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JORNAL DO ESPECIAL DSTCAM / QUARTA EDIÇÃO / ANO VI Servidora do Judiciário realiza trabalho de pós- -graduação sobre assédio moral Página 4 e 5 Socióloga analisa a obsessão por metas e produtividade Páginas 6 e 7 Psicólogo Márcio Santim aborda impactos psicológicos da reforma da Previdência Página 8 Seminário de Saúde do Trabalhador e Combate ao Assédio Moral realizado pelo DSTCAM Página 2 SITRAEMG participa do Comitê Gestor de Saúde do TRE e TRT e propõem parcerias com a Seção Judiciária de BH Página 3 Comite Gestor de Saúde do TRT promove palestra e debate sobre assédio moral no dia 12 de maio Página 3

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JORNAL DO ESPECIAL DSTCAM / QUARTA EDIÇÃO / ANO VI

Servidora do Judiciário realiza trabalho de pós- -graduação sobre assédio moral Página 4 e 5

Socióloga analisa a obsessão por metas e produtividadePáginas 6 e 7

Psicólogo Márcio Santim aborda impactos psicológicos da reforma da PrevidênciaPágina 8

Seminário de Saúde do Trabalhador e Combate ao Assédio Moral realizado pelo DSTCAM Página 2

SITRAEMG participa do Comitê Gestor de Saúde do TRE e TRT e propõem parcerias com a Seção Judiciária de BH Página 3

Comite Gestor de Saúde do TRT promove palestra e debate sobre assédio moral no dia 12 de maio Página 3

S O L I D A R I E D A D ENossa força contra o Assédio Moral

2 JORNAL DO 3JORNAL DO QUARTA EDIÇÃO / ANO VI

1o Seminário do DSTCAM – Sucesso!Evento foi realizado em novembro de 2016, em BH

A criação do Departamento de Saúde do Trabalhador e Combate ao Assédio Moral (DSTCAM) foi concretizada no X Congresso Ordinário do SITRAEMG em Abril de 2015.

O Departamento foi lançado nos atos em frente aos tribunais em Julho de 2015, em plena greve histórica do funcionalismo público federal.

Acompanhei o início desta luta, par-ticipando de assembleias e atos públicos, indo a Brasília, viajando por 8 comarcas nos encontros regionais levando a temáti-ca do assédio moral como luta política do Sindicato em prol da saúde do trabalhador. Além disso, realizamos eventos como as ro-das de conversa em BH e no interior além do seminário de saúde do trabalhador em novembro de 2016, com a participação dos maiores especialistas do Brasil, palestras disponibilizadas no site. Realizei mais de 200 sessões de atendimento individual, para orientação à servidores que vivenciavam mal estar no trabalho e análise de casos en-viados por e mail ou por contato telefonico.

O DSTCAM realizou dezenas de reuni-ões semanais para deliberar ações e estra-tégias. Também foi criado um link no site do SITRAEMG onde além de nossas ações foram publicados diversos artigos focando a questão do assédio moral e sua relação com o sofrimento e adoecer do trabalha-dor. Levamos o trabalho do SITRAEMG para congressos científi cos, referendando na comunidade científi ca o trabalho reali-zado pelo Sindicato.

Destaco também a participação do SI-TRAEMG nos comitês gestores de saúde do TRE e TRT, de acordo com a resolução 207 do CNJ.

Publicamos e distribuimos quatro jor-nais, informando sobre o assédio moral e dialogando com os servidores, especial-mente no dia 2 de maio, dia de combate ao assédio moral. Fizemos intervenção em duas comarcas, envolvendo confl itos entre o coletivo de trabalhadores, e de diversas reuniões no TRE, TRT, Justiça Federal sem-pre que demandados pelos servidores, além de acompanhamento de perícias.

Neste período de eleições, continuamos nosso trabalho e aguardamos o resultado, que será a escolha dos servidores entre as tres chapas apresentadas.

Mesa de abertura, com integrantes do DSTCAMForam dois dias de evento: 4 e 5/11. Mesa composta pelo psicólogo Arthur Lobato, responsável técnico pelo DSTCAM, coordenadores do Sindicato Vilma Lourenço e Célio Izidoro, e o coordenador geral Alexandre Magnus.

DEPTO DE SAÚDE E COMBATE AO ASSÉDIO MORAL

/ DSTCAMCoordenadores:Célio lzidoro Rosa e Vilma Oliveira LourençoResponsável técnico: Arthur Lobato

/ COMUNICAÇÃOEdição: Gil Carlos Dias (Mtb 01759)Projeto e diagramação: Diogo França

Revisão: Diego Franco DavidImpressão: Cedáblio, 5.500 exemplares.

Sindicato dos Trabalhadores do Poder Judiciário Federal no Estado de Minas GeraisR. Euclides da Cunha, 14 - Prado - Belo Horizonte/MG — (31) 4501-1500 ou 0800.283.4302 - sitraemg.org.brEXPEDIENTE

Comitê Gestor de Saúde do TRT promovedebate sobre assédio moral

Arthur Lobato Psicólogo responsável pelo DSTCAM

Comitê Gestor de Saúde do TRE

Comitê Gestor de Saúde da Justiça Federal

O Comitê Gestor Local de Atenção à Saúde do TRT-3 fez sua primeira reunião entre profi ssionais da saúde, magistrados, ges-tores e servidores, em 2016, na sede do TRT-MG, em Belo Horizonte.

