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Jornal Valor --- Página 3 da edição "05/06/2013 2a CAD A" ---- Impressa por pbarros às 04/06/2013@22:26:55

Quarta-feira, 5 de junho de 2013 | Valor | A3

Enxerto

Jornal Valor Econômico - CAD A - BRASIL - 5/6/2013 (22:26) - Página 3- Cor: BLACKCYANMAGENTAYELLOW

B ra s i l

Fonte: Funai/Lei de acesso à informação

Demarcações25 processos de demarcação pelo país têm estudos em fase avançada

Acapuri de Cima

Arara do Rio Amônia

Arary

Banawá

Boa Vista

Kariri-Xokó

Manoki

Pequizal do Naruvôto

Pitaguary

Ribeirão Silveira

Rio Gregório

Setemã

Uirapuru

Yvy-Katu

Arara da Volta Grande do Xingu

Cachoeira Seca

Cacique Fontoura

Morro dos Cavalos

Kayabi

Potiguara de Monte-Mor

Rios dos Índios

Tabocal

Toldo Imbu

Senador José Porfírio (PA)

Altamira, Placas e Uruará (PA)

Luciara e São Félix do Araguaia (MT)

Palhoça (SC)

Apiacás (MT) e Jacareacanga (PA)

Marcação e Rio Tinto (PB)

Vicente Dutra (RS)

Careiro (AM)

Aberlardo Luz (SC)

Município/EstadoTerra indígena

Processos em trâmite na Funai

Processos que aguardam homologação no Ministério da Justiça

Município/EstadoTerra indígena

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Fonte Boa (AM)

Marechal Taumaturgo (AC)

Borba e Novo Aripuanã (AM)

Canutama, Lábrea e Tapauá (AM)

Laranjeiras do Sul (PR)

Porto Real do Colégio e São Brás (AL)

Brasnorte (MT)

Canarama e Gaúcha do Norte (MT)

Maracanaú e Pacatuba (CE)

Bertioga, Salesópolis e São Sebastião (SP)

Tarauacá (AC)

Borba e Novo Aripuanã (AM)

Campos do Julho e Nova Lacerda (MT)

Brasnorte (MS)

Fonte Boa

Marechal Taumaturgo

Tarauacá

Lábrea

Brasnorte

Apiacás

Jacareacanga

Campos do JulhoNova Lacerda

CanutamaTapauá

BorbaCareiro

Novo Aripuanã

Senador José Porfírio

Porto Real do Colégio

Laranjeirasdo Sul Bertioga

Palhoça

São SebastiãoSalesópolis

São Brás

Maracanaú

Marcação

Rio Tinto

PacatubaAltamira

Placas

Uruará

CanaramaGaúcha do Norte

LuciaraSão Félix do Araguaia

Vicente DutraAberlardo Luz

Governo inicia concessão de florestas para extração de madeiraAndré BorgesDe Brasília

Os alvos de concessão do gover-no, que até agora estavam concen-trados na área de infraestrutura lo-gística do país, começam a se espa-lhar por setores menos afeitos àatuação direta do setor privado. Atendência agora é conceder partesda floresta amazônica para explo-ração de madeira. O governo assi-na hoje contrato de concessão por40 anos que permitirá a extraçãode árvores de uma unidade de con-servação de 87 mil hectares na áreada Floresta Nacional (Flona) de Ja-cundá, em Rondônia. A área seráprivatizada em favor da compa-nhia Madeflona, que poderá fazero chamado “manejo sustentável”da unidade de conservação.

A licitação, realizada pelo Servi-ço Florestal Brasileiro (SFB), órgãovinculado ao Ministério do MeioAmbiente, se baseia no modelo detécnica e preço. O governo estabe-leceu uma série de critérios de qua-

lificação da empresa e de explora-ção da floresta, além de um preçomínimo que a empresa pagará àUnião pela extração de cada metrocúbico de madeira extraída. Em Ja-cundá, o valor foi de R$ 56 por me-tro cúbico. Pelas regras, o conces-sionário opera três meses e pagano fim do quadrimestre.

Quatro empresas chegaram aparticipar da licitação, mas ape-nas a Madeflona, que é da regiãode Rondônia, chegou até a etapafinal do processo e venceu a dis-puta sem apresentar ágio sobre opreço mínimo da proposta.

O manejo sustentável, afirmaMarcus Vinícius Alves, diretor deconcessões e monitoramento doSFB, possui uma série de exigênciasque garantem a exploração co-mercial da floresta, sem compro-meter a manutenção da natureza eas características da região. De ca-da hectare de mata, por exemplo, aempresa só pode retirar, no máxi-mo, seis árvores, as quais não po-dem ter menos de 50 centímetros

de diâmetro. Uma vez manejada, aempresa só pode voltar a explorara área depois de 30 anos.

