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IMPRESSO ESPECIAL 1.74.18.2252-9-DR/SPI Unicamp CORREIOS FECHAMENTO AUTORIZADO PODE SER ABERTO PELA ECT www.unicamp.br/ju ornal U ni camp da Campinas, 25 de junho a 1º de julho de 2012 - ANO XXVI - Nº 531 - DISTRIBUIÇÃO GRATUITA J Projeto prevê energia solar em 2013 Conexões entre o fígado e o hipotálamo Página 4 Organismos aquáticos e a cor do perigo Página3 Entre pipetas, buretas e tubos de ensaio Página 8 A soja transgênica e o mercado internacional Página 9 Impressões da coreógrafa na comissão de frente Página 12 Duas dissertações orientadas pelo professor José Irineu Gorla, da Faculdade de Educação Física, estabelecem parâmetros de altura e de obesidade para crianças e jovens que têm o distúrbio. Páginas 6 e 7 Síndrome de Down Página 5 Foto: Antonio Scarpinetti

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Jornal da Unicamp, edição 531

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IMPRESSO ESPECIAL1.74.18.2252-9-DR/SPI

UnicampCORREIOS

FECHAMENTO AUTORIZADOPODE SER ABERTO PELA ECTwww.unicamp.br/ju

ornal UnicampdaCampinas, 25 de junho a 1º de julho de 2012 - ANO XXVI - Nº 531 - DISTRIBUIÇÃO GRATUITA

JProjeto prevê energia solar em 2013

Conexões entre o fígado e o hipotálamo Página 4

Organismos aquáticos e a cor do perigoPágina3

Entre pipetas, buretas e tubos de ensaioPágina 8

A soja transgênica e o mercado internacionalPágina 9

Impressões da coreógrafa na comissão de frentePágina 12

Duas dissertações orientadas pelo professor José Irineu Gorla, da Faculdade de Educação Física, estabelecem parâmetros de altura e de obesidade para crianças e jovens que têm o distúrbio.

Páginas 6 e 7

Síndrome de Down

Página 5

Foto

: Anto

nio S

carp

inetti

Zoé Avancini, de 8 anos, brinca Zoé Avancini, de 8 anos, brinca no pátio da escola em que estuda no pátio da escola em que estuda

UNICAMP – Universidade Estadual de CampinasReitor Fernando Ferreira CostaCoordenador-Geral Edgar Salvadori De DeccaPró-reitor de Desenvolvimento Universitário Paulo Eduardo Moreira Rodrigues da SilvaPró-reitor de Extensão e Assuntos Comunitários João Frederico da Costa Azevedo MeyerPró-reitor de Pesquisa Ronaldo Aloise PilliPró-reitor de Pós-Graduação Euclides de Mesquita NetoPró-reitor de Graduação Marcelo KnobelChefe de Gabinete José Ranali

Elaborado pela Assessoria de Imprensa da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Periodicidade semanal. Correspondência e sugestões Cidade Universitária “Zefe-rino Vaz”, CEP 13081-970, Campinas-SP. Telefones (019) 3521-5108, 3521-5109, 3521-5111. Site http://www.unicamp.br/ju. E-mail [email protected]. Twitter http://twitter.com/jornaldaunicamp Coordenador de imprensa Eustáquio Gomes Assessor Chefe Clayton Levy Editor Álvaro Kassab ([email protected]) Chefi a de reportagem Raquel do Carmo Santos ([email protected]) Reportagem Carmo Gallo Netto, Isabel Gardenal, Luiz Sugimoto, Maria Alice da Cruz, Manuel Alves Filho, Patricia Lauretti e Silvio Anunciação Editor de fotografi a Antoninho Perri Fotos Antoninho Perri e Antonio Scarpinetti Coordenador de Arte Luis Paulo Silva Editor de Arte Joaquim Daldin Miguel Vida Acadêmica Hélio Costa Júnior Atendimento à imprensa Ronei Thezolin, Patrícia Lauretti e Jaqueline Lopes Serviços técnicos Dulcinéa Bordignon Everaldo Silva Impressão Pigma Gráfi ca e Editora Ltda: (011) 4223-5911 Publicidade JCPR Publicidade e Propaganda: (019) 3327-0894. Assine o jornal on line: www.unicamp.br/assineju

venha frutifi car, entretanto, fi cou patente a necessária chamada aos debates de experts de diferentes campos do conhecimento. Esses, tanto profi ssionais envolvidos com as “ciências duras”, até então dominantes na condução do setor, tanto especialistas da área de humanas indispensáveis para a com-preensão da transformação social, teriam por objetivos entender como os avanços tecnológicos gerados nas universidades e institutos de pesquisa poderiam resultar em ganhos econômicos e sociais ao povo brasileiro.

Uma vez apresentado o objetivo moti-vador do Fórum e assumida a orientação pela aludida perspectiva multidisciplinar, pode-se diagnosticar que foi privilegiada a discussão de questões atinentes à gestão de sistemas de produção de eletrônicos, in-dústria classifi cada pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) como sendo de alta intensidade tecnológica. Dentre essas questões, o foco recaiu sobre o subsistema de produção de componentes microeletrônicos, o mais in-tensivo em pesquisa e desenvolvimento e responsável pela agregação da maior parcela do valor gerado pela indústria eletrônica.

A intensidade em P&D e a alta agrega-ção de valor podem ser atribuídas, entre ou-tras, ao fato de os sistemas microeletrônicos estarem presentes, mesmo que sejam à som-bra, em um sem número de equipamentos nas mais diversas áreas de atividade, sendo essa uma tendência crescente diante da “ubi-quidade” de sistemas de comunicação e à incorporação de funcionalidades eletrônicas em diversos bens de capital e consumo. Não é por acaso que pesquisadores do campo da economia da tecnologia e inovação, tais como Christopher Freeman, Carlota Perez, Bengt-Åke Lundvall e Giovanni Dosi, para citar apenas alguns expoentes, costumam apresentar a microeletrônica como a nova revolução tecnológica, determinante de um novo paradigma de tecnologia industrial.

Outros pensadores, como Teilhard de Chardin e Kenneth E. Boulding consideram que a circulação da informação propiciada por sistemas microeletrônicos constitui um novo patamar evolutivo da humanidade, que passou da apropriação da geosfera e da

biosfera à apropriação da noosfera, espaço até bem pouco reservado às elevações es-pirituais e ao vagar das almas, segundo um plano mais abstrato.

Deixando de lado a metafísica e retor-nando à microeletrônica na geosfera mesmo, em termos de política científi ca e tecnológi-ca nacional, brasileira, o debate a respeito da gestão de políticas tecnológicas para a indústria de microeletrônica mostra-se relevante por pelo menos três razões, todas interligadas. Em primeiro lugar, pelo caráter incipiente da indústria de microeletrônica no Brasil, suprida mormente por componentes importados, situação que coloca o país em patamar bem inferior a outros países. Em segundo lugar, pela relevância macroeco-nômica dessa indústria, visto que em 2008 a importação de componentes microeletrô-nicos respondeu por nada menos que 10,3% de todas as importações brasileiras. E para fi nalizar, em terceiro lugar, devido à recente ênfase dada à microeletrônica nas políticas governamentais. Essa pode ser avaliada considerando-se o lançamento do Progra-ma Nacional de Microeletrônica (PNM) em 2002, considerando-se a inclusão da produção de semicondutores entre as prio-ridades da política industrial, tecnológica e de comércio exterior (PITCE) em 2004, considerando-se o lançamento do Programa Nacional de Formação de Projetistas de Cir-cuitos Integrados (CI-Brasil) em 2005 e os investimentos governamentais na fábrica de chips denominada Centro Nacional de Tec-nologia Eletrônica Avançada (Ceitec), em 2008, além do lançamento nesse mesmo ano do Programa de Apoio ao Desenvolvimento Tecnológico da Indústria de Semicondutores (PADIS) e da fundação do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia de Sistemas Micro e Nanoeletrônicos (INCT-Namitec).

Tema de abordagem recorrente há décadas, tema de muitas pesquisas e diag-nósticos para fundamentar o lançamento de programas e medidas de incentivos urgentes sempre que a política industrial brasileira está em foco, a indústria microeletrônica nacional de certa forma parece questionar a funcionalidade dos esforços de C,T&I implementados para o fortalecimento do ecossistema de microeletrônica que integra,

ecossistema esse fundamental para o aden-samento tecnológico da indústria eletrônica no Brasil.

No evento, atenção especial foi dada pelos expositores à criação de arranjos cooperativos que promovam o crescimento desse ecossistema. Emprestado da biologia, o termo “ecossistema” foi incorporado aos que se referem aos recursos organizacio-nais da microeletrônica para mostrar como as instituições científicas, tecnológicas, regulatórias e de mercado podem vir a ser articuladas por intermédio de políticas visando induzi-las a inovar. No bojo desse sistema organizacional, como não poderia deixar de ser, as questões pertinentes ao uso adequado do capital intelectual dessas instituições foram muito enfatizadas. Me-lhor dizendo, foi destacada a necessidade de disseminar a competência dos recursos humanos de cada uma das instituições cons-tituidoras do ecossistema organizacional da indústria microeletrônica nacional por meio do ecossistema como um todo em benefício do fortalecimento da indústria.

O teor das discussões ocorridas no evento enfatizou as colaborações interdis-ciplinares e multiorganizacionais como um poderoso instrumento para a busca de soluções de problemas sistêmicos, cuja complexidade exige um formato plural em suas abordagens.

Registre-se, ainda, que durante a re-alização do evento, foi apresentada uma coletânea de artigos referentes a ecossiste-mas na indústria microeletrônica, escritos por autores de diversas instituições. Essa coletânea, intitulada “Gestão da Sustenta-bilidade Organizacional: desenvolvimento de ecossistemas colaborativos”, serviu de inspiração a parte dos debates do Fórum e está disponível para download gratuito na página de internet do Gaia/CTI.

Campinas, 25 de junho a 1º de julho de 20122

Foto: Antoninho Perri

ARTIGOARTIGO por: Newton Müller Pereira, Marco Antonio Silveira, Adalberto Mantovani Martiniano de Azevedo e Marília Tunes Mazon

Inovação na indústria microeletrônica requer novos arranjos organizacionais

Newton Müller Pereira é professor do Departamento de Política Científi ca e Tecnológica (DPCT) do Instituto de Geociências (IG) da Unicamp; Adalberto M. M. de Azevedo é professor do bacharelado em Políticas Públicas da Universidade Federal do ABC; Marco Antonio Silveira e Marília Tunes Mazon são pesquisadores do Grupo de Apoio à Inovação e Aprendizagem em Sistemas Organizacionais do Centro de Tecnologia da Informação Renato Archer (Gaia/CTI)

á era tempo do Departamento de Política Científi ca e Tecnológica da Universidade Estadual de Campinas (DPCT/Unicamp) e do Grupo de Apoio à Inovação e Aprendizagem em Sistemas

Organizacionais do Centro de Tecnologia da Informação Renato Archer (Gaia/CTI) divulgarem suas ações conjuntas e se as-sociarem para a promoção de debates de temas de interesse comum de suas respec-tivas instituições, temas esses de caráter geral e que defi nem o papel social de cada qual. Um desses temas, inclusive da maior relevância em face das atuais políticas bra-sileiras de ciência, tecnologia e inovação, trata do reconhecimento da contribuição, e também dos obstáculos enfrentados por instituições de pesquisa, sejam públicas ou privadas, e instâncias governamentais, para a articulação de arranjos interorganizacio-nais inovativos que sejam funcionais para promover a competitividade empresarial e o bem estar social.

Concebido para fomentar discussões multidisciplinares e tendo como proble-mática orientadora a gestão de arranjos cooperativos para a inovação, como des-tacado no parágrafo anterior, ocorreu no dia 21 de março do presente ano o evento “Gestão para a inovação na indústria ele-trônica: ecossistemas organizacionais e capital intelectual”. O evento inseriu-se na série Fóruns Permanentes, promovida pela Coordenadoria Geral da Universidade (CGU/Unicamp), cujo objetivo maior tem sido o de aproximar a comunidade interna de pesquisa da Unicamp com sua congênere externa, provocando assim sinergias em suas pesquisas e empreendimentos.

Participaram, na qualidade de exposito-res e debatedores dos temas propostos para o Fórum, pesquisadores do CTI, pesqui-sadores da área de Gestão Tecnológica do Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (Inmetro), docente e pesquisa-dores egressos do Programa de Pós-Gradua-ção em Política Científi ca e Tecnológica da Unicamp. Esses egressos, já engajados nas articulações desenvolvidas conjuntamente pelas instituições promotoras do evento, ao tempo em que colocam em prática a forma-ção recebida no DPCT também adquirem experiências variadas ao integrarem-se em atividades de pesquisa desenvolvidas pelo Grupo de Apoio à Inovação e Aprendizagem em Sistemas Organizacionais do CTI, gru-po que se associou à Unicamp também no oferecimento da infraestrutura necessária a realização do fórum em pauta.

Os representantes das instituições que compareceram ao Fórum mostraram forte convergência nos interesses de pesquisa e no diagnóstico das estratégias necessárias para a gestão da política tecnológica de suas instituições e da indústria como um todo. Mais ainda, fi cou bem demonstrado que as portas estão abertas em diversas instituições setoriais para a realização de pesquisas e projetos de interesse comum e que contri-buições relevantes podem ser construídas por meio de parcerias voltadas à discussão interdisciplinar de problemas de política científi ca, tecnológica e de inovação, como a parceria DPCT/Gaia bem demonstrou no evento.

A existência de diversos centros de pes-quisa envolvidos com a indústria eletrônica no entorno de Campinas proporcionou ao fórum também se tornar agente de fomento para a celebração de parcerias regionais preocupadas em debater as consequências sociais das pesquisas aqui desenvolvidas, sempre enfatizando uma perspectiva mul-tidisciplinar. Para que essa perspectiva

Mesa do Fórum “Gestão para

a inovação na indústria eletrônica:

ecossistemas organizacionais

e capital intelectual”, promovido pela CGU:

fomento para a celebração de parcerias

regionais

J

Pesquisadores da FT avaliam compostosdespejados porindústrias emrios e córregos

MANUEL ALVES [email protected]

esquisadores do Laborató-rio de Ecotoxicologia e Mi-crobiologia Ambiental Prof. Dr. Abílio Lopes (LEAL), da Faculdade de Tecnologia (FT) da Unicamp, instalada em Limeira, estão utilizando

organismos aquáticos para identifi car os impactos provocados pela presença de co-rantes em rios e córregos do Estado de São Paulo. Classifi cados como contaminantes emergentes, esses compostos trazem danos para a biota e representam um risco iminente para a saúde humana. “Mesmo em pequenas concentrações, esses corantes, muito utiliza-dos pelas indústrias têxteis e de alimentos, entre outras, já causam efeitos adversos, como a morte e o atraso na regeneração de organismos aquáticos”, afi rma a coordena-dora do LEAL, professora Gisela de Aragão Umbuzeiro.

