jornal n.º 91

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Nº 91 Janeiro de 2009 Distribuição gratuita aos sócios STAL STAL Direitos Salários Serviços públicos para resistir Lutar Os trabalhadores da Administração Pública estão em luta para resistir à mais violenta ofensiva empreendida após o 25 de Abril que visa a desregulamentação da legislação laboral, a retirada de direitos, a degradação dos salários, o aumento da precariedade laboral e a limitação dos direitos sindicais. Págs. 2 e 3 I Conferência sindical Organização mais forte O reforço da organização sindical e a elevação da capacidade de resposta da sua estrutura foi uma das principais conclusões da I Conferência Sindical que aprovou o Caderno Reivin- dicativo. Pág. 7 a 9 Regime de vínculos Impugnar ilegalidades O chamado novo regi- me de vínculos, carreiras e remunerações da Admi- nistração Pública deve ser combatido por todos os trabalhadores. Pág. 5 Água, direito humano A campanha «Água é de todos, não o negócio de alguns» prossegue em todo o país com várias iniciativas em defesa da gestão pública e do reconhecimento deste direito humano. Pág. 6 Crise económica Falência do neoliberalismo A crise económica interna- cional, que ameaça condu- zir o mundo para uma gran- de depressão, demonstra a falência do pensamento neoliberal e a necessidade de romper com os dogmas do capitalismo. Pág. 10

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Jornal do STAL - N.º 91 - Janeiro-2009

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Page 1: Jornal N.º 91

nº 91 • Janeiro de 2009Distribuição gratuita aos sócios

STALSTALDireitos Salários Serviços públicos

para resistirLutar

Os trabalhadores da Administração Pública estão em luta para resistir à mais violenta ofensiva empreendida após o 25 de Abril que visa a desregulamentação da legislação laboral, a retirada de direitos, a degradação dos salários, o aumento da precariedade laboral e a limitação dos direitos sindicais. Págs. 2 e 3

I Conferência sindicalOrganização mais forte

O reforço da organização sindical e a elevação da capacidade de resposta da sua estrutura foi uma das principais conclusões da I Conferência Sindical que aprovou o Caderno Reivin-dicativo.

Pág. 7 a 9

Regime de vínculosImpugnar ilegalidades

O chamado novo regi-me de vínculos, carreiras e remunerações da Admi-nistração Pública deve ser combatido por todos os trabalhadores.

Pág. 5

Água, direito humanoA campanha «Água é de todos, não o negócio de alguns» prossegue em todo

o país com várias iniciativas em defesa da gestão pública e do reconhecimento deste direito humano.

Pág. 6

Crise económicaFalência do neoliberalismoA crise económica interna-

cional, que ameaça condu-zir o mundo para uma gran-de depressão, demonstra a falência do pensamento neoliberal e a necessidade de romper com os dogmas do capitalismo.

Pág. 10

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JAnEIRO 2009� jornal do STAL

Os trabalhadores do sector da limpeza urbana do Porto, que há vários anos vêm lutando contra a privatização de parte daqueles serviços, estive-ram de novo em luta nos períodos no Natal e Ano Novo, opondo-se à entrega de uma parte dos serviços a uma empresa concessionária.

As duas greves destinaram-se igualmente a denunciar a transferência forçada de trabalha-dores para a concessionária, mudança que pa-ra muitos implica a perda do subsídio de traba-lho nocturno no valor de 150 euros.

Apesar da forte adesão, a luta dos trabalhadores foi prejudicada pela fixação de um número despro-positado de trabalhadores para a prestação de ser-viços mínimos, através de um despacho conjunto do Ministro do Trabalho e da Solidariedade Social.

O STAL contestou a intervenção governa-mental e pondera a possibilidade de recorrer judicialmente contra este ataque ao inalienável direito à greve consagrado na Constituição da República Portuguesa.

Tempo de resistência e combate

Direitos, salários e serviços públicos

O último trimestre de 2008 ficou marcado por intensas lutas que espelharam o descontentamento crescente com as politicas de direita do Governo PS, que aproveita a «crise» para penalizar ainda mais os trabalhadores, ao mesmo tempo que destina milhões de euros para salvar os bancos da falência e garantir os lucros dos banqueiros.

Após a forte participação dos trabalha-dores das autarquias na Greve Nacio-nal da Administração Pública, realizada

no dia 1 de Outubro no âmbito do Dia Nacio-nal de Luta da CGTP-IN, milhares de traba-lhadores da Administração Pública encheram as ruas de Lisboa em 21 de Novembro, numa poderosa manifestação nacional por aumen-tos reais dos salários, pelo emprego público e pelos direitos.

As palavras de ordem repetem-se porque a política neoliberal do governo se intensi-fica. Não podem ser sempre os mesmos a pagar a factura das políticas erradas, que reduzem os salários dos trabalhadores pa-ra enriquecer cada vez mais os ricos e po-derosos.

Travar a degradação dos salários

A resolução da Frente Comum aprovada na manifestação reclama o fim da «sistemática perda de poder de compra verificada nos úl-

timos oito anos» e lembra que em 2008 a actualização salarial foi in-ferior ao valor da inflação verificada em 0,9 por cento.

O aumento dos preços de bens essenciais, particularmente dos transportes, dos juros do crédito à

habitação e dos combustíveis agra-vou as condições de vida dos tra-balhadores da Administração Públi-ca, cujo poder de compra de 2000 a 2008 foi reduzido entre os 7,2 e os 10,4 por cento. Por isso, a luta pe-la actualização salarial de cinco por cento em 2009 é inteiramente justa e realista.

Tanto mais que o sector foi pena-lizado com o aumento progressivo dos descontos para a ADSE, o que colocou os trabalhadores da Ad-ministração Pública numa situação desfavorável em relação ao regime da segurança social.

Também as alterações impostas nos regimes de carreiras e de re-munerações têm consequências nefastas em termos remunerató-rios já que liquidam o normal di-reito à progressão e à promoção, condicionando-o ao funcionamen-to de um sistema de avaliação de desempenho injusto e à discricio-nária vontade dos dirigentes dos serviços.

Actualizações 2009O Governo publicou em 31 de Dezembro a tabela remuneratória única dos traba-

lhadores que exercem funções públicas e a actualização os índices 100 de todas as escalas salariais (portaria n.º 1553-C/2008) e a revisão anual das tabelas de ajudas de custo, subsídios de refeição e de viagem, bem como dos suplementos remune-ratórios e a actualização das pensões de aposentação e sobrevivência, reforma e invalidez (portaria n.º 1553-D/2008), de que resultam os seguintes valores:

• Actualização dos índices 100 – 2,9%• Subsídio de refeição – 4,27 euros• Pensões de aposentação: – Até 1,5 IAS (Indexante dos apoios sociais) – 2,9% – Entre 1,5 e 6 IAS – 2,4% – Entre 6 e 12 IAS – 1,5% – Mais de 12 IAS – 0%O Salário Mínimo Nacional foi actualizado para 450 euros (Decreto-Lei nº

246/2008, de 18.12).

MoveaveiroDefender o AE e a gestão pública

O atraso na conclusão do acordo de empresa na Moveaveiro e a intenção de privatizar a empre-sa motivaram o protesto da Direcção Regional do STAL que avisou estar disposta a encetar todas as formas de luta para defender os direitos dos traba-lhadores e salvaguardar o serviço público.

Reagindo às declarações Pedro Ferreira, presidente da Moveaveiro e vereador na Câma-ra, o STAL lembrou o compromisso assumido pela autarquia de não proceder a qualquer alte-ração ao estatuto daquela empresa municipal sem consulta prévia ao sindicato. Neste senti-do, considerou inaceitáveis as afirmações da-quele eleito que tentou justificar a privatização invocando o estafado argumento das dificul-dades orçamentais e a alegada «falta de voca-ção» da autarquia para gerir transportes.

O STAL sublinha que tal «falta de vocação» significa, no mínimo, o reconhecimento por par-te deste responsável da sua própria «incapaci-dade para o desempenho de uma das principais funções para que os autarcas são eleitos».

Por outro lado, o Sindicato jamais pactuará com a tentativa de associar e fazer depender a conclu-são do processo de negociação do acordo de em-presa da Moveaveiro da sua privatização.

O STAL acusa a administração de atrasar a conclusão do acordo de empresa, lembrando que, após a reunião negocial realizada e em Junho, só em 15 Dezembro recebeu uma pre-tensa «contraproposta», através da qual a em-presa pretendia alterar «matérias já acordadas, claramente expressas na acta de consolidação assinada em 18 de Junho de 2008».

Higiene urbana do Porto Privatização ameaça direitos

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JAnEIRO 2009 �jornal do STAL

Editorial

Ano de LutaTempo

de resistência e combate

Direitos, salários e serviços públicos

Inflexibilidade e imposição

Lamentavelmente, no simulacro de negociações com os sindicatos, o go-verno revelou mais uma vez uma ati-tude inflexível, abrindo e encerrando o processo sem evoluir na sua propos-ta inicial de 2,9 por cento, que acabou por impor unilateralmente apesar dos protestos da Frente Comum e da ge-neralidade dos trabalhadores.

Não obstante, mesmo esta actuali-zação insuficiente constitui o resulta-do da intensa luta travada no sector.

Agarrado a uma previsão da infla-ção de 2,5 por cento, o Governo fez crer que os trabalhadores terão algum ganho salarial, omitindo que as su-as previsões nos últimos anos foram sempre ultrapassadas pela realidade dos preços sem que essa diferença tenha sido compensada.

Manifestando o seu repúdio e con-denação pela atitude anti-negocial do governo, a Frente Comum entregou, 27 de Novembro, na residência oficial do primeiro-ministro um abaixo-assi-nado subscrito por mais de 45 mil tra-balhadores da Administração Pública.

Intensificar a acção, fortalecer

a lutaO Conselho Geral do STAL,

reunido em 28 de Novembro, cons iderou que «o ano de 2008 fica marcado pela mais brutal ofensiva levada a cabo após o 25 de Abril contra di-reitos fundamentais dos tra-balhadores da Administração Pública».

Particular preocupação sus-cita a previsível entrada em vi-gor no início do ano dos diplo-mas de revisão do regime de vínculos, carreiras e remunera-ções e do contrato de trabalho em funções públicas.

O STAL considera que estes dois diplomas promovem «a desregulamentação da legis-lação laboral no sector, a reti-rada de direitos, a degradação dos salários, o aumento da precariedade laboral e a limita-ção dos direitos sindicais», su-blinhando que esta estratégia do governo é secundada por muitos «autarcas que na mes-ma senda desrespeitam direi-tos laborais, violam a liberda-de sindical e intensificam ca-minhos privatizadores».

O Conselho Geral do STAL considerou fundamental in-tensificar os caminhos de luta dos trabalhadores, de forma a que, para além das acções que se impõem no plano cen-tral, sejam criadas condições nos locais de trabalho para impedir a apl icação da no-va legislação sempre que não estejam garantidas condições mínimas.

Designadamente, o Sindica-to frisa que deve ser previa-mente «assegurada a vincula-ção de todos os trabalhadores que vêm desempenhando fun-ções permanentes» a «reclas-sificação dos que desempe-nham funções de responsabi-lidade superior» e concretiza-das «as promoções e progres-sões dos trabalhadores que para elas tenham módulos de tempo necessário.»

No plano jurídico, o STAL apoiará e desenvolverá as ac-ções necessárias com vista à declaração da inconstitucio-nalidade manifesta de várias normas da presente legisla-ção.

CGTP-IN reclama ruptura com

políticas neoliberaisA CGTP-IN manifestou preocupação em relação a algumas me-

didas do pacote «anti-crise» do Governo e avançou um conjunto de propostas para estimular a economia e favorecer a resolução de conflitos nos locais de trabalho.

Em conferência de imprensa realizada dia 26 de Dezembro, a central sindical considera que «a resposta aos problemas que o país enfrenta não pode passar pelo enfraquecimento da seguran-ça social».

Pelo contrário, a superação dos entraves ao desenvolvimento eco-nómico e social do país exigem, segundo a CGTP-IN, uma ruptura com «o pensamento e práticas políticas neoliberais até agora domi-nantes, a protecção do emprego e dos salários, a defesa da nego-ciação colectiva, das pensões de reforma e da protecção social».

A prevenção dos despedimentos e a aposta no investimento pú-blico são aspectos prioritários para a CGTP-IN, que exigiu a defini-ção de «princípios, orientações genéricas e medidas precisas sobre a concessão de avais a instituições financeiras, uma vez que está envolvido o dinheiro dos contribuintes».

