jornal da ciÊncia ed. 758

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JORNAL da CIÊNCIA PUBLICAÇÃO DA SBPC - SOCIEDADE BRASILEIRA PARA O PROGRESSO DA CIÊNCIA • RIO DE JANEIRO, 9 DE MAIO DE 2014 • ANO XXVII N 0 758 • ISSN 1414-655X Novos Membros da ABC (p.12) Reunião do Vale do Paraíba (p.2) Brasil se mobiliza para produzir os primeiros biossimilares Na esteira da tendência mun- dial sobre o desenvolvimento dos chamados medicamentos biológicos ou biofármacos para uso humano – hoje a maior fon- te de inovação da indústria far- macêutica internacional – a área científica brasileira, o go- verno e a indústria nacional mobilizam-se para desenvolver as primeiras cópias desses pro- dutos no País. É um cenário parecido com a produção de medicamentos genéricos na década de 1990. A intenção é aproveitar o en- cerramento de patentes de pro- dutos biológicos, vencidas ou próximas do vencimento, desen- volvidos no passado por gran- des laboratórios. Por serem si- milares dos medicamentos bio- lógicos, esses novos genéricos são batizados de biossimilares. Os biológicos são drogas específicas elaboradas à base de anticorpos monoclonais de humanos ou de outros mamífe- ros, como o macaco. São indi- cados para traramentos de do- enças crônicas e raras, como autoimunes e diversos tipos de câncer. Segundo especialistas, o tratamento com esses produ- tos biológicos é mais eficaz do que com remédios convencio- nais, feitos com substâncias químicas. Além disso, não pro- duz tantos efeitos colaterais nos pacientes. Na visão de João Calixto, presidente do Centro de Inova- ção e de Ensaios Pré-Clínicos , o Brasil depara-se com um gran- de desafio para desenvolver os biossimilares. (Páginas 6 e 7) Poucas & Boas Confira o que foi dito sobre ranking educacional, competitividade, inova- ção, meio ambiente e outros assuntos. (Página 3) Breves Parasita transgênico - Uma versão transgênica do causador da malá- ria poderá ajudar na triagem de novos medicamentos contra a do- ença. (Página 11) Livros e Revistas Conversando sobre Educação Tecno- lógica - O livro de Walter Antonio Bazzo é uma reflexão sobre o ensino tecnológico. (Página 11) Agenda Cientfica III Simbioma - Simpósio sobre a Bio- diversidade da Mata Atlântica - Evento será em Santa Teresa (ES) com o tema "Áreas Protegidas e Biodiversidade". (Página 11) PCST 2014: A quem pertence o conhecimento cientfico? O papel da universidade na educaªo bÆsica BiofÆbricas sªo alternativas sustentÆveis para novos materiais Um grupo de pesquisadores brasileiros e estrangeiros reuniu-se em Salvador, entre os dia 5 a 8 de maio, mas não para desfrutar as belezas da cidade. Eles compartilharam experiências acerca de um desafio imposto a qualquer cientista: tornar acessível o conhecimento produzido nas instituições e órgãos de pesquisa para a sociedade. Diferentes visões de como comunicar a ciência para públicos tão diversos ao redor do mundo foram apresentadas, na 13ª Conferên- cia Internacional de Comunicação Pública da Ciência e Tecnologia (PCST 2014), cujo tema central foi Comunicação da Ciência para Inclusão Social e Engajamento Político. (Página 9) O grande desafio da educação hoje é a formação de professores, afirma o professor de políticas públicas de educação da UnB, Remi Castioni. Para ele “os jovens estão à procura de bons salários e condições adequadas para o magistério, mas não enxergam atratividade na carreira docente atual ”. Ele explica que as pessoas que entram na licenciatura hoje estão despreparadas, demons- trando o afastamento da universidade na formação dos professo- res. “Sempre falo, nós temos a escola ideal na cabeça, mas não sabemos como construí-la”, reforça. “Não valorizar os profissionais da educação é não acreditar no processo educacional”, enfatiza. (Página 5) Uma fibra resistente e flexível como a teia da aranha, antígenos contra o câncer e até um antiviral do HIV. Esses são alguns exemplos dos biomateriais que podem ser produzidos com o auxílio da biotecnologia e engenharia genética. Pesquisadores brasilei- ros, liderados pelo engenheiro agrônomo e doutor em engenharia genética Elíbio Rech, da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecno- logia, de Brasília, estão usando organismos vivos para produzir materiais que poderão ser produzidos em larga escala – são as chamadas biofábricas. Isso possibilita a reprodução do material pelas indústrias, de forma sustentável e econômica. (Página 10) Universidades sofrem para contratar docentes A meta 13 do Observatório do Plano Nacional de Educa- ção tem como objetivo elevar a qualidade da educação supe- rior pela ampliação da propor- ção de mestres e doutores do corpo docente em efetivo exer- cício no conjunto do sistema de educação superior para 75%, sendo, do total, no mínimo, 35% doutores. Mas, se todas as uni- versidades federais e estaduais, por exemplo, resolvessem só contratar doutores, teriam difi- culdade em completar o quadro de docentes em algumas áreas. O que já tem ocorrido nos dias atuais. Para Jesualdo Pereira Fari- as, reitor da UFC e presidente da Associação Nacional dos Di- rigentes das Instituições Fede- rais de Ensino Superior, o pro- blema já existe, mas não é gene- ralizado. (Página 7) Sistema Nacional de Controle de Medicamentos Os códigos de barras simples dos medicamentos no Brasil es- tão com os dias contados. Em três anos, entrará em vigor uma iden- tificação bidimensional que pos- sibilitará rastrear os produtos até o consumidor final. Essa é a pro- posta da Resolução da Diretoria Colegiada da Anvisa. (Página 4) CTNBio analisa novo eucalipto transgŒnico O Brasil pode começar a pro- duzir eucalipto transgênico em escala comercial para atender o mercado de madeira. Desenvol- vido pela FuturaGene, braço biotecnológico da Suzano Pa- pel e Celulose, esse eucalipto faz parte da pauta de liberação da CTNBio.(Página 10)

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PUBLICAÇÃO DA SBPC - SOCIEDADE BRASILEIRA PARA O PROGRESSO DA CIÊNCIA • RIO DE JANEIRO, 9 DE MAIO DE 2014 • ANO XXVII N0 758 • ISSN 1414-655X

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JORNAL da CIÊNCIAPUBLICAÇÃO DA SBPC - SOCIEDADE BRASILEIRA PARA O PROGRESSO DA CIÊNCIA • RIO DE JANEIRO, 9 DE MAIO DE 2014 • ANO XXVII N0 758 • ISSN 1414-655X

NovosMembrosda ABC(p.12)

Reunião doVale doParaíba

(p.2)

BrasilsemobilizaparaproduzirosprimeirosbiossimilaresNa esteira da tendência mun-

dial sobre o desenvolvimentodos chamados medicamentosbiológicos ou biofármacos parauso humano – hoje a maior fon-te de inovação da indústria far-macêutica internacional – aárea científica brasileira, o go-verno e a indústria nacionalmobilizam-se para desenvolveras primeiras cópias desses pro-dutos no País. É um cenárioparecido com a produção demedicamentos genéricos nadécada de 1990.

A intenção é aproveitar o en-cerramento de patentes de pro-dutos biológicos, vencidas oupróximas do vencimento, desen-volvidos no passado por gran-des laboratórios. Por serem si-milares dos medicamentos bio-lógicos, esses novos genéricos

são batizados de biossimilares.Os biológicos são drogas

específicas elaboradas à basede anticorpos monoclonais dehumanos ou de outros mamífe-ros, como o macaco. São indi-cados para traramentos de do-enças crônicas e raras, comoautoimunes e diversos tipos decâncer. Segundo especialistas,o tratamento com esses produ-tos biológicos é mais eficaz doque com remédios convencio-nais, feitos com substânciasquímicas. Além disso, não pro-duz tantos efeitos colateraisnos pacientes.

Na visão de João Calixto,presidente do Centro de Inova-ção e de Ensaios Pré-Clínicos ,o Brasil depara-se com um gran-de desafio para desenvolver osbiossimilares. (Páginas 6 e 7)

Poucas & BoasConfira o que foi dito sobre rankingeducacional, competitividade, inova-ção, meio ambiente e outros assuntos.(Página 3)

BrevesParasita transgênico - Uma versãotransgênica do causador da malá-ria poderá ajudar na triagem denovos medicamentos contra a do-ença. (Página 11)

Livros e RevistasConversando sobre Educação Tecno-lógica - O livro de Walter AntonioBazzo é uma reflexão sobre o ensinotecnológico. (Página 11)

Agenda CientíficaIII Simbioma - Simpósio sobre a Bio-diversidade da Mata Atlântica - Eventoserá em Santa Teresa (ES) com o tema"Áreas Protegidas e Biodiversidade".(Página 11)

PCST 2014: A quem pertence oconhecimento científico?

O papel da universidadena educação básica

Biofábricas são alternativassustentáveis para novos materiais

Um grupo de pesquisadores brasileiros e estrangeiros reuniu-seem Salvador, entre os dia 5 a 8 de maio, mas não para desfrutar asbelezas da cidade. Eles compartilharam experiências acerca de umdesafio imposto a qualquer cientista: tornar acessível o conhecimentoproduzido nas instituições e órgãos de pesquisa para a sociedade.

Diferentes visões de como comunicar a ciência para públicos tãodiversos ao redor do mundo foram apresentadas, na 13ª Conferên-cia Internacional de Comunicação Pública da Ciência e Tecnologia(PCST 2014), cujo tema central foi Comunicação da Ciência paraInclusão Social e Engajamento Político. (Página 9)

O grande desafio da educação hoje é a formação de professores,afirma o professor de políticas públicas de educação da UnB, RemiCastioni. Para ele “os jovens estão à procura de bons salários econdições adequadas para o magistério, mas não enxergamatratividade na carreira docente atual ”. Ele explica que as pessoasque entram na licenciatura hoje estão despreparadas, demons-trando o afastamento da universidade na formação dos professo-res. “Sempre falo, nós temos a escola ideal na cabeça, mas nãosabemos como construí-la”, reforça.

“Não valorizar os profissionais da educação é não acreditar noprocesso educacional”, enfatiza. (Página 5)

Uma fibra resistente e flexível como a teia da aranha, antígenoscontra o câncer e até um antiviral do HIV. Esses são algunsexemplos dos biomateriais que podem ser produzidos com o auxílioda biotecnologia e engenharia genética. Pesquisadores brasilei-ros, liderados pelo engenheiro agrônomo e doutor em engenhariagenética Elíbio Rech, da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecno-logia, de Brasília, estão usando organismos vivos para produzirmateriais que poderão ser produzidos em larga escala – são aschamadas biofábricas. Isso possibilita a reprodução do materialpelas indústrias, de forma sustentável e econômica. (Página 10)

Universidadessofrem para

contratar docentesA meta 13 do Observatório

do Plano Nacional de Educa-ção tem como objetivo elevar aqualidade da educação supe-rior pela ampliação da propor-ção de mestres e doutores docorpo docente em efetivo exer-cício no conjunto do sistema deeducação superior para 75%,sendo, do total, no mínimo, 35%doutores. Mas, se todas as uni-versidades federais e estaduais,por exemplo, resolvessem sócontratar doutores, teriam difi-culdade em completar o quadrode docentes em algumas áreas.O que já tem ocorrido nos diasatuais.

