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Thiago Rios Gomes
JORNALISMO E ENTRETENIMENTO:
análise de um programa ‘‘Alterosa Esporte’’ da TV Alterosa de 2010
Belo HorizonteCentro Universitário de Belo Horizonte2010
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AGRADECIMENTOS
A Deus.
Em seguida agradeço à minha mãe, Áurea Márcia, pois nem sei o que seria de mim
sem ela sempre ao meu lado e à minha irmã, Carolina Rios, que nunca deixou de
me apoiar.
À minha namorada, Marcella Cardinali, que não poupou esforços para me ajudar a
concluir mais essa etapa de minha vida.
Ao meu pai, que deixou toda a „base‟ pronta para que eu e minha família
pudéssemos continuar a caminhada. Saiba que sempre me lembrarei de você com
muito orgulho e saudade.
Ao professor Edmundo, que tornou possível o desenvolvimento e a apresentação da
monografia, mesmo que eventualmente acreditasse ser difícil isso acontecer.
Professor, eu me esforcei como sugeriu, e acho que consegui.
Aos amigos, em especial ao Alexandre Felipe, Gustavo Bicalho e Pablo Maia, que
souberam lidar com a minha ausência durante o semestre e, mesmo assim,
continuam próximos.
Ao pessoal da MIND, em especial, a Adriana Barbosa, Christian Sanchez e Marcus
Quiroga, que me entenderam e, de alguma forma, também me ajudaram a terminaressa monografia.
Obrigado a todos.
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A maneira de entregar o futebol para a sociedade não é tão difícil,
embora trabalhosa
(SÓCRATES citado por CALDAS, 2000).
O que o espetáculo oferece como perpétuo é fundado na mudança,
e deve mudar com sua base.
O espetáculo é absolutamente dogmático e, ao mesmo tempo,
não pode chegar a nenhum dogma sólido.
Para ele, nada pára.
Este é seu estado natural e, no entanto, o mais contrário à sua propensão
(DEBORD, 2007).
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RESUMO
Este estudo desejou responder quais as estratégias midiáticas utilizadas noprograma „Alterosa Esporte‟, da TV Alterosa, Sistema Brasileiro de Televisão (SBT),no ar há quatro anos com sucesso de público e crítica, ou seja, o que houve pordetrás das câmeras no dia 5 de abril de 2010. Por isso, para analisar como jornalismo e entretenimento se misturaram no programa „Alterosa Esporte‟ após aprimeira partida do campeonato mineiro de 2010, da TV Alterosa, com a presençade representantes dos três principais times mineiros e capitaneados por LeopoldoSiqueira, âncora mediador, tornou-se necessário caracterizar os seguintes objetivossecundários: analisar a linguagem do programa ‘Alterosa Esporte’ : identificar quaisgêneros jornalísticos estiveram presentes no programa; mostrar quais elementos jornalísticos, critérios de noticibilidade e estratégias de entretenimento utilizados; otempo de duração gasto com informação e o tempo gasto com o entretenimento. Oobjetivo deste trabalho acadêmico foi cumprido de forma diferente como têm sidoabordados os aspectos midiáticos do futebol na TV, e essa foi sua relevância:apresentar uma cultura de massa por detrás das câmeras e suas estratégias deentretenimento e lazer. Na realidade, quando alguém assiste a um programa como oanalisado não pode imaginar o que se passou, ou seja, tudo o que implicou em suaaudiência e sucesso. Como futuro jornalista do segmento esportivo, atividade que sepretende abraçar, entende-se que se pôde dar um panorama geral no que se refereao futebol na mídia televisiva. Como as mídias funcionam segundo uma lógicadupla, ou seja, a econômica, que faz com que o organismo da informação aja comouma empresa; e a simbólica, que busca participar da construção da opinião pública,
concluiu-se ter havido entretenimento e lazer, porque o „jogo da verdade‟ foi bemsucedido e, pelas edições subsequentes do programa, também os patrocinadoresdevem estar satisfeitos.
Palavras-chave: Jornalismo e entretenimento, estratégias midiáticas, debate,futebol na TV.
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SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 9
2 A TV E SUAS ESTRATÉGIAS ............................................................................... 142.1 Gênero de informação midiática .......................................................................... 142.2 A tipologia da informação midiática ..................................................................... 152.3 O contrato da comunicação ................................................................................. 172.3.1 Os dados externos ........................................................................................... 172.3.2 Os dados internos ............................................................................................ 192.4 A identidade das instâncias de informação ......................................................... 202.5 A finalidade do contrato de comunicação ............................................................ 212.5.1 Visada de informação ....................................................................................... 212.5.2 Visada da captação .......................................................................................... 232.6 Os dispositivos de encenação ............................................................................. 242.6.1 Televisão, um dispositivo visual ....................................................................... 25
3 O FUTEBOL E A TELEVISÃO: UMA PARCERIA QUE DEU CERTO.................... 273.1 O futebol brasileiro e suas particularidades ......................................................... 273.2 As mídias e o futebol ........................................................................................... 323.3 A relevância do futebol na vida social brasileira .................................................. 34
3.4 O jornalismo esportivo na televisão ..................................................................... 373.5 Cultura de massa: TV e futebol ........................................................................... 423.6 História: TV e futebol no Brasil ............................................................................ 45
4 METODOLOGIA ..................................................................................................... 504.1 Tipo do estudo e percurso metodológico ............................................................. 504.2 Caracterização do programa „Alterosa Esporte‟ .................................................. 514.2.1 A „bancada democrática‟ .................................................................................. 514.2.2 Os componentes da bancada ........................................................................... 524.2.3 O apresentador................................................................................................. 534.2.4 O cenário do programa „Alterosa Esporte‟........................................................ 53
4.2.5 Figurinos ........................................................................................................... 54
5 ANÁLISE DO PROGRAMA „ALTEROSA ESPORTE‟ DO DIA 05 DE ABRIL DE 2010 .................................................................................................................. 55
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................... 62
REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 66
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1 INTRODUÇÃO
Abordar mídias, o entretenimento e tentar analisar o discurso da informação na TV
não são tarefa fácil. Conforme Charaudeau (2009, p. 21), as mídias funcionam
segundo uma lógica dupla: a econômica, que faz com que o organismo da
informação aja como uma empresa, e a simbólica, que busca participar da
construção da opinião pública. Com a finalidade de prender o maior número de
espectadores, cada suporte de difusão o faz por meio de suas próprias estratégias,
mas a mais comum é o quadro temporal que define a notícia como „atualidade‟. Esta
noção “é de importância central no contrato midiático, tanto que pode dizer ser ela
quem guia as escolhas temáticas” (CHARAUDEAU, 2009, p. 133).
Por ter se tornado, ao longo do tempo, um produto cultural de massa no Brasil, o
futebol, como todo fenômeno social de grande alcance, tem sido sistematicamente
tema de debates em todos os veículos de comunicação (CALDAS, 2000, p. 105).
O caráter de entretenimento do futebol influenciou para que o SBT, através da TV
Alterosa, formatasse um programa que mesclasse humor, interatividade com o
telespectador e informação. O „Alterosa Esporte‟, exibido de segunda a sexta feira
às 12h15, possui um formato que cobre essas exigências do mercado. O
apresentador Leopoldo Siqueira comanda uma bancada de três comentaristas que
discutem sobre futebol com muita irreverência e bom humor.
O „Alterosa Esporte‟ tem duração de 35 minutos. O cenário do programa é composto
por uma bancada onde representantes das três principais agremiações mineiras
ocupam seus espaços, e uma grande e moderna televisão de plasma, em que o
apresentador expõe os temas para sua bancada e para os telespectadores. Quando
há convidados, eles ocupam outra bancada, ao lado do apresentador.
Os principais quadros que compõem o programa são os: Gols da Rodada, parte do
„Alterosa Esporte‟ que exibe os gols e os resultados ocorridos nos jogos dosprincipais campeonatos nacionais; Compacto da Rodada , em que são mostrados os
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melhores lances dos três times de mineiros; Gol Contra , em que é feita seleção dos
lances mais esdrúxulos da rodada e os erros de gravação ocorridos durante o
programa, exibidos com bom humor; Invadindo a Área , em que é mostrada a
intimidade dos jogadores de futebol em suas casas ou ambientes íntimos; e o
Marcação Cerrada , no qual é escolhido um jogador, técnico ou componente da
comissão técnica e, durante o jogo, ele é o foco principal. Durante o programa são
lidas mensagens de internautas, realizadas promoções e os intervalos do programa
são exibidos na internet.
O programa „Alterosa Esporte‟ não segue os tradicionais padrões utilizados pelos
demais programas esportivos, como é o caso do „Globo Esporte‟ exibido na RedeGlobo, que tem como objetivo principal a obtenção da notícia, sem se importar muito
com o aspecto „entretenimento‟ do telespectador.
A paixão da população brasileira pelo futebol faz com que a sociedade se torne uma
grande massa, que cada vez mais consome os produtos produzidos pela indústria
cultural. O futebol gera personagens que, através do mercado da indústria cultural,
tornam-se semideuses, ditando tendências e fomentando sonhos na vida da grandemassa. Na partida final da Copa de 2002, realizada simultaneamente na Coréia do
Sul e no Japão, contra a Alemanha, o atacante Ronaldo Nazário, popularmente
conhecido por „Fenômeno‟, raspou a cabeça deixando apenas um resto de cabelo
na parte da frente, lançando, assim, um corte que foi copiado por muitos brasileiros,
principalmente crianças.
As emissoras de televisão aproveitam os fatos ocorridos durante os jogos paramontar seus programas. O formato desses programas pode ser apenas de caráter
informativo ou conduzido através de mesas redondas, em que participam jornalistas,
comentaristas, jogadores e técnicos de futebol discutindo sobre os jogos, como
fazem vários programas da TV por assinatura, o „Meio de Campo‟ (TV Minas), „Bola
na Rede‟ (Rede TV) e o „Terceiro Tempo‟ (TV Bandeirantes), todos exibidos aos
domingos após as rodadas dos campeonatos futebolísticos.
Coberturas esportivas exigem dos jornalistas criatividade e uma constante busca por
novidades e inovações durante a realização dos programas. O caráter do
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entretenimento faz parte do conjunto esportivo, e a imprensa não poderia trilhar
caminho diferente. Devido a essa maior liberdade, os programas sobre futebol
podem possuir um formato menos formal que a de telejornais.
Para Débord (2007), a comunicação da atualidade tem se baseado no espetáculo.
Sob todas as suas formas particulares, informação ou propaganda, publicidade ou
consumo direto de divertimentos, o espetáculo constitui o modelo presente da vida
socialmente dominante. Não se pode opor abstratamente o espetáculo e a atividade
social efetiva. O espetáculo que inverte o real é, efetivamente, produzido pela mídia.
Ao mesmo tempo, a realidade vivida é materialmente invadida pela contemplação do
espetáculo, e retoma, em si própria, a ordem espetacular, dando-lhe uma adesãopositiva. A mídia busca o domínio da audiência e a satisfação dos patrocinadores.
José Arbex (2002, p. 53), autor do livro Showrnalismo , não aprova o modelo de
como essa miscelânea vem sendo executada, caracterizando-o como “o
enfraquecimento ou total apagamento da fronteira entre o real e o fictício”.
Entretanto, não se pode partir apenas do pressuposto que apenas informações dos
noticiários clássicos sejam absorvidas. Descartar o que as pessoas assimilamdurante seus momentos de lazer e diversão indicaria que as informações
transmitidas nesses momentos não teriam conseqüências significativas para a
sociedade em que elas baseiam e atuam.
O „Alterosa Esporte‟ está inserido na discussão entre jornalismo e entretenimento.
Pretendeu-se neste trabalho responder a um aspecto que não tem se inserido em
artigos publicados nem em muitos trabalhos acadêmicos: a análise entre diversão,entretenimento e informação jornalística propriamente dita, ou seja, se a utilização
dos elementos de entretenimento/informação/debate é possível e até que ponto
esses dois elementos podem caminhar juntos.
Em outras palavras, este estudo deseja responder: como jornalismo e
entretenimento se fundem durante o programa „Alterosa Esporte‟, da TV Alterosa,
Sistema Brasileiro de Televisão (SBT)?
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2 A TV E SUAS ESTRATÉGIAS
Definiu-se como autor principal neste capítulo de fundamentação teórica Patrick
Charaudeau (2009) em sua obra „Discurso das mídias‟. O autor faz relevantes
análises sobre as estratégias midiáticas para a obtenção de maior número de
espectadores, principalmente em um debate sobre a realidade, neste caso a análise
de um jogo de futebol importante para os aficionados desse esporte.
2.1 Gênero de informação midiática
O gênero de informação midiática pode ser definido conforme o resultado do
cruzamento entre um tipo de instância enunciativa, um de modo discursivo, um de
conteúdo e um de dispositivo (CHARAUDEAU, 2009, p. 206-207):
- O tipo de instância enunciativa se caracteriza pela origem do sujeito falante e
seu grau de implicação. A origem pode estar na própria mídia (um jornalista) ou fora
da mídia (um especialista ou uma personalidade convidada a falar);
- O tipo de modo discursivo transforma o acontecimento midiático em notícia,
atribuindo-lhe propriedades que dependem do tratamento geral da informação. Os
modos discursivos se organizam em torno de três categorias de base, e isso permite
distinguir a „reportagem‟ (acontecimento relatado); o „editorial‟ (acontecimento
comentado) e o „debate‟ (acontecimento provocado);
-
O tipo do conteúdo temático constitui o domínio abordado pela notícia, e issopermite fazer uma distinção nem sempre clara nas mídias , a „seção‟ e a „rubrica‟. A
seção significa um acontecimento em macrotemas, no caso deste estudo o esporte
do futebol; a rubrica corresponde à combinação de um modo discursivo com um
tema particular, que se situa no interior de uma seção, ou seja, um programa da TV
Alterosa em determinado dia;
- O tipo de dispositivo, por sua materialidade, traz especificações para o texto e
diferencia os gêneros de acordo com o suporte midiático, o que permite distinguir
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uma entrevista radiofônica de uma entrevista televisionada, e suas múltiplas
incidências nos papeis desempenhados por entrevistador e entrevistados.
2.2 A tipologia da informação midiática
“Tipologia é o resultado de uma determinada classificação de gêneros”
(CHARAUDEAU, 2009, p. 208). Para construir uma tipologia, torna-se necessário
escolher alguma variável para a obtenção de um modelo proposto. A sugestão do
autor é a construção de uma tipologia de base e, em seguida, construindo-se outras
variáveis no interior dos eixos base, fundamentam-se tipologias sucessivas, que se
encaixam no modelo de base. A Figura 1 demonstra essa tipologização de gêneros:
Instância interna(+ engajada)
EditorialCrônica
(cinema, livro)Títulos e
composição
Comentário – análise de jornalistas
especializados
Reportagem Entrevista -Debate
Investigação(- engajada)
AR AC AP(- engajada)
Notas-boxes(despachos)
Análises de
especialistasexterioresTribuna – opiniãoTribuna - política
Instância externa(+ engajada)
Legenda:AR = acontecimento relatado; AC = acontecimento comentado; AP = acontecimento provocado.