O ano de 2009 será marcado por três actos eleitorais. Depois das europeias, virão as eleições legislativas e as autárquicas. O tempo é pois de balanço, em primeiro lugar, do que representaram para os trabalhadores os anos de governação «socialista», que contou com uma maioria absoluta na Assembleia da República.E só pode ser negativo o balanço de um governo que de imediato abandonou promessas eleitorais, traindo as expectativas de milhares de trabalhadores, e levou a cabo uma das maiores ofensivas, senão mesmo a maior, contra os direitos laborais e sociais.

A chamada «reforma» da Administração Pública, a pretexto da «eficácia» e do combate ao défice, traduziu-se afinal numa imensa obra de desmantelamento de serviços públicos essenciais, de retirada de direitos laborais, de desregulamentação das leis do trabalho e degradação do poder de compra dos trabalhadores. Uma imensa obra da qual resultou o empobrecimento das camadas mais desfavorecidas da população, em profundo e gritante contraste com o enriquecimento crescente de uma pequena casta de privilegiados e de poderosos, de quem José Sócrates e seus acólitos se assumiram como fiéis servidores.

Mas se os ataques aos direitos laborais foram dos mais violentos de que há memória, também a resposta dos trabalhadores e das populações proporcionou mobilizações nunca antes vistas em Portugal pela frequência e dimensão. Só a acção intensa e determinada dos trabalhadores tem podido travar a marcha acelerada das políticas neoliberais de José Sócrates, obrigando-o a recuos em diversas matérias cruciais, de que são exemplos o aumento da jornada semanal de trabalho na Administração Pública para as 40 horas ou as restrições à liberdade sindical.

Num ano em que em que a conjuntura económica é marcada por uma das mais graves crises do capitalismo, engendrada pelo carácter insanável das contradições próprias do sistema explorador, novas dificuldades se abaterão sobre os trabalhadores.Ao mesmo tempo será de esperar que o governo e o partido que o sustenta lancem campanhas demagógicas e anunciem medidas eleitoralistas com o propósito de branquear e fazer esquecer anos de governação injusta, imoral e desastrosa para o País.Não podemos ter a memória curta. A luta nas ruas e nos locais de trabalho pelos direitos, pelos salários e pelos serviços públicos continuará a intensificar-se e deverá expressar-se nas urnas por uma política diferente, socialmente mais justa, que respeite quem trabalha, efective os direitos e garanta serviços públicos de qualidade para todos!

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JAnEIRO 2009� jornal do STAL

Consultório Jurídico ✓ José Torres

Até hoje, os trabalhadores têm sido afectados a es-sas empresas ao abrigo

do regime de requisição, man-tendo o vínculo com os res-pectivos municípios, bem co-mo todos os direitos e regalias

A mobilidade e os direitos dos trabalhadores

De entre as questões mais importantes ligadas à mobilidade, destacamos as que se prendem com a prestação de serviço de trabalhadores dos municípios às empresas municipais e outras de natureza privada, nomeadamente concessionárias de serviços de água e resíduos sólidos.

inerentes à qualidade de funcio-nários públicos.

Porém, após a publicação da lei da mobilidade (Lei 53/2006, de 7/12), e do novo regime das em-presas do sector empresarial local (Lei 53-F/2006, de 29/12), come-çaram a surgir dúvidas sobre es-ta matéria e alguns trabalhadores foram confrontados com proce-dimentos intoleráveis lesivos dos seus direitos.

Cabe assim reafirmar que a refe-rida Lei 53/2006 não se aplica à Ad-ministração Local, pelo que as ten-tativas de algumas autarquias no sentido de aplicarem este regime aos seus trabalhadores, designada-mente, a chamada cedência espe-cial, são manifestamente abusivas.

O mesmo acontecia, até 1/1/2009, com o novo regime das empresas do sector empresarial local, nesta data alterado pela Lei do Orçamen-

to de Estado/2009, dado que este remetia para a citada lei da mobili-dade, que, por sua vez, não é apli-cável à Administração Local.

«Cedência de interesse público»

A Lei do Orçamento de Esta-do/2009 determinou que, a partir de 1/1/2009, o regime de requisi-ção fosse substituído pelo de «ce-dência de interesse público», pre-visto no art. 58.º da Lei 12-A/2008, de 27/2.

Mas este novo regime não pode ser aplicado unilateralmente aos trabalhadores, porquanto a lei im-põe que conste de um acordo, ce-lebrado por escrito, envolvendo as partes contratantes incluindo os trabalhadores. Ou seja, a cedên-cia de interesse público só poderá concretizar-se se os trabalhadores derem o seu acordo por escrito.

Logicamente, tal só poderá acontecer quando o conteúdo do documento consagrar todos os di-reitos e regalias, designadamente em matéria de remunerações, ho-rários de trabalho, evolução nas carreiras, protecção social e vín-culo público, o que implica a ma-nutenção dos lugares nos mapas de pessoal das autarquias.

Tratando-se de matéria tão im-portante, é imperioso que os traba-lhadores não actuem isoladamente, sem adequado apoio das suas es-truturas representativas. Pelo con-trário, devem sempre agir colecti-vamente, procurando esse apoio e repudiando tentativas de isolamen-to e de individualização desses pro-cessos, ao sabor dos interesses das entidades empregadoras.

Para isso é indispensável que comuniquem estes processos ao STAL com vista à sua negociação colectiva, única forma de assegu-rar a legítima defesa dos direitos de todos trabalhadores.

Entretanto, enquanto não forem celebrados os referidos acordos, os trabalhadores nesta situação têm de manter a totalidade dos direitos que lhes assistem, reco-nhecidos ao abrigo do regime de requisição.

CulturSintra atrasou vencimentos

Sem dar qualquer explicação prévia, a empresa mu-nicipal CulturSintra não pagou os salários do mês de Novembro no dia habitual. Preocupados com a situa-ção, os trabalhadores alertaram o STAL, no dia 2 de Dezembro, que prontamente interveio junto dos res-ponsáveis, exigindo a imediata liquidação dos mon-tantes em dívida.

A administração justificou o atraso com «um lap-so» no banco que terá bloqueado a transferência da verba. Só no dia 6 de Dezembro os salários foram finalmente pagos. O Sindicato está atento e espera que o incidente não se repita, já que os trabalha-dores dependem exclusivamente dos seus venci-mentos para viver e poder cumprir obrigações com outras entidades, as quais, como se sabe, não to-leram «lapsos» alheios.

CS Cadaval exige direito de negociação

A Comissão Sindical da CM do Cadaval exigiu, na reunião da Câmara de 9 de Dezembro, a suspensão por 30 dias do processo de alteração da estrutura orgânica de modo a poder inteirar-se do documento e apresen-tar as suas propostas.

A estrutura do STAL, que representa a esmagado-ra maioria dos trabalhadores da autarquia, defendeu ainda a manutenção no mapa de pessoal de todos os lugares existentes àquela data no quadro, subli-nhando que eventuais futuras alterações devem ser negociadas com a participação dos trabalhadores, uma vez que podem estar em causa a extinção, cria-ção, modificação e alteração de serviços e postos de trabalho.

Perseguição intolerável na Junta de Fanhões

Um trabalhador do Cemitério de Fanhões é vítima há cerca de dois anos de acções ilegais e injustifica-das por parte do presidente da Junta de Freguesia. Sem fundamento, instaurou-lhe um processo disci-plinar que veio a ser anulado após o STAL ter inter-posto uma acção judicial. Mas tal não pôs termo às afrontas ao trabalhador que já foi proibido por várias vezes de exercer funções e a quem mais não resta do que comparecer diariamente no seu local de tra-balho, onde fica condenado à inactividade. Este ca-so extremo de prepotência e desumanidade foi de-nunciado pela DR de Lisboa em conferência de im-prensa, realizada no dia 3 de Dezembro, no cemitério da freguesia.

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JAnEIRO 2009 �jornal do STAL

Em primeiro lugar, importa sublinhar que a mudança de regime tem de ser pre-

viamente formalizada através de notificação pessoal aos traba-lhadores (art. 109.º). Só após is-to poderá ocorrer a substituição do vínculo de nomeação pelo de «contrato de trabalho em regime de funções públicas».

Este regime, apesar das suas no-tórias semelhanças com o contra-to individual de trabalho, também apresenta diferenças significativas que o tornam ainda mais desfavo-rável nalgumas matérias. Por isso e dado que contraria os princípios da segurança jurídica e da confiança, ínsitos na ideia de Estado de Direi-to Democrático, consagrada no art. 2.º da Constituição da República, bem como os seus art. 53.º e 58.º, que garantem o direito à função pública, todos os trabalhadores de-vem recusar e pedir a eventual im-pugnação da modificação do vín-culo que lhe venha a ser imposta.

De facto, acolhendo os argu-mentos do próprio Tribunal Cons-titucional (Acórdão 154/86, 633/99 e 683/99), o Estado não pode li-vremente retirar aos trabalhadores o seu estatuto específico, porque o funcionário público detém um estatuto funcional típico e distin-to do inerente às relações laborais comuns de direito privado.

A referida notificação tem de con-ter outros dados importantes, pre-vistos no citado art. 109.º, como a indicação da nova carreira e res-pectivo posicionamento remune-ratório, que devem ser de imediato analisados com vista igualmente à sua eventual impugnação.

Exigir a negociação dos mapas de pessoal

Em matéria de mapas de pes-soal, o novo regime faz depender a sua aprovação e modificação

de critérios discricionários dos gestores e de fortes condiciona-lismos orçamentais. Torna-se as-sim indispensável assegurar uma acção sistemática do Sindicato, antes da sua aprovação, no sen-tido de exigir a observância dos direitos de negociação e de par-ticipação (art. 6.º da Lei 23/98, de 26/5 e art. 8.º do CPA, com base no art. 267.º, n.º 5, da Constitui-ção da República).

Ao STAL cabe exigir que as verbas relativas a despesas com pessoal a inscrever nos orçamen-tos cubram todos os encargos que a lei prevê, nomeadamente com remunerações, novos recru-tamentos e alterações do posi-cionamento remuneratório.

Este último aspecto tem especial relevância, já que, sempre que o trabalhador amealhar dez pontos, a mudança de posicionamento re-muneratório é obrigatória. Para es-te efeito são válidas as avaliações efectuadas desde 2004, devendo ser impugnadas as interpretações que pretendem iniciar a contagem apenas a partir de 2006.

Todavia, a esmagadora maioria dos trabalhadores só alcançará o direito à progressão em 2014, por força do actual sistema de avalia-ção discriminatório e injusto, que limita administrativamente a atri-buição das menções mais eleva-das a uma pequena percentagem de favorecidos.

Inscrever verbas efectuar avaliações

Em simultâneo, um número sig-nificativo de trabalhadores, de-signadamente todos aqueles que obtiveram a classificação de Bom desde 2004, estarão em condições de subir de posição já em 2009. Recorde-se que este direito é al-cançado após obtenção de duas menções mais elevadas consecu-tivas, de três imediatamente infe-riores àquelas ou de cinco imedia-tamente inferiores a estas últimas.

Por outras palavras, dois Ex-celente, três Muito Bom ou cinco Bom obtidos em anos consecu-tivos permitem a subida de po-sição. Todavia, a concretização deste direito está condicionada à

existência de verbas devidamente orçamentadas, motivo pelo qual os trabalhadores organizados no seu Sindicato ñ o STAL, deverão exigir em tempo útil a inscrição dos recursos adequados nos or-çamentos como a Lei o impõe.

Embora as avaliações devam ser contabilizadas desde 2004, muitas autarquias ainda não pro-cederam a qualquer avaliação dos trabalhadores ou não a ini-ciaram naquela data. Nestes ca-sos é imperioso exigir o supri-mento desta lacuna porque a «progressão» está sempre condi-cionada à prévia avaliação.

Para esse efeito, os trabalhado-res que não tenham sido avalia-dos devem exigir a sua adequada ponderação curricular, nos termos previstos no art. 113.º, n.os 7 a 11 da Lei 12-A/2008, conjugado com o art. 18.º do D. Regulamentar 19-A/2004, de 14/5.

Prevenir adulterações

Em matéria de carreiras, im-porta estarmos atentos ao pro-cesso de transição, previsto na Lei 12-A/2008 e no D. Lei 121/2008, de 11/7, de modo a prevenimos adulterações ainda mais gravosas desta lei, já de si tão nefasta.

Com especial atenção deve ser acompanhada a aplicação do regime fixado para as carreiras subsistentes, tendo em vista a defesa cabal dos interesses dos trabalhadores, sobretudo nos casos em que é possível atribuir uma carreira diferente, chamada de transição ou ainda, por opção

escrita do trabalhador, uma car-reira chamada de «opção».

