jornalismo de ciência e a relação pesquisadores x mídia w i l s o n b u e n o 2 0 2 1...

21
Jornalismo de ciência e a relação pesquisadores x mídia W I L S O N B U E N O 2 0 2 1 [email protected]. br USP

Upload: manoela-da-fonseca-fagundes

Post on 07-Apr-2016

223 views

Category:

Documents


7 download

TRANSCRIPT

Page 1: Jornalismo de ciência e a relação pesquisadores x mídia W I L S O N B U E N O 2 0 2 1 wilson@comtexto.com.br USP

Jornalismo de ciência e a relação pesquisadores x mídia

WI

L

SO

N

BU

E

NO

2

0

21

[email protected]

USP

Page 2: Jornalismo de ciência e a relação pesquisadores x mídia W I L S O N B U E N O 2 0 2 1 wilson@comtexto.com.br USP

Jornalistas x pesquisadores:conflito ou parceria

A cultura científica e a cultura jornalística moldam perfis profissionais distintos

A ciência como vocação x a ciência como mais um espaço de cobertura

Níveis distintos de compreensão e domínio do objeto

O cientista é sempre um especialistaO jornalista é, na maioria das vezes, um generalista

Page 3: Jornalismo de ciência e a relação pesquisadores x mídia W I L S O N B U E N O 2 0 2 1 wilson@comtexto.com.br USP

Jornalistas x pesquisadores:conflito ou parceria

A arrogância e a impaciência são atributos de ambas as categorias

O cientista pratica o discurso da competênciaO jornalista ignora a humildade

As incompreensões derivam, quase sempre, da falta de conhecimento sobre o contexto em que o outro se insere

Page 4: Jornalismo de ciência e a relação pesquisadores x mídia W I L S O N B U E N O 2 0 2 1 wilson@comtexto.com.br USP

Jornalistas x pesquisadores:conflito ou parceria

O cientista preocupa-se, sobretudo, com a avaliação dos seus pares

O jornalista preocupa-se, sobretudo, com a avaliação da audiência

O que significa comunicar ciência?A comunicação pressupõe a eliminação de

distâncias entre os interlocutoresComunicar ciência é um ato de cidadania

Page 5: Jornalismo de ciência e a relação pesquisadores x mídia W I L S O N B U E N O 2 0 2 1 wilson@comtexto.com.br USP

Jornalistas x pesquisadores:conflito ou parceria

O jornalista precisa entender que a comunidade científica é sensível e

conservadora

O cientista precisa entender que o jornalista briga com o tempo

Há tensões reais na construção da parceria

Page 6: Jornalismo de ciência e a relação pesquisadores x mídia W I L S O N B U E N O 2 0 2 1 wilson@comtexto.com.br USP

Um pressuposto básico:a neutralidade não existe

No Jornalismo Científico, assim como na cobertura jornalística em geral, a neutralidade não existe porque todas as fontes estão em tese comprometidas com seus vínculos, compromissos e interesses.

Evidentemente, há diferenças importantes entre formas e modalidades de compromisso levando em conta o interesse público.

Page 7: Jornalismo de ciência e a relação pesquisadores x mídia W I L S O N B U E N O 2 0 2 1 wilson@comtexto.com.br USP

O que seria a neutralidade em Jornalismo Científico?

Valer-se de fontes independentes, desvinculadas de interesses empresariais, políticos, de grupos existentes na comunidade científica ou pessoais?

A pergunta básica : é possível encontrar estas

fontes? Estas fontes verdadeiramente existem?

Page 8: Jornalismo de ciência e a relação pesquisadores x mídia W I L S O N B U E N O 2 0 2 1 wilson@comtexto.com.br USP

Os compromissos da produção científica

A produção científica está comprometida com um problema ou tema de pesquisa, com a trajetória particular do pesquisador ou do grupo de pesquisa ao qual ele se filia, com os agentes (Estado ou empresa) que financiam o projeto de pesquisa e inclusive com o momento histórico (determinado pela convergência de fatores econômicos, políticos, sócio-culturais etc).

A produção científica não é, em essência, isenta, mas condicionada.

Page 9: Jornalismo de ciência e a relação pesquisadores x mídia W I L S O N B U E N O 2 0 2 1 wilson@comtexto.com.br USP

Um olhar real, não negativo, sobre a “ falta de neutralidade”

A consciência de que toda produção científica tem seus compromissos não representa, necessariamente, uma condenação.

As perguntas básicas são:a) Os compromissos falseiam ou manipulam os

resultados da pesquisa?b) Quem lucra com esta produção científica em

particular?c) O interesse público está sendo privilegiado?d) O que significa efetivamente interesse público?

Page 10: Jornalismo de ciência e a relação pesquisadores x mídia W I L S O N B U E N O 2 0 2 1 wilson@comtexto.com.br USP

Uma constatação importante

Algumas áreas de pesquisa são críticas no que diz respeito à ação dos lobbies e estratégias de intervenção/manipulação e os resultados de pesquisa costumam, em determinadas situações, estar sob suspeita:

Indústria da saúdeIndústria do tabacoIndústria agroquímica e de biotecnologiaIndústria da alimentação etc

Page 11: Jornalismo de ciência e a relação pesquisadores x mídia W I L S O N B U E N O 2 0 2 1 wilson@comtexto.com.br USP

As restrições na produção e na divulgação científica

É preciso enxergar a ciência, a tecnologia e a inovação como mercadorias sujeitas a determinados condicionamentos:

Restrição à produçãoRestrição à transferênciaRestrição ao uso

Enfim, a ciência, a tecnologia e a inovação não estão disponíveis para todos.

