jornal maré de notícias #48

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Ano V, N o dezembro de 2013 - Maré, Rio de Janeiro - distribuição gratuita 48 Nesta edição especial de 4 anos do nosso Maré, uma homenagem a quem vive e faz a nossa história. “É nós! ”

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Nesta edição especial de 4 anos do "Maré", uma homenagem a quem vive e faz a história da comunidade.

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Page 1: Jornal Maré de Notícias #48

Ano V, No dezembro de 2013 - Maré, Rio de Janeiro - distribuição gratuita48

Nesta edição especial de 4 anosdo nosso Maré, uma homenagem

a quem vive e faza nossa história.

“É nós! ”

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Redes de Desenvolvimento da Maré Rua Sargento Silva Nunes, 1012,

Nova Holanda / Maré CEP: 21044-242 (21) 3104.3276 (21)3105.5531

www.redesdamare.org.br [email protected]

Os artigos assinados não representam a opinião do jornal.

Parceiros:

Rosilene Miliotti Fabíola Loureiro (estagiária)

Fotógrafa Elisângela Leite

Proj. gráfico e diagramaçãoPablo Ramos

Logomarca Monica Soffiatti

Colaboradores Anabela Paiva

André de LucenaAydano André MotaDiogo dos Santos

Equipe Social da Redes da MaréFlávia Oliveira

Numim/ Redes da Maré

Coordenadoresde distribuição

Luiz GonzagaSirlene Correa da Silva

Impressão Gráfi ca Jornal do Commercio

Tiragem 40.000 exemplares

Instituição Proponente Redes de Desenvolvimento da Maré

Diretoria Andréia Martins

Eblin Joseph Farage (Licenciada) Eliana Sousa Silva

Edson Diniz Nóbrega Júnior Helena Edir

Patrícia Sales Vianna

Coordenação de ComunicaçãoSilvia Noronha

Instituição Parceira Observatório de Favelas

Apoio Ação Comunitária do Brasil

Administraçãodo Piscinão de Ramos

Associação Comunitária

Roquete Pinto

Associação de Moradores e Amigos do Conjunto Bento Ribeiro Dantas

Associação dos Moradores e Amigos do Conjunto Esperança

Associação de Moradores do Conjunto Marcílio Dias

Associação de Moradores do Conjunto Pinheiros

Associação de Moradores do Morro do Timbau

Associação de Moradores do Parque Ecológico

Associação de Moradores do Parque Habitacional

da Praia de Ramos

Associação de Moradores do Parque Maré

Associação de Moradores do Parque Rubens Vaz

Associação de Moradoresdo Parque União

Associação de Moradores

da Vila do João

Associação Pró-Desenvolvimento da Comunidade de Nova Holanda

Biblioteca Comunitária Nélida Piñon

Centro de Referência de Mulheres da Maré - Carminha Rosa

Conexão G

Conjunto Habitacional Nova Maré

Conselho de Moradores da Vila dos Pinheiros

Luta pela Paz

União de Defesa e Melhoramentos do Parque

Proletário da Baixa do Sapateiro

União Esportiva Vila Olímpica da Maré

Editora executiva e jornalista responsável

Silvia Noronha (Mtb – 14.786/RJ)

Repórteres e redatores Aramis Assis

Beatriz Lindolfo (estagiária) Hélio Euclides (Mtb – 29919/RJ)

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Parabéns para todos nós

Neste mês de dezembro comemoramos quatro anos de circulação do Maré de Notícias. Agradecemos a cada um que compartilhou sua história com a Maré por meio do jornal. Vamos seguir fi rmes na produção de um veículo de comunicação social pautado pelos próprios moradores e trabalhadores da Maré. O objetivo é agregar cada vez mais pessoas no nosso fazer diário.

Neste fi m de ano, tivemos uma bela notícia. A jornalista Rosilene Miliotti conquistou o terceiro

A Redes da Maré não funcionará entre os dias 21 e 25/12 e entre os dias 28/12 e 05/1. As atividades voltam na segunda, dia 06.

HUMOR - André de Lucena: “Os caracóis”

Expediente

Leia o Maré e baixe o PDF em www.redesdamare.org.br /redesdamare @redesdamarewww.redesdamare.org.br /redesdamare @redesdamarewww.redesdamare.org.br /redesdamare @redesdamare

Maria do Buraco FundoEla era rezadeira e chegou a ter mais de 40 fi lhos adotivos. Moradora do Parque União dos

anos 1960 a 1990, hoje dá nome a uma das ruas do Sem Terra

Rosilene Miliotti Elisangela Leite

Além dos mais de 40 fi lhos adotivos, D. Ma-ria tinha seis fi lhos biológicos. Alice de Almei-da Lima, a caçula, conta que a mãe foi uma das fundadoras do Parque União, em 1962. “Antes de chegar ao Parque União nós mo-rávamos no Morro do Timbau e lembro que minha mãe se metia na briga dos outros e, apesar de pobres, ela não gostava de ver ninguém passando fome. Às vezes, as pesso-as chegavam aqui e deixavam os fi lhos com ela e diziam ‘D. Maria, cuida do meu fi lho pra mim?’. Só que depois as pessoas não voltavam para buscar as crianças. Às 20h ela colocava todas as crianças para dormir. Ninguém fi cava na rua. Se alguém pas-sasse mal ela colocava na carroça e levava para o médico. Com ela não tinha tempo ruim”, lembra.

