jornal da câmara

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BRASÍLIA-DF, 10 A 16 DE MAIO DE 2010 CÂMARA DOS DEPUTADOS Ano 11 | Número 2457 EDIÇÃO SEMANAL Impresso Especial 9912170931/2007-DR/BSB CÂMARA DOS DEPUTADOS CORREIOS Ainda faltam ser analisados nove destaques que alteram o texto; três já foram rejeitados Carlos Abicalil defende projeto que autoriza governo a remanejar livremente 30% das dotações globais do PAC Seminário promovido pela Comissão de Educação e Cultura destacou a obra do maior geógrafo brasileiro e um dos grandes críticos do atual modelo de globalização Deputados devem concluir nesta semana votação do Ficha Limpa MILTON SANTOS | 5 ENTREVISTA | 11 Carlos Santana: 122 anos após a abolição, os negros brasileiros estão na base da pirâmide social e recebem os piores salários ORÇAMENTO | 7 BRIZZA CAVALCANTE PÁGINA 3 Na semana passada, deputados e integrantes do Movimento Contra a Corrupção Eleitoral lavaram a rampa do Congreso pela aprovação do Ficha Limpa

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Page 1: Jornal da Câmara

BRASÍLIA-DF, 10 A 16 DE MAIO DE 2010 CÂMARA DOS DEPUTADOS Ano 11 | Número 2457

edição semanal

impresso especial

9912170931/2007-dR/BsBCÂmaRa dos dePUTadosCoRReios

Ainda faltam ser analisados nove destaques que alteram o texto; três já foram rejeitados

Carlos Abicalil defende projeto que autoriza governo a remanejar livremente

30% das dotações globais do PAC

Seminário promovido pela

Comissão de Educação e Cultura

destacou a obra do maior geógrafo

brasileiro e um dos grandes críticos do atual modelo de globalização

Deputados devem concluir nesta semana votação do Ficha Limpa

MiLton SAntoS | 5

EntREViStA | 11

Carlos Santana: 122 anos após a abolição, os negros brasileiros estão na base da

pirâmide social e recebem os piores salários

oRÇAMEnto | 7

Brizza CavalCante

PÁGINA 3

na semana passada, deputados e integrantes do Movimento Contra a Corrupção eleitoral lavaram a rampa do Congreso pela aprovação do Ficha limpa

Page 2: Jornal da Câmara

agenda

Disque - Câmara 0800 619 619www.camara.gov.br

2

Processo legislativoEdição semanal - 10 a 16 de maio de 2010

Diretor: sérgio Chacon (61) 3216-1500 [email protected]

câmara dos Deputados - anexo i - sala 1508 - 70160-900 Brasília [email protected] | Fone: (61) 3216-1660 | distribuição - 3216-1826

1º vice-Presidentemarco maia (PT-Rs)2º vice-Presidenteantonio Carlos magalhães neto (dem-Ba)1º secretárioRafael Guerra (PsdB-mG)2º secretárioinocêncio oliveira (PR-Pe)3º secretárioodair Cunha (PT-mG)4º secretárionelson marquezelli (PTB-sP)

suplentesmarcelo ortiz (PV-sP), Giovanni Queiroz (PdT-Pa), leandro sampaio (PPs-RJ) e manoel Junior (PsB-PB)ouvidor Parlamentarmario Heringer (PdT-mG)Procurador Parlamentarsérgio Barradas Carneiro (PT-Ba)Diretor-geralsérgio sampaio de almeidasecretário-geral da Mesamozart Vianna de Paiva

Presidente: michel Temer (PmdB-sP)

DiretorPedro noleto

editora-chefeRosalva nunes

DiagramadoresGuilherme Rangel BarrosJosé antonio FilhoRoselene Figueiredo

ilustradorRenato PaletEditor de fotografia Reinaldo Ferrigno

editoresmaria Clarice diasRenata Tôrres Roberto seabra

seCom - secretaria de Comunicação social

Jornal da Câmara

impresso na Câmara dos deputados (deaPa / CGRaF) em papel reciclado

mesa diretora da Câmara dos deputados - 53a legislatura seCom - secretaria de Comunicação social

seGUnda-FeiRa

Sessão solene Ia câmara realiza sessão solene

em homenagem ao monsenhor Murilo de sá Barreto. Plenário Ulysses gui-marães, às 10h

TeRça-FeiRa

Educação física especiala comissão de turismo promove o

seminário “a educação Física escolar especial: a inclusiva e as paraolímpi-cas”. auditório Nereu ramos, a partir das 8h30

Sessão solene IIa câmara realiza sessão solene em

homenagem ao centenário do escritor aurélio Buarque de Holanda. Plenário Ulysses guimarães, às 10 horas

Planos de saúdea comissão de legislação Partici-

pativa realiza o seminário “Planos de saúde e cooperativismo na saúde”. Plenário 3, às 14 horas

Reunião de líderesOs líderes reúnem-se para definir

a pauta da semana e receber os pre-sidentes do stF, cezar Peluso, e do tse, ricardo lewandowski. gabinete da Presidência, às 14h30

Rede Certificas comissões de educação e de

trabalho discutem o Programa Nacional de Certificação e Formação Inicial e Continuada (Rede Certific). Plenário a definir, às 14h30

Ciência e tecnologiaa comissão de ciência e tecnolo-

gia debate a 4ª conferência Nacional de ciência, tecnologia e inovação. Plenário 13, às 14h30

Correiosa comissão de Defesa do con-

sumidor discute o desempenho das atividades da empresa Brasileira de Correios e Telégrafos. Plenário a definir, às 14h30

A Câmara dos Deputados oferece inscrições, até 14 de maio, para nova turma do curso de processo legislativo e eleitoral para jornalistas. As aulas, ministradas em Brasília, poderão ser acompanhadas por jornalistas de ou-tros estados com transmissão ao vivo, pela internet.

A abertura ocorrerá em 17 de maio, às 9 horas, com palestra do se-cretário-geral da Mesa, Mozart Vian-na de Paiva. As aulas serão realizadas às segundas e às sextas-feiras, das 9 horas ao meio-dia, entre 17 de maio e 21 de junho.

Para se inscrever, é necessário en-caminhar e-mail para imprensa@ca-

Bancoopa comissão de Fiscalização e con-

trole debate a situação dos cooperados lesados pela cooperativa Habitacional dos Bancários (Bancoop) de são Paulo. Plenário a definir, às 14h30

Código de Aeronáuticaa comissão especial do código

Brasileiro de aeronáutica (Pl 6716/09) realiza audiência com o presidente da associação Brasileira de Direito aeronáu-tico e espacial, adyr da silva. Plenário 11, às 14h30

Dívida públicaa cPi da Dívida Pública reúne-se

para votar o relatório final do deputado Pedro novais (PmdB-ma). Plenário 9, às 14h30

QUaRTa-FeiRa

Pesquisa do Ipeao presidente do ipea, Márcio Po-

chmann, comparece à comissão de relações exteriores para falar sobre a publicação “Brasil: o estado de uma Nação”. Plenário 3, a partir das 10h

Caixa Econômicaa comissão de Desenvolvimento

econômico discute a concessão de crédito da União à caixa econômica. Plenário 5, às 10h30

Brasil 2022as comissões da amazônia, de Meio

ambiente e de Desenvolvimento econô-mico debatem o Plano Brasil 2022, que será entregue ao presidente lula. Pre-sença do ministro-chefe da secretaria de assuntos estratégicos da Presidência da república, samuel Pinheiro guimarães. Plenário a definir, às 14h

Violência urbanaa cPi da violência Urbana discute os

índices crescentes de violência urbana e as ações necessárias para minimizá-los. Plenário a definir, às 14h

Contribuição de inativosa comissão especia da contribui-

ção de inativos (Pec 555/06) realiza audiência com o secretário geral da confederação dos trabalhadores no serviço Público Federal, José Milton costa. Plenário 13, às 14h30

QUinTa-FeiRa

Sistema Cantareiraa comissão de Meio ambiente

debate a abertura das comportas do sistema cantareira. Plenário 8, às 10h

Câmara vai oferecer curso a distância para jornalistas

as aulas presenciais sobre processo legislativo e eleitoral poderão ser acompanhadas por jornalistas de outros estados pela internet

mara.gov.br, informando nome, veículo, cargo e telefones de contato, ou então ligar para os telefones (61) 3216-1507 ou 3215-8013.

A turma contará com 40 vagas em Brasília, mas as inscrições para o curso a distância são ilimitadas. Para as vagas presenciais, terão prioridade na seleção os jornalistas credenciados no Comitê de Imprensa, que já fazem a cobertura da Câmara, ou profissionais de veículos de comunicação ainda não inscritos.

As aulas serão ministradas pelos con-sultores da Câmara dos Deputados Ednil-ton Andrade Pires, no módulo de processo legislativo, e Amandino Teixeira Nunes Junior, no módulo de processo eleitoral.

layCer toMaz

10 a 14 de maio de 2010

Voto de presosa comissão de segurança Pública

discute o voto eleitoral de presos provi-sórios com o presidente do tse, ricardo lewandowski. Plenário 6, às 10h

seXTa-FeiRa

Sessão solene IIIa câmara realiza sessão solene

em homenagem ao Jubileu de ouro do colégio agostiniano são José. Plenário Ulysses guimarães, às 15h

Page 3: Jornal da Câmara

Edição semanal - 10 a 16 de maio de 2010 3

na quarta-feira, os deputados rejeitaram três dos doze destaques apresentados ao projeto Ficha limpa e mantiveram o texto do relator José eduardo Cardozo

Disque - Câmara 0800 619 619www.camara.gov.br

Eduardo Piovesan

A votação dos destaques ao proje-to Ficha Limpa (PLPs 168/93, 518/09 e outros) em sessões extraordinárias é o principal tema do Plenário para esta semana. Dos nove destaques restan-tes, alguns mudam pontos importan-tes do projeto, que amplia os casos de inelegibilidade, unifica em oito anos o período em que o condenado não poderá se candidatar e torna inelegí-veis aqueles condenados por decisão de colegiado da justiça.

