jornal fatos da terra 7 - itesp

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1 F A T O S D A T E R R A 7 Artigo JosØ Arbex Jr. desmascara o latifœndio da informaçªo Destaque Vereadores pedem um voto de confiança na reforma agrÆria Ano III - N” 7 - Jan/Fev 2002 Fundaçªo Instituto de Terras do Estado de Sªo Paulo JosØ Gomes da Silva Fórum da Terra se consolida como referŒncia na questªo agrÆria e se torna mais um marco na história do Itesp Proseando Entrevista com o juiz gaœcho que deu sentença favorÆvel aos sem-terra Curtas Itesp tem novo Diretor-Executivo NACIONAL Grilos ameaçados Terra Justiça Cidadania Um novo olhar sobre o rural EXTRA

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Page 1: Jornal Fatos da Terra 7 - Itesp

1F A T O S D A T E R R A 7

ArtigoJosé Arbex Jr. desmascara

o �latifúndio da informação�

DestaqueVereadores pedem um votode confiança na reforma agrária

Ano III - Nº 7 - Jan/Fev 2002

Fundação Instituto de Terrasdo Estado de São Paulo�José Gomes da Silva�

Fórum da Terra se consolida como referência na questão agrária e se torna mais um marco na história do Itesp

ProseandoEntrevista com o juiz gaúcho que deusentença favorável aos sem-terra

CurtasItesp tem novo

Diretor-Executivo

NACIONAL

Grilos ameaçados

T e r r aJ u s t i ç aC i d a d a n i a

Um novo olhar sobre o rural

EXTRA

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2 I T E S P

EDITORIAL

ITESP - Fundação Instituto de Terras do Estadode São Paulo �José Gomes da Silva�

Secretaria da Justiça e da Defesa da CidadaniaFatos da Terra é a revista da Fundação Instituto de Terras do Estado de São Paulo �José Gomes da Silva� (Itesp),vinculada à Secretaria Estadual da Justiça e da Defesa da Cidadania.Jornalista Responsável: Helton Lucinda Ribeiro - Mtb 27.002 � Colaboração: Eduardo Pereira Lustosa e Murilo H. de AbreuDiagramação e Editoração Eletrônica: Edson Luiz Pereira MarquesFotos: Eduardo Pereira Lustosa / Arquivo ItespAv. Brigadeiro Luís Antônio, 554 - 7º andar - Bela Vista - CEP 01318 000 - São Paulo � SP Telefone: 3242-0933 ramal 1705e-mail: [email protected] Visite nossa página: www.institutodeterras.sp.gov.brTiragem: 1500 exemplares - Impressão: Imprensa Oficial do Estado de São PauloÉ permitida a reprodução dos textos, desde que citada a fonte.

Tire suas dúvidas, envie comentá-rios, críticas e sugestões para:

Fundação Instituto de Terrasdo Estado de São Paulo�José Gomes da Silva� (Itesp)

Av.  Brigadeiro Luís Antônio, 554 Bela Vista CEP 01318-000São Paulo - BrasilFone-Fax (0xx11) 3242-0933E-mail:[email protected]

OuvidoriaAntonio Carlos B. de Mattos (Magu)Fone: (0xx11) 3242-0933 r: 1903e-mail: [email protected]

Visite nossa página e leia, diariamen-te, as principais notícias sobre aquestão agrária:www.institutodeterras.sp.gov.br

Fale conosco

GOVERNO DO ESTADODE SÃO PAULO

COMEÇO DE CONVERSA

T e r r aJ u s t i ç aC i d a d a n i a

ÍNDICEEditorial ................................. 2

P r o s e a n d o.............................. 3

Regional ................................. 5

Cultura ................................... 7

Reportagem de Capa ........... 8

O p i n i ã o ................................. 1 0

Ciência e Tecnologia .......... 1 1

Nacional ............................... 1 2

Política ................................. 1 3

C u r t a s .................................. 1 4

Agenda/Saiba Mais ........... 1 5

Destaque .............................. 1 6

No dia 29 de janeiro, o prefeito dePresidente Prudente bloqueou a rodo-via Assis Chateaubriand para impedirque uma marcha do Movimento dosTrabalhadores Rurais Sem Terra(MST) entrasse no município admi-nistrado por ele. O ato arbitrário doprefeito recebeu uma resposta rápidae enérgica do governador do Estadode São Paulo, Geraldo Alckmin, quedeterminou a reabertura da estrada,permitindo que os sem-terra dessemprosseguimento à sua manifestação,que foi concluída de forma pacífica eordeira. Mais que reafirmar suas ina-baláveis convicções democráticas, ogesto do governador sinaliza para umclaro compromisso com a reformaagrária, além de demonstrar sua per-manente disposição para o diálogocom os movimentos sociais.

As motivações que justificaram areação do governador são as mesmasque irão nortear a atuação da novaequipe de direção do Itesp, que tenhoa honra e o orgulho de liderar.

A proposta desta diretoria é de,efetivamente, trabalhar em uma linhamarcada pelo diálogo, a participaçãoe o debate democrático com todos ossegmentos da sociedade que queiramdiscutir as questões agrárias, em espe-cial os movimentos sociais envolvidosna luta pela terra.

Reforma agrária: anseio da população,compromisso do Estado

Os atos desta nova equipe irão de-monstrar seu firme compromisso coma reforma agrária, a regularizaçãofundiária e o apoio à pequena agricul-tura. Também ficará evidenciado seuempenho na busca do resgate da cida-dania dos sem-terra, posseiros, assenta-dos e quilombolas. Para tanto, o Itespcontará com o valioso apoio e a orien-tação do também novo secretário daJustiça e da Defesa da Cidadania, Ale-xandre de Moraes, que, em dez anos decarreira no Ministério Público, notabi-lizou-se pela competência, seriedade epela luta incansável em defesa dosdireitos do cidadão.

É importante ressaltar que a refor-ma agrária em nosso Estado é um an-seio e um desejo da população, queelegeu governos democráticos paradefender essa bandeira de luta comouma forma de levar justiça, paz e de-senvolvimento social ao campo. Damesma forma que são os paulistas osresponsáveis pela existência da Funda-ção Instituto de Terras, somos nós,funcionários que trabalham ou traba-lharam neste órgão, os grandes respon-sáveis por seu crescimento e consolida-ção e pela perseverança em oferecerum bom serviço à população.

Jonas Villas Bôas Diretor-executivo do ITESP

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PROSEANDO: Luís Enger Aires

Recentemente, ganhou grande destaque na mídia naci-onal a decisão de um juiz da cidade gaúcha de Passo Fun-do, que indeferiu pedido de reintegração de posse deuma fazenda ocupada por militantes do MST. Acostuma-da a chamar de �invasões� as ações dos movimentossociais, quando não os classifica diretamente como�baderneiros�, a imprensa não conseguiu disfarçar suaperplexidade. �Quem teria sido o responsável por tama-nha ousadia?�, pareciam perguntar nas entrelinhas desuas reportagens. Pois o responsável foi Luís ChristianoEnger Aires, juiz da 1a Vara Cível de Passo Fundo.

Ele indeferiu, no dia 17 de outubro, pedido de reinte-gração de posse da fazenda Rio Bonito, na cidade dePontão, argumentando que não obteve demonstraçõessuficientes da produtividade e do cumprimento da fun-ção social da propriedade. A decisão foi mantida peloTribunal de Justiça do Estado (TJ). Enger Aires falousobre a repercussão do caso e sobre o tratamento dadopelo judiciário à questão agrária em entrevista exclusiva àFatos da Terra.

Fatos - A decisão sobre a ocupação de terrasproferida pelo senhor e confirmada pelo TJ teverepercussão nacional. O senhor ficou surpreso comesse resultado? Tem recebido muitas pressões emrazão dessa decisão?

