jornal de saúde pública, março de 2013

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www.newsfarma.pt Próxima edição abril Este Jornal é parte integrante da edição do Expresso n.º 2106, de 9 de março de 2013. Venda interdita. MKT 20-02-13 | toLife – Produtos farmacêuticos, S.A. | Av. Forte, 3 | Edif. Suécia III | Piso 1 | 2794-093 Carnaxide | Portugal | T +351 214 342 700 | F +351 214 342 709 | [email protected] | NIPC 506 698 599 | C.R.C. Cascais, sob nº 16 316 | Capital Social 2.436.740,00 euros partilhamos o gosto pela Vida www.tolife.pt PUB SAÚDE JORNAL de Pública 600 mil portugueses sofrem de doenças raras Uma doença é considerada rara quando afeta uma em duas mil pessoas. Muitas ve- zes, o diagnóstico destas pa- tologias é complicado porque, na grande maioria dos casos, apresentam sinais e sintomas diferentes, complicando desta forma a sua identificação. Págs. 4/5 50 milhões de pessoas em todo o mundo sofrem de epilepsia Pág. 3 HPV e o cancro do colo do útero Pág. 8 news farma Edições 28 de fevereiro: Dia das Doenças Raras Estas empresas associam-se ao Dia das Doenças Raras: Evitar a infeção com profilaxia primária

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Jornal de Saúde Pública, Março de 2013

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Page 1: Jornal de Saúde Pública, Março de 2013

www.newsfarma.pt

Próxima edição abril

Este Jornal é parte integrante da edição do Expresso n.º 2106, de 9 de março de 2013. Venda interdita.

MKT 20-02-13 | toLife – Produtos farmacêuticos, S.A. | Av. Forte, 3 | Edif. Suécia III | Piso 1 | 2794-093 Carnaxide | Portugal | T +351 214 342 700 | F +351 214 342 709 | [email protected] | NIPC 506 698 599 | C.R.C. Cascais, sob nº 16 316 | Capital Social 2.436.740,00 euros

partilhamoso gosto pela Vida

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SaúdEJornal de

Pública

600 mil portugueses sofrem de

doenças rarasUma doença é considerada rara quando afeta uma em duas mil pessoas. Muitas ve-zes, o diagnóstico destas pa-tologias é complicado porque, na grande maioria dos casos, apresentam sinais e sintomas diferentes, complicando desta forma a sua identificação.

Págs. 4/5

50 milhões de pessoas em todo o mundo sofrem de epilepsia

Pág. 3

HPV e o cancro do colo do útero

Pág. 8

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sfarma

Edições

28 de fevereiro: Dia das Doenças Raras

Estas empresas associam-se ao Dia das Doenças Raras:

Evitar a infeção com profilaxia primária

Page 2: Jornal de Saúde Pública, Março de 2013

A lactose é um açúcar encontrado no leite e produtos lácteos, que precisa de ser dividido em duas

partes mais pequenas para poder ser absorvido pelo nosso organismo. No intestino delgado, temos uma enzima chamada lactase que tem essa função. Em algumas circunstâncias, o nosso cor-po deixa de produzir lactase em quan-tidade suficiente para suprir as suas necessidades e, nesse caso, podemos ter então um quadro de intolerância à lactose.

Esta patologia é muito frequente em todo o mundo, em especial no adulto a partir dos 20 anos de idade. Distensão e dor abdominal, flatulência e diarreia são os sintomas típicos desta intole-rância e são ocasionados pelo facto de a lactose não desdobrada permanecer no intestino e servir de alimento às bactérias que nele se encontram, pro-duzindo como resultado um excesso de gás que provoca a distensão e as dores abdominais. Além disso, a presença da lactose também provoca um aumento da osmolaridade dentro do intestino e a consequente chamada de água para equilibrar esse gradiente, provocando então, em alguns casos, um quadro de diarreia.

O diagnóstico pode ser difícil em pessoas que têm sintomas isolados ou em casos mais ligeiros, de qualquer modo, existem testes específicos para essa determinação. Uma vez diagnos-ticada esta doença, convém referir que ela afeta homens e mulheres da mesma

forma, as suas consequências não são de grande morbilidade ou mortalidade e o tratamento mais habitual é a adap-tação do regime alimentar, excluindo os alimentos ricos em lactose. Por isso, é muito importante ter o conselho do médico ou do nutricionista para estabe-lecer uma dieta equilibrada isenta em lactose. Quais os principais alimentos a excluir?

Logicamente, o leite e a maioria dos seus derivados, como queijos e iogur-tes, mas a principal dificuldade é, por vezes, detetar em que outros alimentos o leite foi adicionado. Só para referir al-guns, sabia que o leite é adicionado a alimentos processados tais como pão e bolos, bolachas e biscoitos, cereais para pequeno-almoço, enchidos, mo-lhos para saladas, purés de batata, re-feições pré-preparadas, sopas instan-tâneas, salgadinhos, etc.? Nem sempre é fácil descobrir. É por isso necessário aprender a ler com muita atenção os rótulos dos produtos que consumimos, para verificar se contêm ou não leite ou lactose.

