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1 UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS – UFG MESTRADO EM EDUCAÇÃO EM CIÊNCIAS E MATEMÁTICA Jornal Eletrônico de Matemática: usando o blog como instrumento de re-elaboração de compreensões sobre o conhecimento matemático do aluno do ensino médio do CEPAE Pesquisador: Marcello Lucas Orientadora: Drª. Maria de Fátima Teixeira Barreto Introdução: A idéia de desenvolver um jornal no qual os alunos possam relatar suas experiências com a Matemática seja a sua utilização no cotidiano, relatos e interpretações das atividades realizadas em sala de aula ou a Matemática vinculada pela mídia, surgiu da vontade de ir além do compartilhamento do conhecimento matemático e contribuir no desenvolvimento de diversas habilidades como a leitura crítica da informação, o aprimoramento da elaboração de textos, da escrita, da leitura e a apropriação da tecnologia da informação e comunicação necessárias a compreensão e análise dessa sociedade cada vez mais globalizada a qual estamos inseridos. Atualmente para o exercício profissional já não basta o conhecimento específico em determinada área do conhecimento. Além da especialidade são requeridos conhecimentos globais, interação com outras áreas do conhecimento e capacidade de trabalho em grupo. O mercado de trabalho exige uma atitude de constante aprimoramento, formação continuada, capacidade de síntese e a habilidade de lidar com a crescente quantidade de informações que se tem acesso. Lidar com o grande número de informação implica na capacidade de leitura não apenas no sentido de decodificação de símbolos e entendimento das palavras ali contidas. Além de compreendê-los é necessário buscar informações latentes e inquirir a quem pode servir essas informações. É necessário então fazer uma leitura crítica da informação. A produção de um jornal pode contribuir com o desenvolvimento dessas habilidades, entre outras, além da capacidade de trabalho em grupo, pois são características inerentes dessa atividade. Então, porque não aproveitá-las para facilitar a aprendizagem em Matemática?

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS – UFG

MESTRADO EM EDUCAÇÃO EM CIÊNCIAS E MATEMÁTICA

Jornal Eletrônico de Matemática: usando o blog como instrumento

de re-elaboração de compreensões sobre o conhecimento

matemático do aluno do ensino médio do CEPAE

Pesquisador: Marcello Lucas

Orientadora: Drª. Maria de Fátima Teixeira Barreto

Introdução:

A idéia de desenvolver um jornal no qual os alunos possam relatar suas

experiências com a Matemática seja a sua utilização no cotidiano, relatos e interpretações

das atividades realizadas em sala de aula ou a Matemática vinculada pela mídia, surgiu da

vontade de ir além do compartilhamento do conhecimento matemático e contribuir no

desenvolvimento de diversas habilidades como a leitura crítica da informação, o

aprimoramento da elaboração de textos, da escrita, da leitura e a apropriação da tecnologia

da informação e comunicação necessárias a compreensão e análise dessa sociedade cada

vez mais globalizada a qual estamos inseridos.

Atualmente para o exercício profissional já não basta o conhecimento específico em

determinada área do conhecimento. Além da especialidade são requeridos conhecimentos

globais, interação com outras áreas do conhecimento e capacidade de trabalho em grupo. O

mercado de trabalho exige uma atitude de constante aprimoramento, formação continuada,

capacidade de síntese e a habilidade de lidar com a crescente quantidade de informações

que se tem acesso.

Lidar com o grande número de informação implica na capacidade de leitura não

apenas no sentido de decodificação de símbolos e entendimento das palavras ali contidas.

Além de compreendê-los é necessário buscar informações latentes e inquirir a quem pode

servir essas informações. É necessário então fazer uma leitura crítica da informação.

A produção de um jornal pode contribuir com o desenvolvimento dessas

habilidades, entre outras, além da capacidade de trabalho em grupo, pois são características

inerentes dessa atividade. Então, porque não aproveitá-las para facilitar a aprendizagem em

Matemática?

