confissao de um peregrino. francisco leonardo schalkwij

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gnno . •- •• 1 * para entender a eleição e o livre-arbítrio Francisco Leonardo Schalkwijk

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gnno

. •- ••

1 *

para entender a eleição e o livre-arbítrio

Francisco Leonardo Schalkwijk

u"Não defendo a

interpretação que dámargem para o homem

salvar a si mesmo, nemuma explicação que faz

dele um boneco inanimado, semvontade própria. Fora do tabernáculode Deus, preciso apelar para a própriaresponsabilidade do ouvinte. Mas,quando dentro, preciso apontar para a

multiforme graça de Deus. Pois, pormeio de todos os objetos dotabernáculo, o Senhor nos mostra queEle nos salva. No altar, foi Ele quemorreu por nós. Na bacia, foi Ele quenos lavou os pés. Como candelabro, éEle que ilumina nosso caminho.Na mesa, é Ele que nos providenciauma refeição celestial durante nossaperegrinação. No altar de incenso,é Ele que ora para que a nossa fé nãodesfaleça. Na arca da aliança, é Eleque nos abraça e recebe.Fora do tabernáculo, um evangelistareformado às vezes parece um poucoarminiano quando apela para opecador entrar pela porta estreita.

Dentro da casa de Deus, por outrolado, um irmãoarminiano se torna um

pouco reformado, pois

dá louvores a Deus porsua graça infinita!

CONFISSÃO DEUM PEREGRINO

PARA ENTENDER A ELEIÇÃO EO LIVRE-ARBÍTRIO

Francisco Leonardo Schalkwijk

CONFISSÃO DEUM PEREGRINO

Ia Reimpressão:Novembro de 2002

Editora Ultimato

2002

Copyright © 2002 by Frans Leonarcl Schalkwijk

Projeto Gráfico:Editora Ultimato

Ia Edição:Março de 2002

Revisão:

Dèlnia M. C. Bastos

Capa:Sônia Couto

(Deiolhe do quadro The Astronomer, de Jan Vermeer)

Ilustrações:

Johannes P. Hanskamp (adaptação Editora Ultimato)

Fichacatalográfica preparada pelaSeção de Catalogaçãoe Classificação da Biblioteca Central da UFV

Schalkwijk, Frans Leonarcl, 1928-

Confissão de um peregrino / Frans LconardSchalkwijk — Viçosa : Ultimato, 2002.

120p.

ISBN 85-86539-46-5

1. Predestinação 2. Deus - Onipotência. 3.Testemunhos (Cristianismo). 4. Schalkwijk, FransLconard, 1928 - Vida espiritual. I. Título.

CDD. 19.ed. 234.9

CDD. 20.ed. 234.9

S297c

2002

2002

Publicado com autorização e com todos os direitos reservadosEditora Ultimato Ltda.

Caixa Postal 43

36570-000 Viçosa - MGTelefone: (31) 3891-3149 - Fax: (31) 3891-1557

E-mail: [email protected]

Nós amamos porque Ele nos amou primeiro.

João, o Apóstolo do Amor

Sumário

INTRODUÇÃO 9

PRIMEIRA PARTE: ACONSOLAÇAO DA ELEIÇÃO

1. Eleição 15

2. Igreja Reformada 19

3.Armínianísmo 21

4. Perdição 25

5.Vocação 29

6.Salvação 33

7. Preservação 39

8. Predestinação 45

9. História da Igreja 51

10. TrêsLembretes 55

11. Uma AntigaAdvertênciaparaHoje 59

12. Oração 63

SEGUNDA PARTE: OALVO DA ELEIÇÃO

13. Para SermoscomoJesus 67

14. Para Sermos Profetas 71

15. Para Sermos Sacerdotes 75

16. Para Sermos Reis 83

17.0Alvo Supremo 101

EPÍLOGO 105

INTRODUÇÃO

Departamento de Educação Cristã da Igreja(Evangélica Reformada no Brasil pediu-me paraescrever sobre parte da nossa herança bíblica.

especialmente no que diz respeito à eleição ou predestinação.Tenho o privilégio de ser pastor emérito da I.E.R. de Carambeí,Paraná, e servimos à Igreja Presbiteriana do Brasil por trêsdécadas. Agora, com mais de 70 anos de idade, escrevo estaslinhas no temor do Senhor, como sinal de gratidão por tudo queminha esposa e eu recebemos durante os 45 anos de casados eno ministério.

Ao mesmo tempo, este livro é como uma carta a vocês, meusqueridos irmãos. Fiquemos perto do Senhor —dequem somos ea quem servimos —. fiéis à sua Palavra, até nos encontrarmoscom Ele e com os demais peregrinos que já foram promovidospara a glória (Hb 12.1.2).

Gosto muito da palavra peregrino, talvez pela recordação dosquadros do famoso livro OPeregrino, que vi projetados na paredede nossa igreja, quando tinha uns 6 anos de idade.1 De fato.somos peregrinos neste mundo (1 Pe 2.11). Ecomo é importante,durante a nossa jornada, escolhermos a estrada certa nasencruzilhadas da vida.

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IO

Este livro não pretende ser um manual de doutrina {já existemmuitos e excelentes), mas procura ser um testemunho, uma confissão de como o Senhor ajudou este peregrino reformado a obter respostas a várias perguntas que o afligiram durante muitotempo. Todos somos pecadores pornatureza; isto quer dizer queteólogos também falham porcausa da velha natureza pecaminosa, pois é tão fácil desviar-se do reto caminho da Palavra de Deus!Como precisamos orar: "guie-me o teu bom Espírito por terrenoplano" (Si 143.10)! Quando oramos desse modo. de coração. Deusresponde conforme a sua promessa (Si 32.8). Assim. Ele tomoueste peregrino pela mão. guiando-o pela sua Palavra (Si 119.105).Mostrou o que o Espírito Santo tem ensinado à Igreja do Senhoratravés dos séculos, ensino esse guardado nas confissões e noslivros de outros peregrinos, ajudantes de Deus para mostrar aosdemais peregrinos as riquezas da eterna Palavra de Deus. que éfiel. pois Ele é fiel (1 Tm 4.9; 1 Co 1.9).

Aprendi que. para poder ouvir seu conselho,é necessário andarperto do Senhor. Longe dele eu era um errante, cheio de perguntas sem respostas, até que entrei no santuário de Deus (Si 73.17).Elá muitas dúvidas se dissiparam. Por isso. preguei tantas vezessobre o tabernáculo com o flanelógrafo que meu saudoso paipintou para o trabalho missionário. Naquele velho santuário,que era uma sombra do tabernáculo celestial (Hb 8.5). o Senhorme ensinou muitas coisas preciosas. Não que Ele tenha respondido todas as minhas indagações; ainda tenho uma pequenalista de perguntas no bolso. Mas sei que. durante esta peregrinação. "Tu me guias com o teu conselho e depois me recebes naglória" (Si 73.24). Há apenas um pequeno problema técnico: decerto a listinha ficará para trás...

Alegrei-me quando me disseram:Vamos à casa do Senhor

(Salmo 122.1)

Apeldoorn, Holanda, Dia da Reforma, 2001Francisco L. Schalkwijk

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O Tabernáculo

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Espaços:

A - ÁtrioS - O Santo lugarSS - O Santo dos Santos

Objetos:

1 - Altar do holocausto

2 - Bacia

3 - Candelabro

4 - Mesa

5 - Altar do incenso

6 - Arca da Aliança7 - Propiciatório (a tampa)

PRIMEIRA PARTE:

ACONSOLAÇÃO DA ELEIÇÃOAqueles que amam a Deus...

Ele os predestinou para serem conformes àimagem de seu Filho.

(Romanos 8.28-30)

1

ELEIÇÃO

Uma das perguntas que voltava de vez em quando à minhamente era exatamente aquela sobre a predestinação oueleição (Ef 1.3-6 etc). Eu aceitava a eleição porque está

na Palavra de Deus (Jo 17.17). Mas o que pensar sobre a nossaprópria responsabilidade? Sempreme lembravada ilustraçãodadapor nosso idoso pastor na Holanda. Segundo ele. a eleição écomo um portão. Do lado de fora está escrito "Vinde a mim".Do lado de dentro, depois de passar pelo portão. "Eu techamei".

Também me lembrava da Suíça, onde meu irmão e eu estudamos por dois anos. Da nossa escola podíamos ver os cumes deumas montanhas altas cujos topos pareciam isolados. Um dia,quando pegamos um bondinho em direção da montanha ondeestava a escola, percebemos que aqueles topos isolados eram naverdade pontos numa única serra gigantesca. Pensei: Assimé com a responsabilidade humana e a eleição; aqui na terrasó podemos vê-las como pontos isolados sem conexão, maslá em cima é possível ver que são dois picos na serra majestosa do amor de Deus. Este foi outro exemplo que me ajudou

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muito. Contudo, de vez em quando, a mesma pergunta voltavaem minha mente.

Um dia, o Senhor me deu outra consolação a esse respeito.Tive o privilégio de trabalhar por 17 anos como professor doSeminário Presbiteriano do Norte, no Recife. PE. Eu estava me

preparando paradar umaaulade exegese sobreRomanos 8. Quasetodos nós sabemos de coraquela promessa preciosa que está emRomanos 8.28: "todas as coisas cooperam para o bem daquelesque amam a Deus". Mas nem todos gostam de continuar lendoque estas pessoas foram "predestinadas" (Rm 8.29); não queremnegar que está na Bíblia, mas não gostam do assunto. Outrosirmãos, porém, não vêem nenhum problema, entendendo quepredestinação é simplesmente o mesmo que presciência ("pré-ciência") da parte de Deus. Dizem: "Deus sabe de tudo. Ele jásabe de antemão como aquela pessoa vai reagir durante suaperegrinação terrestre, e. prevendo que vai ser crente, destina aquela pessoa para a vida eterna". Àprimeira vista, pareceque este versículo pode ser explicado desse modo. mas veremos adiante que essa expressão "de antemão conheceu" deRomanos 8.29 é quase idêntica a "de antemão elegeu" (Jr 1.5:1 Pe 1.20 etc.).2

Anos atrás, eu mesmo estava angustiado com a idéia de queDeus elegeria uns e jogaria o resto no inferno. Depois, entendique não poderia ser assim, porque Deus ama seus filhos pródigos muito mais do que nós.3 Naquele dia, preparando uma aula.nova luz foi lançada sobre o versículo 30: "aos que predestinou,a esses também chamou; e aos que chamou, a esses tambémjustificou; e aos que justificou, a esses também glorificou". Orando, creio que o Senhor me lembrou do velho tabernáculo emrelação a essas palavras de peso teológico, sugerindo a esteprofessorzinho que agora ele mesmo procurasse a respostapor eliminação, método às vezes usado em testes para seusalunos.

Neste versículo, Romanos 8.30, há quatro palavras-chaves:predestinou, chamou, justificou e glorificou. Agora, vamos tentar colocar os números certos nos quatro espaços na planta dotabernáculo:

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1) "Predestinou". Ao refletir sobre o lugar da primeira palavra, temos de reconhecer que se trata do conceito mais difícil;por isso vamos deixá-la por último, como faríamos num testedifícil.

2) A palavra "chamou" para onde iria? Claro, para fora dotabernáculo. Deus nos chama para si. exatamente porqueestamos longe dele. Então coloquemos o número "2" ao ladodireito, em frente da entrada principal.

3) Em seguida, vem a palavra "justificou": corresponde a quelugar no tabernáculo? Quem se lembra damobília do tabernáculo,não vai ter problema em escolher imediatamente o lugar do número "3"; no átrio. ao lado do altar do holocausto.

4) Finalmente, a palavra "glorificou" para onde vai? Tambémnão é difícil fazer a correspondência: glória lembra ouro. porisso deve ser logo colocada no primeiro lugar dourado, no próprio santuário, no Santo Lugar.

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Depois disso, era como se o Professor Celestial me dissesse,com um piscar de olho: "E agora, meu filho, onde você colocariaa primeira palavra?" Reconheci que havia sobrado apenas umlugar: o Santo dosSantos. De repente, voltaram à minha menteas perguntas sobre a predestinação e entendi o que o Senhor estava querendo me dizer: "As suas perguntas se resolverão somentedepois de você se colocar diante do trono de Deus e do Cordeiro".Ecomo chegar até lá? Somente pela porta da frente! Somente pelocaminho dasalvação indicado por Deus mesmo. Quem quer entender e discutir o assunto da eterna predestinação sem passar pelaporta, é como ladrão e salteador, que pula por cima do muro daeternidade diretamente para dentro da sala do trono (Jo 10.1).

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Sem dúvida, a ordem celestial é 1-2-3-4: em primeiro lugar.Ele nos predestinou, por isso nos chamou. Mas, para os filhosde Adão e Eva fora do Paraíso, a ordem é 2-3-4-1; é a ordemterrestre, de fora para dentro do tabernáculo. Para nós. tudo começa com a chamada divina, como aconteceu desde o início,quando Deus procurou pelo homem: "Onde estás?" (Gn 3.9).Depois, quando chegamos na presença do Senhor, no Santo dosSantos, nós reconhecemos que foi Ele quem realmente nos chamou das trevas para sua maravilhosa luz. Se não. ainda hojeestaríamos longe dele (1 Pe 2.9).A

Oh quão cego andei e perdido vaguei,Longe, longe do meu Salvador.Mas do céu Ele desceu e seu sangue verteu,Pra salvar um tão pobre pecador!(Salmos e Hinos 234; Mc 10.49)

2.

IGREJA REFORMADA

No século 16, a Reforma eclodiu na Europa sob a liderançade Martinho Lutero (1517). Na Holanda, a IgrejaReformadacresceu apesar de muita perseguição por parte

da Inquisição Católica Romana e dos exércitos espanhóis. Osdois primeiros mártires da Reforma eram monges agostinianos.da mesma ordem de Lutero. que foram queimados na entãocapital dos Países Baixos. Bruxelas. Até o próprio autor daConfissão Belga, o pastor Guido de Brès. morreu enforcado comomártir da fé.5 Podemos entender como foi importante que aprimeira pergunta do Catecismo de Heidelberg6 fosse: "Qual atua única consolação, tanto na vida como na morte?" Comoprecisava-se da consolação naqueles dias terríveis! Somente pelagraça era possível suportar a perseguição e continuar andandopela fé. na certeza da salvação!

No século 17, surgiu uma discussão sobre fé, perseverança,predestinação etc, focalizada em torno do teólogo holandêsJacobus Arminius (Armínio, em português). Embora ex-aluno daAcademia em Genebra e do professor Teodoro Beza. já haviadúvidas sobre a ortodoxia dele durante seu exame eclesiástico

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em Amsterdã.7 Apesar disso. Armínio foi ordenado pastor nacapital da Holanda, onde gozava da proteção da prefeitura, porser casado com a filha de um dos prefeitos. Alguns anos depois,apesar de outras dúvidas sobre a sua ortodoxia, os curadores daUniversidade de Leiden nomearam-no professor de teologia.Após sua morte, em 1609. as controvérsias continuaram. Os seguidores de Armínio, chamados "arminianos". consideravam ogoverno secular como juiz supremo em assuntos eclesiásticos,mas finalmente o governo dos Países Baixos reconheceu o direito da igreja nesta área doutrinária e permitiu a convocação deum sínodo nacional. Foi durante este Sínodo de Dort (1618-1619)que as igrejas rejeitaram a posição arminiana e firmaram o ensino reformado. Com a participação de representantes da Alemanha. Suíça e Inglaterra, onde três décadas depois seria escrita aConfissão de Westminster. foram formulados os cinco Cânonesde Dort. Não era uma confissão geral como a Confissão Neerlan-desa; tratou especificamente do arminianismo (por isso. é conhecida também como Os cinco artigos contra os arminianos).Tornou-se o terceiro documento oficial das Igrejas Reformadasna Holanda.8

3.

ARMINIANISMO

Qual era o problema propriamente? Em primeiro lugar,observamos que o arminianismo é um capítulo dadoutrina da salvação, a soteriologia, que estuda a

pergunta: "Como o homem se salva?" É claro que sempre temhavido perguntas sobre esse assunto. Já no tempo dos apóstoloshavia muitas discussões, especialmente quando os primeirospagãos começaram a se converter ao Senhor. Até o primeirosínodo (em 45 d.C.) fez uma declaração muito importante sobreisso. Reconheceram que gentios se salvam como judeus: pelagraça do Senhor Jesus; por isso não precisavam se circuncidar eobservar a lei cerimonial, mas andar em santificação e lembrarde alguns pontos específicos para não causar escândalo aninguém (At 15.11, 29: 1 Co 10.32).9 Mas. alguns anos depois, agrande luta de Paulo com os gaiatas era nessa mesma área. Oapóstolo desejava preservar pura a doutrina da graça, livre dolegalismo. que insiste em que o homem se salva por obras da lei(Gl 2.16; Ef 2.8. 9).

Uma nova onda de discussões sobre a soteriologia ocorreu por volta de 400 anos depois de Cristo. No Egito, omonge Pelágio pregou que o homem podia salvar a si mesmopelo seu próprio esforço, porque entendia que o homem em siera bom. O grande adversário teológico dele foi Agostinho, que

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apelou para o ensino bíblico de que o homem, na sua velhanatureza, está morto em pecados e. por causa disso, dependecompletamente da graça divina (Ef 2.1; Si 51.5). As igrejas, reunidas em sínodos. condenaram o ensino pelagiano como contrário à Escritura Sagrada.10 Contudo, na igreja medieval, geralmente reinava uma forma diluída do pelagianismo, dando amploespaço para o desenvolvimento do ensino católico romano sobre as boas obras como condição para a salvação.

Um dos motivos da pregação de Lutero que serviu de estopimpara a Reforma (1517) foi exatamente as boas obras. A Reformacolocou a doutrina da graça {sola gratia) novamente no pedestal: a salvação não era por obras, mas somente pela fé {sola fide,Ef 2.8-10)."

A essa altura da história, já era suficientemente claro que anatureza humana sempre tende a se desviar da doutrina pura daPalavra de Deus. Por natureza caída, todos somos pelagianos ousemelhantes. Em retrospecto histórico, o legalismo. rejeitado noSínodo de Jerusalém, veio a eclodir novamente na formapelagiana quatro séculos depois. O pelagianismo, por sua vez,rejeitado no Sínodo de Orange, surgiu novamente na igreja romana medieval. Não é de se estranhar que, depois, rejeitadopela Reforma, ele brotaria outra vez numa forma mais sutil dentro das igrejas reformadas. Assim, o arminianismo era um tipode pelagianismo abrandado. Dessa vez. as discussões se cristalizaram em cinco pontos cruciais:12

1. Os arminianos insistiam que a predestinação se baseavana fé prevista; os reformados diziam que a eleição era incondicional;

2. Os arminianos pregavam reconciliação geral; os reformados, reconciliação limitada:

3. Os arminianos criam que o homem caído era mais ou menos bom; os reformados admitiam a depravação total:

4. Os arminianos diziam que podiam resistir à graça de Deus:os reformados reconheciam que a graça era irresistível;

5. Finalmente, os arminianos criam que o salvo poderia perder a salvação; os reformados confessavam a perseverança dossantos.

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A discussão seguiu esta ordem porque, naquela época, o focoera a predestinação: logicamente, o primeiro ponto a ser tratadotinha de ser a eleição.13 Neste estudo, seguiremos uma ordemum pouco diferente. Procuraremos entender melhor estes cincopontos, seguindo o caminho pelo tabernáculo do Velho Testamento e na perspectiva de como a salvação é experimentada pornós. Começamos lá fora, percebendo o nosso pecado (ponto 3da discussão: perdição). Em seguida, ouvimos a chamada do Senhor (ponto 4: vocação) e somos reconciliados com Deus ao péda cruz (ponto 2: salvação). Depois surge a pergunta se permaneceremos fiéis até o fim (ponto 5: preservação). E. finalmente,diante do trono, reconheceremos mais ainda que chegamos atélá somente porque Deus nos amou antes de amarmos a Ele(ponto 1: eleição). Então, vamos pensar nessas perguntas naseguinte ordem: perdição, vocação, salvação, preservação epredestinação.

4.

PERDIÇÃO

Perdição: depravação parcial ou total? Será que sou pecadorporque peco, ou peco por ser pecador? O ponto de partidana divergência entre arminianos e reformados era o que se

pensa sobre o homem, especialmente qual o grau de estrago queo vírus do pecado causou nele, inclusive na área da vontade.14 Éclaro que em muitas áreas o homem parece poder escolherlivremente: o que falar, o que ler, com quem se casar. Mas hááreas na vida nas quais a liberdade de escolha é bem menor,como. por exemplo, erguer um pesode 60quilos ou como explicareletricidade. Há até áreas em que não é possível fazer qualquerescolha, como nascer ou deixar de nascer, ou ainda nascer comou sem pecado. Para os arminianos, o estrago espiritual eragrande, mas nem tanto; nem poderia ser diferente, já queprecisavam sustentar o argumento de que o homem podecooperar com a sua salvação. Para os reformados, o estrago eracompleto, não porque fossem pessimistas, mas porque assimentendiam a Palavra de Deus. segundo a qual o homem estámorto espiritualmente, conforme percebeu-se desde a queda(Ef 2.1: Gn 6.5; 1 Jo 1.10). O que resta de bom é somente pela

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graça de Deus. que refreia ocompleto desenvolvimento do pecado.Por outro lado. Ele nos faz reconhecer que. na realidade, na luzda santidade de Deus. nossas melhores obras são manchadas e

cheiram mal (Is 64.6; Jr 17.9). Como Agostinho disse sobre ohomem natural:

O pecadorama o que Deusodeiae odeiao que Deusama: [porisso] a eleição por Deus é um segredo muito maior do que arejeição, porquecadadiasou dignoda rejeição, masa esperançapela eleição encontro em Cristo somente.

De fato. sou pecador porque peco diariamente. Ou, pior. seráque peco porque sou pecador mesmo?

Quem não acerta a resposta a esta pergunta ou não conhecea Escritura, ou não conhece a si mesmo, ou nunca teve filhos.Confesso que. sem querer, passei um problema muito sério paratodos os nossos filhos... Certo dia. chegando em casa. a nossaprimeira filhinha estava chorando. Eu disse à Margarida, minhaesposa: "Ela está com fome". Ela retrucou e explicou-me que acriança não chorava de fome, mas de pirraça. Fiquei pensando:"Com quem aprendeu? Imagine, ainda não tem irmãozinhos quepoderiam ter dado um exemplo errado; minha esposa não foi,de jeito nenhum; eu geralmente estou fora do lar; então, deonde vem esse modo de agir?" Como teólogo, eu sabia que nascemos pecadores, mas agora estava vendo com meus própriosolhos que. de fato. havia nascido outro pecadorzinho... pormais bonitinho que fosse. De onde vinha esse problema? Não de exemplos externos, mas. sim. de dentro, doseu coraçãozinho (Si 51-5; Mc 7.21). Hoje em dia. alguémdiria: "Está nos genes, no DNA". Onde quer que esteja,ficou claro que está embutido; desde cedo minha filha estavacontaminada com o vírus do pecado que herdou dos pais. Coita-dinha!15 Mas não adianta negar. O melhor é enfrentar a realidade e consultar o Médico dos médicos sobre o assunto. Sim. educar se faz de joelhos.

Agora, pensando no tabernáculo. é possível entender que o homem natural lá. fora do portão, nem percebe que seu estado é tãomiserável. Não quer saber de pecado atual e muito menos de pecado original. Mas, na medida que o Espírito Santo vai trabalhando

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no coração peregrino, sua consciência vai se afinando e ele começa a perceber que de fato há coisas erradas (Rm 2.15; Jo 16.8).Finalmente, chegando a conhecer a lei de Deus. o peregrino seassusta mesmo, porque aquele espelho celestial revela a realidade (Si 143.2; Tg 1.23).16 Ele já havia se olhado em outros espelhos, mas não se achava tão ruim; ao contrário, alguns refletiamaté certa beleza. Porém, somente agora ele percebe que eramespelhos fabricados pelo mentiroso (Jo 8.44). Ele já mentiu sobre avida e sobre a morte; não mentiria sobre a nossa condição diante de Deus?

Quando meninos, algumas vezes minha mãe nos levou a umparque onde havia espelhos bem interessantes. Um fazia da genteumgigante; outro, umanão pitoresco; um terceiro fazia-nos parecer com o Tarzan. Assim também o maligno usa cada filosofiadiferente (inclusive o pelagianismo) para nos adular e enganar,mas somente Deus nos mostra como somos na verdade. O espelho celestial não mente. E o peregrino crente se refugia ao pé dacruz, onde o fardo dos seus pecados se solta e desaparece nofundo do abismo (Mq 7.19).

