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Ano VI - n o 29 - Abril - 2013 Jornal do Sindicato dos Trabalhadores no Poder Judiciário Federal de Santa Catarina Welcome to TRT-SC Powered by Google TRT-SC segue CNJ, abandona software livre e entrega controle sobre conteœdo da comunicaªo interna entre juzes e servidores a empresa estrangeira submetida a leis dos EUA e nªo s brasileiras. O negcio ataca a soberania do JudiciÆrio e do Estado brasileiro Ilustraªo: Frank Maia

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Page 1: Jornal do Sindicato dos Trabalhadores no Poder Judiciário ... · das no Edital do TRT4 e a credi-bilidade do Google fazem dele uma companhia confiável. Para Lima, não haveria mo-tivos

Ano VI - n o 29 - Abril - 2013

Jornal do Sindicato dos Trabalhadores no Poder Judiciário Federal de Santa Catarina

Welcome to TRT-SCPowered by Google

TRT-SC segue CNJ, abandona software livre e entrega controle sobreconteúdo da comunicação interna entre juízes e servidores a empresa

estrangeira submetida a leis dos EUA e não às brasileiras.O negócio ataca a soberania do Judiciário e do Estado brasileiro

Ilustração: Frank Maia

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2 OGRITO - no 29 - Abril - 2013 Impresso em papel reciclato

O jornal OGrito é o informativodo Sindicato dos Trabalhadores do

Judiciário Federal de SantaCatarina

Rua dos Ilhéus, 118, sobreloja,sala 3, edifício Jorge Daux - Cen-tro - CEP 88010-560 – Florianópo-lis (SC)Fone/Fax: (48) 3222-4668Site: www.sintrajusc.org.brE-mail: [email protected]

COORDENADORES GERAISPaulo Roberto Koinski-JFEdson Ricardo Régis-JESérgio Murilo de Souza-JT

COORDENAÇÃO EXECUTIVACoord. de Finanças e Patrimônio:Ricardo Koneski-JTManoel Prazeres-JFCoord. de Cultura, PromoçãoSocial e Esporte:Edmilson Silva da Rosa-JFCoord. de Comunicação eImprensa:Luciana Cechinel Bez Batti-JFCoord. Jurídico:Clovis Miguel Massignani-JTCoord. de Formação Sindical:Daniel Ferreira-JTCoord. para Assuntos deAposentadoria e Pensão:Vilson Medeiros-JFCoord. para Assuntos de Saúdedo Servidor:Claudia Bettoni-JT

COORDENADORES REGIONAISRegião Norte:Luiz Roberto Silveira-JFRegião Planalto:Marco Antonio Madruga-JTRegião Oeste:Geraldo Tirelli-JTRegião Sul:(LICENCIADO) Luiz HenriqueMartins-JFRegião do Vale do Itajaí:Pedro Antonio de Oliveira-JF

Textos, Diagramação e Edição:Míriam Santini de Abreu (MTb 8077/RS)Projeto Gráfico: Letra EditorialLogomarca do Sintrajusc: PauloLaitanoTiragem: 2.500 exemplares

Os artigos assinados são de res-ponsabilidade dos autores.

Filiado à:

�Nuvem� do Google escurece JudiciárioEDIÇÃO ESPECIAL

Welcome to your email forTribunal Regional do Trabalhoda 12 Região, powered by Goo-gle, where email is more intuiti-ve, efficient and useful. Keepunwanted messages out of yourinbox with Google's powerfulspam blocking technolog. Keepany message you might needdown the road, and then find itfast with Google search. Sendmail, read new messages andsearch your archives instantlyfrom your phone.

Esta é a saudação que osservidores do TRT-SC recebemem inglês quando acessam a pá-gina do Tribunal para fazer o ca-dastramento obrigatório do novoe-mail corporativo. O Tribunalestá fazendo propaganda explici-ta em seu site de uma empresaprivada multinacional. Mas este éo menor dos problemas.

"Quanto antes você mudar,mais cedo se adaptará". Essa é afrase final de um texto do InVigi-lando, o boletim da Assessoria deComunicação Social do TRT-SC,na edição de 8 de março. A su-gestão se refere à migração do e-mail dos servidores para o Gmail,o novo e-mail corporativo do TRT.Oito de março foi o último dia derecebimento de mensagens decorreio eletrônico no Webmail eno Mozilla Thunderbird. Com amudança, o Tribunal Regional doTrabalho de Santa Catarina pas-sa a ser mais um cliente do Goo-gle, que, em outubro de 2012, atin-giu um valor de mercado de 221,4bilhões de dólares. Dois outrosclientes, desde 2009, são o STF eo CNJ. Os mais recentes - desdejaneiro passado - incluem o TRT4e o TRT8. E devem vir outros.

Sem custos para iniciar

Em 01 de outubro de 2009, apágina do STF noticiou que o Su-premo e o CNJ, então presididospelo ministro Gilmar Mendes, as-sinaram um acordo de cooperaçãocom a Google Inc. para postar ví-deos no YouTube. O site mais po-pular de vídeos na internet foi com-prado pelo Google em 2006 por1,65 bilhão de dólares. A notíciadizia que "para o lançamento danova mídia, que não gera custos

para a Corte, seráapresentado um ví-deo com o históricoda comunicação ins-titucional do STF".