O STAL defende que os traba-lhadores devem ser integrados numa carreira correspondente às funções realmente desempenha-das e, nos casos em que se verifi-cam discrepâncias, deve ser atri-buída a categoria adequada ao exercício das funções para que são nomeados (ex: o desempe-nho de funções de chefia do pes-soal operário implica a integração na adequada categoria).

Injustiça remuneratória

Em matéria de remunerações, a transição efectua-se para a posi-ção remuneratória de valor equiva-lente prevista na chamada Tabela Única. Nos casos em que não hou-ver coincidência é automaticamen-te criada uma nova posição com o valor da remuneração auferida, o que significa que neste proces-so nenhum trabalhador poderá ser beneficiado ou prejudicado.

Para além das situações de clara injustiça que esta transição irá provocar, designadamente o nivelamento profissional e a limi-tação da progressão e promoção, a possibilidade de negociação da remuneração nos processos de recrutamento, prevista no novo regime, não só contraria o mais elementar bom senso como põe de facto em causa a justiça e a equidade do sistema retributivo.

Combater a mobilidade

Em matéria de mobilidade, fun-cional e geográfica, os trabalha-

dores não devem aceitar funções inferiores à sua profissão e, quan-do lhes forem atribuídas funções mais elevadas, devem exigir a aplicação do tratamento mais fa-vorável, conforme estabelecem os art. 62.º a 64.º, incluindo a atribui-ção da correspondente categoria.

No que respeita à mobilidade para outras entidades, designa-damente empresas, devem ser garantidos todos os direitos e regalias, nomeadamente no que respeita à retribuição, evolução na carreira, organização do tem-po de trabalho e horários de tra-balho, férias e protecção social, entre outros, mediante acordo escrito das entidades e dos tra-balhadores, conforme estabelece o processo de «cedência de inte-resse público» (art. 58).

O STAL alerta para a necessi-dade de os trabalhadores recu-sarem a individualização destes processos, exigirem e apoiarem a intervenção e a negociação co-lectiva através do Sindicato. As-sinale-se, a este propósito, que o regime de mobilidade geral, fi-xado na Lei 12-A/2008, apenas entrou em vigor em 1/1/2009, pelo que, enquanto não forem celebrados os acordos atrás re-feridos, os trabalhadores nesta situação mantêm todos os direi-tos reconhecidos ao abrigo do regime da requisição (ver rubrica «Consultório Jurídico» na página anterior).

Regulamentar carreiras e subsídios

Entre outras matérias que do-minam a atenção do Sindicato, assumem particular relevância a exigência da regulamentação das carreiras especiais e corpos especiais e dos suplementos re-muneratórios, designadamente do subsídio de penosidade, insa-lubridade e risco.

Com firmeza e determinação, unidos em torno do seu Sindica-to, os trabalhadores irão continu-ar a luta com ânimo redobrado, repudiando este regime injusto, exigindo a sua revogação e re-chaçando novos ataques que já se desenham no horizonte.

Novo regime deve ser combatido

Rejeitar a mudança de vínculo, impugnar ilegalidadesO chamado novo regime de vínculos, carreiras e remunerações da Administração Pública representa um dos mais violentos ataques aos direitos laborais e fere gravemente a autonomia do Poder Local, devendo ser combatido por todos os trabalhadores.

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JAnEIRO 2009� jornal do STAL

Água é direito humanoCampanha prossegue em todo o país

A comemoração do 60.º aniversá-rio da Declaração Universal dos Direitos do Homem, assinalado

em 10 de Dezembro, foi aproveitada pelos promotores da campanha para solicitar uma audiência ao presiden-te da Assembleia da República, Jai-me Gama, a quem foram entregues a «Carta pelo Direito à Água» e o «Ma-nifesto» da campanha, aprovado no Encontro Nacional realizado em 18 de Outubro (www.aguadetodos.com).

No mesmo dia, com o apoio da União de Sindicatos de Lisboa, de-

A campanha «Água é de todos, não o negócio de alguns» prossegue em todo o país com várias iniciativas de contacto com as populações e recolha de assinaturas em defesa da gestão pública do líquido vital.

cia da água e recolhidas assinatura. A iniciativa contou com a participa-ção do secretário-geral da CGTP-IN, Carvalho da Silva.

Noutras regiões, destacou-se a realização em Aveiro, no dia 13, da Tribuna Pública em Defesa da Água, bem como as distribuições de documentos em Portalegre, El-vas, Ponte de Sor, Braga, Covi-lhã, Viseu, Guarda, entre outras cidades.

Necessidade básica

O aniversário da declaração dos direitos humanos foi também assi-nalado com uma declaração de im-prensa da Associação Água Pública, onde se afirma que «o direito à água está implícito na Declaração Univer-sal dos Direitos do Homem», já que

«é um pré-requisito para o exercício de outros direitos.

Notando que as políticas da água têm sido submetidas à ofensiva pri-vatizadora que aposta na explora-ção lucrativa de uma necessidade básica, a declaração recorda por todo o mundo há populações em lu-ta «pelo exercício do direito à água, pela água pública, contra a exclu-são de acesso, as privatizações e a exploração através da água».

Estas lutas travam-se também no nosso país contra a «política de priva-tizações e fomento de chorudos ne-gócios. Contra a exploração das po-pulações e o desleixo pelas origens de água, contra as pressões e estrangu-lamento financeiro dos serviços autár-quicos, contra preços escandalosos e a eliminação de tarifários sociais.»

Este movimento popular «cresce para lá da barreira de silêncio das televisões e jornais de grande ti-ragem», afirma o texto, que exige «o reconhecimento formal do direi-to de todas as pessoas à água e a obrigação do Estado assegurar o seu exercício efectivo».

Esta reivindicação decorre da de-claração dos direitos humanos que no seu artigo 22.º proclama: «Toda a pessoa, como membro da socieda-de, tem direito à segurança social; e pode legitimamente exigir a satisfa-ção dos direitos económicos, sociais e culturais indispensáveis, graças ao esforço nacional e à cooperação in-ternacional, de harmonia com a orga-nização e os recursos de cada país.»

O combate à privatização dos serviços mu-nicipais foi o tema que reuniu cerca de três dezenas de representantes sindicais de vá-rios continentes, no seminário internacional realizado na cidade norueguesa de Oslo, de 26 a 28 de Novembro.

Na iniciativa, promovida pela Internacional dos Serviços Públicos (ISP) e pelo sindicato local Fa-gforbundet, em que o STAL esteve representa-do, foram debatidas estratégias adoptadas em cada país com vista à defesa de serviços públi-cos de qualidade como factor essencial para a construção de sociedades mais justas.

A par da troca de experiências, análise de métodos de organização e de acção sindical, os intervenientes denunciaram as formas de actuação das instituições financeiras interna-cionais e das empresas privadas que procuram a todo o custo apoderar-se dos serviços públi-cos de âmbito local. Especial atenção foi dada aos perigos que decorrem da crise financeira internacional, em particular à tendência para a acentuação da concentração da riqueza.

No encontro, o STAL interveio sobre a ofensi-va do governo português contra os direitos la-borais dos trabalhadores da Administração Pú-blica, denunciando a política de eliminação das funções sociais do Estado e de privatização de serviços públicos essenciais como a água, sa-neamento e resíduos sólidos urbanos.

Várias experiências relatadas demonstra-ram que a aliança entre as populações e os

trabalhadores constitui um factor decisivo para derrotar as tentativas de privatização. Por outro lado, foi sublinhado que a melhoria da gestão pública exige a garantia dos direi-tos dos trabalhadores e a participação das suas organizações representativas.

A resposta norueguesa

Os noruegueses encaram o poder local como um poderoso instrumento de desenvolvimento social. Os 435 municípios desempenham várias tarefas, desde o fornecimento de bens públi-cos, água, saneamento e limpeza até à educa-ção, cuidados de saúde domiciliários, etc.

Nos anos 80, os trabalhadores e a popu-lação foram confrontados com uma feroz ofensiva de privatização de vários serviços públicos. Os sindicatos noruegueses respon-deram com acções específicas, procurando melhorar e fortalecer a imagem e o desempe-nho dos serviços públicos municipais. A sua intervenção contribuiu decisivamente para demonstrar que a gestão pública é económi-ca e socialmente mais eficiente.

Actualmente, a actividade privada no sec-tor dos serviços públicos é um fenómeno re-sidual no país, que ronda os quatro por cento, estando localizado em áreas não essenciais. O exemplo da Noruega mostra que a batalha contra as privatizações pode ser travada com êxito pelos trabalhadores e populações.

Seminário em Oslo Experiências de luta contra a privatização

A Comissão de Utentes em De-fesa da Água Pública do Planalto Beirão (CUDAP), movimento que integra o conjunto de organiza-ções promotoras da campanha nacional «Agua é de todos, não um negócio de alguns», realizou o seu I Encontro no dia 6 de Dezem-bro na localidade de Mortágua.

Na iniciativa, que contou com meia centena de participantes, foram aprovadas duas moções, uma «Em defesa da água pública» e outra «Pela gestão pública da água», na qual se exige a remu-nicipalização da distribuição da água, hoje concessionada à em-presa Águas do Planalto Beirão.

O STAL fez-se representar no Encontro pelo coordenador regio-nal da Guarda, José Catalino, que realçou a importância de conju-gar a luta dos trabalhadores com a das populações em defesa da gestão dos serviços públicos de água como uma competência mu-nicipal.

Desde 2000 até finais de 2007, a Águas do Planalto Beirão (empre-sa que hoje pertence ao consórcio DST/ABB de Braga), aumentou entre 68 e 100 por cento os pre-ços da água ao consumidor do-méstico nos concelhos de Carre-gal do Sal, Mortágua, Santa Com-ba Dão, Tábua e Tondela.

CUDAP realiza I Encontro

O 60.º aniversário da Declaração Universal dos Direitos do Homem foi assinalado com várias iniciativas em defesa do reconhecimento formal do direito à água

correu no Chiado uma acção de contacto com a população de Lis-boa, durante a qual foram distri- buídos panfletos sobre a importân-

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JAnEIRO 2009 �jornal do STAL

Água é direito humano

Durante os trabalhos, que decorreram no Cine-teatro Curvo Semedo, em Montemor-o-Novo, os intervenientes manifestaram preocupação

e repúdio pela destruição do estatuto profissional dos trabalhadores da Administração Pública, a revisão do Código do Trabalho, a chamada «flexigurança», a pre-cariedade e os despedimentos, as pressões, cons-trangimentos e ataques ao Poder Local Democrático, a liberalização e privatização de serviços públicos lo-cais, como a água e os resíduos sólidos, entre outros aspectos.

Estes gravíssimos ataques aos direitos dos trabalha-dores e das populações são o resultado da poderosa ofensiva neoliberal conduzida desde há anos pelos su-cessivos governos colocados aos serviços dos interes-ses do grande capital.

Como sublinhou Francisco Braz, presidente do STAL na sessão de abertura ñ na qual intervieram também o secretário-geral da CGTP-IN, Manuel Carvalho da Sil-va, e o edil do concelho anfitrião, Carlos Pinto Sá ñ «a exploração cada vez mais desmedida do trabalho, re-duzindo de forma brutal os salários e os direitos labo-rais», é acompanhada pela mais odienta destruição dos direitos sociais das populações.

O enfraquecimento dos sistemas públicos de saú-de, ensino e segurança social tem permitido o avanço dos grupos privados nestes e noutros serviços essen-ciais, especialmente no sector da água e do ambiente, de onde retiram elevadas rentabilidades impondo pre-ços exorbitantes aos utentes por bens e serviços indis-pensáveis.

Estas políticas antilaborais e antipopulares só podem suscitar a condenação e o descontentamento em am-plos sectores da sociedade. Por isso, sublinhou Fran-cisco Braz, o governo acentua a «coacção e cercea-mento das liberdades, procurando designadamente re-duzir a capacidade de intervenção dos Sindicatos»

Como sublinhou o presidente do STAL, a dimensão da ofensiva contra os trabalhadores da Administração Lo-cal exige o reforço urgente das suas estruturas represen-tativas, do seu Sindicato. Com este objectivo, Francisco Brás salientou como principais orientações «impulsionar o acompanhamento e formação dos quadros sindicais, incentivar a renovação, a participação das mulheres e dos jovens, aumentar a capacidade de informação e reforçar as estruturas no local de trabalho, base funda-mental de toda a intervenção sindical».

