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Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação XVI Congresso de Ciências da Comunicação na Região Sul – Joinville - SC – 04 a 06/06/2014 1 Jornalismo e a capacidade de educar Janine MOTTA 1 Tabita STRASSBURGER 2 Universidade Federal do Pampa, São Borja, RS RESUMO O presente artigo apresenta as aproximações iniciais sobre a atuação do jornalismo e a educação ou até mesmo o conceito conhecido como jornalismo educativo, a partir de uma pesquisa exploratória e bibliográfica realizada. Para tanto, foram buscadas referências em sites e repositórios digitais, buscando compreender de que modo o jornalismo voltado à educação vem sendo trabalhado. Foi possível perceber a falta de aprofundamento nas matérias jornalísticas sobre educação, deixando o leitor informado apenas pela notícia, até mesmo as reportagens são pouco explorados com uma maneira mais educativa. PALAVRAS-CHAVE: jornalismo especializado; comunicação; educação; jornalismo educativo. INTRODUÇÃO O artigo buscou trazer a problematização sobre a atuação do jornalismo no sentido de educar e buscando gerar uma reflexão sobre a junção das áreas da educação e comunicação, em especifico o jornalismo. Realizou-se uma pesquisa exploratória e bibliográfica nas pesquisas brasileiras com o tema Jornalismo Educativo, onde encontrou-se dificuldades em encontrar referências acerca da temática. Apesar da dificuldade, alguns trabalhos neste artigo são conhecidos na área da educação e do jornalismo como: Alberto Dines e Paulo Freire. A aproximação destas duas profissões importantes para a sociedade leva a despertar propostas nas mudanças nas atuações das ambas às áreas. Vivemos em um mundo com inúmeras informações e uma atualização constante das Tecnologias da Informação e Comunicação (TICs), mas não foi sempre 1 Graduada em de Comunicação Social Jornalismo da Universidade Federal do Pampa (UNIPAMPA). E-mail: [email protected] 2 Doutoranda na Universidade Federal do Rio Grande do Sul. E-mail: [email protected]

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Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação XVI Congresso de Ciências da Comunicação na Região Sul – Joinville - SC – 04 a 06/06/2014

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Jornalismo e a capacidade de educar

Janine MOTTA1

Tabita STRASSBURGER2

Universidade Federal do Pampa, São Borja, RS

RESUMO

O presente artigo apresenta as aproximações iniciais sobre a atuação do jornalismo e a

educação ou até mesmo o conceito conhecido como jornalismo educativo, a partir de

uma pesquisa exploratória e bibliográfica realizada. Para tanto, foram buscadas

referências em sites e repositórios digitais, buscando compreender de que modo o

jornalismo voltado à educação vem sendo trabalhado. Foi possível perceber a falta de

aprofundamento nas matérias jornalísticas sobre educação, deixando o leitor informado

apenas pela notícia, até mesmo as reportagens são pouco explorados com uma maneira

mais educativa.

PALAVRAS-CHAVE: jornalismo especializado; comunicação; educação; jornalismo

educativo.

INTRODUÇÃO

O artigo buscou trazer a problematização sobre a atuação do jornalismo no

sentido de educar e buscando gerar uma reflexão sobre a junção das áreas da educação e

comunicação, em especifico o jornalismo.

Realizou-se uma pesquisa exploratória e bibliográfica nas pesquisas brasileiras

com o tema Jornalismo Educativo, onde encontrou-se dificuldades em encontrar

referências acerca da temática. Apesar da dificuldade, alguns trabalhos neste artigo são

conhecidos na área da educação e do jornalismo como: Alberto Dines e Paulo Freire. A

aproximação destas duas profissões importantes para a sociedade leva a despertar

propostas nas mudanças nas atuações das ambas às áreas.

