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Quarta-feira, 5 de junho de 2013 | Valor | A3 Brasil Fonte: Funai/Lei de acesso à informação Demarcações 25 processos de demarcação pelo país têm estudos em fase avançada Acapuri de Cima Arara do Rio Amônia Arary Banawá Boa Vista Kariri-Xokó Manoki Pequizal do Naruvôto Pitaguary Ribeirão Silveira Rio Gregório Setemã Uirapuru Yvy-Katu Arara da Volta Grande do Xingu Cachoeira Seca Cacique Fontoura Morro dos Cavalos Kayabi Potiguara de Monte-Mor Rios dos Índios Tabocal Toldo Imbu Senador José Porfírio (PA) Altamira, Placas e Uruará (PA) Luciara e São Félix do Araguaia (MT) Palhoça (SC) Apiacás (MT) e Jacareacanga (PA) Marcação e Rio Tinto (PB) Vicente Dutra (RS) Careiro (AM) Aberlardo Luz (SC) Município/Estado Terra indígena Processos em trâmite na Funai Processos que aguardam homologação no Ministério da Justiça Município/Estado Terra indígena 1 1 2 3 4 5 6 7 8 9 1 2 3 6 4 7 9 8 5 1 2 2 3 3 4 4 5 5 6 6 7 7 8 8 9 9 10 10 11 11 12 12 13 13 14 14 Fonte Boa (AM) Marechal Taumaturgo (AC) Borba e Novo Aripuanã (AM) Canutama, Lábrea e Tapauá (AM) Laranjeiras do Sul (PR) Porto Real do Colégio e São Brás (AL) Brasnorte (MT) Canarama e Gaúcha do Norte (MT) Maracanaú e Pacatuba (CE) Bertioga, Salesópolis e São Sebastião (SP) Tarauacá (AC) Borba e Novo Aripuanã (AM) Campos do Julho e Nova Lacerda (MT) Brasnorte (MS) Fonte Boa Marechal Taumaturgo Tarauacá Lábrea Brasnorte Apiacás Jacareacanga Campos do Julho Nova Lacerda Canutama Tapauá Borba Careiro Novo Aripuanã Senador José Porfírio Porto Real do Colégio Laranjeirasdo Sul Bertioga Palhoça São Sebastião Salesópolis São Brás Maracanaú Marcação Rio Tinto Pacatuba Altamira Placas Uruará Canarama Gaúcha do Norte Luciara São Félix do Araguaia Vicente Dutra Aberlardo Luz Governo inicia concessão de florestas para extração de madeira André Borges De Brasília Os alvos de concessão do gover- no, que até agora estavam concen- trados na área de infraestrutura lo- gística do país, começam a se espa- lhar por setores menos afeitos à atuação direta do setor privado. A tendência agora é conceder partes da floresta amazônica para explo- ração de madeira. O governo assi- na hoje contrato de concessão por 40 anos que permitirá a extração de árvores de uma unidade de con- servação de 87 mil hectares na área da Floresta Nacional (Flona) de Ja- cundá, em Rondônia. A área será privatizada em favor da compa- nhia Madeflona, que poderá fazer o chamado “manejo sustentável” da unidade de conservação. A licitação, realizada pelo Servi- ço Florestal Brasileiro (SFB), órgão vinculado ao Ministério do Meio Ambiente, se baseia no modelo de técnica e preço. O governo estabe- leceu uma série de critérios de qua- lificação da empresa e de explora- ção da floresta, além de um preço mínimo que a empresa pagará à União pela extração de cada metro cúbico de madeira extraída. Em Ja- cundá, o valor foi de R$ 56 por me- tro cúbico. Pelas regras, o conces- sionário opera três meses e paga no fim do quadrimestre. Quatro empresas chegaram a participar da licitação, mas ape- nas a Madeflona, que é da região de Rondônia, chegou até a etapa final do processo e venceu a dis- puta sem apresentar ágio sobre o preço mínimo da proposta. O manejo sustentável, afirma Marcus Vinícius Alves, diretor de concessões e monitoramento do SFB, possui uma série de exigências que garantem a exploração co- mercial da floresta, sem compro- meter a manutenção da natureza e as características da região. De ca- da hectare de mata, por exemplo, a empresa só pode retirar, no máxi- mo, seis árvores, as quais não po- dem ter menos de 50 centímetros de diâmetro. Uma vez manejada, a empresa só pode voltar a explorar a área depois de 30 anos. O contrato, no entanto, não de- fine que tipo de madeira pode ser retirada. Essa decisão fica a critério da empresa, conforme seus inte- resses comerciais. O preço do me- tro cúbico é o mesmo para qual- quer espécie de árvore. O acordo também não prevê exigência de replantio dessas árvores. “O prazo de 30 anos é o tempo necessário para que a floresta cresça e se refa- ça naturalmente. Essa forma