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www.unicamp.br/ju ornal U ni camp da Campinas, 11 a 17 de março de 2013 - ANO XXVII - Nº 553 - DISTRIBUIÇÃO GRATUITA J IMPRESSO ESPECIAL 9.91.22.9744-6-DR/SPI Unicamp/DGA CORREIOS FECHAMENTO AUTORIZADO PODE SER ABERTO PELA ECT Estudo desvenda ação de proteína em tumores Servidores e integrantes da COC durante a apuração dos votos da consulta para a escolha do novo reitor Células de câncer de próstata soltando-se umas das outras; a proteína ARHGAP21 aparece em azul e a actina, em vermelho Foto: Divulgação Foto: Antoninho Perri 4 6 11 12 9 Legislação obsoleta trava bioprospecção As endotoxinas e as infecções na polpa dentária Da sala de computação para a sala de justiça Extrato da casca da jabuticaba turbina probióticos O diálogo entre a fotografia e a poesia de Hilda 5 Pesquisa inédita conduzida pela biomédica Karin Barcellos, no Hemocentro-Unicamp, revelou pela primeira vez o papel da proteína ARHGAP21 na adesão e migração celular. “Todas as células do corpo, para formar os tecidos e órgãos, precisam se aderir. Nos tumores, quando a adesão se desfaz, a célula pode sair e invadir outros tecidos, gerando o que chamamos de metástase”, explica a autora do trabalho. Orientado pela médica hematologista Sara Olalla Saad, o estudo foi capa da revista The Journal of Biological Chemistry. Tadeu e Saad vão ao 2º turno - 3

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Jornal da Unicamp, edição 553

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www.unicamp.br/juornal Unicampda

Campinas, 11 a 17 de março de 2013 - ANO XXVII - Nº 553 - DISTRIBUIÇÃO GRATUITA J IMPRESSO ESPECIAL

9.91.22.9744-6-DR/SPIUnicamp/DGACORREIOS

FECHAMENTO AUTORIZADOPODE SER ABERTO PELA ECT

Estudo desvendaação de proteínaem tumores

Servidores e integrantes da COC durante a apuração dos votos da consulta para a escolha do novo reitor

Células de câncer de próstata soltando-se umas das outras; a

proteína ARHGAP21 aparece em azul e a actina, em vermelho

Foto: Divulgação

Foto: Antoninho Perri

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Legislação obsoleta trava bioprospecção

As endotoxinas eas infecções napolpa dentária

Da sala decomputação paraa sala de justiça

Extrato da casca da jabuticaba turbina probióticos

O diálogo entre a fotografia e apoesia de Hilda

5 Pesquisa inédita conduzida pela biomédica Karin Barcellos, no Hemocentro-Unicamp, revelou

pela primeira vez o papel da proteína ARHGAP21 na adesão e migração celular. “Todas as células do corpo, para formar os tecidos e órgãos, precisam se aderir. Nos tumores, quando a adesão se desfaz, a célula pode sair e invadir outros tecidos, gerando o que chamamos de metástase”, explica a autora do trabalho. Orientado pela médica hematologista Sara Olalla Saad, o estudo foi capa da revista The Journal of Biological Chemistry.

Tadeu e Saad vão ao2º turno- 3

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UNICAMP – Universidade Estadual de CampinasReitor Fernando Ferreira CostaCoordenador-Geral Edgar Salvadori De DeccaPró-reitor de Desenvolvimento Universitário Roberto Rodrigues PaesPró-reitor de Extensão e Assuntos Comunitários João Frederico da Costa Azevedo MeyerPró-reitor de Pesquisa Ronaldo Aloise PilliPró-reitor de Pós-Graduação Euclides de Mesquita NetoPró-reitor de Graduação Marcelo KnobelChefe de Gabinete José Ranali

Elaborado pela Assessoria de Imprensa da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Periodicidade semanal. Correspondência e sugestões Cidade Universitária “Zeferino Vaz”, CEP 13081-970, Campinas-SP. Telefones (019) 3521-5108, 3521-5109, 3521-5111. Site http://www.unicamp.br/ju. E-mail [email protected]. Twitter http://twitter.com/jornaldaunicamp Assessor Chefe Clayton Levy Editor Álvaro Kassab ([email protected]) Chefi a de reportagem Raquel do Carmo Santos ([email protected]) Reportagem Carmo Gallo Neto Isabel Gardenal, Maria Alice da Cruz e Manuel Alves Filho Editor de fotografi a Antoninho Perri Fotos Antoninho Perri e Antonio Scarpinetti Editor de Arte Luis Paulo Silva Vida Acadêmica Hélio Costa Júnior Atendimento à imprensa Ronei Thezolin, Patrícia Lauretti Serviços técnicos Dulcinéa Bordignon, Everaldo Silva Impressão Pigma Gráfi ca e Editora Ltda: (011) 4223-5911 Publicidade JCPR Publicidade e Propaganda: (019) 3327-0894. Assine o jornal on line: www.unicamp.br/assineju

Campinas, 11 a 17 de março de 20132

Quando as palavras viram remédiopara os pequenos pacientes do HCSecretária do Departamento de Informática

do hospital sonha ser biblioterapeuta MARIA ALICE DA CRUZ

[email protected]

A secretária Elaine Moraes: “É uma busca que não acaba. Assim como a fi losofi a”

Fotos: Antonio Scarpinetti

laine guardou por um tempo a veste da Nani Encantadora, mas faz planos de usá-la daqui a dois anos, quando concluir o curso de filosofia na Ponti-

fícia Universidade Católica de Campinas. Enquanto o diploma não chega, Elaine Moraes fica com a imagem da persona-gem e de seus pequenos espectadores da enfermaria de Pediatria do Hospital de Clínicas (HC) da Unicamp, que, por muitas vezes, ajudaram a contar o final da história. A história de seis anos diante de semblantes transformados a cada pa-lavra de um texto conduziu a secretária do Departamento de Informática do HC a uma nova forma de ajudar as pessoas: a biblioterapia. Agora, aquela Nani da ONG Griots, grupo com compromisso de levar leitura a pacientes do HC, debruça sobre as palavras de velhos conhecidos de seus repertórios, os filósofos, para trans-formar palavras em remédio.

Há indícios de que já no Antigo Egi-to, o Rei Rammsés mandou inscrever na fachada de sua biblioteca a frase: “Remé-dios para alma”. De acordo com dados adquiridos nas inúmeras leituras de Elai-ne, na Idade Média, na entrada da Biblio-teca da Abadia de São Gall, estava escrito: “Tesouro dos remédios da alma”. “Eles faziam assim na Antiguidade. Tentavam amenizar os problemas das pessoas com as palavras, enquanto os médicos trata-vam as doenças.”

O aprofundamento em psicanálise dos contos de fadas também foi importante em sua decisão de se tornar uma bibliote-rapeuta, como os filósofos de outros tem-pos. “Os médicos cuidam do corpo e os filósofos, da alma.” Ela relata que antes da psiquiatria, a biblioterapia ficava a cargo desses pensadores, pois quando as pesso-as tinham alguma doença os procuravam para se orientar sobre a melhor decisão. “E o que os filósofos receitavam? Palavras.”

Certa de que a leitura e também a fi-losofia podem servir de remédio para seu público, Elaine decidiu voltar à sala de aula, 20 anos depois de precisar abando-nar o curso de informática por problema de saúde, para aprofundar conhecimen-tos que, na verdade, ela aprimora desde a adolescência. “Sempre gostei de estu-dar psicanálise e filosofia. Aliás, sempre li muito”, confessa a dona de um acervo de quase 500 livros. Muitos dos quais já levaram afago a adultos e crianças em sua jornada de narradora de histórias.

Elaine provou do próprio remédio quando se viu impossibilitada de exercer funções na área de informática, a qual havia escolhido desde que participou de uma seleção e formação oferecida a vários funcionários pela Unicamp, por meio de seu Centro de Computação. Por adquirir lesão por esforços repetitivos, Elaine, foi afastada e se viu sem rumo. “Não podia fazer o que mais gostava. E o afastamento por três anos me fez recorrer à leitura. As palavras me fizeram reagir e entender o que estava acontecendo. Lia principal-mente autores da Psicanálise”, revela. Ao

ouvir um anúncio sobre contação de his-tórias, ela imediatamente se apaixonou pela ideia e decidiu que levando enredos às pessoas faria não somente o delas, mas o seu próprio remédio.

As mesmas respostas se revelaram nos encontros com as crianças. “Eu percebia a necessidade de algumas me interrom-perem para contar sua própria vida. Isso me mostrou que a história facilita os di-álogos, porque a criança capta o que a mensagem tenta produzir nela em termos de cura. Cura, para mim, é quando a pes-soa está encontrando um sentido. Nem sempre a doença é somente física”, opi-na. Mas tudo depende da maneira como se lê para si ou para os outros. O narrador tem papel fundamental na mudança que a leitura pode provocar no semblante ou na vida de um ouvinte, ainda que narrador e ouvinte/leitor sejam a mesma pessoa. Daí a importância da leitura orientada oferecida pela biblioterapia.

A secretária conta que ela mesma pas-sou pela experiência de se emocionar com uma história depois de ouvi-la repetida-mente, desde a infância. O enredo mos-trou-se mais íntimo quando transmitido por uma contadora, num evento do qual participava. “Isso mostra que a narração faz sim a diferença”, acrescenta. Ela tam-bém argumenta que, muitas vezes, o leitor é resistente a situações parecidas com a sua, mas a emoção do contador pode des-nudar este sentimento. “É naquela leitura que tem algo que você não está querendo encarar de frente que você se encontra.”

Mesmo afastada dos Griots, Elaine não rejeita convites. Espalha palavras por ci-dades de todos os Estados, vai do sudeste ao sul e volta para o norte e até a Praça do Coco, ponto bem conhecido do distrito de Barão Geraldo. Ela sim pode dizer que “não mede palavras”. Mas, alto lá: prefe-re aquelas que afagam a alma. “Estamos num mundo em que tudo é para já, para ontem. Então, as pessoas consomem o que está à frente. Aceita a informação que chega. E às vezes informação traz descon-forto em vez de conforto. A pessoa tem de se dedicar a uma leitura aprazível.”

Apesar de já distribuir suas pílulas para a alma nos eventos para os quais é chama-da a contar histórias ou proferir palestras, Elaine quer estar habilitada para orientar sobre a melhor leitura de acordo com a ne-cessidade das pessoas. Ao abrir as pílulas (pequenos rolos de papel) ofertadas por Elaine, o espectador é brindado com passa-gens de filósofos. “Devemos acentuar que o tratamento convencional é importante, mas a leitura pode servir de apoio. A pes-soa tem a possibilidade de trocar o medica-mento por um tratamento mais duradou-ro.” Mas enfatiza que não é somente para pessoa doente, mas para todas as pessoas.

SEGREDOS“A história é uma forma lúdica de pas-

sar mistérios. As histórias guardam os se-gredos da vida.” Elaine acrescenta que, por meio da leitura, é possível nomear o que é sensível para o inteligível. Em sua opinião, muitas vezes, a criança consegue nomear o que sente a partir da leitura, como aconte-

ceu certa vez quando lia um conto de fadas para uma criança que chorava muito. Mais tarde, Elaine descobriu que a história tinha muito a ver com a vida da criança. “Eu sou lacaniana. Para ele, a inconsciência é estru-turada como uma linguagem. Então a his-tória tem a estrutura que possibilita esse contato”, argumenta.

Quanto mais atua, mais se convence da escolha. “É o encantamento do livro. Lin-do, o poder de dar vida. Tirar a história do papel e dar vida para ela. Vejo nos olhos de quem está ouvindo que eles não estão me vendo, estão vendo outra coisa, persona-gem, imaginando. É o que o contador quer. Ser porta-voz desse diálogo. E o bibliotera-peuta, além de fazer isso, irá comandar um diálogo em grupo. Vejo grande necessidade disso: resgatar o prazer da leitura. E uma pessoa sozinha para isso é pouco. Se eu ti-ver boa formação, poderei multiplicar essas pessoas, para poder passar à frente.”

INSPIRAÇÃOElaine sempre apreciou uma boa leitura.

Ao longo do tempo, construiu seu acervo. A vontade de escrever para os outros, porém, surgiu como uma necessidade. As vezes que a Nani não tinha a história apropriada para o formato ou o público de determinado evento, Elaine começava a criar e, quando

se deu conta, Nani a havia inspirado a beber da fonte da escrita. Em 2012, depois de en-contrar seu nome em segundo lugar na lista de aprovados do Vestibular da PUC, a secre-tária foi notificada de que a narração criada por ela faria parte do Caderno de Redações do Vestibular 2012 da PUC Campinas, lançado em dezembro do ano passado.

Como na época do vestibular ela escrevia histórias sobre o Natal para presentear seus pequenos ouvintes, imaginou a realidade de um menino e entrelaçou-a com a fantasia do presépio, da manjedoura e dos três Reis Magos. “Já escrevi histórias, mas não publi-quei nada até hoje. A inserção do meu texto neste caderno, a crítica que ele obteve e a re-percussão neste tempo de Natal estão sendo muito importantes para mim, pois sempre defendi que as histórias e os contos não po-dem perder a fantasia, devem ser ricos em metáforas e simbologias.”

A contadora, narradora, agente de leitu-ra, palestrante, secretária e futura filósofa e biblioterapeuta é beneficiada pela curiosida-de. A mesma que a levou a se dedicar a todo tipo de leitura na infância. Com tantas pala-vras a ler, e a dizer, aquela dor no braço, que se refletia para a alma, a qual tentava se en-contrar, tornou-se um pingo no texto e deu lugar ao largo sorriso da Nani e aos olhos brilhantes de sua criadora. “É uma busca que não acaba. Assim como a filosofia.”

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3Campinas, 11 a 17 de março de 2013

Consulta para reitor terá 2º turno Disputa fica entre José Tadeu Jorge e Mario Saad; volta às urnas será nos dias 20 e 21 de março

engenheiro de alimentos José Tadeu Jorge e o médico Mario José Abdalla Saad disputarão o segundo turno da consulta indicativa para a escolha do próximo reitor da Unicamp. Tadeu obteve 48,30% dos votos válidos ponderados

contra 40,08% conquistados por Saad. O historiador Ed-gard Salvatori De Decca e o engenheiro elétrico José Clau-dio Geromel alcançaram, respectivamente, 4,93% e 6,70%, e estão fora da disputa. O segundo turno está marcado para os dias 20 e 21 de março. O próximo reitor tomará posse em abril para um mandato de quatro anos.

A apuração dos votos terminou às 3h10 do último dia 8, no Ginásio da Faculdade de Educação Física (FEF). Ta-deu e Saad obtiveram o mesmo número de votos entre os docentes (714). Entretanto, Tadeu predominou entre os funcionários, com 3.867 votos, enquanto Saad prevaleceu entre os estudantes, com 1.266. As abstenções chegaram a 13,30% entre docentes; 18,23% entre funcionários; e 90,65% entre estudantes.

Tadeu considerou “excelente” o desempenho da chapa “Unicamp de Todos os Saberes”, encabeçada por ele e seu vice, Alvaro Crósta. “Tivemos uma expressiva votação entre os docentes, o que mostra a grande receptividade de nossas propostas por parte desse segmento, e um excepcional de-sempenho entre os funcionários, o que revela que essa cate-goria se sente totalmente representada no nosso programa de gestão. Além disso, obtivemos uma votação expressiva entre os estudantes, a despeito do alto índice de abstenção. Penso que o resultado final do primeiro turno foi bastante positivo. Conseguimos levar nosso conceito de universidade a toda comunidade. Agora, temos outro caminho a percor-rer. Tenho absoluta confiança de que a comunidade irá con-sagrar nossa proposta no segundo turno”, afirmou.