Em primeiro lugar, gostaria de deixar registrado que arepercussão dessa decisão decorre antes da timidez comque o Poder Judiciário, em especial, tem enfrentado osgrandes temas relacionados aos problemas sociais do Paíse da resistência das camadas mais conservadoras da soci-edade em compreender a transformação do conceito depropriedade e de posse, do que em razão do ineditismodessa discussão. Com efeito, há vários anos já se debateno meio jurídico as transformações sofridas por essesinstitutos jurídicos, notadamente após a Constituição daRepública de 1988.Aquelas circunstâncias inicialmente apontadas, somadas aofato de que o debate teórico passou ao campo da práticajudiciária, trouxeram à tona a possibilidade concreta dessesnovos conceitos passarem a ter influência na vida social,obrigando uma nova postura dos proprietários em face dassuas obrigações sociais e em confronto com a posição dosnão-proprietários. Essa confluência de circunstâncias, acre-dito, é que desencadeou a repercussão atingida pela decisão,até porque atingiu o pilar fundamental da sociedade capita-

lista, qual seja, a propriedade privada.Por outro lado, não houve qualquer pressão dirigida con-tra a minha pessoa, salvo aquelas opiniões veiculadas nosórgãos de imprensa, traduzindo o posicionamento deterceiros e dos próprios meios de comunicação. Porém,assim como foram tornadas públicas um grande númerode críticas sobre o teor da decisão, um imenso contin-gente de pessoas e entidades � laicas e religiosas � mani-festou sua solidariedade e convicção de que aquela era adecisão que melhor se aproximava do primado da justiça,todas dentro do limite da democracia: alguns contra;outros a favor.

Fatos - O senhor já se interessava pela questãoagrária? Já havia julgado casos semelhantes?

Todas as questões relacionadas com o problema da digni-dade humana, inclusive a agrária, sempre estiveram napauta das minhas preocupações como juiz, na medida emque reconheço o Poder Judiciário como arena onde sedigladiam os atores sociais em busca do reconhecimentode suas reivindicações.A omissão dos demais poderes, de fato, acarreta a transfe-rência de conflitos não raro estruturais para o Judiciário,em busca de uma decisão que prime pela redução dacomplexidade social desses conflitos, mediante suaindividualização, e pautada pela despreocupação com asconseqüências sociais dela decorrentes e que acaba por

Enger Aires: �Todas as questões relacionadascom o problema da dignidade humana, inclusivea agrária, sempre estiveram na pauta dasminhas preocupações como juiz�

Tadeu Vilani/Zero Hora

O direito das maiorias marginalizadas

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PROSEANDO: Luís Enger Aires

legitimar o uso da violênciainstitucional para a remoção(e não solução) do conflito.Assim, inexistindo outrosmecanismos de solução de-mocrática desses conflitos,os tribunais são transforma-dos no campo de batalhaonde se disputa o reconheci-mento daquilo que se pode-ria chamar de �direito dasmaiorias marginalizadas�.Por isso, não assumindo os órgãos legislativos e executi-vos a tarefa de desenvolver positivamente as disposiçõesconstitucionais, essa tarefa deve ser realizada pelo PoderJudiciário, reconhecendo que às novas condições sociaisdevem corresponder novas regras de direito, cuidando-sede � em cada caso � satisfazer, da melhor forma possível, ajustiça e a utilidade social, por meio de uma regra de direi-to apropriada. Entretanto, isso somente será possívelquando os juízes estiverem prontos para refletir sobre asimplicações da sua produção diária e sobre seu compro-misso com a viabilização de um projeto que atenda a dig-nidade do ser humano.Em razão dessa compreensão é que julguei recentementeuma ação de reintegração de posse ajuizada pela RedeFerroviária Federal contra centenas de famílias que ocu-pam parcelas da área junto aos trilhos que cruzam a cida-de de Passo Fundo. O pedido da RFFSA foi julgado im-procedente, também em consideração ao problema socialali existente e aos princípios constitucionais da dignida-de da vida humana e da solidariedade social.Por outro lado, foi a primeira vez que me defrontei comconflito agrário onde se contrapuseram um grande pro-prietário rural e um grupo organizado que luta pelaconcretização da reforma agrária e do seu direito a umavida digna.

Fatos - Como evitar que um juiz julgue influenciadopelos meios de comunicação? O Judiciário promovecursos aos magistrados para que questões como areforma agrária possam ser estudadas e julgadas deum ponto de vista o mais neutro possível e não sob aótica da mídia?

Em primeiro lugar, não acredito que possa haver umponto de vista neutro sobre tais questões, já que sua com-preensão pressupõe uma tomada de posição a respeitodos interesses em conflito. E essa postura necessariamen-te será adotada, por qualquer pessoa, tomando em consi-deração sua formação pessoal, suas idiossincrasias, sua

carga ideológica, enfim, suapostura diante do mundo.O juiz deve atender, sim, aisenção necessária parapesar de forma justa osinteresses em jogo � sembeneficiar um ou outro �,mas nunca será neutrofrente a esses interesses.Em segundo lugar, até por-que a tarefa do julgador ésempre decidir de acordo

com o justo e com a ética, não pode ele deixar-se influen-ciar com a opinião da mídia, justamente porque essaopinião é muitas vezes reflexo dos interesses defendidospela empresa e, ademais, a chamada �opinião pública�nem sempre corresponde aos interesses da grande maio-ria da população. De qualquer forma, o juiz deve decidirtendo em vista a justiça possível no sistema jurídico doseu país e não a opinião de terceiros, sem preocupação �pois � com a repercussão da sua decisão na mídia.

Fatos - A sua decisão foi fundamentada na funçãosocial da propriedade. O senhor considera que oscondicionantes sociais, mesmo quando nãoexplicitados no texto legal, devem influenciar adecisão dos juízes ou elas devem se pautar apenasno que estabelece a lei?

Antes de tudo, necessário esclarecer que a funciona-lização da propriedade está explicitamente prevista nasConstituições da República, com variações meramentesemânticas, desde 1934. Assim, o art. 113, XVII, daquelaCarta estabelecia que o direito de propriedade não pode-ria ser exercido contra o interesse social ou coletivo, en-quanto o art. 147 da Constituição de 1946 fixou que o usoda propriedade seria condicionado ao bem-estar social.Por sua vez, também a de 1967 estabeleceu que a proprie-dade deveria atender sua função social, o que foi reprodu-zido na Carta vigente. Esta, porém, incluiu a função socialda propriedade no capítulo dos direitos e garantias funda-mentais, significando que foi considerada como princípiofundamental. Por isso, deve ser compreendida comoparâmetro interpretativo a ser utilizado para a compreen-são de todo o tecido constitucional e, por via de conse-qüência, de todas as normas infraconstitucionais.Em razão disso, se diz que a Constituição fez clara opçãopelos valores existenciais que exprimem a idéia de digni-dade da pessoa humana, superando o patrimonialismo eo individualismo precedentes, apontando para um projetoemancipatório cuja concretização depende de todos e de

�O juiz deve atender, sim,a isenção necessária

para pesar de forma justaos interesses em jogo�

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cada um, do Estado e da sociedade, já que a responsabili-dade social é da comunidade em relação a seus membros edestes entre si e perante a comunidade como um todo.Nessa linha de idéias, portanto, a função social é que garan-te a legitimidade da propriedade e da posse, pois não mere-cerá a tutela jurídica àquela que não esteja vinculada à buscada dignidade humana e à solidariedade social, princípiosfundamentais do sistema jurídico nacional.Já no que se refere à segunda parte da pergunta, tenhoque a experiência jurídica é atualização objetiva de umestado de consciência da comunidade e o direito é sem-pre a melhor possibilidade do sistema jurídico, dada pelosconflitos sociais e individuais que o geraram, pela suahistória e pela cultura da sociedade em que ele emerge. Éum ato de construção e desenvolvimento de valores quejá estão postos pela história de afirmação da liberdade

humana, do direito à vida com dignidade, da luta pelarepartição do produto social, pela redução da desigualda-de e pela defesa do futuro do homem, preservando-lhe oambiente e a natureza, não um ato de arbítrio do juiz oudo legislador.Assim, não apenas o direito é influenciado pela realidade,como também - em sua dialeticidade - é também motivo einfluência de modificação social, razão pela qual é precisoestar atento às contradições e aos problemas sociais,como única forma de reconhecer o justo do caso concretoe rejuvenescer o direito, trazendo para a realidade solu-ções que sejam com ela compatíveis. Assim, uma visãodialética do direito e da realidade social deve abrangernão apenas a produção jurídica estatal, mas também aspressões coletivas que emergem da sociedade civil e quesão tradução de interesses legítimos.