Para Jesualdo Pereira Fari-as, reitor da UFC e presidenteda Associação Nacional dos Di-rigentes das Instituições Fede-rais de Ensino Superior, o pro-blema já existe, mas não é gene-ralizado. (Página 7)

Sistema Nacionalde Controle deMedicamentos

Os códigos de barras simplesdos medicamentos no Brasil es-tão com os dias contados. Em trêsanos, entrará em vigor uma iden-tificação bidimensional que pos-sibilitará rastrear os produtos atéo consumidor final. Essa é a pro-posta da Resolução da DiretoriaColegiada da Anvisa. (Página 4)

CTNBio analisanovo eucaliptotransgênico

O Brasil pode começar a pro-duzir eucalipto transgênico emescala comercial para atender omercado de madeira. Desenvol-vido pela FuturaGene, braçobiotecnológico da Suzano Pa-pel e Celulose, esse eucaliptofaz parte da pauta de liberaçãoda CTNBio.(Página 10)

Page 2: JORNAL da CIÊNCIA Ed. 758

JORNAL da CIÊNCIAPublicação quinzenal da SBPC— Sociedade Brasileira para oProgresso da Ciência

Conselho Editorial: Alberto P.Guimarães Filho, Jaime MartinsSantana, Lisbeth KaiserlianCordani, Maria Lucia Maciel eMarilene Correa da Silva FreitasEditora: Fabíola de OliveiraEditora assistente: Edna FerreiraRedação e reportagem: CamilaCotta, Edna Ferreira, VivianCosta e Viviane Monteiro.Colaborou com esta edição:Beatriz BulhõesRevisão: Mirian S. CavalcantiDiagramação: Sergio SantosIlustração: Mariano

Redação: Av. Rio Branco, 156,sala 3235, Centro, CEP 20040-003, Rio de Janeiro, RJ.Fone: (21) 2295-5284. E-mail:<[email protected]>

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9 de Maio de 2014Página 2 JORNAL da CIÊNCIA

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SBPC fecha programação da ReuniãoRegional do Vale do Paraíba

O evento será realizado nos dias 5 e 6 de junho nas dependências do PqTec-SJC

A programação da ReuniãoRegional da Sociedade Brasi-leira para o Progresso da Ciên-cia (SBPC) no Vale do Paraíba,que acontecerá nos dias 5 e 6de junho de 2014 nas depen-dências do Parque Tecnológi-co – São José dos Campos(PqTec - SJC), em São José dosCampos (SP), já está fechada.As inscrições para o evento vão

até o dia 30 de maio.O programa inclui assuntos

como a relação universidade xempresa, biotecnologia para asaúde, novos materiais e manu-fatura para a saúde e indústria, aconsolidação de universidadesde classe mundial no País, ossistemas e desafios da indústriaespacial, e o impacto do novocaça da Força Aérea Brasileira

na indústria aeronáutica.O evento, que contará com

cinco conferências e nove me-sas-redondas sobre o tema “Tec-nologias para um Brasil Com-petitivo”, é voltado para estu-dantes de graduação e pós-gra-duação, professores, pesquisa-dores, empresários, represen-tantes de órgãos públicos edemais interessados.

Veja a programação completa

Mais informações: www.sbpcnet.org.br/valeparaiba/home. (Ascom da SBPC)

Sessão de AberturaConferência de abertura: C,T&I: onde estamos?Quinta-feira, 05/6/2014 - das 10h30 às 12h00Conferencista: Helena B. Nader (presidente SBPC)Local: Pq.Tecnológico - Auditório 1

Mesa-RedondaNovos materiais e manufatura para a saúdeQuinta-feira, 05/6/2014 - das 14h00 às 17h00Coordenador: Estevão Tomomitsu Kimpara (Unesp)Participantes: Carlos R. Grandini (Unesp), Oscar P.Filho (UFSCar) e Vladimir T. Airoldi (CVDentus)Local: Unifesp - Auditório

Mesa-RedondaRelação universidade-empresa: casos de sucessoQuinta-feira, 05/6/2014 - das 14h00 às 17h00Coordenador: Luiz Antonio Tozi (Fatec)Participantes: Luiz Eugênio Melo (ITV), Carlos AlbertoVogt (Univesp) e Paulo Lourenção (Embraer)Local: Pq.Tecnológico - Auditório 2

Mesa-RedondaSistemas e desafios da indústria espacialQuinta-feira, 05/6/2014 - das 14h00 às 17h00Coordenador: Carlos A. Wuensche de Souza (Inpe)Participantes: Célio Costa Vaz (Orbital), José RaimundoB. Coelho (AEB) e André Tosi Furtado (Unicamp)Local: Pq.Tecnológico - Auditório 3

Mesa-RedondaTecnologia da informaçãoQuinta-feira, 05/6/2014 - das 14h00 às 17h00Coordenador: Fernando José Alho Gotti (Unip)Participantes: Ana Carolina Lorena (Unifesp), SérgioBampi (UFRGS) e Antonio Esio M. Salgado (Inpe)Local: Fatec – Auditório

Mesa-RedondaDesastres naturais no Brasil e possíveis tecnologiasde combateQuinta-feira, 05/6/2014 - das 14h00 às 17h00Coordenador: Umberto Giuseppe Cordani (USP)Participantes: José Antonio Marengo Orsini (Inpe),Álvaro Rodrigues dos Santos (Consultor) e CláudioPalmeiro do Amaral (Uerj)Local: Pq.Tecnológico - Sala 1

ConferênciaFormação e aperfeiçoamento de recursos humanosao encontro de necessidades do Vale do ParaíbaQuinta-feira, 05/6/2014 - das 19h00 às 20h00Conferencista: Jorge Almeida Guimarães (Capes)Local: Fatec – Auditório

Mesa-RedondaBiotecnologia para a saúdeQuinta-feira, 05/6/2014 - das 19h00 às 22h00Coordenador: Dora Fix Ventura (SBPC)Participantes: Dulce E. Casarini (Unifesp), Mônica L.Ferreira (Butantan) e Gonzalo Vecina Neto (HSL)Local: Unifesp – Auditório

Mesa-RedondaA consolidação de universidades de classe mundial no paísSexta-feira, 06/6/2014 - das 09h00 às 12h00Coordenador: Luiz Leduino de Salles Neto (Unifesp)Participantes: Paulo Speller (MEC), Carlos AlexandreNetto (UFRGS) e Carlos Américo Pacheco (ITA)Local: Unifesp – Auditório

Mesa-RedondaEmpreendedorismo e inovaçãoSexta-feira, 06/6/2014 - das 09h00 às 12h00Coordenador: José Antonio Aleixo da Silva (SBPC)Participantes: Pedro Wongtschowski (Grupo Ultra), Oswal-do Massambani (Inova) e Guilherme Ary Plonski (USP)Local: Pq.Tecnológico - Auditório 2

Mesa-RedondaNovos materiais e manufatura - indústriasSexta-feira, 06/6/2014 - das 09h00 às 12h00Coordenador: a definir (SBPC)Participantes: Maurício P. de Oliveira (Unifesp), VahanAgopyan (USP), Jefferson Gomes (ITA) e FernandoGalembeck (Unicamp)Local: Fatec – Auditório

Mesa-RedondaO novo caça da Força Aérea Brasileira e seu impactona indústria aeronáuticaSexta-feira, 06/6/2014 - das 09h00 às 12h00Coordenador: Horácio Aragonés Forjaz (Pq Tec/SJC)Participantes: César A. da Silva (Akaer), Brig Ar JoséAugusto C. Affonso (FAB) e Roberto Godoy (Oesp)Local: Pq.Tecnológico - Auditório 3

Mesa-RedondaEducação nas áreas tecnológicas: desafios e propostasSexta-feira, 06/6/2014 - das 09h00 às 12h00Coordenador: Lisbeth Kaiserlian Cordani (USP)Participantes: Simon Schwartzman (Iets), Vanderli F.de Oliveira (UFJF) e Luis R. C. Ribeiro (ConsultorEducacional)Local: Pq.Tecnológico - Sala 1

ConferênciaO uso da tecnologia definindo novos padrões dequalidade de vidaSexta-feira, 06/6/2014 - das 14h00 às 15h00Conferencista: Evandro Mirra de Paula e Silva (CGEE)Local: Pq.Tecnológico - Auditório 1

ConferênciaTecnologia no enfrentamento de extremos climáticosSexta-feira, 06/6/2014 - das 14h00 às 15h00Conferencista: Carlos Afonso Nobre (MCTI)Local: Pq.Tecnológico - Auditório 2

Sessão de EncerramentoConferência de encerramentoSexta-feira, 06/6/2014 - das 15h30 às 16h30Conferencista: Carlos Henrique de Brito Cruz (Fapesp)Apresentador: Helena Bonciani Nader (SBPC)Local: Pq.Tecnológico - Auditório 1

Page 3: JORNAL da CIÊNCIA Ed. 758

9 de Maio de 2014 Página 3JORNAL da CIÊNCIA

Poucas & BoasPoucas & Boas

Ranking educacional - �Háquase 200 países nas Nações Unidase só esses 40 têmessamedição. Só issoéemsiumfatopositivoparaoBrasil.�

Presidente da Pearson no Bra-sil, Giovanni Giovannelli, defen-dendoqueodiagnósticodorankingThe Learning Curve (Curva doAprendizado, em inglês), no qualo Brasil aparece na 38.ª posiçãoentre 40 países, pode ajudar aosgestores internos por mostrar aspráticas que funcionam no mun-do. O Estado de S.Paulo (08/05).

Capacitação - �A maior riquezadeste país é o conhecimento de brasi-leiros e brasileiras. Sem professorescapacitados, valorizados socialmen-te, não é possível que tenhamos umaeducação de qualidade. Temos quepagar os professores bem.�

Presidente Dilma Rousseff, nacerimônia de premiação da 9ªOlimpíadaBrasileiradeMatemá-ticadasEscolasPúblicas (Obmep)no Rio de Janeiro, na AgênciaBrasil (08/05).

Inovação - �A inovação nãosubstitui a ciência. É preciso, sim,fortalecer a ciência para que ela setransforme em inovação.�

Vanderlei Bagnato, físico e co-ordenadordaAgênciaUSPdeIno-vaçãoedoCentrodePesquisasemÓptica e Fotônica (Cepof/IFSC),na Agência FAPESP (07/05).

Limitações � �Quando o profes-sor é antenado e tem uma formaçãosólida, consegue dialogar com dife-rentes disciplinas. O treinamentoajuda, mas o fundamental é o profes-sor gostar de ensinar.�

JoãoPauloRangel, de 35anos,formado em Sociologia e pro-fessor de Geografia em três es-colas particulares do Rio de Ja-neiro, criticando a limitação dadocência para área de formação,no O Globo (07/05).

Antártida � �É a primeira vezque temos uma política científica defato para o Programa Antártico Bra-sileiro, com eixos de pesquisa bemestabelecidos.�

Jefferson Simões, pesquisadorda Universidade Federal do RioGrande do Sul, relator do grupode trabalho responsável pela ela-boraçãodoPlanodeAçãoCiênciaAntártica para o Brasil 2013-2022,no Estado de S.Paulo (06/05)

Competitividade - �Se nós nãonos empenhamos em acelerar a ino-vação do sistema industrial privado,não será possível enfrentar os desa-fios de uma concorrência cada vezmais acirrada no campo do comércioe investimento internacional.

Luciano Coutinho, presidentedoBancoNacional deDesenvolvi-mentoEconômicoeSocial(BNDES),em seminário �Brasil Novo�, naAgência Gestão CT&I (05/05)

Conferência GoingGlobal reúne líderes paradiscutir a internacionalização da educação

Representantes de 70 países debateram sobre a colaboração em educação, ciência e inovação

A conferência anual GoingGlobal, que aconteceu entre osdias 29 de abril e 1º de maio, emMiami (EUA), organizada peloBritish Council, contou com aparticipação de importantes líde-res de educação, incluindo maisde mil delegados vindos de 70países diferentes, sendo 45 par-ticipantes brasileiros.

Do Brasil, estiveram presen-tes na conferência HelenaNader, presidente da Socieda-de Brasileira para o Progressoda Ciência (SBPC), e GlauciusOliva, presidente do ConselhoNacional de DesenvolvimentoCientífico e Tecnológico (CNPq).O evento teve como tema princi-pal de discussão a internaciona-lização dos centros de pesquisa

e a importância da colaboraçãoentre as diferentes instituiçõesde fomento à ciência, no sentidode remover as barreiras que im-pedem o avanço científico.

Durante sua palestra “A es-tratégia de inovação brasileira:em direção ao crescimento e aodesenvolvimento econômico”, apresidente da SBPC disse que oPaís precisa investir cada vezmais em pesquisas e desenvol-vimento. “O Brasil precisa inves-tir em técnicas e pesquisas emlaboratórios que trarão oportu-nidades de inovação, tais comoas que foram desenvolvidas parao cultivo de soja, a indústria ae-ronáutica e a prospecção dopetróleo em águas profundas.Mas é preciso concentrar tam-

bém (o investimento) em pes-quisa que pode ser importanteem 20, 30 anos, a pesquisa quedeve ser feita para nos tornarmais sábios”, disse.

Parceria - Durante o encontro,o presidente do CNPq, GlauciusOliva, e a diretora global de edu-cação e sociedade do BritishCouncil, Jo Beall, firmaram acor-do para o desenvolvimento doprograma Researcher Links,que tem como objetivo a reali-zação de workshops de pesqui-sa e encontros entre jovens ci-entistas do Reino Unido e doBrasil, enfatizando o estabele-cimento de futuras colaboraçõesem pesquisa.(Ascom SBPC)

Workshop sobre monitoramentohidrológico, previsão e setor elétrico

O evento da SBMET será realizado nos dias 26 e 27 de maio no Simepar, em Curitiba

Vivian Costa

O segmento de meteorologiae de recursos hídricos atuanteno Brasil acelera a implantaçãode novos sistemas de monitora-mento in situ e, baseados emtelemetria e sensoriamento re-moto, investiga modelos hidro-lógicos e atmosféricos alternati-vos em múltiplas escalas e hori-zontes, e introduz inovações nosambientes de previsão opera-cional de tempo e clima, tornan-do disponíveis novos produtos einformações.