A linha de pesquisa, que conta com fi nan-ciamento da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), foi implan-tada há três anos, com a chegada da docente à Unicamp. “Eu trabalhei durante 22 anos na Cetesb [Companhia Ambiental do Estado de São Paulo]. Quando ainda estava lá, nós já identifi cávamos a presença de corantes em mananciais, mas até aquele momento ainda não havíamos associado esses compostos a efeitos adversos à biota. Somente após minha vinda para a Universidade, foi que pude dar prosseguimento às pesquisas iniciadas no pós-doutorado realizado nos Estados Uni-dos”, relata a professora Gisela.

De acordo com ela, os testes ecotoxico-lógicos realizados no laboratório têm de-monstrado que alguns corantes são bastante tóxicos, pois causam efeitos deletérios, ainda que em pequenas concentrações. “Cerca de 100 microgramas de corante por litro de água já são sufi cientes para provocar, por exemplo, a morte de organismos como a pulga d’água, um microcrustáceo, e inibir o crescimento de algas de água doce, ambos de elevada importância dentro da cadeia trófi ca”, afi rma a pesquisadora. Até aqui, o manancial mais trabalhado pela equipe do LEAL foi o Ribeirão dos Cristais, situado em Cajamar, cidade da Região Metropolitana de São Paulo.

Naquele local, conforme a professora Gisela, o problema relativo à saúde humana foi resolvido. “Assim que nós detectamos o lançamento de efl uentes contaminados por corantes no manancial, a indústria foi notifi cada. Agora, a empresa de saneamento coleta os efl uentes e os lança depois da esta-ção de tratamento de água. Foi uma medida paliativa, visto que a questão ainda não está totalmente resolvida, pois o impacto ao am-biente persiste. Nós continuamos coletando amostras de água do ribeirão e observamos que os corantes seguem presentes”, diz. Recentemente, prossegue a pesquisadora, o mesmo trabalho foi iniciado na região de Americana, onde existe uma grande con-centração de indústrias têxteis. “Estamos coletando amostras do Ribeirão Quilombo e do Rio Piracicaba. Preliminarmente, já cons-tatamos a presença de corantes em alguns pontos. O próximo passo será identifi cá-los e quantifi cá-los”.

Além de formar recursos humanos qualifi -cados, o grande objetivo do LEAL, conforme a sua coordenadora, é, a partir das avaliações de riscos, estabelecer valores seguros que pos-sam preservar a biota e, consequentemente, a saúde da população. “Nós queremos dizer para a sociedade o seguinte: tais concentra-ções são aceitáveis, pois não representam risco para o ambiente ou o homem. Com isso, nossas autoridades também terão elementos para criar regulamentações que permitam estabelecer maior controle em torno desses contaminantes emergentes”, detalha a pro-fessora Gisela. Essa questão é importante, de acordo com ela, pois não é possível ao Brasil tomar por base leis de países desenvolvidos para adaptá-las à nossa realidade.

A pesquisadora destaca que o problema da contaminação da água por corantes ocor-re principalmente em nações emergentes

3Campinas, 25 de junho a 1º de julho de 2012

.....................................................................■ Publicações

OLIVEIRA, R. L. ; ANDERSON, M. A. ; UMBUZEI-RO, G. A. ; ZOCOLO, G. J. ; ZANONI, M. V. B. . Assessment of By-Products Of Chlorination And Photoelectrocatalytic Chlorination Of An Azo Dye. Journal of Hazardous Materials, v. 205, p. 1-9, 2012.FERRAZ, E. R. A. ; UMBUZEIRO, G. A. ; DE-ALMEI-DA, G. ; CALOTO-OLIVEIRA, A. ; CHEQUER, F. M. D. ; ZANONI, M. V. B. ; DORTA, D. J. ; OLIVEIRA, D. P. Differential toxicity of Disperse Red 1 and Dis-perse Red 13 in the Ames test, HepG2 cytotoxicity assay, and Daphnia acute toxicity test. Environmental Toxicology, v. 26(5), p.489-497, 2011. CARNEIRO, PATRICIA A. ; UMBUZEIRO, GISELA A. ; OLIVEIRA, DANIELLE P. ; ZANONI, MARIA VALNICE B. . Assessment of water contamination caused by a mutagenic textile effl uent/dyehouse effl uent bearing disperse dyes. Journal of Hazardous Materials , v. 174, p. 694-699, 2010.CARNEIRO, PATRÍCIA A. ; OLIVEIRA, DANIELLE P. ; UMBUZEIRO, G.A. ; ZANONI, MARIA VALNICE BOLDRIN. Mutagenic activity removal of selected disperse dye by photoeletrocatalytic treatment. Journal of Applied Electrochemistry v. 40, p. 485-492, 2010. CLAXTON, LARRY D. ; UMBUZEIRO, GISELA DE A. ; DEMARINI, DAVID M. The Salmonella Mutageni-city Assay: The Stethoscope of Genetic Toxicology for the 21st Century. Environmental Health Perspectives, v. 118, p. 1515-1522, 2010.

.....................................................................

Fotos: Antonio Scarpinetti

PMantidos no laboratório, os organismos aquáticos fornecem dados sobre a qualidade de rios e córregos

Organismos aquáticos são usados na detecção decontaminação por corantes

A professora Gisela Umbuzeiro: “Corantes causam efeitos adversos, como a morte e o atraso na regeneração de organismos aquáticos”

como Brasil, Índia e China, onde os tecidos são tingidos. “Os países ricos compram o tecido pronto. É aqui, onde a produção está concentrada, que parte das substâncias utilizadas para dar cor às roupas vai para os rios e córregos. Estou falando da indústria têxtil, por causa do grande volume de água utilizado pelo setor na fase de produção. Entretanto, outros segmentos, como o ali-mentício e o de cosmético, também fazem uso de corantes”, pontua a coordenadora do LEAL. A professora Gisela assinala que todo esse trabalho não seria possível sem a colaboração de outras instituições, como a Universidade Estadual Paulista (Unesp-Araraquara e Botucatu) e a Universidade de São Paulo (USP). “Além disso, temos mantido parcerias com universidades do exterior, para onde enviamos nossos alunos para que ampliem a sua experiência e ad-quiram novos conhecimentos”, completa a coordenadora do LEAL.

Na opinião da pesquisadora, o melhor modo de enfrentar o problema da contamina-ção da água por corantes é agir no processo de tratamento de efl uentes das indústrias. Os sistemas utilizados atualmente, segundo a professora Gisela, não foram desenhados para remover esses compostos. Normalmen-te, o que se faz é fi ltrar e/ou tratar os efl uentes biologicamente e fi nalmente adicionar cloro para então lançá-los nos mananciais. “Isso não é sufi ciente. Ainda que, em alguns casos, a cloração faça com que a cor desapareça parcialmente da água, os contaminantes persistem. Ademais, tal procedimento pode gerar outros tipos de compostos ainda mais tóxicos do que os presentes originalmente nos efl uentes”, alerta.

Justamente por causa dessa deficiên-cia no tratamento dos efl uentes, destaca a pesquisadora, é que o projeto desenvolvido pela sua equipe contempla também estudos

sobre diferentes formas de remoção de con-taminantes da água empregada no processo de produção industrial. “Estamos avaliando vários tratamentos, inclusive os oxidativos avançados, realizados por pesquisadores da Unesp de Araraquara. Nosso objetivo é verifi car, através de ensaios, se a qualidade da água é pior com ou sem a cor. Vamos seguir nesse trabalho até que consigamos reduzir tanto a cor, quanto a toxicidade e a mutagenicidade. Em outras palavras, quere-mos chegar a um tratamento que seja efi caz. Dessa forma, estaremos contribuindo para proteger o ambiente e, consequentemente, a população”, reforça a docente da FT.

Mais recentemente, continua a profes-sora Gisela, o LEAL introduziu na linha de pesquisa alguns organismos marinhos. A intenção dos pesquisadores é utilizá-los para avaliar a qualidade da água do mar e de estuários. A decisão decorre do fato de a costa brasileira ter uma importância muito grande em termos econômicos e sociais. “Esse trabalho, porém, é mais difícil de ser feito. É que os organismos marinhos vivem em um meio que contém sal, substância que interfere nas análises químicas e na solubilidade dos corantes. Trata-se de um grande desafi o, que pretendemos superar com a qualifi cação da nossa equipe. Vários de nossos pós-graduandos estão realizando estágios em outras instituições, tanto dentro quando fora do Brasil, para que possamos aprender mais sobre estudos nessa área”.

QualidadeParalelamente a todo esse trabalho, o

LEAL também está se preparando para adotar um sistema de qualidade que lhe per-mita receber um certifi cado de acreditação de acordo com a norma ISO/IEC17025. Ao atingir essa condição, o laboratório poderá prover dados inclusive para instituições

estrangeiras interessadas em contratar tes-tes ecotoxicológicos. “Na Europa, existe uma demanda grande por análises com organismos aquáticos”, informa a profes-sora Gisela. Ademais, diz a pesquisadora, pesquisas realizadas a partir de ensaios feitos em laboratório acreditado ganham em credibilidade. “Nesse caso, os proce-dimentos difi cultam condutas inadequadas ou fraudes, pois o controle é muito grande. Vale observar, porém, que o objetivo desse controle não é inibir a criatividade ou a ini-ciativa do pesquisador. Tudo pode ser feito, até protocolos podem ser mudados, desde obviamente que cada passo seja registrado”.

Tão importante quanto tornar o LEAL um laboratório acreditado, no entender da professora Gisela, é formar recursos hu-manos dentro de uma cultura de qualidade. “Penso que já alcançamos 40% do processo. Já criamos o arcabouço: providenciamos boa parte da documentação necessária e estabelecemos regras. O que nos falta, ainda, é implementar a garantia da qualidade, que vem por meio, por exemplo, da calibração de equipamentos e utilização de materiais de referência. Nesse esforço, estamos tendo completo apoio por parte da alta adminis-tração da Faculdade. Posteriormente, nossa intenção é levar essa experiência para os demais laboratórios da FT. Trata-se de um projeto audacioso, mas que pode ser ple-namente alcançado. Para atingir essa meta, vamos precisar da colaboração da Univer-sidade, visto que são processos que exigem investimentos signifi cativos”, considera.

Pesquisadores do LEAL: em busca de parâmetros para promover o controle da contaminação dos mananciais

Entretanto, a gordura saturada também ativa o TLR4. A ativação do TLR4 induz ao estresse retículo endoplasmático, uma organela importante na célula que partici-pa da síntese de proteínas e gorduras. O estresse do retículo endoplasmático leva ao aumento de citocinas e infl amação no hipotálamo.

“A infl amação hipotalâmica prejudica a sinalização da leptina e da insulina – hormônios que participam do controle da ingestão alimentar e do gasto energético – no hipotálamo. Isto leva a um desequilíbrio dos mecanismos que regulam o bom fun-cionamento do organismo”, diz Marciane.

Fígado e nervo vagoA leptina é um hormônio produzido,

principalmente, pelo tecido adiposo. Na obesidade, os níveis de leptina estão aumentados. A insulina é o hormônio res-ponsável pela redução da taxa de glicose no sangue ou glicemia.

O fígado é o que regula a quantidade de glicose produzida no jejum. Pacientes com esteatose hepática, popularmente co-nhecida como gordura no fígado, possuem resistência à insulina. O mesmo defeito é encontrado no fígado do diabético: o órgão faz um controle inadequado da produção de glicose e acumula gordura.

A gordura presente no alimento “enga-na” o organismo e ativa o receptor TLR4. Ao ser ativado, ele produz a citocina pró-infl amatória TNFα, um sensor celular que leva à infl amação do hipotálamo. Por causa da infl amação, há uma interrupção na sinalização de leptina e insulina no sistema nervoso central.

A infl amação hipotalâmica, que leva à obesidade, conforme descrito anteriormen-te por Marciane, também vai fazer com que a função da insulina seja prejudicada no fígado. Consequentemente, há um prejuízo no controle da produção hepática de glicose.

Inicialmente, para testar a hipótese de

que a inibição da infl amação hipotalâmica melhoraria o controle glicêmico corporal, animais experimentais foram submetidos a uma cirurgia para implantação de um catéter no hipotálamo. Por meio deste ca-teter, os animais receberam inibidores de vias infl amatórias, antiTLR4 e antiTNFα.

Os resultados mostraram que a inibição hipotalâmica dessas vias foi capaz de me-lhorar o controle glicêmico dos animais, o que foi demonstrado no trabalho por várias metodologias, entre elas o teste de tolerância à glicose.

“A melhora do controle glicêmico foi resultante da maior capacidade da insulina em inibir a produção hepática de glicose, como demonstrado em experimentos de si-nalização hepática de insulina e quantifi ca-ção de enzimas que aumentam a produção de glicose no fígado”, explica Marciane.

Para provar efeito do hipotálamo na melhora da sinalização hepática à insulina e, consequentemente, do controle glicêmi-co, os animais foram submetidos à vago-tomia, denervação hepática do nervo vago que faz a comunicação entre o cérebro e outros órgãos.

O sistema nervoso central manda in-formações para diversos órgãos do corpo, inclusive ao fígado, por meio do nervo vago. Este nervo é regulado por canais de potássio dependente de adenosina tri-fosfato (ATP), que é a moeda de troca de energia da célula. Com a vagotomia, a pes-quisadora comprovou que houve a perda de todos os efeitos metabólicos benéfi cos da inibição da infl amação hipotalâmica.

“Com isso, concluímos que a infl a-mação hipotalâmica em roedores obesos leva à ruptura do eixo cérebro-fígado responsável por controlar o equilíbrio da glicose corporal. Inibindo a passagem de sinalização de infl amação no hipotálamo pelo nervo vago, o fígado volta a controlar adequadamente a produção de glicose e a insulina passa a agir com mais facili-dade no órgão. Portanto, o eixo neural

cérebro-fígado é importante para restaurar a sensibilidade hepática à insulina” disse a pesquisadora do Labsincel.

A descoberta coloca o eixo cérebro-fígado no controle do equilíbrio glicêmico. O hipotálamo passa a ser o ator principal desse mecanismo. O professor e também pesquisador Lício Velloso é otimista quan-to à descoberta.

“O mecanismo descrito por essa pes-quisa mostra que o controle da glicose alta no jejum é feito, pelo menos em parte, pelo hipotálamo. Isto reforça nossa suspeita de que o desenvolvimento de drogas com ação no sistema nervoso central deve ser inte-ressante para o tratamento do diabetes”, comentou Velloso.

A pesquisa teve o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). O Laboratório de Sinalização Celular (Labsincel) pertence ao Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia (INCT) de Obesidade e Diabetes. Desde 2003, investiga mecanismos moleculares de ação e interação entre hormônios e citocinas. É composto por estudantes e pesquisadores de diversos níveis – iniciação científi ca, mestrado, doutorado, e pós-doutorado. Suas pesquisas se inserem nas linhas de estudos de obesidade e diabetes, com destaque nos mecanismos de sinalização celular da insulina, citocinas, nutrientes e ação no hipotálamo.