Depois, quando ele continua sua caminhada, aliviado e alegre, é interessante que aquele conhecimento e reconhecimentodos seus pecados não desaparece completamente. Há uma profunda gratidão pelo perdão, mas, por outro lado, à medida quechega mais próximo de Deus, mais ele percebe seu estado depecador. Como Lutero disse: "Tanto justo como pecador".Quebrantamento é, inclusive, uma das características de um verdadeiro avivamento.17 E, no fim, entrando na presença de Deus.o peregrino só pode dizer: "Senhor, não sou digno" (Is 6.5:Lc 5.8; 15-21). Claro, vê-se mais claramente as manchas na roupaem plena luz do dia do que no crepúsculo. Na escuridão, não sepercebe nada mesmo. Adescobertados pecados faz parte da bênção (At 2.37: 3.26). não para desesperar, mas para abraçar aindamais as promessas da salvação e louvarao seu Salvador (Si 130.3. 4;Rm 6.23).

Porém, se o pecador não aceitar a promessa? O médico Lucasnos conta que o Senhor Jesus disse ao aleijado: "Levanta-te eanda". Se o homem tivesse respondido "Não posso. Senhor.

2B

estou doente!", de certo Jesus lhe diria: "Não podes por falta defé". Eo homem permaneceria ali para sempre (Lc 5.23, 24). Issonos leva para dentro do próximo ponto das diferenças teológicas do século 17, a vocação divina.

5.

VOCAÇÃO

Vocação: graça resistível ou irresistível? Será que, realmente, consigo dizer "não" a Deus? A questão seguinte entrearminianos e reformados tratava da chamada da graça.18

Claro que há também outro tipo de chamada divina, por exemplo, a chamada para uma tarefa especial, como aconteceu com oprofeta Jonas e João Batista, até mesmo antes de nascer. Masaqui se trata da chamada para a salvação e da resposta humana.Esta resposta depende simplesmente da livre vontade do pecador que. decide dizer "sim" ou "não" àquela chamada? Ou depende do trabalho do Espírito Santo em seu coração? E. se existeeleição, essa chamada é de fato real. não somente virtual?

Em primeiro lugar, a Palavra de Deus é muito clara em mostrar que a chamada para a conversão é extremamente real, insistente e sincera.19

Se não fosse sincera da parte de Deus. como ficaria aevangelização por parte dos homens? Será que a igreja não recebeu do Senhor o santo dever de proclamar o evangelho a todosos homens, sem discriminação? (Mc 16.15; 2 Co 5.19. 20).20 Teriaalguém a coragem de sugerir que a chamada de Deus para a

3D

salvação não é real e que o convite para o banquete celestial nãoé sincero (Mt 22.9). mas uma promessa de brincadeira? Isto seriapior do que brincar com uma ameaça de inferno (Pv 26.18. 19)!

Basta reler alguns versículos da Escritura Sagrada para perceber como Deus chama o pecador com grande compaixão: "Acaso,tenho Eu prazer na morte do perverso? — diz o Senhor Deus;não desejo Eu, antes, que ele se converta dos seus caminhos eviva?" (Ez 18.23.) E ainda: "Convertei-vos, convertei-vos... porque haveis de morrer?" (Ez 33-11.) O Senhor chama: "Vinde amim, todos os que estais cansados" (Mt 11.28; 23.37). Ah, sim.esta é a vontade de "Deus, nosso Salvador, o qual deseja quetodos os homens sejam salvos e cheguem ao pleno conhecimento daverdade" (1 Tm 2.3. 4; 2 Tm 2.25). Ele chama com profundacompaixão para que ninguém se perca (Jo 3.16, 17, 36). É umamensagem do Pai para o filho perdido: O Pai te ama! (Lc 15.20).E um recado sincero do Filho de Deus: "Tem bom ânimo; levanta-te, Ele te chama" (Mc 10.49). Éavoz do Espírito Santo, dizendo: "Hoje, se ouvirdes a sua voz. não endureçais o vosso coração" (Hb 3.7. 8). Diante de tanto amor é mais difícil se perder doque se salvar...

Porém, o incrível acontece, aconteceu e acontecerá.

Deus apela para a nossa responsabilidade, mas há um segredoterrível no coração de certas pessoas. Por vários motivos, a porta docoração, devagarinho ou de supetão. se fecha contra o Senhor(Ap 3.20; Mt 13-18-22). Mesmo no tempo do próprio Senhor Jesus havia gente que nada queria com o Salvador. Não aceitaramo convite para as bodas do Cordeiro, nem se deixaram advertirpelo juízo vindouro. Eles simplesmente rejeitaram o plano deDeus para suas vidas (Lc 7.30, 32; Jo 12.48). Eles não o acharaminteressante e jogaram "no lixo" esse plano de salvação, comofazemos com propaganda sem valor. Eles "não acolheram o amorda verdade para serem salvos" (2 Ts 2.IO).21 Teríamos coragem defazer isso? Tenhamos cuidado, porque a chamada é tão sinceraquanto a advertência.

E se alguém reclamar quando se perder? Spurgeon resumiuclaramente o ensino bíblico, quando disse: "Reclamar por quê?Você nem quer!"22 Em Antioquia havia dois grupos de pessoas:

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aqueles que se julgaram "indignos da vida eterna" e aqueles, dosquais se diz: "creram todos os que haviam sido destinados para avida eterna" (At 13.46, 48). Torcer pelo segundo time já é grandecoisa, mas o Espírito Santo está nos convocando para sairmosdos bancos e entrarmos na seleção!

Agora, pensando de novo nas discussões sobre esta chamadasincera para a salvação, há um ponto crucial: quem vence na lutapelo coração, a chamada da graça ou o apelo do pecado? E porque você respondeu positivamente ao evangelho? Será que tinha mais fé que os outros? Assim, a fé seria a melhor "boa obra"?Ou o que seria a fé. então? Calvino resumiu o ensino bíblico,dizendo que a fé é como uma mão, que aceita o presente deDeus. Aceitar um presente não é uma "boa obra". Não agradecemos à mão por ter aceitado a salvação; agradecemos ao doador(Jo 1.12). Pois, aconteceu o seguinte: o Senhor Jesus bateu naporta do seu coração; você, lá dentro, ouviu a voz mansa masinsistente do Espírito Santo para que abrisse. Na verdade, quemabre a porta logo reconhece que foi o Senhor mesmo que o convenceu e lhe deu vontade e força para levantar e deixá-lo entrar(Ap 3.20; At 16.14).23 CS. Lewis descreve este segredo da chamada interna em um de seus livros sobre Nárnia. A menina Gil

chama por socorro e depois se encontra com o leão Aslan, que aajuda. Então, ele (que é um símbolo do leão de Judá) diz a ela:"Você não teria chamado por mim. se eu não estivesse chamando por você".24

Não podemos resolver esse problema logicamente; semprehaverá um nó górdio em alguma altura do nosso raciocínio humano. E se. durante sua vida. um brasileiro insistir muito que foisalvo por decisão própria, é provável que vá se contradizer nocéu:

— Sim, Senhor, fui eu, graças a Deus...Com um sorriso gentil, de certo o Senhor lhe dirá:— É isso aí!Por outro lado. quem insistir em que a chamada e a promessa

de Deus não são sinceras para os que se perdem estará pisandona areia movediça da heresia. Pois o pecador não se perde porfalta de sinceridade daquele que enviou seu próprio Filho; ele seperde pelos seus próprios pecados. Éum tipo de autocondenação

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(Tt 3.11; Pv 5.23). Como o Senhor Deus falou: "A tua ruína... vemde ti, e só de mim, o teu socorro" (Os 13.9). E como o SenhorJesus disse: "Jerusalém, Jerusalém... Quantas vezes quis Eu reuniros teus filhos... e vós não o quisestes" (Mt 23.37). Éque nãoquerem mesmo! Trata-se de um processo terrível, em que o homem insiste em dizer "não" a Deus e, finalmente, Deus o deixaa seu bel-prazer. O SenhorJesus se retira depois de ser rejeitado,como seu Pai se retira quando,em preparação para o último juízo,os valores e normas na criação são conscientemente desvalorizados no mercado de Babilônia. Isso é especialmente claro noprimeiro capítulo de Romanos, onde o apóstolo Paulo diz trêsvezes que "Deus entregou tais homens" a práticas antinaturais einconvenientes, que eles mesmos preferiram em vez de obedecerem à lei de Deus (Rm 1.24. 26, 28).

Então, é possível resistir à graça, tapar os ouvidos do coração? Humanamente falando, sim. Lá, fora do portão da graça, hápessoas e grupos inteiros que insistentemente dizem "não" àchamada celestial. Estão vivendo fora do ambiente da graça e éo que querem. Mas há e haverátambém aqueles que não queremcontinuar resistindo ao toque do Espírito Santo e entram pelaporta da graça. Estes, no fim da sua peregrinação (ou, muitasvezes, antes), quando entram no Santo dos Santos somentepodem reconhecer humildemente: "Foi a tua graça que me chamou, apesar da minha rebeldia; senão, eu também ainda estarialá fora" (cf. 2 Tm 1.9). Foi uma "chamada eficaz", muito eficientemesmo.

— Foste Tu que me fizeste ouvir, querer e obedecer.Não foi por causa da minha, mas por causa da tua boavontade. Senhor! (Fp 2.12. 13; Is 46.10.)

6.

SALVAÇÃO

Salvação: reconciliação geral ou particular? Seráque o sanguede Cristo paga a dívida de todos? Fora do portão dotabernáculo, reconhecemos a nossa perdição e ouvimos o

chamado divino. Em seguida, espiritualmente, entramos pelaporta e chegamos diante do altar, ao pé da cruz do Cordeiro deDeus, o ponto central do caminho da salvação. É o lugar dareconciliação pela morte de Cristo. A discussão naqueles diasgirava ao redor da extensão da reconciliação: a morte de Cristoseria suficiente e eficiente para todo o mundo?25

Os reformados confessaram claramente que o ensino bíblicoé que a morte de Jesus é suficiente para salvar toda a humanidade. E. neste século de viagens espaciais, poderíamos acrescentar: se existissem mais mundos com problemas de pecado, o sacrifício de Jesus seria igualmente suficiente para eles. A Confissão é explícita neste ponto:

Estamorte do Filho de Deusé o únicoe perfeitosacrifício pelospecados, de valor e dignidade infinitos, abundantementesuficiente para expiaros pecadosdo mundo inteiro... [Porém.]muitos que têm sido chamados pelo Evangelho não se

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arrependem nemcrêem emCristo e perecem naincredulidade.Istonãoacontece porcausade algum defeitoou insuficiência nosacrifício de Cristo na cruz. mas por culpa deles próprios.26

Os arminianos diziam que

Todas as pessoas têm sido aceitas por Deus. de tal maneira queestão reconciliadas com Ele e participam da aliança. Por issoninguém está sujeito àcondenação ouserá condenado por causado pecado original. Todos estão livres da culpa deste pecado.[Obter] operdão dos pecados eavida eterna... depende desuaprópria livre vontade quese junta à graça queé oferecida semdistinção. Mas não depende dodom especial damisericórdia.

Eafirmavam ainda que Cristo "nem precisava morrer de fatopor aqueles a quem Deus amou supremamente e elegeu para avida eterna, visto que estes não precisavam da morte de Cristo"(pelo simples fato de eles já terem sido eleitos).27 É interessanteobservar que nem sempre é possível detectar imediatamente umcerto desvio da Palavra; mas. de repente, aparece um pensamento conclusivo para o qual temos de dizer: "Assim não pode ser.Deve ter algum problema nesse ensino." Pois. seria verdade quenão precisamos do dom especial da misericórdia e que Jesus nãoprecisava morrer pelos pecados dos eleitos? Não foi o próprioSenhor Jesus quem disse: "dou a minha vida pelas ovelhas"(Jo 10.15: Ef 5.25)? Temos de reconhecer que a morte de Cristonão significa somente uma morte geral, que apenas torna possível a salvação (como os arminianos ensinavam) e. na realidade,não salva ninguém. Amensagem bíblica é: Sim. o Bom Pastor morreu de fato pelas suas ovelhas.28

Pois, se os eleitos não precisassem da morte de Jesus, de certo nem precisariam também da pregação! Mas. pelo contrário,quão necessário é que este evangelho seja pregado (Rm 10.14)!Os Cânones de Dort insistem:

Apromessa doEvangelho é quetodo aquele quecrernoCristocrucificado não pereça, mas tenha avida eterna. Esta promessadeve seranunciada eproclamada sem discriminação a todos ospovos ea todos os homens, aos quais Deus. em seu bom propósito, envia o evangelho com a ordem de quese arrependam ecreiam.pois Deusquerque todosos homens sejamsalvos.29

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Todos? A respeito do número dos salvos, há muito tempoalguém já fez a pergunta: "Senhor, são poucos os que são salvos?" Jesus rejeitou qualquer especulação e apontou para a responsabilidade individual do inquiridor: "Esforçai-vos por entrarpela porta estreita" (Lc 13.23. 24). Por isso, quando eu mesmocomeço a pensar sobre a eleição como um assunto isolado, meuInstrutor sempre me "manda de volta", embora às vezes eu memostre relutante. Por enquanto. Jesus desviou a atenção da eleição para a chamada ao discipulado. ao negar a si mesmo, tomara cruz e segui-lo no caminho da salvação (Lc 9.23). Uma chamadaséria e sincera para todo o mundo.

Agora, voltando ao tabernáculo, observamos que antigamente (apesar de certas restrições litúrgicas temporárias no tempodo Velho Testamento) esta casa do propiciatório era a "Casa deOração para todos os povos" (1 Cr 28.11; Is 56.7). E atualmente,na nova dispensação, depois do sacrifício do Cordeiro de Deus,não há mais impedimentos litúrgicos e podemos cantar alegremente: "É franca a porta divinal, aberta a todo o mundo;por ela o pecador mortal avista amor profundo!" Sim. é o verdadeiro caminho para a vida para todos (Jo 14. 6: Hb 10.19). Lá.fora do portão e no átrio, a pregação pode e deve ser: "Eis oCordeiro de Deus que tira o pecado do mundd" (Jo 1.29); Ele querlavar seus pecados (At 22.16). pois Ele é mesmo o Salvador domundo (Jo 4.42; 1 Jo 4.14). Depois, entrando na primeira salado tabernáculo. o Santo Lugar, esta convicção não diminui,ao contrário, aumenta. Pois, passamos pela luz do mundo(Jo 8.12; 12.46) e pelo pão que dá vida ao mundo (Jo 6.33. 35);também ouvimos o Sumo Sacerdote orar para que o mundocreia (Jo 17.21).30 Finalmente, no Santo dos Santos, diante dotrono da justiça e da graça, todo mundo é importante, pois"temos Advogado junto ao Pai, Jesus Cristo, o Justo; e ele é apropiciação pelos nossos pecados e não somente pelos nossos próprios, mas ainda pelos do mundo inteiro" (1 Jo 2.1. 2;Cl 1.20).

De fato, Deus deu seu próprio Filho pelo mundo (Jo 3,16). Osangue desse Cordeiro providenciado pelo próprio Deus foi as-pergido como propiciação sobre o "propiciatório" (esteera o nome

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da tampa sobrea arca da aliança que continha as duas tábuas dalei). Dessa forma, o sangue aspergido na tampa cobria a lei quebrada para tornar Deus propício ao mundo, para satisfazer suajusta ira contra o pecado (Hb 9.4. 5. 22; Rm 3.25). Assim. Deusprovidenciou um sacrifício para um indivíduo (Lv 4.29), umsacrifício para uma família (Êx 12.3). um sacrifício para o povo(Lv 16.15) e um sacrifício para o mundo (Jo 1.29).31 Sim. o sanguedo Cordeiro é suficiente para todos.

Entretanto, nem todos serão salvos. Embora o sangue do Cordeiro de Deus seja suficiente para todos, infelizmente não é eficientepara todos. Reconciliação geral de todas as pessoas? Muitos nem o querem. O sangue derramado e aspergido cobrirá ospecados daqueles que chegam ao pé do altar e. com fé. colocamsuas mãos sobre aquele Cordeiro (Lv 1.4; Jo 1.29. 12). E, quemanda nesse caminho da fé

entenderá que atrás deste Cordeiro de Deus não existe aindaoutro problema [aeleição], masque esse problema foi resolvidoexatamente nele... Aeleição em Cristo não é um ataque contrao caminhoda salvação, massua proclamação [cf. Ef1.1.4].32

Embora, de fato, nem todos serão salvos, isto não quer dizerque o sangue do Cordeiro estaria parcialmente perdido, pois amorte do Cordeiro de Deus para o mundo afetou o mundo inteiro. Este mundo foi resgatado da mão do maligno e será transformado num novo mundo, onde reinará justiça e paz (2 Pe 3.13).Nem todos da nave "Velho Mundo" se salvam, mas isso nãosignifica que uma parte daquele sangue precioso foi esbanjado eperdido no espaço. As pétalas rosadas das cerejeiras sãosuperabundantes, masnão sãodesperdiçadas, nem quandocaempor terra e cobrem o chão. poissempre servem ao alvo supremo,a glória do seu Pintorconsumado. A restauração final da criaçãovai demorar um pouco, pois está aguardando a revelação dosfilhos de Deus (Rm 8.19-21); mas o seu tempo virá. pois Deus éfiel (1 Co 1.9). Por enquanto, podemos perceber que, graças aDeus, esse sangue precioso tem também um sentido bem maisamplo, como se fosse uma aplicação geral, como base para uma"graça comum", que possibilita a continuação deste mundocorrupto (Cl 1.20).33 A faixa central da luz do mundo penetra a

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escuridão como a de um holofote solar (Jo 1.9) e, ao redor destefacho de luz, resta uma luz difusa. Felizmente. Se não, o queseria deste mundo tenebroso? Ainda é dia de salvação. Eis oCordeiro de Deus!

7.

PRESERVAÇÃO

Preservação: perseverança dos santos ou não? Será querealmente "pela graça de Jesus eu lá estarei"? Uma outraquestão entre reformados e arminianos tratava da

perseverança dos salvos.34 Não é de estranhar, pois será queficaremos firmes durante a nossa peregrinação? Os arminianosdisseram que salvos podem se perder definitivamente; osreformados confessaram que o Senhor garante segurança parasempre aos seus filhos. Este assunto tem claramente doisaspectos: a nossa segurança eterna e a nossa certezamomentânea. Uma criança pode estar segura nos braços do pai,mas assim mesmo sentir medo. Primeiramente vamos ver algosobre a segurança dos salvos; depois, sobre a certeza da salvação.

Pensando no tabernáculo, é claro que. lá fora, diante da porta, esta segurança parece muito duvidosa. A responsabilidadehumana é tão patente, que uma coisa dessa soa até ridículo —uma contradição, em termos. Não é de estranhar que essa idéiatem sido combatida incessantemente também por pessoas que.pela graça de Deus. são crentes. Reconhecemos que, se não fosse o próprio Senhor que nos tivesse falado sobre essa segurança,

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nem teríamos acreditado, pois seria loucura e orgulho espiritual.Mas exatamente porque foi o Bom Pastor que falou isso sobrenós, suas ovelhas, é que temos a coragem de crer em sua promessa: "Eu lhes dou a vida eterna-, jamais perecerão, e ninguémas arrebatará da minha mão" (Jo 10.28).

Ninguém nos tirará da mão de Cristo! Nem o próprio diabo,que usa todos os meios para nos apanhar de surpresa. Às vezes,pode parecer que os santos se perdem, como Noé, que ficou bêbado, como Abraão, que mentiu, como Jacó. que logrou seu irmão, como Davi, no período de adultério, ou ainda como Pedro,que chegou a negar o próprio SenhorJesus. Mas Deus os restaurou. A graça os preservou e a graça nos preservará. Estamos seguros na mão de Deus; estamos gravados na palma de sua mão(Is 49.16; Jo 6.39). Esta é a promessado Fiel e as suas promessastêm nele o sim: por isso Ele aguarda o nosso amém (2 Co 1.20).

Entretanto, o nosso amém nem sempre é tão audível, pois anossa certeza nem sempre é tão firme! Ele já nos libertou daculpa do pecado e, pelo Espírito Santo, nos liberta do poder dopecado: mas, somente no fim da vida seremos libertos tambémda presença do pecado. A verdade é que. infelizmente, não somos perfeitos, nenhum de nós. nem aqueles que insistem quesão (1 Jo 1.8; Fp 3.12). Sempre cometemos pecados diários, o quenos faz ansiar pelo alvo da perfeição. Não é de estranhar que ogrande acusador (Ap 12.10) ataca os eleitos com dúvidas e quernos roubar a certeza da salvação. Ele sussurra em nosso ouvido:

— Será que Deus disse isso a você particularmente?Mas nós respondemos:— Vá embora, Satanás!

Essa certeza não se ganha por uma revelação especial nem"quando curiosamente investigamos os mistérios e asprofundezas de Deus". Por isso, nada de entrar às escondidas no Santo dos Santos para verificar os nomes no livroda vida (Ap 21.27). Essa certeza vem pela fé nas promessas de Deus (2 Co 1.20), pelo testemunho do Espírito Santono coração (Rm 8.16) e "do zelo sério e santo por uma boa consciência e por boas obras".35 Com alegria, podemos dizer:

— Graças a Deus, amo ao Senhor, embora não como devesse.

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Graças a Deus. sou crente, embora precise orar: "Eu creio! Ajuda-mena minha falta de fé!" (Mc 9.24).

Por isso, essa certeza não leva a um relaxamento na vida

diária; ao contrário, leva a um desejo profundo de servirmelhor ao Senhor e de nunca entristecer o Espírito Santo(Ef 4.30). Sim, procuremos, com diligência, confirmar a nossavocação e eleição (2 Pe LIO).36

Quando o acusador atacar, não devemos argumentar, masresisti-lo com a Palavra de Deus na mão (Ef 6.17):

— Está escrito: "ninguém arrebatará as minhas ovelhas daminha mão" (Jo 10.28).

Podemos usar livremente a "caixa de promessas", desde queusemos da mesma forma uma "caixa de advertências". Fiquemosfirmes nas promessas, não desprezando a correção do Senhor(2 Co 1.20-, Hb 12.5). E usemos os outros meios de graça que Elenos deu para sustentar a nossa fé: a leitura diária da Palavra(Dt 17.19).a oração (1 Ts 5.17), a comunhão dos santos (Hb 10.25)e o uso dos sacramentos (1 Co 11.25).37 Os sacramentos são comoselos que Deus fixou em sua Palavra, que é o documento principal. Deus não precisa autenticar suas promessas; mas. para tirarqualquer dúvida, Ele vai ao cartório celestial e manda autenticarsua própria carta com dois selos: o batismo e a Santa Ceia. APalavra é para ouvir, o sacramento é para ver. Por isso. quando otentador vier. podemos dizer com firmeza:

— Fui batizado. Sou de Jesus mesmo. Vá embora. Satanás!Fico debaixo do sangue do Cordeiro!

E. durante nossa peregrinação, usemos regularmente a refeição na mesa do Senhor, é nosso lanche celestial, nosso viático.Quando pegarmos no pão e tomarmos o cálice memorial, digamos:

— Sim. Senhor, sou teu. porque Tu me dizes: "és meu"!Perseverança dos santos? De certo, não porque o verdadeiro

crente está fora de perigo: pelo contrário, o diabo fará tudo paraatrapalhar sua caminhada (Jd 24). Mas Cristo ora por nós e nossegura (Rm 8.34: Hb 7.25). Um crente pode cair, e muito, mas oSenhor o levantará, pois Ele começou a boa obra e vai terminá-la(Fp 1.6; 2.12, 13). Nada de "certeza incerta".38 O Senhor, com

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certeza, nos guiará até o fim. mas, por outro lado, Ele quer usarnosso trabalho e nossas orações dentro do seu plano de salvação (2 Tm 2.10; Ap 8.3). É como temos visto em todos esses assuntos: para nós, aqui na terra, existe uma tensão entre a chamada e a predestinação. Nossa peregrinação é uma batalha espiritual, que requer atenção, oração e cuidado constante de nossaparte. Mas. chegando ao destino eterno, diante do trono da graça, nós. peregrinos, confessaremos sem rodeios:

— Foi o Senhor mesmo que nos salvou e nos sustentou até ofim!

Deus não nos prometeu uma viagem tranqüila, mas, sim, umachegada segura (1 Co 1.8; Jo 6.39).

E, quem sabe. no fim. uma chegada segura para todo o mundo, uma anistia geral? Uma salvação universal, como ouniversalismo ensina? Eu queria, tu querias, ele queria, nós queríamos, vós queríeis. eles queriam... que fosse verdade! Mas, infelizmente, é outra mentira do enganador.

Certo dia, eu estava sentado na cadeira de uma dentista, quefazia uma obturação no meu museu dentário. Ela era espírita.Conversando sobre o evangelho, ela me perguntou se eu acreditava no inferno. Entre dois ataques da broca. eu respondi que oSenhor Jesus falou sobre o inferno mais de dez vezes nos evangelhos e que Ele nunca nos enganou. Depois disso, pareceu-meque a próxima investida com a broca fora mais violenta...

Infelizmente, o inferno existe e não estará vazio (Lc 12.5;Ap 20.15). Mas hoje é o dia da salvação e Deus não quer que opecador morra, mas que volte para a fonte da vida eterna. Podemos até dar testemunho daquela certeza da salvação, não nosorgulhando, mas usando palavras santificadas. "sempre preparados para responder a todo aquele que vos pedir razão da esperança que há em vós" (1 Pe 3.15).

