jornal da contaga ameaça de aprovação da atual pro-posta da reforma da previdência e da pec 55...

20
Filiada à: Junto a esta edição: Veículo informativo da CONFEDERAÇÃO NACIONAL DOS TRABALHADORES RURAIS AGRICULTORES E AGRICULTORAS FAMILIARES CONTAG ANO XII • NÚMERO 141 • DEZEMBRO DE 2016 Jornal da REVISTA DA TERCEIRA IDADE DVD SOBRE HABITAÇÃO RURAL

Upload: others

Post on 19-Aug-2020

0 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: Jornal da CONTAGA ameaça de aprovação da atual pro-posta da reforma da Previdência e da PEC 55 (que era a PEC 241 na Câmara dos Deputados), o sucateamento do Sistema Único de

JORNAL DA CONTAG 1Filiada à:

Junto a esta edição: Veículo informativo da

CONFEDERAÇÃO NACIONAL DOS TRABALHADORES RURAIS AGRICULTORES E AGRICULTORAS FAMILIARES

CONTAGANO XII • NÚMERO 141 • DEZEMBRO DE 2016

Jornal da

REVISTA DA TERCEIRA IDADE

DVD SOBREHABITAÇÃO RURAL

Page 2: Jornal da CONTAGA ameaça de aprovação da atual pro-posta da reforma da Previdência e da PEC 55 (que era a PEC 241 na Câmara dos Deputados), o sucateamento do Sistema Único de

JORNAL DA CONTAG2

EDITORIAL

PRESIDÊNCIA

Alberto Ercílio BrochPresidente da CONTAG

2016 marcado pela luta contra os retrocessosCésar Ramos

Debates a todo vapor

Encerramos mais um ano com o

sentimento de dever cumprido

com a nossa missão de represen-

tar e defender os interesses e direitos dos

trabalhadores rurais agricultores(as) fami-

liares. 2016 foi marcado por uma conjun-

tura política adversa decorrente da grave

crise política e econômica que abalou a

credibilidade das instituições públicas,

afetando o trabalho e a vida de milhares

de brasileiros e de brasileiras.

2016 foi um ano difícil e complexo para

o nosso Movimento Sindical, mas nem

por isso deixamos de representar e lutar

por aquilo que acreditamos ser melhor

para a classe trabalhadora, especialmen-

te para os nossos agricultores e agricul-

toras familiares. Porém, perdemos muitas

batalhas nesta trajetória de luta, sobretu-

do, na defesa da democracia e na ma-

nutenção dos direitos conquistados pela

classe trabalhadora. Sentimos os efei-

tos da ação reacionária e liberal de uma

legislatura parlamentar no Congresso

Nacional que não tem compromisso com

a democracia, com as instituições públi-

cas e, sobretudo, com a classe trabalha-

dora deste País. Afinal, este parlamento

votou e votará medidas que favorecem a

elite (grandes bancos, especuladores e

empresas transnacionais) em detrimento

dos direitos, trabalho e renda da classe

trabalhadora do campo e da cidade.

O ano finaliza e, com ele, fica a neces-

sidade de fazermos uma grande reflexão

sobre o que passou e os grandes de-

safios que enfrentaremos nos próximos

anos. Precisamos repensar nossa prática

e ação sindical e rever nossas estratégias

de luta para que possamos nos fortalecer

e ser mais eficientes na defesa dos inte-

resses e direitos dos agricultores e agri-

cultoras familiares.

Neste sentido, acredito que o 12º

CNTTR será um momento especial para

a CONTAG, Federações e Sindicatos de-

baterem e deliberarem sobre os desafios

que a conjuntura impõe para o movimen-

to e para os agricultores(as) familiares e

aprovar um conjunto de diretrizes, prin-

cípios e um plano de lutas para fazer do

MSTTR combativo, unido e ousado para

vencer as batalhas que enfrentaremos

nos próximos anos.

Na última reunião do Conselho

Deliberativo da CONTAG, realizado nos

dias 23 a 25 de novembro, foram desta-

cados os grandes temas que estão sendo

debatidos nas plenárias regionais e esta-

duais e que serão os pontos centrais do

debate e deliberação no 12º Congresso

da CONTAG, a ser realizado em março

de 2017. O Conselho também elegeu a

Comissão Coordenadora do 12º CNTTR

que irá eleger a Comissão Eleitoral e cui-

dará de todo o processo organizativo e

regimental para que o congresso supe-

re suas expectativas, elegendo a nova

Diretoria da CONTAG, mantendo a unida-

de e fortalecendo o MSTTR para defender

os interesses e os direitos dos agriculto-

res e das agricultoras familiares.

Portanto, avaliamos que 2016 foi um

ano que entrará para a história do nos-

so País e esperamos que 2017 seja de

grandes lutas, conquistas e de unidade.

Que possamos mudar os rumos do nos-

so Brasil, que seja uma nação igualitária,

solidária, justa e democrática.

Um Feliz Natal a todos e todas e um

Ano Novo de muitas realizações!

Page 3: Jornal da CONTAGA ameaça de aprovação da atual pro-posta da reforma da Previdência e da PEC 55 (que era a PEC 241 na Câmara dos Deputados), o sucateamento do Sistema Único de

JORNAL DA CONTAG 3

SECRETARIA GERAL

A ameaça de aprovação da atual pro-

posta da reforma da Previdência e

da PEC 55 (que era a PEC 241 na

Câmara dos Deputados), o sucateamento

do Sistema Único de Saúde e a ameaça

de privatização da saúde e da educação;

assim como o desmonte das estruturas

federais, estaduais e municipais de defe-

sa dos direitos das mulheres e dos jovens

são apenas uma pequena parte do terrível

cenário que se desenha e com o qual todo

o Movimento Sindical de Trabalhadores e

Trabalhadoras Rurais (MSTTR) terá de lutar

nos próximos anos.

Além disso, o processo de dissociação

e reorganização sindical representa uma

grande mudança dentro do MSTTR e tor-

nam necessárias novas estratégias para

fortalecer a agricultura familiar no Brasil e,

principalmente, nosso Projeto Alternativo

de Desenvolvimento Rural Sustentável e

Solidário (PADRSS). O atual governo fede-

ral impõe ao Brasil uma série de medidas

contrárias aos interesses da sociedade

brasileira e adota políticas de ajuste fiscal

que terão consequências muito graves

para o desenvolvimento futuro do País.

Por isso, as Plenárias Estaduais e

Regionais representam uma etapa funda-

PREPARAÇÃO PARA O 12º CNTTR

Debates a todo vaporPlenárias Estaduais e Regionais são etapa fundamental para a definição dos rumos do MSTTR em momento

de grandes desafios externos e internos

mental deste que será um Congresso his-

tórico para o Movimento Sindical, o primei-

ro em que a CONTAG representa apenas

a agricultura familiar. A participação com-

bativa e consciente de todos(as) os(as)

delegados(as) será fundamental para

enriquecer ainda mais a discussão dos

rumos do MSTTR e da luta pela consoli-

dação do PADRSS em meio a tantas ini-

ciativas de retrocessos dos direitos dos(as)

trabalhadores(as).

“Sabemos que as discussões nos es-

tados que já fizeram suas plenárias foram

muito produtivas. A base está mostrando o

que quer e o que precisa, e de que forma

podemos todos atuar juntos na defesa dos

nossos direitos e na busca por políticas pú-

blicas que contribuam para a melhoria da

vida dos agricultores e agricultoras fami-

liares de todo o Brasil”, afirma a secretária

Geral da CONTAG, Dorenice Flor da Cruz.

As Plenárias Estaduais e Regionais já estão

a todo vapor: entre outubro e dezembro, já

foram realizadas 57 plenárias, que têm como

principal objetivo debater o texto base do

12º Congresso Nacional dos Trabalhadores

Rurais Agricultores e Agricultoras Familiares

e escolher os delegados e delegadas que vi-

rão à Brasília, entre os dias 13 e 17 de março

de 2017, para definir os rumos do MSTTR

para os próximos quatro anos.

Até o dia 13 de janeiro de 2017 se-

rão realizadas ainda outras 22 Plenárias

Estaduais ou Regionais. A participação

dos(as) associados(as) é fundamental,

principalmente por causa do novo ce-

nário de reorganização sindical, onde a

CONTAG passa a representar exclusi-

vamente a agricultura familiar. Além dis-

so, estamos vivendo também em um

contexto político extremamente difícil

para todos(as) os(as) trabalhadores(as)

brasileiros(as), especialmente os do cam-

po, floresta e águas do Brasil.

As Plenárias são o momento no qual

os trabalhadores e trabalhadoras rurais

podem analisar todos os pontos do texto

base que será trabalhado no 12º CNTTR.

Mesmo que não seja escolhido(a) como

delegado(a) para participar do Congresso,

em Brasília, o(a) participante pode propor

mudanças e sugerir novos itens ao texto.

Ou seja, na Plenária, terão a oportunida-

de de contribuir efetivamente para definir

quais as prioridades de luta do MSTTR

e de que forma essa luta será feita daqui

para frente, em um momento de grandes

mudanças internas e externas. Arquivo Fetape

Page 4: Jornal da CONTAGA ameaça de aprovação da atual pro-posta da reforma da Previdência e da PEC 55 (que era a PEC 241 na Câmara dos Deputados), o sucateamento do Sistema Único de

JORNAL DA CONTAG4 JORNAL DA CONTAG4

PREPARAÇÃO PARA O 12º CNTTR

MULHERES RURAIS

CARTA POLÍTICA DA 6ª PLENÁRIA NACIONAL DE MULHERES TRABALHADORAS RURAIS

Somos mulheres do campo, da

fl oresta e das águas, agricultoras

familiares, assentadas da reforma

agrária, acampadas, reassentadas por

barragens, assalariadas rurais, sem ter-

ras, ribeirinhas, quilombolas e indígenas.

Temos várias idades, culturas, crenças e

viemos de todos os estados do Brasil.

Somos todas Margaridas! Construímos

a 6ª Plenária Nacional de Mulheres Traba-

lhadoras Rurais para afi rmar o nosso com-

promisso com o fortalecimento da organi-

zação e luta das mulheres por um mundo

com igualdade, liberdade, autonomia, jus-

tiça e democracia.

Esta Plenária Nacional traz como lema:

“Margaridas Trabalhadoras Rurais por

Paridade rumo à Igualdade: a luta é

todo dia!”. Ao nos identifi carmos como

Margaridas, trazemos a força, a coragem

e a resistência de Margarida Maria Alves,

que inspira a nossa luta no campo, na fl o-

resta, nas águas e nas ruas expressada na

realização das Marchas das Margaridas.

