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Quando Nelson migra para a TV As instituições e a dinâmica econômica A predisposição para o melanoma cutâneo Técnica aprimora mapas geológicos Nanopartículas carreiam fármaco Os novos cursos e a conjuntura 9 12 4 Impacto, conteúdo e qualidade O professor e escritor Paulo Franchetti analisa o mercado editorial e detalha as ações que colocaram, em sua gestão, a Editora da Unicamp entre as melhores do país. Livros do catálogo da Editora da Unicamp: reconhecimento dos pares e da comunidade acadêmica IMPRESSO ESPECIAL 9.91.22.9744-6-DR/SPI Unicamp/DGA CORREIOS FECHAMENTO AUTORIZADO PODE SER ABERTO PELA ECT www.unicamp.br/ju ornal U ni camp da Campinas, 5 a 11 de novembro de 2012 - ANO XXVI - Nº 545 - DISTRIBUIÇÃO GRATUITA J

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Jornal da Unicamp, Edição 545

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Quando Nelson migra para a TV

As instituições e adinâmica econômica

A predisposição parao melanoma cutâneo

Técnica aprimoramapas geológicos 3Nanopartículascarreiam fármaco

Os novos cursose a conjuntura

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Impacto, conteúdo e qualidade

O professor e escritor Paulo Franchetti analisa o mercado editorial e detalha as ações que colocaram, em sua gestão, a

Editora da Unicamp entre as melhores do país.

Livros do catálogo da Editora da Unicamp: reconhecimento dos pares e da comunidade acadêmica

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IMPRESSO ESPECIAL9.91.22.9744-6-DR/SPIUnicamp/DGACORREIOS

FECHAMENTO AUTORIZADOPODE SER ABERTO PELA ECTwww.unicamp.br/ju

ornal UnicampdaCampinas, 5 a 11 de novembro de 2012 - ANO XXVI - Nº 545 - DISTRIBUIÇÃO GRATUITA

J

UNICAMP – Universidade Estadual de CampinasReitor Fernando Ferreira CostaCoordenador-Geral Edgar Salvadori De DeccaPró-reitor de Desenvolvimento Universitário Roberto Rodrigues PaesPró-reitor de Extensão e Assuntos Comunitários João Frederico da Costa Azevedo MeyerPró-reitor de Pesquisa Ronaldo Aloise PilliPró-reitor de Pós-Graduação Euclides de Mesquita NetoPró-reitor de Graduação Marcelo KnobelChefe de Gabinete José Ranali

Elaborado pela Assessoria de Imprensa da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Periodicidade semanal. Correspondência e sugestões Cidade Univer-sitária “Zeferino Vaz”, CEP 13081-970, Campinas-SP. Telefones (019) 3521-5108, 3521-5109, 3521-5111. Site http://www.unicamp.br/ju. E-mail [email protected]. Twitter http://twitter.com/jornaldaunicamp Assessor Chefe Clayton Levy Editor Álvaro Kassab ([email protected]) Chefi a de reportagem Raquel do Carmo Santos ([email protected]) Reportagem Carmo Gallo Neto Isabel Gardenal, Maria Alice da Cruz e Manuel Alves Filho Editor de fotografi a Antoni-nho Perri Fotos Antoninho Perri e Antonio Scarpinetti Coordenador de Arte Luis Paulo Silva Editor de Arte Joaquim Daldin Miguel Vida Acadêmica Hélio Costa Júnior Atendimento à imprensa Ronei Thezolin, Patrícia Lauretti e Jaqueline Lopes. Serviços técnicos Dulcinéa Bordignon Everaldo Silva Impressão Pigma Gráfi ca e Editora Ltda: (011) 4223-5911 Publicidade JCPR Publicidade e Propaganda: (019) 3327-0894. Assine o jornal on line: www.unicamp.br/assineju

Unicamp, que acaba de completar 46 anos, tem muitos motivos para se orgulhar, entre eles o fato de ser sólido paradigma de exce-lência no cenário acadêmico e

científico brasileiro. O Simtec (Simpósio de Profissionais da Unicamp), que iniciou em 1997 e cuja quarta edição acontece em no-vembro, tendo como tema central “Conheci-mento e experiência: reconhecendo frontei-ras e construindo pontes”, busca evidenciar a participação e o comprometimento dos quadros técnicos e administrativos com a abrangente produção da Universidade.

Há, e o evento demonstra, efetiva inserção dos funcionários no esforço institucional que sustenta os resultados obtidos pela Universi-dade. O Simtec expressa, de forma representa-tiva e institucional, a riqueza de conteúdo e de resultados e também a diversidade profissio-nal do conjunto da Carreira Paepe (Profissio-nais de Apoio ao Ensino, Pesquisa e Extensão) e, em certa medida, também a produção dos integrantes da Carreira PQ – Pesquisadores, segmentos funcionais qualificados e com foco para os desafios da Unicamp no seu papel jun-to à sociedade brasileira.

Já na origem da formação dos quadros téc-nicos da Universidade, em 1966, se faziam presentes os desafios de suprir as peculiari-dades para atuar profissionalmente na cons-trução desta que hoje integra o conjunto das mais importantes instituições acadêmicas e científicas brasileiras. Certamente, os primei-ros integrantes do quadro de funcionários da Unicamp tiveram que se constituir neste ce-nário em perspectiva da construção de uma universidade de vanguarda. Isso prosseguiu nos heróicos tempos em que o atual campus não passava de um grande canavial, e Barão Geraldo era um longínquo distrito, quase ru-ral, de Campinas.

Eram tempos em que os funcionários já marcavam presença com trabalho diferencia-do em ações administrativas e nos laborató-rios. Antes mesmo de sua instalação defini-tiva, a Unicamp, numa perspectiva visionária do seu fundador, Zeferino Vaz, já havia atraído para seus quadros mais de 200 professores estrangeiros das diferentes áreas do conhe-cimento e cerca de 180 vindos das melhores universidades brasileiras. Um quadro funcio-nal diferenciado qualitativamente, portanto, já se impunha naquele momento. E assim prosseguiu.

Pesquisando um pouco da trajetória da Unicamp, em sua ainda curta história, ve-mos que a Universidade veio se afirmando, sobretudo a partir da década de 1970, no desenvolvimento de pesquisas de imediata aplicabilidade e com repercussão social re-levante, passando a fazer parte do cotidiano da sociedade em questões como telefonia digital, controle biológico de pragas que acometem a agricultura, desenvolvimento da fibra óptica e suas múltiplas aplicações, surgimento do raio laser e seu uso nos mais diversos campos, resultados notáveis e ino-vadores também nas áreas de educação, eco-nomia, nas ciências sociais e políticas, artes, letras, história, nas áreas de produção de alimentos, dentre outras áreas.

E em temas mais recentes, como o direito à acessibilidade universal ou mobilidade ur-bana, a Unicamp é pioneira e com destaque significativo em pesquisas que resultam em melhorias sociais importantes, produção que, no seu conjunto, representa em torno de 15% de toda a pesquisa científica brasileira.

O Simtec é afirmativo no tocante à parti-cipação dos profissionais da instituição neste

Campinas, 5 a 11 de novembro de 20122ARTIGOARTIGO por: Edison Lins

Foto: Talita MatiasUnicamp, que acaba de completar 46 anos, tem muitos motivos para se orgulhar, entre eles o fato de

A faceta acadêmica dos funcionários da Unicamp

Estandes com trabalhos de funcionários na última edição do Simtec: evento serve de modelo para várias instituições do país

universo científico e acadêmico. A Unicamp é pioneira na busca da visibilidade deste víncu-lo, visto que o Simtec é, até hoje, pelas obser-vações, o único evento desta natureza em uma universidade pública.

Já inspirou o 1º Conpuesp – Congresso de Profissionais que, ano passado, reuniu cen-tenas de profissionais da USP e Unesp, sob a liderança e participação da Unicamp. Esse evento terá sua segunda edição em outubro de 2013, com uma comissão organizadora que conta com representantes da Unicamp. Está na pauta da próxima edição do Conpuesp a parti-cipação de todas as universidades públicas que funcionam no Estado de São Paulo e algumas universidades públicas latino-americanas.

Registre-se ainda que a iniciativa pioneira da Unicamp, cujo livro resumo do Simtec é distribuído para todas as universidades pú-blicas brasileiras, se associa a outras iniciati-vas concomitantes, em universidades impor-tantes como a UFPR (Universidade Federal do Paraná), onde funcionários realizarão, em fins de novembro, evento no qual represen-tantes das três universidades estaduais do Estado de São Paulo estarão presentes como convidados para falar em um fórum que bus-ca discutir, conforme seus pressupostos, que “é preciso dar visibilidade ao que vem sendo produ-zido pelos técnico-administrativos para incluí-los na política de incentivos à produção acadêmica e técnica”.

DIÁLOGOO Simtec é mostra efetiva de uma produ-

ção de qualidade, aberto a todos os profissio-nais da Unicamp em seus diversos segmentos e níveis. Os 350 trabalhos, número signifi-cativo, que serão expostos durante o evento, tornam visíveis essas produções profissionais.

Assim, o evento traz perspectivas alvis-sareiras a cada edição, na medida em que, já fazendo parte da agenda institucional da Uni-versidade é, sobretudo, espaço de afirmação e de reafirmação da qualificada face acadêmica dos funcionários, nas mais diversas ações de

pesquisas, projetos acadêmicos estritos, ações técnicas, operacionais e administrativas. A próxima edição, que acontece nos dias 6 e 7 de novembro, traz avanços importantes, en-tre os quais espaço para apresentação oral de trabalhos selecionados pela comissão cien-tífica do evento, além de uma programação significativa que inclui efetivo diálogo com a área docente da Unicamp, que terá uma mesa em que professores de três áreas distintas da Universidade, mas complementares em tema abrangente, abordarão, a partir de suas linhas de pesquisas, aspectos desafiadores da quali-dade na vida e no trabalho.

Assim o evento amplia seu objetivo, avan-çando no dimensionar o chamado segmento técnico, administrativo e operacional como parte ativa da Universidade naquilo que lhe é o papel essencial, de formação e fomento de pesquisa e de serviços no Ensino, Pesquisa e Extensão. Um conjunto de dados, diretamen-te relacionado à questão aqui em reflexão, é o fato de a Unicamp ser, entre as três universi-dades estaduais de São Paulo, a que possui o maior número de profissionais com formação superior e com número expressivo de mestres e doutores, reflexo, certamente, do que des-tacamos em relação ao início da constituição dos quadros técnicos e administrativos da Unicamp.

Na atualidade, isso se expressa na busca cada vez maior do desenvolvimento educa-cional, acadêmico e científico. O que explica também a vanguarda da Unicamp é o fato de ser nossa Universidade pioneira em um even-to como o Simtec, que sempre contou com adesão relevante do conjunto de profissionais da instituição, onde esse conjunto mostra sua contribuição como quadro profissional de re-ferência, no importante compromisso que a Unicamp tem com a sociedade que a financia, sempre se pautando pela excelência.

Edison Cardoso Lins, da carreira Paepe, mestre em Educação, integra a Comissão, designada pelo reitor. Coordena os trabalhos de organização geral do IV Simtec.

Grau de escolaridade dos inscritos no IV Simtec que enviaram trabalhos

Grau de escolaridade dos inscritos no IV Simtec

superior

superior incompleto

ensino médio efundamental

graduação

pós-graduação

mestrado

doutorado

91%

47%

23%

16%

14%

7%2%

superior

superior incompleto

ensino médio efundamental

graduação

pós-graduação

mestrado

doutorado

77%

12%

8%

24%

11%

62%

6%

O pesquisador leva esta aposta em consi-deração, mas ressalva que o desenvolvimento econômico é um fenômeno que se caracteriza pela mudança – e pela mudança institucional. “Por isso, vejo certa tensão entre caracterizar economias com complementaridade e rigidez institucional de um lado, e de outro, tentar analisar a trajetória dessas sociedades que

contemplam a mudança institucional o tempo todo, ao menos no longo prazo. Como compati-bilizar esses dois aspec-tos controversos? Esta é uma limitação da abor-dagem, que eu procurei não só explicitar, mas também propor uma so-lução para isso.”

MODIFICAÇÕESAmitrano propõe

modificações sob outra perspectiva teórica, em que utiliza um conceito de instituição e de ra-cionalidade diferente, as instituições são apresen-tadas como recursos, as institucionais informais têm papel significativo e os agentes são movidos pelo auto-interesse e por certa noção de reciproci-dade. “Isso vai permitir que determinadas ins-tituições exerçam um papel fundamental so-bre as preferências dos agentes, ou seja, elas vão ser endógenas e não exó-genas. Com isso, apesar de termos um número limitado de variedades de capitalismo, eles não

convergirão necessariamente para dois. E, até por conta desta conclusão, modelos que não se enquadrem no modelo liberal nem no modelo coordenado, poderão ser estáveis ao longo do tempo.”

Na última parte da tese, o autor apre-senta sua abordagem específica para carac-terizar a performance das economias, pro-curando mostrar que é possível, a partir de uma teoria alternativa, derivar modelos di-ferentes de desenvolvimento. “Utilizei um instrumental pós-keynesiano para tratar de dois fenômenos vinculados ao desempenho das economias, que são a inflação e o cres-cimento. Criei primeiro um modelo de in-flação e conflito distributivo, mostrando os possíveis impactos de instituições como o banco central e a barganha salarial na deter-minação da taxa de inflação. A partir desse modelo é possível derivar modelos de capi-talismo diferentes do caso alemão e do caso americano e, ainda, que essas outras varie-dades sejam estáveis.”

Para avaliar o crescimento, o segundo ele-mento de desempenho econômico, Cláudio Amitrano desenvolveu um modelo também pós-keynesiano, com três elementos centrais: nele, é a demanda que comanda o crescimen-to (e não a oferta, como nos modelos ortodo-xos); a distribuição funcional da renda (entre salários, lucros e juros) tem papel central na dinâmica do crescimento; e a inovação tam-bém exerce influência importante. “O último capítulo conecta bem a ideia de desempenho econômico com modalidades diferentes de instituições e, portanto, de capitalismo. Che-guei a um modelo cujas soluções, dependen-do dos parâmetros e equações, podem gerar modelos tanto instáveis como estáveis de ca-pitalismo, e em número maior que dois.”

