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Editor André Galvão Editor-assistente Betânia Santana e Ricardo Novelino

ENTREVISTA » DIRCE JUST

“Nunca mais pudemos ser o que nós éramos”Publicado em 09.05.2010

Naquele abril de 1989, Dirce Just ouviu dentro da própria casa os tiros quetiraram a vida de sua filha. Maristela Just, 25 anos, era assassinada peloex-marido, José Ramos. Hoje, aos 78 anos, a dona de casa espera, comansiedade, ver o acusado condenado.

JC – Depois que houve o crime, a senhora chegou a encontrar José Ramosalguma vez?

DIRCE JUST – Encontrei com ele na rua por acaso, alguns meses depois,ainda em 1989. Lembro que me senti muito mal, chamei-o de assassino,fiquei muito nervosa. Ele só saiu andando de mãos dadas com a namorada,sem falar nada.

JC – Mesmo sabendo que ele era violento, a senhora alguma vezdesconfiou que fosse capaz de matar sua filha e ferir seus netos?

DIRCE – A gente nunca espera que se faça isso, não é? Ele já tinhaameaçado Maristela de morte, houve casos de agressão dele contra ela,inclusive com queixa prestada na Delegacia de Piedade. Ela contava queele chegou a falar, depois da separação: “não vou deixar isso aí paraninguém”, referindo-se a ela e aos meninos. Teria dito isso umas duas outrês vezes. Mas a gente nunca pensa que uma pessoa vá fazer uma coisadessas dentro da casa da gente.

JC – O que a senhora sentiu quando soube que o assassino de sua filhaseria finalmente julgado, passados 21 anos do crime, quase prescrito?

DIRCE – Achei que foi a mão de Jesus. Só sendo a mão dele paraacontecer um julgamento depois de 21 anos. Porque ele (Ramos) acabounão só com a vida da minha filha e a dos meninos. Acabou com a vida detoda a família. Tivemos que morar em outro lugar, num apartamentopequeno, não podíamos mais ficar naquela casa. Ele destruiu a nossa vida.Nunca mais pudemos ser, por dentro, o que nós éramos.

JC – O que a senhora espera desse júri tão aguardado pela sua família?

DIRCE – Sempre tive fé que um dia fosse acontecer, mas não tinha ideia decomo nem quando. Nesses anos todos, precisei preocupar-me com meusnetos, no entanto, nunca esqueci o que aconteceu. Agora, só o que todosqueremos é que se faça justiça.

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