagamento, ainda assim de natureza relativa, pois deles decorre mera ex-pectativa de créditos. " (fls. MP\/PRMG 1124)í) Indícios de uma farsa nas relações e empréstimos tendo em vista as divergências canláheis:"Os cruzamentos contábeis-ftnanceiros objelo da análise e os fatos relacionados, apresentam indí-cios de que há uma farsa montada nas relações e empréstimos que vão desdea tomada destes nos bancos até o repasse a pessoas que supostamente se-riam indicadas pelo PT. Essa ação ocorria de forma harmónica entre o Sr. Marcos l ''ale-rto, suas empresas e as de seus familiares, sen contador, os Ranços Rural e BA/G, pessoas liga-das ao Partido dos 'Trabalhadores e outras ainda sob investigação. " (f/s. MPF/PRÀ1G

4) Conhecimento pela instituição financeira da real desf/nação dos empréstimos concedidos:

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JUSTIÇA "FEDERALFLS.

"lim depoimento prestado ao Ministério Público l-ederal em 28/08/2005, o Sr. Marcos l 'a-Imo afirma: j...j 'após sucessivas renovações, o declarante foi pressionado pelos bancos a saldai-as dividas contraídas, ocasião em que apresentou um documento assinado por Delnbio Soares, naqualidade de avalista c devedor solidário dos empréstimos contraídos, o que ocorreu ew01/07/2004. Que, depoente apresenta, nesta oportunidade, copia do documento firmado porDelítbio Soares entregue ao fiA/G, que também foi entregue declaração semelhante ao Hanco R/e-ra/, embora o depoente não tenha uma cópia do mesmo consigo; Que, a partir dessa data, ou seja,01/07/2004, os Bancos /ÍA/CV (' R/tral passaram a ter conhecimento oficial da tiatttre-^a e fina-lidade dos empréstimos; Que, no entanto, c fato que a partir de movimentaçãobancária ocorrida cm marco de 2003, os bancos /á tinham conhecimento dadestinacão dos recursos emprestados às empresas do declarante. " (fls.MPF/PRMG 1138/1139)

Nesse sentido, corroborando a tese dos possíveis benefícios pretendidospelo Banco BMG S/A, cita o MPI; a decisão do Tribunal de Contas da Uniào -TCU (fls.MPF/PRMG 1084/1086) que condenou o ex-presidcntc do INSS face às irregularidades nacelebração do convénio que conferiu ao Banco BMG/AS a exclusividade na atuaçào domercado de créditos consignados,

Ressalta também, a aproximação dos cliretores do Banco BM(i com o entãoMinistro da Casa Civil, José Dirceu, em reuniões promovidas pelo acusado MÁRCIOS VA-LÉRIO, segundo depoimento do acusado RICARDO ANNRS GUIMARÃKS, transcritono relatório da CPMI dos Correios, às fls. 511/512.

Ilustrando a conduta fraudulenta dos acusados clcnca o MP11' uma série deoperações financeiras que, segundo o MPI-', pelo risco com que se concretizaram e pela fragi-lidade das garantias oferecidas, levam à conclusão de que o crédito conferido por meio dosempréstimos não seria ulteriormente perseguido por aqueles gestores. K o caso do empréstimo conferido ao Partido dos Trabalhadores, no valor de RS 2.400.000, 00 (dois milhões equatrocentos mil reais), em 17/02/2003, e seus aditamentos, em que se nota a situação eco-nómico- financeira desfavorável do mutuário, bem como a fragilidade das garantias fidejussó-rias, as irregularidades no preenchimento dos cadastros e nos trâmites de aprovação do em-préstimo pelo Comité Central de Credito do Banco BMG S/A. E o que se nota, também,segundo o MPF, na concessão de empréstimo à empresa SMP&B, no valor de RS 3.516.080,56 (três milhões, quinhentos e devêsseis mil e oitenta reais c cinquenta e seis centavos), em14/07/2004, em que se vislumbra o alto risco da operação, eis que o valor da mesma supe-rava em muito o património declarado pelos avalistas no IRPF . K o que se nota, ainda, noempréstimo concedido à empresa (ÍRAHTfl Participações Ltda, no valor de RS15.728.300,00 (quinze milhões, setecentos c vinte oito mil e trezentos reais), em 28/01/2004,e seus dois aditamentos, que, segundo o relatório do BACFN, tratou-se de operação finan-ceira de alto risco face ao endividamento daquela empresa junto ao Banco Rural, na ordemde RS 10.900.000,00 (dez milhões e novecentos mil reais), além de que referida operação foifirmada com diversas irregularidades, tais como ausência cie assinaturas de alguns membrosdo Comité Central de Credito do Banco e de documentação e informações atuali/adas dasempresas e de seus sócios. Por fim, cita o MPI1' a concessão de empréstimo a ROGKRIOLANZA TOLKNTINO & ASSOCIADOS, em 26/04/2004, no valor de RS 10.000.(100, 00(dez milhões de reais), e seus aditamentos, em que se apurou a incompatibilidade do valoremprestado com a situação econômico-financeira daquela empresa.

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'ÊPODER JUDICIÁRIO DA UNIÃOJUSTIÇA FEDERAL DE 1a. INSTÂNCIASEÇÃO JUDICIÁRIA DE MINAS GERAIS - 4a. VARA FEDERALAÇÃO PENAL N° 2006.38.00.039.573-6

JUSTIÇAFEDERALFLS.

Segundo o MPF então, a simulação de referidos empréstimos pode serconstatada também pelo perdão de altos montantes quando da rolagem das citadas dívidas eainda pela ausência de registro contábil dos empréstimos pelas empresas do acusadoMARCOS VALERIO, conforme constatado pelas conclusões do Instituto Nacional de Cri-mmalística da Polícia l;ederal de fls. 133/134. A simulação c reforçada, ainda, pelo fato deque o ajuizamento das açòes de cobrança visando a recuperação do crédito relativo as opera-ções aqui mencionadas se deu somente após junho de 2005, quando já deflagrado o "escân-dalo do mensalão" pela CPMI dos Correios.

No tocante à autoria, o MPF fundamenta seu pedido de condenação no fa-to de que os denunciados, enquanto diretores do BMG S/A, eram diretamente responsáveispela aprovação da concessão de empréstimos de expressivo valor, como membros do Comi-té Superior de ("rédito; e os demais denunciados, como representantes legais das empresasenvolvidas, como tomadorcs dos supostos empréstimos, agiram com consciência da ilicitudedas operações.

Foram arroladas como testemunhas de acusação o Sr. José Eustáquio deCarvalho Lopes, Janaina Kiefcr Cardoso Pereira e Isna Jorge Alves de Castro.

A denúncia de íl 1/8 a 1/38 foi recebida em 18 de de/embro de 2006, con-forme decisão constante às fls. 1.170/1.171, volume 08, e veio acompanhada de documentosconstantes da Peça Informativa n° 1.22.000.002511/2006-47, além de diversos outros docu-mentos constantes do Inquérito n" 2461. Na ocasião, foi designada audiência de Instruçãopara o interrogatório dos acusados.

Contudo, nos termos da decisão de fl. 1.213, exarada por esse Juízo, foramos autos remetidos ao Supremo Tribunal Federal em raxào da diplomaçào do correu JOSÉGENUÍNO NETO, ocorrida em 19/02/2006, com fundamento no artigo 5", L1II, c artigo53, §1° da Constituição da República de 1988, tornando sem efeito os mandados de citaçãojá emitidos.

Por meio da decisão de fls. 1.336/1.340, já com numeração conferida peloSupremo Tribunal Federal, após a regular distribuição do Inquérito Penal n" 2461-9 naquelaCorte, o Ilustre Relator, Ministro )oaquim Barbosa decidiu questão de ordem concernente àvalidade do ato que recebeu a denúncia ofertada pelo Ministério Público Federal em BeloHorizonte, uma vez que o denunciado JOSÉ GENUÍNO NETO foi diplomado peloTRE/SP como deputado federal no dia 19/12/2006, tendo sido a denúncia recebida nomesmo dia. Dela, extrai-se que o recebimento da denúncia pela 4* Vara Federal da SeçãoJudiciária de Minas Gerais foi ratificado pela Corte Superior, tendo restado consignado que orecebimento da denúncia e a interrupção do prazo prcscricional ocorreram em 18/12/2006.

Na ocasião, determinou o Min. Relator a expedição de Cartas de Ordem pa-ra citação e intimação dos acusados.

Os acusados DELÚBIO SOARES DE CASTRO à fl. 1.898, JOSÉGENUÍNO NETO à fl. 1.428, RICARDO ANNES GUIMARÃES fl. 1.604, MÁRCIOALAOR DE ARAÚJO à fl. 1.605, JOÃO BATISTA DE ABREU à fl. 1.609, FLÁVIOPENTAGNA GUIMARÃES à fl. 1.606, MARCOS VALÉRIO FERNANDES DE

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JUSTIÇAFEDERALFLS.

SOUXA à fl 1.607, RENILDA MARIA SANTIAGO FERNANDES DE SOUXA à ri1.608, RAMON HOLLERBACH CARDOSO à fl. 1.610, CRISTIANO DF, MELLO PAXà fl. 1.611e ROGÉRIO LANXA TOLENTINO à fl. 1.612, foram regularmente citados.

O acusado JOSÉ GENUÍNO NETO foi interrogado conforme termos defls.1.434/1.437. Apresentou defesa prévia às fls. 1.440/1.441, rendo arrolado as seguintestestemunhas: João André da Silva, Ana Maria Freire de Andrade, Paulo Adalberto Alves Fer-reira, Maria do Carmo Lara Perpétuo, Kny Raimundo Moreira, Rosa Maria Cardoso Cunha,Sérgio Onório Guerisoli de Carvalho c Geusa Ferreira Selin.

Os acusados RICARDO ANNES GUIMARÃES às fls. 1.615/1.619,MÁRCIO ALAOR DE ARAÚJO às fls. 1.620/1.624, FLÁVIO PENTAGNA G U I M A -RÃES às fls. 1.625/1.627, MARCOS VALÉRIO FERNANDES DE SOUXA às fls.1.630/.1634 c RENILDA MARIA SANTIAGO FERNANDES DE SOUXA às fls.1.628/1.629 foram regularmente interrogados, nos termos da assentada 1.613/1.614.

Os acusados RAMON HOLLERBACH CARDOSO às fls. 1.640/1.642,CRISTIANO DE MEU.O PAX às fls. 1.637/1.639, ROGÉRIO LANXA TOLENTINO àsfls. L643/1644. JOÃO BATISTA DK ABREU às fls. 1.645/1.648 foram devidamente inter-rogados conforme assentada de fls. 1.635/1636.

O acusado DELÚBIO SOARES DE CASTRO foi regularmente interroga-do conforme termo de fls. 1.899/1.905 (volume 11), tendo apresentado defesa prévia às fls.1.910/1.912, arrolando as seguintes testemunhas Paulo Adalberto Alves Ferreira, GlebcrNaimc de Paula Machado, Romenio Pereira, João Batista Barbosa da Silva, João AntónioFelício, Gilberto Silva Palmares, Vicente Pia Trevas e Maria do Carmo Lara.

Defesa prévia dos acusados FI.A\TO PENTAGNA GUIMARÃES,RICARDO ANNES GUIMARÃES, MÁRCIO ALAOR DE ARAÚJO e JOÃO BATISTADK ABREU juntada às fls. 1.506/1.517, arrolando as seguintes testemunhas de defesa: JoséEustaquio Torres, Paulo Augusto de Andrade, Jonas Barcelos Corrêa Filho, Maurizio Mauro,José Barreto da Silva Neto, Ricardo Gelbaum, Sinai Waisberg, José Rubens Costa, Clive JoséVieira Botelho, Rubens Menin, José Nepomuccno Silva, Saulo Coelho, Flávio Franco, Os-waldo Abreu, Carlos Mário da Silva Velloso, Aquiles Leonardo Diniz, Marco Aurélio Vas-concelos Cançado, Xoroastro Alvarenga Botelho Pena, Dauro de Carvalho c Silva, MaurícioAlves Pereira, Alexandre Moura, Airton Renato de Almeida Filho, Alberto Miranda, DanielMachado, Francisco José Oliveira, Milton Luix de Melo Santos, Maílson Ferreira da Nobre -ga, Carlos Eduardo de Freitas, José Carlos Magalhães Motta, Jorge Luix Pereira de Sou/a,B nino Amadei Júnior e Flávio Lage Siqueira.

Defesa prévia do acusado ROGÉRIO LANXA TOLENTINO juntada àsfls. 1.650/1.653.

Defesa prévia dos acusados MARCOS VALÉRIO FERNANDES DKSOUXA e RENILDA MARIA SANTIAGO FERNANDES DE SOUXA, acompanhada deExceção de Litispendència juntadas às fls. 1.670/1.699, requerendo perícia e arrolando asseguintes testemunhas: Alírio Soares Barroso Filho, Ernane Santiago Magalhães, Elen MarizcMachado Barbosa Rasuck, Márcio Hiram Guimarães Novaes, Jaciara de Paula Montijo Ma-

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galhães, jaqueline Gurgel, Carlos António Dias Coelho, Adriana Fantini Boato, OrlandoMartins e Helenize Almeida.

O acusado CRISTIANO l!) I í MELLO PAZ apresentou a sua defesa préviaàs fls. 1.700/1.701 arrolando as seguintes testemunhas de defesa: Cláudio Costa Bianchim,Aluísio Monteiro da Silva, Carlos Rubens Doné, Mário Pinto Neves Filho, Eliane Alves Lo-pes e Marcos António Coimbra.

Por sua vez, o acusado RAMON HOLLERBACH CARDOSO apresentoudefesa prévia às fls. 1.702/1.709, arrolando as seguintes testemunhas: |osé Alberto da Fonse-ca, Enzo Barone, Marcelo Francisco Ccnni, Sérgio Esser, Hélio Faria, Sérgio Bavini e ElenMarize Machado Barbosa Rasuck.

Excecào de Litispendência interposta peloHOI.LERBACH CARDOSO às fls. 1.654/1.658.

acusado RAMON

A defesa de MARCOS VALÉRIO FERNANDES DE SOU/A eRENTLDA MARIA SANTIAGO FERNANDES DE SOUZA impetrou hahcas cofym às fls.1.573/1.589.

Laudo de líxame Contábil n° 2076/2006-INC, produzido pelo InstitutoNacional de Crimina lis rica, juntado às fls. 1.472/1.502. Laudo de Exame Contábil n"2828/2006-INC, também produzido pelo Instituto Nacional de Criminalística, juntado às fls.1.732/1.774, com anexo de fls. 1.775/1.837. Relatório de Análise n° 302/05 e Laudo de E-xame Contábil n° 1854/06-SR/MG juntados às fls. 2.098/2.106.

O acusado JOÃO BATISTA DE ABREU às fls. 1.917/1.921 requerei, odesmembramento do feito em relação aos acusados que não gozam do foro privilegiado porprerrogativa de função, tendo o Ministério Público Federal se manifestado sobre esse pedidoàs fls. 1.926/1.930.

Requerimento de idêntico teor foi formulado pelo acusado ROGÉRIOLANZA TOLENTINO às fls. 1.938/1.941.

Em 09 de março de 2009, conforme decisão constante às fls. 1.950/1.955, oEminente Ministro Relator enfrentou os diversos requerimentos e alegações de nulidadestrazidos pela defesa dos acusados. Nesta decisão, foram declarados nulos os interrogatóriosde RICARDO ANNES GUIMARÃES, MÁRCIO ALAOR DE ARAÚJO, FLAVIOPENTAGNA GUIMARÃES, MARCOS VALÉRIO FERNANDES DE SOUZA,CRISTIANO DK MELLO PAZ, RAMON HOLLERBACH CARDOSO, JOÃOBATISTA DE ABREU, ROGÉRIO LANZA TOLENTINO, DELÚBIO SOARES DECASTRO e JOSÉ GENUÍNO NETO, sendo ratificado o interrogatório da acusadaRENILDA MARIA SANTIAGO FERNANDES DE SOUZA.

Em razão desta decisão, foram aqueles acusados novamente interrogados; oacusado DELÚBIO SOARES DE CASTRO às fls. 2.024/2.030 (volume 11), o acusadoRAMON HOLLERBACH CARDOSO às fls. 2.079/2.082, o acusado CRISTIANO DEMELLO PAZ às fls. 2.083/2.086, o acusado MARCOS VALÉRIO FERNANDES DE

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SOUZA às fls. 2.087/2.093, o acusado ROGÉRIO LANZA TOLENTINO às fls.2.084/2.087, o acusado MÁRCIO AI.AOR DE ARAÚJO às fls. 2.178/2.179, o acusadoRICARDO ANNES GUIMARÃES às fls. 2.180/2.181, o acusado BATISTA DM A H R K Uàs fls. 2.182/2.183, o acusado FLÁVIO PENTAGNA GUIMARÃES às fls. 2.184/2.185, oacusado JOSÉ GENUÍNO NETO às fls. 2.400/2.401 (volume 13).

Os acusados FLÁVIO PENTAGNA GUIMARÃES. RICARDO ANNESGUIMARÃES, MÁRCIO ALAOR DE ARAÚJO e JOÃO BATISTA DE ABREU apresen-taram nova defesa prévia às 2.187/2.200.

O acusado MARCOS YALÉRIO FERNANDES DE SOUZA às fls.2.202/2.219 apresentou nova defesa previa, arrolando, além das testemunhas anteriores, Re-nato Yillamarim Soares, bem como formulou pedido de desmembramento do feito.

O acusado RAMON HOLLERBACH CARDOSO às fls. 2.226/2.229 interpòs Exceçào de Litispendência, apresentando defesa prévia às fls. 2.371/2.374, arrolandoas seguintes testemunhas: João Ziller, Willcr Ycloso, Hélio Marques de Faria, Patrícia Scara-belli, José Luix Parma de Quinteiro, Marcos Yinícius, Carlos Rubens Doné, José Batista Ri-beiro e Junia Lima Falabela.

A fl. 2.379, foi juntada comunicação do Ministro Gilmar Mendes sobre aconcessão parcial da ordem de habeiis corpus para afastar o recebimento da denúncia quantoao crime do artigo 4° da Lei 7.492/86 em relação aos acusados DELÚBIO SOARES Dl íCASTRO, MARCOS YALÉRIO FERNANDES DE SOUZA, CRTSTIANO DE MF.LLOPAZ, RAMON HOLLERBACH CARDOSO, JOSÉ GENUÍNO NETO, RENILDAMARIA SANTIAGO FERNANDES DE SOUZA c ROGÉRIO LANZA TOLKNTINO.

Por meio da petição de fl. 2.385, a Procuradoria da República desistiu dainquirição das testemunhas arroladas na denúncia.

As fls. 2.408/2.425, foi juntada aos autos o apenso n° 24 da Açào Penal n°470, firmado pelo réu DELÚBIO SOARES DE CASTRO.

À fl. 2.427, foi juntado ofício n° 386/07, contendo informação oficial daKlctronortc.

As fls. 2.433/2.551, foram juntados o Laudo de Exame Financeiro n°1.450/2007-INC e Laudo de Exame Contábil n" 30.058/2005-INC.

Decisão de fls. 2.572/2.573 indeferiu os diversos pedidos de desmembra-mento do feito formulados pelos acusados.

Contra essa decisão, foi interposto Agravo Regimental pelo acusadoMARCOS VALÉRIO FERNANDES DH SOUZA às fls. 2.598/2.624, o mesmo tendo sidofeito pelo acusado FLÁVIO PENTAGNA GUIMARÃES às fls. 2.626/2.644, (volume 13).

As fls. 2.696, o acusado JOSÉ GENUÍNO NE'1'O requcrcu a desistênciadas testemunhas Ana Maria Freire de Andrade e Geusa Ferreira Selin. A fl. 2.723 e 2.773, o

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acusado RICARDO ANNKS GUIMARÃES rcquercu a desistência da testemunha CarlosMário da Silva Veloso e Clive José Vieira Botelho, o mesmo tendo sido feito pelo acusadoFLÁVIO PRNTOAGNA GUIMARÃES cm relação à testemunha Jonas Barcelos (fl. 2.733),e em relação à testemunha Alberto Miranda pelo acusado MÁRCIO ALAOR DF, ARAÚJO(fl. 2.743). De igual forma, o acusado DELÚBK) SOARES DK CARTRO desistiu da oitivada testemunha Gilberto Silva Palmares (fl. 2.771); o acusado CRISTIANO DE MELLOPAZ desistiu da oitiva da testemunha Carlos Rubens Dono (fl. 2.943).

Oitiva das testemunhas Daniel Rodrigues Machado (fls. 2.820/2.822), Ale-xandre Amaral Moura (fls. 2.920/2.922), Airton Renato de Almeida Filho (fls. 2.925/2.929),Dauro de Carvalho c Silva (fl. 3.228), Maurício Alves Pereira (fls. 3.229/3.230), Marco Auré-lio de Vasconcelos (fl. 3.231), Zoroastro Alvarenga Botelho (fls. 3.232/3.234), arroladas peloacusado MÁRCIO ALAOR DE ARAÚJO.

Oitiva das testemunhas de defesa Eny Raimundo Moreira (fls. 2.908/2.911),Rosa Maria Cardoso (fls. 2.914/2.917), Sérgio Honoro Gucrisoli de Carvalho (fls.3.040/3.041), João André da Silva (mídia de fl. 3.173, gravado às fls. 3999/4005), Paulo A-dalberto Alves Ferreira (mídia de fl. 3.173), Maria do Carmo Lara Perpétuo (fls.3.341/3.342), arroladas pelo acusadoJOSÉ GENUÍNO NE'1'O.

Oitiva das testemunhas de defesa Oswaldo Vieira de Abreu (fls.3.042/3.043), Rubens Menin (fls. 3.210/3.211), Saulo Coelho (fls. 3.212/3.213), Flávio Fran-co (fls. 3.214/3.215), Aquiles Leonardo Diniz (fls. 3.216/3.217), José Nepomuceno da Silva(fl. 3.319), arrolada pela defesa de RICARDO ANNES GUIMARÃES.

Oitiva das testemunhas de defesa Milton Luiz de Melo Santos (fls.3.044/3.045), Mailson Ferreira da Nóbrega (fls. 3.055/3.056), Carlos Eduardo de Freitas(mídia de fl. 3.173), Francisco José de Oliveira (fl. 3.223), José Carlos Magalhães Mota (fls.3.224), Flávio Lage Siqueira (fls. 3.225/3.227), Dauro de Carvalho e Silva (fl. 3.228), Maurí-cio Alves Pereira (fls. 3.229/3.230) arroladas pela defesa de JOÀO BATISTA DF; ABREU.

Oitiva das testemunhas de defesa Maurizio Mauro (fl. 3.057/3.058), JoséBarreto da Silva Netto (fls. 3.059/3.060), Ricardo Gelbaum (fls. 3.061/3.063), José Eustá-quio Torres (fls. 3.220/3.221), José Rubens Costa (fls. 3.222), Sinai Waisberg (fl. 3.343), arro-ladas pela defesa de FLÁVIO PENTAGNA GUIMARÃES.

Oiriva da testemunha de defesa João António Felício (fls. 3.109/3.112),Paulo Adalberto Alves Ferreira (mídia de fl. 3.173), Maria do Carmo Lara Perpetuo (fls.3.341/3.342), João Batista Barbosa da Silva (fl. 3437/3438) arrolada pela defesa de DELÚ-BIO SOARES DE CASTRO, (volume 15).

Oitiva das testemunhas de defesa Patrícia Scarabelli (fl. 3.202), José LuizParma de Qumtcro (fl. 3.203), José Batista Ribeiro (fl. 3.204), Marcos Vinícius Ribeiro (fl.3.205), Junia Lima Falabela (fl. 2.306), arroladas pela defesa de RAMON HOLLERBACHCARDOSO.

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Oitiva das testemunhas de defesa Alírio Soares Barroso Filho (fls.3.290/3.291), Elen Razuck (fls. 3.292/3.293), arroladas pela defesa de MARCOS VALERIOFERNANDES DE SOUZA.

Oitiva das testemunhas de defesa (aciara Magalhães (fl. 3.294), [aquelineSoares (fl. 3.295), Marilene Silva (fl. 3.296), Adriana Fantini (fls. 3.297/3.298), Helenize Al-meida (fls. 3.299/3.300), Orlando Martins (fl. 3.303) arroladas pela defesa REMI I,D AMARIA SANTIAGO FERNANDES DE SOUZA.

Oiriva das testemunhas de defesa Marcos Coimbra (fls. 3.301/3.302), MárioPinto Neves Filho (fl. 3.340), Eliane Lopes (fl. 3.361), Aloísio Monteiro da Silva (fl. 3.362),Cláudio Costa Biímchini (fl. 2.309), arroladas pela defesa de CRISTIANO DE MELLOPAZ.

As fls. 3567/3574, o acusado DELÚBIO SOARES DE CASTRO formu-lou requerimento de anulação do depoimento das testemunhas ouvidas nesta secào Judiciáriae Minas Gerais.

As fls. 3531/3533, consta decisão exarada pelo Ministro Relator consignan-do a desistência tácita da oitiva das testemunhas de defesa Gleber Naine de Paula Machado,João Ziller, Willer Veloso e Hélio Marques de Faria, cis que os acusados não ofereceram en-dereços corretos destas testemunhas. Na ocasião, foi indeferido, também, o pedido de anula-ção dos depoimentos das testemunhas colhidos na 4a Vara Federal, formulado pelo acusadoDELÚBIO SOARES DE CASTRO, declarando-se, por conseguinte, o encerramento dafase de oitiva das testemunhas.

As fls. 3592/3624, o acusado ROGÉRIO LANZA TOLENTINO reque-rcu a juntada do laudo 1866/2009-INC/DITEC/DPF.

Às fls. 3735/3744 foi juntada resposta ao Ofício n" 7291/R, de05/08/2009.

As fls. 3790/3821 foram juntados os Laudos de Exame Financeiro de n"s1142/2009, 1517/2009, 1795/2009, 1866/2009 e 562/2010.

As fls. 3943/3944 consta decisão do Ministro Relator Joaquim Barbosa in-deferindo a expedição de ofício ao Banco do Brasil, requerida pelos acusados FLAVK)PENTAGNA GUIMARÃES, MÁRCIO ALAOR DE ARAÚJO, RICARDO ANNESGUIMARÃES e JOÃO BATISTA DE ABREU.

As fls. 3950/3951 consta a certidão de julgamento do Acórdão proferidonos Supremo Tribunal Federal que negou provimento ao recurso de agravo interposto pelosacusados, em insurgència à decisão que rejeitou o pedido de desmembramento do feito.

A defesa dos acusados FLÁVIO PENTAGNA GUIMARÃES, MÁRCIOALAOR DE ARAÚJO, RICARDO ANNES GUIMARÃES e JOÃO BATISTA DEABREU interpôs recurso de agravo regimental contra a decisão que indeferiu o pedido dediligências anteriormente formulado (fls. 3958/3962).

II

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As fls. 4042 e 4044/45 a defesa dos acusados requer a devolução dos autosao seu juízo natural em face da não recondução do acusado JOSÉ GENUÍNO NETO àCâmara dos Deputados, o que faria cessar o foro por prerrogativa de função.

Em decisão prolatada, o Excelentíssimo Ministro Joaquim Barbosa declinoude sua competência e determinou o reenvio dos autos para esta 4a Vara da Seçào Judiciáriade Minas Gerais (fls. 4052/4053).

As fls. 4068/4135 o Partido dos Trabalhadores junta diversos documentossolicitados mediante Ofício n° 20/SRJ.

Distribuição da Ação Penal em epígrafe na 4a Vara da Scção Indiciaria deMinas Gerais, em 03/05/2011 (fl. 4137).

Em decisão de fl. 4141, este Juízo reabriu o prazo para que os acusadosformulassem seus pedidos de diligências complementares.

O acusado CRISTIANO DE MELLO PAZ nada requereu (fl. 40144-verso). C) acusado DELÚBIO SOARES DE CASTRO, às fls. 4145/4152, requereu a anula-ção das audiências realizadas neste Juízo, o que, contudo, foi rejeitado cis que tal requeri-mento foi devidamente analisado e decidido pelo relator da Aça o Penal n" 420, nos termosda decisão proferida às fls. 3531/3533 (4155/4156).

Aberta vista às partes, para apresentação de alegações finais, o MinistérioPúblico Federal apresentou a sua peça às fls. 4160/4270, requerendo a condenação dos acu-sados RICARDO ANNES GUIMARÃES, JOÃO BATISTA DE ABREU, 1-LÁVIOPENTAGNA GUIMARÃES e MÁRCIO ALÃOR DE ARAÚJO pela conduta tipificada noartigo 4° da Lei 7492/86 e dos acusados |OSÉ GENUÍNO NETO, DELÚBIO SOARESDE CASTRO, MARCOS VALRRIO FERNANDES DE SOU/A, RENILDA NL\RIASANTIAGO FERNANDES DE SOU/A, RAMON HOLLERBACH CARDOSO,CRISTIANO DE: MELLO PA/, e ROGÉRIO LAN/A TOLENTINO, pela prática doartigo 299 do Código Penal Brasileiro, eis que comprovados a autoria e a materialidade deli-fiva.

Analisando os diversos contratos celebrados pelo Banco BMG S/A com oPartido dos Trabalhadores c com as empresa ligadas ao acusado MARCOS VALÉRIO, con-cluiu o MPE que referidos empréstimos oram celebrados com vistas a dissimular o repassede valores daquela instituição financeira aos tomadores de empréstimo. Apoiou-se o MPFnas inúmeras irregularidades constantes destes contratos tendo cm vista a situação cconômi-co-financeira incompatível dos tomadores, além da fragilidade das garantias oferecidas. A-poiou-se, ainda, na inobservância da concessão dos empréstimos das normas internas doBanco, bem como das normas do BACKN, o que sugere, segundo o MPF, a disposição doBanco BMG S/A em correr um alto risco sem qualquer razão financeira aparente.

O pedido de condenação do MPF fundamenta-se também na ausência deregistros contábeis das empresas SMP&B COMUNICAÇÃO LTDA e DNA

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PROPAGANDA LTDA dos empréstimos recebidos do Banco B MG S/A, o que, após adeflagração do Escândalo do "Mensalão" foi ratificado por aquelas empresas.

Reputa, ainda, como indícios da fraude, a inexistência de contrato formalentre as empresas de MARCOS VALKRIO e o PT, a inexistência do registro de pagamentode juros, encargos ou amortizações, tendo estes sido cobrados somente após a instalação daCPMI , a decisão do Tribunal de Contas da União que condenou o ex-presidente do INSS,Carlos Gomes Bezerra, em razão de vícios na tramitação e celebração do convénio com oBanco BMG S/A, para a atuação deste no mercado de créditos consignados, dentre outrasirregularidades extraídas de cada contrato específico firmado com o Partido dos Trabalhado-res, SMP&B COMUNICAÇÃO J .TOA, GRAFFITI PARTICIPAÇÕES LTDA e ROGÉ-RIO LANZA TOLENTINO e ASSOCIADOS LTDA.

Narrando os depoimentos prestados em juízo pelos acusados, o MPF re-puta inverossímeis as teses defensivas, pugnando que nenhuma delas pode afastar as conclu-sões defendidas pelo Órgão acusatório.

Ressaltou o reconhecimento do acusado FLAVIO PENTAGNA GUI-MARAES acerca da insuficiência do património dos avalistas constantes do contrato, bemcomo, a confirmação pelo acusado MARCOS V ALERTO FERNANDES DE SOUZA daligação do dinheiro recebido por intermédio de suas empresas ao pagamento de uma "lista"de pessoas a ele repassada pelo Partido dos Trabalhadores.

Concluiu, assim, que os contratos de mútuo nada mais eram do que simu-lações cujo objetivo era acobertar a verdadeira natureza do desvio de recursos da instituiçãofinanceira, o que impõem a imputação dos acusados RICARDO ANNES GUIMARÃES,JOÃO BATISTA Dl'; ABREU, FLAVIO PEN'1'AGNA GUIMARÃES c MÁRCIOALAOR DK ARAÚJO da prática apenada no artigo 4°, capiit, da Lei 7492/86, na forma doartigo 29 do Código Penal.

Por outro lado, por terem participado da lavratura de contratos de emprés-timos bancários, nos quais fizeram inserir informações falsas sobre fatos juridicamente rele-vantes, imputa aos acusados JOSÉ GENUÍNO NETO (5 vezes), DELÚBTO SOARES DKf:ASTRO (5 vezes), MARCOS VALÉRIO FERNANDES DE SOUZA (11 vezes),RENILDA i\L\RIA SANTIAGO FERNANDES DE SOUZA (2 vezes), RAMONHOLLKRBACH CARDOSO (7 vezes), CRISTIANO DE MELLO PAZ (5 vezes), RO-GÉRIO LANZA TOLENTINO (3 vezes), RICARDO ANNES GUIMARÃES (15 vezes),JOÀO BATISTA DE ABREU (7vezes), FLÁVIO PENTAGNA GUIMARÃES (4 vezes) e"MÁRCIO ALAOR DE .ARAÚJO (4 vezes) a prática do artigo 299 do Código Penal Brasilei-ro.

CAC's dos acusados juntadas às fls. 4291/4405 e FAC's juntadas às fls.4412/4441.

Alegações finais conjuntas dos acusados RICARDO ANNES GUIMA-RÃES, JOÃO BATISTA DE ABREU FLAVIO PENTAGNA GUIMARÃES e MÁRCIOAL \OK DE ARAÚJO, ás fls. 4456/4810, ocasião cm que foram juntados, também, o pare-cer do consultor Sérgio Darcy Consultores Associados Ltda (fl. 4812/4904), parecer do ex-

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AÇÃO PENAL N° 2006.38.00.039.573-6VARA FEDERAL

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Procurador-Geral do Banco Central do Brasil, Luiz Carlos Sturzencggcr (fls. 4906/4953), cparecer do professor Dr. Ce/ar Roberto Bitencourt e do Ministro aposentado do SuperiorTribunal de Justiça, Dr. Nilson Naves (fls. 4955/5047) e parecer do professor Dr. Nilo Ba-rista(fls. 5048/5158).

Nas alegações, sustentou a defesa destes acusados, preliminarmente, 1) Ainépcia da denúncia por ausência de descrição do fato em todas as suas circunstâncias, pelainadequação do fato narrado ao ripo imputado e pela seletividade da denúncia na descriçãodo fato narrado como criminoso; 2) oferecimento da denúncia fora do expediente legal; 3)prática de ato processual fora do horário legal; 4) Ausência de efetiva apreciação ]udicial dadenúncia e de seus elementos informativos; 5) Ausência de fundamentação do recebimentoda denúncia; 6) Ausência de imparcialidade objetiva no ato de recebimento da denúncia; 7)Ocorrência de arquivamento implícito ou tácito - violação ao princípio da Indivisibilidade daaçào penal e 8) Falta de interrogatório dos acusados.

No mérito, em síntese, sustentam aqueles acusados a ausência de provasque justifiquem uma condenação. Alegam que as condutas narradas pelo MPF se subsumemao delito de gestão temerária, embora pretenda o MPF a condenação pela prática da gestãofraudulenta, o que faz transparecer o "transtorno dissociativo de identidade" da denúncia.Defendem que nenhuma das irregular ida de s supostamente praticadas na concessão de em-préstimos é indicativa de fraude eis que, em verdade, caractcri/am-se por pequenos errosformais, considerados normais no dia-a-dia da prática bancária. Aduxcm que a classificaçãoconferida ás operações como de risco pelo Banco Central foram contaminadas pelo escânda-lo do "Mensalão", deixando de privilegiar aspectos técnicos em suas conclusões, discorren-do, em seguida, sobre a regularidade dos empréstimos, caso analisados no ambiente em quecelebrados. Rebatem a alegação de que tinham conhecimento da dcstinação dos valores libe-rados ao argumento de que esta informação adveio do acusado MARCOS VALKRIOFRRNANDKS DR SOUZA, que visava os benefícios da delação premiada, justificam aconcessão e os aditamentos dos empréstimos não como "perdão de altos montantes quandoda rolagem das dívidas" mas como um comportamento habitual do sistema bancário naqueleperíodo, já que "é de praxe sempre que ao lançamento dos juros pcnalixantes pela inadim-plència sobrevêm uma renegociação da dívida", mesmo porque "reabilitar o devedor é sem-pre melhor do que asfixiá-lo". Refutam a alegada ausência de interesse na retomada dos em-préstimos no fato de que era maior o interesse da instituição financeira no recebimento dospmid do que com a rescisão dos contratos, ressaltando que assim que percebida a alteraçãoda qualidade do crédito, o Banco BMG S/A foi ágil na cobrança judicial do débito, promo-vendo a execução imediatamente após o vencimento das obrigações. Km seguida, elencamt,h\1 : - - ( > > postulados próprios do menado financeiro, consignando a adequação da i < operacoes malfadadas a estes postulados, apoiando-se nas análises técnicas constantes dos parece-res encomendados, rebatendo, ainda, a alegada fragilidade das garantias oferecidas c a poucacapacidade económico-financeira dos tomadores, tendo em vista os altos valores repassadospelo fundo partidário ao PT e o elevado faturamento anual - da ordem de RS150.000.000,00 (cento e cinquenta milhões) - das empresas de publicidade do acusadoMARCOS VALERIO. Salientam que o próprio Banco Central, em inspeçào rcalixada em2003, concluiu pela inexistência de restrições patrimoniais dos tomadores dos empréstimos.Relata que, diferentemente do alegado pelo MPl', o BMC i apresentou a documentação rela-tiva à anuência da Eletronorte para a utilização do crédito na operação financeira, o que foiconfirmado pelos depoimentos judiciais dos acusados. Alega que a execução da garantia do

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empréstimo com a SMP&B nào foi implementada tendo em vista ejue o empréstimo foi li-quidado depois de uma única novação; c que o próprio laudo da Polícia Federal concluiu quenão foram identificadas divergências entre as classificações ratwg dos contratos de emprésti-mos da SMP&B e aquelas previstas pelos normativos do BACEN; que o conjunto do patri-mónio dos avalistas (cerca de R$ 9,5 milhões de reais) era mais do que suficiente para honraras duas operações de crédito à empresa SMP&B (cerca de R$ 5,9 milhões de reais); que osdirigentes do banco não tinham como saber qual a destinaçào dada aos recursos empresta-dos aos tomadores; que os riscos assumidos pelo B MG foram ínfimos face à insignificânciada inadimplência frente aos resultados daquela instituição financeira; que os resultados finan-ceiros do banco revelam que o risco assumido à época significa menos de 2%, o que revelaque o nível de capital da instituição financeira estava adequado para a cobertura de risco decrédito; que o banco BMC í não foi particularmente beneficiado por qualquer ação ou inicia-tiva do Governo Federal no que diz respeito às operações de crédito consignado c nem noque diz respeito às cessão de operações de crédito consignado a Caixa Kconômica Federal.Sustenta ainda a inconstitucionalidadc dos crimes de gestão temerária e fraudulenta, a atipi-ciclade objetiva da conduta imputada, a ausência da constância habitual de atos, a inocorrên-cia de habitualidade imprópria, a ausência do elemento "fraudulentamente" previsto no tipopenal, a ausência de sujeito passivo atingido, a absorção da falsidade ideológica pela gestãofraudulenta, a ausência de lesão ou perigo de lesão a bem jurídico protegido pelo tipo de ges-tão temerária, a plena conformidade da concessão dos empréstimos com o direito, a ausênciade acordo comum para a prática da simulação, a atribuição de responsabilidade objetiva aosacusados, a ausência de nexo de causalidade, a impossibilidade de condenação por falsidadeideológica em concurso material e a ausência de prova para a condenação (volumes 22, 23 e24).

Alegações finais do acusado JOSÉ GENUÍNO NETO às fls. 5.204/5.244,onde alegou, preliminarmente, a inépcia da inicial acusatória, a ilegalidade do recebimento dadenúncia e o inoportuno interrogatório do acusado. No mérito, sustentou a inexistência dafalsidade ideológica eis que: o Partido dos Trabalhadores nào deixou de registrar as opera-ções havidas em sua contabilidade; que o suposto "perdão de valores" não possui qualquerfundamento cis que a dívida pactuada, quando nào paga a tempo, foi legalmente renegocia-da; que quando do vencimento definitivo dos empréstimos, o banco BMG efetivamente re-correu à via judicial para reaver os valores; que foram atendidos todos os requisitos formaispara configuração dos contratos como espécie de mútuo. Alega que jamais se imiscuiu emquestões administrativas e financeiras do Partido dos Trabalhadores, que estavam a cargo deoutros dirigentes eleitos para tanto, fato este confirmado pelas testemunhas ouvidas em juí-zo. Sustenta que se constava dos contratos de empréstimo a sua assinatura como avalista, éevidente que isso só ocorreu por exigência estatutária, sem que tivesse o acusado elaboradoqualquer aspecto da operação.

Alegações finais do acusado DKLÚBIO SOARES DE CASTRO juntadasàs fls- 5.269/5.310, onde alega, preliminarmente, a inépcia da inicial acusatória, a intempcsrividade da denúncia e a ilegalidade de seu recebimento e a impossibilidade de participação emaudiência devido ao registro sigiloso da Carta de Ordem. No mérito, sustenta a ausência dequalquer prova da alegada falsidade ideológica, cis que os empréstimos foram devidamentequitados pelos tomadores, o que afasta a alegação de que eram simulados. Sustenta ainda queas execuções judiciais ocorreram exatamente após os vencimentos dos empréstimos; quediante da quitação do mútuo, não resta nenhuma prova da divergência entre a intenção c a

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vontade declarada; que o mau uso dos recursos tomados não constituem elemento substan-cial do mútuo; que qualquer que seja a "contra-partida" supostamcntc pretendida pelos diri-gentes do BMG não tem o condão de invalidar o negócio; que referidos empréstimos e asucessivas renovações foram objcto de discussão e aprovação dentro do Partido e decorre-ram de despesas perfeitamente justificadas; que a propalada incapacidade financeira do PT édesmentida pelas diversas modalidades de arrecadação do Partido, além da real expectativade aumento da receita; que o próprio BACEN, por cinco vezes, considerou regular a opera-ção de mútuo; que DELÚBIO SOARES não avalizou os contratos em razão de seus benspessoais, mas sim em razão do cargo exercido no Partido dos Trabalhadores (volume 25).

As fls. 5.355/5.431 foram juntados comprovantes de cumprimento integraldo acordo celebrado entre o Banco BMG e o PT.

Alegações finais dos acusados MARCOS VALKRTO FERNANDES DESOU/A e RKNILDA MARIA SANTIAGO FERNANDES DK SOU/A às fls.5.432/5.463, onde alegam, preliminarmente, a nulidade do processo desde o recebimento dadenúncia, face à incompetência do juízo, a inépcia da denúncia quanto ao crime de falsidadeideológica, a litispendéncia entre esta açào penal e a açào penal n° 470 do STF, a falta de cor-relação entre o pedido de condenação contido nas alegações finais e na descrição da denún-cia. No mérito, aduzem que a prova pericial produ/ida excluiu a falsidade dos contratos deempréstimos; que a execução judicial para a cobrança de referidos empréstimos ocorreu logoapós o vencimento dos contratos; que restou demonstrada a capacidade das empresas e aalta perspectiva de arrecadação do PT; que os empréstimos tomados pelas empresas foramauditados pelo Banco Central do Brasil; que a acusação não logrou demonstrar, por meio deprovas colhidas judicialmente, que os mencionados contratos de empréstimos tinham conte-údo ideologicamente falso; que os depoimentos judiciais deixam claro que a acusadaRKNILDA não teve nenhuma participação voluntária e consciente na realização dos em-préstimos, tendo se limitado a apor sua assinatura cm dois instrumentos somente para cum-prir formalização exigida nos contratos sociais das empresas.

Alegações finais do acusado RAMON HOLLERBACH CARDOSO jun-tadas às fls. 5.475/5.488, onde alega» preliminarmente, a ocorrência de litispendéncia destaacusação com a formulada na ação penal n° 470 do STF, a nulidade do recebimento da de-núncia, a nulidade absoluta de todo o feito face à inobservância do rito previsto na lei11.719/08, a supressão da fase processual de oferecimento de resposta à acusação. No méri-to, sustenta a inexistência de declaração falsa ou diversa da que devia ser escrita, a atipicidadedos fatos narrados na inicial e a ausência da comprovação do indispensável "fim especial deagir" para a configuração do delito previsto no artigo 299 do Código Penal Brasileiro.

Alegações finais do denunciado CRISTIANO DE MKLLO PAZ às fls.5495/5528, requerendo, preliminarmente, que seja reconhecida nulidade absoluta no ato derecebimento da denúncia por ter sido esta recebida por juiz incompetente e sem motivaçãoe, de forma alternativa a este pleito, que seja reconhecida a nulidade absoluta, determinando-se novo interrogatório dos réus. No mérito, requer a absolvição da imputação que lhe é diri-gida, seja pela regularidade dos contratos de mútuo firmados, seja pela ausência de dolo, namedida em que o acusado não seria o responsável pela área administrativa e financeira daagência de publicidade, cuidando especificamente da área de criação.

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As fls. 5532/5533, consta petição de J OS H GENUÍNO NETO juntandoaos autos documentação comprobatória da quitação integral do acordo celebrado entre oPartido dos Trabalhadores e o Banco BMG.

Alegações finais do denunciado ROGÉRIO LAN Z A TOLENTINO àsfls. 5534/5539, pugnando pela absolvição, em razão da ausência de provas capazes de com-provar qualquer ato ilícito realizado pelo réu. Alega que o empréstimo tomado pela empresado acusado no Banco BMG não seria simulado, tendo em vista que estava acobertado poruma garantia adicional no valor de RS 10.000.000,00 (dez milhões de reais), representada porum CDB com o mesmo valor do empréstimo levantado, sendo constatado no Laudo Pericialdo Instituto Nacional de Criminalística da Polícia l''ederal que o empréstimo estava acober-tado por garantias de suficiência c liquidez, além de constar devidamente registrado na con-tabilidade da sociedade. Ademais, apresentou a conclusão dos auditores da Receita Federalno procedimento fiscal n" 06.01.00/2009-02365-8 no qual nào foram apuradas irregularida-des no que tange ao referido empréstimo e seu pagamento. Com relação às garantias contra-tuais, o Laudo Pericial teria concluído a existência de garantias pessoais e reais para a prote-çào dos recursos emprestados.

As fls. 5.570/5.599 e 5601/5658 consta acórdão proferido pelo Conselhode Recursos do Sistenia Hnanceiro Nacional no julgamento do Recurso Voluntário 11737,no qual foi dado parcial provimento ao recurso interposto pelos acusados FLÁVIOPENTAGNA GUIMARÃES, RICARDO ANNES GUIMARÃES, MÁRCIO ALAOR DEARAÚJO e JOÃO BATISTA DE ABREU contra as sanções administrativas que lhes foramimpostas pelo Baccn e que deram origem à denúncia contra eles formulada.

Às fls. 5.669/5.763, os acusados FLÁVIO PENTAGNA GUL\L\RÃRS,RICARDO ANNES GUIMARÃES, MÁRCIO ALAOR DK ARAÚJO e JOÃO BATISTADE A B R E U manifestam-se a respeito da documentação juntada nos autos, qual seja, o a-córdão do CRSFN. Fundamentam, cm síntese, que o Conselho de Recursos do Sistema Fi-nanceiro Nacional, em sua competência revisional das decisões impostas pelo Bacen, atenu-ou as sanções impostas aos dirigentes do Banco BMG, afastando a inabilitação c a naturezade falta grave, além de reconhecer a cfetiva observância da legislação c dos princípios de boatécnica bancária. Nesse sentido, afirmam que os termos do referido acórdão sepultam a pre-tensão acusatória deduzida na denúncia, tendo em vista que o MPF embasou os fatos daacusação nas conclusões de relatório do Bacen que originou o processo administrativo na-quela autarquia em face do BMG e seus dirigentes. No ensejo, juntaram novo parecer jurídi-co.

Vieram os autos conclusos para sentença.

E o relatório. Decido.

2 - FUNDAMENTAÇÃO

Pretende o Ministério Público Federal a condenação de RICARDOANNES GUIMARÃES, JOÃO BATISTA DE ABREU, MÁRCIO ALAOR DE ARAÚJOe FLÁVIO PENTAGNA GUIMARÃES pela prática, em concurso de agentes, do crime

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previsto no artigo 4°, capu/. da Lei 7492/86 e JOSÉ GENUÍNO NETO, DELUBTOSOARES DF, CASTRO, MARCOS VALÉRIO FERNANDES DE SOU/A, RENILDAMARIA SANTIAGO FERNANDES DE SOUZA, RAMON HOLLERBACHCARDOSO, CRISTIANO DE MELLO PAZ e ROGÉRIO LAN/A TOLENTINO, pelaprática , em concurso de agentes, do crime tipificado no artigo 299 do Código Penal Brasilei-ro.

2.1 — Preliminarmente

A) Da Inépcia da Denúncia/ Fato narrado inadequado ao tipo impu-tado/Seletividade da denúncia na descrição das circunstâncias do fato apontadocomo criminoso/ Cerceamento de defesa

Inicialmente, no que se refere à arguição da defesa acerca da inépcia dadenúncia, posto ser esta genérica c imprecisa, entendo não haver raxão para tanto c a afasto,pois a peça acostada às fls. 1-1/1-38 descreve, de forma precisa, os supostos fatos delituosos,com todas as circunstâncias que, de alguma forma, possam influenciar a apreciação dosdelitos, demonstrando claramente a açào praticada pelos réus e o nexo de causalidade com oresultado danoso. Além disso, qualifica os imputados, informa a classificação jurídica dosfatos c os demais requisitos constantes do art. 41, do CPP.

Não há, pois, os alegados defeitos da denúncia, eis que ela descreve, comtodos os elementos indispensáveis, a existência, em tese, dos delitos, sustentando o eventualenvolvimento dos agentes, com indícios suficientes para deflagração da persecução penal,sendo-lhes plenamente garantido o livre exercício do contraditório e da ampla defesa(plenamente exercida, ressalte-se). Eventual inépcia da denúncia somente merece acolhidaquando demonstrada inequívoca deficiência a impedir a compreensão da acusação, emflagrante prejuízo à defesa, ou ainda, em caso de ocorrência de uma das falhas constantes doart. 43, do CPP, o que não se verifica no caso.

Com efeito, eventual erro na capitulação dos fatos pelo MPF não tem ocondão de macular de nulidade a denúncia, cis que o réu se defende dos fatos narrados e nàoda tipificação legal a eles conferida. E, in casit, vislumbro que os acusados puderamefctivamente exercer o direito de defesa a eles garantido cis que, nas quase 500 páginas dealegações finais, todos os fatos narrados pelo MPF foram amplamente enfrentados pelosacusados, de onde se conclui que tiveram a exata compreensão do que estavam sendo elesacusados.

Lado outro, a jurisprudência, em relação aos crimes societários, vem amai-nando a exigência de individualização das condutas na denúncia, ante a realidade fática des-ses delitos, que torna, com relativa frequência, extremamente difícil a exata individualizaçãode cada conduta desde logo na denúncia e antes da instrução do feito. Nesse sentido confira-se os seguintes julgados:

"PROCESSUAL PENAL. IIAliliAS CORPUS. CONTRABANDO. DENÚN-CIA. RECEBIMENTO. PESSOA JURÍDICA. PROPRIETÁRIOS. CRIMESO-CIRTÁRIO.

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1. De acordo com o artigo 41 tio Código de Processo Penal a denúncia deve con-ter a narração do fato criminoso, com a precisa identificação da conduta imputadaaos denunciados, de modo a lhes assegurar o pleno exercício do direito de defesa.2. Nos crimes societários ou de autoria coletiva admite-se que a dcnúneiadescreva a conduta dos acusados de forma genérica, desde que se atribua atodos o fato criminoso de modo a permitir o exercício da ampla defesa.3. Com 'a instrução o que se tem entendido é que os fatos vão ser devida-

mente individualizados, relativamente a cada denunciado e só na sentençafinal será possível, realmente, para eventual condenação, haja atribuiçãoespecífica para cada um dos agentes' (Min. NERI DA SILVKIRA).4. I labeas corpus denegado."(TRF1, I IC n. 2001.01.00.020826-!/GO, Relator Desembargador Federal MÁ-RIO CÉSAR RIBEIRO, Quarta Turma, DJ 15.01.2002, p. 223 - grifei)

"PENAL. PROCESSUAL PENAL. CRIME CONTRA C) SISTEMAFINANCEIRO NACIONAL ARTIGO 5°, CAPUT, DA LEI N. 7.492/86. A-PROPRIAÇAO DF. VALORES OPERAÇÕES DE CÂMBIO COM MOEDAESTRANGEIRA. MATERIALIDADE E AUTORIA COMPROVADAS.1. Afigura-se juridicamente possível a mitigação dos requisitos da denúnciano caso de crimes societários, em face da dificuldade de se individualizarpormenorizadamente, desde logo, as condutas dos denunciados, preceden-tes do cg. Superior Tribunal de Justiça e desta Corte Regional Federal.2. Inocorrcncia da ilegitimidade dos subscritores da denúncia.3. Os réus, na qualidade de sócios-admimstradores da empresa DINIX ADMI-NISTRACAO DE CONSÓRCIO, incorreram na conduta descrita no art. 5°, ca-put, da Lei n" 7.492/86, ao apropriaram-se de valores pertencentes a seus consor-ciados, utilixando-se de meio fraudulento, impelindo-os a alienarem suas cotas deconsórcio por valores interiores ao montante pago.4. Materialidade e autoria comprovadas pelos depoimentos testemunhais e docu-mentos carreados aos autos.5. Apelação criminal improvida."

(TRF1, A C R n . 1999.01.00.032607-6/DF, Relatora Juíza Federal ROSIMAYRKGONÇALVES DE CARVALHO FONSECA (Convocada), Quarta Turma, DJ02.06.2006, p.72-grifei).

Ademais, o juíxo de aceitabilidade da peça acusatória cm relação à normacontida no art. 395 c incisos do CPP é realizado no momento de recebimento da denúncia.No caso dos autos, tendo sido recebida às fls. 1170/1171, conclui-se pela inocorrência dequalquer dos requisitos que ensejariam a rejeição da exordial. Portanto, já superada esta fase,nào há que se falar em inépcia ou ausência de justa causa.

B) Do oferecimento da denúncia fora do expediente legal/ Daprática de ato processual fora do expediente legal/ Da ilegalidade no recebimento dadenúncia

Tais preliminares, levantadas pela defesa dos acusados cm sede de defesaprévia, já foram amplamente enfrentadas pelo STF, por meio da decisão de fls. 1.336/1.340,que ratificou a decisão de recebimento da denúncia de fls. 1170/1171.

Com efeito, após a regular distribuição do Inquérito Penal n° 2461-9 naque-la Corte, o Ilustre Relator, Ministro Joaquim Barbosa, decidiu questão de ordem levantada

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pela defesa c pelo MPF, concernente à validade do ato que recebeu a denúncia ofertada peloMinistério Público Federal em Belo Hori/onte, uma vez que o denunciado JOSÉ GENUÍ-NO NETO foi diplomado pelo TRE/SP como deputado federal no dia 19/12/2006.

E que, por meio da decisão de fls. 1213/1215, este Juízo exarou decisãoconsignando que a data correta do recebimento da denúncia foi o dia 19/12/2006, o queresultaria na incompetência absoluta do primeiro grau de jurisdição.

Contudo, conforme se extrai da decisão de fls. 1.336/1.340, o ilustre Rela-tor entendeu que não houve erro material a justificar a alteração da data do recebimento dadenúncia, eis que a peça informativa que fundamentou a denúncia foi de fato distribuída nodia 18/12/2006 e no dia 19/12/2006 só houve a alteração da classe processual.

Desta forma, o recebimento da denúncia pela 4a Vara Federal da Seçào ju-diciária de Minas Gerais foi inteiramente ratificado pela Corte Superior, o que afasta a possi-bilidade de qualquer alegação ulterior de irregularidades.

Lado outro, contra a decisão exarada pelo Ministro Relator, a defesa não in-terpôs recurso, ante a ausência de previsão legal. Não havendo recurso próprio contra taldecisão, consoante doutrina e jurisprudência pátrias, tal exceçào deve ser arguida co-mo preliminar, cm razões de apelação, ou por meio de habeas corpus, não sendo caso dereexame da questão na sentença.

Outrossim, a defesa não demonstrou a existência de qualquer prejuízo efe-tivo com o recebimento da denúncia pelo suposto órgão incompetente, o que afasta a exis-tência de nulidade no caso em tela, cis que no sistema pátrio, somente se acolhe a nulidadede uma ato processual quando houver efctiva demonstração de prejuízo pela parte, o quenão se observou no caso telado.

Por estas razões, rejeito a preliminar suscitada.

C) Da ausência de efetiva apreciação judicial da denúncia e de seuselementos informativos/ Da ausência de fundamentação do recebimento da denún-cia/ Da ausência de imparcialidade objetiva no ato de recebimento da denúncia

De se afastar, de igual forma, a preliminar de nulidade da decisão que rece-beu a denúncia, por ausência de fundamentação.

Não há falar-se em nulidade de referida decisão, datada de 18/12/2006, eisque, conforme já sedimentado na jurisprudência pátria, o ato de recebimento da denúncia,sobretudo anteriormente à vigência da Lei 11.719/08, é um despacho de mero expediente, enão uma decisão interlocutória; tanto que não desafia qualquer recurso. Assim, despicienda aanálise pormenorizada da inicial acusatória, mesmo porque, eventual enfrentamento dos fa-tos narrados poderia culminar em nulidade, em razão da possibilidade de pré-julgamento.