De fato, somente pela graça de Deus somos salvos e podemos dizer com o salmista: "Tu me guias com o teu conselho edepois me recebes na glória" (Si 73.24). Pois Ele é o guardador deIsrael: "O Senhor guardará a tua saída e a tua entrada, desdeagora e para sempre" (Si 121.8). Quem nos separará do amor de

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Cristo? Não será pecado, nem sofrimento, nem demônios(Rm 8.35-39).39 Porque "sabemos que todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus. daqueles que sãochamados segundo o seu propósito... e aos que chamou.... a essestambém glorificou" (Rm 8.28-30). Como Agostinho lembrou:"Deus coroa suas próprias dádivas". E lá. na glória, descobriremos o que o pastor puritano Jonathan Edwards resumiu:"Graça é somente glória iniciada e glória é somente graça aperfeiçoada".40

8.

PREDESTINAÇÃO

Predestinação: eleição condicional ou incondicional? Seráque Deus me escolheu porque, basicamente, eu era maiscrente? O último, ou melhor, o primeiro ponto nas

discussões teológicas era a eleição ou predestinação.41 Tambémera e é o assunto mais difícil. Por que Deus teria escolhido uns edeixado outros permanecerem na miséria provocada por nossospecados? Armínio e seus colegas defendiam que Deus escolheuaquelas pessoas que Ele já sabia de antemão que seriam crentes.Portanto, a eleição nãoseria real, mas somente condicional (comoa escolha de voluntários) e predestinação seria unicamente umtipo de previsão, uma presciência.

Parece certo. Mas precisamos nos lembrardo que falamos emum dos primeiros parágrafos sobre Romanos 8.30 e a ordem daspalavras-chaves no tabernáculo (2-3-4-1; veja ilustração na página17). Ficou claro que. diantedo tronodagraça, temosde reconhecerque somente chegamos até lá porque foi Deus que nos chamou(2). foi Deus que nos justificou (3), foi Deus que nos glorificou(4). Sim, basicamente, porque foi Deus que começou tudo isso.ou seja, foi Ele que nos predestinou (1; Rm 8.30). Que bênção-,glória a Deus!

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Entretanto, os irmãos mais arminianos poderiam dizernovamente:

— Muito bonito, mas você sabe que um versículo antes diz: "aos que de antemão conheceu, também ospredestinou" (Rm 8.29). A predestinação somente podeexistir por causa da fé prevista.

De novo, parece que têm razão. Mas o sentido da palavraconhecer na Bíblia é bem mais amplo. Uma chave importantepara a interpretação da Palavra de Deus é comparar Escrituracom Escritura.42 Verificando uma concordância, notamos queconhecer pode significar simplesmente "saber", mas também"escolher" ou "olhar favoravelmente" ou até "amar". O Bom Pastor disse: "Conheçoas minhas ovelhas, e elas me conhecem amim" (Jo 10.14). E o Senhor disse a Moisés: "Achaste graça aosmeus olhos, e eu te conheço pelo teu nome" (Êx 33.17). E sobreAbraão. Deus falou: "Eu o conheci para que ele ordene a seusfilhos..." (Gn 18.19). Em muitas traduções, o sentido foi interpretado corretamente como "Eu escolhi a Abraão para que eleordene a seus filhos..." De fato, conhecer na Bíblia, àsvezes significa escolher.

Outro versículo que ajuda a entender esse sentido mais amplo da palavra conhecer é o que Pedro escreveu sobre o Cordeirode Deus, dizendo que Ele foi manifestado no fim dos tempos,mas "conhecido, com efeito, antes da fundação do mundo"(1 Pe 1.20). Neste caso, não se trata simplesmente de uma "previsão" daquilo que iria acontecer, mas de uma decisão sobre umplano traçado. O apóstolo Pedro já havia reconhecido isso. anosantes, no dia de Pentecostes (At 2.23) e depois, com os irmãos,durante uma reunião de oração em Jerusalém (At 4.28). Nestaoração, eles mencionaram que tudo o que estava acontecendoera conforme o plano divino havia determinado, previsto para ohorizonte da história humana. Na eternidade, antes da fundação do mundo. Deus tomou uma decisão e nomeou alguém.Foi combinado que, na plenitude dos tempos, seu Filho entraria no mundo como Cordeiro de Deus. Sim, o Cordeiro"conhecido" significa o Cordeiro "escolhido" (conforme algumas traduções de 1 Pedro 1.20).

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Agora, voltando à frase de Romanos 8.29 ("aos que de antemãoconheceu, também os predestinou"), ela parece indicar-nos maisdo que uma simples previsão. Como no caso do apóstolo Pedro,podemos comparar esta frase de Paulo com outra passagem daEscritura, numa situação histórica anterior. Pensando na sua primeira viagem missionária, no interior da Ásia Menor, Paulo relatou ao historiador Lucas que os gentios em Antioquia glorifica-vam a Deus e acrescentou que "creram todos os que haviam sidodestinados para a vida eterna" (At 13.48). Destinados, designados, apontados, escolhidos.43 De fato, em Romanos 8.29. a expressão conheceu antes corresponde a elegeu, escolheuantes. Já pensou? O Pai nos escolheu para sermos irmãosdo seu Filho (Hb 2.11)!

Assim, no fim da nossa peregrinação, a pergunta básica é amesma que no início e no meio do caminho. A pergunta eraesta: será que Deus me chamouporque eu era mais obediente doque fulano? Será que Deus me salvou porque eu era mais gentildo que beltrano? Será que Deus me preservou porque eu era maisfiel do que cicrano? E a resposta era clara: Não; foi porque Deusme amou\" Por isso, digo ao meu Deus: "De fato, não entendo.Senhor, mas sei que não fui salvo porque era mais crente do queos outros". Nem poderia ser assim, porque, pensando no céu.seria muito constrangedor afirmar em frente do trono do Onisciente: "O Senhor tinha razão e me conheceu bem: eu era e sou

crente mesmo" (concluindo, sem querer, que estou aqui basicamente por causa de mim mesmo). Nada disso. Não fomos escolhidos porqueéramos mais santos, mas sim para que fôssemossantos (Ef 1.4; 2 Ts 1.13. 14). Deus odeia44 o pecado (também omais gentil), mas ama o pecador (também o mais vil). Como noVelho Testamento, o povo de Israel foi eleito, não porque eramelhor ou mais numeroso do que outros povos, mas porque Deuso escolheu pelo seu amor (Dt 7.7-9: 9.6).

E se não fosse o Senhor, onde estaria o povo de Israel? Teriadesaparecido há séculos, como aconteceu com os moabitas e osfilisteus. E se não fosse o Senhor, onde estaria este pecador?Estaria longe de Deus. E não seria de estranhar. Nossos primeiros pais decidiram desobedecer a Deus e assim se colocaram para

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fora do Paraíso. Não seria nada demais se Deus nos tivesse

deixado (como acontece com outros) onde estávamos por livrevontade. Bem, no Paraíso, não fomos nós. em pessoa, que assimescolhemos, mas estamos sofrendo as conseqüências do pecado de nossos primeiros pais. Porém, sem dúvida, eu mesmo nãoteria feito muito melhor! Pensando em minhas próprias desobediências e dúvidas, quantas vezes disse "não" à vontade do Senhor? Se Ele me tivesse deixado fazer a própria vontade, ondeestaria este peregrino cabeça-dura? Não estaria a caminho daperdição, como muitos outros? Com razão, Lewis disse: "Finalmente haverá somente dois tipos de pessoas: aquelas que dizema Deus 'Seja feita a Tua vontade' e aquelas a quem Deus diz, nofim, 'Seja feita a tua vontade'".45

Assim também, para tirar toda e qualquer dúvida sobre a causa desse desfecho oposto, o Sínodo de Dort fez uma declaraçãono final dos Cânones (em frases latinas longas e complicadas,como de costume na época):

AsIgrejas Reformadas não apenas não confessam, mas tambémrepelem de todo o coração [acalúnia desta doutrina que] fazDeus o autor injusto do pecado, [eque] Deus tem predestinadoa maior parte da humanidade para a condenação eterna só porum ato arbitrário de sua vontade sem levar em conta

qualquer pecado, [eque]damesma maneira pelaquala eleiçãoé a fonte e a causa da fé e das boas obras, a reprovação é a causada incredulidade e da impiedade.46

Ou seja: 1) nós confessamos que Deus não é o autor do pecado-, e 2) nós confessamos que a eleição é a causa da fé, mas opecado é a causa da reprovação. Quer dizer, salvos pela graça,mas perdidos pela culpa (Os 13.9; Tt 3.11). Lembremo-nos destadeclaração bíblica final dos Cânones de Dorte não a ultrapassemos, porque "exceder os limites prescritos pelo genuíno sentidodas Sagradas Escrituras" não leva à edificação da igreja, mas aodesânimo e a querelas teológicas (1 Co 4.6).47

Por doze anos trabalhei como pastor-evangelista no Paraná etive o privilégio de batizarmuitas pessoas. Foi na épocadas migrações e muitos já tinham ouvido o evangelho em outros lugares doBrasil. Assim, chegando em uma nova região, eles se sentiam

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mais livres para dar o grande passo. Muitas vezes, antes debatizar alguém, eu perguntava:

— Como foi que o irmão (ou a irmã) se converteu?As respostas eram variadas: Um se convertera depois de ter

sido convidado por um amigo; outro, por ter lido um folheto, umterceiro por meio um programa na rádio; e assim por diante. Mas.o que mais me intrigavaera como realmente tinha acontecido. Cadaum insistia que era somente por causa de Deus. Em alguns casos,eu já sabia a resposta de antemão. Havia ali. por exemplo, uma irmãsemelhante a Dona Lídia, da Bíblia: uma senhora tão gentil, mesmo antes de sua conversão, que mal podia ter dado outra resposta.Mas quando perguntei ao pistoleiro, que tinha um punhal ensangüentado escondido num saco de estopa, ele me disse:

— Pastor, o senhor sabe, se não fosse Deus, hoje eu estariana sarjeta.

Concordei plenamente. Todos eles, sem saber, se juntavamao coro dos crentes em Antioquia, que glorificavam aPalavra do Senhor (At 13.48). E muitos citavam João 3-16, apli-cando-o à sua vida pessoal e alegrando-se por perceber o trabalho do Senhor em suas próprias vidas.48 Não fomos nós que escolhemos ao Senhor, mas foi Ele que escolheu a nós. Nós nãoamamos a Deus. mas foi Ele que nos amou primeiro (1 Jo 4.10.19). E amar é escolher.49

E. como pastor, podia dizer-lhes com muita gratidão, parafraseando o que Paulo disse aos crentes em Tessalônica (1 Ts 1.4-6):Reconheço, irmãos, a vossa eleição, porque recebestes a Palavracom alegria do Espírito Santo. De fato, sei que fostes eleitos,porque a plantinha da fé cresceu. A semente incorruptível caiuno coração e brotou. Senão, nem haveria uma planta (1 Pe 1.23).

Foi Ele que nos chamou, foi Ele que nos salvou, foi Ele quenos preservou, pois foi Ele que nos amou! "Porque sei em quemtenho crido e estou certo de que Ele é poderoso para guardar omeu depósito até aquele Dia" (2 Tm 1.12). Amém. louvado seja oSenhor, o Deus Soberano!

Firme, firme, firme nas promessas de Jesus, meu Mestre;Firme, firme, sim firme nas promessasde Jesus.(Harpa Cristã 107; 2 Co 1.20)

9.

HISTÓRIA DA IGREJA

Depois de termos estudado um pouco os cinco pontos dediscussão entre arminianos e reformados, voltemos à

história do século 17. Somente uns 30 anos depois doSínodo de Dort. houve outra conferência das igrejas, desta vezna Inglaterra, conhecida como a Assembléia de Westminster.Naquela ocasião, foram preparados o Catecismo e a Confissãode Westminster, um documento teológico abrangente. Estaconfissão das igrejas presbiterianas tem a mesma posiçãodoutrinária da Confissão Neerlandesa e dos Cânones de Dort

das igrejas reformadas.50Depois da publicação dos Cânones de Dorte da Confissão de

Westminster o arminianismo teria desaparecido? Não, mas dápara entender. É que todos nós. pecadores de nascença. tentamos de alguma forma justificar os nossos erros, apresentar aDeus nossos "pontos positivos" e, então, cobrar dele o que consideramos uma recompensa justa pelos nossos esforços, isto é,um seguro para a vida eterna. Por isso, nesse ponto, a históriasempre se repete. Os nomes mudam, mas as tendências ficam.Assim como o legalismo não desapareceu da igreja primitivadepois do Sínodo de Jerusalém (45 d.C). da mesma forma opelagianismo não desapareceu da igreja medieval depois doSínodo de Orange (529 d.C). E assim como o semipelagianismo

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não desapareceu depois da Reforma (1517). também oarminianismo não desapareceu depois dos Sínodos de Dort eWestminster. A idéia de auto-salvação é como um vírus latente;às vezes parece dormir, mas de repente aparecem focos da velhaepidemia. Verifiquemos somente os nomes de algunsevangelistas conhecidos.

No século 18. houve dois grandes pregadores, poderosamente usados por Deus para levar milhares de pecadores aos pés doSalvador. Eram John Wesley e George Whitefield, ambos pastores anglicanos na Inglaterra. Especialmente Whitefield viajavamuito à América do Norte, onde foi instrumento no Grande Avi-vamento (1740). Sendo os dois evangelistas de mão cheia, não éde estranhar que surgisse uma discussão entre eles sobre a fé, aeleição etc. Whitefield defendia a confissão reformada51 e Wesley,a arminiana. Infelizmente, tudo isso causou um afastamentoentre os dois e especialmente Wesley usava expressões duraspara ridicularizar a posição reformada, o que prejudicou o trabalho evangelístico. Apesar disso, eles continuaram amigos.

No século 19. Deus levantou outros evangelistas conhecidos,como Finney, Spurgeon e Moody. Infelizmente. Finney chegou adefender posições pelagianas. Freqüentemente existe a opiniãoque missionários e evangelistas por definição devem serarminianos. mas prova contrária são. entre outros, os conhecidos William Carey. David Livingstone. George Mueller e o próprio Spurgeon. que até publicava sermões sobre a eleição, em defesa da posição reformada.52

Durante o século20, Deus levantououtros evangelistas, comoos batistas Billy Graham,53 Nilson Fanini e Luiz Palau;presbiterianos, como Leighton Ford e Josafá Vasconcelos;pentecostais, como Jimmy Swaggart. Este. infelizmente, zombava amargamente dos ensinamentos reformados.

E. se o Senhor Jesus demorar a voltar, no século 21 sem dúvida haveráevangelistas com diferentes posições em relação a esseassunto e, infelizmente, de certo continuarão a existir controvérsias a respeito da obra que Deus está fazendo em nossoscorações. Oramos para que essas discussões possam ser feitasna paz do Senhor, conscientes de que são assuntos que devem

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ser tratados na presença de Deus {coram Deo). sob escrutíniosério da sua Palavra.54 Finalmente, por estarmos ainda na terra,observemos sempre os três lembretes: ser paciente, crescente econsciente.

10.

TRÊS LEMBRETES

O primeiro lembrete nos admoesta a sermos pacientespor causa dos nossos próprios limites humanos. CS.Lewis nos lembrou que há perguntas sem respostas,

pois "não dá para responder perguntas tolas [como]: quantashoras cabem num quilômetro? A cor verde é quadrada ouredonda?" E acrescentou: "Talvez metade das nossas perguntas— dos nossos grandes problemas teológicos e metafísicos —sejam deste tipo". As perguntas sobre a eleição não são tolas,mas fato é que. dentro desse assunto, há aspectos que beiram olimite do nosso entendimento (Dt 29.29: Is 55.9).55 Forçar a barrado segredo não leva a nada.

Sejamos pacientes. Esse limite é comum em todas as áreas deconhecimento humano, inclusive nas ciências exatas. Reconhecê-

lo não é sinal de fraqueza, mas de franqueza, honestidade e humildade. Na velha Roma, os juizes podiam usar seu "NL" semconstrangimento: uma placa com essas duas letras que abreviavam "Non Liquet". isto é, o assunto não está claro (líquido). Se,depois de ouvir as testemunhas, o caso ainda não estava claro,eles erguiam as suas plaquinhas "NL" na hora da votação. Nãoera um atestado de ignorância, nem prova de indecisão, mas dejuízo. Não há nada demais quando nós. pequenos mortais,não temos coragem de forçar uma resposta e reconhecemos

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que ainda precisamos de mais luz sobre grandes perguntasteológicas. É um sinal honesto de que estamos no limitedo nosso conhecimento e compreensão. Precisamos tersabedoria e coragem para. às vezes, erguer o nosso "NL". pois osábio conhece o tempo e o modo (Ec 8.5).56

Para algumas pessoas, essa tensão é quase insuportável. Assim mesmo, precisamos ter paciência, pois. pouco a pouco, podemos entender melhor esse assunto. Por isso. observemos também o segundo lembrete: crescente. Às vezes tínhamos de dizeraos nossos filhos: "Quando crescerem, vocês vão entender melhor". Crescimento requer tempo. Por enquanto, cada um podelevantar a sua plaquinha. Porém, mais cedo ou mais tarde, Deusvai lhe dar a resposta, durante esta vida passageira ou depois deentrar nos tabernáculos eternos. Pessoalmente, não ergo mais aminha plaquinha nesse ponto, pois o Senhor me deu muita pazpor meio da lembrança do caminho da salvação no tabernáculo(2-3-4-1). Juntamente entramos no Santo dos Santos (Hb 10.19).cantando os louvores daquele que nos chamou das trevas parasua maravilhosa luz (1 Pe2.9; Cl 1.13). Sim, a eleição não é bicho-papão mas, como diz a Confissão de Westminster. é "motivo delouvor... e de abundante consolação".57

Por isso, não defendo a interpretação que dá margem para ohomem salvar a si mesmo, nem uma explicação que faz do homem um boneco inanimado, sem vontade própria. Lá, fora dotabernáculo de Deus, preciso apelar para a própria responsabilidade do ouvinte; mas, quando dentro, preciso apontar para amultiforme graça de Deus. Pois. por meio de todos os objetos dotabernáculo. o Senhor nos mostra que Ele nos salva. No altar, foiEle que morreu por nós. Na bacia, foi Ele que nos lavou os pés.Como candelabro, é Ele que ilumina nosso caminho. Na mesa, éEle que nos providencia uma refeição celestial durante nossaperegrinação. No altar de incenso, é Ele que ora para que a nossafé não desfaleça. Na arca da aliança, é Ele que nos abraça e recebe. Fora do tabernáculo, um evangelista reformado às vezes parece um pouco arminiano quando apela para o pecador entrarpela porta estreita. Dentro da casa de Deus. por outro lado. umirmão arminiano se torna um pouco reformado, pois até agora

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nunca ouvi alguém realmente orar como "arminiano"! Numaconversa, ele pode ser arminiano mesmo, mas, em oração, ele sódá louvores ao Deus da graça infinita! Pessoalmente, penso queele poderia ter admitido isso um pouco antes. Mas não queroinsistir, porque, de fato. esta é uma questão também de crescimento no modo de entender, como os heróis da fé Edwards.Whitefield e Spurgeon testificaram.58

Além dos lembretespacientee crescente, há um terceiro: consciente, que aponta para nossa consciência. Temos de reconhecer que nem sempre conseguimos convencer outros do nossoponto de vista, por mais bíblico que seja; isso pode ocorrer mesmo quando a outra pessoa também quer se submeter à Palavrade Deus (2 Co 10.5). Entre nossos parentes, havia crentes devárias igrejas. Meus pais eram reformados, minha sogra era daAssembléia de Deus. uma tia era batista, um tio era dos Irmãos(darbistas), um primo era luterano, um irmão era da IgrejaMoraviana. Aprendique precisamos deixar certas coisas na mãodo Senhor, quando não é possível persuadir o outro aceitar nosso ponto de vista.

Quem sabe. leitor, se em vez de convencer você a favor daposição reformada, você tenha ficado até mais persuadido deque não consegue mesmo entender este assunto desta maneira.Eu ficaria triste, mas. de minha parte, a amizade continua amesma. Que Deus o abençoe, querido irmão co-peregrino! Somente examineas Escrituras paraver como as coisas são de fato(At 17.11: por isso as muitas referências!). O que nos une é oprofundo amor pelo Senhor Jesus, o santo desejo de fazer a vontade de Deus. a submissão e fidelidade à Palavra de Deus e umadisposição de sempre renovar a aliança, isto é, renovar humildemente o nosso compromisso com o Senhor da nossa vida, dasnossas famílias e das nossas igrejas. Esta firmeza e esta uniãoem Cristo prezo muito.59 E, por às vezes aparecer a questão daconsciência neste assunto, quero me restringir. Sem querer, agente pode falar demais, o que causaria confusão. E não seria aprimeira vez...

11.

UMA ANTIGA ADVERTÊNCIAPARA HOJE

De fato. infelizmente às vezes falava-se demais.Basicamente porque, creio eu, foi esquecida umaimportante advertência do próprio Sínodo de Dort:

Finalmente, este Sínodoexorta todos os conversos ao evangelhode Cristo a comportar-se em santo temor e piedade diantedeDeus quando lidarem com estadoutrina emescolas e igrejas. Aoensiná-la. tantopela palavra falada quantoescrita, devem procurar a glória de Deus. a santidade de vida e a consolação dasalmas aflitas. Seus pensamentos e palavras sobre a doutrina devem estar em concordância com a Escritura, de acordo com aanalogia da fé. Edevem abster-se de usar qualquer frase queexceda oslimitesprescritospelogenuíno sentido dasEscriturasSagradas para nãodaraosfrívolos sofistas boasoportunidadespara atacar oucaluniar adoutrina dasIgrejas Reformadas.

Do mesmo modo advertiu a Assembléia de Westminster:

A doutrina deste alto mistério de predestinação deve sertratada com prudência e cuidado especial, a fim de queos homens, atendendo à vontade revelada em sua Palavra e prestando obediência a ela, possam, pela evidênciada sua vocação eficaz, certificar-se da sua eterna eleição.60

6Q

Com certeza, depois destes sábios avisos, os participantes dospróprios sínodos releram as suas formulações para verificar se.sem querer, eles mesmos poderiam ter dado ocasião para umainterpretação ambígua. Mas não perceberam nada. Posteriormente, porém, alguns pregadores deram boas oportunidades paracríticas. Por um lado. não ocultaram a verdade bíblica de quehaverá perdidos; mas, por outro lado, nem sempre conseguiramdeixar claro que isso acontecerá porque estas pessoas rejeitaramachamada sincera de Deus. Dessa forma, deram aimpressão deutilizarem um raciocínio escolástico. como se pudessem entrarno conselho de Deus no Santo dos Santos sem passar pela portada frente. Mas não há porta de trás. A porta é uma só. Cristo(Jo 10.7), Falar sobre eleição e perdição é bíblico, pois não sãoinvenções de teólogos. Deus mesmo as revelou. Mas. se falarmos sobre esses assuntos sem partir da chamada sincera, noinício do caminho da salvação, sem dúvida nenhuma entraremos em especulações infrutíferas e Deus nos mandará para fora(Lc 13.23. 24). Não é possível sondar o conselho de Deus. mas épossível louvá-lo (Rm 11.33-36).

Jp <p\ <p Kit

O ensino sobre a predestinação tinha problemas por dois lados: o lado "esquerdo" zombava dele e o lado "direito" às vezessentia angústias pela ênfase demasiada na eleição. Enquanto oSínodo de Dort recomendou precaução no abuso do ensino daeleição, a Assembléia de Westminster instruiu as igrejas sobre ouso correto dessa doutrina, como já vimos. O crente pode. então, dizer com gratidão: "Ouvi e obedeci àchamada de Deus. porisso sei que Ele meescolheu para avida eterna!" Percebemos que

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a Confissão de Westminster61 aponta o caminho no sentido davocação para a eleição, isto é, passando pela porta da frente dotabernáculo até adentrar o Santo dos Santos. Esse é o caminho

certo. Por isso, a Confissão continua, no mesmo parágrafo:Assim, a todososquesinceramenteobedecem aoevangelho estadoutrina fornece motivo de louvor, reverência e admiração deDeus. bem como de humildade, diligência e abundante consolação.

Uma "consolação vivificante" como expressou o Sínodo deDort. Sim. motivo de louvor e de consolação, como disse a Confissão de Westminsteú

Mas nem sempre esse ensino conduzia ao louvor. Alguns seperguntavam: "É verdade mesmo? Será que não existe tambémuma fé histórica que não tem nada de salvação? Será que tenhomesmo esta evidência da vocação? Tenho tantos erros ainda."