Um destaque do PMDB preten-de retirar do texto do deputado José Eduardo Cardozo (PT-SP), aprova-do na terça-feira (4), a inelegibilidade provocada por decisão de colegiado nos casos de corrupção eleitoral, com-pra de votos, doação ou uso ilícitos de recursos de campanha e conduta proibida de agentes públicos em cam-panhas. A condenação prevista no texto de Cardozo abrange os crimes que resultem em cassação do registro do candidato ou do diploma daquele já eleito, como, por exemplo, os cita-dos acima.

Abuso de autoridade - Outro desta-que, de autoria do PP, pretende retirar do texto a inelegibilidade por condenação de crime de abuso de autoridade. De acordo com o texto principal já apro-vado, isso ocorrerá nos casos em que a condenação resultar na perda do cargo ou na inabilitação para função pública.

Já o PSDB quer excluir a possi-bilidade de o candidato pedir efeito suspensivo quando apresentar recurso contra decisão de colegiado. O efeito suspensivo foi a solução encontrada pelo relator para ganhar mais apoio na votação da matéria. A contrapartida

Plenário deve votar os nove destaques que faltam para concluir Ficha Limpa

- MP 478/09: extingue, a partir de 1º janeiro deste ano, o seguro habitacional do sistema Financeiro da Habitação- MP 479/09: reorganiza carreiras do serviço público federal- MP 480/10: libera r$ 1,37 bilhão do orçamento de 2010 para socorro a vítimas de chuvas e estiagens- MP 481/10: autoriza o executivo a doar até 260 mil toneladas de alimentos a 12 países pobres- MP 483/10: dá status de ministério a quatro secretarias vinculadas à Presidência da república

Confira as demais MPs que trancam os trabalhos

O Congresso Nacional aprovou na quinta-feira (6) crédito de R$ 1 milhão para o Ministério da Saúde pagar pre-catórios - ações judiciais transitadas em julgado que obrigam a União a pagar dívidas a contribuintes. O cré-dito está previsto no Projeto de Lei do Congresso Nacional (PLN) 2/10. Segundo a justificativa do governo, a atualização monetária e os juros sobre os precatórios exigem o aporte de no-

Congresso aprova crédito para pagamentode precatórios pelo Ministério da Saúde

vos recursos.Os pagamentos

desses precatórios serão feitos com recursos da Previdência Social. O governo alega, no en-tanto, que não haverá prejuízos, pois esses recursos poderão ser compensados em orçamentos futuros.

A votação do PLN 1/10, que garante

recursos suplementa-res de 442,7 milhões para emendas parla-mentares na área de esportes, foi adiada para esta semana. A matéria estava na pauta da sessão de quinta, mas os par-

tidos decidiram negociar um acordo antes da votação da proposta.

Ajustes de redação - Também foram aprovadas erratas para corrigir expressões em leis orçamentárias. O procedimento é considerado normal, já que os textos têm muitos anexos e a lei exige precisão na descrição ou de-nominação de programas e gastos do governo. O PLN 31/09, por exemplo, foi publicado sem um de seus anexos, que lista as rodovias a que serão bene-ficiadas com os recursos.

ao direito de suspender a condenação sob recurso com argumento plausível é a maior celeridade no julgamento final do processo, pois ele terá priori-dade sobre todos os outros no órgão superior da justiça.

Recicláveis - Nas sessões ordiná-rias, os deputados devem analisar seis medidas provisórias que trancam os trabalhos. Uma delas, a MP 476/09, concede um crédito presumido de Im-posto sobre Produtos Industrializados (IPI) às empresas que usarem reciclá-veis como matéria-prima na fabrica-

ção de seus produtos. Esses materiais devem ser adquiridos diretamente de cooperativas de catadores.

Um regulamento do Executivo definirá quais podem gerar o crédito presumido, que deve ser usado para abater apenas o IPI a pagar dos pro-dutos que contenham esse tipo de material em sua composição.

Também tranca os trabalhos a MP 482/10, que viabiliza a aplicação, pelo Brasil, de sanções autorizadas pela Organização Mundial do Comércio (OMC) sobre os direitos de proprieda-

de intelectual de outros países, quando esses tiverem descumprido o acordo constitutivo do órgão.

Incentivos fiscais - Se chegarem a tempo de serem incluídas na pauta, as emendas do Senado à Medida Provisó-ria 472/09 tornam-se o primeiro item da pauta das sessões ordinárias. A MP concede incentivos fiscais a diversos setores da economia, especialmente à indústria petrolífera das Regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste.

Entre as emendas destaca-se a que concede perdão de dívidas rurais de até R$ 10 mil contraídas perante o Fundo Constitucional do Nordeste (FNE), o Pronaf ou lastreadas em outras fontes com risco da União.

Ministério Público - O Plenário também deverá realizar votação secre-ta para eleger um integrante do Con-selho Nacional do Ministério Público (CNMP) na vaga que cabe à Câmara indicar. Indicado pela maioria dos par-tidos da Casa, Luiz Moreira Gomes Jú-nior formou-se em Direito pela Univer-sidade Federal do Ceará (1996). Possui mestrado em Filosofia e doutorado em Direito, ambos pela Universidade Fe-deral de Minas Gerais.

O atual conselheiro, Francisco Maurício Rabelo Albuquerque Silva, não pode ser reconduzido porque já exerceu dois mandatos, o máximo per-mitido pela Constituição.

votaÇÕes

JBatista

Page 4: Jornal da Câmara

Edição semanal - 10 a 16 de maio de 20104

Disque - Câmara 0800 619 619www.camara.gov.br

BalaNÇo De votaÇÕes

Duas das mais controversas propos-tas que passaram pela Câmara neste ano foram aprovadas pelos deputados na terça-feira (4). A MP 475/09, que reajusta as aposentadorias e pensões com valores acima de um salário míni-mo, passou na Câmara depois de fortes debates entre governo e oposição e in-clusive entre deputados da própria base de apoio ao governo Lula.

O projeto Ficha Limpa, que cria no-vas regras para inelegibilidade, também teve o texto principal aprovado, mas faltam ainda nove destaques para que o texto siga para o Senado.

A MP aprovada prevê reajuste de 7,72% para as aposentadorias. O índice foi incluído por meio de emenda do de-putado Paulo Pereira da Silva (PDT-SP) e corresponde à inflação acumula-da pelo INPC mais 80% da variação do PIB de 2008 para 2009.

Pereira da Silva lembrou que o acor-do feito com os aposentados e com o Senado é para manter o percentual aprovado pela Câmara, e não um outro maior. O reajuste de 7,72% é retroati-vo a 1º de janeiro deste ano, mas, para as aposentadorias concedidas a partir de março de 2009, ele será concedido proporcionalmente à data de início do pagamento.

Dessa forma, por exemplo, o reajuste para aquelas aposentadorias que come-çaram a ser pagas em dezembro de 2009 será de 3,58%.

Veto - Inicialmente, a MP 475/09 re-ajustava os benefícios acima de um míni-mo em 6,14%. Depois de negociações, o líder do governo e relator da medida, de-

Por 388 votos, o substitutivo do deputado José Eduardo Cardozo (PT-SP) para o projeto da Ficha Lim-pa (PLPs 168/93, 518/09 e outros) foi aprovado em Plenário na terça-feira (4). A proposta evita as candidaturas de pessoas condenadas por decisão co-legiada da Justiça por crimes de maior gravidade, como corrupção, abuso de poder econômico, homicídio e tráfico de drogas. O texto aprovado amplia os casos de inelegibilidade e unifica em oito anos o período durante o qual o candidato ficará sem poder se candi-datar.

Segundo o relator, a aprovação do projeto “é de vital importância para a sociedade brasileira e para o futuro do Poder Legislativo”. A principal no-vidade em relação ao texto do grupo de trabalho que analisou o tema é a possibilidade de o candidato apresen-tar recurso com efeito suspensivo da decisão da Justiça.

O efeito suspensivo permitirá a candidatura, mas provocará a acele-ração do processo, porque o recurso deverá ser julgado com prioridade pelo colegiado que o receber. Se o recurso for negado, será cancelado o registro da

candidatura ou o diploma do eleito.Destaques – Dos doze destaques

que ainda estão pendentes de análi-se, três foram votados, e rejeitados, na quarta-feira (5). Um destaque do PTB pretendia retirar, do texto, a possibi-lidade de o candidato ficar inelegível com decisão judicial de colegiado em relação a crimes contra o patrimônio público e de lavagem de dinheiro e trá-fico de entorpecentes, por exemplo.

Outro destaque rejeitado foi do PMDB, por 362 votos a 41. O partido tinha o objetivo de retirar, do substi-tutivo, a parte que aplica a inelegibi-

lidade à eleição em curso e às futuras, nos oito anos seguintes, para os casos de condenação por abuso de poder eco-nômico ou político. Com a rejeição, a inelegibilidade nessa situação foi man-tida. Atualmente, ela já existe na Lei Complementar 64/90, que está sendo mudada pelo projeto, e é de três anos.