Agora, a par-ceria não é mais degraça. O Googleestá entrando noJudiciário, com ser-viços remunerados,graças à onda da"comunicação cor-porativa baseadaem nuvem", ou"cloud computing".Estar "na nuvem"significa que a infraestrutura dearmazenamento, processamento etransmissão de dados é fornecidae mantida pela empresa contrata-da, ficando os Tribunais respon-sáveis apenas pelo provimento dosmeios de acesso dos usuários àinternet.

O processo iniciou com a pu-blicação de um Edital do TRT4 emagosto de 2012. O Tribunal do RioGrande do Sul, por esse Edital, fi-cou como órgão gerenciador dalicitação, que tem como potenci-ais participantes outros 18 Tribu-nais, entre eles o de Santa Catari-na. No total, são 49.700 usuários.Os bens e serviços exigidos noEdital incluem correio eletrônico(e-mail), contatos e grupos de dis-tribuição, calendário, comunica-ção instantânea, videoconferên-cia, criação e publicação de por-tais/sites, disponibilização e trans-missão de vídeos e armazenamen-to de arquivos.

TRT-SC na �carona�

Até agora, aderiram à Ata deRegistro de Preços 31/2012, queregula os valores do contrato, trêsTribunais, o do Rio Grande do Sul,o de Santa Catarina e o do Pará/Amapá. A possibilidade de umórgão gerir a licitação e outrosaderirem a ela está prevista na leide licitações, a 8.666. É o que sechama de "carona". Se todos osTribunais aderirem, a empresaganhadora da licitação poderá re-ceber, ao longo dos 30 meses docontrato, mais de 13 milhões dereais (para ser exato: R$13.375.670,00). No caso do TRT-

SC, foram repassados, em paga-mento único, R$ 60.942,11 por ser-viços de integração com a rededo Tribunal, migração de dadospara o novo e-mail, o Gmail (cai-xa postal, agenda) e treinamento.Além disso, mensalmente o Tri-bunal irá pagar R$ 17.314,00 pe-los serviços listados no Edital eque atendem 2.200 usuários. Aofinal de 30 meses, serão R$519.420,00.

O Google embarcou no Edi-tal porque a vencedora da licita-ção, a empresa Spread Teleinfor-mática Ltda., de São Paulo, é pio-neira em oferecer no Brasil osprodutos Google Apps. Trata-se deum serviço do Google para uso dedomínios próprios em diversos pro-dutos oferecidos pela empresa. Asubcontratação ocorre porque osprincipais provedores de soluçõesbaseadas em nuvem não comer-cializam diretamente para o gover-no. O TRT10 (Distrito Federal eTocantins) está fechando contra-to com outra empresa, a Brasof-tware Informática Ltda., parausar os serviços da concorrentedo Google, a Microsoft, que láapresentou o menor preço.

Mas é a empresa sediadaem Mountain View, na Califór-nia, com mais de 70 escritóriosem mais de 40 países ao redordo globo, que vem abrindo espa-ço no Judiciário brasileiro. Tantoque o Google ganhou uma hora emeia para apresentar suas fer-ramentas de comunicação noEncontro Nacional de Comunica-ção do Poder Judiciário, realiza-do pelo CNJ nos dias 25 e 26 defevereiro.

Efficient: saudação em inglês para se cadastrar no Gmail

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3Impresso em papel reciclato OGRITO - no 29 - Abril - 2013

EDIÇÃO ESPECIAL

Debate será levado ao Congresso da FenajufeQuando publicou a migra-

ção para o Google Apps, o In-Vigilando abriu a edição comuma frase do escritor irlandêsJonathan Swift: "Visão é a artede ver coisas invisíveis". A no-tícia dizia que entre as vanta-gens da mudança estavam a ex-pansão da capacidade de arma-zenamento de mensagens e oaumento da capacidade detransmissão de arquivos. Tam-bém foi citada a possibilidadede se compartilhar, de formainstantânea, um arquivo arma-zenado.

Quem pesquisa no Googleou usa qualquer um de seus ser-viços sabe o quão útil é a con-cretização da missão da empre-sa, a de "organizar a informa-ção do mundo e torná-la uni-versalmente acessível e útil".Uma piada comum é a seguin-te: está com problemas, dúvi-das, receios? Pergunte comoresolvê-las ao ser mais sábio domundo, o Google. Aquela telabranca com uma retângulo azulno meio sempre dará uma res-posta.

Falha em 2011

Os grandes portais na in-

ternet noticiaram, em 26 de no-vembro de 2011, que o Goo-gle havia estado fora do ar du-rante cerca de uma hora parausuários de alguns provedoresno Brasil. Usuários fizeram pi-ada sobre o assunto nas redessociais. Algumas delas: "Goo-gle morreu. Comecem a esto-car comida pro apocalipse!", e"Sem Gmail e sem YouTube: oque fazer quando o Google saido ar?". O portal OGlobo in-formou: "Empresas que utilizamGoogle Apps - sistema da Goo-gle que gerencia todos os e-mails de uma companhia - fica-ram sem correio eletrônico du-rante a falha".