Éclaro que. a essaaltura, o acusador já tentava estragar o quedeveria ser um segredo consolador soprado nos ouvidos dos filhos de Deus. De fato, em algumas igrejas, o ensino sobre apredestinação quase chegou a superar o ensino das promessasde Deus. Certos pregadores começaram a apontar muito maispara uma série de condições que deveriam ser cumpridas pelocrente do que para as promessas da graça. Conseqüentemente,o ouvinte entendeu a ordem severa, mas pensou: "Eu não tenho essas características salvadoras. Então, essa chamada da graçanão pode ser uma chamada real para mim pessoalmente, já queé somente para os eleitos, o que, de certo, não sou."62 Evidentemente, tudo isso era erva daninha semeada pelo inimigo nomeio do trigo (Mt 13-25).

O que pode ajudar a evitar esses problemas é enfatizar aspromessas do Senhor, como Calvino já ensinara.63 Para ele. aspromessas de Deus deveriam estar sempre no centro da pregação e teríamos de usar a nossa mão para recebê-las. Esta mão docoração é a nossa fé. e aceitar as promessas é abraçar a Cristo.Ele, por excelência, é o Eleito (Lc 9.35). Ele é o "espelho da eleição", pois Ele é o Amado (Ef 1.4. 6). O Espírito Santo nos faz orarpelo cumprimento das promessas gerais, na certeza de que oSenhor cumpre suas promessas na nossa vida pessoal. Assim,

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abraçando as promessas do Senhor, crescemos na fé e achamospaz e segurança.64

Eseeu não tivesse abraçado aCristo? Se ainda fosse um perdido, seriapor minha própria culpa. Se ainda estivesse na desgraça, seriaporque rejeitei a graça. Se ainda fosse um surdo espiritual, seriaporque tapei meus ouvidos.

— Mas Tu. Senhor, me chamaste. Tu me lavaste. Tu me guias-te. Ebenézer: até aqui nos ajudou o Senhor!

E Ele o fará até o fim (1 Sm 7.12; Fp 1.6). Estamos seguros namão de Deus (Is 49.16). Com muita razão. Dort e Westminsterqueriam que a exposiçãoda doutrinabíblica sobrea predestinaçãofosse assunto de "louvor e... de abundante consolação". Pois oEspírito Santo soprou esse segredo no ouvido da igreja não paraassustá-la. mas para confortá-la. É como um cochicho donoivo no ouvido da noiva: "Como te amo!" (Ef 5.25.)

Tenho muita fé naquilo que Deus pode fazer por um peregrino perdido. Não sou pessimista, mas digo com Hudson Taylor:Embora não tenha muita fé. tenho fé num grande Salvador!65Também não sou otimista, porque sei que a realidade do maligno é mais forte do que qualquer boa intenção humana. Mas sourealista e quero contar, como Ludwig Nommensen, com as promessas de Deus da mesma forma como dois vezes dois é igual aquatro, pois Deus é fiel (1 Co 1.9; 2 Co 1.20). Ele não mente(Tt 1.2). Não nego minha responsabilidade pessoal e sei que pecopor ser pecador. Mas que ninguém me tire a consolação de saberque foi Ele que me escolheu, o que significa dizer, o Senhor meamou, antes que eu o amasse! (1 Jo 4.10, 19.) Soli Deo Gloria!

Eu tenho um amigo que me ama, seu nome é JesuslEu tenho um amigo que me salva, seu nome é JesuslEu tenho um amigo que me guarda, seu nome é Jesusl(Jo 15.13-16)

12.

ORAÇÃO

Para que a eleição volte a ser assunto de "louvor e abundanteconsolação" também nas nossas vidas, precisamos fazer aoração que o próprio Sínodode Dort ensinou aos pregadores:

"Que o SenhorJesusCristo... equipe os ministros fiéisda sua Palavracom o Espírito de sabedoria e discrição, para que tudo o que falempossa ser para a glória de Deus e a edificação dos ouvintes".66

De fato. precisamos orar por sabedoria, inclusive na explicaçãoda Palavra do Senhor sobre este assunto.

Ó Deus. dá-me equilíbrio. Livra-me da tentação dosextremos.Da apatia religiosa e do fanatismo religioso... Da negação dodiabo e da idéia fixade diabo...Daênfase demasiada na teologiado livre-arbítrio e da ênfase dema

siada na teologiada soberania divina. Do anúncio exclusivo da bonda

de divina e do anúncio exclusivo

da severidade divina... Do desas

troso legalismo e do desastrosoantinomianismo... Da ortodoxia

sem amor e do amor sem ortodoxia.

Daevangelizaçãosem açãosocial eda ação socialsem evangelização...Não me deixes desviar da tua Pala

vra nem para a direita nem para aesquerda...Amém.67

SEGUNDA PARTE:

O ALVO DA ELEIÇÃO

Aquelesque amama Deus...Ele os predestinou para serem conformes à

imagem de seu Filho.(Romanos 8.28-30)

13.

PARA SERMOS COMO JESUS

A primeira parte deste pequeno estudo tratouprincipalmente da predestinação. Espero que possa terajudado no sentido de que este segredo santo se torne

novamente motivo de louvor para vocês, amados irmãos. A Bíblianão é livro de quebra-cabeça, mas, sim, de consolação.

Agora, vamos responder à pergunta: para que Deus nospredestinou? para que fomos eleitos? qual era propriamente seualvo para conosco? Você já deve ter observado que, em geral,quando a Escritura nos fala sobre a predestinação, ela acrescenta a palavra para-. "Deus vos escolheu desde o princípio para asalvação" (2 Ts 2.13. 14). E, na carta aos Efésios, o apóstolo Pauloescreve que Deus "nos predestinou para Ele. para a adoção defilhos, ...para louvor da sua glória" (Ef 1.5, 6. 12). Sim, Deus émais glorificado em nós quando estamos mais satisfeitos nele.68Já pensou? Deus nos ama tanto que nos quer para si, Ele nosadota como filhos queridos para que se alegre, observando-noscomer, brincar, trabalhar, cantar, amar, servir.

Já era assim desde a criação, mas Deus insiste nesse propósito, mesmo depois de o diabo estragar aquele plano maravilhoso.Logo depois da queda, Deus começou a obra de salvação e escolheu novamente os homens. Mas. infelizmente,eles ficaram tão estragados pelo pecado, que precisam ser

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remodelados. A imagem desejada é clara: devem novamente sercomo seu próprio Filho, como seus irmãos na família de Deus(Ef 2.19). Foi para isso que o Pai nos elegeu e nos predestinou:para sermos conformes à imagem de seu Filho (Rm 8.29). Queprivilégio! Esse já era o nosso "pré-destino"! Sermos remodelados, retocados, reformados, repintados para que os traços doSenhor Jesus fiquem novamente tão nítidos, que os outros, vendo esses bisnetos de Adão e Eva, digam: "Sem dúvida, essa aídeve ser irmãzinha do Senhor; e aquele lá, irmão mais novo deCristo Jesus, não nega". Éesse o grande alvo da santificação. dotrabalho do Espírito Santo: talhar os traços do Filho de Deus emnossa vida.

Não que todos se tornem idênticos, como se fossem clones,simples réplicas feitas a partir do molde celestial, mas que cadaindivíduo, santificado (Ef 1.4). continue singular como é. Atémesmo as folhas, não existem duas iguais neste universo. Não,ninguém vai perder sua individualidade. Porém, no seu caráter,na sua personalidade, lá no fundo do seu ser algo vai mudar.Pois Deus disse: "Dá-me, filho meu, o teu coração" (Pv 23.26). E.a partir daquele novo centro vital, a mão e o pé vão mexer diferentemente, porque do coração procedem as fontes da vida(Pv 4.23). Assim, o novo homem será refeito na imagem originalde Deus: nada mais de idéias erradas, nada de jeitinhos duvidosos, nada de caminhos tortuosos. O novo homem será refeitoem conhecimento, justiça e retidão (Cl 3.10: Ef 4.24). Feito e refeito por Ele "para boas obras, as quais Deus de antemão preparou para que andássemos nelas" (Ef 2.10).

O Espírito Santo já iniciou essa transformação (Rm 8.15). É ocomeço da santificação. Nunca caiamos na idéia ilusória doperfeccionismo pessoal, porque simplesmente isso não existe(Si 19.12; 1 Jo 1.8). Um dia alguém me contou que não haviacometido nenhum pecado por uns quinze dias. Quando sugerique confirmássemos esta valiosa informação com a sua esposa,ele vacilou. Sem dúvida, outros nos conhecem melhor do que nós mesmos. Além disso, quanto mais próximos do Senhor, tanto maisconscientes de pecado nos tornamos e tanto mais louvamos aprofundidade e a riqueza da sua graça (Rm 11.33). Reconhecemos

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que há "restos da corrupção" e que "os mais santos têm somenteum pequeno começo" desta transformação. Entretanto, já é umcomeço, porque sentimos, com profunda gratidão no coração,aquele amor para com Deus e aquela tristeza ao perceber algumpecado em nossa vida. E, segundo o apóstolo João, temos umaesperança garantida: quando estivermos face a face com o nosso Senhor, finalmente "seremos semelhantes a ele, porque haveremos de vê-lo como ele é" (1 Jo 3.2).

Em seguida, ele diz : "E a si mesmo se purifica todo o que temesta esperança, assim como ele é puro" (verso 3). Desta forma.João instrui cada filho adotivo de Deus a copiar a pureza dopróprio Filho de Deus na sua pessoa e no seu trabalho. Portermosde nos restringir, lembramos apenas, coma Confissão, que Cristoé o nosso supremo Profeta, o nosso único Sumo Sacerdote e onosso eterno Rei. Por isso, Deus nos chamou para refletir o retratodo seu Filho amado nessas três áreas básicas, servindo ao Senhorno mundo como profetas, sacerdotes e reis.69 Milagre de milagresesse método de Deus: um mentiroso, Eleescolhe para ser profeta,um egoísta, para ser sacerdote, um mendigo, para ser rei. Éexatamente isso que Ele faz. É o método da graça!

14.

PARA SERMOS PROFETAS

Nosso ofício de profeta é para ser exercido tanto dentroquanto fora da igreja de Deus. O antigo apologistaTertuliano. por exemplo, defendeu a fé cristã contra os

pagãos ao mesmo tempo em que ajudou muito a igreja. O mesmoaconteceu com o matemático Blaise Pascal quando, numa épocade racionalismo emergente, disse: "O jogador racional joga emDeus!" Da mesma forma, a obra deixada pelo maior apologistado século 20, o inglês CS. Lewis. é hoje um instrumento parafortalecer nossa própria fé neste mundo com tantos ataquesdisfarçados e abertos contra o evangelho. No seu livro, "Regressodo Peregrino". Lewis lembra que o psicólogo Freud e seuscorreligionários diziam que a fé no "Proprietário" (termo queLewis usa para Deus naquele contexto) é somente um sonho,até mesmo um sonho de cumprimento do desejoque Ele existisse.Mas. para Lewis. "Dona Razão" somente pode observar ooposto, ou seja, que. para eles, a própria incredulidade noProprietário é um sonho de cumprimento do desejo; é quedesejam que Ele não exista!70 É como alguém disse: "Não dápara crer quanto deve se acreditar para ser incrédulo".71 Defato. como lembra Davi, não crer é muito mais um problemado coração do que da mente: "Diz o insensato no seu coração:Não há Deus" (Si 14.1).

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Ser testemunha de Cristo nem sempre é fácil. Existia umcostume interessante numa igreja evangélica regional antes daReforma.Os irmãos moravianos, descendentes espirituais do mártir João Hus, foram muito perseguidos pela inquisição católicaromana. Na hora da profissão de fé, o pastor dava um tapa nacara do jovem catecúmeno para ensinar-lhe que no mundo enfrentaria perseguição por ser discípulo de Cristo (2 Tm 3.12). Atualmente, oremos especialmente pelos nossos irmãos que estãosofrendo em países onde há perseguição, como Arábia Saudita eSudão. China e Vietnã. índia e Mianmar (ex-Birmânia), México eColômbia. Quem sabe alguns de nós tenhamos o chamado paraajudar não somente com oração e ofertas, mas apresentando-nos: "eis me aqui. envia-me a mim" (Is 6.8)?72

Para evangelizar efetivamente é preciso preparo. O melhorpreparo é a oração, o estudo da Palavra de Deus e deixar que oEspírito Santo encha os nossos corações com amor pelos perdidos.73 Isso nos leva a procurar amizades sinceras, mantendo firmes a nossa herança, na paz do Senhor (1 Pe 3.15). Há muitosmétodos bons,74 mas o melhor método é o amor. Foi assim no

coração do Primeiro Missionário, pois Deus amou tanto o mundo que mandou seu Filho e. por isso, o amor de Cristo nos constrange (Jo 3.16: 2 Co 5.14).

Poucos terão uma oportunidade, como a que teve um caciquecrente numa ilha melanesiana, O capitão do navio ancorado nopequeno porto zombava do trabalho missionário. Com olhar deamor compassivo. o cacique lhe disse:

— Estás vendo aquela grande pedra? Se os missionários nãonos tivessem pregado o evangelho, tu estarias sendo cozido emcima dela.

Sim, devemos odiaro pecado, mas amar o pecador. Amor sincero, como o de Barnabé, o "José das Consolações, homem bome piedoso, cheio de fervor e fé. homem de Deus" (At4.36; 11.24).Devemos amar dessa maneira, mesmo vivendo neste mundo pós-moderno,75 um pouco menos racionalista e um pouco mais religioso, mas em que faltam absolutos e tudo parece permitido.Tudo. menos ser evangelista. Nesta época, o evangelista chega aser cozido pelos relativistas.

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Devemos usar algumas respostas-chaves, respostaspacíficas e esperançosas, cheias do amor de Deus, derramadoem nossos corações pelo Espírito Santo que nos foioutorgado (Rm 5.5; Mc 10.21). Assim poderemos exercer oofício de profetas e seremos "conformes à imagem de seu Filho"(Rm 8.29). O apóstolo Pedro diz que sempre devemos estardispostos a dar testemunho da nossa fé. porém, com mansidão,temor e boa consciência (1 Pe 3.15. 16). Por exemplo, quandoalguém tem dificuldade em aceitar a ressurreição de Cristo,podemos lembrá-lo que ele não é o primeiro. Até os própriosdiscípulos não acreditaram que a ressurreição pudesse acontecere seus inimigos tentaram tudo para evitá-la. Se tivesse dependidodos homens, nunca teria acontecido!

Lembremo-nos que não somos nós que convertemos alguém.Oremos para que possamos andar por onde o Espírito Santopassou recentemente, porque é Ele quem trabalha nos corações.

Quando trabalhávamos em Cascavel. Paraná, perguntei a umasenhora como tinha se convertido. Ela respondeu-me que nãosabia, mas pensaria na pergunta. Algumas semanas depois, elame disse que ainda não sabia; não havia sido a mensagem, porque nada entendera.

— Mas quando entrei na igrejinha. pastor, senti um consolomuito grande — concluiu.

Então eu lhe disse:

— Sabe quem era. irmã? Era o Consolador, o Espírito Santo.Amém! É Ele mesmo que nos convence (Jo 16.8).

Todo o podero Pai me deu,Na terra como lá no céu!

Ide, pois, anunciar o evangelho,Eeis-me convosco semprel(Cantor Cristão 443; Mt28.18-20)

15.

PARA SERMOS SACERDOTES

Deus nos elegeu para sermos profetas, a fim deconfessarmos o seu nome. Também nos elegeu parasermos sacerdotes, a fim de oferecer a nossa vida a Ele

como sacrifício vivo de gratidão.76 Servir como sacerdote,conforme "à imagem de seu Filho" (Rm 8.29). significa exercer oministério da graça (Mc 10.44. 45).

Ministério da graça

No Antigo Testamento, os sacerdotes eram chamados paraser uma bênção e para abençoar o povo. Eram abençoadores profissionais. Instrumentos na reconciliação entre Deus e os homens e dos homens entre si. Com a vinda do Cordeiro de Deus.a sombra da lei cerimonial terminou e as oferendas decordeirinhos cessaram (Hb 10.14), mas a função de ajudar nareconciliação não terminou. Somos cooperadores de Deus também neste ministério da graça (1 Co 39: 4.2).

Em primeiro lugar, verticalmente, ajudando na reconciliaçãodos homens com Deus. proclamando como embaixadores: "Emnome de Cristo, pois, rogamos que vos reconcilieis com Deus"(2 Co 5.20), ou levando um amigo para também conhecer oSenhor Jesus como seu Salvador pessoal (Jo 1.42).

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Em segundo lugar, horizontalmente, reconciliando os homensentre si. isto é. ajudando na obra de espalhar graça para refreara avalanche da desgraça. Um dos instrumentos mais poderososnessa área é o ministério deperdão, ser pacificador, instrumento do perdão numa escala menor ou maior, como ajudar na reconciliação entre grupos ou povos em hostilidades, se for possível. Aterrível "limpeza étnica" em Kosovo é um exemplo daquilo que acontece quando, entre povos, não há reconciliação. Ossérvios foram massacrados pelos turcos durante séculos. Nuncahouve paz propriamente e o problema eclodiu de novo no fimdo século 20. Povos, famílias e indivíduos precisam da graça.

Oargumento mais forte em favor da graça é o seu oposto, ummundo denão-graça. Omais forte argumento para operdão éaoutra alternativa —um permanente estado defalta deperdão.... Dissociado doperdão, omonstruoso passado pode despertara qualquer momento dahibernação para devorar o presente. Etambém o futuro.77

O trabalho de pessoas como William Wilberforce. WilliamBooth. Martin Luther King e Nelson Mandela tem dimensõesmundiais.78 São poucos os que foram chamados para ajudar nesse nível, mas todos podemos, como formigas, carregar pedri-nhas do tamanho de um grão de areia para diminuir essas altastensões sociais e sangrar um pouco do veneno da história, ajudando em projetos que diminuam o sofrimento humano, comofizeram Dorcas, Boaz e Lucas (nomes excelentes para lembrarsempre da dimensão diaconal).79

Nessas tensões altas e baixas, freqüentemente, o único remédio é o perdão, porque já não é possível desfazer o estrago.

Afalta degraça provoca rachaduras entremãe e filha, paie filho,irmão e irmã, entre cientistas, prisioneiros, tribose raças.Quando abandonadas, as rachaduras se alargam e. paraos abismosresultantes da não-graça háapenasum remédio: a frágil pontedecorda do perdão.... Perdão é umatoanti-natural;... semprehátensão entreperdão ejustiça, e.muitas vezes, perdão pareceinjustiça... Porque Bonhoefferlutavapara amar os seus inimigose orar pelosseus perseguidores? Ele tinha apenas uma resposta: "Deus ama os seus inimigos — essa é a glória do seuamor. como cada discípulo de Jesus sabe". ... Apenas a graça

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derrete a não-graça... Aprimeira e geralmente única pessoa a sercurada pelo perdão é a pessoa que perdoa.

Continuando, Philip Yancey, que é um dos editores da revistaChristianity Today, conta da visita do famoso teólogo Karl Barthà universidade de Chicago. Perguntaram a ele: "Dr. Barth, qual éa verdade mais profunda que o senhor já aprendeu em seus estudos?" Sem hesitar. Barth respondeu com um cântico infantil:"Jesus me quer bem. a Bíblia assim o diz".80

Infelizmente, porém, muitos têm tendência agostiniana nateoria (vivendo de graça), mas, na prática, são pelagianos (fazendo "eu mesmo").

Certa vez. quando eu ainda era estudante de teologia, alguémme insultou. Mal podia continuar estudando; percebi que umcalo se formava ao redor da minha alma. Lutei para me livrar,mas não consegui. Clamei ao Senhor porque sabia que, se permanecesse assim, eu perderia minha vocação de missionário.Então, alguém me deu o conhecido livro de Roy Hession. A Sen-da do Calvário, e um cartão vindo de Ruanda, interior da África.que dizia: "Não eu. mas Cristo".81 Reconheci que a única maneirade eu sair daquela situação era morrer com Cristo, porque a minha velha natureza não queria perdoar de jeito nenhum. Coloquei minha mão sobre a promessa do Senhor: "Nãoeu, mas Cristo" (Gl 2.20). Assim, pouco a pouco voltei a andar, como umreconvalescente. Precisava sempre voltar àquele cartão, mas valeu a pena. Graças a Deus, Ele me tirou do buraco e pude continuar meu preparo para o ministério. Agora sei que. quando Deus

NÃO L ^^^U, MAS

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nos coloca no pilão, é para o nosso bem (Si 119.71; Rm 8.28).Pode gritar, mas agüente, irmão!

Qual é o nosso ponto nevrálgico? Não queremos perdoar mesmo? Lembremo-nos que, às vezes, as pessoas não nos ofendemconscientemente. E nós mesmos ofendemos os outros sem perceber (Lc 23.34)! Estaremos ainda contabilizando quantasvezes perdoamos? Se pensarmos em setenta vezes sete, jáperdemos a conta... Por outro lado. é ótimo perdoar muitas vezes, porque assim aprendemos a arte mais nobre.Como diz o velho adágio educacional: a ação é a mãe do costume até o costume se tornar a mãe da ação. Não há nada de ruimcom costumes, desde que sejam bons (Lc 4.16), que procedam deboas atitudes. Com razão. Martin Luther King nos lembrou que perdão não é apenas um ato ocasional isolado, mas uma atitudepermanente.

Além do ministério de perdão e reconciliação, há tambémoutros aspectos no ministério da graça, como, por exemplo, onosso dever sacerdotal para com os necessitados, o ministériodiaconal{?v 29.7). O pastor presbiteriano R.C. Sproul formuloueste dever de uma maneira interessante:

Convém discernir: a) Osquesão pobres por causa dapreguiça.Estes precisam de admoestação(como Pv6.6; 2 Ts 3.10); b) Osque sãopobres porcausa deacidentes, doença, calamidades etc.Estes precisam da nossa assistência: c) Osquesão pobres porquesão explorados por patrões ougovernos. Estes precisam danossa defesa; d) Finalmente, os que são pobres por vontade própria,para poderdar maisaoutros. Estes merecemnossaaprovação.82

De fato, o trabalho diaconal tem muitos aspectos, comocurativo ou preventivo, individual ou coletivo, pessoal ou estrutural, e, para tudo isso. carecemos de sabedoria do alto.Mais ainda, precisamos de um preparo especial na graça pararealizar bem nosso trabalho na área de perdão, de misericórdia e de outras expressões nessa área. Deus quer nos preparar para sermos "conformes à imagem de seu Filho" (Rm 8.29).usados como sacerdotes, como instrumentos para reconciliação e misericórdia, verdadeiros ministros da graça.

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Ministrosda graça

Mas como podemos aprender a ser cooperadores deDeus (1 Co 3.9)? A mesma pergunta poderia ser feita sobre as tarefas de profeta e rei. mas vamos verificar como Deuspreparava seus obreiros para a tarefa sacerdotal. Em Levítico 8 e9 achamos a descrição da consagração de Arão e seus filhos parao sacerdócio. Poderíamos dizer que ali temos uma série de quadros que nos mostram claramente quais as lições que devemosaprender na escola dos abençoadores. Todos queremos receberuma bênção, mas o Senhor quer nos ensinar algo ainda maisprecioso: ser uma bênção (At 20.35). De fato, o Senhor noselegeu para fazer de cada um de nós um vaso de bênção paraoutras pessoas (Gn 12.3: 1 Pe 2.9). A fim de entendermos isso,seguiremos os passos principais na ordenação dos abençoadoresprofissionais no Velho Testamento, os sacerdotes, esses ministros da graça, que eram tipos do "Sumo Sacerdote da nossa confissão. Jesus" (Hb 3.1).

O primeiro passo é a purificação (Lv 8.22, 23). Depois de imolar um carneiro, Moisés tomou um pouco do sangue e aplicou-ono seu irmão Arão, primeiramente na ponta da orelha dele. depois no polegar da mão direita e, finalmente, se abaixou e aplicou-o no dedo maior do pé direito. Em seguida, fez a mesmacoisa nos seus quatro sobrinhos. O que Deus queria dizer comisso? A orelha representa uma das portas da nossa alma. Precisamos do sangue do Cordeiro nessas portas para purificar o queestá lá dentro, mas também para nos avisar: o que temos permitido entrar por esta porta? Quem deseja ser uma bênção devecuidar-se e dizer, quando necessário: Não quero ouvir isso. Ora,o ouvido é um representante de todos os nossos sentidos, umparspro totó. Como o ouvido foi coberto, assim também os outros sentidos devem estar debaixo do sangue do Cordeiro: cuidado para não nos contaminarmos! É como o apóstolo nos avisa: "Tendo, pois, ó amados, tais promessas, purifiquemo-nos detoda impureza, tanto da carne como do espírito" (2 Co 7.1). Issoé muito importante para quem foi eleito para ser uma bênção,pois, como poderíamos ser uma bênção sem essa purificação?

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Alguém já viu uma enfermeira atar uma ferida de mãos sujas?A infecção ficaria ainda pior. Portanto, a nossa alma diz: "Amém,Senhor, queremos ser um vaso de bênção, conformes à imagemdo teu Filho, como Jesus!"