O Plenário rejeitou ainda a emen-da do deputado José Carlos Aleluia (DEM-BA) que aumentava, de seis meses para um ano antes do pleito, o prazo de desligamento das funções como requisito para os integrantes do Ministério Público.

os deputados rejeitaram três destaques que buscavam alterar a proposta sobre inelegibilidade

os deputados também apro-varam, por 323 votos a 80, e duas abstenções, a emenda do líder do PPs, Fernando Coruja (sC), à MP 475, que acaba com o fator previden-ciário. a MP segue para o senado. o fator previdenciário é uma fórmula que reduz, na maioria das vezes, os valores dos benefícios da Previdência em relação ao salário de contribuição. em alguns casos, porém, o cálculo é favorável ao trabalhador. o fator

foi criado pela lei 9876/99 com o objetivo de incentivar o trabalhador a contribuir por mais tempo para a Previdência - reduzindo, a médio prazo, o déficit do setor.

ao defender sua emenda, coruja argumentou que deixar a discussão do tema para depois só faria o debate se prolongar desnecessariamente. “É preciso acabar com o fator previ-denciário, que prejudica milhões de trabalhadores”, disse o deputado.

Fim do fator previdenciário

Reajuste de 7,72% para aposentados e projeto Ficha Limpa são aprovados

putado Cândido Vaccarezza (PT-SP), admitiu aumentar o índice para 7%, mas não conseguiu unificar os partidos da base aliada em torno desse número.

Segundo Vaccarezza, se os 7,72% permanecerem no Senado o presidente Lula vetará o índice. Ele explicou que, em caso de veto total à proposta, o rea-juste das aposentadorias será de apenas 3,52%, a não ser que o presidente edite nova MP. Esse índice equivale à corre-ção das perdas inflacionárias. O líder governista acrescentou que o governo nunca se recusou a discutir o assunto com o Congresso e os aposentados, mas lamentou que líderes partidários que antes concordavam com 7% tenham passado a apoiar 7,72%.

Já segundo o líder do DEM, depu-tado Paulo Bornhausen (SC), os apo-sentados tiveram os seus rendimentos achatados durante muitos anos e a recuperação não foi prioridade do go-verno. “Defendemos 8,77%, mas o que é mais difícil é saber se determinado reajuste é muito ou não, porque não há transparência na gestão das contas da Previdência”, disse. O índice de 8,77% foi rejeitado pelo Plenário.

Salário mínimo - A MP 474/09, que aumenta o salário mínimo de R$ 465 para R$ 510, com efeitos a partir de 1º de janeiro deste ano, também foi apro-vada na semana passada. O reajuste, de 9,67%, inclui a variação do INPC de fevereiro a dezembro de 2009 e a varia-ção do PIB de 2008 em relação a 2007 (5,64%). A matéria, que foi relatada pelo deputado Pepe Vargas (PT-RS), segue agora para o Senado.

na noite de terça-feira, os deputados aprovaram o índice de 7,72% para o reajuste das aposentadorias e também o texto principal do projeto Ficha limpa

reinaldo Ferrigno

Page 5: Jornal da Câmara

Edição semanal - 10 a 16 de maio de 2010 5

Disque - Câmara 0800 619 619www.camara.gov.br

esPecial

Milton Santos: o geógrafo brasileiro que soube interpretar o mundo

Roberto Seabra

Se os economistas responsáveis por monitorar as finanças globais tivessem prestado mais atenção ao que disse ou escreveu o geógrafo brasileiro Milton Santos (1926-2001), talvez a crise econômica mundial não tivesse feito o estrago que fez, levando países à falência e jogando nas ruas milhões de desempregados. Uma das ideias de Milton Santos,

publicada em livro de entrevistas com o autor em abril de 2000, é cristalina ao antecipar a quebradeira que se abateu sobre o mundo em 2008 e que continua arrastando economias para o buraco. Segundo ele previu no limiar do século 21, estava em marcha uma crise de “consequência irreversível, que seria o equivalente a um efeito dominó”.

Ainda na visão de Santos, o colapso global seria apressado pela comunicabilidade instantânea no nível global, que não havia antes. “O medo é incontrolável, já constatamos isso em outras crises em que ele comandou e agora o contágio do medo tornou-se mais possível, podendo propagar-se rápida e globalmente.”1

Para resgatar estas e outras teses deste que é con-siderado o maior nome da geografia brasileira e um dos maiores pensadores do mundo sobre temas como território e globalização, a Comissão de Educação e Cultura da Câmara realizou no dia 4 de maio últi-mo o seminário: Milton Santos – vida e obra, em que parlamentares, pesquisadores e jor-nalistas debateram a atualidade das ideias do geógrafo baiano.

O encontro serviu não apenas para analisar a obra de Milton Santos, mas também para cobrar maior divulgação de sua produção científica, restrita hoje a pequeno grupo de intelectuais nas univer-sidades. Na opinião da deputada Lídice da Mata (PSB-BA), autora do requerimento para a realização do seminário, Milton Santos merece ser mais conhecido por ser um dos maiores intelectuais brasileiros do século XX. “Sendo negro e nascido no interior da Bahia, mesmo assim ele conseguiu se tornar respeitado no mundo inteiro”, disse ela. Para o deputado Pedro Wilson (PT-GO), Milton Santos e outros geógrafos como Ruy Moreira e Aziz Ab’Saber foram responsáveis pelo abandono da geografia puramente descritiva e a adoção de uma visão crítica sobre a questão da ocupação do território.

Preconceito - O jornalista Fernando Costa da Conceição, professor da Universidade Federal da Bahia

(UFBA) e que está preparando a biografia autorizada de Milton Santos, lembrou a trajetória intelectual e política do geógrafo, que foi preso logo após o golpe militar de 64 e só conseguiu deixar o Brasil “protegido” por intelectuais franceses. Quando decidiu voltar ao Brasil, em 1978, o geógrafo precisou da ajuda de ex-

alunos para sobreviver, pois mes-mo tendo passado em concurso de professor da Universidade de São Paulo (USP), precisou lutar muito para assumir a vaga.

O próprio Milton Santos costumava dizer que era muito difícil ser negro no Brasil, e tam-bém muito difícil ser intelectual. Como ele era ambos, avalia-se a dificuldade que teve para so-breviver.

Para Aldo Aloísio Dantas, professor do Departamento de Geografia da Universidade Fe-deral do Rio Grande do Norte, a importância de Milton Santos está ligada à sua capacidade de pensar o mundo a partir do Hemisfério Sul. “Assim como Florestan Fernandes pensou o Brasil em termos de sociedade e Celso Furtado pensou o país a partir de sua economia, Milton

Santos pensou o Brasil e o mundo a partir do terri-tório”, disse ele.

Segundo Dantas, ele criticava muito certa visão “europeizada” dos estudos urbanos feitos no Brasil.

“No Brasil, na América Latina e na Ásia, a ocupação territorial foi feita de forma acelerada, ao contrário da Europa, em que foi lenta e feita durante séculos. Como podemos aplicar aqui os mesmos conceitos de lá?”, questionava Milton Santos.

Globalização e concentração de rendaNa crítica que fez ao processo de globalização, Milton santos lembra-

va que o mundo vivia um processo perverso de concentração de renda. enquanto em 1990 estudos apontavam que um norte-americano ganhava, em média, o mesmo que 38 tanzanos (habitante da tanzânia, país africano visitado por Milton santos), uma década depois, a renda per capita nos estados Unidos já equivalia à soma do que recebiam 61 tanzanos. Para o geógrafo, os dados demonstram que a globalização concentrou ainda mais a riqueza e nos levou a um permanente estado de crise.

Milton santos lembrava que, no atual período histórico, a crise é estrutural e criticava toda tentativa não estrutural de busca de saídas. “o resultado é a geração de mais crise”, previa. e apontava “a tirania do dinheiro e da informação” como “os pilares da produção da história atual do capitalismo globalizado”.2 (Rs)

Leis tentam popularizar nome do pensadorPelos menos três projetos aprovados pela câmara e que prestam algum

tipo de homenagem a Milton santos já foram sancionados pelo presidente da república e viraram lei. a primeira (lei 10.894/04) dá a ele o título de Patrono da Geografia Nacional. O interessante é que Milton Santos formou-se em Direito e tornou-se geógrafo autodidata, disciplina em que cursou pós-graduação.

outra lei (11.103/05) dá o nome de rodovia Milton santos à Br 242, que atravessa a chapada da Diamantina e o oeste baiano, região onde está localizada Brotas de Macaúbas, cidade natal de Milton santos. Uma terceira lei (11.159/05) pretende popularizar o nome dele junto aos estudantes. Desde 2006, o atlas produzido pelo iBge e utilizado nas escolas passou a ser denominado atlas Nacional do Brasil Milton santos. além disso, desde 2001, a sala de reuniões da comissão de Desenvolvimento Urbano da câmara passou a se chamar Plenário Milton santos. (Rs)

Devemos considerar a existência de pelo menos três mundos num só. o primeiro seria o mundo tal

como nos fazem vê-lo: a globalização como

fábula; o segundo seria o mundo tal como

ele é: a globalização como perversidade; e o terceiro, o mundo como ele pode ser: uma outra globalização - escreveu Milton santos, em Por

uma outra globalização, lançado em 2000

1 Território e Sociedade: entrevista com Milton Santos. são Paulo: editora Fundação Perseu abramo, 2000. 2 Por uma outra globalização: do pensamento único à consciência universal. Milton santos. rio de Janeiro: editora record, 2000.

design: Paula astiz

Page 6: Jornal da Câmara

Edição semanal - 10 a 16 de maio de 20106

Disque - Câmara 0800 619 619www.camara.gov.br

DeFesa Do coNsUMiDor

Vazamentoo recente vazamen-

to de óleo no golfo do México, nos estados Unidos, provocado pela empresa britânica British Petroleum (BP) deve servir de lição para o Bra-sil, segundo opinião de sarney Filho (PV-ma). segundo o deputado, no momento em que o País prepara-se para pôr em prática um “ambicioso” plano de exploração de gás e petróleo na camada do pré-sal, as autorida-des brasileiras devem refletir sobre o episódio ocorrido na américa do Norte. “Não podemos perder esta oportunida-de, embora nascida de uma tragédia, para que possamos resguardar ambientalmente a nossa costa. É a chance de revermos os procedi-mentos de segurança das plataformas de explora-ção”, disse. o deputado destacou que, em casos de vazamento de óleo, a primeira medida a ser adotada é multar os res-ponsáveis e exigir deles ações para minimizar os danos causados.