Existe já disponível no comércio uma grande variedade de produtos isentos de lactose, nomeadamente, substitu-tos do leite, ou leite sem lactose, bolos, bolachas e biscoitos isentos de lactose, produtos esses que habitualmente indi-cam no rótulo a frase “isento de lactose” ou então incluem um símbolo como o que pode ver aqui em baixo. Convém também aqui realçar que há doentes que têm alguma capacidade de digerir a lactose e, portanto, não necessitam fazer a sua exclusão por completo, mas tão-somente reduzir as quantidades in-geridas.

Com a retirada ou restrição dos pro-dutos lácteos, não podemos esquecer que eles são ricos em cálcio e que, por isso, haverá necessidade de aumentar a ingestão de outro tipo de alimentos que também são boas fontes ou, eventual-mente, ser necessário um suplemento adicional de cálcio e vitamina D.

“Os portugueses bebem mais por acompanhamento do pra-to do que por razões sérias e

hedonistas”, refere João Paulo Martins, jornalista e crítico. Atualmente, as pes-soas gostam exatamente de saber o que bebem, quem produz e, por fim, quem são os enólogos. Sobre esta ma-téria, “crescemos muito nos últimos 20 anos”.

Parece provado que o vi-nho pode ajudar a prevenir alguns problemas cardíacos, mas sempre num registo de consumo muito moderado. Uma das grandes novidades está relacionada com o facto de que algumas castas bran-cas têm as mesmas virtudes que outras tintas nessa prevenção, “o que até há pouco tempo se desconhecia”.

Quanto a gostos, os portugueses apre-ciam mais o vinho tinto. No entanto, “a enorme melhoria que os brancos tiveram nestes anos trouxe muitos consumidores para o lado dos brancos, o que é muito positivo”. O crí-tico esclarece que “o verde é uma grande paixão nacional e um vinho de saudade apre-ciado pelos emigrantes”.

Sobre o teor alcoólico, hoje em dia, os consumidores não têm praticamente esco-lha porque os vinhos têm um teor muito elevado, de 13 a 15º. “Felizmente, começam a surgir alguns produtores atentos a este fenómeno e estão agora a surgir vinhos de teor mais moderado, na casa dos 12 ou 12,5º.”

Como em tudo na vida, deve haver moderação e contenção. Na opinião do Prof. Rui Tato Marinho, hepatologista no Hospital de Santa Maria, em Lisboa, con-sumir antes dos 18 anos é prejudicial para a saúde, com riscos elevados de depen-dência futura. “Cerca de metade dos jo-vens que se embriagam de forma regular aos 13 anos vão ser os alcoólicos do futuro e vão ocupar as urgências e as camas dos hospitais.”

Efetivamente, “um homem não deve consumir mais do que duas a três bebi-das por dia e a mulher mais do que uma a duas”. Quando de fala de uma “bebida” entende-se um copo de vinho, ou uma cerveja, ou um shot, ou um uísque.

Apesar de cada tipo de bebida alcoóli-ca conter uma percentagem de álcool diferente, em termos práticos, a quanti-

dade de álcool por copo é semelhante. Há uma forma muito grave de alcoolismo em voga nalguns jovens. É o chamado “binge drinking”. Significa beber muito num curto espaço de tempo. Considera-

-se “binge” beber em duas horas mais do que 5 bebi-das, no caso do homem, e mais do que 4 bebidas, na mulher. Este tipo de alcoo-lismo está associado a mor-tes na estrada, suicídios, sexo de risco, morte súbita, violência, etc.

O consumo excessivo de álcool está associado a mais do que 130 doenças, muitas delas mortais: cirrose he-pática, acidentes de viação mortais, vários tipos de can-

cro (esófago, boca, laringe, fígado, mama, pâncreas, língua), homicídios, suicídios, violência familiar, doenças cardíacas, demências, impotência, malformações no feto, doenças cardíacas, doenças do pâncreas, entre outras. “Cerca de 10% dos

homens na Europa morrem por causa do consumo de álcool.”

Perante a questão: o vi-nho faz bem à saúde?, Rui Tato Marinho responde: “De forma geral, não. Po-deremos afirmar que é um mito.” A ideia de que “o ál-cool faz bem ao coração, a ser verdade, será em quan-tidades diminutas (meio copo de vinho à refeição)”. Para além de todos os aler-tas que foram deixados,

deixa ainda mais uma mensagem: “Se be-ber não conduza. Uma bebida equivale, de uma forma geral, a 0,2 de alcoolemia.”

Este artigo tem o apoio:

2 | Jornal de Saúde Pública | 9 de março 2013

Intolerância à lactose. Sabe o que é?

Os mitos do vinhoe a saúde pública

António MadureiraNutricionista

Semlactose

PU

B

Muitos são os que consideram que o consumo moderado de vinho faz bem à saúde. Outros defendem que se trata de um mito. Uma questão que merece reflexão.

Parceiros de confiança

João Paulo Martins

Prof. Rui Tato Marinho

Page 3: Jornal de Saúde Pública, Março de 2013

A epilepsia é uma doença neurológi-ca crónica caracterizada pela ocor-rência de crises epiléticas recor-

rentes, não provocadas, que se traduzem numa descarga elétrica anormal e exces-siva no cérebro, manifestando-se com al-terações clínicas motoras e não motoras.

