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Ano IV- N o 36 Maio - 2010 PROGRAMA DE EDUCAÇÃO TUTORIAL PETGeo INFORMATIVO ISSN: 1982-517X Editorial O ano começou movimentado no PET – Geografia UDESC. Após o mês de fevereiro, voltado para relatórios e o planejamento de 2011, março está cheio de atividades. O grupo têm se preparado para a oficina que ministrará em Erval Velho, parte final de um trabalho que contou com mais de três anos de dedicação. Após finalização da pesquisa e edição do livro, o grupo agora irá realizar o lançamento da obra (dia 14 de março em Florianópolis, na FAED – UDESC e em Abril em Erval Velho) além de uma oficina com os professores da cidade foco do estudo, aonde todo o conteúdo do livro será trabalhado. O mês está sendo ainda de envios de convites e confirmações na programação do XI SIMGEO e V EnaPET – GEO... 2011 promete para o PET-Geografia UDESC! Nossos cumprimentos e uma ótima leitura. Grupo PET-Geografia FAED/UDESC Nessa edição: Página Relato ENEG 2011 Vitória – ES..........................................................................................02 Galeria de Fotos Ato – ENEG 2011 Vitória – ES................................................................03 Artigo Autonomia, autogestão e a dificuldade de libertação: o caso da Comunidade Autônoma Utopia e Luta.......................................................................................................................05 PET Indica...........................................................................................................................15 Eventos e editais.............................................................................................................. ..16 PetGeo FAED/UDESC Expediente: Petianos : Ana Paula Esnidei Pereira, Emannuel Costa, Gabriela Bassani Fahl, João Garcia Neto, Laura Dias Prestes, Leonardo Lenzi Barbosa, Maria Carolina Soares, Marcela Werutsky, Michelle Martins, Morgana Giovanella de Farias, Paula Carvalho Castro, Pedro Martins Gomes. Tutor(a) :Vera Lúcia Nehls Dias. Edição : Maria Carolina Soares Impresso pelo Grupo PET-Geografia FAED/UDESC, em tamanho A4, fontes Arial e Times New Roman. Sugestões, reclamações, convites, opiniões: [email protected]

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Ano IV- No 36 Maio - 2010

PROGRAMA DE EDUCAÇÃO TUTORIAL

PETGeo INFORMATIVO

ISSN: 1982-517X

Editorial O ano começou movimentado no PET – Geografia UDESC. Após o mês de fevereiro, voltado para relatórios e o planejamento de 2011, março está cheio de atividades. O grupo têm se preparado para a oficina que ministrará em Erval Velho, parte final de um trabalho que contou com mais de três anos de dedicação. Após finalização da pesquisa e edição do livro, o grupo agora irá realizar o lançamento da obra (dia 14 de março em Florianópolis, na FAED – UDESC e em Abril em Erval Velho) além de uma oficina com os professores da cidade foco do estudo, aonde todo o conteúdo do livro será trabalhado. O mês está sendo ainda de envios de convites e confirmações na programação do XI SIMGEO e V EnaPET – GEO... 2011 promete para o PET-Geografia UDESC! Nossos cumprimentos e uma ótima leitura.

Grupo PET-Geografia FAED/UDESC

Nessa edição: Página Relato ENEG 2011 Vitória – ES..........................................................................................02 Galeria de Fotos Ato – ENEG 2011 Vitória – ES................................................................03 Artigo Autonomia, autogestão e a dificuldade de libertação: o caso da Comunidade Autônoma Utopia e Luta.......................................................................................................................05 PET Indica...........................................................................................................................15 Eventos e editais.............................................................................................................. ..16

PetGeo FAED/UDESC Expediente: Petianos: Ana Paula Esnidei Pereira, Emannuel Costa, Gabriela Bassani Fahl, João Garcia Neto, Laura Dias Prestes, Leonardo Lenzi Barbosa, Maria Carolina Soares, Marcela Werutsky, Michelle Martins, Morgana Giovanella de Farias, Paula Carvalho Castro, Pedro Martins Gomes. Tutor(a):Vera Lúcia Nehls Dias. Edição: Maria Carolina Soares Impresso pelo Grupo PET-Geografia FAED/UDESC, em tamanho A4, fontes Arial e Times New Roman. Sugestões, reclamações, convites, opiniões: [email protected]

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ENEG 2011 – Vitória (João) ENEG 2011

Nos dias 06 ao dia 12 de fevereiro de 2011 ocorreu no campus de Goiabeiras da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), Vitória/ES, o XIX Encontro Nacional dos Estudantes de Geografia (ENEG) com o tema: Protagonistas do espaço: Empresas,