Posteriormente o SITRAEMG e a Ama-tra foram convidados a participar do Comitê.

Os encontros são dirigidos pela co-ordenadora do Comitê, desembargadora Denise Alves Horta.

Nas pautas de discussões foram debati-das as estratégias para conscientizar o pú-blico interno sobre a prevenção de doenças e incentivar a adesão ao exame periódico, oferecido anualmente pela Secretaria de

Saúde. Outras propostas do Comitê são a realização de fóruns, palestras e campa-nhas de conscientização sobre temas como saúde mental no trabalho, acidentes de tra-balho no Tribunal, bruxismo, entre outros.

No dia 12 de Maio será realizado uma palestra seguida de debate sobre “Assédio Moral no Serviço Público” para servido-res e magistrados do TRT-3.

Os palestrantes serão os juízes Rodrigo Ribeiro Bueno, e Claudio Roberto Carnei-ro de Castro, Dr. Geraldo Mendes Diniz, secretário de saúde do TRT-3 e o psicó-logo responsável pelo DSTCAM, Arthur Lobato.

O Comitê Gestor de Saúde da Justiça Federal foi criado em Brasília sede do TRF-1. O DSTCAM tem mantido um canal de comunicação com a SECAD, e o NUBES em Belo Horizonte para via-bilizar projetos em prol da saúde do trabalhador.

Na última reunião o principal tema discutido foi a forma do DSTCAM atuar em parceria com os representantes da SJMG no Comitê Gestor de Saúde recém-criado pelo Tribunal Regional Fe-deral da Primeira Região (TRF-1). Quanto a essa questão, fi cou acertado que uma reunião será agen-

dada com os representantes da SJMG no comitê, para apresentação de propostas do DSTCAM em prol da saúde dos servidores da Justiça Federal.

Também foram tratadas nesse encontro: fl exi-bilização de horário de trabalho para os servidores da Justiça Federal; instituição de um selo de quali-dade saúde do servidor, para a SJMG e subseções judiciárias, proposta da realização de uma palestra sobre modelo de gestão; implementação do PJE na Justiça Federal e a possibilidade do teletrabalho (home offi ce).

No dia 22 de agosto de 2016 , o Comitê Gestor Local de Saúde do TRE se reuniu pela primeira vez. Instituído pela Portaria 114/2016, o Comitê é composto por profi ssionais da saúde, por gestores responsáveis por essa área no Tribunal e por um representante indicado pelo SITRAEMG, o psicólogo Arthur Lobato.

Nessa reunião inicial, foram debatidos a forma de atuação e os obje-tivos das atividades do Comitê, tendo como base as orientações da Política de Atenção Integral à Saúde de magistrados e servidores do Poder Judiciário, instituída pela Resolução 207/2015, do CNJ.

Na segunda reunião realizada no dia 17 de fevereiro foram apre-sentados os estudos de absenteísmo do TRE-MG, e a proposta de regi-mento interno para funcionamento desta comissão. Ficou defi nido que as reuniões acontecerão a cada dois meses. Poderão ocorrer também reuniões específi cas neste intervalo de tempo para deliberar ações a serem apresentadas nas reuniões do comitê.

DSTCAM

Ações de 2015 a 2017

Fonte: Comunicação TRT e SITRAEMG

Fonte: Comunicação TRE e SITRAEMG

“Assédio Moral no Judiciário”O palestrante foi o professor Roberto Heloani, atuante nas questões de Ética no Trabalho, Assédio Moral e Sexual

“Gestão de Pessoa no Judiciárioe Adoecimento do Trabalhador”Palestrante: psicólogo Marcio Santim,servidor do TRT da 15ª Região

“Novas Tecnologias: PJE, Teletrabalho e os impactos sobre a saúde do servidor”Médico Rogério Dornellas, especializado em Medicina do Trabalho pela UFRS

“Indústria da Loucura” Palestrante: Mariana Cristina, psicóloga, militante do Movimento Estadual da Luta Antimanicomial (MNLA), do NEMLA/RJ

“Traumas Psicológicos no Contexto Laboral”Carlos Eduardo Carrusca, psicólogo, consultor e professor da Faculdade de Psicologia da PUC-Minas

“Estudo de Caso: Assédio Moral e sua Relação com a Organização do Trabalho”Arthur Lobato, psicólogo, coordenador técnico do DSTCAM do SITRAEMG

“Ações do DSTCAM”Mesa composta por Lobato e coordenadores do Sindicato

Peça teatralEncenação da peça “Assédio Moral – Rei do Pedaço”, pelos atores Alex, que é também servidor da Justiça estadual, Renata e Elton

Cobertura completaConfi ra a cobertura completa do seminário em matérias publicadas no site do SITRAEMG nos dias 07/11/16 (textos e fotos) e 20/03/17 (vídeos).