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Utilizar a produção de um jornal com os alunos no qual eles podem publicar textos

explicitando suas compreensões sobre o conhecimento matemático, seus contextos, sua

relação pessoal, sua aplicação e utilização nas diversas áreas do conhecimento humano,

pode ampliar o leque de atividades relacionadas à Matemática que incentivam a leitura, a

escrita, a criatividade, a pesquisa, a curiosidade, o debate e a relação da disciplina com

outras áreas do conhecimento e agir como elemento motivador capaz de abrir outras

perspectivas de aprendizagem, além de possibilitar ao aluno dar maior significado ao

estudo da Matemática.

A questão da apropriação das tecnologias de informação e comunicação é outra

vertente explorada quando se utiliza o blog como veículo de publicação do jornal. Ao optar

por essa forma de divulgação contribui-se para que o aluno desenvolva as habilidades

necessárias para lidar com uma das mais recentes mídias para vincular a informação: a rede

internet e o blog.

Esse projeto investiga se a atividade de produção de um jornal eletrônico

estruturado através de um blog abordando conteúdos e temas da Matemática e/ou a ela

relacionada vinculado através da web contribui para a aprendizagem da disciplina via

construção e reconstrução de compreensões sobre o conteúdo matemático dos alunos do

ensino médio de uma escola pública federal.

Assim coloco a pergunta: A construção de um blog para a publicação de um jornal

de matemática contribui na re-elaboração de compreensões sobre o conhecimento

matemático do aluno do ensino médio do CEPAE?

Fundamentos teóricos para a investigação...

No momento atual é formidável a facilidade com que podemos acessar uma

quantidade enorme de informações, de diferentes tipos e diferentes fontes. Embora as

várias mídias já estejam presentes no cotidiano há algum tempo como o rádio e a televisão,

o grande desenvolvimento da tecnologia na área de comunicação, o relativo barateamento

dos aparelhos e as facilidades de crédito, têm possibilitado acesso a esses e outros veículos

de mídia que ampliam em muito o acesso à informação, formando toda uma geração

influenciada por elas.

O acesso a uma diversidade de informações tem provocado modificações na forma

de conhecer e aprender além de contribuir na modificação de hábitos e valores.

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Se o acesso à informação não constitui um grande problema, a quantidade e a

variedade de informação acessada o são; pois a informação é importante, mas, de nada

vale se não a analisamos e relacionamos a outras informações de forma crítica e

contextuada (Elias, 2004, p. 1). Isso significa que o conhecer depende da capacidade do

indivíduo de interpretar, analisar e selecionar as informações recebidas e de fazer uma

leitura crítica, indo além da simples leitura e da interpretação das palavras.

Nos dias atuais, o exercício profissional exige muito mais do que a especialização

em uma determinada área de conhecimento. O mercado de trabalho requer indivíduos com

novas habilidades e profissionais mais críticos, criativos com capacidade de pensar, de

aprender a aprender, de trabalhar em grupo, de conhecer seu potencial intelectual, com

capacidade de constante aprimoramento e de depuração de idéias e ações” (Valente,

1997, p. 20).

Essas habilidades não podem ser transmitidas ou transferidas de um indivíduo para

outro. A escola pode ser um local que possibilite ao aluno vivenciar situações que

contribua no desenvolvimento dessas habilidades.

O trabalho do professor em sala de aula não é mais o mesmo. Já faz algum tempo

que estamos em busca de uma concepção e uma nomenclatura capaz de expressar a

dimensão, a qual é necessária assumir no trabalho diário com os alunos indo além do

“simples” compartilhamento do conhecimento específico, possibilitando situações na qual

o aluno construa e desenvolva as habilidades necessárias ao exercício profissional num

mercado cada vez mais competitivo, reforçando o caráter político da educação fazendo

com que a responsabilidade maior do professor vai, portanto, além da sua

disciplina específica. Mas hoje cidadania implica conhecimento.