Estado ou Sociedade? O estudante de Geografia e suas possibilidades de atuação política. No primeiro dia ocorreu a plenária inicial onde se discutiu o modo como o evento iria transcorrer e dividiu-se as brigadas. Vale salientar que a Confederação Nacional das Entidades Estudantis de Geografia (CONEEG) tem por princípio a organização horizontal e o não “consumo” do evento, ou seja, as pessoas que participam deveriam trabalhar no mesmo, fazendo a limpeza, comunicação, organização dos espaços e ajudando a servir a alimentação do evento. Assim, entendemos que o evento não é “consumido” e cria-se um clima de confraternização entre aqueles que trabalham nas brigadas. Apesar do tema, grande parte das discussões presentes no ENEG foram em torno da organização da entidade, um embate há muito presente na entidade, mas nunca esgotado. Este debate veio à tona com grande força nesse ENEG, pois no próximo encontro será discutido o estatuto, já que o mesmo apresenta problemas e está defasado. Dessa forma foi lida a carta de princípios (aprovada no ENEG 2010 em Maceió) que norteia a entidade e a discussão do estatuto em Grupo de Trabalho (GT) foi feita em cima desse documento. Além da horizontalidade e do não “consumo” do encontro a CONEEG - Confederação Nacional de Entidades Estudantis de Geografia - tem por diretriz a aproximação das lutas populares anti-capitalistas ou por melhor condição de vida dentro do sistema. Por tal razão foi votado na plenária inicial que os estudantes presentes no ENEG iriam somar forças com o Movimento Passe Livre (MPL) de Vitoria em uma manifestação que ocorreria no dia 08 de fevereiro. Dessa forma, realizou-se uma oficina onde se assistiu o filme “Impasse” que narra a luta do povo de Florianópolis contra o aumento da tarifa em 2010. Após o filme, foi organizado um debate e uma troca de experiências entre os militantes de diversas cidades que sofreram e sofrem com o aumento abusivo da passagem, no caso de Vitoria a tarifa se encontra no valor de R$ 2,20 para transporte coletivo convencional e do transporte seletivo, R$2,30, neste espaço foi possível informar e incrementar o debate, como o informe das lutas em outras cidades. No dia 08 de fevereiro os estudantes começaram a se reunir por volta das dezesseis horas e passar nas áreas de camping e de alojamento chamando outros estudantes para se somarem a luta. Por volta das dezessete horas deu-se inicio a confecção de faixas ao mesmo tempo em que o debate acontecia e as dicas de segurança eram passadas para os militantes de primeira viagem. Por volta das dezoitos horas os futuros geógrafos se dirigiram para os pontos de ônibus próximos a universidade, onde se dividiram em dois ônibus, e após uma conversa com os motoristas e cobradores “pularam a catraca” se dirigindo para a “terceira ponte” onde é cobrado pedágio. Chegando a praça do pedágio os estudantes junto com o Movimento Passe Livre – MPL/Vitória abriram as cancelas e permitiram a passagem da população sem a cobrança de pedágio. A reação da polícia foi uma das coisas que nos surpreendeu: manteve uma posição neutra e ficou apenas observando, bem diferente do que já aconteceu no mesmo tipo de manifestação em outros estados. Na plenária final foi discutido o ato e a plenária se colocou a favor das lutas que ocorrem no Brasil inteiro. Pois essa é uma luta justa e nós não entendemos o direito de ir e vir da população como uma mercadoria. Considerando que a saúde, segurança e outros serviços essenciais não são pagos no momento de sua utilização por que o transporte seria? E por que tantos subsídios ao transporte coletivo? Por que se vende o direito de ir e vir, o

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direito de desfrutar a cidade, aos empresários? Por tudo isso e mais nós, estudantes de geografia organizados na CONEEG, somos contra a venda do direito do trabalhador de se locomover.

GALERIA DE FOTOS Fotos do ato contra o aumento da tarifa em Vitória, retiradas do endereço

eletrônico: www.flickr.com/fernandocorreia

GEO na Rua – ENEG Vitória 2011

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GEO na Rua – ENEG Vitória 2011

GEO na Rua – ENEG Vitória 2011

GEO na Rua – ENEG Vitória 2011

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Autonomia, autogestão e a dificuldade de libertação:

o caso da Comunidade Autônoma Utopia e Luta

João Garcia Neto*

Ana Beatriz Pinheiro Guimarães Ternes†

“Os anarquistas sabem que um longo período de educação precisa preceder qualquer grande mudança fundamental na sociedade, uma vez que não acreditam na miséria do voto, nem em campanhas políticas, mas sim no desenvolvimento de indivíduos com pensamento

autônomo.” Lucy Parsons.