Figura 1 – Tipologia dos textos de informação midiáticaFonte: CHARAUDEAU, 2009, p. 208.
O eixo horizontal da Figura 1 não é graduado entre dois polos opostos, mas trata-se
do eixo no qual se situam os modos discursivos em três grandes zonas: numa
extremidade, o „acontecimento relatado‟, zona na qual se impõe o acontecimento
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exterior; na extremidade oposta, o „acontecimento provocado‟, zona na qual se
impõe o mundo midiático; entre as duas, o „acontecimento comentado‟, pois este
pode abarcar os outros dois.
O eixo vertical da Figura 1 opõe duas zonas de instância do discurso midiático, de
acordo com as intervenções que partem de jornalistas ou de pessoas exteriores ao
organismo de informação. Em cada uma dessas zonas se inscreve um eixo
graduado que representa o grau de engajamento, maior ou menor, da instância da
enunciação. “Entende-se por engajamento o fato de o enunciador manifestar mais
ou menos sua própria opinião ou suas próprias apreciações na análise que propõe,
ou na maneira de encenar o acontecimento” (CHARAUDEAU, 2009, p. 209) (comonos debates, caso deste trabalho).
Na zona superior, há o „editorial‟ e a „crônica‟, que se incluem na categor ia
„acontecimento comentado‟. „Títulos‟, „composição de primeira página‟ e „perfil‟
encontram-se na zona de „acontecimento relatado‟, mas integrando elementos de
comentário mais ou menos explícitos, daí porque se acham entre AR e AC, com um
grau médio de engajamento. Os „comentários‟ e análises de especialistas jornalistasse situam no meio do eixo horizontal porque se incluem na categoria de
„acontecimento comentado‟, e estão colocados em uma altura média porque,
embora os jornalistas sejam especialistas, nos programas são analistas engajados.
A „reportagem‟ está mais alinhada com „acontecimento relatado‟ e a „investigação
(ou pesquisa)‟ está mais orientada para uma problemática e, por isso, mais próxima
do „acontecimento comentado‟. Não é fácil estabelecer distinção quanto ao grau deengajamento, que depende do modo da presença do jornalista em sua enunciação.
A posição do gênero „entrevista-debate‟ se justifica pelo fato de que a instância
midiática quem monta todas as peças do acontecimento pela exibição espetacular
da palavra, mesmo quando essa instância deva, obrigatoriamente, fazer o jogo da
transparência (CHARAUDEAU, 2009, p. 210).
Na zona inferior da Figura 1, há os „especialistas-analistas‟, geralmente especialistas
das ciências humanas e sociais ou técnicos em um domínio particular, daí seu
menor engajamento. Nas „tribunas de opinião‟, em contraste, os que fazem
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intervenções são especialistas exteriores à instância midiática, engajados em suas
declarações: comentam o acontecimento e, muitas vezes, ao fazê-lo, o provocam.
O debate, objeto de análise deste estudo, é uma forma que reúne uma série de
convidados em torno de um animador, para tratar de um determinado tema. Isso é
completa e totalmente organizado e gerenciado pela instância midiática. Desse
ponto de vista, ele está situado na parte superior (instância interna) direita
(acontecimento provocado) dos eixos de tipologização (FIG. 1).
A televisão conferiu ao debate o que ele não possuía na escrita, ou seja, a
alternância de réplicas diretas e regulação das intervenções por encenaçõesdiversas, “oferecendo em espetáculo uma democracia midiática” (CHARAUDEAU,
2009, p. 210).
2.3 O contrato da comunicação
Como preleciona Bourdieu (1996, p. 95), a eficácia simbólica das palavras só se
exerce na medida em que aquele que a experimenta reconhece aquele que a exercecomo no direito de exercê-la.
Para a construção de seu interesse social, todo discurso depende das condições
específicas de sua situação de troca. O reconhecimento necessário e recíproco das
restrições da atuação pelos parceiros da troca de linguagem indica que eles estão
ligados por uma espécie de „acordo prévio‟ sobre os dados desse quadro de
referência. Em outras palavras, um contrato de comunicação, que resulta dascaracterísticas próprias da situação de troca, os „dados externos‟, e das
características discursivas decorrentes, os „dados internos‟ (CHARAUDEAU, 2009,
p. 67-71).
2.3.1 Os dados externos
Estes podem ser agrupados em quatro categorias, em que cada uma corresponde a
um tipo de condição de enunciação da produção da linguagem:
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- Condição de identidade – o ato da linguagem é intersubjetivo, e a identidade
dos parceiros engajados na troca é a condição que requer que todo ato de
linguagem dependa dos sujeitos envolvidos. A convergência dos traços identitários
que interferem no ato de comunicação devem levar em conta a pertinência com a
situação do momento;
- Condição de finalidade – requer que todo ato de linguagem seja ordenado em
função de um objetivo, e se define por meio da expectativa do sentido em que se
baseia a troca. Assim, da parte de cada um, se faz com que o outro seja incorporado
à sua própria intencionalidade. A resposta á essa influência se dá em termos de
„visadas‟ operatórias:
• Prescritiva – consiste em querer levar o outro a agir de uma
determinada maneira;
• Informativa – consiste em querer transmitir um saber a quem se
presume não possuí-lo;
• Incitativa – consiste em querer levar o outro a pensar que o que está
sendo dito é verdadeiro (ou possivelmente verdadeiro); e
• Visada do páthos 1 - que consiste em provocar no outro um estadoemocional agradável ou desagradável;
- Condição de propósito – requer que todo ato de comunicação se construa em
torno de um domínio de saber, uma maneira de recortar o mundo em „universos de
discurso tematizados‟. Corresponde ao universo dominante ao qual a troca deve se
reportar, uma espécie de macrotema (no caso deste estudo, o futebol), admitido
antecipadamente por todos os parceiros; e, finalmente, o
- Contrato do dispositivo – requer que o ato de comunicação se construa de
uma maneira particular, segundo as circunstâncias materiais em que se desenvolve.
O dispositivo constitui o quadro tipológico da troca, mais ou menos organizado. Em
certos casos, é objeto de uma montagem cênica pensada de maneira estratégica,
como nas mídias televisuais (debates, emissões de variedades e jogos). O
dispositivo é o que determina variantes de realização no interior de um mesmo
contrato de comunicação (CHARAUDEAU, 2009, p. 67-70).1 Palavra grega que significa paixão, excesso, catástrofe, passagem, passividade, sofrimento eassujeitamento. Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Pathos>. Acesso em 29 maio 2010.
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2.3.2 Os dados internos
Uma vez determinados os dados externos, torna-se necessário definir como devem
ser os comportamentos dos parceiros, suas maneiras de falar, os papéis que devem
assumir, as formas verbais que devem empregar, tudo em função das instruções
contidas nas restrições da situação. Podem ser divididos em três espaços de
comportamentos linguageiros (CHARAUDEAU, 2009, p.70-71):
- Espaço da locução – aquele no qual o sujeito falante deve resolver o
problema da „tomada da palavra‟. Deve justificar sua interferência, impor -se como
sujeito falante e, de algum modo, conquistar seu direito de poder se comunicar;
- Espaço da relação – aquele em o que o sujeito falante, ao construir sua
própria identidade de locutor e a de seu interlocutor, estabelece relações de força ou
de aliança, de exclusão ou inclusão, de agressão ou de conivência com seu
interlocutor;
- Espaço da tematização – no qual é tratado ou organizado o domínio do saber
e o tema da troca, tanto predeterminados por instruções contidas nas restrições
comunicacionais ou introduzidos pelos participantes da troca. O sujeito falante deve
não apenas tomar posição com relação ao tema imposto pelo contrato (aceitando-o,
rejeitando-o, deslocando-o, propondo outro); escolhendo um „modo de intervenção‟
(diretivo, de retomada, de continuidade etc.), mas, também, escolher um „modo de
organização discursivo‟ particular (descritivo, narrativo, argumentativo) para esse
campo temático, em função das instruções contidas nas restrições situacionais.
No ato de comunicação, não há possibilidade de predeterminação. Geralmente, o
sujeito falante estará sempre sobredeterminado pelo contrato de comunicação que
caracteriza cada situação de troca, considerado por Charaudeau (2009, p. 71) como
a “condição de socialidade do ato de linguagem e da construção de sentido”.
Entretanto, apenas em parte isso acontece, porque o sujeito falante dispõe de uma
margem que lhe permite realizar seu projeto de fala pessoal, ou seja, conforme suas
próprias habilidades e modos de expressão.
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Sintetizando, contrato de comunicação e projeto de fala se completam porque
trazem: (1) um quadro de restrições situacionais e discursivas; e (2) se desdobram
num espaço de estratégias, “o que faz com que todo ato de linguagem seja um ato
de liberdade, sem deixar de ser uma liberdade vigiada” (CHARAUDEAU, 2009, p.
71).
2.4 A identidade das instâncias de informação
Como em todo ato de comunicação, a comunicação midiática possui duas
instâncias: uma de produção e outra de recepção. A primeira possui um duplo papel:
de fornecedor de informação (deve saber fazer) e de propulsor do desejo deconsumir as informações (deve captar seu público). A instância de recepção deve
manifestar seu interesse e/ou prazer em consumir tais informações (ou mais
informações correlatas) (CHARAUDEAU, 2009, p. 72-85).
Entretanto, na realidade, não se trata somente de transmitir saber, mas de se
confrontar com os acontecimentos que se produzem no mundo ou inteirar-se de sua
existência, e de construir, a esse respeito, certo saber. Isso funciona, por um lado,em um tratamento que depende da maneira pela qual se constroem as
representações sobre o público; e por outro, porque o público não se deixa atrair
nem seduzir com facilidade, pois segue seus próprios movimentos de idéias.
Dessa maneira, a instância de produção deve ser considerada ora como
organizadora de um conjunto de sistemas de produção, num lugar externo, ora como
organizadora da enunciação discursiva da informação. A instância da recepçãotambém deve ser desdobrada: de um ponto de vista interno à instância midiática, e é
designada como „instância-alvo‟; e um ponto de vista externo, como instância de
recepção propriamente dita, com uma instância própria de consumo, ou seja,
„instância público‟.
Por conseqüência, devem ser considerados tanto os discursos de justificativa,
produzidos pelos profissionais das mídias sobre „seu modo de fazer‟ quanto às
características do funcionamento da máquina midiática em si.
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2.5 A finalidade do contrato de comunicação
A informação midiática sempre é minada por contradições: (a) precisa do maior
número de cidadãos à busca de suas informações; (b) nem todos se encontram nas
mesmas condições de acesso; (c) é necessário que a informação seja digna de fé,
mas suas fontes são diversas e podem gerar uma tomada de posição parcial; (d)
além disso, a maneira de relatá-la pode satisfazer a um princípio de dramatização
que nem a todos agrada; (e) é necessário que os cidadãos possam se expressar,
dar sua opinião, mas a mídia só se interessa que essa opinião se torne pública
quando essa palavra anônima se integre em uma encenação que dramatize.
Para Charaudeau (2009, p.86-93), a finalidade do contrato de comunicação midiática
se acha numa tensão entre duas visadas: (1) a de „fazer saber‟ ou visada de
informação propriamente dita, que tende a produzir um objeto de saber segundo
uma lógica cívica: informar o cidadão; e (2) a visada do „fazer sentir‟ ou visada de
captação, que tende a produzir um objeto de consumo segundo uma lógica
comercial: captar as massas para sobreviver à concorrência.
A visada de captação diz respeito, primordialmente, à finalidade do contrato
publicitário, e a visada de informação é domínio do contrato de informação midiática.
Embora possa parecer que o contrato de informação midiática também procure
„fazer sentir‟ ou „seduzir‟, isso não seria aceitável sob o ângulo das representações
sociais, porque “o jogo de mascaramento de uma visada pela outra é inverso nos
dois contratos, cada um deles tira sua legitimidade da visada oposta: o contrato
midiático da visada de informação, o publicitário da visada de captação”(CHARAUDEAU, 2009, p. 87).
2.5.1 Visada de informação
A instância midiática faz saber ao cidadão o que aconteceu ou o que está
acontecendo no mundo da vida social, e o faz de duas formas: pela „descrição -
narração‟ e pela „explicação‟. Em ambos os casos, coloca-se um problema de
relação com a verdade.
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„Dizer o exato‟ é uma das responsabilidades da instância midiática, que deve
„autenticar‟ os fatos, descrevê-los de forma verossímil, sugerir suas causas e
justificar as explicações dadas. “A autenticação nas mídias é a prova pelo „visto-dito-
ouvido‟, ou deve atestar „o que é‟, mesmo quando se trata do inominável”
(CHARAUDEAU, 2009, p. 89).
„Dizer o que aconteceu‟ significa que não há coincidência temporal entre o dito e o
fato, e que o relato instaurado só pode ser o de uma „reconstituição‟. Por este
motivo, o problema que se coloca é o da veracidade da reconstituição, ou seja,
tentar fazer crer que o relato corresponde à reconstituição mais provável. Nas
mídias, os meios utilizados são a imagem, os testemunhos e a tecnologia, quepermitem reconstituir os fatos, permitindo a expressão „foi assim que aconteceu‟ e,
dessa forma, poder revelar até intenções ocultas de outras informações, convocando
a credibilidade para si.
“Dizer a intenção‟ é dizer o que foi pensado, em uma relação de transparência. Nas
mídias, os procedimentos que permitem provocar revelações são as entrevistas, os
bate-papos e os debates, acompanhados de investigações e pesquisas.
„Fornecer a prova‟ implica em demonstrar a inteligibilidade dos fatos, permitindo o
acesso do público-alvo à verdade, fundamentando a validade das explicações. Nas
mídias, os procedimentos dependem da „demonstração‟, cujos meios são diversos:
uns são obtidos pela análise (apelando para provas técnicas ou científicas), outros
por meio de uma investigação, e outros ainda através unicamente do poder
demonstrativo da imagem, em sua função de visualização do que não se viu quandoaconteceu.
Sintetizando esse jogo da verdade das mídias, que correspondem aos imaginários
sociais que as questionam, pode-se afirmar que: „dizer o exato‟ significa dar a
impressão de controlar o mundo no momento em que surge o fato, pois a verdade é
capturada; „dizer o que aconteceu‟ é construir a memória das pessoas e permitir a
elas se apropriarem do passado, que sempre foge; „revelar a intenção oculta‟
equivale a triunfar sobre forças do poder que se apóiam no segredo e na mentira,
como nas entrevistas e nos debates políticos; ou então a triunfar sobre enigmas
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constituídos pelo conhecimento do homem, como pode ser observado em alguns
talk shows ; „fornecer as provas das explicações‟ significa manifestar o triunfo da
razão, o poder da inteligência humana e a dominação do pensamento sobre a
matéria, sem a qual a descrição dos fatos não teria qualquer utilidade.
