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Centro de Artes e Lona da Maré Pág. 15 A prefeitura está investindo no desassoreamento do Canal do Cunha para evitar alagamento das casas próximas da margem. Enquanto isso, no Canal do Fun- dão, ouvimos muitas reclama- ções dos pescadores, embora o local também tenha passado por uma obra há dois anos, com recursos do governo do estado. Pág. 10 e 11 Conheça o trabalho de- senvolvido nas Escolas Municipais Armando de Salles Oliveira e IV Cen- tenário de valorização da cultura afro-brasileira e africana. Segundo o IBGE, de cada 10 moradores da Maré, seis são pretos ou pardos. Pág. 4 e 5 Dirigentes das 16 Associações de Moradores do conjunto de favelas da Maré desejam tornar mais conhecidas as múltiplas funções que desenvolvem, com o objetivo de fortalecer politicamente o bairro e atrair melhorias estruturantes. Nesta luta, eles estiveram com o prefeito Eduardo Paes, em setembro, que prometeu implantar aqui o programa Bairro Maravilha. Pág. 8 e 9 Obra no Canal do Cunha Somos quase todos negros O que faz uma associação de moradores? Boa notícia: Elisângela Leite Aramis Assis Divulgação Tem até festa para papagaio Moradores do Timbau organizam festa de debutante para o simpático papagaio Dudu, da Dona Lili. Pág. 4 e 5 Seus Direitos Saiba o que é e quem tem direito ao Benefício de Prestação Continuada (BPC). Pág. 6 Boxe campeão! Roberto é campeão continental Pág. 13 Exposição do Imagens do Povo Fotógrafos expõem ensaio de arte contemporânea Pág. 14 Elisângela Leite Ano IV, N o outubro de 2013 - Maré, Rio de Janeiro - distribuição gratuita 46 Elisângela Leite

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Neste mês: Obra no Canal do Cunha; festa para papagaio; Boxe campeão; Os deveres das associações de moradores e muito mais.

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Page 1: Maré de Notícias #46

Centro de Artes e Lona da Maré Pág. 15

A prefeitura está investindo no desassoreamento do Canal do Cunha para evitar alagamento das casas próximas da margem. Enquanto isso, no Canal do Fun-dão, ouvimos muitas reclama-ções dos pescadores, embora o local também tenha passado por uma obra há dois anos, com recursos do governo do estado.

Pág. 10 e 11

Conheça o trabalho de-senvolvido nas Escolas Municipais Armando de Salles Oliveira e IV Cen-tenário de valorização da cultura afro-brasileira e africana. Segundo o IBGE, de cada 10 moradores da Maré, seis são pretos ou pardos. Pág. 4 e 5

Dirigentes das 16 Associações de Moradores do conjunto de favelas da Maré desejam tornar mais conhecidas as múltiplas funções que desenvolvem, com o objetivo de fortalecer politicamente o bairro e atrair melhorias estruturantes. Nesta luta, eles estiveram com o prefeito Eduardo Paes, em setembro, que prometeu implantar aqui o programa Bairro Maravilha. Pág. 8 e 9

Obra no Canal do Cunha

Somos quase todos negros

O que faz uma associação de moradores?

Boa notícia:

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Tem até festa para papagaio

Moradoresdo Timbau

organizam festade debutante

para o simpáticopapagaio Dudu,

da Dona Lili.

Pág. 4 e 5

Seus DireitosSaiba o que é e quem tem direito ao

Benefício de Prestação Continuada (BPC). Pág. 6

Boxe campeão!Roberto é campeão continental Pág. 13

Exposição do Imagens do Povo

Fotógrafos expõem ensaio de arte contemporânea Pág. 14

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Ano IV, No outubro de 2013 - Maré, Rio de Janeiro - distribuição gratuita46

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Redes de Desenvolvimento da Maré Rua Sargento Silva Nunes, 1012,

Nova Holanda / Maré CEP: 21044-242 (21) 3104.3276 (21)3105.5531

www.redesdamare.org.br [email protected]

Os artigos assinados não representam a opinião do jornal.

Parceiros:

Rosilene Miliotti Fabíola Loureiro (estagiária)

Fotógrafa Elisângela Leite

Projeto gráficoe diagramação

Pablo Ramos

Logomarca Monica Soffiatti

Colaboradores Anabela Paiva

André de LucenaAydano André MotaDiogo dos Santos

Flávia Oliveira

Coordenadoresde distribuição

Luiz GonzagaSirlene Correa da Silva

Impressão Gráfica Jornal do Commércio

Tiragem 40.000 exemplares

Instituição Proponente Redes de Desenvolvimento da Maré

Diretoria Andréia Martins

Eblin Joseph Farage (Licenciada) Eliana Sousa Silva

Edson Diniz Nóbrega Júnior Helena Edir

Patrícia Sales Vianna

Coordenação de ComunicaçãoSilvia Noronha

Instituição Parceira Observatório de Favelas

Apoio Ação Comunitária do Brasil

Administraçãodo Piscinão de Ramos

Associação Comunitária

Roquete Pinto

Associação de Moradores e Amigos do Conjunto Bento Ribeiro Dantas

Associação dos Moradores e Amigos do Conjunto Esperança

Associação de Moradores do Conjunto Marcílio Dias

Associação de Moradores do Conjunto Pinheiros

Associação de Moradores do Morro do Timbau

Associação de Moradores do Parque Ecológico

Associação de Moradores do Parque Habitacional

da Praia de Ramos

Associação de Moradores do Parque Maré

Associação de Moradores do Parque Rubens Vaz

Associação de Moradoresdo Parque União

Associação de Moradores

da Vila do João

Associação Pró-Desenvolvimento da Comunidade de Nova Holanda

Biblioteca Comunitária Nélida Piñon

Centro de Referência de Mulheres da Maré - Carminha Rosa

Conexão G

Conjunto Habitacional Nova Maré

Conselho de Moradores da Vila dos Pinheiros

Luta pela Paz

União de Defesa e Melhoramentos do Parque

Proletário da Baixa do Sapateiro

União Esportiva Vila Olímpica da Maré

Editora executiva e jornalista responsável

Silvia Noronha (Mtb – 14.786/RJ)

Repórteres e redatores Aramis Assis

Beatriz Lindolfo (estagiária) Hélio Euclides (Mtb – 29919/RJ)

EDIT

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Editorial

A obra no Canal do Cunha (leia na pág. 10) é muito bem-vinda, mas antes de cantar vitória vamos acompanhar de perto para avaliar os reais impactos para os moradores. A intenção da prefeitura é ótima. Está fazendo a sua parte, mas há outras para serem executadas. O esgoto da zona norte corre in natura pelos ria-chos da sub-bacia do Canal do Cunha e vem parar na Baía de Guanabara, pas-sando pela Maré. A dragagem deveria vir acompanhada de obras da Cedae. Por isso temos cobrado a obra anunciada pela Cedae de melhoria no sistema de coleta e implantação do tratamento do esgoto da Maré. Anunciamos a obra e até agora nada.