3Campinas, 5 a 11 de novembro de 2012

Economista aponta inconsistências da abordagem de Variedades de Capitalismo

Foto: Moacyr Lopes Júnior/Folhapress

PublicaçãoTese: “Instituições e desenvolvimento: críticas e alternativas à abordagem de Va-riedades de Capitalismo”Autor: Cláudio Roberto AmitranoOrientador:Unidade: Instituto de Economia (IE)

Pesquisa premiada analisa as conexões entre instituições

e dinâmica econômicaLUIZ SUGIMOTO

[email protected]

os últimos anos tem crescido o debate em torno do papel das instituições no desempenho econômico dos países, sendo que uma das vertentes que

analisam este papel é a chamada abordagem de Variedades de Capitalismo (VoC). Desenvolvida a partir de um livro homônimo escrito em 2001 por Peter Hall e David Soskice, a abordagem de VoC apresenta-se como uma resposta específica do campo de estudos em economia política comparada aos fenômenos recentes da globalização, em que os movimentos de liberalização comercial e financeira reduziram o grau de autonomia dos Estados nacionais na formulação de políticas públicas em geral, e da política econômica em particular.

É com esta explicação que Cláudio Roberto Ami-trano nos introduz ao tema de sua tese de doutorado, uma das cinco vencedoras do Prêmio Capes 2011 pela Unicamp, na área de Economia. O estudo inti-tulado “Instituições e de-senvolvimento: críticas e alternativas à abordagem de Variedades de Capita-lismo” teve a orientação do professor Antonio Car-los Macedo e Silva. “A ideia foi trabalhar num campo recente mas muito promissor do co-nhecimento em economia, com objetivo de estabelecer a conexão entre o papel das insti-tuições e a dinâmica econômica. Já temos um Nobel, o professor Douglass North, e outros economistas que produziram trabalhos rele-vantes para este debate”, diz Cláudio Ami-trano, que atualmente é diretor-adjunto de Estudos e Políticas Macroeconômicas do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada).

Na tese, o autor também explica que a abordagem de VoC é frontalmente contrá-ria a interpretações disseminadas a partir do Consenso de Washington, como a de que em algum momento chegaremos a um único tipo de política econômica para todos os pa-íses; e que suas estruturas institucionais em termos de regulação do trabalho, dos siste-mas financeiros e de governança corporativa, assim como os modelos de treinamento, o sistema educacional e a dinâmica de incenti-vo às inovações convergiriam para um único padrão. Esta convergência, segundo aquela visão, seria decorrência dos mecanismos em operação nos mercados financeiros e de bens e serviços internacionais.

“Soskice e Hall atentam que, contrarian-do o que advoga boa parte do saber econômi-co convencional, existem diversos modelos de desenvolvimento econômico (as varie-dades de capitalismo); e que as instituições são diferentes para cada tipo de modelo, fa-zendo com que as trajetórias das economias, ao longo do tempo, sejam variadas”, observa Cláudio Amitrano, que se refere a institui-ções como as normas escritas, formais ou in-formais, de caráter regulatório. “No primeiro capítulo procuro mostrar a tese central desta abordagem, que vem conquistando mentes e corações na economia (sobretudo no caso europeu) e também na sociologia e ciência política (curiosamente, no caso americano). Soskice é um economista da Duke Universi-ty, e Peter Hall, um sociólogo de Harvard.”

O mérito maior da tese de Amitrano está nas críticas que faz à abordagem de Varieda-des de Capitalismo, apontando suas incon-sistências e culminando com a proposição de uma abordagem específica para caracterizar a performance das economias. “Em meu traba-

Em abordagem que caracteriza a performance das economias, o autor mostra que uma teoria alternativa pode gerar modelos diferentes de desenvolvimento

lho, reconheço as virtudes desta abordagem, compartilhando a ideia de que as economias têm estruturas institucionais e trajetórias econômicas diferentes. No entanto, em mi-nha opinião, ela padece de alguns vícios que limitam a compreensão do que é o fenômeno do desenvolvimento econômico, como por exemplo, de se nutrir fundamentalmente do conhecimento ortodoxo em economia.”

AS CRÍTICASA primeira crítica é que a abordagem de

VoC estabelece uma dualidade entre econo-mias: aquela que Soskice e Hall chamam de economia liberal de mercado (ELM), caracte-rizada pelo modelo americano, e outra, a eco-nomia de mercado controlada (EMC), repre-sentada pelo modelo alemão; em cada uma delas, as instituições são diferentes em vários domínios da vida social e econômica. “Vou dar o exemplo do mercado de trabalho. Na Alemanha, esse mercado é bastante regulado e as centrais sindicais têm grande protagonis-mo na determinação dos salários e das con-dições de trabalho, influenciando inclusive na política econômica. Já na economia ameri-cana, os sindicatos são bastante frágeis, com pouca capacidade de influir nessas decisões.”

Na hipótese defendida por Soskice e Hall, comenta o autor da tese, as diferenças entre o caso alemão e o caso americano se man-terão no tempo, em função de uma série de aspectos, como a dependência da trajetória institucional. “Ocorre que, embora os autores não acreditem que as economias do mundo convergirão para um único modelo, defen-dem que algumas caminharão para algo pró-ximo do alemão e, outras, para algo próximo do americano. Não haveria meio termo. As economias de meio termo, dizem, seriam ca-racterizadas como instáveis – e, como a insta-bilidade é insustentável no longo prazo, tam-bém estas acabariam convergindo para um ou outro modelo.”

Amitrano questiona outro pressuposto da abordagem, referente ao impacto das insti-tuições sobre o comportamento dos agentes. “Soskice e Hall afirmam que as instituições são muito importantes para entender o com-portamento dos agentes, mas por outro lado

colocam as preferências dos agentes como sendo exógenas às instituições. É como se os agentes formassem suas preferências in-dependentemente do contexto institucional, em função dos seus desejos. Tal pressuposto significa limitar enormemente o papel que as instituições podem exercer sobre o compor-tamento dos agentes. Para um papel proemi-nente das instituições, as preferências dos in-divíduos precisam ser endógenas. Esta é uma crítica veemente que faço à abordagem.”

NA MACROECONOMIAQuando trata do impacto das instituições

sobre a macroeconomia, o autor da tese toma o exemplo da interação entre barganha sala-rial e banco central. “Este tema é muito caro nas economias europeias, que possuem sis-temas de barganha salarial bastante efetivos e bancos centrais igualmente muito ativos. Temos então uma interação entre duas ins-tituições que é muito importante na deter-minação da inflação e do nível de emprego”, avalia. “Um elemento central da VoC é que os diversos domínios institucionais – as ins-tituições que regulam o mercado de traba-lho, a concorrência entre empresas, a política econômica – são vistas como dotadas de uma forte complementaridade. E esta complemen-taridade é que caracterizaria cada um dos mo-delos de capitalismo”.

Cláudio Amitrano considera que a barga-nha salarial alemã, no caso, não é importante por si só, mas também por estar conectada a uma estrutura de concorrência bastante cen-tralizada e que opera de forma muito especí-fica e articulada com a dinâmica econômica. “Outra instituição relevante seria o sistema de inovações, que na Alemanha está volta-do ao desenvolvimento de tecnologias ou processos produtivos mais maduros. Existe, portanto, uma série de complementaridades entre os diversos domínios institucionais que caracterizariam essas variedades de capitalis-mo. E é exatamente essa complementaridade que criaria alguma rigidez do ponto de vista institucional, o que leva os criadores da VoC a apostarem na pouca probabilidade de que as instituições mudem para convergir ao mode-lo, por exemplo, liberal de capitalismo.”

Campinas, 5 a 11 de novembro de 20124

PublicaçãoDissertação: “Influência dos polimor-fismos P53 ARG72PRO, MDM2 T309G, BCL2 C(-938)A e BAX G(-248)A, relacio-nados com apoptose celular, na suscepti-bilidade ao melanoma cutâneo”Autora: Cristiane de OliveiraOrientadora: Carmen Silvia Passos LimaUnidade: Faculdade de Ciências Médicas (FCM)

Portadores de formas específicas de genes têm até três vezes mais chances de desenvolver a doençaFoto: Antoninho Perri

Foto: Antonio Scarpinetti

Estuda aponta peso de variações genéticas no melanoma cutâneo

EDIMILSON MONTALTIEspecial para o JU

corpo humano possui 350 bi-lhões de células que se dividem normalmente todos os dias. Os mecanismos de reparo do DNA e de morte celular são respon-

sáveis pela manutenção saudável das células. Entretanto, basta uma escapada dos contro-les de crescimento e diferenciação para dar origem a uma célula anormal que pode levar ao câncer.

O câncer é a segunda principal causa de morte em todo o mundo, representando cerca de 17% dos óbitos de causa conheci-da, segundo dados de 2011 do Ministério da Saúde.

O câncer de pele é o tipo mais comum. O melanoma cutâneo é um tumor de pele com baixa incidência – representa 5% dos tumo-res de pele –, mas de alta letalidade.

A bióloga e doutoranda Cristiane de Oli-veira debruçou-se sobre este assunto des-de o seu projeto de iniciação científica. Em julho de 2012, defendeu o mestrado no qual apresentou a influência dos polimor-fismos P53 ARG72PRO, MDM2 T309G, BCL2 C(-938)A e BAX G(-248)A relaciona-dos com a morte celular na susceptibilidade herdada ao melanoma cutâneo.

O estudo avaliou a influência dos poli-morfismos P53 ARG72PRO, MDM2 T309G, BCL2 C(-948)A e BAX G(-248)A no risco do melanoma cutâneo. Polimorfismos gênicos são variações genéticas. Segundo dados da pesquisa, portadores das formas específicas dos genes têm até três vezes mais chances de desenvolver o melanoma cutâneo do que os demais.

A pesquisa, orientada pela médica Car-men Silvia Passos Lima, da Disciplina de On-cologia Clínica do Departamento de Clínica Médica da Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp foi realizada com pacientes do Hospital de Clínicas (HC) e doadores de san-gue do Hemocentro da Unicamp e ganhou o prêmio de melhor trabalho apresentado na Jornada de Patologia do Hospital A. C. Ca-margo, de São Paulo, em agosto deste ano.

“Foram identificados, no estudo, indiví-duos de nossa população com maior predis-posição herdada para desenvolver melanoma cutâneo. Esses indivíduos receberam de seus ancestrais genes menos ativos no reparo de lesões cutâneas causadas por raios ultravio-leta da luz solar ou na morte de células le-sadas”, disse a médica Carmen Silvia Passos Lima.

MELANOMAO melanoma cutâneo acomete predomi-

nantemente indivíduos com pele, cabelos e olhos claros, com dificuldades de bronzea-mento e propensão a queimaduras solares. A incidência do melanoma cutâneo aumenta com a idade, sendo que média de idade dos pacientes com diagnóstico é de cerca de 50 anos. Os homens são mais acometidos pelo tumor do que as mulheres.

Usualmente, o melanoma cutâneo se apresenta como uma lesão de pele com algu-mas das seguintes características: assimetria, bordas irregulares, variações de cor e aumen-to ou regressão em seu tamanho ao longo do tempo. Em homens de pela clara, os locais mais frequentes da doença são o dorso e os membros superiores; em mulheres também de pele clara, o dorso e os membros inferio-res são os locais mais acometidos. Em negros e asiáticos, as regiões palmo plantar, o leito ungueal e as mucosas são mais afetadas.

Estima-se que até 65% dos casos de mela-noma cutâneo estão relacionados à exposição solar. A exposição crônica à radiação solar ultravioleta (UV) A e B, particularmente na infância, causa danos ao DNA de células da epiderme.

Para a pesquisa, a bióloga avaliou 150 pacientes com melanoma cutâneo atendi-dos nos ambulatórios de Oncologia Clínica e de Dermatologia do Hospital de Clínicas da Unicamp, no período de abril de 2007 até ju-lho de 2011. Os pacientes apresentaram ida-

de entre 20 e 89 anos. A média de idade foi de 59 anos. Um grupo controle, constituído por 150 doadores de sangue do Hemocentro da Unicamp, também foi avaliado. Todas as aná-lises moleculares foram realizadas em DNA de amostras de sangue periférico de pacientes e controles.

Dados relativos à identificação, à idade, ao sexo, ao histórico pessoal ou familial de melanoma cutâneo hereditário, queimaduras solares, incapacidade de bronzear, hábito de fumar, à cor de pele, olhos e cabelos e locali-zação do tumor, foram considerados na pes-quisa.

A exposição solar a que pacientes foram submetidos foi determinada por meio da ob-servação de elastose solar no local da lesão cutânea. Elastose é um indicador histológi-co de comprometimento cutâneo pelo sol. O diagnóstico de melanoma cutâneo foi realiza-do por exame histopatológico realizado em cortes de fragmentos do tumor.

De acordo com a pesquisa, os resultados da combinação dos polimorfismos dos genes P53, MDM2, BCL2 e BAX sugerem que eles possam atuar de forma sinérgica no mecanis-mo de apoptose (morte celular) no melanoma cutâneo.

O BAX é um gene associado à morte ce-lular. Ele é responsável pela “limpeza” do or-ganismo. Se uma célula é anormal, ele é en-

carregado de eliminá-la. O gene BCL2 tem a função contrária: evitar a morte da célula. Já o gene P53 interrompe o ciclo celular para que a lesão seja reparada mas, se isso não for pos-sível, também induz a morte da célula. O seu opositor é o gene MDM2, que inibe a função do P53.

“Se temos uma célula danificada pelo sol, o P53 reconhece esse dano e vai tentar fazer com que proteínas do DNA reparem esse dano. Se não por possível, ele vai ativar outros genes envolvidos com a morte celular – BCL2 ou BAX – para que a célula seja removida. Ele tenta consertar a lesão, se não for possível, outros genes são recrutados para induzir a morte celular, chamada de apoptose” expli-cou Cristiane.

Segundo a pesquisadora, há evidências de que a proteína p53 reduz a expressão de ge-nes antiapoptóticos como o BCL2 e aumenta a expressão de genes pró-apoptóticos como BAX. Além disso, alteração no balanço exis-tente entre as proteínas antiapoptóticas e pró-apoptóticas pode resultar na resistência à morte celular, com consequente formação de um tumor.

