jornal peregrino

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JORNAL DA ASSOCIAÇÃO PACHAMAMA – ANO IV | NÚMERO 12 | VERÃO 2010/2011 PELAS SENDAS DE PACHAMAMA - O mestre Lucidor Flores fala da vitória da ternura - Página 5 EDITORIAL V em, já é tempo... É verão... Os ciclos cósmicos naturais nos levam com eles, a dançar pelas estações. Para além do movimento de rotação e de transla- ção, essa dança nos convoca a partici- par com maior consciência dos ciclos evolutivos da humanidade. Os dias ensolarados e mais longos estão che- gando neste lado da esfera azul que co-habitamos. E complementarmente do outro lado, o frio e a neve compõem o cenário que nos habituamos a ver como os de Natal. Mas, já é tempo de penetrarmos nos mistérios profundos do Ser Solar que veio nos ensinar e compreender de forma profunda que o Cristo renas- ce dentro de nós a cada escolha cons- ciente. A cada vez que acolhemos com humildade e reverência sua semente transformadora, aceitando abrir es- paço para que floresça em nós. Não como uma figura de linguagem, mas perceber que estamos evoluindo, que estamos todos alargando nossa com- preensão dos grandes laços de interde- pendência para que a vida se mantenha neste planeta. Laços que nos mostram nestes tempos críticos a suprema ne- cessidade de compartilhar, dividir, cui- dar do Todo, sem supremacia de uma parte, pois é tempo de favorecer quem por muito tempo sofreu exploração e opressão. Este Natal mais uma vez marca essa passagem do individual para o coletivo, onde a razão, eficiência, com- petição, materialidade, concentração de poder e exterioridade estão dando lugar na realidade humana para os va- lores humanos do afeto, gratuidade, solidariedade, inclusividade, cuidado, leveza, capacidade de introspecção, intuição criadora, e uma visão de poder como serviço e espiritualidade. E isto acontece dentro e fora. Não adianta brincar de pinheirinho de Natal e acender luzinhas fora se nos- so presépio interno está sujo, quebra- do e fechado. Sim, somos um presépio. Nosso corpo, nossa mente e nossas emoções são os animalzinhos do pre- sépio. Cuidar do nosso corpo para que esteja saudável se faz necessário, bem como buscar o equilíbrio físico-emo- cional e mental com práticas como o yoga andino e tantas outras que am- pliam nossa sensibilidade. Somente com nosso presépio livre do entulho do egoísmo e do consumismo nossos ani- mais poderão dar calor ao Menino Je- sus, que é nossa consciência acordada. Enquanto mais e mais pessoas desper- tam para essa realidade em suas vidas, e mudam, ajudam na transformação social, política, econômica, cultural. Já é tempo de olhar e ver e compre- ender que a união dos países, a ascen- são das mulheres a cargos no governo, a unidade dos cidadãos e dos poderes constituídos para ações de desmante- lamento do crime que alimenta o hor- ror dos vícios tal como aconteceu no Rio de Janeiro, a consciência ambiental e ecológica são expressões desta visão mais elevada do poder como serviço e espiritualidade, que em última instân- cia é aceitar e viver com o Cristo Vvo no coração e reconhecer e hornar o Cristo no outro também. Vem, pois é o seu tempo! Uma for- ma de estar no mundo mais harmonio- sa e simples está se fazendo em cada um e por meio de cada um, cada ato conta... Um sentir de maneira diferente o Amor, de relacionar corpo e mente, capaz de captar totalidades e agir de forma includente e transformadora já está em ação em cada um e por meio de cada um, cada escolha em favor do nós, deixando o pequeno eu, conta... Cada vez mais, tanto nos pequenos círculos de relacionamento interpes- soal quanto nos grandes cenários de decisões políticas, econômicas e de interesse nas políticas internacionais pensar apenas com a cabeça tem sido percebido como insuficiente e promo- tor de conflitos e tem-se mudado... e atitudes e novas formas de ser e convi- ver tem sido pensadas com o coração, pensadas com todo o ser, vendo as par- tes como pertencentes a um Todo. Vem, cada escolha nos leva para mais perto de sermos os ramos da Ár- vore da Vida, que é o Amor. ISOLDA MOLINA/MARISSOL IGLESIAS BASTOS

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dezembro de 2010

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Page 1: Jornal Peregrino

JORNAL DA ASSOCIAÇÃO PACHAMAMA – ANO IV | NÚMERO 12 | VERÃO 2010/2011

PELAS SENDAS DE PACHAMAMA - O mestre Lucidor Flores fala da vitória da ternura - Página 5

editorial

Vem, já é tempo... É verão... Os ciclos cósmicos naturais nos levam com eles, a dançar pelas estações. Para além do

movimento de rotação e de transla-ção, essa dança nos convoca a partici-par com maior consciência dos ciclos evolutivos da humanidade. Os dias ensolarados e mais longos estão che-gando neste lado da esfera azul que co-habitamos. E complementarmente do outro lado, o frio e a neve compõem o cenário que nos habituamos a ver como os de Natal.

Mas, já é tempo de penetrarmos nos mistérios profundos do Ser Solar que veio nos ensinar e compreender de forma profunda que o Cristo renas-ce dentro de nós a cada escolha cons-ciente. A cada vez que acolhemos com humildade e reverência sua semente transformadora, aceitando abrir es-paço para que floresça em nós. Não como uma figura de linguagem, mas perceber que estamos evoluindo, que estamos todos alargando nossa com-preensão dos grandes laços de interde-

pendência para que a vida se mantenha neste planeta. Laços que nos mostram nestes tempos críticos a suprema ne-cessidade de compartilhar, dividir, cui-dar do Todo, sem supremacia de uma parte, pois é tempo de favorecer quem por muito tempo sofreu exploração e opressão.

Este Natal mais uma vez marca essa passagem do individual para o coletivo, onde a razão, eficiência, com-petição, materialidade, concentração de poder e exterioridade estão dando lugar na realidade humana para os va-lores humanos do afeto, gratuidade, solidariedade, inclusividade, cuidado, leveza, capacidade de introspecção, intuição criadora, e uma visão de poder como serviço e espiritualidade. E isto acontece dentro e fora.