Resumo A Comunidade Autônoma Utopia e Luta, fundada por ocasião do Fórum Social Mundial de 2005, em Porto Alegre, é fruto da reunião de diversos movimentos sociais em prol da ocupação de espaços urbanos vazios, sobretudo em prédios da União. Além da ocupação, o Utopia e Luta prevê entre seus princípios a iniciativa da autogestão e a criação, pode-se dizer, de um território autônomo. Neste artigo pretende-se explanar sobre as principais dificuldades encontradas por este Coletivo em estabelecer a práxis do discurso de autonomia, fundamentados nas teorias de Cornelius Castoriadis, para melhor compreender como se dá esse processo. A metodologia utilizada foi a realização de três visitas técnicas ao local, em diferentes estágios de organização, onde foram coletados relatos e ainda realizadas vivências coletivas no local. Palavras-chave: Autonomia; Autogestão; Movimentos Sociais; Vazios Urbanos; Utopia e Luta;

Introdução

Este artigo tem por objetivo esclarecer algumas das dificuldades enfrentadas pelos

moradores da Comunidade Autônoma Utopia e Luta na aplicação da autogestão, baseada

em três visitas técnicas ao local, quando foi possível percorrer todos os espaços do prédio e

coletar dados com os moradores.

* Graduando em Geografia - Universidade Estadual de Santa Catarina - UDESC † Graduanda em Geografia - Universidade Estadual de Santa Catarina - UDESC

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A primeira ocorreu em maio de 2009, na ocasião em que o prédio encontrava-se

completamente reformado e às vésperas de sua inauguração. Neste momento, duas famílias

residiam no local, enquanto as outras ainda se preparavam para a mudança. Neste estágio,

as famílias se reuniam periodicamente para construírem coletivamente a concepção de

autonomia e autogestão.

A segunda visita ocorreu durante o III Encontro Regional de Estudantes de

Geografia (III EREGEO Sul), em outubro do mesmo ano, quando os moradores já haviam

se mudado para o local. Nesta ocasião, foi possível participar de uma intervenção no

prédio: a construção da estufa para cultivos, no terraço, vivenciando um pouco da prática

da construção de espaços coletivos.

A terceira visita ocorreu em maio de 2010, onde foram coletados relatos do

músico Eduardo Solari, que guiou a visita ao prédio, durante campo realizado pela

disciplina de Geografia Urbana do curso de Geografia da UDESC (Universidade do Estado

de Santa Catarina). Neste momento, foi possível observar o andamento da autogestão no

prédio, após um ano desde sua inauguração.

Comunidade Autônoma Utopia e Luta: um breve histórico

Durante o Fórum Social Mundial de 2005, em Porto Alegre, diversos movimentos

sociais discutiam a questão dos “vazios” urbanos: prédios públicos abandonados, em

localizações estratégicas da cidade, sem uso algum. Foi identificado o prédio de

propriedade da União localizado na Avenida Borges de Medeiros, 727, no centro do

município de Porto Alegre, onde antigamente funcionava o Instituto Nacional do Seguro

Social (INSS).

O prédio encontrava-se abandonado há mais de vinte anos e foi ocupado na ocasião

por diversos movimentos sociais, capitaneados pelo Movimento Nacional de Luta pela

Moradia (MNLM). Começaram-se então, as negociações para a liberação do prédio de

modo a transformá-lo em habitação para famílias sem teto e/ou que residiam em locais

periféricos do município.

Em 2007, depois de muitas negociações, o governo federal aprovou a lei 11481/07,

que permitiu a transferência de prédio público para que se fizesse nele habitações

populares. Já em 2008, começaram as reformas para transformar o espaço dos sete andares

em apartamentos do tipo quitinete de 25 a 30 metros quadrados, com o objetivo de assentar

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42 famílias. É necessário citar que, após 20 anos sem uso, o local estava com instalações

hidráulicas e elétricas muito deterioradas.

A idéia inicial do Coletivo Utopia e Luta era assentar 24 famílias de forma mais

confortável, mas o governo exigiu, para a liberação de crédito para a reforma, o

assentamento de 42 famílias. Vale lembrar que a lei não prevê a posse coletiva, portanto os

assentados terão a posse individual e terão que pagar 25 mil reais diluídos em vinte anos. A

verba para reforma e aquisição foi conseguida através do programa do Ministério das

Cidades no valor de 170 mil reais e as reformas custaram aproximadamente 1 milhão de

reais.

