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IMPRESSO ESPECIAL 9.91.22.9744-6-DR/SPI Unicamp/DGA CORREIOS FECHAMENTO AUTORIZADO PODE SER ABERTO PELA ECT www.unicamp.br/ju ornal U ni camp da Campinas, 10 a 16 de dezembro de 2012 - ANO XXVI - Nº 549 - DISTRIBUIÇÃO GRATUITA J 7 3 6 Pedras sob o pontilhão Arte para internas VULNERABILIDADE O biomédico Tiago Gomes Araújo investigou a participação do hormônio HGF, produzido principalmente pelo fígado, na resistência à insulina e no desencadeamento do diabetes. A pesquisa, orientada pelo professor Mario Saad, rendeu artigo na revista norte-americana Endocrinology. Um elo na gênese do diabetes 2 4 5 Para não errar o local da anestesia Citricultura muda perfil de famílias Proteína que causa alergia é modificada Imagem: shc.hu Foto: Bansky

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Jornal da Unicamp, edição 549

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Page 1: JU549

IMPRESSO ESPECIAL9.91.22.9744-6-DR/SPIUnicamp/DGACORREIOS

FECHAMENTO AUTORIZADOPODE SER ABERTO PELA ECTwww.unicamp.br/ju

ornal UnicampdaCampinas, 10 a 16 de dezembro de 2012 - ANO XXVI - Nº 549 - DISTRIBUIÇÃO GRATUITA

J

7

3

6 Pedras sob o pontilhãoArte para internas

VULNERABILIDADE

O biomédico Tiago Gomes Araújo investigou a participação do hormônio HGF, produzido principalmente pelo fígado, na resistência à insulina e no desencadeamento do diabetes. A pesquisa, orientada pelo professor Mario Saad, rendeu artigo na revista norte-americana Endocrinology.

Um elo na gênese do diabetes

2 4 5Para não errar olocal da anestesia

Citricultura mudaperfil de famílias

Proteína que causaalergia é modificada

Imagem: shc.hu

Foto

: Ban

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UNICAMP – Universidade Estadual de CampinasReitor Fernando Ferreira CostaCoordenador-Geral Edgar Salvadori De DeccaPró-reitor de Desenvolvimento Universitário Roberto Rodrigues PaesPró-reitor de Extensão e Assuntos Comunitários João Frederico da Costa Azevedo MeyerPró-reitor de Pesquisa Ronaldo Aloise PilliPró-reitor de Pós-Graduação Euclides de Mesquita NetoPró-reitor de Graduação Marcelo KnobelChefe de Gabinete José Ranali

Elaborado pela Assessoria de Imprensa da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Periodicidade semanal. Correspondência e sugestões Cidade Univer-sitária “Zeferino Vaz”, CEP 13081-970, Campinas-SP. Telefones (019) 3521-5108, 3521-5109, 3521-5111. Site http://www.unicamp.br/ju. E-mail [email protected]. Twitter http://twitter.com/jornaldaunicamp Assessor Chefe Clayton Levy Editor Álvaro Kassab ([email protected]) Chefi a de reportagem Raquel do Carmo Santos ([email protected]) Reportagem Carmo Gallo Neto Isabel Gardenal, Maria Alice da Cruz e Manuel Alves Filho Editor de fotografi a Antoni-nho Perri Fotos Antoninho Perri e Antonio Scarpinetti Coordenador de Arte Luis Paulo Silva Editor de Arte Joaquim Daldin Miguel Vida Acadêmica Hélio Costa Júnior Atendimento à imprensa Ronei Thezolin, Patrícia Lauretti e Jaqueline Lopes. Serviços técnicos Dulcinéa Bordignon Everaldo Silva Impressão Pigma Gráfi ca e Editora Ltda: (011) 4223-5911 Publicidade JCPR Publicidade e Propaganda: (019) 3327-0894. Assine o jornal on line: www.unicamp.br/assineju

Campinas, 10 a 16 de dezembro de 20122

Fotos: Antoninho Perri

PublicaçãoDissertação: “Estimulador automático de nervos em auxílio à realização de bloqueio plexo nervoso”Autor: Carlos Alexandre FerriOrientador: Antônio Augusto Fasolo Que-vedoUnidade: Faculdade de Engenharia Elétri-ca de Computação (FEEC)Financiamento: Capes

Equipamento, que emite sinal sonoro, atenua riscos e efeitos colaterais causados pelo procedimento

SILVIO ANUNCIAÇÃO

[email protected]

m pequeno aparelho digi-tal desenvolvido na Uni-camp traz nova perspec-tiva para atenuar riscos e efeitos colaterais das anestesias regionais, am-

plamente empregadas em pequenas e médias cirurgias de membros. Trata-se de um estimulador de nervos, controlado por um microprocessador e conectado a uma agulha. O equipamento emite um sinal sonoro, que indica ao médico o lo-cal exato a ser anestesiado.

Nas cirurgias de membros, quando se faz o uso da técnica regional, o anesté-sico é injetado próximo ao conjunto de nervos, inibindo o estímulo de dor. A imprecisão nestes casos pode levar desde a perfuração do nervo em condições ex-tremas, até a sensações de formigamento e paralisia parcial, devido a altas quanti-dades de anestésicos.

O protótipo, ainda em fase de testes, foi criado pelo engenheiro eletricista Car-los Alexandre Ferri como parte de seu estudo de mestrado defendido junto ao programa de pós-graduação da Faculda-de de Engenharia Elétrica e de Computa-ção (FEEC) da Unicamp.

O aparelho foi desenvolvido no la-boratório do Centro de Engenharia Bio-médica (CEB), sob a orientação do pro-fessor da FEEC Antônio Augusto Fasolo Quevedo. A Coordenação de Aperfeiçoa-mento de Pessoal de Nível Superior (Ca-pes) financiou a pesquisa. Houve tam-bém apoio da multinacional Freescale, que cedeu os microprocessadores usados no projeto.

DIFERENÇASJá existem aparelhos comerciais de

estimulação de nervos para o auxílio em anestesias regionais, informa o pesquisa-dor da Unicamp, Carlos Alexandre Ferri. Assim como o equipamento proposto, eles são usados alternativamente ao mé-todo tradicional, cuja localização dos ner-vos é realizada manualmente, pelo tato.

A diferença entre eles é que, pela pri-meira vez, o sistema foi criado de modo totalmente automatizado. Isto permite, segundo o engenheiro, que o equipa-mento tenha uma precisão dez vezes maior quando comparado aos conven-cionais. Além disso, a praticidade obtida com a automatização é essencial ao anes-tesiologista, salienta.

“Médicos que já usaram estes estimu-ladores disponíveis no mercado abando-naram os equipamentos porque eles não são práticos. Nos aparelhos já comercia-lizados, além do anestesiologista se preo-cupar em introduzir a agulha, ele precisa também ajustar, manualmente, os parâ-metros do estimulador no decorrer do processo de localização do nervo que ele quer bloquear”, explica.

Isso acaba sendo inviável no ambien-te cirúrgico, onde é necessário precisão, rapidez e praticidade, complementa. “Portanto, quando apresentamos este equipamento automatizado, em que o médico tem que se preocupar somente em introduzir a agulha, o seu uso se tor-na mais aceitável”, argumenta.

Outra vantagem é a redução de cus-tos. Enquanto os valores dos aparelhos

Aparelho indica local exato para aplicação de anestesia

O estimulador de nervos é

controlado por um microprocessador:

mais barato e efi caz que os similares

O professor Antônio Augusto Fasolo Quevedo (à direita), orientador, e Carlos Alexandre Ferri, autor do estudo: patente a caminho

existentes, geralmente importados, chegam a cerca de R$ 4 mil, os custos de montagem do ins-trumento criado ficou na ordem de R$ 300,00. As diferenças também são significativas em rela-ção ao custo de operacionalização, aponta o estu-dioso da Unicamp.

Ele explica que a utilização dos aparelhos co-merciais requer um assistente ao lado do anes-tesiologista para efetuar os ajustes enquanto se localiza o nervo. Por ser automático, o equipa-mento desenvolvido na Unicamp dispensa este tipo de apoio. Neste ponto, o orientador do tra-balho completa que existem outras formas de identificação do conjunto de nervos, mas tam-bém inviáveis financeiramente.

“Pode-se usar, por exemplo, um equipamento de ultrassom de imagem para visualizar o con-junto de nervos. Mas, além de trabalhoso, seria necessário um aparelho deste porte dedicado exclusivamente para aquele fim, acarretando um custo muito alto. Os equipamentos de ultrassom devem ser utilizados para diagnósticos clínicos. Nestes casos o seu uso será muito mais vanta-joso ao paciente”, acrescenta Antônio Quevedo, do Departamento de Engenharia Biomédica da FEEC.

FUTUROO docente da Unicamp também avalia como

promissor o potencial da pesquisa que resultou no estimulador. “É fundamental transferir esta tecnologia para a indústria. De imediato, o equi-pamento criado já mostra soluções que podem melhorar os aparelhos comerciais”, considera.

“Este tipo de técnica é importante para a qua-lidade da aplicação anestésica regional, bastante utilizada, mas que apresenta riscos de complica-ções por ser ainda imprecisa. Com estes meca-nismos de localização, o ganho de qualidade do serviço de saúde é muito grande. E a um baixo custo”, analisa Antônio Quevedo. Ele informou ainda que o pedido de patente já está sendo sis-tematizado junto à Agência de Inovação Inova Unicamp.

FUNCIONAMENTOO equipamento projetado, à semelhança dos

já comercializados, estima a distância entre a ponta da agulha e o local a ser anestesiado. Isso

acontece por meio de estimulação nervosa. A extremidade da agulha, ligada por um fio, emite uma determinada corrente elétrica que gera, por sua vez, uma contração muscular visível. Assim, o profissional identifica o me-lhor local para infiltrar a solução anestésica.

Este processo envolve níveis de estimula-ção, segundo o orientador do trabalho. “Ele começa mais forte e, na medida em que a agulha é aproximada, a estimulação vai sen-do reduzida para se obter uma localização mais precisa. O médico vai aplicando estí-mulo e verificando a resposta, que vem pela contração dos músculos”, detalha Antônio Quevedo.

Deste modo, o anestesiologista sabe que há certa proximidade, explica o docente. “Ele continua reduzindo a intensidade para con-seguir chegar mais perto. E cada vez mais perto… O médico precisa, às vezes, fazer isso oito vezes. Este processo de ficar reduzindo exige manipulação dos controles nos apare-lhos convencionais. É bastante trabalhoso e demanda um assistente para fazer isso. Com o nosso equipamento, este processo passa a ser automático, portanto, mais prático e pre-ciso”, distingui o professor da FEEC.

TESTESO anestesiologista Francisco Carlos Pena

Siqueira efetuou testes clínicos com o esti-mulador. Os experimentos aconteceram no Hospital e Maternidade Madre Theodora, localizado no Parque das Universidades, em Campinas. Todos os testes foram realizados com pacientes em cirurgias de mãos por meio da técnica de bloqueio de plexo braquial.

O Comitê de Ética em Pesquisa Médica da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Unicamp aprovou os ensaios, bastante pro-

missores, conforme revela o engenheiro Car-los Alexandre Ferri. “Após os testes, o doutor Francisco Pena relatou que o bloqueio com o uso do estimulador foi realizado com melhor qualidade em relação ao método convencio-nal, sem o uso do aparelho. Isso quer dizer que o efeito desejado foi obtido em um perío-do de tempo menor.”

PRÊMIO INTERNACIONALA originalidade e aplicação de pesquisa

para resolver um problema médico real ren-deu ao estudioso da Unicamp o prêmio inter-nacional em concurso promovido pela empre-sa Freecale. O anúncio do concurso aconteceu no final de outubro deste ano. A proposta era empregar tecnologia desenvolvida pela fabri-cante de sensores e microprocessadores.

“A Freecale colabora com a Unicamp por meio de programa universitário, cedendo placas de circuitos e componentes para ativi-dades de ensino e pesquisa na Universidade. Quanto ao concurso é um reconhecimento, principalmente, porque os jurados foram unâ-nimes ao concederem o prêmio à Unicamp”, celebrou o orientador.

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EDMILSON MONTALTIEspecial para o JU

m dos mais poderosos mitos gregos de todos os tempos é o da tragédia do titã Prometeu, que roubou o fogo do Olimpo. Penalizado com o sofrimento

humano, Prometeu rouba uma brasa da for-ja do deus ferreiro Hefesto e a entrega aos homens. Furioso, Zeus manda acorrentar Prometeu no pico do Cáucaso e o condena a ter o fígado eternamente devorado por uma águia. Toda vez que a águia terminava de di-lacerar o fígado de Prometeu, ele renascia e a águia começava tudo novamente.

Não é de hoje que a ciência sabe da capa-cidade do fígado em se regenerar e sua im-portância para o corpo humano. Entretanto, o que não se sabia é que um importante hor-mônio da regeneração do fígado, “o HGF”, parece desempenhar um papel relevante na obesidade e no diabetes tipo 2. Esse hormô-nio controla o crescimento das células beta do pâncreas (ilhotas de Langerhans), respon-sáveis pelo aumento da insulina no sangue, fator que antecede ao diabetes.

O biomédico Tiago Gomes Araújo inves-tigou a participação do hormônio HGF - ou fator de crescimento do hepatócito - produ-zido principalmente pelo fígado, na resistên-cia à insulina. A pesquisa foi realizada no Laboratório de Investigação Clínica em Re-sistência à Insulina (Licri) da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) e no Laboratório de Pâncreas Endócrino do Instituto de Biologia (IB), ambos da Unicamp. A orientação foi do professor Mario José Abdalla Saad.

A pesquisa resultou na tese de doutorado “Caracterização do papel do HGF como elo entre o aumento da massa da ilhota/hiperin-sulinemia e a resistência à insulina”, defen-dida por Tiago no final de outubro dentro do programa de Fisiopatologia Médica da FCM da Unicamp e no artigo “Hepatocyte growth factor plays a key role in insulin resistance-associated compensatory mechanisms”, recém-publicado na revista norte-americana Endocrinology.

Classicamente, em endocrinologia, existe um processo em que uma glândula controla outra. O hipotálamo, por exemplo, controla a hipófise e esta, a tireoide. Ambas, por sua vez, controlam testículos e ovários. É uma si-tuação de equilíbrio. O mesmo princípio vale para o diabetes.

“Tínhamos pistas de que um fator circu-lante controlava isso. Fizemos uma lista dos possíveis hormônios conhecidos e chegamos à conclusão que o HGF era um forte candi-dato”, explicou o médico endocrinologista Mario José Abdalla Saad.

O HGF é um hormônio produzido, prin-cipalmente, pelo fígado. Ele é identificado como um fator circulante envolvido na rege-neração do fígado depois de uma lesão hepá-tica. Além disso, é reconhecido que o HGF também exibe atividades de duplicação ge-nética, produção da forma e migração celular em uma ampla variedade de órgãos, incluin-do o fígado, rim, cérebro e pâncreas.