Esse fato junta-se a outrospara a necessidade de se des-naturalizar a iniciativa de Tribu-nais do Trabalho de ir para anuvem do Google. Por isso, naAssembleia dos servidores nodia 7 de março, foi aprovadoque os delegados de Santa Ca-tarina levem essa preocupaçãopara o Congresso da Fenajufe,em abril.

�Coisas invisíveis�

Vale citar trecho do Ter-mo de Referência do Pregão

O servidor que entrarnoGmail terá que acionar oCRIAR UMA CONTA. No roda-pé, em letras miúdas, está o link"Termos de Serviço", onde lis-tam-se os "Termos de Serviçodo Google". Leia trechos:

Proteção à Privacidade eaos Direitos Autorais

“As Políticas de Privacida-de do Google explicam o modocomo tratamos seus dados pes-soais e protegemos sua privaci-dade quando você usa nossosServiços. Ao utilizar nossos Ser-viços, você concorda que o Goo-gle poderá usar esses dados deacordo com nossas políticas de

privacidade.Nós respondemos às notifi-

cações de alegação de violaçãode direitos autorais e encerramoscontas de infratores reincidentesde acordo com os procedimentosestabelecidos na Lei de DireitosAutorais Digital do Milênio dosEstados Unidos (U.S. Digital Mi-llennium Copyright Act).”

Política de Privacidade“Informações que comparti-

lhamos-Por motivos legaisCompartilharemos informa-

ções pessoais com empresas, or-ganizações ou indivíduos externosao Google se acreditarmos, deboa-fé, que o acesso, uso, conser-

Guia da �boa-fé�vação ou divulgação das infor-mações seja razoavelmente ne-cessário para:

.cumprir qualquer legisla-ção, regulamentação, processolegal ou solicitação governamen-tal aplicável.

.cumprir Termos de Servi-ço aplicáveis, inclusive investi-gação de possíveis violações.

.detectar, impedir ou abor-dar de alguma outra forma frau-de, questões técnicas ou de se-gurança.

.proteger contra dano aosdireitos, a propriedade ou a se-gurança do Google, nossos usu-ários ou o público, conforme so-licitado ou permitido por lei.”

Foto: Míriam Abreu

Assembleia votou para que delegados de SC levem a debate nacional a terceirização deáreas estratégicas para o Estado brasileiro, como a informatização do Judiciário

Propostasaprovadas emAssembleia

Que a Fenajufe elejacom prioridade imediataa luta contra a políticaneoliberal implementadano Judiciário brasileiro,caracterizada, entreoutros aspectos, pelosseguintes:

#políticas de RHbaseadas em exigênciasde metas quantitativas,sem qualquerpreocupação com aqualidade das decisões;

#a supervalorização deinvestidas milionárias eminformática emdetrimento dacontratação de servidorese juízes em quantidadecompatível com asdemandas;

#a terceirizaçãoacelerada de áreasestratégicas para o Estadobrasileiro como ainformatização doJudiciário.

Eletrônico que abriu espaço, naJustiça do Trabalho, para o gi-gante da informação. No docu-mento, aparecem como justifi-cativas a vantagem econômica,a racionalização do esforço daequipe técnica do TRT4 - o ór-gão gerenciador - e o fato de ainiciativa alinhar-se ao planeja-mento estratégico de TI (tecno-logia da informação) do Tribu-nal.

A decisão da Assembeiado SINTRAJUSC é para queFenajufe desvende - tire a ven-da - desse discurso. Há que sever, nessa relação da Justiça como Google, as "coisas invisíveis".

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4 OGRITO - no 29 - Abril - 2013 Impresso em papel reciclato

Avidez do Google gera debOs meios de comunicação

noticiaram há três semanas queo Google admitiu violação de pri-vacidade pelo Street View. Tra-ta-se de um projeto que usa veí-culos especiais para fotografar asedificações de ruas, avenidas ealamedas em cidades de todo omundo. O Google primeiro negouas acusações, mas depois decla-rou que seus funcionários reco-lheram senhas, e-mails e outrasinformações pessoais de usuári-os de computadores que não fo-ram informados sobre a prática.

Um total de 38 estados dosEUA abriram processo contra asviolações, e o Google pagou mul-ta de 7 milhões de dólares. Se-gundo matéria publicada na pá-gina da Folha de S.Paulo, acompanhia dos EUA também re-colheu secretamente informa-ções pessoais, como e-mails, re-gistros médicos e financeiros esenhas, tudo captado pelos veí-culos que circulavam para fazeras fotos. Com isso, recolheu umimenso volume de dados de re-des sem fio não cifradas.

O Google culpou um enge-nheiro, que estaria agindo seminstruções, pelas operações. AComissão Federal de Comunica-ções (FCC) dos EUA, porém,disse que o engenheiro haviacolaborado com colegas e quehavia tentado informar o chefesobre o que estava fazendo. Valea pena registrar na íntegra umtrecho da matéria:

Na metade do ano passa-do, a Comissão Federal de Co-mércio (FTC) norte-americanamultou o Google em US$ 22,5milhões por desconsiderar asproteções de privacidade nonavegador Safari, a maiormulta já imposta pela FTC emum caso civil. Em 2011, o Goo-gle aceitou acordo que prevêque será auditado durante 20anos pela FTC, depois de ad-mitir o uso de táticas engano-sas ao lançar sua rede socialBuzz. O acordo incluía diver-sas cláusulas um tanto vagasde proteção à privacidade. Onovo acordo, que concede aoGoogle prazo de seis mesespara criar um novo programade privacidade, é mais especí-fico.