Não adianta brincar de pinheirinho de Natal e acender luzinhas fora se nos-so presépio interno está sujo, quebra-do e fechado. Sim, somos um presépio. Nosso corpo, nossa mente e nossas emoções são os animalzinhos do pre-sépio. Cuidar do nosso corpo para que

esteja saudável se faz necessário, bem como buscar o equilíbrio físico-emo-cional e mental com práticas como o yoga andino e tantas outras que am-pliam nossa sensibilidade. Somente com nosso presépio livre do entulho do egoísmo e do consumismo nossos ani-mais poderão dar calor ao Menino Je-sus, que é nossa consciência acordada. Enquanto mais e mais pessoas desper-tam para essa realidade em suas vidas, e mudam, ajudam na transformação social, política, econômica, cultural.

Já é tempo de olhar e ver e compre-ender que a união dos países, a ascen-são das mulheres a cargos no governo, a unidade dos cidadãos e dos poderes constituídos para ações de desmante-lamento do crime que alimenta o hor-ror dos vícios tal como aconteceu no Rio de Janeiro, a consciência ambiental e ecológica são expressões desta visão mais elevada do poder como serviço e espiritualidade, que em última instân-cia é aceitar e viver com o Cristo Vvo no coração e reconhecer e hornar o Cristo no outro também.

Vem, pois é o seu tempo! Uma for-ma de estar no mundo mais harmonio-sa e simples está se fazendo em cada um e por meio de cada um, cada ato conta...

Um sentir de maneira diferente o Amor, de relacionar corpo e mente, capaz de captar totalidades e agir de forma includente e transformadora já está em ação em cada um e por meio de cada um, cada escolha em favor do nós, deixando o pequeno eu, conta...

Cada vez mais, tanto nos pequenos círculos de relacionamento interpes-soal quanto nos grandes cenários de decisões políticas, econômicas e de interesse nas políticas internacionais pensar apenas com a cabeça tem sido percebido como insuficiente e promo-tor de conflitos e tem-se mudado... e atitudes e novas formas de ser e convi-ver tem sido pensadas com o coração, pensadas com todo o ser, vendo as par-tes como pertencentes a um Todo.

Vem, cada escolha nos leva para mais perto de sermos os ramos da Ár-vore da Vida, que é o Amor.

Isolda MolIna/MarIssol IglesIas Bastos

Page 2: Jornal Peregrino

Associação Pachamama

a serviço da vida

seja você também um jardineiro da Mãe terra

Para anunciar e colaborar:[email protected]

relato

Estou enamorada

2 Peregrino – Verão 2010/2011

EXPEDIENTE O PEREGRINO é um informativo do Movimento Mística Andina e um projeto de expansão de consciência da AssociaçãoPachamama. Circula onde o vento o levar, sem constituir sociedade, seita, nem instituição. É organizado por voluntários. Os textos assinados são de inteira responsabilidade de seus autores.CONSELHO EDITORIAL: Lucidor Flores (Gerardo Bastos), Isolda Molina (Marissol Iglesias Bastos), Melusina Iriarte(Rosângela Maria da Silva), Radha Dédalos (Maria Cristina Marques), Susana Sandoval (Sonia Motoyama) e Violeta Molina (Germana de Oliveira Moraes)EDITORA-CHEFE: Melusina IriarteDIRETOR DE PROJETOS DA ASSOCIAÇÃO PACHAMAMA: Israel Mendizabal (Gustavo Almeida)COLABORADORES: Ada Mendizabal (Lenita Araújo), Amankay Sandoval (Michele Berneira da Silva), Arthur Molina (Edmar Ximenes), Diana Shakti Ma Dédalos (Gabriela Côrrea Frantz), Lucidor Flores (Gerardo Bastos), Luz Clarita Cruz (Adriana Nogueira Clementino), Ramiro Mendizabal (Lucas Goulart Antunes), Valentim Aguilar (João Pedro Passos Dutra), Violeta Molina (Germana de Oliveira Moraes)FOTOGRAFIAS: Diana Shakti Ma Dédalos (Gabriela Frantz), Leandro Bierhals Bezerra , Isolda Molina (Marissol Iglesias Bastos), Pascale Reinhardt e Durga Cruz (Marilane Curtinaz)JORNALISTA RESPONSÁVEL: Caroline da Silva (DRT/RS: 12.752)PROJETO GRÁFICO E DIAGRAMAÇÃO: Aluísio Pinheiro e Celina Iriarte (Anelise De Carli)CIRCULAÇÃO: Aletheia Iriarte (Luisa Pilau)FOTOLITOS E IMPRESSÃO: Gráfica Editora Pallotti - Santa Maria/RSENDEREÇO ELETRÔNICO: [email protected]: 3.000 exemplares

Não se trata de um novo amor, de outro parceiro, da metade da la-ranja, chame como quiser. Estou ena-morada pela Vida! E este Amor é tão grande! Tudo em minha caminhada me conduziu até aqui e agora parece fazer sentido. Pequenos flashes du-rante minha trajetória me chamavam atenção de algo que me fazia falta, mas nunca foram suficientes para ilu-minar o caminho a ponto de descobri-lo por inteiro.

Tive um filho, plantei uma árvore e escrevi um livro. Considero-me profis-sionalmente realizada. Dediquei-me à vida universitária numa entrega total, e obtive reconhecimento. Como sem-pre trabalhei em contato direto com pacientes, suas queixas, suas histórias e suas diferentes respostas ao trata-mento de doenças aparentemente iguais, chamavam minha atenção para a necessidade de abordagens terapêu-ticas diferenciadas de nossa propos-ta ocidental. Quando o momento de aposentar-me da universidade se apro-ximou, procurei através da Acupuntura uma terapia complementar àquela que por 30 anos exerci. Aos poucos fui des-vendando um novo olhar que realmen-te vê o ser humano de forma global, cujo campo energético é transforma-dor e determinante e onde a própria energia do terapeuta interage com a do paciente. Daí a recomendação de que o acupunturista pratique Qi Kong. E lá fui eu, atrás dele. Fiz um curso, mas quando tentei a prática, dei-me conta da minha incapacidade de desenvolver a técnica sozinha.

Foi então que na sala de espera de um consultório, apanhei um jornal “velho”, de 15 dias atrás (estava à mi-nha espera...), onde li o depoimento de um rapaz que dizia ter modificado sua vida através da meditação. Fiz contato e soube da próxima reunião.

E lá estava eu, cheia de expectativas e dúvidas, mas pagando para ver, pois sabia o que queria.