O debate central desta plenária é a pa-

ridade em razão do processo desafi ador

de sua efetivação no MSTTR. O próximo

Congresso da CONTAG elegerá a sua pri-

meira direção paritária, o que signifi ca um

avanço importante para fortalecer a nos-

sa participação política e a democracia no

MSTTR.Para nós, a paridade é um cami-

nho para a igualdade, por ser uma política

afi rmativa que estimula a participação efe-

tiva das mulheres nos espaços de poder e

decisão e pressiona pelo estabelecimento

de normas e regras internas que rompam

com a histórica condição de subalternida-

de e exclusão imposta às mulheres.

A paridade é uma luta feminista e sua

conquista na CONTAG reforçou as lutas

históricas pela igualdade na sociedade e

no Estado. A sua efetivação passa pelo

desafi o de assegurar condições materiais

e imateriais igualitárias para a participação

e representação política, demandando que

sejam assumidos compromissos coletivos

e permanentes com as pautas das mulhe-

res e a adoção de práticas sindicais respei-

tosas e democráticas que façam avançar

na construção da igualdade.

Compreendendo este desafi o é que as

mulheres decidiram aprofundar nas Plená-

rias Regionais e nesta Plenária Nacional os

debates sobre o signifi cado e as formas de

concretização da paridade como caminho

para conquistar a igualdade.

Nesta Plenária, olhamos para a nossa

trajetória e reconhecemos que a nossa

luta resultou em várias conquistas no

MSTTR, mas, compreendemos, tam-

bém, que muito ainda temos para cami-

nhar. Continuam vivos em nossa memó-

ria os tempos em que nos era negado o

direito de qualquer participação, inclusi-

ve o direito à sindicalização.

Na luta pela visibilidade e afi rmação de

nossa participação na sociedade e na or-

ganização sindical, conquistamos o reco-

nhecimento como trabalhadoras rurais e,

com isso, o direito à sindicalização. Tam-

bém conquistamos as cotas de participa-

ção de, no mínimo, 30% nas instâncias

deliberativas e nas diretorias e de, no mí-

nimo, 50% nos espaços formativos. Nesta

caminhada, durante a realização do 11º

Congresso, foi aprovada a paridade como

mecanismo para a igualdade.

Neste processo, as plenárias estadu-

ais, regionais e nacionais de mulheres se

consolidaram como espaços de apro-

César Ramos

Page 5: Jornal da CONTAGA ameaça de aprovação da atual pro-posta da reforma da Previdência e da PEC 55 (que era a PEC 241 na Câmara dos Deputados), o sucateamento do Sistema Único de

JORNAL DA CONTAG 5

PREPARAÇÃO PARA O 12º CNTTR

MULHERES RURAIS

fundamento dos debates, elaborações e

construção de estratégias políticas para

fortalecer a nossa organização, afi rmar o

nosso protagonismo e atuação nas lutas

do movimento e da sociedade.

A Marcha das Margaridas vem sendo

construída desde o ano 2.000 como uma

estratégia de mobilização, formação, ar-

ticulação de alianças e parcerias, assim

como de proposição e negociação de polí-

ticas públicas específi cas para as mulheres

do campo, da fl oresta e das águas.

Em 2015, a Marcha das Margaridas foi

às ruas reunindo 100 mil mulheres na luta

pela ampliação de nossos direitos e, tam-

bém, para afi rmar a defesa da democracia

e contra o golpe ao mandato da primeira

mulher presidenta da República, que já se

anunciava naquele momento. No entanto,

pouco mais de um ano após a realização

desta Marcha, o golpe está consolidado.

Realizamos esta 6ª Plenária no momento

em que o golpe midiático, judiciário e parla-

mentar feriu de morte a democracia brasilei-

ra e atacou profundamente a dignidade da

nação e das mulheres, trazendo à tona as

expressões mais cruéis do machismo.

Por ser mulher, a presidenta sofreu,

além das agressões políticas, ataques pes-

soais a sua imagem com questionamentos

sobre a sua capacidade e estrutura emo-

cional para lidar com as crises e com o des-

tino da nação. A ordem patriarcal, racista e

conservadora do golpe impôs a mensagem

de que as mulheres deveriam estar fora dos

espaços de poder que, para eles, é um lu-

gar exclusivo dos homens. Explicitou esta

mensagem com uma composição exclusi-

vamente masculina do governo.

O que ocorreu no Brasil é um exemplo

do que vem acontecendo em vários países

do mundo, onde o conservadorismo, a xe-

nofobia, o machismo e o fundamentalismo

religioso ganham força e o capital busca

fortalecer o seu modo privatista, patriarcal,

excludente e explorador, que invisibiliza o

trabalho das mulheres e criminaliza as lutas

e os movimentos sociais. Neste contexto,

tentam impor retiradas de conquistas his-

tóricas obtidas na luta por autonomia e li-

berdade, retomando, por exemplo, os dis-

cursos de que mulheres boas são aquelas

“belas, recatadas e do lar”.

Consolidado o golpe, a classe traba-

lhadora vem sofrendo sistemáticos retro-

cessos e perda de direitos. No campo, há

um ataque profundo às conquistas dos úl-

timos anos, com destaque para a extinção

do Ministério do Desenvolvimento Agrário

(MDA) e o desmonte da Diretoria de Polí-

ticas para Mulheres Rurais e Quilombolas

(DPMR). Além disso, há um intenso esva-

ziamento das políticas públicas que foram

fundamentais para acabar com a fome de

milhares de famílias e assegurar maiores

oportunidades e condições de produção e

desenvolvimento para a agricultura familiar

e para as mulheres, a exemplo dos progra-

mas Bolsa Família, Pnae, PAA, Minha Casa

Minha Vida Rural e Ater para mulheres.

Da mesma forma, também nos preo-

cupa e nos revolta a possibilidade de que

a violência contra as mulheres se intensifi -

que em razão do desmonte das políticas

públicas de enfrentamento a esta prática,

especialmente aquelas que vinham sendo

realizadas pela SPM – Secretaria de Polí-

ticas para as Mulheres e que foi relegada

pelo golpe a uma coordenação no Ministé-

rio da Justiça, sem recursos, estrutura ou

autonomia para execução das ações.

O modelo de desenvolvimento rural que

o governo golpista vem impondo adota

medidas que agravam os padrões de ex-

ploração do trabalho, de concentração e

estrangeirização das terras e de degrada-

ção da natureza, colocando em risco a so-

berania e a segurança territorial e alimentar

da nação. Vem, ainda, expulsando indíge-

nas, quilombolas e outras comunidades e

povos tradicionais de seus territórios, além

de contaminar as terras e águas e causar

genocídio de indígenas, a exemplo do que

vem ocorrendo com os Guarani Kaiowá no

estado do Mato Grosso do Sul.

Contando com os apoiadores do gol-

pe no Congresso Nacional, o governo vem

impondo, também, uma série de medi-

das legislativas, a exemplo do Projeto de

Emenda Constitucional - PEC 55 (antes

241) que estabelece o congelamento dos

investimentos sociais durante 20 anos,

apostando no esvaziamento do Estado e

na entrega, para o mercado, das principais

estruturas que asseguram o desenvolvi-

mento nacional.

Além disso, o governo golpista ameaça

com uma reforma da previdência social que

retira direitos dos trabalhadores e trabalha-

doras e impõe às mulheres trabalhadoras

rurais perdas ainda maiores. Isto porque,

Rafael Fernandes

JORNAL DA CONTAG 5

Page 6: Jornal da CONTAGA ameaça de aprovação da atual pro-posta da reforma da Previdência e da PEC 55 (que era a PEC 241 na Câmara dos Deputados), o sucateamento do Sistema Único de

JORNAL DA CONTAG6

PREPARAÇÃO PARA O 12º CNTTR

MULHERES RURAIS

JORNAL DA CONTAG

A agricultura familiar que será repre-

sentada pela CONTAG precisa considerar

as diferentes identidades dos sujeitos do

campo, visibilizar e valorizar o trabalho das

mulheres trabalhadoras rurais, afi rmar a

produção para a soberania e segurança ali-

mentar, priorizando a produção de alimen-

tos saudáveis, a partir da perspectiva agro-

ecológica e o respeito ao meio ambiente.

Frente a esta realidade, o MSTTR pre-

cisa continuar afi rmando o nosso projeto

político que defende o desenvolvimento

rural sustentável e solidário, o PADRSS,

pautado na realização da reforma agrária

que garanta o direito à terra e o fortaleci-

mento da agricultura familiar, e que asse-

gure a produção sem o uso de agrotóxicos

e transgênicos, valendo-se da utilização de

sementes crioulas que possam ser parti-

lhadas, guardadas, comercializadas e uti-

lizadas de acordo com nossas escolhas.

Esta representação sindical da Agricul-

tura Familiar precisa ampliar e fortalecer a

participação, organização e luta das mu-

lheres, assegurando as condições efetivas

para o exercício da igualdade e autonomia.

Da mesma forma, é necessário apoiar a

organização das mulheres assalariadas ru-

rais, mantendo a solidariedade e a defesa

classista das trabalhadoras rurais.

Esta plenária acontece no momento

em que se celebra 10 anos de atuação

da ENFOC, espaço de formação políti-

ca construído a partir de uma demanda

das mulheres. A formação realizada pela

ENFOC e nos demais espaços do

MSTTR, pautada na Política Nacional de

Formação (PNF), tem contribuído para o

nosso empoderamento e ampliação de

nossa participação política. O desafi o é

fazer com que os processos formativos

envolvam um número maior de mulheres

e contribuam, efetivamente, para a nossa

autonomia e igualdade.

Para tanto, reafi rmamos a importân-

cia de construir espaços específi cos de

formação com as mulheres na perspec-

tiva feminista e da educação popular. Ao

mesmo tempo, devemos fortalecer os pro-

cessos de formação mistos que assegu-

rem a abordagem sobre o patriarcado e o

machismo como elementos estruturais da

desigualdade na sociedade.

Somos mulheres que protagoniza-

mos a resistência e a luta diária por um

mundo justo e igualitário.

Rafael Fernandes

Rafael Fernandes

pretende igualar os critérios de atendimen-

to destas com as demais categorias, ne-

gando as diferenciações conquistadas na

luta pelo reconhecimento das condições

mais penosas e desgastantes existentes

nas relações de trabalho no campo.