O episódio não é isolado. Háoutros, e todos trazem à tona umtema fundamental em relação aoGoogle e outras empresas liga-das às mídias sociais: a privaci-dade. O TRT4 e a empresa deSão Paulo que venceu a licitaçãoassinaram um Termo de Compro-misso com a Segurança da Infor-mação. A cláusula quinta diz que,caso a contratada seja obrigada,em decorrência de intimação deautoridade judiciária ou fiscal, arevelar quaisquer informações,notificará por escrito ao TRTpara que o Tribunal possa optarentre interpor a medida cabívelcontra a ordem judicial ou admi-nistrativa ou consentir, por escri-to, com a referida revelação.Além disso, o edital prevê que aempresa atenda normas de segu-rança internacionais.

Mas termos do Edital foramquestionados por empresas queparticiparam da licitação. Umadelas foi a Processor Informáti-ca Ltda, que pediu a impugnaçãodo Edital. A empresa justificaque, na hipótese de os dados fi-carem fisicamente depositadosfora do Brasil, a ausência de nor-matização sujeita as partes à le-gislação internacional. O silênciodo Edital sobre isso, além da au-sência de responsabilidade porparte do fabricante da solução,acrescentou a empresa, poderi-am representar riscos à integri-dade dos dados do órgão.

Sobre a segurança dos da-dos, a Coordenadoria de Plane-jamento e Projetos do TRT4 re-conheceu que a contrataçãoconstitui "novo modelo de servi-ço para o mercado corporativoque prevê o armazenamento dasinformações de forma dispersa".Mas disse que os dados a seremimplantados sobre a infraestrutu-ra de nuvem "não são críticosnem diretamente ligados aos pro-cessos de negócio do Tribunal".

A Processor invocou interes-se público para requerer a anula-ção da licitação, mas o pedido foiindeferido. O artigo 49 da lei delicitações prevê que a revogaçãopor interesse público deve ter ra-zões decorrentes de "fato super-veniente devidamente comprova-do, pertinente e suficiente para jus-tificar tal conduta, devendo anulá-

la por ilegalidade, de ofício ou porprovocação de terceiros, median-te parecer escrito e devidamentefundamentado".

Foco no negócio

O questionamento da Pro-cessor Informática Ltda. levan-ta uma preocupação que já che-gou aos Estados Unidos e àUnião Européia. Em março doano passado, o Google modificousua Política de Privacidade e ge-rou uma onda mundial de críti-cas. O Instituto Brasileiro deDefesa do Consumidor (Idec)enviou carta à companhia, aoMinistério Público e ao Departa-mento de Proteção e Defesa doConsumidor (DPDC), órgão liga-do ao Ministério da Justiça.

Na carta, o Idec disse quea Política de Privacidade entãoadotada trazia uma série de in-frações à privacidade e à intimi-dade dos consumidores. Cerca de60 políticas de privacidade de di-ferentes serviços, como YouTu-be, Gmail, Blogger e Google+,foram unificadas em um só con-junto de regras. Um mês depois,em abril, o assunto foi debatidoem audiência pública na Comis-são de Defesa do Consumidor,por iniciativa do deputado fede-ral Paulo Pimenta (PT-RS). Naaudiência, foi destacado o fato dea legislação brasileira ter umalacuna em relação à proteção dedados pessoais, o que deixa oconsumidor desprotegido. Comas críticas, o Google modificou aPolítica em 27 de julho, mas asmudanças não apagaram as dú-vidas em relação à privacidade.

Judiciário virou laboratório

Especialistas na área deTecnologia da Informação ouvi-dos pelo SINTRAJUSC disseramque, independentemente das ga-rantias contratuais de segurançae de privacidade, há outro ele-mento fundamental: porquê o go-verno federal não tem uma polí-tica pública para a execução emanutenção de uma grande es-trutura para armazenamento dedados? Se assim fosse, não serianecessário que o Judiciário (e tal-vez, no futuro, o Executivo e o

Legislativo), fizessem parceriasmilionárias com empresas priva-das. Basta ver a quantidade declientes do governo atendidospela Spread Teleinformática, ga-nhadora da licitação, listados emsua página (http://www.spread.com.br/institucio-nal/clientes).

Em setembro de 2012, o jor-nal Valor Econômico noticiouque o Brasil, apontado como sé-timo maior mercado de internetno mundo, tornou-se um labora-tório do Google para criação denovos modelos de negócios. Nes-se laboratório está o Judiciáriobrasileiro. Representantes daempresa até estiveram no TRT12para apresentar os benefícios dosserviços oferecidos.

