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JOSÉ NOELMO DE ARAÚJO A IMPORTÂNCIA DA CORPOREIDADE PARA O DESENVOLVIMENTO DA COGNIÇÃO NO ENSINO FUNDAMENTAL BRASÍLIA – DF JUNHO 2007

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JOSÉ NOELMO DE ARAÚJO

A IMPORTÂNCIA DA CORPOREIDADE PARA O DESENVOLVIMENTO DA COGNIÇÃO NO ENSINO FUNDAMENTAL

BRASÍLIA – DF JUNHO 2007

JOSÉ NOELMO DE ARAÚJO

A IMPORTÂNCIA DA CORPOREIDADE PARA O DESENVOLVIMENTO DA COGNIÇÃO NO ENSINO FUNDAMENTAL

Monografia apresentada à UNB, como parte das exigências parciais para a conclusão do curso Especialização em Educação Física Escolar do Programa Segundo Tempo, sob a orientação do professor Cláudio Lessa.

UNIVERSIDADE DE BRASILIA - UNB BRASÍLIA – DF

JUNHO 2007

Falar em corporeidade é falar do existente, do ser que interage no e com o mundo, consigo mesmo e com os outros. É optar por concretizar o pensamento, ou mais precisamente, corporificar o ser pensante. Moreira (1998, p. 143)

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO.................................................................................................... 5

1 CORPOREIDADE, CULTURA CORPORAL DO MOVIMENTO E IMAGEM CORPORAL.......................................................................................................

9

2 CORPOREIDADE E COGNIÇÃO................................................................... 14

3 O CONHECIMENTO DA CORPOREIDADE COMPREENDIDA NA SUA TOTALIDADE....................................................................................................

19

3.1 A CORPOREIDADE VISTA EM UMA PERSPECTIVA AMPLA ..............

20

4 METODOLOGIA DA PESQUISA..................................................................

22

4.1 DESCRIÇÃO DOS INFORMATIVOS .........................................................

22

4.2 DADOS DA PESQUISA.............................................................................

22

CONSIDERAÇÕES FINAIS..............................................................................

30

REFERÊNCIAS..................................................................................................

32

ANEXO ..............................................................................................................

34

5 INTRODUÇÃO

As atividades corporais nas aulas de Educação Física são indispensáveis

para o desenvolvimento cognitivo, na aquisição de habilidades na formação do

aluno no Ensino Fundamental, dando-lhe condições para o exercício da

cidadania. A construção da corporeidade só é possível pela estimulação que se

faz no indivíduo desde sua infância. A Educação Física é uma área de estudos

que capacita o indivíduo a desenvolver diversas funções que estão diretamente

relacionadas com o corpo humano. Entretanto, ela não visa somente o

desenvolvimento físico e corporal do aluno, é muito mais abrangente, pois busca

o desenvolver outros atributos como, a fraternidade, o respeito, a coragem, a

justiça, a solidariedade, o companheirismo, a autonomia, a estética e a ética,

desenvolvendo a cognição que envolve várias fases da vida.

A Educação Física deve ser vista como um todo e não isoladamente. É

uma ciência e como tal deve buscar a verdade, os reais princípios essenciais do

movimento, é também pedagogia que orienta os educandos a sentir a sua

corporeidade através de sua vivência, busca um elo entre o movimento humano e

a aprendizagem numa abordagem interdisciplinar.

A concepção de cultura corporal de movimento se desenvolve a partir dos

estudos de autores como Libâneo (1994), Le Boulch (1987), Vaz (1996), Freire,

(1999), Wallon (1951) entre outros.

Wallon (1951), por exemplo, nos mostra como a educação Física Escolar

pode contribuir para o pleno exercício da cidadania e da vivência da corporeidade,

6

pois considera seus conteúdos um ponto de apoio para o indivíduo sentir os

espaços os quais seu corpo pode ocupar tanto no sentido físico, quanto no

psicológico.

A concepção de cultura corporal de movimento amplia a contribuição da

Educação Física escolar para o pleno exercício da cidadania, na medida em que,

considera seus conteúdos e as capacidades que se propõe a desenvolver como

resultados socioculturais, como direito de todos ao acesso e à participação no

processo de aprendizagem. Favorece um processo de ensino-aprendizagem

centrado no desempenho físico e técnico, resultando, em muitos momentos,

numa seleção entre indivíduos aptos e inaptos1 para as práticas da cultura

corporal de movimento. Essa seleção atende às demandas da inclusão. A

Educação Física nas escolas precisa valorizar a corporeidade em suas ações

pedagógicas, pois esta é importante para a motricidade.

Por isso, a Educação Psicomotora ou Educação pelo Movimento e

Percepção Corporal é indispensável na escola e dá sustentação ao

desenvolvimento corpóreo, orgânico e funcional do educando, procurando através

de ações pedagógicas e atividades lúdicas melhorar os fatores de execução e

coordenação, estimular a criatividade, favorecer o ajustamento, a espontaneidade

de movimento e a organização perceptiva.