Segundo Alice, quase ninguém conheceu sua mãe como Maria de Lourdes Martins. O marido dela era o João do Tempero e ela Maria do Buraco, mas ela não gostava do apelido que ganhou durante uma festa junina. Ninguém soube explicar o motivo deste apelido.

D. Maria também gostava de animais. Criava porcos, galinhas e cabritos. Ela os castrava e depois os vendia ou cozinhava para alimentar a grande família. “No dia de feira, minha mãe e algumas crianças catavam a xepa para fazer comida. Ela não diferenciava ninguém e tratava todo mundo igual. Acredito que se ainda estivesse viva, seria capaz de levar os usuários de crack para dentro de casa e cuidar de cada um deles”, diz a fi lha.

Rezadeira, ela era umbandista e organizava uma procissão no dia de São Sebastião, em 20 de janeiro, quando também fazia canjica para distribuir na comunidade. Já no dia de São Cosme e Damião, em 27 de setembro, ela preparava uma festa. “Eram duas datas que o povo já esperava que ela fosse fazer alguma coisa”, comenta Alice.

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“Às vezes, as pessoas chegavam aqui e deixavam os fi lhos com ela e diziam

‘D. Maria, cuida do meu fi lho pra mim?’. Só que depois as pessoas não voltavam para

buscar as crianças”Alice, fi lha caçula de D. Maria, que chegou a

ter mais de 40 fi lhos adotivos

Mãe dos pobres

Muitos vizinhos da época trazem boas lembranças de Maria do Buraco Fundo. “Mãe dos Pobres é como alguns fi lhos adotivos se lembram dela. Por exemplo, o Iran, que não era um menino abandonado, mas não tinha um bom relacionamento com a família e ela o acolheu”, conta Jorge Ramos Soares, comerciante e ex-morador do Parque União.

Na infância, Jorge vendia picolé junto com um dos fi lhos de D. Maria. “Era uma mulher guerreira, que falava o que pensava, entrava em brigas e con-fusões. Tinha linguajar vulgar, mas isso não atra-palhava a sua grandeza como ser humano”. Para Jorge, D. Maria é uma referência de mulher. “Ela me lembra Madre Teresa de Calcutá, que mesmo na sua pobreza e simplicidade ajudava todo mun-do. Ninguém tinha disposição para fazer o que ela fazia”, afi rma ele.

Dona Maria morreu aos 65 anos por problemas cardíacos. Para o enterro, foi preciso mais de três ônibus e muitos carros. Hoje, ela dá nome a uma rua do Sem Terra, localidade do Parque União.

lugar do VII Prêmio Visibilidade de Políticas Públicas, do Conselho Regional de Serviço Social (Cress), com a matéria “Qual é a sua cor?”, publicada na edição 35. Parabéns!

Leia a coleção do jornal no site da Redes: www.redesdamare.org.br (clique em Maré de Notícias). E entre em contato com a Redação (Tel. 3104-3276 ou Rua Sargento Silva Nunes, 1012. Nova Holanda).

Feliz 2014!

lugar do VII Prêmio Visibilidade de Políticas Públicas, do Conselho Regional de Serviço Social (Cress), com a matéria “Qual é a sua cor?”, publicada na edição 35. Parabéns!

Leia a coleção do jornal no site da Redes: www.redesdamare.org.br (clique em Maré de Notícias). E entre em contato com a Redação (Tel. 3104-3276 ou Rua Sargento Silva Nunes, 1012. Nova Holanda).

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rfilSegue tranquilo que o piloto é gente boa!

Com itinerário Parque União x Castelo, os três motoristas que trabalham nas linhas de ônibus 320 e 330 contam um pouco da relação com os passageiros moradores da Maré

Ser motorista no Rio de Janeiro não é fácil para ninguém. Mas para os motoristas das linhas de ônibus da Maré, o fator trânsito caótico é amenizado pela amizade e confi ança que eles desenvolveram com os passageiros.

O motorista da linha 330, Carlos Roberto dos Reis, se diz satisfeito. “Vim substituir um motorista que estava de licença e viram que aumentou o número de passagens, então conquistei a linha. São cerca de 420 passageiros por dia e por isso a empresa já pensou em colocar um ônibus maior, mas o espaço na comunidade é pequeno”, diz ele, que mora em Queimados e já faz esse serviço há quatro anos. Na Maré, ele é conhecido como Seu Carlos e é assim que os moradores o chamam para avisar quando desejam descer, ou seja, os passageiros não utilizam a cigarra.

Seu Carlos confessa: o que mais gosta são os passageiros. Ele se emociona com o carinho com que é tratado, em especial quando volta de férias. A passageira Kátia dos Santos, moradora do Morro do Timbau, há mais de um ano faz a viagem todos os dias e conta que o número de usuários diminui nas férias do motorista. “Quando Seu Carlos está de férias fi ca um caos. Ele é o melhor motorista da comunidade. Até ligo para saber quando está atrasado, pois é um profi ssional responsável”, relata.