Para ler mais sobre a relaçãohttp://epic.org/foia/epic_v_n

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5Impresso em papel reciclato OGRITO - no 29 - Abril - 2013

bates nos EUA e na EuropaIlustração: Eduardo Schmitz

O SINTRAJUSC conver-sou com Paulo de Morais Rodri-gues e Altair de Lima, do Servi-ço de Administração e Suporteaos Recursos de Informática, vin-culado à Seinfo. Rodrigues falousobre as vantagens da mudança,já apontadas em notícias internasdo TRT-SC, e afirmou que o ser-viço tem tido retorno positivo porparte de servidores. Com relaçãoà privacidade dos dados, Rodri-gues explicou o complexo proces-so pelo qual as informações sãoprotegidas e lembrou que nuncase viu o Google ser atacado. Eleavalia que as certificações exigi-das no Edital do TRT4 e a credi-bilidade do Google fazem deleuma companhia confiável.

Para Lima, não haveria mo-

tivos para tentativas de violaçãode privacidade dos dados doTRT-SC: "Não somos empresade armas, empresa que faz lici-tações internacionais. Existemtrilhões de informações mais im-portantes do que as nossas". JáRodrigues acredita que são ne-cessárias infra-estrutura, tempoe equipe para gerir serviços comoe-mails e proteção contra spams,as mensagens indesejáveis emmassa recebidas nos correios ele-trônicos, e portanto a terceiriza-ção dessas atividades implicaganho de tempo: "Temos que nosdedicar ao nosso negócio, os sis-temas processuais, e à seguran-ça do nosso banco de dados",afirma.

Além disso, disse Lima, anuvem dá a possibilidade de secompartilhar, de forma instantâ-nea e por mais de uma pessoa,um arquivo armazenado, e a par-tir de qualquer computador co-nectado à internet. Isso tambémpermite, observou ele, que os ser-vidores possam trabalhar fora doTribunal.

Perfil único

Ao norte do mundo, ondeestão os gigantescos servidoresque agregam os dados de corpo-rações como o Google, as par-ceiras do poder público com acompanhia não são vistas comnaturalidade. O Congresso dosEUA, por exemplo, votou a fa-vor de uma proposta para se ava-liar com cuidado o impacto dasmudanças de política do Googlena privacidade dos internautas.Nos Estados Unidos, a nuvemcorporativa também se alastranos órgãos federais, estaduais emunicipais. Na Europa, porém,há cautela em relação a manterdados nesses servidores privadosespalhados por vários locais domundo. Há propostas para umnovo regulamento de proteção dedados e de privacidade. A Fran-ça está investigando a fundo aPolítica de Privacidade da empre-sa.

O Google também foi inici-almente condenado por um ob-servador independente da nuvemfederal nos EUA, o siteSafeGov.org, por criar riscos de

privacidade para os trabalhado-res do governo local. A empresarespondeu rapidamente que assuas novas políticas não se apli-cam aos funcionários federaisusando o Google Apps, o mesmodo TRT-SC.

Mas, em artigo publicado noSafeGov.org, Jeff Gould, articu-lista do site, especialista na áreade tecnologia da informação eempresário do mercado editorialsobre tecnologia, explica que oGoogle consegue controlar a ati-vidade de um usuário em um per-fil-mestre único: "Dimensionadapara dezenas e até centenas demilhões de usuários, esta técnicade perfis produz um modelo denegócio extraordinariamente lu-crativo que fez do Google a em-presa de publicidade de maiorsucesso na história".

O Facebook faz o mesmo,e também a Microsoft, concor-rente do Google, mas, ao contrá-rio dele, tem uma política de pri-vacidade específica para usuári-os corporativos e governamen-tais. Esta política, que se aplicaa usuários do serviço Office 365(equivalente ao Google Apps),pode ser encontrada na página daMicrosoft: "O Office 365 incluirecursos de privacidade abran-gentes e não examina seus emailsou documentos para gerar análi-ses, data mining, anúncios ouaperfeiçoamentos do serviço".

No que se refere à privaci-dade, para se ter uma ideia doque está por trás das informaçõesque circulam na Justiça do Tra-balho, entre os dias 11 e 15 dejunho do ano passado, a JT arre-cadou cerca de R$ 660 milhõesem acordos, leilões e penhora derecursos em contas bancárias.Isso foi na 2ª Semana Nacionalda Execução Trabalhista, expe-diente do CSJT para reduzir nasestatísticas o número de traba-lhadores que ganham ações judi-ciais, mas não conseguem rece-ber o que lhes é devido. E há quese levar em conta que os valorespoderiam ser maiores, visto que,muitas vezes em situação deses-peradora, nessas Semanas os tra-balhadores fazem acordos ruinspara ao menos receber parte dodinheiro.

Outro exemplo vem do pró-

prio TRT-SC, que recentementecondenou uma empresa de ali-mentos em 25 milhões de reaispara recuperação de trabalhado-res lesionados. A empresa per-tence à Marfig Group, gurpo es-tadunidense com unidades insta-ladas em 22 países de 5 conti-nentes, e que em 2011 foi eleitaa "Melhor Empresa de Carnes"pela Revista Exame Maiores eMelhores. Portanto, circulam narede da Justiça do Trabalho da-dos vitais, como os referentes adecisões judiciais que afetamgrandes corporações.