de manejo em floresta tropical passa por uma fiscalização rigorosa e permite uma exploração bastante reduzida”, diz Alves. A concessão também exige que a empresa, ao derrubar uma árvo- re e fazer o pagamento ao governo por aquela extração, dê andamen- to à industrialização daquela ma- téria-prima, ou seja, ela fica impe- dida de simplesmente revender as toras. É preciso transformá-las em produtos finais como, por exem- plo, móveis e utensílios domésti- cos. “O governo quer que essas áreas sejam manejadas para gerar benefício nas áreas econômica e social. O concessionário tem que agregar valor ao produto, assim se estabelece uma cadeia social”, afir- ma Alves. “Manejo florestal não é derrubada indiscriminada de ár- vores. A melhor forma de manter uma floresta de pé é manejá-la, quando se trata daquelas que têm características de suprir o desen- volvimento e de se renovar.” Com a assinatura do contrato de Jacundá, as áreas sob conces- são florestal federal passam a so- mar cerca de 230 mil hectares, o equivalente a 1,5 vez o tamanho do município de São Paulo. Esse processo, iniciado em 2008, ten- de a se intensificar nos próximos meses. Na última sexta-feira, o governo lançou edital que pode- rá triplicar as áreas concedidas até o fim deste ano. A licitação prevê a oferta de 440 mil hectares na Floresta Nacional do Crepori, no Pará, que deverá ser a maior área já licitada no país. Paralelamente, um convênio fir- mado pelo Serviço Florestal com o BNDES e o International Finance Corporation (IFC, braço financeiro para o setor privado do Banco Mundial), pretende desenvolver “um novo modelo de concessão” para as Florestas Nacionais de Itai- tuba I e II, também no Pará. O governo defende a tese de que o manejo sustentável é uma alter- nativa econômica para as áreas de conservação e que respeita a capa- cidade de regeneração natural da floresta, além de ser um instru- mento de combate à extração ile- gal de madeira, prática que hoje contamina cerca de 40% das árvo- res que tombam na Amazônia. Segundo o Instituto Chico Mendes (ICMBio), órgão federal responsável pela gestão das flo- restas protegidas, há hoje 312 unidades de conservação no país: 139 de proteção integral e 173 de uso sustentável. Essa ri- queza natural envolve pratica- mente 10% de todo o território nacional, somando 75,1 milhões de hectares. As florestas de proteção inte- gral, como o próprio nome diz, são aquelas que exigem máximo rigor de fiscalização e controle, sem in- terferência humana. Já nas unida- des de conservação de uso susten- tável, a proposta é conciliar a con- servação da natureza com o uso de parte de seus recursos, sem prejuí- zo para as riquezas naturais. Em 2012, o governo alterou os limites de sete unidades de conser- vação da Amazônia e retirou delas áreas que serão alagadas por reser- vatórios de usinas hidrelétricas planejadas para a região. Foram reduzidos o Parna da Amazônia, Parna dos Campos Amazônicos, Parna Mapinguari, Flona de Itaitu- ba I, Flona de Itaituba II, Flona do Crepori e Área de Proteção do Ta- pajós. Ao todo, a redução somou cerca de 1.500 quilômetros qua- drados de áreas de preservação. Minas lidera desmatamento da Mata Atlântica Agência Brasil, de São Paulo O desmatamento na Mata Atlântica aumentou 29% de 2011 para 2012. Foram 23.548 hecta- res de vegetação nativa perdida, o equivalente a 235 quilômetros quadrados, a maior área atingida desde 2008. As informações fo- ram divulgadas ontem no lança- mento do Atlas dos Remanescen- tes Florestais da Fundação SOS Mata Atlântica e do Instituto Na- cional de Pesquisas Espaciais (In- pe). Do total desmatado, 21,9 mil hectares correspondem a desflo- restamentos e o restante, à elimi- nação de vegetação de restinga e vegetação de mangue. O atlas avaliou os 17 Estados que ainda têm faixas de Mata Atlântica, sendo 81% de áreas sem cobertura de nuvens. O le- vantamento abrange, pela pri- meira vez, o estado do Piauí, cu- jos remanescentes florestais to- talizam 34% da área original pro- tegida pela Lei da Mata Atlântica. Com a inclusão do Piauí no ma- peamento da área de aplicação da lei, a área original restante