jornal contexto - edição 48 (novembro 2015)

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CON TEXTO 48 JORNAL Ano 12 Novembro de 2015 Jornal Laboratório produzido por alunos de Jornalismo da Universidade Federal de Sergipe DO CULTO AO SAGRADO À INTOLERÂNCIA RELIGIOSA O fanatismo que oprime, ofende e mata diariamente em nome de um Deus Pagina 18 & 19 São Cristovão - SE

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Jornal Laboratório produzido pelos alunos do Curso de Jornalismo da Universidade Federal de Sergipe.

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Page 1: Jornal Contexto - Edição 48 (Novembro 2015)

CONTEXTO

48JO

RNAL Ano 12

Novembro de 2015Jornal Laboratório produzido por alunos de

Jornalismo da Universidade Federal de Sergipe

DO CULTO AO SAGRADO À INTOLERÂNCIA RELIGIOSA

O fanatismo que oprime, ofende e mata diariamente em nome de um DeusPagina 18 & 19

São Cristovão - SE

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2OPINIÃO2

Estávamos na calçada, quase na esquina para a rua, sob uma amendoeira, sentados em uma mesinha de plástico. Fui no bal-cão e pedi um conhaque de alcatrão com mel e limão. Havia um quadro bastante curioso com macacos antropomorfizados atrás do balcão. Cores cinzentas naquela parede suja.

O dono e atendente do bar me trouxe a bebida em um copo de vidro, daqueles que sempre nos servem o conhaque. Vina pediu uma coca. A coca chegou geladíssima. Uma latinha de alumínio e um canudinho. “Eu gostaria de um copo”, Vina disse. O dono se retirou e retornou com um copo plástico. “Eu gostaria de um copo de vidro”, Vina retrucou. “Esqueça a coca”, reivindicou o dono do bar retirando a coca da mesa. “Eu quero a coca”, rebateu Vina segurando a latinha. “É melhor esquecer”, insistiu. “Mas, eu quero a coca”, protestou.

A coca foi levada dali, após uma leve discussão enquanto eu bebia o meu conhaque. Vina não bebia nada, mas pegou o seu pacotinho de fumo e o cachimbo e aquele odor perfumado começava a exalar naquele lugar. Liguei o gravador.

“Esse tipo de coisa que acabou de acontecer agora me leva a… É como eu disse a você. São somatórias que vão se acumu-lando que me fazem a ir desistindo realmente daqui. Porque de fato, quando eu falo essas coisas, algumas pessoas acham que é rebeldia da minha parte. Mas, não é não. Quando você vai viver em outro lugar, como foi o meu caso, passar anos em outro lugar, você vai tendo a capacidade de fazer comparativos e aí você vai começando a entender porque é que Sergipe tem uma dificuldade de se ampliar enquanto turismo, enquanto desenvolvimento turístico e tal. Por causa desse tipo de com-portamento! Porque se você parar pra olhar racionalmente o

que aconteceu, foi bem interessante isso, como é que eu vou saber, por exemplo… eu faço… olha, o cara trouxe uma coca cola com canudo, eu quero um copo, aí o cara me traz um copo des-cartável. Tudo bem, eu poderia ter pedido um copo de vidro, mas eu ia adivinhar que o cara ia me trazer um copo descar-tável? Eu poderia dizer o seguinte… é o direito dele, obrigação dele, eu digo assim, amigo, eu queria um copo de vidro. Pegava um copo de vidro! Se ele não tem o direito de adivinhar que eu queria um copo de vidro, também não é o meu direito aceitar o de plástico. Ta entendendo? Mas, ele enquanto posição de atendente do bar, me trazer o de… vidro! Não é verdade? Aí fica chateado como se fosse um direito meu ter que exigir o copo de vidro e que ele já fez por demais me trazer uma lata, ta en-tendendo? Aí, tipo, essa situação amadorística da cidade, que aí você pensa assim, um cara vindo de fora vendo uma situação dessa aqui… ele não vai ter uma impressão boa, não vai mais lembrar disso bem. Esse tipo de comportamento aqui… é mais recorrente aqui do que na Bahia ou em Alagoas, por exemplo. Você vá pra Penedo passar um fim de semana e veja a quanti-dade de eventos culturais e estrutura nos museus e ter alguém pra te explicar as coisas. Agora, passe um fim de semana em Neópolis, que é do outro lado do rio e você não tem nada! Há uma falta de investimento do próprio Estado em motivar um fluxo de pessoas, de turismo, para conhecer o Estado, para es-timular a potencializar um conhecimento… a respeito do Es-tado.”

(...) Misantropia (...)Por Igor Bacelar (Estudante do Curso de Jornalismo da UFS)

EXPEDIENTEExpediente da edição 48 do Jornal Contexto Universidade Federal de SergipeCampus Prof. José Aloísio de CamposAv. Marechal Rondon, s/n, São Cristóvão - SEReitor - Prof. Dr. Angelo Roberto AntoniolliVice-Reitor - Prof. Dr. André Maurício C. SouzaPró -Reitor de Graduação - Prof. Dr. Jonatas Silva MenesesDiretora do CECH - Dra. Iara Maria Campelo LimaJornal Laboratório do Curso de JornalismoChefe do Departamento de Comunicação Social (DCOS) - Prof. Dra. Raquel Marques

Carriço FerreiraNúcleo de Jornalismo - Prof. Dra. Greice SchneiderFone: 2105-6919/ 2105-6921 Email: [email protected]ção Editorial: Prof. Ma. Michele da Silva Tavares (DRT - 1195/SE)Coordenação Projeto Gráfico: Prof. Dr. Vitor BragaCoordenação Fotojornalismo: Prof. Dra. Greice Schneider

Equipe Contexto - Edição 48Reportagem: Agatha Cristie, Alinny Ayalla, Ana Lucia do Carmo, Bruno Cavalcante, Igor

Bacelar, Isadora dos Santos, Kamille Perez, Marielle Rocha, Miguel Carlos da Silva, Tatiana dos Santos e Elson Mota.

Orientação Pedagógica: Suyene Correia (DRT - 923/SE; Mestranda PPGCOM/UFS)Diagramação: Cleanderson Santana, Elienai de Jesus, Ellen Cristina, Ícaro Novaes, Ítala

Marquise, Leandro Calado, Leilane Coelho, Lucivânia Santos, Maria Belfort, Mírian de Jesus, Nathália Gomes, Silvânio Júnior e Wilmarques Santos.

Edição de imagens: Taís Cristina e Yasmin FreitasCapa e artes: Ana Lúcia Carmo, Demétrius Vinícius, Hugo Fernando, Jennifer Cristina e

Matheus BritoRevisão Geral: Cleydson Santos, Carolina Leite, Fernanda Sales e Jéssica França Projeto gráfico: Demétrius Vinícius e Matheus BritoGestão: Helena Sader e Iris Brito LopesFotografia: Adilson Andrade/Ascom UFS, Agatha Cristie, Alice Santos, Alinny Ayala, Ka-

mile Perez, Josué Maia e Marielle Rocha.

EditorialResgate de memória e fomento de debate, talvez sejam os prin-cipais temas da última edição de 2015 do Jornal Contexto. Após o fim da maior greve da Universidade Federal de Sergipe, te-mos a alegria de entregar aos nossos leitores um edição repleta de lembranças, principalmente porque dezembro sempre nos remete ao natal e a retrospectivas. No entanto, o último mês deste ano é marcado também pelo aniversário de um ano da primeira denúncia de desvio das subvenções da Assembleia Legislativa do Sergipe e início dos processos de cassação de mandatos de alguns parlamentares. Sempre que pensamos em aniversário, automaticamente nos vem a memória, o presente, dessa forma não é engano dizer que os sergipanos nesse natal tem em mãos um verdadeiro “presente de grego”.A expressão que tem sua origem na história da Grécia antiga e da rivalidade de Tróia e Atenas, refere se a um presente ruim, não desejado. Ainda que na mitologia o motivo dessa rivali-dade tenha sido o fato de Paris, filho de Príamo, ter seduzido Helena, a mulher de Menelau e levado a para Tróia. Temos vivi-do um cenário marcado por brigas, desrespeito e intolerância em nome de um Deus, isso é percebido quando observamos

o aumento dos casos de intolerância religiosa no Brasil e no mundo, fizemos um levantamento de alguns desses casos, ou-vindo a opinião de seu líderes a respeito do tema e constamos que tudo gira em torno do amor, ou a falta dele.O ano que se encerra está marcado também por crises em di-versos setores do país e infelizmente o jornalismo não ficou de fora. Em Sergipe, vive dias difíceis enfrentando fechamento de veículos de comunicação e demissão de profissionais. O nosso resgate de memória nessa edição, fala também dos Jornais de resistência de Sergipe e os 25 anos do Jornal O Capital, dos Cor-reios e o contraponto entre seus mais de 200 anos e a situação atual em um mundo digital e sobre a capital aracajuana pon-tuamos suas ocupações culturais e destacamos as produtora locais de videogames.Ainda que o nosso presente de natal para vocês não sejam dos melhores, desejamos que aproveitem essa proposta de resgate memorialístico para debater temas que estão a nossa volta e passam despercebidos os nossos olhos. Além de anunciar que vem aí a nossa última produção do ano, a Revista Mais Con-texto!Aguardem... Boa leitura!!

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OPINIÃO3

Em um ano de muita instabilidade política é sem-pre difícil falar sobre expansão e crescimento do comércio local – porém, esta é a minha realidade. Meu nome é De-nise Somera e tenho a Bela Prata desde dezem-bro de 2011 – ano este que, segundo os comerciantes lo-cais, foi um dos piores em questão de faturamen-to comparando aos anos anteriores. Tivemos mui-tas dificuldades nos primeiros dois anos de em-presa e após uma mudança de endereço, só tivemos cres-cimento, inclusive neste ano de 2015, em que a pala-vra ‘crise’ não saiu das manchetes do jornais.

Há alguns anos, as políticas públicas de crédito residen-cial – chegando também ao setor automotivo, trouxeram um re-alidade para as famílias brasileiras: cada vez mais par-te dos salários estavam comprometidos com prestações fixas, como casa e carro. A crise é realmente forte e im-pactante em setores que dependem da construção civ-il (em queda há dois anos em várias capitais) e da indús-tria, que normalmente emprega muita gente e cria ao seu re-dor comércios que praticamente dependem dela (padarias/restaurantes/lojas que atendam operários, aluguéis de casas dos trabalhadores, escolas para seus filhos, etc). O setor auto-motivo e toda sua cadeia de produção foi um dos que mais se afetaram, embora já estivessem vivendo uma estagna-ção (a nova classe média não comprou a ideia de tro-car de carro todo ano, como já foi hábito em outras gerações), im-pactando principalmente as regiões Sul e Sudeste, onde es-tão as maiores indústrias automotivas e também seus con-sumidores. Como Sergipe não é caracterizado pela indús-tria, nosso impacto é um pouco menor.

Somos um ponto fora da curva do comércio local: em-bora nossas vendas sejam de acessórios (supérfluos, portan-to), em relação ao mesmo período do ano passado crescemos en-tre 20% e 60%, com picos de venda em meses fora de datas es-pecíficas (nosso maior crescimento foi em setembro, mês sem comemorações como dia das mães, dos pais ou das cri-anças). Existem algumas justificativas para este cres-cimento, todas plausíveis: neste ano, diversificamos nos-sa linhas de produtos e passamos a ser uma opção de quali-dade e melhor preço em relação à concorrência. Fizemos alte-rações de conceitos gráficos e apresentamos uma nova co-municação visual aos clientes, buscando brasilidade ao de-sign da marca. Ampliamos nossa clientela através de ações as-sertivas e econômicas nas redes sociais, fortalecendo víncu-

A crise econômica não só afetou o setor imobi-liário, mas pelo fato de a construção civil ser a que mais em-prega pessoas no mundo, foi atingida de forma inten-sa. As consequências disso são a demissão de várias pes-soas e a desaceleração de suas construções em anda-mento, embora essa desaceleração não implique no pra-zo de entrega dos empreendimentos, pois toda constru-tora tem até seis meses após o prazo estabelecido em contra-to para entregar sua obra. Mas vale ressaltar que por conta da de-missão de funcionários é preciso ir com mais calma. Outro fato está relacionado ao lançamento de novos empreendimentos. Por conta da crise econômica, as construtoras optam por se-gurar os lançamentos para ver se a economia vai se estabili-zar no setor imobiliário. Se antes, por exemplo, as construto-ras lançavam dois ou três empreendimentos, hoje em dia op-tam por apenas um.As pessoas acham que os imóveis vão abai-

xar de preço, mas isso não vai acontecer. O que está acon-tecendo são promoções ofertadas pelas construto-ras como forma de atrair o cliente para a respectiva aqui-sição do imóvel. E somos nós, agentes imobiliários, os respon-sáveis por fazer essa interlocução. Sugerimos às construto-

ras a possibilidade de concessão de ofertas a fim de atrair o público consumidor. Outra estratégia também é diminuir o VGV (Volume Grande de Vendas), que hoje está alto por conta da diminuição de vendas. Hoje os empreendimentos que estão mais vendendo são os populares. Já os imóveis classificados como A B e C, não estão vendendo como antes. Antigamente, conseguíamos vender um empreendi-mento apenas num final de semana. Hoje em dia a veloci-dade de venda é muito menor.O que fazemos hoje para atrair o público, enquanto par-

ceiros das construtoras, é a prospecção desses clientes. Liga-mos para eles, mandamos e mails, fazemos panfletagem e ações mais específicas em determinados locais, porque nesse momento de crise tanto as construtoras, quanto as imo-biliárias, precisam ter algum diferencial. Todos os clientes, hoje, procuram empreendimentos com oferta e é dessa for-ma que temos que fazer para driblar essa crise no setor imo-biliário. Na verdade, as pessoas estão dando uma freada no seu investimento por conta da economia no Brasil, que está instável. Então estamos sempre tentando con-tornar essa situação, para que possamos vender nesse tem-po de crise.

los e nos estabelecendo como opção na hora de presentear. E desde a nossa abertura temos o atendimento como nosso principal foco, treinando intensamente nossa equi-pe de vendas.

É neste ano de 2015 que também ampliaremos nos-sa marca, retomando nossa loja virtual e um novo qui-osque, estando presente nos dois principais shop-

pings da cidade. Neste momento de instabilidade política e econômica, nosso lema continua o mesmo: pas-sos lentos, mas certeiros, seguindo nosso plano de nos es-tabelecer no mercado sergipano e ampliar para outros es-tados quando possível. As crises vêm e vão. É preciso es-tar com os pés no chão, estáveis o suficiente para balan-çar e não cair.

Os reflexos da crise no comércioPor Denise Somera

A crise e o setor imobiliárioPor Rosa Sylvania RamiroCoordenadora de vendas da Decide Imobiliária (a primeira de Sergipe, fundada há 40 anos)

FOTO: ALFREDO MOREIRA/SEBRAE

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“Art.1o Fica instituído o Programa Nacional de Rees-truturação dos Hospitais Universitários Federais – REHUF, destinado à reestruturação e revitalização

dos hospitais das universidades federais, integrados ao Sis-tema Único de Saúde (SUS)”. Segundo o primeiro artigo da Lei No 7.082, de 27 de Janeiro de 2010, decretada pelo Presidente da República da época, Luís Inácio Lula da Silva, o REHUF se-ria o programa responsável pela melhoria de todos os hospitais universitários do Brasil.

Ainda, de acordo com o mesmo decreto, o projeto tem o objetivo de proporcionar condições materiais e institucionais para que os HU’s possam desempenhas suas funções com pri-mazia; seja no campo de ensino, atendendo às necessidades das graduações, ou seja no campo de assistência à saúde, com as melhorias do serviço público.

Em 2011, durante o primeiro ano do Governo Dilma Rousseff, foi instaurado a Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares – EBSERH com finalidade de dar prosseguimento aos processos da REHUF. A Lei 12.550 foi decretada no dia 15 de dezembro do referido ano e autorizou o Poder Executivo a criar a Empresa. Na lei, de acordo com o Artigo Terceiro, a finalidade da EBSERH é a prestação de serviços gratuitos de assistência médico hospitalar, ambulatorial e de apoio diagnóstico e ter-apêutico à comunidade, assim como a prestação às institu-ições públicas federais de ensino ou instituições congêneres de serviços de apoio ao ensino, à pesquisa e à extensão, ao ensino-aprendizagem e à formação de pessoas no campo da saúde pública. Hoje, 33 hospitais universitários federais são

vinculados a Estatal. Dentre eles está o hospital da Universi-dade Federal de Sergipe.