Uma lei inconstitucional

Analisando as principais alterações legislativas que destruíram e subverteram o estatuto dos trabalhadores da Administração Pública, José Torres, jurista do STAL, considerou que a modificação do vínculo imposta pelo Governo viola a Constituição da República e, por isso, deve ser impugnada pelos trabalhadores.

«A substituição do vínculo de nomeação pelo de ìcon-trato de trabalhoî tem de ser previamente formalizada por notificação pessoal», alertou José Torres, defendendo que, nesse momento, os trabalhadores devem repudiar o novo regime porquanto «contraria os princípios da segu-rança jurídica e da confiança ínsitos na ideia de Estado de direito democrático».

Por outro lado, este jurista citou argumentos do próprio Tribunal Constitucional, concluindo que «o Estado não pode livremente retirar aos trabalhadores o seu estatuto específico porque o funcionário público detém um estatu-to funcional típico distinto do inerente às relações laborais comuns de direito privado».

Organizar e sindicalizar

Sobre a organização sindical, Macário Dias, da Co-missão Executiva da DN do STAL, lembrou o recente ataque do Governo aos sindicatos da Administração Pública, através da limitação dos créditos de horas pa-ra os dirigentes. Como sublinhou, foi a posição firme dos sindicatos nas negociações e as acções públicas de protesto que obrigaram o governo a recuar e supri-mir os aspectos mais gravosos da lei.

No entanto, apesar das cedências, a lei 58/2008 de 11 de Setembro mantém aspectos negativos que o STAL e os trabalhadores continuarão a combater: «Contra tudo e contra todos vamos continuar a ser um grande sindicato nacional», afirmou Macário Dias que se referiu ainda à ta-refa prioritária e permanente da sindicalização, à formação sindical e ao rejuvenescimento da estrutura do Sindicato.

A necessidade de envolver mais jovens no trabalho sindical foi um dos temas salientados por Vítor Baião, em representação do STALJovem, notando que a ju-ventude é a camada social mais fortemente penalizada pela legislação antilaboral e a mais atingida pelos bai-xos salários e precariedade do emprego.

Num país onde o desnível salarial entre homens e mu-lheres atinge os 25,4 por cento, a questão da igualdade

entre géneros reveste-se de particular importância. Em-bora na Administração Pública, como observou Helena Afonso, membro da Comissão Executiva da DN do STAL, as discriminações sejam menos visíveis, elas existem e a nova legislação laboral irá agravá-las. Por exemplo, o di-reito de assistência à família e filhos é limitado e a adap-tabilidade do horário de trabalho põe em causa a conci-liação entre a vida profissional, familiar e social.

Respostas concretas

Os problemas específicos de vários grupos profissionais com actividade no universo da Administração Local e Re-gional foram abordados em diversas intervenções, que su-blinharam a necessidade de dar passos em frente na orga-nização com vista a melhorar a resposta sindical.

Dando conta de um assinalável reforço do Sindicato jun-to dos bombeiros profissionais, Mário Alves, membro da DN do STAL, apontou no entanto insuficiências e fragilida-des que importa superar de forma a consolidar e ampliar a representatividade do Sindicato neste sector.

Sobre os quadros técnicos e científicos na Administra-ção Local, interveio José Correia, membro da Comissão Executiva da DN do STAL, que chamou a atenção para a importância crescente deste grupo profissional na Admi-nistração Local, salientando a necessidade de um maior conhecimento dos seus problemas específicos para definir orientações mais adequadas da acção sindical.

Joaquim Sousa, membro da Comissão Executiva da DN, frisou o carácter decisivo da contratação colectiva, que considerou ser «a armadura que protege os direitos con-quistados pelos trabalhadores e a primeira linha de defe-sa destes».

Por sua vez, José Catalino, membro da DN do STAL, denunciou as más condições de trabalho na generalidade das autarquias, realçando o papel determinante do Sin-dicato na exigência do cumprimento da legislação sobre segurança, higiene e saúde no trabalho.

Notando que o ataque aos direitos dos trabalhadores é acompanhado pela tentativa de descaracterização do Poder Local Democrático, Henrique Vilalonga, membro da Comissão Executiva da DN do STAL, lembrou que o sindicato há muito que se bate pela regionalização do País como forma de realizar uma verdadeira descentra-lização, que combata as assimetrias, crie emprego e fa-voreça a participação das populações e o reforço da de-mocracia.

I Conferência Sindical do STAL

Organização mais forte para responder aos novos desafiosNo quadro da fortíssima ofensiva contra os direitos laborais e de destruição das funções sociais do Estado, o STAL realizou, em 31 de Outubro, a sua I Conferência Sindical, que analisou e debateu as novas realidades, caracterizou os principais problemas dos trabalhadores, as suas aspirações e reivindicações, cuja concretização exige o reforço da organização sindical e a elevação da capacidade de resposta da sua estrutura.

Nos trabalhos da conferência participaram delegados de todo o país e nume-rosos convidados

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� jornal do STAL/JAnEIRO 2009jornal do STAL/JAnEIRO 2009

O STAL afirma que «uma Ad-ministração Pública eficien-te, qualificada e célere na

satisfação das necessidades dos munícipes passa necessariamen-te, e em primeiro lugar, pela digni-ficação salarial e profissional dos trabalhadores, pela defesa de ser-viços públicos de qualidade e pelo emprego com direitos».

Com este objectivo, o Cader-no Reivindicativo (disponível em www.stal.pt) define um conjunto de orientações em diferentes domí-nios, de que se destacam o empre-go público, carreiras profissionais, contratação colectiva e salários.

Pelo vínculo públicocontra a precariedade

O documento exige a abertura de um novo processo de regularização das várias formas de contratação ilegal, tais como os POCs (progra-mas ocupacionais para desempre-gados), bem como de situações de utilização abusiva de contratos a termo, recibos verdes e outras for-mas de precariedade em funções de carácter permanente.

O Sindicato assume perempto-riamente a defesa intransigente do vínculo público em funções públi-cas, exigindo a revogação da legis-lação entretanto publicada, desig-nadamente a revogação do Contra-to Individual de Trabalho Adminis-tração Pública e da Lei 12-A/2008 (leis dos vínculos, carreiras e re-munerações), bem como de todos os diplomas ligados à sua regula-mentação.

Recuperar o poder de compra

O STAL exige a reposição imedia-ta do poder de compra perdido nos últimos anos e uma efectiva valori-zação dos salários, notando que a Administração Local é o sector com a média salarial mais baixa de toda a Administração Pública. Em maté-ria salarial e outras prestações pe-cuniárias, o STAL reivindica:

- Actualização anual dos salários e pensões acima dos valores da inflação para recuperação do po-der de compra perdido ao longo de vários anos (cinco por cento para 2009, conforme Plataforma Reivin-dicativa Comum aprovada pela Ci-meira de Sindicatos da Administra-ção Pública).

- Garantia de um aumento mínimo de 50 euros para todos os trabalha-dores no processo de transição.

- Actualização anual do subsídio de refeição (aumento de 6,5 euros para 2009).

- Actualização das restantes pres-tações pecuniárias, incluindo as da ADSE, e alargamento dos escalões do IRS em dez por cento.

- Consagração da mudança pa-ra posição remuneratória superior sempre que a diferença seja igual ou superior a 28 euros.

Recusar a adaptabilidade defender as 35 horas

O STAL defende a manutenção dos limites máximos dos horários de trabalho em 35 horas semanais e sete diárias, opondo-se a qual-quer regime de adaptabilidade, bem como a alterações no actual regime de trabalho nocturno.

Esta reivindicação estende-se às entidades empresariais locais, as-sociações humanitárias de bom-beiros voluntários e empresas con-cessionárias de serviços públicos locais, onde o STAL reclama direi-tos não inferiores aos dos trabalha-dores com vínculo público

Caderno Reivindicativo dos Trabalhadores da Administração local

Defender os serviços públicos Lutar pelos direitos, salários e carreiras

O Caderno Reivindicativo dos Trabalhadores da Administração local, debatido e aprovado na I Conferência Sindical do STAL, levanta novas exigências e objectivos da luta sindical, tendo em conta as profundas transformações registadas no sector quer ao nível orgânico, quer ao nível do regime jurídico laboral.

O STAL rejeita as novas regras constantes da Lei 12-A/2008, de 27/2, que arrasaram o sistema de carreiras existente.

Nesta matéria, o Sindicato rea-firma as propostas já antes formu-ladas, designadamente em 2002, no âmbito da Comissão Tripartida STAL/ANMP/DGAL, salientando-se as que previam a valorização e reestruturação das carreiras pro-fissionais, bem como a uniformi-zação em três anos dos períodos máximos necessários para as pro-gressões.

Por uma reestruturação justa

O Sindicato exige uma nova re-estruturação de carreiras com vista à criação de um novo sis-tema baseado em três áreas fun-cionais:

- Área funcional relacionada com a criação, o planeamento e a ges-tão (técnicos superiores, técnicos e chefias).

- Área funcional relacionada com a administração e execução técnica (administrativos, técnico-profissio-nais, operários qualificados e alta-mente qualificados).

- Área funcional relacionada com a execução directa e manutenção (auxiliares e operários semi-qualfi-cados).

Nessa reestruturação o STAL de-fende que o vencimento mínimo das categorias mais desvalorizadas nunca poderá ser inferior ao nível 2 fixado na chamada «Tabela Única» que o Governo pretende impor, no valor de 517,10 euros, correspon-dente ao actual índice 155.

O Sindicato pugna igualmente pela garantia da valorização e dig-nificação das carreiras dos traba-lhadores, mantendo a todos o direi-to ao acesso ao topo, bem como a criação de mecanismos que contra-

riem a tendência para a estagnação remuneratória.

Neste sentido propõe:- A criação de um suplemento re-

muneratório (prémio de antiguida-de) a ser atribuído por períodos de cinco anos.

- A contagem do tempo de servi-ço prestado em qualquer situação, nomeadamente de natureza precá-ria, para efeitos de posicionamento remuneratório.

- O reconhecimento da evolução técnica de diversas carreiras, pre-vendo a sua valorização, criação ou integração noutras, tendo como base o levantamento apresentado pelo STAL e entregue à Associação Nacional de Municípios.

- A criação de uma carreira in-termédia (Carreira Técnica) para as antigas carreiras técnico-profissio-nais de nível 4.

- A valorização da carreira de po-lícia municipal e a satisfação de um conjunto de reivindicações destes trabalhadores.

- A criação de condições huma-nas, materiais e orçamentais que evitem a perda de direitos e garan-tam justiça na transição dos traba-

Dignificar e valorizar as carreiras profissionais

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jornal do STAL/JAnEIRO 2009 �jornal do STAL/JAnEIRO 2009

Caderno Reivindicativo dos Trabalhadores da Administração local

Defender os serviços públicos Lutar pelos direitos, salários e carreiras

A intensificação da luta em torno da defesa dos direitos dos trabalha-dores passa não só pela contestação da legislação devastadora, mas exi-ge também uma acção determinada nos locais de trabalho, promovendo o pleno exercício dos direitos e comba-tendo práticas lesivas em autarquias e empresas. Neste sentido, consti-tuem reivindicações prioritárias:

- A garantia de que na elaboração dos mapas de pessoal não sejam criadas condições nem justifica-ções para despedir trabalhadores ou para os colocar futuramente na situação de mobilidade especial.

- A informação antecipada de qualquer decisão em qualquer ser-viço que leve ao despedimento de trabalhadores ou à sua colocação na situação de «mobilidade especial».

- A contagem e valorização de to-do o tempo de serviço prestado e manutenção do direito à carreira pa-ra todos os efeitos, designadamente na avaliação.

- O reconhecimento das avaliações de desempenho obtidas desde 2004 e consequente atribuição dos pontos necessários para a evolução na carrei-ra, tendo em conta o reposicionamen-to na Tabela Remuneratória Única.

- O reconhecimento da competên-cia às autarquias para a avaliação e definição do tipo de formação a atri-buir aos trabalhadores em conjunto com os Sindicatos.

- A garantia a todos os trabalhado-res do número de horas para forma-ção previstas na lei, a participação do STAL na elaboração dos planos anuais de formação e o fim das difi-culdades que o Governo tem vindo a levantar ao sindicato nesta área.

- A promoção de condições de se-gurança, higiene e saúde nos locais de trabalho, a consolidação de uma cultu-ra de prevenção de riscos, organização de serviços de segurança, higiene e saúde, criação de serviços de medicina no trabalho e a eleição de representan-tes dos trabalhadores para esta área.

- A regulamentação do suplemen-to de insalubridade, penosidade e risco, de acordo com a legislação aprovada pela Assembleia da Re-pública.