O professor Mario Saad também avaliou positivamente os números finais do primeiro turno da consulta. “Esta-mos muito satisfeitos com o resultado das urnas no pri-meiro turno, que nos deu mais de 40% dos votos da comu-nidade acadêmica”, disse. Segundo ele, o número de votos obtidos pela chapa “Unicamp no caminho certo” mostrou que suas propostas de gestão tiveram ampla aceitação e que podem avançar ainda mais. “Agradecemos a todos os professores, funcionários e estudantes que acreditaram em nossas ideias, o que nos dá forças para disputar o segundo turno com mais ânimo e confiança”, completou. A expec-tativa, segundo ele, é de uma virada na próxima etapa da consulta interna. O candidato retoma a campanha já nesta segunda-feira, juntamente com o seu vice, Marcelo Knobel.

O resultado da consulta no segundo turno será enca-minhado ao Conselho Universitário (Consu) da Unicamp, que se reúne em sessão extraordinária ainda em abril. A prerrogativa de escolher o próximo reitor é do governador do Estado, com base em lista tríplice elaborada pelo Con-su. A consulta foi realizada nos campi de Campinas, Pira-cicaba e Limeira. Três debates, realizados nas três cidades e coordenados pela Comissão Organizadora da Consulta (COC), precederam a votação.

O segundo turno ocorrerá nos mesmos locais do pri-meiro turno. Vinte e seis urnas estarão distribuídas em cinco pontos de votação: onze no Ginásio da FEF, seis no Setor Hospitalar (Anfiteatro “Paulistão”), três na FOP e outras três no Campus I da FT e três no Campus II da FCA. A apuração será feita por categoria, pelo conjunto das respectivas urnas, não havendo, portanto, identificação de resultados por urna ou por local de votação. Na Faculdade de Educação Física serão instalados três telões, sendo dois internos ao Ginásio e um externo, para divulgação dos re-

UNICAMP ANFITEATRO “PAULISTÃO” - das 9h às 20h30min (no dia 20, apenas para servidores, a votação se iniciará às 6 horas da manhã).

VOTAM NO “PAULISTÃO”:Docentes da FCM e da Faculdade de Enfermagem, incluindo os da carreira DEER; servidores da FCM, da Faculdade de Enfermagem, Cepre, Cecom, Gastrocentro, Hemocentro, HC, Caism, CEB, DEDIC; alunos de graduação e pós-graduação dos cursos de Medicina, Enfermagem, Fonoaudiologia, Farmácia, médicos residentes e aprimorandos.

UNICAMP GINÁSIO DA FEF - das 9h às 20h30min.VOTAM NO GINÁSIO:Docentes do Cotuca e das Faculdades e Institutos (exceto FCM, Faculdade de Enfermagem, FOP, FT, FCA e Cotil), inclusive das carreiras DEL e MA.Servidores das faculdades e institutos (exceto FCM, Faculdade de Enfermagem, FOP, FT, FCA, Cotil e Planta Física), de toda a administração central, Centros e Núcleos (inclusive CPQBA e exceto CEB), Cotuca e escritório de São Paulo, além dos pertencentes à carreira PQ; e alunos das faculdades e Institutos (exceto FCM, Faculdade de Enfermagem, FOP, FT, FCA e do curso de Farmácia). Alunos do Cotuca não integram o colégio eleitoral da Consulta.

PIRACICABAFACULDADE DE ODONTOLOGIA - das 9h às 17h.VOTAM NA FOP:Servidores, alunos (graduação e pós-graduação) e docentes da FOP, inclusive integrantes de carreiras especiais.

LIMEIRACAMPUS I – FT - das 10h às 20h30min.VOTAM NA FT:Docentes e servidores do COTIL e FT, servidores da Planta Física e alunos de graduação e pós-graduação da FT. Alunos do COTIL não integram o colégio eleitoral da Consulta.

LIMEIRA – CAMPUS II – FCA - das 10h às 20h30min.VOTAM NA FCA:Servidores, alunos (graduação e pós-graduação) e docentes da FCA

DOCUMENTOS DE IDENTIFICAÇÃOTodos os votantes deverão ter em mãos um dos seguintes documentos:Docentes e servidores: carteira de identidade funcional ou documento oficial com fotoAlunos: carteira estudantil ou documento oficial com foto.

LOCAIS E HORÁRIOS DE VOTAÇÃO

SOBRE OS CANDIDATOS

Apuração realizada no último dia 8 no Ginásio de Esportes da Unicamp: novo reitor toma posse em abril

JOSÉ TADEU JORGE - É professor titular na Faculdade de Engenharia Agrícola (Feagri) da Unicamp. Graduou-se em Engenharia de Alimentos na Unicamp (1975), onde também reali-zou mestrado em Tecnologia de Alimentos (1977) e doutorado em Ciências de Alimentos (1981), concentrando suas pesquisas na área de tecnologia pós-colheita, na qual estudou produtos mini-mamente processados, armazenamento de produtos agrícolas e propriedades físicas de materiais biológicos. Em 1992 titulou-se professor livre docente, professor adjunto em 1995 e professor titu-lar em 1996. Foi diretor da Feagri de 1987 a 1991, diretor executivo da Funcamp de 1990 a 1992, chefe de gabinete da Reitoria de 1992 a 1994, pró-reitor de Desenvolvimento Universitário de 1994 a 1998, novamente diretor da Feagri de 1999 a 2002, vice-reitor da Unicamp de 2002 a 2005 e reitor da Unicamp de 2005 a 2009.

Exerceu o cargo de secretário municipal da Educação de Campinas de 2009 a 2011. Foi mem-bro do Conselho Superior da Fapesp de 2006 a 2012. Participou de vários conselhos/comitês, destacando-se: Memorial da América Latina, TV Cultura – Fundação Padre Anchieta, Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), Rede Universia Brasil, Companhia de Desenvolvimento do Pólo de Alta Tecnologia de Campinas (Ciatec), Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia – CREA/SP. Presidiu a Associação Brasileira de Engenheiros de Alimentos. É membro do Conselho Superior de Estudos Avançados da Fiesp desde 2008.

MARIO JOSÉ ABDALLA SAAD - É diretor da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Uni-camp, em segundo mandato, desde julho de 2010. É professor titular do Departamento de Clínica Médica da FCM, onde atua desde 1986. Coordena o Laboratório de Pesquisa em Obesidade e Diabe-tes. Publicou cerca de 230 artigos em revistas internacionais, tendo sido citado mais de 6.900 vezes na literatura científica internacional. Já orientou 66 alunos de iniciação científica, 18 alunos de mestrado, 26 alunos de doutorado e supervisionou 10 pós-doutorados.

Formado em Medicina pela Faculdade de Medicina do Triângulo Mineiro (1979), fez residência, mestrado e doutorado na Universidade de São Paulo, no campus de Ribeirão Preto. Realizou pós-doutoramento (1990-1992) na Harvard University, nos Estados Unidos. É coordenador adjunto da Área de Saúde da Fapesp desde 2005, e membro da Academia Brasileira de Ciências desde 2007. É pesquisador 1A do CNPq desde 1996. Foi coordenador do Comitê de Saúde do CNPq (2003 a 2005). Foi eleito como representante de São Paulo junto ao Conselho Federal de Medicina (1998 a 2004). Na Unicamp, foi coordena-dor da Subcomissão de Pós-Graduação em Clínica Médica (1994-1996) e coordenador da Comissão de Pós-Graduação da FCM (1996-1998). Foi Diretor da FCM (1998 a 2002), e representante docente no Conselho Universitário (2003 a 2005), eleito após expressiva votação. No período entre maio de 2009 e junho de 2010, foi diretor “pro-tempore” da Faculdade de Ciências Aplicadas (FCA) em Limeira. Em 1992, recebeu o prêmio “New Investigator Award” da Sociedade Americana de Endocrinolo-gia e obteve o reconhecimento acadêmico “Zeferino Vaz” da Unicamp por duas vezes, em 1997 e 2004. Em 2008, foi laureado Comendador da Ordem do Mérito Científico pela Presidência da República.

sultados. A ponderação dos votos seguirá o estabelecido na Deliberação CONSU-A-16/12.

O processo é coordenado pela Comissão Organizadora da Consulta para Sucessão do Reitor (COC), nomeada pelo Conselho Universitário (Consu) e constituída por repre-sentantes de todos os segmentos da instituição e um repre-sentante da comunidade externa. Presidida pela professora Silvia Figueroa, atual diretora do Instituto de Geociências, a COC tem diversas atribuições, que vão desde a homolo-gação das candidaturas até o estabelecimento de normas para a votação, passando pela escolha e inspeção dos locais onde ficarão as urnas e ocorrerá a apuração.

“Tanto a votação quanto a apuração no primeiro turno transcorreram em clima de normalidade, sem nenhum in-cidente registrado”, disse a presidente da COC. Segundo ela, a Comissão segue agora nos preparativos para o segun-do turno. Uma das providências a serem tomadas é definir, juntamente com as chapas que participarão da disputa, a data para a realização de um debate entre os dois candida-tos. A consulta em segundo turno, marcada para os dias 20 e 21 de março, seguirá o mesmo esquema do primeiro tur-no, com a votação ocorrendo nos mesmos locais e horários.

O próximo reitor será o 11º na linha de sucessão de Zeferino Vaz (1966-1978). Antes dele vieram o dentista Plínio Alves de Moraes (1978-1982), o ginecologista José Aristodemo Pinotti (1982-1986), o economista Paulo Re-nato Souza (1986-1990), o linguista Carlos Vogt (1990-1994), o pediatra José Martins Filho (1994-1998), o en-genheiro de eletrônica Hermano Tavares (1998-2002), o físico e engenheiro de eletrônica Carlos Henrique de Brito Cruz (2002-2005), o engenheiro de alimentos José Tadeu Jorge (2005-2009) e o médico hematologista Fernando Ferreira Costa (2009-2013).

-Fotos: Antoninho Perri

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Campinas, 11 a 17 de março de 20134

Sob o jugo e a trava da legislação

MANUEL ALVES [email protected]

Fotos: Antoninho Perri

legislação que regulamenta as atividades de bioprospecção no

Brasil é draconiana, o que tolhe o desenvolvimento de pro-dutos e processos a partir

dos recursos oferecidos pela biodiversida-de. A avaliação é da economista Andréia Mara Pereira, que acaba de defender tese de doutorado sobre o tema, no Instituto de Economia (IE) da Unicamp. No trabalho, que foi orientado pelo professor Bastiaan Philip Reydon, a autora faz uma profunda investigação acerca dos impedimentos cria-dos pela Medida Provisória (MP) que rege a matéria, em vigor desde 2001. Como al-ternativa a esses entraves, a pesquisadora propõe, com base em diversos estudos de caso, a adoção de normas mais flexíveis e a criação de uma instituição para gerir o patrimônio genético e os conhecimentos tradicionais brasileiros, vinculada ao Mi-nistério do Meio Ambiente.

De acordo com Andréia, o conceito de bioprospecção pode ser explicado como a utilização dos recursos (bioquímicos e biogenéticos) da fauna e da flora para o desenvolvimento de produtos com alto valor agregado, como fármacos, cosméti-cos, agrícolas, alimentos etc. Na prática, isso tem sido feito pelo homem desde tempos imemoriais, a partir do momento em que ele passou a explorar a natureza para obter recursos que lhe garantissem a sobrevivência. Somente há cerca de 40 anos, porém, é que essa relação ganhou novos contornos, graças principalmente ao avanço da biotecnologia moderna, que está fundamentalmente baseada na mani-pulação do DNA, o material genético dos seres vivos. Assim, a possibilidade da des-coberta de moléculas e princípios ativos que permitam o desenvolvimento de pro-dutos e processos comerciais despertou a atenção de inúmeros países, bem como das grandes corporações privadas.

No Brasil, a questão foi regulamentada somente em 2001, com o advento da MP 2.186-16, formulada no governo Fernando Henrique Cardoso e que até hoje não foi votada pelo Congresso Nacional. “Como foi feita às pressas para atender às exigên-cias da Convenção da Diversidade Bioló-gica (CBD), criada em 1992, essa medida deixou de ser amplamente discutida com os segmentos interessados, entre eles a comunidade científica. A atitude resul-tou numa legislação complexa e cheia de entraves. Sob o argumento de proteger a biodiversidade brasileira, o governo esta-beleceu critérios que passaram a dificul-tar até mesmo a coleta de amostras para a realização de pesquisas científicas. As exigências impostas foram tantas e tão despropositadas, que os cientistas foram colocados, a priori, na condição de poten-ciais biopiratas”, afirma a economista.

Para ilustrar essa situação, a pesquisa-dora cita o caso hipotético de um pesqui-sador que esteja interessado em investigar as propriedades curativas de uma deter-minada planta, aproveitando para isso o conhecimento tradicional de uma comu-nidade indígena. Nessa circunstância, o cientista recorre aos índios para saber que tipo de espécie é utilizado para combater uma dada doença, de que forma a planta é aplicada e onde ela pode ser encontra-da na natureza, entre outras informações. Isso faz com que etapas sejam queimadas,

legislação que regulamenta as atividades de bioprospecção no

Brasil é draconiana, o que tolhe

PublicaçõesTese: “Bioprospecção e conhecimen-tos tradicionais: uma proposta insti-tucional para sua gestão no Brasil”Autora: Andréia Mara PereiraOrientação: Bastiaan Philip ReydonUnidade: Instituto de Economia (IE)

A economista Andréia Mara Pereira, autora da tese: “O Brasil tem todas as condições de promover a bioprospecção. Falta, entretanto, destravar o sistema, o que depende de vontade política”

Estudo aponta as dificuldades impostas por leis obsoletas ao desenvolvimento da bioprospecção

e a pesquisa acelerada. Entretanto, para coletar e transportar as amostras, ele tem que atender a incontáveis exigências bu-rocráticas, entre elas obter a autorização do Conselho de Gestão do Patrimônio Ge-nético (CGEN), instância subordinada ao Ministério do Meio Ambiente, e a anuên-cia prévia da comunidade em questão.

Ocorre que nem todas as comunida-des indígenas contam com representações formais. Além disso, por serem tutelados pelo Estado, através da Fundação Nacional do Índio (Funai), os índios não têm auto-nomia para firmar contratos. “Ou seja, as normas impostas nem sempre podem ser cumpridas e, quando são, podem ser con-testadas posteriormente. Nesse caso, res-tam duas saídas. Ou o pesquisador paralisa a investigação ou dá continuidade a ela, correndo o risco de ser acusado como usur-pador da biodiversidade”, destaca Andréia. Assim como os índios, prossegue a autora da tese de doutorado, outras comunidades, como quilombolas, ribeirinhos, caiçaras, pantaneiros, seringueiros etc., também são detentoras de conhecimentos tradicio-nais, sendo que cada uma delas vive numa região específica, com bioma igualmente específico. “Ora, conciliar os interesses dessas comunidades com os dos cientistas e os da indústria não é uma tarefa trivial, principalmente quando isso é regido por uma regulamentação anacrônica. Entretan-to, trata-se de uma tarefa que precisa ser executada, para que a bioprospecção seja impulsionada no Brasil”, adverte.