A resistência à insulina é manifestada pela perda da capacidade da insulina ativar sua via de sinalização. Em nível molecular, a insulina inicia sua atividade biológica ao ligar-se a seu

3Campinas, 10 a 16 de dezembro de 2012

Mecanismo controla crescimento de células responsáveis pelo aumento da insulina no sangueFoto: Antonio Scarpinetti

Publicações

Tese: “Caracterização do papel do HGF como elo entre o aumento da massa da ilhota/hiperinsulinemia e a resistência à insulina”Autor: Tiago Gomes AraújoOrientador: Mario José Abdalla SaadUnidade: Faculdade de Ciências Médi-cas (FCM)Financiamento: Fapesp e CNPq

Artigo: Araujo et al. Hepatocyte growth factor plays a key role in insulin resis-tance-associated compensatory mecha-nisms. Endocrinology, December 2012, 153(12).

Hormônio abre perspectivas para o tratamento do diabetes

O professor Mario Saad (à esquerda), orientador, e o biomédico Tiago Gomes Araújo, autor da tese: vinculação ainda não havia sido explicada

receptor localizado na membrana das células. A resistência à insulina está presente na obe-sidade e, principalmente, no diabetes tipo 2.

A pesquisa de Tiago teve como objeti-vo mostrar a relação de causa-efeito entre o aumento dos níveis circulantes de HGF, o aumento de células beta do pâncreas, a hipe-rinsulinemia compensatória e a força dessa associação.

“Tanto in vitro quanto in vivo, o HGF esti-mula a secreção de insulina e o aumento da massa de ilhotas do pâncreas. Os níveis deste fator estão elevados na situação de resistência insulínica mais comum, que é a obesidade. Entretanto, essa vinculação ainda não havia sido explicada”, disse Tiago.

O estudo foi realizado em ratos. Eles foram divididos em dois grupos: um foi alimentado com ração padrão e água para roedores e outro com dieta de cafeteira, rica em refrigerantes, biscoitos, chocolates, bo-los e salgados. Após seis semanas, o grupo de ratos com dieta de cafeteria foi tratado com uma solução de HGF recombinante ou com um inibidor farmacológico do receptor do HGF.

Além disso, com a intenção de provocar o aumento dos níveis internos de HGF, outro grupo de ratos foi submetido à cirurgia para remoção de 70% do fígado.

Para demonstrar a associação entre os níveis de HGF e a hiperinsulinemia, o pes-quisador usou outros dois modelos animais: camundongos geneticamente modificados para obesidade e camundongos alimenta-dos com dieta hiperlipídica, rica em gordu-ra. O efeito dose-resposta (fracionamento) de HGF foi testado neste grupo de animais. Todos os procedimentos foram aprovados pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da FCM.

Os dados obtidos pelo pesquisador mos-traram que nos diferentes modelos de resis-tência à insulina, houve uma correlação forte

e significante entre os níveis de HGF circu-lante, o aumento do número de células (hi-perplasia) das ilhotas do pâncreas e os níveis de insulina. Além disso, observou-se no ex-perimento que o aumento nos níveis de HGF circulante precedia à resposta compensatória associada com a resistência à insulina.

O mesmo aconteceu após a retirada par-cial do fígado. Os resultados mostraram uma clara relação entre os níveis de HGF sobre o aumento na massa de ilhotas de Langerhans durante o processo de regeneração do órgão.

“No modelo animal de obesidade, obser-vamos um aumento do HGF no fígado e no tecido adiposo, que são dois tec idos muito bem caracterizados em situações de resistên-cia à insulina. Assim, podemos sugerir que a resistência à insulina, de alguma forma nestes tecidos, pode induzir um aumento do HGF. Isso passa a ser irônico, pois no sentido de proteger o indivíduo do desenvolvimento do diabetes, o organismo cria uma resposta com-pensatória aumentando a massa de células beta do pâncreas levando, assim, à produção de mais insulina para compensar o aumento do açúcar no sangue”, disse Tiago.

Assim como Prometeu, que roubou o fogo do Olimpo e teve seu fígado devora-do diariamente pela águia, o processo de compensação passa a ser um mecanismo perverso. E como quebrar esse processo? Aí é que está a importância e relevância da pesquisa de Tiago.

O HGF exerce os seus efeitos por meio de seu receptor na superfície celular. Este recep-tor, denominado c-Met, quando ativado, in-duz a formação de um complexo chamado de c-Met/receptor de insulina. A via de sinaliza-ção da insulina tem um papel importante no aumento da massa das ilhotas do pâncreas. A formação desse complexo amplifica a via de sinalização de insulina, em cascata.

A pesquisa demonstrou que este é o me-canismo molecular pelo qual o HGF induz

a resposta compensatória associada com a resistência à insulina. O estudo também provou que o bloqueio do receptor do HGF, por meio de um inibidor farmacológico, foi capaz de interromper esse mecanismo de compensação, observado nas células beta do pâncreas.

Outro ponto importante da pesquisa foi evidenciar que o efeito compensatório do HGF não está apenas relacionado com as ilhotas do pâncreas. No fígado de ratos obe-sos induzidos por dieta, onde a sinalização da insulina já se encontrava reduzida, foi obser-vado que, após o tratamento destes animais com o bloqueador do c-Met, ocorreu uma piora nesta sinalização.

“Estes dados suportam a ideia de que a sinalização do HGF tem um papel protetor na resistência à insulina e que existe uma correlação entre o HGF e o aumento da mas-sa de células beta do pâncreas. Isto represen-ta o mecanismo molecular pelo qual o HGF induz à resposta compensatória. Nosso estu-do fornece evidências adicionais para o papel do fígado e do HGF nos mecanismos de re-sistência à insulina associada à obesidade e ao diabetes tipo 2”, disse Tiago.

O professor e orientador Mario Saad re-força a importância da descoberta: “O HGF passa a ser um alvo-terapêutico, pois me-lhora a ação da insulina nos tecidos perifé-ricos. Se conseguirmos medicamentos que possam potencializar a ação do HGF, vamos conseguir drogas para tratar melhor o dia-betes tipo 2. Além disso, isso mostra que ele pode ser usado para proliferação das células beta, representando um importante passo para o transplante de ilhotas pancre-áticas em pacientes com diabetes tipo 1”, disse Saad.

A pesquisa teve apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e do Conselho Nacional de Desen-volvimento Científico e Tecnológico (CNPq).

Esquema demonstra que para proteger o indivíduo do desenvolvimento da diabetes ocorre uma resposta compensatória realizada pelo pâncreas (aumento massa de célula β + hiperinsulinemia). Entretanto, esta resposta precede o desenvolvimento da hiperglicemia, levando a crer na existência de um fator circulante que cumpriria este papel de elo entre a resistência à insulina e a resposta compensatória do pâncreas.

Modelo proposto para o papel do HGF como elo entre a resistência à insulina e a resposta compensatória das células beta.

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ISABEL [email protected]

studo de mestrado do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH), desenvolvido com traba-lhadores rurais da citricultura da cidade de São Carlos, São Paulo,

mostrou que – em suas trajetórias migrató-rias – a busca pela melhoria nas condições de vida alterou as relações dos seus grupos fami-liares, levando a rearranjos tanto nos locais de origem quanto nos de destino. “Notou-se que o contato com outros contextos sociais certamente traz novos valores a essas famí-lias”, constata a autora da dissertação, Lidia-ne Maciel.

A pesquisadora categorizou algumas situ-ações familiares que exemplificavam os rear-ranjos trazidos pela migração ou pela busca do “melhorar de vida”, que foram a formação de famílias vínculo mãe-filho e avó-neto, a circulação de crianças entre outros núcleos familiares, a solidariedade e disputa entre o grupo de irmão que vive em um mesmo do-micílio, e a redefinição dos papéis familiares (como o de pai e o de mãe).

Com isso, Lidiane percebeu que não era possível considerar um único padrão de ar-ranjos familiares anteriores e posteriores à migração, atenta ela, pois o processo migra-tório influencia diretamente na conformação dos núcleos, podendo ressignificar posições dos membros da família e recompor relações que tinham sido perdidas.

Instigada a pesquisar o assunto na inicia-ção científica, ela verificou que, nos estudos sobre migração para a Região Central do Estado de São Paulo, havia uma lacuna nas investigações que paravam abruptamente na segunda metade do século XX.

Apesar disso, ao visualizar o interior pau-lista, várias modificações econômicas tinham alterado a sua configuração. Araraquara e São Carlos foram regiões típicas que passaram a receber indústrias da desconcentração indus-trial do Estado.

Compassado com esse fortalecimento do setor industrial, também houve um cresci-mento do setor de agronegócio nessa região. Assim, as novas características trouxeram-lhe uma dinâmica interessante, coincidindo com as transformações pelas quais o Brasil vem passando.

A população de São Carlos cresceu muito. Entre 1980 e 2010, houve um salto de mais de 100 mil habitantes. Segundo o Censo De-mográfico, essa população era de 221 mil em 2010. E, como aponta o mesmo Censo, como uma região com taxas de natalidade tão bai-xas em épocas recentes poderia explicar ta-manha evolução?

Lidiane acredita que isso foi graças aos fluxos migratórios que partiram das regiões Sul (Estado do Paraná), Sudeste (Estado de Minas Gerais), Nordeste (Estados da Paraíba, Pernambuco, Sergipe e Bahia) e inclusive da Região Metropolitana do Estado de SP, em di-reção ao município que de fato imprimiu essa nova dinâmica populacional.

O seu estudo também procurou descorti-nar as facetas da citricultura no Estado de São Paulo, que ainda hoje é pouco avaliada pelos estudiosos de ruralidades nas Ciências So-ciais, os quais focaram seus estudos, em anos recentes, na produção e trabalho no corte de cana-de-açúcar, deixando de lado a cultura da laranja que sobrevive ao lado dos canaviais no interior.

E, diferentemente do que vários estudos sugeriam, ao lado da cana-de-açúcar, também a laranja ocupou uma posição estratégica nas décadas de 1990 e de 2000. O Estado de São Paulo é responsável por mais de 50% da pro-dução mundial do suco dessa fruta.

Conforme a Citrus BR (organização que acompanha esse tema), foi criado no Estado um ambiente que trouxe direta e indireta-mente mais de 230 mil empregos ao país. “É uma atividade cuja produção já nascia inter-nacionalizada em 1962 para fornecer suco de laranja aos EUA e Europa, seus grandes com-pradores, que, porém, possui um mercado de trabalho no interior de SP com condições tão precárias quanto as da cana”.

A pesquisadora comenta que tinha dúvi-

Campinas, 10 a 16 de dezembro de 20124

PublicaçãoDissertação: “O sentido de melhorar de vida: arranjos familiares na dinâmi-ca das migrações rurais-urbanas em São Carlos-SP”Autora: Lidiane MacielOrientadora: Rosana BaeningerUnidade: Instituto de Filosofia e Ciên-cias Humanas (IFCH)Financiamento: Fapesp

Busca pela melhoria de vida muda o perfil da região de São CarlosFotos: Divulgação

Foto: Antonio Scarpinetti

Fluxos migratórios da citriculturacausam rearranjos familiares em SP

Lidiane Maciel, autora do estudo: “Contato com outros contextos sociais certamente traz novos valores”

Trabalhadores rurais da citricultura em diferentes situações: nova dinâmica populacional

das se os trabalhadores rurais, também co-nhecidos como “boias-frias”, achavam que as suas vidas tinham melhorado neste tipo de atividade, sendo que estavam num setor de trabalho adverso, moravam em casas auto-construídas nas periferias e com um precário acesso aos serviços de infraestrutura.

Como esses sujeitos representavam a má-xima “melhorar de vida” e como isso altera-va as suas relações familiares? E por que eles acreditavam que tinham melhorado de vida naquela cidade e na citricultura? Essas foram as questões que orientaram a pesquisa.

MELHORAR DE VIDANo processo migratório, o sentido de “me-

lhorar de vida” tomou múltiplos significados,

ressalta Lidiane: ora se relacionando com a mudança nos padrões de consumo e acesso a direitos sociais, ora com a mudança nos pa-drões de relacionamentos familiares.

A socióloga viu na literatura que o con-ceito de melhorar de vida foi sempre tratado sob uma perspectiva economicista, como si-nônimo de ascensão e/ou mobilidade social, medida pelo mercado de trabalho e pelas be-nesses alcançadas por meio da migração.

A pesquisadora fez 25 entrevistas com os trabalhadores migrantes e, quando perguntou como representavam essa noção, acabavam deslocando suas percepções da materialidade econômica. Eles consideravam que, mesmo a atuação nesse mercado de trabalho altamente deplorativo, o fato de sair das ruralidades do interior de outros Estados, para ir à cidade e

atuar em várias frentes, significava melhorar de vida.

Lidiane categorizou outros fatores que expressavam isso. Um deles foi o acesso ao mercado de consumo. Outro foi o acesso aos direitos sociais, lendo-se esses direitos (para eles) como acesso à escola e aos serviços de saúde.

Nas entrevistas das mulheres que traba-lhavam na colheita da laranja, melhorar de vida funcionava como uma libertação do jugo masculino, já que muitas delas vinham “fu-gidas” dos maridos. Isso então representava romper com um determinado padrão de mas-culinidade.

Para os homens, representava ficar livre de um padrão de dominação paterno, para construir a própria casa, o próprio espaço e juntar dinheiro para comprar terra e iniciar um novo núcleo familiar.

Para muitos trabalhadores, o já “sair para o mundo” era um ganho de status. “A pró-pria circulação nos espaços sociais significava melhoria de vida”, salienta a socióloga, para quem o grande ganho desse estudo foi enten-der a noção de melhorar de vida, mostrar os arranjos familiares na migração e os benefí-cios para os estudos de mobilidade social.

Lidiane sinalizou, curiosamente, que São Carlos (assim como a Região Central) trata com invisibilidade a população migrante que se assalaria nas roças de laranja. “O caráter tecnológico dessa cidade, marcada pela pre-sença de duas Universidade (USP e UFSCar) e outros centros de pesquisa, contribui para essa invisibilidade”, acredita.

PERFILO salário médio de um colhedor de laran-

jas em São Carlos, dimensiona a mestranda, é de um a dois salários. Trata-se de uma ati-vidade pesada: o coletor sai de casa por volta das 5h30 e retorna às 16h30; trabalha debai-xo de sol e de chuva, e enfrenta muitos pro-blemas ocupacionais. Por isso a colheita de laranja exige um trabalhador disposto.

A partir dos dados RAIS (Relação Anual de Informações Sociais, do Ministério do Tra-balho), a pesquisadora mostrou portanto que o perfil desses trabalhadores, em sua maio-ria, é jovem. Têm idade entre 30 e 50 anos, e possuem o ensino fundamental incompleto. O trabalho é sazonal: inicia em julho de cada ano e termina em dezembro, e tem alta rota-tividade de funcionários na colheita.

Os trabalhadores da citricultura do Esta-do de SP são uma população em sua maioria migrante, que possui (em parte) residência fixa, mora nas periferias, como em São Car-los, mas também são migrantes “permanen-temente temporários”, ou seja, que vão e vol-tam, como no caso do município de Matão.