Levando em conta esses pressupostos teóricos interrogamos:

• Como trabalhar a corporeidade nas aulas de Educação Física no cotidiano

escolar?

1 Inaptos: indivíduos portadores de necessidades especiais.

7

• Quais tipos de atividade desenvolver com os aprendizes do Ensino

Fundamental para trabalhar a corporeidade voltada para a cidadania?

• Como o exercício da corporeidade se relaciona à cognição?

• Qual é o perfil do professor de Educação Física para o desenvolvimento da

corporeidade do aluno?

A formulação dessas questões leva-nos a voltar nosso olhar para o

cotidiano escolar, para a prática docente da Educação Física, e também para

os fundamentos teóricos subjacentes a essas práticas.

Nesse sentido, objetivamos descrever e analisar como a Escola

Fundamental tem trabalhado a corporeidade em suas aulas e quais são as

representações, as concepções que guiam suas práticas. Esperamos, assim,

motivar reflexões a respeito da importância da corporeidade para as aulas de

Educação Física e no plano curricular das escolas.

Por isso, propomos realizar um panorama das principais linhas teóricas

e metodológicas que constituem o arcabouço epistemológico sobre a

corporeidade, tendo como viés a cognição.

Objetivamos nos embasar teoricamente para compreender melhor a

concepção de noção de corporeidade, visto que há uma multiplicidade de pontos

convergentes e divergentes a respeito do tema.

Também, será realizada uma pesquisa de campo, através de

questionários aplicados a 14 professores, distribuídos em cinco escolas da rede

pública de Belo Horizonte.

Estruturamos nosso trabalho a partir dos tópicos seguintes:

8

i) Capítulo 1 – Corporeidade e Cultura corporal do movimento que trata

da importância do corpo para o desenvolvimento da formação integral

do ser humano;

ii) Capítulo 2 – Corporeidade e Cognição, no qual discorreremos sobre

relevância do corpo para o desenvolvimento cognitivo, e

conseqüentemente para o processo ensino-aprendizado;

iii) Capítulo 3 – Metodologia da Pesquisa e Considerações finais.

9

1 CORPOREIDADE, CULTURA CORPORAL DO MOVIMENTO E IMAGEM CORPORAL

Na contemporaneidade, os estudos propõem um redimensionamento na

concepção de Educação Física que nos leva a repensar seus objetivos na escola,

com a correspondente transformação de sua prática pedagógica. Segundo Brasil

(2000), a Educação Física deve assumir a responsabilidade de formar um cidadão

capaz de posicionar-se criticamente diante das novas formas da cultura corporal

de movimento ─ o esporte-espetáculo dos meios de comunicação, as atividades

de academia, as práticas alternativas entre outros. Entretanto, é preciso ter claro

que a Escola brasileira, mesmo que quisesse, não poderia equiparar-se em

estrutura e funcionamento às academias e clubes, mesmo porque é outra a sua

função.

Libâneo (1994, p. 36) afirma que:

A tarefa principal do professor é garantir a unidade didática entre o ensino e aprendizagem, através do processo de ensino. Ensino e aprendizagem são duas facetas de um mesmo processo. O professor planeja, dirige, e controla o processo de ensino, tendo em vista estimular e suscitar a atividade própria dos alunos para aprendizagem.

Ao se reconhecer a importância do comportamento motor no

desenvolvimento da pessoa como forma de utilização e domínio do corpo e como

base para o conhecimento do mundo real e para a construção da personalidade,

surge a necessidade de sistematizar sua educação nos programas escolares,

10

pois a escola não pode negar como fato histórico a corporeidade humana, a

infinidade de gestos, expressões e movimentos que os seres humanos foram e

são capazes de realizar através de jogos, brincadeiras, danças, esportes, lutas,

diferentes formas de ginástica. Isso implica a necessidade de desenvolver uma

concepção de Educação Física na qual a atividade intelectual e a atividade

motora, ao invés de se confrontarem, devem-se harmonizar de forma a melhor

integrar o ser humano no seu relacionamento: eu, o outro, os objetos e o mundo.

Vaz (1996) entende que, a princípio, a Educação Física e sua finalidade

no contexto escolar relacionam-se ao conceito de cultura corporal de movimento.

Propõem-se conteúdos, metodologias e estratégias adequados aos diferentes

níveis de ensino. Torna-se evidente a necessidade de a Educação Física estreitar

as relações entre teoria e prática e inovar pedagogicamente, a fim de seguir

contribuindo para a formação integral das crianças e jovens e para a apropriação

crítica da cultura corporal de movimento. Para Antunes (2002), os gestos e os

cuidados com o corpo podem e devem ser temas nas diferentes práticas

educativas propostas nos currículos e viabilizados pela Educação Física e por

diferentes disciplinas.