Pelo acima exposto, entre fatos e comentários, pode-se afirmar que “um não existe
sem o outro, pois o que justifica que se fale dos fatos é que se faça um comentário a
respeito” (CHARAUDEAU, 2009, p. 91).
2.5.2 Visada de captação
Toda visada de captação está orientada para o parceiro da troca, alguém não
natural (instituído como destinatário de uma mensagem); um parceiro não passivo
(porque possui duas próprias faculdades de interpretação); e não ter sido
conquistado antecipadamente pelo interesse que a mensagem pudesse ter
despertado (é necessário persuadi-lo, seduzi-lo).
Na mídia, é necessário mostrar-se credível, deve sê-lo para a maioria do público e,por isso, por uma dupla razão: pelo fato de estar em concorrência com os demais
organismos de informação, o que a coloca num campo de luta comercial por sua
própria sobrevivência econômica, e porque, em nome da posição que ocupa
institucionalmente no espaço público, tem como dever informar o mais corretamente
possível. Entretanto, “quanto maior for o número a atingir, principalmente quando
não cativos a priori , menos os meios para atingi-los dependem de uma atitude
racionalizante” (CHARADEAU, 2009, p. 91).
Assim, a instância midiática acha-se submetida a duas exigências: emocionar seu
público e mobilizar sua afetividade, a fim de desencadear o interesse pela paixão
pela informação que lhe é transmitida. O efeito produzido por essa visada encontra-
se no extremo oposto ao efeito da racionalidade que deveria direcionar a visada da
informação, e daí decorre a tensão já mencionada na introdução deste item 2.5.
Para satisfazer seu princípio da emoção, a mídia deve proceder a uma encenação
sutil do discurso da informação, baseando-se, ao mesmo tempo, nos apelos
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emocionais que prevalecem em cada comunidade sociocultural e no conhecimento
dos universos de crenças que ali circulam. Por isso, o contrato da informação
midiática é, em seu fundamento, marcado pela contradição: finalidade de saber
fazer, que
[...] deve buscar um grau zero de espetacularização da informação parasatisfazer o princípio de seriedade ao produzir efeitos de credibilidade;finalidade de fazer sentir, que deve fazer escolhas estratégicas apropriadasà encenação da informação para satisfazer o princípio de emoção aoproduzir o efeito da dramatização (CHARAUDEAU, 2009, p. 92).
Na tensão entre os pólos de credibilidade e de captação, quanto mais as mídias
tendem para o primeiro, cujas exigências são as da austeridade racionalizante,
menos tocam o grande público; quanto mais tendem para a captação, cujas
exigências são as da imaginação dramatizante, menos credíveis serão.
No aspecto da „objetividade da informação‟, em que algumas instâncias midiáticas
tentam se firmar, Charaudeau (2009, p. 93, nota 14) comenta ser isso uma falácia,
que essa questão não procede, e não por razões éticas, mas porque essa dupla
finalidade já está inscrita no próprio contrato da informação. Complementa afirmando
que uma mídia que apenas satisfizesse ao rigor sóbrio do „fazer‟ saber estariacondenada a desaparecer.
2.6 Os dispositivos de encenação
Estes representam uma maneira de pensar a articulação entre vários elementos que
formam um conjunto estruturado, pela solidariedade combinatória que os liga. Assim
Charaudeau (2009, p. 104) define os dispositivos de encenação, informando seremeles de “ordem material, bem localizados agenciados e repartidos segundo uma
rede conceitual mais ou menos complexa”. Por isso formatam a mensagem e, com
isso, contribuem para lhes conferir um sentido.
No „material‟, configura-se o „suporte‟ com o auxílio de uma „tecnologia‟ específica.
No estudo dos dispositivos utilizados pela instância midiática é incluída a natureza
da textura do material: a vibração da voz, o pigmento das cores, a tipografia, etc.“Esses materiais estão organizados em sistemas semiológicos, conjuntos de redes
de significantes que permitem a configuração das unidades do sentido: sistema
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fônico, sistema gráfico; sistema minigestual e sistema icônico” (CHARAUDEAU,
2009, p. 105).
O suporte também é elemento material e funciona como um canal de transmissão, e
ele pode ser fixo ou móvel: pergaminho; papel; madeira, uma parede; ondas
sonoras; uma tela de cinema ou uma tela de vídeo.
A tecnologia é o conjunto de equipamentos, mais ou menos sofisticados, que regula
a relação entre os diferentes elementos do material e do suporte. Ela combina
oralidade, escrituralidade, gestualidade e iconicidade; localiza de certa maneira os
elementos sobre o suporte e chega mesmo a organizar a topologia, ou seja, ordenaro conjunto dos participantes no ato de comunicação, determinar suas possíveis
conexões ou regular uma parte de suas relações (o tipo de disposição espacial pode
facilitar a polêmica ou o consenso).
Na comunicação midiática, esses componentes da tecnologia permitem distinguir os
três grandes „suportes‟ de mídia: rádio, televisão e imprensa escrita. Como este
estudo se refere ao estudo da TV e às suas estratégias no futebol, os demais nãosão abordados.
2.6.1 Televisão, um dispositivo visual
A TV é imagem e fala, fala e imagem e em tal solidariedade que não se pode dizer
de qual das duas depende a estruturação do sentido. Talvez a imagem possa jogar
mais com a representação do „sensível‟, enquanto a palavra usa da „evocação‟ quepassa pelo conceitual, em que cada uma goza de certa autonomia em relação à
outra.
A mídia televisual pode criar a ilusão do contato entre a instância de enunciação e
instância de recepção na representação, pela imagem de uma situação face a face
entre essas suas instâncias: a posição do apresentador, diante da câmera, logo,
diante do telespectador, simula o face a face da situação. Como o rádio, a TV pode
recorrer a estratégias de interatividade (telefone, e-mail, sondagens imediatas, etc.).
Entretanto, sabe-se que essas, na realidade, produzem apenas um simulacro de
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contato, “pois o receptor interveniente é imediatamente „fagocitado‟2 pela encenação
midiática” (CHARAUDEAU, 2009, p. 111).
Apesar disso, há um efeito de contato, pois a TV, ao se utilizar desses
procedimentos, pode criar a ilusão de que representa o mundo dos acontecimentos
tal como ele é: próximo ou distante, o mundo se torna presente; cria a ilusão de
„encarnação‟, que é suscetível de produzir: (1) um efeito de autenticação do
acontecimento; (2) um efeito de fascinação do telespectador; e, ainda, (3) um efeito
de voyeurismo, que pode fazer com que o telespectador tenha a impressão de
penetrar em uma intimidade sem que a pessoa observada tenha essa noção.
Sintetizando, pode-se dizer “que a televisão cumpre um papel social e psíquico de
reconhecimento de si através de um mundo que se fez visível” (CHARAUDEAU,
2009, p. 112). Ou, como Claire Belisle (1984) citada pelo autor, essa semiotização
do real pela imagem em que cada um se projeta no que lhe aparece como um
reflexo de seu ambiente é constitutiva do sujeito.
2 A fagocitose consiste na absorção e na digestão de bactérias e partículas estranhas por qualquercélula com capacidade para ingerir material estranho. Informação disponível em:
<http://www.infopedia.pt/$fagocitose>. No corpo humano, a fagocitose é usada principalmente comomeio de defesa (em alguns casos, como nos protozoários, a fagocitose é usada mais como meio denutrição). Informação disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Fagocitose>. Acesso em 09 jun.2010.
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3 O FUTEBOL E A TELEVISÃO: UMA PARCERIA QUE DEU CERTO
3.1 O futebol Brasileiro e suas particularidades
Ao se referir ao Brasil, todos o associam como o “país do futebol”, vencedor de cinco
Copas do Mundo e que possui uma seleção cheia de atletas que gozam de fama
internacional e que já foram agraciados com o título de melhor jogador do mundo,
como Ronaldinho Gaúcho, jogador do Milan, da Itália, Kaká, atualmente defendendo
o Real Madrid, da Espanha e Ronaldo Nazário, atuando pelo Corinthians, do Brasil.
Mas ao contrário do que muitas pessoas mundo afora pensam, o futebol não foi
inventado no Brasil. O jogo, como é disputado atualmente, apareceu pela primeira
vez na Inglaterra, por volta dos anos de 1830. Foram os ingleses que inventaram as
regras adotadas até os dias atuais, com pequenas alterações. O escritor José
Sebastião Witter, em seu livro Breve história do futebol brasileiro (1996), relata que
essas modificações do esporte no país da rainha Elizabeth foram influenciadas pela
Revolução Industrial que ocorria no país no século XVIII.
Conforme Witter (1996), a primeira vez que os brasileiros tiveram contato com o
futebol foi em 1894, através de um brasileiro, filho de pai escocês e mãe brasileira,
Charles Miller, que trouxe com ele duas bolas usadas; um par de chuteiras; um
manual com as regras do futebol; e uma bomba para encher a bola quando retornou
da Inglaterra após passar algum tempo se dedicando aos estudos.
Witter (1996, p. 12) relata que, no princípio, o futebol era um esporte para pessoas
que possuíam uma situação financeira confortável, e sofreu muitas influências de
estrangeiros que vinham para o Brasil em busca de trabalho. Jogar futebol naquela
época não era barato, já que os materiais, como a bola e as chuteiras, vinham de
fora das fronteiras do país e, por isso, os preços eram bastante elevados. “As
classes privilegiadas e os imigrantes com posses acabaram sendo os primeiros
responsáveis pela consolidação do futebol no Brasil”.
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Roberto Da Matta (1994, p. 11), no artigo Antropologia do Óbvio , considera esse
princípio do futebol no Brasil como um produto que significava o „novo‟. Através do
esporte, a sociedade se modernizaria, constituindo-se “uma atividade destinada a
redimir e modernizar o corpo pelo exercício físico e pela competição, dando-lhe a
higidez necessária à sua sobrevivência num admirável mundo novo”.
Essa face moderna do futebol atiçou o interesse dos ingleses que trabalhavam nas
grandes empresas de São Paulo e exerciam funções de chefia, como a Companhia
de Gás, o Banco de Londres, e os colégios tradicionais que adotaram o futebol como
forma de recreação. Waldenyr Caldas (1994, p. 41), no artigo Aspectos
Sociopolíticos do Futebol brasileiro , aborda as primeiras competições que foramdisputadas em solo brasileiro:
O primeiro “grande” jogo foi realizado em São Paulo, em 1899, na presençade 60 torcedores. Um acontecimento singular. Os adversários eram um timede funcionários da Empresa Nobiling contra os ingleses da Companhia deGás, da São Paulo Railway e do Banco de Londres. O resultado final eraprevisível: 1x0 para os ingleses.
A primeira agremiação futebolística brasileira foi a Associação Atlhética Ponte Preta ,
fundada em 1903 pelos grandes produtores de café da época, de acordo comregistros oficiais da CBF (Confederação Brasileira de Futebol). Waldenyr Caldas fala
do aumento no número de empresas que incentivavam a prática futebolística aos
seus empregados, e enfatiza a criação do The Bangu Athletic Club , na década de
1910, pelo seu protesto contra a situação social para a qual o futebol caminhava. O
The Bangu Athletic Club era um time formado por empregados de baixo escalão da
Companhia Industrial do Brasil (Cia. Progresso), localizada em uma região
conhecida como Bangu, na capital carioca.
Mesmo assim, essa questão mais social seguia padrões bem rígidos. Para
conseguir uma vaga no time, era necessário passar por uma série de testes fora das
quatro linhas. O rendimento profissional, o tempo trabalhado na empresa e o
comportamento individual de cada empregado eram critérios adotados na seleção
dos funcionários que atuariam pelos times das empresas. Aqueles que acumulavam
as funções de jogador e empregado obtinham algumas facilidades, como, porexemplo, sair mais cedo nos dias dedicados a treinamentos. Eles também gozavam
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de certo status , pois a Companhia Industrial do Brasil fazia marketing com
conquistas obtidas pela equipe.
A Cia. Progresso tem um caráter duplamente pioneiro. Foi umas dasprimeiras indústrias de manufatura têxtil do país, quando ainda não sepensava objetivamente numa política industrial. Além disso, transformou aimagem da empresa numa instituição vitoriosa, graças às conquistas doBangu nos campos de futebol. A população associava os tecidos Bangu(era esse o nome da produção têxtil da Cia. Progresso) ao vitorioso time defutebol (CALDAS, 1994, p.41).
No início do século XX, a prática do futebol era um processo de grande
desenvolvimento por todo o Brasil, tendo surgido diversas agremiações, como o
Fluminense, em 1902; o Botafogo, em 1910; e o Flamengo, em 1911, todos esses
na cidade do Rio de Janeiro. Em São Paulo, foram fundados: o Corinthians, em
1910; o Palmeiras, em 1914; o Clube Atlético Juventus, em 1924; e o São Paulo
Futebol Clube, em 1930. Em 1908, no estado de Minas Gerais, foi a vez do Villa
Nova e do Atlético Mineiro. Também surgiram no Estado o América (1912) e o
Cruzeiro (1921). No Rio Grande do Sul, destacaram-se o Internacional (1903) e o
Grêmio (1909).
Várias indústrias dedicavam parte de seus lotes para a construção de campos de
futebol, com o objetivo de integrar seus empregados. Empresas como essas
desempenharam papel fundamental para a divulgação do futebol pelo território
nacional. No início do XX, as partidas de futebol levavam um elevado número de
espectadores aos estádios.
Esse caráter populista do futebol não ficou restrito apenas aos clubes fundados
pelas empresas. Campos para a prática do esporte surgiram de improviso por todo opaís, principalmente nas várzeas dos rios. É por isso que o futebol amador do país
ficou conhecido por futebol de várzea. “Em São Paulo, nas margens dos rios
Pinheiros e Tietê, havia incontáveis campos de futebol que, por aproveitamento das
várzeas dos rios, acabaram sendo classificados como futebol varzeano” (WITTER,
1996, p.18).
Desses campos, surgiram grandes jogadores que alcançaram papel de destaque,como, por exemplo, o anjo de pernas tortas, Garrincha, que mais tarde sagrou-se
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ídolo do povo brasileiro. Durante a Copa do Mundo de 1958, disputada na Suécia, e
a Copa do Mundo de 1962, disputada no Chile, Garrincha encantou o mundo com
seus dribles desconcertantes, tendo se sagrado bicampeão mundial pela seleção
brasileira de futebol.
Porém, esse celeiro formador de jogadores vem sofrendo ameaças, pois o
crescimento desenfreado das cidades vem diminuindo o número de campos para a
prática futebolística. E é cada vez mais raro encontrar campos de várzea para que
qualquer pessoa jogue futebol livremente.
Futuramente, essa diminuição brusca de espaço pode acabar comprometendo aformação de novos atletas e futuros ídolos, pois foram nesses campos que atletas
de renome mundial, como Rivaldo (meia do Barcelona e da seleção brasileira)
surgiu. Também foram nesses campos que meninos pobres e ricos estiveram pela
primeira vez do mesmo lado, rompendo, assim, barreiras sociais.