De acordo com o Dr. Francisco Sales, presidente da Liga Portuguesa Contra a Epilepsia (LPCE), “esta é a doença neuroló-gica mais frequente a seguir à enxaqueca”.

Cerca de 50 milhões de pessoas em todo

o mundo sofrem de epilepsia, sem distinção por sexo ou etnia. É de salientar que pode manifestar-se em qualquer idade, embora com picos nos extremos da vida.

Mais de metade das epilepsias ocorre durante a infância. Quanto mais precoce maior a probabilidade de comprometer as outras aquisições do desenvolvimento nor-mal para uma criança. Entre os 20 e os 60 anos, a frequência diminui, voltando depois a aumentar. “Depois dos 60 anos a epilepsia deve-se ao aparecimento de um conjunto de patologias relacionadas com processos degenerativos, vasculares e tumorais.”

Apesar de haver uma maior sensibiliza-ção acerca da doença, “é verdade, infeliz-mente, que quase todos os dias temos co-nhecimento de situações que envolvem pessoas  com epilepsia que se sentiram descriminadas, por razões bem concretas no seu quotidiano”.

Diagnóstico e tratamento

O diagnóstico de crise epilética é emi-nentemente clínico e pode ser auxiliado

por alguns exames complemen-tares, embora nenhum exame tenha a capacidade plena de con-firmar ou excluir este diagnóstico. O Dr. João Chaves, neurologista e especialista em epilepsia no Hos-pital de Santo António, no Porto, explica que, “dada a grande dife-renciação e especialização que a Medicina tem sofrido nos últimos anos, no mínimo, o doente deve ser seguido numa consulta espe-cífica”.

Em caso de não serem con-troladas as crises e na possibilidade de o doente ser um candidato cirúrgico, “este

Em Portugal, existem 40 a 70 mil pessoas com epilepsia. Em cada ano surgem cerca de 50 novos doentes por cada 100 mil pessoas. A probabilidade de cada um de nós vir a ter uma crise epilética ao longo da vida é de 1 para 100.

50 milhões de pessoas em todo o mundo sofrem de epilepsia

deve ser referenciado a um centro com ní-vel mais diferenciado médico-cirúrgico”.

Quanto ao tipo de tratamento que pode ou deve ser recomendado a um doen te, afirma que “existem medidas não farmacológicas que são muito úteis no doente com epilepsia: ter hábitos de sono regulares, evitar o álcool e estímulos lumi-nosos intermitentes, no caso de se tratar de uma epilepsia fotossensível”.

Felizmente, existe atualmente um grande número de fármacos antiepiléti-cos com os quais “conseguimos controlar cerca de 70% dos doentes. Os fármacos mais recentes trouxeram menos efeitos secundários, permitindo uma melhor qualidade de vida”.

9 de março 2013 | Jornal de Saúde Pública | 3

11 de março: dia NacioNal da epilepsia

O doente que está controlado e que não sente efeitos secundários da sua me-

dicação para a epilepsia faz uma vida total-mente normal, com integração social plena. O problema coloca-se no doente em relação ao qual “sendo normal, a sua vida é ocasio-nalmente interrompida por alguns instantes por uma crise epilética”, explica João Chaves. A crise epilética, ao ocorrer de forma imprevisí-vel, leva a uma perda momentânea no controlo das funções cerebrais, gerando medo e angústia antecipatórias, pelo risco a perigos que expõe. O cidadão com epilepsia tem uma dificuldade acrescida de obter emprego, sendo mesmo mais facilmente excluído se o revelar na entrevista aquando da candidatura a um posto de trabalho. As 7.as Epijornadas, promovidas pela Associação Portuguesa de Familiares, Amigos e Pessoas com Epilepsia (EPI), “visam debater programas de apoio ao emprego e ouvir casos de sucesso de integração no meio laboral”, explica.

7.as epijornadas: empregabilidade na epilepsia

Dr. Francisco Sales Dr. João Chaves

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300 especialistas juntos no 25.º encontro NacionalNo âmbito das celebrações do Dia Nacional da Epilepsia, assinalado a 11 de

março, decorre o 25.º Encontro Nacional de Epilepsia, nos dias 8 e 9 de março, na Ordem dos Médicos, no Porto. Este é o evento científico anual mais importante na área da epilepsia em Portugal, reunindo cerca de 300 participantes. Trata-se de um fórum multidisciplinar de discussão entre os diferentes técnicos envolvidos na área da investigação e da assistência aos doentes com epilepsia. Ontem realizou--se ainda um Jantar/Sarau na Casa da Música, aberto a todos os interessados, a propósito da celebração dos 25 anos de Encontros de Epilepsia.

Mais de metade das epilepsias ocorre durante a infância

Page 4: Jornal de Saúde Pública, Março de 2013

4 | Jornal de Saúde Pública | 9 de março 2013

Na Europa, uma doença é conside-rada rara quando afeta uma em duas mil pessoas. O diagnóstico

destas doenças é, na maioria dos casos, difícil. Por um lado, os quadros clínicos são pouco familiares para os profissio-nais de saúde e existem poucos testes diagnósticos específicos para estas patologias. Por outro, as mesmas doenças podem apresentar-se com sintomas e sinais diferentes, complicando a sua identifi-cação.