PROSEANDO: Luís Enger Aires

mem contou com o auxílio da Prefeitura de Ranchariae da Secretaria de Estado da Saúde, além do apoiodo Itesp.

Aplausos internacionais

O reconhecimento da importância da atuação do Itespna área da saúde não se limita às fronteiras do Estado.Em maio de 2001, a Secretaria de Estado da Saúde convi-dou a fundação para apresentar seu Plano de Ação emassentamentos e remanescentes de comunidades de qui-lombos no 16o Congresso Mundial de Médicos da Famí-lia, realizado na África do Sul. Esse plano tem comobase o Programa de Saúde da Família/Qualis.

O Gerente de Desenvolvimento Humano do Itesp,Fábio Luiz Nogueira, e a responsável pelo Grupo Técni-co de Gestão Social, Maria Cristina Etcheverry, apresen-taram detalhes do plano, elaborado por uma parceriaentre o Itesp e a Secretaria de Estado da Saúde, represen-tada pela coordenadora estadual do Programa de Saúdeda Família, Rosicler Aparecida Viegas Di Lorenzo.

O projeto visa atender a todos os assentamentos eáreas remanescentes de quilombos do Estado, sendo queatualmente está beneficiando por volta de 9 mil famíliasem 49 municípios, gerando empregos diretos para 177assentados e quilombolas.

Saudável reconhecimento

REGIONAL

Adedicação do Itesp em relação à saúde de seus bene-ficiários foi reconhecida de novo, principalmente

pelo apoio dado pela fundação ao Programa de Saúde daFamília/Qualis, promovido pela Secretaria de Estado daSaúde. Em outubro, essa secretaria convidou um grupode cinco profissionais do Itesp para participar da I Con-ferência Regional de Vigilância Sanitária e de SaúdeMental, realizada em Presidente Prudente. Nesse evento,os participantes elegeram a analista de desenvolvimentoagrário do Itesp Aparecida de Jesus Rosa e mais três as-sentadas como suas representantes na 3a ConferênciaEstadual da Saúde, ocorrida em novembro.

Nessas ocasiões, Aparecida ressaltou a necessidade dedemocratização dos conselhos municipais de saúde e asdificuldades para que programas estaduais de promoçãodo bem-estar beneficiem a população da zona rural.

O cumprimento da legislação do Sistema Único deSaúde, a garantia de que o Programa de Agentes comuni-tários e o Programa de Saúde da Família venham comple-mentar e não substituir os serviços existentes na redebásica de saúde e a exigência de um maior compromissoético dos profissionais e gestores municipais que atuamna área foram outros pontos abordados nos encontros.

O grupo formado por Aparecida e as assentadas MartaFernandes Souza, Mírian Farias e Eloisa Regina Milho-

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REGIONAL

Entre outubro e dezembro, a Fundação Institutode Terras (Itesp) fez um verdadeiro mutirão para

organizar comissões destinadas a selecionar traba-lhadores rurais que serão assentados nos municípi-os de Caiuá, Euclides da Cunha, Marabá Paulista,Mirante do Paranapanema, Presidente Epitácio,Teodoro Sampaio, Ipeúna, Bebedouro, Araraquara,Mogi Mirim e Casa Branca. Ao final do processo,as famílias deverão receber termos de autorizaçãode uso de terras em novos projetos de assentamen-to ou em lotes que vagarem devido à desistênciade ocupantes.

As comissões são presididas por um representantedo Itesp e contam com integrantes da ProcuradoriaGeral do Estado, da Câmara dos Vereadores, da Pre-feitura Municipal, da Secretaria da Agricultura e Abas-tecimento, do Sindicato dos Trabalhadores Rurais ede outros dois representantes da sociedade civil esco-lhidos pelos demais membros. Além de presidir osgrupos, a fundação ainda participa com integrantes daAdvocacia e Consultoria Jurídica.

O diretor-adjunto de políticas de desenvolvimento,Ivan Silveira, relata que as seleções geraram algumascontrovérsias resultantes dos conflitos de interessesentre os grupos envolvidos. �Os movimentos sociaisexigiram prioridade para os sem-terra acampados, en-quanto os representantes dos municípios reivindica-

Comissões selecionam novos assentados em 11 municípios

ram que os moradores das cidades fossem escolhidosnuma proporção idêntica. Para evitar o impasse, fo-ram definidos critérios justos, respeitando sempre oque prevê a legislação�, conclui Ivan.

As regras de composição e funcionamento das co-missões, assim como os requisitos dos candidatos,estão previstos nos artigos 1º e 7º da Lei Estadual4.957/85 e no Decreto Estadual 35.852/92. Os inte-ressados no assentamento precisam ter perfil de traba-lhador rural, residir na região há pelo menos doisanos e não possuir terra suficiente para sua subsistên-cia. Os critérios classificatórios são definidos pelaspróprias comissões.

Pesquisa no Vergel pretende duplicar fertilidade do solo

Uma pesquisa a ser desenvolvida com o apoio doItesp no assentamento Vergel, em Mogi Mirim, deve

proporcionar a duplicação da fertilidade do solo, a redu-ção em 80% dos índices de erosão e a queda de 40%nas taxas de contaminação do ambiente por insumos,além da diminuição em 20% dos custos de produção.

Trata-se do projeto �Desenvolvimento e Difusão deTécnicas de Plantio Direto e Industrialização dos Pro-dutos da Agricultura Familiar em Áreas Carentes�,cujos primeiros preparativos começaram a ser feitosem dezembro de 2001 e que tem um Dia de Campoprevisto para 1o de fevereiro deste ano.

De autoria do pesquisador José Guilherme deFreitas, o estudo é financiado pelo Instituto Agronô-mico de Campinas (IAC) e pelo Conselho Nacionalde Pesquisa (CNPq). O Itesp vai participar do desen-volvimento e acompanhamento dos trabalhos junta-mente com a associação local de produtores assenta-

dos e a Prefeitura de Mogi Mirim.Durante dois anos, será feita uma avaliação de solo,

clima, água, da plantação e do trabalho em economiafamiliar para planejar um sistema viável de plantiodireto com rotação de culturas.

O assentado Walter Aparecido Durante, em cujolote parte da pesquisa será feita, lembra que a diversifi-cação da produção deve ser um dos pontos altos doprojeto. Isso porque a destilaria existente no assenta-mento e a experiência dos assentados em produção deóleo de eucalipto vão ser utilizadas pela pesquisa paraimpulsionar o plantio e a comercialização do óleo degirassol e de essências vegetais como capim limão,palmarosa, citronela e vetiver.

Fato inédito no Vergel, a aproximação entre produ-tores familiares e pesquisadores é indispensável para odesenvolvimento das famílias, destaca o coordenadorda Regional Leste do Itesp, Reginaldo Toledo Ruiz.

Técnicos do Itesp executam planejamento terri-torial da Fazenda São Pedro da Alcídia, que rece-berá famílias selecionadas em Teodoro Sampaio.

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ento

s da

Ter

raCULTURA

Quilombolas resgatam o fandangoDançarinos a postos. O som

da rabeca contagia de imediato,acompanhado pelo pontear daviola. É o fandango que está co-meçando. O bater de pés e pal-mas vai marcando o ritmo. Sãovárias danças, como São Gonça-lo, Nhanhinha de Oito, Tirana,Engenho Novo e Serindi. Poronde passa, o grupo de fandangoda comunidade de quilombo deMorro Seco, em Iguape, é umsucesso. Mas, há pouco mais deum ano, não era bem assim. �Fi-camos mais de 20 anos sem dan-çar e recomeçamos em 2000�,conta Armando Modesto Pereira,coordenador do grupo.

Segundo ele, a tradição dofandango é muito antiga e re-monta ao tempo de seus avós.Foi retomada para fortalecer oslaços culturais e oferecer à juven-tude uma opção de lazer dentro

da comunidade. �Eu percebi quea garotada estava indo para acidade para se divertir. Ninguémqueria ficar no bairro�.

A iniciativa deu certo. �Seu�Armando conta que os jovensgostam bastante das danças, ou�modas�, praticadas todos ossábados. Hoje, a comunidade deMorro Seco é uma das poucas apreservar a tradição do fandangono Estado de São Paulo e possuium estilo único. Com ele, reafir-mam sua identidade cultural,passo importante para a constru-ção da cidadania.