Mesmo depois de tantos avanços, o esporte não gozava de um status profissional,
pois ainda não passava de uma prática amadora. Na década de 1920, o futeboliniciou o processo de profissionalização no país, graças às mudanças políticas que
aconteceram no Brasil. Tal década foi marcada pelo fenômeno pós-guerra, seguido
por um grande crescimento demográfico. Nas terras brasileiras, ocorreram
mudanças que afetariam a vida da sociedade: (1) a fundação do Partido Comunista,
popularmente chamado de Partidão, que baseava suas ideias na filosofia dos
pensadores Karl Marx e Friedrich Engels; (2) a Semana de Arte Moderna em 1922,
na cidade de São Paulo, representou verdadeira renovação de linguagem, na buscade experimentação, na liberdade criadora da ruptura com o passado e até corporal,
pois a arte passou, então, da vanguarda para o modernismo; e (3) a política do Café
com Leite, que trazia o revezamento do poder nacional executado na República
Velha pelos estados de São Paulo e Minas Gerais. Durante esse período, os times
do Brasil iniciaram uma série de excursões para fora do país. Witter (1996) refere-se
ao clube Paulistano como o primeiro clube a atuar fora do domínio das terras
canarinhas. A equipe partiu de São Paulo rumo à França em fevereiro de 1925, onde
conquistou a mídia local como uma série de apresentações de gala.
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O status conquistado pelos atletas deu início ao debate sobre a regulamentação do
futebol como profissão oficialmente reconhecida. Entretanto, com o início da
internacionalização do futebol e o começo das transações de jogadores entre os
clubes e para outros países, as equipes foram praticamente obrigadas a se
profissionalizar. “Sem dúvida, a questão da profissionalização acompanhou a
popularização do esporte e o crescente prestígio dos jogadores, que se tornavam
conhecidos em outros países” (WITTER, 1996, p. 22).
O processo de profissionalização do futebol brasileiro foi influenciado pelo golpe
político de 1930, aplicado por Getúlio Vargas, e sua plataforma de governo intitulada
“Programa de Reconstrução Nacional” determinava uma reforma na Constituição einstituía enfoques trabalhistas, beneficiando o atleta e o futebol brasileiro. Durante o
getulismo, doutrina do presidente Vargas, foi implantada a Legislação Social e
Trabalhista, que regulamentou várias profissões, com o futebol fazendo parte da
lista. Oficialmente, o futebol foi reconhecido como profissão em janeiro de 1933.
Depois de anos de amadorismo, a prática futebolística começou a tornar-se menos
confusa, tornando-se um negócio lucrativo. Witter (1966, p. 26) descreve que aprática da compra do passe do jogador começou a ser ocorrência do cotidiano e,
depois desses acontecimentos, os praticantes de futebol começaram a se tornar
atletas profissionais. Apesar dessa nova era, as transações entre os clubes ficaram
suspensas devido à Segunda Guerra Mundial, mas foram retomadas em 1945 com o
início de competições internacionais que mudariam a concepção sobre o mundo
futebolístico novamente.
No Brasil, foram iniciados os preparativos para o Mundial de 1950, a primeira e única
Copa realizada em solo brasileiro até 2010. As equipes passaram por um processo
de modernização e estádios surgiram por todo o território nacional, como o
Maracanã, construído especialmente para a realização do Mundial. Witter (1996)
comenta sobre o desenvolvimento científico que o esporte da época passava; ter
habilidades não era o único aspecto abordado, os atletas profissionais tinham que se
preocupar com seu condicionamento físico, pois ele se tornou primordial. Foi durante
esse período que surgiram as figuras de médicos e massagistas nas delegações das
equipes.
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Mesmo depois da trágica derrota do Brasil em 1950, o esporte continuou se
desenvolvendo no país, sagrando-se campeão nos mundiais de 1958, 1962, 1970,
1994 e 2002. O futebol tornou-se um negócio ainda mais lucrativo. Nomes como o
Pelé, no Brasil, e Franz Beckenbauer, na Alemanha, tornaram-se mundialmente
conhecidos. As transações envolvendo os clubes começavam a alcançar cifras
muito altas, nunca antes constatadas na história do futebol.
Após a Copa do Mundo de 1970, vencida pela seleção de Pelé, o Brasil passou seis
mundiais sem conquistar nenhum título do torneio. Foram exatos 24 anos. Mesmo
assim, os futebolistas brasileiros ocupavam cada vez mais espaço nos mercadosestrangeiros. Todos os setores do futebol aumentaram seu faturamento.
3.2 As mídias e o futebol
Desde o primeiro contato do Brasil com o futebol, o jornalismo esportivo enfrenta
preconceitos dentro das empresas de comunicação. Durante o processo de
profissionalização do futebol brasileiro, grandes nomes do jornalismo e da literaturada época não podiam conceber a idéia de que uma matéria esportiva fosse capa de
uma edição de um jornal. Mas eles estavam enganados: o esporte tornou-se popular
no país e hoje é o orgulho de muitos brasileiros, ocupando um espaço considerável
na impensa do Brasil.
Durante a consolidação do esporte na sociedade brasileira, o futebol enfrentou
enormes dificuldades nas redações, e renomados nomes da literatura nacional seopunham ao espaço que o futebol vinha conquistando nos jornais. Existia até um trio
de pensadores brasileiros que eram contra o futebol: Lima Barreto, Graciliano
Ramos e Oswald de Andrade. De acordo com Francisco Costa (1994, 1994, p. 86),
no artigo Futebol na ponta da caneta (1994), o trio usava de suas habilidades com
as letras para combater o futebol. Costa escreve que: “biliosos efervescentes e
cerebrais, em suas vidas de cronistas, disparavam verdadeiros scunds contra o
futebol”.
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Mas com o passar dos anos também aumentou o número de intelectuais que
gostava de futebol. Nomes que gozavam de grande prestígio, como o poeta Vinícius
de Moraes, o pintor Di Cavalcanti e os escritores José Lins do Rêgo e Nelson
Rodrigues apoiavam abertamente o esporte. Costa (1994, p. 88) destaca as crônicas
de Nelson Rodrigues sobre o futebol, descrevendo-o como o “maior crítico de futebol
surgido até hoje nesta terra”. O autor procura demonstrar a importância do escritor
citando suas caracteristicas:
Nelson é um trágico, um autor que vê a bola, o estádio, os jogadores, o juiz,os bandeirinhas, os locutores e os críticos, como elementos de um drama,uma tragédia, que se desenrola no gramado. Um drama que não se repete,perfeito em sua forma plástica e emocional. Seus artigos são expressões de
forma do dramaturgo fervoroso, do torcedor idem (COSTA, 1994,p.89).
Entre opositores e simpatizantes, o futebol ganhou espaço na mídia internacional.
Mário Filho, irmão mais velho de Nelson Rodrigues, foi um dos que mais contribuiu
para a popularização do esporte. José Sérgio Leite, no artigo A vitória do futebol que
incorporou a pelada (1994), sustenta que Mário Filho praticamente inventou o
jornalismo esportivo.
Depois de colaborar com os grandes jornais da época como O Globo , o Correio da Manhã , Mário Filho comprou em 1936 o Jornal dos Sports e mudou a forma de se
tratar o jornalismo esportivo procurarando usar expressões nacionais na construção
de seus textos. Anteriormente, predominavam expressões inglesas. Ele contribuiu
para a transformação do futebol, ajudando a transformar o esporte antes praticado
por uma elite de ingleses em um produto de grande apelo popular.
Mário Filho foi peça findamental na popularização do futebol brasileiro, promovendo junto com os cartolas discussões sobre o assunto, aproveitando-se de seu prestígio
para conseguir mais adeptos para sua causa. José Sérgio Leite (1994, p. 72)
descreve o papel de Mário Filho nesse aspecto:
Mário Filho estará presente nas articulações que se abrem entre osdirigentes dos clubes em consequência dos seus artigos publicados. Seupapel será importante na medida que o interesse pelo fenômeno querepresenta o futebol é global, independente dos interesses imediatos dosclubes, e sua prática da profissão de jornalista facilita-lhe a construção de
uma posição de árbitro.
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Mário Filho conseguiu contribuir para a consolidação do futebol brasileiro, tornando-
o um evento atraente para as grandes massas. Em 1966, o antigo Estádio Municipal
do Maracanã recebeu o nome de Estádio Jornalista Mário Filho, em homenagem
póstuma a um dos prercursores do jornalismo esportivo no Brasil.
O jornalista Paulo Vinicius Coelho, em seu livro Jornalismo Esportivo (2003),
também aborda o fundamental papel do Jornal dos Sports, que travou grande
batalha contra as editorias mais tradicionais para implementar esse foco midiático.
Coelho argumenta sobre os fundamentos desses preconceitos, pois, contra o
jornalismo esportivo, pesava a acusação da falta de dinheiro e da pouca cultura dos
destinatários.
Devido a essas dificuldades, várias publicações surgiram e desapareceram
rapidamente. Durante os anos de 1960 surgiam os primeiros cadernos esportivos
nos tradicionais jornais daquele tempo. Coelho fala sobre esse tempo: “A partir da
segunda metade dos anos de 1960, com cadernos esportivos mais presentes e de
maior volume, o Brasil entrou na lista dos países com imprensa esportiva de larga
extensão” (COELHO, 2003, p. 10).
3.3 A relevância do futebol na vida social brasileira
Quando o futebol chegou ao país, ele era encarado por muitos como um sinal da
modernidade. O antropólogo Roberto da Matta (1994, p. 12), em seu artigo
Antropologia do óbvio , trata dessa modernidade que chegava ao Brasil: “o velho
esporte bretão entrava em conflito com valores tradicionais. Habituada a jogar e não
a competir, a sociedade brasileira, construída de favores e hierarquias, e aindarepleta de ranços escravocrata, reagia ambiguamente ao futebol”.
Mas, mesmo com todas as dificuldades, o esporte se firmou no país, transformando-
se em um orgulho para a sociedade. Da Matta (1994, p.12) associa o surgimento do
futebol com a democratização brasileira.
Não foi através do nosso Parlamento que o povo aprendeu a respeitar as
leis, mas assistindo a jogos de futebol, esses eventos onde o vitorioso nãotem o direito de ser um ditador, e o perdedor, vale repetir, não deve serhumilhado. Desse modo, o velho e bretão football Association foi apropriado
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por toda a sociedade e sendo rebatizado no Brasil como “futebol” virou umapaixão das massas e um acontecimento festejado e amado pelo povo.
Um grande exemplo da paixão dos brasileiros pelo futebol são os simuladores
criados pela indústria. Antigamente, existia o futebol de botão, e hoje em dia écomum encontrar pessoas de todas as idades simulando jogos de futebol em video
games moderníssimos. Trata-se de uma prática que possibilita ao jogador viver a
experiência de ser atleta, dirigente, técnico e torcedor. O antroplógo Roberto Da
Matta (1994, p. 13) afirma que o futebol contribuiu, de certa forma, para a formação
da cultura cívica dos brasileiros, e complementa:
Sua função no mundo moderno tem uma ligação íntima com dois aspectos
fundamentais da vida burguesa. O primeiro é a disciplina das massas que oesporte ensina e reafirma, quando exige que todos cheguem aos estádiosem horas certas, pagando corretamente as entradas. E o segundo é a sualigação íntima com a idéia de fair-play , pois esporte trivializa a vitória e aderrota.
Atualmente, o futebol exerce certo poder sobre a população e alguns políticos o
utilizam como forma para angariar votos. Nesse sentido, pode ser registrada a
eleição em 2004 de alguns veradores belo horizontinos, que se tornaram conhecidos
graças ao futebol, como o narrador esportivo Alberto Rodrigues e Reinaldo Lima, ex-
jogador profissional do Clube Atlético Mineiro; em 2008, Alberto Rodrigues se
reelegeu e seu colega de profissão, João Vitor Xavier, assumiu seu primeiro
mandato.
O futebol sempre esteve na pauta dos governantes: um exemplo claro foi a
campanha feita pelo Governo Militar em 1970, na Copa do Mundo do México. O
governo do presidente Emílio Garrastazu Médici utilizou a campanha da seleção
brasileira, campeã mundial, para promover seu governo, com a marcha musical “Pra
frente Brasil”, composta por Miguel Gustavo e o slogan “Ninguém segura mais esse
país”.
Janet Jever (1983, p. 91), no livro A Loucura do Futebol , relata que o futebol é usado
pelos políticos como forma de autopromoção. Segundo a autora, “os políticos
brasileiros há muito acreditam que os projetos relacionados com o futebol lhes valem
mais popularidade que obras públicas importantes”.
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Caldas (1994, p. 45) cita o escritor Robert Levine que acredita que “o futebol é mais
que o ópio do povo, serve ainda de instrumento da classe dominante para manipular
as massas como forma de sublimar a miséria e as desventuras da pobreza” . Na
visão de Debord (2007, p. 98), “a vitória da bur guesia é a vitória do tempo
profundamente histórico, porque é o tempo da produção econômica que transforma
a sociedade, de modo permanente e absoluto”.
Assim, no futebol ocorre o que Debord (2007, p. 24) afirma ser a alienação do
espectador em favor do objeto contemplado, ou seja,
[...[ quanto mais ele contempla, menos vive; quanto mais aceita reconhecer-se nas imagens dominantes da necessidade, menos compreende suaprópria existência e seu próprio desejo. Em relação ao homem que age, aexterioridade do espetáculo aparece no fato de seus próprios gestos já nãoserem seus, mas de um outro que os representa. [...]. O trabalhador não seproduz a si mesmo, produz uma força independente. O sucesso dessaprodução, sua abundância, volta para o produtor como abundância dadespossessão.
Dessa forma, “o espetáculo na sociedade corresponde a uma fabricação concreta da
alienação. [...]. O espetáculo é o capital em tal grau de acumulação que se torna
imagem” (DEBORD, 2007, p. 24).
Entretanto, contrariando a maioria, Caldas (2000, p. 105) discorda do entendimento
que a classe dominante se serve do futebol para manipular as massas como forma
de sublimar a miséria e as desventuras da pobreza, através do sucesso meteórico
da conquista de um campeonato doméstico ou internacional, e afirma que não é o
futebol em si
[...] nem enquanto manifestação lúdica nacionalmente consagrada quealiena, que desvia a sociedade dos seus problemas mais urgentes. Essefato decorre, isto sim, do uso ideológico que o Estado possa fazer desseesporte, como faria de qualquer outra manifestação que tivesse forçapopular idêntica. Assim, fica claro o seguinte: não é o futebol enquanto talque aliena. Quem aliena são os governantes que, deliberadamente, usamos esportes de massa com objetivos políticos, quase sempre sem nenhumescrúpulo, sem nenhuma ética.
Por outro lado, o futebol também serve como caminho para se livrar da miséria e do
preconceito social. Ele é visto como uma forma de sair do anonimato e transformar
marginalizados em heróis nacionais. Janet Jever comenta sobre esse sonho: “cadamenino sonha em ser descoberto e contratado por um time profissional. Os pais
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concedem os direitos de tutela aos clubes, na esperança de que os meninos tenham
uma chance de escapar da miséria” (JEVER, 1983, p. 169).