A primeira iniciativa para superar es-ses empecilhos, conforme a economis-ta, é reformular a legislação, tornando-a mais flexível. A MP em vigor, diz, tende a equiparar os bioprospectores, o que não é correto. Andréia lembra que existem os colecionadores, que colhem amostras para expandir a sua coleção ou para vender a terceiros. Existem, ainda, formadores do conhecimento (xamãs, pajés, acadêmicos,

cientistas etc). E, por fim, existem os em-preendedores (empresários, agricultores, vendedores etc), que têm por objetivo desenvolver novos produtos e processos rentáveis. “É preciso separar esses atores e enquadrá-los de modo correto na legisla-ção. A MP parte do princípio de que todos querem auferir lucro com a exploração da biodiversidade, de maneira ilegal. Isso não é verdadeiro”, insiste.

Diante de tantos obstáculos às práticas de bioprospecção, as grandes empresas, notadamente as transnacionais das áreas farmacêuticas e de cosméticos, que movi-mentam bilhões de dólares ao ano, não têm demonstrado interesse em firmar acordos com o Brasil. “Essas corporações evitam a cooperação com o país porque sabem que a regulamentação é muito complicada. Na pesquisa que realizei para a tese, não en-contrei nenhum acordo de bioprospecção em vigor com empresas internacionais”, revela Andréia. De maneira geral, ela de-fende uma mudança na legislação que per-mita que o sistema seja, enfim, destravado.

Assim, a economista propõe que os cientistas sejam liberados para conduzir suas pesquisas, de modo a estimular a geração de novos conhecimentos. “Se al-guém por acaso cometer alguma irregula-ridade, que responda por isso. O que não se pode é considerar o pesquisador cul-pado por antecipação”. Andreia também entende que as investigações nessa área poderiam ser aprovadas da mesma forma como as agências de fomento fazem. Ou seja, o interessado enviaria o projeto, três pareceristas especializados o avaliariam e o aprovariam ou não. “O pesquisador com projeto aprovado poderia prestar contas da evolução do trabalho através da apresenta-ção de relatórios periódicos, como é feito junto às agências de fomento”, sugere.

Com base em experiências aplicadas nos Estados Unidos, e que foram analisa-das por ela na tese, a autora aponta tam-

bém para a necessidade de a legislação brasileira facilitar a adoção de contratos específicos, cujo teor variaria de acordo com as circunstâncias e interesses envol-vidos. Como exemplo desse modelo, An-dréia cita o caso do Taxol, um dos medi-camentos contra câncer mais vendidos no mundo. Entre 1993 e 2002, o produto ren-deu algo como US$ 9 bilhões ao laborató-rio Bristol. O princípio ativo do remédio foi isolado em 1971, a partir da casca de um arbusto sem valor econômico, o teixo-do-pacífico (Taxus brevifolia).

Até chegar ao mercado – foram precisos 30 anos -, a pesquisa passou por diversos estágios e exigiu o desenho de diferentes arranjos para conciliar todos os interesses em jogo. A pesquisa básica, por exemplo, foi financiada com recursos governamen-tais. O conhecimento tradicional foi uti-lizado, mas somente para se saber onde encontrar as plantas. Depois de dez anos, houve uma parceria entre diversas insti-tuições de pesquisa. Estas recolheram 35 mil amostras, das quais apenas uma apre-sentou as propriedades desejadas. Quando o estudo finalmente terminou, o governo americano utilizou um sistema de media-ção e gestão entre instituições públicas e empresas privadas, chamado CRADA.

Foi aberta, então, uma licitação para a escolha do laboratório que produziria o Taxol, com base na expertise dos concor-rentes. “Definido a Bristol-Myers Squibb, ficou estabelecido que esta empresa tivesse direito à patente e à exploração comercial do remédio por cinco anos. Pelo acordo, parte dos lucros obtidos é destinada às uni-versidades, instituições de pesquisa e go-verno. Ou seja, tudo foi acordado conforme os interesses específicos envolvidos na-quele caso. Essa experiência traz algumas lições que podem ser aproveitadas, como a criação de uma ferramenta nos moldes do CRADA, assim como para o desenho da nova regulamentação para o uso da biodi-versidade e dos conhecimentos tradicionais para os acordos de bioprospecção no Bra-sil”, defende a autora da tese de doutorado.

Para facilitar esse tipo de entendimen-to, a pesquisadora sugere, por fim, que seja criada uma nova organização para gerir o patrimônio genético e os conhecimentos tradicionais no país. A proposta prevê que o órgão seja dotado de coordenadorias (Pesquisa & Inovação, Jurídica, Relações Internacionais e Extensão, entre outras), que cuidariam de facilitar a assinatura de acordos de cooperações e contratos, além de coibir eventuais irregularidades. “O Bra-sil tem todas as condições de promover a bioprospecção. Temos instituições de pes-quisa fortes, recursos humanos qualifica-dos, grande sociodiversidade e megabio-diversidade. Falta, entretanto, destravar o sistema, o que depende de vontade po-lítica. Feito isso, as vantagens para o país serão enormes, como o desenvolvimento de novos conhecimentos, a geração de em-prego e renda, a ampliação de divisas e a formação de recursos humanos especializa-dos”, elenca.

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esquisa realizada no Labora-tório de Biologia Molecular do Hemocentro da Unicamp mos-tra pela primeira vez a partici-pação de uma proteína específi-

ca na adesão e migração celular. O estudo, inédito, feito com células humanas saudá-veis e cancerígenas, abre novas perspecti-vas para entender o mecanismo por meio do qual uma célula se adere ou não à outra e como se espalha pelo organismo.

A pesquisa foi conduzida pela biomé-dica Karin Barcellos. A orientação foi da médica hematologista Sara Olalla Saad, responsável pelo sequenciamento e des-crição da proteína denominada ARH-GAP21 dentro do Projeto Genoma Hu-mano do Câncer. O trabalho foi capa da edição de janeiro da revista The Journal of Biological Chemistry, da Sociedade Ameri-cana de Biologia Química e Molecular.

“Todas as células do corpo, para formar os tecidos e órgãos, precisam se aderir. Nos tumores, quando a adesão se desfaz, a célula pode sair e invadir outros tecidos, gerando o que chamamos de metástase. Nesse processo de migração, a adesão é essencial. Se adesão é forte, a célula não se solta”, explica Karin.

A pesquisa foi financiada pelo Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia do San-gue (INCT), Fundação de Amparo à Pes-quisa do Estado de São Paulo (Fapesp), Fundação de Coordenação de Aperfeiçoa-mento de Pessoal de Nível Superior (Ca-pes) e Conselho Nacional de Desenvolvi-mento Científico e Tecnológico (CNPq) e contou com a colaboração de pesquisado-res do Departamento de Fisiologia e De-senvolvimento Biológico da Universidade Brigham Young, Estados Unidos.

Para entender como acontece a adesão célula-célula é necessário entender um pouco de biologia celular. As imagens dos livros escolares que descrevem a estrutura da célula e os processos da divisão celular ajudam nessa compreensão. Os mais co-nhecidos e ensinados são mitose e meio-se. Além disso, termos como Complexo de Golgi, membrana celular, citoplasma, citoesqueleto – responsável por manter a forma da célula – e microtúbulos – aque-las linhas bonitas dos desenhos da divisão celular que parecem fios puxando os cro-mossomos – merecem atenção.

Segundo Karin, desde a década passada a equipe do Hemocentro vem estudando as funções da proteína ARHGAP21. Eles descobriram que a ARHGAP21 regula o citoesqueleto agindo nas proteínas Rho-GTPases. Essas proteínas, por sua vez, regulam o movimento celular, migração, adesão celular e diferenciação. A ARH-GAP21 regula negativamente as Rho-GTPases e defeitos nesta regulação podem deixar as Rho-GTPases hiperativadas, cau-sando crescimento celular descontrolado, inibição da morte da célula ou alterações na migração e diferenciação celular, resul-tando no desenvolvimento tumoral e me-tástases. O desafio de Karin foi descobrir em qual das diversas funções celulares das Rho-GTPases a ARHGAP21 agia.

“Quando um tumor tem migração ace-lerada, quem está regulando essa função? Será que a ARHGAP21 é a chave que liga e desliga isso? A partir dessas indagações descobrimos três achados importantíssi-mos no processo de adesão célula-célu-la”, disse Karin.

Para a pesquisa in vitro, a biomédica utilizou células saudáveis humanas e cé-lulas tumorais de câncer de próstata. Ao cultivar as células, Karin adicionou cálcio para provocar a adesão celular. Após qua-tro horas, a pesquisadora observou que a ARHGAP21 estava presente nas junções da

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Nova proteína é chave paraentender mecanismo do câncer

EDIMILSON MONTALTIEspecial para o JU

Pesquisa, inédita, foi feita com células humanas saudáveis e cancerígenas

PublicaçõesArtigo: Barcellos KS, Bigarella CL, Wagner MV, Vieira KP, Lazarini M, Langford PR, Machado-Neto JA, Call SG, Staley DM, Chung JY, Hansen MD, Saad ST. ARHGAP21 protein, a new partner of alpha-tubulin involved in cell-cell adhesion formation and essential for epithelial-mesenchymal transition. The Journal of Biological Chemistry, January 25, 2013; 288 (4).

A biomédica Karin Barcellos: “Quando a adesão se desfaz, a célula pode sair e invadir outros tecidos, gerando o que chamamos de metástase”

A médica hematologista Sara Olalla Saad, orientadora da pesquisa: “A ARHGAP tem papel

importante na divisão e na renovação celular”

Foto: Antoninho Perri

Foto: Antoninho Perri

membrana celular. Após ajudar a construir a adesão celular, a proteína ia embora.

Para provar esse processo, Karin inibiu a atuação da ARHGAP21. Ela observou que as células sem a proteína passaram a ter uma adesão mais fraca e logo se solta-vam. Além disso, a pesquisadora fez outro achado importantíssimo: quem estava jun-to com a ARHGAP21 participando do alon-gamento e da polaridade da célula, como se fosse uma batalha, eram os microtúbu-los, estruturas cilíndricas e ocas formadas por duas proteínas (alfa e beta) chamadas tubulinas. Os microtúbulos estão relacio-nados com o processo de migração celular. Durante esse processo, a pesquisadora ob-servou que a ARHGAP21 afeta a acetila-ção da alfa-tubulina, processo químico que muda a função da proteína.

“Descobrimos que a ARHGAP21 tem uma interação com a alfa-tubulina, que é uma das proteínas que formam os micro-túbulos. É a primeira vez que alguém des-creve essa interação”, disse Karin.

Mas a pesquisadora não parou por aí.

METÁSTASE E TUMORESO processo de adesão e migração é

essencial para a formação do organismo. Quando o embrião está em formação, as células passam por um processo chamado de transição epitelial mesenquimal. Nes-se estágio, as células que estão juntas, começam a se soltar e vão formar os teci-dos e órgãos. Depois, este processo pára e cada célula passa a desempenhar a sua função específica.

Entretanto, a transição epitelial me-senquimal está presente no mecanismo de migração e metástase do câncer. De algu-ma forma, as células cancerígenas que es-tavam grudadas se soltam e começam a se espalhar pelo organismo.

Karin simulou em laboratório este me-canismo adicionando às células um fator de crescimento chamado de HGF. O HGF é um hormônio produzido, principalmen-te, pelo fígado. O HGF exibe atividades de duplicação genética, produção da forma e migração celular em uma ampla variedade de órgãos. Ao adicionar o HGF às células tumorais, elas entram em transição epite-lial mesenquimal.

Baseando-se nos resultados obser-vados anteriormente sobre a atuação da ARHGAP21, a biomédica tinha certeza de que, adicionando o HGF e inibindo ao

mesmo tempo a proteína, a adesão celular seria mais fraca e a migração das células seria rápida. Não foi isso o que aconteceu.

“Sabíamos que a ARHGAP21 era im-portante para fazer a adesão célula-célula, que interagia com os microtúbulos e que sem ela a migração era maior. Juntando tudo isso, tínhamos certeza que a disso-ciação e migração celular seriam muito maiores. Mas foi o contrário. Passamos duas semanas quebrando a cabeça, achan-do que estávamos esquecendo alguma coisa, até que, após repetir várias e várias vezes o experimento, vimos que era verda-de: sem a ARHGAP21, não tinha transição epitelial mesenquimal”, revelou Karin.

E como isso funciona? A célula tem um receptor para HGF na membrana. Esse HGF vai iniciar uma série de sinalização em cascata que vai culminar no núcleo e promover a perda da adesão da célula. Sem a ARHGAP21, o processo não se comple-ta. Então, nesta via de sinalização celular, a presença da proteína regula a transição epitelial mesenquimal. Prova disso são dois marcadores séricos utilizados na bio-química: o Twist 1 e a e-caderina.

Quando se coloca o HGF nas células, o Twist 1 aumenta ao longo da transição epitelial mesenquimal. Inibindo a ARH-GAP21, não aparece o Twist 1. A e-cade-rina, que funciona como uma cola para a adesão celular, diminui ao longo desse processo. Sem a ARHGAP21, a e-caderina não diminui e as adesões não se desfazem. Outros marcadores também foram testa-dos para reforçar a importância da ARH-GAP21 na via de sinalização do HGF.

Segundo Karin, a pesquisa demonstra pela primeira vez a participação da ARH-GAP21 no processo da formação da ade-são célula-célula e que ela está na frente da migração da célula, interagindo com os microtúbulos que atuam na divisão celu-lar. Verificou-se também que essa prote-ína é essencial para a transição epitelial mesenquimal e que esta transição é um fenômeno muito comum no processo de metástase tumoral. E sem ARHGAP21, não há essa transição.

“Esta pesquisa abre um leque de coisas que podem ser afetadas pela ARHGAP21. Estudar este mecanismo é garantir que, ao retirar um tumor, ele não irá aparecer em outro lugar. Mas tudo isso é muito novo. Colocamos uma peça no quebra-cabeça de 200 mil peças”, disse Karin.

ARHGAP21A proteína ARHGAP21 foi descrita em

2002 pela pesquisadora Daniela Basseres a partir dos estudos iniciados em 1999 pela médica hematologista Sara Olalla Saad dentro do Projeto Genoma Humano do Câncer. A ARHGAP21 está localizada no cromossomo 10 e possui 1957 aminoáci-dos. A ARHGAP21 apresenta três domí-nios principais: PDZ, PH e Rho GAP.

O domínio PH está envolvido em me-canismos de transmissão de sinais e en-contra-se presente em algumas proteínas de citoesqueleto. O domínio PDZ medeia interações entre proteínas, geralmente co-nectando componentes envolvidos na sina-lização celular. Estes complexos proteicos auxiliam nas propriedades adesivas das cé-lulas. As Rho-GAPs desempenham impor-tante função na inibição de Rho-GTPases, regulando, desse modo, o crescimento e diferenciação celulares.

“Na década de 1990, o Hemocentro se envolveu no projeto Genoma e eu procurava novas proteínas que tivessem relação com o esqueleto das células do sangue, conhecidas como hematopoéticas. Eu sabia que a ARH-GAP tinha uma importância muito grande e resolvi investir nessa proteína, mas tive muitas críticas”, explicou Sara.

De acordo com a médica hematologista, a equipe teve que aprender a construir os anticorpos para a identificação da proteína. Foram dois anos ampliando a sequência do gene e outros tantos sem nenhum resulta-do. Ao inativá-la, relembra a pesquisadora, as células do sangue morriam. Foi então que a pesquisadora passou a usar células do músculo cardíaco e do tecido neuronal. A partir daí, os pesquisadores passaram a ter respostas da ação da ARHGAP21 e pu-blicaram vários artigos mostrando a impor-tância dela em diferentes funções.