“Os resultados do nosso estudo sugerem que os polimorfismos P53 Arg72Pro, BCL2 C(-948)A e BAX G(-248)A, particularmente associados, alteram o risco de ocorrência do melanoma cutâneo. Estes resultados neces-

sitam confirmação em indivíduos de outras regiões do país, para que possamos, de fato, definir os papéis desses polimorfismos gêni-cos na ocorrência do melanoma cutâneo em nossa população”, disse Cristiane.

PREVENÇÃOA melhor maneira de evitar o melanoma

cutâneo é a prevenção. O teste, chamado ge-notipagem, pode identificar indivíduos com maior predisposição herdada para a ocorrên-cia do tumor, que mereçam receber recomen-dações adicionais para evitar a exposição da pele aos efeitos nocivos do sol. É realizado em células da mucosa bucal ou do sangue pe-riférico. No Brasil, o exame não é oferecido na rede pública de saúde, apenas por falta de recursos financeiros. Segundo Cristiane, o custo o exame custa cerca de dez reais, va-lor considerado irrisório perto do necessário para o tratamento de paciente portador do câncer de pele.

Assim, como não é possível identificar do ponto de vista genético grupos de alto risco para a ocorrência do melanoma cutâneo, a pesquisadora sugere que se adotem medidas bastante conhecidas para a prevenção do tu-mor na população em geral: evitar a exposi-ção ao sol nos horários de pico – entre 10 e 16 horas –, e usar óculos de sol, chapéu ou boné, protetor solar ou blusas de manga comprida, quando a exposição ao sol é inevitável. E, ao perceber lesões cutâneas assimétricas, de vá-rias cores, ou com aumento ou regressão em seu tamanho ao longo do tempo, em qual-quer região do corpo, um dermatologista deve ser consultado.

“O nosso futuro pode ser determinado no berço. Cabe a nós saber o que fazer para pre-venir tumores para os quais nascemos pre-dispostos, como nos proteger dos efeitos in-salubres da luz solar para evitar o melanoma cutâneo”, disse a especialista.

A orientadora, professora Carmen Silvia Passos Lima (esq.), e a bióloga Cristiane de Oliveira, autora da dissertação

De acordo com estudos, 65% dos casos de melanoma cutâneo estão relacionados à exposição solar

5Campinas, 5 a 11 de novembro de 2012

mais precisos

Técnica gera

Ferramenta foi testada pela primeira vez no Brasil por pesquisador do Instituto de Geociências

mapas geológicosMANUEL ALVES FILHO

[email protected]

geólogo Cleyton de Carvalho Carneiro, pesquisador cola-borador do Departamento de Geologia e Recursos Naturais (DGRN) do Instituto de Geo-

ciências (IG) da Unicamp, aplicou pela primeira vez no Brasil a técnica denomi-nada Self-Organizing Maps (SOM) para gerar mapas geológicos mais detalhados e precisos do que os elaborados por mé-todos convencionais. Carneiro validou a ferramenta em estudo desenvolvido na Província Aurífera do Tapajós, localiza-da nos estados do Pará e Amazonas. “Os resultados do trabalho reforçam o en-tendimento de que a técnica SOM é um recurso acessível e adequado para aper-feiçoar a rotina de elaboração de mapas geológicos”, afi rma o autor da pesquisa.

Desenvolvida originalmente pelo en-genheiro fi nlandês Teuvo Kohonen, em 1982, a técnica SOM levou alguns anos até ser difundida em termos de aplica-ções. Há algum tempo a técnica tem despertado o interesse de cientistas, nos diversos campos das engenharias, das geociências ou até mesmo na medicina. As amplas aplicações possibilitam, por exemplo, desde o refi namento de buscas em sites na internet, até complexas aná-lises de neuroimagens. Por meio da fer-ramenta é possível, por exemplo, promo-ver a diferenciação de tecidos em função de suas constituições, o que auxilia os médicos a identifi carem eventuais tumo-res. A partir das possibilidades propor-cionadas pela técnica, Carneiro decidiu utilizá-la para gerar mapas geológicos, tendo por base dados aerogeofísicos.

O pesquisador do IG começou a to-mar contato com o tema por ocasião do seu doutorado, sob a orientação do pro-fessor Alvaro Penteado Crósta. Parte dos estudos foi realizada no Commonwealth Scientifi c and Industrial Research Orga-nisation (CSIRO), na Austrália, sob a su-pervisão do pesquisador Stephen Fraser, que desenvolveu, a partir dos conceitos propostos por Kohonen, um software para ser aplicado na área da geologia. Também atuaram como co-orientadores de Carnei-ro no doutorado os professores Adalene Silva (UnB) e Eduardo Barros (UFPR). Na ocasião, a equipe escolheu uma área próxima ao município de Anapu (PA) para promover as análises por imagens e a coleta de informações de campo.

O trabalho deu origem a um artigo científi co publicado na revista Geophy-sics, uma das mais respeitadas do seg-mento, que comprovou que a técnica SOM poderia aperfeiçoar a elaboração de mapas geológicos. “A escolha das variáveis, bem como o estudo estatísti-co dos resultados produzidos, permitiu classifi car as rochas conforme suas ca-racterísticas composicionais”, explica Carneiro. As pesquisas estão tendo pros-seguimento no pós-doutorado do geólo-go, desenvolvido no Instituto de Geoci-ências (IG) da USP, sob supervisão do professor Caetano Juliani, em parceria com o IG-Unicamp.

Desta feita, a área escolhida para validar a ferramenta computacional foi a Província Aurífera do Tapajós, que detém uma das maiores reservas de ouro do Brasil. “O nosso objetivo, além de gerar novos conhecimen-tos nessa região, é prover dados que possam identificar áreas que possu-am reservas minerais de interesse comercial”, diz o professor Alvaro Crósta. Ele assinala que o Brasil ain-da conhece pouco sobre a geologia da Amazônia, por causa principalmente das características da região. O do-cente lembra que, no mapeamento geológico convencional, o geólogo vai ao campo, coleta as amostras de ro-chas e as leva para o laboratório para análise. “Na Amazônia, esse trabalho é difícil de ser realizado. Primeiro, porque há uma extensa cobertura ve-getal. Além disso, não há afloramen-tos em todos os locais, o que significa que muitas vezes as rochas ficam es-condidas sob o solo”.

Essas peculiaridades, continua o docente do IG, interferem também no sensoriamento remoto. “Quando se passa com o sensor convencional sobre a Amazônia, a bordo de um avião ou satélite, o que se vê são as árvores”, esclarece. Por isso, Alvaro Crósta considera que a técnica SOM, aplicada a dados geofísicos tomados por avião, é especialmente indicada para o mapeamento de áreas com

Alvaro Crósta (em pé) e Cleyton Carneiro: ferramenta é recurso acessível e adequado para aperfeiçoar a rotina de elaboração de mapas geológicos

Foto: Antoninho Perri

essas características, por apresentar uma série de vantagens sobre os mé-todos usuais. “E se funciona bem na Amazônia, funcionará ainda melhor em outras regiões”, destaca. Mas, afinal, que atributos diferenciam a técnica SOM do mapeamento geoló-gico convencional?

ANÁLISE VISUALQuem responde é Carneiro. De

acordo com ele, a maior parte dos mapas geológicos usuais é produzi-da a partir da análise visual de uma imagem colorida, na qual são utili-zadas somente três variáveis, como potássio, urânio e tório, elementos detectados pelos aerolevantamen-tos geofísicos, que configuram, por assim dizer, a assinatura de deter-minadas rochas. Estas, por sua vez, podem estar relacionadas à presença em determinado local de minerais de grande valor comercial, como o ouro. Assim, com base nessa com-posição ternária, os geólogos dese-nham o contorno das unidades de rochas, baseados na interpretação visual das diferentes tonalidades de cores observadas. Ou seja, além de demandar maior tempo e ser me-nos precisa, esse tipo de técnica está sujeita a avaliações permeadas pela subjetividade. “Quando dois geólo-gos produzem mapas a partir des-ses dados de maneira independente, muito provavelmente cada um fará uma interpretação diferente dele”, assinala Carneiro.

Entretanto, quando a classifica-ção deixa o domínio do espaço geo-gráfico e passa para o das variáveis, tudo muda de figura, sem trocadi-lhos. “O espaço das variáveis é o que classificamos como n-dimen-sional. Ou seja, em termos matemá-ticos, nós podemos trabalhar com um número infinito de parâmetros, o que refina o mapeamento e faz com que cheguemos mais próximo da realidade”, pontua Alvaro Crós-ta. Para esclarecer como se dá esse refinamento, Carneiro usa como analogia uma fotografia, composta

por pixels. “A aerogeofísica funcio-na como uma fotografia na qual se pode enxergar a abundância de um determinado elemento constituinte das rochas. Dessa maneira, se to-marmos uma mesma área geográfi-ca como referência, cada fotografia de um dado elemento consistiria em uma variável”, afirma Carnei-ro. Conforme o geólogo, na técnica SOM cada pixel da imagem é plo-tado em função do valor correspon-dente à concentração dos elementos que constituem as rochas.

Desse modo, em vez de relacio-nar os pixels ao espaço geográfico, a ferramenta os associa ao domí-nio das variáveis. “Tomemos como exemplos o granito e o granodiorito, que são rochas muito próximas. No modelo convencional, eu poderia ter dificuldade de diferenciá-las a partir da análise visual, feita no domínio do espaço geográfico. No entanto, quando consigo relacionar os parâ-metros de constituição dessas ro-chas ao domínio exclusivo das vari-áveis, eu obtenho uma classificação muito mais detalhada e precisa do que no domínio do espaço. Ou seja, eu abandono a generalização e passo a ser muito mais específico”.

O professor Alvaro Crósta observa que essa classificação é denominada de “não-supervisionada”, pois sofre interferência mínima do usuário. “A única ingerência, nesse caso, está relacionada à escolha das variáveis a serem consideradas para alimentar o programa. Entretanto, o usuário não tem como conferir pesos diferentes a elas. Com isso, temos um grau de subjetividade muito menor envolvido nessa tarefa”, reforça Carneiro. Os dois cientistas assinalam que, depois de feita a classificação, é possível vol-tar ao domínio geográfico para aplicar os resultados, o que permite enfim gerar o mapa geológico. “Vale lembrar que esse tipo de técnica não elimina o trabalho de campo feito pelo geólo-go. Ele ainda precisa continuar indo a campo para coletar amostras para análises, que serão confrontadas com as informações cartográficas. Mas, o

trabalho de mapeamento poderá ser feito de maneira muito mais eficiente e em prazo consideravelmente me-nor”, diz o autor do trabalho de pós-doutorado.

Ao promover a comparação dos mapas geológicos gerados pelo mé-todo usual e pela técnica SOM é possível identificar facilmente o ní-vel de detalhamento proporcionado pelo segundo. Nele, os grupamentos que representam os diferentes tipos de rocha surgem de maneira porme-norizada. Os limites entre as unida-des de rochas são identificados com maior precisão. Carneiro comenta, porém, que a ferramenta valida-da por ele tem limitações. Segundo o pesquisador do IG, às vezes uma unidade classificada tem a mesma constituição geofísica de outra den-tro do mapa, mas isso não significa que ambas pertençam à mesma for-mação rochosa. “Com frequência, as rochas podem ter uma composição mineralógica similar, mas apresen-tarem idades diferentes. Uma pode ter, por hipótese, alguns milhões de anos a mais do que a outra. A iden-tificação da idade e de outros parâ-metros só pode ser feita a partir do trabalho do geólogo, que precisa ir a campo”, reafirma.

Segundo o professor Alvaro Crós-ta, a ferramenta computacional já está disponível para ser utilizada na elaboração de mapas geológicos mais precisos. A licença do progra-ma SiroSOM, utilizado nas análises, pertence à instituição australiana CSIRO. O próximo passo do traba-lho cooperativo entre a Unicamp e a USP é testar a técnica SOM em mapas do Serviço Geológico do Bra-sil (CPRM). “Nossa intenção é esta-belecer uma rotina que proporcione a geração de mapas geológicos que sirvam de modelo inclusive para ou-tros países. Atualmente, não tenho conhecimento de outro país que uti-lize a técnica SOM para essa finali-dade”, conclui Carneiro, que conta com bolsa de estudos concedida pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).

Campinas, 5 a 11 de novembro de 20126

No topo daedição universitária

O professor Paulo Franchetti, diretor da Editora da Unicamp: “O diferencial da editora universitária de primeira linha é não buscar a inserção indiferenciada no mercado, mas sim pautar discussões e desenvolver ações que só a universidade pode conduzir”

ÁLVARO [email protected]

professor, ensaísta e escritor Paulo Franchetti analisa, na entrevista que segue, o papel da edição universitária, mensura o impacto das novas mídias no segmento e faz um balanço das ações que colocaram, em sua gestão, a Editora da Unicamp no seleto grupo das melhores do país. “Acho que o reconhecimento é consequência do trabalho criterioso do conselho editorial e da equipe da Editora, que não só produz livros de alta qualidade editorial, mas ainda os difunde e distribui de modo eficaz.”

Jornal da Unicamp – Que análise o sr. faz do papel das editoras universitárias no mercado nacional?

Paulo Franchetti – Creio que as editoras universitárias de primeira linha têm ocupado um lugar importante no mercado editorial. Têm posto em circulação obras de grande relevância acadêmica e promovido a difusão do livro de uma forma que as demais editoras não fazem sistemática ou prioritariamente. Bas-ta ver, nesse sentido, as políticas de desconto que editoras como as da USP, da UFMG e da Unicamp mantêm para professores de todos os graus de ensino, bem como as feiras que promovem nos seus campi. O mais importante, no que diz respeito à relação en-tre editoras universitárias e mercado, dessa forma, não é o lugar que ocupam nele, e sim o lugar que elas ocupam e o mercado não ocupa: o de formar catálogos especializados, de retorno financei-ro baixo ou de longo prazo, mas de relevante impacto científico e educacional.

JU – Observa-se no país a proliferação de pequenas editoras e, na outra ponta, a maior parte do mercado nas mãos de gran-des conglomerados detentores da produção e, em última instância, também da distribuição. O que as editoras universitárias devem fazer para enfrentar essa realidade?