Outra estratégia tem sido utilizada pelos grandes clubes: a renovação. Popularmente
chamado de „peneira‟, o sistema é o seguinte: pelo menos a cada quinze dias,
milhares de jovens que desejam seu espaço no futebol profissional têm a
oportunidade de treinar nas dependências de um time grande ou médio, sob o olhar
atento de um de seus treinadores, que seleciona os melhores. Posteriormente,
devem confirmar sua aptidão futebolística em outros treinos e, caso aprovados,
passam por exames médicos rigorosos e eventuais tratamentos. A partir de então,
integram as categorias juniores e treinam com os profissionais para adquirir aexperiência necessária, além de receberem uma ajuda de custo e algum custeio
para suas despesas pessoais. Não assinam contrato, mas um „acordo de
cavalheiros‟: não podem deixar o clube, mas, em contrapartida, podem ser
aproveitados para jogar no time profissional.
Nesse sentido, ao receber um prêmio da TV Bandeirantes recentemente, Pelé fez
um pronunciamento político, no qual denunciava a precária situação dosprofissionais de futebol no Brasil, conclamando-os a se filiarem ao seu sindicato,
para formarem uma categoria profissional politicamente forte (CALDAS, 2000, p.
110-111).
3.4 O jornalismo esportivo na televisão
O jornalismo esportivo, particularmente sobre o futebol, sobrevive ao tempo e às
mudanças. O interesse dos veículos de comunicação pelo futebol aumentam através
dos tempos no Brasil. Com o passar dos anos muitas revistas e jornais foram
surgindo e desaparecendo, mas nunca deixaram de existir. Nos anos 1960 a Revista
dos Esportes do jornalista Mário Filho foi sucesso de vendas, e atualmente o Diário
Lance, que mantém publicações sobre os times de cada estado, ocupa esse espaço.
Segundo Paulo Vinicius Coelho (2008), o rádio foi o veículo de comunicaçãopioneiro nas coberturas sobre o futebol ao vivo. Na „época de ouro do rádio‟
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brasileiro, década de 1940, as emissoras promoviam uma grande cobertura; todos
os domingos, dia tradicional de pelejas futebolisticas, os ouvintes ficavam atentos
aos lances dos jogos de futebol. Grandes nomes na locução esportiva apareceram
nessa época, como Waldir Amaral, no Rio de Janeiro, e Osmar Santos, em São
Paulo, este inclusive o radialista mais bem pago do jornalismo esportivo, em uma
época em que o rádio tinha o status que a televisão tem hoje. Pelas habilidades e
técnicas de seu discurso, Osmar era garantia certa de audiência.
Com as transmissões esportivas na televisão o rádio perdeu audiência e
consequentemente cotas de patrocínio, que ajudavam a manter nomes como Osmar
Santos, porém a falta de dinheiro não conseguiu acabar com as transmissõesesportivas nas ondas do rádio. As emissoras de rádio tiveram que se adaptar à
situação, mas o rádio conta com a agilidade e com os comentários opinativos de
comentaristas que nas transmissões de rádio são mais enfáticos do que na
televisão. Talvez por isso, os ouvintes de rádio sejam mais fiéis, “eles acompanham
tudo ao mesmo tempo e com um atrativo a mais, a opinião. Blábláblá para alguns, é
transmissão com publico cativo” (COELHO, 2003, p.31).
O primeiro espaço conquistado pelo futebol na televisão brasileira foi uma
reportagem sobre um jogo entre as equipes da Portuguesa e do São Paulo,
transmitido pela TV Tupi em 1950. Mas foi somente no ano de 1970 que o futebol
passou a ser transmitido pela televisão, na Copa do Mundo realizada no México.
Dado o pontapé inicial, a Rede Globo de Televisão lançou, em 1973, o programa
semanal Esporte Espetacular , que ocupa a grade da emissora até hoje. Apesar deapresentar alguns quadros sobre outros esportes, o Esporte Espetacular tem sua
grade recheada de notícias sobre o futebol. E em 1978 a Globo lançou o Globo
Esporte , jornal diário que busca informar sobre os eventos esportivos,
principalmente o futebol.
Na transmissões televisivas, o futebol é apresentado como um grande espetáculo.
Segundo Paulo Vinicius Coelho (2008), a cobertura de uma partida de futebol é
sempre apresentada, com muito glamour , sempre destacando os fatos positivos,
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deixando de fora os problemas como a falta de público e o péssimo estado dos
estádios brasileiros, tudo isso para não perder o interesse dos telespectadores.
Mas para realizar esse grande espetáculo, as emissoras precisam pagar caro pelos
direitos de transmissão, que atualmente são exclusivos da Rede Globo. Essa
dominação da emissora faz com que suas concorrentes busquem soluções criativas
para montarem uma programação esportiva, como a criação de programas sobre os
jogos.
Se até a década de 1970 as experiências com jornais esportivos na televisão eram
regionais e instáveis, atualmente existe enorme variedade de programas etelejornais esportivos em todas as redes de sinal aberto e alcance nacional no país.
Atualmente são exibidos os programas: Globo Esporte, Esporte Espetacular , na
Rede Globo; Esporte Record News , na Rede Record News; Jogo Aberto, Band
Esporte Clube e Terceiro Tempo na Rede Bandeirantes; TV Esporte Notícias
(híbrido de noticiário esportivo e geral), Rede TV Esporte e Bola na Rede , na Rede
TV!; ‘Alterosa Esporte’ , na TV Alterosa.
O que se pode perceber é uma valorização crescente do esporte, seja enquanto
produto jornalístico ou enquanto produto de entretenimento, em todas as emissoras
de sinal aberto e cobertura nacional.
Os programas de mesas-redondas são uma manifestação recorrente do
telejornalismo esportivo no Brasil. Todas as emissoras, com exceção da Rede
Globo, possuem um programa semelhante, veiculado normalmente aos domingos,após as rodadas dos campeonatos.
O jornalismo esportivo na Internet seguiu o boom dos anos 90, com grandes
investimentos e muitos profissionais indo atrás desse que seria um grande negócio,
“ Foi só em 1999, no entanto, que a Internet virou um fenômeno tão grandioso que
começou a tirar alguns dos melhores profissionais do jornalismo esportivo.”
(COELHO, 2008, p.59). Com salários astronômicos, não demorou para aparecer
grandes sites especializados, como o Gazeta Esportiva, que deixou de ser impresso
para investir somente no espaço virtual. Essa maravilha acabou com a crise dos
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investimentos na Internet em 2001, que atingiu todas os segmentos, desde os sites
sobre carros aos esportivos.
Herótodo Barbeiro e Patrícia Rangel (2006, p. 20), no livro Manual do Jornalismo
Esportivo , discutem a reportagem, umas das ferramentas mais utilizadas no
jornalismo, seja ele político, esportivo, econômico, na qual o que muda são as
fontes. No esporte, principalmente no futebol, tem-se uma impressão de haver uma
cartilha de perguntas e respostas, o que prejudica a qualidade das reportagens.
Por isso, é essencial fugir daquelas perguntas eternamente repetidas paraos atletas antes, durante ou depois das competições como: “o que você
acha do jogo” ou “como você está vendo o jogo”. Caso contrário, o repórter corre o risco de ouvir uma resposta como a do técnico Oswaldo Brandãodeu certa vez: “Com os olhos”.
Uma boa reportagem depende de boas perguntas feitas para as pessoas que
tenham o conhecimento sobre o assunto, no caso do esporte, os profissionais do
meio. A reportagem depende também de fatores como uma boa apuração,
credibilidade e criatividade para inovar.
Paulo Vinicius Coelho (2003) cita a criatividade como característica fundamental
para fazer um bom trabalho. Segundo ele, não basta ser apaixonado pelo esporte
para fazer um produto de qualidade, os jornalistas devem ser criativos, inovadores.
Essa criatividade que o autor sugere é o diferencial dos bons profissionais.
Os esportes trabalham muito com a emoção, tanto do atleta, dos torcedores ou até
mesmo dos profissionais da imprensa que, na maioria das vezes, estão perto dos
atletas, ou seja, nos centros geradores de emoção. Herótodo Barbeiro e Patrícia
Rangel (2006, p. 22) comentam sobre essa questão ao afirmarem que “emoção é
um atributo de todo ser humano, e ajuda a aquecer as transmissões esportivas. Não
se pode confundir com a paixão, que cega quem tem o dever de enxergar ou atrelar
o jornalismo a uma causa ou a um ídolo”.
Ainda de acordo com os autores, a emoção é a própria alma do esporte. Ela está
presente em todas as etapas, nos jogadores que disputam a partida, na alegria das
vitórias, na tristeza das derrotas, nas palavras dos locutores. Contudo essa emoção
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pode acabar se transformando em uma armadilha para a prática jornalística, pelo
fato de esse sentimento não combinar com a razão.
No futebol, a emoção pode atrapalhar a razão na questão do time de coração do
jornalista. A emoção também pode acabar influenciando na produção jornalística.
Paulo Vinicius Coelho (2003, p.58-59) entende ser esse um fator muito importante
na questão da credibilidade das notícias, e que o profissional não precisa ocultar seu
time de coração, mas precisa tomar muito cuidado para que essa paixão não
atrapalhe seu trabalho. O autor afirma que não é proibido declarar suas opções. O
que não deve acontecer é deixar que essa paixão influencie no trabalho final.
Vergonha para jornalista de qualquer área é não declarar sua preferência.Jornalista político tem o direito e o dever de votar…Da mesma forma, jornalista esportivo não deve nunca se envergonhar de torcer por essa oupró aquela equipe. Vergonha, para jornalista, é equivocar-se na informação,coisa comum quando se trata de apuração. Mas mentir sobre uma coisaque diz respeito á sua própria vida é esquecer- se do maior compromisso do jornalista: o compromisso com a verdade.
Barbeiro e Rangel discutem a linguagem esportiva, que segundo eles não possui um
padrão. Ela é definida de acordo com as tentativas, considerando os acertos e
reparando os erros. Essa linguagem muda com o tempo e com os meios.
Desde o início das transmissões esportivas no rádio, a linguagem é criada através
da emoção, os locutores gritam para descrever lances importantes, como o gol.
Essa linguagem é o diferencial da rádio, que precisa disputar com a imagem da
televisão. No impresso o tempo mudou a linguagem, nos anos 1950, as prosas e
crônicas faziam parte da linguagem da imprensa esportiva, os lances se
transformavam em acontecimentos épicos pelos relatos de jornalistas como NelsonRodrigues. Atualmente, a linguagem nas editorias de esporte construída pela
imprensa é mais descritiva, com a preocupação com o compromisso com a verdade,
deixando as reportagens mais frias.
Para Charaudeau (2009, p. 49), isso significa o „efeito da verdade‟, que não existe
fora de um um dispositivo enunciativo de influência psicossocial, no qual cada um
dos parceiros da troca verbal tenta fazer com que o outro dê sua adesão a seuuniverso de pensamento e de verdade. E isso se deve à busca da „credibilidade‟ do
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enunciado, ou seja, aquilo que determina o „direito á palavra‟ das pessoas que se
comunicam e as condições da palavra emitida.
A informação esportiva na televisão é exibida de acordo com a linha editorial de
cada emissora. A notícia tem a linguagem refletida na identidade da emissora, que
trata os acontecimentos como espetáculos. Na televisão percebe-se muito a
informação opinativa, dada pelos comentaristas e componentes das mesas-
redondas.
O modelo atual de cobertura privilegia os bastidores, as celebridades que se
identificam com o público, os vários ângulos possíveis para mostrar uma jogada e oprocesso final de edição, que determina o efeito que a notícia pode ter sobre a
audiência. Jornalismo esportivo só de resultados é hoje em dia um modelo tão
obsoleto quanto as transmissões em preto e branco porque os bastidores e as
situações inusitadas passaram a fazer parte da matéria básica da mídia esportiva.
3.5 Cultura de massa: TV e Futebol
No livro Comunicação do Grotesco , Muniz Sodré (1972) fala sobre a formação da
cultura e seu envolvimento com a comunicação. Segundo ele, essa relação é
arcaica, já que não houve uma sociedade em que não existissem uma cultura e um
meio de comunicação. Os movimentos culturais passaram por uma grande
transformação ao longo dos tempos, principalmente na transição do feudalismo para
o capitalismo no século XVII. O que antes era um movimento elitista foi se
transformando em algo tangível a todos.
A cultura, representada pelos produtos artísticos, no século XVI era restrita aos
intelectuais, que denominavam a cultura como superior ou elevada. “A cultura era
campo particular dos privilegiados de espírito, dos aristocratas” (SODRÉ, 1972,
p.15). Com essa restrição cultural da época, século XVI, a comunicação era fechada
aos grupos participantes, essa comunicação era feita de forma oral, ou seja, seu
alcance era limitado.
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Com a revolução industrial e a formação da burguesia capitalista, que viria para
substituir a nobreza, a cultura começou a ser difundida para a sociedade. Com o
aparecimento dos medias (meios de comunicação) mudou-se o jeito de transmitir a
mensagem: o que antes era passado pelo sistema oral passou a ser propagado por
mecanismo de maior alcance, como a mídia impressa, o rádio e a televisão. Contudo
para os medias , não era interessante difundir uma cultura superior, mas uma cultura
de massa, que pudesse ser do gosto de todos e recebida com mais facilidade.
A idéia de cultura de massa é vender o cotidiano, seduzir a alma e o espírito,
segundo Edgar Morin (1997), no seu livro Cultura de Massa no Século XX . O amor,
a raiva, o medo e a emoção são mercadorias nessa nova indústria. Nesse sentido,Sodré (1972) explica que a cultura de massa segue os padrões das demais culturas,
os medias não criaram uma nova estrutura, adaptaram as existentes para o
mercado.
A cultura de massa passou a ser um grande negócio para a indústria cultural que, no
novo mundo capitalista ganhou espaço. Com isso, as indústrias começaram a
vender cultura destinada à massa social, e transmitida pela televisão, cinema,
propagandas e outros meios de comunicação. Com a revolução industrial as
sociedades passaram a ser consideradas capitalistas, necessitando absorver o
mercado.
Segundo Edgar Morin (1997, p. 16), com os acontecimentos do século XVIII, as
sociedades passam a ser policulturais, ou seja, as diferentes culturas (religiosa,
nacional ou de massa), se encontravam em um mesmo individuo. “Focos culturais
de naturezas diferentes encontram-se em atividade: a religião, o Estado nacional, a
tradição das humanidades afrontam ou conjugam suas morais, seus mitos”.
Essa homogeneização dos valores serve para romper as barreiras culturais, já que os produtos serão consumidos por pessoas das mais diferentesnacionalidades. “A tendência homogeneizante é ao mesmo tempo umatendência cosmopolita, que tende a enfraquecer as diferenciações culturaisnacionais em prol de uma cultura das grandes áreas internacionais”.(MORIN, 1997, p.43).