Nas entrevistas, esses trabalhadores não demonstraram insatisfação por atuarem nes-sa atividade. Conseguiram ressignificar o próprio trabalho. E, o fato de ter uma certa mobilidade, muitas vezes geracional, já signi-ficava em si um retorno desse trabalho.

Alguns relatos ainda indicaram uma pre-ferência pelo trabalho rural, diante de traba-lhos que lhes eram ofertados em empresas terceirizadas – como segurança, auxiliares de limpeza e serviços gerais – também carentes de seguridade trabalhista. Optavam por tra-balhar na colheita da laranja.

Esses resultados de pesquisa trouxeram uma boa notícia. Em janeiro de 2013, Lidiane lançará o livro O Sentido de Melhorar de Vida: Arranjos Familiares na Migração para o Interior de São Paulo, pela Paco Editorial de Jundiaí, no qual aborda o assunto em profundidade.

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ISABEL [email protected]

pesquisadora Mariana Bataglin Villas Boas, em sua tese de dou-torado, conseguiu modificar uma proteína do leite bovino que é capaz de causar alergia princi-palmente em crianças. Ela che-

gou ao feito empregando dois tratamentos enzimáticos em associação, tornando-a uma alternativa à futura formulação de ingredien-tes na alimentação, que sejam menos nocivos ao ser humano suscetível a esta reação imu-nológica.

A autora do estudo, defendido na Facul-dade de Engenharia de Alimentos (FEA), trabalhou em laboratório com um modelo de proteína chamada beta-lactoglobulina, existente no leite de mamíferos, exceto no de humanos, podendo desencadear desde um simples processo alérgico, como coceira, até sintomas mais graves, atingindo o trato gas-trointestinal e provocando diarreia, irritação e fezes sanguinolentas.

A pesquisa envolveu a modificação estru-tural dessa proteína com a polimerização por transglutaminase (que catalisa a reação de ligação cruzada em diversas proteínas), em conjunto com a hidrólise por proteases (uma reação química de quebra das ligações com os aminoácidos que compõem as proteínas). A associação desses tratamentos é uma es-tratégia pouco adotada, mas que demonstra boas chances de diminuir a resposta imune das proteínas.

Essa tarefa implicou alterar a proteína em questão em diferentes pontos, para avaliar se ainda permanecia o seu componente alér-gico. “Não queríamos que ela ficasse como uma fórmula hidrolisada e sim que conser-vasse algumas das suas características. Mas reconhecemos que, a partir de o momento em que acontecem alterações, ela já não pode ser mais reconhecida como algo alergênico.”

Orientado pela docente da FEA Flavia Maria Netto e realizado no período de 2009 a 2012, o estudo investigou as alterações das proteínas dos alimentos que podem ocasio-nar alergia alimentar, uma doença cada vez mais frequente nos países ocidentais. O leite bovino, segundo ela, “puxa” a lista dos ali-mentos potencialmente alergênicos.

Apesar disso, já existem hoje alguns pro-dutos disponíveis no mercado como fórmu-las especialmente destinadas às crianças com este problema, no entanto, com um limitan-te: podem apresentar uma alergenicidade re-sidual decorrente do fato de a hidrólise ser também limitada, não conseguindo eliminá-la por completo.

Na verdade o que Flavia e Mariana, além do grupo de pesquisa como um todo, espe-ravam era criar novas possibilidades ao que se tem no momento em termos de produtos alimentícios que transcendam as fórmulas, os iogurtes e os outros produtos derivados do leite de vaca.

SINTOMASDesenvolver alergia a esse tipo de leite

não é o mesmo que intolerância ao alimento, que envolve um processo voltado à incapaci-dade de digestão da lactose, e não uma rea-ção alérgica. Com isso, quando o organismo deixa de produzir a enzima lactase, gera cóli-ca e diarreia.

A proteína estudada por Mariana não é en-contrada no leite materno. Este é um ponto crucial a ser esclarecido, sinaliza ela, já que o leite materno é mais indispensável ainda nos primeiros meses de vida, e o recém-nascido pode não aceitar uma proteína vinda do leite bovino, comumente usado como substituto.

A alergia avaliada afeta mundialmente até 8% das crianças com idade abaixo de três anos, porém até 2% dos adultos também podem perpetuá-la para a vida. “Por isso da preocupação, porque tal sentença não envol-ve só o leite. Também os seus derivados e as bebidas lácteas”, informa a pesquisadora.

Há fármacos que ajudam a debelar essas alergias, e eles já são comuns no país. Mas a ideia do grupo é desenvolver um produto que propicie novas alternativas, com doses

5Campinas, 10 a 16 de dezembro de 2012

Técnica desenvolvida na FEA pode ajudar na formulação de ingredientes menos nocivos Fotos: Antoninho Perri

Publicações- Villas-Boas, MB; Vieira, KP; Trevizan, G; Zollner, RL; Netto, FM. The effect of transglutaminase-induced polymeriza-tion in the presence of cysteine on beta-lactoglobulin antigenicity. International Dairy Journal, v.20, p.386 - 392, 2010.- Villas-Boas, MB; Fernandes, MA; Zoll-ner, RL; Netto, FM; Zollner, RL. Effect of polymerization with transglutaminase on in vitro digestion and antigenicity of beta-lactoglobulin. International Dairy Journal, v.25, p.123 - 131, 2012.- Sabadin, IS; Villas-Boas, MB; Zollner, RL; Netto, FM; Zollner, RL. Effect of combined treatment of hydrolysis and polymerization with transglutaminase on beta-lactoglobulin antigenicity. Euro-pean Food Research & Technology, v. 235, p. 801-809, 2012.- Olivier, CE; Lima, RP; Pinto, DG ; San-tos, RA; Silva, GK; Lorena, SL; Villas-Boas, MB; Netto, FM; Zollner, RL. In search of a tolerance-induction strategy for cow’s milk allergies: significant re-duction of beta-lactoglobulin allergenic-ity via transglutaminase/cysteine po-lymerization: Allergoid generation by polymerization. Clinics, v. 67, p. 1171-9, 2012.- Olivier, CE; Villas-Boas, MB; Zollner, RL; Netto, FM; Zollner, RL. Allergenicity of Bos d 5 in Children with Cow’s Milk Allergy is Reduced by Transglutaminase Polymerization. Pediat Aller Imm Pul, v. 25, p. 30-3, 2012.

Tese de doutorado: “Efeito da polime-rização por transglutaminase e da pro-teólise na estrutura e antigenicidade da beta-lactoglobulina” Autora: Mariana Bataglin Villas BoasOrientadora: Flavia Maria NettoUnidade: FEA

pesquisadora Mariana Bataglin Villas Boas, em sua tese de dou-torado, conseguiu modificar uma proteína do leite bovino que é

Pesquisadora modifica proteínado leite bovino que causa alergia

A professora Flavia Maria Netto (à dir.), orientadora, e Mariana Bataglin Villas Boas, autora da tese

Embalagens de leite expostas em supermercado de Campinas: puxando a lista dos alimentos potencialmente alergênicos

capazes de diminuir a resposta no indivíduo, e revelar a atuação das enzimas nas proteí-nas do leite.

Já existe inclusive um trabalho sendo fei-to em conjunto com a Faculdade de Ciências Médicas (FCM) em que são testados méto-dos de avaliação de alergenicidade. O profes-sor Ricardo Zollner, da Disciplina de Alergia e Imunologia Clínica, é o responsável médico pelo estudo.

ACHADOSCom os dois processos enzimáticos, no-

tou-se, foi possível diminuir a resposta aler-gênica da proteína modelo com a alteração de epítopos (parte da proteína que pode provo-car a alergia). Isso foi mensurado por meio do soro de sangue.

Assim, quando se faz o contato dessa pro-teína modificada com o soro, já se verificam mudanças em relação à proteína não modifi-cada. Em um dos ensaios, a alteração foi tão significativa que reduziu a alergenicidade da proteína a quase zero. “São resultados ainda preliminares, contudo agora estamos usando a matriz toda da proteína do soro de leite”, relata Mariana.

Para observar a alergenicidade da proteína modificada, foi utilizado soro proveniente de sangue de crianças alérgicas ao leite. Uma pe-quena fração desse soro foi avaliada por Ma-riana com a devida autorização do Comitê de Ética. O trabalho também envolveu a admi-nistração a animais.

Esse soro, que contém as imunoglobulinas (anticorpos), sustenta Mariana, é o gatilho do processo alérgico. Quem tem essas imuno-globulinas para determinadas proteínas pode reagir com elas, dando início a um processo bioquímico que leva à alergia.

O que se faz ainda hoje é que, quando uma pessoa tem alergia a determinado alimento, ele é retirado de sua dieta, por desencadear o processo. Não há muito o que fazer, expõe

Mariana. Ocorre que o leite é uma fonte de proteí-

nas com alto valor biológico e de cálcio para a formação dos ossos e dos dentes. “Logo, é preciso tomar muito cuidado: não é aconse-lhável cortá-lo da dieta sem motivo explícito ou antes de ser diagnosticado o real motivo dessa medida”, alerta.

No caso do leite especificamente, são encontrados para bebês alguns formulados comerciais, como o Nan-HA, por exemplo, cujas proteínas sofreram hidrólise, resultando em moléculas bastante fragmentadas, o que acaba por favorecer a absorção dos alimentos pelo organismo infantil.

“Por essa razão, também estamos estu-dando outros processos, porém há muito o que fazer a fim de desvendar prováveis apli-cações como ingredientes proteicos de fun-damental valor à alimentação das crianças”, afirma a doutoranda.

A despeito disso, realça a autora, eles não podem simplesmente ser bons por não cau-sar resposta. Precisam ser nutricionalmente adequados e, se possível, ter um aspecto sen-sorial mais agradável do que se tem para os ingredientes e para os hipoalergênicos dispo-níveis, que são pouco palatáveis.

Se as investigações evoluírem, poderão surgir novos ingredientes para reduzirem as alergias, e não só para a proteína do lei-te, como ainda para a soja, o ovo e o trigo. Cada matriz é uma, esclarece Flavia, e me-rece estudo.

De acordo com a professora, Mariana deu início a uma nova linha de pesquisa, “forne-cendo mais ferramentas enzimáticas para a modificação de proteínas”. Por outro lado, trouxe essa área para o estudo da alergia a proteínas, que ainda não era avaliada na FEA, somente na área médica e em outros países.

A parceria com a FCM, pontua Flavia, tem rendido muitos frutos. “O professor Ricardo Zollner vem publicando com a gente, contri-

buindo com o seu conhecimento em Imuno-logia e nós com o conhecimento na área de Alimentos. Estamos formando alunos para trabalhar nessa interface”, conta.

O projeto iniciado por Mariana deve ter continuidade com o trabalho de outros pós-graduandos sobre questões relativas à quebra das partes das proteínas onde se localizam os epítopos, valiosos para esclarecer o tema.

A intenção é alterar a proteína pela que-bra ou pela modificação estrutural. Tam-bém atentos ao assunto, pesquisadores estrangeiros do Instituto de Pesquisa em Ciências de Alimentos (Cial), Espanha, associaram-se ao grupo da Unicamp, am-pliando as colaborações.

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Campinas, 10 a 16 de dezembro de 20126

PublicaçãoDissertação: “O corpo e a CASA: etno-grafias de jovens infratores no contesto socioeducativo” Autora: Tatiana Molero Giordano Orientadora: Francirosy Campos Bar-bosa FerreiraUnidade: Instituto de Artes (IA)

Bailarina desenvolve trabalho com internas da Fundação Casa para fundamentar estudo

Fotos: Divulgação/Antonio Scarpinetti

CARMO GALLO [email protected]

m 2009, ao iniciar suas aulas de dança e teatro na Fundação Casa, unidade de Guarulhos, a bailarina Tatiana Molero Gior-dano ouviu do diretor que a cha-

mara a sua sala: “Se essa casa virar, quero ver você conseguir dar suas aulinhas de dança e teatro”. Ao registrar a observação em seu ca-derno de anotações, ela acrescentou: “Por esse motivo quero ensinar dança e teatro para es-ses meninos, pois sei que isso pode evitar que a casa vire”. Para ela, as rebeliões podiam ser evitadas e reafirma essa convicção, na introdu-ção da dissertação de mestrado resultante de seu trabalho na Casa, por meio de uma frase de Bertold Brecht: “Todas as artes contribuem para a maior de todas as artes, a arte de viver”.

A Fundação Casa é o órgão responsável pela execução das medidas socioeducativas no Estado de São Paulo. Vinculada à Secretaria de Justiça e da Defesa da Cidadania, tem como objetivo primordial aplicar no Estado as dire-trizes e as normas dispostas no Estatuto da Criança e do Adolescente e no Sistema Nacio-nal de Medida Socioeducativa, promovendo estudos e planejando soluções direcionadas ao atendimento de adolescentes autores de ato inflacional. A Fundação atende às neces-sidades dos adolescentes quanto ao ensino formal, educação profissional e às atividades esportivas e culturais e o faz através de convê-nios com órgãos públicos e ONGs.

Por ocasião da pesquisa de mestrado, Ta-tiana foi encaminhada pelo Centro de Do-cumentação da Fundação Casa (CPDOC) às unidades de internação femininas, denomina-das Complexo Chiquinha Gonzaga, embora preferisse executá-la na mesma unidade em que inicialmente trabalhara em Guarulhos. Foi lá, então, que desenvolveu, entre 2011 a 2012, a dissertação em que se prepusera in-vestigar por meio da observação participante as oficinas de artes aplicadas a adolescentes que cumprem medidas socioeducativas.

Tatiana conta que, anteriormente, depois de pesquisar sobre coreodramaturgia em tra-balho de pós-graduação desenvolvido com grupos de estudantes, em que procurava de-linear um caminho de integração, criatividade e libertação através da dança, vislumbrou a possibilidade de aplicação da arte no apoio às vítimas de violência doméstica e sexual.

Posteriormente, em 2009, atuando como professora de dança e teatro no atendimento de adolescentes internos da Fundação Casa I Guarulhos, percebeu os benefícios significati-vos decorrentes da combinação de diferentes técnicas corporais, que define como “todo e qualquer movimento corporal e as suas rela-ções intrínsecas com a cultura”.

Em decorrência, ela passou a considerar que as técnicas corporais podem ser compre-endidas como parte da educação humana, ou seja, como a forma pela qual o homem aprende a utilizar seu corpo na sociedade em que está inserido. Daí adveio sua reflexão sobre a impor-tância da arte na forma-ção e treino dos jovens para o exercício da cida-dania, enquanto postura e atitude social, além da percepção do papel da mesma como proces-so socializador, criando o espaço necessário de comunicação e possibi-litando formas pacíficas de expressão cultural ca-pazes de evitar conflitos e violências.

Para ela, a dança e o teatro se constroem em relação ao meio. Recor-rendo a um dos autores mencionados em sua dissertação, ela afirma que o trabalho corporal possibilita o caminho de reconhecimento do corpo como testemunha de uma história indi-vidual e coletiva.