Publicada na Diabetes,descobertaabre frente de estudo parao tratamento do diabetes

EDIMILSON MONTALTIEspecial para o JU

iabéticos que monitoram rotineiramente a glice-mia têm, às vezes, ao acordar, uma surpresa: o elevado nível de açúcar no sangue. Este é um dos

principais problemas enfrentados por endo-crinologistas para controlar a glicemia de jejum em pacientes com diabetes. Um dos órgãos que fazem este controle é o fígado.

Pesquisa realizada no Laboratório de Si-nalização Celular (Labsincel) da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Unicamp pela nutricionista Marciane Milanski de-monstrou, pela primeira vez na literatura médica, a ligação entre a infl amação do hipotálamo e a resistência à insulina no fígado.

O estudo foi realizado durante dois anos em ratos obesos. Além desta descoberta, Marciane também identifi cou a via neural por onde ocorre a ligação entre o sistema nervoso central e o fígado.

Os resultados do trabalho ganharam matéria especial e editorial da revista norte-americana Diabetes, uma das mais respeitadas publicações na área de endo-crinologia do mundo. Segundo o professor Licio Velloso, orientador da pesquisa, a descoberta abre uma nova frente de estudo visando o tratamento do diabetes.

“O diabético passa um período de jejum dormindo e, ainda assim, ele acorda com a glicose alta. Décadas atrás, descobriram que o fígado produz glicose e o paciente com diabetes tem defeito nessa produção. Porém, detalhes a respeito deste processo ainda não são completamente esclareci-dos”, disse Velloso.

A pesquisa “A inibição da infl amação hipotalâmica reverte a resistência à insulina no fígado induzida por dieta” publicada na revista Diabetes é a continuação da tese de doutorado de Marciane.

A nutricionista e professora da Fa-culdade de Ciências Aplicadas (FCA) da Unicamp do campus de Limeira mostrou que uma dieta rica em gordura saturada – presente na manteiga e nas carnes bovina e suína, por exemplo – leva a uma infl amação do hipotálamo.

O hipotálamo é um órgão localizado na base do cérebro. Ele controla a homeostase corporal, isto é, o ajuste do organismo às variações externas. O hipotálamo controla a temperatura, o balanço de água no corpo, a fome e o gasto energético corporal, entre outras funções. Ele também faz a integra-ção entre os sistemas nervoso e endócrino, atuando na ativação de diversas glândulas produtoras de hormônios.

“Fomos identifi car quais eram os me-canismos por meio dos quais as gorduras saturadas levavam à infl amação hipotalâ-mica. Existe uma relação muito íntima en-tre via infl amatória e vias metabólicas, que controlam a ingestão alimentar e gasto de energia. Distúrbios nessas vias metabólicas levam ao aumento ou diminuição de peso”, explica Marciane.

A pesquisadora focou seu estudo no Toll Like Receptor 4 (TLR4) e no Fator de Necrose Tumoral Alfa (TNFα). O TLR4 é um receptor do sistema imune inato que protege o corpo de infecções ao provocar uma infl amação que sinaliza à célula sobre uma bactéria invasora a ser combatida. O TNFα é uma citocina (proteína) presente em infl amações sistêmicas. Ele pode ser produzido, por exemplo, após a ativação do TLR4.

Campinas, 25 de junho a 1º de julho de 20124

Foto: Antoninho Perri

.......................................................................■ Publicação

Artigo: A inibição da infl amação hipotalâmica reverte a resistência à insulina no fígado induzida por dietaRevista: Diabetes, edição n° 61 de junho de 2012Acesso ao artigo:http://diabetes.diabetesjournals.org/content/61/6/1455.abstractAutora: Marciane MilanskiOrientador: Licio Augusto VellosoApoio: Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp)Unidade: Faculdade de Ciências Médicas (FCM)

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Estudo liga resistência à insulina no fígado à infl amação do hipotálamo

D

Os professores Licio Velloso, orientadoror, e Marciane Milanski, autora da

pesquisa : eixo cérebro-fígado

no controle do equilíbrio

glicêmico

Projeto, que temconcessionáriacomo proponente,reúne docentes e pesquisadoresda Unicamp

PATRÍCIA [email protected]

s usinas hidrelétricas correspon-dem a 70,3% da capacidade instalada de produção de ele-tricidade no Brasil, segundo o Boletim de Monitoramento do Sistema Elétrico Brasileiro

de Abril/2012, publicado pelo Ministério de Minas e Energia. Os investimentos em energia eólica cresceram bastante nos últimos anos e, atualmente, são 1.479 megawatts (MW) instalados. Mas, na opinião dos especialistas, faltava um olhar mais atento do governo fede-ral em relação à energia solar fotovoltaica, ou seja, a obtida através da conversão direta da luz do sol em eletricidade. O cenário positivo começa a se desenhar a partir do Projeto Es-tratégico: “Arranjos técnicos e comerciais para inserção da geração solar fotovoltaica na ma-triz energética brasileira” ou, simplesmente, a “chamada 13” da Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica), cujo objetivo é diversifi car a matriz energética brasileira. São 18 projetos aprovados para várias concessionárias, tota-lizando 25MW de potência instalada. Pela primeira vez, a eletricidade gerada vai para a rede e será distribuída para os consumidores, já a partir do início do ano que vem. Docentes e pesquisadores da Unicamp estão envolvidos em um deles, que tem como proponente a Companhia Paulista de Força e Luz (CPFL), que investiu R$ 13 milhões no projeto.

Para o professor Ennio Peres da Silva, do Laboratório de Hidrogênio (LH2), do Instituto de Física Gleb Wataghin (IFGH) “este é um marco para a energia fotovoltaica no Brasil porque é o momento de introdução dessa tecnologia no País. Sempre falávamos no futuro e agora o futuro chegou”. Para se ter uma ideia, até hoje no Brasil, o máximo da capacidade de energia solar instalada era de 6 MW, provenientes de unidades criadas no Prodeem (Programa de Desenvolvimento Energético dos Estados e Municípios), para atender a comunidades isoladas. Com a “cha-mada 13”, a capacidade de geração no Brasil, de modo geral, vai ser ampliada mais de quatro vezes. Hoje, a energia solar fotovoltaica tam-bém é usada em situações especiais, como na operação de telefones de emergência e outros equipamentos em rodovias.

Batizado pela CPFL de “DE-0045”, o projeto terá duração, a contar de março de 2012, de 36 meses de trabalho com a insta-lação de usinas em Campinas, na subestação Tanquinho da CPFL e na Unicamp, além de dois aerogeradores para realização de testes de um sistema híbrido com a energia eólica, com 5 kW de potência instalada. A maior usina terá capacidade de produção de 1 megawatt (MW) em Tanquinho, enquanto, na Unicamp, serão instalados quatro conjuntos de painéis de dife-rentes tecnologias, de 15 quilowatt (kW) cada.

Além do professor Peres, participam os docentes Ernesto Ruppert Filho, da Faculda-de de Engenharia Elétrica e de Computação (FEEC), e Luiz Antonio Rossi, da Faculda-de de Engenharia Agrícola (Feagri), todos pesquisadores do Núcleo Interdisciplinar de Planejamento Energético (Nipe) da Unicamp. Os três devem orientar pelo menos seis tra-balhos de mestrado, doutorado e iniciação científi ca relacionados ao projeto. A CPFL está envolvida com 19 empresas coligadas. Também integram o projeto de cooperação três empresas spin-offs, ou seja, que nasce-ram a partir de experiências que começaram na Unicamp: a Hytron, a Eudora Solar e o Instituto Aqua Genesis. O diretor executivo da Hytron, João Carlos Camargo, doutor em planejamento energético pela Faculdade de Engenharia Mecânica (FEM) da Unicamp, é o coordenador geral.

Um aspecto da “chamada 13” é permitir a utilização de recursos obrigatórios de pes-quisa e desenvolvimento (P&D) em um pro-jeto estratégico cooperativo com viabilidade comercial, como este. A Unicamp já atuava

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Fotos: Antonio Scarpinetti

Campinas, 25 de junho a 1º de julho de 2012

Energia solar chega à rede em 2013

João Carlos Camargo, coordenador-geral do projeto

como parceira da companhia no projeto denominado DE – 0042 para o desenvolvi-mento de tecnologias e geração solar/eólica de 20 kW. Com a instalação das plantas, os pesquisadores da Unicamp vão iniciar os estudos de medições, simulações e também de aprimoramento das tecnologias já desen-volvidas para a conexão à rede elétrica da energia fotovoltaica gerada. “A melhoria do controle dos conversores eletrônicos de potência é uma delas”, diz Ruppert Filho, orientador da pesquisa que resultou no pri-meiro conversor trifásico para a conexão de painéis solares à rede elétrica.

Os painéis necessários para a captação da luz solar serão comprados pelas empre-sas consorciadas à CPFL, e serão testados modelos nacionais e internacionais. Da mesma forma, os aerogeradores. Os docentes explicam que a eletricidade disponibilizada na rede não pode ser armazenada, enquanto energia elétrica, em grandes quantidades. Por isso, o sistema de distribuição é controlado de forma a equacionar o consumo. Com a utilização da energia solar fotovoltaica gerada, o fornecimento da energia elétrica de outras fontes pode ser reduzido. “O que acaba resultando em economia não só da energia, mas de todos os recursos que en-volvem a produção de eletricidade”, afi rma Peres. Somente como ilustração, a energia solar que será gerada nesta cooperação entre Unicamp e CPFL seria sufi ciente por si só, para o abastecimento contínuo de 150 casas de classe média por um dia.

A integração da energia fotovoltaica com a eólica na rede é uma novidade, de acordo com Peres. “Precisamos estudar como com-patibilizar essas energias, aliando-as aos da-dos do clima, para evitar perdas. Há uma série de condições que precisam ser atendidas”.

A falta de reservas foi uma das causas do “apagão” de 2001, por exemplo. O professor Rossi acrescenta que, nesse sistema, a rede serve de armazenamento, já que a energia fotovoltaica só poderia ser mantida em baterias, que são inviáveis do ponto de vista econômico, devido à grande quantidade de eletricidade produzida. “A diversifi cação da matriz energética vai permitir maior seguran-ça do sistema de abastecimento nacional”, ele complementa.

O analista de inovação da CPFL Energia Antonio Roberto Donadon ressalta a impor-tância da parceria com a Unicamp. “A coo-

peração é fundamental para o treinamento de pessoas para o mercado. A construção de pe-quenas usinas em todo o país vai representar um custo menor da energia no futuro. Esses projetos nos fornecem curvas de aprendizado que são fundamentais.”

Outro estudo do projeto refere-se ao aspecto ambiental. A pesquisadora Carla Cavaliero, do Instituto Aqua Genesis, afi rma que um aspecto a ser analisado é a possibi-lidade de obtenção de créditos de carbono. “O que está sendo evitado de emissões de gases de efeito estufa e como será feita essa contabilidade são levados em conta. O estudo considera ainda que, ao gerar energia elétrica com as fontes eólica e solar fotovoltaica no horário diurno, uma parcela da geração hi-drotérmica será deslocada, podendo reduzir as emissões de gás carbônico. Além disso, foi realizado um estudo do potencial eólico e solar fotovoltaico na área de concessão da CPFL Energia, indicando os locais de maior aproveitamento energético”.

AerogeradoresOs experimentos com os aerogeradores,

responsáveis pela obtenção de energia elétrica por meio do vento, objetivam, em um primei-ro momento, obter as chamadas curvas de potência, ou curvas de desempenho. Um túnel de vento, ou na realidade um “soprador”, deve simular várias velocidades de vento e medir a produção de energia elétrica. De acordo com Rossi, “será feita extrapolação e projeção da produção anual de energia elétrica, usando a curva obtida e o perfi l de vento por meio de medições com anemômetros e anemoscópios; usaremos o Atlas Eólico do Estado de São Paulo, que tem a previsão de ser concluído em julho. Caso contrário, vamos recorrer ao do Estado do Rio Grande do Sul ou o do Estado do Ceará, que já estão disponíveis”. Nestes Estados, a CPFL tem investimentos e parti-cipação em empresas regionais de geração e de distribuição de energia.

Os dois aerogeradores testados serão um nacional instalado em local ainda a ser defi nido, e outro importado na subestação Tanquinho. Segundo o docente, em campo, os pesquisadores poderão medir a produção anual de energia elétrica e comparar com o que foi projetado. “Além disto, serão avalia-dos os impactos que estes sistemas poderão causar na rede elétrica de baixa tensão, ob-jetivando eliminá-los ou minimizá-los”, diz.

A

Placa de energia solar

instalada na rodovia D. Pedro I:

equipamento alimenta

telefones de emergência

Ennio Peres da Silva: marcopara a energia fotovoltaica

Ernesto Ruppert Filho: conversor será aprimorado

Luiz Antonio Rossi: diversifi cação permite maior segurança

Carla Cavaliero: obtenção de créditos de carbono

Antonio Roberto Donadon: ressaltando a parceria

Campinas, 25 de junho a 1º de julho de 20126

.....................................................■ Publicação

Dissertação: “Crescimento da pessoa com síndrome de Down: contribuição para a construção de um referencial”Autora: Fábia Freire da SilvaOrientador: José Irineu GorlaUnidade: Faculdade de Educação Física (FEF)

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Síndrome de Down

C

Dissertações da Faculdade de Educação Física avaliam indicadores de altura e de obesidade em crianças e jovens com o distúrbio genético

Um referencial para acurva de crescimento

Zoé Avancini passa por avaliação antropométrica

A educadora física Fábia Freire da Silva: “A perspectiva futura é fechar a curva de crescimento brasileira”

ISABEL [email protected]

rianças e adolescentes com síndrome de Down têm um crescimento menor em relação aos que não têm esse distúrbio, de acordo com pesquisa de mestrado desenvolvida na Faculdade de Educação Física (FEF). Essa foi a constatação

da educadora física Fábia Freire da Silva, ao estudar 285 pessoas com a síndrome na faixa etária de 7 a 15 anos. A sua contribuição foi ter proposto um referencial para a construção de uma curva de crescimento que, na amostra pes-quisada, fi cou em 1,40 m para meninas e 1,50 m para meninos. Na população sem síndrome, em geral a estatura para as meninas é de 1,61 m e para os meninos de 1,69 m.

A investigação foi conduzida principalmen-te na cidade de São Paulo, com algumas inves-tigações feitas também no interior paulista, em

O professor José Irineu Gorla, orientador dos dois trabalhos: “Estudos podem ajudar nas escalas de desenvolvimento das crianças”

de 1,47 m e 1,61 m – oito centímetros a mais que a população brasileira”, conta a autora da dissertação.

Já, ao serem comparados com resultados de pesquisa de outros países como os Estados Unidos e o Japão, os achados da educadora física sugeriram que a sua investigação apresentava similaridades com os estudos de Y. Kuroki e de Christine Cronk – que empresta o nome à curva de crescimento usada como referência para essas populações.

Nesse caso, a média da estatura fi nal das meninas, por exemplo, foi de 140 cm para a população japonesa e de 140,9 cm para a po-pulação brasileira, ao passo que, em relação ao sexo masculino, a amostra brasileira apresentou valores superiores: 150,5 cm contra 145 cm da amostra japonesa.