Vivemos em um mundo com inúmeras informações e uma atualização

constante das Tecnologias da Informação e Comunicação (TICs), mas não foi sempre

1 Graduada em de Comunicação Social – Jornalismo da Universidade Federal do Pampa (UNIPAMPA).

E-mail: [email protected] 2 Doutoranda na Universidade Federal do Rio Grande do Sul. E-mail: [email protected]

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assim. O primeiro jornal brasileiro surgiu antes da primeira escola normal3, é o que diz

Werebe (1963, p.231) “A primeira escola normal brasileira foi criada em Niterói em

1835 e em São Paulo, fundada em 16 de março de 1846: foi criada para atender

exclusivamente ao público masculino”. E foi através dos jornais que inicialmente as

pessoas tiveram acesso à educação. Já começamos então com a relação entre o

jornalismo e educação.

O analfabetismo no Brasil colonial foi um dos principais pontos negativos pela

demora da imprensa no país. A escrita era um privilégio dos religiosos e dos grandes

cargos da administração pública. Em 1792, existiam no Rio de Janeiro apenas duas

livrarias. O primeiro jornal impresso do Brasil, a Gazeta do Rio de Janeiro, estreou em

10 de setembro de 1808. Sua periodicidade inicial era semanal e com o tempo passou a

ser trissemanal. A história do jornalismo integra-se à história do Brasil, principalmente

nos assuntos relacionados à política e educação.

DESENVOLVIMENTO

O Brasil tinha até o ano de 2010, segundo dados da Agência Nacional de

Jornalismo, 89.2524 profissionais da informação, ou seja, os jornalistas. Um número

bem alto ao refletirmos sobre o papel social-educativo desta profissão, mas antes de

falarmos sobre o papel do jornalismo na sociedade, vamos observar alguns dados sobre

a educação em nosso país.

A primeira escola primária brasileira foi fundada em 1952, em Salvador, por

Manuel da Nóbrega. No ano de 1932, houve o movimento dos pioneiros da educação

nova, o que trouxe mudanças no ensino público e uma inovação política de educação no

Brasil. A escola moderna, chamada de Escolanovista5 (ou nova escola), vê o professor

como facilitador em busca do conhecimento que parte do aluno. O papel do professor

seria organizar as informações e coordenar as situações de aprendizagem.

No Brasil, muito se discute as questões da qualidade do ensino e os motivos nos

quais não se tem interesse por parte das políticas públicas e comunidade escolar. Uma

3 A escola normal foi a princípio uma instituição de caráter precário que abria e fechava em função de

decisões políticas nem sempre acertadas, criada para atender as necessidades de formação dos professores

para o ensino primário que tentava expandir-se no Império. (WEREBE,1963, p. 231) 4 Dado retirado do site da ANJ. Disponível em: http://www.anj.org.br/a-industria-jornalistica/jornais-no-

brasil/jornalistas-no-brasil/ 5Maria Lúcia de A. Aranha, Filosofia da Educação (São Paulo: Ed. Moderna, 1989), 167-171

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enquete (Figura 1) realizada no site do Canal Futura6, durante os meses de março e abril

de 2013, apontou que 34% dos participantes acreditam que o modelo utilizado pelas

escolas está ultrapassado, além da desvalorização do professor ter sido o primeiro fator

indicado (61%) para a falta de mudança no cenário educacional.

Figura 1 - Enquete

Fonte: site canal futura

Com o resultado da pesquisa, podemos observar que mesmo diante das

modificações ocorridas na educação, o país não tem mudanças significativas no modo

de educar a população. Para provar o desinteresse por parte dos brasileiros (políticos,

professores, alunos e famílias), o país está na colocação 88º do ranking de piores países

em desenvolvimento na educação, conforme pesquisa realizada pelo Fórum Econômico

Mundial (WEF).