Mais uma vez, nós mulheres sere-

mos as mais afetadas por estas políti-

cas conservadores e neoliberais, porque

sofremos com mais intensidade as con-

sequências destes ataques aos direitos

sociais. O enfraquecimento do papel do

Estado nos sobrecarrega com os traba-

lhos de cuidados e outras atividades, que

deveriam ser assumidas integralmente

pelos órgãos governamentais.

Este contexto político desafi a, ainda

mais, a unidade da classe trabalhadora e

o fortalecimento dos movimentos sociais.

Para o MSTTR, é fundamental aprimorar

os processos e instrumentos de participa-

ção e de aproximação com as demandas

da base, ampliando as lutas de resistência

e para a garantia de direitos.

Estes desafi os ocorrem no momento

de reorganização sindical dos trabalhado-

res e trabalhadoras rurais, com a formação

de dois sistemas de representação em que

a CONTAG passou a representar exclusi-

vamente as agricultoras e agricultores fa-

miliares e, a CONTAR, as assalariadas e

assalariados rurais.

Page 7: Jornal da CONTAGA ameaça de aprovação da atual pro-posta da reforma da Previdência e da PEC 55 (que era a PEC 241 na Câmara dos Deputados), o sucateamento do Sistema Único de

JORNAL DA CONTAG 7

JUVENTUDE RURAL PREPARAÇÃO PARA O 12º CNTTR

JORNAL DA CONTAG 77

CARTA POLÍTICA DA 3ª PLENÁRIA NACIONAL DA JUVENTUDE RURAL

Nós somos jovens trabalhadoras e

trabalhadores rurais do campo,

da fl oresta e das águas. Somos

agricultoras(es) familiares, assentadas(os),

acampadas(os) da reforma agrária,

reassentadas(os) por grandes proje-

tos, assalariadas(os) rurais, sem terras,

ribeirinhas(os), extrativistas, quilombolas, in-

dígenas, povos e comunidades tradicionais.

Temos várias culturas, raças, crenças e vie-

mos de todos os estados do Brasil.

Construímos esta Plenária da Juventu-

de Rural com o objetivo de debater os te-

mas centrais da conjuntura nacional e da

organização sindical a partir da perspectiva

juvenil, visando orientar e qualifi car a nossa

participação no 12º Congresso da CONTAG,

construir estratégias para o fortalecimento

do MSTTR e defi nir agenda de lutas em de-

fesa de políticas públicas para a juventude e

a sucessão rural.

O contexto em que se realiza esta Ple-

nária está marcado pelo golpe parlamentar,

jurídico e midiático que destituiu do governo

Dilma Rousseff, a primeira mulher presiden-

ta da República. Este golpe teve como fi na-

lidade interromper o projeto político voltado

à promoção de justiça social, que vinha

sendo implementado nos últimos anos.

Os golpistas tomaram de assalto o po-

der com a fi nalidade de avançar na ofen-

siva neoliberal pautada na diminuição do

papel do Estado, no retrocesso de direitos

sociais e trabalhistas e na intensifi cação

da apropriação privada dos bens naturais

pelo capital nacional e internacional. Uma

das estratégias do governo ilegítimo para

concretizar estes objetivos é criminalizar os

movimentos e as lutas sociais.

Nós vivenciamos esta prática repressora

quando, no dia 29 de novembro, fomos às

ruas para participar da manifestação con-

tra a PEC 55/2016 e a reforma do Ensino

Médio. Fomos reprimidos no nosso legítimo

direito de manifestação, sendo agredidos

pelo Estado, representado pela polícia mi-

litar, que atacou de forma truculenta, indis-

criminada e desproporcional, os(as) milha-

res de manifestantes. Naquele momento, a

Esplanada dos Ministérios e o gramado do

Congresso Nacional, históricos espaços de

exercício da democracia, foram transforma-

dos em uma praça de guerra!

Estas medidas repressoras são parte

da estratégia de consolidação do golpe.

Com o apoio de parlamentares, do poder

judiciário e da grande mídia, o governo

ilegítimo de Michel Temer vem impondo à

classe trabalhadora sistemáticos retroces-

sos e perda de direitos.

Exemplos destas medidas que atingem

drasticamente a classe trabalhadora são

a Medida Provisória nº 746/2016 e a Pro-

posta de Emenda Constitucional 55/2016.

A MP 746 pretende impor uma reforma do

Ensino Médio voltada a uma educação tec-

nicista, retirando dos currículos conteúdos

e disciplinas que possibilitam uma visão

de mundo crítica e refl exiva. Já a PEC 55,

prevê o congelamento dos investimentos

sociais por 20 anos, implicando na redu-

ção dos recursos para saúde e educação

e na entrega, para o mercado, das princi-

pais estruturas públicas que asseguram o

desenvolvimento nacional.

Além disso, o governo golpista ameaça

com uma reforma da Previdência Social que

poderá levar a perdas signifi cativas para a

juventude, especialmente quando propõe

elevar a idade mínima e igualar os critérios

dos rurais com as demais categorias, ne-

gando as diferenciações conquistadas de

reconhecimento das condições mais peno-

sas e desgastantes existentes nas relações

de trabalho no campo, fl orestas e nas águas.

No contexto de desmonte do Estado

há, também, um ataque às políticas de

Juventude na luta por sucessão rural: nenhum direito a menos! Juventude rural ocupa tudo!

Luiz Fernandes

Page 8: Jornal da CONTAGA ameaça de aprovação da atual pro-posta da reforma da Previdência e da PEC 55 (que era a PEC 241 na Câmara dos Deputados), o sucateamento do Sistema Único de

JORNAL DA CONTAG8

JUVENTUDE RURAL PREPARAÇÃO PARA O 12º CNTTR

JORNAL DA CONTAG8

educação, saúde, cultura, tecnologias da informação e comuni-

cação, esporte e lazer, dentre outras que asseguram as condi-

ções para a permanência da juventude no campo.

Destaca-se a extinção da Secretaria Nacional de Juventude e

o esvaziamento do Conselho Nacional de Juventude (Conjuve),

espaço estratégico de diálogo e formulação de políticas públicas

pelos vários segmentos juvenis. Este enfraquecimento do Con-

juve, como de outros conselhos importantes para a classe tra-

balhadora, demonstra o perfi l antidemocrático e autoritário que

caracteriza o governo golpista de Michel Temer.

No campo, há um ataque profundo às conquistas dos últimos

anos, com destaque para a extinção do Ministério do Desenvolvi-

mento Agrário (MDA) e de sua assessoria voltada à implementa-

ção de políticas para a juventude. Este contexto ameaça a efeti-

vação do Plano Nacional de Juventude e Sucessão Rural na sua

estratégia de promoção de políticas públicas articuladas, a exem-

plo da reforma agrária, ATER, PAA, Pnae, Minha Casa Minha Vida

Rural, Pronera e do programa de fomento a grupos produtivos

de jovens, além das ações destinadas aos processos agroecoló-

gicos, dentre outras. A ausência destas políticas ameaça a con-

solidação dos projetos de vida construídos para concretizar con-

dições dignas para viver no campo com autonomia e liberdade.

O modelo de desenvolvimento rural defendido por este gover-

no golpista impõe medidas que agravam a exploração do trabalho,

a concentração e estrangeirização das terras e a degradação da

natureza, colocando em risco a soberania e a segurança territorial

e alimentar da nação. Também fortalece a lógica de implantação

de grandes projetos que provocam a expulsão de indígenas, qui-

lombolas e outras comunidades e povos tradicionais de seus ter-

ritórios, acirrando os confl itos fundiários e a violência no campo.

Esta 3ª Plenária Nacional representa um importante marco na

trajetória organizativa da juventude trabalhadora rural. Ela acon-

tece no momento em que celebramos os 15 anos de criação da

Secretaria e da Comissão Nacional de Jovens Trabalhadores e

Trabalhadoras Rurais na CONTAG, espaços políticos que foram

conquistados a partir de um processo de lutas pelo nosso reco-

nhecimento como sujeitos políticos.

Nesta trajetória, vários jovens rurais participaram das lutas sin-

dicais pela terra e por políticas públicas no campo e, nestas lutas,

muitos perderam a vida ou a liberdade em razão da repressão do

latifúndio e do Estado. Mesmo assim, era negado a estes jovens o

direito à sindicalização, que era restrito ao pai. A luta da juventude

vem transformando esta construção histórica pautada no patriar-

cado, no machismo e no preconceito geracional.

Em nossa organização sindical destacamos o reconhecimento

e a visibilidade da juventude como sujeito de direito; a construção

da Secretaria e da CNJTTR; as cotas nos espaços de participa-

ção e direção; o Jovem Saber; o Consórcio Social da Juventude

Rural Rita Quadros e a realização dos Festivais e das Plenárias

regionais, estaduais e nacionais, que ampliaram e fortaleceram

o direito à sindicalização e a incidência da juventude no MSTTR.

Esta construção desencadeou um processo crescente de afi r-

mação da identidade da juventude, do reconhecimento de seu

protagonismo na construção do desenvolvimento rural sustentá-

vel e solidário e de visibilidade das demandas por políticas públi-

cas específi cas. Nesta trajetória foi se consolidando a compreen-

são de que a juventude deseja viver no campo com direito à terra

e qualidade de vida, o que trouxe o tema da sucessão rural para

o centro da pauta do MSTTR.

Este protagonismo também reforçou as lutas históricas por

igualdade na sociedade e no Estado, e possibilitou a institucio-

nalização de políticas públicas e a criação de espaços de repre-

sentação específi cos, como o Conjuve, o Comitê Permanente de

Juventude Rural do Condraf e o GT de Juventude da Reaf, além

da construção do Plano Nacional de Juventude e Sucessão Ru-

ral. São conquistas que exigiram reconfi gurar os processos de

Luiz Fernandes

Luiz Fernandes

Luiz Fernandes

Page 9: Jornal da CONTAGA ameaça de aprovação da atual pro-posta da reforma da Previdência e da PEC 55 (que era a PEC 241 na Câmara dos Deputados), o sucateamento do Sistema Único de

JORNAL DA CONTAG 9

JUVENTUDE RURAL PREPARAÇÃO PARA O 12º CNTTR

JORNAL DA CONTAG 9

construção e execução das ações do Estado para atender às

demandas específi cas da juventude.

Apesar destes avanços e conquistas, muitos desafi os ainda

precisam ser superados para romper com a histórica desigual-

dade nas relações de classe, geração, gênero e raça, que são

impostos à juventude na sociedade e na organização sindical.