- O pagamento do subsídio de turno em 14 meses, de acordo com a juris-prudência já existente nesta matéria.

- A defesa da ADSE, a actualiza-ção das comparticipações e a redu-ção do valor actual dos descontos.

- A reposição dos direitos de apo-sentação.

- A manutenção dos direitos ad-quiridos no âmbito dos serviços so-ciais, bem como o seu alargamento á generalidade dos trabalhadores das autarquias e seu universo em-presarial.

- A eliminação de todas as formas de discriminação nos locais de tra-balho, nomeadamente as que se ve-rificam em função do sexo, crença religiosa ou orientação sexual.

- O respeito pela liberdade sindical

Pela negociação e contratação colectiva

No sentido de valorizar e efectivar os direitos dos trabalhadores, é imperioso garantir o direito de negociação com os Sindicatos de todas as matérias que tenham efeitos na situação dos trabalhadores, como estabelece a Lei 23/98, bem como assegurar a contratação colectiva em todas as autarquias e demais entidades empregadoras com actividade no universo da Administração Local e Regional.

A entrada em vigor do novo regime de contrato de trabalho em funções públicas exige a aprovação de medi-das legislativas que eliminem as ac-tuais restrições inadmissíveis à con-tratação colectiva e permitam o de-senvolvimento de processos abran-gentes, nomeadamente ao nível das carreiras profissionais, com a Asso-ciação Nacional de Municípios Por-tugueses e da Associação Nacional de Freguesias.

Promover e exercer os direitos

Avaliação justa e motivadora

O actual SIADAP é um sistema de avaliação in-justo e persecutório que, conjugado com a restante legislação aprovada para a Administração Pública, provoca instabilidade e fragilidade nos trabalha-dores. O STAL exige a re-visão da Lei 10/2004 com os seguintes objectivos:

- A eliminação do siste-ma de quotas.

- A simplificação do sis-tema, de forma a possibi-litar uma aplicação racio-nal, equilibrada e exequí-vel inclusive para as jun-

tas de freguesia com qua-dros de pessoal de menor dimensão.

- A transparência na realização dos ciclos anu-ais de avaliação, garantin-do-se o cumprimento dos prazos.

- O envolvimento e par-ticipação motivadora dos trabalhadores na definição dos objectivos e a respon-sabilização dos gestores e decisores políticos pelos resultados da avaliação de serviços.

- O direito ao contradi-tório.

Afirmar os serviços

públicos concretizar a regionalizaçãoA revogação de toda a legislação de natureza priva-

tística, que perverte o estatuto público dos trabalha-dores, é um dos objectivos prioritários do STAL. No-tando que não há oposição entre eficácia económica e direitos dos trabalhadores, o Sindicato afirma, pelo contrário, que uma mão-de-obra qualificada com di-reitos e motivada constitui uma condição essencial para melhorar a produtividade.

O STAL promove um combate sem tréguas aos processos de privatização em curso e exige a adopção de políticas que favoreçam parcerias pú-blico/público, opondo-se à entrada de capitais pri-vados na gestão dos serviços.

O STAL continuará a bater-se pela concretização da regionalização enquanto caminho para uma efectiva descentralização que valoriza o Poder Local e poten-cia a desejável melhoria e modernização da Adminis-tração Pública.

Dignificar e valorizar as carreiras profissionais

lhadores não docentes da rede pú-blica de ensino para as autarquias.

Eliminar discriminações

Defendendo a eliminação de in-justiças e discriminações de que são vítimas muitos trabalhadores da Administração Local, o STAL exige a adequada regulamentação das car-reiras especiais e dos corpos espe-ciais, designadamente:

- A criação das carreiras e defi-nição dos conteúdos funcionais do pessoal da Protecção Civil.

- A unificação e valorização da carreira para todos os Bombeiros Profissionais, acabando com dis-criminações entre sapadores e mu-nicipais.

- A criação de uma Academia Nacio-nal do Fogo que assuma as funções de escola superior deste âmbito.

- A publicação de uma Portaria Regulamentadora para os profis-sionais ao serviço das Associações Humanitárias.

- A reclassificação obrigatória dos trabalhadores que exerçam fun-ções mais valorizadas há mais de um ano.

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JAnEIRO 200910 jornal do STAL

✓ José Alberto Lourenço Economista

A presente crise mundial teve o seu detonador no colapso do crédi-to de alto risco à habitação (sub-

prime) nos Estados Unidos da América mas, tal como as outras grandes crises do capitalismo (a de 1873 deu origem à I Guerra Mundial assim como a de 1929 desembocou na II Guerra Mundial), es-ta é sobretudo uma crise de sobrepro-dução, ou seja, a existência de uma produção demasiado elevada em rela-ção à procura real do mercado.

As crescentes dificuldades de es-coamento da produção, que as polí-ticas de contenção salarial mais não fizeram do que agravar, provocaram uma redução das taxas de lucro na chamada economia real, o que levou o capital a procurar rendimentos su-periores no sector financeiro.

Dito de outra forma, os grandes inves-tidores concentraram-se nos chamados

A falência das receitas neoliberais

Crise económica mundialA crise económica internacional, que ameaça conduzir o mundo para uma grande depressão, prova a falência do pensamento neoliberal e a necessidade de romper com os dogmas do capitalismo.

produtos ou derivados financeiros on-de, de forma quase miraculosa, con-seguiam obter lucros anuais fabulosos, em detrimento da actividade económica cuja rentabilidade anual diminuiu cons-tantemente nas últimas décadas.

Todavia, a especulação financeira não podia prolongar-se indefinidamente. No caso do mercado imobiliário, o limite foi atingido quando o excesso de habita-ções provocou uma queda dos preços.

Ao mesmo tempo, muitas famílias asfixiadas pela diminuição dos salários deixaram de poder pagar as presta-ções do crédito, obrigando os bancos a executar as respectivas hipotecas, is-to é, a tomar posse do bem imobiliário.

No entanto, devido à queda dos preços da habitação e à saturação do mercado, o valor do imóvel hipoteca-do deixou de cobrir a totalidade do empréstimo concedido. Esta situação repetida milhares de vezes deixou os bancos numa situação de insolvên-cia, o que arrastou a falência dos fun-dos de investimento que lhes tinham financiado as operações mediante a titularização dos créditos.

Recessão e desemprego

A disseminação dos produtos finan-ceiros por todo o mundo fez com que a crise do subprime, que rebentou nos EUA no início do segundo semes-tre de 2007, rapidamente alastrasse ao sistema financeiro internacional e contaminasse a economia real.

A espiral de incumprimentos gerou uma crise de desconfiança que se instalou nos meios financeiros. Como

a verdadeira dimensão dos prejuízos causados pela bolha imobiliária ainda hoje está por determinar, o clima de desconfiança entre os bancos man-tém-se. Isto significa que deixaram de se emprestar dinheiro uns aos outros o que se traduz numa enorme falta de liquidez no mercado.

A escassez de dinheiro torna-o ca-ríssimo, dificultando enormemente a vida das famílias e das empresas que não conseguem obter da parte do sis-tema financeiro os recursos de que necessitam quer o investimento, quer para o consumo.

Deste modo, a crise do sistema fi-nanceiro, para além de ter derrubado os maiores bancos do mundo e colo-cado na bancarrota vários países (Is-lândia, Hungria, Ucrânia e Letónia, en-tre outros, foram forçados a recorrer ao Fundo Internacional Monetário), desen-cadeou uma interminável sucessão de encerramentos no sector produtivo lan-çando no desemprego muitos milhões de trabalhadores, o que gerará novas explosões sociais à semelhança do que já hoje assistimos em alguns países, nomeadamente na Grécia.

Poço sem fundo

Revelando a sua natureza de classe e os interesses que sempre têm ser-vido, os governos saíram em socor-ro dos bancos e das multinacionais, atribuindo-lhes verbas colossais, en-quanto aos trabalhadores continuam a impor salários de miséria.

Contudo, os milhões de milhões de euros que despejaram no siste-

ma financeiro mundial, comprando os prejuízos dos bancos e avalizando empréstimos, e as gigantescas aju-das concedidas a alguns sectores in-dustriais, como é o caso da indústria automóvel, têm-se revelado inefica-zes para travar a recessão económi-ca que ameaça transformar-se numa «grande depressão».

O aviso veio do próprio FMI atra-vés do seu economista-chefe, Oliver Blanchard: «Estamos em presença de uma crise de magnitude excepcio-nal, cuja componente principal é uma queda da procura. Os índices de con-fiança dos consumidores e das em-presas nunca estiveram tão baixos desde que existem. É algo nunca an-tes visto», declarou ao diário francês Le Monde (23.12).

Como remédio, este responsável considerou ser «imperativo travar a perda de confiança, relançar e, se ne-cessário, substituir a procura priva-da, para se evitar que a recessão se transforme em Grande Depressão».

Reconhecendo que as receitas ne-oliberais até agora impostas pelo FMI não estão mais à altura da conjuntu-ra mundial, Blanchard não hesitou em apelar à rápida intervenção dos Esta-dos: «Se a recuperação do mercado de crédito privado demora demasia-do tempo, então é preciso que os Es-tados se disponham a substituir-se, pelo menos parcialmente e tempora-riamente, ao crédito privado».

Lutar pela mudança

A actual crise vem dar razão àqueles que há muito afirmam que a financeiri-zação das economias e o neoliberalis-mo reinante conduziriam mais cedo ou mais tarde à ruptura das economias.

Tal como já antes tinha acontecido na história do capitalismo, o livre fun-cionamento dos mercados, a redução da intervenção estatal e a subordina-ção das mais diversas áreas, desig-nadamente os serviços públicos, à feroz lógica do lucro colocaram mais uma vez a sociedade numa situação de crise profunda.

Todavia, o período que atravessamos de incertezas, dificuldades e perigos constitui também uma oportunidade de mudança. Cabe aos trabalhadores e aos povos tomarem a palavra para que essa mudança se faça rumo a uma so-ciedade mais livre, justa e solidária.

A crise não é de agora

Ao contrário do que o governo e seus porta-vozes pretendem fazer crer, a crise económica em Portugal não é consequência da conjuntura internacional.

Na verdade, pelo menos desde o início desta década vivemos uma prolongada crise económica que é o re-sultado das políticas contrárias aos interesses dos tra-balhadores e do País.

Desde 2002 que a economia portuguesa está pra-ticamente estagnada, crescendo em média apenas 0,9% ao ano, isto é, menos de metade da média dos 15 países da Zona Euro.

Nos últimos oito anos os salários reais dos trabalha-dores portugueses estagnaram e no caso da Adminis-tração Pública sofreram mesmo uma quebra acumula-da, nunca antes verificada, de cerca de 7,5 por cento.

Ao mesmo tempo a taxa de desemprego, que era de quatro por cento em 2001, atingiu os oito por cento em 2007 e as estimativas mais recentes da OCDE apontam para um agravamento deste indicador no próximo ano.

O nível de endividamento externo líquido do nosso país (10% do PIB em 1996), atingiu os 90 por cento do PIB em 2007 e previa-se que atingisse os 100 por cen-to até final de 2008. A dependência do exterior faz com que todos os anos milhares de milhões de euros saiam do nosso país para pagar os juros da dívida contraída e como rendimentos dos capitais estrangeiros investidos em território nacional.

Na zona euro, Portugal apresenta também o maior desequilíbrio na distribuição do rendimento, o maior fosso entre os mais ricos e os mais pobres e a maior percentagem de população a viver abaixo do limiar de pobreza – cerca de dois milhões de portugueses en-contram-se nesta situação.

Apesar de nada ter feito para eliminar as gritantes in-justiças sociais, o governo do «socialista» Sócrates não vacilou em «nacionalizar» o Banco Português de Negó-cios, salvando-o da falência, e avalizar um empréstimo de várias centenas de milhões de euros para salvar ou-tro – o BPP – banco cujos clientes têm um saldo médio de um milhão de euros e que, nos últimos cinco anos, distribuiu 30 milhões de euros em dividendos pelos seus ricos accionistas.

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JAnEIRO 2009 11jornal do STAL

o STAL deu conta do «descontenta-mento dos trabalhadores», do «mau ambiente de trabalho» e do «clima in-timidatório» criado pela actuação do administrador delegado.

Todavia, em vez de tomar as me-didas que se impunham, exigindo a mudança de comportamento do res-ponsável, o presidente da autarquia, António Carlos Figueiredo, sugeriu que o STAL identificasse os trabalha-dores visados de modo a poderem testemunhar as acusações feitas.

Horários desumanos

Resistindo às ameaças e fortaleci-dos pela sua organização, os trabalha-dores da Termalistur lutam agora pela alteração dos horários de trabalho de-sumanos e pelo pagamento de todas as compensações previstas na lei.