de Mata Atlântica é 8,5%, informou a SOS Mata Atlântica. Sem o Piauí ficaria em 7,9%. Quando conside- rados pequenos fragmentos de mata espalhados por todo o país o bioma chega a 12,5%. Minas Gerais foi, pela quarta vez, o Estado que mais desmatou, sendo o responsável por metade do desmatamento em 2012.. Fo- ram perdidos em Minas 10,7 mil hectares, o correspondente a 70% do desmate total verificado no atlas, levando em conta a compa- ração com o ano anterior. Em segundo lugar vem a Ba- hia, com perda de 4,5 mil hecta- res e o Piauí que, mesmo monito- rado pela primeira vez, assumiu o terceiro lugar da lista, com 2,6 mil hectares desmatados. Lei é omissa sobre uso de recursos em terra indígena André Borges De Brasília A dificuldade do governo de chegar a um entendimento com grupos indígenas passa direta- mente pela necessidade de regula- mentar o artigo 231 da Constitui- ção, que trata do aproveitamento dos recursos hídricos do país, in- cluídos os potenciais energéticos, a pesquisa e a lavra das riquezas minerais em terras indígenas. Esse artigo libera a exploração de terras desde que sejam “ouvidas as co- munidades afetadas, ficando-lhes assegurada participação nos resul- tados”. Acontece que, passados 24 anos da Constituição, o artigo ain- da não foi transformado em lei. O governo argumenta que o assunto tem sido estudado por um grupo de trabalho, mas o fato é que o assunto não tem avança- do. Atualmente, existem 688 ter- ras indígenas no país, cobrindo uma extensão de 106,7 milhões de hectares, o que equivale a 12,5% do território nacional. Empresários interessados em implantar projetos de geração de energia e obras de infraestrutura defendem a implantação de um regime já utilizado em países co- mo o Canadá, onde o índio recebe um royalty para liberar a constru- ção de empreendimentos que atinjam a área de terras demarca- das. A proposta também agrada o governo. No fim do ano passado, a ministra do Planejamento, Miriam Belchior, afirmou que o governo trabalhava na conclusão de uma proposta para o pagamento de royalties aos índios. A iniciativa, porém, não teve desdobramentos. O fato é que a situação de confli- tos com os índios chegou a tal pon- to que as lideranças das principais mobilizações em andamento no país se negam a receber qualquer repasse financeiro para autorizar empreendimentos. A insistência, pelo menos quanto à construção de hidrelétricas, é para que o go- verno abandone os projetos. Como as medidas estruturais não caminharam, o governo anun- ciou, no mês passado, que vai mu- dar o processo de demarcação de terras, retirando a exclusividade da Funai nas decisões e incluindo Embrapa, Incra e Ministério do Meio Ambiente. Essa mudança in- tensificou protestos indígenas em várias regiões do país. Ontem, o Ministério Público Fe- deral (MPF) criticou a lentidão do governo em definir um cronogra- ma de ações e afirmou que consi- dera a demarcação de terras um problema político. Para o procura- dor da República Emerson Kalif Si- queira, “falta vontade política para solucionar a questão indígena”. Segundo ele, muitas são as alterna- tivas para minimizar os efeitos do conflito fundiário no Mato Grosso do Sul, inclusive reparação por ti- tulação errônea de terras, mas a omissão da União em enfrentar a temática só tem agravado a tensão no campo. O MPF destacou ainda “o despreparo da polícia” em en- frentar conflitos fundiários. Hoje está em andamento den- tro da Funai o processo de homo- logação de 14 terras indígenas (ver quadro). Outros nove processos já foram encaminhados ao Ministé- rio da Justiça e aguardam a assina- tura do ministro José Eduardo Car- doso para o decreto homologató- rio. A maioria está na fila há mais de uma década. Na lista de demar- cações atrasadas estão casos como o de Cachoeira Seca, do grupo in- dígena Arara, que cobra demarca- ção há 14 anos na região de Alta- mira, Placas e Uruará, no Pará. Terras índigenas Conflito no Mato Grosso do Sul recrudesce e resulta em mais um índio da etnia terena baleado Força Nacional chega hoje a Sidrolândia Bruno Peres e Yvna Sousa De Brasília O ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Gilberto