A forma com que fui recebida já me mostrou que eu não estava em um lugar comum. Dos que lá já estavam, quando cheguei, e igualmente dos que aos poucos iam chegando, recebi um abraço caloroso (mas “bota abra-ço” nisso!), um beijo, um sorriso aber-to. Perguntei-me: Que lugar é esse? E ao mesmo tempo, procurava lembrar há quanto tempo não era abraçada assim, e há quanto tempo não abra-çava alguém assim! Nossa sociedade e nosso modus vivendi nos ensinam a sermos comedidos, perdemos a es-pontaneidade - as demonstrações de afeto foram desvirtuadas. Costuma-mos trocar presentes habitualmente, mas abraços afetuosos são capazes de causar constrangimentos...

Mas voltemos ao momento da reu-nião. Era um grupo bastante heterogê-neo. Se a referência for idade, digamos que distribuía representantes dos 20 aos 60 anos e havia umas vinte e pou-cas pessoas lá. No início da reunião foi dada uma pequena palestra para refle-xão e discussão e em seguida conduzi-da a meditação. Plim! Como um toque de varinha mágica eu senti: “Encontrei a minha turma”! E foi isso que cheguei dizendo à minha família na volta. Os encontros seguintes só confirmaram o que meu coração me anunciara na-quela noite. E aos poucos foi se descor-tinando um universo maravilhoso, que preenche amorosamente cada bura-quinho da perfurada rede que tecemos em nossa trajetória de vida.

Procurava um copo de água e en-contrei uma nascente, límpida e serena.

A Mística Andina é muito mais que um grupo de meditação. É uma senda, um retorno à forma simples de ser, de sentir, de viver, e isto só se

faz com o coração. Desarmemo-nos! Aqui a Vida amorosa existe. Tudo co-meça com o despertar. O despertar da consciência; sou consciente de ser consciente. Tenho responsabilidades com o meio ambiente, para preservar as condições de vida de que somos dependentes. Não é o planeta que de-pende de nós. Nós é que dependemos do ar que respiramos, da água, do ali-mento que retiramos dele.

Nas relações humanas procura-mos não julgar, não criticar, não sepa-rar. Neste ayllu não há discriminação de qualquer natureza, mesmo reli-giosa. São tão somente três quesitos, tente experimentá-los e verás. A todo o momento somos tentados a criticar nosso colega ao lado, a julgar sua ati-tude, a nos considerarmos de alguma forma superior, ou melhor. A qualquer momento, surgem situações em que discriminamos alguém; por sua apa-rência, por sua religião ou credo, por sua conduta. E aí está a base da segre-gação e desunião.

Na Mística, nosso aprendizado é o desafio de se viver em comunhão,

na compreensão e respeito às dife-renças, na atenção ao indivíduo e o não ao individualismo, no exercício da vida amorosa, desarmada, encontran-do em si mesmo a natureza Divina. E este encontro é maravilhoso, parece não caber no peito. Irradia Luz, Prazer, Alegria. Deixa-nos prenhes de Amor. Agora eu entendo a farta distribui-ção de abraços que recebi ao chegar. Quem tem Amor verdadeiro no cora-ção não consegue retê-lo pra si, distri-bui, e aí ocorre o milagre da multipli-cação, o Dar e Receber.

Não sou nenhuma detentora de verdades, nem pregadora, sou apenas uma feliz ganhadora do prêmio de re-conhecer-me parte da Vida Una, o qual a Mística Andina me ajudou a encon-trar. Se você ainda não encontrou seu bilhete premiado, venha até nós, quem sabe é também o seu momento. No mínimo, você receberá muitos abraços!

Ada Mendizabal é o nome espiritual de Lenita Araújo,

professora aposentada da UFPel, acunpunturista e aspirante da

Mística Andina.

AdA MendizAbAL

dIan

a shaktI M

a dédalos/g

arIela Correa Frantz

Page 3: Jornal Peregrino

ensinamento

Sri Ramakrishna

Peregrino – Verão 2010/2011 3

Por indicação de nosso mestre, temos tido a oportunidade de nos ins-truir com o conhecimento da vida de alguns mestres e isso tem sido muito intenso, pois ao nos conectarmos com estes seres de tão suave luz podemos perceber que todos nós temos a opor-tunidade de estar mais e mais próximo destas fontes.

De forma especial fui tocado pela trajetória de vida de Sri Ramakrishna, ou melhor, de Ramakrishna Paramaha-msa (18 de fevereiro de 1836 - 16 de agosto de 1886), que nasceu como Gadadhar Chattopadhyay, na vila de Kamarpukur, nos dias de hoje um dis-trito santificado de Bengali ocidental. O amado Sri Ramakrishna destacou-se como um dos grandes líderes religiosos da Índia, tendo sido reverenciado por milhões de Hindus e não-Hindus como um mensageiro de Deus. Foi de grande influência na Renascença Bengali do século XIX. Swami Vivekananda, um dos seus maiores discípulos dizia que: “Ele que foi Rama, Ele que foi Krishna, agora é Ramakrishna neste corpo.”

Khudiram e Chandramani foram os seus pais, eram pobres e sempre viveram grandes dificuldades. Gada-dhar era conhecido como mascote da vila. Embora fosse um garoto de mui-tas habilidades manuais, com notória vocação para as artes, não gostava muito de freqüentar a escola e pouco ligava para encontrar forma de ganhar dinheiro. Vivia sua vida de modo a es-tar conectado com a natureza desfru-tando por horas dos campos e jardins frutíferos fora da cidade, ao lado dos seus amigos.

Estava sempre em contato com os monges que faziam o trajeto para Puri. Ele os ajudava e escutava com atenção os debates religiosos em que se envolviam.

Na época da sua preparação para ser investido no caminho sagrado (Upanayana), quando tudo já estava encaminhado Gadadhar surpreendeu demonstrando ser um homem à fren-te do seu tempo ao deixar claro que teria sua primeira alms como Brahmin de uma certa mulher da etnia Sudra da vila (os hindus são extremamente preconceituosos e uma sudra é con-siderada uma intocável). E mesmo rezando as tradições que a primeira alms fosse uma brahmin, ele se posi-cionou de forma inflexível. Argumen-tou que teria empenhado sua palavra com a mulher questionando que tipo de Brahmin seria se não a honrasse? Sem se submeter aos apelos ele man-

teve-se firme até que seu irmão mais velho, chefe da família Ramkumar, fin-dou por consentir.