Com efeito, como bailarina, ela enxerga a arte, a dança e o teatro como comunica-ção, como processo de reconhecimento de si e de troca com o meio. E afiança: “A arte permite de uma maneira saudável exorcizar os mais terríveis fantasmas interiores. Mais do que isso, ela possibilita a compilação das mitologias, pessoal e universal. Esse olhar sensível permite verificar que o corpo da adolescente em estado de interdição – que corresponde ao internamento para o cum-primento das medidas socioeducacionais – comunica esse ‘aprisionamento’ e também comunica a sua ‘libertação’ no decorrer das oficinas de arte, especialmente as oficinas de dança e teatro. É na declaração de seus sentimentos que elas percebem a mudança

a arte liberta

Tatiana Molero Giordano, autora da dissertação: “A arte permite exorcizar os fantasmas interiores”

na sua postura física e comportamental”.

FUNDAMENTOSIntroduzida na Antropologia da Performan-

ce pela sua orientadora, professora Francirosy Campos Barbosa Ferreira, do Instituto de Artes (IA) da Unicamp, ela utiliza esse instrumento de pesquisa, focando principalmente as etapas propostas por Victor Turner, para a compreen-são do cenários socioeducativo e do processo dramático percorrido pela adolescente.

Segundo a autora, a pesquisa etnográfica com jovens infratoras permi-tiu-lhe observar, descre-ver, documentar de forma audiovisual e analisar a postura, a capacidade de comunicação, de expres-são cênica e de fluência dos movimentos corpo-rais, levando em consi-deração a noção de per-formance e as propostas teóricas de Victor Turner e o conceito de “compor-tamento restaurado” de Richard Schechner.

A performance dessas adolescentes foi inves-tigada tanto durante as oficinas de teatro, ensaios e apresentações públicas quanto nas situações pos-teriores dentro e fora das unidades, através dos seus

gestos e posturas ritualizados do corpo. Em decorrência, diz ela, “esse processo sugere um trabalho artístico que permite reler, construir e desconstruir personagens utilizando suas histó-rias de vida como suporte para criação de narra-tivas e improvisação cênica”.

O público alvo da pesquisa era constituído por adolescentes do sexo feminino, na faixa etá-ria de 12 a 18 anos, atendidas de acordo com o chamado Modelo Pedagógico Contextualizado. As adolescentes da Casa Chiquinha Gonzaga, localizada na Zona Leste de São Paulo, onde as experiências foram vivenciadas, provinham de duas de suas unidades: a Unidade de Internação Provisória (UIP), em que a permanência e de 45 dias, e a Unidade de Internação (UI), onde permanecem pelo período de seis meses a três anos, conforme a idade e a gravidade do ato in-fracional cometido, que pode ser assalto, agres-são física, porte de drogas, entre outros.

Nas entrevistas com adolescentes da Casa a autora constatou a preocupação da instituição

de produzir um discurso de reabilitação decor-rente da privação da liberdade, identificada em frases como “deixei essa vida, senhora”, “parei com as drogas”. Já as adolescentes participan-tes do grupo de teatro revelam uma percepção mais ampla do seu percurso “performando” essas questões de maneira mais dramática por meio do teatro. Isto é, através dos registros au-diovisuais de suas performances, a pesquisado-ra considerou possível identificar um processo transformador que transcende a opressão ins-titucional e se revela como forma de elaboração frente ao percurso imposto no cumprimento da medida socioeducativa. “O relato das histórias de vida nas oficinas de teatro testemunha o res-gate de suas individualidades”, constata ela.

DESENVOLVIMENTOAo partir para a análise da Antropologia da

Performance, Tatiana considera o ser humano inserido em seu contexto social e utiliza os con-ceitos de Turner e particularmente o de Drama Social de Schechner, pois enxerga no processo de interdição das adolescentes todas as etapas propostas pelo autor. A performance resulta da exteriorização por parte do individuo dos com-portamentos sociais esperados dele.

Mas existe também um processo de restau-ração de comportamento que permite que o indivíduo entenda sua performance. Do papel desempenhado pelo ator no teatro, ele vai se re-meter ao ator social que também desempenha um papel. É o Drama Social visto de uma forma antropológica. Através das artes, da dança, do teatro, o adolescente encontra uma forma de expressão para suas sensações e sentimentos desvinculados das regras sociais estabelecidas, deixando de ser oprimido por elas.

Por outro lado, é convidado a refletir sobre seus atos, direitos e deveres enquanto cidadão, questionando a si mesmo sobre sua maneira de agir, sobre o ato infracional cometido e como ele pode ser protagonista de sua história sem se tornar opressor. “Ele consegue um espaço lúdico em que pode brincar de ser ele mesmo”, afirma ela, com humor.

Enquanto pesquisadora, Tatiana assumiu nas oficinas um papel de observadora. Mas no decorrer dos trabalhos se integra ao grupo acompanhando construção de peças, ensaios, apresentações internas e externas à unidade, documentando-os através de áudio, vídeos e fotos. Nesse trabalho observa principalmente as diferenças entre os corpos que entram e que saem da sala.

O corpo que chega é tenso, acostumado a uma disciplina inclusive corporal, com dificul-dade de comunicação. O corpo que sai é aquele

capaz de produzir narrativas, de brincar com a troca de papeis sociais, como os que reprodu-zem a dinâmica da relação mãe e filha. Isso leva a alterações nas formas de caminhar, de falar, de dramatizar, melhora a articulação de pala-vras, a capacidade de comunicação, diminui a agressividade, pois conduz à reflexão diante das abordagens de agentes de segurança ou au-toridades.

Ela se deu conta do alcance e extensão desse comportamento ao saber que as adolescentes que participaram das aulas de teatro atuaram como mediadoras por ocasião da intervenção da tropa de choque solicitada pela diretora que tinha sido ameaçada de morte por uma das internas. Ela destaca também o progressivo abandono da linguagem de sinais, chamada de telegrafar, que as internas utilizam para ludi-briar a rigidez da disciplina imposta pelo siste-ma de reabilitação.

Concluindo, Tatiana enfatiza alguns pon-tos. Primeiro, o teatro constitui um modo de lidar com situações de intervenção e conduz ao protagonismo, a uma postura de resposta consciente aos atos cometidos e de como a si-tuação criada pode ser revertida. Segundo, as adolescentes partem de seu próprio corpo para narrar suas histórias. As aulas de teatro pos-sibilitam que elas entendam o contexto social de que vieram, o que as levou a cometer o ato infrator e como podem deixar de ser oprimidas sem se tornarem opressoras.

Terceiro, e o que ela acha mais significati-vo, as oficinas de teatro utilizam uma série de técnicas que ajudam a melhorar a capacidade de expressão, de externar sensações e emoções e, embora não sejam um psicodrama, contri-buem para a resolução de conflitos internos pessoais e para a aquisição de maior controle sobre as emoções e o próprio corpo. Por fim, a iniciativa não deve ser vista como uma pa-naceia que resolve todos os problemas, mas como um estímulo ao diálogo que pode ajudar no redesenho do Modelo Pedagógico Contex-tualizado. Ela encerra convicta: “Vejo a arte como a oportunidade de intervenção que pro-duz resultados melhores do que a repressão”.

Quando Internas da Fundação Casa durante atividade artística: pesquisa etnográfi ca

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7Campinas, 10 a 16 de dezembro de 2012

Fotos: Antonio Scarpinetti

PublicaçãoDissertação: “Urbanização e usos do território: as crianças e adolescentes em situação de rua na cidade de Campinas, SP”Autora: Ana Tereza Coutinho PenteadoOrientadora: Adriana Maria Bernardes da SilvaUnidade: Instituto de Geociências (IG)Financiamento: Capes

SILVIO ANUNCIAÇÃ[email protected]

ampinas tem passado, sobretu-do a partir da última década, por processo acentuado de urbani-zação “corporativa”, que valori-za e desvaloriza o espaço urbano

conforme os interesses de grandes empresas e corporações. E, como consequência deste processo, as populações pobres são retiradas, expulsas e contidas nas regiões mais distantes do centro da cidade. É o caso das crianças e adolescentes de rua do munícipio, como de-monstra pesquisa da Unicamp desenvolvida pela assistente social Ana Tereza Coutinho Penteado.

“Há um choque entre as políticas sociais e urbanas em Campinas. Num dado momento, a política social constrói algo, mas a política urbana inviabiliza o que foi feito. Este ano o município aprovou lei que proíbe pessoas pe-dindo nos semáforos porque eles não podem ‘obstruir o trânsito’. É o caso também da ope-ração urbana Tolerância Zero, instaurada em 2009. São exemplos de políticas higienistas retrógadas e autoritárias, amplamente impos-tas no começo do século 20, que são atualiza-das não só no município, mas em outras cida-des do país”, afirma a pesquisadora.

Essas políticas urbanas autoritárias po-dem se agravar, em âmbito nacional, com a Copa do Mundo de 2014 e as Olímpiadas de 2016, teme a assistente social. “É uma preo-cupação porque estes eventos provocam va-lorização e disputa pelo território urbano. Na visão de muitos governantes e planejadores, estas cidades precisam estar ‘limpas’, pois vão atrair turistas. Isso alimenta a expulsão de pessoas pobres. Em São Paulo, por exem-plo, elas são retiradas de uma rua, mas, em pouco tempo, se instalam em outras próxi-mas. Portanto, isso não resolve o problema. A verdadeira gênese da pobreza não tem sido pensada”, expõe.

Ana Tereza Coutinho Penteado desenvol-veu o estudo para obtenção de seu título de mestrado junto ao programa de pós-gradua-ção em Geografia do Instituto de Geociências (IG) da Unicamp. A professora Adriana Maria Bernardes da Silva, do Departamento de Ge-ografia do IG, orientou o trabalho. A pesqui-sa obteve financiamento da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes).

Para a geógrafa e docente da Unicamp, na maioria das metrópoles brasileiras o espaço urbano é tratado como um grande negócio. “A cidade, tanto do ponto de vista fundiário, quanto imobiliário, passa por um violento processo especulativo. E isso atinge, princi-palmente, aqueles municípios que agora são sedes para os megaeventos. Ou que, não ne-cessariamente vão abrigar os eventos, como Campinas, mas estão neste entorno valoriza-do, nesta região da macrometrópole de São Paulo”, reforça a especialista, que coordena na Unicamp linhas de pesquisas sobre a política urbana no eixo entre Campinas e São Paulo.

Ela sustenta que a política social realizada nos últimos anos no município foi desman-telada pelo poder público. Isso aconteceu, principalmente, a partir da implementação

A assistente social Ana Tereza Coutinho Penteado: “A verdadeira gênese da pobreza não tem sido pensada”

Vista do viaduto São Paulo, conhecido como “Laurão”, na região central de Campinas: fi m das redes de solidariedade

do programa Tolerância Zero, com a propos-ta de reduzir a criminalidade e a mendicância. A ação foi extinta no ano passado diante de denúncias de irregularidades e das mudanças políticas na cidade, com a cassação do prefeito Hélio de Oliveira Santos.

”Campinas, por alguns anos, buscou criar algo de interessante em termos de assistência social. Mas o Tolerância Zero desmantelou o que vinha sendo construído e levou a uma in-tervenção brutal no centro da cidade, usando, inclusive, o termo de uma política que é da ci-dade de Nova York. Na construção da política urbana brasileira prevalece, em geral, o mime-tismo, copiando o que é feito lá fora e descon-siderando a especificidade dos problemas na-cionais”, analisa.

“ANTIPEDINTES”O desmantelamento das ações de assistên-

cia social ficou ainda mais visível a partir da re-vitalização em 2006 do viaduto São Paulo, co-nhecido como “Laurão”. Com a reforma houve a mudança, daquele local, da Casa Guadalu-pana, projeto social de suporte às crianças de rua, revela a assistente social Ana Tereza. “Para impedir a presença de moradores e crianças no viaduto Laurão havia seguranças fazendo ron-das e os expulsando. Também foram coloca-das pedras pontiagudas que demarcaram que aquele não é mais um espaço de convivência para eles”, lembra.

A partir de 2010 já era difícil, de acordo com ela, encontrar crianças e adolescentes de rua nas regiões centrais, reflexo do aumento da repressão. “Um dos dados que temos é que hoje estes meninos e meninas, em sua maio-ria, estão em instituições, como a Fundação Casa. Ou então, mudaram a forma de circular, se escondendo e se distanciando das políticas sociais e do acesso a direitos”, revela.

VIRAÇÃOA estudiosa Ana Tereza resgata o conceito

de “viração”, formulado pela cientista social da Unicamp Maria Filomena Gregori, para sus-tentar que era na região central que as crianças

e adolescentes de rua possuíam mais serviços. “Era lá que eles estabeleciam a maior parte das redes de solidariedade e se ‘viravam’ de algum modo”, observa.

A pesquisadora pondera, no entanto, que o termo não está restrito somente às relações entre centro e periferia. “O conceito de ‘vira-ção’ é mais abrangente e refere-se à circulação entre a casa, a rua, as instituições sociais, os diferentes espaços da cidade e os papéis sociais incorporados pelos meninos e meninas para se protegerem e sobreviverem”, esclarece.

A partir de 2001, de acordo com ela, Cam-pinas estabeleceu uma série de políticas e ações sociais para as crianças e adolescentes de rua, sobretudo na região central. Ela cita a cria-ção, em 2001, embaixo do viaduto “Laurão”, da Casa Guadalupana, numa parceria entre a instituição Padre Haroldo e a Prefeitura.

Houve também, conforme a assistente so-cial, a implementação, em 2003, da Sala de Transição, projeto de vivência e reaproximação escolar para crianças e adolescentes em situa-ção de rua. No ano seguinte, foi criado o ser-viço Pernoite Protegido, programa que oferece acolhimento, banho, alimentação, atividades pedagógicas, pernoite e encaminhamentos às redes socioassistenciais.

Neste ponto, a geógrafa Adriana Bernar-des da Silva explica que o centro da cidade, da forma mais contraditória possível, ainda é o melhor lugar para estas crianças. “Eles estão vivendo na rua, portanto é uma condição de penúria, de limite para a sobrevivência, mas de algum modo estar ali ainda é melhor. Por quê? Porque no centro há uma organização da cidade com a presença de uma rede hospitalar, uma rede social e uma série de outros elemen-tos públicos que eles se valem para sobreviver, construído a sua ‘viração’ e redes de solidarie-dades”, fundamenta.

PACTO FEDERATIVOLevantamento de dados para o estudo de-

monstrou significativa ampliação de leis, nor-mas e serviços federais para garantir ações contínuas e políticas permanentes à população de rua. O problema, aponta a assistente social

Ana Tereza, é que essas políticas federais so-frem adaptações e deformações quando são territorializadas nos municípios. E Campinas não é exceção, critica.

“Existem normas federais, mas em cada município elas são implementadas de uma maneira diferente, dependendo do choque de interesses políticos e econômicos da cida-de. E corre-se o risco de uma política públi-ca, como a da assistência social, acabar sendo implementada de uma forma assistencialis-ta, repressiva ou mesmo descontinuada. Em Campinas, por exemplo, as ações das políticas sociais foram modificadas inúmeras vezes nos últimos 10 anos, provocando desassistência na vida dos meninos. É um cuidado que preci-sa ser tomado”, alerta.