Seguro-defesomarcio Junqueira

(dem-RR) protestou contra o bloqueio do seguro-defeso dos pes-cadores de roraima, por terem sido constatados 100 casos de fraude. o deputado manifestou a esperança de que a situa-ção seja revolvida o mais rapidamente possível. segundo o parlamentar, mais de 7 mil pescadores estão sendo prejudicados pela decisão do supe-rintendente do Ministé-rio do trabalho, Mário rocha. “ele condena essas famílias à inanição por entender que existe fraude no pagamento do seguro-defeso, quando teve dois anos para au-ditar, fiscalizar, esmiuçar, destrinchar, descobrir as fraudes”, disse o parla-mentar, argumentando que existem inúmeras fraudes no Brasil, como no Bolsa-Família e no iNss. “Processem os fraudado-res, recuperem o dinheiro do erário. Mas condenar as pessoas à inanição é criminoso”, afirmou.

DiscUrsos Da seMaNa

A Comissão de Defesa do Consumidor aprovou, na semana passada, o Projeto de Lei 2170/07, do deputado Felipe Bornier (PHS-RJ), que fixa prazo de sete dias úteis para concessionárias de serviços públicos de energia e gás atenderem a pedidos de instalação ou reparo. Por sugestão da depu-tada Ana Arraes (PSB-PE), o relator, de-putado Leo Alcântara (PR-CE), estendeu as exigências às fornecedoras de água.

Alcântara argumenta que, sem previ-são de prazo para atendimento pelas em-presas, como ocorre hoje, o consumidor perde tempo e dinheiro enquanto aguarda a presença de técnicos. “A exclusividade dessas concessionárias na prestação de serviço torna o cidadão refém de sua ine-ficiência”, afirma.

A proposta segue para análise da Co-missão de Constituição e Justiça e de Ci-dadania. Como foi rejeitada na Comissão de Trabalho, Administração e Serviço Público, ela perdeu o caráter conclusivo e terá de ser votada em Plenário.

De acordo com o projeto, as prestado-ras de serviços também serão obrigadas a informar ao usuário, com antecedência

Concessionárias terão prazo de 7 dias para instalação ou conserto de energia e gás

Geórgia Moraes

o relator da subcomissão especial dos cartões de cré-dito, vinculada à comissão de Finanças e tributação, deputado leonardo Quintão (PmdB-mG), considera que é uma boa hora para nova regulamentação do setor, como pretende o governo. o executivo deverá enviar projeto de lei ao congresso dando ao conselho Mone-tário Nacional - formado pelos ministérios da Fazenda e do Planejamento e pelo Banco central - a prerrogativa de regular o setor de cartões de crédito.

De acordo com Quintão, a iniciativa do governo já é resultado do trabalho do grupo, que teve reuniões com o presi-dente do Banco central, Henrique Mei-relles, com o ministro da Fazenda, guido Mantega, e com integrantes da secretaria de Direito econômico do Ministério da Justiça para expor o problema.

Atuação firme - leonardo Quintão defende uma atuação mais firme do governo na regulação das operadoras

FiNaNÇas e triBUtaÇão

Subcomissão concorda com nova regulamentação para cartões de crédito

mínima de 24 horas, o dia e o horário apro-ximado em que ocorrerá o atendimento.

O relator aceitou ainda sugestão do deputado Celso Russomanno (PP-SP) para que as empresas que desrespeitarem a nova lei fiquem sujeitas às penas previs-

tas no artigo 56 do Código de Defesa do Consumidor (Lei 8.078/90), que incluem até revogação da concessão pública. Pelo texto original, seriam aplicadas também multas no valor de meio salário mínimo a cada infração.

de cartão de crédito. “Queremos a mesma coisa que o governo federal fez com os bancos, que foi um trabalho brilhante para levar regras para as taxas que são cobradas, e trazer esse modelo que deu certo para os cartões de crédito”, declara.

o parlamentar também considera essen-cial discutir a questão do duopólio que hoje existe no Brasil. “apenas duas bandeiras controlam mais de 95% do mercado de car-tões de crédito. os comerciantes reclamam muito também do custo para ter acesso ao sistema. segundo eles, esse custo no preço da mercadoria final aumenta em torno de 5% a 10%”, afirmou.

Reclamações - o presi-dente da comissão de Defesa do consumidor, deputado Claudio Cajado (dem-Ba), também defendeu mais re-gras para as empresas de cartões de crédito, que estão entre as líderes de reclama-ções nos órgãos de defesa do consumidor. “vejo como um avanço o governo co-meçar a se preocupar sobre uma área em que existe um buraco negro, uma vacância na legislação”, avaliou.

o tema está regularmente na pauta de discussões da comissão. “temos debatido muito sobre a questão da ta-rifa bancária e dos cartões de crédito. Temos até dificuldade em contatar as bandeiras, já que fica uma espécie de responsabilidade das instituições bancárias que adotam as bandeiras do cartão pronunciar-se no lugar deles”, destacou cajado.

a comissão de Defesa do consu-midor analisa ainda uma proposta de fiscalização dos procedimentos adminis-trativos das empresas administradoras de cartões de crédito.

gilBerto nasCiMento

PreF. de Bagé

de acordo com o texto aprovado, as concessionárias de serviços de água e esgototambém terão prazo definido para atender às demandas dos consumidores

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orÇaMeNto

Janary Júnior

O deputado Carlos Abicalil (PT-MT) já definiu sua estratégia para con-vencer os deputados e senadores a votar o projeto de lei do Congresso que auto-

Eleições no ParáNinguém do PMDB no Pará quer

continuar em aliança com o Pt para a reeleição da governadora ana Jú-lia carepa, disse asdrubal Bentes (PmdB-Pa). “eu lamento muito que se tenha chegado a esse ponto, que creio ser irreversível. Por onde nós andamos, no estado do Pará, a militância do meu partido, o PMDB, não quer mais coligação com o Pt”, informou. segundo o parlamentar, a governadora não cumpriu com os compromissos assumidos com o PMDB. “e o que é pior: agora vêm alguns deputados e lideranças do Pt do meu estado agredir o nosso partido, o que não podemos aceitar”, destacou, ao lançar como desafio a reeleição da governadora ana Júlia carepa sem o apoio do PMDB. Bentes disse que já se considera fora da coligação com o Pt no Pará.

Modelo federativoGeorge Hilton (PRB-mG) propôs

a revisão do modelo federativo brasilei-ro, com fortalecimento dos estados e municípios a partir de uma distribuição mais equilibrada das receitas da União. “Os desafios da redefinição do pacto federativo passam pela necessidade de transformar a autonomia formal [dos estados e municípios] em autonomia real. a distribuição da carga tributária brasileira é desequilibrada, incidindo excessivamente sobre o consumo”, avaliou. Para o deputado, a arrecada-ção brasileira apresenta uma “série de distorções” em relação ao consumo. ele lembrou que, entre 1988 e 2002, somente a arrecadação da União apresentou crescimento absoluto em todos os anos, diferente dos estados e municípios, que apresentaram os-cilações, com queda em 2002. Para Hilton, os moldes do pacto federativo definido na Constituição 1988 não correspondem mais aos interesses dos entes federados.

Emacipação políticamário Heringer (PdT-mG) de-

fendeu a emancipação política de pequenas cidades. em sua avaliação, é evidente que a distribuição de renda é mais bem feita quando isso ocorre. se-gundo o parlamentar, a emancipação propicia que pequenas comunidades ofereçam dignidade mínima para seus cidadãos. como exemplos, ele citou dois ex-distritos da cidade de Manhu-mirim, em Minas, que viraram cidades há pouco mais de 10 anos: Durandé e Martins soares. são duas cidades que, à época, não tinham calçamento, posto de saúde, telefone, correios ou médico. Na avaliação do parlamentar, a emancipação pode ser um instrumento importante para evitar a migração para as grandes cidades, ao trazer para o município serviços essenciais, como educação e saúde. Heringer acredita que, com a emancipação, a cidade pode viver exclusivamente do Fundo de Participação dos Municípios.

DiscUrsos Da seMaNaPAC: relator define estratégia para aprovar remanejamento de R$ 8,8 bi

Relator Carlos Abicalil vai apresentar lista, por estado, das obras do PAC que estão em dificuldades por falta de recursos. A intenção é tirar o peso dos partidos e incentivar o papel das bancadas na discussão

riza o Executivo a remanejar livremente 30% das dotações globais do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), o equivalente hoje a R$ 8,8 bilhões. Abi-calil é o relator da proposta (PLN 3/10) na Comissão Mista de Orçamento.

Ele vai apresentar aos parlamen-tares uma lista das obras do PAC, por estado, que hoje encontram dificuldade de financiamento por falta de recursos orçamentários novos. Segundo Abica-lil, a situação é particularmente grave em logística, que envolve construção ou reforma de rodovias, ferrovias e ae-roportos.