A condição financeira da família piorava a cada dia. Ramkumar foi para uma escola de Sânscrito em Calcutá e também serviu como sacerdote pandit para algumas famílias. Nesta época, uma mulher rica de Calcutá, Rani Rash-moni, fundou um templo em Dakshi-neswar. Ela pediu para que Ramkumar servisse como sacerdote no templo de Kali e Ramkumar concordou. Após certa persuasão, Gadadhar concordou em decorar a deidade. Tempos depois Ramkumar se afastou e Gadadhar ficou em seu lugar como sacerdote.

Quando adorava a divindade Bha-vatarini, Gadadhar questionava-se se estaria adorando um pedaço de pedra ou uma deusa. E se adorava um ser vivo, porque não tinha uma resposta à sua adoração? Isso o incomodava sis-tematicamente e ele buscou em Kali uma resposta: “Mãe, você deu tantas dádivas aos seus devotos no passado e se revelou a eles. Por que não quer se revelar à mim também? Eu não sou tam-bém seu filho?”

Suas adorações à Kali eram acom-panhadas de intenso e ruidoso choro e sua impaciência em ver sua mãe Kali o levou ao extremo de querer acabar com a própria vida. Neste exato mo-mento, uma intensa onda luminosa saiu da imagem da deusa e o envol-veu, fazendo-o cair inconsciente.

Isso só aumentou a intensidade de suas orações em busca de novas experiências. Dedicava-se também a conhecer o que outras religiões ensi-navam. E assim, dentro do hinduísmo, trilhou diversos caminhos religiosos.

Praticou depois o islamismo e mais tarde meditou profundamente em Cristo, experimentando a mes-ma divina Realidade também através destes caminhos não-hindus. Assim, chegou à conclusão, baseada na ex-periência direta, de que os diversos caminhos religiosos, quando seguidos com sinceridade de coração, condu-zem à mesma e única Realidade. E essa é a grande sacada de sua vida e seu grande ensinamento, a qual nos leva a aprofundar e refletir sobre o respeito a fé de cada um.

Ramakrishna era muito conheci-do por todos, de todas as classes, por sua atitude de ver Deus em tudo e por seu imenso amor pela humanidade. Ramakrishna foi iniciado em Advaita Vedanta por um monge peregrino cha-mado Totapuri, na cidade de Dakshi-

neswar. Totapuri era “um professor viril de aparência severa e feições ásperas, e uma voz forte”. Ramakrishna logo afetuosamente apelidou o monge de Nangta (“homem nu”), por ele ser um sannyasin (renunciante), que não usa-va roupas (Cfe. Swami Nikhilananda, The Gospel of Sri Ramakrishna (1972), Ramakrishna-Vivekananda Center, NY).

“Eu disse a Totapuri em desespero: ‘Isto não é bom. Eu nunca serei capaz de libertar o meu espírito para um estado incondicionado e estar face a face com o Atman.’ Ele repreendeu severamente: ‘O que você quer dizer com não pode? Você deve!’ olhando para ele, ele achou um pedaço de vidro. Ele pegou e bateu-o num ponto entre as minhas sobrance-lhas e disse: ‘Concentre sua mente neste ponto.’ [...] A última barreira desapare-ceu e meu espírito imediatamente pre-cipitou-se para além do plano de condi-cionamento. Eu me perdi em samadhi.” (Roland, Romain The Life of Ramakrish-na (1984), Advaita Ashram).

Após a partida de Totapuri, Ra-makrihsna permaneceu por seis meses em estado de contemplação. Conta ele: “eu permaneci em um estado do qual homens normais nunca voltaram; geralmente o corpo despenca, após três semanas, como uma casca vazia. Eu não tinha consciência do dia e da noi-te. Moscas entravam em minha boca e nariz como se eu fosse um corpo morto, mas eu não os sentia. Meu cabelo ficou emaranhado com poeira.” (Swami Ni-khilananda, Ramakrishna, Prophet of New India, New York, Harper and Bro-thers, 1942, p. 28.)

Sua intensa dedicação aos exercí-cios espirituais fizeram com que sus-peitassem que ele havia enlouquecido e todos orientavam sua família de que ele deveria casar para assumir respon-sabilidades. O que ele aceitou e pron-tamente indicou Jayrambati, a três milhas ao noroeste de Kamarpukur, como a aldeia onde a sua noiva podia ser achada na casa de um Mukherjee de Ramchandra. Uma criança de seis anos, Sri Sarada, foi achada e o casa-mento foi devidamente realizado. Sri Devi Sarada foi a primeira discípula de Ramakrishna. Ele tentou ensinar-lhe tudo que aprendera com seus vários

Gurus. Acredita-se que ela tenha do-minado cada segredo religioso com a mesma rapidez que Ramakrishna.

Impressionado por seu poten-cial religioso, ele começou a tratá-la como a Mãe Universal e executou um Puja considerando Sarada como ver-dadeira Tripura Sundari Devi. Disse, “considero você como a própria Mãe e a Mãe que está no templo”. Ramakrish-na ficou impressionado com Sarada Devi ao ponto de torná-la não apenas a mãe de seus discípulos mais jovens, mas também da humanidade inteira.

Inicialmente, Devi Sarada era tími-da sobre este papel, mas lentamente, encheu-se com coragem e o aceitou.Todos reconheciam a renúncia como sua grande qualidade e ela comparti-lhava isso com o marido de forma se-melhante senão além.

Seu casamento foi pautado na vi-vência da espiritualidade e esteve sem-pre além da compreensão da mente humana. Com o fim do casamento com Ramakrishna, Devi Sharada tor-nou-se uma professora religiosa.

Logo em seguida passou a ser conhecido como Ramakrishna Para-mahansa, e como um magneto, co-meçou a atrair discípulos genuínos. Ensinou incansavelmente por quinze anos através de parábolas, metáforas, canções e acima de tudo pela própria vida, as verdades básicas de religião. Ele desenvolveu câncer de garganta e alcançou o Mahasamadhi numa Casa de Jardim em Cossipore no dia 16 de agosto de 1.886, deixando para trás um grupo de 16 jovens discípulos en-cabeçado pelo santo-filósofo sábio e orador, Swami Vivekananda.

“É pela vontade de Deus que di-ferentes religiões e opiniões vieram à existência. Deus dá a diferentes pes-soas o que elas podem digerir.” Sri Ramakrishna. Que este ensinamento de firmeza e confiança nos mandados do coração possa inspirar a cada um de nós em nossa caminhada sagrada.