Em 25 de setembro passado, o nosso personagem completou 51 anos e foi um dia de festa nas três idas ao Castelo, com direito a parabéns, bolo e salgados. Seu Carlos já se familiarizou com o trabalho. “Um diferencial é o intervalo de 15 minutos entre uma viagem e outra, quando aproveito para tomar um café ou água. Mesmo assim, sempre cumpro os horários,

Linha 320 - Parque União x CasteloPonto fi nal: Na Nova Holanda, na Rua Principal, em frente a bomba da Cedae. Horário de saída da Maré: 6h30, 8h30, 10h30, 12h30, 15h10 e 17h30. Horário de saída do Castelo: 7h30, 9h30, 11h30, 13h30 e 16h10Itinerário: na ida, o ônibus segue pela Principal até a Baixa do Sapateiro e entra pela Linha Amarela em direção ao Castelo, no centro da cidade. Na volta, ele vem pela Av. Brasil, pega o início da Linha Amarela, entra pela Vila do Pinheiro, segue pela Rua Tancredo Neves até a Nova Holanda. Linha 330 - Parque União x CasteloPonto fi nal: em frente a 30ª Região Administrativa, na praça do 18, na Baixa do Sapateiro.Horário de saída da Maré: 6h, 8h, 10h, 12h, 14h e 16h. Horário de saída do Castelo: 7h, 9h, 11h, 13h, 15h e 17h. Itinerário: Na ida, o ônibus segue direto da praça do 18 para a Linha Amarela em direção ao Castelo, no centro. Na volta, ele vem pela Av. Brasil, pega o início da Linha Amarela, entra pela Vila do Pinheiro, segue pela Rua Tancredo Neves até o Ciep Hélio Smidt, no Parque Rubens Vaz, e volta pela mesma rua até a praça do 18.

Olhe a hora e não perca o ônibus!

“Todo mundo se conhece, todos os dias são quase os mesmos passageiros e até fazemos

festa de aniversário dentro do ônibus. A gente se junta, faz bolo, compra presente”

Severino Daniel, morador da Maré e motorista do turno da manhã do 320

“Os passageiros já sabem o horário. Às vezes até fi co esperando os que sempre pegam o ônibus no mesmo horário e quando eles não aparecem, depois pergunto se aconteceu alguma coisa”

Paulo Roberto, do turno da tarde do 320

Todos os anos tem festa dentro do ônibus no dia do aniversário

do Seu Carlos, do 330 (na foto, ao lado da passageira Kátia

dos Santos. Abaixo: outros dois passageiros saboreando o

bolo de aniversário no 330)

Todos os anos tem festa dentro do ônibus no dia do aniversário

do Seu Carlos, do 330 (na foto, ao lado da passageira Kátia

dos Santos. Abaixo: outros dois passageiros saboreando o

bolo de aniversário no 330)

apesar de não ter despachante na Maré. Sei que o morador depende do 330. Só peço paciência porque às vezes acontecem atrasos por causa do trânsito, mas a culpa não é minha”, brinca.

Carregar vizinhos é a vida do motorista do 320

A linha 320 tem dois motoristas. No turno da manhã trabalha há dois anos o pernambucano Severino Daniel de Lima, conhecido como Daniel. Ele conta que trabalhou em vários percursos de ônibus, mas que na Maré é melhor do que em outros bairros. “Gosto de trabalhar aqui, os passageiros já são amigos e, além disso, é perto de casa. Todo mundo se conhece, todos os dias são quase os mesmos passageiros e até fazemos festa de aniversário dentro do ônibus. A gente se junta, faz bolo, compra presente”, comemora Daniel, que é morador da Maré.

Já o cearense Paulo Roberto Ribeiro, do turno da tarde, assim que chegou ao Rio de Janeiro, há pouco mais de dois anos, conseguiu o emprego de motorista. Paulo acredita que, mesmo que essa linha carregue por dia cerca de 300 passageiros, fora da favela a linha é mais rentável para a empresa. “A empresa só mantém a linha por exigência da prefeitura. Mas todo dia é uma aventura diferente. Sempre rola estresse, principalmente fora da favela”.

Na Maré é mais tranquilo por causa da relação pessoal com os moradores. “Os passageiros já sabem o horário do ônibus. Às vezes até fi co esperando os que sempre pegam o ônibus no mesmo horário e, quando eles não aparecem, depois eu pergunto se aconteceu alguma coisa”, conta ele.

Rosilene Miliotti e Hélio Euclides Elisangela Leite

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Fabíola Loureiro

Um grupo de 30 jovens moradores de dife-rentes comunidades da Maré está iniciando 2014 em fase de mudança de vida profi ssio-nal. Depois de quatro meses tendo aulas teó-ricas e práticas no Curso Profi ssionalizante de Drywall, os alunos serão encaminhados para fazer um estágio remunerado durante três me-ses em quatro empresas parceiras da institui-ção Knauf do Brasil. A carga horária será de seis horas por dia, a partir de janeiro.

Levi Germano, 21 anos, estudante, morador do Parque União, viu no curso uma oportunidade para crescer profi ssionalmente, aumentando suas chances no mercado de trabalho. “Gosto de aprender tanto a teoria quanto a prática nos cursos que faço e sinto a necessidade e o desejo de aumentar o meu conhecimento. O estágio será desafi ador, por ser uma área nova e lá estarei sendo avaliado. É um trabalho que exige muita perfeição”, afi rma.

Estágio como passaporte

Além de promissor para quem trabalha, o Drywall não exige tanto esforço físico como nas construções em alvenaria, mas requer conhecimento técnico. A estu-dante Marcele Braga, 21 anos, moradora da Nova Holanda, conta que fez sua inscrição sem saber o

Este ano não vai ser igual aquele que passou

No túnel do tempoJovens moradores que fazem curso profi ssionalizante entram em nova fase em

2014. A partir de janeiro, eles farão estágio remunerado em empresas

Há 20 anos cerca de 500 moradores participavam da primeira e única Olimpíada do Trabalhador da Maré

que era o Drywall, mas queria investir em um futuro melhor. “Eu vejo o estágio como meu passaporte, a porta de entrada para estabelecer minha vida. Vou chegar e focar no meu trabalho”, conta Marcele.