17 de outubro de 2013 foi a data que o Reitor da Uni-versidade Federal de Sergipe, Ângelo Antoniolli, fechou o contrato com a EBSERH. A partir desse dia a EBSEHR administraria o HU, firmando um plano de reestruturação que tinha como algum dos objetivos: aumentar o número de leitos do HU; fornecer mais profissionais capacitados para atender a demanda do hospital; dar mais assistência aos estu-dantes que estudam no local e que desenvolvem pesquisas; melhorar na infraestrutura, entre outros.

Há dois anos Sergipe vem acompanhando os debates em torno da privatização do HU. O Sindicato dos Trabalhadores e Técnicos da UFS afirma que a EBSERH só tem interesse no lu-cro e que a privatização do hospital público não melhorou em nada. “Até os exames básicos não estão sendo realiza-dos por falta de materiais. Os pacientes vão se tratar no HU e não encontram a infraestrutura que a EBSERH tanto prometeu”, afirmou Lucas Gama, presidente do SINTUFS.

Já o reitor da Universidade, Ângelo Antoniolli, durante uma audiência pública realizada no ano de 2014, segundo matéria publicada pela ascom do gabinete do próprio reitor, enfatizou que a EBSERH é uma saída para a crise que o HU vivia. Ainda de acordo com Ângelo, a sociedade clama por melhoria e a opção oferecida pelo Governo Federal é a EB-SERH.

Dentro do Hospital as opiniões a respeito da privati-

zação também são divididas. Há quem considere, entre os profissionais e os estudantes, que o HU possui pessoas quali-ficadas, mas que não disponibiliza o suporte necessário para execução das atividades com primazia, como é o caso da estudante de Medicina, Lorena Almeida, 23, que ainda criticou as atividades oferecidas pelo HU durante a greve. “Durante a greve o sistema ficou pior, metade dos professores continuaram e a outra metade não. O atendimento, os enfer-mos e nós ficamos muito prejudicados. A demanda de pacien-tes era muito grande para os poucos profissionais disponíveis”, completou a estudante.

A técnica de enfermagem, Suênia Soares, entrou no Hospi-tal Universitário em 2014 através de concurso público promov-ido EBSERH. A opinião dela é divergente. “O atendimento e os recursos daqui (do hospital universitário), comparando com o serviço público do estado, são melhores, embora eu ache os profissionais pouco experientes e deixam a desejar em alguns procedimentos”, afirmou a concursada. Ainda, segundo ela, o período em que a UFS estava em greve, a Unidade de Te-rapia Intensiva, setor onde ela trabalha, não ficou prejudicada. “Precisando de UTI eles vêm todos para cá, até porque temos dois leitos que são do município”, completou.

Entre os pacientes a opinião também é variada, a dona de Casa, Genalva Silva, 68 anos, acompanha o irmão que está internado há 09 (nove) dias por causa de um problema no fígado. Para Dona Genalva, o irmão está sendo bem tratado e ela não tem do que reclamar. “Mesmo não sendo uma doença muito grave, os médicos estão cuidando muito bem dele. A

HOSPITAL UNIVERSITÁRIO DE SERGIPE: COM OU SEM EBSERH?Como o HU se mantém após o contrato com a Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares e os reflexos da greve no funcionamento do hospital

KAMILLE [email protected]

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Fachada do Hospital Universitário de Sergipe, administrado pela Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares

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estrutura é boa, não faltou nenhum tipo de medicamento e é tudo muito limpo.” Enfatizou a Dona de Casa.

Outra dona de casa, de 31 anos, que não quis se identificar, pensa diferente. Seu filho de oito anos de idade foi diagnos-ticado com leucemia e desde 2014 se trata no HU. Para ela, o filho é bem tratado, mas às vezes faltam equipamentos para certos exames. “Tive que sair do emprego para cuidar do meu filho, venho no Hospital com ele sempre, aqui (no hospital) tem bons profissionais, mas falta uma estrutura melhor para atender meu filho.” Falou a entrevistada. A dona de casa ai-nda destacou que os aparelhos são poucos para a quantidade de doentes. “Meu filho não pode ficar meses em uma fila para conseguir fazer um exame, nós não temos tempo para isso. Ele precisa ser tratado o quanto antes para a doença não piorar”, completou.

Privatizado ou não a única coisa que a população quer é um atendimento de qualidade. A maioria das pessoas que dependem do Hospital Universitário da Federal de Sergipe sejam elas estudantes, médicos ou enfermos, necessitam dos serviços e esperam um futuro melhor para o HU.Pós – Greve

No dia 29 de maio de 2015 cerca de 40 universidades fed-erais em todo o país, dentre elas a UFS, entraram em greve. Entre as queixas dos técnicos e servidores da UFS estava o Hospital Universitário; a categoria pedia a conclusão das obras de reforma do hospital, a contratação de mais funcionários, a redução da carga horária e aumento salarial.

Com apenas 30% dos funcionários efetivos trabalhando du-rante a greve, o hospital passou a oferecer apenas 50% dos serviços, nesse tempo, os paciente ficaram sem conseguir marcar certos tipos de consultas, exames e cirurgias, deixan-do toda a população esperando até o dia 19 de outubro, quando foi deflagrada o fim da greve.

Segundo Lucas Gama, em matéria publicada pela SINTUFS, os 133 dias de greve não foram fáceis e nem todas as exigências foram atendidas. O Termo de Acordo firmado entre a uni-versidade e o sindicato prevê o reajuste salarial de 10,8% par-celados em dois anos, além de acréscimos nos auxílios creche e alimentação e no valor per capita do plano de saúde. Mas, ai-nda segundo o presidente da SINTUFS, a luta continua. Agora o sindicato move uma ação coletiva e individual com pedido de tutela antecipada para que a UFS pague o adicional de in-salubridade dos trabalhadores do HU que tiveram o benefício cortado no mês de outubro deste ano.

Anexo do Hospital Universitário em Reforma

Quarto de Enfermaria do Hospital Universitário

Corredores do setor de Enfermaria do Hospital Universitário

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6UFSUFS DESENVOLVE AÇÃO DE INCLUSÃO DIGITAL PARA A TERCEIRA IDADEAlunos do NUPATI aprendem a utilizar as novas tecnologias como forma de inclusão na sociedade TATIANE DOS SANTOS

email: [email protected]

A inclusão digital vem sendo um grande desafio à nossa sociedade, a partir de uma aprendizagem autônoma, gerou sujeitos livres de exclusões, sejam elas de origem

social ou pedagógicas, várias são as motivações na vida dos ido-sos que procuram cursos para aprenderem informática como: o desejo de aprender mais e continuar aprendendo para não se-rem excluídos, tanto da sociedade como do núcleo familiar por não falarem e entenderem a linguagem das tecnologias; superar as dificuldades e dominar o computador melhora a relação in-tergeracional e realizarse pessoalmente aumenta a autoestima. Em relação à aprendizagem digital a maioria dos idosos possui interesses, necessidades e dificuldades. Continuar participan-do da sociedade e romper as barreiras esse é os critérios que eles encontram no caminho, o maior desafio dos idosos é continuar gestores e protagonistas de suas vidas, sem precisar de auxílio ou ficar na dependência de terceiros, pois eles não querem se acomodar. Estar incluído digitalmente é muito significativo e é uma necessidade urgente para as pessoas que estão na Terceira Idade, pois eles não querem perder mais tempo: querem entrar no mundo virtual e compreender todas as suas possibilidades. A professora Noêmia Lima Silva, coordenadora do Núcleo de Ação e Pesquisa para a Terceira Idade (NUPATI), da Universida-de Federal de Sergipe (UFS), defende que a inclusão digital re-presenta para o idoso a grande casa do saber, trazendo as pesso-as nessa faixa etária para a atualidade, para ter condição de estar vivendo e convivendo de acordo com as novas tecnologias e os novos saberes. “Como se trata de uma situação nova, é preciso a conscientização dos gestores e dirigentes de que existe a neces-sidade de todas as faixas etárias estarem dentro desse processo de automação. A universidade como uma grande casa de saber, tem o dever social de também se incluir nesse processo”, explica. Para ela, a perspectiva digital para daqui a alguns anos, vai melhorar. No começo, a aceitação é difícil, até mesmo para as pessoas idosas começarem a se adaptar. “Mas, com o pas-sar do tempo, também o amadurecimento e a compreen-são de que não dá mais pra ficar assim somente no processo tradicional. É importante também que a gente se comunique de outra forma. Mas, também tem que valorizar o proces-so tecnológico que estamos vivenciando”, destaca Noêmia.

A inclusão digital para terceira idade é um pouco esquecida, agora é que a sociedade estar tomando conhecimento. Se-gundo a coordenadora do Nupati, o próprio idoso tem que começar a buscar, a exigir, a insistir e entender que ele tam-bém é capaz de aprender o processo de automação. “Não e só para o jovem, para a criança ou o adolescente entender sobre automação, sobre o processo tecnológico. Tem que ser feito por todos. Se o próprio idoso começa a ter essa visão, essa compreensão, ele insiste, ele tem poder para exigir que também se chegue a essa faixa etária”, comenta. Para a coordenadora, as pessoas estão buscando se inserir na inclusão digital exatamente para inserirse na sociedade. A rotina e a relação com as pessoas nesta faixa etária tam-bém sofre modificações: em casa, não conseguem conver-sar porque os filhos e os netos estão com o celular utilizando aplicativos como o Whatsapp, no computador utilizam re-des sociais. “Em todos os processos, ele fica só ali, parado sem saber como se comunicar. Então, quando ele vai para o computador pedindo licença para abrir o email, o neto vai entender que ele tá inserido, está participando e vai respeit-ar que ele está incluso nesse processo”, relata a professora. Os tabus na inclusão digital vêm do próprio idoso, porque muitos acham que não aprendem a manusear a maquina e sua linguagem. Há um reforço da negatividade em relação à apre-nder na velhice, por isso, muitos idosos tem pouco incentivo e motivação, ficando cada vez mas retraídos. “Apreender mais, para que?”, pensam. Nessa faixa etária, muitos ainda enfrentam tabus que reforçam o processo negativo, como se estivessem caminhando para o fim. “O fim não significa só idade; idade é cronológico. Morre jovem, morre criança, morre velho, então é importante que cada um em seu processo de vida, no seu tempo, no seu interesse, esteja na inclusão digital. A gente tem que estudar as diversidades que existem na sociedade”, defende a coordenadora.

A Melhor Idade e as Novas TecnologiasAtravés do Núcleo de Ação e Pesquisa para a Terceira Idade

(NUPATI), o aposentado Sival Dominiense Pereira estuda

informática para terceira idade. “A inclusão digital representa uma maior libertação de ações. Através das mídias, temos a felicidade de viver tudo que é novo”, avalia o aposentado.

Ele também considera que, no Brasil, a prioridade deveria ser o ensino e a educação. “Para que, nosso País se torne um país de primeiro mundo é necessário que a sociedade, os gov-ernos, os órgãos públicos e as Universidades de modo geral in-vistam maciçamente na educação. Para mim, a inclusão digital tem uma significação importante porque abre novos horizon-tes, vislumbrando a todos nós”, diz Dominiense.

Mesmo com perdas físicas, emocionais, sociais e preconcei-to, Sival se diz apto e acha que deve estar incluído nesse conhe-cimento de tecnologia para continuar aprendendo. “Diferente-mente de quem é baixa renda e possui um índice de cultura pequena, existem pessoas na terceira idade que por galgar um conhecimento maior, já teve uma formação universitária, mas elas vislumbram o mundo e conseguem inserirse melhor nesse mundo de tecnologia”, acredita.

Priorizar e conviver com pessoas que nos trazem felicidades diariamente são os itens para ter qualidade de vida. A longevi-dade, portanto, pode ser alcançada se mantivermos isso como ponto de referência. Para o Sr. Sival, a qualidade de vida acon-tece quando o idoso tem a oportunidade de andar, viajar, par-ticipar de eventos, sair sozinho e ter as suas próprias iniciati-vas. “Então, essa qualidade é uma coisa meio complexa porque além de tudo isso, você precisa de uma boa moradia, uma ali-mentação regulada, saneamento básico, assistência médica e educação”, conta o aponsentado.

Além de todos esses itens obrigatórios, a inclusão digital Já pode ser considerada indispensável na sociedade. Para Sival, estar em um espaço de tecnologia é complexo. “Aqui, estamos em uma aula de informática com tecnologias novas e eu me sinto aberto para o aprendizado. Por esta razão, o mais impor-tante é que as instituições como um todo estejam devidamente abertas e voltadas para inclusão das pessoas com deficiência e os indivíduos com maior idade”, ressalta.

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Inculsão digital para terceira idade é tema de programa na UFS

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Frequentemente, casos de agressão a profissionais do sexo são noticiados em veículos de comunicação em todo o país. Seja trabalhando na rua ou em casas de prostituição,

o fato é que essas pessoas estão expostas a uma série de fatores que muitas vezes as deixam vulneráveis. Em Sergipe, a situação não é diferente. O último caso que chegou ao conhecimento da mídia aconteceu no último domingo, 27, quando uma travesti foi assassinada próximo ao ponto em que trabalhava, no Cen-tro de Aracaju. De acordo com testemunhas, a vítima teria se desentendido com um cliente, após o mesmo se recusar a pagar pelo programa.

Histórias como essa, fizeram com que a professora Zenith Costa Delabrida, do Departamento de Psicologia da Universi-dade Federal de Sergipe (UFS), se sensibilizasse e criasse um Projeto de extensão voltado a esse segmento, mais especifi-camente de Aracaju. Para a realização do mesmo, a docente conta com a ajuda de quatro alunos do curso de Psicologia. O projeto foi criado em julho de 2014 e nos primeiros meses dedi-couse exclusivamente à realização de pesquisas sobre o tema e à promoção de debates entre o grupo, através de discussões de textos de autores que tratam sobre o assunto. A próxima etapa do projeto, que já está sendo colocada em prática, é o contato direto com o público-alvo (profissionais do sexo), que será feito em parceria com uma equipe da Prefeitura Municipal de Ara-caju que trabalha com a política de redução de danos. Para o desenvolvimento da pesquisa, seriam utilizadas algumas téc-nicas da psicologia ambiental.

O projeto tem como principal objetivo coletar dados, através da aplicação de questionários com quem atua no ramo da prostituição, a fim de montar um mapa que aponte os lo-cais onde há mais exposição ao perigo de sofrerem agressões. É importante ressaltar, que na coleta de dados será respeitado o tempo de cada participante, afinal falar das suas intimidades pode causar um certo receio. Para a construção desse mapa, a percepção de risco tida por cada profissional será um fator de extrema importância. Afinal, ela é entendida como a forma como o indivíduo calcula o perigo ao qual está exposto em re-lação à localidade em que se encontra. Essa percepção estaria diretamente ligada ao histórico individual de experiências vivi-das.

Com as estatísticas em mãos e com o mapa finalizado, o grupo de profissionais do sexo teria uma noção dos locais onde as agressões acontecem com mais frequência e seria orientado a evitálos. A ferramenta continuaria sendo atualizada pelos próprios grupo, sempre que um novo caso fosse registrado.

Por se tratar de um tema delicado, todo o trabalho do grupo está sendo desenvolvido minunciosamente, como diz o es-tudante do 5º período do curso de Psicologia, Luiz Augusto Costa. “Estamos nos empenhando ao máximo para que a gente possa obter bons resultados. Nossa abordagem aos profission-ais será feita com todo cuidado e respeitando o tempo e os lim-ites de cada um deles. Se os mesmos não se sentiram à vontade, poderão parar de participar a qualquer momento”, afirmou.