4 5JORNAL DO JORNAL DOED. 111 \ ABRIL 2016 \ ANO VI ED. 111 / ABRIL 2016 / ANO VI

Para Margarida Barreto (2005, p.12):“Os assediados são justamente aqueles

que, de alguma forma, quebram a harmonia, porque questionam, sugerem e apontam pro-blemas. São, geralmente, pessoas que buscam soluções para o coletivo, que se preocupam com os demais, ou seja, são os questionadores e, pasmem, os solidários. Como ele reclama, ele acaba sendo visto como aquele que vive fazendo drama ou criando casos, mas isso não é verdade. Outro grupo importante é dos portadores de doenças causadas pelo próprio trabalho. De forma geral, os mais velhos e as mulheres, principalmente as negras.”

No ambiente de repartições públicas é comum encontrar um clima de estresse e so-brecarga, seja por falta de pessoal, excesso ou mesmo a falta de trabalho. Esse se mostra um terreno fértil para o assédio moral. Tais mazelas também são notadas nas instituições particula-res, e as mesmas podem conduzir a um quadro de assédio moral. Porém no setor privado, esse assédio dura menos tempo e em geral termina com a saída da vítima (Hirigoyen, p.124).

Já o funcionalismo público apresenta uma peculiaridade que possibilita um agravamento quanto à perversidade do assédio, em razão de não ter o “superior” a opção de demitir discricionariamente o “subordinado”. Em ra-zão disso, o chefe imediato passa à atitude de assédio moral através de isolamento, so-brecarga, críticas infundadas constantes ou outra forma, atentando quanto à dignidade do trabalhador. No caso do setor público esse tipo de assédio tende a maior duração e danos mais graves à vítima.

Para conclusão do curso de Pós Graduação

em estão Pública Judicial pela Universidade Federal de Ouro Preto, realizei, por meio de pesquisa bibliográfico-documental, visando investigar o assédio moral com ênfase no ser-viço público através da análise de seus con-ceitos, buscando melhor compreensão de seu desenvolvimento e consequências. O método estudo de caso foi utilizado através da aplica-ção de questionário elaborado para verificar a incidência e as peculiaridades do assédio mo-ral entre os servidores do Tribunal Regional do Trabalho da 3aRegião. O foco do trabalho foi identificar se os servidores do Tribunal Re-gional do Trabalho da 3a Região sofrem com possíveis condutas de assédio moral. A análise e discussão dos dados foram realizadas à luz do referencial teórico.

Num rol proposto para a marcação de si-tuações de possível assédio moral sofrido no ambiente laboral, destacaram-se:

• Rigor excessivo (55,6%);• Ameaças explícitas ou veladas (46,3%);• Exploração de fragilidades psíquicas e/ou

físicas (41,3%);• Cobrança excessiva de metas/produção/

tempo de jornada em razão de ocupação de função/cargo de confiança (40,6%);

• Desqualificação ou críticas em público interno ou externo (37,5%);

• Instruções confusas e/ou contraditórias (34,4%)

Um fato preocupante, sem sombra de dú-vidas, é que todas as situações elaboradas para essa pesquisa foram assinaladas, mesmo não tendo preenchimento obrigatório na plata-forma disponibilizada. O que demonstra que,

infelizmente, algumas condutas sabidamente assediosas como controle de tempo para uso do banheiro, não fornecimento injustificado de material essencial à prestação do serviço e acionamento constante e inoportuno fora do horário de trabalho ainda ocorrem, mesmo que em menores proporções. Em um Tribunal do Trabalho, criado com a finalidade maior de so-lucionar conflitos trabalhistas e regulamentar as relações de trabalho, onde supõe-se que as pessoas conheçam o Direito do Trabalho e a importância do trabalho como edificante da dignidade humana, é inaceitável a existência de comportamentos que abusem contra a in-tegridade psíquica e/ou física de uma pessoa e degradem o ambiente de trabalho, tornando-o extremamente hostil.

Configurado ou não o assédio moral, é as-sustador o fato de 46,3% dos servidores ques-tionados terem se queixado de sofrer ameaças explícitas ou veladas e, 41,3% dessa mesma amostra alegar já ter sofrido exploração de fragilidades psíquicas e/ou físicas. Se o rigor excessivo –relatado pela maioria (55,6%) dos pesquisados –pode encontrar possível justifica-tiva na própria falta de estrutura, muito recor-rente em repartições públicas com hiperbólica demanda e insuficiência de quadro, por exem-plo, o mesmo não se pode dizer das condutas de ameaças e exploração de fragilidades, que se mostram absolutamente injustificáveis e indefensáveis.

O assédio moral é uma conduta grave, de difícil dimensionamento, só percebido através das consequências sobre a mente e o corpo de quem o sofreu.

É imprescindível que os trabalhadores e

A palavra assédio é derivada do latim “obsidere”, que significa “atacar, sitiar, pôr-se adiante.” O Novo Dicionário Aurélio define a palavra assédio como “insistência inoportuna junto de alguém, com perguntas, propostas, pretensões, etc.”