Com o objectivo declarado de re-duzir os custos com pessoal, a em-presa municipal impôs desde o início de 2008 pesadas escalas que obri-gam os trabalhadores a prestar ser-viço durante oito dias consecutivos, totalizando 64 horas sem descanso, após o que folgam quatro dias. Reto-mam a escala para cumprirem mais sete dias consecutivos perfazendo 56 horas, tendo então direito a du-as folgas.

Em resultado deste intensivo re-gime, os trabalhadores podem ficar

durante longos períodos sem sába-dos, domingos ou feriados para pas-sar com a família. Mas para além de brutais, estas escalas de serviço são aplicadas de forma ilegal, já que a empresa tem sonegado as compen-sações devidas pelo trabalho pres-tado em dias de descanso semanal e complementar.

De acordo com a legislação vigen-te, o trabalho aos sábados, domingos e feriados deve ser remunerado com acréscimo de 100 por cento e com-pensado com períodos complemen-tares de descanso, correspondentes a 25 por cento das horas realizadas em cada sábado e a um dia por cada domingo trabalhado.

Com o apoio do Sindicato, os tra-balhadores da Termalistur exigem o cumprimento das compensações em falta e o respeito integral da lei sobre o horário de trabalho.

✓ José Alberto Lourenço Economista

Os novos horários foram im-postos no início de 2008 com o claro propósito de rentabi-

lizar a empresa municipal que, por razões estranhas aos trabalhadores, terá acumulado um défice de 300 mil euros.

Maria do Carmo Fonseca Marques começou a trabalhar sazonalmente nas termas há 18 anos, numa épo-ca em que a gestão era feita direc-tamente pela autarquia. «Nesse tem-po nunca se ouviu falar em prejuízos. As termas sempre deram receitas à Câmara que eram utilizadas noutras áreas. O ambiente de trabalho era também muito diferente. Éramos uma família».

Mas a mudança de estatuto para empresa municipal veio alterar tudo. O horário passou para 40 horas se-manais, aumentaram as pressões so-

bre os trabalhadores, intensificaram-se os ritmos de trabalho.

Maria do Carmo, que entretanto foi admitida no quadro permanente da empresa como auxiliar de serviços gerais, sentiu como todos os seus colegas o agravamento da situação. Com 54 anos de idade, compreen-deu que tinha de lutar para defender os seus direitos. Sindicalizou-se e foi eleita no presente mandato dirigente sindical da Direcção Regional de Vi-seu do STAL.

Sob a sua influência, 36 trabalha-dores da Termalistur sindicalizaram-se no STAL desde o início de 2008, ten-do eleito pela primeira vez o delegado sindical.

O avanço da organização sindical não passou despercebido ao adminis-trador delegado. Vítor Leal, vendo aí um foco de resistência às suas medi-das prepotentes e ilegais, contra-ata-cou seleccionando o alvo a abater.

Maria do Carmo foi confrontada com a hostilidade do gestor público: «Chegou a ameaçar-me com um pro-cesso disciplinar, "quer perca quer ganhe", disse-me na cara».

Esta e outras atitudes incompreen-síveis e claramente abusivas foram comunicadas ao presidente da Câ-mara de São Pedro do Sul. Na carta dirigida ao edil em Outubro de 2008,

Termalistur em S. Pedro do Sul

Empresa municipal impõe semana sem descanso

Maria do Carmo Marques, dirigente sindical da DR de Viseu e trabalhadora da Termolistur

Cerca de quatro dezenas de trabalhadores das termas municipais de S. Pedro do Sul estão há vários meses em luta pelo direito ao descanso semanal e ao pagamento da compensação devida pelo trabalho prestado muito para além das 40 horas.

Sindical do STAL da CM do Alandro-al acusam os responsáveis do muni-cípio de não responderem aos vários pedidos de reunião efectuados pelo Sindicato e de ignorarem o «Caderno Reivindicativo» apresentado pelo Sin-dicato em 25 de Junho.

Notando que esta atitude «anti-dia-logante» da autarquia é altamente pe-nalizadora para os trabalhadores, o STAL insiste na urgência de proceder à reclassificação profissional das ca-tegorias desajustadas e à abertura de concursos internos de promoção.

Em simultâneo alerta para a exis-tência indevida de muitas dezenas de trabalhadores a recibo verde, enquan-to as vagas existentes no Quadro de Pessoal permanecem por preencher.

A este propósito, o Sindicato salienta que, até meados de Dezembro, não lhe foi entregue nenhuma proposta de mapa de pessoal, ao contrário do que tem sucedido na maioria das au-tarquias do distrito de Évora.

Também sem qualquer justificação, a Câmara do Alandroal não procedeu ao pagamento dos suplementos re-muneratórios, horas extraordinárias e ajudas de custo relativas ao mês de Outubro.

O STAL exige a liquidação dos montantes em dívida e reclama a ur-gente abertura do diálogo com a au-tarquia de forma a resolver os pro-blemas acumulados e salvaguardar os legítimos direitos e interesses dos trabalhadores.

AlandroalCâmara emudecida foge ao diálogo

Dezoito trabalhadores da CM de Celorico da Bei-ra receberam, no mês de Outubro, um total de cer-ca de 62 mil euros relativos à progressão vertical na carreira, direito que a autarquia insistiu em não re-conhecer mesmo após a sentença do tribunal.

Face ao incumprimento por parte da autarquia, o STAL requereu que a quantia fosse paga me-diante dotação orçamental, mecanismo que a lei prevê precisamente nos casos em que as entida-des públicas não cumpram as suas obrigações.

Deste modo, num processo sem preceden-tes, o Tribunal determinou que o montante fos-se depositado na conta do STAL para que este efectuasse directamente o pagamento aos tra-balhadores.

O reconhecimento da progressão vertical em várias carreiras indevidamente consideradas

como horizontais foi colocado à autarquia ainda em 2004 e abrangia as categorias de motorista de pesados, fiscal de água e saneamento e de tractorista, entre outras.

Para além de ter exigido uma solução para ressarcir os trabalhadores, o Sindicato interpôs outra acção reclamando uma sanção pecuniária ao edil pelo atraso de quase um ano no cumpri-mento da sentença, cujo valor o Tribunal decidiu fixar em 21,30 euros por dia.

O desrespeito pelo tribunal poderá assim cus-tar caro ao presidente da CM de Celorico, que não só deverá indemnizar o Sindicato em cerca de cinco mil euros, como ainda corre o risco de perder o mandato por incumprimento de sen-tença judicial, processo está agora nas mãos do Ministério Público.

Celorico da BeiraTrabalhadores ressarcidos após anos de luta

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JAnEIRO 20091� jornal do STAL

A quadratura da criseConversas desconversadas

✓ Adventino Amaro

Confesso. Já não é a primei-ra vez que cometo a pouco desculpável inconfidência

de relatar, aqui, o que se passa em reuniões do mui digno e venerando Conselho de Ministros deste nosso maravilhoso país, presidido pelo se-nhor engenheiro Hipócrates, cujas elas (as reuniões) deveriam aconte-cer no mais rigoroso sigilo para que o conhecimento (logo, o poder) não caia na rua, nas mãos da populaça ignorante dos altos desígnios dos cérebros pensantes. Mas, que que-rem vocês? Tive sempre imensa difi-culdade em guardar segredos, mes-mo os de Estado, e por isso não re-sisto a relatar mais esta.

A reunião em causa foi restrita, e nela só participaram, para além do chefe Hipócrates que a convocou, o ministro das Finanças, Tachada dos Cantos, a ministra da Educação, Mi-lúcha Rodriguinhos, e, para prevenir eventuais necessidades do uso da forca (perdão, da força...) nas estra-tégias a seguir, o secretário de Esta-do da Administração Pública, Rastilho dos Espantos. Uma espécie de gabinete de crise, se quisermos uti-lizar um termo pomposo.

Por três razões fundamentais esta reunião foi tão minguada de crânios. A primeira, prendeu-se natu-ralmente com a necessidade de combater o terroris-mo instalado já em várias áreas da vida nacional, em especial nos organismos públicos e muito particu-larmente nas escolas, onde uma seita perigosíssima que dá pelo nome de «professores», pretendendo (vá lá saber-se porquê, dirá a Milú no decorrer da reunião) dignificar a sua função educadora, resiste como nun-ca se havia visto às ordens ministeriais que apenas se movem por razões patrióticas, como sejam poupar dinheiro para reduzir o défice, lançar o caos em todo o sistema de ensino e, assim, manter na ignorância as novas gerações, para que o poder se mantenha in-definidamente nas mãos responsáveis em que estão, graças a Deus e ao voto crédulo do povoléu.

A segunda razão tem a ver com a crise financeira. E a terceira, obviamente, com a malandragem dos

trabalhadores da Administração Pública, que todos os anos aí estão a chatear os dignos governantes com reivindicações disparatadas: carreiras dignas, aumento real dos salários, segurança no emprego... Enfim, o costume.

Vamos então à reunião antes que me falte o es-paço.

Hipócrates, quando chegou à quadrada mesa, já ti-nha à sua espera os subordinados que havia convo-cado. Sentou-se, pigarreou ligeiramente e foi direito ao assunto.

- Minha cara e meus caros colaboradores, vamos lá despachar isto rapidamente porque ainda tenho,

hoje, que ir distribuir mais uns quantos Magalhães a uma escola da província. As eleições estão à porta e não podemos descuidar-nos. Tachada dos Santos, como vão as coisas lá pelo teu estaminé?

- Senhor primeiro-ministro, como deve saber anda por aí uma campanha desgraçada contra os nossos amigos banqueiros que, no uso da sua mais do que legítima e elementar liberdade, de que nós somos o fiel garante, fanaram, ou desviaram, ou locupletaram-se com as massas dos depositantes e agora os ban-cos estão em falência. O nosso correligionário e emi-nente governador do Banco de Portugal não sabe de nada, a entidade reguladora de nada sabe, os admi-nistradores dos bancos ainda menos, mas a verdade é que os carcanhóis se evaporaram. Que fazer peran-te esta situação?

- Ó homem, mas você é parvo ou quê? - Esbra-vejou o sr. engenheiro. - Então você já esqueceu a razão por que temos poupado tanto dinheiro, dimi-nuindo os salários dos trabalhadores e as pensões de reforma, encerrando os serviços de saúde de proximidade, as escolas que não têm pelo menos 50 alunos por turma, e vendendo à iniciativa priva-da tudo o que são serviços públicos? Ou ainda não percebeu que esta poupança se tem feito exacta-mente para prevenir eventuais azares nas opera-ções especulativas a que se dedicam os nossos estimados amigos, patrocinadores e futuros em-pregadores? Nacionalize imediatamente os prejuí-zos dos bancos, caramba, está à espera de quê? Nós somos responsáveis e por isso temos meios para resolver o problema. Ou quer, com estas he-sitações, pôr em causa a presidência dos conse-lhos de administração que nos foram prometidos

quando se nos acabar a mama das cadeiras go-vernamentais? Avance, homem, que a Europa es-tá connosco!

- Milucha, agora é consigo, mas depressa que se está a fazer tarde e o Magalhães pode congelar. Co-mo estão as coisas lá pelo seu bordel ministerial?

- Ai senhor primeiro-ministro, um horror. Veja lá que agora os professores resolveram exigir dignidade para a sua profissão. E logo a mim, que já fui profes-sora e nunca tive essa coisa, seja lá isso o que for, e agora como ministra ainda menos. Esta gente está a ser manobrada pelos comunistas, é o que é. Só eles, nestes tempos modernos que vivemos, se poderiam lembrar de tão antiquado absurdo. Dignidade, veja bem o sr. primeiro-ministro. Aonde iremos parar, se cedermos a esta gente nas questões básicas que ali-cerçam a nossa governação?

-Trucide-os, Milucha, trucide-os! - Uivou do outro lado da mesa o Rastilho dos Espantos, que com mui-to custo não tinha ladrado ainda.

- Pronto, Miluchas, não se enerve. Mantenha-se fir-me na sua corajosa indignidade, que eu estou consi-go. - Bom, Rastilho, diga lá agora você.

-Eu? Eu trucido os gajos que não estiverem de acordo c´a gente. Eu trucido tudo o que se me opu-ser. Eu trucido, prontos! - E uma asquerosa baba ver-de escorria pelos espantosos queixos.

- Faça isso, Rasquilho, faça isso mas não fale as-sim, homem! Olhe que para o ano há eleições, tem que moderar a linguagem. E pronto, está acabada es-ta profícua reunião. Vou-me agora ao Magalhães, que é o que está a dar...