Apesar de tudo, de acor-do com o Dr. Luís Brito Avô, médico internista do Hospi-tal de Santa Maria, em Lis-boa, e coordenador do Nú-cleo de Estudos de Doenças Raras da Sociedade Portu-guesa de Medicina Interna (SPMI), “nos últimos anos, esta área da patologia médica suscitou marcado interesse e in-vestimento científico e es-trutural, no sentido de for-matar uma melhor resposta dos serviços nacionais de saúde europeus para esta população de doentes”.

Nas palavras do especia-lista, “é crescente o número de pacientes identificados e a aplicação das terapêu-ticas disponíveis para várias entidades está em progres-siva expansão”. Além disso, prossegue, “o envolvimen-to dos serviços das várias instituições de Saúde nesta área está em franco crescimento e, apesar das limitações orçamentais atualmente presentes, não se têm verificado constrangimentos na utilização de meios de diag-nóstico e na aplicação de medicamentos órfãos (uti-lizados para tratar as doen-ças raras)”.

Luís Brito Avô indica que o exercício dos internistas nesta área está patente no seu dia-a-dia clínico, em que, como refere, as do-enças raras surgem como um desafio para o qual estão cada vez mais sen-sibilizados. “Estão por nós lançadas as respostas necessárias e es-peramos do Ministério da Saúde a con-sagração da nossa especialidade como uma das valências médicas a integrar os

centros de referência em reorganização atualmente”, considera.

A Ação dAs AssociAções de doentes

A atividade das associações de doen tes tem sido cada vez mais impor-

tante. Associações como a Raríssimas – Associação Nacional de Doenças Raras e Mentais, a FEDRA (Fede-ração das Doenças Raras de Portugal), a Associação Portuguesa das Doenças do Lisosoma (APL) ou a ALIANÇA (Aliança Portu-guesa de Associações das Doenças Raras) têm sido capazes de aumentar o reconhecimento da exis-tência destas doenças e

destes pacientes.No Dia das Doenças Raras, a Rarís-

simas inaugurou uma exposição, que estará aberta ao público até ao dia 15 de março, na Assembleia da República, e que revela o rosto de 26 patologias raras. Segundo Paula Brito e Costa, presi-dente da Raríssimas, “ape-sar da associação sempre ter tentado proteger a imagem dos seus doentes, chegou-se a uma altura em que os próprios doentes nos desafiaram a dar a cara pelas suas patologias”.

“Esta foi a forma que encontrámos de mostrar e levar as doenças raras para a ‘casa’ do povo português”, afirma a responsável, adiantando ser “uma hon-ra que, numa conjuntura difícil como

a que o País atravessa, de uma forma simpática, os deputados acolham a pro-blemática das doenças ra-ras”.

Na opinião do Dr. Fran-cisco Beirão, presidente da APL e vice-presidente da ALIANÇA, esta efe-méride representa “uma oportunidade para a consciencialização social e governamental para as necessidades das pessoas

portadoras de doenças raras e do de-ver de toda a sociedade providenciar, facilitar e minimizar a estas pessoas os efeitos nefastos destas patologias para

a vivência de um dia a dia dito normal por quem delas é portador”.

consequênciAs dA rAridAde

Segundo Francisco Beirão, a principal dificuldade dos portadores de doenças raras resulta do “grande desconhecimento existente, a todos os níveis, sobre as mes-mas, e da ausência de legislação específica que obste à falta de organização e disper-

No passado dia 15 de fevereiro, a Secretaria de Estado da Saúde publicou o Despacho n.º 2545/2013 (DR, 2.ª Série) que, pela primeira vez, vem dar início à criação dos centros de ex-celência no que se reporta ao acompanhamento e tratamento de doenças raras, no caso das doenças lisossomais.

O despacho realça a necessidade de reorganização da coordenação das doenças lisossomais e terapêuticas associadas, criando uma comissão, exclusivamente constituída por profissionais de saúde, a funcionar no Instituto Nacional Ricardo Jorge, que se articule com as instituições mais especializadas no diagnóstico e tratamento das doenças lisossomais de sobrecarga.

De salientar, ainda, a criação e manutenção de um Registo Nacional de Doentes Portadores destas patologias

Este documento representa um primeiro passo importante na implementação dos centros de referência, prevista no Plano Nacional para as Doenças Raras, cujos trabalhos iniciais remon-tam a 2008.

Criação dos centros de excelência está para breve

Dr. Luís Brito Avô

Paula Brito e Costa

Dr. Francisco Beirão

Doenças raras afetam 600 mil pessoas em PortugalComemorou-se, mais uma vez, no dia 28 de fevereiro, o Dia das Doenças Raras. Nesta data, por todo o Mundo, centenas de organizações promovem atividades de sensibilização para a problemática. Estima-se que, na União Europeia, 6-8% das pes-soas possam ter uma doença rara (um total de 30 a 40 milhões). A nível nacional, calcula-se a existência de 600 mil doentes.