Dentre estes desafi os, destaca-se a necessidade de fortalecer

a democracia e as lutas pela igualdade e autonomia da juventude

na organização sindical, assegurando condições efetivas à parti-

cipação e representação, assumindo compromissos coletivos e

permanentes com as pautas específi cas.

Para potencializar esta participação e a organização da juven-

tude no MSTTR, é preciso combinar, estrategicamente, o fortale-

cimento das comissões e coordenações de jovens nos Sindica-

tos, FETAGs e na CONTAG com a efetivação da política de cotas

e a ampliação dos processos específi cos de formação política.

As comissões e coordenações precisam ser efetivadas como

o lugar político de diálogo com a base, de visibilizar as demandas

específi cas e ampliar as oportunidades de encontro e fortaleci-

mento da identidade e do protagonismo da juventude.

É preciso, também, efetivar a política de cotas em todos os

STTRs, FETAGs e na CONTAG, reconhecendo que a participa-

ção da juventude é um direito conquistado e não apenas uma

exigência numérica. É fundamental romper com a prática que

persiste em nossa organização, onde muitos(as) jovens não são

respeitados na sua condição de dirigentes e lideranças políticas.

Geralmente, não assumem cargos eletivos de maior destaque e,

nos processos de renovação de diretorias, são os primeiros subs-

tituídos, além de serem relegados à subordinação e ao exercício

de funções administrativas nas entidades.

Da mesma forma, é necessário potencializar os processos

específi cos de formação, na perspectiva da educação popular,

como estratégia para fortalecer o protagonismo militante da juven-

tude e possibilitar maior empoderamento e ampliação da nossa

participação no MSTTR e nos espaços de representação política.

Destacamos que esta Plenária ocorre no contexto de reorga-

nização sindical dos trabalhadores(as) rurais, com a constituição

de dois sistemas, onde a CONTAG representa exclusivamente as

agricultoras(es) familiares e a CONTAR as assalariadas(os) rurais.

Este novo cenário amplia o desafi o do sistema CONTAG de

fortalecer suas elaborações e proposições sobre o direito de

acesso e permanência da juventude na terra, como estratégia

para a sucessão rural e para o fortalecimento da agricultura fami-

liar. Neste sentido, é fundamental considerar as diferentes iden-

tidades dos sujeitos do campo e as demandas específi cas de

geração, gênero, raça e etnia.

O MSTTR precisa continuar afi rmando o nosso projeto político

que defende o desenvolvimento rural sustentável e solidário, o

PADRSS, pautado na realização da reforma agrária e no fortale-

cimento da agricultura familiar, priorizando a produção de alimen-

tos saudáveis, a partir da perspectiva agroecológica e do respeito

ao meio ambiente, valendo-se da utilização de sementes crioulas

que possam ser partilhadas, guardadas, comercializadas e utiliza-

das de acordo com nossas escolhas.

Na sociedade, é preciso superar o preconceito sobre a visão

atribuída ao campo como um lugar de atraso e de negação de

direitos. Outro desafi o está na ampliação do reconhecimento e

valorização dos(as) jovens enquanto trabalhadores(as) rurais, com

direitos às políticas públicas, a decidir sobre os espaços e as for-

mas de produção e ao acesso à renda gerada no núcleo familiar.

Somos jovens protagonistas de lutas e de resistência. En-

frentamos com ousadia e criatividade os desafi os que nos são

impostos. Nos mobilizamos para fortalecer a unidade da classe

trabalhadora na luta contra o capital e pela conquista de outro

mundo possível com direitos, democracia, igualdade, autonomia

e liberdade.

Luiz Fernandes

Rafael Fernandes

Luiz Fernandes

Page 10: Jornal da CONTAGA ameaça de aprovação da atual pro-posta da reforma da Previdência e da PEC 55 (que era a PEC 241 na Câmara dos Deputados), o sucateamento do Sistema Único de

JORNAL DA CONTAG10

POLÍTICAS SOCIAIS LUTA CONTRA O RETROCESSO

Muito pior do que se imaginaA PEC 55 estabelece um teto para os gastos com despesas primárias, sem garantir um investimento mínimo

No começo deste mês de dezembro

a PEC 55 será votada pelo Senado

Federal. Se aprovada, representa-

rá um enorme retrocesso para a sociedade

brasileira: ao estabelecer por 20 anos um

limite máximo de gastos do governo com

despesas primárias (previdência social,

saúde, educação) e com políticas públicas

como desenvolvimento agrário, segurança,

saneamento básico, a PEC 55 vai travar o

desenvolvimento do País, aumentará a po-

breza e as desigualdades sociais.

De acordo com o Instituto de Estudos

Socioeconômicos (Inesc), atualmente,

20% do Produto Interno Brasileiro (PIB)

é gasto com as despesas primárias (en-

quanto a despesa com a dívida pública

chegou a 42% do PIB em 2015). Ao lon-

go de duas décadas, o gasto representa-

rá apenas 13% do PIB. Caso a Reforma

da Previdência também seja aprovada, a

combinação dessas duas ações será mui-

to prejudicial para a população brasileira.

Segundo o IBGE, durante esse período de

20 anos, a população brasileira aumenta-

rá e o número de pessoas idosas dobrará.

Com um maior número de pessoas e me-

nos dinheiro para investir em políticas bá-

sicas, a quantidade e a qualidade do servi-

ço público que será possível oferecer não

será suficiente para atender a todos(as)

os(as) brasileiros(as).

As análises do Inesc apontam que o im-

pacto na área da saúde será enorme. Em 20

anos, o gasto nessa área diminuirá até re-

presentar apenas 1% do PIB, e terá de servir

para um número muito maior de pessoas.

Mais grave ainda será a situação do conjun-

to de políticas como desenvolvimento agrá-

rio, segurança pública, saneamento básico,

cultura, esporte: todas elas juntas também

representarão apenas 1% do PIB. Um país

que tem a intenção de prosperar e garantir

vida digna para seus(as) cidadãos(ãs) não

pode considerar investir tão pouco em po-

líticas básicas para sua população.

PODE PIORAR – Também é importante lem-

brar que a PEC 55 propõe um teto para

os gastos das despesas primárias, e não

um piso. Ou seja: não há garantias de um

gasto mínimo com as políticas públicas

fundamentais, e o governo pode abaixar

o teto o quanto achar necessário. Isso

significa que a situação pode ficar muito

pior do que o previsto, caso a PEC seja

aprovada. Além disso, os argumentos do

governo não consideram o fator multiplica-

dor dos gastos sociais: para cada R$ 1,00

investido em educação, cerca de R$ 1,85

retorna para o Estado. E para cada real

investido em saúde volta R$ 1,70 para o

Brasil. Assim, o dinheiro colocado nessas

áreas não são gastos: são investimentos.

Mesmo que agora o Brasil enfrente um

quadro de forte recessão, em duas déca-

das nossa economia voltará a crescer. No

entanto, a PEC 55 impede que o produto

desse crescimento seja utilizado para as

despesas primárias. Os recursos do traba-

lho do povo brasileiro será voltado, princi-

palmente, para o pagamento de juros da

dívida pública brasileira.

“A PEC 55, que deve ser aprovada neste

mês de dezembro, e a proposta de Reforma

da Previdência, que deve ser apresentada

ainda neste ano, são exemplos da políti-

ca de retrocesso implementada por esse

governo federal, que está tirando cada vez

mais recursos de políticas e programas

que garantiram a inclusão social de mi-

lhões de brasileiros(as). Ao limitar o investi-

mento em políticas tão básicas como saú-

de e educação por 20 anos, esse governo

federal está condenando todo o País ao

atraso, e os trabalhadores e trabalhadoras

rurais a um retrocesso. A CONTAG está

mobilizada e não aceitará essas medidas.

Precisamos que todo o MSTTR lute junto

para impedir a aprovação de medidas que

prejudiquem o nosso povo”, afirma o se-

cretário de Políticas Sociais da CONTAG,

José Wilson Gonçalves.

Luiz Fernandes

Page 11: Jornal da CONTAGA ameaça de aprovação da atual pro-posta da reforma da Previdência e da PEC 55 (que era a PEC 241 na Câmara dos Deputados), o sucateamento do Sistema Único de

JORNAL DA CONTAG 11

TERCEIRA IDADE

Projeto de Lei determina revisão de auxílio-doença e aposentadoria por invalidez

Milhares de trabalhadores e

trabalhadoras rurais que re-

cebem auxílio-doença ou que

se aposentaram por invalidez há mais de

dois anos, sem ter feito qualquer exame

de revisão, deverão estar atentos pois

poderão ser convocados pelo INSS para

a realização de novas perícias, com o

objetivo de analisar se continuam inca-

pacitados para o trabalho para continuar

recebendo o benefício.

Está em tramitação na Câmara dos

Deputados o Projeto de Lei 6427/2016,

que determina a revisão desses benefícios.

Trata-se de uma iniciativa do atual gover-

no federal que, em julho deste ano, enviou

uma Medida Provisória (MP 739/16) para o

Congresso Nacional com esse mesmo ob-

jetivo, mas que não foi aprovada pelos par-

lamentares e perdeu a validade. O Poder

PREVIDÊNCIA SOCIAL

O INSS deverá realizar perícias nos trabalhadores que recebem o benefício há mais de dois anos sem novos exames

Executivo, então, enviou o PL 6427/2016

para aprovar a matéria.

A justificativa é de que os gastos com

auxílio-doença chegaram a R$ 23,2 bi-

lhões em 2015, quase o dobro do gasto

em 2005 (R$ 12,5 bilhões). Já a despesa

com a aposentadoria por invalidez quase

triplicou nos últimos 10 anos, passando de

R$ 15,2 bilhões em 2005 para R$ 44,5 bi-

lhões em 2015, enquanto a quantidade de

beneficiários subiu apenas 17,4% - de 2,9

milhões para 3,4 milhões.

O PL 6427/2016 aumenta as carências

para concessão do auxílio-doença, da

aposentadoria por invalidez e do salário-

-maternidade no caso de o segurado

perder essa condição junto ao Regime

Geral da Previdência Social (RGPS). O(a)

segurado(a) que requerer o auxílio-doença

e a aposentadoria por invalidez terá de

contribuir (ou comprovar atividade rural)

por novos 12 meses para poder pleite-

ar esses benefícios, e as seguradas que

pleitearem o salário-maternidade terão de

contribuir (ou comprovar atividade rural)

por 10 meses caso tenham perdido a qua-

lidade de seguradas.