PROJETO DE EXTENSÃO DA UFS VISA AJUDAR PROFISSIONAIS DO SEXOA criação do projeto visa diminuir o número de casos de agressões aos que atuam no segmento

ELSON MOTAemail: [email protected]

Resistência e persistência: cenários da inclusão digitalAo longo dos anos, estreitouse a relação da sociedade com

as novas ferramentas tecnológicas. Em qualquer atividade, de-paramonos com a tecnologia, seja para abrir um email, acessar páginas na internet, para sacar um dinheiro, tudo isso envolve tecnologia. O bolsista da Coordenação de Assistência e Integ-ração do Estudante (Codae), da Universidade Federal de Ser-gipe, Marcos Barbosa Bomfim, conta que o objetivo da inclusão digital é facilitar o acesso das pessoas à internet. “Alguns indi-víduos possuem certo preconceito com essa questão de tecno-logia, porque acha difícil e não é acessível. Hoje em dia, todo mundo tem um computador em casa e pode mostrar o que é tecnologia, sem ser um bicho de sete cabeças”, diz o bolsista.

Para um idoso, a grande dificuldade é o entendimento. “Temos que ser pacientes, tem que ser com calma, tranquilo, bem detalhado para que eles entendam tudo que explicamos”, afirma Marcos. O idoso vivencia essas experiências tecnológi-cas e sente a necessidade de inclusão digital das mais variadas formas, desde um telefone para conversar com um parente, um amigo, ou até mesmo ao acessar o Sistema Integrado de Gestão de Atividades Acadêmicas (SIGGA) da UFS, no caso dos alunos matriculados no NUPATI. “Neste último caso, ele usa o sistema para tudo: pegar um documento, um exercício de aula e, até mesmo, saber o histórico das informações. Tudo isso fazemos

pela internet. Isso é que é inclusão digital,” reforça o bolsista.Para Marcos, a inclusão digital na terceira idade inclui o in-

divíduo junto à sociedade, ou seja, quem tá longe agora tá per-to. Pelo whatsapp podemos falar com o pai, a mãe e o vizinho, ou então, um filho que está longe podemos mandar uma men-sagem. É mais barato, rápido e simples. “Os idosos possuem potencialidade para continuar aprendendo e serem incluídos digitalmente, desde o uso de ferramentas de comunicação ao

manuseio de tecnologias bancárias, por exemplo, um caixa ele-trônico é como um computador”, conta Marcos.

O idoso, que aprende na inclusão digital não, precisara de um filho ou vizinho para tirar o dinheiro porque ele vai saber fazer isso. A tecnologia veio para facilitar a vida do ser humano e passar por cima de todas as dificuldades que existem. “Se a pessoa não consegue enxergar fazemos teclado em braile; se não consegue movimentarse rápido, criamos um mouse que ela possa movimentar lento; se não consegue usar as mãos podemos usar os olhos para movimentálos; e se a pessoa for idosa ela vai usar a paciência e todos os recursos também”, ex-plica o bolsista.

Ao estar incluindo digitalmente a pessoa, tem liber-dade de utilizar equipamentos que antigamente não us-ava. Por exemplo, percebemos no idoso a grande dificul-dade em tirar o dinheiro em um caixa eletrônico. Muitas vezes é necessário chamar uma pessoa para ajudálo. E, com a inclusão digital ele aprende a utilizar o equipa-mento sozinho. “Algumas pessoas tem certa resistência de estar em um espaço de tecnologia – ‘É muito difícil. Não dar para fazer. É complicado’ – mas, à medida que vamos ensinando e mostrando que não é difícil eles próprios percebem que dá para ter paciência nesse ambiente,” con-clui Marcos.

A gente tem que estudar as

diversidades que existem na sociedade

(Noêmia Lima Silva)

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COMUNIDADE8

UMA RESPOSTA À SOCIEDADEQuando o conhecimento atravessa os muros da universidade para se aproximar da população

Você já ouviu falar em extensão universitária? O termo aliado ao ensino e à pesquisa, completa o tripé da uni-versidade brasileira e tem o papel de exercer o diálogo

com a sociedade, aproximando o conhecimento produzido da população. Muito mais que compromisso social, é uma via de mão dupla que pode trazer ótimos resultados. Além de desen-volver alunos como profissionais conectados a realidade que os cercam, inclusive com um maior leque de atuação, a população é beneficiada e pode acrescentar nas pesquisas dos docentes.

Inicialmente vista como assistencialismo, a função da ex-tensão começou a ser repensada e discutida na década de 80, após anos de ditadura. O fortalecimento dos movimentos so-ciais contribuiu para outra ideia de universidade. Assim, o alinhamento desses três pilares, que une a formação de estu-dantes em sala de aula, com o desenvolvimento de pesquisas e a realização de projetos que interajam com a comunidade, resultaria na universidade exemplar, mais próxima de sua fun-ção social.

Entretanto, a área ainda segue a pequenos passos nos meios acadêmicos. A sobrecarga dos professores com atividades de ensino e pesquisa, a falta de avaliação dos programas, inclu-indo o público beneficiado e de incentivos financeiros, são al-gumas das dificuldades. Além disso, muitos projetos de exten-são não são institucionalizados pois não estão no sistema, nem recebem financiamento. Enquanto isso, a pesquisa oferece chances de crescimento financeiro para a universidade, além de impulsionar carreiras para docentes e discentes e o ensino é parte estrutural das instituições.

Segundo Roberto Jerônimo, diretor da Coordenação de Atividades de Extensão da Universidade Federal de Sergipe, um dos problemas está na formação do professor universitário. “Alguns professores só conseguem enxergar a pesquisa e não compreendem a importância que é a universidade estar fora dos muros. O papel da extensão é mostrar a população que a universidade existe e que é importante para o crescimento

qualitativo da sociedade. Não só com a pesquisa, mas discutin-do e repensando o conhecimento constantemente. Se o conhe-cimento não for discutido e aplicado, para que universidade? A extensão é a linha de frente”, afirma.

Ele conta que desde 2013 o número de projetos tem aumen-tado, apesar que algumas áreas ainda crescem timidamente. “As áreas tecnológicas veem mais o lado da pesquisa e às vezes não conseguem fazer a ponte com a intervenção social. Enten-do que algumas pesquisas demoram anos para trazer resulta-dos, mas até lá pode se trazer a comunidade para entender esse processo”, fala. Em relação à sobrecarga dos professores, que acabam por influenciar no tempo gasto com projetos, o coor-denador defende que não é bem assim. “Tempo é relativo, pois temos a carga horária para fazer os três. Entendo que muita gente se dedique mais a pesquisa, não recrimino isso. Mas tem que tentar equalizar”, diz.

Esse ano foram 230 projetos de extensão (195 financiados com bolsas do Pibix), mais cerca de 80 com parcerias externas. Quando questionado sobre as expectativas diante da crise que perpassa o país e os cortes na educação o professor foi enfáti-

co. “O governo federal não mexeu nas bolsas. Não ampliou a oferta, mas tampouco houve cortes, nem das 230 bolsas exis-tentes, nem dos projetos em parcerias. Nessa crise, a extensão vai atuar como vinha atuando”, garante. Para 2016, apenas 160 projetos serão financiados, segundo ele a queda ocorreu em virtude da seleção ter sido durante a greve.

Ações transformadorasAlgumas atividades de extensão chamam atenção pela im-

portância para a comunidade ou pela sua singularidade. Esse é o caso do projeto “Lugar de mulher é na oficina” da professora Alessandra Góis, do departamento de engenharia mecânica. A ideia era atrair as meninas do curso de engenharia, não só da mecânica, para desmistificar um espaço ainda predominante-mente masculino. “A intenção é que elas percebessem que tudo que é feito aqui, elas podem fazer. As meninas fazem solda-gem, cortam e trabalham com todos os processos de fabrica-ção. Temos cursos de limpeza, montagem e desmontagem de motor”, explica.

Fernanda Fontenele, participante do projeto, conta que ain-da há discriminação no mercado de trabalho e já sentiu na pele o preconceito em relação à capacidade feminina. “Muitas pes-soas perguntam como é, sendo mulher, estar em engenharia mecânica, um lugar que tem trabalho pesado, que tem que li-dar com pessoas que tiveram uma formação mais tradicional e acham que a área é só masculina. A gente precisa se sentir con-fiante e a extensão desenvolve tanto o lado em equipe, quanto dá essa confiança para encarar o mercado”, fala. A estudante explica que a interação com a comunidade traz também outro objetivo, que é incentivar as meninas que estão no ensino mé-dio a ingressarem nesses cursos. “Se conseguimos impor nosso lugar, provar que também temos essa capacidade, elas também podem”, defende a estudante.

A coordenadora explica que a intenção é que todos os seus alunos pensem como engenheiros e possam ser multiplicado-

Ayalla [email protected]

Estudante acompanha animal no pós- operatório

“Se o conhecimento não for discutido e

aplicado, para que uni-versidade? A extensão

é a linha de frente”(Roberto Jerônimo)

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COMUNIDADE9res do conhecimento. “Primeiro ensino e depois elas repassam esse conhecimento para a comunidade. Eu ensino para que apliquem fora, então elas ganham confiança. A participação nas equipes faz com que desenvolvam o lado líder que todo engenheiro deve ter. Um bom engenheiro tem que ser confi-ante, tem que saber escutar, apresentar projetos e saber as suas limitações”, comenta.

Para ela a engenharia sempre foi um pouco discriminada por trabalhar a extensão não apenas com a comunidade, mas também com as indústrias. “Uma das funções da extensão, é trazer a comunidade. Ensinamos como atuar de forma mais controlada e determinada pelas engenharias e isso eles podem utilizar no dia-a-dia deles. Pode ser um soldador que tenha sua fábrica em casa, próxima da nossa universidade e ele só faz atravessar a rua. As indústrias têm nos procurado para poder conseguir colocar o aluno no mercado de trabalho, seja ele no estágio ou depois que se formam. Mas isso porque eles têm uma vivência legal através da extensão”, afirma.

Responsabilidade SocialNos últimos anos, é notório o aumento populacional de

cães e gatos na UFS e nos arredores. Apesar de ações como a iniciativa voluntária Bichos do Campus, que os encaminha para adoção, a reprodução desenfreada é acompanhada por abandono dos animais. Diante da demanda da população, com falta de recursos para a castração, a Professora Maíra Clímaco, do Departamento de Medicina Veterinária, lançou o projeto “Controle populacional de cães e gatos”.

A ideia do projeto surgiu para atender a população que não tem recursos para ir a uma clínica particular para castração. Os donos levam seus animais para atendimento, onde os es-tudantes do projeto avaliam e dão encaminhamento para a parte cirúrgica, com supervisão da professora. “A aceitação foi muito boa, temos cirurgias marcadas até o meio do ano que vem. Os alunos são os cirurgiões da equipe, quero que façam para aprender. Acho que essa é a validade de um projeto seja de pesquisa ou extensão. Que o aluno esteja entusiasmado com o projeto, com a possibilidade de um aprendizado e que isso venha da prática, pois não adianta ele ver só na teoria”, fala.

Ela explica que a pesquisa é essencial porque gera informa-ção diferenciada, no sentido de buscar resultados a partir do desenvolvimento e gerar artigos. Esses artigos são importantes para o currículo dos professores, para a visibilidade da univer-sidade, do departamento que fazem parte e necessários para que a pós-graduação aconteça. “Mas eu acho que a extensão é importante principalmente no sentido de disponibilizar a população esses serviços, de preferência aqueles que não têm condições de acesso a um serviço particular. Que a universi-dade possa estar dando um retorno à sociedade e que os alunos se beneficiem disso, oferecendo um serviço de qualidade e a baixo custo”, diz.

Mas nem tudo são flores. A professora comenta que o inves-

timento em extensão ainda é insatisfatório. O hospital veter-inário, entregue em maio desse ano continua parado por falta de recursos. “Não temos recursos humanos, faltam muitos equipamentos, não temos os bens de consumo, como serin-gas, agulhas, fio de sutura. Para dar suporte a um serviço de qualidade precisamos disso, não tem como atender, nem quali-ficar o nosso aluno. Temos que solicitar os materiais aos donos dos animais para poder atendê-los da melhor maneira pos-sível”, desabafa. Além de reduzir os números de bichos aban-donados, a castração cirúrgica também atua como prevenção de tumores relacionados ao sistema reprodutor, melhorando a qualidade de vida dos animais.

Participação da ComunidadeA dona de casa Diana Nascimento, fala que projetos que

incluam a comunidade são muito importantes. Para ela, os atendimentos realizados pelo departamento de medicina veterinária tem feito diferença no cuidado de seus gatos. “Isso é muito bom para o bairro. O que tem de animal que pre-cisa de cuidados médicos e os donos não tem como pagar. Aí tem que castrar, às vezes fica doente e eu não tenho condições. A pessoa cria como se fosse gente, tem que levar sempre para o médico para ver se está tudo bem. Deveria ter mais projetos como esse, que ajude a gente”, diz.

Já a enfermeira Lurdes Santana, que reside no bairro Rosa Elze, conta não conhecer nenhum dos projetos de extensão

da Universidade, apesar de considerar importante existir ações desse tipo. “Se você tem um conhecimento e não passa para outra pessoa, o conhecimento vai ficar estagnado ali só para você. Tem que melhorar a divulgação, explicar as pessoas como acontece porque não tem como participar sem saber”, afirma.

Para Roberto Jerônimo, apesar da boa aceitação a comuni-dade só sente falta da extensão, quando vive os projetos e sente o impacto disso na sua realidade. “A extensão não é uma ação pontual, temos que estar constantemente conversando, en-sinando o sujeito, discutindo com ele e mostrar que também vamos aprender com isso. Afinal, nosso conhecimento partiu deles, se trabalho com plantas medicinais, por exemplo, nosso saber básico parte da comunidade. Apenas pego aquele conhe-cimento e refino para a pesquisa”, fala.

Outras perspectivas têm sido discutidas a cerca de uma extensão mais participativa, onde a comunidade possa se-guir com o conhecimento adquirido, mesmo sem a univer-sidade. Com base no diálogo, articulação e construção co-letiva, é uma forma de transformar realidades. “Aqui é um local que se produz conhecimento e com isso deve ser apli-cado na sociedade. Seja na forma de novas tecnologias ou de trabalhos sociais mais amplos, não assistencialistas, mas de forma a levar o cidadão a ser sujeito do seu próprio meio. Longe da extensão a universidade não anda, fica como uma ilha instransponível”, conclui.

Enfermeira Lurdes Santana

Professora Alessandra Góis e alunas do projeto “Lugar de mulher é na oficina”

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A maior investigação sobre o repasse de dinheiro público à instituições e pessoas (físicas) envolveu 23 deputados em um desvio de 12 milhões de reais.

“VOCÊ SABE O QUE SÃO ‘VERBAS DE SUBVENÇÃO’?”

Em 28 de dezembro de 2014, o Fantástico, progra-ma dominical exibido pela Rede Globo, apresen-tou uma reportagem com a seguinte denúncia:

“Procuradoria Regional Eleitoral pede cassação de 23 de-putados por repasse ilegal de verbas em Sergipe”. Neste período, a Assembleia Legislativa de Sergipe já estava em recesso, mas a procuradoria tinha processado 23 deputa-dos e a então conselheira do Tribunal de Contas do Estado, Suzana Azevedo. O que chamava bastante atenção já que a Assembleia tem 24 deputados, quase 100% estavam envol-vidos com repasse ilegal de dinheiro público.

Através da notícia, a população sergipana descobriu que 12 milhões de reais foram repassados por parlamen-tares para entidades que não existiam ou funcionavam de forma precária. As associações da capital e do interior tinham recebido dinheiro da Assembleia Legislativa por propostas de emenda dos deputados. Todo esse escândalo se deu através do orçamento de 2014, quando os deputados teriam R$ 1,050 milhão para repassar às instituições con-sideradas de utilidade pública e indicadas pelos próprios parlamentares no projeto de lei orçamentária. Esse pro-jeto fixou despesas e receitas ao Estado à instituições em aproximadamente R$ 8,3 bilhões.

Um dos casos que chamou bastante atenção e serviu de investigação da PRE/SE envolveu a Associação dos Amigos e Moradores do Bairro Veneza (Amanova), que foi ben-eficiada com recursos no valor de R$ 2.325 milhões, dos quais, R$ 478 mil foram destinados, através de cheques nominais, ao deputado Augusto Bezerra (que foi autor da emenda que destinou R$ 940 mil à própria associação).

O repasse e o uso das verbas de subvenções são investi-gados em várias esferas:

- Eleitoral, pela Procuradoria Regional Eleitoral (PRE) e do Ministério Público Federal (MPF);

- Criminal, pela Polícia Civil, que instaurou inquéritos para apurar a aplicação do dinheiro;

- Administrativa, pelo Ministério Público Estadual (MPE), que ajuizou Ação Civil Pública (ACP) contra al-guns suspeitos pelos crimes de peculato, lavagem de din-heiro e organização criminosa.