E pronto. Não é que a reunião acabou mesmo aqui?

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JAnEIRO 2009 1�jornal do STAL

As acções de luta iniciaram-se, dia 28 de Outubro ,

com uma concentração nas oficinas com desfile até aos Paços do Conce-lho onde se realizou um plenário. Aí foi recordada a decisão favorável do Tribunal a um conjunto de 22 trabalhadores que reclamaram o desenvol-vimento vertical da car-reira de condutor de má-

quinas pesadas e veícu-los especiais.

Anteriormente, o pre-sidente da Câmara ha-via assumido o compro-misso de, caso o STAL ganhasse o processo, a sentença seria aplica-da por igual a todos os trabalhadores com fun-ções idênticas, tendo até sido reservada uma verba para o pagamen-to dos retroactivos. Mas

Fernando Seara faltou à palavra, limitando-se a reconhecer os direitos àqueles que interpuse-ram o recurso conten-cioso. De fora ficaram mais de uma centena de motoristas.

Levando a luta o mais longe possível, os traba-lhadores realizaram dois períodos de greve, de 17 a 21 de Novembro, com paragem durante um ho-

ra, e de 24 a 28 do mes-mo mês, com paragem de duas horas sempre no início do turno.

Em plenário reunido no dia 2 de Dezembro, que analisou os resultados da greve, foi então decidido, face à intransigência da autarquia, levar o proces-so a tribunal reclaman-do igualdade de direitos para todos os trabalha-dores.

Sintra

Seara faltou à palavra

Os motoristas da CM de Sintra exigem a integração em carreira vertical

Os motoristas da CM de Sintra e da empresa municipal de higiene pública, HPEM, manifestaram, em Outubro e Novembro, o seu protesto e indignação pela recusa do edil do concelho de eliminar a desigualdade nas suas carreiras.

Os profissionais das associações humanitárias de bombeiros volun-tários do distrito de Portalegre es-tiveram reunidos num encontro re-gional promovido pelo STAL, no dia 15 de Novembro, onde aprovaram

um documento reivindicativo diri-gido às diversas entidades e insti-tuições.

Durante os trabalhos, decorridos no auditório da biblioteca munici-pal, foi analisada a actual situação

O encontro regional de bombeiros de Portalegre aprovou um documento dirigido às instituições do distrito

PortalegreBombeiros debatem problemas do sector

da protecção civil e os problemas específicos dos trabalhadores das AHBV do distrito.

Este sector há muito reclama a regulamentação das condições de trabalho, designadamente em matéria de ingresso, progressão e promoção ou formação profis-sional. Particularmente graves são os persistentes abusos por parte das entidades empregadoras que utilizam o estatuto do voluntaria-do das instituições onde trabalha a maioria destes profissionais para prolongar a sua jornada de laboral muito para além do razoável e su-portável.

O encontro discutiu ainda as po-líticas governamentais para a pro-tecção civil, apontando a necessi-dade de garantir o financiamento adequado às associações humani-tárias com vista a melhorarem o in-dispensável serviço que diariamen-te prestam às populações.

A Câmara Municipal de Odivelas aprovou em 28 de Novembro a constituição de uma sociedade com um parceiro privado para a construção de uma escola e um pavilhão desportivo, na qual a autarquia fica em minoria.

O prejudicial negócio para o jovem município implica a cedência de dois terrenos com 15,5 mil metros qua-drados pelo valor irrisório de 74 mil euros, um leoni-no contrato de arrendamento e custos de construção muito superiores aos estimados pelos técnicos muni-cipais.

Enquanto o orçamento calculado pelos serviços da Câmara determinou um valor abaixo dos 10,5 milhões de euros, o montante contratado com o privado ascen-de a 18,3 milhões de euros, ou seja, um agravamento de 75 por cento dos custos.

Mais grave ainda é o compromisso assumido pela autarquia de arrendar aqueles equipamentos durante 25 anos pelo valor anual de 1,8 milhões de euros, pre-vendo uma actualização de dois por cento ao ano.

Contas feitas, no final do prazo, a autarquia terá pa-go 57 milhões de euros por uma escola e um pavilhão cuja construção custa quase seis vezes menos. O ne-gócio, aprovado pelos eleitos do PS e do PSD, é exce-lente para o privado, mas ruinoso para o município e ultrajante para os seus trabalhadores que se esforça-ram por encontrar soluções bem mais económicas no interesse da população.

CM Odivelas Parceria privada custa 6 vezes mais

Após a greve realizada entre os dias 8 e 11 de De-zembro, que registou uma adesão superior a 95 por cento, representantes do STAL e do STML (Sindicato dos Trabalhadores do Município de Lisboa) reuniram com o presidente da CM de Lisboa, a quem transmiti-ram a firme oposição dos trabalhadores à privatização dos serviços de higiene urbana.

Assinalando uma evolução positiva da autarquia, que se comprometeu a reforçar o efectivo de trabalha-dores, aumentar os incentivos financeiros e discutir já no início de Janeiro futuro dos serviços ñ os dois sin-dicatos, após uma reunião com os trabalhadores, de-cidiram suspender uma nova paralisação de três dias, marcada para final de Dezembro. Contudo, permane-cem atentos, exigindo que as verbas previstas no orça-mento de 2009 para a contratação de empresas sejam transferidas para o reforço do pessoal e aquisição de novos equipamentos para os serviços camarários.

Direito à reclassificação

Na sequência da persistente intervenção sindical, a CML reconheceu finalmente o direito à reclassificação profissional a cerca de duas centenas de trabalhado-res, na sua maioria técnicos e administrativos.

Após meses de luta, a situação foi desbloqueada com a aprovação, em 22 de Outubro, de uma proposta de alteração do Quadro de Pessoal de Vínculo Público, apresentada pelos vereadores da CDU, que permitiu criar as vagas necessárias para dar resposta às legíti-mas aspirações dos trabalhadores.

Limpeza urbana de LisboaGreve fez recuar privatização

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JAnEIRO 20091� jornal do STAL

N.º 91JANEIRO 2009Publicaçãode informação sindical do STAL

PropriedadeSTAL – Sindicato Nacional dos Trabalhadoresda Administração Local

Director:Santos Braz

Coordenação e redacção:José Manuel Marques e Carlos Nabais

Conselho Editorial:Adventino AmaroAntónio AugustoAntónio MarquesJorge FaelJosé TorresMiguel VidigalVictor Nogueira

Colaboradores:Adventino AmaroAntónio MarquesJorge Fael,José Alberto LourençoJosé TorresManuel GameiroRodolfo CorreiaVictor Nogueira

Grafismo:Jorge Caria

Redacção e Administração:R. D. Luís I n.º 20 F1249-126 LisboaTel: 21 09 584 00Fax: 21 09 584 69Email: [email protected] Internet: www.stal.pt

Composição:pré&pressCharneca de BaixoArmazém L2710-449 Ral - SINTRA

Impressão:LisgráficaR. Consiglieri Pedroso, nº90, 2730-053 Barcarena

Tiragem:57 000 exemplaresDistribuição gratuitaaos sócios

Depósito legalNº 43‑080/91

Horizontais: 1. Computa-dor nacionalizado, obra maior do (des)governo que temos. 2. Base quadrada e baixa que su-porta uma estátua. 3. Atmosfe-ra; Associação de Agricultores de Ronfe; mostras-te alegre; aqui. 4. Via; inflamação do ouvi-do; aquele cujo fim nunca mais chega; 5. Peça de madeira para segurar, apertando; lavra; erva para alimento do gado. 6. Al-bergue; piedades. 7. Saro; ir-mãs do pai ou da mãe (inv.). 8. É o símbolo do Benfica; seio in-vertido. 9. Alcunha muito suave da tresloucada que dirige o mi-nistério da educação; o que va-le é que ela está quase a chegar aqui; mamífero cetáceo muito voraz (por respeito ao animal, esta não tem nada a ver com as anteriores...) 10. Iguala; silen-ciar; a eles. 11. Gálio (sq.); rela-ção; para onde deve ir este go-verno, e depressa; extra terres-tre. 12. Pode ser colabora, mas

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Palavras cruzadas

SOLUÇÕES:

Horizontais: 1. Magalhães. 2. Acropodio. 3. Ar; aar; ris; ca. 4. Rua; otite; mês. 5. Tala; ara; feno. 6. Asilo; penas. 7. Curo; sait. 8. Águia; otiep. 9. Milu; fim; orca. 10. Iga; calar; aos. 11. Ga; rol; rua; et. 12. Participa. 13. Ameaçaras.

Verticais: 1. Carta; amigo. 2. Ruas; giga. 3. Ma; alicula; pa. 4. Aca; aluiu; ram. 5. Grão; ora; core. 6. Aorta; falta. 7. Lp; ira; mil; ic. 8. Horta; marca. 9. Adie; pão; ruir. 10. Eis; feito; apa. 11. So; mentira; as. 12. Cena; ecoe. 13. Casos; pasto.

nos tempos que correm usa-se mais o bufa. 13. Fizeras correr risco.

Verticais: 1. Missiva; companheiro e camarada. 2. Caminhos; selha larga e baixa. 3. Ruim; espé-cie de túnica curta usada pelos romanos; utensílio

de cozinha. 4. Cachaça de mau gosto; abalou; oceano às avessas. 5. Fruto de cereais; reza; branqueie. 6. Grande artéria do corpo humano; balda-se, como alguns deputados no parlamen-to. 7. Disco de 33 rotações, em vinil; raiva; dez vezes cem; noventa e nove romanos. 8. Pedaço de terreno onde se cultivam hortaliças; sinal. 9. Transfira para outro dia; a única coisa que qual-quer dia temos para comer; cair. 10. Aqui está; acabado; bolo de farinha de arroz e azeite de coco usado na Ásia. 11. Abandonado; a espe-cialidade de Sócrates; elas. 12. Acto mais ou menos censurável; soe. 13. Acontecimentos; alimento de gado.

reverso

O MagalhãesAi Magalhães, Magalhães, não foras tu,

e o meu país estaria na bancarrota.

Não vale a pena iludirmos as questões.

Aos banqueiros, coitadinhos, já todos vêm o cú

e a Milu da educação não passa de uma anedota

muito útil, é verdade, para animar os serões

dos saudosos do fascismo e outros camaleões.

Para lhes dar uma ajuda eu cá não poupo o bestunto.

Se os putos das nossas escolas tiverem em seu poder

um Magalhães milagroso, o seu futuro é risonho.

Se não têm pão em casa, se acabou o presunto,

se os profs não têm tempo de os ensinar a ler,

não é caso p´ra ficarem tristes, vencidos, bisonhos.

O Magalhães lá estará para acalentar seus sonhos.

Através da Internet já podem acompanhar

os obscenos banquetes daqueles que lhes roubaram

o direito a viver sem fome e com esperança.

Mais tarde ouvirão discursos que os farão vomitar

quando enfim se aperceberem de que eles os enganaram

com promessas mentirosas de uma falsa aventurança.

O Magalhães é, assim, o biombo em que se esconde

a desvergonha total da gente que nos «governa».

E nós, iremos deixar que eles vão até onde?

Não será mais do que tempo de os mandar p´ra «vida eterna?»

A Melga

José Luis Pimentel de Sousa, de 54 anos, dirigente do STAL na Di-recção Regional de Bra-ga, faleceu, no dia 9 de Dezembro, vítima de do-ença prolongada.

Montador electricista principal da Câmara Municipal de Fafe, foi eleito dirigente regional nos mandatos de 1986-88, 1989-91, 1995-97 e 1998-00. De 1992 a 1994 exerceu o cargo de vogal na Mesa da Assembleia Regional de Braga. Nas últimas eleições realizadas em

Dezembro de 2007, foi de novo eleito dirigente do STAL, funções de que to-mou posse em 14 de Ja-neiro de 2008.

Na mensagem de con-dolências enviada à fa-mília de José Pimentel,

a Comissão Executiva da Direc-ção Regional de Braga enaltece o «exemplo de vida e luta» do diri-gente falecido, que «sempre este-ve disponível para lutar na primei-ra linha em defesa dos oprimidos e dos mais desfavorecidos».

Dirigente e delegado falecidos

Faleceu, vítima de aci-dente rodoviário, em 3 No-vembro, o jovem delegado sindical do STAL, Paulo Emanuel Afonso Pires, de 29 anos.

Residente em Miranda do Douro, era funcioná-rio dos Bombeiros há dez anos, como operador de central e integrava o corpo acti-vo há 12 anos. Foi eleito delegado sindical do STAL em 12 de Março de 2008.