A docente Adriana Bernardes da Silva aponta como origem deste problema a fragi-lidade do pacto entre municípios e federação. A solução passa por um entendimento para a conquista da cidadania territorial, indica. “A cidade precisa ser reorganizada, precisa haver uma política urbana séria que considere o in-teresse social. E os entes municipais estão, em geral, na contramão dessa política federal que há de se reconhecer: é importante”, admite.

MILTON SANTOS“Cada homem vale pelo lugar onde ele

está”. O geógrafo Milton Santos (1923-2001) foi a inspiração para o estudo de Ana Tereza. Ela explica que o interesse pela pesquisa sur-giu a partir da leitura da obra “O espaço do ci-dadão” e do impacto da frase contida no livro em um momento de intensa reflexão sobre a sua prática profissional.

Na época, a pesquisadora trabalhava em uma entidade de acolhimento para crianças de rua, sob a gestão da Secretaria de Saúde e Assistência Social de Campinas. “A frase é im-portante, pois auxilia na compreensão deste movimento da cidade e da forma de tratamen-to dispensada a esta população”, pontua.

O primeiro passo após a leitura do livro foi procurar a docente Adriana Bernardes da Sil-va, que trabalhou durante 10 anos ao lado de Milton Santos, tendo sido, inclusive, orienta-da por ele em sua pesquisa de doutorado. “Ele desenvolveu o conceito de localização forçada; é uma definição que nos ajuda a compreender como as pessoas são forçadas a fixar, perma-necer ou circular dependendo dos interesses econômicos que prevalecem na cidade”, com-plementa a professora, seguida por sua orien-tanda: “Com este trabalho, gostaria de subli-nhar que a cidade deve ser pensada para todos os seus habitantes”.

Mercado ocupa lugar do públicoEstudo relaciona urbanização à expulsão de crianças e jovens da região central

Mercado ocupa lugar do público

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8Foto: Antonio Scarpinetti

Campinas, 10 a 16 de dezembro de 2012

João Vilhete, funcionário do Nied: ““Brincamos de construir coisas para as pessoas trabalharem, fazendo robótica com material alternativo”

MARIA ALICE DA [email protected]

omo é possível modificar o ambiente de uma sala de aula? E dar autonomia de circula-ção a pessoas com deficiência visual? Ao deixar São Tomé e

Príncipe, no continente africano, para concluir o ensino médio na Unicamp, dentro de um projeto da Unesco, o en-genheiro eletrônico João Vilhete Viegas D’Abreu nem sonhava em fazer a dife-rença na vida de tantas pessoas a partir da transmissão de seus conhecimen-tos. Hoje, ao olhar para o Mapa Tátil da Unicamp, desenvolvido entre os vários projetos que coordenou ou participou no Núcleo de Informática Aplicada à Educação (Nied), ele se certifica de que a robótica lhe proporcionou muito mais que aprender e se destacar pro-fissionalmente. “Quando estudantes de determinadas escolas públicas ou pessoas com deficiência nos mostram a grande vontade que têm de aprender e interagir, nos damos conta de que pre-cisamos oferecer ferramentas adequa-das para eles”, responde João.

Ao longo de 25 anos, Vilhete des-cobriu que as atividades de pesquisa na área de robótica pedagógica de tec-nologia educacional poderia ir muito além da sala de aula. Depois de instru-mentalizar professores e estudantes de escolas públicas na região de Campinas, ele e a equipe do Nied e da Faculdade de Engenharia Civil (FEC), envolvidos em projetos de acessibilidade, decidi-ram desenvolver o Mapa de Uso Tátil e Sonoro da Universidade. “Não sabia que o Ciclo Básico da Unicamp era re-dondo!”, exclama uma usuária do Mapa Tátil Sonoro, mostrando que os benefí-cios se mostram mais amplos quando permitem à aluna conhecer a forma de um prédio frequentado por ela durante quatro anos de pós- graduação. Outro momento de reflexão foi quando Fabia-na Bonilha, mestre e doutora pela Uni-camp, entendeu que ela utilizava duas, e não uma, catraca para entrar e sair da Biblioteca Central. “Ficamos descon-certados ao ver que nunca falamos à Fabiana que a BC tinha duas catracas”, revela Vilhete.

Projeto financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), em parceira com a Fa-culdade de Engenharia Civil, o instru-mento tátil sonoro se mostra eficiente na orientação espacial dos usuários. Ao tocar um dos pontos do mapa, como “ponto de ônibus da portaria um”, a pessoa é direcionada aos locais onde

precisa chegar, como o Ciclo Básico e a Biblioteca Central. “A ideia foi construir instrumento para a pessoa com defici-ência visual se locomover no campus de maneira autônoma. Pode não dar total autonomia ainda, mas dá a segurança de saber onde está e como chegar.” explica Vilhete.

A ideia, segundo o pesquisador, é implantar em mais pontos da Universi-dade. Os testes foram feitos em parceria com o Laboratório de Acessibilidade, localizado no térreo da Biblioteca Cen-tral e contaram com a participação dos próprios usuários. “Foram nossos pri-meiros usuários e ofereceram uma série de informações importantes de como fa-zer. Isso ajudou a melhorar as legendas, a posição dos pontos de cada prédio, a sinalização em Braille.”

A ideia de fazer robótica pensando a acessibilidade surgiu em 2003, com a proposta de estimular alunos de gradu-ação a ensinar alunos de ensino médio de uma escola de Araras a aprenderem se divertindo, construindo instrumen-tos para facilitar a vida de pessoas com deficiência.

O projeto, em parceira com a Univer-sidade Paulista Júlio de Mesquita Filho (Unesp), teve como proposta desenvol-ver conceito de Geografia Tátil. O desa-fio era, dentro da sala de aula, dar orien-tação espacial para eles pensarem como essa pessoa circula num espaço público. O projeto de Geografia Tátil inspirou o do Mapa Tátil Sonoro como proposta de uma rota acessível do Ciclo Básico da Unicamp.

A bancada repleta de peças de lego, pets e caixas de leite denuncia o dia a dia de quem andou brincando muito. Mas uma análise do currículo de Vilhete e alguns minutos de início de conversa para saber mais sobre sua atividade na Unicamp mostram que se trata de uma brincadeira séria que já garantiu resulta-dos importantes para professores e alu-nos de escolas da rede pública da região de Campinas (SP).

Nada de computadores “vazios”, o trabalho do Nied de pesquisa na área de robótica pedagógica de tecnologia educacional faz com que alunos e pro-fessores saiam da escola com a satis-fação de ter construído seus próprios dispositivos robóticos. Quando pron-tos, eles são conectados ao computador. “Brincamos de construir coisas para as pessoas trabalharem, fazendo robótica com material alternativo. Oferecemos instrumentos com os quais as pessoas possam trabalhar na própria escola com seus alunos, seja programando carro e

em seguida fazendo funcionar”, explica Vilhete.

A compreensão de robótica, segundo o pesquisador, ajuda a fixar conceitos de ciência, matemática, física, aprimorando a formação dos alunos. “Quando veem funcionar eles saem da sala de aula com a satisfação de ter aprendido a trabalhar com recursos da tecnologia.” E João sai com a certeza de tê-los convencido que a ciência não nenhum bicho papão.

Ainda que todo projeto tenha come-ço, meio e fim, a ideia é que os laborató-rios sejam mantidos pela escola. E foi o que aconteceu em duas escolas de Hor-tolândia, participantes do Projeto Time, coordenado por Vilhete por meio do Nied. A proposta era criar contexto para professores do ensino fundamental 1 poderem trabalhar com recursos tecno-lógicos. “Essas salas estão lá. O projeto acabou, mas os recursos ficaram para a escola. A ideia é realmente atender o pú-blico. A partir daqui esses alunos desco-brem que podem chegar à universidade pública. Normalmente parece que estão muito distantes, em condições impossí-veis de chegar, mas quando interagem, se sentem capacitados para chegar, e os pais também.”

Vilhete atuou como estagiário no CTI, mas quando começou a trabalhar na Unicamp, encantou-se pelo trabalho inicial do Nied com o Educom, que es-tudava o uso da informática na educação e se sentiu instigado, ao lado da equipe do núcleo, a ir além, promovendo inclu-são social, educacional e acessibilidade.

A atuação principalmente na edu-cação pública, assim como em proje-tos de acessibilidade, favorece também os bolsistas dos cursos de mecatrôni-ca, engenharia civil e outras áreas da Universidade, na opinião de Vilhete. “Na prática, eles aprendem a trabalhar com uma óptica que talvez seja pouco abordada durante a graduação. “Aqui no Nied, eles constroem coisas para as pessoas usarem.” O produto feito por eles têm aplicação social. Quando se faz algo como o mapa tátil, com legendas em Braille, recursos sonoros, eles têm a oportunidade de trabalhar em projetos de inclusão social e educacional. É algo mais concreto”, acentua.

Além de estimular adolescentes em suas unidades escolares, Vilhete se or-gulha de participar da formação de “fu-turos pesquisadores” de ensino médio na Unicamp, dentro do Programa da Pró-Reitoria de Pesquisa, intitulado PIC Jr. Destinado a alunos do ensino médio de escolas públicas de Campinas, o pro-grama tem a maestria de despertar nes-

ses estudantes o interesse por ciência. Vilhete não esconde a satisfação de

encontrar seus orientandos do PIC Jr duas vezes por semana na Biblioteca Central, para transferir seus conheci-mentos de robótica. “É gratificante ver que esses alunos têm condições de vir para a Unicamp e trabalhar com robó-tica já no ensino médio. Sinto-me im-portante por mostrar a esses jovens que eles também podem estar na Unicamp e, quem sabe, se tornarem alunos e pes-quisadores de uma universidade públi-ca”, pontua.

Vilhete recebeu educação básica em São Tomé e Príncipe. Um ano após o país conquistar sua independência (1975), por meio de um projeto de in-tercâmbio para formação da Unesco, chegou ao Brasil, mais precisamente à Unicamp, como bolsista do projeto, orientado pelo então diretor do Insti-tuto de Matemática professor Ubiratan D’Ambrósio. Assim que concluiu o en-sino técnico, voltou para São Tomé, mas a oportunidade de continuar os estudos na Unicamp o trouxe de volta, em 1979.

Em 1981, ingressou como graduan-do em engenharia elétrica. Ao concluir o curso, em 1986, começou a trabalhar no Centro de Tecnologia da Informação Renato Archer (CTI), na Rodovia Dom Pedro, mas ao conhecer a proposta do Nied, voltou à Universidade como pes-quisador e, mais importante para Vilhe-te, começou as atividades de implanta-ção de projetos de robótica em escolas. “Este trabalho consistia em diversificar as formas de utilização de computado-res. Tinha programas que controlavam tartaruga que se movimentavam na tela do computador. Criamos uma máquina que pudesse acompanhar movimento que está na tela. Então surgiram os pri-meiros robôs, as primeiras tartarugas. A partir desse processo, fomos motivados a fazer mais projetos, mais atividades”, relembra.

A contribuição social foi acontecen-do naturalmente dentro do processo de aprendizado, ao longo de 25 anos de es-tudo e trabalho. João acredita que a ne-cessidade de incluir foi observada pela demanda e também pelo prazer de fazer emergir algo, construir e ver que seu produto final funciona e deve contribuir com algo ou alguém. “Ver o produto-funcionando e a pessoa se divertindo ou trabalhando com isso não tem preço. Conseguimos tirar a ciência de um con-texto abstrato para que o próprio aluno perceba a dificuldade de construir. Com pessoas com deficiência é muito desafia-dor. Elas demonstram a vontade grande de aprender.”

Colocando o conhecimento

no mapaA robótica eos projetos

do engenheiro eletrônico

João Vilhete Viegas D’Abreu

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MANUEL ALVES [email protected]

que é bom sempre pode ser aperfeiçoado. Este talvez seja o princípio que melhor expli-que as ações desenvolvidas pela Unicamp nos últimos anos em

relação ao ensino de graduação, nas suas di-ferentes dimensões. Empenhada em conferir a este nível de educação um padrão de qualida-de internacional, a Universidade desenvolveu uma série de medidas e programas destinados a qualificar e valorizar os docentes, atualizar a legislação interna, aprimorar currículos e refi-nar rotinas e procedimentos, entre outros. Os resultados obtidos apontam para a importân-cia das iniciativas, que são continuamente ava-liadas pela instituição.

No âmbito da qualificação e valorização dos professores, uma das ações adotadas foi a criação do Prêmio de Reconhecimento Do-cente pela Dedicação ao Ensino de Gradua-ção, aprovado por unanimidade pelo Con-selho Universitário (Consu), órgão máximo deliberativo da Universidade, em novembro de 2011. A iniciativa atendeu a uma determi-nação do Planejamento Estratégico (Planes). “A premiação pretende incentivar e reconhe-cer a dedicação dos docentes ao ensino de graduação. Os critérios básicos que orientam a escolha dos vencedores foram objeto de um criterioso processo de análise e discussão. Vale destacar que as unidades de ensino e pesquisa podem incluir critérios adicionais, de modo a respeitar suas especificidades”, afirma a professora Dora Kassisse, assessora da Pró-Reitoria de Graduação (PRG).

De acordo com ela, cada unidade pode in-dicar até três nomes para concorrer ao prêmio. Uma Comissão Geral de Avaliação, ligada à Comissão Central de Graduação (CCG), é en-carregada de analisar a contribuição dada pelos indicados. Os contemplados (um de cada uni-dade) recebem um diploma e o equivalente ao salário de um professor nível MS-3. Os primei-ros ganhadores do Prêmio de Reconhecimento Docente pela Dedicação ao Ensino de Gradua-ção foram anunciados em novembro.

VISITASOutra ação executada pela Unicamp com o

intuito de aprimorar o ensino de graduação foi o lançamento no início deste ano de um edital para financiar visitas de docentes a cursos de graduação de excelência internacional no exte-rior. A iniciativa foi implementada em conjun-to pela PRG, Fundação de Desenvolvimento da Unicamp (Funcamp) e banco Santander. Ao todo, foram contemplados 38 professores. O investimento total foi da ordem de R$ 450 mil. Entre as universidades que serão visitadas pe-los professores da Unicamp estão instituições de reconhecida qualidade, como Harvard, MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts), Berkeley, Instituto de Artes da Califórnia (Ca-larts) e Universidade do Porto.

O objetivo do edital, conforme a professo-ra Gabriela Celani, assessora da PRG, é aliar o processo de internacionalização da Unicamp à melhoria constante dos cursos de graduação. De acordo com ela, as visitas devem subsidiar propostas que levem à atualização e aprimo-ramento dos currículos. As mudanças, diz, podem ser pontuais ou mais amplas, variando de acordo as necessidades identificadas. “Nós queremos que os nossos cursos de gradua-ção tenham qualidade internacional. Assim, vamos buscar referências sobre o que há de melhor no mundo nesse nível de ensino, para adaptarmos à nossa realidade”, explica.