Afinal, estamos numa ‘sociedade do conhecimento’. O

conhecimento está subordinado ao exercício pleno da cidadania e,

conseqüentemente, deve ser contextualizado no momento atual, com

projeções para o futuro (D’Ambrósio, 1996, p. 86),

o que nos acena para modificações profundas no modo em que está estruturada a escola, os

currículos nela desenvolvidos e no trabalho docente.

A Matemática é muito mais que números e operações. Seu ensino pode contribuir

para mostrar esse aspecto e ir além. Pode ajudar os alunos na aquisição e/ou na conquista

dos direitos básicos de cidadania, aqui entendida como a condição de pessoa que, como

membro de um Estado, se acha no gozo de direitos que lhe permite participar da vida

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política, o que significa refletir sobre as condições humanas de sobrevivência, sobre a

inserção das pessoas no mundo do trabalho, das relações sociais e da cultura e sobre o

desenvolvimento da crítica e do posicionamento diante das questões sociais (PCN, 1998,

p. 26), quando enfocarmos, no ensino da Matemática, aspectos além do conteúdo

específico.

A forma como tem sido desenvolvido o ensino da Matemática, raramente leva em

consideração o desenvolvimento de aspectos que vão além do conhecimento específico,

mesmo aqueles que podem contribuir na aprendizagem da disciplina como, por exemplo, a

interpretação de texto e a capacidade de leitura. Tais aspectos são fundamentais na

resolução de problemas e muitos alunos não conseguem resolve-los por dificuldade com

leitura e a interpretação. Embora as questões da leitura, interpretação de texto e da escrita,

normalmente, sejam relegadas ao ensino da língua materna, desconsidera-se que há

uma impregnação entre a Matemática e a língua materna,

referimo-nos inicialmente a um paralelismo nas funções que

desempenham, enquanto sistemas de representação da realidade, a

uma complementaridade nas metas que perseguem , o que faz com

que a tarefa de cada uma das componentes seja irredutível à da outra

e a uma imbricação nas questões básicas relativa ao ensino de

ambas, o que impede ou dificulta ações pedagógicas consistentes,

quando se leva em consideração apenas uma das discipli-

nas.(Machado, 1993).A observação da prática docente tem mostrado que

mesmo diante dessa impregnação, complementaridade e

paralelismo, eles se mantém estranhos um ao outro no contexto

escolar, que desenvolve atividades fechadas em si mesmas, sem

considerar a relação entre ambos e deles com a realidade,

dificultando a ação efetiva dos alunos sobre eles (Barreto, 2003, p.

5),evidenciando a necessidade de ampliar as capacidades possíveis e necessárias de serem

desenvolvidas, além do específico, no ensino da Matemática.

A produção de um jornal eletrônico via internet nas aulas de Matemática pode

contribuir para o desenvolvimento das habilidades necessárias ao exercício profissional

requerido no meio social como a leitura crítica da informação e a capacidade de análise e

de síntese em situações contextualizadas a partir do cotidiano do aluno. Ao incentivar os

alunos a escreverem sobre a Matemática usada no seu cotidiano, o conteúdo abordado nas

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aulas, um comentário sobre um texto que suscita a interpretação Matemática ou

apresentação de uma pesquisa, entre outras atividades relacionadas à disciplina, abre uma

possibilidade motivadora de dar mais significado ao estudo da Matemática, de relacioná-la

a outras áreas do conhecimento a partir de aplicações no dia a dia do aluno e de

desenvolver o hábito de pesquisa, estimulando à curiosidade, o senso crítico, a habilidade

com a escrita e leitura reforçando a aprendizagem e motivando o estudo da disciplina.

Além dos aspectos citados acima, a produção do jornal possibilita modificar a

relação do aluno e os meios de comunicação tornando-o produtor da informação ao invés

de simples consumidor. Mudar a relação do aluno com a mídia é um passo importante no

desenvolvimento da leitura crítica da informação, indo além da simples interpretação dos

símbolos, códigos e da decodificação “pura” da linguagem Matemática dos dados

vinculados nos artigos.