“A ARHGAP tem papel importante na divisão e renovação celular. Ao entender a função dela, podemos determinar até que ponto uma célula saudável pode gerar outra igual ou caminhar para o desenvolvimento do câncer. Temos outras linhas de pesquisas dentro do Hemocentro com essa proteína e imagino que ela tenha alguma função na manutenção das células leucêmicas no mi-croambiente da medula óssea. Se tivésse-mos abandonado as pesquisas por causa das dificuldades, não teríamos conseguido obter resultados tão expressivos”, disse Sara.

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Campinas, 11 a 17 de março de 20136

Do computador para a ciência forense

CARMO GALLO [email protected]

s gerações mais antigas se lem-bram de Sherlock Holmes, per-

sonagem criado pelo médico e escritor escocês Arthur Conan Doyle, precursor dos méto-

dos científicos de pesquisa policial, muito lido no Brasil no século passado. Nos anos de 1970, foi sucesso na televisão a famosa série estrelada pelo ator Peter Falk, protago-nista do tenente Columbo, que desvendava crimes utilizando um raciocínio dedutivo e aparecia sempre na cena do crime com um gabardine surrado e encardido, conduzindo um Peugeot velho. Em um futuro muito próximo, para deleite de futuras gerações, é provável que as investigações de Sherlo-ck Holmes sejam mostradas no interior de um laboratório de informática e Columbo apareça na cena do crime acompanhado por um sofisticado e compacto sistema de computação, conduzido por um veículo de linhas espaciais.

Fantasias à parte, é para essa direção que apontam as pesquisas realizadas por Fernanda Alcântara Andaló, bacharel em ciência da computação pela Universidade de Brasília (UnB) e mestre e doutora pelo Instituto de Computação (IC) da Unicamp, para onde veio para a pós-graduação atraí-da pelo renome da instituição e pelo fato de já conhecer e admirar o trabalho desenvol-vido pelo professor Siome Klein Goldens-tein, seu orientador no doutorado.

Bolsista de doutorado sanduíche do CNPq, ela passou o ano de 2011 na Bro-wn University, em Providence, RI, EUA, em que trabalhou com o professor Gabriel Taubin, da Escola de Engenharia, quando desenvolveu dois dos três métodos apre-sentados no seu trabalho. Atualmente é pesquisadora de pós-doutorado no Institu-to Nacional de Matemática Pura e Aplicada (IMPA), no Rio de Janeiro, convite que re-cebeu do professor Luiz Velho logo depois do doutorado.

A crescente criminalidade, com seus mé-todos cada vez mais sofisticados, determi-na a necessidade de aplicação de processos científicos que possam ser usados em sua prevenção e investigação. Essas tarefas mo-vem governos e pesquisadores. A investiga-ção forense de um crime envolve um proces-so complexo, que se inicia na sua ocorrência e continua no laboratório de forma que os tribunais sejam supridos de informações e argumentos necessários à materialização da ocorrência do delito e à identificação dos culpados. Para que os resultados alcançados sejam os mais eficientes e eficazes possíveis, os investigadores precisam de suporte técni-co e de conhecimento.

s gerações mais antigas se lem-bram de Sherlock Holmes, per-

sonagem criado pelo médico e

PublicaçõesTese: “Métodos de visão computacio-nal aplicáveis à ciência forense”Autora: Fernanda Alcântara Andaló Orientador: Siome Klein Goldenstein Unidade: Instituto de Computação (IC)

Primeiro método: a partir da altura de um objeto de referência (59 cm), a altura de uma pessoa

foi calculada (171,5 cm) na imagem

Segundo método: modelos tridimensionais gerados por (a) digitalização 3D e (b) o método da pesquisadora;

os resultados são comparáveis.

Terceiro método: reconstrução de imagem a partir de 3,3 mil fragmentos, com 100% de acurácia

Fernanda Alcântara Andaló, autora da tese: dados selecionados para experimentos foram cuidadosamente testados

Tese propõe três métodos computacionais que podem ser úteis em procedimentos tradicionais

Com vistas a essas necessidades, o foco da tese de doutorado de Fernanda concen-trou-se na ciência forense, área multidis-ciplinar que, além de várias disciplinas, agrega conhecimentos da ciência da com-putação que permitem o uso de métodos computacionais e de computadores na in-vestigação forense. A computação forense, resultante da junção da ciência forense e da computação, estuda métodos que auxiliam o investigador na análise mais acurada de vestígios, além de fornecer bases científi-cas para procedimentos forenses tradicio-nais, permitindo a representação digital do conhecimento e das habilidades do espe-cialista, de forma a possibilitar-lhes o uso automatizado. Em vista disso, diz ela, “o objetivo geral da minha tese é propor mé-todos computacionais que possam auxiliar procedimentos tradicionais da ciência fo-rense. Proponho, então, três métodos dis-tintos, associados a três temas da ciência forense: fotogrametria, reconstrução tridi-mensional de vestígios e reconstrução de imagens fragmentadas”.

Fernanda explica que no mestrado de-dicou-se ao processamento de imagens, estudando e propondo descritores, que são funções utilizadas para extrair delas ca-racterísticas de cor, forma e textura, o que torna possível compará-las para determi-nar o quanto são ou não semelhantes. Já no doutorado estudou inicialmente a re-construção tridimensional (3D) a partir de imagens. Nessas reconstruções, o principal problema é a recuperação de informações de profundidade, perdidas na passagem do mundo 3D para o plano bidimensional da imagem. A partir disso, começou a estudar outros temas forenses que foram sendo agregados à tese.

MÉTODOS

O primeiro método estudado por ela foi o da fotogrametria, que é o processo de fazer medições no plano da imagem para relacioná-las com a altura de objetos e pes-soas. A obtenção de medidas de objetos em imagens é um requisito consuetudinário em computação forense, pois a altura esti-mada de uma pessoa pode ser usada como evidência corroborativa. Para tanto é neces-sário recuperar a profundidade dos pontos tridimensionais correspondentes a cada ponto da imagem. Isso é possível pela de-tecção na imagem dos pontos de fuga: pon-tos na imagem em que as linhas paralelas projetadas se encontram. O objetivo, neste caso, é o da detecção eficaz de tais pontos de fuga em uma única imagem. A pesqui-sadora esclarece que atualmente existem diversos métodos de fotogrametria que uti-lizam pontos de fuga, mas que o detector por ela proposto se mostrou mais eficaz comparativamente aos mais recentes pro-postos na literatura, permitindo a medição de alturas com erro de mais ou menos 0,41 cm, o que determinou a sua incorporação em conhecido método de fotogrametria, aumentando-lhe a acurácia.

O segundo método atende às necessi-dades das investigações forenses que de-pendem da coleta e análise de vestígios encontrados na cena do crime. Neste caso, assume importância a impressão de calça-do, particularmente sobre terra, areia ou neve. O desafio da perícia é a reconstru-ção tridimensional deste tipo de vestígio a partir de fotografia ao seu redor, de forma que possa gerar um modelo 3D digital da impressão do calçado a partir apenas de fo-tografias. Atualmente o método mais uti-lizado é o da modelagem em que um ma-terial como o gesso é derramado sobre a

impressão da qual, uma vez seco o material utilizado, resulta um molde. Esse processo, além de destruir o vestígio, é lento e gera custos com o transporte do molde.

Embora de emprego menor, outro méto-do utilizado nesses casos envolve a digitali-zação por meio de scanners 3D. Apesar de bastante eficaz, rápido e não intrusivo, exi-ge disponibilidade local do equipamento, o que nem sempre é possível devido ao custo e ao difícil manuseio. Além do método pro-posto por Fernanda exigir a utilização de apenas de uma câmera fotografia, oferece a vantagem da rapidez e da não intrusão , apresentando ainda acurácia comparável ao do modelo gerado pela digitalização.

O terceiro método envolve a recons-trução de imagens a partir de fragmentos retangulares, a exemplo de um quebra-cabeça. É empregado quando há necessi-dade de reconstruir imagens fragmentadas, inclusive propositalmente a fim de ocultar informações. Através de uma formulação matemática que permite a atomização dos parâmetros envolvidos é possível descobrir a combinação dos fragmentos que levam à imagem original. A autora lembra que existem dois outros métodos recentes na literatura que tratam do mesmo problema, utilizando abordagens diferentes. Mas con-sidera que atualmente “o nosso método é o estado da arte na reconstrução de imagens, por exigir menor tempo computacional e apresentar acurácia mais elevada”.

Fernanda realizou experimentos práti-cos para os três métodos propostos, embora sem testá-los em situações reais como as das investigações forenses. Entretanto, segundo ela, os dados selecionados para esses expe-rimentos foram cuidadosamente criados e devidamente utilizados para que a acurácia dos métodos propostos fosse passível de comparação com os descritos na literatura.

A pesquisadora se preocupou em explo-rar métodos computacionais aplicáveis à ci-ência forense. Para ela o trabalho se justifica pois, embora já exista um certo grau de au-tomação em métodos forenses tradicionais, uma grande parte do que é utilizado hoje envolve habilidade e arte ao invés de ciência.

Sobre a aplicação imediata dos métodos ela esclarece: “Nenhum método proposto para aplicações de alto risco pode ser utili-zado sem que tenha sido extensivamente testado em situações reais e controladas. Os métodos propostos foram analisados e testa-dos com embasamento científico e tiveram o desempenho comparado a outros existentes. Porém, para os seus empregos há necessida-de que sejam testados com dados reais, ob-tidos por investigadores forenses. Estamos buscando parcerias para esse estudo”.

Fotos: Divulgação

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professor Raul Arellano Cal-deira Franco é autor de um estudo único em que descreve um sistema novo e complexo: a logística e especialmente

o transporte de ativos digitais na rede de oferta e demanda de música via internet – a Digital Supply Chain (DSC). A tese de doutorado identificando os atores, estrutu-ra, processos, relações, finalidades, fluxos e características econômicas e de serviço de transporte na DSC, orientada pelo professor Orlando Fontes Lima Júnior, foi defendida junto à Faculdade de Engenharia Civil, Ar-quitetura e Urbanismo (FEC) da Unicamp.

“Na área de logística, a abordagem sem-pre foi predominantemente física: armaze-nagem, separação de pedidos, transporte, distribuição de produtos. A questão colo-cada para o doutorado era se existiria um sistema similar no mundo virtual”, explica Raul Arellano. “A grande lacuna na literatu-ra acadêmica – que traz muito sobre tecno-logias, marketing e pirataria – era a falta de uma descrição de como funciona o sistema de logística e de transporte de ativos digi-tais. Como na biologia, quando se encontra uma espécie nova, é preciso descrevê-la an-tes de evoluir para outros estudos”.

Na opinião do autor, o principal mérito de sua pesquisa é de ajudar a entender este sistema de distribuição que tem grande im-pacto não somente na indústria da música, mas em todos os setores relacionados com ativos digitais, como de filmes, televisão, vídeos, player games, publicações, softwa-res e educação. “Para não ampliar demais o escopo da pesquisa, nos limitamos ao mais simples: a música. Focamos lojas virtuais como o iTunes da Apple e a Sonora do Por-tal Terra no Brasil, e também realizamos um estudo de caso de um e-tailer (loja vir-tual de CDs físicos).”

Arellano afirma que, sob a ótica da lo-gística e principalmente do transporte de ativos digitais, é possível desenvolver meios eficientes de alcançar um mercado potencial de mais de 2 bilhões de usuários da internet. “Estudando a estrutura e seus atores, observamos um sistema extrema-mente responsivo, que dá um atendimento imediato ao consumidor. Quando se pede um CD através da Americanas.com, o pro-duto demora pelo menos um ou dois dias a chegar. Pela DSC, a música chega ao celu-lar, tablet ou computador do comprador em questão de segundos, na forma mais perso-nalizada possível.”

O autor da tese faz uma breve descrição de como funciona a Digital Supply Chain, a partir do processo de criação dos artistas. “A cadeia começa quando a gravadora disponi-biliza os ativos digitais máster de músicas (fonogramas) para varejistas virtuais, por-tais de música, redes sociais ou operadoras de telefonia celular. Estes entregam os fono-gramas aos gestores de conteúdo (Content Management Systems), que se encarregam de adequar e proteger o ativo digital para distribuí-lo através dos Gestores de Dis-tribuição na Rede de Entrega de Conteúdo (Content Delivery Network – CDN).”

A maior ênfase dada por Raul Arellano ao aspecto do transporte se deve ao pa-pel fundamental exercido pelos CDNs no apoio às vendas e distribuição pela inter-net. “Trata-se de uma rede de servidores localizados em datacenters espalhados por todo o mundo, que buscam os ativos digi-tais das gravadoras ou artistas nos servido-res dos gestores de conteúdo (CMS), a fim de distribuí-los em alta velocidade de res-posta aos consumidores. Os CDNs atuam como as transportadoras do mundo físico: levam a música aos acessos de rede mais próximos da pessoa que fez o pedido.”

7Campinas, 11 a 17 de março de 2013

Navegando na rede de oferta e na demanda da música digital

LUIZ [email protected]

Tese desenvolvida na FEE descreve logística e transporte de ativos, identificando atores envolvidos no processo

O professor Raul Arellano Caldeira Franco, autor do estudo: “A tese foca apenas a pontinha do iceberg”

Internauta navega em página do iTunes: ajudando a entender o sistema de distribuição

Steve Jobs: usando a música como isca

TUDO COMEÇOU NO MITO pesquisador informa que a mais re-

levante dessas empresas de distribuição é a Akamai, detentora de 95 mil servidores localizados em quase 2.000 dos principais provedores de redes backbone e de servi-ços de internet no mundo, facilitando os downloads pelos clientes. “A Akamai nas-ceu no MIT [Massachusetts Institute of Technology], quando Tim Berners-Lee (a quem é creditada a criação da World Wide Web) fez uma advertência ao professor de matemática Tom Leighton: que o conges-tionamento logo se tornaria um grande problema, uma vez que a Web já era um sucesso absoluto.”

Segundo Arellano, Leighton e um aluno de doutorado, Daniel Lewin, começaram a desenvolver um algoritmo inovador para otimizar o tráfego de dados e, em 1998, juntamente com uma equipe de 30 espe-cialistas, fundaram a Akamai. A empresa hoje oferece serviços para sites de grande porte como Facebook, Twitter, MySpace, Yahoo, Apple e Amazon.com. “Os mate-máticos do MIT criaram um sistema de monitoramento mundial da internet para roteirizar os ativos digitais desde os pro-prietários de conteúdos até os servidores próximos dos consumidores. Evitando vias com spam, outras sujeitas ao ataque de hackers ou aquelas que simplesmente caíram, eles fazem com que a Web se tor-ne muito mais rápida.”

A tese de doutorado traz um histórico lembrando que, no final dos anos 1990, iniciou-se o uso do padrão de música ISO Mp3, junto com o lançamento de repro-dutores digitais portáteis de música como o Rio PMP 300 da Diamond Multimedia, que podia armazenar até 60 minutos de música. “Atualmente o iPod da Apple pode armazenar até 160 Gb [Gigabytes] ou 40 mil músicas para o consumidor ouvir onde e quando quiser. (...) Uma música no for-mato Mp3 pode ser baixada em 4 segun-dos através de uma conexão 4G, ou em 40 segundos com uma conexão de banda lar-ga de 1 Mbps [Megabits/segundo]. Há dez anos isso levaria mais de 5 minutos com uma conexão discada”, escreve o autor.