O canal futura foi fundado em 1997 por uma empresa privada e parceiros do

terceiro setor (ONGs), com o propósito de ser um canal educativo e abrangente nos

temas como saúde, trabalho, juventude, educação, meio ambiente e cidadania;

contribuindo para a construção do conhecimento. Assim como o canal futura, outros

programas estão inseridos no modo de fazer jornalismo educativo, como aborda o

segundo volume do Manual do Planejamento em Defesa Civil (1999) do Ministério da

Integração Nacional/ Secretaria de Defesa Civil, o jornalismo educativo é:

6Site Canal Futura:http://www.futura.org.br/

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um dos mais importantes instrumentos de mudança cultural. Por esse motivo,

a área de comunicação social da Defesa Civil deve buscar ativamente a

cooperação da imprensa nesta área de atuação. A atuação do jornalismo em

proveito do crescimento do nível de segurança global da população deve ser

planejada com antecipação. Esta atuação, quando bem planejada e conduzida,

realmente contribui para desenvolver o senso de percepção de riscos, para

aumentar o nível de exigência quanto aos riscos aceitáveis e para incrementar

a segurança global da população em circunstâncias de desastres. (DEFESA

CIVIL, 1999, p.44)

Ou seja, é de responsabilidade da profissão produzir matérias jornalísticas que

educam, a fim de promover a crítica e a mudança de comportamento dos indivíduos.

O termo jornalismo educativo não é usual no Brasil, e se confunde muito com o

jornalismo educacional, que informa sobre escolas e educação de modo geral. Este

jornalismo é o mais citado nas pesquisas brasileiras, porém não abrange o sentido de

educar, mas apenas o de informar. Ele pode ser considerado um tipo do jornalismo

especializado que, como diz Abiahy (2005), serve para guiar os leitores sobre o que

mais interessa para eles.

As publicações especializadas servem como um termômetro da gama de

interesses das mais diversas áreas, expõem, então, o nível dissociação entre

os componentes da Sociedade da Informação. Mas por outro lado, podemos

considerar que as produções segmentadas são uma resposta para

determinados grupos que buscavam, anteriormente, uma linguagem e/ou uma

temática apropriada ao seu interesse e/ou contexto. (ABIAHY, 2005, P.6)

Então, podemos considerar que o jornalismo educacional faz parte do conceito

de especializado, pois foca em matérias para um público específico como: estudantes,

professores, gestores de escolas, e demais indivíduos relacionado ao ambiente escolar e

interessados nesse segmento. Analisando essas diferenciações, uma pesquisa realizada

pela Andi7, mostrou a quantidade de notícias relacionadas à educação de crianças e

adolescentes na mídia, porém não o modo como essas matérias poderiam colaborar no

conhecimento desse e de outros públicos (podemos considerar que foi realizada uma

pesquisa quantitativa sobre jornalismo educacional). Apesar disso, houve um aumento

do assunto educação nos jornais brasileiros, como mostra a tabela abaixo:

Tabela 1 – mídia e educação

ANO 1º TEMA 2º TEMA 3º TEMA 4º TEMA 5º TEMA

1996 direitos&

justiça

Saúde Violência abuso&

exploração

educação

7 Pesquisa disponível em: http://comciencia.br/comciencia/?section=8&edicao=49&id=615

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sexual

2007 educação direitos&justiça Violência Saúde Esporte e

lazer

Fonte: Andi

Apesar do aumento sobre matérias ligadas à educação, ainda não se pensa que a

apuração de um fato sobre essa temática pode gerar um conhecimento extra ou novo

para a população.