Mas o setor elétrico não utilizatodas essas informações gera-das no serviço prestado, comoseria de se esperar. Para saberquais são exatamente os mode-los disponíveis de monitoramen-to e os reais motivos pelo qual osetor elétrico não utiliza as infor-mações geradas, a SociedadeBrasileira de Meteorologia(SBMET) vai realizar nos dias 26e 27 de maio o workshop EletroMet,cujo tema é “Inovações no Moni-toramento Hidrometeorológico ena Previsão do Tempo e Climaaplicados ao Setor Elétrico Brasi-leiro”, em Curitiba.

O workshop tem como objeti-vo identificar as principais de-mandas estruturais e conjuntu-rais do setor elétrico por informa-ções hidrometeorológicas e pre-visões de tempo e clima, e oestágio atual de provimento des-tas informações pelas entida-des atuantes na área; levantar eavaliar o estado de desenvolvi-mento de novas tecnologias de

monitoramento e previsão nasáreas da meteorologia e hidro-logia, potencialmente impactan-tes na gestão do sistema elétricoe suas reais formas de aplicaçãonos processos decisórios vigen-tes no setor; e discutir modelosde articulação interinstitucionalde entidades atuantes nas á-reas de meteorologia e de recur-sos hídricos, regional e nacio-nal, e a integração das informa-ções que otimizem os resulta-dos para a gestão do sistemaelétrico brasileiro.

“A ideia é confrontar as duascomunidades. De um lado mos-trar quais são as tecnologiasde monitoramento e previsãonas áreas da meteorologia ehidrologia para gerar informa-ções precisas. De outro lado,saber quais as tecnologias usa-das pelo setor elétrico”, explicaAntonio Divino Moura, presi-dente do SBMET. “Depois delevantar modelos de articula-ção para que haja uma integra-ção das informações queotimizem os resultados para agestão do sistema elétrico bra-sileiro, vamos criar um docu-mento com propostas e metasde implementação para que osetor elétrico utilize essas in-formações”, explica Moura. Ecompleta, “as informações hi-drometeorológicas, ou seja, re-lacionadas ao clima e às chu-vas, têm avançado muito, es-tão mais precisas e são de ex-trema importância para o pla-nejamento do setor elétrico.Não podemos esquecer que se

o setor elétrico começar a utili-zar as informações geradas, oPaís sairá ganhando”, explicou.

Planejamento - Segundo Divi-no Moura, com informaçõesmeteorológicas precisas e, prin-cipalmente, confiáveis, o setorelétrico pode ser capaz de pro-duzir previsões de carga maisprecisas; saber melhor o mo-mento para compra ou decisõesde comercialização de energia;restabelecer a energia de formamais rápida, e reduzir os custosinerentes.

“Por isso, o workshop seráorganizado em quatro mesas-redondas temáticas intituladas‘o contexto’, ‘o tempo e a água’,‘o clima e a água’ e ‘propostasde ação’, cada uma focandorespectivamente em um objetoprincipal”, explicou Moura.“Será um debate rico, de ondesairão novas ideias e propos-tas, uma vez que o público-alvosão pessoas ligadas ao setor,além do MCTI e suas agênciasde financiamento, como CNPqe Finep", afirmou.

Na opinião de Moura, oworkshop será muito pertinentedevido à oportunidade do mo-mento do setor elétrico brasilei-ro, que vivencia um cenário demudanças em termos regulató-rios, operacionais, econômicose tecnológicos. Essas mudan-ças exigem revisão estratégicaem seus processos decisórios.

Mais informações acesse:http://www.sbmet.org.br/portal2013/eventos/detalhe.php?id=154

Page 4: JORNAL da CIÊNCIA Ed. 758

JORNAL da CIÊNCIA 9 de Maio de 2014Página 4

Anvisa propõe um sistema nacional de controle demedicamentos com identificação bidimensional de embalagens

De acordo com a RDC54, laboratórios terão até três anos para implantar procedimentos de rastreabilidade

Edna Ferreira

Os códigos de barras simplesdos medicamentos no Brasil es-tão com os dias contados. Em trêsanos, entrará em vigor uma iden-tificação bidimensional que pos-sibilitará rastrear os produtos emtodas as etapas de sua cadeia,da produção até o consumidorfinal. Essa é a proposta da Reso-lução da Diretoria Colegiada(RDC) nº 54 da Agência Nacionalde Vigilância Sanitária (Anvisa),que trata da implantação do Sis-tema Nacional de Controle deMedicamentos (SNCM).

Com o novo sistema serãoadotados procedimentos pararastreamento de produtos, pormeio da tecnologia de captura,armazenamento e transmissãoeletrônica de dados dos produ-tos farmacêuticos. Com a reso-lução da Anvisa, as embalagensdos medicamentos deverão terum código bidimensional.

O SNCM deverá ser implan-tando até dezembro de 2016,mas a Agência estabeleceu oprazo de dois anos para que asempresas farmacêuticas apre-sentem um relatório de rastreabi-lidade completo de pelo menostrês lotes, e formará um comitêtécnico para acompanhar a im-plementação desse processo. Epara discutir todas as mudançasque virão com a RDC, o Institutode Tecnologia em Imunobiológi-cos (Bio-Manguinhos/Fiocruz)realizou um debate no dia 28 deabril, no Rio de Janeiro.

Para Artur Couto, diretor doBio-Manguinhos, esse é certa-mente um grande desafio. “Éum sistema bastante interessan-te e que visa se ter o controleefetivo de toda a população queusa medicamentos. É uma RDCdesafiadora, tanto pelo objetivoe, principalmente, em se tratan-do de um país como o Brasil,que é um continente. Por isso,pode haver dificuldades de im-plantação”, alerta.

Segundo Couto, a novidadedará mais segurança aos usuá-rios quanto à qualidade dos remé-dios vendidos no País, mas teráimpacto no orçamento e nalogística dos laboratórios produ-tores. “Nosso seminário serviupara entendermos melhor a pro-posta da Anvisa, entender comoos laboratórios estão se prepa-rando – os públicos e os privados– e ver o que é possível fazer deforma conjunta, inclusive, para ten-tar baratear custos e implantar osistema de forma efetiva”, analisa.

Desafio para os laboratóriospúblicos - O ponto que mais pre-ocupa Artur Couto é a questão

logística para implantar esse sis-tema com as vacinas e outrosprodutos biológicos. “Acho quehaverá uma dificuldade nalogística de distribuição de vaci-nas, que difere um pouco dosmedicamentos que são encon-trados e controlados nas farmá-cias. As vacinas não, elas estãonos postos disponíveis para apopulação como um todo. En-tão, a logística é outra; por isso,eu acho que podemos ter algu-ma dificuldade”, avalia.

Ainda de acordo com ele, hojeo Brasil conta com 35 mil pontosde vacinação e há localidadesque não contam com postos e simsalas, pontos de vacinação. “Essadificuldade na logística deve-se,principalmente, pelo tamanho doBrasil, um país continente. Teori-camente, com os medicamentosserá mais fácil do que com asvacinas e outros produtos bioló-gicos”, resume Couto.

Dados do Programa Nacio-nal de Imunizações (PNI) mos-tram que hoje o Ministério daSaúde oferece 43 insumos paracerca de 5.600 municípios. Al-gumas localidades recebem asvacinas em balsas, e por esse eoutros fatores os especialistasda área concordam que serianecessário um prazo maior paraa adaptação do setor a essasnovas diretrizes.

Tecnologia bidimensional - ParaArtur Couto, a instalação do novosistema nas embalagens dosmedicamentos não será uma di-ficuldade. “Essa é uma tecnolo-gia já disponível. Existem hoje 23empresas no mundo que traba-

lham com esse sistema. No Bra-sil, já temos uma empresa, mascom certeza outras já estão tra-balhando com essa tecnologiabidimensional. Isso não será umadificuldade”, acredita.

A RDC 54 impactará os labo-ratórios públicos em itens comoequipamentos, controle de pro-dução, integração com sistemascorporativos, armazenamento,expedição, finanças e controle,e comparativo com marco regu-latório internacional. De acordocom informações da Divisão deAssuntos Regulatórios de Far-manguinhos, serão necessárias

a readaptação das linhas, análi-se de produtos, realização detreinamentos, além da comprade impressoras, scanners, leito-res 2D, esteiras e câmeras.

Para o diretor do Bio-Mangui-nhos, os principais impactos noscustos para os laboratórios pú-blicos estão relacionados aoprocesso de aquisição de equi-pamentos, valor elevado da im-plantação do sistema completoem cada linha de processamen-to e armazenagem de estoqueestratégico necessário para evi-tar o desabastecimento.

Ainda quanto aos objetivos doencontro promovido pelo Bio-Manguinhos, Artur Couto afirmaque o debate mostrou que a dúvi-da de um era a dúvida de todos, eque certezas não existem. ”A pró-pria Anvisa sinalizou que muitospontos levantados no semináriovão servir de in put para algumasações que eles precisam fazer.Acho que o evento serviu paraque todo mundo se prepare esaiba exatamente o que pode e oque não pode ser feito dentro dosprazos estabelecidos”, avalia.

Participaram do debate reali-zado pelo Bio-Manguinhos/Fiocruz representantes da Vice-Presidência de Produção e Ino-vação em Saúde (VPPIS) daFiocruz, da Associação dos La-boratórios Farmacêuticos Ofici-ais do Brasil (Alfob), do Institutode Tecnologia em Fármacos (Far-manguinhos), Agência Nacionalde Vigilância Sanitária (Anvisa),Central Nacional de Armazena-mento e Distribuição de Imuno-biológicos (Cenadi), GSK, Insti-tuto Butantan, entre outros.Artur Couto é diretor do Bio-Manguinhos/Fiocruz

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Novo sistema promete mais segurança para consumidores

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JORNAL da CIÊNCIA9 de Maio de 2014 Página 5

�Temosna cabeça a escola ideal,masnão sabemos construí-la�Professor da área de políticas públicas de educação da UNB analisa a importância do papel da universidade na educação básica

Camila Cotta

O grande desafio da educa-ção hoje é a formação de profes-sores, afirma o professor de po-líticas públicas de educação, daUnB, Remi Castioni. Para ele “osjovens estão à procura de bonssalários e condições adequa-das para o magistério, mas nãoenxergam atratividade na car-reira docente atual e, quandonela ingressam, o curso não osprepara para a realidade educa-cional”. Ele explica que as pes-soas que entram na licenciaturahoje estão despreparadas, de-monstrando o afastamento dauniversidade na formação dosprofessores. “Sempre falo, nóstemos a escola ideal na cabeça,mas não sabemos como cons-truí-la”, reforça.

Segundo Castioni, para umaeducação contemporânea e efi-ciente é preciso maior aproxi-mação das universidades comas escolas da educação básica,centrando a formação dos futu-ros profissionais em cursos ofe-recidos pelas universidades,enfatizando o estágio curricularcomo etapa formativa dos candi-datos à carreira do magistério daeducação básica. “A universida-de não pode ensinar teorias semolhar para o que acontece nasescolas. É preciso dar condiçõespara que os jovens que optarampelas licenciaturas tenham asmesmas condições daquelesque cursam os bacharelados.”

Em sua opinião, hoje, assis-te-se a um total desprestígio dacarreira docente, valorizando oque é mais elevado, como ostítulos de doutorado e pós-dou-torado. “Estão esquecendo que,para chegar lá, temos de passarpela educação infantil, pelo en-sino fundamental e o ensinomédio. Nessas etapas é que sedefine o futuro. Não valorizar osprofissionais da educação é nãoacreditar no processo educacio-nal”, enfatiza.

Castioni explica que os jovensvalorizam a universidade comosímbolo de qualidade e despres-tigiam a escola. Na sua avaliaçãoo próprio conhecimento produzi-do nas universidades é que temlevado a isso. “As universidades,particularmente nas carreiras deformação de professores, ocupa-ram-se das grandes teorias. Auniversidade conhece muito pou-co o que se passa no dia a dia dasescolas, como os professoresensinam, com que meios e emque condições operam”, salientao professor.

Problemas - Apesar dos avan-ços, explica, ainda somos atra-sados na oferta de educação.“Somente em 2009 a educação

da pré-escola – dos 4 aos 17anos – passou a ser asseguradapelo Estado. Antes, a Constitui-ção Federal de 1988 previa ape-nas o ensino fundamental. Es-peramos 20 anos para oferecereducação. Sem esse hiato, po-deríamos estar em situação bemmelhor”, lamenta.