O segundo passo na consagração dos abençoadores é a dedicação. Prestemos atenção ao quadro pintado em Levítico (8.26-28).Moisés mandou trazer dois cestos, um com carne, o outro com

bolo. Pediu que Arão e seus filhos estendessem as suas mãos. ecolocou nelas um pedaço de carne e, em cima, um bolo. Em seguida, mandou erguer tudo para os céus e movê-lo diante doSenhor. Não poderia deixar cair, senão o nome do Senhor seriablasfemado por causa dos sacerdotes. O mesmo acontece quando,por nossa causa, provocamos grande sofrimento à igreja de Deuse nós mesmos perdemos nosso ministério (embora, talvez, possamos continuar no ofício por causa de uma "panelinha" depolítica eclesiástica).83 Finalmente. Moisés tomou as dádivas dasmãos deles e colocou tudo no altar. Percebemos o significado?Para sermos uma bênção. Deus mesmo coloca os dons em nossas mãos. Os dons são diferentes, um mais "salgado", outro mais"doce", mas distribuídos como Ele acha melhor; por isso, cadaum sirva conforme seu dom (1 Co 12.11). Não tenhamos invejados dons dos outros, nem desanimemos quando sentirmos falta de um certo dom. Somos responsáveis pelos dons que temos,não pelos dons que não temos. Porém, nosso dom deve ser colocado no altar; nunca será nossa propriedade particular. Édomde Deus e deve ser devolvido a Ele. O apóstolo Paulo diz: "que tenstu que não tenhas recebido?" (1 Co 4.7). E é claro que os dons devem ser colocados no altar, pois como poderíamos ser uma bênçãose o alvo fosse a auto-glorificação? Ao contrário, atrapalharia a bênção! E a nossa alma diz: "Amém. Senhor, queremos ser um vaso debênção, conformes à imagem do teu Filho, como Jesus!"

O terceiro passo na preparação dos abençoadores é a unção(Lv 8.30). Desta feita, Moisés tomou um vaso com óleo preciosopara aspergi-lo nas vestes sacerdotais dos seus parentes. Mas,antes disso, respingou um pouco de sangue naquela roupa limpae, em seguida, aplicou o óleo. O significado é muito claro: aquelaroupagem oficial simboliza o privilégio de esses pecadores salvos

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servirem como cooperadores de Deus; mas. uma vez vestidoscom ela. até aquela roupa precisa ser purificada e untada comóleo precioso. Assim também, somos lavados pelo sangue edepois perfumados com o Espírito Santo! A ordem é importante:o óleo vai onde o sangue já foi. Como Paulo disse: "somos obom perfume de Cristo... Quem. porém, é suficiente para estascoisas?" (2 Co 2.15. 16; Zc 4.6). Ninguém, pois, de nós mesmos,espalhamos um cheiro desagradável. Mas Ele nos lava e depoisnos perfuma para sermos ministros da graça. E a nossa almadiz: "Amém. Senhor, queremos ser um vaso de bênção,conformes à imagem do teu Filho, como Jesus!"

O quarto passo na preparação dos abençoadores profissionais édiferente; é a meditação. Moisés mandou-os sentar perto da portado santuário, estudar tudo o que o Senhor lhes disse e por setedias "alimentar-se" com a Palavra de Deus (Lv 8.35). Sem dúvida,poderiam interromper seus estudos, mas tinham de completaruma semana, de certo para treinar o bom costume de ler a Palavra de Deus diariamente. Treinar para focalizar a atenção navontade de Deus. porque é somente Ele que nos diz como seremos uma bênção. Como Paulo disse aos despenseiros dos mistérios de Deus: "Não ultrapasseis o que está escrito" (1 Co 4.2, 6).Pois como seríamos uma bênção sem isso? As nossas palavrasseriam vazias se não fossem alimentadas com a graça do Senhor. E a nossa alma diz: "Amém, Senhor, queremos ser um vasode bênção, conformes à imagem do teu Filho, como Jesus!"

Revendo os quatro passos na consagração dos sacerdotes, percebemos que são como quatro classes da escola primária para oscooperadores escolhidos por Deus (1 Co 39a): purificação, dedicação, unção e meditação. Cada um de nós deve se perguntar:Em que classe estou? Sempre estou repetindo o primeiro ano?Será que não consigo levantar os dons diante do Senhor ou nãoquero soltá-los para serem colocados no altar? Almejo receber aunção do Espírito Santo, mas não quero o sangue purificador?Estou relaxando na minha alimentação diária da Palavra de Deus?Estou surpreso porque ainda não sou uma bênção? Sim. Senhor,quero ser um vaso de bênção. E Deus o fará (Lv 9.23. 24). Aqui eagora, no tempo e no lugar em que vivemos. Quem não quer ser

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uma bênção aqui eagora, não oserá em nenhum tempo elugar.Sim. Senhor, aqui e agora, um servo conforme à imagem do teuFilho, como Jesus!84

Faze-me vaso de bênção, Senhor,vaso que leve a mensagem de amor.Eis-me submisso, ao teu serviçoeu me consagro, bendito Senhor!(Hinório Evangélico 180; Af 20.35).

16.

PARA SERMOS REIS

Deus nos escolheu para sermos "conformes à imagem deseu Filho", como profetas, sacerdotes e reis. Com esteúltimo ofício, chegamos perto do plano original do nosso

Criador: o Rei soberano escolheu a nós. Adão. Eva e seusdescendentes, entre todas as suas criaturas, para sermos vice-reis e rainhas, e nos colocou na terra para cultivar e guardá-la(Gn 2.15). O Rei dos reis nos confiou o mandato sobre o planetaazul. Que honra, que responsabilidade!

Sabemos o que aconteceu, a não ser que tenhamos rejeitadoa informação que nossos antepassados nos passaram sobre aquelaloucura inicial, a "queda" (Gn 3). De fato, somos filhos de Adão efilhas de Eva. honra suficiente para levantar a cabeça do maisbaixo mendigo, mas vergonha suficiente para baixar a cabeça domais alto rei.85 O grande mentiroso afirmou a nossos pais queeles experimentariam o maior progresso, caso seguissem seuconselho (Gn 3.5). Mas. que ilusão! Quanta dor e quanto chororesultaram daquele ato. tanto para eles mesmos como para todos nós. Se não aceitarmos essa informação primordial, ficaremos titubeando, como lagartixa saindo de uma sopa primitiva,

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sempre nos perguntando: "Quem somos nós? de onde viemos?para onde vamos?" Se fosse assim, a filosofia mais sensata seriao niilismo mesmo, que não tem normas, a não ser a glorificaçãodo poder bruto para que o mais apto sobreviva. Mas. lá no fundodo nosso ser. há uma lembrança indelével de que as coisas nemsempre foram assim, que existem parâmetros melhores para nosorientar e que um dia tudo será melhor (Rm 2.15; At 3.20).86

Para chamar-nos de volta. Deus enviou seu Filho (como nosso Profeta-Mor. nosso Sumo Sacerdote e nosso Eterno Rei) e oEspírito Santo para trabalhar em nossos corações. Pois Deus quero homem, seu vice-rei, de volta, cooperando no seu reino.57 Assim, parece que os ofícios de profeta e sacerdote são muletasmajestosas para colocar o rei caído em pé novamente. E. à medida que reconhecemos Deus como nosso supremo Rei. nos tornamos vice-reis melhores, "conformes à imagem de seu Filho"(1 Sm 15.22; Rm 8.29).

Sim. devemos reconhecer a Deus como nosso rei em tudo.Com muita razão. Abraham Kuyper disse: "Não há um centímetro quadrado sobre o qual Cristo não diz: é meu!"88 Reconhecer asoberania de Deus é o começo para entrar nos eixos de novo.Ele carrega a coroa suprema, e nós carregamos coroas menores,derivadas daquela. Inicialmente havia somente um vice-rei naterra: Adão. chefe de família e também o rei sobre toda a tribohumana. Àmedida que a vida foi se tornando mais complexa,houve desdobramento de responsabilidades. Onúcleo continuousendo a família e os ataques contra ela são ataques contra acellula mater, o núcleo da sociedade. Mas, além da família, épossível distinguir outras áreas. As mais básicas são a igreja, asociedade e o estado. Em cada setor há um vice-rei: na família,são os pais. na igreja, o conselho ou corpo diretivo, na sociedade, o patrão e no estado, o governo.

Éverdade que, por outro lado. odiabo continua estragando aobra de Deus. Como Lutero disse, ele é o macaco de Deus e tentaimitá-lo em tudo, Satanás não muda as estruturas necessariamente, mas injeta seu veneno dentro dessas estruturas. Deus.porém, não retirou a sua lei e. à medida que obedecermos essalei do Senhor, seremos felizes.

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F = Família I = Igreja S = Sociedade E = Estado

Há uma escala que indica a influência da lei do Senhor na vida.Quanto mais os vice-reis obedecem ao Senhor, mais felicidadeexperimentam. No exemplo do rei Davi. vemos que o caráter dovice-rei deve ser pastoral. Este pastor-rei sabia que obedecer a leido supremo Rei é o segredo da felicidade: "Bem-aventurados...os que andam na lei do Senhor" (Si 119.1). Os pais. obedecendoao Senhor, fazem com que o seu lar pareça um pouco com oParaíso, mas. quando vão contra a sua vontade, o lar vira uminferno. Assim também a igreja, quando os líderes se afastam deDeus. ela se torna quase uma igreja do anticristo.89 No empregoe no governo é a mesma coisa. E. no mundo em geral, aconscientização de como o homem pode ser tirano sobre a própria natureza exige de nós uma ecologia sadia.90 Negar que a raizdo universo está em Deus Rei. Criador e Sustentador, invariavelmente leva a falsos deuses e a muitas lágrimas.91

Para sermos reis na vida pessoal

O ponto de partida da nossa vida é que Deus nos criou comum alvo. A primeira pergunta do Catecismo de Westminster indaga por este alvo da nossa vida. E a resposta é: "O alvo supremo do homem é glorificar a Deus". Como podemos fazer isso?Apenas cantando? Nem sempre cantando, mas tudo o que fazemos, falamos e pensamos deve ser orientado pela vontade de

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Deus. Aprender a obediência é algo precioso. A oração infantilantes das refeições bem poderia ser: "Senhor, abençoa esta comida e ensina-me a fazer a tua vontade. Amém"92. Não precisamos anular a nossa vontade, mas precisamos aprender a querero que Deus quer (Si 40.8). A vontade de Deus foi recapituladapelo Senhor Jesus nas conhecidas palavras: "Amarás o Senhorteu Deus... Amarás o teu próximo" (Mt 22.37-40). Vertical e horizontalmente. É a mesma vontade que foi embutida no Paraíso,promulgada no monte Sinai e resumida pelo apóstolo Paulo: "Oamor é o cumprimento da lei" (Rm 13.10). O Espírito Santo quercumprir esta lei na vida do crente para que ele seja conforme aimagem do Filho de Deus (Rm 8.4, 29). Ele mora no centro desua vida. no seu coração, que é como templo para o Senhor (1 Co6.19. 20). Deus quer encher esse templo e fomos escolhidos para servir como diáconos no próprio templo do Senhor,conforme as normas de Deus. o supremo legislador!

A lei do Senhor é a bússola nas encruzilhadas da vida. Quemnão gosta da lei de certo está se lembrando unicamente que elacondena o pecador (Rm 3.20). Mas a introdução dos DezMandamentos reza: "Eu sou o Senhor teu Deus, que te tirei daterra do Egito, da casa da servidão" (Êx 20.2). Ele nos libertou dopoder do diabo e agora nos orienta a comoviver uma nova vida(Ef5.8). Durante a Segunda Guerra Mundial havia muitos presospolíticos nos porões nazistas. Quando alguém era liberto pelaresistência, era orientado sobre como fugir a Portugal e recebiamuitas instruções específicas. Eramorientações importantes paranão cair de novo nas garras do inimigo. Seria loucura se o ex-preso dissesse: "Que chato! Na prisão eu não podia fazer issonem aquiloe agora vocês vêm me amolarcom outras proibições!"Ao contrário, ele ficaria até grato pelas indicações de como teruma vida em liberdade. Assim, depois que o Senhor nos libertadas garras do maligno, Ele nos dá instruções para não sermospresos novamente. A lei tem, portanto, duas funções: uma émostrar-nos os nossos pecados para que corramos ao Salvador(Gl 3-24); a outra é orientar-nos na estrada da nova vida. pois alei do Senhor é norma para a nossa peregrinação (Rm 8.4). Tudo"a fim de que sejamos cadavezmais renovados segundoa imagem

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de Deus até que, depois desta vida. alcancemos o objetivo, asaber: a perfeição".93

Sabemos, então, que os mandamentos do Senhor são orientações gerais para que andemos como justos nesta peregrinação.94 Não busquemos orientações específicas por horóscopo ouleitura de mão, pêndulo ou consulta a médiuns etc. Isso é umacontaminação espírita que Deus condena (Dt 18.10-12; Is 8.19. 20).Se já o fizemos, devemos confessá-lo para nos livrarmos destelaço do adversário (2 Co 7.1; 1Jo 1.9). Por outro lado. precisamoster cuidado ao dizer: "Foi Deus que me mandou fazer isso". Nãonego que o Senhor, às vezes, nos fala assim (At 8.26; Gl 2.2).Mas. em geral, Ele nos orienta pela Escritura, por superiores epelas circunstâncias (At 8.26. 40). Elembremo-nos que o EspíritoSanto nunca guia contrariamente à Palavra de Deus. Se alguéminsistir nisso, quero lembrar que o diabo se transforma até emanjo de luz (2 Co 11.14). Ele pode soprar no ouvido, por exemplo,que adulterar seria uma experiência enriquecedora. Respondamos:"Que nada! Vá embora, espírito estragador!" Graça não é umalicença para pecar, muito pelo contrário. Por gratidão por termossido salvosda perdiçãoé que queremos fazer a vontade do nossoPai celestial! Além disso, sabemos que é para o nosso própriobem, pois o segredo da felicidade é a obediência, e obedecer émelhor do que sacrificar (1 Sm 15.22). Façamos, então, a vontadedo Senhor com alegria (1 Co 10.31; Si 119.54) para sermos à semelhança de seu Filho, que ama fazer a vontade do Pai (Si 40.8;Jo 4.34).95

Com alegria e sem resmungar (Fp 2.14; Rm 14.17, 18). poisresmungar abre uma fresta para a tentação pelo diabo (Hb 12.15;2 Co 2.11). O diabo tenta cada um diferentemente, mas sempreprocura inverter a vontade de Deus. Para uns. dinheiro não diznada; para outros, é uma cilada medonha. Então, sejamossábiosno uso do dinheiro (1 Tm 6.9).96 Para uns. glória não exerceatração; outros voam em sua direção, como insetos para a chamade uma vela. Então, não procuremos louvor dos homens (Jo 5.44;12.43). Para uns, o sexo não constitui tentação; outros têm suamente contaminada por ele. Então, evitemos a pornografia,inclusive na internet (1 Co 15-33). Qualquer queseja nosso ponto

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nevrálgico, o maligno minaaquele ponto para nos fazer tropeçar.Por isso, como dizia minha mãe, coloquemos o maior número desoldados no ponto mais fraco. Cada um sabe intimamente o quedeve fazer e o que deve evitar para não tombar na cilada domentiroso. Se não o fizermos, o problema será nosso, irmãos. Mas.porque morreríamos por falta de disciplina (Pv 5.23)? Não é verdadeque Deus nosdisciplina por amor (Hb 12.4-13)? Assim, sequeremosficar em pé, lembremo-nos que a leitura diária da Palavra de Deuse a oração baseada nessa Palavra são essenciais para uma vidasadia. Pelas Escrituras, o Espírito Santo nos ensina a orar e diz:"[Ore comigo:] Guardo no coração as tuas palavras, para nãopecar contra ti. Amém" (Si 119.11; 51.IO).97

A leitura bíblica diária numa hora silenciosa não significa isolar-se pelo resto do dia num canto para evitar contato com omundo. Nada de escapismo. Uma refeição com Bíblia e oraçãoprepara-nos para um dia cheio de atividades conforme o provérbiofrancês: "Retirar para melhor saltar". Reforçados pelo Senhor,saímos na sua paz para o trabalho no meio deste mundoturbulento, a fim de sermos uma bênção, conforme Ele nospredestinou, conformes à imagem de seu Filho, cada um na suaprópria vocação (Mt 5-16; 1 Co 7.20). Já seremos uma bênção setrabalharmos fielmente, como que servindo ao Senhor (Cl 3.23. 24).E oremos para que possamos ganhar os nossos colegas para oSalvador e. juntos, transformar o ambiente de trabalho, conforme a vontade do Criador (Mt 5.13). Somos profundamente gratos pelo imenso trabalho de evangelização dos nossos irmãospentecostais e o rápido crescimento da Palavra no nosso Brasil ena América Latina. Mas o movimento evangélico em geral precisa de um pouco de "fertilizante": o ensino reformado de queDeus quer nos usar integralmente como instrumentos de transformação em todas as áreas da vida.98 Deus quer usar a nós?!Sim. a você e a mim. Não dá para explicar, mas. como alguém jádisse: prefiro transmitir graça do que explicá-la.99

Desde que o Rei dos reis destinou-nos para sermos bênção, oevangelho da graça deve inundar nossa vida pessoal, de modoque esta graça seja transmitida a outros e as nossas igrejas setornem verdadeiras comunidades da graça. Não deixemos que

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Satanás roube a graça da nossa vida! Obedeçamos a Deus. dizendo não ao perturbador. Digamos não ao mau exemplo, pois "nãoseguirás a multidão para fazeres mal" (Ex 23.2). Digamos não àirritação e não nos distanciemos do Senhor por causa de desentendimentos. Ninguém se beneficia com isso, pelo contrário, ficamos amargurados. Digamos não também ao não perdoar, quemsabe em relação a um pecado cometido há muito tempo ou poralguém que até jámorreu. Perdoemospara não aparecer um quistode desgraça em nossa vida que inflame e infecte nosso coração(Hb 12.15: Mc 11.25). Isso seria como "podridão dos ossos", iguala inveja (Pv 14.30). Quando eu era pequeno, nossos vizinhosbrigavam como gato e cachorro; meu pai explicava que isso acontecia porque de noite eles nunca pediam perdão (Ef4.26). Perdoemos e, depois, deixemos totalmente a questão. Corrie ten Boomdisse que perdão é como um lago com uma plaquinha: "Proibidopescar!" O que é jogado lá dentro não se recupera jamais (Mq 7.19).

Mas, e quando andamos com Deus e. apesar disso,aparentemente nada dá certo? Quando estamos desanimadose não percebemos a mão de Deus nos guiando? Nas igrejas reformadas é costume recitar antes da Santa Ceia: o Senhor Jesus"bradou: 'Meu Deus. por que me abandonaste' para que nós nuncafôssemos abandonados por Deus!" Éo que nos lembra a famosapoesia de MargaretPowers: Num sonho, ela viu. na areia da praia,o trilho de sua vida andada com Deus. as pegadas dele sempreao lado das dela. Mas, durante um período muito difícil de suavida, percebeu que havia apenas um par de pegadas. Perguntou:"Senhor, Tu me deixaste?" O Senhor lhe respondeu: "Minha filha,Eu te amo e nunca te deixaria. Nos dias de tentação e sofrimento,quando observastes apenas um par de pegadas na areia, foi porquete carreguei".100 De fato, muitas vezes temos de reconhecer comJacó: "O Senhor está neste lugar, e eu não o sabia" (Gn 28.16).

Às vezes, o tentador cochicha:— Vale a pena ser firme até o fim? Por que você não faz con

cessões?

Digamos novamente:

— Vá embora. Satanás. porque está escrito que temos de obedecer a Deus antes do que aos homens (At 5.29).

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Lembremo-nos do que disse o crente General MacArthur depois da Segunda Guerra Mundial: "Anos enrugam sua pele. masrenunciar seus ideais enruga sua alma". Quando a pressão diminuir um pouco, conseguiremos recordar que existem três motivos fortes para "segurar a barra". Em primeiro lugar, para que onome do Senhor não seja blasfemado por minha fraqueza (1 Tm 6.1).Em segundo lugar, para não atrapalhar os outros peregrinos(Si 69.6). E, em terceiro lugar, (que privilégio!) para que eu recebaa coroa, não aqui, mas na glória, a fim de colocá-la aos pés doSenhor (Ap 4.10). Daí entenderemos mais ainda porque opastor Jonathan Edwards observou: "Graça é somente glóriainiciadae glória é somente graça aperfeiçoada".101 Foi por causadisso que Keith Green cantou: "Ajuda-me a não procurar umacoroa, porque minha recompensa é dar glória a ti!"102

E quando, finalmente, o inquietador nos incomodar quantoao fim de nossas vidas? Deixemos o assunto na mão do Doadorda vida e digamos em voz alta: "Nas tuas mãos, estão os meusdias" (Si 31.15). Deixemos também nossos queridos descansarem na paz do Senhor e. mesmo que estejam em coma, cantemos para eles da maravilhosa graça.103 No fim. apesar de nósmesmos e apesar do acusador, o alvo de Deus seráalcançado.- seremos "transformados na sua própria imagem"! (Rm 8.29; 2 Co 3.18).

Para sermos reis na família

Voltemos a nossa atenção para a vida social dos peregrinos.No início, eles são solteiros, mas geralmente não desejam permanecer assim e procuram um companheiro de viagem. Numacerta altura da vida. começam sentir falta de alguém, como senão fossem inteiros. Ele passa a observar a beleza femininamoldada pelo seu Escultor e ela passa a sentir atração por algumrapaz. A esta altura, eles devem ser muito cuidadosos, não dando passos precipitados ou por brincadeira (Pv 26.19). porque precisarão tomar decisões sérias, que terão conseqüências para avida inteira. Os peregrinos podem ter certeza que terão a orientação do seu Senhor, porque foi Ele mesmo que colocou essedesejo no coração humano. Precisam andar na luz. para que

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possam ser orientados (Si 25.12; 32.8). Deus não mandará aresposta por carta; eles mesmos devem observar e procurar; nãosomente orar. mas ora et labora. Por isso. basicamente, devem

andar com Deus e dar uma espiada para o outro lado do Senhor,pois. quem sabe. seu futuro companheiro já esteja andando porali. Mas. se ainda, não estiver, não devem procurar longe doSenhor (1 Co 7.39). Quando acharem a pessoa certa, o Senhordirá: "Muito bom!" (Pv 18.22; Gn 2.18). Mas. se o plano do Senhor para a vida de um peregrino que anda com Ele é que fiquesozinho, Ele também dirá "tof" — "muito bem" (Gn 1.31; Si 84.11).Sozinho, homem ou mulher, poderão servir ao Senhor de umamaneira especial. O que, por exemplo, irmãs solteiras significampara o trabalho missionário é incrível. Têm se tornado verdadeiras mães espirituais em Israel (1 Co 7.32-34; Mt 25-21).104

Quando peregrinos se casam, nem tudo permanece tãoromântico para o casal, pois estamos fora do Paraíso. Às vezes,melhor sozinho do que mal acompanhado. Mas. mesmo numbom casamento, há tensões. Por isso é bom lembrar como o Cri

ador organizou o matrimônio. O Senhorachou por bem apontar ohomem como chefe da família e cabeça de sua esposa (1 Co 11.3).Não que ela seja inferior, mas que a posição dentro do casamento seja um pouco diferente. O homem tem de aprender a exercersua liderança com amor e a mulher precisa aprender a ocuparseu lugar com alegria e sem resmungar (Ef 5.18-33). Descer umdegrau na escada dá chance para ele também descer um pouco!Para todos nós. também para as esposas, ainda é verdade que "oobedecer é melhor do que o sacrificar" (1 Sm 15.22). Assim, andando de acordo com o plano do Pastor-Rei celestial, obteremossua bênção. Lembremo-nos das sábias palavras de Agostinho,incluídas na Forma para a Bênção Matrimonial da igrejapresbiteriana:

O homem é a cabeça da criação, mas a mulher é a coroa. Não foiela tirada de sua cabeça, como se houvesse de dominá-lo; nemde seus pés,comose houvessede ser pisadaporele; mas do seulado. para ser sua igual; de sob o seu braço, para ser por eleamparada e protegida: de juntodoseu coração, paraser o objetode seu amor e o centro dos seus afetos.105

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Em alguns casos, após alguns anos de casados, o peregrinonão sente mais amor por sua esposa. O que fazer? Arrumar outra? Teria a bênção do Senhor? Ele deve olhar para Deus. pois Eledisse: "Sob as minhas vistas te darei conselho" (Si 32.8). Semdúvida, o peregrino logo percebe que algo não está certo; eleestá se desviando! O alarme de sua consciência já deve ter tocado (Rm 2.15: Ml 2.14). No pensamento ele já seguiu o caminhode Lameque. que inventou a poligamia como clara corrupção docasamento, porque não era assim desde o princípio (Gn 1.27;4.19). Eo plano de Deusé o melhor paraa nossa vida (Mt 19.4, 8:Lv 18.18). Por isso, o peregrino deve lançar mão da lei do Senhorpara não cair. Ele sabe que Deus manda o homem amar sua própria esposa (Êx 20.14; Ef 5.25). Omarido não precisa falar sobreesse problema com sua esposa, pois traria uma decepção muitogrande para ela. O fato é que nós. homens, às vezes, precisamossimplesmente de um mandamento para amar a nossa esposa.