Os docentes contemplados pelo edital terão de cumprir algumas exigências, sendo duas de-las mais significativas. A primeira é apresentar, logo após o retorno, um relatório detalhando os pontos mais relevantes observados duran-te a viagem. A partir daí, eles terão um ano para implantar as mudanças que considerarem importantes para ampliar o grau de excelência dos cursos de graduação. Ao final deste perío-do, deverão apresentar um novo relatório elen-cando os resultados obtidos com as mudanças introduzidas.

Em seguida, adianta a assessora da PRG, a Universidade realizará um fórum sobre inovação curricular na graduação, que con-tará com todos os participantes das visitas ao exterior. “Será uma ótima oportunidade para eles compartilharem suas experiências com os demais integrantes da comunidade

9Campinas, 10 a 16 de dezembro de 2012

cada área do conhecimento [Humanas/Artes, Exatas, Tecnológicas e Biomédicas]. Contudo, em razão do crescente interesse por parte das coordenações dos cursos, a Reitoria autorizou a expansão do número de bolsas para duas por área, totalizando 16 ao ano”, informa a assessora da PRG.

NORMASAlém de ações relativas às ativida-

des didáticas, pedagógicas e de planeja-

Ações valorizam docência eatualizam Regimento Geral

O reitor Fernando Costa durante o lançamento do programa de visitas de docentes a cursos de graduação de excelência no exterior: buscando referência no que há de melhor no mundo

universitária”, considera Gabriela Celani. “Nós acreditamos muito que esse tipo de iniciativa pode levar a transformações. É possível que, a partir dessas visitas, os cursos promovam ações como a mudança de currículos, adoção de novas disciplinas e criação de novos laboratórios, para ficar em três hipóteses”.

A atração de profissionais de notório co-nhecimento para atuar por um determina-do período junto à graduação é mais uma medida adotada pela Unicamp para quali-ficar esse nível de ensino. Nesse sentido, a Universidade criou o programa Professor Especialista Visitante em Graduação, que já lançou cinco editais. A expectativa da ação é que ela propicie a integração entre pes-soas com reconhecida atuação no mercado com a comunidade universitária, de modo a promover impactos positivos tanto na for-mação dos alunos quanto na atualização dos docentes.

A professora Gabriela Celani explica que o programa nasceu da constatação de que, em algumas carreiras, somente o conheci-mento cientifico não é suficiente para for-mar bons profissionais. “A imensa maioria dos nossos professores tem o título mínimo de doutor e se dedica integralmente às ativi-dades de ensino e pesquisa. Qualidade, por-tanto, não é o nosso problema. Ocorre, po-rém, que esses compromissos muitas vezes afastam nossos professores da prática pro-fissional. A ideia de trazer um professor es-pecialista visitante é justamente estabelecer esse elo, bem como proporcionar aos nossos alunos o contato com os bons profissionais do mercado”, detalha.

Conforme as normas do programa, o vi-sitante não precisa ter título de mestre ou doutor, mas é indispensável que possua no-tórios conhecimentos acerca da sua carreira. A ele, é oferecida uma bolsa com duração de cinco meses. Nesse período, o contemplado se compromete a ministrar ao menos uma disciplina de quatro horas semanais e uma palestra aberta à comunidade universitária. A seleção é feita da seguinte forma: os no-mes são sugeridos pelos coordenadores de curso, após ampla discussão, às comissões de graduação, que se encarregam de apre-sentar as propostas com os respectivos pla-nos de trabalho.

Posteriormente, as propostas são ana-lisadas por um comitê formado por repre-sentantes de cada área do conhecimento e pela assessoria da PRG, e posteriormente classificadas de acordo com a relevância do currículo dos candidatos, o número de alu-nos a serem beneficiados e o impacto para a formação profissional dos graduandos. “Os resultados do programa têm sido muito bons, conforme pudemos apurar com base nos dados oferecidos pelo PAG [Programa de Avaliação da Graduação]. Tanto é assim que nós iniciamos essa ação concedendo quatro bolsas por semestre, sendo uma para

mento no âmbito da graduação, a Unicamp também dedicou um esforço considerável à revisão geral do Regimento Geral de Gradu-ação, instrumento que estabelece as normas que regem os cursos nesse nível de ensino. Conforme explica a professora Dora Kassis-se, assessora da PRG, os trabalhos de atuali-zação do regimento tiveram início em 2005 e foram concluídos na gestão do professor Marcelo Knobel à frente da Pró-Reitoria. “Com o decorrer do tempo, o regimento fi-cou desatualizado, por causa da própria di-nâmica da Universidade. Cursos foram cria-dos e novos intercâmbios, tanto internos quanto externos, foram estabelecidos. Tudo isso precisava estar contemplado na legisla-ção”, pondera.

Entre os que contribuíram para a revisão do regimento, prossegue a docente, estão os coordenadores de cursos, cuja colaboração foi indispensável ao sucesso da empreita-da. Uma das consequências mais visíveis da atualização do instrumento foi a queda do número de processos de alunos encaminha-dos à avaliação da CCG. Enquanto em 2009 a comissão teve que analisar 108 processos relativos à matrícula, por exemplo, em 2011 esse número caiu para somente 28. “Em vir-tude das adequações promovidas, muitas si-tuações que demandavam a apresentação de processos, como a validação de uma discipli-na realizada pelo aluno durante as férias em outra universidade, agora estão previstas no regimento”, esclarece.

Com a diminuição dessa carga de proces-sos, acrescenta Dora Kassisse, a CCG deixou de discutir excepcionalidades, que demanda-vam um tempo excessivamente longo, para se concentrar em temas de maior abrangência, como novos programas e ações relacionadas à qualificação da graduação. Nesse sentido, a professora Néri de Barros Almeida, vice-pre-sidente da CCG, destaca que as discussões no âmbito da comissão tornaram-se ainda mais aprofundadas, graças também ao trabalho rea-lizado pelas subcomissões de relatores e pare-ceristas. “Quando o processo chega à CCG, ele vem acompanhado de um parecer muito bem fundamentado, o que agiliza os trabalhos. Além disso, por terem debatido cada caso de forma detalhada anteriormente, esses parece-ristas e relatores mantêm a CCG amplamente informada acerca de todos os aspectos de cada item da pauta”.

Também contribuem para o aprimora-mento dos procedimentos e rotinas as ações executadas pela Diretoria Acadêmica (DAC). Conforme a professora Dora Kassisse, o papel da DAC tem sido fundamental, por exemplo, nas atividades pertinentes à aprovação de ca-tálogos e ao julgamento dos processos dos estudantes. “Graças à experiência e dedicação do Toninho [Antonio Faggiani, coordenador] e sua equipe, nós temos tido bons resultados no esforço para tonar as nossas tarefas cada vez mais céleres e eficientes”.

A professora Dora Kassisse, assessora da PRG: “Com o decorrer do tempo, o Regimento Geral fi cou desatualizado”

A professora Gabriela Celani, assessora da PRG: visitas devem subsidiar propostas que levem ao aprimoramento dos currículos

A professora Néri de Barros Almeida, vice-presidente da CCG: “Quando o processo chega, vem com um parecer muito bem fundamentado”

Fotos: Antoninho Perri

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acadêmica

Vida

do Portalda Unicamp

Teses da semana

Painel da semana

Teses da semana

Livro da semana

Destaques

Vida

Painel da semana Teses da semana

Livroda semana

DESTAQUESdo Portal da UnicampDESTAQUES

Campinas, 10 a 16 de dezembro de 2012

Geoquímica de águas subterrâneas

Unicamp revitaliza Praça do BásicoFoto: Antonio Scarpinetti

Um guia prático de modelagem de sistemas aquáticos naturais e contaminados

Autores: Broder J. Merkel e Britta Planer-FriedrichOrganizador: Darrell K. NordstromTradução: Jacinta EnzwellerISBN: 978-85-268-0933-8Ficha técnica: 1a edição, 2012; 248 páginas; formato:

21x 28 cm; peso 0,59 kgÁrea de interesse: GeociênciasPreço: R$ 55,00

Sinopse: Um livro-texto abrangente com conteúdo teórico e exercícios práticos resolvidos de modelagem geoquímica com o PHREEQC, útil tanto àqueles que desejam se iniciar no assunto como aos mais experien-tes em modelagem. As descrições detalhadas de como resolver cada problema guiam o leitor passo a passo desde a modelagem hidrogeoquímica mais simples até as mais avançadas. Os programas computacionais e as

soluções de todos os problemas (arquivos de entrada do PHREEQC) encontram-se disponíveis no site da Editora (http://www.editora.unicamp.br/GEO_Quimica.zip). Os exemplos de modelagem de transporte reativo incluem o 1D do PHREEQC e também o código 3D PHAST acoplado com a interface gráfica de usuário WPHAST. A inclusão de incertezas dos dados termodinâmicos é possível com o programa LJUNGSKILE.

Autores Broder J. Merkel estudou geologia e hidrogeologia em

Munique, onde obteve os títulos de mestre e doutor (Ph.D.). Foi pesquisador do Departamento de Química de Águas em Munique e atuou como hidrogeólogo independente na Alemanha e em vários outros países. Em 1992 obteve a habilitação pela Universidade Christian-Albrechts de Kiel e foi convidado para ser o titular de hidrogeologia na Uni-

versidade Técnica Bergakademie de Freiberg, cargo que assumiu em 1993. Suas principais áreas de atuação em pesquisa são a modelagem hidrogeoquímica e de reações, a influência de drenagens ácidas de mina em sistemas de águas subterrâneas e a aplicação de GIS e sensoriamento remoto em hidrogeologia.

Britta Planer-Friedrich estudou geologia em Würzburg e Freiberg, onde obteve o título de mestre em hidrogeologia e geologia ambiental em 2000 e o Ph.D. no tema metais voláteis em 2004, com uma bolsa da Fundação Acadêmica Nacional da Alemanha. Seu trabalho de pós-doutorado na Universidade de Trent, Canadá, teve como foco a quími-ca analítica e a especiação de elementos-traço. Iniciou atividades didáticas em 1999 na Universidade Técnica Bergakademie de Freiberg, onde ministrou cursos de mo-delagem hidrogeoquímica e transporte reativo, bem como de química de águas subterrâneas e analítica.

Funciona a Arte? - Coordenado pela professora Lygia Arcuri Eluf, do Instituto de Artes (IA), a 2ª edição do projeto acon-tece no dia 11 de dezembro, das 10 às 20 horas, no andar térreo da Biblioteca Central Cesar Lattes (BC-CL). Mais informações: 19-3521-6561.

TEDxUnicamp 2012 - O Núcleo Interdisciplinar de Comunicação Sonora (NICS) organiza no dia 12 de dezembro, das 9 às 17 horas, no Centro de Convenções, mais uma edição do evento TEDxUnicamp 2012. Desta vez será tratado o tema “Interdisciplinaridades”. As inscrições podem ser feitas pelo e-mail [email protected]. Outras informações: 19-3521-7923 ou link http://www.nics.unicamp.br/tedxunicamp/previas.html

Palestra com Teresa Torres Eça - O Museu de Artes Visuais da Unicamp e o Laborarte organizam uma palestra com a

professora, Teresa Torres Eça, investigadora em Arte Educação. No dia 12 de dezembro, às 14h30, na sala ED03 da Faculdade de Educação (FE), ela aborda: “Submergir-se ou outras maneiras de atravessar as pontes entre as escolas e museus”.

Prêmio Capes de Teses - A cerimônia de entrega dos prêmios aos autores e da distinção aos respectivos orientadores e programas de pós-graduação ocorrerá no edifício-sede da Capes, em Brasília, no dia 13 de dezembro. Na mesma solenidade haverá a divulgação e entrega do Grande Prêmio Capes de Tese para as três áreas do conhecimento. No ano passado, a Unicamp recebeu dois dos três Grandes Prêmios.

Prêmio Ozires Silva de Empreendedorismo Sustentável - O Instituto Superior de Administração e Econo-mia (ISAE) e o Grupo Paranaense de Comunicação (GRPCOM) lançam a 6ª edição do Prêmio Ozires Silva de Empreendedorismo Sustentável. O Prêmio irá identificar e premiar os melhores projetos nas áreas de empreendedorismo e sustentabilidade do Brasil que contribuam para o desenvolvimento da sociedade. Empresas, pessoas físicas e a comunidade acadêmica poderão inscrever projetos nas categorias Empreendedorismo Econômico, Ambiental, Educacional e Social. Os vencedores de cada moda-lidade serão conhecidos no dia 20 de fevereiro em cerimônia de premiação, quando receberão o Troféu do Prêmio Ozires Silva de Empreendedorismo e o selo de certifi cação. Projetos podem ser inscritos até 16 de dezembro. Conheça o regulamento no site www.isaebrasil.com.br/premio.

Alimentos - “Enterococcus spp e Pseudomonas spp isolados de ambiente de processamento de produtos lácteos: identifi cação, formação de biofi lmes multi-espécies e controle por agentes sani-tizantes” (doutorado). Candidata: Marcília Santos Rosado Castro. Orientador: professor Arnaldo Yoshiteru Kuaye. Dia 11 de dezembro, às 9 horas, no auditório II do DTA/FEA.- “Aplicação de amidos resistentes como ingredientes extensores substitutos de gordura em produto cárneo emulsionado” (mestra-do). Candidata: Carla Ivone Carraro. Orientadora: professora Marise Aparecida Rodrigues Pollonio. Dia 13 de dezembro, às 9h30, no anfi teatro I do DTA/FEA.

Computação - “Alinhamento de sequências na avaliação de resultados de teste de robustez” (doutorado). Candidata: Gizelle Sandrini Lemos. Orientadora: professora Eliane Martins. Dia 11 de dezembro, às 9 horas, no auditório do IC 2, sala 85 do IC.

O reitor da Unicamp, Fernan-do Ferreira Costa, inaugurou no último dia 3 a primeira etapa das obras de revitalização da praça e arredores do Ciclo Básico. Foram promovidas melhorias na ilumi-nação, adequação de calçadas e acessibilidade, instalação de novos mobiliários urbanos e construção de uma cobertura para acesso ao Restaurante Universitário. O in-vestimento contou com recursos da ordem de R$ 4,5 milhões.

O local, ponto de origem de todo o traçado viário do cam-pus, foi projetado na década de 1960 para estimular o convívio e a integração sociocultural da comunidade universitária. As in-tervenções e melhorias propostas objetivam, justamente, fazer com que o espaço deixe de ser usado somente como ponto de passagem. O propósito é que ele reassuma sua característica original, que é a de servir como ambiente de vivên-cia não apenas para a comunidade acadêmica como também para visitantes e moradores da região.

Alunos, docentes, funcionários e membros da administração cen-tral acompanharam as apresenta-ções do Coral Zíper na Boca; da Big Band Independente, do programa “Aluno-Artista” e da Companhia Honesta de Teatro, do Instituto de Artes (IA). Houve também uma caminhada pelo espaço, situado na região central da Universidade. Estão previstos para dezembro os

trabalhos de implantação do pro-jeto paisagístico. Posteriormente, novas obras serão realizadas na região, de modo a contemplar as próximas fases do projeto global de reurbanização da praça. Uma delas é a construção do prédio do Ciclo Básico 3, cujos recursos, da ordem de R$ 7,5 milhões, já estão previstos no orçamento da Unicamp.