Na comparação com os resultados da população americana, a amostra brasileira apresentou valores ligeiramente superiores, sendo de 2 cm para os meninos e para as meninas valores um pouco mais elevados, de aproximadamente 4 cm.

Desafi os A síndrome de Down é uma anomalia ge-

nética que pode se manifestar por meio de três variações: a trissomia do cromossomo 21, que é o tipo mais comum, presente em 95% dos casos; a translocação, que tem um gene conectado em outro cromossomo que pode ser no par 14 ou 22, e o mosaico, que tem algumas células com 46 cromossomos e outras trissômicas.

Ficou muito claro para a mestranda que a abordagem desse público-alvo deve ser meticu-losa, pela complexidade que encerra. Isso envol-veu visitas a muitas instituições que hoje atuam com crianças defi cientes. Somente de Apaes, ela esteve em cerca de 30 dessas instituições, sem falar de várias escolas da rede municipal e das particulares.

Nessas escolas, a mestranda apresentava o seu projeto e, após a devida autorização, começava a coletar dados como estatura, peso e medidas de prega cutânea, chegando ao IMC, para verifi car se os avaliados estavam dentro do esperado, abaixo, com sobrepeso ou com obesidade.

Enfrentou muitas difi culdades para a ob-tenção dos dados, mesmo afi rmando que o seu trabalho não era invasivo. Uma delas foi a falta de respaldo das instituições. “Quando se pro-nuncia a palavra ‘pesquisa’, isso ainda assusta muito”, expõe Fábia. “E minha tarefa consistia somente em fazer medições. Mesmo assim, em algumas, nem conseguimos ganhar acesso às suas instalações para realizar o estudo.”

Outra difi culdade envolveu a abordagem da família que, conforme apurou a mestranda, em geral já vem cansada de tantas pesquisas e do pouco retorno. “Há carência de informações, e os familiares têm que lidar por si com a defi ci-ência. Daí aparece mais uma pessoa tentando reunir dados para um levantamento e nem sempre é bem-aceita”, lamenta.

Esses dados seriam basicamente alimenta-ção, atividade física e doenças. “É preciso saber se as crianças têm defi ciência de zinco e doença congênita do coração, fatores que infl uenciam em seu crescimento, como também diabetes as-sociado que, junto com hipertensão e obesidade, constitui a síndrome metabólica”, assinala Fábia.

AvançosQuando a pesquisadora pensou nesse estudo,

informa o professor Gorla, a ideia era fortalecer uma lacuna dentro da educação física adaptada chamada “Crescimento e desenvolvimento”, a qual dispõe de pouca literatura de quanto essas

crianças brasileiras têm dentro dos percentuais de estatura, peso, massa corporal e percentual de gordura.

“Ao ingressar no mestrado, ela estudou essa proposta mais a fundo, pois as tabelas disponíveis são internacionais e não servem de parâmetros para a realidade da nossa população. Então buscamos ver um percentual de gordura ideal, de peso e de estatura para termos a noção da realidade dessas crianças”, relata o orientador. Essa conquista, realça, também poderá contri-buir para as ciências médicas do país, uma vez que esses dados podem ajudar nas escalas de desenvolvimento dessas crianças.

A área de atividade motora adaptada da Unicamp hoje é bastante destacada no país. Tem uma história de 20 anos e surgiu com o Departamento de Estudos de Atividade Motora Adaptada, idealizado por um grupo de profes-sores, entre eles Edison Duarte, Paulo Araújo e José Júlio Gavião de Almeida.

Ao criarem esse Departamento, o intuito era ter um grupo estudando a atividade física para pessoas com defi ciência. O trabalho se fortaleceu, formando um contingente de mestres e doutores. O próprio Gorla fez o mestrado e o doutorado ali.

Fábia acentua que a Unicamp é um celeiro da atividade física adaptada e de estudos com defi ciências. “Aqui no Brasil é uma das princi-pais instituições a contemplar todas as áreas de defi ciências dentro de um campus universitário. Temos os esportes paraolímpicos como o rúgbi, a esgrima e a bocha, e os esportes adaptados como o handebol em cadeira de rodas, além do trabalho com atividades motoras para crianças com síndrome de Down.”

A relevância do seu estudo foi ter colabora-do com a curva de crescimento. “É algo muito difícil de conseguir com uma pesquisa de corte transversal, que tem mais latente a questão temporal, isso porque se observa uma falta de retornos das fontes entrevistadas”, dimensiona a autora. Por essa razão, teve que limitar o seu trabalho mais à Capital, depois de tê-lo iniciado também no interior paulista. No doutorado, buscará uma amostra nacional.

“O nosso foco é ter informações para tra-balhar com elas em direção a um peso ideal, que isso resulte em padrões saudáveis, que eles tenham uma melhor qualidade de vida. É também atuar na prevenção”, salienta Gorla. “Daqui a alguns anos já encontraremos profi s-sionais com mais informações para trabalhar com essas crianças em academias e em clínicas de reabilitação.”

Fábia mostrou ser possível trabalhar com equações de percentual de gordura, com preven-ção e com atividade física específi ca para que essas crianças melhorem a sua qualidade de vida.

Com a inclusão que atualmente está prevista em lei, a criança que vai à escola pode ter ativi-dade física ao mesmo tempo em que cuida dos seus indicadores pessoais. A qualidade depende dessa atividade.

Outra coisa: “é importante que o pai não olhe seu fi lho com medo ou com pena. Os pro-fi ssionais, afi nal, conhecem os problemas que afl igem as pessoas com a síndrome de Down”, conclui o orientador.

Uma forma que ela e Gorla encontraram de tornar públicos os resultados foi escrevendo um livro, que em breve será publicado. O títu-lo provisório é Síndrome de Down: Crescimento, Maturação e Atividade Física. A obra ainda reúne outros trabalhos do grupo de pesquisa em Avaliação Motora Adaptada (Gepa-ma) da FEF.

municípios como Campinas, Limeira, Valinhos, Vinhedo e Atibaia, mas, segundo a mestranda, ela serve como referência nacional, já que são raros os estudos no país para um padrão da síndrome de Down nessa faixa etária.

“A perspectiva futura é fechar a curva de crescimento brasileira até 21 anos”, espera Fábia, “pois a única curva que temos é a de zero a oito anos, desenvolvida através de um estudo da USP. A nossa ideia era acrescentar dados novos.”

Tais curvas de crescimento podem colaborar com pais, profi ssionais de saúde e gestores de políticas públicas, que tomarão conhecimento sobre os padrões do que constitui uma boa nutrição, saúde e desenvolvimento infantil. Sobrepeso, obesidade e condições associadas ao crescimento e à nutrição são, assim, detectadas e cuidadas precocemente.

Ao longo da pesquisa, orientada pelo docen-te da FEF José Irineu Gorla, a educadora física confi rmou o que dizia o senso comum a respeito do crescimento das crianças com a síndrome de Down: que elas de fato têm uma estrutura menor. Quando o parâmetro foi o estudo de A. Myrelid, feito com crianças suecas em com-paração a outras nacionalidades, a amostra de Fábia foi pareada com essas crianças em relação ao peso. Entretanto, a diferença foi marcante quando comparada a estatura. “Na Suécia, a estatura média para a síndrome de Down foi

CARMO GALLO [email protected]

prevalência da obesidade e da baixa estatura é característica facilmente identificável em pessoas com síndrome de Down (SD). Após a desco-berta da síndrome, dissemi-

naram-se estudos para identifi car as patolo-gias dela decorrentes – associadas a fatores genéticos, fi siológicos e ambientais – como doenças crônicas do coração, hipotonia muscular, defi cit do hormônio tireóideo e obesidade. Entretanto, essas pesquisas não são ainda em número signifi cativo. Com efeito, os trabalhos que se destinam a de-terminar a incidência de pessoas com peso corporal acima dos limites recomendados concentram-se principalmente em crianças e adolescentes que não apresentam a sín-drome e se revelam escassos em relação aos jovens com SD, embora perfeitamente identifi cado o sobrepeso que os caracteriza. Esta constatação levou o educador físico Fabio Bertapelli a investigar as causas genéticas, fisiológicas e ambientais da prevalência da obesidade nessas crianças e adolescentes. Além disso, o estudo teve como objetivo avaliar a composição e a forma física corporal (somatotipo) de pes-soas com idade de 6 a 19 anos, de ambos os sexos, institucionalizados no município de Campinas, assistidos pela Apae. O autor reuniu subsídios realizando inicialmente uma revisão bibliográfi ca, principalmente em periódicos internacionais, diante da escassez de publicações nacionais, sobre a composição corporal dessas crianças e adolescentes.

O pesquisador considera que os estudos sobre a prevalência da obesidade, da dis-tribuição da gordura corporal e da forma física corporal (somatotipo) em indivídu-os com SD são de extrema importância como fontes de informações relevantes para a prevenção de doenças associadas ao maior acúmulo de gordura corporal. Além de contribuírem para compreensão dos fatores que predispõem esse público ao maior acúmulo de gordura em comparação à população sem a síndrome, as pesquisas oferecem subsídios para programas de atividades físicas adaptadas, destinadas a pessoas com essa defi ciência, e a todos os profi ssionais que os atendem, como edu-cadores físicos, terapeutas ocupacionais, médicos, fi sioterapeutas, nutricionistas, entre outros.

Bertapelli explica que o biotipo cor-responde ao formato do corpo e está rela-cionado à composição do corpo humano. Com base nesse conceito, a análise do corpo físico pode ser realizada através de um método denominado somatotipo (soma, corpo), desenvolvido com o objetivo de for-necer um sistema tridimensional do corpo humano por meio de recursos fotoscópicos e antropométricos. Em outras palavras, o

somatotipo é um método quantita-tivo que permite a caracterização conjunta da forma e da compo-sição do corpo humano em três grupos: endomorfo, mesomorfo e ectomorfo. No endomorfo estão os indivíduos com predomínio da gordura corporal; no mesoformo, aqueles em que prevalece a massa muscular; e no ectomorfo, os sujei-tos identifi cados pela linearidade

relativa do corpo, ou seja, caracterizados pela “magreza”.

Normalmente, as pessoas apresentam uma somatória de cada uma dessas caracte-rísticas e o predomínio de uma delas é que determina a inserção em um dos grupos. Na população com SD há escassez de estudos em relação aos componentes somatotipoló-gicos entre meninos e meninas. Esta lacuna levou o autor a analisar o somatotipo em crianças e adolescentes com a síndrome no município de Campinas, com a fi nalidade de fornecer subsídios para a compreensão dos componentes envolvidos no processo de crescimento físico dessa população. A técnica do somatotipo envolve 13 medidas antropométricas, incluindo peso, estatura, diâmetros biepicondilar do fêmur e úmero, perímetros da perna medial e braço, dobras cutâneas tricipital, bicipital, subescapular, suprailíaca, abdominal, coxa e perna.

Com base na literatura consultada, o autor se deparou como primeira indagação: por que ocorre a prevalência da obesidade nas pessoas com SD? Procurou as possíveis causas que estariam relacionadas a fatores genéticos, fisiológicos e ambientais. Le-vantou então alguns fatores que podem ser relacionados à SD e que contribuem para a obesidade. Entre eles, menciona a alteração do hormônio leptina e insulina, micronutrien-te zinco e taxa metabólica basal.

As pessoas com a síndrome têm aumen-tados os índices de leptina, responsável pelo controle do apetite, o que as leva a comer mais. Da resistência à insulina resulta maior acúmulo de gordura e dia-betes. A defi ciência de zinco difi culta o crescimento e, em consequência, a menor estatura determina maior propensão ao acúmulo de gordura. Como a maioria nasce com alterações cardiovasculares, as suas atividades físicas tendem a ser mais restritas. Em geral nascem também com falta de massa muscular e, em decorrência, apresentam taxa metabólica basal baixa, ou seja, gasto energético menor do que uma pessoa normal em repouso, o que leva ao automático acúmulo de gordura. A maioria apresenta hipotireoidismo, que contribui também para o seu aumento.

Na pesquisa, realizada com 50 crianças (6 a 12 anos) e adolescentes (13 a 19 anos) – faixas etárias consagradas em estudos realizados sobre o comportamento da gor-dura corporal em jovens – junto à Apae de Campinas, Bertapelli se propôs a verifi car qual a diferença entre meninos e meninas (crianças) e moças e rapazes (adolescen-tes); entre crianças e adolescentes; e entre sexos nos dois grupos. Um dado, não pre-sente na literatura, particularmente desper-tou a atenção do pesquisador: a maioria dos meninos não apresentou obesidade. Pelo contrário, neles os resultados indicaram valores normais de gordura corporal, en-quanto meninas, moças e rapazes, confor-me esperado, apresentaram grau alarmante de obesidade. As razões dessa diferença nos meninos não constituiu objeto do seu estudo e precisam ser investigadas. Em relação ao somatotipo, os resultados foram coerentes aos de prevalência de obesidade: os meninos apresentaram predomínio da massa muscular (mesomorfos) e os demais grupos caracterizaram-se pelo excesso de gordura (endomorfos).

Em decorrência da revisão bibliográfi ca e dos dados colhidos junto ao universo pesquisado, o autor conclui que as pessoas

com SD precisam de atividades físicas, mas reconhece que essa inserção não é fácil, porque existe carência de programas espe-cífi cos para essa população. Ele destaca o papel da família, que embora em geral preo-cupada com os aspectos clínicos, muitas ve-zes não está conscientizada da existência de programas de esportes que, embora poucos, podem ser frequentados pelas pessoas com SD. Por sua vez, a reeducação alimentar pode ser facilitada através da intervenção de nutricionistas que levem a mudanças de hábitos alimentares não só da criança e do adolescente como da família, que em geral desconhece também que as pessoas com a síndrome tendem a comer mais, às vezes em decorrência do aumento do índice de leptina presente no organismo.

Ao considerar as razões que o moveram ao trabalho, Fabio Bertapelli manifesta a preocupação com a contribuição social, cada vez mais presente em jovens pes-quisadores: “Com a pesquisa, pretendo principalmente contribuir para a sociedade que é carente de informação, preocupado simultaneamente em divulgar os resultados conseguidos de forma compreensível a não especialistas. Espero contribuir ainda para a evolução social e para o desenvolvimen-to científi co do país com publicações de temas correlatos e ainda não devidamente esclarecidos.”

No trabalho, o educador físico se propôs mais especifi camente a avaliar a prevalência da obesidade na criança e no adolescente com SD e verifi car que fatores levam à obesidade nessa população e ainda analisar alguns instrumentos utilizados na determinação da gordura corporal, como as técnicas do somatotipo e da composi-ção corporal. Em decorrência do estudo, ele propõe relacionar essas variáveis ao crescimento, ao nível de atividade física, ao desempenho motor, aspectos ainda pouco estudados.