Origem da dança

Um convite musical Capa do CD�Entre...�, dePaulo Araújo:introspecção eecletismo

Introspecção e reflexões sobreo mundo moderno, pautadaspela relação homem/natureza.Isso é o que se poderia dizernuma primeira tentativa de des-crever o CD �Entre...�, o primei-ro do músico Paulo Araújo, res-ponsável pelo Grupo Técnico deGestão Ambiental do Itesp. Maso disco não se limita a isso. Tra-ta-se de um apanhado eclético,reunindo músicas compostasdesde os anos 70.

Passeando pelo folk, samba,rap, raggae e enriquecendo seusarranjos com cavaquinhos, violascaipiras e gaitas, o CD primapela diversidade. Uma das can-ções mais marcantes é PardalAtômico, com os versos �cipó defio de cobre/ choque, choque,

choque�. Para o músico, PardalAtômico só não é o carro-chefeem razão da própria diversidadede ritmos do disco, que atende agostos os mais variados. Tambémchamam a atenção versos comoos de Ponta Negra: �E os segre-dos/lá da mata/Ponta Negra vaiguardar/entre homens e cascatas/alguma coisa vai ficar�.

Paulo Araújo conta que o dis-co é a concretização de um so-nho antigo. O resultado, de altaqualidade técnica, ele atribuitambém à colaboração deRoberto Gava, do stúdio RGJ,que conheceu graças a um amigocomum. Gava atuou como par-ceiro de Araújo nos arranjos etocou alguns instrumentos.

Na definição do próprio autor,

o título �Entre...� não representaapenas um convite músical, massimboliza dicotomias constantesno disco, como a relação urbano/rural. Dicotomias realçadas pelaprópria divisão da maioria dasmúsicas em dois andamentos,com um momento de velocidadee outro de ruptura.

O próximo passo agora é pre-parar o show de divulgação dotrabalho, previsto para este ano.Por enquanto, quem quiser adqui-rir o disco pode entrar em contatocom o músico pelo telefone(0xx11) 5543 0605, ou pelo e-mail [email protected].

De origem espanhola, o fan-dango (palavra latina que signifi-ca �tocar lira�) é uma dança inti-mamente ligada ao canto, e este,por sua vez, ao instrumento. Foiintroduzido no Brasil pelos por-tugueses. Dançado nos salõesimperiais, o fandango populari-zou-se a partir da República eoriginou vários estilos.

Hoje, é entendido como umconjunto de danças praticadasno meio rural, sendo constante apresença da viola, da rabeca e dobater de pés e palmas.

No Estado de São Paulo, só éencontrado nos bairros rurais dealguns municípios à beira-mar epouquíssimos da serra acima.Em algumas comunidades qui-lombolas, é apenas uma lembran-ça guardada pelos mais velhos.

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CAPA

Oano de 2001 não poderiater sido melhor para a Fun-dação Instituto de Terras.Consolidada como uma

entidade forte, com quadro de fun-cionários próprio, encarou logo deinício a tarefa de promover umevento com a participação de perso-nalidades que são referência nacio-nal no debate sobre a questão agrá-ria. E venceu mais esse desafio! OFórum da Terra, promovido emparceria com o Núcleo de EstudosAgrários e Desenvolvimento Rural(NEAD), órgão ligado ao Ministériodo Desenvolvimento Agrário, foium sucesso e vai se tornar anual.

Realizado de 12 a 14 de novem-bro, o evento reuniu 49 trabalhos,selecionados entre quase cem inscri-ções de todo o país. Aproximada-mente 300 pessoas estiveram presen-tes no Braston Hotel, acompanhandoas mesas-redondas, conferências eapresentações de pesquisas e estudos.

Um dos destaques foi o lança-mento da pesquisa �Reforma Agrá-ria � impactos no desenvolvimentoregional�, de autoria de Moacir Pal-meira, da Universidade Federal doCeará, e Sérgio Leite, da Universida-de Federal Rural do Rio de Janeiro(UFRRJ) (leia box na página ao lado).Também foram realizadas duas me-sas-redondas: �O mundo rural brasi-leiro: perspectivas de desenvolvi-mento�, com a participação de Ma-ria José Carneiro, da UFRRJ, ValterBianchini, do Departamento deEstudos Socioeconomicos Rurais

(DESER/PR), e Alberto Bracagioli,da EMATER/RS. E �Agriculturafamiliar: como se encontra? Comofortalecê-la?�, com Ricardo Abra-movay, da USP, Ademar Romeiro,da Unicamp, e Silvio Gomes deAlmeida, da Assessoria e Serviços aProjetos em Agricultura Alternativa(AS-PTA/RJ).

O Itesp marcou presença com aexposição de dois projetos: o Pro-grama de Saúde da Família/Qualis,implantado em parceria com a Se-cretaria de Saúde em assentamentose quilombos, e o Pontal Verde �Plano de Recuperação Ambientalnos Assentamentos do Pontal doParanapanema.

Rural versus agrícola

A idéia-chave que norteou as dis-cussões durante o Fórum da Terrafoi a de que o rural é maior do queleva a crer o censo do IBGE (Insti-tuto Brasileiro de Geografia e Esta-tística). Isso é o que defendeu JoséEli da Veiga, secretário-executivo doConselho Nacional de Desenvolvi-mento Rural Sustentável (CNDRS),

na conferência de abertura do even-to, cujo tema era �Uma nova estra-tégia para o desenvolvimento rural�.

Para Veiga, é necessário superar avisão de que ter uma populaçãorural expressiva é um dado negativo,associado ao subdesenvolvimento.�No Brasil, a população localizadadentro do perímetro urbano já éconsiderada urbana. E há municípi-os que ainda nem delimitaram seuperímetro urbano�, salientou.

Esse novo rural é multissetorial,rico em atividades comerciais e dota-do de um número de indústrias mui-to maior do que se imagina. Dentrodessa perspectiva, para elaborar umplano de desenvolvimento rural sus-tentável, José Eli da Veiga está pro-pondo a realização de uma conferên-cia nacional em novembro deste ano.Durante o Fórum, ele distribuiu umdocumento intitulado �O Brasil ruralprecisa de uma estratégia de desenvol-vimento�.

A idéia é discutir políticas abran-gentes de desenvolvimento rural,superando a discussão de políticassetoriais. Juarez Rubens Brandão

Fórum da Terra reuniu cerca de300 pessoas, durante três dias,

para debater a questão agrária noBrasil e vai se tornar anual

Abertura do Fórum: presença de personalidades que são referêncianacional na questão agrária

�Admirável mundo novo rural�Eliana Rodrigues

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Lopes, coordenador-geral doNEAD, sintetizou a importância doFórum nesse sentido: �O estudo e oconhecimento devem acompanhar aação. E o próximo governo, qual-quer que venha a ser, pode ser influ-enciado pelos estudos apresentadosno Fórum da Terra.�

À espera no purgatório

As idéias centrais debatidas noFórum da Terra vão ao encontro dotrabalho de uma das maiores autori-dades em desenvolvimento humanoda atualidade: o pesquisador polo-nês naturalizado francês IgnacySachs, da Escola de Altos Estudosem Ciências Sociais de Paris, res-ponsável pela palestra de encerra-mento do evento.

Sachs vem trabalhando em umprojeto conjunto com o Sebrae(Serviço de Apoio à Micro e à Pe-quena Empresa) e com o PNUD(Programa das Nações Unidas parao Desenvolvimento) sobre o futuroda pequena produção no Brasil.Para ele, o país tem condições paralançar-se num novo ciclo de desen-volvimento do qual o desenvolvi-mento rural possa ser o motor.

Reforçando a proposta de JoséEli da Veiga, ele relativiza até o con-ceito de urbano: �Eu reservaria apalavra urbano apenas àqueles quetêm um teto decente, um empregodecente e condições de exercer a suacidadania. Os outros não são urba-nos, são candidatos à urbanização.Estão no purgatório.�

Enfatizando que a redescobertado mundo rural foi o fenômenomais importante das ciências sociaisbrasileiras da última década, o pes-quisador deu o fecho necessário aoFórum da Terra: uma mensagemcrítica, mas de otimismo, de alguémque, por conhecer tão bem a reali-dade de nosso país, ainda aposta emseu futuro.