NA EDUCAÇÃOProfessor na Extensão da Unicamp pelo

Laboratório de Aprendizagem em Logísti-ca e Transportes (Lalt) da FEC, e também na Pós-Graduação da Fundação Vanzoli-ni (Politécnica/USP), Arellano considera que a Digital Supply Chain possui grande aplicabilidade na educação. “A tese foca apenas a pontinha do iceberg, de uma re-volução que está acontecendo em todas as áreas. Não se trata apenas de música, mas de vídeos, redes sociais, softwares de si-mulação, que vão demandar muita logísti-ca virtual para atender de forma adequada os consumidores de serviços educacionais sedentos por essas novas tecnologias.”

PublicaçõesTese: “Logística e transportes na digital supply chain: estudo de caso único sobre a rede de oferta e demanda de música digital” Autor: Raul Arellano Caldeira Franco Orientação: Orlando Fontes Lima JúniorUnidade: Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo (FEC)

O pesquisador Raul Arellano aponta o iTunes da Apple como um exemplo de sucesso devido à Akamai, que domina 70% do mercado de distribuição mundial de ativos digitais e 15% a 30% de todas as transações diárias da Web. “Antes, só era possível comprar o CD, pagando por dez ou doze músicas. Quebrando paradigmas, Steve Jobs teve a ideia da venda a la carte, com o con-sumidor pagando apenas pelas músicas que quer, a preços variando de 69 centavos a 1,29 dólar (na Sonora, chega a custar apenas 20 centavos de dólar). Foi uma forma bastante inteligente de usar a música para vender indiretamente os produtos de maior valor agregado, já que o cliente vai ouvi-la no iPod, iPad, iPhone ou iMac.”

Informações colhidas por Arellano dão conta de que a indústria da música (no seu sentido mais abrangente) faturou em 2007 e 2008 a cifra global de US$ 160 bilhões. Entretanto, as ven-das de música no varejo caíram de um pico de US$ 45 bilhões em 1997 para US$ 25,4 bilhões em 2009. “A indústria como um todo não reduziu o faturamento, que vem até crescendo. O que está ocorrendo é uma transferência, por exemplo, para os shows ao vivo e equipamentos de reprodução musical. Há inclusive um conflito entre os artistas quanto a buscar formas de cobrar pela música ou cedê-la gratuitamente para lucrar com shows e outras formas de merchandising.”

A tese apresentada na FEC, segundo o autor, abordou a defesa dos direitos autorais – aspecto importante para o funcionamento da Digital Supply Chain – mas o processo paralelo de distribui-ção e obtenção ilegal de música ficou fora do escopo da pesquisa. Um dado preocupante, porém, diz respeito a 1,9 bilhão de faixas de músicas compartilhadas ilegalmente via internet em 2003, estimando-se que tenham chegado a 40 bilhões em 2008 – e que apenas 3,7 bilhões foram ven-didas legalmente pela rede. “Mas a música digital já representa entre 20% e 30% do mercado, sendo que a adesão deve aumentar com o custo cada vez menor na compra a la carte.”

Uma última informação obtida por Raul Arellano é que 25% das vendas feitas legalmente são atribuídas ao iTunes da Apple, que anunciou ter mais de 100 milhões de contas em 23 países, 8 milhões de faixas de músicas sem criptografia, 20 mil episódios de TV e 2.000 filmes. Em janeiro de 2009, a loja virtual declarou ter vendido, desde a sua fundação até aquela data, 6 bilhões de músicas. Atualmente, as vendas de ativos digitais através da internet representam 40% do maior mercado mundial de música no varejo, que é dos Estados Unidos.

Outro achado de Steve Jobs

Fotos: Antoninho Perri

Foto: Reprodução

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Campinas, 11 a 17 de março de 20138

Morador despreza áreade lazer de condomínios

PublicaçãoDissertação: “Espaços livres e coletivos em condomínios habitacionais verticalizados: o caso de Guarulhos - SP”Autora: Gislaine Cristina Villela AraujoOrientador: Francisco Borges FilhoCoorientadora: Silvia Mikami G. PinaUnidade: Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo (FEC)

RAQUEL DO CARMO [email protected]

Nas bancasNas bancas

adição de grãos de soja, na ali-mentação de cordeiros, pode

melhorar a qualidade da carne quanto aos teores de ácidos graxos insaturados, como

o ácido linoléico e o CLA (ácido linoléico conjugado), considerados a gordura “boa” para o organismo humano. É o que apon-ta uma pesquisa realizada na Faculdade de Engenharia de Alimentos (FEA). Foram feitos testes com 24 cordeiros, incluindo na dieta deles sementes oleaginosas como caroço de algodão, grão de soja e girassol. O estudo, desenvolvido por Mariana Mas-son Guizzo, segue a tendência atual da de-manda crescente por alimentos saudáveis, cujas características principais são os bai-xos teores de gorduras saturadas.

A pesquisa foi orientada pelo professor Pedro Eduardo de Felício e a sua principal contribuição foi conhecer quais os efeitos da nutrição animal, principalmente, sobre as características da carcaça e da carne. “Um dos maiores desafios do setor produ-tivo da carne está relacionado com a alte-ração do perfil de ácidos graxos por meio da manipulação da dieta fornecida aos ani-mais. Sabe-se que os animais ruminantes tendem a ter maior concentração de gordu-ra saturada em sua composição”, argumen-ta a autora do estudo, a zootecnista Maria-na Masson Guizzo.

Os animais foram divididos em quatro grupos, sendo que cada um foi alimentado com um tipo de semente. Os testes com os

Piscinas com raia, salas de cinema, SPA com banheiras de ofurô, quadras de squash, áreas gourmet. Estes são apenas alguns dos itens de lazer coletivo oferecidos pelo mer-cado para os condomínios verticalizados voltados para a população de maior poder aquisitivo. Mas será que seus moradores usufruem de todos esses espaços e equi-pamentos? Uma pesquisa apresentada no Programa de Pós-Graduação de Arquite-tura, Tecnologia e Cidade da Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanis-mo (FEC) revelou que a maioria das famí-lias não faz uso dos espaços comuns para lazer. O estudo de caso foi feito em três condomínios, localizados na área central de Guarulhos na Região Metropolitana de São Paulo, e seus resultados apontaram que, quanto maior a renda dos moradores, menor é o seu uso, embora seja exatamen-te onde os espaços livres de uso comum são amplos e diversificados.

“Os espaços coletivos mais utilizados são piscina e salão de festas. No entanto, a ten-dência atual nos grandes centros urbanos é oferecer um número grande de espaços li-vres e equipamentos para uso coletivo, em detrimento da área útil dos apartamentos. Acredito que as decisões de projeto para esses ambientes devem contribuir para a qualidade de vida dos moradores em pleni-tude”, afirma a arquiteta Gislaine Cristina Villela Araújo, que apresentou dissertação de mestrado sob orientação do professor Francisco Borges Filho e da professora Sil-via Mikami Pina. Para Gislaine Araújo, a falta de tempo e o envolvimento com várias atividades podem ser causas para que as famílias não façam uso frequente desstes espaços. “Há também a opção por menor número de filhos e o envolvimento grande com o trabalho”, acredita.

grãos de soja tiveram os melhores resulta-dos e, por isso, constituem uma boa opção para o setor pecuário por proporcionar me-nor concentração de gordura saturada na carne. Além disso, não se observou influ-ência nas características sensoriais, como o aroma e o sabor da mesma, pois teve maior aceitabilidade pelos consumidores de carne ovina e, ainda, apresentaram parâmetros da zootecnia favoráveis. Já no caso dos cor-deiros alimentados com sementes de giras-sol, embora a qualidade da carne não tenha sido afetada, os animais não tiveram um bom desenvolvimento quando avaliados pela zootecnista.

Os resultados obtidos, quanto à ava-liação sensorial, apontaram que apenas o grupo alimentado com caroço de algodão teve uma menor aceitação por parte dos analisadores, em relação aos atributos aroma e sabor, considerados “estranhos”. “O caroço de algodão é muito usado pe-los produtores, principalmente para dieta de bovinos, na época da seca, na qual há maior incidência de confinamentos”, ex-plica Mariana.

Por isso, muitos pesquisadores estão se dedicando a estudos para saber se seria a melhor opção para a produção animal em relação à qualidade da carne. Neste senti-do, a autora do estudo espera em um pro-jeto de doutorado investigar melhor esta questão, uma vez que a diferença na análise sensorial foi significativa, indicando que o sabor da carne pode ser diferente.

A escolha da soja, algodão e girassol se deu pelo fato de serem fontes encontradas facilmente no país. O girassol e a soja, por

adição de grãos de soja, na ali-mentação de cordeiros, pode

melhorar a qualidade da carne

Adição de grão de soja na dieta de cordeiro deixa carne mais saudável

PublicaçõesDissertação: “Efeitos de rações con-tendo oleaginosas (soja, girassol ou al-godão) nas características da carne (M. Longissimus) de cordeiros”Autora: Mariana Masson GuizzoOrientador: Pedro Eduardo de FelícioUnidade: Faculdade de Engenharia de Alimentos (FEA)Financiamento: CNPq

Mariana Guizzo , autora do estudo: “Os ruminantes tendem a ter maior concentração de gordura saturada”

Gislaine Cristina Villela Araújo, autora da dissertação: questionário e análise de plantas

Região de condomínios de alto padrão em Campinas: áreas de lazer valorizam o imóvel

Foto: Antonio Scarpinetti

Foto: Antonio Scarpinetti

exemplo, são produzidas em grandes quan-tidades, além de possuírem altos teores de gordura “boa”. Já a semente de algodão é um subproduto da indústria com baixo custo para o produtor e utilizada em larga escala por alguns produtores pela sua via-bilidade econômica. “O teor de gordura e a composição de ácidos graxos da carne as-sumem, atualmente, um papel importante na cadeia produtiva sob influência das exi-gências do mercado consumidor”, destaca Mariana Guizzo.

Experimentos feitos na FEA resultaram em teores mais baixos de gorduras saturadas

Pesquisa mostra que, quanto maior o poder aquisitivo, menor o uso de espaços

Ainda que não utilizem frequentemente e o custo para a manutenção destes ambien-tes seja alto, os moradores afirmaram que o fato de existir os espaços comuns valoriza o imóvel. “Eles têm consciência de que os valores e benefícios implicam diretamente no montante de venda ou locação do apar-tamento e, por isso, acreditam que vale a pena ter uma área comum, ainda que obso-leta”, esclarece Gislaine. Por outro lado, o estudo mostrou que as famílias estudadas de menor renda em que o número e metra-gem dos espaços coletivos eram mais redu-zidos, fazem uso mais intenso e frequente das áreas comuns. Elas gostariam que o condomínio oferecesse um maior número de espaços livres e equipamentos de lazer por acreditarem ser importante para a qua-lidade de vida e facilitar o convívio com os

do Gislaine, as análises apontam ainda que as tendências de programas de necessidades e configurações espaciais de acordo com a intensidade, diversidade de público e da sa-tisfação pelos moradores devem ser consi-derados em futuros projetos habitacionais com espaços livres comuns. (R.C.S.)

vizinhos. Infelizmente, são os locais de pior qualidade e de área e atividades reduzidas.

A pesquisa realizada por Gislaine Araú-jo contemplou as respostas de um questio-nário de 64 famílias que residiam nos três condomínios estudados. A amostragem foi dividida em casos 1, 2 e 3, ou seja, de acordo com a faixa salarial dos moradores de cada condomínio. No caso 1 e 3, a renda corres-pondia entre R$ 3 mil e 6 mil e, no caso 2, a renda dos moradores, em sua maioria, era superior a R$ 6 mil. Além do questionário, a arquiteta também colheu depoimentos pes-soais por meio de entrevistas e fez o levanta-mento e análise das plantas e documentação do condomínio. “Os resultados indicam que há programas e apropriações distintas dos ambientes comuns, de acordo com a faixa econômica dos moradores”, explica. Segun-

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9Campinas, 11 a 17 de março de 2013

Tese desvenda ação de endotoxinas em infecções na polpa dentária

Estudo da FOP foi contemplado com o Prêmio Capes na área de odontologia

CARMO GALLO [email protected]

professora Brenda Paula Figueiredo de Almeida Gomes, da área de endodontia – especialidade

da área de odontologia responsável pela pre-venção, tratamento e eliminação da dor de origem pulpar (do nervo) e periapical (da

extremidade da raiz do dente) – da Faculdade de Odon-tologia de Piracicaba (FOP) da Unicamp, tem se sentido particularmente gratificada com os resultados obtidos por seus orientados. Com efeito, desde 2007 eles vêm sendo aquinhoados com os prêmios Capes de teses e recebendo menções honrosas. O Prêmio Capes de Teses e o Grande Prêmio Capes de Tese foram instituídos com o objetivo de outorgar distinção às melhores pesquisas de doutorado de-fendidas e aprovadas nos cursos reconhecidos pelo MEC, com base nos quesitos originalidade e qualidade.

Na edição de 2012, o vencedor do Prêmio Capes de Te-ses na área de odontologia foi o cirurgião dentista Frederi-co Canato Martinho, que investigou o papel das endotoxi-nas nas infecções endodônticas – assim chamadas porque desenvolvidas na polpa dentária. A pesquisa envolveu o emprego de diferentes manobras endodônticas – tais como uso de técnicas e de substâncias específicas – utilizadas na redução ou eliminação dos micro-organismos e endotoxi-nas e também o monitoramento do potencial inflamatório dessas endotoxinas, que se manifesta através da produção de quimiocinas e citocinas pró-inflamatórias. Com efeito, as bactérias gram-negativas possuem em sua membrana externa as endotoxinas, as quais são capazes de estimular células a produzirem citocinas pró-inflamatórias envolvi-das na destruição tecidual periapical.

De acordo com a professora Brenda, diferentemen-te dos trabalhos apresentados na literatura endodôntica, a pesquisa teve como objetivos não só identificar o perfil infeccioso da doença endodôntica, mas avaliar simultane-amente a atividade endotóxica e o potencial inflamatório do conteúdo endodôntico frente a diferentes protocolos de tratamento preconizados por profissionais da área.

Tratou-se de uma pesquisa clínica, portanto envolvendo pacientes, integrada à imunobiologia celular, que utilizou diversos métodos de identificação microbiana, de detecção e quantificação de endotoxinas e de monitoramento de ci-tocinas pró-inflamatórias. Os dados obtidos permitiram estabelecer uma conexão entre os resultados laboratoriais e os aspectos clínicos dos pacientes: quanto maior a carga de endotoxinas, maior a resposta inflamatória, maior a dor e consequentemente a severidade da doença.

Os resultados do trabalho apontam para a necessidade da adoção de uma terapia endodôntica contemporânea mais efi-caz, baseada na erradicação da infecção, tanto dos micro-orga-nismos, que envolve o aspecto microbiológico, como das en-dotoxinas deles provenientes. A professora esclarece que isso é necessário porque “o conteúdo infeccioso dos canais radicu-lares mostrou-se de grande complexidade e com alto potencial inflamatório, capaz de promover a destruição tecidual”.