Neste sentido, o entendimento jurisprudencial:

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KMF.NTA: RECURSO ORDINÁRIO EM IIABEAS CORPUS. PROCESSUALPENAL. TRÁFICO DE DROGAS, ASSOCIAÇÃO PARA O TRÁFICO EPORTE ILEGAL DK ARMA DE FOGO. AI.F.GAÇÀO Dl', AUSÊNCIA DF.CITAÇÃO. QUESTÃO NÀO SUSCITADA NAS INSTANCIASANTECEDENTES. INDEVIDA SUPRESSÃO DF: INSTÂNCIA:IMPOSSIBILIDADE. ALEGAÇÁO DE INOBSERVÂNCIA DOPROCEDIMENTO PREVISTO NO ART. 38 DA LEI 10.409/02. CRIMESQUE SEGUEM PROCEDIMENTOS DISTINTOS. POSSIBILIDADE D F;UTILIZAÇÃO DO RITO ORDINÁRIO. ALEGAÇÃO DM AUSÊNCIA DEFUNDAMENTAÇÃO DA DECISÃO QUE RECEBEU A DENÚNCIA.PRESCINDIBILIDADE DE FUNDAMENTAÇÃO DESSA DECISÃO. 1. A-legaçào de que o Paciente nào foi citado pessoalmente para os termos da açào pe-nal. Argumento nào apresentado nas instâncias antecedentes, o que impede a suaanálise pelo Supremo Tribunal Federal, sob pena de indevida supressão de instân-cia. Recurso nào conhecido neste ponto. 2. Paciente que responde pela prática decrimes para os quais estào previstos ritos processuais diferentes. Possibilidade deadoçào do procedimento ordinário, previsto no Código de Processo Penal, por sero mais abrangente e capa/ de assegurar, em sua totalidade, o direito ao contraditó-rio e à ampla dcfesa,_3. A jurisprudência do Supremo Tribunal Federal c nosentido de que a decisão que recebe a denúncia prescinde de fundamenta-ção. Precedentes. 4. Recurso ordinário em habcas corpus conhecido em parte e,na parte conhecida, negado provimento.(RI IC 101889, CARMEN LÚCIA, STF)

FIABEAS CORPUS. ART. 33, 34 F'. 35 DA LEI N" 11.343/06. L I M I N A R .INDEFERIMENTO. NÀO CABIMENTO. SÚMULA 691 DO STF'.JULGAMENTO DO REMÉDIO CONSTITUCIONAL ORIGINÁRIO. A-CÓRDAO PROLATADO. FUNDAMENTAÇÃO PERTINENTE AOEXPOSTO NA INICIAL. SUPERAÇÃO DO ÓBICE. CONHECIMENTODO WRIT EM RESPEITO AO PRINCÍPIO DA CELERIDADEPROCESSUAL. 1. Segundo orientação pacificada neste Superior Tribunal, é inca-bível habcas corpus contra indeferimento de medida liminar, salvo em casos deflagrante ilegalidade ou teratologia da decisão impugnada, sob pena de indevidasupressão de instância, dada a ausência de pronunciamento definitivo pela Cortede origem (Súmula n. 691 do STF). 2. O óbice inserto na Súmula 691 do STF,contudo, resta superado se o acórdão proferido no julgamento do habcas corpusoriginário, cm que restou indeferida a liminar, objeto do mandamus ajuizado nesteSuperior Tribunal, contiver fundamentação que, cm contraposição ao exposto naimpetração, faça as vezes do ato coator. ALEGAÇÁO DE AUSÊNCIA DEFUNDAMENTAÇÃO DA DECISÃO QUE RECEBEU A DENÚNCIA.DESPACHO ORDINATÓRIO. DEFESA PRELIMINAR. SENTENÇACONDENATÓRIA SUPERVENIENTE. INSTRUMENTALIDADE DASFORMAS. AUSÊNCIA DF: PREJUÍZO. CONSTRANGIMENTO ILEGALNÃO EVIDENCIADO. 3. De acordo com entendimento já consolidadonesta Corte Superior de Justiça, em regra, a decisão que recebe a denúnciaprescinde de fundamentação complexa, justamente em razão da sua natu-reza intcrlocutófia^Precedentes, 4. Contudo, há casos em que se poderia talarem necessidade de recebimento fundamentado da peça vestibular, como por e-xctnplo, nos crimes cujo rito estabeleça a apresentação de defesa preliminar, vistoque não faria sentido o acusado expor os motivos para elidir o recebimento dadenúncia e o )uízo nào rebater os argumentos trazidos, aduzindo as razões que olevaram a reali/ar um juízo de admissibilidade positivo. 5. Não obstante na hipõ-

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•SPODER JUDICIÁRIO DA UNIÃOJUSTIÇA FEDERAL DE 1a. INSTÂNCIASEÇÃO JUDICIÁRIA DE MINAS GERAIS - 4a. VARA FEDERALAÇÃO PENAL N° 2006.38.00.039.573-6

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tese vertente o rito previsto na Lei n° 11.343/06 preveja em seu art. 55 a apresen-tação de defesa prévia - logo, haveria a exigência de que o recebimento da exordialacusatória fosse fundamentado -, a notícia de que a açào penal em tela já foi sen-tenciada pelo magistrado singular afasta a alegada nulidade, uma vc'/, que as ques-tões aventadas em sede de defesa preliminar já foram amplamente debatidas du-rante toda a pcrsccutio criminis e devidamente analisadas quando da prolaçào doédito repressivo. 6. E cediço que no terreno das nulidades no âmbito no processopenal vige o sistema da instrumentalidade das formas, no qual se protege o atopraticado em desacordo com o modelo legal caso tenha atingido a sua finalidade,cuja invalidação c condicionada à demonstração do prejuízo causado à parte, fi-cando a cargo do magistrado o exercício do juízo de conveniência acerca da reti-rada da sua eficácia, de acordo com as peculiaridades verificadas no caso concreto.7. Ordem denegada.(HG 200800618014, JORGK MUSSI, STJ QUINTA Tl/RMA, DJEDATA:31/05/2010.)

PENAL E PROCESSUAL PENAL. INÉPCIA DA DENÚNCIA. VIOLAÇÃODA AMPLA DEEESA. INOCORRÊNCIA. RECEBIMENTO DA DENÚN-CIA. AUSÊNCIA DE FUNDAMENTAÇÃO. NULIDADE. NÀO VERIFI-CAÇAO. PRA/0 COMUM PARA DEFESA. CERCEAMENTO. NÃOCONSTATAÇÃO. FALSIDADE IDEOLÓGICA. EXAME GRAFOTÉCNI-CO. DESNECESSIDADE. SUSPENSÃO DA PRETENSÃO PUNITIVAPELO PARCELAMENTO DO DÉBITO TRIBUTÁRIO. NÀOCUMPRIMENTO DOS REQUISITOS. FALSIDADE IDEOLÓGICA. IN-SKKÇÀO DE "LARANJAS" EM CONTRATOS SOCIAIS DE EMPRESAS.CONTINUIDADE DELIT1VA. PRINCÍPIO DA CONSUNCAo. DESAPLI-CAÇAO. CRIMES SOCIETÁRIOS EM CONCURSO DE AGENTES. LEI8.137/90 E ARTIGOS 168-A E 337-A DO CP. INÉPCIA. FALTA DE CONS-TITUIÇÀO DEFINITIVA E PRESCRIÇÃO. QUADRILHA. BIS IN IDEM.NÀO CONFIGURAÇÃO. APROPRIAÇÃO INDÉBITA PREVIDENCIÁRIA.CRIME FORMAL. PERÍCIA CONTÁBIL. PRESCINDIBILIDADE.ELEMENTO SUBJETIVO ESPECÍFICO. INEXISTÊNCIA. 1. Se presente aimputação dos fatos delituosos, bem como a descrição das condutas com mençãoa documentos dos autos, nào há que se falar em inépcia da inicial nem, conse-quentemente, de prejuízo ao exercício do direito à ampla defesa. 2. Havendo aanálise, Blinda que sucinta, dos requisitos do artigo 41_do CmÍi<;o de Pro-cesso Penal, não há que se falar em ausência de fundamentação da decisãoque recebeu a denúncia.(...)(ACR 200372070061400, VICTOR LUIZ DOS SANTOS LAUS, TRF4 -OITAVA TURMA, D.E. 01/12/2010.)

Pelas mesmas razões, rejeito a preliminar de ausência de "imparcialidade ohje-ttva na decisão que recebeu a denúncia",

Lado outro, contra a decisão que recebeu a denúncia, a defesa nào interpôsrecurso, ante a ausência de previsão legal. Nào havendo recurso próprio contra tal decisão,consoante doutrina, e jurisprudência pátrias, tal exceçào deve ser arguida co-mo preliminar, em razoes de apelação, ou por meio de habeas cofpn.\\o sendo caso de ree-xame da questão na sentença.

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D) Da ocorrência do arquivamento implícito ou tácito - violação aoprincípio da indivisibilidade da ação penal

Segundo a defesa, a inicial acusatória teria violado o princípio da indivisibi-lidade da açào penal, eis que o MPF não ofereceu denúncia contra os signatários dos contra-tos de empréstimos conferidos ao PT e às empresas do grupo Marcos Valcrio - JOSK 1ÍUS-TÁQUIO CARVALHO LOPES, JANAÍNA K1KFKR CARDOSO, ISNÁJORGE ALVKSDK CASTRO. O arquivamento implícito teria ocorrido também em relação ao cx-Ministroda Casa Civil, José Dirccu, eis que, segundo a defesa, a inicial acusatória a ele faz menção,quando narra as supostas vantagens auferidas pelo BMCí na carteira de empréstimo consig-nado.

Tenho que não ocorrido o alegado arquivamento implícito, cm nenhumadas situações evidenciadas pela defesa.

Com efeito, o fato de algumas pessoas constarem como signatárias dos mal-fadados contratos não implica, necessariamente, que tenham as mesmas incorrido nos deli-tos capitulados, o que é aferido considerando o domínio dos fatos tidos como ilegais. Assim,é compreensível que meros representantes legais dos gestores do Banco não sejam incluídosna denúncia, tendo em vista a ausência de autonomia na tomada de decisões e tendo em vis-ta que a aprovação do crédito, mas que a assinatura do termo de contrato, é que aqui se re-puta fraudulenta.

No que concerne ao arquivamento em relação ao ex-Ministro da Casa Civil,fosse a corrupção, ativa ou passiva, objcto da presente açào penal, em tese, sua inclusão t a r -se-ia necessária. Contudo, as relações entre os dirigentes do BMG com aquele cx-Ministro,no quadro fático narrado pelo MPF, são apontadas apenas como elementos indiciários docrime de gestão fraudulenta.

Km verdade, o princípio da indivisibilidade da ação penal tem como norteas ações penais privadas, em razão do comando contido no art. 48 do Código de ProcessoPenal:

".-I tfffej\a contra qualquer tios nu/ores do crime obrigará ao processo de todos, e o Mi-nistério Público velará pela sua indivisibilidade".

Nas açòes penais públicas, como a presente, aplica-sc o princípio da dispo-nibilidade. Logo, ao órgão acusatório é conferida a faculdade de oferecer a denúncia em relacão apenas a alguns fatos e investigados, sem prejuí/o das investigações em relação aos de-mais.

Sob este aspecto, veja-se o entendimento jurisprudencial:

Recurso Kspccial. Direito Processual Penal. Ação penal pública. Princípio da indi-visibilidade. Inobservância. Nulidade do processo. Inocorrcncia. A indivisibilidadeda açào penal pública decorre do princípio da obrigatoriedade, segundo o qual oMinistério Público não pode renunciar ao "jus puniendi", cuja titularidade é exclu-

siva. O princípio da indivisibilidade da ação, quanto à da validade do processo, é

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inaplicável à açào penal pública, no sentido de que o oferecimento da denúnciacontra um acusado ou mais não impossibilita a posterior acusação de outros. Oprincípio da indivisibilidade da açào penal, em sede de validade do processo, apli-ca-se tào-somentc à ação penal privada ((-PP, art. 48). Não há nulidade no ofere-cimento da denúncia contra determinados agentes do crime, desmembrando-se oprocesso em relação a suposto co-autor, a fim de se coligir elementos probatórioshábeis à sua denunciaçào. Recurso especial provido. (RKSP 200101732999,PAULO MHDINA - SEXTA TURMA, DJ D ATA: 15/09/2003 P(; :004tl.)

In casit, o que se nota é que eventual prática de corrupção ativa pelos diri-

gentes do BMG foi deixada para uma segunda etapa das investigações, conforme se extrai da

denúncia ofertada na Ação Penal n° 470:

"Ox daàos coligidos pela CPA4I "dos Correios" e no presente inquérito, inclusive com base emdeclarações espontâneas do próprio Marcos l^alério, demonstram que, no mínimo, R$55 mi-lhões, repassados pelos Ranços Rara/ e BMG, foram entregues à administração do grupo deMarcos Valério, sob o fundamento de psendos empréstimos ao publicitário, empresas e sócios, eforam efelivametite utilizados nessa engrenagem de pagamento de d/ridas de partido, compra deapoio político e enriquecimento de agentes públicos. Também joram repassados diré t ame tile pelosRamos Rara/ e RMG vultosas quantias ao Partido dos Trabalhadores, comandado formal ematerialmente pelo núcleo central da quadrilha, sob o falso manto de empréstimos bancários.Desse modo, o núcleo do Banco Rjtral, em troca de ranlagens indevidas, ingressou na engrenagemcriminosa com o aporte de recursos milionários, mediante empréstimos simulados, além de montaruma sofisticada estrutura de lavagem de capitais para o repasse dos ralares pagos aos destinatá-rios finais. Buscando o recebimento de ganhos indevidos do C.ownio I7ederal, o que de fato ocor-re//, os dirigentes do Banco BMG também injetaram recursos milionários na empreitada delituo-sa, mediante empréstimos simulados. Entretanto, em face das provas até a ocasiãoproduzidas, não há elementos paea apontar uma situação estável e perma-nente com os demais membros da organização criminosa, razão pela qualnão estão sendo denunciados pelo crime de quadrilha, vez que a atuaçãodesse grupo no esquema será aprofundada na segunda etapa das investiga-ções criminais."

Com estas considerações, afasto a preliminar.

Todavia, considerando que não há nos autos notícia sobre as investigaçõesulteriores, tanto em relação à alegada prática do crime de corrupção ativa - em razão dos

benefícios auferidos pelo BMCi -, quanto em relação à prática de lavagem de dinheiro, tam-

bém sugerida na narração da denúncia e nos laudos que a acompanham1, mister que seja o

Ministério Público Federal oficiado para esclarecer sobre a continuidade das investigações.

"a garantia dessa operarão de mútuo foi um CDU da empresa /W/í Propaganda l.ida., de igual valor, contratadojunto ao BMG. em 22 04 0-4- Em análise cia conta corrente 602000. agência 3608. do Banco do Brasil, de tititlari-dade da P\.í Propaganda, verificou-se que o valor dessa aplicação em CDB. de RS 10.000 000,00, transferido parao BMG. em 22 0404. originou-se de depósito de RS 3.000.000.00. feito em 15 03 04. pela Visanet. K3. Diante oexyosto^conclui-w <///<• <> ( fílt, de 22/04/04, de titiiltiridatle dti I)\ rroj)ai>tnnlfi fui contraindo junto ao BMGcom recursos originários tlu Visanet. transferidos por conta e ordem do lianco do Hrasil. conforme evidenciado noLaudo 2828 Ofi-INC. E ainda, as análises das contas correntes da DNA Propaganda mostram que não houve retor-no desse valor à conta 602000. ou outra ora analisada" do Laudo n" 1450/2007. (1.2453)

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E) Da nulidade por ausência do interrogatório dos acusados/ Do i-noportuno interrogatório dos acusados

Sustenta a defesa a ocorrência de nulidade processual, eis que o interrogató-rio dos acusados foi realizado no início da instrução processual, sob o comando da Lei8.038/90, em que pese a vigência, na ocasião, da Lei 11.719/08, que deslocou o interrogató-rio dos acusados para a última fase da instrução processual.

Primeiramente, necessário ressaltar que todos os acusados foram interroga-dos em Juízo.

Recapitulando os atos processuais, vislumbro que o acusado JOSÉ G K N U -ÍNO NETO foi interrogado conforme termos de fls.1.434/1.437. Os acusados RICARDOANNKS GUIMARÃES às fls. 1.615/1.619, MÁRCIO ALAOR DK ARAÚJO às fls.1.620/1.624, FLÁVIO PENTAGNA GUIMARÃES às fls. 1.625/1.627, MARCOS VALE-RIO FKRNANDKS DE SOU/A às fls. 1.630/.1634 e RENILDA MARIA SANTIAGOFERNANDES DE SOUZA às fls. 1.628/1.629 foram regularmente interrogados, nos ter-mos da assentada 1.613/1.614. Os acusados RAMON HOLLKRBACH CARDOSO às fls.1.640/1.642, CRISTIANO DK MELLO PA/ às fls. 1.637/1.639, ROGÉRIO L AN/A

TOLENTINO às fls. 1.643/1644, JOÃO BATISTA DK ABREU às fls. 1.645/1.648 foramdevidamente interrogados conforme assentada de fls. 1.635/1636. O acusado DELUBIOSOARES DE CASTRO foi regularmente interrogado conforme termo de fls. 1.899/1.905(volume 11).

Na sequência, em 09 de março de 2009, conforme decisão constante às fls.1.950/1.955, o Eminente Ministro Relator declarou nulos os interrogatórios de RICARDOANNKS GUIMARÃES, MÁRCIO ALAOR DK ARAÚJO, KLÁVIO PENTAGNA GUI-MARÃES, MARCOS VALÉRIO FERNANDES DE SOUZA, CRISTIANO DE MELLOPAZ, RAMON HOLLERBACH CARDOSO, )OÀO BATISTA DE ABRKU, ROGÉRIOLANZA TOLENTINO, DELUBIO SOARES DE CASTRO e JOSÉ GENUÍNO NETO,sendo ratificado o interrogatório da acusada RKNILDA MARIA SANTIAGOFERNANDES DE SOUZA. A decisão foi fundamentada no fato de que aos advogados doscorréus nào foi oportunizada a palavra para rcpcrguntas.

Em razão desta decisão, à exccçào do interrogatório de RENILDA MARIASANTIAGO FERNANDES DE SOUZA, todos os acusados foram reintcrrogados: o acu-sado DKLÚBIO SOARES DK CASTRO às fls. 2.024/2.030 (volume 11), o acusadoR \ M O N HOLLKRBACH CARDOSO às fls. 2.079/2.082, o acusado CRISTIANO DKMELLO PAZ às fls. 2.083/2.086, o acusado MARCOS VALKRIO FERNANDES DKSOU/A às fls. 2.087/2.093, o acusado ROGÉRIO LANZA TOLENTINO às fls.2.084/2.087, o acusado MÁRCIO ALAOR DK ARAÚJO às fls. 2.178/2.179, o acusadoRIC \RDO ANNKS GUIMARÃES às fls. 2.180/2.181, o acusado BATISTA DE ABREUàs fls. 2.182/2.183, o acusado FLÁVIO PENTAGNA GUIMARÃES às fls. 2.184/2.185, oacusadoJOSÉ GENUÍNO NETO às fls. 2.400/2.401 (volume 13).

No que concerne à alegação de nulidade em raxão da inobservância do ritoprevisto na Lei 11.719/08, tenho que nào há como prevalecer o entendimento da defesa.

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K que o rito previsto na Lei 8.038/90, por ser especial, deve prevalecer cmdetrimento do Código de Processo Penal Brasileiro, o que, inclusive, é previsto no art. 2° daLei 8.038/90:

Art. 2° - O relator, escolhido na forma regimental, será o juiz da instrução, quese realizará segundo o disposto neste capítulo, no Código de Processo Pe-nal, no que for aplicável, e no Regimento Interno do Tribunal.

Assim, em que pese a Lei 11.719/08 ser mais recente, não se pode a elaconferir aplicabilidade derrogatória das demais leis que regem o processo penal, mesmo por-que, como ensina Bobbio2, o critério da especialidade deve prevalecer em face do critériocronológico.

É este, inclusive, o entendimento do Supremo Tribunal Federal com rela-ção à aplicabilidade da Lei 8.038/90, que regula o procedimento dos processos de sua com-petência:

MMMNTA: QUESTÃO DM ORDEM. AÇÂO PMNAL ORIGINÁRIA. Lia11.719/2008. PEDIDO DM NOVO INTERROGATÓRIO. ESPMC1ALIDADMDA LEI 8.038/1990, CUJOS DISPOSITIVOS NÃO I-ORAM ALTERADOS.INDMFF.RIMMNTO. A Lei 8.038/1990 ò especial em relação ao Código de Pro-cesso Penal, alterado pela Lei 11.719/2008. Por conseguinte, as disposições doCPP aplicam-se aos feitos sujeitos ao procedimento previsto na Lei 8.038/1990apenas subsidiariamente, somente "no que for aplicável" ou "no que couber. Daípor que a modificação legislativa referida pelos acusados cm nada altera o proce-dimento até então observado, uma vez que a fase processual em que deve ocorrero interrogatório continua expressamente prescrita no art. 7° Lei H.1)38/1990, oqual prevê tal ato processual como a próxima etapa depois do recebimento da de-núncia (ou queixa). Questão de ordem resolvida no sentido do indeferimento dapetição de fls. 40.151-40.161. (AP-QO8 470, JOAQUIM BARBOSA, STK)

A questão foi sobejamente enfrentada quando do início da vigência da Lei11.719/08, no que concerne à possibilidade de derrogação tácita das disposições processuaispenais previstas na Lei 11.343/06. Tanto a doutrina quanto a jurisprudência assentaram apremissa de que a lei especial deve prevalecer cm detrimento do rito ordinário previsto noCPP:

PMNAL. APMLAÇÃO CRIMINAL. TRÁFICO TRANSNACIONAL DMDROGAS: ART. 33, CAPUT, C/C ART. 40, I DA LMI 11.343/06: INTERRO-GATÓRIO DO RÉU COMO PRIMEIRO ATO DA INSTRUÇÃO:NULIDADE INEXISTENTE: PRINCÍPIO DA ESPECIALIDADE: LEI11.343/06: RITO ESPECIAL APLICAÇÃO DOS ARTS. 48 E 57. PRMJUÍ/ONÃO COMPROVADO. PRELIMINAR REJEITADA. MATMRIALIDADM MAUTORIA COMPROVADAS. CONDMNAÇÃO MANTIDA. DOSIMETRIADA PENA : NATUREZA E QUANTIDADE DA DROGA: FUNÇÃODETERMINANTE NA FIXAÇÃO DA REPRIMENDA NO CRIME DETRÁFICO : ART. 42 DA LEI 11.343/06: PMNA -BASM MAJORADA. CON-FISSÃO: FUNDAMENTO DA CONDMNAÇÃO: APLICAÇÃO OBRIGA-

- BOBBIO. Norberto. Teoria do ordenamento jurídico. 7. ed. Tradução Maria. Celeste Cordeiro l.eite dos Santos.Brasília: 1'Nli. 1996.

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TÓRIA.: PENA REDUZIDA. CARÁTER TRANSNACIONAL DO TRÁFICOCONFIGURADO: MANUTENÇÃO DA CAUSA DE AUMENTO DO INC. IDO ART. 40 DA LEI DE DROGAS: CRIME DE AÇAO MÚLTIPLA: CON-SUMAÇÃO: INEXIGÊNCIA DE RESULTADO NATURALÍSTICO:MODALIDADE TENTADA INEXISTENTE. CAUSA DE REDUÇÃO DEPENA PREVISTA NO § 4° DO ART. 33 DA LEI 11.343/06:TNAPLICABILIDADE AOS "MULAS" DO TRAI-ICO : PROVAS DE INTE-GRAÇÃO EM ORGANIZAÇÃO CRIMINOSA: EXCLUSÃO, l . Não se háde falar em nulidade do feito pelo fato de o interrogatório do acusado nãoter sido realizado ao final da instrução. A Lei 11.343/06 prevê um rito espe-cial em relação ao CPP, dispondo, no art. 48. que o procedimento relativoaos processos por crimes de tráfico rege-se pelo disposto nessa lei, aplí-cando-sc as disposições do CPP apenas subsidiariamente. E o art. 57 damesma lei estabelece que, na audiência de instrução e julgamento, serãoouvidos o réu e, após, as testcmunhas. Por outro lado, ainda que houvesse,a nulidade seria relativa, dependendo da comprovação de prejuízo, inexis-tente no caso. Preliminar rejeitada. (...). (ACR 00127031020094036LS1,DESEMBARGADOR FEDERAL LLT/ STEFANINI, TRF3 QUINTATURMA, e-DJF3 Judicial l DATA:14/03/2012 ..FONTE_REPUBLICACAO:.)

PENAL. APELAÇÃO. TRÁFICO INTERNACIONAL DF.ENTORPECENTES. MATERIALIDADE E AUTORIA CONFIGURADAS.INEXISTÊNCIA DE ESTADO DE NECESSIDADE. DOSIMETRIA DAPENA. CAUSA DE DIMINUIÇÃO DE PENA DO ART. 33, §4°, DA LEI11.343/06. INCIDÊNCIA. PENA DE MULTA MANTIDA. SUBSTITUIÇÃODE PENA. DESCABIMENTO NO CASO CONCRETO. REGIME INICIALFECHADO DE CUMPRIMENTO DE PENA. IMPOSIÇÃO LEGAL.DESPROVIMENTO. 1. No que tange à arguição de nulidade do feito desdea audiência de instrução e julgamento em virtude da realização do interro-gatório antes da oitiva das testemunhas, a despeito da regra insculpida noart. 400 do CPP com a reforma deste diploma legal ser mais benéfica aoréu, face ao princípio da especialidade, aplica-se aos crimes de tráfico o ritoda instrução estabelecido nos arts. 54 a 59, da Lei 11.343/06. Preliminar re-jeitada. (...) (ACR 00021822720114036119, DESEMBARGADOR FEDERALCOTRIM GUIMARÃES, TRF3 - SEGUNDA TURMA, e-DJF3 Judicial lDATA:08/03/2012..FONTK_REPUBLICACAO:.)

PENAL. APELAÇÃO. TRÁFICO INTERNACIONAL DEENTORPECENTES. PRELIMINARES REJEITADAS. INVERSÃO DAORDEM DE OITIVAS. AUSÊNCIA DE TRADUTOR JURAMENTADO.MATERIALIDADE E AUTORIA CONFIGURADAS. CAUSA DE DIMINU-IÇÃO DE PENA DO ART. 33, §4°, DA LEI 11.343/06. ART. 2°, §1°, DA LEI8.072/90. APLICABILIDADE. CRIME HEDIONDO. DKSPROVIMENTO. LÉ cediço que a reforma do Código de Processo Penal efetuou o desloca-mento do interrogatório ._do início da audiência de instrução para o seutérmino, nos termos da atual rcdação do art. 400. 2. Todavia, a despeitodesta regra ser mais benéfica ao réu, face ao princípio da especialidade, a-plica-sc aos crimes de tráfico o rito da instrução estabelecido nos arts. 54 a59. da Lei 11.343/06. (...) (ACR 00017172120104036000, DESEMBARGADORFEDERAL COTRTM GUIMARÃES, TRF3 - SEGUNDA TURMA, e-DJF3 Ju-dicial l DATA:3()/06/2011 PÁGINA: 268 ..FONTH_REPUBLICACAO:.)

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PROCESSUAL PENAL E PENAL. APELAÇÃO CRIMINAI, TRAFICOINTERNACIONAL DE ENTORPECENTES. NULIDADE EM RA/AO DOOFERECIMENTO DE DUAS DENÚNCIAS, AFASTADA. NULIDADE EMRAZÀO DO INTERROGATÓRIO TER SIDO REALIZADO ANTES DAOITIVA DAS TESTEMUNl IAS. INEXISTENTE. AUTORIA,MATERIALIDADE E DOLO COMPROVADOS. DE ERRO DE TIPO.NÀO DEMONSTRADO. DOSIMETRIA DA PENA MANTIDA. RECURSODESPROVIDO. I - Nào há que se falar cm nulidade do processo, em razão daexistência de duas denúncias. O Ministério Público do Estado de São Paulo, emrazào de a acusada se encontrar presa, apresentou denúncia, mesmo ciente de quea atribuição era do Ministério Público Federal, fazendo, constar, inclusive, que setratava de tráfico transnacional de drogas. E, ainda, na mesma manifestação, re-quereu que os autos fossem remetidos à justiça Federal. Remetidos os autos, oMinistério Público Federal apresentou denúncia própria, não gerando qualquerprejuízo para a defesa, que exerceu regularmente o direito de defesa. II - Não háque se falar cm nulidade, cm razão do interrogatório do acusado não ter si-do realizado depois da oitiva das testemunhas, pois a Lei n.° 11.343/06 pre-vê rito especial cm relação ao Código de Processo Penal, devendo prevale-cer. dessa forma, o principio da especialidade, uma vex que o próprio Có-digo excepciona o regime de lei especial. Além disso, não houve qualquerdemonstração de prejuízo pela defesa. (...) (ACR 00090820520094036181,DESEMBARGADOR FEDERAL JOSÉ LUNARDKLI.I, TRF3 - PRIMEIRATURMA, e-DJF3 Judicial l DATA:23/05/2011 PÁGINA: 89..FONTE_REPUBLICACAO:.)

Outros sim, a defesa não demonstrou a existência de qualquer prejuízo efe-tivo com a realização do interrogatório dos acusados na fase inicial do processo, o que afastaa existência de nulidade no caso em tela, eís que no sistema pátrio, somente se acolhe a nuli-dade de uma ato processual quando houver cfctiva demonstração de prejuízo pela parte (art.563 do CPP), o que não se observou no caso telado.

F) Da nulidade por cerceamento de defesa: impossibilidade de parti-cipação em audiência devido ao registro sigiloso da carta de ordem

A defesa do acusado DELÚBIO SOARES insiste na preliminar de nulidadeprocessual, sustentando o cerceamento de defesa pela impossibilidade de os acusados acom-panharem o trâmite processual das cartas de ordem expedidas para o interrogatório dos acu-sados c oitiva s das testemunhas de defesa.

Cumpre ressaltar que a preliminar já foi anteriormente enfrentada pelo E-minente Relator Joaquim Barbosa, em decisão de fls. 3531/3533, que assim restou consigna-da:

Relativamente ao pedido formulado pela defesa do réu DELÚBIO SOAR11S aã audi-ência realizada no Distrito Federal, para que "as oitívas realizadas cm Belo Horizontesejam refeitas, concedendo a oportunidade para que a defesa delas partíci-pe" (f/s. 3169, !,•(>/. 16), indefiro, pois são insuficientes as raspes alegadas pela defesa, nosentido de que ''somente tomou conhecimento do registro da Carta de Ordem em Be/o / lorí^ontepor meio de andamento lançado no endereço elf irónico do Supremo Tribunal Federal informando aredesignação da audiência na Carta de Ordem para lã enviada" e que, "Para surpresa da defesa(...), àquela altura já haviam sido ouvidas algumas testemunhas, sem que a defesa pudesse partiri-

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JUSTIÇAFEDERALFLS.

par das audiências, pois a Carta de Ordem estava registrada sob sigi/o, de modo que não constavados registros do slte da justiça 1'ederal em Minas Gerais nem, tampouco, do distribuidor daquelaSeçào judiciária ".

Bm primeiro lugar, a alegação de que a carta de ordem não constou dos registros do dis-tribuidor da Seção Judiciária de Minas Gerais é facilmente explicável: o juí^o delegatáríocompetente para a diligência já estava definido desde o ano passado, quando dele-guei a realização dos interrogatórios dos réus. Na ocasião, a carta de ordem foi dis-tribuída ao Juízo da 4a Vara Federal de Belo Horizonte, que, por mandamento deceleridade processual, ficou prerenlo para a realização da oitira de testemunhas.

O próprio despacho de delegação deixou essa circunstância bem clara,nos seguintes termos:

''delego a realização das audiências aos juizes federais que já réu//>,-(-ram os interrogatórios por delegação nestes autos"

Assim, o sigilo registrado na carta de ordem, depois de distribuída ao juí-^o de lega-tário, não prejudicou em nada o conhecimento, pela defesa, de que as audi-ências seriam realizadas na 4a Vara Federal. Aliás, constou não só do meu despachocomo também do próprio andamento processual, acessível no site do SupremoTribunal Federal, em que foi registrado todo o trâmite das cartas de ordem expe-didas para oitiva das testemunhas de defesa, inclusive o recebimento dos ofícios dosju-/~ftr, cf iie informaram ao meu gabinete as datas das audiências.

Com efeito, colhe-se do andamento processual que a expedição das cartas de ordem foipublicada no dia 27 de outubro de 2009 c que </ diria th1 ordem para oitiva das testemu-nhas em Minas Gerais foi enviada no dia 5 de novembro ,' endereçada diretamcn-tc ao juízo da 4a Vara Federal de Belo Horizonte. I i/s o dado retirado da página doSupremo Tríhnnal Federal:

"05/11/2009 - Expedida carta de ordem, Ofício n"11926/R, ao Juiz Federal da 4" Vara Federal de Belo Hori-zonte - Seção Judiciária de Minas Gerais."

Assim, não houve surpresa alguma para a defesa.Noto, ainda, que a audiência para oitiva da testemunha arrolada pelo peticionário só o-

correii no dia 20 de novembro, ou seja, quase um mês depois de publicada a expe-dição da carta cle^ordem e quinze dias depois do_seu envio ao juízo deíegatá-rio informado na própria carta e registrado no andamento processual desta ação penal.

O pra^o em questão (quase trinta dias depois da publicação) e a informação, sobejamentedisponível, acerca do jui^o delegatárío competente para as oitivas - constante do despacho de delega-ção da diligência, da carta de ordem expedida e do andamento processual no sile deste SupremoTribuna! Federai -, são dados mais do que suficientes para que a defesa do réu entrasse emcontato com a 4a Vara Federal c se informasse sobre as datas designadas pa-ra as oitivas.

Portanto, o ré» DELÚBIO SOARLiS poderia ler jacilmente acompanhado as datasdesignadas para as audiências realizadas em Re/o biori-^onlf, como, aliás, fizeram as dejesas dosréus RICARDO ANNES GUIMAK^ÍES, JOÃO IVL4T1STA ABREU, A1-ÍRC7OALAOR Dll ARAÚJO e FLAl/IO PENTAGNA GUIMARÃES.

É da jurisprudência do Supremo Tribunal Federal que, uma vez publicada a ex-pedição das cartas de ordem, é dever da defesa acompanhar a diligência,sem necessidade de intimação. . '\ssim, cabia à defesa diligenciar junto ao ]uí~o De/ega-lário para se informar sobre as datas das oitivas,

Por se cuidar de ónus da defesa, e ausente a alegada surpresa, indefiro o pedidode refazimento das referidas oitivas. "

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Neste cenário, tenho que a questão já teve o adequado enfrentamento judi-cial, não cabendo o seu reexame nesta ocasião.

Lado outro, contra esta decisão, a defesa não interpôs recurso, ante a au-sência de previsão legal. Não havendo recurso próprio contra ral decisão, consoante doutrina

e jurisprudência pátrias, tal exceção deve ser arguida como preliminar, em razões de apela-ção, ou por meio de habeat corpus, não sendo caso de reexame da questão na sentença.

G) Da litispendência entre esta ação penal e a ação penal n° 470 doSTF

As defesas dos acusados MARCOS VALKRIO, RENILDA MARIA eRAMON HOLLERBACH sustentam a ocorrência de litispendência entre esta ação penalcom a ação penal n. 470, em trâmite no STF, em razão da coincidência dos fatos cm ambasas açòcs criminais.

De igual forma, rejeito a preliminar.

De início, necessário frisar que a conduta tida aqui como criminosa, refere-se à suposta fraude perpetrada na concessão de empréstimos ao PT e às empresas ligadas aMARCOS VALKRIO, pelo Banco BMG, consubstanciada na simulação do repasse de valo-res aos tomadores.

Embora na narrativa da inicial acusatória da açào penal n. 470 constem re-ferências à participação dos ora acusados nas supostas fraudes perpetradas nos malfadadoscontratos, vislumbro que naquela ação penal, os ora réus não são acusados diretamente dereferidas fraudes. Os contratos firmados com o BMG compõem um contexto fático indiciá-rio dos crimes os quais se pretende a condenação naquela açào penal, mas não são objetosda açào penal em trâmite no STF.

E o que se depreende a partir da própria tipificação legal conferida peloMPF na inicial acusatória, constante naqueles autos1:

• Marcos Valério Fernandes de Souza: Formação de quadrilha -Corrupção ativa (H x) - Peculato (6x) - Lavagem de dinheiro (65x) -E,vasão de divisas (53x),

• Delúbio Soares Castro: Formação de quadrilha- Corrupção ativaW,

• José Genoíno Neto: - Formação de quadrilha- Corrupção ativa(9x),

• Ramon Hollerbach Cardoso: - Formação de quadrilha- Corrupçãoativa (llx)- Peculato (6x)- Lavagem de dinheiro (65x)- Evasão de di-visas (53x),

• Cristiano de Mello Paz: - Formação de quadrilha - Corrupção ativa(llx) - Peculato (6x)- Lavagem de dinheiro (65x) - Evasão de divisas(53x),

1 Ação Penal n° 470-STF-Julgamento transmitido ao vivo pclíi'1'V Justiça.

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• Rogério Lanza Tolentino: - Formação de quadrilha - Corrupçãoariva (l l x) - Lavagem de dinheiro (65x),

Ademais, a acusação de gestão fraudulenta, com a qual se poderia vislum-brar eventual litispendcncia com os fatos aqui apurados, foi formulada, na açào penal ti. 470,somente cm relação aos dirigentes do Ranço Rural, não tendo sido estendida aos ora réus.

Com estas considerações, rejeito a preliminar.

H) Da nulidade pela falta de correlação entre o pedido de condena-ção formulado na denúncia e nas alegações finais

A defesa dos acusados RENILDA MARIA e MARCOS YALFRIO apontaainda a falta de correlação entre o pedido de condenação contido nas alegações finais e aque-le contido na denúncia.

Sustenta que embora o destino final dos recursos adquiridos por meio doscontratos de empréstimos não tenha sido narrado na denúncia pelo MPF, para sustentar aacusação de falsidade ideológica, em alegações tmais, o MPF, contraditoriamente, vincula afalsidade dos contratos ao destino final dos valores, inovando a acusação e obstaculixando adefesa dos acusados.

Contudo, não vislumbro que tenha havido inovação dos fatos em sede dealegações finais cis que o destino final dos valores, tanto na inicial acusatória quanto em sedede alegações finais, é traxido apenas como indício dos crimes os quais se pretende a conde-nação, não havendo imputação específica quanto a eles (o que é objeto de julgamento naação penal n. 470/STF).

Lado outro, tenho que o destino dado aos recursos adquiridos por meiodos empréstimos é indiferente à consumação do crime de falsidade ideológica posto nos au-tos, que consiste na confecção de um contrato de empréstimo para simular o repasse de va-lores aos tomaclores. É o que se depreende a partir da inicial acusatória: "Ademais, cada simula-ção considerada individualmente ensejou na prática, concurso formal, do crime de falsidade ideológica, peiainserção, nos contratos de empréstimos, de declaração falsa ou diversa da cj/te devida ser escrita, com o fim dealterar a verdade sobre fato juridicamente relevante" (fl.128).

Com estas considerações, rejeito também esta preliminar.

I) Pa Inconstitucionalidadc do artigo 4" da Lei n" 7.492/86

A defesa dos dirigentes do Banco RM(> requereu a declaração de inconstitucionalidade do art. 4 da Lei 7.492/86. Hm que pese tal alegação corresponder ao mérito da pre-sente ação, por razões didáticas, tenho por bem proceder a seu enfrentamcnto )á na análise daspreliminares.

Com efeito, a alegação de inconstitucionalidade do artigo 4" da Lei n"7.492/86, ao argumento de que afronta o princípio da reserva legal, na medida em que nãodescreve qual conduta configura gestão fraudulenta ou temerária, não merece prosperar.

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•"íisits

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Dispòc aludido dispositivo legal:

Art. 4°. Gerir fraudulentamente instituição financeira:

Pena: Reclusão de 3 (três) a 12 (doxc) anos, e multa.

É certo que o artigo 4° da Lei n° 7.492/86 prevê um tipo penal aberto, su-jeito à complemcntacão exegética e valorativa do aplicador da lei. Tal situação, contudo, nãoconstitui afronta ao princípio da reserva legal.

Ademais, considerar tal ripo penal como inconstitucional seria taxar de in-constitucionalidade quaisquer tipos abertos ou compostos de elemenros normativos.

Ma ia:Sobre o crime de gestão fraudulenta ou temerária, anota Rodolfo Tigre

"De qualquer modo, não se constata violação (k principio da reserva legal no dispositivo, . - l n-

ma, porque sua objetívidade jurídica, consubstanciada na garantia da idoneidade económico-

financeira da instituição, em particular, e do próprio SI 'N, em gerai bem como indiretamente o

interesse público na preservação da poupança dos particulares, é compatível com o cânone consti-

tucional. A duas. parque ao lado de outros elementos culturais utilizados pelo legislador penal....

é perfeitamente passível de delimitação conceituai concreta, ainda que de valoraçào mais permeávelao contexto histórico em que se dá sua leitura e reconhecimento.'

Nesse sentido ainda é a jurisprudência, conforme apontam os julgados a-baixo selecionados:

"PROCESSUAL PENAL. HABEAS CORPUS. PEDIDO Dl-,TRANCAMKNTO DE AÇAO PENAL. ALEGAÇÃO DE AUSÊNCIA DEJUSTA CAUSA. INCONSTITUCIONALIDADE DO ART. 4" DA LEI7.492/86. QUEBRA DE SIGILO BANCÁRIO. DILAÇÃO PROBATÓRIA.IMPOSSIBILIDADE. PRESCRIÇÃO DA PRETENSÃO PUNITIVA. PENAHIPOTÉTICA(.-)-2. Nada há de inconstitucional na definição do tipo do artigo 4" da Lei

7.492/96. A aventada ofensa ao princípio da legalidade - que por sua vezrealiza-se através da obrigação de descrcver-se os tipos penais com condu-ta e elemento subjetivo do injusto de forma clara - não ocorre pela só razãode que a gestão temerária e a gestão fraudulenta são expressões compo-nentes de um tipo penal aberto que permite ao intérprete agregar valoressem ruptura com o princípio da tipicidade."(TRE 1a Região - 11C 200601000291412 - Relator Dês. I''ed. I Iilton Queiroz - DJ30/10/2006- nossos os grifos)

CRIMINAL. GESTÃO 1'RAUDULENTA. TIPOCONSTITUCIONALIDADE. HABEAS CORPUS. EXAME DEPROVA. DESCABIMENTO.

ABERTO.

Maia. Rodoltb Tigre. Dos Crimes Contra o Sistema Financeiro Nacional, lid. Malheiros. Ia cd.. pg60.

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I) Hm face das novas tecnologias c cia profusão de novas formas, a cada dia, degestão comercial, a gcsrão fraudulenta de instituição financeira pode assumir umnúmero incontável de comportamentos, sendo impossível, sob pena de resvalarem impunidade, que o legislador possa prever tantos tipos penais e descrevê-losdetalhadamente.II) Não incide em incnnstitucionalidade o caput do art. 4" da Lei n"7.492/86, ao prever o tipo cm questão de forma "aberta", tendo em vistaque o conceito de gestão fraudulenta se encontra legalmente definido des-de 1951 (lei n" 1.521), sobre ele havendo, inclusive, consenso, tanto em sededoutrinária quanto jurisprudência!.III) Somente é admitido o uso de habeas corpus para o trancamento de açào penalem duas hipóteses: quando o fato descrito na denúncia c atípico ou o paciente en-contra-se comprovadamente fora da cadeia causal, nào lhe podendo ser, em con-sequência, imputado o resultado. IX7) Na via estreita do Writ nào se admite discus-são sobre matéria deprova.(TR1- 2a Região - HG 200002010711360- Relator Dês. Fed. Mana I Iclena Cisne-D] 13/11/2001- nossos os grifos)

APHLAÇAO CRIMINAI, (...). ART. 4", CAPUT E PAR. ÚNICO DA LEI N°7.492/86. Hl VA DE INCONSTITUCIONALIDADE INEXISTENTE.PRELIMINARES REJEITADAS. GESTÃO TEMERÁRIA. TIPO PENALCARACTERIZADO. PROVA DOCUMENTAL K TESTEMUNHAL. ÉDITOCONDENATÓRIO. G ESTA O FRAUDULENTA. ABSOLVIÇÃO. ACÀOPENAL PARCIALMENTE PROCEDENTE(...). 12- Não hú falar em eiva de inconstitucionalidade a inquinar os tipospenais insertos no art. 4", caput e par. único da Lei n" 7.492/86, pois, ape-sar de não trazer a norma penal a lista dos atos tidos como fraudulentos outemerários na gestão de instituição financeira, na verdade indica com pre-cisão tais conceitos, delimita seus espectros, a resultar reverenciado, porconseguinte, o princípio da reserva legal.13. Preliminares rejeitadas (...).TKE 3a Região - Órgão Especial - APn 21)0603000265410 - Relator Dês. Eed.Suzana Camargo - DJ 19/12/2007

Deste modo não há falar em inconstitucionalidade a inquinar os tipos pe-nais insertos no artigo 4" da Lei 7.492/86.

C) processo, pois, enconrra-se formalmente em ordem, estando presentes ospressupostos processuais c as condições da ação. Superadas as preliminares arguidas, passo àanálise do mérito propriamente dito.

2.2 - Da Materialidade e Autoria

a) Do delito capitulado no art. 4", caput, da Lei 7.492/86

O tipo penal imputado aos denunciados está previsto no art. 4°, utput, daLei 7.492/86, que assim dispõe:

Art. 4". Gerir fraudulentamente instituição financeira:

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Pena - Reclusão, de 3(três) a 12(doze) anos, e multa.

C) tipo previsto no artigo 4°, caput, da Lei n" 7.492/86, criminaliza a condutade quem, consciente e voluntariamente, gere fraudulentamente instituição financeira.

Gerir fraudulentamente é administrar a instituição financeira com má-fc, de-forma dirigida ao engano de terceiros, sejam eles sócios, empregados, investidores, clientesou a fiscalização.

Segundo o TRF3, "Gestão fraudulenta é a em que o administrador utiliza, continua-da e habitualmente, na condução dos negócios sociais, artifícios, ardis ou estratagema para pôr em erro outrosadministradores da instituição ou sem clientes." (HC 98.03.081133-9/SP, Oliveira Lima, 1a 'l'., m.,4.5.99). |á segundo o TRF4, "o crime de gestão fraudulenta pressupõe, como elemento normativo do tipo,manobras ilícitas, o empreso de ardis, de fraudes e de engodos. A. fraude, por sua ve^, também pressupõe odesiderato de prejudicar alguém ou a obtenção de vantagem indevida para o agente ou ontren?\C200504010128000, PAULO AFONSO BRUM VAZ, TRF4 - OITAVA TURMA, DJ18/05/2005 PÁGINA: 904.).

Assim, a conduta incriminada pelo delito previsto no art. 4" da Lei 7492/86é a administração da Instituição Financeira de forma ardilosa, com recurso a ejualquer tipo ciesutilexa ou astúcia capaz de dissimular o real objetivo de um ato ou negócio.

De se ressaltar, ainda, que o crime de gestão fraudulenta c de mera conduta,o qual "í/ lei não exige qualquer resultado naturalístico, contentando-se com a ação ou omissão do agente"(MIRABKTE, 1998, p. 130).

li que, de acordo com o entendimento dominante da jurisprudência, aocontrário do alegado pela defesa, trata-se de crime habitual impróprio, em que basta umaúnica conduta fraudulenta para que o delito se consuma, sem que o conjunto de condutasconfigure continuidade delitiva:

EMENTA: HABEAS CORPUS. PROCESSO PENAL. DENÚNCIA. INÉP-CIA. INOCORRÊNCIA. GESTÃO FRAUDULENTA. CRIME PRÓPRIO.CIRCUNSTANCIA ELEMENTAR DO CRIME. COMUNICAÇÃO. PARTÍ-CIPE. POSSIBILIDADE. PRECEDENTES. EXECUÇÃO DE UM ÚNICOATO, ATÍPICO. IRRELEVÂNCIA. ORDEM DENEGADA. 1. A denúnciadescreveu suficientemente a participação do paciente na prática, cm tese, do crimede gestão fraudulenta de instituição financeira. 2. As condições de caráter pessoal,quando elementares do crime, comunicam-se aos co-autores c partícipes do crime.Artigo 30 do Código Penal. Precedentes. Irrclcvãncía do íato de o paciente nãoser gestor da instituição financeira envolvida. 3. O fato de a conduta do pacienteser, em tese, atípica - av&Kzacão de empréstimo - é irrelevante para efeitos de par-ticipação no crime. É possível que um único_ ato tenha relevância para eon-substanciar o crime de gestão fraudulenta de instituição financeira, emborasua reiteração não configure pluralidade de delitos. Crime acidentalmentehabitual. 4. Ordem denegada, (l IC 89364, JOAQUIM BARBOSA, STF)

RECURSO ESPECIAL. PENAL. CRIME CONTRA O SISTEMAFINANCEIRO NACIONAL: GESTA O TEMERÁRIA (ART. 4.", PARÁGRA-

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FO ÚNICO, DA LEI N.° 7.492/86). CRIME HABITUAL IMPRÓPRIO.DESNECESSÁRIA A HABITUAUDADE. RECURSO PROVIDO. 1. A de-núncia imputa aos Réus o crime de gestão temerária, pela concessão de linha decrédito internacional, desconsiderando os riscos da operação, bem como váriasprescrições do Banco Central do Brasil. 2. A conduta se enquadra, em tese, nocrime do art_._4.", parágrafo único, da Lei n." 7.492/86. pois, cm se tratandode crime habitual ifnprópricynão é necessária habitualidade para a caracte-rização desse delito de gestão temerária. 3. Recurso provido. (RESP200602086152, LAURITA VA/, ST] QUINTA TURMA, D) EDATA:13/09/2010.)

Km que pese o brilhantismo das teses defensivas, bem como de seus subs-critores, tenho que deve prevalecer o entendimento do órgão acusatório quanto à práticadelitiva dos acusados, senão vejamos.

A premissa fática sobre a qual se assenta a pretensão acusatória pode ser as-sim resumida: o Banco B MG teria supostamente celebrado empréstimos fictícios com o PTe com as empresas do grupo de MARCOS VALKRIO. Estes empréstimos afiguraram-secomo meros instrumentos formais com vistas ao repasse de recursos daquele Banco aos to-madores, objctivando, assim a obtenção de diversos benefícios políticos do Governo Eede-ral. Neste cenário, os empréstimos constituíram-se como mera contrapartida à satisfação deinteresses maiores daquela Instituição Einanceira, cis que nunca tiveram como objetivo se-rem adimplidos.

Antes, porém, da análise da comprovação dos elementos fáticos traxidospelo MPF, mister esclarecer os meios os quais este Juízo entende possível esta comprovação.

Considerando as inúmeras provas colhidas na fase investigatória, com vistasa se evitar futuras alegações de nulidade, necessário se repisar acerca do valor probante detais provas.

Sob este aspecto, tenho que a apreciação e valoração da prova colhida nafase investigatória, como subsídio a um decreto condenarório, nào pode ser afastada, nãorepresentando qualquer ofensa ao princípio do contraditório.

Com efeito, assim dispõe o art. 155 do CPP (com a redaçào da Lei11690/08):

Art. 155. O juiz formará sua convicção pt-la livre apreciação da prova produxi-da em contraditório judicial, nào podendo fundamentar sua decisão exclusiva-mente nos elementos informativos colhidos na investigação, ressalvadas asprovas cautelarcs, não rcpctiveis e antecipadas, (grifo nosso).

Como sabido, a raxão para a antecipação da produção de prova na inves-tigação visa à comprovação da materialidade e da autoria permitindo ao M PE ;i formação da

de/icfi.

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Assim, inelutavelmcnte, a prova pericial que vem a acompanhar e funda-mentar uma denúncia possuirá natureza cautelar - como ocorre cotidianamente na apuraçãode crimes, v.g, envolvendo entorpecentes ou moedas falsas - mas isso nào significa que, cmcaso de recebimento da denúncia, haja nesses casos uma eliminação do contraditório sobre aprova, já que terá ocorrido apenas um diferimento deste contraditório para instrução processu-al penal.

Desta forma, recebida a denúncia, será o acusado cientificado do conteú-do da prova antecipada — e das conclusões do MP1- na denúncia - podendo a defesa na res-posta preliminar do art. 396-A CPP "'alegar tudo que interesse à dejèstf1 e "especificar as provas pre-tendidas", inclusive as periciais que visam contestar as conclusões da perícia produzida na fasepré-proccssual.

Nesse sentido ensina o professor EUGKNIO PACKLLI DE OI.IVKIRA:

\[mbora o art. 159, Jf 5"., afirme que a atuaçao das partes em relação à perícia "se daria nof urso do processo judicial", pensamos que interpretação sistemática da matéria conduziria a umasegii/nfe conclusão, a saber, a) quando se tratar de perícia já realizada nu fase deinvestigação, a defesa deverá se manifestar sohrc as providencias a ela fa-cultadas por ocasião da apresentação da defesa escrita (art. 396-A, CPP); h)quando a perícia se realizar já em JHÍ^O, o pra^o a ser obedecido será apenas aquele de antece-dência da audiência a ser designada (art. í59. §5°., J do CPP)." (grifo nosso)"1

Assim, nào se confunda o direito manifesto da defesa em produzir umacontra-prom perícia/, com uma suposta necessidade da acusação de repetir em juí/o, mesmoque não haja impugnação técnica ao laudo, a produção da prova antecipada, cautelar e irrepetí-w/(art. 155 do CPP).

NUCCí:Sob este aspecto, o magistério do professor GUILHKKMK DH SOUZA

"Poríati/o, cabe à acusação, ao ingressar com a ação penal, o ónus da prova, buscando o acusadademonstrar ser o acusado culpado do crime cj/ie lhe é imputado. Ao réu se pretender apenas negaraimputação, reata permanecer inerte, pois nenhum ónus lhe cabe. Sen estado de inocência prevalece.Entretanto se a estratégia da defesa tiver por meta alegar fato diferenciadodaqueles constantes da denúncia ou gueixa, chama a si o ónus da prova.''

Nesse rumo, é ónus da defesa (art. 156 do CPP), em não concordando com aconclusão do laudo pericial antecipado, especificar as provas que desejasse para desconstituir apretensão acusatória.

Assim posto, as provas periciais antecipadas, cautclares e irrepetíveis, indica-das na denúncia, foram submetidas ao amplo contraditório (diferido) da defesa e encontram-se,portanto, aptas a servirem como fundamento para um decreto condenatório de natureza crimi-nal, nos termos do art. 155 do CPP.

Nesse sentido:

5 Curso de Processo Penal. 10 edição. Atlas. 2008. pág.361" ( iu i lhc rmc de Sou/a Nucci. Provas no Processo Penal. RT pug.22/23. 2009

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PENAL E PROCESSUAL PENAL, MOEDA FALSA. PRINCÍPIO DO CON-TRADITÓRIO. PROVA OBTIDA NA FASE POLICIAI, PROVA INDICIA-RIA. APOIO NO CONJUNTO PROBATÓRIO. DOSIMETRIA. 1. No proces-so penal, aplica-se o princípio constitucional inafastávcl do devido processo legal,com seu corolário consistente na ampla defesa c no contraditório. Todavia, certasprovas (perícias, escutas etc) são, via de regra, produzidas na fase policial, jáque próprias à investigação, não havendo sentido em apenas realizá-las nafase judicial, onde já instalado devidamente o contraditório. E também nãofaz sentido, salvo a demonstração de vil imparcialidade, a desconsideraçãoposterior destas provas, uma vez que já não poderiam ser repetidas. 2. O in-dício, enquanto circunstância conhecida e provada, que tendo relação direta com ofato, autoriza, por dedução, concluir-se pela existência de outra circunstância, émeio de prova admitido pela legislação penal, nos exatos termos do artigo 239 doCódigo de Processo Penal. 3. A pena deve ser fixada considerando as circunstânciasdo artigo 59 do Código Penal, não devendo a sua elevação se dar de modo injustifi-cado. 4. Apelação provida em parte.( Apelação Criminal no. 200331000013547 -JuizSaulo Casali Bahia convocado - 3a. Turma, TRF da 1a. Região, D|06/07/2007.(grifo nosso)

PIÍNAL. PROCESSUAL PIÍNAL. ARTIGO 171, § 3°, CP. ESTELIONATOCONTRA O INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL. COMPRO-VAÇÃO. DENÚNCIA. ART. 41, CPP. REQUISITOS PREENCHIDOS.RECEBIMENTO. PROVA PERICIAL REALIZADA NO INQUÉRITO.CONTRADITÓRIO E AMPLA DEHÍSA. 1. Incorre no delito tipificado no art.171, § 3", do Código Penal, o agente que, mediante ardil, induz ou mantém o INSSem erro, propiciando a si mesmo ou a um terceiro auferir vantagem ilícita a partirde benefício previdenciário concedido irregularmente. 2. A denúncia que contémtodos os elementos previstos no artigo 41 do Código de Processo Penal deve serrecebida. 3. A prova pericial, realizada na fase do inquérito policial e subme-tida a contraditório e ampla defesa perante o juízo, não necessita ser repeti-da na instrução criminal, uma vez que seu valor é diferido no tempo. 4. Re-cursos parcialmente providos (Apelação Criminal n° 200338000049842, RelatorDesembargador Tourinho Neto, 3a Turma, TRE da 1a Região, DJ 16/02/2007,P.44).

PI ÍNAL E PROCESSUAL PENAL. ESTELIONATO CONTRA A PREVI-DÊNCIA SOCL\L. SAQUES INDEVIDOS APÓS O ÓBITO DOSEGURADO. MATERIALIDADE M AUTORIA COMPROVADAS. PROVAPERICIAL li DOCUMENTAL PRODUZIDA DURANTE O INQUÉRITOPOLICIAL, NA() REPETIDAS EM JUÍZO. CONTRADITÓRIO DIEEKIDO.EMBASAMENTO CONDENATÓRTO. POSSIBILIDADE. DOSIMETRIADA REPR1MENDA. REGIME DE CUMPRIMENTO. SUBSTITUIÇÃO.PUNAS RESTRITIVAS DE DIREITOS. 1. Restam preenchidos os elementos tí-picos do crime de estelionato quando verificada a obtenção de vantagem patrimo-nial indevida pelo agente que mantém o Instituto Nacional do Seguro Social em er-ro e prossegue percebendo a aposentadoria de segurado já falecido. 2. Materiali-dade e autoria devidamente demonstrados através da prova documental epericial produzida durante a fase invcstigativa, não repetidas em juízo, sen-do possível ao julgador utilizar tais elementos, exclusivamente, para fins de

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embasamento do decreto condcnatório, tendo em vista que, nessas espéciesde provas, o contraditório é diferido ou postergado para momento posteriorà instauração da ação penal, tendo a defesa a possibilidade de contraditar osdocumentos constantes do inquérito e, quanto à perícia, impugná-la, solici-tar esclarecimentos c até mesmo requerer a elaboração de novo exame, con-soante doutrina c jurisprudência. Caso em que, ademais, o conteúdo das provascoaduna-sc com as declarações do réu, consideradas exclusivamente aquelas presta-das perante a autoridade policial, tendo em vista que, devidamente citado e intima-do, deixou o acusado de comparecer à audiência de interrogatório. 3. Na primeirafase da dosimetria da pena, no que tange à carga atribuída (acréscimo de meses napena-base) ao reconhecimento das vetoriais desfavoráveis, o entendimento destaCorte orienta-sc no sentido de que o peso de cada circunstancia judicial c calculadoa partir do termo médio entre o mínimo e o máximo da pena cominada, do qual sededuz o mínimo, dividindo-se este resultado pelo número de circunstâncias, tcndo-sc, na espécie, um incremento de 03 (três) meses por vetorial negativa. Hipótese emque a análise das vetoriais do artigo 59 do Código Penal não au t orixá o agravamen-to da pena-base, restando essa fixada no mínimo legal. 4. C) regime inicial de cum-primento da reprimcncla, presentes os requisitos do artigo 33, §2", alínea "c", doCódigo Penal, é o aberro, não se vislumbrando, in casu, motivos para a fixação deregime mais gravoso. 5. Na fixação da pena de multa, adotando-se o critério bífási-co, elevem ser sopesadas todas as circunstâncias que determinaram a imposição dapena privativa de liberdade - judiciais, legais, causas de aumento e diminuição. As-sim, sopcsando-se todas as circunstâncias que determinaram a fixação da pena cor-poral, resulta a pena de multa fixada em 38 (trinta e oito) dias-multa, no valor unitá-rio de 1/30 (um trinta avos) do salário mínimo nacional vigente em janeiro de 2(Xí4,tendo em vista a situação económica declarada pelo réu. 6. Pena corporal substituí-da por duas restritivas de direitos, consoante autorixado pelo artigo 44 do CódigoPenal, consistentes em (a) prestação de serviços à entidade assistencial ou à comu-nidade, durante igual período de duração daquela, e (b) prestação pecuniária em fa-vor de entidade de natureza assistencial, também a ser definida pelo juí/o executó-rio, no valor cie 01 (um) salário mínimo vigente ao tempo do pagamento, conside-rando-se, para tanto, a situação económica do réu e as vetoriais do artigo 59 do Có-digo Penal, as quais revelam-sc totalmente favoráveis ao réu, ressaltando que a subs-tituição ora determinada é aquela que se revela suficiente à prevenção c repressãodo delito praticado {Apelação Criminal n" 200471000466199, Relator Desembarga-dor Victor Luiz dos Santos Laus, 8a Turma, TRF da 4a Região, D] 24/02/2010).

Com muito mais razão são válidas as provas colhidas e as conclusões extra-ídas dos Relatórios das Comissões Parlamentares de Inquérito já que, segundo o art. 58 daCF/88, as Comissões "/eriio poderes de investigação próprios das autoridades judiciais", ou seja, nãomeramente inquisitoriais.