Relações perigosas

O site Rede Voltairenet tam-bém divulgou informações quedeixam nuas as "coisas invisíveis"no que se refere à privacidade.Segundo o site, a NSA (Agênciade Segurança Nacional dos Es-tados Unidos) não tem obrigaçãode revelar a natureza da sua re-lação com Google, decisão con-firmada pela justiça do país em11 de maio de 2012.

Diz a notícia: "A corte deapelo de Washington decidiu queo status especial da Agência deSegurança Nacional lhe permitemanter em secreto qualqueracordo com o gigante da inter-net".

A decisão foi a respostaa um pedido de uma associa-ção que defende os direitos àprivacidade on-line. O objeti-vo do Centro de Informaçõesdos Dados Particulares Ele-trônicos (EPIC) era que osacordos entre Google e NSAfossem tornados públicos, emnome do direito dos cidadãosde saber se eles estão sendomonitorados.

Vale lembrar que as empre-sas estadunidestes são legalmen-te obrigadas, com base na lei "an-titerrorista" Patriot Act, a divul-gar os seus dados às autoridades,em particular a Agência de Se-gurança Nacional. O "Ato Patri-ota" é usado desde o ataque àsTorres Gêmeas, em setembro de2001. Por tudo isso, vale pensarno que significa a orientação dadaaos servidores do TRT-SC:"Quanto antes você mudar, maiscedo se adaptará".

o NSA/Google, digitensa_google.html

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6 OGRITO - no 29 - Abril - 2013 Impresso em papel reciclato

EDIÇÃO ESPECIAL

Especialista diz que companhia é �Googlelopólio�Google é investigado porviolação de privacidade

Estados Unidos e União Europeia investigarão empresapor ignorar configurações de privacidade de usuários do Sa-fari

NOVA YORK - Reguladores nos Estados Unidos e na UniãoEuropeia (UE) investigam o gigante de buscas Google por suspei-tas de que a companhia ignorou configurações de privacidade demilhões de usuários do navegador da Apple, o Safari, de acordocom o jornal The Wall Street Journal, que citou fontes. O Googleinterrompeu a prática no mês passado após ser contatado pelodiário.

Página do Grupo Estado, 16 de março de 2012

Especialista fala sobre perigosda entrada do Google nomercado corporativo

Trecho da entrevista com Scott Cleland, fundador da Pre-cursor LLC, consultoria que presta serviço de pesquisas em futu-ro da internet e inovação, e da associação Netcompetition.org,uma entidade que representa os interesses do segmento de cone-xão de banda larga. Ele já testemunhou três vezes no Congressodos Estados Unidos contra a empresa. "Google é um monopólio,e um monopólio predador. Ele é extremamente ambicioso", alar-mou o executivo, que evita ao máximo usar qualquer serviço damarca, em entrevista ao IT Web.

O Google está se tornando mais forte nas empresas.Nos últimos anos cresceu com ofertas específicas para estemercado, baseadas em cloud computing, com as quais ou-tras companhias não conseguem competir. Então, no come-ço, a empresa buscava informações pessoais. Agora, cami-nha para as corporativas. Isso seria mais perigoso?

Cleland - É um tipo diferente de perigo, pois envolve o peri-go da competição. Como o Google grava tudo, eles sabem todosos competidores, todos os seus clientes, toda a demanda, elestêm um perfeito conhecimento de qual conteúdo as pessoas que-rem e quais empresas oferecem esse conteúdo. Google tem todasorte de informação confidencial, porque eles estão gravando tudo.Eu chamo isso de Googlelopólio [fazendo um neologismo com onome da empresa e a palavra monopólio].

Leia na íntegra em http://informationweek.itweb.com.br/9067/especialista-fala-sobre-perigos-da-entrada-do-google-no-mercado-corporativo/

Página InformationWeek Brasil, julho de 2012

Em março, o chefe do Escritório de Tecnologia da AgênciaCentral de Inteligência dos Estados Unidos, a CIA, Gus Hunt,disse que o mundo está cheio de informações valiosas, incluindo oque ninguém considera muito importantes, como os tweets, vídeose mensagens de texto. "O valor de cada pedaço de informação éconhecido apenas em conexão com outras peças em um momentofuturo", disse Gus Hunt na conferência "Estrutura: Dados", em NovaYork . "Basicamente, nós vamos tentar recolhê-lo e mantê-lo parasempre".

Hunt confirmou que a Agência pretende recolher cada "miga-lha digital" que as pessoas estão deixando mesmo sem saber. "Vocêjá é um plataformas de sensores em pé", afirmou ele, referindo-sea telefones celulares, smartphones e tablets, que vêm com câme-ras, detectores de luz e localização do equipamento. "Alguém podesaber onde cada um de vocês está em todos os momentos, e car-regando um dispositivo móvel, mesmo se estiver desligado".

Segundo a notícia, embora tenha havido muita conversa so-bre os conceitos de privacidade, ele advertiu que "a tecnologiaestá se desenvolvendo mais rápido do que os governos e as leispodem reagir", o que torna difícil responder à pergunta"quais sãoos seus direitos e quem é dono de seus dados".

Notícias dão conta de que a CIA fechou contrato com o co-nhecido site Amazon, por 600 milhões de dólares, para projetaruma nuvem privada para ser usada pela Agência.