O técnico em montagem e manutenção de com-putadores Philip Fernandes, 25 anos, morador do Morro do Timbau, assim que soube da abertura das inscrições fi cou interessado e logo procurou saber o que era o Drywall. “Já tinha visto o Drywall em alguns lugares, mas não sabia como era feito. Eu não imaginava como seria, fi quei observando e aos poucos fui me adaptando. No estágio espero apren-der ainda mais, pois quero seguir carreira nessa área”, conclui Philip.

O Drywall é um sistema constru-tivo a seco que utiliza chapas de gesso acartonado (que apresenta forma ou aparência semelhante a um cartão) fi xadas sobre estruturas metálicas, que compõe as paredes e o revestimento inter-no de imóveis. Esses sistemas são usados em ambientes internos das edifi cações e atualmen-te vêm sendo bastante utilizados na construção civil, principalmente em áreas comerciais. O curso na Maré é em parceria entre a Knauf do Brasil, a Ireso e a Redes da Maré, com apoio do Senai-RJ e do Observatório de Favelas. As au-las foram dadas por educadores do Senai, que foram capacitados pela própria empresa Knauf.

Beatriz Lindolfo

A Olimpíada do Trabalhador da Maré aconteceu em maio de 1993 e reuniu aproximadamente 500 moradores de todas as comunidades locais, segundo Tadeu Ribeiro, um dos organizadores do evento. A ideia surgiu nas reuniões na XXX Região Administrativa (R.A.), quando membros da prefeitura e moradores debatiam sobre diversas ações necessárias para a melhoria da qualidade de vida na Maré. Foi quando a promoção de uma olimpíada entrou em pauta. “A prefeitura abraçou essa nossa ideia e a Fundação Rio Esporte nos cedeu os troféus e as medalhas”, conta Tadeu, que é morador do Parque União.

O objetivo era contemplar todo o universo da Maré no Dia do Trabalhador, celebrado em 1º de maio, e ao mesmo tempo fazer uma corrente comunitária para o devido fortalecimento do Complexo. A meta também era descobrir jovens com aptidão esportiva e cultural.

As modalidades disputadas foram: vôlei, futebol de areia, futebol de campo nas categorias infantil e adulto e corrida feminina e masculina. As provas aconteceram simultaneamente pelas ruas da Maré. A corrida teve início na Praça do Conjunto Esperança e encerrou na Praça do Parque União. Na Praia de Ramos aconteceram os torneios de vôlei e de futebol de areia; já o futebol de campo adulto ocorreu em um campo onde hoje é a Vila Olímpica e o infantil em um campo do Parque Rubens Vaz.

Campeões por todos os lados

Os campeões da corrida feminina e masculina foram moradores do Parque União, do futebol de campo adulto foram moradores da Baixa do Sapateiro e do futebol de campo infantil foram moradores da Nova Holanda.

Dinoelson Pimentel, vencedor da corrida masculina, tinha 31 anos na época e era corredor do Corpo de Bombeiros. “No início foi uma disputa difícil, fui na frente para dar uma distância dos outros competidores e meu irmão fi cava me informando quando os outros estavam se aproximando de mim”, conta ele, que já não mora mais no Parque União.

“Senti muita emoção quando recebi o prêmio. Tinham pessoas que nem sabiam que eu era morador. Eu era o favorito, pois na largada vi que não tinha ninguém de fora. Percebi que já iria ganhar”, diz Dinoelson, que já ganhou outras competições realizadas na Maré. “Até hoje as pessoas me reconhecem”, revela.

Após o término das competições, aconteceu a entrega dos troféus para cada modalidade campeã. “Foi um dia de festa por toda a comunidade, torneios acontecendo ao mesmo tempo, atividades para as crianças, a comunidade toda se mobilizou para fazer uma grande comemoração para festejar o Dia do Trabalhador na Maré”, lembra Tadeu.

Entrega dos troféus para os vencedores

da corrida. O campeão foi Dinoelson (à esqu.)

Tadeu, ao centro, recebeu em nome

de um morador que não compareceu à

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Os alunos, todos moradores da Maré, reunidos com os parceiros do curso de Drywall

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História em quadrinhos produzida artesanalmente por crianças conta “A Revolta dos Bichos”, um trabalho de arte-educação, fruto da Ofi cina de Artes Visuais do Programa Criança Petrobras na Maré (PCP Maré). Abaixo, reproduzimos alguns desenhos para

toda a criançada ler e colorir

Vamos colorirBichos”, um trabalho de arte-educação, fruto da Ofi cina de Artes Visuais do Programa

Os alunos autores da história em quadrinhos

“A revolta dos Bichos na

Maré”. Acima, o educador

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Julgamos importante esta característica porque ela contribui enormemente para a atenção minuciosa que o trato da pesquisa exige no momento de sua realização, pois cada depoimento é um universo único, singular, que precisa ser compreendido em sua totalidade. Porém, ao mesmo tempo, cada depoimento deverá integrar-se a uma rede sócio-histórica, como em um “quebra-

cabeça” onde, à medida que as peças vão se encaixando, vai se projetando o caminho a ser seguido, confi rmando ideias já imaginadas, obscurecendo outras ideias antes compreendidas como absolutamente certas e, principalmente, vão sendo indicados novos horizontes a serem explorados.