Outro aspecto importante reside no fato de que as informações veiculadas nos

diversos meios de comunicação “escondem” diversas nuances. Elas são “retratos” da

realidade descritos com o foco dos olhos do repórter e por tanto, carregam além dos fatos,

ideologias e concepções que podem influenciar na interpretação e entendimento de quem

lê. Além disso, cada informação foi construída a partir da história do cotidiano e narrada

em forma de mosaicos que dificultam a compreensão dos fatos e sua interpretação, uma

vez que ela própria, a imprensa, é constituída de migalhas informativas, desprezando, na

maior parte das vezes, a tessitura da história (Caldas, 2005, p. 7).

Tais aspectos implicam na necessidade de “desenvolver alguns saberes que passam

pela percepção crítica das estratégias e dos padrões na linguagem jornalística, tais como

ocultamento, fragmentação e inversão, que possibilitam a manipulação deliberada da

informação” (Caldas, 2005, p. 6).

Produzir a informação pode ser o caminho para que o aluno desenvolva esses

saberes e, como sua expressão se dá através do uso da linguagem, torna-se um exercício

que o levará a

compreender as armadilhas da linguagem com suas múltiplas

potencialidades e limites; identificar as marcas discursivas pelos

diferentes modos de dizer para uma leitura dialógica do mundo;

examinar a escolha intencional ou não dos verbos introdutórios de

opinião, da utilização dos operadores argumentativos e do dito e do

não-dito; saber reconhecer que dizer não é sinônimo de afirmar,

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enfatizar ou garantir; compreender quando se utiliza ainda, já, mas

ou só; entender o porquê do processo de edição da notícia e como

este se opera (Caldas, 2005, p. 6).

A atividade do jornal possibilita “estimular o aluno a perceber-se como agente

midiático e não como receptor passivo de conteúdos ou cliente dos meios de comunicação

contribui para que ele possa se situar como indivíduo e como parte de uma coletividade”

(ZANCHETTA, 2005, p. 8), constituindo-se num instrumento que promove o aprendizado

e manuseio das ferramentas dos suportes midiáticos envolvidos no processo de construção

da notícia, agindo como elemento motivador transformando os alunos em “produtores” da

informação e contribuindo com o desenvolvimento da capacidade de ler além da

decodificação dos símbolos utilizados.

Modificar a atitude do aluno frente às informações recebidas é um passo importante

para que ele seja capaz de fazer uma leitura do mundo. Ao incentivar que escreva sobre seu

cotidiano, sua comunidade com sua própria narrativa contribuirá para a

construção do conhecimento, a transformação do educando

em sujeito de sua própria história. A aquisição do pensamento crítico

é resultado da inserção e percepção direta do aluno como agente

mobilizador na sua realidade. Só assim será possível a construção do

conhecimento, a transformação do educando em sujeito de sua

própria história. A aquisição do pensamento crítico é resultado da

inserção e percepção direta do aluno como agente mobilizador na

sua realidade (Caldas, 2005, p. 10).

Quando compreende sua realidade o aluno será capaz de perceber, entre outros, o

conhecimento matemático existente ao seu redor, seu emprego na resolução de problemas

corriqueiros e a sua capacidade pessoal em usá-lo. Ao ser incentivado a escrever sobre a

Matemática do cotidiano o “auxilia na explicitação de contradições existentes entre o que

é veiculado e o que ocorre de fato no dia a dia do cidadão e o aluno pode reconhecer

essas contradições e pode (re)elaborá-las diferentemente, uma vez que passa a conhecê-

las melhor” (Barreto, 2003, p. 6).

A idéia de utilizar a produção de um jornal como instrumento pedagógico não é

nova. Sua origem remonta à década de 20 quando o Professor francês Célestin Freinet,

inovando com aulas passeios, percebeu a motivação de seus alunos ao escreverem em seus

cadernos sobre a aula, contando suas experiências e descobertas. Como os textos não eram

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mais lidos pensou em imprimi-los para que mais pessoas pudessem lê-los dando origem ao

jornal escolar.