Fixadas estas premissas, passo à análise da comprovação da materialidadedo crime imputado.

A partir de uma cuidadosa, longa c exaustiva análise dos 26 volumes e 13apensos que compõem esta açào penal, composta por mais de 8.000 folhas, tenho que restoucabalmente evidenciada a materialidade dclitiva do crime previsto no art. 4° da Lei 7.492/86.

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AÇÃO PENAL N° 2006.38.00.039.573-6VARA FEDERAL

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Do cotejo dos elementos constantes dos autos, tenho que o conjunto dosdados fáticos comprovados pela acusação forma um cenário bastante elucidativo da ocor-rência das fraudes narradas pelo MPF.

Com efeito, alguns dados presentes nos autos permitem-me inferir que oscontratos celebrados pelo BMG com o Partido dos Trabalhadores e empresas do grupoMARCOS VALERIO nào tinham como objetivo serem realmente adimplidos, constituindo-se como instrumentos formais fictícios, ideologicamente falsos, cuja real intenção era dissi-mular o repasse de recursos aos tomadores.

A conclusão pode ser deduzida a partir da apreensão conjunta de diversoselementos fáticos que nào podem ser descontextualixados ou tomados de maneira isolada.Cada um destes elementos configura-se como indício da materialidade delitiva os quais, umavez somados, compõem com solidez um cenário fático onde se identifica com clarividência aprática da gestão fraudulenta por parte dos dirigentes do BMG.

Passo a apresentar cada um destes dados que, dentre o emaranhado de ale-gações tra/idas pelas partes, nào tiveram como passar despercebidos por este [uí/o.

O acervo probatório constante dos autos mostra um sofisticado esquemade concessão de empréstimos simulados ao PT e às empresas do ligadas ao acusado MarcosValério que, pela maneira com que foram celebrados, pela habirualidade do mesmo modasoperandi e pelo entrelaçamento dos créditos conduzem a uma conclusão inafastável no senti-do de que os recursos repassados pelo BMG aos tomadores não seriam perseguidos ulteri-ormente.

Da análise conjunta dos contratos extrai-se que grande parte dos valoresemprestados pelo BMG foram repassados aos tomadores dentro de um cenário pouco usualna prática bancária, diante de situações limites de risco de inadimplência. Extrai-se ainda e,principalmente, que grande parte dos valores amortizados adveio de recursos do próprioBMG, ou seja, o BMG praticamente pagai puni emprestur.

Passo a apontar os elementos fáticos relativos a cada contrato que levam àconclusão de que estes foram meros instrumentos formais que visavam mascarar o repassede valores do BMG ao PT e às empresas ligadas a Marcos Valério, nào sem antes frisar queem 31/05/2006, a totalidade de recursos emprestados pelo BMG a estes tomadores, que nãoforam adimplidos, com a correçao, era de R$66.021.016,67, conforme Laudo Pericialn" 1854/2006 (fl.514 do Apenso 03).

Empréstimos concedidos à SMP&B COMUNICAÇÃO LTDA

Com a SMP&B Comunicação LTDA foram celebrados 2 contratos de mú-tuo, os quais foram aditados uma vex cada um, cujos responsáveis pela aprovação das opera-ções foram FLÁVIO PENTAGNA GUIMARÃES, RICARDO ANNKS GUIMARÃES eJOÃO BATI ST A DE ABREU (fl. 404 do Apenso 03 e fl. 444 dos autos), tendo como de-vedores solidários e avalistas os acusados RENILDA MARIA SANTIAGO FERNANDESDF, SOUZA, CRISTIANO DE MELLO PAZ, RAMON HOLLERBACF[ CARDOSO eMVRCOS VALÉRIO FERNANDES DE SOUZA (fl. 454):

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Contrato

130300131Aditamento docontrato130300131140301036Aditamento docontrato1 H )30 1036

Concessão docrédito

25/02/2003K, '05, '2003

14/07/200414/03/2005

Data do ven-cimento

25/08/200324/11/2003

09/02/200501/09/2005

Prazo

181182

210181

Valor inicial -R$

12.000.000,0012.000.000,00

3.516.080,564.235.947,14

Segundo o laudo do INC, o contrato n°130300131 foi classificado em seuinício com o rating "A". Cinco amortixaçòes mensais dos encargos estavam previstas a partirde 27/03/2003, sendo que em abril/2003 a segunda amortixação prevista nào foi rcali/ada,resultando na assinatura de um aditivo contratual em 26 de maio de 2003, mediante o paga-mento do restante dos encargos financeiros calculados até aquela data, no montante deR$690.462,73. Desta forma, o aditivo contratual rolou o principal da dívida no valor de RS12.000.000,00, o que demonstra a pouca importância dada ao recebimento do crédito. Aliás,de se frisar que somente a partir de junho/2003 houve a rec Ia s si fica ç ao do rating para "C".

Km relação a estes contratos, algumas particularidades apontadas pelo INCmerecem destaque. Na ocasião da aprovação do aditivo ao contrato n. 130300131, não hou-ve reapreciação do risco da operação peio Comité Superior de Crédito eis que a planilha a-provada pelo Comité Superior de Crédito foi concernente ao período inicial de 180 dias.Com a assinatura do aditivo, a operação totalizou 272 dias, o que necessitaria de uma novaapreciação do Comité, inclusive para fins de rcclassiflcação do risco. Por outro lado, tem-seque o aditivo contratual foi firmado em que pese a segunda amortixaçào dos encargos finan-ceiros nào ter sido realixada. (fl.406 do Apenso 03).

Ainda em relação ao contrato n"130300131, tem-se um aspecto que nãopode passar despercebido a este Juíxo. A liquidação ocorreu cm 28/01/2004 mediante atransferência de recursos da ordem de aproximadamente RS14.000.000,00 cuja origem foiconta-corrcnte mantida no Banco Rural S/A pela empresa GRA1'T'1TI PARTICIPAÇÕESLTDA. Segundo o Laudo pericial n° 1450/2007 do INC (fls. 2451/2452), os recursos utili-xados para a liquidação tiveram como lastro outra operação de mútuo do HMG com aGRAFHTI PARTICIPAÇÕES LTDA. Então, a liquidação do contrato n"1303()0131 foifeita, em verdade, pelo próprio HMG, mediante um novo empréstimo à empresa do mesmogrupo.

lim relação ao contrato n" 140301036, sua liquidação era prevista em parce-la única em 09/02/2005 (£1. 408 do Apenso 03). O contrato não foi liquidado na data, bemcomo não ocorreu qualquer amortixaçào da dívida. Estranhamente, em que pese a inadim-pléncia, em 04/03/2005, foi celebrado aditivo contratual no valor de R$4.235,947,14 equiva-lentes ao principal e aos encargos financeiros não pagos. Neste cenário, percebe-se claramen-te c^ue o banco BMG renunciou a qualquer benefício que adviria deste contrato, já que a ro-lagem da dívida aqui ocorreu inclusive em relação aos encargos financeiros.

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Sob este aspecto, importante tecer algumas considerações, que levam àconclusão do acerto da tese ministerial. K que, se a SMP&B, àquela altura, ostentava rígidacapacidade económica, tal como alardeado consfantcmentc pela defesa, por que não liquidouo contrato? Por que houve a rolagem do principal da dívida e dos encargos? Por que "peda-laram" o contrato?

O que se percebe é que o BMC i não só deixou, sem razão lógica, de cobrara empresa, como também teve um considerável ónus para firmar o aditivo já que, como sesabe, diante da classificação do ratin^ do contrato em "C", o BMC i teve que provisíonar partedos recursos emprestados. Ademais, como a empresa tomadora não pagou também os en-cargos financeiros, o banco não se beneficiou sequer do spread, situação que permite a con-clusão de que o banco praticamente pagou para emprestar.

Nesta senda, necessário se refutar de antemão a tese defensiva no sentidode que as execuções judiciais foram retardadas com vistas a que o banco se beneficiasse dospread. C) que se percebe é justamente o contrário: os aditivos "rolavam" também os encar-gos financeiros. Cai por terra, assim, a raxão apresentada pela defesa para justificar o fato deas execuções judiciais dos contratos terem sido interpostas somente após 2005.

Por outro lado, causa espécie a este Juízo o fato de que, no contrato n.140301036 da SMP&B, firmado no ano de 2004, o endividamento da empresa constante doSistema de Informações de Crédito era da ordem de R$33.354.000.000,00, informação defácil e obrigatório acesso à instituição mutuante. Ademais, quando da celebração de referidocontrato, constava no SRC a informação de que nos 180 dias seguintes, a empresa tinha o-brigaçõcs vincendas na ordem de RS28.414.000,00. (fls.410/412 do Apenso 03).

Ainda em relação às irregularidade s pouco usuais presentes nos contratosn°130300131 e n° 140301036, o INC frisou ainda que "dentre a documentação cadastral e de supor-te ii análise de crédito para a concessão dos empréstimos, não constam Declarações cie Informações fcconòmico-ftscais da Pessoa jurídica (I^IPJ) da empresa SMP&B. Outra exceçào identificada foi a ausência das in-formações fiscais dos sócios e representante da SMP&H do exercício de 2003 (ano calendário 2002). Aanálise dessas informações seria imprescindível para a liberação do primeiro empréstimo, contrato n°f3.03.00J31, cm 25/02/2003, uma renque os sócios constaram como garantidores (avalistas) do emprés-timo.

No que concerne às garantias previstas nos contratos, merece ser rebatida atese da defesa no sentido da robustez do penhor de direitos creditícios oriundo de contratode prestação de serviços firmado pela DNA PROPAGANDA LTOA com as CKNTRA1S1ÍLÉTRICAS DO BRASIL S/A - KLKTRONORTK, dado cm garantia adicional aos con-tratos. Isto porque deve ser consignado o acerto da tese ministerial no sentido de que o va-lor do contrato era incompatível com o valor da operação. O valor total do contrato de pres-tação de serviços era de RS 10.000.000,00, conforme cláusula terceira do segundo termo adi-tivo (fl.483). A melhor exegese do referido contrato sugere que o máximo de honorários quea contratada poderia auferir com o contrato era de 6% (seis por cento) sob o valor do preçolíquido efetivamente faturado, conforme previsto 110 parágrafo primeiro da cláusula oitavado contrato (fl. 481). As demais hipóteses de remuneração, concernentes às situações em quea contratada eventualmente terceirizassc os serviços, tinham previsão de remuneração desomente 9% sobre os custos da contratação com terceiros e, por óbvio, são hipóteses exclu-

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dentes, não cumulativas. Assim, mesmo somando-se com o desconto de agência (cláusulasegunda), não é necessário muito cálculo aritmético para se concluir que eventuais honorá-rios recebidos pela agência não consubstanciavam garantia compatíveis com os valores dosempréstimos concedidos à SMP&B.

De se frisar que as hipóteses de remuneração foram alteradas pelo PrimeiroTermo Aditivo (fls.481/482), fato estrategicamente omitido pela defesa. No aditivo, vê-seque, além da cláusula oitava já citada, o parágrafo 5° do contrato inicial foi alterado no senti-do de que os custos internos dos trabalhos realizados pela contratada seriam ressarcidos àordem de 0% (zero por cento) dos valores previstos na tabela de preços do sindicato dasagências de propaganda do Distrito Federal. Por outro lado, a redução, por tornar mais vul-nerável a garantia oferecida, teria que ter sido comunicada à instituição financeira, o que nãofoi o caso.

Não se pode olvidar também que a nota fiscal que embasou a duplicata vin-culada ao oferecimento dessa garantia nunca esteve registrada na contabilidade da DNAPROPAGANDA LITJA, o que relativiza a idoneidade da garantia, como bem apontadopelo MPF e pelo Laudo Pericial n° 3058/2005 - INC (fl.2486). A falta de registro do títulonão passaria despercebida pela instituição financeira, estivesse ela preocupada com a inadim-plência dos tomadores.

Sob este aspecto, mister que sejam transcritas aqui as conclusões extraídaspela CPMI dos Correios (fl.18 do Anexo 01):

"A principal garantia é o Penhor de Direitos Creditórios de recebíveis através da "trava" dedomicilio bancário, a critério do I$MCJ, sobre os recursos provenientes' do contrato de publicidade

entre DNA Propaganda Lida. e E/etronorte. Entretanto, os valores dos créditos dos contratosde publicidade nunca foram depositados no BMC. Mais relevante ainda é o falo de que, na car-

ta onde existe a anuência da YLleíronorte, não existe nenhuma referência de que a mudança dedomicílio bancário é para fins de garantir um empréstimo tomado pela outra empresa de publici-dade de Marcos Valéria. Portanto, não é válida como garantia, mostrando que a referida cartateve o única sentido de cumprir uma formalidade regulamentar e documental de concessão de cré-dito bancário;V, No documento de Penhor de Direitos assinaram como representantes da DNA,cedente dos créditos do contraio de publicidade com a \~-Jetronorte, a S rã. Remida, o Sr. MarcosValeria e o Sr. \'rancisco M. Castilho Santos. Dessa forma, não consta a assinatura da sóciada DNA Propaganda LJda., a S rã. Margareth Maria de _Queiro^ Freitas, enquanto que o Sr.

Marcos I /alério não é sócio de nenhuma das empresas envolvidas. Não há no processo de em-préstimo qualquer documento concedendo ao Sr. Marcos Valéria direitos de representação da

Graffiti ou DNA; A pretensa "garantia" do contrato de publicidade comprovadamente nuncafoi exercida pelo Ranço. Por mais que se queira demonstrar ser comum esse tipo de contrato comogaraniidor de empréstimo, a garantia é, no mínimo, insuficiente, e até ilusória, pois o banco nun-ca terá condição ejetíva de receber o saldo devedor do empréstimo tomado, como agora se confirmacom os outros contratos ajuizados com semelhante garantia. Isso porque o contraio de publicidade"transcorre", do ponto de vista financeiro, de forma inversa ao contrato de empréstimo. Ou seja,com o tempo, os valores creditarias do contrato de publicidade vão diminuindo pela efetiva presta-ção de serviços, enquanto o saldo do empréstimo no banco vai aumentando com a incorporaçãodos encargos contratuais de juros e atuali^açao. Deve também ser lembrado que parle expressivado contra/o de publicidade tem como destino os prestadores de serviços de publicidade (emissorasde rádio e Tl ', gráficas, entre outras), permanecendo uma menor participação da empresa de pu-blicidade a titulo de agenciamento. Tais assertivas se confirmam pelo faio de os bancos não se vá-

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lerem dessas travas para receber os empréstimos hoje inadimpknfes, fendo que recorrer a açòes ciecobrança judicial. Mostra-se mais uma ve~ qtte o objetivo foi transparecer um aspecto de "forma-lidade" numa operação de empréstimo bastante duvidosa; lisse empréstimo foi renovado em26/05/2003, coincidentemente, na mesma data da renovação do empréstimo do PT, t' amboscom o mesmo vencimento para 24111/2003. Taljato mostra a cumplicidade entre o Banco e oSr. Marcos Valéria para concessão da dilatação do pra^o do empréstimo e o desinteresse de co-brança. Também demonstra as relações entre o Sr. Marcos \''alérío, o BMC e o PT, visto quetiveram, na mesma época, discussões de renovações dos contratos do PT e tia ,\\\}P<^rB, que fo-ram renegociados, coincidentemente, no mesmo dia 26/05/2001, na mesma situação de aindanão vencidos e, ainda mais, ambos COM prados renegociados para 24/1 í/2003. Mostra clara-mente uma renegociação em conjunto entre PT e Marcos Valéria, com a cumplicidade doBMG";

Importante destacar as conclusões extraídas do Laudo Pericial n"1450/2007 (fl. 2455), que demonstram que o contrato n° 140301036 teve como objetivo apromoção de lastro financeiro para o abatimento de encargos financeiros dos outros contra-tos. Por meio da análise do destino dos recursos deste contrato, o INC constatou queR$351.508,21) foram empregados na amortização dos encargos financeiros do contraton°130300102 do PT, R$2.413.613,16 foram empregados na amorti/ação dos encargos finan-ceiros do contrato n° 140300062 da GRAFFITI e R$707.222,77 foram empregados na a-mortixaçào dos encargos financeiros do contrato n° 140300538 de ROCiKRK)TOLENTINO.

Ora, desta sistemática, observada também em relação a outros contratos,decorre a conclusão no sentido de que o BMCJ celebrava novas operações de empréstimoscom o objetivo de rolar dívidas vencidas e não-pagas. Mais grave, é a conclusão de que era opróprio BMC I quem arcava com os ónus da inadimplência dos tomadores, pois eventuaisencargos pagos por eles eram oriundos de outros empréstimos conseguidos junto ao próprioBMG.

De se ressaltar também que, em relação a estes contratos, o INC apontouuma série de dados que permitem concluir que o banco BMG não estava preocupado cm seresguardar dos riscos da inadimplência.

Pela relevância e pela clareza das constatações, merecem serem citadas asseguintes passagens (fls. 410/412 do Anexo 03):

"(...) Avaliando as informações conlabeis presentes, no dossiê das operações de emprésti-mo da SMP&B, pode-se constatar que o balanceie contábil em 31 /12/2003 apresentado pelacontratante e utilizado pelo analista de crédito do banco não registra a real posição de endivida-mento bancário naquela data. l Enquanto as informações presentes no Sistema de Informações deCrédito do Banco Central do Brasil (SCR), as quais se encontram arquivadas no dossiê daSMP&B, indicam que a contratante apresentava, em 31/12/2003, dividas com instituiçõesfinanceiras no montante de RS 14.549mil, sen balancete contábil levantado na mesma data in-formava na rubrica Empréstimos e financiamentos' o saldo de apenas RS 3.469 mil. Todo opassivo da SAÍP<à"H registrado no 'balancete sintético' em 31 /' 12/'2003 totalizava apenas RS7.939 mil.

/\ acima descrita ocorreu também com o balancete contábil levantado em30/09/2004. o qual foi utilizado pelo analista de crédito do banco. Hnqnanto as informações

presentes no Sistema de Informações de Crédito do Banco Central do Brasil (SCR), indicavam

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que a contratante apresentara, em 30/09/2004, dívidas com instituições financeiras no mon-tante de RS 33.345 mil, sen balancete contáhil levantado na mesma data informava na rubricaEmpréstimos e financiamentos1 o saldo de apenas R$ 3.5 f 6 mil. Yodo o passivo da SMP&Bregistrado no 'balancete sintético'em 30/09/2004 totalizava apenas RS 7.522 mil.

As discrepâncins entre os saldos das d/vidas bancárias consignadosnos balancetes contábeis da SMP&B c as informações constantes do Sis-tema de Informações de Crédito do Banco Central do Brasil (SCR) são ra-zões suficientes para desqualificar as informações contábeis disponibiliza-das pela contratante, as quais foram utilizadas para avaliações de crédito,uma vez que., por se tratarem de informações falsas, enquadram-se no itemH-b da Carta-Circular do Baccn n"2.826 de 04/12/1998 (transcrito no item2.1 do capítulo III- DOS EXAMES do presente Laudo), norma essa que di-vulga a relação de operações e situações que podem configurar indícios delavagem de dinheiro no sistema bancário. O aqui descrito não é comentadoem nenhum documento integrante do processo de avaliação de crédito,bem como em nenhum outro documento integrante do dossiê da SMP&B.

Mesmo com a apresentação de informações contábeis falsas, o Ban-co BMG celebrou o contrato de empréstimo n" 14.03.01036, cm 14/07/2004,c o de rolagcm (aditivo contratual) do valor do principal c encargos do refe-rido contrato original, em 04/03/2005.

Tini julho de 2004, seoíncfo o Sistema de Informações de Crédito do Banco (..entrai aoErasil (SC'R), a dívida bancária da SAiP&B vincenda em até 180 dias montara a RS

28.414 mil. Segundo demonstrativos contábeis da contratante, o Jatttramen/o acumulado no pe-ríodo de sete meses findo em 31107}04 montou a RS 16.420 mil, ou seja, cerca de 58% da di-vida bancária.

lim oposição ao acima demonstrado, a avaliação (k crédito efetitada pelo Educo BMGnão demonstra o alto endividamento bancário da SMP&B, o perfil de curto pra^a desse endivi-damento, o histórico de rolarem de boa parte dessa divida, bem como a necessidade de comprome-timento de grande parte do faturamento da contratante para a quitação da mesma. Essa situaçãofinanceira da contratante também foi constatada pelos analistas do Baa/i quando da fiscalizaçãorealizada no período de 25/04/2005 a 17/06/2005 (situação descrita no anexo 111-1 ao ofí-

cio Desup/GTBHO-CosupQ2-20Q5/394 do fíacen).Outra deficiência na avaliação da .(//nação econômico-financeira pode ser constatada na

elaboração do quadro 'Contratos em I '/gor SMP&B' constante do Relatório de ('.rédito datadode 28/02/2005. Nesse quadro constam provisões de fatnramento da contratante em contratosde publicidade com diversos Órgãos públicos, como '(Correios', 'Câmara \jggtslativa1, 'Câmara dosDeputados', 'GT)¥\ l;,sportes'e 'Seco/»'. Dentre a documentação constante do dos-síè, os Peritos identificaram somente os contratos dos Correios e do Governo do Distrito federal(GDY"), cujos valores envolvidos sào divergentes daqueles constantes do quadro 'Contratos emI 'fi$pr SMP&B '. Para os demais não foi possível validar as informações dos faiuramenios.

As avaliações realizadas pelo analista de crédito do banco acerca da capacidade econò-m/co-financeira da SMP&B consideraram como futuros faturamentos da SMP&B os montan-tes globais das verbas publicitárias de cada contraio de publicidade da agência. Tal procedimentonão é correio para se determinar o faturametitô de empresas de publicidade. Isto porque as empre-sas de publicidade recebem apenas um percentual das verbas publicitárias estipuladas em contra-io, uma /'c~ cjiie essas, também, são destinadas ao pagamento de fornecedores, serviços, materiaise a outras despesas vinculadas ao objeto do contrato. O contrato dos Correios arquivado no dossiêprevê honorários de 8% à SAiP&B pela produção de peças e materiais, cuja verba publicitáriaera de RS 72 milhões, perfazendo um fatnraniento, aproximado, KVV 5,8 milhões. O analista decrédito projetoii HW fatiiramento de R$ 7,5 milhões mensais (RS 90 milhões/ano) somente paraesse contrato, um valor muito superior ao qtte poderia ser ejetivameníe realizado. Não se pode es-

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'§•PODER JUDICIÁRIO DA UNIÃOJUSTIÇA FEDERAL DE 1a. INSTÂNCIASEÇÃO JUDICIÁRIA DE MINAS GERAIS - 4a. VARA FEDERALAÇÃO PENAL N° 2006.38.00.039.573-6

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quecer, ainda, que parte desse/aforamento é destinada ao pavimento Je despesas administrativase tributárias e de custos operacionais da empresa t/f publicidade.

As exceções aqui delicadas (ausência de análise de credito para aconcessão do empréstimo n" 14.03.01036 (R$ 3.516.080,56), entrega de in-formações contábeis falsas por parte da contratante, c análises de créditodeficientes e incxatas por parte do banco) comprometeram de forma con-siderável a avaliação do limite de crédito da SMP&B. Tais exceções de-monstram que a liberação do empréstimo n" 14.03.01036não se baseou emprocedimentos mínimos requeridos e adorados por instituições financeiraspreocupadas em resguardar seu património de possíveis inadimplências.Também demonstram que as posteriores análises econômico-financeírasda contratante basearam-se em informações incorretas e falsas. (...)"•

Empréstimos concedidos a ROGÉRIO LANZA TOLENTINO &ASSOCIADOS LTDA

Com a empresa ROGÉRIO LAN7A TOLENTINO & ASSOCIADOSI,'IDA o HMG celebrou l (um) empréstimo, o qual foi aditado por 2 (duas) vexes, cujosresponsáveis pela aprovação das operações foram RICARDO ANNES GUIMARÃES e)( )ÀO BATISTA DH ABREU (fl. 416 do Apenso 03), tendo como devedores solidários eavalistas os acusados ROGÉRIO LAN7.A TOLENTINO e MARCOS VALÉRIOFERNANDES DM SOUZA:

Contrato

140300538Aditamento n°01Aditamento n°02

Concessão docrédito

26/04/200414/07/2004

28/02/2005

Data do ven-cimento

27/07/200409/02/2005

01/09/2005

Prazo

91210

L 85

Valor inicial —R$

10.000.000,0010.000.000,00

11.978.229,02

O contrato n° 140300538 foi classificado em seu inicio como rating A. Opagamento de empréstimo dar-se-ia em parcela única, com vencimento previsto para26/07/2004. Hm 14/07/2004 ocorreu amortização de encargos calculados ate a data nomontante de R$618.195,50. Nessa mesma data, foi celebrado o primeiro aditivo contratual, oqual rolou o valor do principal da dívida R$10.000.000,00, estabelecendo um novo venci-mento previsto para 09/02/2005. Em 28/02/2005 foi celebrado o segundo aditivo no valorde RS11.978.229,02, equivalente à rolagcm do principal e dos encargos financeiros integral-mente em atraso, estabelecendo um novo vencimento previsto para 01/09/2005 (fl.412/417do Apenso 03).

Em relação a este contrato, vislumbra-se a mesma incongruência observadaem relação ao contrato da SMP&B: os contratos com a ROGÉRIO LAN/A TOLMNTINO& ASSOCIADOS LTDA foram "rolados" sem qualquer razão lógica aparente.

Causa estranhexa ainda o fato de que quando da celebração do segundo adi-tivo, a rolagem da divida tenha ocorrido inclusive em relação aos encargos financeiros, o quecomprova que o BMC i não se beneficiou em nada na renovação. Ora, se referida empresatinha capacidade económica para suportar os ónus contratuais, tendo, inclusive, oferecido

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sólida garantia, segundo sustentado pela defesa, por que não foi cobrada? Por que abrir mãodo spreatfí

Ainda cm relação a estes contratos, os peritos do INC constataram o dcs-cumprimento de procedimentos mínimos na avaliação de crédito na segunda renovação doempréstimo concedido à empresa Rogério Lanza. C) relatório de crédito datado de28/02/2005, o qual deveria avaliar o risco de crédito da referida operação apresenta quaseque integralmente os mesmos comentários e avaliações do relatório de crédito preparadopara a concessão do empréstimo, datado de 23/04/2004, Para essa segunda renovação, nãofoi obtido o balanço contábil da contratante para o exercício de 2004, como prevê os norma-tivos internos do banco. "Tais fatos pennitem inferir que não fora realizada uma criteriosa reavaliaçãode crédito por parte do banco, mesmo tratando-se da secunda renovação da operação", (fl.421 do Apenso03).

As informações contábcis da empresa demonstram, segundo o INC, valoresde ativos, faturamentos e resultados anuais incompatíveis com o montante do empréstimo,fato não levado em conta pelo banco. É o que demonstra o quadro abaixo (fl.422 do Apenso03):

DescriçãoAtivo totalFaturamento do exercícioLucro líquido do exercício

31/12/200335.780,6474.599,5760.274,64

31/12/200255.344,6959.279,9447.871,48

Sob este aspecto, a concessão de um empréstimo no valor deRS U).000.000,00 a uma empresa que não fatura nem R$100.000,00 por ano chama a atençãodeste Juízo, em que pese a solidez da garantia oferecida (CDB).

Por outro lado, "a discrepância entre o montante do empréstimo contraído e os valoresdo património e das rendas geradas nas aíividades da contratante enquadra-se no item lí-a da Carta-Cirailar Raiva n" 2826 de 04/12/1998 (transcrito do item 2. / do capitulo Hl - DOS LiXslMRS dopresente Laudo), norma essa que divulga a relação de operações e situações que podem configurar lavagem dedinheiro no sistema bancário. O supra descrito não é comentado em nenhum documento integrante do processode avaliação de crédito, bem como em nenhum outro documento integrante do dossiê da SMPv^B ". (fl.422do Apenso 03).

Ainda segundo o INC, "De forma geral, a análise das injormacões contábil-financeiras da empresa Rogério Ijjn-^a 'Yolentino &1 Associados JJTDA é bastante deficitária. A análisecontábil-fmanceira restringe-se a meras citações do faturamento, valor do Património \Jqmdo e da principalconta do atiro da empresa. Muito pouco para uma análise tão importante para se avaliar a capacidade finan-ceira e patrimonial de uma empresa que pleiteia R$f() milhões de empréstimo. A insuficiência da análisecontábil-financeira é constatada mesmo quando se compara àquelas realizadas nas operações de empréstimosda SA4.P&B e Partido dos Trabalhadores. Constata-se, também, a ausência de informações contábil-fmanceiras (balancete contábil, por exemplo) para o exercido de 2004, informações essas necessárias paraproceder a uma reavaliação básica de risco de crédito, principalmente, por se tratar de segunda renovação doempréstimo." (fl. 423 do Apenso 03).

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Outro ponto que merece destaque em relação a estes contratos de ROGK-RIO LANZA, o que se percebe também em relação a alguns outros, é que algumas amorti-zações de encargos financeiros parecem ter sido feitas somente para que fossem contornadasas vedações constantes nas Resoluções n" 1559 e 2682 do C MN e BACBN, que não permi-tiam a renovação do empréstimo com a incorporação de juros encargos de transação anteri-or.

A Resolução 1559/1998, do Conselho Monetário Nacional (alterada pela Re-solução 3258, de 28/01/2005), prescrevia que "IX - H vedado às instituições financeiras: a)operações que não atendam aos princípios de seletivídade, garantia, liquide-^ c diversificação de riscos,- b)

empréstimos com a incorporação de juros e encantos de transação anterior, ressalvados os casos de composição de

créditos de dijicíl ou duvidosa liquidação'"

Assim é que, quando referidas resoluções foram revogadas, a maioria doscontratos foi renovada sem qualquer amortização dos encargos, rolando-se o principal e osjuros. Ou seja, o BMC! ''pedalava" a dívida sem nada receber, arcando ainda, em alguns ca-sos, com os ónus do provisionamcnto, dada a reclassificação dos riscos dos contratos. Por-tanto, o que se percebe é que, a depender do BMG, diversos contratos seriam renovadossem qualquer amortização, o que só não ocorreu em ra/ão das Resoluções n° 1559 e 2682 doI3ACEN. É cxatamente o que se nota nos dois aditivos dos contratos firmados com RO-GÉRIO LAN/A TOLENTINO & ASSOCIADOS I/IDA.

Sob este aspecto, importante citar as considerações do INC (fls. 513/514do Apenso 03):

16.8. íts renegociações foram efctuadas com observância dos impe-dimentos previstos nas normas vigentes?

Resposta: O parágrafo 3a da Resolução n" 2.682 do }*>acen (21 /12/99) define as-sim uma renegociação de divida: Consídera-se renegoàação a composição da divida, a prorroga-ção, a novação, a concessão de nova operação para liquidação parcial ou integral de operação an-terior ou qualquer outro tipo de acordo (///e implique na alteração dos prados th1 wttciwn/o nunas condiiòes de pagamento originalmente pactuadas, (gríjo nosso).

O item IX da Resolução Hacen n" 1.559 (22/12/1988), vedava às instituições finan-

ceiras renovar empréstimos com incorporação de juros e encargos de transação anterior. O artigo1° da Resolução fíacen n" 3.258 (28/01/2005) permitiu às instituições financeiras renovarempréstimos com a incorporação de juros e encargos de transação anterior. Portanto, até27/01/2005 ura vedado às instituições financeiras renovar empréstimos com incorporação de ju-ros e encargos da transação anterior.

O exame dos empréstimos concedidos pelo Banco BA/G' às pessoas investigadas e aoPartido dos Trabalhadores permitiu constatar que as renovações (mlagens) dos contratos vencidose que não foram integralmente pagos no período anterior à vigência da Resolução Bacen n" 3.258somente ocorreram após o pagamento dos encargos financeiros contratuais incidentes no período.Contudo, conforme resposta no quesito n" 9.2. o Banco BMG c os devedo-res utilizaram uma sistemática de realizações de novas operações de em-préstimos com o objctivo de rolar as dívidas vencidas^ç não-pn^is c, con-sequcntemcntCf tentar atender às normas emanadas pelo Baccn. A^rcferidasistemática está descrita nu resposta ao quesito n" 9^2, c compreendeu aconcessão pelo Banco BMG de novo empréstimo à SMP&B, em14/07/2004, o qual foi utilizado exclusivamente para pagamento, na mes-ma data, de encargos vencidos de empréstimos das empresas Grafitti c Ro-

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gérío Lama Tolcntinp e do Partido dos Trabalhadores, c a concessão pelobanco de empréstimos à Gtaffiti Participações Lida,, c u/os recursos libera-dos foram utilizados no pagamento de empréstimo da SMP&B.

A sistemática (/escrita no parágrafo anterior foi composta de opera-ções financeiras temerárias, as quais visavam a dissimular prolongamentos(renegociações) de empréstimos vencidos e não-pagos, pois utilizavam arealização de novos empréstimos cm nome de outras empresas investiga-das.

lá os empréstimos que venceram dentro da vigência da referida Resolução \\acen n"3.258 forma renovados sem o pagamento dos encargos financeiros contratuais do período.

Os detalhes das renovações dos contratos, tais como os montantes de encar-gos financeiros pagos, estão jormali^tdos nos itens 3 a 6 cia capitulo II — DOS JiX.-lAÍ/í.V dopresente liando e na resposta ao quesito n" 9.2. Aliás, a amortização ocorrida foi oriunda de re-cursos do contrato n" 140301036. O \Mitdo Pericial n" 1450/2007 (f/. 2455) demonstrouque o contraio n" 140301036 leve como ob/elitv a promoção de lastro financeiro para o abati-mento de encargos financeiros dos oiilros contratos sendo que R$707.222,77 foram empregadosna amortização dos encargos financeiros do contrato n° 140300538 de ROGÉRIOTOLENT1NO".

No que concerne à alegação da defesa em relação à garantia oferecida, no

sentido de que "'qntdidadc da garantia principal oferecida - repita-se, certificado de depósito bancário de

emissão do próprio BA/G', que torna a operação praticamente Hqitidável no vencimento", importante lem-

brar o quanto restou consignado no Laudo Pericial n° 1854/2006, que torna mais evidente a

triangulação de empréstimos entre as empresas do mesmo grupo, livrando-as do pagamento

de encargos financeiros e permitindo-lhes a prestação de garantias mútuas (Laudo Pericial n"1854/2006, Apenso 03, fl.419):

"a DNA Propaganda Ijda. aplicou RS 10 milhões no Hanco BAÍG, por meio de aquisição deGD/ir emitidos pelo próprio banco. No dia 26/04/2004, quatro dias após a aplicação, oBA/G realizou operação de empréstimo no ralor de RS 10 milhões à empresa Rogério l^w^aToletino & Associados Ijda. A referida aplicação financeira foi dada em garantia à operaçãode empréstimo em tela. Portanto, pode-se injerir que os recursos aplicados pela DAVI no RançoBA/G /oram repassados à empresa Rogério l^an^a Toleníinii e~ Associados }jda. ilsses recur-sos repassados tiveram como origem a agência n" 3608 do Kanco do tiras/l, conta corrente n"602000, de litiilaridade da DNA "

Sob este aspecto, bastante elucidativas as conclusões extraídas do Laudo n°

1450/2007 (fls.2452/2453):

"agarantia dessa operação de mútuo foi um CDfí da empresa DN/\ \Jda., de i-gua! ralor, contratado junto ao /3A1G, em 22/04/04. ILm análise da conta corrente 602000,agência 3608, do Banco do Brasil, de titnlaridade da DNA Propaganda, verificon-se que o ra-lor dessa aplicação em CDB, de RS 10.000.000,00, transferido para o BAfG, em 22/04/04,originou-se de depósito de RS 3.000.000,00, jeito em 15/03/04, pela Visanet. 83. Diante oe\-posto, conclui-se que o CDB, de 22/04/04, de titnlandnde da DN.-l Propaganda foi con-tratado junto ao BA4G com recursos originários da \isanet, transferidos por conta e ordem doBanca do brasil, conforme evidenciado no liando 2828/06-ÍNC. 11 ainda, as análises das con-tas correntes da DNA Propaganda mostram que não honre retorno desse valor à conta602000, o/t outra ora analisada'"

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Empréstimos concedidos ao PARTIDO DOS TRABALHADORES -PT

Com o PT, o BMG celebrou um empréstimo, o qual foi aditado 4 (quatro)vezes, cujos responsáveis pela aprovação das operações foram RICARDO ANNES GUI-MARÀKS, JOÃO BAT1STA DE ABREU, FLÁVIO PENTAGNA GUIMARÃES eMÁRCIO ALAOR DM ARAÚJO (ti 426 do Apenso 03).Os contratos tiveram como avalis-tas e devedores solidários os acusados JOSÉ GENOÍNO NETO, DELÚBIO SOARES DECASTRO e MARCOS VALÚRIO FERNANDES DE SOUZA (fl.224):

Contrato

130300102Aditamento n"01Aditamento n°02Aditamento n"03Aditamento n"04

Concessão docrédito

17/02/200328/05/2003

20/01/2004

04/07/2004

28/02/2005

Data do ven-cimento

17/07/200324.. 1 1/2003

01/07/2004

09/02/2005

22/08/2005

Prazo

150182

163

21d

175

Valor inicial —R$

2.400.000,002.400.000,00

2.400.000,00

2.400.000,00

2 .9<H. i r>s ,on

O contrato n" 130300102 foi classificado inicialmente em rating D, o que jáexigiu do BMG um maior provisionamento c o que configura um risco de inadimplência

bastante elevado.

Um que pesem as amortizações ocorridas neste período, não se pode deixarde notar a enorme generosidade e tolerância do banco BMG, eis que da concessão inicial atéo quarto aditivo transcorreram-se mais de dois anos, ou seja, a dívida foi rolada por 4 (qua-tro) vezes, em um cenário composto por um alto risco de inadimplência (rating D).

Aliás, importante ressaltar que o terceiro aditivo contratual foi celebrado em20/01/2004, antes da submissão c aprovação da operação pelo Comité Superior de Crédito,ocorrida em 23/01/2004 com o "de acordo" do acusado RICARDO ANNES GUIMA-R,\ES(fl.231).

A leniência do banco BMG salta aos olhos quando da formalização doquarto aditivo, tendo em vista a ausência de amortizações a partir de 14/07/2004. Assim, oquarto aditivo, firmado em 28/02/2005, foi renovado em um contexto bastante permissivo,quando já era de se esperar a execução judicial da dívida. A esta altura, o banco sequer sebeneficiava do recebimento dos encargos financeiros. Ora, fosse o PT um Partido com sóli-da capacidade económica, tal como alegado pela defesa, por que renovar por 4 (quatro) ve-zes (c por mais de 2 anos) o empréstimo? O que se nota c uma situação de extrema tolerân-cia da instituição financeira, de onde se extrai a completa ausência de interesse do banco emreaver os recursos emprestados.

Por outro lado, não se sustenta a tese defensiva no sentido de que as garan-tias oferecidas eram idóneas. A capacidade económica do PT, tão alardeada pela defesa, afi-

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gurava-se como mera expectativa. A este respeito, o depoimento prestado pelo acusado JO-SR GENOÍNO NETO é bastante esclarecedor ao afirmar "que lambem aluou como avalista pelofalo de que foi-lbe repassado a informação que o PT tinha condições de honrar seus compromissos, uma ve^que o fundo partidário iria ser atuali^ado, bem como a contribuição dos parlamentares c dos filiados do par-tido'^, 1434/1437). Além disso', o aval prestado pelos acusados JOSÉ GENOÍNO NETOc DELUBIO SOARES DE CASTRO, face à ausência de bens, contribui para a conclusãoda fragilidade das garantias. O mesmo se diga em relação ao aval prestado pelo acusadoMARCOS YAI.ERIO eis que, como o acusado garantia simultaneamente diversas opera-ções, seu património restou insuficiente para garantir todas elas.

De se frisar também, como bem apontado pelo representante do MPl\ea partir do 1° aditivo contratual, o acusado MARCOS VALERIO, único que possuía umacervo patrimonial razoável, se retirou do quadro de avalistas.

Sob este aspecto, não merece guarida a tese da defesa no sentido de que agarantia permaneceu intacta em razão de sua assinatura na nota promissória que garantia ocontrato. Referida nota promissória foi assinada como garantia à celebração do contrato n°130300102, que tinha vencimento em 17/02/2003. Assim, é de se concluir que o avalistaMARCOS VALERIO somente se obrigaria em relação aos aditivos contratuais medianteexpressa anuência, o que não ocorreu. Esta condição afigura-sc ainda mais exigível conside-rando que o quarto aditivo contratual alterou inclusive o objeto contratual, eis que foramincluídos no valor total do contrato os encargos financeiros não amortizados anteriormente.Desta forma, tenho que a nota promissória não foi renovada em relação aos aditivos contra-tuais, o que permite a conclusão do acerto da tese ministerial em relação à completa fragili-dade das garantias oferecidas nestes contratos.

Deve ser combatida também a tese defensiva no sentido de que "até a execu-ção do crédito, ao curso das quatro renovações do empréstimo, o BA4G auferiu, somente em ra~ào do paga-mento de juros e encargos, o valor total de R$í. 178.724,65 — quase 50% sobre o principal emprestado deR$2,4 milhões. "Isto porque, conforme demonstrado pelo Laudo Pericial n. 1450/2007, partedos recursos empregados na amortização dos encargos financeiros foram fornecidos pelopróprio BMG. Segundo o Laudo, a empresa SMP&B, apesar de não constar como devedorado contrato firmado com o PT, em 14/07/2004, remeteu o valor de R$349.927,53, proveni-entes de sua conta no BANCO RURAL S/A para amortização de parte dos encargos devi-dos pelo PT. Estes recursos, em verdade, foram obtidos através de outra operação de mútuodo BMG com essa empresa, de onde se concluí que foi o próprio BMG quem quitou parteda amortização (fls. 219 e 2451)

A atipicidade da concessão o crédito resta indiscutível após a descrição dasirregularidade» pelo INC (fl.430/433 do Apenso 03):

"(..,) Dentre a documentação cadastra/ e de suporte à análise de crédito para concessão dos em-

préstimos, não constam Declarações de informações llconômico-fiscais da Pessoa jurídica (DIPf)do Partido dos Trabalhadores. Outra exceçâo identificada foi a ausência das informações fiscaisdos representantes do Partido das Trabalhadores e de Marcos Valéria \~ernandes de Son^a. Aanálise dessas informações seria imprescindível para a liberação do primeiro empréstimo, contraton" 13.03.00/02, em 17/02/2003, uma renque os representantes do Partido dos Trabalhado-res e Marcos Valério Fernandes de So/t~a constavam como garantidores (avalistas) d» emprésti-mo.

S I )

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VARA FEDERAL

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Os formulários Informações cadastrais — Pessoa jurídica' e 'Informações cadastrais -Pessoa F/sica' não estão datados, impossibilitando constatar se os mesmo Joram preenchidos antesou depois da liberação dos empréstimos, bem como se ox mesmo estavam atuatiyados. 'Vendo emvista que esses formulários cadastrais têm pra~o de validade de um ano (conforme informado nosmesmos), e que o período transcorrido entre a data da primeira liberação de empréstimo(17/02/03) e a data da última prorrogação (28/02/05) é superior a dois anos. deveriamconstar no dossiê outros formulários preenchidos, comprovando a adoção de procedimentos de atii-ali^ação de informações cadastrais.

O balanço financeiro do Partido dos 'Trabalhadores acostado no dossiê fornecido peloBanco RM(í refere-se ao ano de 2003. Nesse balanço as receitas totalizara RS 32.836.218,08e as despesas RS 34.162.579,17, segredadas em Despesas Administrativas (64,13%), Despe-sas com prop. dontr.e política (31,58%), e encargos financeiros (4,29%). As obrigações a pagar(Demonstração de Obrigações a Pagar - modelo 04) na mesma data totalizavam RS9.528.873,20 (99,33% para pagamento em curto pra~o).

(lonforme anotações nas análises financeiras, o Partido dos Trabalhadores apresentavarestrições ('C.onforme SCI, consta uma ação executiva em qgo/97'),

O faiaramento de 2002, no rating comentado, totaliza RS 13.516 w/7, sendo que ospalores de janeiro a abril são ejetivamente realizados e de maio em diante foram previstos, embo-ra o empréstimo tenha ocorrido em fevereiro de 200 3.

li ressaltado no Relatório de Crédito que o Congresso Nacional aprovou um adicionaide RS 25 A/A/ para o fundo partidário, onde o Partido dos Trabalhadores participava com15% e que deveria receber o valor de RS 3,7 MM a mais.

As despesas previstas para o ano de 2002 ficaram em R$ 13.403 mil. .'I seguinte in-formação foi apresentada no relatório: 'Para o ano de 2002, a situação também deve ser favorá-vel, uma ve^ que as receitas previstas somam R$I7,2A1A1 (R$15,5MM + RS3JMM) e asdespesas RS / 3,4MM. Isso sem considerar a arrecadação extra em função das eleições'.

,\ ano imediatamente anterior (2001), conforme Demonstrativo de Receitas e Despe-sas, as receitas totalizaram RS !6. ?2 7.540,47 e as despesas operacionais c/// RS16.170.301,14. Não exisie nenhum comentário sobre as previsões realizadas pelo Partido dosTrabalhadores das despesas, ou seja, o Partido dos Trabalhadores informou que as receitas sofre-riam um incremento de RS 3,7MM em virtude do adicional aprovado, mas não informou o porquê das despesas de RS í ó, l MM passarem para 13,4 A í Aí, ou seja, uma redução de RS 2,7MM em relação ao ano anterior.

A realidade para o ano de 2002 foi outra, como consta dó Demonstrativo de Receiteis eDespesas. O Partido dos Trabalhadores realmente incrementou suas receitas, que totalizaramRS 19.375.409,59. Contudo, a previsão de queda de despesa operacional, que não tinha justifi-cativa, não aconteceu, e a despesa passou para RS 21.748.889,74.

Deve ser ressaltado, ainda, que nos balanços patrimoniais de 2001 a 200 3 e no balan-cete de outubro de 2004, o Partido dos Trabalhadores apresentava património liquido investido(Passivo à descoberto), ou seja, seus atiras (bens e direitos) não possibilitaram o pagamento deseus passivos (obrigações), como pode ser risto a seguir.

Tabela S - Demonstrativos tia s i luayão patrimonial comábil tio Partido dos TrabalhadoresAno

2001200220032004*

Ativos2.747.042,543.291.783,165.333.265,12

41.077.675,99

Passivos2.909.155,675.692.661,999.464.789,05

43.381.057,49

Patr imónio Líquido(162.113,13)

(2.535.593,28)(4.195.608,08)

"(7.303.381,50)*Até Out/2004."Património liquido + Receitas -Despesas do período - (-4.197.961,24 + 41.590.253,31 -44.695.673,57)

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JUSTIÇAFEDERALFLS.

No ano de 2004, os ativos do Partido dos Trabalhadores aumentaram mais de 670%em relação ao ano anterior. O incremento significativo nos ativos, de 2001 a outubro de 2004,ocorreu nas seguintes contas:

^Tabela 9 — Demonstrativo da evolução de determinadas contas contábeisConta cuntábil

DisponívelRealizável a curto prazoRealizável a longo prazoliens móveisBens imóveisImobilizado financeiro

Total

2001 2002 2003555.258,27 526.311,66

1.670.985,80 1.782.239,3711.1)68,00 11.068,00

473.723,63 963.157,290,00 0,00

36.006,84 36.006,842.747.042,54 3.291.783,16

(a) Maior acréscimo tm Kstotjues (RS 12.532.712,44)(b) Maior acréscimo cm Bens Móveis Arrendamento Mercantil -

21.684.120,94)

2004*1.114.914,74 2.504.872,061.970.193,13 (a) 14.420.931,73

11.068,00 11.068,001.998.012,86 (b) 23.896.146,31

203.069,55 208.651,0536.006,84 36.006,84

5.333.265,12 41.077.675,99— Não foi especificado o tipo de estoque- Equipamentos de informática e sofrwarc (RS

Da mesma forma que os atiras, as passivos da instituição sofreram acréscimos significa-tivos no ano de 2004, aumentando em mais de 411% em relação ao ano anterior, Apesar doacréscimo ter sido menor que o do ativo, o passivo a descoberto no mês de outubro de 2004 era deRS 7,3 milhões, ou seja, faltavam R$ 7,3 milhões para honrar os compromissos assumidos.

As frágeis garantias {avais), as verificações insuficientes, avaliações de crescimento in-completas e relatórios que demonstram ama incapacidade económica permitem inferir que Q fía/i-co BMG estava disposto a correr altos riscos a uma taxa de mercado.

5.2 - Das garantias do empréstimo ao Partido dos TrabalhadoresO empréstimo do Partido dos 'Yrabalhadores fui avalizado pelos seus dirigentes José

Genoino e Delítbio Soares de Castro e por Marcos Valéria \ernandes de So/i^a. Nas fichasconstantes do dossiê não são apresentados os bens e direitos dos dedarantes.

A Noía Promissória dada em garantia ao contrato n" 13.03,00102 joi emitida no va-lor de RS 3.120 mil. (...)".

Empréstimos concedidos à GRAFFITI PARTICIPAÇÕES LTDA

Com a GRAFÍTH PARTICIPAÇÕES LTDA o BMG celebrou um contra-to de mútuo, í» qual foi aditado 2 (duas) vezes, cujos responsáveis pela aprovação das opera-ções foram RICARDO ANNES GUIMARÃES, JOÃO BATISTA DE ABREU e MÁR-CIO ALAOR DE ARAÚJO (fl. 433/434 do Apenso 03), tendo como avalistas c devedoressolidários os acusados RÊNILDA MARIA SANTIAGO FERNANDES DE SOUZA (re-presentada por MARCOS VALÉRIO), CRISTIANO DE MELLO PAZ e HAMONHOLLERBACH:

Contrato

140300062Aditamento n"01Aditamento n"02

Concessão docrédito

28/01/200414/07/2004

28/02/2005

Data do ven-cimento

01 ' (P '2011409/02/2005

01/09/2005

Prazo

155210

185

Valor inicial —R$

15.728.300,0015.728.300,00

19.126.216,84

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O contrato n° 140300062 foi classificado em seu início como rating C, contrariando parecer do Comité Central de Crédito. Em 14/07/2004, foi realizado o primeirotermo aditivo com amortização de encargos no montante de R$2.268.823,42. O valor daamortização foi realizado pela empresa SMP&B, a partir do Banco Rural S/A. Em 28 defevereiro de 2005, foi realizado o segundo termo aditivo, que rolou o principal da dívida e osencargos financeiros. Hm julho de 2004, o contrato foi reclassificado para o ratiug L) e a par-tir de setembro de 2005, para rating \\.

Novamente, percebe-se a mesma leniéncia e permissividade cio bancoBMG. Após a primeira amortização em 14/07/2004, passaram-se 7 (sete) meses sem qual-quer amortização, o que nào impediu a renovação do contrato cm 28/02/2005. A esta altu-ra, o contrato já estava classificado no rating O. Assim, na segunda renovação, o BMG alémde não receber os encargos financeiros (spread), teve que provisional mais capital, o que re-mete à assertiva acima transcrita: o banco pa^oit para emprestar.

Por outro lado, a amortização de encargos financeiros parece ter sido feitapara se contornar a vedação constante nas Resoluções n° 1559 e 2682 do BACEN, que nãopermitiam a renovação do empréstimo com a incorporação de juros encargos de transaçãoanterior, tal como narrado em relação aos contratos celebrados com ROGÉRIO I,AN/ATOLKNTINO & ASSOCIADOS LTDA.

Sob este aspecto, o Laudo Pericial n° 1450/2007 (fl.2452) é bastante eluci-dativo ao demonstrar que os recursos que possibilitaram a única amortização vieram do pró-prio BMG, cis que provenientes de mútuo concedido pela instituição financeira à SMP&B(contrato n° 140301036).

No ponto, merece ser rebatida a tese defensiva no sentido de que "W partirdo momento em qm> o banco emprestou à Gniffifi, o capitei! emprestado passara à propriedade da mutuaria,que poderia dar-lhe a destitiação qm entendesse conveniente." N&ç* fosse pela estranha habitualitladedesta prática, observada em quase todos os contratos, poder-se-ia considerar a tese defensi-va. Contudo, o que se nota c a orquestração de uma autêntica triangulação de empréstimosem que os recursos de uns eram empregados na amortização de outros. No fim das contas, opróprio BMG arcava com os ónus financeiros. Onde está vantagem?

A este respeito, merece ser frisado o depoimento judicial cio acusadoMARCOS VALÉRIO (l'LS. 2087/2093):

" (...) u Grafjite Participações \Jda. tinha capital social integra/i^ado, cujo valor nào sabe inpnnare nào possuía fatnramento anual uma /f ~ que atnava como sócia da DA'. <\ Ltda, comparticipação de sen capita! social no percentual de 50%; a Graffite Participações Itda. recebia divi-dendos distribuídos pela D/V'I Propaganda, na medida de sua participação no capital social destaempresa; tem conhecimento de uma operação de empréstimo a Rogério Lan^í 'Yolentino Associados,em 2004, no valor de e/e~ milhões de reais, corresponde n/es ao mesmo valor do (,'Dfi relath-o a umdepósito realizado pela DAl-í, no Ranço HMC,, dado em garantia; salvo engano, além do CDB,este contrato contava ainda com o aval pessoal do interrogando e de Rogério l^an^a 'Yolentino; temconhecimento de que este contraia (oi t/ni/ado pelo ralor do C.DE; todos os empréstimos to-mados pelas empresas SMP&B^Grafitte c Rogério Lanza Tolcntino Associa-dos junto à iniciativa privada c especificamente junto ao BMG, foram repas-sados ao Partidos dos Trabalhadores (...)" (grifo nosso)

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A mesma discrepância observada nos contratos firmados com ROGÉRIOI.AN/A TOLENTINO & ASSOCIADOS LTDA pode ser evidenciada nos contratos daGRAFFITI. Os balanços financeiros da empresa, acostados no dossiê fornecido pelo banco13MG referem-se aos anos de 2002 a 2004. No ano de 2003, conforme apresentado nos de-monstrativos financeiros da empresa, a receita operacional totalizava RS37.297,58 e o resul-tado das participações societárias R$706.321,22. Contudo, mesmo com receitas e ganhos quenão ultrapassavam RS750 mil, e com ativos ejuc não ultrapassavam RS532 mil, a Graffiti foibeneficiada com um empréstimo de R$15,7 milhões (fl.438 do Apenso 03).

Segundo o TNC, "a discrepância entre o montante do empréstimo contraído e os valoreido património e das rendas geradas nas atividades da contratante enquadra-se no item Il-a da Carta Circu-lar ftacen n° 2.826 de 04/12/1995 (transcrito no item 2. í da capitulo 111 - DOS Y:.X.-\MllS do pre-sente liando), norma essa que divulga a relação de operações e situações que podem configurar lavagem dedinheiro no sistema bancário. O aqui supra descrito não é comentado em nenhum documento integrante doprocesso de avaliação de crédito, bem como em nenhum outro documento integrante do dossiê da Craffíti.(...)As frágeis garantias (avais), as verificações insuficientes e relatórios que demonstram uma incapacidade eco-nómica permitem inferir que o Ranço BMG estava disposto a correr altos riscos a uma taxa de mercado."(fl.438 do Apenso 03).

De se frisar que referidos empréstimos foram avalixados por Christiano deMello Paz, Ramon Hollerbach Cardoso e Renilda Maria Santiago F. de Sou/a e que nas fi-chas financeiras apresentadas nào constam a relação de bens e direitos dos avalistas. Por ou-tro lado, a informação constante das declarações de imposto de renda do ano-excrcício de2003 dá conta de que a soma dos patrimónios era inferior ao valor do contrato, sobretudoapós a retirada do acusado CRISTIANO DE MELLO PAZ da empresa Graffiti.

Releva destacar, ainda, que, na ocasião da celebração do segundo aditivocontratual com a Graffiti, a empresa possuía uma dívida de mútuo pendente com o BANCORURAL S/A no valor de R$10.900.000,00, com vencimento em 16/02/2004, o que reforçao cenário de alto risco cm que o empréstimo foi concedido (fl.62H).

Conclusões extraídas da análise conjunta dos contratos

Algumas considerações sobre o conjunto dos empréstimos são bastante e-lucidarivas sobre o acerto da tese ministerial. Segundo o TNC, o exame dos empréstimosconcedidos à SMP&B, PT, GRAFITO e Rogério Lanza identificou uma sistemática de reali-zação de novas operações de empréstimos com o objcrivo de rolar dívidas vencidas c não-pagas e, consequentcmcnte, tentar atender às normas emanadas pelo Bacen. Estas sucessivasrenovações, por outro lado, pretendiam impedir a ocorrência de atrasos nos contratos, comoforma de ocultar o real risco dos créditos concedidos.

Desta forma, a fraude perpetrada pode ser percebida tanto no que se refereà formalização de contratos ideologicamente falsos quanto no uso de práticas bancáriasfraudulentas que visavam camuflar a natureza fictícia dos empréstimos, impedindo a ocor-rência de atrasos e disfarçando a inadimplência, o que se nota com as sucessivas renovaçõesdestes empréstimos.

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A este respeito, merecem destaque os seguintes trechos do laudo do INC(fls. 480/484 do Apenso 03):

- Pagamento de empréstimo da SMP&B com o Banco BMG com recursosliberados pelo próprio banco em empréstimo concedido à Graffiti Partici-pações Ltda.llm 28/01/2004, o Ranço BMC concedeu empréstimo (contrato n° 14.03.00062) à C/v///;//no valor de RS 15.728.300,00, cuja liberação (/e recursos foi realizada pela conta corrente n"6002X63-3, mantida na agência n" 009 do Banco \\ural, em nome da Graffiti ParticipaçõesI-Jda. Nesse mesmo dia, foi pago o empréstimo (contrato n" 14.03.00062) da JA/Pe>/í com oRanço BMC, no montante de RS 14.931.620,54, com recursos oriundos da conta corrente n"6002863-3 mantida na agência n" 009 do Ranço Rural, em nome da Graffiti Participações\Jihi. Portanto, o empréstimo da SMP&B com o Banco BMG foi quitadocom os mesmos recursos liberados pelo próprio banco cm operação deempréstimo realizada no mesmo dia com a Graffiti Participações Ltda.Com essa sistemática realizada pelo Banco BMG e pelas empresas em tela.foi prolongado o prazo de pagamento do empréstimo vencido dn SMP&B,com elevação do saldo devedor relativa aos encargos não-jpagos.

- Concessão de empréstimo à SMP&B pura amortização de encargos fi-nanceiros vencidosl}m Jalo importante a destacar ê a concentração de diversas operações de concessão e renovação(rolagem) de operações de empréstimos no dia 14/0?'/'2004. Nesse dia, foram celebradas as se-guintes operações:

Tabela 2 - Demonstrativos das operações de crédito realizadas em 14/07/2004

Devedor/ n" do contrato

SMP&B Comunicações Ltda./ 14.03.01036Partido dos Trabalhadores/ 13.03.00102Graffiti Participações Ltda./ 14.03.00062Rogério Lan/a Tolentino c Associados Ltda./ 14.03.00538

Total

Operações de empréstimo — R$Nova3.516.080,56

3.516.080,56

Renovação

2.400.000,0015.728.300,0010.000.000,0028.128.300,00

Total3.516.080,562.400.000,00

15.728.300,0010.01)0.000,0031.644.380,56

llm 14/07/2004, foi concedido novo empréstimo à SMP&B (RS3.5)6.080,56), renovado pela terceira iv~ o empréslímo do Partido dos Trabalhadores (RS2.400.000,00), renovado pela primeira ve~ o empréstimo da Graffiti Participações Lida. (R$15.728.300,00), e renovado peia primeira w~ o empréstimo da Rogério l^an-^i '1'olentino e As-sociados Uda, (RS 10.000.000,00).Conforme consta da resposta ao <]/iesi/o n" 16.8, até 27/01/2005 (no dia 28/01/2005 en-trou em vigor a Resolução ftacen n" 3.258) era vedado às instituições financeiras renovar emprés-timos com a incorporação de juros e encargos de transação anterior (regra imposta pela Resoluçãobacen n" I. 559).A liberação do empréstimo concedido à SMP&B fio dia 14/07/2004, no montante lúj/tido deRS 3.485.557,11, permitiu que os encargos financeiros de empréstimo da Rogério Lan^a To-lentino, Partido dos Trabalhadores e da C, rã ff/1 i, v/gente ã época com o próprio Ranço BMC i,fossem pagos no mesmo dia. A origem dos recursos utilizados para pagamento dos encargos foi daconta corrente n" 60022X9-9 de titnlaridade da SAIP&K mantida na . • \gencia n" 009 do Ran-ço Rural, conta essa que recebeu os recursos do empréstimo n" 13.03.00131 concedidos àSMP&B. Tais fatos permitem inferir que o empréstimo concedido à S\\tP&H teiv como objeti-vo pagar os encargos financeiros vencidos e, com essa sistemática adotada pelo banco e pelos deve-dores, as renovações dos contratos examinados poderiam atender às normas vigentes.