Arthur Molina é o nome espiritual de edmar Ximenes discípulo,

amauta e Kuraca do Ayllu da Mística Andina. Atua como geólogo em

Fortaleza/Ce.

ARthUR MoLinA

dIVUlg

aÇÃo

Page 4: Jornal Peregrino

katmandu

Um encontro com a simplicidade

A programação de encontros e viagens iniciáticas da Mística são divulgados no site www.misticaandina.com.br

“Voy de viaje a Katmandú, el viaje no es lo mismo, si no estás tú...” Assim inicia a envolvente canção do argenti-no Pappo, que acompanhou os convi-tes para os Katmandus realizados pela Mística Andina este ano, no Uruguai, na Chapada dos Veadeiros, em Curiti-ba e na Argentina. Katmandu na Amé-rica do Sul? Como assim?

A Mística Andina é um movimento que estimula a peregrinação de seus participantes por locais sagrados e para isso, são promovidas viagens iniciáticas para diversos lugares como Peru, Bolívia, Índia, Nepal. São sempre peregrinações lindas e transforma-doras, mas, ainda faltava algo... um encontro com a simplicidade. Sur-giu, então, o Katmandu, um acam-pamento místico, uma experiência de coletividade, simplicidade, com-panheirismo, amor e liberdade, uma oportunidade de contato íntimo com a natureza, onde acampamos e cozinha-mos juntos e desfrutamos das coisas simples e belas da vida.

Katmandu, a capital do Nepal, era uma referência de paraíso nos anos 1970. E o que é o paraíso para você? Para mim, é um lugar tranquilo e se-reno, mas ao mesmo tempo alegre e vibrante, um lugar onde podemos vi-venciar a beleza, o amor, o respeito e a liberdade, onde podemos ser autên-ticos, sem medos, leves e carinhosos. E esse paraíso pode ser encontrado em Katmandu, mas não a barulhenta e poluída capital do Nepal. Katmandu é um lugar que você só encontra fora se encontrou dentro... é um paraíso que está bem aqui, ao nosso alcance, dentro de cada um de nós. E se o en-contramos, o levamos conosco a qual-quer lugar!

Isso parece muito subjetivo e ina-cessível? Na verdade, é bem simples! E aqui tocamos num ponto chave: a simplicidade.

Nossa vida vem se tornando mais complexa e corrida a cada dia e nós seguimos desconectados das coisas mais simples e que tanto nos abaste-cem de alegria. O sol nos oferece dois magníficos espetáculos todos os dias, ao nascer e ao se pôr, mas nós não te-mos tempo de assistir... Também não temos tempo de cozinhar nossa comi-da, carregando-a com a nossa energia. Sentar com um amigo e bater um papo gostoso e sincero, falando de nós mes-mos? Nem pensar... falar de superfi-cialidades gasta menos tempo. Quiçá uma troca de torpedos já seja suficien-te. E por aí seguimos automatizados em nossas reações e emoções.

Sobre estarmos correndo muito e desfrutando pouco da vida nós já sabemos. Quantas vezes não nos pe-gamos reclamando disso? Então, que tal iniciarmos um movimento que nos leve aos poucos de volta às nossas raízes, a uma vida mais simples, conec-tada com a natureza, onde possamos trocar o excesso de fazer pela liberdade de simplesmente ser? É mais simples do que possa parecer.

Podemos iniciar nos conectando diariamente com o sentimento de gratidão e, logo ao acordarmos, agra-decer por estarmos vivos, respirando e por termos todo um dia pela frente, repleto de possibilidades! Podemos parar uns minutos por dia e apreciar o sol nascendo ou se pondo, assim como a lua, as estrelas, o roçar do vento nas árvores, ouvir o canto dos pássaros. Vamos trocar pelo menos uma noite de televisão ou internet por semana,

por um encontro com alguma pessoa querida, e se cozinharmos para ela, melhor! Passemos mais tempo ao ar livre e, de preferência, uma vez por se-mana, vamos recarregar nossas ener-gias desfrutando de parques, cachoei-ras, fazendas, locais onde possamos respirar um ar mais puro e beber uma água mais viva.

Pequenas atitudes como essas po-dem ser muito transformadoras. Aos poucos e quase sem percebermos, elas irão nos ajudar a sair do piloto automático para percebermos como a vida nos acarinha a cada momento, muitas vezes através de mensagens ou presentes sutis, que ajudam a

nos trazer de volta para o momento presente, à consciência e alegria por simplesmente estarmos vivos – qual presente poderia ser maior que esse?

E para nos ajudar a criar esse es-paço em nossas vidas, a Mística An-dina segue promovendo pequenos encontros-paraísos, e assim vamos nos reconectando com os valores que realmente importam na vida. Eu vou de viagem a Katmandu e a viagem não será a mesma sem você... Vamos?

Luz Clarita Cruz é o nome espiritual da discípula da Mística Andina

Adriana nogueira Clementino que atua como terapeuta em brasília/dF.

LUz CLARitA CRUz

4 Peregrino – Verão 2010/2011

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Em encontro, os clãs da Mística Andina saúdam o nascer do Sol, Tayta Inti.

Page 5: Jornal Peregrino

Peregrino – Verão 2010/2011 5

Vivemos na Pachita, somos os wirakochas, os guerreiros do alvorecer... Não é fácil ser herdeiro dos grandes guerreiros ameríndios, mas é o tempo que nos toca viver.

De rebeliões e indignações

Noutro dia, falando com os amau-tas, dizia-lhes algo que é muito forte e vital em meu sentir, a questão: “de quem somos herdeiros?”. Sim, pois se você sabe de onde vem, se você tem clara consciência de sua linhagem, pois seu agora é claro como uma melo-dia pura e plena. Você sabe qual é seu bairro? Quais são seus heróis, a quem defende, e de quem se defende?

Somos um povo que por quinhen-tos anos esperou em silêncio o tempo do renascer... E assim, estamos aqui, começando a florescer, com a fertilida-de do AMOR de Pachamama a nós. Nos hão tirado quase tudo, mas não pude-ram levar nossos sonhos, o anelo de jus-tiça social, nosso amor ao pago, nossa devoção as origens, essa sede de bardo de cantar à vida em gratidão flamígera!