Cobertura da ImprensaDepois da denúncia, o assunto “Verbas de subvenção”

ficou presente nos noticiários locais e gerou discussão en-tre a sociedade. A maioria sabe que é algum tipo de inves-tigação, mas não entende o assunto de uma forma mais ampla. Quando são questionados nas ruas, as respostas em torno do tema são: “não sei”, “o que é isso?”. Outros se confundem, chegam a acreditar que o caso do desvio das verbas de subvenção faz parte da Operação Lava Jato, investigação realizada pela Polícia Federal em âmbito na-cional.

A equipe de reportagem do Contexto conversou com al-gumas pessoas e poucas souberam opinar sobre o assunto, mas criticaram a atuação dos deputados. A estudante de engenharia Juliana Cruz disse que está acompanhado o processo. “Fiquei arrasada com a situação, um dos deputa-dos envolvidos foi o meu voto na última eleição. Depositei confiança através do voto, e ele desvia uma verba desti-nada a pessoas carentes para proveito próprio. Se a verba que foi desviada tivesse tomado o rumo correto, pessoas carentes estariam em uma condição melhor. A população fica refém dessa corrupção. Vamos esperar que ao decor-rer do processo essa verba, pelo menos, seja restituída”, desabafa a estudante.

O professor de História Valtemberg Torres acompanha as investigações dos órgãos públicos em torno do caso através dos jornais. “Se for comprovado que houve o des-vio, os suspeitos terão que responder por isso. Não só eu, mas todos nós sergipanos esperamos que isso aconteça”, relata. A aposentada Eliana Andrade tem esperança de ver

políticos corruptos presos. “As pessoas votaram nesses in-divíduos por confiarem nos seus trabalhos, e agora, eles estão demonstrando quem realmente são. Espero que um dia eles enxerguem a cor das grades ao invés do dinheiro roubado,” conclui Eliana Andrade.

Para o porteiro Cláudio José o “caso subvenções” cairá no esquecimento. “Isso é roubo. Tem que apurar e, se for verdade, tem que ir pra cadeia. Mas, infelizmente no Bra-sil as coisas não são assim. Eu duvido que os deputados sejam presos e respondam por alguma coisa. Aqui, o pobre tem um tratamento e os ricos outros”, desabafa.

A novela que parece não ter fimJá se passaram 11 meses e muitas ações foram feitas:

prisões, depoimentos, bloqueio de bens, sigilo de teste-munhas, suspensão de atividades nas associações, entre

outras coisas. Para ficar mais fácil para você, caro leitor, esta matéria vai relembrar alguns acontecimentos que marcaram o caso das subvenções em Sergipe:

Janeiro de 2015Deputados foram notificados pelo TREQuinze deputados estaduais foram notificados pelo Tri-

bunal Regional Eleitoral para apresentar a defesa oficial junto à justiça eleitoral sobre as acusações que envolvem supostas irregularidades na distribuição das verbas de subvenções da Assembleia Legislativa de Sergipe. Entre os notificados, apenas dois parlamentares questionaram as acusações feitas pela Procuradoria Regional Eleitoral e outros 13 tiveram prazos diferenciados para apresentar as respectivas defesas. São eles:

Pastor Antonio (PSC), Adelson Barreto (PTB), Ana Lú-

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cia Menezes e Conceição Vieira, ambas do PT, Capitão Samuel (PSL), Gilson Andrade (PTC), Zezinho Guimarães (PMDB), Maria Mendonça (PP), Zé Franco (PDT), Zeca da Silva (PSC), Jeferson Andrade (PSD), Paulinho das Varz-inhas (PT do B) e Augusto Bezerra (DEM).

Fevereiro de 2015TJ mantém verbas de subvenções suspensasPor unanimidade, o Tribunal de Justiça referendou a

medida cautelar impedindo que a Assembleia Legislativa fizesse a distribuição das verbas de subvenções em Ser-gipe. Com a decisão do TJ, prevalece a decisão liminar do desembargador Cezário Siqueira Neto, em ação judicial movida pelo Ministério Público Estadual, que questiona a constitucionalidade da lei que criou as verbas de subven-ções no âmbito do Poder Legislativo de Sergipe.

Março de 2015Assembleia repassou quase R$ 2mi das subvenções

deste anoA Assembleia Legislativa repassou quase R$ 2 milhões

das verbas de subvenções neste ano. Os repasses foram fei-tos no mês de janeiro pelo ex-deputado Zé Franco, então presidente do Poder Legislativo Estadual, antes do Poder Judiciário se manifestar, em liminar, pela suspensão dos repasses, o que ocorreu no mês de fevereiro deste ano.

Abril de 2015Testemunhas confirmam mau uso das subvençõesA Procuradora Regional Eleitoral, Eunice Dantas, do

Ministério Público Federal, não teve dúvidas em relação às entidades beneficiadas que utilizaram as verbas de subvenções distribuídas pela Assembleia Legislativa para beneficiar deputados estaduais. R$ 120 mil foram usa-dos para pagar combustíveis utilizados em veículos dos próprios deputados.

Maio de 2015Duas pessoas ligadas a entidades são presasDuas pessoas ligadas à Associação de Moradores e Ami-

gos do Bairro Nova Veneza (Amanova), foram beneficia-das com mais de R$ 2 milhões em verbas de subvenção. Clarice Jovelina de Jesus [que era presidente da entidade] e José Agenilson de Carvalho Oliveira, tiveram a prisão pre-ventiva decretada pela juíza da 1ª Vara Criminal, Jane Silva Santos Vieira, que acatou o pedido do Ministério Público (MPE).

Junho de 2015Adelson Barreto é processado por improbidadeO deputado federal Adelson Barreto (PTB/SE) se ben-

eficiou eleitoralmente das verbas de subvenções que ele próprio destinou, no ano passado, para a Associação Mu-sical Lira Nossa Senhora da Purificação, de Capela, e para a Associação de Moradores José Augusto dos Santos, do município de Muribeca. Em ambos os procedimentos, as negociações para que o parlamentar recebesse de volta o maior volume dos recursos que repassou às entidades foram intermediadas pelo vereador Antonio Arimateia, do município de Capela, conforme resultado das investiga-ções realizadas pelo Ministério Público Estadual.

Julho de 2015Começa depoimento de Nollet Feitosa no TREA Amanova teve indicação de R$ 2,325 milhões em sub-

venções dos então deputados Paulo Hagenbeck (R$ 1,085 milhão), Augusto Bezerra (R$ 940 mil) e Suzana Azevedo (R$ 300 mil). Durante as investigações realizadas pela Pro-curadoria Regional Eleitoral, ficou constatado que a asso-ciação funciona em um prédio térreo sem estrutura para as atividades. O deputado Augusto Bezerra recebeu diversos cheques da entidade em seu próprio nome, no valor total de R$ 478 mil. O depoimento de Nollet Feitosa foi reser-vado às partes e fechado para o público.

60% das verbas voltam para deputadosNo depoimento, Mundinho da Comase informou que

os parlamentares recebiam de volta algo em torno de 60% das verbas destinadas para as entidades que indicavam. Mundinho explica também que estes recursos serviam

para custear a atividade parlamentar e deixou claro que nem todas as associações indicadas participavam do es-quema.

Setembro de 2015MPE quer suspender contrato com advogadoO Ministério Público Estadual ajuizou ação civil pública

pedindo a suspensão do contrato firmado pela Assembleia Legislativa do Estado de Sergipe (Alese) com o advogado criminalista Carlos Alberto Menezes, com a finalidade de acompanhar os processos judiciais na esfera criminal resultantes das investigações sobre o uso indevido das verbas de subvenções. Na ótica do Ministério Público Es-tadual, o contrato fere os princípios da legalidade, impes-soalidade, finalidade e moralidade administrativa.

Outubro de 2015Fim das alegações finais na justiça eleitoralNeste mês, o prazo para a defesa e a Procuradoria Re-

gional Eleitoral (PRE) apresentarem as alegações finais no processo que tramita no Tribunal Regional Eleitoral (TRE) sobre supostas irregularidades na distribuição das verbas de subvenções, destinadas pela Assembleia Legislativa a entidades do terceiro setor, chegou ao fim. Neste processo eleitoral, os 24 políticos que exerceram mandato de depu-tado estadual na legislatura passada figuram como réus por conduta vedada.

Novembro de 2015 Depois de todo esse processo, no dia 19 de novembro

o Tribunal regional Eleitoral começava a julgar os proces-sos referentes aos deputados Augusto Bezerra, Conceição Vieira e Arnaldo Bispo. Ambos foram apontados como re-sponsáveis por irregularidades no repasse e aplicação de verbas de subvenção. Os deputados Arnaldo Bispo e Con-ceição Vieira foram condenados a pagar multa, no valor de R$ 40 mil. Até o fechamento do Jornal Contexto, o deputa-do Augusto Bezerra não havia sido julgado. A previsão do TRE é que todos os processos sejam julgados antes do dia 20 de dezembro, data em que se inicia o recesso judiciário.

DEPUTADOS REELEITOS COM PEDIDOS DE CASSAÇÃO DO NOVO MANDATO

DEPUTADOS QUE NÃO SE CANDIDATARAM COM PEDIDO DE INEGIBILIDADE

Paulinho das Varzinhas

Jefferson Andrade

Conselheira do TCE, Susana Azevedo

Augusto Bezerra

Maria Mendonça

Capitão Samuel

Adelson Barreto

Conselheira do TCE, Angélica Guimarães

Gilson Andrade

Zezinho Guimarães

Zeca da Silva

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12JORNALISMO12

Desde 2014, diversos setores empresariais de todo o país sofreram demissões em massa e até mesmo, em alguns casos, tiveram que fechar as portas. Nos

veículos de comunicação, esse cenário não é diferente. Cen-tenas de jornalistas foram demitidos, diversos programas fo-ram extintos e alguns jornais fechados. O motivo? É sempre o mesmo: a recessão econômica que afetou os meios de comu-nicação – ao menos, é o que afirmam os diretores comerciais das principais empresas jornalísticas de Sergipe, que alega-ram ser esse o principal, senão o único, motivo das demissões no estado.

No entanto, segundo o presidente do Sindicato de Jornalis-tas de Sergipe (Sindjor), Paulo Sousa, os investimentos pub-licitários são enormes a cada ano e as empresas jornalísticas faturam bastante com os anúncios. “Ninguém pode negar que há uma crise econômica afetando o país, mas o jornal não pode dizer que ela é o motivo das demissões de jornalistas. Uma prova disso é que só no ano passado, os veículos de co-municação como um todo, principalmente das regiões Norte e Nordeste, faturaram com a publicidade 14% a mais que em 2013”, afirma o presidente.

Diante desses questionamentos controversos, surge uma reflexão. As empresas jornalísticas estão sendo realmente af-etadas por uma crise econômica ou essas demissões são estra-tégias para obterem mais lucro?

De acordo com o secretário da comunicação do Estado, Sales Neto, em 2014 o orçamento do governo para a publici-dade não teve uma alteração significativa em relação a 2013, mas explica que em 2015 houve um corte de praticamente 50% do orçamento comparado a 2014, o que afetou diretamente os investimentos nos veículos de comunicação. “Em 2014, foram utilizados 16 milhões para a publicidade, nesse ano de 2015, caiu para sete milhões e novecentos. Devido à crise, esse foi o menor orçamento dos últimos 20 anos, e como o governo é um dos principais anunciantes dos veículos de comunicação, esse impacto gerou uma retração nos investimentos”, informa o secretário.

Esse corte de verbas do governo, e de algumas empresas privadas, gerou um grande impacto negativo nos jornais

CRISE OU NÃO CRISE. EIS A QUESTÃOHá uma recessão econômica atingindo os veículos de comuni-cação em Sergipe?

como um todo, mas principalmente nos impressos. De 2013 a 2015, o Jornal da Cidade caiu em torno de 20% na sua circu-lação e o Cinform, perdeu em torno de 40% do faturamento vindo da publicidade. Na TV Sergipe, a expectativa era cresc-er entre 8% e 10% em 2015, mas caiu em torno de 10%. Para o ex-diretor de jornalismo da TV Atalaia, Eduardo do Valle, “o problema é que os veículos estavam acostumados a viverem das cotas do governo estadual, que agora por conta da crise, fechou as torneiras do cofre. Todos agora precisam reapren-der a faturar na iniciativa privada”, afirma. O presidente do Sindjor compartilha desse mesmo pensamento. “Os jornais sempre sobreviveram de verbas publicitárias públicas, infe-lizmente. Mas isso se dá por eles não terem na área publici-tária, um grupo de profissionais capacitados para não ficar na dependência apenas das verbas públicas, mas procurar capitar verbas da iniciativa privada. Se acontecesse isso, não haveria tanta consequência negativa como está acontecendo agora”, relata.

Modos alternativos para enfrentar a criseA boa funcionalidade de um jornal depende de vários fa-

tores, dentre eles, o econômico. Baseando se nessa perspec-tiva, como um veículo de comunicação sobrevive hoje, se os custos para manter um jornal só aumentam, se o governo re-traiu seus investimentos para a publicidade e se diversas em-presas privadas também sofreram com a crise e diminuíram seus investimentos ou até mesmo deixaram de anunciar nos jornais?

Encontrar uma resposta não é fácil. Alguns meios alter-nativos foram criados pelas empresas jornalísticas para con-seguirem manter a funcionalidade de seus jornais. Nas tele-visões, por exemplo, onde o gasto de energia e de combustível é muito alto, meios criativos precisaram ser pensados para

“driblar” a recessão econômica. Um deles foi a produção de programas sazonais, com o objetivo de manter audiência e consequentemente chamar a atenção de anunciantes.

Nos jornais impressos, o cenário é praticamente o mesmo. De acordo com Arnildo Ricardo, diretor comercial do Jornal da Cidade, uma estratégia é a migração, aos poucos, para o digital. “Eu sei que o futuro vai ser tudo site. Tudo digitaliza-do. Nós já temos um e acho que aos poucos vamos migrando para lá. Acredito que tenha que se fazer isso, mas não neces-sariamente agora”, explica. Para o diretor comercial do Cin-form, Adriano Bonfim, uma tentativa de sobreviver à crise é se reestruturando. “A gente tem feito um pacote promocional, com produtos mais inovadores e temos pensado em projetos editoriais que realmente surpreendam os leitores. Estrutural-mente a gente também tem buscado se reestruturar. A gente tem um prédio que tem três andares e duas redações, comer-cial e jornalística, então juntamos em um só lugar. Dessa for-ma, economizamos um andar. Menos ar condicionado ligado e menos uso de elevador”, relata.

Perspectivas do cenário jornalístico sergipanoCom clima de demissões e incertezas nos veículos de comu-

nicação, a realidade para os jornalistas sergipanos não é uma das melhores. A afiliada do SBT, que seria instalada em Ser-gipe, não virá mais. A revista Aracaju News, que foi implantada recentemente na capital, já foi fechada. Além disso, a maioria das empresas jornalísticas não estão contratando.

No entanto, as perspectivas para o cenário jornalístico sergipano podem melhorar. De acordo com o presidente da Fundação Aperipê, Messias Carvalho, haverá, em breve, con-curso público para a Fundação Aperipê. Em média, 80 vagas serão disponibilizadas para o concurso, sendo a maior parte delas para o cargo de jornalista. O presidente do Sindjor, Paulo

Victor Amaral

“Se a crise parar de piorar, já está bom”

Eduardo do Valle

“Os veículos estão em crise, princi-palmente porque estão acostumados a receberem verba pública.”

OPINIÃO DOS ESPECIALISTAS

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Sales Neto

“Devido à crise econômica, 2015 teve o menor orça-mento dos últimos 20 anos.”

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JORNALISMO13

Sousa, acredita que no final de 2016, o edital já esteja sendo elaborado.