Campinas, 25 de junho a 1º de julho de 20127

Fotos: Antonio Scarpinetti

A

Síndrome de DownDissertações da Faculdade de Educação Física avaliam indicadores

de altura e de obesidade em crianças e jovens com o distúrbio genético

Zoé Avancini passa por avaliação antropométrica

O educador físico Fabio Bertapelli: subsídios para programas de atividades físicas adaptadas

Estudo caracteriza forma e composição do corpo

....................................................■ Publicação

Disssertação: “Composição corporal e somatotipo em pessoas com síndrome de Down”Autor: Fabio Bertapelli Orientador: José Irineu Gorla Unidade: Faculdade de Educação Física (FEF)

.....................................................O professor José Irineu Gorla, orientador dos dois trabalhos:

“Estudos podem ajudar nas escalas de desenvolvimento das crianças”

Campinas, 25 de junho a 1º de julho de 20128

MARIA ALICE DA [email protected]

nstituto de Química, carteira de identi-dade funcional 535. Primeiro faxineiro a ser contratado na Química, em 1972. Em menos de três anos de contrato, um dos poucos vidreiros científi cos da Uni-versidade. E foi com este cargo que Luiz

Euclides Fontana aposentou-se da arte de confeccionar incipientes indispensáveis ao desenvolvimento da química na Unicamp. Três anos após a aposentadoria, ao olhar para a chama do maçarico, principal ins-trumento de trabalho no qual até 2009 deu forma a buretas, pipetas, tubos de ensaio e

I

Foto: Antoninho Perri

Luiz Euclides Fontana em laboratório do IQ (a esq.) e há cerca de 20 anos (acima): de faxineiro a vidreiro científi co

capilares, ele constata: “Contribuí para o desenvolvimento da ciência. Não recusa-va ajuda a nenhum professor e aluno não somente na confecção de vidrarias, mas em outras atividades para as quais pediam ajuda.” Hoje, pode apreciar as marcas do tempo no rosto e na titulação de muitos dos alunos que auxiliou. “Muitos são hoje docentes do IQ, mas não deixaram de ser meus amigos.”

Quatro prédios de um lado da praça, quatro do outro. Assim é a Unicamp de 1972 descrita por Fontana. Ele lembra que, ao chegar ao Instituto de Química da Uni-camp, foi enviado para um quartinho (um banheiro reformado) no qual nenhum outro faxineiro queria trabalhar por ser isolado. Mas, por ser comunicativo, interessado, solícito e colaborativo, em poucos meses fez do isolamento um ponto de encontro com novos colegas de trabalho, professores e alunos do IQ, que solicitavam sua cola-boração em algumas atividades. O local de trabalho, pequeno e esquisito, rejeitado por outros colegas, se diversifi cara rapidamen-te, pois surgiram convites para acompanhar as coletas de campo. E assim, o jovem faxineiro passou a conhecer mais do Bra-sil ao lado de nomes da ciência brasileira como Sebastião Barata, Anita Marsaioli, Hermógenes Freitas Leitão (do Instituto de Biologia), entre outros. “Íamos para Poços de Caldas, Serra do Japi”, relembra.

E, aos poucos, o jovem Fontana mos-trava aos amigos e à família que não trocou a função de mecânico na fábrica Chapéus Cury pela de faxineiro na Unicamp para passar 37 anos isolado e muito menos aco-modado. A troca de inscrições na carteira profi ssional, segundo ele, gerou alguns questionamentos como: “Vai deixar de ser mecânico para limpar banheiro?”. A que respondia: “Vou trocar um salário de 176 mil por 360 mil cruzeiros”. Sem se im-portar com a condição inicial de “jogador reserva”, como ele mesmo se classifi ca, encarou o cimento, os fi os, os conduítes, as torneiras, até se tornar essencial no auxílio em pesquisas. “Onde faltava gen-te, eu cobria. Hoje tenho muitos amigos, entre funcionários, professores e alunos”, felicita-se.

Diante da disponibilidade de ferra-mentas, Fontana começou a se dedicar um período à faxina e outro ao maçarico. Ao perceber a disponibilidade do jovem funcionário, o então diretor do IQ, Jayr de Paiva Campelo, lhe atribuiu a ativida-de de vidreiro. A insegurança inicial foi substituída pelo profi ssional essencial não só à Universidade, mas a algumas salas de colégios técnicos, pois até hoje, após a aposentadoria, Fontana é convidado a ministrar ofi cinas de vidrarias em escolas técnicas da região de Campinas. “Foi-me oferecido um curso de vidraria. Estudei com o José Cícero Martins, do Instituto de Física Gleb Wataghin, na época responsá-vel pela primeira vidraria da Unicamp”, declara. Ele confessa que na saída de um colega da Vidraria, Rodolfo, entrou em

“palpos de aranha”, quebrava dez a cada 11 peças que deveria confeccionar, mas logo contrataram um vidreiro da Força Aérea Brasileira, Carlos Finezi, o que o deixou mais seguro. Logo contrataram Marcos Tadeu Magalhães para ser seu companheiro de trabalho até seu último dia na universidade. Um dos vidreiros do IQ, atualmente, ao lado de Cláudio Roque, Magalhães já era especialista em confecção de vidros desde 1978.

Fontana não imagina o IQ sem a vi-draria, já que tudo o que não não pode ser adquirido com urgência no mercado é encontrado no setor. Foi justamente o valor e a fragilidade das peças que levou algumas universidades a terem sua própria vidraria. Fontana explica que os tubos capilares são descartáveis e, em determinado momento, deixaram de ser fornecidos, o que levou o diretor Campelo a abrir a vidraria. Desde então, quando um pesquisador precisa de um aparelho com urgência, desenha o projeto e defi ne o prazo para fi car pronto. Muitas vezes, o prazo vence da noite para o dia e a equipe providencia. “Se chegar aqui e disser que precisa de um condensador para amanhã, o vidreiro molda a peça, sub-mete, em forno, a 560 graus centígrados, e no dia seguinte, tem a peça fria, pronta. Mas o resfriamento também tem de ter tempo adequado”.

Entre os aparelhos que não se encon-tram em estoque, estão os condensadores encamisados, como um desenvolvido na vidraria para evitar coagulação do sangue durante cirurgia, estudado em pesquisa do IQ. “Não somos formados em química, mas estávamos sempre prontos para dar assis-tência a laboratórios de ensino e pesquisa, como o Cláudio Roque e o Marcos estão hoje”, declara.

O que seria da ciência sem o vidreiro científi co? A resposta é pronta: “Não teria como se desenvolver. Vidreiro científi co na Unicamp é assim. Coração. Se tirar o vi-dreiro, não tem material específi co”. Além de confeccionar e montar equipamentos fora do mercado, os vidreiros recuperam peças quebradas. Eles realizam um trabalho coletivo, mas não trabalham em série como na indústria. Cada um dá conta da peça ini-

ciada. E rápido. Porque o vidro não demora nada a voltar ao estado líquido. No trabalho com o torno, por exemplo, o trabalho co-letivo é muito importante, pois o operador não pode descuidar. “Quando trabalha no torno há muito calor. Um precisa auxiliar o outro, passando ferramentas. Porque o vidro não para de derreter no forno. Se deixar no fogo, escorre feito água”, explica Cláudio Roque, responsável pela vidraria do IQ atualmente e compadre de Fontana.

Fontana soma à lista de satisfações de sua trajetória na Unicamp a prestação de serviços para outras unidades da Univer-sidade e empresas externas. Isso, segundo ele, tornou o trabalho da vidraria conhecido. A oportunidade de receber pesquisadores e profissionais de outras instituições e empresas para treinamento no Instituto de Química também é relatada com orgulho pelo ex-funcionário. E quando é convidado às reminiscências, se envaidece: “Muitos professores fazem questão de trazer visitan-tes nacionais e internacionais para conhecer nosso trabalho”. Uma das atividades que ele e os amigos Marcos e Cláudio também têm orgulho de participar é a Unicamp de Portas Abertas (UPA), em que estudantes de ensino médio visitam a Universidade como apoio na decisão pela carreira profi ssional. “En-tregávamos miniaturas a alguns estudantes.”

O interesse pela química desenvolvida na academia era tão grande que Fontana aprendia detalhes que não conseguia as-similar na sala de aula no ensino médio. “Tinha difi culdade em química no colegial [equivalente ao ensino médio], mas quan-do ia auxiliar um docente aqui eu sabia exatamente o que fazer”, explica. Nesse leque de atividades, incluem-se colher, moer, peneirar, selecionar e extrair plantas e auxiliar em destilação.

A profissão de vidreiro científico é pouco conhecida no Brasil, além de ser escassa. Há dados de que existam menos de 30 profi ssionais com essa nomenclatura em nosso território. Essa realidade fez com que Fontana aposentasse da Universidade com pelo menos 15 convites de trabalho. Aos quais nem hesitou em recusar. Pai de três fi lhas – Maria Auxiliadora, Ana, Paula e a mais nova, Letícia, com 23 anos –, aos

61 anos ele quer curtir a aposentadoria ao lado da família, oferecer ofi cinas para as quais já está sendo convidado e dar conti-nuidade a um trabalho que realiza na igreja, ministrando palestras e coletando manti-mentos e artigos para entregar a famílias carentes de Campinas e Tatuí.

Além de enriquecer sua experiência com as peças laboratoriais, o paulista de Marília já colaborou com trabalhos de ha-lotecnia, transformação de vidro em peças artesanais, e trabalhos de artes plásticas. Ele relembra dos trabalhos com miniaturas ao lado dos amigos do IQ, entre eles André Breda, e da Física, Jeferson Breda. Essa caminhada, como não poderia deixar de ser, fez com que, no mundo do trabalho, reunisse um número incontável de amiza-des que extrapolam a área do campus de Barão de Geraldo. “Quero curtir a família, mas sinto saudades da vidraria, dos ami-gos da Unicamp. Mantenho a amizade até hoje”, declara, citando apelidos como do amigo Cebola (Antônio Carlos Siqueira), que teve oportunidade de conhecer ainda garoto e passou a cuidar como se fosse da família. E por falar nisso, ele é um dos irmãos Fontana que dedicaram a maior parte da vida à Universidade. Para que muitos se lembrem ou conheçam: Maria Odete Fontana Pedrossanti e Luiz Apare-cido Fontana, no Instituto de Biologia; e o cunhado Ademir Pedrossanti, na Reitoria. As cunhadas Vania Baroni Fontana (IB) e Dalva Albino Torres Fontana também marcaram presença no campus.

“A Unicamp mudou minha vida da água para o vinho. Trabalhava como ajustador mecânico; ganhava 176 mil. Cheguei aqui, me contrataram por 360 mil cruzeiros como faxineiro. Riam de mim porque estava vindo limpar banheiro, mas para mim o importante era o dinheiro. Além disso, adoro limpeza. Colaboro com a limpeza em minha casa também. E trouxe isso para a vidraria. O ambiente onde se confeccionam peças em vidro tem de ser muito limpo”, declara. E quando busca, sem nenhum es-forço, reconstituir sua vida, relata: “Nunca neguei nada para ninguém. Tudo que pe-diam eu fazia. E ia além, saia à meia noite, 1 hora da manhã, por fi car quebrando galho de professor e aluno.”

As prorrogações da jornada de trabalho, porém, duraram somente até 1980, quando, depois de frequentar um seminário, casou-se com Maria Madalena Pires Fontana, que havia frequentado um convento. Eles saíram para estudar no Liceu Salesiano, em 1979, e, em 1980, se casaram. É perto dela que, provavelmente, ele quer continuar sendo o profi ssional que mais faz bicos enquanto trabalha. “Não fazer bico para ganhar uns trocados, mas para assoprar e dar forma a minhas próprias peças em vidro”, brinca.

A possibilidade de contar e recontar essa trajetória, com sorriso constante no rosto, ele faz questão de ressaltar de onde vem: “Se a Unicamp deve algo a mim, devo muito mais a ela.”

A chama daciência

Foto: Reprodução

ciência

Campinas, 25 de junho a 1º de julho de 20129

Foto: Antonio Scarpinetti

Foto: Antoninho Peri

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Dissertação: “Os organismos geneticamente modifi ca-dos e os impactos no comércio internacional agrícola: um estudo de caso da soja”Autor: Paulo Ricardo da Silva OliveiraOrientador: José Maria Ferreira Jardim da SilveiraUnidade: Instituto de Economia (IE)

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Estudo apontaproblemas no fato de aEuropa ser omaior compradorda soja produzida no Brasil

CRISTIANE KÄMPFEspecial para o JU

Brasil é atualmente o prin-cipal fornecedor de soja para a Europa e, em 2009, o país forneceu cerca de 60% da leguminosa im-portada pelo continente.

Tal especialização no mercado europeu – o qual, por razões predominantemente cul-turais, sempre deu preferência à soja con-vencional em detrimento da geneticamente modifi cada – ainda hoje representa um risco à economia do país, já que a soja é seu prin-cipal produto de exportação agrícola. Com a crise mundial de 2008, por exemplo, o baixo dinamismo da economia europeia causou um desaquecimento da demanda por soja, expli-cando em parte a queda de 25% na produção brasileira na média entre 2007-2009.

Paulo Ricardo da Silva Oliveira, mes-tre em desenvolvimento econômico pelo Instituto de Economia (IE) da Unicamp, acredita que esta especialização pode ser uma desvantagem comercial para o Brasil, já que o mercado europeu, apesar de ainda pagar mais caro pela soja convencional, é maduro e não está em expansão como o asiático, dominado por EUA e Argentina. Na dissertação de mestrado intitulada “Os organismos geneticamente modifi cados e os impactos no comércio internacional agrícola: um estudo de caso da soja”, o pesquisador do Núcleo de Economia Agrícola (NEA) do IE explica que, em 1996, a introdução da soja transgênica no mercado consumidor alterou completamente o cenário de compra e venda da commodity entre os principais produtores – EUA, Argentina e Brasil – e compradores – Europa e Ásia. A dissertação foi orientada pelo professor José Maria Ferreira Jardim da Silveira.

“O Brasil não produziu transgênico, ofi cialmente, até 2005. Isto confere ao país uma imagem positiva frente ao mercado con-sumidor europeu – ao contrário dos EUA e Argentina, que adotaram a tecnologia desde o início. O posicionamento contrário do Brasil

aos organismos geneticamente modifi cados acarretou uma reestruturação global das origens e destinos dos fl uxos do comércio mundial de soja”, afi rma Oliveira.

Em 1961, por exemplo, os EUA detinham praticamente 100% do mercado europeu e, a partir de 1996, começam deslocar sua produção para a China, país onde não há rejeição aos transgênicos. “Pelo contrário, a população vê com bons olhos e prefere a variedade geneticamente modifi cada dos grãos, por acreditar que são melhorados e, portanto, mais nutritivos, como é o caso do Golden Rice”, revela Oliveira. Para ele, este fato se deve à estratégia do governo chinês de ressaltar as vantagens dos organismos geneti-camente modifi cados (OGM) e aponta para a necessidade de se trabalhar a percepção dos consumidores em relação à tecnologia.

Nos países europeus, entretanto, a forte atuação de grupos contrários aos transgêni-cos, como Greenpeace e ETC Group, é vista pelo pesquisador como o fator determinante para a formação de opinião negativa da po-pulação em relação aos OGM. “A introdução da soja transgênica no mercado ocorre na mesma época de grandes escândalos sanitá-rios, como o mal da vaca louca, e isto também impacta negativamente a percepção do con-sumidor europeu sobre o produto”, lembra.