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AÇÃO PENAL N° 2006.38.00.039.573-6VARA FEDERAL

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A tabela a seguir demonstra que o valor liquido liberado no empréstimo à SMP&& no dia14/07/2004 coincide de forma exaía com o valor total dos encargos financeiros (incluem taxasc tributos) de empréstimos da Rogério l^in^a Tolentino. Partido dos Trabalhadores e da draffi-ti pagos no mesmo dia, devidamente acrescido do ralar da C.PMl' incidente.

Tabela 3 — Demonstrativos do uso do empréstimo concedido à SMP&B em 14/07/2004Dcsctição Valor - R$

Pagamento de encargos do contraio n° 14.03.OOÍS38 da Rogério Lan/aPagamento de encargos do 2" aditivo ao contrato n" 13.1)3.00102 do Partidodos TrabalhadoresPagamento de encargos n" 14.03.00062 da GraffitiTotal dos pagamentos (1)CPMF - [(1) x 0,38" o]Total dos pagamentos com CPMFValor líquido liberado pelo empréstimo concedido à SMP&B

707.222,77

351.508,202.413.631,163.472.362,13

13.194.983.485.557,113.485.557,11

Consolidando as operações dos empréstimos, foram realizadas pelo Ranço BA/f» cinco operaçõescom liberação de recursos (duas com a .VA/PeMí; Rogério lum^a, Graffiti e Partido dos Traba-lhadores, uma ve^ cada) e de^ aditivos (prorrogações) de operações vencidas (SMP<<Lr*B, (',ra[f/ti eRogério L^an^a, duas re~es cada; quatro ve^es com o Partido dos Trabalhadores). Das cinco o-peracões com liberação de recursos, apenas uma realizada com a SMP&ft já/ quitada, mas nti-li^ando recursos oriundos de empréstimo concedido pelo próprio banco, no mesmo dia do paga-mento, ã (irafjiti. Quando da realização dos de^ aditivos firmados, em dois (ambos do Partidodos Trabalhadores) ocorreram pagamentos de encargos financeiros para rolagem da divida. Des-ses dois, um tere os encargos pagos com recursos oriundos de empréstimos concedidos pelo própriobanco, no mesmo dia, à SAiPef"B. Nos oito demais aditivos não ocorreu pagamento dos encar-gos, todavia, o vencimento deles ocorreu em período em qm as normas do Eacen permitiam a re-novação (rolagem) de empréstimos com a incorporação de encargos financeiros não-fiagos.O deíalhamento das operações de rolagem dos empréstimos concedidos à .\MP<írfí, Partido dosTrabalhadores, Rogério l^an^a e Graffiti é apresentado a seguir, por devedor.

à*B ComunicaçõesO Banco BMG concedeu dois empréstimos à SMP&B, identificados pelos contratos n"13.03.00131 (25/02/2003) e n" 14.03.01036 (14/07/2004), renovados por uma iv% ca-

da, nas datas de 26/05/2003 e 04/03/2005, respectivamente.A renovação do primeiro empréstimo (contrato n" 13.03.001 31), no valor de RS 12 milhões,rolou o principal da divida e prolongou aprazo de pagamento em 91 dias. Não ocorreu elevaçãodo saldo devedor. TÁm 28/01/2004, o empréstimo joi pago com recursos liberados pelo própriobanco em operação de empréstimo realizada no mesmo dia com a Graffiti Participações Uda.A renovação do segundo empréstimo (contrato n" 14.03.01036), no valor de RS 3.516.080,56,rolou o principal e os encargos da dívida, prolongou o pra^o de pagamento em 204 dias, e elevouo saldo devedor para RS 4.235.947,14, mediante a incorporação de. RS 719.866,58 de encar-gos financeiros não -pagos. Ate o final dos exames, o empréstimo não havia sido pago.

Rogério Lafí^a Tolenlino er Associados Ltda.O Banco BMG concedeu um empréstimo à empresa Rogério l^n^a, no montante de RS W mi-IhÕes, identificado pelo contrato n" 14.03.00538 (26/04/2004), renovado por duas veys, nasdatas de 14/07/2004 e 28/02/2005.A primeira renovação rolou o principal da divida (RS 10 milhões) e prolongou o pra~o de pa-gamento de 198 dias, com o pagamento dos encargos, em 14/07/2004, mediante a utilizaçãode parte dos recursos liberados em empréstimo concedido à SM Per/i ao mesmo dia. Xão ocorreu

elevação do saldo devedor.

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JUSTIÇAFEDERALFLS.

A segunda renovação rolou o principal e os encargos da divida, prolongou o pra^p de pagamentoem 204 dias, e elevou o saldo devedor para RS 1 1.978.229,02, mediante a incorporação de RS1.978.229,02 de encargos financeiros não-pagos.AÍ/J datas em que ocorreram as ditas rolagens da divida, as informações contábil-financeiras daempresa Rogério \Mn^a não apresentavam nenhum novo elemento que indicasse melhores condi-ções para a quitação da d/vida vencida, l ixceto pela manutenção da boa garantia à operação deempréstimo (CDR do Banco em nome da DA'. - l Propaganda Ijda.), não constam dos documen-tos examinados novos fatores que pudessem sugerir melhores condições de pagamento da divida,Jatores esses necessários para justificar a realização das renovações. O valor da divida rolada pelosegundo aditivo (RS 11.978.229,02) superara, na data da rolagem (28/02/2005), em RS862.872,30 o valor da aplicação financeira da DAVI Propaganda iJda. dada em garantia.Até o final dos exames, a referida renovação nào havia sido paga.

Par/ido dos TrabalhadoresO Banco BA/G' firmo/i um contrato de empréstimo com o Partido dos Trabalhadores que recebeua número f 3.03.00102, no valor de RS 2,4 milhões. O contrato tinha como vencimento inicial17 '/ '07 '/ '2003 e previa pagamentos de encargos na vigência do mesmo. Antes do vencimento, ocontraio foi adi/irado, lendo como novo vencimento 24 / 1 1/200). O contraio leve, no total,quatro termos aditivos, sendo que no terceiro foram incorporados encargos ao principal da divida.ocasionando elevação do saldo devedor em RS 501.168,00. Os quatro aditivos prorrogaram adívida por 1 30, 220, 223 e 194 dias, respectivamente. Para o pagamento dos encargos do aditi-vo em 14/07/2004. foram utilizados recursos provenientes do empréstimo concedido à

fi Comunicações, conforme descrito nesse quesito.

Grajfiti Participações LJda.O Banco BM(J concedeu um empréstimo à Craffiti Participações L/da., na modalidade de Con-trato de Mittiio - l' 'mandamento de Capital de Giro, o qual foi aditado por duas iv~es. Os doisaditivos prorrogaram a dívida por 223 e 204 dias, respectivamente. Para o pagamento ocorridoem 14/07/2004 dos encargos do contrato iniciai, foram utilizados recursos provenientes do em-préstimo concedido à SMP&B Comunicações, conforme descrito nesse quesito. j\"o segundo termoaditivo, os encargos foram incorporados ao principal da d/vida, ocasionando elevação do saldo de-vedor em R$3397. 916t84>

9.3 — houve rolagem de dívidas?Resposta: Sim. Vide resposta aos quesitos n" 9.2 e ao quesito n" 16.8.(...)

Outra relevante conclusão extraída do Laudo, rcferc-se à precariedade dasinformações e a incompletude dos registros cadastrais dos tomadores.

Segundo o INC,

" Quando às Informações Cadastrais.10.1. o dossiê contém as informações cadastrais e ficha cadas-

tros vigentes em nome dos tomadores e sócios/ avalistas?Resposta: hm conexão ao combate ã lavagem de dinheiro, o Eacen emitiu normas que

dispõem sohre os procedimentos mínimos a serem adotados pelas instituições financeiras no cadas-tro de seus clientes.

Conforme descrito no item 2. í do capitulo III - DOS' EXslMflS do presente irando, o re-gistro das informações cadastrais cias empresas iomadoras de empréstimos, de seus sócios e avalis-tas compreendem, basicamente, pesquisas realizadas no Serosa, consultas no Sistema de Infor-mações de Crédito do banco Central do Brasil (SCR) e preenchimento do formulário "Informa-ções cadastrais - Pessoa jurídica" e/ ou "Informações cadastrais- Pessoa \isica". Para o preen-

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ciumento do formulário são requeridos documentos dos contratantes, tais como cédula de identida-de, cartão de registro fio Cadastro de Pessoas l 'isicas (CP]'), documentas constitutivos depessoas jurídicas, comprovante de registro no Cadastro Nacional da Pessoa jurídica (CNPJ),comprovantes de residência, dentre outros. Os formulários apresentam campos para serem preen-chidos com as informações mínimas requeridas peia Resolução Baceti n" 2.025 de 24/11 /1993.Tais formulários estão parcialmente preenchidos, e.\islindo, em alguns dossiês, uma jotha em a-tte\o, preenchida em sistema computadorizado, com os dados cadastrais dos proponentes.

SMP&B Comunicações Ltda.O Ranço /iA/G' apresentou uma pasta (dossiê) das operações de empréstimo da SMP&B,

na qual consta a documentação relativa ao processo de cadastro da empresa tomadora dos em-préstimos e de seus sócios/ avalistas.

Rogério Lanza Tolentino & Associados Ltda.O Ranço BM(> apresentou uma pasta (dossiê) das operações de empréstimos da Rogério

l^an^a, na qual consta a documentação relativa ao processo de cadastro da empresa lomadora doempréstimo, de seus sócios e avalistas, exceto o formulário "Informações cadastrais - Pessoa F/r/'-ca" da sócia l ''era Maria Soares Tolentino, e os comprovantes da residência dos sócios, tais comocópias de contas de telefone e energia elêtrica.

Partido dos TrabalhadoresO dossiê recebido não apresenta a documentação dos dirigentes do partido, tampouco dos ava-

listas, restringindo ao formulário "Informações cadastrais - Pessoa \*ísica"parcialmente preen-chido, faltando dados dos rendimentos, bens móveis e imóveis, injormações de crédito etc. e com-provantes de residência e documentação pessoal

Graffíti Participações Ltda.Dentre a documentação apresentada a exame não constam pesquisas à S e rasa ou ao fiatico

Central do Hraíil e Declarações de Informações llconômico-fiscais da Pessoa jurídica (DIPJ) daC,raffi!i Participações Uda. Outra exceção identificada foi a ausência das informações fiscais dosrepresentantes da Graffíti Participações \Jda. e de Marcos l 'alério Fernandes de Sou^a, avalis-

tas operação.

As análises pormenorizadas de cada um dos dossiês são apresentadas nos itens í a 6 do ca-

pítulo III - DOS KX.4A4ES ao presente Laudo.

10.2 é possível atestar se os dados neles contidos estariam a-tualizados e adequadamente comprovados através de apresentação de do-cumentação hábil?

Resposta;SMP&B Comunicações Ltda.Os formulários "Informações cadastrais - Pessoa jurídica" e "Informações cadastrais - Pes-

soa Física" não estão datados, impossibilitando constatar se os mesmos foram preenchidos antesou depois da liberação dos empréstimos, bem como se os mesmos estavam atua/irados. Tendo emvista que esses formulários cadastrais tem pra^o de validade de um ano (conforme informado nospróprios), e que o período transcorrido entre a data da primeira liberação de empréstimo(2510212003) e a data da última prorrogação de empréstimo (04/03/2005) ê superior a umano, deveriam constar do dossiê outros formulários preenchidos, comprovando a adoçào de proce-dimentos c/c atnali^ações das informações cadastrais.

Constam outros documentos com informações cadastrais (consultas à Serasa; ao Sistema deInformações de Crédito do Banco Central do 'brasil (SCR)) da lAÍPerB, de empresas ligadas e

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dos sócios nos meses de fevereiro/O3, outubro/Oí, janeiro/04, outubro/04, fevereiro/05 e jii-lhõ/05, comprovando que ocorreram atuati^açoes de outros documentos e anâKses cadastrais.

lim 14/07/2004, foi celebrado a contrato de empréstimo n" 14.03.01036. i\ào foram a-presentadas pesquisas cadastrais à Serasa relativas a esse contrato, sendo que as mais próximasdatavam de 29/01/2004 e á' 28/ 10/2004.

As informações cadastrais constantes dos formulários "informações cadastrais - Pessoa jurí-dica" e "Informações cadastrais- Pessoa l:isica" estão comprovadas por documentação hábil.

Não foram identificados documentos em que constassem eventuais restrições cadastrais.

Rogério Lanza Tvlcntino & Associados Ltda.Os formulários "Informações cadastrais — Pessoa jurídica" e "Informações cadastrais - Pes-

soa física" não estão datados, impossibilitando constatar se os mesmos foram preenchidos antesou depois da liberação dos empréstimos, bem como se os mesmos estavam alua/irados. 'Vendo emvista que esses formulários cadastrais têm prayi de validade de um ano (conforme informado nospróprios), e que o período transcorrido entre a data da primeira liberação do empréstimo(26/07/2004) e da data da última prorrogação do empréstimo (01/09/2005) é superior aum ano, deveria constar do dossiê outro formulário preenchido, comprovando a adoção de proce-dimentos de atua/ilações de informações cadastrais. Outra exceção encontrada corresponde à au-sência do formulário "Informações cadastrais - Pessoa í 'isica" da sócia I /era Maria Soares To-

lentino.Constam outros documentos com informações cadastrais (consultas à Serasa e ao Sistema de

Informações dt Crédito do Ranço Centra! do Brasil (SRQ) da empresa Rogério Lan^a e deseus sócios nos meses de abri!/04, setembro/04, março/05 e julho! 05, comprovando que. ocorre-ram alua/ilações de outros documentos e análises cadastrais.

As informações cadastrais constantes dos formulários "Informações cadastrais - Pessoa Jurí-dica " e "informações cadastrais - Pessoa /:isica'' estão comprovadas por documentação hábil.

A alteração do Contrato Social da empresa Rogério I^an^a Tolentino e> Associados Ijda.,datada de 1" de janeiro de 2004 e arquivada no dossiê disponibili^ado pelo banco, estabelece quea "sociedade tem como objetivo social a prestação de serviços jurídicos". Compõe o quadro societá-rio da empresa, Rogério Lan~a Tolentino (99,9% do capita!) e sua esposa Vera Maria Soares'1'olentinfí (0,1% do capital). Tendo em vista que as informações cadastrais e fiscais dos sócios in-formam que l 'era Maria Soares Tolentino não é advogada, a mesma não poderia ser sócia deum escritório advocatido. O artigo n° 16 da l^ei n" 8.906/94 que dispõe sobre o Estatuto daAdvocacia e a Ordem dos Advogados do Rrasil (OAB)prevê;

'Ari. 16. Não são admitidas em remiro, nem poclem Inficionar, as sociedades de advogadosque apresentem forma ou características mercantis, que adotem denominação de fantasia, que rea-li^em atividades estranhas ã advocacia, qne__inditani sócio não inscrito como advogado ou total-mente proibido de advogar, (grifo nosso)

§ 1° A ra^ao social deve ter, obrigatoriamente, o nome de, peio menos, um advogado respon-sável pela sociedade, podendo permanecer ô de sócio falecido, desde que prevista tal possibilidadeno ato constitutivo.

jf 2a O licenciamento do sócio para exercer atividade incompatível com a advocacia em carátertemporário deve ser averbado no registro da sociedade, não alterando sua constituição.

f J" / - j proibido o resisfro, nos cartórios de ret>isp'0 civil de pessoas jurídicas e nas juntaí_ co-merciais, de sociedade que inclua, entre outras finalhlades, a atividade de advocacia..' (grifa nos-só)

Além de apresentar um sócio não inscrito COMO advogado, a empresa Rogério l^n-^q Tolenti-no e> Associados l^tda. joi registrada no Cartório de Regi s fro Civil de Pessoas jurídicas daComarca de Matosinhos/MG, conforme demonstra os carimbos apostos no Contrato Social enas respectivas alterações arquivadas no dossiê'. Tal fato também contraria o parágrafo 3° do ar-tigo 16 da I ji n" 8.906/94, o qual veda 'o registro, nos cartórios de registro civil de pessoas//i-

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ridiais e nas jaulas comerciais* de sociedade que inclua, entre outras finalidades, a aíividtide de

advocacia'.

Portanto, à época da contratação do empréstimo, a empresa RogérioLanza Toíentino & Associados Ltda. funcionava de forma irregular, fatoesse não reportado nos documentos que compõem o dossiê da análise ca-dastra/da empresa contratante.

As exceçõcs aqui clcncadas comprometiam o funcionamento regular daempresa contratante nas operações de credito.

Partido dos TrabalhadoresO.í formulários "Informações cadaslrais — Pessoa jurídica'' e "Informações cadastrais— Pes-

soa Písica" não estão datados, impossibilitando constatar se os mesmos foram preenchidos antes

ou depois da liberação dos empréstimos, bem como se os mesmos estavam atnali^ados. '/ 'endo em

vista que esses formulários cadastrais têm pra^o de validade de um ano (conforme informado nos

mesmos), e que o período transcorrido entre a data da primeira liberação de empréstimo

(17/02/03) e da data da tiltima prorrogação de empréstimo (28/02/05) é superior a dois a-

nos, deveriam constar do dossiê outros formulários preenchidos, comprovando a adoção de proce-

dimento de alnali^açào das informações cadastrais.

Graffíti Participações Ltda.Os formulários "Informações cadaslrais — Pessoa Jurídica" e "informações cadastrais — Pes-

soa Física" não eslao datados, impossibilitando constatar se os mesmos foram preenchidos antes

on depois da liberação dos empréstimos, bem como se os mesmos estavam atuali^ados. haja vista

(fite os mesmos estão preenchidos apenas com os nomes e endereços. '\'endo em vista que esses for-

mulários cadaslrais lèm pra^o de validade de um ano (conforme injortnado nos mesmos), e que o

período transcorrido entre a data da primeira liberação de empréstimo (28/01/04) e da data da

última prorrogação do empréstimo (2X/02/05) é superior a um ano, deveriam constar do dossiê

outros formulários preenchidos, comprovando a adoção de procedimento de atuali^açào das infor-mações cadastrais.

10.3 as fichas de registros de Comprometimentos (ou doe. e-quivalcntc), em nome dos sócios/ avalistas e tomadores, contém registrosatualizados concernentes à contratações, prorrogações, reformas, rctifica-çõcs de limites e liquidações de operações de crédito?

Resposta: Os Peritos não identificaram nenhum documento relativo ao processo de cadastro

de clientes e de análise de crédito que pudesse ser entendido como 'ficha de registro de comprome-

timento ! As conclusões dos exames relacionados à atuatiqação das análises de crédito e dos do-

cumentos cadastrais estão descritas nas respostas aos qmsttos n" 10. í e 10,2.

10.4 essas fichas de registro de comprometimentos encontram-se arquivadas Junto às informações/ Fichas Cadastrais correspondentes?

Resposta: Os Peritos não identificaram nenhum documento relativo ao processo de cadastro

de clientes e de análise de crédito que pudesse que ser entendido como "ficha de registro de com-prometimento '. lintretanto, conforme já descrito em resposta aos quesitos n° 7.1 e 10.!, todas asinformações relacionadas a operações de empréstimos de um mesmo cliente são dispostas em dossi-

Sob este aspecto, necessário colacionar aqui as determinações prescritas pe-lo BACEN acerca das regras a serem observadas pelas Instituições Financeiras nas opera-ções bancárias, as quais, segundo o Laudo n° 1854/06-SR/MG, não foram observadas pelo

Banco BMG S/A :

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Segundo a Circular 2.852/1998, do Banco ("entrai do Brasil,

.-)/•/. f° As instituições financeiras e demais entidades autorizadas a funcionar pelo Banco Cen-

tra! do brasil estão obrigadas a:J - manter afualisçadas as informações cadastrais dos respectivos clientes, obseri-adas, quando for0 caso, as exigências t responsabilidade* definidas na Resolução n" 2.025, de 24.11.199), emodificações posteriores;II - manter controles e registros internos consolidados que perniitam verificar, além da adequada

identificação do cliente, a compatibilidade entre as correspondentes movimentação de recursos, ati-i/idade económica c capacidade financeira;III - manter registro, na forma a ser estabelecida pelo banco Central do brasil, de operações en-

volvendo moeda nacional ou estrangeira, titulou e valores mobiliários, metais ou qualquer outro

ativo passível de ser convertido em dinheiro.Parágrafo í".Além das instituições e entidades referidas no "capai", sujeitam-se às disposições

desta Circular:1 - as administradoras de consórcios;II - as pessoas credenciadas oti autorizadas, pelo banco Central do brasil, a operar no "Merca-do de Câmbio de Taxas Flutuantes", ai incluídas as entidades ou sociedades emissoras de cartão

de crédito de validade internacional, as agências de turismo e os meios de hospedagem de turismo;III - as agências, filiais ou sucursais e os representantes de instituições financeiras sediadas no ex-

terior instaladas no País.Parágrafo 2° Na hipótese de o cliente constituir-se em pessoa jurídica, as informações cadastrais

referidas no inciso J do "capnt" deverão abranger as pessoas físicas autorizadas a represenlá-la,bem como seus controladores.Parágrafo 1° Independentemente do estabelecido no inciso III do "caput", deverão ser registradas:Circular n° 2852, de 3 de dezembro de 1998í - as operações que, realizadas com uma mesma pessoa, conglomerado oti grupo, em um mesmomês calendário, superem, por instituição ou entidade, em sen conjunto, o limite estabelecido no

a ri. 4", inciso l;II - as operações cujo titular de conta corrente apresente créditos ou débitos qne, por sua habitua-lidade, valor e forma, configurem artifício que objetive burlar os mecanismos de identificação de

que se trata.Ari, 2° Além das providências estabelecidas no arí. l", as pessoas ali mencionadas devem dis-pensar especial atenção às operações ou propostas cujas características, no que se refere às partes

envolvidas, valores, formas de realização e instrumentos utilizados, ou que, pela falta de funda-mento económico ou legal, possam indicar a existência de crime, conforme previsto na Lt'i n"

9.613, de 03.03.199H, oti com ele relacionar-se.Parágrafo linico. Para fins do disposto nes/e artigo, os Departamentos de Câmbio (DHC.4M),de / 'idealização (DEWS) e de Normas do Sistema Financeiro (DliNOK) divulgarão normati-

vo descrevendo operações e situações que possam configurar indício de ocorrência dos crimes previs-

tos na mencionada Lê/.Ari. 3a Os cadastros e registros referidos no arí. i ° derem ser mantidos e conservados durante o

período mínimo de 5 (cinco) anos contados a partir do primeiro dia do ano seguinte ao do encer-

ramento das contas correntes ou da conclusão das operações.Ari. 4° Deverão ser comunicadas ao banco Central do brasil, naJorma qne vier a ser determi-nada, quando verificadas as características descritas no arí. 2":I - as operações de que trata o art. /', inciso III, cuja valor seja igual o/t superior a

RS /0.000,00 (de^ mil reais);II - as operações de que trata o art. í", parágrafo 3°, inciso J;131 - as operações referidas no arí. 2", bem como propostas no sentido de sua realização.Parágrafo í" A comunicação referida neste artigo deverá ser efeiuada sem que seja dada ciência

aos envolvidos.

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Parágrafo 2° As comunicações de boa-fé, conforme previsto no art. / /, parágrafo 2°, da Lei n"9.613/98, não acarretarão responsabilidade civil on administrativa às instituições e entidadesmencionadas no art. í", seus controladores, administradores e empregados.Art. 5a As instituições e enlidades mencionadas no art. 1" devem desenvolver e implementar pró-cedimtníos infernos de controle para detectar operações que caracterizem indicio de ocorrência doscrimes previstos na mencionada Lei n" 9.613/98, promovendo treinamento adequado para seusempregados.Art. 6° As instituições e entidades mencionadas no art. 1°. bem como a seus administradores eempregados, que deixarem de cumprir as obrigações estabelecidas nesta Circular fi° 2852, de 3de dezembro de 1998 Circular serão aplicadas, cumulativamente ou não, pelo Banco Central doBrasil, as sanções previstas no art. 12 da mencionada Lei n° 9.613/98, na forma prevista noDecreto n°2.799, de 08.10,1998.Ari. 7° As instituições e enlidades mencionadas no art. i" deverão indicar ao \\anco Central doBrasil diretor ou gerente, conforme o caso, responsarei pela incumbência de implementar e acom-panhar o cumprimento das medidas estabelecidas nesta C.iratlar, bem como promover as comuni-cações de que trata o art. 4a".

Importante transcrever aqui uma elucidativa passagem do Laudo n°1854/06-SR/MG onde são apontados todos os estornos de encargos financeiros feitos peloRMG, o que reforça a premissa de que a inadimplència dos tomadores não preocupava ainstituição financeira:

" houve alguma proibição de conceder empréstimos, financiamentos, dis-pensas de /uros, multa e corrcçào monetária ou qualquer outro benefícioaos tomadores dos empréstimos questionados?

Resposta: Os contratos dos empréstimos examinados apresentam cláusulas que esta-belecem encargos financeiros em caso de não inadimplència. De acordo com essas cláusulas, incidi-rão sob o saldo devedor no período inadimpknte: a) comissão de permanência imitai ao índice deacréscimo e aos juros preristos em contrato, ou à opção do KiMG, à taxa vigente no mercado nadata do efetivo pagamento; b) juros moratórias de 12% (do-^e por cento); c) multa penal de 2%(doispor cento); e d) honorários advocaticios de 10% (de^por cento).

SMP&B Comunicações Ltds.O contrato de empréstimo n" 13.03.00131 foi renovado (26/05/2003) antes da data

do vencimento final (25/08/2003), Iodaria a liquidação de algumas parcelas intermediárias o-correu com atraso, f ato esse que gerou a incidência de encargos financeiros de inadimplència no va-lor de Rv? 62.428,89. Quando da renovação do referido contrato, os encargos financeiros do perí-odo foram pagos, mediante o estorno de encargos financeiros de inadimplència no montante de R^6 3.153,48.

O adi/iro do contrato do empréstimo n° 13.03.001 31 tinha vencimento previsto para24/11/2003, entretanto, foi liquidado somente em 28/01/2004. De acordo com o extraio fi-nanceiro do aditivo, os encargos financeiros de inadimplència (juros moratórias, comissão de per-manência e multa) calculados no período seguinte ao término do conlrato totalizaram R$4.555.323,24. . -í liquidação desse empréstimo ocorreu mediante o estorno de encargos financeirosde inadimplència no montante de R$ 3.797.634,77.

O contrato de empréstimo n" 14.03.01036 foi renovado (04/03/2005) após o pra^odo vencimento final (09/02/2005), faio esse qm gerou a incidência de encargos financeiros deinadimplència no valor de RS 486.101,74. Quando da renovação do referido contrato, parte dosencargos financeiros de inadimplència foi estornada no montante de R$ 370.660,34.

As operações financeiras acima descritas demonstram que as negociações financeiras en-tre o Bata-o BMC e a SMP&B permitiam que R/ 3.860.788,25 relativos a encargos financei-ros de inadimplència do contrato do empréstimo n" 13.03.00131 não fossem pagos, bem como

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que RS 370.660,34 relativos a encargos financeiros de inadimplêntia não compusessem o saldodevedor dói renovação do contrato de empréstimo n° 14.03.01036. Os valores aqui citados estãoapresentados nas tabelas 1 e 2 do item 3 do capítulo 111— DOS !:X.-1AÍLÍS do presente \MII-

do.

Rogério Lama Tolentino & Associados Lida.O primeiro aditivo do contrato de empréstimo n" 14.03.00538 tinha vencimento previs-

to para 09/02/2005, entretanto, Joi renovado somente em 28/02/2005. De acordo com o c.v-trato financeiro do referido aditivo, os encargos financeiros de inadimplència (juros moratórias,comissão de permanência e malta) calculados no período compreendido entre a data de término docontrato e a data de sen aditivo totalizaram R-S í.175. i55,72. O segundo aditamento do em-préstimo ocorreu mediante o estorno de RS 914.317,80 dos encargos financeiros de imidimplén-

cia.As operações financeiras acima descritas demonstram que as negociações financeiras en-

ire o Banco fíMC, e a empresa Rogério l^an^a permitiram que RS 914.317,80 relativos a en-carvos financeiros de inadimplència não compusessem o saldo devedor que foi renovado pela se-gunda ve^ em 28/02/2005. Os valores aqui citados estão apresentados na tabela 4 do item 4do capitulo III - DOS l EXAMES do presente Laudo.

Partido dos TrabalhadoresO Partido dos Trabalhadores recebeu recursos provenientes de um contrata de m nino

firmado com o tianco Mi d', na data de 17/02/2003. Nos normativos do banco, não foramencontrados dispositivos que proibissem a contratação com entidades políticas. As ro/agens docontraio ocorreram com pagamento dos encargos, quando obrigatório, ou incorporado os encargos,quando permitido.

Os aditivos do contrato do empréstimo n" 13.03.00102 tinham vencimentos previstospara 24/11/2003, 01/07/2004 e 09/02/2004, entretanto, foram renovados somente em20/01/2004, 14/07/2004 e 28/02/2004, respectivamente. De acordo cow os estratos fi-nanceiros dos referidos aditivos, os encargos financeiros de inadimplincia (juros moratórias, comis-são de permanência e multa) calculados no período compreendido entre a data de término do con-trato e a data de seus aditivos totalizaram RS 1.415.787,72. Os aditamentos do empréstimoocorreram mediante o estorno de RA' 1.081.037,97 dos encargos financeiros de inadimplència,que foram denominados nos extraio.* financeiros como 'despesas'. Os valores aqui citados estãoapresentados na tabela 7 do item 5 do capítulo Hl - DOS / :X.-IA// : .V do presente \Mitdo.

Gruffiti Participações Ltdn.A empresa (iraffiti Participações Udd recebeu recursos provenientes de nm contraio de

mútuo firmado com o banco BAid S.A., na data de 28/01/2004. Nos normativos do banco,nào foram encontrados dispositivos que proibissem a contratação com instituições com atividadepublicitária de relações públicas e de participação na qualidade de sócio em outra empresa. Asrolagem do contrato ocorreram com pagamento dos encargos, quando obrigatório, ou incorporadoos encargos, quando permitido.

Os aditivos do contrato do empréstimo n" 14.03.00062 linham vencimentos previstospara 01/07/2004 e 09/02/2004, entretanto, foram renovados somente 14/07/2004 e28/02/2004, respectivamente. De acordo com os extraías financeiros dos referidos aditivos, osencargos financeiros de inadimplència (juros moratórias, comissão de permanência e multa) calcu-lados no período compreendido entre a data de término do contrato e a data de seus aditivos tota-li^aram RS 3.462.547,87. Os aditamentos do empréstimo ocorreram mediante o estorno de RS2.569.971,14 dos encargos financeiros de inadimplència, que foram denominados nos estratosfinanceiros como 'despesas'. Os valores aqui citados estão apresentados na tabela 10 do item 6 docapitulo III - DOS KX.4MES do presente l^ndo.

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Vale repisar, também, sobre a superficial e precária análise do risco dos cré-ditos concedidos, o que se constata a partir da verificação de que alguns procedimentos deavaliação de risco não foram realizados.

De acordo com o Instituto Nacional de Criminalística,

" a contratação foi realizada após avaliação básica de risco de crédito daempresa?

Resposta: .-{ formalização da avaliação de risco, a qual baseia-se, principalmente,tias informações cadastrais, fiscais e económico-jinanceiras da empresa tomadora do crédito e deseus sócios e avalistas, dá-se em fonnH lário próprio intitnlado Relatório de Crédito, o qual é da-tado e identificado com o nome do analista de crédito responsável. A elaboração do Relatório deCrédito é prevista em normativo interno do banco, o qual assegura o cumprimento dos procedi-mentos mínimos de avaliação de crédito determinados pelo Baa'ti a toda instituição financeira.

De acordo com o normativo interno do banco 'Comunicado //" 59/2001', 'a análise dequalquer proposta de limite de crédito, deverá ser feita a partir de informações cadastrais recentese contábeis ataali^das, bem como, por meio de visitas à empresa, feitas tanto pela Área Comer-cial (obrigatória), quanto pela . '\rea de Crédito (caso necessário)'. O mesmo normativo prerè quea 'renovação do limite de crédito levará em consideração as injormaçòes cadastrais ataali^adas,modificações no mercado da empresa e análise econômico-ftnanceira abrangendo dados recentes(balancete, rendas, passivo bancário, experiência com o cliente, liquide^ das garantias), com ana-lise geral da evolução da empresa desde a vigência do último limitei operação'.

O exame da documentação constante dos dossiês de cada tomador dos empréstimos cons-tatou que para algumas operações de empréstimo (inicial e renovações), determinados procedimen-tos de avaliação de risco não foram realizados, conforme demonstrado a seguir.

SMP&B Comunicações Ltda.Dentre a documentação apresentada a exame não constam documentos ou informações

que comprovassem a realização de visitas das Áreas Comercial e de Crédito à SAlP<à~B, visitasprevistas para o processo de análise de qualquer proposta de limite de crédito. Com base no dos-siê dos empréstimos da empresa SMP&B, pode-se elaborar o seguinte demonstrativo:

Quadro l — Datas das operações de crédito x data das emissões do Relatório de CréditoOperações de crédito

Contrato13.03.0013113.03.0013114.03.0103614.03.01036

SituaçãoInicial

AditamentoInicial\u

Data25/02/200326/05/200314/07/200404/03/2005

Relatório de CréditoData de emissão

26/02/2003

28/02/2005

L);U;i de validade'

25/08/2003

01/09 .-'nu-,1 Data de vencimento do limite de crédito aprovado pelo í [omite Superior de Crédito.

Conforme demonstrado acima, o Relatório de Crédito relativo à liberação do primeiro empréstimo(contrato n° 13.03.00131), datado de 26/02/2003, foi emitido um dia após a sua liberação.Q aditamento desse contrato foi realizado dentro do pra-y de validade do Relatório de Créditoelaborado para sua liberação. Não foi apresentado o Relatório de Crédito da liberação do contra-to de empréstimo n" 14.03.01036, ou seja, o empréstimo foi concedido sem a realização da ava-liação obrigatória de crédito. Para o sen aditamento foi apresentado o Relatório de Crédito daia-do de 28/02/2005, que se apresentava em vigor.Avaliando as informações contábeis presentes no dossiê das operações de empréstimo daSMP&B, pode-se constatar que o balanceie contábil em 31 /12/2003 apresentado pela contra-tante e utilizado pelo analista de crédito da instituição financeira não registra a real posição deendividamento bancário naquela data. Y',nqnanto as informações presentes no Sistema de fnfor-

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mações de Crédito do Ranço Central do Krasif (SCR), as quais se encontram arquivadas nodossiê da .VA//'er/i, indicam que a contratante apresentara, em 31 /12/2003, dívidas em insti-tuições financeiras no montante de RS 14. 549 mil, sen balancete contábil levantado na mesmadata informara a rubrica 'Empréstimos f financiamentos' o saldo de apenas RS 3.469 mH. To-do o passivo da SMP&lí registrado no 'balancete sintético' em 31/12/2003 totalizava apenasRS 7.9 39 mi i.A situação acima descrita ocorreu também com o balancete contábil levantado em 30y'09'/'2004,0 qual foi utilizado pelo analista de crédito do banco, Hnqaanto as informações presentes no Sis-tema de informações de ('.rédito do Ranço Central do tiras/l (S CR) indicavam que a contratanteapresentava, em 30/09/2004, dividas em instituições financeiras no montante de RS 33.345mil, seu balancete contábil levantado na mesma data informava na rubrica 'Empréstimos e fi-nanciamentos ' o saldo de apenas RS 3.516 mil. Todo o passivo da J"A/Pc~/í registrado no 'ba-lancete sintético'em 30/09/2004 totalizara apenas RS 7.522 mil.As discrepàndas entre os saldos das dividas bancárias consignados nos balancetes contàbei.\.VA/PeHi c as informações constantes do Sistema de Informações de Crédito do Ranço (.'.entraido brasil (SCR) são rabões suficientes para desqualificar as informações contãbeis dispa>i/bi/i~a-das pela contratante, as quais foram utilizadas nas avaliações de crédito, uma re^ que, por setratarem de informações falsas, enquadram-se no item ll-b da Caría-Circitlar Bacen n" 2.826de 04 f 121 / 998 (transcrito no item 2. í do capitulo III - DOS EXAMES do presente Lau-do), norma que divulga a relação de operações e situações que podem configurar indícios de lava-gem de dinheiro no sistema bancário. O ré iro descrito não é comentado em nenhum documento in-tegrante do processo de avaliação de crédito, bem como em nenhum outro documento integrante no

dossiê* da SMP&B.Mesmo com a apresentação de informações contãbeis falsas, o Imanto /3A/CY celebrou o contrato deempréstimo n" 14.03.01036, em 14/07/2004, e o de rolagem (aditivo contratual) do valor doprincipal e encargos do referido contrato original, em 04/03/2005.

1 Lm julho de 2004, segundo o Sistema de Informações de Crédito do Banco Central do Brasil(SCR), a d/vida bancária da JVVíPerB vincenda em até 180 dias montava a RS 28.414 mil.Segundo demonstrativos contãbeis da contratante, o faturamenío acumulado no período de setemeses findo em 31/07/2004 montou a RS 16.420 mil, ou seja, cerca de 58% da divida ban-cária.lim oposição ao acima demonstrado, a avaliação de crédito e fé t nada pelo Banco /ÍAÍC7 não de-monstra o alto endividamento bancário da SMP&ft, o perfil de curto pra^o desse endividamen-to, o histórico de rolagem de boa parte dessa d/vida, bem como a necessidade do comprometimentode grande parte do faturamento da contratante para a quitação da mesma. Essa situação finan-ceira da contra/ante também foi constatada pelos analistas do Bacen quando da fiscalização rea-li^ada no período de 25/04/2005 a í 7/06/2005 (situação descrita fio anexo 111-1 ao oficioDesHp/C,TBHO-Cosnp02-2005/ 194 do \\acen).Outra deficiência na avaliação da si l nação económico-financeira pode ser constatada na elabora-ção do quadro 'Contratos em \ .VA/PeMi' constante do Relatório de Crédito datado de28/02/2005. Nesse quadro constam provisões de faturamenlo da contratante em contratos depublicidade com diversos órgãos públicos, como 'Correios', 'Câmara Legislativa', "Câmara dosDeputados1, 'GDF\ 'Secam'. Dentre a documentação constante do dos-siê, os Peritos identificaram somente os contratos dos Correios e do Governo do Distrito Federa/(GDF), cujos valores envolvidos são divergentes daqueles constantes do quadro 'Contratos em\ .VA/Per/i'. Para os demais nào foi possível validar as informações dos fafuramentos.As avaliações realizadas pelo analista de crédito do banco acerca da capacidade económico-financeira da SMPc^fí consideraram como futuros fatitramentos da SMPe^B os montantesglobais das verbas publicitárias de cada contrato de publicidade da acenda. Tal procedimento nãoé correio para .»c determinar o faturamento de empresas de publicidade. Isto porque as empresasde publicidade recebem apenas um percentual das verbas publicitárias estipuladas em contrato.uma ve^ que essas, também, são destinadas ao pagamento de fornecedores, serviços, materiais,

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tributos e a outras despesas vinculadas ao objelo do contraio. O contraio dos Correios arquivadono dossiê prevê honorários de 8% à SMP&°ft pela produção de peças e materiais, cuja verba pu-blicitária era de RS 72 milhões, perfazendo um fatimimento, aproximado, RS ?.# milhões. Oanalista de crédito projetou um fatiiramento de RS 7,5 milhões mensais (R$ 90 Milhões/ano)somente para esse contraio, um valor muito superior ao qne poderia ser efelivamenle realizado.Não se pode esquecer, ainda, que parte desse faturamento é destinada ao pagamento de despesasadministrativas e tributárias e de custos operacionais da empresa de publicidade.As exceções aqui elencadas (ausência de análise de crédito para a concessão do empréstimo n"14.03.01036 (RS 3.516.080,56), entrega de informações contábeis falsas por parte da contra-tante, e análises de crédito deficientes e inexatas por parte do banco) comprometeram deformaconsiderável a avaliação do limite de crédito da SMP&R, Tais exceções demonstram que a libe-ração do empréstimo n" 14.03.01036 não se baseou em procedimentos mínimos requeridos e a-dolados por instituições financeiras preocupadas em resguardar seu património de possíveis ina-dimplênãas. Também demonsfram qne as posteriores análises econòmico-financeiras da contra-tante basearam-se em informações incorretas e falsas. Por fim, constataram os Peritos qne o em-préstimo n" 14.03.01036 foi concedido unicamente para pagar encargos de empréstimos de ou-tras pessoas jurídicas, junto ao EMC>, como pode ser observado na resposta ao quesito 9.2, umave~ que os norma/ívos do Bacen impediam, à época, a rolagem de dividas sem o pagamento dosencargos vencidos.

Rogério Lítnza Tolentino & Associados Ltda.Dentre a documentação apresentada a exame não constam documentos ou informações qne com-

provassem a realização de visitas pelas Anãs Comercial e de Crédito à empresa Rogério Lan-^a,visitas previstas para o processo de análise de qualquer proposta de limite de crédito.Os peritos constataram o descumprimento de procedimentos mínimos na avaliação de crédito nasegunda renovação de empréstimo concedido à empresa Rogério Ltw~a. O Relatório de (--réditodatado de 28/02/2005, o qual deveria araliar o risco de credito da referida operação, apresentaquase que integralmente, os mesmos comentários das avaliações do Relatório de ('.réditoprepara-do para a concessão do empréstimo, datado de 23/04/2004. Para essa segunda renovação nãofoi obtido o balanço contábil da contratante para o exercício de 2004, como prevê os normativosinternos do banco. Tais fatos permitem inferir que não fora realizada uma criteriosa reavaliaçãode crédito por parte do banco, mesmo Iralando-se da segunda renovação da operação.De forma geral, a análise das informações contábil-financeiras da empresa Rogério l^an^a To-lentino er Associados ÍJda. é bastante deficitária. A análise contáhil-financeira restringe-se ameras citações do fattiramento, valor do Património Uquido e da principal conta do ativo daempresa. ,\ pouco para uma análise da capacidade financeira e patrimonial de uma empresaque pleiteia RS 10 milhões em empréstimo. A insuficiência da análise conlábil-financeira é cons-tatada, mesmo quando se compara àquelas realizadas nas operações de empréstimo da SMP&Be Partido dos Trabalhadores. Constata-se, também, a ausência de informações con/áb/1-

financeiras (balancete contábil, por exemplo) para o exercício de 2004, informações essas necessá-rias para proceder a uma reavaliação básica de risco de crédito, principalmente, por se tratar desegunda renovação do empréstimo.As informações contábeis da empresa Rogério l^an^a Tolentino <ú" Associados iJda. dettiuns-íram valores de atiros, faturarnentos e resultados anuais incompatíveis com o montanle do em-préstimo (RS 10 milhões) contraídos com o Banco BMC,, conforme demonstrado abaixo:

Quadro 2 — Saldos contábeis (Em te ais)DescriçãoAtivo totalFaturamento do exercícioLucro líquido do exercício

.U/12/2003V5.7H(l,n"-1

74.599,5760.274,64

31/12/200255.377,6959.279,9447.871,48

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.-l.c informações coniábeis da empresa demonstram, ainda, a completa discrepância entre o mon-tante do empréstimo e os valores do património e das rendeis geradas nas atividades da con/ni/an-

te. Procedendo às análises dos balanços apresentados, não se pode vislumbrar a necessidade e a

possível destinação do empréstimo contraído em suas atividades normais, tampouco, comprovar a

capacidade de a empresa papar os encargos financeiros decorrentes do referido empréstimo.

A discrepância entre o montante do empréstimo contraído e os valores do património e das rendas

geradas, nas atividades da contratante enquadra-se no item íí-a da Carta-Cirw/ar Racen n"2.826 de 04/12/1998 (transcrito no item 2.1 do capitulo III - DOS EXAMIIS do pré -sente Latido), norma essa que divulga a relação de operações e situações que podem configurar la-vagem de dinheiro no sistema bancário. O supra descrito não é comentado em nenhum documento

integrante do processo de avaliação de crédito, hem como em nenhum outro documento integrante

do dossiê da .VAÍPeMí.

De acordo com o balanço patrimonial em 31/12/2004, obtido com o escritório responsarei pela

contabilidade de Rogério Lamyi, o empréstimo contraído está registrado em sua contabilidade

como empréstimo à empresa 2 S Participações l J da., empresa essa que possui em sen quadro soci-

etário Marcos Valéria Fernandes de Sou^a. Os extraias bancários de Rogério Latida demons-

tram que os recursos do empréstimo foram, no mesmo dia da liberação, assim destinados:

Tabela 4 — Destino dos recursos repassados pela Rogério Lanza Tolentino & Associados Ltda.

LançamentoData Número20/04/200426/04/200420/04/2004

i

cio cheque

850001850002850006

Beneficiário/CNPJ2

Bnnus-Banval Participações l.tda./ 72.805.468/0001-64Kônus-Hanva] Participações l.ttk./ 72.805.468/1)001-642S Participações l.tda./ 05.221.885/0001-72

Total

Valor - R$772.500,00

2.688.350,006.463.732,739.924.582,73

'Conforme extraio bancário-Conforme cópia «.Io cheque

Todos os elementos examinados permitem concluir que o Banco /ÍMC7 ignorou procedimentos

mínimos de análise de risco da operação de empréstimo em tela, se fundamentando única e c\rlu-sii-amcnte na boa qualidade da garantia oferecida pela contratante, .-l qualidade da garantia é

inquestionável, uma re^ que é composta dt papéis (CD&s) emitidos pelo próprio banco, bloque,i-

dos e de mesmo valor do empréstimo concedido. Entretanto, outros importantes fatores foram des-

pregados, tais como a incompatibilidade entre o património e jatimimento apresentados pela con-

tratank e o montante contratado, o que colocava em risco, no mínimo, o recebimento de boa parte

dos encargos financeiros do empréstimo,A discrepância demonstrada no parágrafo anterior e o destino dado pela empresa Rogério l^an^a

Tolentino & Associados LJda. aos recursos do empréstimo (tabela 4) comprovam que a contra-tante foi intermediária em operações que destinaram recursos a outras pessoas jurídicas. A opera-

ção (DNA garantindo o empréstimo. SMP&B pagando os encargos, Rogério Lam*a To/entinotomando emprestado e a Ròtiiis-Ranval e 2S Participações recebendo os recursos) demonstra qm

a empresa Rogério Latt^a Tolenlino er. • Issociados Ljda. funcionou como uma peça do sistema

para dificultar o rastré ame n to dos recursos.

Partido dos TrabalhadoresInicialmente deve ser destacado que os formulários "Informações cadastrais - Pessoa jurídica " e

"Informações cadastrais - Pessoa F/sica" não estão datados, impossibilitando constatar se osmesmos joram preenchidos antes ou depois da liberação dos empréstimos, bem como se os mesmosestavam atuali^tdos. Tendo em rista que esses formulários cadastrais têm pra%Q de validade de

um ano (conforme informado nos mesmos), e que o período transcorrido entre a data da primeiraliberação de empréstimo (f 7/02/03) e da data d<i última prorrogação do empréstimo(28'/'02'l'05) é superior a dois anos, deveriam constar do dossiê outros formulários preenchidos,comprovando a adoção de procedimento de atuali-^ação das informações cadastrais.

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O balanço financeiro do Partido dos 'Trabalhadores- acostado no dossiê fornecido pelo bancoBMC refere-se ao ano de 2003. Nesse balanço as receitas totalizam RS 32.836.218,08 e as

despesas RS 34.162.579,17, segregadas em Despesas Administrativas (64,13%), Despesascom prop.dotitr.e política (31,58%), e encargos financeiros (4,29%). .'Is obrigações a pagar(Demonstração de Obrigações a Pagar - modelo 04) na mesma data totalizavam RS9.528.873,20 (99,3 3% para pagamento em curto pra^o).C.otiforme anolaçòes nas análises financeiras, o Partida dos 'Trabalhadores apresentava restrições('('.onjorme SC.I, consta uma ação executiva em ago/97').O futuramente de 2002, no rating comentado, totaliza RS 13.516 mH. sendo que os valores de

janeiro a abril são efetivamente realizados e de maio em diante joram previstos, embora o emprés-timo tenha ocorrido em fevereiro de 2003.

Ê ressaltado no Relatório de Crédito que o Congresso Nacional aprovou um adicional de RS 25MM para o fundo partidário, onde o Partido dos Trabalhadores participava com 15% e que de-veria receber o valor de RS 3,7 MM a mais.

.'\s despesas previstas para o ano de 2002 ficaram em R$ 13.403 mil. . - l seguinte informaçãofoi apresentada no relatório: 'Para o ano de 2002, a situação também deve ser favorável, uma?.'c~ q/te as receitas previstas somam R$17,2MM (RS13.5MM + RÍ3JMM) e as despesasR$13.4MM, Isso sem considerar a arrecadação e\tra em junção das eleições'.No ano imediatamente anterior (2001), conforme Demonstrativo de Receitas e Despesas, as ré-ceitas totalizaram RS 16.727.540,47 e as despesas operacionais em RS 16.170.301,14. Nãoexiste nenhum comentário sobre as previsões realizadas pelo Partido dos Trabalhadores das des-pesas, ou seja, o Partido dos Trabalhadores informou que as receitas sofreriam nm incremento de

RS 3,7MM em virtude do adicional aprovado, mas não informou o por quê das despesas de RS16,1 MM passarem para 13,4 MM, ou seja, uma redução de RS 2,7 Aí A f em relação ao anoanterior.-•1 realidade para o ano de 2002 foi outra, como consta do Demonstrativo de Receitas e Despe-sas. O Partido dos Trabalhadores realmente incrementou suas receitas, que totalizaram RS19.375.409,59. Contudo, a previsão de queda de despesa operacional, que não linha jnsfificali-va, não aconteceu, e a despesa passou para RS 21.748.889.74.Deve ser ressaltado, ainda, que nos balanços patrimoniais de 2001 a 2003 e no balanceie de ou-tubro de 2004, o Partido dos 'Trabalhadores apresentava património líquido invertido, ou seja,seus aíivos (bens e direitos) não possibilitavam o pagamento de seus passivos (obrigações), comopode ser visto na tabela 8 do item 5 do capítulo III - DO\ iX_ -1A í l i V do presente liando.

No ano de 2004, os aíivos do Partido dos Trabalhadores aumentaram em mais de 670% em

relação ao ano anterior. O incremento significativo nos ativos, de 2003 a outubro de 2004, tam-bém pode ser visto na tabela 9 do item 5 do capítulo Hl - PO.V IiX.'lAlliS do presente T^au-do.

Da mesma jorma que os ativos, os passivos da instituição sofreram acréscimos significativos noano de 2004, aumentando em mais de 411% em relação ao ano anterior. . • \pesar do acréscimoter sido menor que o do ativo. o passivo a descoberto do mês de outubro de 2004 era de RS 7,3milhões, ou seja, faltavam R$ 7,3 milhões para honraras compromissos assumidos..'\s frágeis garantias (avais), as verificações insuficientes, avaliações de crescimento incompletas erelatórios que demonstram uma incapacidade económica permitem inferir que o Banco BMC es-tava disposto a correr altos riscos a uma taxa de mercado.

Graffiti Participações Ltda.Os formulários "Informações cadastrais ~ Pessoa jurídica" e "Informações cadastrais ~ PessoaFísica" não estão datados, impossibilitando constatar se os mesmos foram preenchidos antes oudepois da liberação dos empréstimos, bem como se os mesmos estavam atuali^ados, haja vista queos mesmos estào preenchidos apenas com os nomes e endereços. Tendo em vista que esses formulá-rios cadastrais têm pra^o de validade de um ano (conforme informado nos mesmos), e que o perí-odo transcorrido entre a data da primeira liberação de empréstimo (28'/'01/'04) e da data da úl-

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lima prorrogação do empréstimo (28/02/05) é superior u um ano, deveriam constar do dossiêoutros formulários pnenchídoSt comprovando a adoção de procedimento de atna/i~ação das infor-

mações cadastrais.Os balanços financeiros da empresa Craffiti Participações \Jda. acostados no dossiê fornecido pe-

lo Banco /i,\/(V referem-se aos anos de 2002 a 2004. No ano de 2003, conforme apre-sentado nos demonstrativos financeiros da empresa, a receita operacionaltotalizava R$ 37.297,58 e o resultado das participações societárias R$706.321,22. Contudo, mesmo com as receitas e ganhos que não ultrapassa-vam R$ 750 mil, e com ativos que não ultrapassavam R$ 532 mH, a Graffitifoi beneficiada com um empréstimo de R$ 15,7 milhões.. \ entre o montante do empréstimo contraído e os valores do património e das rendasgeradas nas atividades da contratante enquadra-se no item U-a da Carta-Circular Bacen n"2.826 de 04112/1998 (transcrito no item 2.1 do capitulo III ~ DOS HX.-UvíES do premen-te liando), norma essa que divulga a relação das operações e situações que podem configurar la-

vagem de dinheiro no sistema bancário. O aqui supra descrito não é comentado em nenhum do-cumento integrante do processo de avaliação de crédito, bem como em nenhum outro documento

integrante do dossiê da Craffiti.Os demonstrativos contáheis do ano de 2004 apresentam uma peculiarida-de s'ui generis. A empresa tomou empréstimo no Banco BAÍG para mante-los cm "Caixa", ou se/a, incorre em juros por valores que não utiliza e osmantém em espécie (em moeda) na sede da mesma, com risco de furtos croubos.As frágeis garantias (avais), as verificações insuficientes e relatórios q/te demonstram uma inça-paridade económica permitem inferir que o na/no BM(_J eslava disposto a correr altos riscos a

uma taxa de mercado. "

Acerca da capacidade econômico-fmancoira dos avalistas, importante trans-crever as conclusões do INC:

"foi observada a capacidade econômico-fínanceira dos avalistas, o corre topreenchimento e a existência das assinaturas necessárias na Nota Promis-sória 'pró-solvendo' e no contrato, no caso de garantia por aval?Resposta:SMP&B Comunicações Leda.

Os empréstimos joram avalizados pelos seus sócios Renilda Maria Santiago \ «mandes

de Sou~a, Cristiano de Mello Pa^ e Rumou / lollerbtich Cardoso, os quais assinaram os contra-tos, os respectivos aditivos e as Notai Promissórias dadas em garantia. Mediante procuração re-mirada em Cartório, Marcos \'aíério Fernandes de Soii^a assinou os documentos em nome desua esposa Réu/ida Maria Santiago 1'ernandes de Sou^a.

Dos três Relatórios de Crédito (26/02/2003, 16/10/2003 e 28/02/2005) elabo-rados e arquivados no dossiê da contratante, apenas o último (28/02/2005) fa^ menção aosbens e direitos constantes das declarações de Imposto de Renda dos avalistas. Portanto, não cons-tam dos Relatórios de Crédito avaliações da capacidade econômico-fínanceira dos anilisltis {j/iu/ido da liberarão dos dois empréstimos. Cabe destacar que o único Relatório de Crédito que tra~alguma informação acerca da capacidade econômico-fínanceira dos avalistas apenas descreve osbens e direitos constantes das suas declarações de Imposto de Renda, inexistindo qualquer análiseformal acerca de sua suficiência em relação ao risco envolvido nas operações.

No tocante aos aspectos relacionados ao preenchimento dos documentos, os contratos dosempréstimos e dos respectivos aditivos estão corretamente preenchidos, apresentando as assinaturasdos sócios da empresa contratante e dos avalistas das operações. As Notas Promissórias das ope-rações de empréstimo também estão devidamente preenchidas e assinadas pelos avalistas.

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Rogério Lanza Tolentíno & Associados Ltda.Os empréstimos da empresa \\ogerio l^an^a Tolentino & Associados \Jda. foram ava-or Rogério l^an^a e Marcos \ Ftmaadts de Soit^a, os quais assinaram o contra-

to, os respectivos aditivos e a Nota Promissória no valor de RS 13 milhões dada em garantia.Kos dois Relatórios de Crédito (23/04/2004 e 28/02/2005) elaborados e arquiva-

dos no dossiê da contratante não constam avaliações da capacidade econòmico-jlnanceira dos ava-listas quando da liberação do empréstimo e de sua prorrogação (aditivo).

No tocante aos aspectos relacionados ao preenchimento dos documentos, o contrato doempréstimo e os adiliros estão corretamenle preenchidos, apresentando as assinaturas dos sóciosda empresa contratante e dos avalistas das operações: A No/a Promissória da operação de em-préstimo também está devidamente preenchida e assinada pelos avalistas.

Partido dos TrabalhadoresOs empréstimos ao Partido dos Trabalhadores foram avalizados por José Genuíno Ne-

to, Deliihio Soares de Castro e Marcos V alérío Fernandes de Sou^a, os quais assinaram o con-trato, o primeiro aditivo e a Noía Promissória no valor de RS 3,12 milhões dada em garantia.Os demais termos aditivos não apresentam a assinatura de Marcos \-'aIério Fernandes de Son-ÇK

Nos Relatórios de Crédito elaborados e arquivados no dossiê da contratante não cons-tam avaliações da capacidade econòm/co-financeira dos avalistas quando da liberação do emprés-timo e de suas prorrogações (aditivos).

No tocante aos aspectos relacionados ao preenchimento dos documentos, o contrato doempréstimo e os aditivos estão corretametile preenchidos. A Nota Promissória da operação deempréstimo também está devidamente preenchida e assinada pelos avalistas.

Grafííti Participações Ltda.Os empréstimos ã Graffiti Participações LJda. foram avalizados por Cm ti ano de Me/-

Io Pa%, Ramon \\ollerbach Cardoso, Renilda Maria Santiago l ' , de Soit^a. Maria TeresaChaves de Mello Pa^, Maria Consmlo Cabaleiro R. Cardoso e Marcos V alérío Fernandes deSolida.

Nos Relafórios de Crédito elaborados e arquivados no dossiê da contratante não cons-tam avaliações da capacidade econômico-finana-ira dos avalistas quando da liberação do emprés-timo e de suas prorrogações (adiliros).

No tocante aos aspectos relacionados ao preenchimento dos docu-mentos, o contrato do empréstimo não apresenta as assinaturas de MariaTereza Chaves de Mello Paz. Renilda Marilda Santiago F. de Souza e Ma-na Consuclo Cabaleiro R. Cardoso. O aditivo não apresente as assinaturasde todos os avalistas. A Nota Promissória da operação de empréstimo tam-hctn não apresenta as assinaturas dos avalistas Cristiano de Mello Paz. Re-nilda Maria Santiago F. de Souza, Maria Tereza Chaves de Mello Paz cMaria Consuelo Cabaleiro R. Cardoso.

nos casos de garantias representadas por Caução de depósito/ aplicações,o valor correspondente, informado no Termo de Caução, encontrava-sebloqueado?