Por falar em obras, em setembro foi a vez de o prefeito anunciar aos líderes comunitários a implantação do progra-ma Bairro Maravilha aqui na Maré (leia nas pág. 8 e 9). Eduardo Paes chegou a falar em investimentos de R$ 400 mi-lhões em um pacote de ações. Tomamos a decisão de divulgar esse assunto com cautela. Nada de manchete, por enquan-to. Até porque não sabemos quais inter-venções virão nem se a prefeitura está prevendo um processo de participação do morador.

Vamos acompanhar!

A todos e todas, uma boa leitura!

HUMOR - André de Lucena: “Etiqueta”

Expediente

Muitas pautas ambientaisna Maré

Leia o Maré e baixe o PDF em www.redesdamare.org.br /redesdamare @redesdamare

Clínica da FamíliaEntro em contato, primeiro, para agradecer a citação à nossa tão esperada e necessária Clínica da Famí-lia (Por Dentro da Maré, Ed. 45, setembro, pág. 12), que há mais de um ano nos foi prometida e até ago-ra nada; e segundo para pedir que façam isso com mais frequência e se possível com uma reportagem maior, que chame atenção e traga mais apelo aos moradores. Temos uma unidade extremamente pre-cária, com um médico para atender uma população de mais de 20 mil pessoas, entre eles, gestantes, idosos e crianças, que pela escassez de médicos não são devidamente acompanhados. Temos direito à saúde, mas está cada vez mais difícil proporcioná--la. Ajudem-nos a conseguir a nossa clínica. É muito bom saber que não estamos sozinhos nessa.Gostaria também de parabenizar o conteúdo do jor-nal e as informações úteis por ele passadas à popu-lação da Maré!

Moradora que preferiu não ser identificada

Elogios ao Maré

Gostaria de parabenizar o jornal pelas ótimas reportagens. Como é bom ler notícias que realmente refletem as necessidades dos moradores da Maré. Sempre utilizo o Maré de Notícias na minha turma da EJA (Educação de Jovens e Adultos), e ele é o ponto de partida para debates sempre interessantes entre os alunos. Após a leitura das reportagens, também utilizamos parte das matérias para atividades de escrita e interpretação de textos, pois nada melhor do que trabalhar a leitura e a escrita com fontes reais e que refletem o dia a dia dos alunos.Em um trabalho recente sobre cartas do leitor, os alunos escreveram algumas cartas sobre reportagens do jornal. (Nota da redação: leia as cartas no Espaço Aberto, na pág. 16)

Renata Vieira Reis,do Programa Integrado da UFRJ

para Educação de Jovens e Adultos

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Tem “lôro”debutanteno Timbau!

Esse papagaio é o bicho! Dudu é

tão querido que os moradores

se uniram para organizar sua festa

de 15 anos

Beatriz Lindolfo Elisângela Leite

Dudu é um papagaio bastante conhecido e querido no Morro do Timbau. Sua dona Elisama Lurdes da Silva, mais conhecida como Lili, ganhou o bichinho de presente quando ele tinha ape-nas três meses de vida e resolveu colocar seu nome de Dudu em homenagem a um vizinho muito querido. “Ele é calmo, edu-cado e só dorme no escuro”, conta dona Lili.

A casa do papagaio, quer dizer, da D. Lili, foi toda adaptada para que o bi-chinho de estimação se sinta bem à vontade. As paredes foram pintadas com as cores do Dudu, há árvores confeccionadas especialmente para criar um ar de floresta e ainda casinha e balanço. Os dois não desgrudam um do outro, vão juntos a todos os lugares. Se D. Lili se distanciar por um fim de semana, o bicho fica sem comer. Algumas pessoas não entendem. “Já fui chamada de maluca algumas vezes por amar meu papagaio como um filho. Quando ele morrer não sei o que será de mim”, relata D. Lili.

Dudu faz 15 anos no dia 28 de outubro, porém a comemoração será no dia 9 de novembro, às 13h, na casa da D. Lili, e esta não será sua primei-ra festa. Desde 2000, a data vem sendo comemorada, tanto que já virou tradição e é sempre aguardada pelos amigos e vizinhos.

“Quem vai patrocinar a festa desta vez é a comunidade”, diz D. Lili. Está sendo passada uma lista para quem quiser participar da comemoração, ajudando com o que puder para a organização do evento. Só será permi-tida a entrada das pessoas que colaborarem.

Em setembro, a preparação da festa já estava a todo vapor, com lembran-cinhas sendo confeccionadas para os convidados. O grande dia contará ainda com bolo, saquinho de bala, salgadinho e refrigerante. Moradores se mobilizam para deixar mais feliz o dia em que Dudu completa 15 anos.

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RA A cor da Maré

“Serviço de preto”, “chuta que é macumba”, “magia negra”: são muitos os termos pejorativos e piadas que ouvimos no nosso cotidiano que denigrem a imagem do

negro e sua cultura. Mas o que tem sido feito para reverter esse quadro? Você sabia que há uma lei que exige o ensino da Cultura Afro-brasileira e Africana nas escolas?

“O nosso trabalho anseia diminuir cada vez mais a distância e o preconceito

entre as pessoas da Maré, principalmente entre o negro e o nordestino; e a cultura é a melhor ferramenta pra isso, sabe por quê? porque ela é

alegre!”Tereza Onã, do PCP Maré

Aramis Assis

A história do Brasil é marcada pelo ra-cismo e exclusão dos negros. O pro-blema racial é uma herança do nosso passado, ainda presente no dia a dia em diferentes ações. Na Maré, segun-do o censo de 2010 do Instituto Brasi-leiro de Geografia e Estatística (IBGE), 61,5% da população se considera pre-ta ou parda, sendo que 11,70% se con-sidera preta e 49,71% parda, o que re-presenta quase 80.000 pessoas para os 130.000 habitantes da Maré. Esses dados colocam a Maré, juntamente com a Pavuna, como a terceira região do Rio com maior percentual de pretos e pardos, atrás somente da Cidade de Deus e de Santa Cruz.