Segundo a Organização Internacional do Trabalho (OIT), assédio moral é a exposição dos trabalhadores a situações humilhantes e constrangedoras. Numa pesquisa realizada em 1996, a OIT detectou que doze milhões de trabalhadores da União Europeia já viveram situações humilhantes no trabalho que acar-retaram distúrbios de saúde mental.

Em seu trabalho de especialização, Dirlene Gomes (2009, p.20) listou as principais formas em que se apresenta o assédio moral. São elas: “Confiar tarefas inúteis ou degradantes; des-qualificação em público; isolamento ou inati-vidade forçada; ameaças explícitas ou veladas; exploração de fragilidades psíquicas e físicas; limitação ou proibição de inovação; etc.”.

O assédio moral também pode ocorrer por meio de ironias, insultos, fofoca, deboche. Di-versas vezes o assediador faz-se de vítima, ale-gando que a pessoa entendeu errado, é louca, paranoica, sensível, encrenqueira, entre outros motivos alegados (MENEZES, 2003).

Como se nota, são muitas as situações a serem verificadas para a constatação do assédio moral. O que não se deve perder de vista é que um meio ambiente laboral sadio e equilibrado é fundamental para assegurar a integridade da pessoa e a evolução de seus atributos pessoais, morais e intelectuais. O assédio moral ofende o princípio da dignidade da pessoa humana, à medida que agride direitos e atenta contra a integridade mental e psicológica do assediado.

O assediador é o agente que pratica o as-sédio moral; que pode acontecer de forma vertical (entre sujeitos de diferentes níveis hie-rárquicos); horizontal (entre colegas de traba-lho); e misto (tanto colegas quanto superiores praticam o maltrato).

O assediador, mesmo que nem sempre se mostre um sujeito perverso, tem algumas ca-racterísticas comportamentais. De acordo com Guedes (2003, p.85), os estudiosos do tema as-sim o denominam:• Invejoso: quer destruir o outro por não

aceitar sua sorte ou qualidades; • Sádico: quer destruir o outro para seu puro

deleite;• Frustrado: Quer destruir o outro por

ser feliz enquanto julga viver uma vida problemática;

• Narcisista: Quer destruir o outro por se julgar mais importante;

• Passivo-agressivo: Quer destruir o outro

através de agressividade encoberta e mani-pulação, agindo de maneira diferente pela frente e pelas costas.

• Obsessor: Quer destruir o outro colocando o perfeccionismo das tarefas e resultados organizacionais acima das pessoas.

• Carreirista: Não titubeia em destruir o ou-tro para conseguir ascensão profissional, podendo utilizar-se até mesmo de meios ilegais. Age também deliberadamente para prejudicar o outro a fim de evitar seu cres-cimento profissional.

Percebe-se, assim, que o comportamento praticado pelo assediador é fruto de suas op-ções onde preponderaram caráter e princípios

onde o respeito ao próximo, o entendimento, a busca pela paz e a observação aos valores cruciais foram colocados em segundo plano ou simplesmente desconsiderados. O egoísmo e a indiferença em relação ao próximo desen-cadeiam o assédio moral. Ao assediador faltam ética, princípios e noção de limites do social-mente tolerável.

Em tese, a vítima do assédio moral não pos-suiria um perfil psicológico definido. Existindo, sim, contextos profissionais e situações em que esta se tornaria vulnerável à conduta do asse-diador. Para ser identificado como assediado, é mister que o sujeito sofra, efetivamente, os danos psíquicos decorrentes da conduta do assediador.

O Assédio Moral no Serviço Público

Num rol proposto para a marcação de situações de possível assédio moral sofrido no ambiente laboral, destacaram-se:

Rigor excessivo (55,6%);

Ameaças explícitas ou veladas (46,3%);

Exploração de fragilidades psíquicas e/ou físicas (41,3%);

Cobrança excessiva de metas/produção/tempo de jornada em razão de ocupação de função/cargo de confiança (40,6%);

Desqualificação ou críticas em público interno ou externo (37,5%);

Instruções confusas e/ou contraditórias (34,4%)

Luciene Alves NunesEspecialista em Gestãopública judicial (UFOP)

/ REFERÊNCIAS BIBLIOGRÀFICAS:• BARRETO, Margarida. Violência, saúde, trabalho – Uma jornada de

humilhações. São Paulo: Educ-Editora da PUC-SP, 2005• HIRIGOYEN, M F. Assédio moral: a violência perversa no cotidiano.

10ª Ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2006.• GOMES, Dirlene Conceição de Azevedo. Assédio moral no serviço

público: lenda ou realidade? Monografia apresentada para obtenção do título de Especialista em Gestão Pública, do Curso de Pós-Gradu-ação Lato Sensu em Gestão Pública da Universidade Federal de Ouro Preto, 2009

• GUEDES, Márcia Novaes. Terror psicológico no trabalho. São Paulo: LTr, 2003.