Tudo isso enriquece a história local, mas, sobretudo, e de forma surpreendentemente prazerosa vai desvelando a própria história dos pesquisadores, que, neste processo vão crescendo e se transformando junto com o trabalho.

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Em artigos anteriores apresen-tamos aos nossos leitores o Nú-cleo de Memória e Identidade da Maré (Numim/Redes da Maré). Devemos lembrar que naquelas oportunidades (edições 44 e 47 do Maré de Notícias) enfatizamos que os objetivos fundamentais do Numim/Redes são resgatar, preservar e divulgar a história da Maré numa perspectiva que a in-tegre à história da cidade do Rio de Janeiro sem perder de vista o protagonismo de seus morado-res. Para isso, além de utilizar as fontes e ferramentas tradicionais à pesquisa histórica disponíveis como as metodologias científi cas e os acervos públicos, o Núcleo também recorre aos depoimentos orais e aos acervos privados dos moradores da região. Aliás, o Nu-mim encara estas como suas prin-cipais e mais importantes fontes para a realização deste trabalho.

No artigo deste mês gostaríamos de apresentar aos leitores as pessoas que conduzem este trabalho de pesquisa do Numim, pois temos a clareza de que dispor dos depoimentos e dos acervos privados dos moradores, como mencionamos, exige enorme transparência sobre quem somos, sobre o que fazemos e, principalmente, muito respeito no processo de

Conhecendo as pessoas por trás do trabalho de pesquisado Núcleo de Memória da Maré

Tecendo Redes de Histórias da Maré

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Ensinamentos de quatro moradores antigos

Gostaríamos de relatar aqui alguns momen-tos marcantes deste rico processo para vocês:

Quando Seu Adevanir de Oliveira foi entre-vistado para a construção do primeiro livro (“Memória e Identidade dos Moradores de Nova Holanda”, publicado no fi nal de 2012) ,a equipe não fazia ideia que encontraria uma história tão rica e intensa. Com foi possível perceber, para além do lugar comum na história dos moradores da Nova Holanda, o que foi o arbitrário processo de remoção de

emigrantes europeus que vieram para o Brasil em busca de uma vida melhor e fo-ram submetidos a formas de explorações inimagináveis. Com o depoimento de Seu Adriano, foi possível a nossos pesqui-sadores observar que a exploração e a opressão tão presentes na realidade bra-sileira e local não têm fronteiras!

favelas em áreas nobres do Rio (No caso de Seu Adevanir, a favela em questão foi a do Esqueleto, onde hoje se encontra a Uerj) para periferias sem qualquer infra-estrutura e, ainda por cima, com a disso-lução da rede familiar e social. Havia uma narrativa que nos remetia ao entendimen-to da própria história brasileira, pois Seu Adevanir e sua família eram egressos do interior do estado do Rio, da cidade de Santo Antônio de Pádua, onde já haviam protagonizado a dura vida de um lavrador em um país marcado por enormes latifún-dios e injustiças sociais em sua área rural.

A entrevista com o Seu José Adriano Knaup, também para a elaboração do primeiro livro, foi ainda mais reveladora. Ele, como Seu Adevanir, era integrante de família de lavradores (de São Lisburgo, Minas Gerais), e sofreu, como o primeiro, todos os reveses desta condição. O dife-rencial em sua história é que Seu Adriano é descendente de emigrantes suíços que, a um só tempo, fugiam das agruras da Se-gunda Guerra Mundial na Europa e bus-cavam o seu sonho dourado nas lavouras de cafés brasileiras. Trata-se da história, ainda muito mal contada, dos milhares de

fazer. Isto porque, nesta atividade, acabamos por “invadir”, ainda que com consentimento, uma dimensão da vida que é muito particular e sensível a cada morador.

Então, como exige a boa educação, é funda-mental que nos apresentemos. Começare-mos por apresentar a nossa equipe de pes-quisadores:

Aline Almeida de Lima, do Parque Maré, graduando do curso de Serviço Social da Universidade do Estado do Rio de Janeiro;

Gilson Jorge, da Nova Holanda, graduando do curso de Ciências Sociais da Universida-de do Estado do Rio de Janeiro;

Higor Antônio da Silva, do Parque Maré, graduando do curso de História da Universi-dade do Estado do Rio de Janeiro;

Marcelo Lima dos Santos, do Parque Ru-bens Vaz, graduando do curso de Ciências Sociais da UERJ;

Rafaela Carvalho, moradora da Nova Holan-da e aluna do Pré-Vestibular da Redes;

Kelly San, ex-moradora da Nova Holanda e graduando do curso de História da Arte da Universidade Federal do Rio de Janeiro.

Em primeiro lugar, gostaríamos de dizer que no processo de constituição desta equipe, buscamos selecionar como característica principal certa maneira de olhar a Maré... Um olhar para além do valor de uma “história local...” Queríamos mais! Queríamos identi-fi cação. E, de fato, podemos afi rmar que a Maré é para os nossos pesquisadores o pró-prio “espaço de vivência”, é o lugar de suas práticas cotidianas, é o território onde todos forjaram suas próprias identidades.