Com suas danças e cantorias, queencantaram a todos que assistiramao encerramento do Fórum da Ter-ra, ninguém poderia ter simboliza-do melhor esse resgate do rural bra-sileiro do que o grupo de fandangoda comunidade quilombola deMorro Seco, que nasceu para evitarque uma tradição caísse no esqueci-mento (leia matéria na página 7).

Escolas, transporte escolar, ener-gia elétrica e novas estradas.

Quem atribuiria a conquista des-ses benefícios nos municípios bra-sileiros a assentamentos da refor-ma agrária? Pois é justamente isso oque tem acontecido em várias regi-ões, segundo a pesquisa �ReformaAgrária � impactos no desenvolvi-mento regional�, de Moacir Palmei-ra, da Universidade Federal do Cea-rá, e Sérgio Leite, da UniversidadeFederal Rural do Rio de Janeiro.

Realizado em seis regiões doBrasil (sul do Pará, Ceará, zonacanavieira do Nordeste, entorno doDistrito Federal, sul da Bahia eOeste de Santa Catarina), o traba-lho revelou que, nos municípiospesquisados, 86% das escolas fo-ram criadas graças aos assentamen-tos. Um dos impactos sociais dareforma agrária, portanto, é fazercom que as comunidades se tor-nem alvos de políticas públicas.

Os assentamentos também viabi-lizaram o acesso dos produtores ruraisà tecnologia, conforme explica SérgioLeite. �Nós perguntamos o seguinte: autilização da máquina, seja trator, co-lheitadeira ou implementos, ou as ins-talações construídas no lote, sejam a-quelas relativas a armazenamentos, se-jam relativas à criação animal, ocorre-ram antes ou após os assentamentos?Em todas as regiões, na maioria doscasos, essas máquinas ou implementosforam conquistados pelos assentadosapós a sua entrada no lote, ou, pelo me-nos, após a regularização oficial da áreaocupada como assentamento rural�.

Outro dado que chama a atenção éque, dos 92 projetos de assentamentosanalisados, 82 são resultantes das lu-tas dos movimentos sociais, principal-mente por meio da ocupação. E amaioria dos assentados é oriunda dopróprio município ou da região ondeestá localizado.

A pesquisa foi bem recebida pelos

debatedores presentes ao lançamen-to: Sebastião Azevedo, presidente doIncra, Gilmar Mauro, da direçãonacional do MST, e Manoel dosSantos, da direção nacional daContag. Uma opinião consensualfoi a de que esse tipo de trabalho éde grande importância para apontaros caminhos para a democratizaçãodo acesso à terra e mostrar à socie-dade que a reforma agrária não éapenas um mecanismo de compen-sação social, mas um fator de desen-volvimento indispensável na buscade uma sociedade mais justa.

Moacir Palmeira foi quem me-lhor exemplificou essa idéia: �Háuma questão da pesquisa sobrecondições de vida. No questioná-rio, nós perguntávamos e apresen-távamos uma lista. Em todas as re-giões, numa proporção imensa, hou-ve uma resposta espontânea: �melho-rou�, era a avaliação geral. E porquê? �Porque agora eu sou livre.��

Desenvolvimento como liberdade

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10 I T E S P

OPINIÃO: José Arbex Júnior

Amídia é o �quarto poder�; por representar os anseiosmúltiplos e contraditórios da sociedade civil, a mídiareflete o debate democrático em suas páginas, nas

telas de televisão e nos aparelhos de rádio. A mídia é, nes-se sentido, a voz da sociedade civil, o poder que garantea democracia.

Essa é a visão tradicional da mídia. É também um mitoque a própria mídia adora alimentar. Mas basta uma ligeirareflexão para desmontar essa fábula e mostrar que não énada disso.

Temos, no Brasil, dois exemplos históricos, para nãofalar da infinidade de �pequenos exemplos� do dia-a-dia: acampanha do Lula à Presidência, em 1989, quando a RedeGlobo editou um debate televisivo decisivo, que acaboudando a vitória a Fernando Collor de Mello, e a campanhadas Diretas Já, em 1984, que a mídia só começou a noticiarquando já havia dezenas de milhares de pessoas protestan-do nas ruas das principais capitais do país.

Instrumento da guerra capitalista

Para deixar bem claro qual é o papel da mídia no mun-do contemporâneo, e para não ficar apenas no Brasil, va-mos lembrar agora como foi a cobertura do atentado terro-rista de 11 de setembro, quando foram destruídas as torresgêmeas do World Trade Center, em New York, e parte doPentágono, em Washington.

Os �selos� que identificavam as reportagens produzidaspela rede CNN e pelos principais jornais dos Estados Unidosdiziam: �América sob ataque�, �Nova guerra da América� etc.Parecia que os Estados Unidos foram submetidos a um bom-bardeio constante, permanente, durante 24 horas por dia.

Não foi nada disso. Mas, então, como explicar os �se-los� tão equivocados?

Primeira explicação: eles ajudaram a criar uma sensaçãode pânico e de incertezas na população. Isso sempre aumen-ta a venda dos jornais e garante boa audiência de televisão,já que todos vão querer acompanhar os fatos e ouvir asopiniões dos �especialistas�.

Segunda explicação: a mídia ajudou o governo a prepa-rar o país para a guerra. A mídia fez campanha pela guerra.E ela fez isso por ter interesses sociais, políticos, econômi-cos e financeiros concretos. As empresas de mídia e astecnologias que elas empregam (satélites, vias de fibra óti-ca, computadores, quantidades imensas de papel etc.) cus-tam imensas fortunas, bilhões de dólares. É um capital sódisponibilizado por governos ricos e por megacorporaçõestransnacionais.

No Brasil, como nos EUA

A mídia, assim, não funciona como um poder indepen-dente, nem no Brasil, nem nos Estados Unidos, nem em

lugar algum do mundo. Em cada sociedade específica, ela écondicionada pelos jogos do poder.

No Brasil, evidentemente, a mídia é condicionada pelosinteresses dos donos dos grandes latifúndios: as corpo-rações transnacionais, os políticos e �coronéis� que sobre-vivem graças ao antigo jogo do clientelismo, os grandesbancos que compram terras como investimento especu-lativo. Eventualmente, o mesmo dono de um grande jornalou rede de televisão também é grande proprietário de terras.

A relação é tão íntima, promíscua e evidente que nemvale a pena insistir nisso. A mídia, parca e raramente, di-vulga as inúmeras atrocidades cometidas contra os campo-neses pobres e sem terra no Brasil. E quando o faz, procuraapresentar o camponês como �criminoso� e �baderneiro�.

Normalmente, as �notícias� procuram apresentar umgoverno que �faz a reforma agrária� em contraposição amovimentos �subversivos�, �atrasados�, �baderneiros� e�corruptos�, como foi o caso da célebre �reportagem� feitapelo �jornalista� Josias de Souza, da Folha de S. Paulo, emmaio de 2000. Pegou muito mal para o jornal quando secomprovou que Josias havia sido patrocinado pelo governopara fazer a dita �reportagem�. Que feio!

Veja a campeã das calúnias

A revista Veja é a �campeã� da campanha de injúrias,calúnias e difamações contra os camponeses pobres, parti-cularmente o MST. Em sua edição de 10 de maio de 2000, aVeja publicou uma matéria de capa intitulada �A tática dabaderna�, sobre o MST. João Pedro Stédile moveu um pro-cesso contra a revista, no Fórum da Lapa. A decisão emprimeira instância deu ganho de causa a Stédile, mas aguerra não acabou. A revista pode apelar para o tribunal deJustiça do estado de São Paulo.

A lista de barbaridades poderia prosseguir, com inúme-ros exemplos. Não é necessário, em um país marcado porcinco séculos de dominação do latifúndio. Quando se dis-cute mídia, enfim, chegamos à mesma conclusão válidapara todos os outros setores da vida: somente a organizaçãoindependente dos trabalhadores � incluindo aí a produçãode seus próprios jornais, rádios comunitárias e outros veí-culos de informação � poderá assegurar a circulação dainformação correta e socialmente relevante.