Resposta: Das operações de empréstimo examinadas, o empréstimo concedido à em-presa Rogério l^an^a 'Yolentino & Associados Lida. apresenta como garantia, dentre outras e-xistenles, canção de aplicação financeira em nome da D/Y-1 Propaganda Lida. em CDH emiti-do pelo Banca HMC, cujo valor inicial foi de RS 10 milhões. A referida aplicação foi realizadaem 22/04/2004 e o empréstimo foi concedido em 26/04/2004. Consta do sistema injormali-^ado de controle dos depósitos à pra~o do banco (CRK Financial Rasiness) o bloqueio ("B/o-

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io posição" "Canção • capital de giro") il<i referida aplicação financeira em26/Q4/2QQ4.(...)"

Segundo apontado pelo INC, do quadro fático cm que foram celebrados oscontratos extrai-se que algumas formalidades prescritas como normas internas do banco dei-xaram de ser respeitadas quando da celebração dos malfadados contratos, o que demonstraque eventual inadimplência do tomador nào era temida pela instituição financeira.

Merece destaque novamente o fato de que algumas amortizações de encar-gos financeiros terem sido custeadas pelo próprio Banco 13MG. Para tanto, o artifício utili-zado era a concessão de empréstimos para empresas do mesmo grupo de Marcos Valérioque, de posse daqueles valores, empregava-os na amortização de encargos financeiros doscontratos os quais se pretendia a rolagem do principal. K o que se nota na terceira operaçãode empréstimo celebrada em 28.02.2005 com a GRAFFITI PARTICIPAÇÕES LTDA, on-de R$2.413,631,16 foram amortizados com recursos oriundos de outro contrato de mútuocelebrado pela SMP&B, conforme mostra o laudo pericial n. 1450/2007 (fl.2452). Destaforma, verifica-se que o banco RMG S/A concedeu empréstimos às empresas ligadas a Mar-cos Valério com o único objetivo de que fosse o montante da operação utilixado para pagarparcelas vencidas de operações anteriores de mútuo concedidas a outras empresas do mesmogrupo económico.

No que concerne às garantias oferecidas, difícil não relativi/ar a idoneidadedos avais e fianças pessoais presentes nos contratos, mesmo porque são classificadas pelopróprio BMG como garantias de nível VII, em último lugar no niking das garantias.

A reforçar o acerto da tese ministerial, tem-se a aruaçào pouco criteriosa doBMG no que concerne à reclassificação do rating. Com efeito, o art. 4" da Resolução n° 2.682do BACEN prevê que a classificação de risco de cada operação deverá ser revista, de formaperiódica, em função de atraso verificado no pagamento de parcela de principal ou de encar-gos. Assim, de acordo com a Resolução, a cada período de atraso uma operação de créditoinadimpleiue deve ser classificada para pior, aumentando se o percentual di- pro\O parafazer face às perdas prováveis na realização dos créditos. Contudo, a classificação dos riscosdas operações nào se alterou a partir dos primeiros sinais de inadimplência, o que sugere,novamente, que a instituição financeira nào pretendia reaver os recursos emprestados. R oque se nota no quarto aditivo contratual com o PT. Veja-se o que prescreve a Resolução:

Ari. 4. A classificação da operação nos níveis de risco de qm trata o art. I . deve ser revista, no

mínimo:I - mensalmente, por ocasião dos balanceies e balanços, em função de atraso verificado no paga-mento de parcela de principal ou de encargos, devendo ser observado o que segue:a) atraso entre 15 e 30 dias: risco nivel B, fio mínimo;b) atraso entre 31 e 60 dias: risco nivel (., no mínimo;c) atraso entre 61 e 90 dias: risco nivel D, no Mínimo;d) atraso entre 91 e 120 dias: risco nivel II, no min/mo;e) atraso entre 121 e 150 dias: risco nivel \, no mínimo;J) atraso entre / 57 e 180 dias: risco nivel G, no mínimo;g) atraso superior a 180 dias: risco nivel \II - com base nos critérios estabelecidos nos art s. 2. e 3.:

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a) a cada seis meses, para operações de um mesmo cliente ou grupo economia) cujo montante sejasuperior a 5% (cinco por cento) do património líquido ajustado;b) uma tv~ a cada do^e meses, em Iodas as situações, enceto na hipótese prevista no arí. 5.

Parágrafo 1. As operações de adiantamento sobre contratos de cambio, as de financiamento ai»iporlacao e aquelas com prados inferiores a um mês, que apresentem atrasos superiores a trintadias, bem como o adiantamento a depositante a partir de trinta dias de sua ocorrência, devem serclassificados, no mínimo, como de risco nível G.Parágrafo 2. Para as operações com pra^o a decorrer superior a 16 meses admite-se a coníagemem dobro dos prados previstos no inciso LParágrafo 1. O não atendimento ao disposto neste artigo implica a ré classificação das operaçõesdo devedor para o risco nirel \ independentemente de outras medidas de natureza administrati-va.

Ari, 8. A operação objelo de renegociação deve ser mantida, no minitno, no mesmo nível de riscoem que estiver classificada, observado que aquefa registrada como prejuízo deveser classificada como de risco nível H.Parágrafo 1. Admite-se a reclassificacao para categoria de menor risco quando houver amortiya-cao significa l i rã da operação ou quando jatos novos relevantes justificarem a mudança do nivel derisco.Parágrafo 2. O ganho eventualmente auferido por ocasião da renegociação deve ser apropriado aoresultado quando do sen efetivo recebimento.Parágrafo 3. Considera-se renegociação a composição de divida, a prorrogação, a novação, a con-cessão de nova operação para liquidação parcial ou integral de operação anterior on qualquer ou-tro tipo de acordo que implique na alteração nos prados de vencimento ou nas condições de paga-mento originalmente pactuadas.

Assim, se por um lado algumas renovações não foram devidamente rcclassi-ficadas pelo BMG, por outro, percebe-se que as sucessivas renovações destes contratos visa-vam justamente contornar as exigências da Resolução do BACKN, camuflando-se o risco, amadimplència e os prejuízos por meio de aditamentos sucessivos, que postergavam o venci-mento das dívidas. Desta maneira, a instituição se livrava do provisionamento e dava ares denormalidade às operações.

Outra prática pouco usual observada nos contratos refere-se ao prazo devalidade. O normativo interno do banco intitulado "Operações de capital de giro, mútuo e bot Movey" prevê que as operações dessa modalidade "na maioria das vezes têm prazos inferiores a90 (noventa) dias. As operações dos empréstimos concedidos à SM1'&B, Graffiti e RogérioLanza Tolentino c ao PT apresentam prazos superiores a 90 dias, sendo que a maioria supe-riores a 180 dias. De 564 operações analisadas pelo INC, 400 operações apresentam prazosinferiores a 90 dias.(fl.402 do Apenso 03)

Merece ser citado também, como indício, o fato de que as execuções judici-ais dos empréstimos inadimplidos só ocorrerem após a deflagração do "escândalo do mensalào"como forma de ocultar a intenção inicial da celebração dos contratos. Segundo o INC, oBMG não adorou qualquer procedimento de cobrança judicial ou extrajudicial dos emprés-timos inaclimplentes até o início de agosto de 2005 (fls. 515 do Apenso 03).

Neste cenário, a tese da defesa no sentido de que as execuções só poderiamocorrer após o vencimento dos contratos soa bastante inverossímil. Isto porque a inadim-plência e a perda da capacidade económica dos tomadores ocorreram anteriormente ao ven-

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cimento dos contratos, tornando exigível a partir de então a cobrança judicial ou extrajudici-al, fosse ela desejada.

fim verdade, o que se nota é que, em 2004, as empresas tomadoras nãomais possuíam a mesma capacidade de pagamento identificada cm 2003. A SMP&B, porexemplo, em 2004, apresentava um endividamento no Sistema de Informações de Crédito naordem de R$33.354.000.000,00. Desta forma, a execução judicial dos créditos, a partir de2004, era o caminho natural a ser percorrido, tivesse o banco o objetivo de reaver os valoresemprestados.

Ademais, é pouco crível que a instituição financeira tenha por tanto temposuportado os ónus de contratos absolutamente arriscados e, coincidentemente, tenha inicia-do de uma só vez a cobrança de todos eles, temendo a inadimplcncia. Ao contrário, a co-brança simultânea dos recursos cm 2005 afigura-se como uma tentativa evidente de mascarara intenção inicial da celebração dos contratos: o mero repasse de verbas.

Alguns outros indícios podem ser extraídos do acervo probatório constantedos autos. O laudo pericial n" 2076/2006 - INC (fl.1472 c ss.) comprovou que os emprésti-mos firmados pelo BMG com as empresas ligadas a Marcos Valério não eram sequer regis-trados na contabilidade daquelas empresas. Tanto é assim que após a deflagração do "escânda-lo do mensalão" referidos registros foram alterados, como forma de corroborar a tese com aqual aquelas empresas pretendiam se defender.

De se citar, por fim, alguns elementos constantes dos autos, dos quais nãodepende este decreto condenatório, mas que devem ser lembrados apenas como reforço ar-gumentativo. Trata-se dos elementos que apontam as relações da Diretoria do BMG com oGoverno Federal por meio dos quais teria o BMG auferido diversos benefícios políticos,como contrapartida ao repasse de verbas camuflado nos contratos de mútuo.

Apurou-se que o BMG recebeu tratamento diferenciado na habilitação paraa concessão de empréstimos consignados - que lhe garantiu lucros bilionários - por meio demedidas adotadas pelo então Presidente do TNSS, com vistas a conceder àquela Instituiçãoeste nicho de atuaçao.

As conclusões extraídas do acórdão TC-014.276/2005-2, do TCU, revelamque o Banco BMG S/A, em decorrência do tratamento diferenciado nas operações de crédi-tos consignados, conseguiu ter acesso aos dados cadastrais de uma massa de aposentados epensionistas do INSS c contatá-los por meio de centrais telefónicas, facilitando assim a cap-tação do segurado como cliente do banco. O relatório do TCU, pela lucidez com que trataos fatos e pelo impacto das revelações, merece aqui ser lido atenciosamente7.

7GRUPO l -- CLASSE VII - Plenário

TC-014.276/2005-2 (com l volume e 9 anexos)NaUirc/a: RepresentaçãoInteressada: 4" Secretaria de Controle ExternoF.nlidade: Instituto Nacional do Seguro Social - INSSAdvogados constituídos nos autos: Walter Costa Porto (OAB/DF n." 6.098). António Perilo Teixeira (OAB/DF n."

21.359) e Henrique Araújo Costa (OAB/DF n." 21.989).

SUMÁRIO;REPRESENTAÇÃO. CONSIGNAÇÃO IX) PAGAMENTO DF EMPRÉSTIMOS KM BENEFÍCIOS PREV1DENC1A-

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RIOS. MEDIANTE CONVÉNIO. IRREGULARIDADE. MULTA. DETERMINAÇÕES.Considera-se procedente representação para aplicar multa ao responsável, quando evidenciado que a celebração de con-

vénio deu-se com celeridade indevida, por não ler sido observado o procedimento administrativo adequado. além de os termos doajuste estarem em desconformidade com dispositivos de lei.

(...)

5 Informayôes invesligadasDurante a inspeção. buscamos subsídios para verificar a veracidade de informações amplamente divulgadas pela impren-

sa (anexo l, fls. (M/03), envolvendo em especial o Danço BMG. Para tanlo, foram analisados os aspectos legais e formais queenvolveram a celebração dos convénios, tais como critérios de escolha das entidades convenentcs. adequação do instrumentojurídico utili/ado para o operação - convénio x eontrato - e. principalmente, observância dos princípios da administração públicaem todas as fases do processo, desde a manifestação de interesse ale o início das operações, passando pelo atendimento a deman-das especiais.

Foi noticiado que a redaçào genérica dada ao texto da Medida Provisória n." 130. de 1 7/09/2003, assinada pelo presidenteI.ui/ Inácio Lula da Silva e pelos ministros António Palocci. da Fazenda, e Ricardo Hcr/oini. à época da Previdência Social, paraaulori/ar os empréstimos bancários descontados dirctamente dos aposenlados e dos pensionistas do INSS. atendeu a um pedidodo BMG e abriu o mercado de financiamentos consignados para as instituições financeiras que não pagavam benefícios aosaposentados.

Num segundo momento, foi noticiado que o Banco BMG teria sido favorecido, permanecendo durante 3 meses como aúnica instituição financeira atuanle no mercado, conseguindo com isso alavancar sobremaneira seus resultados financeiros.

6 Critérios de escolha das instituições financeiras convcnentc.s: pagadoras de benefícios nrevuleni-iários \» pa-beneficias prcvidcnciários

O critério de escolha de quais instituições financeiras poderiam aderir aos convénios já vinha sendo discutido antes mes-mo da regulamentação da Medida Provisória n." 1 30. de 17/09/2003 (vol. principal, fls. 83/85).

A Associação Brasileira de Bancos - ALiBC. entidade representativa das instituições financeiras de pequena rede que. cmsua maioria, não são credenciadas para pagamentos de benefícios junto ao INSS, por meio da correspondênciaABBC/C04202003 (anexo l , lis. 06/08), de T/ 1 0/2003. manifestou sua preocupação com a possibilidade de que esta regulamen-lação restringisse a adesão ao convénio apenas às instituições financeiras pagadoras de beneficíos previdenciários. De acordocom seu entendimento, uma vez que são cspeciali/adas em operações de crédito, poderiam barateá-las.

A justificativa dada pelo INSS para adoçào dessa medida era a de que os bancos pagantes de beneficieis previdenciários játeriam ioda estrutura de sistemas adequada à estrutura de sistemas da Dataprev. não demandando nenhum esforço extraordinárioc. consequentemenle. nenhum custo extra agregado.

A DACAI encaminhou o questionamento da entidade para a apreciação da Procuradoria Geral Especializada/INSS -PFE/INSS, que. de acordo com a Nota Técnica PFF/INSS/CGMADM/DCI. n.° 458/2003 (anexo 1. fls. 1 1/13). não se manifes-tou. uma vez que não havia sido editada ainda a regulamentação da matéria que permitisse o questionamento da entidade.

Após a rcgulamenlação, foi encaminhado o Oficio DIRBEN/CGBENFF n.sl 093/2004 para a Federação Brasileira das As-sociações de Bancos - Febraban (anexo l, fl. 31). em 29/01/2004, pedindo que informasse quais as instituições financeiras filia-das a ela que estariam interessadas cm firmar convénio com o INSS para consignação de descontos em benefícios.

Dada a restrição imposta às instituições financeiras não conveniadas com o INSS. nova consulta foi encaminhada áPFF/INSS (anexo l. fls. 17/18). em 03/30/2004. A Procuradoria, por meio da Nota Técnica INSS/fCiMADM/DLIC n." 1 10/2004(anexo 1. tis. 20/24), pronunciou-se a favor da autarquia sob a alegação de que o principio da isonomia não tinha sido desrespci-lado. Bastava as instituições financeiras firmarem contratos para pagamento de benefícios para tomarcm-se. automaticamente.aptas a firmar convénios para a concessão de empréstimos consignados a aposenlados c pensionistas.

Foi encaminhado o Ofício n." 269/2004 CGBFNFF (anexo l. fls. 27/29). em r/4/2004, para a Associação Brasileira dosBancos - ABBC. dando ciência do parecer.

Como mostra o acima exposto, e diferentemente do que foi noticiado nos jornais, as primeiras normas que regeram as o-peracões de consignação não permitiram que as instituições financeiras que não pagavam benefícios aos aposentados e aos pensi-onistas do INSS aderissem ao convénio.

(...)8 ConvéniosDe acordo com as normas vigentes. Lei n." 10.820/2003. Decreto n.° 4.862/2003 e IN n." 97/2003, inicialmente, apenas as

instituições financeiras que pagavam benefícios para aposentados c pensionistas do INSS poderiam se habilitar à concessão deempréstimos consignados.

O processo administrativo a ser seguido era aquele descrito no ilem 3 deste relatório.Por meio da análise dos convénios firmados e disponíbilizados para a equipe, pudemos constatar que a Caixa Hconómica

Federal - CFJ-" c o Banco do Brasil - BB foram os primeiros a manifestar seu interesse em firmar o convénio.s.i O:FA CF.F teve a reunião inicial com a Dataprev em 29/01/2004. manifestou seu interesse cm celebrar o convénio em

16/03/2004. assinando-o em 15/04/2004 e iniciou a operação em 20/05/2004.8.2 Banco tio BnisilO Banco do Brasil teve a reunião inicial com a Dataprev em 17/02/2004. manifestou seu interesse em celebrar o convénio

em 12/03/2004. Porém não deu andamento ao processo, retomando os contatos com o INSS apenas em 2005. Celebrou o convé-nio em 3 1/03/2005 e iniciou a produção no mesmo dia.

8.3 Da publicação do Decreto n.° 5. 1 80. em 1 3/08/2004. que auíori/ou a celebração de convénios com instituições finan-ceiras náo pagadoras de benefícios, ale a publicação da IN n.° 1 10. 14/10/2004. que adequou o regulamento do INSS ao Decreto.13 foram as instituições financeiras que demonstraram interesse em aderir ao convénio,

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Classificação porJuta de manifesta-ção de interesse

t"2°3°

4°5a

6°7a

8"9a

10°í!"

Instituição FinanceiraBMGBanco BMC

BancoCruzei-ro doSul

Banco BonsucessoRS Crédito financiamento c Investimento S ABanco DavcovalAlfa FinanceiraBanco Cacique

BancoMercan-til doBrasil

í /SBC Bank BrasilBanco Industriai do BrasilBanco MatoneBanco BGN

Data da manifesta-ção de interesse18/08/200425 082004

27/08/200430/08/200409 (19 20041009,20041509200416/09/2004

16/09-200416/09/200423/09/200424/09-20043009,2004

Da/a da assina-tura do convé-nio

26/08/200418 1! 200420 10,2004

20 10200422 II 200428-04 200522/12/200420/10/200422'!2-'2004

07 '04/200505 05 200501 (13 200522/1 1/2004

Classificação pordata de assinatura

do convénio

r3°2°

2"4"9°5"2"5"

8"10"6"4"

Da tabela acima, podemos observar de imediato que o BMG foi a instituição financeira cujo processo ocorreu de formamais célere. Foram 5 dias entre a publicação do Decreto n.° 5.180 e a manifestação de interesse. E 8 dias entre a manifestação deinteresse e a celebração do convénio. Via de regra, são no mínimo dois meses de tramitação processual.

O !iM(i também foi a única instituição financeira não pagadora de benefícios a aposentados c pensionistas do INSS quecelebrou convénio antes da adequação da norma internado INSS ao Deereto n.° 5.180/2004. A IN n." 110/2004 só foi publicadaem 14/10/2004. O Banco RMC, Banco Cruzeiro do Sul e Banco Bonsucesso. que apresentaram suas manifestações em dataspróximas à data de manifestação do BMG. só conseguiram assinar o ajuste depois da publicação da IN n." 110/2004.

Hm relação aos processos das demais instituições financeiras que foram disponibilÍ7ados quando da realização da inspe-çào. buscamos avaliar a tramitação dentro da autarquia, os procedimentos adolados e o tempo de conclusão de cada fase (pedidode adesão - análise documentai - envio da minuta-padrão e plano de trabalho- assinatura do convénio). Enfim, buscamos verificarqual o trâmite padrão dos processos. Verificamos que, de maneira geral, os processos seguiram um procedimento padrão, à exce-çàodo BMCi.

Para fins de comparação, traçaremos um breve histórico dos processos das 4 instituições financeiras que se manifestaramlogo após o Deereto: BMG, Banco Cruzeiro do Sul. Banco Bonsucesso e Banco BMC. Anexamos, também, quadro (anexo t , fl.153), contendo a cronologia dos processos.

8.4 Banco Cruzeiro do Sul lanex» 3. fls. (H/80)O Banco Cru/eiró do Sul encaminhou correspondência para o Diretor de Benefieios do INSS. Rui César Vasconcelos

Leitão, pedindo seu cadastramento como entidade consignatária autorizada a operar junto ao INSS, em 27/08/2004, acompanhadade cópias dos documentos necessários para a Formalização do processo.

Em 10/09/2004. a DACA1 encaminhou a minuta-padrão de convénio e do plano de trabalho para análise da entidade c.em 19/10/2004, solicitou que o Banco encaminhasse os documentos que comprovassem a regularidade fiscal e no SICAI :.

O convénio foi firmado em 20/10/2004, sendo publicado no Diário Oficial cm 21/10/2004.A reunião inicial com a Dataprev deu-se em 22/10/2004 e início da produção em l l/l 1/2004.Posteriormente, em 14/12/2004. o Banco Cruzeiro do Sul solicitou a cessão de seus créditos para o Banco Bradesco S/A.

A Nota Técnica PFE/1NSS/CGMADM/DLC n." 28/2005, de 26/01/2005, deu parecer favorável ao pleito, ressaltando a necessi-dade de adequar a IN n." 110, de 14/10/2004. com vistas a permitir esta operação, fim 26/01/2005. foi publicada a IN n."114/2005 normalizando a matéria. Em 28/01/2005, foi autorizada a cessão de créditos.

A instituição ocupa o 3° lugar no ranking, tendo movimentado RS 343.516.438.00.com 190.137 contratos.8.5 BancoJjpnsucesso (anexo .3. tis. 81/146)O Banco Bonsueesso encaminhou correspondência para a Chefe da DACAI, Maria da Conceição Coelho Aleixo, pedindo

autorização para celebrar o convénio para operacionalizaçào das operações de consignação, em 30/08/2004, acompanhada decópias dos documentos necessários para a formalização do processo.

Em 08/09/2004, a DACAI encaminhou a minuta-padrão de convénio e do plano de trabalho para análise da entidade, quedeclarou estar de acordo com o seu teor em 09/09/2004.

lim 13/09/2004 ocorreu a reunião inicial com a Dataprev.O convénio foi celebrado em 20/10/2004. publicado em 21/10/2004. quando também foi iniciada a produção.O Banco Bonsucesso também solicitou a cessão de seus créditos, em 20/12/2004, para o Banco Bradesco S/A. Com base

na IN n.° 114/2005, foi autori/ada a cessão cm 18/03/2005,A instituição ocupa o 5° lugar no ranking. tendo movimentado R$ 303.140.256.38, com 169.617 contratos.5.6 Bane» BMC (ancxu 3. lis. 147/19'»O Banco BMC encaminhou seu pedido em 25/08/2004 ao Diretor de Benefícios. Rui César de Vasconcelos Leitão. Em

13/09/2004. 27/10/2004 c 05/11/2004 foram encaminhados os documentos solicitados pela DACAI para formalizar o convénio.

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Km 01/10/2004 foi feita ;i reunião inicial com a Dataprev.Em 12/11/2004 foram encaminhados a minuta do contrato e o plano de trabalho para a aprovação da entidade.O convénio foi firmado cm 18/11/2004 e publicado em 22/11/2004.Em 15/12/2004 foi iniciada a produção, mesmo dia cm que foi pedida a cessão de credito a favor do Bradesco, que foi de-

ferido em 28/01/2005.A instituição ocupa o 11" iugar no ranking, tendo movimentado R$ 194.050.533,00. com 115.530 contratos.8.7 Bane» BMGfanexos 4 t: 5)8.7.1 O BMG encaminhou sua solicitação em 18/08/2004 diretamcnte ao Presidente do INSS (anexo 4. íl. 2), Carlos Go-

mes Bezerra, acompanhada de cópia dos documentos para formalização do processo.A DACAI encaminhou em 25/08/2004. por meio da Carta n." 70/2004/INSS/DIRBEN/DACAI (anexo 4. fl. 22). a minu-

ta-padrão de convénio e plano de trabalho, marcando uma reunião para o dia 30/08/2004. para discussão c acerto das cláusulasapresentadas.

Em 26/08/2004, foi firmado convénio assinado pelo Presidente do INSS. Carlos Gomes Be/erra, Presidente da Dataprev.José Jairo Ferreira Cabral, pelo Diretor de Kinanças. José Roberto Borges da Rocha Leão. e pelo Presidente e Více-presidcnle doBMG. respectivamente, Ricardo Annes (iuimaràes e Roberto José Rigollo de Gouvêa (anexo 4. tis. 32/36).

Em 31/08/2004 foi realizada a reunião inicial com a Dataprev. É importante observar que os testes para a troca de arqui-vos com a Dataprev se iniciaram após ter sido celebrado o convénio, procedimento que difere do adolado pela DACAI c que édispensado às demais instituições financeiras.

De acordo com os dados que constam da tabela de Implantação de Empréstimos Consignados (anexo l, fís. 35/36). desdea reunião inicial ale o inicio da produção, o menor prazo observado foi de l mês. ainda assim não sendo a regra. O pra/o doBMG foi de 15 dias.

A publicação no Diário Oficial da União ocorreu cm 02/09/2004 (anexo 4, fl. 59).0 início da produção junto à Dataprev foi cm 14/09/2004.8.7.2 Em 09/09/2004. de ordem do Direlor de Benefícios. Rui Cezar de V. Leitão, a Coordcnação-Gcral de Benefícios

procedeu à análise do convénio celebrado, detectando a existência de cláusulas que diferiam da minula-padrão e a exclusão doplano de trabalho nos termos do convénio. O processo foi. então, encaminhado à Procuradoria Federal Especializada do INSSpara que se pronunciasse quanto às irrcgularidades citadas e aos procedimentos a serem adolados visando à sua rcgulari/ação(anexo 4, tis. 71/74).

Abaixo transcreveremos os termos do convénio firmado eom o BMCi e que estão em desacordo com a minula-padrão.submetida á apreciação da Procuradoria Federal Especializada junto ao INSS, em 17/03/2004:

•CLÁUSULA TERCEIRA - DAS OBRIGAÇÕESI- do INSSa) confirmar para a INSTITUIÇÃO FINANCEIRA, por escrito ou por meio clctrônico, possibilidade ila reali/a-

cào dos descontos, em função dos limites na forma da legislação cm vigor, avcrhando-a a favor da respectiva INSTITUI-ÇÃO FINANCEIRA; (parte negritada acrescida ao texto do convénio Urinado entre INSS, Dataprev e BMG)

II- da INSTITUIÇÃO FINANCEIRAa) divulgar as regras acordadas neste convénio aos titulares de beneficio que autorizaram os descontos díretamenlc em

seus benefícios, concedendo os empréstimos de conformidade com sua sistemática para tal fim, possibilitando, inclusive,que lal concessão possa ocorrer de forma eletrônica ou por intermédio de sua ('entrai de Atendimento; (parte negritadaacrescida ao texto do convénio lirmado entre INSS. Dataprev e BMG);

d) poder (palavra incluída no texto do convénio firmado entre INSS, Dataprev e BMCi) consultar na página do Ministérioda Previdência Social (>v>V.yv.mj)s.gi_w,br), na opção serviços/extralos de pagamentos, as informações necessárias a consecuçãodas operações objclo deste convénio, valendo-se do número do benefício c da data de nascimento fornecidos pelo próprio segura-do.

CLÁUSULA QUARTA - DAS AUTORIZAÇÕESParágrafo primeiro: A autorização para a efetivacào da consignação valerá enquanto reali/ada (palavra negritada incluí-

da no texto do convénio lirmado entre INSS. Dataprev e BMG. em substituição à palavra subscrita, que constava da minuta-padrão) pelo t i tular do beneficio, persistindo (palavra negritada incluída no texto do convénio firmado entre INSS. Dataprev eBMG. em substituição ao termo não persistindo constante da minuta-padrão) por sucessão, em relação aos respectivos pensionis-tas e dependentes.

Parágrafo segundo: Até o integral pagamento do empréstimo ou financiamento, as autorizações dos descontos somenlepoderão ser canceladas mediante prévia autorização da INSTITUIÇÃO FINANCEIRA ou caso esta não atenda o contido naalínea 'd' do inciso III da Cláusula Terceira (parte negritada acrescida ao texto do convénio firmado entre INSS. Dataprev eBMG).

CLÁUSULA QUINTA - DAS RESPONSABILIDADES1 - Do INSSEm qualquer hipótese, a responsabilidade do INSS cm relação às operações referidas na cláusula primeira, reslringír-se-á

à consignação dos valores relativos às parcelas de empréstimo e licencia mentos (palavra negrilada incluída no convénio lirmadoentre INSS, Dalaprev e BMG em substituição à palavra financiamentos) autorizados pelos titulares de benefícios e repasse àINSTITUIÇÃO FINANCEIRA, no prazo estabelecido na alínea 'a' (considerando que foi alterada a alínea 'a', o correio seriaalínea 'b') do inciso l da cláusula terceira, não cabendo ao INSS responsabilidade solidária c subsidiária sobre as operaçõescontratadas, bem como. de descontos indevidos, desde que a ocorrência não tenha sido causada por falha de ato próprio do INSS.realizado cm desconformidade com as obrigações ajustadas neste convénio.

CLÁUSULA SEXTA - DOS PROCEDIMENTOS PARA IMPLEMENTAÇÃO DAS CONSIGNAÇÕESA INSTITUIÇÃO FINANCFJRA poderá iniciar as operações de conformidade com os aluais procedimentos, sen-

do que dispo n i bi li/ara, ao INSS, gratuitamente, no menor prazo possível, software de controle de cálculo de margem para

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JUSTIÇAFEDERALFLS.

I I M I comum de dncrsas empresas consigna tá ria*. O INSS ('«rm-eerá, tão logo seja assinado este convénio, para uso daempresa consignatária, em meio magnético, todos os dados cadastrais disponíveis.

(Texto negritado incluído no convénio firmado entre INSS, Dalaprev c BMG. com supressão integral da redaçào anteriortranscrita abaixo, que tratava do plano de trabalho, o qual também foi suprimido do convénio assinado:

O Plano de Traballio. que integra este Convénio para todos os fins de direito, conterá os procedimentos operacionais ne-cessários para execução do objeto.

Parágrafo Único - A troca de informações entre a IMTAPRFV e a INSTITUIÇÃO FINANCEIRA está especificada nolavou t padrão CNAlí/Fehraban)'.

CLÁUSULA NONA - DA RESCISÃO"Cláusula Nona - Da RescisãoO presente Convénio poderá ser denunciado a qualquer momento, mediante aviso prévio e escrito, com antecedência de

30 (trinta) dias. ficando suspensas novas contratações de operações a partir da vigência da denúncia, permanecendo, ale a data daliquidação do úl t imo contrato firmado por força deste convénio, as obrigações e responsabilidade* do INSS. da INSTITUIÇÃOFINANCEIRA e da DATAPREV, ou seu sucessores, conforme aqui ajustados, relativamente aos empréstimos e financiamentosjá concedidos'. (Cláusula inteiramente excluída do convénio assinado).

A PFL/INSS pronunciou-se por meio da Nota Técnica PFF/INSS/CGMADM/DL1C n.° 438/2004 (anexo 4. fis. 80/91), de05/10/2004. Ressalta jamais ler tomado conhecimento acerca da celebração do convénio em tela e tampouco das alterações pro-movidas na minuta-padrfio.

Quanto às alterações, tece os seguintes comentários.A alteração da Cláusula Terceira, item l. alínea "a", é ilegal porque a t r ibu i ao INSS uma obrigação que vai além do que

estabelece a Lei n." 10.820, de 17/12/2003. que a restringe à retenção dos valores autorizados pelos beneficiários c ao repasse àsinstituições consignatárias, e a IN n.° 97, 17/11/2003, que atribui à Dataprev e às insliluiçõcs financeiras a troca de informaçõesnecessárias à efetívação da consignação.

A possibilidade de que a concessão dos empréstimos fosse realizada pela central de atendimento da instituição financeira,conforme prevê a Cláusula Terceira, item I I I . alínea "a*, vai de encontro ã legislação que regia a matéria ã época - a Lei n."IO.X20/2003. o Decreto n." 3.048/1999 e a IN n." 97/2003 - que previa que o desconto devia ser expressamente autorizado pelobeneficiário, por escrito ou meio eletrõnico. lista exigência visava à proteçâo do beneficiário do empréstimo, ou seja, o aposenta-do ou pensionista do INSS.

A alteração da Cláusula Terceira, item I I I , alínea 'd', nío afronta a nenhum dispositivo legal. De acordo com sua inter-pretação, buscou-se apenas adequar o convénio ã nova realidade criada com o Decreto n." 5.180/2004. que incluiu instituiçõesfinanceiras não pagadoras de hcnelkios.

As alterações introdu/.idas na Clausula Quarta. § l", são consideradas ilegais. A substituição da palavra 'subscritas' por•reali/adas" amplia as formas de aiilori/ação do t i tu lar do beneficio para que seja efetuada a consignação. F a supressão do termo'não' imputa a terceiros obrigação com a qual não aquiesceu, afrontando a Lei n." 8.213/1991. que considera a constituição dequalquer ónus sobre o beneficio como nulo. devido ao seu caráler alimentício. Uma vez que a morte do titular pode implicarinstituição de pensão por morte, a outrem será imputada a dívida.

O texto da Cláusula Quarta, íj 2". é a copia fiel da minuta-padrão. Entretanto, como foram introdu/.idas alterações nas alí-neas às quais é afeto, perdeu o sentido deniro do contexto.

A inclusão da palavra •licenciamento" na Cláusula Quinta, item l, é ilegal por permitir o desconto de operações distintasdas contempladas na legislação.

A exclusão do Plano de Trabalho da Cláusula Sexta afronta a Lei n.° 8.666/1993. art. 116. (j l", uma vez que para a cele-bração de convénio faz-se necessária sua aprovação prévia. Logo não há convénio sem a existência de um plano de trabalho.Outra questão que se mostra ilegal é a obrigação de o INSS franquear a base de dados cadastrais de titulares de benefícios. Cabeexclusivamente ao segurado ou pensionista consignatário fornecê-los.

Outra ilegalidade foi a supressão da Cláusula Nona que dispunha sobre a rescisão do convénio.8.7.3 Em consequência de todas essas irregular)dades. a PFI71NSS propôs que fossem tomadas 4 aeões: a imediata anu-

lação do convénio, mediante aviso prévio e escrito, com antecedência mínima de 30 dias; instauração de procedimento adminis-trativo disciplinar, visando à apuração da responsabilidade de quem deu causa à nulidade, ficando nesse ínterim suspensas quais-quer novas consignações até a conclusão do processo administrativo: proibição de outros convénios com a entidade, caso ficassecomprovada a sua responsabilidade: envio de cópia integral dos autos ao Ministério Público Federal, uma vê/ que a matéria versasobre o direito de idosos e do consumidor.

O Despacho PI f 1XSSIÍAN n." 77'2004 (anexo 4. fis. 94/95). de 08/10/2004. do Procurador-Chefe Nacional daPI-T7INSS. Jelíerson Carús Guedes, adotou em parle o proposto, sendo contrário a duas medidas. Primeira, a de suspender novasconsignações, sob a alegação de que o processo administrativo não alcança a instituição financeira. Segunda, a de não firmarnenhum outro convénio, considerando que foi a Administração que optou em fbnnali/ar o convénio fora dos padrões determina-dos pelas normas vigentes.

A anulação do convénio foi comunicada ao BMG por meio de correspondência de 14/10/2004 (anexo 4. II. 96). recebidaem 18/10/2004. Ressalte-se que 14/10/2004 foi a data da IN n." l 10/2004. que adequou a regulamentação do INSS ao Decreto n."5.1X0/2004.

A Dataprev foi comunicada em 19/10/2004 (anexo 5. ti. 38).A publicação da anulação do convénio ocorreu em 25/10/2004 (anexo 5. II. 57). com efeito retroativo a 19/10/2004. por

problemas ocorridos com a publicação anterior,A Corregedoria-(ieral do INSS abriu processo em 03/12/2004 (anexo 5. tis. 115/117). assunto que será abordado mais a-

diante. nesta instrução.8.7.4 No mesmo dia em que recebeu a comunicação de anulação. 18/10/2004. |o HMÍil manifestou sua vontade em f i r -

mar novo convénio (anexo 5, fi- 2). Em 20/10/2004. dia em que o INSS recebeu a correspondência, já foi firmado novo convénio(anexo 5, tis. 47/55), assinado pelos mesmos representantes anteriores. Sua publicação ocorreu no DOU- de 21/10/2004 (anexo 5.

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ti. 56).8.7.5 Concomitantemente à assinatura do novo convénio, a instituição financeira solicitou, em I9/IO/2004. que pudesse

uli l i /ar a comprovação eletrônica como forma de autori/acao do empréstimo. (Anexo 5, fl. 36).A Procuradora Federal. Marina Cru/ Rufino, concluiu pela impossibilidade em ra/ào de o Decreto n." 4.862, de

22/10/2003. que regulamenta as hipóteses de consignação, dispor que "o próprio titular do beneficio de\erá firmar autorí/acaoexpressa para o desconto' (grifo nosso), e. também, de não haver previsão no convénio (anexo 5, fls. 77/79). Fntretanlo, o Procu-rador-Chefe Nacional. Jefferson Carús Guedes, informou que poderia ser celebrado termo aditivo, já que a IN n." l H)/2()04. art.T. § 2" e art. 8". l. possibilita a autori/ação por meio eletrônico (anexo 5. II. 81).

A DACAI encaminhou minuta do aditamento do convénio (anexo 5, f l . 101) ressalvando na Cláusula Sexta a necessidadede que a referida aulori/ação seja firmada "em conformidade com o layout do Anexo l ou por meio elelrónico certificado (assi-n n i i i n i digital cm conformidade cerni a Medida IVovisória n." 220(1-2, de 24/IIH/2IIOI, c demitis ato\s em vigor}'(grilo nosso).

Em 25/11/2004. foi assinado Termo Aditivo (anexo 5. fls. 105/107), que foi publicado em 26/11/2004. cujo teor diferemais uma vê?, do padrão proposto, lendo sido retirado o texto final da Cláusula Sexta, acima negritado.

8.7.6 Outra demanda do BMG (anexo 5, 11. l I f i ) , feita cm 10/12/2004. resultou em consulta à Procuradoria e mudança noposicionamento dos dirigentes do INSS.

O BM(i solicitou a alteração dos destinatários dos repasses de valores referentes ao convénio firmado com o INSS. Emoutras palavras, os repasses equivalentes aos valores das parcelas dos empréstimos descontados dos aposentados e pensionistasseriam transferidos para instituição financeira diversa da que reali/ou a operação.

O Presidente da Casa. Carlos Gomes Bezerra, pronunciou-se favorável ao pleito desde que não onerasse a Dataprev e oINSS.

A Procuradora Federal Jaquelinc Mainel Rocha discordou desta opinião (anexo 5. lis. 131/135). já que não havia amparona legislação. De acordo com a l.ei n." 10.820/2003. art. 6°. § 2", inciso l, e com a IN n." 110/2004. o INSS tem que repassar ãinstituição consignatária os valores retidos. Também não havia previsão desse procedimento no convénio. Ademais, não haveriacomo garantir que este terceiro estivesse de acordo com o ajuste, já que não é partícipe do convénio, ou que não estaria se util i-zando de um caminho transverso para fugir à comprovação da regularidade fiscal exigida pelo convénio.

O Memorando/INSS/DCFIN/OI.300/n."OI6 (anexo 5. fls. 139/140), de 13/01/2005, encaminhado pela Chefe da Divisãode Controle Financeiro. Valéria Ramos Torquato. à Procuradoria Federal Fspeciali/ada. comunica que:

'a operacional ização de repasses à Instituição Financeira diversa da qual se firmou o convénio demandará alterações sig-nificativas no Sistema de Controle Financeiro - SCF e no SDC Sistema de Dados Corporativos, cuja previsão inicial de pra/opara implantação seria a partir da competência da 'maciça' Fevereiro/2005. Na oportunidade, informamos que os custos com asalterações dos sistemas serão informados/cobrados posteriormente pela Dalaprev. visto que ainda estamos cm fase de especifica-ção dos sistemas'.

A 1'F'H/INSS consultou o Ilanco Central do Brasil que informou não existirem "óbices jurídicos, sob o ponto de vista daregulamentação do Sistema Financeiro Nacional à cessão ... de créditos' (anexo 5, lis. 146/155). O DespachoPFE/INSS/CGMADM/DL1C n." 97/2005. de 26/01/2005 (anexo 5. II. 160). ratificou a posição do BC. acrescentando ser necessá-rio adaptar a IN n.° 110/2004 e exigir a comprovação de regularidade fiscal da cessionária. A IN n." 114. de 26/01/2005. publica-da em 28/01/2005. promoveu essa adequação.

Fm 28/01/2005, o Diretor-Presidente do INSS. Carlos Gomes Be/erra, encaminhou o Oficio n.° 46/INSS/DCPRF.S (ane-xo 5. lis. 166/167) para o Viee-Presidenle do BMG. Roberto José Rigolto de Gouvca. aulori/ando a cessão de créditos.

O requerimento do HMÍi abriu precedentes para que outras instituições financeiras fi/csscm a mesma solicitação.8.7.7 Maís uma vê/, o BMG. em carta enviada ao Diretor Presidente do INSS em 21/03/2005 (anexo 5. II. 170). solicitou

ao INSS que fi/esse um aditamento ao convénio para permitir que realizasse os empréstimos com a mili/acão de cartão de crédi-to. Novamente, o Diretor-Presidentc mostrou-se favorável ao pedido e pediu que fosse encaminhado ã PFE/INSS para análise. Opleito foi prontamente atendido, ocorrendo a publicação do extraio do termo aditivo em 24/03/2005 (anexo 5. 11. 173). a despeitode ainda não ter sido feita a análise pela PFF/INSS.

Após ter recebido o termo aditivo (anexo 5 . fis. 175/177), a DACAI alertou para o lato de que foi assinado sem o parecerda 1'FF/INSS e sem a apresentação dos documentos de regularidade fiscal da instituição financeira (anexo 5. 11. I7f i ) .

Lm 18/05/2005, o Despacho PFE/INSS/CGMADM/GAB n.11 534/2005 (anexo 5. fls. 187/188) considerou que não serianecessária nova análise além da contida na Nota Técnica PFE/INSS/CGMADM/DF1C n." 128 (anexo 5. lis. 179/182). aprovadaem 05/05/2005.

ki-snllado dçLçn l rc \ i s l av na 1) \ Al v na < oordcnaçào-Cicral de BenefíciosAlém dos documentos apresentados na inspeção. entrevistas realizadas com a Coordenadora-Geral de Benefícios. Ana

Adail F.de Mesquita, com a Chefe de Divisão da DACAI, Maria da Conceição Coelho Aleixo. e com os demais técnicos daDivisão trouxeram novos elementos que corroboram a teoria de que houve favorecímenlo ao Banco BMG.

Reiteradas ve/.es relataram que a tramitação do processo do I1M( i foi coinplelarnente atípica. O processo das demais ins-tituiçóes financeiras, desde a manifestação do pedido até a celebração do convénio, levava, no mínimo, dois meses. Fra necessá-rio o encaminhamento dos documentos de regularidade fiscal, da manifestação de concordância com a minuta do convénio, daelaboração de testes e troca de arquivos com a Dataprev. até que disso resultasse a assinatura do termo de convénio.

Diferentemente das demais, a manifestação de interesse do BMG foi encaminhada diretamente à Presidência do INSS.que em 8 dias promoveu a assinatura do convénio. Isto ocorreu a despeito de não existirem ainda uma minuUi-padrão e um planode trabalho adaptados à nova regulamentação que permitiu que instituições financeiras não pagadoras de benefícios aderissem aoconvénio, e de não terem sido submetidos à PFF/INSS para aprovação. A DACAI havia marcado uma reunião com o BMG comesta finalidade para o dia 30/08/2004. que não ocorreu.

Conforme os relatos da Coordenadora-Geral de Benefícios, à época. Ana Adail F.de Mesquita, o processo foi avocadopela Presidência da autarquia. Como havia chegado o dia da reunião para discussão dos lermos do convénio, ela foi em busca doprocesso na Presidência. Foi quando tomou conhecimento de que o convénio já havia sido assinado. Foi pedido a ela que promo-

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vesse a publicação do extraio do convénio. Constatando as modificações promovidas c as irregularidades existentes, cia se recu-sou a fa/.é-lo. Dois dias depois foi afastada de suas atribuições e comunicada de sua exoneração, que não foi publicada de imedia-to. Cabe ressaltar que, posteriormente, com a mudança dos dirigentes, a citada servidora retomou às suas funções.

(guando a DACAI teve acesso novamente ao processo, e verificando todas as irregularidades existentes, encaminhou-o àPFK/INSS para analise e proposição das medidas saneadoras, o que resultou na anulação do convénio,

A minuta do convénio e o plano de trabalho, adequados às alterações do Decreto n." 5.180, de 13/08/2004. só foi encami-nhada para análise da Procuradoria Federal Especializada do INSS e para a Coordenação-Geral de Orçamento. Finanças e Conta-bilidade, em 09/09/2004.

A Chefe da DACAI. Maria da Conceição Coelho Aleixo, relatou que Iodas as ações que envolviam as demandas do BMGeram feitas sob muita pressão por parte da Presidência do INSS. Os servidores eram bastante demandados a dar encaminhamentoás soluções com celeridade. Isso pode ser comprovado pela cronologia do processo apresentado tio item 8.7. que laia do BMG.

Para corroborar tudo que foi relatado acima, foi encaminhado, em 17/1 1/2004. documento para a Direloria de Benefícios(anexo 5. lis. 70/72) assinado pelo Coordcnador-Geral de Benefícios, Carlos José do Carmo, e Chefe da DACAI. Airton Araújo,á época, no qual é relatada a cronologia dos atos referentes ao processo do BMÍ i e que corrobora todo o relatado.

(...)11 Procuradoria da República do Distrito Kederal - Mini.slério Público l-edcralKm 20/07/2005. foi encaminhado ao Presidente do INSS. à época. Samir de Castro l latem, o Ofício n."

108/2005/IM/GAB/PRDF (anexo I. tis. 135/137). referente ao Procedimento Administrativo n.° 1.16.000.001274/2005-13 autua-do pelo Procurador da República Lauro Pinto Cardoso Neto para apurara prática de improbidade administrativa por dirigentes doINSS no processo de cadastrametilo de instituições financeiras para concessão de empréstimos consignados, lendo em vista quefoi noticiado no jornal Valor Hconômico que eram cobradas dos bancos comerciais contribuições para o PMDB,

Foram solicitadas informações como: relação de instituições financeiras credenciadas, cópia dos instrumentos de cadas-Iramento. relação de dirigentes e servidores do INSS responsáveis por esses cadastramenlos.

Hm 08/08/2005, foi encaminhada pela Coordenaçào-Geral de lienefícios, à qual está subordinada a DACAI, resposta aoOficio retrocilado com as informações solicitadas (anexo 1. lis. 141/145).

12 Análise Já irregularidade*Os fatos retromcncionados permitiram identificar irregularidades ocorridas durante o processo de implantação dos em-

préstimos consignados nos pagamentos de benefícios de aposentados e pensionistas c fortes indícios de favoreci mento ao BancoBMG. Km síntese, são eles;

12.1 Infringência ao Princípio da Impessoalidade na tramitação do processado Banco BMGA celeridade na tramitação do processo do BMG e de suas demandas denota favoreci mento à instituição financeira.O BMG levou 5 dias a partir da publicação do Decreto n." 5.180, de 1.V08/2004. para manifestar seu interesse em aderir

ao convénio, mediante encaminhamento de correspondência dirclamenie !io Presidente do INSS. Carlos Gomes Be/crra.Apenas oito dias depois, em 26/08/2004, o convénio já estava assinado, a despeito de a minutfl-padrfio e de o plano de

trabalhe» não terem sido adequados à possibilidade de adesão de instituições financeiras que não efeluam pagamentos a aposenta-dos e pensionistas e de não lerem sido apreciados pela Procuradoria Federal Hspeeiali/ada junto ao INSS. O convénio foi assina-do antes mesmo de se iniciarem os testes junto à Dataprev. o que vai de encontro ii rotina criada pela DACAI. Também foi igno-rada :i reunião marcada para 31/08/2004 entre a DACAI e o BMG. para discussão da minuta do convénio.

A exoneração da Coordcnadora-Gcral de Benefícios, logo após ter-se negado a publicar o convénio eivado de irregulari-dades. é mais um indicio do tratamento diferenciado dado ao BMG,

O procedimento de implantação de rotinas junto ã Dataprev também ocorreu de forma muito rápida, se considerarmosque o BMG não era conhecedor das rolinas informali/adas do órgão por não ser pagador de benefícios previdenciários. A reuni-ão inicial ocorreu em 31 /08/2004 e entrou em opcraçào em 14/09/2004, 15 dias depois.

O BMG foi comunicado da anulação do l" Convénio, proposta pela PFK/INSS devido aos vícios e às irregularidades jáapontados, em 14/10/2004. Neste mesmo dia. o INSS publicava a IN n." 110/2004. que adequava a regulamentação interna aoDecreto n." 5.1X0. que abriu a possibilidade de que qualquer instituição llnanceira pudesse firmar o convénio com INSS. a des-peito de pagar benefícios ou não.

A celebração do 2° Convénio ocorreu em 20/10/2004. dia seguinte à publicação da anulação.A demanda do BMG em utili/ar a comprovação cletrôniea como fonna de autorização do empréstimo, feita em

19/10/2004. também foi rapidamente atendida por meio da assinatura de Termo Aditivo, em 25/11/2004. A Procuradora Federal,Marina Cru/ Kufino. emitiu opinião contrária a esse tipo de autorização, entretanto, o Procurador-Chefe Nacional. JeffcrsonCarús (iuedes. mostrou-se favorável ao pleito, desde que fosse celebrado um termo aditivo ao convénio.

Km 10/12/2004. o BMG pediu que fosse aulori/ada a cessão de créditos para outra instituição Financeira. Antes mesmode consultar a PFK/INSS quanto á legalidade da operação, o Presidente do INSS. Carlos Gomes Be/erra, pronunciou-se favora-velmente ã solicitação, desde que não onerasse o INSS ou a Dataprev, A PFF7INSS. cm 26/01/2005. ratificando posicionamentodo Banco Central do Brasil, informou não existirem óbices jurídicos sob o ponto de vista da regulamentação do Sistema Finan-ceira Nacional, i-"n f ai i/ou. entretanto, a necessidade de se adaptar a IN n." 110/2004. o que ocorreu de pronto. Hm 28/01/2005 foipublicada a IN n," 114/2005. com as adaptações necessárias para atender ao pedido, e foi comunicada ao BMG a concessão da

autorização.Por fim. o BMG encaminhou, ao Presidente da autarquia, pedido de autori/ação para o uso de cartão de credito pura a re-

ali/açao de empréstimos, O Presidente, mais uma vê/, manifestou sua concordância, encaminhando para análise da PFK/INSS.Em 24/03/2005, antes mesmo da análi.se foi publicado o Termo Aditivo.

O fato de apenas o IÍMG, como instituição n3u pagadora de benefício p ré v ide n c ia rio, ter atuajo no mercado deempréstimos c o n s \ n mios a aposentados e pensionistas de 2 6/1W a 20/10/2004, dois meses aproximadamente, a despeito tleoutras 4 instituições financeiras lerem manifestado o mesmo interesse, sem que obtivessem êxito, e de a norma interna doINSS ainda na» ter regulamentado esta possibilidade, demonstra também o favorecimcnlo.

Todo o exposto poderia explicar como uma instituição de pequeno porte como o BMG, com apenas 10 agências e 79 fun-

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cionários na área operacional, de acordo com dados divulgados pela imprensa sobre os Demonstrativos financeiros do exercíciode 2004. conseguiu que seus lucros subissem de R$ 90.2 milhões, em 2003. para R$ 275.3 milhões, em 2004. o que representaum crescimento de 205%. De acordo com o Relatório da Administração, as operações de consignação em folha representavam85% da carteira de crédito do BMG cm 31/12/2004.

Podemos concluir que os atos praticados pelo 1'residente do INSS, principal responsável pelos atos que envolveram oprocesso do l iMCi, infringiram um dos princípios básicos da administração pública: o princípio da impessoalidade, Ele está con-substanciado na Constituição l;ederal de 1988. art. 37. cupul. e impõe ao administrador público que pratique apenas atos visandoao interesse público e a conveniência para a Administração, vedando praticá-los no interesse próprio ou de terceiros, por favori-tismo ou perseguição.

A Lei n.° 8.429. de 02/06/1992. que dispõe sobre aios de improbidade administrativa, em seu art. 4". obriga os agentespúblicos de qualquer nível ou hierarquia 'a velar pela estrita observância dos princípios de legalidade, impessoalidade, moralida-de e publicidade no trato dos assuntos que lhe são atetos'. O art. 11 dispõe que constitui ato de improbidade administrativa aqueleque. por ação ou omissão, alenta contra os princípios da administração púhlica violando os deveres de honeslidade. imparcialida-de, legalidade e lealdade às instituições. Das penas previstas no art. 12, inciso III, estão o pagamento de multa civil de até cemvexes o valor da remuneração percebida pelo agente, perda da função pública, suspensão dos direitos políticos de 3 a 5 anos.dentre oulras.

12.2 Cek-bracão de convénios e termo aditivo eivados de vícios e irregularidadesA despeito da IN n.L' 97/1NSS/DC. de 17/11/2003. da minula-padrão e do plano de trabalho não terem sido modificados,

adequando-se ao Dccrelo n." 5.180. de 13/08/2004. que abriu às instituições financeiras não pagadoras de benefícios previdenciá-rios a possibilidade de formalizarem convénio com o INSS para operar no mercado de empréstimo consignado, foi celebradoconvénio entre o HM G. INSS e Daiaprev. Estas modificações ainda estavam em discussão na DACAI e sequer haviam sidosubmetidas à apreciação da 1'EIi/INSS.

Após o retorno do processo, a DACAI. numa análise preliminar, verificou que o convénio celebrado diferia muito da mi-nutu-padrào ora existente e que o plano de trabalho foi excluído. Em vista disso, remeteu-o à PFE/INSS, que detectou diversasirregularidades que levaram á sua anulação:

a) atribuição ilegal de obrigação ao INSS para que confirme 'para a instituição financeira, por escrito ou por meio eletrô-nico. possibilidade da realização dos descontos em função dos limites, na forma da legislação em vigor, averbando-a a favor darespectiva instituição financeira", conforme previslo na Cláusula Terceira, I. 'a', do l" Convénio, indo de encontro às obrigaçõesatribuídas à autarquia pela Lei n.° 10.820/2003;

b) possibilidade de concessão de empréstimos pela central de atendimento da instituição financeira, conforme previslo naCláusula Terceira, II, 'a', do l" Convénio, contrariando o previsto na Lei n." 10.820/2003. no Decreto n." 3.048/1999 e na IN n."97/2003. que determinavam que o desconto deva ser expressamente autori/ado pelo beneficiário:

c) ampliação das formas de autorização do empréstimo pelo titular do beneficio, conforme previslo na Cláusula Quarta. Sl", do l" Convénio, que estabelece que "a autorização valerá enquanto rcjili/ada pelo titular do benefício' (grifo nosso), e náomais enquanto subscrita pelo titular do beneficio, conforme prevêem a Lei n." 10.820/2003. o Dccrelo n." 3.048/1999 e a IN n."97/2003:

d) constituição de ónus por sucessão sobre beneficio de pensão por morte, em decorrência da morte de titular de benefícioprevidenciário que efetuou empréstimo consignado, conforme previsto na Cláusula Quarta, í; l", do 1° Convénio, contrariando oque prevê a Lei n." 8.213/1991:

e) inclusão de operação de licenciamento, na Cláusula Quinta, l, do l" Convénio, não prevista na legislação:f) exclusão do Plano de Trabalho no l" Convénio, afrontando a Lei n." 8.666/1993. art. 116. fj 1°:g) obrigação do INSS em franquear a base de dados cadastrais de titulares de benefícios, conforme previsto na Cláusula

Sexta do 1° Convénio, indo de encontro às obrigações atribuídas à autarquia pela Lei n." 10.820/2003:h) exclusão da cláusula rescisória do l" Convénio, afrontando a Lei n." 8.666/1993, art. 116.Outra irregularidade encontrada di/. respeito ao termo aditivo ao 2" Convénio celebrado com o UMG. em 26/11/2004. cu-

jo objoiivo era permitir a utilização da comprovação eletrôniea como forma de autorização do empréstimo. Ele vai de encontro aoDecreto n." 4.862. de 22/10/2003. art. 154. $ 6". VI. que é bem claro ao dispor que:

',í 6" O Í.\SS disciplinará, em ato próprio, o desconto de valores de benefícios com fundamento no inciso 17 do capul.observadas as seguintes condições:

11 - o próprio titular do heneficio deverá firmai- autorização cxprcs_sa para o desconto', (grifo nosso).Sua assinatura hascou-se no parecer do Procurador-Chele Nacional. Jefferson Canis Guedes, que entendeu que bastava

que houvesse esta previsão no termo aditivo, já que a IN n." 110/2004 autorizava este tipo de comprovação de empréstimo.A época, a DACAI encaminhou uma minuta do termo aditivo que propôs que a autorização fosse firmada "em conformi-

dade com o layuut do Anexo l ou por meio elelrônico certificado (assinatura digital em conformidade com a Medida Provisórian." 2.200-2. de 24/08/2001, e demais atos normativos em vigor)'. No lermo aditivo foi extraída a parte ílnal do texto, que esláentre parênteses.

O Decreto foi bem claro ao permitir que o INSS disciplinasse em ato próprio o desconto dos valores, desde que respeita-das determinadas restrições, que nito foram observadas neste caso.

Observamos, também, que esle lermo aditivo foi celebrado apenas com o UMG. o que lhe deu uma grande vantagem emrelação às demais instituições financeiras. Apenas em 01/07/2005, com a publicação da IN n." 121/2005. foram introdu/idascláusulas restritivas proibindo autorização por telefone e gravação de voz.

12.3 Ausência do repasse para as instituições financeiras dos encargos referentes às operações de_descontosContrariando a Lei n." 10.820/2003, art. 6U. $ l". V. o Decreto n." 4.862/2003. art. 154. § 6", V. c a IN n." 110/2004. art.

4°. $ 2. subsliluida pela IN n." 121/2005. o INSS não repassou para as inslituiçòes financeiras os encargos decorrentes das altera-ções realizadas no Sistema de Controle Financeiro - SCI; e no Sistema de Dados Corporativos - SDC. que possibilitaram a ces-são de créditos para instituições financeiras diversas das que firmaram os convénios.

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l ,m síntese, essas normas dispõem que o INSS eslá aulori/.ado a dispor, em ato próprio, sobre n valor dos encargos a se-rem cobrados para ressarcimento dos cuslos operacionais a ele acarretados pelas operações, e que deverão corresponder, apenas.ao ressarcimento dos custos operacionais, que serão absorvidos integralmente pelas instituições financeiras concessoras (grilonosso).

\os convénios firmados, o valor acordado entre as partes I\SS. Dalaprcv e instituições financeiras foi de RS 0.30por operação processada.

De acordo como MemolXSS'DI-'lN 01.300 n.° 016 (Anexo 5, fk. 139 140), encaminhado ã P l-'E fie Ia Chefe da Divisãode Controle Financeiro, ('uléria Rumos Torquato (item X. 7.6 desta instrução), a demanda feita pelo Ranço HM(i para aue fosserealizada a cessão de seus créditos para outra instituição financeira incorreu em custos para o INSS.

Em seu relato, ela diz aue 'a operac tonal ização de repasses à Instituição Financeira diversa da qual se firmou o convé-nio demandará alterações significativa.-, no Sistema de Controle financeiro SC F e no SDC - Sistema de Dados Corportativos'(grifo nosso). Uma vê: que a Dataprev é remunerada pelo INSS para prestar serviços de suporte em informática e aue desde oinicio das operações de consignação em 2004 a tarifa cohrada permanece em R$ 0,30, concluímos que estes custos não foramrepassados.