Ver em http://fcw.com/articles/2013/03/18/amazon-cia-cloud.aspx

"A Verdade portrás do Google", deAlejandro SuarezSanchez-Ocana (Edi-tora Planeta, 2013)desvenda documen-tos e apresenta entre-vistas com especialis-tas do setor e com ex-funcionários da com-panhia para analisarsuas agressivas práti-cas de mercado, a ex-pansão em todo omundo e a relaçãocom concorrentes.Leitura importantepara "alcançar" a nu-vem onde o TRT-SCe outros Tribunais es-tão depositando suasinformações.

CIA admite que recolhe dadosde usuários da internet

Divulgação

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7Impresso em papel reciclato OGRITO - no 29 - Abril - 2013

Contrato põe em risco segurança de informaçõesÉ grave a decisão do TRT-

SC de fazer parceria com a Goo-gle Inc., e mais grave ainda a pos-sibilidade aberta para que pratica-mente toda a Justiça do Trabalhofaça o mesmo (e, quem sabe, asdemais instâncias do Judiciário).Por isso o assunto será levadopelos delegados de Santa Catari-na para o Congresso da Fenajufe,em abril.

Contra o Google há proces-sos e investigações por quebra deprivacidade em vários países, tan-to por razões pessoais, como usode imagens, quanto comerciais ede estado. A própria corporaçãoadmite que a tecnologia utilizadapelo Google permite o monitora-mento de conteúdo de e-mails.Além disso, o contrato ao qual oTRT-SC adere e obriga seus ser-vidores a aderirem está expres-samente submetido a leis estran-geiras.

Os datacenters do Google(onde ficam os servidores) situ-am-se em sua maioria nos EUA,além de Finlândia e Bélgica, o queos submete diretamente à lei anti-terrorismo estadunidense, inde-pendentemente de qualquer cláu-sula contratual assinada no Bra-sil, por um terceiro, como é o casoda empresa de São Paulo que ven-ceu a licitação. A lei antiterror dosEUA dá acesso secreto (sem obri-gação sequer de responder emjuízo) aos órgãos de segurançadaquele país a todos os sistemasde dados dentro do seu território.

Sigilo necessário

O Sindicato alerta que, nosórgãos públicos, a maioria das in-formações é de caráter público,mas há muitas que devem perma-necer sigilosas até sua publicação,como o conteúdo de uma provade concurso ou estudos prepara-tórios para uma licitação, e mes-mo minutas de sentenças ou acór-dãos (atividade fim do Judiciário),antes de sua publicação. O conhe-cimento prévio de informaçõesdessa natureza por uma das par-tes envolvidas pode colocá-la emvantagem ilegal em relação àsoutras, atentando contra o interes-se público e as disposições legaise constitucionais. Já o Google teráacesso a todos os dados, textos ecomunicações de servidores e juí-

zes, o tempo todo, sem limita-ções.

O Google é uma empresaprivada que tem como clientesempresas privadas comerciaisque figuram com rés em açõestrabalhistas, portanto, com inte-resses diretos em informaçõesprivilegiadas sobre processos,tendências de julgamentos ou li-citações.

Também é questionável oTRT-SC estar mudando sua po-lítica correta de utilização de sof-tware livre, com a qual economi-za substanciais recursos públicosem licenças, para novamentepassar a atender interesses deempresas de softwares comerci-ais, criando novas e desnecessá-rias despesas orçamentárias. OTribunal sequer possui um con-trato direto com a empresa Goo-gle, mas com uma terceira inter-mediária.

Debate nacional

Todos esses elementos le-vam o SINTRAJUSC a debatere questionar, em todo o Judiciárioe nos Sindicatos, a gravidade des-se contrato. O Tribunal não pre-cisa dos serviços do Google. Pre-cisa, sim, melhorar sua estruturade rede com investimentos emmáquinas, fibra ótica e projetos

Softwares livres deixados de lado em favordos interesses das empresas privadas

"Software livre geraeconomia de meiomilhão de reais aoTribunal Regional doTrabalho de SantaCatarina". Esse foi o títulode uma notícia do siteJusBrasil em 2009, tendocomo fonte o TRT-SC.

Trecho da notícia dizia:�O Tribunal Regional doTrabalho de SantaCatarina economizou emtorno de R$ 520 mildesde que começou ainstalar em seuscomputadores, em junhode 2007, o pacote desoftwares livres BrOffice.O valor se refere ao queprecisaria ser investido

Foto: Míriam Santini de Abreu

próprios de tecnologia da informa-ção que levem em conta a ne-cessidade absoluta de seguran-ça na privacidade de suas in-formações. Afirmamos que oTRT-SC formalizou o contratosem uma avaliação de riscos

reais à segurança das informa-ções, colocando em risco o re-sultado da atividade fim ao per-mitir situações potenciais demanipulação de informação porterceiros externos ao serviçopúblico.

em atualização eaquisição de licenças dasuíte de aplicativosMsOffice, que inclui oeditor de textos (Word),de planilhas (Excel), deapresentações (PowerPoint), de banco dedados (Access) e ocorreio eletrônico(Outlook)�.

Era política do TRTsubstituir softwarespagos por livres paraeconomizar recursospúblicos. A contrataçãodo Google significa oabandono da antiga elouvável política anterior,em favor dos interessesdas empresas privadas.