*José Arbex Júnior é jornalista, professor universitário e autor do recém-lançado livro �Showrnalismo - a notícia como espetáculo� (editora CasaAmarela, 290 páginas).

Informação a serviço dos latifúndios

Os artigos publicados nesta seção são de responsabilidade de seusautores e não refletem necessariamente a opinião da revista.

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CIÊNCIA E TECNOLOGIA

No final de 2001, funcionáriosdo Itesp começaram a ter au-las de introdução ao SIG

(Sistema de Informações Geográfi-cas), em São Paulo. Em fase deimplementação, o SIG é um con-junto de programas de computadorque possibilita o registro, o armaze-namento, a recuperação, a análise ea apresentação de informações pro-duzidas pela fundação.

A característica principal do SIGé que ele trabalha com dados vincu-lados a uma determinada regiãogeográfica (dados georreferenciados)sobre bases cartográficas oficiais querepresentam o relevo do Estado,criando mapas cadastrais e temá-ticos. Ao possibilitar a utilização deimagens de satélite juntamente comesses mapas, o sistema permitevisualizá-los em três dimensões.

Foram realizados quatro treina-mentos iniciais para o uso de pro-gramas ligados ao SIG, como o dedesenho assistido por computador(chamado CAD/CAM), o de pro-gramação para acesso via interneta banco de dados de bases carto-gráficas e o de gerenciamento,consulta, georreferenciamento,plotagem e validação dessas bases.

Entre os participantes estavamfuncionários da Assessoria Técnicade Informática e das DiretoriasAdjuntas de Recursos Fundiários ede Políticas de Desenvolvimento.Em janeiro deste ano, uma das tur-mas revisou pontos do primeirotreinamento.

O SIG é constituído por progra-mas produzidos pelas multinacio-nais Intergraph e Bentley. A imple-mentação e o desenvolvimento dosistema são realizados, em parceria,pelo Itesp, por meio de sua Assesso-ria Técnica de Informática, e pelaFuncate (Fundação de Ciência,

Aplicações e Tecnologia Espaciais),entidade associada ao Inpe (Institu-to Nacional de Pesquisas Espaciais).

Estimativa feita pelo AssessorChefe da Assessoria Técnica deInformática do Itesp, Juvenal JoséFerreira, em 1998, no início doprojeto, previa sua implementaçãoem cinco anos, a um custo total deR$ 5 milhões.

Parecido com um site

No computador, a apresentaçãodesse banco de dados vai ser seme-lhante a de uma página de internet,com opções de acesso a dados e pro-gramas, possibilitando ao funcionárioa consulta, inserção e alteração deinformações no SIG, de acordo comLuiz Fernando Campos e Otto Luiz

Castro Nunes, da Assessoria Técnicade Informática do Itesp.

Um dos responsáveis técnicospelo projeto, Milton Cézar Ribeiro,da Funcate, calcula que, por mês,o Itesp vai armazenar, no mínimo,660 megabytes em dados, entreimagens de satélite, mapas e infor-mações alfa-numéricas.

O SIG permite o cruzamentodesses dados produzidos pelos maisdiversos setores da fundação, propi-ciando análises mais precisas econsistentes do desenvolvimentodos projetos mantidos por ela.

As informações mais genéricasarmazenadas no banco de dadosdesse sistema poderão ser consulta-das no site da fundação, observaLuiz Fernando.

1) Análise corporativa da instituição

2) Levantamento e análise das aplica-ções em geoprocessamento no Itesp

3) Apuração e estudo dos dados einformações disponíveis na fundação

4) Análise das configurações dehardware e software

5) Avaliação da necessidade decapacitação de pessoal

Fases de implementação do SIG (de 1998 até 2001)6) Proposta de adequação da institui-

ção à nova tecnologia7) Requerimentos do projeto para

desenvolvimento do sistema8) Desenvolvimento dos projetos, dicio-

nários e modelos de dados9) Adaptação do modelo conceitual

para a estrutura da instituição10) Capacitação de pessoal11) Implantação da base de dados

modelada

Começa curso do banco de dados georreferenciado do ItespSIG permite usode imagens desatélite comoesta ao lado

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12 I T E S P

NACIONAL

gularização Fundiária no Brasil�,que foi elaborado em conjuntocom a Associação Nacional dosÓrgãos Estaduais de Terras (Anoter)e está orçado em 600 milhões dereais. Essa iniciativa prevê a implan-tação de um cadastro com a locali-zação precisa dos 5 milhões de imó-veis rurais existentes no país, dispo-nibilizando ainda informações atua-lizadas acerca dos respectivos donos,tamanhos das glebas, números dasmatrículas e dados jurídicos sobre asituação dominial de cada área.

Por tratar-se de um sistema geor-referenciado, baseado nas coordena-das dos cantos dos terrenos, serápossível detectar a sobreposiçãoentre propriedades e o deslocamen-to indevido das divisas que ultrapas-se a superfície efetivamente docu-mentada.

Anulação de registros

A base de dados será comparti-lhada pelos órgãos da administraçãopública e pelos cartórios, o quepermitirá identificar a ocorrência deirregularidades antes da efetivaçãodos registros.

Caso seja detectada a apropriaçãoindevida de áreas públicas, a União,o Estado ou o Município poderárequerer a anulação dos respectivosregistros, o que se tornou possívelcom a edição da Lei Federal 10.267de 28 de agosto de 2001, considera-da um marco na legislação agráriado Brasil. Dois aspectos inovadoresprevistos nessa norma estão con-templados no projeto do MDA: aimplantação de um cadastro únicode terras e a obrigatoriedade daapresentação de plantas georreferen-ciadas nas transações imobiliárias.

Além de possibilitar o definitivosaneamento da situação fundiária

nacional, a iniciativa pretende apoi-ar o planejamento territorial dazona rural e promover um amploprograma de regularização fundiária.

Fortalecimento

Também consta entre seus objeti-vos o desenvolvimento de sistemas ea aquisição de equipamentos neces-sários ao processamento e gerencia-mento das informações pelos órgãosestaduais de terras, que serão osexecutores do programa em parceriacom o Incra (Instituto Nacional deColonização e Reforma Agrária).

Segundo a diretora-executiva doItesp e presidente da Anoter, TâniaAndrade, o projeto trará o fortaleci-mento dos órgãos que atuam naárea agrária, possibilitando a capaci-tação dos funcionários e a aquisiçãode equipamentos. O �Cadastro dasTerras e Regularização Fundiária noBrasil� está sendo analisado pelaComissão de Financiamentos Exter-nos (COFIEX), organismo do gover-no federal que identifica e analisaprojetos passíveis de financiamentoexterno.

Para dar um aspecto envelheci-do a documentos falsificadosde posse da terra, os frauda-

dores recorriam ao artifício deguardá-los em recipientes fechadoscontendo grilos. Além de roer asbordas dos papéis, esses insetosliberam substâncias que provocamo seu amarelecimento. Por causadesse truque, a expressão �grilo�passou a ser empregada para desig-nar terreno cujo título de domínioé falso.

Boa parte desses documentosforjados acabou sendo legitimadapelos cartórios de registro imobiliá-rio, que nunca tiveram um controleefetivo sobre a localização e a distri-buição das propriedades rurais nosmunicípios. Hoje, estima-se que asáreas �griladas� no país totalizem150 milhões de hectares. Na regiãodo Pontal do Paranapanema, umúnico �grilo�, conhecido comoPirapó-Santo Anastácio, abrangeaproximadamente 455 mil hectares.

Para combater essas fraudes, oMinistério de DesenvolvimentoAgrário (MDA) irá implementar oprojeto �Cadastro das Terras e Re-

Projeto pode acabar com a grilagem

Hoje,estima-se que

as áreas �griladas�no país totalizem

150 milhõesde hectares.

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POLÍTICA

Nomeados novos membrosdo Conselho Curador

Foi publicada em 15 de dezembro, no Diário Oficialdo Estado, a nomeação dos membros do ConselhoCurador da Fundação Instituto de Terras (Itesp) paraum mandato de dois anos. Foram reconduzidos aoscargos Luiz Carlos Guedes Pinto, representante da Se-cretaria da Ciência, Tecnologia e Desenvolvimento Eco-nômico; Antonio Carlos Alves de Oliveira e Paulo deMello Schwenck Júnior (suplente), da Secretaria doMeio Ambiente; Lourival Carmo Mônaco e WilsonRodrigues Canelas (suplente), da Secretaria da Agricul-tura e Abastecimento; Maria das Graças Cavalcanti eMário Antônio Sossolotti (suplente), da Secretaria deEconomia e Planejamento; Ricardo Abramovay e Anto-nio Aparecido Flores (suplente), da sociedade civil.