Fomos informados peia Chefe da Divisão de Controle Financeiro, em entrevista realizada durante a inspeção, que a Da-taprev deve ter cobrado o serviço prestado pela alteração dos sistemas /unto com os demais ser\'icos prestados ao selor, mas elanão saberia valorá-los ".

Concluindo, propôs a Analista, com anuência do Diretor e do Secretário, que:"/- seja ouvido, preliminarmente, em audiência, com fulcro mi Lei n."8.443.' 1992, art. 43. inciso //, e na Lei n.°. 8.429,

de 02 06 1992. que dispõe sobre aios de improbidade administrativa. Carlos Gomes Bezerra, CPFn." 008.3-19.391-34, à épocaDiretor-Presidenle do Instituto Nacional do Seguro Social - INSS, que conduziu e assinou os dois convénios (26 08 2004 e20'IO'2004. respectivamente} e o termo aditivo (25'I i''2004) enlre o INSS, a Dataprev, e o lianca IÍMG, para que preste justifi-cativa a respeito das irregularidade* abaixo apontadas:

a) infringência aos princípios da administração pública, em especial o da impessoalidade, consubstanciado na íramiiaçãocélere e atípica do processo para celebração dos convénios e do termo aditho do Banco BM(i. desconsiderando os procedimen-tos administrativos adotados pela Divisão de Administração de Convénios e Acordos Internacionais - DACAI e a necessidade daanálise jurídica da Procuradoria Federal lispeciali/ada junto ao INSS, denotando não ler visado apenas ao interesse público e aoda administração;

b) celebração do l" Convénio em desacordo com a IN n." 97/2003. que vigia à época, c só autorizava a celebração deconvénio com instituições financeiras pagadoras de benefícios previdenciários;

e) atribuição ilegal de obrigação ao INSS para que confirme 'para a instituição financeira, por escrito ou por meio clctró-nico, possibilidade da realização dos descontos em função dos limites, na forma da legislação em vigor, averbando-a a lavor darespectiva instituição financeira*, conforme previsto na Cláusula Terceira. I. "a", do I" Convénio, indo de encontro às obrigaçõesatribuídas à autarquia pela Lei n." 10.820/2003;

d) possibilidade de concessão de empréstimos pela central de atendimento da instituição financeira, conforme previsto naCláusula Terceira. II. 'a', do l" Convénio, contrariando o previsto na Lei n." 10.820/2003. no Decreto n." 3.048/1999 e na IN n."97/2003. que determinam que o desconto deva ser expressamente aulori/ado pelo beneficiário;

c) ampliação das formas de autori/açào do empréstimo pelo titular do beneficio, conforme previsto na Cláusula Quarta, gl", do l" Convénio, que estabelece que 'a autori/ação valerá enquanto realizada pelo titular do beneficio' (grifo nosso), e nãomais enquanto subscrita pelo titular do beneficio, conforme prevêem a Lei n." 10.820/2003. o Decreto n." 3.048/1999 e a IN n."97/2003;

f) constituição de ónus por sucessão sobre beneficio de pensão por morte, em decorrência da morte de titular de beneficioprevidenciário que contraiu empréstimo consignado, conforme previsto na Cláusula Quarta, ij \'\o Io Convénio, contrariando oqueprevêal ,e in ,°8.2l3/1991;

g) inclusão de operação de licenciamento, na Cláusula Quinta. I. do l" Comcnio. não prevista na legislação:h) exclusão do Plano de Trabalho no 1° Convénio, afrontando a Lei n.° 8.666/1993. art. 116. § l";i) obrigação do INSS em franquear a base de dados cadastrais de titulares de benefícios, conforme previsto na Cláusula

Sexta do Io Convénio, indo de encontro às obrigações atribuídas ã autarquia pela Lei n." 10.820/2003;j) exclusão da cláusula rescisória no l" Convénio, afrontando a Lei n." 8.666/1993, art. 116:k) assinatura de termo aditivo ao convénio permitindo a ulili/ação da comprovação eletrónica como fornia de autorização

de empréstimo, contrariando o disposto no Decreto n." 4.862. de 22/10/2003. art. 154. ij 6". VI. que estabelece a obrigatoriedadeda autorização expressa por parte do t i tular do benefício;

// - sejam encaminhadas cópias destes tintos /jara a ('orregedoria-Geral do l\SS e para a Procuradoria da Repúblicado Distrito Federal.

Quando da analise do mérito, propomos que seja determinado ao /.V.V.V que:I - padronize todos os convénios firmados até o momento, à luz da normas vigentes:II - repasse para as instituições financeiras os encargos decorrentes das alterações realizadas no Sistema de Controle

Financeiro SC F e no Sistema de Dados Corporativos SDC, aue possibilitaram a cessão de créditos para Instituições finan-ceiras diversas das t/ue firmaram os convénios de pagamento de empréstimos consignados".

Procedida a audiência, após autorização deste Relator, fi/eram-se presentes aos autos as ra/ôes de justificativa do Sr. Car-los Gomes Be/erra, então D i retor-Presidente do INSS.

Reproduzo, a seguir, excertos da instrução do Analista responsável pelo exame do leito, a qual contém os argumentos o-lerecidos pelo responsável, bem como a análise empreendida:

H4. Assinale-se que foi autorizada a /untada (fl 135), aos presentes autos, de cópia do TC n. ° 019.499 2005 (representa-ção formulada pela Secretaria de Controle Externo no Estado do Rio de Janeiro fls. 136 166), bem como de seus volumesoriginais (autuados nos anexos 6, 7, 8 e 9), referente a -elementos concernentes ao alegado favorecimento ao Banco fíMd S lna implantarão de rotina para consignação de descontos na folha de segurados para pagamento de empréstimos contraídos

n

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junto a instituições financeiras' (/I. 163Í. Procedidas ax análises comparativas, convém salientar, ainda, que mis elementos nãoinovam nos fatos levantados preteritamente /x>r esta 4"SECEX (constantes dos elementos presentes nos anexos l usque 5l.porquanto os mesmos soo repetitivos ou não relacionados ao objeto da audiência.

5. Em 21 03 2006, o responsável apresentou novo elemento de defesa consubstanciado na cópia do relatório da comis-são de sindicância instaurada no âmbito do l\SS para apurar irregularidades noticiadas no convénio firmado entre o I,\SS,Dataprev e Banco HMG (fls. 193/214).

6. Em face da citada audiência, foram apresentadas as razões de justificativa f gerais e especificas), frise-se, desacompa-nhadas de quaisquer documentos anexos, a seguir detalhadas e analisadas:

(-.)

7 GRAVIDADE DA CONDUTA DO RESPONSÁVEL7. / Há que se ressaltar, inicialmente, que a conduta do Sr. ('arlos Gomes Bezerra, na qualidade de Diretor-Presidente

do I:\'SS, possibilitou ao lianco DMG S A a concessão de 1.431.441 (uni milhão, quatrocentos c irinlti e um mil e quatrocentos equarenta t- um> empréstimos em consignação totalizando um montante aproximado de RS 3 bilhões de reais (fl. 50) posição deagosto de 2005 o que tornou, essa instituição financeira, a líder, tanto em número (35,3% do total), como em montante deempréstimos em consignação (36,3% do total), superando, inclusive, a própria Caixa Económica federal com as suas mais deduas mil agências.

7.2 O BMG, então banco privado de pequeno porte (contando com apenas !0 agências e 79 funcionários na área opera-cional -fl. 121), conseguiu, durante o exercido de 2004. um acréscimo em seus lucros da ordem de 205% Idtizentos e cinco porcento), passando de RS 90,2 milhões para RS 275,3 milhões, segundo os demonstrativos financeiros publicados na imprensa. Deoutro lado, as operações de empréstimo em consignação representaram, em 31 de dezembro de 2004. 85% (oitenta e cinco porcento) da carteira de créditos do RMG, negando o Relatório da Administração.

7.3 A tramitação, célere e atípica, nas pactiiações do /A',S'.V com o lianco H MG é o principal indicio de que o responsávelbeneficiou aquele banco. De fato, não houve qualquer motivação, legitima ou válida, para que o interregno entre a data mani-festação do interesse da instituição/inanceira em firmar os convénios e a data de suas respectivas assinaturas Josse de a/xnaioito dias para o lianco HMG e de quase dois meses para os Bancos Cruzeiro do Sul e Honsucesso (//. l! l). A justificativa apre-sentada, atentatória à dignidade da função pública, foi a de que 'Avocando o primeiro dos processos, quis o Requerente, por ele,firmar esxa celeridade como o padrão a ser seguido em todo o programa', operando-se confissão quanto à determinação deapressar u processo do BMG.

7.4 A gravidade da conduta, indevida, não se limita a essa questão processual. O termo de convénio assinado com oBMG diferiu dos termos das demais instituições financeiras, que, frise-se, seguiam o mesmo padrão. Isso permitiu que o HMGassumisse e consolidasse sua posição no mercado de empréstimos em consignação no período em que o convénio estava vigenteaté a sua anulação.

7.5 Com efeito, foram incluídas disposições no convénio, fora da minitía-padrão e sem o parecer da assessoria jurídica,que denotam, claramente, a concessão de vantagens indevidas ao citado banco e de atipictdades processuais que não foramjustificadas pelo responsável em sua defesa:

u) criação de obrigação ao l\SSpara efetuar a confirmação dos descontos sem previsão legal- (suhitem 6.2.3)b) autorização da concessão de empréstimos em consignação por meio de central telefónica da instituição financeira:

(subitem 6.2.-I)c) perpetuação da autorização para a continuidade dos descontos por outros meios não subscritos pelo titular do benefí-

cio; (subitem 6.2.5)d) possibilidade de se perpetuar as consignações sobre as pensões decorrentes- do óbito do íomador do empréstimo; (su-

bitem 6.2.6)e) permissão fxira que se façam descontos por outro meio (licenciamento} não previsto expressamente na legislação;

(subifem 6.2.7)f) exclusão da exigência do plano de trabalho e da cláusula rescisória (subitens 6.2.8 e 6.2.10);g) previsão de dixponibilizaçãa ampla dos dados cadastrais dos segurados possibilitando a execução de melhores estra-

tégias de markeling (subitem 6.2.9);hl possibilidade de autorização de empréstimo em consignação, de forma não expressa, por meio elelrõnico (subitem

6.2.11 f.7.6 Enfim, o responsável se limitou a informar que as irregularidades apontadas foram objeto de nova ptictuação. não

trazendo aos autos quaisquer fatos novos que contrapusessem àqueles constantes no relatório de fls. 106 125.7.7 Ademais, iodos indícios constatados comprovam que o responsável buscou beneficiar o lianco IÍMG cm relação às

demais instituições financeiras, c essa conduta está expressamente proibida no inciso IX do art. 117 da l.ci n." S. 112/1WO C valer-se do cargo para lograr proveito pessoal ou de outrcm. em detrimento da dignidade da função pública'), cuia sanção <• conversãoda exoneração a pedido cm destituição de cargo ctn comissão, redundando na incompatibilidade de nova investidura cm cargopúblico durante o prazo de cinco anos. Por tal razão, deve ser instaurado processo disciplinar no âmbito da corregedoria do INSS.

7.8 Finalmente, a reprovabilidade de sua conduta pode ser verificada, também, pela infringência ao disposto no capul doart. 1 1 da I.ei n." 8.429/1992 ('constitui ato de improbidade administrati\ que alenta contra os princípios da administração pú-blica qualquer açOo ou omissão que viole os deveres de honestidade, imparcialidade, legalidade, e lealdade às instituições...'),cuja sanção prevê, dentre outros, a suspensão dos direitos políticos de três u cinco anos (inciso 111 do art. 12 da mesma lei), moti-vo pelo qual os presentes latos devem ser encaminhados ao Ministério Público Federal, para fins de adoçao das devidas provi-dências.

8 CONCLUSÃO8.1 Os fatos assinalados no item anterior atestam que o Sr. Carlos Gomes fíezerra praticou ato de gestão ilegítimo ao se

valer de sua então função pública de Diretor-Presidente do INSS em aios que beneficiavam o Banco BMG S/A com grave infrin-

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gência a diversos dispositivos constitucionais e legais a saber: capuí do an. 37 (princípios administrativos da legalidade, tiaimpessoalidade e da moralidade/ da Constituição I-'ederal: disposições das Lei n. "s 8.112''1990 l inciso IX do an. 117),8.2/3 1992 (arlx. 114 e 115), 8,429 1992 (caput do an. II). 8.66fi 1993 <art 116, § l") e 10.820 21)03 tarí. 6°); e dos Decretosn°s 3.048/1999 (incisos 11 do caput e inciso Vi do § 6°, ambos do an 154) e 4.862:200i.

8.2. Adernais, as razões de justificativa apresentadas pelo responsável foram insuficientes para elidir sua responsabili-dade frente às irregularidades constatadas, motivo pelo tf na! propõe-se a aplicação ao responsável das seguintes sanções:

- a aplicação de multei com fulcro no art. 56 da Lei n."8.443 1992, c c o inciso II do art. 268 do RI TCL>; e- inabilitação para o exercício de cargo em comissão ou função de confiança, no âmbito da Administração 1'úh/ica, nos

lermos do disposto no art. 60 da Lei n."8.443,1992, c,coart. 270do RITCU.8.3. Sem prejuízo da aplicação das sanções acima citadas, o presente processo deve ser apensado às contas do l.\'SS re-

ferentes cio exercício de 2004, propondo-se, desde já, que seja determinada ao I\SS a adoçãa das seguintes providências (/Í.125):

- padronize todos os convénios firmados com instituições financeiras para a realização de empréstimos em consignação,- repasse para as instituições financeiras os encargos decorreu f es das alterações realizadas no Sistema de Controle Fi-

nanceiro SFC e no Sistema de Dados Corporativos, que possibilitaram a cessão de créditos paru instituições financeiras diver-sas das que firmaram os convénios de pagamentos de empréstimos consignados.

8.4. Em face de in/ringência a dispositivos da Lei de Improbidade Administrativa (Lei n." 8.429 1992), deve ser remetidacópia do relatório, voto e decisão que vier a ser adorada n<> Ministério Público i-'ederal no Distrito Federal.

8.5. Finalmente, em face dos benefícios chancelados indevidamente ao Ranço HMd por parte do responsável em ques-tão, conforme relatado nos autos, deve ser determinada ao I.\SS a instauração de processo disciplinar com vistas a possívelaplicação da penalidade prevista no p<irágrafo único do art. 135, c c o caput do art. 137, ambos da Lei n." 8. I I 2 1990".

Por fim, propôs o Analista:"D rejeitar as justificativas apresentadas pelo Sr. (. 'arlos Comes Bezerra, para: (item 6)a) aplicar-lhe multa com fulcro no arf. 5X da Lei n. "8.443 1992. eco inciso II do art. 268 do Regimento Interno do

TCU, uma vez que, nu qualidade de então Dtretor-Presidente do Instituto ,\'acional do Seguro Social, favoreceu indevidamente oRanço BMC S .-t no processo de autorização (convénios assinados em 26 08 2004 e 20 IO 2004 com aquele banco) para asoperações de consignação de empréstimos sobre benefícios pagos pela Previdência Social, praticando diversos aios de gestãocom grave infringência aos seguintes dispositivos legais: caput do art. 37 (princípios administrativos da legalidade, da im/jesso-alidade e da moralidade) da Constituição Federal: disposições das Leis n."s 8.112 1990 (inciso IXdo art. í 17), 8.213' 1992(arts. 114 e 115), 8.429 (caput do art H), 8.666 1993 (art. 116, § 1a) e 10.820 2003 (art. 6"). e dos Decretos n.°s. 3.048 1999(incisos í'/ do caput e inciso l'l do § 6", ambos do art. 154) e 4.862>2003; (item 7 e subitens X. l e 8.2)

b) pelas mesmas razões, imputar-lhe a inabililação para o exercido de cargo em comissão ou função de confiança, noâmbito da Administração Pública, nos lermos do disposto no uri. 60 da Lei n.°8.443'!992, c.-coart. 270 do RÍ-TCU; (.item 7 esubilens 8.1 e 8.2)

II) determinar ao Instituto Nacional do Seguro Social que adote providências afim de:a> instaurar processo disciplinar em face de aios praticados pelo Sr. Carlos Gomes Bezerra no âmbito do 1'roc I\SS n."

35000.0014070'2004-15 e pelos fatos apontados nos presentes autos; (subitens 6.1.3, 7.7 e 8.5)bl padronizar todos os convénios firmados com instituições financeiras para a realização de empréstimos em consigna-

ção: (suhitem fí.3)c) repassar para as instituições financeiras os encargos decorrentes das alterações realizadas no Sistema de Controle

financeiro - SFC e no Sistema de Dados C 'orporativox, que possibilitaram a cessão de créditos para instituições financeirasdiversas das que firmaram os convénios de pagamentos de empréstimos consignados, (subilem 8.31

III) remeter cópia do relatório, voto e decisão que vier a ser adolada ao Ministério 1'úblico l-ederal: (suhitens 7.8 e 8.4)11') apensar os presentes autos às contas cio Instituto \acional do Seguro Social, referentes ao exercício de 2004, por

força do disposto no § 2° do art, 250 do RI TCU. (subitem 8.3)".O Direlor. por sua vê/, assim se manifestou:"Os aulos registram robustos indícios de favorecimcnío à instituição financeira BMCi, razão pela qual o ex-prcsidenle do

li\'SS, senhor ('arlos domes Bezerra, responsável fxla condução do processo c signatário do convénio, foi instado a apresentarrazões de justificativa sobre diversos pontos tido como irregulares. Antes de manifestar-me quanto à proposta de julgamentoexarada na instrução que analisou as razões de justificativa do responsável (fls. 216 231), trago à baila alguns elementos cons-tantes de instruções precedentes, especialmente do relatório de inspeção (/Is. 94 125).

2 O BMCi foi o primeiro agente financeiro não pagador de benefícios previdenciários a firmar convénio com o /.V.V.V eDataprev para conceder empréstimos consignados a beneficiários da Previdência Social. Consta do relatório de inspeção reali-zada por esta 4"SECEX (fl. í 13) que 'o BMC encaminhou sua solicitação em IX 08 2004 diretamente ao Presidente do l\SS(anexo 4, fl. 2), Carlos Gomes íiezcrra. acom/xin/rada de copia dos documentos paru formalização do processo'. O Decreton." 5.180,2004, que introduziu a permissão para que instituições financeiras não pagadoras de benefícios previdenciários tam-bém pudessem conceder empréstimos consignados, fora publicado em 16 Ofí 2004, apenas dois dias antes da solicitação doBMC,.

3. Na scqUència. a Divisão de Administração de Convénios e Acordos Internacionais - DACAI, encarregada da celebra-ção desses acordos no âmbito do INSS. encaminhou a minuta do convénio ao BMG em 25/08/2004 e agendou reunião para o dia30/08/2004 (n. 22-Anexo 4). 'para discussão e acerto das cláusulas apresentadas'. Todavia, o termo de convénio do B Mi i ioiassinado em 26/08/2004, portanto oito dias após a solicitação e um dia após o oficio emitido pela DACAI c anles da reuniãoagendada por essa Divisão. Portanto, a DACAI. divisão encarregada de ajustes dessa natureza, efetivamente não participou doprocesso. A assinatura do convénio ocorreu antes de qualquer teste ou troca de arquivos com a Dataprev. A primeira reuniãoentre BMG e Dalaprev ocorreu cm 31/08/2004. Também não houve manifestação da Procuradoria. Não há como negar, portanto,que a tramitação do convénio celebrado com o BMG, além da notável celeridade, loi atípica, queimando etapas e excluindo aparticipação de departamentos que deveriam estar envolvidos no processo. O BMCi iniciou a operação em 14/09/2004.

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JUSTIÇAFEDERALFLS.

4. Quando da assinatura desse convénio, ainda havia conflito entre a norma interna do INSS. a [N-INSS/97/2003, e o De-crclo n." 5. ISO 200 4. Nenhuma outra ins t i tu ição financeira firmou coménio antes da edição da I N - I N S S l t O 'Dl ' , de 14 ' K l 2004.publicada no DOU de 15/10/2004, que substituiu a IN n." 97/2003 c adequou a regulamentação do INSS ao Decrelo n."5.I80/2004. permitindo a consignação e retenção Jc descontos de benefícios em favor de instituição financeira não pagadora debenefícios previdenciários.

5. Conforme consta do relatório de inspeção (fl . 113). em 09/09/2004. por ordem do então Uiretor de Benefícios do INSS.a Coordcnação-Geral de Benefícios analisou o convénio celebrado com o BMG. detectando cláusulas diferentes da miiiuta-padrào e a ausência do plano de trabalho do lemio de convénio. Só então, em vista das observações da Coordenacão-Geral deBenefícios, o processo foi pela primeira vez encaminhado para pronunciamento da Procuradoria Federal Especializada junto aoINSS - PFE/INSS. Esta. por intermédio da Nola Técnica PFE/INSS/CGMADM/DUC n." 248/2004, declarou que não tomaraconhecimento da celebração do convénio e tampouco das alterações promovidas na minula-padrão.

6. Segundo a PFF./INSS. divergiam da minula-padrão as cláusulas 3", 4'1, 5", 6" e 9" do termo do convénio. Dentre as alte-rações, foi introdu/ida a possibilidade de que a concessão de empréstimos fosse rcali/ada pela central de atendimento da inst i tui-ção financeira, o que não era permitido pela Lei n." 10.820/2003 e pela IN n." INSS/97/2003. Também foram feitas mudançasaparentemente singelas, como a substituição da palavra "subscritas' pela palavra 'reali/adas' e a exclusão do termo 'não', ocorri-das na Cláusula Quarta. !j \". que ampliaram as formas de autorização do t i tular do beneficio para condições não previstas emestatutos legais e imputam a terceiros obrigação com a qual não aquiesceram - no caso. pensionista, em ocorrência de morte dobeneficiário -. em afronta à Lei n." 8.2)3/1991. que considera nula a constituição de ónus sobre benefício, dado seu caráter ali-mentício. A Cláusula Sexta do convénio obrigava o INSS a Iranquear a base de dados cadastrais de titulares de benefícios aoBMG. o que era vedado pela Lei n.° 10.820/2003.

7. Fm consequência das irregularidades anotadas pela PFF/INSS. o convénio foi anulado. A anulação foi comunicada aoBMG por intermédio de notificação de 14/10/2004. recebida pela instituição financeira cm 18/10/2004 (11- 96-Anexo 4). Nessamesma data. o BMíi solicitou o estabelecimento de novo convénio ( H . 2-Ancxo 5) e apresentou toda a documentação necessáriapara tal fim. Fssa solicitação chegou ao INSS cm 20/10/2004 e o novo convénio foi firmado ainda no dia 20/10/2004. Merecedestaque, também no segundo convénio, a inusual celeridade dos trâmites.

8. Também em 14/10/2004. o INSS editou a IN n." 110/2004. em substituição à IN n." 97/2003. Fm 20/10/2004 outrostrês bancos, que haviam leito solicitação em agosto e setembro de 2004. também firmaram convénio, mas iniciaram a operaçãoposteriormente.

9. Fim 25/1 1/2004. o ex-presidcnte do INSS firmou Termo Aditivo (fls. 105/107-Anexo 5) em desconformidade com mi-nuta encaminhada pela IJ AC AI. Foi excluído trecho f ina l da cláusula sexta da minuta, que condicionava a comprovação elelrôni-ca então introduzida pelo convénio às exigências da Medida Provisória 2200-2. de 24/08/2001 e dos demais normativos emvigor.

10. O relatório de inspeção (lis. 106/125) demonstra em detalhes as irregularidades existentes no convénio firmado com oBMG e a responsabilidade do ex-prcsidente do INSS por sua assinatura, razão pela qual opinou, preliminarmente, pela reali/açãode diversas audiências relativas às irregularidades verificadas. Menciona o relatório que. por ocasião da assinatura do convénio, aentão Coordenadora-Geral de Benefícios foi exonerada '... logo após ter se negado a publicar o convénio eivado de irre-gularida-des'. fato confirmado em depoimentos constantes do relatório de sindicância juntado pelo próprio de fendente (lis. 196/215). í)relatório de inspeção comprovou, ainda, que o BMG sempre tratou direlamentc com o então presidente do INSS. Carlos CiomesBe/erra, e não com as instâncias administrativas competentes.

/ / . Ao tocante às razões de justificativa apresentadas pela responsável, manifesto-me, no gemi, de acordo com as con-clusões do senhor Analista. Desnecessário repelir a argumentação empregada para refinar os pontos da audiência. Porém.cabem alguns registros sohre pomos específicos.

12. Afirmou o de fendente que sindicância instaurada no INSS decidiu peia não-ahertura de processo administrativo. Defato, compulsando o referido relatório, vê-se que a proposta de encaminhamento foi pela sugestão de arquivamento do processopor economia processual, com a justificativa de que não houve prejuízo ao INSS e que a aplicação da penalidade de conversãoda exoneração do ex-presidente em destituição de cargo em comissão operaria no vazio, dado que esse responsável não è servi-dor do /\'SS. Ko final do referido relatório de sindicância conta que 'resta aguardar o final dos trabalhos da Auditoria e doTribunal de Contas da União para, caso desponte algo mais que enseje a deflagração de processo disciplinar, adotar-se talprovidencia'. Apesar da conclusão favorável ao ex-presidente do INSS, há no relatório de sindicância comprovações de irregu-laridades na condução, pelo responsável em ftautu, do convénio entre INSS, Dataprev e HM(i, conforme salientou o anatista-iaslnitor

13. No demais, a defesa do ex-presidente repete várias vezes a afirmação de que as irregularidades questionadas nãogeraram efeitos e joram sanadas quando da assinatura do segundo convénio. Ao assumir essa posiura, o ex-gestor admite aexistência de irregularidades no primeiro convénio, e, diferentemente do afirmado na defesa, o primeiro convénio gerou e/eitos,vez que com ele o B,\ captou clientes e inseriu-se no mercado. Ademais, mesmo que. por hipótese, não tivesse o primeiroconvénio surtido efeitos, a condução irregular do processo, em flagrante beneficio àquela instituição financeira, seria suficientepara caracterizar o ilícito.

14. Rcssalte-se que é possível a conversão da exoneração do cx-presidente Carlos Gomes Be/erra em demissão por im-probidade administrativa, desde que precedida de processo administrativo. Portanto, a proposta de que seja determinada a consti-tuição de processo administrativo disciplinar é pertinente. Porém, tendo em vista que a investigação incidirá sobre a atuação doex-presidente do INSS. essa determinação deve ser dirigida ao MPS. órgão hierarquicamente superior ao INSS.

15. Em que pese não ser este o objetivo deste processo, causam estranheza a demora do Banco do Brasil para iniciar suaataaçõo em tão lucrativo negócio e também a fragilidade da estratégia adorada tanto pelo Banco do Brasil quanto pela CaixaEconómica l-ederal, que. conforme demonstram os autos, nesse segmento obtiveram resultados significativamente injeriores aosdo li.\(C, instituição com apenas nove agências e 79 empregados.

16. No geral, manifesto-me de acordo com as conclusões da instrução de lis. 216/231 e com o teor da proposta de julga-mento. No entanto, divirjo da proposta de acolhimento parcial do item 'b' da audiência. Mesmo já estando cm vigência o Decreto

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n." 5.180/2004. ã data da assinatura do convénio com o BMG. a IN INSS n." 97/2003 ainda não previa a operação de emprésti-mos consignados por instituições não pagadoras de heiictlcios. Apenas o convénio com o BMG foi firmado antes da adaptaçãodo normativo interno. }:. de se indagar os motivos pelos quais não se aguardou a regulari/açào dos normativos internos para entãose firmar o convénio com o BMG ou. já que o presidente do INSS não considerava que essa adaptação era necessária, porquetodos os demais convénios, mesmo solicitados anteriormente, foram firmados apenas após a edição da IN INSS n.° 110/2004.

17. Registro, por derradeiro, que a documentação referente ao TC 019.499/2005-0 {fls. 136/161 e Anexos 6 a 9). repre-sentação formulada por equipe de auditoria da SlíCfiX/K.) anexada a este processo por determinação do Miuisiro-Relalor Gui-llienne Palmeira (despacho às fls. 162/163). cuida especificamente de possíveis irregularidades na formulação de correspondên-cia assinada pelo Excelentíssimo Senhor Presidente da República e pelo então Ministro Amir Laudo, da Previdência Social, e doenvio dessa correspondência para parle dos segurados da Previdência Social às expensas da Dalaprev. Km que pese mencionartambém fato.s relativos ã assinatura do convénio com o BMG. essa representação não trouxe informações que ensejassem a alte-ração de fundamentos do encaminhamento adotado por esta 4" SECHX ou a inclusão de motivos de audiência. O processo TC012.633/2005-8, auditoria realí/ada pela SF.CF.X/RJ na Dataprev. continuará (ralando do possível débito ocasionado pela remessadessa correspondência.

IS. Finalizando, endosso a proposta de julgamento formulada pelo senlior Analista, com algumas adaptações, que nilo lhealteram o mérito.

19. Diante do exposto, proponho que o Tribunal:I - conheça da presente Representação, nos termos do art. 237, VI. do Regimento Interno/TCU, para. no mérito, conside-

rá-la procedente;II - rejeite as ra/.òcs de justificativa apresentadas por Carlos Gomes fie/erra. CPF(MF) 008.349.391-34, ex-presidenle do

1NSS:/// - aplique ao senhor Carlos Gomes Bezerra, CPl-'<\íl:) 008.349.391-34. a multa prevista no art. 58, inciso II. da Lei

n."8.44Í 1992, fixando-lhe o prazo de quinze dias. u contar ilu notificação, para que comprove, perante o Tribunal (arl. 214,inciso III, alínea 'a' do Regimento Interno/, o recolhimento da divida aos cofres do Tesouro Nacional:

II' - autorize, desde logo. nos lermos do arl. 28. inciso II. da Lei n." 8.443 1992, a cobrança judicial da dívida, atualiza-da monetariamente a partir do dia seguinte ao término do prazo ora estabelecido, ale a data do recolhimento, caso não atendidaa notificação, na forma dn legislação em vigor;

V - inabilite o senhor Carlos Gomes Be/erra, CPF(Mr ;( 008.349,391-34. para o exercício de cargo em comissão ou fun-ção de confiança no âmbito da Administração Pública pelo pra/.o de cinco anos. nos termos do disposto no art. 60 da Lei n."8.443/1992;

\'l - determine ao Ministério da Previdência Social alie instaure processo administrativo disciplinar em face dos atospraticados pelo ex-presidente do INSS, Carlos Gomes Bezerra, no âmbito do processo 350110.00!-107'O 201)4-15, conforme apon-tado nos presentes autos:

Vil - determine ao Instituto .\acioiial do Seguro Social que. caso ainda não o tenha feito, padronize os convénios firma-dos com as instituições financeiras para a realização de empréstimos em consignação;

l 'III recomende ao Instituto Nacional do Seguro Social que avalie a possibilidade' e conveniência de repassar às insti-tuições financeiras os encargos decorrentes das alterações realizadas no Sistema de Controle Financeiro e no Sistema de DadosCorporativos, que possibilitaram a cessão de créditos para instituições financeiras diversas daquelas que firmaram os convéniosde pagamentos de empréstimos consignados:

IX encaminhe cópia do relatório, voto e decisão que vier a ser adotada ao Ministérin fúhlico federal, como subsidioao exercício de suas competéncias relativamente aos fatos tratados neste processo;

X - apense o presente processo às contas do Instituto Nacional do Seguro Social referentes ao exercício de 2004 "

O Secretário manifestou-se favoravelmente à proposta do Diretor.

F o Relatório.

VOTO

Consigno, de início, que a presente representação pode ser conhecida, uma vê/- que preenche os requisitos de admissibili-dade previstos no art. 237. inciso VI. do Regimento Interno do TCL1.

Quanto ao mérito, gostaria de tecer algumas considerações.O Sr. Carlos Gomes lie/erra. ex-Presidenle do INSS. tói ouvido cm audiência em razão de ocorrências indicadas pela 4'1

SKCEX relacionadas com os convénios celebrados com o Banco BMG, para consignação de descontos para pagamento de em-préstimos contraídos por beneficiários da Previdência Social.

Nos lermos consignados pela unidade técnica, as ra/òes de jus t i f i ca t iva apresentadas pelo responsável não merecem seracolhidas, por serem incapa/cs de elidir as irregularidades apontadas, quais sejam, infringéncia ao princípio da impessoalidade natramitação do processo do banco e vícios nos lermos constantes dos referidos convénios.

De falo. não há como deixar de admitir a celeridade na condução do processo do BMG. que deixou de obedecer rotina deprocedimentos no âmbito da entidade, com destaque para a não-apreciação, pela Procuradoria Federal Especiali/ada do INSS,dos lermos do l" Convénio celebrado.

É bem verdade que o BMG foi a primeira instituição não pagadora de benefícios a manifestar interesse em celebrar con-vénio com o INSS. o que poderia até certo ponto justificar os atropelos identificados, que teriam, conforme argumenta o respon-sável, o objelivo de dar atendimento a um projeto de governo, no menor tempo possível.

Realmente, a intenção do Governo Federal de ampliar o universo de bancos aptos a prestar tais serviços está simbolizadana edição do Decrelo Presidencial n." 5.180. de 13/08/2004. que introduziu a possibilidade de concessão de empréstimos consig-

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Sob este aspecto, merece destaque o depoimento do acusado RICARDOANNKS GUIMARÃES, transcrito no relatório da C P Ml dos Correios, por meio do qual secomprova que os malfadados empréstimos foram aprovados pelo BMG em datas muitopróximas à reunião daquele dirigente com o Ex-MinistroJosé Dirceu. (fl.14 do Apenso 01):

"O SR. PRnSIDBNTH (Gustavo Unte/. PSDB-PR) - A primeira pergunta - e euqueria perguntar desta coincidência: no dia 20 de fevereiro de 2003, houve uma reuniãoda diretoria do BMG com o Ministro-Chefe da Casa Civil, José Dirceu.

nados por instituições financeiras não pagadoras de benefícios. Registre-se, nesse particular, que a Caixa Económica - entidadepagadora de benefícios - vinha aluando sozinha nesse mercado há alguns meses.

No entanto, mesmo que se reconheça que a rapidez nos procedimentos Ira/ia consigo o alegado propósito de intensificar.no âmbito do INSS. a oferta desses serviços, para inclusive permitir a redução expressiva das taxas de juros Unais para o lomadorde crédito, não se pode ignorar o leor das alterações promovidas no texto da minuta fornecida ao banco pela Divisão de Adminis-tração de Convénios e Acordos Internacionais do INSS. alterações essas que passaram a integrar o conteúdo do Io Convéniocelebrado com o liMG.

Ao contrário do que argumenta o ex-Presidenle da autarquia, as modificações não se submeteram aos posicionamentosdos setores técnicos competentes, colocando-se muitas vc/es até em posição diametralmente oposta aos mesmos. O mais grave éque a Procuradoria Federal Especiali/ada do INSS. como já mencionado, em nenhum momento foi instada a se manifestar sobreos termos pactuados.

Somente em data posterior à celebração do leito, a Procuradoria, provocada pela área técnica, tomou conhecimento doacordo firmado com o BMG e procedeu, em consequência, à análise dos lermos alterados, constatando inúmeros vícios queculminaram na anulação do convénio.

Uma dessas alterações, por exemplo, refere-se à inclusão da possibilidade de a concessão dos descontos direlamenle dosbenefícios ocorrer por intermédio da central de atendimento, circunstância não prevista na Lei n.° 10.820/2003. nem mesmo naIN n." 97/2003, que determinava que o desconto devia ser expressamente autorizado pelo beneficiário.

Outra alteração importante di?. respeito à supressão do termo "não" do texto da Cláusula Quarta. § l", instituindo o ónuspor sucessão sobre beneficio de pensão por morte, em decorrência do falecimento do titular do beneficio previdenciário quecontraiu empréstimo consignado, falo que afronta os termos da Lei n." 8.213/1991. Caso prevalecesse tal dispositivo, estar-se-iaimpondo a terceiro dívida que não contraiu e nem consentiu expressamente.

Constou, ainda, dos termos conveniados. a previsão de o INSS franquear a base de dados cadastrais de titulares de bene-fícios, sendo que a legislação não permite o acesso indiscriminado a tais dados, mas tâo-somente aos dados disponíveis no site doMinistério da Previdência.

Alem disso, foi identificada, no l" Convénio, a exclusão do plano de trabalho, contendo os procedimentos operacionaisnecessários à execução do objcto pactuado, bem como a exclusão da cláusula rescisória, latos que caracteri/am a infringèneia aoart. 116 da Lei n." 8.666/1993.

Diante de todos esses fatos, resta configurada a gestão temerária por parle do e x-Presidente do INSS. circunstância queenseja a aplicação, ao responsável, da multa prevista no art. 58. inciso II. da Lei n." 8.443/1992 - ato praticado com gra\ infra-ção à norma legal ou regulamentar -. nos termos sugeridos pela unidade técnica.

Dissinto, entretanto, das propostas de declaração de inabilitarão do ex-dirigenle para o exercício de cargo em comissãoou função de confiança no âmbito da Administração Pública e de determinação para instauração de processo administrativodisciplinar.

Com efeito, há que se ponderar que os vícios nos termos de convénio foram tempestivamente identificados pela Procura-doria. n3o havendo noticias de quaisquer efeitos danosos à instituição tampouco aos beneficiários da Previdência Social, conso-ante a propósito concluído pela própria Corregcdoria da entidade.

Ademais, não estou convencido de que a celeridade na condução do processo do BMG foi responsável, como adu/ a uni-dade técnica, pelos lucros auferidos no banco nas operações objelo do convénio.

Nesse sentido, observo que o BMG não aluou sem concorrência, já que a Caixa Económica exercia a alividade de em-préstimo em consignação há algum tempo, com a vantagem de ser uma instituição sólida, de alta credibilidade e pagadora debenefício.

Oiitrossim. evidencia-se da tabela de tis. 51/54 do volume principal que a taxa de juros praticada pelo BMG era bemcompcvíviva. o que justificaria a alavancagem significativa desse negócio. Tal particularidade, não mencionada nos pareceres, éde suma importância, já que o tomador de empréstimo sempre vai buscar a condição que lhe é mais favorável. Cabe assinalar, poroportuno, que os resultados do banco continuaram a ser expressivos mesmo depois da entrada de outras instituições financeirasnesse mercado, consoante observado na tabela de tis. 04/06 do vol. 1.

Com essas considerações. VOTO por que seja adotada a deliberação que ora submeto â apreciação deste Plenário.

Sala das Sessões Ministro l.uciano Brandão Alves de Sou/a. em 5 de julho de 2006.

GUILHERME PALMEIRAMinistro-Relalor

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O SR. RICARDO GUIAL-iRAnS - simO SR, PRKV/OhAT/; ((Gustavo \'rmt. PSl)B-i>R) - qualfoi o obje/o desta reuni-ão?O SR. RICARDO GUIMARÃES - o objetojoi uma inauguração que tios..de umaempresa alimentícia de produtos enlatados que ti mina família tem na cidade de \Ji~Íà-tiia. A gente ia Ja-^er uma inauguração* e foi a oportunidade para convidar o MinistroJosé Dirceii para estar presente.O SR. I>RHSIDÍ<NT1' (Custam \r,,et. PSDB-PR) - H o Marcos Valério e o De-lábio acompanharam esta audiência?O SR. RICARDO GUIMARÃES - sim. Os dois.O .VR. PRHSIDLiNTIí. (Gustavo \n,el. PSDB-PR) - os dois. B comentaram sobreeste empréstimo? [\á coincidência de um empréstimo ter sido três dias antes e o outro,quatro dias depois?O SR. RICARDO GUIMARÃES - nàoO .VR. PRESIDENTE (Gitítaw í'me/. PSDB-PR) ~ e quem marcou a audiênciada casa Civil?O SR. RICARDO GUIMARÃES - Marcos Valêno"

Km que pese o acusado ter negado a ilicirude do encontro, como era de seesperar, afirmando que o objetivo daquele restringia-se ao convite ao ex-Ministro para umainauguração, não se pode deixar de apontar a estranha coincidência entre a data do encontroe as datas das formalizações dos contratos. Deve-se atentar para o fato de que a audiência foirealizada dentro do mesmo contexto fático em que celebrados os contratos, não se podendodeles ser dissociada.

Nesta senda, também não se podem ignorar as íntimas relações existentesentre o acusado MARCOS VALÉRIO, o ex-Ministro da Casa Civil e os dirigentes do BancoRMG S/A, conforme se extrai do Relatório Final da CPMI dos Correios. Hm depoimento àCPMI no dia 20 de setembro de 2005, o acusado RICARDO GUIMARÃES relatou queMaria Angela Saragoça, ex-mulher do ex-Ministro, foi empregada no Banco BMG por indi-cação do acusado MARCOS VALKRIO (fls.510/512 do Anexo 01):

C) .VR. ARNALDO ívlRM Dl l SÁ (P/7* - SP) - Por qm< ra~ão o httnwdecidi/i empregar a ex-esposa do Ministra José Dircen?

O SR. R1C-IRDO GUIMARÃES- Olha, ela... é... na época, ela já... a gente já estava o-Ihando tttna contratação de uma pessoa, de urna psicóloga em São Paulo; ela estava apta paraexercer essa função. Foi feita a entrevista com ela. lUa realmente trabalha no banco, esta lã alehoje. FJa tem o serviço, nós temos lá trabalhos dela. h/a tem lá a disponibilidade dela para ci-te nder o nosso pessoal...

O SR. ARN.-ILDO H- lR/ . - l Dl i S.-í (Iyl'fí - SP) - Ma.r qm-m pediu t \-:oi o 7.é Dircent

O SR. RICARDO GUIM.4R.4BS - Quem pediu foi o Marcos Valério.

O SR. ARNALDO H-IRM DllSÂ (ly!T) - SP) - Sim. (...)

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Mister colacionar aqui o depoimento prestado pelo acusado DKLUBIOSOARKS na CPM1 dos Correios, onde se nota com bastante evidência o quão frágil era aexigência dos pagamentos (fls.507/508 do Apenso 01):

"Delábiõ admitiu que nào tinha contrato formal de empréstimo com as agências de Marcos Vá-/crio. .'l vultosa quantia emprestada pelo publicitário se baseou em um "contrato de confiança",baseado na "amizade " entre ambos. Também admitiu que não havia pago nenhuma parcela ouencargo dos supostos "empréstimos ", adquiridos por I /alério nos bancos BA IG e Rural, por so/i-citação do ex-Secreíárío de Finanças e Planejamento do PT:

O SR. D/:L( .'fí/O SOARLiS ~ E um contrato de confiança... Vou deixar claro para o se-nhor, é um contrato de confiança... [...] Nós filemos um contrato em confiança com o Sr. Marcos\ Llle je^ospedidos de empréstimo. Nós não saudamos esses pedidos de empréstimo. Ne-nhum! En/ão, o valor origina! em torno de R$39 milhões, quase R$40 milhões, que deverá, aose quitado, ser corrigido com juros e correçào monetária vigentes nos contratos.[...] O SR. DliLl!BIO SOARES- Eu solicitei ao Marcos Valéria que, por intermédio de

suas empresas, fizesse os empréstimos. Não quitei nenhum empréstimo com as empresas do Mar-cos Valéria. A relação minha com o banco... Não tenho relação formal com o banco, de divida,documentos meus com os bancos sobre empréstimo. linfao, a relação é direto com o Marcos f -'ale-rto, l: não //~ nenhum pagamento de nenhum dos recursos que o Marcos \ solicitou e. sobminha orientação, je~ os pagamentos. Nào fi^ nenhum pagamento.

Delítbio Soares asseverou que se encontrava com o publicitário regularmente, pelo menos umaw^por semana, e que informava a Marcos Valéria, pessoalmente, a relação das pessoas que de-veriam receber dinheiro. Na oportunidade, recusou-se a declinar q/ialq/ier nome de pessoa autori-~ada a receber dinheiro de Marcos Valéria; limitou-se a di~er que "as investigações revelarão osnomes dessas pessoas". O ex-Secretário de \inanças e Planejamento do PT alegou qm os em-préstimos não (oram /erados ao conhecimento da Kvtr/////w do PT porque o dinheiro seria desti-nado ao pagamento de dividas não contabilizadas:

O SR. D/iL[rB7O SOARliS - "Dos empréstimos contabilizados a ]L\ecalira Ioda sabia.Tanto é que está aprovado e assinado por iodos os membros da LixecJitiva e aprovado no Diretó-rio Nacional. Os empréstimos não-contabili^ados. os R$39 milhões, que começaram com umpouco mais de R$W milhões, não me lembro de cor, porque essa é ama operação que nós pedi-mos e o Sr. Marcos I /alério concordou, através de suas empresas, solicitar esse empréstimo aoBunco Rural e ao BMC./.,.]. Nào ramos aqui achar que tem segredo para alguém, porque nãotem. Essa foi a realidade. E como eram informações não-ofíciais, porque não e-ram informações oficiais as demandas que vinham dos Estados, de mem-bros do Partido e membros da Base aliada, nós não discutíamos isso naExecutiva.".

Nào se pode olvidar também, como reforço argumentativo, a forca dos fa-tos divulgados no julgamento da açào penal n. 470 do STF, cujas conclusões nào podempassar despercebidas por este Juízo, dada à similaridade do contexto fático em que se situam.

Neste sentido, as premissas fáticas tidas como incontestáveis por aquela K-grêgia Corte no julgamento da ação penal n. 470, transmitido, ao vivo, para todo o Brasilpela IV JUSTIÇA - devem, aqui, ser recepcionadas, arrematando o quadro indiciário queora se apresenta.

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Com efeito, daquele julgamento, extrai-sc que um sofisticado esquema dedesvio de recursos públicos foi orquestrado por dirigentes do Partido dos Trabalhadores edirigentes de instituições financeiras, intermediados pelas empresas ligadas a MARCOS YA-LERIO, com vistas à captação de recursos por aquele Partido, a partir do ano de 2003. Umdos motes deste esquema era justamente a obtenção, pelas empresas ligadas a MARCOSVALERIO, de empréstimos milionários junto ao Banco Rural, que eram repassados a par-lamentares, com vistas à obtenção de apoio político no Legislativo Federal. Estes emprésti-mos, segundo apurado, afiguraram-se como autênticos repasses de valores daquele Bancoaos tomadores, com vistas à obtenção de diversos benefícios políticos do Governo Federal.Assim, os empréstimos constituíram-se como mera contrapartida à satisfação de interessesmaiores daquela Instituição Financeira. Tal conclusão foi extraída de uma série de elementosque evidenciaram a ausência de interesse do Banco Rural em reaver estes valores, seja pelofato de os empréstimos terem sido por diversas vezes "rolados", seja pela fragilidade dasgarantias oferecidas, seja pela extemporaneidade do oferecimento de execuções judiciais.

No caso em exame, tem-se outra instituição financeira que, a partir de 2003,concedeu empréstimos milionários ao PT e às empresas de MARCOS VALKRIO, emprés-timos estes que foram aditados c renovados por diversas vezes, autorizados sem garantiasidóneas, cujas cobranças em juízo ocorreram, também, exatamente após a deflagração doescândalo do mensalão pela CPMI dos Correios.

Ora, impossível não vislumbrar nas narrativas acima descritas, apenas comoreforço argumcntativo, uma identidade de condutas e de padrões de comportamento entre oBanco Rural e o Banco BMG. A similaridade dos eventos conduz a uma insofismável pre-missa no sentido de que o esquema se repetiu em relação ao Banco BMG.

Com estas considerações, tenho que restou amplamente evidenciada a ma-terialidade do crime previsto no art. 4° da Lei 7492/86.

No que concerne à autoria delitiva, importante ressaltar de antemão que oSTF, por meio do HC n" 93553, entendeu por bem excluir da imputação do crime previstono art. 4° da Lei 7492/86 os acusados que não faziam parte da Diretoria do Banco BMGS/A razão pela qual analisarei a autoria somente em relação aos dirigentes daquela institui-cão:'RICARDO ANNES GUIMARÃES, JOÃO BATISTA ABREU, MÁRCIO ALAÔRDE ARAÚJO c FLAVIO PENTAGNA GUIMARÃES, não sem antes, com a devida wnm,tecer algumas considerações acerca desta decisão.

A decisão exarada por aquela Corte restou assim ementada:

"HABHAS CORPUS - ADEQUAÇÀO. Surge a adequação do habeas corpuscom a articulação de prática de ato ilegal c a existência de órgão capa/c de afastá-lo.

DKNÚNCIA - PARÂMETROS. Descabe falar em insubsistência da denún-cia quando, na peça, são narrados os fatos que, em tese, consubstanciam crime, fi-cando, assim, viabilizada a defesa.

CRIME FINANCEIRO - GESTÃO FRAUDULENTA - LEI N" 7.492/86RE1AÇÀO PENAL SUBJETIVA TERCEIRO ESTRANHO AO

ESTABELECIMENTO BANCÁRIO. A interpretação sistemática da Lei n"89

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7.492/86 afasta a possibilidade de haver gestão fraudulenta por terceiro estranho àadministração do estabelecimento bancário".(HG n° 93553 - Relator. MinistroMarco Aurélio, PACTK.(S) - ELÚBIO SOARES DE CASTRO IMPTE.(S) -ARNALDO MALIIEIROS FILHO COATOR(A/S)(ES) - RKLATOR DA A-ÇÀO PENAL N" 420 DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL)

Km que pese o entendimento exarado pelo I iminente Relator, importanteressalvar o entendimento contrário deste Juízo.

Com efeito, o artigo 25 da Lei n° 7.492/86 define os responsáveis pela ad-ministração da instituição financeira e, portanto, os sujeitos do delito previsto no artigo 4° domesmo instrumento normativo.

De fato, o crime previsto no art. 4° da Lei 7492/86 é crime próprio, só po-dendo ser cometido pelas pessoas clencadas no art. 25 da mesma Lei.

Contudo, tal característica não afasta a possibilidade de coautona e partici-pação, na forma prevista no art. 29 do Código Penal, quando, então, as circunstâncias decarater pessoal, se elementares do tipo, comunicam-se aos agentes. Assim, os demais acusa-dos poderiam, em tese, responder pelo crime de gestão fraudulenta, embora não integrantesda instituição financeira.

Neste sentido, o entendimento jurisprudencial abaixo colacionado;

PENAL E PROCESSUAL PENAI,. CRIMK CONTRA OSISTKM \O N A C I O N A L (LEI N" 7.492/86, \RT. 4".,INÉPCIA DA INICIAL. CERCEAMENTO DE DKl-KSA. PRES-CRIÇÃO. COMPETÊNCIA. UTISPENDÊNCIA. REUNIÃO DMPROCESSOS. PROVA. PENA-BASE. REGIME INICIAL DECUMPRIMENTO DA PUNA. 1. Regularidade da denúncia, eis que sin-tonia com o disposto no artigo 41 do Código de Processo Penal. 2. Nãocaracteriza cerceamento de defesa a nomeação de advogado dativo parao oferecimento de alegações finais se o advogado da parte, regularmenteintimado, não se manifesta. 3. Para fins do benefício da redução do pra-zo prescricional, a maioridade de 70 (setenta) anos deve ser anterior à da-ta da prolaçào da sentença (CP, art. 115). 4. Competência da Justiça Fe-deral do Rio de Janeiro para processo e julgamento do crime em tela, vis-to que o pedido de empréstimo foi feito junto à Agência do Banco daAmazónia com sede nesta cidade, aonde a operação ilícita se concreti-zou. 5. Inocorrência de Utispendcncia ante a divergência de partes entreas açòcs. 6. K possível a separação de processos se o juiz reputar conve-niente ainda que exista conexão (CPP, art. 80). 7. Tendo sido o acusadoGITLIIIÀRME FELDHAUS denunciado por infringência aos artigos 4°c 8" da Lei n" 7.492/86, mostra-se equivocada sua alegação de ofensa aosprincípios da ampla defesa e do contraditório por inobservância da regracontida no artigo 384 do Código de Processo Penal com a mudança dacapitulação do delito do artigo 8" para o do artigo 4°, ambos da referidalei. 8. O delito previsto no artigo 4° da Lei n° 7.492/86 é formal c de pe-rigo de dano, bastando, para sua consumação, a comprovação da gestàofraudulenta, independentemente da existência ou não de prejuízo. Étambém crime próprio, porquanto somente poderá ser cometido

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pelas pessoas indicadas no artigo 25 da mesma lei, admissível, noentanto, o concurso de agentes (att. 29 do CP), inclusive quanto aoestranho à instituição financeira (CP. arL30). 9. De acordo com ocontexto probatório, a autoria do delito de gestão fraudulenta recai sobreAUGUSTO BARREIRA PEREIRA, com a participação deGUILHERME FELDHAUS, FRANCISCO CARMO í OS KIANNUZZI eJOÀO C ARI,OS BUSSK. 10. Absolvição dos recorrentesAUGUSTO BARREIRA PEREIRA JÚNIOR e ANTÓNIO NUNESDA SILVA em decorrência da inexistência de provas de que tenhamconcorrido para a infracão penal. 11. Se as circunstâncias judiciais (CP,art. 59) são desfavoráveis ao acusado, é possível a fixação da pcna-bascacima do mínimo legal. 12. As circunstâncias judiciais desfavoráveis aoacusado (CP, art. 59) devem ser levadas cm conta para a determinaçãodo regime inicial de cumprimento da pena (CP, § 3° do art. 33). 13. Ape-lações dos recorrentes AUGUSTO BARREIRA PEREIRA,GUILHERME FELDIIAUS, FRANCISCO CARMO JOSÉIANNUZZI c JOÃO CARLOS BUSSE a que se nega provimento c deAUGUSTO BARREIRA PEREIRA JÚNIOR e ANTÓNIO N U N E SDA SILVA providas para absolvê-los.(ACR 200002010478627, Desembargador Federal PAULO BARATA,TRF2 TERCEIRA TURMA, DJU - Data::10/10/2002 - Página::213.)

EMENTA: HABEAS CORPUS. PROCESSO PENAL. Dl ,NÚNCIA. INÉPCIA. INOCORRÊNCIA. G ESTA OFRAUDULENTA. CRIME PRÓPRIO. CIRCUNSTÂNCIAELEMENTAR DO CRIME. COMUNICAÇÃO. PARTÍCIPE.POSSIBILIDADE. PRECEDENTES. EXECUÇÃO DE UM ÚNICOATO, ATÍPICO. IRRELEVÀNCIA. ORDEM DENEGADA. 1. A de-núncia descreveu suficientemente a participação do paciente na prática,em tese, do crime de gestão fraudulenta de instituição financeira. 2. Ascondições de caráter pessoal, quando elementares do crime, comunicam-se aos co-autores e partícipes do crime. Artigo 30 do Código Penal. Pre-

cedentes .Jfrelevânçia_doJatfQ_de_a4>ae^tuição financeira envolvida. 3. O talo de a conduta do paciente ser, emtese, atípica - avalizacào de empréstimo - é irrelevante para efeitos departicipação no crime, l v. possível que um único ato tenha relevância paraconsubstanciar o crime de gestão fraudulenta de instituição financeira,embora sua reiteração não configure pluralidade de delitos. Crime aci-dentalmente habitual. 4. Ordem denegada.(l IC 89364, JOAQUIM BARBOSA, STF)

Todavia, respeitando os termos da decisão do STF, analiso individualmente

as condutas imputadas a cada um dos acusados, dirigentes da Instimiçào Financeira.

Antes, porém, relevante consignar que, com relação à autoria delitiva nos

crimes societários, esta é determinada por quem detém o domínio da conduta, ou seja, o

comando final da açào, de acordo com a teoria do domínio do fato, porque é esrc quem de-

cide se o fato vai acontecer ou não, independentemente dessa pessoa ter efetivamente reali-

zado a conduta material, que, na espécie, consiste na autorização da concessão dos malfada-

dos contratos, bem como na omissão em vetá-los.

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Assim, a autoria delitiva deve ser analisada tendo cm vista a possibilidadeconcreta do acusado de acompanhar o desenrolar dos fatos, inclusive, evitando-os. Destemodo, pode a responsabilidade penal resultar não só da prática do fato delituoso, comotambém da permissão para que ele ocorra.

A corroborar este entendimento, trago à colação o seguinte arresto doTRb'-4* Região:

"A responsabilidade penal dos administradores pode resultar tanto de haverempraticado o fato delituoso quanto de haverem permitido que clc ocorresse, se ti-nharn a obrigação e a possibilidade de fazc-lo — c dizer, se tinham o domínio dofato, como acontece cm regra, nas empresas familiares em que todos os sócios de-tém amplos poderes de administração" (AC 2000.U4.01.010487-9, Relator: AmirSarti, Publicação: DJ 27.06.01).

Por outro lado, nos crimes societários, desnecessário que os réus tenhamindividualmente participado de cada conduta delitiva, mesmo porque estas devem ser aferi-das de acordo com a função de cada dirigente e com a respectiva divisão de tarefas da atua-ção criminosa.

/// casu, tenho que o acervo probatório constante dos autos, extraído dosdocumentos e das provas testemunhais, aponta que todos os acusados - RICARDOANNES GUIMARÃES, JOÃO BATISTA ABREU, MÁRCIO ALAÔR DE ARAÚJO eFLAYIO PENTAGNA GUIMARÃES — tiveram atuação decisiva e intensa na composiçãodo quadro delitivo da prática da gestão fraudulenta.

Mister ressaltar, de início, que, conforme demonstra o quadro l do Laudon. 1854/05-SR/MG (fl.376), todos acusados faziam parte da Dirctoria do BMG à época dacelebração dos malfadados contratos. RICARDO ANNES GUIMARÃES foi Diretor vicc-presidente de 02/05/1996 a 26/07/2004 e Diretor-presidentc a partir de 26/07/2004. JO-ÃO BATISTA ABREU é Diretor vicc-prcsidente desde 05/05/1996. MÁRCIO ALAÔRDK ARAÚJO é Diretor vice-presidente desde 21/08/2001 e 1''LÁV1O PENTAGNAGUIAL\RÃES é Presidente do Conselho de Administração do banco e possui 54% do capi-tal social subscrito. Segundo a testemunha Osvaldo Vieira de Abreu, ELÁVIO foi Presidentedo Banco do ano de 2000 a 2005 (fls. 3043).

Segundo o Laudo, as decisões relevantes são tomadas em conjunto, o quereforça a conclusão de que todos acusados agiram com vistas à consecução das fraudes etinham domínio sobre elas:

"Conjonm mencionado anteriormente, cerca de 98% dos acionistas do banco pertencem àfamília do aitial diretor-presidente Ricardo Afines Guimarães, os quais integram o Con-selho de Administração do Ranço HMG. 'Vaifato, aliado ao porte do banco e à reduzidacadeia hierárquica, fa^_ com que o BMG tenha uma maior agilidade na tomada de deci-sões, bem como aproxima a tomada de decisões a seus direíores e acionistas. Essas carac-terísticas descritas permilem inferir que qualquer assunto de relevância seja decidido com oprévio conhecimento da diretoria e dos principais acionistas do banco. " (fls.376/390 doApenso 03).

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Por outro lado, difícil conceber que os acusados, em razão do cargo queocupavam, não tenham rido amplo conhecimento da aprovação de todos os empréstimos,considerando os altos valores negociados, o número de operações entre o mesmo grupo fi-nanceiro e a manifesta atipicidade destas operações.

A corroborar a tese de que todos no Comité participavam das decisões,tem-se o próprio depoimento do acusado RICARDO ANNKS GUIMARÃES, que afirmaque :

" a palawa final quanto à concessão ou não de financiamentos postulados jaula aoBMG à época da celebração dos contratos referidos na denúncia era do Comité Superior

A conduta dclitiva dos acusados surge cristalina a partir de suas assinaturasnos malfadados contratos.