• MENEZES, C. A. C. Revista da Associação Nacional dos Magistrados do Trabalho (ANAMATRA). Brasília-DF: maio/2003.

entidades públicas estejam atentos à prática de assédio moral no ambiente de trabalho, a fim de identificar precocemente o problema e buscar soluções mitigadoras. Deste modo, sem esgotar o tema, reafirma-se a necessidade de atenção permanente por parte de todos, porque muitos desenvolvem condutas assediadoras por puro desconhecimento dos preceitos do tema. No entanto, o sucesso no combate ao assédio moral deve pautar-se também em evitar que o instituto caia em descrédito.

6 7JORNAL DO JORNAL DOED. 111 \ ABRIL 2016 \ ANO VI ED. 111 / ABRIL 2016 / ANO VI

(já bem global...), que tende a eliminar tudo que não tenha utilidade imediata. Vale tudo para alcançar a meta: assédio moral vertical, assédio moral ascendente, assédio moral horizontal, assédio moral misto, assédio sexual, abuso de poder, danos morais, materiais (horas extras não pagas e sem banco de horas). Tudo isso já vi e/ou vivi no serviço público e no TRT3.

Em janeiro do ano passado foi editada uma Medida Provisória (MP 711, 18/1/2016) que concedeu créditos extraordinários para pagar auxílio-moradia de “agentes públicos” (tradu-ção: magistrados, promotores, procuradores, deputados e senadores) cancelando créditos

das despesas de custeio de todos os tribunais da união e do Ministério Público. E mais uma vez silenciamos diante de mais uma injustiça. Esta favoreceu os magistrados sem prejudicar diretamente os servidores, mas deixou 90 pes-soas desempregadas no quadro de terceirizados somente no TRT3. Pessoas que precisam do dinheiro para atender necessidades básicas em favor de uma categoria que já inicia a carreira com subsídio de R$ 27.000,00. Como podemos fazer greve (em 2015) e dizer que estamos de-fendendo o cidadão, a cidadania e o serviço público de qualidade, e na sequência aceitar uma coisa dessas? Quem pode ser cidadão

com fome, sem teto, saúde e educação? E as-sim temos suportado, silenciosamente, todas as injustiças, de modo que, é difícil evitar a constatação: “somos a coisa, coisamente” (Car-los Drummond de Andrade, 1962).

Talvez nosso problema (?) resida no fato de que “pensar e grátis”, e, afinal de contas, “a loira não é burra, tem preguiça de pensar” (Frank Aguiar).

Fernanda FláviaM. FerreiraSocióloga e Servidorado TRT em Minas Gerais

1. http://www.ipea.gov.br/desafios/index.php?option=com_content&id=2048:catid=28&Itemid=23 Conceito do coefi-ciente de GINI: “O Índice de Gini, criado pelo matemático italiano Conrado Gini, é um instrumento para medir o grau de concentração de renda em determinado grupo. Ele aponta a diferença entre os rendimentos dos mais pobres e dos mais ricos. Numericamente, varia de zero a um (alguns apresentam de zero a cem). O valor zero representa a situação de igualda-de, ou seja, todos têm a mesma renda. O valor um (ou cem) está no extremo oposto, isto é, uma só pessoa detém toda a riqueza. No Relatório de Desenvolvimento Humano 2004, elaborado pelo Pnud, o Brasil aparece com Índice de 0,591, quase no final da lista de 127 países. Apenas sete nações apre-sentam maior concentração de renda”. Acesso em 1/3/2017.

2. http://www.fazenda.gov.br/noticias/2016/maio/200bspe-di-vulga-relatorio-sobre-a-distribuicao-da-renda-no-brasil. Na análise, a parcela dos 10% mais ricos é subdivida em faixas de 5%, 1% e 0,1%, como é feito nos países mais ricos. Os números de 2014, declarados pelos contribuintes à RFB em 2015, mostram que o 0,1% mais rico da população brasileira (ou 27 mil pessoas) [...] possui 6% da renda bruta e 6% dos bens e direitos líquidos do país. Essa parcela mais abastada também aufere uma renda 3.101% superior ao rendimento médio dos declarantes de IRPF e possuem uma quantidade de bens e direitos 6.448% superior à média. Já os 5% mais ricos

possuem 28% da renda bruta e 28% dos bens e direitos. “É uma concentração bastante elevada”(Manoel Pires)Na comparação entre os ricos os números da RFB mostram que o 0,1% concentra 44,3% do rendimento bruto do 1% mais rico. Em outras palavras, no grupo do 1% de pessoas mais ricas do país, apenas um décimo delas possui quase a metade da renda. Acesso em 1º/3/2017.

3. http://www.dictionary.com/browse/checks-and-balances Competição e restrição mútua entre vários setores do gover-no. Um sistema de governo constitucional guardado contra o poder absoluto pela separação em três partes, executivo, legislativo e judiciário, as quais dividem o poder e fiscali-zam-se mutuamente (tradução minha). Acesso em 2/3/2017

4. DAKOLIAS, Maria. Artigo Técnico 319. “Os Objetivos da Reforma Judicial” (Capítulo II) e “Reformas Judiciais na América Latina e no Caribe” (Capítulo III). Banco Mundial, 1996 (tradução minha).