Page 12: Jornalismo de ciência e a relação pesquisadores x mídia W I L S O N B U E N O 2 0 2 1 wilson@comtexto.com.br USP

Um dado dramático e uma conclusão

A maioria dos investimentos em ciência, tecnologia e inovação está direcionada para a indústria da guerra.

A contrapartida do progresso técnico pode ser a tecnoexclusão, a agressão ao meio ambiente, a hegemonia de determinados países etc.

Logo, o contexto da produção científica precisa ser visto também sob uma perspectiva política, econômica, sócio-cultural e não apenas em sua vertente eminentemente técnica.

Page 13: Jornalismo de ciência e a relação pesquisadores x mídia W I L S O N B U E N O 2 0 2 1 wilson@comtexto.com.br USP

O Jornalismo Científico pode também estar contaminado

A contaminação ocorre pelo compromisso das fontes

O diretor de Pesquisa & Desenvolvimento da Monsanto ou da Novartis, ainda que um cientista ilustre, é uma fonte independente?

Que informações contrárias aos transgênicos podemos encontrar no CIB – Conselho de Informações sobre Biotecnologia?

A Microsoft admite as vantagens do software livre?

Page 14: Jornalismo de ciência e a relação pesquisadores x mídia W I L S O N B U E N O 2 0 2 1 wilson@comtexto.com.br USP

O Jornalismo Científico pode também estar contaminado

A contaminação ocorre pelo olhar do repórter ou editor ou mesmo da editoria em geral

Todo repórter ou editor tem uma leitura particular da realidade e, além do seu racionalismo, incorpora visões de mundo e idiossincrasias

Que conceito de floresta praticam as editorias de economia?

Page 15: Jornalismo de ciência e a relação pesquisadores x mídia W I L S O N B U E N O 2 0 2 1 wilson@comtexto.com.br USP

O Jornalismo Científico pode também estar contaminado

A contaminação ocorre na negociação com a audiência

Como o jornalista científico precisa, necessariamente, adaptar sua pauta, sua linguagem/discurso à audiência, sua matéria/reportagem incorpora condicionamentos.

Uma mesma pauta pode gerar distintas matérias (mais ou menos detalhadas, com mais ou menos termos técnicos, mais ou menos abrangentes etc) dependendo do tipo de mídia (impressa, eletrônica, especializada etc).

Page 16: Jornalismo de ciência e a relação pesquisadores x mídia W I L S O N B U E N O 2 0 2 1 wilson@comtexto.com.br USP

O Jornalismo Científico pode também estar contaminado

A contaminação ocorre pelos interesses dos empresários da comunicação e dos anunciantes

Há, muitas vezes, conflitos entre pautas, focos, fontes e interesses comerciais, de tal modo que alguns temas controversos e que envolvem grandes interesses acabam sendo jogados para debaixo do tapete.

Há coberturas cosméticas de determinados temas (“nunca se coloca o dedo na ferida ou se dá o nome aos bois”) e outras que apenas permanecem na superfície.

É notório o caráter pouco investigativo do jornalismo científico.

Page 17: Jornalismo de ciência e a relação pesquisadores x mídia W I L S O N B U E N O 2 0 2 1 wilson@comtexto.com.br USP

O Jornalismo Científico pode também estar contaminado

A contaminação tem ocorrido pela intervenção de doutrinas/ igrejas que vem se apropriando dos veículos e buscando impor princípios e valores religiosos.

O embate criacionismo x teoria da evoluçãoA controvérsia das células-tronco e do abortoA tentativa de “sacralizar” a ciência

Page 18: Jornalismo de ciência e a relação pesquisadores x mídia W I L S O N B U E N O 2 0 2 1 wilson@comtexto.com.br USP

O avanço perigoso das pseudociências

A mídia tem dado espaço cada vez maior para teorias que não têm respaldo empírico e que buscam travestir-se de ciência.

O jornalista científico encontra-se frequentemente num dilema e sob pressão: ignora as novas alternativas e faz o jogo do status quo, descarta a possibilidade de aumentar a leitura/audiência de suas matérias?

Page 19: Jornalismo de ciência e a relação pesquisadores x mídia W I L S O N B U E N O 2 0 2 1 wilson@comtexto.com.br USP

A qualificação da informação e o interesse público

O jornalista científico tem que ter compromisso com o interesse público (não confundir com o interesse do público), tem que qualificar as informações, confrontar as fontes e avaliar a sua dependência (vínculo) em relação ao tema.

A armadilha da monofonteA sedução do sensacionalismo

Page 20: Jornalismo de ciência e a relação pesquisadores x mídia W I L S O N B U E N O 2 0 2 1 wilson@comtexto.com.br USP

A democratização do conhecimentoe a prática da divulgação científica

A democratização do conhecimento científico deve ser o objetivo principal da parceria entre jornalistas e pesquisadores

Incluir a população no debate de temas de ciência, tecnologia e inovação

Rejeitar as “panelinhas” e o mau uso político da ciência

Defender a profissionalização das estruturas de comunicação dos centros produtores de conhecimento

Page 21: Jornalismo de ciência e a relação pesquisadores x mídia W I L S O N B U E N O 2 0 2 1 wilson@comtexto.com.br USP

A parceria pesquisadores/jornalistas como melhor (ou única) alternativa

A parceria entre pesquisadores e jornalistas é a melhor ( ou única) alternativa para uma

divulgação científica comprometida com o interesse público, com a soberania nacional e com a inclusão da sociedade no processo de

tomada de decisões que dizem respeito à ciência, tecnologia e inovação.