Com efeito, o acusado RICARDO ANNES GUIMARÃES autorizou osseguintes empréstimos c aditamentos: Primeira operação com o PT (fl.220)/ Segunda opera-ção com o PT (fl.227) /Terceira operação com o PT (fl.231)/Quarta operação com o PT(fl.235) /Quinta operação com o PT (fl.239) /Primeira operação com a SMP&B - contrato130100131 (fl.444)/Primeira operação com a SMP&B - contrato 14031036 (fl. 5 1 5) /Segundaoperação com a SMP&B - contrato 14031036 (fl.522)/Primcira operação com a GRAFFITI(fl.633) /Segunda operação com a GRAFFITI (fl.641) /Terceira operação com a GRAFFITI(fl.647) /Primeira operação com ROGÉRIO LAN/A TOLENTINO (fl.824)/Segunda ope-ração com ROGÉRIO LAN/A TOLKNTINO (fl. 830) /Terceira operação com ROGÉRIOLAN/A TOLKNTINO (fl.834).

O acusado FLÁVIO PENTAGNA GUIMARÃES autorizou os seguintesempréstimos e aditamentos: Primeira operação com o PT (fl.220) /Primeira operação com aSMP&B - contrato 130300131 (fl.444).

O acusado JOÃO BATISTA DE ABREU autori/ou os seguintes emprés-timos e aditamentos: Primeira operação com o PT (fl.220) /Quinta operação com o PT(tl239)/Primcira operação com a SMP&B - contrato 130300131 (£L444) /Primeira operaçãocom a SMP&B -- contrato 14031036 (fl. 5 1 5) /Primeira operação com a GRAFFITI(fl.633)/Segunda operação com a GRAFFITI (fl641)/Primeira operação com ROGÉRIOLAN/A TOLKNTINO (fl.824)/Segunda operação com ROGÉRIO LAN/ATOLENTINO (fl.830).

O acusado MÁRCIO ALAOR DE ARAÚJO autorizou os seguintes em-préstimos e aditamentos: Segunda operação com o PT (fl.227) /Quarta operação com o PT(fl.235).

Do exposto, tenho que restaram cabalmente demonstradas as atuações dos

acusados na consecução das fraudes, de forma livre c consciente, seja pela concessão de em-préstimos fictícios, seja pela adoção de mecanismos para camuflar o caráter fraudulento dos

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mesmos, razão pela qual se impõe a condenação dos acusados pela prática prevista no art. 4°,capnl, da Lei 7492/86.

O elemento subjetivo do tipo, último aspecto a ser apreciado, encontra-seimpregnado em todas as condutas descritas, incompatíveis com qualquer outra vontade quenào a de realizar o comportamento esculpido no preceito primário. Sua presença mostra-seinequívoca nos fatos relatados acima, tendo restado evidente que os acusados, enquanto diri-gentes do Banco BMG S/A, rinha amplo conhecimento do esquema engendrado, mesmo por-que firmaram as suas assinaturas nos malfadados contratos. Assim, totalmente afastada a possi-bilidade de que os acusados não tivessem conhecimento das irregularidade s das operações fi-nanceiras realizadas, ou consciência da ilicitude da referida prática.

Por fim, de se rebater ainda algumas teses defensiva, a par daquelas já en-frentadas ao longo da fundamentação.

Não se sustenta a tese defensiva no sentido de que o spread bancário era oalmejado pela Instituição Financeira. Se assim fosse, não se teria observado a situação de opróprio banco BMG ter custeado algumas amortizações com recursos próprios, o que senotou na terceira operação de empréstimo celebrada em 28.02.2005 com a GKAFFITIPARTICIPAÇÕES LIDA, onde R$2.413,631,16 foram amortizados com recursos oriundosde outro contrato de mútuo celebrado pela SMP&B, conforme mostra o laudo pericial n.1450/2007 (fl.2452). Mm verdade, o que resta evidente é que esta prática objetivava cumprir,ainda que formalmente, as Resoluções do BACEN n. 1559 c n. 26H2, segundo as quais eradefeso às Instituições Financeiras a renovação de operações com a incorporação de juros eencargos da transação anterior.

Destaca a defesa, em diversos pontos, que a situação das empresas tomado-res no ano de 2003 divergia substancialmente daquela de 2005, o que explicaria a concessãodo crédito em 2003, as renovações em 2003/2004 e a execução judicial daqueles somente cm2005. Segundo a defesa "preservadas a capacidade de pagamento do tomador e a integra/idade das garan-tias oferecidas, o banco ganha mais com a renovação do crédito do que com a sua execução". Contudo, oque se nota é que, em 2004, as empresas tomadoras já nào mais possuíam a mesma capaci-dade de pagamento identificada em 2003. A SMP&B, por exemplo, em 2004, apresentavaum endividamento no Sistema de Informações de Crédito na ordem deRf33.354.000.000,00. Desta forma, a execução judicial dos créditos, a partir de 2004, era ocaminho natural a ser percorrido, tivesse o banco o objetivo de reaver os valores empresta-dos.

Outro aspecto que merece ser rebatido é afirmação da defesa no sentido deque "a fiscalização do Bawo Central, ao examinar as operações no período em que foram iniciadas, nãoidentificou irregularidade^ na concessão e na formalização das operações, tampouco concluiu haver indícios deviolação às boas práticas bancárias". A assertiva em nada modifica o manancial probatório daatmdade delitiva. A uma, em razão da manifesta independência entre as instâncias adminis-trativas e jurisdicionais. A duas porque a análise feita pelo BACKN, tanto quanto aquela feitapelo Conselho de Recursos do Sistema Financeiro Nacional, tem um enfoque técnico sobreas operações, singularmente consideradas, descontextualizada, portanto, do conjunto de as-pectos políticos, gerenciais e circunstanciais que envolveram estas operações.

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Km Juízo, os acusados defenderam-se das acusações imputadas, sustentan-do a licirude das operações:

O acusado RICARDO ANNKS assim se manifestou (fls.1615/1619):

"não são verdadeiros os fatos narrados na denúncia; o interrogando c administrador de empresas c

exerce se// ofício como presidente do Ranço BA 1G, u partir de abril de 2004, sendo ff/d' ao tempo darealização dos empréstimos relacionados na denuncia era vice-pmídenle daquela instituição financei-ra e participou como membro integrante do comité superior de crédito que autorizou a sua rea/ijpçao;como formalidade essencial a qualquer operarão típica de instituição financeira, segundo as regras demercado, a aprovação da concessão de quaisquer créditos é precedida de avaliação de risco e parecer doselar técnico do órgão constituído pela gerência de créditos da instituição, cujo corpo é integrado poranalistas com formação e experiência em contabilidade e administração; o interrogando acredita queesta é uma prática comum no mercado financeiro, mas está se referindo especificamente ao BMC; a-

credita que constavam dos expedientes precedentes à celebração dos contratos de financiamento com oPT, em fevereiro, salro engano, de 200), com a SMP er B Comunicação \Jda,, no final de ferrei-

ro de 2003, outra operação com a SMP & B em julho de 2004 , com a Crqffife Participações Lt-

da.. no início de 2004, para a Rogério l^an^a Tolentino e Associados entre abril e maio de 2004,dados extraídos dos balanços das empresas, dn avaliação da idoneidade de seus dirigentes, bem comoinformações atuais e perspectivas futuras, relativamente ao incremento de seu fatiiramento; em relaçãoao contrato celebrado com o PT, em virtude da deteriori^açãa do crédito em 2005, pelos motivos detodos conhecidos, o BMC interpôs uma ação de cobrança que depois resultou em um acordo, com opagamento parcial da divida e parcelamento do remanescente; o primeiro contrato de financiamentocom a SMP & B foi liquidado, no vencimento e o segundo, vencido por volta de setembro de 2005,

foi ajuizada ação de cobrança judicial; o empréstimo celebrado com Rogério ]^an~q To/entino e As-

sociados foi liquidado após ajiti^iimentn de ação de cobrança e em ra^ào de um acordo para a satis-fação do crédito; as garantias levadas em conta pela instituição em relação ao empréstimo concedido

ao PT se referiam ao aval de sen presidente à época, José Genuíno Neto, bem como de sen tesoureiroao tempo de sua concessão. De lábio Soares de Castro c, ainda de um próspero empresário. MarcosValéria Fernandes de Sou^a; em relação ao primeiro contrato de financiamento com a SMP & Bnão foi dado em garantia contrato de prestação de setriço de publicidade celebrado pela DNA Pro-paganda a órgão da Administração Ptiblica tndireta, tendo sido observado o que o mercado financei-ro chama de '"trava de domicilio bancário" o/i "penhor de recebíveís", consistente na possibilidade dedepósito na instituição financeira concedente, dos valores relativos aos pagamentos futuros pela presta-

ção de serviço de publicidade, realizados pelo ótyão da Administração Pública tndireta à DNAPropaganda; a DNA emitiu um documento endereçado, salvo engano, a FJetronorte, autorizandofossem feitos os pagamentos relativos à prestação de semços de publicidade por intermédio de depósito

em conta por ela mantida no BMC, se assim solicitado, pela instituição financeira, sendo que tal

conta não admitia movimentação por seu respectivo titular; o BMG não chegou a soliátar a promo-ção de tais depósitos pela Lletronoríe porque o primeiro contrato foi liquidado; em relação ao segundocontraio com a SMP er B, foi garantido por um aval dos seus sócios Cristiano de Mello Pa% Ra-mon Rollerhach Cardoso e 'Marcos Valéria Fernandes de SoM^a; no que concenie ao contrato deempréstimo celebrado com a Cmffile Participações Lida. a garantia consistia no aval dos sócios, a-lém da "trava de domicilio bancário" relativamente a um contraio de prestação ele semços publicitá-rios, salvo engana, celebrado pela SMP&R com a HBCT; em relação ao contraio celebrado comRogério \jin~a Tolentino e Associados era garantido com itm CDB de emissão do Banco BMC', emnome da DHA Propaganda Lida.; o interrogando é casado e dois filhos e anteriormente aos fatosnarrados na denúncia, nunca se envolveu em qualquer ilícito de natureza penal; conhece as testemu-nhas arroladas na denúncia e nada tem contra as mesmas; tem Advogado constituído na pessoa dosDrs. Rogério Marcolini de Son~a, Fernando Neivs da S Ura e Marcas I 'inicins Fernandes Vieira,

aqui presentes"

y.s

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JUSTIÇAFEDERALFLS.

Por sua vez, o acusado FLÁVJO PENTAGNA GUIMARÃES dcfcndcu-secm Juízo alegando que, (fls. 1625/1627):

"não são verdadeiros os fatos narrados na denúncia; à época dosjaíos e ainda hoje, o interrogado équem determina a política negociai do BMC, em conjunto com a sua diretoria, integrada por Ricar-

do A unes Guimarães, João Ealisla de ,-\ e Márcio . 'l íaòr de . • l raújo, além de outro cujo nome

não se recorda; em relação aos contratos de empréstimo narrados na denúncia, teve conhecimento delese participou naqueles celebrados com o PT e, salro engano, aquele de fevereiro de 2003, formalizado

com a SMP&B Comunicação \Jda.; não integrava oficialmente o conselho superior de crédito do

EMC, à época dosjaíos, mas com frequência era consultado a propósito das operações submetidas aele; o interrogando se manifestou favoravelmente à concessão dos empréstimos ao PT e à SAIP&B,

depois que a gerência de crédito do BMG recomendou a operação, subsidiada na análise favorável de

vários documentos; a gerência de crédito do BA/G' é integrada por inúmeros funcionários com experi-

ência na área de verificação da idoneidade financeira do cliente, com consulta aos bancos de dados ca-dastrais do Bacea e restritivos de créditos, além da capacidade de endividamento dos tomadores; refe-

ridos empréstimos joram formalizados regularmente, e com garantias suficientes; o empréstimo conce-dido ao P l'foi avalizado por Marcos Valéria, empresário idóneo na época e com património signifi-

cativo, bem como pelo deputado Genuíno e pelo De/tíbio, na ocasião, respectivamente, presidente e te-

soureiro do Partido dos Trabalhadores; embora o deputado Genuíno e Deliíbio não timstm bens su-ficientes para responder pela dívida, como avalistas da operação eles represe tilaram uma garantia pa-ra o fíMG, no sentido de que o PT honraria o compromisso assumido; em relação ao empréstimo ce-

lebrado com a .VA/PerB Comunicação \Jda., além do aval do Marcos \ e, salvo engano de

sua mulher Rfnilda, sendo informado lambem que outros mios da empresa igualmente figuravam

como avalistas da operação, que contava ainda com a "irava de domicilio bancário" representada pe-la possibilidade de recebimento dos pagamentos relalivos á execução de um contrato de prestação de

serviços celebrado entre a empresa e a I Uetronoríe. mediante a qual, necessariamente, aqueles paga-

mentos passariam pelo fí/\ÍG, em conta vinculada à satisfação do crédito; a l iletronorte foi consulta-

da a respeito da possibilidade de efetuar o pagamento pela prestação dos serviços devidos à SAíP&tt

por intermédio desla conta vinculada ao BA1G, inclusive concordando em promover o pagamento me-

diante tal depósito, mas não efetuou nenhum; o contrato de empréstimo com a ,VA//V~/i do qual oinletrogando participou já foi quitado; no que di~ respeito ao contrato de empréstimo celebrado com o

PT, foram feitos alguns pagamentos de juros, com intercorréncia de renegociações, das quais não to-mou conhecimento, mas sabe que posteriormente, foi ajuizada ação de cobrança contra o PT, uma

iv% que os pagamentos pactuados não foram honrados; o interrogando desconhece o andamento desta

açao de cobrança ajuizada, bem como se foi formalizado acordo ou retomados os pagamentos da di-

vida; o interrogando não conhece Remida Maria Santiago Fernandes de Sou^a, que viu pela primei-

ra tv% na data de hoje antes de sua oitiva; Renilda nunca esteve na presença do interrogando anteri-

ormente à data de hoje; é viúvo e tem cinco filhos, aluando no mercado financeiro há 50 anos; anteri-

ormente aos fatos narrados na denúncia, nunca teve qualquer problema derivado de sua ativídadeprofissional, nem se viu envolvido em qualquer ilícito de natureza penal; não conhece as testemunhasarroladas na denúncia; tem Advogado constituído na pessoa dos Drs. Rogério Marcolini de Sou^a,

\ernando Ne vês da Silva e Marcas Vinícius Fernandes Vieira, aqui presentes ".

Já o acusado MÁRCIO ALAOR DE ARAÚJO formulou as seguintes ale-gações em Juízo (fls. 1620/1624):

: "não são verdadeiros os fatos narrados na denúncia; o interrogando é vice-presidente executivo comer-

cial do Ranço BMC, desde julho de 2002; ao tempo da realização dos empréstimos relacionados nadenúncia integrava o comité superior de crédito, que os autorizou, depois da recomendação posif/va daárea de crédito do RA1G; a área de crédito do BAIG é integrada por especialistas no mercado finan-ceiro, que levantam todos os dados do cliente para avaliação do risco da operação; no início de 200 í,

janeiro ou fevereiro, o BA/G' foi acionado por um representante seu com atuação em Brasília, Sr.

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JUSTIÇAFEDERALFLS.

R/// Guerra, a pedido de Delúbio Soares, à época tesoureiro do PT, solicitando o agendamenlo de

uma reunião, na qual compareceram o interrogando, Ricardo .'\nnes Guimarães e João ftatista de

Abreu, ambos vice-presidentes da instituição; a atnação de K///' Guerra como correspondente bancá-rio do BAÍG e regulamentada e fiscalizada pelo Eacen, intermediando operações de crédito entre o

banco e terceiros, mediante comissão, na qualidade de pessoa jurídica lerceirizada; o interrogando e osoutros denunciados compareceram à reunião quando lomaram conbecimento de que o motivo dela se-

ria ama solicitação de empréstimo do /ÍA/G ao Pari/th dos Trabalhadores; ciente da proposta* o in-

terrogando e os outros administradores do KA [G que compareceram à reunião, orientaram Delúbio

Soares a formalizar o pedido de empréstimo, acompanhado dos documentos necessários ao seu exame

pela gerência de crédito da instituição; enquanto os documentos ainda estavam tramitando na gerên-

cia de crédito, o depoente e Ricardo Annes Guimarães foram procurados por Manos \''alério Fer-nandes de Soi/za que dtspottibitiwm figurar como avalista da operação, para maior garantia dela; naocasião em qne os documentos e a proposta de concessão do empréstimo solicitado por Delúbio Soares

foi encaminhado a gerência de crédito, não existia indicação de possíveis avalistas da operação; o in-

terrogando repassou à gerência de crédito a infomiação no sentido de que A larcos l 'alério era possível

avalista da operação de empréstimo solicitada pelo PT; algum íempo depois, a gerência de crédito de-

volveu o expediente, recomendando a realização da operação do empréstimo ao PT, sugerindo fosse

avalizada pelo sen então presidente, }osé Genuíno Neío e tesoureiro, Delúbio Soares, além da inclu-

sa» do empresário Marcos \alério, COMO avalista, conforme noticiado; o empréstimo de

R$2.400.000,00 ao PT se evidenciara ã época tranquilo, em razão do crescimento da agremiação,

com o incremento de sua arrecadação junto aos filiados, pelo aumento da paríicipaçào na Admtnis-

traçao Pública / :ederal e com o crescimento do fundo partidário em decorrência da ampliação de sua

base de atnação; depois da recomendação da realização da operação, o comité sitperior de crédito doBA/G referendou a decisão da área técnica, autorizando a concretização tio negócio; o expediente foiencaminhado a área administrativa para formalização do contrato, inclusive assinaturas dos avalis-

tas sugeridos e posterior pagamento; o crédito do valor do empréstimo foi efetuado em conla-corrente

de titalaridade do PI', salro engano no Banco do Brasil; normalmente, o comité superior de crédito

orienta-se pelo embasamento técnico fornecido pela gerência de crédito, não se recordando de nenhum

caso em que é recomendada a operação pela gerência de crédito, sem a acolhida do comité superior; o

BA/G recebeu cerca de RJ800.000,00, a titulo de amortização de juros do contrato, pagos pelo PI'

e também mais ou menos RS'340.000,00 como amortização de juros pagos pelo Sr. Marcos l falé-rio, anteriormente ã veiculação das noticias relacionadas ao PT e as intercorrémias políticas nacio-

nais no ano de 2005; o contrato com o PT foi renovado e depois "do fato político", o K.MC', ajuizouaçao de cobrança para a sua execução; não é do conhecimento do interrogando a idoneidade económi-

co-financeira dos avalistas do contrato, José Genuíno e Delúbio Soares, para um eventual pagamentoda dívida; em relação ao outro avalista, o interrogando tinha conhecimento de sua capacidade finan-

ceira para honrar o compromisso, representado pelo aval, a despeito disso a confiança na operação de-

rivava do momento favorável vivido pilo Partido dos 7 'rabalhadom, evidenciando com certeza forta-

lecimento de sitas amcadacòes seja a titulo do "dízimo ", seja pelo aumento no fundo de participação

político partidário; o BAf G ajuizou ação de cobrança contra os avalistas do contrato e o PT, sendo

que posteriormente celebrou um acordo nos autos da execução com a agremiação política, que vem

sendo cumprido; o interrogando é casado e tem uma filha maior; anteriormente aosjatos narrados na

denúncia, nunca se emvlve/i em qualquer ilícito de natureza pernil; conhece as testemunhas atroladasna denúncia, funcionários do M/G e nada tem contra as mesmas; tem Advogado constituído napessoa dos Õrs. Rogério Marcolini de Souza, Fernando Neivs da Silva e Marc/is \'inicias Fer-

nandes Vieira, aqui presentes1'.

Y: o acusado JOÃO BATISTA ABRKU assim se defendeu (fls.1645/1648):

"não são verdadeiros os fatos narrados na denúncia; o interrogando é vice-presidente executivo doBanco BMC', desde /ulho de 2002; ao tempo da realização dos empréstimos relacionados na denún-

cia integrava o comité superior de crédito, que os autorizou, como última instância de crédito do ban-

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f o; todas as deliberações a propósito de empréstimos são fornadas por órgãos coligados do banco, quetem como suporte parecer técnico chi área especializada, integrada por ma/s de 70 profissionais espe-

cialistas ew crédito, segundo os normativos do banco, ditados em obediência às determinações do Ba-cen; em relação ao empréstimo celebrado com o PT, um correspondente do fíAIC, em Rrasilia levou o

lesotireíro do partido até a presença de três více-pmidentes do banco* para formalizar a proposta de

concessão do empréstimo; o e\pcdíeiile foi então encaminhado a área técnica que procedeu à pesquisa

cadastral do solicitante, com consulta ao SIÍK4SA e as cadastros da central de risco do Bacefi, que

culminou por indicar a mi/ilação da operação, lambem estribado no franco crescimento do PT. com

repercussão nas suas receitas, seja pelo incremento da participação no j n ndo partidário, seja no au-mento da arrecadação Junto aos militante e e.\ercenles de cargos na Administração Pública; como

condição para formalização do empréstimo, foram solicitados os arais do empresário Marcos \alé-rio, na época com grande reputação na área de publicidade em Minas e mesmo no Brasil, além de

nm património considerável, bem como do Presidente do PT, atuahnente deputado federal José Genu-íno Neto e ao sen tesoureiro, Detitbio Soares; este empréstimo teve quatro aditamentos, Ires com pa-

gamento de Juros e um com os Juros incorporados; posteriormente, o banco ajuizou uma ação de exe-

cução contra o PT e prorísionon i 00" o do valor do contrato; emjni^ofoi feito um acordo com a no-

ra administração do PT, mediante reconhecimento da divida e sen parcelamento, que vem sendo

cumprido sem problemas, cuja expectativa é de quitação integral; até a dalti deste empréstimo para o

PT, o BAIG não tinha ainda realizado operação semelhante, "não para partido po/ifico", mas pos-suía experiência de financiamento a fornecedores da Prefeitura de He/o l lori^onfe e de São Paulo,com trava de. domicilio bancário pelo qual a administração se comprometia a efetuar o pagamento dos

fornecedores em conta vinculada no BAÍCi, para a finalidade de receber o sen crédito; em relação aos

contratos celebrados com a SMP&ft Comunicação \Jda., Graffite Participações Ltda. , seguiram omesmo padrão e o interrogando interveio neles como integrando co comité' superior de crédito do banco;

em relação ao contrato celebrado com Rogério l^an^a Tolentino e Associados era ca/icionadopor /////

(.Dfí emitido pelo BMG, adquirida pela empresa DNA Propaganda, no mesmo valor do emprés-

timo, que era por isso lido como auto líquidável, por conta da natureza da garantiu; o primeiro con-

trato de empréstimo celebrado com a .VA/Pcó-fi foi liquidada e o segundo, depois de um aditamento

com incorporação de juros não pi quitado, o banco proinsionou o valor, ingressando com ação de exe-

cução, que está em andamento; em relação ao empréstimo para a Graffite Participações ]jda. depois

de dois aditamentos com pagamento de juros e um aditamento com juros incorporados, não foi quita-do e o banco lambem provisionou o valor e ajuizwu ação de execução, que está em andamento; o in-

ten-ogando é casado e tem dois filhos maiores; anteriormente aos fatos narrados na denúncia, nuncase envohvti em qualquer ilícito de natnre%a penal; conhece as testemunhas anotadas na denúncia,

funcionários do RMG e nada tem contra as mesmas; tem Advogado constituído na pessoa dos Drs.

Rogério Mtircolini de Son^a, Peruando Neves da Silva e Marcas Viniàus Fernandes Vieira, oprimeiro e último aqui presentes".

Contudo, os depoimentos judiciais dos réus nada acrescentaram que pudes-se afastar o acerto da tese ministerial.

Mesmo que os acusados sustentem a legalidade e veracidade das operações,tenho que as versões não resistem aos fatos comprovados nestes autos

Km verdade, como não se pode esperar que os acusados assumam explicita-mente a autoria do delito, mister que os fatos apurados sejam conjugados e examinados comespírito crítico, de modo a formar o convencimento acerca do elemento subjetivo, o que se fazem homenagem ao princípio da verdade real que preside o processo penal.

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As demais alegações da defesa, bem como os pareceres acostados, detida-mente analisados, em nada alteram o panorama condenatório exposto ao longo desta fun-damentação, em que pese o brilhantismo dos subscritores.

b) Do delito capitulado no art. 299 do Código Penal

A segunda imputação narrada pelo MPF contra os acusados está prevista noart. 299 do Código Penal Brasileiro, que assim dispõe:

Art. 299 - Omitir, cm documento público ou particular, declaração que dele deviaconstar, ou nele inserir ou faxcr inserir declaração falsa ou diversa da que devia serescrita, com o fim de prejudicar direito, criar obrigação ou alterar a verdade sobrefato juridicamente relevante:Pena - reclusão, de um a cinco anos, e multa, se o documento é público, e reclu-são de um a três anos, e multa, se o documento é particular.Parágrafo único - Se o agente é funcionário público, e comete o crime prevalecen-do-se do cargo, ou se a falsificação ou alteração é de assentamento de registro ci-vil, aumenta-se a pena de sexta parte.

A falsidade ideológica caracteri/a-se pelo tipo penal que visa proteger a ve-racidade das informações contidas em documentos públicos ou particulares. Pune-se o agen-te que fax afirmações que não podem ser consideradas verdadeiras, bem como aquele que asomite, com o fim de prejudicar direito, criar obrigação ou alterar a verdade sobre fato juridi-camente relevante.

Para que a alteração da verdade seja punível, mister seja ela relativa a fatojuridicamente relevante. Kntende-se como tal a declaração que, isolada ou conjunta com ou-tros fatos, tenha o potencial de constituir, fundamentar ou modificar direito ou relação jurí-dica, pública ou privada.

A este respeito, o magistério de Damásio de Jesus:

"Na falsidade ideológica (on pessoa) o vido incide sobre as declarações que o objeto material de-veria possuir, sohre o contendo das ideias. Ine.\is/em rasuras, emendas, omissões ou acréscimos. Odocumento, sob o aspecto material é verdadeiro; falsa e a ideia que ele contém. Dai também cha-mar-se ideai Distingnem-se, pois, as falsidades material e ideológica.

Por outro lado, a falsidade ideológica refere-se somente às declaraçõesconstantes no documento c não à própria autenticidade deste, que, não obstante, poderá serverdadeira.

Neste sentido é o entendimento jurispruclencial abaixo:

(Damásio !• . de Jesus, in 'Código Penal Anotado', ed. Saraiva. 1994. p. 771)

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"Paru ;i caracterização do delito de falsidade ideológica é mister que se configuremos quatro requisitos componentes do tipo penal, a saber: a) alteração da verdadesobre o fato juridicamente relevante; b) imitação da verdade; c) potencialidade dedano; d) dolo. Se não há na açào dos agentes entrelaçamento desses requisitos, re-levância jurídica do falso dano cfetivo ou mesmo potencial e, ainda dolo (porqueo falso decorre de simples erro), não está caracterizado tal crime. K o remédio he-róico pode validamente ser impetrado para, em tais circunstâncias, trancar a açàopenal." (T)SP - I IC 398.375-3/0-00 - Rei. Dês. MARIANO SIQUEIRA - l1 C.Crim.-J. 4.11.2002-Un.)(RT 812/555).

Na análise da materialidade do delito de gestão fraudulenta, o caráter fictí-cio dos contratos celebrados pelo BMG com o PT c as empresas ligadas a MARCOS VA-LKRIO restou sobejamente demonstrado. A conclusão lógica decorrente do manejo do a-cervo probatório demonstrou que os contratos de mútuo foram os instrumentos pelos quaisos acusados formalizaram o repasse de recursos e que deles não se originou a relação jurídicaexpressamente consignada.

L1 ma vez assentadas estas premissas, despiciendas maiores digressões parase concluir que as condutas dos acusados também se subsumem à prática do crime de falsi-dade ideológica, prevista no art. 299 do Código Penal eis que a aposição de assinaturas nosfalsos contratos foi o meio pelo qual a fraude se efctivou, dando-lhes aparência de verídicos.

Comprovado que os contratos eram fictícios, tem-se, naturalmente, a cons-tatação de que as afirmações neles constantes seguem o mesmo caminho, pois visavam ca-muflar a real intenção dos instrumentos. As assinaturas neles constantes compuseram a en-cenação orquestrada pelos acusados para justificarem o repasse de valores: os dirigentes au-torizaram o crédito, sabendo que os empréstimos não seriam cobrados; os avalistas formali-zaram a garantia, sabendo que não seriam por elas cobrados; os devedores solidários neles secomprometeram, sabendo que por eles não seriam cobrados.

A simulação está demonstrada nos instrumentos que compõem os contra-tos de mútuo, constantes às fls. 220, 227, 231, 235, 239, 444, 515, 522, 633, 641, 647, 824,830, 834, 177/180, 183/185, 184/188, 191/192, 195/196, 395/396, 456/458, 463/464,575/577, 582/583, 588/589, 762/764, 768/769, 772/775, 387/390, 402, 387/390, 762/764.E o quanto basta para a comprovação da materialidade delitiva.

No que concerne à autoria delitiva, tenho que em relação aos dirigentes doBanco BMG S/A, os acusados RICARDO ANNES GUIMARÃES, JOÃO BATISTAABRK13, MÁRCIO ALAÓR DE ARAÚJO e FLÁVIO PKNTAGNA GUIMARÃES, deveser reconhecida a consunção (fc.\ derogxt leçi comnmptaê) do crime de falsidade ideoló-gica pelo crime de gestão fraudulenta pelo qual restou reconhecida a culpa dos acusados. Istoporque a aposição das assinaturas por estes acusados foi somente o meio necessário peloqual a prática de gestão fraudulenta se consubstanciou (cnme-fim). Lado outro, a falsidadepor eles perpetrada foi feita em contratos de mútuo que destinavam exclusivamente à práticada gestão fraudulenta, não deles remanescendo potencialidade lesiva autónoma.

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IL o que se extrai do entendimento jurisprudencial:

APELAÇÃO CRIMINAL - CRIME CONTRA O SISTEMA FINANCEIRO -ART. 4° DA LEI N" 7.492/86 - GESTÀO FRAUDULENTA - AGÊNCIA DETURISMO UTILIZADA PARA ADMINISTRAR CÂMBIO MEIDANTH AELABORAÇÃO E UTILIZAÇÃO DE DOCUMENTOS FALSOS - K POSSÍ-VEL A ARGUIÇÃO DE SUSPEIÇÃO DE MAGISTRADO EMPRELIMINAR DE APELAÇÃO SE A PARTE TOMOU CONHECIMENTODO FATO POSTERIORMENTE À PROLACÀO DA SENTENÇA - SUS-PEIÇÀO REJEITADA POR AUSÊNCIA DE PROVAS - A EMPRESA DETURISMO QUE OPERA COM CÂMBIO É INSTITUIÇÃO FINANCEIRAPOR EQUIPARAÇÃO - DESNECESSÁRA A HABITUALIDADE PARA ACONFIGURAÇÃO DE GESTÀO FRAUDULENTAPRESCINDIBILIDADE DE EFETIVO PREJUÍZO A TERCEIROSFRAUDE UTILIZADA PARA BURLAR REGRAS DO BANCO CENTRAL -CARACTERIZADA SITUAÇÃO DE RISCO À HIGIDEZ DO SISTEMAFINANCEIRO - A FALSIDADE CONSTITUI ANTE FACTUM IMPUNÍ-VEL - APLICAÇÃO DO PRINCÍPIO DA CONSUMÇÀO SOB PENA DEBIS IN IDEM - PENAS RESTRITIVAS DE DIREITOS EM SUBSTITUIÇÃOÀ PENA PRIVATIVA DE LIBERDADE A UNIÃO FEDERALENQUANTO VÍTIMA É BENEFICIÁRIA DA PRESTAÇÃO PECUNIÁRIA.(...) 10. Quanto ao animus fraudandi, c importante mcncionar-sc que os boletos decâmbios preenchidos sem assinatura dos supostos clientes tinham valor inferior aR$ 3.000,00 (três mil reais), porquanto há regulamento do BACEN no sentido depossibilitar o pagamento cm espécie e afastar a exigência de que se cfetue pormeio de depósito em conta corrente em nome do contador ou que seja pago comcheque de sua emissão. A utilização de nomes de pessoas existentes não tem ocondão de retirar a intenção de fraude, pelo contrário, demonstra justamente a as-túcia de se tentar conferir aparência de realidade à operação forjada. 11. A falsi-dade constitui ante faetum impunívcl. A utilização de documentos falsosnão pode ser fundamento para a elevação da pena porque na sentença seadmitiu o falsum como crime meio. Deve-se aplicar o principio da consun-ção, o qual estabelece que o falo delituoso de maíor amplitude e gravidadedeve consumir aquele que funcionou no iter críminis como fase normal desua execução. A condenação pela falsidade implicaria bis in idem. por-quanto a fraude seria punida como parte de um todo (gestão fraudulenta) ecomo crime autõnomo^Referida circunstância judicial deve ser desprezadai^Juri de que a pena-base seja Fixada no mínimo legal. 12. Cancelada a consi-deração de causa judicial de aumento de pena utilizada em primeira instância (fal-sum), não há mais justificativa para o regime semi-aberto. Assim deve ser fixado oregime aberto para o caso de dcscumprimento da apelação alternativa imposta. 13.As reprimendas substitutivas devem ser mantidas porque consentâneas com a si-tuação pessoal e patrimonial do apelante. Somente no tocante ao adímplcmentoda pena substitutiva de prestação pecuniária no valor de 50 (cinquenta) saláriosmínimos c que, na esteira do entendimento desta Turma, há de ser paga em favorda União Federal, que é a vítima identificável e identificada no presente caso. 14.Preliminar de nulidade da sentença cm virtude de suposta parcialidade do JUÍ2 re-jeitada. Apelação parcialmente provida para o fim exclusivo de reduzir a pena pri-vativa de liberdade para 3 (três) anos de reclusão. Alteração, de ofício, do regimede cumprimento para o aberto e a destinação da prestação pecuniária, fixando aUnião Federal como beneficiária.(ACR 200403990144425, DESEMBARGADOR

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JUSTIÇAFEDERALFLS.

FEDERAL JOHONSOM Dl SALVO, TRF3 - PRIMEIRA TURMA, DJUDATA:18/09/2007 ..FONTE_REPUBLICACAO:.)

PENAL. I I A H F A S CORPUS. FALSIDADE IDEOLÓGICA EESTELIONATO. APLICAÇÃO DO PRINCÍPIO DA CONSUNÇÁO.IMPOSSIBILIDADE. CONCURSO FORMAL. DOSIMETRIA. PF.NA-BASEACIMA DO MÍNIMO LEGAL. FUNDAMENTAÇÃO INSUFICIENTECOM RELAÇÃO À CULPABILIDADE, PERSONALIDADE, CIRCUNS-TÂNCIAS DO CRIME E COMPORTAMENTO DA VÍTIMA. I - A orienta-

emanada do enunciado n" 17 da Súmula do Superior Tribunal de Justi-ça tem como pressuposto lógico a ideia de que o falso exaure sua potencia-lidade lesiva ao constituir-se crime meio pata a consecução do delito fim,que é o estelionato (Precedentes). LI - Sendo a falsidade meio paru o esteli-onato, não se exaurindo neste, inviável a aplicação do princípio da consun-ção. por permanecer a falsidade apta à prática de outras atividades deliti-vas. Aplica-se, nestes casos, o concurso formal de crimes, e não o concursomaterial. (Precedenl.es do STI;). IIL Na hipótoc do,s ULIUJS, n falsificação cmpregada nào esgotou sua potencialidade lesiva no estelionato, tendo sido, ao con-trário, utilizada por diversas vezes nos crimes praticados pelo paciente. Inviável,portanto, a aplicação do princípio da consunçào. IV - A pena deve ser fixada comfundamentação concreta e vinculada, tal como exige o próprio princípio do livreconvencimento fundamentado (arts. 157, 381 e 387 do CPP c/c o art. 93, incisoIX, segunda parte da Lex Máxima). Ela nào pode ser estabelecida acima do míni-mo legal com supedâneo em referências vagas e dados nào explicitados (Preceden-tes do STF e STJ). V - In casu, verifica-se que a r. sentença condenatória apresen-ta em sua fundamentação incerteza dcnotativa ou vagueia, carecendo, na fixaçãoda resposta penal, de fundamentação objetiva imprescindível quanto à culpabili-dade, circunstâncias, comportamento da vítima e personalidade, utilizando-se deexpressões como: "(...) alto grau de culpabilidade(...)"; "(...) dolo de grande inten-sidadcf...)." e "(...) personalidade do acusado ser voltada para a delmquência(...)" .VI - Não havendo elementos suficientes para a aferição da personalidade do agen-te, mostra-se incorreta sua valoraçào negativa a fim de supedanear o aumento dapena-base (Precedentes). Ordem parcialmente concedida. (l IC 200802869679,LAURITA VAZ, STJ - QUINTA TURMA, DJE DATA:08/03/2010.)

Desta forma, tenho que a falsificação ideológica dos contratos é condutaque integra o tipo penal descrito no artigo 4° da Lei n° 7.492/86, não se tratando de crimeautónomo, mas de um único delito ou ante fartum impunível, afastando-se, assim, pelo princí-pio da consunção, a incidência do crime previsto no art. 299 do Código Penal.

Igual sorte não resta aos demais acusados, JOSÉ GENUÍNO NETO,DELÚBIO SOARES DE CASTRO, MARCOS VALERTO FERNANDES DE SOUZA,RKNILDA MARIA SANTIAGO FERNANDES DE SOUZA, RAMON HOLLERBACHCARDOSO, CRISTIANO DE MELLO PAZ e ROGÉRIO LANZA TOLENTINO. Con-forme anteriormente explicitado, em relação a estes acusados, houve decisão judicial emana-da pelo STF, determinando o trancamcnto da açào no que concerne ao crime previsto noart. 4° da Lei n. 7492/86. Logo, devem as suas condutas serem apreciadas à luz do art. 299do Código Penal, cis que, se nào respondem pelo crimc-fim, o crime-meio nào pode poraquele ser absorvido. Entendimento em contrário redundaria na completa impunidade dosacusados pelos fatos narrados na denúncia.

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JUSTIÇAFEDERALFLS.

Analisando individualmente a conduta de cada acusado, tenho que a autoriadclitiva de J OS F, GKNVIXO N!F/TO ressai da aposição de sua assinatura nos instrumentoscontratuais, como avalista e devedor solidário, o que se nota nos documentos constantes àsfls. 177/180, 183/185, 184/188, 191/192, 195/196''.

Comprova-se também pelo fato de que, à época da celebração dos contra-tos, o acusado era Presidente do Partido dos Trabalhadores, de onde se conclui que o acusa-do participava ativamente das grandes deliberações do partido. Tanto o acusado sabia que osempréstimos não seriam quitados que aceitou o pesado ónus de garanti-lo, em que pese agrandiosidade dos valores negociados. F, o fez não somente por imposição estatutária, maspara viabilizar a aparência de veracidade daqueles instrumentos.

Por meio de seu depoimento judicial (fl.4(125), exrrai-sc que o acusado tinhapleno conhecimento da situação deficitária do PT, o que torna inverossímil a tese de que nãotinha ciência da fraude, mesmo porque viu o contrato ser aditado por diversas vexes peloBMG:

"(...) l Lu t-rã Presidente do PT. Tinha assumido a Presidência em janeiro de 200?. O PT atra-vessava dificuldades financeiras porque a contribuição dos parlamentares e as contribuições dos fi-liados não estavam atnali^adas, em função da própria lei do jando partidário lambem não esta-

va <iína/Í~ada.(..,) ",

Mesmo que o acusado alegue que não tinha atribuições relativas à parte fi-nanceira do Partido, tenho que a versão não resiste aos fatos comprovados nestes autos eisque o esquema engendrado pelos acusados contou com a participação ativa daqueles quecomandavam as respectivas instituições. As fraudes só foram possíveis com a ciência c con-cordância dos acusados, dada a completa atipicidade das operações. Por outro lado, comodirigente máximo do Partido, o acusado tinha a possibilidade de desautorizar o esquema, porter o domínio das operações firmadas pelo PT.

Em verdade, como não se pode esperar que o acusado assuma explicitamentea autoria do delito, mister que os fatos apurados sejam conjugados e examinados com espíritocrítico, de modo a formar o convencimento acerca do elemento subjetivo, o que se fax em ho-menagem ao princípio da verdade real que preside o processo penal.

Como o acusado era Presidente do Partido dos Trabalhadores, tomador doempréstimo, tinha a palavra final sobre as operações cm relação àquele Partido. O dolo de suaconduta ressai de sua atuação deliberada e voluntária com vistas à formalização dos instrumen-tos fictícios.

Não se sustenta também a alegação de que "se us parles estivessem dentes de fjite o

documento particular que estavam a prodiEgr descrevesse uma mentira, não poderiam elas se di~eti'm enganadaspor ama falsidade ideológica, que inexiste pela sua própria incapacidade de alterar qualquer verdade". Isto

numeração do inquérito103

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porque o bem jurídico tutelado pelo art.299 do CP não se restringe à proteção do outro cele-brante. Protege-se a fé pública, eis que o falso ofende, mais que o património privado, acrença da coletividade na veracidade e genuinidade de documentos usualmente destinados àcomprovação de relações jurídicas diversas. Desta forma, é irrelevante que tenha havido pre-juízo a terceiros:

CRIME CONTRA A FF. PÚBLICA - FALSIFICAÇÃO DF DOCUMENTOPÚBLICO (ART. 297. DO CP)- CIÍAMADA DO CO-RÉU, RKFKRKNDADAPELO DEPOIMENTO DOS POLICIAIS CIVIS AGKNTFS QUEADULTERARAM DIVERSOS DOCUMENTOS QUE SOMENTEPODERIAM SER EMITIDOS POR FUNCIONÁRIO PÚBLICO, COMOCERTIDÃO DE NASCIMENTO, CARTEIRA DE IDENTIDADE liCADASTROS DE PESSOAS FÍSICAS KM NOMIi DELES E DETERCEIROS LAUDO PERICIAL CONCLUSIVO TIPICIDADE,AUTORIA F; MATERIALIDADE COMPROVADAS - CARACTERIZAÇÃODO DELITO - ABSOLVIÇÃO IMPROCEDENTE.Cometem o crime de falsificação de documento público os réus que adulteram di-versos documentos, como carteira de identidade, cadastros de pessoas físicas, in-serindo seus dados pessoais para se fazerem passar por elas, ainda que nào hajaprova desse uso, estando caracteri/ado o potencial de criar perigo de dano ou pre-juíxo. CRIME CONTRA A FÉ PÚBLICA - FALSIDADE IDEOLÓGICA(ART. 299. DO CP)- AGENTES QUE INSEREM DECLARAÇÕES FALSAS,EM DIVERSOS DOCUMENTOS APRESENTADOS AO INSTITUTO DEIDENTIFICAÇÃO, INFORMAÇÕES DIVERSAS DAS REAIS - PROVADOCUMENTAL E TESTEMUNHAL - PREJUÍZO DE TERCEIROS - IR-RELEVÂNCIA - CRIME FORMAL - CONDUTA SABIDAMKNTF. ILÍCITA- CONDKNAÇÀO MANTIDA. "O delito de falsidade ideológica reside na alte-ração da autenticidade do documento em seu aspecto substancial. O que se consi-dera, neste caso, c seu conteúdo intelectual (ideal), de modo que o documento noseu aspecto externo é formalmente perfeito, sem contrafacào ou alteração, mascontém em seu conteúdo alguma inverdade" (Ap. Crim. n. 96.008653-6, de Turvo,rei. Dês. Álvaro Wandelli). USO DE DOCUMENTO FALSIFICADO (ART.304. CP)- CERTIDÃO Dl i NASCIMENTO - CONFISSÃO JUDICIALRESPALDADA PEIAS DECLARAÇÕES DA CO-AUTO RA MUDOPERICIAL - INEXISTÊNCIA DE PREJUÍZO A TERCEIRO - IRRELE-VANCIÃ - CRIME CONFIGURADO. Pratica o crime formal previsto no art.304, do Código Penal, independentemente da obtenção de qualquer proveito pos-terior ou da produção de dano, o réu que usa a certidão de nascimento material-mente falsificada. (...) ( Processo: APR 247320 SC 2002.024732-0 - Relator(a): Iri-ncu João da Silva - Julgamento: 25/03/2003 Órgão Julgador: Segunda CâmaraCriminal)

já autoria delitiva do acusado DELÚBIO SOARES DF, CASTRO é com-provada pelas assinaturas constantes às fls. 177/180, 183/185, 184/188, 191/192, 195/196'"e, também, pelo testemunho do correu JOSÉ GIÍNOÍNO que afirmou que:

(...) "eu apenas sou ara/islã. A administração das finanças do partido, as negociações peio par-tido é feita pelo estatuto do partido, pelo secretário de finanças e planejamento, que era o (esoiirei-

10 , . ...numeração do inquérito104

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m do partido. Não participei de nenhuma tratatira com o Hanco, nem paraja^er o empréstimo,nem para os aditamentos, nenhuma tratatíva com o Banco.

O SENI IORJOSÉ AU''REDO /) / : PAULA SILVA (MINISTÉRIO PÚftLICO)- Perfeito. Vossa Excelência poderia dedinttr o nome da pessoa responsável, na época, então,

por essas tratalívas, o secretário?

O SENHOR JOSÉ CENOÍNO NETO - O responsável pela direrfo dopartido, por delegação não minha, mas da direçào do partido era o Deliibio Soares. " ( fl . 4( >28)

De igual maneira, o cargo ocupado pelo acusado na Direcâo do PT - tesou-reiro — induz à conclusão de que o acusado tinha pleno domínio das operações financeirasfeitas pelo partido, mesmo porque era sua a incumbência de angariar fundos para o partido.Em verdade, nota-se que o acusado tomou a frente das tratativas para que o esquema seconcretizasse. li o que se extrai do depoimento judicial do acusado MARCOS YALERTO(fl.2087/2093):

"(...)!oi procurado pelo Sr. Dehibio Soares, na ocasião ocnpante do cargo de tesoureiro nacional doPT, indagando da possibilidade de figurar como avalista da operação, da ordem de dois milhões e

meio, três milhões de reais; o interrogando aquiesceu com o pedido; (...)"

No contexto fático em que celebrados os contratos, sobejamente demons-trado acima, pode-se afirmar sem erro que os acusados DELUBIO SOARES li JOSI i GK-NOÍNO, em razão do cargo que ocupavam, tinham amplo conhecimento das circunstânciasem que os empréstimos foram autorizados, considerando os altos valores negociados, asdiversas renovações e a manifesta atipicidade das operações.

Causa espécie a este Juízo o fato de que os contratos celebrados com oBMC J não eram de conhecimento amplo da cúpula do PT, o que demonstra que aqueles queos avalizaram tinham ciência das irregular ida de s, mesmo porque firmaram as operações àmargem dos demais dirigentes. É o que se extrai do testemunho do Ex-sccretário de assun-tos institucionais do PT, que, inclusive, rclativiza o testemunho de João António l;elício(fls.3.109/3.111):

"O SENHOR RICARDO AUGUSTO SOARES LEITE QV17.SllftSTITl !TO) - O senhor, na época desses empréstimos era o quê? Qual foi o cargo?

O SENHOR PAVLO ADALHERTO AWES FERREIRA - Esse empréstimo foiem 2003. I i/// 2003, ea era da execiitii-a nacional do PT, na condição de secretário de assuntosinstitucionais, que é a secretaria qm cuida da relação com os prefeitos, deputados estaduais e comos vereadores (...)A SENHORA MAIUNA CU Al T.S ALi/ES (ADVOGADA DE DEl:ES-lDO SEN! IOR JOSÉ GENOÍNO) - E como o Senhor tomou conhecimento desses emprés-timos que são tratados na presente tição penal?

O SENHOR PAlilJ.) -II) ALBERTO ALIJES FERREIRI -Através dos episódiosdo ,1110 de 2005.

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l .V/Í/V//ORXI MARINA CHAVES ALVES (ADVOGADA DE DEFESADO SENHOR JOSÉ CENOÍNO) - Através da imprensa?

O SENHOR PAULO ADALBERTO ALVES I-ERRE1R4 - através da imprensa.Aí, o secretario, à época, Detiibh Soares, comunicou à executiva que o partido tinha contraídoesses empréstimos com o \\anco BMC e Banco Rural.

A assertiva é corroborada pelo testemunho de João Batista Barbosa da Silva(fl.3437) e de Maria do Carmo Lara Perpétuo (fls. 3341/3342):

"que a depoente é filiada ao PT há 30 anos; que desde 2007 integra a executiva naáo-AW/ do Partido dos '\ que não recorda especificamente, de empréstimo contra-

ído pelo PT jiin to ao BMG; que esclarece que não recorda, portanto, de discussões na e-\ecniiva acerca da tomada de um empréstimo especificamente junto ao BAÍGV (...) questi-onada se sabia de algum fato relacionado com o empréstimo tomado junto ao BMC quepudesse contribuir com a apuração da verdade, respondeu que, especificamente, nada sabesobre os fatos; que reitera que, na época dos fatos, a depoente era Presidente do lrY minei-ro; que a questão dos empréstimos, inclusive junto ao BMC",, não foi Iralada nem cientifi-cada com os diretórios estaduais; que, após esses episódios, há mais controle do PT sobrea atuaçào de seus tesoureiros"

K resta irrefutável com o depoimento do acusado na CP MI dos Correios(fls. 507/508 do Anexo 01):

O SR. DlilJJfilO SOARRS - "Dos empréstimos contabilizados a l'..\ecttlira ioda sabia.Tanío é que es/á aprovado e assinado por Iodos os membros da Executiva e aprovado no Diretô-rio Nacional. Os empréstimos nào-contahili^ados, os R$39 milhões, que começaram com umpouco mais de RS 10 milhões, não me lembro de cor, porque essa e' uma operação que nós pedi-mos e o Sr. Marcos V ale rio concordou, através de suas empresas, solicitar esse empréstimo aoRanço R///V// e ao BMG. [...]. Não ramos aqui achar que tem segredo para alguém, porqm não(CM. l.ssa foi a realidade. E como eram informações não-oficiais, porque não e-ram informações oficiais as demandas que vinham dos Estudos, de mem-bros do Partido e membros da Base aliada, nós não discutíamos isso naExecutiva.".

No que concerne às teses defensivas deste acusado, por se fundarem na ne-gativa da simulação dos contratos, tenho que restaram amplamente enfrentadas por tudoquanto já exposto.

Em relação ao acusado MARCOS VALÉRIO FERNANDES O KSOU/A, a autoria delitiva decorre da aposição de sua assinatura nos instrumentos constan-tes às fls.177/180, 183/185, 395/396, 456/458, 463/464, 575/577, 582/583, 588/589,762/764, 768/769, 772/775".

numeração do inquérito106

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Do cotejo dos autos, extrai-se que o acusado era o verdadeiro líder das em-presas tomadores dos empréstimos, seja pelo cargo que nelas ocupavam, seja pela influênciaque nelas exercia. K o que se extrai de seu depoimento judicial (fls. 2087/2093):

"(...) já integrou o quadro social da SMP&B Comunicação iJcfa., no período compreendido entremeados de 1996 a final de 1999, na condição de sócio-gerente; posteriormente, foi promovida altera-ção contratual da empresa, da qual se retirou o interrogando, ali pemianecendo como sócios a suamulher e Ramon l iollerbach Cardoso e Cristiano de Mello Pa^ a administração da empresa eraempreendida de comum acordo entre sócios, sendo que a mulher do interrogando lhe outorgou procu-ração por instrumento pithlico para represeniã-la em Iodos os negócio.1; da firma; a agência .VA/Pew/3solicitou o empréstimo de quantia cujo quantitativo agora não se recorda ao certo, imaginando tratar-se de do~e milhões de reais ao KAlfi como representante de sua mulher e condutor dos negócios, jun-tamente com os outros sócios da SAW&R Comunicação \Jda., (...) ;di^ o interrogando que nãocompareceu ao Ranço RMC, por ocasião da contratação do empréstimo pelo Partido dos Trabalha-dores, no qual figurou como avalista, cujo contrato lhe joi entregue para assinatura pelo Sr. Del/ibíoSoares; depois de ter celebrado a primeira operação de empréstimo em nome da J'A/Pe>"/i, não com-parece/í mais no H AIC,, sendo que o segundo contrato foi formalizado e encaminhado ao interrogandopela área financeira da //m/a que administrava em conjunto com os outros sócios; (...) a mulher dointerrogando não figurara neste empréstimo como avalista, mas apenas Ramon e Cristiano; (...) ini-cialmente, integrou o quadro social da Graffite Participações \Jda., na condição de sácio-gerente, jun-tamente com Ramon c CrisliciHo; posteriormente, se retirou, a exemplo de Crísliano, figurando apartir de então exclusivamente como sócios da C,raffite, Reni/da Maria e Ramoa; não ofereceu emgarantia deste contrato, o aval da soda Renilda Maria, como representante dela; este contrato de em-préstimo não foi quitado e cré que lenha sido aditado, reiteradas ve^es, encontrando-se, atualmente,em execução judicial; di^ que a partir da instalação das (VPAí dos Correios e do mensalao, as empre-sas geridas pelo interrogando encerraram suas atividades; o interrogando é casado e tem chis filhos,sendo que sua mulher não exerce atividade laboratira fera do lar; anteriormente aos fatos narradosna denúncia e outros correlatas, como "a demitida dos 40", tratados na AP 470/STF, nunca seenivlrea em qualquer ilícito de natureza penal; não conhece as testemunhas arroladas na demitida;tem Advogado constituído na pessoa do Dr. Marcelo Leonardo, aqui presente, "(nosso grifo)

Insta registrar que o acusado MARCOS VALKRIO não só atuou na fase daconcessão do crédito, como também teve ativa participação no repasse dos recursos aos re-ais tomadores. K o que se extrai de seu depoimento judicial (fls. 2087/2093):

"(...); todos os empréstimos tomadospf/as empnsas .VA/PeMi, Crafitte e Rogério l^an^a To/en/inoAssociados junto à iniciativa privada e especificamente junto ao BMG, joram repassados ao Parti-

dos dos Trabalhadores (...)"

\a deste acusado na engenharia delituosa ressoa límpida a partir dodepoimento )udicial do acusado RAMON HOLLKRBACH (fls. 20179/2082):

" (...) Marcos \a/ério conduziu os trâmites destes empréstimos e dedir^in o pleilo de encaminhar osrecursos ao PT, que foi acolhido pelos sódos das empresas, que deliberaram acatar a sugestão do

Marcos l -'alerto (...) "

Sob este aspecto, além da autoria dclitiva, tenho que o depoimento do acu-sado RAMON HOLLKRBACH comprovou que o MARCOS VALKRIO dirigiu a atividade

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delitiva dos demais sócios, razão pela qual deve sua pena ser agravada na forma do art. 62, I,do Código Penal Brasileiro.

Em relação às teses defensivas deste acusado, por se fundarem, essencial-mente, também na negativa da simulação dos contratos, tenho que restaram amplamenteenfrentadas por tudo quanto já exposto.

Já no que concerne à acusada RENII.DA MARIA SANTIAGOFERNANDES DE SOU/A, embora tenha a acusada firmado sua assinatura nos instrumen-tos contratuais de fls. 387/390, 395/395, 402, tenho que os demais elementos constantesdos autos afastam a configuração de sua autoria delitiva.

O acervo probatório demonstra que a acusada não tinha o domínio dos fa-tos delitivos. Sua participação, no contexto cm questão, não parece ter sido acompanhada daciência de que os contratos eram simulados, o que se conclui a partir da pouca relevância desua atuaçào nas empresas.

Nessa seara, verifica-se que a acusada compunha o quadro societário apenasformalmente, mesmo porque era representada por seu esposo MARCOS VALERIO nasdecisões mais relevantes, conforme reconhecido por ele:

(...) -ã administração da empresa era empreendida de comum acordo entre só-cios. sendo que a mulher do interrogando lhe outorgtni procuração por ins-trumento público paru representá-la cm todos os negócios da firma, ,/ agência

&B solicitou o empréstimo de quantia cujo quantitativo açora não st recorda ao certo, imagi-nando tralar-se de do*y milhões de reais ao BMG como representante de sua mulher ccondutor dos negócios, juntamente com os outros sócios da SMP&B Comu-nicação L tda. , (...) ,v//'~ o interrogando que não compareceu ao Banco BMG por ocasião da con-tratação do empréstimo pelo Partido dos Trabalhadores, no qual figurou como avalista, cujo contratolhe joi entregue para assinatura pelo Sr. Deliibio Soares; depois de ter celebrado a primeira operaçãode empréstimo em nome da SMP&B, não compareceu mais no BM(i, sendo que o segundo contratofoi formalizado e encaminhado ao interrogando pela área financeira da firma que administra-va em conjunto compôs outros sócios: (...) a mulher do interrogando nào figurava nesteempréstimo como avalista, mas apenas \\amon e Crístiano; (...) inicialmente, integrou o quadro soci-al da (iraffile Participações \Jda. , na condirão de séciô-Sffcnte, juntamente com Ramo H e C.ristiano;posteriormente, se retirou, a exemplo de Cnstíaao, figurando a partir de então exclusivamente comosócios da Graffite, Rent/da Maria e Ramon; não ofereceu em garantia deste contrato, o arai da sodaRemida A laria, como representante dela; es/c contraio de empréstimo nào foi quitado e cré que lenhasido aditado, reiteradas w~es, encontrando-se, alnalmenle, em execução judicial; di-^ que a partir dainstalação das CPIs dos Correios e do mensalào, as empresas geridas pelo interrogando encerraramsuas atividades; o interrogando é casado c tem dois filhos^ sendo que sua mulhernão exerce utividade luborativa fora do lar: (nosso grifo)

Neste sentido é o depoimento do acusado CRÍSTIANO MKLI.O (fls.2083/2086):

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"(...) Remida nunca exerceu de fato nenhuma função na SMP&B, neta participou de qualquer

deliberação relativa a administração da firma(.,.)

Neste sentido, também, é o depoimento do acusado RAMONHOLLKRBACH (fls. 2079/2082):

"(...)a denunciada Renilda Maria Santiago Fernandes de Soii^a não participou desta delibera-

ção, que joi /ornada exclusivamente pelo interrogando, C.ristiano e Marcos Valéria; Renilda

nunca participou ejeliramenfe da administração das empresas, nas quais figurava como sócia porrepresentação dos interesses do marido, que inclusive era procurador dela;''

Releva destacar o depoimento de MARILENE BRAZ SILVA (fls.3296):

"a depoente trabalhou para a denunciada \\enilda e Marcos \ como empregada doméstica

durante sete anos (2001 a 2007); que, durante este período, a denunciada \\enilda era dona de casa

e não saia de casa para trabalhar; que Reni/da possui dói s filhos; que pode afirmar que \\cnilda

íanto é boa mãe como boa dona de casa; que desconhece qualquerjato que desabam a conduta de

Marcos \-'alérío. "

E ainda, o depoimento de KLKNT/E ALVES ALMEIDA (3.299/3.300):

"í/ depoente trabalhou na empresa SM PB, exercendo as junções de, no período de 1986 até2005,

tendo entrado na empresa como secretária e posteriormente trabalhado na área de operações; que a

depoente se reportara a Ramon (iardoso na empresa; que Renilda não trabalhava na empresa, não

dirigia, nem mandava na empresa, indo apenas no máximo duas ve-^es durante todos os anos em que

trabalhou na SMPB; que a depoente desconhece qualquer jato que desabone a conduta dos

denunciados acima referidos."

Nestas circunstâncias, tenho que o órgão ministerial não se desincumbiu dedemonstrar a efctiva ciência da acusada acerca do caráter ilícito dos atos praticados. Ausenteo dolo, sua absolvição c medida que se impòc.