O mundo é conhecido pelo relato dos jornalistas, que dia a dia noticiam os

acontecimentos da maneira como suas fontes explicam, além disso, o papel social do

profissional tem valor tão grande quanto do professor. Vejamos, as práticas jornalísticas

assumem uma responsabilidade com o leitor/ouvinte/telespectador e usuário da internet

de transmitir o fato da forma mais bem apurada e real possível, resultando algumas

vezes em ideias e decisões a serem tomadas pela sociedade. O papel do professor tende

a apurar a informação tão bem quanto o jornalista e de transmitir ao aluno a informação

da maneira mais real possível. Ou seja, utilizando o método construtivismo8, onde o

professor e o aluno constroem junto o conhecimento acerca das situações do cotidiano,

percebemos a forte ligação que ambas as áreas têm no noticiar e educar, ou podemos

ainda dizer que noticiar deve ser educar. O jornalista Alberto Dines (2001, p. 118)

confirma o valor do jornalismo na educação, explicitando que “o processo de informar é

um processo formador, portanto, o jornalista, em última análise, é um educador.”. Na

escrita de cada matéria, o jornalista deve ter em mente a criatividade para formar o texto

e responder os critérios de noticiabilidade, mas também importar-se em pensar em

torná-la educativa.

As práticas jornalísticas têm uma aproximação com as técnicas do professor que

utiliza o método do construtivismo. O jornalista precisa de fontes para checar a

informação e ter ética para divulgá-las. Assim como diz o Art.8 do Capítulo III do

código de ética dos jornalistas: “O jornalista é responsável por toda a informação que

divulga desde que seu trabalho não tenha sido alterado por terceiros, caso em que a

responsabilidade pela alteração será de seu autor.”. Ou seja, assim como o jornalista tem

autonomia em apurar e responsabilidade em divulgar a notícia, o professor que utiliza o

8 Teoria criada por Jean Piaget (1896-1980). A teoria diz que a criança constrói conhecimento a partir das

suas descobertas em contato com o mundo. Deve se ensinar conceitos e criar questionamentos para

expandir as ideias. Educar não é apenas transmitir conteúdo, mas fazer o aluno compreender diante a suas

condições de conhecimentos sociais. A lição precisa estar próximo do aluno e o exemplo deve ser algo

ligado a sua rotina ou entendimento intelectual.

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método construtivista tem a responsabilidade de planejar uma aula de acordo com os

fatos atuais da sociedade, com a finalidade de educar com exemplos próximos do

cotidiano e gerar uma interação de conhecimentos entre professor e estudantes. A

educação não é construída dentro de uma sala de aula e com um professor, a educação é

construída no dia a dia, no conhecimento além dos livros didáticos, é exatamente isso

que o jornalista faz: conta a história da vida, contudo, depende de uma equipe para

colaborar na execução de cada texto informativo.

“Dizer que jornal é trabalho de equipe é dizer muito pouco.

Jornal bem-sucedido é trabalho de uma orquestra de personalidades e

ideias diferentes ou mesmo antagônicas, porém complementares,

harmonizadas e equilibradas por normas ou metas comuns.” (DINES,

2001, p.58).

5. ESCOLA E SUA RESPONSABILIDADE COM O COTIDIANO

Foram citadas na primeira parte deste artigo, as relações do jornalismo com a

educação. Mas como a escola poderá utilizar do jornalismo como parte do seu processo

educativo? Souza (2003) nos traz uma reflexão sobre o papel do professor:

Muitos educadores ainda não entenderam porque a criança que chega à

escola, logo se desgosta da mesma. Na verdade esta não se acabrunha com o

ambiente educacional, mas sim com os métodos de ensino. Precisamos

pensar na escola, como esta era em épocas passadas, mesmo com poucas

décadas atrás, e por quais evoluções passou. Além disso, necessitamos

debater sobre as posturas e condutas de professor na sociedade em que estava

inserido no passado, e como ele vem se posicionando na atualidade.

(SOUZA, 2003, P. 57)

Se você conhece um professor, já deve ter ouvido dele que os alunos não querem

estudar e que não se tem mais a responsabilidade familiar em educar a criança sobre a

importância da escola em sua vida. Alguém já perguntou para esse professor o que

agrada seus alunos em chegar a um ambiente plenamente arcaico? Exatamente, em

plena era digital e com informações de tudo sobre tudo em um clique, o papel do

professor deve ser renovador.