5. https://www.huxley.net/ HUXLEY, Aldous. Brave New World. 1932. Em comentário sobre a obra “Uma defesa da en-genharia do Paraíso”. Nesta obra os seres humanos são fabrica-dos em laboratório, cada um conforme a casta que irá ocupar:

operários, técnicos, intelectuais, governantes. São fisicamente distintos, principalmente no tocante às percepções intelectuais. O povo participa semanalmente do ritual do Soma, uma droga cultuada com bebida, comida, dança e sexo. Depois, cada um retorna feliz para sua vida... Acesso em 2/3/2017.

/ NOTAS E REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Vivemos em um mundo globalizado dominado pelo Capital, principalmente o financeiro, cujas regras de mercado se impõem para gerar o lu-cro e a concentração de renda. A desigualdade entre os países é reproduzida dentro deles, não como a mera diferença de renda, mas sim como diferença entre poucos muito ricos e muitos muito pobres ou miseráveis. É isto que nosso sistema legitima, a superexploração. Seriam úteis algumas aulas para explicar Marx e En-gels (1848), contudo é simples compreender a oposição filosófica entre aqueles que pensam ser a miséria parte natural e aceitável da vida social -a miséria, simplificando, pertence aos miseráveis (por merecimento) daqueles que a consideram uma injustiça perpetuada longos séculos e reinventada pela Modernidade in-dustrial. Há ainda um terceiro tipo, também liberal, a considerar a verdadeira liberdade como a condição em que o ser humano pode desenvolver todas as suas potencialidades, ou seja, sendo todos iguais como espécie, seres autoconscientes, cada um tem a oportunidade de escolher seu próprio caminho e desenvolver a própria individualidade. Este é Stuart Mill (1859), um individualista liberal argumentan-do contra seu próprio pai, James Mill (1820), um filósofo utilitarista, para quem o objetivo humano é maximizar dos prazeres e minimizar a dor. Agora, vejamos: quem nasce com R$ 800 milhões de dólares tem as mesmas oportunida-des que alguém que nasce sem R$ 1,00?

Uma pequena digressão se faz necessária. Para medir a ocorrência de extrema concentra-ção de renda foi criado o índice de GINI1, um índice que ainda coloca o Brasil entre os países mais desiguais do planeta. Embora tenhamos uma redução contínua de 0,555 em 2004 para 0,497 em 2014, vários pesquisadores afirmam que esta tendência não é permanente, pois não reflete uma mudança nos padrões de acumula-ção entre ricos e pobres2. Um mundo e um país menos desigual nos dariam uma sociedade mais democrática, pois quanto maior a desigualdade, menor a democracia. É o que nos ensinam Aris-tóteles (384-322 a.C) e Tocqueville (1835, 1840), para quem a democracia é o regime da igualdade por excelência. E também, com Stuart Mill, po-de-se dizer que quanto mais desigualdade, me-nos liberdade. Aliás, inclusive para os ricos, Ford (1914) inovou ao compreender que seus operá-rios deveriam ter renda suficiente para comprar seus carros. Sem consumo, não há indústria que se sustente. É o que explica a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE. França, 1961), formada vários países, inclusive o Brasil, para construir e socializar po-líticas melhores para vidas melhores.

Avançando do século XIX ao XX, saindo da Europa e vindo para o Brasil, para nós foram transplantadas as organizações do coloniza-dor. A burocracia estatal surgiu a partir das organizações militares, a escola e a empresa também. No Brasil a Constituição da Repú-blica de 1988 inaugurou a redemocratização, e embora fosse adotado o sistema tripartite de Montesquieu (1747) e os “pesos e contrapesos” (James Madison, 1787)3, além da obrigatorie-dade do concurso público, o Poder Judiciário permaneceu inalterado e internamente jamais foi democratizado. Certamente houve moder-nização administrativa, com a Reforma de 2004 (EC 45/2004) foram criados os conselhos su-periores. Continuam a ser os magistrados que controlam a si mesmos, porém com a lógica da padronização de procedimentos adminis-trativos, estabelecimento de metas, estratégias e planos nacionais. Tudo conforme a necessá-ria eficiência para que o Poder Judiciário não seja mais um entrave ao desenvolvimento eco-nômico4. O Judiciário saiu do autoritarismo colonial, passou para o imperial e foi para a ditadura -e lá continua, assim como a escola, a prisão e a organização militar, cujas estruturas resistem com poucas alterações históricas.

No entanto, na prática, o que isso significa? Beco sem Saída. Para onde se vá no TRT impe-ram, em maior ou menor grau, a opressão e a repressão legitimadas pelo poder hierárquico. “Tudo posso no sistema que me fortalece”. E assim, se enquadra no mundo da exploração e expropriação do fraco pelo forte. Dentro do Po-der Judiciário ao servidor Público é negada sua condição de trabalhador e cidadão. Mas, como?