Desde 2003, quando foi aprovada a lei 10.639 que obriga o ensino da

História e Cultura Afro-brasileira e Africana em todas as es-colas de Ensino Fundamental e Médio das redes pública e priva-da, essa temática deveria ter sido incorporada no sistema educa-cional brasileiro. A lei exige o ensino nas aulas de his-tória e em todo o currículo escolar, até mesmo nas disciplinas de ar-tes e música.

A pesquisadora e professora da Faculdade de Educação da UFRJ, Rosana Heringer, aponta que “o fato de incluir o ensino de história e cultu-ra afro-brasileira gerou a necessidade de produção de materiais didáticos específi-cos e também de formação de professores neste campo, o que cresceu muito nos últi-mos anos”. Este é o caso, por exemplo, do kit de formação “A Cor da Cultura”, da Sala

Futura Maré, que está presente em todas as escolas da Maré.

Um dos princípios do Pro-grama Criança Petrobras na Maré (PCP Maré), que atende sete escolas e uma creche na região, é o trabalho dos educa-dores com a questão da identidade étnico-racial com seus alunos. Assim, diante da realidade local, a equipe do PCP Maré que atua nas escolas municipais Armando de Salles Oliveira e IV Cen-tenário está trabalhando com várias questões da cultura popular e da iden-tidade brasileira.

Tereza Onã, coordenadora dos projetos nas duas escolas, afirma que “o trabalho abrange toda a cultura popular brasileira, e não somente a questão do negro, pois só assim é possível trabalhar com a ideia de miscigenação. É um trabalho conjunto entre a escola, alunos, pais e educadores em suas diferentes linguagens artísticas”.

Alunos e a equipe do PCP Maré nas oficinasque trabalham a cultura afro

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“O trabalho nas escolas abrange toda a cultura popular brasileira, e não somente a questão do negro, pois só assim é possível

trabalhar com a ideia de miscigenação”Tereza Onã, do PCP Maré

A Sala Futura Maré realizou, nesse mês de agosto, a capacitação “Incorporando a Cor da Cultura” com os educadores do Programa Criança Petrobras na Maré e demais interessa-dos. Foram propostas reflexões, provocações e atividades diárias sobre a questão da raça e identidade étnico-racial na realidade brasileira. Ao final dos encontros ficou clara a necessida-

de de se aprofundar mais no assunto.

Marcelo Wasem, coordenador da Sala Futura Maré, conta que “o foco da ca-pacitação foi voltar-se para o desenvol-vimento local a partir das questões que atravessam os conceitos de raça e iden-tidade étnico-cultural. Para tanto, propo-

mos ações utilizando do material didáti-co já disponível, o kit A Cor da Cultura.”

O kit está disponível na Sala Futura (Rua Sargento Silva Nunes, 1.012. Nova Holanda) e nas escolas da Maré, para educadores e professores desenvolverem propostas de trabalhos com seus alunos.

Incorporando a cor da cultura

Releituras de clássicosda literatura

Na Escola Armando de Salles, o projeto “O Pequeno Príncipe visita o Brasil e conhece Vinícius e Baden” trabalha a questão de identidade a partir da releitura do personagem Pequeno Príncipe, que chega ao Brasil e conhece Vinícius de Moraes e Baden Powell, músicos criadores do gênero musical afro samba. Na Escola IV Centenário, o projeto “África somos nós” mostra a cultura afro-brasileira no cotidiano das crianças, como na dança, alimentação e língua.

Cátia dos Santos, coordenadora pedagógica no IV Centenário, conta que tenta reverter o preconceito encontrado em alguns pais

e mães, principalmente por questões religiosas. Ela explica a eles que é um trabalho pedagógico que faz parte do plano da escola. O objetivo é formar cidadãos políticos capazes de atuar na comunidade em que vivem.

O jongo, considerado avô do samba, é uma manifestação cultural ensinada por Genilson Leite, educador de danças populares no IV Centenário. “Uma coisa é religião e outra coisa é cultura. Ensino cultura africana e afro-brasileira e os ajudo a entender e a respeitar as diversidades”.

Articular questões afro-brasileiras com o que já está no currículo escolar não é tão

difícil, já que o descobrimento do Brasil, as grandes navegações e vários outros assuntos já integram essas questões. A história ensinada nas escolas não discute o negro após a escravidão, portanto é essencial que o professor aborde esse tema.

Os projetos terão suas atividades de encerramento com dança do jongo, exposição de trabalhos, baiana ensinando a fazer acarajé, lançamento de livro de pano, entre outras ações envolvendo toda a escola, alunos, pais e responsáveis. “O nosso trabalho anseia diminuir cada vez mais a distância e o preconceito entre as pessoas da Maré, principalmente entre o negro e o nordestino; e a cultura é a melhor ferramenta pra isso, sabe por quê? porque ela é alegre!”, finaliza Tereza Onã.

49,71% se consideram pardos

Os moradores da Marése consideram:

11,70% se consideram pretos

Font

e: IB

GE

Apresentações das oficinas do PCP nas escolas Armando de Salles Oliveira (fotos à esqu.) e no IV Centenário (à dir.)

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S SEUS DIREITOS O mundo é nosso e o direito é de todos!Coluna especial

Sexto tema: Equipe Social da Redes da Maré [email protected]

Você sabe o que é BPC?Benefício garante um salário mínimo a idosos e pessoas com deficiência, mesmo que nunca tenham contribuído para o INSS

Para tirar qualquer dúvida, buscar outros locais de atendimento ou marcar a ida aos postos da previdência basta ligar para 135.

O Benefício de Prestação Continuada (BPC) faz parte da política nacional de assistência social e é operacionalizado pelo Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). Destina-se a idosos e pessoas com deficiência que se enquadrem dentro de alguns requisitos, que estarão explicados a seguir. Antes de esclarecer como obter o benefício é necessário compreendermos um pouco sobre a política de assistência social. A nossa Constituição Federal garante que toda criança, adolescente, jovem, mulher, homem, idosa ou idoso tenham suas integridades física e psicológica respeitadas e preservadas.

Para que isso ocorra, a Constituição prevê a Seguridade Social, que tem como princípio a proteção social para todos. Essa proteção garante o direito à saúde gratuita para todos os cidadãos através do SUS; à Previdência Social para quem contribuir para o INSS; e à Assistência Social que, além do BPC, possui uma série de outros benefícios, como o Bolsa Família, Bolsa Carioca, Minha Casa Minha Vida etc. A assistência social foi criada para auxiliar as pessoas que não podem trabalhar, não possuem renda e são de uma família que não tem possibilidade de ter sustento próprio.