Encerrando um ano particularmente feliz, a professora Brenda acaba de receber também o Prêmio de Reconhe-cimento Acadêmico “Zeferino Vaz”, conferido anualmente pela Unicamp, como premiação ao desempenho acadêmi-

professora Brenda Paula Figueiredo de Almeida Gomes, da área de endodontia – especialidade

da área de odontologia responsável pela pre-

co excepcional, a professores que se tenham destacado nas funções de docência e pesquisa.

CAMINHADAA docente considera que a conquista de seu orientado é

uma premiação de sua caminhada. Nos dois últimos anos, Frederico publicou sete artigos no Journal of Endodontics em que comparou níveis de endotoxinas com as infecções; rela-cionou os níveis de endotoxinas e grau de destruição de teci-dos via citocinas; investigou o potencial inflamatório em rela-ção à presença de bactérias gram-negativas; validou testes de quantificação de endotoxinas; avaliou técnicas modernas de instrumentação de canais radiculares em conjunto com a uti-lização de substancias auxiliares; investigou endotoxinas em dentes infectados e a presença de bactérias gram-negativas e seu potencial inflamatório; comparou o uso do hipoclorito de sódio e da clorexidina, presente em certos enxaguatórios bu-cais, na eliminação de endotoxinas, assim como o uso de uma irrigação final com EDTA. Nesse mesmo período, ele recebeu dez prêmios acadêmicos, 70% deles como primeiro colocado.

Para o desenvolvimento das pesquisas, Frederico se valeu de diversas parcerias nacionais e internacionais. Trabalhou em colaboração com Joni Augusto Cirelli, atualmente pro-fessor assistente da Unesp de Araraquara; com Fábio Re-nato Manzoli Leite, hoje professor adjunto da Universidade Federal de Pelotas; com Wanderson Miguel Maia Chiesa, es-pecialista, mestre e doutor em endodontia. No exterior es-tagiou com o professor Richard Darveau, do Departamento de Periodontia, da Universidade de Washington em Seattle, WA, EUA, e com o professor Donald Sodora, do Departa-mento de “Global Health”, desta mesma universidade.

A orientadora considera que os resultados obtidos por Frederico trouxeram respostas a vários questionamentos e geraram outros que deverão impulsionar futuras investiga-ções dentro da linha de pesquisa desenvolvida. Ele mesmo, em programa de bolsa de pós-doutorado do CNPq, ainda orientado pela professora Brenda, se dedica à “Avaliação da antigenicidade do conteúdo endodôntico de canais radicu-lares com infecções endodônticas primárias e lesões peria-picais”, estas últimas assim chamadas porque envolvem os tecidos que cercam a extremidade terminal da raiz do dente.

Atuando hoje como professor assistente da Unesp de São José dos Campos (FOSJC), o pesquisador vê a premiação como incentivo e excelente oportunidade de dar sequência à sua linha de pesquisa – microbiologia aplicada à endodon-tia – junto aos programas de pós-graduação da Unicamp e da Unesp, contribuindo para a produção científica nacional.

TRATAMENTOO dente, preso ao tecido ósseo através do ligamento pe-

riodontal, é composto por coroa e raiz, que na parte interna são constituídas pela polpa, um tecido orgânico altamente inervado e vascularizado. Esse tecido pode vir a ser infecta-do por bactérias que existem na cavidade oral, que podem chegar até ele principalmente através da cárie dental. O tra-tamento de endodôntico (de canal), além de remover a pol-pa deve eliminar também micro-organismos e endotoxinas presentes nas bactérias gram-negativas. Sem esse tratamen-to a infecção vai se disseminando até a parte terminal do dente, a região apical, manifestando-se de forma aguda nos

tecidos periapicais (fora do dente), que correspondem à par-te de suporte do dente. Se não houver tratamento, há possi-bilidade de ocorrer uma disseminação sistêmica do processo infeccioso, que pode levar à morte, em consequência da pro-ximidade do forame apical com os vasos sanguíneos.

Em um canal infectado existem principalmente restos de polpa morta, micro-organismos e endotoxinas. Esse conjunto microbiano/endotóxico exerce uma ação nos tecidos periapi-cais gerando uma resposta imune/inflamatória provocada por um grupo de citocinas. Em decorrência, o conhecimento do conteúdo infeccioso/endotóxico dos canais radiculares e das citocinas inflamatórias na região periapical é importante para o estabelecimento de estratégias de tratamento.

Para Frederico, a pesquisa mostrou que o tratamento en-dodôntico contemporâneo – que se vale de sistemas auto-matizados para instrumentação dos canais e do emprego de substâncias auxiliares – é eficaz na remoção deste conteúdo microbiológico/endotóxico com a utilização de uma única sessão, desde que observadas algumas condições prévias de caráter eminentemente técnico prescritas nos protocolos.

A professora Brenda ressalta que foram comparados di-ferentes métodos de quantificação de endotoxinas, alguns de emprego inédito na endodontia, embora de uso corrente em outras áreas de saúde, o que permitiu validar os que melhor se aplicaram nas infecções endodônticas presentes nas amostras coletadas. Para ela, essa validação, que nunca tinha sido feita na área endodôntica e foi publicada no Jour-nal of Endodontics, serve de diretriz para estudos futuros.

Outra abordagem inédita realizada pelo pesquisador foi a avaliação de protocolos clínicos eficazes na redução/eli-minação de endotoxinas dos canais radiculares que permi-tem um pós-operatório mais favorável, acelerando o reparo tecidual. Foram então comparadas as eficácias das técnicas manuais e rotatórias de instrumentação dos canais radi-culares e também de diferentes substâncias químicas, de uso na clínica endodôntica, em relação às suas atividades antimicrobianas e endotóxicas.

A professora Brenda destaca ainda no trabalho a ava-liação da antigenicidade do conteúdo infeccioso, ou seja, o que está dentro do canal é capaz de estimular uma resposta inflamatória na região periapical do dente. A propósito, ela diz que não havia na literatura trabalhos que caracterizas-sem simultaneamente a infecção presente nos canais radi-culares sob os aspectos microbiológicos, endotóxico e do potencial inflamatório. “Os resultados mostram que a an-tigenicidade do conteúdo endotóxico não está relacionada somente com o nível de endotoxinas, mas também com o número de diferentes espécies de bactérias gram-negativas envolvidas na infecção”, acrescenta.

PublicaçõesTese: “Estudo microbiológico e de endotoxinas de ca-nais radiculares com infecções endodônticas primárias e avaliação da antigenicidade do conteúdo infeccioso contra macrófagos na produção de citocinas pró-infla-matórias”Autor: Frederico Canato Martinho Orientadora: Brenda Paula Figueiredo de Almeida GomesUnidade: Faculdade de Odontologia de Piracicaba (FOP)

A professora Brenda Paula Figueiredo de Almeida Gomes (à direita, em pé), orientadora da pesquisa, acompanha atendimento na FOP ao lado do cirurgião dentista Frederico Canato Martinho, autor da tese: quanto maior a carga de endotoxinas, maior a resposta infl amatória

Fotos: Antonio Scarpinetti

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10Campinas, 11 a 17 de março de 2013

Unicamp inaugura LaCTADUnidade multiusuário vai reunir equipamentos de última geração

MANUEL ALVES [email protected]

A Unicamp inaugurou no último dia1° o seu Laboratório Central de Tecnologias de Alto Desempenho (LaCTAD), unidade multiusuário que reúne equipamentos de última geração destinados a análises nas áreas de Genômica, Bioinformática, Prote-ômica e Biologia Celular. A cerimônia de entrega das instalações físicas do laborató-rio contou com a presença do reitor Fer-nando Ferreira Costa e do diretor científico da Fundação de Amparo à Pesquisa do Es-tado de São Paulo (Fapesp), Carlos Henri-que de Brito Cruz.

Durante a inauguração, o pró-reitor de Pesquisa da Unicamp, Ronaldo Pilli, lembrou que antes mesmo da conclusão do prédio do laboratório os equipamentos já estavam em operação, descentralizados nas unidades de ensino e pesquisa. “Agora, vamos reuni-los aqui, onde ficarão à disposição dos pesqui-sadores da Universidade e de outras institui-ções do país”. O objetivo do LaCTAD, des-tacou Pilli, é apoiar as pesquisas em áreas estratégicas das ciências da vida, tendo por princípios a otimização do uso das tecnolo-gias e a racionalização dos custos. “Isso ainda é relativamente novo no Brasil, mas comum na Europa e Estados Unidos”.

O diretor científico da Fapesp, entidade que investiu cerca de R$ 5,5 milhões na compra dos equipamentos para o labora-tório – a construção do prédio e a contra-tação dos funcionários ficaram a cargo da Unicamp -, manifestou a sua satisfação por participar da entrega do LaCTAD. “A Fa-pesp tem desafiado as instituições de pes-

quisa a mudar o patamar de utilização dos seus equipamentos. Não faz sentido ter uma máquina em cada unidade ou órgão. É preciso aumentar a eficiência do uso dessas tecnologias. Nesse sentido, o modelo ado-tado pela Unicamp é exemplar”, afirmou.

Em sua fala, Fernando Costa conside-rou que todo investimento em laboratório é importante. “Nós não estamos inventando nada com a criação do LaCTAD. Esse mode-lo existe no mundo todo, nas boas universi-dades. No Brasil, porém, ele ainda é pouco difundido”, lembrou. Apesar disso, conti-nuou o reitor, a tendência é que esse mo-delo seja multiplicado pelo país, em razão das vantagens que ele proporciona. “Além

de atender às necessidades dos pesquisado-res, o laboratório multiusuário reduz custos com insumos, manutenção e pessoal espe-cializado para operá-lo. É assim que se faz ciência de qualidade no mundo todo”.

Ainda segundo o reitor, antes mesmo de ser inaugurado oficialmente, o LaCTAD já começa a trazer consequências positivas para a Unicamp. “A Universidade assinou dois convênios importantes por causa da exis-tência do laboratório. Uma das parcerias foi firmada com a Embrapa e outra, com o Insti-tuto Politécnico de Madrid. Tenho certeza de que esta unidade será muito útil para as pes-quisas nas áreas contempladas e dará um im-portante impulso à ciência do país”, analisou.

Descerramento da placa durante a inauguração, no último dia 1º: pesquisas em áreas estratégicas

HISTÓRICOA proposta de criação do LaCTAD foi

submetida ao edital do Programa de Equi-pamentos Multiusuários da Fapesp em 2009. Em 2010, ela foi aprovada e, no ano seguinte, foi iniciada a oferta de serviços, com as tecnologias instaladas provisoria-mente nas unidades de ensino e pesqui-sa. Os equipamentos têm capacidade para realizar inúmeros procedimentos, tais como análise de sequenciamento de DNA e RNA, montagem de genomas, análise de microscopia confocal e purificação de pro-teínas, entre outros. O LaCTAD dispõe de um Conselho Científico de Administração formado por especialistas da Unicamp, que respondem pela supervisão geral das ativi-dades do laboratório. São eles que estabele-cem diretrizes e metas, por exemplo.

As informações sobre os serviços pres-tados pelo LaCTAD podem ser obtidas por meio do site do laboratório, neste endere-ço: http://www.lactad.unicamp.br. Pedidos de orçamento e agendamentos também podem ser feitos via web. Os custos das análises cobrirão somente as despesas cor-rentes, como insumos e manutenção dos equipamentos. O instrumental do labo-ratório está à disposição de qualquer pes-quisador do país, conforme determinam os critérios estabelecidos pela Fapesp. No próximo mês de maio, o laboratório pro-moverá, também com o apoio da Fapesp, um workshop internacional que trará reno-mados especialistas de vários países. Eles tratarão de diferentes temas relacionados com as áreas de atuação da unidade.

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Fórum de empreendedorismo e inovação - “Comporta-mento humano. afi nal, quem é seu cliente?”. Este é o tema do Fórum a ser realizado no dia 11 de março, às 9 horas, no Centro de Convenções. A organização é do Núcleo das Empresas Juniores da Unicamp. Inscrições e outros detalhes podem ser obtidos no link http://foruns.bc.unicamp.br/foruns/projetocotuca/forum/htmls_descricoes_eventos/evento45.html ou telefone 19-3521-4759. Aulas internacionais em Agroecologia - De 11 a 15 de março serão realizadas na Unicamp Aulas Abertas em Agroecologia, dentro da programação da semana presencial do II Curso de Experto universitário en Soberania Alimentária y Agroecologia Emergente, parceria da Unicamp e outras instituições com a Universidad Internacional de Andalucia. Os interessados podem inscrever-se gratuitamente pelo site da Rede de Agroecologia da Unicamp http://www.cisguana-bara.unicamp.br/rau. Organizador: Rede de Agroecologia da Unicamp e Programa de Extensão em Agroecologia da Unicamp Site do evento: www.cisguanabara.unicamp.br/rau. Mais detalhes: 19-3235-1566 Programa de Bolsas Cargill Global Scholars - A Coor-denadoria de Relações Institucionais e Internacionais (Cori) organiza palestra informativa aos alunos de graduação sobre o Programa de Bolsas Cargill Global Scholars, na qual serão apresentados os requisitos de elegibilidade e benefícios das bolsas oferecidas para estudantes de graduação em diversas áreas do conhecimento. A palestra ocorre no dia 11 de março, às 12 horas, no Auditório da Biblioteca Central “Cesar Lattes” (BC-CL). Mais informações: 19-3521-7145. Aula magna do curso de História - No dia 13 de março, às 10 horas, no Auditório do Instituto de Filosofi a e Ciências Humanas (IFCH), acontece a aula magna do Curso de História com o tema “História, Verdade e Ética “. Ela será ministrada pela historiadora Margareth Rago, professora titular do Departamento da História da Unicamp. Seu mais recente livro, “A aventura de contar-se: feminismos, escrita de si e invenções da subjetividade”, tem lançamento previsto para agosto deste ano pela Editora da Unicamp. Brito Curz em aula inaugural do Nepam - A aula inaugural do Programa de Doutorado em Ambiente e Sociedade do Núcleo de Estudos e Pesquisas Ambientais (Nepam) será ministrada por Carlos Henrique de Brito Cruz, diretor científi co da Fapesp e ex-reitor da Unicamp. O evento acontece no dia 13 de março, às 14 horas, no auditório do Nepam. Brito Cruz fala sobre “Alguns