Outra questão problemáticana visão do especialista é o pro-cesso de progressão na educa-ção, onde as taxas de repetên-cia e abandono escolar são enor-mes, colaborando para que, gra-dativamente, os jovens afastem-se da escola. “Hoje, as taxas dematrícula no ensino fundamen-tal público estão entre 500 e 800mil/ano. E nem metade deleschega ao ensino médio.” E acres-centa: “Os jovens estão se afas-tando gradativamente das salasde aula. Isso ocorre desde aeducação infantil. Temos 15%das crianças de 0 a 3 anos nascreches. É preciso pensar emeducação como um todo (cre-che, pré-escola, ensino médio,superior) para que, desde pe-quenas, as crianças tenham ha-bilidade motora, social, e umaimportante formação educacio-nal”, defende Castioni.

Envelhecimento - A exemplo doque aconteceu em todo o mundo,a expectativa de vida no Brasilaumentou consideravelmente,mas, para o professor Castioni, odesafio parece ser maior em fun-ção da velocidade com que essefenômeno ocorreu. Em 1950, aexpectativa de vida não passa-va de 51 anos, e o Brasil era umdos países mais jovens do mun-do. Atualmente, nossa expecta-tiva de vida ultrapassa os 73anos, temos aproximadamente191 milhões de habitantes ecerca de 21,7 milhões de idosos.A expectativa é de que, em 2030,nossa população irá parar decrescer e seremos a sexta popu-lação mais velha do mundo, atéque em 2040 teremos mais de60 milhões de idosos. “Sendoassim, temos que refletir se esta-mos preparados, pois com estaalta taxa de envelhecimento, aeducação daqui a pouco nãoserá prioridade. E quem vai diri-gir o futuro do País, qual será amatéria-prima das universida-des?”, alerta.

Castioni é enfático: agora é omomento de o Brasil buscarmelhoras na educação, pois te-mos muitos jovens e é precisodefinir os gastos na área para ospróximos anos. “Ainda temoscondição e população para sejustificar o gasto em educação.Esta é a nossa estratégia deafirmação como nação. Se nãonos mexermos, daqui 20 anosas nossas escolas serão local

de convivência de pessoas ido-sas. Temos que parar e pensarsobre isso”, conclui.

PNE - O primeiro Plano Nacio-nal de Educação (PNE) foi ela-borado pelo jurista, educador eescritor Anísio Teixeira, confor-me indicava a Lei nº 4024, de 20de dezembro de 1961, a Lei deDiretrizes e Bases da EducaçãoBrasileira (LDB). Uma inovaçãoimportante adotada foi a defini-ção de quem seria a responsa-bilidade de coordená-lo, um ór-gão do Ministério da Educaçãoe Cultura especialmente criadopara essa finalidade: a Comis-são Nacional de PlanejamentoEducacional (Copled). “Diferen-te do que ocorre hoje, quandotemos várias ‘caixinhas’ – umapara cada tipo de educação – oplano proposto por Teixeira su-geria apenas um único órgãono MEC para dirigir todo o siste-ma educacional. Isso facilitariaa fiscalização e uma efetiva co-ordenação”, frisa o professor. Eacrescenta: o significado histó-rico do 1º PNE está em que, pelaprimeira vez (provavelmente aúnica, até hoje), um plano deeducação foi aprovado em nos-so país para ser aplicado à ris-ca, havendo um órgão especi-almente encarregado de fazê-lo (a Copled).

De acordo com o professor,dentre as principais ações finan-ciadas pelo PNE e aplicadasnos anos de 1963 até março de1964, destacam-se duas que,ainda hoje, têm significativa re-percussão nos meios educacio-nais. A primeira ação foi o pro-grama de alfabetização basea-do no Método Paulo Freire, quetinha por paradigma os resulta-dos da conhecida campanhadesenvolvida em Angicos, no

Rio Grande do Norte, em abril de1963. A segunda ação é o PlanoEducacional de Brasília, cuja ela-boração e aplicação coube aAnísio Teixeira. “O Plano de Bra-sília incluiu, principalmente, aaplicação das ideias da escolapública integral, segundo a con-cepção desenvolvida pelo edu-cador baiano. A ideia de Anísioera tomar o Plano de Brasíliacomo piloto para ser generaliza-do, gradativamente, por todo oPaís, no tempo da aplicação doI PNE”, observa Castioni.

Cinquenta anos depois, oPNE, Projeto de Lei (PL 8035/2010), foi reconstruído e segueem tramitação no CongressoNacional. O elemento central para os objetivos educacionaisda próxima década é o profes-sor. A visão está forte em pelomenos quatro das 20 metas dofuturo Plano Nacional de Educa-ção (PNE). Algumas não sãonovidade – são bandeiras quese repetem desde o PNE anteri-or e não viraram realidade.“Transformar o discurso em prá-tica será o desafio dos gestoresda educação, seja nos municí-pios, estados ou nos gabinetesdo Ministério da Educação(MEC)”, ressalta o especialista.

O professor faz parte da co-missão que criou o PL e esperaque em breve o novo PNE sejaaprovado. “O PNE é o primeiroplano com essas característicasde âmbito nacional. Tem umaagenda educacional extensa,com vários pontos debatidos ecom embates. Isso faz parte deum processo democrático”, in-forma. Castioni finaliza ao dizerque algumas das 20 metas doPlano são audaciosas, uma es-pécie de giro educacional paraos próximos anos. “Estamos to-dos lutando pela educação.”

Para Remi Castioni os jovens estão se afastando das salas de aula

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Brasil se mobiliza para produzir novosmedicamentos genéricos: os primeiros biossimilares

São medicamentos inovadores para cura de doenças crônicas e raras, como autoimunes e diversos tipos de câncer

Viviane Monteiro

Na esteira da tendência mun-dial sobre o desenvolvimentodos chamados medicamentosbiológicos ou biofármacos parauso humano – hoje a maior fon-te de inovação da indústria far-macêutica internacional – aárea científica brasileira, o go-verno e a indústria nacionalmobilizam-se para desenvolveras primeiras cópias desses pro-dutos no País. É um cenárioparecido com a produção demedicamentos genéricos nadécada de 1990.

A intenção é aproveitar o en-cerramento de patentes de pro-dutos biológicos vencidas oupróximas do vencimento, desen-volvidos no passado por gran-des laboratórios. Por serem si-milares dos medicamentos bio-lógicos, esses novos genéricossão batizados de biossimilares.

Os biológicos são elabora-dos à base de anticorpos mono-clonais de humanos ou de ou-tros mamíferos, como o macaco.São indicados para doenças crô-nicas e raras, como autoimunese diversos tipos de câncer. Se-gundo especialistas, o tratamen-to com esses produtos é maiseficaz do que com remédios con-vencionais, feitos com substân-cias químicas. Além disso, nãoproduz tantos efeitos colateraisno paciente.

O primeiro remédio biológicodo mundo – a insulina – foi de-

senvolvido há 31 anos, refletin-do o avanço da medicina mun-dial. Com o fim de patentes dealguns biológicos, a tecnologiapassa a ser de domínio público,podendo ser copiada por outroslaboratórios, inclusive pelos bra-sileiros, assim como ocorreu nadécada de 1990 para produçãodos genéricos.

Os biológicos são drogasespecíficas para tratamentosespecíficos e, por isso, a cópiadesses produtos é mais com-plexa do que os genéricos deprodutos convencionais. Issoporque os biossimilares exi-gem pesquisa clínica e pré-clí-nica e estudo de comparaçãoem termos de qualidade, segu-rança e eficácia. É por isso quecientistas insistem em dizer que“cópias idênticas de medica-mentos biológicos não podemser produzidas”.

Na visão de João Calixto,presidente do Centro de Inova-ção e de Ensaios Pré-Clínicos(Cienp), o Brasil depara-se comum grande desafio para desen-volver os biossimilares.

“O desafio é grande porque orisco é maior do que o dos gené-ricos. Custa cem vezes maisdesenvolver um biossimilar doque um genérico, porque é pre-ciso fazer pesquisa e desenvol-vimento aqui”, argumentaCalixto, diretor do laboratóriorecém-criado em Santa Catari-na, exatamente para desenvol-ver pesquisas pré-clínicas para

indústria farmacêutica local.A indústria confirma tal posi-

ção. Conforme dados da Asso-ciação da Indústria Farmacêu-tica de Pesquisa (Interfarma), aimplementação de um genéri-co no mercado requer desen-volvimento farmacêutico de umano, no máximo, e um investi-mento de quase R$ 1 milhão,enquanto um biossimilar re-quer tempo de seis a oito anose um investimento superior aR$ 100 milhões. Dessa forma,os preços dos medicamentosbiossimilares não devem surtirtanto efeito na redução do pre-ço dos remédios na mesma pro-porção dos genéricos, cuja re-dução varia de 70% a 80% dopreço de um original. No casodos biossimilares, por sua vez,a diminuição nos preços nãodeve ultrapassar 30%.

Potencial de negócios - Essesremédios inovadores fazem par-te de um mercado promissordiante do potencial de negó-cios, considerando que o setorde biotecnológicos movimentamais de US$ 150 bilhões anu-ais no mundo, mas é um nichodominado ainda pelas multina-cionais e empresas estrangei-ras. A intenção da área científi-ca nacional é também produziros biológicos (originais), mas oprimeiro passo será dado pelodesenvolvimento de biossimi-lares, por serem menos com-plexos do que os originais.

Na avaliação do diretor doCentro de Pesquisa do Brasil(CCBR), Luiz Henrique deGregório, é fundamental o Brasilproduzir drogas específicas paraa população brasileira, paraobter resposta cada vez melhorno tratamento de doenças e termais segurança.

“Esse é um campo muitopromissor, porque são drogaspelas quais se espera umaeficácia maior e apresentamum perfil de segurança me-lhor do que outras moléculasnão biológicas. Então, esse éum ramo pelo qual se esperamuito delas no futuro para to-das as doenças.”

Gargalosnosprotocolosdepesquisas clínicas acendemsinal amareloCientistas demonstram preocupação com burocracia e reiteram críticas ao ritmo de avaliação de pesquisas no Brasil

Apesar do esforço para dar opontapé inicial no desenvolvi-mento dos chamados medica-mentos biossimilares no Brasil,cientistas deparam-se com osvelhos gargalos, como morosi-dade e burocracia nas análisesdos protocolos de pesquisas clí-nicas, podendo inviabilizar anova janela que se abre para odesenvolvimento da indústriafarmacêutica local.

Há anos, a comunidade cien-tífica demonstra preocupaçãocom a burocracia e com a moro-sidade no ritmo de análise daspesquisas clínicas com huma-nos com que lida o sistema CEP/Conep. Essas pesquisas sãoanalisadas pelo sistema forma-do pelas comissões de éticasde pesquisas (CEPs), distribuí-das pelas universidades e hos-pitais públicos, e ComissãoNacional de Ética em Pesquisa(Conep), submetido ao Ministé-rio da Saúde.

O diretor CCBR, o cientista

Gregório fez questão de criticaro atraso na análise de um proto-colo de pesquisa clínica quedemora 14 meses, bem distanteda média internacional, em tor-no de três ou quatro meses.Esse fator, avalia, tira a compe-titividade da indústria farmacêu-tica brasileira, na comparaçãocom o mercado internacional,onde as pesquisas clínicas têmdinamismo.

“Essa é uma barreira com aqual sofremos diariamente, nãoapenas no que se refere aosbiossimilares, mas vale paratoda molécula nova no Brasil,principalmente as chamadasmoléculas com participação es-trangeira (protocolos desenvol-vidos lá fora com participaçãodo Brasil).”

Diante de tal cenário,Gregório faz uma alerta: “se oBrasil não destravar as pesqui-sas não há como avançar naprodução de remédios no País”.

Reforçando tal posiciona-

mento, o presidente do Centrode Inovação e de Ensaios pré-clínicos (Cienp), João Calixto,disse que o Brasil “está muitodistante do mínimo que deveriater” para desenvolver a indús-tria de medicamentos. Ele aler-ta que o desenvolvimento deum novo medicamento podedemorar até 10 anos para sercolocado no mercado, por pas-sar por várias etapas de pesqui-sas: fase de descoberta, pes-quisas pré-clínicas (com ani-mais ou in vitro) e pesquisasclínicas (com humanos).

Recorrendo ao mercado in-ternacional - Na tentativa dedriblar os gargalos internos,Calixto afirma que algumas em-presas estão importando a tec-nologia pronta (células vivas,por exemplo) para a produçãode biossimilares, em detrimen-to do desenvolvimento científi-co nacional. O cientista tam-bém vê falta de especialistas

para a produção desses medi-camentos no Brasil.