Em maio de 2009 os beneficiados, escolhidos através de entrevistas realizadas pelo

próprio coletivo, tomaram posse do prédio reformado e pronto para abrigar as famílias que

agora lá residem. O prédio conta com sete andares com três quitinetes e dois apartamentos

maiores, 25 e 30 m³ respectivamente, por andar. No subsolo há uma lavanderia coletiva, a

serigrafia e o ateliê de costura - estes últimos, medidas para aumentar a renda dos

moradores. No térreo, além do escritório de administração, há uma cozinha coletiva e uma

padaria, onde se busca dar preferência para matéria-prima orgânica que é comprada junto

ao produtor de forma a baratear o custo de produção dos produtos. No térreo há ainda um

espaço para a apresentação de peças teatrais e para cursos que são oferecidos no prédio. No

terraço há o espaço Chico Mendes onde se pratica a agricultura orgânica e há planos de se

construir uma estufa para que os moradores plantem suas culturas, independente da época

do ano.

Há uma concepção de autogestão na Comunidade Autônoma Utopia e Luta, desde

que foi pensada, durante o Fórum Social Mundial, em 2005. A idéia do Coletivo sempre

foi não apenas ocupar o “vazio” urbano, mas o transformar em um território autônomo,

autogerido. Ao encontro desta idéia, percebe-se que todos os espaços interiores do prédio

são pensados coletivamente para terem alguma função. Por exemplo, no vão úmido do

interior pensa-se em cultivar plantas adaptadas à umidade. No terraço, está sendo

construída uma estufa para a prática de agroecologia urbana, com a preocupação de

utilizarem todos os espaços disponíveis. Os moradores se revezam para cuidarem das

crianças e pretende-se construir uma creche recreativa. Os resíduos sólidos são coletados

seletivamente e pensam em construir um sistema de composteiras para o lixo orgânico.

Percebe-se no discurso dos moradores a construção de um prédio “verde” e nos três

momentos de visita técnica tal discurso não se perdeu. Não há funcionários no prédio,

como porteiro ou zelador, por exemplo, a organização se dá como forma de “brigadas”, e

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estas são feitas por andar. São realizadas reuniões periódicas com os moradores para

discutirem questões coletivas referentes ao prédio.

A questão da Autonomia

Para Castoriadis (2000, p.123) a autonomia se configura pela superação do

inconsciente pelo consciente, sendo que o inconsciente confina o discurso do Outro, ou

seja, para ser autônomo o ser humano deve criar para si sua própria realidade, mas não

necessariamente a eliminação total do discurso do Outro, mesmo porque, de acordo com o

autor isso seria inalcançável, mas sim uma nova relação com o pensamento do Outro

(p.126). A autonomia é imprescindível para a libertação do ser humano e para a superação

dos malefícios do capitalismo, pois para libertar seu corpo o ser humano deve antes livrar

sua mente, pois só enxergando a si mesmo como um ser autônomo o ser humano pode

reconhecer em outro ser humano a autonomia. Esse pensamento do Outro pode ser

entendido como o “Estatuto Verdade”, de Michel Foucalt, onde o mesmo coloca que a

sociedade moderna interpreta o mundo através de uma ciência há muito alienada do

homem comum. Este homem comum deve pensar e acreditar naquilo que o Outro, o

cientista, diz e dessa forma o pensamento do Outro se autonomiza no imaginário do

homem comum. É importante lembrar que a autonomia do sujeito só se faz presente

quando o mesmo se relaciona com o mundo e desse modo o modifica e é modificado pelo

mesmo.

A autonomia não é conquistada pelo indivíduo, mas pelo coletivo, e aí reside a

problemática, pois a autonomia necessita uma compreensão do outro, um sentimento

coletivo, e esse sentimento não é encontrado no sistema capitalista. Dentro disso a epigrafe

se faz necessária no entendimento da autonomia, sem uma modificação na educação, não

somente formal, mas a educação cidadão, dificilmente haverá um sentimento de

coletividade. É necessária, ainda, a compreensão do Outro não como um inimigo a ser

abatido, mas como um companheiro na construção da autonomia de todos. A compreensão

humanista da sociedade, assim como a autonomia, é construída, não através de uma ruptura

com o capitalismo, apesar de as mesmas terem um papel de grande importância na

heteronomia, mas com a modificação do significado do ser humano dentro do próprio

sistema de símbolos capitalistas.