Paulo Franchetti – As editoras universitárias não são um conjunto homogêneo. Há vários tipos, com objetivos e funções diferentes. Há, em primeiro lugar, as editoras pertencentes às grandes universidades públicas. Essas têm um trunfo inestimá-vel, que é a aferição rigorosa da qualidade do que publicam. Num mundo de produtos abundantes, de crescimento enorme na ofer-ta de títulos, essas editoras funcionam como filtros: como têm, as melhores, conselhos editoriais deliberativos compostos por especialistas, que se apoiam, por sua vez, em pareceres de mé-rito emitidos pelos melhores especialistas, tudo o que publicam e chega às prateleiras das livrarias vêm com a marca da excelên-cia acadêmica. É fácil hoje, com verbas de origem vária, pagar a publicação de uma tese ou de uma coletânea de artigos numa editora qualquer. E algumas editoras de fato se especializaram em recolher essas verbas, publicando livros que não circulam e não passaram ou não passariam pelo crivo de especialistas. Mas numa editora como as que referi, o fato de o autor possuir recur-sos para publicar um livro não quer dizer nada: o decisivo é a avaliação criteriosa pelos pares.

Há, porém, vários outros tipos de editoras universitárias (isto é, ligadas a universidades), que têm objetivos mais modestos, tais como dar vazão à produção local, que não encontraria gua-rida fora do seu âmbito, ou mesmo servir de ferramenta de di-vulgação e propaganda da marca, como é o caso de algumas edi-toras ligadas a universidades privadas. De modo que não creio ser possível falar em editoras universitárias como um conjunto. Foi essa constatação, aliás, que originou a criação de uma nova associação de editoras, a LEU (Liga de Editoras Universitárias), como alternativa à já existente ABEU (Associação Brasileira de Editoras Universitárias).

No caso da ABEU, para ser associado basta ser editora e estar

vinculada, de alguma forma, a uma universidade. É indiferente que a editora ou a universidade sejam públicas ou privadas, bem como são indiferentes a importância do catálogo e as políticas de difusão do livro. A LEU, por sua vez, só admite editoras manti-das pelo poder público, possuidoras de catálogo relevante e que implementem políticas definidas de incentivo à circulação, pro-dução e difusão do livro universitário. A LEU, eu creio, mostra o caminho de afirmação da singularidade e da relevância das edito-ras universitárias públicas: sua participação em feiras nacionais e internacionais não visa à venda de livros. Visa à divulgação do que é produzido no Brasil e, sobretudo, à divulgação da cultura brasileira, levando para os eventos, além dos livros, autores, pro-fessores e profissionais do livro, que realizam palestras, minicur-sos e debates.

Ou seja, o diferencial da editora universitária de primeira linha é não buscar a inserção indiferenciada no mercado, mas sim pautar discussões e desenvolver ações que só a universidade pode conduzir. Por isso, os movimentos puramente corporativos e comerciais não ocupam lugar muito relevante nas minhas pre-ocupações como editor.

JU – Dá para afirmar que houve uma guinada na produção de livros no segmento?

Paulo Franchetti – Depende do arco temporal. Há grandes momentos na história da edição universitária no Brasil. Posso referir um deles, que me é especialmente caro, pois inspirou o meu próprio trabalho ao longo destes 10 anos: aquele em que a Editora da Universidade de São Paulo deixou de ser apenas coe-ditora, isto é, financiadora de publicações de interesse da univer-sidade, e passou a ser propriamente editora, criando não apenas uma nova política de difusão do livro universitário, mas ainda um elevado padrão editorial. Se eu tivesse de destacar um mo-mento central na história da edição universitária no Brasil seria esse: o projeto editorial implementado por Plínio Martins Filho, sob a presidência de João Alexandre Barbosa, a partir de 1989.

JU – O Brasil vem experimentando um crescimento nos indica-dores de produção científica, em nível internacional. Esse círculo virtuoso do ensino e da pesquisa vem se refletindo nas publicações das editoras universitárias?

Paulo Franchetti – Creio que sim, mas não há uma relação direta. A maior parte da produção científica brasileira avaliada internacionalmente não tem, como canal de difusão, o livro. Sua forma de publicação preferencial (ou exclusiva) é a revista es-pecializada, normalmente escrita em inglês. Essa produção tem um ciclo de vida muito rápido: o artigo inovador de hoje é a base do artigo inovador de amanhã. Por isso, raramente se originam livros que registram o real movimento do progresso do conheci-mento no campo da tecnologia e das ciências da natureza. Nesse domínio, o livro tem quase sempre escopo didático ou de divul-gação científica. E tanto para o primeiro, quanto para o segundo tipo, as grandes editoras especializadas em geral oferecem me-lhores condições para os autores, tanto no que se refere à remu-

Seminário reúneeditores na USP

A Edusp promove, de 5 a 8 de novembro, o Semi-nário Internacional Livros e Universidades. O evento, gratuito, ocorrerá no auditório da Biblioteca Mindlin, na Universidade de São Paulo (USP). Reunirá editores, formadores e pesquisadores do livro. O seminário in-tegra o quadro de celebrações dos 50 Anos da Edusp.

Segundo a professora Marisa Midori Deaecto, cura-dora do Seminário, o evento “tem por objeto a edição universitária no Brasil e no Mundo, ou seja, apresenta-se como um Fórum de debates e trocas de experiências entre profissionais do livro, em particular editores uni-versitários das principais instituições internacionais e brasileiras”.

Está confirmada a presença de editores das univer-sidades de Cambridge, Oxford, Harvard, Yale, Chicago e Califórnia, e das universidades brasileiras USP, Uni-camp, UERJ, UFMG, UFSC e UFPA. Presidentes das associações de imprensas universitárias do Brasil, dos Estados Unidos, da Europa, da América Latina e do Ca-ribe também estarão presentes.

A programação completa pode ser conferida em www.edusp.com.br.

Livros do catálogo de literatura: heterogeneidade

Campinas, 5 a 11 de novembro de 2012 7Fotos: Antoninho Perri

No topo daedição universitária

O professor Paulo Franchetti, diretor da Editora da Unicamp: “O diferencial da editora universitária de primeira linha é não buscar a inserção indiferenciada no mercado, mas sim pautar discussões e desenvolver ações que só a universidade pode conduzir”

ÁLVARO [email protected]

professor, ensaísta e escritor Paulo Franchetti analisa, na entrevista que segue, o papel da edição universitária, mensura o impacto das novas mídias no segmento e faz um balanço das ações que colocaram, em sua gestão, a Editora da Unicamp no seleto grupo das melhores do país. “Acho que o reconhecimento é consequência do trabalho criterioso do conselho editorial e da equipe da Editora, que não só produz livros de alta qualidade editorial, mas ainda os difunde e distribui de modo eficaz.”

neração, quanto à promoção.Do ponto de vista do incremento das publicações das editoras

universitárias, o diferencial é a multiplicação dos cursos de pós-graduação – especialmente no campo das humanidades.

JU – A Editora da Unicamp já vem, há algum tempo, apostando em coleções temáticas e/ou por áreas do conhecimento. O sr. pode-ria detalhar as razões dessa opção?

Paulo Franchetti – Quando assumi a direção da Editora, em 2002, ela não possuía um regimento interno. Ao redigi-lo, pa-receu interessante incluir um artigo que desse respaldo à am-pliação do número de pesquisadores envolvidos na tarefa de construção de um catálogo de ponta. Esse dispositivo permitiu a criação de comissões especiais, integradas por especialistas da Unicamp e de fora dela, às quais o conselho editorial delega a escolha de livros numa determinada linha de pesquisa ou inte-resse, com vistas à publicação de textos de referência nas várias áreas do conhecimento.

Isso propiciou (sem prejuízo da qualidade, nem concessões a interesses individuais) não apenas maior agilidade, pois a es-colha e contratação de um livro relevante não precisa aguardar a pauta das reuniões do conselho, mas também grande envolvi-mento dos integrantes dessas comissões. Afinal, não se tratava mais de sugerir a um autor que procurasse a editora ou ao con-selho que publicasse um determinado livro: tratava-se de poder escolher e implementar.

Está claro que é ao conselho que cabe não só aprovar os pro-jetos de coleções temáticas, mas ainda verificar os passos de sele-ção dos livros no interior delas. Mas a ideia é simples: quem sabe quais as deficiências da bibliografia de uma determinada área são os que nela trabalham e se destacam.

Os resultados foram muito bons, do ponto de vista acadêmi-co, e as coleções temáticas são hoje parte importante do catálo-go. E, algumas delas, sucesso de vendas.

JU – Ao mesmo tempo, percebe-se que, em algumas áreas, como é o caso da literatura, a Editora da Unicamp aposta no heterogê-neo. Como tem sido a resposta?

Paulo Franchetti – O princípio básico que define o catálogo da Editora da Unicamp é: nós publicamos livros que são referência em seu campo de conhecimento e livros que são usados em sala de aula. Ou seja, livros clássicos tanto no sentido da permanên-cia ao longo do tempo quanto no sentido do seu uso em classe. No domínio da literatura, por exemplo, o conselho aprovou a coedição de uma coleção de clássicos traduzidos. Nela têm sido publicados textos de fato variados, mas todos importantes para os cursos de graduação e pós-graduação. E, quando possível, busca-se acrescentar um diferencial em relação às edições cor-rentes, como foi o caso da recém-lançada edição de A Divina Co-média, com desenhos de Botticelli. Publicamos também muitas traduções de poesia, destacando-se, nesse particular, os textos clássicos gregos e latinos.

A resposta é muito boa, em todos os níveis. A publicação des-sa edição da Comédia, por exemplo, além de ser um relevante serviço acadêmico, pois foi a primeira vez que os desenhos foram reunidos segundo o projeto gráfico do artista, foi um sucesso de vendas, gerando recursos para a publicação de várias outras obras relevantes e sem o mesmo apelo de público.

JU – Nesse contexto, a Editora da Unicamp vem amealhando prêmios importantes, entre os quais o Jabuti. A que o sr. atribui esse reconhecimento?

Paulo Franchetti – Acho que o reconhecimento é consequên-cia do trabalho criterioso do conselho editorial e da equipe da Editora, que não só produz livros de alta qualidade editorial, mas ainda os difunde e distribui de modo eficaz.

JU – Em sua opinião, qual é o impacto das novas mídias, espe-cialmente as eletrônicas com seus hiperlinks e conteúdos interati-vos, no mercado editorial e no universo acadêmico?

Paulo Franchetti – Ainda é difícil avaliar. Penso que há dois aspectos que merecem consideração, no que diz respeito às no-vas mídias e, especialmente, o livro eletrônico. O primeiro é que a oferta tende a aumentar exponencialmente, dado o baixo custo da publicação. Nesse caso, à editora universitária caberá um pa-pel relevante: de filtro, de afirmação e garantia de qualidade. O segundo é que o livro universitário exige cuidados de produção que um best-seller não exige: tradução por especialista – se for o caso –, revisão técnica, produção criteriosa. Ora, isso tem um custo alto. Por outro lado, o livro universitário não vende como um romance. Assim, a relação entre custo/retorno, no caso do livro eletrônico, será muito diferente no caso de uma editora universitária e de uma editora de livros de tiragem ampla. Mas, como disse, ainda é difícil avaliar. A Editora da Unicamp tem estudado com cuidado e prudência essa questão para não dar um passo no escuro, pois, embora a pressão para colocarmos nossos livros on-line seja grande, não queremos tomar nenhuma atitude sem a segurança de que compreendemos minimamente as impli-cações de médio prazo.

JU – O livro tradicional, em papel, sobreviverá? Paulo Franchetti – Creio que sim. É a forma mais confiável

de preservação da informação e a que tem maior portabilidade. Mas, sobretudo, a que tem mais prestígio, já que implica inver-são maior de recursos.

No campo específico da literatura – mas não só –, a ideia de que uma obra só terá existência em forma eletrônica é apavo-rante: a falência de uma editora ou um portal significaria o apa-gamento do texto, enquanto que milhares de obras do passado, publicadas em pergaminho, papiro ou papel, continuam disponí-veis em sebos e bibliotecas e museus. Isso para não falar, como tanto se falava nos anos da Guerra Fria, na possibilidade de uma hecatombe nuclear que eliminasse a sede do Google ou o iCloud ou tornasse inacessível a internet...

Depoimentos

““

Este ano, as principais editoras universitárias públicas do Estado de São Paulo estão comemorando datas importantes e mostrando a que vieram (Edusp, 50 anos; Editora da Unicamp, 30 anos; e Editora Unesp, 25 anos).

Sob a direção do professor, crítico e poeta Paulo Franchetti, a Editora da Unicamp firmou-se como um instrumento fundamental para a efetivação dos valores acadêmicos, promovendo e difundindo o trabalho de seus pesquisadores, sem jamais cair na tentação fácil do mercado. Franchetti sabe que o trabalho de uma editora universitária é a continuação daquilo a que a Universidade normalmente se dedica; assim, o juízo favorável ou desfavorável sobre um título ou uma coleção recai principalmente sobre a instituição que a editora representa. Portanto, dedicar-se apenas à edição de livros de apelo comercial não é uma solução válida para uma editora pública. As condições de mercado não podem determinar as atividades de uma editora universitária. E é esse o caminho que a Editora da Unicamp vem trilhando nos últimos anos.

Plinio Martins Filho, diretor-presidente da Edusp

A Editora da Unicamp é hoje uma das mais importantes editoras do país, em razão do alto nível do seu catálogo, da criteriosa escolha de títulos, do apuro gráfico e do empenho de toda sua equipe. Nos últimos anos, Paulo Franchetti conjugou de maneira muito especial contemporaneidade e tradição, o que resultou em publicações que são referência em diversas áreas de conhecimento.