Hoje o Brasil já possui re-quisitos mínimos para desen-volver os produtos biossimila-res. Em 2011, foi publicado omarco regulatório RDC n° 49de 2001, pela Agência Nacio-nal de Vigilância Sanitária(Anvisa), a fim de desenvolvero mercado local, desde a ela-boração do princípio ativo até aembalagem do produto. O go-verno tem anunciado várias li-nhas de financiamento, viaBNDES, para o desenvolvimen-to desse mercado.

“Quando saiu a lei dos biossi-milares ficou definido que asempresas deveriam produzirtudo no Brasil. Mas a questão émais complexa do que imagina-ram.” Até o fechamento destaedição, a Anvisa e o Ministérioda Saúde não deram retornosobre o desenvolvimento dosbiossimilares no Brasil.(VM)

João Calixto é presidente do Cienp

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Diante do potencial do merca-do dos chamados medicamentosbiológicos e da necessidade decapacitação de profissionais parao desenvolvimento desses pro-dutos internamente, o governocriou o Curso de Desenvolvimen-to Pré-Clínico de MedicamentosBiológicos, a ser realizado nocampus do Centro Nacional dePesquisa em Energia e Materiais(CNPEM), em Campinas (SP), noperíodo de 8 a 19 de setembrodeste ano. As inscrições estãoabertas até 30 de junho.

Conforme explicou o coorde-nador do curso, Eduardo Pagani,gerente de desenvolvimento defármacos do Laboratório Nacio-nal de Biociências (LNBio), querealizará o curso, é estratégicopara o Brasil desenvolver os pro-dutos biológicos. "Essa é uma ten-dência mundial."

O curso é uma iniciativa do

MCTI oferece capacitação em produtos biológicosPara coordenador do Laboratório Nacional de Biociências, curso é estratégico para desenvolver esse tipo de fármaco

Faltam docentes titulados na área de engenhariaUniversidades que só contratam doutores competem diretamente com o mercado

Vivian Costa

A meta 13 do Observatóriodo Plano Nacional de Educa-ção (PNE) tem como objetivoelevar a qualidade da educa-ção superior pela ampliação daproporção de mestres e douto-res do corpo docente em efetivoexercício no conjunto do siste-ma de educação superior para75%, sendo, do total, no míni-mo, 35% doutores. Mas, se to-das as universidades federais eestaduais, por exemplo, resol-vessem só contratar doutores,teriam dificuldade em comple-tar o quadro de docentes emalgumas áreas. O que já temocorrido nos dias atuais.

Segundo Jesualdo PereiraFarias, reitor da UniversidadeFederal do Ceará (UFC) e pre-sidente da Associação Nacio-nal dos Dirigentes das Institui-ções Federais de Ensino Supe-rior (Andifes), atualmente algu-mas universidade têm tido difi-culdade em contratar docentesdoutores em determinadas á-reas. “O problema já existe, masnão é uma coisa generalizada.Varia muito de acordo com ocurso e a área. A mais crítica éa de engenharia”, explica. Eexemplifica, “se todas as uni-versidades fossem contratardoutores para dar aula emgeofísica, não teria profissionaisno mercado. A solução seriacontratar mestres”.

De acordo com levantamen-to feito pelo jornal Folha deS.Paulo, na área de engenharia,nas universidades do ABC(UFABC), na Federal de SãoPaulo (Unifesp) e Federal deSão Carlos (UFSCar), termina-ram sem vagas preenchidas 18

dos 35 concursos docentes paraengenharia, finalizados nos últi-mos 12 meses.

Faria disse ainda que outrofator que dificulta a contrata-ção de doutores para lecionaré a distância entre campi egrandes centros. “Muitos do-centes não querem ir para lo-cais afastados por não encon-trar condições adequadas paradesenvolver algumas pesqui-sas”, explica.

A solução encontrada por al-gumas instituições, explica, écontratar mestres e oferecer con-dições e incentivos para que elese torne doutor. “Não se podedeixar de levar em conta cursosque não são tão tradicionais,mas que estão crescendo, como,por exemplo, os de gastrono-mia”, disse.

Dificuldade - Entre as universi-dades que contam com situa-ções mais críticas está a UFABC,que foi criada em 2004. Segun-do Annibal Hetem, diretor docentro de engenharia da insti-tuição, entre os fatores que atra-palha a contratação está a exi-gência de que todos os docen-tes sejam doutores. “A institui-ção exige doutores porque elaprecisa fazer ciência. Mas, en-tendemos que esta exigênciatem dificultado a contratação,principalmente na área de en-genharia. Tanto que demora-mos cerca de oito meses paracontratar um professor de en-genharia para lecionar aerodi-nâmica”, explica.

Hetem lembra ainda que emabril um candidato inscreveu-se para a vaga, que prevê esta-bilidade, laboratório para pes-quisa e salário inicial de mais

Ministério de Ciência, Tecnologiae Inovação (MCTI), do qual o LNBioé vinculado, e do Conselho Na-cional de Desenvolvimento Cien-tífico e Tecnológico (CNPq). Acapacitação dos profissionais tema parceria do Laboratório deGenotoxicidade (Genotox) doCentro de Biotecnologia (CBiot)da Universidade Federal do RioGrande do Sul (UFRGS).

Segundo Pagani, as vendasde biológicos no mundo repre-sentam hoje entre 10% e 15% dofaturamento da indústria farma-cêutica mundial, mas a estimati-va é de que essa participaçãocresça para 50% em 2025. Issoporque a tendência, segundoavalia, é o setor investir mais nainovação destinada à produçãode biológicos. Em outra ponta,ele acredita, o mercado de medi-camentos convencionais tendea perder espaço, diante da vali-

dade de patentes dos medica-mentos sintéticos (químicos).

Pelo fato de o Brasil estar inte-ressado em desenvolver essesremédios inovadores, Pagani afir-ma que o Ministério de Ciência,Tecnologia e Inovação (MCTI), doqual o CNPEM é vinculado, iden-tificou a necessidade de capacitaro mercado brasileiro dessa área.

O principal objetivo do curso écapacitar pesquisadores do Bra-sil, Argentina, Uruguai, Paraguai,Colômbia e Cuba e profissionaisde empresas farmacêuticas lati-no-americanas para a realizaçãode atividades, técnicas e regula-tórias, relacionadas ao desenvol-vimento de medicamentos bioló-gicos para uso humano. Serãoatendidos 30 profissionais.

Segundo dados da assesso-ria de imprensa do CNPEM, osmedicamentos biológicos consti-tuem uma nova classe de fárma-

cos, produzidos por processos debiologia molecular e biotecnolo-gia. Resultantes de investimentosem pesquisa, desenvolvimento einovação, essas drogas vêm ins-tituindo uma nova dinâmica – cien-tífica, regulatória e econômica –no cenário farmacêutico global.

A carga horária será de 80horas, das quais 34 são teóricase 46 práticas, sobre os testespré-clínicos exigidos por autori-dades regulatórias (ANVISA,FDA e EMA) para registro deprodutos biológicos. As aulasserão ministradas por professo-res do Brasil, da Argentina e deCuba. No âmbito da cooperaçãoBrasil-Cuba, uma segunda eta-pa do curso está sendo planeja-da para acontecer em Havana,no período de 8 a 17 de outubrode 2014, da qual participarão osalunos brasileiros selecionados.(VM)

de R$ 8,5 mil. “Estávamos ansi-osos. Mas no dia anterior à provaele ligou dizendo que não viria.O mercado está pagando bemmais”, disse.

Para resolver a situação,Hetem afirma que os docentescontratados precisam seremanejar para que as aulasnão fiquem sem serem dadas.“Os alunos não ficam sem aula,mas a ciência fica prejudica-da”, explica.

Para evitar este problema nofuturo, Hetem acredita que é pre-ciso manter o aluno na acade-mia. “Quando o aluno está nomestrado, ele automaticamentevai para o doutorado e permane-ce na universidade. Mas se elevai para o mercado, dificilmentevolta”, comenta.

Para o futuro, Hetem afirma,nos próximos dez anos a UFABCdeve ter seus centros de pesqui-sa ampliados, o que acarretará aabertura de 200 vagas.

Paulo César Montagner,chefe de gabinete da Universi-dade Estadual de Campinas(Unicamp), também atribui a fal-ta de professores doutores naárea de engenharia ao merca-do aquecido. “É uma questãode sazonalidade. Eu sinto estafalta nas nossas escolas técni-cas mantidas pela universida-de.” Ele disse ainda que a in-dústria tem contratado douto-res porque são profissionaiscom capacidade maior de pen-sar e resolver problemas.

Para o presidente da Andifes,a escassez de doutores tende adiminuir à medida que as univer-sidades aderirem ao Programade Apoio a Planos de Reestrutu-ração e Expansão das Universi-dades Federais (Reuni). “Isso jáestá acontecendo. Mas é fatoque se o professor que é mestreestiver na universidade, ele per-manecerá. Por isso, o doutoradoserá o próximo passo”, finaliza.

Jesualdo Pereira Farias é presidente da Andifes

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JORNAL da CIÊNCIA 9 de Maio de 2014Página 8

14ª Conferência Anpei: empresas evitamusar Lei do Bem por insegurança jurídica

Viviane Monteiro

Embora a chamada Lei doBem tenha proporcionado me-lhoria no ambiente de negóciospara investimentos em pesqui-sa, desenvolvimento e inova-ção (P,D&I), a maioria das em-presas não utiliza os benefíciosfiscais concedidos pela Lei11.196/05. É o que aponta pes-quisa preliminar realizada pordirigentes da Associação Na-cional de Pesquisa e Desenvol-vimento das Empresas Inova-doras (Anpei) durante a 14ªConferência Anpei de Inova-ção, no ExpoCenter Norte, emSão Paulo, realizada nos dias28 e 29 de abril.

Em um estilo dinâmico e ino-

vador, o levantamento foi reali-zado, em tempo real, no decor-rer do evento, aproveitando aparticipação de centenas de re-presentantes empresariais reu-nidos no mesmo local. A cerimô-nia de abertura contou com apresença do ministro de Ciên-cia, Tecnologia e Inovação(MCTI), Clelio Campolina, e derepresentantes do Ministério deDesenvolvimento, Indústria eComércio Exterior (MDIC) e doServiço Brasileiro de Apoio àsMicro e Pequenas Empresas(Sebrae).

O estudo foi realizado comcerca de 300 representantesempresariais, por intermédio demodernos aparelhos eletrônicos– que inicialmente pareciam

Estudo realizado durante evento aponta que 77% das empresas conhecem a legislação, mas a maioria não utiliza benefícios

O secretário de Inovação doMinistério de Desenvolvimento,Indústria e Comércio Exterior(MDIC), Nelson Akio Fujimoto,reconheceu a importância demelhorar o ambiente de negó-cios para estimular os projetosde inovação no País. Nesse caso,ele vê necessidade de revisãotanto na Lei do Bem quanto naLei de Inovação.

Referindo-se à pesquisa daAnpei realizada em tempo real –durante a 14ª Conferência Anpeide Inovação, no Expo CenterNorte, em São Paulo – que apon-tou falta de interesse dos empre-sários em utilizar benefícios daLei do Bem, Fujimoto sugeriu di-fundir mais a legislação para osetor empresarial, além de ajus-tes na norma.

“Além de melhorar, é impor-tante também, e esse é um pa-pel que cabe tanto à entidade(Anpei), para divulgar a lei, e aogoverno, entender do setor pri-vado os problemas relaciona-dos à segurança jurídica na suaaplicação ou se há problemasde adequação”, recomendouFujimoto, que participou da aber-tura da conferência da Anpei.

Na avaliação de Fujimoto, éfundamental verificar os gar-galos e dificuldades que as em-presas enfrentam para aderirtanto à Lei do Bem quanto à Leide Inovação. Nesse caso, re-conheceu o papel da Anpeicomo parceira do governo nadiscussão para melhoria dasduas legislações.

“Percebemos que temos umcaminho bastante grande paraampliar os instrumentos de apoioà inovação em nosso país”, disse.

MDIC vê necessidade de ajustesSão necessárias mudanças na lei para estimular empresas

Empresas habilitadas à Leido Bem - Mesmo diante degargalos, Fujimoto relata avan-ços da Lei do Bem. Citandodados do Ministério de Ciên-cia, Tecnologia e Inovação(MCTI), argumentou que o nú-mero de empresas habilitadasa utilizar a Lei do Bem entre2006 e 2012 subiu de um pou-co mais de 100 empresas para700, um crescimento de setevezes em seis anos.

“Isso mostra que o caminhoque o governo vem construindo,juntamente com a comunidadede pesquisa e com as empresasinovadoras, tem sido bastanteoportuno e positivo”, analisou.

Apesar de tais avanços,Fujimoto reconheceu a necessi-dade de promover melhoras noambiente de inovação do País,para estimular projetos de pes-quisa e de desenvolvimento.