As doenças raras são difíceis de identificar, dado que apresen-tam sinais e sintomas diferentes

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A MPS IVA é uma doença genética, caracterizada por muito baixa es-tatura, doença óssea grave e inte-

ligência normal. A deficiência na enzima galactose-6-sulfatase (G-6-S), cuja função é degradar o glicosaminoglicano (muco-polissacarídeo ou GAG) sulfato de querata-no, leva à sua acumulação dentro das cé-lulas, com consequente dano progressivo na formação dos ossos, cartilagem, pele, tendões e muitos outros tecidos do corpo.

A MPS IVA apresenta um amplo espetro de gravidade das manifestações clínicas associadas, originando desde quadros gra-ves com sinais ao nascimento até formas muito ligeiras do adulto, com sinais frus-tres e difíceis de reconhecer, o que pode contribuir para um diagnóstico tardio.

Como em qualquer outra doença mul-tissistémica (ie, que afeta vários órgãos), na doença de Morquio A, é importante que exista apoio de diferentes especiali-dades, médicas e não médicas, de modo a promover uma melhor qualidade de vida aos doentes e tratar de forma mais eficaz algumas das suas manifestações clínicas.

Atualmente, não existe cura para os indivíduos afetados. De entre o tratamen-to conservador, assumem relevância as cirurgias ortopédicas corretivas. Estão a

ser realizados estudos (ensaios clínicos) com terapia de substituição enzimática. Esta consiste numa perfusão endovenosa semanal da enzima deficitária (G-6-S) fa-bricada por engenharia genética.

A enzima administrada vai substituir no organismo a função da enzima em fal-ta, com o objetivo de corrigir ou minorar os efeitos da doença. Outra forma de re-duzir ou de prevenir sintomas da doença é o transplante de medula óssea, mas este tem tido pouco sucesso.

A Unidade de Doenças Metabólicas do Hospital Pediátrico de Coimbra é um dos 31 centros envolvidos num dos maiores ensaios clínicos deste género até à data, com 176 doentes com diagnóstico de MPS IVA em te-rapia de substituição enzimática experimen-

tal, a nível mundial. Resultados preliminares anunciados recentemente demonstram me-lhorias significativas no principal parâmetro analisado (teste de marcha em seis minu-tos), assim como no teste de três minutos de subida de escadas e testes da função pulmonar, com a dose semanal de 2 mg /kg.

Estes resultados são promissores, mas ainda decorrem estudos que permitirão avaliar com maior rigor a eficácia e segu-rança desta terapia, informação funda-mental para que haja aprovação comer-cial deste tratamento pelas autoridades europeias e nacionais competentes. Só nessa altura este tratamento poderá ser disponibilizado a todas as pessoas afe-tadas pela doença. Aguardamos com ex-pectativa os resultados finais do ensaio clínico em curso.

A doença de Morquio A ou mucopolissacaridose IVA (MPS IVA) é uma patologia rara que afeta o crescimento e atinge cerca de 3000 pessoas em todo o Mundo. Deve o seu nome ao Dr. Morquio, um pediatra uruguaio que, em 1929, descreveu uma família com quatro crianças afetadas.

Doença de Morquio A:terapia em fase de estudo

9 de março 2013 | Jornal de Saúde Pública | 5

Investigação em doenças raras

De acordo com o Prof. António Vaz Carneiro, diretor do Centro de Estudos de Medicina Baseada na Evidência (CEMBE) da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa, o investimento em investigação clí-nica na área das doenças raras ainda é “modesto”, sendo a maioria dos ensaios clínicos realizada fora do País (Europa e EUA).

“Alguns especialistas portugueses participam nestes estudos, colaborando no recrutamento de alguns doentes e nos seus cuidados. Mas não existe ne-

nhum centro de investigação clínica exclusivamente dedicado ao estudo destas doenças”, indica.

Segundo o responsável, em média, são aprova-dos 10-12 medicamentos órfãos por ano na Europa. “Existem no mercado europeu dezenas de medica-mentos órfãos e pensa-se que este ano se atingirá o 100.º fármaco aprovado, podendo este número duplicar até 2017. Em desenvolvimento estão deze-nas de novas moléculas, a serem testadas em inúme-ros ensaios clínicos”, informa, acrescentando que o principal obstáculo no desenvolvimento de medica-mentos órfãos é o número escasso de doentes para estudar.

Dr.ª Paula GarciaPediatra do Serviço do Centro de Desenvolvimento da Criança (Doenças Metabólicas), Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra

A baixa estatura evidencia a doença

Doenças raras afetam 600 mil pessoas em Portugal

são do apoio de que estes doentes preci-sam a nível médico, social, educacional e de integração na vida ativa e que levam a verdadeiras situações de injustiça social”.

O responsável refere ainda as dificul-dades decorrentes da falta de acessibili-dades para livre circulação tanto na rua, como em edifícios (públicos ou privados). Segundo indica, ainda que exista legisla-ção comunitária específica, “a mesma tem sido objeto de adiamento quanto à sua entrada em vigor no nosso País”.

Outro dos problemas apontados por Francisco Beirão “é a ausência da neces-sária autorização de comercialização de medicamentos já aprovados pela UE”, sobretudo por questões relacionadas com o seu alto custo e em manifesto prejuízo dos doentes afetados.