Tal rejeição, entretanto, apresenta atual-mente sinais de enfraquecimento diante dos elevados preços da soja convencional – resul-tado do rápido avanço da adoção tecnológica no Brasil desde 2005. A pesquisa de Oliveira revela, todavia, que a estrutura de mercado não apresentou, até então, sinais de retorno ao estágio anterior a 1996, com os EUA recu-perando seus mercados tradicionais, como a União Europeia. O mercado asiático continua dominado por EUA e Argentina, enquanto o Brasil tem grande parcela do mercado euro-peu – o que pode ser preocupante, mesmo que, atualmente, o país já destine mais de 20% do produto também para o mercado asiático.

Na visão do pesquisador, estamos cami-nhando para um mundo livre de restrições aos transgênicos, devido à força econômica e ao imenso poder acumulado por grandes sementeiras como Monsanto, Syngenta, Du-Pont, Bayer CropScience, Dow Agroscience, entre outras; a mudança na percepção dos consumidores, tende a se acentuar com a criação de transgênicos com melhores atri-butos nutricionais e a elevação dos custos do produto convencional.

Neste cenário – em que as top 10 da indústria de sementes dominam 73% do mercado global – o Brasil estaria atrasado no que tange à pesquisa e desenvolvimento de novas variedades transgênicas – refl exo da histórica especialização do país no mercado europeu de soja convencional. Ele analisa que, caso haja a adoção do “padrão China”

Paulo Ricardo da Silva Oliveira: soja transgênica alterou o cenário de compra e venda da leguminosa

Uma aposta de risco?

Segundo Oliveira, não houve restrição legal por parte da União Europeia à primei-ra variedade de soja transgênica quando a Monsanto introduziu em 1996 as primeiras sementes resistentes a herbicida no mercado, chamada de MON-40-3-2. Isto revelaria que o fl uxo de comércio se alterou devido a uma rejeição declarada de demanda e não como consequência de restrições legais ou regulação impostas pelo governo – evidência que coloca em questionamento o modelo de investigação de grande parte dos teóricos em economia que pesquisam sobre o assunto.

“Grande parte dos trabalhos foca na questão da regulação como algo que infl uen-ciou os fl uxos de comércio, mas quando se analisa o caso da soja, é possível perceber que é a opinião do consumidor que conta, e não a regulação”, diz. Ele pretende pesquisar esta questão no doutorado, “pois ela inverte a lógica de pesquisa sobre este assunto até o momento – vou investigar mais sobre a infl u-ência da demanda nos fl uxos de comércio”.

O método quantitativo Constant Market Share ou Modelo de Parcela de Mercado, utilizado na tese para a análise dos fl uxos comerciais, permite decompor o crescimento ou decrescimento da parcela de mercado de um país em três efeitos: crescimento do comércio mundial, crescimento da absorção do destino e competitividade. No decorrer do estudo, entretanto, foi necessário introduzir um conceito de competitividade relativa, pois considerou-se que a defi nição de com-petitividade é mutável no tempo e no espaço.

Entre 1996 e 2003, por exemplo, o Brasil aumentou em 114% suas exportações de soja para o mercado europeu, pois nesta época houve a consolidação da rejeição, por parte da União Europeia, à tecnologia então adotada pelos EUA e Argentina – ou seja, a tese aponta que o expressivo aumento do market share brasileiro durante aqueles anos foi consequência do efeito competitividade. Porém uma questão que se coloca é o quão competitivo é o país atualmente e que tipo de vantagem financeira o Brasil obteve por ter adotado tardiamente a produção de transgênicos.

Para Oliveira, estudos que analisem o comportamento dos fl uxos de comércio nos próximos anos serão de extrema importância para responder essas questões. “Certamente, o comportamento dos mercados asiáticos e o avanço na adoção pelos produtores no Brasil – hoje estima-se que 85% da soja nacional é transgênica – tem muito a dizer sobre o futuro do comércio internacional de soja”, fi naliza o especialista.

A infl uência da demanda

para o mundo (no qual os transgênicos e suas sementes nutricionalmente melhoradas sejam adotadas sem restrições e até mesmo preferidas ao invés das convencionais), os países então comprariam dos exportadores que conseguissem oferecer o menor preço – “e quem consegue oferecer o menor preço são os países que saíram na frente com a pesquisa e com a produção dessas variedades”, afi rma.

Segundo ponto de vista do especialista, o Brasil teria demorado muito para se posicio-nar diante da tecnologia. “Hoje poderia haver grandes empresas nacionais produzindo transgênicos, mas há somente resultados com a Embrapa, que tem uma variedade de soja em parceria com uma empresa multinacio-nal. Uma alternativa para o Brasil teria sido avançar na pesquisa com transgênicos desde 1996, mesmo sem adotar a produção ainda naquela época”, afi rma.

Para o economista, este cenário que temos hoje, das grandes sementeiras e da difusão tecnológica, “não tem volta, pois os trans-gênicos estão completamente enraizados na cadeia de produção de alimentos. Acabei de voltar de uma pesquisa de campo no interior do Maranhão e havia produtores de médio e pequeno porte utilizando milho geneticamente modifi cado. Esta realidade é ainda mais visível no Estado de São Paulo, onde os produtores de pequeno e médio porte são ainda mais tecnifi cados”, conta Oliveira.

Silos em lavoura de soja: para autor de dissertação, país está atrasado no desenvolvimento de novas variedades

O

10

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Campinas, 25 de junho a 1º de julho de 2012

Classe e naçãoTrabalhadores e socialistas italianos em São Paulo, 1890-1920

Autor: Luigi BiondiISBN: 978-85-268-0935-2Ficha técnica: 1a edição, 2011; 424

páginas; formato: 14 x 21 cm.Área de interesse: HistóriaPreço: R$ 60,00

Sinopse: Ao reconstruir as formas de organização dos trabalhadores italianos em São Paulo entre 1890 e 1920, este livro adota um olhar transnacional para focalizar as experiências e trajetórias dos trabalhado-res imigrados, em particular dos militantes

socialistas italianos. Analisando os vários movimentos que caracterizaram a atividade desses trabalhadores em São Paulo, procura discutir suas identidades de classe e nacio-nais, bem como sua atuação multifacetada nas sociedades de socorro mútuo, nos sindi-catos, nas associações de lazer e culturais, nas lojas maçônicas e círculos políticos de diferentes tendências, nas greves e festas. Integrando diversos tipos de organização, aqueles homens e mulheres aparecem nestas páginas de um modo novo, às vezes surpreen-dente, que amplia as perspectivas de análise

da história do movimento operário no Brasil.

Autor: Luigi Biondi nasceu em 1969 em Roma, onde se formou na Universidade La Sapienza, com uma tese sobre a imprensa anarquista italiana em São Paulo na primeira república. É doutor em história social pela Unicamp. Publicou diversos artigos em revistas brasileiras e estrangeiras sobre a história da imigração italiana, a militância política e sindi-cal e os movimentos dos trabalhadores. Desde 2006 é professor de história contemporânea da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).

Movimento Constitucionalista de 1932 - O Centro de Memória-Unicamp (CMU) realiza no período de 25 de junho a 31 de agosto a exposição “Memória do Movimento Constitucionalista de 1932”. Com curadoria da historiadora I lka Stern Cohen, serão apresentados documentos de divulgação do Movimento, botons, f lâmulas, l ivros, granadas, facas, punhais e capacete usados em combate, entre outros objetos. Também integram a mostra exemplares do Suplemento em Rotogravura do jornal O Estado de S. Paulo. A exposição, instalada no setor de Arquivos Históricos do CMU (em frente ao saguão do Ciclo Básico I) pode ser visitada de segunda-feira a sexta-feira, das 9 horas às 17 horas.

Conference on Smart and Sustainable Built Environments - De 27 a 29 de junho, em São Paulo, acontece a 4ª edição da Conference on Smart and Sustainable Built Environments. O evento, que ocorre a cada três anos, conta com fomento da Fapesp, Capes e CNPq, além do apoio institucional de importantes organizações nacionais, como International Council for Research and Innovation in Building and Construction (CIB), International Initiative for a Sustainable Built Environment (iiSBE), e Continental Associa-tion for Building Automation (Caba). A orga-nização é da Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo (FEC) da Unicamp, UFES e do Sinduscom-SP. Mais detalhes no link www.fec.unicamp.br/~sasbe2012

TEDxUnicampLive - No dia 27 de junho, às 9h30, no Auditório 1 da Agência para a Formação Profissional da Unicamp (AFPU), acontece o evento TEDxUnicampLive, com a retransmissão (ao vivo) do TEDGlobal 2012 (http://conferences.ted.com/TEDGlobal2012). A organização é do professor José Eduardo Fornari Junior, do Núcleo Interdisciplinar de Comunicação Sonora (NICS). Mais detalhes do TEDxUnicampLive acesse o link http://www.ted.com/tedx/events/5806.

O pensamento de Jacques Derrida - Sim-pósio multidisciplinar em torno do pensamen-to do filósofo franco-argelino Jacques Derrida reunirá pesquisadores do Instituto de Estudos da Linguagem (IEL), dia 27 de junho, às 10 horas, no auditório da unidade. O objetivo é apresentar abordagens do pensamento da desconstrução de Derrida, em diferentes áre-as, com ênfase em teoria literária e filosofia. A organização é do professor Fábio Akcelrud Durão. Mais informações: 19-3521-1520 ou [email protected]

Fórum de Meio Ambiente e Sociedade - “Alimentação escolar: mudanças a partir da inclusão da agricultura familiar”. Este é o tema que estará em debate durante a realiza-ção do Fórum Permanente de Meio Ambiente

Biologia - “Tratamento com alta pressão hidrostática combinado com diferentes con-dições de temperatura e pH na inativação do Mycobacterium abscessus” (mestrado). Candidato: Ancelmo Rabelo de Souza. Orien-tador: professor Carlos Francisco Sampaio Bonafé. Dia 25 de junho, às 14 horas, na sala de defesa de teses da CPG/IB.

n Economia - “Gestão ambiental nas em-presas: estudo de casos com indústrias de água mineral do Circuito das Águas do Sul de Minas” (mestrado). Candidato: Pedro dos Santos Portugal Junior. Orientador: professor Bastiaan Philip Reydon. Dia 28 de junho, às 9h30, na sala 23 do Pavilhão de aulas da Pós-graduação do IE.

Educação Física - “O setor privado não lucrativo e as políticas públicas de esporte e lazer” (mestrado). Candidata: Juliane Cristine Alves Correia. Orientador: professor Lino Castellani Filho. Dia: 25 de junho, às 10 horas, no auditório da FEF.- “Análise do perfil de humor e da enzima Alfa-amilase Salivar em indivíduos fisicamente ativos” (mestrado). Candidata: Dalila Victoria Ayala Talmaski. Orientador: professor Luiz Eduardo Barreto Martins. Dia: 26 de junho, às 14 horas, no Auditório da FEF.- “A relação de gênero em uma escola de fu-tebol: quando o jogo é possível?” (mestrado). Candidata: Aline Edwiges dos Santos Viana. Orientadora: professora Helena Altmann. Dia 27 de junho, às 9 horas, no auditório da FEF.

Engenharia Elétrica e de Computação - “Avaliação do desempenho de redes de rádios cognitivos em ambientes com desvanecimen-to” (mestrado) Candidato: Francisco Martins Portelinha Junior. Orientador: professor Paulo Cardieri. Dia 25 de junho, às 10 horas, na sala PE-11.- “Avaliação multidimensional baseada em lógica difusa para educação mediada por computador” (mestrado). Candidato: Richard Arias Arias. Orientador: professor Leonardo de Souza Mendes. Dia 29 de junho, às 14 horas, na sala da Congregação da FEEC.

Engenharia Mecânica - “Barreiras à geração eólioeletrica no Brasil e na Argen-tina: uma aplicação do método de análise hierárquica” (mestrado). Candidato: João Gorenstein Dedecca. Orientador: professor Gilberto de Martino Jannuzzi. Dia 25 de junho, às 10 horas, na sala JE2 da FEM.- “Obtenção e caracterização de corpos densos e porosos de Compósitos de Alumina e Zirconia para utilização como biomaterial” (doutorado). Candidata: Sandra Maria Santos de Oliveira Araújo. Orientadora: professora Cecilia Amelia de Carvalho Zavaglia. Dia: 29 de junho, às 9 horas, no auditório do bloco K/FEM.

Matemática, Estatística e Computação Científica - “Bilhares: aspectos clássicos e quânticos” (doutorado). Candidato: Renato Teles. Orientador: professor Alberto Vazquez Saa. Dia 27 de junho, às 14 horas, na sala 253 do Imecc. - “Mensuração do capital regulamentar para risco de mercado através das metodologias VaR e Maturity Ladder-minimização das diferenças” (mestrado). Candidata: Livia Bastos Gratz. Orientador: professor Antonio Carlos Moretti. Dia 29 de junho, às 10 horas, na sala 253 no Imecc.

Encontro de Corais Infanto-juvenis - O Instituto Cultural Canarinhos da Terra promo-ve no dia 30 de junho, no auditório do Colégio Culto à Ciência, o 5º Encontro de Corais Infanto-juvenis. No evento estão previstas oficinas para os grupos infantis e juvenis, sob a condução dos professores Lucy Shimiti e Ângelo Fernandes. As apresentações ao pú-blico serão iniciadas às 11 horas com entrada gratuita. Participam: o Coro infantil e os Meni-nos cantores do Projeto Canarinhos da Terra, o Coro do Colégio Culto à Ciência, o Coral Canto Mágico de Cubatão e o Grupo Sin-gulari. Mais informações: telefone 19-3249-0583 ou e-mail [email protected]

Ensino de História - O VIII Encontro Nacional Perspectivas do Ensino de Histó-ria e o III Encontro Internacional de Ensino de História acontecem de 2 a 5 julho, na Unicamp. Com o tema “Ensino de História: Memória, Sensibil idades e Produção de Saberes”, a programação conta com mini-cursos, mesas-redondas, grupos de trabalho e grupos de reflexão. Pesquisadores de diversas universidades brasileiras, além de convidados da Argentina, Chile, Espanha, México e Uruguai, participam dos debates. As inscrições para participação devem ser fei tas até 15 de junho. A solenidade de abertura ocorre às 16 horas, no Centro de Convenções. Os encontros são coordenados pelas professoras Ernesta Zamboni, presi-dente da Associação Brasileira do Ensino de História (ABEH), e Maria Carolina Bovério Galzerani, diretora do Centro de Memória Unicamp (CMU). Organização: Associação Brasileira de Ensino de História (ABEH) e Grupo de Pesquisa Memória e Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação Conti-nuada (GEPEC) da Faculdade de Educação (FE). Inscrições e outras informações no site: http://www.fe.unicamp.brperspectivas

Fórum Internacional de Ginástica Geral - A Faculdade de Educação Física (FEF) em parceria com o Serviço Social do Comércio do Estado de São Paulo (Sesc) e apoio da International Sport and Culture Association (ISCA) realizam o VI Fórum Internacional

e Sociedade. Organizado pelo Núcleo de Estudos e Pesquisas em Alimentação (Nepa), o evento ocorre no dia 28 de junho, às 8h30, no Centro de Convenções da Unicamp. Ins-crições, programação e outras informações na página eletrônica http://foruns.bc.unicamp.br/foruns/projetocotuca/forum/htmls_descri-coes_eventos/energ37.html

O que é doença: uma visão evolucio-nista - A professora Clarissa W. Mendes Nogueira, docente do Departamento de Tocoginecologia da Faculdade de Ciências Médicas (FCM), é a próxima convidada a participar do Ciclo de palestras “Qualidade de Vida na Sociedade Contemporânea”, evento organizado pelo Instituto de Biologia (IB) da Unicamp. No dia 28 de junho, às 12h30, na sala IB-03, ela profere a palestra “O que é doença: uma visão evolucionista”. Entrada franca. Mais informações: 19-3521-6359.