Paulo Emanuel Pires trabalha-va por turnos para poder pagar

os estudos no Institu-to Politécnico de Bra-gança, onde frequen-tava o curso de infor-mática de gestão. Foi precisamente quando se dirigia para o Ins-tituto, situado a cerca de 90 quilómetros da sua residência, que o

seu veículo colidiu com um outro, num troço da estrada espanhola 122 que liga à fronteira de Quinta-nilha, caminho que habitualmen-te fazia por ser o mais curto entre Miranda do Douro e Bragança.

O Jornal do STAL manifesta profundas condolências aos familiares, amigos e colegas de Emanuel Pires e de José Pimentel de Sousa.

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JAnEIRO 2009 1�jornal do STAL

Como profissional no oficio das letras começou pela redacção do jornal O Século, tendo pas-

sado ainda pela RTP e feito parte dos quadros editoriais dos jornais O Diá-rio, República, Europeu, de diversas revistas como Seara Nova, Sábado, Cartaz, Almanaque, Gazeta Musical e de Todas as Artes, Época. Foi ainda correspondente e redactor da Agên-cia France Press em Lisboa e traba-lhou 23 anos (1965-1988), no jornal Diário Popular onde vincou bem o tra-ço do jornalismo empenhado que en-tão se fazia.

Artífice da palavra, utilizou todos os meios de comunicação, jornais, rádio e televisão. Deu voz a diversas cróni-cas radiofónicas para a Antena Um e Comercial e foi o primeiro comenta-dor das «Crónicas de Escárnio e Mal-dizer» na TSF. Nos ecrãs de TV apre-sentou na SIC o programa «Conversas Secretas», continuando as entrevistas no «Cara-a-Cara» para a SIC-Notícias. Colaborou e ainda colabora em vários jornais e foi fundador do semanário O Ponto.

Os livros de Baptista-Bastos estão representados nas antologias do en-sino do Português como exemplos das modernas correntes literárias. Autor galardoado com vários pré-mios prestigiados, tem obras tradu-zidas em diversas línguas, checo, búlgaro, russo, alemão, castelhano e francês.

«Solidão humana»

Em As Bicicletas em Setembro, publicado em 2007, Baptista-Bastos vinca profundamente a natureza das relações humanas, a forma menos conseguida como as pessoas lidam com a separação e a perda e no fim com o drama da solidão. É uma pa-rábola sobre aqueles que perdem, que afinal somos todos nós porque cada um perdeu um pouco de si mesmo, um pouco do outro. Todos possuímos feridas abertas, uns mui-to mais do que outros, sobretudo os que se feriram a si próprios sem dis-so darem conta.

Certa tarde, a memória dos sons fez ressurgir o tropel dos cavalos da tropa, escutados pelo autor na sua infância, no Bairro da Ajuda onde nasceu. Jesu-ína representa o personagem central, correndo entre afectos, pequenas vin-ganças, muitas intrigas, algumas má-goas, talvez lembranças de amor ou mentiras, tudo transformado em me-mórias que dão vida a uma obra sin-gular.

A nobreza e grandeza da mulher, a sua integridade estrutural, estão sem-pre presentes neste romance (ou tal-vez novela). Dos sentimentos fala-nos o autor:

«Os sentimentos e os comporta-mentos das pessoas não mudam por decreto. A democracia não extirpou, nem o poderia fazer, a pequenez do nosso espírito, o qual, ocasional-mente, explode em grandeza e em assombro. Levará gerações a admi-tirmo-nos como somos, para tentar-mos melhorar as amolgadelas de que sofremos. Creio, modestamente em-bora, que As Bicicletas em Setembro fala de sentimentos eternos, das con-tradições e complexidades da nossa condição, da imponência e da majes-tade da mulher.

«O homem existe nesta vasta solidão povoada de memórias. Cada homem

transporta uma pessoal e singularís-sima solidão. Sempre escrevi sobre a solidão humana, sobre a procura de um peculiar silêncio que a explicasse ou a justificasse. Todos os livros falam de solidão».

Agonia trágica

Centenas de cavalos correm à des-filada naquele vale imenso que se es-tende por alguns quilómetros. «O va-le despenhava-se abruptamente num talude.» Lá ao longe, as serras divisa-vam-se a perder de vista.

Os cavalos correm com as bocas cheias de espuma, os olhos endoide-cidos. A tempestade abate-se com violência sobre a terra. Relâmpagos traçam o céu, ouvem-se ribombar os trovões como o barulho dos infernos. Os cavalos enlouquecidos saltam no meio da tempestade em direcção ao abismo.

Jesuína comenta que o que mais a tinha impressionado era o modo como

os cavalos relinchavam. «Parecia que se queixavam» E «essa mulher já velha e cheia de rugas contava aos garotos da rua histórias antigas».

As memórias também correm à des-filada como os cavalos simbólicos, ver-dadeiros arquétipos da evocação do mundo e do tempo, peças dos grandes relógios naturais e da fúria imaginária dos desejos.

A força dos cavalos do apocalipse em tropel, desfilando loucos em di-recção à morte, acossados pela tem-pestade, abre caminho para o desen-rolar da acção que é povoada pela natureza perversa dos homens, com as suas invejas, a intolerável e por ve-zes cruel intromissão na paz dos ou-tros, chegando à morte física, embo-

ra a forma mais trágica de todas as agonias seja a destruição dos sentimentos, sobretudo da con-fiança no ser humano, dos seus sonhos, condenando-o ao isola-mento gerador da insuportável solidão.

As bicicletas são mais uma ale-goria do imaginário moderno, sím-bolo de movimento e autonomia, o tempo que roda, como as nuvens transmutando-se pelos céus fora.

A narrativa surge no singular, quase sempre na primeira pes-soa, desenvolvendo-se capítulo após capítulo sob a forma de cró-nica, alavanca literária que Baptis-ta-Bastos domina como ninguém. Usando uma técnica própria de es-crita, mistura de géneros, mas com obediência às regras do romance, vai burilando os personagens na sua unidade e conclusão, ligados a esse pequeno mundo misto de cidade e de campo, sítio de crian-ça revisitado.

A revolta é a saída

Jesuína, dotada de enorme força ali-cerçada em sólidos valores culturais e sobretudo morais, inspira-nos simpa-tia. O narrador fala: «Com o andar dos anos eu aprendera que a memória é a base da identidade; e ela decidira su-primir a memória a fim de preservar a ocultação de quem era. Eu sou mais do que eu, não há nenhum caminho para a fuga.».

Com um traço por vezes exube-rante nas imagens que nos desenha, poético, chegando mesmo a ser lí-rico no caldear das emoções, Bap-tista-Bastos reflecte sobre o nosso tempo: «Vivemos num país que já nada tem a ver com o País de Abril. Aliás, penso, seriamente, que pouco tem a ver com a democracia. Signi-fica que nem tudo foi extirpado do que de pior existe nos políticos por-tugueses. Há um ranço salazarista nesta gente. E, com a passagem dos dias, cada vez mais se me acentua a ideia de que a saída só reside na cul-tura da revolta.»

Um livro, um autor✓ António Marques

Jornalista de sempre, escritor com mais de duas de dezenas de obras publicadas desde 1962, Baptista‑Bastos nasceu no Bairro da Ajuda, em Lisboa, em 27 Fevereiro do ano de 1934, e foi aluno da Escola de Artes Decorativas António Arroio e do Liceu Francês.

As bicicletas em Setembrode Baptista Bastos

Obras publicadas

O filme e o realismo – 1962O Secreto Adeus – 1963O Passo da Serpente – 1965O Cinema na Polémica do TempoAs Palavras dos Outros – 1969Cidade Diária – 1972O Cão Velho entre Flores – 1974Capitão de Médio Curso – 1977Elegia para um Caixão Vazio – 1981Viagem de um Pai e de um Filho pelas Ruas da Amargura – 1981O Homem em Ponto – 1984A Colina de Cristal – 1987Um Homem parado no Inverno – 1987O Cavalo a Tinta da China – 1999Fado Falado – 1999Lisboa Contada pelos Dedos – 2001No Interior da Tua Ausência – 2002As Bicicletas em Setembro – 2007A Cara da Gente – 2008

Page 16: Jornal N.º 91

JAnEIRO 20091� jornal do STAL

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Resumo da luta19 de Setembro – A Frente Comum realiza no Rossio, em Lisboa, um ple-nário de dirigentes e activistas sindi-cais com desfile para o Ministério das Finanças.

1 de Outubro – A Greve Nacional da Administração Pública, integrada no Dia Nacional de Luta da CGTP-IN, re-gista uma forte adesão dos trabalha-dores.

18 de Outubro – Realiza-se em Lisboa o Encontro Nacional da Água, promo-vido por diversas organizações e movi-mentos de utentes.

21 a 23 Outubro – A Frente Comum pro-move uma série de vigílias junto ao Mi-nistério das Finanças.

24 de Outubro – Realiza-se em Lisboa a Cimeira da Frente Comum

31 de Outubro – O STAL realiza a sua I Conferência de Organização Sindical em Montemor-o-Novo.

17 a 21 de Novembro – Os motoris-tas da Câmara Municipal de Sintra e da HPEM realizam uma greve de uma hora por dia para exigir o reposicionamento das suas carreiras.

21 de Novembro – Milhares de traba-lhadores da Administração Pública ma-nifestam-se em Lisboa contra a política do Governo.

28 de Novembro – Reúne em Lisboa o Conselho Geral do STAL.

8, 9, 10, 11 de Dezembro – Os traba-lhadores do sector da higiene urbana da Câmara Municipal de Lisboa cumprem uma greve em protesto contra a privati-zação dos serviços de limpeza em duas zonas da cidade.

17 de Dezembro – O Parlamento Eu-ropeu rejeita a proposta de directiva de tempo de trabalho que visa impor as 65 horas semanais.

24 a 26 de Dezembro – Os trabalhado-res dos serviços de limpeza da Câmara Municipal do Porto realizam uma gre-ve contra a privatização em curso e sua transferência forçada para a empresa concessionária.

31 a 2 de Janeiro – Realiza-se nova gre-ve dos trabalhadores dos serviços de limpeza do Porto.

Na sessão de 17 de Dezembro, os euro-deputados aprova-

ram por uma ampla maioria um relatório que reafirma o princípio das 48 horas como máximo semanal admissível em todos os países, rejeitan-do a proposta dos governos da União Europeia que pre-conizava a possibilidade de cada país poder legislar mui-to para além daquele limite.

Em nota de imprensa, a CGTP-IN considerou a posi-ção do Parlamento Europeu como «uma vitória da luta fir-me e persistente dos traba-lhadores contra uma proposta desumanizadora das relações de trabalho, nomeadamente as que se referem à concilia-ção entre a vida familiar e pro-fissional e à alteração do con-ceito do tempo de trabalho.»

Apesar deste importante resultado, a central sublinha

Vitória do trabalhoPE chumba 65 horas semanais

A manifestação de dia 16 de Dezembro em Estrasburgo demonstrou a firme oposição dos sindicatos e trabalhadores ao alargamento da semana de trabalho

O Parlamento Europeu rejeitou uma proposta de revisão da directiva sobre o tempo de trabalho que permitia o alargamento da jornada de trabalho até um máximo de 65 horas semanais.

que «é fundamental que o Mo-vimento Sindical e os traba-lhadores em geral continuem a intervir activamente de forma a impedir que a negociação en-tre o Conselho e o Parlamento Europeu que se vai processar nos próximos três meses favo-reça as posições retrógradas e conciliadoras que estiveram na origem da proposta agora rejeitada.»

Governo derrotado

Lembrando que o Governo português «optou por se abs-

ter na votação na reunião do Conselho Europeu, realizada em Junho», a CGTP-IN afir-ma que a sua posição foi der-rotada e que, como tal, «deve retirar as ilações deste pro-cesso bem como do resulta-do agora verificado».

Neste contexto, «a CGTP-IN reclama que o Governo assu-ma uma posição consentânea com o resultado desta vota-ção, suspendendo de imedia-to o processo de revisão do Código do Trabalho, em Por-tugal, onde se admite a hipó-tese dos horários de trabalho

atingirem as 12 horas diárias e as 60 horas semanais.»

A CGTP-IN exige ainda que o Governo, no quadro das negociações que irão ter lu-gar entre o Conselho e o Par-lamento Europeu, «adopte uma posição clara e inequí-voca de rejeição dos princí-pios e objectivos contidos na proposta do Conselho Euro-peu, assegurando, ao invés, uma intervenção que favore-ça um caminho de progresso na evolução da definição da organização, gestão e con-trole do tempo de trabalho».