“É verdade que precisamosmelhorar mais”, disse. Nesse caso,Fujimoto citou dados da últimaPesquisa de Inovação (Pintec),do Instituto Brasileiro de Geogra-fia e Estatística (IBGE), de queapenas ¼ das empresas inova-doras do Brasil está habilitadaaos benefícios da Lei do Bem.

Ao considerar fundamentalfazer também ajustes na Lei deInovação, Fujimoto informouque há uma proposta em estu-do, no âmbito do projeto de lei177/2011, que vem sendo dis-cutida com a Anpei, para refor-mar a Lei de Inovação. A inten-ção é melhorar o marco regula-tório “para que a inovação emnosso pais não fique limitada àsquestões legais”.(VM)

pequenas calculadoras. Confor-me o levantamento, 77% dasempresas conhecem a Lei doBem – porém, grande parte dosetor empresarial não utiliza osbenefícios da legislação.

Conforme a pesquisa, maisde 70% dos empresários nãoutilizam o benefício conhecidocomo desoneração fiscal adi-cional de até 20% para empre-sa que aumentar o número depesquisadores dedicados ex-clusivamente à pesquisa e de-senvolvimento.

O estudo apontou ainda quequase a totalidade dos empre-sários (83% do total) não utilizatambém a desoneração adicio-nal de até 20% “na soma dosdispêndios ou pagamentos vin-

culados à pesquisa tecnológicae desenvolvimento de inovaçãotecnológica objeto de patenteconcedida”.

Insegurança jurídica - Para 63%dos participantes, não há segu-rança jurídica para o uso dosbenefícios concedidos pela Leido Bem. Mesmo assim, a pes-quisa indicou que 60% das em-presas demonstram interesse emcomeçar a utilizar os incentivosfiscais da legislação a partir des-te ano, considerado um pontopositivo por dirigentes da Anpei.Na ocasião, eles reiteraram queinovação e tecnologia são ati-vos fundamentais para promo-ver o desenvolvimento social eeconômico.

O presidente do Serviço Brasi-leiro de Apoio às Micro e Peque-nas Empresas (Sebrae), LuizBarreto, considerou fundamentalo País desburocratizar e simplifi-car uma série de mecanismosjurídicos para aumentar os estí-mulos dedicados aos projetos deinovação. Segundo ele, há umadefasagem das pequenas em-presas de pequeno porte na áreade inovação, em relação ao con-junto da economia brasileira.

“Precisamos continuar avan-çando nisso (Lei do Bem). Masenquanto isso não acontece,costumo dizer que o ponto princi-pal é a gestão interna da empre-sa. Isto é, a realização da portapara dentro de um conjunto deinovação, porque é isso que faz adiferença”, disse Barreto, ao dis-correr sobre o tema “A nova ondade empreendedorismo inovadorno Brasil”, durante a 14ª Confe-rência Anpei de Inovação, noExpoCenter Norte.

Segundo o presidente doSebrae, a instituição vem fa-zendo um esforço para melho-rar o ambiente de inovação paraas pequenas e médias empre-sas. Disse que o Sebrae finan-cia até 80% dos projetos liga-dos à inovação das pequenas emédias empresas.

Investimentos - SegundoBarreto, a instituição prevê in-vestir R$ 1 bilhão nos próximostrês anos em programas inova-dores. “É um esforço grande paranão aumentar a defasagem queexiste nas empresas de peque-no porte, em relação ao conjuntoda economia brasileira.”

Ao referir-se aos aspectos so-

cioeconômicos do setor, Barretocitou que existem 12,9 milhõesde médias e pequenas empre-sas no Brasil, responsáveis por20% do Produto Interno Bruto(PIB) e por 70% do emprego.

Ao destacar frutos colhidospela inovação, o presidente doSebrae acrescentou que 75% depequenas e médias empresasinovaram nos últimos dois anos.Desse percentual, 80% aumen-taram o faturamento em razãodos investimentos em inovação.

Capacitação - Na ocasião,Barreto comemorou o fato de osnovos pequenos e médios em-presários terem escolaridademaior na comparação com a ge-ração anterior, considerando quecerca de 80% estudaram o ensi-no médio ou técnico. “Isso tam-bém é um facilitador para entrar-mos na agenda da inovação.”

Na solenidade de aberturado evento, o ministro de Ciência,Tecnologia e Inovação, ClelioCampolina, destacou o papel daAnpei para a coordenação dosistema empresarial e produti-vo, em articulação com os ór-gãos de governo e com as insti-tuições governamentais de fo-mento. E considerou necessárioavançar na ponte entre as comu-nidades científica, acadêmica eempresarial e o governo em umtrabalho conjunto para o desen-volvimento nacional.

“Estou seguro de que esta-mos no caminho certo, embora omundo esteja correndo muito enós também tenhamos de cor-rer, senão iremos ficar para trás”,afirmou o ministro.(VM)

Sebrae recomenda investimentoPrevisão é investir R$ 1 bilhão em programas inovadores

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A quem pertence o conhecimento científico?Como devemos comunicar a ciência?

13ª Conferência Internacional de Comunicação Pública da Ciência e Tecnologia (PCST 2014) foi realizada em Salvador

Edvan Lessa e EmanuelaDelmaestro - Especial para oJornal da Ciência*

À beira-mar de Salvador, noRio Vermelho, um grupo de pes-quisadores brasileiros e estran-geiros reuniu-se de 5 a 8 de maio,mas não para desfrutar a boemiaatribuída ao bairro. Divididos emsalas do Hotel Pestana, eles com-partilharam experiências acercade um desafio imposto a qualquercientista: tornar acessível o co-nhecimento produzido nas insti-tuições e órgãos de pesquisa paraa sociedade.

Diferentes visões de comocomunicar a ciência para públi-cos tão diversos ao redor domundo foram apresentadas, du-rante três dias, na 13ª Conferên-cia Internacional de Comunica-ção Pública da Ciência e Tecno-logia (PCST 2014), cujo temacentral foi Comunicação da Ciên-cia para Inclusão Social e Enga-jamento Político. Realizado emSalvador, pela primeira vez naAmérica Latina, o evento sugereque ainda há um longo caminhopara a inclusão dos povos lati-no-americanos, africanos e asi-áticos nos sistemas de comuni-cação pública da ciência, sejameles tradicionais ou inovadores.

Com 430 trabalhos inscritos,entre comunicações orais epôsteres, cujos temas foram deA a Z, os debates giraram emtorno da 1) comunicação cientí-fica no empoderamento de cien-tistas e público; 2) crenças, valo-res e cidadania; 3) comunicaçãoda ciência e gestores políticos;4) questões emergentes de ciên-cia e sociedade; 5) comunidadelocal, conhecimento e contextoglobal; 6) novas tecnologias enovas práticas na comunicaçãoda ciência, entre outros.

Munidos de ecobags, um guiade palestras com 95 páginas ecredencial com tamanho simi-lar a um tablet de 7 polegadas,físicos, museólogos, biólogos,comunicadores somaram 500pessoas, de 50 nações, dentreelas África do Sul, Austrália, In-glaterra, Colômbia, Alemanha,Japão, Índia, Cazaquistão, Es-tados Unidos, todos desafiadosa demonstrar de que forma de-vemos comunicar a ciência paradiferentes públicos em diver-sos continentes.

Desafio histórico - O físico Ildeude Castro Moreira, da UFRJ, quedirigiu o departamento de Popu-larização e Difusão da Ciência eTecnologia do MCTI, de 2004 a2013, sendo responsável pelaSemana Nacional de Ciência e

Tecnologia durante os últimosanos, argumentou que populari-zar o conhecimento científico éum desafio histórico no país.“Mesmo sendo fundamental paraa cidadania, ainda há uma visãoestreita quanto à formação decidadãos por meio da divulga-ção”, afirma.

Para ele, que foi contempla-do na 33ª edição do Prêmio JoséReis de Divulgação Científica eTecnológica, do CNPq, aindanão existe um sistema públicode comunicação adequado. “Issofacilitaria a divulgação, mais doque na iniciativa privada”.

Curiosamente, ao mesmotempo em que aplaude a reali-zação de um evento que congre-ga interessados em divulgaçãoda ciência, pondera que nemtodo pesquisador tem a obriga-ção de promovê-la. “As institui-ções é que deveriam realizarprogramas para isso”, enfatiza.

Numa espécie de nostalgiainduzida, ele rememora que nosúltimos 10 anos houve 35 editaispara projetos de difusão de ciên-cia e tecnologia (C&T), numamédia de 500 milhões de reais deinvestimentos por ano. Torna pro-eminente, além disso, a criaçãode universidades no interior dopaís oficializada pelo governo fe-deral e o papel de destaque dasFundações de Amparo à Pesqui-sa na tarefa de pulverizar a ciên-cia nas diversas regiões do País.

Douglas Falcão, atual repre-sentante do MCTI, segurou adeixa de seu antecessor sobrepolíticas de C&T e resumiu queo Brasil tem investido anualmen-te em propostas para descentra-lizar o conhecimento das insti-tuições de pesquisa. Ele revelaum corte (não diz quanto), masnão amarga a possibilidade deimpactos negativos, já que, nasua visão, o setor adquiriu umaespécie de “blindagem”.

“Em ciência e tecnologia estátudo acontecendo em rede. Oque surge como mais importante(no evento) é essa aproximaçãocom os países da América Latinae Caribe”, sobressalta Falcão.

Realizado pela primeira vezem 1989, o evento foi trazido parao Brasil pela jornalista e pesqui-sadora Luiza Massarani, juntocom a pesquisadora GermanaBarata, após seis edições reali-zadas na Europa, duas na Ásia,uma na África, uma na Américado Norte e outra da Austrália.

“Foram quatro anos até con-seguir trazer o evento para cá”,lembra Barata, assídua nos fórunsestrangeiros. Durante uma con-versa, a professora do Laborató-rio de Estudos Avançados em

Jornalismo da Universidade deCampinas (Labjor-Unicamp) eeditora da revista Ciência e Cul-tura e Comciência, ambas publi-cadas pela SBPC, não apenasreconheceu o esforço para sediaro evento, como também paradivulgá-lo. Ou seja, foi um desa-fio metalinguístico repercutir umevento sobre divulgação.

Modelo alternativo - LuizaMassarani, do Núcleo de Estu-dos da Divulgação Científica doMuseu da Vida, membro da RedPop-Unesco - Rede de Populari-zação da Ciência e da Tecnolo-gia para a América Latina e oCaribe, e editora da América La-tina e do Caribe para o portalSciDev.Net, revela que 61% dosparticipantes do PCST 2014 vie-ram de países em desenvolvi-mento. Ainda assim, no ato dainscrição para a conferência, par-ticipantes residentes em paísescom baixo PIB tiveram subsídiospara participar desse evento.

Num outro aspecto, ela con-sidera que o evento está sendouma vitrine importante de trocade experiências. “Tivemos aquipessoas que trabalham a divul-gação científica em diversasvertentes, mas o PCST 2014soma esforços na tentativa depensar um modelo de Ciênciaalternativo ao modelo eurocên-trico”, completa a pesquisadora.

Mais de 100 sessões, algumasdelas realizadas simultaneamen-te, reuniram editores de importan-tes publicações internacionaiscomo Science Communication,Nature MiddleEast, SciDev.net,além de importantes instituiçõescomo Espaço Ciência Laborató-rio Tecnológico do Uruguai, So-ciedade Mexicana para Divul-gação da Ciência e da Técnica,Instituto Nacional de Pesquisasda Amazônia, Conselho Nacio-nal para Comunicação da Ciên-cia e Tecnologia da Índia, Asso-ciação Chilena e Africana de

Jornalistas Científicos, InstitutoGuldenkian de Ciência de Por-tugal, Museu de Ciência de Lon-dres, Parque Explora Colômbia,Espaço Ciência – Pernambuco,Centro Redes da Argentina, Red-Pop Unesco, Observatório Co-lombiano de Ciência e Tecnolo-gia, Museu da Vida – Casa deOswaldo Cruz-Fundação Oswal-do Cruz, Observatório de Singa-pura, entre outros.

As regiões nordeste e norte,geralmente excluídas do debateacerca da comunicação da ciência, com poucos grupos de pes-quisa organizados em instituições,teve a participação de sete univer-sidade e oito institutos federaisnordestinos com apresentação detrabalhos. Com rica experiênciade pesquisa nas regiões sul esudeste, um maior número de pes-quisadores representaram suasinstituições originárias de SãoPaulo, Campinas, São Carlos, edos estados de Minas Gerais, Riode Janeiro, Paraná, entre outras.