Um dia é aquele(a) chefe inseguro(a) e in-competente que te assedia, mas é mantido no cargo porque é protegido(a) do(a) diretor(a) ou do(a) juiz. Ou então esse chefe é “bom de serviço”, mas péssima liderança que te sufo-ca com suas arbitrariedades ou deixa você se afogar no assédio moral dos colegas. No outro você se mata de trabalhar, “dá o sangue”, mas é tachado de polêmico ou inconformado quando diz o que pensa aos colegas sobre a instituição, e censurado nas críticas a organização num evento, é hostilizado por colegas e rejeitado pe-las chefias que não querem interferência em seu trabalho. E assim aconteceu com o Programa de Gestão Colaborativa (?) do TRT3. Premida, no “sanduíche compressor” do corte de gastos, da administração autoritária e dos colegas que não querem ter a voz que lhes foi concedida, a equipe de três pessoas do Servidor em Pauta se desfez. No próximo capítulo, quem restou foi retirada do cargo para assumir outras fun-ções, e a direção determinou que “o cargo fica

vago em 2017” -para não dizer que o programa a-ca-bou. Democracia gera conflitos, críticas, discordâncias. Liberdade requer aprendizado e mudança cultural. Quem, ou melhor, quantos realmente desejam isso no Tribunal Regional do Trabalho da Terceira Região? A autoridade autoritária não pode ser questionada.

Por outro lado, o direito de participação sindical é reprimido por colegas em cargos de chefia: “não vai compensar as horas da viagem contra a PEC 241/2016, vamos descontar nas suas férias”... Assim, claro, você não viaja mais, a não ser que queira ficar sem férias. Noutro canto, magistrados do trabalho hostilizam e não admitem em suas secretarias e gabinetes o sin-dicato e servidores mais politizados, que que-rem lutar contra a retirada de direitos, o plano de carreira, ou qualquer coisa em que acredite ser contrário aos interesses do povo. Contudo, servidor não é cidadão? Servidor não é traba-lhador? Servidor não é uma pessoa com direitos humanos, individuais e coletivos pelo art.5º da CRFB/88? Servidor não tem liberdade sindical e direto de greve? Rasgue-se então a Constituição. Somos escravos, portanto. Escravos da sujeição no Admirável Mundo Novo5, débeis mentais insulados na caverna de Platão, observando a sociedade pelas sombras da Rede Globo. Todo ser humano nasce livre e imediatamente após é posto a ferros (Rosseau, 1762). Por outro lado, Locke (1690) foi claro ao afirmar que o cidadão tem direito de resistir à opressão do governo.

Obediência não é submissão.

Com que isenção podemos esperar que tais cortes julguem nossos direitos? E faça o que eu falo, não faça o que faço? Ou, “aqui e serviço público, meus juízos tratam de empresas”. Ora, o cérebro tem dois hemisférios comunicantes Entre si. Não há duas pessoas dentro do mesmo corpo, uma sendo progressista para fora e ou-tra sendo conservadora para dentro. O que há então deve ser incoerência. Ou favorecimento claro do Capital em seus julgados, dentro e fora da instituição. Assim, não é de surpreender que valha tudo para alcançar a meta. Se a lógica é o lucro ou os juros, e aqui são os números, não importa como iremos alcançá-los. Alba Zaluar (1997) em seus estudos sobre criminalidade conceitua que a violência transforma o Outro em objeto. Na verdade, tal conceito surgiu a partir do pensamento da filósofa política Han-na Arendt, judia alemã, na obra A Condição Humana (1958), onde reflete como aos judeus foi retirada sua condição humana para justifi-car o Holocausto. O Outro é apenas um meio, um instrumento para se alcançar um fim. Essa conversão faz parte da nossa cultura ocidental

Vale tudo para alcançar a meta"Aquele que aceita o Mal sem protestar, coopera com ele" — Martin Luther King Jr.

8 JORNAL DODEPTO DE SAÚDE E COMBATE AO ASSÉDIO MORAL

Reforma previdenciária e adoecimento psicológico

Por Marcio Santim

Psicólogo e servidor do Tribunal

Regional do Trabalho (15a região)

Infelizmente, nos encontramos em um mo-mento histórico diametralmente oposto ao do século passado no sentido de conquista de di-reitos sociais. Contrariamente, nos dias atuais, estamos enfrentando uma árdua luta para mi-nimamente manter algumas conquistas funda-mentais destinadas à constituição de uma vida digna, entre elas, o direito de se aposentar e com isso poder usufruir das contribuições previden-ciárias realizadas durante a vida profissional.

Mas não é isso o que acontece na grande maioria dos casos. E digo isso não apenas por causa do repugnante projeto de reforma previ-denciária em andamento no Brasil, mas tam-bém pelas degradantes condições de vida a que pessoas aposentadas com um salário mínimo são obrigadas a se submeterem. Na prática, a maioria das aposentadorias concedidas no nos-so país, em razão de serem pelo mínimo salário ou por um pouco mais do que isso, acaba sendo de fachada, pois o trabalhador necessita realizar outras atividades remuneradas para garantir a sua sobrevivência.