A Pesquisa9 realizada pelo Comitê Gestor da Internet no Brasil (GCI.BR),

mostrou o acesso de crianças e jovens a este universo. O resultado comprovou que 85%

9 Dados fornecidos pelo professor doutor da ECA-USP, Ismar de Oliveira, no Campus Party em São

Paulo, em janeiro de 2013.(informação verbal)

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das crianças/jovens (9 a 18 anos) de todas as classes sociais do Brasil já têm contato

com a internet (amostragem de 1.589 crianças/jovens brasileiros). Essa porcentagem

nos mostra que esse público tem mais contato com a internet do que o ensino escolar,

além disso, nos prova que a internet pode se tornar uma grande escola. Outro resultado

curioso da pesquisa foi que 55% dos pais desses jovens são professores e não se

envolvem com a rede. Segundo observações do Professor Doutor Ismar de Oliveira

Soares (ECA/USP) sobre a pesquisa, a porcentagem de 85% das crianças e jovens terem

acesso à rede, confirma que elas têm interesse no conhecimento, no contato com o

mundo. Os professores podem utilizar as tecnologias para atrair o aluno a estar mais

próximo do conteúdo explanado em sala de aula. A importância de a educação estar

ligada com as novas tecnologias aumenta a interação e incentiva a pesquisa sobre os

conteúdos, é o que explica o professor José Manuel Moram10:

Os processos de comunicação tendem a ser mais participativos. A relação

professor-aluno mais aberta, interativa. Haverá uma integração profunda

entre a sociedade e a escola, entre a aprendizagem e a vida. A aula não é um

espaço de inado; mas tempo e espaço contínuos de aprendizagem. O

importante é aprender e não impor um padrão único de ensinar.

O conhecimento escolar vai além dos livros e da maneira tradicional de

aprendizagem. Peruzzo (2002) destaca o poder das pessoas em adquirem conhecimento

a cerca da sociedade:

Está ai o âmago da questão da educação para a cidadania nos movimentos

sociais: na inserção das pessoas num processo de comunicação, onde ela

pode tornar-se sujeito do seu processo de conhecimento, onde ela pode

educar-se através de seu engajamento em atividades concretas no seio de

novas relações de sociabilidade que tal ambiente permite que sejam

construídas. (PERUZZO, 2002, P. 5)

Uma reportagem exibida pelo Globo Universidade, em 20/04/201311, mostrou a

deficiência do país em produzir medicamentos e o modo como as universidades estão se

preparando para que o Brasil suba da 8º colocação como produtor de fármacos e

medicamentos, o que movimenta anualmente cerca de 28 bilhões de reais. E o que essa

reportagem poderia contribuir na formação do aluno? Pois bem, além de poder mostrar

o outro lado do conhecimento (a pesquisa), apresenta a importância de se fabricar

remédios e a colocação do profissional de farmácia/química no mercado de trabalho.

10 Especialista em projetos inovadores na educação presencial e a distância.

11 Reportagem disponível em: http://globotv.globo.com/rede-globo/globo-universidade/v/globo-

universidade-20042013-farmacos-integra/2524746/

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Além disso, o professor poderá dar uma aula de química ou até mesmo despertar

curiosidades e montar seu plano de aula a partir de debates e dúvidas que irão surgir

após os alunos assistirem a reportagem.

O Globo Universidade é um dos programas brasileiros que consideramos como

exemplo de jornalismo educativo. Exibido todos os sábados, às 7h da manhã, traz temas

do cotidiano e que podem ser utilizados como materiais nas salas de aulas de diferentes

maneiras e em disciplinas variadas.

Paulo Freire12 diz que educar é construir, é libertar o homem do determinismo,

passando a reconhecer o papel da História e a questão da identidade cultural, tanto em

sua dimensão individual, como na prática pedagógica proposta. A concepção de

educação apresentada pelo autor percebe o homem como ser autônomo. Esta autonomia

está presente na definição de vocação antológica de “ser mais” que está associada com a

capacidade de transformar o mundo (ZACHARIAS, 2007).