O corpo traz marcas sociais e históricas, tais como questões culturais2,

religiosas, de gênero, de diversidades inerentes ao ser humano. Por que não

incluir nessa agenda, para além do controle dos domínios de comportamentos

observáveis, a questão dos afetos e desafetos, dos nossos temores, da auto-

estima, por exemplo? Como salienta Freire (1999), são situações significativas

2 Por exemplo, os tabus e a educação familiar tradicional que podem limitar a exposição corporal.

11 que atravessam o corpo, que envolvem o psicológico, que nos revelam e que nos

escondem.

Mattos (1999) também argumenta que não se pode dizer em incluir o corpo

na educação, pois ele por si só já está incluso na educação. Entretanto, pensar o

lugar do corpo na educação significa destacar o desafio de o educando se

perceber como ser corporal.

A imagem corporal, por sua vez, radica nas impressões resultantes das

relações de prazer e desprazer estabelecidas entre a pessoa e seus pares,

sobretudo na infância, que lhe dispensam cuidados básicos cotidianamente.

Segundo Ledoux (1991, p. 84-5):

A imagem inconsciente do corpo não é o corpo fantasiado, mas um lugar inconsciente de emissão e recepção das emoções, inicialmente focalizado nas zonas erógenas de prazer. Ela se tece em torno do prazer e do desprazer de algumas zonas erógenas. (...) trata-se de uma memória inconsciente da vivência relacional, de uma encarnação do Eu em crescimento (...) a imagem do corpo, individual, está ligada à história pessoal, a uma relação libidinal marcada por sensações erógenas eletivas. Como vestígio estrutural da história emocional, e não como prolongamento psíquico do esquema corporal, ela se molda como elaboração das emoções precoces com os pais tutelares.

Essencialmente relacional e inconsciente, a estruturação da imagem do

corpo apóia-se na dialética entre o próprio desejo do sujeito e o desejo do outro,

influenciando, diretamente, os modos de relação que o indivíduo vai empreender

com os outros, consigo mesmo e com as coisas.

12

Nesse sentido, Ledoux (1991) também explicita que:

(...) comunicação sensorial (emocional) e a fala do outro aparecem como dois substratos dessa imagem do corpo. A simples experiência sensorial (corpo a corpo), sem um mediador humano, só instrui o esquema corporal 3e não estrutura a imagem do corpo. (...) viver num esquema corporal, sem imagem do corpo, equivale ao ‘viver mudo’, solitário.

Essa citação evidencia a estreita relação entre esquema e imagem

corporal, bem como concebe essas categorias determinadas pelas relações

humanas, nas quais o corpo e a linguagem constituem-se como elementos

fundantes das relações e da estruturação do sujeito. Segundo estudos recentes,

tais formulações no campo da Psicomotricidade vêm justificando uma

diferenciação no modo de apropriação da força produtiva do trabalhador, visto

que a economia do movimento, relativa ao esquema corporal, adiciona-se, pelas

sistematizações a respeito da imagem corporal, um novo elemento – a economia

do desejo.

Como nos mostra PICQ-VAYER (1969), o Esquema Corporal foi concebido

como dimensão do corpo, organizadora das experiências dos seres humanos no

tempo e no espaço presentes. As técnicas que dele se ocupam procuraram

priorizar o desenvolvimento da percepção e do controle do próprio corpo, ou seja,

a interiorização das sensações relativas a uma outra parte do corpo e da

3 Esquema corporal é a consciência do corpo como meio de comunicação consigo mesmo e com o meio. Um bom desenvolvimento do esquema corporal pressupõe uma boa evolução da motricidade, das percepções espaciais e temporais, e da afetividade.

13 globalidade de si mesmo; a apropriação de um equilíbrio postural; de uma

lateralidade bem definida e afirmada; de uma independência dos diferentes

segmentos do corpo em relação ao tronco e entre eles; um domínio das pulsões e

inibições estreitamente ligadas aos elementos precedentes e ao domínio da

respiração.

A percepção do corpo, conforme Merleau-Ponty (1999, p. 519) constitui-se

da interação entre o sujeito, o objeto, o ambiente, a experiência e a cultura vividos

que fazem com que o indivíduo entenda que há uma dependência entre seu corpo

e seu entorno. Todos os processos de percepção e cognição acontecem no

corpo, no cérebro e na mente. Assim sendo, a atividade corporal é indispensável

para o desenvolvimento cognitivo e para o exercício da cidadania.

A Educação Física pode capacitar o indivíduo a desenvolver funções

relacionadas com o corpo. Ela não desenvolve apenas as habilidades físico-

corporais, mas também orienta o aluno a sentir sua corporeidade pela sua

vivência, estabelece-se, assim, um elo de ligação entre o movimento e a

aprendizagem. É o que pretendemos discutir no próximo capítulo.