Equipe do Numim / Redes da Maré

“Os objetivos fundamentais do Numim são resgatar, preservar e divulgar a história da Maré numa perspectiva que a integre à história

da cidade do Rio de Janeiro sem perder de

vista o protagonismo de seus moradores”

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Rosilene Miliotti Elisângela Leite

Em novembro, o professor colombiano Javier Naranjo, autor do livro “Casa das Estrelas: o universo contado pelas crianças”, veio ao Brasil lançar sua obra, uma espécie de dicionário elaborado a partir da visão das crianças de seu país. O evento de lançamento pela Foz Editora aconteceu na Biblioteca Infantil Maria Clara Machado, da Redes da Maré, na Nova Holanda. Javier promoveu uma ofi cina com 16 crianças com idades entre 7 e 12 anos, todas moradoras.Por meio de um sorteio, cada uma recebeu quatro palavras para as quais deu o signifi cado que lhe veio à mente. Em seguida, elas escolheram uma das palavras sorteadas para escrever um texto. “Eu peço que as crianças fi njam que sou um extraterrestre e que me expliquem o signifi cado de algumas palavras”, explica Javier.

Para uma das meninas presentes, “político” é o mesmo que corrupto e “índio” é quem vive na mata. Ao falar sobre “paz”, uma menina afi rma ser algo que ela não tem aos sábados por causa do baile funk.

A palavra “paz” é a que mais recebe signifi cados diferentes das crianças, sendo a mais utilizada por elas para desenvolver textos, tanto na Colômbia como aqui na Maré e em outras cidades por onde Javier já passou.

“Na Colômbia eu sempre faço um jogo com as crianças e pergunto sobre a paz e a guerra. Lá, eles estão vivendo um momento de confl itos, mas ouvi falar que no Brasil, principalmente no Rio de Janeiro, também estão vivendo difi culdade, com momentos de guerra e paz”, compara ele.

O conteúdo do livro “Casa das Estrelas” é fruto das conversas do autor em sala de aula com seus alunos, assim como ele fez na atividade aqui na Maré. Os registros das crianças daqui serão utilizados no próximo livro do autor. O projeto, batizado de “As Crianças Pensam a Paz”, vai reunir depoimentos de pequenos estudantes em cinco países: Colômbia, Brasil, Argentina, Chile e Estados Unidos.

Crianças da Maré dão signifi cado às palavras, formando uma espécie de dicionário infantilque fará parte de livro

Como as crianças defi niram algumas palavras

“Paz é quando as pessoas se sentem felizes”

“Esperança é ter fé em algo especial”“Guerra é o confl ito entre pessoas

com um só objetivo”“Bope são policiais diferentes”“Caveirão é uma coisa preta”“Espantoso é o mundo todo não

estar em guerra de qualquer tipo”“Caveirão é o escudo da polícia”“Tentar é ver o que vai fazer”

Como as crianças defi niram

“Mafi oso é uma pessoa sem sentimentos, só faz coisas más,

não pensa no futuro”“Sonhar, quando é bom, pode

acontecer”“Político é corrupto”“Hipocrisia é a gente que faz”“Bope são pessoas ruins”“Paz é a luta vencida”“Paz é viver sem guerra”

A entrevista realizada para a elaboração do segundo livro (“Memória e Identidade dos Moradores do Morro do Timbau e Parque Proletário”, ainda a ser lançado) com Dona Nicéia Perpétua da Rosa Laurindo, moradora da comunidade do Morro do Timbau, foi outro momento fantástico. Os pesquisadores já possuíam informações sobre a Vila de Pescadores, sobre o Porto de Inhaúma e sobre as palafi tas. Mas

D. Nicéia deu vida a estes fatos e nos instigou a entender o porquê de viver ali e não em qualquer outro lugar. E foi graças a esta investigação que nos foi possível compreender que para elucidar a história do Timbau seria preciso relacioná-la também a uma dinâmica social anterior a própria Maré, cujos vínculos com os momentos históricos ainda rurais da Freguesia de Inhaúma precisariam ser resgatados.

Por último, gostaríamos de destacar a entrevista com o Seu Gonçalo Baratio, morador do Parque Proletário da Maré,

também para o segundo livro. O seu depoimento foi primoroso porque nos fez perceber que a área de manguezal que constituía a Maré até ao advento da Avenida Brasil não era terra devoluta e sem valor comercial como se acreditava, mas, ao contrário, foram terras em que ocorreram disputas dramáticas com ações judiciais, mobilizações populares e estratégias geniais de resistência. Com Seu Gonçalo, nossos pesquisadores aprenderam que a Maré é nossa conquista, ela resultou de um caminho de luta e resistência de milhares de pessoas que ousaram se rebelar contra a própria sorte e os desígnios sociais.

Enfi m, com o depoimento de cada um dos muitos moradores que colaboraram e ainda colaboram com o trabalho do Numim tem sido possível fazer mais do que pretendíamos em nossos objetivos iniciais. Hoje podemos nos orgulhar por termos aprendido, crescido e nos transformado graças à experiência de vida e o senso de luta que os moradores da Maré puderam nos emprestar.

Por isso nós do Numim/Redes agradecemos e esperamos poder continuar merecedores da confi ança dos moradores da Maré.