Carvalho, ainda discursava na tarde de on- tem para um grupo de 140 índios no Palácio do Planalto quando o indígena da etnia terena Joziel Ga- briel Alves, de 34 anos, foi baleado nas costas, durante manifestação na Fazenda São Sebastião, em Si- drolândia (MS). Segundo informa- ções locais, houve briga entre os índios e funcionários da fazenda. Até a noite de ontem, ele estava na Santa Casa de Campo Grande, em estado grave, com o projétil aloja- do na coluna vertebral. O recrudescimento dos conflitos na região de Sidrolândia fez o Palá- cio do Planalto anunciar o envio de 110 homens da Força Nacional de Segurança, segundo anunciou o mi- nistro da Justiça, José Eduardo Car- dozo. O pedido para envio da Força foi feito ontem pelo governador An- dré Puccinelli (PMDB). Os agentes devem chegar ao Estado ainda hoje. Cardozo disse que a Polícia Federal vai discutir com a Secretaria de Segu- rança Pública do Mato Grosso do Sul a possibilidade de aumentar o efeti- vo no Estado. O ministro explicou que a Força Nacional pode ser requisitada pa- ra auxiliar na reintegração de pos- se da Fazenda Buriti, mas tal deter- minação precisa ser feita pela Justi- ça. Na semana passada, um índio terena foi morto no local durante ação da PF para a retirada dos indí- genas da propriedade. “Nós temos que aguardar a determinação ju- dicial. Aquilo que for determinado pelo juiz de direito será cumpri- do”, declarou Cardozo. Depois da morte de Oziel Gabriel a proprie- dade voltou a ser ocupada pelos índios da etnia terena. Gilberto Carvalho demonstrou ontem a representantes de seis et- nias indígenas a disposição do go- verno em manter diálogo perma- nente com os índios e evitar confli- tos em processos de demarcação de terras pelo país. Durante a reu- nião, de cerca de três horas, ele ou- viu diversas queixas. Ao término do encontro, Carvalho fez um aler- ta: segundo ele, muito do que fora dito não correspondia à realidade. “Queremos a verdade”, disse, em referência a acusações dos índios, de omissão do governo federal. Entre as principais reivindica- ções indígenas, estão a paralisação imediata das obras em andamento e planejadas para a região amazô- nica e a realização de consulta pré- via às aldeias antes que qualquer processo de licenciamento seja ini- ciado. O ministro lamentou as mortes recentes ocorridas em con- flitos entre agentes do governo e indígenas e disse que o governo defende que as comunidades te- nham meios próprios para se sus- tentar, sem depender da venda de madeira ou garimpo ilegal. Antes da reunião, o ministro informou que a presidente Dil- ma Rousseff determinou a elabo- ração de um programa voltado para as comunidades indígenas que lhes garanta sustentação econômica. “Seriam pequenas iniciativas econômicas”, afirmou Gilberto Carvalho. Sobre o canteiro da usina de Belo Monte, palco recente de ocupação indígena, o ministro informou ter tido uma conversa “em uma reunião dura” com o consórcio para exigir o cumpri- mento das condicionantes do empreendimento. O secretário- geral da Presidência da Repúbli- ca disse, porém, que não poderia mentir para os indígenas, anun- ciando que o governo pode parar a construção da Usina de Belo Monte. “Não tem como parar.” O ministro classificou o acor- do feito entre governo e indíge- nas para a desocupação do can- teiro e retomada das obras como “uma referência”, defendendo “ponderações” no cumprimento das decisões judiciais envolven- do conflitos. Carvalho disse tam- bém ser essa uma determinação da presidente Dilma Rousseff: que sejam proporcionadas “con- dições de acalmar a situação em todo o país”. O ministro defendeu a posição do governo, externada pela mi- nistra-chefe da Casa Civil, Gleisi Hoffmann. Ela defende que ou- tros órgãos do governo, e não apenas a Funai, sejam consulta- dos em processos de demarcação de terras indígenas. Segundo Carvalho, as consultas feitas a ou- tros órgãos servirão justamente para “fortalecer” os pareceres técnicos da Funai. “Nós quere- mos é fortalecer a Funai”, disse o ministro. “Não há nenhum inte- resse do governo em enfraquecer a Funai”, enfatizou.