Os índios, a antiga raça quase de-sapareceu, mas eles vivem em nós... Toda a indianidade sagrada nos fala desde os rios, desde as pedras, desde o céu infinito, desde os sonhos, desde este afeto simples e profundo que se gera quando nos encontramos com o outro “portador do sonho”. E assim, vamos nos encontrando, os antigos índios guerreiros do alvorecer, os pri-meiros do amanhã.

Encarnamos nesta época, em que a Pacha precisa de consciência, com-promisso, militância. Resgatamos os valores femininos, mas também nos vestimos com a virilidade e determi-nação, somos brandos e leves, mas somos persistentes, firmes, e estamos aqui para vencer a opressão, o engano contínuo, e a exploração sem limites de nossa terra amada.

Começamos, com simplicidade e humildade, e continuaremos assim, sabendo que nossa responsabilidade excede nossa vida e nossa força, mas não trabalhamos para esta geração, senão para as próximas, tomamos bandeiras cheias do sangue de com-panheiros que lutaram contra a opres-são, contra a matança de uma cultura e de um jeito ecoespiritual de viver.

Aprendemos, somos nós, simples e claros, e aqui neste bairro levanta-

mos a bandeira do Ayllu, como siste-ma de organização, usamos o ayni, como moeda de troca, e acreditamos nos sonhos e no AMOR!

Há tanta clareza nesta tarde, neste coração... É tão claro e precioso o Plano de Pachamama... Há tanta paz, amor e liberdade no futuro, que não pode-mos retroceder! Somos caminhantes do amor, isso é o que nos diferencia dos opressores, nosso móbil foi e será o AMOR, unidos podemos vencer às sombras, as de dentro e as de fora.

Ah... neste ser não fica quase identidade individual, sou uma ex-tensão da Vida Una... Fomos muito castigados, fomos torturados, perde-mos quase tudo, mas estamos ainda de pé. E aprendemos... há um fervor, há uma virilidade vitoriosa neste bair-ro. Não há como rertroceder! Não há possibilidade de não ganhar se todos deixamos de pensar em resultados individuais e imediatos, e seguimos virilmente esforçando-nos em mudar e servir alegremente! Ao final vamos vencer, pois Pachamama está conosco!

Esta última afirmação parece a de todos os exércitos que dizem que Deus está a seu lado, mas esta afirmação é diferente. Sabem, há muitos, mas mui-tos intensos irmãos que estão se pondo de pé, deixando de comer carne, dei-xando de usar o carro, deixando de vi-ciar-se em álcool e consumo. Há muitos companheiros militando em ONG’s, em caminhos espirituais, em organi-zações de base, ajudando, servindo, colaborando de mil formas diferentes, para que este tempo seja o de reen-contro dos guerreiros e união. Temos renunciado à luta que divide, mas não temos renunciado à luta; agora somos os guerreiros incluentes e amorosos, os filhos de Pachamama que temos toma-do as antigas bandeiras de sempre e as levamos a todos os lados, mostrando-nos sem medo, nem dissimulo.

Aqui estamos, de pé, e com viri-lidade dizemos: Não retrocederemos, vamos defender a Pachita, aos valores amorosos e inteligentes familiares; es-tamos acendendo o porvir como uma

mecha vitoriosa, para que no futuro a próxima geração vibre e recolha os fru-tos de nosso esforço.

Sinto que questionar uma luta atemporal nos dá um ardor, um tre-mor no coração, uma paixão intensa e viril, que nos anima a sentir o perfume da vitória, um tempo de reconstrução, um tempo de compaixão e serviço fraternal planetário e um tempo de reeducação em valores verdadeiros, em que a poesia tenha mais valor que a tecnologia.

Ah queridos companheiros, não renunciem à luta, pois renunciar à luta é renunciar a paixão pela vida... O cami-nho da Mística Andina é uma herança de bravíssimos lutadores: dos irmãos do takiongoy, de Jose Gabriel Condor-canqui e Micaela Batista, dos bravos guerreiros guaranis, dos velhos bruxos da selva, de Chico Mendes, de todos os irmãos índios e crioulos que deram ge-nerosamente seu sangue pelo coletivo.

Hão mudado tanto as coisas, mas a luta segue sendo igual, por um lado o bairro dos mesmos de sempre, in-diferentes a dor alheia, gananciosos, corruptos e cinzas, cheios de razão e poder; em seu elitismo sobrevivem baseados em ilusão e engano, são os matadores de sonhos.

E esta tribo planetária de sonha-dores, que acredita no AMOR como móbil de conduta, que acredita em utopias, em compaixão, que se disci-plina diariamente em viver em simpli-cidade e ternura... Nesse nosso bairro há honra, há verdades que foram de-fendidas com sangue por povos intei-

ros, aqui estão os velhos guerreiros dos Andes, impulsionando a superar-nos mais e mais, em viver tribalmente, em sair da individualidade egoica e fundir-nos no propósito grupal e não retrocedermos nunca!

Sou só um homem, mas aqui neste coração há uma flama de amor imen-sa, que consome a toda a mediocrida-de reinante; trago da década de 70 um ardor, uma paixão que não se apagará nunca... E com alegria percebo que há muitos, mas muitos pondo-se de pé, com confiança em que desta vez ven-ceremos! E não vamos retroceder!

Ah... Quanto amo a este bairro, aqui estão os poetas estelares, os uni-córnios azuis, os fazedores de pipas, os palhaços, as mãos de mamãe... So-mos do glorioso bairro dos guerreiros vivos, somos os herdeiros dos inkas, dos chankas, dos guaranis, somos da gloriosa juventude cósmica, apesar de tantos companheiros mortos, desa-parecidos e de tanta injustiça, não nos venceram; ainda com cabelos bran-cos, estamos aqui de pé, com o cora-ção viril e ardendo em vida !

Sou uma borboleta de diamante e luz, sou um unicórnio azul, sou apenas uma gotinha viva, mas esta gotinha não se rende ao consumo, a superfi-cialidade, a cultura do desperdício.

Vamos queridos companheiros, mudar! Revolucionar nossa vida! Vamos com simplicidade e ternura vencer!

Lucidor Flores é o nome espiritual de Gerardo bastos, Mestre e Guia do Movimento da Mística Andina.