A autoria dclitiva do acusado RAMON HOLLKRBACH CARDOSOcomprova-se por meio de suas assinaturas nos instrumentos constantes às fls.387/390,395/396, 402, 463/464, 575/577, 582/583, 588/58912. Já autoria dclitiva do acusadoCRTSTIANO DK MELLO PA/ está comprovada pelos documentos constantes às fls.387/390, 395/396, 402, 463/464, 575/576'\m relação a estes dois acusados, sócios das empresas tomadoras SMP&B e

GRAl-MTI, em que pese não exercerem atribuições financeiras nas empresas, tinham plenoconhecimento das circunstâncias em que celebrados os contratos eis que estas lhes foramrepassadas pelo acusado MARCOS VALÉRIO, conforme se extrai do depoimento deCRISTIANO MELLO (fls. 2083/2086):

12 numeração do inquéritoli numeração do inquérito

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*ÊPODER JUDICIÁRIO DA UNIÃOJUSTIÇA FEDERAL DE 1a. INSTÂNCIASEÇÃO JUDICIÁRIA DE MINAS GERAIS - 4a. VARA FEDERALAÇÃO PENAL N° 2006.38.00.039.573-6

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11 (...) Mari-os Valérío lei-oii a proposta aos sócios da SMP&B, no sentido de celebrar o contratode empréstimo de mais ou menos do^e milhões com o BA4Gpara ser repassado ao P'l'; o segundoempréstimo foi de, mais ou menos, Ires milhões e meio, também sugerido pelo Marcos Valéria eaaiíado pelo interrogando e o outro sócio Ramon; os argumentos lurados em conta para a aquies-cência à proposta de Marcos I/'alérío, consistia no fato de que o PT era e é um partido notório ctem demanda de comunicação que interessa às agências de publicidade, de uni modo geral; infor-ma que na ocasião das eleições, as agendas de publicidade trabalham muito reiadando as pro-postas polilico-partidárias dos partidos e seria interessante financeiramente para a agencia traba-lhar com o PT, além do prestigio que a agência alcançaria por isso no mercado; o intetro^gando consentiu então em avalizar os empréstimos tomados pela SMP&Bjunto ao BMG. sabedor de que os recursos assim obtidos seriam repassa-dos no PT; salro engano, o contrato social da SMPu^B e\'ig/a a participação de Iodos os só-cios em eventual contrato comprometendo a empresa, na condição de avalistas da operação; a em-presa não chegou a trabalhar para o PT, em virtude dos problemas que se seguiram antes da rea-

li^açào do pleito de 2006 (...)"

A ciência prévia dos acusados acerca das irregularidade^ c confirmada pelodepoimento do acusado RAMON HOLLERBACH (fls. 2079/2082):

" (...) integrava o quadro social da SMP&B Comunicação \Jda.t com participação de 33% docapital social e a Grqffíte Participações \Jda., da mesma forma; em relação a SMP&B, eramsócios do interrogando, inicialmente. Marcos Valérío Fernandes de Sou^a e Crístiano de MelloPírç, sendo que depois com a retirada de Marcos \alérío, sua mulher Renilda passou a figurarno contrato social da empresa; no que í//~ respeito à Grqffite Participações, a composição era i-dèníica, aduzindo que em 2004, Crístiano Pa% se retirou de seus quadros; participou da primei-ra operação de empréstimo da SMP&fí com o BMCi, na condição de avalista, no inicio de200 í e também avaliou o empréstimo celebrado enlre o BMC e a Graffite Participações iJda.,em princípio de 2004; os recursos obtidos por meío destas operações foram re-passados ao Partidos dos Trabalhadores; o primeiro contrato da SMP&B com obanco foi quitado e o segundo encontra-se em aberto, com execução judicial em andamento; Mar-cos Vulcrio conduziu os trâmites destes empréstimos c deduziu o pleito deencaminhar os recursos ao PT. que foi acolhido pelos sócios das empresas,que deliberaram acatar a sugestão do Marcos Valérío: q denunciada Renil-da Maria Santiago Fernandes de Souza não participou desta deliberação^que foi tomada exclusivamente pelo interrogando. Crístiano e Marcos Valé-r/b" (grito nosso)

A julgar pelo notório poder gerencial que estes acusados tinham nas empre-sas de publicidade, pode-se afirmar, sem receio, que os acusados tinham amplo domínio a-ccrca das operações firmadas pela empresa. E o que se extrai do testemunho de CLÁUDIOCOSTA BIANCHINI (fl. 2309)

" que, no período que prestou serviços a SMPB, teve contato apenas com Crístiano de Mello Pa% eRamo/i (Cardoso; que ambos eram dirigentes da SAIPB; que não tinha contato profissional comMarcos, mm Renilda nem Rogério; que apenas ciwgott a ver Marcos e Rogério transitando pelaSMPB; que numa viu Renilda nas dependências da SMPB. "

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A autoria delitiva do acusado ROGÉRIO LANZA TOLENTINO ressai desuas assinaturas nos documentos de fls. 762/764, 768/769, 772/77514.

K ressaltada ainda pelo conhecimento prévio do acusado acerca do destinodos recursos recebidos do BMG, conforme se extrai de seu depoimento judicial, em que as-sume que emprestou seu nome aos empréstimos (fls. 2084/2087):

"(...) di^ qtte os referidos 10 milhões de reais tomados junto ao BMG foram integralmente repassa-dos à empresa 2S P.-lRTJGIP.-lÇOliS, depmpriedade de Marcos Valéria e sua esposa"

Conforme exaustivamente demonstrado na fundamentação da materialida-de do crime de gestão fraudulenta, as operações assumidas por este acusado apresentam umespecial nível de atipicidade. O montante de valores emprestados conjugado com a baixaarrecadação da empresa c forte indício de que o acusado estava a par do esquema criminosoe agiu dclibcradamente com vistas a edificá-lo. Segundo apontado pelo laudo do INC (fl.422do Apenso 03), para a empresa do acusado houve a concessão de um empréstimo no valorde R$10.000.000,00, embora ela não faturasse sequer R$100.000,00 por ano.

Lado outro, não se pode olvidar que a garantia oferecida para tão vultosaquantia foi um CDB oriundo de outra empresa que não a própria tomadora, o que já bastariacomo indício da ciência das irregularidades da operação.

Insta registrar também que acusado, embora tenha afirmado que repassaraos recursos para 2S PARTICIPAÇÕES, recebeu parte dos valores ulteriormente, por meiode estranhas transferências bancárias. K o que se extrai do Laudo Pericial n° 1450/2007 -INC (fls. 2453/2454).

O elemento subjetivo do tipo, último aspecto a ser apreciado, encontra-seimpregnado em todas as condutas descritas, incompatíveis com qualquer outra vontade quenão a de realixar o comportamento esculpido no preceito primário. Restou evidente que cadaum dos acusados teve participação ativa no esquema engendrado, dentro da divisão de tare-fas própria da espécie dclitiva. Ao "se obrigarem" nos malfadados contratos, os acusadosagiram com o dolo de encenar a legitimidade dos instrumentos, com vistas a que os recursosfossem repassados ao destinatário final sem que qualquer estranheza fosse causada aos ór-gãos fiscalizatórios. Por outro lado, as condutas não constituem açõcs isoladas ou destacadasdo cenário fático já demonstrado. Cuidam-se, isto sim, de uma sequência de atos ilícitos, pra-ticados com idêntico modas operandl, com vistas ao mascaramento do real objetivo da formali-zação dos documentos.

Do exposto, tenho que restaram cabalmente demonstradas as atuacòes dosacusados JOSÉ GENUÍNO NKTO, DKLÚBIO SOARKS DE CASTRO, MARCOS VA-LÉRIO "FERNANDES DE SOUZA, RAMON HOLLERBACH CARDOSO,CR1STIANO DE MELLO PA/, c ROGÉRIO LAN/A TOLENTINO na inserção de de-clarações ideologicamente falsas em documento particular, de forma livre c consciente, razãopela qual se impõe a condenação dos acusados pela prática prevista no art. 299 do Código

Penal Brasileiro.

numerarão do inquérito1 1 1

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JUSTIÇAFEDERALFLS.

É certo ainda que tais condutas foram praticadas com manifesta continui-dade deliriva eis que as operações tinham objetivos únicos e foram formalizadas no mesmoperíodo, com o mesmo modas opcrandi^ com vistas ao mascaramento do repasse de valoresaos reais tomadores. Nesses termos, na forma dos arts. 383 e 385 do CPP, reconheço a exis-tência de causa de aumento de pena prevista no art. 71 do Código Penal.

3-DISPOSITIVO

Por todo o exposto, JULGO PARCIALMENTE PROCEDENTE apretensão punitiva deduzida na denúncia para absolver RENILDA MARIA SANTIAGOFERNANDES DE SOU/A da imputação relativa ao delito do artigo 299 do CP, nos termosdo art. 386, V do CPP, para condenar RICARDO ANNES GUIMARÃES, JOÃO BATISTAABREU, MÁRCIO ALAÔR DE ARAÚJO e FLÁVIO PKNTAGNA GUIMARÃES nassanções do art. 4°, caput, da Lei 7492/86 e para condenar JOSÉ GENUÍNO NETO,DELÚBIO SOARES DE CASTRO, MARCOS VALERIO FERNANDES DE SOUZA,RAMON HOLLERBACH CARDOSO, CRISTIANO DE MELLO PA/ e ROGÉRIOI,AN/A TOLENTINO nas sanções do art. 299 do Código Penal Brasileiro, passando a dosar-lhes a pena.

Crime do art. 4°. caput. da Lei 7492/86

Ricardo Annes Guimarães

O acusado agiu com alto grau de culpabilidade, tendo em vista que era oPresidente do Banco BMG à época (Diretor vice-pré s ide n te de 02/05/1996 a 26/07/2004 eDiretor-presidente a partir de 26/07/2004), a quem foi confiado pelos investidores, clientese acíonistas o poder de gestão da instituição financeira. Assim, tenho que sua conduta ensejaespecial reprovabilidade, considerando-se ainda o número de operações autorizadas pelo acu-sado (14). Como ensinam MIGUEL REALE JÚNIOR, RENNÉ ARIEL DOTTI,RICARDO ANTUNES ANDREUCCI c SÉRGIO MARCOS DE MORAES PITOMBO,apud GUILHERME DE SOUZA NUCCI, a ^culpabilidade incide tanto sobre o fato, quanto sobresen autor" estando ambos, a merecerem grave censura penal15 não só em face dos meios, masdos fins e das circunstâncias em que o delito foi praticado16.

Possui bons antecedentes, respondendo criminalmente apenas pelosfatos aqui tratados.

Nada há nos autos que possa desabonar a sua conduta social. Aocontrário, há testemunhos de sua boa conduta social.

Quanto à personalidade, esta não se revela psicopática17, mas sim anômi-

15 Individualização da pena. 2a.cdÍção. RT. 2007. 11.171.D "Pode-se susteniar que a culpabilidade prevista neste artigo, é o conjunto de iodos os demais falares unidos."

GUIl .HIÍRMF DE SOUZA NUCCIJndKiduali/acào da pena. 2a.edição. RT, 2007,11.171Kntre nutras -."flipertímlcos, deprimidos, medrosos, fanáticos, vaidosos, Iáheis de h*

cos e astênicos" (António García-Pahlos de Molinae Luiz Flávio Gomes. Criminologia, 4a. Ed. RT. ti.310)

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ca18 ao demonstrar um elevado desprezo à lei, mais especificamente, face à atitude de des-considerar facilmente regramentos básicos na gerência da atividade bancária. Ademais, afunção de destaque que o acusado exerceu e exerce - que demonstram sua perfeita integracão à sociedade, - permitem que se conclua pelo acerto da assertiva de HIÍRMANNMANNHF.IN em sua obra Criminogia Comparada,19 no sentido de que"O delinquente de cola-rinbos brancos não é um criminoso político nem n?n revoltado. Mais do que revoltar-se contra as iniqiiidadêsda sociedade, ele e.\p/ora as suas

.\o do crime foi a ganância quanto aos benefícios auferidos,aliada à certcxa da impunidade — que, frise-se, não se confunde com o elemento subjctivo dotipo211.

As circunstâncias do crime são extremamente desfavoráveis ao réu, jáque o delito era absolutamente desnecessário a qualquer aspecto da vida do homem ora sobjulgamento e à instituição da qual fazia parte, mesmo porque o Banco BMG, na ocasião, jágozava de elevado J-/È////.I no mercado financeiro, auferindo lucros consideráveis.

Nada digno de registro no que se refere à eventual contribuição da vítima.

As consequências do crime são graves cis que a conduta do acusado foidecisiva para o repasse de valores a um dos maiores esquemas de corrupção já ocorridos nopaís21. Lado outro, como concluiu Mayrink da Costa— os prejuízos causados peloscriminosos de "colarinho-branco" sào infinitamente maiores do que aqueles oriundos dadelinquência tradicional. Ademais, com sua atuação, gerou graves consequências, como oabalo da credibilidade do sistema financeiro.

Por todas estas razões, analisando as circunstâncias judiciais em seuconjunto, fixo a pena base em 07 (sete) anos de reclusão e 300 (trezentos) dias-multa,

Não há circunstâncias atenuantes ou agravantes.

Avançando, finalmente, para a terceira etapa do critério trifásico deaplicação da pena, não vislumbro causa de diminuição ou aumento da pena, nem mesmo aprevista no art. 71 do CP dado que a habitualiclade e permanência sào próprias do crime emquestão. Desta forma, fixo a pena definitiva em 07 (sete) anos de reclusão c 300(trezentos) dias-multa.

18 "São av comportamentos transgressores ou comportamentos desv jantes de menor relevância, gerando um estadode confusão, de (ilegalidade (l)urkhein). um estado de anomia (ausência de respeito às leis ou sua regulamenia-pão)".(Manual de Criminologia. Frederico Abrahão de Oliveira. T. edição edt. Sagra DCLuzzato. Porto Alegra1996, pág. 54.19 Lisboa. Fundação Caloustc Gulhcnkian, 1985, vol.2. pág 721/722."'" Como ensina o professor (iulherme de Souza Nueci' "Outro aspecto a considerar para demonstrar a diferençaentre motivo e dolo (ou culpa ) è que o motivo (ganância, por exemplo) pode ser satisfeito por outros meios, quenão o crime, logo, sem dolo. (...) Por isso, a causa para agir não é a vontade de atingir o resultado típico (dolo) "(Individualização da Pena, 2". Edição, revista e ampliada, edt. 2007, pág. 200).21 Conforme os laudos periciais acostados e o quanto restou julgado na A ç ao Penal n" 470, os recursos obtidos pormeio dos empréstimos fictícios foram utili/ados na compra de \otos de parlamentares do I,egislati\ Federal nuaprovação de importantes Reformas Constitucionais." COSTA, Álvaro Mayrink da. Criminologia. 3° Ed. Rio de Janeiro:Record. 1992. P. 828.

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JUSTIÇAFEDERALFLS.

Ante a situação financeira do sentenciado noticiado nos autos e o cargo emque ocupa na instiruiçào financeira, tendo em vista ainda a função de retribuição da pena demulta e a eficácia da penalidade aplicada, estabeleço ao dia-multa o valor de 05 (cinco) salá-rios mínimos, nos termos dos arts. 49 e 60 do Código Penal. Num segundo momento, con-siderando o disposto no art. 33 da Lei n" 7.492/86, estendo em duas vezes o valor do dia-multa, fixando-o definitivamente em 10 (dez) salários mínimos vigente à cpoca dos fatos,sujeito à correçào monetária quando de sua execução. Frise-se que a correção monetária de-verá incidir sobre o valor da multa desde a data do fato.

Km atenção ao que dispõe o § 2", "b", do art. 33 do CP, estabeleço, comoregime inicial de cumprimento da pena, o semí-aberto.

Prejudicada eventual consideração tocante à suspensão condicional da pena,à vista da ausência dos requisitos do art. 77 do CP.

Ausentes os requisitos dos arts. 43 c seguintes do Código Penal.

João Batista Abreu

O acusado agiu com alto grau de culpabilidade, tendo em vista que com-punha a Diretora do Banco B MG à época (Dirctor vice-presidente desde 05/05/1996), aquem foi confiado pelos investidores, clientes e acionistas o poder de gestão da instituiçãofinanceira. Assim, tenho que sua conduta enseja especial reprovabitidade, considerando-se ain-da o número de operações autorizadas pelo acusado (8). Como ensinam MIGUEI, RKALKJÚNIOR, RKNNÉ ARIKL DOTTI, RICARDO ANTUNES ANDREUCCI e SÉRGIOMARCOS DE MORAES PITOMBO, apud GUILHERME DE SOU/A NUCCI, a 'V////M-hi/idade incide tanto sobre o fulo, quanto sobre sen autor" estando ambos, a merecerem grave censurapenal23 não só em face dos meios, mas dos fins c das circunstâncias em que o delito foi pra-ticado24.

Possui bons antecedentes, respondendo criminalmente apenas pelosfatos aqui tratados.

Há nos autos depoimentos de testemunhas que atestam boa condutasocial.

Quanto à personalidade, esta não se revela psicopatia23, mas sim anòmi-ca2r> ao demonstrar um elevado desprezo à lei, mais especificamente, face à atitude de des-considerar facilmente regramentos básicos na gerência da atividade bancária. Ademais, afunção de destaque que o acusado exerceu c exerce - que demonstram .sua perfeita intcgra-

'-' Individualização da pena. 2a.cdição. RT. 2007. 11.171."Pode-se sustentar une a culpabilidade prevista neste artigo, é o conjunto de Iodos os demais /afores unidos."

GUIl . I IF .RMi; Di: SOU/A NI 1CTI,Individualização da pena. 2a.edicão, RT, 2007. 11.171Kntre oulras -."Hipertímicos. deprimidos, medrosos, fanáticos, vaidosos, lábeis de humor, explosivos, frios, abúli-

cos e astênicos" (António (iarcía-Pahlos de Molina e l.ui/ Mávio (iomes. Criminologia. 4a. l£d. RT. 11.310)"São os comportamentos transgressores ou comportamentos desviantes de menor relevância, gerando um estado

de confusão, de (ilegalidade (Durkhein), um estado de anomía (ausência de respeito às leis ou sua re^ulamenta-ç'<™)".(Manual de Criminologia, l rederico Abrahão de Oliveira. T. edição edt. Sagra DCLuz/,ato. Porto Alegra19%. pág. 54.

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cão à sociedade, - permitem que se conclua pelo acerto da assertiva de HF.RMANNMANNHKIN cm sua obra Criminogia Comparada,27 no sentido de que " O delinquente de cola-rinhos brancos não é um criminoso político nem um revoltado. Mais do que revoltar-se contra as itiiq/i/dadesda sociedade, ele explora as suas fraquejas, "

A motivação do crime foi a ganância quanto aos benefícios auferidos,aliada à certeza da impunidade — que, frise-se, não se confunde com o elemento subjctivo dotipo2*.

As circunstâncias do crime são extremamente desfavoráveis ao réu, jáque o delito era absolutamente desnecessário a qualquer aspecto da vida do homem ora sobjulgamento e à instituição da qual fazia parte, mesmo porque o Ranço BMG, na ocasião, jágozava de elevado jvW///.rno mercado financeiro, auferindo lucros consideráveis.

Nada digno de registro no que se refere à eventual contribuição da vítima.

As consequências do crime são graves eis que a conduta do acusado foidecisiva para o repasse de valores a um dos maiores esquemas de corrupção já ocorridos nopaís2y. Lado outro, como concluiu Mayrink da Costa511 os prejuízos causados peloscriminosos de "colarinho-branco" são infinitamente maiores do que aqueles oriundos dadelinquência tradicional. Ademais, com sua atuaçào, gerou graves consequências, como oabalo da credibilidade do sistema financeiro.

Por todas estas razoes, analisando as circunstâncias judiciais em seuconjunto, fixo a pena base em 06 (seis) anos e 3 (três) meses de reclusão e 250 (duzentos ccinquenta) dias-multa.

Não há circunstâncias atenuantes ou agravantes.

Avançando, finalmente, para a terceira etapa do critério trifásico deaplicação da pena, não vislumbro causa de diminuição ou aumento da pena, nem mesmo aprevista no art. 71 do CP dado que a habitua lida de e permanência sào próprias do crime emquestão. Desta forma, fixo a pena definitiva em 06 (seis) anos e 3 (três) meses dereclusão e 25 OJ( luxe mo s e cinquenta) dias-multa.

Ante a situação financeira do sentenciado noticiado nos autos e o cargo cmque ocupa na instituição financeira, fendo em vista a função de retribuição da pena de multae a eficácia da penalidade aplicada, estabeleço ao dia-multa o valor de 05 (cinco) salários mí-nimos, nos termos dos arts. 49 e 60 do Código Penal. Num segundo momento, consideran-do o disposto no art. 33 da Lei n° 7.492/86, estendo cm duas vezes o valor do dia-multa,

27 Lisboa. Fundação Caloustc Gulbenkian. 1985.vol.2. pág 721/722.-* Como ensina o professor Gulherme de Souza Nucci. "Oniro aspecto a considerar para demonstrar a diferençaentre motivo e dolo (ou culpa l é que o motivo (ganância, por exemplo) pode ser satisfeito por outros meios, quenão o crime, logo. sem dolo. (...) Por isso, a causa para agir não é a vontade de atingir o resultado típico (dolo) "(Individualiiação da Pena. 2". Edição, revista e ampliada, edt 2007, pág. 200).2'' Conforme os laudos periciais acostados c o quanto restou julgado na Ação Penal n" 470, os recursos obtidos pormeio dos empréstimos fictícios foram utilizados na compra de votos de parlamentares do Legislativo Federal naaprovação de importantes Reformas Constitucionais.

COSTA, Álvaro Mayrink da. Criminologia. 3° lid. Rio de Janeiro:Rccord. 1992. P. 828.115

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JUSTIÇAFEDERALFLS.

fixando-o definitivamente em 10 (dez) salários mínimos vigente à época dos fatos, sujeito àcorreçào monetária quando de sua execução. Frise-se que a correçào monetária deverá inci-dir sobre o valor da multa desde a data do fato.

Km atenção ao que dispõe o § 2°, "b", do art. 33 do CP, estabeleço, comoregime inicial de cumprimento da pena, o semi-aberto.

Prejudicada eventual consideração tocante à suspensão condicional da pena,à vista da ausência dos requisitos do art. 77 do CP.

Ausentes os requisitos dos arts. 43 e seguintes do Código Penal.

Flávio Pentagna Guimarães

O acusado agiu com alto grau de culpabilidade, tendo em vista que eramembro do Conselho de Administração do Banco BMG à época, a quem foi confiado pelosinvestidores, clientes c acionistas o poder de gestão da instituição financeira. Assim, tenhoque sua conduta enseja especial reprovabilidade, sobretudo porque por duas vezes autorizou asoperações.

Possui bons antecedentes, respondendo criminalmente apenas pelosfatos aqui tratados.

Nada há nos autos que possa desabonar a sua conduta social. Aocontrário, alguns testemunhos comprovam a boa reputação social que goza o acusado juntoà sociedade, advinda de suas atividades filantrópicas.

Quanto à personalidade, esta não se revela psicopáticaM, mas sim anômi-ca12 ao demonstrar um elevado desprezo à lei, mais especificamente, face à atitude de des-considerar facilmente regramentos básicos na gerência da atividade bancária. Ademais, afunção de destaque que o acusado exerceu e exerce - que demonstram sua perfeita integra-ção à sociedade, - permitem que se conclua pelo acerto da assertiva de HERMANNMANNHKIN em sua obra Criminogia Comparada," no sentido de que "O delinquente de cola-rinhos brancos não é um criminoso político nem um revoltado. Mais do que revoltar-se contra as imqúidadesda sociedade, ele explora as suas fraquejas."

\o do crime foi a ganância quanto aos benefícios auferidos,aliada à certeza da impunidade — que, frise-se, não se confunde com o elemento subjetivo dotipo34.

l-;ntre outras '"Hipertímlcos, deprimidos, medrosos, fanáticos, vaidosos, lábeis de humor, explosivos, frios, ahúti-cos e astênicos" (António Garcíu-Pahlos de Molina e Lui/ Flávio Gomes. Criminologia. 4". Kd. RT. 113 I O )" "São os comportamentos transgressores ou comportamentos desviantes de menor relevância, gerando um estado

de confusão, de (ilegalidade (Diirkhein). um estado de anomia (ausência de respeito às íeis ou sua regitlamenta-ção)".(Manual de Criminologia. Frederico Ahrahão de Oliveira. 2". edição edl. Sagra I)CLu//alo. Porto Alegra1996. pág. 54.33 Lisboa. Fundaeílo Calouste Gulbcnkian. 1985. vol.2. pág 721/722.

Como ensina o professor GuInerme de Sou/a Nueci "Outro aspecto a considerar para demonstrar a diferençaentre motivo e dolo (ou culpa f é que o motivo (ganância, por exemplo) pode ser satisfeito por outros meios, quenão o crime, logo. sem dolo. (...) Por isso, a causa para agir não é a vontade de atingir o resultado típico (dolo) ".(Individualização da Pena. 2" l-dição, revista e ampliada, edt. 2007. pág. 200).

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PODER JUDICIÁRIO DA UNIÃOJUSTIÇA FEDERAL DE 1a. INSTÂNCIASEÇÃO JUDICIÁRIA DE MINAS GERAIS - 4a. VARA FEDERALAÇAO PENAL N° 2006.38.00.039.573-6

JUSTIÇAFEDERALFLS.

As circunstâncias do crime são extremamente desfavoráveis ao réu, jáque o delito era absolutamente desnecessário a qualquer aspecto da vida do homem ora sobjulgamento e à instituição da qual fazia parte, mesmo porque o Banco BMC J, na ocasião, jágozava de elevado s/af/fsfio mercado financeiro, auferindo lucros consideráveis.

Nada digno de registro no que se refere à eventual contribuição da vítima.

As consequências do crime são graves eis que a conduta do acusado foidecisiva para o repasse de valores a um dos maiores esquemas de corrupção já ocorridos nopaís^5. Lado outro, como concluiu Mayrink da Costav> os prejuízos causados peloscriminosos de "colarinho-branco" são infinitamente maiores do que aqueles oriundos dadelinquência tradicional. Ademais, com sua atuação, gerou graves consequências, como oabalo da credibilidade do sistema financeiro.

Por rodas estas ra/òcs, analisando as circunstâncias judiciais em seuconjunto, fixo a pena base em 5 (cinco) anos e 6 (seis) meses de reclusão e_l_50 (cento ecinquenta) dias-multa.

Não há circunstâncias atenuantes ou agravantes.

Avançando, finalmente, para a terceira etapa do critério rrifásico deaplicação da pena, não vislumbro causa de diminuição ou aumento da pena, nem mesmo aprevista no art. 71 do CP dado que a habitualidade e permanência são próprias do crime emquestão. Desta forma, fixo a pena definitiva em 5 (cinco) anos c 6 (seis) meses dereclusão e 150 (cento e cinquenta) dias-multa.

Ante a situação financeira do sentenciado noticiado nos autos c o cargo emque ocupa na instituição financeira, tendo em vista a função de retribuição da pena de multae a eficácia da penalidade aplicada, estabeleço ao diíi-multa o valor de 05 (cinco) salários mí-nimos, nos termos dos arts. 49 e 60 do Código Penal. Num segundo momento, consideran-do o disposto no art. 33 da l,ei n° 7.492/86, estendo em duas vezes o valor do dia-multa,fixando-o definitivamente cm 10 (dez) salários mínimos vigente à época dos fatos, sujeito àcorreçào monetária quando de sua execução. Frise-se que a correção monetária deverá inci-dir sobre o valor da multa desde a data do fato.

Km atenção ao que dispõe o § 2", "b", do art. 33 do CP, estabeleço, comoregime inicial de cumprimento da pena, o semi-aberto.

Prejudicada eventual consideração tocante à suspensão condicional da pena,á vista da ausência dos requisitos do art. 77 do CP.

Ausentes os requisitos dos arts. 43 e seguintes do Código Penal.

35 Conforme os laudos periciais acostados c o quanto restou julgado na Acao Penal n° 470, os recursos obtidos pormeio dos empréstimos fictícios foram utilizados na compra de votos de parlamentares do Legislativo Federal naaprovação de importantes Reformas Constitucionais."COSTA, Álvaro Mayrink da. Criminologia 3° Kd. Rio de Janeiro:Record. 1992. I*. 828.

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JUSTIÇAFEDERALFLS.

Márcio Alaôr de Araújo

O acusado agiu com alto grau de culpabilidade, tendo em vista que com-punha a Oiretora do Banco BMG à época (Diretor vicc-presidcnre desde 21/OH/2001, aquem foi confiado pelos investidores, clientes c acionistas o poder de gestão da instituiçãofinanceira. Assim, tenho que sua conduta enseja especial nprovabilidade, sobretudo porque porduas vexes autori/ou as operações.

Possuí bons antecedentes, respondendo crimina l me n te apenas pelosfatos aqui tratados.

Há nos autos depoimentos de testemunhas que atestam boa condutasocial.

Quanto à personalidade, esta nào se revela psicopática", mas sim anômi-ca™ ao demonstrar um elevado desprezo à lei, mais especificamente, face à atitude de des-considerar facilmente regramenfos básicos na gerência da atividacle bancária. Ademais, afunção de destaque que o acusado exerceu e exerce - que demonstram sua perfeita integra-ção à sociedade, - permitem que se conclua pelo acerto da assertiva de HERMANNMANNHEIN em sua obra Criminogia Comparada,19 no sentido de que " O delinquente de cola-rinhos brancos não é um criminoso político nem um retwltado. Mais do que revoltar-se contra as iniquidadesda sociedade, e/e explora as suas fraquejas. "

\o do crime foi a ganância quanto aos benefícios auferidos,aliada à certeza da impunidade — que, frise-sc, não se confunde com o elemento subjetivo dotipo4".

As circunstâncias do crime são extremamente desfavoráveis ao réu, jáque o delito era absolutamente desnecessário a qualquer aspecto da vida do homem ora sobjulgamento e à instituição da qual faxia parte, mesmo porque o Banco BMG, na ocasião, jágozava de elevado síaíits no mercado financeiro, auferindo lucros consideráveis.

Nada digno de registro no que se refere à eventual contribuição da vítima.

As consequências do crime são graves eis que a conduta do acusado foidecisiva para o repasse de valores a um dos maiores esquemas de corrupção já ocorridos no

tnlrc outras :"Ilipertimicos. deprimidos, medrosos, fanáticos, vaidosos, láheis de humor, explosivos, frios, abúli-cos e astênicos" (António (iareía-Pablos de Molina c Lui/ Klávio Gomes. Criminologia. 4". l-d. RT. 11.310)

"São os comportamentos transgressores ou comportamentos desviantes de menor relevância, gerando um esladode confusão, de (ilegalidade (Durkhein), um estado de anomia (ausência de respeito às leis ou sua regulamenia-fõo)".(Manua] de Criminologia. Frederico Abrahào de Oliveira. 2". edição edt. Sagra DCLuzzato. Porto Alegra1996. pág. 54.9 Lisboa. Fundação Calousle ( iulbenkian. 1985. vol.2. pág 721/722.

Como ensina o professor (iulhermc de Sou/a Nueei: "Outro aspecto a considerar para demonstrar a diferençaentre motivo e dolo (ou culpa ) é que o motivo (ganância, por exemplo) pode ser satisfeito por outros meios, quenão o crime, logo, sem dolo. (...) Por isso. a causa para agir não é a vontade de atingir o resultado típico (dolo) ''.(Individualização da Pena. 2". Edição, revista e ampliada, edt. 2007, pág. 200).

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&PODER JUDICIÁRIO DA UNIÃOJUSTIÇA FEDERAL DE 1a. INSTÂNCIASEÇÃO JUDICIÁRIA DE MINAS GERAIS - 4a. VARA FEDERALAÇAO PENAL N° 2006.38.00.039.573-6

JUSTIÇAFEDERALFLS.

país41. Lado outro, como concluiu Mayrink da Costa42 os prejuízos causados peloscriminosos de "colannho-hranco" sào infinitamente maiores do que aqueles oriundos dadelinquência tradicional. Ademais, com sua atuaçâo, gerou graves consequências, como oabalo da credibilidade do sistema financeiro.

Por todas estas ra/õcs, analisando as circunstâncias judiciais cm seuconjunto, fixo a pena base em 5 (cinco) anos e 6 (seis) meses de reclusão e 150 (cento ecinquenta) dias-multa.

Não há circunstâncias atenuantes ou agravantes.

Avançando, finalmente, para a terceira etapa do critério trifásico deaplicação da pena, não vislumbro causa de diminuição ou aumento da pena, nem mesmo aprevista no art. 71 do CP dado que a habitualidade e permanência sào próprias do crime cmquestão. Desta forma, fixo a pena definitiva em .5___(cinco) anos e 6 (seis) meses dereclusão e 150 (cento c cinquenta) días-multa.

Ante a situação financeira do sentenciado noticiado nos autos e o cargo emque ocupa na instituição financeira, tendo em vista a função de retribuição da pena de multae a eficácia da penalidade aplicada, estabeleço ao dia-multa o valor de 05 (cinco) saláriosmínimos, nos termos dos arts. 49 e 60 cio Código Penal. Num segundo momento,considerando o disposto no art. 33 da Lei n" 7.492/86, estendo em duas vexes o valor dodia-multa, fixando-o definitivamente em 10 (dex) salários mínimos vigente à época dos fatos,sujeito à correção monetária quando de sua execução. i;rise-se que a correção monetáriadeverá incidir sobre o valor da multa desde a data do fato.

Km atenção ao que dispõe o § 2°, "b", do art. 33 do CP, estabeleço, comoregime inicial de cumprimento da pena, o scmi-aberto.

Prejudicada eventual consideração tocante à suspensão condicional da pena,à vista da ausência dos requisitos do art. 77 do CP.

Ausentes os requisitos dos arts. 43 e seguintes do Código Penal.

Crime do art. 299 do Código Penal Brasileiro

José Genuíno Neto

C) acusado agiu com alto grau de culpabilidade, tendo em vista que, à é-poca, era Presidente do Partido dos Trabalhadores, de quem era esperado uma atuação reta eleal às legítimas expectativas dos filiados ao partido. Logo, tenho que sua conduta enseja es-pecial reprovabtlidade.

41 Conforme os laudos periciais acostados c o quanto restou julgado na Acão Penal n" 470. os recursos obtidos pormeio dos empréstimos fictícios foram utilizados na compra de votos de parlamentares do Legislativo Federal naaprovação de importantes Reformas Constitucionais.

COSTA, Álvaro Mayrink da. Criminologia. 3° Hd. Rio de Janeiro: Record, 1992. l1. S2S.119

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n PODER JUDICIÁRIO DA UNIÃOJUSTIÇA FEDERAL DE 1a. INSTÂNCIASEÇÃO JUDICIÁRIA DE MINAS GERAIS - 4a. VARA FEDERALAÇÃO PENAL N° 2006.38.00.039.573-6

JUSTIÇAFEDERALFLS.

Embora responda a outro processo criminal41, tal fato não será levado emconta para afastar seus bons antecedentes, cm ra/ão do que dispòe a súmula 444 do ST}.

Há nos autos depoimentos de testemunhas que atestam boa condutasocial.

Quanto à personalidade, esta não se revela voltada para o crime. Porem,demonstra uma manifesta atitude negativa em face da lei, além do desprcxo a ela, conside-rando cjue responde por outros delitos no mesmo contexto fático, nos autos da Ação Penaln" 470 do STL', o que, em razão da súmula 444 do STJ, não será considerado.

A motivação do crime foi a ganância de poder, aliada à certeza da impu-nidade, além do ideal de sobreposição do Partido dos Trabalhadores no cenário político daépoca.

As circunstâncias do crime são extremamente desfavoráveis ao réu, jáque o delito era absolutamente desnecessário a qualquer aspecto da vida do homem ora sobjulgamento e ao partido político do qual faxia parte.

Nada digno de registro no que se refere à eventual contribuição da vítima.

As consequências do crime sào graves eis que a conduta do acusado foidecisiva para o repasse de valores a um dos maiores esquemas de corrupção já ocorridos nopaís44. Ademais, com sua atuação, gerou outras graves consequências, como o abalo dacredibilidade do sistema financeiro.

Por todas estas razoes, analisando as circunstâncias judiciais em seuconjunto, fixo a pena base cm 2 (dois)jmos c 8 (oito) meses de reclusão e 100 (cem) dias-multa.

Não há circunstâncias atenuantes ou agravantes, nem causas de aumento oudiminuição de pena.

Vislumbro, porém, a ocorrência da continuidade delitiva, forte no quedispõe o art. 71 do CP, o qual aplico à raxào de ','2, considerando o número de operaçõesfinanceiras (5). Desta forma, fixo a pena definitiva em 04 (quatro) anos de reclusão e150 (cento e cinquenta) dias-multa.

Ante a situação financeira do sentenciado noticiada nos autos, nos termosdos arts. 49 e 60 do Código Penal, estabeleço ao día-multa o valor de 1/10 (um decimo) dosalário mínimo vigente à época dos fatos, sujeito à correçào monetária quando de sua execu-ção. Frise-se que a correção monetária deverá incidir sobre o valor da multa desde a data dofato.

41 Ação Pena! n° 470.Conforme os laudos periciais acostados e o quanto restou julgado na Ação Penal n" 470. os recursos obtidos por

meio dos empréstimos fictícios foram ulili/ados na compra de votos de parlamentares do Legislativo Federal naaprovação de importantes Reformas Constitucionais.

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PODER JUDICIÁRIO DA UNIÃOJUSTIÇA FEDERAL DE 1a. INSTÂNCIASEÇÂO JUDICIÁRIA DE MINAS GERAIS - 4a. VARA FEDERALAÇAO PENAL N° 2006.38.00.039.573-6

JUSTIÇAFEDERALFLS.

Km atenção ao que dispõe o § 2", "c", do art. 33 do CP, estabeleço, comoregime inicial de cumprimento da pena, o aberto.

Prejudicada eventual consideração tocante à suspensão condicional da pena,à vista da ausência dos requisitos do art. 77 do CP.

Ausentes os requisitos dos arts. 43 c seguintes do Código Penal, face às cir-cunstâncias judiciais negativas acima descritas.

Delúbio Soares de Castro

O acusado agiu com alto grau de culpabilidade, tendo em vista que, àépoca, era Tesoureiro em nível nacional do Partido dos Trabalhadores, de quem era espera-do uma atuação reta e leal às legítimas expectativas dos filiados ao partido. Logo, tenho quesua conduta enseja especial rtprovabilidade.

Kmbora responda a outro processo criminal45, tal fato não será levado cmconta para afastar seus bons antecedentes, em razão do que dispõe a súmula 444 do ST|.

Há nos autos depoimentos de testemunhas que atestam boa condutasocial.

Quanto à personalidade, esta não se revela voltada para o crime. Porém,demonstra uma manifesta atitude negativa cm face da lei, além do desprezo a ela, conside-rando que responde por outros delitos no mesmo contexto fático, nos autos da Açào Penaln° 470 do S1T, o que, em razão da súmula 444 do STJ, não será considerado.

A motivação do crime foi a ganância de poder, aliada à certeza da impu-nidade, além do ideal de sobreposição do Partido dos Trabalhadores no cenário político daépoca,

As circunstâncias do crime são extremamente desfavoráveis ao réu, jáque o delito era absolutamente desnecessário a qualquer aspecto da vida do homem ora sobjulgamento e ao partido político do qual fazia parte.

Nada digno de registro no que se refere à eventual contribuição da vítima.

As consequências do crime são graves eis que a conduta do acusado foidecisiva para o repasse de valores a um dos maiores esquemas de corrupção já ocorridos nopaís4í). Ademais, com sua atuação, gerou outras graves consequências, como o abalo dacredibilidade do sistema financeiro.

45 Ação Penal n° 470.46 Conforme os laudos periciais acostados e o quanto restou julgado na Açao Penal n" 470. os recursos obtidos pormeio dos empréstimos fictícios foram utilizados na compra de votos de parlamentares do Legislativo Federal naaprovação de importantes Reformas Constitucionais.

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JUSTIÇAFEDERALFLS.

Por rodas estas razoes, analisando as circunstâncias judiciais cm seuconjunto, fixo a pena baseiem 2 (dois) anos c 8 íoito) meses de reclusão e 100 (cem) diasimulta.

Não há circunstâncias atenuantes ou agravantes, nem causas de aumento oudiminuição de pena.

Vislumbro, porém, a ocorrência da continuidade delitiva, forte no quedispõe o art. 71 do CP, o qual aplico à razão de Vz, considerando o número de operaçõesfinanceiras (5). Desta forma, fixo a pena definitiva cm 04 (quatro) anos de reclusão e150 (cento e cinquentaXdias-multa.

Ante a situação financeira do sentenciado noticiada nos autos, nos termosdos arts. 49 e 60 do Código Penal, estabeleço ao dia-multa o valor de 1/10 (um décimo) dosalário mínimo vigente à época dos fatos, sujeito à correçào monetária quando de sua execu-ção. Frise-se que a correção monetária deverá incidir sobre o valor da multa desde a data dofato.

lim atenção ao que dispõe o § 2", "c", do art. 33 do CP, estabeleço, comoregime inicial de cumprimento da pena, o aberto.

Prejudicada eventual consideração tocante à suspensão condicional da pena,à vista da ausência dos requisitos do art. 77 do CP.

Ausentes os requisitos dos arts. 43 e seguintes do Código Penal, face às cir-cunstâncias judiciais negativas acima descritas.

Marcos Valério Fernandes de Souza,

O acusado agiu com alto grau de culpabilidade, tendo em vista que mas-carou a ilicitude de sua conduta utilizando-se de suas empresas, desviando-as, assim, de suasfinalidades económicas lícitas.

F.mbora responda a outros processos criminais (fls. 4304/4342), estes nãotêm o condão de afastar seus bons antecedentes, em razão do que dispõe a súmula 444 doST].

I lá nos autos depoimentos de testemunhas que atestam sua boa condutasocial.

Quanto à personalidade, revela desprezo à lei, face à atitude de mesclarcrimes financeiros graves com a sua atividade profissional. Ademais, demonstra uma mani-festa atitude negativa em face da lei, considerando que responde por outros delitos no mes-mo contexto fático, nos autos da Açào Penal n° 470 do STF, além de diversos outros (fls.4304/4342), o que, cm razão da súmula 444 do STJ, não será considerado.

A motivação do crime foi a ganância, aliada à certeza da impunidade. Éainda egoísta já que objetivou auferir proveito patrimonial mediante atividade não autoriza-

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mig$PODER JUDICIÁRIO DA UNIÃOJUSTIÇA FEDERAL DE 1a. INSTÂNCIASEÇÃO JUDICIÁRIA DE MINAS GERAIS - 4a. VARA FEDERALAÇAO PENAL N° 2006.38.00.039.573-6

JUSTIÇAFEDERALFLS.

da47-

As circunstâncias do crime são extremamente desfavoráveis ao réu, jáque o delito era absolutamente desnecessário a qualquer aspecto da vida do homem ora sobjulgamento e às empresas da qual fazia parte, que já ostentavam elevado status no mercadopublicitário da época.

Nada digno de registro no que se refere à eventual contribuição da vítima.

As consequências do crime são graves eis que a conduta do acusado foidecisiva para o repasse de valores a um dos maiores esquemas de corrupção já ocorridos nopaís4*. Ademais, com sua atuaçào, gerou outras graves consequências, como o abalo dacredibilidade do sistema financeiro.

Por todas estas razões, analisando as circunstâncias judiciais em seuconjunto, fixo a pena base cm 2 (dois) anos e 8 (oito) meses de reclusão c 100 (cem) dias-multa.

Não há circunstâncias atenuantes. Deixo de reconhecer a agravante previstano art. 62,1, do CP eis que a pena-base já foi fixada no limite máximo.

Não há causas de aumento ou diminuição de pena.

Vislumbro, porém, a ocorrência da continuidade delitiva, forte no quedispõe o art. 71 do CP, o qual aplico à razão de 2/3, considerando o número de operaçõesfinanceiras (11). Desta forma, fixo a pena definitiva em 04 (quatro^ anos c 6 (seis)meses de reclusão e 170 (cento c setenta) dias-multa.

Ante a situação financeira do sentenciado noticiada nos autos (fls.306/313),tendo em vista a função de retribuição da pena de multa e a eficácia da penalidade aplicada,estabeleço ao dia-multa o valor de 05 (cinco) salários mínimos, nos termos dos arts. 49 e 60do Código Penal. Num segundo momento, considerando o disposto no art. 33 da Lei 11°7.492/86, estendo cm duas vezes o valor do dia-multa, fixando-o definitivamente em 10(dez) salários mínimos vigente à época dos fatos, sujeito à correção monetária quando de suaexecução. Frise-se que a correçào monetária deverá incidir sobre o valor da multa desde adata do fato.

Em atenção ao que dispõe o § 2°, "b", do art. 33 do CP, estabeleço, comoregime inicial de cumprimento da pena, o semi-aberto.

Prejudicada eventual consideração tocante à suspensão condicional da pena,à vista da ausência dos requisitos do art. 77 do CP.

47 Segundo apurado na Acão Penal n" 470. parte dos recursos repassados ao PT c às empresas ligadas ao acusado.vieram de contratos de publicidade, celebrados eom empresas públicas.4K Conforme os laudos periciais acostados e o quanto restou julgado na Açâo Penal n" 470. os recursos obtidos pormeio dos empréstimos fictícios foram utilizados na compra de votos de parlamentares do Legislativo Federal naaprovação de importantes Reformas Constitucionais.

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JUSTIÇAFEDERALFLS.

Ausentes os requisitos dos arts. 43 e seguintes do Código Penal.

Rarnon Hollcrbach Cardoso,

O acusado agiu com alto grau de culpabilidade, tendo em vista que mas-carou a ilicitude de sua conduta utili/ando-se de suas empresas, desviando-as, assim, de suasfinalidades económicas licitas.

limbora responda a outros processos criminais (fls. 4361/4377), estes nãotêm o condão de afastar seus bons antecedentes, em razão do que dispõe a súmula 444 doSTJ.

i lá nos autos depoimentos de testemunhas que atestam sua boa condutasocial.

Quanto à personalidade, revela desprezo à lei, face à atitude de mesclarcrimes financeiros graves com a sua atividade profissional. Ademais, demonstra uma mani-festa atitude negativa em face da lei, considerando que responde por outros delitos no mes-mo contexto fático, nos autos da Açào Penal n° 470 do STF, além de diversos outros (fls.4361/4377), o que, em razão da súmula 444 do STJ, não será considerado.

A motivação do crime foi a ganância, aliada à certeza da impunidade. Eainda egoísta já que objetivou auferir proveito patrimonial mediante atividade não autoriza-da4''.

As circunstâncias do crime são extremamente desfavoráveis ao réu, jáque o delito era absolutamente desnecessário a qualquer aspecto da vida do homem ora sobjulgamento e às empresas da qual fazia parte, que já ostentavam elevado stalits no mercadop u b l i c i t á r i o d;i rpi > c ; i .

Nada digno de registro no que se refere à eventual contribuição da vítima.

As consequências do crime são graves eis que a conduta do acusado foidecisiva para o repasse de valores a um dos maiores esquemas de corrupção já ocorridos nopaís5". Ademais, com sua atuação, gerou outras graves consequências, como o abalo dacredibilidade do sistema financeiro.

Por todas estas razões, analisando as circunstâncias judiciais em seuconjunto, fixo a pena base cm 2 (dois) anos e H (oito) meses de reclusão e 10(1 (cem) dias-multa.

Não há circunstâncias atenuantes ou agravantes, tampouco causas dediminuição ou aumento de pena.

u Segundo apurado na Acão Penal n" 470. parle das recursos repassados ao PT e às empresas ligadas ao acusado.vieram de contratos de publicidade, celebrados com empresas públicas.

Conforme os laudos periciais acostados e o quanto restou julgado na Avão Penal n" 470. os recursos obtidos pormeio dos empréstimos fictícios foram utilizados na compra de votos de parlamentares do Legislativo Federal naaprovação de importantes Reformas Constitucionais.

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PODER JUDICIÁRIO DA UNIÃOJUSTIÇA FEDERAL DE 1a. INSTÂNCIASEÇÃO JUDICIÁRIA DE MINAS GERAIS - 4a. VARA FEDERALAÇAO PENAL N° 2006.38.00.039.573-6

JUSTIÇAFEDERALFLS.

Vislumbro, porem, a ocorrência da continuidade delitiva, forte no quedispõe o art. 71 do CP, o qual aplico à razão de 1/2, considerando o número de operaçõesfinanceiras (7). Desta forma, fixo a pena definitiva em 04 (quatro) anos de reclusão c150 (cento c cinquenta) dias-multa.

Ante a situação financeira do sentenciado noticiada nos autos (fls.314/321),tendo em vista a função de retribuição da pena de multa e a eficácia da penalidade aplicada,estabeleço ao dia-multa o valor de 02 (dois) salários mínimos, nos termos dos arts. 49 e 60cio Código Penal. Num segundo momento, considerando o disposto no art. 33 da Lei n°7.492/86, estendo em duas vezes o valor do dia-multa, fixando-o definitivamente em 4(quatro) salários mínimos vigente à época dos fatos, sujeito à corrcção monetária quando desua execução. Frise-se que a corrcção monetária deverá incidir sobre o valor da multa desdea data do fato.

F.m atenção ao que dispõe o § 2°, "c", do art. 33 do CP, estabeleço, comoregime inicial de cumprimento da pena, o aberto.

Prejudicada eventual consideração tocante à suspensão condicional da pena,à vista da ausência dos requisitos do art. 77 do CP.

Ausentes os requisitos dos arts. 43 e seguintes do Código Penal, ante as cir-cunstâncias judiciais negativas.

Cristiano de Mello Paz

O acusado agiu com alto grau de culpabilidade, tendo em vista que mas-carou a ilicitude de sua conduta utilizando-se de suas empresas, desviando-as, assim, de suasfinalidades económicas lícitas.

Rmbora responda a outros processos criminais (fls. 4378/4398), estes nãotêm o condão de afastar seus bons antecedentes, em razão do que dispõe a súmula 444 doST}.

Há nos autos depoimentos de testemunhas que atestam sua boa condutasocial.

Quanto à personalidade, revela desprezo à lei, face à atitude de mesclarcrimes financeiros graves com a sua atividadc profissional. Ademais, demonstra uma mani-festa atitude negativa cm face da lei, considerando que responde por outros delitos no mes-mo contexto fático, nos autos da Ação Penal n" 470 do STI\m de diversos outros (fls.4378/4398), o que, em razão da súmula 444 do STJ, não será considerado.

A motivação do crime foi a ganância, aliada à certeza da impunidade. Kainda egoísta já que objetivou auferir proveito patrimonial mediante atividade não autoriza-da51.

51 Segundo apurado na Acão Penal n" 470. parle dos recursos repassados ao PT c às empresas ligadas ao acusado,vieram de contratos de publicidade, celebrados com empresas públicas.

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PODER JUDICIÁRIO DA UNIÃOJUSTIÇA FEDERAL DE 1a. INSTÂNCIASEÇÃO JUDICIÁRIA DE MINAS GERAIS - 4a. VARA FEDERALAÇÃO PENAL N° 2006.38.00.039.573-6

JUSTIÇAFEDERALFLS.

As circunstâncias do crime são extremamente desfavoráveis ao réu, jáque o delito era absolutamente desnecessário a qualquer aspecto da vida do homem ora sobjulgamento e às empresas da qual fazia parte, que já ostentavam elevado slaliis no mercadopublicitário da época.

Nada digno de registro no que se refere à eventual contribuição da vítima.

As consequências do crime são graves eis que a conduta do acusado foidecisiva para o repasse de valores a um dos maiores esquemas de corrupção }á ocorridos nopaís52. Ademais, com sua atuação, gerou outras graves consequências, como o abalo dacredibilidade do sistema financeiro.

Por todas estas razoes, analisando as circunstâncias judiciais em seuconjunto, fjxo_a pena base cm 2 (dois) anos e 8 (oito) meses de reclusão e 100 (cem) dias-mulfa.

Não há circunstâncias atenuantes ou agravantes, tampouco causas dediminuição ou aumento de pena.

Vislumbro, porém, a ocorrência da continuidade tlelitiva, forte no quedispõe o art. 71 do CP, o qual aplico à razão de 1/3, considerando o número de operaçõesfinanceiras (5). Desta forma, Fixo a pena definitiva em 03 (três) anos e 6 (seis) meses dereclusão c 130 (cento e trinta^ dias-multa.

Ante a situação financeira do sentenciado noticiada nos autos (fls.322/328),tendo em vista a função de retribuição da pena de multa e a eficácia da penalidade aplicada,estabeleço ao dia-multa o valor de 04 (quatro) salários mínimos, nos termos dos arts. 49 e 60do Código Penal. Num segundo momento, considerando o disposto no art. 33 da Lei n°7.492/86, estendo em duas vezes o valor do dia-multa, fixando-o definitivamente em 8 (oito)salários mínimos vigente à época dos fatos, sujeito à correção monetária quando de suaexecução. I;rise-se que a correçào monetária deverá incidir sobre o valor da multa desde adata do fato.

Em atenção ao que dispõe o § 2°, "c", do art. 33 do CP, estabeleço, comoregime inicial de cumprimento da pena, o aberto.

Prejudicada eventual consideração tocante à suspensão condicional da pena,à vista da ausência dos requisitos do art. 77 do Cl'.

Ausentes os requisitos dos arts. 43 e seguintes do Código Penal, em razãodas circunstâncias judiciais desfavoráveis acima descritas.

Rogério Lanza Tolentino

' Conforme os laudos periciais acostados c o quanto restou julgado na Acao Penal n° 470, os recursos obtidos pormeio dos empréstimos fictícios foram utilizados na compra de votos de parlamentares do Legislativo Federal naaprovação de importantes Reformas Constitucionais.

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;Í*PODER JUDICIÁRIO DA UNIÃOJUSTIÇA FEDERAL DE 1a. INSTÂNCIASEÇÃO JUDICIÁRIA DE MINAS GERAIS - 4a. VARA FEDERALAÇÀO PENAL N° 2006.38.00.039.573-6

JUSTIÇAFEDERALFLS.

C) acusado agiu com alto grau de culpabilidade, tendo em vista que mas-carou a ilicitude de sua conduta utilizando-se de seu escritório de advocacia, desviando-o,assim, de sua finalidade económica lícita.

Kmbora responda a outros processos criminais (fls. 4399/4405), estes nàotêm o condão de afastar seus bons antecedentes, cm razão do cjue dispõe a súmula 444 doSTJ.

Há nos autos depoimentos de testemunhas que atestam sua boa condutasocial.

Quanto à personalidade, revela desprezo à lei, face à atitude de mesclarcrimes financeiros graves com a sua atividade profissional. Ademais, demonstra uma mani-festa atitude negativa em face da lei, considerando que responde por outros delitos no mes-mo contexto fático, nos autos da Ação Penal n" 470 do STF, além de diversos outros (fls.4399/4405), o que, em razão da súmula 444 do ST], nào será considerado.

A motivação do crime foi a ganância, aliada à certeza da impunidade. Éainda egoísta já que objetivou auferir proveito patrimonial mediante atividade não autoriza-da".

As circunstâncias do crime são extremamente desfavoráveis ao réu, jáque o delito era absolutamente desnecessário a qualquer aspecto da vida do homem ora sobjulgamento e à sua atividade económica licita.

Nada digno cie registro no que se refere à eventual contribuição da vítima.

As consequências do crime sào graves eis que a conduta do acusado foidecisiva para o repasse de valores a um dos maiores esquemas de corrupção já ocorridos nopaís1'4. Ademais, com sua atuacào, gerou outras graves consequências, como o abalo dacredibilidade do sistema financeiro.

Por todas estas ra/ões, analisando as circunstâncias judiciais em seuconjunto, fixo a pena base cm 2 (dois) anos e 8 (oito) meses de reclusão e 100 (cem] dias-

Não há circunstâncias atenuantes ou agravantes, tampouco causas dediminuição ou aumento de pena.

Vislumbro, porém, a ocorrência da continuidade delitiva, forte no quedispóc o art. 71 do CP, o qual aplico à razão de 1/4, considerando o número de operações

51 Segundo apurado na Ação Penal n" 470, parte dos recursos repassados ao PT e às empresas ligadas ao acusado.vieram de contrates de publicidade celebrados com empresas públicas.5'1 Conforme os laudos periciais acostados, parle dos valores recebidos do Visanet. após terem sido escamoteadospor meio dos empréstimos ficlíuos. foram repassados para o acusado, t o que se extrai do Laudo Pericial n°1450/2007 - INC (tis. 2453/2454).

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PODER JUDICIÁRIO DA UNIÃOJUSTIÇA FEDERAL DE 1a. INSTÂNCIASEÇÃO JUDICIÁRIA DE MINAS GERAIS - 4a. VARA FEDERALAÇÃO PENAL N° 2006.38.00.039.573-6

JUSTIÇAFEDERALFLS.

financeiras (3). Desta forma, fixo a pena definitiva em 03 (três) anos e 4 (quatro^ mesesdc_ reclusão e 110 (cento ç_dez) dias-multa.

Ante a situação financeira do sentenciado noticiada nos autos (fls.762/772),tendo em vista a função de retribuição da pena de multa e a eficácia da penalidade aplicada,estabeleço ao dia-multa o valor de 04 (quatro) salários mínimos, nos termos dos arts. 49 e 60do Código Penal. Num segundo momento, considerando o disposto no art. 33 da Lei n°7.492/86, estendo em duas vezes o valor do dia-multa, fixando-o definitivamente cm 8 (oito)salários mínimos vigente à época dos fatos, sujeito à corrcçào monetária quando de suaexecução. Frise-se que a corrcção monetária deverá incidir sobre o valor da multa desde adata do fato.

Em atenção ao que dispõe o § 2°, "c", do art. 33 do CP, estabeleço, comoregime inicial de cumprimento da pena, o aberto.

Prejudicada eventual consideração tocante à suspensão condicional da pena,à vista da ausência dos requisitos do art. 77 do CP.

Ausentes os requisitos dos arts. 43 e seguintes do Código Penal, em razãodas circunstâncias judiciais desfavoráveis acima descritas.

Condeno os réus, ainda, ao pagamento das custas processuais.

Por fim, concedo aos réus o direito de recorrerem em liberdade, por nãoverificar presentes os requisitos necessários à decretação de prisão cautclar. Os réusresponderam o feito em liberdade, possuem endereço fixo. Além disso, não há indícios de quese furtarão à aplicação da lei penal

Ante a ausência dos requisitos constantes nos artigos 2° c 3" daResolução/CJF n° 058 de 25 de maio de 2009, revogo a publicidade restrita dos autos,mormente em relação à sentença ora exarada, remanescendo o sigilo em relação aosdocumentos nele constantes que contenham informações protegidas constitucional elegalmente, tendo acesso a eles somente as partes, seus advogados e estagiários regularmenteconstituídos.

Após o trânsito cm julgado oficie-se ao Tribunal Regional Klcitoral de Mi-nas Gerais - TRE/MG, para os fins do art. 15, III, da CR/88, oficie-se o Instituto Nacionalde Identificação e lance-se o nome dos Réus no rol dos culpados.

Cpmunique-se ° Relator da AÇAO PHNAL 470-STF. eminente MinistroJoaquim Barbosa do Supremo Tribunal Federal, do conteúdo da presente sentença,acompanhado o ofício de cópia.

Oficie-se, ainda, à Procuradoria-Geral da República, sobre a continuidade dasinvestigações em relação aos dirigentes do BMG, conforme narrado na denúncia, nos termosdo disposto no item 2.1 - "D" desta sentença, acompanhando o ofício de cópia.

Publique-se. Registre-se. Intimem-se.

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PODER JUDICIÁRIO DA UNIÃOJUSTIÇA FEDERAL DE 1a. INSTÂNCIASEÇÃO JUDICIÁRIA DE MINAS GERAIS - 4a. VARA FEDERALAÇÃO PENAL N° 2006.38.00.039.573-6

JUSTIÇAFEDERALFLS.

Belo I lonzonre, 15 de outubro de 2012,

CAMILA FRANCO E SILVA VELANOJuíza Federal Substituta

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