Também retornaram ao conselho, porém com inver-são dos cargos, os representantes da Procuradoria Geraldo Estado, Teresinha Maria Theodoro e PedroUbiratan Escorel (suplente). Entre os nomeados, setenão participavam da gestão passada. Fernando BatollaJúnior assume a suplência da Secretaria da Ciência,Tecnologia e Desenvolvimento Econômico, em substi-tuição a Renato da Silva Queiroz. Já os novos represen-tantes dos trabalhadores rurais assentados em áreas doEstado são Antônio Camargo de Oliveira e Tânia Mara

Baldão (suplente), que substituem João AntônioSavedra. Com a saída de Oriel Rodrigues de Moraes, ascomunidades remanescentes de quilombos passam a serrepresentadas por Benedito Alves da Silva, que teráOdacílio Pereira como suplente. Márcio Bragato e MauroRoberto Castellani (suplente) ingressam no conselhocomo representantes eleitos pelos servidores do Itesp.

Juntamente com a Diretoria�Executiva, o ConselhoCurador é um dos órgãos superiores da fundação, possu-indo caráter deliberativo e de fiscalização. Suas principaiscompetências são aprovar convênios, deliberar sobre ascontas da instituição e indicar os nomes da lista tríplice apartir da qual é escolhido o diretor-executivo do Itesp,que também é conselheiro. O Secretário da Justiça e daDefesa da Cidadania é seu membro nato e presidente.

Ex-diretora apresenta balanço de sua gestãoA primeira reunião do novo Conselho Curador da

Fundação Instituto de Terras, realizada no dia 7 dejaneiro, marcou a posse dos conselheiros e a despedidada primeira diretora-executiva do Itesp, Tânia Andrade.Entre 19 de setembro de 1996 e 6 de dezembro de 1999,ela foi coordenadora do antigo Instituto de Terras, assu-mindo, a partir de então, a diretoria-executiva da fundação.

Durante a reunião, a ex-diretora apresentou o balan-ço de sua gestão, destacando a importância do apoio eorientação recebidos do ex-governador Mário Covas, doex-secretário da Justiça e Defesa da Cidadania Belisáriodos Santos Júnior e do titular da pasta, Édson Vismona.Ela também enalteceu o trabalho do corpo técnico e daequipe de direção do órgão: �Na execução das tarefas emetas � por vezes missões quase impossíveis � tive a hon-ra de contar com o mais competente conjunto de profissi-onais que uma instituição poderia almejar�, afirmou.

Na lista de ações realizadas, destacam-se a entrega de5.767 títulos de domínio; a realização de vistorias parareforma agrária em 372 fazendas (518.874 hectares); aconsolidação de assentamentos provisórios em definiti-

vos e a implantação de novos assentamentos, totali-zando 4.865 famílias beneficiadas (somente em terrasestaduais); o atendimento a 8.927 famílias assentadaspelo serviço de assistência técnica e o envio à Procura-doria Geral do Estado de trabalhos técnicos e jurídicospara subsidiar a propositura de ações discriminatóriasem uma área total de 367.550 hectares.

Nessa gestão, o Itesp começou a atuar junto às comu-nidades remanescentes de quilombos, sendo que trêscomunidades foram tituladas, 12 foram reconhecidasoficialmente e 14 passaram a ser atendidas pelos servi-ços de assistência técnica. Também constam no balançoobras de infra-estrutura realizadas em assentamentos ecomunidades quilombolas. Com relação à capacitaçãotécnica, foram executadas 575 atividades, com 13.698participantes, além da promoção de 11 importanteseventos na área agrária.

A ex-diretora salientou ainda as ações referentes àinformatização do Itesp e os avanços na área adminis-trativa. Ao final da apresentação, foi homenageada pe-los conselheiros com a entrega de uma placa.

Conselheiros reúnem-se pela primeira vez em 2002

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CURTAS

Entre 12 de novembro e 4 de dezembro, o Itesp promo-veu, na Região Noroeste, o maior esforço concentrado devistorias já realizado no Estado com o objetivo de identifi-car propriedades improdutivas passíveis de desapropriaçãopara reforma agrária. A área das fazendas vistoriadas tota-liza aproximadamente 186 mil hectares. Com base nosdados levantados em campo, estão sendo elaborados os Rela-tórios Agronômicos de Fiscalização, os quais serão encami-nhados, em fevereiro, ao Incra (Instituto Nacional de Coloni-zação e Reforma Agrária), que delegou ao Itesp, por meio deconvênio, o poder de realizar tal atividade.

Itesp vistoria fazendasna Região Noroeste Novo diretor-executivo

do Itesp toma posseO novo diretor-executivo da Fundação Instituto

de Terras, Jonas Villas Bôas, tomou posse no dia4 de fevereiro, durante reunião extraordinária doConselho Curador, realizada na sede da Secretariada Justiça e da Defesa da Cidadania, em São Pau-lo. O titular da pasta, Alexandre de Moraes, presi-diu a reunião, que contou com a presença de re-presentantes da sociedade civil, de várias secretari-as de Estado, dos trabalhadores rurais assentados,das comunidades remanescentes de quilombos,além de dirigentes e funcionários do Itesp.

Jonas foi nomeado para o cargo no dia 17 dejaneiro, após ter sido escolhido pelo governadorGeraldo Alckmin entre os nomes de uma listatríplice elaborada pelo conselho. Ele é advogado eatua há mais de 30 anos nas áreas agrária e fundiá-ria do Estado de São Paulo, tendo trabalhado nosprincipais órgãos estaduais de terras que antecede-ram o Itesp. Nos períodos de junho de 93 a marçode 94 e de janeiro de 95 a setembro de 96, coorde-nou o Instituto de Terras do Estado de São Paulo. Tam-bém foi superintendente do Incra (Instituto Nacio-nal de Colonização e Reforma Agrária) entre setem-bro de 96 e abril de 98.

O Conselho Curador também referendou,por unanimidade, os nomes do chefe de gabinete(Luiz Roberto de Paula) e dos quatro diretores-adjuntos: Andiara Barbosa Automare, diretora-adjunta de Administração, Finanças e RecursosHumanos; Anselmo Gomiero, diretor-adjunto deRecursos Fundiários; José Augusto de CarvalhoMello, diretor-adjunto de Formação, Pesquisa e Pro-moção Institucional e Mauro Roberto Castellani,diretor-adjunto de Políticas de Desenvolvimento.Diversos projetos para a melhoria da infra-estrutura de

assentamentos e de comunidades remanescentes de qui-lombos estão sendo entregues pelo Itesp desde o final de2001, beneficiando mais de 1.540 famílias de produtoresrurais assentados e 561 famílias quilombolas.

São obras como a construção de agroindústrias, centroscomunitários, prédio para fábrica de doces, centros deartesanato, galpões de múltiplo uso, quadras poliespor-tivas, teleférico para transporte de bananas, entre outros.O orçamento total chega a R$ 1,7 milhão.

Só pelo programa �Equipamentos Comunitários�,foram investidos R$ 203 mil no fornecimento de materialpara construção de seis agroindústrias e de dois centroscomunitários em assentamentos. Inédito em áreas qui-lombolas, um centro de recepção de visitantes também vaiser construído, em Ivaporunduva, município de Eldorado.

Projetos beneficiam maisde 2 mil famílias

*Matéria editada após fechamento da revista

Da esquerda para a direita: Andiara, JoséAugusto, secretário Alexandre de Moraes,Jonas, Luiz de Paula, Anselmo e Mauro

EXTRA

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AGENDA

ACONTECEU

Considera-se improdutiva a propriedade rural que nãosatisfaz a pelo menos uma das condições previstas nos doisparágrafos do artigo 6º da Lei Federal 8629/93. A primei-ra estabelece que no mínimo 80% da área aproveitável doimóvel esteja efetivamente ocupada com lavouras, pasta-gens ou atividades extrativistas. Esse percentual é denomi-nado grau de utilização da terra (GUT).