Desafi os e Oportunidades em Pesquisa Ambiental Hoje”. Fórum de ciência e tecnologia - Com o tema “Centros de Recursos Biológicos: Alicerces para a Bioeconomia Mundial”, o Fórum Permanente de Ciência e Tecnologia acontece no dia 14 de março, às 9 horas, no Auditório do Centro de Convenções da Unicamp. Programação, inscrições e outras informações no site http://foruns.bc.unicamp.br/foruns/projetocotuca/forum/htmls_descricoes_eventos/tecno60.html Histórias da literatura latina - O Instituto de Estudos da Linguagem (IEL), através de sua Secretaria de Extensão, recebe, até 14 de março, as inscrições para o curso Histórias da Literatura Latina I. Com carga horária de 30 horas, ele será ministrado aos sábados, das 14 às 17 horas, na Rua Sérgio Buarque de Holanda 571, no campus da Unicamp. O objetivo do curso é proporcionar uma introdução à literatura antiga e uma refl exão como sua história é narrada, particularmente sob o ponto de vista de alguns autores antigos sobre obras anteriores, coevas e sobre sua futura recepção. Público-alvo: interessados em literatura e cultura antiga em geral, estudan-tes e professores de literatura. Pré-requisito para participação: ensino fundamental. Mais informações: 19-3521-1520. Gestão estratégica da inovação tecnológica - O Instituto de Geociências (IG), através do Departamento de Política Científi ca e Tecnológica (DPCT), já está recebendo as inscri-ções para a 7ª turma do Curso de Especialização (modalidade extensão universitária) em Gestão Estratégica da Inovação Tecnológica. O curso está sob a coordenação do professor Ruy Quadros e compreende módulos sobre processos e ferramentas de gestão de tecnologia e inovação, incluindo a gestão da inovação aberta, sobre práticas organizacionais das empresas inovadoras, e sobre as políticas de inovação brasileira, incluindo os programas de incentivo a inovação no Brasil. Público-alvo: profi ssionais que atuam em posições de gerenciamento do processo de inovação tecnológica na empresa industrial ou de serviços, em especial nas áreas de P&D, Desenvolvimento de Produtos, Processos e Serviços, Desenvolvimento de Aplicações, Engenharia, Desenvolvimento de Novos Negócios, Marketing, Operações, Logística e Qualida-de. Gestores de instituições de pesquisa, públicas ou privadas, voltadas para a inovação tecnológica, e profi ssionais que atuam na formulação, implementação e avaliação de políticas públicas e programas de fi nanciamento da inovação tecnológica. O curso será realizado em 14 de março, no auditório da Agência para a Formação Profi ssional da Unicamp (AFPU). Programação, inscrições e outras informações na página eletrônica http://www.extecamp.unicamp.br/gestaodainovacao Implante coclear - Campinas sediará no dia 15 de março o evento Unicamp de Implante Coclear e Reabilitação Cirúrgica da Audição. Trata-se de uma oportunidade para entrar em contato com novas tecnologias, tratamentos e técnicas na área da Otorrinolaringologia. Focada na discussão de casos clínicos, a formatação do evento privilegiará as condutas que os otorrinolaringologistas e otologistas encontram no dia a dia da prática clínica. Os interessados podem se inscrever pelo site http://www.otorrinounicamp.org.br/eventos/cursos/eventos_detalhes.asp?cod=16. O encontro está marcado para as 7h30, no Departamento de Otorrinolaringologia do Hospital de Clínicas (HC) da Unicamp, seguindo até 17 horas. No dia seguinte, 16, programação médica acontece das 8 às 12 horas. Vagas limitadas. Mais informações pelo telefone 19-3521-7165 e pelo e-mail [email protected]. Tributo a James Hillman - Nos dias 15, 16 e 17 de março a Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp receberá, em seu maior auditório, profi ssionais de destaque em diferentes áreas como Filosofi a, Educação, Psicologia e Literatura, que estudaram, ouviram, conviveram e trabalharam com James Hillman, celebrando a vida e sua obra. O Tributo a James Hillman começará com a realização de um ritual de abertura na sexta-feira à noite, às 19 horas, especialmente criado por Maren Hansen. Logo após, o fundador da Pacifi ca Graduate Institute, Stephen Aizenstat, fará a palestra inicial. No sábado, o Tributo contará com palestras o dia todo, abordando a Psicologia Arque-típica, fundada por Hillman, em diversas áreas de interesse. Ao fi nal deste segundo dia, todos se reunirão numa homenagem mais íntima, emocionante, de duas horas de duração. Para esta homenagem, cada convidado contará um pouco de sua

relação com Hillman em textos mais pessoais. Em seguida, o fi lho de James Hillman, Laurence Hillman, apresentará uma palestra de uma hora sobre a vida de seu pai, sua ligação com ele e com a Astrologia Arquetípica. Programação: http://www.tributoahillman.com.br/programacao.htm Canarinhos da Terra - O Instituto Cultural Canarinhos da Terra está recebendo inscrições de jovens e crianças de 6 a 14 anos. No dia 16 de março o Canarinhos realiza o evento “Venha fazer música com a gente”, no Espaço Cultural Casa do Lago, das 8 às 12hs, onde promoverá apresentações, jogos e brincadeiras musicais aos interessados em participar do projeto. Os inscritos poderão participar (gratuitamente) dos cursos e ofi cinas de repertório, técnica vocal, performance, percussão, preparação corporal e direção cênica. Mais informações: telefones: 3249-0583 / 3579-0583 ou e-mail [email protected] Zíper na Boca - O Coral Zíper na Boca abre inscrições para novos coralistas. Elas podem ser feitas nos dias 10, 11,14 e 15 de março, das 12 às 14 horas, no Espaço Cultural Casa do Lago (rua Érico Veríssimo 1011), no campus da Unicamp. Não é necessário ter conhecimento de teoria musical. No ato da inscrição, o interessado passará por um teste vocal para avaliação de sua musicalidade e condição vocal. Arqueologia pública - A Revista de Arqueologia Pública (ISSN: 2237-8294), vinculada ao Laboratório de Arqueologia Pública Paulo Duarte (LAP/Nepam/Unicamp), está fazendo a chamada de trabalhos inéditos para o seu 7° número, julho de 2013. O periódico eletrônico tem como objetivo divulgar pesquisas que abordem temáticas da Arqueologia Pública, do Patrimônio e da Memória, constituindo-se como um espaço para diálogos de experiências teóricas e práticas. A submissão de trabalhos vai até 10 de março de 2013. As contribuições devem ser encaminhadas para: [email protected]. Para mais informações, consulte o endereço eletrônico: http://www.nepam.unicamp.br/arqueologiapublica/index.php?sessao=4

Engenharia Elétrica e de Computação - “Maximização da potência característica de linhas de transmissão” (mestrado). Candidato: Renan de Paula Maciel. Orientadora: professora Maria Cristina Dias Tavares. Dia 11, às 10 horas, no prédio da Pós-graduação da FEEC.“Algoritmos de equalização autodidata concorrente pré- e pós-FFT aplicados a sistemas OFDM” (doutorado). Candidato: Estevan Marcelo Lopes. Orientador: professor Dalton Soares Arantes. Dia 12, às 14 horas, na FEEC. Engenharia Química - “Produção de açúcar e etanol de primeira e segunda geração: simulação, integração energética e análise econômica” (doutorado). Candidata: Juliana Queiroz Albarelli. Orientadora: professora Maria Aparecida Silva. Dia 11, às 14 horas, na sala de defesa de teses do bloco D da FEQ. Odontologia - “Avaliação in vitro e in situ da técnica de microabrasão sobre a microdureza e morfologia do esmalte dental” (mestrado). Candidata: Núbia Inocencya Pavesi Pini. Orientador: professor José Roberto Lovadino. Dia 14, às 14 horas, na sala da Congregação da FOP. “Diagnóstico tomográfi co de fenestração e deiscência peri-implantar - estudo in vitro” (doutorado). Candidato: Sergio Lins de Azevedo Vaz. Orientador: professor Francisco Haiter Neto. Dia 14, às 14 horas, no anfi teatro 2 da FOP. Biologia - “Avaliação da toxicidade do difl ubenzuron e p-cloroanilina em indicadores bioquímicos de organismos não-alvo aquáticos” (mestrado). Candidata: Darlene Denise Dantzger. Orientador: professor Hiroshi Aoyama. Dia 13, às 9 horas, na sala de defesa de teses, prédio da CPG do IB.“Estudo do efeito do peróxido de hidrogênio nas atividades de duas fosfatases ácidas” (mestrado). Candidata: Camila Wielewski Leme. Orientador: professor Hiroshi Aoyama. Dia 14, às 9 horas, na sala de defesa de teses do prédio da CPG do IB.“Expressão ectópica de miR-34a em células de melanoma metastático humano: efeitos sobre vias de sinalização rela-

cionadas com sobrevivência, proliferação e morte celular” (doutorado). Candidata: Julia Laura Fernandes Abrantes. Orientadora: professora Carmen Veríssima Ferreira Halder. Dia 15, às 9h09, na sala IB-11 do prédio da CPG do IB.“O papel do receptor TRPA1 no desenvolvimento e manu-tenção da hiperalgesia induzida pela carragenia” (mestrado). Candidato: Ivan José Magayewski Bonet. Orientadora: professora Cláudia Herrera Tambeli. Dia 15, às 14 horas, na sala de defesa de teses, do prédio da CPG do IB. Computação - “Management of integrity constraints for multi-scale geospatial data” (mestrado). Candidato: João Sávio Ceregatti Longo. Orientadora: professora Claudia Maria Bauzer Medeiros. Dia 13, às 8h30, no auditório IC 2. Educação Física - “Futebol como projeto profissional de mulheres: interpretações da busca pela legitimidade” (doutorado). Candidato: Osmar Moreira de Souza Júnior. Orientadora: professora Heloisa Helena Baldy dos Reis. Dia 12, às 14 horas, no auditório da FEF. Estudos da Linguagem - “’Dubliners” / “dublinenses”: retraduzir James Joyce” (mestrado). Candidato: Omar Rodovalho Fernandes Moreira. Orientador: professor Fabio Akcelrud Durão. Dia 13, às 14 horas, no anfi teatro do IEL.“A tradução original” (mestrado). Candidato: Luís Fernando Protásio. Orientadora: professora Maria Viviane do Amaral Veras. Dia 13, às 14 horas, na sala dos colegiados do IEL.“Caos controlado: a tensão entre controle técnico e liberdade criativa em Mistérios e Paixões e Cidade de Deus” (douto-rado). Candidato: José Carlos Felix. Orientador: professor Fabio Akcelrud Durão. Dia 14, às 9 horas, na sala de defesa de teses do IEL.“Educação pela máscara: literatura e ideologia burguesa no Brasil (1844-1856)” (doutorado). Candidato: Rodrigo Soares de Cerqueira. Orientador: professor Francisco Foot Hardman. Dia 15, às 10 horas, na sala de defesa de teses do IEL. Filosofi a e Ciências Humanas - “Lógicas abstratas e o primeiro teorema de Lindström” (mestrado). Candidato: Edgar Luis Bezerra de Almeida. Orientadora: professora Itala Maria Loffredo D’Ottaviano. Dia 11, às 14h30, na sala de defesa de teses da CPG do IFCH. Física - “Estudo da adsorção de impurezas moleculares e caminhos de reação em nanofi os de ouro” (doutorado). Can-didata: Ana Paula Favaro Nascimento. Orientador: professor Edison Zacarias da Silva. Dia 15 de março de 2013, às 14 horas, no auditório do DFMC do IFGW. “Utilização da fMRS para o estudo da variação de N-acetil-aspartato e N-Acetil-Aspartil-Glutamato durante a ativação cerebral” (mestrado). Candidato: Ricardo Cesar Giorgetti Landim. Orientador: professor Gabriela Castellano. Dia 15, às 14 horas, no auditório da Pós-graduação, prédio D do IFGW. Química - “Estratégias quimiométricas aplicadas ao estudo de imagens químicas: novas possibilidades para caracteri-zação de produtos e processos farmacêuticos” (doutorado). Candidato: Guilherme Post Sabin. Orientador: professor Ronei Jesus Poppi. Dia 11, às 14 oras, no miniauditório do IQ.“Ecologia química de percevejos da família Phloeidae e Oxirredutase de Bacillus safensis isolado do petróleo” (doutorado). Candidata: Francine Souza Alves da Fonseca. Orientadora: professora Anita Jocelyne Marsaioli. Dia 12, às 9h30, no miniauditório do IQ.“Mercúrio: validação de método para determinação em peixe e camarão e avaliação da sua distribuição em tecidos de caranguejos e efeito da presença de selênio” (doutorado). Candidata: Daiane Placido Torres. Orientadora: professora Solange Cadores. Dia 13, às 9 horas, no miniauditório do IQ.“Resíduos de antibióticos tetraciclínicos em músculo de peixe: Comparação de diversos métodos de extração e avaliação por HPLC” (mestrado). Candidato: Eduardo Adilson Orlando. Orientadora: professora Ana Valéria Colnaghi S. Cantú. Dia 15, ás 14 horas, no miniauditório do IQ.“Abordagens para a síntese de bases esfi ngóides e análogos da bulgecinina. Enecarbamatos endocíclicos como substratos na organocatálise” (doutorado). Candidato: Pablo David Grigol Martínez. Orientador: professor Carlos Raque Duarte Correia. Dia 8, às 14 horas, na sala IQ-14.

Sinopse: Tomando por referência mais de 150 línguas e famílias linguísticas africanas, e usando dados reunidos em mais de 800 fontes, este volume trata de africanismos potencialmente presentes em todos os níveis linguísticos nas línguas crioulas do Atlântico. A exaustividade, a constante preocupação em confirmar os achados da análise estrutural pelos dados da história externa das línguas e a extrema clareza na defi nição dos conceitos-chave fazem deste trabalho uma referência necessária para todos os leitores interessados nas origens das línguas afro-americanas e afro-caribenhas. A solidez dos pontos de vista expressos sobre os propósitos da crioulística e a visão original sobre contato e infl uência linguística tornam esta obra uma leitura obri-gatória para todos os linguistas interessados em situações de contato e para os estudiosos de crioulos das mais variadas tendências.

Autor: Mikael Parkvall é professor no De-partamento de Linguística da Universidade de Estocolmo. Como pesquisador, é inter-nacionalmente conhecido por suas posições sobre os conceitos de crioulo e semicrioulo, sendo um dos principais expoentes da tese de que os crioulos podem ser reconhecidos, entre as línguas do mundo, pela presença de determinados traços estruturais. Escreve num estilo simples e cativante, alimentado por uma erudição fantástica, uma incessante interlocução com os principais autores do campo e uma convivência impressionante com a realidade local das sociedades criou-las. Atualmente, ele dirige o projeto Principia Creolica com o objetivo de demonstrar que os crioulos se originam em línguas pidgins e que essas línguas — contrariamente ao que tem se afi rmado — representam um caso pouco usual de evolução linguística.

Autor: Mikael ParkvallTradução: Rodolfo IlariFicha técnica: 1ª edição, 2012; 368 páginas Formato: 16 x 23 cm;ISBN Ed. Unicamp: 978-85-268-0986-4Área de interesse: LinguísticaPreço: R$ 46,00

Fotos: Antoninho Perri

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11Campinas, 11 a 17 de março de 2013

SILVIO ANUNCIAÇÃ[email protected]

Pesquisadores da Faculdade de Engenharia de Alimen-tos (FEA) da Unicamp obtiveram um extrato natural a par-tir da casca da jabuticaba, fruta nativa e abundante no país, bastante cultivada em pomares domésticos. O composto bioativo foi utilizado em alimentos com probióticos, como queijos petit suisse e iogurtes, desenvolvidos especifica-mente para o estudo. A utilização do extrato da jabuticaba nestes produtos possibilitou dois benefícios: aumento da sobrevida dos microrganismos probióticos e ação antioxi-dante natural, benéfica para a saúde.

Alimentos com probióticos são aqueles que possuem organismos vivos capazes de ajudar a manter o equilíbrio intestinal quando consumidos adequadamente. Entre os principais produtos, também considerados funcionais, es-tão alguns tipos de queijos, iogurtes e bebidas lácteas. Já os alimentos com função antioxidante natural retardam a for-mação de radicais livres no organismo, que podem causar o envelhecimento precoce e doenças degenerativas.

O estudo, de caráter interdisciplinar, foi desenvolvido pelos pesquisadores Rodrigo Nunes Cavalcanti e Adriano Gomes Cruz nos laboratórios de Separação Física (Lasefi) e de Embalagem e Estabilidade de Alimentos. A investiga-ção foi orientada pelos docentes Maria Angela de Almeida Meireles, do Departamento de Engenharia de Alimentos, e José Assis Fonseca Faria, do Departamento de Tecnolo-gia de Alimentos. A pesquisa foi financiada pelo Conse-lho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).