Outro aspecto importante a ser considerado refere-se às habilidades com as

tecnologias de informação e comunicação. Nos dias atuais, tanto as habilidades

relacionadas ao manuseio desses instrumentos, mas também em relação à capacidade de

análise das informações por elas vinculadas, vêm se tornando cada vez mais necessárias no

meio social. Embora nem todas essas tecnologias sejam novas, hoje se vive o relativo

barateamento dessa tecnologia em parte por causa da facilidade de crédito, mesmo a custa

de juros altos e número elevado de prestações, provocando o aumento do consumo e/ou

por causa do rápido desenvolvimento dessas tecnologias e seu relativo barateamento

principalmente das versões iniciais. Entre as tecnologias de informação e comunicação o

computador conectado a internet transformou-se em sonho de consumo e suas vendas nos

dois últimos anos ultrapassaram as vendas de outros aparelhos como o DVD e vêm se

tornando cada vez mais popular e acessível a um número maior de pessoas.

O computador conectado via internet vem se insinuando para a escola como

instrumento com grande potencial para contribuir com a aprendizagem dos alunos há

algum tempo e podemos encontrar várias experiências que comprovam esse potencial.

Embora a maioria dos nossos alunos ainda conceba o computador e a internet

apenas como instrumento de lazer e diversão, a utilização do blog como instrumento de

vinculação do jornal pode contribuir para modificar essa percepção além de possibilitar o

desenvolvimento da habilidade em usar os recursos do computador e da internet para

transformar a informação em conhecimento e motivar o estudo da Matemática.

Assim a opção pelo jornal está relacionada por este ser um meio que permite

desenvolver, concomitante ao estudo da Matemática, outras habilidades além das

relacionadas especificamente com o conteúdo matemático como a escrita na língua

materna e a leitura. No jornal tomo a escrita o ponto de partida para que o aluno pense a

partir dela, usando-a para explicitar e reter informação disponibilizá-la e assim se constituir

num meio de expressão de suas compreensões sobre Matemática, uma vez que, os textos

abordarão o conhecimento matemático do aluno. A utilização do computador conectado a

internet agiliza e amplia a pesquisa necessária para compor os textos, desenhos,

reportagens, entrevistar entre outros, colocando o aluno frente a discussões sobre o

conhecimento matemático num nível mais elaborado que o dele criando condições

propícias para que o aluno elabore e/ou reelabore o seu próprio conhecimento matemático

num nível mais complexo, promovendo a aprendizagem da Matemática dando-lhe

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nível mais complexo, promovendo a aprendizagem da Matemática dando-lhe condições de

escrever com certa propriedade.

Além do mais, a maior parte das informações é vinculada através de textos fazendo

com que a habilidade de leitura e da escrita condição essencial para transpor da simples

informação, aqui entendido como acontecimento ou fato de interesse geral tornado do

conhecimento público ao ser divulgado pelos meios de comunicação, notícia; para

conhecimento, concebido como ato ou efeito de apreender intelectualmente, de perceber

um fato ou uma verdade; cognição, percepção; fato, estado ou condição de compreender;

entendimento.

No desenvolvimento das aulas os alunos são incentivados a expressarem seu

conhecimento através da escrita explicitando seu modo de articular o pensamento ao

relacionar idéias, conceitos e aplicações da Matemática.

A opção divulgação do jornal produzido através do blog tem o intuito de contribuir

para que os alunos se apropriem da tecnologia, uma das exigências do atual mercado de

trabalho e do convívio social. Além disso, o computador em rede constitui-se numa

ferramenta importante ao facilitar a pesquisa do aluno para a composição dos textos, para

preparar, compor, rever, refazer, corrigir, dar acabamento, anexar imagens e divulgar o

trabalho pronto no blog.

Objetivos Gerais e Específicos:

Investigar as compressões sobre o conhecimento matemático concebidas por

alunos do ensino médio.