E se não conseguir? Ele precisa usar uma bengala. Ao quebraruma perna, muletas ajudam muito durante o período de recuperação. Da mesma forma, o mandamento do Senhor ajuda a continuar andando. Usemos a muleta, irmãos, segundo a orientação do nosso médico celestial! Éuma lástima precisar de muleta,mas obedecer traz bênção. Equem não obedecer? Que maldição,que choro, que angústia... para a esposa, para o próprio marido,para os filhos, para a igreja, para a obra do Senhor em geral. Emalguns casos, talvez, a separação (temporária ou, em último caso,permanente) seja inevitável, mas. em muitos casos, a obediência e o perdão reparam o estrago. Usemos a bengala, queridosirmãos, para sermos fiéis, "conformes à imagem de seu Filho" epara não cairmos (Si 119.11; Tg 4.7).

Escrevi os dois últimos parágrafos para nós. maridos, porqueas esposas geralmente são mais fiéis. Mas. querida irmã. se vocêtiver problemas desse tipo. a bengala é sua! Use-a para não destruir seu próprio lar (Pv 14.1; 19.3).

Quanto aos filhos, não nos deixemos arrastar pelo uso errado do linguajar sobre "fazer filhos" (Tg 4.15: Si 127.3). No ladonegativo, isso beira o vocabulário terrível de aborto.106 E, se tivermos o privilégio de recebê-los do Doador da vida. lembremo-nos

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que uma boa parte da educação é silenciosa: filhos imitando seuspais. andando atrás deles, como os pintinhos andam atrás dagalinha. Andemos, então, nós mesmos atrás do Senhor, imitan-do-o como filhos amados (1 Co 11.1; Ef 5.1).m Sejamos firmes naeducação, não hesitando em usar a vara prontamente, se fornecessário. Claro que dói muito mais no nosso próprio coraçãodo que no do nosso filho, mas suportemos esta dor por amor aele. Grande parte da criminalidade entre jovens é conseqüênciada falta de disciplina proposta por educadores modernos quequerem ser mais sábios do que Deus (Pv 12.1). Meu pai deu aosseus filhos casados uma pequena régua com referências bíblicassobre educação, o que foi uma parte importante da nossa herança espiritual.108 E, quando estivermos preocupados com nossosfilhos já crescidos, devemos aprender a soltá-los, deixando-osdesde o início na mão de Deus. O Senhor os ama muito mais do

que nós mesmos!

Para sermos reis na igreja

Inicialmente a igreja era idêntica à família. Todos os familiares pertenciam por definição à família de Deus. O trabalho erafeito juntos e juntos estavam na hora de louvar ao Criador(Gn 4.26). Mas. à medida que certos membros da família de Adãonão quiseram mais servir ao Senhor, estes se afastaram da família de Deus. Que tristeza para nossos primeiros pais! Assim, hojeem dia. infelizmente não é possível definir o limite de uma igreja como sendo o mesmo de um grupo de famílias crentes pormuitos anos. A tentativa de ficar juntos é louvável, mas semprehaverá pessoas que não querem mesmo permanecer como súditos do Supremo Rei. Como é dolorosa esta separação. Estes secolocam fora da igreja, que é a comunidade dos discípulos doSenhor Jesus Cristo. Simplesmente insistir que pertencem à igreja,traria o mundo para dentro da igreja, que acabaria se transformando em mais um clube social. Sem dúvida, a igreja é também umaentidade social. Mas não é só isso: é a família de Deus (Ef 2.19). aassembléia dos verdadeiros crentes em Cristo, santificados "paraserem conformes à imagemde seu Filho" (Rm 8.29).109

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Podemos distinguir alguns aspectos básicos sobre a igreja.Já observamos que ela é uma sociedade, a comunhão dos santos ao redor do seu Senhor. Todos somos chamados para ajudar na edificação desta koinonia, desta comunidade da graça(Ef 4.12, 16. 29). A orla desta comunidade, às vezes, é difícilde determinar, porque não conhecemos os corações dos outros: fomos chamados para avaliar apenas o falar e o andar— a confissão da fé e a conduta diária. Sem dúvida, na terra,o limite da igreja visível não coincide exatamente com o daigreja invisível. Contudo, uma coisa é certa: quem está longemas querendo servir ao Senhor se encontra mais dentro daigreja invisível do que a pessoa que está perto do centro masnão reflete isso em palavras e ações (Lc 18.13, 14).110 Se ambos desejam servir de coração, este se emendará e aquele chegará mais perto (Hb 3.12; 4.16).

Relembrando o alvo supremo do homem, é possível entender que o alvo supremo da igreja também é o louvor do Senhor.Deus escolheu seu povo para celebrar seu louvor (Is 43.19-21). Oobjetivo da koinonia é a liturgia. Os cultos devem conter muitolouvor. Liturgia, porém, não se restringe ao sentido de ordemdo culto, mas compreende tudo, dentro e fora do culto, na vidadiária e no Domingo. No falar e no pensar, no trabalhar e nobrincar, "fazei tudo para a glória de Deus" (1 Co 10.31). ComoPaulo diz: "que apresenteis o vosso corpo por sacrifício vivo. santoe agradável a Deus. que é o vosso culto racional" (Rm 12.1). Nestetexto, ele usa a palavra "liturgia". Que bênção é poder lavar louça ou fazer continhas, lavrar a terra ou servir como deputado,tudo para a glória de Deus! Foi a Reforma que colocou novamente todas as atividades humanas nesse plano elevado,redescobrindo o ensino bíblico (1 Co 7.20; Si 115.13).

A liturgia aponta diretamente para os céus; ela é como a setaindicando o pólo norte celestial, que mantém a koinonia terrestre nos eixos. Dia e noite, rodando firme na posição vertical,para melhor servir no plano horizontal. Relembrando os trêsofícios do Senhor Jesus, percebemos que estes se refletem naigreja. Há uma área profética, outra mais sacerdotal e uma terceira mais real, de rei.

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PROFETA ^- h /\ / / \ V -•SACERDOTE

Na área profética, encontra-se o ofício de pregador, geralmentechamado "pastor", o que é um engano, porque presbíteros (na áreareal) também são pastores, e "pastores" são presbíteros com umatarefa especial, a pregação. São "predicantes" (1 Tm 5.17).

Certo dia, bem cedo, precisei falar com um querido presbíteroque morava longe de Cascavel, PR. Ao chegar, ele já estava trabalhando na lavoura. Cumprimentei-o:

— Bom dia. irmão colega.Surpreso, ele respondeu:— Não sou colega do irmão.Quando lhe perguntei se jáhavia mentido naquele dia, eledisse

com espanto:

— Não. pastor!

— Então, esta é sua primeira mentira de hoje. pois o irmão émeu colega, sim — retruquei. — Eu sou pastor e o irmão também.

Continuei falando, mostrando que Paulo lembrou aos presbíterosde Efeso que eles tinham sido chamados para pastorear a igreja deDeus (At 20.28). Depois, disse novamente:

— Bom dia. colega.Desta vez. ele me respondeu:— Bom dia, colega!Dei um grande abraço naquele amado irmão, que nunca fala

ria mentira alguma... Sim. juntos, como conselho, pregadores epresbíteros, devemos exercer o pastorado; aliás, esta palavra,em si. já diz muito sobre a maneira como devemos exercer esseofício real.111

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Além das funções profética e real, existe a área sacerdotal, naqual os diáconos, como ministros da misericórdia, exercem seuofício específico. Eles foram chamados para servir especialmente na tarefa da assistência social, melhor dizendo, "diaconia".para nunca perder a visãobíblica dessa obra difícil (At 6.3; Fp 1.1).

Ao redor dos três ofícios mais comuns e permanentes de profeta (pregação), sacerdote (diaconia) e rei (pastorado). o EspíritoSanto concede à igreja um grande número de dons e ministériosque. em parte, são mais temporários ou especiais (Rm 12.6-8;1 Co 12). Além disso, o Espírito Santo ainda chama, unge e enche cada crente para ser profeta, sacerdote e rei. Assim, todosjuntos, cada um na sua própria vocação, a família de Deus estápreparada para a evangelização, como escreveu Pedro: "Vós soisraça eleita, sacerdócio real. ... a fim de prodamardes as virtudesdaquele que vos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz"(1 Pe 2.9). Evangelizar por palavras e ações, como o Senhor Jesusfazia (At 1.1; Rm 8.29). Desse modo, Ele preparou o corpo deCristo para alcançar as ovelhas que ainda não pertencem ao rebanho do Bom Pastor (Jo 10.16). Cada cristão servindo alegremente no seu cantinho. brilhando por Cristo, que deseja que suaigreja seja luz para todas as pessoas ao redor, numa sociedadeque. infelizmente, se afasta cada vez mais da vontade do Rei dosreis (Mt 5.16).

Para sermos reis na sociedade

A obediência ao Supremo Rei deve ser o lema principal dossúditos, inclusive na sociedadeem geral. O abandono do Decálogoé um desastre para as nações. Até o ex-vice-presidente da KGB, apolícia secreta na Rússia, reconheceu isso quando disse: "Não háperestroika (reconstrução) desligada de arrependimento. Chegoua hora de nos arrependermos do passado. Quebramos os DezMandamentos e. por isso. pagamos hoje". Isso não se aplicasomente na ex-União Soviética, onde o ateísmo teórico estava

inscrito na ideologia oficial da sociedade, mas em muitos outrospaíses de herança cristã, onde um ateísmo prático permeia avida diária.

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Cada época precisa ser orientada sobre seus alvos básicos.Por isso, precisamos nos "conscientizar" da necessidade de umaética trabalhista, uma ética patronal, uma ética sindical, umaética rural etc. Sim. sem dúvida, uma ética matrimonial, mastambém uma ética patrimonial, que enfatiza a diligência e a fru-galidade no viver para poder ajudar os necessitados (Ef 4.28),tanto em micro como em macrodimensões. Neste mundo deeconomias familiares e nacionais desequilibradas, precisa-se. àsvezes, como acontecia no Ano do Jubileu (Lv 25.13. 25). de perdão de dívidas que roem como um câncer.

Além dos problemas econômicos, surgem grandes perguntasnos campos da técnica e da medicina.112 Em todas estas áreas, asnossas consciências precisam ser afinadas, para que funcionembem e rapidamente, acompanhando as correntezas da históriaque nos arrastam a uma velocidade nunca conhecida. Excetoquando Deus intervém, a história se move à velocidade do homem. Durante séculos sem fim a velocidade máxima do homemera a do cavalo, uns 40 quilômetros por hora. Era a velocidade deCésar Augustus e de Napoleão. Não era maior porque o homemnunca aprendeu a domar o leopardo, o que o faria alcançar quase 100 quilômetros por hora. Mas, há um século, a velocidadecomeçou a subir e. nas últimas décadas, a curva do gráfico disparou quase verticalmente, passando a casa dos 40 mil quilômetros por hora! Toda a sociedade sente a correnteza turbulenta eas mudanças sociais rápidas.

"Bem-aventurada a nação cujo Deus é o Senhor" (Si 33.12).Bem-aventurada ainda quando oficialmente Deus é respeitado.Bem-aventurada quando muitos reconhecem que todas asestruturas sociais devem ter a lei do Senhor como norma. Bem-

aventurada quando muitos súditos reconhecem como alvosupremo da sua vida a glória de Deus; desde o pequeno lavradoraté o cientista mais erudito. Pois. de fato, todo trabalho, inclusivedo pesquisador especializado, deveser feito para a glória de Deus.O Dr. Damadian. inventor da "IRM" (imagem de ressonânciamagnética, usada para detectar doenças), disse: "Para mim, agora,a verdadeira emoção da ciência é procurar entender um pequenocanto do projeto grandioso de Deus e colocar a glória dessas

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descobertas aos pés do Grande Projetista".113 Com isso, ele secolocou na herança espiritual de cientistas como Faraday e deastronautas como John Glenn.

Se todas as camadas e todas as estruturas sociais se orientassem por aquele pólo norte supremo e procurassem servir, conforme à imagem do Messias, como seria diferente! O judeu KarlMarx era, sem dúvida, um sonhador. Herdara uma parte da visão messiânica e. com o comunismo, queria concretizá-la. Mas oque brotou foi uma terrível ditadura. Friedrich Nietzsche, filhode um pastor luterano, sonhava que o poder do super-homem{Übermensch) mudaria a sociedade estragada, mas o nazismobrotou como a erva daninha mais venenosa do século 20. A teologia da libertação sonha com um mundo mais justo e contribuimuito na orientação ética de grandes problemas na sociedade,aguçando nossas consciências para as implicações sociais doevangelho. Mas. se começar a politizar o evangelho e incluir filosofias não bíblicas, ela perderá seu rumo e prejudicará seu próprio alvo. Porque, olhando para o passado, ela sabe que homemalgum jamais conseguiu implantar uma sociedade justa aqui naterra, por maisbem intencionado que fosse. Por outrolado. olhando para o futuro, ela quase alimenta uma utopia, esquecendo-semuitas vezes de apontar abertamente para a verdadeira e únicaesperança, a vinda do Messias para trazer justiça e paz.114

E como o nosso planeta precisa dele! Cada filme sobre oSuperman tem algo daquela esperança. Sonhar não faz mal. desdeque seja dentro dos parâmetros do grande sonho do Senhor(At 3-21). Como seria bonita nossa terra se não houvesse pecado!Trabalhemos aguardando e aguardemos trabalhando, irmãos, pois"bem-aventurado aquele servo a quem seu senhor, quando vier.achar fazendo assim" (Mt 24.46). Como Lutero disse: "Se soubesseque o Senhor voltaria amanhã, plantaria hoje minha macieira". E.de repente, com a segunda vinda do Salvador do mundo, virá agrande restauração tão esperada (At 3.21). Foi por isso que o Senhorchamou a sua igreja; para que, por koinonia e liturgia, por pregação, pastorado e diaconia, por palavras e atos, ela seja testemunhadessa esperança realmente consoladora para a sociedade do planeta azul envolto em trevas (Tg 5.7. 8; 2 Pe 3.13).

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Para sermos reis no Estado

Também em relação ao Estado, a obediência ao Rei Supremodeve ser prioridade, e carecemos de orientação sobre ética políticabaseada na lei do Senhor.115 Não é de estranhar que, depois daqueda, muitos governos têm brigado com Deus. poisfreqüentemente o Estado exige obediência absoluta. Os filhosda luz (Ef5.8). porém, sabem que "antes importa obedecer a Deusdo que aos homens" (At 5.29).116

Durante a época da Reforma, uma pergunta antiga brotounovamente: quem está por cima, a igreja ou o Estado? A práticana Alemanha era que o governo secular tinha a soberania; naSuíça, o médico Erastus defendeu esta tese. inclusive que o governo podia decidir sobre disciplina eclesiástica: na Inglaterra,este sistema também foi seguido; mas. na Holanda, eclodiu umadiscussão áspera sobre o assunto, na qual o conhecido professorde teologia. Armínio. defendeu a posição de Erastus. Os reformados, ao contrário, seguiram a posição de João Calvino. segundo a qual igreja e Estado são duas entidades independentes,porém, ambas debaixo da Palavra de Deus. Assim também, naépoca da Assembléia de Westminster. o teólogo presbiterianoescocês. Samuel Rutherford. defendeu o princípio bíblico de queo rei não está acima da lei. mas, ao contrário, o próprio governodeve submeter-se à lei de Deus. Ou. como Rutherford dizia: não

o rei é a lei {rex lex), mas. sim, a lei é o rei {lex rex).iU Isso influenciou profundamente a organização administrativa na América do Norte e em outros países democráticos. Aliás, a democracia é a melhor opção num mundo cheio de possíveis tiranos.

Quanto às leis positivas que governam o convívio diário doscidadãos, o ideal seria que o governo mantivesse explicitamente ospadrões éticos divinos na sociedade. Mas, a realidade não é esta-,freqüentemente, o melhor que se pode fazer é adaptar e. na medida do possível, legislar em prol do bem comum. Carecemos muitode uma maior conscientização de que candidatos para cargos públicos devem ter. como pólo norte de sua bússola cotidiana, o bemcomum. Quando isso é negligenciado, o resultado é trágico. Precisamos usar com sabedoria nossos direitos democráticos e ser mais

1DD

conscientes ao escolher nosso candidato em qualquer níveladministrativo.

Quando morávamos no Recife, numa época de eleições,muitos nos perguntavam quem era o nosso candidato. Mas, portermos passaportes holandeses e não brasileiros, não podíamosopinar sobre esse assunto. Por outro lado. o muro da nossa casaficava coberto de propagandas eleitorais de pessoas que nuncaescolheríamos como nossos candidatos. Oramos sobre o quefazer. Então, chamei um letreiro parapintar no muro um bonecogrande, vestindo a camisa do Brasil, com o lema Ordem eProgresso. No braço direito, que se estendia para cima, estavainscrita a palavra Justiça. O braço esquerdo, trazendo a palavraMisericórdia, estendia-se para baixo, uma alusão à ajuda aosnecessitados. Na perna direita, estava escrito Capacidade e. naesquerda. Responsabilidade, finalmente, na cabeça, as palavrasAmor de Deus. Ao lado do nosso candidato, colocamos o versículoOfruto daJustiça serápaz, com a referência embaixo. Isaías32.17.Depois, alguém sugeriu que colocássemos, entre parênteses, porbaixo da referência, a palavra Bíblia, para que ninguém pensasseque 3217 era o número eleitoral do nosso candidato Isaías...Quando terminou, o letreiro perguntou o que significava tudoaquilo. Expliquei que era o retrato do nosso candidato. Comtristeza, ele observou que não havia ninguém assim no GrandeRecife. Lembrei-lhe que nem no mundo inteiro havia, mas quedeveríamos comparar aquele retrato falado com os candidatosque se apresentavam. Quem estivesse mais parecido com odesenho seriao nosso candidato. Mas. e se nãoacharmos alguémassim? Quem sabe, um dia, comunidades poderão procurar umapessoa honesta com dons administrativos e simplesmenteproclamá-la e apoiá-la como candidato apartidário. De qualquerforma, por enquanto, nenhum reino humano será isentode sombras e fraquezas, mas esperamos novos céus e novaterra onde. graças a Deus. paz e justiça se encontrarão (Si 85.10;Zc 14.9; 2 Pe 3.13).

17.

O Alvo Supremo

Lembremos que o alvo supremo da eleição é a glória de Deus(Ef 1.6. 12, 14). Mas como alcançá-lo no dia-a-dia? Servindofielmente, cada um na sua própria vocação. Para isso. o tra

balho diário deve estar alinhado com a glória de Deus (1 Co 7.20:10.31). Quando um navio quer entrar no porto de Amsterdã,precisa observar dois faróis: um farol menor, localizado na ponta exterior do porto, e um maior, mais para dentro. Para entrarcom segurança, sem encalhar nos bancos de areia, é estritamente necessário que as luzes dos dois faróis estejam numa únicalinha. Da mesma forma, precisamos tentar ver nossas tarefas dodia-a-dia e a glória de Deus numa única linha, para que acertemos no trabalho e. finalmente, no porto celestial. Peregrinosdevem lembrar-se constantemente que foram selecionados porDeus para servir— servir conforme à imagem de seu Filho, quenão veio para ser servido, mas para servir (Mc 10.44. 45: Rm 8.29).Vimos que. na igreja, como organização, existem três ofícios especiais, e na igreja, como organismo da família de Deus, cadadiscípulo de Cristo recebe um ofício tríplice (profético, diaconale "pastoral"; 1 Pe 2.9)."8 Isso significa que. a cada momento,estamos a serviço do Mestre e dos homens. Deus não enfatiza aformalidade do ofício, como se isso fosse suficiente: Ele procuramuito mais pelo caráter dos seus servos, porque faremos nosso

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trabalho da maneira como somos. O fazer é conseqüência doser (Pv 4.23; Mc 9-35).

Quando o Supremo Profeta ouve um discípulo seu falar comoprofeta, Ele se importa com o tom da voz. Como lembra o ditadofrancês: "E o som que faz a música". O que faz diferença é comoo profeta fala; fala asperamente ou será que. através de suaspalavras, ressoa a compaixão do seu Mestre: "Jerusalém. Jerusalém..." (Mt 9.36: 23.37)?

E quando o Sumo Sacerdote vê um resgatado seu trabalhando como sacerdote, como um ministro da graça. Ele percebe claramente se o ministério desta pessoa está sendo obstruído porpecados não confessados ou por questões que não foram tratadas e que inflamam, às vezes, anos depois.

Da mesma forma, quando o Rei celestial está observando umsúdito seu andando como príncipe, Ele nota que. às vezes, aquele traço soberano passa a ter a tonalidade da soberba, aqueletom de voz. ao dar ordens, soa como de alguém autoritário, e Eleprocura em vão aquela atitude de pastor-rei exemplificada emDavi. tipo do grande Pastor-Rei.

Para todos estes e outros tipos de desvios, o Espírito Santousa o "formão e o martelo" da Palavra para modelar os seus servos. Ele quer que cresçam na imagem do seu Irmão mais velho,servindo fielmente, dia após dia. no tempo e lugar onde Deus oscolocou, tomando diariamente a sua cruz e seguindo-o (Lc 9.23)para que o alvo supremo seja alcançado, a glória de Deus.

Enquanto o peregrino não chegar nesse ponto, ele será incomodado pelo velho adversário, que sempre procura inverter oalvo supremo e tenta roubar a coroa do Rei dos reis. Nós somosvice-reis. o diabo é o contra-rei. Por isso. o Catecismo de

Heidelberg ensina que. como membro de Cristo, o cristão foiungido para ser rei "a fim de, nesta vida. com uma consciêncialivre e boa. combater o pecado e o diabo".119 Resisti-lo é travaruma batalha espiritual: porém, carece distinguir os espíritos(1 Co 12.10). porque nossa natureza humana tem a tendência depensar que tudo o que é espiritual é bom: ou. na forma escrita:"espiritual = santo". Aparentemente, quanto mais espiritual, tanto mais santo (como se "material" fosse o mesmo que "pecado").

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Mas não é verdade; é até uma heresia bem antiga (a gnóstica).Percebe-se facilmente que é heresia, fazendo uma pergunta simples: "Quantas gramas pesa o diabo?" Não pesa nada, porque éespírito. Então, não é bíblico pensar que matéria é pecado e espírito é santo. De fato, trata-se de umabatalha espiritual, que deveser travada com a espada do Espírito Santo, que é a Palavra deDeus (Ef 6.10-18).

Temos de ter cuidado com essa batalha espiritual. O pastorGustavo Kessler comunicou: "O maior jornal de Costa Rica escreveu que muitas igrejas protestantes em Costa Rica estão obcecadas com o diabo e seus demônios". Kessler acrescentou quehavia verdade suficiente nesta acusação para torná-la desagradável. Por isso. foi organizada uma conferência para avaliar ospensamentos estranhos que rondam as igrejas e pleitear umavolta à base do evangelho. Kessler finalizou, dizendo:

Estamossendo incomodadospelomovimento da "GuerraEspiritual", que desvia a nossa atenção da luta diária contra omundo e a carne. Se perdermos a batalha contra o mundo e acarne, podemos considerar perdida a guerra contra Satanás.120

Santificação ou conversão diária é de primeira importância;se não for assim, a derrota está garantida por falhas na armadura (Ef 6.11; 1.4; Hb 12.14; Si 51.10).

Precisamos lembrar que o diabo é "apenas" uma criatura, umanjo caído. Por ser criatura, ele é limitado em tempo e lugar —não é onisciente nem onipresente. Mas é mentiroso e um enganador aperfeiçoado (Jo 8.44). Porisso, tenhamos cuidado em evitara tentação. Aprendamos a dizer não à tentação, queridos irmãos,e nem conversemos com o diabo! Sejamos fortes; quando somosfracos numa hora dessa, tudo está em perigo (Pv 24.10: 1 Pe 5.8. 9).Deus nos dará força conforme a tentação (1 Co 10.13; Tg 4.7).Para não cair. lembremo-nos da bengala, o mandamento do Supremo Pastor (Si 119.11).'21

Quando querem enredar o peregrino com ocultismo e espiritismo, ele diz não, simplesmente porque está proibido (Is 8.19.20). E quando contra ele fazem magia negra, ele fica debaixo dosangue do Cordeiro, lembrando-se que "contra Jacó não vale encantamento" (Nm 23.23): contra crente, despacho não pega.