Prof. António Vaz Carneiro

A Raríssimas conseguiu angariar as verbas necessárias para a construção da Casa dos Marcos, na Moita. As obras do complexo mé-dico-residência, que nasceu da imaginação de uma criança, devem ficar concluídas em julho e até ao final do ano deverá estar a funcionar em pleno.

A concretização do projeto dependeu da disponibilização da linha de crédito à econo-mia social lançada pelo Ministério da Saúde e Segurança Social, em parceria com o Monte-pio Geral, assim como da dedicação de todos os mecenas da Raríssimas.

A Casa dos Marcos terá uma clínica, um lar residencial, uma residência autónoma e centro de ocupações de tempos livres e de aquisição de competências, unidade de cui-dados continuados, centro de dia e diversas atividades, como massagens e ginástica.

Casa dos Marcos concluída em julho

Page 6: Jornal de Saúde Pública, Março de 2013

Todos os dias existe sempre al-guém que usa a expressão: “Tenho sono.” Pode parecer uma frase

banal, mas a população em geral deve estar devidamente alertada para as con-sequências que podem surgir devido à restrição ou à privação de sono, dado que aumenta o risco de desenvolver outras doenças. A título de exemplo, dormir menos de cinco horas aumenta o risco de morte por qualquer causa nos anos subsequentes.

Os efeitos são tão negativos para o nosso corpo como o foram para o pla-neta os mecanismos que geraram o aquecimento global.

Dormir é essencial para a realização de múltiplas funções, no entanto, as funções do sono têm sido sucessivamente discuti-

das, sendo diversas as funções propostas, desde a antiguidade até agora.

O que se pensa, hoje em dia, é que o sono é um processo multifuncional, que executa diversas funções. Esse caráter multifuncional faz com que o sono não seja facilmente substituível, tal como o são outros órgãos ou sistemas. O sono é uma interação de cérebro com todo o resto do organismo, torna-se evidente que a sua substituição não será facil-mente possível.

É de salientar, neste Dia Mundial do Sono, assinalado a 15 de março, que 19 a 38,4% dos idosos sofrem de insónia; as queixas de sono são mais frequentes nas mulheres. Os indivíduos que tomam mais medicamentos têm maior proba-bilidade de sofrer de insónias. O sono é

uma viagem. O cérebro funciona como um motor a três tempos: vigília, sono lento e, sono paradoxal, e vai alternan-do estes fases (estados), com regularida-de, em episódios sucessivos que duram

cerca de 90 minutos (os ciclos de sono). Em cada noite fazemos cerca de cin-

co ciclos de sono, com uma duração mé-dia de 60 minutos, seno o primeiro mais longo, cerca de 90 minutos.

“A diabetes é uma doença cróni-ca que requer cuidados médi-cos continuados,

uma estratégia no que diz respeito à educação, per-mitindo alguma autonomia competente ao diabético e apoio no sentido de preve-nir complicações agudas e de reduzir o risco de com-plicações tardias”, explica o Prof. José Luís Medina, pre-sidente da Sociedade Por-tuguesa de Diabetologia

E reforça a ideia de que “os especialistas de Medi-

cina Geral e Familiar constituem a base fundamental da diabetologia clínica”,

porque estão mais próxi-mos da população e, de um modo geral, é a eles que as pessoas recorrem pela pri-meira vez quando se sen-tem doentes.

É de salientar que mais de um quarto da popula-ção portuguesa integrada no escalão etário dos 60-79 anos tem diabetes. O res-ponsável sublinha a rele-vância do rastreio em gru-pos de risco na diminuição

da prevalência da diabetes, sobretudo a de tipo 2.

A população tem de estar alertada para a doença e os profissionais de saúde de-vem estar munidos da melhor informação clínica e terapêutica para que este proble-ma possa ser travado. Neste sentido, inú-meros especialistas estiveram juntos, há dias, em Tomar, na Reunião Anual da So-ciedade Portuguesa de Diabetologia.

“Houve oportunidade de ouvir duas conferências sobre as novas Recomen-dações da ADA/EASD adaptadas à rea-lidade portuguesa e outra sobre o Pro-grama Nacional da Diabetes”, esclarece José Luís Medina.

6 | Jornal de Saúde Pública | 9 de março 2013

Dormir menos de cinco horasaumenta o risco de morte

Médicos de família são a baseda diabetologia clínica

15 De Março: Dia MunDial Do Sono

ConSiDera o Prof. JoSé luíS MeDina

A diabetes atinge mais de 370 milhões de pessoas em todo o mundo, correspondendo a 8,3% da população mundial, e continua a aumentar em todos os países. Em 2012, a diabetes matou 4,8 milhões de indivíduos, metade dos quais tinha menos de 60 anos. Estima-se que em 2030 o número de afetados atinja os 552 milhões, o que representa um aumento de 49% da população atingida pela doença.