“Esta inauguração faz parte de um conjunto de investimentos em infraestrutura para o convívio de estudantes, funcionários, pro-fessores e visitantes. Isto inclui a reforma de todas as quadras da Faculdade de Educação Física; a construção de um novo ginásio e a reforma do atual; a instalação de centros de vivência; a reforma das salas de aulas do Ciclo Básico 2 e a construção do básico 3; além da construção da Biblioteca de Obras Raras e do Museu de Artes Visuais da Unicamp. É uma satisfação po-der inaugurar a primeira etapa das obras da praça que deve ser usada por vocês para atividades culturais e próprias da universidade. Muito obrigado por todos e parabéns à Unicamp”, disse o reitor Fernando Costa, dirigindo-se à comunidade presente.

Para o pró-reitor de Desenvol-vimento Universitário, Roberto Rodrigues Paes, “fazer ensino, pes-quisa e extensão de excelência não exclui ambientes adequados para ocupação do tempo livre. Este é

Reitor Fernando Costa descerra placa: recursos de R$ 4,5 milhões

um exemplo de investimento que a Universidade fez e continuará fazendo no sentido de adequar espaços para convivência das pes-soas”, ressaltou. A concepção do projeto arquitetônico ficou a cargo da Coordenadoria de Projetos e Obras (CPO), órgão ligado à pró-reitoria dirigida por Roberto Paes.

O professor Marcelo Knobel, pró-reitor de Graduação, destacou a importância da obra e, com ela, da promoção de ações culturais no campus. “Teremos editais agora para ocupação cultural do espaço. Estamos requalificando também o

teatro de arena. Precisamos ter um ambiente de convívio adequado e estamos dispostos a fazer um agito cultural importante na Uni-versidade”, sinalizou.

O pró-reitor de Extensão e Assuntos Comunitários, João Fre-derico da Costa Azevedo Meyer, lembrou por sua vez, o significado da revitalização para as gerações de alunos, docentes e funcionários da Universidade. “Quando eu era aluno da Unicamp, no final da década de 60, eu sempre sonhava em ter um espaço assim. E hoje eu estou aqui emocionado e or-

gulhoso da minha Universidade. E espero poder ficar aqui ainda por muito tempo para poder aproveitar com vocês o potencial de cultu-ra, esporte, política e realização acadêmica que nós agora temos aqui”, disse.

PROJETOA primeira etapa do projeto de

requalificação da Praça do Básico compreendeu uma série de inter-venções. De acordo com Flávia Bri-to Garboggini, arquiteta da CPO e autora de uma tese de doutorado sobre o tema, o objetivo principal das ações, que foram estendidas também às áreas de entorno, foi oferecer à comunidade interna e aos visitantes um espaço de con-vivência, bem como promover a conexão entre o campus e a cidade ao seu redor.

CICLO BÁSICO 3O novo espaço abrigará labo-

ratórios de ensino de uso com-partilhado por todos os cursos de graduação. O complexo de labora-tórios, com um total de 7.450m2, ficará localizado em frente ao Ins-tituto de Matemática, Estatística e Computação Científica (IMECC) e ao Instituto de Filosofia e Ciên-cias Humanas (IFCH), tendo sido projetado para também oferecer espaços de socialização que visam intensificar o uso da praça central da Universidade para o convívio e o lazer. (Silvio Anunciação)

Economia - “Padrões de heterogeneidade estrutural no Brasil” (doutorado). Candidato: José Geraldo Portugal Júnior. Orientador: professor Rui de Britto Alvares Affonso. Dia 10 de dezembro, às 10h30, na sala 23 (Pavilhão da Pós-graduação do IE).

Educação - “Formação continuada de professores em terras de fronteiras - oeste do Paraná - 1973-1992” (doutorado). Candidato: Jose Kuiava. Orientadora: professora Corinta Maria Grisolia Geraldi. Dia 14 de dezembro, às 14 horas, na sala 23 do IE.

Educação Física - “Um estudo das políticas públicas de lazer de Brotas/SP” (doutorado). Candidata: Olívia Cristina Ferreira Ribeiro. Orientadora: professora Silvia Cristina Franco Amaral. Dia 10 de dezembro às 14 horas, no auditório da FEF.- “Trajetórias de vida: lembranças, caminhos e saberes docentes de professores de Educação Física” (doutorado). Candidato: José Carlos Rodrigues Junior. Orientador: professor Jocimar Daolio. Dia 12 de dezembro, às 14 horas, na sala de aula 05 da FEF.- “As práticas corporais de lazer e a residência secundária em Angra dos Reis-RJ” (doutorado). Candidata: Ana Paula Cunha Pereira. Orientadora: professora Silvia Cristina Franco Amaral. Dia 13 de dezembro, às 9 horas, no auditório da FEF.

Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo - “Método para aplicação do trabalho padronizado em serviços de construção” (mestrado). Candidato: Renato Nunes Mariz. Orien-tador: professor Flávio Augusto Picchi. Dia 13 de dezembro, às 10 horas, na sala CA-22 da FEC.

Engenharia Elétrica e de Computação - “Uma contribuição ao estudo de conversores / regeneradores totalmente ópticos de sinais OOK-OCDMA e DPSK-DB-OCDMA usando a técnica da mistura de quatro ondas” (doutorado). Candidata: Lídia Galdino. Orientador: professor Edson Moschim. Dia 12 de dezembro de 2012, às 10 horas, na sala PE-12.- “Arquitetura de mobilidade ipv6 entre cidades digitais” (mestrado). Candidato: Fabio Pessoa Nunes. Orientador: professor Leonardo de Souza Mendes. Dia 14 de dezembro de 2012, às 14 horas, na FEEC.

Engenharia Mecânica - “Análise comparativa de efi ciência energética de sistemas Integrados para pirólise de biomassa” (mestrado). Candidato: Rafael Piatto Berton. Orientador: professor Waldir Antonio Bizzo. Dia 11 de dezembro, às 10 horas, na sala KE2 da FEM.- “Estudo de impacto ambiental numa linha de produção lean” (mestrado). Candidata: Jenny Carolina Lombo Carrillo. Orientador: professor Antonio Batocchio. Dia 11 de dezembro, às 14 horas, no auditório do DEF.- “Análise estática e de fadiga de uniões soldadas por friction stir

welding” (mestrado). Candidata: Jaqueline Mára de Carvalho. Orientador: professor Renato Pavanello. Dia 14 de dezembro, às 9 horas, na FEM.

Geociências - “As transformações da seção naval do Instituto de Pesquisas Tecnológicas: aprendizagem e evolução institucional” (mestrado). Candidato: Lucas Rodrigo da Silva. Orientadora: professora Leda Maria Caira Gitahy. Dia 14 de dezembro às 14 horas, na sala A do DGRN/IG.

Linguagem - “Cortesãs Depierre Louÿs” (doutorado). Candidata: Paula Gomes Macário. Orientador: professor Mário Luiz Frungillo. Dia 10 de dezembro, às 14h30, na sala de defesa de teses do IEL.- “Práticas de letramentos em jogo de construção colaborativa: mud valinor” (mestrado). Candidata: Dáfnie Paulino da Silva. Orientador: professor Marcelo El Khouri Buzato. Dia 12 de dezembro, às 9h30, na sala de defesa de teses do IEL.- “Uma análise fonológica da língua kanamari (katukina)” (mes-trado). Candidata: Priscila Hanako Ishy. Orientador: professor Angel Humberto Corbera Mori. Dia 12 de dezembro, às 10 horas, no Anfi teatro do IEL.

Matemática, Estatística e Computação Científi -ca - “Diferenciabilidade dos expoentes de Lyapunov” (doutorado). Candidato: Thiago Fanelli Ferraiol. Orientador: professor Luiz Antonio Barrera San Martin. Dia 10 de dezembro, às 14 horas, na sala 253 do Imecc.- “Algoritmo do ponto proximal para operadores não monótonos” (mestrado). Candidata: Nancy Baygorrea Cusihuallpa. Orientador: professor Roberto Andreani. Dia 12 de dezembro, às 10 horas, na sala 253 do Imecc.- “Modelagem e estudo analítico da equação da onda elástica em um meio VTI” (doutorado). Candidato: Rodrigo Bloot. Orientador: professor Joerg Schleicher. Dia 14 de dezembro de 2012, às 14 horas, na sala 253 do Imecc.- “Arremessos de basquetebol e sequências de Bernoulli: uma aplicação de métodos estatísticos para análise de séries tem-porais binárias” (mestrado). Candidata: Michelly Guerra Costa. Orientador: professor Cristiano Torezzan. Dia 14 de dezembro, às 15 horas, no Imecc.

Medicina - “Análise de fatores angiogênicos e da expressão da COX-2 em tumores de linhagem cartilaginosa – correlação clínico-histológica” (mestrado). Candidato: Francisco Fontes Cintra. Orientadora: professora Eliane Maria Ingrid Amstalden. Dia 10 de dezembro, às 10 horas, no Anfi teatro “Dr. Lopes de Faria” do Hospital das Clínicas (HC).

Odontologia - “Estudo do perfil proteolítico da matriz dentinária e interface adesiva: comportamento mecânico, bioquímico e efeito da clorexidina” (doutorado). Candidata: Polliana Mendes Candia Scaffa. Orientadora: professora Marcela Rocha de Oliveira Carrilho. Dia 11 de dezembro, às 14 horas, na Congregação da FOP.- “Infl uência do PH na susceptibilidade de biofi lmes de candida albicans ao fl uconazol” (mestrado). Candidata: Andréa Araujo de Vasconcelos. Orientador: professor Wander José da Silva. Dia 13 de dezembro, às 14 horas, no anfi teatro 01 da FOP.- “Avaliação do papel biológico do gene homeobox hoxa10 em car-cinomas espinocelulares orais” (doutorado). Candidata: Manoela Carreta M. Cavalcante Pereira. Orientador: professor Ricardo Della Coletta. Dia 14 de dezembro, às 8h30, no anfi teatro 04 da FOP.- “Influência da ancoragem apical na estabilidade primária e comportamento biomecânico de implantes sub-cristais” (mestra-do). Candidata: Camila Lima de Andrade. Orientador: professor Altair Antoninha Del Bel Cury. Dia 14 de dezembro, às 8h30, no salão nobre da FOP.- “Avaliação da infl uência do calor e da luz solar na modifi cação da densidade de fi lmes radiográfi cos impressos” (doutorado). Candidato: Marco Antonio Gomes Frazão. Orientador: professor Frab Norberto Bóscolo. Dia 14 de dezembro, às 9 horas, no anfi teatro 01 da FOP.- “Estudo de opacidade demarcada de esmalte em molares permanentes e decíduos” (doutorado). Candidata: Cristiane Maria da Costa Silva. Orientador: professor Fabio Luiz Mialhe. Dia 14 de dezembro, às 14 horas, no anfi teatro 02 da FOP.

Química - “Celulose e Lignocelulósicos como suportes na remoção de contaminantes em líquidos” (doutorado). Candidato: Júlio César Perin de Melo. Orientador: professor Claudio Airoldi. Dia 11 de dezembro, às 13h30, no miniauditório do IQ.- “Ecologia química de melipona quadrifasciata lepeletier, mcap-totrigona aff. depilis moure e solenopsis saevissima smith” (doutorado). Candidata: Adriana Pianara. Orientadora: professora Anita Jocelyne Marsaioli. Dia 12 de dezembro, às 9 horas, no miniauditório do IQ.- “Células solares fotoeletroquímicas baseadas em fi lmes fi nos multicamadas de polímeros condutores, nanotubos de carbono e fulerenos modifi cados” (doutorado). Candidato: Luiz Carlos Pimentel Almeida. Orientadora: professora Ana Flávia Nogueira. Dia 13 de dezembro, às 9 horas, no miniauditório do IQ.- “Bases moleculares da diminuição da capacidade funcional do receptor de androgênio mutado estudadas por simulações de dinâmica molecular” (doutorado). Candidato: Julio Cesar Araújo da Silva. Orientador: professor Munir Salomão Skaf. Dia 14 de dezembro, às 14 horas, no miniauditório do IQ.

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11Campinas, 10 a 16 de dezembro de 2012

Engenheiro desenvolve trabalho em parceria com universidades europeiasFoto: Antoninho Perri

PublicaçãoTese: “Processos alternativos para micro e nanotecnologia” Autor: Cleber Biasotto Orientador: José Alexandre Diniz Unidade: Faculdade de Enge-nharia Elétrica e de Computação (FEEC)

Por uma eletrônica mais rápida

CARMO GALLO [email protected]

ma circunstância na sequência curricular do engenheiro elé-trico Cleber Biasotto chama a atenção. Natural de Campinas, onde se bacharelou em 2002,

recebeu em 2005 o diploma de mestre na área de microeletrônica da Faculda-de de Engenharia Elétrica e de Compu-tação (FEEC) da Unicamp, em trabalho realizado no Centro de Componentes Semicondutores (CCS) da Universida-de.

Depois de mais dois anos de traba-lho acadêmico na Unicamp, radicou-se por aproximadamente quatro anos na cidade de Delft, na Holanda, para de-dicar-se ao desenvolvimento de uma eletrônica alternativa de maior velo-cidade, que o levou a doutorar-se, em 2011, pela Delft University of Techno-logy (TUDelft) publicando o livro “Do-tFETs: MOSFETs Strained by a Single SiGe Dot in a Low-Temperatura ELA Technology”, em que DotFETs (Dot Field Effect Transistor) refere-se ao nome de batismo do dispositivo final fabricado.

De volta ao Brasil, dedicou-se a es-crever a tese de doutorado que acaba de apresentar à FEEC, denominada “Processos Alternativos para Micro e Nanotecnologias”, que contém os de-senvolvimentos práticos e teóricos que o levaram a cidade de Delft. É sui generis o fato de todo o trabalho apresentado agora na tese ter servido, mesmo an-tes de ser publicado, como base para a fabricação de transistores de efeito de campo com estrutura Metal-Óxido-Se-micondutor (MOS) sobre ilhas de ligas de silício-germânio (SiGe), os chama-dos DotFETs de alta velocidade, nos laboratórios da TUDelft em conjunto com outras universidades da União Europeia e apoio da empresa STMicro-electronics, de Grenobre, França.

Desde 2010, quando voltou ao Bra-sil, ele é Coordenador de Pesquisa e Desenvolvimento da empresa alemã de semicondutores Semikron, que atua no país desde 1963. Agora se prepara para no início do ano assumir a função de especialista em tecnologia eletrônica avançada na Ceitec S.A., empresa pú-blica federal vinculada ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, focada no desenvolvimento e produção de cir-cuitos integrados.

Criada em 2008 e sediada em Porto Alegre, a empresa é a única da Amé-rica Latina que será capaz de produzir chips, os circuitos integrados.

A construção de transistores uti-lizados na fabricação dos circuitos integrados, normalmente envolve o emprego de processos em altas tem-peraturas e tempos longos. O tempo encarece a produção e a temperatura pode causar danos aos materiais en-volvidos em suas constituições, tais como silício (Si), germânio (Ge), óxi-dos e metais, que possuem significa-tivas diferenças nas temperaturas de mudanças de fase (fusão e ebulição).