A outra condição prevê que o grau de eficiência da ex-ploração (GEE) seja maior ou igual a 100%. Para tanto, orendimento das culturas agrícolas e a concentração de gadopor área de pasto (lotação) deverão alcançar ou superaríndices estabelecidos pelo Incra (Instituto Nacional deColonização e Reforma Agrária).

O procedimento técnico para avaliar se um imóvel ruralé improdutivo inicia-se com a realização de vistoria de cam-po. Nessa etapa, são levantadas e dimensionadas as diferen-tes formas de ocupação existentes na propriedade, taiscomo pastagens, culturas permanentes e temporárias, re-manescentes florestais etc.

Em seguida, procede-se à análise de diversos documen-tos apresentados pelo proprietário para verificar se houveprodução agropecuária nos 12 meses anteriores à comuni-cação da vistoria. Examinam-se notas fiscais, fichas de vaci-nação do rebanho, guias de recolhimento do INSS, con-tratos de arrendamento, entre outros.

Com base nos dados levantados no campo e nos docu-mentos, é elaborado o Relatório Agronômico de Fiscaliza-ção (Laudo), que concluirá sobre a classificação do imóvel.Se for enquadrado como improdutivo, será então passívelde desapropriação para fins de reforma agrária, desde que oproprietário possua área superior a 15 módulos fiscais noterritório nacional.

SAIBA MAISO que é terra improdutiva

26 a 28 de outubroEncontro de Mulheres

O cotidiano das mulheres assentadas equilombolas de São Paulo entrou em pautade 26 a 28 de outubro de 2001, quandofoi realizado o IV Encontro Estadual deMulheres Assentadas e Quilombolas, emAraraquara. O evento contou com o apoiodo Itesp e da Prefeitura de Araraquara. Al-guns dos temas debatidos foram: �Conjuntu-ra da Política Nacional e Reforma Agrária�;�Agricultura Familiar Sustentável na ReformaAgrária�; �Impacto no Meio Ambiente emAssentamentos Rurais e Áreas Remanescentesde Quilombos�; e �A Organização Estadualde Mulheres Assentadas e Quilombolas.Quem somos, o que queremos?�.

26 a 28 de novembroProjeto Jovem Cidadão

Visando a oferecer informações básicassobre cidadania a jovens do ensino médio,o Itesp e a Fundação Bradesco realizaram oprojeto �Jovem Cidadão�, em Registro.

Esse ciclo de palestras inédito abordoutemas como discriminação, racismo, precon-ceitos, desigualdade, família, direitos civis epolíticos, adolescência, reforma agrária, terrae justiça. A questão das comunidades rema-nescentes de quilombos no Estado foi umdos temas de maior sucesso entre os aborda-dos nas palestras.

29 de novembro a 2 de dezembroExpovale

Pelo terceiro ano consecutivo, o Itesp parti-cipou da Expovale, feira agropecuária realiza-da em Registro entre os dias 29 de novembroe 2 de dezembro do ano passado. A fundaçãoexpôs seus aparelhos topográficos de últimageração, maquetes do relevo do Vale do Ri-beira e fotos do trabalho com comunidadesde quilombo. Os quilombolas apresentaramseus trabalhos em uma casa feita por eles combambu, cipó e folha de bananeira.

A partir de abrilCultivando Sonhos

Será lançada, em abril, a exposição de fotos �Cultivando So-nhos�, promovida pelo Itesp com o objetivo de valorizar as açõesdos assentamentos rurais e de comunidades remanescentes dequilombos do Estado. A exposição, inicialmente realizada emestações do metrô, reunirá fotografias produzidas ao longo dotrabalho do Itesp com as comunidades atendidas. São flagrantesda lida diária no campo, das horas de lazer, festas, atividadesartesanais e artísticas e do contato com a natureza. A exposiçãotambém será apresentada no Conjunto Nacional e no Arquivodo Estado, em São Paulo. Juntamente com as fotografias, serãoexpostos textos produzidos pelos beneficiários do Itesp.

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DESTAQUE

Vereadores se unem paradefender a reforma agrária

Veja reivindicações da Carta de São Paulol Agilização nas desapropriações e nosassentamentos de famílias;

l Aumento dos recursos das linhas definanciamento com fundo de aval daAgricultura Familiar e que sejamliberados na época correta;

l Renegociação das dívidas e defini-ção de políticas que evitem o endivi-damento sem discriminação dos agri-cultores;

l Renegociação dos financiamentosde eletrificação rural, ampliando o

atendimento do programa �Luz da Terra�e isenção do ICMS de energia elétricapara a agricultura familiar;

l Ampliação do número de equipes doPrograma Saúde da Família;

l Aumento do orçamento dos órgãosgovernamentais que atendem a Agricul-tura Familiar e a Reforma Agrária;

l Apoio do Governo do Estado para asprefeituras que implantarem assentamen-tos priorizando políticas específicas desaúde, educação, transportes, etc.;

l Organização e definição de um novoprograma de assistência técnica paratodos os agricultores familiares (assen-tados e agricultores tradicionais);

l Reordenamento dos recursos doBanco da Terra para outros progra-mas dos assentamentos;

l Criação de propostas de exploraçãoeconômica para os agricultores familia-res com mais de 15 anos nas áreas deparques ou reservas ambientais, respei-tando os seus direitos.

Se a reforma agrária é uma estra-tégia de desenvolvimento local,

ninguém melhor para tratar do as-sunto do que os representantes dosmunicípios, certo? Pois foi isso oque ocorreu entre os dias 9 e 10 denovembro, em São Paulo, quandovereadores de várias regiões do Esta-do se reuniram para debater a ques-tão agrária e a agricultura familiar.O resultado foi a Carta de São Pau-lo, um documento que sintetiza asreivindicações dos parlamentares(veja box nesta página).

O Encontro Estadual de Verea-dores pelo Avanço da ReformaAgrária e Fortalecimento da Agricul-tura Familiar foi sendo preparadoao longo do ano de 2001, com vári-as reuniões regionais. Os preparati-vos ficaram a cargo de uma comis-são organizadora composta pelosvereadores Francisco Alves FeitosaSobrinho (que também é funcioná-rio do Itesp), Ari Mendes, ValdemirSantana dos Santos, ValdomiroDonizete Toso, Nazaré Montemor,Edson Stella e Alessandro Cunha.

Participaram do encontro presi-dentes de Câmaras, prefeitos e par-lamentares de partidos como

PSDB, PT, PTB, PV, PC do B ePPS. A abertura do encontro con-tou com a presença do Secretárioda Justiça e Defesa da Cidadania,Edson Vismona, o deputado esta-dual Hamilton Pereira, o presidenteda Câmara Municipal de São Paulo,José Eduardo Cardozo, e a diretora-executiva do Itesp e presidente daAssociação Nacional de Órgãos Es-taduais de Terras (Anoter), TâniaAndrade.

Tânia lembrou que a questãourbana é fruto da questão agrárianão resolvida, que gera êxodo rural,agravado pela industrialização con-centrada nos grandes centros. Se-gundo ela, não há solução para aquestão urbana sem redistribuiçãode riqueza e geração de renda. E areforma agrária, como estratégia dedesenvolvimento local, torna osmunicípios pólos de atração de

empregos urbanos fora da capital.O documento elaborado pelos

vereadores destaca que, apesar dadinâmica rural existente na maioriados municípios, as políticas públi-cas existentes não são adequadas aessa realidade. Por isso, a Carta deSão Paulo será encaminhada aosgovernos Federal, Estadual e muni-cipais, com o objetivo de corrigir osrumos dessas políticas, em direção aum modelo de desenvolvimentorural sustentável.

Entusiasmado com a iniciativa, opresidente da Câmara Municipal deSão Paulo, José Eduardo Cardozo,levou a experiência para um encon-tro de presidentes de câmaras muni-cipais em Curitiba, realizado no dia12 de novembro. �Quem sabe nãose possa fazer um encontro nacionalde vereadores sobre reforma agrá-ria?�, planejava.

Vereadoreselaboram

o texto da Carta de São Paulo