Quem tem direito ao BPC?Idosos a partir de 65 anos e pessoas com deficiência em qualquer idade, incapacitadas para a vida independente e para o trabalho (a deficiência será avaliada por profissionais do INSS a fim de comprovar o diagnóstico e a incapacidade para o trabalho).

Saiba se você tem direitoPara obter o benefício, é necessário calcular a renda familiar e o seu valor por pessoa que reside no mesmo domicílio do beneficiário, devendo chegar ao máximo em ¼ de salário mínimo (ou seja, R$169,50) para cada familiar, incluindo a pessoa que está requerendo esse direito.

Exemplos de cálculo:

1) Seu João tem 65 anos, não trabalha e mora com sua esposa e três filhos sendo que somente um filho trabalha e ganha R$750. Quando dividimos este valor pelo número que pessoas que moram na casa (os cinco) obtemos o valor de R$ 150, ou seja,

Como obter o BPC?Para requerer o BPC, a pessoa idosa ou com deficiência deve procurar uma Agência do INSS, preencher o formulário de solicitação do benefício, apresentar declaração de renda dos membros da família, comprovar residência e apresentar os documentos de identificação próprios e da família. Para tanto, é necessário fazer o agendamento do atendimento, com data e hora marcada.

O agendamento pode ser feito pelo telefone 135 da Central de Atendimento da Previdência Social (ligação gratuita) ou pela internetno site www.previdenciasocial.gov.br.

valor inferior a ¼ do salário mínimo. Sendo assim, seu João tem direito de entrar com o pedido de benefício do BPC.

2) Dona Maria possui uma deficiência física. Ela mora com uma irmã e quatro filhos. Apenas a irmã de Dona Maria trabalha na casa e ganha R$ 950. Quando dividimos este valor pelos moradores da casa (os seis) obtemos a valor de R$ 158,33, ou seja, inferior ao valor de ¼ do salário mínimo. Sendo assim, dona Maria tem o direito de entrar com o pedido de BPC. Neste caso, vale lembrar que é necessário que dona Maria passe por um profissional do INSS que faça o diagnóstico de sua deficiência antes que o benefício seja liberado.

Qual é o valor do BPC?Um salário mínimo vigente. Atualmente: R$ 678Quais os postos do INSS mais perto dos moradores da Maré?Ramos: Rua Joaquim Gomes, 269Vila da Penha: Avenida Meriti, 2661. Tel.: 2121-1007Ilha do Governador : Estrada Galeão, 853, Cacuia. Tel.: 2193-1630

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Mortes na Maré imprimem nos moradores um misto de medo e revolta

Não é só outra morte Rosilene Miliotti

Quem nunca ouviu a frase: “Era bandido, por isso a polícia matou”? Em maio deste ano, cinco pessoas foram mortas pela polícia em um apartamento no Conjunto Pinheiro e os moradores foram obrigados a limpar o local. Nada de perícia ou notícia na imprensa. Um mês depois, outras nove pessoas foram mortas pela polícia e boa parte dos meios de comunicação justificou a chacina dizendo que a maioria das vítimas tinha passagem pela polícia.

Os meses se passaram e ninguém fala mais nada. O que fica é o sentimento de naturalização por morte violenta nas favelas. Para a assistente social Gisele Martins, coordenadora da equipe social da Redes da Maré, há uma linha muito tênue entre o medo e a revolta por parte dos familiares das vítimas. Além disso, a própria família muitas vezes naturaliza a morte porque a vítima fazia parte do mundo do crime ou porque estava na rua em um horário que não deveria estar.

Vânia Gomes, coordenadora do Digaí Maré, explica que a questão da banali-zação da violência na Maré é uma per-gunta que deve ser colocada, porém não existe uma resposta única. “Como responder por uma violência que toca a cada um de forma diferente? Não há ne-nhuma teoria que dê conta de explicar

o modo particular de cada um lidar com situações difíceis em sua vida. Muitas vezes uma aparência de banalização encobre um sofrimento grande que apa-rece em outro lugar, de outro jeito. Nós só temos a aprender com as pessoas que nos procuram e que topam fazer um trabalho de subjetivar um sofrimento com os instrumentos que a psicanálise oferece”, esclarece ela.

O Digaí Maré oferece tratamento psi-coterapêutico em grupo para crianças, adolescentes e adultos. Em oito anos de existência, o projeto já realizou cerca de mil atendimentos. O objetivo é tornar o processo psicanalítico acessível ao mo-rador que queira elaborar suas próprias saídas ou soluções para momentos di-fíceis.

Mais informações sobre o Digaí Maré na Rua Sofia Azevedo, 50, na Nova Holanda.

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Policial lê sobre mortes violentas na Conferência Livre da Maré, em 2009

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Faltou luz?Em caso de queda de energia, entre em contato com a Light pelo telefone 0800 021 0196 ou envie torpedo apenas com o código de instalação (nº que vem na sua conta) para 54448. Anote o protocolo de sua reclamação. Se a luz não voltar em seis horas, procure a associação de moradores levando o nº do protocolo e a conta que a instituição fará a intermediação do atendimento com o técnico da Light responsável pela Maré. Se a falta de energia continuar constante, os líderes comunitários pretendem recorrer ao Ministério Público e os protocolos servirão de comprovação do problema. A falta de luz é generalizada, mas o problema tem sido diário na Vila do João, Vila do Pinheiro e Conjunto Esperança. O técnico da Light Luciano Freitas diz que a empresa está fazendo um trabalho de manutenção da rede.

Qual o papel de uma associação de moradores?Líderes comunitários querem que moradores conheçam melhor o trabalho

desenvolvido pelas associações. A ideia é unir esforços e fortalecer politicamente a Maré junto ao poder público

Silvia Noronha

A precariedade dos serviços públicos na Maré dita o tom diário das funções desempenhadas pelas associações de moradores. Essas institui-ções, em geral, têm o dever de lutar pelos inte-resses dos moradores, fazendo pressão junto ao poder público para que a localidade usufrua dos seus direitos: à saúde, à infraestrutura urbana, ao lazer, à educação etc. Mas aqui na Maré, o papel das associações vai muito além, pois elas tam-bém precisam agir como se fossem uma sub-prefeitura. Ou seja, metem a mão na massa – no esgoto, inclusive, como é o caso de Altemir Car-doso, presidente da Associação do Parque Ro-quete Pinto, que vira e mexe é visto desentupin-do bueiro. “Não dá para esperar a Cedae, todo dia temos problema de vazamento de esgoto”, relata ele, exemplicando o tipo de trabalho que desenvolve. Entregar correspondência é outra tarefa que cabe ao poder público, mas que em cinco das 16 comunidades da Maré é assumida pela associação. O carteiro tem ordens de deixar os envelopes nessas instituições e a associação que se vire para arranjar dinheiro e contratar um funcionário para separar as correspondências, conforme já relatado na ed. 44 (de agosto deste ano) do Maré de Notícias.