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A paz do Senhor, queridos irmãos! Graças a Deus, essa lutacontra o diabo terminará, porque "o Deus da paz, em breve, esmagará debaixo dos vossos pés a Satanás" (Rm 16.20; Ap 20.10).O Rei dos reis não assinará um acordo com o inimigo paraacomodá-lo, pois isto seria o começo de outras guerras. Para terpaz mesmo, somente destruindo o diabo. Eo Deus da paz o faráem breve, e nos dará a paz (Ap 21.4, 5). Finalmente, shalom denovo!

epílogo

Co-peregrino, chegamos ao fim da nossa carta, que tentouser um testemunho de como o Senhor respondeu amuitas das minhas perguntas. Você. de certo, tem

perguntas diferentes das minhas; cada um tem as suas. Se tiver,não hesite em conversar sobre elas com irmãos em Cristo queconhecem a Palavra de Deus; quem sabe. é possível ajudar unsaos outros. Em caso de não ficar claro imediatamente, não háproblema. Você sabe que Deus vai responder nossas perguntas,quando, então, poderemos dizer: "A escola terminou, as fériascomeçaram!"122 Entraremos nos tabernáculos eternos, onde todasas lágrimas serão enxugadas, inclusive as lágrimas de tristeza eangústia, resultantes das perguntas sem respostas no tabernáculoprovisório (2 Co 5.1. 2; Ap 5.4: 7.17).

Creio em milagres. O perdão e a graça em si não são o maiormilagre? Na região dos Andes, a esposa de um missionário muito crente adoeceu gravemente. Ele orou e acreditou firmementeque o Senhor iria curá-la. Mas ela faleceu. O marido não queriavacilar na fé e levou uma chave de fenda para o cemitério.

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Mas, quando finalmente o caixão desceu na cova, ele colocou achave de fenda na tampa e disse, com voz trêmula: "Até logo.meu bem. até a ressurreição". Assim também, com toda a igrejauniversal, digo nas palavras da Confissão Apostólica-. "Amém,Senhor, creio naquela cura definitiva, na ressurreição dos mortos e na vida eterna! Amém". "Por isso, esperamos este grandedia com grande anseio para usufruirmos plenamente das promessas de Deus, em Jesus Cristo, nosso Senhor".123

E a vocês, eu digo: Até logo. meus queridos irmãos, talvezaqui na terra. mas. se não. com certeza, diante do trono da graça.Que ninguém falte naquela grande reunião ao redor do trono!O nosso Cordeiro venceu-. vamos segui-lo!124 Com um grandeabraço de despedida, oro: "O Senhorvos aumente bênçãos maise mais. sobre vós e sobre vossos filhos, para serem conformes àimagem de seu Filho" (Si 115.14; Rm 8.29). A paz do Senhor,amados irmãos.

Maranata! Vem. Senhor Jesus! Amém. (1 Co 16.22; Ap 22.20.)Tu és fiel, Senhor, ó Pai celeste!Teus filhos sabem que não falharás.Nunca mudaste, Tu nunca faltaste,Tal como eras, Tu sempre serás.Tu és Fiel, Senhor, Tu és fiel, Senhor,Diaapós dia com bênçãos sem fim.Tua mercê nos sustenta e nos guarda.Tu és fiel, Senhor, fiel assim! Amém.(Novo Cântico 32; Lm 3.23)

Notas

1. Asnotasde rodapé fornecem informações complementares;não há necessidade de você lê-las. "O Peregrino" é uma alegoria escrita pelo conhecidopastor batista inglês João Bunyan (1678), que ficou preso por 12 anos, porser pregador puritanoitinerante não autorizado pelo governo secular. Ediçãorecente: João Bunyan, O Peregrino (São Paulo: Mundo Cristão, 1997; vejatambém APeregrino).

2. Cp. (compare): Cristo conhecido/eleito/destinado em Atos 2.23, 4.28 e 1Pedro 1.20 (depois: capítulo 8). J.R Louw &E.A. Nida, Gree/c-Eng/ísh Lexícon(Nova York: U.B.S., 1989), 30.100 e 28.6. L. Floor, Efeziêrs (Kampen: Kok,1995), p. 45: O Paielege (Ef 1.4-6), o Filho redime (7-12), o Espírito sela(13-14). S. Greydanus, Romeinen (Amsterdã: Bottenburg, 1933), p. 386ss.Cp. J.M. Boice, TheSovereign God (Downers Grove, III.: InterVarsity Press,1980), cap. 13 sobre a onisciência de Deus.

3. Cp. Henry Nouwen, Eindelijkthuis. [sobre a pintura 'Filho Perdido', de Rembrandt](Tielt: Lannoo, 1996). Ruth Bell Graham, Prodigols andthosewho /ove ffiem(Colorado Springs: Focus on the Family, 1991). SI 119.50.

4. Aordem teológica (e lógica) é 1-2-3-4; a ordem soteriológica (e psicológica)é 2-3-4-1. Cf. também A.Modderman &RPoorfinga, Antwoord uit hetverleden(Barneveld: Vuurbaak, 1996), 76: "Um problema é que nós o experimentamos invertido do que na Bíblia" (melhor: a Bíblia revela as duas ordens). J.Piper (batista reformado; www.desiringGod.org): orderof experience. Eumadiferençade ênfase, não de substância. João Calvino não tratou da eleiçãono início das Institutos, mas, sim, no fim do livro III (cap. 21, depois da fé,

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justificação, oração,e antes da ressurreição). Adescrição do tabernáculocomeça coma arca (Ex 25.10; 40.3);a prescrição coma porta (1 Sm3.15; Mt7.13, 14). Romanos 8.30 fornece uma parteda ordem da salvação (ordosa/uf/s). Efésios 5.8, perdição, salvação, gratidão (Catecismo de Heideiberg1:2). L. Berkhof, Teologia Sistemática (Grand Rapids: TELL, 1972), 494s.

5. A Confissão 8e/ga (ou Confissão Neerlandesa; 37 artigos) foi escrita naBélgica, em 1561. O artigo 17 diz que, depois da queda, Deus "foipessoalmente em busca do homem" e o "consolou" com a promessa-mãe(Gn3.15). Os protestantes fugiram ou foram mortos e, hoje,a Bélgica temamenor porcentagem de evangélicosna Europa:0,23%.

6. O Catecismo de Heideiberg foi escrito em Heideiberg, Alemanha, em 1563.As Igrejas Reformadas da Holanda adotaram oficialmente a Confissão Belgae o Catecismo de Heideiberg no Sínodode Emden, em.1571. Não se usa onome"igrejas calvinistas", mas"igrejas (cristãs) reformadas" (da re-forma) ou"presbiterianas".

7.0 Conselho da Igreja Reformada deAmsterdã perguntou-lhe se, poracaso, 9dos 12 artigos da própria Confissão Apostólica deveriam ser eliminadospara abrigaros heréticos. AConfissão Apostólica {Os 12artigos dafécristãou O Credo) é o documento básico das igrejas cristãs emgeral;foi formuladoem aproximadamente 150 d.C. Não é correto pensar que Armínio podiaaceitar o artigo 16 da Confissão Belga, que trata da eleição resumidamente,sob o aspecto da misericórdia e da justiça de Deus (A.D.R. Polman, OnzeNederlandsche Geloofsbelijdenis, [Franeker: Wever, s.a.], II201 s).

8. Desta nota, em diante, CD = Cânones de Dort;CW = Confissãode Westminster.Dordrecht, Dord» ou Dort (ortografia seguida neste livro). Tradução: OsCânones de Dort. Os cinco artigos de fé sobre o arminianismo (São Paulo:Cultura Cristã, [1997]; com excelente introdução histórica). Os Cânones(Dordtse Leerregels) são conhecidos também como "Os 5 artigos contra osremonstrantes". J.G. Feenstra, De Dordtse Leerregels (Kampen: Kok, 1950).O mesmo sínodo decidiu traduzir a Bíblia em holandês, a "Tradução dosEstados" ("Staten-Vertaling"; "Staten" refere-se aos "Estados Gerais", o então governo central dos Países Baixos).

9. Cp. Confissão Belga,artigo 25. CW 19:3. Atos15.19 quer dizerque, sociologicamente, cristãosgregos, romanos, persas etc. não precisavam passarpara a cultura judaica,mas permanecer na sua própria cultura, santificando-a.

10. Entre outros, no Sínodo de Orange, em 529, condenando, inclusive, o semi-pelagianismo, um "sinergismo" que ensina a cooperação do homem com agraça, como se fosse uma "obra" humana. L. Berkhof, Teologia Sistemática(Grand Rapids:TELL, 1972), p. 279ss.

11. Cp. W. Perkins, Een Ghereformeert Catholijck (Amsterdã: VanZomeren, 1659;traduçãodeAReformed Catholike, 1597);Th. Carrascon,Carrascon (Nodriza:Sanchez, 1633). No século 17, a IgrejaReformada no Nordeste usava esteslivros para evangelizar os católicos romanos, enfatizando que evangélicoseram "católicosreformados" (F.L. Schalkwijk, /gre/ae Estado no Brasil Holandês, 1630-1654 [São Paulo:Vida Nova, 1989] p. 230ss).

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12.Às vezes, a ordem naapresentação doscinco assuntos polêmicos difere umpouco. Os Cânones seguem a ordem teológicada "Remonstrância" arminiana(1610, baseado em Armínio). No mundo de fala inglesa, uma ordem práticaé lembrada pela palavra "tulip" (tulipa):T (total depravity), U (uncondicionalelection), L(limited atonement), I (irresistible grace), P (perseverance of thesaints). Neste estudo, seguiremos a ordem soteriológica (nota 4): perdição(CD lll/IV), vocação (CD lll/IV), salvação (CDII), preservação (CDV), eleição(CDI).

13. Nas Escrituras, as duas palavras são usadas quase no mesmo sentido, mas hádiferença: eleição aponta para seleção; predestinação, para destino, horizonte; Deus nos escolheu para um destino específico (Is 43.19-21; Ef 1.4-6).Na teologia, geralmente, a palavra predestinação é mais ampla do que eleição: a predestinação contém a eleição e a reprovação (e as três fazem partedo conselho de Deus, Ef1.11). Catecismo (Maior) de Westminster 12-14.

14. CD lll/IV (os capítulos III e IV sempre foram tratados juntos); cp. CW 6.15. CD lll/IV:2, "Depois da queda, o homem corrompido gerou filhos corrompi

dos ... Não passou por imitação ... [pelagianos e arminianos] ... , mas porprocriação da natureza corrompida". Herdamos tudo, inclusive dívidas e sujeira (pecado original: culpa e mancha; Rm 5.12; SI 51.5). Confissão Belga15, "um mal hereditário tão repugnante que é suficiente para condenar ogênero humano". Chupamos a seivado "troncode toda a humanidade" (CW6:3). O Catecismo de Westminsterdiz: "... pecado original, do qual procedem todas as transgressões atuais", e "transmitido ... por geração natural"(perguntas e respostas 25 e 26). RTournier, Os fortes e os fracos (São Paulo:ABU, 1999, p. 188).

16. Catecismo de Heideiberg 3, "Como você conhece sua miséria? Pela lei deDeus" (Rm 3.20, 23). CD lll/IV:5; CW 6:6. Pecado é transgressão da lei deDeus (1 Jo 3.4, anomia; Catecismode Westminster 24). Os demônios pecampor pura vontade individual. A"vantagem"do homem, em comparação a eles,é que são seduzidos a pecar (por comissão ou omissão), sempre pensandoque podem melhorar de alguma forma (Gn3.5; Lc 23.34; At3.17; Ef 4.18).

17. Como no Grande Avivamento na América do Norte (cp. nota 40), ou comoentre oszulus. Erlo Stegen, Reov/Vomento na África doSul (Ananindeua, PA:Ed.Clássicos Evangélicos, 1989), p. 49.

18. CD lll/IV; 1:1 -5; cp. CW 9 e 10.19. CD 11:5, "Esta promessa deve ser anunciada sem discriminação a todos os

povos e a todos os homens"; lll/IV:8, "Tantos quantos são chamados peloEvangelho, o são seriamente ... sinceramente". Ampliando, Karl Barthreinterpretou isso: proclamar que todos foram eleitos (porque Cristo sofreurejeição). Estreitando, H. Hoeksema reinterpretou isso: a ordem de conversão é geral; mas a promessa é somente para os eleitos; cp. G.C. Berkouwer,De Verkiezing Gods (Kampen: Kok, 1955), p. 263ss (trad.: Divine Election;Grand Rapids: Eerdmans, 1960).

20. CD lll/IV: 17, "Deus ... requero uso de meios ... o uso do Evangelho que ésemente de regeneração e o alimento da alma ... pois a graça é conferida

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através de admoestações..." Catecismo de Westminster, 191, "O Evangelhoseja propagado por todo o mundo, os Judeus chamados, a plenitude dosgentiosseja trazida à Igreja". Tt 3.4, nogrego "filantropia", amor para com oshomens. CD 1:2,3. CW 35:4.

21. CD lll/IV:9. Cp. nota 19. Berkouwer, Verkiezing, sobre eleição e pregação, p.258-308.

22. C.H. Spurgeon, Eleição (S. José dos Campos: Fiel, 1996), p. 16. Pv19.3. Cp.nota 45.

23. Cp. nota 64. Distinguimos a chamada externa do Evangelho e a chamadainterna do Espírito Santo. CD lll/IV: 11, "O Espírito regenerador... introduznovas qualidades na vontade. Esta vontade estava morta, mas Ele a faz reviver;era má, mas Elea torna boa; estava indisposta, mas Ele a torna disposta; erarebelde, mas Ele a torna obediente". Id.:12 e 16: Éo novo nascimento (Jo3.3), "esta é a verdadeira renovação espiritual". ld.:refutação 8,9: Arminianosdizem que ser ou não ser regenerado permanece no arbítrio do homem. Ef1.19; 2 Ts 1.11; 2 Pe 1.3; Rm 9.16; 1 Co 4.7; Fp 2.13. CW 8:8.

24. CS. Lewis, A Cadeirade Prata (São Paulo: ABU, 1986), p. 19. [Edição maisrecente: São Paulo: Martins Fontes, 1997.] Fp 2.13; CD lll/IV: 14. CW 10:1,chamar eficazmente pela sua Palavra e pelo seu Espírito ... eles vêm muilivremente,sendo para istodispostos pela sua graça. CD hrefutação 3 (2 Tm1.9).

25. CD II; cf.CW 8. John Stott, Acruz de Cristo (SãoPaulo: Vida, 1991). J.l. Packer,Justification (New Bible Dictionary, IVP, 1982).

26. CD 11:3 e 6. Hb 2.3. Sufficienter proomnibus, efficaciter proelectis.27. CD 11:3; Ihrefutação 5,6 e 7. Os antigos arminianos não eram universalistas

(que ninguém se perderá), mas chegaram mais perto; posteriormente muitospassaram a defender essa heresia.

28. J.M. Boice, Awakening to God (Downers Grove, III.: InterVarsity, 1979), p.208.CDII:refutação7.

29. CD 11:5; 1 Tm 2.1,4-6, o alvo de Deus é "todos os homens", toda a humanidade. H. Ridderbos, Depastorale brieven (Kampen: Kok, 1967), p. 73 sobre1 Tm 2: a igreja deve orar por "todos os homens" conforme o caráter doevangelho; "é por esta vontade salvífica universal de Deus que a oração daigreja deve ser orientada" (Ez 18.23); isto não quer dizer que todos serãosalvos. Confissão Helvética (1562) 10.

30. Em João 17, Jesus ora primeiramente por si mesmo (v. 1-8), depois, pelosdiscípulos (v. 9-19) e, finalmente, pelosoutros (v. 20-26). Jo 17.9 significa"(nestemomento)não oro pelo mundo",o que Ele fará depois, no verso 21.Jesusorou e ora pelomundo, Lc 23.34; 1 Jo 2.1,2 (advogado mundi). Pauloexorta a orar "em favor de todos os hpmens", 1 Tm 2.1 (Rm 10.21,1).

31. J.M Boice, God the Redeemer (Downers Grove, III.: InterVarsity, 1978), p.187.

32. Berkouwer, Verkiezing, p. 188. Cp. Is35.8; Jo 14.6.33. Berkhof, Teologia Sistemática, p. 522; "a graça comum" [não"particular"] p.

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514-532; Jo 1.9; 12.46; 5.40 (já se lembrou que carece de outro termo,porque este parece sugerir,mas não é base para a heresia do universalismosalvador; cp. nota 27). A"graça comum" não tira a culpa do pecado, masameniza osefeitos do pecado. Cristo é o mediador da criação e da reconciliação, do universo e da igreja. Rm 8.19; Cl 1.16, 20; 1Tm 2.5; 4.10; Ap5.5.Em Cl 1.20, reconciliar tem sentido amplo, pacificar (2.15); H. Ridderbos,Ko/ossenzen (Kampen: Kok, 1960; p. 147). Apalavra graça àsvezes significafavor, Gn 6.8; Nm 32.5. Paciência, longanimidade (fôlego comprido), Êx34.6; Rm 2.4.

34.CD V(I, refufação 5); CW 17-18. Catecismo deHeideiberg 58;Catecismo deWestminster 79-81.

35. CD V: 10.CW 18:3,"sem revelação extraordinária (mas) nodevido uso dosmeios ordinários... o coração no Espírito Santo confirmado em paz". 1 Jo3.20,24.

36. CD 1:12, "os infalíveis frutos de eleição indicados na Palavra de Deus, taiscomoumafé verdadeira em Cristo, um temor filial para com Deus, tristezaporseus pecados contra a vontade de Deus e fome e sedede justiça". CD1:13, nadade"vangloriar-se levianamente dagraça da eleição (e) recusar-seandar nos caminhos dos eleitos". A. McGrath, Doubt. Handling it honestly(Leicester: InterVarsity, 1990),p. 15, dúvida não é incredulidade nemceticismo, mas fragilidade a sercombatida (cp. nocorpo humano). CW 18:4.

37. CD V:l 4; CW 18:3. Deus inicia, mantém, continua e aperfeiçoa a obra dagraça pelos meios ordinários da graça (Catecismo de Westminster 154).Sobreo uso da Palavra de Deus, cp. Catecismo de Westminster 155-160.Catecismo de Heideiberg 66,sacramentos sãosinais e selos. Sobre a ajudado Espírito Santo em oração, Catecismo de Westminster 182. Hb 10.25,recarregarabateria conforme as instruções do Fabricante ("Maker"; aviso naportade uma igreja em Londres).

38. CDhrefutação 7 (Ef 1.12; Lc 10.20; Rm 8.33);V:7,13. CW18:4, os crentespodem tersuacerteza abalada, mas "nunca ficam inteiramente privados daquela semente de Deus e da vida da fé, daquele amora Cristo e aos irmãos,daquela sinceridade decoração econsciência dodever;... restaurada... paranão caírem no desespero absoluto". Lc 22.31, 32; Jo 17.15. Prova maiorque alguém nãocometeu o pecado contra o Espírito Santo (cp. Hb 10.29) ésua tristeza para com Deus; 2 Co 7.10.

39. Boice, Awakening to God, p. 215s, sobre Romanos 8.33-39: nem pecado(33-34), nem sofrimento (35-37), nem demônios (38-39).

40.O pastor congregacional Jonathan Edwards eraum dos líderes principais doGrandeAvivamento na América do Norte colonial, aproximadamente em1740. L. Ryken, Santos no mundo. Os puritanos, como realmente eram (S.José dos Campos: Ed. Fiel, 1992). C.H. Spurgeon, Morning by Morning(Springdale, PA: Whitaker, 1984; p. 16), Is 63.1, poderoso para salvar.Spurgeon era um batista reformado como Bunyan.

41.CD I; cf. CW 3.Cp. notas 4 e 12sobre a ordem soteriológica (2-3-4-1); nota13 s. os quase sinônimos.

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42. CW 1:9, Aregra infalível de interpretaçãoda Escritura é a mesma Escritura;portanto, quando houver questão sobre o verdadeiro e pleno sentido dequalquertexto da Escritura,... essetexto podeserestudadoe compreendidoporoutrostextos que falem maisclaramente (At 15.15; Jo 5.46; 2 Pe1.20-21).L. Berkhof, Princípios deinterpretação bíblica (Rio deJaneiro: Casa PublicadoraBatista, 1965). Conhecer: Êx 33.17, Gn 18.19, 4.1, Jr 1.5 (hebr. yada';sentido amplo); 1 Co 8.3, Gl 4.9,2 Tm2.19.

43. Sobre "destinados", em Atos 13.48, o grande professer batista Robertsoncomenta: Umtermo militar, "colocarem ordem"; a forma verbal "não pode,espertamente, ser interpretado como'os que creram foram designados.' ...Eles foram reveladoscomo objetos da graça de Deus pela posição que tomaram para com o Senhor" (Word Pictures [Nashville: Broadman],s.v.). Louw-Nida, Lex/con, 37.96: apontar, 40.1 -13. 2 Tm 1.9.

44. Umapalavra difícil como"odiar, aborrecer" (em Rm 9.13) deveserestudadacomo qualquer outro versículo difícil, comparando Escritura com Escritura(cp. nota 42). Há pelo menos5 graus na palavra"odiar" (grego:miso,comomisantropo): 1)odiar absolutamente (como somente Deuspode odiar o pecado, Hb1.9, Ap2.6); 2)detestar(o"Mammon", ídolo da riqueza; aversão, Lc16.13, 1.71); 3) rejeitar (não escolhercomo primogênito, Rm 9.13; v. 12:servo); 4) amar menos (seusentes queridos do que a Cristo, Lc 14.26, Mt10.37); 5) não dar importância (desprezarsua própriavida quando tem deescolher entre martírio ou apostasia; odiar por causa da lealdade incondicional, fidelidade para com o Senhor,Jo 12.25, Ap2.10).

45. CS. Lewis, O GrandeAbismo (São Paulo: Mundo Cristão, 1983), p. 53(destaque meu). Cp. nota 22.

46. Os Cânones de Dort, p. 54s (destaque meu). CD1:5. Escolher é dizer"sim" (e,indiretamente, "não"). Areprovação (semprecomo entre parênteses, ou seja,não coordenada, massubordinadaà eleição) é como o aspecto negativo dasalvação, não-salvo (Jo3.18, 36; cp. CD 1:1 e ConfissãoBelga,artigo 16:deixar). K. Dijk, Om 'teeuwig welbehagen (1924; Delft: Meinema, 1935), p.388, não devem (mogen niet) sercoordenadas;... são completamente subordinadas. H. Bavinck, Gereformeerde Dogmatiek (Kampen: Kok, 1928), 11:355,seria melhor não representar certos decretos divinos como linha reta, mascomo organismo. Berkouwer, Verkiezing, p. 234, estes decretos não sãoparalelos, mas assimétricos; veja a "negação crente do paralelismo" (nosCânones: "da mesma maneira", eodem modo; p. 54). RH. Klooster,Adoufri-nadapredestinação em Calvino (São Paulo: Socep, 1998), capítulo 3: embora haja paralelismo, reprovação é efetuada "peloavesso/de ré" (the "reverseway"). Klooster, tratandode Calvino, não se refere à frase sobrea "causa" naconclusão dos Cânones.

47. Catecismo de Westminster 3; CW 1:2,A Palavra de Deus é "a única regra defée prática", i.e., normanormativa, primária (norma normans; solaScriptura);as confissões são norma derivada (norma normofa). C Vonk, Devoorzeideleer III, p. 125s. J.M. Kyle, Aautoridade da Confissão de Fée dos Catecis-mos, na introdução da Confissão de Fé e Catecismo Maior da IgrejaPresbiteriana (São Paulo: C.E.R, 1957; 1991). Os Cânones de Dort, p. 55:

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não "exceda os limitesprescritos pelo genuíno sentido das EscriturasSagradas". Ex.: a pergunta específica em Romanos 9.11 -13 é: por qual dos gêmeosa linha messiânica passaria?Arespostaé: Deuselegeu Jacó como primogênito(mas a bênção messiânica seria para todos, v. 5; Gn 12.3). H. Ridderbos,Romeinen (Kampen: Kok, 1959), p. 228: Romanos9 trata, em primeiro lugar,da posição de Israel na história da salvação, "o que não pode ser igualadosimplesmente com a pergunta sobre a salvação ou a perdição no sentidoindividual, existencial da palavra." J. Piper, The justification of God (GrandRapids: Baker, 1983), 38ss. www.yeshua.co.il.

48. Cp. CD 1:2,12, refutação 9. CW 18:1. No Brasil, a Liga do Testamento deBolsotinha publicado uma edição do Evangelhosegundo João, no qual havia, numa página, João 3.16, desta forma: "PorqueDeusamou ao mundo detal maneira que deu seu Filho unigênito para que (preencha como seu nome) que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna".

49. Jo 15.16; 1 Co 8.3; Gl 4.9; 2 Ts 2.13; 2 Tm 2.19. Cp. nota 24. Spurgeon,Morning byMorning, p. 201, sobre 1 Ts 1.4: "Olha para Jesus e crê nele, evocê provará diretamente a sua eleição".

50. A Assembléia reuniu-se na Abadia de Westminster em Londres, de 1643-1647. A Confissão de Westminsterera a confissão puritana, inclusive dasigrejas congregacionais. Cp. G. Kerr, A Assembléia de Westminster (SãoPaulo: Beda, 1984). De fato, a posição teológica "reformada" é bem maisaceita do que o nome "Igreja Reformada" poderia sugerir.

51. A. Dailimore, George Whitefield I, 407 (Edimburgo: Banner of Truth): "Asoutras doutrinas fazem do homem, pelo menos em parte, seu próprio salvador".