O contrato, no entanto, não de-fine que tipo de madeira pode serretirada. Essa decisão fica a critérioda empresa, conforme seus inte-resses comerciais. O preço do me-tro cúbico é o mesmo para qual-quer espécie de árvore. O acordotambém não prevê exigência dereplantio dessas árvores. “O prazode 30 anos é o tempo necessáriopara que a floresta cresça e se refa-ça naturalmente. Essa forma demanejo em floresta tropical passapor uma fiscalização rigorosa epermite uma exploração bastanter e d u z i d a”, diz Alves.

A concessão também exige quea empresa, ao derrubar uma árvo-re e fazer o pagamento ao governopor aquela extração, dê andamen-to à industrialização daquela ma-téria-prima, ou seja, ela fica impe-dida de simplesmente revender astoras. É preciso transformá-las emprodutos finais como, por exem-

plo, móveis e utensílios domésti-cos. “O governo quer que essasáreas sejam manejadas para gerarbenefício nas áreas econômica esocial. O concessionário tem queagregar valor ao produto, assim seestabelece uma cadeia social”, afir-ma Alves. “Manejo florestal não éderrubada indiscriminada de ár-vores. A melhor forma de manteruma floresta de pé é manejá-la,quando se trata daquelas que têmcaracterísticas de suprir o desen-volvimento e de se renovar.”

Com a assinatura do contratode Jacundá, as áreas sob conces-são florestal federal passam a so-mar cerca de 230 mil hectares, oequivalente a 1,5 vez o tamanhodo município de São Paulo. Esseprocesso, iniciado em 2008, ten-de a se intensificar nos próximosmeses. Na última sexta-feira, ogoverno lançou edital que pode-rá triplicar as áreas concedidasaté o fim deste ano. A licitaçãoprevê a oferta de 440 mil hectaresna Floresta Nacional do Crepori,

no Pará, que deverá ser a maiorárea já licitada no país.

Paralelamente, um convênio fir-mado pelo Serviço Florestal com oBNDES e o International FinanceCorporation (IFC, braço financeiropara o setor privado do BancoMundial), pretende desenvolver“um novo modelo de concessão”para as Florestas Nacionais de Itai-tuba I e II, também no Pará.

O governo defende a tese de queo manejo sustentável é uma alter-nativa econômica para as áreas deconservação e que respeita a capa-cidade de regeneração natural dafloresta, além de ser um instru-mento de combate à extração ile-gal de madeira, prática que hojecontamina cerca de 40% das árvo-res que tombam na Amazônia.

Segundo o Instituto ChicoMendes (ICMBio), órgão federalresponsável pela gestão das flo-restas protegidas, há hoje 312unidades de conservação nopaís: 139 de proteção integral e173 de uso sustentável. Essa ri-

queza natural envolve pratica-mente 10% de todo o territórionacional, somando 75,1 milhõesde hectares.

As florestas de proteção inte-gral, como o próprio nome diz, sãoaquelas que exigem máximo rigorde fiscalização e controle, sem in-terferência humana. Já nas unida-des de conservação de uso susten-tável, a proposta é conciliar a con-servação da natureza com o uso departe de seus recursos, sem prejuí-zo para as riquezas naturais.

Em 2012, o governo alterou oslimites de sete unidades de conser-vação da Amazônia e retirou delasáreas que serão alagadas por reser-vatórios de usinas hidrelétricasplanejadas para a região. Foramreduzidos o Parna da Amazônia,Parna dos Campos Amazônicos,Parna Mapinguari, Flona de Itaitu-ba I, Flona de Itaituba II, Flona doCrepori e Área de Proteção do Ta-pajós. Ao todo, a redução somoucerca de 1.500 quilômetros qua-drados de áreas de preservação.

Minas lidera desmatamento da Mata AtlânticaAgência Brasil, de São Paulo

O desmatamento na MataAtlântica aumentou 29% de 2011para 2012. Foram 23.548 hecta-res de vegetação nativa perdida,o equivalente a 235 quilômetrosquadrados, a maior área atingidadesde 2008. As informações fo-ram divulgadas ontem no lança-mento do Atlas dos Remanescen-tes Florestais da Fundação SOSMata Atlântica e do Instituto Na-

cional de Pesquisas Espaciais (In-pe). Do total desmatado, 21,9 milhectares correspondem a desflo-restamentos e o restante, à elimi-nação de vegetação de restinga evegetação de mangue.