Por falar em dinheiro, as associações não recebem verba pública. O principal (por vezes único) recurso vem da venda

de documentos, principalmente de compra e venda de imóvel. Ou seja, mais uma função que não seria delas, caso os moradores tivessem título de propriedade e pudessem registrar devidamente suas casas em cartório, mas essa solução definitiva também cabe ao poder público. Na Maré, somente as casas de Bento Ribeiro Dantas não passam pela associação, e sim pela Companhia Estadual de Habitação (Cohab).

O número de sócios contribuintes, que poderia ser outra fonte de recursos, costuma ser baixíssimo, mas isso é comum em quase todas as associações de moradores, seja em favela, seja nos bairros da zona sul do Rio. A diferença aqui é que os dirigentes se sentem obrigados a resolver os problemas da Light, da Cedae, da Rioluz, da Comlurb, dos Correios, do SUS etc. Quer dizer, a responsabilidade pela solução do que é público, muitas vezes, recai sobre as associações.

Em busca de soluções estruturantes

Essas questões vêm sendo debatidas pelos dirigentes das 16 associações de moradores do conjunto de favelas da Maré – do Conjunto Esperança a Marcílio Dias – que se uniram em busca de melhorias estruturantes para o bairro. “Não queremos atuar só no ‘varejo’. Na prática nós precisamos resolver as questões pontuais. Vamos continuar fazendo isso, como ligar para a Light para cobrar o restabelecimento da luz, mas nós queremos trabalhar no macro, queremos mudanças estruturais, duradouras”, explica José Carlos Gomes Barbosa, o Carlinhos, presidente da Associação do Parque Maré.

Ou seja, o objetivo é fazer com que os órgãos públicos invistam aqui para que tenhamos serviços de qualidade. Só assim teremos de enfrentar menos questões de “varejo”. Um exemplo é o que vem ocorrendo com a Light. “O atendimento emergencial

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oQual o papel de uma associação de moradores?

não soluciona o problema, porque no dia seguinte falta luz de novo. Queremos que a Light invista na Maré; precisamos nos preparar para o verão, quando o consumo aumenta”, explica Marco Antonio Barcellos, o Marquinho Gargalo, presidente da Associação da Vila do João.

Maré poderá ter Bairro Maravilha

Esse é o tom que os atuais dirigentes querem dar ao trabalho que desenvolvem – um tom mais de políticas públicas, de planejamento e não apenas de “apagar incêndio”. Por isso, eles participam de dois coletivos: A Maré que Queremos, projeto coordenado pela Redes de Desenvolvimento da Maré; e da Liga das Associações de Moradores da Maré, que reúne somente os dirigentes. O objetivo é unir esforços para conseguir melhorias estruturantes para as 16 comunidades.

Com isso, várias reuniões com representantes dos órgãos públicos vêm ocorrendo. Em 6 de setembro, eles se reuniram com o prefeito Eduardo Paes, no Palácio da Cidade, em Botafogo. Paes anunciou em primeira mão que implantará na Maré o programa Bairro Maravilha. Ele viria ao Conjunto Esperança em 28 de setembro lançar o programa, mas o evento foi cancelado na véspera.

Até o fechamento desta edição, não havia previsão de data para o lançamento do programa. Além do contato com o prefeito, os dirigentes tentam se reunir com o governador Sérgio Cabral para cobrar ações do estado, entre elas o prometido investimento que a Cedae ficou de fazer no sistema de coleta e tratamento de esgoto.

ASSOCIAÇÕES DEMORADORES DA MARÉ

Locais e o horários de funcionamento

Associação dos Moradores e Amigos do Conjunto EsperançaRua Manoel Falcão A. Maranhão, 19 | Tel.: 2573-5958

Segunda a sexta feira, de 8h às 17h

Associação de Moradores da Vila do JoãoRua 14, 224 | Tel.: 3104-9785.

Segunda a sexta-feira, de 8h às 17h

Associação de Moradores da Vila do Pinheiroe Salsa e Merengue

Via A/1,135 | Telefone: 3109-2576.Segunda a sexta-feira, de 9h às 18h

Associação de Moradores do Conjunto PinheiroVia B/9 s/nº | Telefone: 3109-2169

De segunda a domingo, de 8h às 24h

Associação de Moradores do Parque EcológicoVia B/9 nº 1 | Tel.: 9522-1616.

Segunda a sexta-feira, de 8h às 17h

Associação dos Moradores do Morro do TimbauRua dos Caetés, 131 | Tel.: 3105-7008

Segunda a sexta-feira, de 9h às 17h; sábado, de 9h às 12h

Associação de Moradores da Baixa do SapateiroRua Nova Canaã, nº 8 | Tel.: 2290-1092

Segunda a sexta, de 9h às 12h e de 14h às 19h

Associação de Moradores do Conjunto Bento Ribeiro DantasAvenida Bento Ribeiro Dantas, s/nº | Tel.: 2005-5980.

Segunda a sexta-feira, de 9h às 16h

Associação de Moradores da Nova MaréRua C, loja 5, quadra 4 | Tel.: 8603-4469 / 8663-7931

Segunda a sexta, de 8h às 12h e de 14h às 17h

Associação de Moradores do Parque MaréRua Rua Flávia Farnese, 45 – Tel.: 3105-6930

Segunda a sexta-feira, de 9h às 17h

Associação de Moradores da Nova HolandaRua Sargento Silva Nunes, 1008 | Telefone: 3105-7148

Segunda a sexta, de 9h às 18h

Associação de Moradores do Parque Rubens VazRua João Araújo, 117 | Tel.: 3105-7146.

Segunda a sexta-feira, de 9h às 12h e de 13h às 18h

Associação de Moradores do Parque UniãoRua Ary Leão, 33 | Telefone: 3882-5510.

Segunda a sexta-feira, de 8h às 11h30 e de 13h às 17h

Associação de Moradores do Parque Roquete PintoRua Ouricuri, 135 | Tel.: 3026-6998

Segunda a sexta-feira, de 9h às 17h

Associação de Moradores da Praia de RamosLargo da Felicidade, nº 2. Tel: 3104-6124.