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A questão da Autogestão

A autogestão é uma forma de gerência horizontal e direta, não só na tomada de

decisões, mas também na execução das mesmas. Desta forma, o eixo central da autogestão

é a idéia de que todos os homens são iguais e que cada um tem a capacidade de se

representar perante o grupo. A iniciativa própria é extremamente importante para a

autogestão, desde que não venha a ferir as decisões do grupo.

Sendo a igualdade a base, é interessante que conheçamos o inicio da idéia de

igualdade. Bourdet e Guillerm (1976, p. 47) indicam as mudanças no entendimento do

homem em relação a Deus como os primórdios desta idéia de igualdade, pois é só quando

o homem toma ciência sobre o controle do seu destino que se sente livre e assim, enxerga

os outros homens também como seres senhores do seu destino e, portanto livres e iguais

com ele. Essa evolução na filosofia ocidental que se desprendeu da idéia da divindade e

tornou, teoricamente, todos os homens iguais que torna a concepção da autogestão

possível.

É importante compreendermos o inicio desta idéia de igualdade, que deriva da

igualdade burguesa. Portanto iniciaremos com a origem burguesa da igualdade. A mesma

tem origem de acordo com Habermas(1984, p.45) nos saloons, cafés e comunidades de

comensais do século XVII e XVIII, apesar de refém dos anfitriões aristocráticos, pelo

menos no inicio, a igualdade começou a florescer entre a alta burguesia e a aristocracia

decadente. Essa igualdade se estabelece primeiramente na esfera das artes, retirando da

corte seu papel de mecenas, para depois romper com a dominação vigente e instituir a

dominação burguesa, dominação essa que não mais crê no domínio do bem publico, mas

sim na propriedade privada. Pois como dito também em Habermas(p.43) “[...] oriundo do

direito do Direito Privado, não é político o poder de dispor sobre a propriedade que

funciona capitalisticamente[...]”. A igualdade do estado burguês estende a igualdade

somente aqueles que possuem a capacidade de gerir as suas propriedades, apesar da

propaganda que nega esse cerceamento da igualdade.

A igualdade burguesa nascida no seio do Iluminismo e a igualdade pretendida pela

autogestão são as mesmas, apesar de a igualdade burguesa ter sido na pratica corrompida

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para a igualdade entre aqueles que possuem, ou seja burgueses. A igualdade “pura” como

posta por Descartes (apud Bourdet e Guillerm, p.49) “[...] a vontade de Deus é maior: mas,

de um ponto de vista formal, a vontade do homem é infinita e deseja sem limites, como a

de Deus”. Nesta frase descartes lança a pedra fundamental para o entendimento da

igualdade, pois não um infinito maior que outro, sendo assim todos os homens possuem

vontades iguais e portanto nenhum homem é mais homem que outro homem.

A primeira idéia concreta de autogestão surge com Fourier e os Falanstiamérios,

comunidades de 1800 pessoas que viveriam em harmonia e onde produziriam seu sustento

de forma auto-suficiente e tudo seria decidido por todos (BOURDET e GUILLERM, 1976,

p.58). Ainda de acordo com Bourdet e Guillerm as idéias de Proudhon relativas às

Associações Múltiplas tiveram uma grande influência na difusão da autogestão. O

interessante da autogestão é a sua negação ao Estado e o seu compromisso com a

autodeterminação do indivíduo.

As relações entre a autogestão e a autonomia

Esses dois temas desenvolvem uma estreita relação, pois a autogestão necessita,

assim como a autonomia, de que o ser humano tome consciência de sua humanidade

perante outros sujeitos e que através desta encontre no outro um igual. Esta relação nos

leva a crer que não há autogestão sem autonomia, apesar de a autonomia não

necessariamente levar a autogestão, mas essa é uma possibilidade provável.

É interessante analisar como a autonomia interfere na autogestão e como a teoria

destes dois temas se confunde, já que as necessidades para que se estabeleçam essas

práticas são muito similares. Estas necessidades passam necessariamente pela educação,

como citado acima, não somente a educação formal, mas a educação como ser humano e

cidadão ciente dos seus direitos, deveres e principalmente ciente do outro e de seus direitos

e deveres. Vale salientar que os direitos e deveres, em um Estado Democrático de Direito,

estão previstos em lei. Essas leis se tornariam obsoletas, pois a partir do momento que o ser

humano tomar consciência de si e dos outros não mais seria necessário as leis e nem o

Estado para fazer valer essas leis, já que estes nada mais são do que uma forma de

normatizar as condutas da sociedade e fazer cumprir essas normas de forma a fazer a

convivência mais harmoniosa para a maioria da sociedade - na teoria. Todavia, na prática o

processo não se dá exatamente desta forma. Pois é necessário pára fazer cumprir a lei um

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aparelho coercivo controlado pelo estado, se, de outra forma as leis coincidissem com a

vontade dos homens tal aparelho não mais seria necessário.