O aborto, a saúde da mulher e os direitos sexuais e reprodutivos - A Pró-reitoria de Graduação (PRG) recebe para o próximo “Aulas Magistrais”, Aníbal Faúndes, professor titular da Unicamp, pesquisador sênior no Centro de Pesquisas em Saúde Reprodutiva de Campinas (Cemicamp) e coordenador do Grupo de Trabalho sobre Aborto Inseguro da Federação Internacional de Ginecolo-gia e Obstetrícia (FIGO). No evento, a ser realizado no dia 28 de junho, às 12h30, na sala CB05 do Ciclo Básico I, ele fala sobre “O aborto, a saúde da mulher e os direitos sexuais e reprodutivos”. Mais informações pelo telefone 19-3521-4757 ou site http://www.prg.unicamp.br/aulas/index.php/aulas

de Ginástica Geral. O evento ocorre de 5 a 7 de julho, em Campinas-SP. Em sua sexta edição, o evento se tornou, ao longo dos anos, referência nacional e internacional na área. Criar um espaço de informação, capacitação e discussão sobre a ginástica geral, de divulgação das pesquisas e tra-balhos realizados na área e de abertura de possibilidades para disseminação dessa prá-tica no âmbito escolar e comunitário são os objetivos do encontro. Outros detalhes podem ser obtidos no site http://www.fef.unicamp.br/figg2012/. Mais informações: 19-3521-6618 ou e-mail [email protected]

As formas de acampamento - A exposição fotográfica “As formas de acampamento”, que está sob a curadoria da professora Nashieli Rangel Loera, pesquisadora do Centro de Estudos Rurais (Ceres), fica até 6 de julho, no Hall de entrada da Biblioteca do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH). Além das fotos, estão expostos livros e periódicos sobre o tema. Visitação: das 9 às 22 horas, de segunda a sexta-feira. Mais informações: 19- 3521-1618 ou e-mail [email protected]

Prêmio Capes de Teses - A entrega do Prêmio Capes de Teses 2011 acontece no dia 11 de julho, em Brasília. A Unicamp teve cinco teses premiadas assim como oito menções honrosas. Leia mais: http://www.unicamp.br/unicamp/noticias/2012/06/11/p%C3%B3s-leva-cinco-pr%C3%AAmios-capes

Circo-K em temporada no CIS-Guanaba-ra - Vários espetáculos serão apresentados pelo Circo-K, no Centro Cultural de Inclusão e Integração Social (CIS-Guanabara), até 14 de julho. As apresentações ocorrem às 20horas (sextas e sábados) e 19 horas (domingos). As atividades são fruto de parceria entre artistas da Boa Companhia, do Grupo Matula Teatro e de artistas independentes. Os ingressos devem ser retirados com até uma hora de antecedência, na Rua Mário Siqueira 829, no bairro do Botafogo, em Campinas. Entrada franca. Mais informações podem ser obtidas pelos telefones 19-3233-7801, 3231-6369 ou e-mail http://www.cisguanabara.unicamp.br/.

Bioinformática - O Laboratório Central de Tecnologias de Alto Desempenho (LaCTAD) está organizando a quinta edição do Curso de Bioinformática “Algoritmos e Técnicas Computacionais para Montagem e Análise de Genomas”. As inscrições devem ser feitas até 15 de julho, no site http://www.lge.ibi.unicamp.br/cursobioinfo2012/. O curso, que será oferecido de 23 a 27 de julho, tem número limitado de vagas e a seleção será feita mediante manifestação de interesse e análise de histórico escolar e currículo. É desejável que o interessado tenha conhe-cimentos do ambiente Linux e de alguma linguagem de programação. A lista de sele-cionados será divulgada no dia 16 de julho.

Congresso de Leitura do Brasil - O Congresso de Leitura do Brasil (Cole) ocorre de 16 a 20 julho, no Centro de Convenções e em diversas localidades da Unicamp. O tema da décima oitava edição é “O mundo grita. Escuta?”. Minicursos, mesas-redondas e conferências com pesquisadores de uni-versidades brasileiras, além de convidados da Argentina, Bélgica, Colômbia e Portugal, estão no programa do Cole. Inscrições e outras informações no link http://www.18cole.com.br/. O Cole é organizado pela Associação de Leitura do Brasil (ALB). Mais detalhes: 19-3521-5565.

Física nas Férias - A Coordenadoria de Extensão do Instituto de Física “Gleb Wata-ghin” (IFGW) e o Capítulo de Estudantes da Sociedade Americana de Óptica (OSA) na Unicamp realizam, entre 16 e 21 de julho, o “X Física nas Férias”, evento destinado aos alunos do ensino médio dispostos a investir uma semana das férias de julho no aprendizado de Física Moderna. As inscrições devem ser feitas até 15 de junho, no site www.

ifi.unicamp.br/osa/fife. No ato da inscrição, cada participante poderá escolher um dos seguintes temas propostos pela organização: Como medir a velocidade da luz?, O que existe além de prótons, elétrons e nêutrons?, A luz é uma onda ou uma partícula?, Como funciona uma rede de comunicação óptica? e O que são Superfenômenos?. No total, serão selecionados 80 alunos. Para esta edição, o Museu Exploratório de Ciências da Unicamp participa oferecendo um problema a ser resolvido na Oficina Desafio. Todas as atividades teóricas e experimentais serão conduzidas por professores, alunos de pós-graduação e de graduação do IFGW. O even-to é apoiado pelo Centro de Pesquisa em Óptica e Fotônica (CePOF) e pelo Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia Fotônica para Comunicações Ópticas (Fotonicom). Mais informações: 19-3521-5286.

Curso de Inverno de Fisiologia - Ide-alizado, organizado e ministrado por pós-graduandos do Departamento de Biologia Estrutural e Funcional do Instituto de Biologia (IB) da Unicamp, o II Curso de Inverno de Fisiologia será realizado de 16 a 27 de julho, das 8 às 18 horas, no Instituto de Biologia (IB) da Unicamp. O curso é voltado aos alunos de graduação e recém-graduados em universidades de todo o país, originários das diversas áreas do conhecimento com interesse em ciências fisiológicas. As aulas teóricas, que serão ministradas por alunos do IB, abordarão conceitos básicos sobre o funcionamento dos sistemas, envolvendo anatomia, histologia e fisiologia de órgãos. Nas aulas práticas, os alunos seleciona-dos terão a oportunidade de conhecer as linhas de investigação científica de cada laboratório, acompanhando a realização de metodologias e protocolos experimentais que são empregados nas pesquisas realizadas pelos diferentes grupos no departamento. O curso é organizado por Fernando Canova. Inscrições: http://cursodeinvernounicamp.wordpress.com/.Mais informações: 19-35216200.

Escola Zeferino Vaz de Educação Supe-rior - Unicamp vai promover entre 18 e 21 de julho a 1ª Escola ‘Zeferino Vaz’ de Educação Superior. O objetivo é propiciar a dirigentes do ensino superior e a especialistas da área a oportunidade de debater, analisar e desen-volver trabalhos em grupo sobre temas atuais numa perspectiva nacional e internacional. Mais: http://www.revistaensinosuperior.gr.unicamp.br/noticia.php?id=89

III Semana de Inverno de Geofísica - O Grupo de Geofísica Computacional da Unicamp já está recebendo as inscrições para a III Semana de Inverno de Geofísica, evento promovido pelo INCT-GP. Como nas edições passadas, a programação contará com minicursos e palestras voltados para alunos de graduação e de pós-graduação interessados na área de Geofísica. Dos seis minicursos programados, dois serão compu-tacionais e quatro teóricos. A III Semana de Inverno acontece entre os dias 23 e 27 de julho, no Instituto de Matemática, Estatística e Computação Científica (Imecc). Inscrições e outras informações: 19-3521-5985

Endipe - Com o tema “Didática e práticas de ensino: compromisso com a escola pú-blica, laica, gratuita e de qualidade”, o XVI Encontro Nacional de Didática e Práticas de Ensino (Endipe) acontece de 23 a 26 de julho, no Centro de Convenções e em diver-sos locais da Unicamp. A programação do evento conta com painéis, simpósios, mesas-redondas e exibição de pôsteres. O evento é organizado por uma comissão formada por professores de diversas universidades brasileiras e conta com apoio institucional da Faculdade de Educação (FE). Programação e inscrições: http://www.endipe2012.com.br/index.php. Mais detalhes: 19-3521-5565.

Colóquio Internacional Marx Engels - O

Centro de Estudos Marxistas (Cemarx) do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH) realiza, de 24 a 27 de julho, o VII Colóquio Internacional Marx Engels. A con-ferência de abertura, às 10h30, no auditório do IFCH, será ministrada pelo professor João Quartim de Moraes (IFCH). Programação completa e outras informações no site do evento www.ifch.unicamp.br/cemarx. Mais detalhes: 19-3521-1678.

Estudo revelaque áreas daregião deCampinas têm de serconstantementereavaliadas

ISABEL [email protected]

studo de doutorado do Instituto de Biologia (IB) mostrou que a restauração da Mata Atlântica, de algumas áreas no entorno de Campinas, é possível, mas esse processo pode ser lento e

necessita de uma manutenção e monitoramento de longo prazo, adverte Letícia Couto Garcia, autora da tese. “Essas áreas devem ser constan-temente reavaliadas a fi m de constatar o que precisa ser melhorado para intervir no caminhar dessa recuperação”, afi rma ela. Os resultados mais signifi cativos da pesquisa se relacionaram às funções que as espécies desempenham nessas áreas e ao número de espécies.

Segundo a pesquisadora, a diversidade de espécies arbóreas conseguiu ser recuperada após cinco décadas, atingindo número similar de espécies de uma mata nativa, bem como a cobertura das suas copas. Foi recuperada a quantidade de fl ores e de frutos por hectare nas áreas avaliadas, as quais consequentemente ofereceram frutos e fl ores para os animais consu-mirem. Além do mais, a quantidade de madeira (área basal) foi recuperada em aproximadamente 12 anos.

A bióloga tomou como referência a mata de Ribeirão Cachoeira (no distrito de Sousas), área tombada pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Artístico e Cultural de Campinas (Condepacc). Trata-se de uma propriedade particular com cerca de 60% de sua extensão averbada como Reserva Legal do condomínio de chácaras Colinas do Atibaia.

Essa mata nativa foi comparada com as matas em restauração dos municípios de Santa Bárbara D’Oeste (que tem 12 anos), de Irace-mápolis (23 anos) e de Cosmópolis (55 anos). Porém, os melhores parâmetros foram obtidos da amostra de Cosmópolis porque, conforme Letícia, quanto mais antiga a mata, mais colo-nização por outras espécies ocorreu ao longo do tempo.

Sua pesquisa, orientada pelo professor da Esalq da USP Ricardo Ribeiro Rodrigues e coorientada pelo docente do IB da Unicamp Flávio Antonio Maës dos Santos, buscou avaliar se essas matas que estão em restauração são au-tossustentáveis, ou seja, se ainda necessitam da interferência humana no auxílio desse processo que, na falta da restauração ativa, seria ainda mais lento do que naturalmente ocorreria.

A doutoranda conta que foram estudadas áreas de diferentes idades de restauração com vistas a compará-las à mata nativa. A intenção era observar quão longe elas estavam de atingir os parâmetros dessa mata-referência: o quanto as árvores cresciam, se tinham restabelecido a cobertura da copa e a diversidade funcional – se o conjunto formado era de diferentes espécies, mas com as mesmas funções de uma mata nativa, enumera.

Pensando assim, ela sondou a diversidade de espécies, quanto faltava para atingir os valores de uma área nativa e os recursos que ofereciam. “Será que forneceriam fl ores e frutos para alimentar os animais que frequentam essas áreas, e que auxiliam a polinização das fl ores e a dispersão de sementes?”, indaga.

A autora da tese escolheu esse tema alme-

Fotos: Divulgação

Foto: Antoninho Perri

11Campinas, 25 de junho a 1º de julho de 2012

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Tese: “Avaliação da sustentabilidade ecológica de matas ciliares em processo de restauração”Autora: Letícia Couto GarciaOrientador: Ricardo Ribeiro Rodrigues (Esalq)Coorientador: Flávio Antonio Maës dos Santos (Uni-camp)Unidade: Instituto de Biologia (IB) .........................................................................

Recuperação de mata é possível,

mas precisa ser monitorada,

conclui tese

Recuperação de mata é possível,

E

Na sequência, mata nativaem Cosmópolis, em Iracemápolis,em Campinas e em Santa Bárbara d’Oeste

Para a bióloga, foi angustiante atuar na direção da melhoria e da recuperação das matas frente à proposta de lei do Código Florestal, que, a seu ver, está diluindo o modo como a restauração deve ser implantada.

Por esse motivo, dedicou um capítu-lo a essa análise, mencionando os entra-ves à recuperação das áreas degradadas apresentados no novo Código Florestal do país. Segundo Letícia, eles vão na contramão dos esforços para a conserva-ção e a restauração, impedindo que tais metas sejam praticadas adequadamente.

Ela abordou alguns aspectos proble-máticos e como eles poderiam interferir na dinâmica ambiental. “Calcula-se que vamos deixar de restaurar seis milhões

de hectares no Brasil, que seria a soma-tória da área do Estado do Rio de Janeiro e do Estado de Sergipe”, lastima.

A proposta de lei do Código Flores-tal foi avaliada pela presidente Dilma Rousseff e divulgada no último dia 25. Ela vetou 12 artigos do projeto de lei do Código Florestal, aprovado em abril pela Câmara dos Deputados. Também realizou 32 modifi cações no texto, sen-do que 14 recuperaram o texto aprovado no ano passado pelo Senado Federal, cinco são dispositivos novos e 13 são ajustes ou adequações de conteúdo do projeto.

Mesmo após o veto, o conteúdo, em sua íntegra, prejudica, e muito, a prote-ção do meio ambiente e das fl orestas,

garante a doutoranda. Inclusive promo-ve anistia a quem desmatou ilegalmente, benefi ciando quem descumpriu a lei e que incentiva novos desmatamentos, e a redução dos parâmetros de proteção de áreas de preservação permanente (APPs).