Wander Melo Miranda, diretor da Editora UFMG

Livros da coleção “Meio de Cultura”: sucesso de vendas

Campinas, 5 a 11 de novembro de 20128

José Roberto dos Santos reaproveita resíduos na Faculdade de Engenharia de Alimentos

MARIA ALICE DA [email protected]

a fabricação de sabão, poucas crianças conhecem. E tampou-co da pecuária. A não ser que se infiltrem por curiosidade ou visita escolar. No caso de José

Roberto dos Santos, o Zé, essa coisa de fazer sabão é parte da cultura familiar. Dos braços laboriosos da avó, que se movimentavam pa-cientemente em círculos sob o vapor que se erguia do tacho, se obtinha o produto para la-var roupa, fazer a limpeza da casa e eliminar dos pratos o restinho de gordura da carne. E a matéria-prima para o sabão? Vinha da car-ne, ou mais especificamente, do excesso de óleo dela. Mas de onde vinha a carne, então? Da criação de porcos dos avós, numa chácara localizada no tradicional bairro Bonfim, em Campinas. Esta cena, numa Campinas onde rural e urbano ainda se mesclavam, na década de 1970, contribuiu para que Zé nunca man-dasse o óleo para o ralo e, por consequência, à rede de esgoto. A vivência também serviu para que se tornasse um açougueiro, um téc-nico em química, um tecnólogo em alimen-tos de nível superior e transformasse óleo em sabão.

Tanta gordura para descartar, mas onde? Por que não reaprovei-tar? Assim começou a “fábrica de sabão” do Zé, no Laboratório de Carnes e Processos da Faculdade de Enge-nharia de Alimentos. Inconformado com o que sobrava de gordura depois das aulas e das pesquisas nas quais au-xilia como tecnólogo, viu a oportunidade de se guiar no exemplo da avó, mas sem movi-mentar tanto os braços e sem tanto calor. O tacho da avó foi substi-tuído pela tecnologia de um homogeneizador a frio (semelhante a uma batedeira de bolo), e o calor do fogo foi trocado por hidróxido de sódio comercial (conhecido como soda cáustica), que, agitado, também se aquece. Depois é es-perar virar pedra e, se desejar, transformar a pedra em pó. Tudo ma-nuseado com muito cui-dado, pois a soda, assim como os resíduos de áci-do usados para reduzir o pH, é nociva. O pH deve ser reduzido para evitar danos à pele e a tecidos.

A iniciativa tão tí-mida quanto seu autor, realizada em vagas de tempo entre uma aula e outra, uma pesqui-sa e outra, com fins ambientais, acabou indo parar nos ouvidos de alguns colegas e, para alegria do tecnólogo, sempre pronto a ajudar, a “fábrica de sabão” passou a ter novos bene-ficiários: o pessoal da manutenção da FEA. Para manter o maquinário funcionando, es-ses funcionários terminam o dia com mãos e braços cobertos de graxa e, para eliminá-la com eficácia, encontraram um forte e indis-pensável aliado: o sabão do Zé. “Eles saem com as mãos e os braços limpinhos”, conten-ta-se.

Suas atitudes ganharam os ouvidos e a atenção de amigos, como a bióloga Alessan-dra Silva Coelho. “Achei de uma grandeza incrível da parte dele e me senti uma ‘formi-guinha’ diante da sua visão de cima. Talvez as pessoas não enxerguem, mas existem nos bastidores excelentes funcionários, dotados de uma grande capacidade de convencimento do que é ser realmente proativo”, diz a bió-loga. Mesmo dedicando-se à confecção de sa-bões apenas nos raros momentos de calmaria entre uma aula e outra, Zé consegue atender um amigo ou outro que precise de sabão em pedra ou pó.

Um disseminador de ideias, Zé sonha em ver os problemas do descarte do óleo na pia da cozinha solucionados também pelas pessoas que cuidam de suas casas. Muitas delas acu-mulam o que sobra de frituras para despejar de uma só vez no ralo. “Não têm noção do mal que causam a si próprias”, argumenta.

O tecnólogo nunca esteve alheio à neces-sidade de reflexões diante de cenários que o convidavam a uma observação aprofundada. Inquieto diante de qualquer necessidade de mudança, sempre, apesar da timidez, pro-

curou sacudir a imaginação e a inventivi-dade das pessoas. Ainda no ensino técnico, formou um grupo de estudos para se prepa-rarem para o vestibular, já que não tinham condições de frequentar curso pré-vestibular. Um olhar sempre circular para a sociedade o fez enxergar que outros jovens poderiam ter a mesma oportunidade. E lá foi Zé realizar palestras em escolas públicas sobre a impor-tância de uma formação técnica.

Em sua opinião, muitas vezes é do salá-rio ganho no trabalho que o técnico conse-gue manter um curso universitário. “É uma oportunidade de emprego, além de ser fonte de conhecimento”, avalia Zé, que acrescen-ta: “Infelizmente, na minha época os cursos técnicos não eram muito difundidos pelos professores nas escolas públicas. Decidimos então fazer isso por conta própria.”

Zé foi aprovado no vestibular da Unicamp para o curso de química, mas queria se gra-duar em tecnologia de alimentos, indo plei-tear uma vaga na Universidade de Araras, Uniararas. O bom desempenho no vestibular lhe garantiu bolsa integral em sua formação. Mas, mais uma vez, desejou ver outros jovens recebendo a mesma oportunidade e, como

amigo Luis Romão, da Faculdade de Educação da Unicamp, montou uma espécie de curso pré-vestibular para jo-vens sem condições de pagar pela preparação para os exames. As aulas eram ministra-das em uma biblioteca montada na casa de Romão. A empreitada durou quatro anos e in-seriu alguns alunos em cursos de graduação de Campinas e outras ci-dades do Estado de São Paulo. “Nosso desejo era ampliar o número de jovens de escola pú-blica na universidade”.

A experiência pes-soal ajudou Roberto na preparação de vestibu-landos no Afrodata, um projeto destinado a jo-vens afrodescendentes e carentes, responsável pela inserção de muitos alunos em universida-des de iniciativa privada e pública. “Queria que esses jovens tivessem a mesma oportunida-de que tive”, declara. Na casa de Romão, eles contavam com a ajuda de muitos alunos da Unicamp, empenhados em transmitir conheci-mentos de física, quí-mica e outras áreas aos vestibulandos. Durante os encontros, os alu-nos mostravam provas de vestibulares da Uni-

camp, de anos anteriores, para mostrar que a Universidade não era um sonho impossível. “Para mim, foi uma satisfação pessoal ajudar esses jovens.”

No dia a dia, como tecnólogo, Roberto auxilia alunos de graduação e pós em aulas e pesquisas. O comprometimento dele com esses futuros e atuais profissionais da área começa com o roteiro de aulas e na prepa-ração do laboratório. O envolvimento com pesquisas desde sua entrada na Universida-de, em 1991, rendeu publicação de trabalho em veículo especializado em coautoria com professores e alunos da FEA.

Seria melhor respeitar o silêncio de Zé so-bre seus feitos e deixá-los adormecidos lá no laboratório. Como a maioria dos “perfilados”, antecipa-se e pede para ser conduzido durante a conversa. Não pelo sorriso que se sobressai aos olhos, quase sempre baixos, mas pela falta de necessidade de mostrar o que fez e ainda tenta fazer pelas pessoas, pelo ambiente, pela sociedade, enfim. Mas a decisão da amiga Alessandra de denunciar sua obra fez com que o próprio Zé percebesse a importância de compartilhar tamanho conhecimento e de propagar em alto som muitas coisas ainda a ser vistas (ou revistas) pela sociedade.

Em gestos silenciosos e despretensiosos, ao lado do amigo Luiz Romão, consegue in-cluir na lista de 1% dos privilegiados pela graduação jovens que talvez nem tivessem sua mesma perspectiva. E ainda inicia entre colegas e donas de casa, sem querer, um mo-vimento para que o planeta respire um pou-quinho melhor a partir de uma iniciativa sim-ples, apreendida com a observação do vaivém dos braços insistentes da avó: sua “fábrica de sabão”. Aliás, um excelente sabão.

Zé e suas ‘fábricas’de sabão e de sonhos

Ingredientes

613 ml Óleo125g Soda cáustica = Hidróxido de sódio 200ml Água 10g Sabão em pó (opcional) 10g Açúcar 20ml Cândida 13ml Vinagre 6ml Aroma (opcional) 3ml Corante (opcional) Passo a passo 1 -Filtrar o óleo em papel toalha 2 - Dilua a cândida em 20ml de água 3 - Dilua o sabão em 10ml de água4 - Dilua o açúcar em 10ml de água5 - Dilua a soda cáustica aos poucos, cuidadosamente, em local aberto em 160ml de água6 - Despeje a mistura cândida + água no óleo e agite por 2 minutos na batedeira de bolo7 - Despeje a solução de soda cáustica aos poucos, cuidadosamente no óleo com a cândida e água e continue agitando8 - Com agitação constante misture o restante dos ingredientes na seguinte ordem: vinagre, açúcar, sabão em pó, aroma e o corante. 9 - Continue agitando por uns 20 minutos ou até formar uma pasta 10 - Despeje a pasta em formas abertas e deixe descansar por 24 horas 11 - Cortar os pedaços e deixar maturar por, no mínimo, uma semana

Rende aproximadamente 4 pedras de sabão de ± 250g

Receita básica de sabão

José Roberto dos Santos opera equipamento que faz sabão no Laboratório de Carnes e Processos: aprendendo com a avó

Foto: Antonio Scarpinetti

9Campinas, 5 a 11 de novembro de 2012

PublicaçãoDissertação: “Desenvolvimento de na-nopartículas lipídicas para carreamento conjunto do gene para pten e mitoxan-trona em células de câncer de mama e de próstata”Autor: Allan RadaicOrientadora: Eneida de PaulaUnidade: Instituto de Biologia (IB)

Fotos: Antoninho Perri

Pesquisador consegue carreamento conjunto do gene e do medicamento

Resíduo é usado em tratamento de esgoto

PublicaçãoDissertação: “Leitos cultivados utilizan-do crostas de eletrofusão da bauxita”Autor: Delci Magalhães PoliOrientador: José Teixeira FilhoUnidade: Instituto de Geociências (IG)

Nanopartículas incorporam fármacoNas bancasNas bancas

SILVIO ANUNCIAÇÃ[email protected]

Um resíduo descartado pelas indústrias de transformação mineral foi empregado com êxito durante experimento para tratamen-to natural de esgoto na Unicamp. No estudo conduzido pelo agrônomo Delci Magalhães Poli, os resíduos da bauxita serviram como su-porte para que vegetais cultivados em tanques aquáticos atuassem na remoção de impurezas do esgoto doméstico. O sistema, eficiente e de baixo custo, foi desenvolvido pelo agrônomo como parte de seu mestrado defendido junto ao Instituto de Geociências (IG).

A bauxita é uma das principais matérias-primas para a fabricação de alumínio, abrasivos em geral, cimento, produtos quimicos e meta-lúrgicos. No Brasil, país que possui as maiores reservas mundiais deste material, os resíduos ou crostas da bauxita ainda são descartados de maneira inadequada por muitas indústrias, re-vela o pesquisador Delci Poli. “Nós utilizamos a crosta da bauxita como um substrato para fi-xação das raízes dos vegetais que vão atuar no tratamento do esgoto”, explica.

De acordo com ele, seu estudo simulou o tratamento de esgoto em tanques aquáticos, comumente conhecidos como “leitos cultivados construídos” ou “wetlands”, do termo em inglês cuja tradução livre é “terra úmida”. “Este tipo de tratamento de esgoto pode utilizar diferentes meios de fixação, como areia, bambus, plásticos ou pedra brita. Empregamos o resíduo da bau-xita porque é um material que até então não foi especificamente retirado da natureza para este objetivo, ao contrário da brita, por exemplo. Ademais, este resíduo ainda não tem uma desti-nação correta”, justifica o estudioso.

CARMO GALLO [email protected]

câncer converteu-se em um pro-blema de saúde pública mundial. É a doença genética responsável pelo maior número de mortes em países desenvolvidos e a segunda

maior causa mortis em países em desenvolvi-mento. Dentre os diversos tipos de câncezr, o de mama e o de próstata se destacam por serem dos mais incidentes na população mundial.

Novas terapias vêm sendo desenvolvidas, entre elas a terapia gênica, que corresponde a entregar o material genético necessário nas células doentes, e o carreamento de fármacos, que corresponde à entrega direta do fármaco ao seu alvo, evitando possíveis efeitos colaterais.

Para viabilizar o transporte do material ge-nético e dos fármacos nessas terapias, podem-se utilizar os chamados Carreadores Lipídicos Nanoestruturados (CLN) e as Nanopartículas Lipídicas Sólidas (NLS), nanopartículas for-madas por lipídios, desenvolvidas para função de carregar moléculas com atividade biológica, como material genético, fármacos e proteínas às células alvo de forma efetiva e segura.

Em trabalho desenvolvido no Laboratório de Biomembranas, do Departamento de Bio-química do Instituto de Biologia (IB) da Uni-camp, o biotecnólogo Allan Radaic, orientado pela professora Eneida de Paula, realizou pes-quisas com os objetivos de desenvolver e aper-feiçoar um novo método de produção de CLN e de NLS, chamado de extrusão de microemul-são, e de produzir partículas capazes de carrear de forma conjunta genes e fármacos.

Nos casos estudados por ele, envolvendo cânceres de próstata e mama, foram considera-dos o denominado gene codificante para PTEN e o fármaco mitoxantrona. Os resultados ex-perimentais mostraram que essas nanopartí-culas foram capazes de incorporar o fármaco mitoxantrona de forma eficiente e de interagir com o material genético portador do gene co-dificante para PTEN, protegendo-o da ação de enzimas degradadoras de DNA.

O pesquisador constatou também que o carreamento concomitante do fármaco mito-xantrona e do gene da PTEN diminui a viabili-dade celular em linhagens de câncer de mama (MCF-7) e de próstata (PC-3), sem que ocor-ram efeitos na viabilidade de linhagem celular não cancerígena (3T3).

O biotecnólogo Allan Radaic, autor da pesquisa: método inova na produção laboratorial

O agrônomo Delci Magalhães Poli: estudo simulou o tratamento de esgoto em tanques aquáticos

REMOÇÃO DE NUTRIENTESAlém da fixação das raízes dos vegetais, o

substrato utilizado no estudo se mostrou efi-ciente para a retirada satisfatória de nutrientes presentes no esgoto. “A remoção de nutrien-tes é importante para evitar a multiplicação de algas, bactérias e vegetais aquáticos, que pode-riam causar poluição no ambiente”, informa Delci Poli.