Políticas de divulgação - Ex-di-retora da Associação Brasileirade Jornalismo Científico, a pro-fessora da UFBA e pesquisadoraSimone Bortoliero considerou aescolha por Salvador uma deci-são acertada da Comissão Exe-cutiva do PCST. “As reflexõesneste evento irão fortalecer o di-álogo entre pesquisadores e jor-nalistas no estado da Bahia, como intuito de contribuirmos com ademocratização do conhecimen-to científico numa região carentede políticas de divulgação, combaixos investimentos nos editais,ausência de espaços em mídiaslocais, além de pensarmos emnovas maneiras de como levar aciência para milhares de nordes-tinos sem acesso à comunicaçãopública da ciência”, enfatizou.

*Agência de Notícias em C,T&Ida Faculdade de Comunicaçãoda UFBA.

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Biofábricas: alternativas sustentáveis para novos materiaisPesquisadores da Embrapa usam a biotecnologia e a engenharia genética para criar produtos a partir de organismos vivos

Edna Ferreira

Uma fibra resistente e flexívelcomo a teia da aranha, antígenoscontra o câncer e até um antiviraldo HIV. Esses são alguns exem-plos dos biomateriais que po-dem ser produzidos com o auxí-lio da biotecnologia e engenha-ria genética. Pesquisadores bra-sileiros, liderados pelo enge-nheiro agrônomo e doutor emengenharia genética ElíbioRech, da Embrapa RecursosGenéticos e Biotecnologia, deBrasília, estão usando organis-mos vivos para produzir materi-ais que poderão ser produzidosem larga escala – são as chama-das biofábricas.

No caso da fibra que imita ateia da aranha, o grupo de pes-quisa escolheu esse material porter uma tremenda demanda peloser humano – ser ao mesmotempo resistente e flexível. Elesdesenvolveram uma forma deproduzir as fibras, mas sem pre-cisar retirar o animal da fauna.Isso possibilita a reprodução domaterial pelas indústrias de for-ma sustentável e econômica.

“Fomos até a biodiversidadeda região da Amazônia, da MataAtlântica e do Cerrado, coleta-mos várias aranhas, fizemos ogenoma, descobrimos o geneassociado à produção da teia dearanha, isolamos esses genesno laboratório e fizemos umabactéria produzi-lo em escala.Nós isolamos a bactéria e pro-duzimos a fibra”, resume Rech.

Nesse experimento, a bacté-ria é uma biofábrica, mas eventu-almente os pesquisadores podemutilizar uma planta, uma célula deum animal ou um outro sistemaque possibilite produzir em umaescala a um custo mais reduzido.“Usamos a bactéria no laboratórioporque é muito prática e com oque eu isolo no laboratório já po-demos produzir 20, 30, 50 metrosde fibra. Eu não preciso mais doque isso para fazer a avaliação,do ponto de vista científico”, diz.

De acordo com Elíbio Rech, apesquisa partiu da ideia de fazeruma avaliação potencial de bio-diversidade, empregação de va-lor e exploração sustentável. “Nofuturo, nós devemos fazer issocom a biodiversidade, avaliar al-guns organismos ou vários, eisolar somente a característicaque nós queremos, ao mesmotempo em que você conserva,agrega valor. Essa é a premissaque sustenta o projeto”, afima.

Muitas possibilidades - A biofibraproduzida em laboratório poderáter várias utilizações. “Essa fibrapoderá servir não só para utiliza-ção na criação de um materialresistente e flexível por si mesmo,mas também na composição demateriais para aumentar a flexi-bilidade e resistência, por exem-plo: ser componente de partesde avião, reduzindo o peso daaeronave e consequentementereduzir o consumo de combustí-vel e emissão de CO² na atmos-fera. Nós poderemos usar em

casco de navios, fazer um coleteà prova de balas ou um terno queseguraria o tiro de uma arma, ouainda usar em microssutura, por-que ele é biodegradável e nãoinduz resposta imune no ser hu-mano, em mamíferos. Poderiamser feitos filmes para queimadu-ras, ou seja, é um novo materialque pode ter várias aplicações”,relata Rech.

Em outra pesquisa realizadapelo grupo de Elíbio Rech, sãousadas plantas já domesticadas,a exemplo da soja e o tabaco,como biorreatores. De acordo comele, as proteínas recombinantessão feitas artificialmente a partirde genes clonados. Neste caso,os pesquisadores conseguiramreproduzir em larga escala, den-tro do grão de soja ou na folha detabaco, proteínas que podem ser

utilizadas para criar antígenos con-tra o câncer, antiviral do HIV,hormônio do crescimento e o fatorde coagulação IX, para tratar pes-soas com hemofilia.

A soja foi escolhida, segundoRech, por sua capacidade deestocagem e devido à durabilida-de das sementes, que podemmanter as moléculas ativas poraté cinco anos. No caso do taba-co, a escolha foi porque é umaplanta na qual é possível produziras proteínas de forma mais rápidado que em outros sistemas.

A pesquisa recebeu aporte fi-nanceiro da Fundação de Apoio àPesquisa do Distrito Federal(FAPDF), no valor de R$1.534.090,48, de acordo comedital do Programa de Apoio aNúcleos de Excelência (Pronex/FAPDF/CNPQ).

Fibra que imita a teia da aranha é um dos biomateriais

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CTNBio analisa liberação comercial de eucalipto transgênicoÁrvores geneticamente modificadas proporcionam produtividade de até 20% acima do convencional

Viviane Monteiro

O Brasil pode começar a pro-duzir eucalipto transgênico emescala comercial para atender omercado de madeira. Desenvol-vido pela FuturaGene, braço di-reito de biotecnologia da SuzanoPapel e Celulose, o eucaliptogeneticamente modificado, ba-tizado de H421, faz parte dos 19itens da pauta de liberação co-mercial da Comissão TécnicaNacional de Biossegurança(CTNBio) a ser deliberada aindaneste mês de maio.

Com intuito de aumentar aprodutividade das florestas deeucalipto, os cientistas daFuturaGene introduziram umnovo gene nessa cultura, quereduz em quase dois anos otempo de maturação do eucalip-to, além de deixar o tronco daárvore mais largo do que o tradi-cional. Enquanto o convencio-nal leva um ciclo de sete anos,em média, para ser colhido, o doeucalipto transgênico dura cin-

co anos e meio, segundo infor-mações da FuturaGene.

O vice-presidente de Assun-tos Regulatórios da empresabiotecnologia, Eugênio CésarUlian, disse que o eucaliptotransgênico proporciona produ-tividade de até 20% maior doque o convencional.

“Considerando o mercado depapel e celulose, o eucaliptogeneticamente modificado, comcerca de 20% de aumento deprodutividade, poderá ser co-lhido aproximadamente em 5anos e meio após o plantio, ga-rantindo o mesmo volume demadeira obtido hoje com o euca-lipto convencional aos sete anosde idade”, avalia.

O eucalipto transgênico, de-senvolvido em 2001 e sob avalia-ção em campo desde 2006, foiprotocolado na CTNBio em janei-ro deste ano, quando foi submeti-do à analise para sua liberaçãocomercial. Caso seja aprovado, aprevisão da FuturaGene é de quea primeira colheita desse organis-

mo geneticamente modificado(OGM) chegue ao mercado nospróximos seis ou sete anos.

Rigor técnico - Sem entrar emdetalhes, o presidente daCTNBio, Edivaldo DominguesVelini, afirmou ao Jornal da Ciên-cia que o eucalipto transgênicoserá analisado com o mesmorigor que é dado a qualquer OGMsubmetido à Comissão. Ocolegiado da CTNBio avalia osimpactos ambiental, social eeconômico dos OGMs.

Conforme dados daFuturaGene, o aumento da pro-dutividade do eucalipto transgê-nico oferece diversos benefíciosao meio ambiente. Isso porque aprodutividade maior exige me-nos terra cultivada, o que implicaredução de insumos, de água ede liberação de carbono, porexemplo. Além disso, terras dis-poníveis podem ser direciona-das a outros fins, como a preven-ção ambiental, e o plantio sus-tentável e renovável pode redu-

zir a pressão para extração demadeiras das florestas naturais.

Ao abordar o impacto socioe-conômico do eucalipto transgêni-co, Ulian disse que a Suzano vaidisponibilizar a tecnologia paraos pequenos produtores ruraisassociados à empresa, tornandotal inovação rentável para todo omercado de papel e celulose.

Tendência mundial - Conformeacrescentam dados da empresa,a tendência é de aumento dademanda por madeira ao redorde 60% até 2030, diante do cres-cimento da população mundial,que deve saltar dos atuais setebilhões para mais de oito bilhõesaté lá. “Para atender às exigên-cias globais de forma sustentávelé necessário criar soluções tec-nológicas que possibilitem pro-duzir mais com menos recursos”,destaca a empresa em relatório.

Os dados citam ainda queum dos principais desafios doBrasil em longo prazo é aumen-tar os recursos de produção.

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Agenda científicaAgenda científica

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BrevesBreves Livros & RevistasLivros & Revistas

Encontros científicosIII Simbioma - Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica -O Simpósio sobre Biodiversidade da Mata Atlântica é um eventocientífico realizado pela Associação de Amigos do Museu de BiologiaMello Leitão - Sambio e o Museu de Biologia Mello Leitão (MBML), emparceria com diversas instituições públicas e privadas. Sob o tema"Áreas Protegidas e Biodiversidade", será realizado no período de 29deste mês a 06 de junho, em Santa Teresa (ES). Mais informações:www.simbioma.webnode.com

Feira de Ciências na Escola - A Secretaria de Estado de Educaçãode Mato Grosso (Seduc/MT) realizará o evento de 17 a 19 denovembro. O projeto tem o objetivo de desenvolver a iniciação àpesquisa científica júnior nas escolas da educação básica.A participação das escolas (públicas e privadas) será mediante ainscrição dos projetos de pesquisa dos estudantes da educaçãobásica, pelo endereço www.fecebmt2014.seduc.mt.gov.br. Mais in-formações: (65) 3613-6404 ou 3613-6319.

24º Congresso Brasileiro de Engenharia Biomédica (CBEB) -Pela primeira vez, a Universidade Federal de Uberlândia (UFU)sediará o evento científico, um dos maiores da área na América Latina.Acontecerá de 13 a 17 de outubro, com o tema central "A EngenhariaBiomédica como propulsora de desenvolvimento e inovação tecno-lógica em saúde". As inscrições deverão ser feitas a partir do dia 3de março no site http://cbeb.org.br

Carreiras e oportunidadesPrêmio José Reis de Divulgação Científica e Tecnológica - Édestinado às iniciativas que contribuam significativamente para tornara Ciência, a Tecnologia e a Inovação conhecidas do grande público. Asinscrições para a edição 2014 estão abertas e vão até 23 de maio desteano. Mais informações: www.premiojosereis.cnpq.br

Bolsas para Gestão Pública na América Latina - A Fundação Botínestá com inscrições abertas para o programa de bolsa do curso deFortalecimento da Gestão Pública na América Latina. Serão selecio-nados 40 bolsistas de todos os países da América Latina até o dia 26de maio. Mais informações acesse www.fundacionbotin.org/becas-bo t in -de- fo r ta lec imien to-de- la - func ion-pub l i ca_becas-y -concursos.htm

6th Brazil School for Single Particle Cryo-EM - Estão abertas asinscrições para a sexta edição da Brazil School for Single Particle Cryo-EM, que será realizado de 14 a 26 de agosto de 2014, no Grinberg'sVillage Hotel, em Socorro (SP). O curso é organizado pela Universidadede Leiden, da Holanda, em parceria com o Laboratório Nacional deNanotecnologia (LNNano). Informações na página do evento na internet- www.single-particles.org/school_2014

Tome CiênciaExibido em diversas emissoras com variadas alternativas de horários, oprograma promove debates sobre temas da atualidade com cientistas dediferentes especialidades. Horários e emissoras podem ser conferidos napágina www.tomeciencia.com.br. A seguir, alguns dos próximos temas:

Química além das fórmulas - 10 a 16 de maio - Especialistasparticipam de debate sobre a química que está presente em tudo:borracha, plástico, celulose; tudo depende de compostos e reaçõesquímicas. E se a ciência da química permitiu transformar petróleo emplástico, pode estar na química também a solução para reciclagens,filtragens e despoluição.Entre os participantes estão Álvaro Chrispino, professor da UFRJ e doensino médio no Centro Federal de Educação Tecnológica CelsoSuckow da Fonseca, que publicou livros sobre o ensino de química etambém conhece as dificuldades do ensino de ciências no ciclo básico.E Angelo da Cunha Pinto, professor titular do Departamento de QuímicaOrgânica da Universidade Federal do Rio de Janeiro.