Investigar a construção e reconstrução de compreensões sobre o conhecimento

matemático através de material produzido para a confecção de um jornal de

matemática publicado através do blog.

Produzir conhecimentos e metodologia para serem utilizados no ensino e

aprendizagem da Matemática no ensino fundamental e médio.

Explicitar a construção e reconstrução de compreensões sobre o conhecimento

matemático do aluno.

Descrever a possibilidade de uma leitura crítica e compreensões de dados

matemáticos vinculados pela mídia além da mera decodificação de símbolos.

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Desenvolvimento da Investigação

A intervenção desta pesquisa está sendo realizada no Centro de Ensino e Pesquisa

Aplicada à Educação – CEPAE, com um grupo de alunas voluntárias do Ensino Médio.

Por se tratar de pessoas com idade inferior a 18 anos, os pais tomaram ciência do projeto,

através de uma reunião para apresentação da pesquisa e esclarecimentos e por intermédio

de documento descritivo da pesquisa. Assinaram, o Termo de Consentimento Livre e

Esclarecido autorizando a participação da aluna sob sua responsabilidade e decidiram

sobre a utilização de nome verdadeiro da aluna nas publicações dos seus trabalhos e de sua

fala seja no blog, na dissertação de mestrado e publicações decorrente dela. O pesquisador

responsável mantém agendado um horário de atendimento a dúvidas para que os pais

possam buscar esclarecimentos, seja pessoalmente, seja por telefone. O texto de

apresentação do projeto aos pais e o termo de consentimento assinado pelos

pais/responsáveis, foram antes encaminhado ao comitê de Ética em Pesquisa da

Universidade Federal de Goiás para apreciação sendo posteriormente aprovado pelo

referido comitê.

A produção de dados:

A atividade envolve a produção de um jornal de matemática on-line publicado

através de um blog via internet. As seções desse jornal estão sendo formadas por materiais

elaborados em conjunto pelo pesquisador e pelas alunas participantes da pesquisa. Os

dados da pesquisa que possibilitam investigar se o blog de conteúdo de matemático contri-

bui na re-elaboração de compreensões sobre o conhecimento matemático do aluno do

ensino médio do CEPAE foram coletados através dos materiais produzidos pelas alunas e

da gravação/transcrição das discussões ocorridas ao longo do processo de produção desses

materiais. Essas discussões ocorreram nos encontros semanais.

Nos encontros as alunas produziram ou coletaram algum material com conteúdo

matemático e levam para a discussão. Nesta ocasião todas falaram sobre o conteúdo e

expressam uma primeira compreensão. Partindo da discussão realizada o professor-

pesquisador preparou um texto discutindo o conteúdo matemático presente no material

produzido/coletado e promoveu uma discussão/tematização sobre conteúdo. Em seguida as

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alunas avaliam a produção do professor-pesquisador observando clareza, acessibilidade e

sintetizaram as discussões realizadas, numa re-elaboração de compreensões.

Abaixo apresento a descrição de um dos encontros.

Quarto encontro

Objetivo:

Apresentação do material produzido e/ou coletado pelos grupos.

Desenvolvimento

Neste encontro todo o grupo estava presente. O desenho com a história da

formiguinha estava pronto e providenciei uma cópia para cada aluna do grupo. Após

entregar a cópia às alunas e aguardei que lessem a história. Ao término da leitura solicitei

que cada aluna emitisse sua opinião argumentando se a formiguinha tinha ou não razão e o

porque. Nesse momento avisei que seria gravada a discussão do grupo sobre o conteúdo

matemático.

Para iniciar a discussão perguntei: A formiguinha tem razão? Será que é possível

que o sorvete não acabe?

Num primeiro momento as alunas discutiram o aspecto “real” como o sorvete

derrete, ou o sorvete seca e então acabaria sim ainda mais num dia quente de verão. Então

conduzi a discussão para o ponto de vista da matemática. Pedi que pensassem

matematicamente e buscassem o que ocorreria? O que aconteceria se observássemos a

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história do ponto de vista matemático? È possível o sorvete não acabar do ponto de vista

matemático? Por quê?