Se por um lado é justo que a pessoa receba valores com base naquilo que ela contribuiu durante a sua vida profissional, por outro, é in-justo que o salário mínimo não atenda às ne-cessidades fundamentais da existência humana, conforme disposto no inciso IV do art. 7º da Constituição Federal.

A lógica do sistema previdenciário é per-vertida em razão de se constituir de maneira parecida aos esquemas financeiros conhecidos como pirâmide em que uma grande base com-posta por milhares de pessoas contribui para a manutenção dos altos ganhos de uma pequena parcela localizada no topo da pirâmide, com a ardente esperança de um dia poder ter os mes-mos rendimentos dessa última.

E esse é o engodo, pois nunca haverá espaço suficiente no topo para todas essas pessoas que compõem a base o ocuparem. E daí quando vamos pensar em termos de previdência so-cial, pergunto: o que resta a fazer para evitar o desmoronamento da pirâmide e manter os privilégios de uma seleta casta?

A meu ver a resposta está contida exata-mente no projeto de reforma da previdência,

ou seja, aumentar a idade mínima para aposen-tadoria, o que em alguns leva necessariamente ao aumento do tempo de contribuição. Assim fica fácil resolver a questão, sacrificando milha-res de pessoas com intuito de manter o infinito privilégio de poucos.

Trata-se de um processo de pura dominação social e econômica, semelhante àqueles existen-tes nas relações entre senhor e escravo. Uma das injustiças do nosso sistema previdenciário é que financiamos outras pessoas e não temos garantia alguma de que um dia poderemos ser financiados por alguém.

Também é importante nos questionar sobre a concepção de aposentadoria nos seguintes termos: ela seria efetivamente um benefício concedido em troca das prestações de serviços e suas respectivas contribuições previdenciá-rias realizadas pela pessoa durante um grande período da sua vida, com o intuito de lhe propi-ciar a realização de outras atividades com maior grau de liberdade, desvinculadas das obriga-ções profissionais; ou, contrariamente, pode-ríamos considera-la como um singelo prêmio de consolação dado à pessoa para compensar o desgaste provocado pelos incontáveis anos dedicados ao trabalho, que tem retirado suas condições físicas e psíquicas para desfrutar do tempo de vida que ainda lhe restaria.

A meu ver, temos uma concepção com relação à aposentadoria em que impera esse segundo sentido, isto é, como um atestado de invalidez emitido pelo Estado ao trabalhador, tanto em termos profissionais quanto pessoais. É certo que a expectativa do tempo médio de vida aumentou, mas será que podemos dizer o mesmo quanto à melhora no nível de qualidade de vida?

Fala-se muito em inaptidão física para o tra-balho decorrente dos vários anos laborados, tais como: doenças degenerativas da coluna, proble-mas oftalmológicos etc. Por outro lado, apesar de serem bastante abordados, quase ninguém leva muito a sério os problemas psicológicos decorrentes do estresse frente às pressões exa-cerbadas existentes na maioria dos ambientes de trabalho, entre eles: depressão, transtornos de ansiedade etc.

Há uma visão preconceituosa, por exemplo, de que se a pessoa está sofrendo de depressão e se encontra afastada do serviço, ela não poderia estar realizando atividade alguma voltada ao lazer. Isso é um equívoco porque os momen-tos de lazer podem inclusive auxiliar a pessoa a retomar suas atividades profissionais. Além do que, muitas vezes, a exploração desmedida do trabalhador no ambiente profissional é um dos principais fatores atuantes na manutenção da doença psíquica.

Também não pode deixar de ser menciona-da, a existência de casos de simulação de doen-ça, em que a pessoa na realidade não apresenta doença alguma e seu objetivo é apenas ludibriar o empregador ou o Estado para poder ganhar sem trabalhar. Esses casos, sem dúvida, devem igualmente ser considerados e é por isso que existem diversos instrumentos de controle, tais como as perícias oficiais relacionadas à saúde do trabalhador.

Tais doenças psíquicas quando estão rela-cionadas ao trabalho geralmente tornam-se crô-nicas justamente em razão de não haver muito empenho por parte dos gestores para modificar as condições e relações de trabalho que são ne-fastas aos seus subordinados e inclusive para eles próprios.

Como exemplo, podemos citar determina-das metas de vendas ou de produtividade im-postas aos trabalhadores que sempre devem ser superadas para que outras ainda maiores lhes possam ser traçadas em um processo contínuo, repetitivo e sem previsão de término. Mais, mais e sempre mais trabalho; esse é o mandamento.

Se essas imposições já são difíceis de supor-tar pelas pessoas, sem que haja o adoecimento psicológico e o abalo nas suas relações pessoais, imaginemos o que isso poderia significar com o aumento da idade mínima para a aposentadoria.

E essa é uma séria questão que o governo não tem levado em consideração: o custo finan-ceiro para o Estado, envolvido no fato lastimável e na grande possibilidade de termos milhares de pessoas afastadas do emprego em razão de do-enças profissionais, decorrentes do descaso dos governantes diante das condições desumanas existentes em diversos ambientes de trabalho.