14 2 CORPOREIDADE E COGNIÇÃO

A corporeidade faz emergir a cognição que se expressa na compreensão e

percepção do movimento corporal. Os indivíduos são seres corporais, isto é,

corpos em movimento. O movimento modifica as sensações, a mente e o corpo

na medida em que o sujeito exercita o corpo e adquire uma performance

estrutural que trabalha sua auto-estima. A cognição é inseparável do corpo que é

uma relação do eu com o mundo, dando ao indivíduo a capacidade de entender e

perceber as relações de seu corpo e sua mente com o mundo. Nesse sentido,

Varela et al (1996, p. 149) ressalta:

Essas capacidades são originadas na estrutura biológica do corpo, vividas e experenciadas no domínio consensual e em ações da história e da cultura. A mente não é uma entidade “des-situada”, desencarnada ou um computador, também a mente não está em alguma parte do corpo, ela é o próprio corpo. Essa unidade implica que as tradicionais concepções representacionistas se enganam ao colocar a mente como uma entidade interior, haja vista que a estrutura mental é inseparável da estrutura do corpo.

Portanto um professor de Educação Física deve ser capaz de entender e

conduzir de forma científica o processo de ensino, tarefa de difícil resolução em

função de exigir a integração de variadas áreas de conhecimento, e não apenas

de sua assimilação. Assim, na construção de suas diretrizes didático-pedagógicas

específicas, o profissional da Educação Física precisa ter em mente que seu

trabalho envolve aspectos diversos da personalidade humana, entendida como

fruto da interação dos elementos corpóreos, intelectuais e emocionais.

Obviamente, isso poderá se refletir nas suas necessidades didáticas e

15

metodológicas. Nas suas demandas em relação às aplicações de um corpo

teórico. Nesse sentido, podem-se trabalhar esportes, danças, jogos e brincadeiras

que dêem ênfase para a corporeidade.

A Educação Física busca desenvolver reflexões pedagógicas a respeito

das formas de representação corporal que os indivíduos têm produzido no

decorrer da história. Essas representações são exteriorizadas pela expressão

corporal como jogos, danças, lutas, exercícios ginásticos, esporte, malabarismo,

contorcionismo4, mímica entre outros. Essas atividades se incluem na cultura

corporal.

As experiências vividas na primeira infância são básicas para o

desenvolvimento social, emocional, intelectual e físico das crianças. Dessas

experiências, ambos ressaltam a importância das percepções táteis, visuais e

motoras, embora apresentem particularidades em suas formulações.

Wallon (1951) coloca a relação corporal afetiva (experiência sócio-afetiva)

no centro do processo de desenvolvimento do caráter e da inteligência da criança.

Propondo uma estreita relação entre tom postural e tom emocional, e

considerando a emoção elemento de ligação entre o orgânico e o social, elabora

uma teoria do desenvolvimento que concebe a criança, desde o seu nascimento,

como um ser em sociedade, em interação com as pessoas que se inserem em

seu contexto. Sendo assim, para esse autor, a estruturação do caráter e da

4 O contorcionismo (ou contorção) é uma forma de representação dramática baseada em flexões invulgares do corpo, impossível para a maioria das pessoas. De uma forma geral, os contorcionistas dispõem de flexibilidade natural invulgar entre os ligamentos e articulações dos ossos, que é explorada mediante o treino ginástico, conforme Wikipédia, consultada em 27 de maio de 2007.

16 inteligência depende, fundamentalmente, das relações estabelecidas entre a

criança e seus pares. Ajuriaguerra (1962), neurologista francês, citado por Le

Camus (1986, p.39), ao comentar as idéias de Wallon a respeito da importância

das relações corporais afetivas para o desenvolvimento infantil diz que:

(...) a constante preocupação de Wallon foi a de destacar a importância da função afetiva primitiva em todos os desenvolvimentos ulteriores do sujeito, fusão expressa através dos fenômenos motores num diálogo que é o prelúdio ao dialogo verbal ulterior e a que chamamos de diálogo Tônico.(...) todos sabem da importância que Wallon concebeu ao fenômeno tônico por excelência que é a função postural de comunicação, essencial para a criança pequena, função de troca por meio da qual a criança dá e recebe. É principalmente aí, em nossa opinião, que a obra de Wallon abre uma perspectiva original e fecunda na Psicologia e na Psicopatologia. A função está essencialmente vinculada à emoção, isto é, à exteriorização da afetividade.

Concebendo o processo de desenvolvimento como descontínuo, Wallon se

contrapõe às teorias elaboradas segundo regras de maturação unívoca e de

encadeamento de operações sucessivas do pensamento. Em suas formulações, o

desenvolvimento advém de um processo de superação, por incorporação, de

antigas altitudes e formas de pensamento, motivadas pelas contradições

presentes nas novas relações que se estabelecem entre a criança e o meio

humano. Neste sentido, pode-se dizer que, para Wallon, o homem é um processo

histórico, precisamente o processo de seus atos, de suas relações.

Conforme podemos acompanhar, Wallon (1951) citado por CABRAL (2000,

p.271) pressupõe a articulação entre o orgânico e o ser psíquico, afirmando não

serem essas dimensões isoladas:

17

Não são duas entidades que se deva estudar separadamente e, depois, colocar em concordância. (...) Um e outro se exprimem simultaneamente em todos os níveis da evolução, pelas ações e reações do sujeito sobre o meio, diante do outro. O meio mais importante para a formação da personalidade não é o meio físico, é o meio social. [...] Sua evolução não é uniforme, mas feita de oposições e identificações. É dialética.