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Jornal Valor --- Página 3 da edição "05/06/2013 2a CAD A" ---- Impressa por pbarros às 04/06/2013@22:26:55

Quarta-feira, 5 de junho de 2013 | Valor | A3

Enxerto

Jornal Valor Econômico - CAD A - BRASIL - 5/6/2013 (22:26) - Página 3- Cor: BLACKCYANMAGENTAYELLOW

B ra s i l

Fonte: Funai/Lei de acesso à informação

Demarcações25 processos de demarcação pelo país têm estudos em fase avançada

Acapuri de Cima

Arara do Rio Amônia

Arary

Banawá

Boa Vista

Kariri-Xokó

Manoki

Pequizal do Naruvôto

Pitaguary

Ribeirão Silveira

Rio Gregório

Setemã

Uirapuru

Yvy-Katu

Arara da Volta Grande do Xingu

Cachoeira Seca

Cacique Fontoura

Morro dos Cavalos

Kayabi

Potiguara de Monte-Mor

Rios dos Índios

Tabocal

Toldo Imbu

Senador José Porfírio (PA)

Altamira, Placas e Uruará (PA)

Luciara e São Félix do Araguaia (MT)

Palhoça (SC)

Apiacás (MT) e Jacareacanga (PA)

Marcação e Rio Tinto (PB)

Vicente Dutra (RS)

Careiro (AM)

Aberlardo Luz (SC)

Município/EstadoTerra indígena

Processos em trâmite na Funai

Processos que aguardam homologação no Ministério da Justiça

Município/EstadoTerra indígena

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Fonte Boa (AM)

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Borba e Novo Aripuanã (AM)

Canutama, Lábrea e Tapauá (AM)

Laranjeiras do Sul (PR)

Porto Real do Colégio e São Brás (AL)

Brasnorte (MT)

Canarama e Gaúcha do Norte (MT)

Maracanaú e Pacatuba (CE)

Bertioga, Salesópolis e São Sebastião (SP)

Tarauacá (AC)

Borba e Novo Aripuanã (AM)

Campos do Julho e Nova Lacerda (MT)

Brasnorte (MS)

Fonte Boa

Marechal Taumaturgo

Tarauacá

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Brasnorte

Apiacás

Jacareacanga

Campos do JulhoNova Lacerda

CanutamaTapauá

BorbaCareiro

Novo Aripuanã

Senador José Porfírio

Porto Real do Colégio

Laranjeirasdo Sul Bertioga

Palhoça

São SebastiãoSalesópolis

São Brás

Maracanaú

Marcação

Rio Tinto

PacatubaAltamira

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CanaramaGaúcha do Norte

LuciaraSão Félix do Araguaia

Vicente DutraAberlardo Luz

Governo inicia concessão de florestas para extração de madeiraAndré BorgesDe Brasília

Os alvos de concessão do gover-no, que até agora estavam concen-trados na área de infraestrutura lo-gística do país, começam a se espa-lhar por setores menos afeitos àatuação direta do setor privado. Atendência agora é conceder partesda floresta amazônica para explo-ração de madeira. O governo assi-na hoje contrato de concessão por40 anos que permitirá a extraçãode árvores de uma unidade de con-servação de 87 mil hectares na áreada Floresta Nacional (Flona) de Ja-cundá, em Rondônia. A área seráprivatizada em favor da compa-nhia Madeflona, que poderá fazero chamado “manejo sustentável”da unidade de conservação.

A licitação, realizada pelo Servi-ço Florestal Brasileiro (SFB), órgãovinculado ao Ministério do MeioAmbiente, se baseia no modelo detécnica e preço. O governo estabe-leceu uma série de critérios de qua-

lificação da empresa e de explora-ção da floresta, além de um preçomínimo que a empresa pagará àUnião pela extração de cada metrocúbico de madeira extraída. Em Ja-cundá, o valor foi de R$ 56 por me-tro cúbico. Pelas regras, o conces-sionário opera três meses e pagano fim do quadrimestre.

Quatro empresas chegaram aparticipar da licitação, mas ape-nas a Madeflona, que é da regiãode Rondônia, chegou até a etapafinal do processo e venceu a dis-puta sem apresentar ágio sobre opreço mínimo da proposta.

O manejo sustentável, afirmaMarcus Vinícius Alves, diretor deconcessões e monitoramento doSFB, possui uma série de exigênciasque garantem a exploração co-mercial da floresta, sem compro-meter a manutenção da natureza eas características da região. De ca-da hectare de mata, por exemplo, aempresa só pode retirar, no máxi-mo, seis árvores, as quais não po-dem ter menos de 50 centímetros

de diâmetro. Uma vez manejada, aempresa só pode voltar a explorara área depois de 30 anos.