CONSEQUÊNCIAS PARA OS(AS) RURAIS – O PL

6427/2016 representa uma ameaça para

os trabalhadores e trabalhadoras rurais na

medida em que o INSS poderá considerar

que o homem ou a mulher não está em

condições de exercer o trabalho no cam-

po, mas pode trabalhar em outras ativida-

des, como a de escritórios, por exemplo.

“Mas a maior parte dessas pessoas não

teve oportunidade de estudar e se pre-

parar para outras atividades: não tiveram

acesso à educação ou a nenhuma forma-

ção técnica. Depois de anos de trabalho

árduo das lavouras e com animais, ficaram

com a saúde debilitada e não contam com

outra fonte de renda”, alerta a secretária de

Terceira Idade da CONTAG, Lucia Moura.

É preciso deixar claro que os trabalha-

dores e trabalhadoras rurais têm o traba-

lho penoso, que exige muito esforço físico

além de exposição ao sol, à chuva, ao frio

e, também, a agrotóxicos. Tudo isso asso-

ciado à falta de acesso a políticas públicas

de saúde, saneamento básico, educação

e lazer prejudica as condições de trabalho

daqueles que vivem no campo, na floresta

e nas águas do Brasil. “Se o INSS utilizar

somente o argumento de economia de re-

cursos poderá cometer grandes injustiças

contra aqueles(as) que gastaram a própria

saúde em condições precárias de sobrevi-

vência”, afirma Lucia Moura.

STTR Lagoa do Ouro

Page 12: Jornal da CONTAGA ameaça de aprovação da atual pro-posta da reforma da Previdência e da PEC 55 (que era a PEC 241 na Câmara dos Deputados), o sucateamento do Sistema Único de

JORNAL DA CONTAG12

PAUTA BOMBA

ASSALARIADOS(AS) RURAIS

Ele quer acabar com os seus direitosO PL 6442/2016, do deputado federal Nilson Leitão (PSDB-MT), é tentativa de acabar

com a CLT, com a NR 31 e regulamentar o negociado sobre o legislado Gustavo Lima-Camara dos Deputados

As primeiras linhas do Projeto de

Lei 6442/2016 já dizem a que o

PL veio: “As relações de traba-

lho rural serão reguladas por esta Lei (se

aprovada) e pelos acordos individuais ou

coletivos de trabalho, contratos individuais

de trabalho e regulamento das empresas.”

Logo a seguir, o projeto afirma que “nas re-

lações de trabalho rural não se aplica sub-

sidiariamente a Consolidação das Leis do

Trabalho”. Trata-se da tentativa de regula-

mentação do negociado sobre o legislado,

em que a CLT e as demais normas regu-

ladoras do trabalho rural não terão a mes-

ma força que acordos feitos entre os(as)

trabalhadores(as) e suas representações e

os(as) empregadores(as). Mas, todos sa-

bemos como a força de negociação entre

essas partes pode ser desigual.

O PL 6442/2016 é de autoria do depu-

tado federal Nilson Leitão (PSDB-MT), e

refere-se à intenção da Frente Parlamentar

Mista da Agropecuária (FPA) de precarizar

as relações de trabalho. Trata-se de um

calhamaço de 36 páginas onde se escon-

dem medidas que violentam, por exemplo,

a NR 31 – norma que garante condições

dignas de saúde e segurança para os(as)

trabalhadores(as). Enquanto a NR 31 ga-

rante que haja uma instalação sanitária

para cada 10 trabalhadores(as), o projeto

de Nilson Leitão afirma que só é neces-

sário ter um vaso sanitário para cada 40

trabalhadores(as). O projeto de lei prevê,

ainda, que quando o posto de trabalho tiver

menos de 20 trabalhadores(as) ou quando

o trabalho for realizado em um local de di-

fícil acesso, com declive acentuado, terre-

no alagadiço ou vegetação fechada não é

obrigatório ter qualquer instalação sanitária

ou itens básicos, como condições de higie-

ne, água potável, locais adequados para

acomodação, descanso e armazenamento

de alimentos. Os(as) trabalhadores(as) te-

rão de fazer suas necessidades em lugares

improvisados, muitas vezes próximas ao

local de trabalho, uma situação de indigni-

dade para qualquer pessoa.

Além disso, o Artigo 27 do PL 6442/2016

permite, categoricamente, a terceiriza-

ção da atividade fim no ambiente rural,

tema que encontra grande resistência

para ser aprovado no meio urbano, mas

que foi inserido no meio desta verdadei-

ra pauta-bomba para o(a) assalariado(a)

rural. Vários outros pontos merecem des-

taque. “A CONTAG já estava atenta para

esse movimento da Frente Parlamentar da

Agropecuária. Com a dificuldade de imple-

mentar medidas prejudiciais para todo o

conjunto dos trabalhadores(as), incluindo

os urbanos, eles se voltaram para os rurais.

Todo o MSTTR precisa estar atento porque

esses projetos são apresentados com re-

querimentos de urgência. É preciso que a

base também se manifeste junto aos parla-

mentares de seus estados para impedir a

aprovação desse projeto, porque ele é uma

porta aberta para a precarização”, afirma

o secretário de Assalariados(as) Rurais da

CONTAG, Elias D’Angelo Borges.

O projeto de Nilson Leitão admite, ain-

da, “a prorrogação da jornada diária de

trabalho por até quatro horas e necessi-

dade imperiosa ou em face de motivo de

força, causas acidentais, ou ainda para

atender a realização ou conclusão de

serviços inadiáveis, ou cuja inexecução

possa acarretar prejuízos manifestos”.

Trata-se de nova tentativa de submeter

o(a) trabalhador(a) rural às necessidades

econômicas dos(as) empregadores(as).

Entre as determinações do artigo 16

também está a de que o(a) trabalhador(a)

rural, residente no local de trabalho, pode

vender integralmente suas férias mediante

decisão de acordo coletivo ou individual.

“As regras atuais não permitem que isso

aconteça porque o descanso semanal

e as férias não são luxos: são elementos

importantes para a saúde e qualidade de

vida do(a) trabalhador(a)”, explica Elias

D’Angelo Borges.

Page 13: Jornal da CONTAGA ameaça de aprovação da atual pro-posta da reforma da Previdência e da PEC 55 (que era a PEC 241 na Câmara dos Deputados), o sucateamento do Sistema Único de

JORNAL DA CONTAG 13

VICE-PRESIDÊNCIA E RELAÇÕES INTERNACIONAIS DEVASTAÇÃO DO CERRADO

MATOPIBA = Agro+Nova face da destruição ambiental e humana provocada pela ganância do agronegócio

Barack Fernandes

O ministro da Agricultura, Pecuária

e Abastecimento (Mapa), Blairo

Maggi, lançou o “Plano de

Desburocratização Agro+” que, segundo

Blairo, tem o objetivo de tornar o Brasil

mais competitivo e com maior inserção no

mercado internacional do agronegócio.

O que o ministro NÃO DISSE é que o

Agro+ traz em sua essência a mesma ide-

ologia do MATOPIBA, ou seja, é igual ao

Plano de Desenvolvimento Agropecuário,

lançado pela então ministra do Mapa, se-

nadora Kátia Abreu, que tem no Cerrado

do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia, o

eldorado do agronegócio para produção

de grãos e fibras.

MAS AFINAL, O QUE É O MATOPIBA OU AGRO+? –

Para a CONTAG e várias organizações que

apoiam a Campanha Nacional em Defesa

do Cerrado, o MATOPIBA ou Agro+ é

responsável direto por graves impactos

sociais e destruição do bioma, causando

agravamento da pobreza e expulsão das

comunidades tradicionais e dos povos in-

dígenas de seus territórios. Um modelo de

“desenvolvimento” fundamentado na ex-

ploração ilimitada dos bens comuns que

culminará com a destruição da vida.

“O MATOPIBA é um desafio enorme

para a CONTAG e para todos os movi-

mentos sociais do campo e para a socie-

dade, pois, não é um projeto isolado de

uma região do Maranhão, Tocantins, Piauí

e Bahia, mas, uma estratégia desumana

do capital empresarial. Isso nos desafia,

pois, por mais que o MATOPIBA mude de

nome, ele segue com a mesma estraté-

gia de exploração da terra, dos bens da

natureza e, sobretudo, humana. Projetos

do Agronegócio, como foi o PRODECER,

impactam diretamente a produção e saú-

de das pessoas, a exemplo da conta-

minação do leite materno das mães em

Lucas do Rio Verde (MT). Nós, dos movi-

mentos sociais, precisamos lutar e resistir

ao MATOPIBA ou Agro+, pois não é um

Projeto de envolvimento da sociedade,

mas do capital, para estraçalhar o desen-

volvimento político e econômico da socie-

dade, sobretudo da agricultura familiar”,

denuncia o vice-presidente e secretário

de Relações Internacionais da CONTAG,

Willian Clementino.

CARTA ABERTA EM DEFESA DO CERRADO –

Em repúdio ao PDA MATOPIBA e ao

ProSavana, a CONTAG, representan-

tes de comunidades camponesas de

Moçambique, do Japão e de organizações

brasileiras que participam da Campanha

Nacional em Defesa do Cerrado, afirmam

em Carta Aberta posicionamento em defe-

sa dos Povos do Cerrado brasileiro e das

comunidades camponesas do Corredor

de Nacala em Moçambique, onde pontu-

am várias exigências.

A Carta Aberta nasceu a partir de

reflexões e debates que aconteceram

no Seminário Nacional “MATOPIBA:

conflitos, resistências e novas dinâmi-

cas de expansão do agronegócio no

Brasil”,realizado no Centro de Formação

da CONTAG, entre os dias 16 a 18 de

novembro de 2016, Brasília-DF.

https://www.facebook.com/CampanhaCerrado/

Leia a Carta, no link: goo.gl/xSfD0E

Campanha Nacional em Defesa do Cerrado

Page 14: Jornal da CONTAGA ameaça de aprovação da atual pro-posta da reforma da Previdência e da PEC 55 (que era a PEC 241 na Câmara dos Deputados), o sucateamento do Sistema Único de

JORNAL DA CONTAG14

MEIO AMBIENTE

Oportunidades para a agricultura familiarEncontros mundiais sobre meio ambiente e sobre o tabaco apontam a necessidade de investimento em

biocombustíveis, combate ao desmatamento e agroecologia

COP 22 E CONFERÊNCIA DO TABACO

Entre os dias 7 e 18 de novembro,

representantes de governos de

192 países se reuniram na cidade

de Marrakesh, no Marrocos, para partici-

par da 22ª Conferência Quadro das Partes

sobre Mudanças Climáticas (COP 22),

com o objetivo de regulamentar o Acordo

de Paris – o acordo firmado em dezembro

de 2015 que estabelece mecanismos para

que todos os países limitem o aumento da

temperatura global e fortaleçam a defesa

contra os impactos das mudanças climá-

ticas. 195 países já se comprometeram a

adotar o acordo, 100 já ratificaram as me-

didas, entre eles, o Brasil.