Esse controle exercido pela indústria cultural sobre o individuo faz com que a massanão tenha uma identidade fixa. Segundo Stuart Hall no livro A identidade cultural na
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pós-modernidade (2006, p. 13), “a identidade torna-se uma celebração móvel
formada e transformada continuamente em relação às formas pelas quais somos
representados ou interpelados nos sistemas culturais que nos rodeiam”.
Com propriedade, Charaudeau (2009, p. 63) afirma que
[...] a verdade não está no discurso, mas somente no efeito que produz. Odiscurso da informação midiática joga com essa influência, pondo em cena,de maneira variável e com consequências diversas, efeitos deautenticidade, verossimilhança e dramatização.
Segundo Muniz Sodré (1989, p. 136) no livro O Monopólio da Fala , o esporte
moderno surgiu junto com o capitalismo na Revolução Industrial, e
[...] a diferença entre os modernos jogos olímpicos e os praticados pelosgregos está em que estes, embora voltados para a competição, não eramesportes, mas torneios, que recebiam o seu sentido das celebrações rituaisexercidas no interior de uma Polis sacralizada.
Sodré descreve os esportes, principalmente o futebol, como um produto cultural, um
grande espetáculo de massa. O autor cita os torcedores (consumidores da indústria
cultural) como peça fundamental desse grande evento.
No espetáculo futebolístico, o torcedor é espectador e ator ao mesmotempo. Espectador, porque não participa fisicamente do que se passa emcampo. Ator, porque a “torcida” (a discussão acalorada, o arrebatamento,enfim a maneira como o espectador desempenha seu papel) faz partenecessária do show (SODRÉ, 1989, p. 141).
Os esportes são um grande produto dessa indústria, já que atingem os indivíduos na
esfera das emoções, como a paixão e o ódio. No Brasil o futebol se destaca entre os
demais esportes, os torcedores são consumidores do entretenimento esportivo, com
a indústria cultural promovendo verdadeiros espetáculos. O futebol é vendido comoum produto sem distinção de classes, raças, religiões. Ele é um produto de massa,
que atinge mercados distintos na mesma proporção. Segundo Roberto da Mata
(1994, p. 17), o futebol proporciona às massas brasileiras experimentar a vitória,
mesmo que através de seus times favoritos.
O futebol proporciona à sociedade brasileira a experiência da igualdade e justiça social. Pois, produzindo um espetáculo completo, mas governado porregras simples que todos conhecem, o futebol reafirma simbolicamente que
o melhor, o mais capaz e o que tem mais mérito pode efetivamente vencer.Que a aliança entre o talento e o desempenho pode conduzir à vitóriainconteste. E, melhor que tudo, que as regras valem para todos. Para os
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times campeões e para os times comuns, para os ricos e pobres, negros ebrancos, e para os sãos e doentes.
O futebol é apresentado pela cultura de massa como um produto em constantes
atualizações, representado pela escolha do seu time de coração. A indústria culturalnão deixa de utilizar o passado, a imagem dos jogadores brasileiros na Copa do
Mundo de 1970, no México, que ainda são usados pelos veículos de comunicação,
despertando na massa o orgulho e a admiração.
3.6 História: TV e futebol no Brasil
No dia 18 de setembro de 1950, Assis Chateaubriand, dono do Diários Associados,inaugurou oficialmente a primeira emissora de televisão no Brasil. A TV Tupi entrou
no ar às 21 horas com o programa TV na taba , apresentado por Homero Silva. O
programa era de entretenimento, com música, humoristas, danças e quadros de
dramaturgia.
Assis Chateaubriand mandou instalar duzentos aparelhos de televisão em pontos
estratégicos da cidade de São Paulo. Chateaubriand armou um verdadeiroespetáculo para que a estréia da televisão no Brasil fosse algo inesquecível. O
programa foi exibido para o povo paulistano, marcando o início da televisão no
Brasil.
Vera Iris Paternostro (1999, p. 29) relata no livro O texto na TV: manual de
telejornalismo a história da TV no Brasil. Segundo a autora, quatro meses depois da
estréia em São Paulo, em janeiro de 1951, a TV Tupi chegou ao Rio de Janeiro. No
início a programação era de seis horas, das dezoito às onze da noite, e a
programação contava com filmes, espetáculos de auditório e noticiário.
Enfim, TV na taba , o espetáculo de estréia, foi ao ar e, na base doimproviso, durou quase duas horas. Cassiano Gabus Mendes comandouartistas como Mazzaropi, Walter Foster, Lia de Aguiar, Hebe Camargo, LimaDuarte, Wilma Bentivegna e Lolita Rodrigues, entre outros – estava dada alargada! A TV brasileira era uma realidade.
No início os profissionais da TV eram oriundos do rádio. Daniel Filho (2001, p. 16),
autor do livro O circo Eletrônico, relata esse momento: “no principio, a televisão
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brasileira utilizava principalmente profissionais que vinham do rádio. Os atores da
Rádio Tupi, das Associadas, foram os primeiros a passar para a televisão”.
Segundo Vera Iris Paternostro (1999), até o final da década de 1950 a televisão já
estava encravada na sociedade nacional. Já funcionavam as emissoras TV Tupi,
Record (1953) e Paulista (1952) em São Paulo; TV Tupi (1951) e Excelsior (1959) no
Rio de Janeiro; e Itacolomi (1956) em Belo Horizonte.
O primeiro telejornal a ser exibido nas telas brasileiras foi o „Imagens do Dia ’ ,
veiculado pela TV Tupi de São Paulo, em 1950. Paternostro (1999, p. 35) relata que
“o primeiro jornal de sucesso, sinônimo de telejornalismo no Brasil foi o Repórter Esso , que estreou em 1953 na Tupi e ficou no ar por quase 20 anos”.
Segundo Paternostro, programas radiofônicos, como O Repórter Esso e Chacrinha,
ganharam uma versão na televisão. E vários novos programas foram criados para
preencher as grades como Câmera Um (Tupi Rio); Noite de Gala, com Flávio
Cavalcanti (TV Rio); e Sítio do Pica-pau Amarelo (Tupi de São Paulo).
Para Robert Levine (1982, p.23), a história do futebol compreende quatro fases:
1894-1904, quando se manteve restrito aos clubes de imigrantes estrangeiros; 1905-
1933, fase amadora, marcada por forte divulgação e pressão para melhorar o nível
do futebol; 1933-1950, início do profissionalismo; e a fase pós-1950, quando houve o
reconhecimento internacional do futebol brasileiro.
Os anos de 1960 foram marcantes para a televisão brasileira, em que esse tipo demídia ganhou definitivamente espaço no mercado publicitário. Paternostro (1999, p.
30) relata esse acontecimento: “Na disputa pelas verbas publicitárias, ela assume
definitivamente, seu caráter comercial: começa a briga pela audiência! Uma briga
que dura até os dias de hoje, cada vez mais acirrada, com lances e estratégias
dignos de uma guerra”.
Foi, também, nos anos de 1960, que surgiu o videotape , fato que mudaria a
produção televisiva, já que se criava a possibilidade da edição. A TV Tupi de São
Paulo foi a pioneira na utilização dessa nova tecnologia. Dessa maneira, estava
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instaurada a revolução do VT: operações atualizadas, racionalização da produção,
economia de custo e tempo, melhor qualidade nos programas. Nessa época, as
primeiras máquinas de videotape tinham dois metros de altura e pesavam quase
uma tonelada. As fitas de gravação registravam duas polegadas de largura
(PATERNOSTRO, 1999).
Em 1965 surgiu a TV Globo, no Rio de Janeiro, com Paternostro afirmando que a
emissora se propunha a um sistema popular. Entretanto, foi somente em 1969 que a
TV Globo lançou seu primeiro programa em rede nacional. No dia 1º de setembro de
1969, entrou no ar o Jornal Nacional, programa que permanece até os dias de hoje.
Definir qual é o carro chefe da programação de uma emissora de televisão é, sem
sombra de dúvida, uma tarefa subjetiva. O entretenimento, a prestação de serviço e
a informação são elementos de igual importância para as emissoras, cada um com
suas características, que dividem o disputado espaço, isso quando não se unem em
um só elemento.
Luciana Bistane e Luciane Bacellar (2006) afirmam que a televisão é, sem dúvida, o
meio de comunicação mais influente no Brasil. Os telejornais são referências na
busca pela informação e, apesar de serem acusados de fornecer a notícia de forma
vaga, são o carro-chefe das empresas de comunicação. Segundo dados do IBGE, a
televisão está presente em cerca de 90% dos municípios do país. Em pesquisa
realizada pelo Ibope em 2004 o Jornal Nacional , da Rede Globo, foi visto por mais
de três milhões de pessoas em São Paulo, enquanto o jornal Folha de São Paulo
teve uma tiragem de 307 mil exemplares no mesmo período.
As autoras supracitadas explicam a importância do texto, já que na televisão é
preciso sintetizar os fatos para cumprir o tempo da reportagem. Esse texto deve ser
simples, curto e direto. “Em televisão, não se devem usar palavras “metidas à besta”.
Estas devem ser substituídas por termos que empregamos no dia-a-dia, para
conversarmos com os amigos, com o zelador do prédio, com o professor” (BISTANE;
BACELLAR, 2006, p.15).
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Heródoto Barbeiro e Paulo Rodolfo de Lima (2005, p. 97), no livro Manual de
Telejornalismo , citam outros aspectos da linguagem jornalística na televisão. “O
texto do telejornal tem uma estrutura de movimento, instantaneidade,
testemunhalidade, indivisibilidade de imagem e som, sintetização e objetividade”.
Paternostro (1999, p. 74) acrescenta a importância do texto, no sentido de ele estar
em harmonia com a imagem: “em telejornalismo, a preocupação é fazer com que
texto e imagem caminhem juntos, sem um competir com o outro: ou o texto tem a
ver com o que está sendo mostrado ou não tem razão de existir”.
O repórter de televisão deve estar sempre atento aos elementos que envolvem suamatéria, deve ter um conhecimento prévio sobre o assunto, ele deve aprender a
captar os sinais, a entender o que não foi dito. Um dos momentos mais complicados
para os jornalistas na televisão é fazer ao vivo, sem a ajuda da edição. O grande
medo é o do erro, já que não há possibilidade de corrigir uma pronúncia errada ou
até mesmo uma frase mal dita. Entretanto, com a modernização dos equipamentos e
a melhoria da técnica, essa prática esta cada vez mais presente.
Na televisão, a imagem é o grande diferencial; ler sobre um determinado fato pode
atrair a atenção, mas ver a imagem do fato acontecendo, com certeza é muito mais
atrativo.
Imagens dão credibilidade e força à notícia, sobretudo às denúncias. Lerque Waldomiro Diniz, ex-chefe da casa civil, exigiu propina quando eradiretor da LOTERJ, no Rio de Janeiro, tem um peso. Vê-lo e ouvi-loestipulando o quanto queria causou muito mais impacto” (BISTANE;BACELLAR, 2006, p. 42).
A imagem também pode influenciar na conduta do jornalista, que pode confundir sua
exposição na mídia. Barbeiro e Lima (2005, p.78) comentam esse problema,
observando que “o apresentador de programa na TV não é artista nem notícia,
trabalha com ela”.
Para Charaudeau (2009, p. 39), comunicar ou informar, tudo faz parte da escolha:
Não somente escolha de conteúdos a transmitir, não somente escolha dasformas adequadas para estar de acordo com as normas do bem falar e ter
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clareza, mas escolha de efeitos de sentido para influenciar o outro, isto é,no fim das contas, escolha de estratégias discursivas.
Não há dúvidas que o telejornalismo disputa a atenção dos telespectadores que
buscam mais que informações. A produção jornalística na televisão deve informarcom certo grau de emoção, para poder capturar o público, as autoras citam Eugênio
Bucci, que prega que essa espetacularização da notícia é ruim para o público. “Você
é quem transforma as notícias em peças de degustação na guerra e na paz, na
miséria e no luxo. Sempre tem uma ponta de entretenimento e isso nivela um pouco”
(citado por BISTANE; BACELLAR, 2006, p. 86).
As autoras afirmam que são muitas as vantagens e desvantagens de se produzir jornalismo na televisão. Desde sua chegada no Brasil, a televisão vem crescendo e
mudando de acordo com as exigências dos telespectadores. Ao contrário do que
muitos dizem, a TV não molda a sociedade, mas a sociedade molda a televisão.
Nesse sentido, Charaudeau (2009, p. 103) afirma existir um propósito no contrato de
informação midiática, que se inscreve em um processo de construção de um evento
e deve apontar para o que é „notícia‟. Esse propósito recorta o mundo em certouniverso de discursos tematizados, transformando-os em rubricas e tratando-os
segundo critérios de atualidade, socialidade e imprevisibilidade. Isso assegura
visibilidade e publicização, produzindo um possível efeito de captação. Dessa
maneira, “compreende-se que o espaço público se confunda com o próprio
acontecimento midiático, tal como aparece em sua configuração discursiva”.
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4 METODOLOGIA
4.1 Tipo do estudo e percurso metodológico
Optou-se por uma pesquisa experimental, com a finalidade de descobrir o modo e as
causas que levaram um fenômeno a ser produzido (RUDIO, 1999); e descritiva, por
meio de uma pesquisa documental (FRANÇA; VASCONCELLOS, 2008). Este
fenômeno se caracterizou pelo programa „Alterosa Esporte‟, da TV Alterosa , exibido
logo após a primeira partida válida pelas quartas-de-finais do campeonato mineiro
de 2010.
Tratou-se de pesquisa também qualitativa, porque os dados geraram interpretação e
reflexão, ao mesmo tempo em que foi longitudinal, pois ficou delimitada a um único
período de observação (FRANÇA; VASCONCELLOS, 2008, p. 83-84), ou seja, 5 de
abril de 2010, de 12h15min às 12h50min.
O programa foi gravado em DVD para que fosse mais facilmente analisado etotalizou 50 minutos, sendo 35 minutos de programa e 15 de inserções publicitárias.
A pesquisa bibliográfica demandou três meses, de fevereiro a abril de 2010, em que
se buscou literatura que pudesse informar sobre as características do futebol, sua
história, evolução e inserção da instância midiática, bem como auxiliar na análise do
programa.
Embora se tenha revisado um conjunto de trabalhos acadêmicos e/ou científicos
acerca de tema similar, não se encontrou nenhum que o fizesse da maneira como
este estudo se propôs, mesmo que experimental e empírico, e esta é sua relevância.
O autor deste trabalho pretende fundamentar sua carreira de jornalista como
comentarista esportivo da televisão, e a análise possibilitou que se descobrisse uma
série de porquês e como um debate de futebol na TV se fundamenta e funciona.
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4.2 Caracterização do programa ‘Alterosa Esporte’
O programa „Alterosa Esporte‟ surgiu em 1997, ainda sem a presença dos
representantes dos três principais times de Belo Horizonte. O intuito do então
gerente de programação da TV Alterosa, Ricardo Massara, era resgatar uma antiga
tradição dos tempos da extinta TV Itacolomi, em que torcedores comentavam sobre
as rodadas dos campeonatos de futebol.