O contrato, no entanto, não de-fine que tipo de madeira pode serretirada. Essa decisão fica a critérioda empresa, conforme seus inte-resses comerciais. O preço do me-tro cúbico é o mesmo para qual-quer espécie de árvore. O acordotambém não prevê exigência dereplantio dessas árvores. “O prazode 30 anos é o tempo necessáriopara que a floresta cresça e se refa-ça naturalmente. Essa forma demanejo em floresta tropical passapor uma fiscalização rigorosa epermite uma exploração bastanter e d u z i d a”, diz Alves.

A concessão também exige quea empresa, ao derrubar uma árvo-re e fazer o pagamento ao governopor aquela extração, dê andamen-to à industrialização daquela ma-téria-prima, ou seja, ela fica impe-dida de simplesmente revender astoras. É preciso transformá-las emprodutos finais como, por exem-

plo, móveis e utensílios domésti-cos. “O governo quer que essasáreas sejam manejadas para gerarbenefício nas áreas econômica esocial. O concessionário tem queagregar valor ao produto, assim seestabelece uma cadeia social”, afir-ma Alves. “Manejo florestal não éderrubada indiscriminada de ár-vores. A melhor forma de manteruma floresta de pé é manejá-la,quando se trata daquelas que têmcaracterísticas de suprir o desen-volvimento e de se renovar.”

Com a assinatura do contratode Jacundá, as áreas sob conces-são florestal federal passam a so-mar cerca de 230 mil hectares, oequivalente a 1,5 vez o tamanhodo município de São Paulo. Esseprocesso, iniciado em 2008, ten-de a se intensificar nos próximosmeses. Na última sexta-feira, ogoverno lançou edital que pode-rá triplicar as áreas concedidasaté o fim deste ano. A licitaçãoprevê a oferta de 440 mil hectaresna Floresta Nacional do Crepori,

no Pará, que deverá ser a maiorárea já licitada no país.

Paralelamente, um convênio fir-mado pelo Serviço Florestal com oBNDES e o International FinanceCorporation (IFC, braço financeiropara o setor privado do BancoMundial), pretende desenvolver“um novo modelo de concessão”para as Florestas Nacionais de Itai-tuba I e II, também no Pará.

O governo defende a tese de queo manejo sustentável é uma alter-nativa econômica para as áreas deconservação e que respeita a capa-cidade de regeneração natural dafloresta, além de ser um instru-mento de combate à extração ile-gal de madeira, prática que hojecontamina cerca de 40% das árvo-res que tombam na Amazônia.

Segundo o Instituto ChicoMendes (ICMBio), órgão federalresponsável pela gestão das flo-restas protegidas, há hoje 312unidades de conservação nopaís: 139 de proteção integral e173 de uso sustentável. Essa ri-

queza natural envolve pratica-mente 10% de todo o territórionacional, somando 75,1 milhõesde hectares.

As florestas de proteção inte-gral, como o próprio nome diz, sãoaquelas que exigem máximo rigorde fiscalização e controle, sem in-terferência humana. Já nas unida-des de conservação de uso susten-tável, a proposta é conciliar a con-servação da natureza com o uso departe de seus recursos, sem prejuí-zo para as riquezas naturais.

Em 2012, o governo alterou oslimites de sete unidades de conser-vação da Amazônia e retirou delasáreas que serão alagadas por reser-vatórios de usinas hidrelétricasplanejadas para a região. Foramreduzidos o Parna da Amazônia,Parna dos Campos Amazônicos,Parna Mapinguari, Flona de Itaitu-ba I, Flona de Itaituba II, Flona doCrepori e Área de Proteção do Ta-pajós. Ao todo, a redução somoucerca de 1.500 quilômetros qua-drados de áreas de preservação.

Minas lidera desmatamento da Mata AtlânticaAgência Brasil, de São Paulo

O desmatamento na MataAtlântica aumentou 29% de 2011para 2012. Foram 23.548 hecta-res de vegetação nativa perdida,o equivalente a 235 quilômetrosquadrados, a maior área atingidadesde 2008. As informações fo-ram divulgadas ontem no lança-mento do Atlas dos Remanescen-tes Florestais da Fundação SOSMata Atlântica e do Instituto Na-

cional de Pesquisas Espaciais (In-pe). Do total desmatado, 21,9 milhectares correspondem a desflo-restamentos e o restante, à elimi-nação de vegetação de restinga evegetação de mangue.

O atlas avaliou os 17 Estadosque ainda têm faixas de MataAtlântica, sendo 81% de áreassem cobertura de nuvens. O le-vantamento abrange, pela pri-meira vez, o estado do Piauí, cu-jos remanescentes florestais to-

talizam 34% da área original pro-tegida pela Lei da Mata Atlântica.