O atlas avaliou os 17 Estadosque ainda têm faixas de MataAtlântica, sendo 81% de áreassem cobertura de nuvens. O le-vantamento abrange, pela pri-meira vez, o estado do Piauí, cu-jos remanescentes florestais to-

talizam 34% da área original pro-tegida pela Lei da Mata Atlântica.

Com a inclusão do Piauí no ma-peamento da área de aplicaçãoda lei, a área original restante deMata Atlântica é 8,5%, informou aSOS Mata Atlântica. Sem o Piauíficaria em 7,9%. Quando conside-rados pequenos fragmentos demata espalhados por todo o paíso bioma chega a 12,5%.

Minas Gerais foi, pela quartavez, o Estado que mais desmatou,

sendo o responsável por metadedo desmatamento em 2012.. Fo-ram perdidos em Minas 10,7 milhectares, o correspondente a 70%do desmate total verificado noatlas, levando em conta a compa-ração com o ano anterior.

Em segundo lugar vem a Ba-hia, com perda de 4,5 mil hecta-res e o Piauí que, mesmo monito-rado pela primeira vez, assumiuo terceiro lugar da lista, com 2,6mil hectares desmatados.

Lei é omissa sobre uso de recursos em terra indígenaAndré BorgesDe Brasília

A dificuldade do governo dechegar a um entendimento comgrupos indígenas passa direta-mente pela necessidade de regula-mentar o artigo 231 da Constitui-ção, que trata do aproveitamentodos recursos hídricos do país, in-cluídos os potenciais energéticos,a pesquisa e a lavra das riquezasminerais em terras indígenas. Esseartigo libera a exploração de terrasdesde que sejam “ouvidas as co-munidades afetadas, ficando-lhesassegurada participação nos resul-tados”. Acontece que, passados 24anos da Constituição, o artigo ain-da não foi transformado em lei.

O governo argumenta que oassunto tem sido estudado porum grupo de trabalho, mas o fatoé que o assunto não tem avança-do. Atualmente, existem 688 ter-ras indígenas no país, cobrindouma extensão de 106,7 milhõesde hectares, o que equivale a12,5% do território nacional.

Empresários interessados emimplantar projetos de geração deenergia e obras de infraestruturadefendem a implantação de umregime já utilizado em países co-mo o Canadá, onde o índio recebeum royalty para liberar a constru-ção de empreendimentos queatinjam a área de terras demarca-das. A proposta também agrada ogoverno. No fim do ano passado, a

ministra do Planejamento, MiriamBelchior, afirmou que o governotrabalhava na conclusão de umaproposta para o pagamento deroyalties aos índios. A iniciativa,porém, não teve desdobramentos.

O fato é que a situação de confli-tos com os índios chegou a tal pon-to que as lideranças das principaismobilizações em andamento nopaís se negam a receber qualquerrepasse financeiro para autorizarempreendimentos. A insistência,pelo menos quanto à construçãode hidrelétricas, é para que o go-verno abandone os projetos.

Como as medidas estruturaisnão caminharam, o governo anun-ciou, no mês passado, que vai mu-dar o processo de demarcação deterras, retirando a exclusividadeda Funai nas decisões e incluindoEmbrapa, Incra e Ministério doMeio Ambiente. Essa mudança in-tensificou protestos indígenas emvárias regiões do país.

Ontem, o Ministério Público Fe-deral (MPF) criticou a lentidão dogoverno em definir um cronogra-ma de ações e afirmou que consi-dera a demarcação de terras umproblema político. Para o procura-dor da República Emerson Kalif Si-queira, “falta vontade política parasolucionar a questão indígena”.Segundo ele, muitas são as alterna-tivas para minimizar os efeitos doconflito fundiário no Mato Grossodo Sul, inclusive reparação por ti-tulação errônea de terras, mas a

omissão da União em enfrentar atemática só tem agravado a tensãono campo. O MPF destacou ainda“o despreparo da polícia” em en-frentar conflitos fundiários.

Hoje está em andamento den-tro da Funai o processo de homo-logação de 14 terras indígenas (verquadro). Outros nove processos jáforam encaminhados ao Ministé-

rio da Justiça e aguardam a assina-tura do ministro José Eduardo Car-doso para o decreto homologató-rio. A maioria está na fila há maisde uma década. Na lista de demar-

cações atrasadas estão casos comoo de Cachoeira Seca, do grupo in-dígena Arara, que cobra demarca-ção há 14 anos na região de Alta-mira, Placas e Uruará, no Pará.