Desse modo, ele quer tirar o peso dos partidos e incentivar o papel das bancadas na discussão. Essa estratégia decorre da oposição que a proposta enfrenta na Comissão de Orçamento. O DEM e o PSDB já se manifestaram contra a aprovação do PLN 3, por consi-derar que ele coloca muitos recursos nas mãos do Executivo em um ano eleito-ral. Pela última posição do Siafi, o PAC soma R$ 29,265 bilhões.

Regra atual - Atualmente, a Lei Orçamentária (12.214/10) só autoriza o governo a movimentar até 25% do valor individual de cada obra do PAC. Os recursos podem migrar de um pro-jeto para outro como forma de comple-mentar os que se encontram em estágio mais avançado de construção ou desen-volvimento. Abicalil disse que todos os remanejamentos permitidos foram feitos no primeiro trimestre, mas a demanda por dinheiro é maior.

“O remanejamento tem se mostra-do, nos últimos três anos, rigorosamente necessário e produtivo no sentido de assegurar que as obras prossigam seu curso”, disse o relator. Ele fez questão de lembrar que, em 2007, 2008 e 2009, a lei permitiu ao Executivo movimen-tar 30% da dotação global - em 2007, a livre movimentação recaía sobre o Projeto Piloto de Investimentos (PPI), antecessor do PAC.

A regra foi quebrada no ano pas-sado, por pressão da oposição, que nos minutos finais que antecederam a vo-tação do projeto orçamentário, no fim da noite do dia 22 de dezembro, impôs o remanejamento de apenas 25% por obra. O governo cedeu para garantir a aprovação do orçamento.

Para Abicalil, o conhecimento da situação das obras pode ajudar os par-lamentares a ter uma dimensão das dificuldades de execução do PAC nos estados. “Como os ritmos de investi-mento são diferentes, é evidente que o conhecimento do mapa das obra, e sua relação no desenvolvimento regional, pode ser fator decisivo para o convenci-mento das bancadas estaduais”, disse.

Para a oposição, o receio é que a livre movimentação prevista no PlN 3/10 seja usada para beneficiar obras em redutos de candidatos apoiados pelo governo. “o governo está olhando muito mais para suas necessidades em ano eleitoral do que propriamente cumprir com os rigores dos instrumentos orçamentários e financeiros”, avalia o deputado luiz Carreira (Ba), coordenador do DeM na comissão de orçamento.

De acordo com ele, a modificação proposta pelo executivo tem um “caráter eleitoreiro” e os problemas enfrenta-dos pelo Pac decorrem de falhas no planejamento. O deputado afirmou que o governo lançou uma série de obras sem consistência, que acabam não se concretizando por problemas na obtenção de licenças. com isso, vê-se obrigado a retirar recursos delas para

outros projetos.“Muitos dos projetos do Pac são

meras ideias, que acabam não se con-solidando ao longo do tempo. eles só deveriam vir para o programa quando tivessem condições de sair do papel”, disse. Para carreira, a prova da falta de consistência do Pac está na sua baixa execução, inferior a 50% em três anos.

ele disse ainda que, para aprovar o projeto, o governo terá que mobilizar sua base na comissão, situação sempre mais difícil em ano eleitoral. Prova disso, afirmou, foram as recentes derrotas so-fridas na votação da Medida Provisória 475/09, quando os deputados elevaram o percentual de reajuste dos aposentados do iNss e extinguiram o fator previden-ciário, medidas contrárias ao interesse do executivo. (JJr.)

Modificação tem caráter eleitoreiro, avalia DEM

A execução do PAC (2007-2009) em R$ bilhões

ações

logística e energia

Habitação, saneamento,

recursos hídricos e metrô

total

executado em três anos

118,7 (27,6%)

138,2 (66,4%)

256,9 (40,3%)

investimentos até 2010

429,8

208,2

638,0

a ideia do governo é ampliar a margem de remanejamento para facilitar o andamento das obras; na foto, construção da eclusa de tucuruí no rio tocantins, prevista no PaC

PanoraMio

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eNtrevista

Por que inverter o percentual do repasse em favor dos municípios?

Porque são os municípios que per-dem a possibilidade de usar as terras alagadas. São eles que perdem em ter-mos de produção e emprego. São os mu-nicípios que sofrem os fortes impactos sociais e econômicos em decorrência da construção das hidrelétricas e de seus reservatórios. A consequência mais imediata é a queda no nível de empregabilidade, bem como uma visível estagnação do processo de crescimento dos locais diretamente afetados pelos alagamentos provocados em virtude das usinas hidrelétricas.

A Comissão de Ciência e Tecnologia, Comunicação e Informática aprovou o Projeto de Decreto Legislativo (PDC) 2302/09, do Senado, que autoriza a realização de referendo em 6 municípios do Amazonas e em 18 municípios do Pará que tiveram

o fuso horário alterado pela Lei 11.662/08.A lei, em vigor desde junho de 2008, reduziu de duas para uma hora a diferença

de fuso horário do Acre e de parte do Amazonas em relação a Brasília. Os municípios paraenses tiveram a hora igualada à da capital federal.

O projeto tramita em regime de prioridade e será analisado ainda pelas comissões de Finanças e Tributação; e de Constituição e Justiça e de Cidadania. Em seguida, será votado pelo Plenário.

Possíveis danos - O relator da proposta, deputado Eduardo Gomes (PSDB-TO), foi favorável à aprovação. Ele lembrou que, quando o horário foi alterado, os moradores dos municípios afetados manifestaram interesse em realizar uma consulta popular para que eles pudessem ser ouvidos antes da aprovação da lei. “Só cabe às pessoas atingidas avaliar os possíveis danos com a mudança do fuso horário”, argumentou.

O projeto prevê que a consulta às comunidades afetadas será realizada juntamente com a primeira eleição após a entrada em vigor do decreto legislativo. Os eleitores dos municípios deverão responder “sim” ou “não” à seguinte pergunta: “Você é a favor da alteração do horário legal promovida no seu estado?”.

Consulta no Acre - Em novembro de 2009, o Congresso aprovou o PDC 981/08, do deputado Flaviano Melo (PMDB-AC), que autoriza a realização de consulta aos eleitores do Acre sobre a mudança de fuso horário naquele estado. A proposta prevê que a consulta ocorrerá junto com as eleições de outubro deste ano.

Chico da Princesa: município alagado tem que receber compensação maior

São os municípios que

sofrem os fortes impactos sociais

e econômicos em decorrência da construção

das hidrelétricas e de seus

reservatórios

Luiz Paulo Pieri

Autor do Projeto de Lei 54/03, já aprovado na Câmara, que transfere dos esta-dos para os municípios 20% dos recursos da Compensação Financeira dos Recursos Hídricos (CFRH), o deputado Chico da Princesa (PR-PR) explica que são os municípios que sentem mais de perto e com maior força os impactos negativos das usinas hidrelétricas e, por isso, nada mais justo que recebam recursos maiores de compensação financeira. Ele diz estar convicto de que a Comissão de Constituição e Justiça do Senado, onde o projeto está, irá respaldar sua proposta “e dar à grande parcela de municípios brasileiros o que lhes é devido há muito tempo”. O parlamentar relatou na Comissão de Viação e Transporte projeto, já transformado em lei, que limita a quatro horas ininterruptas o tempo de direção do motorista de caminhão ou ônibus trafegando em rodovia.

Em relação ao que é hoje, como fi-caria o repasse?

Hoje, nos termos da Lei 8.001/90, que definiu os percentuais de distribui-ção, 45% dessa compensação são desti-nados aos estados, 45% aos municípios, 3% ao Ministério de Meio Ambiente, 3% ao Ministério de Minas e Energia, e 4% ao Fundo Nacional de Desenvol-vimento Científico e Tecnológico. Meu projeto propõe que os municípios rece-bam 65% e os estados, 25%, enquanto a União continuaria com o mesmo per-centual. Cabe salientar que a proposta não transfere nada de um estado para outro, isto é, tudo que um determinado

estado deixa de arrecadar fica lá para os municípios que cederam suas terras para formação dos re-servatórios geradores de energia.

Essa proposta ameni-za os efeitos da constru-ção de hidrelétricas nos municípios?

Sim, embora não to-talmente, uma vez que ela atinge apenas os mu-nicípios atingidos por barragens, construção de hidrelétricas ou alagados. Os municípios são os que menos alternativas têm para compensar as perdas sofridas, porque não há muitas fontes de arrecadação. E muitos deles não têm economia forte e dinâmica com capacidade de oferecer emprego às populações expulsas de suas terras e privadas de seus meios de sustento, no caso das áreas alagadas. É bom frisar que os estados não serão prejudicados, pois, para eles, a receita da Compensa-ção Financeira dos Recursos Hídricos não representa tanto quanto pode re-presentar para o município atingido. Por

outro lado, os recursos aca-bam ficando dentro do esta-do, favorecendo a população que sofreu com os impactos da construção da hidrelétri-ca ou congênere. Posso citar, com conhecimento de causa, que só no meu estado, o Para-ná, mais de 20 municípios se-rão diretamente beneficiados, notadamente os de Carlópolis e Ribeirão Claro.

Ciência e tecnologia aprova referendo sobre fuso horário do Pará e do Amazonas

rodolFo stuCkert

coNsUlta PoPUlar

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UrBaNizaÇão

Carol Siqueira

Moradores de áreas de risco do Rio de Janeiro denunciaram a pos-sibilidade de aspectos econômicos influenciarem as ações de remoção feitas por prefeituras e pelo governo do estado. A afirmação foi feita na quarta-feira (5), em audiência públi-ca da Comissão de Direitos Huma-nos e Minorias. Eles manifestaram dúvidas se os critérios usados para a evacuação dessas áreas são exclusi-vamente técnicos. As remoções têm sido feitas em áreas atingidas pelas chuvas entre janeiro e abril, que pro-vocaram mais de 200 mortes.