“Em diversas situações do tratamento de es-goto convencional acontece de haver redução de matéria orgânica, mas ela não é acompanhada, muitas vezes, pela redução de nutrientes, como o fósforo e nitrogênio. E uma vez que são lan-çados estes nutrientes, há incentivo de todo um aumento de massa aquática vegetal, causando poluição”, detalha.

Ao contrário de alguns sistemas convencio-nais, o ‘wetland’ promove a retirada de matéria orgânica, mas também está focado na redução de nutrientes. Deste modo, evita-se, por exemplo, o processo de eutrofização nos cursos d’água, fenômeno caracterizado pelo aumento de nu-trientes que favorecem o desenvolvimento de

organismos poluidores no ambiente aquático.

PASSIVOO trabalho foi orientado pelo engenheiro

José Teixeira Filho, docente convidado do IG e diretor da Faculdade de Engenharia Agrícola (Feagri) da Unicamp. “A pesquisa de Delci vem na perspectiva de buscar alternativas para um dos principais problemas sociais do país, que é o tratamento de esgoto. Hoje o Brasil tem muita uma dificuldade em enfrentar isso; e o passivo é impressionante”, situa o orientador, que coordena na Unicamp a linha de pesquisa Recursos Hídricos.

Dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) publicada ano passado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísti-cas (IBGE) apontam que pouco mais da metade dos domicílios do país - 54,9% - são beneficiados com a coleta de esgoto. Neste contexto, o siste-ma proposto poderia ser empregado, principal-mente, como alternativa viável para o tratamento de pequenos volumes de efluentes gerados em comunidades isoladas, condomínios, atividades

no meio rural, escolas e indústrias.“Conseguimos chegar a situações de trata-

mento de esgoto tão boas quanto o de outros processos. A vantagem é que este sistema não exige mão de obra especializada, apresenta bai-xo valor de implantação, operação e manuten-ção, e utiliza como substrato um material de custo muito baixo”, confirma Teixeira Filho.

EMPECILHOPor outro lado, pondera o orientador, o

principal empecilho no país para a implemen-tação de sistemas como estes, utilizando o modelo de leitos cultivados, ainda é a falta de critérios, que determinariam, por exemplo, os parâmetros e as configurações de projetos. “Há dificuldade em aceitar os ‘wetlands’ porque o país não dispõe de critérios para projetos. Exis-tem experimentos eficientes e viáveis em todo o mundo utilizando estes sistemas”, aponta.

“Neste estudo nós estamos preocupados, também, com a questão social, ou seja, em como a sociedade pode incorporar este conhe-cimento, adquirido a partir da compreensão da ciência básica. O próximo passo será buscar critérios de projetos por meio do desenvolvi-mento de ciência aplicada para implementação de plantas de tratamento de esgotos na área de engenharia”, propõe.

O método utilizado por Allan inova na pro-dução laboratorial, isto é, em pequena escala, das partículas carreadoras, o que viabiliza eco-nomicamente as pesquisas. Mas a diferenciação maior do trabalho está no fato de ter conseguido o carreamento conjunto do gene e do fármaco, que foi crucial ao vencer a resistência ao fárma-co nas células do câncer da mama. Esta simulta-neidade não encontra paralelo na literatura.

A propósito dos resultados, ele esclarece que a eficiência do método é evidenciada pela baixa viabilidade das células de câncer após o tratamento in vitro, conseguindo resultados pro-missores em comparação com os da literatura. O objetivo do estudo foi o de contribuir para o desenvolvimento dessas novas terapias que pre-cisam ainda vencer uma série de barreiras para que se tornem viáveis.

ORIGEMAs células do corpo humano se multiplicam

normalmente segundo determinada taxa de crescimento. O câncer ocorre quando há multi-plicação exagerada das células, em decorrência da falta ou excesso de determinados proteínas. A terapia gênica se baseia em levar o gene fal-tante ou barrar as proteínas que se formam em excesso nas células doentes. Os cânceres da

próstata e da mama podem se manifestar por deficiência de certas proteínas, dentre as quais, a proteína PTEN se destaca por ter a função de controlar a multiplicação das células.

Com a deleção do gene codificante para PTEN do genoma, as células podem se multi-plicar sem restrição e, então, originar o câncer. Neste caso, o tratamento pode ocorrer pela re-posição do gene deletado, o que leva à recompo-sição da proteína em falta, decorrendo do pro-cesso a morte induzida da célula cancerígena, denominada apoptose.

ETAPASO gene para proteína PTEN se liga à super-

fície das partículas lipídicas enquanto que o fár-maco selecionado (mitoxantrona) fica retido no seu interior, podendo ambos serem conduzidos especificamente às células cancerígenas. Essas partículas são constituídas por lipídios e um detergente, que podem estar em proporções va-riadas, segundo formulações adequadas, o que lhes confere características bioquímicas e bioló-gicas diferentes.

O primeiro passo do pesquisador foi dedi-car-se ao desenvolvimento de um método para produção dessas partículas em escala reduzida,

denominada extrusão de microemulsão. O pro-cesso viabiliza a produção em pequenas quanti-dades de partículas com características diversas, permitindo testar a eficiência de várias formula-ções diferentes. No decorrer do desenvolvimen-to do método de fabricação, a pesquisa concen-trou-se em duas formulações de nanopartículas lipídicas (NLS e CLN) que se revelaram de maior eficiência carreadora. “Meu trabalho centrou-se principalmente nisso”, diz ele.

Allan explica que muitas das nanopartícu-las lipídicas já desenvolvidas e descritas na li-teratura não conseguem, ainda, realizar a sua função de forma eficiente, o que determina a necessidade de testar novas formulações. Es-ses testes se viabilizam com a produção de pequenas quantidades, caso do método de-senvolvido, devido à diminuição dos custos de produção de cada formulação.

Nessa procura, o pesquisador foi levado a descobrir que uma das partículas produzidas poderia carrear um gene e um fármaco simul-taneamente e que essa tripla combinação (na-nopartícula, gene e fármaco) permite vencer a resistencia da célula à ação do fármaco. Uma das limitações da quimioterapia é a de que, de-pois de varias aplicações, pode se desenvolver um câncer resistente aos fármacos utilizados e os resultados mostraram que a administração simultânea do gene e do fármaco leva à quebra dessa resistência.

Ao final do estudo in vitro ele pôde concluir que é possível diminuir a viabilidade das célu-las de câncer da próstata apenas carreando o gene na NLS. No caso do câncer da mama re-sistente ao fármaco mitoxantrona, há necessi-dade de carrear simultaneamente gene e fárma-co, daí a importância do desenvolvimento de uma partícula que consiga simultaneamente unir-se aos dois. E foi exatamente este achado que ele considerou inovador.

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acadêmica

Vida

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Teses da semana

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Campinas, 5 a 11 de novembro de 2012

Artigo avalia os impactosda Copa do Mundo ao país

Foto: Antoninho Perri

Espaço de Arte da FCA - No dia 5 de novembro, às 12h30, a Coordenadoria de Desenvol-vimento Cultural (CDC) inaugura o Espaço de Arte da Faculdade de Ciências Aplicadas (FCA), em Limeira. Instalado na Área de Convivência do Restaurante Universitário, o Espaço iniciará as atividades com a exposição de aquarelas “Impressionando o olhar de quem o alcança”, de Bernardo Caro (in memoriam). A curadoria é de Fábio Cerqueira. No evento de inauguração haverá uma apresentação musical com o violonista Denis Sartorato. Ele fará a estreia do Projeto Moldura Musical, organizado pela CDC e apoiado pelo Grupo Gestor de Benefícios Sociais (GGBS). Da solenidade devem participar o professor João Frederico da Costa Azevedo Meyer, pró-reitor de Extensão e Assuntos Comunitários, Margareth do Carmo Junqueira, da CDC, e servidores e alunos da FCA.

Comau - De 5 a 7 de novembro acontece, na Faculdade de Ciências Médicas (FCM), o XXI Congresso Médico Acadêmico da Unicamp (Co-mau). O evento científi co é organizado e promovido totalmente por alunos. No dia 5 haverá apenas a apresentação dos trabalhos (à noite). Nos dias 6 e 7 ocorrem palestras e mesas-redondas com a temática “Terminalidade e Geriatria”, além da pre-miação dos melhores trabalhos inscritos. A abertura do Comau será no dia 6, às 18 horas, no Auditório da FCM. O Pré-congresso será transformado em Pós-congresso, com a temática “Esporte e Saúde”, a ser realizado no dia 10 de novembro. O local de realização do Comau é o conjunto de salas de aula e o Auditório da FCM.

Colóquio Brasil/Espanha - O Laboratório

de Novas Tecnologias Aplicadas na Educação (Lantec) da Faculdade de Educação (FE) organiza no dia 6 de novembro, o I Colóquio de cooperação internacional Brasil/Espanha. Será às 9 horas, no Salão Nobre da FE. Mais detalhes: 19-3521-5678.

IV Simtec - O Simpósio de Profi ssionais da Uni-camp (Simtec) ocorre nos dias 6 e 7 de outubro, no Centro de Convenções. Abertura: 9 horas. O evento tem como tema central “Conhecimento e experiência: reconhecendo fronteiras e construindo pontes”. Inscrições e outras informações podem ser obtidas na página eletrônica http://sistemas.rei.unicamp.br/ggbs/simtec/. O Simtec é um evento organizado por funcionários da Unicamp, integrantes das diversas carreiras, cujo objetivo é expor trabalhos e ações institucionais, desenvolvidas em suas atividades diárias na universidade.

Pintura em caixa de madeira - O Centro Cultural de Inclusão e Integração Social (CIS-Guanabara) oferece a ofi cina de artesanato “Pintura em caixa de madeira”. Parte do Projeto “Trocando Idéias e Experiências”, ela é realizada em parceria com o Grupo Gestor de Benefícios Sociais (GGBS) e tem como público-alvo funcionários (inclusive aposentados). A ofi cina acontece no dia 6 e também no dia 8 de novembro, às 18 horas, na sede do CIS-Guanabara (rua Mário Siqueira 829), no bairro do Botafogo, em Campinas. As inscrições são gratuitas e podem ser feitas no link www.cisguanabara.uni-camp.br. Mais informações: 19-3233-7801.

Bazar benefi cente - A SOS Ação Mulher e Família, entidade conveniada à Fundação FEAC, promove no dia 7 de novembro, um bazar com o objetivo de angariar recursos em prol da instituição. O evento será no Terminal de Barão Geraldo (Rua Luiz Vicentin, s/nº – Distrito de Barão Geraldo, Campinas/SP), das 8h às 17 horas. Para realizar o bazar, a entidade está arrecadando diversos artigos como roupas, sapatos, bolsas, livros, CDs, eletroeletrônicos e roupa de cama, mesa e banho. Os interessados em fazer doações devem entregar os itens usados – em bom estado – até o dia 6 de novembro, das 8h30 às 17h, na sede da entidade, localizada à Rua Dr. Quirino 1856 - 1º andar – Centro, Campinas/SP.

Observatório da Educação - O La-boratório de Novas Tecnologias Aplicadas na Educação (Lantec) da Faculdade de Educação (FE) organiza no dia 7 de novembro, às 9 horas, no Salão Nobre da FE, evento sobre o Projeto Observatório da Educação. O projeto tem como objetivo estabelecer o design de um ambiente educacional, que utilizando das linguagens pro-porcionadas pelas tecnologias da informação e comunicação, ofereça o desenvolvimento de um programa de capacitação de professores para o ensino fundamental. O encontro é parte integrante do projeto “M-learning: uma implan-tação inovadora” financiado pela Capes. Mais

html. Outras informações: 19-3521-4171.

Inovação Tecnológica na Educação – Simpósio objetiva promover discussão, disse-minação, troca de informações e a apresentação de soluções de inovação tecnológica visando aplicações na área da Educação. Será realizado no dia 8 de novembro, às 9 horas, no Salão Nobre da Faculdade de Educação (FE). Organização: Lantec. Mais informações: http://lantec.fae.unicamp.br/inova2012 ou telefone 19-3521-5678. E-mail do evento: [email protected]

Fórum de Ciência e Tecnologia - Pró-xima edição será realizada no dia 9 de novembro, às 9 horas, no Centro de Convenções da Unicamp. Terá como tema “Tecnologias na Educação: trans-formações na escola e na universidade”. Inscrições, programação e outras informações no link http://foruns.bc.unicamp.br/foruns/projetocotuca/forum/htmls_descricoes_eventos/tecno59.html ou telefone 19-3521-4759.

Fóruns Permanentes 2013 - A Coorde-nadoria Geral da Universidade (CGU) recebe, até o dia 9 de novembro, propostas de fóruns para o ca-lendário de 2013. Os docentes interessados devem preencher formulário eletrônico no link http://www.unicamp.br/unicamp/sites/default/fi les/fi eld/arquivo/propostadeforumpara2013.doc e encaminhá-lo para o e-mail [email protected]. Os contemplados serão notifi cados por e-mail. São 48 datas reservadas no CDC. A seleção levará em consideração a possibilidade de espaço e a diversidade de temáticas. Se houver necessidade, alguns proponentes poderão ser chamados para uma reunião. O resultado fi nal deverá ser divulgado até o dia 29 de novembro.

Vestibular - A Comissão Permanente para os Vestibulares (Comvest) realiza no dia 11 de novem-bro, as provas de Redação e de Conhecimentos Gerais do Vestibular Nacional. Horário limite para acesso aos locais de provas: 13 horas. A Comvest recomenda que os candidatos cheguem com uma hora de antecedência. O tempo máximo de prova é de cinco horas. Tempo mínimo em sala: três horas e trinta minutos. Os candidatos não poderão entrar na sala de provas com celulares. Os que forem pegos (com o aparelho celular desligado, com ou sem bateria), serão eliminados do Vestibular.

Alimentos - “Caracterização bioquímica e com-postos bioativos de Macaúba (acrocomia aculeata (jacq.) lodd. ex mart.)” (doutorado). Candidata: Priscila Becker Siqueira. Orientadora: professora Gabriela Alves Macedo. Dia 6 de novembro, às 14 horas, na FEA.