Ou seja, educar não é simplesmente trazer os conteúdos novos, mas sim, refletir

sobre o que acontece na vida cotidiana, propondo discussões que desenvolvam o senso

crítico dos estudantes, aproximando da rotina escolar o ensino e a aprendizagem do

social real.

A revista Nova Escola pode ser considerada um jornalismo educativo

educacional, segundo nossas observações. Ela consegue educar um público, porém o

seu público é a comunidade escolar. Não há nada de ruim em se ter um jornalismo

educacional, todavia, os jornalistas devem compor essa matéria como forma de educar e

não apenas informar. Um exemplo visto nos jornais e televisão sobre jornalismo

educacional são as notícias sobre vestibular.

Observamos notícia que foi publicada13 no dia 12/04/2013 no portal Globo –

Educação, sobre a utilização do Enem na Universidade Federal do Rio de Janeiro:

12 Educador e filosofo, Paulo Freire é considerado um dos maiores pensadores da pedagogia. 13 Matéria disponível em: http://oglobo.globo.com/educacao/ufrj-confirma-enem-como-unica-fase-do-

vestibular-8095207

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Figura 2 – Notícia G1

Figura 2. Fonte: Site O globo/Educação

Uma proposta que poderia ser pensada, quando se fala em vestibular, é ampliar

as informações acerca deste assunto. Se jornalismo é responsabilidade, falar de

educação e só abranger o básico seria uma contradição. Poderíamos destacar alguns

pontos positivos e interessantes que poderiam ser colocados nesta matéria:

História da Instituição: Quando iniciou; Quais cursos; Fotos antigas, Qual o

curso mais disputado entre os anos de 1990 a 2000;

Abordar como era processo de avaliações nas correções das provas;

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História do Enem no Brasil e o motivo pelo qual se iniciou na UFRJ;

Infográficos sobre a quantidade de alunos desde o começo da instituição e o final

dela.

Parecem informações demais, porém são informações extras que poderão

colaborar com o leitor. O estudante que pretende virar universitário na UFRJ poderá se

sentir mais seguro e confiante em tentar ingresso em uma instituição sobre a qual tem

informações aprofundadas. Além do mais, a empresa que está noticiando (no caso, a

Globo) poderá criar um laço de credibilidade com o seu público, informando o

necessário (fato) e contextualizando o motivo.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este artigo buscou assinalar algumas reflexões iniciais sobre o distanciamento

atual da área da educação com o jornalismo, além de problematizar a responsabilidade

social de seus profissionais na formação dos indivíduos. No Brasil, há uma carência no

que diz respeito a referências acerca do assunto Jornalismo Educativo. O que costuma

ser mais encontrado são bibliografias sobre Educomunicação, que ainda não abrangem

diretamente o jornalismo, mas a comunicação de maneira geral.

Além disso, a educomunicação trabalha em desenvolver técnicas para ampliar o

conhecimento, e tem o seu objetivo no aumento da autoestima e da capacidade de se

expressar com a comunidade na qual se integra. O Jornalismo Educativo traz

perspectivas que possam educar o leitor e que podem ser trabalhadas dentro de uma sala

de aula ou fora dela. Ou seja, uma notícia educativa não precisa necessariamente estar

vinculada com a escola, mas sim com o dever de educar. Já uma notícia educacional

trata de fatos que envolvam a escola/universidade, sem tem o objetivo de educar.

Partindo do papel da escola e do professor, pode-se afirmar que se trata de um

assunto muito ignorado na academia em ambas as áreas. Em geral, o professor acaba

excluindo a atividade jornalística como didática de educar. Fala-se tanto no método

construtivista na educação e não se utiliza práticas para melhorar a didática, por

exemplo, atividades de reflexão e crítica sobre as mídias.