Terras índigenas Conflito no Mato Grosso do Sul recrudesce e resulta em mais um índio da etnia terena baleado

Força Nacional chega hoje a SidrolândiaBruno Peres e Yvna SousaDe Brasília

O ministro da Secretaria-Geralda Presidência, Gilberto Carvalho,ainda discursava na tarde de on-tem para um grupo de 140 índiosno Palácio do Planalto quando oindígena da etnia terena Joziel Ga-briel Alves, de 34 anos, foi baleadonas costas, durante manifestaçãona Fazenda São Sebastião, em Si-drolândia (MS). Segundo informa-ções locais, houve briga entre osíndios e funcionários da fazenda.Até a noite de ontem, ele estava naSanta Casa de Campo Grande, emestado grave, com o projétil aloja-do na coluna vertebral.

O recrudescimento dos conflitosna região de Sidrolândia fez o Palá-cio do Planalto anunciar o envio de

110 homens da Força Nacional deSegurança, segundo anunciou o mi-nistro da Justiça, José Eduardo Car-dozo. O pedido para envio da Forçafoi feito ontem pelo governador An-dré Puccinelli (PMDB). Os agentesdevem chegar ao Estado ainda hoje.Cardozo disse que a Polícia Federalvai discutir com a Secretaria de Segu-rança Pública do Mato Grosso do Sula possibilidade de aumentar o efeti-vo no Estado.

O ministro explicou que a ForçaNacional pode ser requisitada pa-ra auxiliar na reintegração de pos-se da Fazenda Buriti, mas tal deter-minação precisa ser feita pela Justi-ça. Na semana passada, um índioterena foi morto no local duranteação da PF para a retirada dos indí-genas da propriedade. “Nós temosque aguardar a determinação ju-

dicial. Aquilo que for determinadopelo juiz de direito será cumpri-d o”, declarou Cardozo. Depois damorte de Oziel Gabriel a proprie-dade voltou a ser ocupada pelosíndios da etnia terena.

Gilberto Carvalho demonstrouontem a representantes de seis et-nias indígenas a disposição do go-verno em manter diálogo perma-nente com os índios e evitar confli-tos em processos de demarcaçãode terras pelo país. Durante a reu-nião, de cerca de três horas, ele ou-viu diversas queixas. Ao términodo encontro, Carvalho fez um aler-ta: segundo ele, muito do que foradito não correspondia à realidade.“Queremos a verdade”, disse, emreferência a acusações dos índios,de omissão do governo federal.

Entre as principais reivindica-

ções indígenas, estão a paralisaçãoimediata das obras em andamentoe planejadas para a região amazô-nica e a realização de consulta pré-via às aldeias antes que qualquerprocesso de licenciamento seja ini-ciado. O ministro lamentou asmortes recentes ocorridas em con-flitos entre agentes do governo eindígenas e disse que o governodefende que as comunidades te-nham meios próprios para se sus-tentar, sem depender da venda demadeira ou garimpo ilegal.

Antes da reunião, o ministroinformou que a presidente Dil-ma Rousseff determinou a elabo-ração de um programa voltadopara as comunidades indígenasque lhes garanta sustentaçãoeconômica. “Seriam pequenasiniciativas econômicas”, afirmou

Gilberto Carvalho.Sobre o canteiro da usina de

Belo Monte, palco recente deocupação indígena, o ministroinformou ter tido uma conversa“em uma reunião dura” com oconsórcio para exigir o cumpri-mento das condicionantes doempreendimento. O secretário-geral da Presidência da Repúbli-ca disse, porém, que não poderiamentir para os indígenas, anun-ciando que o governo pode parara construção da Usina de BeloMonte. “Não tem como parar.”

O ministro classificou o acor-do feito entre governo e indíge-nas para a desocupação do can-teiro e retomada das obras como“uma referência”, defendendo“ponderações” no cumprimentodas decisões judiciais envolven-

do conflitos. Carvalho disse tam-bém ser essa uma determinaçãoda presidente Dilma Rousseff:que sejam proporcionadas “con -dições de acalmar a situação emtodo o país”.

O ministro defendeu a posiçãodo governo, externada pela mi-nistra-chefe da Casa Civil, GleisiHoffmann. Ela defende que ou-tros órgãos do governo, e nãoapenas a Funai, sejam consulta-dos em processos de demarcaçãode terras indígenas. SegundoCarvalho, as consultas feitas a ou-tros órgãos servirão justamentepara “fortalecer ” os parecerestécnicos da Funai. “Nós quere-mos é fortalecer a Funai”, disse oministro. “Não há nenhum inte-resse do governo em enfraquecera Funai”, enfatizou.

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