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DEFESA DE DIREITOSTrabalhadores fazem Marcha em Brasíliapela revogaçãodaReformadaPrevidência

No dia 24 de abril, a CSP-Conlutas e di-versas organizações - A CUT Pode Mais,CNTA, Cobap, Condsef, CPERS e entidadesnacionais e sindicatos locais - estão organi-zando uma grande marcha em Brasília. O SIN-TRAJUSC irá participar e os interessadosdevem enviar e-mail [email protected] (transporterodoviário). O objetivo é defender os direitossociais e trabalhistas e denunciar a políticaeconômica do governo federal que resultanesses ataques. Uma plataforma política foiaprovada pelas entidades que participam des-ta jornada:- Contra o ACE (Acordo Coletivo Especial) ea precarização no trabalho;- Fim do fator previdenciário / Anulação dareforma da previdência de 2003 / Defesa daaposentadoria e da previdência pública;- Reforma agrária já / Respeito aos direitosdos assalariados rurais / Apoio à luta dos tra-balhadores do campo contra o latifúndio e o

agronegócio;- Em defesa do direito à moradia digna - Che-ga de violência contra pobres e negros;- Em defesa dos servidores (as) públicos (as);- Aumento geral dos salários;- Adoção imediata da convenção 158 da OIT/ Em defesa do emprego / Redução da jorna-da e trabalho, sem redução salarial;- Em defesa da educação e da saúde públi-cas;- Respeito aos povos indígenas e quilombolas;- Contra as privatizações / Defesa do patri-mônio e dos recursos naturais do Brasil;- Suspensão do pagamento da dívida externae interna aos grandes especuladores;- Contra a criminalização das lutas e dos mo-vimentos sociais;- Contra o novo código florestal / Em defesado meio ambiente;- Contra toda forma de discriminação e opres-são. Fonte: CSP-Conlutas (Central Sindi-cal e Popular)

O assunto não é novo. E agora ressurgeno Congresso Nacional. A tão combatida Re-forma Trabalhista da era FHC volta agora deforma diferente, mas não menos escancara-da. Quem não se lembra de quando FernandoHenrique Cardoso enviou um projeto de leipara o Congresso Nacional, o PL nº 5.483/2001, com o objetivo de alterar a CLT paraque o negociado prevalecesse sobre o legisla-do?

O movimento sindical lembra bem desseprojeto. Na época, a Central Única dos Tra-balhadores encampou a luta contra a flexibili-zação de direitos. A matéria foi aprovada naCâmara e enviada ao Senado. Sua tramitaçãochegou ao fim quando, em 2003, o então Pre-sidente Lula solicitou a retirada e arquivamen-to do projeto do Senado. Dez anos se passa-ram e eis que surge o Anteprojeto de Lei doAcordo Coletivo de Trabalho com PropósitoEspecífico (ACE), elaborado, pasmem, noâmbito do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC,filiado à CUT.

O projeto busca o mesmo que o PL5.483/2001 de Fernando Henrique Cardoso,porém vai além, trazendo em si mais malda-

O que é o Acordo Coletivo Especialdes contra os trabalhadores. Traz a flexibili-zação dos direitos trabalhistas através da pre-valência do negociado sobre o legislado, auto-rizando os sindicatos e empresas a negocia-rem direitos já garantidos em lei, ou seja, nãoserá mais necessário seguir a CLT, mas comalgumas diferenças que podem precarizar ain-da mais as relações de trabalho e aumentar aexploração dos trabalhadores, já tão exacer-bada pelo regime capitalista.

Segundo o Procurador do Trabalho Ra-fael de Araújo Gomes, no artigo intitulado "Oprojeto de Flexibilização Trabalhista da CUT:O que e isso Companheiro?", "enquanto o pro-jeto de FHC não autorizava a flexibilização denormas de saúde e segurança do trabalho,necessárias para a preservação da vida e dasaúde dos trabalhadores e para a prevençãode acidentes, o Anteprojeto da CUT autorizaflexibilizar inclusive isso. De modo que a apli-cação da Norma Regulamentadora n° 18 doMinistério do Trabalho e Emprego, por exem-plo, que prevê normas de segurança para osetor da construção civil, poderia ser em todoou em parte afastada através de um acordocoletivo".

Servidores públicos na mira

Em princípio o projeto atinge diretamen-te os trabalhadores da iniciativa privada, osceletistas. Mas é evidente que quando semexe em direitos de uma classe de trabalha-dores, se atinge todo o conjunto de trabalha-dores.

O RJU, que rege os servidores públi-cos federais, funciona também com a pro-teção garantida nas leis da CLT. Ao mesmotempo em que a CLT é atacada, os direitosdos servidores públicos também são amea-çados.

Pode ser que agora o governo queirarealizar acordos coletivos também com os ser-vidores, baseados no ACE.

Essa luta contra a flexibilização dos di-reitos trabalhistas deve ser do conjunto daclasse trabalhadora. Ou nos unimos e luta-mos agora ou seremos todos derrotados pelocapital e sua lógica perversa de retirada dedireitos.

Com informações do Sindprevs-SC,Diap e Fórum Estadual dos Servidores Pú-blicos Federais de Santa Catarina