O „Alterosa Esporte‟ chegou à televisão mineira buscando levar aos telespectadores
um programa com o espírito despojado, que traria de volta para a televisão mineira a
irreverência das ruas, muito forte na cultura esportiva local. Esse conceitodiferenciado faz o programa ganhar alguma evidência junto aos telespectadores e
diversos testes com profissionais de imprensa são realizados, na tentativa de
encontrar aqueles que mais se adequariam ao estilo proposto pelo programa.
A emissora seguiu em busca de uma equipe que pudesse representar as
expectativas de seus telespectadores. Encontrá-los daria início à era da "Bancada
Democrática". O jornalista Antônio Melane e o narrador Jorge Luis foram osprimeiros componentes do programa, mas não permanecem. O jornalista Otávio di
Toledo é o torcedor mais antigo da equipe, fazendo o papel de representante do
América Mineiro desde a estreia da bancada em meados de 1997. O colega do
extinto jornal Diário da Tarde, Neuber Soares, firma-se como representante do
Cruzeiro e o jornalista Carlos Cruz ocupa o posto de atleticano da bancada nos
primeiros anos, sendo substituído mais tarde por Dadá Maravilha.
O caráter de entretenimento do futebol influenciou para que a o SBT, através da TV
Alterosa, formatasse um programa que mesclasse humor, interatividade com o
telespectador e informação. Assim, ficou definido que o „Alterosa Esporte‟ possuísse
um formato para cobrir essas exigências do mercado.
4.2.1 A „Bancada Democrática‟
O „Alterosa Esporte‟ conta com uma bancada onde os representantes dos três
principais times de Belo Horizonte (América, Cruzeiro e Atlético) discutem e
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comentam as partidas de seus times de uma forma descontraída e despojada. Cada
um ocupa seu espaço em uma bancada que é decorada com as cores e o escudo
de seus respectivos times. A reunião desses três representantes em uma bancada
ficou conhecida com a “Bancada Democrática”.
Atualmente, ocupam a “Bancada Democrática” Otávio di Toledo, representante do
América, Dadá Maravilha, representante do Atlético e Vibrantinho, representante do
Cruzeiro. O comando e a apresentação do programa ficam a cargo do jornalista
Leopoldo Siqueira.
4.2.2 Os componentes da bancada
Otávio Di Toledo é natural de Belo Horizonte e foi criado nas imediações da Igreja
da Boa Viagem. Aos 10 anos jogou o pré-mirim de futsal do Cruzeiro e aos 13 anos
ingressou no futebol de campo, onde ganhou dois títulos. Aos 19 anos entrou para o
curso de jornalismo da antiga Faculdade de Filosofia, atualmente Uni-BH. Nessa
época, teve que optar entre o futebol, a universidade e o futsal. O atual
representante do América na bancada ficou com a segunda opção e, no futebol desalão, ainda sagrou-se campeão brasileiro e metropolitano. Em 1993, ingressou no
extinto jornal „Diário da Tarde‟ como repórter esportivo. Transferido para a editoria
da „Grande-BH‟, tornou-se editor após o falecimento de Naeme Elias Mansur, então
editor. Em 1998, foi convidado para compor a “Bancada Democrática”.
Já na TV Alterosa, foi convidado pelos diretores do programa “Viação Cipó” para ser
o apresentador, a ideia deu certo e há quatro anos ele permanece no ar. Únicointegrante original da bancada, dedica-se exclusivamente à emissora. No „Alterosa
Esporte‟, idealizou o Forrobol, time de amigos que jogava de „brincadeira‟ pelo
interior de Minas. O projeto cresceu e hoje se transformou em uma Organização Não
governamental (ONG), voltada a atender crianças e jovens em situação de risco3.
Dário José dos Santos, o Dadá Maravilha, foi ídolo da torcida atleticana e um dos
maiores artilheiros do futebol brasileiro, marcando 926 gols por 16 times de todo o
3 TV Alterosa. Disponível em: <http://www.alterosa.com.br/html/ae_bancadademocratica/ae_bancadademocratica.shtml>. Acesso em 29 maio 2010.
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Brasil. Destaque no Campeonato Brasileiro de 1971, Dadá foi o autor do gol que
levou o Atlético ao título do campeonato brasileiro daquele ano. Após algum tempo
fora da bancada, Dadá retornou à TV Alterosa, trazendo de volta seu humor
peculiar, cheio de piadinhas e trocadilhos. (TV ALTEROSA, 2010).
Artur Rodrigues, o Vibrantinho, filho do locutor esportivo da rádio Itatiaia, Alberto
Rodrigues, surgiu para a televisão no programa “BH Esporte” e , em seguida,
participou do “Clube do Meu Coração”, ambos da televisão por assinatura. Começou
no „Alterosa Esporte‟ como reserva de Neuber Soares, antigo representante do
Cruzeiro. Atualmente, representa os torcedores do Cruzeiro na “Bancada
Democrática” além de apresentar o programa “Papo de Esporte”, pela Rede Super de Televisão (TV ALTEROSA, 2010).
4.2.3 O Apresentador
Leopoldo Siqueira é formado em Comunicação Social pela Universidade Federal de
Juiz de Fora, foi repórter de esporte do jornal Tribuna de Minas e da antiga Rádio
Sociedade, atualmente Rádio Solar. Em 1987, veio para Belo Horizonte assumir aeditoria de esporte do jornal Tribuna de Minas. No mesmo período, foi também
jornalista da rádio Globo. Pelo jornal, foi premiado por uma matéria sobre hipismo e,
pelo rádio, por uma reportagem sobre catadores de papel. Passou pela TV Record e
pela editoria de polícia do jornal Estado de Minas antes de entrar para a TV Alterosa,
em 19924.
4.2.4 O cenário do programa „Alterosa Esporte‟
O cenário do programa „Alterosa Esporte‟ é uma pintura em tons pastéis, de um
campo de futebol em “movimento”, simulando um chute para o gol. O programa é
transmitido de dentro de um estúdio que possui piso escuro. Dentro do cenário
existem três bancadas, uma ao lado da outra, sendo a bancada do representante do
América localizada entre a bancada do representante do Cruzeiro e do Atlético.
Cada bancada é decorada com a cor e o escudo de seu respectivo time. Ao lado de
4 Disponível em: <http://www.alterosa.com.br/html/apresentador_ae/apresentador_ae.shtml>. Acessoem 29 maio 2010.
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cada bancada, é possível observar a presença do boneco-mascote do respectivo
time.
A bancada principal é a do apresentador, Leopoldo Siqueira, localizada em frente à
“Bancada Democrática” e não possui decoração. Apenas um notebook , no qual o
apresentador lê participações dos telespectadores e informa sobre brindes
relacionados aos times representados no programa.
Entre a “Bancada Democrática” e a bancada do apresentador , há uma grande e
moderna TV de plasma. Durante o programa, o apresentador expõe as matérias
para os componentes da “Bancada Democrática” e para os telespectadores.
4.2.5 Figurinos
O apresentador do programa costuma trajar calça jeans com camisa social e cada
componente da “Bancada Democrática” usa a camisa de seu respectivo time.
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5 ANÁLISE DO PROGRAMA ‘ALTEROSA ESPORTE’ DO DIA 05 DE
ABRIL DE 2010
Charaudeau (2009, p. 88) afirma que tratar da verdade não é tarefa simples. O ponto
de vista exposto não é filosófico, mas linguístico, pois liga de maneira intrínseca e
problemática do verdadeiro e do falso à linguagem, numa perspectiva construtivista.
O verdadeiro e o falso como noções, remetendo a uma realidade ontológica, não
pertencem a uma problemática linguística. O autor, entretanto, assinala que noções
como as de “significar o verdadeiro” e “significar o falso”, isto é, produzir um valor de
verdadeiro ou de falso por meio do discurso, encontra-se no domínio linguístico.
“Dizer o exato” significa haver coincidência entre o que é dito e os fatos do mundo.
No discurso da informação, contudo, não se trata da verdade em si, mas da verdade
ligada à maneira de reportar os fatos. Não é bem das condições de emergência da
verdade que se trata, mas das “condições de veracidade”.
A escolha do programa exibido no dia 5 de abril de 2010 se deu por ser o primeiro
programa exibido logo após a primeira partida válida pelas quartas-de-finais do
campeonato mineiro, onde os três principais times de Belo Horizonte estavam
envolvidos e isso interferiria na sequência do campeonato. O tipo de modo
discursivo foi o debate (acontecimento provocado), e os tipos de modo temático
registraram a seção (futebol mineiro) e a rubrica (programa da TV Alterosa em
determinado dia). Quanto à materialidade do dispositivo, já havia predeterminação
quanto aos papeis desempenhados pelo mediador e convidados.
Entende-se que a posição do gênero „entrevista-debate‟ se justifica pelo fato de que
a instância midiática é quem monta todas as peças do acontecimento pela exibição
espetacular da palavra, mesmo quando essa instância deva, obrigatoriamente, „fazer
o jogo da transparência‟.
No programa „Alterosa Esporte‟ sob análise, o apresentador, Leopoldo Siqueira,
iniciou o primeiro bloco, fora de sua bancada, ao lado da TV de plasma,cumprimentando os componentes da “Bancada Democrática” (Vibrantinho, Dada
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Maravilha e Otávio de Toledo). Para a construção de seu interesse social, todo
discurso depende das condições específicas da situação de troca e, nesse caso, os
componentes são figuras proeminentes no futebol. Por isso, gera credibilidade.
Leopoldo falou sobre o inicio das quartas-de-finais do campeonato mineiro e chamou
uma matéria sobre os bastidores do jogo Atlético X América, 1ª partida entre os dois
times e válida pelas quartas-de-finais do campeonato mineiro, realizado no domingo
de páscoa de 2010.
Como afirma Charaudeau (2009), estudar e compreender os textos que se
configuram dentro de um domínio maior como o das mídias requer entender umpouco da dinâmica que rege a veiculação das informações midiáticas. Isso se deve
ao fato de que tal informação não é apenas um produto que se repassa, objetivando
criar determinados efeitos intencionais, mas um processo discursivo dialógico,
constantemente negociado entre as instâncias de produção e recepção, ao mesmo
tempo em que regido por complexa rede institucional, comercial e ideológica. As
relações são instauradas entre os imaginários do “saber”, do “poder dizer o que se
sabe”, do “para quem se dizer” e do “valor de se dizer”, as quais criam relações desubjetividade, manipulação e poder.
Durante a matéria, o repórter Sid Marcus entrevistou torcedores dos dois times. Vale
destacar o tom de descontração usado na matéria, como, por exemplo: o uso de
trocadilhos entre o time do América, cuja mascote é um coelho, e o domingo de
páscoa. Foi feita a seguinte pergunta pelo repórter aos entrevistados: “quem levará
chocolate para casa, Atlético ou América?” Percebeu-se a estratégia de emocionaro público e mobilizar sua afetividade, a fim de desencadear o interesse pela paixão
pela informação que estava sendo transmitida.
Após as entrevistas, o repórter interrompeu seu discurso e mostrou alguns
momentos do jogo, terminando a matéria, mais uma vez, em tom de descontração,
informando que o jogo havia terminado empatado e que nenhum dos dois times
levou „chocolate para casa‟. Cabe destacar a trilha sonora usada durante toda a
matéria, a música “Coelhinho da Páscoa que traz isso pra mim”. Para satisfazer seu
princípio da emoção, a mídia deve proceder a uma encenação sutil do discurso da
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informação, baseando-se, ao mesmo tempo, nos apelos emocionais que prevalecem
em cada comunidade sociocultural e no conhecimento dos universos de crenças.
Entretanto, “à instância midiática cabe autenticar os fatos, descrevê-los de maneira
verossímil, sugerir as causas e justificar as explicações dadas” (CHARAUDEAU,
2009).
Ao fim da matéria e de volta ao estúdio, o apresentador esteve sentado e leu uma
pergunta enviada por um telespectador: “O vencedor de Atlético X América será o
campeão mineiro”? A câmera se vol tou para a “Bancada Democrática”. Todos
estavam sorridentes. Logo em seguida, a câmera focou o comentarista, Dadá
Maravilha, que naquele momento brincava com um boneco de madeira vestido como uniforme do Atlético. O comentarista do Cruzeiro, Vibrantinho, se pronunciou,
afirmando que o telespectador estava “louco” e que o campeão mineiro seria,
fatalmente, o Cruzeiro. A discussão continuou e todos afirmavam que o time que
representavam seria o campeão. No final, valeram uma aposta sobre o resultado.
Observou-se que, durante o embate, o atleticano deu um leve empurrão no
americano, que neste momento confirmou a aposta.
Na opinião de Charaudeau (2009), o mediador do debate deve empreender um
trabalho de montagem e roteirização, numa posição semelhante à de alguém em
uma narrativa de ficção. Entretanto, ele é pressionado pelo dever de credibilidade,
que o obriga a „ficar colado‟ no acontecimento bruto , mas contemporizar situações.
Com isso, ele fica em posição ambígua, e pode reagir de quatro maneiras: (1)
introduz uma abertura (o ataque, como se diz em jargão jornalístico) mais ou menos
dramatizante e de diferentes maneiras, que dependem de sua habilidade; (2) tentareconstituir os fatos segundo um princípio de coerência: a cronologia. Quando o fato
não se presta a uma cronologização, é a narrativa que o constrói inteiramente,
inserindo-o em uma perspectiva cronológica; (3) desenvolve um comentário
explicativo inserido após a reconstituição para tentar explicar o „por que‟ e o „como‟
dos fatos, recuperando o desenrolar dos acontecimentos ou desvendando as
intenções dos responsáveis por esses fatos; e, finalmente, (4) deve fechar a
narrativa, mas não do próprio fato, mas de sua narrativa, porque o discurso da
informação midiática se sustenta num processo de continuidade. Geralmente, o
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fechamento se caracteriza por novo questionamento, que reabre a narrativa sob
novas perspectivas.
Nesse segmento, percebeu-se que houve preponderância do „espaço da relação‟,
aquele em o que o sujeito falante, ao construir sua própria identidade, estabelece
relações de força ou de aliança, de exclusão ou inclusão, de agressão ou de
conivência com seu interlocutor. Os demais espaços (locução e tematização) já se
encontravam instalados.
Depois da discussão, em que se constatou que todo ato de linguagem é um ato de
liberdade, sem deixar de ser uma liberdade vigiada, o câmera focalizou novamente oâncora do „Alterosa Esporte‟, que informou sobre os jogos que aconteceriam pelas
quartas-de-finais da super liga de vôlei. Este primeiro bloco, que teve duração
aproximada de quatro (04) minutos e treze (13) segundos, se encerrou com
chamadas para as matérias que seriam exibidas no bloco seguinte: “Páscoa sem
chocolate azul no Mineirão”; “Clássico família reúne animados e pacíficos
americanos e atleticanos”; “Tigre vence galo carijó e a pantera acua o leão”; “sacode
a rede paulista”, “zebu assusta, mas para a raposa basta outro empate”; “osmelhores momentos do clássico”, e “a marcação cerrada no Tiago Ribeiro”.