Segunda a sexta-feira, de 8h às 16h

Associação de Moradores do Conjunto Marcílio DiasAvenida Lobo Júnior, 83

Segunda a sexta-feira, de 9h às 17h; sábado, de 8h às 12h

A partir da esquerda: Cremilda (Bento Ribeiro Dantas), Andréa (Nova Holan-da), Marquinho (Vila do João), Osmar (Timbau), Cláudia (Parque Ecológico), Braz (Parque União), Janaína (Vila do Pinheiro), Pedro (Conj. Esperança), Al-temir (Roquete Pinto), Eunice (Conj.Pinheiro), Charles (Baixa do Sapateiro), Carlinhos (Parque Maré), Agachados: Waldir (Conj. Esperança) e Cristiano (Praia de Ramos)

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Hélio Euclides Elisângela Leite

Os canais do entorno da Maré já são tema de debate há algum tempo no Maré de Notícias. Na edição 11, de novembro de 2010, na reportagem intitulada “Canais do Fundão e do Cunha pedem passagem”, foi discutida a obra de dragagem realizada naquela época. Em novembro de 2011, na edição 23, no texto “Debaixo da grama”, foi abordado o que tinham feito com a lama retirada. Passados quase três anos desta obra que foi tocada pelo governo do estado a um custo de R$ 270 milhões, o tema é retomado por nós para saber como ficou o Canal do Fundão. Outro ponto de debate é a intervenção que a prefeitura está realizando no Canal do Cunha, com o objetivo de prevenir alagamentos das habitações próximas à margem.

No Canal do Cunha, a Fundação Rio-Águas realiza obra de canalização e desassoreamento no trecho entre a Avenida Leopoldo Bulhões e o Canal do Fundão. A assessoria de imprensa informou que a limpeza mecânica do canal está em andamento, tendo sido concluído o trecho até a Av. Brasil. Foram retirados mais de

Boa notícia: a prefeitura está investindo no Canal do Cunha. Já no Canal do Fundão, que passou por

obras do governo do estado em 2010 e 2011, os pescadores continuam com problemas

de navegação

Foi um “canal”que passou em

minha vida

18 material assoreado

do fundo do rio. A estimada é a retirada de

70 mil metros cúbicos. O investimento é de

R$ 31,7 milhões e a conclusão está prevista

para dezembro deste ano.

A intenção é beneficiar os moradores do

Bairro Carioca de Triagem e usuários dos

trens, com a eliminação de pontos de ala-

gamento. A obra também vai favorecer

Lixo próximo ao mangue

os moradores da Maré, principalmen-

te com a prevenção de enchentes por meio dos

serviços de desobstrução do canal. Há mais de 10 anos,

os pescadores da Maré não veem uma limpeza do Canal do Cunha.

Descontentamento com as obras do Canal do Fundão

Já o Canal do Fundão, apesar da aparência mais harmoniosa, ainda esconde impurezas no fundo. O despejo de esgoto in natura (sem qualquer tratamento), proveniente de indústrias e domicílios, continua diariamente, pois não houve obra de coleta e tratamento dos dejetos. “Ficou péssimo depois da obra. Quando a maré está baixa dá para ver o esgoto. Se não sairmos de madrugada, perdemos o dia. Foi uma maquiagem, tiraram lama de um lugar e colocaram em outro”, observa o pescador da Vila do Pinheiro, Norival Pedro de Mello. Seu colega de profissão, Gilberto Coura, o Gil, tem a mesma opinião. “Tem que dragar tudo, o que

18 mil metros cúbicos de

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asnão aconteceu. A empreiteira só fez a Ponte do

Saber e cercou o mangue”, conta desanimado.

Os pescadores são os mais revoltados com a situação após a obra. “O projeto no papel era lindo, até um píer iriam fazer. Os órgãos vêm com tanta promessa, acreditamos e nada. Dá pena da gente”, comenta Antonio Domingos. O presidente da organização não

governamental Olhar do Mangue, José Alailton, ressalta a impossibilidade de

barcos navegarem, e que na rede de pesca não vem peixe e

sim lixo. “Uma promessa não cumprida foi

a construção dos píeres da Vila do Pinheiro, Parque União e Cidade Universitária. Na época os pescadores visitaram a obra e constataram que não existia a separação de materiais e não ocorreu um estudo técnico adequado”, aponta.

José Augusto Lopes, também pescador, diz que a obra não favoreceu nem o seu trabalho nem o morador. “Só encalhamos. Tem que aumentar a profundidade para uns sete metros. Hoje com a maré alta dá um metro, isso não é canal de navegação”, afirma.

“De fato o projeto de dragagem do Canal do Fundão previa uma série de obras

complementares como o cotado píer dos pescadores que, apesar de serem contrapartidas sociais, não saíram do papel. Através do Olhar do Mangue, estamos organizando um dossiê que será encaminhado com fotos e vídeos ao Ministério Público com pedido de providências”, conta o ambientalista Sérgio Ricardo.

O Maré entrou em contato com a Secretaria Estadual de Meio Ambiente, mas até o fechamento desta edição, o órgão não havia respondido os questionamentos feitos sobre a obra do Canal do Fundão.

“Quando a maré está baixa dá para ver o esgoto. Se

não sairmos de madrugada perdemos o dia. Foi uma

maquiagem, tiraram lama de um lugar e colocaram

em outro“(sobre a obra do Canal do Fundão)Norival Pedro de Mello

pescador da Vila do Pinheiro

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S O que acontece e o que não deixa de acontecer por aquiUma ponte entre Maré e VascoUma parceria está dando oportunidade para atletas realizarem teste num grande clube. A Escolinha do Mário, que funciona na ciclovia do Conjunto Pinheiro com apoio do Instituto Roberto Dinamite de Futsal, levou quatro meninos para avaliação no Vasco. Foram os primeiros do grupo que será convocado para o exame. Nessa primeira leva os escolhidos foram os zagueiros Juan Rodrigues, de 7 anos, e Francisco Ivan, de 8; e os atacantes Rafael Sousa, de 8, e Wendel Lima, de 13.

“Sinto-me em casa aqui. Foi muito legal fazer o teste. Na próxima acho que tenho chance de passar. Meu sonho é ser jogador de futebol”, con-fessa Wendel, que treina desde os 4 anos de idade.

A escolinha existe há 17 anos, já tendo enviado um menino para o Botafogo. “Aqui as portas estão abertas para a garotada. Faço esse tra-balho, pois na minha época não tinha essa força”, lembra o ex-jogador do Madureira e treinador Mário Alves. A escolinha conta com 82 me-ninos e seis meninas e funciona às terças e quintas, das 16 às 20h. O treinamento é gratuito.