Para manter a integridade de todo o conjunto e acelerar o processo durante a fabricação de transistores, procura-se trabalhar com temperaturas e tem-pos menores. Isso naturalmente não pode ser conseguido, por exemplo, submetendo o conjunto a um forno de alta temperatura, pois cada cons-tituinte possui uma característica tér-mica diferente.

Cleber utilizou então a técnica de recozimento a laser, em que o feixe de luz incide pontualmente nas regiões desejadas, não danificando os demais materiais do entorno, o que possibilita o ajuste de cada componente sem da-nos. O professor José Alexandre Diniz, orientador do trabalho realizado no Brasil, explica que o processo a laser ainda não é utilizado em escala de pro-

Capa do livropublicado

na Holanda: nome de

batismo do dispositivo

O professor José Alexandre Diniz (à direita), orientador, e Cleber Biasotto, autor da tese: técnica de recozimento a laser

dução e por isso é considerado alter-nativo. Esse processo ponto-a-ponto é muito lento, de baixa produtividade, mas com a evolução da tecnologia de micro e nanofabricação pode vir a se tornar mais rápido e viável.

A PROPOSTAFoi o que aconteceu com a tecno-

logia de fabricação dos transistores, que compõem os chips (circuitos in-tegrados), que são os dispositivos semicondutores mais importantes na área da eletrônica e são utilizados em praticamente todos os equipamentos eletrônicos. Os circuitos integrados são constituídos por estes dispositivos semicondutores (com dimensões mi-cro e manométricas) interligados um ao outro e produzidos na superfície de um substrato fino de material semi-condutor.

O primeiro transistor foi fabrica-do em germânio, logo em seguida utilizou-se o silício por apresentar algumas vantagens sobre o germâ-nio. Atualmente o silício e a liga SiGe apresentam características interessan-tes na fabricação de transistores. A utilização da liga SiGe permite obter transistores de maior velocidade, mas para que isso aconteça, é necessário o estudo de processos em baixa tempe-ratura para que a liga de SiGe mante-nha as suas características físicas ini-ciais e de baixo custo, viabilizando o processo de fabricação.

Em vista disso, a proposta inicial do trabalho desenvolvido por Cleber já no mestrado era o de obter materiais iso-lantes sobre silício para aplicação em microeletrônica utilizando baixa tem-peratura de processamento. Iniciando o doutorado em 2005, a ideia era a de obter filmes de SiGe de maneira mais barata, utilizando o equipamento de que dispunham no laboratório.

Cleber conseguiu produzir algu-mas ligas de SiGe, desenvolvendo uma tecnologia alternativa, ainda não utili-zada, mas que não atendiam totalmen-te às necessidades físicas necessárias para a produção de transistores de alta qualidade, embora conseguisse pro-duzir alguns diodos com estruturas SiGe sobre Si. Decidiu-se então mo-

ver-se para a Holanda com o objetivo de desenvolver um processo em baixa temperatura (≤ 400oC) aplicado a liga de SiGe, utilizando aparelhagem mais sofisticada e mais cara, não disponível no laboratório do CCS, com vistas à produção de transistores MOS sobre ligas de SiGe, tais como os DotFETs.

No desenvolvimento destes tran-sistores, levou na bagagem a tecnolo-gia alternativa desenvolvida no CCS, pois a TUDelft necessitava deste co-nhecimento para a fabricação de tran-sistores MOS.

“Como os pesquisadores da TU-Delft não tinham conhecimento de processos em baixa temperatura, acharam interessante que eu fosse para lá desenvolver transistores de SiGe utilizando essa técnica. Na TU-Delft, além de obter dispositivos com a liga de SiGe usei também a tecnolo-gia de recozimento a laser para con-seguir a característica elétrica neces-sária para a fabricação do protótipo de um DotFET. Foi quando utilizei a tec-nologia desenvolvida no CCS. O que mostro agora na tese de doutorado apresentada à Unicamp serviu como base para desenvolver todo trabalho na TUDelft”, enfatiza.

DECORRÊNCIASO professor Diniz acrescenta que

a chamada estrutura MOS (Metal-Óxido-Semicondutor) de porta de um transistor é responsável pelo controle da corrente elétrica, sendo o semi-condutor desta estrutura a liga SiGe. Como havia necessidade, na composi-ção do transistor, do emprego de um oxido de qualidade também obtida em baixa temperatura sobre a liga SiGe, foi confiada ainda a Cleber essa tare-fa. Para tanto ele se valeu também de trabalhos que tinha desenvolvido na Unicamp.

Cleber esclarece que o trabalho foi realizado com a cooperação de várias universidades europeias e da empresa que tinha interesse nesse desenvolvi-mento, que detém uma tecnologia de obtenção de Si pelo processo tradicio-nal. O trabalho contribui para a me-lhora dessa tecnologia ainda não in-corporada por questões de velocidade

de produção. O projeto foi desenvol-vido no âmbito da União Europeia e, em Delft Cleber, juntou todas as tec-nologias e caracterizou os dispositivos fabricados em laboratório.

O professor Diniz explica ainda que a redução do tamanho dos dispo-sitivos semicondutores permite uma maior integração por unidade de área e que, por sua vez, um transistor pe-queno consegue comutar mais rapidamente os estados de liga-do e desligado aumentando a velocidade de resposta do cir-cuito integrado formado por eles.

Entretanto, como os tran-sistores atuais já são extrema-mente peque-nos, com dimen-sões menores que 50 nanômetros, possivelmente não haverá como reduzi-los ainda mais devido aos próprios limites físi-cos do silício. Resta então como saí-da mudar a natureza do material para fabricação de transistores. “Esse é o papel de um engenheiro de processo na área de microeletrônica em que há engenheiros que projetam os circuitos e os que desenvolvem processos de fabricação. Esses têm que trabalhar com materiais e processos com vistas a atingir melhor desempenho, pois o que se pretende é que o dispositivo apresente respostas melhores”, diz ele.

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MARIA ALICE DA [email protected]

uando as notas musicais ainda não tinham repre-sentação gráfica, um líder musical era responsável pelos gestuais que indica-vam nota por nota. Já no

século 19, quando melodia e dinâmica já podem ser escritas, surge o maestro intérprete, este contemplado hoje à frente de uma orquestra ou de um coro.

Mas nem só de interpretar partituras vivem os maestros. A partir do século 20, esses profissionais da música passam a administrar seus grupos, montar e dirigir espetáculos, produzir eventos e podem até assumir uma função na sociedade, assumindo responsabilidades para além da técnica de regência. Conforme argu-menta o maestro Hermes Coelho em tese defendida no Instituto de Artes (IA) da Unicamp, hoje, alguns atributos se tornaram pré-requisito para quem dese-ja ter domínio sobre esta arte e exercê-la com conhecimento e seriedade.

A tese, inicialmente dedicada à re-flexão sobre o maestro do século 21, aponta vários caminhos para que a performance de jovens regentes tenha resultados bem-sucedidos, desde a so-noridade da orquestra até as atribuições administrativas que surgem ao longo do trabalho. Um dos aspectos importantes destacados na pesquisa é o trabalho so-cial do regente, um dos novos desafios para o século.

Em muitos lugares, o maestro é o representante da cultura na cidade. “Temos de fazer essa interface com o público. Há um público leigo, mais fa-miliarizado com a música popular e o maestro pode atraí-lo por meio de ati-vidades como concertos didáticos. E o músico só vai entender as expectativas da sociedade se ele for lá para conhecê-las”, salienta Coelho. Neste caso, a es-colha pelo repertório também deve ser pautada na realidade do público para o qual o concerto será apresentado.

Cabe ao regente observar qual será sua plateia, que ora pode ser formada por adolescentes, ora por adultos. “Se vamos nos apresentar para um público jovem, vamos optar por repertório de compositores que eles conheçam, como Mozart, Vivaldi. Se for amante de ópera, por exemplo, vamos apresentar abertu-ras ou solos de óperas”, explica.

Iniciativas como esta, na opinião de Coelho, contribuem para o aprimora-mento da plateia, levando conhecimen-to e estimulando reflexões que condu-zam o público a uma apreciação mais atenta e aprofundada da música sinfô-nica. Ele esclarece que a função musical da orquestra não precisa ser invertida para isso.

Uma forma eficiente de alcançar toda a sociedade é o planejamento da temporada. Além de levar a música clássica a diferentes públicos, a orques-tra também deve levar o público para o ambiente da música erudita. “Tem de mostrar às pessoas que elas podem fre-quentar o teatro. Criar a cultura de ir ao teatro, e não apenas levar a orquestra ao público. Muitas vezes as pessoas têm até receio de entrar, dizem não ter roupa adequada, mas não precisa ter roupa de luxo para entrar. Ninguém vai impedir a pessoa de entrar no teatro porque está vestindo jeans. O que não pode é deixar de ter acesso à cultura.”

Para Coelho, também não é preciso entender música para começar a apre-ciar concertos. Outra importância do maestro em cena é o gestual, pois ele leva o público a entender o que está acontecendo. Quando o maestro se vol-ta ao violoncelo, o público percebe que aquele é o momento de entrada do vio-loncelo, além de perceber o som. Esta, segundo o maestro, é um a forma de educar musicalmente o público. “As pessoas que não têm formação musical começam a perceber os diálogos musi-cais a partir da regência.”

Normalmente, ao se apresentar em uma praça ou qualquer outro ambien-

Campinas, 10 a 16 de dezembro de 201212

PublicaçãoTese: “O regente orquestral con-temporâneo por uma visão contex-tualizada”Autoria: Hermes CoelhoOrientação: Eduardo ÖstergreenUnidade: Instituto de Artes (IA)

Foto: Antonio Scarpinetti

Na era do multimaestromultimaestro

Coelho: “Boa parte das

informações é pautada em minha própria

experiência”

O maestro Hermes Coelho, autor da tese, rege a Orquestra Ars Musicalis em festival de música sacra na Catedral de Campinas

te alternativo, ele percebe uma criança imitando o regente. “Como a criança terá vontade de tocar um violino se ela não vir isso de perto? Com frequência uma criança se aproxima e diz: ‘Quero tocar isso (referindo-se a um instrumento de orquestra).” Ele enfatiza que, indepen-dentemente do nível cultural, a pessoa se emociona ao ouvir uma sinfônica tocar. “A combinação de música, dança e teatro é emocionante. O ambiente é propício.”

O maestro defende também a frag-mentação da orquestra em pequenos pú-blicos para ampliar o número de espaços para apresentação como forma de che-gar a toda a sociedade. “Posso não con-seguir levar a orquestra toda para uma igreja, mas posso ter numa quinta-feira, ao meio dia (intervalo para almoço) um quarteto de cordas ou um grupo de ma-deiras, ou sopro, tocando na Catedral de Campinas.” Ele explica que na orquestra tem programas diversos e muitos deles não envolvem todos os instrumentos, o que possibilita que músicos que não participariam de determinado programa possam tocar em outros lugares, minis-trando palestras em escolas ou em outras atividades.

O regente também pode realizar ativi-dades de apreciação musical, que consis-te em oferecer aula aberta a determinada comunidade a partir da audição de uma obra, acompanhado de CD ou DVD. “Na PUC-Campinas, por exemplo, onde tra-balho, proponho análise musical a partir de filmes. Na introdução falo sobre os aspectos que envolvem o filme e faço in-tervenções para falar das peças. A pessoa nunca mais esquece isso”.

Na Orquestra Ars Musicalis, coor-denada e regida por ele, foi desenvolvi-do o projeto “A Orquestra vai à escola:

clássicos de jovens para jovens”. Os con-certos foram realizados em escolas públi-cas e envolveram jogos musicais com as crianças. “A partir do momento que são estimuladas a responder o nome de de-terminados instrumentos, elas passam a apreciar a música.”

Trabalhar com o público não é tão simples assim. As propostas apresen-tadas na tese estão fundamentadas em análise minuciosa do comportamento deste ouvinte. Ele começa pela forma individual de ouvir música, pautado na teoria de Aaron Copland, que divide os níveis de audição em sensível (percep-ção), expressivo (busca o que a música expressa – um trenzinho caipira, uma buzina de caminhão) e o puramente musical, que permite saber quais são as referências harmônicas, os timbres que variam, diálogos na orquestra, dinâmica, entre outros.

Mas, neste último, quase ninguém chega, pois tem de continuar estudando para se aprofundar. “Há uma deficiência muito grande do público, que precisa se preparar para entender os elementos mu-sicais. A música é um tripé (compositor, intérprete e ouvinte). O compositor se prepara muito, o intérprete também estu-da horas e horas, mas e o ouvinte? Se não se preparar, vai ao concerto e não absorve nada.” O autor do estudo argumenta que se o ouvinte absorver os conhecimentos terá benefício para si mesmo.

Para Coelho, o maestro tem de assu-mir a função de gestor de seu grupo e, por muitas vezes, acumula a função de diretor artístico. Em sua rotina, fora dos palcos, tem questões trabalhistas, ativi-dades de produção, que envolvem capta-ção de recursos para projetos e concertos. “Geralmente, a orquestra tem verba para

pagar os músicos, maestro, mas faltam recursos para produção.”

Como exemplo, ele menciona a mon-tagem de uma ópera, que requer con-dições para cenário, fosso, figurino, a iluminação, técnico de som, direção de palco, dança e tudo o mais. Para que o espetáculo seja bem-sucedido, o maestro deve conhecer todas as fases que envol-vem uma produção, assim como os me-canismos de incentivo à cultura, como o Proac, o FIC, a Lei Rouanet, ou Pró-Cultura. Coelho oferece, inclusive, dicas de como pagar cachê, emitir nota fiscal, recibo, fazer declaração, além de indicar o que deve ser descontado, como INSS e imposto de renda. “Boa parte das in-formações é pautada em minha própria experiência.”

SONORIDADEOs assíduos a concertos sabem que

a sonoridade de uma mesma orquestra ou mesmo de um coro para uma mesma peça pode mudar de acordo com a inter-pretação de cada maestro. No capítulo dedicado a sonoridade, Coelho aponta alguns caminhos possíveis, como a con-dições de estudo do maestro. “Ele preci-sa estudar a obra sozinho para criar uma imagem sonora e em seguida conseguir transmitir isso para a orquestra no en-saio, tanto por meio do gestual quanto verbalmente para que o resultado seja igual à imagem pensada. O terceiro mo-mento tem a ver com sua atuação na at-mosfera do momento do concerto para alcançar seu objetivo.”

O objeto de estudo de Coelho foi a obra Sinfonia do Novo Mundo, de Dvörak. Todas as análises de interpretação são ba-lizadas pela peça. Além de estudar cada item, ele criou exemplos para expressar ideias de interpretação. Encontram-se comentários com informações sobre a página em que o exemplo está disponí-vel. “Explico detalhadamente as ideias de interpretação, com gráfico indicando. Pode ser aplicado em qualquer tipo de trabalho. Para soar bem, tem de tentar entender o que o compositor está ten-tando transmitir.”