Outro fator positivo para o profissional da comunicação é a nova estrutura da TV Alese, que segundo o diretor de co-municação, Marcos Aurélio, tem planejamento de ganhar si-nal aberto no início de 2016. Essa abertura proporcionará aos telespectadores conhecer o trabalho dos seus Parlamentares, não somente no Plenário, mas nas Comissões e nas Audiên-cias Públicas, onde os temas importantes são debatidos com os mais variados segmentos da sociedade. “Os principais benefi-ciados serão os sergipanos. Afinal, todos poderão acompanhar o trabalho dos seus 24 deputados estaduais, podendo assim monitorar a produção de cada um e, principalmente, saber fazer o julgamento do trabalho dos seus representantes nas eleições estaduais”, afirma Marcos Aurélio.

A TV legislativa priorizará as sessões plenárias e, em se-gundo plano, as discussões nas suas Comissões, em seguida as Audiências Públicas. Contará também com programações jornalísticas, como uma emissora “normal”, que produz re-portagens especiais, mostrando as características culturais e esportivas de Sergipe, por exemplo.

“Além dessa grade de produção, estamos avançando nas parcerias com outras instâncias de Poder, a exemplo do Tribu-nal de Justiça e do Tribunal de Contas do Estado. Além disso, já firmamos uma parceria com a OAB SE, que está em produção de um programa próprio que será exibido em nossa grade, e também do Ministério Público estadual”, finaliza o diretor.

O Canal do Legislativo aberto no Brasil pertence ao Senado Federal, em parceria com a Câmara dos Deputados e tem o número 48. Neste canal existem quatro variáveis, onde o 48.1 é do Senado, o 48.2 da Câmara Federal e o 48.3, será o da As-sembleia Legislativa.

“A TV Cidade viveu uma crise bem antes da crise econômica de 2015 chegar. Sentiu na pele as dificuldades de ser um canal fechado quando estava no line up da Sim. Mas com a migração para a NET as perspectivas melhoraram. A TV está em 30 mil residências e tem capacidade de atingir 200 mil”, relata a diretora executiva da TV Cidade, Cristine Britto.

Nos anos de 2012 a 2014, a TV passou por um momento crítico financeiro e quase chegou a encerrar suas atividades. No entanto, foi vendida para o empresário Luciano Milstein, que esteve por um ano à frente da emissora fazendo um longo processo de reestruturação para que a TV não fosse fechada. Recentemente, ela foi vendida para os jornalistas André Barros e Cristine Britto, que têm o objetivo de ampliar a produção de conteúdo jornalístico da emissora e enriquecer o corpo de jornalistas. “Chegamos à emissora com uma perspectiva de investir, ampliar o jornalismo e criar novos produ-tos de interesse dos sergipanos. Pretendemos nos tornar referência no conteúdo local, graças a uma grade f lexível, capaz de repercutir e explorar assuntos como política lo-cal, economia regional, sociedade e assuntos relativos ao dia a dia da cidade”, completa Cristine Britto.

Hoje, a TV conta com dois programas jornalísticos e um total de oito jornalistas, en-tre apresentadores e produtores. Novos jornais locais serão produzidos pela emissora, que tem a expectativa de aumentar consideravelmente seu quadro de funcionários.

CASO TV CIDADE

Sales Neto

“Devido à crise econômica, 2015 teve o menor orça-mento dos últimos 20 anos.”

Paulo Sousa

“Os jornais sempre sobre-viveram de ver-bas publicitárias públicas, infeliz-mente.”

Cristine Britto

“Entre 2012 a 2014, a TV Cidade passou por um momento crítico financeiro e quase encerrou suas atividades.”

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O CAPITAL, 25 ANOS DE RESISTÊNCIA AO ORDINÁRIO“A criação do Jornal O Capital é uma decorrência da minha própria vida”, Ilma Fontes

Ilma Mendes Fontes é uma mulher surpreendente. No ano em que marca 25 anos de circulação do Jornal O Capital, de sua autoria, ela mantém firmeza, na defesa de seus ideais, e

honestidade intelectual. Sem rabo preso, como costuma dizer, não é uma figura fácil. A língua continua afiada e não poupa ninguém dos seus comentários e humor ácidos. Aos 68 anos de idade, o rosto carrega as marcas do tempo que as fazem lem-brar de uma história de vida, a qual não se arrepende e jura fazer tudo de novo, se assim um dia lhe fosse permitido.

Fruto de uma mistura étnica de portugueses, espanhóis e holandeses, ela diz não ter raiz, somente asas, e que apesar de ter uma atração enorme pela cultura indígena, na verdade é uma branquela, nascida em 10 de abril de 1947. Formada em medicina legal, jogou tudo para cima e foi fazer Jornalismo, Cinema e Ativismo Cultural. Desde então, não parou e segue resistindo ao ordinário com O Capital e confundindo a própria vida com a existência do jornal.

Na tarde super quente do último dia 28 de outubro, Ilma Fontes concedeu entrevista ao JORNAL CONTEXTO. Na coz-inha da antiga casa, na Ivo do Prado, com um café preto à mesa e Indra, a cachorra linda e enorme, aos pés, Ilma revelou algu-mas histórias inéditas dos bastidores que marcaram a criação do Jornal O Capital, a ruptura com o Jornal Folha da Praia e o amigo Amaral Cavalcante, falou sobre as boas e importantes referências, sobre política, jorrnalismo e, como não podia de-ixar de ser, lembrou saudosa e apaixonadamente do poeta mar-ginal Mario Jorge.

Confira a entrevista completa.

CONTEXTO – Ilma, conta o contexto em que nasceu O Capital.ILMA – A edição número 0, ano 1, do Jornal O Capital foi lan-çada em 26 de junho de 1991, no Restaurante Cacique Chá. São 25 anos de circulação. A criação de O Capital é uma decorrência da minha própria vida. Lá pelos anos 80 ou 81, eu estava fazendo cinema no Rio de Ja-neiro, já tinha dado um chute na medicina, e aí vim de férias para Aracaju. Mario Jorge já tinha 7 anos de morto, ele morreu em 1973. Então eu estou em Aracaju e vejo que Mario Jorge está morto, enterrado e sepultado, e com a fama péssima de droga-do. Eu queria mostrar a genialidade, o avançado, a literatura do futuro que era Mario Jorge.

C – E como você fez isso?ILMA – Eu convenci Amaral Cavalcante, que era da Sociedade de Cultura Artística, na época a gente fazia uma revista chama-da a Revista da SCAS e a número um foi sobre Mario Jorge. O sucesso foi tanto que a gente passou a fazer várias edições da revista e depois veio uma seqüência de outros poetas. A partir da idéia da Revista SCAS, veio a idéia de fazer um jornal de lin-guagem jovem, que não concorresse com nenhum jornal diário, que não tivesse as abordagens dos jornais diário e que corresse numa terceira via, diretamente para a juventude. Esse jornal foi a Folha da Praia. Nós fundamos a Folha da Praia aqui, ressalto isso porque depois ficou parecendo que a Folha da Praia era só de Amaral. Não, não era, eu estou na fundação, edição 0 da Folha da Praia.

C – E como se deu a saída da Folha da Praia? ILMA - A Folha da Praia foi amarelando, virando governista, vi-rou chapa branca, Folha do governo. Só saía matéria paga, então aquele meu ideal inicial de ser um jornal sem rabo preso, sem ca-bresto, foi levado para uma situação que de fato me constrangia, porque nem a minha linguagem aberta já cabia. Opiniões sobre certos políticos já não podiam mais ser ditas, porque era constrangedor para o jornal. Nesse meio tempo eu fui para Vitória do Espírito Santo, de lá eu passei a escrever, em vez da minha coluna habitual que era “Coisas Assim” que durante anos formou opinião, “Cartas de Vitória” que ficou até mais ameno, porque em Vitória eu não estava visceralmente ligada às coisas de Aracaju. Logo, ficava mais leve para Amaral editar o jornal, eu falando mais de cultura, literatura e flores, porque Vitória tem colecionadores de orquídeas que é uma coisa louca.Até que um dia eu vi um poema de Borges (Jorge Luís Borges) e mandei esse poema escrito a mão, a lápis, junto com uma carta

para Amaral. O poema eu mandei para o poeta Amaral Caval-cante, só que no mesmo envelope, na mesma postagem que eu mandei a minha matéria Cartas de Vitória escrita a máquina, na minha eterna lettera 22. Então houve uma confusão que nunca foi devidamente esclarecida, o poema foi publicado no jornal como se fosse meu, assinado por Ilma Fontes. Alguém digitou o poema e publicou. Uma pessoa de má fé, que nessa época era ligada com marketing e dava aula na Unit (Universidade Tira-dentes), jogou meu nome impropriamente como ladrona in-telectual. Por causa do erro, Amaral não mandou o jornal pra mim. Alguém de Sergipe me ligou e disse: Ilma eu ontem tive uma tristeza muito grande ao ver o seu desprendimento, seu desvelo, seu esforço e de repente as galhofas, as gargalhadas di-zendo que você roubou um poema do Borges e assinou na Folha da Praia esse poema. Então eu vim para Aracaju, porque eu zelo muito pela minha imagem, dizer como é que isso acontece e eu só fico sabendo por um jovem que bateu na minha porta. Foi quando falei para Amaral que estava na hora de sair da Folha da Praia e até aquele momento eu achava que era sócia majoritária do jornal porque eu não tinha rabo preso a nada, eu era profissional liberal, não tinha emprego nenhum nessa época, e Amaral era funcionário público, ele não poderia ser dono de uma empresa. Então acreditava que ter 51% das ações da Folha da Praia, meu con-tador fez o contrato, registrou tudo, mas só descobri que não era sócia majoritária quando eu resolvi que estava na hora de sair. Foi um susto descobrir que já há muitos anos atrás eu não tinha nada a ver com a Folha da Praia. Amaral tinha botado a irmã dele, tinha dispensado o contador, botou outro no lugar e coisa e tal, e essa história também nunca foi contada, eu estou contando quase que de uma maneira inédita, porque existe isso entre amigos. Eu tinha Amaral mais de que um amigo, eu tinha muita admiração por ele,mas na verdade ele viu uma chance de ganhar dinheiro e ganhou né? Hoje ele tem casa com piscina na praia e foi a Folha da Praia que deu isso a ele. C – Então O Capital nasceu também de uma ruptura?ILMA – Sim. Ai é onde nasce O Capital. Rompi com a Folha e pensei: vou ter que botar o meu jornal sozinha. Meu primeiro

sócio foi Araripe Coutinho, mas toda a diretoria financeira, di-retoria de edição era eu mesma que fazia. Eu fiquei com o jor-nal pronto quase um semestre. Se chamava “Folha Nativa” para dizer que era uma folha verde, que não amarelou, que estava na ativa e que era da terra e que lidava com os ideais da terra. Mas, não emplacou. Eu não conseguia patrocínio, não conseguia edi-tar o jornal, e aí as pessoas passavam por mim e perguntavam: e aí Ilma, cadê o seu jornal? Eu dizia que estava faltando capital, não tinha capital. Até que eu resolvi mudar o nome e botei o jornal com o nome de O Capital. Era 1991, a derrocada do comu-nismo no Leste Europeu, a execração de tudo, porque era Collor de Mello que estava no poder, a ultra direita, safada, corrputa, que fechou mais de 5 mil jornais alternativos no país. Então O Capital nasceu nadando contra a correnteza, contra tudo e está aí há 25 anos.

C – Como surgiu o slogan Jornal de Resistência ao Or-dinário? ILMA – Ah, isso é Insight. Quando O Capital nasceu, os primeiros números tinham “O Capital - Jornal de Humor e Variedades”. Aí, um dia conversando com uma poeta, que falava da necessidade de se manter essa imprensa e que bom que eu estava indo nessa linha, me questionou até que ponto eu teria fôlego de manter um jornal ousado, quando o mundo inteiro estava indo por um caminho que era bem contrário aos nossos ideais. Então eu falei para ela: sou especialista em resistência ao ordinário. Na hora que eu falei isso surgiu o “Jornal de Resistência ao Ordinário”.

C – E o que é o ordinário? ILMA - O ordinário invadiu todas as instâncias da sociedade. Invadiu a saúde, a medicina, a segurança, a educação, a política. O ordinário invadiu e se estabeleceu. Por isso, é da maior im-portância ter um front de resistência ao ordinário. A gente não aborda autores laureados, que são globais, que estão na TV, e que já tem seu público. A gente nem divulga isso, eles já têm um publico, já tem quem compre o livro dele, não precisa. A gente quer os autores que tenham o que dizer sobre um mundo dife-

Ilma Fontes e sua cadela Indra.

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AGATHA CRISTIE [email protected]

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rente, que possa ser diferente, que não faça parte da mesmice. Fotógrafos que tenham um olhar mais voltado para a nossa cul-tura, para a nossa gente, para os nossos eventos, para as nossas coisas, e que tenham algo novo a mostrar pelo seu próprio olhar.Dessa forma, a gente formou uma tribo, que eu digo ser dispersa entre os coqueiros e as araucárias que está no Brasil todo.

C – A poesia marginal de Mario Jorge influência até hoje no O Capital?ILMA – Com certeza. O jornal tem muito cultura marginal in-fluenciada pelo Mario Jorge. Toda edição tem Mario Jorge, ele está comigo no meu coração sempre. Ele é o dono da minha cadeira na Academia de Letras de Aracaju, meu patrono. Eu tenho uma foto dele em frente ao meu computador. Eu nunca deixo Mario Jorge fora de O Capital, claro que tem que ter Mario Jorge.

C – Ilma, como O Capital tem resistido nesses 25 anos?ILMA – Nunca foi tão necessária a resistência ao ordinário, porque a gente que lutou tanto por um Brasil de esquerda sabe que quando a esquerda chegou ao poder foi essa decepção, essa roubalheira sem precedentes. Nesses 25 anos a linha editorial não se dobrou, quebrou, ou se curvou. O Capital é um jornal alternativo diferente de todos que andam circulando e dos que já circulou. E não tenho intenção de auferir lucro, O Capital não está para mim para me dar dinheiro, O Capital está para ser minha tribuna, para me dar espaço de circulação de idéias, dinheiro eu ganho de outro jeito.

C – E como você vê o jornalismo atual?ILMA – O que é feito não é jornalismo, principalmente em Sergipe. Uma coisa que é proibida nacionalmente são os con-glomerados da imprensa, ninguém pode ter uma televisão, uma rádio e um jornal, mas muitos têm e todo mundo sabe quem são os donos. Sem falar na farsa dos opostos. Volta e meia eles estão juntos no mesmo palanque, volte e meia estão em oposição, mas cada um puxa a sardinha para o seu fogo. E a credibilidade cadê?Acabaram com o Jornalismo Cultural. Lembro que o Jornal da Manhã tinha aquela página cultural de literatura, durante muitos anos ela fez muita gente emergir dali, Jeová Santana, por exemplo. Tudo virou babação do poeta do passarinho com a florzinha, do amorzinho.

C – Como foi o seu começo no jornalismo?ILMA – Eu comecei na Gazeta de Sergipe. Tive que parar de fazer jornal quando ficou incompatível com a medicina. Eram épocas duras. Comecei na Gazeta quando se chamava Gazeta Socialista de Sergipe, tinha o socialista aí, e meu pai era da ul-tra direita e apoiava a ditadura, então foram muitos embates domésticos por linhas de políticas. Eu militava no movimento estudantil, fui perseguida pela ditadura. Até recentemente fui homenageada, a Universidade devolveu pra gente os nossos di-reitos que foram cassados e o escambau. Mas isso não vem ao caso agora. Eu sou do tempo do clichê. Aprendi a diagramar com Ivan Valença, fui a primeira diagramadora do jornal. Depois a diagramação mudou muito. Na Gazeta era linotipo, já na Folha da Praia a coisa tinha evoluído, tinha aquelas meni-nas que digitavam as matérias da gente e a gente recortava e colava. Era tesoura e cola, basicamente.

C– Fale mais sobre a sua experiência na Gazeta.ILMA - Na Gazeta era amiga de todo mundo. Lembro do seu Edgar que fazia a linotipo, aquela letrinha por letrinha para

fazer o jornal inteiro, era um inferno. Seu Edgar virava a noite no jornal. Eu escrevia diariamente na Gazeta, mas só via seu Edgar de noite, quando eu ia acompanhar a edição para não ter erro, porque às vezes saíam erros enormes. Por exemplo, nesse meio tempo o papa morreu e seu Edgar errou, trocou P por M. Então o título “Mundo chora perda do papa” saiu “Mundo chora merda do papa”, foi um escândalo (rsrsrsrsrs). O jornal circu-lou um pouco, alguém deve ter guardado, mas Orlando Dantas botou o dedo de manhã cedo e tirou a edição de circulação. Tem alguns outros exemplos assim.