Nosso País se comprometeu a cortar

37% das emissões de gases que contri-

buem para o aquecimento global até 2025,

com indicativo de reduzir 43% até 2030.

Outras metas brasileiras são aumentar a

participação de bioenergia sustentável na

matriz energética para aproximadamen-

te 18%, restaurar e reflorestar 12 milhões

de hectares de florestas – como parte

do Plano Nacional de Recuperação de

Vegetação Nativa (Planaver) e, também,

aumentar em 45% a participação de ener-

gias renováveis na composição da matriz

energética até 2030. No entanto, ainda

não foi definido nenhuma fonte de finan-

ciamento para essas ações.

Durante a COP 22, o governo brasileiro

lançou a Plataforma Biofuturo, um meca-

nismo para incentivar o uso de biocombus-

tíveis no Brasil e no mercado internacional.

A plataforma tem o objetivo de destacar o

desenvolvimento de biocombustíveis de

segunda geração produzidos no Brasil. A

iniciativa reúne 13 países da América do

Sul, Europa e Ásia.

Também foi discutida na conferência

a criação de um Fundo Climático com

US$100 bilhões por ano para financiar pro-

jetos sustentáveis nos países em desen-

volvimento, a partir de 2025 até 2030, para

colocar em prática políticas de redução de

desmatamento e poluição. “O destaque

aos biocombustíveis e a provável criação

de um fundo são janelas de oportunidade

para os(as) agricultores(as) familiares que

produzem matéria-prima para a produção

de energia e também para a realização de

projetos de pagamento por serviços am-

bientais, como a preservação de nascen-

tes, de matas ciliares e florestas”, explica o

secretário de Meio Ambiente da CONTAG,

Antoninho Rovaris.

AGROECOLOGIA COMO ALTERNATIVA PARA O

CULTIVO DO TABACO – A agroecologia foi

apresentada como uma das formas de

promover a diversificação no cultivo de

tabaco nos países produtores durante a

7ª Conferência das Partes (COP 7), reali-

zada entre os dias 7 e 12 de novembro,

em Nova Delhi, capital da Índia. Cerca de

mil participantes de 140 países analisa-

ram pontos que poderiam afetar a pro-

dução e a comercialização de tabaco em

todo o mundo. No documento assinado

ao final do encontro, os participantes

concordaram em ampliar financiamentos

para o desenvolvimento de alternativas e

os países que não plantam tabaco rece-

beram a recomendação de não começar

a produzir. Essa é uma boa notícia para

o Brasil, que é o 2º maior produtor e o

1º maior exportador de tabaco em folha,

sendo responsável por 30% dos embar-

ques mundiais. O incentivo para a diversi-

ficação incluiria a criação de financiamen-

to público para produtores que queiram

sair da atividade do tabaco.

Além disso, foi avaliado o pedido de

intervenção da Organização Mundial

da Saúde (OMS) em questões de na-

tureza comercial, tratado atualmente

pela Organização Mundial do Comércio

(OMC). Mas não houve consenso sobre

este tema, que, assim como as possibi-

lidades de diversificação de culturas, de-

verá ser tratado na COP 8, a ser realizada

em 2018 em Genebra, na Suíça.

Guillaume Baviere

Page 15: Jornal da CONTAGA ameaça de aprovação da atual pro-posta da reforma da Previdência e da PEC 55 (que era a PEC 241 na Câmara dos Deputados), o sucateamento do Sistema Único de

JORNAL DA CONTAG 15

FORMAÇÃO E ORGANIZAÇÃO SINDICAL

COMPROMISSO COM A LUTA

Da teoria para a práticaA formação de educadores e educadoras populares é fundamental

para o fortalecimento da organização do MSTTR

No ano de 2016 a formação e a

organização sindical deram pas-

sos importantes para o futuro

do Movimento Sindical de Trabalhadores

e Trabalhadoras Rurais (MSTTR): além

da celebração dos 10 anos da Escola

Nacional de Formação da CONTAG

(ENFOC), foram realizados a 6ª edição do

Curso Nacional da ENFOC e Cursos nos

27 estados. No que se refere à organiza-

ção sindical, consolida-se cada vez mais

a nova configuração do MSTTR com as

representações específicas dos assalaria-

dos e assalariadas rurais e dos agriculto-

res e agricultoras familiares.

Uma das principais preocupações das

ações formativas realizadas neste ano foi

oferecer todas as informações necessá-

rias para que os(as) participantes possam

contribuir de forma efetiva para fortalecer

o processo de organização sindical do

Sistema CONTAG, que passou a repre-

sentar somente a agricultura familiar, e

dar todo o apoio para a representação

dos assalariados e assalariadas rurais

que passa a ser feita pela Confederação

Nacional dos Trabalhadores Assalariados

e Assalariadas Rurais (CONTAR). Todo o

Sistema CONTAG, que conta com uma

história de 53 anos, apoia integralmente

a CONTAR.

Para isso, será fundamental a contribui-

ção de toda a nossa Rede de Educadores

e Educadoras Populares, principalmen-

te dos cerca de 1080 participantes dos

Cursos Estaduais e os 118 educado-

res e educadoras formados pelo Curso

Nacional, que contaram com diversos

momentos de formação política-ideológica

e de apropriação de elementos importan-

tes para que se sejam colaboradores(as)

e autores(as) do fortalecimento das duas

organizações específicas.

“Os educadores e educadoras popula-

res que compõem a nossa Rede saíram

dos cursos com o compromisso da junção

da formação e organização, que depen-

dem uma da outra. Não é possível formar

pessoas e transformar a vida delas se não

existirem organizações fortes e combati-

vas para ser a ferramenta de luta. Estamos

animados(as) e com muita esperança que

os processos formativos tragam bons re-

sultados, avanços e compromissos para

o nosso povo, tanto os assalariados e as-

salariadas rurais quanto os agricultores e

agricultoras familiares”, afirma o secretário

de Formação e Organização Sindical da

CONTAG, Juraci Souto.

De acordo com o dirigente, os(as) par-

ticipantes saíram dos Cursos Estaduais e

do Curso Nacional comprometidos a atuar

junto aos Sindicatos e Federações com o

objetivo de colaborar para que tenhamos

duas representações atuantes em am-

bas as categorias de trabalhadores e tra-

balhadoras rurais. “O papel da Rede de

Educadores e Educadoras Populares junto

às bases também é fundamental para que

a integração entre os dois sistemas de re-

presentação sindical seja eficiente e efeti-

vo para o avanço da luta pelos direitos e

pela qualidade de vida dos trabalhadores

e trabalhadoras rurais do campo, floresta

e águas do Brasil”, conclui Juraci Souto.

César Ramos

Page 16: Jornal da CONTAGA ameaça de aprovação da atual pro-posta da reforma da Previdência e da PEC 55 (que era a PEC 241 na Câmara dos Deputados), o sucateamento do Sistema Único de

JORNAL DA CONTAG16 JORNAL DA CONTAG16

POLÍTICA AGRÁRIA

Criminalização dos movimentos e lutas sociais no campo

Governo ilegítimo de Temer, bancada ruralista, judiciário e mídia investem na criminalização no campo para atender aos interesses do agronegócio e retroceder em direitos e

conquistas históricas dos trabalhadores(as) rurais

VIOLÊNCIA NO CAMPO

Vivenciamos um momento de

agravamento da criminalização

dos movimentos sociais e da

luta pela terra com atos que comprome-

tem o Estado Democrático de Direito.

Entidades e instituições de histórica tra-

jetória, além de lideranças e dirigentes,

estão sendo investigados, ameaçados

e presos arbitrariamente sem qualquer

envolvimento em atos ilegais. Essa não

é uma realidade recente, pois a estrutu-

ra latifundiária e a ditadura militar acu-

mulam vítimas e sempre se valeram de

milícias e da estrutura do Estado para

atenderem a seus propósitos de domi-

nar a terra e o território.

Os fatos atuais revelam o acirramen-

to deste processo, potencializado pelo

golpe midiático, parlamentar e judicial

que vitimou o Brasil. O governo ilegí-

timo de Michel Temer vem desvirtuan-

do os termos da Lei de Organizações

Criminosas, utilizando-a como artifício

para agir contra os movimentos popula-

res, ferindo os legítimos direitos de ma-

nifestações e representação. Uma das

maiores expressões desta postura foi a

recente invasão policial, sem mandado

judicial, na Escola Nacional Florestan

Fernandes, além das prisões de com-

panheiros do MST em Goiás, dentre ou-

tros que estão tendo seus direitos viola-

dos em todo o Brasil.

Um dos instrumentos para buscar

desmoralizar a luta e facilitar os pro-

cessos de criminalização tem sido

a propagação de ideias contrárias à

reforma agrária. Os grandes conglo-

merados de comunicação investem

pesado em campanhas contra a po-

lítica agrária e contra a atuação dos

movimentos sociais, validando as

ações dos governos, do judiciário e do

Congresso Nacional na aprovação de

medidas e instrumentos que negam o

direito à democratização da terra e fa-

zem agravar as situações de violência

e impunidade no campo.

Outro exemplo é a Comissão

Parlamentar de Inquérito (CPI) Funai-

Incra, criada pelos ruralistas como mais

um instrumento para criminalizar as en-

tidades e modificar a legislação para

atender aos seus propósitos de ex-

pansão do agronegócio sobre as áreas

destinadas aos indígenas, quilombolas

e outras populações tradicionais. Após

oito meses de funcionamento, mais de

R$ 180 mil gastos e de realizar diligên-

cias indiscriminadas que fizeram acirrar

os conflitos locais, a CPI terminou sem

relatório e nem ofereceu nenhuma con-

tribuição em formulação ou aprimora-

mento de políticas públicas. Mesmo as-

sim, os ruralistas aprovaram uma nova

CPI, o que fez com que o PT, o Psol, o

PCdoB e a deputada Janete Capiberibe

(PSB-AP) entrassem com mandado de

segurança no STF, justificando a ausên-

cia de fato determinado a ser investi-

gado e demonstrando o flagrante des-

respeito ao regimento da Câmara dos

Deputados e à Constituição.