“Utilizamos uma tecnologia ecologicamente correta para obtermos este composto bioativo. Além disso, esta-mos apresentando um produto natural de alta qualidade e com duplo benefício à saúde por ter propriedade funcional e antioxidante”, destaca o engenheiro de alimentos Rodri-go Nunes Cavalcanti. Coube a ele a extração do composto a partir do resíduo da geleia da jabuticaba, processo que foi orientado pela professora Maria Angela Meireles.

“O diferencial em relação aos produtos convencionais é que, utilizando um resíduo da indústria de alimentos, ob-tivemos um extrato que prolonga a vida do microrganismo. Adicionalmente, ele oferece o benefício de ser um agente antioxidante, propriedade da casca da jabuticaba. Todos os elementos bioativos importantes para a ação antioxidante ficam retidos na casca, que antes era descartada”, reforça a docente da Unicamp.

NATURAIS X SINTÉTICOSA indústria alimentícia faz largo uso de antioxidantes

sintéticos para aumentar a vida útil dos seus produtos, explica Maria Angela Meireles. Só que, ao contrário dos naturais, eles podem estar associados a malefícios à saúde.

O composto, ainda de acordo com ela, não interfere no sabor nem na cor original do iogurte ou do queijo petit suisse, características próprias de um bom antioxidante. “Se o extrato for adicionado no iogurte ou no queijo, eles não vão ficar com sabor de jabuticaba. Utilizamos uma quantidade bastante pequena justamente para não interfe-rir nisso”, justifica a docente.

Maria Angela Meireles explicou também que o pesqui-sador Adriano Cruz, sob a coordenação do docente José Fonseca Faria, produziu um lote de iogurte e queijo para testes. Eles conduziram toda a análise sobre a interação do extrato com os probióticos.

Tanto no petit suisse como no iogurte foram utilizados dois tipos de microrganismos probióticos, o Lactobacillus acidophillus e o Bifidobacterium longum. Estes microrga-nismos atuam na restauração da flora intestinal e vêm sen-do muito empregados em produtos funcionais.

O engenheiro químico Adriano Cruz informa que é ne-cessária uma determinada quantidade na porção do pro-duto para que existam benefícios à saúde. O problema, no entanto, é que a presença de oxigênio se constitui em fator prejudicial à existência destes microrganismos, observa o pesquisador.

“Eles possuem metabolismo anaeróbio ou microaero-fílico. E o processo de fabricação do iogurte e queijo petit suisse envolve uma etapa de incorporação de ar. Este oxi-gênio que entra no produto pode, portanto, ser prejudicial à vida dos microrganismos. Ocorre o chamado estresse oxidativo”, esclarece.

Ainda de acordo com Adriano Cruz, o extrato da jabuti-caba foi adicionado nos dois produtos, sendo realizado um monitoramento das contagens de ambos os microrganis-mos ao longo de 28 dias.

Extrato da casca da jabuticabaprolonga a vida de probióticosComposto com ação antioxidante foi empregado em produtos como queijos e iogurtes

Outras substâncias tradicionalmente utilizadas para mi-nimizar o estresse oxidativo também foram utilizadas para comparar os resultados com o extrato da jabuticaba. Para esta verificação foram empregadas a cisteína, o ácido as-córbico e a glucose oxidase. “O extrato de jabuticaba apre-sentou desempenho superior a todas estas substâncias”, revela o engenheiro químico.

SITUAÇÕESOs resultados da interação dos probióticos com o queijo

e o iogurte se mostraram mais favoráveis em duas situa-ções: o extrato foi eficiente para prolongar a vida do Bifi-dobacterium no iogurte e do Lactobacillus no petit suisse.

“O objetivo da utilização do bioativo foi manter os micror-ganismos vivos por mais tempo para que, quando o produto for ingerido, ele tenha a sua ação desejada”, complementa Maria Angela Meireles. Nestas duas situações o extrato man-teve os microrganismos vivos durante 30 dias, tempo consi-derado apropriado para estes tipos de alimentos.

PROCESSOS LIMPOSA obtenção do composto da casca da jabuticaba foi rea-

lizada por meio de dois processos considerados ‘limpos’: a extração com fluido supercrítico e com líquido pressuriza-do. A técnica com fluido supercrítico consiste na utilização do dióxido de carbono (CO2) que em alta pressão se trans-forma em solvente.

Em alta pressão, o CO2 atinge densidade próxima de um líquido, o que facilita a extração dos compostos bioati-vos da matriz vegetal, no caso o resíduo da jabuticaba. “A extração por fluido supercrítico é geralmente mais rápida que a extração líquida e quando se usa o dióxido de carbo-no como solvente, muito mais ecológica”, pontua o pesqui-sador Rodrigo Nunes Cavalcanti.

Etanol e água também foram empregados em pequenas quantidades como solventes, em complemento à extração supercrítica. Este processo é conhecido como Extração com Líquido Pressurizado (PLE, do termo em inglês pres-surized liquid extraction).

PublicaçõesDoutorado: Extração de Antocianinas de Resíduo de Jabuticaba (Myrciaria cauliflora) utilizando líquido pressurizado e fluidoAutor: Rodrigo Nunes CalvacantiOrientadora: Maria Angela de Almeida MeirelesUnidade: Faculdade de Engenharia de Alimentos (FEA)

Pós-doutorado: Aplicação da Análise de Sobrevida para minimização do estresse oxidativo em iogurte probióticoAutor: Adriano Gomes CruzOrientador: José Assis Fonseca FariaUnidade: Faculdade de Engenharia de Alimentos (FEA

Financiamento: Conselho Nacional de Desenvolvi-mento Tecnológico e Científico (CNPq) e Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).

Além do benefício ecológico do uso do dióxido de car-bono, os processos permitem que os compostos extraídos fiquem livres de resíduos e solventes tóxicos. Os métodos convencionais fazem a extração sob baixa pressão utilizan-do grandes quantidades de solventes, deixando possíveis toxinas nos alimentos.

“O resíduo secundário da extração ainda é, posterior-mente, tratado no laboratório por meio de um processo que nós chamamos de hidrólise ou hidrotermólise. Deste modo, o resíduo da casca da jabuticaba pode ser emprega-do como matéria-prima em várias outras aplicações, como por exemplo, na produção de etanol de segunda geração”, ilustra a docente da Unicamp.

A matéria-prima utilizada no estudo foi obtida na cen-tenária fazenda Santa Maria, localizada no distrito de Jo-aquim Egídio, em Campinas. A fazenda é conhecida pela tradicional colheita de jabuticabas e pela produção de ge-leias. A pesquisa utilizou resíduos da jabuticaba oriundos da produção do doce da fruta.

A professora Maria Angela de Almeida Meireles, orientadora, e Rodrigo

Nunes Cavalcanti, autor da pesquisa de doutorado

Amostra de extrato da casca de jabuticaba: ação antioxidante natural

Foto: Antonio Scarpinetti

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De corpo e almaCampinas, 11 a 17 de março de 2013D12

MARIA ALICE DA [email protected]

A educadora e fotógrafa Paula Cabral e seus trabalhos distribuídos nesta página: “A intenção nunca foi ilustrar o trabalho de Hilda, mas sim conversar com o trabalho dela”

“Avassalador.” Assim a educadora e fotógrafa Paula Ca-bral define o encontro com o texto da escritora e poetisa brasileira Hilda Hilst durante sua pesquisa de mestrado, intitulada “Imagens da Poesia Erótica de Hilda Hilst”. O diálogo com a poesia de Hilda, presente no livro Do Desejo (2004), resultou em produto poético-fotográfico construído a partir de divergências, convergências, fu-sões e confusões entre os motivos pertinentes da obra da escritora e os da leitora. “A intenção nunca foi ilustrar o trabalho de Hilda, mas sim conversar com o trabalho dela, aproximando-me de seus temas”. A produção expe-rimental dialoga diretamente com fragmentos da poesia hilstiana e com as ideias e as construções sobre o desejo apresentadas por ela no livro.

A paixão pela força das palavras da escritora fez com que Paula mudasse o foco da pesquisa, que inicialmente seria um estudo sobre a relação entre texto e fotografia, com base na obra de outra escritora brasileira. A sugestão do orien-tador, Joaquim Brasil Fontes, foi imprescindível para que o trabalho extrapolasse a análise e despertasse, a cada poema composto por Hilda, o desejo de produzir imagens fotográ-ficas que dialogassem com elementos e fragmentos dessa poética. “A obra provocou um turbilhão de sentimentos.” E o envolvimento foi inevitável, segundo Paula.

Ao longo do conteúdo até as reflexões finais sobre a rela-ção entre autora e leitora, nota-se não somente o desejo de fazer poesia em fotos, mas o de fazer poesia em texto, como neste trecho da introdução: “Desejava-se o casamento entre fotos e palavras. Um casamento, entretanto, que fosse inten-so, apaixonado, com direito a todos os binômios que a paixão carrega. Enfim, para que se pudesse estabelecer uma conver-sa entre fotografia e literatura de forma expressiva, criativa e honesta, era preciso movimento interno. Fazia-se necessário que a palavra escrita explodisse durante a leitura, no desejo de ser também imagem. O boom fazia-se necessário, o caos, a desestabilização. Ora, não se queria algo morno. Depois de conhecer o inferno, o morno torna-se muito pouco.”

Paula esclarece que a pesquisa dialoga não somente com o livro, mas com a própria Hilda – seus amores, temores e dores –, porém, não é na organização poética hilstiana que a pesquisa se identifica para a produção de imagens, mas sim na desorganização. “Quando quebro seus poemas e sua lógi-ca é que me encontro expressivamente.” Segundo a autora, ao partir de fragmentos do pensamento e de sentimentos próprios da poetisa, sua poética ganha força e se constrói.

O olhar fragmentado encontrou fundamento na filosofia alemã do romantismo do primeiro período, já que os repre-sentantes dessa época defendem a fragmentação como for-ma de expressão poética, com foco no ser humano desorga-nizado diante do caos social, cultural e pessoal.

Paula permitiu-se “profanar” a escritura de Hilda. Não no sentido de desrespeitar, mas sim de apresentar suas próprias questões ao dialogar com algo que pertence ao mundo sagrado dos grandes escritores. “Giorgio Agambem define a profanação como uma situação de restituição ao uso humano de algo que antes que só pertencia ao mundo dos deuses. É nesse sentido que me senti profanando a obra de Hilda”, explica Paula.

O texto de George Bataille na obra “O erotismo” (1957) ajuda a compreender a lógica que perpassa os temas do livro e a poética do desejo de Hilda, segundo Paula. A pesqui-sadora percebe em sua poesia um conflito e uma comple-mentaridade entre o “erotismo dos corpos” e o “erotismo sagrado”, categorias definidas pelo teórico. Essas categorias são pontos centrais na análise de Paula.

O místico e o sagrado são enfatizados nos textos do livro, que, na opinião de Paula, pode ser explicado pelas experiên-cias pessoais e religiosas de Hilda na infância e na adolescên-cia, ou até mesmo pela personalidade questionadora. A poéti-ca hilstiana, segundo Paula, exprime o desejo de continuidade do ser humano com o sagrado, com o outro e com o universo. Versa sobre a degradação humana a partir da passagem do tempo e sobre a morte, clamando por tal continuidade. Co-loca erotismo e sagrado no mesmo lugar e cria figuras e ima-gens para se referir ao Divino (Tempo, Nada, entre outros). “Por muitas vezes, em entrevistas, Hilda Hilst afirmou que nunca se conformara com o fato de a morte levar a um nada e tudo o que se sentiu, se experienciou e se viveu acabar em pó. Então, é fundamentalmente na percepção de degradação do corpo, da experiência e da vida que nasce a busca-embate da poetisa com e por um Deus que a livre dos males da ausência e dos males do fim. Um Deus que se funde e se confunde com a ideia do erotismo batailliano; uma referência clara na poética de Hilda Hilst”, afirma Paula.

A fotógrafa acrescenta que em algum momento de seu texto, Bataille também afirma que a poesia seria uma subs-tituta para a experiência erótica. “Ele dizia que a poesia leva à eternidade, à morte, à continuidade. Diante disso, pode-se concluir que o sujeito poético hilstiano conseguiu perpassar todas as formas do erotismo de Bataille”, explica Paula.

A maior evidência do sagrado é encontrada no último conjunto poético do livro, “Sobre sua grande face” (1986), em que ela encerra reafirmando o foco de sua poética: [Meu negócio é com Deus]. O desejo, porém, pode não ser inter-pretado como uma busca por Deus. Até porque Hilda nunca se assumiu em seu eu lírico. Ainda que fosse, Paula prefere deixar claro que a procura transcende qualquer religiosida-de. A busca é mais de ordem filosófica e mítica, mas perpas-sa dores e prazeres carnais.

Em alguns momentos, a escritora cai em outras catego-rias de Bataille, como o erotismo dos corações, em que o outro é tratado como parte de si mesmo. Quando parte para o erotismo sagrado nunca chega onde deseja, então se rebela e vai para o erotismo físico. Às vezes, assume o papel divino, outras, encontra o divino em seu amante humano, segundo a pesquisadora.

Hilda chama de alma o que Bataille trataria de experiên-cia interior, o mais profundo que há no ser humano. Hilda joga com ambivalências e dualidades. Seu delírio desejante, segundo Paula, consiste na mistura da carne e do espírito, do corpo e da alma, que não se opõem, e sim complemen-tam-se e entrelaçam-se. As construções e as figuras poéti-cas, porém, obedecem ao repertório cultural erudito e vasto, sendo representadas pela subjetividade e criação simbólica.

O encontro com Hilda foi capaz de mudar alguns valores de ordem literária, ao mesmo tempo em que despertou o interesse por novas linguagens. “Hilda mudou minha rela-ção com a poesia”, reforça a fotógrafa, que confessa nunca ter tido contato com um texto tão forte, denso e provocador.

A Casa do Sol, situada em Barão Geraldo, Campinas, São Paulo, perdeu sua única habitante humana em 4 de fevereiro de 2004. Por um tempo, os habitantes da chácara foram as dezenas de cães e gatos “responsáveis” por sua escolta. Lo-cal onde escreveu cerca de 40 livros, a chácara, na qual Hilda Almeida Prado Hilst viveu por 40 anos, hoje funciona como centro cultural. A Casa do Sol passou a ser seu endereço em 1966, quando vivia com o escultor Dante Casarini.

A bela mulher que despertou muitas paixões era gradu-ada em Direito, mas sempre se dedicou à literatura, decisão que lhe rendeu o Prêmio Moinho Santista de 2002, na ca-tegoria poesia, e o Grande Prêmio da Crítica da Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA). Também foi agraciada com o Prêmio Pen Club São Paulo pelo livro “Sete cantos do poeta para anjo”, em 1962. “Cantares de perda e predileção” foi contemplado com os prêmios Jabuti e Casiano Ricardo.

Hilda participou, em 1982, do Programa Artista Resi-dente da Unicamp. Em 1994, seu arquivo pessoal foi ad-quirido pelo Centro de Documentação Alexandre Eulálio (Cedae) da Unicamp.

PublicaçãoDissertação: “Imagens da Poesia Erótica de Hilda Hilst”Autoria: Paula Cabral Orientação: Joaquim Brasil FontesUnidade: Faculdade de Educação (FE)

Foto: Antonio Scarpinetti

Fotos: Paula Cabral