Portanto, para Wallon (1951, apud Le Camus, 1986, p.37):

O esquema corporal não é “um dado inicial, nem uma entidade biológica ou psíquica”, mas uma construção.(...) Estudar a gênese do esquema corporal na criança, é indagar-se como a criança chega “à representação mais ou menos global, específica e diferenciada de seu corpo próprio”. (...) Esta aquisição é importante. É um elemento básico indispensável à construção da personalidade da criança (...) É o resultado e a condição de legítimas relações entre o individuo e seu meio.

Piaget, por sua vez, fundamentou sua teoria numa visão evolutiva.

Diferentemente de Wallon, para o qual o sujeito é antes de tudo um ser social. Ele

parte de um sujeito biológico, uma espécie de organismo rudimentar que, por

meio da experiência, desenvolve-se rumo à socialização.

Pulaski (1983, p.32), com base nos estudos de Piaget, afirma que:

o “bebê”...vem ao mundo equipado com uns poucos reflexos neonatais, como sugar e agarrar, que fazem parte de sua herança biológica. Além desses, seu comportamento consiste em movimentos motores grosseiros, a principio sem coordenação e sem objetivo.

Desse modo, concebe o desenvolvimento como um processo de

equilibração progressiva, que parte de um estado inferior até atingir um estado

mais elevado. Processo auto-regulador, dinâmico e contínuo, a equilibração tem

um papel de promover um balanço entre as funções de assimilação e

18 acomodação que, funcionando simultaneamente em todos os níveis biológicos e

intelectuais, possibilitam o desenvolvimento tanto físico quanto cognitivo da

criança. Essa conceituação baseia-se nos processos adaptativos referidos pela

biologia que, segundo Piaget, constitui o elo comum entre todos os seres vivos.

Esse equilíbrio entre o físico e o cognitivo pode ser notado nos movimentos

corporais que podem denotar muito a respeito do indivíduo. Por isso, faz-se

necessário tratar desse assunto, o que será feito no próximo capítulo.

19

3 O CONHECIMENTO DA CORPOREIDADE COMPREENDIDA NA SUA TOTALIDADE

A revisão bibliográfica realizada nos capítulos anteriores deixa evidente

que o corpo é compreendido não como um amontoado de partes e aparelhos,

mas sim, como uma organização integrada, como um corpo vivo, que interage

com o meio físico e cultural, que sente dor, prazer, alegria, medo entre outros.

Compreender o corpo como totalidade significa conceber o ser humano a

partir da não fragmentação de suas dimensões biológicas, afetivas, cognitivas,

históricas, culturais, estéticas, lúdicas, lingüísticas, dentre outros. Isso significa

que não podemos separar o pensar do sentir, nem do agir.

Nesse sentido, deve-se superar a visão dualista do ser humano, segundo o

filósofo Platão que considera a existência de duas realidades, substancialmente

diferentes do ser: a alma e o corpo. Conforme nos mostra Escobar (2005), o

princípio dualista afirmou falsas idéias para a prática pedagógica a qual define o

homem como totalidade feita de duas partes distintas, de diferentes valores e

qualidade que se expressam em áreas diferenciadas de comportamento afetivo,

cognitivo e motor. Tais idéias criaram problemas tanto para o trato com o

conhecimento, como para a avaliação de desempenho dos alunos. Problemas

relativos à fragmentação do currículo escolar em disciplinas; a valorização do

cognitivo em detrimento das questões afetivas e motoras, bem como a falta de

articulação entre teoria e prática, presentes no cotidiano das escolas.

Além de conhecer o corpo na sua totalidade, é preciso compreender que a

maneira pela qual os sujeitos lidam com o corpo não é universal, mas sim, uma

construção social resultante de significado, é um processo histórico, ou seja, as

concepções que os seres humanos desenvolveram a respeito do corpo e a forma

de comportar-se corporalmente estão relacionados a fatores sociais e culturais. O

corpo não é assim, ele não possui algo “naturalmente”; não é apenas uma

construção pessoal, mas também, sócio-cultural e política. É algo apreendido,

20 construído ao longo da vida, sendo cada vez mais, suporte de signos sociais

contraditórios.

O aluno deve aprender a viver plenamente na corporeidade, de forma

lúdica, exercendo sua cidadania com compreensão política, ética e estética, tendo

em mente a busca constante de uma melhor qualidade de vida, tanto no

individual, como no coletivo. Devemos considerar a corporeidade como elemento

da formação humana, porque é ela que materializa nossa existência no mundo.

3.1 A CORPOREIDADE VISTA EM UMA PERSPECTIVA AMPLA

Os professores de Educação Física precisam construir meios de ensino

que ajudem os alunos a se desenvolverem por meio da vivência plena a

corporeidade, as capacidades de ler, interpretar e produzir diversos textos com

seus corpos, jogando, caminhando, dançando, brincando, entre outros.