Autonomia e Autogestão na Comunidade Autônoma Utopia e Luta

Na prática, são diversas as dificuldades encontradas no residencial Utopia e Luta na

busca pela sua autonomia e autogestão. Trabalharemos com três autores, sendo eles

Cornelius Castoriades, Michel Foucault e Paulo Freire para tentarmos explicar os impasses

na implementação da autogestão, de acordo com o relato de Eduardo Solari. A grande

dificuldade que Solari apresenta é a de iniciar na práxis a autogestão.

Esta dificuldade está relacionada com a complexidade em recuperar o discurso do

Outro como forma de construção do discurso, e de se lutar contra um discurso-verdade‡ do

significado da felicidade e os caminhos que se devem tomar para alcançá-la. Tais

dificuldades vão de encontro a que diz Paulo Freire: “Para eles (os oprimidos)§, o novo

homem (resultado da superação da contradição opressor-oprimido)** são eles mesmos,

tornando-se opressores de outros. A sua visão de homem novo é uma visão individualista”

(2010, p. 35). Desta forma, aqueles que ainda não alcançaram sua autonomia não se

inserem na práxis da autogestão.

Segundo Solari, após se mudarem para o prédio e conseguirem um emprego

melhor, em função da localização do mesmo, os moradores acabam por não mais utilizar

os espaços coletivos do prédio como antes. Nota-se no relato de Solari o problema que a

identificação com o discurso-verdade, analisado em diversas obras por Michel Foucault,

causa na prática da autonomia e da autogestão, pois o discurso burguês de felicidade,

através do consumo, implica na individualização e na aceitação acrítica do discurso do

Outro. Como dito em Castoriadis (2000, p.126) a autonomia se dá no reconhecimento do

discurso do Outro e na utilização do mesmo para formação do discurso do Eu, essa

formação do discurso próprio nescessita de uma postura critica não encontra na práxis do

discurso-verdade burguês. Freire (2010, p.35) auxilia na compreensão deste tema quando

diz:

‡ Este dicurso-verdade é baseado na obra de Michel Foucault. § Parêntese do autor. ** Parêntese do autor.

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A estrutura do seu pensar (do oprimido) se encontra condicionada pela contradição vivida na situação concreta, existencial, em que se “formam”. O seu ideal é, realmente, ser homens, mas, para eles, ser homens, na contradição em que sempre estiveram e cuja superação não lhes está clara, é ser opressor. Estes são seu testemunhos de realidade.

Um outro problema é a questão da posse do prédio no qual esta localizado o

residencial Utopia e Luta, já que a lei brasileira não aceita a posse coletiva, através de um

movimento social, de uma propriedade privada de uso coletivo. Pois a defesa da

propriedade privada levada a cabo não só pelo poder coercivo do estado, mas também pela

propaganda burguesa leva a personificação da propriedade e a sociedade de consumo, já

que a propriedade privada não sobrevive sem a sociedade de consumo e vice-versa,

portanto a lei não entende um movimento heterogêneo como proprietário. Desta forma

podemos entender que o “direito” a propriedade privada, defendida pelo Estado

Democrático de Direito (ou direita, como preferir) nada mas é do que o direito de cercear a

liberdade de outro e numa concepção Orwelliana ser mais igual do que o outro.

A lei no Estado Democrático de Direito não serve somente para proteger o

individuo, mas também para manter a ordem e os homens “produtivos e submissos”

(Foucault, 2005, p.26), além de servir como proteção para a propriedade privada. O Estado

Democrático de Direito como grande parte das superestruturas é reacionário, pois não

acompanha os anseios das bases e é de difícil modificação. Pois é tomado pela burocracia

burguesa pela idéia de ordem burguesa e hierárquica. Pode-se dizer que o estado burguês é

a realização do “sonho político da peste” (Foucault, 2005, p.164). Apesar da vigilância

ainda falha o estado burguês conseguiu determina o isolamento, não só físico mas de

direitos também, através da lei das minorias excluída.

O coletivo Utopia e Luta não se relaciona com nenhum partido político, o que causa

algum desconforto entre lideres partidários, pois o próprio principio da autogestão nega a

busca representatividade, o que faria com que um homem tivesse poder sobre os outros.