52. Charles H. Spurgeon, Eleição (1855; São José dos Campos: Editora Fiel,1996). Spurgeon on the five points (MacDill, Fl.:TyndaleBibleSociety, s.a.).I.H. Murray, The forgotten Spurgeon (Londres: BannerofTruth, 1966), p. 77-104. CA. van der Sluijs, Charles Haddon Spurgeon [um batista entre hiper-calvinismoe modernismo] (Kampen: Kok, 1987), p. 94-96.

53. Billy Graham leu a Confissão de Westminster e disse: "Quando ospresbiterianoscomeçarem a crer no que está neste livro, haverá um grandeavivamento".

54. Coram Deo (na presença de Deus),expressão típica de Martinho Lutero; J.T.Bakker,CoramDeo (Kampen: Kok, 1956), p. 53. WJ. Ouweneel, ChristianDoctrine. The externai Prolegomena (Heverlee: Evang. Theol. Faculteit, 1998),p. 217: locaprobantia semprefuncionam dentrodos limites de um paradigma.

55. CS. Lewis, A Grief Observed (Londres: Faber, 1983), p. 55; citado inBeweging 12/1998, p. 30. Cp. J.H. Kromminga: "... como aqueles aspectosque Calvino, baseando-se nas Escrituras, deixou deliberadamente sem solução" (Klooster, Predestinação, no prefácio da edição inglesa).

56. Inclusive as ciências exatas precisam, às vezes, do "NL" para não forçaremrespostas, o que as tornaria uma ideologia. (Um professor de biologia naUniversidade Livre de Amsterdã havia dito que não poderiam continuar dizendo Non Liquet; por isso, deveriam aceitar o evolucionismo. Um professor de

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cálculo de probabilidade procurou osteólogos, perguntando porqueestavamse tomandoliberais. Quando entendeu queera devido ao evolucionismo,eleapontou que, naáreaexata, reconhecia-se quetratava-se de uma hipótesesomente.) Não é qualquer hipóteseuma amostra do NL? Sinalde reconhecimento honesto: por enquanto, estamos no limite do nosso conhecimento.Cp. RScheele, Degeneratie (Amsterdã: Buyten &Schipperheyn, 1998). Oenigma das origens (Belo Horizonte: ABPC -Associação Brasileira de Pesquisa da Criação, 1997). "Ignorância sábia" emOpbouw (NGK, 19/3/1999).

57. CW 3:8. CD 1:6, inexprimível consolação.58. J. Piper: "Nossa própria luta nosfaz pacientes para com os outros que estão

no caminho", citando esses nomes conhecidos comoexemplos destecrescimentono reconhecer que, de fato, é só pelagraça. Whafwebelieve aboutthefivepoints ofCalvinism (Minneapolis, MN: Desiring God Ministries, 1998).

59. Confissão Belga 27, "... a assembléia dos verdadeiros crentes em Cristo ...Esta santa igreja ... é dispersa pelomundo inteiro. Contudo, está integrada eunida, de coraçãoe vontade, nomesmo Espírito, pelopoderda fé." CW25 e26, inclusive sobre o grau da pureza (CW 25:5).

60. Na "Conclusão" peloSínodo de Dort (Os Cânones de Dort, p. 55); CW3:8(destaque meu). TambémCD 1:14,"Estadoutrina deve ser ensinada no seudevido tempoe lugarna Igreja de Deus... com espírito de discrição, de modoreverentee santo, sem curiosa investigação dos caminhosdo Altíssimo, paraa glória dosanto nome de Deus e consolação vivificante do seupovo". Em1903; CW 34 (o Espírito Santo) e 35 (missões); declaração sobre CW 3(destaque meu).

61. CW 3:8, incluindo as referências: Rm 9.20; 11.23; Dt29.29; 2 Pe 1.10; Ef1.6; Lc 10.20; Rm 8.33; 11.5-6, 10. Cp. CD 1:14, "(para) a consolaçãovivificante do seu povo". Hb 6.18,19.

62.0 Presidente dosSouthern Baptists (maior denominação nosEstados Unido$)reconheceu quea doutrina da predestinação é bíblica, masprecaveu oscrentes para terem cuidado com a visão "hiper-calvinista", segundo a qual oconvitede Cristoseria somente para os eleitos. Isso levaria a um relaxamento na evangelização (LuxMundi, 3/1999, p. 17).Cp. nota 20.

63. M.van Campen, Herontdekking (Koers, 23/5/86). Klooster, Predestinação,cap. 2.2. CD 1:16,nem a cana quebrada, Is 42.3.

64. J. Calvino, Institutos III, 1:1, abraçar (destaque meu). Assim também na Confissão Belga 22, "Esta fé abraça JesusCristo com todos os seus méritos ...Não como se a própria fé nos justificasse, mas ela é somente o instrumentocom que abraçamos Cristo, nossa justiça" (1 Co 1.30). CW34:3, "O Espírito Santo, o qual o Pai prontamente dá a todos os que lho pedirem,é o únicoagenteeficaz naaplicação da redenção. Ele convence os homens do pecado,leva-os ao arrependimento, regenera-os pela sua graça e persuade-os ehabilita-os a abraçar a Jesus Cristo pela fé". Espelho: olheparao Eleito paraentender o segredo da suaeleição (Berkouwer, Verkiezing, p. 114).Cp. nota52, Spurgeon.

65. Cp. H.&G. Taylor, O segredo espiritual de Hudson Taylor (SãoPaulo: Mundo

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Cristão, 1976).66. Os Cânonesde Dort, p. 56: oração finaldo Sínodo de Dort. CD 1:14.67. Elben M. Lenz César, Súplicas de um necessitado (Viçosa: Ultimato, 1996), p.

32s. Vinheta de João Calvino: Cor meum Tibi offero, Domine, Prompte etsincere (Meu coração a Ti ofereço, Senhor,pronto e sincero).

68. Catecismode Westminster 1: Qual é o fim principal do homem? GlorificaraDeus e gozá-lo para sempre. ComoAgostinho, J. Piper: "God ismost glorifiedin uswhenweare most satisfied in Him"; www.desiringGod.org .

69. Catecismo de Heideiberg 31-32, 114; CW 8:1; 13:2; Catecismo deWestminster 42-45. Aimagem de Deusé restaurada no novo homem: conhecimento do profeta, santidade do sacerdote, justiça do rei; Cl 3.10; Ef 4.24(Feenstra, De Dordtse Leerregels, p. 117). J. Calvino,Institutos III, 15,1.

70. "Wishfulfillment dream". CS. Lewis, The Pilgrim's Regress (Grand Rapids:Eerdmans, 1995), 4:iv. Será que o cristianismo é um mito? Não, mas sealguémpensaque é mito, saiba queestemito veio a serhistória (nãoestória)!Cp. Francis Schaeffer, Amorteda razão (São Paulo: ABU/Fiel, 1974).

71. Bijbel &Wetenschap (Evang. Hogeschool, Postbus 957, Amersfoort) 10/1996, p 187. Rev. Mung'oma, do Quênia, disse, na conferência de BillyGraham, em Amsterdã,1986: "O ateísta fez uma 'DUI', uma DeclaraçãoUnilateral de Independência" (de Deus; em inglês, as iniciais DUI lembram"Driving Under Influence", drogado). Alguém pode ser ateísta teórico e, ouprático,o que, na vidadiária, não fazmuitadiferença.J. McDowelI, Evidênciaque exige umveredito (São Paulo:Candeia). God isno-where? God isnow-here! R.C Sproul, Razão para crer (SãoPaulo: MundoCristão, 1991). F.A.Schaeffer, O Deus que intervém (Brasília: Refúgio, 1985). (www.sydney-christian.net).

72. Visão, ex.: RJ. Johnstone, Batalha Mundial (São Paulo: Vida Nova, 1991;www.gmi.org). Preparação, ex.: Centro Evangélico de Missões (Caixa Postal53, 36570-000 Viçosa, MG, www.cem.org.br). David Barrett (especialistaem estatística das igrejas) avalia que anualmente mais de 150 mil cristãosperecem por causa da sua (nossa) fé,especialmenteem países: 1)islâmicos ecomunistas; 2) budistas e hinduístas; 3) católicos romanos e ortodoxos. Portas Abertas: www.opendoors.org. ICC: www.persecution.org.

73. F.D. Bruner, Teologia do Espirito Santo (São Paulo: Vida Nova, 1996). A.N.Lopes. Cheios do Espírito Santo (São Paulo: Cultura Cristã, 1998). Avinhetada Igreja Evangélica Reformada contém Atos 1.8! Deususa a perseguição,mas também outros meios, como migração e imigração, para espalhar asemente (At 8.4).

74 R.E. Coleman, O planomestre de evangeiismo (São Paulo: Mundo Cristão,1987). Cp. A.McGrath,Sruggenbouwen [construir pontes]. (Kampen: Kok,1995). D.J. Hesselgrave, Plantar igrejas (São Paulo: VidaNova, 1984).

75. Stanley J.Grenz, Pós-Modemismo (São Paulo: Vida Nova,1997). H.R Medema,Water, wijn en waarheid (Vaassen: Medema, 1997). G.K. Chesterton: Oproblema do homem moderno não é que não acredita em nada, mas queacredita em tudo. R. Doornenbal: Pós-modernismo é romanticismo de vesti-

1 16

do novo. O. Guinness, F/f bodies, fat minds. Why evangelicals don'tthink andwhattodo aboutit (Londres: Hodder&Stoughton, 1995). O hino Barnabé éde Guilherme KerrNeto; músicade Jorge Rehder.

76. Catecismo de Heideiberg 32; Rm 12.1,1 Pe2.9.77. Philip Yancey, Maravilhosa graça (São Paulo:Vida, 1999), p. 118,125.78. Wilberforce foi o grande estadistaevangélico por trásda abolição da escravi

dão (1833); William Booth,o pai do Exército da Salvação (1878; podia serchamado Exército da Graça); Martin Luther King (1968), o líderdo movimento de direitos iguais para os afro-americanos; Nelson Mandela, o defensorde umaÁfrica do Sul semdiscriminação.

79. Cp. JohnStott comenta o Pacto de Lausanne (1974; São Paulo/Belo Horizonte: ABU/Visão Mundial, 1983; Série Lausanne #4), p. 27-31. Louw-Nida,Lex/'con,40.1-13.

80. Yancey, Maravilhosa graça, p. 68, 86, 92s, 104. Não é de estranharque olivro de G.C Berkouwersobre Barthtenha como título"De triomfder genade"[triunfo da graça] (Kampen: Kok, 1954). "Jesus loves me, this Iknow, for theBible tells me so".

81. R. Hession, A sendo do Calvário (Belo Horizonte: Betânia, 1978).82. R.C Sproul, Now, thafs a good quesfion (Wheaton, III.: Tyndale, 1996).

Gandhi disse uma vez: "A pergunta se eu tenho o que comer é um assuntomaterial, masse meuvizinho temo que comeré umassuntoespiritual". 2 Co8.9.

83. Amortede Core, Datae Abirã (Nm 16; ou de Ananias e Safira, At5) seria umadescidadiretapara o inferno? Quem falou? ABíblia não, massubentende-se:seu ministério terrestreacabou de vez. Não podiam continuar servindo!

84. Cp. At13.36, servindo "à sua própriageração"; vertambém 1 Co 15.58.85. CS. Lewis, O Príncipe e a Ilha Mágica (São Paulo: ABU, 1984),p.164. Reeditado

como Príncipe Caspian (São Paulo:Martins Fontes, 1997).86. CW 4; 5:1; Catecismo de Heideiberg 6-8. CS. Lewis, Cristianismo autêntico

(São Paulo: ABU, 1979). Berkhof, Teologia Sistemática, p. 514-532. JohnR.W. Stott,Cristianismo básico (SãoPaulo: Vida Nova, 1982).

87. Catecismo de Heideiberg 31 e 49; Catecismo de Westminster53 e 54. D.M.Lloyd-Jones, From fear to faith (Leicester: InterVarsity, 1973), p. 9ss, "Salvação pessoal não é o único temada Bíblia. O contexto é o trabalho de Deuscom a criação como um todo em relaçãocom o alvo redentorna história.Nós somos vistos como parte disto."

88. Abraham Kuyper, Lectures on Ca/v/n/sm (1898; Grand Rapids: Eerdmans,2000). Até na forma de escrever deveríamos continuar refletindo respeito:referindo-se a Deus, usemos letra maiúscula: Ele,Tuetc.

89. Como parecia na época da Reforma; CW 25:6.90. Ecologia sadia nãoé idêntica à "Nova Era", assim como homeopatia e fitoterapia

não são idênticas ao espiritismo. Base bíblica: Gn 2.15 (cultivar e guardar;cultura e natura)e Romanos 8.19-22; quem ouveo gemido da criação tentaamenizá-lo, orando "Maranata". Feliz o cachorrinho do crente, Pv12.10.

1 17

91. Cp. a filosofia cosmonômica ("Wijsbegeerte der Wetsidee"); Beweging daStichting Reformatorische Wijsbegeerte (Postbus 2156,3800CD Amersfoort;http://home.wxs.nl/~srw). O fundador dessa filosofia era H. Dooyeweerd(1922); resumo L. Kalsbeek, Confoursof a Christian Philosophy (Amsterdã:Buyten &Schipperheyn, 1975); J.M. Spier, Inleiding in de Wijsbegeerte derWetsidee (Kampen: Kok, 1940). CS. Lewis: "I believe in Christianity as Ibelieve in the sun — not only because I see it, but because by it I seeeverything else" (The Weight of Glory [Nova York: Macmillann, 1980], p.92). Cp. N.H. Gootjes, "Christ and culture", in J. Geertsema, ed., Alwaysobedient. Essays on fhe teachings of Dr. Klaas Schilder (Phillipsburg:Presbyterian/Reformed, 1995).

92. "Heere, zegen deze spijze, en leermij Uwwil te doen. Amen";cp. Jo 4.34. CW19:2. Catecismo de Westminster91 (-99), "Qual é o dever que Deus requerdo homem? O deverque Deusrequerdo homem é obediência à sua vontaderevelada".

93. Catecismo de Heideiberg 115 (1 Co 9.24; Fp 3.12-14). CW 19:5-7.94. Sobre "justos", verA.Janse, Los justos en Ia Bíblia (Rijswijk: Felire, 1984).95. Lembre-se que o alfabeto humano é "ABCD"; o de Deus é "OBDC". Em

Recife, no Seminário Presbiteriano, tínhamos de decorar doze versículos básicos para o ministério, os chamados Versículos Obadias (Obadias = servodo Senhor). Umdeles era 1 Samuel 15.22. Ecantávamos "Obedecer é melhordo que o sacrificar, não te esqueças do reique a coroa perdeu, nem doservo de Deus que venceu". Ef 5.8.

96. Sejamos bons mordomos,não fazendodo dinheironosso ídolo (idolatria =ido/a latria, adorar a ídolos); a distinção católico-romana entre "servir" e"adorar" imagens não funciona; no mínimo, lembra a diferençaentre ateístaprático e teórico. / Daro dízimo é bíblico (Lc 11.42; Mt22.21), mas ofertasse dão com alegria, sem legalismo (2Co 9.7); pode-se dar mais (Fp4.16) oumenos (At 5.4a; 1 Co 16.2). O melhor é, logo que se recebe o salário,separar o dízimo para a obra do Senhor. Mc 7.11-13; Rm 13.8; SI 37.21; Pv3.27, 28; Fp 4.11-13,19.

97. CH. Spurgeon: A melhor coisa no melhor lugar para o melhor alvo (SI119.11). Não se esqueça de lero livro de Provérbios para crescer em sabedoria prática (cp. Pv19.3).

98. C van Dam, "The need for the Reformed Faith" (in Latin America), in LuxMundi12/1998 (CRCA-RCN, Goyerkamp 11, Zwolle, Holanda), p. 3ss. S. Escobar,Desafios do Igreja no América Latina (Viçosa: Ultimato, 1997). Pacto deLausanne.

99. Yancey, Maravilhosa graça, p. 16. Diga não às brigas pelo caminho (Gn45.24).

100. Margaret Fishback Powers, Footprints. The story behindthepõem that inspiredmillions (Toronto: HarperCoIlins, 1993).

101. Haverá diferença em glória no céu, como haverá diferença em castigo noinferno. O Senhor Jesus mesmo falou pelo menos umas 25 vezes sobre asrecompensas (ex.Mt 10.42; 1 Co 15.58; Ap 2.10). Edwards: "Grace is butglory begun, and glory is but grace perfected" (cp. nota 40).

1 IS

102. Keith Green: "Help me tonever seek a crown, for my reward is giving gloryto You!" no disco de nome Oh, Lord, Yourebeautiful.

103. Cp. H. Jochemsen &G.Glas, Verantwoordmedisch handelen [ética médica].(Amsterdã: Buyten &Schipperheyn, 1997).

104. Ruth A. Tucker, Até aos confins da terra (São Paulo: Vida Nova, 1986), cap. 9.Ruth A. Tucker, Guardians ofthe great commission (Grand Rapids: Zondervan,1988). Gien Karssen, Sozinhas mas realizadas. Odom deficarsó (Queluz:Núcleo, 1987).

105. No Manual do Culto, citando (Santo) Agostinho. CS. Lewis, Thof hideousStrength (Londres: Pan Books, 1983),p. 147s.O diretor disse a Jane: "Elesdiriam que você não falha na obediência por falta deamor, mas perdeu oamorporquenunca tentou a obediência... Ninguém jamais lhecontou queobediência — humildade — é uma necessidade erótica?"

106. Aborto? "Abortinatol", como disse um dos nossos genros. Avida começa nahora da concepção (SI 139.16; Lc 1.41; Gl 1.15). O problema maior nãoéquando a vida da mãeestá em perigo, mas o aborto a pedido, pormotivosde conveniência (econômica etc).

107.Apsicologia mostra: de0 a 6 anos, o fator mais importante naeducação dacriança é sua mãe; de 6 a 12,seupai; e de 12a 18,seuscolegas.

108. 1 Co 13.4-7/geral: Gl 6.2; Pv 1.7; 3.5-7; 4.23, 25; 11.19; 16.3, 32;17.9; 22.11; 24.27; 29.25; Mt 16.26; Rm 12.18; Fp 2.14; 4.4-9; 1 Tm2.1-3; 4.7-9 / família: Pv 18.22; Ef 5.21-33; 6.1-4; 2 Tm 3.16, 17; Êx23.2a; Pv 3.7; 13.24 (régua!); 16.3, 32; 17.9; 22.15 / 1 Sm 12.23; Pv14.26. Cp.o poema"Ik leg de namen van mijn kinderen inUw handen".

109. Confissão Belga 27; CW 25 e 26: igreja visível e invisível; mais ou menospura; comunhão dos santos.

110. CW 25:1,2,4,5. Catecismo de Westminster 61 -65.

111. Atos 20.28 indica o cargo (ofício de presbítero, ancião), a incumbência docargo (ser bispo, ou seja, supervisor) e como exercer o cargo (não comofiscal, mascomopastor de ovelhas). Juntos, ospresbíteros formam o conselho ouconsistório, responsável pelo bom andamento da igreja doSenhor(Confissão Belga 30 e 31; CW 31:1). Sea igreja for fiel na eleição dosoficiais, votando sem partidarismo, mas soba orientação do Espírito Santo,Deus dará o seushalom para queelasejaum refúgio no mundo turbulento(1 Pe5.1-4).

112. R. Amorese, Igreja &sociedade (Viçosa: Ultimato, 1998). John Stott,Issues facing Christians today (Basingstoke: Marshall, 1984). B.Goudzwaard, prof. econ. VU, membro da comissão da Aliança Mundialde Igrejas Reformadas (WARC) sobre uma "confissão" a respeito daeconomia nesta época de supervalorizaçãode prestações. Não há basebíblica para uma "teologia de prosperidade" (Jo 16.33;At 14.22),maspromessas de progressoquando obedecemos às leisda vida (Dt 28).Kim Myung Hyuk, Christian Stewardship (Info, Ev. Zendingsalliantie, 5/1999, p. 16). Instituutvoor Cultuuren Ethiek, Postbus 957, Amersfoort,NL. E. Schuurman, Ge/oven in wetenschap entechniek (Amsterdã: Buyten

1 19

& Schipperheyn, 1998). Cp. debate sobre "Say no to GMO"(manipulação genética). Cp. nota 103.

113. Magnetic Resonance Imaging, in Guideposts, 1/l 999.114. O evangelho e o marxista (São Paulo/B.H.: ABU/Visão Mundial, 1983).

Anais do Seminário de Tropocologia, 17 (1983; Recife: Fundação JoaquimNabuco, 1989),p. 106s,F.LS.

115. Confissão Belga36; CW 23. Uma leituraclássica é G. Groen van Prinsterer,Ongeloofenrevolutie (1847; Franeker: Wever, 1951); parcial em Incredulidadyrevolucion (Rijswijk: FELIRE, 1982). J.M. Boice, God & History (DownersGrove, III.: InterVarsity, 1981), cap. 16. L. Schuurman, Ética política (BuenosAires: Escaton/LaAurora, 1974); muitoacrítico sobre a realidade e a perseguição na China.

116. Dietrich Bonhoefferaos nazis: "Da simplesconfissão que Deus é o Senhor,concluímosque nenhum governo pode autoproclamar-se como senhor sobre a vida inteira" (in Centraal Weekblad, 26/3/99).

117. S. Rutherford, Lex Rex, or Tfie law and the prince (1644; Harrisonburg:Sprinkle,1980).

118. Falando de Cristo,o crenteservena área profética;ajudando alguém, servecomo diácono na área de misericórdia sacerdotal; aconselhando alguém,serve na área pastoral ("pastoreai", cuidando como pastor-rei de uma ovelha, dentro ou fora do rebanho).

119. Catecismo de Heideiberg 32 (Rm 6.12, 13; Gl 5.16, 17; Ef 6.11; 1 Tm1.18,19; 1 Pe 2.9, 11). CW 13:2,3, "guerra".

120. Numa carta de 3/1996 do Dr. Gustavo Kessler, da Evangelização em Profundidade (lindef).

121. Cp. CS. Lewis, Perelandra, discussão comovente da tentação da dama verdepor Weston/diabo no planeta Vênus/Perelandra (Reis naar Venus [Góes:Oosterbaan & LeCointre, 1981], p. 98-100). Augustus N. Lopes, Batalhaespiritual (São Paulo: Cultura Cristã, 1998). Elben M.L. César, Antes deamarrar Satanás... (Viçosa: Ultimato, 1998). Corrie ten Boom, VerslagenVijanden (Hoenderloo: Hoenderloo &Vuur, 1966).

122. CS. Lewis, A última batalha (São Paulo:ABU, 1987), p.170 [reeditado como mesmo título pela Martins Fontes, 1997] ("The term isover: the holidayshave begun.Thedream isended: this isthe morning", The lastbattle, p. 183).

123. Confissão Belga 37. Catecismo de Heideiberg 52, "... em toda miséria eperseguição, espero, de cabeça erguida, o Juiz". CW 33:3. Catecismo deWestminster 191, "apresse o tempo da sua segunda vinda". 2 Pe 3.12; Tg5.9; Ap 17.14.

124. Vinheta da Igreja Moraviana: VicitAgnus noster. Eum sequamur(Venceu onosso Cordeiro. Sigamo-lo).

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PARABÉNS!

Você acaba de ler o 50° livro publicado pela EditoraUltimato. Para conhecer outros títulos do nosso

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Francisco Leonardo Schalkwijk, pastoremérito da IgrejaEvangélica Reformada,é doutor em história e autor de Igrejae Estado no Brasil Holandês, 1630-1654e da gramática grega Come. Mora emApeldoorn, Holanda, com sua esposaMargarida, com quem serviu comomissionário no Brasilpor quase 40 anos.Eles têm oito filhos, 26 netos e duas

bisnetas.

Francisco Leonardo escreve como apologista, pastor e adorador,

tudo ao mesmo tempo. Em meio a palavras teológicas, surge uma

comparação simples, para toda ovelha entender. Como o exemplo

da filha mais velha do casal que, novinha, já fazia pirraça.Não era fome, não era nada; era o pecado original. Ou como a figura

da eleição como um portão. Do lado de fora está escrito "Venha a mim"

Do lado de dentro, depois de passar pelo portão, "Eu o chamei".

Para entender a eleição, é preciso fazer o trajeto do tabernáculo:

entra-se somente pela porta — que simboliza Cristo, a salvação —,passando pelo pátio e pelo Lugar Santo para depois, finalmente,

adentrar o Santo dos Santos — que simboliza a eleição. Na segundaparte do livro, o autor fala de maneira muito prática sobre o alvo da

eleição — para que fomos chamados.

Em Confissão de Um Peregrino, você vai aprender mais sobre a

eleição e o livre-arbítrio, a doutrina reformada e o arminianismo, a

perseverança dos santos e o alvo da eleição. Uma leitura fascinantepara você se emocionar com as verdades bíblicas.

ISBN 85-86539-46-5

Editora Ultimato 9 788586"539466