“Com Seu Gonçalo, nossos pesquisadores aprenderam

que a Maré é nossa conquista, ela resultou

de um caminho de luta e resistência de milhares de pessoas que ousaram se rebelar contra a própria

sorte e os desígnios sociais”

A entrevista realizada para a elaboração do segundo livro (“Memória e Identidade dos

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Cinema no beco

Sergiana, moradora do Timbau, inspirou a escritora Georgina Martins a escrever um livro infanto-juvenil contando desejos e

desafi os de duas crianças moradoras da favela

Inscrições abertas em janeiro

Em 2014Haverá Mostra Maré de Artes Cênicas, com uma série de

apresentações de espetáculos teatrais e de dança em cartaz na cidade. Acompanhe pelo facebook/redesdamareTeremos novidades também na área de cinema!

RecessoO Centro de Artes estará em recesso entre os dias 21 de dezem-

bro e 12 de janeiro. As atividades da Escola Livre de Dança da Maré voltam na segunda, dia 13.

R. Bitencourt Sampaio, 181 Nova Holanda. Programação no local ou pelo tel. 3105-7265

De 2 a a 6a, de 14h às 21h30

Herbert ViannaLona cultural

PROGRAME-SE !

ENTRADA GRATUITA!Veja a programação em www.redesdamare.org.br

Programação para dezembro

Como Nascem As EstrelasSábado, 21/12 - ofi cina às 14 h e espetáculo às 16h

Espetáculo de teatro e música, baseado no livro de Clarice Lispector. A montagem transforma em teatro seis das lendas do livro.

R. Ivanildo Alves, s/n - Nova MaréTels.: 3105-6815 / 7871-7692 - [email protected]

FACE: Lona da Maré / Twitter: @lonadamare

cultura

Biblioteca Popular Municipal Jorge AmadoAo lado da Lona, atende a toda a Maré: Amplo acervo,

brinquedoteca, gibiteca e empréstimo domiciliar

Recesso: A Lona da Maré não funcionará entre os dias 22 e 25/12 e entre os dias 28/12 e 05/1. As atividades voltam na segunda, dia 06.

Leia “Uma Maré de desejos” naBiblioteca Infantil Maria Clara Machado

Rua Sargento Silva Nunes, 1.012. Nova Holanda. Segunda a sexta-feira, 10h às 18h; sábados, 10h às 14h

Veja o vídeo produzido pelos alunos No hotsite: www.redesdamare.org.br/pcp. Cliquem em

“Assista os vídeos do PCP Maré” e em seguida em: “Ofi cina de Complementação Pedagógica – Uma Maré de Desejos”

Aramis Assis

Aos 11 anos de idade, Sergiana Aprigio de Lima era uma garotinha elétrica, cheia de vida. Estudava no Ciep Samora Machel, na Nova Holanda, morava do Morro do Timbau e participava da Orquestra de Flautas do Programa Criança Petrobras na Maré (PCP Maré). Em algumas apresentações do grupo de fl autas conheceu a escritora carioca Georgina Martins que, naquela época, trabalhava no PCP. Isso foi no ano de 2001. “Georgina gostou do meu nome, disse que era muito bonito e pediu autorização para usá-lo para a personagem de seu próximo livro”, conta Sergiana, a de verdade.

O livro foi lançado em 2005, pela Editora Ática, com o título: “Uma Maré de Desejos”, que conta a história de Sergiana, uma menina sonhadora que mora na Maré. Sergiana é amiga de Luciano, um garoto que tem um grande talento, mas não sabe, e jamais imagina que a menina gosta dele. Juntos, os dois descobrirão a mágica

Quando a professora perguntou à turma qual era o seu maior desejo, Sergiana nem pensou para responder:_ A minha vontade é de ir à praia, nunca fui à praia.

A professora espantou-se. Ela queria que cada um fa-lasse do seu desejo, para depois pedir alguma redação. _ Nunca foi? Como pode? Você mora tão perto da praia?

Quem se espantou dessa vez foi a menina, que nem se lembrava mais que ali era tão perto da praia._ Bem, agora vamos fazer uma redação... O tema é “O meu maior desejo...” _ a professora ia falando enquan-to escrevia no quadro.

LEIA TRECHOS DO LIVRO

Ela não achava que seus cabelos fossem ruins, às vezes até que gostava deles, mas só às vezes, porque a tia não deixava que ela gostasse deles.

Se ela pudesse ter todos os desejos atendidos: ia à praia, molhar os cabelos e deixá-los secar ao vento.

Era desejo demais, a professora não ia deixar mesmo, e também aquele monte de desejos não caberia numa redação só. Desejou ser escritora para poder escrever quantos desejos tivesse.

Biblioteca Infantil Maria Clara MachadoRua Sargento Silva Nunes, 1.012. Nova Holanda. Segunda

No hotsite: www.redesdamare.org.br/pcp. Cliquem em “Assista os vídeos do PCP Maré” e em seguida em: “Ofi cina de Complementação Pedagógica – Uma Maré de Desejos”

contida nos pequenos desejos, num cenário urbano onde viver nem sempre é fácil: a favela da Maré.

O livro ganhou o Prêmio Adolfo Aizen da União Brasileira de Escritores de melhor livro infantil de 2006. A narrativa desconstrói estereótipos relacionados aos espaços populares e seus moradores. Em cada página é possível encontrar uma refl exão da personagem que, sempre muito esperta, vai desfazendo esses preconceitos (leia trechos do livro na página ao lado).

Sonhar alimenta a alma

“Sonhar é preciso, é necessário, é o alimen-to da alma. Todos devem e podem sonhar com um mundo melhor”, afi rma a escritora, que este ano voltou à Maré para contar a história do livro para os atuais alunos do curso Preparatório para o 6º ano, do PCP Maré. A visita rendeu um desenho animado feito pelas próprias crianças, que depois co-nheceram pessoalmente a verdadeira Ser-giana. O encontro foi um momento visivel-mente emocionante para todos.