LUCidoR FLoReS

pelas sendas de pachamamaPasCale reIn

hardt

Page 6: Jornal Peregrino

6 Peregrino – Verão 2010/2011

américa latina

Ao longo da história da América Latina, no plano material, sucedem-se várias tentativas de integração de alguns de seus países, como por exemplo, a CAN (Comunidade Andina de Nações) e o MERCOSUL (Mercado Comum do Sul).

O modelo de integração, nas úl-timas décadas, pautado prioritaria-mente no aspecto econômico e que vem sendo executado em vários níveis de compromisso pelo MERCOSUL e pelo CAN, está revelando múltiplas limitações, resumidas à dificuldade de as pessoas se reconhecerem cole-tivamente em um mercado, enquanto podem identificar-se com uma comu-nidade.

Para ir além da integração de mer-cados, sem memória compartilhada, insuficiente para a criação de um or-ganismo transnacional, surge uma nova proposta de União dos países da América do Sul, que depende muito mais da unificação da “alma da Amé-rica’ – a UNASUL – União das Nações Sul-americanas.

Com a criação da UNASUL, avança-se com importante passo acelerador da realização deste sonho de (re) união de nossa querida pátria latino-americana. A criação foi forma-lizada no dia 23 de maio de 2008, em Brasília, com a assinatura do Tratado Constitutivo da União das Nações Sul Americanas, UNASUL, por 12 países da região: os quatro então do MER-COSUL (Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai), os cinco da CAN – Comu-nidade Andina (Venezuela, Colômbia, Peru, Equador e Bolívia), bem como o Chile, Suriname e Guiana.

A consolidação desse novo órgão político - a UNASUL, e o êxito do pro-cesso de união e de integração dos países da América do Sul dependem em grande parte da transcendência

do processo de integração econômi-ca, a partir da detecção e construção conjunta de uma consciência e de uma identidade sul-americana. As conver-gências históricas, culturais e espiritu-ais dos países da América do Sul são elementos essenciais na construção dessa identidade.

A integração cultural, através da reafirmação da identidade sul-ameri-cana e a integração espiritual, funda-da no valor máximo de respeito e de culto a Pachamama, a Terra, como Mãe, constituem o substrato imate-rial, de extrema relevância e utilidade neste processo de integração regional da UNASUL - União das Nações sul-americanas.

A conexão com Pachamama, com a sacralidade da Mãe Terra pode con-tribuir com a construção intercultural de respeito à vida e de solidariedade entre os seres humanos. Essa crença – herança das raízes, da ancestrali-dade ameríndia, dos mapuches, dos guaranis e de tantas outras tribos, nos remete a interconexão entre os seres humanos – filhos e filhas da mesma Mãe Terra, e, destes com a vida cir-cundante, fornecendo, assim, o subs-trato subjetivo necessário à consolida-ção do processo de integração entre povos e nações, hoje, separadas por circunstâncias históricas, porém, mi-lenarmente e atavicamente, ligadas por uma espiritualidade comum.

O espírito de colaboração, de res-ponsabilidade coletiva, de cuidado e de liderança compartilhada e compas-siva presentes na cosmovisão da Terra como Mãe, na crença em Pachama-ma, podem contribuir para a tessitura de relações igualitárias e solidárias en-tre os cidadãos sul-americanos e, por via de conseqüência, na consolidação da UNASUL – da União das Nações sul-americanas e na (re)integração da

saÚde

Afinal, o que é estar saudável?

O que é saúde? O que é estar saudável? Esses dois conceitos são ao mesmo tempo tão comuns e tão abstratos... Ao longo dos anos o conceito de saúde vem se modificando com a nossa socieda-de. Para isso, basta lembrarmos nossas avós dizendo que estamos saudáveis quando estamos “gordi-nhos”, além da imagem de homem forte e trabalhador do campo fu-mando um cigarro em cima de um cavalo colorado. Dessa forma, de-vemos ter claro o que entendemos por saúde quando desejamos que nós e nossos familiares estejamos saudáveis.

No modelo de vida atual de nossa sociedade estamos acos-tumados a escutar pessoas re-clamando da falta de tempo, dos múltiplos afazeres, da solidão, da desesperança, entre outros. Tenho para mim que essa situação reflete diretamente em nossa saúde. Te-mos dedicado pouco tempo para compreensão do nosso corpo e das nossas reações frente aos proble-mas diários, temos tratado nosso corpo com desrespeito, fazendo-o trabalhar em excesso. Além disso, não estamos acostumados a iden-tificar os sinais que nosso corpo emite quando está fatigado, tais como dores de cabeça, tristeza, dores pelo corpo, insônia, etc. Algo a ressaltar é que hoje buscamos que nossos problemas sejam re-solvidos de forma imediata, como se fôssemos máquinas com botões de liga/desliga. Exemplo disso é a busca exagerada por medicações que alteram nosso estado men-tal, visando o alívio imediato do sofrimento ao invés da busca pela compreensão de nossas mazelas e do aprendizado que podemos ter com elas.

Outro ponto a se destacar diz respeito a nossa alimentação.

Estamos diariamente ingerindo produtos industrializados, cheios de conservantes e derivados, sem termos a real noção de quais as consequências para a nossa saú-de. Um filme/documentário, nor-te-americano, muito ilustrativo acerca desse problema se chama Super Size Me (dirigido por Morgan Spurlock/2004), o qual mostra a experiência de um homem se ali-mentando, durante um mês, ex-clusivamente de fast food. Há uma clara correlação entre o tipo de ali-mento ingerido e o nosso nível de energia corporal e satisfação.

Afinal o que é ter uma vida saudável? Penso que o cultivo de hábitos de vida saudável está relacionado com o cuidado e o equilíbrio de nosso “corpo” físico, mental e emocional. Para isso pen-so que devemos buscar a prática de exercícios físicos diários (que tragam uma satisfação corporal e mental – algo que gostemos e que de preferência nos divirta), e uma alimentação balanceada entres os tipos de nutrientes, baseada em alimentos orgânicos. Creio que de-vemos rotineiramente espreitar os nossos hábitos. Nossa dificuldade em mudarmos de alimentação, em mudarmos de comportamento e de atitude, de iniciarmos alguma atividade física, etc. Além disso, talvez tenhamos que valorizar e cuidar mais as nossas relações afetivas (amigos e familiares), ter tranqüilidade para compreender que não possuímos o total controle sobre o nosso corpo, e agradecer diariamente pela nossa saúde e dos que nos rodeiam.