Representantes de comunidades dessas áreas encaminharam à comis-são carta em que pedem a divulgação dos laudos técnicos de aferição de ris-cos dessas áreas, para que os moradores possam avaliar os critérios adotados. A presidente da Comissão, deputada Iriny Lopes (PT-ES), afirmou que vai formar um grupo de parlamenta-res para visitar as áreas consideradas de risco no Rio de Janeiro.

“Não é questão de risco, é ques-tão de rico”, disse o padre Luiz An-tonio Pereira Lopes, coordenador da Pastoral de Favelas do Rio de Janeiro, citando a frase de um mo-rador do Canal do Anil, na zona oeste da cidade. “Lá o pobre não pode viver, mas do outro lado do rio foi construída a vila do Pan, onde cada apartamento custa R$ 150 mil”, disse.

A deputada Marina Maggesi (PPS-RJ) lembrou que a Escola Americana, considera uma das mais caras do Rio, está instalada em área de risco, próxima ao Morro do La-borioux, na Rocinha. As remoções, no entanto, só têm atingido famílias pobres que moram na área.

O deputado Marcelo Itagiba (PSDB-RJ) também cobrou da pre-feitura tratamento igual entre pobres e ricos. “Quero saber se a prefeitu-ra vai ter o mesmo tipo de atitude em comunidades de alta renda, que estão em terrenos invadidos, com casas caindo”.

Critérios para remoção - Para a defensora pública do estado do Rio Maria Lúcia de Pontes, as fortes chu-vas que causaram mortes e destrui-ção de casas em favelas cariocas não podem ser usadas para legitimar um processo antidemocrático de remo-ção. Ela disse que já foi gasto dinhei-

Solange Amaral

Mais que parabenizar todas as mães bra-sileiras, é hora de ressaltar a importância das mulheres na sustentação e consolidação da sociedade. apesar da dupla ou tripla jornada de trabalho, que muitas vezes limita ou dificulta as possibilidades de envolvimento em atividades profissionais, as mulheres representam uma parcela significativa na economia.

No Brasil, 30% das crianças não têm filia-ção paterna em seus registros. É o que indica a pesquisa da socióloga ana liése thurler, professora do Departamento de sociologia da Universidade de Brasília. a pesquisadora desenvolveu seu estudo a partir da análise de 180 mil certidões de nascimento, que revelou como meninos e meninas sem o nome do pai em seus registros tendem a continuar nessa condição.

essas crianças, no entanto, possuem mães que trabalham fora, trabalham em casa e ainda cuidam de seus filhos, passam noites em claro quando adoecem e lutam para que estes tenham uma vida digna.

segundo dados da revista observatório Brasil da igualdade de gênero, no país, a imagem das mulheres como cuidadoras, ou na força de trabalho secundária, mostra uma desigual distribuição do poder.

Por outro lado, as mulheres e mães brasi-leiras demonstram talentos que podem servir de exemplo. Um deles é zilda arns, mulher talentosa que se destacou nas últimas dé-cadas servindo seus irmãos, certamente os mais desprovidos. Dra. zilda, uma das Mães do Brasil, morreu em ação, mas amou até o fim as pequenas vidas e as mulheres pobres que as geraram.

também nos cabe lembrar, com pesar, das mães que perderam seus filhos brutalmen-te, como as seis mães de luziânia, cidade próxima à Brasília; as mães da Praça da sé, que se reúnem periodicamente em busca de seus filhos desaparecidos, as que perderam suas crianças nas chuvas do rio de Janeiro no início deste ano e muitas outras.

Desejamos a todas elas o que o poeta e músico brasileiro, cazuza, cantava: “só as mães são felizes”. Que assim seja. Feliz Dia das Mães a todas as mulheres brasileiras!

Solange Amaral é deputada federal pelo

DEM do Rio de Janeiro e coordenadora da Procuradoria Especial da Mulher. Contato: [email protected]

A dor e a coragemdas mães do Brasil

Moradores denunciam interesses econômicos em remoção de favelas

a titular do cartório do 6º ofício de registro de títulos e Do-cumento do rio de Janeiro, sônia Maria andrade dos santos, de-fendeu durante audiência a aprovação do Projeto de lei 7013/10, do deputado Marcelo itagiba (PsDB-rJ). a proposta permite o registro da posse de ocupações, o que, na avaliação da tabeliã, vai dar segurança jurídica aos moradores e abrir caminho para um processo de regularização fundiária.

sônia explicou o projeto de cadastro social que o cartório onde atua tem realizado em algumas comunidades do rio de Janeiro. ela acredita que a iniciativa poderia ser estendida a outras regiões do País. “o registro público dá segurança jurídica. É inadimissível que uma pessoa precise ficar na frente da sua casa com medo que ela seja invadida durante a noite por conta de uma tragédia”.

segundo sônia, o projeto do cartório já atendeu às comunidades do cantagalo, Pavão-Pavãozinho, Manguinhos e alto da Boa vista. “com isso, você tira os moradores da informalidade e permite o resgate da cidadania em áreas de favela”.

segundo o deputado Marcelo itagiba, se a proposta já estivesse em vigor quando houve o desabamento do Morro do Bumba, seria possível identificar os moradores e, consequentemente, quem teria direito a indenização ou ao aluguel-social.

Sônia Andrade ainda afirmou que o cadastro social não vai incen-tivar novas invasões, mas formalizar situações já existentes. “Não fazemos isso em comunidades criadas recentemente. são pessoas que moram há 60 anos [em áreas sem regularização] e que nunca tiveram a possibilidade de ter um documento “, defendeu. (cs)

Projeto permite registro de ocupações

rodolFo stuCkert

saulo Cruz

ro público em projetos de urbanização dessas áreas, e hoje os moradores des-ses locais estão sendo removidos. “O Morro dos Prazeres teve investimento milionário do projeto favela bairro e hoje o governo quer remover toda a comunidade.”

As favelas, segundo o deputado Marcelo Itagiba, não são problema, mas a conseqüência de falta de plane-jamento na área de habitação. “Remo-

ção é uma palavra que usamos para objetos, não para pessoas. Elas não podem ser removidas e retiradas da rua, têm o direito de ser realocadas e indenizadas por aquilo que construí-ram”, afirmou o deputado.

Para o deputado Chico Alencar (Psol-RJ), algumas estruturas aban-donadas poderiam ser aproveitadas em projetos de reassentamento das famílias de áreas de risco.

Moradores de favelas participaram de audiência na Comissão de direitos Humanos

oPiNião

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coMUNicaÇão

Especialistas pedem compromisso da mídia com os direitos humanos

Rachel Librelon

Especialistas do setor de comunicação pediram a elaboração de leis que assegurem o respeito da mídia pelos direitos humanos. Os participantes de seminário promovido pela Comissão de Direitos Humanos e Mi-norias na quinta-feira (6) defenderam a re-gulamentação de dispositivos do Programa Nacional de Direitos Humanos (PNDH-3) e da Constituição relacionados aos meios de comunicação.

O sociólogo, jornalista e professor apo-sentado da Universidade de Brasília (UnB) Venício Lima ressaltou que a efetivação do PNDH-3 depende da aprovação de diver-sos projetos de lei. Segundo Lima, a própria Constituição, em seu artigo 221, já prevê a elaboração de marco legal para os veículos de comunicação. “Quem ameaça quem? O PNDH ameaça a liberdade de comunica-ção ou os empresários ameaçam o direito à comunicação?”, questionou.

A diretriz 22 do PNDH-3 prevê, por exemplo, a criação de um marco legal que estabeleça o respeito aos direitos humanos como condição para renovar as concessões de rádio e TV. Essa diretriz, no entanto, tem sido alvo de críticas por parte da cha-mada grande mídia, porque cercearia a li-berdade de expressão. “Quem é a favor da democratização dos meios de comunicação deve defender a diretriz 22 do PNDH-3”, afirmou Cláudia de Abreu, jornalista e di-retora da TV Comunitária de Niterói.

Controle social - Para a presidente da organização não governamental Ob-

servatório da Mulher, Rachel Moreno, as grandes empresas de mídia têm medo do controle social. Por serem concessões pú-blicas, afirmou, as TVs e rádios deveriam ter responsabilidade social. Para ela, atu-almente, os valores e modelos divulgados pela publicidade e pela programação de TV estão provocando “doenças moder-nas”, como anorexia e visão distorcida do próprio corpo.

Para Venício Lima, os objetivos propos-tos no PNDH-3 não ameaçam os meios de comunicação. Ele lembrou que o ranking sobre direitos humanos e programação, uma das medidas previstas no PNDH, já é realizado pela Comissão de Direitos Hu-manos e Minorias da Câmara.

Também no seminário, a deputada Luiza Erundina (PSB-SP) destacou o

esforço e a dificuldade para criar meca-nismos de controle social para a mídia. Porém, ressaltou que o controle social não interfere na liberdade de expressão: “A liberdade de imprensa é conquista da sociedade e não apenas dos veículos. Mas eles nos acusam de sermos contrários à liberdade de expressão”.

Já o deputado Miguel Martini (PHS-MG) defendeu que a sociedade seja orien-tada a filtrar a programação. Segundo ele, cabe ao governo dar condições para que os interesses do cidadão sejam atendidos. “A maioria dos veículos também é financiada com recursos do poder público”, lembrou. O seminário foi proposto pela presidente da comissão, deputada Iriny Lopes (PT-ES), e pelo deputado Pedro Wilson (PT-GO).