“Os ruralistas querem criminalizar e

desmoralizar os movimentos sociais e,

para isso, insistem em quebrar o sigi-

lo bancário de dirigentes, bispos e ou-

tras lideranças, alegando que agem de

forma criminosa. Inclusive, um dos di-

retores da CONTAG já foi intimado por

esta CPI numa tentativa de intimidação

e de exposição de sua vida pessoal.

Situação que a nossa Confederação

repudiou e denunciou na época”, ex-

plica o secretário de Política Agrária da

CONTAG, Zenildo Xavier.

Neste ambiente de acirramento de

conflitos, violência e criminalização, o

governo ilegítimo promoveu mais um

ato cruel e de desrespeito às conquis-

tas históricas da classe trabalhadora

e da sociedade brasileira: extinguiu a

Ouvidoria Agrária Nacional (OAN), que

vinha atuando desde 1998 como um im-

portante espaço de mediação e busca

de solução para os inúmeros conflitos

agrários gerados pela violência do lati-

fúndio e do agronegócio.

O desmonte do Estado e o esvazia-

mento das políticas públicas que se ini-

ciaram com a extinção do Ministério do

Desenvolvimento Agrário (MDA) impac-

tam profundamente na realização da

reforma agrária, no fortalecimento da

agricultura familiar e no desenvolvimen-

to rural sustentável e solidário. “São

ações que, certamente, farão agravar

a histórica realidade de desigualda-

de, violência e impunidade que atinge

os trabalhadores(as) rurais. Mais grave

é que, agora, eles estarão ainda mais

desamparados, pois não podem con-

tar nem mais com a ação da Ouvidoria

Agrária Nacional, local onde costuma-

vam buscar alento para as suas dores e

solução para injustiças sofridas cotidia-

namente”, afirma Xavier.

Page 17: Jornal da CONTAGA ameaça de aprovação da atual pro-posta da reforma da Previdência e da PEC 55 (que era a PEC 241 na Câmara dos Deputados), o sucateamento do Sistema Único de

JORNAL DA CONTAG 17

POLÍTICA AGRÍCOLA AGROINDÚSTRIA

Retrocesso para a agricultura familiarDecisão do TCU dificulta vendas de produtos agroindustrializados ao PAA modalidade Compras com

Doação Simultânea e pode representar prejuízos maiores para o setor

Adecisão foi tomada para o estado do Paraná, mas po-

derá ser aplicada em todo o Brasil: o Tribunal de Contas

da União (TCU) determinou, no dia 22 de novembro, que

os agricultores(as) familiares que vendem produtos agroindus-

trializados ao Programa de Aquisição de Alimentos modalidade

Compras com Doação Simultânea (PAA/CDS) e terceirizam os

processos de industrialização ou beneficiamento de matérias-pri-

mas devem realizar um processo de licitação para a terceirização.

Essa decisão prejudica milhares de agricultores(as) familiares que

vendem produtos processados ao PAA/CDS.

A decisão do TCU determina, ainda, que todos os insu-

mos do produto industrializado terão de ser produzidos pelo(a)

agricultor(a): para vender panificados, por exemplo, ele(a) teria de

produzir o trigo, fazer a farinha, o açúcar, a manteiga, etc., além

de possuir os equipamentos para fazer o processamento ou licitar

a empresa para produzi-los.

QUAIS OS PREJUÍZOS PARA A AGRICULTURA FAMILIAR? – Em 2016,

a Conab destinou ao PAA/CDS R$ 135 milhões. A decisão do

TCU impede o acesso a esses recursos pelos agricultores(as) fa-

miliares que precisam terceirizar a industrialização de suas ma-

térias-primas. Além disso, a determinação do Tribunal pode se

refletir em outras modalidades de compras públicas e representar

um grande prejuízo para a agricultura familiar.

De acordo com dados do Ministério do Desenvolvimento Social

e Agrário (MDSA), em 2014 e 2015, cerca de 46% dos recur-

sos do PAA foram utilizados na compra de produtos agroindus-

trializados. Em 2015, isso significou um montante de mais de

R$ 255 milhões. O PAA modalidade Compras Institucionais tem o

potencial de R$ 2,7 bilhões em compras da agricultura familiar. O

Pnae representa um potencial de R$ 1,1 bilhão. Que reflexos essa

decisão do TCU poderá trazer para esses mercados?

O TCU avaliou que a terceirização do processamento da

matéria-prima prejudica a destinação dos recursos para os(as)

agricultores(as) familiares, pois seriam indiretamente direcionados

para as empresas prestadoras de serviço. O MDSA e a Conab

apresentaram suas respostas ao parecer preliminar do TCU expli-

cando os questionamentos e apontando as discordâncias na com-

preensão do Tribunal acerca da realidade da agricultura familiar no

Brasil. A CONTAG atuou na articulação política com parlamentares

no Congresso Nacional e com integrantes do MDSA e da Conab,

com o objetivo de que o Governo Federal se posicionasse favo-

ravelmente aos interesses dos agricultores(as) familiares. Mas, a

decisão do Tribunal não levou em consideração as condições reais

de industrialização dos(as) agricultores(as) familiares.

“Muitas cooperativas não têm condições financeiras de adquirir

a estrutura necessária para o processamento ou beneficiamento

da matéria-prima, ou não é vantajoso economicamente manter

uma agroindústria. Em muitos casos, a terceirização dos serviços

é mais viável e possibilita um ganho maior para o(a) agricultor(a)

familiar”, afirma o secretário de Política Agrícola da CONTAG,

David Wylkerson.

César Ramos

César Ramos

Page 18: Jornal da CONTAGA ameaça de aprovação da atual pro-posta da reforma da Previdência e da PEC 55 (que era a PEC 241 na Câmara dos Deputados), o sucateamento do Sistema Único de

JORNAL DA CONTAG18

FINANÇAS E ADMINISTRAÇÃO SUSTENTABILIDADE POLÍTICO-FINANCEIRA

Debate coletivo Conselho Deliberativo da CONTAG apresenta sugestões sobre a execução do Orçamento Sindical Participativo

Ao longo do ano de 2016, o Orçamento

Sindical Participativo (OSP) foi profunda-

mente discutido pela CONTAG, que elabo-

rou o ciclo do funcionamento desta ferramenta fun-

damental de transparência e eficiência do Movimento

Sindical de Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais

(MSTTR). O tema foi abordado durante a Oficina

Nacional de Aprofundamento Temático sobre

Orçamento Sindical Participativo realizada nos dias

21 a 23 de novembro. A proposta foi apresentada

no Conselho Deliberativo da CONTAG, que aconte-

ceu nos dias 24 e 25 de novembro.

Na ocasião, foram apresentados o ciclo do

OSP assim como as rubricas, já observando a

previsão orçamentária da CONTAG para 2017

e considerando as ações prioritárias levanta-

das nos debates anteriores sobre o tema. O

Conselho Deliberativo, por sua vez, apresentou

sugestões para serem discutidas e incluídas

pela atual Diretoria da CONTAG, assim como

pela próxima Direção – que será eleita no 12º

Congresso Nacional de Trabalhadores Rurais

Agricultores e Agricultoras Familiares (12º

CNTTR), em março do ano que vem. “O OSP

será um importante instrumento para que a ges-

tão financeira esteja alinhada ao planejamento

estratégico da CONTAG, e vice-versa. Quanto

12º CNTTRLEMBRE-SE: Para cadas-

trar os(as) delegados(as), os Sindicatos precisam estar em dia com o repas-se de 1% para a CONTAG. Fique atento às datas das Plenárias de seu estado ou região. Acesse o site: www.contag.org.br.

PARTICIPE CONOSCO!

SisCONTAGO seu sindicato possui

sistema de gestão? Faça a adesão ao Plano Sustentar e tenha acesso gratuita-mente à ferramenta de or-ganização administrativa via internet. Por meio do SisCONTAG é possível fa-zer a gestão de autoriza-ções, processos de apo-sentadoria, fluxo de caixa, recebimento de mensali-dades, relatórios, cadas-tros de sócios(as) e infor-mações sobre o Seguro Vida. Acesse: sindicatos.contag.org.br

mais democrática e transparente for a gestão

da CONTAG, das Federações e dos Sindicatos,

maior será a credibilidade que teremos diante da

nossa base”, afirma o secretário de Finanças e

Administração da CONTAG, Aristides Santos.

SAIBA MAIS – O Orçamento Sindical Participativo

é uma forma de definir coletivamente as ações es-

tratégicas prioritárias e a aplicação de recursos. É

um instrumento de gestão que fortalece a demo-

cracia, a transparência e a corresponsabilização

das Direções e da base do Movimento Sindical de

Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais. Neste pro-

cesso, definem-se coletivamente as prioridades da

agenda política: os planos de trabalho e a orga-

nização dos recursos financeiros são definidos a

partir das demandas levantadas pelo conjunto.

Fruto de deliberação do 11º CNTTR, realizado

em março de 2013, o OSP deverá ser imple-

mentado pela CONTAG a partir do 12º CNTTR,

e todas as Federações e Sindicatos devem

implementá-lo progressivamente para garantir,

cada vez mais, transparência ao processo de

execução orçamentária, além de garantir que os

recursos arrecadados sejam investidos na luta

pela garantia e ampliação dos direitos dos tra-

balhadores e trabalhadoras rurais brasileiros(as).

César Ramos

Page 19: Jornal da CONTAGA ameaça de aprovação da atual pro-posta da reforma da Previdência e da PEC 55 (que era a PEC 241 na Câmara dos Deputados), o sucateamento do Sistema Único de

JORNAL DA CONTAG 19

CONTAG CONSELHO DELIBERATIVO

Eleita a Comissão Coordenadora do 12º CNTTRConselheiros(as) também aprovaram a previsão orçamentária da CONTAG para 2017 e estratégia para

fazer o contraponto à proposta da reforma da Previdência

César Ramos

A última reunião do ano de 2016 do

Conselho Deliberativo da CONTAG

deu importantes passos para a

realização do 12º Congresso Nacional

de Trabalhadores Rurais Agricultores e

Agricultoras Familiares (12º CNTTR), que

irá acontecer de 13 a 17 de março de

2017, em Brasília.

A Diretoria da CONTAG, os conselhei-

ros e conselheiras representantes das 27

Federações filiadas elegeram a Comissão

Coordenadora do 12º CNTTR, discutiram

e aprovaram ajustes no regimento, apon-

taram os principais pontos do documento

base a ser discutido nas plenárias regio-

nais e estaduais e aprovaram a isenção da

taxa de inscrição dos delegados(as) para o

12º CNTTR, entre outras.