Valentim Aguilar é o nome espiritual de João Pedro Passos

dutra, discípulo da Mística Andina e médico residente

de Clínica Médica da UFPel – Pelotas, RS.

VALentiM AGUiLAR

O Mestre Rackotsi intenta manter e criar um cenário multilateral na América, buscando cumprir o ideal bolivariano de unidade latino-americana, criando pontes entre Argentina, Uruguai e Brasil. (Mestre Lucidor Flores, A Senda do Coração)

Pachamama e a (re)integração latino-americanaVioLetA MoLinA

pátria latino-americana.Oxalá, a partir do sucesso futuro

da UNASUL, possa se irradiar para toda a América Latina e para o mundo um novo estilo de vida mais saudável, a forma sul-americana de viver bem...

Violeta Molina é o nome espiritual da discípula e aprendiz de amauta

da Mística Andina Germana de oliveira Moraes que atua como juíza

em Fortaleza/Ce.

Page 7: Jornal Peregrino

yoga andinoPeregrino – Verão 2010/2011 7

O Yoga Andino nos conduz pelo caminho da retomada da consciência do nosso veículo físico e energético, levando a atenção ao nosso corpo e a nossa energia.

A intenção é que reaprendamos a carregar-nos de prana, a eliminarmos a energia pesada que acumulamos du-rante o dia e a nos mantermos em um alto nível de energia.

Este yoga, esta ação sobre o cor-po, é muito importante na caminhada de um ser sensível. Aprender a respi-rar e a mover nosso corpo de forma consciente faz parte da prática espi-ritual. Necessitamos manter nossos nadis ou canais energéticos abertos e desobstruídos para que a energia possa circular pelo nosso ser, nutrindo nossos chacras ou faixas energéticas, mantendo assim o combustível para que a consciência esteja desperta e estejamos presente em cada agora.

Ao longo dos anos perdemos a fle-xibilidade, o tônus muscular, a sensibi-lidade e a percepção corporal, e é inte-ressante que façamos esta retomada, pois somos matéria, somos energia, somos essência e somos espírito, e necessitamos manter estes elemen-tos em harmonia e equilíbrio.

Reaprender a respirar, utilizando toda a capacidade pulmonar para que possamos nos nutrir ao máximo do alento carregado de prana ou ener-gia que ingressa a cada inspiração... e novamente sentir todas as partes do nosso corpo, exercitar os músculos e

reforçá-los para que não tenhamos mais tantas dores... pois a dor não é algo natural, ela advém de tanta des-cuido com nosso corpo.

Com o yoga andino aprendemos a ser devotos e gratos ao nosso corpo, pois graças a este veículo nos move-mos por esta Vida e podemos expe-rimentar deste milagre de estarmos vivos aprendendo, sorrindo, amando.

Movendo o corpo com a luz da consciência

Hoje somos estimulados para exercitarmos apenas nossa mente e a produzirmos cada vez mais, mas nosso corpo e nossa energia também neces-sitam de exercício e de estímulo para que assim possamos estar em harmo-nia com nosso corpo e saudáveis.

Somos o infinito expressado no finito, e para experimentarmos isso temos que estar livres, livres de tantas

diAnA ShAKti MA dédALoS

toxinas e amarras energéticas, man-tendo nosso corpo sensível, saudável.

Sintamos diariamente nosso cor-po sorrindo, a energia que se move e a gratidão que floresce por estar-mos atentos a ele.

diana Shakti dédalos é o nome espiritual de Gabriela Correa Frantz,

Mama do Ayllu da Mística Andina e Guia do Movimento.

Em San Marcos Sierras, a tribo da Mística Andina expande corpo e consciência.

dUrga CrUz/MarIlane CUrtInaz

Page 8: Jornal Peregrino

Peregrininho VI Edição

8 Peregrino – Verão 2010/2011

Amankay Sandoval é o nome espiritual de Michele berneira

da Silva, discípula da Mística Andina e diretora administrativa

da Associação Pachamama, atua como pedagoga em Porto Alegre/RS. Ramiro Mendizabal

é o nome espiritual de Lucas Goulart Antunes, discípulo da

Mística Andina.

IlUstraÇÃo PeregrInInho: leandro BIerhals Bezerra (hals)

Consumo consciente é pensar-mos em nossas atitudes e hábitos e de que forma estes hábitos são benéficos (fazem bem) ao meio ambiente.

Reduzir, Reutilizar e Reciclar são palavrinhas mágicas para um Peregrininho Consciente e defen-sor do meio ambiente!

Esse número varia bastante, mas, em média, cada pessoa pro-duz 180 quilos de lixo em um ano. Imagine quanto desperdício que enxergamos por aí.

A reciclagem completa o ci-clo dos “erres”. Pachamama, nos-sa mãe Terra, dá um sorriso lindo para todos nós ao ver que estamos cuidando e nos educando.

Você pode reduzir bastante esse número com algumas atitu-des simples no seu dia-a-dia:

- comer demais pode prejudicar nossa saúde, viu! Portanto, colo-que no prato só o que irá comer!

- peça para sua mãe comprar pro-dutos com embalagens retorná-veis, que são reaproveitadas.

- aproveite os dois lados da folha de papel: um texto que você im-primiu e saiu errado pode virar um belo rascunho.

- sabe aquelas roupas, brinquedos, livros, e tantas outras coisas que você não usa mais e ficam lá enca-lhadas no seu quarto? Elas podem ser bastante úteis para pessoas ca-rentes, sabia? E então, o que você está esperando? Vá fazer uma faxi-na geral no seu armário e doe tanto quanto puder!

- aproveite garrafas e outras em-balagens para fazer brinquedos, guardar alimentos, etc.

- aquela sacolinha do supermerca-do pode virar um ótimo saquinho de lixo, mas o ideal é usarmos saco-las de pano. Peça para a sua mãe.

Querido Peregrininho, nesta edição queremos chamar a sua atenção para uma atitude muito importante:

Perguntinhas sobre consumo consciente:

1) Quando ficamos muito tempo no banho gastamos duas coisas: Á_ _ _ e L_ _ .

2) Podemos reaproveitar o lixo através da R _ _ _ _ _ _ _ _ _ .

3) Economizando papel você evita o corte de Á _ _ _ _ _ _ . 4) Aqueles brinquedos e roupas que não uso mais eu posso d _ _ _ .

Um abraço e até a próxima Edição!

respostas: 1) água e luz, 2) reciclagem, 3) árvores, 4) doar

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