“Eu me identifi quei com a história do livro. Parecia que a autora estava contando a minha vida. O impacto maior foi ler a história e me ver naquelas cenas. Eu também tive um amiguinho chamado Luciano quando era criança e sonhava em conhecer a praia. Assim como a personagem, eu também vim do Nordeste aos 9 aos de idade para a Maré, mas vim morar com meus pais e não com uma tia, como a personagem”, compara Sergiana, que continua no Timbau, agora com 23 anos e dois lindos fi lhos, de 4 e 5 anos.

Bhega Silva, cantor e compositor, morador do Parque União, criou o “Cinema no beco”. Com o dinheiro das vendas de óleo de cozinha usado para reciclagem, ele comprou um DVD, uma tela de toldo branca e ganhou um projetor. O cineminha já está movimentando ruas e becos da Praia de Ramos e Roquete Pinto, exibindo fi lmes infantis e clipes de conscientização, mostrando a todos que cuidar do meio ambiente é dever de todos. A ideia é passar o cinema por toda Maré. Informações pelo celular do Bhega: 99206-5867.

De 6 a 31 de janeiro estarão abertas as inscrições para a ofi cina de Gastronomia do projeto Maré de Sabores para mulheres moradoras. A ofi cina começa na segunda semana de fevereiro e vai até início de junho. As aulas acontecem na Lona Cultural Herbert Vianna. As inscrições podem ser feitas na sede da Redes da Maré ou na Lona Cultural, em horário comercial. As mulheres precisam levar cópia da identidade, cópia do CPF e uma foto 3x4 e preencher uma fi cha de inscrição no local.

Em janeiro, haverá inscrições para várias atividades da Redes da Maré. Acompanhe pelo site www.redesdamare.org.br. Informações: 3105-5531.

Sergiana, moradora do Morro do Timbau, e a ilustração da personagem do livro

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Um cliente conversa com um comerciante dono de uma pensão:- Não posso comer essas coisas, meu colesterol está alto

O comerciante, querendo fazer negócio, responde: “Se está valioso, vende logo!”

fazemos qualquer negócio

Natal sem fome no Conjunto Esperança

Timbau e Marcílio elegem presidente

Envie seu desenho, foto, poesia, piada, receita ou sugestão de matéria.Rua Sargento Silva Nunes, 1.012 – Nova Holanda Tel.: 3104-3276 E-mail: [email protected]

Rindoatoa)

Diogo dos Santose Hélio Euclides

pra Maré participar do Maré

Garanta o seu jornal comunidade!Busque um exemplar na Associação deMoradorestodos os meses! da sua

Cupcake Natalino - Nozes com AmendoimRECEITA - Enviada pela Rafaela Silveira, 19 anos, moradora da Nova Holanda

e dona do Bembolados da Rafa (facebook.com/bemboladosdarafa)

Ingredientes:Massa:

100 gramas de margarina ou manteiga1 xícara de açúcar

1 xícara de farinha de trigo½ xícara de leite

1 colher de café de bicarbonato de sódio1 colher de chá de fermento em pó

1 xícara de nozes e amendoim triturados

Cobertura:Gel de brilho

1 pacote de pasta americana brancaCorantes alimentícios em gel nas cores de-

sejadas

No dia 24 de dezembro, a partir das 10h, acontece o evento Natal Sem Fome, no Conjunto Esperança. A festa acontece há 11 anos con-secutivos, com futebol, churrasco, distribuição de cerca de 200 ces-tas básicas e 5.000 brinquedos e, por fim, a presença de papai Noel.

O evento é uma mobilização de voluntários, associação e comercian-

Duas das 16 associações de moradores do conjunto de favelas da Maré tiveram eleição em novembro. No Morro do Timbau, Osmar Camelo foi reeleito. Em Marcílio Dias, o novo presidente é Edmilson Silva, que conta com Antonia Alves Batista na vice-presidência.

Modo de preparo:Massa: Na batedeira, bata a manteiga ou margarina e o açúcar até formar um creme volumoso. Junte a farinha, o leite, os ovos e bicarbonato de sódio. Mexa com o batedor. Acrescente o fermento e as nozes trituradas e bata levemente. Despeje a massa nas forminhas, sem enchê-las, pois a massa irá crescer. (coloque mais ou menos até a metade da forminha). Leve ao forno pré-aquecido a 180°C e asse por aproximadamente 25 minutos. Retire do forno e coloque para esfriar, evitando que os bolinhos fiquem úmidos.

Cobertura: Em uma superfície lisa, abra a pasta americana com um rolo liso, procurando deixar a massa com a mesma espessura. Depois de aberta, corte a massa do tamanho do cupcake. Com o auxilio de pincel, passe uma fina camada de gel de brilho sobre o cupcake, para colar a pasta ameri-cana. Decore ao seu gosto.

tes, que se reúnem para uma confraternização. “O objetivo é ter um momento de alegria e esperança e espera de dias melhores. Rece-bemos amigos de várias comunidades vizinhas, que unem forças em prol de ajudar a quem mais precisa para um Natal melhor”, lembra o presidente da Associação de Moradores do Conjunto Esperança, Pedro Francisco.

Rosi

lene M

iliotti