Para isso, é preciso, também, observar no cotidiano os diferentes discursos

pronunciados pelos corpos dos alunos, com o intuito de compreender e atender

as demandas específicas e coletivas, tais como, beber água, ir ao banheiro,

movimentar-se, descansar, ser abraçado e outros.

Brasil (2004) entende que o contexto educacional, a linguagem escrita e

oral ainda têm ocupado o centro das intervenções pedagógicas em detrimento de

outras linguagens expressivas do ser humano. A escola precisa levar em

consideração, além da escrita e da oratória, a dramatização, a música, o toque, o

ritmo, a dança, as brincadeiras, o jogo, o esporte, enfim, as numerosas formas de

manifestações do corpo, como expressões legítimas dos nossos alunos. Essas

linguagens devem ser vistas em primeiro plano no projeto político-pedagógico da

escola. Além disso, elas precisam ser trabalhadas com intenção de ampliar as

possibilidades do educando de produzir, expressar e comunicar suas idéias,

interpretar e usufruir das produções culturais, bem como, de movimentar-se e

vivenciar por meio da ludicidade, sua corporeidade.

21 É comum pensar a qualidade de vida apenas na perspectiva da saúde,

entendida como ausência de doença. Entretanto, a qualidade de vida,

considerando a perspectiva do corpo em sua totalidade dimensional, é o estado

de bem-estar geral dos sujeitos.

Assim, falar em qualidade de vida implica pensar, sobretudo, na dignidade

humana, na saúde, como o estado de bem-estar bio-psíquico-social dos sujeitos e

as relações desses sujeitos consigo mesmo, com o outro e com o meio físico,

cultural e social. O que, por sua vez, implica levar em conta diferentes fatores que

atuam nas condições de vida desses indivíduos, como os condicionantes das

dimensões biológicas, psicológicas, sociais, culturais econômicas, ambientais,

dentre outras.

Pensar na qualidade de vida dos sujeitos significa, portanto, pensar nas

possibilidades de superar seus limites, desenvolver suas potencialidades, na

perspectiva de vivência plena de sua corporeidade, que, por sua vez, demanda o

exercício da cidadania na perspectiva da ética e da estética. Então, é preciso

saber como as escolas têm trabalhado a corporeidade nas aulas de Educação

Física. A pesquisa de campo feita nas escolas está descrita no capítulo a seguir.

22 4 METODOLOGIA DA PESQUISA

4.1 DESCRIÇÃO DOS INFORMATIVOS

Foi a partir dessa visão de corporeidade que acabamos de discutir e da

necessidade de superação da visão dualista de Platão que surgiu a idéia de fazer

esse trabalho monográfico sobre o corpo. Além da revisão bibliográfica,

realizamos uma pesquisa de campo com o auxilio de questionários (ver o anexo,

p. 34) respondidos por professores de Educação Física, da Rede Municipal de

Educação de Belo Horizonte. Os dados coletados no questionário são: nome,

tempo de atuação na Rede Municipal, formação e perguntas sobre a

corporeidade: i) o que é corporeidade para você? ii) você trabalha a corporeidade

em suas aulas? Como? iii) você poderia dar exemplos da aprendizagem dos seus

alunos através da vivência da corporeidade?.

Nossa expectativa era de que aparecessem conceitos distintos da

corporeidade, segundo as representações que cada professor tem sobre o tema.

Isso nos levou a fazer o seguinte questionamento: que fatores seriam

responsáveis por essas diferenças? Elas poderiam ser influenciadas pelo tempo

de atuação do professor na escola ou por sua formação, atualização na área de

Educação Física?

4.2 DADOS DA PESQUISA

Obtivemos respostas de 14 professores de Educação Física de algumas escolas

da Rede Municipal de Educação de Belo Horizonte, região do Barreiro . Na

verdade enviamos o questionário a aproximadamente 40 professores, parece-nos

que por motivo de tempo, temor de se expo diante de uma pesquisa ou talvez de

sobrecarga de trabalhos no final de semestre, 36 professores não nos deram

retorno. Os dados coletados estão organizados nos quadros e gráficos a seguir:

23

QUADRO 1

Tempo de Atuação na Rede Municipal

Até 5 anos Entre 5 e 10 anos De 10 a 20 anos Acima de 20 anos

2 1 7 4

Tempo de Atuação na Rede Municipal

14%

7%

50%

29%

Até 5 anos Entre 5 e 10 anos De 10 a 20 anos Acima de 20 anos

QUADRO 2

Formação dos Professores

Sem Formação Específica em

Educação Física

Graduação em Educação Física

Pós-graduação em Educação Física

Mestrado em Educação Física

1 4 7 2

24

Formação dos Professores

31%

54%

15%

Graduação em Educação Física Pós-graduação em Educação FísicaMestrado em Educação Física

QUADRO 3

Conceito de Corporeidade pelos Professores

Corporeidade e Psicomotricidade Cultura Corporal do Movimento

3 11

Associação da Corporeidade pelos Professores

21%

79%

Corporeidade e Psicomotricidade Cultura Corporal do Movimento

777

A maioria dos professores entrevistados trabalha com a Educação Física

por mais de 10 anos. Como se observa, 21% (3) professores apresentam uma

25 concepção de corporeidade associada à psicomotricidade como podemos ver nos

relatos:

“ A corporeidade para mim são sensações relativas ao próprio corpo,

a postura, o movimento.”( entrevistado 7 ).