O Conselho também discutiu a reforma

da Previdência, aprovou toda uma estra-

tégia de luta, de pressão e de divulgação

para fazer o contraponto a essa proposta,

e debateu os impactos para os trabalha-

dores e trabalhadoras rurais com a apro-

vação da PEC 55, prevista para ser votada

em 2º turno em meados de dezembro.

Além de encaminhar questões espe-

cíficas das Secretarias, foram lançados

vídeo e revista da 2ª Plenária Nacional

de Trabalhadores e Trabalhadoras

Rurais da Terceira Idade e Idosos(as) e

o livro produzido pelo Dieese intitulado

“Trabalhadores em Greve”.

Outros momentos importantes da reu-

nião do Conselho Deliberativo foram a

aprovação da Previsão Orçamentária da

CONTAG para 2017 e a avaliação do re-

sultado da participação do Movimento

Sindical de Trabalhadores e Trabalhadoras

Rurais (MSTTR) nas eleições municipais.

ANÁLISE DE CONJUNTURA – Para analisar o

novo cenário político e apontar ações e

estratégias do MSTTR frente ao Governo

Temer, foi convidado o diretor técnico

do Dieese e membro do Conselho de

Desenvolvimento Econômico e Social

(CDES), Clemente Ganz Lúcio. “Foi um

momento muito esclarecedor para todos

os conselheiros e conselheiras sobre o

atual cenário político e econômico brasilei-

ro e os impactos possíveis para os traba-

lhadores e trabalhadoras rurais, e para a

classe trabalhadora como um todo, com

as medidas já anunciadas pelo gover-

no e com os projetos em tramitação no

Congresso Nacional”, avaliou o presidente

da CONTAG, Alberto Broch.

Segundo Clemente, o Governo Temer

quer implementar uma agenda de Estado

mínimo. “Depois da aprovação da PEC 55,

virá a reforma da Previdência; a transferên-

cia das reservas naturais e do patrimônio

nacional para o setor privado; a venda de

terras para estrangeiros; a privatização

de serviços como saúde, administração

de escolas, hospitais e penitenciárias; a

reforma trabalhista; a reforma sindical; a

terceirização da atividade fim, entre ou-

tras medidas. Portanto, o impeachment da

presidenta Dilma Rousseff e a implemen-

tação dessa agenda não significam uma

derrota de governo, e sim uma derrota de

projeto político. E é na adversidade que

nós crescemos e podemos fazer diferente.

A única certeza que temos é que quando

trabalhamos juntos nós acertamos. Por

isso, devemos ter essa unidade e resistir

para os nossos filhos assumirem a luta nos

próximos anos”, argumentou o diretor téc-

nico do Dieese.

“Essa última reunião do ano do

Conselho Deliberativo da CONTAG deba-

teu outros temas importantes, como as

Plenárias de Terceira Idade, de Mulheres

e de Jovens, e aprovamos a previsão or-

çamentária da CONTAG para o exercício

de 2017. Então, foi um Conselho rechea-

do de muitos debates e aprovações e um

Conselho que saiu muito coeso do ponto

de vista de mobilização para o Congresso

e para a continuidade das ações em

2017”, avaliou Broch.

Page 20: Jornal da CONTAGA ameaça de aprovação da atual pro-posta da reforma da Previdência e da PEC 55 (que era a PEC 241 na Câmara dos Deputados), o sucateamento do Sistema Único de

JORNAL DA CONTAG20

O que podemos apontar de transfor-mação na agricultura familiar nos últi-mos 20 anos?

Eu creio que o setor ou segmento so-cial da agricultura familiar do agro brasilei-ro teve extraordinários avanços e ganhos nestes últimos 20 anos, a começar pelo reconhecimento e legitimação da própria condição de agricultor familiar, a partir da qual se cria uma identidade social e políti-ca que vai se afirmar com uma Lei Espe-cífica (11.326/2006) e ser palco e espaço de elaboração de uma gama variada de políticas. Com isso, o agricultor familiar deixa de ser o pequeno produtor, ou pro-dutor de subsistência, ou (pior ainda) de baixa renda, que eram os nomes com os quais se definiam e se referia à agricultura familiar no Brasil nos anos 1970 e 1980. E, infelizmente, tem gente que não compre-ende o sentido e o alcance político deste reconhecimento, que se torna um arrimo contra a noção dialeticamente oposta que é a de agronegócio. Mas houve também muitas conquistas concretas, que muda-ram a vida dos agricultores nestes últimos 20 anos. Devo citar, claro, o Pronaf, mas há outros programas tão ou mais impor-tantes como este, como a recuperação da assistência técnica, que havia sido extinta em 1990 quando o Collor subiu ao poder. Também poderia citar o PAA, que é um dos programas mais criativos e promis-sores criados no mundo, razão pela qual muitos países estão copiando ele do Bra-sil. Nos últimos 20 anos, o Brasil foi capaz de criar e desenvolver um arcabouço de políticas, programas e ações que conse-guiram articular três coisas fundamentais, que são o apoio e fortalecimento da agri-

ENTREVISTAA

cerv

o pe

ssoa

l

EXPEDIENTE / Jornal da CONTAG – Veículo informativo da Confederação Nacional dos Trabalhadores Rurais Agricultores e Agricultoras Familiares (CONTAG) | Diretoria Executiva – Presidente Alberto Ercílio Broch | 1º Vice-Presidente/ Secretário de Relações Internacionais Willian Clementino da Silva Matias | Secretarias: Assalariados e Assalariadas Rurais Elias D'Angelo Borges | Finanças e Administração Aristides Veras dos Santos | Formação e Organização Sindical Juraci Moreira Souto | Secretaria Geral Dorenice Flor da Cruz | Jovens Trabalhadores Rurais Mazé Morais | Meio Ambiente Antoninho Rovaris | Mulheres Trabalhadoras Rurais Alessandra da Costa Lunas | Política Agrária Zenildo Pereira Xavier | Política Agrícola David Wylkerson Rodrigues de Souza | Políticas Sociais José Wilson Sousa Gonçalves | Terceira Idade Maria Lucia Santos de Moura | Conselho Fiscal Efetivo Marcos Júnior Brambilla, Rilda Maria Alves Jesuíno, Elias David Souza | Endereço SMPW Quadra 1 Conjunto 2 Lote 2 Núcleo Bandeirante CEP: 71.735-102, Brasília/DF | Telefone (61) 2102 2288 | Fax (61) 2102 2299 | E-mail [email protected] | Internet www.contag.org.br | Edição e Reportagem Verônica Tozzi | Reportagem Barack Fernandes e Lívia Barreto | Projeto Gráfico e Diagramação Fabrício Martins | Impressão Viva Bureau e Editora

www.contag.org.br facebook.com/contagbrasil @contagBrasil youtube.com/contagbrasil

cultura familiar, incluindo o acesso a terra e ao crédito, as políticas sociais, tais como o bolsa família e para minorias (quilombo-las, mulheres rurais, jovens, etc), e as po-líticas alimentares, especialmente de se-gurança alimentar e nutricional, através da canalização da produção alimentar para populações específicas ou em situação de vulnerabilidade. Este feixe de políticas se articulou muito bem com a dinâmica de crescimento da economia, fazendo com que os aumentos reais do salário mínimo nos últimos anos elevassem a renda no meio rural. E isto criou no Brasil uma políti-ca de desenvolvimento rural. Mas não se-ria possível terminar esta breve avaliação sem mencionar o grande e decisivo papel das aposentadorias para o meio rural. Em resumo, a renda aumentou no meio rural, a qualidade de vida melhorou e temos mais dignidade hoje do que há 20 anos.

Como interferir para qualificar a 3ª Geração de Políticas Públicas?

Estamos vivendo um momento de paralisação, que pode levar ao regresso. Acho que o momento de luta seria para manter o que se têm, “nenhum direito a menos”! Até porque, como diz o pesso-al do Direito, a Lei nunca retroage, assim é também a vida. A extinção do MDA foi um erro, porque além de ser um Ministério pequeno, ele cumpria muito bem as suas funções, especialmente porque se ocupa-va de quem mais precisa no meio rural, que são os pequenos e mais pobres. Com as conquistas e os avanços dos últimos 20 anos, temos que fazer avaliações e re-pensar muitas coisas, porque houve erros ou coisas que poderiam ter sido melhor encaminhadas. Temos de ter força política para defender as conquistas e isso signifi-ca que é necessária a mobilização das or-ganizações e, sobretudo, das lideranças.

Quais os principais desafios para o futu-ro da Agricultura Familiar e como a Aca-demia pode contribuir para superá-los?

Há desafios de toda ordem para o futu-ro da Agricultura Familiar, a começar pela defesa dos avanços que tivemos e pelo aprofundamento e melhoria das políticas que criamos. Vou dar o exemplo do PAA. Ele pode não ser perfeito e ter uma séria de problemas, mas uma política que con-segue atuar no aspecto da comercializa-ção da produção agrícola de forma a criar mercados (via compras públicas), interferir na dinâmica dos preços e fazer com que estes cheguem aos consumidores que mais precisam, é algo muito raro de ver. Outro é como podemos fazer com que os agricultores possam ter mais e melhor acesso à informação e ao conhecimento de alternativas produtivas e tecnológicas. Temos um enorme desafio para traduzir e difundir a internet no meio rural e, no que concerne ao conhecimento, as Universi-dades e os Institutos de Pesquisa preci-sam repensar a sua relação com a agricul-tura familiar e o meio rural como um todo.

Qual a importância de a CONTAG de-senvolver processos formativos em parceria com a Academia?

Para encaminhar, discutir e pesquisar sobre alguns dos desafios e questões que falei, a CONTAG iniciou uma negociação com a UFRGS para fazermos um Convê-nio em múltiplas áreas e ações, seja de formação, pesquisa e ação. O Prof. Paulo Niederle e eu vamos ser a ponta-de-lança na UFRGS de um curso de capacitação para quadros da CONTAG nos próximos anos. Estamos desenhando um projeto com a ENFOC para isso. Tudo foi acertado entre o presidente Alberto Broch e o Rei-tor, Prof. Ruy Opermann, que pediu que o convênio fosse assinado ainda em 2016.

O professor pós-doutor SÉRGIO SCHNEIDER aponta as principais transformações no meio rural, os desafios para a agricultura familiar e como a Academia pode contribuir para superá-los. Schneider reconhece os avanços das políticas públicas para o desenvolvimento rural e está colaborando efetivamente na formulação de um projeto de formação entre a CONTAG e a UFRGS.