Há diversas maneiras de educar através da mídia. Temos que ter as duas áreas

trabalhando juntas e assim excluindo o pensamento retrógado de que a mídia não educa.

Para a mídia começar a ter uma mudança significativa em sua função educativa na

sociedade, precisamos que as universidades problematizem e ensinem os jornalistas (e

comunicólogos) a produzirem material com alto teor de apuração e com objetivos além

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do simples informar. Nesse sentido, é o que buscamos com esse texto e os apontamentos

iniciais no que tange a tais problemáticas.

REFERÊNCIAS

1. ABIAHY, Ana Carolina. O Jornalismo Especializado na Sociedade da Informação.

In: BOCC. Biblioteca On-line de Ciências da Comunicação. Portugal, v. 1, p. 1-27,

2005. Disponível em: <http://www.bocc.ubi.pt/pag/abiahy-ana-jornalismo-

especializado.pdf>. Acesso em: 09 de julho de 2013.

2. MANUAL DE PLANEJAMENTO EM DEFESA CIVIL .Volume II – Ministério da

Integração Nacional/ Secretaria de Defesa Civil. Imprensa Nacional, Brasília, 1999.

3. MORAN, José. Os Meios de Comunicação na Escola. Disponível em:

<http://www.crmariocovas.sp.gov.br/pdf/c_ideias_09_021_a_028.pdf>. Acesso em: 19

de out. de 2013.

4. PERUZZO.C. Comunicação Comunitária e Educação para a Cidadania. Disponível

em : <http://www2.metodista.br/unesco/PCLA/revista13/artigos%2013-3.htm>. Acesso

em: 8 de out. de 2013.

5. ZACHARIAS, Vera Lúcia C. Paulo Freire e a educação. Centro de Referencial

Educacional, 2007. Disponível em:

<http://publicacoes.fatea.br/index.php/janus/article/view/41>. Acesso em: 19 de out. de

2013.

6. RAIGÓN, Guillermo. Ensino de jornalismo: Objetivos. Disponível em:

<http://www.ull.es/publicaciones/latina/a1999c/115raigon.htm>. Acesso em: 19 de out.

de 2013.

7. MARCELO, Adriana. Radio na escola: O jornalismo como ferramenta no processo

de ensino/aprendizagem. Disponível em:

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<http://encipecom.metodista.br/mediawiki/images/8/88/GT6_-_019.pdf>. Acesso em:

16 de out. de 2013.

8. RIZZON, Gisele. A sala de aula sob o olhar do construtivismo Piagetiano:

Perspectivas e implicações. Disponível em:

<http://www.ucs.br/site/midia/arquivos/Construtivismo_Piagetiano.pdf>. Acesso em:

20 de out. de 2013.

9. UNICEF. Fórum Mídia & Educação:Perspectivas para a Qualidade da Informação.

Disponível em: <http://www.unicef.org/brazil/pt/midiaedu.pdf>. Acesso em: 20 de

out. de 2013.

10. VAZ, Tyciane. Jornalismo utilitário - Teoria e pratica. Disponível em:

<http://ibict.metodista.br/tedeSimplificado/tde_busca/arquivo.php?codArquivo=3235>.

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11. FENAJ. Código de ética dos jornalistas. Disponível em:

<http://www.fenaj.org.br/federacao/cometica/codigo_de_etica_dos_jornalistas_brasileir

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12. UERJ. imagem.jpg. Uerj confirma Enem como única fase do vestibular 2013.

Largura: 332 pixels. Altura: 310 pixels. 96 dpi. 24 BIT RGB. 23,97KB. Formato JPEG .

Disponível em: <http://oglobo.globo.com/educacao/ufrj-confirma-enem-como-unica-

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14. SENE, Fábio. Mídia e educação: a cobertura jornalística em foco. Disponível em:

<http://comciencia.br/comciencia/?section=8&edicao=49&id=615>. Acesso em : 19 de

out. de 2013.