‘É uma área de estudo da Educação Física e psicologia.“

(entrevistado 2 )

“Eu trabalho a corporeidade com atividades de andar, correr, saltar,

bater palmas. “ (entrevistado 7 )

“ Eu observo muito as habilidades motoras dos educandos. “

(entrevistado 9 )

Esses depoimentos parecem indicar que esses entrevistados valorizam o

conhecimento de origem psicológico e que o aprendizado escolar leva a criança a

tomar consciência do seu corpo, da lateralidade, a situar-se no espaço, a dominar

o tempo, a adquirir habilmente a coordenação motora, como se pode observar no

trecho abaixo, que relata exemplos de aprendizagem dos alunos através da

corporeidade:

“Percepção da lateralidade como o reconhecimento da

aprendizagem de qual era o seu lado direito e o lado esquerdo. (....)

Atividade: para a bola com pé que chuta. Chutar a bola com o pé

que tem menos força. Perceber a diferença da força do chute em

relação perna (...)” (entrevistado 7)

26

As falas desses professores revelam uma abordagem psicomotora. Eles

atuam na Rede Municipal de Educação de Belo Horizonte (RME-BH) a mais 15

anos. Esses relatos sinalizam que os professores apresentam uma formação

acadêmica com uma clara influência do movimento da psicomotricidade que

surge no Brasil, a partir da década de 70 sob a influência do francês Jean Le

Boulch que define o desenvolvimento da criança como um ato de aprender com

os processos cognitivos afetivos e psicomotores.

Por outro lado, a maioria dos professores entrevistados 79% (11 sujeitos),

através de suas respostas, apresentam representações que definem a

corporeidade associada à cultura corporal do movimento. Esses profissionais

apresentam cursos de atualização constituindo-se em pós-graduação e mestrado

em Educação Física. Eles sinalizam um conhecimento de conceitos e de

dinâmicas relativas à cultura corporal do movimento. A seguir relatamos alguns

depoimentos:

“ Eu trabalho corporeidade através da cultura corporal do

movimento. “ ( entrevistados 1, 13 e 14 )

“ Trabalho com o ser humano, aluno e cidadão. “ ( entrevistado 5 )

“ Eu trabalho com jogos coletivos...” ( entrevistado 6 )

“ Eu trabalho a ginástica, a dança, brincadeiras e jogos.” (

entrevistados 3 e 4 )

“ A criação e a recriação de regras . “ ( entrevistado 10 )

27

“ Ofereço reflexão sobre o corpo cultural em construção .” (

entrevistado 11 )

“ Corporeidade são manifestações culturais ...” ( entrevistado 12 )

“Ao trabalhar os temas da cultura corporal do movimento, os alunos

estao aprendendo a se comunicar através do corpo. Atualmente, na

escola em que trabalho estou tendo dificuldades de fazer um

trabalho mais amplo nesse sentido, devido à cultura existente na

escola de desvalorização da Ed. Física e de redução da mesma ao

esporte, principalmente ao futebol.” (entrevistado 13)

Os relatos desse grupo de professores também sinalizam algumas

habilidades que eles pretendem desenvolver em seus alunos através da vivência

do movimento corporal. Vejamos:

“(...) aprendem características históricas e sociais dos esportes e

outras manifestações corporais; (...) organização e participação em

atividades em equipe onde demonstram capacidade de

coletividade.” (entrevistado 1)

“ Quando o aluno respeita as limitações físicas, sociais e culturais de

seus colegas. “ ( entrevistado 8 )

“Os jogos e brincadeiras que motivem os alunos a serem mais

sociais e conhecedores de seus limites.” (entrevistado 4)

28

“ O ser humano sente, pensa e age como um todo indivisível”

(entrevistado 5)

“É muito subjetivo, a avaliação é qualitativa. Os alunos fazem alguns

depoimentos relatando como estabeleceram melhor relação com o

corpo. Como estão se sentindo, corpo, melhora da consciência

corporal”. (entrevistado 11)

“Vou citar um exemplo, que considero interessante. Foi quando

trabalhei na Escola União Comunitária, no Barreiro, os alunos

vivenciaram várias atividades corporais, entre elas jogos, capoeira,

danças, esportes. (...) Na verdade, acredito que o maior exemplo de

corporeidade é levar o aluno a ter consciência do seu corpo. E fazer

com que o aluno não torne cidadão alienado. Trabalhar os esportes

de forma crítica. Fazer os alunos refletirem sobre esta prática

esportiva que é hegemônica nas escolas. (...) ”. (entrevistado 14)

A cultura corporal do movimento refere-se à concepção de Educação

Física crítico-superadora que se opõe ao modelo mecanicista-tradicional. Essa

proposta utiliza o discurso da justiça social, evita o ensino por etapas e adota a

simultaneidade na transição dos conteúdos escolares.