Emprego e rendanilson mourão (PT-

aC) ressaltou que, no Dia do trabalho, 1º de maio, o Brasil comemorou con-quistas expressivas, como estabilidade no emprego, evolução do salário mínimo e a queda do desemprego. “o novo cenário representa, nos últimos sete anos e meio, período de mudança radical do mercado de trabalho e da atenção do governo federal à situação dos trabalhado-res na área previdenciária e trabalhista, inclusive com a geração de 12 milhões de empregos formais”, disse. segundo o parlamentar, o País vive, neste ano, o me-lhor período de geração de postos de trabalho de sua história. o último mês de março, acrescentou, marcou o terceiro mês consecutivo de recorde de geração de empregos com a criação de novos postos de trabalho, o que levou o País a ter o melhor primeiro trimestre da história com a geração de mais de 250 mil novos empregos. “vale lembrar que, em oito anos de governo Fernando Henrique cardo-so, foram gerados apenas 700 mil novos empregos”, disse.

Federal de Uberlândiao conselho da Universi-

dade Federal de Uberlândia reuniu-se na última semana para decidir sobre a criação de duas novas unidades, em Monte carmelo e Patos de Minas, segundo informou Gilmar machado (PT-mG). o parlamentar lembrou que, desde que 2006, a UFU já mantém uma unidade em ituiutaba. segundo ele, hoje esse campus está consolida-do com 10 cursos, “ajudando muito o desenvolvimento e a fixação da juventude do pontal do triângulo Mineiro na cidade”. Machado ressal-tou também que ituiutaba recebeu um instituto Fede-ral de educação ciência e tecnologia. De acordo com o parlamentar, a criação de universidades e institutos tecnológicos nas cidades menores consolida o proces-so de interiorização iniciado por Juscelino Kubitscheck nos anos 50. o deputado adiantou ainda que o presi-dente lula assinará a ordem de serviço para o início das obras de duplicação da ro-dovia Br-050, no trecho que liga Uberlândia a araguari.

DiscUrsos Da seMaNa

o “Big Brother Brasil 10”, exibido pela tv globo, foi o programa televisivo que mais recebeu denúncias de desrespeito aos direitos humanos na campanha “Quem financia a baixaria é contra a cida-dania”. o programa lidera o 17º ranking da Baixaria na tv, divulgado durante o seminário da comissão de Direitos Hu-manos e Minorias.

o 2º lugar do ranking, com 105 de-núncias, foi o programa “Pegadinhas picantes”, exibido pelo sBt. em terceiro lugar ficou o “Pânico na TV”, apresentado pela rede tv. Figuram no quarto e quinto lugares da lista, respectivamente, os programas regionais “se liga Bocão”, da record, e “Bronca na tv”, do sBt.

os dados foram apresentados pela representante da executiva da campa-nha pela Ética na tv, cláudia cardoso. A campanha “Quem financia a baixaria é contra a cidadania” foi lançada em 2002 pela comissão de Direitos Humanos e

Big Brother lidera o 17º ranking da baixaria na tV

Minorias em parceria com entidades da sociedade civil.

Homofobia e nudez - Para o pesqui-sador e jornalista cláudio Ferreira, da TV Câmara, a sociedade precisa estar atenta aos reality shows. “a televisão, com seus parâmetros comerciais, não vai desistir desse tipo de programa, que custa pouco

e rende muito”, afirmou.cláudia cardoso informou que, ape-

sar de ainda haver casos recorrentes, a campanha pela ética na tv já obteve várias conquistas para a sociedade, como mudanças de horários de programas e até cancelamento de contratos de apre-sentadores. (Rl)

o sociólogo e jornalista venício lima (d) questiona: “o Plano nacional de direitos Humanos ameaça a liberdade de comunicação ou os empresários ameaçam o direito à comunicação?”

Janine Moraes

XVII Ranking da Baixaria na TV

Programa Denúncias fundamentadas Assunto

1º Big Brother Brasil 10 (Rede Globo) 227 Desrespeito à dignidade humana, apelo sexual, exposição

de pessoas ao ridículo, nudez.

2º Pegadinhas Picantes (SBT) 105 Cenas de nudez, erotismo, humor grotesco e exposição ao ridículo.

3º Pânico na TV (Rede TV) 34 excesso de nudez, exposição de pessoas ao ridículo, humor grotesco.

4º Se Liga Bocão (TV Itapoan – Record) 14 Sensacionalismo, desrespeito à pessoa humana, incitação

à violência.

5º Bronca Pesada (TV Jornal – SBT) 11 sensacionalismo, nudez, violência, conotação sexual,

exposição de crianças e palavras de baixo calão.

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eNtrevista

Por que não há moti-vos para muita comemo-ração em 13 de maio?

Estamos chegando aos 122 anos da Aboli-ção e ela continua inaca-bada diante da realidade de opressão e racismo na qual se encontram os afrodescendentes que, no Brasil, ainda ocupam a base da pirâmide eco-nômica, morando nas favelas, nas palafitas, com péssimo ensino pú-blico, salários menores e sofrendo o extermínio causado pela vio-lência. Hoje, o jovem negro corre 130% mais risco de ser assassinado do que o jo-vem branco, e as desigualdades ainda são maiores que em 1888. As últimas aferições mostram que, a cada hora, um jovem negro é assassinado no Brasil. O sistema de cotas para o acesso à universidade foi uma das grandes conquistas que obtivemos, apesar da contestação de parte da sociedade que não assume sua face racista.

Além das cotas, que outras conquis-tas da população afrodescendente devem ser destacadas?

A aprovação do Estatuto da Igualdade Racial na Câmara dos Deputados foi um grande passo, um salto positivo, apesar da

permanente investida dos ruralistas e da in-diferença do Senado Federal, que não se empenha e emperra a sua transformação em lei. Entendo que o Estatuto é o reco-nhecimento de que houve 350 anos de es-cravidão, pois o texto reconhece profissões, além das religiões de origem africana.

No Brasil, o racismo é gritante, incubado, mas com a vigência do Estatuto da Igualdade Ra-cial, cuja comissão especial tive a honra de presidir, teremos um importante instrumento legal para prosseguir na luta para conquistar as reivindicações da população negra. Infelizmente, a estagnação do Estatuto no Senado é outro ponto que não nos anima a comemorar o 13 de maio.

O senhor aponta resistência do Senado em votar o Estatuto. Por que ela existe?

Porque lá ainda há representantes dos se-tores conservadores que representam a antiga visão dos senhores feudais. Porque, para o Se-

nado, o lobby dos ruralistas é mais forte que o clamor dos afrodescendentes. Outro motivo é que a mídia brasileira, além de não esclare-cer os pontos principais do Estatuto, também trabalha contra a aprovação do texto.

Qual sua expectativa em relação ao que ainda precisa ser feito em termos de igualdade racial no Brasil?

Apesar da luta contra o racismo ain-da estar longe de seu fim, continuamos obtendo vitórias, como a definição do

racismo como crime ina-fiançável, a instituição das cotas universitárias, e contamos com o apoio do governo Lula, que promo-ve a inclusão dos negros brasileiros. Creio que em breve vamos ter em vigor o Estatuto da Igualdade Racial, que entre outras coisas prevê o incentivo à contratação de negros no mercado de trabalho; o re-conhecimento da capoeira

como esporte; a reclusão de até três anos para quem praticar racismo na internet; o livre exercício dos cultos religiosos de ori-gem africana; o estímulo às atividades pro-dutivas da população negra no campo; e a obrigatoriedade de que os partidos tenham 10% de candidatos negros concorrendo às eleições.

Educação Io governo lula mudou o

retrato da educação pública brasileira, afirmou luiz Couto (PT-PB), ao destacar que os investimentos na área passaram de r$ 19 bilhões, em 2003, para r$ 59 bilhões, em 2010. o depu-tado disse que o Ministério da educação, por meio do Plano de Desenvolvimento da educação (PDe), vem realizando ações importantes na qualidade do ensino público. o PDe, obser-vou, tem o objetivo principal de assegurar educação de qualida-de para 60 milhões de crianças e jovens. “em primeiro lugar, o Plano de Desenvolvimento da educação expandiu o ensino superior público por meio da reestruturação e expansão das Universidades Federais (reuni). Houve aumento de acesso aos cursos superiores, dobraram-se as vagas nas universidades e o governo lula criou 13 novas universidades públicas em diversas regiões e 124 novos campi”, enumerou. couto disse que na Paraíba foram criados os campi Mamanguape, rio tinto, cuité, Pombal e de sumé.

Educação IIilderlei Cordeiro (PPs-

aC) defendeu os professores da rede estadual do acre que, segundo afirmou, se en-contram em greve por tempo indeterminado. “Há realmente uma injustiça: os professores efetivos ganham pouco mais que r$ 1.700, enquanto os provisórios recebem menos de r$ 1.300 para realizar o mesmo trabalho”, ressaltou. o deputado destacou ainda a greve dos funcionário do ibama e disse que eles protestam contra o Projeto de lei complementar 549/09, que, em sua avaliação, restringe contração de servi-dores federais nos próximos 10 anos. Pela proposta do se-nado, de 2010 e até o final de 2019, a despesa com pessoal e encargos sociais da União não poderá ultrapassar o valor líquido do ano anterior. ilderlei cordeiro também reclamou da transferência de uma fiscal do Ministério agricultura no acre, para Brasília. De acordo com ele, o estado conta com apenas 19 fiscais do órgão. Ele defen-deu ainda o projeto que obriga o sUs a fornecer gratuitamente óculos e aparelhos aditivos a cidadãos matriculados em es-colas públicas que necessitem utilizá-los.