Parada gay da Vila do João atrai 8 milCerca de 8 mil pessoas participaram da 5ª Parada Gay – Maré sem preconceito, realizada no domingo, 6 de outubro, na Vila do João e na Vila do Pinheiro. “Queremos mostrar à sociedade que a comunidade LGBT vive feliz. A Vila do João é pacífica e podemos ir e vir sem nenhum tipo de preconceito”, conta Alberto Araújo Duarte, o Beto, organizador do evento, que contou com a presença de David Brasil, Susy Brasil e trans-formistas do Rio.E

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Boxeador da Marérumo ao mundial

O boxeador Roberto Custódio tornou-se campeão Continental de Boxe na categoria até 69 kg e se prepara para participar do

Mundial, a partir de 11 de outubro, no Cazaquistão

Rosilene Miliotti

Curiosidade e defesa pessoal, es-ses foram os motivos que levaram o morador da Maré a praticar boxe no Luta Pela Paz, em 2001. “Minha mãe ficou muito preocupada e che-gou a pedir para eu parar com essa ideia de lutar boxe. Minha família incentiva, mas minha mãe ainda tem medo de que eu me machu-que”, brinca Roberto Custódio que, em setembro, sagrou-se campeão Continental na categoria até 69kg.Engana-se quem pensa que vida de atleta é fácil. Roberto confessa que teve dúvida em continuar no esporte, principalmente quando foi convocado para a seleção brasileira de boxe, que treina em São Paulo. “Na época minha esposa estava grávida e não queria

deixá-la sozinha. Mas ela me incentivou e foi muito forte em passar esses meses praticamente sozinha em um momento final de gestação. Nossa filha nasceu bem e eu estava em uma competição no momento do nascimento dela, por isso não pude estar presente”, lamenta.

Como identificar um atleta

Segundo Roberto, a dedicação a um esporte faz muita diferença, mas nem todos que treinam chegarão a ser um atleta de alto rendimento. Ele mesmo não pensava em ser atleta de seleção. “Com o passar do tempo, isso foi virando uma meta. Agora é só uma questão de tempo e logo teremos mais jovens da Maré aqui em São Paulo treinando na seleção”, acredita ele.

Para Luke Dowdney, fundador do Luta pela Paz, situado na Nova Holanda, existe um

processo de identificação para saber se um adolescente tem potencial para ser um atleta, mas é importante dizer que o dom do boxe não dá para ensinar. “O treinador percebe alguns elementos, como coordenação motora avançada, inteligência no ringue, habilidade de ler o adversário e a vontade de lutar. Uma combinação de talento, empenho e gosto para o que faz”, explica. No caso de Roberto, o treinador Gibi foi quem o acompanhou de perto até a convocação do rapaz para a seleção.

Sobre a vitória de Roberto, Luke diz que ele é um atleta de projeção mundial com grandes chances de ir para os jogos olímpicos de 2016. O Luta, que fica na Nova Holanda, é um projeto que nasceu com o objetivo de acolher jovens que muitas vezes são vistos como problema, mas que hoje é procurado pelos moradores em geral.

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A Imagens do povo, para o povoFotógrafos do Imagens do Povo expõem ensaios de arte

contemporânea no Centro do Rio

Fabíola Loureiro veri-vg

Até 10 de novembro é possível visitar a exposição “Na Teia da Memória - Mostra coletiva do Programa Imagens do Povo”, no Centro Cultural da Justiça Federal. A exposição é o resultado da capacitação que o programa Imagens do Povo, do Observatório de Favelas, ofereceu a seus fotógrafos, com o objetivo de habilitar os alunos para operar no circuito da arte.

Elisângela Leite, moradora da Nova Holanda, fotógrafa do Imagens e do Maré de Notícias, diz que teve um pouco de dificuldade em ir para a arte contemporânea, pois sua formação vem da área documental. “O curso ajudou a analisar nosso material, saber o que é contemporâneo e ampliar nosso olhar de fotógrafo. Escolhi falar da rua onde moro por ser muito divertida. As crianças ficam dançando, os vizinhos tomam cerveja e fazem churrasquinho, fazem seu lazer aqui”, conta Elisângela.

O Coletivo Pandilla Fotográfica, formado pelos fotógrafos Américo Júnior, Bruno Morais e Léo Melo, desenvolveu o trabalho em Nova Friburgo com pessoas que tiveram suas casas atingidas pelas enchentes, mas que conseguiram recuperar algum objeto de valor sentimental para elas. “Nosso tema é o desdobramento de um projeto que fizemos em 2011, na Região Serrana, logo após a tragédia causada pelas chuvas de janeiro. Voltamos aos lugares que tínhamos visitado, na intenção de fotografar rastros dessa paisagem subjetiva que paira no município. Para chegar ao resultado, fotografamos a pessoa e o objeto separadamente, unindo-os depois no programa de edição”, explica Léo.

Joana Mazza, coordenadora do Imagens do Povo, explica que a escolha do tema foi feita pelos próprios alunos e toda a produção foi acompanhada pela coordenação do curso. “A exposição é o resultado de um processo coletivo de elaboração com os alunos. Eles escolheram o tema e desenvolveram seus ensaios ao longo do ano. Além disso, eles participaram do processo de curadoria, do projeto expográfico e da montagem”, pontua ela.

Centro Cultural Justiça Federal do Rio de Janeiro (CCJF)Av. Rio Branco, 241, CentroVisitação: de 02/10 a 10/11

Terça a domingo, de 12h às 19hEntrada gratuita

Exposição “Na teia da memória: Mostra

coletiva do Programa Imagens do Povo”

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Cheesecake com calda de goiabadaIngredientes:- 1 pacote de biscoito maisena (125g)- Manteiga amolecida (75g/ 4 colheres)- Cream cheese (300g)-Açúcar de confeiteiro (60g)

- Essência de baunilha (5 ml/ 1 colher de chá)- Suco de limão (5 ml/ 1 colher de chá)- 3 ovos- Goiabada (500g)

RECEITA - Enviada pela Rosana Alves, aluna formada pelo Maré de Sabores

R. Ivanildo Alves, s/n - Nova MaréTels.: 3105-6815 / 7871-7692

[email protected] FACE: Lona da Maré / Twitter: @lonadamare

Herbert ViannaLona cultural

PROGRAME-SE ! ENTRADA GRATUITA!