C– E como era o ambiente na redação da Gazeta? Quem foi seu colega de profissão?ILMA – Eu era amiga da galera inteira. Tinha Ivan Valença, que era uma entidade máxima da gazeta, pessoa de alta confiança do dono da Gazeta, e Paulo Barbosa, Carlos Al-berto de Jesus (Chatô), que foi quem me levou para a Gaze-ta, enfim. Quando terminava a revisão da minha matéria que chamava “Ilma Fontes em Sociedade”, sim, eu comecei em sociedade, o jornal fechava e a gente ia para o Bar do Pinto “tomar uma”, mas mulher não fazia isso né? Quer diz-er, quem fazia isso eram as prostitutas, que frequentavam

C – A sua alma sempre foi inquieta?ILMA - Eu fui uma criança rebelde, adolescente rebelde, jovem rebelde, fui uma mulher rebelde, e vou ser uma velhinha muito rebelde também. Mas também sei que esse meu tipo de estoicismo é uma coisa que ta se acabando né, é uma coisa meio suicida. Eu sei também que posso fazer isso porque eu não tenho filhos, porque eu não nasci embaixo de uma tampinha de guaraná Taí, porque eu tenho um certo lastro familiar que sempre me deu sus-tentação para eu ter o meu nariz em pé. Eu não preciso sair com o pires na mão, dizendo amém e obrigado por me deixar respirar. Venho de uma família de intelectuais, tive uma mãe européia e de formação européia, eu digo sempre que não tenho raiz, só tenho asas. Então minha mãe me deu um vigor de personalidade, de eu ser como eu sou, de ser quem eu sou e de não me dobrar. Ela também era assim, ela era muito independente, apesar de ter se casado com um homem de família tradicional, porque os Fontes estão aqui desde as Capitanias Hereditárias. José Maria Martins Fontes foi capitão mor, o primeiro Fontes que veio para Sergipe. Eu tive toda uma relação que propiciou a minha história, isso facilitou, embora eu não faça nenhuma linha dos ante-passados. Eu não bebo nessa fonte, respeito muito, me or-gulho muito, mas eu tô up to date, eu tô inserida na história do hoje.

o Bar do Pinto. A primeira vez que eu fui ao bar quiseram tirar as putas porque eu estava lá. Eu disse para não fazerem isso, elas estavam no ambiente delas. Eu hein! Não estava nem aí.

C– Você disse lá em cima que O Capital surgiu com uma linguagem jovem. E hoje, como o jornal dialoga com os jovens?ILMA – A juventude de hoje só dialoga com a internet. Acon-tece o seguinte, em 25 anos do Capital a tribo envelheceu, a editora também. Mas envelhecer não é envilecer, não nos tor-namos vilões, e para essa juventude palha, execrável, eu não tenho nada o que dizer, vá em frente. Mas não os culpo tanto, porque foi uma juventude que cresceu esvaziada de ideolo-gia, todas foram substituídas por dinheiro, tudo é dinheiro. Eu fui perseguida pela ditadura, pelos neoliberais, sou perse-guida pela esquerda corrupta safada, e continuo viva, às vezes querem me enterrar viva, mas fica meio difícil porque eu me estrebucho. Porém sempre tem um broto de esperança no meio dessa juventude palha. Nasce alguma coisa de sustança, de enver-gadura e que faz par com a gente nesses ideais que ficaram antigos, cafonas. É interessante ver como a gente tem que se vestir bem, calçar bem, tem que ter smarthphone, tem que ter os sinais do consumo e a maioria desses jovens não tem. São jovens de periferia que sabem a vida como ela é, e querem fazer um caminho de terceira via. Esses têm diálogo com O Capital. Eu tenho essa alma inquieta, e constantemente eu chego a essas pessoas ou essas pessoas chegam a mim, então não quebrou a corrente.

C – E quem é Ilma Fontes?ILMA - Outro dia, em uma entrevista, me perguntaram qual seria a minha qualidade. Eu disse coragem. Sou uma pessoa corajosa, porque se não tivesse o fator coragem eu não teria feito muita coisa que eu fiz, muitos dos meus enfrentamentos. Também sou uma pessoa muito justiceira, gosto muito da justiça, da honestidade de tudo, não só a financeira, mas honestidade de caráter, honestidade literária, ninguém pode pegar uma frase de outra pessoa e dizer que é dela. Acho que eu sou muito idealista e que as qualidades que me empurraram para frente eu procuro adubar, regar, para que elas não esmoreçam, para que eu não deixe de ser como eu sou, porque eu vou morrer assim. Vou ser uma velhinha muito pedra no sapato do sistema, vou continuar sendo. Hoje em dia eu já tenho um distanciamento crítico de mim para minha história de vida para dizer que faria tudo outra vez, foi bom. É bom não ter medo. Quem vive com medo, como disse o travesti Quentin Crisp, vive pela metade, e ele apanhou muito pela ousadia de ser transsexual.

O Capital nasceu na-dando contra a cor-renteza, contra tudo e está aí há 25 anos.

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Edições anteriores do Jornal O Capital; primeira edição foi impressa em Aracaju, em 1991.

Ilma Fontes, 68 anos.

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DA CAIXA POSTAL AO CORREIO ELETRÔNICOOs grandes desafios dos Correios para manter os serviços de postagem em plena era tecnológica

MIGUEL [email protected]

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CHACaminhando pelo calçadão da João Pessoa, em direção à rua

Laranjeiras, no Centro de Aracaju, deparamo-nos com um prédio e logo vemos o nome: Correios “Antigamente

chegava o carteiro nas ruas e povoados do interior e saia de por-ta em porta entregando cartas. Eu sempre achei bonito e ficava tão feliz quando uma carta chegava pra mim. Hoje em dia quase nem vemos carteiros na ruas”, disse Acácia dos Santos, 56 anos.

A dona de casa lembra que quando as pessoas não utilizavam muito o telefone usavam as cartas para se comuni-car e até mesmo quem não sabia escrever pedia para alguém que sabia, mas não deixava de enviar. “Eu não gosto dessas tec-nologias, prefiro escrever à mão. De vez em quando eu gosto de enviar cartas para familiares que moram em São Paulo, não precisa ter pressa pra chegar”, fala Acácia, com um sorriso no rosto.

Há 352 anos, em 1663, começava a atividade postal brasileira. Era criado, no Brasil ainda colonial, o Correio da Capitania do Rio de Janeiro, para viabilizar a troca de corre-spondências entre a Metrópole e a Colônia. E durante bastante tempo, a única tarefa do Correio era viabilizar o trânsito de cor-respondências entre Brasil e Portugal. A troca de cartas entre pontos dentro do próprio Brasil começou somente mais tarde, em 1808, com a chegada da Família Real Portuguesa ao Rio de Janeiro, quando foi então baixado um regulamento postal para o interior. Em 1822, quando Dom Pedro I leu a carta de Inde-pendência do Brasil, os serviços postais ganharam importância e tornaram-se um dos motores de propulsão para o desenvolvi-mento do país.

Num período, não tão distante, as pessoas tinham o hábito de mandar cartas, antes da comunicação eletrônica e dos avanços tecnológicos. A comunicação via telefone era mui-to cara, e-mail não existia ainda e as pessoas basicamente se comunicavam através da escrita. “Existia um volume de cartas imenso”, enfatiza Sônia Maria. Com a comunicação eletrônica, imaginou-se que a comunicação via Correios iria acabar. “Aq-uilo que era esperado, não aconteceu. Os Correios andam con-forme a necessidade da sociedade, conforme a demanda e pe-riodicamente precisa se reinventar se não já teria sido extinto”, diz a assessora.

À medida que a comunicação eletrônica se ampliou, surgia também um fator econômico: a migração da carta social (correspondências pessoais trocadas entre familiares e amigos) para a carta comercial (correspondências enviadas por institu-ições como bancos, órgãos públicos, entre outros). “Em termo de quantidade não aumentou muito, mas também não caiu. O volume de cartas sociais, cujo remetente é uma pessoa física e o destinatário é uma pessoa física, reduziu drasticamente. En-tretanto, cerca de mais de 120 mil cartas por dia, circulam por todo o estado. O fluxo não reduziu tanto quanto se esperava”, relata Sônia.

Para Suely Andrade, agente dos Correios, a importân-cia da carta escrita ainda é priorizada por um grupo mais con-servador: “Tem gente que faz questão, principalmente as pes-soas da terceira idade. Também tem muitos alunos que vem aqui para aprender o endereçamento e questionam – ‘Moça de que lado eu ponho o remetente? E o destinatário?’”, explica.

Há também outro grupo que uma vez ao ano envia cartas: as crianças carentes. Com a proximidade do Natal, essas enviam cartas para Papai Noel, pedindo presentes e esperam que sejam atendidas. O projeto Papai Noel dos Correios, que é de responsabilidade social e voluntariado, existe há mais de 25 anos. No início, os Correios recolhiam aquelas “cartinhas” e os empregados da empresa pegavam e atendiam aos pedidos daquelas crianças. Só que com o tempo, o projeto tornou-se coorporativo, envolvendo o Brasil inteiro. “Hoje o atendimento desses pedidos não está restrito aos funcionários dos Correios, mas existe a sociedade em geral, as empresas, órgãos públicos que adotam essas cartas e atendem aos pedidos dessas crian-ças”, explica Sônia Maria, assessora de comunicação dos Cor-reios.

Com o avanço da tecnologia e a expansão da inter-net o serviço de envio de cartas pessoais foi sendo substituído primeiramente pelo telefones móveis, segundo pelo e-mail, seguido das redes sociais e dos aplicativos de mensagens in-stantâneas como o WhatsApp. Uma grande maioria das pes-

soas hoje preferem utilizar desses meios para se comunicarem devido a facilidade de envio e alcance de mensagens.

Segundo o pesquisador da Rede Brasil Conectado e professor da Universidade Federal de Sergipe, Vitor José Braga Mota Gomes, os jovens de hoje avaliam o e-mail como comu-nicação oficial. Através dessa mídia social, eles compartilham trabalhos escolares e informações profissionais, além de uma rápida e acessível interatividade. Dados do Grupo de Pesquisa em Interações, Tecnologias Digitais e Sociedade, indicam que mais de 300 mil fotos a cada dois minutos são compartilha-das na rede. “Os jovens procuram se comunicar de forma in-stantânea e prática por conta do tempo”, relata Vitor Braga.

Além do envio de cartasAtualmente, os serviços dos Correios não se resumem ao

envio e postagens de cartas sociais e comerciais. Com o ad-vento das tecnologias, a empresa passou a buscar novos espe-ços de atuação e passaram a funcionar como correspondentes bancários, além de realizar operações logísticas, como a distri-buição de livros didáticos para toda a rede de escolas pública do Brasil, a distribuição e coleta das urnas eletrônicas durante as eleições e a entrega e recolhimento das provas do Enem. A empresa também será responsável por toda a logística das olimpíadas do Rio de Janeiro 2016, incluindo o transporte de material esportivo.

Um marco histórico recente para a empresa foi a pub-licação da Lei nº 12.490 (que moderniza e fortalece os Correios) e do novo Estatuto da empresa. Por essa lei os correios pas-saram a atuar no exterior e nos serviços postais de eletrônicos, financeiros e de logística integrada. Além disso, também pas-saram a constituir subsidiárias, adquirir controle ou participa-ção acionária em empresas já estabelecidas e firmar parcerias comerciais que agreguem valor a sua marca e a sua rede de at-endimento, a exemplo do que já acontece em diversos correios do mundo e de acordo com as resoluções e recomendações da União Postal Universal (UPU) e da União Postal das Américas, Espanha e Portugal (UPAEP). A empresa é a maior emprega-dora celetista do Brasil, presente em 5.561 municípios de 5.570 existentes no país.

No segmento de encomendas, a empresa disponibi-liza uma série de serviços, tais como: Sedex, Sedex10, Sedex12, Sedex Hoje, Encomenda Econômica (Com prazo mais dilata-

do), além da Logística Reversa, Exporta Fácil (Internacional) e dos Serviços Digitalizados. “O desafio dos Correios hoje é avançar, tanto quanto a nossa sociedade está avançando e at-ender a essas expectativas e a essas novas tecnologias que estão surgindo”, conclui Sônia Maria.

Um selo postal é um papel adesivo que prova o pagamento de uma taxa por serviços postais. Normalmente um pequeno retângulo anexado a um envelope, o selo significa que a pes-soa tem o envio total ou parcialmente pagos para a entrega. O primeiro selo foi o Penny Black, surgido na Inglaterra em 6 de maio de 1840.

No dia 1° de agosto de 1843, foi emitido o terceiro selo do mundo, o brasileiro (Olho de Boi - devido a lembrança do olho do animal) numa série de três valores: 30 réis, com tiragem de 856.617 exemplares; 60 réis, com tiragem de 1.335.865 ex-emplares; e 90 réis, com apenas 341.125 exemplares. O Brasil também foi pioneiro em lançar selos com aromas e selos em Braille.

Há três tipos de selos: os regulares, os comemorativos e os personalizados. Sobre essa escolha, João Vieira de Resende, gerente da Agência Filatélica dos Correios, que também col-eciona blocos de selos, explica: “Para que os Correios escolha um selo, é necessário passar por uma equipe que é escolhida pelo Ministério das Comunicações, pela Federação Brasileira de Filatelia, membros dos Correios e membros da sociedade civil. São abertas inscrições para sugestões de temas, onde são escolhidos em média trinta de três mil recebidos”.

A Agência Filatélica (do termo filatelia, que é o estudo e col-ecionismo de selos postais) trabalha com selos comemorativos e colecionadores. No mundo, milhões de pessoas colecionam selos, o maior hobby da atualidade. No estado de Sergipe ex-istem 300 colecionadores de selos cadastrados. “Tem muitos temas interessantes que as pessoas colecionam, como person-alidades, monumentos históricos, fauna e flora, esporte, cin-ema, teatro, cultura em modo geral. Porque todo selo conta uma história”, ressalta João Vieira.

MARIELLE [email protected]

João Vieira, gerente da Agência Filatélica em Sergipe

Selo postal

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PRODUTORAS LOCAIS DE VIDEOGAMES EM ARACAJU

IGOR [email protected]

Na obra “Homo Ludens” do filósofo Johan Huzinga, publicada em 1938, ele demonstrou brilhantemente que o jogo é o progenitor dos mais diversos aspectos

da cultura humana. Seja a guerra, o direito, a política ou até mesmo os rituais religiosos. “O jogo é fato mais antigo que a cultura, pois esta, mesmo em suas definições menos rigorosas, pressupõe sempre a sociedade humana; mas, os animais não esperaram que os homens os iniciassem na atividade lúdica.”

Tenho toda a convicção de que quando você escuta a palavra videogame, Aracaju não tem nenhuma relação com esta tecnologia. E se eu disser para você que aqui nesta ci-dade há pessoas interessadas na programação e produção de softwares voltados para jogos eletrônicos? E se eu acrescentar que aqui na cidade existem duas empresas que desenvolvem games? Você deve estar pensando, “como assim? Você tem certeza disso, senhor locutor?”.

E não é de se espantar que na Era da “cultura da con-vergência” bradada por Henry Jenkins, na qual a convergên-cia dos dispositivos tecnológicos estabelecem novas relações produtivas com o mercado, com o público e as próprias mídias, até mesmo aracaju (com “a” minúsculo, mesmo!) compõe este quadro. A apropriação das tecnologias por grupos que outrora não teriam acesso a esses meios é o fator crucial para que este fenômeno seja possível. Portanto, era só questão de tempo para que a capital sergipana apresentasse este diagnóstico.Produtoras locais em Aracaju

A LumenTech, por exemplo, fundada em 2004, e a pi-oneira no ramo de games aqui em Aracaju, investe bastante na produção de games voltados para mobiles, redes sociais e mar-keting, segmentos que mais crescem no mercado. A produ-tora tem clientes na Finlândia, Índia, Japão, Estados Unidos e Brasil. Desenvolve produtos para o Cartoon Network, Apple e até famosas marcas de brinquedo como a Candide, através dos advergames (gênero de jogos direcionados para o marketing de algum produto).