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Duplo controlo da diabetes MáXimo controlo da diabetes

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Prof. José Luís Medina

a duração do sono varia muito com a idade:

- à nascença - 16 a 18h- aos 6 meses – 14-15h- aos 3-4 anos – 12h/dia- aos 10 – 12 anos – 10h/dia- idade adulta – 7-8h/dia;- envelhecimento – 5-6h/dia

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News Farma lança agendade eventos sobre saúde

Vacina pneumocócica aprovada para crianças e adolescentesA Comissão Europeia aprovou a extensão do uso da vacina pneumocócica conjugada desenvolvida pela Pfizer a crianças e adolescentes dos 6 aos 17 anos para a imunização ativa para a prevenção de doença invasiva, pneumonia e otite média aguda causada por Streptococcus pneumoniae. Crianças desta faixa etária que ain-da não tenham levado anteriormente esta vacina podem receber uma dose única.A vacina pneumocócica conjugada também está aprovada para a utilização em adultos a partir dos 50 anos de idade em mais de 80 países e é a primeira e única vacina pneumocócica a receber a pré-qualificação pela Organização Mundial de Saúde para a população adulta mais velha.O termo doença pneumocócica engloba um grupo de doenças causadas pela bactéria Streptococcus pneu-moniae, também conhecida por pneumococo. Embora possa causar infeções em pessoas de todas as faixas etárias, os lactentes, as crianças e as pessoas com certas condições crónicas subjacentes estão em maior risco.Algumas comorbilidades, como a asma ou doenças que interferem com o sistema imunitário, podem aumen-tar o risco de doença pneumocócica, que se associa a morbilidade e mortalidade significativas.

2/3 dos diabéticos estão coNtroladosNas uNidades de cuidados primários

Um estudo promovido junto das unidades de cuidados de saúde primários, envolvendo mais de 1500 doentes, permitiu concluir que 65% dos diabéticos estão con-trolados. Denominado TEDDI-CP, o estudo em causa foi realizado pela Sociedade Portuguesa de Diabe-tologia (SPD) e pela Associação Portuguesa de Medicina Geral e Familiar (APMGF).“Conclui-se que está a ser feito um excelente trabalho nos cuidados

de saúde primários também a este nível e que os diabéticos podem e devem confiar no seu médico de fa-mília e nas equipas de saúde para o tratamento e prevenção das compli-cações desta doença crónica”, consi-dera a Dr.ª Clara Fonseca, da APMGF.Aquela médica falava no decorrer de um simpósio intitulado “Desa-fios na diabetes em Portugal”, que se realizou na Fundação Champali-maud, em Lisboa, com o apoio da Sanofi.

Um dos intervenientes, o Prof. José Luís Medina, presidente da SPD, lembrou que “a prevenção da doen-ça é fundamental” e que é abso-lutamente necessário combater o excesso de peso e a vida sedentária para travar a expansão da diabetes.

Page 8: Jornal de Saúde Pública, Março de 2013

Cátia Jorge

O HPV é um vírus epiteliotrófico, que infeta a pele e mucosas de revesti-mento. Existem mais de 100 varieda-

des, destas, 40 têm capacidade para infetar os órgãos genitais. Entre estas últimas, 15 são consideradas oncogénicas, porque são necessárias para o aparecimento do cancro do colo do útero.

“São necessárias, mas não suficientes, porque a maioria das mulheres infetadas (cerca de 90%) clarifica naturalmente a in-feção, num prazo de 6 a 18 meses, e, deste modo, não desenvolvem qualquer doença. Apenas 1% das mulheres com infeção persis-tente pelo mesmo tipo de HPV oncogénico apresenta lesões pré-cancerosas (displasias), que, se não tratadas, podem evoluir para cancro”, afirma o Dr. José Maria Moutinho, es-pecialista em Ginecologia On-cológica, em declarações ao Jornal de Saúde Pública.

Neste momento, a infeção por HPV é considerada pan-démica, ou seja, existe em todo o mundo e em todas as sociedades com uma incidên-cia e prevalência crescentes. De acordo com o especialista, “a boa maneira de evitar a in-feção passa pela implementação de profila-xia primária, através da vacinação”.

Atualmente, estão disponíveis duas va-cinas que previnem a infeção para os dois tipos mais prevalentes de HPV no cancro do colo do útero (16 e 18). Uma delas (quadriva-lente) está incluída no Plano Nacional de Va-cinação (PNV) e é administrada a raparigas pré-adolescentes com 13 anos. Esta vacina atua também contra as lesões provocadas pelos HPV 6 e 11, responsáveis pelas ver-rugas genitais e pela papilomatose respi-ratória laríngea. A outra vacina (bivalente) é a única que está comparticipada para as mulheres não abrangidas pelo PNV.

Segundo o Dr. José Maria Moutinho, “ambas são altamente eficazes na preven-ção primária das lesões pré-neoplásicas do colo do útero, originadas pelos HPV 16 e 18. As vacinas não têm efeito terapêutico, ape-nas profilático, logo, não atuam nas mulhe-res que tenham uma lesão ou infeção ativa.

Elas são altamente eficazes em mulheres sexualmente ativas, especialmente se fo-rem naïves para a infeção ou ADN negativas para o HPV. Daí o interesse em vacinar tam-bém jovens mais velhas, especialmente até aos 26 anos, independentemente de terem iniciado ou não a atividade sexual.

Impacto da vacInação

As vacinas contra o HPV começaram a ser comercializadas em Portugal em 2007, pelo que “ainda é cedo para determinar o impacto da vacinação na incidência da infe-ção por HPV ou de cancro do colo do útero”, justificou o Dr. Henrique Nabais.