Veja a programação completaem www.redesdamare.org.br

cultura

Programação para outubro

Oficinas

Cine RabiolaFilmes infanto-juvenis todas

as sextas, às 16h3004/10 – Valente

11/10 – Ratatouile18/10 – Mary Poppins

25/10 – Hotel Transylvania

Favela Rock Show6ª feira, 18/10, às 20h

Com as bandas Thrashera e Sakhet

Cep 20 000 Com Chacal e convidados

6ª feira, 25/10, às 20hO Centro de

Experimentação Poética(CEP 20 000)

vem à Lona pela primeira vez!

Desenho BásicoA partir de 10 anos2as, de 10 às 12h

Prof.: Jandir Leite Moreira

Lona Música Livre 5ª feira, 17/10, às 19h

Show com a banda Los Chivitos e convidados.

Intervenções, projeções, dança, poesia, DJs e

muito mais!

Oficina de MC’sA partir de 12 anos2as, 4as de 15 às 17h

Professor: Succo

Dança de salãoA partir de 16 anosSáb., de 18 às 20h

Prof.: Roberto Queiróz

Agricultura UrbanaA partir de 14 anos

5ª feira, 9h às 11h30Oficina do projeto Muda Maré (UFRJ)

Artesanato (Módulo I: Fuxico)

A partir de 14 anos2as, de 8 às 10h

Prof.: Jandir Leite Moreira

Dança de RuaSegundas, 17h30 às 18h30

iniciante18h30 às 19h30

avançado

Consciência CorporalTerças, 17h30 às 19h30

Com Lylien Vass

PercussãoTerças, 19h30 às 21h30Com Marcelo Sant’Anna

aulas recomeçam em 20 de agosto

Dança contemporâneaQuarta, 18h30 às 19h30

Com Jeane Lima

Dança criativaQuarta: 17h30 às 18h30

Com Jeane Lima

Corpo e ExpressãoSexta, 17h30 às 18h30

Com Talitta Chagas

Dança de salãoSexta, 18h30 às 20h30 Com Roberto Queiroz

OFICINAS

R. Bitencourt Sampaio, 181 Nova Holanda. Programação no local

ou pelo tel. 3105-7265 De 2 a a 6a, de 14h às 21h30

Modo de preparar:1- Bata os biscoitos em um liquidificador até que vire farelo;2- Junte a manteiga ao farelo e amasse até que fique uma massa compacta;3- Pressione essa mistura em uma forma de fundo removível de 20 cm de diâ-metro;4- Pressione bem os lados para que eles fiquem mais altos que o fundo;5- Bata junto o cream cheese, a essência de baunilha, o suco de limão, o açúcar e os ovos, até que fique uma mistura cremosa;6- Bata o creme de leite e junte a mistura ao cream cheese;7- Espalhe sobre a massa do biscoito e alise com uma espátula.Asse em forno pré aquecido (180°c) por 40 minutos ou até a superfície dourar.

Calda de goiabada:Em uma panela aqueça a goiabada, o suco de limão e 1 xícara de chá de água. Cozinhe em fogo baixo. Quando estiver morna despeje a cobertura sobre a torta.

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Biblioteca Popular Municipal Jorge AmadoAo lado da Lona, atende a toda a Maré: Amplo acervo,

brinquedoteca, gibiteca e empréstimo domiciliar

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Um casal tomando sol e comendo churrasco quando o marido diz: EU TE AMO!E a mulher pergunta: É você que está falando ou já é á cerveja? E o marido diz: Sou eu que estou falando... pra cervejA.

AMOR VERDADEIRO

Maré em debate

Moradora da Marépresenteia Jessie J

no Rock in Rio

São Cosme e Damião

Envie seu desenho, foto, poesia, piada, receita ou sugestão de matéria.Rua Sargento Silva Nunes, 1.012 – Nova Holanda Tel.: 3104-3276 – E-mail: [email protected]

Rindoatoa)

Diogo dos Santos

pra Maré participar do Maré

Garanta o seu jornal

da sua comunidade!Busque um exemplar na Associação de

Moradores

todos os meses!

Alunos do Programa Integrado da UFRJ para Educação de Jovens e Adultos, da Nova Ho-landa, debatem temas de interesse local a partir da leitura do Maré de Notícias. O uso do jornal em sala de aula é incentivado pela professo-ra Renata Vieira Reis. Em um trabalho recente sobre cartas do leitor, os alunos escreveram al-guns textos sobre reportagens do jornal. Leiam abaixo:

“Sobre a reportagem ‘Cadê a kombi que estava aqui?’ da edição nº 45, nós achamos que aqui na Maré muita gente depende das vans e kom-bis, e ao invés de tirar, seria bom que legalizas-se as vans pra gente poder usar o bilhete único. Só essas duas linhas que vão continuar não vão beneficiar todos os trabalhadores que precisam desse transporte.”

“Sobre a reportagem ‘Cadê o carteiro?’ da edi-ção nº 44, nós gostaríamos de saber quem re-almente é o responsável pela identificação das ruas e casas na Maré. Se o correio não recebe a identificação das ruas, a culpa é da Associação?”

“Nós achamos que se não fosse a colaboração dos moradores, as cartas não chegariam nas nossas casas.”

Nota da Redação: São cinco comunidades da Maré sem entrega de correspondência domici-liar. As associações de moradores, na verdade, se veem obrigadas a cumprir essa tarefa que se-ria dos Correios. A empresa alega que somente quando todas as ruas estiverem com nomes e as casas com números devidamente oficializados pela Câmara de Vereadores, os Correios poderão gerar os CEPs e iniciar a entrega domiciliar. Ana Carolina Oliveira, moradora da Baixa do Sapa-

teiro, foi ao Rock in Rio no dia 15 de setembro para assistir o show da britânica Jessie J e acabou vi-rando matéria da TV Globo. Ela, que é fã declarada da cantora, conseguiu um fato inusitado: jogou seu ursinho no palco, o empresário pegou e o entregou para Jessie J. “Ela não gosta que joguem coisas no palco, nem acreditei quando ela pegou”, conta.Carol ganhou esse ursinho do pai quando tinha ape-nas 7 anos. Sempre teve o maior cuidado com ele até que resolveu presentear a cantora. “Chorei, fi-quei bem emocionada, foi missão cumprida quando a vi segurando o ursinho”, finaliza Carol.

Sr. Reinaldo, morador da Nova Holanda, fez uma promessa para os santos Cosme e Damião e há 7 anos distribui doces no dia 27 de setembro. A tradi-ção está se perdendo, mas muitas crianças pegam as mochilas e saem correndo atrás de doces. Mães, pais, tias e tios acompanham a criançada na caça-da aos doces e brinquedos. E apesar de não ser feriado, alguns professores liberaram os alunos das aulas neste dia. São Cosme e Damião são conside-rados protetores das crianças.

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