Com a inclusão do Piauí no ma-peamento da área de aplicaçãoda lei, a área original restante deMata Atlântica é 8,5%, informou aSOS Mata Atlântica. Sem o Piauíficaria em 7,9%. Quando conside-rados pequenos fragmentos demata espalhados por todo o paíso bioma chega a 12,5%.

Minas Gerais foi, pela quartavez, o Estado que mais desmatou,

sendo o responsável por metadedo desmatamento em 2012.. Fo-ram perdidos em Minas 10,7 milhectares, o correspondente a 70%do desmate total verificado noatlas, levando em conta a compa-ração com o ano anterior.

Em segundo lugar vem a Ba-hia, com perda de 4,5 mil hecta-res e o Piauí que, mesmo monito-rado pela primeira vez, assumiuo terceiro lugar da lista, com 2,6mil hectares desmatados.

Lei é omissa sobre uso de recursos em terra indígenaAndré BorgesDe Brasília

A dificuldade do governo dechegar a um entendimento comgrupos indígenas passa direta-mente pela necessidade de regula-mentar o artigo 231 da Constitui-ção, que trata do aproveitamentodos recursos hídricos do país, in-cluídos os potenciais energéticos,a pesquisa e a lavra das riquezasminerais em terras indígenas. Esseartigo libera a exploração de terrasdesde que sejam “ouvidas as co-munidades afetadas, ficando-lhesassegurada participação nos resul-tados”. Acontece que, passados 24anos da Constituição, o artigo ain-da não foi transformado em lei.

O governo argumenta que oassunto tem sido estudado porum grupo de trabalho, mas o fatoé que o assunto não tem avança-do. Atualmente, existem 688 ter-ras indígenas no país, cobrindouma extensão de 106,7 milhõesde hectares, o que equivale a12,5% do território nacional.

Empresários interessados emimplantar projetos de geração deenergia e obras de infraestruturadefendem a implantação de umregime já utilizado em países co-mo o Canadá, onde o índio recebeum royalty para liberar a constru-ção de empreendimentos queatinjam a área de terras demarca-das. A proposta também agrada ogoverno. No fim do ano passado, a

ministra do Planejamento, MiriamBelchior, afirmou que o governotrabalhava na conclusão de umaproposta para o pagamento deroyalties aos índios. A iniciativa,porém, não teve desdobramentos.

O fato é que a situação de confli-tos com os índios chegou a tal pon-to que as lideranças das principaismobilizações em andamento nopaís se negam a receber qualquerrepasse financeiro para autorizarempreendimentos. A insistência,pelo menos quanto à construçãode hidrelétricas, é para que o go-verno abandone os projetos.

Como as medidas estruturaisnão caminharam, o governo anun-ciou, no mês passado, que vai mu-dar o processo de demarcação deterras, retirando a exclusividadeda Funai nas decisões e incluindoEmbrapa, Incra e Ministério doMeio Ambiente. Essa mudança in-tensificou protestos indígenas emvárias regiões do país.

Ontem, o Ministério Público Fe-deral (MPF) criticou a lentidão dogoverno em definir um cronogra-ma de ações e afirmou que consi-dera a demarcação de terras umproblema político. Para o procura-dor da República Emerson Kalif Si-queira, “falta vontade política parasolucionar a questão indígena”.Segundo ele, muitas são as alterna-tivas para minimizar os efeitos doconflito fundiário no Mato Grossodo Sul, inclusive reparação por ti-tulação errônea de terras, mas a

omissão da União em enfrentar atemática só tem agravado a tensãono campo. O MPF destacou ainda“o despreparo da polícia” em en-frentar conflitos fundiários.

Hoje está em andamento den-tro da Funai o processo de homo-logação de 14 terras indígenas (verquadro). Outros nove processos jáforam encaminhados ao Ministé-

rio da Justiça e aguardam a assina-tura do ministro José Eduardo Car-doso para o decreto homologató-rio. A maioria está na fila há maisde uma década. Na lista de demar-

cações atrasadas estão casos comoo de Cachoeira Seca, do grupo in-dígena Arara, que cobra demarca-ção há 14 anos na região de Alta-mira, Placas e Uruará, no Pará.