A produtora desenvolveu um jogo eletrônico para a Secretaria de Saúde do Estado de Sergipe, o Agente 41. Um game educativo que objetiva educar as pessoas em relação à prevenção da dengue. O jogo foi direcionado para estudantes do ginásio e foi distribuído em CD-Rom. O que nos leva a ques-tionar o papel educativo e a utilização dos games de forma a promover uma leitura crítica dos fenômenos sociais: A grande maioria desses jogos tem se preocupado com este caráter tão importante?

Segundo estudos levantados pela designer de games, Jane Mcgonigal, o período que os jovens estadunidenses pas-sam do jardim de infância ao “high school” é o mesmo jogando

videogames. Dessa forma, é imediata a necessidade de pro-mover um letramento digital para as crianças e também para as organizações responsáveis pela educação. Pois, os games, distantes de um passatempo ou somente de um vício, como por muito tempo foram tachados, são a própria extensão da linguagem dos indivíduos. Esta, por sua vez, mediada cada vez mais pelas tecnologias digitais.

A EurekaMob, a outra produtora local de games, surgiu exclusivamente para compor um jogo voltado para a re-abilitação de crianças em fisioterapia. Com um financiamento de 600 mil reais adquiridos através de editais da Fundação de Apoio e à Pesquisa Tecnológica (FAPITEC), Comercial Nacio-nal de Produtos Hospitalares (CNPH) e Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), a empresa vem desenvolvendo um produto inédito no mercado mundial.

O propósito é utilizar o videogame para auxiliar o fi-sioterapeuta no acompanhamento e desenvolvimento de ativi-dades de forma lúdica e imersiva. O conceito partiu quando Michell Angelo, 30, bacharel em design e pós-graduado em sistemas para internet, percebeu que seu sobrinho, nascido com má formação, tinha muita dificuldade para realizar os movimentos repetitivos e exaustivos das sessões fisioterápicas. “Geralmente a criança não consegue entender a importância

disso e a própria natureza da terapia dificulta”, afirma. Utilizando-se da tecnologia de sensores de movimen-

to, Kinect (desenvolvida pela Microsoft), estão programan-do um sistema capaz de fazer leituras biomecânicas que são capazes de medir o desenvolvimento muscular e monitorar a execução dos movimentos através de raio-x. Tudo isso de forma divertida.

Para ele, as tecnologias comerciais surgem e as pes-soas não estão preparadas para recebê-las. Como é o caso dos óculos 3D, projetados para simular a sensação de um passeio em uma montanha russa. Muitas vezes ele pode provocar desconfortos e recepções excessivamente desagradáveis. Há vários outros produtos que possuem potenciais gigantescos, mas se utilizados erroneamente tem um caráter nocivo. A tec-nologia é produzida, mas não considera-se o impacto da sensa-ção de presença no ambiente virtual provocada no indivíduo.

“Queremos entrar no mercado com tecnologia aces-sível que vai ser realmente utilizada e com um custo baixo”, co-menta. “É como Bruce Lee disse: seja como a água. Se ela está num copo, ela adquire a forma do copo. Estamos acostuma-dos a resolver os problemas como eles foram criados: tecno-logia com tecnologia. Temos que levar em consideração que o homem precede a tecnologia e ela deve nos servir e não o contrário”, conclui.Panorama dos games

A indústria de games lidera o ramo do entretenimen-to ao redor do globo e, pasmem, é a terceira com maior movi-mentação financeira - ficando para trás apenas da bélica e da automobilística. Segundo dados do BNDES, este ano a estima-tiva desse mercado é de ultrapassar US$ 82 bilhões. O estudo, realizado em 2014, indica que, no Brasil o mercado já estava próximo de US$ 3 bilhões..

Vamos comparar a produção de games ao nicho de mercado do entretenimento com a aparente maior difusão cul-tural que está influenciando a sociedade há quase um século: o cinema. De acordo com dados lançados pelo TecMundo, com-parando as grandes produtoras de games e as grandes produto-ras ocidentais de filmes, o custo para se produzir uma película é quatro vezes maior em um período de tempo duas vezes menor. No ano de 2010, por exemplo, o cinema faturou US$ 31,8 bilhões contra US$ 60,4 bilhões da indústria de games.

Com um setor tão prolífico, não é absurdo perceber o quão urgente é a demanda por jogos eletrônicos, que estão tão introjetados no cotidiano dos indivíduos que talvez você não perceba a dimensão que esta tecnologia abarcou para si em seus quase 60 anos de história. Em 2014, Angry Birds, febre dos games de celular, havia sido instalado em 500 milhões de aparelhos! Jogos online e de celular já ocupam mais da metade da receita superando os dispositivos tradicionais como os con-soles e computadores.

Não é difícil perceber que em um ambiente cada vez mais permeado por essas interfaces e esses dispositivos, é emergente a antecipação de potenciais consequências desas-trosas para a vida do sujeito hodierno, em que a liquidez dos processos não casa com a solidez de suas certezas.

Mentes criativas na Eurekamob

Agente 41, produzido para a Secretaria de Saúde do Estado de Sergipe

JOSU

É FELIPE M

AIA

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RELIGIÃODO CULTO AO SAGRADO À INTOLERÂNCIA RELIGIOSA

Iansã, morta vítima de um infarto, devido à perseguição sofrida ao longo de um ano por fiéis de uma igreja evangélica instalada em frente ao terreiro; entre outros. Mostrando a intolerância religiosa como uma questão a enfrentar grandes desafios na sociedade brasileira e no mundo no que se refere à laicidade.

Em um Culto Ecumênico, realizado em maio deste ano, com a participação de representantes de igrejas evangélicas, padres e representantes do candomblé, com o objetivo de semear a paz entre as religiões, o arcebispo de Aracaju, Dom José Palmeira Lessa, afirmou ser a maior prova da ausência de amor próprio o desrespeito ao semelhante. “Amarás o teu próximo como a ti mesmo, foi o mandamento que o próprio Cristo nos entregou e sintetiza todos os ensinamentos. Se eu amo o meu próximo dou-lhe todo o direito de professar a sua fé, compartilhando comigo a sua vivência em sociedade e juntos multiplicamos a caridade”, explica Dom Lessa.

Mas, se o entendimento do outro como igual ao seu semelh-ante, por isso digno de amor, tolerância e respeito são à base da ideologia de todas as religiões, o que justifica o registro de inúmeros casos de violência por divergência de pensamento religioso? Por que pessoas são agredidas e mortas em nome de Deus? Por que é comum vermos pessoas pregando conversão “dos maus caminhos”, por vezes disseminando descriminação religiosa e ódio, quando caracterizam as religiões de matrizes africanas como “macumba”, os santos da igreja católica como “demônios” ou ainda quando desrespeitam o direito do culto?

Do ponto de vista geral, a agressão independe da religião, porque ela não está centralizada somente nos preceitos religio-sos, mas também no desrespeito ao outro. No dicionário, in-tolerância significa: “atitude mental caracterizada pela falta de habilidade ou vontade em reconhecer e respeitar diferenças em crenças e opiniões”. Mas, os que cometem tais ações segundo o pastor da Primeira Igreja Batista do Eduardo Gomes, Paulo Fonseca, são uma minoria travestida de evangelho para dene-grir a imagem da igreja.

“Nós evangélicos, não concordamos em nenhum momento com qualquer ação violenta e de desrespeito à fé do outro, até porque nós também vivenciamos essa intolerância, a igreja evangélica também é perseguida, questionada e ofendida. Exi-stem alguns grupos radicais, cuja principal preocupação é deturpar aquilo que nós pensamos, estão dentro das igrejas,

mas não vivem aquilo que ensinamos, não cumprem o manda-mento de amar”, pondera.

O coordenador do Gepetecre (Grupo de Estudo, Pesquisa e Capacitação em Teologia e Ciências da Religião), Prof. Jayro Pereira, defende uma luta contra a chamada afrotheofobia - termo usado para discursos e práticas de todo o tipo que discri-minem e preconceituam as religiões de matriz africana e afro-brasileiras, não só por tolerância e sim por respeito.

“A tolerância deve ser banida dos pleitos dos afro-religiosos e exigido, sim, o respeito que deve se materializar no cotidiano das relações mediante a compreensão política e conceitual das invariantes teológicas e filosóficas entre as tradições religiosas da humanidade, tendo em mente que o Sagrado é um Todo indivisível, mas que foi compartimentado pelos grupos huma-nos em que o ideário da dominação funciona como norteador desse processo em que algumas tradições religiosas se colocam como detentoras únicas dos meios de salvação”, justifica.

Segundo especialistas, uma explicação para todo esse cenário de conflito religioso estaria na própria lógica do monoteísmo: se apenas o “meu” Deus é verdadeiro, os “outros” certamente são falsos - e seus seguidores, infiéis. “As religiões são diferentes, mas todas elas exigem a mesma exclusividade”, diz o historiador britânico Christopher Catherwood, da Uni-versidade de Cambridge, na Inglaterra.

UMA REALIDADE TAMBÉM BRASILEIRA?Para responder essa questão é preciso analisar quais os

avanços e retrocessos nesse debate. Dados da Relatoria de Di-reitos Humanos apontam altos índices estatísticos de violência em nome de Deus. Se observarmos que em 2014, o Disque 100 registrou 149 denúncias de discriminação religiosa no país e que mais de um quarto delas ocorreu no estado do Rio de Ja-neiro e 19,46%, em São Paulo, além de que as principais víti-mas são as religiões de matriz africana, como o candomblé e a umbanda, além de negros, fica claro que este é um debate emergente na sociedade brasileira.

Um relatório do Centro de Promoção da Liberdade Religio-sa & Direitos Humanos (Ceplir-RJ), aponta que entre julho de 2012 e dezembro de 2014, foram registradas 948 queixas, 71% delas sobre intolerância contra religiões. A Secretaria de Direi-tos Humanos da Presidência da República afirma que recebe a

Existe uma “guerra santa” alimentada pelo fervor religioso, usado como arma para disseminação do ódio, preconceito e desrespeito?

A possibilidade de que a última batida do coração de-crete o fim do espetáculo é aterradora. Do medo e do inconformismo gerado por ela, nasce a tendência

de acreditar que somos eternos, caso único entre os seres vi-vos”. Essa frase dita pelo Drº Dráuzio Varela (ateu declarado), em um artigo sobre religião, indica a necessidade humana de crer no sagrado. No entanto, essa necessidade do sagrado tem gerado um número cada vez maior de crenças e religiões, bem como adeptos a inúmeras ideologias ao ponto de se gerar um fanatismo, responsável direto pela intolerância entre religio-sos.

Com a chegada das festas de final de ano e todo o espírito do natal, que apesar de ser uma festa pagã adotada exclusiva-mente pelo cristianismo, toma os lares das mais diversas famí-lias brasileiras, faz-se necessária uma reflexão a respeito da cel-ebração desse Cristo que nasce trazendo esperança, pregando amor e tem sido um dos motivos da divergência violenta entre as religiões.

Historicamente, no Brasil, as religiões de matrizes africanas, devido todo um processo de demonização de seus santos ainda em meados do século XVI, sofre com a discriminação e precon-ceito aos seus cultos e dogmas. E levanta debates a respeito do ensino religioso no país, do direito ao culto e principalmente ao que diz a Constituição Brasileira quando afirma no artigo 5º que o Brasil é oficialmente um Estado laico, prezando a liber-dade de crença religiosa aos cidadãos, além de proteção e res-peito às manifestações religiosas. “VI - é inviolável a liberdade de cons-ciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e às suas liturgias.”

O professor do departamento de Ciências Sociais da Univer-sidade Federal de Sergipe (UFS), Rodorval Ramalho, na con-tramão dos dados estatísticos e do que afirma a Relatoria Na-cional para o Direito Humano à Educação, defende que não há um cenário de intolerância religiosa no Brasil e que a legislação brasileira permite ampla manifestação política de todo e qual-quer setor religioso. “Podemos observar que no próprio Con-gresso existem parlamentares ligados às várias religiosidades. Porém, é importante não confundir intolerância com críticas, pois essas fazem parte do debate e devem ser asseguradas, pois ninguém, de nenhuma religião, deve se sentir acima de julga-mentos e apreciações na discussão pública”, destaca Rodorval.

Para o coordenador da ala juvenil do Grupo de Filhos de Ter-reiros em Sergipe, Wendel Salvador, essa laicidade desrespeita-da quando se observa a aceitação dos signos de outras religiões nos espaços públicos, paralelo a demonização dos deuses das religiões afro, denota sim intolerância. “Além de não termos espaços públicos ou oportunidades para que nossos símbolos sejam mostrados e aceitos, existe ainda uma perseguição de outros grupos religiosos que não entendem, nem aceitam e por vezes, desrespeitam a laicidade do Estado descrita na constitu-ição, que nos dá o direito ao culto, direito de crer e manifestar nossa fé, isso caracteriza sim, intolerância a nossa fé”, rebate o Abiã (Título dado aos iniciantes dentro da religião).

CRENÇA E INTOLERÂNCIA2015 apresenta um histórico que denota um aumento de

dados de um triste cenário quando o assunto é religião: at-entado ao “Charlie Hebdo” mata centenas em Paris; Kayllane Campos, 11 anos, atacada e insultada por um grupo de homens com Bíblias sob os braços, gritando “Sai demônio, vão queimar no inferno, macumbeiros”, enquanto voltava de um culto reli-gioso; transexual Viviany Beleboni agredida após ter sido cru-cificada na 19º Parada Gay, no estado de São Paulo, em protesto ao preconceito com o público LGBTTT (Lésbicas, Gays, Bis-sexuais, Travestis, Transexuais e Transgêneros); Mãe Dede de

ALICE SANTOS

ANA LÚCIA DO [email protected]ção de Bruno Cavalcante

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RELIGIÃOcada três dias recebe uma denúncia por intolerância religiosa.

Entretanto, para o professor Rodorval Ramalho, não há um cenário de intolerância no Brasil porque todos são casos isola-dos sem nenhuma consequência para o livre exercício de cada religiosidade. “Não há culto religioso que não possa ser exer-cido no Brasil, não há proselitismo que seja proibido e nenhum fiel, seja qual for a sua religião, tem a sua integridade física ameaçada por estar agindo religiosamente’’, afirma.

“No Brasil, esse cenário de intolerância é completamente diferente daqueles observados em alguns países ao redor do mundo, como são os casos do Iraque, Síria, Líbia, Líbano e no Oriente Médio. A tentativa, artificial, de traslado desse “espíri-to intolerante” para o cenário brasileiro faz parte de uma guerra ideológica, cultivada na academia e nas redações, contra as re-ligiões cristãs. Por enquanto, o clima geral entre as religiões no país é de convivência pacífica’’, conclui.

Já para o Drº Dráuzio Varela, é o fervor existente entre adeptos das religiões que cria um cenário de intolerância e surpreende como uma arma assustadora, “sempre disposta a disparar contra quem tem uma opinião contrária e que ao invés de unir, divide a sociedade, quando não semeia o ódio que leva às perseguições e massacres”, explica.

OS TEXTOS SAGRADOSA simbologia do Cristo que nasce no Natal e veio como

o “Messias”, apesar de não contemplar os seguidores de Alá, Buda e os membros das religiosidades afro-brasileiras, marca um ponto em comum entre as crenças, quando afirmam que seja como filho de Deus, ou um grande profeta, Ele veio para propagar o amor à divindade maior e principalmente ao nosso semelhante. Toda essa significância está presente em todos os livros sagrados que ressignificam as religiões, bem como em suas ideologias e liturgias.

A bíblia, texto sagrado para as religiões cristãs - catolicismo, espiritismo e protestantismo, afirma ser o amor o maior de to-dos os mandamentos. Para o pastor Paulo Fonseca, só viven-ciamos a verdadeira caridade e compartilhamos o Cristo por meio do amor, não há outra forma. “Não há negociação quando o assunto é o mandamento bíblico sobre o amor, dos 10 man-damentos, quatro falam diretamente de uma relação de amor com Deus e seis entre os homens, mostrando que Ele preza pelos relacionamentos de amor”, destaca o pastor.

Segundo o Alcorão, texto sagrado do judaísmo e das re-ligiões mulçumanas, o amor vive todo o significado de tolerân-cia por que ele é construído e reconstruído, quanto preciso for para convivência e respeito ao outro, entendendo que somos extensão de Deus e do nosso semelhante. “O amor basta-se a si mesmo. Quando um de vós ama, que não diga Deus está no meu coração, mas que diga, eu estou no coração de Deus”.