Além de que a autogestão ao contrario dos partidos políticos brasileiros prevê antes de tudo

o desenvolvimento humano e a libertação do ser humano em detrimento ao crescimento

econômico. Pode-se dizer que mesmo os partidos ditos de “esquerda” tem como seu

objetivo a manutenção do status quo. Pois uma ditadura do proletário ou um governo

“democrático” mesmo que voltado para o desenvolvimento humano e para melhoria da

condição de vida do trabalhador não eliminaria a exploração do trabalhador nem o

libertaria das conseqüências tanto físicas como psicológicas do capitalismo. O mesmo dito

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por Habermas (p.43) em relação a revolução burguesa poderia ser dito dos objetivos da

autogestão

[...]as suas reivindicações[...]contra o poder publico não se dirigem contra a concentração de poder que deveria ”compartilhado”; muito mais eles atacam o próprio principio de dominação vigente. O principio de controle que o publico burguês contrapõem a esta dominação[...] quer modificar a dominação enquanto tal. A reivindicação[...] que se coloca na argumentação[...],deveria, caso pudesse impor-se, levara algo mais do que uma mera mudança na base de legitimação de uma dominação que, em principio, é mantida.

Considerações Finais

Posto isso é possível observar e entender algumas das dificuldades enfrentadas

pelos residentes do Utopia e Luta, mas é possível ao mesmo tempo vislumbrar a esperança

de uma superação dessas dificuldades, na mesma literatura que usamos para apontar e

entender os problemas está a solução: a educação. Não só a formal, mas principalmente a

educação daquele que é oprimido, pois se o mesmo é “formado” na relação opressor-

oprimido e esta é a única relação que conhece, a Comunidade Utopia e Luta está

auxiliando na libertação dos homens, na medida em que mostra que outras relações são

possíveis.

Neste caminho o coletivo já tem agido de forma a formar indivíduos na educação

antiautoritaria, utilizando do espaço de convivência no térreo e do espaço para as crianças

o coletivo tem trabalhado de modo a formar nas crianças uma forma diferente de ver o

mundo pois como dito em Bourdet e Guillerm (p.197) “não se podem, com efeito,

conceber cidadãos verdadeiramente autônomos se não se respeita desde a infância, a

liberdade[...]”

Observa-se no residencial a contradição material do Estado Democrático de Direito,

pois escancara a falta da necessidade de um aparato coercitivo que garanta o cumprimento

da vontade da maioria, que nada mais que a forma que a alta burguesia encontrou de

manter sua dominação, através do mito do sufrágio universal e da representatividade.

Dessa forma a burguesia dá a falta sensação aos oprimidos de que eles tem comando seus

próprios destinos e através do discurso-verdade da felicidade do consumo controlam e

manipulam aqueles que fizeram e fazem suas fortunas.

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Referências Bibliográficas

BOURDET, Yvon; GUILLERM, Alain. Autogestão: Uma Mudança Radical. Rio de

Janeiro: Zahar, 1976.

CASTORIADIS, Cornelius. A Instituição Imaginária da Sociedade. São Paulo: Paz e

Terra, 2000.

FOUCAULT, Michel. Microfísica do Poder. São Paulo: Graal, 2006.

FOUCAULT, Michel. Vigiar e Punir. Petrópolis: Vozes, 2005

FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. São Paulo: Paz e Terra, 2010.

HABERMAS, Jürgen. Mudança Estrutural da Esfera Pública. Rio de Janeiro: tempo

brasileiro, 1984

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PET - INDICA (Sugestão de filmes, livros, etc.)

Por Michelle Martins

O discurso do rei é forte candidato para o Oscar e para escolas utilizarem como fonte de discussão, e não apenas como fotografia de uma família real. O filme marca e fortalece um pensamento Inglês sobre poder e teatralidade. O rei George VI humaniza-se e seu médico (sem credenciais) de gagueira torna-se seu melhor amigo. A poesia de shakespeare ressalta olhares da majestosa Inglaterra, construída por discursos marcados de identidade nacional. O rei fala pelo povo, porém esse rei mal sabe falar duas frases sem gaguejar. Vemos os medos de um rei em um consultório como um quadro gigante feito de camadas acrílicas. O homem mais poderoso precisa aprender a discursar e chega a invejar Hitler. As palavras tornam-se secundárias perto da perfeição da voz e da força imperial que ela manifesta. Churchill também aparece no filme e sua posição importante é revelada sutilmente. Além de outras facetas de toda moral inglesa do século XX são sutilmente trabalhadas no espetáculo de valorização ritualista que o filme proporciona. É um filme que parece nos transformar em cidadão inglês, e é importante tomar cuidado com isso. É um filme interessante de estudar facetas de imperialismo. Fiquem atentos aos detalhes e ria muito do que você aprendeu na escola.