“Esses dados só poderão ser avaliados dentro de alguns anos, quando as jovens que já foram vacinadas começarem a fazer

rastreio de cancro do colo do útero”, acrescentou o gineco-logista/obstetra do Hospital Beatriz Ângelo, em Loures.

Há, contudo, um estudo de impacto económico, con-duzido pela Escola Nacional de Saúde Pública, cujos resul-tados demonstram que “só com os três primeiros anos de vacinação contra o HPV (2007-2010) será possível poupar 114 milhões de euros”. Por outras palavras, estes seriam os cus-

tos futuros do tratamento das lesões causa-das pela infeção, caso estas mulheres não tivessem sido vacinadas na adolescência.

Para já, “a única forma de avaliar os resultados da vaci-nação seria através da análi-se das mulheres adultas que foram vacinadas já depois do início da atividade sexual. Sabe-se que cerca de 25% das mulheres com idade entre os 20 e os 25 anos estão infeta-das com HPV, pelo que, nesta população, a vacina protege apenas contra a reinfeção”, sublinhou.

Nestas mulheres que não estão abrangidas pelo PNV o preço é um fator de peso na decisão entre uma e outra vacina, contudo, há critérios clínicos que o ginecologista/obstetra do Hospital de Lou-res não desvaloriza. É o caso da potencial

A infeção pelo HPV é a doença de transmissão sexual mais frequente, afetando entre 80 a 90% das mulheres, em algum período das suas vidas, desde que iniciam a ati-vidade sexual. Do ponto de vista clínico, a infeção por HPV é “quase natural”, todavia, alguns subtipos virais têm potencial oncogénico, podendo gerar lesões malignas. O aparecimento de vacinas que previnem a infeção pelos tipos de HPV 16 e 18, responsáveis por 70% dos cancros do colo do útero, representa um passo em frente no combate à prevenção desta doença. No entanto, dado que 30% dos cancros são provocados por subtipos virais não incluídos na vacina, é preciso não descuidar medidas preventivas secundárias (citologia cervical e/ou testes de HPV) para continuarmos a diminuir a incidência e mortalidade desta doença.

8 | Jornal de Saúde Pública | 9 de março 2013

Evitar a infeção com profilaxia primária

proteção cruzada, demonstrada no âmbito da investigação clínica. Ou seja, “além de prevenir a infeção por HPV 16 e 18, a vacina bivalente também protege contra a infeção por outros tipos de HPV igualmente respon-sáveis por lesões malignas, nomeadamente o 31, o 33 e o 45”, justificou.

A mesma opinião é partilhada pela Dr.ª Cláudia Marques. A ginecologista/obstetra da Maternidade Júlio Dinis entende que am-bas as vacinas são muito efica-zes na prevenção da infeção contra os HPV 16 e 18, contu-do, a bivalente parece oferecer maior proteção cruzada contra outros subtipos do vírus.

“Perante um grau de efi-cácia semelhante, por norma,

prescrevo a va-cina que está comparticipada para as mulhe-res não abran-gidas pelo PNV, no entanto, a escolha deve sempre ser feita em função de cada mulher e daquilo que pretendemos prevenir.”

Isto é, “se pretendo pre-venir a infeção por HPV e o cancro do colo do útero, en-tão a vacina bivalente pode

ser mais adequada, pois parece, segundo as evidências científicas, ser mais imunogé-nica, ou seja, dá mais defesa, sobretudo em mulheres mais velhas. Se o objetivo for pre-venir também os condilomas, que são ou-

O papilOmavírus humanO (hpv) e O cancrO dO cOlO dO úterO

tra doença sexualmente transmissível, mas não maligna, então a vacina quadrivalente poderá ser mais adequada”, esclarece.

Ao contrário do que possa pensar-se, “a va-cina quadrivalente não oferece mais proteção contra o cancro, pelo facto de proteger contra quatro tipos do HPV, na medida em que ape-nas dois deles são oncogénicos (16 e 18).

“Segundo os resultados dos estudos, a vacina bivalente, além da proteção contra

os HPV 16 e 18, demonstrou maior eficácia na prevenção de lesões relacionadas com outros tipos de HPV de risco, em relação à vacina quadriva-lente”, explica a ginecologis-ta/obstetra.

Independentemente da existência de vacinação contra o HPV, tanto o Dr. Henrique Nabais como a Dr.ª Cláudia Marques concordam que é ne-cessário manter o rastreio do cancro do colo do útero, bem

como outros meios de proteção, tanto con-tra estirpes não vacinais do HPV como contra outras doenças sexualmente transmissíveis graves, como é o caso do VIH, da hepatite, do herpes, da clamídia, da sífilis, etc.

Ainda assim, ambos consideram que o aparecimento de vacinas contra o HPV repre-senta um marco na saúde sexual da mulher no século XXI. “Na realidade, estas são as pri-meiras vacinas que temos contra uma doen-ça oncológica. Isto é uma coisa excecional e é, claramente, um marco em termos de saú-de pública”, remata o Dr. Henrique Nabais.

Dr. José Maria Moutinho

Dr. Cláudia Marques

Dr. Henrique Nabais

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Vacina incluida no PNV é administrada em raparigas pré-adolescentes