Para o budismo, hinduísmo, taoísmo e xintoísmo, cujo livro sagrado é o Tripitaka, não existe a menção direta do “amar o próximo como a nós mesmos”, mas há sim, a intenção dessa re-lação. O budismo, por exemplo, considera que o amor é liber-dade, onde a única promessa é manter o espaço do outro, como afirma a budista tibetana, Ana Taboada: “É muito importante para nós manter o espaço alheio, porque numa relação signifi-ca dar a oportunidade da outra pessoa se expressar tal como é e não como nós queremos que ela seja. Isso significa estar receptivo e aberto a todas as possibilidades, aplicando também na relação de tolerância com outras crenças’’, esclarece.

“Os religiosos que têm dificuldade para entender como al-guém pode discordar de sua cosmovisão devem pensar que eles também são ateus quando confrontados com crenças alheias”, conclui Dráuzio Varela.

EM NOME DE ALÁA última sexta-feira do ano (13 de novembro), já se marcou

na história como o dia em que os conflitos em nome da religião tomaram uma nova proporção, devido ao ataque simultâneo que surpreendeu a capital francesa. Os atentados que envolv-eram tiroteios e explosões, deixaram 129 mortos, mais de 350 ficaram feridos (99 deles com muita gravidade), inclusive três brasileiros, e já é considerada a pior tragédia da história recente da França.

Em nota oficial, o grupo radical Estado Islâmico assumiu a autoria do ataque coordenado, afirmando ser a França seu maior alvo, o que tem espalhado medo em todo os país e causa-do ainda mais desconforto para os mais de 850 mil muçul-manos, adeptos ao Islamismo que residem em Paris. “Todos devem saber que eles (a França) são os principais alvos do Es-tado Islâmico e que continuarão a sentir o odor da morte por ter colocado a cabeça na cruzada, ter ousado insultar nosso profeta, se vangloriar de combater ao islamismo na França e atingir os muçulmanos na terra do califa com seus aviões. Esse ataque é só o começo da tempestade e um alerta para aqueles que quiserem meditar e tirar lições”, diz o comunicado.

O comunicado faz referência aos ataques realizado pela força militar francesa à capital da Síria em setembro desse ano, cujo alvo foram dois centros de treinamento de jihadis-tas, que supostamente se preparavam para realizar ataques em território europeu. A nota afirma ainda que todo a ataque foi totalmente planejado. “Oito irmãos, com explosivos na cintura e fuzis, fize-ram vítimas em lugares escolhidos previamente e que foram escolhidos minunciosamente no coração de Paris, no estádio da França, na hora do jogo dos países França e Ale-manha, que eram assistidos pelo imbecil François Hollande, o Bataclan, local onde estavam reunidos centenas de idólatras em uma festa de perversidade, assim como outros alvos no 10º arrondissement, e isso tudo simultaneamente. Paris tremeu sob seus pés e as ruas se tornaram estreitas para eles. O re-sultado é de, no mínimo, 200 mortos e muitos mais feridos. A glória e mérito pertence a Alá”, detalha o comunicado.

Para os representantes da comunidade muçulmana em Ser-gipe, adeptos ao Islamismo, no verdadeiro Islã, o terror não exi-ste. Matar um ser humano é um ato tão grave como a in-fidelidade. Ninguém pode tocar numa pessoa inocente, inclu-sive nos tempos de guerra.

“O Islã tem respeitado sempre diferentes pontos de vista e ideias, e isto deve ser entendido para que possa ser valori-zado adequadamente. Lamento dizer que nos países onde vi-vem os muçulmanos, alguns líderes religiosos e muçulmanos imaturos não têm mais armas à mão do que sua interpretação fundamentalista do Islã. Usam-na para atrair algumas pessoas para lutas que servem para seus próprios propósitos.” – Mus-tafá Brunei.

Alguns dos envolvidos nos ataques já foram identifica-dos oficialmente pelas autoridades, incluindo um extremista francês, um sírio, além do belga Abdelhamid Abaaoud, apon-tado como mentor intelectual do atentado. “É nosso erro; é um erro da nação. É um erro da educação. Um muçulmano de verdade, alguém que entende o Islã em todos seus aspec-tos, não pode ser um terrorista. Não há como uma pessoa ser muçulmana e está envolvido com terrorismo ao mesmo tempo. A religião não permite o assassinato de pessoas para cumprir

uma meta”, afirma Edivilson Ramos, brasileiro convertido ao Islamismo e membro da comunidade muçulmana em Sergipe.

Os muçulmanos representam 25% da população mundial, os admiradores de Alá fazem parte de uma realidade social, política e religiosa, desconhecida pela grande maioria. A re-ligião Islã é vítima de preconceito por está associada a casos de terrorismo, onde homens bombas e fanáticos religiosos pre-gam a morte de “infiéis” e estão numa minoria disposta a matar e morrer, movida por teorias segundo as quais um “fiel suicida” garantiria um lugar de honra no paraíso.

Movidos pelo fanatismo e a interpretação errada, dos textos sagrados, eles veem Israel e o Ocidente como o “grande satã”.

MATHEUS BRITO

‘‘Os atentados que en-volveram tiroteios e explosões, deixaram 129 mortos, mais de 350 ficaram fe-ridos (99 deles com muita gravi-dade)’’

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CULTURA20

OCUPAÇÕES LEVANTAM DEBATE SOBRE CIDADE E POLÍTICA DE CULTURAAusência de espaços para manifestações artísticas leva à transformação da rua em palco

IARGO [email protected]

é fomentar as práticas e o ensino de atividades culturais por todas as regiões de Sergipe”, e orçamento previsto é de R$840 mil. Do total de 98 inscritos, somente 24 foram contemplados, para 56 vagas possíveis.

“A política de editais pode ter uma série de problemas, mas é uma política democrática. Discordo, por exemplo, de uma série de questões dos pontos de cultura, principalmente em relação à prestação de contas. O Imbuaça concorreu ao pri-meiro edital do ponto de cultura, mas temos uma avaliação muito crítica sobre esse ponto. Mas não posso negar a im-portância. Para mim, essa é uma forma democrática, através de edital. E para se chegar até aí é necessário uma organização e o que nós percebemos que boa parte das entidades e grupos não tem para fazer parte desse tipo de edital. Acredito que o es-tado deve contribuir na instrumentalização dessas entidades. Instrumentalizar elas para que elas possam concorrer aos edi-tais”, afirma Lindoufo Amaral, diretor de fomento e política cultural da Secult e membro do grupo de teatro Imbuaça.

Dentre outros elementos, a falta de garantia da continui-dade das iniciativas recebe a críticas dos ativistas. “Na real, a política de edital é uma política cruel, sabe? Se você for pegar a questão burocrática, só pra você se inscrever no edital já é um trampo muito grande. Tem uma pá de artista aí que muitas vezes desiste de tá disputando edital porquê não sabe fazer. E quando faz, que manda, é rejeitado. E outra, por exemplo, eu tenho um grupo de teatro A e você um grupo de teatro B. A gente trabalha pra caralho, rala, dedica o nosso tempo, às vezes tem dois empregos, é ator, mas, sei lá, trabalha como freelancer, designer, como vendedor, enfim.. E aí você real-

que isso na verdade vai surgir a partir de todos os coletivos, artistas daqui. Uma construção coletiva, sabe? Porque talvez esteja faltando um pouco disso. A gente precisa reunir os artis-tas da cidade, quem tá fazendo cultura, para pode discutir e a partir daí ter uma proposta concreta”. Ressignificando espaços urbanos

A existência dessas ocupações suscitam discussões não só a respeito da política cultural, mas também da ocupação dos es-paços urbanos, e sua (re)tomada pelo público. “Como aqui não era muito frequentado as pessoas tinham um receio de vir pra cá. Tipo, eu vou lá, vou ser assaltada. E as pessoas que ficavam aqui até tarde eram vistas com maus olhos. Depois do sarau a praça passou até a ser frequentada, tendo uma movimentação legal. E a proposta talvez seja essa: trazer pessoas, acumular pessoas, as pessoas serem produtivas, produzir algo, mostrar algo”, explica Talia Leal, estudante e organizadora do Sarau da Caixa D’água.

Lucian Smash, do Sarau Debaixo, sintetiza a crítica que o coletivo faz à ocupação da cidade através de sua poesia recém publicada na coleção Sarau de Bolso, que saiu recentemente pelo selo independe ‘Debaixo’: “Pelos quatro cantos da cidade/ Vejo algumas construções que remetem qualidade/ E a reali-dade?/ Uma cidade Coronelista e provinciana/ Comandada pelos burgueses e seus capangas/ Que com nosso dinheiro/ Compram votos e mostram-se como bacanas/ Amorim, João, Albano Jackson muitos anos de mandato/ Retrocesso e corrup-ção, investimentos transformados em jatos e mansão/ E para população?

Essa pergunta parece que tem sido feita não somente pelos

“Poesia na gaveta dá barata, na rua dá barato”, assim começou a intervenção do Coletivo Sarau Debaixo, de Aracaju, no Sarau da Caixa D’Água, em Lagarto,

a 75km da capital. Os organizadores do Sarau da Caixa D’Água atribuem sua inspiração aos seus visitantes que há dois anos ocupam o viaduto do Distrito Industrial de Aracaju (D.I.A), e realizam, ali embaixo, um espaço de cultura que abarca diver-sas manifestações artísticas.

Surgido em setembro de 2013, o Sarau Debaixo começou a ser pensando e organizado após as manifestações que levaram milhares de jovens em todo país a protestar contra o aumen-to das passagens, a repressão policial e pela reivindicação de direitos como saúde e educação. “Foi naquele momento que muitos de nós nos conhecemos. Depois das manifestações a galera ficou se perguntando sobre aquele espaço ali, debaixo do viaduto. Que até então tava ali só para passagens de carro, e que era um lugar muito significativo por conta da resistência da população e do embate com a polícia”, explica Clara Noronha, estudante e membro do Coletivo Sarau Debaixo.

A tomada das ruas de forma massiva pela juventude, pela primeira vez vivenciada por toda uma geração, somada aos limites do acesso a espaços de cultura e expressão artísticas são parte do conteúdo expresso todas as terceiras terças do mês embaixo do viaduto. “O sarau surge da inquietação a princípio de cinco ou seis cabeças, sobre a questão da gente sempre ser empurrados pros espaços de cultura fechados, onde a gente considera que há um monopólio da cultura”, diz Clara.

Os principais questionamentos dos ativistas são em relação à política de eventos que privilegia artistas de fora do estado e a política de editais, que devido à necessidade de elevado con-hecimento técnico tornaria mais restrito e não mais amplo o acesso dos artistas a verbas para implementar projetos.

A ausência de espaços para manifestações culturais e artísticas foi também o principal motivo apontado pelos jo-vens de Lagarto para ocuparem, todo ultimo sábado do mês, a caixa d’água. “Esses eventos surgiram porque em Lagarto não há espaço para o artista se manifestar. Não existe lugar para recitar poesia, para tocar música. A galera que compunha, a galera que tinha banda, a galera que fazia música autoral ficava atrofiada. Não tinha onde extravasar essa arte. Aí o Sarau veio para atender essa demanda”, conta o estudante Afonso Barbo-sa, organizador do sarau.

A realização dos saraus vem acompanhada da discussão política feita nos coletivos, que é levada àqueles que frequen-tam esses espaços. Segundo os membros do Sarau Debaixo, an-tes de cada evento são feitas várias reuniões onde os temas que serão levados ao público são amplamente discutidos e apro-fundados. Dentre eles, uma discussão chave tem sido sobre o papel que o estado deveria cumprir em relação às políticas cul-turais, e como ela vem sendo conduzida hoje. “É importante observar com a cultura acaba se relacionando com a pasta de turismo. A gente vê que os espaços que os artistas da terra têm acabam sendo em grandes eventos que a prefeitura promove. Na verdade esses artistas acabam sendo os menos valorizados. São os que tem a pior remuneração, não tem prioridade na hora do pagamento, os pagamentos pros de fora vem antes que o da galera daqui. A outra coisa é a questão dos editais. Que faz com que os artistas tenham que tá brigando entre si por editais que na verdade não garantem nenhuma continuidade. Os ar-tistas têm que estar simplesmente voltados a desenvolver pro-jetos para determinados editais que são bastante complexos. E que não contempla, sabe?”, questiona Líria Regina, estudante e membro do coletivo Sarau Debaixo.

De forma geral, os Editais funcionam como concursos, onde os proponentes (diferentes grupos ou pessoas) escrevem projetos, descritos de forma detalhada, para contemplar de forma técnica e temática as exigências de especialistas que jul-garão a liberação de verba proposta no edital. O ultimo grande edital da Secretaria de Estado da Cultura (Secult), em parceria com outras secretarias, foi o “Oficinas Culturais”, encerrado no mês de novembro. Segundo a Secult, “o objetivo desse edital

mente se esforça, e disputa o edital. Aí o grupo de teatro A ganha, e o seu não. Você que trabalhou tanto quanto eu não vai poder mostrar o seu projeto. E eu vou poder passar um ano mostrando meu projeto, mas depois que acabar essa grana eu vou ter que voltar para política de editais de novo”, afirma Morgam Souza, membro da Sarau de Baixo.

Mesmo com as divergências evidentes se aponta um caminho aparentemente comum entre as duas opiniões: o diálogo. ”Muitas vez na hora do debate você vê a ausência des-sas pessoas que cobram muito. Elas não participam do debate. E muitas vezes participam criticando. É preciso participar pro-pondo, se eu discordo, eu tenho que propor novas ações. E essa é uma discussão que a gente sempre trava”, diz Lindoufo.

“Realmente eu acho que os coletivos devem estar presentes nesses fóruns de cultura para tá debatendo. Mas tem que se vê também que essas ocupações culturais tem surgido de uma forma mais intensa de dois anos atrás para cá. Então realmente tem uma galera que tá querendo dialogar sobre de como vamos pegar essa verba que é destinada a cultura e repartir de uma maneira mais justa pros artistas da cidade. Mas sinceramente eu acho que o debate tem que crescer primeiro na rua, para de-pois ser levado para esses lugares”, explica Morgam. Para Líria, os artistas devem participar do debate para construir respostas coletivas. “Isso de como a cultura deve ser gerida no estado não é uma resposta que o coletivo Sarau Debaixo deve dar. Eu acho

jovens de Aracaju ou de Lagarto, podemos buscar exemplos por todo Brasil, e em Sergipe além dos saraus Debaixo e da Caixa D’Água, há o Sarau do Coreto em Simão Dias e o Sarau do Calçadão em Itabaiana, que com propostas parecidas tiveram suas primeiras edições no mês de outubro desse ano. Há ainda outras iniciativas na capital com o Som de Calçada.

Para Morgam, essas manifestações, que são frutos da inqui-etação e da ausência de espaço para expressão cultural e artísti-cas possibilitam a ocupação dos espaços da cidade, dando a eles outros significados. “As formas da cidade que são concre-tas, por exemplo, o viaduto, o teatro, o Extra, o terminal é tudo feito numa ideia de função. Tudo ali tem uma função aquele viaduto tinha uma função, ele era um viaduto cinza que servia para escoamento de um fluxo de carros, que levava para uma área comercial da cidade como o centro, para uma área turísti-ca como a orla, para uma área industrial. Então aquele viaduto não foi colocado ali por acaso. Ele tinha um objetivo. O que a gente fez no viaduto foi ressignificar aquela forma, dando a ela uma outra função. Hoje o viaduto tem voz, você passa por lá, ele não é mais um viaduto cinza. Ele é um viaduto que dialoga, seja através do grafite, da pixação, do lambe-lambe. Sabe? E até mesmo, velho, a questão da memória. Hoje você tem uma memória que é ligada ao viaduto, uma memória coletiva. Tem gente que sabe que aquele viaduto é gerador de cultura, de de-bate na cidade”, finaliza.

Pelos quatro cantos da cidadeVejo algumas construções que remetem qualidadeE a realidade?Uma cidade Coronelista e provincianaComandada pelos burgueses e seus capangasQue com nosso dinheiroCompram votos e mostram-secomo bacanasAmorim, João, Albano Jackson muitos anos de mandatoRetrocesso e corrupção, investimentos transformados em jatos e mansãoE para população?(Lucian Smash)