A Aryadne disse que não conseguia ver função exponencial aqui enquanto que

Ludmilla disse que seria possível o sorvete não acabar porque a função exponencial nunca

chega à zero. Fui ao quadro direcionar a discussão:

Marcello: Vocês acham que a formiguinha tem razão ou não? Vamos imaginar que o

sorvete não derretesse. A formiguinha teria razão por quê? Ou não teria?

Ludmilla: Tem. Porque olhando o gráfico você vê que nunca chega ao zero. Chega perto

do zeeeeeeeero láááá!!!!!!

Marcello: Onde entra a função exponencial aí?

Ludmilla: No caso do sorvete nunca acaba. Eu acho!

Marcello: Refina essa idéia aí. O que a função exponencial tem haver com o sorvete não

acabar?

Ludmilla: Eu acho ai que tem o conceito de função exponencial.

Marcello: Por quê?

Ludmilla: Como os estagiários falaram. A função exponencial não ia chegar à zero. Então

quer dizer que sempre ia sobrar nem que fosse um milésimo, mas que ia sobra

que ela nunca chegaria ao fim.

Marcello: O que o grupo acha da colocação da colega?

Algumas alunas não verbalizaram. Em linhas gerais começamos, com a ajuda do

quadro-negro, pensar matematicamente e escrevendo o que aconteceria em cada viagem da

formiguinha, a partir do momento em que ela encontra o sorvete, para ver se chegaríamos à

função exponencial.

Como o encontro já estava se aproximando do final deixamos para o próximo

encontro a discussão sobre o ponto de vista da Matemática e a discussão dos textos sobre a

relação pessoal com a Matemática.

A atividade desse encontro foi o ponto de partida para a discussão sobre função

exponencial abordando suas características como a inexistência de raiz real e seu gráfico.

Resultados alcançados:

Dentre os resultados alcançados até o momento temos:

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A

implementação do blog do Alô Matemática

Interação através do blog com os colegas de sala.

Utilização do blog para implementar quatro atividades para serem desenvolvidas no

blog em parceria com professor dos primeiros anos do ensino médio do CEPAE.

Conclusões e resultados parciais:

Das alunas

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o O jornal é mais uma forma de aprendermos Matemática. É possível discuti-

la, observá-la, avaliá-la e transformá-la. O jornal mostra uma nova cara da

Matemática (Elisa Guimarães)

o “A Matemática é um tema repleto de incógnitas, de novos horizontes. Por

que não aliá-la ao Português?A História?A Química? Aliá-la a nós. Sempre

procuramos uma maneira de entendê-la. Nada mais agradável que uma

discussão, uma tirinha com humor, explicações mais compreensíveis que

dos livros”. (Elisa Guimarães)

o “... o jornal ajudou nas aulas de matemática, nos estudos e é claro no

interesse da matéria em si, porque ver a reação das pessoas sobre o jornal, a

matéria é muito bom, ver que todo estudo e pesquisa ajudam mesmo que em

poucas coisas ou poucas pessoas.” (Aryadne)

o “... um programa que contribuirá bastante para o aprimoramento

matemático do aluno, além de medrar a aptidão de leitura com relação aos

diversos conteúdos a serem abordados constantemente.” (Ana Gabriela)

Do pesquisador:

o A atividade é motivadora para o estudo da aprendizagem da Matemática.

o Incentiva o desenvolvimento da escrita e da leitura crítica.

o Possibilita o desenvolvimento de habilidades com o computador conectado

a internet como instrumento capaz de contribuir na transformação da

informação em conhecimento.

Ao longo da pesquisa foram realizados onze encontros. As discussões ali realizadas

foram gravadas e no momento atual estamos procedendo à análise dos dados.

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_________________________________Marcello Lucas

Goiânia, ___/___/___