Hoje, no Brasil, o jovem negro

corre 130% a mais de

riscos de ser assassinado que o jovem

branco

Carlos Santana: a abolição no Brasil ainda é um processo inacabado

Luiz Paulo Pieri

O dia 13 de maio marca a passagem dos 122 anos da Abolição da Escravatura no Brasil, mas ainda não há muitos motivos

pelos quais a data deve ser comemorada. A avaliação é do deputado Carlos Santana (PT-RJ), que vê poucas mudanças entre o espaço que o negro ocupava na sociedade do final do século 19 e na atual. “A abolição é um processo inacabado”, diz Santana, ao salientar que a população afrodescendente, mesmo participando ativamente

da política nacional, ainda enfrenta barreiras que fazem com que sua representatividade no Congresso seja iníqua. No Brasil de hoje, o acesso dos negros a universidades é semelhante ao que existia há mais de meio século nos Estados Unidos, país onde a segregação racial sempre foi muito forte, compara o deputado, que aponta o sistema de cotas como a forma mais eficiente de promover o ingresso dos estudantes negros no ensino superior. Carlos Santana está em seu quinto mandato como deputado federal e presidiu a comissão especial que analisou, na Câmara, o Estatuto da Igualdade Racial.

Direito social

rodolFo stuCkert

DiscUrsos Da seMaNa

O Projeto de Lei 2786/08, do deputado Vinicius Car-valho (PTdoB-RJ), que concede aos idosos isenção do pagamento pelo uso de vagas destinadas a eles em esta-cionamentos privados, foi aprovado na quinta-feira (6) pela Comissão de Seguridade Social e Família. O relator, deputado Leandro Sampaio (PPS-RJ), foi favorável à proposta. “O projeto pretende minorar as adversidades enfrentadas pelos idosos, ao isentá-los da cobrança, mui-tas vezes abusiva, pelo exercício de seu direito de esta-

cionar em vagas preferenciais”, disse.O PL 2786/08 altera o Estatuto do Idoso (Lei 10.741/03),

que prevê uma reserva de 5% das vagas em estacionamentos públicos e privados aos maiores de 60 anos. O texto também determina pena de reclusão de seis meses a um ano e multa para os estabelecimentos que descumprirem a medida.

Tramitação - A proposta será analisada ainda pela Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania. Em seguida, será votada pelo Plenário.

Seguridade Social isenta idosos de pagar por vaga em estacionamento privado

Page 12: Jornal da Câmara

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Disque - Câmara 0800 619 619www.camara.gov.br

oPiNião

Antônio Roberto

Durante esta década, a política de valorização do salário mínimo permitiu às pessoas mais humildes melhores con-dições de vida. No entanto, a falta de empenho em se criar uma política que atenda aos aposentados que recebem mais de um salário mínimo fez com que essas pessoas tivessem seus benefícios achatados.

O advento do fator previdenciário trouxe mais prejuízos aos já relegados beneficiários do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), tudo por conta de uma política equivocada, que buscou promover o ajuste das contas da Previ-dência por meio do corte de direitos dos aposentados. O governo atual insiste em manter esse modelo errôneo, que não promove a correção das contas da Previdência, mas relega ao aposentado a condição de eterno pedinte do respeito e reconhecimento pelos serviços pres-tados à nação.

É preciso buscar uma saída que saneie as contas da Previdência, mas que também permita ao aposentado o mínimo de dignidade no fim de uma vida de contribuições. A saída para tal impasse me parece clara na redução do

Edição semanal - 10 a 16 de maio de 2010

José Genoíno

Um dos assuntos da maior impor-tância para o País, para o nosso governo e para a Câmara dos Deputados diz res-peito ao debate sobre a defesa nacional. A Estratégia Nacional de Defesa, docu-mento elaborado pelo ministro Nelson Jobim, consultando os comandantes militares, com a assessoria de Man-gabeira Unger e aprovado por decreto presidencial, parte de um pressuposto fundamental, que é o conjunto de eixos que compõem uma visão que entende o projeto de defesa inseparável do projeto de desenvolvimento econômico.

Essa junção da defesa nacional com o desenvolvimento econômico é fundamental para o projeto nacional e vincula o papel e a organização das Forças Armadas, no cumprimento da missão constitucional e de defesa, uma relação estreita com a reorganização da indústria nacional de material de defesa, a composição dos efetivos das Forças Armadas e a sua distribuição no território nacional.

Entre as 23 diretrizes que compõem essa estratégia, quero destacar seu ele-mento central, que é o papel dissuasório

Justiça para os aposentadosgasto público; dos recursos gastos com juros, com socorro a bancos mal admi-nistrados; na criação do Imposto Sobre Grandes Fortunas, já previsto na nossa Constituição; mas nunca na redução dos valores já baixos das aposentadorias do INSS.

A lei que criou o fator previdenciá-rio mudou as regras do jogo no meio do campeonato. Quando os trabalhadores que estão se aposentando agora come-çaram a contribuir para a Previdência, 30, 35 anos atrás, contribuíam não com base na expectativa de vida, mas com base na remuneração e nas regras apro-vadas pelo Congresso Nacional.

Infelizmente, o Supremo Tribunal Federal julgou que o fator previden-ciário era constitucional, da mesma forma como validou a absurda taxação dos inativos. O que mais me entriste-ce é que o Brasil tem uma das maiores cargas tributárias do mundo e, para o equilíbrio das contas da Previdência, bastava o governo canalizar uma parte da arrecadação das contribuições so-ciais, como a Cofins, para dar melhores condições aos aposentados.

Pré-sal - Mas, se o governo não quer mexer na regra de distribuição dos im-postos e contribuições já existentes,

vamos então aproveitar o pré-sal, cujo marco regulatório ainda está em trami-tação no Congresso, e incluir no Fundo Social uma parcela dessa riqueza para complementar o caixa da Previdência.

Entristeço-me ao ver, todos os anos, aposentados que ganham acima de um salário mínimo brigando, empregando suas vidas e a pouca saúde que têm em vigílias e mobilizações por um reajuste justo.

Essa situação fica mais clara quando analisamos dados da Confederação Na-cional dos Aposentados, que apontam para uma perda de 40% nas aposenta-dorias, nos últimos quatro anos. São 26 milhões de aposentados no Brasil, dos quais 18 milhões recebem um salário mínimo e 7,4 milhões ganham acima do piso, e que vêm acumulando perdas desde 1991, quando o reajuste do bene-fício foi desvinculado do mínimo.

A conclusão a que chego, após três anos e meio ocupando uma vaga na Câ-mara Federal, é que essa defasagem e a maneira como o governo vêm tratan-do o caso demonstra puro preconceito contra o envelhecimento. Com muito esforço, e graças ao trabalho dos que hoje buscam a aposentadoria, criamos uma sociedade mais justa, na qual as

disparidades sociais tendem a ser ame-nizadas em algumas décadas, mas não teremos resultado satisfatório se conti-nuarmos oferecendo aos nossos idosos apenas um agradecimento, sem lhes dar condições de permanecerem mais tempo entre nós, nos enriquecendo com suas valorosas experiências.

antônio roberto é deputado federal pelo Pv de Minas gerais. contato: [email protected]

Plano nacional de Defesano emprego das Forças Armadas. A or-ganização sobre o trinômio monitora-mento, controle e mobilidade, o concei-to de mobilidade estratégica dentro dos nossos objetivos nacionais de integração nacional e de integração da América do Sul, a questão fundamental do ponto de vista tecnológico, que são exatamente os três elementos: espacial, cibernético e nuclear.

Essa capacidade operacional das Forças Armadas exige um Ministério de Defesa forte, e nós estamos consoli-dando o ministério. Foi um processo. E esse processo, com o ministro Nelson Jobim, alcança patamar muito impor-tante no fortalecimento de autoridade do Ministério da Defesa, com a aprova-ção das mudanças na lei complementar sobre o emprego e preparo das Forças Armadas.

Por outro lado, o plano equaciona, na reorganização das Forças, a com-partimentação dessas. É um processo de integração com o reposicionamento dos efetivos, com uma centralização das compras de material de defesa e uma reestruturação no território nacional do ponto de vista da geopolítica, com a prioridade da presença das Forças

Armadas na Amazônia e o seu papel do ponto de vista da integração sul-americana, inclusive com um conselho sul-americano de defesa.

São elementos fundamentais que na própria Estratégia Nacional de Defesa, ao discorrer sobre Exército, Marinha e Aeronáutica, fortalece as três Forças dentro de uma concepção de integra-ção, de autoridade militar, culminando com a autoridade política institucional e reposiciona corretamente o acesso das Forças Armadas à alta tecnologia.

Capacitação - Por isso, esse projeto explicita a importância da capacitação da Marinha na questão do submarino por propulsão nuclear, da Aeronáuti-ca, com o controle do espaço aéreo - aí temos que ter uma aviação à altura - e com as forças de pronto emprego que devem compor o núcleo central do Exército. Mas isso é feito sem desprezar o elemento da presença das Forças no território nacional.

Eu considero a Estratégia Nacional de Defesa um marco importante na his-tória sobre o papel das Forças Armadas, da sua reorganização. Um documento feito, olhando para o futuro e não para o passado, uma estratégia consolidada

num debate político estratégico com os comandantes militares e numa política de governo e de Estado.

A presença das Forças Armadas, em particular do Exército, nas operações internacionais recebeu elogios no mun-do inteiro, pela eficiência, dedicação, discrição e capacidade. Essa presença projeta poder, influência e prestígio.

José Genoíno é deputado federal pelo PT de São Paulo. Contato: [email protected]

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