Terras índigenas Conflito no Mato Grosso do Sul recrudesce e resulta em mais um índio da etnia terena baleado

Força Nacional chega hoje a SidrolândiaBruno Peres e Yvna SousaDe Brasília

O ministro da Secretaria-Geralda Presidência, Gilberto Carvalho,ainda discursava na tarde de on-tem para um grupo de 140 índiosno Palácio do Planalto quando oindígena da etnia terena Joziel Ga-briel Alves, de 34 anos, foi baleadonas costas, durante manifestaçãona Fazenda São Sebastião, em Si-drolândia (MS). Segundo informa-ções locais, houve briga entre osíndios e funcionários da fazenda.Até a noite de ontem, ele estava naSanta Casa de Campo Grande, emestado grave, com o projétil aloja-do na coluna vertebral.

O recrudescimento dos conflitosna região de Sidrolândia fez o Palá-cio do Planalto anunciar o envio de

110 homens da Força Nacional deSegurança, segundo anunciou o mi-nistro da Justiça, José Eduardo Car-dozo. O pedido para envio da Forçafoi feito ontem pelo governador An-dré Puccinelli (PMDB). Os agentesdevem chegar ao Estado ainda hoje.Cardozo disse que a Polícia Federalvai discutir com a Secretaria de Segu-rança Pública do Mato Grosso do Sula possibilidade de aumentar o efeti-vo no Estado.

O ministro explicou que a ForçaNacional pode ser requisitada pa-ra auxiliar na reintegração de pos-se da Fazenda Buriti, mas tal deter-minação precisa ser feita pela Justi-ça. Na semana passada, um índioterena foi morto no local duranteação da PF para a retirada dos indí-genas da propriedade. “Nós temosque aguardar a determinação ju-

dicial. Aquilo que for determinadopelo juiz de direito será cumpri-d o”, declarou Cardozo. Depois damorte de Oziel Gabriel a proprie-dade voltou a ser ocupada pelosíndios da etnia terena.

Gilberto Carvalho demonstrouontem a representantes de seis et-nias indígenas a disposição do go-verno em manter diálogo perma-nente com os índios e evitar confli-tos em processos de demarcaçãode terras pelo país. Durante a reu-nião, de cerca de três horas, ele ou-viu diversas queixas. Ao términodo encontro, Carvalho fez um aler-ta: segundo ele, muito do que foradito não correspondia à realidade.“Queremos a verdade”, disse, emreferência a acusações dos índios,de omissão do governo federal.

Entre as principais reivindica-

ções indígenas, estão a paralisaçãoimediata das obras em andamentoe planejadas para a região amazô-nica e a realização de consulta pré-via às aldeias antes que qualquerprocesso de licenciamento seja ini-ciado. O ministro lamentou asmortes recentes ocorridas em con-flitos entre agentes do governo eindígenas e disse que o governodefende que as comunidades te-nham meios próprios para se sus-tentar, sem depender da venda demadeira ou garimpo ilegal.

Antes da reunião, o ministroinformou que a presidente Dil-ma Rousseff determinou a elabo-ração de um programa voltadopara as comunidades indígenasque lhes garanta sustentaçãoeconômica. “Seriam pequenasiniciativas econômicas”, afirmou

Gilberto Carvalho.Sobre o canteiro da usina de

Belo Monte, palco recente deocupação indígena, o ministroinformou ter tido uma conversa“em uma reunião dura” com oconsórcio para exigir o cumpri-mento das condicionantes doempreendimento. O secretário-geral da Presidência da Repúbli-ca disse, porém, que não poderiamentir para os indígenas, anun-ciando que o governo pode parara construção da Usina de BeloMonte. “Não tem como parar.”

O ministro classificou o acor-do feito entre governo e indíge-nas para a desocupação do can-teiro e retomada das obras como“uma referência”, defendendo“ponderações” no cumprimentodas decisões judiciais envolven-

do conflitos. Carvalho disse tam-bém ser essa uma determinaçãoda presidente Dilma Rousseff:que sejam proporcionadas “con -dições de acalmar a situação emtodo o país”.

O ministro defendeu a posiçãodo governo, externada pela mi-nistra-chefe da Casa Civil, GleisiHoffmann. Ela defende que ou-tros órgãos do governo, e nãoapenas a Funai, sejam consulta-dos em processos de demarcaçãode terras indígenas. SegundoCarvalho, as consultas feitas a ou-tros órgãos servirão justamentepara “fortalecer ” os parecerestécnicos da Funai. “Nós quere-mos é fortalecer a Funai”, disse oministro. “Não há nenhum inte-resse do governo em enfraquecera Funai”, enfatizou.