Por que certas novelas conquistam o público e outras não? Como influenciam a sociedade? Quais os limites entre realidade e ficção? Resultado de um estudo orientado pelo renomado antropólogo Marshall Sahlins, o livro discute essas e outras questões combinando pesquisa histórica, análise de texto, entrevistas e observação participante. Ao traçar a evolução das novelas desde 'Roque Santeiro' até 'O Rei do Gado' e 'O Clone', passando por 'Pantanal', a autora expõe o poder da teledramaturgia na constituição de práticas e relações sociais.'O Brasil antenado' mostra que nada é óbvio nessa operação chamada novela. Esther Hamburger revela com primor a lógica das pesquisas de audiência e o pacto que se estabelece com o telespectador, assim como delimita de que forma as novelas transitam entre classes e gêneros. Capítulo importante da reflexão sobre uma das mais populares manifestações da indústria cultural, investiga os mecanismos de produção de telenovelas e suas possíveis implicações na história recente do país. Sinopse retirada do endereço eletrônico da Livraria

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Eventos________________________________________________________________ XI – ENCONTRO NACIONAL DE PRÁTICAS DE ENSINO DE GEOGRAFIA - ENPEG Data: 17 a 21 de Abril de 2001 Local: Universidade Federal de Goiás XV - SIMPÓSIO BRASILEIRO DE SENSORIAMENTO REMOTO - SBSR Data: 30 de Abril a 05 de Maio de Julho 2011 Local: Curitiba, PR/ Estação Convention Center Sítio: http://www.dsr.inpe.br/sbsr2011/ II – SIMPÓSIO NACIONAL DE GEOGRAFIA POLÍTICA, TERRITÓRIO E PODER E I SIMPÓSIO INTERNACIONAL DE GEOGRAFIA POLÍTICA E TERRITÓRIOS TRANSFRONTEIRIÇOS Data: 01, 02, 03 e 04 de maio de 2011 Local: Universidade Estadual do Oeste do Paraná - UNIOESTE, Foz do Iguaçu, PR. 1º SEMINÁRIO - ESPAÇOS COSTEIROS: DINÂMICAS E CONFLITOS NO LITORAL BAIANO Data: 02 a 05 de maio de 2011 Local: Universidade Federal da Bahia/Salvador III Workshop Internacional Sobre Planejamento e Desenvolvimento Sustentável em Bacias Hidrográficas Data: 05 a 07 de maio de 2011 Local: Auditório do Centro de Ciências da Universidade Federal do Ceará - UFC (Campus do Pici, Fortaleza, Ceará) Sítio-web: http://www.labocart.ufc.br/ XIV ENCONTRO NACIONAL DA ANPUR - ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA EM PLANEJAMENTO URBANO E REGIONAL Data: 23 a 27 de maio de 2011 Local: IPPUR/UFRJ, Rio de Janeiro 63° - REUNIÃO ANUAL DA SBPC Data: 10 a 15 de Julho 2011 Local: UFGO/Goiânia-GO Sítio-web: http://www.sbpcnet.org.br/site/eventos/mostra.php?id=1163&secao=288

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XIV – SIMPÓSIO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA FÍSICA APLICADA - XIV-SBGFA Data: 11 a 16 de Julho de 2011 Local: Universidade Federal da Grande Dourados XIII – ENCUENTRO DE GEÓGRAFOS DE AMÉRICA LATINA (EGAL) Data: 25 a 29 de Julho de 2011 Local: SEDES Escuelas de Geografía Universidad de Costa Rica (UCR), Escuela de Ciencias Geográficas Universidad Nacional (UNA) XI SIMGeo e V EnaPETGEO “Ambiente e Desenvolvimento Social no Âmbito do Ensino, Pesquisa e Extensão” Data: 17 a 21 de outubro de 2011 Local: Universidade do Estado de Santa Catarina – UDESC Centro de Ciências Humanas e da Educação – FAED Campus Itacorubi - Florianópolis/SC SINGA 2011 - V SIMPÓSIO INTERNACIONAL DE GEOGRAFIA AGRÁRIA VI – SIMPÓSIO NACIONAL DE GEOGRAFIA AGRÁRIA Data: 7 a 11 de novembro 2011. Local: UFPA/Campus do Guamá – Auditório: Centro de Convenções IV COLÓQUIO NACIONAL DO NEER Data: 16 a 18 de novembro de 2011 Local: UFSM/PPGG, Santa Maria - RS