Biologia - “Modifi cações químicas e caracterização

farmacológica das Miotoxinas PhTX-I e PhTX-II isoladas do veneno de Porthidium hyoprora” (doutorado). Candi-dato: Salomón Huancahuire Vega. Orientador: professor Sérgio Marangoni. Dia 7 de novembro, às 9 horas, na sala defesa de teses da CPG/IB.

Computação - “Métodos de visão computacional aplicados à ciência forense” (doutorado). Candidata: Fernanda Alcântara Andaló. Orientadora: professora Siome Klein Goldenstein. Dia 9 de novembro, às 14 horas, no auditório IC 2, Sala 85 do IC.

Educação Física - “Torcidas organizadas e seus jovens torcedores: diversidades e normativas do torcer” (mestrado). Candidato: Vitor dos Santos Canale. Orien-tadora: professora Heloisa Helena Baldy dos Reis. Dia 8 de novembro, às 14h30, no Auditório da FEF.

Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanis-mo - “O resíduo sólido urbano como fonte renovável para geração de energia elétrica: aspectos econômicos e sócio-ambientais” (doutorado). Candidato: Sérgio Augusto Lucke. Orientador: professor Carlos Alberto Mariotoni. Dia 6 de novembro, às 14 horas, na sala de defesa de teses da CPG/FEC.- “Sistematização do processamento de dados gravimé-tricos aplicados à engenharia” (doutorado). Candidato: Rogério Rodrigues Amarante. Orientador: professor Jorge Luiz Alves Trabanco. Dia 9 de novembro, às 14 horas, na sala de defesa de teses da CPG/FEC.

Física - “Efeitos dinâmicos no transporte eletrô-nico em sistemas moleculares baseados em DNA” (doutorado). Candidato: Carlos José Paez Gonzalez. Orientador: professor Peter Alexander Bleinroth Schulz. Dia 6 de novembro, às 10 horas, na sala de seminários do DFMC/ IFGW.

Linguagem - “De romance imoral a obra-prima: trajetórias de Madame Bovary” (doutorado). Candidata: Andréa Correa Paraiso Müller. Orientadora: professora Márcia Azevedo de Abreu. Dia 7 de novembro, às 14 horas, na sala de defesa de teses do IEL.- “Sociossemiótica da produção audiovisual: uma proposta metodológica para análise multimodal da comunicação em vídeo” (doutorado). Candidato: Rodrigo Esteves de Lima Lopes. Orientadora: professora Denise Bértoli Braga. Dia 9 de novembro, às 13 horas, na sala de defesa de teses do IEL.

Odontologia - “Estratégia alternativa de otimização em duas camadas de uma Unidade de Craqueamento Catalítico-FCC: implementação de algoritmos genéticos e metodologia híbrida de otimização” (doutorado). Can-didato: José Fernando Cuadros Bohórquez. Orientador: professor Rubens Maciel Filho. Dia 5 de novembro, às 14 horas, na sala de defesa de teses da FOP.

Química – “Caracterização de óleos essenciais com atividade antifúngica por Cromatografi a Gasosa Bidimensional Abrangente GC×GC” (mestrado). Candi-data: Karina Fukuda. Orientador: professor Fabio Augusto. Dia 5 de novembro, às 14 horas na sala E-312 do IQ.

Marcelo Weishaupt Proni: arenas esportivas tenderão a se transformar em “elefantes brancos”

As projeções sobre os impactos econômicos proporcionados pela realização da Copa do Mundo cos-tumam ser superestimadas. Estas, difi cilmente se concretizam, pois são formuladas levando em conta a con-junção de inúmeros fatores, sempre no cenário mais favorável possível. O alerta, com referência ao Mundial de 2014, que terá o Brasil como anfi trião, está em artigo assinado pelo professor Marcelo Weishaupt Proni, diretor associado do Instituto de Economia (IE) da Unicamp, em parceria com o economista Leonardo Oliveira da Silva. Disponibilizado na página do IE, na seção “Textos para Discussão” (www.eco.uni-camp.br/index.php/textos), o texto faz uma análise crítica acerca das contribuições que o evento pode trazer ao país.

De acordo com Proni, as previ-sões otimistas sobre os possíveis im-pactos e legados que um megaevento como a Copa pode trazer servem principalmente para justificar os altíssimos investimentos que o país-sede tem que fazer para organizá-lo. “No artigo, nós procuramos mostrar que o potencial de impacto é maior para um país em desenvolvimento do que para um país rico. No caso da África do Sul, foram registrados impactos positivos, mas eles não alcançaram a população como um todo. Alguns grupos e setores ga-nharam, mas estudos demonstraram que a maioria dos sul-africanos não

obteve ganhos signifi cativos com o Mundial”, afi rma.

No Brasil, conforme Proni, existem centros nos quais a moder-nização dos estádios pode ajudar a impulsionar o futebol e alavancar negócios. Em outros, isso não deve-rá acontecer, e as arenas esportivas tenderão a se transformar em “ele-fantes brancos”. “Mesmo havendo a possibilidade de usar esses espaços

para outras atividades, como a reali-zação de shows musicais, o investi-mento difi cilmente será recuperado em relação a alguns deles. Por outro lado, a Copa pode deixar um legado em termos de infraestrutura urbana, mas essas obras que teriam que ser feitas de qualquer maneira. O Mundial está somente ajudando a estabelecer um cronograma para elas”, acredita.

O diretor associado do IE ob-serva que estudos demonstram que quanto maior é a participação do setor privado nos empreendimentos relacionados ao Mundial, melhor é o aproveitamento dos mesmos. “Quan-do se tem uma dependência muito grande de recursos públicos, como é o caso brasileiro, a situação não é tão favorável. Como o país não dispõe de recursos abundantes, o dinheiro

destinado às obras da Copa deixa de ser aplicado em outras áreas, como saúde, educação e moradia”, lembra.

Ainda em relação ao caso do Brasil, Proni considera que a Copa difi cilmente trará impactos signifi ca-tivos no que se refere à arrecadação de tributos ou geração e empregos, para citar dois segmentos. “Quando o governo brasileiro decidiu organizar a Copa, ele enxergou nisso uma opor-tunidade estratégica para fortalecer a imagem do país no cenário interna-cional. O objetivo é dizer: ‘olha, nós somos capazes de organizar um even-to desse porte’. Esta é a mensagem. Quando a discussão fi ca restrita aos impactos econômicos, essa dimensão mais ampla fi ca relegada a segundo plano”, observa o economista.

Ainda segundo ele, no momento em que o Brasil está pretendendo se modernizar, a Copa pode vir a ser um bom catalisador de iniciativas nesse sentido. “Isso não signifi ca que as promessas contidas nas projeções vão se concretizar. Um legado im-portante que o Mundial pode trazer diz respeito ao desenvolvimento de mecanismos de fi scalização sobre os gastos públicos relativos ao evento. Tanto a Caixa [Econômica Federal] quanto o BNNDES [Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social] têm sido muito criteriosos na liberação de recursos, para evitar eventuais superfaturamentos. Essa postura é muito positiva”, avalia. (Manuel Alves Filho)

informações: 19-3521-5678.

Biocombustíveis sólidos de 2ª ge-ração – Workshop sobre o assunto acontece no dia 7 de novembro, às 9h30, no Departamento de Física Aplicada do IFGW. A introdução será feita pelo professor Carlos A. Luengo (IFGW). O primeiro tema, “Tecnologias de compactação. Ensaios, Estado da arte. Trabalhos desenvolvidos no GCA na ultima década” será abordado por Felix Fonseca Felfli. O segundo, “Problemas logísticos associados à produção de biocombustíveis a partir de resíduos agroindustriais”, por Walfrido Alonso Pippo. Mais informações: pippo@ifi .unicamp.br

Aulas Magistrais - A Pró-Reitoria de Gra-duação (PRG) recebe, dia 7 de novembro, no próximo “Aulas Magistrais”, o professor e ex-reitor da Unicamp, José Martins Filho. Na Sala CB-05, às 12h30, no Ciclo Básico I, ele fala sobre as relações familiares no mundo contemporâneo e a infância. Mais detalhes no link http://www.prg.unicamp.br/aulas/index.php/aulas

Mostra Holográfi ca - O tradicional evento sobre Holografi a tem mais uma edição no dia 7 de novembro, das 15 às 17h30, no Planetário Municipal de Campinas. É aberto para escolas públicas e ao público em geral. Consta de palestra audiovisual 3D e uma série de experimentos sobre óptica de imagens. Interessados podem se inscrever no site www.ifi .unicamp.br/~lunazzi/expo.htm. A mostra é organizada pelo professor José Joaquín Lunazzi, do Instituto de Física (IFGW) da Unicamp. O Planetário está localizado no Parque Portugal, em Campinas. Mais informações podem ser obtidas pelo telefone 19-3521-2451 ou e-mail lunazzi@ifi .unicamp.br

Vestibulinho do Cotil - O Colégio Técnico de Limeira prorrogou a data de inscrições para o Exame de Seleção 2013. Elas podem ser feitas até 8 de novembro, no site www.cotil.unicamp.br. O exame será realizado no dia 25, às 14 horas. Mais informações: 19-2113-3378, 2113-3303 ou e-mail [email protected]

Fórum de Esporte e Saúde - Com o tema “Modelos de Assistência Nutricional Hospitalar no Século XXI”, no dia 8 de novembro, às 9 horas, no Centro de Convenções da Unicamp, acontece mais uma edição do Fórum Permanente de Esporte e Saúde. O evento é organizado por Harumi Kinchoku e Salete Brito. Programação, inscrições e outras in-formações no site http://foruns.bc.unicamp.br/foruns/projetocotuca/forum/htmls_descricoes_eventos/saude56.html ou telefone 19-3521-4759.

A experiência dos BRICS - O Centro de Estudos Avançados (CEAv) organiza no dia 8 de novembro, às 9 horas, no Auditório da Diretoria Geral da Administração (DGA), o debate “Ensino superior e desenvolvimento: a experiência dos BRICS”. Site do evento: http://www.gr.unicamp.br/ceav/brics/index.

PAULO CESAR [email protected]

graduação na Unicamp expandiu-se e fortaleceu-se ainda mais a par-

tir de 2009 com a adoção de im-portantes medidas estratégicas, como a transformação do Cen-

tro Superior de Educação Tecnológica (Ce-set) de Limeira na Faculdade de Tecnologia (FT) e, mais recentemente, com a criação de quatro novos cursos.

Três deles passarão a integrar as opções da FT: Engenharia de Telecomunicações (50 vagas, período integral), Sistemas de In-formação (45 vagas, integral), Engenharia Ambiental (60 vagas, período noturno). O quarto curso aprovado pelo Conselho Uni-versitário (Consu) da Unicamp, na sessão do dia 7 de agosto último, foi Engenharia Física (15 vagas, período integral), no cam-pus de Barão Geraldo, sob a responsabili-dade do Instituto de Física Gleb Wataghin (IFGW) e com a participação de diversas outras unidades.

Essas iniciativas respondem a demandas do Brasil por profissionais cada vez mais bem qualificados e com sólida formação em áreas fundamentais ao desenvolvimento do país, e colaboram para referendar a excelên-cia da graduação da Unicamp.

De acordo com o professor José Geraldo Pena de Andrade, diretor da FT, a criação dos três cursos de graduação vem fechar um histórico ciclo de reestruturação da unida-de de Limeira com o propósito de adequá-la cada vez mais ao perfil das demais faculda-des e institutos dedicados ao ensino, à pes-quisa e à extensão, sediados no campus de Barão Geraldo.

Ele lembra que esse processo começou há cerca de oito anos, com a contratação de professores-pesquisadores para o então Ce-set. O incentivo às atividades de pesquisa criou o terreno propício à implantação do primeiro programa de pós-graduação na ins-tituição (o mestrado stricto sensu com área de concentração em Tecnologia e Inovação) e à transformação do Ceset na atual Facul-dade de Tecnologia (FT), ambas em 2009.

Andrade esclarece que os novos cur-sos foram definidos segundo critérios que contemplaram necessidades de mercado, o anseio de alunos do ensino médio e a in-fraestrutura já disponível para o ensino e a pesquisa em áreas nas quais a FT possui forte tradição.

“Pretendemos, com os novos cursos, atrair alunos com perfis diferenciados, que se integrarão aos bons alunos que já fazem parte do nosso desta-cado corpo discente de tecnologia, sobretudo porque as novas opções e os cursos previamente existentes estão, de cer-to modo, inter-relacio-nados. Outro ponto im-portante é que os novos cursos contribuirão para aprofundar as atividades de pesquisa na FT”, des-taca Andrade.

Segundo ele, a pro-posta da criação come-çou a ser discutida com a Pró-Reitoria de Gradu-ação em 2011. A grande receptividade da comu-nidade universitária e o amplo respaldo da ad-ministração da Unicamp e das unidades afins aos

cursos foram responsáveis pelo êxito da aprovação da iniciativa ao longo do trâmite pelas instâncias formais da Universidade e, finalmente, no Consu, enfatiza o diretor.

Ele observa ainda que a implantação dos três cursos não implica em alteração no nú-mero de vagas oferecidas atualmente pelo Vestibular da Unicamp, mas sim em um re-aproveitamento de vagas ociosas, e também não exigirá mudanças estruturais significa-tivas, salvo pequenas adequações de infra-estrutura laboratorial.

Os cursos de Engenharia de Telecomuni-cações e de Sistemas de Informação absor-verão, respectivamente, as vagas oferecidas pelos cursos de Tecnologia em Sistemas de Telecomunicações e Tecnologia em Análise e Desenvolvimento de Sistemas (integral), que serão extintos. Já as vagas a serem ofe-recidas pelo curso de Engenharia Ambiental serão provenientes dos cursos de Tecnolo-gia em Construção de Edifícios (30 vagas) e Tecnologia em Controle Ambiental (30 vagas). Estes dois últimos serão mantidos, agora com 50 vagas cada um.

ENGENHARIA MULTIDISCIPLINARAmpliar o leque de opções de carreira ao

aluno ingressante e elevar a concorrência candidato-vaga de forma a poder selecionar alunos cada vez mais bem preparados estão entre as motivações da criação do curso de Engenharia Física, explica o seu coordena-dor, o professor Pascoal Pagliuso, do IFGW.