As muitas formas de educação científica - 17 a 23 de maio -Repensar e definir o tipo de difusão e educação científica que queremosé o desafio dos convidados do programa. O debate deve abordar comoa divulgação dos benefícios da ciência ajuda a estimular vocações epermite a defesa de mais recursos para as pesquisas.Na lista de participantes estão Maria de Fátima Brito Pereira, socióloga,diretora executiva da Casa da Ciência; Henrique Lins e Barros, doutorem física e pesquisador do CBPF e Nelson Maculan Filho, doutor emengenharia de produção, que já foi reitor da UFRJ.

Parasita transgênico - Pesquisadoresdo Instituto de Biociências da Univer-sidade de São Paulo (IB-USP) desen-volveram uma versão transgênica doparasita causador da forma mais agres-siva de malária humana – o Plasmodiumfalciparum – que poderá auxiliar natriagem de novos medicamentos con-tra a doença. Os resultados da pesquisa– conduzida com apoio da Fapespdurante o doutorado de Lucas BorgesPereira – foram apresentados no dia 15de abril no “Workshop at the Interfacebetween Physics and Biology”, emSão Paulo.

Outro Sol - Um quarteto de pesquisa-dores brasileiros da UFRJ e do Obser-vatório Nacional desenvolveu um pro-tocolo para a busca de estrelas gêmeasdo Sol, iniciando a caça por umapropriedade simples: a cor. O traba-lho, que pode ter implicações impor-tantes para a compreensão de como seformam sistemas planetários seme-lhantes ao nosso, resultou na detecçãode cinco prováveis gêmeas solares,além de outras cinco que se poderiamenquadrar na categoria. Na primeirapeneirada eles usaram basicamente acor – e com isso chegaram a 133candidatas parecidas com o Sol.

Contra a malária - O Laboratório dePesquisa em Malária do InstitutoOswaldo Cruz (IOC-Fiocruz) está de-senvolvendo drogas alternativas quepossam ser administradas junto comuma vacina contra a malária paraaumentar a imunidade em relação àdoença. Segundo Cláudio TadeuDaniel Ribeiro, chefe do laboratório,ainda não há, porém, perspectiva dequando a vacina ou as novas substân-cias estarão disponíveis. Para ele, ogrande desafio para o Brasil, hoje, éeliminar a malária que mata, antes queela se torne resistente às drogas dispo-níveis, procurando as pessoasinfectadas em suas casas, como ocor-ria na década de 1950.

Olho biônico - Uma equipe médicado Centro Kellogg de Visão da Uni-versidade do Michigan fez um ho-mem voltar a enxergar. Para isso,Roger Pontz teve a retina artificialimplantada em seu olho esquerdo eutiliza um óculos com uma pequenacâmera de vídeo e um transmissor. Asimagens da câmera são convertidasem uma série de impulsos elétricos,que são transmitidos aos eletrodosexistentes na superfície da retina arti-ficial. Ele foi um dos quatro pacientesda Universidade de Michigan a rece-ber um olho biônico. A FDA, agênciaamericana que regulamenta alimen-tos e medicamentos, aprovou a retinaartificial no ano passado.

Mosca tsé-tsé - Depois de um esforçode dez anos, um grupo de cientistascoordenado por um especialista daUniversidade de Yale, nos EUA, con-seguiu decodificar os genes da moscatsé-tsé – principal transmissora da do-ença do sono na África. Com esteconhecimento, eles esperam encon-trar novas formas de repelir ou mataros insetos, cuja picada transmite adoença parasitária que, como a raiva,leva as vítimas à loucura antes que elasentrem em coma e morram. As moscastambém transmitem uma doença queenfraquece e mata o gado, o que tornagrandes regiões da África inóspitaspara a criação de animais.

O Inpa É Realmente Importantepara a Amazônia?: uma análisea partir da percepção de pesqui-sadores e tecnologistas do Inpa- A obra é um estudo de casosobre o Inpa e é resultado dadissertação de mestrado defen-dida por Fernanda Morais juntoao Programa de Pós-Gradua-ção em Desenvolvimento Re-gional, da Universidade Federaldo Amazonas (Ufam).

Metais Não Ferrosos e Suas Li-gas – Microestrutura, proprie-dades e aplicações – O conhe-cimento sobre os fundamentosdas ligas de metais não ferrososno Brasil só contava com o su-porte didático em língua portu-guesa de publicações esgota-das e com mais de 20 anos.Para suprir essa lacuna, CássioBarbosa, tecnologista da áreade Ensaios em Materiais e Pro-dutos do Instituto Nacional deTecnologia, elaborou este livro.Editora E-papers

Conversando sobre EducaçãoTecnológica – O livro de WalterAntonio Bazzo é uma reflexãosobre o ensino tecnológico. Se-gundo ele “a forma de trabalharo conhecimento com nossosestudantes está muito bem com-portada. Bem comportada nosentido de não causar impactosnem desmotivações junto aosjovens.” Bazzo é doutor em edu-cação, pesquisador e professordo Programa de Pós-Gradua-ção em Educação Científica eTecnológica da UniversidadeFederal de Santa Catarina. Edi-tora EdUFSC

Mídia, Poder e Contrapoder: Daconcentração monopólica à de-mocratização da informação -Este livro reafirma as convicçõesde seus autores em um jornalis-mo ético, plural e irredutível àresignação e à cooptação. Umjornalismo comprometido com ainquietação, a energia e a imagi-nação necessárias para ultra-passar a ordem social vigente. Apublicação foi organizada porDenis de Moraes, IgnácioRamonet, Pascual Serrano. Edi-tora: Boitempo

Microfísica do Documentário:Ensaio sobre criação e ontologiado documentário – A obra é re-sultado de uma adaptação datese de doutorado defendida noPrograma de Pós-Graduaçãoem Comunicação e Cultura daEscola de Comunicação daUFRJ. Inspirado em MichelFoucault, o autor Luiz AugustoRezende aborda aspectos me-nos visíveis do documentário, apartir de uma cuidadosa revisãode conceitos e teorias. EditoraAzougue Editorial

Page 12: JORNAL da CIÊNCIA Ed. 758

JORNAL da CIÊNCIAPUBLICAÇÃO DA SBPC • 9 DE MAIO DE 2014 • ANO XXVIII Nº 758

Edna Ferreira

A Academia Brasileira de Ciên-cias (ABC) realizou no dia 6 demaio, no Rio de Janeiro, a ceri-mônia de diplomação e posse de23 novos membros titulares equatro correspondentes. Entre osempossados, dois pesquisado-res que participaram da diretoriada Sociedade Brasileira para oProgresso da Ciência (SBPC):Otávio Guilherme Cardoso AlvesVelho, do Museu Nacional/UFRJ,e Carlos Alexandre Netto, da Uni-versidade Federal do Rio Gran-de do Sul (UFRGS).

A presidente da SBPC, Hele-na Nader, que participou da entre-ga dos diplomas, destacou a pos-se dos ex-diretores da SBPC. “Éuma emoção ver o Otávio Velho,que foi nosso vice-presidente, fa-zer parte da Academia. Ele é umantropólogo incrível e um grandeamigo. Já o Alexandre Netto sem-pre foi muito ativo na SBPC. É umagrande alegria vê-los tomar pos-se na ABC”, enfatizou.

Em seu discurso, o presiden-te da ABC, Jacob Palis, lembrouque a entidade está perto decompletar 100 anos (será em2016) e ressaltou os esforços daacademia para a aproximaçãodos setores científico e empre-sarial. “Estamos sempre promo-vendo encontros entre os mem-bros da academia, empresas egoverno. Essa parceria é essen-cial para o desenvolvimento daciência, tecnologia e inovaçãodo País”, defendeu.

Presente ao evento, o minis-tro da Ciência, Tecnologia e Ino-vação (MCTI) Clelio CampolinaDiniz discursou enfatizando opapel de vanguarda da Acade-mia Brasileira de Ciências parao desenvolvimento do setor noPaís. Ele convocou os recém-nomeados a participar da cons-trução de um novo programa deCT&I com o Ministério.

“Junto com a educação, estouconvencido que a ciência, tecno-

logia e inovação formam a baseestruturante para um desenvolvi-mento econômico com justiçasocial e sustentabilidade. Comisso poderemos reduzir as desi-gualdades e melhorar a inserçãodo Brasil no cenário internacio-nal”, ressaltou o ministro.

Homenagem – Os 23 novosmembros titulares foram dividi-dos por área de atuação: Mate-mática e as Ciências Físicas,Químicas, da Terra, Biológicas,Biomédicas, da Saúde e So-ciais. Já os quatro membros cor-respondentes são StefanLaufer, da Alemanha; Xiao-LinWang, da China; Douglas TaylorGolenbock, da Universidade deMassachusetts; e FrédéricChecler, da Universidade Nice-Sophia-Antipolis.

Durante a cerimônia de pos-

se, a ABC prestou uma homena-gem à geógrafa Bertha Becker,falecida em 2013. O filho, PauloBecker, e a neta, Alessandra,receberam uma placa em reco-nhecimento ao trabalho da pes-quisadora para o desenvolvi-mento da Amazônia.

Após a diplomação, o profes-sor emérito da UFRJ José Murilode Carvalho fez um discurso desaudação aos recém-chegadosà ABC. “A Academia reconhe-ceu o mérito de cada um devocês. Por isso, é importante quetodos participem do trabalhodessa casa brasileira de ciênciae contribuam para o seu desen-volvimento”, destacou.

A pesquisadora Susana InésCordoba de Torresi, da USP,falou pelos novos membros. “Sehoje estamos aqui, é porquenossa competência foi reconhe-

cida por nossos pares. Estamosprontos para o desafio maior ecolaborar para o desenvolvi-mento desse País. Vamos traba-lhar junto com a ABC para levaradiante o compromisso de de-senvolver a ciência, tecnologiae inovação no Brasil”, enfatizou.

Também participaram da so-lenidade o presidente do Con-selho Nacional de Desenvolvi-mento Científico e Tecnológico(CNPq/MCTI), Glaucius Oliva; osecretário estadual de Ciência eTecnologia, Alexandre SérgioAlves Vieira; o secretário muni-cipal, Franklin Dias Coelho; osecretário de Ciência, Tecnolo-gia e Inovação da Marinha, Ser-gio Roberto Fernandes dos San-tos; e o presidente da Fundaçãode Amparo à Pesquisa do Esta-do do Rio de Janeiro (Faperj),Ruy Garcia Marques.

Mesa de autoridades contou com a presença do ministro Campolina e da presidente da SBPC, Helena Nader

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Novos membros da ABC tomamposse em solenidade no RJ

Entre os diplomados estavam dois ex-diretores da SBPC,Otávio Velho, da UFRJ, e Carlos Alexandre Netto, da UFRGS

Vivian Costa

No último dia 22 de abril aCongregação do Instituto de Quí-mica da Universidade de SãoPaulo inaugurou um memorialem homenagem aos 40 anos dodesaparecimento da professoraAna Rosa Kucinski, vítima daditadura militar. A cerimôniaaconteceu no Instituto de Quími-ca da USP e contou com a pre-sença de Helena Nader, presi-dente da Sociedade Brasileira

Memorial em homenagem aos 40 anos dedesaparecimento de Ana Rosa Kucinski

para o Progresso da Ciência(SBPC), Vahan Agopyan, vice-reitor da USP , além de repre-sentantes das Comissões daVerdade da USP, do Estado e daNacional, da Sociedade Brasi-leira de Bioquímica e BiologiaMolecular (SBBq), entre outros.

Segundo o diretor do Institu-to, Luiz Henrique Catalani, aideia de criar um memorial sur-giu em uma reunião da Congre-gação há cerca de dois anos. “ACongregação sempre foi solidá-

ria ao sofrimento da família, e porisso resolvemos criar um memo-rial para ficar em nosso jardim”,explica. “Hoje faz exatamente40 anos que a professora foivista, e, por isso, escolhemos adata para a inauguração”, expli-cou Catalani.

Ele também lembrou que aCongregação decidiu no últimodia 17 por unanimidade revogara demissão da docente e mili-tante da Ação Libertadora Na-cional (ALN). “A congregaçãodecidiu anular a decisão de 1975porque foi um equívoco declarara demissão de Ana Rosa porabandono de emprego. Ela nãoabandonou o emprego, depoisficaram sabendo que ela havia

sido presa e assassinada”, dis-se. A decisão de 1975 levou emconta uma nota oficial do Minis-tério da Justiça pela qual a pro-fessora e o seu marido, WilsonSilva, desaparecido junto comela, eram “terroristas” e estavam“foragidos”.

Além da revogação da de-missão de Ana Rosa ficou deci-dido, também por unanimidade,a transmissão de um pedido for-mal de desculpas à famíliaKucinski.

Catalani disse ainda que, em1988, a professora já havia sidohomenageada pelo institutocom a criação da AssociaçãoAtlética Acadêmica Ana RosaKucinski (AAAARK).

Professora, militante da ALN, foi vítima da ditadura militar