O ideal, defende Letícia, seria sua reestruturação integral, não somente pe-las inconsistências mas por dar algumas brechas na nova lei. “Seria lamentável para a nação”.

Nesse capítulo, a autora da tese procurou sedimentar suas argumenta-ções acerca do novo Código Florestal. Elaborou uma tabela, um breviário dos problemas verifi cados na proposta e que, no momento, foram sancionados

pela presidente. A doutoranda foi convidada então

a participar do grupo de trabalho da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) e da Academia Bra-sileira de Ciências (ABC), contribuindo ainda para a elaboração de uma carta aberta entregue ao deputado federal Paulo Piau, relator da matéria.

O grupo conversou com o parlamen-tar para discutir as fragilidades do texto. Um dos pontos desfavoráveis, aponta ela, está na mudança do cômputo onde seria iniciada a restauração das margens dos rios. No Código Florestal atual, a recuperação era contada a partir do leito sazonal, que inunda na época cheia. “Agora, eles serão contados a partir do

leito regular, ou seja, aquele leito que está sempre com água.”

O que isso signifi ca? Que, para que aconteça a restauração, se houver plan-tação desde a borda da calha do leito regular, quando vier a cheia todo aquele plantio irá água abaixo. Será uma perda de dinheiro e de tempo e não faz sentido tecnicamente, critica Letícia.

“Nota-se que esse Código ficou longe da ciência, porque ela não foi ouvida. Nas oito páginas do documento, não consideraram quase a totalidade dos pontos que a SBPC e a ABC afi r-maram ser contrários”, conclui Letícia, que trabalha no Centro de Referência em Informação Ambiental (Cria), em Campinas.

Código Florestal ignora a ciência, afi rma bióloga

jando a recuperação do ambiente degradado. O objetivo era refl etir se de fato isso seria efetivo quanto às espécies e às interações por meio do replantio.

Alguns aspectos, averiguou ela, foram exitosos, mas ponderou que, como a Ecologia da Restauração é uma disciplina nova dentro da Biologia Aplicada, existe uma ausência de áreas recuperadas com idade avançada para a comparação.

Foi então que selecionou a mata mais an-tiga do estudo, que engloba a Usina Ester, em Cosmópolis, área de 30 hectares, exemplo raro onde a recuperação iniciou nos anos de 1950.

Peculiaridades Letícia, que chegou a Cosmópolis por meio

de um projeto visionário de restauração, relata que alguém percebeu que não havia mais peixes no rio, que estava fi cando cada vez mais devasta-do. Resolveu recuperá-lo por iniciativa própria. Isso foi em 1955. Com um plantio, a área se tornou a mata atual, muito procurada para lazer.

A diversidade de espécies arbóreas, comenta a bióloga, conseguiu ser recuperada em cinco décadas, atingindo um mesmo número de es-pécies de uma mata nativa. Já as outras formas de vida – como trepadeiras, ervas, epífi tas (que vivem sobre outras plantas) e arbustos – não atingiram nem a metade dos valores de uma mata nativa.

A explicação da doutoranda é que, no Estado de São Paulo, essas áreas estão muito isoladas, em razão de sua fragmentação. Assim, sementes de outras espécies não conseguem chegar em alguns trechos, difi cultando a sua recuperação. “Elas não têm todas as funções que essas espé-cies teriam numa mata nativa. Por outro lado, recuperou-se a quantidade de fl ores e de frutos por hectare em todas as áreas restauradas”, esclarece.

Não obstante isso, elas não se mostraram autossustentáveis, pois ainda necessitam de um manejo adaptativo, que representaria ter que voltar lá e enriquecê-las com epífi tas e trepadeiras, uma vez que a recuperação é lenta, principalmente para que o processo de coloni-zação ocorra nessas áreas.

RecuperaçãoA avaliação de Letícia abrangeu o período

de 1955 a 1998 e teve como marco histórico o aumento de propriedades e de projetos de res-tauração no Brasil para estar em conformidade com a legislação ambiental.

Os mecanismos de recuperação sempre iniciam com um planejamento. Nessa etapa, é preciso ver se há áreas próximas para auxiliar no fornecimento de sementes, escolha de espécies, época de plantio, espaçamento entre uma muda e outra, decisões quanto ao plantio de mudas, uso de sementes ou simplesmente isolamento da área.

Como no Estado de São Paulo não há áreas restauradas muito antigas, é preciso pesquisar o que se tem à disposição para investigar. Em alguns anos, será possível afi rmar com maior propriedade esses aspectos porque a disciplina de Ecologia da Restauração terá progredido mais.

Essa disciplina, revela ela, tenta recu-perar ambientes que estavam degradados, retornando todos os serviços ecossistêmicos o mais próximo de uma área natural, como por exemplo a recuperação da água. Com isso, o ambiente voltará a abrigar animais e os processos tornarão a acontecer, ressaltando o uso de espécies nativas.

A bióloga Letícia Couto Garcia: fragmentação deixa áreas isoladas

Campinas, 25 de junho a 1º de julho de 201212 ornalJ Unicampda

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Tese: “Pra tudo se acabar na quarta-feira: aproxi-mações, diálogos e estranhamentos entre carnaval e teatro nas performances da comissão de frente”Autora: Yaskara Donizeti Manzini Orientação: Cassiano Sydow QuiliciUnidade: Instituto de Artes (IA)

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Fotos: DivulgaçãoANA COMISSÃO

DE FRENTENA COMISSÃO

DE FRENTEPATRÍCIA [email protected]

canção de Martinho da Vila “Pra tudo se acabar na quarta-feira” estampa uma das páginas iniciais e dá nome à tese. Ela fala da experiên-cia daqueles

que vivem de ver-dade o cotidiano de uma escola de samba que trabalha o ano todo na preparação de um desfile. Não são muitos. A maioria está de passagem. Faz menção àqueles que conhecem os ri-tos, a tradição oral, a memória e o res-peito à velha-guarda. Yaskara Manzini é uma dessas pessoas. Meio por acaso, é verdade. Em 2000 ela aceitou ser core-ógrafa da comissão de frente da Cami-sa Verde e Branco, tradicional escola de samba paulista-na. Atuou em onze carnavais na mesma escola e decidiu que a experiência pode-ria ser trazida para a academia em sua tese de doutorado. Assim, conversas informais que Yaskara teve na quadra da escola fo-ram incorporadas ao texto, no formato de uma longa crônica. A pesquisadora se transforma em protago-nista. Teóricos e outros pensadores com os quais ela trabalha são destaques, passistas, mestres-salas e porta-bandeiras. Capítulos são alas e a tese propriamente dita não é tese, mas um “desfi le-tese”.

Do carro abre-alas (capítulo 1) à ale-goria fi nal, Yaskara, hoje coreógrafa da escola X-9 Paulistana, assume o discurso na primeira pessoa e desenvolve seu enredo: “Aproximações, diálogos e estranhamentos entre carnaval e teatro nas performances da comissão de frente”. A tese carnavalesca, orientada pelo docente Cassiano Sydow Quilici, do Departamento de Artes Cênicas do Instituto de Artes (IA), se desenvolve sobre dois eixos: o primeiro diz respeito às diferenças entre a produção de um espetá-culo de artes cênicas e de um espetáculo na Passarela do Samba.

O segundo gira em torno do quanto a experiência modifi cou a autora/coreógrafa e as contribuições que Yaskara deu à Camisa Verde e Branco. “Houve primeiro um estra-nhamento, que durou cerca de quatro anos, e que se dava porque, normalmente, em artes cênicas, a atuação ou a dança tem um privilégio hierárquico em relação aos outros elementos da cena. Na escola não é assim. A fantasia e a organização espacial dos integrantes, muitas vezes, têm prioridade”.

Quando, a partir de 2004, defi nitivamen-te Yaskara vestiu a fantasia e caiu no samba, começou a desenhar as semelhanças entre as duas artes: carnaval e teatro. A palavra “evolução” soava “encenação”, “enredo” passou a ser “dramaturgia”. Yaskara fi cou conhecida no meio como a coreógrafa que teatralizou o carnaval da Camisa Verde e Branco. Diante de si, em pleno desfi le, enxergava centenas de atores em uma apre-sentação para 35 mil pessoas. “Na avenida, os componentes da comissão de frente têm muita força cênica, e eu me perguntava de onde vinha essa energia. Percebi que a quadra era uma das fontes e passei a frequentá-la cotidianamente, participando de todos os ritos. Ali há a construção de certa ‘persona’, no sentido primordial de máscara do ator: há o jogo entre o que a pessoa é e o que a ‘comunidade’ espera que ela seja, que infl uencia no que vemos na avenida, independentemente de coreografi as”.

Exemplo, de acordo com Yaskara, é a “corte ao pavilhão” ou a reverência à bandeira da escola, que sempre deve ser feita à maneira dos antigos. Quem está no dia a dia da escola se relaciona com os ou-tros integrantes como uma grande família. “Temos os personagens, baianas, crianças,

A coreógrafa Yaskara Manzini no carnaval de 2008: crônicas do carnaval

Comissão de frente da escola paulistana Camisa Verde e Branco no carnaval de 2008: redenção com homens pré-históricos

compositores, passistas, é um carnaval que ocorre ao longo do ano e que não se vê na TV. Aprendemos sobre os outros carnavais com os mais antigos, pela tradição oral. O jogo entre presente e passado é muito forte e se estabelece por meio da oralidade. A quadra, ou ‘terreiro’ é o lugar do estar junto, do aprendizado intergeracional”. A escola é também o lugar onde começa a se desen-volver a narrativa do desfi le carnavalesco, transportada para a tese.

Dois momentosUma surpresa é quando começa o desfi le

e a comissão de frente aparece na avenida. Dos momentos célebres da grande festa popular brasileira, muitos provêm dali. E houve transformações ao longo dos onze carnavais de Yaskara. Primeiro, o luxo estava nas fantasias exuberantes, e até muito gran-des ou estranhas como frisa a pesquisadora. “As roupas duplicavam as costas, perdia-se mobilidade e era preciso pensar em como criar sentido para a apresentação com esse corpo que não era humano.” A partir de 2004, Yaskara observou que as fantasias começa-ram a dimi-nuir. O des-taque passou a ser o corpo e, com ele, o movimento. As danças se tornaram mais elabo-radas com maior espaço também para o que mais interessava a coreógrafa: a teatralização. Foi possível arriscar.

Em 2006, influenciada pela arte da performance, a pesquisado-ra criou para a comissão de frente uma co-reografi a que falava de fau-nos e ninfas. Na tese, ela observa: “Dos trabalhos que encenei para

a Camisa Verde, tenho especial carinho por este, foi a primeira vez que senti-me criado-ra no samba, experimentei e ousei formas diferentes de trabalhar, de preparar o corpo dos performers e de organizar a cena” (...) “Ao escrever estas páginas vêm-me fl ashes do desfi le: pessoas gritando, pedindo que eu jogasse uvas para elas, línguas de fora se insinuando, pessoas gritando coisas licen-ciosas, noite e dia instalando a temporalidade na cena (começamos o desfi le de noite e terminamos com dia claro), o espaço que eu praticamente saltava para fugir, o medo que sentia dos faunos quando aproximavam-se de mim (os rapazes pareciam ter crescido e havia nos olhares algo de não humano). Se eu procurava a comunhão com o público, penso havê-la encontrado”.

O trabalho teve destaque na transmissão dos desfi les pela TV, inclusive com comentá-rios dos apresentadores. Mas, o resultado foi inesperado: a comissão de frente não mante-ve a nota 10 dos anos anteriores. Foi um ano em que a Camisa foi rebaixada para o grupo de acesso. E prossegue a crônica de Yaskara: “Instalou-se um drama na escola, a quadra

foi depredada e a comunida-de exigiu que a diretoria se afastasse”. No ano seguinte a coreógrafa narra que tentou ‘ou-sar’ menos, no paradoxo intuito de tentar levar a escola de volta ao grupo espe-cial.

2008 foi o ano da reden-ção, pelo menos para a comis-são de frente coreografada por Yaskara. De volta à perfor-mance, mas des-ta vez levando para a avenida o homem pré-histórico, com base no texto “Em busca de uma poét ica da performan-ce”, de Richard Schechner. Os

14 componentes da comissão de frente, “ho-mens da comunidade, que difi cilmente fre-quentam o circuito teatral da cidade, que não fazem atividade física durante o ano, salvo o jogo de futebol dominical, que trabalham durante o dia e estudam à noite” deveriam se

dividir e metade vestir-se de mu-lher. A coreó-grafa conseguiu convencê-los e, por fim, a nota foi 10.

“Carnavali-zamos Schech-ner, recriamos jocosamente sua teoria sobre as primeiras mani-festações perfor-máticas, encon-tros ancestrais entre hordas pré-históricas, nos-sa comissão de frente e o públi-co, para mostra-rem-se e trocar danças, música e histórias”, afi r-ma Yaskara no texto submetido à banca exami-nadora.

Yaskara re-cebeu prêmios. Por três anos seguidos: 2009, 2010 e 2011, o “Prêmio Melhor do Acesso - Gil-berto Farias” como melhor

comissão de frente. O prêmio é um reco-nhecimento ao trabalho das escolas do grupo de acesso.

O públicoA comissão de frente é o cartão de vi-

sita da escola de samba e deve apresentar a escola e saudar o público. Sua função é gentil, diplomática, nas palavras de Yaska-ra. “A crítica que eu faço em relação ao carnaval do Rio de Janeiro e de São Paulo é quando você tem um espetáculo mara-vilhoso, mas a comissão não exerce seu fundamento. O público fi ca em um lugar passivo. Aprendi ao longo dos anos a tra-zer para a partitura da dança movimentos do cotidiano. Quando a comissão de frente entra na avenida, contagia o público, você vê a arquibancada repetir os seus movi-mentos, restaurando a função primordial do carnaval que é dançar junto”.

Ao mesmo tempo, ressalta que a co-missão de frente tem uma função bélica, de estar “indo para uma guerra”. A ala que abre o desfi le dialoga até com o último carro da escola. “Se entra mal, descompassada, fora de ritmo, isso vai reverberar em toda a apresentação”. Normalmente, a pesqui-sadora e coreógrafa atua, durante o desfi le, como uma espécie de mestre de cerimônias da comissão de frente. Ela também saúda a corte do carnaval que vem ao encontro das escolas durante a passagem pela avenida. Yaskara acrescenta que o carnaval paulista-no, até mesmo pela falta de dinheiro, ainda é feito de modo artesanal, diferentemente da maioria das escolas cariocas.

A noção de conhecimento ligado à experiência perpassa todo o trabalho desen-volvido pela coreógrafa em seu doutorado. Inicia-se no debate sobre a preparação do bailarino “para um lugar que não é só físico, técnico, mas da vivência cotidiana na quadra que é transformadora” e vai até as homenagens que a pesquisadora presta à velha-guarda e ao samba paulistano. A própria Yaskara, depois de uma década de muitas experiências percebeu que o vivido não pode ser guardado, mas passado adiante. “Nos tornamos veículos da história e da memória”.