Segundo ele, dentre as possibilidades de novas carreiras, a Engenharia Física se evi-denciou, principalmente por se constituir em uma área já consolidada em excelentes universidades ao redor do mundo. No Brasil, é uma carreira emergente que vem ao encon-tro de uma demanda crescente desse tipo de profissional multiespecialista que possa atu-ar na fronteira entre a pesquisa e a indústria, em áreas estratégicas do desenvolvimento sustentável do país, salienta o docente.

De acordo com Pagliuso, o novo curso de graduação em Engenharia da Unicamp ob-jetiva a formação de um profissional gene-ralista, com sólida base científica e tecnoló-gica, principalmente nas áreas relacionadas com as ciências exatas, preparado para apli-car na investigação de problemas tecnoló-gicos os conhecimentos básicos adquiridos.

Por sua formação multidisciplinar, o engenheiro egresso possuirá ambas as visões: a do cientista e a do engenheiro, estando, desse modo, apto à pesquisa, ao desenvolvimento e ao apoio tecnológico. Com esse arcabouço, deverá ser capaz de

11Campinas, 5 a 11 de novembro de 2012

graduação na Unicamp expandiu-se e fortaleceu-se ainda mais a par-

tir de 2009 com a adoção de im-portantes medidas estratégicas,

Em sintonia com as

Laboratório na Faculdade de Tecnologia, em Limeira: unidade vai receber três dos quatro novos cursos

introduzir e desenvolver, em um contexto empresarial, novos processos e produtos de alto valor agregado, argumenta o coor-denador.

Além da relevância do curso tanto no cenário internacional quanto para as ne-cessidades internas do país, iniciativas bem sucedidas adotadas nesse campo por outras instituições brasileiras – como a Universi-dade Federal de São Carlos (Ufscar), que oferece graduação em Engenharia Física desde 2000 – ajudaram a consolidar o proje-to dentro do IFGW e a sua adesão por parte das demais unidades participantes.

Além do IFGW, o curso de Engenharia Física da Unicamp conta com a participa-ção da Faculdade de Ciências Aplicadas (FCA), da Faculdade de Engenharia Elétri-ca e de Computação (FEEC), do Instituto de Computação (IC), do Instituto de Mate-mática Estatística e Computação Científica (IMECC), do Instituto de Biologia (IB), do Instituto de Economia (IE) e do Instituto de Química (IQ).

O aluno terá, portanto, disciplinas ofe-recidas nessas diferentes unidades da Uni-versidade, todas de excelência reconhecida, tendo a oportunidade de interagir com do-centes e discentes de todas elas. O catálogo de disciplinas da Engenharia Física foi ela-borado de forma a oferecer essa formação generalista, mas mantendo o foco do curso,

de modo que todas as disciplinas necessárias para a formação completa de um engenhei-ro foram mantidas, enfatiza Jun Takahashi, coordenador de graduação do IFGW.

DIFERENCIALO docente chama a atenção também

para o que considera um importante dife-rencial do novo curso: a Engenharia Física será incorporada ao chamado Cursão, que já conta com os cursos de Física, Matemá-tica e Matemática Aplicada e Computacio-nal. As 155 vagas serão mantidas, sendo que 15 estarão reservadas à nova carreira. A entrada será comum e a escolha pelas carreiras ocorrerá em etapa posterior, va-riando conforme a opção.

Para cursar Engenharia Física na Uni-camp, os candidatos devem optar no mo-mento da inscrição no Vestibular Nacional Unicamp pelo curso de ingresso comum para: Engenharia Física, Física, Matemá-tica e Matemática Aplicada e Computa-cional. No terceiro semestre é que esses alunos devem escolher entre um dos cur-sos citados acima. Das 15 vagas oferecidas pela Engenharia Física, cinco são para a ênfase em Optoeletrônica e dez vagas para a ênfase em Produção Tecnológica.

“Ao ingressarem na universidade, mui-tos estudantes não têm um projeto pessoal

ainda definido. Falta-lhes conhecimento su-ficiente sobre a carreira escolhida e idealizam de forma irreal o curso e a instituição de ensi-no. O objetivo do Cur-são é permitir maior flexibilidade de escolha aos alunos e propor-cionar uma alternativa de entrada na Unicamp que não implique uma decisão prematura”, observa Takahashi.

A Engenharia Físi-ca substitui com van-tagens o extinto cur-so de Física Aplicada, t r a d i c i o n a l m e n t e oferecido havia mais de uma década pelo IFGW.

O professor José Geraldo Pena de Andrade, diretor da FT: fechando um ciclo histórico de reestruturação

O professor Pascoal Pagliuso, coordenador do curso de Engenharia Física: carreira emergente no país

O professor Jun Takahashi, coordenador de graduação do IFGW: maior fl exibilidade de escolha

Fotos: Antonio Scarpinetti

Foto: Antoninho Perri

mudanças conjunturaisUniversidade reestrutura unidade emLimeira e investe na criação de novos cursos

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Fotos: Antoninho Perri

MARIA ALICE DA [email protected]

o ano em que se comemoram os cem anos de nascimento de Nelson Rodrigues (1912-1980), o progra-ma Fantástico, da Rede Globo, volta a exibir a série A Vida Como Ela É,

inspirada em obra de mesmo nome escri-ta ao longo da década de 1950 pelo jorna-lista, escritor e dramaturgo. A adaptação para TV de 40 contos de tão grande valor cultural publicados no jornal Última Hora, por encomenda do editor Samuel Wainer (1910-1980), na época dono do vesperti-no, chamou a atenção da midiáloga for-mada pela Unicamp Stefanie Alves, que decidiu dedicar sua dissertação de mes-trado à análise da linguagem rodriguiana na produção televisiva. “Tive interesse em estudar a série pelo diferencial que representava na literatura brasileira e por trazer a literatura do Nelson, que é um autor bastante cultuado no Brasil, e inves-tigar como esse texto mais curto é trans-formado em produto de televisão. Geral-

mente vemos r o m a n c e s transformados em minisséries e telenovelas”.

De acordo com Stefanie, quando come-çou a pesquisa, de fato ela viu que o mate-rial de Nelson Rodrigues é muito rico com relação ao uso da linguagem que faz. O tipo de discurso que constrói se torna material muito rico para o audiovisual,

tanto para cinema quanto para te-levisão. A pesquisa, segundo ela, se fundamentou em descobrir de que maneira o universo de Nelson é construído por meio da lingua-

gem audiovi-sual, dentro de uma análise na qual observou tipo de ilumi-nação, música, aspectos for-mais da série e como foi inse-rida na televi-são na década de 1990, que era um mo-mento no qual a TV tentava se adequar a mudanças so-cioeconômicas do país, como a abertura do mercado.

Um quadro dentro do pro-grama Fantásti-

co, exibido no final dos domingos da fa-mília brasileira, dirigido por Daniel Filho, com roteiro de Euclydes Marinho e um elenco escolhido a dedo, em 1996, preci-saria de uma investigação sobre a TV bra-sileira no final da década de 1990. Naque-le momento, a TV paga aumentava suas adesões entre as classes A e B, e as classes C e D passavam a frequentar mais a tele-visão, de acordo com análise de Stefanie e seu orientador, professor Gilberto Sobri-nho. Para compreender o fenômeno, as-

sim como o investimento da Rede Globo, eles recorreram a pesquisas em arquivos como o do Ibope do Estado de São Paulo. “Existia uma necessidade de a televisão contrabalançar essas duas audiências”, afirma Stefanie. “Percebemos que A Vida Como Ela É entra nesse papel estratégico de, com a temática provocativa e cotidia-na do trabalho e da família, conquistar o público mais popular e, ao mesmo tempo, pelo tratamento diferenciado – com a fil-magem em película, a estrutura de pro-dução cinematográfica e um texto de um autor cultuado como Nelson – cativa os espectadores mais intelectuais, que vêm da classe A e B e estavam nessa transição de procurar uma qualidade artística na te-levisão a cabo”, reflete Stefanie.

A estreia da série no Fantástico na épo-ca coincidiu com a estreia do programa Sai de Baixo, que retoma na TV brasileira o modelo do sitcom, realizado em teatro. “Percebemos que, se há uma mudança nos perfis de público, há uma mudança também na programação. A ficção no Bra-sil é estratégica na programação. Há uma ficção seriada com qualidade artística e, por outro lado, o Sai de Baixo não deixa de ser uma inovação por trazer o sitcom. Falamos de produtores que olham estra-tegicamente a ficção que é um lugar pri-vilegiado na grade de programação. No Brasil, tem lugar consagrado à telenovela, o grande produto nacional”, acrescenta Sobrinho. Ele destaca a característica da Rede Globo de apostar em novos forma-tos de ficção. Uma mostra disso, para Ste-fanie, foi a exibição de A Vida Como Ela É também como série independente, depois da temporada no Fantástico e o lançamen-to em dois DVDs com os 40 episódios exibidos no Fantástico. “E agora a volta no centenário de Nelson”, enfatiza Stefanie.

Os dados de audiência mostram a aceitação do público pela linguagem de cinema. Stefanie lembra que a televisão começou com película e, durante toda sua história, são encontradas produções – novelas e minisséries – com cenas em película, pois ela sempre foi um indicador de qualidade artística. “A película sem-pre teve papel diferenciado. Em A Vida Como Ela É, Daniel Filho, quando propôs a série, sugeriu a película como estraté-gia para chamar a atenção do público que estava assistindo a um programa de va-riedades, mais solto, com grande troca de assuntos”, pontua Stefanie.

Como numa estrutura da produção de cinema, segundo a midiáloga, Daniel Filho reuniu todos os atores, dividiu ce-nas por locação, como se faz em cinema. “Isso, na década de 1990, talvez não fosse percebido com tanta diferenciação porque as qualidades dos televisores não abraça-vam o que era a película. A principal di-ferenciação entre a película e o vídeo está na diferenciação de imagem e cor. Con-seguir esse tipo de efeito com vídeo na série seria bem mais difícil. Isso chama a atenção porque não acontece tão frequen-temente com outras produções”, pondera Stefanie.

De acordo com a pesquisadora, Daniel e Marinho preservaram o texto de Nel-son Rodrigues em sua maioria e, a partir dele, construíram os elementos do qua-dro para o Fantástico. Stefanie ocupou-se de analisar minuciosamente, decupando os episódios, a construção do texto, dos personagens, figurinos e até mesmo po-sicionamento de câmera. Para ela, o estilo de escrita de Nelson favorece a produção de roteiro, principalmente pela estrutu-ra dialogada, o que facilita a cadência de corte de plano. Até porque na TV é me-nos comum trabalhar com monólogos, segundo a pesquisadora. A utilização de diálogos curtos oferece dinâmica inte-

ressante, na opinião da autora, pois as conversas parecem informais, com suas gírias e expressões comuns mantidas na adaptação. Sobrinho explica que a tele-dramaturgia acontece na figura do per-sonagem, pois é ele que conduz a trama e o texto dialogado é mais familiar com a linguagem televisiva. Além disso, a Vida como Ela É retrata o subúrbio carioca, a família, o adultério, paixões, desejos, se-gredos.

Uma observação interessante feita por Stefanie é a narração pelo olhar da câmera, em que o narrador silencioso consegue dar clareza ao texto nas en-trelinhas, captando olhares e expres-sões dos personagens, que, neste caso, devem ser representados por atores altamente qualificados. Mas ela desta-ca também a importância da figura do narrador “voz over”, além do “narra-dor-câmera”. “Em A Vida Como Ela É, ele foi extremamente aproveitado e é figura importantíssima, pois por in-termédio dele, são feitos os julgamen-tos, em que se entra num íntimo das personagens. Em algumas adaptações, o narrador é excluído, é um processo diferenciado, mas nesta série, ele dá o direcionamento de algumas situações para o espectador”, explica Stefanie.

O encontro da “voz over” com o nar-rador-câmera foi destaque da série por poder, por meio desses dois elementos do discurso audiovisual, conseguir ex-trapolar a interpretação de Nelson Ro-drigues, de acordo com Stefanie. “É pos-sível mergulhar no texto. O resultado foi muito bom porque, de fato, o espectador espera que a câmera mostre alguma coi-sa e ela realmente o satisfaz ao mostrar alguns pontos de vista diferenciados. Mostra para aguçar a curiosidade do te-lespectador mesmo”, acentua.

A Vida Como Ela É é a produção de Nelson Rodrigues menos analisada na academia, segundo a autora. Há uma infinidade de trabalhos sobre suas obras teatrais. Para fazer a leitura dos 40 con-tos que compõem a obra, ela recorreu às

análises de Sábato Magaldi, principal-mente. “Buscamos os aspectos destaca-dos por Magaldi e os identificamos no material que assistimos da série. Encon-tramos, de fato, o diálogo curto, a famí-lia, o adultério, entre outros elementos já citados”.

De acordo com Stefanie, a televisão geralmente é abordada na academia pela vertente da sociologia, o que é muito importante, em sua opinião, mas os es-tudos sobre a literatura e a televisão são importantes para conhecer profunda-mente a linguagem televisiva, já que a li-teratura entra em quadros de programas de variedades como o Fantástico.

Stefanie enfatiza que o estudo é es-sencial para profissionais e graduandos em midialogia porque, de tempos em tempos, a TV lança programa novo, mistura os gêneros e é importante saber pensar a produção audiovisual de ma-neira geral, porque hoje vê que produ-tos migram do cinema para a internet, para a televisão, formam rede de mídias e na graduação. “Para produzir algo de qualidade, precisa saber pensar esse for-mato. A análise do que já existe é im-portante para construir nova linguagem e pensar no que será daqui para frente. Cada vez mais tende a aumentar a mis-tura de linguagens audiovisuais. A ideia de estudar formatos específicos da te-levisão aumenta a bagagem para saber pensar e fazer produto de qualidade que não sejam restritos a canais pagos, mas que possam contribuir para a sociedade como um todo”, reforça Stefanie.

O professor Gilberto Alexandre Sobrinho (acima), orientador, e Stefanie Alves, autora da dissertação

PublicaçãoDissertação: “A vida como ela é: Nelson Rodrigues no palimpsesto televisivo”Autoria: Stefanie AlvesOrientação: Gilberto Alexandre SobrinhoUnidade: Instituto de Artes (IA)

o ano em que se comemoram os cem anos de nascimento de Nelson Rodrigues (1912-1980), o progra-ma a exibir a série

O Nelson da TV

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