O segundo bloco foi iniciado com o apresentador chamando o quadro “Gol da
Rodada”, em que os telespectadores votaram no gol de sua preferência. Esse bloco,
de curta duração, durou cerca de um (01) minuto e quarenta e oito (48) segundos.
(No DVD do minuto 08:34 ao 10:16). Foram exibidos para a votação os gols de
Alessandro (jogador do Ipatinga); Eraldo (jogador do Democrata de GovernadorValadares); Douglas (do Uberaba); Leonardo Silva (do Cruzeiro); Rodrigo (do
América); e Fabiano (do Atlético). Durante a apresentação, a “Bancada
Democrática” comentou os gols, deixando claro suas preferências, sempre
exaltando os gols marcados pelos jogadores de seus respectivos times. Conforme
Charaudeau (2009), um programa bem elaborado oferece em espetáculo uma
democracia midiática.
De volta ao estúdio, a câmera focalizou a camisa do Atlético que seria sorteada
entre os participantes da promoção do quadro “Gol da Rodada”. Leopoldo Siqueira
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leu a participação de uma telespectadora, que perguntou sobre a chance do jogador
Rodrigo (do América), autor do gol contra o Atlético, voltar a defender as cores
atleticanas. O representante do América, Toledinho, ironizou a colocação da
telespectadora. Em seguida, o apresentador chamou a matéria “Páscoa sem
chocolate azul no Mineirão”, exibida depois de um longo comercial, que, pressupõe-
se, seria realizado para separar o segundo do terceiro bloco.
Ao se considerar que a propaganda anterior realmente serviu para dividir o 2º do 3º
bloco, o 3º bloco foi iniciado com a matéria do Cruzeiro. A matéria, diferentemente
daquela exibida no primeiro bloco, que mostrou o jogo entre América X Atlético,
registrou tom mais jornalístico, voltado para a informação sobre os acontecimentosda partida. O repórter, Marcelo Jordy, entrevistou o autor do gol cruzeirense, Kleber,
ainda na beira do gramado. Foram, também exibidos trechos da entrevista coletiva
com o zagueiro Leonardo Silva, autor do segundo gol do Cruzeiro, e com o técnico,
Adílson Batista.
Depois da matéria, o mediador Leopoldo Siqueira leu mais uma participação de um
telespectador, que questionou sobre a escalação do time do Cruzeiro e pediu aopinião do representante cruzeirense, Vibrantinho. Após ouvir Vibrantinho o
apresentador informou que seria exibido o compacto da partida do Cruzeiro para a
análise da bancada e, na seqüência, chamou a matéria “sacode a rede paulista”, em
que foram exibidos os gols do campeonato paulista, contando, também, com
comentários da “Bancada Democrática”. A TV, ao se utilizar desses procedimentos,
pode criar a ilusão de que representa o mundo dos acontecimentos tal como ele é;
próximo ou distante, o mundo se torna presente, e telespectadores se sentemunidos em torno de um objetivo comum.
Voltando ao estúdio, Leopoldo Siqueira leu mais algumas participações enviadas ao
programa através do vídeo chat . A bancada discutiu os temas propostos pelos
internautas e respondeu as perguntas em tom bastante descontraído. A câmera
voltou a focalizar o apresentador, que estava ao lado da televisão de plasma, onde
os componentes da bancada costumavam assistir as matérias. A câmera focalizou,
novamente, a bancada, onde se iniciou breve discussão que, em certo momento,
ficou difícil a identificação de quem estava falando, tamanha a confusão formada.
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Nessa hora, o âncora interrompeu e chamou a matéria seguinte: “tigre vence galo
carijó e a pantera acua o leão”, que mostr ou as redes balançando no interior mineiro.
Durante a exibição da matéria, a “Bancada Democrática” comentou sobre os gols.
De volta ao estúdio, a bancada foi focalizada, quando a bancada democrática ainda
comentava sobre as partidas realizadas entre os times do interior, que disputavam
as quartas de finais do campeonato mineiro.
A câmera voltou a focalizar o apresentador, que chamou os compactos dos jogos de
América X Atlético e Cruzeiro X Ituiutaba, que foram exibidos após a inserção de
mais um comercial. O primeiro compacto exibido foi Cruzeiro X Ituiutaba. Durante aexibição do compacto, a “Bancada Democrática” comentou os melhores momentos,
procurando sempre alfinetar os rivais, mesmo que em tom de descontração. Os
comentários e discussões continuaram na volta ao estúdio. Mais uma vez, o
apresentador interrompeu a discussão, lendo a participação de mais um
telespectador.
Os representantes do Cruzeiro e do Atlético travaram pequeno embate sobre qualseria o melhor time, embate esse encerrado com o apresentador chamando o
compacto seguinte, América X Atlético. A seqüência foi muito parecida com a
relatada anteriormente, mas, dessa vez, a discussão principal ficou entre Dadá
Maravilha e Toledinho, representantes de Atlético e América, respectivamente, e
envolvidos diretamente no compacto que acabava de ser exibido.
Na seqüência, o âncora leu mais algumas participações de telespectadores,inclusive uma pergunta de caráter pessoal e dirigida ao ex-jogador e atual
representante do Atlético, Dadá Maravilha, que respondeu em tom bem humorado.
Momento que valeu destaque especial foi quando o apresentador se dirigiu até o
lugar ocupado por Dadá Maravilha e deixou com ele um papel com a participação
enviada ao programa por um telespectador, que reclamava do time atleticano. Dadá
leu seu conteúdo, defendeu o time e Leopoldo voltou a ficar ao lado da televisão de
plasma. Nesse momento, chamou o quadro “marcação cerrada”, em que o destaque
foi o atacante do Cruzeiro, Tiago Ribeiro. O quadro procurou acompanhar o atacante
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durante toda a partida, mesmo quando entrevistado pelo repórter Marcelo Jordy, ao
fim do primeiro tempo e também ao término da partida.
Ao término do quadro “marcação cerrada” o apresentador, Leopoldo Siqueira,
apareceu juntamente com os representantes dos três principais times de Belo
Horizonte na “Bancada Democrática”. Ali, ele encerr ou o programa em tom bastante
descontraído e convidou o telespectador a assistir o programa seguinte com a
seguinte frase: “amanhã tem marcação cerrada diferente e mais polêmica aqui, com
a nossa Bancada Democrática”. Este bloco teve duração de aproximadamente 20
minutos (no DVD de 11:18 às 11:31:06).
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6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este estudo desejou responder quais as estratégias midiáticas utilizadas no
programa „Alterosa Esporte‟, da TV Alterosa, Sistema Brasileiro de Televisão (SBT),
no ar há quatro anos com sucesso de público e crítica, ou seja, o que houve por
detrás das câmeras no dia 5 de abril de 2010.
Por isso, para analisar como jornalismo e entretenimento se misturaram no
programa „Alterosa Esporte‟ após a primeira partida do campeonato mineiro de
2010, da TV Alterosa, com a presença de representantes dos três principais times
mineiros e capitaneados por Leopoldo Siqueira, âncora mediador, tornou-se
necessário caracterizar os seguintes objetivos secundários:
- Analisar a linguagem do programa ‘Alterosa Esporte’ :
Houve quatro tipos: (1) a „condição de identidade‟, em que o ato da linguagem foi
intersubjetivo e a identidade dos parceiros engajados na troca foi a condição que
dependeu dos sujeitos envolvidos e da convergência dos traços identitários com a
situação do momento; (2) a „condição de finalidade‟, na qual todos os atos de
linguagem foram ordenados em função de um objetivo e se definiu por meio da
expectativa do sentido em que se baseou a troca. Assim, da parte de cada um, se
fez com que o outro fosse incorporado à sua própria intencionalidade. A resposta a
essa influência se deu em termos de „visadas‟ operatórias, em que a principal foi a
visada do páthos 5, que consistiu em provocar no outro um estado emocional
agradável ou eventualmente desagradável; (3) a „condição de propósito‟, universo
dominante ao qual a troca se reportou, uma espécie de macrotema (no caso deste
estudo, o futebol), admitido antecipadamente por todos os parceiros; e, finalmente,
(4) o „contrato do dispositivo‟, em que foi objeto de uma montagem cênica pensada
de maneira estratégica. Além disso, houve três espaços de comportamentos
linguageiros: (1) o „espaço da locução', no qual o sujeito falante resolveu o problema
da „tomada da palavra‟, justificou sua interferência, impôs-se como sujeito falante e,
5 Palavra grega que significa paixão, excesso, catástrofe, passagem, passividade, sofrimento eassujeitamento. Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Pathos>. Acesso em 29 maio 2010.
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de algum modo, conquistou seu direito de poder se comunicar; (2) o „espaço da
relação, em que o sujeito falante, ao construir sua própria identidade de locutor e a
de seu interlocutor, estabeleceu relações de força, de inclusão ou de conivência com
seu interlocutor; e (3) o „espaço da tematização‟, tratado ou organizado no domínio
do saber e no tema da troca, tanto predeterminados por instruções contidas nas
restrições comunicacionais quanto introduzidos pelos participantes da troca. O
sujeito falante não apenas tomou posição com relação ao tema imposto pelo
contrato, como escolheu um „modo de intervenção‟, e escolheu um „modo de
organização discursivo‟ particular, conforme suas habilidades.
- Identificar quais gêneros jornalísticos estiveram presentes no programa:
Foram identificados os quatro gêneros: o cruzamento entre um tipo de instância
enunciativa, um de modo discursivo, um de conteúdo e um de dispositivo: (1) o tipo
de instância enunciativa se caracterizou pela origem do sujeito falante e seu grau de
implicação (um jornalista) e de fora da mídia (três especialistas do esporte do
futebol); (2) o tipo de modo discursivo foi caracterizado pelo „debate‟ (acontecimento
provocado); (3) o tipo do conteúdo temático (o futebol) foi a rubrica, um programa da
TV Alterosa em determinado dia; e (4) o tipo de dispositivo, por sua materialidade,trouxe especificações para o texto e diferenciou os gêneros de acordo com o suporte
midiático, ou seja, uma entrevista televisionada e suas múltiplas incidências nos
papeis desempenhados por entrevistador e entrevistados.
- Mostrar quais elementos jornalísticos foram utilizados no ‘Alterosa Esporte’ :
Inicialmente, demonstrou-se por meio da Figura 1, que os „comentários‟ e análises
de especialistas jornalistas se situaram no meio do eixo horizontal porque se incluemna categoria de „acontecimento comentado‟, e estão colocados em uma altura média
porque, embora os jornalistas sejam especialistas, nos programas são analistas
engajados. Nas „tribunas de opinião‟, em contraste, os convidados, que fazem
intervenções, são especialistas exteriores à instância midiática, engajados em suas
declarações: comentam o acontecimento e, muitas vezes, ao fazê-lo, o provocam,
como também provocam os outros envolvidos. O debate, objeto de análise deste
estudo, é uma forma que reúne uma série de convidados em torno de um animador,para tratar de um determinado tema. Isso é completa e totalmente organizado e
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gerenciado pela instância midiática. Desse ponto de vista, ele está situado na parte
superior (instância interna) direita (acontecimento provocado) dos eixos de
tipologização.
- Identificar os critérios de noticibilidade utilizados:
Esses não se referiram, apenas, ao transmitir o saber, mas de confrontar com os
acontecimentos que se produziram no mundo ou inteirar-se de sua existência, e de
construir, a esse respeito, certo saber. Isso funcionou, por um lado, em um
tratamento que dependeu da maneira pela qual se construíam as representações
sobre o público; e por outro, porque o público não se deixou atrair nem seduzir com
facilidade, pois seguiu seus próprios movimentos de idéias. A instância da recepção
também foi desdobrada: de um ponto de vista interno à instância midiática,
designada como „instância-alvo‟; e um ponto de vista externo, como instância de
recepção propriamente dita, com uma instância própria de consumo, ou seja,
„instância público‟. A finalidade do contrato de comunicação midiática se achou
numa tensão entre duas visadas: (1) a de „fazer saber‟ ou visada de informação
propriamente dita, que tendeu a produzir um objeto de saber segundo uma lógica
cívica: informar o cidadão; e (2) a visada do „fazer sentir‟ ou visada de captação, quetendeu a produzir um objeto de consumo segundo uma lógica comercial: captar as
massas para sobreviver à concorrência. Por conseqüência, foram considerados
tanto os discursos de justificativa, produzidos pelos profissionais das mídias sobre
„seu modo de fazer‟ quanto às características do funcionamento da máquina
midiática em si.
- Verificar as estratégias de entretenimento utilizadas:
O programa do dia 5 de abril de 2010 procedeu a uma encenação sutil do discurso
da informação, baseando-se, ao mesmo tempo, nos apelos emocionais que
prevalecem em cada comunidade sociocultural e no conhecimento dos universos de
crenças que ali circulam. Por isso, o contrato da informação midiática foi, em seu
fundamento, marcado pela contradição: finalidade de saber fazer, que buscou não
um grau zero de espetacularização da informação para satisfazer o princípio de
seriedade ao produzir efeitos de credibilidade (porque o programa sempre se utilizadessa estratégia; e a finalidade de fazer sentir, que fez escolhas estratégicas
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apropriadas à encenação da informação para satisfazer o princípio de emoção ao
produzir o efeito da dramatização. Os materiais também foram organizados em
sistemas semiológicos, conjuntos de redes de significantes que permitiram a
configuração das unidades do sentido: sistema fônico, sistema gráfico; sistema
minigestual e sistema icônico. O suporte também foi elemento material e funcionou
como um canal de transmissão, por uma tela de vídeo.
- Observar o tempo de duração gasto com informação e o tempo gasto com o
entretenimento:
O tempo com informações e entretenimento totalizou 25 minutos e o de inserções
publicitárias 10 minutos. Foi criado, então, um efeito de autenticação do
acontecimento e de fascinação do telespectador, com total habilidade do mediador
do programa.
Por conseqüência, entendeu-se como cumprido o objetivo deste trabalho acadêmico
de forma diferente como têm sido abordados os aspectos midiáticos do futebol na
TV, e essa foi sua relevância: apresentar uma cultura de massa por detrás das
câmeras e suas estratégias de entretenimento e lazer.
Na realidade, quando alguém assiste a um programa como o analisado não pode
imaginar o que se passou por detrás das câmeras, ou seja, tudo o que implicou em
sua audiência e sucesso. Como futuro jornalista do segmento esportivo, atividade
que se pretende abraçar, entende-se que se pôde dar um panorama geral no que se
refere ao futebol na mídia televisiva.
Como as mídias funcionam segundo uma lógica dupla, ou seja, a econômica, que
faz com que o organismo da informação aja como uma empresa, e a simbólica, que
busca participar da construção da opinião pública, concluiu-se ter havido
entretenimento, porque o „jogo da verdade‟ foi bem sucedido e, pelas edições
subsequentes do programa, também os patrocinadores devem estar satisfeitos.
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