As respostas dadas nos questionários dão indícios de como está sendo

trabalhada a corporeidade nas aulas de Educação Física do Ensino Fundamental

em algumas escolas da Rede Municipal de Educação de Belo Horizonte na

Região do Barreiro.

Esses dados nos levam a postular que é preciso maior aprofundamento

das questões relativas à corporeidade. Como se observou os professores que

associam a corporeidade à cultura do movimento sinalizam um progresso dos

29 seus alunos quanto à melhoria na qualidade de vida; ao exercício da cidadania e

à garantia do direito dos alunos de conhecer e usufruir as práticas corporais

disponíveis na cultura. Indicam também a necessidade de se questionar a

hegemonia de práticas esportivas e de superar a “redução” da Educação Física

ao esporte, “principalmente ao futebol”, como salienta o entrevistado nº 13.

Outros recursos poderiam ter sido utilizados, tais como, gravação das aulas,

entrevista com os educandos para que pudéssemos observar o posicionamento

dos mesmos diante da prática efetiva do professor. Entretanto, o tempo foi pouco

pois, trabalhamos em 2 ou 3 turnos diários e estamos envolvidos nos projetos de

fim de semana, como o “Escola Aberta”. Conseqüentemente, não foi possível

ampliar a pesquisa para todos os sujeitos da escola e aprofundar mais o assunto

proposto, ainda assim, há a disposição de continuar esse trabalho em outras

pesquisas futuramente.

30

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Esse trabalho de pesquisa evidencia a importância de se trabalhar a

corporeidade no processo de desenvolvimento cognitivo do ser humano, a partir

de seus movimentos corporais. Essa prática pode favorecer a interação do

indivíduo com o eu, com os outros e com o mundo, abrangendo o

desenvolvimento físico, psicológico, psicomotor, biológico, pedagógico, cognitivo

entre outros.

Por isso, quando se pensa no aluno dotado de corpo, concebe-se um ser

que brinca, corre, salta, dança, escreve, chora, ri e muitas outras formas de

manifestação que um corpo pode realizar. Logo, ele é movimento em tudo o que

faz, é significante, expressando sentimentos. Seu corpo é ativo no espaço que

ocupa, comunica-se com os corpos ao seu redor, interagindo-se com eles,

buscando novas possibilidades, novos caminhos, por isso esse corpo necessita

estar, ser, sentir e ser sentido.

Dessa forma, o profissional da Educação Física deve-se engajar em uma

pedagogia que esteja associada às novas visões de uma educação através da

corporeidade de seus aprendizes, rompendo com os continuuns tradicionais da

psicomotricidade, enfocando um novo agir pedagógico que por sua vez, está

atrelado à interpenetração dos nexos corporais, das linguagens e dos

comportamentos na vida concreta das pessoas. Isso implica em uma educação

voltada para uma dinâmica prazerosa, possibilitando o vivenciar de um processo

cognitivo, carregado de significado, em que a plasticidade do corpo possa se

manifestar e romper de vez com o dualismo corpo-mente. A construção da

corporeidade só é possível pela estimulação sócio-cultural .

Quanto à discussão dos resultados, convém afirmar que há opiniões

diferentes a respeito do conceito de corporeidade, haja vista o tempo de formação

acadêmica de uma parte dos professores de Educação Física que não se

atualizaram. Também, ficou evidente que alguns profissionais que atuam no 1º e

2º Ciclos de Formação não têm formação específica para trabalhar com a

Educação Física Escolar ou com Corpo e Movimento, área de conhecimento esta,

31 fomentada nos últimos 5 anos pela Rede Municipal de Educação de Belo

Horizonte.

Grande parte dos entrevistados concebe, devido a sua formação

acadêmica, a Corporeidade como uma área do saber que atribui ao corpo uma

capacidade de se inteirar com outros corpos dentro de contextos históricos,

pragmáticos, lingüísticos, físicos, sociológicos, filosóficos dentre outros.

Tal discrepância é bem acentuada, e vem prejudicando as aulas de

Educação Física, visto que diferentes concepções de corporeidade são utilizadas

por esses profissionais, que atuam, às vezes, na mesma instituição. No entanto, é

necessário romper com os paradigmas robotizantes que concebem o homem

como sendo apenas corpo e mente em uma separação estanque. Por sua vez, a

corporeidade deve estar em constante discussão entre os profissionais da

Educação Física no contexto geral do processo de ensino-aprendizagem no

sentido de se construir uma proposta pedagógica para a área de Educação

Física. Isso mostra a importância do corpo como um viés de cidadania, rompendo

com as máximas do provérbio latino, men sana in corpore sano, construindo,

assim um novo perfil de homem.

32

REFERÊNCIAS

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34 ANEXO